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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A ARTICULAÇÃO ENTRE A GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA E PRIVADA DE RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL Por: Alessandra Chacon Pereira Orientador Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A ARTICULAÇÃO ENTRE A GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA E

PRIVADA DE RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Por: Alessandra Chacon Pereira

Orientador

Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço

Rio de Janeiro

2014

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A ARTICULAÇÃO ENTRE A GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA E

PRIVADA DE RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em GESTÃO DE SISTEMAS

INTEGRADOS EM QSMS/SGI

Por: Alessandra Chacon Pereira

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, por me ensinarem a viver.

Aos meus irmãos, minhas alegrias.

Aos Amigos, meus queridos companheiros.

Ao menino Francisco Adduci, por me trazer felicidade e paz de espírito.

Ao professor e orientador Jorge Tadeu, pela atenção dedicada.

Aos professores do curso, que somaram conhecimentos.

Aos alunos do curso, companheiros desta trajetória.

À Faculdade Integrada A Vez do Mestre, por proporcionar a infra-estrutura para

o desenvolvimento deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Ao meu futuro marido, Francisco Adduci Filho.

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RESUMO

Segundo dados apresentados por Trigueiro (2012), o Brasil é o país que

concentra a maior quantidade de água do mundo. Somos uma nação irrigada

por 12 mil rios e córregos e que detém na bacia do rio amazonas, a maior

concentração de água doce do planeta. Mas será que sabemos administrar

este recurso? Buscando responder esta pergunta, este trabalho teve como

objetivo avaliar como a gestão ambiental pública de recursos hídricos articula-

se com a gestão privada deste recurso e para isso investiu na análise do

histórico da gestão ambiental pública e privada de recursos hídricos no Brasil,

investigando pontos de articulação entre estas duas esferas. A pesquisa

bibliográfica foi a metodologia empregada, sendo realizada por meio da leitura

de livros, artigos de jornais e revistas científicas, legislações, monografias,

dissertações, teses, etc. Como resultados, a pesquisa verificou que a Política

Nacional de Recursos Hídricos inaugurou espaços de encontro e discussão

entre o setor público, privado e a sociedade civil organizada, possibilitando a

participação conjunta e articulada na gestão de recursos hídricos. Por sua vez,

a gestão ambiental privada trouxe instrumentos voluntários como certificações,

selos, rótulos ambientais que possibilitam que as empresas envolvam-se com

as questões ambientais ao mesmo tempo em que cooperam com a

administração pública. No entanto, conclui-se que apesar dos avanços dos

instrumentos da gestão ambiental pública e privada nas últimas décadas, ainda

é preciso criar novas formas de articulação de agentes públicos e privados na

gestão do meio ambiente e, mais especificamente, na gestão dos recursos

hídricos.

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METODOLOGIA

A metodologia empregada nesta pesquisa foi a pesquisa exploratória.

Esta metodologia permite ao pesquisador aprofundar o assunto através da

identificação de fatores históricos que envolvem o tema de pesquisa. A

pesquisa bibliográfica foi o recurso utilizado pela pesquisadora sendo realizada

por meio da leitura de livros, jornais e revistas científicas, legislações federais

como a Política Nacional de Recursos Hídricos e seus respectivos

instrumentos, relatórios de desempenho ambiental de empresas brasileiras de

grande porte, Série de Normas ISO 14.000, artigos acadêmicos, trabalhos de

conclusão de curso, dissertações e teses.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

A gestão ambiental pública dos recursos hídricos no Brasil 11

CAPÍTULO II

A gestão ambiental privada dos recursos hídricos no Brasil 18

CAPÍTULO III 29

A articulação entre a gestão ambiental pública e privada dos

recursos hídricos no Brasil

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

BIBLIOGRAFIA CITADA 40

ÍNDICE 43

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INTRODUÇÃO

Segundo dados apresentados por Trigueiro (2012), o Brasil é o país que

concentra a maior quantidade de água do mundo. Somos uma nação irrigada

por 12 mil rios e córregos e que detém na bacia do rio amazonas, a maior

concentração de água doce do planeta. Mas será que sabemos administrar

este recurso?

Trigueiro (2012) relata que no Brasil depois da agricultura, o grande

consumo de água no setor produtivo provém das indústrias. O uso de água é

fundamental nas variadas etapas dos processos produtivos o que faz com que

a preocupação com o desperdício seja uma realidade atual nas empresas. O

autor exemplifica que em uma linha de montagem em Taubaté, São Paulo, são

necessários em 6 mil litros de água por dia para cada carro. Considerando que

são fabricados 1.050 carros por dia nesta montadora, pode-se supor que a

água usada aqui seria suficiente para abastecer boa parte das pequenas

cidades brasileiras.

A edição 2013 do Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos

está disponível no site da Agência Nacional de Águas (ANA). A publicação traz

o retrato atualizado das condições, usos e gestão das águas nas bacias

hidrográficas brasileiras, além de apresentar os avanços na gestão dos

recursos hídricos no País.

O Relatório é o resultado do trabalho feito com uma rede de cerca de 50

instituições, por isso, disponibiliza a informação mais atual possível de forma

que o ano de referência dos dados não é sempre o mesmo. Entre a rede de

instituições que participam da elaboração do Relatório de Conjuntura dos

Recursos Hídricos, estão os órgãos gestores estaduais de meio ambiente e

recursos hídricos, além de órgãos federais, como a Secretaria Nacional de

Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRHU) do Ministério do Meio Ambiente

(MMA) e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

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Este relatório aponta que a Indústria é o terceiro maior uso do País em

termos de vazão de retirada dos rios e o quarto em consumo. Em algumas

bacias corresponde ao principal uso da água (na Bacia do Tietê, por exemplo,

respondendo por 45% da vazão de retirada da bacia). Este uso é mais

concentrado nas Regiões Hidrográficas do Paraná, Atlântico Sudeste e nas

cabeceiras do São Francisco, onde de se concentra a maior parte da mão de

obra e a infraestrutura para o escoamento da produção (portos, malha viária,

aeroportos) e mercado consumidor. Essas regiões concentram 80% das

outorgas (licenças) emitidas para uso industrial. A fabricação de celulose,

papel e produtos de papel, metalurgia básica são os usos indústria com maior

número de outorgas nos rios da União.

Assim, a gestão de recursos hídricos deve considerar o crescente

consumo de água doce para atender as demandas de processo produtivos

industriais. Para as empresas, a água não representa apenas uma questão

social e ecológica, mas também uma questão econômica, visto que atualmente

vários estados brasileiros tem na outorga e cobrança instrumentos da gestão

de recursos hídricos.

