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LFG – PROCESSO CIVIL – Aula 05 – Prof. Daniel Assumpção – Intensivo II – 12/01/2009 LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA 8. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA Este é o último tópico da teoria geral. 8.1. Conceito de Liquidação de Sentença Liquidar significa determinar o objeto da execução. Para doutrina majoritária (Dinamarco, HTJ), essa determinação do objeto, na realidade, é a fixação do valor da obrigação. Determinar o objeto, portanto, significa indicar o valor da obrigação exequenda. Se você acreditar que a determinação do objeto é a determinação do valor, você já começa a descobrir que a única obrigação que pode ser objeto de liquidação é a obrigação de pagar quantia. Determinação do valor é algo que só interessa a esse tipo de obrigação. E há um indicativo de que essa doutrina majoritária tenha sido recepcionada pela lei no art. 475-A, caput, do CPC, porque esse dispositivo, que é o primeiro que trata da liquidação, justamente fala do valor. Faz expressa menção à fixação do valor como objeto da liquidação: Art. 475-A. Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua liquidação. ( Acrescentado pela L- 011.232-2005 ) Há doutrina séria, como Araken de Assis, que acha que todas as obrigações são liquidáveis: obrigação de fazer, de entregar e de pagar. Mas é uma doutrina minoritária (que entra só na prova discursiva, na prova oral). Essa doutrina entende que a liquidação é mais ampla do que sugere o art. 475-A, do CPC. O Araken de Assis sugere que todas as espécies de obrigação seriam passiveis de liquidação. A discussão, academicamente, é interessante mas, na prática, o que a gente percebe é que as liquidações são para determinar o valor. Excepcionalmente, a gente pode ver uma ou outra para determinar o quê se deve e não o quanto se deve, mas aqui, falou em liquidação, para concurso público, associa com o quantum debeatur, quer dizer, valor. Falou em liquidação, falou em quantum debeatur. 8.2. Títulos Liquidáveis O que você vai liquidar é a obrigação contida no título. O objeto da liquidação é a obrigação de pagar quantia contida no título. Mas a grande pergunta é: quais as espécie de título que podem ter a 78

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LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

8. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

Este é o último tópico da teoria geral.

8.1. Conceito de Liquidação de Sentença

Liquidar significa determinar o objeto da execução. Para doutrina majoritária (Dinamarco, HTJ), essa determinação do objeto, na realidade, é a fixação do valor da obrigação. Determinar o objeto, portanto, significa indicar o valor da obrigação exequenda. Se você acreditar que a determinação do objeto é a determinação do valor, você já começa a descobrir que a única obrigação que pode ser objeto de liquidação é a obrigação de pagar quantia. Determinação do valor é algo que só interessa a esse tipo de obrigação. E há um indicativo de que essa doutrina majoritária tenha sido recepcionada pela lei no art. 475-A, caput, do CPC, porque esse dispositivo, que é o primeiro que trata da liquidação, justamente fala do valor. Faz expressa menção à fixação do valor como objeto da liquidação:

Art. 475-A. Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua liquidação. (Acrescentado pela L-011.232-2005)

Há doutrina séria, como Araken de Assis, que acha que todas as obrigações são liquidáveis: obrigação de fazer, de entregar e de pagar. Mas é uma doutrina minoritária (que entra só na prova discursiva, na prova oral). Essa doutrina entende que a liquidação é mais ampla do que sugere o art. 475-A, do CPC. O Araken de Assis sugere que todas as espécies de obrigação seriam passiveis de liquidação. A discussão, academicamente, é interessante mas, na prática, o que a gente percebe é que as liquidações são para determinar o valor. Excepcionalmente, a gente pode ver uma ou outra para determinar o quê se deve e não o quanto se deve, mas aqui, falou em liquidação, para concurso público, associa com o quantum debeatur, quer dizer, valor. Falou em liquidação, falou em quantum debeatur.

8.2. Títulos Liquidáveis

O que você vai liquidar é a obrigação contida no título. O objeto da liquidação é a obrigação de pagar quantia contida no título. Mas a grande pergunta é: quais as espécie de título que podem ter a obrigação neles contida liquidada? Por isso, “títulos liquidáveis”. Vou começar do óbvio:

a) Título executivo extrajudicial

Não pode ser objeto de liquidação de sentença. Aqui não há nenhuma alternativa. Nesse título, você só consegue executar se a obrigação for líquida. Se a obrigação for ilíquida, você perde a natureza do título. Aquele não é um título executável e você é obrigado a entrar com processo de conhecimento. Você não pode fazer uma liquidação só para determinar o valor. Então, imagine que você tenha um contrato assinado por duas testemunhas. Nós vimos, na aula passada, que isso é um título. Mas é um título que representa uma obrigação ilíquida. Você,

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se quiser cobrar algo relativo àquele contrato, ao inadimplemento, ao atraso no cumprimento, vai ter que entrar com processo de conhecimento. Não há outra alternativa.

E isso, confirma algo que vamos falar ainda hoje. Confirma que a “tal” da liquidação por mero cálculo aritmético é uma pseudo-liquidação. É uma liquidação falsa, é uma liquidação impura. Porque, perceba, o mero cálculo aritmético pode ser feito no título extrajudicial. Essa tal liquidação por mero cálculo que é uma pseudo-liquidação (não é uma liquidação), pode ser feita no título executivo extrajudicial.

Então, perceba, eu tenho que resolver esse aparente impasse: quer dizer, não cabe liquidação de título extrajudicial, mas cabe liquidação por mero cálculo judicial. Como é que pode uma coisa dessas? Muito simples: a liquidação por mero cálculo aritmético não é uma liquidação porque está liquidando o que já é líquido.

b) Sentença

Agora, a liquidação, o próprio nome já entrega: liquidação de sentença. Quer dizer, sentença é o título executivo judicial por natureza. Se você for olhar o rol dos títulos executivos judiciais, vistos na aula passada, o único título que não é propriamente uma sentença é a homologação de sentença estrangeira, que é feita por acórdão. Mas tudo bem, é o paralelo da sentença para uma ação que é de competência originária do tribunal. Não muda nada. Sentença ou acórdão vai dar rigorosamente no mesmo. Mas percebam que os títulos executivos são sentença: sentença civil, sentença penal, sentença que homologa a transação, sentença que homologa o acordo extrajudicial, sentença que compõe o formal e a certidão de partilha no inventário, quer dizer, tudo sentença.

Então, no título executivo judicial, é o campo. O título executivo judicial pode passar por liquidação. É para ele que foi feita a liquidação. A liquidação foi projetada para os títulos executivos judiciais.

Só existe uma polêmica, que é a sentença arbitral. Aí você vai ter parcela da doutrina, por exemplo, o Marinoni, que diz que a sentença arbitral não pode ser objeto de liquidação. Ele exclui do rol dos títulos liquidáveis a sentença arbitral. Diferente do maior especialista em liquidação de sentença do Brasil, que é o professor Luiz Rodrigues Wambier (que tem o melhor livro de liquidação), diz o contrário: a sentença arbitral é tão liquidável quanto a sentença judicial. Você não pode tratar essas duas espécies de sentença de maneira distinta.

Eu queria só que vocês soubessem de algo bastante simples: é muito difícil você ter uma sentença arbitral ilíquida. E isso pela própria natureza da arbitragem. E o que é a arbitragem? Você contrata um terceiro, de confiança de ambas as partes, que é o árbitro para que ele resolva o problema. Dificilmente, portanto, alguém vai ser contratado para resolver o problema pela metade. Ninguém imagina que o árbitro venha e diga: “realmente, aqui, a responsabilidade pelos danos é do réu, mas não vou poder dizer quanto o réu terá que pagar.” Se eu contrato alguém para resolver o meu problema, eu espero dele uma manifestação de an debeatur e de quantum debeatur. Então, a possibilidade de uma sentença arbitral ilíquida é folclórica, surreal. Mesmo porque se o árbitro der uma sentença arbitral ilíquida, a primeira coisa que as partes vão fazer será cobrar dele a liquidação. Mas, percebam, se eu der por pronta e acabada a liquidação e,

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teratologicamente, a sentença arbitral for ilíquida, de duas uma: ou eu deixo liquidar em juízo ou aquela sentença vira um nada jurídico, porque se eu não puder executar porque ela é ilíquida, eu vou ter que entrar com processo de conhecimento. Se eu tiver que fazer isso, eu pego toda arbitragem e jogo no lixo. Se, teratologicamente, acontecer, o ideal é você permitir a liquidação em juízo.

8.3. Vedação à sentença ilíquida

O legislador aqui tenta criar situações em que não exista liquidação de sentença, justamente porque é proibida a sentença ilíquida. Se eu proíbo a sentença ilíquida, automaticamente, estou retirando dessas situações o instituto da liquidação de sentença, simplesmente porque ele seria inútil. Não vai ter espaço e nem necessidade da liquidação nesses casos.

Eu começaria lembrando do art. 459, § único do CPC:

Parágrafo único - Quando o autor tiver formulado pedido certo, é vedado ao juiz proferir sentença ilíquida.

O que eu quero que vocês extraiam daqui: a sentença ilíquida já é excepcional. Ela é uma exceção dentro do sistema porque o art. 459, § único admite a sentença ilíquida somente nos casos de pedido genérico. Significa o seguinte: se o autor fizer um pedido determinado, ou seja, se indicar o valor da sua pretensão, a sentença do juiz tem que ser líquida. Só haverá sentença ilíquida se o pedido for genérico. Pedido genérico é aquele previsto nos incisos do art. 286, do CPC:

Art. 286 - O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular pedido genérico:

I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens demandados;

II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do ato ou do fato ilícito;

III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.

Nesses três incisos, há os pedidos genéricos. Pedido genérico é aquele que não indica o valor da pretensão. Se o autor não indica o valor, o juiz também não é obrigado a indicá-lo na sentença. Se o autor indica um valor, o juiz é obrigado a indicar na sentença. Não que seja o mesmo, mas o juiz tem que indicar. Já há uma tendência porque o pedido genérico é excepcional. Ou seja, se só cabe sentença ilíquida do pedido genérico, a sentença ilíquida é excepcional também. Em regra, o pedido é determinado e a sentença é líquida, não sendo necessária qualquer espécie de liquidação.

Mas o legislador vai um pouco além às vezes e diz o seguinte: em algumas situações, mesmo diante do pedido genérico, ele cria uma obrigatoriedade de prolação de sentença líquida. Ele quebra a regra que ele mesmo fez e diz: aqui, não obstante o pedido ser genérico, o juiz está obrigado a proferir uma sentença líquida. O legislador já tinha feito isso, há muito tempo atrás, no art. 38, § único, da

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Lei 9.099/95. Quer dizer, nos juizado especiais é proibida a prolação de sentença ilíquida há muito tempo, como sempre foi.

