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ESCOLA SUPEROR DE GUERRA
LUIS ROGERIO CID DUARTE
CONSELHO DE DEFESA SUL-AMERICANO:
uma investigação das teorias das relações
internacionais que influenciaram na sua proposição
Rio de Janeiro
2012
LUIS ROGERIO CID DUARTE
CONSELHO DE DEFESA SUL-AMERICANO:
uma investigação das teorias das relações
internacionais que influenciaram na sua proposição
Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia a
ser apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Administrador Armando José Sales
Machado
Rio de Janeiro 2012
C2012 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação que
resguarda os direitos autorais, é considerado
propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE
GUERRA (ESG). É permitido a transcrição
parcial de textos do trabalho, ou mencioná-
los, para comentários e citações, desde que
sem propósitos comerciais e que seja feita a
referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são
de responsabilidade do autor e não
expressam qualquer orientação institucional
da ESG
Luis Rogerio Cid Duarte
Biblioteca General Cordeiro de Farias
Duarte, Luis Rogerio Cid
Conselho de Defesa Sul-Americano: uma investigação das teorias
das relações internacionais que influenciaram na sua proposição / Luis
Rogerio Cid Duarte. - Rio de Janeiro: ESG, 2012.
67 f.
Orientador: Administrador Armando José Sales Machado
Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como
requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política
e Estratégia (CAEPE), 2012.
1. Conselho de Defesa Sul-Americano. 2. Relações Internacionais.
3. Geopolítica. I. Título.
Dedico este trabalho à minha família pelo amor
incondicional e por compreenderem e
suportarem minha ausência.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, Senhor do Universo, por ter me proporcionado a capacidade de
pensar, aprender e criar.
Sempre a meus pais, aos quais devo minha fortaleza moral e embasamento
cognitivo.
Ao Cel Paulo Roberto que inspirou o início da pesquisa e pelo apoio indispensável
prestado.
Ao Doutor Sandoval por dispor de seu precioso tempo para avaliar o trabalho,
prestando opinião valiosa.
Aos colegas do CAEPE 2012, pelo convívio harmonioso durante todos os
momentos.
Ao meu orientador, Administrador Armando, pelas orientações objetivas na
elaboração deste trabalho.
“el año [...] nos va a sorprender unidos o
dominados.” Perón.
RESUMO
O trabalho consiste em estudo sobre os embasamentos teóricos encontrados nas
teorias das relações internacionais que fundamentaram as motivações da criação do
Conselho de Defesa Sul-Americano. Tema que permeia a problemática da pesquisa
proposta, orientada pelo objetivo de investigar a possibilidade de evolução do atual
estágio de cooperação regional para um nível mais avançado de integração em
matéria de Defesa. A pesquisa teve como problemática central a identificação de
indícios que sinalizariam um futuro estabelecimento de um componente militar
regional coletivo. Essa identificação justifica a proposição do tema, pois evidencia a
necessidade das Forcas Armadas obterem novas capacidades estratégicas,
orientando o preparo e o emprego. A metodologia fundamentou-se em pesquisa
qualitativa e comportou diferentes procedimentos metodológicos, com ênfase em
estudos documentais e, principalmente, bibliográficos, complementados com uma
análise que utilizou o método dedutivo, buscando identificar a formação do
pensamento diplomático brasileiro, investigar a situação política e econômica atual
do continente sul-americano e identificar cenários teóricos decorrentes das
previsões das ciências de relações internacionais e geopolítica. Os resultados
apontaram que é razoável admitir a probabilidade de que, em horizonte temporal de
longo prazo, componentes das Forcas Armadas de alguns países sul-americanos
estejam operando combinadamente, compondo força expedicionária destinada ao
emprego no entorno estratégico, com algum grau de interoperabilidade, em
operações convencionais, humanitárias, de defesa civil ou de cooperação civil-
militar.
Palavras chave: Conselho de Defesa Sul-americano. Relações Internacionais.
Geopolítica. Cenários prospectivos.
ABSTRACT
The work is to study the theory found basements in the theories of international
relations that underlie the motivations of the creation of the South American Defense
Council. Theme that pervades the issue of the proposed research, which investigates
the possibility of an evolution from the current stage of regional cooperation to a
higher level of integration in the field of defense. Aimed to identify signs that herald a
future establishment of a regional collective defense arrangement. This identification
justifies the proposition of the subject, highlighting the need for the Armed Forces to
get new strategic capabilities, directing the preparation and employment. The
methodology was based on qualitative research, and behaved different
methodological procedures, with an emphasis on documentary studies and mainly
bibliographical, complemented with hypothetical-deductive analysis, seeking to
identify the formation of the Brazilian diplomatic thinking, investigate the current
political and economic situation of the South American continent and identify
theoretical predictions scenarios arising from the sciences of international relations
and geopolitics. The results showed that it is reasonable to assume the probability
that, in the long-term time horizon, components of some Armed Forces of the South
American countries are operating in concert, composing expeditionary force destined
for employment in the strategic environment, with some degree of interoperability in
conventional operations, humanitarian, civil defense and civil-military cooperation.
Keywords: South American Defense Council. International Relations. Geopolitics.
Prospective scenarios.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 09
2 O CONSELHO DE DEFESA SUL-AMERICANO (CDS), A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA (END) E AS TEORIAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS............................................................
. .12
2.1 A TEORIA DE INTEGRAÇÃO TRANSNACIONALISTA......................... 18 2.2 A TEORIA FUNCIONALISTA E NEOFUNCIONALISTA........................ 19 2.3 A TEORIA CONSTRUTIVISTA............................................................... 21 2.4 O COMPLEXO REGIONAL DE SEGURANÇA (CRS)........................... 24 3
COMPLEXO REGIONAL DE SEGURANÇA SUL-AMERICANO..........
26
3.1 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO REGIONAL EM SEGURANÇA E DEFESA..................................................................................................
31
3.1.1 Mercado Comum do Sul - Mercosul................................................... 32 3.1.2 Comunidade Andina de Nações - CAN............................................... 35 3.1.3 Organização do Tratado de Cooperação Amazônica -
OTCA......................................................................................................
38 3.1.4 Aliança Bolivariana para as Américas - ALBA................................... 40 3.1.5 União das Nações Sul-americanas (UNASUL) e Conselho de
Defesa Sul-americano (CDS)...............................................................
41 3.2 O CRS SUL-AMERICANO NA VISÃO CONSTRUTIVISTA DE
SEGURANÇA E DEFESA......................................................................
43 4 CENÁRIOS TEÓRICOS PROSPECTIVOS............................................ 49 5 CONCLUSÃO......................................................................................... 62 REFERÊNCIAS...................................................................................... 64
9
1 INTRODUCÃO
A proposição da criação do Conselho de Defesa Sul-americano (CDS) partiu
de iniciativa da politica externa brasileira, que vem priorizando a integração do
espaço sul-americano, base do fortalecimento do Brasil para exercer papel
expressivo no cenário internacional. Um mecanismo de cooperação em matéria de
defesa é inédito no subcontinente, onde já existiam outros dispositivos de
cooperação política e econômico-comercial.
O trabalho consistiu em estudo sobre os embasamentos teóricos encontrados
nas teorias das relações internacionais, que fundamentaram os interesses para
proposição da criação do Conselho.
A inquietação inicial para escolha do tema da pesquisa decorreu da leitura de
assertivas de Nascimento (2012 a), que em artigo científico especula sobre ―quais
teriam sido os interesses brasileiros e a estratégia de política externa inspiradora da
iniciativa brasileira para a criação do Conselho de Defesa Sul-Americano?‖ (não
paginado). Dentre as motivações para sua criação destaca-se a busca do
fortalecimento do atual processo de integração.
O surgimento do Conselho faz parte de um continuum inerente ao processo
de integração regional. O objetivo da pesquisa foi especular, portanto, se o processo
evoluiria para um nível mais avançado de cooperação na direção de uma integração
dos instrumentos de defesa.
Portanto, dessas considerações decorre a questão central proposta para a
investigação: o embasamento teórico, encontrado nas teorias de relações
internacionais, que influenciou a adoção da política externa brasileira de inserção
internacional contemporânea, bem como a elaboração das diretrizes de cooperação
militar regional da Estratégia Nacional de Defesa, poderia conter elementos que
indicassem cenários teóricos, favoráveis ao surgimento de um arranjo militar coletivo
sul-americano?, como consequente desdobramento do CDS, resultado da própria da
dinâmica de cooperação
A identificação de dispositivos dessa natureza indicam futuras hipóteses de
emprego e orientam processos de obtenção de capacidades estratégicas,
identificação que justifica a proposição do tema, pois evidencia a necessidade das
10
Forças Armadas obterem essas novas capacidades, impactando no preparo e no
emprego de seus instrumentos militares.
Sendo assim, tratou-se de entender as condicionantes teóricas da criação do
Conselho, à luz das teorias de relações internacionais e identificar os reflexos da
criação do CDS para os estudos de Segurança e Defesa.
Desta maneira, a hipótese levantada, orientadora da pesquisa, foi afirmativa,
acreditando-se na possibilidade do surgimento de uma Força de Segurança
Regional Sul-americana, muito embora não tenha sido estabelecida uma moldura
temporal para sua concretização que, no entanto, foi considerada no transcorrer da
pesquisa.
Os objetivos dessa pesquisa para serem alcançados necessitaram de uma
abordagem transdisciplinar A base metodológica adotada foi uma pesquisa
qualitativa, desenvolvida no amplo e multidisciplinar campo das ciências de relações
internacionais e da geopolítica. No campo das relações internacionais a pesquisa
focou as teorias pós-modernas, com suas contribuições para o pensamento
diplomático brasileiro, para explicar o mundo pós-Guerra Fria, evento que define,
também, o recorte cronológico adotado. Essas ciências foram base para a
construção de cenários teóricos, essenciais para o teste da hipótese.
Assim, foram aplicados diferentes procedimentos metodológicos, iniciados
com levantamento bibliográfico, em livros didáticos e em artigos e trabalhos
científicos acadêmicos, realizado, basicamente, em bibliotecas e empregando as
ferramentas de busca disponíveis na Internet. Coletou-se, também, fontes
documentais, primárias, para entender as políticas e estratégias de defesa, bem
como investigar discurso de chefes de estado e chanceleres do ordenamento
nacional, além de dados estatísticos para investigar a situação política e econômica
atual do subcontinente sul-americano. De forma complementar, foram inseridos
conhecimentos adquiridos, no decorrer do Curso de Altos Estudos de Política e
Estratégia, com palestrantes e conferencistas.
Ao longo da pesquisa adotou-se outro procedimento metodológico, realizando
a análise comparativa com o tempo histórico e com o modelo mais acabado de
integração regional, a União Europeia (UE), que serviu de modelo de experiência
empírica para o estudo.
11
Utilizou-se o procedimento hipotético-dedutivo na configuração dos cenários
balizadores do teste da hipótese levantada. A adoção de métodos qualitativos para
elaboração dos cenários, justificou-se pelo escopo de tempo destinado à realização
da pesquisa, que inviabilizaria a criação de modelos e sua aplicação, visando um
cenário mais específico.
Nesse contexto, a presente pesquisa procurou analisar a proposição do CDS
utilizando o método dedutivo, que partiu de uma análise abrangente para se chegar
à análise específica, utilizando variáveis independentes e variáveis dependentes.
Assim, as variáveis independentes são os elementos levantados nas teorias que
foram estudadas e a variável dependente é o provável surgimento de um arranjo
coletivo de defesa.
Reunidos os dados qualitativos foram empregados procedimentos analíticos,
buscando a discussão conceitual, com a apresentação dos principais conceitos
extraídos das fontes de pesquisa, base para a instrumentação teórica dos objetos do
estudo. A viabilidade da investigação foi testada pela argumentação lógica que se
pretendeu empregar.
Para alcançar o objetivo geral proposto, organizou-se o relatório da pesquisa
em três capítulos, coincidentes com os objetivos específicos, que evidenciam as
variáveis envolvidas no problema em questão.
O segundo capítulo apresenta os aspectos da END relativos à Defesa no
continente sul-americano e estuda os principais conceitos das teorias de relações
internacionais, contendo reflexões relativas ao entendimento da correlação entre as
teorias, os postulados da END, o estatuto do CDS e o pensamento político-
diplomático.
O Capítulo 3 apresenta a situação atual do cenário sul-americano, com foco
nos principais blocos regionais, onde se propõe identificar se esse espaço constitui
algum tipo de complexo regional de segurança.
O Capítulo 4 é espaço destacado às análises finais e apresentação dos
resultados, tendo sido retomado o estudo das teorias de relações internacionais e
incluído o estudo das teorias de geopolítica, agora abordadas como teorias
prospectivas, com intuito de se obter um cenário teórico onde seja possível realizar o
necessário teste da afirmação hipotética inicial.
12
2 O CONSELHO DE DEFESA SUL-AMERICANO (CDS), A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA (END) E AS TEORIAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A pesquisa, em um primeiro momento, examinou o instrumento inicial de
análise do trabalho, base para o entendimento da problemática a ser investigada, o
Conselho de Defesa Sul-americano, objeto central da reflexão proposta, que,
conforme resumo apresentado por Cabral, possui as seguintes características:
O Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) é uma instituição regional criada em 2008 com o objetivo de fomentar o intercâmbio no campo da segurança e defesa entre os Estados que compõem a UNASUL. No seu estatuto prevê que as decisões e deliberações adotadas pelo CDS devem ser acordadas com base no consenso e está prevista a realização de um encontro anual entre os ministros de defesa. O Conselho de Defesa não é uma aliança militar convencional, não prevê a existência de forças expedicionárias ou de intervenção no continente, mas um certo nível de coordenação militar regional na área da defesa continental e de cooperação nas áreas da segurança e defesa. As principais atribuições do CDS são: a elaboração de políticas de defesa conjunta nos assuntos da segurança continental, intercâmbio de informações e pessoal entre as Forças Armadas locais, realização de exercícios militares conjuntos, participação em operações de paz, troca de análises sobre os cenários mundiais de defesa, integração das indústrias de material de defesa, medidas de fomento de cooperação e confiança, apoio e ajuda em casos de acidentes e catástrofes naturais, etc. (2010, p.05, grifos nossos).
O CDS é, basicamente, um foro de discussão, que foi instituído por proposta
brasileira junto a União Sul-americana de Nações (UNASUL). Cabral em sua
interpretação parece não diferenciar os termos segurança e defesa. Uma leitura
mais atenta do estatuto do CDS revela que apenas o termo defesa aparece em seus
pressupostos. Os conceitos de segurança e defesa, em um entendimento mais
stricto, são diferenciados, embora inter-relacionados. Importante, pois, definir os
termos e esclarecer posicionamentos em relação a eles no decorrer da pesquisa.
Selecionou-se a definição de Medeiros Filho, para quem Defesa pressupõe
unidades políticas em disputa no sistema internacional anárquico, relacionadas com
ameaças provenientes do exterior, e Segurança se define a partir da ideia de ordem,
como padrão de convivência entre coletividades, com garantia de sobrevivência, da
independência, da autonomia das instituições e da soberania do território.
Segurança pressupõe um aparato institucional estabelecido, uma ideia de
comunidade (2005).
A Segurança é multidimensional, uma vez que pode ser observada como
local, nacional, regional ou global, ou como segurança social, ambiental, econômica
13
ou militar, ―pressupõe unidades submetidas a regras comuns [...] Enquanto a
primeira [Defesa] sugere competição, a segunda sugere cooperação [...] Enquanto o
ideal da Defesa é a paz, o ideal da Segurança é a ordem‖ (MEDEIROS FILHO,
2005, p. 82).
