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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA OPERAÇÃO LOGÍSTICA NO SEGMENTO ALIMENTÍCIO NO BRASIL Por: Luciane Pereira Brito Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · A carência de investimentos planejados na infraestrutura e a falta de visão estratégica que assegurem a construção de novos

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

OPERAÇÃO LOGÍSTICA NO SEGMENTO ALIMENTÍCIO NO

BRASIL

Por: Luciane Pereira Brito

Orientador

Prof. Willian Rocha

Rio de Janeiro

2013

DOCU

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PRO

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O PEL

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IREIT

O AUTO

RAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

OPERAÇÃO LOGÍSTICA NO SEGMENTO ALIMENTÍCIO NO

BRASIL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada

como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Gestão no Relacionamento com Clientes

e Ouvidoria.

Por: Luciane Pereira Brito

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, a minha fonte

inspiradora Helena, ao meu marido, aos

meus pais, a minha sogra Isis e aos que

conviveram comigo no período da

construção desta monografia.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a Deus por guiar

meus passos e embalar meus sonhos e a

minha filha que é a parte doce da minha vida.

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RESUMO INDICATIVO

A vida moderna tem imposto novos hábitos sociais e culturais,

incluindo nestes os alimentares. Estas mudanças fizeram, então, surgir um

mercado novo voltado à conveniência. Diversas indústrias criaram divisões

dedicadas ao chamado mercado de food service ou alimentação fora do

lar com profissionais e estruturas próprias. Apesar disto, a oferta de

serviços de logística especializada ainda está aquém da demanda presente

e futura. A adequação da oferta e procura neste caso específico é um

desafio que este trabalho pretende abordar num cenário onde ainda mais

de 60% do PIB circula por meio rodoviário sendo do conhecimento geral o

estado de conservação de nossas estradas e a idade média elevada de

nossa frota de caminhões.

Soma-se a isso a ausência de uma política estratégica que privilegie a

multimodalidade e assim está formado um cenário preocupante sobre o

qual nossos políticos e empresários deveriam estar debruçados.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I - O mercado de food service no Brasil 11

CAPÍTULO II - A oferta de operadores logísticos no Brasil 24

CAPÍTULO III - Tendências de logística no mercado de food service 49

CONCLUSÃO 65

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 72

ÍNDICE 73

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INTRODUÇÃO

Simples depositários de estoques reguladores, armazéns gerais,

frigoríficos estão com seus dias contados, da mesma maneira que tudo na

vida que não se adapta é suplantado ou esquecido devido às exigências da

evolução dos hábitos dos grupos sociais e da sua própria cultura.

A globalização, a tecnologia, e principalmente o desafio de

alimentar uma população de mais de 190 milhões de habitantes

distribuída por cerca de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e com

sérios desníveis sociais além das especificidades regionais faz com que a

necessidade dos chamados operadores logísticos, ou seja, a evolução

acima mencionada, se torne uma realidade de curto prazo no Brasil.

A expansão dos negócios de logística de alimentos em nosso país

enfrenta alguns desafios como fluxo de investimentos, custo da energia

elétrica, as inadequadas condições da maioria dos pontos de vendas e a

falta de profissionalização na manipulação e gestão da cadeia de frios.

A carência de investimentos planejados na infraestrutura e a falta

de visão estratégica que assegurem a construção de novos

empreendimentos para armazenagem frigorificada, a renovação de nossa

frota de caminhões, que hoje varia de 10 a 21 anos (frota de

transportadoras e de autônomos respectivamente) segundo José Augusto

____________________________________________________________

José Augusto Valente é engenheiro e foi presidente do DER-RJ em 2002 e Secretário de Política Nacional

de Transportes/MT de maio/2004 a junho/2007. Atualmente, atua como Consultor em Logística e

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Transporte sendo Diretor Técnico da Agência T1, criadora e mantenedora do Portal T1 de Logística e

Transportes.

Valente e a necessidade de contínuos recursos para investimento no

aprimoramento tecnológico da operação, são outras questões que vem

preocupando os profissionais da área.

Além disto, as cifras de perdas e desperdícios de alimentos no Brasil

devido a uma logística inadequada são famosas. Segundo Andrew Pascoe,

porta voz da América sem Fome, uma iniciativa da FAO :

“Em países como o Brasil, por exemplo, quase 64 por cento do que é plantado termina no lixo. E que

atinge, segundo os dados que temos, até 70.000 toneladas de alimentos em cada ano, que poderiam ser

explorados de outra forma e acabam desperdiçados. O México, de acordo com a Associação Mexicana

Food Banks, perdeu 23.000 toneladas de alimentos, quando têm 19 milhões de mexicanos, numa

situação de grave insegurança alimentar, que é extremamente grave “.

Com proporções continentais, terras férteis, clima favorável, o Brasil teria

tudo para assegurar a erradicação da fome em seu território.

Porém perde para países como o Canadá, que passa metade do ano

sob a neve, e o Chile, de solo e clima muito menos favoráveis para dizer

mínimo. E em que pesem os avanços alcançados nas áreas de

biotecnologia, preparo do solo, plantio, colheita, e industrialização nossa

produção de alimentos ainda emperra na etapa que leva o produto até a

mesa do consumidor.

Em outras palavras, emperra na logística.

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Se a agricultura brasileira em muitos aspectos é de Primeiro Mundo,

a logística voltada para o setor alimentício ainda engatinha. Os problemas

são inúmeros:

- falta de legislação adequada para embalagens e transporte;

- embalagens ultrapassadas que não protegem o produto e garantam sua

higiene e conservação;

- falta de paletização e unitização;

- carga e descarga ineficientes;

- custos desproporcionais;

- falta de centros de distribuição;

- falta de câmaras frias;

- frota de veículos inadequada à demanda;

- idade elevada da frota rodoviária;

- ausência de uma política estratégica que priorize a multimodalidade.

Isto faz com que não só os produtos saídos em perfeito estado do campo,

mas, também, das indústrias de beneficiamento e transformação nem

sempre cheguem aos lares consumidores em condições ideais.

As condições dos veículos que transportam alimentos frios são

problemáticas. Mesmo nos casos de veículos refrigerados ou

frigorificados, existem problemas de má utilização do frio.

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Há casos de temperatura excessiva e de motoristas que desligam o

sistema de refrigeração durante a maior parte do trajeto a fim de obter

economia em combustíveis, responsável por cerca de 34% dos custos de

transportes.

Outro aspecto importante é a arrumação das cargas que prioriza a

maximização da ocupação dos carros e que muitas vezes prejudica a

adequada circulação do frio.

Perde o Brasil, como sempre e, assim sendo, perdemos todos.

Para os envolvidos com a logística, existe ai um campo imenso de

negócios e oportunidades. Desde a administração de centros de

distribuição, passando pela movimentação, administração de estoques,

transportes, etc.

Além disso, a preocupação com esta mesma logística é um fator

importante para a satisfação e saúde dos consumidores eliminando custos

com atendimento e solução de reclamações e ações judiciais.

O objetivo deste trabalho é apresentar um quadro atual da situação

da logística de frios no Brasil, suas oportunidades e carências.

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CAPÍTULO I

O MERCADO DE FOOD SERVICE NO BRASIL

Nos últimos anos a demanda por operadores logísticos

especializados em cadeia de frios veio a confirmar o crescimento do

segmento de food service no Brasil, isto tanto pela indústria como pelo

varejo.

A expansão da atividade – ocorrida em um compasso lento, mas

sólido – desenhou-se, primeiro, em função do aumento da demanda

interna por produtos congelados e resfriados e pela expansão das

franquias de alimentação.

A procura por alimentos frigorificados tem crescido a cada dia, de

maneira extraordinária, nos grandes centros urbanos. A comida congelada

pronta é uma tendência provocada pelas necessidades do consumidor,

que não tem mais tempo de cozinhar de forma tradicional. Neste sentido,

vislumbra-se um mercado extremamente promissor.

Igualmente as franquias de alimentos buscam maneiras de

aumentar a produtividade de suas operações e para isso demandam

insumos alimentícios porcionados e de “shelf life” mais longo.

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CRESCIMENTO DO FOOD SERVICE vs VAREJO vs PIB (%)

Fonte : ABIA/IBGE

Estimulado por mudanças culturais e no perfil da população

economicamente ativa, sobretudo nos grandes centros urbanos, o

mercado parece, literalmente, um prato cheio para quem é do ramo, pois

as famílias estão cada vez mais fora de casa e isto está criando um novo

padrão de consumo.

Importante fazermos aqui uma pequena pausa para definir

foodservice. Segundo a ECD, consultoria especializada em foodservice, o

termo representa :

... a venda de alimentos e bebidas para consumo imediato, preparados por operadores (restaurantes, padarias, lanchonetes, etc.) e consumido no próprio estabelecimento ou em outros locais como na própria casa do consumidor. O mercado de food service envolve toda a cadeia de produção, distribuição de alimentos, insumos, equipamentos e serviços orientados a atender os operadores que preparam e fornecem alimentos e bebidas prontos para o consumo. _______________________________________________________________________ A ECD Consultoria está localizada em São Paulo e atua desde 2001 coletando e produzindo

análises e informações sobre o mercado de foodservice.

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Site www.ecdfoodservice.com.br

Segundo a mesma ECD, abrange os seguintes segmentos : Comercial

• O objetivo principal é a geração de lucro com a venda de refeições. É o “Core Business” do negócio.

• Restaurantes: “A la carte”, Self Service, Prato Pronto, Churrascarias, Pizzarias; Lanchonete, Padarias, Bares, Quiosques, Buffet, Rotisserie independente e Vending Machines.

Comercial Serviços

• A alimentação é um serviço e não a atividade principal do negócio mas mesmo assim objetiva lucro.

• Hotéis; Motéis, Escolas; Hospitais; Catering (aéreo, terrestre e marítimo). Comercial Alternativo

• Venda de refeições prontas para o consumo imediato ou posterior. • Fonte alternativa de lucro. • Lojas de Conveniência, Rotisserie e Lanchonetes dentro de

Supermercados. Social

• A alimentação é um serviço. O objetivo não é o lucro. • Exército; Merenda Escolar; Presídios; Restaurantes Populares.

Este processo vem ocorrendo no Brasil desde a instalação dos auto-

serviços, na década de 70 associado ao aumento do número de mulheres

economicamente ativas.

EUA: MUTAÇÕES DE DESPESA COM ALIMENTAÇÃO FACE À CORRELAÇÃO

DE MULHERES NA ECONOMIA – 1965 E 1996

% de

mulheres na

economia

Tempo de

preparação

de refeições

% gastos com

alimentação

em casa

% gastos com

alimentação

fora de casa

1965 39% 2,5 horas 73% 27%

1996 79% 15 Minutos 62% 38%

FONTE: US Bureau of Labor Statistics, US Bureau of Economic Analysis

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BRASIL: MUTAÇÕES DE DESPESA COM ALIMENTAÇÃO FACE À

CORRELAÇÃO DE MULHERES NA ECONOMIA

% de

mulheres

na

economia

Tempo de

preparação

de refeições

% gastos

com

alimentação

em casa

% gastos

com

alimentação

fora de casa

1971 23% 2,0 horas 93% 7%

1997/98 40% 15 Minutos 88% 12%

FONTE: IBGE, FIPE

Com o crescimento da procura por alimentação fora do lar ou mais

conveniente (sendo que no Brasil em cidades como o Rio de Janeiro e São

Paulo as estatísticas de refeições feitas fora do lar aproximam-se das da

Europa e dos EUA), surgiu a necessidades de ampliar a capacidade

instalada de estruturas de armazenagem e de distribuição desses

produtos.

Os dados do setor de alimentação fora do lar no Brasil crescem há

dez anos em ritmo acelerado e acima do PIB independente de crises

econômicas.

