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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ORÇAMENTO PÚBLICO: INSTRUMENTO UTILIZADO COMO PLANEJAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL Gustavo Martins da Silva Orientador: Prof. Mario Luiz Trindade Rocha Coorientador: Prof. Marcelo Oliveira Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES ... Sérgio Jund, José Maurício Conti, e, também, em ... Execução Orçamentária e Financeira 46

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ORÇAMENTO PÚBLICO: INSTRUMENTO UTILIZADO

COMO PLANEJAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA FEDERAL

Gustavo Martins da Silva

Orientador: Prof. Mario Luiz Trindade Rocha

Coorientador: Prof. Marcelo Oliveira

Rio de Janeiro

2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ORÇAMENTO PÚBLICO: INSTRUMENTO UTILIZADO

COMO PLANEJAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA FEDERAL

Gustavo Martins da Silva

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do

Mestre – universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do título de

especialista em Gestão Pública.

Orientador: Prof. Ms. Mario Luiz

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo salientar a importância do Orçamento

Público brasileiro para a sociedade, demonstrando seu histórico, princípios,

tipos, espécies, instrumentos principais de planejamento (PPA, LDO e LOA),

bem como seu ciclo de formação, ciclo este, abordando, necessariamente, as

fases de Elaboração, Aprovação, Execução e Controle.

Palavras – chave: Orçamento Público, Instrumentos de planejamento, Ciclo

orçamentário.

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METODOLOGIA

No presente trabalho, a metodologia foi realizada através de pesquisas

de livros, leis, decretos, tendo como principais fontes de pesquisa a lei 4.320 de

17 de março de 1964, a lei complementar 101 de 4 de maio de 2000, o Manual

Técnico de Orçamento 2013, bem como os especialistas no assunto, tais

como, James Giacomoni, Sérgio Jund, José Maurício Conti, e, também, em

sites dos governos Federal, Estadual e Municipal, que versam sobre orçamento

público.

A pesquisa teve como foco, o passo a passo da elaboração do

orçamento público federal, demonstrando seu histórico no Brasil, seus

princípios, seus tipos de orçamentos, seus instrumentos orçamentários (Plano

Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias, Lei Orçamentária Anual) e o seu

Ciclo, que vai da Elaboração ao Controle dos gastos orçamentários.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 07

1. CAPÍTULO I – Princípios Orçamentários 09

1.1 Princípios em espécie 11

1.1.1. Princípio da Legalidade 11

1.1.2 Princípio da Unidade (Totalidade) 12

1.1.3. Princípio da Universalidade 15

1.1.4. Princípio do Orçamento Bruto 16

1.1.5. Princípio da Anualidade (Periodicidade) 17

1.1.6. Princípio da Exclusividade 18

1.1.7. Princípio da Não Afetação (Não Vinculação) 19

1.1.8. Princípio da Especificação 22

1.1.9. Princípio da Clareza 24

1.1.10. Princípio do Equilíbrio 24

1.1.11. Princípio da Publicidade 26

2. CAPÍTULO II – Espécies de Orçamentos 28

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2.1. Orçamento Tradicional (Clássico) 28

2.2. Orçamento de Desempenho 29

2.3. Orçamento Base-Zero 30

2.4. Orçamento Programa 31

3. CAPÍTULO III – Instrumentos Utilizados no Planejamento do Orçamento

Federal 33

3.1. Plano Plurianual - PPA 34

3.2. Lei de Diretrizes Orçamentárias 36

3.3. Lei Orçamentária Anual 38

4. CAPÍTULO IV – Ciclo Orçamentário Federal 40

4.1. Elaboração/Planejamento 40

4.1.1. Alocação de recursos e papel dos agentes no processo 40

4.2. Discussão/Estudo/Aprovação 44

4.3. Execução Orçamentária e Financeira 46

4.4. Avaliação e Controle 48

4.4.1. Avaliação 48

4.4.2. Controle 49

CONCLUSÃO 52

BIBLIOGRAFIA 53

7

INTRODUÇÃO

Segundo Jund (2010, p. 67), ainda não se chegou a uma definição de

orçamento que fosse livre de criticas e aceita pacificamente pela maioria dos

autores. Divergem as opiniões e, assim, a questão continua aberta à

discussão. O orçamento público pode ser definido como um instrumento de

planejamento de ação governamental, composto das despesas fixadas pelo

Poder Legislativo, autorizando ao Poder Executivo realizá-las durante um

exercício financeiro, mediante a arrecadação de receitas suficientes e

previamente estimadas.

Para Aliomar Baleeiro (1976, p. 125), o orçamento é considerado o ato

pelo qual o Poder Legislativo prevê e autoriza ao Poder Executivo, por certo

período e em pormenor, as despesas destinadas ao funcionamento dos

serviços públicos e outros fins adotados pela política econômica ou em geral do

país, assim como a arrecadação das receitas já criadas por lei.

No caso brasileiro, infelizmente, a experiência tem demonstrado, ao

longo dos últimos anos, que , longe de caracterizar um plano de ação do

governo referendado pela sociedade, o orçamento nem sempre é tratado com

a relevância que possui, traduzindo-se geralmente em peça de ficção

elaborada apenas para cumprir as exigências legais.

Conforme Harada (2003. p. 231), com o advento da Lei de

Responsabilidades Fiscais – LRF, o orçamento deixou de ser um mero

documento de caráter contábil e administrativo, para espelhar toda a vida

econômica da nação.

Jund (2010. p. 68) destaca que além de representar um instrumento de

caráter de vontade popular, justificada pela atuação do Poder Legislativo nas

fases de aprovação e controle, o orçamento deve contribuir com a redução das

desigualdades da sociedade, uma vez que consiste em poderoso instrumento

de planejamento das ações governamentais, possibilitando a distribuição de

riquezas, sendo necessário, para isso, que a sua elaboração e execução sejam

realizadas com a responsabilidade e a competência necessárias à correta

gestão em prol do interesse público.

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No Capítulo I salientou um breve histórico do Orçamento Público e sobre

os princípios norteadores do orçamento público no Brasil, dentre eles podemos

destacar o Princípio da Legalidade onde destaca que as Leis de iniciativa do

Poder Executivo estabelecerão o Plano Plurianual, Lei de Diretrizes

Orçamentária e a Lei de Orçamento Anual.

No Capítulo II trazemos as Espécies de Orçamentos praticados alongo

de anos no ordenamento brasileiro, dentre eles podemos destacar o

orçamento-programa (atualmente usado no Brasil), este orçamento tem como

característica o planejamento e o atendimento de metas pré-programadas do

governo.

O Capítulo III detalha os instrumentos utilizados pela Lei Orçamentária

Anual, ou seja, Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei

Orçamentária Anual. O instrumento mais importante, dentre eles, é o Plano

Plurianual, pois tem o dever der criar as Diretrizes, Objetivos e Metas que

orienta a elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária

Anual.

Por fim o capítulo IV versa sobre o Ciclo Orçamentário do Governo

Federal. Este ciclo é formado pelas fases de Planejamento, Aprovação,

Execução e Controle. A que mais importa, sem dúvida, é a do planejamento,

pois é a origem de todo processo que orçamentário. Tem como Poder iniciador

o Executivo.

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CAPÍTULO I

PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS

BREVE HISTÓRICO DO ORÇAMENTO PÚBLICO

NO BRASIL

Segundo Viana (1950, p. 76), Após o descobrimento, tivemos a luta pelo

controle orçamentário nas relações entre a Metrópole e a Colônia, a partir de

1789. A Inconfidência Mineira tentou conquistar a soberania para o país, tendo

por motivação o descontentamento em virtude das determinações tributárias

exigidas por Portugal.

Em 1808, com a vinda do Rei D. João VI, o Brasil deu início a um

processo de organização de suas finanças, instituindo o Erário Público

(Tesouro), o Conselho de Fazenda e o regime de contabilidade.

Ainda segundo Viana (1950, p. 76), as primeiras exigências rumo à

elaboração de orçamentos formais por parte das instituições imperiais surgiram

com a Constituição de 1824.

Com a Constituição de 1891, a primeira Constituição Republicana,

contribuiu para importantes alterações relativas à distribuição das

competências referentes à matéria orçamentária, tais como: a elaboração do

orçamento passou a ser função privativa do Congresso Nacional. Já na

Constituição de 1934, a competência de elaborar a peça orçamentária foi

devolvida ao Presidente da República, cabendo ao Legislativo à aprovação do

texto final do orçamento.

Finalmente na Constituição de 1988, segundo Jund (2010. p. 71), ficou

estabelecido em definitivo o sistema orçamentário do Brasil, ou seja, o Poder

Executivo elabora e executa, já o Poder Legislativo aprova e controla os gastos

públicos.

A instituição orçamentária sempre foi cercada por uma série de regras,

visando a aumentar-lhe a consistência no cumprimento de sua finalidade. Na

fase em que os orçamentos possuíam forte conotação jurídica, tais regras ou

princípios recebiam grande ênfase, tendo sido incorporadas à legislação e

chegado até os dias atuais.

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Os princípios de Direito são normas referenciadas de alto grau de

abstração, que envolvem o sistema jurídico como um todo.

Segundo Mello (2012, p. 234), o princípio jurídico constitui o

mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição

fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e

servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por

definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a

tônica e lhe dá sentido harmônico.

Para Silva (1996, p. 39), os princípios orçamentários objetivam

assegurar o cumprimento dos fins a que se propõe o orçamento.

Os princípios orçamentários consistem ora em normas, ora em simples

orientações aplicáveis à elaboração e à execução do orçamento público.

Em vários casos, a legislação e a própria Constituição refletem a adoção

desses princípios. Apesar disso, não é possível tomá-los como determinações

rígidas; eles são cercados de exceções e flexibilizações, como ficará evidente

em seguida.

