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DtCIMA CONTRIBUIÇÃO PARA O RECONHECIMENTO MICROSCóPICO DOS RESiDUOS FECAIS DE ORIGEM ALIMENTAR . Esta contribuição visa o reconhecimen- to dos resíduos fecais de origem alimentar, após longos e penosos regimes, obed-ecendo a mesma orientação técnica e objetivos dos trabalhos anteriores . Todos os desenhos, executados pelo au- tor, são originais. QUIABO Hibiscus esculentus L. As células da part(;! comestível do quia- bo ou quigombô, representadas na figura 1, são fàcilmente destruídas pelos sucos diges- tivos, sendo eventual sua presença nas ma- térias fecais nas condições normais. Com formas e dimensões variáveis, são geralmente ovais ou quadrangulares, com as extremidades arredondadas ou alonga- das, planas, de paredes delgadas, pouco elevadas, contôrno de aspecto mudável, con- tendo substância de reserva ·esp.arsa no pro- toplasma. As dimensões médias são: 80 micra de comprimento por 30 micra de lar- gura. Após a ingestão do quiabo, são encon- trados com facilidade nas fezes, pêlos intei- ros ou fragmentados sem grandes alt·erações aparentes, longos, medindo em méd;a 700 micra de comprimento, p lurisseptados. A figura 2 completa a descrição. GUANDO Gajamus indicus Spreng O guando, planta hortícola, denomina- da ervilha d' Angola, produz resíduos que correspondem às células de outras legumi- nosas de espécies afins . Do conteúdo do grão resultam as cé- lulas ovais ou arredondadas, de membrana resistente medindo 130 micra de compri- mento por 80 micra de largura . No interior encontram-se formações circulares ou ovais, iá esvasiadas de substância amilácea, parte essencial do vegetal, após os fenômenos di- gestivos. Figura 3 . As células que formam a camada ex- terna, dispostas em paliçada, retas ou cur- R. di Primio · vas, com ligeira distorção no s-entido lon- gitudinal, assemelhanm-se, pelo aspecto, com as de outras leguminosas de espécies próximas. Têm, como dimensões médias, 80 micra de comprimento por 17 micra de largura . Figura 4. MACAúBA Acroctmtia sclerocarpa Mart. E' uma plamácea. Tem os seguintes nomes vulgares: macaúba, macaíba, côco de catarro, mucajá, macajuba, mocamba e ba· caiúva. Apesar da parte comestível ser de es- casso volume, os resíduos, em relativas pro· porções, são encontrados nas fezes como re- sultado da particular constituição celulósica dos elementos . São, com certa freqüência, observados cristais, representados na figura 5, com as dimensões de 50 micra de compr:mento por 3 micra de largura, isolados ou em feixes, lembrando os cristais de Charcot - Leyden, considerados pelos autores antigos como de- nunciadores da desinteria amebiana . Com as características de outros ele· mentos do mesmo vegetal, torna-se possível a presunção diagnóstica . Semelhantes ou com variações de di- mensões, já assinalei cristais no coquinho Arecastrum romanzoflianum Cham; abacaxi Ananas sativus Schort.; tucum Butia sp.; ba- nana do mato Bromelia fastuosa Sdl. Esta drupa, própria de certas zonas, de consumo relativamente restrito, fornece, co- mo resíduos fecais, células representadas na figura 6. São ovais ou arredondadas, planas ou ligeiramente elevadas, com substância de reserva representada por formações circula- res ou amorfas, variadamente esparsas. Têm as dimensões médias de 78 micra de comprimento e 46 micra de largura. Como elementos mais encontradiços e característicos de acentuada estrutura celu- lóslca, são as fibras longas, ligeiramente ele- vadas, de contôrno irregular,representadas no seu conjunto na figura 7 e isoladamen- te na figura 8. Têm, em média, 100 micra de comprimento .

DtCIMA CONTRIBUIÇÃO PARA O RECONHECIMENTO …

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DtCIMA CONTRIBUIÇÃO PARA O RECONHECIMENTO MICROSCóPICO DOS RESiDUOS FECAIS DE ORIGEM ALIMENTAR .