O estudo que se pretende desenvolver concilia os dois conceitos,
considerando-os, salvo em alguns momentos especificados, indistintos, para facilitar
a análise, pois, quando relacionados com a segurança do estado contra ameaças,
se confundem e se interpenetram. Os próprios constructos das relações abordam a
Segurança e a Defesa sem estabelecer um distinção marcante entre os dois
conceitos.
Outra distinção importante, embora sutil, é entre cooperação e integração,
que também parece não ter sido considerada por Cabral. O CDS só privilegia ações
de cooperação. Em termos simples, cooperação é menos ambiciosa que integração.
Importante elemento, que não pode ser dissociado deste estudo, criado,
também, a partir de iniciativa e esforços brasileiros, é a UNASUL. Entidade dotada
de personalidade jurídica internacional, composta por todos os países do sul do
continente, foi estabelecida em 2007, por evolução da Comunidade Sul-americana
de Nações e teve seu Tratado Constitutivo apresentado em 23 de maio 2008.
Alguns dos seus objetivos específicos, relevantes para o estudo são (UNASUL,
2008, não paginado):
i) a consolidação de uma identidade sul-americana através do reconhecimento progressivo de direitos a nacionais de um Estado Membro residentes em qualquer outro Estado Membro, com o objetivo de alcançar uma cidadania sul-americana [...] m) a integração industrial e produtiva, com especial atenção às pequenas e médias empresas, cooperativas, redes e outras formas de organização produtiva [...] q) a coordenação entre os organismos especializados dos Estados Membros, levando em conta as normas internacionais, para fortalecer a luta contra o terrorismo, a corrupção, o problema mundial das drogas, o tráfico de pessoas, o tráfico de armas pequenas e leves, o crime organizado transnacional e outras ameaças, assim como para promover o desarmamento, a não proliferação de armas nucleares e de destruição em massa [...] s) o intercâmbio de informação e de experiências em matéria de defesa.
O embrião da proposta do CDS e suas características já se encontravam na
Estratégia Nacional de Defesa (END), conforme consta nas diretrizes dessa
Estratégia:
18. Estimular a integração da América do Sul. Essa integração não somente contribuirá para a defesa do Brasil, como possibilitará fomentar a
14
cooperação militar regional e a integração das bases industriais de defesa. Afastará a sombra de conflitos dentro da região. Com todos os países avança-se rumo à construção da unidade sul-americana. O Conselho de Defesa Sul-Americano, em debate na região, criará mecanismo consultivo que permitirá prevenir conflitos e fomentar a cooperação militar regional e a integração das bases industriais de defesa, sem que dele participe país alheio à região (BRASIL, 2008 a).
Percebe-se, no texto da END, que a cooperação regional é evidenciada,
como forma de garantir a Defesa, e está reproduzida no conteúdo dos estatutos das
instituições foco do estudo inicial. A correlação de objetivos da estratégia de defesa
e do CDS não é coincidência, pois o processo de implantação da UNASUL e do
CDS teve participação decisiva da diplomacia brasileira. A política externa está
relacionada com a política de defesa. Nascimento ratifica a afirmação, ―à política de
defesa cabe apoiar as ações de política externa‖ (2012 a, p. 1). O que se pretendeu
estudar foram as influências das teorias de relações internacionais na construção da
Política Externa brasileira que vem sendo adotada para o hemisfério, refletindo
sobre seus objetivos e consequências, ou seja, influências que justificam os
interesses brasileiros na proposição dessas Instituições regionais.
Nascimento sustenta considerações sobre os interesses evidenciados:
As motivações brasileiras são levantadas a partir de interesses da política externa e da política de defesa: fortalecer o processo de integração da América do Sul e criar uma identidade sul-americana de defesa, de forma a facilitar as articulações e avançar os interesses comuns regionais de segurança e defesa no plano internacional (2012 a, não paginado).
De fato, o espaço sul-americano entra na agenda brasileira, como prioridade,
no governo Fernando Henrique Cardoso que, no ano de 2000, propôs a primeira
reunião com todos os chefes de estado do subcontinente.
A integração regional se mostra como uma prioridade evidente nos governos
posteriores. É relevante investigar a politica externa do governo LULA DA SILVA,
por meio de seu discurso:
Vamos olhar com especial atenção os nossos vizinhos da América do Sul. [...] O Brasil tem sólidas credenciais de país que há mais de um século vive em paz e harmonia com seus dez vizinhos. De um país que participou decididamente, desde sempre, da construção do direito internacional e da fundação das organizações multilaterais que são os pilares da boa ordem mundial. [...] Isso nos dá melhores condições possíveis para sermos um
15
ativo promotor da estabilidade política, econômica e social na região. [...] Estamos profundamente empenhados na integração da América do Sul
1.
Embora o discurso tenha sido proferido em 2001, continua atual, pois as
políticas de integração sul-americanas mantém a mesma prioridade no governo
DILMA ROUSSEFF, conforme discurso do seu Ministro das Relações Exteriores,
Aguiar Patriota:
Ancorados em nosso entorno sul-americano, teremos a nossa disposição um MERCOSUL robusto e uma UNASUL crescentemente coesa. Compete-nos completar a transformação da América do Sul em um espaço de integração humana, física, econômica, onde o diálogo e a concertação política se encarregam de preservar a paz e a democracia. Onde os elos que vimos estabelecendo entre nossas classes políticas, nossos setores privados e nossas sociedades contribuirão para uma região cada vez mais unida no propósito de oferecer melhores condições de vida a nossa gente (2011)
2.
O entendimento da prioridade brasileira de integração regional passa pelo
estudo da estratégia de política externa adotada:
o governo Lula da Silva realizou mudanças de ênfases e de tonalidade em sua política externa (ajustes), buscando novas formas de inserção internacional para o país (mudanças de programas) [...] procurou inserir o Brasil no cenário mundial acentuando formas autônomas, diversificando os parceiros e as opções estratégicas brasileiras [...] Lula da Silva utiliza uma estratégia que poderia ser batizada de ‗autonomia pela diversificação’, enfatizando a cooperação Sul-Sul para buscar maior equilíbrio com os países do Norte, realizando ajustes, aumentando o protagonismo internacional do país e consolidando mudanças de programas na política externa. Segundos os autores, a autonomia pela diversificação caracteriza-se pela: [..] adesão do país aos princípios e as normas internacionais por meio de alianças Sul-Sul, inclusive regionais, e de acordos com parceiros não tradicionais (China, Ásia-Pacífico, África, Europa Oriental, Oriente Médio, etc.), pois acredita-se que eles reduzem as assimetrias nas relações externas com países mais poderosos e aumentam
a capacidade negociadora nacional. (CEPALUNI; VIGEVANI, 2007, p. 282-283, apud NASCIMENTO 2008, p. 03, grifos do autor)
O Brasil tem interesse no fortalecimento do multilateralismo, porém, prioriza o
espaço sul-americano, aonde vem exercendo o papel de protagonista nas iniciativas
de cooperação regional, na direção de um desenvolvimento econômico e
estabilidade política, fortalecendo as relações e instituições internacionais regionais.
Interessa formar uma base de poder compartilhado, um lebesraun, para ganhar
1 Discurso proferido no National Press Club. Washington, DC, em 10 dez. 2001. Disponível em:
<http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa>
2 Discurso proferido por ocasião da transmissão de cargo. Brasília, DF, 2003. Disponível em:
<http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa>.
16
maior poder específico nas negociações multilaterais e, até mesmo, para se
posicionar como um ator de relevância no mundo multipolar, ou unimultipolar, que
vem se delineando nesse início de século, exercendo papel expressivo no cenário
internacional.
O estabelecimento da UNASUL e do CDS, além de fortalecer a estrutura
política regional, busca, também, se opor à forte influência do hegemon, que dificulta
o processo de integração, e estabelecer conceitos e mecanismos de segurança
independentes.
A inspiração para a iniciativa brasileira orientou-se pela estratégia da autonomia pela diversificação, que aponta para a redução das assimetrias de poder no sistema internacional. No subsistema América do Sul, um dos aspectos que caracterizariam a redução dessas assimetrias seria a procura pelo afastamento das políticas de segurança hemisférica, formuladas a partir de Washington. (NASCIMENTO, 2012 a, não paginado, grifos do autor)
Os discursos apresentados abordam superficialmente a perspectiva da
Segurança e Defesa. A aula magna do Ministro de Estado da Defesa, Celso Amorim,
estabelece a ótica de Segurança e Defesa continental e contém elementos que
ilustram com clareza as teorias de relações internacionais que oferecem lastros
conceituais e teóricos para a inciativa brasileira:
Devemos construir com essas regiões um verdadeiro ´cinturão de boa vontade´, que garanta a nossa segurança e nos permita prosseguir sem embaraços no caminho do desenvolvimento. O Brasil deseja construir em nosso entorno uma ´comunidade de segurança´, no sentido que o cientista político Karl Deutsch deu a essa expressão, isto é, um conjunto de países entre os quais a guerra se torna um expediente impensável
3 (informação
verbal, grifo nosso).
Cabe investigar o conceito de comunidade de segurança e como ele pode ser
associado ao espaço sul-americano. Para Barreira (2009) ―uma das principais
contribuições de Deutsch foi a introdução do conceito de ‗comunidade de segurança‘
na literatura especializada em relações internacionais‖ (p. 02).
O autor parte de um problema que é o da conjugação de segurança e prosperidade, ou seja, como conseguir que um estado aumente seu desenvolvimento sem ameaçar os demais. Deutsch argumenta que a prosperidade com segurança é obtida através do Direito internacional, dos organismos internacionais, do federalismo e dos interesses supra-nacionais [sic]. Ele descreve alternativas já observadas por outros teóricos que freariam o desejo de expansão de um Estado-nação que ameaça a segurança de um outro ou mais (p. 02).
3 Realizada na Escola de Guerra Naval, Rio de Janeiro, em 12 mar. 2012.
17
A prevalência da integração como forma de alavancar e sustentar o
desenvolvimento regional, com reflexos positivos para a Segurança, está presente
nos discursos do chefe de estado e chanceler brasileiros. O próprio posicionamento
histórico recente do Brasil na condução pacífica das questões diplomáticas regionais
facilita as negociações e reforça os discursos.
A construção do espaço sul-americano é uma realidade recente e nem todos
os elementos propostos por Deustch estão presentes. Por isso, o subcontinente está
longe de um federalismo, e o direito internacional regional ainda se configura de
forma incipiente.
A criação dos organismos internacionais regionais, no entanto, vem se
ampliando após a criação da UNASUL e, aparentemente, se fortalecendo, pelo
esforço dos chefes de estado em priorizarem o consenso na condução das crises
que surgiram desde sua criação.
Investigados o CDS, a END e os interesses da Política Externa em suas
proposições, quais sejam integração, desenvolvimento e segurança, coube
especular sobre as teorias de relações internacionais que influenciaram as matizes
de pensamento dos propositores desses instrumentos políticos.
2.1 A TEORIA DE INTEGRAÇÃO TRANSNACIONALISTA
A visão de Deustch inspirou os teóricos da escola de integração
transnacionalista, para os quais os processos de integração estão relacionados com
os processos de formação de uma comunidade de segurança. Esses processos se
iniciam pelas ligações funcionais, que podem se dar pelo comércio, turismo ou
colaboração militar. Interessante destacar que a integração sentimental das
comunidades precede às mudanças institucionais e políticas. A integração culmina
com o sentimento de pertencer a um grupo, autoconsciência de uma identidade
comum ―sentir-se europeu, ou sul-americano‖ (SARFATI, 2006, p. 188). Perseguir
um senso de identidade é um dos objetivos da UNASUL.
Os objetivos da UNASUL procuram ampliar ligações funcionais, em especial
no campo político, já que ligações pelo comércio existem desde a criação dos
primeiros mecanismos regionais de fomento ao intercâmbio comercial, além de
18
reforçar as ligações sentimentais existentes. Apesar da língua e processo de
colonização diversos do Brasil em relação aos outros países, os traços comuns de
latinidade, mestiçofilia indigenista ou afro-americana, e nacionalismo, constituem
forte senso de identidade preexistente entre as nações integrantes, que
compartilham valores históricos comuns. O CDS pode ter o mérito de reforçar a
identidade sul-americana em assuntos de Defesa.
construir, de maneira participativa e consensuada, um espaço de integração e união no âmbito cultural, social, econômico e político entre seus povos, priorizando o diálogo político, as políticas sociais, a educação, a energia, a infraestrutura, o financiamento e o meio ambiente, entre outros, com vistas a eliminar a desigualdade socioeconômica, alcançar a inclusão social e a participação cidadã, fortalecer a democracia e reduzir as assimetrias no marco do fortalecimento da soberania e independência dos Estados (UNASUL, 2008, não paginado).
População de 335 milhões de habitantes, 6 % da população mundial. A maior parte dessa massa humana é católica e de origem ibérica, que pelas suas características antropológicas comuns, e um passado histórico compartilhado, conduziram a uma homogeneidade que facilitaria o processo de integração (MOREIRA, 2008, p, 08).
2.2 A TEORIA FUNCIONALISTA E NEOFUNCIONALISTA
A cooperação entre países em determinados assuntos é baseada em arranjos
políticos, em que as partes aceitam certa diminuição de sua soberania em relação a
uma determinada função. Essa teoria de integração das funções, ou teoria
funcionalista, desenvolvida na década de 1940 por David Mitrany, estuda a
cooperação em determinadas funções, que são materializadas em instituições
internacionais.
O objetivo do funcionalismo é estudar o funcionamento das organizações
internacionais e como elas podem levar a cooperação, baseada na proliferação de
organizações formadas para cumprir determinada função. Um exemplo é a
Comunidade Econômica Europeia, que levou estados historicamente rivais a
cooperarem em diversas funções (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
O pensamento funcionalista impulsionou os processos de integração regional,
especialmente o europeu. ―O objetivo era o de garantir, por meio de uma função
econômica, a paz em termos políticos.‖ (SARFATI, 2006, p. 185).
19
Para os funcionalistas as estratégias de cooperação e integração eram mais
eficientes, técnica e racionalmente, na promoção do crescimento econômico e na
distribuição de benefícios sociais (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
Os reveses da Comunidade Econômica Europeia da década de 1960
mostraram que nem sempre a interdependência técnica produz cooperação e paz.
Esses revezes aconteceram por disposições eminentemente políticas da França
(NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
O neofuncionalismo de Ernest Haas, fundamentado na experiência da
integração europeia, acrescenta, à Teoria, dimensão política e os valores,
acreditando ser a ―cooperação na interdependência a melhor forma de organizar as
relações internacionais pacificamente‖ (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 79).
Parafraseando Haas, Sarfati (2006) ―sugere que as instituições têm um papel
fundamental na formação de um sentido de comunidade [...] a institucionalização é
que leva os cidadãos a reforçar sua lealdade para um nível supranacional‖ (p. 187).
Essas instituições reforçariam a integração criando um sentido mais amplo de
interdependência.
Outra colaboração dos funcionalistas foi o conceito de spillover effect, ou
transbordamento, desenvolvido por Haas, em que:
a integração em determinada função conduziria a integração de outras funções em um processo de intensificação da integração. [...] cada passo da de integração funcional dispara um processo político que gera demandas por novos passos [...] os governos nacionais a cada passo, são forcados a escolher entre ceder sua autonomia em mais uma função ou, em caso de recusa, colocar em risco os esforços de integração setorial consolidados (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p.187).