Através de diversas regulamentações e instrumentos a gestão pública

dos recursos hídricos no Brasil dialoga com a gestão ambiental privada deste

recurso, visto que para reduzir os custos provenientes de cobranças públicas

as empresa passaram a incorporar em seu Sistema de Gestão Ambiental

(SGA) estratégias para reduzir o consumo de água, tornando-o mais eficiente.

As empresas também são responsáveis pelo lançamento de efluentes

industriais que podem comprometer a qualidade do corpo receptor e devem

lançar efluentes de acordo com os padrões de lançamentos estabelecidos pelo

poder público, explicitados por exemplo nas Resoluções CONAMA.

Assim, este trabalho tem como objetivo discutir o uso e gestão dos

recursos hídricos considerando a esfera pública e privada. No capítulo 1 será

abordada a temática gestão ambiental pública dos recursos hídricos no Brasil,

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em seguida o capítulo 2 discutirá a gestão ambiental privada dos recursos

hídricos no Brasil e, por último, o capítulo três articulará as duas esferas,

pública e privada.

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CAPÍTULO I

A GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA DOS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Diniz et al. (2006) entendem que a Constituição de 1988 foi um marco

importante na forma de administrar os recursos naturais pois a partir desta

legislação o Poder Público adquiriu a função de gestor dos bens ambientais, e

não mais de proprietário, devendo este promover a articulação de todos os

setores da sociedade em sua gestão. A partir da constituição, cabe ao Poder

Público prestar contas da utilização dos bens ambientais uma vez que esta

regulamentação definiu a natureza jurídica de tal bem como de uso comum do

povo. Conforme explicitado no art. 225, cabe ao poder público e à coletividade,

a obrigatoriedade em proteger o meio ambiente de forma a garantir qualidade

de vida ao indivíduo e à sociedade em sua totalidade.

A Constituição de 1988 definiu ser competência da União “instituir o

sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de

outorga de direitos de seu uso” (BRASIL, 1988). Um dos principais objetivos de

gestão do sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos segundo

Gomes & Loureiro (2012) é:

“[...] garantir a multiplicidade dos usos da água. As entidades e instrumentos de gestão do sistema constituem-se para efetivar o princípio dos múltiplos usos da água. Portanto, interpretações ou práticas que excluam demandas sociais de utilização da água para privilegiar monopólios de usos ou usuários, contrariam a própria razão da existência do SNGRH.”

A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) foi instituída após seis

anos de tramitação no Congresso Nacional, quando onze estados brasileiros já

haviam elaborado suas próprias políticas de recursos hídricos. Assim, através

da Lei n° 9.433 foi instituída a referida política e criado o Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH).

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.A instituição desta lei é um marco na história do país e sua concepção

estabelece normas legais, padrões e critérios para a utilização da água em

todas as suas esferas. Faz-se importante ressaltar que PNRH se alicerça

sobre fundamentos essenciais, tais como:

• A água é um bem de domínio público: toda água é indisponível à

apropriação privada e livre para o consumo humano, animal, e para fins

agrícola e industrial.

• A água é um recurso natural limitado e dotado de valor

econômico: consagração, perante a lei, de que os recursos hídricos são

esgotáveis e vulneráveis.

• A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso

múltiplo das águas. Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos

hídricos é o consumo humano.

• A Bacia Hidrográfica é a unidade territorial para implementação

da Política Nacional de Recursos Hídricos e a atuação do sistema nacional de

gerenciamento de recursos hídricos.

• A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar

com a participação do poder público, dos usuários e da comunidade.

Considerando o conceito de Bacia Hidrográfica fundamentado acima,

Seiffert (2011a) define a bacia hidrográfica como a unidade básica utilizada

como referência para gestão de recursos hídricos, a qual se constitui em uma

área drenada, parcial ou totalmente, por um ou vários cursos d’água. O Brasil,

por suas dimensões continentais e diversidade geográfica, apresenta situações

bastante distintas quanto à disponibilidade hídrica intra e inter-regional. O país

e afetado tanto pela escassez hídrica quanto pela degradação dos recursos

causada pela poluição de origem doméstica, industrial e agrícola (BRITO e

CAMARA, 1998).

Além dos fundamentos citados acima, a PNRH instituiu cinco

instrumentos para a gestão das águas: I. Planos de Recursos Hídricos; II.

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Enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos

preponderantes da água; III. Outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

IV Cobrança pelo uso de recursos hídricos; V. Sistema de Informações sobre

Recursos Hídricos. Estes instrumentos serão tratados a seguir:

I. Planos de Recursos Hídricos

Os Planos de Recursos Hídricos visam orientar e viabilizar a

implementação da Política Federal de Recursos Hídricos e o gerenciamento

dos recursos hídricos. São elaborados para a Federação e para cada uma das

Regiões Hidrográficas; são planos de longo prazo, com horizonte de

planejamento compatível com o período de implementação de seus programas

e projetos.

O Plano Nacional de Recursos Hídricos, estabelecido pela Lei nº

9.433/97, é um dos instrumentos que orienta a gestão das águas no Brasil. O

conjunto de diretrizes, metas e programas que constituem o plano foi

construído em amplo processo de mobilização e participação social. O

documento final foi aprovado pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos

(CNRH) em 30 de janeiro de 2006.

O objetivo geral do Plano é "estabelecer um pacto nacional para a

definição de diretrizes e políticas públicas voltadas para a melhoria da oferta

de água, em quantidade e qualidade, gerenciando as demandas e

considerando ser a água um elemento estruturante para a implementação das

políticas setoriais, sob a ótica do desenvolvimento sustentável e da inclusão

social". Os objetivos específicos são assegurar: “1) a melhoria das

disponibilidades hídricas, superficiais e subterrâneas, em qualidade e

quantidade; 2) a redução dos conflitos reais e potenciais de uso da água, bem

como dos eventos hidrológicos críticos e 3) a percepção da conservação da

água como valor socioambiental relevante”.

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O Ministério do Meio Ambiente é responsável pela coordenação do

PNRH, sob acompanhamento da Câmara Técnica do Plano Nacional de

Recursos Hídricos (CTPNRH/CNRH). Contudo, para que o instrumento seja

implementado, deve antes ser pactuado entre o Poder Público, o setor usuário*

e a sociedade civil.

II. Enquadramento dos corpos de água em classes

O enquadramento dos corpos de água em classes permite fazer a

junção entre a gestão da qualidade e da quantidade da água, visando

assegurar água com qualidade compatível aos usos mais exigentes da bacia.