Segundo, ainda, o Manual Técnico de Orçamento 2013, do governo

federal, define princípios orçamentários como sendo:

“Os princípios orçamentários visam estabelecer regras

básicas, a fim de conferir racionalidade, eficiência e

transparência aos processos de elaboração, execução

e controle do orçamento público. Válidos para os

Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de todos

os entes federativos - União, Estados, Distrito Federal

e Municípios -, são estabelecidos e disciplinados tanto

por normas constitucionais e infraconstitucionais

quanto pela doutrina.”

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1.1. PRINCÍPIOS EM ESPÉCIE

1.1.1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Uma das discussões mais antigas sobre o orçamento público relaciona-

se ao conflito entre sua forma e seu conteúdo. Quanto à forma, desde que os

primeiros documentos contábeis foram apresentados pelo Poder Executivo ao

Poder Legislativo, em países europeus e nos Estados Unidos, a título de

pedido de autorização de gastos, o orçamento ganhou estatura de lei. Assim, a

expressão “lei do orçamento” é mais que secular – os Parlamentos aprovam os

orçamentos na forma de leis desde o século XIX.

Segundo Jund (2010, p. 73), o campo de aplicação deste princípio além

de incluir às leis do Plano Plurianual, as diretrizes orçamentárias e os

orçamentos anuais, todas de iniciativa do chefe do Poder Executivo, abrange,

também, os planos, programas, transposição, remanejamento ou transferência

de recurso de uma dotação para outra.

Atualmente, o princípio da legalidade orçamentária encontra-se, entre

outros, no seguinte trecho da Constituição:

“Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:

(...)

III - os orçamentos anuais.”

Por outro lado, quanto ao conteúdo, não há dúvidas de que o orçamento

público tem natureza de ato administrativo. A organização das finanças em

programas, a atribuição de recursos a certas despesas, a indicação de

competências de órgãos e entidades relativamente a certos setores de

atividade governamental, tudo isso tem a ver com a organização e o

planejamento da Administração Pública – atividades tipicamente

administrativas. Assim, ao se confrontar a lei orçamentária com o significado

jurídico-histórico da palavra “lei”, verifica-se certa desarmonia. “Lei” representa

um ato normativo abstrato, que pode, entre outras coisas, disciplinar direitos e

deveres, normatizar condutas, impor punições etc. Para aplicar-se a lei, nesse

sentido estrito, faz-se necessário verificar os dados da realidade e compará-los

com a descrição abstrata trazida pela norma. O que ocorre com o orçamento

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público é que ele não cria nem regulamenta direitos e deveres, não disciplina

condutas e não prevê punições. Não tem caráter abstrato; pelo contrário, um

orçamento deve se revestir de concretude, para aplicação mais apropriada e

racional dos recursos públicos. É dessa discussão que nasce a definição do

orçamento como “lei em sentido formal”.

Segundo Giacomoni (2010, p. 232), a estatura do orçamento é de uma

lei, aprovada pelo Parlamento, sancionada pelo Chefe do Executivo, mas sua

essência é de um ato administrativo. Essa “legalidade flexível” do orçamento

fica evidente também ao se constatar que ele tem natureza apenas

autorizativa, e não, impositiva. O governo não é obrigado a executar o

orçamento tal qual ele é veiculado pela lei orçamentária. Isso contrasta

bastante com as leis “normais”, que se caracterizam pela obrigatoriedade de

aplicação.

Pelo contrário, a modificação, a retificação, a inversão de aspectos e

itens no orçamento durante sua execução, em comparação com o texto

aprovado, são fatos bastante comuns, distanciando-o de sua “aparência” inicial.

Nesse sentido, têm surgido diversas críticas, no âmbito parlamentar e na

opinião pública em geral, tendo como alvo o “descompromisso” do governo

quanto à execução do orçamento em observância ao texto original aprovado

pelo Congresso. Não obstante a essência de ato administrativo, o fato de o

orçamento ser uma lei lhe proporciona a normatização de certos requisitos e

obrigações de natureza orçamentária, na esfera concreta. A título de exemplo,

podemos indicar uma disposição constitucional (art. 167, inc. I). Para que

programas e projetos sejam iniciados no âmbito da Administração, é

necessária a prévia inclusão desses programas e projetos na Lei Orçamentária

Anual (ou em leis que a retifiquem).

1.1.2. PRINCÍPIO DA UNIDADE (TOTALIDADE)

A unidade é um dos “ancestrais” dos princípios orçamentários. Encontra-

se normatizado na Lei 4.320/64, que estabelece “normas gerais de direito

financeiro” aplicáveis a todos os entes federados. No art. 2º, a Lei 4.320/64

estabelece que “A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e

despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de

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trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e

anualidade”.

Segundo Jund (2010, p. 74), este princípio compreende a existência de

uma única lei orçamentária, considerando logicamente cada ente federativo.

Visa à prática da movimentação financeira do Tesouro, consubstanciado no

chamado princípio da unidade de caixa, objetivando o cumprimento da

fiscalização orçamentária e financeira por parte do Poder Legislativo

Pelo princípio da unidade, o orçamento público deve ser uno, uma só

peça, garantindo uma visão de conjunto das receitas e das despesas. Nesse

momento, vale registrar uma informação histórica sobre o Orçamento Público.

Inicialmente, a peça orçamentária era bastante simples, primeiro porque a

participação do governo na vida econômica dos países europeus (onde a lei

orçamentária surgiu primeiro) não era muito ampla. Prestigiava-se o liberalismo

econômico, a livre iniciativa dos atores econômicos, e a intromissão do Estado

nesse contexto era mal vista, porque, desde sempre, o setor público foi visto

como um mau gastador. Portanto, o melhor que o governo poderia fazer seria

gastar pouco e deixar os recursos financeiros fluírem nas relações entre atores

privados, sem intervenções, sem tributação.

Assim, tendo a máquina estatal pequena dimensão e pouca participação

na economia – situação ideal para os liberais –, o orçamento consistia numa

autorização de gastos que também representava o controle do tamanho do

Estado. Assim, o Parlamento utilizava o orçamento como ferramenta de

controle da ação do Executivo.

Para facilitar esse controle, era necessário que o orçamento tivesse

certas características.

Conforme Paludo (2012, p. 124), sendo o orçamento público uma peça

única, a tarefa de controle e acompanhamento dos gastos públicos estaria

assegurada. Caso a execução orçamentária obedecesse a diversos

instrumentos, diversas leis, quadros, normativos, os controladores teriam bem

mais trabalho para administrar.

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Porém, ocorre que o crescimento do aparelho do Estado, em

praticamente todos os países, a partir do século XX, ocasionou a criação de

estruturas descentralizadas e autônomas – as conhecidas entidades da

administração indireta. Essas entidades também cumpriam (cumprem) funções

estatais, mas sua autonomia, inclusive financeira, dificultava a consolidação do

orçamento público numa só peça, bem como o acompanhamento de sua

execução.

No caso brasileiro, a Constituição de 1988 trouxe uma disposição fatal

para o princípio da unidade:

“Art. 165, § 5º - A lei orçamentária anual compreenderá:

I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos,

órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive

fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público;

II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta

ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto;

III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades

e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem

como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder

Público.”

Assim, a própria Constituição estabeleceu três orçamentos diferentes.

É dessa evolução que a doutrina instituiu o “princípio da totalidade”, em

substituição ao da unidade.

Segundo Giacomoni (2010. p. 62), pelo princípio da totalidade, é

possível a coexistência de orçamentos variados, desde que estejam

consolidados numa peça, de forma que continue sendo possível uma visão

geral das finanças públicas. Dessa forma, os três orçamentos instituídos pela

CF/88 respeitam o princípio da unidade/totalidade, já que, como diz o § 5º do

art. 165, eles compõem uma só peça: a Lei Orçamentária Anual.

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1.1.3. PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE

O princípio da universalidade e o da unidade/totalidade são

complementares, articulados em torno da garantia do controle sobre o

orçamento. Enquanto a unidade/totalidade prioriza a agregação das receitas e

despesas do governo em poucos documentos (num só agregado, de

preferência), a universalidade estabelece que todas as receitas e despesas

devem constar da lei orçamentária.

Para Jund (2010, p. 75), o princípio da universalidade preceitua que o

orçamento único deve conter todas as receitas e todas as despesas pelos seus

valores brutos, compreendendo um plano financeiro global, não devendo existir

despesas ou receitas estranhas ao controle da atividade econômica estatal.

Um orçamento único e universal é, portanto, o sonho de consumo de

alguém que tenha a titularidade do controle sobre as finanças públicas.

Conti (2010, p. 42) salienta que o princípio da universalidade também

pode ser percebido nos arts. 3º e 4º da mesma lei:

“Art. 3º A Lei de Orçamento compreenderá todas as receitas, inclusive

as de operações de crédito autorizadas em lei.

Art. 4º A Lei de Orçamento compreenderá todas as despesas próprias

dos órgãos do Governo e da administração centralizada, ou que, por

intermédio deles se devam realizar, observado o disposto no artigo 2°.”

Segundo a lição do Giacomoni (2010. p. 64), o princípio da

universalidade proporciona ao Legislativo:

• conhecer a priori todas as receitas e despesas do governo e dar prévia

autorização para a respectiva arrecadação e realização;

• impedir ao Executivo a realização de qualquer operação de receita e despesa

sem prévia autorização parlamentar;

• conhecer o exato volume global das despesas projetadas pelo governo, a fim

de autorizar a cobrança dos tributos estritamente necessários para atendê-las.

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Um orçamento único e universal é, portanto, o sonho de consumo de

alguém que tenha a titularidade do controle sobre as finanças públicas.

1.1.4. PRINCÍPIO DO ORÇAMENTO BRUTO

Segundo Jund (2010, p. 75), este princípio prescreve que todas as

receitas e despesas devem constar da lei orçamentária e de créditos adicionais

pelos seus valores brutos, vedadas as deduções, conforme preceitua o art. 6º

da lei 4.320/64, transcrito a seguir:

“Art. 6º Tôdas as receitas e despesas constarão da Lei de Orçamento

pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções.

