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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR MONOGRAFIA “A DISCIPLINA QUE SE A APRENDE NA ESCOLA” Orientador: Prof. Antônio Fernando Vieira Ney Por GENILVA OTONI AMORIM SILVA Rio de Janeiro Outubro de 2010 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA

ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR

MONOGRAFIA

“A DISCIPLINA QUE SE A APRENDE NA ESCOLA”

Orientador: Prof. Antônio Fernando Vieira Ney

Por

GENILVA OTONI AMORIM SILVA

Rio de Janeiro

Outubro de 2010

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GENILVA OTONI AMORIM SILVA

A Disciplina que se aprende na escola

Monografia apresentada à Universidade

Cândido Mendes - Instituto A Vez do Mestre-

Pós -Graduação a Distância como requisito de

aprovação no Curso de Administração Escolar,

sob orientação do professor Antonio Fernando

Vieira Ney.

Rio de Janeiro

Outubro 2010

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AGRADECIMENTOS

A Deus, disciplinador por excelência, justo e amoroso que nos orienta a tudo

fazer com decência e ordem.

Ao professor Gilberto Crespo pela atenção a mim dispensada e pelas palavras

de incentivo que muito me ajudaram num momento em que parecia impossível

prosseguir.

À professora Teresa Cristina Magalhães do Vale que sempre atendeu às

minhas solicitações com presteza e carinho.

Ao professor Antônio Fernando Vieira Ney pelas valiosas correções e

orientações que me permitiram concluir este trabalho.

À minha querida Tati - tesouro que um dia encontrei - por me acalmar nos

momentos de aflição e fazer por mim o que só uma grande e especial amiga é

capaz.

À minha amiga Valéria Cristina pela generosidade e cooperação.

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DEDICATÓRIA

Ao meu amado por sonhar comigo os meus sonhos. Pelo incentivo,

companheirismo, compreensão, amor, carinho e por me ajudar e animar nos

momentos difíceis.

Ao meu casal de filhos por entenderem que a disciplina é uma maneira

especial de amar e de ensinar para a vida.

À minha mãe que por sua maneira especial de disciplinar faz-me crer não

existir outra disciplinadora que a ela se iguale.

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Epígrafe

Eu sempre sonho que uma coisa gera,

Nunca nada está morto.

O que não parece vivo, aduba.

O que parece estático, espera.

Adélia Prado

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RESUMO

Um dos temas que preocupa os educadores de ensino fundamental, nos dias atuais, é a questão da disciplina escolar. As causas da indisciplina estão entrelaçadas com a sociedade, a família, a escola, o professor e o aluno. Nosso propósito aqui é descobrir quais as causas reais da indisciplina. Trataremos o assunto dentro da perspectiva cognitiva e comportamental, visando esclarecer que a indisciplina muitas vezes é mal interpretada. Diante dessa realidade, questiona-se: “disciplina, na escola, é apenas uma questão de boa conduta ou de formação de hábitos e valores trazidos de casa? Discutiremos o papel da família dentro das novas propostas educacionais, e como ela precisa reconquistar seu espaço. Também será feita uma análise do papel do gestor no processo de engendramento de estratégias que agreguem à escola valores disciplinares a serem cultivados por todos os profissionais que participam do processo educativo. A disciplina imposta não surte mais efeitos, pelo contrário torna os alunos mais insubordinados. O que as novas teorias pedagógicas têm para nos ensinar? A disciplina pode ser negociada, pode ser construída para se tornar um bem duradouro. É o que tentaremos afirmar durante a análise deste trabalho. Palavras-chave: Indisciplina – Gestão Educacional – Dialética da Disciplina.

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METODOLOGIA

Neste presente trabalho desenvolvemos duas

formas de pesquisa: a pesquisa bibliográfica e também a pesquisa de campo,

como forma de embasamento das questões formuladas ao longo de toda a

dissertação. Buscou-se por fontes teóricas cujos temas fossem diretamente

ligados à questão da disciplina em casa e na sala de aula, por motivo da

relação causal que ambas têm entre si. Consideramos também necessário

utilizar livros que abordassem o papel do professor na sala de aula e como sua

postura influencia no comportamento dos alunos.

A pesquisa de campo foi realizada em uma

escola municipal de Ensino Fundamental, onde foram acompanhadas turmas

de 6º e 7º anos. A proposta foi verificar o panorama geral das turmas, e como

o trabalho pedagógico realizado em sala de aula teve papel fundamental na

melhoria das relações entre os alunos e os professores. Os dados coletados na

pesquisa foram organizados no terceiro capítulo, pois eles respondem às

questões levantadas na problematização do tema.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................9

CAPÍTULO I – INDISCIPLINA, O MAL DO SÉCULO....................12

1.1. Nos tempos da palmatória.................................................14

1.2. A falência da autoridade................................................... 17

CAPÍTULO II – O QUE A ESCOLA TEM A DIZER........................23

2.1. Como a escola lida com “os perturbadores”.......................23

2.2. O professor também é culpado?...........................................27

CAPÍTULO III – O DIÁLOGO DA DISCIPLINA..............................31

3.1. É a hora e a vez da família....................................................32

3.2. Disciplina: É bom pra mim, é bom pra você........................35

CONCLUSÃO..................................................................................40

REFERÊNCIAS...............................................................................42

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INTRODUÇÃO

O tema proposto para esse trabalho é Indisciplina na sala de aula, quais

as causas que levam aos transtornos comportamentais, e como a escola, em

conjunto com a família e o professor, pode reverter tal situação.

A Disciplina é uma das condições necessárias para o

aprendizado. O que vemos é que, na Escola nem sempre os professores

sabem como negociá-la com os alunos. Será que não é possível encontrar

práticas pedagógicas que levem o aluno a internalizar a Disciplina como mais

um conteúdo a ser aprendido?

Disciplina é interesse de todos. Seja em casa, na rua ou na

escola, ela é um ingrediente facilitador das relações sociais.

Uma vez que exerço a função de Diretora

Adjunta, todos os dias me deparo com situações relativas à disciplina dos

alunos, onde nem sempre os professores encontram soluções adequadas ao

caso.

Toda instituição de ensino, privada ou pública,

espera conseguir um índice disciplinar satisfatório entre seus alunos. Recorre-

se a medidas punitivas ou prêmios acadêmicos para as turmas bem-

comportadas, para o aluno e etc, na tentativa de incentivar os alunos a

adotarem uma conduta melhor, com seus colegas e com os professores.

Acredito que é possível entender a Disciplina

como processo a ser construído na consciência coletiva. Da forma como é

imposta aos alunos, a disciplina pode parecer algo penoso, uma vez que tolhe

a expressividade de cada um.

Lidar com questões disciplinares se torna cada

vez mais difícil porque as relações sociais mudaram seus paradigmas ao longo

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do tempo. Na relação professor-aluno, a realidade não é muito diferente. Há 30

anos atrás, os alunos permaneciam quietos durante toda a aula, que

transcorria sem maiores atropelos e parecia que o educador tinha tudo sob

controle.

Esse perfil de sala de aula se encaixa

perfeitamente nas tradicionais aulas expositivas. Hoje, quando novas políticas

pedagógicas têm sido propostas, é um erro a escola continuar com a idéia de

que há apenas uma disciplina a ser imposta.

Para cada atividade, há uma maneira diferente

de lidar com o comportamento do aluno. Há momentos em que o silêncio é

necessário e, em outros, é preferível o debate com a participação de todos.

É comum vermos a indisciplina ser punida com

medidas repressivas. Contudo, tais atitudes só surtem efeito com crianças que

temem autoridade. Aqueles que não se intimidam precisam ser convencidos de

outra forma, através do diálogo e da troca.

Através da pesquisa entre diversos autores,

pretendo demonstrar como uma administração eficiente, voltada para o

desenvolvimento de uma política baseada no diálogo e na autodisciplina pode

transformar a realidade caótica de uma escola em um espaço de respeito

mútuo, onde cada um conheça seu próprio limite, e aprenda a negociar com os

demais as regras para uma convivência harmônica. Também há uma

perspectiva de estabelecer uma análise dos problemas disciplinares mais

enfrentados pelos professores na atualidade e traçar meios pelos quais estes

possam ser solucionados.

