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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU IAVM APRECIAÇÃO POR PARTE DO MINISTÉRIO PUBLICO ESTADUAL DE INFORMAÇÕES REMETIDAS PELA POLÍCIA MILITAR QUE APONTEM INDICIOS DE INFRAÇÕES PENAIS Por: Diogo Arrais de Menezes Orientador Prof. Francis Rajzman Rio de Janeiro 2012 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · demonstrar através de entendimentos de renomados doutrinadores, bem como decisões de tribunais superiores acerca da possibilidade

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Page 1: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · demonstrar através de entendimentos de renomados doutrinadores, bem como decisões de tribunais superiores acerca da possibilidade

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU

IAVM

APRECIAÇÃO POR PARTE DO MINISTÉRIO PUBLICO ESTADUAL

DE INFORMAÇÕES REMETIDAS PELA POLÍCIA MILITAR QUE

APONTEM INDICIOS DE INFRAÇÕES PENAIS

Por: Diogo Arrais de Menezes

Orientador

Prof. Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU

IAVM

APRECIAÇÃO POR PARTE DO MINISTÉRIO PUBLICO ESTADUAL

DE INFORMAÇÕES REMETIDAS PELA POLÍCIA MILITAR QUE

APONTEM INDICIOS DE INFRAÇÕES PENAIS

Apresentação de Monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes em

cumprimento as exigência da Pós Graduação, do

Curso de Direito e Processo Penal

Por Diogo Arrais de Menezes

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me concedido

forças, coragem e esperança para

superar as dificuldades e realizar este

Trabalho.

E agradeço a todas as

pessoas que de forma direta ou

indireta contribuíram para o meu

sucesso.

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DEDICATÓRIA

A Ronaldo Antônio de Menezes, meu pai, reflexo de

minha conduta pessoal e profissional.

A minha mãe Marcia Lúcia de Azevedo Arrais, co-

participadora com o criador na razão da minha

existência.

Ao meu irmão Rômulo por me compreender nos

meus momentos difíceis e ser meu grande amigo de

toda a vida;

A minha noiva Juliana por me apoiar e entender os

momentos em que não poderíamos estar juntos em

razão dos meus estudos;

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RESUMO

O presente trabalho tem a finalidade de analisar a viabilidade de o Ministério

Público Estadual receber informações oriundas da Polícia Militar naquilo que se

refere a indícios de infrações penais que possam ensejar a promoção da ação penal

cabível; instauração de procedimento investigatório criminal; encaminhamento das

peças para o Juizado Especial Criminal; promoção fundamentadamente do

respectivo arquivamento ou requisição da instauração de inquérito policial.

Esta transição no encaminhamento da informação contida nas unidades

policiais para o Ministério Público ainda é motivo de controvérsia por parte de

algumas autoridades da Segurança Pública ocasionando prejuízos à sociedade.

Outro fator que deve ser considerado é vislumbrar normatização tendente a

evitar que o bem sucedido processo de encaminhamento dessas informações sofra

solução de continuidade quando das mudanças periódicas na administração pública.

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METODOLOGIA

O problema proposto foi buscado por meio de diferentes fontes de

conhecimentos, tais como leitura de livros de renomados escritores como Marcellus

de Lima Polastri, Julio Fabbrini Mirabete, Vicente Greco Filho, Valter Foleto e Lenin

Pires, bem como coleta em jornais de grande circulação que trata sobre o tema.

Grande foi a importância de documentação obtida junto a Policia Militar do

Estado do Rio de Janeiro, fornecendo imprescindíveis informações sobre a

normatização do Registro Policial Militar, indicando de maneira clara e concisa o

histórico do RPM na Coorporação Policial Militar.

Consulta a legislações tais como a Constituição Federal de 1988, ao

Decreto-Lei nº 2.848 de 07/12/1940 que dispõe sobre o Código Penal Brasileiro e

decisões de tribunais superioes que deram bastantes subsidios para a elaboração

do presente trabalho.

Por fim, demonstração por meio de decisões contraditórias da Procuradoria

Geral do Estado, demonstrando ser perfeitamente possivel e lógico o objetivo

proposto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPITULO I - Missão da Polícia Militar na Legislação Brasileira 11

CAPITULO II - A Problemática da Interpretação da Lei por Autoridades da

Segurança Pública

13

CAPITULO III - Do Registro Policial Militar – RPM 19

3.1 Criação do RPM 19

3.2 Gestão do RPM 22

3.3 Especialização dos Policiais 22

3.4 Resultados Obtidos 22

3.5 Iniciativas Contrárias ao RPM 25

CAPITULO IV - Breves Comentários sobre a Lei 9099/95 29

4.1 LEI 9099/95 Na Esfera Policial Militar 29

CONCLUSÃO 37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

39

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GLOSSÁRIO

ADI – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

CAO – CENTRO DE APOIO OPERACIONAL

CGU – CORREGEDORIA GERAL UNIFICADA

CPP - CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

CPPM – CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR

CRPI – COORDENADORIA REGIONAL DE POLÍCIA DO INTERIOR

GICS – GRUPOS DE INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS

MP – MINISTÉRIO PÚBLICO

MPRJ – MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PGE – PROCURADORIA GERAL DO ESTADO

PMERJ – POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PM – POLÍCIA MILITAR

PR – PARTIDO DA REPÚBLICA

RPM – REGISTRO POLICIAL MILITAR

SI – SEÇÃO DE INVESTIGAÇÃO

SENASP – SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA

SESP – SECRETARIA DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA

STAA – SEÇÃO TÉCNICA DE ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS

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INTRODUÇÃO

No mundo contemporâneo, em grande parte dos países modernos, a

persecução criminal se inicia através de uma fase preliminar destinada a apurar a

materialidade e a autoria do crime. Em alguns países esta atribuição é exclusiva da

polícia, como no sistema inglês, fundado na tradição da common Law. No sistema

continental fundado na tradição da civil Law, cabe ao Ministério Público a

investigação, com apoio da Polícia Judiciária. A Constituição Federal de 1988

adotou no seu Capítulo da Segurança Pública o modelo inglês, dando poderes

investigatórios às polícias; entretanto, a própria Carta Magna estendeu esses

poderes a outros órgãos como o Ministério Público, as Comissões Parlamentares de

Inquérito e a Receita Federal. A universalização da investigação criminal é salutar

devido ao recrudescimento do crime no Brasil e à extrema necessidade de criar

mecanismos modernos de combate ao crime. Consequentemente e de modo

proporcional ocorrerá a redução da sensação de impunidade na sociedade.

Neste contexto, observamos que o efetivo policial militar abrange diversos

pontos do Estado do Rio de Janeiro. Desta forma, é possível analisar a viabilidade

de o Ministério Público utilizar este apoio, de modo a auxiliá-lo de maneira célere e

eficaz na produção de conhecimentos necessários à propositura da ação penal.

Atualmente a Polícia Militar confecciona um termo denominado Registro

Policial Militar – RPM - responsável por dar celeridade em algumas infrações

militares. O assunto será exaustivamente debatido ao longo da presente

dissertação.

Alguns comentários referentes à lei 9099/95 serão abordados, objetivando

demonstrar através de entendimentos de renomados doutrinadores, bem como

decisões de tribunais superiores acerca da possibilidade da PMERJ atuar nas

ocorrências de crimes de menor potencial ofensivo.

Portanto o principal objetivo deste trabalho é vislumbrar a possibilidade da

informação produzida pela Polícia Militar servir de peça inicial à propositura de uma

ação penal, se estiver devidamente instruído, dando para tanto celeridade à

persecução penal, evitando-se as formalidades do inquérito policial.

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CAPITULO I

MISSÃO DA POLÍCIA MILITAR NA LEGISLAÇÃO

BRASILEIRA

No Brasil, as Polícias Militares estaduais são as 27 forças de segurança

pública que têm por função primordial a polícia ostensiva e a preservação da ordem

pública no âmbito dos estados (e do Distrito Federal). Subordinam-se

aos governadores e são, para fins de organização, forças auxiliares e reserva

do Exército Brasileiro, e integram o sistema de segurança pública e defesa social do

Brasil. São custeadas por cada estado-membro e, no caso do Distrito Federal, pela

União.