Paralelo pode ser traçado com a América de Sul e suas instituições de
cooperação regionais, como o Mercosul e a Comunidade Andina, que vêm
exercendo um importante papel na obtenção de um ambiente político mais
democrático e estável, partindo de acordos comercias e cooperação econômica. A
UNASUL e o CDS, embora sendo arranjos exclusivamente políticos, buscam ampliar
essa experiência, abrangendo todos os países sul-americanos.
A interdependência, principalmente quando assimétrica, pode ser fonte de
conflito. Nogueira e Messari explicam quais as propostas que os liberais apresentam
para reduzir essa possibilidade.
20
A questão que se coloca, então, é a de buscar meios para administrar tais conflitos de maneira a permitir que os estados usufruam de um sistema internacional mais integrado [...] propunham encarar as organizações como resultado de escolhas feitas pelos estados. A função das organizações seria suprir a redução de presença do estado no exercício de um numero cada vez maior de tarefas [...] serviriam para reduzir os custos de interdependência e criar condições favoráveis à cooperação (2005, p. 87).
Ainda visitando Sarfati (2006), uma crítica aos funcionalistas deve ser
apresentada, ―os indivíduos não dão sua lealdade aos estados porque eles
‗performam‘ diversas funções e, sim [...] porque são capazes de dar segurança aos
seus cidadãos contra ameaças do mundo exterior, e essa é a última função em que
os estados cederiam sua soberania― (p. 186, grifos do autor).
O principio da soberania é uma instituição, base da segurança. No entanto,
ao compartilharem valores, institucionalizando normas e práticas, formam
identidades de reforço positivo, podendo formar comunidades de segurança
(SARFATI, 2006).
A obtenção da interdependência entre os diversos subsistemas sul-
americanos é dificultada pelas barreiras geográficas, pela complementaridade dos
produtos de exportação, que dificultam o comércio intrarregional, e pela herança do
pacto colonialista, que exigia a produção exclusiva para atender a metrópole,
direcionando os esforços de produção para a exportação extracontinental.
A UNASUL e o CDS pretendem reduzir as assimetrias regionais, privilegiando
a cooperação, o esforço conjunto de desenvolvimento, o consenso nas decisões
políticas e a construção de uma infraestrutura que interligue os países, como forma
de fortalecer a soberania e independência dos estados.
2.3 A TEORIA CONSTRUTIVISTA
A premissa básica do construtivismo é que o mundo é socialmente
construído, pode ser transformado, ou seja, nega o mundo internacional anárquico
hobbesiano, onde o ambiente internacional seria um campo de disputa constante
entre as nações, que sempre opõem interesses conflitantes. As regras e as normas
organizariam e norteariam o sistema internacional, variando entre a cooperação e o
conflito.
21
Ampliando a análise, Montenegro propõe uma abordagem construtivista sobre
as motivações teóricas do estabelecimento do CDS ao investigar Emanuel Adler,
para quem as comunidades de segurança são ―grupos de pessoas que
compartilham um ambiente comunicativo e, consequentemente, compartilham
valores, responsabilidades (um ‗sentimento de nós‘) e confianças mútuas‖ (ADLER,
1999, p. 213, apud MONTENEGRO, 2011, p. 07, grifos do autor).
Essas comunidades seriam semelhantes a comunidades intersubjetivas,
formadas pelas ações e interações humanas.
As estruturas das políticas internacionais são intersubjetivas e definem os interesses e identidades dos estados. Nessas relações intersubjetivas, o compartilhamento de valores, normas e histórias entre os atores constituem um fator impulsionador dos processos para integração regional, que podem vir a formar verdadeiras comunidades de segurança [...] o CDS que busca a integração da região em matéria de defesa, é um exemplo de mecanismo pelo qual se almeja o compartilhamento de valores e normas entre os estados membros (MONTENEGRO, 2011, p. 02).
As instituições são formadas por relações intersubjetivas, que devem ser
estudadas para se prevenir os conflitos. As organizações internacionais podem
modelar práticas dos estados, atuando como meio de interação e, inclusive,
desenvolvimento de interesses e identidade (ADLER, 1999, apud MONTENEGRO,
2011).
Alguns construtivistas, assim como os transnacionalistas, exploram o papel da
identidade na formação do interesse dos estados, assumindo, contudo, uma
perspectiva estatocêntrica. Sem ignorar a importância dos atores não estatais,
afirmam que os interesses são determinados pelo processo social de construção e
podem ser formados essencialmente por segurança física, ontológica, ou desejo de
identidades sociais estáveis, sobrevivência e desejo de uma vida melhor, no qual os
estados são repositórios de um desejo coletivo (SARFATI, 2006).
As relações de cooperação e conflito entre Estados dependem
substancialmente do processo de identidade entre eles. ―Os Estados que se
identificam positivamente entre si tendem a cooperar‖ (SARFATI, 2006, p. 262).
Não há dúvida de que os interesses podem ser definidos de forma egoística,
porém, a identidade pode levar a interesses coletivos afetados, dentre outros, por
processos sistêmicos, que dizem respeito a interdependência, ―que assume a forma
de um aumento nas interações entre estados‖ (SARFATI, 2006, p. 265).
22
Segundo Montenegro, ―Deutsch mostra-nos que através dessa
integração/cooperação existe a possibilidade de superar algumas disputas e
conflitos‖ (2011, p. 08).
O autor destaca a importância do estudo da função das instituições e
organizações internacionais na construção social das comunidades de segurança.
Interpretando Adler, afirma que as estruturas não são objetos reificados, mas podem
ser mudados pelos atores, por suas práticas e por seus discursos.
Para reforçar sua posição Montenegro (2011, p. 08) cita Andrew Hurrel:
a emergência de ‗comunidades de segurança‘ e de ‗zonas de paz democrática‘ dentro de determinadas regiões (a Europa, ou ao menos, partes desta, e as Américas) dá aos liberais otimistas mais uma razão para supor que a anarquia e o conflito não são características inevitáveis e imutáveis da vida internacional (1999, p.05, grifo do autor).
Sobre a realidade, Sarfati diz que ―as relações, historicamente cooperativas,
entre Brasil e Argentina, produzem cooperação, em vez de balanceamento de
poder.― (2006, p. 263).
Outro ponto a se destacar dos pressupostos construtivistas diz respeito ao
conceito de identidade coletiva, relacionada com a percepção positiva entre
identidades de um ou mais estados, oposta à ideia neorealista de que os atores são
sempre egoístas.
Em relação à formação de uma identidade coletiva, ela estaria centrada na convergência transnacional dos valores domésticos, como o consumismo, os Estados começam, cada vez mais, a se parecer, originando, então, uma identidade coletiva (SARFATI, 2006, p. 265).
Obtida uma identidade coletiva entre estados que compartilham uma
identidade comum, pela produção de normas, regras e princípios, os problemas,
inclusive os de Segurança, passariam a ser resolvidos em uma base internacional,
pela ação coletiva (SARFATI, 2006).
Submetidos à perspectiva construtivista, a UNASUL e o CDS tendem a
reforçar a identidade e os interesses das Nações com base na intersubjetividade,
reforçada pelos discursos regionais. Os interesses outrora antagônicos, potenciais
geradores de conflitos entre alguns países da região, como no caso de Brasil e
Argentina, vêm sendo revertidos com os processos de integração, notadamente os
23
acordos comerciais. Sob a coordenação da UNASUL/CDS, o hemisfério sul-
americano pode ser levado a uma identidade coletiva de Defesa.
Estudada a contribuição oferecida pelas teorias apresentadas, restou, nesta
seção, a reflexão sobre como a Segurança pode estar configurada em determinado
espaço regional.
2.4 O COMPLEXO REGIONAL DE SEGURANÇA (CRS)
Discussão necessária é a Segurança continental e como pretendem ser as
estruturas de complexo regional de segurança. Entende-se esse complexo como
formado ―por um conjunto de unidades cujos principais processos de securitização,
dessecuritização ou ambos, são tão interligados que seus problemas de Segurança
não podem ser razoavelmente analisados ou resolvidos de maneiras independentes
umas das outras‖ (BUZAN & WÆVER, 2003, p. 44, apud CEPIK, 2005, p. 03,
tradução do autor).
Cepik infere que os dois autores priorizam a análise regional para os
problemas de Segurança do sistema internacional, acrescentando:
a situação existente durante a Guerra Fria [...] foi transformada na direção de uma clara diferença de capacidades entre os Estados Unidos, por um lado, e a União Européia, Japão, China e Rússia (grandes potências), por outro. A isto se somou uma relevância crescente dos complexos regionais de segurança (RSC seguindo a denominação em inglês) e das potências regionais, tais como Índia, Brasil, África do Sul e outras. [...] as relações internacionais contemporâneas na área de segurança tendem a configurar complexos regionais consistentes e estáveis – é mediada pelo reconhecimento a respeito da centralidade da distribuição de poder das unidades relevantes no sistema como um todo (BUZAN & WÆVER, 2003, apud CEPIK, 2005, p. 05, tradução do autor).
Os CRS começaram a ser estudados no início do século XX e os modelos
propostos se adaptaram às mudanças durante as duas grandes guerras e o mundo
da Guerra Fria. No período Pós-Guerra Fria, com a emergência da potência
hegemônica e os novos arranjos de poder, as potências regionais, como a África do
Sul e o Brasil, ganharam relevância, compondo novos arranjos regionais de
segurança (CABRAL, 2010).
O fim da disputa ideológica serviu, em determinadas regiões, para a construção de laços de confiança na área de segurança possibilitando o início e/ou aprofundamento da integração regional em termos de desenvolvimento econômico e social. Na América do Sul, esta possibilidade
24
se apresentou com a superação das rivalidades históricas entre Brasília e Buenos Aires, que se transformaram no núcleo dinâmico do processo de integração regional e continental iniciada pelo Cone Sul (p. 02).
Como inferência parcial desta etapa da pesquisa, pode-se afirmar que os
países da América do Sul, que compartilham passado e presente histórico-cultural,
possuem razoável senso de identidade, observando-se, no entanto, baixa
interdependência.
Os pressupostos do construtivismo, do funcionalismo e da teoria de
integração transnacionalista apontam para a importância, principalmente, dos
conceitos de identidade, interdependência e relações intersubjetivas, por um
ambiente regional mais desenvolvido e seguro que possa vir a compor uma
comunidade de segurança.
Esses pressupostos, presentes nos discursos abordados e na END, embora
não se tenha a pretensão de concluir que se configuram cânone, revelam, com certa
nitidez, a influência exercida sobre os atuais formuladores das políticas, externa e de
defesa, e a consequente conformação dos interesses nacionais. Ao proporem a
criação das instituições regionais, medidas que fomentam a confiança e o
entendimento mútuo, objetivam aumentar a integração entre os países, incrementar
a intersubjetividade e reforçar o senso de identidade, em busca do desenvolvimento,
como suporte para afiançar a paz.
Optou-se por usar a ótica do construtivismo para sustentar o prosseguimento
da pesquisa, por incorporar os principais conceitos das demais linhas teóricas aqui
abordadas e por não ―descartar as noções de interesse, poder, fronteiras e conflitos
territoriais‖ (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 28), inerentes ao conceito tradicional de
soberania.
25
3 O CONTEXTO DE SEGURANÇA E DEFESA SUL-AMERICANO
Outro momento analítico da pesquisa se voltou para o aspecto específico da
caracterização e investigação da situação do Complexo Regional de Segurança sul-
americano, com base nos processos de democratização e regionalização, e ênfase
na cooperação e integração no campo de Segurança e Defesa, partes do processo
de integração regional.
Trata-se, também, de verificar os impactos das transformações do sistema
internacional, ocorridas no fim do século passado e início do século atual, na
conformação e na evolução do atual Complexo, objetivando identificar se as atuais
relações de interdependência configuram algum estágio de formação de uma
comunidade de segurança.
A dimensão político-cultural, que influencia a Segurança e a Defesa, foi
priorizada sem, contudo, deixar de se considerar a dimensão econômico-comercial,
na forma como foram definidas por Medeiros Filho:
Na primeira [econômico-comercial], a regionalização será entendida a partir da integração de redes (comércio, transporte, comunicações, etc.), como parte do processo de globalização [...] a dimensão politico-cultural [...] pressupõe a regionalização como processo de construção de comunidades com base em identidade coletivas regionais. Assim, o sentido de integração regional vai muito além do que uma simples formação de bloco econômico. (2005, p. 54).
O estudo da dimensão econômico-comercial, evidenciando a conjuntura dos
relacionamentos dos principais blocos regionais, é relevante, pois ao estabelecer
―redes de comunicações e fluxos de transações entre pessoas de diferentes países
constrói uma identificação coletiva compartilhada induzindo entre eles um senso de
comunidade‖ (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 56).
[Barry] Buzan mostra que os atuais processos de regionalização econômica são acompanhados pela formação de comunidades de segurança, o que pode ser constatado na América Latina, Europa Ocidental, Ásia, África e América do Norte (TANNO, 2003, P.67, apud MONTENEGRO, 2011, p. 11)
Ao longo do capítulo serão estabelecidas analogias com o processo de
integração europeu, marco empírico e modelo mais acabado de cooperação, que
serve de paradigma para o modelo sul-americano.
De início recorreu-se a Montenegro, que resume as classes de comunidade
de segurança, definidas por diversos autores. Deutsch descreve dois tipos de
26
comunidades de segurança: as fundidas e as pluralistas. No primeiro tipo existe uma
fusão política formal entre os Estados e no segundo a independência e soberania
são conservadas. Adler e Barnett conceituam uma comunidade de segurança
pluralista como sendo ―uma região transnacional composta de Estados soberanos
cujo povo mantém expectativas seguras de mudança pacífica‖ (1998, p. 30, apud
MONTENEGRO, 2011, p. 09, tradução do autor).
Segundo os autores citados por Montenegro, esse tipo de comunidade de
segurança é categorizado principalmente pela profundidade de confiança e pelo
grau e natureza da sua institucionalização. Eles ainda desenvolveram um modelo de
classificação dessas comunidades de segurança, no qual estabelecem a evolução
típico-ideal delas na seguinte ordem: nascente, ascendente e madura.
Na fase nascente [...] esses governos descobrem ou reconhecem que possuem interesses comuns no que tange à segurança e que podem se beneficiar mutuamente através da coordenação de suas políticas. Na fase ascendente presencia-se o aumento das relações entre os Estados, com a criação de novas instituições e organizações que refletem por sua vez o fortalecimento da cooperação e coordenação militar e a diminuição da percepção de que o outro Estado representa uma ameaça à minha segurança. E por fim, na fase madura, cada vez mais essas relações tornam-se institucionalizadas, tanto no ambiente doméstico quanto no supranacional, e cada vez mais a guerra torna-se improvável. Aqui nessa fase os Estados compartilham uma identidade, e forma-se então uma comunidade de segurança (MONTENEGRO, 2011, p. 09-10).
Ainda segundo Montenegro, existem graus de vínculo entre os tipos de
comunidades de segurança. As de vínculo fraco são caracterizadas por indicadores
como o amplo multilateralismo, o patrulhamento das fronteiras não reforçado, as
mudanças no planejamento militar, a definição comum de ameaças externas e um
código/discurso convergente na comunidade (2011).
