Dom Quixote

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EncartE para o profEssor Dom QuixoteMiguel de Cervantes Adaptado por Leonardo ChiancaIlustrado por Crcamo Dom Quixote um heri s avessas: apesar de ter uma alma boa e nobre, seu idealismo beira a loucura. Leitor alucinado dos livros de cavalaria, Dom Quixote de uma hora para outra decide fazer justia com a velha lana de seu bisav. Todos os acontecimentos em que se envolve tm um lado real e outro imaginrio: ele confunde moinhos com gigantes, monges com feiticeiros diablicos, rebanhos de carneiros com exrcitos inimigos...

Assuntos: idealismo, generosidade, justia Interdisciplinaridade: Lngua Portuguesa, Histria, Arte Tema Transversal: tica Edio 2005 112 p./ 16 x 23 cm/ ISBN 85-3680-017-8

Dom Quixote em sala De aulaUma das questes colocadas na escola de hoje Como levar os alunos a se interessar pela literatura clssica?, uma vez que no mundo informatizado, em decorrncia da multiplicidade de informaes recebidas, o jovem dedica pouco tempo leitura. A escola tem um papel importante na formao de leitores, mas sabemos que, muitas vezes, ela prpria cria resistncias no aluno, quando o convite para o ato de ler no adequado. A nova viso no trabalho com a leitura sugerida nos Parmetros Curriculares Nacionais traz a indicao de que os livros devem ser apreciados. Nesse sentido, tornam-se desvalorizados os trabalhosos exerccios de verificao de leitura. Cabe ao professor incentivar os alunos lendo em sala de aula todos os dias, escolhendo bons textos que atinjam o interesse do jovem, dando oportunidade para que os momentos em sala de aula tornem-se prazerosos e, principalmente, que as atividades propostas antes, durante ou aps a leitura dos livros sejam atividades que ampliem as possibilidades de leitura e no que as fechem, como propem osEncarte integrante do livro Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, adaptado por Leonardo Chianca, ilustrado por Crcamo, publicado pela Editora DCL Difuso Cultural do Livro. Todos os direitos reservados. proibida a reproduo sem prvia autorizao da editora.

exerccios de verificao. O professor vive a inquietao de que, se no controlar a leitura feita pelos alunos, no estar garantindo que estes cumpram com suas tarefas. No entanto, no ser o controle que garantir que estas se cumpram, mas sim as propostas que toquem o aluno, sendo elas desafiadoras, envolventes, que sugiram a participao e a construo do conhecimento pelo prprio aluno. Atividades que muitas vezes possam ser avaliadas como perda de tempo so, na verdade, de muito ganho, pois aquelas em que os alunos sentem-se atuando so as que mudam suas atitudes diante de seu aprendizado. Ana Maria Machado, em seu livro Como e por que ler os clssicos desde cedo, diz que Tentar criar gosto pela leitura nos outros por meio de um sistema de forar a ler s para fazer prova uma maneira infalvel de inocular o horror a livro em qualquer um. Sejamos ento cuidadosos com nossos jovens leitores. Que eles tenham uma entrada feliz nesse mundo de magia e conhecimento e que a permaneam por toda a vida. Seja voc aquele professor que os alunos podero citar como quem os ensinou a gostar de ler.

Por Que e como ler os clssicosA mesma autora, Ana Maria Machado, no seu mesmo livro Como e por que ler os clssicos desde cedo, conta como se encantava com as leituras feitas por seu pai quando criana. Ele tinha em sua escrivaninha uma escultura de um cavalo esqueltico e um burrico rolio. Montado no cavalo havia um tristonho cavaleiro de barbicha, e no jumento, um gorducho risonho. A menina queria saber quem eram aqueles personagens, e seu pai lhe contou que eram Dom Quixote e Sancho Pana. Prosseguindo com suas perguntas, ficou sabendo que viviam muito longe dali, na Espanha, e ela ficou imaginando onde seria esse lugar to distante, j que de geografia s conhecia os arredores de sua casa. Continuou curiosa fazendo perguntas a seu pai e ele lhe apresentou o livro dizendo que esses personagens viviam tambm ali bem pertinho, dentro do livro. Aos poucos, seu pai foi lhe contando a histria de Dom Quixote e mostrando-lhe as figuras do livro. A cada resposta do pai, a menina tentava fazer as relaes entre as informaes recebidas e o conhecimento de mundo que tinha. Isso nos mostra a importncia da contextualizao do texto lido dentro do universo do estudante. No basta que se apresente o livro, pea que o leia e faa a explorao da compreenso da leitura. importante introduzir o leitor no mundo mgico do livro partindo da conscientizao daquilo que ele j conhece sobre o assunto que ir ler. Italo Calvino, em seu livro Por que ler os clssicos, d catorze definies do que seria um clssico. Dentre elas diz que Os clssicos so aqueles livros que chegam