§ 1º As cotas de receitas que uma entidade pública deva transferir a

outra incluir-se-ão, como despesa, no orçamento da entidade obrigada

a transferência e, como receita, no orçamento da que as deva receber.

§ 2º Para cumprimento do disposto no parágrafo anterior, o calculo das

cotas terá por base os dados apurados no balanço do exercício anterior

aquele em que se elaborar a proposta orçamentária do governo

obrigado a transferência. (Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964).”

Já para Silva (1962, p. 62), esta regra pretende impedir a inclusão, no

orçamento, de importâncias líquidas, isto é, a inclusão apenas do saldo positivo

ou negativo resultantes do confronto entre as receitas e as despesas de

determinado serviço público.

A contabilidade pública tem como uma de suas funções a prestação de

informações fidedignas sobre o patrimônio e o orçamento, a fim de que

decisões por parte dos responsáveis sejam baseadas em dados corretos.

Desse modo, deduções, abatimentos, diminuições que afetam o conjunto das

receitas públicas devem ser considerados no orçamento.

É essa preocupação com a transparência e a fidedignidade das

informações orçamentárias que baseia o princípio do orçamento bruto, cujo

teor é complementar ao princípio da universalidade.

Enquanto a universalidade estabelece que todas as receitas e todas as

despesas devem constar do orçamento, o princípio do orçamento bruto

acrescenta a observação “pelos seus valores brutos, sem deduções”.

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Assim, se for o caso de se fazer uma dedução a uma receita, o ente

público não pode apenas registrar o valor líquido a ser arrecadado. Tanto a

arrecadação bruta quanto a dedução devem ser consideradas na elaboração

da peça orçamentária.

1.1.5. PRINCÍPIO DA ANUALIDADE (PERIODICIDADE)

Trataremos agora do terceiro princípio orçamentário mencionado pelo

art. 2º da Lei 4.320/64.

Segundo o Giacomoni (2010. p. 65), o princípio de que o orçamento

deve ser elaborado e autorizado para o período normalmente de um ano está

ligado à antiga “regra da anualidade do imposto”.

A elaboração do orçamento para um período limitado de tempo favorece

a atividade de planejamento, pois, dessa forma, é possível programar a

aplicação dos recursos em objetivos do governo e verificar o alcance das

metas nos prazos estabelecidos. Não obstante, há diversos programas e

despesas assumidas pelo poder público cuja duração ultrapassa um exercício.

Para alcançar objetivos de maior dimensão, apenas ações plurianuais

podem garantir o sucesso dessas iniciativas governamentais. A conciliação

entre esses programas plurianuais e o princípio da anualidade/periodicidade

ocorre por meio da execução “fatiada” dessas despesas plurianuais, com

parcelas distribuídas pela sequência de orçamentos anuais.

Já Jund (201, p.74) diz que este princípio define a característica

fundamental de periodicidade anual do orçamento. A lei 4.320/64 prescreve,

ainda que o exercício financeiro coincidirá com o ano civil, ou seja, compreende

o período de 1º de janeiro a 31 de dezembro.

Como exceção a esse princípio, há a possibilidade de execução, em

outro exercício, de créditos adicionais (especiais e extraordinários) autorizados

no final do ano.

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1.1.6. PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE

Segundo Paludo (2012, p. 126), a lei orçamentária deve conter apenas

matéria financeira, não trazendo conteúdos alheios à previsão da receita e à

fixação da despesa.

O princípio da exclusividade pode ser traduzido pela afirmação inicial do

art. 165, § 8º, da CF/88:

“A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão

da receita e à fixação da despesa (...)”.

A ideia subjacente ao princípio da exclusividade é evitar que matérias

não financeiras “caronas” sejam tratadas na lei orçamentária, aproveitando-se

do ritmo mais rápido de sua aprovação pelo Parlamento. Em tempos passados,

o Executivo utilizava-se dessa manobra, para colocar rapidamente, em pauta

de votação, assuntos de seu interesse.

Entretanto, vale destacar as exceções que a própria Constituição impôs,

na continuidade do dispositivo que iniciamos:

“(...) não se incluindo na proibição a autorização para abertura de

créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda

que por antecipação de receita, nos termos da lei”.

A outra exceção à exclusividade orçamentária trata da autorização para

contratação de operações de crédito. A própria LOA pode se antecipar a uma

necessidade futura de recursos além dos estimados, e autorizar a tomada de

empréstimos pelo ente público.

Segundo Giacomoni (2010, p. 89), as operações de crédito “normais”

constituem receitas orçamentárias, que servirão para custear despesas

orçamentárias. Ou seja, para determinada despesa, o dinheiro disponível não é

próprio do governo; deverá ser tomado junto a agentes financiadores.

Por outro lado, as operações por antecipação da receita orçamentária

(ARO’s) são empréstimos tomados pelos entes públicos para suprir

insuficiências momentâneas de caixa. Para as despesas, nesse caso, existe

receita própria atribuída, que deverá ser arrecadada. Em outras palavras,

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ARO’s não são receitas orçamentárias, mas sim empréstimos que substituem

receitas que não foram arrecadadas no momento esperado. Essas receitas

atrasadas, ao serem finalmente realizadas, servirão então para honrar as

ARO’s que as substituíram, ao invés das despesas originais.

Portanto, além de prever receitas e fixar despesas, a lei orçamentária

anual, no Brasil, podem trazer esses dois tipos de autorização – que, no fundo,

não fogem da temática orçamentária.

1.1.7. PRINCÍPIO DA NÃO AFETAÇÃO (NÃO VINCULAÇÃO)

Segundo Mello (2012, p. 74), esse princípio orçamentário também tem

um pé no Direito Tributário. Desse ramo do direito, cabe trazer para nossas

anotações o conceito de arrecadação vinculada. No Brasil, existem cinco

espécies tributárias: impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições e

empréstimos compulsórios. Os tributos podem ser arrecadados já com uma

destinação legal para a aplicação dos recursos correspondentes. Ou, por outro

lado, os recursos provenientes dos tributos podem estar “livres”, para aplicação

em despesas conforme as decisões do administrador público, sem interferência

legislativa. Assim, existem espécies tributárias com arrecadação vinculada,

para aplicação obrigatória em certas despesas, e outras com arrecadação não

vinculada. Os impostos são os típicos representantes desta última categoria.

As outras espécies tributárias (taxas, contribuições “lato sensu”, contribuições

de melhoria e empréstimos compulsórios) têm, tipicamente, arrecadação

vinculada.

Isso obedece ao arcabouço teórico da tributação, segundo o qual os

impostos são os tributos apropriados para que o ente público possa auferir

renda, sem estar obrigado a prestar esta ou aquela obrigação junto à

sociedade. Impostos teriam a característica da fiscalidade (obtenção de

recursos como finalidade principal). Então, voltando ao princípio da não

vinculação, cabe destacar que ele ganhou estatura constitucional, mas com

uma série de exceções:

“Art. 167. São vedados: (...)

20

IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa,

ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que

se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e

serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do

ensino e para realização de atividades da administração tributária, como

determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a

prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de

receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste

artigo;

(...)

§ 4.º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pelos

impostos a que se referem os arts. 155 e 156, e dos recursos de que

tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II, para a prestação de garantia

ou contragarantia à União e para pagamento de débitos para com esta.”

Destrinchando os dispositivos acima, as vinculações à receita de

impostos, permitidas pela Constituição, são:

• repartição da arrecadação do imposto de renda e do imposto sobre

produtos industrializados, compondo o Fundo de Participação dos Estados e o

de Participação dos Municípios (CF/88, art. 159, inc. I);

• destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde

(CF/88, art. 198, § 2º);

• destinação de recursos para manutenção e desenvolvimento do ensino

(CF/88, art. 212);

• destinação de recursos para realização de atividades da administração

tributária (CF/88, art. 37, inc. XXII);

• prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de

receita – ARO (CF/88, art. 165, § 8º);

• prestação de garantia ou contragarantia à União para pagamento de

débitos para com esta.

21

Portanto, o princípio da não vinculação da receita de impostos está no

início do inciso IV do art. 167, e as exceções a ele compõem todo o resto do

texto e o § 4º.

Não há outras exceções além dessas. E, tratando-se de dispositivo

constitucional, para acrescentar mais alguma exceção ao princípio da não

vinculação, ou para suprimir uma exceção já existente, só por meio de emenda

à Constituição.

Vale destacar o alto nível de vinculação que a arrecadação tributária

sofre no Brasil. As taxas e contribuições são naturalmente destinadas a certas

despesas; os impostos, embora sejam relacionados ao princípio da não

vinculação, também são destinados a diversas despesas, por ordem da própria

Constituição, como se depreende das exceções vistas acima.

Há um dispositivo da Lei de Responsabilidade Fiscal que reforça essa

necessidade de aplicação das receitas vinculadas nas despesas para as quais

foram atribuídas. Vejamos a lei seca:

“Art. 8º, parágrafo único. Os recursos legalmente vinculados a

finalidade específica serão utilizados exclusivamente para atender ao

objeto de sua vinculação, ainda que em exercício diverso daquele em

que ocorrer o ingresso.”

Portanto, a partir dessa determinação da LRF, nem mesmo a

arrecadação que “sobrar” em determinado exercício está livre, se sua origem

estiver ligada a alguma vinculação legal. Pois bem, diante desse quadro de alta

vinculação dos recursos, para “desamarrar” um pouco as receitas tributárias de

suas aplicações obrigatórias, instituiu-se, desde 1994, um mecanismo de

desvinculação, por meio de emenda à Constituição.

A chamada Desvinculação das Receitas da União (DRU) libera 20% dos

impostos e contribuições vinculados, para livre aplicação pelos administradores

públicos. O objetivo desse mecanismo é evitar situações nas quais certos

setores da ação governamental tenham recursos abundantes, enquanto outros

passam por penúria.

