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Dor & Alegria - O Que Deus Tem Haver Com Isso?

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Familiares celebram a cura de uma doença rara, enquanto em um quarto de hospital uma família enfrenta a dor da perda de um ente querido vitimado pela mesma doença....Porque morte para uns e vida para outros.Essa e outras questões serão abordadas.Pois em raríssimas exceções,o fogo se fez frio,o leão perdeu a fome,o mar dividiu-se ao meio e os anjos,de forma visível,nos visitaram.´´No mundo teremos aflições...``. Autor: João Ribeiro da Silva Neto. Formato: 16x23.Número de páginas: 232. ISBN: 978.85-7459-267-1

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Copyright©2012 porJoão Ribeiro da Silva Neto (JR Neto)

Todos os direitos reservados por:A. D. Santos EditoraAl. Júlia da Costa, 21580410-070 - Curitiba - Paraná - Brasil+55(41)[email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Neto, João Ribeiro da Silva Dor e Alegria – O que Deus tem a ver com isso? – João Ribeiro da Silva Neto, Curitiba: A.D. Santos Editora, 2012, 232 p.ISBN – 978.85.7459-267-11. Deus, experiência humana 2. Cristianismo 3. Espiritualidade CDD – 231.7

1ª Edição: Abril / 2012 – 3.000 exemplares.

Proibida a reprodução total ou parcial,

por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte.

Edição e Distribuição:

Capa/Ilustrações:Igor Braga

Projeto gráfico e editoração:Manoel Menezes

Impressão e acabamento:Gráfica Exklusiva

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Dedicatória

Aos peregrinos deste mundo, que buscam viver de maneira piedosa seguindo os passos daqu’Ele que deixou como exemplo maior o amor ao próximo e a nós mesmos. Pessoas que, mesmo trilhando o caminho da cruz e buscando a santificação, que as levarão a andar mais perto do Deus de amor, têm se deparado com problemas de todas as ordens.

Pessoas que lutam contra a depressão; que, quase sem forças, conseguem dar alguns passos na busca por uma melhora, ainda que distante; que enfrentam doenças crônicas na família ou no próprio corpo; que veem suas forças se exaurirem pelo tempo e pela dor da alma e do corpo; que lutam para educar os filhos no caminho da piedade; que não concordam com as injustiças impostas pelo mundo, mas que veem nelas uma forma de mostrar a justiça de Deus.

Peregrinos solitários que vivem neste mundo e que, por vezes, encontram refúgio, ainda que por engano, num copo de bebida; que mesmo não se entregando ao pecado, por vezes o encontram em alguma curva da sua busca quase que insana pela santificação; e que, mesmo contra tudo o que existe neste mundo decaído, seguem em frente, pelo caminho estreito da graça e da verdade.

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Prefácio

Na dor constante da busca, no desespero de encontrar, na luta para não desistir, a minha caminhada de vinte e cinco anos pelas fronteiras da fé tem me levado a um anseio constante por respostas não obtidas, com as quais tenho vivido e sobrevivido pela graça daqu’Ele que é maior do que as minhas perguntas e certezas.

Os questionamentos sempre virão, as respostas, porém, qua-se nunca. Não saberemos de fato se teremos de andar em terra seca ou será preciso nadar sobre as ondas do mar em fúria.

A única e absoluta convicção que temos é que, nessa traves-sia, ainda que não o vejamos, sintamos ou toquemos, não esta-remos sozinhos. Ainda que “duvidemos”, Ele estará por perto. Se necessário for, dê uma olhada e talvez você o encontre, mais próximo do que imagina.

Nesse planeta em que vivemos sozinhos, não chegaremos a nenhum lugar. Os obstáculos existentes são muitos e o descanso nem sempre é possível; estar sozinho significa ser comido por feras, que nem ao menos sabemos de onde vem.

Assim, para andar nesse caminho estreito, apertado, às vezes ferido, faminto, enfrentando dores, alegrias, doenças, risos e lágri-mas, será necessária a companhia da coragem e, acima de tudo, da fé.