at ns trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrs de si os traos que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes) e Chama-se de clssico um livro que se configura como equivalente ao universo, semelhana dos antigos talisms. Nesse sentido, podemos ter a idia de que os clssicos representam um pouco da histria da humanidade que no deve ser apagada e excluda nos tempos atuais, que nos chamam muitas vezes a substituir to rica literatura por imediatismos propostos pela vida atribulada que levamos. Que a leitura dos clssicos esteja presente nos dias de hoje para que procuremos o equilbrio entre o que se eterniza e o que se descarta pela ausncia de valor cultural, histrico e esttico.

sobre as aDaPtaesO primeiro contato com um clssico, na infncia e na adolescncia, no precisa ser com o original. O ideal mesmo uma adaptao bem-feita e atraente, o que sem dvida est presente neste livro de Leonardo Chianca lindamente ilustrado por Crcamo e editado pela Editora DCL. Nada h que impea, no entanto, que se apresente o livro no original aos alunos, pois sempre h os mais ousados, leitores fluentes e competentes, que podem entrar em contato com a obra original logo cedo.

sugestes De ativiDaDesAtividade 1 importante introduzir o aluno no mundo do livro. Para isso so vlidos os seguintes procedimentos: Falar sobre o tema que o livro traz. Dom Quixote era um cavaleiro andante. Procurar saber o que os alunos conhecem sobre cavalaria, sobre literatura de cavalaria. Fazer anotaes do que sabem. Procurar saber sobre o que gostariam ainda de conhecer sobre os cavaleiros medievais. 4 Anotar. 5 Encaminhar para uma pesquisa em grupo na sala, com materiais j conhecidos da professora, ou na biblioteca com a orientao da professora de biblioteca. possvel que os alunos tragam tambm materiais de casa.

6 Cada grupo de alunos apresentar as respostas de suas questes classe, em um rpido seminrio com base em ilustraes e informaes objetivas. 7 A partir da a professora introduz a leitura em sala. interessante que a leitura seja iniciada pelo professor que est inteiramente inserido na atividade do aluno. Se possvel, ele poder ler antes um captulo do texto original, chamar a ateno para a riqueza de linguagem do texto, to diferente da linguagem usual nos dias de hoje. Tratar da importncia de se cultivar a riqueza da linguagem falada e escrita, nosso principal instrumento de comunicao imediata e atemporal, j que os clssicos nos remetem a tempos muito antigos. 8 Pedir aos alunos que continuem a ler o livro em casa. Atividade 2 No decorrer da leitura o professor poder formar grupos de alunos, e cada grupo apresentar um dos primeiros captulos do livro usando diferentes recursos, tais como: cartazes com desenhos, pequena dramatizao, histria em quadrinhos, dilogo entre as personagens, esculturas e colagens. Essa atividade importante porque incentiva os alunos que ainda no entraram na leitura, mais um chamado. Atividade 3 Ao encerramento da leitura do livro, propor um teatro em que cada grupo ter uma atribuio. A organizao do texto: Propor que um grupo de alunos escreva uma cena em que h um dilogo entre Dom Quixote e Sancho Pana, a partir das aventuras j conhecidas. Introduzir personagens da aldeia ou outros que tenham encontrado durante as andanas e criar tambm as suas falas. Este grupo poder cuidar da caracterizao dos personagens, descrevendo cada um deles. O cenrio e o figurino: Utilizando panos, caixas e pedaos de madeira, os alunos podero construir o cavalo de Dom Quixote e o burrico de Sancho Pana. Criar um fundo que lembre um cenrio meio escurecido, como sugerem os cenrios da era medieval. Providenciar as fantasias dos personagens seguindo as descries apresentadas pelo grupo que escreve. A luz: Que a luz seja intensa em cenas externas que se passam durante o dia e dirigidas ao personagem quando este fala. Diminuir a luz quando as cenas se passam noite. Lembrar que na poca no havia eletricidade, por isso as cenas noturnas devem ser escuras, iluminadas luz de velas ou lamparinas. 4