Lei 9.099, Art. 38, Parágrafo único - Não se admitirá sentença condenatória por quantia ilíquida, ainda que genérico o pedido.

E mais recentemente, o legislador criou uma nova regra, agora no CPC, que é o art. 475-A, § 3º, que proíbe a prolação de sentença ilíquida:

Art. 475-A § 3º Nos processos sob procedimento comum sumário, referidos no art. 275, inciso II, alíneas ‘d’ e ‘e’ desta Lei, é defesa a sentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for o caso, fixar de plano, a seu prudente critério, o valor devido.

O art. 275 trata do procedimento sumário. Então aqui ele indica duas espécies de ação de procedimento sumário, que é a ação de reparação de dano por acidente em via terrestre e a ação de cobrança de seguro por esse acidente. Nesses dois casos, há a vedação à prolação de sentença ilíquida. Nesses dois casos, mesmo o autor fazendo pedido genérico, o juiz seria obrigado a proferir a sentença líquida.

Art. 275 - Observar-se-á o procedimento sumário:II - nas causas, qualquer que seja o valor: d) de ressarcimento por danos causados em

acidente de veículo de via terrestre;e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos

causados em acidente de veículo ressalvados os casos de processo de execução;

Aí vem a seguinte pergunta, pergunta inevitável: o que acontece quando o juiz não consegue proferir a sentença líquida? Uma coisa é você criar uma obrigatoriedade onde sempre haja condições de cumpri-la. Outra coisa, bem diferente, é você criar uma obrigatoriedade e, eventualmente, o juiz não ser materialmente capaz de cumpri-la. O que acontece quando for impossível ao juiz a prolação da sentença líquida? Quer dizer, o juiz está lá com uma demanda, em que a lei obriga a uma postura, só que é materialmente impossível a sua adoção. Como resolvemos? Por incrível que pareça, há três correntes doutrinárias que tentam resolver essa questão:

1ª Corrente (Araken de Assis) – Tem a seguinte tese: essa norma legal (art. 475-A, § 3º), na verdade, não cria uma obrigatoriedade ao juiz. Ele faz uma sugestão ao juiz. Uma sugestão no seguinte sentido: sempre que possível, nesses casos, profira a sentença líquida. O legislador aqui não estaria obrigando, mas incentivando o juiz: “faça todo o possível para proferir uma sentença líquida porque nós queremos uma sentença líquida. Nos ajude com isso.” E o Araken de Assis completa: “dentro das possibilidades materiais do caso concreto.” Para essa corrente, se não for possível cumprir o artigo legal, sem problema. O juiz está liberado para proferir uma sentença ilíquida.

2ª Corrente (Humberto Theodoro Júnior) – Vai se valer da própria redação do art. 475-A, § 3º para dizer: se não for possível uma sentença líquida, para dizer

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o valor exato da obrigação, o legislador estaria consagrando um juízo de equidade. Ou seja, não é possível se chegar ao valor exato, o juiz deve indicar um valor aproximado, um valor que ele entenda oportuno e conveniência. O juízo de equidade é um juízo fundado na oportunidade e conveniência. Mas de onde o HTJ tirou elementos para chegar a essa conclusão? Como se chega a essa consagração do juízo de equidade? É que no final do art. 475-A, § 3º o juiz fala em prudente arbítrio (Nos processos sob procedimento comum sumário, (...), é defesa a sentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for o caso, fixar de plano, a seu prudente critério, o valor devido). Quer dizer, essa expressão “a seu prudente arbítrio”, é o que leva o HTJ, o Ernani Fidelis dos Santos, a entenderem que o legislador teria consagrado o juízo de equidade. Prudente arbítrio dá ideia de equidade. Eu não sou muito partidário dessa tese porque, para mim, jurisdição contenciosa requer um juízo de legalidade. Juízo de equidade, como bem diz o Código, é só na jurisdição voluntária. Na jurisdição voluntária, você usa o juízo de equidade. Na jurisdição contenciosa, você usa o juízo de legalidade. E aqui estamos no âmbito da jurisdição contenciosa.

3ª Corrente (Alexandre Câmara) - Vê como solução possível para esse impasse o seguinte: se o juiz não consegue fixar o valor (a lei mandou ele decidir, fixando o valor), a conclusão óbvia é que o juiz está diante de uma causa complexa. Se não fosse assim, ele teria totais condições de proferir a sentença líquida. Então, tudo indica que o juiz esteja diante de um caso complicado, de uma causa complexa. Se a causa é complexa, esse é um dos motivos de conversão do rito sumário para o rito ordinário. Você tem outros fatos, outras causas de conversão, mas essa é uma delas: conversão do sumário para o ordinário em razão da complexidade da causa. E aí o Câmara diz o seguinte: a partir do momento que você converter para o rito ordinário, o art. 475-A, § 3º, se torna inaplicável àquele processo porque esse dispositivo faz expressa remissão ao art. 275, ou seja, a processos de rito sumário. Como o processo não é mais de rito sumário, mas agora é de rito ordinário, o juiz está liberado para proferir a sentença ilíquida sem infringir a lei, sem contrariar o art. 475-A, §3º (que faz remissão ao sumário e aqui não é mais sumário).

8.4. Liquidação Provisória

Sempre que você tiver condições para uma execução provisória (e nós já vimos quais condições são essas na aula passada), mas a obrigação contida no título for ilíquida, é óbvio que você não pode começar a execução porque a execução provisória ou definitiva só pode ser iniciada com a obrigação líquida. Então, o que você vai fazer? Vai fazer uma liquidação. Ela é provisória porque o seu título é provisório e aí você entra com a execução provisória. Então, você pode, perfeitamente, ter uma liquidação provisória que precede a execução provisória. Até aí não há novidade.

A novidade que me parece relevante aqui vem prevista no art. 475-A, §2º, do CPC, que vai dizer que a liquidação provisória pode ocorrer, inclusive, além dessa situação que eu trouxe, na pendência de recurso recebido no efeito suspensivo. Notem o seguinte: se o recurso tem efeito suspensivo, você não pode executar provisoriamente, mas você pode liquidar.

Art. 475-A, § 2º A liquidação poderá ser requerida na pendência de recurso, processando-se em autos

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apartados, no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes.

O que acontece nesse caso, na verdade, é o seguinte: o legislador, por opção, evidentemente uma opção ligada ao princípio da celeridade processual (que, aliás, tem sido o principal norteador das últimas reformas), tornou a liquidação de sentença um dos efeitos secundários da sentença. E o que são efeitos secundários da sentença? São efeitos gerados imediatamente com a sua prolação, independentemente da postura recursal das partes. Não deixa de ser interessante porque quando se fala em recurso com efeito suspensivo, o que a gente sempre aprendeu? Que a decisão impugnada não gera efeitos. O recurso com efeito suspensivo é a suspensão dos efeitos da decisão impugnada. Só que esses efeitos secundários são gerados normalmente. Quer dizer, o efeito suspensivo do recurso não consegue impedir a geração desses efeitos secundários. O exemplo clássico de efeito secundário da sentença é o da hipoteca judiciária, do art. 466, do CPC. Você condenou o réu em primeiro grau, ele apelou. Apelação, de regra, tem duplo efeito. Sabe o que você pode fazer? Pode pegar o dispositivo da sua sentença e mandar averbar na matrícula de imóveis do réu. Eu sei que o réu tem um imóvel. Ele foi condenado a me pagar 30 mil reais. Eu pego o dispositivo dessa sentença e mando averbar lá no Cartório de Imóveis, na matrícula desse imóvel.

Art. 466 - A sentença que condenar o réu no pagamento de uma prestação, consistente em dinheiro ou em coisa, valerá como título constitutivo de hipoteca judiciária, cuja inscrição será ordenada pelo juiz na forma prescrita na Lei de Registros Públicos.

E para que se faz isso? Para evitar a alegação de boa-fé do terceiro na fraude à execução. Nós vimos que o STJ protege o terceiro de boa-fé. Mas onde estaria a boa-fé do terceiro em adquirir um imóvel cuja matrícula traz a indicação de uma condenação em primeiro grau? Então, é uma maravilha. Mas o réu pode falar “ah, mas eu apelei e o efeito é suspensivo, estão suspensos os efeitos dessa sentença.” No caso da hipoteca judiciária não suspende. E se ela for ilíquida, você pode fazer a hipoteca judiciária e, concomitantemente, a liquidação. É uma boa notícia num sistema como o nosso, no qual a apelação, como eu já disse, tem, em regra, o duplo efeito. Então o juiz profere uma sentença ilíquida, você tem apelação do réu, mas já pode, concomitantemente com a apelação, enquanto tramita a apelação, você já vai adiantando a sua liquidação de sentença.

Observação: tudo isso é muito bonito, é muito benéfico, adianta o expediente para o lado do exequente, mas tudo isso é baseado na Teoria do Risco-Proveito. Significa dizer que o autor da execução provisória tem responsabilidade objetiva perante o réu. Cá entre nós, a chance de ele gerar dano com uma liquidação é bem menor do que a chance de ele gerar dano com uma execução provisória, porque a execução tem atos materiais de constrição, de invasão do patrimônio. A liquidação é uma atividade cognitiva. O que é a liquidação? É descobrir o valor. É lógico que daí pode gerar algum dano (não estou tirando essa possibilidade), mas que é bem raro se ter dano nesse caso, do que numa execução provisória, não há dúvida.

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8.5. Espécie de Decisão que Julga a Liquidação

Qual é a espécie de decisão que julga a liquidação? A doutrina majoritária (Néri, Leonardo Greco, Scarpinella Bueno, etc.), que é aquela que você vai seguir numa prova objetiva, vai dizer que a decisão que julga a liquidação é atualmente, no sistema brasileiro, uma decisão interlocutória. Só que eles vão lembrar o seguinte: se essa decisão interlocutória fixa o valor da obrigação, se ela declara o valor da obrigação exequenda, ela estará resolvendo o mérito da liquidação. É uma decisão que resolve o mérito da liquidação. Aqui não há grandes celeumas doutrinárias. O mérito da liquidação é o quantum debeatur. Então, sempre que o juiz fixa o quantum debeatur, ele estará resolvendo o mérito da liquidação.