Coube ao legislador constituinte indicar a missão da Polícia Militar no artigo

144 inciso V §4º da Constituição Federal:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem

pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos

seguintes órgãos:

... V – policiais militares e corpos de bombeiros militares.

...§ 5º - as polícias militares cabem a polícia ostensiva e a

preservação da ordem pública...

§ 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças

auxiliares e reserva do exercito, subordinam-se, juntamente com as

polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e

dos Territórios.

O mundo é dinâmico, se transforma diariamente; desta forma a atividade

policial também deve se adaptar constantemente para agir contra o crime. Portanto,

urge alterar a visão de que a Polícia Militar por força constitucional, somente pode

realizar a atribuição de polícia ostensiva e preservação da ordem pública, pois a

missão constitucional da PM não impede que os policiais militares obtenham

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informações de infrações penais, objetivando prover o Ministério Público de

subsídios mínimos a propositura da ação penal.

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CAPITULO II

A PROBLEMÁTICA DA INTERPRETAÇÃO DA LEI POR

AUTORIDADES DA SEGURANÇA PÚBLICA

Há uma corrente que entende que a função investigatória é exclusiva da

Polícia Civil e da Polícia Federal. O grande erro que o apoiador desta corrente

comete é não entender que a investigação criminal é o objeto do inquérito policial, e

este é apenas um instrumento, um dos meios pelos quais é possível investigar

crimes, mas não o único, pois existem também as peças de informação previstas

nos arts. 27 e 28, do Código de Processo Penal (CPP). Aliás, o inquérito policial

pode ser dispensado nos crimes de ação penal pública, pois nos termos do art. 27,

do CPP, qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público,

nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações

sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.

Sobre o assunto o Superior Tribunal de Justiça se pronunciou (BRASÍLIA, STJ.

RHC.110.241-PR, Rel. Min. Félix Fisher, 2010), nestes termos:

“Por outro lado, o inquérito policial, por ser peça meramente

informativa, não é pressuposto necessário à propositura da ação

penal, podendo essa ser embasada em outros elementos hábeis a

formar a opinio delicti de seu titular. Se até o particular pode juntar

peças, obter declarações, etc., é evidente que o Parquet também

pode. Além do mais, até mesmo uma investigação administrativa

pode, eventualmente, supedanear uma denúncia.”1

Nesse já se manifestou o Egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, no

que se refere ao Registro Policial Militar:

“Portanto, tratando-se de mero procedimento administrativo,

destinado, primordialmente, a formar a opinião do Ministério Público,

a fim de saber se haverá ou não acusação contra alguém, não

1 Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sSeq=960239&sReg=200801471 276&sData=20100510&formato=PDF. p. 9. Acesso em 15 dez.2012.

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apresenta cenário para a proclamação de nulidade de ato produzido

durante o seu desenvolvimento.” 2

Outro entendimento que reforça esse raciocínio é a lição de Julio Fabbrini

Mirabete:

“Para dar base à ação penal pública ou privada, o inquérito policial

deve acompanhá-las. É com fundamento nos elementos colhidos no

procedimento que se verifica se há o fumus boni iuris que autoriza o

recebimento da inicial e a instauração do processo. É a peça

informativa que transmite ao Ministério Público a existência do crime

e aponta sua autoria, para que se apure a responsabilidade criminal

do infrator. Não se impede, porém, que, na inexistência do inquérito,

fundamentem, a denúncia ou a queixa, peças de informação outras

(documentos, por exemplo), (...).”3

O Código de Processo Penal trata da questão inquérito policial em seus

artigos 12, 40, 41, 47 e 395:

Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa,

sempre que servir de base a uma ou outra.

Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes

ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pública,

remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos

necessários ao oferecimento da denúncia.

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso,

com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou

esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do

crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

Art. 47. Se o Ministério Público julgar necessários maiores

esclarecimentos e documentos complementares ou novos elementos 2HC 0027243-31.2011.8.19.0000, Rel. Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior, julgado em 10/08/ 2011. 3 MIRABETE, Julio Fabbrini - “Código de Processo Penal Interpretado”, p. 111, item n. 12.1, 7ª ed., 2000, Atlas.

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de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, de quaisquer

autoridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los.

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:

I - for manifestamente inepta;

II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da

ação penal; ou

III - faltar justa causa para o exercício da ação penal

Nos artigos subsequentes e no a seguir descortinado é possível constatar

que tanto o inquérito policial comum, quanto o inquérito policial militar são

dispensáveis no sistema processual penal brasileiro conforme prescreve os art. 39,

§5º, do CPP e art. 28, letra “a”, do CPPM, nestes termos:

Art. 39, § 5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se

com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a

promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo

de 15 (quinze) dias.

Art. 28. O inquérito poderá ser dispensado, sem prejuízo de

diligência requisitada pelo Ministério Público:

a) quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por

documentos ou outras provas materiais;

Conforme é observado, o Inquérito policial é mera peça informativa para que

o titular da ação penal possa obter indícios mínimos de autoria e materialidade.

Ora, se o inquérito policial é uma peça meramente informativa e de acordo

com o art. 27 do Código de Processo Penal qualquer pessoa do povo poderá

provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública

um órgão incumbido da segurança pública como a Polícia Militar não somente pode

como deve fornecer, por escrito, ao Parquet, as informações sobre o fato, a autoria e

indicar o tempo, o lugar e todos os elementos de convicção.que conduziram ao

crime.

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Desta forma, conforme narra o Ministro Celso de Mello:

“Todos sabemos que o inquérito policial, enquanto instrumento de

investigação penal, qualifica-se como procedimento administrativo

destinado, ordinariamente, a subsidiar a atuação persecutória do

próprio Ministério Público, que é – nas hipóteses de ilícitos penais

perseguíveis mediante ação penal de iniciativa pública - o verdadeiro

destinatário das diligências executadas pela Polícia Judiciária.” 4

Seguindo esta sequência lógica, por que a polícia militar que possui um

efetivo que cobre todo o Estado não poderia auxiliar nesta missão?

A importância e a abrangência das atribuições das Polícias Militares podem

ser depreendidas de interpretação mais aprofundada do § 5º do artigo 144 da CF.

Neste aspecto, destaca-se o ensinamento de Lazzarini (1989, p. 235-6):

“[...] às Polícias Militares, instituídas para o exercício da polícia

ostensiva e preservação da ordem pública (art. 144, § 5º),

compete todo o universo policial, que não seja atribuição

constitucional prevista para os demais seis órgãos elencados

no art. 144 da Constituição da República de 1988. Em outras

palavras, no tocante à preservação da ordem pública, às

polícias militares não só cabe o exercício da polícia ostensiva

na forma retroexaminada, como também a competência

residual de exercício de toda atividade policial de segurança

pública não atribuída aos demais órgãos. A competência ampla

da Polícia Militar na preservação da ordem pública, engloba,

inclusive, a competência específica dos demais órgãos

policiais, no caso de falência operacional deles, a exemplo de

greves ou outras causas, que os tornem inoperantes ou ainda

incapazes de dar conta de suas atribuições, funcionando,

então, a Polícia Militar como verdadeiro exército da sociedade.

Bem por isso as Polícias Militares constituem os órgãos de 4 RTJ 168/896, Rel. Min. Celso de Mello.

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preservação da ordem pública para todo o universo da

atividade policial em tema da ‘ordem pública’ e,

especificamente, da ‘segurança pública’.” 5

Lendo a lição de Marcellus Polastri Lima, observamos alguns aspectos:

“Ressalta-se que, para a propositura da ação penal, poderão

até mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais, bastando a

noticia-crime ou peça de informação, caso os elementos

necessários já estejam presentes.

Apesar de a forma mais comum de investigação ser o inquérito

policial, procedimento a cargo da Polícia Judiciária, esta não é

exclusiva deste órgão,... não existe exclusividade para a

apuração de crimes.” 6

Indo mais adiante é possível observar um tópico destinado a um comentário

sobre a previsão constitucional das policias civis e federal:

“Consoante expressa previsão constitucional, a exclusividade para

exercer a polícia judiciária é deferida somente à Polícia Federal.