22

1.1.8. PRINCÍPIO DA ESPECIFICAÇÃO

Historicamente, nos países em que o orçamento foi primeiramente

adotado como peça institucional, observou-se a exigência, feita pelos

parlamentos, de discriminação das receitas e despesas por parte do Executivo.

Os controladores desejavam saber de onde sairiam os recursos arrecadados e

a sua aplicação. Assim, o fato de as receitas e despesas serem publicadas de

forma detalhada também favorecia a tarefa de controle do orçamento.

Esse mandamento perdurou na evolução da peça orçamentária, e

institucionalizou-se no Brasil sob a forma legal. Na Lei 4.320/64, encontram-se

os seguintes trechos:

“Art. 5º. A Lei de Orçamento não consignará dotações globais

destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal,

material, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras,

ressalvado o disposto no artigo 20 e seu parágrafo único.

Art. 15. Na Lei de Orçamento a discriminação da despesa far-seá no

mínimo por elementos.”

O que se buscou na Lei 4.320/64 foi algo parecido com a exigência

inicial, nos países em que se originou o orçamento público, quanto à

discriminação das receitas e despesas.

Para Giacomoni (2010, p. 88), também era necessário disponibilizar

informações detalhadas, na LOA, deixando evidente qual fim teriam os

recursos públicos, e para evitar que as decisões sobre a aplicação da

arrecadação ficassem concentradas nas mãos dos gestores, fora das vistas do

controle externo. Entretanto, o que se percebeu, com o passar do tempo, e

com a maior complexidade do orçamento, foi a necessidade de um “meio

termo” quanto ao princípio da especificação.

Por um lado, um orçamento excessivamente detalhado pode se tornar

uma peça sem correspondência com a realidade, já que as circunstâncias no

momento da execução do orçamento podem fugir aos pequenos detalhes

fixados na LOA.

23

Ao mesmo tempo Jund (2010, p. 77), frisa que, a edição de um

orçamento totalmente genérico, com dotações globais, significa a renúncia,

pelo Parlamento, de seu papel de controlador, o que também desrespeitaria

vários princípios constitucionais e não seria benéfico de maneira alguma para o

bem-estar coletivo.

A doutrina reconhece alguns exemplos de exceção ao princípio da

discriminação, ou seja, situações em que o orçamento transparece uma “face

genérica”, sem detalhamento.

Originalmente, a Lei 4.320/64 determinou que “Na Lei de Orçamento a

discriminação da despesa far-se-á no mínimo por elementos”. Isso estava

conforme o princípio da discriminação; o detalhamento da despesa em

elementos tornava a LOA bastante minuciosa.

Porém, essa classificação detalhista foi flexibilizada há pouco tempo.

Segundo a Portaria Interministerial STN/SOF 163/2001, que atualizou

a classificação pela natureza da despesa, a LOA não precisa mais trazer a

despesa em nível de elemento. A alocação de recursos aos diferentes

elementos de despesa pode ficar a cargo das unidades executoras do

orçamento, posteriormente à aprovação da Lei.

Assim, podem-se verificar atualmente dotações destinadas ao mesmo

tempo à aquisição de materiais de consumo, pagamento de serviços de

terceiros, indenizações, pagamentos de diárias a servidores , entre outras.

Outra exceção refere-se à reserva de contingência, que constitui uma

dotação genérica, sem aplicação definida, a partir da qual o poder público pode

atender a “passivos contingentes”, como pagamentos devidos a execuções

judiciais, ou executar novas dotações, por meio de créditos adicionais.

Além disso, como sinaliza a redação do art. 5º da Lei 4.320/64, o art. 20

e seu parágrafo único, da mesma lei, trazem mais uma exceção ao princípio da

discriminação:

“Art. 20. Os investimentos serão discriminados na Lei de Orçamento

segundo os projetos de obras e de outras aplicações. Parágrafo único.

24

Os programas especiais de trabalho que, por sua natureza, não

possam cumprir-se subordinadamente às normas gerais de execução

da despesa poderão ser custeadas por dotações globais, classificadas

entre as Despesas de Capital.”

Trata-se dos “programas especiais de trabalho” (PET’s), grandes

investimentos públicos que, por sua complexidade e abrangência, não podem

ter toda sua composição de despesas explicitada de antemão.

Assim, eles são autorizados a partir de dotações globais, genéricas, e a

correspondente discriminação das despesas se dará durante a própria

execução.

1.1.9. PRINCÍPIO DA CLAREZA

Segundo o princípio da clareza, o orçamento deveria ser apresentado

numa linguagem acessível a todos que precisassem ou se interessassem em

acompanhá-lo.

Entretanto, considerando a atual complexidade inerente ao orçamento,

que agrega informações financeiras, legais, administrativas, contábeis e de

planejamento, sem falar num pano de fundo político, é difícil trazer à realidade

o cumprimento desse princípio.

Uma sugestão do Giacomoni (2010. p. 72) é a elaboração de peças

comentadas sobre a programação orçamentária, a partir de anexos da LOA.

Dessa forma, se o orçamento em si não pode ter sua linguagem simplificada,

pela natural necessidade de codificação, pelo menos se disponibilizaria uma

forma paralela de se compreender a complexidade de seu conteúdo.

1.1.10. PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO

Para Jund (2010, p. 76), o princípio da programação parte da premissa

que, em cada exercício financeiro, o montante da despesa não deve

ultrapassar a receita prevista para o período. O equilíbrio não é uma regra

rígida, embora a ideia de equilibrar receitas continue ainda sendo perseguida,

principalmente em médio ou longo prazo. No passado esse princípio era

considerado regra de ouro das finanças públicas.

25

Uma forma simples de entender o princípio do equilíbrio é considerar

que deve haver compatibilidade entre receita e despesa, de forma que as

contas públicas não sejam afetadas por déficits.

Entretanto, aprofundando mais o raciocínio sobre o tema, registram-se

duas formas de encarar esse princípio. Em primeiro lugar, o equilíbrio formal do

orçamento é observado quando a lei orçamentária prevê receitas e fixa

despesas em montantes iguais.

Antes, sob a vigência da Constituição de 1967, o equilíbrio formal do

orçamento chegou a ser firmado num dispositivo dessa Carta (Art. 66 - O

montante da despesa autorizada em cada exercício financeiro não poderá ser

superior ao total das receitas estimadas para o mesmo período).

Atualmente, a Constituição não traz determinação semelhante, mas o

costume perdura: as leis orçamentárias anuais fazem a previsão da receita e a

fixação da despesa em valores iguais. Assim, sob o aspecto formal, o princípio

do equilíbrio zela principalmente pela publicação de um orçamento equilibrado.

Porém, na prática, o que se verifica hoje é que os recursos próprios do

governo não são suficientes para cobrir suas despesas. O equilíbrio formal do

orçamento é garantido pela contratação de operações de crédito – dinheiro

emprestado. Na LOA, os valores das operações de crédito são considerados

receita, conforme o mandamento insculpido na Lei 4.320/64 (Art. 3º A Lei de

Orçamentos compreenderá todas as receitas, inclusive as de operações de

crédito autorizadas em lei).

Pelo exposto, o fato de um orçamento ser publicado de forma

equilibrada não implica o equilíbrio das contas públicas. É com essa

preocupação que se fala em equilíbrio real, ou equilíbrio material. Essa,

inclusive, foi uma das principais bandeiras tratadas na Lei de Responsabilidade

Fiscal. Assim, sob essa ótica, busca-se evitar o crescimento desordenado das

despesas, sem lastro para cobri-las. Da mesma forma, deve-se evitar o

comprometimento das receitas a ponto de não sobrarem recursos para

amortizar a dívida pública.

26

Conclui-se, desse modo, que o “equilíbrio material” está mais ligado à

execução equilibrada do orçamento do que à sua publicação com montantes

iguais de receita e despesa. Para garantir o equilíbrio material, o governo pode

lançar mão de diversos expedientes: manutenção de metas de superávit,

enxugamento de despesas de custeio, abertura de créditos adicionais apenas

com recursos já arrecadados.

1.1.11. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

Segundo Jund (2010, p 78), o princípio da publicidade constitui-se numa

das bases essenciais dos governos democráticos, caracterizando o orçamento

como um instrumento público, que deve ser de conhecimento não só dos

representantes eleitos pelo povo, mas de toda a comunidade e em todas as

fases do seu ciclo.

Considerando que o orçamento brasileiro é amparado por lei, cabe

lembrar que, para gerar os seus efeitos e promover a eficácia dos seus atos,

torna-se fundamental a sua publicidade, conforme previsto no art. 37 caput, da

Constituição Federal.

Outro aspecto importante, segundo a Constituição Federal, é o que trata

da obrigatoriedade do Poder Executivo de publicar, em até 30 dias após o

encerramento de cada bimestre, Relatório Resumido da Execução

Orçamentária.

A relevância que o orçamento assume na vida da sociedade torna

necessário o conhecimento amplo do conteúdo da LOA pelas pessoas, já que

naquele instrumento serão notadas as políticas públicas e prioridades

escolhidas pelo governo.

Não obstante, atualmente, ao menos em termos de divulgação, o

princípio da publicidade é concretizado, sobretudo pela disponibilização das

leis orçamentárias em sites governamentais, além dos veículos oficiais.

A partir desse aspecto, é possível perceber a relação do princípio da

publicidade também com o princípio da legalidade. Para vigorar, uma lei deve

27

ser publicada em veículos oficiais de comunicação (tipicamente, Diário Oficial)

– e a lei orçamentária não é exceção a essa regra.

28

CAPÍTULO II

ESPÉCIES DE ORÇAMENTO

2. ESPÉCIES DE ORÇAMENTO

2.1. ORÇAMENTO TRADICIONAL (CLÁSSICO)

A falta de planejamento da ação governamental é uma das principais

características do orçamento tradicional. Constitui-se num mero instrumento

contábil e baseia-se no orçamento do exercício anterior, ou seja, enfatiza atos

passados. Demonstra uma despreocupação do gestor público com o

atendimento das necessidades da população, pois considera apenas as

necessidades financeiras das unidades organizacionais. Assim, nesta espécie

de orçamento não há preocupação com a realização dos programas de

trabalho do Governo, importando-se apenas com as necessidades dos órgãos

públicos para realização das suas tarefas, sem questionamentos sobre

objetivos e metas. Predomina o incrementalismo.