Estou dizendo tudo isso porque a doutrina majoritária afirma que essa é uma decisão interlocutória, mas não é uma decisão interlocutória qualquer. Ela é a gloriosa decisão interlocutória de mérito. O que poderia ser visto como uma anomalia do sistema, quer dizer, a ideia de uma decisão interlocutória pela qual se resolve mérito, hoje, com todas as mudanças pelas quais o CPC passou, já não é visto com tanta reticência. Por que é importante você saber que não é uma decisão interlocutória qualquer, aquela decisão interlocutória que resolve questão incidental? Porque, em regra, a decisão interlocutória é voltada para esse tipo de situação, para solução de questões incidentais (julgar o valor da causa, deferir a intervenção de um terceiro, deferir ou não a prova). Nesse caso, você tem uma decisão interlocutória de mérito. Por que é importante saber que ela é uma decisão interlocutória de mérito, diferenciada? Primeiro porque sendo de mérito, com o trânsito em julgado, ela produz coisa julgada material.

E isso, até certo tempo atrás, seria um verdadeiro sacrilégio, você imaginar coisa julgada material de decisão interlocutória. Você sempre associou coisa julgada material à sentença porque você sempre associou a solução do mérito à sentença. A partir do momento em que o sistema permite que o mérito seja resolvido em interlocutória, automaticamente eu tenho que levar para lá a coisa julgada material.

E outra: desta decisão interlocutória de mérito transitada em julgado cabe ação rescisória. E não sou eu que estou falando. O STJ já tem decisões admitindo a ação rescisória contra decisão interlocutória. Não é esse caso aqui não. Não é decisão interlocutória que julga liquidação. É outra espécie de decisão interlocutória de mérito. Mas já há uma admissão do STJ a esse julgamento da ação rescisória. Interessante porque se você ler o art. 485, caput, que é o artigo inicial da rescisória, ele diz o seguinte:

Art. 485 - A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:

Diz, portanto, que a sentença de mérito é rescindida. O legislador de 1973 nunca imaginou que o mérito pudesse ser julgado em outro lugar que não na sentença. Então, ele coloca lá “sentença de mérito”. Hoje, quando você ler o art. 485, caput, tem que ler assim: “a decisão de mérito, transitada em julgado”. Quer dizer, se é sentença, se é decisão interlocutória, agora já não faz mais diferença. O STJ já sinalizou de que aqui caberia ação rescisória sem problemas.

Onde há uma doutrina majoritária (que é a que você deve seguir numa prova objetiva), também existe uma doutrina minoritária (Fredie Didier, Ernani Fidelis

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dos Santos do TJ/MG). Para essa doutrina, diante do novo conceito de sentença do art. 162, § 1º (o conceito de sentença mudou e gerou uma serie de discussões), a decisão que declara o valor da liquidação é uma sentença de mérito que, no final, acolhe o pedido do autor porque o autor quer fixar o valor.

Art. 162 - Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos.

§ 1º - Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei. (Alterado pela L-011.232-2005)

Quando o juiz declara esse valor, ele estará, nos termos do art. 269, I, do CPC, acolhendo o pedido do autor (já que é justamente essa a pretensão do autor, que o valor seja fixado). Então, aí, você teria uma sentença de mérito.

Art. 269 - Haverá resolução de mérito: (Alterado pela L-011.232-2005) I - quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor;

Só toma cuidado com o seguinte: qual recurso cabível de sentença? Apelação (art. 513, do CPC: “da sentença cabe apelação”). Mas nesse caso, mesmo essa doutrina minoritária (porque a majoritária diz que da decisão interlocutória o recurso cabível é o agravo), diz que é uma sentença. Mas excepcionalmente, é uma sentença recorrível por agravo de instrumento. Vai quebrar o sistema! Vai quebrar o sistema tradicional do art. 513 e do art. 522 (“da decisão interlocutória cabe agravo”). Nesse caso, o que vai acontecer? A opção pelo agravo de instrumento é legal, é do legislador: art. 475-H, do CPC:

Art. 475-H. Da decisão de liquidação caberá agravo de instrumento. (Acrescentado pela L-011.232-2005)

E aí mesmo que você possa discutir as intenções do legislador, aqui você vai usar uma regra de hermenêutica mais velha do que andar para frente. Que regra de hermenêutica é essa? O específico prefere ao genérico. Eu tenho uma regra geral: “sentença cabe apelação” e tenho uma regra específica: “da decisão da liquidação cabe agravo.” Você vai usar a regra específica que prefere à regra geral.

Eu, por exemplo, sou partidário da doutrina minoritária. Eu não consigo aceitar que seja uma decisão interlocutória diante dos novos conceitos de pronunciamento judicial. Mas, jamais, em hipótese alguma, vou defender o cabimento da apelação porque o legislador fez uma opção. E, cá entre nós, não foi a primeira vez que ele fez isso. Quer ver outra? Art. 100, da Lei de Falência:

Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência do pedido cabe apelação.

Cá entre nós, “da decisão que decreta a quebra”, é uma sentença. E cabe agravo de instrumento.

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E como estamos aqui conversando e é bom que vocês tenham o máximo de informação a esse respeito e como é algo relativamente novo, ainda está em pauta nos concursos no campo da novidade, o STJ não admite a fungibilidade quando há indicação específica do recurso cabível. É erro grosseiro. Então, o STJ não aplica o princípio da fungibilidade recursal quando há expressa previsão do recurso cabível. E é erro grosseiro. Então, cuidado, porque se você atravessar uma apelação da decisão que julga a liquidação, você vai ter problema porque o legislador expressamente disse: “eu quero a interposição do agravo.”

Só que é o seguinte, vamos animar! Nem toda decisão da liquidação tem como conteúdo a fixação do valor. O normal é que a decisão fixe o valor da obrigação exequenda, mas nem toda decisão para liquidação tem como conteúdo a fixação do valor. Então, é possível que você tenha uma decisão terminativa. Um vício procedimental insanável que leve o juiz a proferir uma decisão terminativa.

Uma outra situação interessante: a doutrina e a jurisprudência admitem que o juiz reconheça, na liquidação, a prescrição e a decadência. É uma medida de economia processual. Imagina que você, juiz, está fazendo uma liquidação e percebe que aquele direito de crédito prescreveu. Você não vai perder o seu tempo fazendo toda a atividade necessária para se chegar a um valor, sabendo que aquela execução está prescrita. Então, por uma razão de economia processual, eu adianto uma matéria que, em tese, eu só deveria conhecer na execução, para a liquidação. E o juiz extingue a liquidação por prescrição e decadência.

Por que eu fiz essa observação? Porque eu quero mostrar para vocês que, nesses casos aqui, a razão de ser do art. 475-H desaparece. Você é um intérprete do texto legal. Não pode imaginar que basta ler o texto legal. Você tem que entender por que ele foi formulado daquela maneira. Você sabe por que cabe agravo de instrumento da decisão que fixa o valor? Porque o processo continua. Simples assim. Fixado o valor, o processo continua, agora na sua fase de execução. Então, o legislador pensou o seguinte: vem a liquidação, fixa-se o valor. Se eu deixar apelarem dessa decisão, a fase de execução só vai começar depois de a apelação ser julgada. Primeiro porque a apelação tem duplo efeito e, mesmo que você tire o duplo efeito, você vai ter um problema instrumental, porque a apelação vai fazer os autos subirem ao tribunal. Então, o legislador imaginou o seguinte: vai para a liquidação, fixa o valor e já vai para a execução. E qual é o jeito mais fácil disso acontecer? Agravo de instrumento.

Só que aqui você não vai para a execução nenhuma. Esse tipo de decisão põe fim ao processo. São decisões que extinguem o processo na fase de liquidação (pouco importa). Eu estou sugerindo que, nesses casos, é plenamente defensável a ideia de que você tenha uma sentença recorrível por apelação. Nesses casos, você pode trabalhar fora do art. 475-H. Se perguntarem como é que você chegou à conclusão, é simples: cabe agravo quando o processo continua. Quando o processo se encerra, não há razão para você mascarar a realidade (que é uma sentença). É uma sentença que reconhece a prescrição e a decadência (art. 269, IV, CPC), é uma sentença de mérito e aqui o recurso cabível seria a regra geral, o recurso de apelação.

8.6. Natureza Jurídica da Decisão que Fixa o Valor da Obrigação Exequenda

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Percebam: espécie de decisão é: interlocutória ou sentença. Então, há aquela discussão, a maioria acha que é interlocutória; a minoria acha que é sentença. Agora nós vamos ver a natureza jurídica. E aqui há uma discussão doutrinária.

Doutrina majoritária – Para uma parcela da doutrina (e eu me arrisco a dizer que é a majoritária: Dinamarco, HTJ e outros), a decisão que fixa o valor é meramente declaratória. A natureza jurídica é meramente declaratória. Eles entendem que o valor já consta do título. Os elementos do título já lhe dão à possibilidade de chegar ao valor da obrigação. Eu consigo, dos elementos do título, chegar ao valor da obrigação. Então, na verdade, o que acontece é o seguinte: o juiz não cria um valor. Ele apenas declara um valor que sempre existiu e já estava no título. Já decorria do título. Era um valor que sempre existiu e que decorria do título. Então, a decisão não cria nada. Apenas afasta a insegurança jurídica quanto ao valor. Não havia certeza de qual era o valor. A decisão, ao declarar o valor, traz a certeza jurídica do valor.

Doutrina minoritária – Isso não desanima uma doutrina minoritária (Néri) que afirma que essa é uma decisão constitutiva. Decisão constitutiva é aquela que cria uma nova situação jurídica. E, para o Néri, que nova situação jurídica é essa? É a admissibilidade do desencadeamento dos atos executivos. Em outras palavras, antes da liquidação, não era possível executar o título. Quer dizer, a situação jurídica era de inexecutabilidade. E agora é de executabilidade. Houve uma mudança na situação jurídica, justamente, em decorrência da decisão de liquidação.

As duas correntes acabam se reunindo para dizer o seguinte: seja pela mera declaração, seja pela constituição da nova situação jurídica, a função dessa decisão de liquidação é integrar o título executivo. E se entende de maneira muito clara o que isso significa: o título executivo vai te dar o an debeatur. Só que, perceba: somente com o an debeatur o título está incompleto. E o que vem a complementar esse título? A decisão da liquidação, seja declarando, seja constituindo, isso não interessa. Acaba indicando o quantum debeatur. Então, a ideia de complementar o título, de integrar o título, de completar o título é bastante tranquila, seja na doutrina declaratória, seja na doutrina constitutiva.