Este instrumento estabelece o nível de qualidade a ser alcançado ou

mantido ao longo do tempo. Mais do que uma simples classificação, o

enquadramento deve ser visto como um instrumento de planejamento, pois

deve tomar como base os níveis de qualidade que deveriam possuir ou ser

mantidos para atender às necessidades estabelecidas pela sociedade e não

apenas a condição atual do corpo d’água em questão. O enquadramento

busca “assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes

a que forem destinadas” e a “diminuir os custos de combate à poluição das

águas, mediante ações preventivas permanentes” (Art. 9º, Lei nº 9.433, de

1997).

A classe do enquadramento de um corpo d’água deve ser definida em

um pacto acordado pela sociedade, levando em conta as prioridades de uso da

água. A discussão e o estabelecimento desse pacto ocorrem no âmbito do

SINGREH.

III. Outorga dos direitos de uso de recursos hídricos

A outorga é o ato administrativo mediante o qual o poder público

outorgante (União, Estado ou Distrito Federal) faculta ao outorgado

(requerente) o direito de uso de recursos hídricos, por prazo determinado, nos

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termos e nas condições expressas no respectivo ato. O ato é publicado no

Diário Oficial da União (no caso da ANA), ou nos Diários Oficiais dos Estados

ou do Distrito Federal. Assim como o enquadramento, este instrumento tem

como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água.

Também tem como objetivo o efetivo exercício dos direitos de acesso à água

associado a uma garantia.

Conforme está disposto na Lei Federal nº 9.433/1997, dependem de

outorga:

- A derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo d'água

para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo

produtivo;

- A extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de

processo produtivo;

- Lançamentos em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou

gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição

final;

- Uso de recursos hídricos com fins de aproveitamento dos potenciais

hidrelétricos;

- Outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água

existente em um corpo de água.

IV. Cobrança pelo uso de recursos hídricos

A cobrança está condicionada à outorga e objetiva reconhecer a água

como um bem econômico, incentivar a racionalização do uso da água e obter

recursos financeiros para atendimento das metas estabelecidas nos Planos de

Recursos Hídricos.

A Cobrança tem como objetivos: dar ao usuário uma indicação do real

valor da água; incentivar o uso racional da água; e obter recursos financeiros

para recuperação das bacias hidrográficas do país, obtendo recursos

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financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados

nos planos de recursos hídricos.

A Cobrança não é um imposto, mas uma remuneração pelo uso de um

bem público, cujo preço é fixado a partir de um pacto entre os usuários da

água, a sociedade civil e o poder público no âmbito dos Comitês de Bacia

Hidrográfica – CBHs, a quem a Legislação Brasileira estabelece a competência

de pactuar e propor ao respectivo Conselho de Recursos Hídricos os

mecanismos e valores de Cobrança a serem adotados na sua área de

atuação.

Além disso, a legislação estabelece uma destinação específica para os

recursos arrecadados: a recuperação das bacias hidrográficas em que são

gerados.

V. Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos

O Sistema de Informações de Recursos Hídricos visa à coleta, o

tratamento e o armazenamento de informações sobre recursos hídricos.

A Agência Nacional de Águas (ANA) é a entidade federal responsável

pela coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

Hídricos (SINGREH) e do Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

A partir deste sucinto esclarecimento sobre cada um dos instrumentos

que a gestão pública de recursos hídricos abrange, é válido ressaltar que para

a efetiva aplicação da Política Federal de Recursos Hídricos existe a

necessidade de se considerar de forma articulada os instrumentos descritos.

Em resumo, a Lei no 9433/97 institui a PNRH, cria o SINGREH e define

cinco instrumentos de gestão de recursos hídricos. O SINGREH é composto

pelas seguintes instituições: Conselho Nacional de Recursos Hídricos, Agência

Nacional de Águas (ANA), Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do

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Distrito Federal, Comitês de Bacia Hidrográfica, órgãos dos poderes públicos

federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se

relacionem com a gestão de recursos hídricos e Agências de Água.

Concluindo, Magrini (2001) traz uma perspectiva futura para a gestão de

recursos hídricos no Brasil a partir da PNRH:

“Efetivamente, ao eleger a bacia hidrográfica como unidade de gestão, este novo sistema faz intervir, na gestão da mesma, diferentes esferas do poder público (Estados, Municípios, União), além de envolver os diversos usuários da bacia, através da representação nos chamados Comitês de Bacia. A lei também introduz novos instrumentos de gestão buscando integrar os aspectos qualitativos e quantitativos relativos ao gerenciamento da água que seguramente necessitarão da prática da negociação e da formação de parcerias. O gerenciamento de recursos hídricos no Brasil pode portanto vir a constituir-se no primeiro exemplo significativo de gestão ambiental cooperativa podendo servir como modelo para a reformulação do próprio Sistema Nacional de Meio Ambiente.”

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CAPÍTULO II

A GESTÃO AMBIENTAL PRIVADA DOS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

2.1 ABORDAGENS PARA A GESTÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL

Segundo Barbieri (2011) a solução ou mitigação dos problemas

ambientais depende também de uma nova postura de empresários e

administradores, que devem considerar o meio ambiente no âmbito de suas

decisões, além de adotarem concepções administrativas e tecnológicas que

contribuam para ampliar a capacidade suporte do planeta. Em outras palavras,

as empresas devem deixar de fazer parte dos problemas para fazerem parte

das soluções.

Neste sentido, o autor descreve que dependendo de como a empresa

atua em relação aos problemas ambientais decorrentes de suas atividades, ela

pode desenvolver três abordagens diferentes denominadas controle da

poluição, prevenção da poluição e estratégica. Estas abordagens estão

resumidas no Quadro 1.

Quadro 1: Gestão Ambiental na Empresa – abordagens. (BARBIERI, 2011 p.107)

CARACTERISTICAS

ABORDAGENS

CONTROLE DA

POLUIÇÃO

PREVENÇÃO

DA POLUIÇÃO

ESTRATÉGIA

Preocupação Básica Cumprimento da

legislação e

resposta às

pressões da

comunidade

Uso eficiente de

insumos

Competitividade

Postura Típica Reativa Reativa e Proativa Reativa e Proativa

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Ações Típicas - Corretivas

- Uso de

tecnologias de

remediação e de

controle final do

processo (end-of-

pipe)

- Aplicação de

normas de

segurança

- Corretivas e

Preventivas

- Conservação e

substituição de

insumos

- Uso de

tecnologias limpas

- Corretivas,

Preventivas e

Antecipatórias

- Antecipação de

problemas e

captura de

oportunidades

utilizando soluções

de médio e longo

prazo

-Uso de

tecnologias limpas

Percepção dos

empresários e

administradores

Custo adicional Redução de custo

e aumento da

produtividade

Vantagens

competitivas

Envolvimento da Alta

Administração

Esporádico Periódico Permanente e

Sistemático

Áreas Envolvidas - Ações Ambientais

confinadas nas

áreas geradoras de

poluição

-Crescente

envolvimento de

outras áreas como

produção,

compras,

desenvolvimento

de produto e

marketing

- Atividades

ambientais

disseminadas pela

organização

- Ampliação das

ações ambientais

para a cadeia de

suprimento

Fonte: Barbieri (2011)

O Controle da Poluição se caracteriza pelo estabelecimento de práticas

para impedir os efeitos da poluição gerada por determinado processo

produtivo. Este controle pode ser realizado através de ações pontuais, sem

articulação entre si. Em geral, esta abordagem tem como objetivo atender

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instrumentos de comando e controle, às quais a empresa está sujeita, assim

com, às pressões da comunidade. Do ponto de vista empresarial e financeiro,

os custos com controle de poluição tendem a aumentar à medida que as

exigências se tornam mais rigorosas, além de significarem elevação dos custos

de produção, que poderão ser repassados aos preços dos produtos.

