10
;, )j;;_.if~r::~~t,~,r,~~~rj~i';J5!~rJ!iy.~~ls;l:-;:; \rD;,;(i~ ~;;';,:li,i,:,~,:,;!·,:~;~~ii~';: . ~.~. ',:", :. -'.': GEORGES DUBY f... ,," .. " ~I f ~.: ". . ~ l <.- o 'TEMPO DAS CATEDRAIS ~~; ~~~ . {} t.: ~;' f;-: I A,;Arte f a Sqciedad~ I 980-1420 Eri~~do <Ie armas, ~oura~ado, 0 Ocid~nte do seculo X:i vjve em temor Como nao haveda de tremer pel ante a n~tureza, desconhecida, assus- tadora? Nao se enconha nos textos qualquer sinal certo duma vaga de tenor que tivessedesabado bruscamente noano mil.. Pelo menos, e mais claro que certos cristaos esperaIam com inquieta~ao 0 milenio da Pa,ixao, noana 1033" 0 aniveIsalio da morte de Deus~ontava mais do qU'e <> do nascimento, numa cultura que'tanto valoI"dava a lembI~n~a dos de.funtos e a visita aos tumulos:, Eesta data que, ~mi. sua hist6ria, RilU1Glaber mostla prece'dida por,todo urn cortejo de prodigios: «Acre- ditava-se que a ordeTIa~ao das' esta.;:6es e dos elementos, que reinava desde o pIincfpio dos s6culos,retomara para sempleaocaci~eque era o! fim dc(hoinerp,>) Sabe-'se, ~m todo 0 caso,que' ondas de telIO!percort'iam del longe em longe urn povo vulneravel, brotavam aqui, propagavam-se a16me suscitavam migra.;:i5es desordenadas; 'arrastando POI vezes aldeias inteilas pala uma aventura se~ saida ! P Na origem destes abalos e desta ansiedade reside it espera do] fim Ms;tetppos, ,«'Omundo envelhece»; f6rmula banal no pidmbulo das c~ltas cicii1doa9il.oMas todos 'dese)<i:iiam" pr:ever,oriiqmento'da : tormental em .qu'e' se'abism'ara'o' u'niveIso;;Os,sabio's pr:escr'utam, ,:come'sse fim" a Esed, ! -.' ; •. ::-n· 4 '·.····':.:i .•· ~~;.~ .•. ~... (•. ,..'\ ..., •.• ';." '. "';'.: ,,··il····,; -~','.".'~' . , -:,~" '" .;~: .' .. 'f I.,' ,-,. '•...,,<ro••• '1 'It '. ',' (~., ~ \:"', .'.- . I~;;,~~tl;igm1tml~gir&~~§~~~&~~~~~~ ~[~~i{air~s~::~~~d~~fd:~~ ~llbi6f~~~ ••·-;'F :" ·~~~•. -...r;; •. 1_'·\~·#··\ ~'I;il '.' ;'~ .... ;L-:" ~ . ~~).}>-.':. ~".J;;.: .. ,t:···~ji~;R· ~'.l:..;.~'~,{V,.;,.~~1 \'.; ,-.J."J'. I~:>H},I; ri,._\r. ~i' ".1'1' g < j', . 'IE': extremldades ~aa',terra ~«quando "os 'mIl anos ;torem ',cumpndos»','!Soble Jesta )~i~I,~p~b'di91i0":se~:b\a~eifarri ~6s'~pa'dres' !que-'7.~orriri~ado;ndcrls6cui6 ~x,,:u'i~ga\;ai'n " l; ,: :';?l':';«a~~\;p(h)~;~'lntirii~~*igreT~~;\ie"!p'~rfS;'~q{[e': 6~~Xnticd~t(WSbbrcivji ill /ii~ : .. fiUl 'do ,; ,~:{:i~~~:mii ~e'~qte:~:t,filfU;~~efaP~i~ilt IO'g;j'\ 'a ':',~'i~gi1ii ,»t?~T6dlivia';~hl'uitot ho'~e~s ~, '~l\'~"'~t "'t:~ ' .<ntii.":jl' ~", ...• ~ '("·.·~··.'tr-·~'~-'P-7~..,.','j.r·!--·t..,·,·J:') .,,~.t.-'".,·"''t.;'':;J''~kf~''l,'·\~~r.· .~ ....\ ~~,:.~. I . , 'i' ," da~'IgreJa"combatIam~'esta",asser~1l.o :;,afl1mando;'rpelo:contnino, que' (: cen·· , 'stitA,;;;'i !~qt'er~~Yf~~'atlg~tegr.~do:iat:,D'eu~-\~:1~ue:,rt[b':-p');aenee 'fRo ":h~~em ; "'di~riha:?:\(?dl~~e~ia\~!h'o~a~v4Nd~iEv~ng~ihgln"~o :f:s~~{~'z~:'m'e'N9ao';ld tlmn \::datii ' ;kX~i/!l~~~~~~(~~~~!~T,~rW '!;{G~~~1!~1~~~