Já em uma comunidade de segurança de forte vínculo ―os indicadores que a
definem são: segurança coletiva e cooperativa, alto grau de integração militar, a
coordenação política contra ameaças ‗internas‘ [...]‖ (MONTENEGRO, 2011, grifos
do autor, p.10).
No prosseguimento Cepik auxiliou na caracterização de um complexo
regional de segurança, que pode ser conformado por três tipos de relações: a
distribuição de poder entre os Estados da região ou polaridade regional; os padrões
de amizade-inimizade entre os atores nos setores militar, político, social, econômico
27
e ambiental (polarização) e as relações de poder com atores externos (CEPIK,
2005).
Já do ponto de vista do padrão de distribuição de poder, os RSCs podem ser classificados em dois tipos principais: ‗padrão‘ e ‗centrados‘. Nos RSCs padrão, a multipolaridade é definida principalmente pela presença de mais de uma potência regional (caso do Oriente Médio, América do Sul, Sul da Ásia, Chifre da África e África Austral) [...] Por outro lado, os processos mais relevantes e interessantes para serem analisados são justamente as tentativas de transformação – dirigida por grandes potências ou potências regionais – na direção de complexos regionais ‗centrados‘ em torno de uma potência ou de um conjunto de instituições (CEPIK, 2005, p. 05).
Cepik descreve, ainda, as classificações dos CRS, estabelecidas por Buzan &
Wæver, segundo os padrões de amizade-inimizade, em três tipos: formações
conflituais, regimes de segurança e comunidades de segurança.
O ator externo de maior relevância, no campo da Segurança e Defesa, com
quem os atores regionais se relacionam, são os EUA que, historicamente,
influenciam decisivamente os processo de securitização/dessecuritização. Apesar de
sua construção ter sido iniciada na década de 1930, sob liderança dos EUA, o
sistema de segurança coletivo das Américas teve maior relevância no contexto da
Guerra Fria (CABRAL, 2010).
Na Guerra Fria [...] o sistema foi rearticulado dentro da lógica da confrontação bipolar com o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR-1947) e a criação da Organização dos Estados Americanos (OEA-1948) (p. 04).
No entanto, sempre existiram iniciativas de independência em relação às
políticas de segurança da potência norte-americana por parte de alguns países.
Cabral argumenta que já durante o conflito bipolar, o Brasil começou um processo
de afastamento e independência das políticas de Washington, tendo como marco
inicial a crise dos mísseis.
Isto pode ser percebido a partir de três marcos conjunturais: a crise dos mísseis de Cuba (1962), a Guerra das Malvinas (1982) e os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. O conflito das Malvinas (1982) veio a reforçar esta tese e novas iniciativas como a criação da ‗Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul‘ (1986), o acordo de Mendonza (1990), proibindo o uso de armas químicas e biológicas, a criação da ‗Zona de Paz Sul-Americana‘ (2000) e a abdicação da fabricação de armas nucleares por Brasil e Argentina (2010, p. 04, grifos do autor).
O debate pós Guerra-Fria, inspirado no ideário kantiano, indicava que o
mundo caminhava para a paz duradoura. A discussão tradicional do fenômeno da
guerra, estatocêntrica, era ofuscada por assuntos de ordem econômica (MEDEIROS
28
FILHO, 2005). A estratégia do Engagement and Enlargement4 americana interligava
a ―segurança nacional e a economia mundial‖ (GÓES, 2008, p. 44).
Os EUA procuraram alterar a estratégia de domínio, reformulando a estrutura
de defesa hemisférica, procurando impor novos objetivos de Segurança e novas
percepções de ameaça, tornando-as mais difusas (OLIVEIRA, 2010).
A Conferência dos Ministros de Defesa das Américas, realizada no ano de
1995, ―engendrou seis grandes axiomas denominados princípios de Williamsburg [ou
nova ordem militar de Williamsburg]‖ (SANDOVAL, 2008, p. 59), com destaque para
o sexto axioma, que propõe o engajamento das forças armadas latino-americanas
no combate ao narcotráfico, transformando-as em forças policiais.
As questões internas se exacerbam com o acréscimo das demandas dos povos indígenas, às novas questões de segurança juntaram-se as antigas de cunho socioeconômico. Na área da segurança, tais reformas implicaram na redução do efetivo e da capacidade de dissuasão das Forças Armadas ou a sua descaracterização como instituições ligadas à Defesa, uma vez que em alguns Estados foram relegadas à função de polícia, responsáveis pela ordem interna e ao combate à narcoguerrilha. A crescente complexidade do ambiente de segurança, fez com que ameaças até então não reconhecidas ou subestimadas, fossem introduzidas na pauta da segurança, tais como: meio ambiente, tráfico de drogas, movimentos irregulares de capital, epidemias, abusos aos direitos humanos, a desintegração de Estados, conflitos étnicos, movimento de refugiados (CABRAL, 2010, p. 04).
O evento de 11 de setembro, porém, mostrou que ―as fronteiras não haviam
acabado. Os conflitos entre os povos mostravam seus sinais‖ (MEDEIROS FILHO,
2005, p. 05). O campo da Defesa e Segurança para as Américas tiveram prioridade
nas discussões da quinta Conferência do Ministros de Defesa, em 2002,
Conferência de Santiago. Ressaltou-se a importância do ―sistema de segurança
complexo, formado por instituições e regimes de segurança coletivos e cooperativos
que, aos poucos, formam ‗uma nova arquitetura de segurança flexível‘‖ (OLIVEIRA,
2010, p. 25, grifo do autor). Já na sexta, em Quito, tomou-se o conceito de
Segurança multidimensional, que foi apresentado na Declaração de Cuzco em 2003:
Nossa nova concepção da segurança no Hemisfério é de alcance multidimensional, inclui as ameaças tradicionais e as novas ameaças, preocupações e outros desafios à segurança dos Estados do Hemisfério, incorpora as prioridades de cada Estado, contribui para a consolidação da paz, para o desenvolvimento integral e para a justiça social e baseia-se em
4 Estratégia engendrada pelo presidente BILL CLINTON no início dos anos 90, desenvolvida a partir
do colapso geopolítico do Império soviético. Fonte: ESG, Disponível em: <http://www.esg.br/uploads/2009/01/001.pdf>.
29
valores democráticos, no respeito, promoção e defesa dos direitos humanos, na solidariedade, na cooperação e no respeito à soberania nacional
5.
Cabral elenca os principais problemas de Defesa e Segurança da região:
especulações norte-americanas da presença de grupos radicais islâmicos [...] além de vários outros ilícitos como contrabando, pirataria, tráfico de drogas [...] a securitização da política externa norte-americana para a região, a instalação de novas bases militares, o aumento de assessores militares e de outras agências na região, e a reativação da 4ª Frota [...] as FARC e sua ligação com produtores e traficantes de drogas [...] os movimentos indígenas, desestabilizando vários governos (Bolívia, Equador e Peru) [...] a possibilidade de uma intervenção direta ou indireta norte-americana nos conflitos internos de nações sul-americanas [...] questão da violência interna, fruto dos crimes ligados ao tráfico de drogas, quanto da corrupção, da pobreza e da desigualdade [...] o aumento dos gastos militares na região em particular no Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela [...]volta de antigas reivindicações territoriais [...] surgimento de novas rivalidades regionais e projetos de projeção de poder [...]presença de organizações não-governamentais cujos interesses e ações escapam ao controle dos Estados [...] (p. 06).
Observa-se que os assuntos de Segurança predominam em relação aos de
Defesa, e que as ameaças, por serem cada vez mais transnacionais, são
compartilhadas. Os políticos e diplomatas da região, em seus discursos, entendem
que as soluções também devem ser compartilhadas. As fronteiras devem ser
entendidas como ―oportunidades de cooperação‖ (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 12).
Nesse sentido, trabalhou-se para demostrar que o processo de integração
regional é o que vem sendo priorizado nas últimas décadas, na perspectiva de uma
visão integrada, estabelecendo-se ambiente institucional adequado ao
desenvolvimento de uma interdependência, para a construção de uma nova
geopolítica no espaço sul-americano e o CDS é o mais recente instrumento das
iniciativas integradas em matéria de Defesa.
O atual quadro regional tem se caracterizado pela substituição de uma geopolítica de contenção, de cunho militar, para uma geopolítica integracionista, fortemente influenciada pelas questões econômicas, na qual as fronteiras se constituem em pontos de articulação (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 84, grifos do autor).
5 Declaração sobre Segurança nas Américas, Art. 2. México, 2003. Disponível em:
<http://www.oas.org/documents/por/DeclaracionSecurity_102803.asp>
30
3.1 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO REGIONAL EM SEGURANÇA E DEFESA
Caracterizados os tipos de CRS e os estágios de formação de uma
comunidade de segurança, além de classificados os problemas de Segurança e
Defesa, passou-se a avaliação da conjuntura dos processos de integração,
destacando-se os mecanismos de cooperação.
As iniciativas de integração visam superar os obstáculos à Segurança
regional, buscando soluções conjuntas para problemas políticos, econômicos e de
defesa. Mesmo dispondo de um Produto Interno Bruto de cerca de US$ 4 trilhões e
a região, como um todo, vindo a sofrer um processo de democratização, as
assimetrias política e, principalmente, econômica são o maior desafio aos processos
de integração. Atuam, também, obstaculizando o processo, as estruturas
hegemônicas globais.
Percebe-se o incremento do comércio inter-regional e os esforços de
regionalização das infraestruturas, que são fundamentais para a cooperação
regional, pois constituem base para integração em níveis mais elevados.
Esses esforços por cooperação têm feito com que ―paulatinamente, as
preocupações clássicas no campo de Defesa cedam lugar a outras pendências mais
ligadas a questões de Segurança [...]‖ (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 15), o que
reforça o sentimento de necessidade de integração.
O processo é espacialmente irregular. Moreira visualiza a região em termos
de três espaços geopolíticos, com seus respectivos blocos geoeconômicos, o Cone
Sul com o Mercado Comum do Sul, a região andina com a Comunidade Andina de
Nações e o Arco Amazônico com a Organização do Tratado de Cooperação
Amazônica, conformando uma tríade relevante. São Instituições regionais com
potencial para processar problemas de segurança na região (2008).
Acrescentou-se ao estudo os dois blocos, aparentemente opostos, com
projetos de integração regional mais ampla, a UNASUL com seu projeto de
Segurança e Defesa, o CDS, e a Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA).
31
3.1.1 Mercado Comum do Sul – Mercosul
Dentro da tríade, o Mercosul tem se mostrado o mais estruturado e com mais
potencial de alavancar o processo de integração, além de ser a ―região
caracterizada pelas mais importantes ‗interações rivalidades‘ do subcontinente‖
(MEDEIROS FILHO, 2005, p. 13, grifos do autor).
Criado no contexto de uma mudança de estrutura e no funcionamento do
sistema econômico mundial, com perda de espaço comercial, redução do fluxo de
investimentos e de dificuldades de acesso a tecnologias de ponta, Brasil e Argentina
viram-se diante da necessidade de redefinir sua inserção internacional e regional, o
que acabou por superar rivalidades históricas que ainda persistiam no final do século
passado. Pode ser considerado como tendo sido uma resposta à tentativa norte-
americana de fazer valer todo seu poder politico e econômico sobre a região
(MOREIRA, 2008).
O Mercosul atuou e atua como entrave aos desígnios estratégicos dos EUA,
se opondo à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), projeto extinto de
hegemonia política, econômica e militar, e buscando autonomia estratégica regional,
sendo ―a segunda experiência, depois da União Européia [sic], de unificação
supranacional de um espaço econômico‖ (BANDEIRA, 2003, p. 524, apud
MEDEIROS FILHO, 2005, p. 65).
O subcomplexo conviveu com poucos confrontos clássicos no último século,
uma guerra envolvendo dois estados membros, a Guerra do Chaco, entre Paraguai
e Bolívia, e a Guerra das Malvinas. Acrescenta-se, como relevante, a crise, em
1978, entre Argentina e Chile pela disputa do canal de Beagle, onde houve a
iminência de um confronto bélico. O Chile como membro associado foi incluído
nessa parte do estudo.
Na fronteira norte, o Chile tem convivido com tensões fronteiriças periódicas e
sistemáticas com Bolívia e Peru. Possui o maior programa do continente de
modernização e reequipamento das forças armadas, fundamentado na necessidade
de renovar o armamento e manter uma força moderna e bem equipada, embora não
encare nenhum dos seus vizinhos como uma ameaça (DULLIUS, 2008).
Para superar as diferenças, medidas foram adotadas pelos governos,
principalmente no sul da região, para reduzir a visão clássica realista, de
32
balanceamento de poder, como a assinatura de acordos sobre a não proliferação de
armas nucleares, e o aumento da cooperação militar, com a ocorrência mais
frequente de exercícios militares combinados.
o crescente aumento de poderio chileno e o simultâneo enfraquecimento das forças armadas argentinas poderia ter levado a um acirramento do dilema de segurança. Contudo, no caso específico desses dois países, o que ocorreu foi um aprofundamento da cooperação militar. Em 2005 foi criada uma força de manutenção de paz binacional (Cruz del Sur) e em 2007 um quartel-general foi estabelecido em Buenos Aires (HIGUERA, 2008, apud DULLIUS, 2008, p. 46, tradução do autor).
No caso do Brasil, ―As compras brasileiras parecem estar situadas em um
contexto de desenvolvimento da indústria bélica nacional, e de desenvolvimento
nacional como um todo, via transferência de tecnologia‖ (DULLIUS, 2008, p.48).
Todos os países do Mercosul e o Chile divulgaram suas intenções
estratégicas, consubstanciadas em Livros de Política de Defesa, ou Livros Brancos
da Defesa6, onde são expostas as posições dos governos sobre questões de
Segurança e Defesa. Esse posicionamento revela disposição para a transparência
nas intenções de cooperação entre as nações, gerando maior confiança nas
relações intersubjetivas.
Persiste, no entanto, a emergência de governos nacionalistas no Paraguai,
reforçando sua fragilidade política e econômica. A situação paraguaia possui
considerável potencial para desencadear uma desestabilização da região. A crise
política mais recente, ocorrida em junho de 2012, culminou com a sua suspensão
provisória do Mercosul e a inclusão, à sua revelia, da Venezuela como estado parte.
Fatos recentes dificultam a análise, os resultados da suspensão ainda são incertos e
carecem de base científica para uma avalição mais precisa das consequências.
A instabilidade econômica do bloco tem sido cíclica, porém, em termos
absolutos, o comércio intraregional demonstra um crescimento contínuo desde sua
criação, interrompido apenas durante as crises financeiras internacionais7.
A situação atual no campo econômico-comercial deve ser analisada de uma
forma diferenciada da político-estrutural. O Mercosul passa por forte instabilidade
6 Fonte: Ministério da Defesa. Disponível em: http://www.defesa.gov.br>.
7Fonte: Revista Integración & Comercio: Disponível em
<http://www.iadb.org/intal/icom/34/esp/e_home.html>
33
decorrente da crise financeira internacional de 2008. No entanto, destaca-se que a
parceria, na sua origem, não foi desenhada em base econômica:
propostas e ações no plano da segurança, inclusive na área nuclear, formando um clima de confiança mútua crescente e que ensejou, em seguida, o desmantelamento das hipóteses de conflito entre os dois países [...] pela primeira vez, construiu-se uma parceria relativamente mais simétrica e baseada em convergência de interesses e de propósitos políticos definidos em um marco de restauração da democracia (VAZ apud MEDEIROS FILHO, 2005, p. 15-16).