Esta contribuição visa o reconhecimen­to dos resíduos fecais de origem alimentar, após longos e penosos regimes, obed-ecendo a mesma orientação técnica e objetivos dos trabalhos anteriores .

Todos os desenhos, executados pelo au­tor, são originais.

QUIABO

Hibiscus esculentus L.

As células da part(;! comestível do quia­bo ou quigombô, representadas na figura 1, são fàcilmente destruídas pelos sucos diges­tivos, sendo eventual sua presença nas ma­térias fecais nas condições normais.

Com formas e dimensões variáveis, são geralmente ovais ou quadrangulares, com as extremidades arredondadas ou alonga­das, planas, de paredes delgadas, pouco elevadas, contôrno de aspecto mudável, con­tendo substância de reserva ·esp.arsa no pro­toplasma. As dimensões médias são: 80 micra de comprimento por 30 micra de lar­gura.

Após a ingestão do quiabo, são encon­trados com facilidade nas fezes, pêlos intei­ros ou fragmentados sem grandes alt·erações aparentes, longos, medindo em méd;a 700 micra de comprimento, p lurisseptados.

A figura 2 completa a descrição.

GUANDO

Gajamus indicus Spreng

O guando, planta hortícola, denomina­da ervilha d' Angola, produz resíduos que correspondem às células de outras legumi­nosas de espécies afins .

Do conteúdo do grão resultam as cé­lulas ovais ou arredondadas, de membrana resistente medindo 130 micra de compri­mento por 80 micra de largura . No interior encontram-se formações circulares ou ovais, iá esvasiadas de substância amilácea, parte essencial do vegetal, após os fenômenos di­gestivos. Figura 3 .

As células que formam a camada ex­terna, dispostas em paliçada, retas ou cur-

R. di Primio ·

vas, com ligeira distorção no s-entido lon­gitudinal, assemelhanm-se, pelo aspecto, com as de outras leguminosas de espécies próximas. Têm, como dimensões médias, 80 micra de comprimento por 17 micra de largura . Figura 4.

MACAúBA

Acroctmtia sclerocarpa Mart.

E' uma plamácea. Tem os seguintes nomes vulgares: macaúba, macaíba, côco de catarro, mucajá, macajuba, mocamba e ba· caiúva.

Apesar da parte comestível ser de es­casso volume, os resíduos, em relativas pro· porções, são encontrados nas fezes como re­sultado da particular constituição celulósica dos elementos .

São, com certa freqüência, observados cristais, representados na figura 5, com as dimensões de 50 micra de compr:mento por 3 micra de largura, isolados ou em feixes, lembrando os cristais de Charcot - Leyden, considerados pelos autores antigos como de­nunciadores da desinteria amebiana .

Com as características de outros ele· mentos do mesmo vegetal, torna-se possível a presunção diagnóstica .

Semelhantes ou com variações de di­mensões, já assinalei cristais no coquinho Arecastrum romanzoflianum Cham; abacaxi Ananas sativus Schort.; tucum Butia sp.; ba­nana do mato Bromelia fastuosa Sdl.

Esta drupa, própria de certas zonas, de consumo relativamente restrito, fornece, co­mo resíduos fecais, células representadas na figura 6. São ovais ou arredondadas, planas ou ligeiramente elevadas, com substância de reserva representada por formações circula­res ou amorfas, variadamente esparsas. Têm as dimensões médias de 78 micra de comprimento e 46 micra de largura.

Como elementos mais encontradiços e característicos de acentuada estrutura celu­lóslca, são as fibras longas, ligeiramente ele­vadas, de contôrno irregular,representadas no seu conjunto na figura 7 e isoladamen­te na figura 8. Têm, em média, 100 micra de comprimento .

70 ANAIS DA FACULDA.DF; DI~ :MIWICTNA DI<: PéHlTO ALEGRJ•;

Outras células da parte comestível es­tão represen:adas na fgura 9. São polimor­fas de contôrno irregular, planas, de pare­de; pouco elevadas de protoplasma hialino, com dimensões médias de 75 micra de comprimento por 45 micra de largura.