4 A msica: Fazer uma pesquisa de msicas que retratem a poca para uslas como fundo. 5 A encenao: Um grupo de atores realizar a dramatizao. O professor dever orientar o ensaio das cenas e providenciar um pblico para assistir apresentao dos alunos. possvel propor um teatro de fantoche: Um dos grupos da classe far a construo dos personagens utilizando sucatas, providenciar um pequeno palco, que poder ser uma caixa vazada, e apresentar uma cena do livro ou outra inventada a partir do que j conhece dos personagens e da trama. Poder ser proposto tambm um teatro de sombras: Um lenol e um ou mais focos de luz representam o palco onde os atores apresentam suas cenas. Atuaro entre a luz e a tela construda com panos. Podero ser usadas luzes coloridas e flashes para criar efeitos especiais. Se o teatro de sombras for apresentado por bonecos, estes podem ser construdos com papelo e palitos de madeira, e o palco poder ser uma tela menor, tambm de pano, colocada sobre uma mesa. Os manipuladores dos bonecos se situaro atrs da mesa com os bonecos entre a luz e a tela. H possibilidade de aumento das sombras com a aproximao da luz, diminuio com seu distanciamento e deformao com a movimentao do foco de luz ou do objeto.

trabalhanDo em gruPosApresentando uma diversidade de atividades para o encerramento, o professor j garante a interlocuo, pois cada grupo especfico (teatro de sombras com duas possibilidades de dramatizao e teatro de fantoche) estar preparando um trabalho para apresentar aos demais grupos. Neste momento, possvel que o professor fique inquieto. Com a sensao de no estar fazendo mais nada, no estar dando aulas, deixando de transmitir os conceitos tericos das disciplinas, v a sala de aula em uma aparente baguna, j que ao trabalhar em grupos os alunos movimentam-se pela sala e passam, muitas vezes, aos que no esto inseridos nesse trabalho, uma idia de indisciplina. Conflitos podero surgir e estes tm de ser solucionados dentro do 5

grupo, para que possam ser construdos e exercitados valores como os do respeito aos diferentes modos de pensar e de ser, exercitar a colaborao e reconhecer o sentido de unio no grupo. Reflita nesse momento, professor: Seus alunos no esto aprendendo? Quantas vezes esses alunos se depararam com problemas reais para solucionar durante os trabalhos? Quantas informaes receberam? Quantos papis vivenciaram? uma aprendizagem muito significativa porque foi vivida pelo aluno; toda aprendizagem adquirida pertence a ele porque ele a construiu em todas as suas aes.

interDisciPlinariDaDe importante considerar que no faz sentido forar as atividades somente com a idia de que quanto mais atividade houver, mais rico ser o trabalho. As atividades somente faro sentido se estiverem intrnsecas ao tema central. As atividades de Histria e Geografia contextualizam uma poca e um lugar onde ocorrem as aventuras do personagem do livro, que, na verdade, representa uma stira sobre os cavaleiros da era medieval. Para compreender a stira importante compreender a verdade histrica. Luz e sombras so temas trabalhados na rea de Cincias; sua utilizao entra como instrumento para a apresentao do trabalho de Portugus. Tambm na rea de Arte os alunos estaro usando instrumentos, ao mesmo tempo em que desenvolvem suas habilidades artsticas. A Lngua Portuguesa est presente todo o tempo. Importante destacar a presena da linguagem oral em todo o processo do trabalho, habilidade colocada como meta a ser desenvolvida na rea de linguagem pelos Parmetros Curriculares. Histria: Viajar pela Idade Mdia entre os anos 600 e 500 d.C, poca em que o nvel de realizao material era baixssimo. O campons vivia miseravelmente. Somente uma minoria leiga e eclesistica possua propriedades. A fora dos senhores feudais estava na cavalaria. Para pertencer cavalaria era preciso ser nobre, e para ser nobre eram necessrios certos recursos, como cavalo, arreios, armas e ajudantes. A meta das ordens de cavalaria era de encargos militares para defender o cristianismo da expanso dos muulmanos. Uma caracterstica do homem medieval que ele vivia imerso no catolicismo desde o nascimento at a morte. Atividade: Alm de textos, o professor poder exibir trechos de filmes retratando a Idade Mdia, ou sobre a cavalaria, com o objetivo de que o aluno tenha acesso a imagens que lembrem essa poca histrica. Discutir o que viram. Alm de filmes, as imagens podero ser vistas em gravuras e pinturas sobre a poca. 6