Outro bom impulso vem sendo dado pela expansão de franquias de

alimentação, com novas marcas e unidades que invadem todo o território

brasileiro.

Uma pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística) revela que a população brasileira em média gasta 30% do seu

orçamento com alimentação e refeições fora de seus lares.

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Por esta razão, os estabelecimentos comerciais que atuam nessa

área, como padarias, lanchonetes, self-services, restaurantes e

conveniências, também estão se multiplicando em grande escala, o que

resulta em mais opções para o consumidor.

Em um mercado com tantas opções, para conquistar a preferência

do cliente, as redes tem de apostar em um serviço de qualidade e com a

melhor relação custo versus benefício.

De acordo com dados da Abia, o mercado de food service alcançou

em 2010 um crescimento de 16,5%, atingindo R$ 185 bilhões de

faturamento.

Entre 2001 e 2010, o setor expandiu 235%, movimentando

estimados R$ 1,09 trilhão.

Segundo a ABF (Associação Brasileira de Franchising), o faturamento

do setor de franquias de alimentação foi o que mais cresceu em 2010,

com alta de 39,9%, em relação a 2009. As expectativas continuam

positivas.

Este comportamento no Brasil ainda está diretamente associado ao

poder aquisitivo e hábitos de consumo das faixas da população

classificadas como A e B+, porém, o tempo médio de preparação de uma

refeição é o mesmo que nos EUA, o que demonstra o crescimento da

demanda por produtos pré-preparados refrigerados e/ou congelados, ou

que necessitem de algum tratamento climatizado.

____________________________________________________________

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A ABIA é considerada a principal interlocutora da Indústria da Alimentação no diálogo com o Poder

Público, organismos internacionais e a sociedade, a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação

(Abia) foi fundada em 1963 e representa atualmente cerca de 70% do setor em valor de produção.

O segmento food service está em plena expansão e a tendência das

indústrias, redes de fast food e supermercadistas é centralizar, em escala

crescente, o maior volume possível de mercadorias em operadores

logísticos.

Hoje, empresas tradicionalmente verticalizadas estão observando

atentamente a terceirização. Estas buscam operadores logísticos porque

entendem que atividade de distribuição não faz parte de seu “core

business”. Além disto, as empresas brasileiras estão descobrindo que uma

logística bem estruturada é forte geradora de reduções de custos em toda

a cadeia de abastecimento de seus produtos.

O aumento do food service no mercado nacional pode ser sentido

até mesmo pelo consumo de alguns eletrodomésticos diretamente

associados à conveniência como refrigeradores e fornos de microondas.

Como podemos ver abaixo numa amostragem analisando de 2006 à 2009

fogões perderam posição em termos de penetração em lares em

detrimento de refrigeradores.

Presença dos produtos eletroeletrônicos e eletrodomésticos

Índice de penetração nos domicílios brasileiros

Produto 2006 2007 2008 2009

Fogões 53.348 milhões

99,9% 55.282 milhões

99,9% 56.541 milhões

98,2% 57.638 milhões

98,40%

Televisores 50.800 milhões

95,2% 53.218 milhões

96,2% 54.753 milhões

95,1% 56.043 milhões

95,70%

Refrigeradores 48.711 milhões

91,0% 51.158 milhões

92,4% 52.989 milhões

92,1% 54.716 milhões

93,40%

Rádio 47.987 milhões

89,9% 49.641 milhões

89,7% 51.173 milhões

88,9% 51.466 milhões

87,90%

Máquinas de 20.942 39,3% 22.259 40,2% 23.899 41,5% 25.968 44,30%

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lavar milhões milhões milhões milhões

Freezer 8.980 milhões

16,0% 9.188 milhões

16,6% 9.236 milhões

16,0% 8.919 milhões

15,20%

Fonte : IBGE/PNAD

Porém, a preservação da cadeia de frios continua sendo um grande

problema. À exceção das grandes empresas envolvidas no processo, de

um modo geral, a qualidade continua muito ruim. Talvez até pior do que

antes, justamente pelo estado precário de todos os elos envolvidos na

cadeia, que não se adaptaram rapidamente aos novos hábitos de

consumo ou não conseguiram antever uma tendência.

Há ainda, uma produção passível de melhorias e aprimoramento de

controles ao longo de todo o processo fabril, e que muitas vezes aplica

inadequadamente a tecnologia do frio e utiliza embalagens impróprias.

Correndo em paralelo temos o problema do transporte inadequado, com

baixa oferta de transportadores preparados para a cadeia de frios e

utilizando caminhões com sistemas de refrigeração aquém do necessário,

o que acaba comprometendo a qualidade dos produtos ou gerando

insegurança ao mercado.

Nos pontos de vendas não há condições ideais de armazenagem e

manipulação das mercadorias. Não existem docas refrigeradas para

recebimento e o produto fica exposto por muito tempo nas áreas de

desembarque em temperatura ambiente. No final da cadeia, há o próprio

consumidor brasileiro que, por falta de esclarecimento não faz bom

armazenamento, descongelamento e preparação dos produtos

adquiridos.

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Nesta preocupante lista há sempre a grande carência de

profissionais especializados em logística no Brasil, onde os primeiros

cursos de especialização e pós-graduação surgiram na década de 80,

quando nos EUA e Europa, desde os anos 60, universidades renomadas já

introduziam mestrados sobre a matéria. Além disto, as suas economias

estáveis e altamente competitivas e sob intensa fiscalização

governamental exigem a constante adequação a normas, busca por

reduções de custos, e otimização de margens de lucros, a fim de enfrentar

os desafios da competitividade e regulamentação.

O mercado de food service (refeições fora do lar e venda de

alimentos prontos e semi prontos) representou algo em torno de R$88

bilhões anuais em faturamento, em 2011 no Brasil segundo a ABIA.

PERFORMANCE 2011

VAREJO ALIMENTAR R$ 205,3

FOOD SERVICE R$ 88,0

TOTAL MERCADO BRASILEIRO R$ 293,3

POSTOS DE TRABALHO 94.000

Fonte : ABIA

A indústria alimentícia tem estado atenta à evolução deste mercado

e às suas necessidades e oportunidades. A Associação Brasileira da

Indústria de Alimentos (Abia) tem permanentemente monitorado estas

tendências. Basicamente estas podem ser resumidas da seguinte maneira,

conforme abaixo:

1.1) Visão do Consumidor

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- refeições no lar – busca crescente por alimentos congelados,

pratos prontos e semi-prontos e incremento na demanda

principalmente por serviços;

1.2) Visão da indústria de alimentos

- lançamento de novos produtos para buscar nichos de mercado,

aumentar a competitividade e manter a rentabilidade global da

empresa;

- direcionamento para produtos novos adaptados às tendências de

produtos congelados, prontos e semi-prontos;

- desenvolvimento de produtos pré-preparados e formatados para o

food service e cadeias de fast food;

1.3) Visão do varejo

- ênfase na concentração econômica para a determinação do formato

das lojas e produtos ofertados. Ex: comida à quilo.

Esta preocupação faz todo o sentido, pois, mesmo o varejo tradicional,

que abrange os bares, padarias, mercadorias de bairro e restaurantes,

experimentou crescimento.

INDÚSTRIA DA ALIMENTAÇÃO - PRINCIPAIS INDICADORES ECONÔMICOS

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

VAREJO ALIMENTÍCIO R$ 100,3 R$ 105,8 R$ 110,4 R$ 122,7 R$ 143,8 R$ 159,1 R$ 179,5 R$ 205,3

FOOD SERVICE R$ 34,1 R$ 38,6 R$ 43,4 R$ 50,3 R$ 58,2 R$ 64,4 R$ 75,1 R$ 88,0

FONTE: ABIA

Neste mercado, as redes de fast food merecem grande destaque,

pois possuem uma característica bastante diferenciada dos outros

segmentos. A maioria das marcas sobrevive do recebimento de royalties

sobre o faturamento da rede e desta maneira a fim de aumentar seus

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lucros dependem, unicamente de um processo de expansão consistente e

estruturado. Para isso faz-se necessário a consolidação da marca e a

confiança dos consumidores.

Mesmo as que ainda não se incluem em um sistema de franquia já

começam a avaliar se suas marcas são atraentes para este formato de

negócio contando com a ajuda, normalmente, de consultores

especializados.

Estas cadeias reunidas já representam cerca de R$5 bilhões anuais e

vem crescendo sistematicamente desde 1995. Este crescimento deve

continuar com expansão para outras regiões do Brasil além do Sudeste e a

entrada no país de outras redes internacionais.

Ainda sobre o fast food, nos mercados tradicionais das capitais Rio

de Janeiro e São Paulo já se começam a sentir os primeiros sintomas de

saturação e, conseqüentemente, surgem as primeiras preocupações sobre

canibalização nociva. Algumas grandes redes já enfrentam as primeiras

ações de seus franqueados contra posicionamento geográfico inadequado

e prejudicial aos seus negócios.

As unidades existentes já totalizam cerca de 18 Mil, conforme dados

da ABIA e ABF (Associação Brasileira de Franquias) e cuja expansão agora

começa a se voltar para regiões onde a competitividade ainda não é tão

acirrada, ou seja, regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Apesar disto, o Brasil ainda está longe dos países desenvolvidos, em

se tratando de fast food. O Japão, por exemplo, apresenta um

faturamento neste mercado que corresponde a praticamente quatro

vezes o brasileiro. Ou seja, na medida em que experimentarmos o

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aumento da renda da população, os mercados de food service e o de fast

food são diretamente alavancados positivamente.

____________________________________________________________

A história das redes de fast food no Brasil talvez tenha iniciado no Rio de Janeiro quando na década de

1950 o americano Robert Falkenburg, ex-campeão de tênis de Wimbledon (1948 e 1949), abriu a

Falkenburg Sorvetes Ltda., que vendia exclusivamente sorvetes de baunilha com máquinas e receitas

trazidas dos EUA. Nessa época não existia o conceito de fast food por aqui. Em 1952, abriu as portas da

primeira loja Bob´s, na Rua Domingos Ferreira, em Copacabana, lançando no Brasil o hot dog, o

hamburguer, o milk shake e o sundae.

Abaixo o número de unidades de algumas redes em operação no Brasil :

SUBWAY 978

MAC DONALD´S 637

BOB´S 586

GIRAFFA´S 305

HABIB´S 305

BURGUER KING 230

Mesmo na França, onde boa parte da população ainda rejeita o fast

food, o faturamento das redes é maior do que no Brasil.

Analisando detalhadamente a expansão prevista para o food

service, deparamos com algumas tendências de curtos e médios prazos

para o segmento, que deverão ser tratados e acompanhados de perto a

fim de sustentá-lo, a saber:

a) Fornecedores exclusivos, desenvolvidos pelo próprio sistema,

crescendo sob o guarda-chuva das redes de franquias;

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b) Foco na qualidade e segurança alimentar, através de forte

monitoramento das unidades industriais e produtoras;

c) As compras e as entregas serão centralizadas numa primeira fase. A

entrega passa a ser efetuada nas unidades e as compras

continuarão a ser centralizadas.

d) As negociações mudam de conceito. O programa de abastecimento

passa a contemplar prazos maiores;

e) Abertura de custos é fator importante no processo;

f) As equipes de profissionais em compras e desenvolvimento lidarão

o processo de renovação de produtos;

g) Todo o processo comercial e de desenvolvimento estará nas mãos

dos franqueadores;

h) Novas redes de fast food deverão vir ao país, adaptando-se á cultura

alimentar;

i) A segurança alimentar se torna ainda mais importante;

j) A indústria passa a envolver-se mais com o segmento;

k) A obsessão pela padronização contínua. A indústria sofre muita

vigilância neste sentido;

l) Aumenta a comunicação eletrônica. Pedidos automáticos com

gestão de estoques efetuados pela indústria-distribuidora;

m) Desenvolvimento de novas embalagens para consumo;

n) Alta freqüência de entregas com horários pré-estabelecidos o que

será um desafio para as unidades que estão longe dos grandes

centros;

o) Surge a necessidade dos operadores logísticos.