A questão disciplinar está muito além de

crianças comportadas e silenciosas durante duas ou quatro horas inteiras. Uma

sala disciplinada é aquela cuja aula transcorre em meio a conversas, risos sem

que se perca o objetivo central, que é o de aprender, transmitir conhecimento e

trocar experiências de aprendizagem.

Conseguir e manter a disciplina na sala de aula

está ligado a três pontos: metodologia, conteúdo e relações interpessoais.

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Elegem-se alguns temas circundantes à prática pedagógica do

professor, que estão articulados entre si e são objetos de inquietações e

reflexões, e sobre os quais se pretende dialogar no decorrer deste trabalho.

Não se pode tratar de um tema delicado e complexo como a indisciplina sem a

reflexão acerca do tipo de gestão que envolve o coletivo e a cultura da escola.

Tampouco se pode deixar de refletir sobre a família no contexto escolar, sua

pouca participação na vida escolar dos filhos e a sua exagerada

permissividade.

Ter disciplina significa submeter-se a regras pré-estabelecidas. Se a

escola enfrenta dificuldades com os alunos para que as regras sejam

obedecidas, é porque elas devem ser construídas e negociadas com os alunos.

O primeiro capítulo abordará como a Indisciplina tomou conta da vida

social, como as regras que dirigiam nossas principais atividades foram banidas,

para dar lugar a uma existência mais flexível, contudo mais difícil de manter o

controle. Também traçaremos um breve relato de como a escola lidava com

alunos indisciplinados em épocas mais antigas.

No segundo capítulo estabeleceremos uma análise acerca do papel do

gestor escolar dentro desta perspectiva. Vamos identificar os principais

distúrbios disciplinares que ele frequentemente encontra e como pode trabalhar

em conjunto com os professores a fim de solucioná-los.

O terceiro e último capítulo traz as possíveis medidas para minimizar os

efeitos negativos da indisciplina na sala de aula. Relaciona também os

resultados de uma pesquisa de campo, realizada em uma escola municipal

local, que traz consigo medidas que foram adotadas pelos professores para

construir uma consciência coletiva entre os alunos, mostrando a importância da

autodisciplina como ferramenta para um aprendizado verdadeiro e proficiente.

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CAPÍTULO I – INDISCIPLINA, O MAL DO SÉCULO

Nós, seres humanos, dependemos de uma série de regras e normas

para vivermos com relativa paz em sociedade. Desde pequenos somos

disciplinados, conscientizados de que é preciso regulamentarmos cada uma de

nossas atividades, como meio de obter êxito nas mesmas.

O homem de hoje pode ser considerado, sob muitos aspectos, como

“indisciplinado”. Nossas ações não são regidas com a regularidade de outrora;

mesmo nas relações de trabalho e pessoais não cabe a continuidade ou a

permanência. Há carreiras que não seguem o horário habitual das 8 ou 12h; o

indivíduo trabalha em casa, pelo computador, em seus “momentos de folga”.

Você não está mais preso horas a fio dentro de um prédio, cercado de papéis

por todos os lados.

Nas relações pessoais, vê-se a mesma mudança. Até certo tempo atrás,

era preciso freqüentar espaços públicos para conhecer amigos ou mesmo

encontrar um par. Nesses tempos de Internet, as pessoas só se encontram

pelo computador e, novamente, sem a limitação do horário, porque, a todo

instante, de todo lugar, uma outra pessoa acessa a rede. E nessa facilidade de

encontros, os relacionamentos também perdem o estigma da estabilidade que

possuíam outrora.

Hoje, em função das mudanças contínuas do mercado que, é dinâmico

demais para permitir que se façam as coisas do mesmo jeito ano após ano, ou

que se faça a mesma coisa [“...]” (SENNET, 2001, p.22), busca-se uma nova

maneira de organizar o tempo: ‘não há longo prazo’. Este princípio, introduzido

no mundo do trabalho contemporâneo se reflete nas relações familiares e

sociais, corrói a confiança, a lealdade e o compromisso mútuo, que são laços

sociais que levam tempo para surgir.

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Esses aspectos nos mostram que, cada vez mais estamos vivendo longe

das normas e dos limites. Estamos mais livres e, também mais indisciplinados.

Incapazes de aceitar sanções que determinem nossos atos. Os parâmetros se

perdem e cada um estabelece para si seu próprio código de moral e valores,

em geral subversivo àquele considerado como “normal ou aceitável”.

Fora do mundo do trabalho, na família, o princípio de que não há longo

prazo significa mudar, não se comprometer e não se sacrificar, assinalando

uma ausência de autoridade e de orientação firme na criação dos filhos.

Segundo Sennet (2001), a família precisaria “[...] enfatizar, ao contrário, a

obrigação formal, a confiança, o compromisso mútuo e o senso de objetivo.

Neste panorama social, de desordem e confusão, é que a escola se

insere, sendo diretamente afetada por essas mudanças no comportamento

coletivo. Podemos percebê-las principalmente nas relações entre alunos e

professores, notoriamente pelo aumento dos casos de indisciplina e agressões

físicas e verbais.

Seja em casa ou na escola, torna-se cada vez mais complexo discutir e

estabelecer limites, definir até que ponto é aceitável que a criança ou o

adolescente tome suas decisões por conta própria. Tendo em vista que na

atualidade tanto crianças como jovens permanecem a maior parte do dia na

escola, é neste espaço que se faz sentir toda a reviravolta que a indisciplina

tem provocado nas rotinas escolares.

Içami Tiba (1996) destaca que na educação das crianças muitos pais

têm dificuldade em “disciplinar”, pois isto significa, muitas vezes, ser autoritário

e repressivo. Então, abre-se mão dos limites necessários à nossa constituição

como pessoas de caráter, cônscias de nossas obrigações e cientes daquilo que

podemos ou não fazer.

Na contemporaneidade, com a implementação do sistema neoliberal,

encontramos uma extrema mobilidade das configurações familiares, ou seja,

novas formas de convívio são improvisadas em torno da necessidade de criar

os filhos (KEHL, 2001).

Para Dufour (2001), com as exigências do mundo do trabalho hoje, o

contato entre pais e filhos diminui cada vez mais em proporções extremadas.

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Se antes o jovem, mesmo imaturo internalizava uma diretriz de conduta, hoje

com tal distanciamento dos modelos identificatórios, a função de transmissão

de valores fica direta ou indiretamente conferida à mídia e às escolas.

É importante observar ainda que “[...] pai e mãe sentem-se esmaecidos,

confusos, ambivalentes quanto aos seus papéis e quanto aos valores a serem

transmitidos. A exposição a que estamos submetidos pela avalanche das

transformações sociais, culturais e econômicas acaba por alterar os códigos e

valores que são usados na formulação que possamos fazer de nós mesmos e

da família [...]” (CORRÊA, 2000, p.130).

Hoje é muito freqüente encontrar crianças e adolescentes cujos pais são

separados. Este é outro fator convergente da indisciplina: sem uma estrutura

familiar estável, onde seus membros acompanhem continuamente o

desenvolvimento físico e psicológico de seus constituintes, a criança vê surgir

uma lacuna onde deveriam estar inseridas as regras que ela precisaria

aprender e internalizar para conviver bem com seus familiares e com seus

amigos e professores na escola.

Um núcleo familiar cujos integrantes permanecem um tempo e, depois

são substituídos por outros, gera uma atmosfera de incerteza e desequilíbrio

emocional, pois a criança percebe que não sabe qual dos adultos deve se

tornar seu referencial como sujeito moral. Aos poucos, ela começa a tomar

decisões por ela própria, pois não tem opiniões a consultar; quando alguém

tenta “impor” uma outra vontade sobre a sua, ela reage instintivamente, pois já

se acostumou a decidir e agir por conta própria. Esse sentimento ela carrega

consigo, e o manifesta na escola. Não é capaz de obedecer seu professor, ou

de aceitar as regras que ele impõe, pois acredita que ele está tentando

substituir sua vontade pela dele. E se esta dominação acontece de forma

agressiva e autoritária, maior é a aversão que ela alimenta pelo seu mestre e

pela escola.

1.1.NOS TEMPOS DA PALMATÓRIA

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Nossos avós, e talvez nossos pais, viveram numa época em que

castigos físicos faziam parte da rotina escolar. A fim de manter a disciplina, o

mestre agredia fisicamente o aluno que apresentasse um comportamento

inadequado. E isto não era segredo; os pais e a escola tinham consciência

disso e até aprovavam tal procedimento, pois achavam que este era o modo

correto de se disciplinar uma classe. O emprego da força física era justificável,

era para o “bem da criança”.

