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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU A INDEFINIÇÃO DELIMITATÓRIA ENTRE O DIGNO E INDIGNO, APLICADA AO PRINCÍPIO JURÍDICO RONALD CADAR ORIENTADOR: Prof. Jean Alves Rio de Janeiro 2015 e 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 2016. 2. 15. · Ganhou a sua formulação clássica por Immanuel Kant, na "Fundamentação da Metafísica dos Costumes" (título

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A INDEFINIÇÃO DELIMITATÓRIA ENTRE O DIGNO E INDIGNO, APLICADA AO PRINCÍPIO JURÍDICO

RONALD CADAR

ORIENTADOR: Prof. Jean Alves

Rio de Janeiro 2015 e 2016

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Penal e Processo Penal. Por: Ronald Cadar

A INDEFINIÇÃO DELIMITATÓRIA ENTRE O DIGNO E INDIGNO, APLICADA AO PRINCÍPIO JURÍDICO

Rio de Janeiro 2015 e 2016

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que ao longo da minha vida de alguma forma me

estenderam a mão. Agradeço a cada sorriso que recebi, a cada pessoa que

proferiu qualquer palavra de incentivo e também aos que me criticaram

verdadeiramente para que eu pudesse enxergar as coisas essenciais que eu

relutava em não ver.

Agradeço também a todos os professores, que me ofertaram a oportunidade do saber.

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DEDICATÓRIA

A Deus pela dádiva da viva.

Aos meus pais e minha esposa, pois sem eles eu nada seria e mesmo

que algo fosse, em uma vida solitária a alegria dos meus passos de vitoria não

teria para onde se difundir.

Para minha mãe, minha eterna gratidão.

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RESUMO

Este trabalho visa analisar, pela ótica jurídica, o princípio da

dignidade humana e seu caráter subjetivo. A falta de especificidade quando se

trata de princípios da dignidade humana, tendo em vista o caráter pessoal das

atitudes, condições e tratamentos dignos para cada indivíduo tornam cada vez

mais indefinidos os limites entre o digno e o indigno quanto à aplicação do

principio jurídico. Iremos analisar as variações do entendimento de dignidade

humana conforme as variações de classes econômicas e o nível de

escolaridade. O objetivo específico deste trabalho é demonstrar que, mesmo

após anos de pesquisa e de estudo, as doutrinas jurídicas ainda não se

encontram aptas a delimitar o conceito de dignidade humana.

Palavras-chave: Dignidade Humana. Principio Juridico. Caráter Subjetivo

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METODOLOGIA

Será desenvolvido através de pesquisas realizadas na forma de

entrevistas com pessoas de diferentes classes sociais e escolaridade a fim de

demonstrar o quão distintos são os conceitos de dignidade humana quando

questionamos pessoas de níveis sociais e de instrução diferentes.

.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Conceito de Dignidade 10

CAPÍTULO II

A subjetividade da Dignidade Humana 14

CAPÍTULO III

Principio da Dignidade X Direito Penal 26

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA 39

ÍNDICE 40

ANEXOS 41

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INTRODUÇÃO

Atualmente, vivemos um mundo onde a discussão sobre dignidade

humana ou tratamento humano digno esta muito em voga. Talvez por conta

dos inúmeros atentados terroristas, das grandes catástrofes mundiais, das

evasões em massa dos países que enfrentam guerras, sejam elas as ditas

“santas”, sejam elas de cunho político ou ideológico, não importa. O que

importa é que o conceito de dignidade humana não é moderno.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é datada de 1948, e

já no seu início nos diz que:

Considerando que o reconhecimento da dignidade ine-rente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo (...). Conside-rando que as Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e valor da pessoa humana (...).1

Logo em seguida veio a Convenção Ameriacna sobre os Direitos

Humanos, de 1969. Que em seu art. 11, §1º:

“Toda pessoa humana tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade”.

A nossa Constituição, de 1988, surgiu em um contexto que visou a

defesa e a realização dos direitos fundamentais do individuo e da coletividade e

proclamou, já no seu art. 1º o seguinte:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,

1 Declaração Universal dos Direitos Humanos

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constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

(...)

III - a dignidade da pessoa humana;2

Mas, o que podemos dizer, conceitualmente, sobre o significado da

palavra Dignidade humana?

Esse conceito não é contemporâneo. Ele vem sendo muito debatido

ao longo dos anos. E é com base nessas discussões, que se perduram até os

dias atuais, que iniciamos esse trabalho.

2 Constituição Federal do Brasil

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CAPÍTULO I

CONCEITO DE DIGNIDADE

Comecemos com uma pergunta?

O que é dignidade da pessoa humana?

Para responder essa pergunta usaremos a Declaração Universal dos

Direitos Humanos:

Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. 3

Etimologicamente a palavra DIGNIDADE é oriunda do latim dignitas,

podendo ser entendida como: Virtude, Honra e Consideração.

Podemos entender então que, qualquer desrespeito pela vida e pela

integridade física e moral do ser humano possa ser considerada como uma

violação do Principio (constitucional, não podemos nos esquecer) da Dignidade

Humana, além de haver a obrigatoriedade de condições mínimas para uma

existência digna, uma limitação do poder, reconhecimento da liberdade, da

autonomia, igualdade de direitos.

O conceito de dignidade será sempre violado quando a dignidade da

pessoa humana for violada, quando o indivíduo for rebaixado a objeto, a mero

instrumento, tratado como coisa e sempre que a pessoa for descaracterizada e

desconsiderada como sujeito de direitos.

1.1. Evolução do conceito de Dignidade

Nós bem sabemos que o conceito de dignidade não é contemporâneo.

Na Antiguidade, os filósofos consideravam que a dignidade humana

estaria diretamente atrelada à posição social que o individuo ocupava e ao grau

3 Declaração Universal dos Direitos Humanos

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de reconhecimento por parte da comunidade onde o mesmo estaria inserido.

Desta forma, os escravos não eram considerados dignos e, além disso, era

considerado normal o tratamento diferenciado entre homens e mulheres, sem

falar naqueles indivíduos possuidores de algum tipo de deficiência que eram

considerados indignos.

Para o Cristianismo, o conceito de dignidade é oriundo das Sagradas

Escrituras, que traz em seu conteúdo a crença em um valor intrínseco ao ser

humano, que o impossibilitaria de ser transformado em um mero objeto ou

instrumento, pois o homem havia sido feito “à imagem e semelhança de Deus”

justificando dessa forma a origem da dignidade e a sua inviolabilidade.

Somente após o Iluminismo é que esse conceito assumiu dimensão

mais racional, deixando a espiritualidade de lado, passando a irradiar um

vislumbre dos atuais e conhecidos efeitos jurídicos.

Entretanto, foi somente a partir de 1948, com a Declaração Universal

dos Direitos dos Homens, que a dignidade da pessoa humana adquiriu

reconhecimento mundial.

1.2. Concepções do Conceito de dignidade da Pessoa Humana

Podemos constatar historicamente a existência de 03 (três)

concepções da dignidade da pessoa humana: individualismo,

transpersonalismo e personalismo.

1.2.1 Individualismo

É o entendimento de que cada homem, cada indivíduo, cuidando dos

seus interesses, protege e realiza, indiretamente, os interesses coletivos. Seu

ponto de partida é, portanto, o INDIVÍDUO.