No campo das relações estruturais, por sua vez, o bloco vem progredindo,
não sem percalços, incrementando as instituições e os relacionamentos,
correspondendo à lógica do spillover. Porém, as relações intersubjetivas são ainda
fragilizadas.
Em que pese os problemas conjunturais na economia sejam recorrentes e eventualmente surja um certo mal-estar devido a medidas pontuais para salvaguardar o mercado interno em detrimento dos sócios ou em estabelecer uma política de barganha objetivando maiores concessões, a agenda de integração segue em frente [...]O Mercosul ao longo do tempo tem sido sistematicamente ampliado pela adesão de novos Estados Sul-Americanos: Bolívia e Chile, em 1994; Peru, em 2003; Colômbia e Equador, em 2004 [e em 2012 a Venezuela] (CABRAL, 2010, p. 10-11).
Argentina e Brasil, superada a perspectiva da geopolítica de contenção,
marcada pela valorização da dimensão militar, são eixos principais da integração do
Cone Sul e são capazes de estruturar o CRS sul-americano, propondo incrementos
na institucionalização, com mecanismos de integração normativa e instrumental,
influenciando e atraindo as outras sub-regiões ao diálogo cooperativo. O CDS é a
organização característica dessa institucionalização nos aspectos de Segurança e
Defesa.
3.1.2 Comunidade Andina de Nações
Criada, a partir do Acordo de Cartagena, em 1969, com foco na integração
econômica, por evolução de outros organismos semelhantes existentes, atualmente
a CAN tem procurado ―aprofundar as relações comerciais intrabloco; estimular o
desenvolvimento econômico, a competitividade, integração da infra-estrutura [sic] e
a elaboração de uma política externa comum‖ (CABRAL, 2010, p. 08).
Fatores internos e a situação política dos países componentes podem ser
apontados como principais obstáculos ao cumprimento das metas da Comunidade.
34
O bloco apesar de ser o mais antigo da América do Sul tem esbarrado em inúmeras barreiras e dificuldades de diversas origens. As mais visíveis são as tentativas sistemáticas dos Estados-Membros utilizarem de tratados bilaterais para a aproximação e integração com outros Estados não só na área comercial como de defesa, especialmente, os Estados Unidos e a Estados-Membros da União Européia [sic]. Outro fatores seriam: o surgimento de lideranças populares fortemente ancoradas em populações historicamente marginalizadas que adotam políticas nacionalistas que muitas vezes dificulta quando não impossibilitam (na atual conjuntura) avanços no processo de integração; a volta de antigas rivalidades; o pouco comprometimento das lideranças com as estruturas e os avanços já conseguidos; a ressurgência de movimentos armados; o problema da produção de drogas e do tráfico (CABRAL, 2010, p. 08)
A sub-região concentra os principais conflitos do continente, pois, segundo
Medeiros Filho, é uma ―área escassa em integração geopolítica‖ (2005, p. 89).
Os países andinos se envolveram em algumas guerras e conflitos no último
século. Peru e Colômbia lutaram por Letícia, enquanto Equador e Peru se
enfrentaram por duas vezes, em 1941 por Zarumilha, e em 1995 na cordilheira do
Condor. A situação atual está sob relativo controle, Permanecem alguns litígios
fronteiriços, heranças do período de formação dos países, após o período colonial.
Embora a Venezuela tenha saído do bloco em 2006, e, desde julho de 2012
tenha se integrado como estado parte do Mercosul, optou-se por inseri-la na análise
do conjunto da CAN, pelo seu papel protagonista nas relações com os demais
países.
Os discursos de seu atual governante, de linha ideológica bolivariana,
encontra respaldo em países que possuem chefes de estado de mesma matiz
ideológica, Equador e na Bolívia, enquanto tenta impor sua nação como potência
regional dominante, frustrando ou adiando o projeto regional de uma integração mais
pragmática, de perspectiva neoliberal, a UNASUL.
Do ponto de vista da Segurança regional a guerra civil colombiana, o conflito
Peru-Equador, e a oposição persistente entre Colômbia, pró EUA, e Venezuela, anti-
EUA, criam clima de relativa inimizade, com a percepção mútua de ameaça,
autorizando a classificar o bloco como em formação em conflito. ―A díade Colômbia-
Venezuela constitui o maior problema para a consecução da integração política e
econômica da região‖ (CEPIK, 2008, p. 07). Essa oposição dificulta o processo de
integração.
Há muitos obstáculos regionais a superar. Colômbia e Venezuela e Equador, ainda não solucionaram a crise causada pelo ataque que matou
35
Raul Reyes, porta-voz das FARC. Bolívia enfrenta grave instabilidade interna (MOREIRA, 2008, p.41).
Os gastos militares da Venezuela aumentaram na década de 2010 com o
projeto de manter força de reservistas de 1 milhão de homens. O governo justifica
seus gastos pautado na necessidade de reposição de material obsoleto, necessário
para dissuadir uma possível invasão norte-americana e compensar a ajuda militar
desse país à Colômbia.
Dullius entende que as compras venezuelanas não caracterizam um
armamentismo na região, muito menos é encarada como uma ameaça por outros
países. Se apoia em Day para afirmar que a intenção do presidente venezuelano é
utilizar as compras, como instrumento de propaganda do ideal bolivariano e de seu
projeto de integração, ―outros países na região estão ignorando os esforços de
Chávez de politizar a questão das encomendas de armas‖ (DAY, 2008, apud
DULLIUS, 2008, p. 50, tradução do autor)
Nos demais países do continente a política de compra de armamento Chávez repercute tanto, apenas quando este influencia Bolívia e Equador, seus aliados regionais (DULLIUS, 2008, p.50-51).
grande uso interno das aquisições venezuelanas na forma de propaganda política. Esse uso de propaganda não é apenas interno, mas também uma projeção de status do bolivarianismo na região (p. 43)
Outros países andinos possuem um orçamento de Defesa bem mais modesto
e sujeitam-se a ajuda americana, como forma de obter cooperação militar, o que
torna a influência dos EUA mais marcante neste quadrante da América do Sul
(DULLIUS, 2008).
O Peru tem buscado aplicar sua escassa verba em armamentos que apontam claramente a uma reação ao Chile [...] A saída encontrada por La Paz são os acordos militares com a Venezuela, que incluem a construção de bases militares e até mesmo possibilitem a intervenção militar em caso de conflito civil ou invasão estrangeira. A Bolívia tem sido um dos mais íntimos aliados da Venezuela e, esses acordos são uma forma de consolidar o apoio de Chávez ao governo Evo Morales. Dessa forma torna-se difícil avaliar até que ponto a intenção boliviana é fazer frente ao aumento de capacidades chileno ou se para a Bolívia a aliança é motivada pela grande crise interna e pela necessidade de apoio externo ao governo Morales. Esses acordos geraram enorme repercussão nos países vizinhos e insatisfação nas forças armadas bolivianas devido à possibilidade de ingerência concedida à Caracas (DULLIUS, 2008, p.22).
A Bolívia é exemplo emblemático de ator com capacidade de desencadear
crise regional mais ampla, pois está muito relacionada com o Mercosul, do qual é
membro associado. Atua como elemento desagregador, por sua posição de
36
inferioridade nos dois blocos que participa, além de estar coadunada com os ideais
bolivarianos de Hugo Cháves, com quem mantém diversos acordos no campo
militar.
(o conflito boliviano) uniu em uma mesma hipótese de guerra distintos teatros de operações do continente: o da Amazônia e dos Andes. Separa, ao mesmo tempo, a América hispânica em dois campos ideológicos nitidamente delimitados, o liberal e o bolivariano. Por isso, é que a crise no sul da Bolívia tem um considerável potencial desestabilizador também sobre o Equador e o Peru (SEBBEN, 2007, apud DULLIUS, p.47).
―A Colômbia ainda não tem demonstrado uma grande reação às compras
venezuelanas‖ (DULLIUS, p. 50), pois ainda prioriza sua guerra interna contra a
narcoguerrilha e é provável que a continue se valendo do apoio dos EUA para
prosseguir em sua guerra interna, ignorando os movimentos venezuelanos.
A relação político-estrutural é frágil, agravada pela pouca interação
econômico-comercial. No entanto, com a participação ativa da UNASUL, as crises
mais recentes foram superadas, na base de consenso, ao menos temporariamente,
como no caso do ataque colombiano a Raul Reyes em solo equatoriano.
Todos os países da Comunidade publicaram seus livros brancos, o que pode
vir reduzir as desconfianças mútuas. Com todas as dificuldades o Acordo persiste, é
um exemplo de um acordo que depois de uma pujança inicial passou por
dificuldades extremas, mas acabou por ser retomado, corroborando o efeito do
spillover e o interesse dos estados em reforçar suas identidades comuns, como ficou
bem evidente quando todos os países aderiram ao CDS.
3.1.3 Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
Embora sendo o de menor expressão, esse Acordo responde por uma área
considerada como estratégica pela comunidade das nações, pelo impacto global da
floresta equatorial e seus recursos superlativos, tema central no debate internacional
atual.
Uma das motivações do estabelecimento do Tratado foi o temor da cobiça
internacional pelos recursos da região, sendo ele ―a melhor estratégia contra as
tentativas de internacionalização da região por parte dos países do Norte‖ (MAZZEI,
1999, p. 60, apud MEDEIROS FILHO, 2005, p. 92).
37
Espaço concreto para cooperação, compartilhado por oito países, seu
objetivo de destaque era garantir a soberania dos países amazônicos, em face de
pressões internacionais. Caracteriza-se como instrumento contemporâneo com
ampla visão sobre a integração sul-americana, que fortalece a vocação de seus
governos de construir sinergias na defesa da Amazônia, com direitos de desenvolver
a região (MOREIRA, 2008).
Por conter a floresta amazônica, tem sido concebida como importante espaço
de integração subcontinental, ―pois representa uma importante área de contato entre
as realidades sul-americanas, podendo se constituir numa [sic] grande zona de
articulação e integração‖ (MAZEI, 1999, p.15, apud MEDEIROS FILHO, 2005, p. 13).
se torna instrumento contemporâneo com uma ampla visão sobre a integração sul-americana, que fortalece a vocação de seus governos de construir sinergias com outras nações, organismos multilaterais, agências internacionais de fomento, movimentos sociais, comunidade cientifica, setores produtivos e sociedade civil, na defesa soberana da Amazônia e na busca por seu desenvolvimento sustentável (MOREIRA, 2008, p. 27).
Apesar da dificuldade de integração devido à precariedade da infraestrutura,
o Acordo fortalece institucionalmente a região, reconhecida como foro regional de
discussão de problemas amazônicos e de desenvolvimento conjunto, com potencial
para atrair os países da CAN para um espaço mais colaborativo, voltado para
manutenção de recursos naturais estratégicos e servir de base para futuras políticas
compartilhadas (MEDEIROS FILHO, 2005).
Caso seja levada adiante, a ideia de estabelecimento de uma política regional de Defesa pode ter como um dos principais referenciais a preocupação com a integridade territorial dos países membros, com especial atenção para a manutenção de seus recursos naturais [...] [que] pertencem a vários países do sub-continente [sic], como a Floresta Amazônica, a planície do Chaco-Pantanal, as enormes bacias do Amazonas e do Prata, o aquífero Guarani (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 92).
Entre os objetivos do CDS se encontra a preocupação em proteger a
biodiversidade dos ecossistemas característicos da América do Sul. Desse modo o
Acordo pode servir de ponto de partida para estabelecimento de políticas conjuntas
de Defesa, em especial do bioma amazônico, prioritário nas agendas de segurança
dos países que integram a Amazônia Legal.
38
3.1.4 Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA)
Em 2004, Cuba e Venezuela criaram a Alternativa Bolivariana para as
Américas, apresentada como uma alternativa de integração solidária e socialista,
com uma política anticapitalista que se opõe aos tratados de livre comércio
oferecidos pelos Estados Unidos e a política neoliberal vigente (CABRAL, 2010).
O bloco com ambição continental ainda conta com pequenas adesões, alguns
estados caribenhos, incluindo Cuba, e Bolívia. As atividades são limitadas e ―os
instrumentos que serão utilizados para implementar seus objetivos, a legislação e as
normas também se encontram no estágio de negociação‖ (CABRAL, 2010, p. 14)
é uma visão geoestratégica e militar, carregada de elementos ideológicos, ilustrada pela política exterior de Hugo Chávez. Por meio de uma diplomacia proativa [...] busca fortalecer sua liderança na América Latina e, por outro lado, assumir um papel global mais relevante [...]O esquema carece de estruturas sólidas e se baseia fundamentalmente nos encontros entre os chefes de governo, com um enfoque eminentemente presidencialista, sem chegar a articular uma arquitetura institucional clara tradicionalmente orientados para o Caribe, a Guiana e o Suriname (SERBIN, 2009, p. 06-08).
A ALBA de certa forma se opõe à UNASUL, que defende uma visão de
integração mais pragmática sem os aspectos políticos e ideológicos. No entanto,
seus ideais conflitantes não chegam a ameaçar a segurança regional.
não foi possível documentar uma ameaça direta à segurança regional relacionada a questões fundamentais como soberania, conflitos militares e intervenções inter-Estatais. Pelo contrário, ficou evidente que se trata de uma disputa por interesses de dois pólos [...] (CARDOSO; CARMO, 2008, não paginado).
3.1.5 União das Nações Sul-americanas (UNASUL) e Conselho de Defesa Sul-
americano (CDS)
O Tratado Constitutivo da UNASUL prevê a criação de uma zona de livre
comércio de âmbito continental que integrará as duas organizações de livre
comércio sul-americanas existentes, o Mercosul e a Comunidade Andina de Nações.
Os líderes anunciaram a intenção de modelar a nova comunidade segundo a União Europeia, incluindo uma moeda, um passaporte e um parlamento comuns [...] Uma das iniciativas é a criação de um mercado comum, começando com a eliminação de tarifas para produtos considerados não sensíveis até 2014 e para produtos sensíveis até 2019 [...] A UNASUL deverá auxiliar na convergência de outros blocos já existentes no continente (MOREIRA, 2008, p. 39, 40).
39
Os projetos de desenvolvimento de infraestrutura, conduzidos pela Iniciativa
de Infraestrutura Regional Sul-americana (IIRSA), de energia e transporte, superam
os grandes obstáculos naturais e tendem a reforçar a interdependência.
A atuação da UNASUL ainda é limitada, pois a formulação da necessária
legislação normativa e reguladora de suas funções é embrionária (CABRAL, 2008).
No entanto, vem sendo fórum para discussão local dos problemas, sem a
interferência de atores exógenos, o que cria maior capacidade coletiva de influência,
visando neutralizar essa interferência. Tem conduzido as negociações para solução
de crise de forma consensual e com relativo sucesso.
CAN e Mercosul têm suas próprias normas e procedimentos [...] conciliar exigirá tempo e esforço (MOREIRA, 2008, p.41).
A UNASUL tem passado por duras provas. Foi paradigmático o processo de negociação para a superação da crise entre Colômbia e Equador (2008), onde o Brasil, com o apoio de outros Estados Sul-Americanos rejeitou as pressões e a intervenção dos EUA para solucionar a questão da invasão colombiana ao território equatoriano [...] Em 2009, em Quito, na reunião dos presidentes da Unasul foram discutidos problemas relativos ao golpe de Honduras que destituiu Manuel Zelaya, o acordo entre os Estados Unidos e Colômbia sobre a instalação de novas bases no território colombiano e a continuidade do processo da integração regional. As dificuldades para a consolidação da Unasul são imensas, a saber: a oposição dos Estados Unidos a criação de uma região autonôma naquilo que considera sua área de influência exclusiva [...](CABRAL, 2008, p. 12).