Geografia: O estudo da geografia no s traz conhecimentos em relao localizao dos espaos, como explica a importncia de embutir no homem a conscincia de pertencer ao lugar, ao fazer a histria do lugar que ocupa. Conhecer onde viveram os personagens da histria no deve se restringir, portanto, localizao dos pases a que o texto remete, mas verificar que transformaes o homem processou nesse lugar e conhecer a histria que a produziu. Cincias: Uma das primeiras comprovaes sobre o caminho da luz em linha reta deu-se a partir das observaes da sombra. Como instrumento, os alunos podero aplicar no teatro de sombras os conceitos sobre o caminho da luz. Arte: Ao criar uma atividade artstica a partir da leitura, o aluno deixou de ser o receptor para ser aquele que participa da construo do conhecimento sobre o tema. As atividades artsticas estaro presentes na confeco dos cartazes, na produo de personagens e nas artes cnicas. Filosofia: O livro prope uma discusso e reflexo sobre os ideais, sobre a utopia e a busca da realizao dos ideais. Dom Quixote pode ser visto como um homem louco. Deve-se considerar, no entanto, as diferentes formas de se encarar a vida e a realidade. H aqueles que olham para a vida apenas com os olhos e buscam respostas prticas s suas questes; h aqueles que se relacionam com a vida, tm um projeto em uma busca de descoberta do sentido e significado da vida. O projeto, o sonho, a utopia pertencem irrealidade, mas conduzem o homem ao entusiasmo, aproximam-no da felicidade. Como atividade, o professor poder propor um debate em que os alunos argumentaro sobre estas questes colocadas: Ser prtico ou ser sonhador? Quais vantagens na praticidade, na maneira fechada de ver o mundo, e quais as vantagens em ter uma viso mais ampla das coisas? Viver em busca de aventuras, em um caminho de criao, acreditando na possibilidade de transformao? Conviver com o pensamento de que os sonhos realizam-se alm dos 7

sonhos? Nessa altura o homem consegue ousar, atrever-se, correndo o risco do fracasso. Mas instala-se o entusiasmo que etimologicamente significa estar no controle e nas mos de Deus, estar fora de si, absorvido no que est realizando.

tema transversalticaReviso de provas: Ana Paula Santos, Janana Mello Diagramao: Teco de Souza Preparao de texto: Saulo Krieger

Pela vida afora, quando paramos para pensar entre seguir este ou aquele caminho, estamos obrigatoriamente frente a frente com o mundo da tica, mesmo sem nos darmos conta disso. De modo geral, a tica o campo do conhecimento que se debrua sobre as escolhas humanas, que geralmente apontam para a idia de bem ou mal. Mas nem tudo na vida apenas certo ou errado, bom ou mau. Dependendo do momento e das circunstncias, aquilo que pensvamos ser certo ou bom pode mudar, nossos valores se transformam constantemente. Na atividade de debate em que o professor estar trabalhando com a argumentao, questes sobre valores tambm podem ser abordadas. Destacar algumas atitudes de Dom Quixote, como aquela em que ele avana sobre os monges beneditinos que acompanhavam uma carruagem onde no vinha uma princesa prisioneira, como pensava Dom Quixote, mas uma dama que ia ao encontro do marido. Como seria julgado o cavaleiro nessa situao? Agiu certo atacando os beneditinos? Se esse cavaleiro andante existisse nos dias de hoje e tivesse atitudes como as de Dom Quixote, como seria julgado pela sociedade? Conduzir os alunos para reflexes que os levem a reconhecer at que ponto a realizao de sonhos individuais pode atingir a integridade do outro. At onde a realizao do indivduo pode chegar, sem que afete a coletividade?

referncias bibliogrficasCALVINO, Italo. Por que ler os clssicos. [Traduo de Nilson Moulin]. . ed. So Paulo: Companhia das Letras, 99. MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clssicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 00. PARMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Ministrio da Educao e do Desporto. Secretaria de Educao Fundamental. Lngua Portuguesa, volume II, MEC, 997. REVISTA OFCIO DE PROFESSOR. Fundao Victor Civita, abr. 00.

Maria Helena Vieira, que elaborou este encarte, graduada e licenciada em Filosofia pela Universidade de So Paulo. aficcionada por poesia, literatura e artes. Defendeu, em 2004, dissertao de mestrado sobre as estruturas do imaginrio de Vincent van Gogh, parte de sua pesquisa sobre as relaes entre Imaginrio, Arte e Educao na Faculdade de Educao da USP. Atualmente faz curso de ps-graduao em Traduo da Lngua Francesa na USP.

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