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1.2.2 Transpersonalismo

É o entendimento de que é através da realização do bem coletivo, o bem

do todo, que se salvaguardariam os interesses individuais e que quando

inexistir a harmonia espontânea entre o bem do indivíduo e o bem do coletivo,

sempre deve preponderar os valores do coletivo. Essa concepção nega o

conceito da pessoa humana como um valor supremo. Seu ponto de partida é

que a dignidade da pessoa humana se realiza no coletivo.

1.2.3 Personalismo

Essa concepção rejeita a concepção individualista e a coletivista. Nega a

existência da harmonia espontânea entre indivíduo e sociedade. Seu ponto de

partida é a preponderância do indivíduo sobre a sociedade, ou seja a

subordinação daquele aos interesses da coletividade.

1.2.4. Principio da Dignidade da Pessoa Humana

O princípio da dignidade da pessoa humana é um valor moral e espiritual

inerente à pessoa, ou seja, todo ser humano é dotado desse preceito, e tal

constitui o princípio máximo do estado democrático de direito.

Está elencado no rol de direitos fundamentais da Constituição Brasileira

de 1988.

Ganhou a sua formulação clássica por Immanuel Kant, na

"Fundamentação da Metafísica dos Costumes" (título original em alemão:

"Grundlegung zur Metaphysik der Sitten", de 1785), que defendia que as

pessoas deveriam ser tratadas como um fim em si mesmas, e não como um

meio (objetos), e que assim formulou tal princípio: "No reino dos fins, tudo tem

ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser

substituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de

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todo preço, e por isso não admite qualquer equivalência, compreende uma

dignidade”.

O rol da dignidade humana é uma das questões mais frequentemente

presentes nos debates bioéticos.

A dignidade da pessoa humana abrange uma diversidade de valores

existentes na sociedade. Trata-se de um conceito adequável a realidade e a

modernização da sociedade, devendo estar em conluio com a evolução e as

tendências modernas das necessidades do ser humano. Desta forma,

preceitua Ingo Wolfgang Sarlet ao conceituar a dignidade da pessoa humana:

[...] temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e

distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e

consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste

sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram

a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e

desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas

para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação

ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em

comunhão com os demais seres humanos." 4

É relevante referir que o reconhecimento da dignidade se faz inerente a

todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis, é

o fundamento da liberdade, da justiça, da paz e do desenvolvimento social.

4 Ingo Wolfgang Sarlet

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CAPÍTULO II

A SUBJETIVIDADE DA DIGNIDADE HUMANA

2.1. Dignidade Humana sob várias óticas

Atualmente, é muito comum lermos em jornais, revistas, artigos e

internet notícias sobre a importância de se preservar a dignidade da pessoa

humana.

Analisaremos algumas passagens históricas onde tais preservações não

foram tão levadas ao pé da letra.

Massacre do Carandiru

No dia 2 de outubro de 1992, uma ação da polícia militar do estado de

São Paulo na Casa de Detenção Carandiru resultou na morte de 111 presos –

cuja maioria esperava sua sentença na Justiça, ou seja, ainda não haviam sido

condenados. Após uma briga entre os presidiários, que resultou em tumulto

não controlado entre carcerários e funcionários do Carandiru, a polícia foi

chamada. Segundo denúncia do Ministério Público, apesar da confusão, não

havia possibilidade de fuga. Nenhuma pessoa foi responsabilizada pelo caso,

conhecido como Massacre do Carandiru. Alguns familiares dos mortos no

massacre foram indenizados pelo estado de São Paulo e receberam um valor

entre 50 e 500 salários-mínimos. O Relatório da Comissão Interamericana de

Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) concluiu

que houve impunidade e indicou que o Brasil violou direitos constitucionais

(como o direito à vida, por exemplo).

Candelária e Vigário Geral

Chacina da Candelária é como ficou conhecida a execução de oito

menores de rua à frente da igreja que deu nome ao crime. As escadarias da

Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, abrigavam cerca de 50 menores de

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ruas. Oito deles foram mortos, em julho de 1993, por policiais militares. Entre

os seis acusados pela morte dos menores, três foram condenados. No dia 7 de

dezembro de 2004, a entidade Human Rights Watch divulgou um relatório

sobre os abusos sofridos por menores em centros de detenção no Rio de

Janeiro. O relatório diz que os jovens sofrem agressões verbais e

espancamentos constantemente.

Ainda em 1993, a cidade do Rio de Janeiro presenciou outra chacina.

Desta vez no bairro de Vigário Geral. Em agosto desse ano, 21 pessoas

inocentes foram mortas por policiais militares. Esse massacre teria sido uma

retaliação ao assassinato de policiais militares – no entanto, nenhum dos civis

mortos participaram deste crime. Entre os 52 policiais acusados, somente sete

foram condenados – além do policial Adriano Maciel, que, foragido, entregou-

se em outubro de 2004.

Carajás

O massacre no município de Eldorado dos Carajás, no Pará, é também

exemplo de violação aos direitos humanos. Em abril de 1996, 19 trabalhadores

rurais sem-terra foram mortos por policiais militares do estado. Entre os

envolvidos, os comandantes da operação – coronel Mário Colares Pantoja e o

major José Maria de Oliveira foram condenados este ano à pena máxima. No

entanto, os 142 policiais que participaram da ação foram absolvidos.

O Tribunal de Nuremberg

O Julgamento de Nuremberg foi estabelecido pelo Tribunal Militar

Internacional na cidade alemã com o mesmo nome para julgar, inicialmente, os

24 principais criminosos da Segunda Guerra Mundial. Naturalmente, Adolf

Hitler estaria entre eles, caso não houvesse cometido suicídio. Outros nomes

emblemáticos do terror nazista, como Himmler e Goebbels, também já estavam

mortos. Mas o julgamento começou no dia 20 de novembro de 1945 contando

com importantes personagens da promoção do genocídio judeu, como o líder

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do Partido Nazista Hermann Göring. O tribunal ouviu mais de 240 depoimentos

até o dia primeiro de outubro de 1946. O procedimento do julgamento foi todo

previamente acordado entre as potências vencedoras da guerra, Estados

Unidos, União Soviética, Grã Bretanha e França. O estatuto do tribunal foi

assinado em Londres no mês de agosto de 1945, oferecendo oportunidade

para a plena defesa dos acusados.

Foram decretadas 12 condenações à morte, três prisões perpétuas e 17

condenações até 20 anos de cadeia. Hermann Göring, por exemplo, foi

condenado à morte por enforcamento, mas cometeu suicídio do mesmo modo

que Hitler, ingerindo cianeto na véspera da execução. Já os três absolvidos

foram Franz von Papen, Hans Fritzsche e Hjalmar Schacht. O primeiro foi um

opositor dos nazistas antes que estes chegassem ao poder, mas um grande

aliado após sua ascensão. O segundo era ajudante de Goebbels no Ministério

da Propaganda. E o terceiro foi um banqueiro alemão responsável pela

recuperação econômica da Alemanha na década de 1930. Participou da

formulação de um atentado a Hitler junto com a resistência alemã e foi enviado

também aos campos de concentração, de onde só saiu com o fim da guerra.

As sentenças do Julgamento de Nuremberg foram executadas no

presídio da cidade, onde foi montado um cadafalso para execução das penas

de morte. Dez das sentenças de morte foram executadas na manhã do dia 16

de outubro de 1946, já que os outros dois condenados cometeram suicídio.

Para Hitler, sua concepção de Direitos Humanos era a seguinte (trecho

do seu livro “Minha luta”:

“Os direitos Humanos estão acima dos direitos do Estado.