Destarte, a Constituição Federal não dá às policias civis dos

Estados-Membros a exclusividade de apuração das infrações penais,

e nem mesmo das atividades de polícia judiciária, pois o que faz é

dizer que incumbem à polícia civil as funções de polícia judiciária e a

apuração de infrações penais, mas sem o caráter de privatividade.

A Constituição quando desejou dar foro de privatividade a algum

exercício de função, assim manifestou-se de forma expressa, como 5Disponivel em http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=A+compet%C3%AAncia+ampla+da+Pol%C3%ADcia+Militar+na+preserva%C3%A7%C3%A3o+da+ordem+p%C3%BAblica+engloba%2C+inclusive%2C+a+compet%C3%AAncia+espec%C3%ADfica+dos+demais+%C3%B3rg%C3%A3os+policiais%2C+no+caso+de+fal%C3%AAncia+operacional+deles&source=web&cd=2&ved=0CCcQFjAB&url=http%3A%2F%2Fwww.acors.org.br%2Fdownload.php%3Fid%3D12&ei=o7COUKGWHIfv0gGozYC4Dw&usg=AFQjCNGiq_UOSC61suklf5ZKzrrkEwW8Sw – Acesso em 29/11/ 2012. 6 LIMA, Marcellus Polastri – Manual de Processo Penal... p. 70

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ao dizer que cabe ao Ministério Público promover privativamente a

ação penal pública (cf. art. 129, I, da CF).” 7

Importante salientar a posição de Vicente Greco Filho:

“Exceto o caso da Polícia Federal, quando à Polícia Judiciária da

comum e de sua autoria. Não há nenhuma lógica, sob o ponto de

vista da sistemática da persecução penal, afirmar que tais

procedimentos não possam servir como peças de informação, isto

porque, conforme observa Hugo Nigro Mazzilli em sua obra “Manual

do Promotor União, o princípio que rege a atividade Policial é o da

não-exclusividade, ou seja, admite-se que mais de um órgão apure

infrações penais, o que, ademais, é interesse público.”8

Muito bem explicada no histórico do Registro Policial Militar - RPM,

procedimento interno que será alvo de análise no próximo capitulo, está a questão

dos procedimentos apuratórios na Polícia Militar que apontam indícios de crimes da

competência da justiça comum:

“Não raro, averiguações e sindicâncias instauradas no âmbito da

Corporação identificam, no decorrer da investigação, a prática de

ilícito comum e de sua autoria. Não há nenhuma lógica, sob o ponto

de vista da sistemática da persecução penal, afirmar que tais

procedimentos não possam servir como peças de informação, isto

porque, conforme observa Hugo Nigro Mazzilli em sua obra “Manual

do Promotor de Justiça, ed. Saraiva, 1991, p. 179, com muita

propriedade:

Se não se admitisse a possibilidade de apuração autônoma de

crimes, por outros meios que não a polícia judiciária, haveria grave

risco de inviabilizar-se, em certos casos, a apuração administrativa

de algumas infrações penais.”9

7 LIMA, Marcellus Polastri. “O Controle Externo da Atividade Policial”. In Suplemento Jurídico do Diário Oficial do Rio de Janeiro, Ano III. Nº 31, janeiro de 1991. 8 GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal... p. 82. 9 Histórico do Registro Policial Militar... p. 27.

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CAPITULO III

DO REGISTRO POLICIAL MILITAR – RPM

Necessário se torna demonstrar o atual trabalho realizado pela Polícia Militar

do Estado do Rio de Janeiro, nas de Delegacias de Polícia Judiciária – DPJM e em

alguns batalhões, na confecção do Registro Policial Militar – RPM. Para tanto, faz-se

necessário traçar breve histórico dessa inovadora peça de informação que vem

abastecendo o Promotor de Justiça na promoção de sua opinio delicti.

3.1 - Criação do RPM

Foi publicado no Boletim nº 003 de 05 de Janeiro de 2012 o Registro Policial

Militar - RPM. Esta inovação teve como objetivo prover maior celeridade e eficácia

às rotinas de natureza correcional, bem como economia de recursos públicos e

redução da sensação de impunidade.

O citado Registro veio melhorar a forma como eram tratadas algumas

comunicações de fatos que envolviam a pratica de crimes. O cidadão procurava a

unidade militar e escrevia de próprio punho nos chamados livros de queixas, o que

muitas vezes resultavam na frustração de qualquer atividade de persecução penal já

no nascedouro. 10

Cumpre reforçar que o RPM é uma mera peça de informação, não devendo

ser compreendida como a de uma função investigatória, entretanto, dependendo da

análise do Promotor de Justiça, ele poderá ofertar a opinio delict, bem como efetuar

a devolução de toda a documentação a Polícia Militar para cumprimento de

diligências ou instauração de procedimento apuratório pertinente como Inquérito

Policial Militar, ou até mesmo encaminhar ao Delegado de Polícia para servir de

material exordial de um Inquérito Policial. Abaixo é extraído trecho do histórico do

Registro Policial Militar:

Importante salientar que o procedimento de lavratura do Registro

Policial Militar, em principio assim como qualquer outra peça de

informação, não se insere na órbita da polícia judiciária, nem se

10 Histórico do Registro Policial Militar... p. 23.

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relaciona ao desempenho da função investigatória, embora a própria

Constituição da República não impeça que atenda a esta finalidade.

Verifica-se, portanto que o RPM possui natureza jurídica de simples

procedimento administrativo, podendo ou não dar inicio a persecução

criminal, sendo em sua essência similar ao TRO (Talão de Registro

de Ocorrência), lavrado pelos policiais militares em suas atividades

rotineiras, sempre que solicitado o seu auxílio por qualquer cidadão.

Sua finalidade precípua é fazer constar em documento público fato

levado ao conhecimento da administração. Nada impede, contudo,

que sirva de suporte à propositura de ação penal. 11

Para que melhor seja compreendido este tema, segue abaixo trecho das

instruções específicas do RPM, de autoria do Coronel da Polícia Militar Ronaldo

Antonio de Menezes, à época Corregedor da PMERJ:

“Modernização, racionalização, otimização e criação de sistemas

capazes são motes bastante presentes nas alocuções do Sr

Comandante Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e

em seus projetos para a Corporação.

Melhorar a qualidade dos serviços prestados, em suas mais variadas

facetas, é necessidade que se impõe diante de paradigmas

constitucionais e de anseios sociais.

O papel desempenhado pela sensação de impunidade para a ruptura

de preceitos legais talvez seja tão notório quanto o são os por vezes

eficientes, mas raramente eficazes, instrumentos usuais utilizados

para sua apuração.

O mero e reiterado advento de procedimentos formais de elucidação

não parece representar, nem de longe, fórmula de sucesso para lidar

com a questão.

11Histórico do Registro Policial Militar... p 23

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Buscar maneiras novas de, ao mesmo tempo, atender de forma

adequada os que se socorrem dos sistemas da Corporação e gerar,

objetiva e subjetivamente, ambiente desfavorável à ruptura de

preceitos legais e/ou normativos é necessidade presente e urgente.

O veículo ao qual se destinam as presentes instruções específicas é

fruto dessa busca.” 12

Em um primeiro momento, o RPM se baseava em casos disciplinares,

ocasiões em que os militares transgrediam a disciplina. Poderia desta forma ser a

peça inicial para um procedimento apuratório interno da corporação policial ou, em

havendo indícios de autoria e materialidade, encaminhava-se ao titular da ação

Penal.

No ano de 2011, mais precisamente em 05 de janeiro, diante do acréscimo

de clamor público e da diversidade de comunicados apresentados, foi recebida pelo

Comandante Geral da PMERJ nova proposta do Corregedor, no sentido de alterar a

designação ao e alargar a abrangência dos registros instituídos pela publicação

anterior.

Desta forma, não só a Corregedoria seria detentora da produção dos

Registros, mas também alguns batalhões, tais como 8º BPM (Campos dos

Goytacazes), 11º BPM Nova Friburgo, 26º BPM Teresópolis, 32º Macaé, 33º Angra

dos Reis, 36º Santo Antonio de Pádua e 38º BPM (Três Rios), ganhando a

sociedade um canal aberto para seus reclames naquilo que fosse de seu interesse e

que de alguma forma os estivessem aflingindo, principalmente nas áreas mais

interioranas de nosso Estado, onde a dificuldade de se comunicar com o ente

público é mais flagrante.