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A questão é como possibilitar o crescimento de um mercado

promissor ainda sem a infra-estrutura operacional necessária ao

abastecimento de um país com mais de 8,5 milhões de km², com grandes

diferenças regionais, como é o caso.

Um dos fatores que faz com alguns países, mesmo com população

menor do que a brasileira, independentemente da renda per capta

superior, tenham um mercado de food service muito maior, é a oferta de

infra-estrutura consistente. Ou seja, uma boa malha viária, empresas de

transportes com conhecimento consolidado, centros de distribuição bem

localizados, operadores logísticos especializados, softwares, e profissionais

bem formados e permanentemente reciclados.

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CAPÍTULO II

A OFERTA DE OPERADORES LOGÍSTICOS NO BRASIL

O mercado de prestação de serviços logísticos vem crescendo em todo

mundo e, por conseqüência, também no Brasil.

São várias as evidencias deste fenômeno. Boyson (1999) mostrou

que, na indústria química norte americana, o número médio de atividades

logísticas terceirizadas, por empresa, cresceu, em média, de 1,5 para 5,5

no período entre 1989 e 1995, indicando uma forte tendência de aumento

do escopo de serviços logísticos terceirizados. Na mesma época, uma

reportagem da revista Fortune indicava que 60% das quinhentas maiores

empresas por elas listadas terceirizavam pelo menos uma das atividades

que compõem seu processo logístico, uma evidência do nível de difusão

da prática de terceirização logística a nível global.

Em outra pesquisa envolvendo os mercados europeu e norte

americano, Sink (1997) mostrou que 78% dos gerentes europeus, e 45%

dos americanos entrevistados afirmaram estar comprometidos com a

terceirização de suas atividades logísticas, e que a tendência era a de

____________________________________________________________

BOYSON, S., et al. Managing Effective Third Party Logistics Relationships. What Take? Journal of

Business Logistics, Oak Brook (Illinois), v. 20, n. 1, p. 73-99, April. 1999.

SINK, H. L.; LANGLEY, J. C. Buyer observations of the US third-party logistics market. International

Journal of Physical Distribution & Logistics Management. Northampton, v. 26, n. 3, p. 38-46, 1996.

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aumentar o número de atividades terceirizadas.

O resultado de tudo isto tem sido o rápido crescimento da indústria

de prestadores de serviços logísticos, como bem mostram os

levantamentos da Armstrong & Associates :

“...somente entre 1996 e 1998, a receita operacional dos 56 maiores

prestadores de serviços logísticos norte-americanos aumentou de US$26,5

BILHÕES para US$39,6 BILHÕES, o que corresponde a uma taxa média de

crescimento de cerca de 18% ao ano.”

No Brasil, apesar do processo de terceirização das atividades

logísticas ainda ser relativamente recente, e de não existirem estatísticas

confiáveis, o potencial de mercado parece ser elevado. Estudo do Banco

Mundial estima que somente os gastos com transportes no país, por

exemplo, sejam equivalentes a 10% do PIB.

Os grandes prestadores de serviços logísticos internacionais

parecem ter percebido este potencial. A partir de 1997, empresas como

Ryder, Penske Logistics – em joint venture com a Cotia Trading, McLane

(do grupo Wall Market) – Mark VII, Emery Worldwide, Hellmann Logistics,

Danzas e Mosolf passaram a desembarcar no país, juntando-se a um

crescente número de empresas brasileiras, como Columbia, Cometa,

Metropolitan, Delara, Marbo, Mercúrio, Hércules e Delta, dentre outros,

que já vinham tendo crescimento substancial neste mercado.

____________________________________________________________

Fundada em 1980, Armstrong & Associates é reconhecida hoje como lider no Mercado de pesquisas e

consultoria em “supply chain”. O guia “Armstrong Who´s Who” é distribuído mundialmente e serve de

guia para empresa que buscam operadores logísticos. Site : www.3plogistics.com

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26

Uma das conseqüências desta evolução tem sido o surgimento de

vários formatos de atuação, que tem levado a uma dificuldade de

categorização dos prestadores de serviços logísticos.

As possibilidades de terceirização das atividades logísticas são

inúmeras. Por esta razão, nos países onde as atividades dos PSL estão

mais desenvolvidas, a segmentação de mercado vem aumentando,

incluindo desde a simples terceirização de atividades de transportes até

atividades mais complexas dentro de toda a cadeia logística.

Com o aumento da importância e complexidade das terceirizações

logísticas, surje a preocupação com um melhor conhecimento destas

atividades. No entanto, a maioria dos estudos conhecidos tem examinado

o setor sob perspectiva das empresas contratantes. Em geral, estes

estudos englobam os passos necessários a terceirização destas atividades,

as situações em que se deve se terceirizar e o que se esperar dela.

A literatura que trata dos problemas e características dos

prestadores de serviços logísticos, no entanto, é razoavelmente escassa.

Questões como pré-requisitos, os diferentes formatos existentes,

perspectivas da indústria e tendências de adição de valor ao cliente são

muito pouco discutidas (Berglund, 1999).

____________________________________________________________

Berglund, M., Laarhoven, P. van, Sharman, G. e Wandel, S., 1999. Third-Party Logistics: Is there a Future?

The International Journal of Logistics Management, 10, (1), pp. 59-70.

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27

No Brasil já é fato conhecido que um dos grandes entraves para a

expansão dos negócios deste tipo de serviços são os gargalos e

complexidades tributários dependendo da modelo adotado pelo operador

logístico no atendimento a cada um de seus clientes. Sabemos que o Brasil

tributa exageradamente. Segundo Ricardo Tosto e Paulo Guilherme M.

Lopes em seu maravilhoso trabalho “O Processo de Tiradentes” :

“...tudo isto ocorreu por apenas 20% de carga tributária...”

Hoje temos mais de 38%.

2.1 - DIFERENTES DENOMINAÇÕES E FORMATOS DOS PSL

São várias as denominações encontradas na literatura internacional

para as empresas prestadoras de serviços logísticos.

Provedores de serviços logísticos terceirizados (third-party logistics

providers ou 3PL), provedores de logística integrada (integrated logistics

providers), empresas de logística contratada (contract logístics companies)

e operadores logísticos (logistics operators) são alguns dos termos

comumente usados na literatura internacional para denominar empresas

prestadoras de serviços logísticos. Em nível internacional, a primeira

denominação, ou seja, 3PL, é claramente a mais utilizada. No Brasil, existe

uma forte tendência a se utilizar a denominação “Operador Logístico”.

Segundo Gardner (1994), o termo “third-party logistics” (3PL)

começou a ser utilizado na década de 80 como um sinônimo de

“subcontratação de elementos do processo logístico”. Apesar do termo

3PL significar, para um grande número de autores, nada mais do que uma

empresa que prevê qualquer tipo de serviço logístico para terceiros,

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alguns associam este nome somente a empresas capacitadas a executar

um conjunto mais amplo de serviços logísticos.

Nos anos 80, a tendência a integração das atividades logísticas –

duas ou mais atividades executadas de forma coordenada – foi ficando

mais freqüente, levando alguns autores a associar a expressão 3PL às

empresas com capacidade de fornecer mais um tipo de serviço logístico de

forma integrada. Berglund (1999), por exemplo, associa a expressão 3PL á

empresa que oferece, através de contrato, no mínimo, os serviços de

gerenciamento e operação de transporte e armazenagem. Segundo ele, o

contrato de 3PL com um cliente deve ser de, no mínimo, um ano e

também deve prever atividades de gerenciamento, análise e projeto.

Ressalta, ainda, a possibilidade de adição de atividades como de

administração de estoques, de informação – como o acompanhamento e

rastreamento de pedidos – e oferta de atividades que agreguem valor

como a segunda embalagem ou instalação de produtos, ou mesmo o

gerenciamento da cadeia de suprimentos.

GARDNER, R. W., JOHNSON, C. L. Third-party Logistics in The Logistics. Handbook, 954p. 1994.

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Já para Lieb (1996), a denominação 3PL se aplica tanto as empresas

que prestam serviços ligados ao processo logístico, quanto aquelas que

fornecem apenas uma atividade específica deste processo. Apesar de

concordar com a definição acima, Sink (1997), acredita que todas as

atividades devem ser conduzidas de forma coordenada e integrada e que,

assim como indica Berglund (1999), os 3PLs, para se denominarem como

tal, devem oferecer, no mínimo, dois tipos de serviços. Importante

lembrar que são inúmeros os tipos de serviços que podem ser prestados

pelos 3PLs. Lieb (1996), por exemplo, identificou treze diferentes tipos de

serviços como sendo os mais comumente executados pelos 3 PLs:

gerenciamento de armazém; consolidação de cargas; sistemas de

informação; operação ou gerenciamento de frota; negociação de frete;

seleção de transportadora; emissão de pedido; importação x exportação;

retorno de produtos; processamento de pedido; montagem e instalação

de produtos; desconsolidação de produtos para clientes; reposição de

estoques.

No Brasil, estudo sobre PSL´s, realizado conjuntamente pela

Associação Brasileira de Logística, Fundação Getúlio Vargas e Associação

Brasileira de Movimentação e Logística, e publicado na revista

Tecnologística (fevereiro-1999) define operador logístico como sendo “o

fornecedor de serviços logísticos, especializado em gerenciar e executar

todas ou parte das atividades logísticas nas várias fases da cadeia de

abastecimento dos seus clientes (...) e que tenha competência para, no

mínimo, prestar simultaneamente serviços nas três atividades básicas de

controle de estoques, armazenagem e gestão de transportes. Os demais

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serviços, que por ventura sejam oferecidos, funcionam como diferenciais

de cada operador”.

No Brasil, devido a necessidades comuns no que tange a

regulamentações, ações integradas junto ao Governo e “benchmarking”

algumas associações tem surgido fruto da iniciativa dos empresários do

setor.

Exemplo recente foi a criação da ABOL, Associação Brasileira de

Operadores Logísticos fundada em 2012 e que congrega dezesseis dos

principais prestadores de serviços logísticos que operam no mercado

brasileiro.

Pelo estatuto, poderão associar-se à ABOL empresas caracterizadas

como operadores logísticos, que tenham em seu escopo o gerenciamento

do todo ou de partes da cadeia logística, tendo competência para prestar,

simultaneamente, serviços em ao menos três atividades básicas: controle

de estoques, armazenagem e transportes. Para fazer parte da ABOL, a

empresa deverá ter, ainda, faturamento acima dos R$ 100 milhões,

considerando as atividades de uma única empresa ou do grupo, e possuir

certificações ISO (International Organization for Standardization) ou

SASSMAQ (Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde e Meio Ambiente).

O “mentor intelectual” da ABOL é Luís Augusto Ópice, que no ano

passado deu início ao movimento de reunir os demais operadores em

torno da nova associação. “A ideia surgiu tempos atrás, quando fui

convidado para concorrer à presidência da Aslog – Associação Brasileira

de Logística. Quando me envolvi um pouco mais naquela entidade,

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percebi que ela representava os profissionais de logística, e não os

operadores logísticos. Desisti de concorrer e fiquei com o assunto latente,

de criar uma entidade que efetivamente representasse o setor. No ano

passado, quando retornei às atividades num grande operador logístico,

comecei a organizar a nova associação que agora surge”, conta Ópice.