Se, porém, na luta pelos direitos humanos, uma raça é

subjugada, significa isso que ela pesou muito pouco na

balança do destino para ter a felicidade de continuar a

existir neste mundo terrestre, pois quem não é capaz de

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lutar pela vida tem o seu fim decretado pela providência.

O mundo não foi feito para os povos covardes.”5

Com o fim da 2ª Guerra Mundial e a consequente criação do Tribunal de

Nuremberg, para apurar e condenar os horrendos crimes contra a humanidade

que foram cometidos durante todo esse período, foi introduzida a concepção de

que a dignidade da pessoa humana é um valor que esta acima da própria lei.

Portanto, a violação à dignidade de qualquer ser humano é um crime contra a

própria humanidade.

Após a apresentação dessa pequena amostra de alguns exemplos de

violação da dignidade humana e dos direitos humanos, observamos que

algumas medidas foram tomadas. Ordenações jurídicas foram criadas com o

objetivo de que tais violações não tornassem a acontecer pelo simples fato de

que aqueles que não estão de acordo com a política atual de seu pais, estado

ou reino sejam submetidos a tratamentos indignos ou até a morte.

5 Minha luta de Adolf Hitler

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2.2. Declaração Universal dos Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um documento

marco na história dos direitos humanos. Elaborada por representantes de

diferentes origens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo, a

Declaração foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em

Paris, em 10 de Dezembro de 1948, através da Resolução 217 A (III) da

Assembleia Geral como uma norma comum a ser alcançada por todos os

povos e nações. Ela estabeleceu, pela primeira vez, a proteção universal dos

direitos humanos. A partir desse principio era de se esperar que as violações

dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana fosse decair ao longo

dos anos desde a criação da DUDH, mas não é o que podemos observar.

Ainda existem muitos desafios na luta para promover e valorizar a

dignidade, a liberdade e os direitos de todos os seres humanos. No entanto,

nas últimas duas décadas, tem sido feito um progresso significativo.

Essas são as 20 conquistas mais importantes desde 1993:

1 – Os direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos e o direito ao

desenvolvimento são reconhecidos como direitos universais, indivisíveis e

direitos mutuamente fortalecidos de todos os seres humanos, sem distinção. A

não discriminação e a igualdade têm sido cada vez mais reafirmadas como

princípios fundamentais do direito internacional dos direitos humanos e como

elementos essenciais da dignidade humana.

2 – Os direitos humanos tornaram-se fundamentais para o discurso global

sobre paz, segurança e desenvolvimento.

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3 – Novos padrões de direitos humanos foram construídos com base na

Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e a implementação de

tratados internacionais sobre os direitos humanos foi significativamente

melhorada.

4 – Proteções adicionais explícitas no direito internacional agora

englobam crianças, mulheres, vítimas de tortura, pessoas com

deficiência, instituições regionais, entre outros. Onde houver alegações

de violações, os indivíduos podem apresentar queixas aos órgãos de

tratados internacionais de direitos humanos.

5 – Os direitos das mulheres agora são reconhecidos como direitos

humanos fundamentais. Discriminação e atos de violência contra as

mulheres estão na vanguarda do discurso de direitos humanos.

6 – Há um consenso global de que graves violações dos direitos humanos não

devem ficar impunes. As vítimas têm o direito de exigir justiça, inclusive em

processos da restauração do Estado de Direito após conflitos. O Tribunal Penal

Internacional traz autores de crimes de guerra e crimes contra a humanidade à

justiça.

7 – Tem havido uma mudança de paradigma no reconhecimento dos direitos

humanos das pessoas com deficiência, especialmente e fundamentalmente, no

seu direito de participar efetivamente em todas as esferas da vida nas mesmas

condições que os demais.

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8 – Existe um quadro internacional que reconhece os desafios

enfrentados pelos migrantes e suas famílias e garante os seus direitos e

os direitos dos imigrantes que não possuem documentos.

9 – Os direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros foram colocados

na agenda internacional.

10 – Os desafios enfrentados pelos povos indígenas e pelas minorias

estão sendo cada vez mais identificados e abordados pelos mecanismos

internacionais de direitos humanos, especialmente no que diz respeito ao

seu direito à não discriminação.

11 – O Conselho de Direitos Humanos, criado em 2006, abordou questões

vitais e sensíveis e a sua Revisão Periódica Universal, estabelecida no mesmo

ano, permitiu que os países avaliassem os registros de direitos humanos uns

dos outros, fazendo recomendações e prestando assistência para a sua

melhoria.

12 – Especialistas e grupos independentes de direitos humanos monitoram e

investigam a partir de uma perspectiva temática ou específica de cada país.

Eles cobrem todos os direitos em todas as regiões, produzindo relatórios

públicos precisos que aumentam a responsabilidade e ajudam no combate à

impunidade.

13 – Estados e as Nações Unidas reconhecem o papel fundamental da

sociedade civil na promoção dos direitos humanos. A sociedade civil tem

estado na vanguarda da promoção e proteção dos direitos humanos,

identificando problemas e propondo soluções inovadoras, pressionando por

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novas diretrizes, contribuindo para as políticas públicas, dando voz aos que

não têm poder, construindo a consciência mundial sobre os direitos e

liberdades e ajudando na construção da mudança sustentável.

14 – Existe uma conscientização intensificada e uma demanda crescente por

pessoas em todo o mundo para uma maior transparência e prestação de

contas do governo e para o direito de participar plenamente na vida pública.

15 – Instituições de direitos humanos tornaram-se mais independentes e

competentes e exercem uma poderosa influência sobre o governo. Mais de um

terço de todos os países estabeleceram uma ou mais dessas instituições.

16 – O Fundo das Nações Unidas para as Vítimas de Tortura tem ajudado

centenas de milhares de vítimas de tortura a reconstruír suas vidas. Da mesma

forma, o Fundo Voluntário das Nações Unidas sobre Formas Contemporâneas

de Escravidão, com a sua abordagem única voltada para a vítima, tem

prestado ajuda humanitária, legal e financeira através de mais de 500 projetos

para os indivíduos cujos direitos humanos foram violados.

17 – Vítimas do tráfico agora são vistas como intituladas a todos os direitos

humanos e não mais como criminosas.

18 – Um consenso crescente está emergindo: as empresas têm

responsabilidades de direitos humanos.

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19 – Existem diretrizes para os Estados que apoiam a liberdade de expressão

para definir onde o discurso constitui uma incitação direta ao ódio ou à

violência.

20 – O organismo da lei internacional dos direitos humanos continua

evoluindo e expandido para tratar de questões emergentes de direitos

humanos, tais como os direitos das pessoas idosas, o direito à verdade,

um ambiente limpo, água e saneamento e comida.

De acordo com o site http://www.dudh.org.br/conquistas/, essas foram

as conquistas mais importantes desde 1993 da DUDH.

Passemos, então, a analisar alguns itens grifados:

Item nº 4 – Proteções adicionais explícitas no direito internacional agora

englobam crianças, mulheres, vítimas de tortura, pessoas com deficiência,

instituições regionais, entre outros. Onde houver alegações de violações, os

indivíduos podem apresentar queixas aos órgãos de tratados internacionais de

direitos humanos.

Item nº 5 – Os direitos das mulheres agora são reconhecidos como direitos

humanos fundamentais. Discriminação e atos de violência contra as mulheres

estão na vanguarda do discurso de direitos humanos.

Será que desde 1993 não houve qualquer relato de agressão, violação,

tortura que se encaixasse dentro dos parâmetros estabelecidos na Declaração

Universal dos Direitos Humanos?