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Por esse caminho, a ansiedade de acertar e, por que não, de errar nos levará a estar sempre à espreita do mal, que é mais forte do que nós, nos rondando dia e noite, sempre pronto a nos dar o bote; porém, à nossa dianteira, o bem nos preservará, se estiver-mos dispostos a deixá-lo lutar por nós e contra nós, nos livrando do nosso próprio socorro.

Por vezes não entendo e, às vezes, nem mesmo quero: por que tanto tempo passou e o peito ainda dói? Por que a perda é necessária? Se necessária ela é, por que tem de rasgar a alma e entristecer o espírito? Por que os momentos de alegria são tão raros e rápidos e, quando nos damos conta, dão adeus e vão embora?

A doença! Por que chega como fera e intimida o valente? Por que a morte vence a vida, se não fomos criados para isso? E os risos, que por encanto enchiam a casa, onde estão agora?

E a ferida? Quando já a fina pele começava a crescer, outra vez o líquido quente e vermelho nos lembra que muito tempo ainda resta e que o azeite do bom Samaritano ainda é necessário.

Perguntas que quase sempre ficarão sem respostas. E certa-mente não as encontraremos aqui; num futuro próximo, quem sabe? Elas podem aparecer como lampejos, como dádivas do pai que deu a vida pelo filho, como pequeno facho de luz no aper-to do caminho, no grito da dor que tira o sono, na fome que nada sacia, no desespero da busca, no choro do arrependimento, na coragem de prosseguir, na loucura de acreditar, no clarear da escuridão, no final do caminho, no alto monte em uma cruz.

Continue andando, ainda que a passos trêmulos e vagarosos; um dia você verá o resultado completo dessa caminhada terrestre

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rumo ao lar celestial. Tome a cruz e prossiga, pois alguém que foi dependurado nela por você lhe mostrará o caminho. A propósito, Ele tem marcas inconfundíveis.

Furos nos pés e nas mãos.J. R. Neto

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Agradecimentos

Lembranças reveladoras tive no período em que me dedi-quei a estas reflexões; momentos vividos nos quais sempre fui agraciado com a vida, a fé, a coragem e o testemunho de guer-reiros piedosos que marcaram a minha vida como o ferro quente marca a pele. Pessoas que me levam a perguntar: será que esse mundo é digno?

Agradeço a Deus por ter, de certa forma, me guiado por um caminho nada convencional e por ter me dado como presente pessoas com as quais eu pude dividir questionamentos e dúvidas, aprendendo a conviver com elas pelas fronteiras da fé.

A meus filhos, obrigado pela inspiração, em meio a risos, barulhos e silêncios. Pela presença cativante da minha pequena princesinha. Pelas perguntas, questionamentos e sede de saber do meu filho, presente até mesmo nas horas de forte cerração, em que caminhar sozinho parecia não ser mais possível.

Por ela, pelas suas palavras de incentivo, pelos seus gestos de compreensão e amor, por acreditar, por fazer acreditar, por estar presente e, às vezes, ausente. À minha amada esposa, obrigado.

A Deus, que um dia nos uniu e, por graça, nos trouxe até aqui, por ter nos guiado como ovelhas para o aprisco do Bom Pastor, por ter nos mostrado o caminho estreito da cruz e por ter nos tirado das trevas e nos transportado para o reino do filho do Seu amor.

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Antes de começar...

Resolvi iniciar meus escritos com essa história que li há mui-to tempo, não sei onde, porque espero sinceramente que ela dei-xe, ao menos, uma marca em você.

Tomei a liberdade de adaptar os nomes e locais. Tudo se ini-ciou com a instalação do primeiro telefone da vizinhança naquela pequena cidade:

Profundas marcas

Quando o primeiro telefone da vizinhança foi instalado na minha casa, aquele aparelho preto e brilhante ficava na cômoda da sala. Eu era pequeno para alcançar o telefone, mas ouvia fasci-nado enquanto minha mãe falava com alguém.