BATATA BAROA

Arracacia xantlwrrhiza

Pertencente à família das Umbelíferas, é cr:nhecida, também, sob os nomes de man­dioquinha, bat2.ta salsa e batata cenoura.

A parte comestível tem aspecto macros­copicamente homogêneo. E' cons~ituída de células ovais, quadrangulares, alongadas, de contôrno regular ou ligeiramente sinuoso ccntendo substância amilácea.

Têm como dimensões méd:as 200 mi­cra de comprimento por 60 micra de largu­ra repres-entadas na figura 1 O.

, 'd Não aparecem como res1 uos nas con-dições normais, restando a hipótese da sua presença nas matérias fecais, nos casos de perturbações gastro-intestinais ou quando é ultrapassada a capacidade digestiva indivi­dual, motivo porque estão aqui representa-das. ·

Como elemento resistente e de eventual encontro nas matérias fecais, pela sua ex­clusão nas preparações culinárias, são as células do epicarpo, ou casca, representadas na figura 11, geralmente de forma quadran­gular, alongada ou ligeiramente d~form~da pela pressão recíproca, com as d1mensoes médias de 100 micra de comprimento por 60 micra de largura .

INHAME

Colocasia antiquorum Schott

Em aditamento a tr~thalho já publicado, incluo na figum 12 célubs dn inhame, usa­do na nossa alirnr:1:aç;;.o em condições e proporcões variiwc:::;.

Os· de~edw:; u:: rcfr:rr;m .\s células da parte comr;<;;:ivcl, aprr;s·cntm1'.lo formas di­versas ou bizarras, ovais, alongadas, polié­dricas com extremidades arredondadas ou alongadas, cuja dcscr;ção é completada pela figura. Suas dimensões médias são: 260 micra de comprimento por 90 micra de lar­gura.

CUARANA

Pandamus brasiliensis

O uso do pó de guaraná origina a pre­sença de resíduos repre!ientados na figura 13, ·de côr parda amarelada, de contômo sinuoso, ligeiramente elevado, medindo 80 micra de comprimento por 60 micra de lar­gura. Resultam da un;ão de partículas que podem ser observadas isoladamente.

Do mesmo vegetai pertencem as célu­las contendo substâncias de reserva sob a forma de elementos arredondados, como evidencia a figura 14 que melhor completa a descrição. Têm, como dimensões médias, 120 micra de comprimento por 70 micra de largura.

Não sofrem alterações aprec1a~is as células pétreas, representadas na figura 15, de diferentes aspectos c com dimensões mé­dias de 60 micra de comprimento por 35 micra de largura.

PIMENTÃO

Capicum annuum L

A figura 16 representa a epiderme do pimentão, interessante pelo conjunto morfo­lógico. Em fragmentos variáveis de tama· nho apareC'em nas fezes com aspecto seme­lhante do mesmo tecido em outros vegetais.

São células intrinsecamente interligadas, quadrangulares ou poligonais, de pared~s salientes e resistentes à ação dos sucos d1· gcstivos. Apresentam, em média, 80 micra de comprimento por 55 micra de largura.

COUVE

Brassica oleracea

A figura 17 representa células de cons­tituicão simples, de forma geralmente ova­Iar ·planas de paredes pouco elevadas, de

' ' d" protoplasma homogêneo, que nas con 1· ções normais de funcionamento do tubo di­ges~ivo são fàcilmentc digcridas.

PAPOULA

Papaver rho.cas

As sementes da papoula, da variedade empregada em certas padarias e confeita· rias são encontradas nas fezes, sem altera· I

çõcs apreciáveis.

A:'1"AJS DA FACDLDADhl DE MEDICDfA DE PORTO ALEGRE 71

Com as particulares dimemõcs que atin­gem o limite macroscópico, apresentam I mm40 de comprimento por I mm de lar­gura. São elementos melhor identificados pelo exame microscópico.