Conforme as figuras 1 a 8 do Anexo podemos estabelecer um

parâmetro de que, após o advento da criação da Lei Maria da Penha, em 22 de

setembro de 2006, lei esta que, a principio deveria proteger os entes familiares

de agressões físicas, psicológicas, morais, patrimoniais e sexuais de seus

companheiros, filhos, ou qualquer outro individuo que tenha,

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comprovadamente, algum laço afetivo ou familiar com a vitima, foram

instaurados mais de 332.216 processos de violência doméstica.

Podemos destacar também, que de acordo com o Relatório Central de

Atendimento as vítimas de violência doméstica, feito no primeiro semestre de

2014, quase 44% das agressões são diárias, ou seja, oito anos após a criação

da lei, 44% das agressões domesticas acontecem diuturnamente.

Desde 2005 podemos observar um número cada vez mais crescente

de homicídios de homossexuais. (figura 3 do Anexo).

Conforme figura 4 do Anexo, o Brasil é o 7º país com a maior taxa de

homicídios femininos, sendo que dentre os dez mais, destacamos apenas a

Rússia, em 4º lugar, o Casaquistão, em 8º lugar e a Moldávia em 10º lugar,

todos pertencentes à Europa Oriental e faziam parte da antiga República

Socialista Sovietica, ex URSS, os demais países são todos países latino

americanos de 3º Mundo.

Resumindo, sera que as Nações Unidas não tem acesso a esses

dados estatísticos a ponto de se preocupar e intervir?

Item nº 8 – Existe um quadro internacional que reconhece os desafios

enfrentados pelos migrantes e suas famílias e garante os seus direitos e os

direitos dos imigrantes que não possuem documentos.

Esse item nos remete a uma situação bem atual, o caso dos imigrantes

sírios para a Europa.

Um artigo publicado na revista Esquerda.net declarou o seguinte: “A

crise dos refugiados revela falência moral. A Europa viola um princípio da

Convenção dos Refugiados: se alguém foge, deve ser recebido. Ignorar isso

significa ignorar todos os direitos humanos. Zoe Williams - The Guardian.”

O Reino Unido comprometeu-se a receber 20 mil refugiados, mas

apenas os respeitáveis. Nas entrelinhas, resta a mensagem de que o ato de

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fugir para a Europa coloca os refugiados fora do âmbito da simpatia humana,

algo como vagabundos itinerantes.

Onde estão os comissariados dos Direitos Humanos que não agem

contra essas violações tão gritantes dos direitos humanos e da dignidade da

pessoa humana?

Item nº 10 – Os desafios enfrentados pelos povos indígenas e pelas minorias

estão sendo cada vez mais identificados e abordados pelos mecanismos

internacionais de direitos humanos, especialmente no que diz respeito ao seu

direito à não discriminação.

Nesse caso as estatísticas falam por si só:

• 96% da população indígena morando fora de suas terras no

Brasil. (figura 11 do anexo)

• Em 1500 a população indígena representava 100% do nosso

país, hoje essa população representa apenas 0,26%

E para finalizar:

Item nº 20 – O organismo da lei internacional dos direitos humanos continua

evoluindo e expandido para tratar de questões emergentes de direitos

humanos, tais como os direitos das pessoas idosas, o direito à verdade, um

ambiente limpo, água e saneamento e comida.

Para finalizar não conseguimos vislumbrar uma atuação mais efetiva

com relação a preservação dos direitos humanos e da dignidade da pessoa

humana quando os problemas acontecem em países subdesenvolvidos ou de

3º Mundo como o Brasil e a África. As imagens 13 a 16 do Anexo I demonstram

que ainda hoje, após, quase 66 anos de promulgação da declaração Universal

do Direitos Humanos ainda nos deparamos com violações do direitos dos

idosos, mesmo após a criação do Estatuto do Idoso, LEI No 10.741, DE 1º DE

OUTUBRO DE 2003, ainda convivemos com os problemas enfrentados pelo

povo africano (fome, doenças, sede, falta de habitação adequada, saneamento,

entre tantos outros), observamos, inertes e incapazes de resolver, o

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crescimento desordenado e desenfreado das favelas, subjugando o indivíduo a

condições sub-humanas de vida, morando em lugares insalubres e sem a

menor perspectiva de mudanças e, para completar esse quadro critico,

enfrentamos o crescimento desordenado da violência urbana, o que acarreta

uma sensação generalizada de insegurança.

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CAPÍTULO III

Princípio da Dignidade X Direito Penal

Iremos, agora, analisar a efetiva aplicabilidade do Direito Penal no

princípio da dignidade da pessoa humana.

Atualmente, a sociedade se sente cada vez mais insegura, seja em seu

trabalho, em seu lar ou no lazer, em qualquer lugar estão sujeitas a uma bala

perdida, a um assalto, sequestro entre outros crimes postos em prática por

aqueles que se dedicam ao errado. Revoltada, essa população atribui essa

violência à suavidade com que o Estado trata os infratores da Lei, e começa a

exigir do Estado ações mais firmes e severas no sentido de coibir a ação dos

bandidos. Reivindicações essas que são legítimas, mesmo porque o Estado

tem por obrigação manter o bem-estar de todos.

Contudo entende-se que o Estado pode ser falho na sua missão

protetora, talvez pelo fato de haver leis que permitam brechas, mas o que é

preciso fazer para que a sociedade entenda é que ela não pode extrapolar,

como muitas vezes observamos nos noticiários cidadãos torturando os presos,

reivindicando e ate aplicando a pena de morte, pois do ponto de vista do Direito

Penal, todos devem ser tratados com dignidade, independente do crime ou

ilícito penal que cometeu.

O Direito Penal é uma das ferramentas utilizadas pelo Estado para

proteger os bens jurídicos essenciais ao indivíduo e à comunidade e por conta

disto representa a mais severa intervenção nos direitos fundamentais, seja do

ponto de vista da vítima, ao sofrer a ação criminosa, seja do ponto de vista do

agente do delito, com a punição que lhe será aplicada. Portanto se faz

necessário que a intervenção penal não viole esses direitos para que seja

assegurada a condição de ser humano, devendo ser observado na elaboração

e na aplicação das normas penais, o princípio da dignidade da pessoa humana.

Para os doutrinadores do Direito Penal a pena deve ter uma finalidade

ressocializadora, punitiva e educativa. Dessa forma, ao defender que se

preserve a dignidade da pessoa humana do apenado, o legislador acredita na

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capacidade do sistema de, punindo o infrator, educá-lo e ressocializá-lo, e na

capacidade que o mesmo tem de refletir sobre seu crime e não rescindir.

Tudo fica muito bonito no papel, mas quando verificamos se tal

conceito é aplicável na realidade verificamos que a realidade é muito diferente.

Os presídios e cadeias brasileiras se transformaram, atualmente, em escolas

do crime, pois o Estado não vem cumprindo bem o seu papel, nem para com a

sociedade nem para com os apenados. Quando o Estado não se faz presente,

alguém toma o seu lugar e, esse alguém, geralmente é o criminoso apenado,

fazendo com que desta forma, nas cadeias e presídios brasileiros, sejam

formadas as mais temidas quadrilhas de criminosos do país.