DUBY, Georges - O tempo das catedrais

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DUBY, Georges - O tempo das catedrais

;,)j;;_.if~r::~~t,~,r,~~~rj~i';J5!~rJ!iy.~~ls;l:-;:;\rD;,;(i~~;;';,:li,i,:,~,:,;!·,:~;~~ii~';:. ~.~. ',:", :.

-'.':

GEORGES DUBYf... ,," .•."

~I f ~. : ".•.~ l <.-

o 'TEMPODAS CATEDRAIS

~~;~~~.{}t.:

~ ;' f;-:

IA,;Arte f a Sqciedad~

I980-1420

Eri~~do <Ie armas, ~oura~ado, 0 Ocid~nte do seculo X:i vjve em temorComo nao haveda de tremer pel ante a n~tureza, desconhecida, assus-tadora? Nao se enconha nos textos qualquer sinal certo duma vaga detenor que tivesse desabado bruscamente no ano mil.. Pelo menos, emais claro que certos cristaos esperaIam com inquieta~ao 0 milenio daPa,ixao, no ana 1033" 0 aniveIsalio da morte de Deus ~ontava mais doqU'e <> do nascimento, numa cultura que'tanto valoI"dava a lembI~n~ados de.funtos e a visita aos tumulos:, Eesta data que, ~mi.sua hist6ria,RilU1Glaber mostla prece'dida por,todo urn cortejo de prodigios: «Acre-ditava-se que a ordeTIa~ao das' esta.;:6es e dos elementos, que reinava desdeo pIincfpio dos s6culos, retomara para semple ao caci~ e que era o! fimdc(hoinerp,>) Sabe-'se, ~m todo 0 caso,que' ondas de telIO! percort'iamdel longe em longe urn povo vulneravel, brotavam aqui, propagavam-sea16m e suscitavam migra.;:i5es desordenadas; 'arrastando POI vezes aldeiasinteilas pala uma aventura se~ saida !

P Na origem destes abalos e desta ansiedade reside it espera do] fimMs;tetppos, ,«'Omundo envelhece»; f6rmula banal no pidmbulo das c~ltascicii1doa9il.oMas todos 'dese)<i:iiam"pr:ever,oriiqmento'da : tormental em

.qu'e' se'abism'ara'o' u'niveIso;;Os,sabio's pr:escr'utam, ,:come'sse fim" a Esed,! - .' ;••.::-n·4'·.····':.:i .• · ~~;.~ •.•. ~...(••. ,..'\ ...• , •.• ';." '. "';'.: ,,··il····,; -~','."•.'~'•., -:,~"'" .;~:.•' .. 'f I.,' ,-,. ' •...• ,,<ro••• '1 'It '. ',' (~., ~ \:"', .• '.- .I~;;,~~tl;igm1tml~gir&~~§~~~&~~~~~~~[~~i{air~s~::~~~d~~fd:~~1M;~llbi6f~~~'

••• ·-;'F :" ·~~~•.-...r;; •.1_'·\~·#··\~'I;il '.' ;'~ ..•..;L-:" ~ •.~~).}>-.':.~".J;;' ·.: ..,t:···~ji~;R·~'.l:..;.~'~,{V,.;,.~~1\'.; ,-.J."J'. I~:>H},I; ri,._~·\r. ~i' ".1'1' g < j', .

