Dossiê Água

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    Dossie A gua

    Giovana Moraes Suzin e Multi/SP

    Crdito: RICARDO CARDOSO/FRAME Boa parte dos mais de 10 milhes de brasileiros que moram no semirido nordestino esto enfrentando a pior seca de suas vidas. A falta contnua de chuvas desde 2011 tornou esta a mais grave estiagem dos ltimos 50 anos. Muitos nordestinos perderam os meios que tinham para sobreviver e, sem outras alternativas, recorrem ajuda do governo ou decidem deixar suas terras ridas, buscando trabalho bem longe do serto onde nasceram. Tal como os sertanejos, mais de 1 bilho de pessoas no mundo vivem sem acesso quantidade mnima de gua de que necessitam diariamente. A crescente escassez hdrica uma realidade local e global. Resultado de um fenmeno natural e cclico, agravado por falta de polticas pblicas eficientes, a seca castiga o ser humano h muito tempo. Historicamente, diversos conflitos foram travados pelo controle do lquido. Na mente dos artistas

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    Crdito: Lunae Parracho/REUTERS Cemitrios de animais s margens de rodovias e estradas, famlias de retirantes e outros dramas ligados seca fornecem imagens que ilustram atualmente os jornais e a televiso. Algumas delas j integram a memria coletiva nacional e tornaram-se mote de inspirao para artistas nordestinos. A partir dos anos 1930, principalmente, escritores, poetas, pintores e msicos comearam a retratar o drama vivido por grupos expostos s intempries climticas e ao descaso das autoridades. O alagoano Graciliano Ramos descreve no livro Vidas Secas (1938) como a seca responsvel por enfraquecer as perspectivas de vida e submeter a existncia humana condies de escassez, fome e misria. O poeta pernambucano Joo Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina (1955), narra a peregrinao de Severino, que, como o personagem mesmo se descreve, mais um entre tantos outros e morre cada dia um pouco pela fome. Cndido Portinari retrata os retirantes em suas pinturas. O cearense Antnio Gonalves da Silva, poeta conhecido como Patativa do Assar, retrata a dureza do semirido: trabalhou a vida inteira com a enxada, e transformou seu cotidiano em cordis e versos. Causas da seca O msico Luiz Gonzaga comps forrs e baies, ritmos tpicos do Nordeste, que cantavam a bravura do sertanejo e exigiam providncias do governo para atenuar as consequncias da estiagem. Entre suas msicas, est uma que fala do cantarino: um vento forte que sopra noite, cantando e refrescando as terras do serto. Para o nordestino observador, dependendo de quando o cantarino assovia, sua brisa considerada sinal de um ano chuvoso ou seco. Se sopra entre o final de dezembro e janeiro, haver falta de chuvas. Essa foi por muito tempo a forma de o sertanejo fazer a previso para a temporada de chuvas na regio, nos quatro primeiro meses do ano a chamada quadra chuvosa. Hoje, nas observaes feitas por satlites meteo- rolgicos e modernos computadores, os climatologistas atestam que o vento que circula no planeta e como ele chega ao Nordeste resultam diretamente na seca da regio. A escassez de chuva tem origem em lugares distantes e provocada principalmente por mecanismos de circulao de ventos. Na chamada Zona de Convergncia Intertropical (ZCIT), que circunda a Terra prximo linha do Equador, os ventos dos Hemisfrios Norte e Sul se encontram. A massa de ar que chega Regio Nordeste quente e mida, provocando chuvas na regio litornea, onde predomina a vegetao da Mata Atlntica. Mas, quando se movimenta em direo ao interior, j perdeu fora e umidade, e o resultado uma massa quente e seca que estaciona no serto durante longos perodos. Outros fatores que podem provocar chuva, como as frentes frias vindas do Sul do pas, nem sempre atuam na regio. O resultado de tais fenmenos, ao longo de sculos, foi a formao de uma regio com clima semirido, de baixo ndice pluviomtrico anual (pouca chuva), com predominncia da vegetao da caatinga, solo raso e pedregoso e temperaturas elevadas em grande parte do ano. No toa que Euclides da Cunha assim descreve os habitantes dessa parte do Brasil, em sua obra Os Sertes: O sertanejo , antes de tudo, um forte.