A dignidade da pessoa humana não depende de suas características

externas, da classe social a qual a pessoa ou o grupo pertença, de seu gênero,

idade ou cor, do cargo que ocupa, dos bens materiais que ostenta, de sua

popularidade ou utilidade para os demais. Logo, não é possível classificar que

uma pessoa terá mais dignidade que a outra, indo mais além, não se pode

classificar que uma pessoa possui mais dignidade ou que deverá ser tratada de

maneira mais digna do que a outra pelo simples fato de haver cometido um

crime ou não.

Analisar o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana através da ótica

do Direito Penal é verificar que esse princípio tem por objetivo principal cuidar e

respeitar a dignidade do condenado; assim sendo, o princípio da humanidade

não admite a tortura, as penas cruéis, os maus tratos e qualquer condição que

represente violação da dignidade da pessoa humana.

Outro fator relevante é o que o principio da dignidade da pessoa

humana constitui o centro de todo ordenamento jurídico, tratando-se da norma

de maior valor no constitucionalismo contemporâneo.

Do ponto de vista do ordenamento jurídico, ser digno significa ser

reconhecido como sujeito de direitos, ser tratado como alguém e não como

algo, ser contemplado como um sujeito que tem direito à vida, à liberdade, à

segurança, à integridade moral e física e a todos os demais direitos oriundos

do fato de se pertencer a uma comunidade jurídica.

Nesta linha de pensamento, na medida em que se assegura o caráter

universal da dignidade humana, estendendo-se a todos os indivíduos,

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reconhece-se que mesmo aqueles que tenham cometido atitudes indignas (do

ponto de vista da sociedade) possuem direitos que devem ser protegidos, não

podendo ser, em virtude de suas condutas, tratados como objetos ou animais.

Por isso, para estabelecer os limites necessários ao exercício do poder

punitivo, todos os princípios penais relacionam-se com a ideia de dignidade

humana, tendo em vista o alto grau de interferência nos direitos fundamentais

do tratamento dispensando às pessoas pelo Direito Penal. Os princípios e

regras da intervenção penal devem estar restritos aos limites inerentes às

diretrizes básicas da Constituição. Desse modo, qualquer intervenção penal

que atinja de forma sem razão os direitos fundamentais inerentes à dignidade

humana deve ser considerada inconstitucional.

3.1. Conceitos de alguns princípios penais

No nosso ordenamento jurídico pátrio, encontramos expressos diversos

princípios penais, dentre os quais encontram-se diretamente ligados à idéia de

dignidade humana os princípios da legalidade penal (art. 5º, XXXIX), da

lesividade, da intervenção mínima e da humanidade das penas.

Princípio da Legalidade: ou “nullum crime, nulla poena sine lege”, estabelece

que somente as leis poderão determinar as penas para os delitos, sendo que

essas leis deverão ser elaboradas pelo Poder Legislativo, legítimo

representante da vontade popular. A legalidade é a primeira densificação

jurídica da dignidade humana, assegurando o direito fundamental de liberdade

contra a atuação estatal. Com a legalidade, os cidadãos passam a ter garantias

políticas contra a intervenção do Estado em suas liberdades fundamentais,

podendo fazer tudo o que não estiver expressamente vedado em lei. Traz,

desse modo, maior segurança jurídica ao ponto que permite o conhecimento

prévio dos delitos e das penas que serão aplicadas, proibindo penas ilegais e

constituindo penas legais.

O Princípio da legalidade é o mais importante instrumento

constitucional de proteção individual no Estado Democrático de Direito, com

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origem no fim do século XVIII e cujo significado político se traduz no paradoxo

entre regra/exceção que instaura.

O princípio da legalidade é a garantia lícita que temos para nos basear

nos alicerces codificados no Código Penal.

Diz respeito à obediência às leis. Por meio dele, ninguém será obrigado

a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei. Tal princípio

tem sua previsão expresso no artigo 5º, inciso II da Constituição Brasileira de

1988.

Principio da Lesividade: O Princípio da Lesividade ou da Ofensividade (nullum

crimen sine iniuria) no Direito Penal exige que do fato praticado ocorra lesão ou

perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.

Daí decorre que, no direito brasileiro, não se pune quem pratica a auto-

lesão, como o sobrevivente da tentativa de Suicídio.

Também surge deste princípio a ideia de que, toda lesão consciente a

bem jurídico protegido de terceiro é crime, ainda que seja ocasionada mediante

auto-lesão, pois não se pune nesse caso a auto-lesão, mas a lesão secundária

e consciente a terceiro. Um exemplo clássico é o exemplo da mulher grávida,

que, consciente de seu estado, tenta o suicídio, não tendo como objetivo

aniquilar a vida do feto, mas apenas a sua própria, sabendo, no entanto, que o

matará também necessariamente. Sobrevivendo à tentativa, porém

ocasionando à morte do feto, ela não responderá pela auto-lesão (tentativa de

suicídio), mas responderá pelo aborto consumado. Ainda que isso

aparentemente contrarie a Teoria finalista da ação pois o aborto nunca foi seu

objetivo, na verdade, sua ação foi plenamente consciente de seu estado e

resultado colateral certo, portanto agindo com Dolo eventual, em acordo com a

Teoria Finalista.

É em obediência a este princípio que o Direito Penal brasileiro só pune o

iter-criminis a partir da execução deste, não punindo o planejamento e a

preparação. Acontece que, como só há crime a partir do momento em que bem

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é efetivamente lesionado, ou, ao menos, ocorre a efetiva tentativa de lesão,

não é possível se punir fases e atos incapazes de provocar lesão. Parte da

doutrina afirma que há exceções, os Crimes Autônomos, como os crimes de

Posse de petrechos para falsificação de moeda e de Formação de Quadrilha,

pois haveria a consumação do tipo penal com um mero ato preparatório, isto é,

a mera posse de petrechos de falsificação, sem que necessariamente o a

gente tenha praticado a falsificação; e o conluio de agentes visando futura

prática de crime, o qual não foi ainda executado. Porém, parte da doutrina

diverge, afirmando que o tipo penal da Formação de Quadrilha não busca

prevenir potencial crime futuro, mas que o tipo penal considera o conluio

organizado de criminosos uma grande ameaça à sociedade e um grande crime

em si, e portanto, não se está abrindo uma exceção ao Princípio da Lesividade,

punindo mera preparação, mas que o conluio para fins criminosos já é um

crime.

Ainda surge desse princípio da Lesividade, o qual exige que a lesão

seja de dimensão minimamente significante, o Princípio da insignificância, que

exclui a Tipicidade (Teoria Finalista) de crimes de lesividade muito baixa.

Principio da Intervenção Minima: O princípio da intervenção mínima realiza a

dignidade humana ao prever que diante de dois meios de igual eficácia para se

atingir determinado fim, deverá se optar por aquele que interfira o mínimo

possível na esfera dos direitos fundamentais. Também não está

expressamente previsto na Carta Magna, mas impõe-se ao legislador e ao

intérprete da lei por sua compatibilidade e conexões lógicas com outros

princípios jurídico-penais positivados. De acordo com esse princípio, ao Direito

Penal só cabe a interferência nos casos em que ocorrerem graves lesões aos

bens jurídicos de maior relevância, sendo que as demais hipóteses deverão ser

objeto de outros ramos do Direito. A tutela penal é uma medida extrema e não

deve incidir sobre todo e qualquer bem jurídico, mas somente sobre aqueles

que requerem especial proteção pela insuficiência das garantias extrapenais

existentes.

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Principio da Humanidade das Penas: O princípio da humanidade das penas

prevê a proibição da aplicação de penas que sejam desumanas ou

degradantes, impedindo, dessa forma, a instrumentalização do ser humano.