Segundo o executivo, a entidade já nasce com uma grande

representatividade, pela importância das empresas fundadoras e pelo

nível dos membros participantes. “O ato de fundação foi firmado pelas

principais empresas nacionais e multinacionais que fazem operação

logística no Brasil. Decidimos começar com um grupo menor para dar mais

foco, mas outras empresas que não participaram deste primeiro momento

serão muito bem-vindas. A ideia é, através de uma pauta de assuntos

prioritários, começar a agir firmemente em defesa de nossos interesses”,

conta Ópice.

A pauta foi definida através de uma lista de temas elaborada pelas

empresas fundadoras, da qual foram tirados alguns temas considerados

por todos como mais prementes. Foi consensual a necessidade de focar,

inicialmente, em poucos temas. Questões como relações sindicais,

legislação trabalhista e tributária, regulamentação da atividade, além da

infraestrutura logística, serão priorizadas.

“A agenda é grande e rica, pois temos muitas questões pendentes,

mas não vai dar para endereçar tudo de cara. Por isso decidimos priorizar

estes temas que afetam mais diretamente nossa lucratividade e até

mesmo o exercício de nossa atividade”, coloca o diretor-presidente da

Wilson Sons, Logística, Thomas Rittscher. “Com uma atuação conjunta,

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podemos influir para evitar desvios e interferências que atrapalham muito

nossos negócios”, continua. “Por exemplo, tem havido movimentos fortes

de sindicatos e do poder público no entendimento de que algumas

atividades das empresas são fins e, portanto, não podem ser terceirizadas.

Isto é absurdo, é uma ingerência muito grande no negócio. Já chegamos a

perder atividades que fazíamos para clientes por conta disso.”

Outro sócio-fundador, Oswaldo Castro Jr., ressalta a

homogeneidade do grupo, todo focado unicamente na operação logística.

“Eu participo de outras associações e, de fato, embora algumas atividades

e problemas sejam comuns, elas não cobriam integralmente as

necessidades dos operadores logísticos. A ABOL já nasce agrupando

empresas que têm como core a logística, formando uma entidade com

interesses convergentes. Isto é muito bom, pois não há conflitos e o que

for endereçado será do interesse de todos. E são todas empresas grandes,

com faturamento acima dos R$ 100 milhões, o que dá mais

representatividade”, acredita o diretor-geral da Golden Cargo.

Uma das principais preocupações do setor é em relação à legislação,

tanto a vigente, que está ultrapassada e não atende às novas necessidades

do setor quanto as novas medidas que vêm sendo colocadas, que oneram

a atividade e para as quais o segmento sequer foi ouvido. Um exemplo é a

MP 563, aprovada ano dia 16 de julho passado, que desonera a folha de

pagamento de diversos setores, mas deixa de lado o transporte de cargas.

Ou seja, ficou de fora um dos segmentos com grande significatividade na

geração de empregos no país.

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Além disso, o setor ainda enfrenta os desafios das cada vez maiores

restrições a tráfego de caminhões nas vias urbanas o que provoca perda

de produtividade e necessidade de investimentos em veículos

diferenciados e de baixa capacidade volumétrica.

Um exemplo recente é a nova Lei dos Motoristas que regulamenta a

profissão. Se por um lado, se bem fiscalizada e adotada, pode trazer

benefícios sociais enormes principalmente na redução de acidentes e

perdas de vidas e ativos, por outro lado exige das empresas elevação de

custos para adaptação e controles.

Os operadores logísticos brasileiros e os que atuam no mercado

nacional são hoje unânimes quanto aos gargalos para expansão dos

negócios que vão desde as trabalhistas até as tributárias passando por

questões já clássicas de infraestrutura.

2.2 - AS DIFERENTES ORIGENS DOS OPERADORES LOGÍSTICOS

Uma análise histórica dos 3PLs indica que são várias as origens

destas empresas. Basta examinar alguns dos mais conhecidos operadores

internacionais: a Excel Logistics teve origem na atividade de

armazenagem, a Caterpillar Logistics como departamento de logística da

Caterpillar, empresa fabricante de equipamentos pesados, e a FedEx,

como empresa de entregas expressas (Gardner, 1994).

O amplo movimento de terceirização, patrocinado pelas empresas

industriais e comerciais a partir da década de 80, a crescente importância

do serviço ao cliente, novos padrões de relacionamento nas cadeias de

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suprimento, conjugados com a maior disponibilidade de tecnologia e

informações para aplicações logísticas, contribuíram fortemente para o

crescimento atual da indústria de 3PLs.

As indústrias começam a se conscientizar que a atividade de

logística demanda contínuos investimentos sendo que durante um longo

tempo, esta área, não fazia parte do foco das atenções das empresas.

Para atuar satisfatoriamente na distribuição sabemos que hoje os

operadores logísticos e empresas tem de concentrar fortemente

investimentos em :

- Tecnologia da Informação

- Treinamento e reciclagem

- Multimodalidade.

Estudo veiculado há alguns anos atrás no continente europeu citava

que 70% dos investimentos em TI eram efetuados por empresas e

departamentos de logística.

Desta forma, várias delas preferiram terceirizar todas ou algumas

destas atividades e se concentrar no seu negócio principal. Abriram-se,

portanto, amplas oportunidades para prestadores de serviços logísticos.

Outro ponto importante é que o crescimento do número de 3PLs e

as inúmeras possibilidades de atuação resultam numa segmentação.

Pesquisa realizada por Sink (1996) com representantes de diversos setores

industriais norte-americanos permitiu a identificação de diversas

dimensões de segmento dos provedores de serviços logísticos. De uma

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maneira geral, os 3PLs podem ser segmentados com base em pelo menos

quatro dimensões básicas: serviços oferecidos, escopo geográfico de

atuação, tipos industriais que entendem infra-estrutura disponível

(propriedade dos ativos).

Sob o ponto de vista dos tipos de serviços prestados, os 3PLs podem

ser classificados em dois grandes grupos básicos: os especialistas

operacionais e os integradores. O primeiro grupo corresponde às

empresas que oferecem serviços específicos como, por exemplo, o

transporte, a armazenagem, a consolidação ou a etiquetagem. Neste caso,

apesar de executar somente uma atividade básica, há a possibilidade de

adicionar valor ao cliente incorporando serviços extras como

processamento de pedidos, reparo e controle de estoques. A competência

básica deste grupo é a excelência operacional. No segundo caso, a

empresa é capaz de prover uma solução logística completa, uma vez que

abrange uma grande gama de serviços planejados e gerenciados de forma

integrada. Também neste caso, é possível oferecer atividades extras, fora

do conjunto de serviços básicos, como fazem algumas empresas de

consultoria ao desenvolverem projetos logísticos complexos para clientes

específicos.

No que se refere ao escopo geográfico, percebe-se claramente uma

tendência dos principais provedores e ampliarem o espaço de atuação

como forma de conseguir maior uso para seus ativos e de evitar a perda

de contas domésticas de clientes com atuação internacional (Lieb, 1997).

A política de segmentação por tipos de clientes é uma outra

tendência identificada pelo mesmo autor. Uma primeira dimensão de

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segmento por cliente é seu tipo de indústria visando a uma maior

especialização setorial e customização. Exemplos típicos de indústrias

prioritárias para segmentação são a automotiva, alta tecnologia

(informática, telecomunicações), alimentos e papel. Percebe-se também

tanto nos EUA como na Europa, uma tendência à segmentação como base

no tamanho do cliente. Nos EUA, teste tipo de segmentação está bem

definido, de forma que os grandes provedores atendem, quase que

exclusivamente, às grades contas. Embora os pequenos clientes estejam,

cada vez mais, terceirizando suas atividades logísticas, o fazem para

especialistas como transportadoras ou armazenadores. Verifica-se,

contudo que, na Europa, alguns grandes provedores já são responsáveis

pela logística de empresa de menor porte, e que este pode vir a se tornar

um bom nicho de mercado para grandes provedores.

Segundo Africk (1994), o mais geral de todos os tipos de

segmentação é aquele que divide os operadores baseados ou não em

ativos, o que Sink (1996) chamou de propriedade dos ativos. Um outro

tipo de operador identificado por Afrik (1994) são os híbridos, isto é,

aqueles que possuem ativos próprios, mas também se utilizam da

subcontratação de ativos de terceiros. Segundo ele, estas empresas são,

em geral, um grupo onde as “empresas-filhas” possuem os recursos

humanos qualificados e os sistemas de informação, e as “empresas-mães”

os ativos físicos. Nesta situação, encaixam-se empresas como a Ryder e a

Exel, por exemplo.

Ainda quanto à propriedade dos ativos, segundo Africk (1994), os

contratos com provedores baseados em ativos podem ser estruturados

com base em capacidade dedicada ou ativos dedicados. No primeiro caso,

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o provedor se compromete a atender a determinado volume e níveis de

serviço especializados pela contratante, mas utilizará os ativos para

diversos clientes. Já no segundo caso, o provedor disponibiliza seus ativos

para um único cliente, aumentando, assim, a garantia de cumprimento ou

superação das especificações. Afrik (1994) Mullert (1993), chama atenção

para o fato de que não há, em princípio, um tipo de operador melhor do

que o outro; o que há são tipos de operadores mais adequados ás

necessidades de empresa específica.

2.3 - PROBLEMAS E OPORTUNIDADES PARA OS PRESTADORES DE

SERVIÇOS LOGÍSTICOS

Um dos principais entraves ao crescimento dos provedores de

serviços logísticos é o receio dos potenciais clientes em perder o controle

de sua logística e, conseqüentemente, do nível do serviço prestado. No

entanto, Kao (1993) ressalta que estas inseguranças, ou mesmo as com

relação aos danos dos produtos, podem ser superadas com o

estabelecimento de padrões de desempenho que levem estes pontos em

consideração.

Segundo Lieb (1998), há uma série de outros problemas

enfrentados pela indústria, incluindo o complexo e caro processo de

venda dos serviços, as dificuldades na obtenção de pessoal qualificado, o

custo associado ao desenvolvimento de sistemas de informação e,

concordando com Laarhoven (1994), as intensas pressões por redução de

preços.

AFRICK, J. M.; CALKINS, C.S.; Does asset ownership mean better service?, Transportation &

Distribution,1994, p.49-61.

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Os custos incorridos na preparação e negociação de propostas e no

desenvolvimento de soluções customizadas, principalmente naquelas

planejadas antecipadamente aos grandes “bids”, acaba resultando em

gastos da ordem de milhões de dólares, segundo Chief Excenter Offices de

empresas do setor (Lieb, 1998).

A questão do recrutamento e seleção de pessoal qualificado torne-

se crítica pela necessidade de rápida contratação para a execução de um

contrato recém fechado. Um CEO descreveu a situação para Lieb (1998):

“Estas pessoas não estão simplesmente sentadas pero dos nossos

escritórios esperando que bids sejam ganhos. Quando ganhamos um,

temos que adicionar pessoal rapidamente, e isto é um problema”. (p.75).

Uma solução utilizada para contornar o problema é a contratação de

pessoal da empresa cliente, que em geral, enxuga seu quadro a terceirizar

Outras práticas, segundo Lieb (1998), são: a contratação de recém-

formados ou de funcionários de empresas concorrentes. Uma

conseqüência destas dificuldades é que em um ano, os presidentes de

nove dentre vinte e cinco maiores provedores de serviços logísticos

mudam de emprego. Em uma indústria onde os contratos de parcerias

tendem a ficar cada vez mais longos, isto pode ser uma fonte de

problemas.

A questão do treinamento é vista por Lieb (1998) como outra

grande geradora de problemas. Segundo ele, a necessidade de rápida

entrada em operação, não sobra muito tempo para que o funcionário

receba um treinamento adequado. Sendo assim, apesar de ainda nem

estar familiarizado com a organização do provedor, ele já passa a

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trabalhar com o cliente. Esta política de contratação gera problemas de

comunicação, coordenação e integração.

