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Doença Inflamatória Intestinal
Miguel Mascarenhas Saraiva
Doença Inflamatória Intestinal
• Colite ulcerosa• Doença de Crohn
Aspectos epidemiológicos, genéticos, imunológicos, clínicos e terapêuticos comuns
Desrregulação imunológica
Colite ulcerosaMucosa do cólon com inflamação e
ulceração superficiais, que atinge em continuidade o recto e várias partes do cólon proximal
Doença de Crohn
Processo inflamatório crónico recidivante que atinge qualquer parte do tubo digestivo e que se caracteriza por ser frequentemente descontínuo, transmural, predispondo à fibrose e estenose e histologicamente por granulomas e fissuras da parede intestinal
Epidemiologia
• Norte de Portugal– DC: 0,9 / 100.000– CU: 1,5/ 100.000
• Dinamarca– DC: 4,1 / 100.000– CU: 8,1 / 100.000
• Maior incidência na raça branca e países ocidentalizados
• A incidência da DC tem vindo a aumentar
Gradiente Norte /Sul
Epidemiologia
• Factores genéticos– Risco aumentado nos
familiares de 1º grau
– Risco menos aumentado nos familiares menos próximos
– Grande risco em gémeos homozigóticos (DC)
– Associação com os marcadores HLA
– Identificados genes associados à D Crohn
• Factores ambientais– Tabaco
• Factor de risco para o desenvolvimento e recorrência da DC
• Efeito benéfico na Colite Ulcerosa
– Contraceptivos orais• Efeito menos provado, mas, na mulher, parece
aumentar a incidência da DC e da CU
– Dieta• Maior consumo de açúcar e alimentos pré-
fabricados• Papel protector da dieta rica em fibras
– Factores sócio-económicos• Maior incidência nas áreas ocidentalizadas
Etiopatogenia
• Factores imunogenéticos– Colite ulcerosa
• ANCA + (HLA-DR2)• ANCA - /HLA-DR4)
• Agentes infecciosos ?– D Crohn
• m: paratuberculosis ?
– Vírus (Sarampo ?)
• Permeabilidade Intestinal na DC (e em familiares)
• Alterações da função das células epiteliais
• Factores imunológicos– Imunidade humoral
• Ab anti-cólon na CU
• hiperprodução de IgG1 pelas células imunológicas da lâmina própria na CU
– Imunidade celular• Estimulação das células “helper” CD4+ ?
– Alterações das citoquinas Interleucina 2 na DC Interleucina 6 na DC IL-1 na mucosa, na DC eCU
Fundamentalmente desconhecida
AnatomopatologiaDoença de Crohn
• Afecta todas as camadas da parede do tubo digestivo (desde a boca ao ânus)• Lesões iniciais: erosões e ulcerações da mucosa• Desenvolvimento de estenoses em múltiplos locais• Intestino normal entre as áreas afectadas (skip areas)• Fístulas entre as ansas intestinais e na região ano-rectal ou parede abdominal
Estenose do íleon terminal
Estenosesno colon
Fístula entero-cólica
AnatomopatologiaDoença de Crohn
• Lesões iniciais: ulcerações aftóides• Ulcerações irregulares, longitudinais• Aspecto em calçada de pedra• Fissurações• Granulomas
Granulomas
Fissurações
AnatomopatologiaColite ulcerosa
• Contínua, a partir do recto• Lesão da mucosa• Inicialmente: hiperémia, aspecto granular da mucosa• Microulcerações, mucosa difusamente afectada• Ulcerações confluentes• Pseudopólipos
AnatomopatologiaColite ulcerosa
• Distorção da arquitectura glandular• Infiltrado inflamatório que desaparece na muscularis • Deplecção de muco nas células caliciformes• Abcessos crípticos
Clínica
Colite ulcerosaSintomas
• Rectorragias
• Perda de muco
• Tenesmo
• Falsas vontades, imperiosidade de defecação
• Proctite: transito intestinal normal obstipação
• Diarreia muco-sanguinolenta
• Cólicas abdominais
• Febre
Gravidade das crisesCritérios de Truelove e Witts
• Ligeira– menos de 4 dejecções/dia, algumas com sangue – Sem febre, taquicardia, bom estado geral
• Moderada– Entre 4 e 8 dejecções /dia, com sangue– Sem perturbações sistémicas
• Grave– Mais de 8 dejecções por dia, com sintomas sistémicos– Febre (> 38º C), anemia (Hb<10,5 g/dl), taquicardia, VS
elevada, hipokalemia, mau estado geral
• Alterações hidroelectrolíticas
• Septicemia
• Tromboembolismo
• Dilatação aguda do colon (10%) - megacólon tóxico - COLITE FULMINANTE
• Perfuração
• Manifestações extraintestinais
Colite ulcerosaComplicações
• Diarreia (70-90 %)• Rectorragias (30 %) - doença do colon• Dor abdominal (> 50 %)
– tipo cólica - doença do delgado (com distensão abdominal)– Em moedeira - doença do cólon
