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AVM – FACULDADE INTEGRADA LICENCIATURA EM PEDAGOGIA AXÉ NA EDUCAÇÃO INFANTIL DIANA MATTOS DA SILVA PROF. DR. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO RIO DE JANEIRO 2O11 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · CAPÍTULO I MAMA ÁFRICA CONHECER A LEI E RECONHECER SUA ORIGEM ( Há também que o leão ter o direito que contar sua história)

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AVM – FACULDADE INTEGRADA

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

AXÉ NA EDUCAÇÃO INFANTIL

DIANA MATTOS DA SILVA

PROF. DR. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO

RIO DE JANEIRO

2O11

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AVM – FACULDADE INTEGRADA

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

AXÉ NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia ao IAVM como

requisito parcial para obtenção do grau de

licenciatura em Pedagogia.

Por Diana Mattos da Silva

Orientador: Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de janeiro

2011

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AGRADECIMENTOS

Aos meus queridos incentivadores, amigos,

familiares e professores, que sempre me apoiaram

e contribuíram com os meus estudos e trabalhos

voltados para implementação da lei 10.639 em meu

trabalho docente.

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DEDICATÓRIA

Ao meu Pai celeste, aos meus avós e pais, já

falecidos, mas que me forneceram durante a sua

breve estada nesta vida, formação moral e estrutura

necessárias para a minha formação como ser e,

que são hoje motivo de muito orgulho e verdadeira

saudade, fonte de toda inspiração para a minha luta

diária.

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EPÍGRAFE

“ Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de

sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para

odiar , as pessoas precisam aprender; e, se elas

podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a

amar, pois o amor chega mais naturalmente ao

coração humano do que o oposto”

Nelson Mandela

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RESUMO

Esta pesquisa aponta uma forma possível de aplicar a lei 10.639, já a

partir da Educação Infantil, através da utilização dos valores civilizatórios

africanos. Seus capítulos abordam a importância da implementação desta lei além

de explicar porque a Educação Infantil é uma fase propícia para esta

aprendizagem, assim como revelam as contribuições que a utilização dos valores

africanos trazem para o desenvolvimento infantil.

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METODOLOGIA

Foi feita uma pesquisa pura, com a utilização de material bibliográfico, com

referência em temas voltados para a cultura afro brasileira, constantes em livros e

revistas que tratam do tema.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – MAMA ÀFRICA -CONHECER A LEI E RECONHECER SUA

ORIGEM 11

CAPÍTULO II – EDUCAÇÃO INFANTIL – FASE DE DIVERSIDADE E

DESENVOLVIMENTO 17

CAPÍTULO III – CULTURA AFRO – O VALOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

25

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA 40

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INTRODUÇÃO

Este trabalho visa mostrar a importância do conhecimento referente à cultura

afro-brasileira para o educando desde que este ingresse na Educação Infantil,

visto que, a sociedade brasileira em sua formação, recebeu importante influência

africana, no entanto,a mesma por um forte domínio europeu, vem perdendo o seu

valor de cultura, sendo folclorizada. O conhecimento sobre cultura afro-brasileira é

incoerente e, na maioria das vezes, ignorado e esquecido.

Pensando em minimizar as diferenças, através do aumento do conhecimento

referente a cultura afro-brasileira e, conseqüente respeito à cultura de um povo

que se vê muitas vezes sem um referencial, pois não encontrando um parâmetro

de identificação, assume um padrão que lhe é imposto. Então surge a urgência

em inserir-se o tema a partir da Educação Infantil, período em que o aluno

começa a encarar o diferente com respeito, a enxergar a diversidade sócio-

cultural brasileira e valorizá-la como patrimônio do seu povo.

A criança a partir os dois anos de idade, começa a perceber as diferenças

entre os seres. Então, na Educação Infantil é possível começar a se

desenvolverem os conceitos de identidade e alteridade, tão importantes para o

desenvolvimento do indivíduo, quanto para o desenvolvimento da sociedade, já

que, no caso da tão massacrada população afro descendente este processo de

construção da identidade torna-se ainda mais árduo, pois é uma verdadeira

garimpagem para resgatar valores e conhecimentos culturais visando reconstruir

e restabelecer conceitos que foram erroneamente distorcidos.

A inclusão do estudo de cultura afro brasileira desde a Educação Infantil, vem

a favorecer o desenvolvimento da sociedade como um todo, visto que, a formação

da identidade individual gera a construção da identidade coletiva. E a escola,

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ciente de que educação e aprendizagem fazem parte de um processo, devem

reverter paradigmas a fim de favorecer o conhecimento dessa diversidade

cultural, assim como oferecer um novo olhar, com novas formas de visualizar a

cultura brasileira.

Garantir a criança um ambiente rico em possibilidades de exploração e

convívio com a diversidade étnico-cultural, é estar garantindo o desenvolvimento

social mais saudável em que as relações humanas desenvolvam-se muito melhor,

com menos ranços sociais estereotipados. Compreender a diversidade nesta fase

da vida ajudará e muito no desenvolvimento humano do indivíduo.

Desta forma, este trabalho quer mostrar que, o trabalho com cultura afro-

brasileira, contribui não somente com a questão da formação da identidade do

aluno negro, mas para uma nova perspectiva para a educação, que é o olhar afro,

como novo ponto de visão educativa, que encara o indivíduo como um todo. Este

novo olhar exige muita criatividade para utilizar novas formas e estratégias para

combater ao ideário racista.

O fazer pedagógico deve receber uma nova orientação, buscando agregar a

todos de forma que usufruam das mesmas oportunidades, com igualdade de

condições a fim de que chegue ao exercício pleno da cidadania. Este deve ser o

objetivo da escola sob um novo olhar.

Desta forma, este trabalho, visando cooperar um pouco com este processo

estará dividido em três capítulos que se apresentarão da seguinte forma:

O primeiro capítulo propõe-se a apresentar o porquê do ensino de cultura afro

brasileira, a sua importância para a sociedade brasileira; o segundo capítulo

analisa porque estes conhecimentos devem ser tratados já a partir da Educação

Infantil; e, o terceiro capítulo demonstra como pode ser feito o trabalho com

cultura afro brasileira na Educação Infantil através da utilização dos valores

civilizatórios africanos.