Com o êxito do trabalho realizado, foi despertado interesse do Promotor de

Justiça Murilo Nunes de Bustamante, responsável pela 6º Centro de Apoio

Operacional do MPRJ, passando o RPM a ser lavrado também no Batalhão de

Polícia Florestal e de Meio Ambiente.

12 MENEZES, Ronaldo Antônio de. Registro Policial Militar – Instruções Específicas

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22

3.2 - Gestão do RPM

Por se tratar de um sistema inovador, foi criado um rigoroso controle de

qualidade em relação aos feitos. Um setor da Corregedoria da PMERJ denominado

Seção Técnica de Assuntos Administrativos (STAA), passou a entrevistar via

telefone as vitimas que foram atendidas através do Registro, realizando desta forma

uma avaliação trimestralmente destinada a trazer à luz o ponto de vista do próprio

cliente. Cumpre destacar que em nenhuma pesquisa realizada a aprovação foi

inferior a 90%.

Para um controle eficaz e de eficiência foi criado sistema informatizado

próprio, podendo ser acessado via internet pelos operadores do Registro, bem como

pelos chefes da Sub Seção de Justiça e Disciplina e pelos Comandantes das

Organizações onde o Registro Policial Militar era lavrado.

Em seguida, os registros lavrados no sistema de tramitação via internet e

instruídos com a documentação pertinente, eram encaminhados em um primeiro

momento à Corregedoria da PMERJ que, após análise do material, providenciava a

remessa a quem de direito, tanto internamente quanto externamente à Corporação.

3.3 - Especialização dos Policiais

Todo o trabalho idealizado pela Corregedoria da Polícia Militar seria inútil se

os operadores do supracitado Registro não possuíssem conhecimento necessário

para a sua confecção. Desta forma foi publicado no boletim da PMERJ nº 016 de 26

de janeiro de 2011 o Curso de Especialização em Registros Correcionais, realizado

com inspirações nos padrões de ensino e na plataforma já adotados pela Secretaria

Nacional de Segurança Pública (SENASP), tendo como público alvo Oficiais e

Praças da Corregedoria e das Sub Seções de Justiça e Disciplina de algumas

unidades policiais elencadas.

3.4 - Resultados Obtidos

Conforme já citado alhures o RPM foi amplamente aceito não apenas pelas

pessoas que buscavam auxilio em repartições públicas vinculadas a PMERJ, mas

principalmente pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário.

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Centenas de processos judiciais foram inaugurados tendo como peça de

informação o RPM.

Desta forma ocorreu um importante avanço nos registros por parte da Polícia

Militar. Foi constatada maior rapidez na condução dos reclames, trazendo sensíveis

melhorias para a população em geral, face à otimização dos procedimentos da

PMERJ.

Ainda como consequência, a Polícia Civil ficou 30% (Histórico do Registro

Policial Militar. pag. 22) menos sobrecarregada com a adoção de procedimentos

cartorários e mesmo investigatórios.

Podemos destacar abaixo trecho da carta do Coronel Ronaldo Antonio de

Menezes, que retrata a realidade das investigações da polícia civil no ano de 2003,

único período em que foi divulgado o índice de elucidação de crimes:

“Debruçando-me sobre dados divulgados, apenas uma vez, pelo

Instituto de Segurança Pública (Boletim Mensal de Monitoramento e

Análise n.º 02, tendo por base o mês de junho do ano de 2003),

verifiquei que apenas 2,7 % dos homicídios registrados no RJ são

elucidados e que tal elucidação é fruto, em sua maioria, de prisões

em flagrante delito feitas pela Polícia Militar e não da escorreita

conclusão de inquéritos policiais.

Mais à frente, diante da divulgação de estudos feitos pelo Ministério

Público, percebi que tais dados eram apenas a "ponta do iceberg",

havendo no Rio de Janeiro, nos últimos dez anos, sessenta mil

inquéritos de homicídio sem solução; e o que é ainda mais

assustador nas conclusões do MP é que em vinte e quatro mil casos,

nem mesmo a vítima do homicídio foi identificada.

Era preciso realmente fazer alguma coisa e foi movido pela

necessidade de buscar respostas céleres, econômicas e não

burocráticas, que foi criado o Registro Policial Militar, instrumento

administrativo inspirado em projeto levado a efeito em 2005, quando

estive à frente do Batalhão de São Gonçalo, a partir do qual

demandas de natureza inclusive criminal passaram a merecer coleta

de informações e, após indicação de elementos de materialidade e

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autoria, remessa às autoridades competentes do Poder Judiciário e

do Ministério Público.” 13

O RPM teve destaque nos casos de violência doméstica, praticados por

Militares da Corporação, foi desenvolvido um acompanhamento por profissionais

ligados a área de saúde para vitima e agressor, buscando aferir se a pratica

infracional teria relação com suas atividades profissionais. Não obstante a

Corregedoria passou a prover o Ministério Público com farto material probatório nos

crimes dolosos contra a vida. Para melhor ilustrar, segue trecho do histórico do

RPM:

“Mesmo no âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher,

a remessa de denúncias diretamente ao Poder Judiciário,

acompanhada do encaminhamento dos policiais militares apontados

como agressores a atendimento psicológico por profissionais

disponíveis na própria Corporação, importou na redução de registros

de tal natureza em 32%, comparando-se o primeiro e o segundo

trimestres do corrente ano.

A lavratura de Registros Policiais Militares nas hipóteses de

confronto armado de policiais militares em serviço permitiu à

Corregedoria aferir que em 2/3 dos casos, o resultado morte de

oponente deixou de ser verificado. Além disso, sempre que o oposto

ocorria, toda a guarnição envolvida era chamada a prestar

esclarecimentos junto à Seção de Investigação da própria

Corregedoria, sendo as oitivas gravadas em mídia. Todos os

Registros alusivos a confronto passaram a ser alçados à apreciação

do Ministério Público.” 14

Por fim é necessário demonstrar que o exame de corpo de delito nos crimes

de menor potencial ofensivo que deixam vestígios pode ser substituído pelo Boletim

de Atendimento Médico, conforme consta no art. 77 da lei 9099/95:

13 MENEZES, Ronaldo Antônio de. Carta encaminhada a imprensa carioca. 14 MENEZES, Ronaldo Antônio de. Registro Policial Militar – Instruções Específicas

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Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver

aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não

ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério

Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver

necessidade de diligências imprescindíveis. § 1º Para o oferecimento

da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência

referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito

policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a

materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova

equivalente.

No contexto da simplicidade e da celeridade processual perseguidas pelo

Juizado Especial Criminal, proclama-se a prescindibilidade do exame de corpo de

delito, permitindo que a materialidade da infração penal seja demonstrada por

boletim médico ou prova equivalente, tal como atestado médico ou guia de

internação constando a descrição de ferimento, o que evidencia uma certa mitigação

da regra inserta no art. 158 do Código de Processo Penal . 15

3.5 - Iniciativas Contrárias ao RPM

Apesar de pesquisas indicarem satisfação de mais de 90% das pessoas que

utilizaram os serviços proporcionados pelo RPM, tal procedimento não foi bem

aceito por alguns seguimentos.

A Chefia da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro acionou a

Corregedoria Geral Unificada, buscando indicar prática de transgressão disciplinar

por parte de policiais militares envolvidos em um registro confeccionado no 30º

Batalhão – Teresópolis. Abaixo segue o trecho da publicação da Corregedoria Geral

Unificada:

O CORREGEDOR GERAL DA CORREGEDORIA GERAL

UNIFICADA DAS POLÍCIAS CIVIL, MILITAR E CORPO DE

BOMBEIROS MILITAR, NO USO DAS SUAS ATRIBUIÇÕES

LEGAIS E REGULAMENTARES, NA FORMA DO INCISO II DO

15 Disponível em: <http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/973240/a-lei-n-9099-95-e-seus-aspectos-processuais>. Acesso em: 30/11/ 2012.

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ART. 2° E INCISO I DO ART, 3°, TODOS DA LEI 3.403, DE 15 DE

MAIO DE 2000.