Independentemente da indústria escolhida, Lieb (1998) chama

atenção para as transformações ocorridas em relação aos sistemas de

informação, que estão debaixo de fatores de diferenciação, para se

transformar em um pré-requisito ou necessidade básica. Mesmo as

empresas que não pretendem ser líderes nesta área têm investido

maciçamente em tecnologia da informação. Como forma de minimizar o

impacto desta tendência nos custos operacionais, diversas delas empresas

tem realizado parcerias com empresas TI (Tecnologia da Informação).

Exemplo disto é a parceria da Rider com a IBM e com Andersen

Consulting.

Considerando a variedade de determinações e definições a respeito

dos 3PLs, e a necessidade de defini-las claramente, tornou-se a decisão de

adotar a denominação operadores logísticos, amplamente utilizadas no

Brasil, para caracterizar os prestadores de serviços logísticos integrados,

ou seja, os integradores, segundo Berglund (1996). Para fins deste estudo,

operadores logísticos são os provedores de serviços logísticos capacitados

a realizar, no mínimo, a execução e o gerenciamento, de forma integrada,

da armazenagem, do transporte, assim como o controle de estoques.

2.4 - CARACTERÍSTICAS GENÉRICAS DOS OPERADORES NO BRASIL

Analisando os levantamentos anuais realizados pela Revista

Tecnologística sobre Operadores Logísticos no Brasil podemos concluir

que o tempo médio de atuação no país é de cerca de quinze anos.

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Tal fato era de se esperar, dado que o fenômeno dos operadores

logísticos acabarem por se originar muitas vezes de negócios já formados

ou se instalarem no Brasil vindos de outros países de origem.

Das empresas aqui instaladas cerca de 50% originaram-se de

armazéns gerais, 35% de transportadoras, 5% de empresas de courier

(entregas urgentes) e 10% com origens diversas.

Quanto à nacionalidade, 65% tiveram sua origem no exterior.

Sob o ponto de vista do escopo geográfico, todas as empresas

afirmam ter atuação no âmbito nacional.

2.5 - SERVIÇOS OFERTADOS

A primeira característica que chama atenção em relação aos

serviços é a variedade da oferta proporcionada pelas empresas. Todas,

sem exceção, oferecem um mínimo de oito diferentes tipos de serviços,

ou seja, transporte rodoviário, transporte aéreo, armazenagem,

disponibilização de recursos dedicados, logística integrada, gestão de

informações logísticas, controle e pagamento de fretes, e documentação

(Ex. emissão de notas fiscais).

Apesar desta ampla variedade, os serviços de transporte ferroviário

e marítimo vêm crescendo mas ainda tem oferta muito restrita.

____________________________________________________________

Com 18 anos de mercado – desde 1995 – e pioneira no segmento de logística, a Revista Tecnologística –

ao lado do Tecnologística Online - é hoje uma das publicações mais respeitadas do setor, servindo de

referência e fonte de consulta para todo o mercado.

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Também chama atenção a pequena oferta de serviços de

consultoria e desenvolvimento de projetos e soluções logísticas para

clientes potenciais. Isto significa ainda uma oportunidade pouco explorada

no Brasil.

Embora o número de serviços ofertados seja grande, a receita total

das empresas é fortemente concentrada em número limitado deles.

Dentre os serviços com maior participação, destacam-se o transporte e

armazenagem, mais facilmente terceirizáveis.

Em média, os operadores brasileiros trabalham para cerca de 32

clientes, sendo que este número varia de no mínimo seis a um máximo de

sessenta.

No cenário nacional os operadores executam contratos de porte

relativamente limitado. Cerca de 20% possuem contratos superiores a

R$10 Milhões. Isto parece ser um indicador de que os clientes estão

contratando apenas partes limitadas do processo logístico com um

determinado operador, ao invés de entregar toda ou grande parte da

operação a um operador integrado.

Mesmo nestas condições, verifica-se que o processo de negociação

para o fechamento de um determinado contrato é razoavelmente longo,

levando em média cinco meses, mas podendo variar entre três e seis

meses.

2.6 - INFRAESTRUTURA DISPONÍVEL NOS OPERADORES LOGÍSTICOS

No que diz respeito aos armazéns dos operadores, verifica-se uma

forte concentração na região Sudeste, que abriga 68% da capacidade

instalada no país em área tendo o Estado de São Paulo sozinho 54%.

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A região Nordeste, com treze armazéns, vem em segundo lugar.

Todos os operadores atuando no Brasil, sem exceção, possuem pelo

menos um armazém na região Sudeste.

A quantidade de veículo, no entanto, varia muito de um mínimo de

sete, a um máximo de 2.540. Mesmo possuindo ativos próprios as

empresas fazem uso intensivo de subcontratação de terceiros a fim de

complementar suas necessidades.

São várias as atividades terceirizadas, sendo que o transporte

rodoviário, o transporte aéreo e as operações de courier, são total ou

parcialmente terceirizadas por quase todos os operadores. Outras

atividades terceirizadas são o desenvolvimento de softwares, transporte

marítimo, armazenagem, aplicações na internet, transporte ferroviário,

aplicações de EDI. O transporte rodoviário além de ser um dos poucos que

todas as empresas, pelo menos em parte, terceirizam, é o que possui,

invariavelmente, o maior número de terceiros homologados. Este número

varia de quinze a duzentos.

As respostas referentes ao uso de tecnologia de informação

sugerem uma alta taxa de utilização de WMS (Sistema de gerenciamento

de depósitos) na armazenagem, apesar da adoção do código de barras

ainda não ser tão alta (está presente em somente cinco das oito empresas

pesquisadas). O acompanhamento de pedidos pela internet já está sendo

oferecido aos clientes, tanto de e-commerce (comércio eletrônico),

quanto do canal tradicional em larga escala. As respostas do uso do

EDI(Troca eletrônica de dados) indicam que, apesar do crescimento do uso

da internet, este sistema ainda está sendo muito utilizado.

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Sistemas que dão suporte à frota parecem ainda não estar sendo

adotados em larga escala como o GPS (Gerenciador de posicionamento) e

Roteirizadores.

O número médio de funcionários é de 716, variando significamente

de empresa para empresa, de um mínimo de 250 a um máximo de 3.700.

Sob o ponto de vista do nível de escolaridade, 8% possuem o 1º grau

completo, 57,2% o 2º grau completo, 17,5% possuem curso superior

completo, e 1,13% possuem pós-graduação.

Em pesquisa realizada pelo Lieb (1999) com 25 operadores logísticos

norte-americanos , os entrevistados afirmam que recrutar 25% do pessoal

de universidades e outros 25% do próprio setor.

Embora 17,5% da mão-de-obra possuam pelo menos o superior

completo, há um sentimento de deficiência na qualificação de pessoal,

principalmente no que diz respeito ao nível técnico e gerencial. Tal

sentimento talvez esteja associado à deficiência de formação existente

ainda no Brasil.

2.7 - OPERADORES LOGÍSTICOS FRIGORIFICADOS

No que tange aos dedicados à cadeia de frios são identificados 29,

sendo que a idade média destes gira em torno de vinte anos. Isto porque

muito consideram a data de sua inauguração em suas atividades de

origem como armazéns gerais ou transportadoras.

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As que realmente nasceram como operadores logísticos a fim de

atuar especialmente neste segmento possuem entre onze e quatorze anos

de vida.

Quanto ao faturamento, a média é R$11 Milhões anuais.

Outro aspecto importante é que a capacidade de armazenagem

frigorificada declarada pelos operadores logísticos e armazenadores de

capital privado representam 87% do total disponível do Brasil que era em

1995, segundo a ABIA, de 2,1 milhões de metros cúbicos. Isto significa

dizer que 13% ainda estão nas mãos do governo.

Somente a título de comparação, no mesmo período pesquisado

pela ABIA, os Estados Unidos possuíam 48 milhões de metros cúbicos

disponíveis, a Europa 60 milhões e o Japão 25 milhões.

Isto faz com que as empresas que exploram o segmento de food

service comecem a desenvolver parceiros sólidos.

No caso específico do Mac Donnald´s, este próprio, a partir de

determinado ponto, passou a questionar sua estratégia original, pois

percebeu que um operador logístico multi-cliente traz todos os benefícios

da escala, resultando em maior capacidade de soluções de problemas,

devido à experiência acumulada e, principalmente, na capacidade de

diluição e redução de custos, via pró-rateio de despesas fixas.

Voltando à questão da capacidade de armazenagem, através de

informações do mercado, é possível questionar alguns números

declarados e publicados na pesquisa. Isto significa que muito

provavelmente a capacidade disponível nas mãos dos operadores

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logísticos é menor. Sabiamente, alguns se utilizam de aluguel de espaço

em armazéns gerais a fim de conduzir suas operações.

O que também se chama área climatizada, na maioria dos casos não

passa de área fechada à frente das portas das câmaras frias, que acabam-

se tornando climatizada, se bem que abaixo das condições ideais, por

osmose pela abertura interrupta das referidas portas.

Outro aspecto preocupante diz respeito à frota ofertada. Além da

baixa quantidade, cerca de dois a três por operador, existe o aspecto da

refrigeração. Muitas mercadorias exigem congelamento (-12C a -23C) e

não refrigeração (0C a 10C), principalmente considerando-se que, em

rotas de entregas, as portas dos caminhões são constantemente abertas

para coleta de mercadorias, a questão da temperatura em um país

tropical, embalagens inadequadas para circulação e preservação da cadeia

de frios tornam-se muito importantes.

O que se tem visto, devido a esta carência, é o surgimento de

pequenos empresários, antigos carreteiros ou motoristas de empresas,

investindo em uma pequena frota de veículos e se agregando a

operadores. Surge, desta forma, a necessidade de uma ampla avaliação de

qualidade dos equipamentos e da manutenção, principalmente, dos

equipamentos de frigorificação.

Já há exemplos de operadores logísticos frigorificados que

determinam o padrão de caminhões, equipamentos, e equipe, fechando

um contrato de longo prazo de aluguel de caminhões e treinamento de

motoristas e entregadores, pois as grandes empresas de transporte a frio

estão presas aos grandes produtores deste segmento, como é o caso da

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Schio (Kibon) e Coopercargas (Sadia). Desta maneira, cobram caro para

fechar negócios com os outros.

Também existe a carência de pessoal qualificado para o

desenvolvimento de soluções “taylor made” (feitas sob medida) para os

clientes, abrangendo não apenas aspectos operacionais, mas também as

características fiscais e tributárias de cada produto, cliente e região.

Isto trás à tona a questão da oferta de profissionais preparados e

especializados em logística. Se isso já afeta os operadores de carga geral,

na logística frigorificada o problema é maior, pois exige, dentre outras

informações a necessidade de conhecer alimentos e boas práticas. Desta

forma já se vêem alguns operadores mais atuantes e com visão de futuro

investirem em engenheiros de alimentos, dando-lhes toda a formação

complementar para atuarem em logística.

Outro desafio a ser encarado é o e-commerce, que assim como a

oferta de serviços integrados, é visto como uma das maiores

oportunidades para os operadores logísticos no futuro.

Sete entre oito operadores entrevistados em recente estudo da

Coppead percebem o e-commerce como uma das mais promissoras

oportunidades para o crescimento dos operadores logísticos.

Este mesmo resultado foi obtido por Lieb (1999), que verificou ser o

e-commerce a maior oportunidade para o crescimento, segundo a visão

dos operadores norte-americanos. No entanto, existe um consenso de

que o volume atual no Brasil ainda não justifica grandes investimentos,

principalmente no que diz respeito à tecnologias de armazenagem e

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separação. A oferta de serviços de logística integrada, principalmente para

dar suporte a gestão de cadeias de suprimento é a segunda maior

oportunidade segundo a visão dos entrevistados.