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CAPÍTULO I

MAMA ÁFRICA

CONHECER A LEI E RECONHECER SUA ORIGEM

( Há também que o leão ter o direito que contar sua história)

Provérbio africano

Um vínculo placentário une o Brasil ao continente africano devido à ligação

umbilical construída em dois terços do tempo de existência do nosso país.

Porém,a visão eurocêntrica imposta pelo colonizador cria uma esfinge social, o

que vem dificultando o reconhecimento do negro como sujeito no processo de

construção deste país.

A participação do povo africano neste processo não se deu ao acaso. Os

africano foram trazidos por terem conhecimentos específicos, assim a história do

negro deve ser contada sob uma perspectiva atlântica diasporana, encarando a

diáspora como um processo. Segundo OLIVEIRA(2003):

“Na diáspora africana, o que vem para o Brasil não é a estrutura

físico-espacial das instituições nativas africanas, mas os valores e

princípios negro-africanos. É a isto que doravante chamaremos de

aspectos civilizatórios”(p.83)

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Assim sendo, esta incapacidade de reconhecer as matrizes formadores da

sociedade brasileira justificam a instituição da lei 10.639/03 que estabelece a

obrigatoriedade do ensino de História da áfrica e Cultura Afro-brasileira nas

instituições de ensino e da criação das Diretrizes Curriculares Nacionais da

Relações Étnico-Raciias e para o Ensino de História e Cultura Afro- Brasileira,

visando minimizar os danos causados por séculos de exclusão em uma

sociedade extremamente excludente.

A conquista do direito à história, cumpre a um direito previsto na Constituição

Federal em seus artigos 5º, 206-210; 1º do 242/ 215 e 216, bem como nos

artigos 26, 26-A e 79-B na lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional que asseguram direito á igualdade de condições de vida e de cidadania,

assim como garantem igual direito às histórias que compõem a nação brasileira.

Todos estes dispositivos legais corroboram para que, Estado e sociedade

tomem medidas visando ressarcir os descendentes de africanos dos danos

causados por séculos de escravidão e negação à sua origem e história.

Transtorno estes que não atingem somente aos afro descendentes, mas a

sociedade como um todo que perde com isso seu eixo formador.

As lutas, não apenas no Brasil, como também em outros povos africanos,

segundo PEREIRA(2006), são fundamentais para o devido entendimento de todo

o processo aqui fundamentado, como cita o autor:

“Todos, como nosso país, for para nós no Brasil é particularmente

importante a referência e o conhecimento das lutas de libertação

que levaram à independência de Angola, Moçambique, Guiné

Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe. Em colônias

portuguesa e guardam ainda o português como língua

oficial.”(p.16)

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Muito pouco foi publicado ou é conhecido no Brasil sobre estes fatos. Essas

lutas tornaram-se um marco para os estudos sobre cultura africana, à partir

destes estudos o tema virou alvo de especialistas no assunto.

Três eventos contribuíram para o aprofundamento nos estudos sobre cultura

africana: o Seminário de Dakar, em 1961; o 1º Congresso de Africanistas no

gana, em 1962 e o Seminário Dar- es Salam na Tanzânia, em 1965. Devido a

este aprimoramento intelectual criou-se um movimento mundial e elaborou-se um

documento oficial sobre historiografia africana, como continua no revelando A.

PEREIRA.

Então conhecer os fatos históricos de um povo é essencial para traçar seus

dados identitários. Como nos diz OLIVEIRA (2003):

“A identidade de um povo normalmente é pesquisada quando este

povo passa por problemas de afirmação social ou, pelo contrário,

quando este povo procura por ascendência ao poder social. Tanto

num caso, quanto no outro, ou seja, tanto num contexto de

dominador ou de dominado, a identidade joga aí um papel

fundamental, o de conferir legitimidade”(p.154)

Legitimidade esta que o povo afro descendente brasileiro começa a galgar,

buscando não apenas reconstruir a identidade deste, mas também reconstruindo

a identidade da sociedade brasileira como um todo, uma vez que esta assegura a

identidade cultural do povo, que concebe muitas vezes, cultura como folclore.

A lei 10.639 reconhece essa legitimidade e afirma a relevância do espaço

escolar para a formação da cidadania. E. PEREIRA(2010) cita dois aspectos

importantes sobre a interferência da cultura africana na cultura brasileira. O

primeiro é o de conhecer o histórico da chegada das diversas culturas africanas

ao Brasil e, em segundo, os desdobramentos desta infusão cultural desde o

passado até o presente.

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Reforça a tese de E. PEREIRA(2008) o fato exposto por ele na revista

Diálogo, de ser importante a aprendizagem da cultura afro brasileira na vertente

da diversidade, pois os vários modelos africanos geram várias formas

diferenciadas de cultura. Toda essa diversidade representa dentro da escola, um

enriquecimento às práticas educacionais voltadas para a democracia, já que,

segundo o autor, ajuda a desenvolver cidadãos cientes da responsabilidade social

e os transforma em atores da história.

“Reconhecer as especificidades dos diferentes contingentes

culturais que dão forma a nação brasileira é uma condição

fundamental para construirmos uma sociedade justa e solitária,

que tenha no diálogo e no respeito ao outro o ponto de partida

para a promoção do bem comum.” (2010 - p.23)

A lei 10.639 vem fomentar um movimento diferente no processo educativo

brasileiro. Se no Brasil, nos anos 30 a 50 houve uma desapropriação da

identidade, afro que foi submetida a um processo de folclorização, como explica

M. SANTANA citando que, os mitos gregos são muito bem aceitos enquanto os

mitos africanos são rejeitados e pior, passam a ser demonizados. A dominância

mítica exerce influência nas visões de mundo, ideologias, utopias e sistemas

pedagógicos. Então, OLIVEiRA(2003) explica que se o mito transforma-se em

norma cultural, a introdução de outros mitos pode, através da escola difundi-los

para que agreguem-se ao sistema dominante, servindo como fonte de renovação

que tratam a diversidade de forma positiva e não como forma de exclusão.

Hà uma questão, a Constituição ( art 206) e a LDB ( art 29) citam “ pleno

desenvolvimento da pessoa” e “ desenvolvimento integral da criança” . E, a

UNESCO possui a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural que

reconhece a identidade cultura como direito da pessoa. O nosso sistema

educacional está voltando-se para preparar os indivíduos para valorizar a

diversidade humana tornando-a um patrimônio da humanidade.