CONSIDERANDO a notícia endereçada a esta Corregedoria Geral

Unificada pela Chefia da Polícia Civil de que policiais militares

lotados no 30° BPM – Teresópolis sem fundamentação legal e

contrariando as normativas vigentes, confeccionavam registro de

ocorrência policial em Batalhão da Polícia Militar, previsto no Código

Penal Comum, tendo como vítima, pessoa civil, não militar e no caso

concreto, praticado pelo nacional Carlos Alberto Albuquerque

Teixeira, ex-companheiro de Cláudia Cardoso Fassini, tendo aquele,

Carlos Alberto, cometido em tese o crime insculpido no artigo 359, do

CP (desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de

direito).

CONSIDERANDO que na peça de informação trazida aos autos há

registro policial militar, com termo apartado de declaração da

nacional Cláudia Cardoso Fassini, datado de 19/04/2011, que não

deixa dúvidas da notícia de descumprimento de decisão judicial, eis

que noticia a existência desta, datada de 22/01/2010, expedida pela

Vara Criminal, determinando a proibição de aproximação do Sr.

Carlos Alberto Teixeira pelo limite mínimo de 50 metros de Cláudia, o

que foi descumprido já que Carlos Alberto esteve na residência de

sua ex-companheira, na data de 19/04/2011, fato este presenciado

pelo porteiro Roberto Carlos da Conceição Motta e da moradora

Andrihellen da Silveira de Medeiros, não podendo desse modo,

servidores policiais militares deixarem de levar a notícia criminosa à

Delegacia da Circunscrição dos fatos.

CONSIDERANDO que já existe Resolução Conjunta PGJ/SSP n°

002, de 10 de junho de 1996, que em seu artigo 1º determina de

forma inequívoca que qualquer policial civil ou militar que tomar

conhecimento da prática de infração tem o dever de comunicá-la

incontinenti, ao Delegado de Polícia da Unidade de Polícia

Administrativa e Judiciária da respectiva circunscrição.

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CONSIDERANDO que através do ofício n° 2458/001-05, da lavra do

então Secretário de Estado de Segurança, Dr. Marcelo Z. Nogueira

Itagiba datado de 16/09/2005 determinou ao Comando Geral da

Polícia Militar que se abstenha de instrumentalizar procedimentos

relativos à Lei 9.099/95, decisão essa comunicada ao Tribunal de

Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

CONSIDERANDO que existe a notícia da lavra do Coordenador da

1a CRPI de que outros registros de ocorrências estariam sendo

lavrados na referida Unidade Policial Militar.

CONSIDERANDO, por fim, a gravidade dos fatos, a ensejar possível

conflito institucional, que denigre o bom nome da Instituição Polícial

Militar e a inegável repercussão do evento na esfera administrativa

disciplinar,

RESOLVE:

alicerçado no que preconiza o inciso II do artigo 2° da Lei 3.403 de

25 de maio de 2000 (que criou na estrutura do Poder Executivo a

Corregedoria Geral Unificada), bem como no inciso II do artigo 3° do

Decreto n° 27.789 de 22/01/2001 (que dispõe sobre a estrutura

básica, atribuições e disposições gerais da CGU) e alínea "b", inciso

V do art. 4° (Anexo I) do Decreto Estadual n° 41.417 de 04/08/2008,

instaurar a presente SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA

DISCIPLINAR, a fim de apurar a existência, em tese, de possíveis

transgressões disciplinares resultantes das condutas dos policiais

militares em razão dos fatos supramencionados, devendo a apuração

ser procedida em todos os seus atos pelo Ilustre Supervisor da

PMERJ/CGU que. ao final, elaborará RELATÓRIO circunstanciado.

Autuada esta PORTARIA, juntamente com o expediente constante

do protocolo E-09/4513/0006/2011.

CUMPRA-SE.

Desembargador Giuseppe Vitagliano

Corregedor Geral/CGU'".” 16

16 Histórico do Registro Policial Militar... p. 8

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O caso em questão gerou o processo nº 0000778-30.2010.8.19.0061. Certo

é que no fato analisado, a vitima procurou a Polícia Militar, sem a presença do autor,

para ofertar sua denúncia. De imediato foram colhidas suas declarações, houve a

consolidação do material em Registro Policial Militar que, regularmente instituído, foi

imediatamente encaminhado à Autoridade Judiciária que ouviu o Ministério Público e

adotou as providências julgadas pertinentes.

No ano de 2011 o assunto foi amplamente divulgado na mídia carioca,

demonstrando grande conhecimento por parte dos jornalistas acerca das medidas

adotadas por parte da Chefia da Polícia Civil do Estado e da Corregedoria Geral

Unificada, conforme os exemplos abaixo:

Entretanto ficou evidente que interesses classistas prevaleceram em prol do

interesse da coletividade, em virtude da publicação contida no boletim da PMERJ nº

008 de 11 de outubro de 2011, determinando que o Registro Policial Militar fossem

lavrados exclusivamente para “os crimes militares (atuação direta) e para controle e

acompanhamento nas ocorrências relacionadas aos crimes dolosos contra a vida

praticados por Policiais Militares.” 17

Essa restrição à abrangência do RPM ignorou inclusive a requisição

ministerial oriunda do 6º CAO/MPRJ, relacionada com infrações de natureza

ambiental, conforme já narrado.

17 Boletim da Policia Militar nº 008 de 11 de outubro de 2011.

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CAPITULO IV

BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A LEI 9099/95

Embora não seja tema do presente trabalho, é necessário tecer breves

comentários sobre a lei 9099 de 26 de setembro de 1995. “Ela foi responsável por

instituir os juizados Especiais Criminais, além de discipliná-los, definindo sua

competência e estrutura, e que, no dizer de muitos abalizados operadores do Direito,

constitui-se divisor de águas na história do Poder Judiciário pátrio, inaugurando uma

nova era, um novo modelo de Justiça Penal – consensual”. 18

Esta lei significou uma enorme evolução no sistema processual penal

brasileiro, introduzindo os Juizados Especiais Criminais que julgam as infrações de

menor potencial ofensivo.

A criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, com previsão

constitucional, marcou um avanço no campo processual aumentando o acesso à

justiça e definindo os litígios de forma mais rápida.

Importante se faz traçar uma breve correlação da supracitada lei com a

atividade das policias, algo que será debatido no próximo tópico.

4.1 - Lei 9099/95 Na Esfera Policial Militar

Alvo de grandes discussões por parte de Autoridades da área da Segurança

Pública é o limite de atribuições das Policias Civil e Militar para efetivar o fiel

cumprimento da lei de infrações penais de menor potencial ofensivo.

Para tanto, objetivando trazer ao mundo acadêmico conhecimentos atuais

sobre o assunto, é preciso demonstrar que tal discussão encontra-se perfeitamente

pacificada na doutrina.

Abaixo segue trecho do parecer técnico da Procuradoria Geral do Estado –

PGE em 26 de dezembro de 2005, indicando a primeira decisão da Procuradoria,

utilizando o entendimento de doutrinadores de renome no Direito Brasileiro:

18 CZIECZEK, José Roberto. D|isponível em:< http://siaibib01.univali.br/pdf/Jose%20Roberto%20Czieczek.pdf >. Acesso em 29/11/ 2012.

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A criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, com previsão

constitucional, marcou um avanço no campo processual aumentando

o acesso à justiça e definindo os litígios de forma mais rápida.

Em seu art. 77, parágrafo 1º da Lei 9.099/95, estabelece a dispensa

do Inquérito Policial. Com esses dispositivos visa a lei uma apuração

mais rápida diminuindo os trâmites normais, da sistemática do

Código de Processo Penal. Existe, desta forma, uma mitificação da

atividade investigativa da Polícia Judiciária que limita-se ao termo

circunstanciado, qualificação do autor e perícias indispensáveis,

como exame de corpo de delito. Doutrinariamente, juristas como Luiz

Gustavo Gradinetti Castanho de Carvalho, Ada Pelegrini Grinover e

Damásio Evangelista de Jesus sustentam que a autoridade que trata

o artigo 69 da Lei 9.099/95 é qualquer autoridade, podendo ser da

Polícia Judiciária, da Polícia Militar, da Polícia Federal ou mesmo da

secretaria dos Juizados. Salutar é dizer, entendimento de Damásio

de Jesus, in verbis: Um simples boletim de ocorrência

circunstanciado substitui o inquérito policial. Talão de ocorrência da

Polícia Militar serve de autuação sumária.