Representa, assim, um limite à intervenção punitiva no que diz respeito ao

modo de punir, e possui vinculação direta ao princípio da dignidade,

constituindo, talvez, a sua maior expressão no âmbito do Direito Penal.

3.2. O Sistema Prisional Brasileiro e a Dignidade do Preso

O que podemos verificar no nosso Sistema Carcerário é que, além da

pena imposta pelo crime que o indivíduo cometeu são impostas muitas outras

“penas” além daquela que diz respeito ao delito cometido, tais como: condições

que degradam a pessoa humana dentro da penitenciária e a esteriotipização do

ex-condenado quando volta à sociedade que o vê com preconceito, e muitas

vezes finge ser alheia a ele, nega-lhe o direito de trabalhar, de ser honesto e,

às vezes, contribui para a sua volta à criminalidade.

Contudo o Brasil é signatário da Convenção Americana de Direitos

Humanos – Pacto de San José, realizada em São José, na Costa Rica, em 22

de novembro de 1969. Nessa Convenção foi acordado e consignado em seu

texto o propósito de consolidar dentro do quadro das instituições democráticas,

um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito dos

direitos humanos essenciais. E em seu art. 5º, alínea 6 diz que:

“as penas privativas de liberdade devem ter por

finalidade essencial a reforma e readaptação do

delinquente”6

Ficou evidente que o princípio da humanidade da pena tem por objetivo

principal cuidar e respeitar a dignidade do condenado; não admitindo a tortura,

as penas cruéis, os maus tratos e qualquer condição que represente violação

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da dignidade da pessoa humana. Entretanto, a realidade é bem diferente.

Foram feitas pesquisas em presídios brasileiros, onde concluiu-se que o

sistema prisional brasileiro se compõe de unidades destinadas a todos os tipos

de cumpridores de pena, só que, a princípio, não é a falta de componentes, de

estrutura que determina fugas, motins ou outras atitudes dos apenados, mas a

grande mistura entre os diferentes tipos de condenados, de acordo com o tipo

de infração ou crime cometido, o que faz com que réus primários sejam

influenciados por criminosos contumazes e sociopatas que trazem perigo à

sociedade. Gerando o que nós conhecemos como: “as faculdades do crime”.

Os presídios não apresentam sequer condições mínimas para

ressocializar alguém. Ao contrário, dessocializam, produzindo efeitos

devastadores na personalidade da pessoa. Presídios superlotados, vida sub-

humana etc. Essa é a realidade.

O Brasil ainda está muito longe de tratar o apenado com humanidade.

Em contrapartida, a visão da maioria da sociedade é a de que o criminoso não

tem dignidade e, portanto não pode ser tratado com o mínimo de dignidade

possível.

Quanto à aplicação do principio da Humanidade das Penas no Direito

Penal, observamos que a finalidade da sanção penal é ressocializadora e

educativa, alcançando uma dimensão compatível com a dignidade humana,

uma vez que a redução da criminalidade não ocorrerá por intermédio de

punições severas e cruéis, causadoras de sofrimento físico e moral. O Direito

Penal tem o dever constitucionalmente estabelecido de selecionar quais bens

jurídicos são mais relevantes que os outros, para desta forma poder

estabelecer sanções penais que sejam compatíveis com esses bens jurídicos,

pois, caso contrário, haverá uma violação ao princípio da dignidade humana,

cabendo ao aplicador do direito a missão constitucional de reparar o excesso

legal produzido, assegurando a concretização do princípio.

6 Convenção Americana de Direitos Humanos – Pacto de San José

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3.3. O Principio da dignidade humana e sua relação com o

Direito Penal

O Direito Penal constitui uma das ferramentas que o Estado possui

para a proteção de bens jurídicos essenciais ao indivíduo e à comunidade,

atuando principalmente na tutela de bens que possuem um valor extremamente

alto e que não podem ser suficientemente protegidos pelos demais ramos do

Direito. Por isso, representa a mais severa intervenção nos direitos

fundamentais, seja do ponto de vista da vítima, ao sofrer a ação criminosa, seja

do ponto de vista do agente do delito, com a punição que lhe será aplicada.

Desse modo, necessária se faz a garantia de que a intervenção penal não viole

esses direitos para que seja assegurada a condição de ser humano, devendo

ser observado na elaboração e na aplicação das normas penais, o princípio da

dignidade da pessoa humana.

Na medida em que se assegura o caráter universal da dignidade

humana, estendendo-se a todo e qualquer indivíduo, reconhece-se que mesmo

aqueles que tenham cometido atitudes indignas possuem direitos que devem

ser protegidos, não podendo ser, em virtude de suas condutas, tratados como

objetos ou animais.

[...] não se deverá olvidar que a dignidade – ao menos de acordo com o que parece ser a opinião largamente majoritária – independe das circunstâncias concretas, já que inerente a toda e qualquer pessoa humana, visto que, em princípio, todos – mesmo o maior dos criminosos – são iguais em dignidade, no sentido de serem reconhecidos como pessoas – ainda que não se portem de forma igualmente digna nas suas relações com seus semelhantes, inclusive consigo mesmos. Assim, mesmo que se possa compreender a dignidade da pessoa humana – na esteira do que lembra José Afonso da Silva – como forma de comportamento (admitindo-se, pois, atos dignos e indignos), ainda assim, exatamente por constituir – no sentido aqui acolhido – atributo intrínseco da pessoa humana (mas não propriamente inerente à sua natureza, como se fosse um atributo físico!) e expressar o seu valor absoluto, é que a dignidade de todas as pessoas, mesmo daquelas que cometem as ações mais indignas e infames, não poderá ser objeto de desconsideração.7

7 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 5 ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advo gado, 2007, p. 45.

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Percebe-se, portanto, que há uma estreita vinculação do Direito Penal

ao princípio da dignidade da pessoa humana. Este constitui uma limitação ao

poder de intervenção do Estado na esfera individual, de forma que veda que

seja concedido ao ser humano tratamento que retire ou restrinja a sua

dignidade ao equipara-lhe a instrumento ou objeto.

Nota-se que a dignidade humana, enquanto qualidade intrínseca do

homem é atribuída de forma universal a todo e qualquer ser humano,

independentemente de raça, sexo, cor, religião ou caráter. O fato de um

homem praticar uma conduta moralmente reprovável, que mereça uma

repressão estatal, não autoriza que essa medida retire ou restrinja a sua

dignidade.

Sendo assim, antes de ser aplicada uma sanção penal deverá ser

observado o grau de intervenção nos direitos fundamentais do indivíduo que

vai sofrer a pena. Havendo uma intervenção extrema em tais direito, a ponto de

ser restringida ou retirada a dignidade do condenado, tal penalidade deverá ser

considerada inconstitucional e, portanto, não poderá ser cominada.

Sem o princípio da Dignidade Humana norteando as execuções das

penas a humanidade presenciou o espetáculo da fúria e do sofrimento, que

serviu para caracterizar uma época. Foucault (1987, p.09) inicia seu livro

“Vigiar e Punir” com a narração impressionante da execução da pena de morte

imposta a Damiens, no ano de 1757:

“Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757, a pedir

perdão publicamente diante da porta principal da igreja de

Paris, aonde devia ser levado e acompanhado numa carroça,

nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas

libras; em seguida, na dita carroça, na praça de Grève, e sobre

o patíbulo que aí será erguido, atenazado nos braços, coxas e

barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com que

cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre, e às

partes em que será atanazado se aplicarão chumbo derretido,

óleo fervente, piche em fogo, cera e enxofre derretidos

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conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado e

desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo

consumidos ao fogo, reduzidos a cinza, e suas cinzas lançadas

ao vento.”8

As Constituições modernas têm demonstrado uma preocupação

constante com o problema da pena. Não mais se admite, nos ordenamentos

jurídicos do mundo democrático, que a pena tenha como meta a ser alcançada

o intenso sofrimento do condenado, refletindo como consequência, o completo

descaso com a sua condição de ser humano.