Aplicando esta abordagem à gestão dos recursos hídricos podemos citar

exemplos de ações de remediação e controle adotadas pelas empresas:

- Ação de remediação: desenvolvimento de tecnologias para descontaminar

recursos hídricos, como petróleo derramado.

- Ação de controle: instalação de estações de tratamento dos efluentes

industriais antes do lançamento em um corpo receptor.

A segunda estratégia, Prevenção da Poluição, sugere que a empresa

procura atuar sobre produtos e processos para evitar, reduzir ou modificar a

geração de poluição, além de promover ações que tornem a produção mais

eficiente, isto é, poupadora de materiais e energia em diferentes fases do

processo de produção e comercialização. Os rejeito que sobram são captados,

tratados e dispostos por meio de tecnologias de controle de poluição. A

prevenção de poluição é lucrativa, pois significa recursos poupados, o que

permite produzir mais bens e serviços com menos insumos.

No âmbito dos recursos hídricos, esta abordagem se aplica em ações

como: redesenho de produtos de forma que estes demandem menos recursos,

reutilização de água nos processos produtivos, captação de água de chuva,

utilização de tecnologias que economizam água em banheiros e dependências

da empresa, além de ações de remediação e controle de poluição, citadas

anteriormente.

A terceira e última abordagem descrita por Barbieri (2011) é

denominada Abordagem Estratégica e pode ser concebida quando a empresa

trata os problemas ambientais como uma questão estratégica, que pode gerar

uma situação vantajosa no seu negócio atual ou futuro. A importância

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estratégica está vinculada ao aumento do interesse da opinião pública sobre

as questões ambientais, bem como dos grupos interessados, trabalhadores,

consumidores, investidores e grupos ambientalistas. A empresa está atenta a

fatores como análise do ciclo de vida do produto, pois as ações estratégicas

devem se expandir para a cadeia de suprimento.

Aplicando esta abordagem à gestão de recursos hídricos, podemos citar

como exemplos de atuação das empresas: participação em comitês de bacia

hidrográfica na sua área de atuação, acompanhamento de projetos de lei e

acordos ambientais multilaterais sobre recursos hídricos, adesão a normas

nacionais e internacionais de gestão ambiental, parceria com fornecedores

sustentáveis e/ou que possuam certificações ambientais, adesão de selos e

rótulos ambientais, além das práticas de controle e prevenção da poluição, já

citadas.

2.2 MODELOS DE GESTÃO AMBIENTAL

Segundo Barbieri (2011), para implementar qualquer abordagem de

modo eficiente, a empresa deve realizar um conjunto de práticas

administrativas e operacionais, configurando um modelo de gestão ambiental

específico.

A evolução do tratamento das questões ambientais nas empresas

seguiu uma trajetória similar à que ocorreu no conceito de qualidade. De

acordo com Cunha (2000), as preocupações com o meio ambiente começaram

a aparecer na década de 1970, porém as ideias formalizadas da gestão

ambiental só surgiram após o desenvolvimento da Qualidade. Historicamente,

a produção industrial conheceu uma significativa evolução na eficiência da

qualidade dos processos e na gestão da produção com a evolução da

qualidade TQM - Total Quality Management (Administração da Qualidade

Total). No entanto, enquanto o TQM avançava, a qualidade do meio ambiente

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foi negligenciada, sendo a eficiência no uso de recursos naturais uma

preocupação menor devido a abundância na oferta e baixo custo.

A crescente crise ambiental trouxe uma formalização da preocupação

com a saúde dos ecossistemas inserindo um quesito a mais na questão da

qualidade total, a qualidade ambiental. O TQME - Total Quality Environmental

Management (Administração da Qualidade Ambiental Total) – é uma

ampliação do modelo TQM que passa a incluir preocupações com as questões

ambientais. Segundo Valle (2002), a qualidade ambiental consiste no

atendimento dos requisitos de natureza física, química, biológica, social,

econômica e tecnológica que asseguram a estabilidade das relações

ambientais no ecossistema no qual se insere as atividades da organização.

A década de 1990 trouxe avanços na gestão ambiental privada, fazendo

emergir diferentes modelos de gestão ambiental. Além da TQME, são

exemplos de modelos a Produção Mais Limpa (P+L), definida em 1990 em um

seminário da PNUD, que preza pela redução de resíduos e emissões na fonte,

assim como, a Ecoeficiência, introduzido em 1992 pelo WBCSD (World

Business Council for Sustainable Development), baseada na redução de

materiais e energia por unidade de produto ou serviço.

Segundo o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento

Sustentável – CEBDS (2009):

[...] produção mais limpa é a aplicação contínua de uma estratégia técnica, econômica e ambiental integrada aos processos, produtos e serviços, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, pela não geração, minimização ou reciclagem de resíduos e emissões, com benefícios ambientais, de saúde ocupacional e econômicos [...].

Neste sentido, modelos como a Produção Mais Limpa, a Ecoeficiência,

a Ecologia Industrial, entre outros, geram benefícios na utilização de diversos

recursos naturais, como a água. Sobre este recurso, podemos enfatizar sua

Page 23: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL fileSegundo dados apresentados por Trigueiro (2012), o Brasil é o país que concentra a maior quantidade de água do mundo. Somos uma

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economia devido o aumento da eficiência produtiva e do reuso da água, a

redução de resíduos na fonte e na destinação final, que consequentemente

gera menor lixiviação de poluentes para os recursos hídricos próximos,

incentivo a adesão de boas práticas ambientais em relação à água em toda a

cadeia produtiva, entre outros.

2.3 NORMAS ISO DE GESTÃO AMBIENTAL

De acordo com Dias (2012), no âmbito das empresas, gestão ambiental

é a expressão utilizada para se denominar a gestão empresarial que se orienta

para evitar, na medida do possível, problemas para o meio ambiente. Ou seja,

é a gestão cujo objetivo é conseguir que os efeitos ambientais não ultrapassem

a capacidade de suporte do meio onde se encontra a organização.