A criação de uma identidade em matéria de Defesa, cujo marco inicial é a
criação do CDS, está em construção, pelo fato de ser um processo ainda muito
recente. Contudo, de acordo com Teixeira Júnior (2010, p. 16), ―mesmo se
resumindo ainda a um conselho de cooperação e coordenação de políticas e
experiências em Defesa e Segurança, o CDS constitui um lócus para construção de
medidas de confiança mútua em temas sensíveis e estratégicos‖ (apud
MONTENEGRO, 2011, p. 15).
troca de informação e transparência: a organização e procedimentos dos Ministérios de Defesa; informações sobre os efetivos, forças e equipamentos das Forças Militares [...] atividades intra e extra-regionais: mecanismo de notificação dos exercícios militares e de convite à observadores militares de outros países da Unasul para acompanhar esses exercícios [...] medidas para prevenir a presença e ação de grupos armados; medidas de prevenção, combate e sanção contra atos de terrorismo [...] garantia de conservação da América do Sul como uma zona livre de armas nucleares [...] mecanismo voluntário de visitas à instalações militares; verificação da situação das zonas de fronteira [...] o CDS ainda não representa um organismo no qual podemos encontrar uma voz unitária em matéria de defesa e segurança (MONTENEGRO, 2011, p. 15).
40
Com a UNASUL e o CDS, consolida-se o projeto de integração liberal,
evitando a polarização do continente em torno do projeto bolivariano, a ALBA
(DULLIUS, 2008).
aparente sucesso da UNASUL na mediação do conflito interno boliviano aponta para um novo e eficiente fórum político para a solução dos conflitos continentais (DULLIUS, 2008, p. 52)
a formação de blocos constitui uma tendência objetiva no plano internacional no início do século XXI. Mesmo a consolidada integração europeia tem conhecido seus percalços. Assim, na hora em que começa a se concretizar, a integração sul-americana, cujo núcleo é o Mercosul, tende a tencionar [sic] a agenda política, com cada um tentando ocupar uma posição melhor no conjunto do processo, que certamente vai acontecer avanços e recuos (VIZENTINI, 2007, p. 93).
Ainda que a oposição ideológica não ofereça riscos à segurança regional, o
sucesso da UNASUL e do CDS será crescente na medida em que se perpetuem ou
não os governos ligados à corrente bolivariana e do posicionamento do Brasil em
relação a problemas regionais e internos.
As duas estratégias, apesar de suas acentuadas diferenças, respondem a uma visão multipolar do mundo. Os contrastes, entretanto, são definidos pelo uso de uma estratégia confrontacional, a partir de uma visão geoestratégica de conteúdo militarista e com forte apelo ideológico, de Chávez, e pelo desenvolvimento consistente com uma estratégia diplomática cautelosa, com uma cuidadosa inserção regional e global, a partir de uma visão multidimensional, do Brasil [...] Entretanto, a diplomacia mais cautelosa e consistente do Brasil parece se impor sistematicamente [...] A efetiva capacidade de assimilar a crise financeira global e de manter, neste contexto, a estabilidade institucional e as políticas sociais, colocará as aspirações brasileiras à prova (SERBIN, 2009, p.07).
A UNASUL e o CDS ―cria[m] uma nova geopolítica em uma parte do mundo
onde existem grandes reservas de recursos naturais [...] pode tornar-se uma das
áreas econômicas mais importantes em um mundo globalizado que consome
grandes quantidades de alimentos [...]‖ (MOREIRA, 2008, p. 41). Tende a ocupar o
lugar de outras instituições já existentes, como a Organização dos Estados
Americanos (OEA), na solução de controvérsias limitadas ao território da América do
Sul e no debate da cooperação regional.
41
3.2 O CRS SUL-AMERICANO NA VISÃO CONSTRUTIVISTA DE SEGURANÇA E
DEFESA
O subcontinente foi caracterizado ao longo do século XX por uma baixa
incidência de guerras interestatais, ―durante os últimos setenta anos, houve apenas
cinco conflitos clássicos envolvendo os países da América do Sul‖ (MEDEIROS
FILHO, 2005, p. 87).
As questões clássicas de Defesa têm perdido destaque [...] experimentam-se notáveis progressos especialmente entre os países que compõem o Mercosul, no sentido de resolverem seus conflitos fronteiriços por meio de relações cooperativas [...] experiências bem sucedidas, como as relações atuais entre Chile e Argentina e Argentina e Brasil, demostram como procedimentos da democracia podem contribuir para legitimar e fazer perdurar acordos internacionais (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 89)
Considerando o histórico da formação e evolução do Brasil e das nações sul-
americanas de colonização espanhola, as políticas econômicas e as questões
internas, e suas consequentes inter-relações com os países vizinhos, criaram um
arcabouço de divergências e afinidades. As divergências ainda continuam
provocando atritos e desconfianças, que permeiam a convivência entre as nações
da América do Sul.
A cooperação entre os países não é descartada, porém ela não altera a prioridade das políticas nacionais e a busca dos próprios interesses particulares [...] os limites entre a cooperação regional e competição entre Estados ainda não estão claros (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 26).
Os blocos vêm passando por fases de instabilidade política e econômica e de
forte influência do hegemon. Existe um contraste entre a evolução política e militar
do Cone Sul e da região andina, refletindo nas prioridades das agendas de defesa. A
própria percepção de Segurança e suas prioridades ainda são divergentes nos
diversos países que compõem a região. A Declaração de Cuzco já demonstrava
isso:
a noção de segurança multidimensional – mal conseguiu ocultar a distância conceitual entre, por exemplo, as ênfases do Brasil e da Argentina na pobreza como ameaça à segurança e as preocupações muito mais tradicionais da Venezuela e do Equador com ameaças militares estatais (CEPIK, 2008, p.07)
Enquanto o trafico de drogas é, por exemplo, considerado por países como Brasil, Bolívia, Peru e Venezuela como questão de Segurança, no Chile esse mesmo assunto é visto como problema social. Se em Bolívia, Peru, Venezuela e Colômbia as Forças Armadas participam do combate ao tráfico de drogas, operando em conjunto com as demais forcas, em outros países da região apenas policiais e/ou militares estão à frente de combate
42
(MYAMOTO e MANDUCA, 2004, p. 13, apud MEDEIROS FILHO, 2005, p. 86).
Persistem as zonas de potenciais conflitos territoriais clássicos: as disputas
de fronteira entre Chile, Peru, Bolívia, Venezuela e Colômbia, que atuam dificultando
a integração geopolítica, entendida como processo de construção de uma
comunidade de segurança, relacionada com o estágio de integração (MEDEIROS
FILHO, 2005).
A sombra da possibilidade de conflitos armados nos moldes clássicos não
pode ser descartada, pois a percepção de ameaça recíproca, principalmente no seio
do estamento militar, que tende a ser ―realista e conservadora‖ (HUNTINGTON,
1996, p. 96), ainda persiste entre alguns atores regionais.
Esta ainda é a postura dominante no pensamento militar da América do Sul. A manutenção da lógica realista na América do Sul pode ser encontrada nas Políticas de Defesa e Segurança de seus países. [...] A postura clássica de Defesa e Segurança tem dificultado o desenvolvimento de uma cooperação maior entre os militares [...] a dimensão militar da integração regional [...] ocorre de forma paralela e autônoma [...] e que isso reflete o grau de autonomia de que dispõem as Forcas Armadas na região (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 4-26).
―Muito embora, historicamente, tenham sido desenvolvidas de forma
autônoma pelo estamento militar, as atuais políticas de Defesa sinalizam à
sociedade suas intenções de emprego das Forças Armadas‖ (Medeiros Filho, 2005,
p. 108). Várias dessas políticas incluem aspectos sobre ameaça de droga e
preservação do meio ambiente. Refletem uma tendência à resolução de conflitos
pela via pacífica, respeito aos tratados internacionais e pelo apoio às operações de
paz. Os gastos militares diferenciados de alguns países não provocou reações,
sinalizando que, quando ocorrem, visam a substituição de equipamentos obsoletos,
e que a percepção da ameaça mútua é menos evidente, em relação aos séculos
anteriores..
A UNASUL e o Conselho de Defesa Sul-Americano, associados à divulgação
dos livros brancos de defesa reforçam essas intenções, institucionalizando as
relações. Buscam cuidar do problema da Defesa na América do Sul, em oposição ao
Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que não constitui um
órgão especificamente sul-americano.
uma vez que a cooperação regional em termos de política externa, segurança e defesa é relativamente difusa na América do Sul, a emergência de uma estrutura institucional de governança securitária regional somente
43
pode ser compreendida como o resultado de consensos e ações compartilhadas ao redor de um grupo de assuntos (SENHORAS, 2009, não paginado).
O processo de integração sul-americano envolve Estados com uma série de
assimetrias e disparidades uns em relação aos outros. Tais assimetrias só podem
ser superadas por uma vontade política que envolva as sociedades e se coloque
acima de considerações de ordem material e conjuntural. Isto não significa que
essas não devam ser desconsideradas, mas que devem ser construídos
mecanismos, normas e instituições que busquem reduzir estas assimetrias e que no
fim resultem em melhorias no nível de vida das nações envolvidas.
O hemisfério convive com cenários e realidades conflitantes, onde algumas
unidades persistentemente se opõem dentro da lógica realista, apesar da
interdependência crescente, fruto do desenvolvimento tecnológico dos transportes e
das comunicações. Outro cenário, em construção, é o idealizado pelos políticos e
diplomatas, que busca se opor à influências exógenas, para se afirmar e consolidar.
O cenário clássico-nacional caracteriza-se pela manutenção do status quo territorial e baseia-se em ideias estatocêntricas dos teóricos realistas. O cenário construtivista-regional [idealizado] baseia-se nas ideias construtivistas que incluem independência simétrica [...], cooperação regional e constituição da Comunidades de Segurança [...]a lógica de busca pela Segurança por meios próprios, de forma isolada começa a perder espaço [...] a ameaça do ‗vizinho inimigo‘, que dominava o imaginário coletivo, já não seria mais fator de eclosão de guerras. [...] Por meio da confiança mútua, são construídas as bases de um novo paradigma no campo militar (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 22-32, grifos do autor).
O processo de integração avança. O paradigma dessa nova organização
regional é a União Europeia. Enquanto o bloco europeu levou cinquenta anos para
se constituir, o sul-americano queimou etapas e o fez em apenas quatro anos.
Pode-se concluir que a América do Sul, no aspecto de Segurança e Defesa,
se encontra em um estágio de construção de uma comunidade de defesa,
entendendo que ―uma comunidade de defesa faz parte de uma comunidade de
segurança‖ (MONTENEGRO, 2008, p. 13).
Pelo multilateralismo marcante na região e, na medida em que se vem
institucionalizando as relações nas últimas décadas, ao menos na intenção dos
diplomatas, considerando o cenário construtivista-regional, foi possível identificar
que se caminha para a construção de uma comunidade de segurança com
características pluralista e de vínculo fraco, ainda estágio nascente. Com a criação
44
do CDS, procura-se manter a região unida para uma segurança hemisférica mais
efetiva e aparecem os primeiros sinais de que possa se estar evoluindo para um
estágio ascendente.
existem entre os países da região vários valores, normas e até mesmo histórias comuns que dão grande impulso na formação de uma comunidade de segurança (MONTENEGRO, 2008, p. 13).
Caminhar para uma região mais independente e forte economicamente e independente em matéria de defesa...tendendo para uma ―comunidade de segurança ― [...] a região caminha para uma ―comunidade de segurança‖. Apesar de divergências que existem ou podem surgir entre os Estados membros do CDS, os valores e objetivos compartilhados devem ser muito mais exaltados, para que se possa alcançar o seu objetivo final (p. 16).
Os ‘Procedimentos de aplicação das medidas de fomento de confiança e segurança‘, elaborados pelo CDS, se aproximam muito dos indicadores de vínculo de uma comunidade de segurança (p. 15).
Embora o Brasil seja o único país que possua uma base material de poder
expressiva, que o habilitem a condição de potência regional ascendente, e tenha
aspirações de ocupar maior destaque no sistema internacional, regionalmente
prioriza a construção de um conjunto de instituições, em torno das quais os países
se organizam para compartilhar os problemas de Segurança. Dessa forma, o
complexo regional de segurança apresenta características de um sistema polarizado
padrão, em termos de distribuição de poder e, de uma forma geral, se aproxima de
um regime de segurança, configurando esquemas de relacionamentos
subcontinentais mais conflituosos.
Buzan & Wæver caracterizam o continente como composto por dois subcomplexos de segurança, o Cone Sul configurando um regime de segurança e os Andes como formação de conflito (CEPIK, 2005, p. 07).
O conceito brasileiro de CRS Sul-Americano como um conjunto estratégico multipolar, com baixo grau de polarização, reservado política, diplomática e militarmente de possíveis ameaças globais dissociado do restante das Américas vem desde o fim da década de 1970 e se consolidou com a percepção da falência do TIAR durante a Guerra das Malvinas (1982) [...]a América do Sul na visão brasileira deixou de ser um espaço integrado por todas as Américas e subordinado à bipolaridade para tornar-se um espaço reservado de possíveis ameaças globais (CABRAL, 200 p. 01-04).
O modelo demostra a singularidade do subcontinente em relação ao restante
da América e deve nortear a elaboração da política externa dos países que
compõem a UNASUL, considerando um modelo integrado com baixa dissenção
interna e vulnerável a influências externas.
45
O próximo capítulo destina-se ao estudo final e à apresentação dos
resultados e discussões. Nesse sentido, se propõe a identificar os reflexos da
criação do CDS na evolução do atual modelo de CRS, buscando apresentar
cenários que sinalizem a possibilidade de criação de um possível instrumento militar
regional de segurança, com o intuito de testar a hipótese orientadora da pesquisa.
46
4 CENÁRIOS TEÓRICOS PROSPECTIVOS
Após as reflexões sobre a natureza dos CRS e do estágio de integração da
região, fez-se necessário, para a continuidade da pesquisa, identificar possíveis
cenários futuros, investigando se esses cenários apontam para possíveis direções
de mudança, no rumo do estabelecimento de uma comunidade de segurança no sul
do continente americano. E, ainda, se sinalizam a possibilidade de evolução do nível
de cooperação e integração em matéria de Segurança e Defesa, com seus reflexos
para as políticas de defesa regionais, especulando sobre a possibilidade de
ocorrência de instrumentos militares de defesa coletivos regionais.
A construção de cenários é apenas um recurso analítico, a ser estabelecido
na tentativa de desenvolver exercício teórico prospectivo. Para esse trabalho, os
instrumentos intelectuais de percepção a serem utilizados no estabelecimento de
cenários serão baseados em elementos das relações internacionais e da ciência
geopolítica.
[Cenário] conjunto formado pela descrição da situação futura de um sistema e da cadeia de acontecimentos que permite que se passe da situação presente à situação futura. Consiste um conjunto coerente e plausível de acontecimentos, seriados e simultâneos, aos quais estão associados atores, pessoas, grupos e instituições [...] verdadeiras Teorias Geopolíticas (MAFRA, 2006, p. 59).