O princípio da humanidade deve acompanhar sempre a história da

pena, desde o seu nascimento, através da ameaça da lei, até o momento de

sua execução. O princípio deve estar sempre informando, limitando, dando

sustentação e legitimidade à pena, traçando os contornos necessários para

que subsista “a lembrança viva” de que o condenado é pessoa humana.

Como método penal, a pena privativa de liberdade é relativamente

recente. Com efeito, antes de chegar a esta, o Direito Penal passou pelas

penas corpóreas, que flagelavam os corpos dos criminosos, em claro anseio de

vingança/repressão.

A tortura e o tratamento desumano ou degradante vêm se revelando no

Brasil como prática corriqueira das mais atentatórias à dignidade do ser

humano. Tortura-se para obter confissões, para punir, para humilhar, para dar

exemplo a terceiros, para infundir generalizado temor. Contra presos comuns

em regra, contra presos políticos, em período de exceção, a prática infame é

largamente disseminada.

Nos últimos anos, o legislador brasileiro tem exasperado as penas dos

crimes que revelem uma maior gravidade, com o objetivo de diminuir a

criminalidade. A lei que trata dos crimes hediondos é uma prova de que se

tentou combater a criminalidade com a exasperação das penas. Mas, como

8 Vigiar e Punir de Foucault

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escreve Moura Teles (2001, p.71), “É preciso caminhar exatamente no sentido

contrário, o da diminuição do grau máximo das penas privativas de liberdade e

o de sua limitação aos crimes de maior gravidade”. Como dizem Cernicchiaro e

Costa Júnior (1995), “repensar as penas excessivamente elevadas é pensar no

homem.”

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CONCLUSÃO

Os direitos humanos e fundamentais evoluíram com grande

intensidade no sentido de proteger o indivíduo em sua dignidade, como pessoa

humana, porém, se faz necessário ampliar o conceito desses valores e

promover a emancipação da sociedade, mais um passo da raça humana no

sentido de distribuir de forma equânime o que, pelo trabalho de todos, foi e é

conquistado.

Diante a uma sociedade cuja desigualdade ainda é a marca; diante de

um contexto de vida onde o capitalismo e outras ideologias alimentam o

individualismo; diante aos reclamos da atualidade, em que valores e vidas são

constantemente depredados, pondo em risco o próprio planeta, só resta a

esperança de um projeto mais solidário para a raça humana.

De todo o exposto, resta nítida a estreita relação entre dignidade

humana e Direito Penal, onde devemos analisar em todos os seus aspectos,

mas, principalmente, sob a ótica do princípio da dignidade da pessoa humana,

tendo em vista que a sua inobservância poderá implicar em atitudes invasivas

na esfera dos direitos fundamentais que poderão causar lesão maior do que

aquela pela qual se quer punir determinada pessoa.

Não podemos deixar de comentar que à dignidade humana atribui-se

caráter universal, sendo irrenunciável e inalienável, do que se depreende a

impossibilidade de se tentar diminuí-la ou retirá-la de alguém sob argumento de

ter este cometido atos indignos. Sendo que, também devemos nos ater ao fato

da subjetividade do conceito “digno X indigno”.

Desse modo, a dignidade constitui a base para a extração e análise

dos valores, princípios e normas penais.

Kant afirma em sua obra Fundamentação da metafísica dos costumes

“que não é possível se negar respeito mesmo a um homem corrupto, devendo

ser respeitado ao menos em sua qualidade como ser humano, mesmo que

através de seus atos ele se torne indigno deste respeito”.

Outro problema encontrado é o que podemos chamar de relativização

da dignidade, onde observamos situações concretas em que há violação da

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dignidade, pela carência social, econômica e cultural e comprometimento de

condições mínimas de existência.

Não importa qual o entendimento adotado pelo nosso ordenamento

jurídico, admitindo ou não a relativização da dignidade da pessoa humana, é

certo que esta deverá ser respeitada de modo que o ser humano jamais seja

coisificado ou instrumentalizado, mesmo que ele tenha cometido qualquer tipo

de delito. Desse modo, o princípio da humanidade das penas tem como

principal objetivo fazer com que a sanção seja aplicada de forma que respeite a

natureza humana do indivíduo, para que possa atingir a sua finalidade de, mais

do que punir, ressocializar, e não colocar o indivíduo que delinquiu totalmente à

margem da sociedade, tornando-o um pária.

Percebe-se, portanto, que Direito Penal esta, estritamente vinculado ao

princípio da dignidade da pessoa humana, mesmo que subjetivamente. Este

principio constitui uma limitação ao poder de intervenção do Estado na esfera

individual, fazendo com que o condenado seja tratado com dignidade e que

nunca seja equiparado a um instrumento ou coisa. O fato de um individuo

praticar uma conduta moralmente reprovável pela sociedade onde o mesmo

esteja inserido, não autoriza o Estado e muito menos a sociedade que essa

medida ou sanção penal aplicada retire ou restrinja a sua dignidade. Sendo

assim, antes de ser aplicada uma sanção penal deverá ser observado o grau

de intervenção nos direitos fundamentais do indivíduo que vai sofrer a pena.

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BIBLIOGRAFIA

AGRA, Walber de Moura. Manual de Direito Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. ALVES, Cleber Francisco. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana: O Enfoque da Doutrina Social da Igreja. Rio de Janeiro: Renovar, 2.001. BARCELLOS, Ana Paula de. A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais: o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2.002. CASSIN, Bárbara. Aristóteles e o Logos – Contos da Fenomenologia Comum. São Paulo: Edições Loyola, 1.999. FELIPPE, Marcio Sotelo. Razão Jurídica e Dignidade Humana. São Paulo: Max Limonad,1.996. MIRANDOLA, Giovanni Pico Della. Discurso sobre a Dignidade do Homem. Lisboa:Edições 70, 2.001 _____________________. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1.988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2.001. http://www.dudh.org.br KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução: Antônio Pinto de Carvalho. Lisboa: Companhia Editora Nacional, 1964

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ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 01 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I Conceito de Dignidade 10 1.1. Evolução do conceito de Dignidade 10 1.2. Concepções do conceito de Dignidade da Pessoa Humana 11 1.2.1 Individualismo 11 1.2.2 Transpersonalismo 11 1.2.3 Personalismo 12 1.2.4 Principio da Dignidade da Pessoa Humana 12 CAPÍTULO II A subjetividade da Dignidade Humana 14 2.1. Dignidade Humana sob várias óticas 14 2.2. Declaração Universal dos Direitos Humanos 18 CAPÍTULO III Princípio da Dignidade X Direito Penal 26 3.1. Conceitos de alguns princípios penais 28 3.2. O Sistema Prisional Brasileiro e a dignidade do preso 31 3.3. O principio da dignidade humana e sua relação com o Direito Penal 33 CONCLUSÃO 37 BIBLIOGRAFIA 39 ÍNDICE 40 ANEXOS 41