8.7. Liquidação como Forma de Frustração da Execução

Ouvir isso pode assustar num primeiro momento. É óbvio que essa é uma situação excepcional porque a liquidação é feita para preparar a execução. Se tudo der certo, se tudo for como programado, a liquidação serve para preparar a execução. Eu não tenho o valor, faço a liquidação e, obtendo o valor, vou para a execução, sem muito segredo. Mas, excepcionalmente, você, fazendo a liquidação, você frustra a execução do detentor do título. Existem duas principais hipóteses que eu quero que você lembre. Nós vimos uma já agora: se o juiz reconhecer a prescrição/decadência, a liquidação frustra a execução. Já foi uma hipótese que vimos há pouco. O juiz vai uma sentença de mérito, que faz coisa julgada material. Você nunca mais vai poder reclamar. Então, é óbvio. Mas vou até colocar:

a) Quando há prescrição e decadência

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Isso nós já vimos, mas vamos colocar aqui de novo. É uma frustração e uma frustração definitiva. Você nunca mais vai executar aquele título. Pode ter certeza. Porque o reconhecimento da prescrição/decadência vai produzir uma sentença de mérito que vai gerar coisa julgada material e acabou para você.

b) Liquidação de valor zero

Essa é uma possibilidade mais folclórica, típica de concurso público. A primeira dificuldade que você vai enfrentar nessa liquidação é a seguinte: sendo a liquidação de valor zero, haverá uma ofensa à coisa julgada da sentença condenatória? Quer dizer, declarar que o réu deve zero ofende a decisão que condenou o réu a pagar? Percebam, aqui você tem que saber o seguinte: inexistência de obrigação é diferente de obrigação de pagar zero. Se você não se convencer disso, a liquidação de valor zero ofende a coisa julgada. Se você disser que pagar zero é a mesma coisa de não dever, então, eu não posso, jamais, ter uma liquidação de valor zero. Se já há uma condenação dizendo que o réu deve, eu não poderia declarar que o valor é zero. Mas há uma diferença porque a inexistência da obrigação é o nada. E o nada é diferente do zero.

E quem diz isso não sou eu. É a matemática. Eu estava assistindo a TV Justiça, um julgamento no STF e o Aires Brito, no seu voto, mencionou uma tese acadêmica da Universidade de Princeton, Harvard, de um matemático em que a tese dele era mostrar que o nada era diferente do zero porque o zero, afinal, já era alguma coisa. E matematicamente falando, tanto fez, que conseguiu provar. Interessante porque no direito isso tem alguns reflexos bastante relevantes.

Quem estuda direito tributário sabe bem que uma coisa é a alíquota zero e a outra coisa é a isenção tributária. Isenção tributária é a não obrigação. Alíquota zero é a obrigação de recolher zero. Para o âmbito tributário há diferenças significativas da alíquota zero e da isenção. Aqui, é mais ou menos a mesma coisa: eu tenho uma decisão que condena o réu a pagar e tenho uma outra que declara que o valor a pagar é zero. Percebam, não há contrariedade entre uma e outra. É óbvio (?) porque declarar a obrigação, invariavelmente, a obrigação vai ter algum valor. Tem doutrinador que até apela: “se o juiz realmente entende que o valor é zero, que dê algum valor só para justificar.” Não dá! Se o valor é zero, apesar de teratológico, o juiz tem que indicar o valor zero. E não tem nenhum problema. Se você reconhecer que o nada e o zero são diferentes, você fica muito confortável em defender a execução do valor zero.

Um outro exemplo para você entender que a não obrigação e a obrigação de pagar zero são coisas diferentes: o sujeito é condenado a pagar alimentos. Depois de um ano pagando alimentos (ele tem a obrigação de pagar alimentos decorrente de uma condenação judicial), ele perde o emprego, perde sua fonte de renda. E, ao mesmo tempo, o alimentado ganha na loteria. Já não há mais possibilidade de pagar e nem a necessidade de receber. E fica 2 anos sem pagar. Depois de 2 anos, o alimentante retoma o emprego e o alimentado gasta todo o dinheiro que tinha ganho na loteria. Pergunta: eu vou precisar condenar de novo o sujeito a pagar alimentos? Não. A obrigação dele nunca deixou de existir. Durante dois anos, a obrigação dele era de pagar zero. Se a obrigação de pagar zero é sinônimo de não obrigação, para que ele volte a pagar, eu teria que condená-lo de novo. Mas eu não vou precisar fazer isso porque nunca deixou de existir a obrigação de pagar, só

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que durante algum tempo a obrigação foi de pagar zero. Zero e nada são diferentes.

O importante da liquidação de valor zero a ser lembrado: não era o esperado pelo autor. Mas o fato é que o juiz declarou que o valor é zero. Se o juiz fez isso, declarou o valor, você está diante de uma decisão de mérito, para a maioria uma decisão interlocutória, para a maioria uma sentença, mas o que interessa é que você está diante de uma decisão de mérito que faz coisa julgada material. Essa, novamente, como ocorre na prescrição e na decadência, é uma frustração definitiva da execução. Essa decisão acarreta uma frustração definitiva da execução.

c) Ausência de prova

Essa terceira hipótese de liquidação como frustração da execução é muito polêmica, que é a questão referente à ausência de prova. Para fixar o valor na liquidação, o juiz vai precisar de provas referentes ao valor. Aí vem a pergunta: e se faltarem essas provas? E se o juiz não conseguir aferir o valor pela ausência de provas? Ele precisa da prova para chegar a um valor. Se ele não tem prova, o que acontece? Isso é bem polêmico e não vou colocar corrente majoritária ou minoritária dessa vez.

Você vai encontrar uma corrente doutrinária do Araken de Assis, do Ministro Zawascki, resolvem da seguinte forma: para eles, tudo se resolve com a aplicação da regra do ônus da prova. De quem é o ônus de provar o valor da obrigação? Do autor da liquidação. Cabe a ele o ônus de provar o valor. E para essa corrente, se faltar a prova necessária, o juiz aplica a regra do ônus da prova e se o ônus era do autor e se ele não se desincumbiu desse ônus, o juiz julga a liquidação improcedente. O pedido do autor é para a fixação do valor. Nesse caso, o juiz vai rejeitar o pedido dizendo: eu rejeito o seu pedido para fixar o valor porque eu não tenho prova suficiente para fazê-lo. Uma decisão de improcedência, nesse caso, é uma decisão de mérito. É uma decisão de mérito que produzirá coisa julgada material. Para essa corrente doutrinária, é mais uma hipótese de frustração definitiva.

Mas existe uma outra corrente doutrinária (Dinamarco, HTJ), que dá uma solução bem excepcional dentro do nosso sistema processual, mas ela sugere que, nesse caso, o juiz deve declarar o non liquet. Em outras palavras, o juiz deixa de decidir. Non liquet significa isso: o juiz deixa de decidir. O importante nessa corrente doutrinária é que, como o juiz deixa de decidir, não há prova necessária, não há os elementos necessários para resolver, significa que é uma decisão terminativa. Deixar de decidir é decisão terminativa. Por isso que, na prática, a decisão entre essas duas doutrinas é muito importante. É uma decisão terminativa. E isso significa que não há coisa julgada material. A decisão terminativa não produz coisa julgada material. E, na prática, isso significa que a liquidação pode ser reproposta. Então, o autor entrou com a liquidação, o juiz declarou non liquit, disse que não havia prova necessária, no dia seguinte, o autor pode entrar com nova liquidação. E aí, a expectativa é que ele consiga produzir a prova necessária.

8.8. Natureza Jurídica da Liquidação

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Aqui, a doutrina majoritária (em liquidação é difícil ter uma certeza), Marinoni, HTJ, a maioria dos doutrinadores, vem entendendo o seguinte: a liquidação de sentença passou, com as reformas processuais, a ter natureza de mera fase procedimental dentro da ideia do sincretismo processual que vem sendo adotado pelo sistema processual brasileiro. E, com isso, fica fácil entender por que a liquidação não é mais um processo autônomo. Não existe processo de liquidação. Liquidação é sempre uma mera fase procedimental. Houve épocas em que a liquidação era, às vezes um processo, e às vezes uma fase procedimental. Hoje, a ideia é que ela seja sempre uma mera fase procedimental. Mas isso está previsto na lei? A doutrina tirou isso de uma previsão legal? Não. Na verdade, o que a lei dá são indícios de que não exista mais um processo de liquidação. A lei não vai te dar mastigado, não vai te dar pronto. O que ela vai fazer é colocar indícios de que não há mais processo de liquidação. Não há mais um processo autônomo de liquidação. O que existe, nesse caso, é sempre uma mera fase procedimental. Onde estão esses indícios? Dois deles no art. 475-A, § 1º:

Art. 475-A, § 1º Do requerimento de liquidação de sentença será a parte intimada, na pessoa de seu advogado.

Primeiro indício : como começa uma liquidação de sentença? Qual é o ato processual inaugural de uma liquidação de sentença? É o requerimento do autor. Se fosse um processo de liquidação, seria uma petição inicial, porque processo de liquidação começa por petição inicial.

Segundo indício : o réu é intimado na liquidação. Se você tivesse diante de uma inicial, haveria a citação do réu.

Terceiro indício : Art. 475-H, do CPC, que, para a doutrina majoritária, como vimos, ao indicar o recurso de agravo de instrumento da decisão que julga a liquidação, acabou tornando essa decisão, uma decisão interlocutória. E é a posição majoritária (não é a minha particular, mas é a majoritária). Se a liquidação fosse um processo autônomo, que tipo de decisão a resolveria? Uma sentença, porque a decisão que resolve um processo é a sentença recorrível por apelação. Ao dizer que aqui você tem uma decisão interlocutória recorrível por agravo, o legislador, na verdade, estaria dizendo: é uma mera fase procedimental.

Art. 475-H. Da decisão de liquidação caberá agravo de instrumento. (Acrescentado pela L-011.232-2005)

Observação importante: no Art. 475-N, § único, do CPC, um dispositivo que já foi analisado em aulas passadas, você tem três espécies de título executivo judicial (penal, arbitral e homologação de sentença estrangeira). O art. 475-N, § único, diz o seguinte: quando você tem um título desses, ilíquido, você vai ter que iniciar um processo pela liquidação.

Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução, conforme o caso.

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Nesse caso, tem que ficar esperto e lembrar do seguinte: nesse caso, a liquidação vai ter petição inicial (não vai começar por mero requerimento) e vai ter citação do réu. Ela não perde a natureza de fase procedimental. Porque, nesse caso, ela continua tendo fase procedimental, mas passa a ser a primeira fase procedimental de um processo sincrético. Eu vou ter a fase de liquidação, que vai ser a primeira, chega-se ao quantum debeatur e faz-se o cumprimento de sentença (que vai ser a segunda fase). Quando a gente fala que a liquidação é fase procedimental, a estrutura que a gente imagina é: em regra, a estrutura que a gente imagina é a seguinte: fase de conhecimento (e aí vem a sentença ilíquida), aí você faz uma fase de liquidação (chega ao valor) e aí você vai para a fase do cumprimento de sentença. Essa é a estrutura tradicional: conhecimento, sentença ilíquida. Liquida, vai para o cumprimento de sentença. Nos casos do art. 475-N, § único, não há essa fase de conhecimento porque já há o título. É um título feito por arbitragem, feito na esfera penal, feito por homologação de sentença estrangeira, mas não interessa: já é um título. Então, na verdade, eu começo daqui, mas isso não torna a liquidação um processo autônomo. Ela simplesmente vai ser a primeira fase de um processo sincrético. Geralmente, é fase intermediária. Mas nesse caso excepcional, ela vai ser uma fase inicial.