De côr escura, reniformes ou arredonda­dos, de superfíóe ligeiramente esférica, com desenhos poligonais nítidos e ligeiras de­Pressões centrais, constituem elementos in­teressantes e característicos. Figura IS.

COQUINHO

Arecastrum romanzoffianum

A parte comestível, aliás escassa, que reveste o caroço do coquinho, pela sua es­trutura característica, apresenta formação fibrosa, cujos elementos estão representados nas figuras I9 e 20, vistos respectivamente cem maior ou menor aumento.

De forma alongada e extremidades jus­tapostas, dispõem-se paralelamente de ma­neira contígua .

O suco adocicado, parte realmente co­mestível, tão preferido 'Cm certas épocas do ano, principalmente pelas crianças das po­pulações rurais, é fàcilmente digerido.

Além dos interessantes critais, já assina­lados em publicação anterior, incluo na pre­senl'~ contribuição, células esclerosas, acha­tadas, de paredes pouco devacLs com pe­quenas fendas, na parede celli~Ós;ca, co1n centro largo e plano. Têm, em média, as

seguintes dimensões: 60 micra d·e compri­mento por 25 mícra de largura. Figura 2I.

Resíduo animal

A figura 22 represenb, possivelmente, uma bárbula de pena de ave de determina· ção, como é óbv1o, Ínexequível.

Encontrada acidentalmente nas maté­rias fecais, em uma opor!unidade, no longo regime alimentar de prova, constitui mais um exemplo da enorme variedade de ele­mentos estranhos que os exames coprológi­cos de rot:na revelam.

Nada mais significa do que simples en· contro ou coincidência aqui registrada.

Ácaro

Sob diferentes maneiras podem ser in­troduzidos, no tubo digestivo do homem, pequenos artrópodes, procedentes de ce­reais e diversos vegetais veiculados mecâni­camente.

A figura 23, de maneira semi-esquemá­tica, representa um Ácaro acidentalmente encontrado nas fezes, no decurso do regime alimentar instituído como base do presente trabalho.

Trabalho realizado no Laboratório do Pro­fessot· Olympio ria Fonseca Filho.

Ao insigne :\Iestre expresso sincero agrade­cimento.

72 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE P ORTO AL EGRE

100fL FIG. 1 - Células do quiabo

FIG. 2 - Pêlos do quiabo

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200fL

AJ'I.AIS DA FACULDA RTO ALEGRE DE DE MEDICINA DE PO

FfG. 3 ) 100ft

. Células do guando

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74 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGR~

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FI(',. 5 - Cristai'! da macaúba

FIG. 6 - Células da macaúba

ANAIS DA FACULDADE> DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE 75

50 f! FIG. 7 - Fibras reunidas da macaúba

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HG. 8 Fibras i&oladas da macaúba

76 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE

100p FIG. 9 - Células de paredes resistentes da macaúba

EOOp FIG. 10 - Células da batata baroa

ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE

FIG. 11 - Células do epicarpo da batata baro"

ZOO)J FJG. 12 - Células do inhame

77

1

78 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE

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o

o 100jl

FI G. 13 _ Celulas reum a . 'd s e isoladas do gua I an~. em pó.

100jl F IG. 14 Células do guaraná em pó

_ANAIS DA F ACULDADE D E MEDICINA DE p ORTO ALEGRE

FIG. 15 C

') 10011 cuias p't r e reas d 0 guaran · a em pó.

80 ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE

100p

FIG 17 · · - Celulas da couve

1mm

FIG. 18 - Células da variedade de I papou a

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ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PóRTO ALEGRE 81

FIG. 19 Formação fibrosa do coqu111ho

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Forma<_ão fibrosa do coquinho, n.t' nor aumento

PORTO ALE_C_RE_• -DE MEDICINA DE AKAW DA , FACULDADE <0

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FIC. 21 Células es do ·oquinho ele rosas

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ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PóR TO ALEGRE .----- ·83

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\ )' \ ........ , __ .,.,.., .

Desenho semi esquem'\tico de um fi. caro