O e-commerce associado ao mercado de conveniência amplia o

desafio. Já temos em países como a Coréia do Sul terminais de

encomenda de produtos alimentícios disponíveis em estações de Metrô.

Tesco Homeplus Virtual Subway na Coréia do Sul - Fonte : http://mundoparamorar.com.br

Assim como nos supermercados, cada produto possui sua etiqueta de

valor e também tem um QR Code. Dessa forma, as pessoas podem

comprar os produtos através de seus celulares, adicionando o produto no

____________________________________________________________

QR Code (Quick Response) é um código de barras bidimensional que pode ser facilmente escaneado

usando a maioria dos telefones celulares modernos equipados com câmera.

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carrinho de compras online do mercado. E os produtos são entregues na

casa do consumidor, no mesmo dia.

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CAPÍTULO III

TENDÊNCIAS DA LOGÍSTICA NO MERCADO DE FOOD SERVICE

Acompanhando as inovações tecnológicas pelas quais têm passado

as indústrias do frio, o crescimento da demanda por produtos congelados

e resfriados e as gradativas mudanças dos conceitos nas prestações de

serviços, a indústria de armazenagem frigorificada vem experimentando

significativas mudanças operacionais e no foco de seus negócios, ao longo

dos últimos anos. Um grande número de empresas do setor está deixando

de ser apenas simples armazéns e se transformando em operadores

logísticos capacitados a prestar serviços de alto valor agregado a seus

clientes. É fato, também, que o mercado é ainda muito pequeno, quando

comparado a outros de primeiro mundo, mas está em franca expansão.

Do total de câmaras brasileiras, cerca de 87% pertencem à iniciativa

privada e o restante a empresas governamentais, sendo que, neste

cálculo, não estão incluídas as unidades particulares para uso exclusivo

dos grandes produtores e processadores.

Hoje, cerca de 2% do PIB circulam em forma de mercadorias pelos

estabelecimentos armazenados resfriados.

Quando se trata de armazéns frigorificados, necessários para a

conversão de produtos perecíveis, em especial carne bovina, aves,

pecados, frutas, lácteos, além de pratos congelados semi-prontos, duas

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grandes cadeias de atividades tornam-se intimamente ligadas, a de

abastecimento e a do frio. A primeira delas diretamente ligada a aspectos

logísticos e a segunda de conservação das propriedades dos produtos em

condições adequadas. Falhas em qualquer uma delas comprometem a

outra necessariamente. A garantia da cadeia de frios, por exemplo, deve

ser iniciada desde a produção ou colheita, até a casa do consumidor, para

que seja completa. Já no início da cadeia, a falta de tecnologia adequada

na fase de pós-colheita de frutas e hortaliças é responsável pelo alarmante

índice de perdas, que pode atingir a marca dos 30 a 40%, segundo estudos

da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, fora as etapas seguintes

de transporte, armazenagem e distribuição. É crescente a preocupação

com este tipo de desperdício, assim como a otimização de todo o processo

produtivo, ainda mais quando se acrescentam a essa lista produtos de alto

valor agregado, como os produtos congelados. As indústrias alimentícias

ainda esperam o aumento da confiabilidade da cadeia do frio, que passa

necessariamente pelos entrepostos e pelo transporte frigorificados, antes

de lançar no mercado várias opções de produtos cuja tecnologia de

fabricação já teria sido desenvolvida, entre eles embutidos, fatiados,

laticínios e massas frescas.

Para atender às necessidades do mercado, a exemplo do que ocorre

em diversos setores da economia, a indústria de armazenagem

frigorificada está passando por mudanças estruturais radicais. No tempo

da cultura inflacionária, mantinham-se grandes estoques estáticos, para

fins estratégicos ou especulativos, enquanto hoje o modelo que vigora é

muito mais dinâmico, rotativo e focado na prestação de serviços. Os

entrepostos, que serviam apenas de simples armazéns hoje passam a ser

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considerados operadores logísticos, responsáveis muitas vezes pelas

etapas de recebimento de mercadorias, identificação, endereçamento,

armazenagem, picking (fracionamento), divisão de lotes, separação e

carregamento de cargas. Embora o transporte não seja propriamente área

de domínio desse setor, alguns operadores logísticos passam a se

encarregar também do transporte e até da locação de produtos na

gôndula e nos expositores frigoríficos da loja varejista, cobrindo todo o

processo. Com esse tipo de ação, além dos ganhos econômicos diretos,

espera-se um controle muito mais efetivo da cadeia de frio.

Uma análise segmentada do setor, porém, revela que as diversas

empresas estão em diferentes estágios na preparação desse tipo de

serviço e no acompanhamento de inovações, mas de uma forma ou de

outra caminham para uma maior integração de todos os agentes. Entre

outros pontos, as mudanças na relação cliente-fornecedor, motivadas pela

onda gerencial de manter nas empresas estruturas enxutas, ajustar o foco

dos negócios da organização e terceirizar atividades meio, deram origem

ao conceito Just in time (estoque justo adequado a necessidade), que se

tornou uma referência para o setor. Com isso, fica de certa forma

decretado o fim dos grandes estoques, o que um interrelacionamento

muito maior entre todas as partes, para evitar quebra de cadeia de

abastecimento. Além disso, um giro maior de mercadorias faz com que o

período de tempo entre produção e venda torne-se menor e prolongue a

vida útil do produto na casa do consumidor.

3.1 - TERCEIRIZAÇÃO

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A necessidade de oferecer serviços integrados está também

diretamente relacionada a terceirização por parte de muitos produtores

que, ao concentrarem seus esforços na atividade principal de produzir e

comercializar o produto, delegam a uma empresa especializada a

responsabilidade pela movimentação logística dos produtos. Além disso,

os armazéns gerais e prestadores de serviços logísticos conseguem ratear

entre diversos usuários os custos do sistema, que requer constantes

investimentos em desenvolvimentos tecnológicos e em manutenção. Nos

últimos quinze anos, a tendência de terceirização tem sido muito visível.

As empresas produtoras fazem parcerias, para que terceiros passem a

cuidar dos serviços de armazenagem e distribuição.

Acrescentem-se o fato de que os entrepostos refrigerados são

construções cada vez mais especializadas e automatizadas, que

demandam altos investimentos. Para estocar uma tonelada de produtos é

preciso investir inicialmente em torno de milhares de dólares antes

mesmo de começar a operar, somente com construção e tecnologia.

Outro ponto que incentiva a terceirização é o fato de os armazéns,

ao passarem atuar como centrais de distribuição, conseguirem cargas e

desenvolver rotas de abastecimento que reduzem os custos operacionais

globais desta atividade. Os operadores logísticos, então, formam a ponte

entre os produtores e os distribuidores varejistas. A grosso modo, os

produtores concentram seus interesses na economia de escala e na

otimização da operação e o varejista nas condições e na rapidez com que

o produto chega as suas prateleiras.

3.2 - CUSTO DA ENERGIA

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Apesar da expectativa otimista de desenvolvimento global do setor,

as dificuldades estruturais geradas pelo alto custo da energia elétrica no

Brasil criam para os operadores frigorificados uma importante linha de

custos.

O peso da energia dentro do custo operacional é significativo. Cerca

de 84% do consumo de eletricidade em instalações frigorificadas

concentram-se no processo de refrigeração das câmaras.

Estes 84% representam muitas vezes até 5% dos custos

operacionais o que faz com que os geradores deixem de ser meramente

uma opção e passem a ter status de investimento necessário.

Importante ressaltar que independente da questão de custos citada

existem os aspectos de segurança uma vez que uma interrupção

prolongada de energia pode significar perdas de produtos.

Contratadores de operadores frigorificados cada vez mais incluem

este item como mandatório em “biddings”.

A questão da energia passa ser alvo de estudos especializados por

parte dos operadores de maior porte. Segundo o professor Lincoln de

Camargo Neves Filho, da Unicamp e membro da IBF-Instituto Brasileiro do

Frio :

“...em grande número de casos, as instalações frigoríficas são

dimensionadas como se as condições fossem sempre constantes, o que na

verdade não ocorre. Há flutuações de carga térmica em função de

variações das condições externas e do carregamento da câmara ou do

túnel de congelamento, por exemplo. Procurando maior segurança,

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algumas vezes seleciona-se um compressor de maior capacidade, o que é

uma medida discutível. Sempre é preciso levar em conta o tipo de

instalação e a necessidade de responder rapidamente a um aumento de

demanda, mas a divisão da carga térmica em dois compressores, de forma

que um opere sempre a plena carga e outro supra eventuais necessidades

de ajuste pode ser uma das opções...”

Isto mostra como a engenharia de projetos dos novos depósitos

tende a se configurar como um novo negócio promissor.

3.3 - CADEIA DE FRIOS

Quanto ao atendimento aos padrões mínimos desejáveis para a

preservação de frios, um grande avanço recente foi a publicação da

Norma da ABNT NBR 14701(Normas técnicas) “Transporte de Produtos

Alimentícios Refrigerados – Procedimentos e Critérios de Temperatura” ,

resultado de dois anos de discussões de um comitê formado por

especialistas da área, representando as principais entidades relacionadas

ao tema, como IBF, ABRAVA, Faculdade de Engenharia de Alimentos da

Unicamp, ABEA, ABIA, ABRAS e ABIAF, além de profissionais das empresas

de processamento, estoque, fabricantes de equipamentos, atacadistas e

distribuidores.

IBF – Instituto Brasileiro de Frio

ABRAVA – Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento

ABEA – Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos

ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados

ABIAF – Associação Brasileira da Indústria de Alimentação Frigorificada

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Na verdade a norma consiste na formalização das boas práticas de

produção, seguidas pelas grandes companhias há muitos anos, mas agora

disponíveis para todos os interessados, de forma clara e objetiva. O

controle de temperatura é o único dessa norma e de vários documentos

de referência adotados no Brasil e no exterior.

Um dos pontos de destaque da norma é a obrigatoriedade de

registradores de temperatura, com controles auditáveis, para permitir o

acompanhamento das condições de acondicionamento e transporte do

produto em todos os estágios. Outro aspecto relevante é a adoção do

princípios de responsabilidade solidária, preconizado pelo Código de

Defesa do Consumidor. Na prática, isso significa que todos os agentes

envolvidos na cadeia do frio podem ser responsabilizados pela

deterioração de alimentos causada por refrigeração inadequada.

Problemas de frio ligados ao transporte podem ser identificados e

diagnosticados nas etapas de expedição e recebimento de mercadorias,

por isso, medidas que garantem o uso de metodologias corretas de

verificação de temperatura devem ser frequentemente adotadas. Entre

elas a aplicação de procedimentos operacionais para o mínimo de

exposição do produto em temperatura inadequada, o emprego de

registros para rastreamento, gerando estatísticas e eventuais ações

corretivas, além de constante preocupação com o uso de equipamentos

adequados, incluindo termômetros, câmaras e carrinhos de

movimentação. Fatores como temperatura, umidade, circulação do ar,

iluminação e supervisão durante a estocagem influem no processo de

armazenamento e são pontos críticos.

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3.4 - A LOGÍSTICA REVERSA

Usualmente, pensa-se em logística como o gerenciamento do fluxo

de materiais do seu ponto de aquisição até o seu ponto de consumo. No

entanto, existe também um fluxo logístico reverso, do ponto de consumo

até o ponto de origem, que precisa ser gerenciado.

Este aspecto, em se tratando de alimentos, é bastante sério e tende

a se tornar preocupação curto e médio prazos.

Este fluxo logístico reverso já é comum para uma boa parte das

empresas alimentícias. Por exemplo, fabricantes de bebidas têm que

gerenciar todo o retorno de embalagens (garrafas) dos pontos de vendas

até seus centros de distribuição. A indústria de latas de alumínio é notável

no seu grande aproveitamento de matéria-prima reciclada, tendo

desenvolvido meios inovadores na coleta de latas descartadas.