Entendemos, portanto, que, para fins específicos dispostos no art. 69

da Lei nº 9.099/95 a expressão 'autoridade policial significa qualquer

agente público regularmente investido na função de policiamento ou

de polícia judiciária. 19

Como citado acima, fica reforçado que um simples boletim de ocorrência

poderá ter o mesmo valor do inquérito policial, reforçando a tese das peças de

informações produzidas pela Polícia Militar.

Embora não seja alvo do presente trabalho monográfico a confecção de

termo circunstanciado pela Polícia Militar, torna-se imperioso dissertar sobre o tema,

em virtude de haver o entendimento que tal termo teria em seu conteúdo nada mais

que uma mera peça de informação. O assunto é alvo de discussão do Parecer da

PGE, onde em um primeiro momento a decisão encontra-se favorável pela lavratura

do termo pela PMERJ, como ocorre no Estado de São Paulo. A alegação vai ao

19 Procuradoria Geral do Estado – decisão proferida em 26 dez 2005.

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encontro ao bem estar da sociedade, em virtude da população deixar de permanecer

horas em uma delegacia policial, tendo como consequência ainda o aumento da

sensação de segurança, pois diminui o tempo de permanência das viaturas

baseadas em distritais aguardando a finalização da ocorrência, podendo assim

efetuar o patrulhamento nos seus setores.

Abaixo segue outro trecho do Parecer da PGE, indicando o abordado nos

parágrafos anteriores:

Nesse sentido, Ada Pellegrini Grinover afirma com segurança:

Qualquer autoridade policial poderá ter conhecimento do fato. A

autoridade policial deve abster-se do fato. A autoridade policial deve

abster-se de qualquer investigação; se, todavia, dispuser de

informações úteis, colhidas no momento do fato ou durante a

lavratura do termo, é evidente que as encaminhará ao Juizado. Insta

informar conclusões do VII Encontro Nacional de Coordenadores de

Juizados Especiais, da Revista de Jurisprudência dos Juizados

Especiais do Rio de Janeiro, ex vi: Atendidas as peculiaridades

locais, o termo circunstanciado poderá ser lavrado pela Polícia Civil

ou Polícia Militar. Precedentes como o Estado de São Paulo que já

admite a confecção do registro circunstanciado pela Polícia Militar; o

Conselho Superior da Magistratura Paulista editou o provimento n.º

758/2001, salientando que 'o agente do Poder Público investido

legalmente para intervir na vida da pessoa natural, atuando no

policiamento ostensivo ou investigatório do termo circunstanciado ela

Polícia Militar ou Civil'.

Recentemente foi ajuizada uma ação civil pública em face do Estado

do Rio de Janeiro versando sobre a mesma matéria, ora examinada,

tendo esta Douta Procuradoria impugnado pela não possibilidade da

lavratura do termo circunstanciado através da Polícia Militar. Nesse

sentido, questões de ordem prática poderiam ser resolvidas de forma

mais sucinta, como por exemplo, o termo circunstanciado seria

elaborado na hora, sem que as viaturas e as partes tivessem que se

dirigir a Delegacia Policial, ocasionando a consequente celeridade na

solução do litígio e a contenção dos gastos de responsabilidade da

administração pública. Sendo assim, a autoridade que deve lavrar o

termo circunstanciado é aquela que tomou conhecimento do fato.

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Pode ser da Polícia Judiciária, da Polícia Militar, da Polícia Federal

ou mesmo da secretaria do Juizado. Ademais, o princípio da

informalidade se preocupa mais com a finalidade do ato que com a

forma. Se a finalidade é encaminhar os envolvidos ao Juizado, não

importa muito quem o faça. 20

É importante trazer a lume ainda a decisão do Supremo Tribunal Federal a

respeito da referida lei, na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 2862 de 26

de março de 2008, impetrada pelo Partido da República – PR alegando

inconstitucional o trabalho realizado pela Polícia Militar de São Paulo:

No concernente ao mérito, também, não assiste razão ao Partido

requerente, porquanto inexiste afronta ao art. 22, inciso 22, inciso I,

da Constituição Federal, visto que o texto impugnado não dispõe

sobre direito processual ao atribuir à autoridade policial militar

competência para lavrar termo circunstanciado a ser comunicado ao

juizado especial. Não se vislumbra, ainda, nem mesmo afronta ao

disposto nos incisos IV e V, e §§ 4º e 5º, do art. 144, da Constituição

Federal, em razão de não estar configurada ofensa à repartição

constitucional de competências entre as policies civil e militar, além

de tratar especificamente, de segurança nacional. 21

E demonstrando mais claramente a decisão dos votos do Ministro Cezar

Peluzo e Carlos Ayres Britto:

Ademais e a despeito de tudo, ainda que, para argumentar, se

pudesse ultrapassar o plano de estrita legalidade, não veria

inconstitucionalidade alguma, uma vez que, na verdade, não se trata

de ato de polícia judiciária, mas de ato típico da chamada polícia

ostensiva e de preservação da ordem pública – de que trata o § 5º do

artigo 144 -, atos típicos do exercício da competência própria da

polícia militar, e que está em lavrar boletim de ocorrência e, em caso

20 Procuradoria Geral do Estado – decisão proferida em 27/12/ 2005. 21 ADI 2862 de 26 Mar 2008. Pág. 29

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de flagrante, encaminhar o autor e as vítimas à autoridade, seja

policial, quando seja o caso, seja judiciária, quando a lei o prevê.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO – Se Vossa Excelência

me permite, esse termo circunstanciado apenas documenta uma

ocorrência.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO – Todo policial militar tem

de fazer esse boletim de ocorrência.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO – Exato. Noticia o que

ocorreu.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO – Esse provimento não

cria competência alguma da polícia militar, senão que explícita o que

a polícia militar faz costumeiramente e tem de fazê-lo dentro da sua

atribuição.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO – E essa documentação

pura e simples não significa nenhum ato de investigação, porque, na

investigação, primeiro se investiga e, depois, documenta-se o que foi

investigado.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO – Não investiga nada.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO – Aqui não. Aqui se

documenta, para que outrem investigue. É uma operação

exatamente contrária; é uma lógica contrária.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO – A investigação é feita

nessa fase preliminar.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI – É um mero

relato verbal reduzido a termo.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO – Perfeita a descrição de

Vossa Excelência. 22

22 ADI 2862 de 26 Mar 2008. p. 41

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Embora tenham sido apresentados entendimentos de doutrinadores como

Luiz Gustavo Gradinetti Castanho de Carvalho, Ada Pelegrini Grinover e Damásio

Evangelista de Jesus, além é claro da posterior decisão da Suprema Corte

Brasileira, a Procuradoria Geral do Estado que no ano de 2005 emitiu parecer

favorável à confecção dos termos circunstanciados pela Polícia Militar,

estranhamente no ano de 2007 expediu novo parecer, entendendo ser atribuição do

Delegado de Polícia. Tal decisão, cumpre destacar, foi motivada através de

expediente originário da Chefia da Polícia Civil.

O reexame do parecer indica que a lavratura de termos circunstanciados

pela Polícia Militar estaria impondo risco, ou mesmo violando o devido processo

legal em relação aos supostos infratores, de verem contra si instaurados

procedimentos junto aos Juizados Especiais Criminais por autoridade

manifestamente incompetente.