• Sintomas sistémicos• Náuseas e vómitos• Manifestações extraintestinais• Desnutrição, má-absorção (d delgado - lesões, prol bacteriana)
Doença de CrohnSintomas
• Desnutrição, atraso de crescimento
• Clubbing
• Edemas
• Aftas orais
• Massa inflamatória na FID
• Lesões peri-anais (30 %)– Fissuras atípicas (múltiplas, laterais, profundas)
– Fístulas complexas
– Ulcerações ano-rectais
Doença de CrohnExame objectivo
Aftas orais
Úlceras anais
Fístula anal complexa
Doença de Crohn Modos de apresentação
Local da doençaIleal Cólon
Rectorragias 22 % 46 %
Dor abdominal 62 % 55 %
Desnutrição 19 % 22 %
Massa abdominal 8-30 % 0
Man Extraintestinais 1 % 20 %
Quadro de apendicite aguda (10 % dos casos ileais)Sintomas crónicos de dor abdominal e alt hábito intestinal (# SII)
Investigação e diagnóstico diferencial
Investigação na Colite Ulcerosa
• Exame de fezes:diferenciar de colite infecciosa (Salmonella, Shigella, Campylobacter, Yersinia, E Hystolitica, Giardia); incluir pesquisa de toxina de Clostridium Difficile)
• Exames laboratoriais: anemia hipocrómica microcítica, trombocitose, elevação da prot C-reactiva, orosomucóide, hipoalbuminemia, alt hepáticas, serologia (Salmonella, Yersinia)
• Recto-sigmoidoscopia: sem preparação prévia. Perda padrão vascular, hiperemia, granularidade, friabilidade. Biópsia
• (Ileo)colonoscopia
• Estudo radiológicoDiagnóstico (diferencial)Actividade Extensão da doença
Endoscopia na colite ulcerosa• Hiperémia• Hemorragias punctiformes• Friabilidade• Exudado muco-purulento• Ausência de rede vascular• Granularidade• Microulcerações• Ulcerações• Diminuição do peristaltismo• Aspectos cicatriciais:
• Pseudopólipos• Pontes mucosas
Lesões contínuas desde o recto na fase aguda (excepto se tratado com clisteres
Mucosa normalFriabilidade. Hemorragias espontâneas, punctiformes
Granularidade e exsudado muco-purulento
Colite hemorrágica grave
Endoscopia na colite ulcerosa• Hiperémia• Hemorragias punctiformes• Friabilidade• Exudado muco-purulento• Ausência de rede vascular• Granularidade• Microulcerações• Ulcerações• Diminuição do peristaltismo• Aspectos cicatriciais:
• Pseudopólipos• Pontes mucosas
Lesões contínuas desde o recto na fase aguda (excepto se tratado com clisteres
Mucosa inflamada com ulcerações mais profundas
Início de remissão com áreas pálidas
Diminuição das haustrações
Pseudopólipos
Radiologia na colite ulcerosa Na crise severa: RX abdominal simples
• Ausência de fezes na área inflamada• Dilatação do cólon (megacólon tóxico se com mais de 6 cm de diâmetro• Ilhotas de mucosa
Clister opaco “instantâneo” (sem preparação e sem grande distensão)
Ausência de fezes Padrão granular em todo o cólon
Instant barium enema
Megacólon tóxico
Radiologia na Colite Ulcerosa
• Aspecto granular (pequenas ulcerações)• Ulcerações mais profundas• Perda das haustrações e aspecto tubular• Pseudo-pólipos
Radiologia na Colite Ulcerosa
• Aspecto granular (pequenas ulcerações)• Ulcerações mais profundas• Perda das haustrações e aspecto tubular• Pseudo-pólipos
Radiologia na Colite Ulcerosa
• Aspecto granular (pequenas ulcerações)• Ulcerações mais profundas• Perda das haustrações e aspecto tubular• Pseudo-pólipos
Radiologia na Colite Ulcerosa
• Aspecto granular (pequenas ulcerações)• Ulcerações mais profundas• Perda das haustrações e aspecto tubular• Pseudo-pólipos
Diagnóstico diferencial da colite ulcerosa
• D de Crohn– Distribuição segmentar
– Recto poupado
– Ulcerações profundas
– Mucosa entre as ulcerações aparentemente normal
– Outras localizações
– ANCA -
• Colite “indeterminada”
• Colite isquémica
• Colite infecciosa
• Colite pseudo-membranosa
• Colite amibiana
• Colite por fármacos
• Colite por Virus (SIDA)
• Proctites:– Inespecífica
– Sind de ulcera solitária do recto
– Clisteres, supositórios
Colite isquémica
Colite pseudomembranosa
Colite rádica
Investigação na Doença de Crohn• Exame das fezes - Microbiológico e parasitológico. Esteatorreia
• Exames laboratoriais - Anemia (microcítica, dimorfa, macrocítica), trombocitose, elevação da VS, proteína C-reactiva. Despistar má absorção (hipoalbuminemia, dim Fe, Vit B12, cálcio) Serologia (ASCA)
• Exame proctoscópico - lesões peri-anais. Biópsia do recto.