Então, um dia eu descobri que dentro daquele objeto morava uma pessoa legal. O nome dela era “Uma informação, por favor” e não havia nada que ela não soubesse. “Uma informação, por favor” poderia fornecer qualquer número de telefone e até a hora certa.

Minha primeira experiência com esse “gênio” aconteceu quando eu estava na garagem mexendo na caixa de ferramen-

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tas e bati em meu dedo com um martelo. A dor era terrível não adiantaria chorar, pois estava só. Eu andava pela casa, chupando o dedo dolorido, até que pensei: “O telefone!!!” Rapidamente fui até o porão, peguei uma pequena escada e coloquei em frente à cômoda da sala. Subi, tirei o fone do gancho e segurei firmemente junto ao ouvido. Alguém atendeu e eu disse: “Uma informação, por favor”. Ouvi uns dois ou três cliques e uma voz suave falou em meu ouvido: “Informações.”

“Eu machuquei meu dedo...”, disse, e as lágrimas vieram facilmente, agora que eu tinha audiência. “A sua mãe não está em casa?”, ela perguntou. “Não, não tem ninguém aqui comigo ago-ra...”, eu soluçava. “Está sangrando?” “Não”, respondi. “Eu machu-quei o dedo com o martelo, mas tá doendo...” “Você consegue abrir o congelador?”, ela perguntou. Eu respondi que sim. “Então pegue um cubo de gelo e passe suavemente no seu dedo”, disse a voz.

Depois daquele dia, eu ligava para “Uma informação, por favor” por qualquer motivo. Ela me ajudou com as minhas dúvi-das de geografia e me ensinou onde ficava a cidade de Salvador. Ela me ajudou com os exercícios de matemática. Ela me ensinou que o pequeno esquilo que eu trouxe do bosque deveria comer nozes e frutinhas.

Então, um dia, meu canário, morreu. Liguei para “Uma infor-mação, por favor” e contei o ocorrido. Ela escutou e começou a fazer aquelas coisas que se dizem para uma criança que está crescendo. Mas eu estava inconsolável. Eu perguntava: “Por que é que os passarinhos cantam com tanta alegria pra gente e, no fim, acabam como um monte de penas no fundo de uma gaiola?”

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Ela deve ter compreendido a minha preocupação, porque acres-centou “João, sempre lembre que existem outros mundos onde a gente pode cantar também...” De alguma maneira, depois disso me senti bem melhor. No outro dia, lá estava eu de novo. “Infor-mações”, disse a voz já tão familiar.

Quando tinha nove anos, nos mudamos para Belém. Eu sen-tia muita falta da minha amiga, “Uma informação, por favor”, que pertencia àquele velho aparelho telefônico preto, e não sentia nenhuma atração pelo nosso novo aparelho telefônico branqui-nho que ficava na cômoda da sala. Conforme crescia, as lembran-ças daquelas conversas infantis nunca saíam da minha memória. Frequentemente, em momentos de dúvida ou perplexidade, eu tentava recuperar o sentimento calmo de segurança que eu tinha naquele tempo.

Hoje entendo como ela era paciente, compreensiva e gentil ao perder tempo atendendo as ligações de um rapazinho.

Alguns anos depois, quando estava indo para a faculdade, meu avião teve uma escala na minha cidade natal. Eu teria mais ou menos uma hora entre os dois voos. Resolvi falar ao telefone com minha irmã, que morava lá, por alguns minutos.

Então, sem nem mesmo sentir, disquei o número da opera-dora e pedi: “Uma informação, por favor”. Como num milagre, ouvi a mesma voz doce e clara que conhecia tão bem, dizendo: “Informações”. Houve uma longa pausa. Então, veio uma res-posta suave: “Eu acho que o seu dedo já melhorou João”. Eu ri. “Então, é você mesma!”. “Você não imagina como era importan-te para mim naquele tempo!” “Eu imagino”, ela disse. “E você não sabe o quanto significavam para mim aquelas ligações. Eu não

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tenho filhos e ficava esperando todos os dias para que você ligas-se”. Contei o quanto pensei nela todos esses anos e perguntei se poderia visitá-la quando fosse encontrar a minha irmã. “É claro!”, respondeu. “Venha até aqui e peça para chamar a Sueli”.