Inserida neste conceito, as normas da série ISO 14000 surgiram como

uma proposta concreta para a gestão ambiental durante a Eco 92, evento que

reuniu 172 países signatários. Surgiram também como uma resposta à

perspectiva neoliberal de que, através de normas de natureza voluntária, as

dinâmicas de mercado podem contribuir para o aprimoramento da gestão

ambiental. (SEIFFERT, 2011a).

Assim, o enfoque na organização é constituído por um grupo de normas

que buscam normatizar a implantação da gestão ambiental. Dentre estas se

destacam as seguintes:

v Sistema Gestão Ambiental (ISO 14001 e ISO 14004)

v Auditoria Ambiental de SGA (ISO 14010, ISO 14011 e ISO 14012

substituídas pela norma ISO 19011)

v Avaliação Desempenho Ambiental (ISO 14031)

v Rotulagem Ambiental (ISO 14020, ISO 14021, ISO 14024 e ISO 14025)

v Avaliação de Ciclo de Vida (ISO 14040 e ISO 14044)

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v Aspectos Ambientais em Normas de Produtos (ISO 14062)

Cunha (2000) descreve que a ISO 14000 vem reforçar e até tornar

primordial a inclusão de critérios de qualidade ambiental nos sistemas

produtivos. Neste contexto, os empresários sob a pressão da opinião pública,

dos organismos não-governamentais, dos consumidores em particular e até

mesmo dos investidores (acionistas, bancos e também seguradoras), se veem

obrigados a repensar suas estratégias de produção industrial.

Considerando a implantação da ISO 14001 no Brasil e no mundo,

Seiffert (2011a) concorda com os apontamentos de Cunha (2000) e

complementa afirmando que a maioria das empresas que vem implantando um

Sistema de Gestão Ambiental (ISO 14001) está em geral sendo motivada,

quase que exclusivamente, para evitar o surgimento de futuras barreiras não

tarifárias ao comércio de seus produtos, garantindo desta forma seu espaço no

mercado nacional e internacional.

Assim, em relação às abordagens que uma empresa pode adotar frente

aos problemas ambientais, a certificação de um SGA aponta para uma

abordagem estratégica, que implica em uma postura proativa da empresa, em

uma participação permanente e sistemática da alta administração, no

envolvimento de diversas áreas da organização, além da ampliação das ações

ambientais para a cadeia de suprimento. Como resultado positivo a empresa

também ganha competitividade no mercado.

Os benefícios de um Sistema de Gestão Ambiental para os corpos

hídricos podem ser associados, por exemplo, ao auto monitoramento realizado

pela própria organização, que deve gerenciar todos os seus potenciais riscos

ambientais, como contaminação de recursos hídricos superficiais e

subterrâneos, captação excessiva de água nos corpos hídricos, lançamento de

efluentes fora dos padrões de emissão permitidos pela legislação ambiental

vigente, entre outros.

Page 25: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL fileSegundo dados apresentados por Trigueiro (2012), o Brasil é o país que concentra a maior quantidade de água do mundo. Somos uma

25

Se considerarmos a norma ISO 14031, que versa sobre a Avaliação de

Desempenho Ambiental, estes benefícios se expandem, pois esta norma

engloba todo o ciclo de vida dos produtos e da empresa, desde a entrada de

matérias primas até o descarte após o uso, através do estabelecimento de

indicadores ambientais e seu monitoramento. O desempenho ambiental da

organização é essencial para assegurar que seu padrão de qualidade

ambiental esteja cumprindo pelo menos o estabelecido pela regulamentação

ambiental (níveis municipal, estadual e federal). Trata-se de um processo mais

detalhado quando comparado à ISO 14001, uma vez que envolve o processo

de medição, análise, avaliação e descrição do desempenho ambiental da

organização em relação aos objetivos definidos para o seu Sistema de Gestão

Ambiental (SEIFFERT, 2011b).

A Avaliação de Desempenho Ambiental é um processo de gestão

interna que se baseia em indicadores para analisar a evolução do desempenho

ambiental de uma organização, sempre comparado às metas estabelecidas

por esta mesma organização. A norma ABNT NBR ISO 14031:2002 prevê

duas categorias gerais de indicadores a serem considerados na avaliação de

desempenho ambiental: os Indicadores de Condição Ambiental (ICA) e os

Indicadores de Desempenho Ambiental (IDA).

Os ICA fornecem informações sobre a qualidade do meio ambiente

local. Os dados para estes indicadores são geralmente coletados de acordo

com padrões e regras ambientais estabelecidos por normas e dispositivos

legais.

Quanto aos IDA, são divididos em dois grupos:

1) Os Indicadores de Desempenho de Gestão (IDG), que fornecem

informações sobre as práticas de gestão que influenciam no desempenho

ambiental.

Page 26: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL fileSegundo dados apresentados por Trigueiro (2012), o Brasil é o país que concentra a maior quantidade de água do mundo. Somos uma

26

2) Os Indicadores de Desempenho Operacional (IDO), que fornecem

informações sobre as operações do processo produtivo que interferem no

desempenho ambiental.

2.4 PRÁTICAS DA GESTÃO AMBIENTAL PRIVADA DOS RECURSOS

HÍDRICOS

Segundo a ANA, a indústria brasileira tem buscado equacionar o

suprimento de água perfurando poços profundos e reutilizando a água em seus

processos, e, em muitos casos, buscando ajustamentos locacionais. Para

aumentar a disponibilidade de água para o setor, técnicas de reuso vêm sendo

utilizadas. Este é o caso do projeto ganhador do Prêmio ANA 2012 na

categoria "Empresa", o Projeto Aquapolo, no Polo Petroquímico do ABC, que

tem como objetivo produzir água industrial de alta qualidade a partir do esgoto

doméstico gerado na bacia do ABC paulista e fornecê-la ao Polo Petroquímica

de Capuava, maior consumidor de água potável da região. Esse projeto gera a

redução de poluentes lançados pelo polo e uma economia de 1,68 bilhão de

litros mensais, equivalente a uma redução de custos de R$ 33 milhões por ano

às empresas clientes do projeto. Áreas com baixa disponibilidade hídrica e alta

demanda industrial se beneficiariam de técnicas como essa.

Objetivando descrever outros exemplos práticos de como a implantação

de um sistema de gestão ambiental, vinculado a indicadores de desempenho

ambiental, pode beneficiar os recursos hídricos na esfera micro e macro, foi

consultado o relatório de sustentabilidade da empresa Natura. Segundo o Guia

Exame Sustentabilidade (2013), a Natura é uma das 63 empresas mais

sustentáveis do Brasil, sendo classificada no indicador “Gestão de Água” com

desempenho acima da média. A escolha das empresas deste guia teve como

base uma metodologia elaborada pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade

(GVces) da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.