• Ileocolonoscopia - doença do cólon, doença ileal.
• Rx do intestino delgado– Transito– Enteroclise
• Enteroscopia por cápsula endoscópica• Enteroscopia de duplo-balão• Clister opaco• TAC, ultrassonografia - abcessos, espessamento da parede.
• Cintigrafia com neutrófilos autólogos marcados (111In)
Endoscopia na Doença de Crohn• Ulceras aftóides dispersas
• Ulcerações profundas irregulares
• Ulcerações serpiginosas
• Fissurações com padrão tipo “cobblestone” • Estenoses e fístulas
• Pseudopólipos
Radiologia na Doença de Crohn Crises oclusivas
Megacolon tóxico
Segmentos com estenoses
Ulcerações profundas
Tumefacções inflamatórias
Fístulas
Enteroscopia por cápsula endoscópica
• Se suspeita clínica, e radiologia negativa
• Para avaliação da extensão
• Para “follow-up”
• Risco de retenção da cápsula !
Cintigrafia com neutrófilos autólogos marcados com Índium-111
• Actividade da doença• Extensão• Avaliação das manifestações
articulares
Diagnóstico diferencial da Doença de Crohn
• Colite ulcerosa
• Tuberculose intestinal
• Doença de Behçet
• Ileítes: Yersinia, Campylobacter
• Linfomas e outros tumores do delgado
Manifestações Extra-
Intestinais
Manifestações Extraintestinais da Doença Inflamatória intestinal
• Associadas com doença activa
• Não associadas com a actividade da doença
• Complicações da ressecção intestinal ou da doença activa do intestino delgado
Manifestações Extra-Intestinais• Cutâneas
– Eritema Nodoso– Pioderma gangrenoso
• Articulares– Artropatia assimétrica transitória, não
deformante– Sacroileíte– Espondilite anquilosante
• Oculares– Uveíte anterior– Episclerite– Conjuntivite
• Hepatobiliares– Colangite esclerosante Primária– Colangiocarcinoma– Litíase vesicular– Cirrose biliar primária– Esteatose hepática
• Amiloidose (AA)– Renal– Hepática
• Litíase urinária• Doença tromboembólica
Tratamento
Medicações utilizadas no tratamento da DII
• Salazopirina (5-Asa+Sulfapiridina)• Antibióticos; Metronidazol• Ácido 5-amino.salicílico (5-ASA)
– via oral– Via tópica: clisteres, supositórios
• Corticosteróides– Via endovenosa– Via oral– Via tópica: supositórios, clisteres
• Imunossupressores e imunomoduladores– (Azatioprim, 6-mercaptopurina, infliximab)
• Terapêutica Nutricional
Colite ulcerosa• Tratamento da crise:
– Corticóides (tópico, oral ou IV)– Reforço do 5-ASA (tópico, oral)
• Proctite– 5-ASA tópico + 5-ASA oral (3g/dia)– Corticóide tópico (Pred, Budesonide)– Corticóide oral
• Colite, crise moderada– 5-ASA 3g/dia– Corticóide (Pred, 40 mg/d)
• Manutenção em fase de recidiva– Salazopirina, 1,5 g/dia– 5-ASA, 1,5 g/dia
• Colite severa– Hospitalização– Corticóides IV– Nutrição entérica ou parentérica– Antibióticos– Cirurgia urgente se não responde ao fim de 5-7 dias;
Ciclosporina ?
• Doença crónica activa– Corticoide (até 15 mg/dias alternados, não > 6
meses)– Imunossupressores– Corticóides não absorvidos (?)– CIRURGIA
• Risco de Cancro DO CÓLON– Se displasia severa - CIRURGIA
Doença de Crohn
• Manutenção– 5-ASA - 3g/dia
• Fistulas– Metronidazol– Nutrição (ENT/NPT)– 6-MP– Ciclosporina ?– Infliximab
• Colite – semelhante à CU, mas:– Metronidazol– EVITAR CIRURGIA
• Crises suboclusivas– Corticoides
– Cirurgia
• D crónica activa– Imunossupressores
– Infliximab
• Tratamento das complicações– Intestino curto
– Desnutrição
– Diarreia