Na própria literatura encontramos relatos de escritores que contam sobre

a severidade dos professores mais antigos, de como eram temidos pelos

alunos, e de como essa rígida estrutura escolar era alicerçada pela sociedade.

Não havia uma instituição que lutasse pelos direitos da criança, e sem alguém

que questionasse a ordem das coisas, a disciplina era conseguida na base da

intimidação do medo; das sanções e das punições em meio à sala de aula.

Aparentemente essa prática pedagógica era eficiente, pois era muito

difícil um aluno criar desordem em um ambiente já bastante hostil. Todos viam

o professor com muito respeito e, principalmente, medo. Ele era um misto de

educador e carrasco, salvo as exceções, um amigo.

As crianças estudavam para obter as melhores notas, com receio de

serem castigadas pelos pais. Decorava-se o conteúdo para os exames, como

forma de “mostrar trabalho”. A pressão psicológica exercida pela família e pela

instituição escolar incutia no aluno a apreensão de ser pego em falta, de ser

considerado displicente com os estudos. E as punições seriam severas:

“Aos sete anos entrou para a escola. Que

horror!

O mestre, um tal Antônio Pires, homem

grosseiro, bruto, de cabelo duro e olhos de

touro, batia nas crianças por gosto, por um

hábito do ofício. Na aula falava aos

berros.(...)Nele enxergavam o carrasco, o

tirano, o inimigo e não o mestre; mas visto

que qualquer manifestação de antipatia

redundava fatalmente em castigo, as pobres

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crianças fingiam-se satisfeitas.”(Azevedo,

2009)

A partir do trecho acima, podemos ver que é antiga a idéia de que para educar

ou disciplinar é preciso infringir castigos físicos ao discente. Era quase como

afirmar que sem castigo não havia disciplina. Uma vez assentido pelos pais, os

professores dessa época não conheciam outra forma de lidar com os alunos

em sala de aula. A ausência de diálogo reforçava essa relação desajustada:

um professor que só “falava aos berros”. Ou seja: enquanto ele berrava, as

crianças só ouviam assustadas.

Até o início dos anos 1980, a escola,

essencialmente excludente em relação ao acesso, legitimava o exercício da

autoridade e da disciplina ao professor que, de certo modo, detinha o

monopólio da violência física e moral sobre os alunos. Os estudos anteriores à

década de 1970 tinham como objeto: “as preocupações e as análises que

recaíam sobre o sistema escolar enfocavam a violência dos professores contra

os alunos, exteriorizada nos castigos físicos e morais” (MARRA, 2007. p. 55).

No final dos anos de 1980 e início da década de 1990, ao mesmo tempo

em que o país iniciava seu processo de redemocratização, a violência se

expandia nos grandes centros urbanos e passava também a afetar o ambiente

escolar. A princípio se tratava de violência provocada pelas demandas sociais

não atendidas, mas passou a ocupar também o espaço da escola, trazendo o

tema para o centro do debate pedagógico.

Desde então, a escola evoluiu muito no que diz respeito às práticas

pedagógicas e à postura do professor. Durante muito tempo existiu um certo

clima de tranqüilidade, mesmo nas escolas públicas. No entanto, nas duas

últimas décadas, aumentou consideravelmente o número de casos de

agressões no espaço da escola, entre alunos e, também direcionados ao

professor.

A professora Marilena Chauí compreende a violência além da questão

da força física, como “um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou

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psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais

definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e pelo terror” (2005, p. 342).

Cabe aqui nos perguntarmos: Será que

estamos vivenciando o efeito reverso da época em que professores agrediam

alunos? E, se naquela época não havia uma legislação que defendesse

qualquer uma das partes, agora temos de lidar com o Estatuto da Criança e do

Adolescente, que prevê punições para aquele que, de certa forma, interferir no

bem-estar dos mesmos. Só não contemplamos ainda uma legislação que

proteja o professor, que crie para ele um escudo contra o desrespeito e a

humilhação pública por parte dos alunos.

1.2. A FALÊNCIA DA AUTORIDADE

Um dos fatores mais intimamente ligados ao insucesso escolar dos

alunos no Ensino Básico é o seu comportamento, porque ele, juntamente com

a disciplina, condiciona inevitavelmente as oportunidades de aprender.

A força da autoridade começa dentro de casa. Nos núcleos familiares

regulares (pai, mãe e filhos), a autoridade é geralmente exercida pela mãe,

pois ela é quem cuida da educação e da formação moral dos filhos. O pai

complementa e reforça as decisões tomadas por ela. Contudo, as mães se

tornam cada vez mais ausentes, seja porque trabalham fora ou porque

delegaram aos parentes e tutores a educação de seus filhos. Na maioria dos

casos, as crianças e adolescentes permanecem sozinhos durante o tempo em

que não estão na escola.

A falta da vigilância constante e a liberdade excessiva vêm abrindo

espaço para que crianças e adolescentes ignorem certas normas, perdendo a

noção de padrões de comportamento e limites. Os pais por sua vez, com receio

de parecerem repressores, não impõem sua autoridade, com medo de

tornarem-se “autoritários” e detestáveis aos olhos de seus filhos. Numa

tentativa de igualar os direitos entre pais e filhos, os primeiros estão agindo

errado pelo motivo certo.

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Quando dentro de um círculo familiar, são estabelecidas regras, elas são

pensadas para garantir que cada um cumpra seu papel, assumindo

responsabilidades de acordo com sua capacidade. No caso das crianças e

adolescentes, é preciso que os pais acompanhem de perto o que eles estão

fazendo para ver se o combinado está sendo levado em consideração. Quando

isso não acontece é certo que haverá desentendimentos, pois há um conflito de

forças, onde os pais tentam exercer autoridade sobre o filho e este, por sua vez

a repele ignorando as regras que são estabelecidas em casa.

Piaget entende que a formação de hábitos sociais primários se

estabelece, ainda nos primeiros estágios do desenvolvimento, a partir de uma

educação moral que nada mais é do que sobrepor à constituição inata do

indivíduo a consciência dos consensos e das regras sociais. Mesmo que isso

se dê numa atmosfera de respeito mútuo e de atenção ao princípio da

atividade, as relações entre adulto e criança no início do processo de

desenvolvimento envolvem a perspectiva da autoridade. Para Durkheim (1974),

é na família onde despontam os primeiros sentimentos de solidariedade, cuja

moral predominante é a afetiva. Na escola, a criança percebe a regra como

agente normatizador, aprendendo desde o início que as regras existem para

garantir a estabilidade das relações interpessoais no espaço público.

De acordo com Tiba (1996), os grandes responsáveis pela educação

dos jovens, - na família e na escola – não estão sabendo cumprir bem seu

papel. É a falência da autoridade dos pais em casa, do professor em sala de

aula, do orientador na escola. Professores e orientadores têm dificuldade em

estabelecer limites na sala de aula e não sabem até que ponto devem intervir

em comportamentos inadequados que ocorrem nos pátios escolares.

Educar implica, muitas vezes, em interferir na vontade e na atividade da

criança/aprendiz com o objetivo de, mais na frente, fazer com que sua vontade

e atividade sejam controladas por ela mesma, autonomamente (Davis e Luna,

1991). Neste sentido, a autoridade do mestre tem duas funções distintas: a

primeira, a de ensinar o aluno a se normatizar; a segunda, levá-lo a usar sua

liberdade.

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A Autoridade sempre foi um princípio inquestionável. Contudo, a

Educação Contemporânea tem sido alvo de experimentalismos tendenciosos

que têm confundido a visão dos educadores. Muitos defendem uma educação

baseada na liberdade plena do aluno; outros apontam que sem limites rígidos

não é possível haver aprendizado.

A força da autoridade pode garantir à criança a estabilidade que precisa

para desenvolver suas aptidões como ser pensante, e adquirir autonomia sobre

suas próprias ações na vida adulta. Por outro lado também, a autoridade pode

significar coerção, subjugo, de forma a submeter o outro à vontade daquele

que a exerce.

A autoridade pode ser exercida de duas formas: pelo domínio ou pelo

poder institucionalizado, como ocorre na instituição escolar, ou pelo prestígio

daquele que demonstra possuir competência em determinado assunto. De

acordo com essa visão, podemos crer que há dois tipos de autoridade: a

autoritária, vinculada ao uso da força ou violência, e a por competência, que

parte de uma admiração nutrida pelos subordinados a partir do prestígio e da

capacidade.