Além disso, esta empresa participa da carteira de empresas do Índice

de Sustentabilidade Empresarial (ISE) desde sua abertura, em 2005. Este

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índice busca criar um ambiente de investimento compatível com as demandas

de desenvolvimento sustentável da sociedade contemporânea e estimular a

responsabilidade ética das corporações.

O relatório de sustentabilidade 2012 da empresa brasileira Natura,

registrou como o seu negócio impacta nos recursos hídricos, por meio do

consumo e do seu potencial de poluição das águas através de uma estratégia

de gestão de água com um olhar sobre todo o ciclo de vida do negócio. A

empresa calculou a sua pegada hídrica, através da metodologia desenvolvida

pela Water Footprint Network (WFN), e mapeou o impacto do fornecimento de

insumos (matérias-primas e materiais de embalagem), da fase de produção e

distribuição dos produtos até chegar ao uso e descarte desses itens pelo

consumidor. Esse cálculo, realizado em 2010, apontou as fases de descarte

dos produtos pelos consumidores (45,9%) e de fornecimento de matérias-

primas e materiais de embalagens (36,9%) como as mais relevantes em

termos de impacto da cadeia da Natura. Já a etapa de uso do produto

representou um percentual de 13,8% no total.

A pegada hídrica pode ser definida, neste caso, como um indicador de

desempenho operacional. A empresa, por sua vez, pode estabelecer metas

futuras e ações para melhoria de sua pegada hídrica a curto, médio e longo

prazo. No relatório a empresa propõe ampliar o estudo aplicando metodologias

que incluam a avaliação de biodegradabilidade e toxidade de produtos,

considerando assim tanto o consumo como o potencial de poluição dos

recursos hídricos. Além do estudo de um modelo que considere as

características do Brasil, com desigualdade na distribuição de água – as

regiões mais populosas estão distantes das áreas com maior abundância do

recurso - e condições de saneamento básico incipientes.

Em relação à gestão de águas e efluentes a empresa declara que

monitorou o desempenho no consumo de água nas operações do Brasil

(incluindo os escritórios, centros de distribuição e fábricas próprias e dos

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terceiros), alcançando a meta de 0,40 litro por unidade produzida. Para tal, a

empresa afirma ter realizado melhorias em sanitários, na estação de

tratamento de efluentes (ETE), na caldeira e no clube Natura, localizado em

Cajamar, entre tantas outras. Também é definido como indicador relativo a

recursos hídricos a ausência de ocorrência de derramamento significativo de

substâncias ou acidentes com produtos que tenham causado qualquer impacto

ambiental. A empresa define como derramamento significativo aqueles que

exigem tratamento especializado das áreas afetadas (remoção de solo para

tratamento, neutralizações e etc.). O percentual de água reaproveitada e os

setores que utilizam a mesma também são tidos como indicadores. A empresa

relata o aprimoramento em mais uma etapa no tratamento de água, que eleva

a qualidade da água e viabiliza sua utilização para outros fins, como nas

caldeiras para gerar vapor, resfriamento ou aquecimento de equipamentos e

no resfriamento do ar-condicionado.

Além dos indicadores descritos a empresa utiliza indicadores de

condição ambiental através do monitoramento constante a respeito das

condições dos corpos hídricos, para garantir que os lançamentos não

prejudiquem as características dos mesmos.

O exemplo do Projeto Aquapolo, no Polo Petroquímico do ABC, e da

Natura é seguido por diversas empresas brasileiras que adotam a abordagem

estratégica. É válido ressaltar que as ações descritas e os indicadores

ambientais mencionados não são exclusivos destas instituições e que as

empresas comprometidas com as questões ambientais, de modo geral,

utilizam estes e outros indicadores para avaliar o seu desempenho ambiental e

propor metas de melhoria contínua dos seus processos produtivos.

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CAPÍTULO III

A ARTICULAÇÃO ENTRE A GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA E PRIVADA DOS RECURSOS HÍDRICOS NO

BRASIL Este capítulo apresentará três formas de articulação entre a gestão

ambiental pública e privada dos recursos hídricos no Brasil, no entanto é válido

ressaltar que estas são algumas das diversas possibilidades de interação entre

estas duas esferas. Nos itens 3.1 (Conselhos e Comitês de Bacia Hidrográfica)

e 3.2 (Cadastro Federal de Usuários de Recursos Hídricos) esta articulação

público-privado tem como objetivo o aprimoramento da gestão pública dos

recursos hídricos. O item 3.3 (Implantação da ISO 14001), por sua vez, tem

sua origem no setor privado, gerando consequências positivas para a

administração pública dos recursos hídricos.

3.1 CONSELHOS E COMITÊS DE BACIA HIDROGRÁFICA

A partir da composição organizacional do SINGREH, este estudo

discutirá mais profundamente os Conselhos Federal e Estaduais de Recursos

Hídricos e os Comitês de Bacia, pois são nestes espaços que poder público,

setor privado e sociedade civil organizada se articulam.

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos é um órgão colegiado de

caráter consultivo e deliberativo da estrutura do regimento do Ministério do

Meio Ambiente (MMA). Este Conselho é um dos responsáveis pela

implementação da gestão de recursos hídricos no país e possui como

competências: Formular a Politica Nacional de Recursos Hídrico e estabelecer

as diretrizes para sua implementação; Promover a articulação do planejamento

de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regional, estadual e dos

setores usuários; Aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos; Definir os

valores da cobrança pelo uso dos recursos hídricos e, em articulação com os

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comitês de bacias hidrográficas, as prioridades para sua aplicação; Autorizar a

criação das agências de águas.

Por sua vez, os Conselhos Estaduais também são órgãos colegiados

com atribuições normativa, consultiva e deliberativa, responsáveis pela

promoção e implementação das diretrizes da Política Estadual de Recursos

Hídricos.

Embora os Conselhos Federal e Estaduais sejam espaços de

participação e articulação dos três setores da sociedade tendo como objetivo a

gestão de recursos hídricos, os comitês de bacia são a base deste sistema

articulador, isto porque estão em maior número e representam uma menor

área de abrangência, permitindo portando a participação de um maior número

de usuário, órgãos públicos e instituições da sociedade civil organizada.