A retomada do estudo das teorias de relações internacionais se deu agora
com enfoque na sua capacidade de previsão dos modelos teóricos apresentados
nas seções anteriores e discutir sobre como poderá se apresentar o mundo das
relações internacionais. Sarfati e Nascimento fornecem uma visão aproximada
dessa possibilidade:
parte do papel das teorias não é só explicar o mundo em que vivemos, mas também nos alimentar de elementos que nos ajudem a prever situações futuras (SARFATI, 2006, p. 211).
A disciplina de Relações Internacionais abre espaço para a utilização de cenários prospectivos sob o argumento de que ela pode utilizar seu amplo repertório teórico para refletir sobre o futuro da política internacional [...]vale destacar a utilidade das Teorias de Relações Internacionais em estudos prospectivos: diante da total impossibilidade de se prever a realidade política futura, aos construtores de cenários só cabe aplicar aquelas teorias às situações futuras (NASCIMENTO, 2012 a, p. 03-10).
Embora alguns autores considerem que a previsão seja um mero exercício
especulativo e, de fato, nenhuma das teorias de relações internacionais tenha
47
previsto o fim prematuro do mundo bipolarizado, Sarfati (2006) ainda considera
válida a construção de modelos:
Devemos reconhecer que a previsão nas relações internacionais é virtualmente impossível, porém, o que podemos fazer é usar cenários alternativos para o futuro. Esses cenários seriam mapas alternativos de relações causais e tendências futuras [...] narrativas plausíveis sobre o futuro, mas não são previsões (p. 353, grifo do autor).
analistas de política internacional, em geral, gostam de estudos que lhes indiquem possíveis cursos de ação futura, pois eles precisam de uma base teórica conceitual para apoiarem a construção de estudos prospectivos (NASCIMENTO, 2011, p.17).
As teorias das relações internacionais estudadas, mormente a construtivista,
apontam para um cenário de paz continental com ampla possibilidade de ser
construído. Medeiros Filho (2005) deixa transparecer a percepção de que o ―atual
quadro geopolítico do subcontinente é caracterizado por forte tendência à
cooperação e à construção de confiança mútua (p. 50)‖, destacando como fatores
colaboradores a democratização, a interdependência, o próprio processo de
regionalização em curso e as ameaças compartilhadas. Os fatores combinados,
onde o tratamento das ameaças ganhariam soluções compartilhadas, levariam a um
cenário onde a lógica kantiana, de que as democracias não fazem guerra entre si se
faria presente, indo ao encontro da ―idéia [sic] de construção de ‗comunidades de
segurança‘‖ (p. 52, grifo do autor).
a América do Sul preenche os requisitos para construir uma comunidade de segurança [...] [a vizinhança] está entre as mais tranquilas do mundo [...] apresenta traços de identidade cultural comum [...] e possui níveis de desenvolvimento socioeconômico semelhantes (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 31-32).
Os analistas construtivistas apontam para o cenário onde reinará a paz, ―ao
longo do processo integrativo, quase sempre também se desenvolve uma
comunidade psicologicamente ‗não belicista‘. Uma guerra entre os parceiros passa a
ser considerada ilegítima‖ (DEUTSCH, 1978, p. 274, grifos do autor).
No mesmo sentido, de busca de cenários futuros, insere-se a contribuição da
geopolítica, entendida aqui como uma ciência que ―Permite uma visão prospectiva
sobre os acontecimentos futuros‖ (MEIRA MATTOS, 2007, p. 14), na tentativa de
associá-la às previsões ou direções das relações internacionais para obter cenários
mais precisos.
Ramo do conhecimento relacionado ao valor prospectivo da interação da Política, Geografia e História [...] permite uma visão prospectiva sobre os
48
acontecimentos futuros [...] conduzindo a uma prospectiva dos acontecimentos do Estado (MEIRA MATTOS, 2007, p. 13, 14 e 20).
Mais que inferir sobre eventos futuros ela é orientadora de direções futuras,
―A Geopolítica foi, durante o século XX, a principal inspiradora da Estratégia do
Poder das superpotências‖ (MEIRA MATTOS, 2007, p. 26).
servir de base para novos posicionamentos dos Estados no ordenamento mundial, ou mostrar que os estudos prospectivos e os cenários definidos pelos autores se concretizaram [...] as concepções dos criadores da ciência geopolítica vão se antecipar ou servir de justificativa para o comportamento e o ordenamento do mundo [...] Políticas expansionistas, alianças e áreas de influência, tais como a do Império Austro-húngaro, a do nazismo e do comunismo, bem como o da chamada globalização, entre outras, vão comprovar a previsão e a veracidade daquelas idéias [sic] ou vão buscar justificativas nas mesmas (MAFRA, 2006, p. 19).
Ao contrário das relações internacionais, algumas teorias geopolíticas se
mostraram precisas, como a Teoria do Poder Aéreo, que previu o ataque às Ilhas
Hawaí como consequência do confronto das geopolíticas expansionistas dos EUA e
do Japão. No aspecto de orientadora de políticas geoestratégicas, a Teoria das
Fímbrias de Nicholas Spykman foi base para elaboração da estratégia americana,
bem sucedida, de conter a expansão soviética (MAFRA, 2006).
No aspecto específico do posicionamento como player do sistema
internacional, a maioria das teorias geopolíticas, elaboradas no fim do século XIX e
no século XX, ignorava a América do Sul ou a ela dedicavam posição de
subordinação.
O espaço sul-americano começa a aparecer nessas teorias de forma
generalizada, compondo as terras do crescente exterior da Teoria do Poder
Terrestre de Halford Mackinder, para logo depois pertencer a uma Pan-América
liderada pelos EUA. Na Teoria do Poder Aéreo estava, também, inserida dentro do
domínio aéreo norte-americano. Na Teoria das Fímbrias, ou Geoestratégia da
Contenção, anteriormente citada, a América do Sul foi espaço reservado para o
confronto indireto das duas superpotências (MAFRA, 2006).
As teorias que se desenvolveram posteriormente à Guerra Fria reordenaram o
mundo, alterando o eixo do confronto leste-oeste para o confronto sul-norte e, mais
uma vez, os países do sul teriam papel secundário no concerto internacional. Na
Teoria dos Blocos, a América do Sul seria fornecedora de matérias primas para o
norte do bloco, chamado ―Casa do Dólar‖ e liderado pelos EUA (MAFRA, 2006).
49
Há, todavia, precedentes que posicionam a América do Sul como um espaço
geopolítico diferenciado, com características próprias. A primeira teoria que
individualiza o subcontinente é a Teoria da Incerteza de Pierre Lellouche, que prevê,
em um mundo turbulento, uma América do Sul protegida de grandes revoluções e
que países, como Argentina e Brasil, são perfeitamente administráveis, desde que
democráticos, devendo aproveitar as épocas turbulentas para sair da situação de
atraso, sozinhos ou, como forma ideal, arrastando os demais países da região
(MAFRA, 2006). Processo que em muito se assemelha à realidade, correspondendo
ao caminho que está sendo traçado com a crescente institucionalização regional,
lideradas por esses dois países.
Samuel Huntington exclui a América Latina da civilização ocidental, em um
mundo onde, cada vez mais, os embates se darão entre as diversas civilizações.
Cria para a América Latina um espaço próprio, inserido nele a América do Sul.
a América Latina constitui uma civilização própria, diferenciada da ocidental. [...] incorpora culturas indígenas, que não existiram na Europa [...] A evolução política e o desenvolvimento econômico latino-americano se diferenciaram muito dos padrões que prevaleceram nos países do Atlântico Norte (1996, p. 52).
Essas teorias anteriores se baseavam no balanceamento do poder e domínio
de áreas estratégicas, coerente com a ótica da escola realista. E, talvez, por terem
orientado políticas expansionistas que levaram a duas grandes guerras mundiais e
ao perigoso confronto nuclear, elas tenham caído em desuso e perdido prestígio,
cedendo lugar ―à geoeconomia8‖ (informação verbal).
A ausência de pensamento clássico geopolítico criou uma lacuna nos
planejamentos estratégicos dos estados, ao ponto de Góes perguntar, em artigo
sobre o assunto, onde andará a grande estratégia (2008)? Qual, então, seria a
perspectiva de geopolítica que se apresenta à América do Sul, considerando o
cenário construtivista-regional integracionista? Como uma teoria geopolítica
posicionaria o Brasil e a América do Sul no atual sistema internacional? Destaca-se,
portanto, a importância da retomada dessa ciência para orientar as estratégias dos
estados ―A geopolítica voltou à cena9‖ (informação verbal).
8 Palestra proferida por João Eduardo Alves Pereira, COPPEAD. Escola Superior de Guerra: 05 set.
2012.
9 idem.
50
Uma opção alternativa ao atual projeto de integração seria a sujeição às
ingerências dos atores dominantes do mundo da pax americana ou do mundo
unimultipolar. Existe, implícita, uma percepção de que esse não seria o caminho
ideal, pois manteria o histórico papel de subordinação em uma reedição
neocolonialista. Em Geopolítica - Introdução ao Estudo, Mafra deixa transparecer
essa percepção elaborando uma teoria não seguidora, a Teoria do Quaterno, ―de
não aceitação pelo Brasil e demais países latino-americanos, de tratamento
inferiorizado, de parte dos demais blocos ou lideranças mundiais‖ (2006, p. 71). O
que se espera é um mundo multipolar com inserção regional.
No caso brasileiro, a nossa longa tradição pacifista nos leva a uma doutrina essencialmente defensiva. A opção que realmente se apresenta é entre um conceito de segurança eminentemente nacional, o que seria algo irreal no mundo moderno, e esquemas de defesa associativa, em que possamos pensar em termos de segurança continental (MEIRA MATTOS, 2007, p. 66).
o grande imperativo categórico das relações internacionais do Brasil de hoje é saber articular geopoliticamente a tríade sul-americana (arco amazônico, pacto andino e cone sul) [...] é o melhor projeto de integração da AS [...] como ponto de partida para uma grande geopolítica genuinamente nacional (GÓES, 2007, p.96-120, grifo do autor).
Os cenários descritos, geopolíticos e construtivistas, são um esforço teórico
de simplificar e ordenar a realidade. Embora se saiba que a realidade é outra, a
elaboração de um horizonte estratégico claro, para o planejamento de política, se faz
necessário.
A construção de cenários geopolíticos e de prováveis relacionamentos
internacionais fornece uma visão para se pensar em políticas de defesa e
estabelecer modelos analíticos que buscam tornar a realidade inteligível. A
geopolítica, embora não imponha, sugere linhas de ação para a formulação de
políticas.
para a construção desses cenários, deve-se levar em consideração a análise dos interesses geopolíticos, da percepção de interdependência e de compartilhamento de ameaças e da condição de predisposição das unidades politicas de enfrentar, isolada ou conjuntamente essas ameaças [...] pode-se mais facilmente delimitar o ‗horizonte estratégico‘ que norteará as políticas de Defesa e Segurança (MEDEIROS FILHO, 2004, p. 21, grifo do autor).
No cenário previsto por Huntington, a América do Sul é um espaço propício
ao desenvolvimento de políticas independentes, perfeitamente coadunada com a
identidade sul-americana, parte da latino-américa:
51
Os atuais processos de integração só terão êxito se abarcarem um grupo de países de mesma civilização [...] as regiões são a base para a cooperação entre os estados, unicamente na medida em que a geografia coincida com a cultura [...] as alianças militares e as associações econômicas requerem a cooperação e dependem da confiança, e a confiança brota mais facilmente de valores e cultura em comum (1996, p. 161).
Os cenários prospectivos devem ser ―construídos com base nesses
conhecimentos reais, críveis, explicativos, interpretativos, que terão sua
probabilidade de concretização dependente da ação política‖ (MAFRA, 2006, p. 41).
Para que o cenário venha a ocorrer ―faz-se necessária uma política externa bem
elaborada e uma boa liderança‖ (SARFATI, 2006, p. 216).
cenários geopolíticos como construção teórica [...] [contribuem] analiticamente para o estabelecimento de Políticas de Defesa e Segurança, orientando, consequentemente, o emprego das Forças Armadas nos países sul-americanos (MEDEIROS FILHO, 2004, p. 21)
Evidenciados os cenários teóricos e destacada a necessidade da existência
de políticas que direcionem as ações, torna-se importante, para o propósito da
investigação, trazer ao núcleo da pesquisa o estado atual do pensamento e do
debate dos principais agentes ou atores do processo de integração.
Nascimento utiliza o modelo de Margaret Hermann, que metodiza a análise
do processo decisório de política externa, para identificar e destacar o papel central
desses agentes.
A utilização do modelo permite identificar como unidade decisória uma coalizão de atores, formada pelo Presidente da República e seu assessor especial para assuntos internacionais, o Ministério da Defesa, o Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria de Assuntos Estratégicos. [...] [importância] verificada e pelo alto grau de possibilidade dos agentes da coalizão interferirem no processo decisório, dada as suas capacidades de influência política (2011, não paginado, grifos do autor).
Nesse sentido o discurso de atores do processo está alinhado com políticas
integracionistas como foi visto nas seções anteriores, que destacam a importância
dos organismos de cooperação econômicos e políticos, como o Mercosul e a
UNASUL.
A busca pela integração regional [...] deixou de pertencer ao conjunto das políticas conjunturais. Basta conferir as ultimas campanhas políticas de candidatos a presidente dos países [...] com raras exceções, todos defendem o avanço da integração (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 55).
Medeiros Filho (2005) apresenta uma visão de uma possível sequência das
etapas de integração ―Enquanto o comércio e as comunicações constituem a
52
primeira fase do processo de integração regional, os acordos político-militares
devem constituir a última das fases integracionistas‖ (p. 75).
A Defesa, portanto, não poderia poderia fugir à logica integracionista. O Chefe
do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, do Ministério da Defesa, afirmou
que países fronteiriços não são mais percebidos como ameaça, portanto não há
mais necessidade de haver movimentos de dissuasão nas fronteiras e no
posicionamento do Brasil em assuntos de Defesa. As hipóteses de emprego
clássicas precisam ser revistas. As ameaças a serem consideradas passam a ser as
extracontinentais10 (informação verbal).
As diferenças de recursos de poder entre o Brasil e seus vizinhos conferem ao país uma natural capacidade dissuasória, o que lhe possibilita optar por abrir mão da explicitação direta de seu poder e investir em uma agenda de cooperação (NASCIMENTO, 2012 b, p. 02)
No momento em que os países não se enxergam, ao menos nos discursos
oficiais, como ameaça, há necessidade de se construir mecanismos comuns de
Segurança e Defesa. O CDS surgiu dessa lógica e se encontra em estágio inicial,
privilegiando a cooperação em assuntos de Defesa, em detrimento da integração.
Inferir sobre a evolução do pensamento de defesa e das próprias instituições na
direção da superação do estágio de cooperação para um estágio de integração é
central para o embasamento das assertivas finais do trabalho. Há necessidade,
portanto, de se entender como se configuraria uma estrutura de defesa continental
nesse cenário de paz integracionista.
Deuscht se omite sobre como deveria se estruturar a Segurança e Defesa ou
mesmo se haveria necessidade de integração no campo militar, para garantir,
efetivamente, a paz e a estabilidade contra ameaças extracontinentais.
Já que a teoria não oferece elementos para a orientação de ações de
estruturação de mecanismos de defesa integrados, buscou-se exemplos empíricos
no paradigma de integração mais avançada, a União Europeia.
A UE estabeleceu uma Política Externa e de Segurança Comum, passando a
dispor de ―capacidade de cooperação entre as Forças; interoperabilidade dos meios;
e reforço tecnológico‖ (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 33).