Segundo Arendt (1972/2001), autoridade é tudo que faz com que as

pessoas obedeçam. Assim, na instituição escolar, uma pessoa, investida da

função de professor, adquire o poder de determinar as ações dos alunos, que

legitimam esse poder, pois trazem de casa, ou adquirem rapidamente, a

imagem do professor como autoridade.

Parrat-Dayan (2008, p.8), afirma que é inconcebível uma escola sem

regras, e ressalta que a disciplina consiste num dispositivo e num conjunto de

regras de condutas destinadas a garantir diferentes atividades num lugar de

ensino; A disciplina não é um conceito negativo; ela permite, autoriza, facilita,

possibilita. A disciplina permite entrar na cultura da responsabilidade e

compreender que as nossas ações têm conseqüências.

Gostem os alunos ou não, ela é indispensável ao processo pedagógico e

fundamental na aprendizagem. De acordo com Durkheim (1974), na escola é

preciso haver regras, que se constituem em um instrumento imprescindível da

educação moral, cabendo ao professor impô-la, através da utilização de

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penalidades. Neste sentido, a autoridade é compreendida como um poder que

age sobre nós, fazendo com que nos comportemos conforme suas prescrições,

através de sua força e legitimidade. Sobre este aspecto, a autonomia de

pensamento e ação é fruto da internalização de deveres e regras que,

constitutivas de uma sociedade mais ampla, são vivenciadas diariamente no

processo pedagógico, por intermédio da autoridade docente.

O conflito de opiniões se insere nesse ponto, quando o professor é

autoritário ao invés de negociar com os alunos até conquistá-los e exercer sua

autoridade. Crianças e adolescentes que negam a autoridade dos pais,

transferem essa mesma atitude para a escola, se identificarem no professor a

figura do pai autoritário.

Um professor pode se tornar um déspota da sala de aula se não permitir

aos alunos que manifestem suas opiniões durante as atividades curriculares.

Punições e castigos freqüentes são a maneira que ele encontra para calar as

vozes dos mais exaltados. Os alunos que têm medo preferem não contrariar o

professor, e assim ele acredita que tem domínio sobre a turma.

Uma autoridade imposta dessa forma é apenas superficial, porque os

alunos se comportam não porque respeitam o professor, o que seria o ideal,

mas porque não querem ser punidos por ele, com uma nota baixa ou

suspensão.

Temos visto que a Educação Básica enfrenta hoje grandes problemas.

Alguns professores infelizmente só conhecem a autoridade imposta à força.

Esqueceram que um dos principais objetivos da educação é conferir ao

indivíduo autonomia, para que este seja capaz de se autodisciplinar, de adquirir

conhecimento e fazer uso dele para benefício próprio.

É difícil educar em uma época em que as relações humanas não estão

pautadas na coletividade; quando não se valoriza o saber construído

historicamente como fonte de riqueza para a humanidade; quando não se

estimula a crença na razão, na ciência; quando se negam as teorias que

tornam os fatos ou os acontecimentos inteligíveis; quando se valoriza o

conhecimento como produto individual, fora das relações sociais. A escola

vivencia também uma época na qual não há garantia de nenhum êxito social

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através do trabalho, perdendo suas possibilidades educativas quando tenta

reagir contra a perda de significado do contrato social, do efetivo sentido das

trocas, do significado que para cada direito há um dever respectivo. Nesse

espaço, ao se reconhecer pequena diante das forças culturais, tenta, sem

contar com qualquer hegemonia, ensinar (Nagel, 2005).

A escola, por sua vez, nem sempre expõe com clareza qual é sua

proposta disciplinar, deixando a cargo do professor resolver os distúrbios em

sala de aula. Nesse conflito, é imprescindível a intervenção do gestor escolar,

pois ele pode, através de ações mediadoras entre alunos e professores,

recuperar a convivência harmoniosa nas salas de aula, fato raro em nossos

dias.

Através de minha prática profissional em escolas de educação básica,

percebi que a preocupação por parte dos professores com a indisciplina

escolar vem aumentando cada vez mais. Compõe a fala desses professores a

queixa de que a indisciplina é responsável pelo estresse entre eles e pelo

insucesso entre os alunos no processo de ensino-aprendizagem.

A indisciplina faz o aluno romper com as diretrizes que garantem a

ordem da instituição; também o impede de participar plenamente do processo

de aprendizagem, uma vez que desloca sua atenção dos objetivos que são

propostos para que este se dedique apenas aos seus próprios interesses.

A desordem no espaço escolar, vivenciada por alguns docentes, pode

ser a evidência de que algo está errado em sala de aula, seja pela postura de

alunos que não fazem silêncio durante as aulas, seja pela não-participação

deles nas atividades.

Vasconcelos (2004), ao analisar a realidade, enuncia que o aluno

questiona: estudar para quê? Se há pessoas formadas pela academia sem

emprego, enquanto há outras que não estudaram e estão bem de vida? Neste

sentido, o papel da escola/professor é conscientizar o aluno para o momento

excludente no qual se vive e responder-lhe que estudar na atualidade não

significa mais garantir apenas o “meu emprego ou ser alguém na vida”, e sim

ganhar competências a fim de promover mudanças no sistema sócio-político-

econômico- cultural e tornar o mundo melhor, mais justo e solidário.

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A autoridade do professor é fundamental na aprendizagem (Davis e Luna,

1991), tendo como premissa sua função social e pública. Seu papel, então, representa

formas de conhecimento e critérios de valor que são publicamente reconhecidos.

Embora seja imprescindível que o docente domine os conteúdos com os quais

trabalha, somente sua qualificação não é garantia de autoridade, uma vez que esta se

sustenta no papel social que o professor assume ao ser responsável por inserir seus

alunos em uma determinada cultura. Além disso, a autoridade se baseia no trabalho

compromissado daquele que se propõe a ensinar algo a seus aprendizes (Lara, 1987,

p.16).

A indisciplina pode ser ativa, na qual o aluno faz bagunça, ou passiva,

quando o professor até consegue silêncio, mas não a interação com seus

educandos. Por essa razão, vislumbra-se a necessidade de uma atitude

interpretativa para a indisciplina escolar, levando-se em consideração que,

pensar a indisciplina enquanto acontecimento de uma aula, implica pensar

numa multiplicidade de aspectos, a começar pelo modo como os fatos são

interpretados pelos indivíduos intervenientes — para além das diversas

situações de âmbito externo ao processo.(CAEIRO&DELGADO, 2005, p.24)

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CAPÍTULO II – O QUE A ESCOLA TEM A DIZER

2.1. Como a escola lida com os perturbadores

A organização pedagógica de uma escola é a base essencial para

prevenir problemas de indisciplina. Fazem parte da organização todos aqueles

que representam algum papel na realidade escolar, aqueles que, de alguma

forma, intervêm nas relações diárias que necessitam um diálogo aberto entre

educadores e educandos.

Libâneo (2004) esclarece que, em primeiro lugar devemos ter em mente

que a escola não está isolada do sistema social, político e cultural, mas pode

criar seu espaço de trabalho junto a seus pares, em função da qualidade das

aprendizagens dos alunos e de objetivos pessoais, profissionais e coletivos [...]

e a escola, tanto quanto a sala de aula, é espaço de aprendizagens, pode-se

deduzir que formas de funcionamento, normas, procedimentos administrativos

valores e outras tantas práticas que ocorrem no âmbito da organização escolar

exercem efeitos diretos na sala de aula, sendo verdade, também, o inverso: o

que ocorre na sala de aula tem efeitos na organização escolar (2004, p. 13)

Para se compreender o que é indisciplina, a escola tem de entender-se

primeiro sobre a disciplina, isto é, sobre o conjunto de comportamentos que

considera aceitáveis, sob o ponto de vista pedagógico e social, para aquelas

pessoas, naquele contexto.

Em toda gestão escolar deve existir a preocupação de que sejam

criadas estratégias dinâmicas, no intuito de criar um projeto político-pedagógico

que vise à formação de indivíduos capazes, conscientes de seus direitos e

deveres como cidadãos.