A PNRH atribui a ANA (Agência Nacional de Águas) o estímulo e apoio

as iniciativas voltadas para a criação de um Comitê de Bacia Hidrográfica, cuja

criação necessita da aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos

(CNRH). Os comitês são a base do SINGREH, nestes espaços são debatidas

as questões relacionadas à gestão dos recursos hídricos. Participam dos

Comitês representantes do Poder Público, usuários das águas e das

organizações da sociedade com ações na área de recursos hídricos. Têm

como objetivo a gestão participativa e descentralizada dos recursos hídricos

em um território, por meio da implementação dos instrumentos técnicos de

gestão, da negociação de conflitos e da promoção dos usos múltiplos da água.

Os Comitês devem integrar as ações de todos os governos, seja no

âmbito dos Municípios, do Estado ou da União; propiciar o respeito aos

diversos ecossistemas naturais; promover a conservação e recuperação dos

corpos d’água e garantir a utilização racional e sustentável dos recursos

hídricos. Dentre suas competências a Agência Nacional de Águas (ANA)

destaca:

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o arbitrar os conflitos relacionados aos recursos hídricos naquela bacia

hidrográfica;

o aprovar os planos de Recursos Hídricos;

o acompanhar a execução do Plano e sugerir as providências necessárias

para o cumprimento de suas metas;

o estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e

sugerir os valores a serem cobrados;

o definir os investimentos a serem implementados com a aplicação dos

recursos da cobrança.

De acordo com Seiffert (2011a), a atuação dos Comitês de Bacias

apresenta-se como um dos princípios orientadores à implantação de um

processo decisório participativo objetivando assegurar benefícios para toda a

coletividade, em que diferentes usuários em geral apresentam interesses

conflitantes quanto ao uso da água. Nesse caso, para garantir o uso racional

da água, busca-se avaliar a quantidade e a qualidade disponível deste recurso

e as necessidades características dos usuários.

De acordo com a PNRH, o Comitê de Bacia Hidrográfica deve

implementar os cinco instrumentos de gestão dos recursos hídricos, isto é,

deve elaborar as propostas de outorga de direito de uso da água, definir o

valor da cobrança pelo uso da água, elaborar o Plano de Recursos Hídricos,

municiar de informações o SNIRH e propor o enquadramento dos corpos

d’água que compõem a bacia hidrográfica em classe de uso. Segundo Kumler

(2005) e Lemos et al. (2007) a democratização na tomada de decisão é capaz

de aprimorar a governança dos recursos hídricos, isto porque estimula a

criação de um sistema mais descentralizado, adaptável e flexível. De acordo

com os autores, tais características estimulam um senso de responsabilidade

comum entre os vários atores sociais com relação à conservação e ao uso dos

recursos hídricos.

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Neste contexto, a PNRH traz uma nova abordagem para a gestão

brasileira de recursos hídricos, visto que a inserção dos Comitês de Bacia

como colegiados locais responsáveis por gerenciar as bacias hidrográficas

reforçou o caráter descentralizador e participativo da PNRH. Articulação,

integração, gestão sistemática, adequação são palavras chave neste novo

modelo de gestão dos recursos hídricos.

3.2 CADASTRO NACIONAL DE USUÁRIOS DE RECURSOS HÍDRICOS

(CNARH)

O Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos 2013 apresenta a

distribuição das outorgas emitidas pela ANA e pelos órgãos gestores estaduais

de recursos hídricos para abastecimento industrial. Segundo este relatório,

embora este tipo de uso seja encontrado em todo País, ele está principalmente

concentrado na Região Hidrográfica do Paraná, Atlântico Sudeste e São

Francisco, onde se concentram a mão de obra, a infraestrutura para

escoamento da produção (portos, malha viária, aeroportos) e o mercado

consumidor. Oitenta por cento das outorgas emitidas pela ANA e pelos órgãos

estaduais para este uso até dezembro de 2012 estão nestas regiões.

Um procedimento fundamental para a implementação da outorga é o

cadastro dos usuários dos recursos hídricos. De acordo com ANA (2008), o

Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos (CNARH) foi instituído

pela Resolução ANA nº 317, de 26/08/2003 para registro obrigatório de

pessoas físicas e jurídicas de direito público ou privado usuárias de recursos

hídricos e constitui parte integrante do Sistema Nacional de Informações Sobre

Recursos Hídricos.

O CNARH se aplica aos usuários de recursos hídricos que captam água,

lançam efluentes ou realizam usos não consuntivos diretamente em corpos

hídricos (rio ou curso d’água, reservatório, açude, barragem, poço, nascente,

etc). O conteúdo do cadastro inclui informações sobre a vazão utilizada, local

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de captação, denominação e localização do curso d’água, empreendimento do

usuário, sua atividade ou a intervenção que pretende realizar.

O CNARH é a base de dados que reflete o conjunto de usos

reconhecidos de recursos hídricos. Ele é alimentado pelo processo de

cadastramento de usuários e sobre ele estarão baseados alguns dos principais

instrumentos da gestão de recursos como a outorga, a cobrança e a

fiscalização.

Apesar de o sistema já estar acessível, sua implementação está sendo

realizada de forma progressiva, de forma que as bacias hidrográficas que

apresentam conflitos pelo uso das águas são prioritárias para a gestão e

regularização. Dessa forma, uma vez identificada a bacia hidrográfica

conflituosa, a ANA promove uma campanha de cadastro de seus usuários com

o objetivo de conhecer a demanda de água naquela bacia. Realizada a etapa

de cadastro, a ANA e os órgãos gestores de recursos hídricos estaduais

analisam a disponibilidade de água nas bacias hidrográficas, levando em conta

sua capacidade hídrica e os diversos usos distribuídos. Tais estudos servem,

entre outras coisas, como base para análise e emissão de Outorgas de Direito

de Usos de Recursos Hídricos.

Atualmente, os seguintes setores usuários de recursos hídricos podem

se cadastrar no sistema CNARH:

• Sistemas de abastecimento público

• Sistemas de esgotamento sanitário

• Indústrias

• Mineradoras (extração de areia, beneficiamento, etc.)

• Termoelétricas

• Irrigação

• Criação de animais (intensiva e extensiva)

• Outros usos que possuem captações de água ou lançamento de

efluentes

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Em 2006 teve início o cadastramento de usuários de recursos hídricos

do estado do Rio de Janeiro no Sistema CNARH, por isto este ano apresenta

um número relativamente baixo de usuários cadastrados (163) que ganha

maior expressividade ao longo dos anos subsequentes com a adesão de novos

usuários ao cadastro. Esta adesão anual apresenta similaridade nos anos de

2007 a 2010, seguida de um expressivo aumento no ano de 2011. Este

acréscimo, cerca de três vezes mais usuários no ano de 2011 em relação aos

anos anteriores, deve-se a adesão do setor agropecuário ao CNARH após

parceria entre o INEA (Instituto Estadual do Ambiente) e o Banco do Brasil,

que vinculou a solicitação de financiamento bancário à exigência de inscrição

no cadastro de usuários de água. O ano seguinte, 2012, apresenta reflexos da

entrada do setor agropecuário no sistema, o que justifica o cadastramento de

2.449 novos usuários. Os resultados do cadastramento foram sistematizados

na figura 1.