Segundo Giacomoni (2010, p. 55), o Orçamento Tradicional, ou Clássico,

era mera peça contábil, confrontando de um lado as receitas e de outro as

despesas do governo. O foco era objeto do gasto. Mesmo assim, este tipo de

orçamento teve grande importância como disciplinador das finanças, na medida

em que, ao passar pelo crivo do Poder Legislativo, impunha um controle

político dos gastos sobre o Poder Executivo.

Já Jund (2010, p. 81), este orçamento possuía como aspecto principal o

fato de não enfatizar o planejamento da ação governamental, pois, em sua

elaboração, não havia uma preocupação com o atendimento das necessidades

da coletividade, uma vez que não privilegiava um programa de trabalho ou um

conjunto de objetivos a atingir.

A seguir demonstramos a definição deste orçamento pelo Tesouro

Nacional:

“Processo orçamentário em que apenas uma dimensão do

orçamento é explicitada, qual seja, o objeto de gasto. Também

é conhecido como Orçamento Clássico.”

29

2.2. ORÇAMENTO DE DESEMPENHO

O Orçamento de Desempenho incorpora mais uma dimensão além do

objeto do gasto: o programa de trabalho. Com esta nova variável a

preocupação está no resultado da ação, não somente naquilo que será

comprado. O Orçamento de Desempenho não chega a ser um Orçamento

Programa, pois não está ligado a um sistema de planejamento. O foco está no

desempenho organizacional. Daí o nome da técnica.

Segundo Jund (2010, p.82), o Orçamento de Desempenho caracteriza um

processo de evolução em relação ao orçamento tradicional, evidencia-se neste

tipo de orçamento a preocupação com o resultado dos gastos, e não apenas

com o gasto em si.

Nessa espécie de orçamento, o gestor começa a se preocupar com os

benefícios dos diversos gastos e não apenas com seu objeto. Apesar da

evolução em relação ao orçamento clássico (tradicional), o orçamento de

desempenho ainda se encontra desvinculado de um planejamento central das

ações do Governo, ou seja, nesse modelo orçamentário inexiste um

instrumento central de planejamento das ações do Governo vinculado à peça

orçamentária. Apresenta, assim, uma deficiência, que é a desvinculação entre

planejamento e orçamento.

Conforme Burkhead (1971, p. 182-183), o Orçamento de Desempenho

apresenta maior interesse aos níveis organizacionais responsáveis pela

execução dos programas; nesse plano microadministrativo, o orçamento

considera as unidades de desempenho, os custos e os depois aspectos.

No site do Tesouro Nacional temos a seguinte definição para Orçamento

de Desempenho:

“Processo orçamentário que se caracteriza por apresentar duas

dimensões do orçamento: o objeto de gasto e um programa de

trabalho, contendo as ações desenvolvidas. Toda a ênfase

reside no desempenho organizacional, sendo também

conhecido como orçamento funcional.”

30

2.3. ORÇAMENTO BASE-ZERO

O Orçamento Base-Zero exige a análise e revisão de todos os programas

do ano anterior. A base então é o “zero”, não o orçamento passado. Não há

direitos adquiridos neste tipo de técnica. A despeito de não estar ligado a um

planejamento de longo prazo, o OBZ tem seu valor, pois força a análise

criteriosa de todas as rubricas de receita e despesa pelos parlamentares.

Segundo Jund (2010, p. 84), Orçamento Base Zero constitui-se, na

verdade, em técnica utilizada para elaboração do orçamento-programa, pois

um é processo operacional, de planejamento e orçamento, exigindo que cada

administrador justifique detalhadamente os recursos solicitadas.

O processo do orçamento de base zero concentra a atenção na análise de

objetivos e necessidades, o que requer que cada administrador justifique seu

orçamento proposto em detalhe e cada quantia a ser gasta, aumentando a

participação dos gerentes de todos os níveis no planejamento das atividades e

na elaboração dos orçamentos.

Esse procedimento requer ainda que todas as atividades e operações

sejam identificadas e classificadas em ordem de importância por meio de uma

análise sistemática para que os pacotes de decisão sejam preparados. Em

regra, a alta gerência, por meio do planejamento estratégico, fixa previamente

os critérios do orçamento de base zero, de acordo com cada situação. São

confrontados os novos programas pretendidos com os programas em

execução, sua continuidade e suas alterações. Isso faz com que os gerentes

de todos os níveis avaliem melhor as prioridades, confrontando-se incrementos

pela ponderação de custos e benefícios, a fim de que ocorra uma aplicação

eficiente das dotações em suas atividades. Por isso, incluem-se entre as

desvantagens a dificuldade, a lentidão e o alto o custo da elaboração do

orçamento.

No sítio do Tesouro Nacional consta a seguinte definição:

“Abordagem orçamentária desenvolvida nos Estados Unidos da

América, pela Texas Instruments Inc., Durante o ano de 1969.

Foi adotada pelo estado de Geórgia (gov. Jimmy Carter), com

vistas ao ano fiscal de 1973. Principais características: análise,

31

revisão e avaliação de todas as despesas propostas e não

apenas das solicitações que ultrapassam o nível de gasto já

existente; todos os programas devem ser justificados cada vez

que se inicia um novo ciclo orçamentário.”

2.4. ORÇAMENTO PROGRAMA

O Orçamento Programa consiste na interligação entre planejamento e

orçamento através de programas de governo. Estes programas são divididos

em ações, que são os instrumentos de realização desses programas. Enquanto

o Orçamento Tradicional possui como função principal o controle político das

finanças públicas, limitando o poder do executor, o Orçamento Programa é

instrumento de administração da ação estatal (GIACOMONI, 2010, p. 57). A

estruturação do gasto passa por um programa de trabalho, expresso em custos

no orçamento.

A lei 4.320/64 já contemplava a junção entre planejamento e orçamento

através de um programa de trabalho.

“Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e

despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o

programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade

universalidade e anualidade.”

No entanto, a exigência da implantação de um Orçamento Programa

ocorreu apenas com o Decreto-Lei 200/1967:

“Art. 16. Em cada ano, será elaborado um orçamento programa, que

pormenorizará a etapa do programa plurianual a ser realizada no

exercício seguinte e que servirá de roteiro à execução coordenada do

programa anual.”

“Art. 18. Toda atividade deverá ajustar-se à programação

governamental e ao orçamento-programa e os compromissos

financeiros só poderão ser assumidos em consonância com a

programação financeira de desembolso.”

Assim, em 1974 o Governo Federal adotou a classificação funcional

programática, consagrando de vez o Orçamento Programa no nosso país.

32

Conforme Jund (2010, p. 82), o Orçamento-Programa, portanto, é a técnica

orçamentária vinculada ao planejamento econômico e social que surgiu como

uma necessidade de levar à prática, com programas anuais, os planos

governamentais de desenvolvimento a longo prazo.

Segundo Deodato (1976, p. 345), essa técnica orçamentária, a

preocupação é o custo, por unidade, do serviço dado. O que interessa é o

objetivo à realizar, o fim a atingir-se no orçamento.

Já o Tesouro Nacional, define o orçamento programa como:

“Originalmente, sistema de planejamento, programação e

orçamentação, introduzido nos Estados Unidos da América , no final da

década de 50, sob a denominação de PPBS ( Planning Programning

Budgeting System). Principais características: integração,

planejamento, orçamento; quantificação de objetivos e fixação de

metas; relações insumo-produto; alternativas programáticas;

acompanhamento físico-financeiro; avaliação de resultados; e gerência

por objetivos.”

33

CAPÍTULO III

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NO PLANEJAMENTO DO

ORÇAMENTO FEDERAL

Tendo por base o princípio da totalidade orçamentária, no Brasil o

processo orçamentário se tornou multidocumental, com elaboração de diversas

pelas, atuando de forma integrada. Estes documentos são leis ordinárias de

iniciativa exclusiva do Poder Executivo.

Segundo Jund (2010, p. 87), os processos de planejamento e orçamento

assumiram, a partir do exercício de 2000, uma feição especial. A nova

concepção de Estado, aliada à abordagem crítica da experiência acumulada

nessa área, e ainda ao advento da Lei de Responsabilidade Fiscal deram

ensejo a que se introduzisse uma maneira diferente de pensar ao planejamento

e a orçamentação.

Na verdade, as modificações, que assumiram uma abrangência

nacional, com aplicação também para Estados, Municípios e Distrito Federal,

representam a segunda etapa de uma reforma orçamentária que se delineou

pelos idos de 1989, sob a égide da nova ordem constitucional recém-instalada.

Já a Constituição Federal de 1988, cumprindo a tradição das

anteriores, ocupou-se profusamente de matérias orçamentária, chegando até a

definir instrumentos de planejamento e orçamento com elevado grau de

detalhe.

Na atual Constituição o legislador optou por um modelo fortemente

centralizado, a partir da constatação de que havia uma excessiva fragmentação

orçamentária, inclusive com importantes programações e despesas

inteiramente fora da lei de meios, sem a observância, portanto, do princípio da

universalidade.

Nesse sentido, em seu art. 165, a Constituição prescreve o que se pode

chamar de processo integrado de alocação de recursos, compreendendo as

34

atividades de planejamento e orçamento, mediante a definição de três

instrumentos de iniciativa do Poder Executivo, a saber:

a. Plano Plurianual;

b. Lei de Diretrizes Orçamentárias; e

c. Lei Orçamentária Anual.

Instrumentos, esses, explícitos no art. 165 da Constituição Federal de

1988, essenciais para o alcance das Diretrizes, Objetivos e Metas traçadas

pelo Poder Executivo. Abaixo transcrito o referido artigo:

“Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:

I - o plano plurianual;

II - as diretrizes orçamentárias;

III - os orçamentos anuais.”