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Infelizmente, a indisciplina e a violência em meio escolar são temáticas

obrigatórias nas reuniões do corpo docente, onde freqüentemente procura-se

um culpado, alguém que se possa punir a fim de aliviar o incômodo da situação

e o sentimento de impotência diante de uma situação que, tendenciosamente,

piora. Mas, se muitos dos problemas que estão na base de comportamentos de

indisciplina e de violência se encontram fora da escola, a esta também cabe

alguma responsabilidade na produção ou no agravamento desses

comportamentos, quando não tem em conta a diversidade social e cultural de

seus alunos, desvaloriza a sua cultura e os seus saberes, assegura uma oferta

única de situações de ensino-aprendizagem. Nesse quadro, a escola pode

também significar para muitas crianças e jovens um quotidiano de violência,

onde se acumulam os apelos à passividade, ao individualismo, à

competitividade, os insucessos escolares, os resultados negativos dos testes,

as chamadas de atenção permanentes, as dificuldades em perceber a utilidade

do que querem que se aprenda, a perda da auto-estima.

É dura a realidade nas escolas municipais, e o gestor educacional não

pode ignorá-la. O que acontece em muitos casos é que, enfrentar os desafios

da indisciplina exige um trabalho árduo e constante, que conte com o apoio de

toda escola e também da comunidade, porque a maioria dos casos de violência

ou indisciplina tem um histórico que atravessa os portões da instituição. No

entanto, ela não pode ser vista apenas como reflexo da opressão, da violência,

dos conflitos que acontecem na sociedade. É importante argumentar que as

escolas também produzem sua própria violência e sua própria indisciplina.

(Antunes, 2002)

Muitos atos de indisciplina começam com fatos isolados dentro da

escola. Quando não são tomadas as medidas necessárias, esses casos

tornam-se mais freqüentes e graves, exigindo uma intervenção mais enérgica

da direção da escola. Eis aí que surge um grande problema: O que fazer com

aquele aluno que já foi suspenso milhares de vezes? E aquele outro que

sempre fica depois do horário, sentado no fundo da sala no meio dos alunos

menores?

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Essas sanções descritas acima, até certo tempo atrás surtiam algum

efeito intimidador entre os alunos. Hoje, elas já não são mais suficientes, pois

para muitos alunos é um favor que sejam suspensos, assim podem se afastar

temporariamente da escola, ficando livres de suas obrigações. A suspensão

tornou-se um prêmio para o aluno indócil. Por outro lado, aquele aluno que é

deslocado para outra série, também não se sente incomodado com a situação,

pois muitas vezes ele permanece à toa sem ter que cumprir nenhuma tarefa. É

uma questão que precisa ser urgentemente revista, as medidas punitivas não

são mais aplicáveis para o contexto de agora.

Não é difícil encontrarmos gestores despreparados para lidar com essa

problemática, seja porque assumiram a responsabilidade de dirigir uma

instituição de ensino sem o devido preparo, seja porque estão alienados com a

realidade de sua escola. Para combater a agressividade entre os alunos é

necessário estabelecer medidas preventivas, que enxerguem o aluno em sua

totalidade, levando em consideração o ambiente familiar em que vive, sua

comunidade, suas relações sociais, etc.

Em muitas escolas municipais, encontramos diretores que desconhecem

os problemas enfrentados pelos professores em sala de aula. Ouvem falar dos

distúrbios, das situações envolvendo agressividade, contudo não demonstram

se importar com o caos que vai aos poucos dominando sua escola.

Uma das medidas mais freqüentes adotadas nas escolas para inibir os

alunos mais indisciplinados é o uso de um caderno de ocorrências.

Geralmente, ele funciona da seguinte maneira: uma ocorrência, o aluno é

chamado para uma conversa com a diretora; duas ocorrências, o pai é

chamado; e três ocorrências o aluno é suspenso. O curioso é notar que essa

medida só assusta os alunos mais temerosos; os mais audaciosos encaram

essa punição como uma piada, pois ele tem a intenção de repetir mais e mais

vezes suas infrações costumeiras.

Lopes (2005), afirma que manter a disciplina é, sem dúvida, uma arte

que poucos mestres dominam. O autoritarismo, os gritos e o bom velho “já para

a diretoria” não funcionam mais. A melhor saída para manter a ordem é a

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negociação de objetivos e regras com os estudantes, que vão, aos poucos,

aprendendo a ter disciplina.

O gestor é responsável pela elaboração de uma política de prevenção e

contenção de atos violentos dentro da escola. Ele é quem deve orientar e

preparar os professores para situações em que tenham de confrontar o aluno

que manifeste um comportamento mais subversivo que os outros.

Outro aspecto importante para o qual o administrador escolar deve

atentar é o espaço físico da unidade escolar. Escolas superlotadas precisam

ter um espaço destinado às tarefas extraclasse, como projetos de dança e

teatro, além de quadras amplas que permitam aos alunos a prática de esportes

variados. Estes recursos podem se tornar medidas eficazes no combate à

indisciplina, pois permitem ao jovem ocupar o tempo ocioso, em que eles

poderiam estar causando desordem pela escola.

O planejamento das atividades curriculares deve parecer dinâmico e

atrativo aos olhos dos alunos, porque dessa forma a repulsa pela escola vai

sendo, aos poucos, substituída pela motivação, pelo entusiasmo de saber que

ali na escola existem pessoas interessadas no seu bem-estar, no

desenvolvimento de suas aptidões.

A integração do jovem no espaço escolar deve ser feita através de

medidas que visem seu aperfeiçoamento cognitivo e social. A administração da

escola precisa estar preparada para criar um ambiente que favoreça esse

desenvolvimento.

Uma das medidas adotadas pela gestão educacional é o envolvimento

da comunidade local na elaboração das políticas pedagógicas da escola.

Dessa forma, é possível o gestor conhecer quais são os principais problemas

que afetam as crianças e os adolescentes, impedindo-os de participar das

aulas com verdadeiro interesse. Conhecendo profundamente seu público-alvo,

a direção pode articular ações que tenham intrínseca relação com as

experiências vivenciadas por estes mesmos alunos.

Se os recursos usualmente empregados não surtem mais efeito, é

preciso que o gestor escolar enxergue um novo caminho a ser tomado. Ele terá

que buscar pelas ferramentas certas para negociar com os alunos, e também

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dialogar com os professores sobre as melhores soluções para acabar com a

indisciplina em sala de aula. Mas ele precisa enxergar que é um mediador de

relações, entre professor e aluno, pois, no dia-a-dia, o diretor estará à parte,

acompanhando de longe e, intervindo quando necessário. O professor é quem

permanecerá frente a frente com o aluno, lidando com seus problemas e

angústias.

Frente ao desafio de manter a disciplina escolar, gestores e profissionais

da educação têm a responsabilidade de garantir aos alunos um ambiente

seguro, agradável e facilitador da aprendizagem, proporcionando meios cujo

objetivo será a integração voltada na preparação de indivíduos preparados

para a vida. A escola precisa ser democrática, aprendendo a valorizar as

aptidões de todos os alunos, e as experiências que cada um traz de dentro de

casa. A escola demonstra interesse no aluno quando abre espaço para que ele

manifeste suas opiniões, e se expresse através da linguagem que mais se

identifica. É nesse ambiente de trocas e respeito mútuo que se definem limites

e se estabelece uma disciplina consciente.

Em pleno terceiro milênio, estamos aprendendo a praticar a democracia,

pois é inconcebível que, diante das avassaladoras transformações

tecnológicas, científicas, sócio-políticas e culturais continuemos com uma

forma arcaica, centralizadora e autoritária de fazer educação. Os tempos de

hoje exigem valorização dos espaços escolares e autonomia para o

crescimento dos mesmos. Por isso faz-se necessário implementar nas

instituições educacionais a gestão escolar democrática onde professores, pais,

alunos e funcionários possam manifestar seu pensamento, sugerir, questionar,

participar e elaborar juntamente com os gestores educacionais as regras de

boa convivência na sala de aula e na escola.

As práticas do cotidiano escolar constituem um horizonte para o

surgimento, crescimento e consolidação de um projeto democrático alternativo.

A investigação das práticas docentes, administrativas e culturais é este

horizonte que aponta uma direção.

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2.2. O Professor também é culpado?

Toda relação de poder pressupõe um duelo de forças, uma dimensão

constitutiva de qualquer relação social ou discursiva. Focault define Poder

Disciplinar como aquele caracterizado pela vigilância exercida por um olhar

hierárquico e pela sanção normalizadora. Alguns dispositivos na arquitetura,

como espaço distribuídos e lugares centrais para aquele que comanda

garantem que todos fiquem sob o controle do olhar (AQUINO, 1996).