Figura 1 – Número de usuários cadastrados no estado do Rio de Janeiro entre 2002 e junho de 2013. (INEA, 2013, p.44)

O exemplo do Rio de Janeiro demonstra como a articulação entre a

esfera pública e privada pode ser positiva no processo de regularização do

cadastro federal de usuários de recursos hídricos. Por isso, sugerem-se ações

de cadastramento e regularização direcionadas ao setor industrial/empresarial

6 1 6 1163

1012

13891106 1218

3703

2449

1186

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Dec

lara

ções

Histórico CNARH - 201212,2 mil cadastros no RJ

Fonte: CNARH junho /2013dominialidades federal e estadual

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35

com envolvimento de parceiros, além de ampla divulgação nas diversas

mídias. Desta forma, o cadastro federal poderá ser utilizado como uma fonte

cada vez mais confiável de dados, visto o número de cadastrados e os dados

fornecidos estarão mais próximos dos números reais, o que por sua vez torna

mais eficiente a gestão dos recursos hídricos na federação.

Segundo o Relatório da ANA sobre a conjuntura dos recursos hídricos

no Brasil (2013), o balanço entre a oferta de água e as demandas quantitativas

(captações) e qualitativas (lançamentos de efluentes) é de fundamental

importância para o diagnóstico das bacias brasileiras. Com base em

informações atualizadas de oferta de água, demandas consuntivas e qualidade

das águas é possível realizar um diagnóstico dos principais rios e bacias

brasileiras, definindo áreas críticas do ponto de vista do balanço quali-

quantitativo, de forma a orientar as ações de planejamento e gestão, previstas

na Política Nacional de Recursos Hídricos. Neste contexto, considerando que

uma parte significativa dos dados que os órgãos públicos detêm sobre bacias

hidrográficas provém da auto declaração dos usuários, é fundamental que o

CNARH seja o mais atual e próximo da realidade possível.

Como a outorga e a cobrança também são geradas a partir dos dados

cadastrados no CNARH, que são submetidos à aprovação do órgão gestor, a

regularização do setor produtivo no cadastro implica no aumento da

arrecadação de recursos financeiros que serão aplicados na gestão das bacias

hidrográficas.

3.3 IMPLANTAÇÃO DA ISO 14001

Considerando o contexto brasileiro, em que vários estados apresentam

graves problemas em relação à fiscalização ambiental, a implantação da

Norma ISO 14001, por iniciativa voluntária das empresas, passa a ser uma

forma de reduzir os prejuízos associados ao processo deficiente de

fiscalização ambiental do governo, porque a empresa passa a se autofiscalizar.

Analisando o contexto de distribuição espacial destas empresas, tem-se por

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acumulação de resultados pontuais um efeito potencializador da conservação

ambiental. (SEIFFERT, 2011a)

Neste contexto, a autora descreve que a somatória dos efeitos positivos

associados a um cluster de empresas que operam de forma ambientalmente

sustentável faz com que um instrumento de gestão ambiental privado em nível

micro passa a produzir um efeito de abrangência de nível macro. Quando se

considera empresas de pequeno e médio porte, isto é ainda mais relevante,

porque em geral encontra-se em maior número e diversidade de poluentes e

os padrões ambientais estabelecidos legalmente não consideram as

potencialidades dos danos ambientais gerados pela sinergia e acumulação de

compostos lançados por diversas empresas em determinado espaço físico.

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CONCLUSÃO

Segundo Marsico (2008), torna-se cada vez mais difícil separar as

dimensões socioeconômicas dos impactos ambientais porque as condições

ecológicas alteram outras condições como as culturais, sociais e históricas, e

são por elas transformadas. “Assim, impacto ambiental não é somente

resultado de uma ação sobre o ambiente, mas relação de mudanças sociais e

ecológicas em movimento.”

Se impacto ambiental é indivisível, a preservação dos sistemas que

suportam a vida deve ser pensada na perspectiva da complexidade ambiental,

num planejamento integrado e adequado ao gerenciamento das questões

sociais, contribuindo com a conservação de nossos ambientes, atuando no

fortalecimento político da sociedade e ajudando-a a intervir ativamente nas

decisões sobre a gestão dos recursos naturais (Reyes 1996 apud Marsico

2008).

Magrini (2001) concorda com Reyes (1996) quando coloca que a

formação de parcerias, a criação e aplicação de instrumentos participativos de

gestão, a implementação de ações conjuntas de preservação do meio

ambiente, constituem as formas mais viáveis de encaminhamentos destas

novas políticas ambientais, que assumem um caráter ais integrador. As

perspectivas futuras parecem confirmar-se não só por uma trajetória evolutiva

interna à política ambiental, mas também por uma dinâmica mais ampla de

crescimento das forças de mercado num contexto econômico e financeiro

globalizado e fortemente interligado. Segundo a autora, rediscutir o papel do

Estado, das organizações e da sociedade e suas formas de articulação

constituem o grande desafio da gestão ambiental na atualidade.

Neste sentido, a Política Nacional de Recursos Hídricos inaugurou

espaços de encontro e discussão entre o setor público, privado e a sociedade

civil organizada, possibilitando a participação conjunta e articulada na gestão

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de recursos hídricos. Por sua vez, a gestão ambiental privada trouxe

instrumentos voluntários como certificações, selos, rótulos ambientais que

possibilitam que as empresas envolvam-se com as questões ambientais ao

mesmo tempo em que cooperam com a administração pública.

No entanto, conclui-se que apesar dos avanços dos instrumentos da

gestão ambiental pública e privada nas últimas décadas, ainda é preciso criar

novas formas de articulação de agentes públicos e privados na gestão do meio

ambiente e, mais especificamente, na gestão dos recursos hídricos.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A gestão ambiental pública dos recursos hídricos no Brasil 11

CAPÍTULO II

A gestão ambiental privada dos recursos hídricos no Brasil 18

2.1 Abordagens para a gestão ambiental empresarial 18

2.1 Modelos de gestão ambiental 21

2.3 Normas ISO de gestão ambiental 23

2.4 Práticas da gestão ambiental privada dos recursos hídricos 26

CAPÍTULO III

A articulação entre a gestão ambiental pública e privada dos 29 recursos hídricos no Brasil

3.1 conselhos e comitês de bacia hidrográfica 29

3.2 Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos (CNARH) 32

3.3 implantação da iso 14001 35

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

BIBLIOGRAFIA CITADA 40

ÍNDICE 43