'IE': extremldades ~aa',terra ~«quando "os 'mIl anos ;torem ',cumpndos»','!Soble Jesta)~i~I,~p~b'di91i0":se~:b\a~eifarri~6s'~pa'dres'!que-'7.~orriri~ado;ndcrls6cui6~x,,:u'i~ga\;ai'n"l;,::';?l':';«a~~\;p(h)~;~'lntirii~~*igreT~~;\ie"!p'~rfS;'~q{[e':6~~Xnticd~t(WSbbrcivjiill/ii~:..fiUl 'do ,;,~:{:i~~~:mii~e'~qte:~:t,filfU;~~efaP~i~iltIO'g;j'\ 'a':',~'i~gi1ii,»t?~T6dlivia';~hl'uitotho'~e~s~,

'~l\'~"'~t"'t:~ '.•<ntii.":jl' ~", ...•~ '("·.·~··.'tr-·~'~-'P-;·7~..,.','j.r·!--·t..,·,·J:') •.,,~.t.-'".,·.· "''t.;'':;J''~kf~''l,'·\~~r.·.~....•\ ~~,:.~. I ., 'i' ," da~'IgreJa"combatIam~'esta",asser~1l.o:;,afl1mando;'rpelo:contnino, que' (: cen··, 'stitA,;;;'i !~qt'er~~Yf~~'atlg~tegr.~do:iat:,D'eu~-\~:1~ue:,rt[b':-p');aenee'fRo ":h~~em; "'di~riha:?:\(?dl~~e~ia\~!h'o~a~v4Nd~iEv~ng~ihgln"~o:f:s~~{~'z~:'m'e'N9ao';ldtlmn \::datii '

;kX~i/!l~~~~~~(~~~~!~T,~rW'!;{G~~~1!~1~~~rlf~~~f:0!',i

Page 2: DUBY, Georges - O tempo das catedrais

de tena aqui e alem; e isto sela 0 plinciplO dos soflimentos» E entaoque impOItala estal' pronto para enfrentar 0 I'Osto deslumbrante de Cristoque desce do ceu para juIgar' os vivos e os inortos Ansiosamente; 0Ociderite do niilenio espreitava estes' prinieiros 'sintomas' '

Que sabia ele das estruturas do mundo criado? Via girarem r'egular-mente as estrelas, regressarem as alvOladas e as primaveras, e todos osseres nascerem e mOll'erem 1inha consciencia duma ordem instaurada

~;:.,\, por Deus, a ordem substancial com que estiio de acordo os mums das~\~~,igrejas lomanicas e que os seus construtOles se aplicaram a significarJ..~j" Mas acontecia serem transtOlnados esses ritmos, Viam-se meteoros, come·

tas cuja traject6ria nao acompanhava 0 movimento circular do.s astros,Do mar swgiam monstros -, como a baleia «que apareceu numa manhade NovembI'O, ao alvorecei, semelhante a uma Uha, e foi vista continuala sua wta ate a tezceira hOla do dia» Que pensar das calamictades, dastOlmentas intempestivas, das erupc;:6es vulcanicas ou daquele dragao quemuitos homens ateuados ViIam no ceu da GaIia, num sabado a noiteantes do Natal, «dirigindo-se para 0 sui, lanc;:ando feixes de relampagos»?Alterac;:6es no fogo, na agua, no ceu, nas profundidades da terra: a des ..crir;:ao de tais anomalias forma a materia pdncipal das clonicas que osmanges entao redigiram Tinham a cuidado de registar a lembranya delaspOI'que esses acontecimentos formavam a seus olhos uma rede de' indIciossusceptfveis de, urn dia, iluminar 0 destino do homem, Para eles, elampl'essagios, Durante 0 eclipse de 1033, os homens viram-se palidos comomortos: «urn pavor imenso enta~ se apoderou da sua alma: este espec-taculo, compreendiam-no bern, anunciava que urn desastre lamentavelia cair sobre a humanidade» A prop6sito dum corneta, 0 monge RaulGlaber intenoga-se: «Quanto a saber se era uma estrela nova que Deusenviara ou urn astro de que ele simplesmente reforr;ara 0 brilho paramanifestar urn pressagio, e coisa que s6 pertence aquele cuja sabedor faregula todas as eoisas me/hor do queninguem saberi a dizer Todavia,o celto e que de cada vez que os homens veem produzitse no mundoum prodlgio desta natureza, poueo depois cai sobre eIes qualquer coisade surpreendente e de terrJveI.l) Porque no pensamento selvagem quedominava todas as consciencias, e mesmo as dos mais sabios, 0 universoapresenta -se como uma especie de floresta misteriosa a que ninguempode dar a volta, PUla 0 penetrar, para nos defender'ffios dos pedgosque contem, devemos comportal-nos como fazem os cac;:adores, seguirpistas sinuosas, confiar em rastos e deiicar-nos guial poi urn 'jogo de .coin-cid8ncias il6gicas A ordem do mundo repousa sobre urn tecido de lac;:ostenues penetrado de influxos magicos Tudo 0 que os sentidos percebeme sinal: a palavl a, 0 rUrdo, 0 gesto, 0 reltimpago E e desenredando pacien-temente 0 novelo complexo destes simbolos que 0 'homem conse'gue pro ..gredir pouco a pouco,' mover-se na mata espessa onde a' natureza 0