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> Imagens e Gráficos

Anexo 2 >> Entrevistas;

Anexo 3 >> Questionários

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ANEXO 1

GRAFICOS

FIGURA 1

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FIGURA 4

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FIGURA 6

FIGURA 7

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FIGURA 8

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FIGURA 14

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FIGURA 15

FIGURA 16

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FIGURA 17

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ANEXO 2

REPORTAGENS

A crise dos refugiados revela falência moral A Europa viola um princípio da Convenção dos Refugiados: se alguém foge, deve ser recebido. Ignorar isso significa ignorar todos os direitos humanos. Zoe Williams - The Guardian. 24 de Janeiro, 2016 - 15:46h

Enquanto a guerra na Síria persistir, o fluxo de refugiados não vai parar. Uma solução que se baseie no fecho de fronteiras e na fortificação da Europa vai simplesmente garantir mais dinheiro para os traficantes de pessoas

Os alemães querem introduzir um imposto pan-europeu para lidar com a crise dos refugiados. Já os dinamarqueses querem aprovar uma lei para apreender qualquer jóia com valor superior a 1.000 libras na chegada dos refugiados - exceto alianças de casamento. Aparentemente é isso que nos define como um povo civilizado: assistimos aos episódios da vida de estrangeiros e calculamos o lucro que podemos colher da tragédia alheia.

Na Turquia, traficantes de pessoas estão a cobrar mil dólares por um lugar numa jangada, 2.500 num bote de madeira, sendo que mais de 350 mil refugiados passaram pela ilha grega de Lesbos, apenas em 2015. O lucro é estimado em centenas de milhões de dólares, e a melhor resposta da UE até agora foi oferecer ao governo turco mais dinheiro, quer seja para manter os refugiados em solo turco, quer seja para reenviá-los de volta pelo caminho que vieram - o que viola acordos internacionais e o espírito todas as promessas que as sociedades modernas têm feito sobre os refugiados.

A Turquia é um país com 75 milhões de habitantes e já recebeu um milhão de refugiados, aceitando as cruéis e impossíveis exigências de um continente com mais de 500 milhões de pessoas que, supostamente, não pode ajudar devido ao risco que tal ação representaria para sua "coesão social". O Reino Unido comprometeu-se a receber 20 mil refugiados, mas apenas os respeitáveis. Nas entrelinhas, resta a mensagem de que o ato de fugir para a Europa coloca os refugiados fora do âmbito da simpatia humana, algo como vagabundos itinerantes.

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Uma solução que se baseie em ignorar que pessoas estejam a afogar-se é indistinguível, eticamente, de uma solução que se compromete a afogar as pessoas deliberadamente; e isso, mais uma vez, acabará por mudar a natureza de todos os países que permitam tal realidade

As instituições e os governos representam posições cada vez mais agressivas. Os milhares de voluntários na Grécia, os leitores do The Guardian que doaram mais no Natal para instituições de assistência a refugiados do que em qualquer outra campanha, as organizações de base que surgiram em toda parte para tentar mostrar um pouco de calor humano nesta jornada selvagem em busca da segurança imaginada - nenhum destes agrupamentos são representados, politicamente, num discurso estreito que essencialmente parte da necessidade de espantar os enxames e reencaminhá-los para outro lugar.

São as ideias sonoramente neutras e supostamente baseadas em princípios económicos que entregam o jogo: se um milhão de pessoas em qualquer país europeu sofresse um desastre natural, ninguém estaria a falar sobre como criar um imposto para que a ajuda pudesse ser enviada. Primeiro nós ajudaríamos e, apenas depois, nos preocuparíamos com a organização dos recursos. Quando a UE quer resgatar um governo ou os bancos de um Estado-Membro (operação concedida a um custo drástico para o resgatado), não se cria primeiramente um "imposto de resgate".

A sugestão de que a crise atual requer um imposto próprio e especial pode muito bem ser uma tentativa de forçar os governos a enfrentar a realidade de sua estratégia atual - que se resume a não ter nenhuma estratégia. Ainda assim, ela viola o princípio subjacente à Convenção dos Refugiados: de que alguém que foge, temendo por sua vida, deve ser recebido, independente das vias económicas. Ignorar esse pressuposto significa que, essencialmente, a defesa dos direitos humanos não é mais um princípio fundamental da nossa civilização. Mas sem esse princípio organizador, os laços que unem as nações fragilizam-se: as alianças devem, no mínimo, ser fundadas sobre ideais que ninguém tem vergonha de dizer em voz alta.

Ignorar o princípio subjacente à Convenção dos Refugiados, de que alguém que foge, temendo por sua vida, deve ser recebido, independente das vias económicas, Significa que a defesa dos direitos humanos não é mais um princípio fundamental da nossa civilização

Um continente cuja comunhão é baseada na omissão de socorro aos desesperados terá o seu senso de confiança fatalmente abalado. Diante desse pano de fundo, os dinamarqueses agarram jóias e os franceses e os britânicos disputam entre si para ver quem consegue ser mais inerte frente às questões de Calais e Dunquerque e à miríade de brutalidades que ocorrem por toda a Europa; sem um propósito moral, prevalece a impotência e a indiferença.

Enquanto a guerra na Síria persistir e enquanto o Estado islâmico existir - na verdade, até que haja um surto de paz sem precedentes - certos factos permanecerão indiscutíveis. O fluxo de refugiados não vai parar. Ele não vai diminuir e as pessoas não podem ser acomodadas pela Turquia, mesmo se elas estivessem felizes de parar por ali. Uma solução que se baseie no fecho

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de fronteiras e na fortificação da Europa vai simplesmente garantir mais dinheiro para os traficantes de pessoas, intensificando e fortalecendo redes de criminalidade por todo o continente, a um grau que certamente mudará a sua natureza. Uma solução que se baseie em ignorar que pessoas estejam a afogar-se é indistinguível, eticamente, de uma solução que se compromete a afogar as pessoas deliberadamente; e isso, mais uma vez, acabará por mudar a natureza de todos os países que permitam tal realidade. A negligência diante dessa questão corroerá a nossa capacidade coletiva de cooperar em qualquer aspeto. Precisamos de parar de escutar essas sugestões e pensar em saídas adequadas.

Em primeiro lugar, temos de reconhecer a legitimidade dos pedidos de asilo, com base nas rotas tomadas, nos países de origem, na extensão dos conflitos conhecidos. Muito tempo é perdido para discriminar um migrante económico de um refugiado. Podemos dizer com plena confiança que 850 mil pessoas atravessaram as águas da Turquia no ano passado e que nenhuma delas era um canalizador sul-americano à procura de melhores oportunidades.

Não é nada impossível dividir 850 mil pessoas entre nações europeias, com base no seu tamanho e no seu PIB per capita - e exigir de cada nação, como condição de adesão a União, que assuma a sua quota de responsabilidade. E tudo isso deve ser realizado sem o sentimento de vingança mesquinha que tem caracterizado a política de imigração desde a mudança de século. Todos nós precisamos defender significativamente a convenção sobre a qual muito da nossa auto-crença coletiva é baseada; ou considerar um futuro em que essa auto-confiança estará perdida.

Artigo de Zoe Williams, publicado em The Guardian a 17 de janeiro de 2016. Tradução de Allan Brum de Oliveira para Carta Maior. Termos relacionados Notícias internacional

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ANEXO 3

QUESTIONARIOS

1) Nome

2) Profissão

3) Escolaridade

4) O que você entende por Dignidade Humana

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