3. INSTRUMENTOS UTILIZADOS

3.1.PLANO PLURIANUAL - PPA

Segundo Jund (2010, p. 88), o Plano Plurianual consiste em planejamento

estratégico de médio prazo, que contém os projetos e atividades que o governo

pretende realizar, ordenando as suas ações e visando à consecução de

objetivos e metas a serem atingidas nos quatro anos de mandato.

Segundo a Constituição Federal, a lei que instituir o plano plurianual

estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da

administração pública federal para despesas de capital e outras delas

decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada.

Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro

poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem lei que

autorize a inclusão, sob pena de crime de responsabilidade. Logo, nem todo

investimento que ultrapasse o exercício financeiro deverá estar a priori no PPA.

No entanto, nesse caso, deverá haver uma lei que autorize sua inclusão.

35

Segundo Hadara (2010, p. 232), é papel do Plano Plurianual, além de

declarar as escolhas do Governo e da sociedade, indicar os meios para a

implementação das políticas públicas, bem como orientar taticamente a ação

do Estado para a consecução dos objetivos pretendidos. Nesse sentido, o

Plano estrutura-se nas seguintes dimensões:

• Dimensão Estratégica: é a orientação estratégica que tem como base os

Macrosdesafios e a visão de longo prazo do Governo Federal;

• Dimensão Tática: define caminhos exequíveis para o alcance dos objetivos e

das transformações definidas na dimensão estratégica, considerando as

variáveis inerentes à política pública tratada. Vincula os Programas Temáticos

para consecução dos Objetivos assumidos, estes materializados pelas

Iniciativas expressas no Plano;

• Dimensão Operacional: relaciona-se com o desempenho da ação

governamental no nível da eficiência e é especialmente tratada no Orçamento.

Busca a otimização na aplicação dos recursos disponíveis e a qualidade dos

produtos entregues.

O Manual PPA 2012-2015 define o PPA como:

“Instrumento que declara as escolhas pactuadas com a sociedade e contribui para viabilizar os objetivos fundamentais da República. Além disso, organiza a ação de governo na busca de um melhor desempenho da Administração Pública.”

A partir dessa definição este mesmo manual define alguns princípios a

serem adotados na elaboração do PPA, são eles:

• participação social como importante instrumento de interação entre o Estado

e o cidadão com vistas à efetividade das políticas públicas;

• incorporação da dimensão territorial na orientação da alocação dos

investimentos;

• valorização do conhecimento sobre as políticas públicas na elaboração dos

Programas Temáticos;

36

• foco na execução das políticas públicas, reforçando a necessidade de realizar

as Iniciativas definidas no Plano;

• estabelecimento de parcerias com os estados, os municípios, a iniciativa

privada e a sociedade civil, visando à união de esforços para o alcance de

objetivos comuns;

• foco na efetividade, entendida como desempenho quanto à transformação de

uma realidade, que aponta mudanças socioeconômicas, ambientais ou

institucionais necessárias e que deverão decorrer das políticas públicas;

• foco na eficácia, relacionada com a dimensão tática do Plano, entendida

como a incorporação de novos valores às políticas públicas e a entrega de

bens e serviços ao público correto, de forma adequada, no tempo e no lugar

apropriados;

• aperfeiçoamento das diretrizes para uma alocação orçamentária mais

eficiente e na priorização dos investimentos.

3.2. LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS

Segundo a Constituição Federal, em seu § 2º do art. 165, a Lei de

Diretrizes Orçamentárias compreende as metas e prioridades da administração

pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro

subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre

as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das

agências financeiras oficiais de fomento.

Apesar de sofrer críticas no sentido de esvaziar as competências do

orçamento anual Mello (2010, p. 349) salienta que, uma lei de diretrizes

orçamentárias, aprovada previamente, auxilia na troca de informações entre o

Poder Legislativo e Executivo, o que facilita na elaboração do orçamento anual,

além de tornar o processo mais transparente com uma participação mais ativa

do legislativo.

37

A LDO, afora orientar a LOA, vem sendo utilizada como veículo de

instruções e regras a serem cumpridas na execução do orçamento muitas

vezes suprindo a falta da lei complementar prevista na CF/88, artigo 165, § 9º,

que ditará a palavra final em matéria orçamentária, inclusive com relação aos

prazos de encaminhamento, como veremos a seguir. Com efeito, a LOA, em

virtude do princípio da exclusividade, fica limitada, salvo algumas exceções,

para dispor sobre assuntos além da fixação da despesa e previsão da receita

(GIACOMONI, 2010, p.225).

A LRF trouxe novas competências para a LDO, além das previstas na

CF. De acordo com aquela lei, a LDO disporá sobre:

a) equilíbrio entre receitas e despesas;

b) critérios e forma de limitação de empenho;

c) normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos

programas financiados com recursos dos orçamentos; e

d) demais condições e exigências para transferências de recursos a entidades

públicas e privadas.

A LRF atribuiu à LDO três anexos:

Anexo de Metas Fiscais - em que serão estabelecidas metas anuais, em

valores correntes e constantes, relativas a receitas, despesas, resultados

nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício a que se

referirem e para os dois seguintes.

Anexo de Riscos Fiscais - onde serão avaliados os passivos contingentes e

outros riscos capazes de afetar as contas públicas, informando as

providências, a serem tomadas, caso se concretizem.

Anexo exclusivo para a União - trata dos objetivos das políticas monetária,

creditícia e cambial, bem como os parâmetros e as projeções para seus

principais agregados e variáveis, e ainda as metas de inflação, para o exercício

subsequente.

38

3.3. LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA

Conforme versa a Constituição Federal, a Lei Orçamentária Anual

compreenderá:

I - o orçamento fiscal (OF) referente aos Poderes da União, seus fundos,

órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações

instituídas e mantidas pelo Poder Público.

II - o orçamento de investimento (OI) das empresas em que a União, direta

ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto.

III - o orçamento da seguridade social (OSS), abrangendo todas as

entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem

como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público.

Este modelo de três orçamentos dentro da lei orçamentária anual

permite uma visão integrada das finanças públicas, distorcida antes da CF/88,

quando os orçamentos eram independentes. Na prática, apenas o Orçamento

Fiscal era aprovado pelo Poder Legislativo.

Com o fito de oferecer ao Orçamento Fiscal a importância que lhe é

devida, o constituinte de 1988 deu cunho muito abrangente ao mesmo,

englobando praticamente toda administração indireta. As receitas e despesas

operacionais dessas unidades não deveriam fazer parte da LOA.

Por esta ótica, dentre as entidades da administração indireta, devem

pertencer ao Orçamento Fiscal:

Autarquias - devido à sua natureza de pessoa jurídica de direito público e por

dependerem de recursos transferidos pelo Tesouro para sua manutenção.

Fundações Públicas - por não terem receitas suficientes e por dependerem de

recursos transferidos pelo Tesouro para sua manutenção.

Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista - quando dependem

de recursos do Tesouro para sua manutenção.

39

O Orçamento Fiscal e o Orçamento de Investimentos, compatibilizados

com o PPA terão entre suas funções a de reduzir desigualdades inter-

regionais, segundo critério populacional.

De acordo com a CF/88, é vedado o início de programas ou projetos não

incluídos na lei orçamentária anual.

O projeto de lei orçamentária será acompanhado de demonstrativo

regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções,

anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e

creditícia.

Assim como a LDO, a LRF atribuiu novas competências à LOA. De

acordo com esta lei, o projeto de lei orçamentária anual, elaborado de forma

compatível com o plano plurianual, com a lei de diretrizes orçamentárias e com

as normas da LRF:

I – conterá, em anexo, demonstrativo da compatibilidade da programação dos

orçamentos com os objetivos e metas constantes do AMF da LDO;

II – será acompanhado das medidas de compensação a renúncias de receita e

ao aumento de despesas obrigatórias de caráter continuado; e

III – conterá reserva de contingência, cuja forma de utilização e montante,

definido com base na receita corrente líquida, serão estabelecidos na lei de

diretrizes orçamentárias, destinada ao atendimento de passivos contingentes e

outros riscos e eventos fiscais imprevistos.

Segundo artigo 195 da Constituição Federal, a Seguridade Social é

financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, mediante recursos

provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios e de contribuições incidentes sobre folha de salários e demais

rendimentos do trabalho, aposentadorias e pensões pagas pelos regimes

próprios de previdência, faturamento, lucro e receita de concursos de

prognósticos.

40

CAPÍTULO IV

CICLO ORÇAMENTÁRIO FEDERAL

Sendo a Jund (2010, p. 277), a parte mais relevante do sistema

orçamentário, vale a pena analisar todo o processo de sua elaboração e

execução. Por se tratar de uma lei de iniciativa privativa do Poder Executivo, o

orçamento é proposto ao Congresso pelo Presidente da República. O

Congresso examina, altera e aprova o projeto de lei do orçamento e o envia

para a sanção do Presidente da República. O Presidente sanciona o projeto,

transformando-o em lei; podendo vetar alguns dispositivos. Uma vez aprovada

a LOA, o Poder Executivo executa o orçamento através da edição de decretos

de programação financeira, nos quais estabelece o cronograma de liberação

dos recursos e os limites de despesa de cada órgão e unidade orçamentária.

Assim, cabe examinar as quatro principais fases do processo orçamentário:

• Elaboração pelo Poder Executivo;

• Discussão/aprovação pelo Poder Legislativo;

• Execução pelo Poder Executivo; e

• Controle pelo Poder Legislativo.