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    Alguns fenmenos que ocorrem a grande distncia agravam muito a falta de chuvas no Nordeste, como acontece neste ano. Um deles a temperatura da gua no Oceano Atlntico, nos dois hemisfrios. A diferena de 1 C pode fazer com que a ZCIT se movimente mais para o norte ou para o sul, provocando chuvas e novas correntes de vento em lugares distintos, piorando ou atenuando o perodo de seca. Outro fator o El Nio, que atua a cada dois ou sete anos e pode durar de um a dois anos. Ele provocado tambm por diferena de temperatura nas guas do Oceano Pacfico, interferindo nas massas de ar prximas costa oeste da Amrica do Sul. Polticas pblicas

    Crdito: RICARDO CORREA

    Crdito: sebastiao bisneto/AE A seca um fenmeno natural, mas, quando prolongada, causa graves problemas, como os que atingem agora o serto. Mais de 1 430 municpios declararam estado de emergncia at junho de 2013. So 3,6 bilhes de reais em perdas nas lavouras, em especial em milho e feijo, principais alimentos do sertanejo. A pecuria tambm agoniza: mais de 16% do gado nordestino no sobreviveu sede. H relatos de secas nordestinas desde o incio da colonizao portuguesa na regio. A primeira notcia nos registros vai de 1583 a 1585. A maior da histria pode ter sido a de 1877 a 1879, na qual teriam morrido 500 mil pessoas. A de 1915 inspirou a escritora cearense Rachel de Queiroz a escrever O Quinze, com base em suas prprias

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    experincias. Na seca de 1983, 1 milho de sertanejos se inscreveram no programa de emergncia para receber dinheiro para a construo de audes. Muitos outros emigraram para o Sudeste e engrossaram o trabalho em construtoras e fbricas. A seca atual responde pela perda de 18 mil empregos na regio. Para atenuar o problema, o Estado brasileiro desenvolveu, principalmente a partir do sculo XX, polticas pblicas de combate aos efeitos da seca. O primeiro rgo criado foi o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), sob o nome de Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), em 1909, e que existe at hoje, vinculado ao Ministrio da Integrao Nacional. Seu objetivo executar aes para beneficiar as reas atingidas e fomentar obras de proteo contra as secas e inundaes, como a construo de audes, que permitem tornar perenes rios intermitentes. Entre as maiores obras de engenharia do rgo incluem-se os audes pblicos do Ors e do Castanho, ambos no Cear, e o do Au, no Rio Grande do Norte, todos com capacidade de armazenamento superior a 1 bilho de metros cbicos. Outra ao governamental foi criar uma legislao especfica para a regio, denominada ento de Polgono das Secas, em 1951. Da mesma dcada data a criao da Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), rgo fechado em 2001 e retomado em 2007, com a funo de administrar um fundo de recursos para financiar atividades agrcolas no Nordeste. Na dcada de 1960, o termo indstria da seca foi criado para designar a estratgia de segmentos das classes dominantes que se beneficiavam indevidamente de subsdios e vantagens oferecidos pelo governo federal em funo da seca. Latifundirios se aproveitavam para conseguir gordas ajudas governamentais, como a anistia de dvidas, verbas de emergncia e renegociao de emprstimos. Tais auxlios muitas vezes no beneficiavam a populao mais duramente afetada pela estiagem: o dinheiro pblico acabava migrando para a construo de audes e o desenvolvimento de projetos de irrigao que traziam benefcios apenas para os prprios fazendeiros. No final, tais aes eternizavam os problemas causados pela seca. O atual governo federal investiu mais de 20 bilhes de reais em obras de infraestrutura, como os sistemas coletivos de abastecimento de gua, adutoras para a distribuio das guas das barragens e as prprias barragens, alm da operao de carros-pipa, construo de cisternas e recuperao de poos. A partir da atual seca, o governo intensificou os programas de assistncia tcnica e social, como o financiamento da produo agropecuria, venda subsidiada de milho e distribuio do Bolsa Estiagem, um auxlio financeiro distribudo a agricultores familiares que vivem em municpios em estado de emergncia. Dentre as obras, est a controversa transposio do Rio So Francisco. A previso de gastos de 8 bilhes de reais. Alguns especialistas afirmam que a construo de poos profundos e de cisternas para a coleta de gua da chuva seria uma alternativa mais eficaz e barata para combater a seca. Opositores da obra tambm argumentam que o projeto no alcanar muitas comunidades e beneficiar principalmente os grandes fazendeiros, alm de causar impactos ambientais ainda no bem mensurados no entorno do Velho Chico. Com as obras promovidas na ltima dcada, surge uma nova figura no serto: so os chamados trecheiros, trabalhadores sazonais que vo de construo em construo, conforme a necessidade de seus servios.