Existem ainda outros setores da indústria onde o processo de

gerenciamento da logística reversa é mais recente, como na indústria de

eletrônicos, varejo e automobilística. Estes setores também têm lidar com

o fluxo de retorno de embalagens, de devoluções de clientes ou do

reaproveitamento de matérias para produção.

Este não é nenhum fenômeno novo, e exemplos como o do uso de

sucatas na produção e reciclagem de vidro têm sido praticados a bastante

tempo. Por outro lado tem-se observado que o escopo e a escala das

atividades de reciclagem e reaproveitamento de produtos e embalagens

têm aumentado consideravelmente nos últimos anos.

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No caso específico de food service, o desenvolvimento de materiais

de embalagem com ação conservante tem ampliado os debates sobre a

logística reversa. Neste caso o tetra Pack serve como um bom exemplo.

Algumas das causas para isto são apresentadas abaixo :

a) Questões ambientais: existe uma clara tendência de que a legislação

ambiental caminhe no sentido de tornar as empreasas cada vez

mais responsáveis por todo o ciclo de vida de seus produtos. Isto

significa ser legalmente responsável pelo seu destino após a entrega

dos produtos aos clientes e pelo impacto que estes produzem no

meio ambiente. Um segundo aspecto diz respeito ao aumento de

consciência ecológica dos consumidores, que esperam que as

empresas reduzam os impactos negativos de sua atividade ao meio

ambiente. Isto tem gerado ações por parte de algumas empresas

que visam a comunicar ao público uma imagem institucional

“ecologicamente correta”.

b) Concorrência – os varejistas acreditam que os clientes valorizam as

empresas que possuem políticas mais liberais de retorno de

produtos. Esta é uma vantagem percebida onde os fornecedores ou

varejistas assumem os riscos pela existência de produtos

danificados. Isto envolve, é claro, uma estrutura para recebimento,

classificação e exposição de produtos retornados. Esta é uma

tendência que se reforça pela existência de legislação de defesa dos

consumidores garantindo-lhes o direito de devoluções ou trocas.

c) Redução de custo : as iniciativas relacionadas à logística reversa têm

trazido consideráveis retornos para as empresas. Economias com a

utilização de embalagens retornáveis ou com o reaproveitamento

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de materiais para produção têm trazido ganhos que estimulam cada

vez mais novas iniciativas. Além disto, os esforços em

desenvolvimento e melhorias nos processos de logística reversa

podem traduzir também retornos consideráveis, que justificam os

investimentos realizados.

3.5 - O PROCESSO DE LOGÍSTICA REVERSA E O CONCEITO DE CICLO

DE VIDA

Por traz do conceito de logística reversa está um conceito

mais amplo, que é o “ciclo da vida”. A vida de um produto, do ponto

de vista logístico, não termina com sua entrega ao cliente. Produtos

se tornam obsoletos, danificados, ou não funcionam e devem

retornar ao seu ponto de origem para serem adequadamente

descartados, reparados ou reaproveitados.

Do ponto de vista financeiro, fica evidente que, além dos

custos de compra de matéria-prima, de produção, de armazenagem

e estocagem, o ciclo de vida de um produto inclui também outros

custos que estão relacionados a todo o gerenciamento do seu fluxo

reverso. Do ponto de vista ambiental, esta é uma forma de avaliar

qual o impacto que teve um produto sobre o meio ambiente

durante toda a sua vida. Esta abordagem sistêmica é fundamental

para planejar a utilização dos recursos logísticos de foram a

contemplar todas as etapas do ciclo de vida dos produtos.

Neste contexto, pode-se então, definir logística reversa como

sendo o processo de planejamento, implementação e controle do

fluxo de matérias-primas, estoque em processo e produtos

acabados (e seu fluxo de informação) do ponto de consumo até o

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ponto de origem, com o objetivo de recapturar valor ou realizar um

descarte adequado.

O processo de logística reversa gera materiais reaproveitados

que retornam ao processo tradicional de suprimento, produção e

distribuição.

Este processo é geralmente composto por um conjunto de

atividades que uma empresa realiza para coletar, separar, embalar

e expandir itens usados, danificados ou obsoletos dos pontos de

consumo até os locais de reprocessamento, revenda ou de descarte.

Existem variantes com relação ao tipo de reprocessamento

que os materiais podem ter, dependendo das condições em que

estes entram no sistema de logística reversa. Os materiais podem

retornar ao fornecedor quando houver acordos neste sentido.

Podem ser reciclados se não houver possibilidade de recuperação.

Todas estas alternativas geram materiais reaproveitados que

entram de novo no sistema logístico direto. Em último caso, o

destino pode ser o seu descarte final.

No caso do food service, estes itens estão afetos a

embalagens acondicionadas como por exemplo: caixas externas,

vidro, tetra Pack, cilindros, etc.

Nas embalagens, os fluxos de logística reversa acontecem

basicamente em função de sua reutilização, ou devido a restrições

legais, como na Alemanha, por exemplo, que impede seu descarte

no meio ambiente. Como as restrições ambientais no Brasil, com

relação a embalagens de transporte, não são tão rígidas, a decisão

sobre a utilização de embalagens retornáveis ou reutilizáveis se

restringe aos fatores econômicos.

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Existe uma grande variedade de contêineres e embalagens

retornáveis, mas que têm um custo de aquisição consideravelmente

maior do que as embalagens one way. Entretanto, quanto maior o

número de vezes que se usa a embalagem retornável, menor o

custo por viagem que tende a ficar menor que o custo de

embalagem one way.

3.6 - FATORES CRÍTICOS QUE INFLUENCIAM A EFICIÊNCIA DO

PROCESSO DA LOGÍSTICA DE REVERSA

Dependendo de como o processo de logística reversa é

planejado e controlado, este terá uma maior ou menor eficiência.

Alguns dos fatores identificados como sendo críticos e que

contribuem positivamente para o desempenho do sistema de

logística reversa são comentados abaixo.

a) Bons controles de entrada: no início do processo de logística

reversa é preciso identificar corretamente o estado dos

materiais que retornam para que estes possam seguir o fluxo

reverso correto ou mesmo impedir que materiais que não devam

entrar no fluxo o façam. Por exemplo identificado produtos que

poderão ser revendidos, produtos que poderão ser

recondicionados ou que terão que ser totalmente reciclados.

Sistemas de logística reversa que não possuem bons controles de

entrada dificultam todo o processo subseqüente, gerando

retrabalho. Podem também ser fonte de atritos entre

fornecedores e clientes pela falta de confiança sobre as causas

de retornos. Treinamento de pessoal é questão chave para

obtenção de bons controles de entrada.

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b) Processos padronizados e mapeados: uma das maiores

dificuldades na logística reversa é que ela é tratada como um

processo esporádico, contingencial e não como um processo

regular. Ter processos corretamente mapeados procedimentos

formalizados é condição fundamental para se obter controle e

conseguir melhorias.

c) Tempo de ciclo reduzidos: tempo de ciclo se refere ao tempo

entre identificação da necessidade de reciclagem, disposição ou

retorno de produtos e seu efetivo processamento. Tempos de

ciclos longos adicionam custos desnecessários porque atrasam

na geração de caixa (pela venda de sucata, por exemplo) e

ocupam espaço, dentre outros aspectos. Fatores que levam a

latos tempos de ciclos são controle de entradas ineficientes, falta

de estrutura (equipamentos, pessoas) dedicada ao fluxo reverso

e falta de procedimentos claros para tratar as “exceções” que

são, na verdade, bastante freqüentes;

d) Sistemas de informação: a capacidade de rastreamento de

retornos, medição dos tempos de ciclo, medição do desempenho

de fornecedores (avarias nos produtos, por exemplo) permite

obter informação crucial para negociação, melhoria de

desempenho e identificação de abusos dos consumidores no

retorno de produtos. Construir ou mesmo adquirir estes

sistemas de informação é um grande desafio. Praticamente

inexistem no mercado de sistemas capazes de lidar com o nível

de variação e flexibilidade exigida pelo processo de logística

reversa.

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e) Rede logística planejada: da mesma forma que o processo

logístico direto, a implementação de processos logísticos

reversos requer a definição de uma infra estrutura logística

adequada para lidar como os fluxos de entrada de materiais

usados e fluxos de saída de materiais processados. Instalações

de processamento e armazenagem e sistemas de transporte

devem desenvolvidos para ligar de forma eficiente os pontos de

consumo onde os materiais usados devem ser coletados até as

instalações onde serão utilizados no futuro. Questões de escala

de movimentação, até mesmo, falta de correto planejamento

podem fazer com que as mesmas instalações usadas no fluxo

direto sejam utilizados no fluxo reverso, o que nem sempre é a

melhor opção, instalações centralizadas dedicadas ao

recebimento, separação, armazenagem, processamento,

embalagem e expedição de materiais retornados podem ser uma

solução, desde que haja escala suficiente.

f) Relações colaborativas entre clientes e fornecedores: no

contexto dos fluxos reversos que existem entre varejistas e

indústrias, onde ocorrem devoluções causadas por produtos

danificados, surgem questões relacionadas ao nível de confiança

entre as partes envolvidas. São comuns conflitos relacionados à

interpretação de quem é a responsabilidade sobre os danos

causados aos produtos. Os varejistas tendem a considerar que os

danos são causados por problemas no transporte ou, mesmo,

por defeitos de fabricação. Os fornecedores podem suspeitar

que está havendo abuso por parte do varejista ou que isto é

consequência de um mal planejamento. Em situações extremas,

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isto pode gerar disfunções como recusa para aceitar devoluções,

o atraso para creditar as devoluções e a doção de medidas de

controle dispendiosas. Fica claro que práticas mais avançadas de

logística reversa só poderão ser implemantadas se as

organizações envolvidas na logística reversa desenvolverem

relações mais colaborativas.

A logística reversa é ainda, de maneira geral, uma área com

baixa prioridade. Isto se reflete no pequeno número de

empresas que tem gerências dedicadas ao assunto. Pode-se

dizer que o país está em um estado inicial no que diz respeito ao

desenvolvimento de práticas de logística reversa. Esta realidade,

como visto, está mudando em resposta a pressões externas

como um maior rigor da legislação ambiental, a necessidade de

reduzir custos e a necessidade de oferecer mais serviço através

de políticas de devolução mais liberais.

Esta tendência deverá gerar um aumento do fluxo de carga

reverso, e é claro, de seu custo. Por conseguinte, serão

necessários esforços para aumento de eficiência, com iniciativas

para melhor estruturar os sistemas de logística reversa. Deverão

ser aplicados os mesmos conceitos de planejamento que no

fluxo logístico direto tais como estudos de localização de

instalações e aplicações de sistemas de apoio a decisão

(roteirização, programação de entregas, etc).

Isto requer vencer desafios adicionais, visto ainda a

necessidade básica de desenvolvimento de procedimentos

padronizados para a atividade de logística reversa.

Principalmente quando há referência à relação indústria –

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varejo, nota-se que este é um sistema caracterizado

predominantemente pelas exceções, mais do que pela regra. Um

dos sintomas desta situação é a praticamente inexistência de

sistemas de informação voltados para o processo de logística

reversa.

Um tópico a ser explorado em outra oportunidade diz respeito á

utilização de prestadores de serviço no processo de logística reversa.

Como esta é uma atividade onde a economia de escala é fator relevante e

onde os volumes do fluxo reverso são ainda pequenos, uma opção viável

se dá através de terceirização. Já é comum no Brasil a operação de

empresas que prestam serviço de gerenciamento do fluxo de retorno de

pallets. Considerando-se o escopo mais amplo da logística reversa, existe

espaço também para operadores que prestam serviços de maior valor

agregado como o rastreamento e o reprocessamento de produtos usados.