A partir do que foi dito acima, podemos concluir que é exatamente essa

circunstância que muitos professores ensejam em suas aulas. Crianças

corretamente acomodadas, quietas sob seu olhar perscrutador, enquanto

avalia a capacidade produtiva da classe.

Os relatos dos professores testemunham que a questão disciplinar é,

atualmente, uma das dificuldades fundamentais quanto ao trabalho escolar.

Segundo eles, o ensino teria como um de seus obstáculos centrais a conduta

desordenada dos alunos, traduzida em termos como: bagunça, tumulto, falta de

limite, maus comportamentos, desrespeito às figuras de autoridade, etc.

Já discutimos algumas causas prováveis que podem desencadear

atitudes agressivas e casos de indisciplina nas redes de ensino público ou

privado. Vimos como a ausência familiar provoca perda do referencial de

autoridade, e como a atitude de indiferença ou o despreparo do gestor pode

transformar a escola em um cenário de resistência entre forças antagônicas.

De todos os agentes externos ligados à formação escolar, o educador é

o que mais tem enfrentado o caos no manejo disciplinar, visto que no ideário

das diferentes teorias pedagógicas a indisciplina surge como um imprevisto,

um obstáculo pedagógico.

O que raras vezes se admite é a que a culpa também é do professor.

Ele constitui o centro da autoridade dentro da sala de aula, e nem sempre

permite ser questionado acerca de sua metodologia, nem da contextualização

e relevância dos conteúdos que administra para os alunos. Na verdade ele

ignora que seus alunos trazem consigo saberes, que foram adquiridos em casa

e que eles querem compartilhar com os colegas durante a aula. Esse tipo de

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professor, para se sair bem da situação, acusa os alunos de mal-educados,

indisciplinados, manda alguns para direção, afirma que com aquela turma

nenhum tipo de trabalho funciona, que já está cansado. Outro fator importante

é que muitos professores não exigem das crianças o máximo de suas

potencialidades, ou seja, aceitam trabalhos, respostas, cadernos, na medida

em que cumpram o mínimo desejado. Esse fator também provoca indisciplina,

pois o aluno faz tudo correndo para poder ficar livre do trabalho.

Alguns professores acreditam que, homogeneizando a turma, podem

manter a disciplina ideal para garantir o aprendizado de todos.

Será que só se aprende quando permanecemos quietos e imóveis? As

melhores idéias nascem dos debates, e estes pressupõem conversa,

discussões e opiniões críticas. A conversa na sala de aula pode ser uma

ferramenta pedagógica, se bem administrada.

Durante a aula, se não estiver atento, o próprio professor pode abrir

espaço para a indisciplina. Basta que ele esteja despreparado, hesitante, sem

saber ao certo que conteúdos vai abordar. Enquanto ele folheia o livro, os

alunos começam a agitar-se, a falar num tom mais alto...E pronto! Quando o

professor olha em volta, a bagunça já está formada, e ninguém entende

ninguém.

Vivemos em uma sociedade com constantes inovações, principalmente

na área tecnológica. Os jovens, fora da escola, convivem com a Internet,

MP15, IPhones e muitos outros utilitários. Às vezes o educador se esquece

disso e desgasta suas aulas utilizando apenas o quadro-negro e o livro

didático. Este é um erro muito comum, e também um dos principais a levarem

os alunos à indisciplina.

Rangel (1994) salienta que, com tanta movimentação na rua, é preciso

movimentar a aula, também usar música, jornal e revista. Se a vida é

movimentada, a aula tem que ser também. O “bom professor” é aquele que

presta atenção nisso.

Inserir dinamismo nas aulas depende muito do interesse e da boa

vontade do professor. Nem sempre este se dá conta de que quanto mais as

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aulas permanecem estáticas, mais os alunos ficam entediados e propensos à

bagunça.

A aula expositiva é uma ferramenta de ensino, mas com certeza não é a

mais preferida dos educandos. Uma estratégia a ser utilizada é a variação das

técnicas pedagógicas, como exposições, jogos operatórios e trabalhos em

grupo. Estas atividades, além de despertarem o interesse dos alunos e avivar-

lhes a curiosidade, abrem espaço para a conversa sadia, o diálogo.

Determinados mecanismos disciplinares têm por função esquadrinhar o

tempo, o espaço, o movimento, os gestos e as atitudes dos alunos, numa

tentativa de homogeneização. A escola tenta uniformizar os jovens, porque é

difícil trabalhar com as diferenças. Porém, muito podemos aprender com elas.

Os conflitos existem para nos ensinar como lidar com a individualidade

do outro, como perceber, na cultura que o outro carrega consigo, que o

aprendizado pressupõe experiências antigas e novas, e a intertextualização de

saberes antigos e adquiridos em sala de aula.

O verdadeiro educador é comprometido, responsável, interessado em

modificar o tipo de escola que salienta as desigualdades sociais. Esse

professor idealiza e trabalha em prol de uma escola que venha a atender os

que sejam capazes de ajudar o aluno a ser disciplinado em todos os sentidos,

a fim de que ele possa intervir na realidade e modificá-la.

Para se estabelecer um relacionamento de entre-ajuda professor/aluno é

fundamental atitudes como: dar atenção a todos os alunos; olhar para todos;

escutar cada um; elogiar e motivar as mudanças positivas; questionar opiniões;

aproximar-se de cada um; compreender e estimular a mudança dos ansiosos,

dos indiferentes, dos descontentes; valorizar suas realizações, ainda que

pareçam insignificantes; acreditar no imenso potencial que cada ser humano

traz dentro de si e que pode ser despertado através das relações interpessoais

mediadoras, desafiadoras, reflexivas, críticas e transformadoras.

(Marquezan,1999).

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CAPÍTULO III – O DIÁLOGO DA DISCIPLINA

"Um não na hora certa é

necessário, e mais que isso: é saudável e prepara

bem mais para a realidade da vida"

Lya Luft

É chegado o momento em que revisitamos velhos conceitos e valores,

para prosseguir na árdua tarefa de moldar o mundo para o jovem e incutir nele

o primordial para uma existência harmoniosa.

Os tempos de hoje exigem valorização dos espaços escolares e

autonomia para o crescimento dos mesmos. Por isso faz-se necessário

implementar nas instituições educacionais a gestão escolar democrática onde

professores, pais, alunos e funcionários possam manifestar seu pensamento,

sugerir, questionar, participar e elaborar juntamente com os gestores

educacionais as regras de boa convivência na sala de aula e na escola.

A disciplina é um conjunto de regras que servem para o bom andamento

da aprendizagem escolar. É uma questão de qualidade nos relacionamentos

humanos, e também qualifica a relação professor-aluno. Sem disciplina o

trabalho é comprometido, as chances de se ganhar conhecimento diminuem e

o desgaste emocional e psicológico é muito maior.

Para todas as atividades que envolvem a aquisição de conhecimento e o

aprimoramento de competências, pressupõe-se o uso da disciplina como

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ferramenta mantenedora da ordem e da concentração necessária para

assimilar as novas informações que são recebidas.

O educador, num primeiro momento, pode assumir a responsabilidade

pela disciplina, enquanto articulador da proposta, levando a classe a assumi-la

progressivamente. Tem como parâmetro não a sua pessoa (“autoridade”), mas

as condições necessárias para o trabalho coletivo em sala de aula.

O exemplo de disciplina deve partir do professor. Conquistando a estima

dos alunos, ele será um modelo, exemplo a ser seguido por todos. Através de

sua conduta, de como organiza seu trabalho pedagógico e como administra a

rotina das atividades, os alunos por si mesmos perceberão que ter disciplina é

importante pois, através dela é possível realizar um trabalho satisfatório, é

possível estabelecer metas e cumpri-las.

Disciplina não se consegue com autoritarismo. Este só serve para anular

a capacidade criativa do aluno, inibi-lo diante do professor e comprometer sua

auto-estima. O professor autoritário não admite conversas em sua aula, mesmo

aquelas que girem em torno do assunto que está sendo discutido. Quando o

aluno depara com uma situação na qual ele não pode se expressar, ele acaba

por se desinteressar das atividades. É nesse ínterim que o aluno começa a dar

sintomas de indisciplina, pois sem realizar as tarefas, seu tempo ocioso será

ocupado de outra forma: com conversas paralelas ao discurso do professor;

leitura de material impróprio para o conteúdo da aula, etc.