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    Muita gua, pouca distribuio No s no imaginrio do sertanejo que os ventos atuam. Em O Tempo e o Vento, obra regionalista da dcada de 1950, o gacho Erico Verissimo aborda a formao do Rio Grande do Sul. O escrito narra como o soprar do vento, ali chamado de minuano, exerce uma influncia perene no dia a dia das famlias Terra, Cambar, Car e Amaral. Como expresso na literatura, o regime de ventos influencia a vida dos seres vivos em todos os lugares. As chuvas, consequncia direta do movimento das massas de ar, alimentam a extensa rede hidrogrfica brasileira, formada por rios com grande volume de gua, e os aquferos ocultos sob o solo. O pas um dos mais ricos em recursos hdricos e abriga 12% de toda a gua potvel do mundo. Esse precioso lquido, porm, no se distribui de maneira uniforme pelo territrio nacional. Cerca de 72% das reservas encontram-se nos rios da Regio Norte, que rene menos de 5% da populao nacional. Em 2013, enquanto os nordestinos pediam chuva para o cantarino, as populaes ribeirinhas dos rios da Bacia do Amazonas torciam para que parasse de chover. No Amazonas, 26 municpios declararam situao de emergncia, incluindo a capital, Manaus: a cheia dos rios afetou mais de 140 mil pessoas no primeiro semestre do ano. No Sudeste, os desafios ligados gua so de outro tipo, relacionados s grandes metrpoles e falta de planejamento e manejo adequado, pois, para se tornarem potveis para uso humano, as guas precisam passar por um processo de tratamento. Como resultado, temos uma conta difcil de fechar. Hipoteticamente, cada morador de Roraima dispe de mais de 1 milho de metros cbicos de gua por ano em seu Estado, enquanto um paulista no tem mais de 2,5 mil metros cbicos, e um pernambucano, 1,1 mil metros cbicos. Isso no significa que cada brasileiro utilize todo esse recurso: essa a quantidade de gua existente em cada estado em relao sua populao. Mas, mesmo em lugares em que h abundncia, muitas vezes a populao no recebe gua tratada. Existem propostas para garantir a oferta de gua a todos os brasileiros, tornando o resultado desse clculo mais igualitrio. Segundo especialistas, a soluo, com propostas adequadas a cada regio, passa por um leque como aes de controle de uso das reservas, monitoramento constante do meio ambiente, planejamento urbano eficiente, investimentos em cisternas, construo de poos e de infraestrutura de distribuio de gua tratada. Um tanto da gua potvel no est luz do sol, mas escondido em aquferos, formaes geolgicas subterrneas. Os especialistas calculam que essas reservas guardam um volume 100 vezes maior que o da gua doce superficial existente no planeta. E o Brasil privilegiado tambm nesse quesito, pois possui 27 aquferos, incluindo um dos maiores do mundo: o Aqufero Guarani, que se espalha sob 1 milho de quilmetros quadrados, pelo subsolo de oito estados do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. O restante est sob os territrios de Uruguai, Paraguai e Argentina. H estudos apontando que o depsito reserva 37 mil quilmetros cbicos de gua, volume suficiente para abastecer, sozinho, a populao brasileira por muitos sculos. Mas ainda difcil ter preciso nos clculos, pois h poucas pesquisas a respeito, e calcular tais reservas uma tarefa complexa, como no caso do Aqufero de Alter do Cho, na Regio Norte.