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O ECA (1990), LDB (1996), PNE ( 2001), Lei 10639 ( 2003), Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais ( 2004) ,

Lei 11645( 2008), são instrumentos que vem sendo criados tentando assegurar

uma nova forma de resgate pelos danos causados, ao afro descendente como a

sociedade brasileira .

O Conselho Nacional de Educação contribui para a implementação das leis

no momento em que compartilha as responsabilidades pelos órgãos federativos,

sistemas educacionais e instituições envolvidas. Assim sendo, a educação das

relações étnico raciais, gerencia a aprendizagem para negros, brancos e

indígenas, para que em conjunto, construam uma sociedade justa , onde o

espaço democrático da escola favoreça a eliminação do racismo, assim como a

emancipação dos grupos.

Para empreender a construção dessas pedagogias é necessário fortalecer

entre negros e despertar nos brancos a consciência negra. Trata-se da ampliação

do foco da aprendizagem para a diversidade, fazendo-se necessário repensar as

relações étnico raciais.

‘Entre os negros poderão oferecer conhecimentos e segurança

para orgulharem-se da sua origem africana; para os brancos,

poderão permitir que identifiquem , as influências , a contribuição,

a participação e a importância da história e da cultura dos negros

no seu jeito de ser, viver e relacionar-se.”(p. 22)

O Brasil, por ser um país multi-étnico e pluricultural, deve ter uma educação

voltada para a inclusão de todos, garantindo o direito de aprender e de ampliar

seus conhecimentos. Ou seja, e educação volta-se no momento para as relações

étnico raciais como mostra o parecer homologado pelo CNE em 2004.

TEODORO (1987) cita que:

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“A soma das identidades individuais, dentro do contexto

determinado, forma a identidade cultural de um grupo étnico ou de

uma sociedade que transmite pela cultura, pelo ensino e pela

educação. Daí a necessidade do sistema educacional levar em

conta as diversidades que compõem uma mesma cultura a fim de

não criar problemas de ordem psíquica nos educandos”(p.46)

Desta forma, se faz necessário que a escola esteja voltada para romper

preconceitos, rejeitar estigmas e procurar resgatar fatos históricos visando a

valorização de dados culturais, devendo esta transformar-se em espaço de

discussão e reflexão da positividade desta diversidade, que deve ser encarada

como fato natural, de acordo com o processo de constituição da população

brasileira.

Sendo assim, não somente a escola, mas toda a sociedade brasileira, através

de um maior conhecimento dessa diversidade, rompe com um padrão único e

passa a valorar a multiplicidade. Ou seja, daí da posição que cria uma falsa

sensação de igualdade e passa a encarar a diversidade como natural e muito

positiva em suas especificidades.

Aprender sobre essa diversidade, conviver e enfrenta-la é função da

educação escolar.

“A aceitação da diferença como exemplo da diversidade

humana é um dos caminhos para a construção de um

verdadeiro processo educativo( SKILIAR)

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CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO INFANTIL

FASE DE DIVERSIDADE E DESENVOLVIMENTO

(O conhecimento é como um jardim: se não for cultivado, não pode ser colhido)

Provérbio africano

A escola é o local propício para a formação do cidadão. A Educação Infantil

então, por estar voltada para favorecer o exercício da cidadania e da convivência

deve inserir-se num trabalho voltado para a diversidade humana e igualdade de

direitos, pois as crianças desde pequenas observam diferenças e estas devem,

desde então, aprender a encara-las como naturais à partir do conhecimento da

formação da sociedade.

A LDB em seu artigo 29 prevê que:

“A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem

como finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis

anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e

social, complementando a ação da família e da comunidade.”

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Ou seja, de acordo com a LDB, o objetivo principal da educação infantil é

estimular o desenvolvimento mais amplo da criança, que deve acontecer sob a

observância do contexto onde esta esteja inserida. Portanto, nada mais justo do

que inseri-la no contexto da diversidade, que é o contexto constituinte da

sociedade brasileira. Aprender a encarar as diferenças é então, também função

da Educação Infantil.

A Educação Infantil tem um caráter democrático, voltado para a formação da

consciência cidadã, todavia surge a necessidade de garantir a prestação de

atendimento mais amplo, pois independente ao grupo social ou étnico ao qual

atenda a Educação Infantil, este ainda é insuficiente em nosso país. Há também

que se encarar que, considerando a diversidade étnica , a maior concentração da

população negra, não é atendida pela Educação Infantil e que, o atendimento dos

que recebem, geralmente é feito em instituições públicas ou filantrópicas , o que

não vem atendendo a demanda. A Educação infantil deve então favorecer a sua

função de espaço de socialização.

Como bem nos afirma Vigotsky(1998):

“A construção do conhecimento deve levar em conta o

crescimento social e cultural da criança e do adolescente , que

afeta não apenas o conteúdo, mas também o método de

raciocínio dos estudantes”(p.6)

Portanto, levar em consideração estes fatores históricos formadores da

sociedade brasileira é essencial para a compreensão do processo de

aprendizagem do educando que deve levá-lo a construção de um conhecimento

pautado na sua cultura, uma vez que, como cita o autor é do entrelaçamento

entre o desenvolvimento das funções psicológicas superiores , a sua origem

sócio-cultural e os processos naturais, que são biológicos, que surge o

comportamento da criança.

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O autor relata ainda que aprendizado e desenvolvimento estão

interrelacionados e são necessários à formação do pensamento científico, pois

Vigotsky aprofunda-se nos estudos da interação existente entre os

comportamentos sociais e biológicos, sendo este um processo dialético.

Para Vigotsky(2007) essas funções são reforçadas na pré-escola através do

brinquedo e da imaginação, no momento em que esta projeta-se nas atividades

que envolvem a sua cultura, espelhando assim uma atitude que adquirirá no

futuro.