aprisiona

Osprodiiios nascem no cOI'a~o do misterio, 0 essencia,l e. disceix:.irquem os susciia entre as forc;:asam?fguas, ocultas so~ as aparenclas, Ser'aoas potencias sataT!icas, aque~as\,~tl:~odos senten1 agltarer;:-s.e sob a terTae' nos 'silvados, pI'ontas it saltai,' e que a decorar;ao romaruca ~epresentacomo criatmas bestiais, com alguma coisa da mulher' e do repttl? «Quemnlio sabe que as guerras, os fmac6es, as mortalidades, todos os m~l~s,em verdade, que se abatem sobre 0 genero humane, chegam pelo mIlllS-terio dos deri16nios?» A evangelizar;:ao envolvera as Crenr;as profundasdo sec~lo XI num certo numer:o de irnagens e de formulas, mas naovencera verdadeiramente as representac;:6es mentais onde a fe instintiva dopovo procurava desde sempr~ a explicar;ao do inconhecivei Esses. mitos,construfdos sobre a oposir;:ao da noite e do dia, da morte e da VIda, dacarne e do esphito, mostravam 0 universo como urn. ca,mpo fechado, 0

de um duelo entIe 0 bem e 0 mal, entle Deus e os exercltos rebeides qu~negam a sua ordem e a confundem- Levavam a recon,h~cer nas cala.ml-dades, fractums dos ritmos costumeiros, as der~'otas da,s forr;:as ~enetlca~e vit6rias de Satanas, do Inimigo, que urn anJo mantlvera ~aptlvo «ateque os mil anos fossem passados», mas que agora se :ibertava, que atacavae Ievava a toda a parte a confusao, como os cavaleuos saqueadores galo-pando pelos campos e alruinando as messes prome:ida~ .

Mas POl' que nao pensar, em oposir;ao, que tats smats sac lanr;ado!\pelo proprio Deus? POI um Deus violento, pronto a inflamar'se de, c6lera,como fazem os reis da tena quando se sentem trafdos ou d~saflados, eque no entanto nao deixa de amal os seus filhos e quer advertI-los, po-l osem guarda, que recusa feli-Ios imprevistamente e quer ~ar,.lhes urn pr~zopara que se preparem pala os seus golpes mais. terrfvels 0 ho~em Vlveesmagndo sob 0 podel divino, mas deve contlOuar. a ser conflante 0crindor deu-Ihe olhos para vel', ouvidos para oliviI'. Fala-lhe, como Jes~sfalava aos disclpulos, pOI parabolas Usa de metUfolas O,b~CUI~S,cUJOsentido escondido compete ao cristao penetrar, Pelas mOdl.ftcar;oes con-ccrtadas que introduz na ordem c6smica, Deus faz a humantdade a. gr~r;ade a desperlaI Celtas vozes ameal;adOlas agcm como um~ pltr;reUarepreensao Taotos flagelos que feriam os campos do ana mIl, a tnun-dac;:ao, a gueua, a peste ou a fome, desenvolviam--se natur~lmen,te n~m~civiIiza~1iodesarrriada per ante os desvios do cIima, us agressoes ~loI6~lcas,e absolutamente incapaz de reprimir as explos6es da sua pr~pna palXaoInexplicaveis, conslderavam-nas sinais anunciadores do di~ d~ Ira, as adver-tenciasde que fala 0 Ev'angelho de ~ateus Logo, por mcttac;:5es a fazer

penit~n~~~io' que tudo 0 qu~ permit~ coi1heC,er.~,espfrito do seculo XIvem dc' tex'tos que foram' escritos nos mostetros,Estes testemunhos sacpois influenciado,s por uma, etica part.icular: ,ema~all1. ~() ho~ens que. a

,voca~fici inclina~a no pe'ssi~ismo ~ a sltuar na I~nu.ncI~ t~dos o~ m,~del()s:. : da 'sua'conduta Os mongesexoltavam naturalm~nte a,pI1ya~oes, que eles

propriosse tinh~m' consentido, e os prod!gios que relatav~m trazialIl un;~ ,.~.. ~.:.~'l~,:!",;,;,~",: .. ;,:,:,:.': .~.? ," , I. \. i '1.'