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    O uso das reservas hdricas do subsolo requer planejamento. Os aquferos abastecem rios e poos, mas, se sua gua for retirada num ritmo mais intenso do que o de reposio natural (que muito lento), o nvel pode descer perigosamente. A poluio tambm ameaa os reservatrios: o Guarani corre risco nos pontos em que a gua aflora naturalmente superfcie. J h sinais de contaminao por esgoto e agrotxicos, que chegam at o subsolo quando jogados por indstrias e fazendas e so absorvidos, particularmente no Rio Grande do Sul e no interior de So Paulo. A presso das cidades A alta taxa de urbanizao do Brasil agrava a desigualdade no acesso gua potvel, tanto pela poluio quanto pelo esgotamento dos mananciais. Para abastecer os cerca de 20 milhes de moradores da Grande So Paulo, por exemplo, a Bacia do Alto Tiet e as Represas Billings e Guarapiranga no so mais suficientes h tempos. A soluo encontrada foi bombear gua de outras bacias, mais distantes. Como consequncia, mais de metade da gua consumida na regio metropolitana da cidade vem da Bacia do Rio Piracicaba, a cerca de 70 quilmetros da capital. Essa transferncia forada de recursos hdricos exerce presso sobre a oferta de gua para os centros urbanos, as indstrias e as plantaes do interior paulista. Um perodo de estiagem maior, s vezes, fora a populao a racionar o consumo. O crescimento desordenado das cidades agrava a dificuldade de acesso a gua em qualidade e em quantidade satisfatrias. A falta de planejamento, com a verticalizao das construes (prdios), sobrecarrega as estruturas j existentes nas ruas, que muitas vezes no suportam a quantidade de gua que agora passa por ali milhes de litros se perdem por vazamento nos canos subterrneos das cidades. Segundo um estudo do Instituto Socioambiental (ISA), as capitais brasileiras perdem, diariamente, quase metade da gua captada durante a distribuio um volume suficiente para abastecer 38 milhes de pessoas. Sozinha, a cidade do Rio de Janeiro joga fora mais de 1,5 milho de metros cbicos por dia o equivalente a mais de 600 piscinas olmpicas. A maior parte desse desperdcio deve-se a vazamentos na rede de distribuio, por excessivo crescimento urbano e a falta de manuteno de uma rede inadequada s novas condies. Loteamentos clandestinos e vias pblicas beira de mananciais e em reas de vrzea, normalmente inundadas pelo fluxo dos rios em perodos de cheia, ameaam as fontes com a poluio por esgoto e lixo, industrial e domstico. Ao mesmo tempo, a grande concentrao de vias pavimentadas e de edifcios de concreto aquece a atmosfera sobre as grandes cidades, criando as chamadas ilhas de calor, que atraem nuvens pesadas e tempestades. O solo impermeabilizado (coberto pelo asfalto ou por construes) no permite que a gua das chuvas penetre at os lenis freticos. Resultado: grandes enchentes durante o vero, perodo de chuvas na regio. Falta no serto, transborda nas metrpoles. A gua um recurso natural barato para o brasileiro. Talvez venha da o desperdcio que ocorre no pas, facilitado pelo descuido do cidado seja lavando uma calada ou deixando a torneira aberta enquanto escova os dentes. Do meio ambiente mesa A gua que sai das torneiras e chuveiros, ou mesmo a que ocupa a garrafinha nos supermercados, s chega at ns porque existe uma rede de captao, distribuio e