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CONCLUSÃO

É cada vez mais freqüente ouvir no mercado previsões de

crescimento da ordem de 20% a 30% ao ano das atividades logísticas no

Brasil, previsões estas que não se alteram com a passagem de trimestres e

semestres, superando em muito a acalentada taxa de 4% ao ano do PIB.

Em verdade, nunca se falou tanto em logística no Brasil como agora.

Precisa-se de logística para aumentar as vendas e as exportações, para

reduzir custos, para dar suporte as vendas pela internet, enfim, logística

para solucionar todo o tipo de problemas de supply chain (cadeia de

suprimentos) até que efetivamente o cliente tenha em mãos o produto

escolhido ao menor custo possível e perfeitamente íntegro.

Com certeza, a logística ajuda a encontrar soluções, mas o mais

importante é que ela cria novas oportunidades de negócios. O que se tem

percebido através do crescimento do mercado de operadores logísticos é

que as empresas estão cada dia mais às volta com a terceirização logística,

e que isto já se tornou parte das suas estratégicas de mercado visando

principalmente a consolidação de suas marcas através de custos e

qualidade de serviços compatíveis com um mercado cada vez mais

competitivo.

A presença de operadores logísticos no país começou a crescer,

sendo que a maioria vem do exterior ou atua em conjunto com grandes

parceiros locais. O mercado brasileiro exigiu que essas empresas se

instalassem muito rapidamente, favorecendo os grandes operadores que

já dispunham da experiência necessária.

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No início de 2002 a Gold Logística, especializada no setor

alimentício previu um crescimento em seus negócios superior a 30%,

segundo Eduardo Marques Filho, diretor de operações em entrevista à

Tecnologística (janeiro 2002).

As empresas do setor estão gradativamente consolidando suas

operações, indicando um rápido amadurecimento no mercado. Os

operadores logísticos, de modo geral, apresentam hoje uma boa

estrutura, compartilhando e integrando suas atividades com uma grande

rede de parceiros em âmbito nacional e internacional. O país vive um

momento em que a indústria e o comércio varejista necessitam de

competência e serviços com valor agregado para ganhar agilidade no

atendimento a seus clientes.

Outro aspecto importante é que as inovações tecnológicas e a

globalização contribuem de forma muito significativa para o aumento da

procura de prestadores de serviços de logística. Os operadores logísticos

tendem a ocupar um lugar de destaque no cenário econômico, por

propiciarem maior competitividade empresarial a seus clientes, que

passam a dedicar-se exclusivamente ao aprimoramento das atividades

inerentes ao seu “core business”.

Com a globalização e as diversas nuances na legislação tributária

brasileira, a operação logística torna-se em fator predominante para a

otimização do fluxo de recursos das empresas com resultados diretos

sobre a lucratividade. Em um momento de grandes mudanças

econômicas, sociais, tecnológicas, como o atual, a vantagem competitiva é

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de quem prestar os melhores serviços. Por isso, as perspectivas para os

operadores logísticos capacitados são as melhores possíveis.

A atividade logística é ainda relativamente nova no país, o que

explica seu grande potencial de crescimento e, também, os desníveis

encontrados entre as empresas que nela atuam.

Estamos falando de um segmento que tem cerca de vinte anos no

Brasil. Ainda há no mercado empresas que se intitulam operadores

logísticos meramente por modismo ou para passar uma idéia de

modernidade. Por sua vez, alguns clientes ainda confundem operador

logístico a transportadoras.

Por sorte, o mercado está cada vez mais seletivo e os franco

atiradores tendem a desaparecer tão rápido quanto aparecem. O único

problema é que durante essa curta existência, eles abalam a imagem do

verdadeiro operador, criando um certo descrédito perante aos usuários

potenciais e gerando uma concorrência desleal no que tange à tarifas.

Por esta razão vemos a formação de novas entidades e grupos de

trabalho que visam exatamente debater os problemas do segmento e

normatizar e estabelecer as regras para qualificação das empresas que se

propõem a atuar neste mercado.

O mercado está em busca de empresas que tenham profissionais

capacitados e capazes de desenvolver soluções personalizadas,

estabelecer relação de fidelidade, prestar atendimento com agilidade e

flexibilidade, nos prazos determinados e com qualidade assegurada,

tornado assim a logística um diferencial para obtenção de vantagens

competitivas reais.

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No que tange ao segmento de “food service” os clientes vêm-se

tornando cada vez mais exigentes, por estarem conscientes das exigências

necessárias para a manutenção do ciclo de vida útil dos produtos

alimentícios e que atendem ao segmento “food service” e das suas reais

responsabilidades no que tange à saúde alimentar de seus consumidores .

A evolução dos operadores logísticos é evidente, sendo que estes

cada vez mais prestam serviços que agregam valor aos produtos,

adquirem bons sistemas de informações e controle, além de investirem

em recursos humanos. O nível de profissionalismo tende a ficar mais

elevado.

Pelo potencial a ser explorado, vários operadores internacionais

avaliam a entrada no mercado nacional, o que estimula a melhoria da

qualificação dos operadores nacionais, tanto no aspecto tecnológico,

processos e formação de mão-de-obra especializada. A vantagem dos

operadores nacionais é conhecerem profundamente o mercado, a cultura

do país e também as limitações de infraestrutura de um país que ainda

não conseguiu criar uma malha de transportes que reduza a utilização da

rodoviária.

Outro aspecto estratégico é escolha da localização geográfica do

centros de operação e distribuição dos operadores logísticos,

principalmente num país com mais de 8,5 milhões de quilômetros

quadrados e cerca de 190 milhões de habitantes que apesar de brasileiros

carregam, no momento de escolher seus produtos, as especificidades

culturais das regiões em que vivem. Por esta razão já começam a surgir

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operadores de âmbito regional, que oferecem serviços adequados a estas

particularidades regionais.

Os operadores que possuem maior gama de serviços e tecnologia da

informação são os que mais são lembrados pelos clientes. Um grande

número de operadores está em busca de qualificação e oportunidades, o

que traz mais esperanças para o segmento de food service no que tange à

oferta. Porém, para prestar serviços para este segmento, é necessário

vencer desafios como os investimentos em infraestrutura, qualificação de

pessoal, escolha de parceiros, principalmente de transportes,

compreensão das necessidades e particularidades no manuseio de

produtos com alta taxa de potencial de perda e um perfeito entendimento

da complexa norma tributária brasileira.

É unânime a opinião de que os operadores logísticos que quiserem

atuar no segmento de food service terão de enfrentar alguns desafios:

a) Desenvolver mais agilidade e flexibilidade em suas operações;

b) Investimentos em sofisticação tecnológica;

c) Gestão da cadeia de frios;

d) Definição de parcerias de qualidade;

e) Recursos humanos;

f) Localização.

Além disso, é preciso ter uma visão voltada principalmente para a

logística colaborativa, ou seja, atividades logísticas desenvolvidas em

conjunto, visando redução dos custos, aumento da competitividade e

constante melhoria dos níveis de serviço oferecidos, como foco em um

relacionamento comercial duradouro.

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Como já dito, o mercado de operação logística ainda apresenta

grande potencial de negócios. Estima-se que no Brasil há potencial para

expandir este mercado consistentemente em 20% nos próximos 5 anos,

pelo menos, número superior a EUA e a Europa.

Neste momento já se pode observar movimentos comercialmente

mais agressivos entre os poucos “players” verdadeiramente especializados

no mercado de logística para “foodservice” focado nas cadeias de “fast

food”. Recentemente a Martin Brower até então focada no Mac Donald´s

conseguiu as contas do Bob´s e Subway que pertenciam ao Grupo Luft

tornando-se assim a líder isolada deste mercado. Já a LAD perdeu a conta

do Burguer King para a Fast & Food que dedicava-se fortemente ao

Giraffas.

O que poderá ocorrer, por sorte, e se as previsões estiverem

corretas, é que a migração de operadores logísticos atraídos pelo

segmento de food service trará como um dos benefícios know how

adquirido em movimentação de materiais, controles, informatização,

customer service e novas visões. O que se tem hoje, até lá, é um mercado

com poucos “players” e o receio por parte dos clientes de que a pouca

oferta acabe por criar quase uma política de preços cartelizada.

A Martin-Brower é uma multinacional americana especializada em logística e em soluções para o

mercado de food service. Original dos EUA desde 1934, passou por uma série de fusões e compras até

ocupar o posto do maior distribuidor de produtos da rede de restaurantes fast-food McDonald´s nas

Américas, posição que mantém até os dias de hoje.

Fast & Food – www.fastefood.com.br.

Luft Food Service - A empresa nasceu como FBD, braço logístico da rede de lanchonetes Bob’s, no Rio

de Janeiro. Em 1998, foi adquirida pelo GRUPO LUFT.

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O que deve ser deixado claro sobre o mercado de operação logística

para o segmento de food service no Brasil é que o tempo urge. O

crescimento da indústria alimentícia no Brasil não pode ser freado pela

falta de oferta deste tipo de prestação desses serviços.

Quando se fala em combate á fome no país, pode-se voltar a uma

máxima dos profissionais de logística: “o problema da fome, dentre outras

coisas é uma questão de distribuição e infra estrutura para ofertar às

diversas regiões do mundo condições iguais na aquisição de alimentos”.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ABRAVA, Revista, São Paulo, Vogal Representações, nº 183, junho-2001.

LOG & MAM, Revista, São Paulo, Imam Editora, Ano XXII, nº 144, outubro-2002.

GERÊNCIA DE CUSTOS LOGÍSTICOS COPPEAD, Apostila do Curso, Rio de Janeiro:

Gráfica da UFRJ, abril-2001.

TECNOLOGÍSTICA, Revista, São Paulo, Publicare Editora, Ano VII, nº 78, maio-2002.

_______, Revista, Publicare Editora, São Paulo, Ano VI, nº 70, setembro-2001

_______, Revista, Publicare Editora, São Paulo, Ano VI, nº 68, julho -2001

_______, Revista, Publicare Editora, São Paulo, Ano VI, nº 71, outubro-2001

_______, Revista, Publicare Editora, São Paulo, Ano VI, nº 77, abril-2002.

http://www.ibge.gov.br 4-10-2012

http://www.ibge.gov.br 20-12-2012

http://www.tecnologistica.com.br 04-10-2012

http://www.intermodal.com.br 20-12-2012

http://www.coppead.ufrj.br 20-12-2012

http://www.logistica.com.br 28-12-2012

http://www.tecnolostica.com.br 28-12-2012

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTOS 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO INDICATIVO 5

SUMÁRIO 6

INTRODUÇÃO 7

CAPÍTULO I – O mercado de food service no Brasil 11

1.1 – Visão do Consumidor 18

1.2 – Visão da Indústria de Alimentos 18

1.3 – Visão do Varejo 19

CAPÍTULO II – A oferta de operadores logísticos no Brasil 24

2.1 – Diferentes denominações e formatos dos PSC 27

2.2 – As diferentes origens dos operadores logísticos 33

2.3 – Problemas e oportunidades prestadores de serviços logísticos 37

2.4 – Características genéricas dos operadores logísticos no Brasil 39

2.5 - Serviços ofertados 40

2.6 – Infra estrutura disponível nos operadores logísticos 41

2.7 – Operadores logísticos frigorificados 43

CAPÍTULO III – Tendências logísticas no mercado de food service 49

3.1 – Terceirização 51

3.2 – Custo de energia 52

3.3 – Cadeia de frios 54

3.4 – A logística reversa 56

3.5 – O processo de logística reversa e o ciclo de vida 58

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3.6 – Fatores críticos que influenciam a aficiência do processo de logística reversa 60

CONCLUSÃO 65

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 72

ÍNDICE 73