4. CICLO ORÇAMENTÁRIO 4.1. ELABORAÇÃO/PLANEJAMENTO

4.1.1.Alocação de recursos e o papel dos agentes no processo

O primeiro ponto do ciclo orçamentário é a elaboração da proposta, a qual

consiste nas atividades preliminares relacionadas à alocação de recursos,

considerando o cenário fiscal. A consistência fiscal é elemento central para sua

posterior execução, motivo pelo qual o cenário fiscal é uma das etapas mais

relevantes do processo de elaboração. A compatibilidade entre capacidade de

financiamento e dispêndio dos recursos previstos ocorre em função de um

processo de alocação de recursos que se compõe das seguintes etapas:

• (1°) fixação da meta fiscal;

41

• (2°) projeção das receitas;

• (3°) projeção das despesas obrigatórias; e

• (4°) apuração das despesas discricionárias.

• Na etapa de fixação da meta fiscal, as metas de resultado fiscal para o

período são definidas. Dada a orientação da política fiscal, de estimular

o crescimento da economia sem que isso represente riscos à sua

estabilidade, as metas fiscais são definidas tendo em vista a produção

de resultados primários positivos compatíveis com a redução da relação

dívida pública sobre o Produto Interno Bruto – PIB.

• O passo seguinte refere-se à projeção das receitas não financeiras. De

maneira geral, as receitas não financeiras são as receitas administradas

(impostos e contribuições em geral), a arrecadação líquida do INSS e as

receitas não administradas (dividendos, receitas próprias etc.). Para

estimativa da receita líquida disponível para alocação, desconta-se da

receita total o montante das transferências para Estados e municípios,

previstas na Constituição.

• A etapa seguinte de construção do cenário fiscal refere-se à projeção de

recursos destinados às despesas obrigatórias, as quais constituem

obrigações constitucionais ou legais da União.

• As principais despesas obrigatórias estão associadas ao pagamento de

pessoal e encargos, de benefícios da previdência e assistenciais

vinculados ao salário mínimo e subsídios e subvenções, entre outros. A

alocação das despesas obrigatórias é realizada posteriormente de forma

diferenciada, dado que, por força de determinação legal, não existe

discricionariedade por parte do gestor público quanto ao montante de

recursos a ser associado a essas despesas.

Projetada a receita líquida, descontado o montante de recursos

correspondente à meta de resultado primário e da previsão das despesas

obrigatórias, tem-se então o montante de recursos que os órgãos setoriais

42

poderão manejar para alocação no seu conjunto de programas para o período

do plano. Essa etapa é denominada de apuração das despesas discricionárias.

O montante de recursos previstos para a realização das despesas

discricionárias será distribuído pela Secretaria de Orçamento Federal do

Ministério do Planejamento entre os órgãos setoriais, tendo como base para

essa repartição o perfil de gasto de cada órgão e as prioridades de governo.

Definido o limite de gasto discricionário para o período, cada ministério

procederá à alocação desses recursos em seus respectivos programas,

devendo ter como parâmetro para essa repartição a orientação estratégica de

governo e as orientações estratégicas dos ministérios.

A elaboração do orçamento, objetivando uma ação integrada, articulada e

racional, processa-se verticalmente em sentido descendente e ascendente,

envolvendo a Secretaria de Orçamento Federal, os Órgãos Setoriais e as

Unidades Orçamentárias.

O Manual Técnico de Orçamento determina o papel dos agentes no

processo de elaboração do orçamento, individualizando as atribuições da

Secretaria de Orçamento Federal (SOF), dos órgãos setoriais e das unidades

orçamentárias. A SOF tem entre suas atribuições principais a coordenação, a

consolidação e a elaboração da proposta orçamentária da União,

compreendendo os orçamentos fiscal e da seguridade social. O orçamento de

investimentos cabe ao Departamento de Coordenação e Governança das

Empresas Estatais (DEST), órgão de assistência direta e imediata ao Ministro

de Estado do Planejamento, sendo ligado diretamente à Secretaria-Executiva.

Assim, o DEST é responsável pela elaboração do Programa de Dispêndios

Globais – PDG – e pela proposta do orçamento de investimentos das empresas

estatais não dependentes.

A classificação institucional reflete a estrutura organizacional e

administrativa governamental e está estruturada em dois níveis hierárquicos:

órgão orçamentário e unidade orçamentária. As dotações orçamentárias,

especificadas por categoria de programação em seu menor nível são

consignadas às unidades orçamentárias, que são as estruturas administrativas

responsáveis pelas dotações e pela realização das ações.

43

Secretaria de Orçamento Federal: De acordo com o art. 17 do Decreto 7.675, de 20 de janeiro de 2012, compete à SOF:

• coordenar, consolidar e supervisionar a elaboração da Lei de Diretrizes

Orçamentárias e da proposta orçamentária da União, compreendendo

os orçamentos fiscal e da seguridade social;

• estabelecer as normas necessárias à elaboração e à implementação dos

orçamentos federais sob sua responsabilidade;

• proceder, sem prejuízo da competência atribuída a outros órgãos, ao

acompanhamento da execução orçamentária;

• realizar estudos e pesquisas concernentes ao desenvolvimento e ao

aperfeiçoamento do processo orçamentário federal;

• orientar, coordenar e supervisionar tecnicamente os órgãos setoriais de

orçamento;

• exercer a supervisão da Carreira de Analista de Planejamento e

Orçamento, em articulação com a Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estratégicos, observadas as diretrizes emanadas do

Comitê de Gestão das Carreiras do Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão;

• estabelecer as classificações orçamentárias da receita e da despesa; e

• acompanhar e avaliar o comportamento da despesa pública e de suas

fontes de financiamento, bem como desenvolver e participar de estudos

econômico-fiscais realizar estudos e pesquisas concernentes ao

desenvolvimento e ao aperfeiçoamento do processo orçamentário

federal;

• orientar, coordenar e supervisionar tecnicamente os órgãos setoriais de

orçamento;

44

• exercer a supervisão da Carreira de Analista de Planejamento e

Orçamento, em articulação com a Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estratégicos, observadas as diretrizes emanadas do

Comitê de Gestão das Carreiras do Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão;

• estabelecer as classificações orçamentárias da receita e da despesa; e

• acompanhar e avaliar o comportamento da despesa pública e de suas

fontes de financiamento, bem como desenvolver e participar de estudos

econômico-fiscais, voltados ao aperfeiçoamento do processo de

alocação de recursos.

4.2. DISCUSSÃO/ESTUDO/APROVAÇÃO

A fase de discussão corresponde ao debate entre os parlamentares

sobre a proposta, constituída por: proposição de emendas, voto do relator,

redação final e proposição em plenário.

Segundo o art. 166 da CF/1988:

“Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum.”

A mensagem presidencial é o instrumento de comunicação oficial entre o

Presidente da República e o Congresso Nacional, com a finalidade de

encaminhar os projetos do PPA, da LDO e da LOA. A elaboração da

mensagem presidencial referente ao PPA é coordenada pela SPI/MP. Já a

elaboração das mensagens presidenciais referentes à LOA e à LDO é

realizada sob a coordenação da SOF/MP.

No Poder Legislativo Federal, os projetos dos instrumentos de

planejamento e dos créditos adicionais transitam por uma comissão mista

permanente composta por senadores e deputados, denominada de Comissão

Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização. Nos demais entes é uma

comissão permanente comum, pois possuem apenas uma casa legislativa,

composta por deputados nos estados e vereadores nos municípios.

45

Consoante a CF/1988, caberá à Comissão mista permanente de

Senadores e Deputados:

“I – examinar e emitir parecer sobre os projetos relativos ao PPA, LDO, LOA, créditos adicionais e sobre as contas apresentadas anualmente pelo Presidente da República; II – examinar e emitir parecer sobre os planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição e exercer o acompanhamento e a fiscalização orçamentária, sem prejuízo da atuação das demais comissões do Congresso Nacional e de suas Casas criadas de acordo com a CF/1988”.

Quanto às emendas, serão apresentadas também na Comissão Mista

que emitirá seu parecer, e apreciadas, na forma regimental, pelo Plenário das

duas casas do Congresso Nacional.

As emendas são prerrogativas constitucionais que o Poder Legislativo

possui para aperfeiçoar as propostas dos instrumentos de planejamento e

orçamento enviadas pelo Poder Executivo. A emenda é instrumento essencial

do Poder Legislativo para influenciar a alocação de recursos públicos.

Cada parlamentar poderá apresentar emendas. As Comissões

Permanentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, cujas

competências estejam direta e materialmente relacionadas à área de atuação

pertinente à estrutura da Administração Pública Federal, também poderão

apresentar emendas. Ainda, as bancadas estaduais no Congresso Nacional

poderão apresentá-las, desde que relativas a matérias de interesse de cada

estado ou Distrito Federal. Assim, as emendas podem ser individuais, de

comissão e de bancada estadual.

Segundo o art. 63 da CF/1988, a regra é que não será admitido

aumento da despesa prevista nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente

da República, ressalvadas as emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou

aos projetos que o modifiquem e as emendas ao projeto de lei de diretrizes

orçamentárias. Assim, não será admitido aumento da despesa prevista no

projeto de lei do Plano Plurianual.

O Presidente da República poderá enviar mensagem ao Congresso

Nacional para propor modificação nos projetos a que se refere o art. 166 da

46

CF/1988 (PPA, LDO, LOA e crédito adicionais) enquanto não iniciada a

votação, na comissão mista, da parte cuja alteração é proposta.

Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou rejeição do projeto

de lei orçamentária anual, ficarem sem despesas correspondentes, poderão ser

utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais ou suplementares,

com prévia e específica autorização legislativa.

No afã de conseguir mais recursos para emendas, o Poder Legislativo

poderia tentar, sem embasamento técnico, reestimar os valores de receitas

apresentados pelo Poder Executivo. Para prevenir isso, o § 1º do art. 12 da

LRF determina:

“§ 1º Reestimativa de receita por parte do Poder Legislativo só será admitida se comprovado erro ou omissão de ordem técnica ou legal”. Ainda no que se refere às emendas, a Lei 4.320/1964 traz um artigo sobre o tema. Segundo o art. 33 da Lei 4.320/1964, não se admitirão emendas ao projeto de lei de orçamento que visem: • Alterar a dotação solicitada para despesa de custeio, salvo

quando provada, nesse ponto a inexatidão da proposta. • Conceder dotação para o início de obra cujo projeto não

esteja aprovado pelos órgãos competentes. • Conceder dotação para instalação ou funcionamento de

serviço que não esteja anteriormente criado. • Conceder dotação superior aos quantitativos previamente

fixados em resolução do Poder Legislativo para concessão de auxílios e subvenções.