E qual o melhor caminho então? Negociar. Quando se negocia, se abre

uma oportunidade única para saber o que o aluno está pensando, porque ele

não presta atenção, por que prefere conversar à assistir as aulas. O diálogo

aberto e franco é muito mais eficaz do que berros e suspensões.

3.1. A hora e a vez da família

As relações de ensino-aprendizagem não acontecem imbuídas apenas

do sentimento de dever e obrigação. Também é preciso que neste processo

esteja incluída a afetividade. É ela quem inicia o respeito, e este por sua vez,

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promove a interação necessária para a construção da disciplina. O afeto é o

principal ingrediente para a transformação de paradigmas.

A família deve preparar a criança para ingressar na vida além da sua

casa. Essa educação deve estar baseada num meio termo entre autoritarismo

e permissividade. Deve-se tomar cuidado para não pender para um dos

opostos, pois os exageros é que distorcem a personalidade e o caráter.

A autoridade e o carinho devem estar sempre presentes no processo

educativo. Muitos pais confundem autoridade com dureza, rigidez, brutalidade

e acham que não exercer autoridade é ser fraco. Na verdade, quando a criança

é admoestada com ternura, ela fica muito mais propensa a repensar suas

atitudes do que quando é tratada com ignorância pelos pais. Quando é

conscientizada de seus erros, e de como eles atrapalham a boa convivência,

ela mesma procura tomar cuidado, para não errar na próxima ocasião.

À família cabe uma missão importante: postular o processo de

humanização para a criança e ensiná-la a conviver com os limites que são

impostos à vida social. É necessário e fundamental que a família não fuja de

seu papel, pois quando a criança chega à escola, espera-se dela que tenha

uma noção mínima das regras que conduzem nossas ações entre outros

indivíduos.

No seio familiar, a criança aprende sobre valores morais e como eles

são necessários para uma coexistência pacífica entre as pessoas. Se ela é

bem orientada, internaliza esses valores de forma que, quando é matriculada

na escola, consegue pôr em prática tudo o que lhe foi ensinado em casa. Ela é

capaz, então, de dialogar, de ouvir, de respeitar.

O afeto precisa da convivência, que é necessário em todo tipo de

relações. Quando os pais se preocupam com o bem-estar de seu filho, ele se

sente amado. Na escola, a situação é a mesma, porém os pais cedem o lugar

para o professor. Quando este se mostra preocupado com o bem-estar do

aluno, se ele está realmente aprendendo e interagindo com os colegas,

conquista sua estima, o que torna a relação entre ambos mais afetuosa e

sincera.

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A família e a escola formam uma equipe. É fundamental que ambas

sigam os mesmos princípios e critérios, bem como a mesma direção em

relação aos objetivos que desejam atingir. O ideal é que haja um intercâmbio

contínuo entre elas, pois qualquer problema que surgir durante o processo

educacional da criança, poderá ser solucionado conjuntamente pelos dois.

Uma das principais contribuições que a família pode dar à escola é

participar ativamente da vida escolar da criança. Muitos pais sequer sabem o

nome dos professores de seus filhos; quando acontecem as reuniões ou

festividades sempre encontram uma desculpa ou um compromisso qualquer

para não comparecerem. A criança percebe o desinteresse dos pais pela

escola e acaba por absorver esse sentimento. Os pais são o espelho; o que

eles fazem, pensam ou sentem refletem diretamente no filho. Quanto mais

valor a família atribuir à escola e de como é importante seguir as regras por ela

estabelecida, melhor será a convivência da criança com seu professor.

Atualmente a política educacional está expandindo seu raio de ação

para além da escola, formalizando as interações família– escola na escola

pública, especificando a contribuição educacional da família para o sucesso

escolar, e regulamentando as relações família–escola.

Existe um consenso que mostra que a Educação é valorizada por pais

de todas as classes. Um diploma significa ascensão social futura. No entanto, a

participação efetiva destes na vida escolar dos filhos não é tão constante

assim. A maioria dos pais trabalha em horário integral, o que dificulta sua

presença nos eventos promovidos pela escola. É verdade que algumas mães

que não trabalham fora simplesmente não se interessam em participar das

reuniões, porque acreditam que não há nada para a escola lhes dizer sobre

seus filhos que elas já não saibam.

Família e escola compartilham a responsabilidade de educar, mas com

objetivos, conteúdos e métodos diferentes. O tipo de aprendizagem acaba

definindo o foco de ação de cada uma das partes.

A família está sendo convocada a participar. A mudança veio com as

teorias pedagógicas centradas nos alunos, que passaram a levar em

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consideração o que ocorre com a criança fora do contexto escolar. Os

professores necessitam da cooperação da família no aprendizado da criança.

Já a escola é responsável pelo núcleo formal do ensino da leitura, da escrita e

da Matemática, parâmetros científicos, entre outros conteúdos. Ela assumiu o

papel de formalizar os conhecimentos, ampliá-los, sistematizá-los e torná-los

comuns a todos.

A política de participação dos pais na escola gera concordância imediata

e até mesmo entusiasmada: parece correta porque se baseia na obrigação

natural dos pais, aliás, mães; parece boa porque sua meta é beneficiar as

crianças; e parece desejável porque pretende aumentar tanto a participação

democrática quanto o aproveitamento escolar. Além disso, tem eco na tradição

cultural da classe média, especificamente na crença de que a família influencia

a política escolar (a qualidade do ensino) (Carvalho, 2000).

Na escola se aprende a vida social e pública. A professora é a primeira

autoridade pública na vida de uma criança. Na escola, a criança coloca em

prática os valores que aprendeu em família. Aluno é gente em processo

educativo e a escola é o espaço de formação. Virtudes e conhecimento não

pertencem a alguém em particular, antes devem ser positivamente um bem

coletivo.

Educar é ajudar a ser, permitir que se seja. De nada valem as atitudes

permissivas que tudo toleram e favorecem o capricho e a falta de maturidade,

nem o protecionismo, ou paternalismo que abrem todas as portas, removem

todos os obstáculos e convertem o filho em uma pessoa incapaz; nada disso é

bom. É preciso exigir do filho que ele seja capaz de bastar-se a si mesmo, o

mais cedo possível, acompanhando-o, dialogando, sem resolver com isso

todos os seus problemas, ter atitudes bem pensadas, uma vontade firme, um

mínimo de segurança, tudo isso, supõe uma educação ao mesmo tempo

exigente e respeitosa.

3.2. Disciplina: É bom pra mim, é bom pra você

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Por que ter Disciplina é tão importante? Porque fazendo uso dela

podemos aprender mais e melhor; porque ela nos auxilia a desenvolver a

autonomia necessária para se continuar estudando e pesquisando mesmo fora

da escola. De acordo com o Prof. Lino de Macedo (2005): “A gente tem de

pensar a Disciplina ao mesmo tempo como um fim e como meio. É um fim

porque podemos desenvolver atitudes como concentração, responsabilidade,

interesse. Essas coisas viram ferramentas pessoais e de trabalho. Disciplina

também é um meio, um instrumento sem o qual as coisas não acontecem – ou

acontecem fora do prazo ou dos padrões.”

A Disciplina pode ser construída sim, na medida em que for solidificada

através de regras justas, discutidas de forma democrática. Um valor

determinado com a participação de todos tem muito mais importância do que

aquele instituído por quem detém o discurso de poder.

Desde o início de nossa discussão, acompanhamos o desenrolar das

relações entre educadores e educandos no processo educativo. Como vimos, a

escola já foi cenário para punições físicas como meios de sem obter disciplina.

Posteriormente, o regime autoritário foi sendo substituído por uma flexibilização

das interações entre aluno e professor. Nesse ínterim, porém, perdeu-se o

controle da situação, e a indisciplina tomou conta da sala de aula.

No entanto, quando pensamos que as coisas estão muito mal, e que não

há como resolvê-las, aparece uma luz no fim do túnel, sinalizando que existe

um novo caminho, há uma saída possível.

De acordo com Celso Antunes (2002), é primordial mudar de estratégia.