“No brinquedo, a criança projeta-se nas atividades adultas, de sua

cultura e ensaia seus futuros papéis e valores. Assim o brinquedo

antecipa o desenvolvimento; com ele a criança começa a adquirir

motivação, as habilidades e atitudes necessárias à sua

participação social, a qual só pode ser completamente atingida

com a assistência de seus companheiros da mesma idade e mais

velhos.”(p.113)

A diferença nos estudos de Vigotsky (2007) está exatamente na abordagem

histórico-social que o autor dá ao processo de desenvolvimento humano. Fato

que em muito interrelaciona-se com a importância do estudo de cultura afro-

brasileira na Educação Infantil, por esta ser constituinte da nossa cultura, torna

fundamental fazer esta ação já nos primeiros anos de construção do

conhecimento.

Cavalheiro (2007) cita que esta é uma fase fundamental do desenvolvimento

humano, e considera esta educação a base da formação do futuro sujeito social.

É nesta fase que ocorre a primeira socialização do indivíduo, o que torna possível

compreensão do mundo, que deve ser apresentado pela escola e pela família.

Ainda segundo a autora, a experiência escolar amplia e intensifica a socialização

da criança que, e o resultado é a formação da sua identidade que possibilita a

construção da personalidade.

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Então, Cavalheiro(2007) diz que;

“O entendimento da problemática étnica no cotidiano da Educação

Infantil é condição sine qua non para se pensar em um projeto

novo para a educação que possibilite o desenvolvimento e a

inserção social dos futuros cidadãos da nação brasileira,

desenvolvendo neles um pensamento menos comprometido com

a visão dicotônica de inferioridade / superioridade dos grupos

étnicos.”(p.37)

De acordo com a autora esta é uma ação preventiva contra possíveis

atitudes de preconceito e discriminação, já que evitam que estas sejam

interiorizadas numa fase em que as crianças estão muito sensíveis a influências

externas. Estas ações devem ser positivas, no sentido de tratar da diversidade

étnica como fato natural dentro do contexto histórico de formação da sociedade

brasileira e, passem a valorizar a sua cultura e os seus fatores étnicos.

Se faz necessário explicar nesta fase a criança, as diferentes características

existentes dentro da nossa sociedade, para que, a partir de então, esta reconheça

e entenda as características que recebe e vê na relação que estabelece com o

outro observando as diferenças e encarando-as com naturalidade.

Para Wallon (2001) , o desenvolvimento da inteligência depende das

experiências oferecidas pelo meio e do grau de apropriação que o sujeito faz

delas. Diz ainda que, a cada estágio do desenvolvimento infantil ocorre uma

reformulação e/ou reorganização dos estágios ocorrendo uma interação entre

sujeito e ambiente. Sendo os estágios:

• Estágio impulsivo emocional (0 a 1 ano) – predomínio de relações

emocionais com o ambiente, fase de construção sujeito, onde são

desenvolvidas condições sensório-motoras;

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• Estágio sensório motor (1 a 3 anos) - predomínio de relações cognitivas

com o meio, A criança desenvolve a inteligência prática e a capacidade

de simbolizar;

• Personalismo (3 a 6 anos) - predomínio das relações afetivas. Ocorre a

construção da consciência de si, através das interações sociais que

dirigem o interesse das crianças para as pessoas. A criança faz uma

mistura entre o afetivo e o pessoal;

• Estágio categorial (6 anos) A criança dirige seu interesse para o

conhecimento a conquista do mundo exterior.

Portanto, pelo que nos demonstra Wallon (2001), é na fase da Educação

infantil que a criança inicia o processo de conhecimento de si e do mundo.

Já segundo Evaristo (2006), garantir as crianças um ambiente rico em

possibilidades de exploração e convívio com a diversidade é estar possibilitando

um desenvolvimento saudável no campo das relações humanas, porque através

da observação do cotidiano infantil há comportamentos e questionamentos

comuns da criança em cada fase:

• Dos 8m aos 2 anos – percebem características físicas;

• 2 e 3 anos – ganham consciência de gênero, cor textura de cabelo e

outros atributos físicos;

• 4 anos – tentam explicar características físicas. Ganham maior

consciência de sua estética e, sobre semelhanças e diferenças;

• 5 anos - começam a construir identidade étnica de grupo, assim como a

sua identidade individual. Começam a perceber as diferenças entre

grupos étnicos e raciais;

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• 6 a 8 anos – tornam-se conscientes da história construída dia- a dia,

recebem forte influência da mídia e dos adultos e desenvolvem sentido de

pertencimento a um ou mais grupos.

Vê-se que, tanto na teoria de Wallon (2001), quanto as fases expostas por

Evaristo, deixam claro que, esta fase do desenvolvimento em que estão as

crianças durante a Educação Infantil é de suma relevância para a formação da

personalidade.

Como também diz Vigotsky (2007), a imitação é uma forma muito utilizada

pela criança como forma de reconstruir aquilo que observam no outro. Felipe diz

que cabe ao adulto ajudar na construção da autoestima infantil, fornecendo a

criança uma imagem positiva de si, aceitando-a e apoiando-a sempre que for

possível. Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação

Étnico-raciais a autoestima que a criança desenvolve é decorrente da estima que

se tem por ela.

Também Piaget e Bruner (2008) , expressam que as fases do

desenvolvimento cognitivo são enriquecidas por estímulos. Bruner explica que a

criança tende a representar o mundo com o qual interage em várias etapas que

são para ele:

*Representação enativa – onde a criança representa o mundo pela ação;

• Representação icônica – onde a criança já possui imagem ou representação

mental dos objetos;

* Representação simbólica – a criança representa o mundo por símbolos;

Bruner 2008) diz ainda que, a idade em que passarão pelos estágios vai

depender do ambiente em que esteja inserida. A criança deve, desde cedo, ser

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exposta a estímulos variados, que é o que também explica Evaristo (2006),

ressaltando que, as crianças desde pequenas observam as diferenças entre as

pessoas e necessitam de explicações simples e reais.

Já para Piaget (2008), o desenvolvimento acontece em quatro estágios e ,

não há rigidez entre as idades em que as crianças atingiram cada fase, o que

pode variar individualmente. As fases são: sensório-motor pré-operatório,

operatório concreto e operatório formal., mas a criança da Educação Infantil

estaria nas duas primeiras fases que são:

• Fase sensório – motora (0 a 2 anos) – a criança percebe e age sobre o

ambiente

• Fase pré – operacional (2 a 6 anos) - a criança desenvolve a capacidade

de simbolizar

Nesta fase Piaget (2008) cita uma variedade de características do pensamento

infantil como: egocentrismo, centralização, animismo, realismo nominal,

classificação, inclusão de classe e seriação. Por todas estas características é

possível perceber que, é nesta fase que a criança começa a realizar uma série de

distinções, devendo-se então, aproveitar para incluir a percepção da diversidade

étnica, que é percebida pela criança, porém não é esclarecida pela sociedade.