Três meses depois voltei à minha cidade natal para visitar minha irmã.

Quando liguei, uma voz diferente respondeu: “Informa-ções”. Eu pedi para chamar a Sueli. “Você é amigo dela?” “Sou, um velho amigo. O meu nome é João”. “Eu sinto muito, mas a Sueli estava trabalhando aqui apenas meio período porque estava doente. Infelizmente, ela morreu há cinco semanas”.

Antes que eu pudesse desligar, a voz perguntou: “Espere um pouco, você disse que o seu nome é João?” “Sim.” “A Sueli deixou uma mensagem para você. Ela escreveu e pediu para eu guardar caso você ligasse. Eu vou ler pra você.”

A mensagem dizia: “Diga a ele que eu ainda acredito que existam outros mundos onde a gente pode cantar também. Ele vai entender.”

Agradeci e desliguei. Eu entendi...

NUNCA SUBESTIME A “MARCA” QUE

VOCÊ DEIXA NAS PESSOAS.

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Sumário

Luz em meio às trevas _________________________________ 01A teologia alegre ______________________________________ 08A dor e a busca ______________________________________ 18O pecado na árvore, a vida no tronco caído _________________ 24Morro de sede aqui junto à fonte _________________________ 30Tudo tenho, nada sou __________________________________ 40A dor e a alegria na cruz ________________________________ 54Preso com Cristo, liberto por Ele _________________________ 70Próximo da dor, junto de Deus __________________________ 78Celeiros cheios, corações vazios __________________________ 88Doces lembranças ____________________________________ 98Porta da dor ________________________________________ 108Dor e alegria no semear e ceifar _________________________ 122Sofrer, mas perto do céu ______________________________ 130Vida e medo ________________________________________ 138Perdendo, mas ganhando ______________________________ 146“Insignificante”, mas essencial __________________________ 152Dois prazeres: dor e felicidade __________________________ 158O engano __________________________________________ 166Apenas ecos ________________________________________ 178O que Deus quer com isso? Dor? ________________________ 188À margem da família _________________________________ 194Deus e a dor ________________________________________ 202Referências _________________________________________ 213

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Se os nossos olhos em fé se abrirem, jamais veremos a dor apenas como mais um inimigo, mas como uma

etapa a ser vencida em meio à aparente escuridão.

Luz em meio às trevas

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Quero aqui deixar registrado que não é minha intenção filo-sofar sobre amor, sofrimento, saúde ou outras questões tão rele-vantes a nós, seres mortais, pois fazê-lo seria fácil.

Tratar de assuntos como esses, mesmo com toda a profundi-dade que imaginemos ter, pode nos tornar pessoas rasas. Quando feras assim espreitam à nossa porta, jamais estamos preparados para enfrentá-las, vencê-las ou, até mesmo, conviver com elas sem a ajuda do Pai eterno.

No prefácio da sua obra O problema do sofrimento, C. S. Lewis diz que o seu propósito era resol-ver o problema intelectual susci-tado pelo sofrimento e que nunca seria tolo de se considerar quali-ficado para a tarefa elevadíssima de ensinar sobre força e paciência, nem tinha nada que oferecer aos leitores, exceto a convicção de que, quando surge a dor, um pouco de coragem ajuda mais do que muito conhecimento, um pouco de simpatia humana ajuda mais do que muita coragem e um pouco de amor de Deus ajuda mais que tudo.

Por sua vez, a escritora Simone Weil traça um paralelo inte-ressante sobre a dor e a alegria. Ela se refere ao ser humano como um fugitivo do sofrimento e diz que o bem-estar que procuramos ou imaginamos encontrar por aqui e a dor que o acompanha, seja na luz ou na escuridão, embora essa última seja muito mais temerosa, têm ligação direta com a alegria e o sofrimento, de for-ma que jamais daremos bom dia a um sem sermos apresentados

Em raros e peculiares momentos, Deus eximiu os Seus filhos de serem felizes ou de passarem por sofrimen-tos. Em raríssimas exceções, o fogo se fez frio, o leão perdeu a fome, o mar dividiu-se ao meio e os anjos, de forma visível, nos visitaram.