O novo parecer da PGE indica posicionamento de Guilherme de Souza

Nucci, afirmando que somente o Delegado de Polícia poderá lavrar o termo

circunstanciado, como veremos abaixo:

41. Autoridade policial: na realidade, é apenas o delegado de polícia,

estadual ou federal. Policiais civis ou militares constituem agentes da

autoridade policial. Portanto, o correto é que o termo circunstanciado

seja lavrado unicamente pelo delegado. Assim, também a posição de

Cezar Roberto Bitencourt, Juizados Especiais Criminais Federais, p

59-60 (f). (sem grifo no original)3.16. Eis aí, mais um fundamento

jurídico para afirmar que somente o Delegado de Polícia, chefe da

Polícia Civil, possa lavrar termo circunstanciado, haja vista ser ele o

agente administrativo constitucional e legalmente competente para

conduzir o inquérito policial – quando será toda a atividade

investigativa com vistas a apurar todos os elementos

caracterizadores do fato típico e sua respectiva autoria -, e a lavrar

auto de prisão em flagrante. 3.17. No que se refere à caracterização

do inquérito policial (f).23

Esse parecer acaba por perder o objetivo depois da supracitada decisão do

STF.

23 Parecer PGE/RJ nº 17/2007/BTD/PSP. p. 6-7

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Por fim observa-se que parecer da PGE indica a competência exclusiva de

delegados de polícia para a lavratura de termos circunstanciados. No entanto tal

exclusividade não foi reconhecida, pelo então Secretário de Segurança Pública do

Estado do Rio de Janeiro, delegado federal Marcelo Itagiba. Isto porque se encontra

em vigor a Resolução da Secretaria de Estado de Segurança Pública nº 843 de 28 de

março de 2006, indicando que o Inspetor de Polícia Civil pode lavrar termos circunstanciado:

"Resolução SESP nº 843, de 28Mar06-

O SECRETÁRIO DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA, no uso

de suas-atribuições-legais-e-constitucionais;

Considerando:

- que a função policial é fundada na hierarquia e na disciplina;

- os termos da Lei nº 3.586, de 21 de junho de 2.001 que estabelece

as atribuições genéricas dos comissários de polícia, da Polícia Civil

do Estado do Rio de Janeiro, e, ainda o que consta do Processo

Administrativo nº E-09/1775/0010/06.

RESOLVE:

Art. 1º - Ficam estabelecidas as atribuições específicas do

comissário de polícia, sem prejuízo de outras na forma da Lei:

I – executar as diligências e sindicâncias, fazendo as necessárias

investigações;

II – coordenar as atividades funcionais dos oficiais de cartório policial,

inspetores de polícia e dos investigadores de polícia e, ainda,

preferencialmente, dos Grupos de Investigações Criminais – GICs,

nas Delegacias Legais;

III – exercer, preferencialmente, as chefias da Seção de Investigação

– SI, nas-delegacias-policiais-e-especializadas;

IV - providenciar para que o local de crime não seja alterado até a

ultimação dos exames periciais, quando deverá arrecadar objetos,

bens e valores que possam contribuir com a elucidação e, após

relacioná-los, proceder a entrega à-autoridade-policial-competente;

V-–-sob-a-supervisão-dos-delegados-de-polícia:

a)-lavrar-termos-circunstanciados;

b)-encaminhar-vítimas-a-exame-de-corpo-de-delito;

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c) solicitar comparecimento ao local da infração penal de peritos

policiais;

d)-expedir-guias-de-recolhimento-de-cadáveres;

e) convidar pessoas cuja oitiva seja necessária à investigação

policial;

Art. 2°-- Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

MARCELO-ZATURANSKY-NOGUEIRA-ITAGIBA

Secretário de Estado de Segurança Pública" (grifos nossos).24

24 MEDEIROS, Wanderby Braga de. Disponível em: <http://wanderbymedeiros.blogspot.com.br/2007/03/repercutiu-no-comunidade-segura.html> Acesso em: 29/11/2012.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho monográfico teve como objetivo trazer ao mundo

acadêmico iniciativas da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro no que diz

respeito ao encaminhamento de peças de informações ao Ministério Público

Estadual, abastecendo o Parquet de material probatório que indique autoria e

materialidade, o auxiliando na formação de opinio delict.

Para tanto, em capitulo próprio foi analisada a missão das Policias Militares

na legislação brasileira, demonstrando que a atividade policial deve se adaptar

constantemente para agir contra o crime e em favor da sociedade.

Em seguida, foi constatado que a despeito da importância do inquérito

policial, é pacífico na doutrina que tal peça inquisitorial não é essencial à propositura

da ação penal. Qualquer informação que traga indícios mínimos de autoria e

materialidade, pode substituí-lo.

Superada tal discussão, ingressamos na esfera de inovações da Polícia

Militar, com a criação do Registro Policial Militar – RPM. Tal Registro foi utilizado em

auxilio a diversas vitimas que procuravam a PMERJ, sendo aplicado em substituição

ao modelo arcaico então existente de coleta de relatos em livros e em outros

formulários que não buscavam a satisfação da pessoa comunicante, tão pouco

traziam resultados práticos a futuras proposições daqueles que tem a titularidade da

ação penal pública, relatando crimes considerados de menor potencial ofensivo,

alegando dificuldades de locomoção a delegacia mais próxima, que em alguns

pontos do Estado chega a vários quilômetros de distância. Com isso, foi provida

maior democratização do acesso ao poder judiciário em sede de infrações penais de

menor potencial ofensivo e outras.

As vantagens para a sociedade foram evidentes, tais como: celeridade nos

feitos, eficiência e eficácia bem como economia no dispêndio de recursos,

contribuindo para o desfazimento da imagem de que a Justiça brasileira é

ineficiente. Vale destacar que toda a documentação referente ao Registro Policial

Militar lavrado pela PMERJ é controlada eletronicamente e armazenada em formato

digital.

O trabalho e os estudos da Corregedoria da PMERJ, idealizadora do

Registro, foram aprimorados cada vez mais, dando ensejo à realização de cursos

com os policiais, formando centenas de operadores, prestando serviço de alta

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qualidade a população carioca. Houve uma aceitabilidade das vitimas usuárias do

serviço que ultrapassou os 90%.

Centenas de processos judiciais foram inaugurados, tendo como peça de

informação o RPM. Em contrapartida a Polícia Civil ficou 30% menos

sobrecarregada com a adoção de procedimentos cartorários e mesmo

investigatórios.

Mesmo com todas as vantagens destacadas, a Chefe de Polícia Civil

provocou a Secretaria de Estado de Segurança questionando a elaboração do RPM

pela Polícia Militar nos casos de infração penal. Mesmo com decisão do Supremo

Tribunal Federal, conforme ADI nº 2862 de 26 de março de 2008, foi aceito o pedido

e a PMERJ passou a lavrar o registro somente nos casos de crimes militares.

Portanto, após o estudo foi demonstrada a capacidade que a PMERJ possui

de realizar um trabalho eficiente, ágil e devidamente embasado em entendimentos

de diversos doutrinadores de renome bem como em decisão do Supremo Tribunal

Federal, assessorando de maneira completa o Ministério Público em termos de

informações de infrações penais, realizando um trabalho que traz satisfação a

população fluminense, removendo finalmente dentro do efetivo militar e em alguns

casos em parcela da sociedade fluminense uma das maiores chagas que persiste

em toda a nação que é a SENSAÇÃO DE IMPUNIDADE.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2862 de 26 Mar 2008, trata sobre decisão

do STF confirmando a atribuição das Policias Militares em lavrar termo

circunstanciado.

Boletim da Polícia Militar nº 008 de 11 de outubro de 2011.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília: Senado, 1988.

CORRÊA, Maurício, Adin nº 1.557, DF, in Informativo STF 71. Trata de decisão do

Supremo Tribunal Federal que julgou o texto constitucional do §4 do art, 144 que

não utiliza o termo exclusividade, ao cuidar das funções de polícia judiciária e

investigações criminais atribuídas às Polícias Civis.

CZIECZEK, José Roberto. Disponível em: <

http://siaibib01.univali.br/pdf/Jose%20Roberto%20Czieczek.pdf>. Acesso em:

29/11/2012. Trata sobre comentários da Lei 9099/95.

Decreto Lei nº 3.931, 11 dez de 1941. Define o Código de Processo Penal do Brasil.

GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. 2ª Edição, 1993.

Habeas Corpus nº 0027243-31.2011.8.19.0000, Rel. Des. Claudio Tavares de

Oliveira Junior, julgado em 10 ago 2011.

Histórico do Registro Policial Militar – RPM, disponível no acervo da Corregedoria

Interna da PMERJ.