Vigotsky (2007) ainda cita outro ponto relevante para o desenvolvimento

social, que é a aquisição da fala. Esta é muito importante dentro do trabalho da

educação Infantil, pois através dela a criança planeja como solucionar um

problema, fala e ações fazem parte de uma mesma função psicológica mais

complexa, é por meio desta que o indivíduo abstrai e generaliza o pensamento.

Consoante com o pensamento dos diversos autores e teóricos apresentados e

, independentemente do grupo social ou étnico ao qual atendam, é necessário

ressaltar que a Educação Infantil deve estar voltada para atender a sua função

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social de atendimento das necessidades das crianças, como está relatado nas

Orientações e ações para a Educação das relações Étnico Raciais(MEC,2006):

“Que as instituições de Educação Infantil reconheçam seu papel e

função social de atender às necessidades das criança

constituindo-se em espaço de socialização, convivência entre

iguais e diferentes e suas formas de pertencimento como

espaços de cuidar e educar, que permita às crianças explorar o

mundo, novas vivências e experiências, ter acesso a diversos

materiais, como livros,brinquedos, jogos, momentos para o lúdico,

permitindo uma inserção e uma interação com o mundo e com as

pessoas presentes nessa socialização de forma ampla e

formadora.”(p.35)

A LDB Amplia e assegura direitos ao declarar ao declarar que, a Educação

Infantil oferecida em creches e pré – escolas é parte integrante da educação

básica compreendida como a primeira etapa, pois é neste processo de interação

contínua entre o ser e o meio que se constrói o conhecimento.

Segundo Cavalheiro (2007), os estudos apresentados indicam que o sistema

formal de educação brasileira apresenta poucos pontos para a identificação

favorável do aluno negro. Ainda segundo a autora , as pesquisas que se referem

a questões étnicas na Educação Infantil são menores ainda. Eliete Aparecida

Godoy afirma que, as crianças negras nesta faixa etária ainda se sentem

desconfortáveis em assumir sua condição étnica porque, segundo a pesquisadora

as crianças demonstram uma interiorização negativa das diferenças raciais.

A Educação Infantil deve então, oferecer a alunos negros ou brancos a

oportunidade de serem aceitos, respeitados e atuantes dentro da sociedade

brasileira. O desenvolvimento psicossocial se dá neste período da vida, de acordo

com Piaget,(2010) o conceito do “eu” para o autor é o mais importante de todas

as fases da vida. É importante que a criança tenha na escola e em casa modelos

que possa imitar para formar uma autoimagem positiva.

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CAPÍTULO III

CULTURA AFRO

O VALOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

(Uma filha tola ensina sua mãe a como carregar as crianças)

Provérbio africano

A utilização de uma prática pedagógica que respeite a diversidade cultural,

enfatiza uma postura de combate a discriminação e ao racismo no interior da

escola. O acesso ao conhecimento, a valorização da cultura e dos saberes

sociais, tornam-se a efetivação, a partir da escola de um direito social.

Gomes (2006) destaca que é necessário incluir alternativas pedagógicas

como: literatura, história, geografia, política, arte, memória também pela

perspectiva do povo africano. Cita ainda que,para a escola brasileira a cultura

negra ocupa um lugar na vida social e escolar, haja visto que, fazemos parte de

uma nação miscigenada.

“A cultura negra possibilita aos negros a construção de um ‘nós’,

de uma história e de uma identidade. Diz respeito a consciência

cultural,à estética, à corporeidade, à musicalidade, à religiosidade,

marcadas por um processo de africanidade e recriação cultural.

Esse nós possibilita o posicionamento do negro diante do outro e

destaca aspectos relevantes da sua história e de sua

ancestralidade.”(p.37)

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Sob esta ótica, há princípios básicos que são valorizados dentro da cultura

afro e que são totalmente mescláveis com o processo pedagógico. Ao utilizar os

saberes referenciais afro, estamos saindo do lugar comum e, implementando um

fazer pedagógico que, favorece o desenvolvimento global da criança, seja a qual

grupo étnico pertença, em igualdade de condições galgando alcançar a cidadania

plena.

Circularidade, oralidade, corporeidade, musicalidade, ludicidadade,

ancestralidade, cooperatividade, religiosidade e axé, que são os valores

civilizatórios africanos e, plenamente aplicáveis à Educação Infantil.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação da Relações Étnico

Raciais(MEC,2005) prevê que:

“O ensino de história e cultura afro-brasileira e africana , a

educação das relações étnico raciais , tal como explica o presente

parecer, se desenvolverão no cotidiano das escolas , nos

diferentes níveis e modalidades de ensino como conteúdo de

disciplinas, particularmente, Educação Artística, Literatura e

História do Brasil, sem prejuízo das demais, em atividades

curriculares ou não,trabalhos em sala de aula, nos laboratórios de

ciências e informática , na utilização da sala de leitura, biblioteca ,

brinquedoteca , áreas de recreação, quadra de esportes e outros

ambientes escolares.” (p.21)

Nota-se então que, os elementos estruturadores das sociedades africanas,

são congruentes com as solicitações feitas nos referenciais. Estes elementos são

eixos centrais que estruturavam de forma geral, as sociedades africanas, apesar

das suas especificidades e, mesmo depois da diáspora, foram mantidos por seus

descendentes e são, estruturalmente diferentes dos impostos pelo sistema

colonial português a sociedade brasileira.

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A visão de mundo africana possibilita a integração social dos seus participantes

e, aplica-la a Educação Infantil estimulará a integração das crianças.

Oliveira(2003) nos explica que , estes elementos criam uma estrutura

organizacional comum aos países africanos, originando uma cosmovisão africana

que sedimenta a organização social política e cultural. Há conforme o autor, um

pensamento sincrônico dos africanos, que constrói um universo, exprime um

entendimento holístico do mundo.