(Intervalo – 01:28:00) 8.9. Legitimidade na Liquidação de Sentença

Como funciona a legitimidade na liquidação de sentença? Quando você pensa em legitimidade ativa, o primeiro sujeito que deve vir à sua cabeça é o credor porque o credor tem o direito a receber. Ele tem o interesse de cobrar, para exercer o direito de receber. Mas ele sabe que, para receber, ele precisa fixar o quantum debeatur. Então, basicamente, tudo se acerta. O credor quer receber, entra com a liquidação para se chegar ao quantum debeatur e aí a legitimidade passiva fica a cargo do devedor e a estrutura tradicional é essa.

Só que tem um porém. O devedor também tem o direito de quitar sua obrigação. É interessante porque quando a gente pensa em quitação da obrigação, sempre pensa pelo aspecto do dever. O devedor tem o dever de quitar a sua obrigação. Mas ele também tem o direito de quitar. Ele pode querer se ver livre daquela obrigação. Mas para quitar a obrigação, eu preciso do valor. Apesar de improvável, não é impossível que o devedor assuma o polo ativo, colocando o credor no polo passivo. Não há nenhum empecilho. Então, na realidade, tanto o credor quanto o devedor podem ser, tanto autor, quanto réu.

A única indicação interessante que eu acho aqui é o seguinte: quando o autor é o credor, você tem uma liquidação seguida de uma execução, que é o tradicional. O credor liquida, descobre o valor e executa. Mas quando você tem uma liquidação pelo devedor, você não pode se animar. O devedor não pode entrar com a execução. Em boa hora o art. 570, do CPC, foi revogado porque, por incrível que pareça, esse dispositivo previa exatamente isso: uma execução proposta pelo devedor, que sempre virou surrealismo. Se eu sou devedor e quero pagar, não sei quanto devo, descobri quanto devo, nem assim o credor quer aceitar. O que faço? Uma consignação em pagamento. Nesse caso, o devedor faz uma liquidação seguida de uma consignação em pagamento. Quer dizer, o instrumento processual depois da liquidação vai mudar, a depender de o autor ser o credor ou devedor. O credor executa, o devedor consigna. Mas para fins de liquidação, percebam que tanto faz, pode ser tanto um quanto outro.

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8.10. Competência da Liquidação de Sentença

Mais um tema onde a doutrina não é unânime.

Doutrina majoritária (Fredie Didier, Abelha Rodrigues) – Os doutrinadores que compõem a doutrina majoritária entendem que existe uma competência funcional do juízo que formou o título ilíquido. Competência funcional é espécie de competência absoluta. Então a ideia de que obrigatoriamente que formou o título ilíquido será o competente para liquidar este título.

Doutrina minoritária (Nelson Néri) - Perceba que uma doutrina minoritária vai entender que você deve fazer uma aplicação por analogia, já que esse dispositivo não é para liquidação de sentença, ao art. 475-P, § único, do CPC.

Art. 475-P, Parágrafo único. No caso do inciso II do caput deste artigo, o exeqüente poderá optar pelo juízo do local onde se encontram bens sujeitos à expropriação ou pelo do atual domicílio do executado, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem.

Essa é uma regra do cumprimento de sentença. É uma regra que vimos juntos, do cumprimento de sentença. Para o Néri, ao aplicar por analogia, eu poderia liquidar a sentença no juízo atual, no foro do local dos bens do executado e no foro do local do domicílio do executado. Quer dizer, o autor da liquidação teria essas escolhas, o que, de cara, já transforma essa competência em relativa. Se realmente o autor tem todas essas escolhas, se existe escolha para o autor, você está diante de uma competência relativa.

Por que não parece correta a posição do Néri? É a velha historia, ser você quer aplicar uma regra por analogia, você tem que entender a razão de ser dessa regra. Por que eu posso sair do juízo atual e executar o executado no local dos bens dele? Porque a execução é voltada a atos materiais de satisfação. Ir até o local dos bens é facilitar a prática dos atos. Eu saio de onde estou e vou para onde está o executado porque vai ser mais fácil praticar os atos materiais de execução. Mas na liquidação de sentença não existem atos materiais de execução. A liquidação de sentença é atividade intelectual, cognitiva. O juiz vai, simplesmente, analisar o valor da obrigação. Não tem ato material nenhum aí. Resumindo: por que você não aplica por analogia? Porque a regra serve para facilitar os atos materiais de execução que não existem na liquidação de sentença. Tem que ver a ratio da norma, principalmente quando você se aventura a fazer aplicações por analogia.

Certamente vocês já viram isso, na aula específica de tutela coletiva, mas só para não passar em branco. Quando você tem uma sentença coletiva, vamos imaginar uma sentença de direito individual homogêneo que favorece 500 pessoas. Cada um desses titulares vai ter que fazer a sua liquidação própria e a sua execução. Qual é a competência para essas liquidações individuais da sentença coletiva? O foro do domicílio do liquidante. Aí não há essa vinculação obrigatória entre quem formou o título e quem liquida. A competência é do foro do domicílio do liquidante, que é o indivíduo. Vamos imaginar uma sentença proferida na comarca de SP e você tenha beneficiados espalhados por todo Estado. O sujeito

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domiciliado em Bauru vai pegar essa sentença proferida em SP e vai liquidar em Bauru. Acaba sendo uma exceção à regra de competência funcional, de competência absoluta.

8.11. Espécies de Liquidação

a) Liquidação por mero cálculo aritmético

Vamos começar por essa, até por uma questão de cronologia do CPC. Não é propriamente uma liquidação, é uma pseudo-liquidação, mas tem alguns problemas procedimentais que vamos ter que enfrentar.

Não precisa ser muito perspicaz para perceber que essa liquidação é aquela que depende da apresentação de um memorial descritivo de cálculos. O autor da execução entra com a petição inicial ou com o requerimento inicial (porque aqui vai valer tanto para título judicial, quanto extrajudicial) e já instrui essa peça inicial (seja a petição, seja o requerimento) com o descritivo de cálculos. Perceba o seguinte: quem faz o cálculo é o credor unilateralmente. Quem chega ao valor da execução é o credor, unilateralmente. É claro que ele deve, dentro da legalidade, chegar ao valor estabelecido pelo título. Mas o fato é que quem faz a conta é o credor. Esse mero cálculo aritmético quem faz é o credor. Por isso, não é liquidação. A liquidação é um procedimento que vem antes da execução. Nesse caso, a execução já correu. O que veio antes dessa execução? O cálculo que o cara fez lá no escritório do advogado dele. Ou seja, não houve um procedimento prévio à execução. Quer dizer, a liquidação sempre vem como um procedimento prévio, daí vem a execução. Aqui, não. Então, não é uma liquidação propriamente dita, mas ela gera alguns problemas práticos interessantes.

Primeira questão problemática interessante: o art. 475-B, §§ 1º e 2º, do CPC, prevê a seguinte situação: imagine que os dados necessários para a elaboração dos cálculos estejam em poder do terceiro ou do executado. Na verdade, basta o cálculo. Por um mero cálculo aritmético, você resolve o seu problema, mas você não tem como fazer esse cálculo porque os dados necessários não estão com você, mas estão em poder de um terceiro ou do próprio executado. E aí? Aí você vai pedir a exibição incidental desses dados em juízo. O CPC diz que quando você pede essa exibição, o juiz já deve fixar um prazo de até 30 dias para que a exibição ocorra. Isso está no § 1º. O prazo de até 30 dias para que seja cumprida essa diligência.

§ 1º Quando a elaboração da memória do cálculo depender de dados existentes em poder do devedor ou de terceiro, o juiz, a requerimento do credor, poderá requisitá-los, fixando prazo de até trinta dias para o cumprimento da diligência.

§ 2º Se os dados não forem, injustificadamente, apresentados pelo devedor, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados pelo credor, e, se não o forem pelo terceiro, configurar-se-á a situação prevista no art. 362.

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E um detalhe óbvio. O código não prevê. É um doutrinador que fala isso, o Marinoni. Fala o óbvio. Eu não posso obrigar alguém a exibir algo em juízo sem lhe dar antes oportunidade de reação. É o princípio do contraditório. Então, eu não posso, diante de um pedido do exequente, já determinar, sem ouvir ninguém, a exibição. Então, a ideia é que, antes de determinar a exibição, o juiz dê um prazo de 5 dias para que o terceiro ou o executado se manifeste sobre o pedido. Isso não está previsto no código, mas é questão constitucional: princípio do contraditório.

Então, a cronologia dos acontecimentos seria a seguinte: pedido, intimação, 5 dias de prazo, e aí se o juiz entender cabível o dever de exibir, ele dá até 30 dias. O código passa longe de dizer isso. Segundo o código, eu peço e ele já manda. Mas aqui, não dá. Você tem que respeitar o contraditório. Vamos ouvir o que o sujeito tem a dizer.

Mas vamos supor que superada essa fase, venha a exibição. Aí vem um segundo problema: o que acontece diante da não exibição conforme determinada pelo juiz? Ultrapassado esse procedimento prévio, se o terceiro ou executado levar os dados ao juízo, o exequente pega os dados, faz os cálculos e o problema acabou. E se não houver a exibição? Aí a lei dá soluções diferentes, a depender de quem é o sujeito que não exibe.