4.3. EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA

A fase de execução orçamentária e financeira consiste na arrecadação

das receitas e na realização das despesas. É a transformação, em realidade,

do planejamento elaborado pelos Chefes do Executivo e aprovado pelo

Legislativo.

Até 30 dias após a publicação dos orçamentos, nos termos em que

dispuser a LDO, o Poder Executivo estabelecerá a programação financeira e o

cronograma de execução mensal de desembolso. Ainda, as receitas previstas

serão desdobradas, pelo Poder Executivo, em metas bimestrais de

arrecadação, com a especificação, em separado, quando cabível, das medidas

de combate à evasão e à sonegação, da quantidade e valores de ações

47

ajuizadas para cobrança da dívida ativa, bem como da evolução do montante

dos créditos tributários passíveis de cobrança administrativa. Tais metas

bimestrais são utilizadas como parâmetros para a limitação de empenho e

movimentação financeira prevista no art. 9º.

O § 3º do art. 165 da CF/1988 dispõe que o Poder Executivo publicará,

até 30 dias após o encerramento de cada bimestre, relatório resumido da

execução orçamentária.

Segundo o art. 168 da nossa Constituição, os recursos correspondentes

às dotações orçamentárias, compreendidos os créditos suplementares e

especiais, destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do

Ministério Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues, em

duodécimos, até o dia 20 de cada mês. O artigo ainda ressalta que será na

forma da lei complementar, que ainda não foi editada.

A LRF trata do assunto “execução orçamentária e cumprimento das

metas” nos seus arts. 8º e 9º. Até 30 dias após a publicação dos orçamentos,

nos termos em que dispuser a LDO, o Poder Executivo estabelecerá a

programação financeira e o cronograma de execução mensal de desembolso.

Giacomoni (2010, p. 265) salienta que, se verificado, ao final de um

bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das

metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas

Fiscais, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos

montantes necessários, nos 30 dias subsequentes, limitação de empenho e

movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes

orçamentárias. Logo, além do Poder Executivo, há a extensão da limitação de

empenho aos Poderes Legislativo, Judiciário e Ministério Público.

Não serão objeto de limitação as despesas que constituam obrigações

constitucionais e legais do ente, inclusive aquelas destinadas ao pagamento do

serviço da dívida, e as ressalvadas pela lei de diretrizes orçamentárias.

No caso de restabelecimento da receita prevista, ainda que parcial, a

recomposição das dotações cujos empenhos foram limitados dar-se-á de forma

proporcional às reduções efetivadas.

48

No prazo de 90 dias após o encerramento de cada semestre, o Banco

Central do Brasil apresentará, em reunião conjunta das comissões temáticas

pertinentes do Congresso Nacional, avaliação do cumprimento dos objetivos e

metas das políticas monetária, creditícia e cambial, evidenciando o impacto e o

custo fiscal de suas operações e os resultados demonstrados nos balanços.

A LRF trata de previsão e arrecadação de receitas nos arts. 11 a 13.

Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a

instituição, a previsão e a efetiva arrecadação de todos os tributos da

competência constitucional do ente da Federação. No entanto, é vedada a

realização de transferências voluntárias para o ente que não institui, prevê e

efetivamente arrecadada todos os impostos.

A previsão da receita orçamentária ocorre no ano anterior à execução do

orçamento, durante o processo de elaboração. Assim, na execução

orçamentária, poderá haver frustração da arrecadação, tornando-se necessário

limitar as despesas para adequá-las aos recursos arrecadados.

As previsões de receita observarão as normas técnicas e legais,

considerarão os efeitos das alterações na legislação, da variação do índice de

preços, do crescimento econômico ou de qualquer outro fator relevante e serão

acompanhadas de demonstrativo de sua evolução nos últimos três anos, da

projeção para os dois seguintes àquele a que se referirem, e da metodologia de

cálculo e premissas utilizadas.

4.4. AVALIAÇÃO E CONTROLE 4.4.1.Avaliação A avaliação orçamentária é a parte do controle orçamentário que analisa a

eficácia e a eficiência dos cursos de ação cumpridos, e proporciona elementos

de juízo aos responsáveis da gestão administrativa para adotar as medidas

tendentes à consecução de seus objetivos e à otimização do uso dos recursos

colocados à sua disposição, o que contribui para realimentar o processo de

Administração Orçamentária. O propósito da avaliação é de contribuir para a

qualidade da elaboração de uma nova proposta orçamentária, reiniciando um

49

novo ciclo orçamentário. Esta definição traz dois critérios de análise, o de

eficiência e o de eficácia.

• Análise da eficiência: é a medida da relação entre os recursos

efetivamente utilizados para a realização de uma meta para um projeto,

atividade ou programa frente a padrões estabelecidos. O teste da

eficiência na avaliação das ações governamentais busca considerar os

resultados em face dos recursos disponíveis.

• Análise da eficácia: é a medida do grau de atingimento das metas

fixadas para um determinado projeto, atividade ou programa em relação

ao previsto. Procura considerar o grau em que os objetivos e as

finalidades do progresso foram alcançados dentro da programação de

realizações governamentais.

Pelas formas modernas de estruturação dos orçamentos são possíveis as

análises da eficácia e da eficiência. A explicitação das metas

físicasorçamentárias e a classificação por programas e ações viabilizam os

testes de eficácia, enquanto a incorporação de custos estimativos no

orçamento e custos efetivos durante a execução auxilia as avaliações da

eficiência.

A efetividade é a dimensão do desempenho que representa a relação entre

os resultados alcançados (impactos observados) e os objetivos (impactos

esperados) que motivaram a atuação institucional. É a medida do grau de

atingimento dos objetivos que orientaram a constituição de um determinado

programa, expressa pela sua contribuição à variação alcançada dos

indicadores estabelecidos. Permite verificar se um dado programa produziu

efeitos no ambiente externo em que interveio, em termos econômicos, técnicos,

socioculturais, institucionais ou ambientais. Assim, define-se como a

capacidade de se transformar uma realidade a partir do objetivo estabelecido e

sua continuidade ao longo do tempo.

4.4.2. Controle

O orçamento surge como um instrumento de controle. Tradicionalmente, é

uma forma de assegurar ao Executivo (controle interno) e ao Legislativo

50

(controle externo) que os recursos serão aplicados conforme previstos e

segundo as leis. Atualmente, além desse controle legal, busca-se o controle de

resultados, em uma visão mais completa da efetividade das ações

governamentais.

Segundo a Lei 4.320/1964:

“Art. 75. O controle da execução orçamentária compreenderá:

I – a legalidade dos atos de que resultem a arrecadação da

receita ou a realização da despesa, o nascimento ou a extinção

de direitos e obrigações;

II – a fidelidade funcional dos agentes da administração,

responsáveis por bens e valores públicos;

III – o cumprimento do programa de trabalho expresso em

termos monetários e em termos de realização de obras e

prestação de serviços.

(...)

Art. 81. O controle da execução orçamentária, pelo Poder

Legislativo, terá por objetivo verificar a probidade da

administração, a guarda e legal emprego dos dinheiros públicos

e o cumprimento da Lei de Orçamento”.

De acordo com o art. 79 da Lei 4320/1964, ao órgão incumbido da

elaboração da proposta orçamentária ou a outro indicado na legislação, caberá

o controle estabelecido no inciso III acima.

A Lei 4.320/1964 determina a coexistência de dois sistemas de controle

da execução orçamentária: interno e externo. O controle interno é aquele

realizado pelo órgão no âmbito da própria Administração, dentro de sua

estrutura. O controle externo é aquele realizado por uma instituição

independente e autônoma.

Da mesma forma, a CF/1988 trata dos dois sistemas de controle. Dispõe

que a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial

da União e das entidades da Administração direta e indireta, quanto à

51

legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia

de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo,

e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada,

que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores

públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma

obrigações de natureza pecuniária.

52

CONCLUSÃO

O presente estudo foi desenvolvido com o intuito de demonstrar as

diversas vantagens e benefícios de fazer um bom planejamento utilizando os

instrumentos subsidiados pela Constituição da República Federativa do Brasil e

alguns órgãos da Administração Pública Federal (Plano Plurianual, Lei de

Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual), detalhando cada um

desses instrumentos e enumerando os princípios que os normatiza.

Foi realizada uma comparação de um instrumento com o outro, para

que, então, deixe claro qual é a função de cada um, onde se encaixam no

Sistema de Planejamento e Orçamento Federal e quais suas principais funções

financeiras e orçamentárias.

Com isso, na introdução vem trazendo o histórico do orçamento público,

tanto no exterior, quanto no Brasil, para que o leitor entenda um pouco melhor

sobre a sistemática e a origem do orçamento público.

Já no capítulo I, versou sobre Princípios Orçamentários, para que fiquei

claro em que os instrumentos orçamentários se embasam e respeitam no

momento da sua formulação.

Diante de tal importância para o planejamento do país, o orçamento

público vem se consolidando como uma ferramenta essencial para o

desenvolvimento e sustentação da nação, tendo em vista que sem uma

adequada alocação dos recursos, corre-se o risco de prejudicar determinado

segmento de serviço público disponibilizado para a população em geral.

Por isso que é de vital importância o cumprimento das etapas

estipuladas no art. 165 da Constituição Federal de 1988, ou seja, o

planejamento adequado com a utilização dos instrumentos expressos (PPA,

LDO e LOA), em seu devido tempo e competência.

53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 29ª edição. São Paulo. 2012.

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55

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