Consoante com a fala do autor, Medeiros (2010) nos expõe que:

“A escola pode contribuir muito para reverter uma lógica

excludente se, de fato, se comprometer com uma proposta que

valorize postos de vista diferentes e que inclua na sua prática,

uma metodologia capaz de desvelar as maneiras encontradas

pelas pessoas e por diferentes povos para se expressar, para

sentir e para viver as suas vidas.” (p.13)

Sendo assim, os elementos que alicerçam a cultura africana, devem entrar na

escola para alcançar o ‘status’ de saber socialmente valorizado. Devemos ter uma

ação pedagógica que valorize e estimule a ação. Estabelecendo correlação entre

os valores civilizatórios africanos e a metodologia proposta para a Educação

Infantil, podemos constatar que são associáveis e aplicáveis, visando o

desenvolvimento globalizado do indivíduo.

Vejamos agora :

Circularidade – O círculo é um fator de profunda relevância dentro da cultura

africana. Neste, princípio e fim tem a mesma ordem, estão hierarquicamente

postos em situação de igualdade.

Piaget (2010) cita a necessidade de um ambiente que estimule a interação,

então a organização das cadeiras, as rodas de leitura, brincadeiras de roda ,

como a dança, são exemplos de situações onde, o círculo reforça a ideia de

igualdade de condições e possibilidades de participação. Este valor pode ser

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aplicado à Educação Infantil, com grandes ganhos para o processo, pois são

momentos onde a circularidade estimula um trabalho e uma visão

diferenciada da atual.

Neste processo, todos estão em situação de paridade de localização,

possibilidade,atenção, enfim, cria-se um ambiente muito mais acolhedor e

para a criança da Educação Infantil. Craidy e Kaercher (2001) comentam que

o espaço físico e social é fundamental para o desenvolvimento da criança,

pois cooperam para estruturar funções motoras, sensoriais, simbólicas,

lúdicas e relacionais.

Oralidade – esta metodologia valoriza o diálogo, que é um meio de troca de

saberes e tem suma importância dentro da tradição africana. Oliveira (2003)

relata que além de ser a expressão do preexistente, a palavra está

intimamente ligada a uma dimensão histórica. É aqui que ela liga-se ao

conhecimento e sua transmissão.

Vigotsky (2007) esclarece que , o momento de maior significado no

curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente

humanas de inteligência prática e abstrata , acontece quando a fala e a

atividade prática , estão em duas linhas completamente divergentes de

conhecimento e convergem. Para ele, a linguagem ocupa um papel principal,

neste desenvolvimento, pois, além de possibilitar a interação entre os

indivíduos, é através dela que o sujeito abstrai e generaliza o pensamento.

O povo africano trás uma tradição oral muito forte, a palavra tem muito

valor nesta sociedade, pois os saberes são transmitidos pelas gerações

através das palavras e, estas foram incorporadas ao vocabulário brasileiro

que leva a ter uma sonoridade e sotaque característico do povo brasileiro. A

linguagem é um dos aspectos mais perceptíveis da contribuição africana à

cultura brasileira, mas que é muito pouco estudado.

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Corporeidade – Lima(2009) diz que o corpo é a forma como a pessoa

expressa a sua personalidade e identidade. As manifestações corporais

africanas se davam através da dança e da estética.

Em geral as danças são circulares, o que reforça a ideia de igualdade de

condições e possibilidades de participação. Além da saúde do corpo, as

danças de matriz africana ressaltam a sensualidade e, não se envergonham

da vitalidade e da beleza, o que é motivo de celebração.

Outro aspecto referente à corporeidade, ainda segundo Lima(2009) é a

estética, que para este povo , é utilizada também como forma de expressar

diferentes sentimentos e, foi absorvida pelo gosto da nossa sociedade em

enfeitar o corpo e o cabelo.

A corporeidade, além de lidar com a questão do movimento, tão

necessário e importante na Educação Infantil relaciona-se também com a

questão da auto-estima que a criança está desenvolvendo. A postura

corporal possibilita uma maneira de estabelecer vínculos. De acordo com as

Orientações e Ações Educativas para as Relações Étnico-raciais (MEC-

2006):

“Falar em autoestima das crianças significa compreender a

singularidade, de cada um em seus aspectos corporais, culturais e

étnico-raciais. As crianças possuem uma natureza singular que as

caracteriza como seres que pensam e sentem o mundo de um

jeito muito próprio.”(p.44)

As Orientações (2006) citam ainda que, dependendo da forma como é

tratada a questão étnico-racial, as crianças desenvolvem uma postura

positiva ou negativa em relação ao seu corpo, sua cultura e o seu jeito de

ser.

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Enfim, passar referenciais positivos referentes a cor da pele, aos traços

físicos , aos penteados irá trazer um referencial histórico que deve ser

compartilhado, lembrando que, Vigotsky (2010) cita a imitação utilizada pela

criança como forma de apropriação de padrões sócio-culturais, portanto,

deve-se reconhecer o aspecto integrador e global das vivências corporais

que favorecem a construção da auto-imagem.

Musicalidade – A musicalidade foi algo muito presente na vida dos

africanos trazidos para o Brasil. Foi um dos bens culturais trazidos nos

tumbeiros. Também na Educação Infantil o cotidiano é repleto de

musicalidade.

Conforme Craidy e Kaercher (2001), as crianças aprendem que os sons

se combinam e ela via adquirindo a compreensão dos sons que compõem a

sua cultura e torna-se capaz de utiliza-los em trocas sociais . As autoras

ainda dizem que a música pode transformar-se no momento onde serão

criados os primeiros vínculos.

O manuseio de materiais sonoros também é de suma importância na

Educação Infantil. A percursividade é uma marca dos africanos na nossa

música. Os tambores e outros instrumentos de percussão, são importantes

por associarem-se aos sons do coração, expressando então uma emoção.

Toda esta musicalidade era transmitida no trabalho, na religiosidade e no

lazer.

No desenvolvimento do trabalho da Educação Infantil a educação

musical envolve ritmo, audição e ação, associando-se estreitamente á

questão da corporeidade.

Ludicidade – A ludicidade é encarada numa perspectiva em favor da

vida e é tida como fatos de existência . Trindade (2007) declara que a

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ludicidade é o princípio do prazer, alegria e gozo e marcam a cultura

brasileira pois este princípio garante uma alegria de viver.