Se a não exibição decorrer do executado – A legislação cria uma presunção de correção do cálculo apresentado. O que já vai exigir uma ginástica de hermenêutica porque não existe cálculo apresentado. O legislador diz: “se não houver exibição, presume-se correto o cálculo apresentado.” Que cálculo? O exequente está pedindo os dados justamente para fazer o cálculo. Vamos tentar salvar: pediu a exibição, não veio. Oe executado não exibiu os dados, aí o exequente elabora os cálculos com o que ele conseguir (de forma aproximada, equitativa) e se opera a tal da presunção de correção. A vida prática é mais cruel do que os livros. Por vezes, o exequente simplesmente não tem condições nenhuma de fazer os cálculos sem os dados. Exemplo típico: ações desses planos econômicos (Bresser, Verão, etc.). na hora de liquidar, ele precisa dos extratos de conta-poupança de 20 anos atrás. Se ele não tiver os extratos, ele não tem como fazer os cálculos. Aí o banco é chamado a exibir em juízo. Ele diz que não tem, que perdeu. Como é que o exequente faz os cálculos? No papel é bonito. O exequente peticiona e diz que não tem ideia de onde começar. E o juiz diz que também não tem. E fica num impasse desgraçado. Então, na prática, a solução não é tão simples como sugere o legislador. Mas, em tese, a ideia é de que se você não tem todos os elementos, você tem algum elemento mínimo, algum indício que possa permitir o cálculo. Não vai ser um cálculo exato, mas algum cálculo vai estar lá. E aí começa uma discussão de consequências práticas inegáveis. Os cálculos serão presumidos corretos (cálculos apresentados pelo exequente e, na melhor das hipóteses, de valor aproximado, quando não for um chute absolutamente aleatório) e qual é a natureza dessa presunção?

1ª Corrente – Aí você vai ter uma corrente doutrinária que me parece, disparado a mais lúcida (Zawascki, HTJ), que vão dizer que essa é uma presunção relativa. Eu acho até que é a doutrina majoritária. O que significa dizer que o executado pode impugnar o valor. É verdade que aquilo só ocorreu pela omissão do executado. Mas mesmo assim, o executado, em embargos, na impugnação, poderá impugnar o valor dessas contas.

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2ª Corrente – O que não acreditam que possa acontecer o Néri, o Alexandre Câmara. Eles acham que a presunção é absoluta. O que significa dizer que o valor se torna imutável e indiscutível. O valor das contas apresentadas torna-se imutável e indiscutível (presunção absoluta!). O problema desse entendimento é que omissão processual não pode criar direito material. É uma regra básica de direito. Não há dúvida de que houve uma omissão. Não há dúvida de que eu não estou feliz e ninguém deve estar feliz com o executado eu foi malandro, foi safado, mas aí dizer que essa omissão dele cria um direito de crédito ao credor, isso não existe. Se o meu título executivo me dá um direito de 10, não é a omissão do executado que pode transformar o meu direito de crédito em 50, porque a omissão dele estaria criando um direito a 40 que não existe. É um direito material inexistente. Eu preciso ser fiel ao título. Se se descobrir numa defesa do executado (seja impugnação, seja embargos) que o valor não é o apresentado, o juiz é obrigado a manter a fidelidade ao valor do título.

Se a não exibição for fruto do ato do terceiro – Aí não se pode presumir como correto porque, em tese, a presunção de correção prejudica o executado. E o executado aqui não teve nada a ver com isso. Então, podemos fazer uma busca e apreensão do bem. Haverá aqui um crime de desobediência, segundo a disposição legal. E, apesar do código expressamente não indicar, o juiz também poderá aplicar, nesse caso, as Astreintes. “Ah, Daniel, mas a Súmula 372, do STJ, diz que não cabe Astreintes na ação cautelar de exibição de documento.” Mas aqui a súmula não é aplicada porque dizer que não cabe Astreinte na cautelar de exibição de documento é, na verdade, voltada à omissão do réu na cautelar de exibição. Quer dizer, eu entro com uma cautelar contra o réu e o réu não exibe. Aí eu presumo verdadeiros os fatos que eu queria provar com a exibição. É a velha história: o réu não fez, ele é prejudicado. Percebam que aqui não foi a parte contrário que não fez. Foi o terceiro. Não tem nada a ver com a parte contrária. Então, você pode entrar com a busca e apreensão e aplicar as Astreintes. Não tem problema nenhum. Tudo para que os dados cheguem às mãos do exequente.

Outro probleminha: agora, o art. 475-B, § 3º.

475-B, § 3º Poderá o juiz valer-se do contador do juízo, quando a memória apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da decisão exeqüenda e, ainda, nos casos de assistência judiciária.

O que eu vou colocar agora, é bom que vocês entendam, é algo excepcional. É absolutamente excepcional. Em regra, isso não vai acontecer. O que é excepcional? A remessa do processo ao contador judicial. Em regra, não vai para o contador. Somente em duas hipóteses, o juiz pega a sua inicial (petição, requerimento) e manda para o contador. A primeira hipóteses é quando o juiz desconfiar, suspeitar da regularidade dos cálculos. Essa desconfiança não deve ser fruto de uma atividade cognitiva exauriente. Pelo contrário. Aqui, o juiz faz uma cognição superficial. Uma batida de olho, ou como prefere o Dinamarco, uma análise a olho-nu. Isso significa sem fazer cálculo, sem fazer pesquisa. É aquela coisa aviltante. Você tem um título de 3 mil e o cara fez um cálculo que chegou em 50 mil. O juiz não vai fazer análise, mas está estranho demais. Quando o juiz tem uma desconfiança ante situações de disparidade entre o título e o cálculo, ele manda para o contador.

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Segunda hipótese – Quando o exequente for beneficiário da assistência judiciária. Nesse caso, já não há mais desconfiança. No primeiro caso, você está desconfiando da lisura do autor que pode ter querido dar uma inflada no cálculo. Aqui, não. Aqui, é uma questão de auxílio. O legislador pensou que o beneficiário da assistência judiciária que não tem condições de fazer os cálculos. Aí o sujeito entra com a execução e não consegue fazer os cálculos. Aí o juízo faz para ele. Mas aqui, você só vai mandar para o contador se o exequente deixar de apresentar os cálculos. Tem lógica porque eu não posso usar uma norma que é para ajudar o exequente para prejudicá-lo. Mandar para o contador é ruim porque demora. Se eu sou beneficiário, mas indiquei os cálculos, não há razão para mandar para o contador.

É possível que o contador ache um valor superior ao valor executado. É pouco provável, mas é possível. É possível que o contador diga: “exequente, você tem direito a 15, você só está executando 10.” Vamos imaginar o contador chegando a um valor superior ao da execução. É bastante improvável, mas nesse caso, o exequente é intimado: “você está cobrando 10, mas o contador está dizendo que você merece 15.” Ele, de duas uma, ou mantém o valor original e a execução continua normalmente. Mas quem vai abrir mão de um direito de crédito reconhecido pelo contador? É que o sujeito pode saber que devia só 10 mesmo e não quer executar 15. Vai que o executado prova que era só 10 mesmo e depois ele vai querer receber em dobro. É possível, então, que ele queira executar o que acha que tem que executar. Ou então, o exequente entra na pilha do contador. Ele, então, emenda a petição inicial adotando o valor do contador. E aí a execução segue normalmente. O que eu quero te mostrar aqui é que, independente da posição adotada pelo exequente, a execução segue normalmente. Mantido o valor originário segue, adotado o valor do contador, segue também.

O contador pode chegar a um valor igual ao da execução. E aí a normalidade é uma coisa mais óbvia ainda. A execução segue normalmente.

O que costuma acontecer é o contador chegar a um valor inferior ao executado. É isso que costuma acontecer. Aí o exequente será intimado. Ele pode concordar com o contador e se fizer isso ele vai emendar a inicial corrigindo o valor, adequando o valor da inicial ao valor obtido pelo contador. Ou então, ele mantém o valor originário. O exequente não dá crédito ao contador e mantém o valor. Ele pode executar o valor que achar adequado. Só que, nesse caso, o que acontecerá? A execução segue pelo valor inicial, indicado pelo exequente. Só que a penhora de bens tomará por base o valor do contador. Em outras palavras, o valor da penhora será o valor do contador. Eu estou executando 15, mas o contador disse que era 10, eu vou penhorar bens até o valor de 10. É interessante porque no final das contas, se o contador estiver errado, eu vou ter que fazer um reforço de penhora. Mas se o contador estava certo, aí beleza.

Uma observação. Essa observação e importante! O juiz não se manifesta sobre o valor nesse momento. Pelo menos nesse momento procedimental. O juiz pegou a inicial, desconfiou. Mandou para o contador, o contador fez o cálculo, ele mandou ouvir o autor, o exequente que resolveu continuar a execução pelo valor originário, o juiz continuou. O juiz não se manifesta porque o juiz vai deixar para falar sobre o valor quando ele decidir a defesa do executado. O juiz deixa para falar sobre o valor na decisão dos embargos, na decisão da impugnação, porque em tese, a história é a seguinte: cada um dos sujeitos narrados vai ter um momento específico para falar sobre o valor. O autor fala na inicial, o contador fala

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no cálculo dele, o executado fala na defesa e o juiz depois decide. O credor quer 15, o contador diz que é 10, o executado diz que deve 3. E aí? O juiz resolve.

O que acontece diante da omissão defensiva do executado? Quando o script é seguido, tudo dá certo porque o juiz vai ter uma oportunidade para falar sobre o valor que é a defesa do executado. E se o executado não se defender? Nesse caso, quando não há defesa do executado, o STJ, no REsp 1.012.306/PR (e aqui há uma polêmica doutrinária considerável), já resolveu que o juiz pode se manifestar de ofício. Nesse caso, de ofício, o juiz pode corrigir o valor da execução, sempre que entender que é um valor inadequado. Em tese, ele espera a resposta do réu, mas se a defesa do réu não vier, não está tudo perdido porque o juiz poderá fazer essa correção de ofício.

REsp 1012306 / PR - Ministra NANCY ANDRIGHI - TERCEIRA TURMA - Julgamento 28/04/2009 - DJe 07/05/2009 - Os juízos de 1º e 2º graus de jurisdição, sem violação ao princípio da demanda, podem determinar as provas que lhes aprouverem, a fim de firmar seu juízo de livre convicção motivado, diante do que expõe o art. 130 do CPC.- A iniciativa probatória do juiz, em busca da verdade real, com realização de provas de ofício, é amplíssima, porque é feita no interesse público de efetividade da Justiça.- Embora recaia sobre o devedor-embargante o ônus de demonstrar a inexatidão dos cálculos apresentados pelo credor-exequente, deve-se admitir a iniciativa probatória do julgador, feita com equilíbrio e razoabilidade, para aferir a exatidão de cálculos que aparentem ser inconsistentes ou inverossímeis, pois assim se prestigia a efetividade, celeridade e equidade da prestação jurisdicional.Recurso especial improvido.

b) Liquidação por Arbitramento

Quando haverá uma liquidação por arbitramento? E aqui é com tristeza que trago a vocês o art. 475-C, do CPC. E por que trago com tristeza? Porque ele prevê três hipóteses de cabimento: duas são erradas e uma incompreensível. É um artigo de todo imprestável.