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ao outro. Como ela mesma declara: “o prazer e a dor são um par inseparável.”

Nessa terra, onde os seres humanos buscam, entre um mun-daréu de coisas, dar prioridade à sua satisfação pessoal, se esque-cendo que tanto o sofrimento quanto a alegria fazem parte da vida que nos foi entregue, eles tentam relacionar, na sua insanida-de, que a alegria sempre faz parte do bem e o sofrimento, do mal, dando, assim, asas ao imaginário, que, quase intuitivamente, rela-ciona a imagem do paraíso a um e a imagem do inferno ao outro, levando, ainda que por engano, a crer que um pode perfeitamente invadir a nossa alma, enquanto o outro se mantém imóvel à segu-ra distância. No entanto, isso é impossível, pois, assim como o pecado não pode conviver amorosamente com a santidade, não podemos privar a nossa alma do riso e da dor.

Na oração do Pai Nosso, todas as vezes que dizemos “seja feita a Tua vontade”, estamos concordando com seja lá o que essa petição venha a nos trazer, concordando plenamente com a vontade divina e com tudo aquilo que porventura ela nos trará. Naturalmente, a nossa prece simples e pura não nos trará nenhum malefício ou benefício a mais, pois isso não vai depender apenas de nós. Ela, a nossa prece, “simplesmente expressa” a nossa con-fiança naqu’Ele a quem estamos nos dirigindo, naqu’Ele que é muito maior do que a dor e o sofrimento.

Em raros e peculiares momentos, Deus eximiu os Seus filhos de serem felizes ou de passarem por sofrimentos. Em raríssimas exceções, o fogo se fez frio, o leão perdeu a fome, o mar dividiu--se ao meio e os anjos, de forma visível, nos visitaram.

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A vida que Ele bondosamente nos deu traz, no mesmo embrulho, esses dois presentes, que, ao mesmo tempo em que nos assombram, nos fazem sorrir.

O ser humano, de todas as maneiras, tenta se privar do sofri-mento, até mesmo enganando a si próprio, crendo, ainda que por engano, que aquela situação ruim não existe, não é verdadeira, embora ela seja real no seu convívio social, material ou espiritual e quase nunca nos sobrevenha como um castigo, mas como um desafio de exercício da fé que raramente aproveitamos. E, como o avarento, que, por amor ao seu tesouro, dele se priva, nós, por covardia e medo, nos privamos de crescermos; por medo de viver uma realidade e não sabermos o que nos aguarda o futuro, por não confiarmos no amor de Deus, por não termos consciência de que o futuro não pertence a nós.

Quando a negra noite se aproxima, nos retiramos e, assim, por medo, acreditamos que evitaremos ser amados como um tesouro o é por seu dono avarento; contudo, a graça de Deus, que diariamente é renovada em nosso favor, perpassa esse medo e nos alcança em meio à escuridão.

Deus, assim como está presente, na Santa Ceia, na simples percepção de um pedaço de pão e de um cálice de vinho, pode estar presente no “mal” extremo da dor redentora, que pode até nos sobrevir, mesmo através da cruz. Imaginar que Deus não caminhou conosco em meio às brasas ou, principalmente, sobre elas, é esquecer que por esse caminho Ele passou primeiro; é não lembrar que, antes de ser Leão de Judá, Ele foi cordeiro e cordeiro mudo, sacrificado, diz o Livro Sagrado.

Deus nos dá a sua graça e nos alcança em meio à nossa escuridão.

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Assim, a dor, antes de ser inerente a todos os seres humanos, antes de penetrar neste planeta, apareceu no mais sagrado dos solos. Foi lá, na morada de Deus, que Ele a conheceu. Por isso, não pense que esse caminho é a Ele desconhecido.

Para se viver de maneira piedosa, é preciso amar a vida com tudo o que com ela nos foi dado; só assim não temeremos a mor-te, seja em qual tempo ela chegar.