A ludicidade então se encaixa integralmente ao trabalho da Educação

infantil que tem no brinquedo e no jogo fortes meios para o desenvolvimento

infantil, pois o brincar é uma atividade própria da criança.

Wallon(2007) explica a importância do brincar para a criança e como este

também é um processo em evolução:

• Brincadeiras são funcionais – são as que tem algum efeito como levantar

ou abaixar;

• As brincadeiras de ficção – são as que envolvem um faz- de –conta, que

é uma atividade de interpretação mais complexa.

• As brincadeiras de aquisição – são as que desenvolvem atenção

• As brincadeiras de produção - as crianças transformam e recriam o

brinquedo.

Ainda segundo Craidy e Kaercher(2001) :

“A criança expressa-se pelo ato lúdico e é através deste atos que

a infância carrega consigo as brincadeiras . elas perpetuam e

renovam a cultura infantil, desenvolvendo formas de convivência

social, modificando –se e recebendo novos conteúdos, a fim de se

renovar a cada nova geração. É pelo brincar e repetir a

brincadeira que a criança saboreia a vitória de um novo saber

fazer , incorporando-o a cada novo brincar.”(p.103)

Declaram ainda que o brincar é uma forma de linguagem, que a criança

que utiliza para construir-se como sujeito, às utiliza na construção de normas

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para si e para o outro, uma vez que, proporciona a troca de pontos de vista,

a percepção do outro e cria formas de interação.

Vigotsky (2007) declara que o brinquedo fornece ampla estrutura básica

para as mudanças da necessidade e da consciência, conforme a criança

avança em seu desenvolvimento, vai apresentando também mudanças na

sua atividade lúdica. A criança com um nível real e um potencial, então o

brinquedo serve como auxiliar para atingir a zona de desenvolvimento

proximal da criança e fazê-la avançar em seu processo de aprendizagem.

Ancestralidade – é o princípio da transmissão do conhecimento, pois de

acordo com as tradições africanas, o processo de aprendizagem acontece

durante toda vida, através das trocas em sociedade, pela utilização da

oralidade, o conhecimento é transmitido do mais velho para os mais novos.

O respeito aos mais velhos é um conceito difundido dentro das comunidades

africanas.

Inclusive, nas Orientações e ações para a Educação das Relações Étnico-

Raciais (MEC,2006) está relatado que o processo de aprendizagem somente

pode acontecer através da interrelação entre novos e velhos visto que estes

, por terem mais tempo de vida contribuem mais para a sociedade.

OLIVEIRA (2003) cita que, sem a tradição não há formação da identidade

e que, é no passado que estão as explicações para o presente. Observamos

então, que a Ancestralidade relaciona-se ao trabalho da Educação Infantil

cooperando com atividades relacionadas ao tempo.

Nas comunidades africanas são os griots responsáveis pela transmissão

da história do seu povo, este insere-se na dinâmica do seu povo, apreende

os significados de cada acontecimentos e os interpreta de acordo com o

tempo presente. Além disso, esta contagem de tempo é marcada pelos

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fenômenos naturais. A ancestralidade também é marcante na religiosidade,

no culto aos ancestrais.

Oliveira (2003), ainda afirma que:

“A ancestralidade, por sua vez, não é a afirmação do eu, egóico,

narcisista; na ancestralidade o que conta é a história de um povo,

o arsenal simbólico adquirido por este durante o percurso do

tempo. Quem conta a história do eu é sua tradição. A história do

eu está vinculada à história dos ancestrais. O eu faz parte do

todo e é importante justamente na medida em que compõe esse

todo, e não o contrário.”(p. 118)

Para Evaristo (2007), a criança da Educação Infantil está em fase de

construção da identidade e conhecer a sua história.

Craidy e kaercher (2001) relatam que as atividades envolvendo tempo

devem atender as necessidades biológicas , psicológicas e sócio-históricas,

então, baseadas na lei 11645/08 que configura o ensino de história e cultura

afro-brasileira e indígena . Em uma sociedade miscigenada como a

brasileira, a ancestralidade coopera para o trabalho da Educação Infantil.

Cooperatividade/Solidariedade – Não existe na cultura africana com

individualismo, tudo é baseado na troca, no coletivo e na cooperação. A

cultura africana favorece um caráter de integração social.

Segundo Oliveira (2003), este processo de socialização dentre os

africanos, é o processo de formação do indivíduo e de sua personalidade,

que é um processo coletivo, de responsabilidade social.

Nas Orientações, dizem que não existe aprendizagem sem troca, afeto e

solidariedade.

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Cavalheiro (2007) cita que , o contato das crianças de Educação Infantil,

com outras de mesma idade , mas oriundas de grupos diferentes, estimula a

criação de outras formas de enxergar o mundo.

“A Educação é entendida como um processo social, no qual os

cidadãos tem acesso ao conhecimento produzido e deles se

apropriam de forma a se prepararem para o exercício da

cidadania” (P. 21)

VigotsKy (2010) atribui uma dimensão sócio histórica do funcionamento

psicológico e interação social, na construção do ser humano. A interação do

homem com o mundo se dá através do outro, com isso, o cooperativismo

envolve a todos os envolvidos no processo educativo, que é de

responsabilidade de todos.

Religiosidade – Tudo é sagrado e divino na cultura africana e sempre é

utilizada como fator de definição e organização social e política das

sociedades africanas.

Como a escola é laica, a instrução religiosa da criança é de

responsabilidade da família, mas a escola deve favorecer atividades que

favoreçam o diálogo, o respeito mútuo e a valorização de diferentes culturas,

visto que, o objetivo da religião é o de promover a paz.

Dentro da sociedade brasileira há uma diversidade muito grande de

manifestações culturais que tem cunho religioso, e a sua aprendizagem

contribuirá para uma convivência respeitosa e a alteridade .

Oliveira (2003) expõe que as religiões africanas são comunitárias e

expressam as concepções de vida e de universo. Valoriza a ancestralidade

e o conhecimento profundo da realidade social e da natureza, que pode ser

aproveitada nos estudo de efeitos da natureza. Pela observação,

investigação e experimentação que aproveitem conceitos referentes á

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natureza, meio ambiente, corpo humano, alimentação, saúde, relaciona-las

aos diversos aspectos, e também a questão das religiões de matriz africana

como outras formas de manifestação religiosa.