Jornal Extra. Disponível em:< http://extra.globo.com/noticias/rio/registros-feitos-por-pms-causam-polemica-2642119.html#axzz2DBpf9OLt >. Acesso em 06/10/2012.

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Jornal O Globo. Disponível em: http: <//oglobo.globo.com/rio/registro-de-ocorrencia-

feito-por-pms-cria-mal-estar-polemica-entre-as-policias-civil-militar-2697192>.

Acesso em: 06/10/2012. Trata da crise entre as polícias.

LIMA, Marcellus Polastri, Manual de Processo Penal, 6ª Edição, 2012.

LIMA, Marcellus Polastri. “O Controle Externo da Atividade Policial”. In Suplemento

Jurídico do Diário Oficial do Rio de Janeiro, Ano III. Nº 31, janeiro de 1991.

MEDEIROS, Wanderby Braga de. Disponível em: < -

http://wanderbymedeiros.blogspot.com.br/2007/03/repercutiu-no-comunidade-

segura.html>. Acesso em: 29 nov. 2012. Trata da resolução SESP nº 843, de

28/03/06.

MENEZES, Ronaldo Antônio de. Carta encaminhada a imprensa carioca.

MIRABETE, Julio Fabbrini - “Código de Processo Penal Interpretado”, p. 111, item n.

12.1, 7ª ed., 2000, Atlas

PIRES, Lenin. Politicas Públicas de Segurança e Práticas Policiais no Brasil, editora

da UFF, 2009.

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO – PGE. Consulta em 27/11/2012,

entendimento favorável a confecção de termos circunstanciados pela PMERJ.

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO – PGE. Parecer PGE/RJ nº

17/2007/BTD/PSP, trata de reexame do parecer emitido em 27/12/2005.

REGISTRO POLICIAL MILITAR – Instruções Específicas. Disponível no acervo da

Corregedoria Interna da PMERJ.

REVISTA-ELETRÔNICA.-Disponível-em:

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sSeq=960239&sReg=

20080147276&sData=20100510&formato=PDF. p. 9>. Acesso em: 15/12/2012

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SANTIN, Valter Foleto, Ministério Público na Investigação Criminal, 2ª Edição,

editora edipro, 2007.

TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR, Claudio, HC 0027243-31.2011.8.19.0000,

julgado em 10 ago 2011, trata sobre o Registro Policial Militar.

Disponível em:

<http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=A+compet%C3%AAncia+ampla+da+Po

l%C3%ADcia+Militar+na+preserva%C3%A7%C3%A3o+da+ordem+p%C3%BAblica+

engloba%2C+inclusive%2C+a+compet%C3%AAncia+espec%C3%ADfica+dos+dem

ais+%C3%B3rg%C3%A3os+policiais%2C+no+caso+de+fal%C3%AAncia+operacion

al+deles&source=web&cd=2&ved=0CCcQFjAB&url=http%3A%2F%2Fwww.acors.or

g.br%2Fdownload.php%3Fid%3D12&ei=o7COUKGWHIfv0gGozYC4Dw&usg=AFQj

CNGiq_UOSC61suklf5ZKzrrkEwW8Sw>. Trata de ensinamento de Lazzarini sobre a

abrangência das atribuições da Polícia Militar.

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ANEXO 1

. Matéria publicada no site do Jornal Extra, de 06 de outubro de 2012

Registros feitos por PMs causam polêmica

RIO - Para a Corregedoria Geral Unificada (CGU), a Polícia Militar não pode fazer registros de ocorrência de crimes. O órgão abriu uma sindicância administrativa para apurar o caso a pedido da Chefia de Polícia Civil, o que criou um mal-estar entre as duas polícias. Na segunda-feira, o comando da PM disse em nota que o Registro Policial Militar (RPM) foi adotado em substituição à antiga prática de registrar atendimentos à população em livros da corporação. A polêmica entre as duas polícias surgiu de um registro de ocorrência feito por policiais militares do 30º BPM (Teresópolis), sem levar a vítima à delegacia, no início do ano. Embora a CGU afirme ser inconstitucional, o Supremo Tribunal Federal entende que a lavratura do termo circunstanciado não é apenas atribuição da Polícia Civil, mas também da PM.

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ANEXO 2

Matéria publicada no site do Jornal o Globo, de 06 de outubro de 2012

Registro de ocorrência feito por PMs cria mal-estar e polêmica entre as polícias Civil e Militar RIO - Um registro de ocorrência feito por policiais militares do 30º BPM (Teresópolis), sem encaminhar a vítima à delegacia, no início do ano, criou um mal-estar entre as polícias Civil e Militar. O assunto foi abordado, na última sexta-feira, em boletim informativo da Polícia Civil, no qual o titular da Corregedoria-geral Unificada (CGU), o desembargador Giuseppe Vitagliano, assina uma sindicância administrativa disciplinar, instaurada a pedido da Chefia de Polícia Civil. De acordo com o documento, o corregedor entende que a atitude dos policiais em lavrar um Registro Policial Militar (RPM) é inconstitucional e ilegal. Ele alega que a Constituição prevê caber à Polícia Civil as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, embora haja decisão unânime da 8ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, deste ano, legitimando o RPM. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, não quis comentar o conflito de competências entre as atribuições das duas polícias, evitando a polêmica: - Trata-se de tema constitucional, não é uma questão de admitir ou não (o Registro Policial Militar), e a minha manifestação sobre isso segue todas as orientações jurídicas, ou seja, o cumprimento da lei. Rusga entre as polícias Civil e Militar? Acho que não. Antes de haver rusga, é constitucional. Este assunto pode vir a ser discutido no futuro - comentou Beltrame. Segundo o boletim informativo da Polícia Civil do último dia 16, os PMs do batalhão de Teresópolis confeccionaram o Registro Policial Militar por crime comum, com pena prevista pela Lei 9.099/95, inferior a dois anos de detenção. De acordo com a sindicância da CGU, os PMs teriam alegado que estavam aptos a lavrar o boletim. Durante as investigações, o Capitão Sérgio Lemos Alves, do 30º BPM, saiu em defesa dos colegas, explicando que tal medida foi tomada por eles em razão de uma reunião presidida pelo Corregedor Interno da PM, Coronel Ronaldo Meneses, em 1º de março deste ano. No encontro, o Corregedor teria informado que a nova medida autorizava os PMs a fazerem os registros. Tal processo estava em fase de implantação na área de Campos e Itaperuna, conforme decisão do próprio comando da instituição. O Comandante-Geral da PM, Coronel Mário Sérgio Duarte, foi procurado pelo GLOBO para falar sobre o caso, mas não quis dar esclarecimentos. As rusgas entre as duas polícias sempre trouxe crises entre as duas instituições em todo o país. Recentemente, a polêmica foi em torno da lavratura do termo circunstanciado, um relatório de ocorrência envolvendo delitos de menor potencial ofensivo (contravenções penais e crimes cujas penas não sejam superiores a dois anos - vias de fato, lesões corporais leves, injúria, ameaça, calúnia, perturbação da tranquilidade, etc), de acordo com o artigo 69 da lei 9099/95. Há quem defenda que o documento deva ser elabora do pelo delegado de polícia. Mas há também entendimentos jurídicos de que o termo circunstanciado deve ser produzido pelo policial de serviço, seja ele policial civil ou militar, que venha a atender o chamado da vítima, encaminhando o registro ao Poder Judiciário. Estados como o Rio Grande do Sul, Sergipe, Santa Catarina já adotaram esta experiência.

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Segundo o presidente da Entidade Nacional da Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais dos Oficiais de Santa Catarina, o Coronel Marlon Jorge Teza, os PMs de lá já fazem os registros de crimes de menor potencial ofensivo há quatro anos. Ele explicou que o policial militar elabora o termo e o envia para à Justiça. - O cidadão não precisa ir à delegacia (tanto vítima como autor) e já é liberado no local com a agenda marcada para ir ao Juizado Especial Criminal. O PM não perde tempo em delegacia pois, terminada a elaboração do termo circunstanciado, que é rápido, o policial volta de imediato para o patrulhamento das ruas - defendeu o coronel Marlon, lembrando que, atualmente, as funções estão trocadas, pois há casos em que policiais civis fazem policiamento ostensivo, atribuição da PM.