Art. 475-C. Far-se-á a liquidação por arbitramento quando: (Acrescentado pela L-011.232-2005)

I – determinado pela sentença ou convencionado pelas partes;

II – o exigir a natureza do objeto da liquidação.

No inciso I, ele traz as duas incorreções:

1. Será por arbitramento, quando determinado na sentença – Mentira! É mentira porque a determinação na sentença não pode mudar a

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natureza da liquidação. Como assim? O juiz fixou liquidação por arbitramento na sentença, só que na hora de executar descobriu-se que bastava o mero cálculo aritmético. Como vai ficar a liquidação? Por mero cálculo aritmético. “Ah, mas o juiz falou que ia ser por arbitramento.” Não interessa! Na verdade, só vale a indicação do juiz na sentença quando a liquidação for por arbitramento de qualquer maneira. “Daniel, preciso provar fato novo”. Fato novo é liquidação por artigos. “Não, mas o juiz disse que era por arbitramento.” Não interessa! Você vai fazer por artigos. Quer dizer, a determinação do arbitramento na sentença não serve para nada.

2. Será por arbitramento, diante do acordo de vontade das partes – Está errado! Se o juiz não pode mudar a natureza da liquidação da sentença, muito menos podem as partes por acordo. O juiz não pode mudar a natureza na sentença. As partes também não podem mudar a natureza por acordo.

O inciso I é daqueles... Agora, o inciso II, do art. 475-C, não fica muito atrás:

3. Será por arbitramento, quando o exigir a natureza do objeto da liquidação – Típica hipótese que se fala muito e não se diz nada.

Você quer saber, finalmente, o que é uma liquidação por arbitramento, ou quando ela é cabível? Eu vou tentar tirar desse inciso II, a coisa mais óbvia do mundo. A liquidação por arbitramento tem como hipótese de cabimento a necessidade de produção de uma prova pericial para a fixação do valor da obrigação. Liquidação por arbitramento é uma prova pericial. Sempre que o valor depender de uma prova pericial, a liquidação se dará por arbitramento. O que nos leva a uma facilidade muito grande que é a seguinte: qual é o procedimento de uma liquidação por arbitramento? É o da prova pericial. Lembra das regras de prova pericial, prova em espécie? Tudo o que você aprendeu lá vai aplicar aqui. “Ah, Daniel, então o juiz vai determinar o perito e vai abrir prazo de 5 dias para indicação dos assistentes técnicos do perito?” Isso! “Ah, cabe quesitos fundamentais?” Isso! “Ah, cabe chamar o perito em audiência?” Isso! “O perito tem que entregar com 20 dias de antecedência o laudo?” Isso! “Ah! Pode ser intimado para, em dez dias, se manifestar sobre...” Isso! As regras da prova pericial. Tudo leva à perícia. A liquidação por arbitramento é uma perícia. Então, não há de se deixar de aplicar a regra da prova pericial. Então, acaba sendo até simples. Claro que as regras da prova pericial têm a sua complexidade.

c) Liquidação por Artigos

Quando ocorre a liquidação por artigos? E aí, de maneira um pouquinho mais feliz, o art. 475-E, do CPC, resolve o problema.

Art. 475-E. Far-se-á a liquidação por artigos, quando, para determinar o valor da condenação, houver necessidade de alegar e provar fato novo. (Acrescentado pela L-011.232-2005)

A liquidação por artigos será cabível sempre que houver necessidade de alegação e prova de um fato novo. De cara, percebam, você pode ter uma perícia dentro de uma liquidação por artigos. Liquidação por arbitramento, é quando

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basta a perícia. Como é que você prova um fato? Por todos os meios de prova em direito admitidos, inclusive a perícia. É interessante, e às vezes (e isso pode gerar confusão e é aí que chamo a atenção de vocês), a única prova da liquidação por artigos é a perícia. “Bom, mas se a única prova é a perícia, a liquidação tinha que ser por arbitramento.” Não, porque a perícia se dá para provar o fato novo. Percebam, havendo fato novo, já não interessa quais sejam os meios de prova que eu vou utilizar. Havendo um fato novo, a liquidação, obrigatoriamente tem que ser por artigos.

E o que significa fato novo? Cuidado! Fato novo é o fato ainda não apreciado pelo Poder Judiciário. É o fato que ainda não foi apreciado pelo Poder Judiciário. Isso, em outras palavras, significa dizer que é uma novidade para o Judiciário. Por isso é que ele é novo. É importante você entender que esse fato novo não se confunde com fato superveniente. São coisas diferentes. Fato novo pode ter acontecido antes ou depois da formação do título. Pouco importa. A novidade aqui não diz respeito ao momento do fato, mas à análise pelo Judiciário. Não é novo porque aconteceu agora. É novo porque nunca o Judiciário analisou.

O art. 475-F fala do procedimento e vai indicar que o procedimento da liquidação por artigos é o procedimento comum. Procedimento comum para o CPC é o ordinário e o sumário. Então, aqui, a liquidação por artigos pode seguir tanto o rito ordinário quanto o sumário.

Art. 475-F. Na liquidação por artigos, observar-se-á, no que couber, o procedimento comum (art. 272). (Acrescentado pela L-011.232-2005)

Por que ela chama assim, liquidação por artigos? Porque a tradição manda que você, no requerimento inicial desta liquidação, você descreva os fatos novos na forma de artigos. Essa é a tradição. É a descrição dos fatos novos na forma de artigos. É claro que hoje, com o princípio da instrumentalidade das formas e tudo o mais, me parece que exigir essa estruturação do requerimento inicial não se coadune muito com o atual clima do processo civil, mas a ideia é importante. Ela continua a existir, portanto, é inalterada. Se você não quiser fazer na forma de artigos, acho que não tem nenhum problema. Mas é imprescindível que você faça a descrição individualizada dos fatos novos. Pode até não ser na estrutura de artigos, mas uma coisa é certa: você é obrigado a descrever, individualmente, fato por fato. Isso, com certeza. Essa é uma exigência que fica.

Com isso, nós encerramos a liquidação de sentença e, por consequência, a Teoria Geral da Execução. Vamos passar à análise da execução em espécie.

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CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

EXECUÇÃO EM ESPÉCIE

Eu costumo dizer que a execução em espécie é muito mais chata do que a teoria geral, mas é muito mais simples. Invariavelmente, em concurso público, quando você vai para a execução em espécie, é texto da lei, porque é procedimento. É falar, basicamente, de sucessão de atos processuais. Nós vamos fazer isso, mas não se perde muito não. Vamos fazer uma análise dos principais aspectos dessas execuções em espécie. Vamos começar com o cumprimento de sentença e depois, processo de execução. Hoje, a execução em espécie é separada assim:

Cumprimento de Sentença que, em regra é a execução do título judicial (vimos na 1ª aula)

Processo de Execução, que ficou para o título extrajudicial.

1. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Notem o seguinte: execução de título judicial vai ser sempre por cumprimento de sentença. Foi o nome que o legislador deu a essa fase procedimental executiva. Então, ficou o nome. A fase procedimental de execução do título judicial chama-se cumprimento de sentença.

O art. 475-I, do CPC, principalmente no caput, diz o seguinte: o procedimento deste cumprimento de sentença vai variar a depender da espécie de obrigação exequenda.

Art. 475-I. O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts. 461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se de obrigação por quantia certa, por execução, nos termos dos demais artigos deste Capítulo. (Acrescentado pela L-011.232-2005)

1.1. Cumprimento da sentença de obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa

Então, o art. 475-I diz o seguinte:

O cumprimento da sentença de obrigações de fazer e não fazer seguem o art. 461.

O cumprimento da sentença de obrigações de entregar coisa, seguem o art. 461-A

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CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Art. 461 - Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

§ 1º - A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

§ 2º - A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (Art. 287).

§ 3º - Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada.

§ 4º - O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.

§ 5º - Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.

§ 6º O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva.

 Art. 461-A. Na ação que tenha por objeto a

entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação.

§ 1º Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e quantidade, o credor a individualizará na petição inicial, se lhe couber a escolha; cabendo ao devedor escolher, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz.

§ 2º Não cumprida a obrigação no prazo estabelecido, expedir-se-á em favor do credor mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel.

§ 3º Aplica-se à ação prevista neste artigo o disposto nos §§ 1º a 6º do art. 461.

E sabe qual é a surpresa que você tem ao ler os arts. 461 e 461-A? O art. 475-I faz essa remição: “você quer saber como cumpre uma sentença de fazer e

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não fazer e de entregar coisa, olha os arts. 461 e 461-A.” Sabe o que eu descubro quando olho para eles? Que eles não contêm previsão do procedimento. Não há previsão de procedimento nesses artigos. Aí você vai dizer: “então aqui algo muito estranho aconteceu”. Na verdade, não. Na verdade, essa ausência de procedimento não é uma falha. Essa ausência de procedimento é programada. E por quê? Porque a execução de obrigações de fazer e não fazer e de entrega de coisa segue a aplicação da chamada tutela diferenciada. Segue as regras da chamada tutela diferenciada. Sabe o que é isso? É um procedimento flexível para que o juiz o crie conforme as necessidades do caso concreto. Ninguém dá aquele negócio duro, opressor (5 dias para isso, 10 dias para aquilo, se não fizer acontece isso). O legislador dá uma liberdade ao juiz para que o juiz determine o procedimento mais adequado às exigências do caso concreto. A tutela diferenciada é mais do que isso, mas uma das características da tutela diferenciada é isso aqui. Para nós, a explicação acaba agora porque como não há procedimento e isso vai depender do juiz no caso concreto, não há muito mais que eu possa dizer a vocês.

Aí você pergunta: “o juiz vai dar prazo para o sujeito fazer ou não fazer? Vai aplicar multa? Vai dar uma busca e apreensão na obrigação de entregar? O executado vai poder se defender? E ao se defender, há efeito suspensivo?” Sei lá! Nem eu nem ninguém sabe. Tudo isso vai ser construído no caso concreto.

Isso é um pouco diferente da obrigação de pagar quantia.

1.2. Cumprimento da sentença de obrigação de pagar quantia

Na obrigação de pagar quantia, o próprio art. 475-I diz que seguirá as “regras a seguir”. Então, existe um procedimento. Este procedimento está concentrado nos arts. 475-J, 475-L, 475-M e 475-R do CPC.

Um detalhe importante. O art. 475-L e o art. 475-M tratam da impugnação, impugnação que é a defesa típica do executado no cumprimento de sentença. A não ser un passant, não veremos hoje a impugnação. É matéria para amanhã, quando falaremos das defesas do executado (o professor não leu, mas transcrevi por conta própria).

Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre: (Acrescentado pela L-011.232-2005)

I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;

II – inexigibilidade do título;III – penhora incorreta ou avaliação errônea;IV – ilegitimidade das partes;V – excesso de execução;VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou

extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença.

§ 1º Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou

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CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal.

§ 2º Quando o executado alegar que o exeqüente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa impugnação. 

Art. 475-M. A impugnação não terá efeito suspensivo, podendo o juiz atribuir-lhe tal efeito desde que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da execução seja manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação. (Acrescentado pela L-011.232-2005)

§ 1º Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exeqüente requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e prestando caução suficiente e idônea, arbitrada pelo juiz e prestada nos próprios autos.

§ 2º Deferido efeito suspensivo, a impugnação será instruída e decidida nos próprios autos e, caso contrário, em autos apartados.

§ 3º A decisão que resolver a impugnação é recorrível mediante agravo de instrumento, salvo quando importar extinção da execução, caso em que caberá apelação.

E o art. 475-R, por sua vez, é o dispositivo que explica como o legislador conseguiu, em três artigos de lei prever o procedimento todo do cumprimento de sentença. É curioso que para o processo de execução eu tenha mais de 200 artigos, obrigação de pagar quantia, e para cumprimento de sentença eu tenha só o J, o L e o M e aí esse R? O 475-R desvenda o mistério. O que ele manda fazer? Manda aplicar subsidiariamente ao cumprimento de sentença as regras do processo de execução.

Art. 475-R. Aplicam-se subsidiariamente ao cumprimento da sentença, no que couber, as normas que regem o processo de execução de título extrajudicial. (Acrescentado pela L-011.232-2005)

Nos arts. 475-J, L e M, não há uma linha sobre penhora. Como é que funciona a penhora? Segundo as regras do processo de execução. E a hasta pública? Segundo as regras do processo de execução. É possível adjudicar um bem no cumprimento de sentença? Claro! Segue as regras do processo de execução. Então, muito do processo de execução é aplicável ao cumprimento de sentença. Fazendo essa limpeza inicial, sobrou para nós ver o quê? O art. 475-J. O R já está visto. Ele abre as portas para o processo de execução e amanhã o meu objetivo é falar com vocês sobre os principais aspectos do processo de execução, penhora, expropriação de bens. E tudo o que a gente for falar amanhã será aplicável ao cumprimento de sentença. Será uma aula, portanto, com dupla finalidade.

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CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Mas o art. 475-J é específico, só vale para o cumprimento de sentença da obrigação de pagar quantia. Então, é ele que nós vamos analisar agora. E vamos começar pela maior polêmica, que é o caput, que trata da famosa multa na hipótese do réu não pagar o objeto da condenação em 15 dias.

Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação. (Acrescentado pela L-011.232-2005)

§ 1º Do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado, na pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237), ou, na falta deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze dias.

§ 2º Caso o oficial de justiça não possa proceder à avaliação, por depender de conhecimentos especializados, o juiz, de imediato, nomeará avaliador, assinando-lhe breve prazo para a entrega do laudo.

§ 3º O exeqüente poderá, em seu requerimento, indicar desde logo os bens a serem penhorados.

§ 4º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput deste artigo, a multa de dez por cento incidirá sobre o restante.

§ 5º Não sendo requerida a execução no prazo de seis meses, o juiz mandará arquivar os autos, sem prejuízo de seu desarquivamento a pedido da parte.

Percebam, desde já o seguinte: a multa de 10% é aplicável ao não pagamento. Isso significa, de cara, que o eventual oferecimento de bem à penhora, ainda que dinheiro, não evita a multa. O oferecimento de bem à penhora, ainda que seja dinheiro (o que será muito bem recebido, não me entenda mal), se o executado oferecer dinheiro, depositar dinheiro em juízo oferecendo a penhora, aceitaremos com extrema felicidade, mas isso não evitará a aplicação da multa, por uma razão muito simples. Pagar é satisfazer. Penhorar é garantir a satisfação. São coisas bem diferentes. Pagar é satisfazer. O que o código está querendo dizer é o seguinte: me pague, se você me pagar, satisfaz a obrigação e eu te libero da multa de 10%. Se você não me pagar, você vai ser obrigado a pagar a dívida e também pagar os 10%.

Qual é o grande problema dessa multa? O termo inicial. A partir de quando se contará o prazo de 15 dias para a obrigação ser paga? Você tem aqui, no mínimo, quatro correntes doutrinárias tentando explicar o termo inicial:

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CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Marinoni – Ele diz que o termo inicial é a partir do momento em que a sentença condenatória passa a ser eficaz. Veja que curioso. É possível aqui falar na contagem do prazo mesmo na pendência de recurso contra a decisão, desde que o recurso não tenha efeito suspensivo. Se eu posso aplicar a multa, contar a multa quando pendente um recurso sem efeito suspensivo, quer dizer que eu posso cobrar essa multa em sede execução provisória. Há um recurso pendente, mas como ele não tem efeito suspensivo, eu já posso executar. Como já houve a contagem da multa, eu já posso executar incluindo a multa. O que não deixa de ser muito estranho porque você acaba obrigando o sujeito a cumprir a obrigação quando ele ainda tem um recurso pendente de julgamento. E é óbvio, se ele cumprir a obrigação, o recurso perde o objeto. Se ele cumprir a obrigação não se tem mais o que discutir.

Humberto Theodoro Júnior – Não, não tem nada a ver com a eficácia da decisão, mas com a imutabilidade da decisão. Então, o termo inicial se dá quando a decisão passa a ser imutável. E quando isso acontece? Com o trânsito em julgado. Para ele, portanto, o termo inicial é o trânsito em julgado. Importante: o trânsito em julgado abre a contagem do prazo independentemente de intimação do executado. Transitou, no dia seguinte já está contando o prazo. Esse entendimento é o entendimento consagrado no STJ. “Ah, mas houve uma decisão de agosto de 2009, da 4ª Turma, divergente”. Até teve. Mas o tribunal tem como posição oficial o trânsito em julgado. Infelizmente, porque na minha visão é um entendimento caótico, que gera uma insegurança jurídica na prática forense, só compreensível por quem não trabalha na área. Só que no STJ é assim e nos juizados especiais também, conforme indica o enunciado 105, do FONAJE, que diz que a cobrança da multa ocorrerá a partir do trânsito em julgado.

Tereza Arruda Alvim Wambier – Para essa corrente, você precisa esperar o trânsito em julgado e aí, depois do trânsito em julgado, realizar uma intimação pessoal do devedor e daí vai começar a correr o prazo. Por que a intimação tem que ser pessoal? Porque você só pode intimar a parte na pessoa do advogado para atos postulatórios. Você vai intimar a parte na pessoa do advogado da sentença porque a apelação, que é o ato a ser praticado contra a sentença é um ato postulatório. E para eles, o ato de pagar não é um to postulatório. A ideia é: o dever de pagar é da parte, de forma que eu tenha que intimar a parte pessoalmente, aí sim, sob pena de multa.

Nélson Néri – Na minha opinião é a melhor e a que conseguiu convencer alguns ministros do STJ e que conseguiu uma decisão isolada da quarta turma que diz o seguinte: depois do trânsito em julgado, você tem, realmente, que fazer uma intimação, mas é uma intimação na pessoa do advogado. Quer dizer, só será na pessoa do devedor, só será intimação pessoal, senão houver advogado constituído nos autos. Aí não há outra forma, senão a intimação pessoal.

Algumas considerações sobre esse cumprimento:

O juiz não pode começar o cumprimento de pagar quantia de ofício. Aqui, o legislador prestigiou o princípio da inércia. Esse cumprimento de sentença só começa com provocação do interessado. Como não é um processo, como não está nascendo um processo novo, é uma mera fase procedimental, a provocação não se dá por petição inicial, mas por um requerimento inicial. Ela vai se dar por meio de um requerimento inicial. E esse requerimento inicial não precisa seguir as regras formais da petição inicial. Claro que não. É óbvio que não precisa seguir os

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CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

requisitos do art. 282, do CPC, as exigências formais da inicial. Mas cuidado porque ele tem que contar com elementos mínimos para a identificação da demanda. Quer dizer, é mais informal. Mas não é avacalhado total. Tem que ter endereçamento, nomes das partes, valor. Um míniom para indicar a demanda você vai precisar fazer.

“Daniel, e se eu não fizer o requerimento?” O art. 475-J, § 5º diz que se você não fizer o requerimento, em seis meses, os autos são remetidos ao arquivo. Se você não fizer o requerimento inicial no prazo de 6 meses do trânsito em julgado (o código não fala, mas é óbvio que é do trânsito em julgado), você manda os autos para o arquivo. O meu medo, nessa regra, é que a prescrição intercorrente, nesse caso, que é a prescrição exclusiva da execução tem início no trânsito em julgado. Se é a partir do trânsito em julgado que se admite a execução pelo cumprimento de sentença, é a partir do transito em julgado que resta configurada a desídia do exequente em executar. Então, é de lá que começa.

Não vai confundir porque na execução fiscal, art. 40, da LEF, que é um processo de execução de título extrajudicial (quer dizer, não tem nada a ver com o que estamos vendo aqui), a prescrição intercorrente tem início na data de remessa dos autos ao arquivo. Lá a regra é outra. Na execução fiscal, a prescrição intercorrente se inicia na dada de remessa do processo ao arquivo. Não vai querer me aplicar a LEF no CPC. O caminho é exatamente o contrário. Você aplica subsidiariamente o CPC na LEF.

E uma última consideração com relação ao cumprimento da sentença interessante sobre o STJ. O STJ entende o seguinte: se não houver o cumprimento voluntário da sentença são devidos honorários advocatícios no cumprimento da sentença. O único jeito de você se eximir desses honorários é cumprir voluntariamente a condenação. E o que significa cumprir voluntariamente? Se eu cumpri voluntariamente eu estou fora dos honorários, se eu não cumpri os honorários são devidos. Perceba, haverá uma nova fixação de honorários porque, em tese, se eu estou executando uma sentença, eu já fui condenado em honorários. O réu já foi condenado em honorários e agora vai ser de novo no cumprimento de sentença.

O cumprimento voluntário, tudo leva a crer, é aquele feito dentro dos 15 dias do art. 475-J, caput, do CPC. A ideia é a seguinte: eu tenho 15 dias para pagar. Para alguns, do trânsito em julgado; para outros, da intimação. Mas eu tenho 15 dias para pagar. Se eu não pagar, aplica a multa e passo a dever os honorários. Em tese, isso pode aumentar significamente a minha dívida. Se o juiz fixa os honorários em 20% e a multa + 10. Só aí já ouve um acréscimo de 30% do valor original da sua dívida.

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