Quando os velhos métodos não funcionam mais, é hora do gestor, dos

profissionais da educação, da família, enfim de todos aqueles que participam

do processo educativo, reunirem-se e planejar novos paradigmas para orientar

as crianças e os adolescentes. É essencial que se restaure a disciplina em sala

de aula, que se faça desse valor um objetivo a se perseguir, não para que a

sala se isole da sociedade e também não para que a aula do professor fique

mais confortável, mas antes para que ali ao menos se aprenda como tentar

modificar o caos urbano que o desrespeito social precipitou.

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Ainda de acordo com o que diz esse educador, a Disciplina não deve ser

uma coisa forçada, imposta, mas produto de um debate, de uma reflexão

conjunta de que ela é um valor humano que abre caminho à concretização de

nossos ideais.

Quando falamos em reflexão conjunta, não nos referimos somente aos

professores e alunos. É um esforço de toda a escola, cuja iniciativa deve partir

da alta hierarquia, pois ela é quem tem poder e voz para convocar professores,

voluntários, familiares e toda a comunidade para estabelecer quais os objetivos

da instituição para seus alunos.

Nessa perspectiva os gestores escolares devem planejar juntos, sugerir

mudanças e engendrar novas estratégias de ação, comprometendo-se com a

construção coletiva das regras disciplinares, envolvendo todos os alunos a fim

de que esses também se sintam comprometidos e responsáveis pelo

cumprimento das mesmas, para que a escola possa oferecer um ensino de

qualidade à todos.

A família, por sua vez, volta ao cenário da escola para reconquistar o

espaço que ela deixou vazio. A reintegração dos pais à rotina escolar de seus

filhos contribui para que estes tenham maior interesse pelas aulas e pelas

atividades que são propostas para serem realizadas fora da escola. O

envolvimento dos pais no aprendizado estreita as relações de amizade e

afetividade, aumenta a confiança da criança para com aquele que a orienta.

Mais que isso, alimenta nela a perspectiva de aprender mais no espaço da

escola. Quanto maior o interesse pelos estudos, mais fácil será negociar

disciplina com esse aluno.

A participação dos pais na educação dos filhos deve ser constante e

consciente. A vida familiar e escolar se completa. Os pais e educadores não

podem perder de vista que, apesar das transformações pelas quais passa a

família, esta continua sendo a primeira fonte de influência no comportamento,

nas emoções e na ética da criança.

O professor é quem lança a proposta da Disciplina. De acordo com o

modo como ela é apresentada ao aluno, poderá ser aceita e incorporada aos

hábitos cotidianos ou, ser simplesmente ignorada.

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Podemos conquistar o aluno para um projeto de disciplina conseguindo

a admiração dele. Só é admirado quem se sobressai pelos aspectos positivos

que apresenta, pelo respeito que cultiva em suas relações. Só se consegue

estabelecer uma relação de ensino-aprendizagem por meio da dimensão

afetiva. Pode-se passar informações de várias maneiras, mas, para educar, é

preciso afeto. O aluno tem que se sentir valorizado. E isso acontece nos

pequenos gestos. É o professor chamar o aluno pelo nome, olhar para ele,

saber ouvi-lo e, acima de tudo, respeitar o que ele traz de conhecimento. Ele é

detentor de conhecimentos e tem uma história que o professor deve levar em

conta. Isso é afeto. (Chalita, 2005).

Quando o professor conquista a estima de seu aluno, este não encontra

dificuldades em ouvi-lo e em aceitar as normas que são delimitadas dentro da

sala de aula durante as atividades curriculares. E como despertar no aluno

simpatia por aquela aula que nem sempre é tão atrativa? Repensando a prática

pedagógica. Constitui assim alicerce básico na qual a estrutura disciplinar de

uma classe se apóia o respeito que o professor desperta em seus alunos pelo

conhecimento que tem, pela paixão com que o transmite, pela organização de

seu plano de aula, pela coerência incontestável de suas perguntas, pela

agilidade dos jogos operatórios que aplica, enfim pelo extraordinário

“profissional” que é. (Antunes, 2002)

Discursar não vai prender a atenção do aluno, mesmo do mais

silencioso. O mínimo que se conseguirá será uma classe adormecida.

Dinâmicas de grupos, pesquisas nos laboratórios de informática, simulações de

situações cotidianas são algumas das ferramentas que o educador pode utilizar

em aula. Sempre vale tentar transformá-la em um momento de alegria e

descontração. Isso faz bem não somente ao aluno, mas também ao professor,

que descobre ser possível ministrar os conteúdos sem parecer um carrasco

que não sabe demonstrar simpatia.

A chave para uma disciplina sadia, consentida e duradoura é

cooperação entre cada segmento da comunidade escolar e da sociedade. O

trabalho que se inicia na família e é continuado na escola cria raízes profundas,

difíceis de serem arrancadas.

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Disciplina é um bem para todos, porque facilita as relações, permite

trocas dialógicas e expande nossas competências cognitivas e

comportamentais. Todo trabalho educativo que se realiza tem como propósito

gerar no aluno saberes que lhe confiram autonomia, que preparem seu

caminho para conquistas futuras.

A autonomia, definida por Piaget (1994) como a capacidade do indivíduo

de orientar sua conduta de acordo com leis e regras que ele dá a si mesmo,

recorrendo para isso à vontade e à razão, é o grande objetivo da atividade

docente. Esse aspecto é salientado nos Parâmetros Curriculares Nacionais do

Ensino Médio (1999), que postulam que a educação tem como objetivo final

formar cidadãos éticos e autônomos, e que possuam pensamento crítico. Este

é, segundo Davis e Luna (1991:68), o objetivo último da autoridade na relação

pedagógica: “propiciar a construção de uma consciência que seja ao mesmo

tempo autônoma e compromissada com a autonomia das demais

consciências.”

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CONCLUSÃO

De tudo o que foi discutido aqui, a lição mais importante que podemos

guardar conosco é a de que nenhum ser humano se sente à vontade quando

submetido a um sistema opressor, que tolhe suas vontades, que ignora seus

desejos, que desdenha suas opiniões.

Temos visto que, ao longo dos anos, a prática educativa tem passado

por inúmeras reformulações; novas teorias pedagógicas têm surgido, algumas,

para confundir uma tarefa tão controversa como a de educar; outras, contudo,

têm se constituído em valiosas ferramentas na conscientização dos

profissionais da educação.

Nunca se privilegiou tanto a aquisição do saber baseada na experiência

livre do aluno, baseada no debate e na investigação científica. Isso porque

essa metodologia permite ao aluno contactar-se com o conteúdo dos livros

didáticos de forma mais concreta. Para que esse contato aconteça da maneira

certa e alcance os objetivos traçados, é preciso que haja uma conduta

específica, uma disciplina do aprendizado.

E como ser disciplinado? O que o professor espera do aluno dentro

dessa perspectiva?

Primeiramente, o professor tem que explicitar o tipo de trabalho que será

desenvolvido para determinada aula. Depois negocia com os alunos como

querem desenvolver a atividade, e quais as formas possíveis de realizá-la. É

nesse diálogo constante, que não cessa nunca, que a disciplina começa a ser

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internalizada no grupo, pois brota da discussão, da análise de como as coisas

devem ser feitas.

Quando as regras do jogo ficam claras, cada um sabe o que fazer, tendo

consciência de que para o objetivo central ser alcançado, cada um tem de fazer

a sua parte no acordo.

Disciplina é também, dentro desse contexto, a capacidade que cada um

tem em governar a si próprio, controlando suas emoções, suas reações

psíquicas, respeitando o espaço ocupado pelo outro.

Ser disciplinado significa ter um comportamento subordinado a regras.

Ainda que elas sejam arbitrárias, é prudente segui-las, pois elas podem nortear

nossas ações, oferecendo-nos diretrizes para estabelecer uma convivência

pacífica com os demais.

Às vezes torna-se difícil para uma criança ou um adolescente submeter-

se às regras da escola porque ele não as compreende. Para cada faixa etária

existe uma juízo moral diferente, o que relativiza muito as categorias de certo e

errado que os adultos utilizam para julgar suas ações.

Todo professor espera que sua classe seja disciplinada, interessada nas

aulas e nas atividades pedagógicas. Mas depende principalmente dele

fomentar em suas mentes a consciência de que nada se constrói efetivamente

sem critérios, sem organização. E mais do que isso, quase tudo o que é

aprendido na escola terá uma relação instrínseca com o projeto que de vida

que cada criança traçar para si mesma.

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