10
Palestra proferida pelo General José Carlos de Nardi. Escola Superior de Guerra: set. 2012.
53
Criou um comitê Político e de Segurança Permanente e o Estado-Maior da
União Europeia. Dentre os instrumentos de Segurança e Defesa destacam-se: o
Eurocorps, com 50 mil homens, para atuar no âmbito regional e no da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), uma Força de Reação Rápida, com 60 mil
homens, e o Eoromarfor, força marítima multinacional. Os continente caminha para
obter a independência em Segurança e Defesa em relação aos EUA e à OTAN11.
constam do tratado da União Europeia missões coletivas em matéria de prevenção de conflitos e gestão de crises, conhecida como as missões de Petersburg [...] destacam-se missões de caráter humanitário ou de evacuação de cidadãos, de manutenção de paz, e missões executadas por forças de combate para a gestão de crises, incluindo operações de estabelecimento de paz‖ (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 76),
Mesmo com esse avanço, a integração em Segurança e Defesa ainda está
longe do ideal ―a União Européia [sic], cujos experimentos de unificação datam de
mais de quatro décadas, não chegou a acordos definitivos para a elaboração de
política de Defesa‖ (MEDEIROS FILHO, 2004, p. 76).
a Europa ainda se ressente da falta de uma identidade específica em matéria de Segurança e Defesa e, consequentemente, de meios militares para a gestão de crises e para a condução de sua Política Externa e de Segurança Comum (PESC).
Na América do Sul o estágio de formação ainda é embrionário, ―Apesar de
todos os pré-requisitos favoráveis, a consolidação de um cenário geopolítico regional
na América do Sul ainda está longe de se tornar realidade‖ (MEDEIROS FILHO,
2004, p. 35). O CDS por enquanto, exceto no que diz respeito à base industrial de
defesa, prevê apenas cooperação e não se percebe, por enquanto, ações efetivas,
na direção de uma integração de defesa.
Com o CDS ―um processo de integração militar ocorre de forma discreta [...]
[com] exercícios em conjunto realizados, as Conferências bilaterais entre estados
maiores, as inspeções militares mútuas, as reuniões envolvendo Ministros de
Defesa‖ (MEDEIROS FILHO, 2004, p. 74).
Apesar desse avanços, não se conformou até o momento [...] mecanismo integrado de natureza militar [...] A percepção que parece dominar é a de que ainda é cedo para se fazer a integração militar, por vários motivos [...] a supremacia dos interesses nacionais [...] predomínio do paradigma estatocêntrico, a característica das Forças Armadas enquanto instituições tradicionais e conservadoras e a autonomia das questões militares [...] a
11
Fonte: União Europeia. Disponível em: <www.europa.eu,int>.
54
idéia [sic] do nacional ainda é sobejamente acentuada (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 70-71).
Embora o futuro da comunidade de segurança requeira uma integração plena
e o caso empírico apontado demostre que o processo, seguindo a lógica do
spillover, caminha nessa direção, o CDS não prevê uma força expedicionária ou
alguma estrutura de intervenção regional coletiva em caso de crise.
Sendo assim, pode ser retomada a problemática central orientadora da
pesquisa e questionar se os avanços no processo de integração evoluiriam a ponto
de favorecer o surgimento de instrumentos militares integrados, podendo se prever o
estabelecimento de uma força de segurança regional? Essa a questão central da
pesquisa.
O Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas foi assertivo ao
afirmar que não se cogita, no momento, a criação de uma alguma espécie de
mecanismo de segurança coletivo12 (informação verbal).
Outros discursos, como o do embaixador brasileiro em Buenos Aires, apesar
de destacar a centralidade do papel da defesa na construção institucional, não
sustenta opinião de que seria viável, conceitualmente, essa força de intervenção
regional, considerando projeto muito ambicioso para o momento atual. Entende que
seria um exemplo terminado, mais acabado de um processo de integração, de tal
profundidade, que fracassos poderiam gerar frustração. Destacou que ―cada coisa
deve ter seu tempo13‖ (informação verbal).
A discordância apontada sustenta-se pela própria realidade de implementação do CDS [...] as ações de implementação do CDS seriam predominantemente militares e/ou econômicas. Porém, essa expectativa não se evidenciou, pois as ações de implementação do CDS foram e são de natureza essencialmente diplomática. A idéia original de criação do CDS foi estabelecer na América do Sul um fórum multilateral de Defesa, do tipo ―talk club‖, e não uma aliança militar clássica, o que afasta a componente tipicamente militar da implementação da decisão (NASCIMENTO, 2011, p. 16).
Os discursos e o próprio estatuto do CDS, que não prevê uma força
expedicionária, remetem à refutação da hipótese levantada, que foi afirmativa nesse
sentido.
12
Palestra proferida pelo General José Carlos de Nardi. Escola Superior de Guerra: set. 2012.
13 Palestra proferida pelo Embaixador Arturo Antonio Puricelli na Embaixada do Brasil em Buenos
Aires, em 11 set. 2012.
55
A conjuntura atual não sinaliza para a confirmação da hipótese, porém com o
olhar de longo prazo, cabe investigar sobre uma possível temporalidade dessa
refutação, ampliando a análise para um horizonte de tempo mais dilatado.
Necessário se faz visualizar hipóteses de emprego para preparar capacidades, aqui
entendidas como orientadoras do preparo e emprego das forças militares, e é onde
está apoiada a justificativa para a proposição de desenvolvimento do presente
trabalho.
As Forças Armadas se deparam com o desafio permanente de avaliar a influência da dinâmica da política internacional sobre suas Hipóteses de Emprego (HE), base de conhecimento para a própria essência de sua finalidade: o preparo para a guerra. Como se sabe, não se pode preparar uma Força para os conflitos do futuro com base em realidades passadas, por isso vem à tona a necessidade de se acoplar os sinais emitidos pelos cenários à constante evolução dos planejamentos estratégicos (NASCIMENTO, 2008, p 02).
A expressão hipótese de emprego (HE) deve ser entendida como a
―antevisão de possível emprego das Forças Armadas em determinada situação ou
área de interesse estratégico para o País. As HE estão definidas genericamente na
Estratégia Militar de Defesa‖ (NASCIMENTO, 2008).
Antecipar esses cenários e as prováveis HE é essencial para o preparo das
capacidades futuras, pois para mudar a doutrina e o preparo leva-se ―trinta e cinco
anos. Esse é o tempo que leva um oficial recém saído da academias militares até
chegar ao comando da força (RUDZIT, 2003, p. 207, apud MEDEIROS FILHO, p.
128).
Alguns analistas e estudiosos especulam sobre uma direção diferenciada, da
atual conjuntura, com cenários onde a integração em matéria de Defesa tende a se
concretizar, obtendo uma capacidade dissuasória extrarregional.
Quanto ao hipotético futuro considerado, há que se trabalhar com um cenário que aponta para o sucesso do conselho regional. A imagem futura mostra um quadro diverso da conjuntura que propiciou a formulação das atuais HE. Os membros do Conselho chegarão a tal ponto de entrosamento que conseguirão ajustar suas políticas de defesa num elevado grau de entendimento [...] Por outro lado, considerando-se o hipotético cenário de sucesso do Conselho Sul-americano de Defesa, a necessidade da dissuasão de âmbito regional cederia lugar à capacidade dissuasória extra-regional — para aplicação nas HE voltadas para as áreas estratégicas do Norte e do Atlântico Sul [...]Essa nova demanda geoestratégica exigirá a modernização dos sistemas operacionais e dos armamentos que atuarão nessa HE [...] A necessidade de domínio autóctone relacionada a tecnologias militares equalizadoras de poder será imperativo estratégico nessa nova realidade da defesa nacional. Assim, a constante evolução da capacitação tecnológica deve ser encarada como uma das principais ações
56
dissuasórias, a ser perseguida desde o presente [...]Assim, a criação de uma identidade genuinamente sul-americana de defesa deve ser vista como um processo de longo prazo, inserida no projeto de construção da unidade política da América do Sul (NASCIMENTO, 2012 a, p. 02-07).
Nessa nova realidade de defesa pressupõe um enfoque regional:
um novo espectro de decisão estratégica que, sem anular as políticas militares nacionais, possibilita pensar as questões de Segurança e Defesa a partir da região, na sua totalidade, determinando reformulações doutrinárias e alterações organizacionais [...] pressupõe, portanto, uma nova doutrina de emprego das Forca Armadas no âmbito regional (MEDEIROS FILHO, 2005, p. 33).
Se a ordem regional permite que o pensamento de defesa brasileiro trabalhe com estratégias de cooperação, a incerteza da ordem global recomenda que se olhe para o sistema internacional a partir da perspectiva neo-realista (NASCIMENTO, 2012 b, p. 02)
Sobre o emprego das Forças Armadas no cenário construtivista-regional
Medeiros Filho (2005) se manifesta da seguinte forma:
Se intensificam a ações ligadas à Segurança cooperativa [...] sem abandonar as preocupações de defesa da soberania e integridade territorial, as Forças Armadas devem intensificar suas ações no combate à ameaças internas ao bloco [...] construção de uma identidade estratégica comum [...] é de se esperar que sejam estabelecidas missões que possam ser geridas por instrumentos militares coletivos na região [...] necessidade de criação de meios militares para a gestão de crises e para a condução das políticas comuns adotadas (p. 117)
Precedentes regionais já existem, como a Brigada Cruz del Sur, uma Força
binacional, com efetivos argentinos e chilenos, disponível para atuar sob a égide da
ONU em missões de paz.
O embaixador brasileiro na Argentina destaca como positiva a experiência da
Brigada Cruz del Sur e informou que Chile e Argentina já solicitaram a participação
do Brasil com tropas. No entanto, só está prevista a participação do Brasil como
observador. Destacou, ainda, que não vê como o Brasil não apoiar a inciativa14
(informação verbal).
Em estudos realizados pelo Curso de Altos Estudos em Política e Estratégia
da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, foram realizados estudos
prospectivos e estabelecidos cenários para o ano de 2030, para o qual surgiram
concepções estratégicas de emprego, onde se prevê a criação de uma brigada com
capacidades, dentre outras de operar combinadamente, compondo força 14
Palestra proferida pelo Embaixador Arturo Antonio Puricelli na Embaixada do Brasil em Buenos
Aires, em 11 set. 2012.
57
expedicionária destinada ao emprego no entorno estratégico, com algum grau de
interoperabilidade, em operações convencionais, humanitárias, de defesa civil e de
cooperação civil-militar (BRASIL, 2012 b).
O cenários teóricos apresentados alinham conceitos de identidade,
interdependência e relações intersubjetivas, levando a se acreditar que o surgimento
de políticas de defesa comum seja cada vez mais frequente. A concretização desses
cenários dependerá do nível de influência externa e das flutuações do ambiente
político e econômico regional. A geopolítica sugere o desenvolvimento dessas
políticas, para obter maior grau de dissuasão contra ameaças extracontinentais.
Finalmente, apesar de refutada no curto e médio prazo, ao considerar um
horizonte de longo prazo, superior a 20 anos, em ambiente de mudanças estruturais,
é de se esperar que esses instrumentos militares de defesa regionais coletivos
venham a surgir no subcontinente, o que remete à confirmação da hipótese
sustentada nesta pesquisa.
58
5 CONCLUSÃO
Um dos caminhos possíveis para o crescimento e desenvolvimento harmônico
do subcontinente sul-americano é o da integração regional, que vem sendo buscada
pelos muitos organismos coletivos que estão sendo concertados, sendo o mais
recente o Conselho de Defesa Sul-americano.
A criação do CDS é mais uma etapa no processo de integração regional,
parte do conjunto de medidas que fomentam a confiança, contribuindo para o
entendimento mútuo, em um ambiente cooperativo, em oposição à competição.
O objetivo do trabalho foi estudar e analisar as motivações da criação do CDS
e inferir sobre a evolução do pensamento de defesa continental, especulando sobre
qual componente teórico estaria implícito no interesse de sua proposição. A análise
dessa pesquisa monográfica inspirou-se nos constructos das relações internacionais
e da ciência geopolítica e revelou que uma nova dinâmica e um novo mapa político
começam a se consolidar na América do Sul, a partir de diferentes compreensões e
visões da emergente multipolaridade na ordem global.
Para os construtivistas a realidade é passível de ser modificada, ao ser
construída uma realidade intersubjetiva e institucionalizada, por meio da integração
e da interdependência positiva, visando o estabelecimento de uma Comunidade de
Segurança, que, no caso da América do Sul, tende a ter características pluralistas
de vínculo fraco, e se encontra em estágio nascente. Com a criação do CDS, parece
se pretender incluir no processo a construção de uma comunidade de defesa, parte
de uma comunidade de segurança.
O complexo regional de segurança do subcontinente apresenta
características de um sistema polarizado padrão, em termos de distribuição de poder
e, de uma forma geral, se aproxima de um regime de segurança.
Privilegiou-se como problema central o questionamento sobre a possibilidade
de evolução do CRS para um estágio mais avançado de integração, inserido em um
cenário propício ao surgimento de ações integradas de defesa, com a consequente
necessidade de estruturação de uma força regional de segurança. Para a
identificação desse cenário foram utilizadas as teorias abordadas em sua
perspectiva que permitem uma visão do devir das relações internacionais, um
59
cenário teórico convergente, que pudesse ser considerado como provável ou
antecipatório.
Ao discutir a conjuntura, os conflitos atuais que ainda persistem e os
discursos dos agentes principais do processo apontaram para uma refutação
provisória da hipótese, que foi afirmativa no sentido do surgimento desse tipo
instrumento de integração em defesa. No entanto, os condicionantes teóricos
estudados e suas variáveis permitiram a indicação de cenários que sustentaram
indicadores que confirmariam a hipótese em ambiente de mudanças estruturais em
um horizonte de longo prazo.
A partir de uma abordagem prospectiva, baseada nas várias teorias
pesquisadas, devo considerar que os instrumentos de pesquisa utilizados no
levantamento, por meio de consultas bibliográficas e documentais, que permitiram
as interpretações dos dados colhidos, as discussões e reflexões, dentro da
delimitação estabelecida, foram suficientes para a validação desse trabalho.
Acreditando-se que os argumentos foram abordados de forma elucidativa, obtendo
conclusões importantes que podem sinalizar influências no pensamento estratégico
de defesa e no engajamento das Forças Armadas.
Para o recurso da análise comparada, utilizado o método hipotético-dedutivo,
a delimitação do tempo destinado à pesquisa condicionou a opção de se utilizar
cenários teóricos, fato que impôs algumas limitações, negando dados mais precisos
que, se não dificultaram algumas conclusões, impediram que fossem mais precisas.
Novas pesquisas poderão ampliar o estudo, inserindo variáveis testáveis por outras
metodologias e ferramentas de estudo prospectivo, na medida em que problemas e
questões forem surgindo.
Diante desse quadro, embora sejam observadas divergências e a falta de
cultura cooperativa, que obstaculizam o andamento dos processos de cooperação, a
análise da conjuntura demostrou que a integração tem avançado com a criação de
novas instituições regionais e o amadurecimento das existentes. A priorização da
integração regional é uma realidade da política externa brasileira e tende, cada vez
mais, a envolver a Defesa e o segmento militar. Enquanto as teorias de relações
internacionais apontam a integração como caminho mais adequado, a geopolítica
exige políticas, incluídas as de defesa, no sentido de aperfeiçoar a segurança
coletiva da América do Sul e, consequentemente, a segurança do Brasil.
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