AXÉ ( Força Vital ) – Tudo tem energia e é sagrado. Os elementos

integram-se entre si e influenciam uns aos outros, transformando-se .

O universo africano é integrado e, tem origem no movimento gerado por

esta integração a energia da vida.

Oliveira (2003) cita que, esta relação não restringe-se apenas a relação

do homem com a natureza porém abrange a realidade social. A Força Vital é,

para o autor, fonte de energia que rege o universo.

Para Pereira (2006), os ancestrais é que exercem a função de interagir

com a força vital, trazendo equilíbrio e harmonia global na estruturação

social.

As integrações de todos os membros envolvidos no processo de ensino

aprendizagem da Educação Infantil, fazendo tanto a cultura de escola quanto

a cultura escolar transformem a escola em um sistema complexo de

relações, onde o esforço para encarar a alteridade , encaminhe o trabalho

para chegarmos a uma democracia racial, nos revela Medeiros (2010).

“Uma cultura de escola que priorize as experiências vividas e que

, desse modo,procura implementar práticas narrativas , lúdicas e

de fruição estética no cotidiano escolar.”(p. 14)

O autor cita ainda que vários conceitos da cultura africana fazem parte

do cotidiano de cada brasileiro, independente da sua origem étnica.

Craidy e kaercher (2001) explicam que educação é o processo pelo

qual a criança passa não somente a absorver a cultura do seu grupo , mas

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quando começa a produzi-la e transforma-la , pois a educação acontece em

um processo dinâmico.

Portanto força vital e educação são correlatas e conversam entre si, já

que ambas tratam de transformação e dinamismo , com muito AXÉ

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CONCLUSÃO

Como exposto na pesquisa apresentada, podemos constatar que os

valores civilizatórios africanos podem ser aplicados na Educação Infantil,

visando um desenvolvimento global da criança.

E, com todo axé, que envolve o trabalho da Educação Infantil, que,

somente com muita integração, transformação e dinamismo que concluo este

trabalho, afirmando que o trabalho com os Valores Civilizatórios Africanos

contribui sobremaneira para o trabalho com a Educação infantil.

Valor, por ser algo que impulsiona.

Civilizatório no sentido de produção de modos de viver , ser e estar no

mundo.

Os Valores Civilizatórios Africanos mostram que podem e devem ser

utilizados na Educação Infantil para começar a introduzir a criança em seu

meio cultural, como forma de minorar situações de desrespeito e

discriminação que, podendo formar as novas gerações para encarar a

diversidade de forma positiva, pelo aspecto da construção e do

enriquecimento cultural.

Estes elementos norteadores da estruturação das sociedades africanas

integram-se entre si, sendo interligados e quase interdependentes, o que trás

uma visão muito mais ampla de homem e de mundo, pois esta relação

proposta enxerga a tudo e todos pelos mais variados ângulos, e favorece e

estimula a interação social.

As crianças, na fase da Educação Infantil, estão em fase de interação

para gerar o conhecimento e, estes ‘erês’ estão cheios de axé, e nada como

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dinamismo e interação para transformar uma sociedade. E não estou falando

da comunidade negra, estou pensando em sociedade brasileira onde, negros

ou não estão inseridos no contexto da diversidade étnica, mas que ainda

carrega sérias questões nas relações étnico-racias, que também não são

mais apenas os negros que estão como reféns, porém todo ser que seja

diferente.

Proporcionar a esta criança, lançar um novo olhar ,não somente para as

questões étnicas, mas para as questões de estruturação de mundo.

Vislumbrar a natureza, a sociedade, saúde, a relação com o outro, enfim ,

lançar uma nova ótica, um outro ponto de vista e poder fazer pensar, estar

estimulando este pensamento é sim função da escola, já a partir da

Educação infantil.

É bem verdade que há de se melhorar a qualidade e quantidade de

atendimento para esta primeira etapa da Educação. A oferta não atende a

demanda de nenhuma etnia. As leis são novas, e não basta criar leis, é

necessário mudar a cabeça da sociedade para valorizar esta fase da

educação.

Mas, de qualquer forma os fazeres pedagógicos tem que se renovar, a

sociedade tem que se transformar e, os alunos estão cheios de axé ,e nós

como educadores temos que utilizar e transformar nosso espaço com muito

Axé.

A lei 10.639 em seu artigo 26-A, torna obrigatório o ensino de cultura

história e cultura afrobrasileira nos estabelecimentos do ensino fundamental,

ainda não citando a Educação Infantil. Para realizar a pesquisa, o material

encontrado referente ao que tange a Educação Infantil, foi bastante escasso,

mas se pensarmos em políticas públicas voltadas para a Educação Infantil

são poucos, os investimentos ainda são parcos em nosso país. Ainda não há

um pensamento voltado para investimentos em Educação de base em nossa

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sociedade como também não há um pensamento voltado para a

reconstrução da visão do negro e o entendimento de diversidade que é

constituinte de nosso país.

Por acreditar na educação de base como solução dos problemas

educacionais brasileiros e, como forma de reestruturar uma sociedade

colonial, acostumada a utilizar um padrão social como único, porém que

desconhece a sua formação e que,nem tão pouco, aprendeu a respeitar-se.

O trabalho com valores civilizatórios africanos pode sim contribuir para o

desenvolvimento global da criança como também para inseri-la em um

contexto de respeito pelo diverso que compõe a sociedade brasileira.

Como alguns dos grandes pensadores em educação citam a importância

do mundo social para o desenvolvimento da criança, nos embuti a

responsabilidade de apresentarmos esta sociedade em que está imersa, que

é uma sociedade de constituição multi – étnica em sua constituição. Com

valores e influências diversas, esta formação deve ser aprendida sob um

enfoque positivo, com um olhar que valorize a todos, e os valores

civilizatórios africanos que, até por seu posicionamento circular, não são

excludentes e, contrariamente a isto, colocam a todos com ampla e

igualitária possibilidade de participação.

Pela sua ancestralidade resgata, às novas gerações a sua história,

emergindo-as num contexto de respeito pelo que passou, uma atitude de

busca pelo seu passado conquistando um novo olhar para o contexto onde

está inserida.

Repleta de energia, que é o AXÉ que falta, ao processo educativo

brasileiro.

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