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    tratamento. A gua utilizada de diversas formas, no nosso modo de vida atual, nas quais essencial para atender s necessidades humanas em alimentao, moradia e sade. Nem todos os brasileiros tm ainda acesso a gua de boa qualidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), em 2011, apesar de 84% dos domiclios contarem com rede geral de abastecimento, menos de 65% possuem rede de coleta. No Norte, a taxa de 20%. Ainda que distribuda de maneira desequilibrada pelo territrio nacional, h abundncia do recurso vital: estima-se que o Brasil use menos de 10% do total de sua gua doce disponvel. A maior parte desse uso ocorre na agricultura e na pecuria. Tambm em termos mundiais, a agropecuria a maior consumidora dos recursos hdricos: 70% da gua captada no planeta destina-se s plantaes e criaes de rebanhos. A indstria fica com outros 22%, e o uso domstico, com apenas 8%. Mas essas percentagens variam segundo o desenvolvimento de cada nao. Em pases menos desenvolvidos, o volume absorvido pela agricultura pode ultrapassar os 80% da gua consumida, enquanto nos mais industrializados, no passa de 30%. Do ponto de vista econmico, gua e energia esto diretamente relacionadas. No Brasil, a maior parte da energia eltrica proveniente de usinas hidreltricas, consideradas geradoras de energia limpa por usarem a fora da gua. Mas, claro, existem impactos ambientais causados pela construo de represas, como o alagamento das reas vizinhas e as inevitveis mudanas na vida do rio, com alteraes na fauna e flora. Todos os produtos e servios que a sociedade consome de alimentos e computadores a eletricidade e transporte pblico dependem da gua, como matria-prima, para serem fabricados ou realizados. A quantidade de gua usada em cada produto ou servio chama-se gua virtual. O total de gua consumida direta ou indiretamente por um indivduo ou toda uma populao ao longo de determinado perodo recebe o nome de pegada hdrica. A pegada hdrica leva em conta no apenas a gua agregada aos produtos, mas tambm o volume poludo na cadeia produtiva. Quanto mais desenvolvida e industrializada uma nao, maior sua demanda por gua. Esse um conceito fundamental para o desenvolvimento sustentvel, que garante o crescimento econmico e o desenvolvimento social no presente sem comprometer o bem-estar das geraes futuras. Nem todos os pases deixam uma pegada hdrica equivalente disponibilidade de gua em seu territrio. Os pases pobres em gua importam alimentos ou produtos industriais e, com eles, na forma de gua virtual, os recursos hdricos de outras regies da Terra. por esse mecanismo que os chineses, cuja economia cresce rapidamente, afetam indiretamente as bacias hidrogrficas brasileiras quando compram nosso frango. No sentido inverso, os brasileiros consomem parte da gua das bacias chinesas em cada eletroeletrnico fabricado l do outro lado do globo. Uma vez que a agropecuria consome muito mais gua do que a indstria, ao exportar, o Brasil degrada suas reservas hdricas mais do que a China. Mercado da gua A gua considerada um bem natural de direito universal. Porm, a ameaa de escassez hdrica no mundo leva os governos a adotarem, cada vez em maior nmero, polticas de cobrana pela gua. Dentro dessa viso, ela passa a ser uma commodity

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    matria-prima bsica , como petrleo e soja, com padro de qualidade e preos estabelecidos pelo mercado. Vrios pases, como Alemanha, Frana e Reino Unido, j cobram pela gua. No Brasil, a ideia data de 1934 e foi retomada como ferramenta de gesto dos mananciais na Poltica Nacional de Recursos Hdricos, no fim dos anos 1990, com a criao da Agncia Nacional das guas (ANA). No confunda essa cobrana com a conta mensal que chega sua casa: a empresa de guas de seu estado ou municpio cobra pela distribuio da gua e pelo tratamento do esgoto, e no pela gua em si. Mas isso poder mudar. Desde 2003, vrios estados e o Distrito Federal j aprovaram leis que estabelecem a cobrana. O princpio que empresas de abastecimento e saneamento paguem ao governo pela gua captada dos rios e repassem esse custo aos milhes de usurios aos quais ela distribuda. Outros tipos de empresas, dos setores industrial, agrcola e de energia, tambm devem pagar pela gua mas pagar menos, se devolverem a gua limpa aos rios. A cobrana pelo uso da gua nos rios de domnio da Unio, hoje restrita a quatro bacias hidrogrficas, pode se estender ainda em 2013 para as bacias do Paranaba, que banha Minas Gerais, Gois, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal, e do Verde Grande, integrante da Bacia do So Francisco. As bacias interestaduais que j cobram pelo uso dos recursos hdricos so as dos Rios Paraba do Sul, Piracicaba, Capivari, Jundia, So Francisco (que envolve sete estados) e Doce.

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