J~~l~;r::i~~,;\:,\h~;;:[Ji;;:ii(;'1~(i,;i;,};,;\C?' .i ;':. ,,/ ,,{ ; ;~'l~I,;,'•.', .::.

Page 3: DUBY, Georges - O tempo das catedrais

reforco aos seus discUlsOS Deus manifesta que esta initado Veem-se mul-.. tiplicar os prenuncios dum regresso iminente do Cristo 'vingador, Pala

> entI"ar na sala do banquete onde 0 seu Rei vai introduii.la, a humanidade/deve vestir a pressa 0 trajo nupcial; ai de quem nao se tiver adomado:com ele Que todos pensem pais em lavar-se das suas maculas e, pelal'enuncia volunfaria aos prazeres do mundo, desarmar a braco do 10do--Poderoso, Assim, e cvidente que as grandes reunioes de povo, que naG{ilia do SuI obraram para estabelecer a paz de Deus, foram assembleiasde penitencia colectiva Na AquiUinia, 0 mal dos ardentes grassava; elemanifestava a impaciencia divina; trouxeram-se, para limoges, «solene-mente de todas as partes, os .cOIPOSe as relfquias dos santos; tirou-se doseu sepulc]'o 0 corpo de S Marcial, patrono da Galia; 0 mundo foi entaopenetrado POl' uma grande alegria, e 0 mal, pOI toda a parte, cessou assuas devastacoes, enquanto 0 duque e os grandes concluiam juntos umpacto de paz e de justir;a>} 0 re,stabelecimento da concordia desempe-nhava 0 seu papel no movimento de ascese que as sinais precursol es doUltimo Dia estimulavam Nilo ordenavam os juramentos pela paz de Deusque se renunciasse as alegrias do combate? No mesmo momenta em quepropunha aos cavaleiros, como penitencia mais apropriada ao seu estado,a abstinencia pedodica que e a tregua, a Igreja refor-cava as instrucoesdo jejum. Comecava a considerar que os seus padres, modelos de vidacrista, tinham de dal 0 exemplo da pobreza, da castidade, renunciar aoluxo cavaleiresco e despedir as suas concubinas, isto e, viver como mongesPara acalmar a c61era de Deus, para se plepararem pala a Pal usia quese sentia proxima, era predso extirpar os fermentos de pecado e, porconsequencia, respeital melhor as ploibicoes fundamentais Satamls man-tern os seus escravos plisioneiros par meio de quatm cobicas. Sedu-lospela came, pela gueIIa, pelo ouro e pela mulhel Que as homens, cujojulgamento se plepara, saibam repelir estas tentac5es Or?, renunciar ~sriquezas, depar as armas, viver na continencia, jejuar, faziam-no as mon-ges desde ha seculos 0 que a Igreja passou a recomendar desde entaoa todo 0 pavo cristao, foi que as imitasse, que se impusesse as mesmasregras de pobreza, de castidade, de paz e de abstinencia, e que voltasseas costas como eles a tudo 0 que no mundo {; carnal Para a Jerusalemnova, 0 genero humano, enfim todo ele convertido, poderia caminharentao com seguranca.

Pelsuadido pelo seu clero da iminencia do fim dos tempos, 0 seculo XIcolacou 0 seu ideal- aqueJe que as obras de arte tiveram por missaorepresentar ,- nos proprios princfpios do monaquismo. No seio dos grandesespacos mal desblavados, entre popu]acoes cUIvadas ao peso da sua mlsedae que os espasmos duma ansiedade latente agitavam, erguiam·se ao ladodos castelos, onde velavam os soldados do seculo, outIas fortalezas, lugalesde asilo e de esperanca,e 0 assalto dos exercitos demoniacos quebrava-secontI a as suasdefesas Bram os mosteiros A cidade terrestre, pensava-se,assenta sobre duas' colunas E defendida pol' duas milfcias associadas: a

ordem dos que-usam as armas e a ordem dos que oram ao Eterno. Ma~onde se' podera OJal melhor do que nos refugios de pureza que as muralhasdo claustro' profegem?Em todas as abadias do Oeidente', multidoes deAbel ofereciam ao Senhol os unicos sacrificios que the elam verdadeil a-mente agradaveis. Mais do {].ue os reis de.caidos da Europa, mais do queos bispos e os padres, tinham 0 poder de desarmal a ira do Senhor Bramos mestres do sagrado, A cavalada acampava no meio da cristandadelatina e mantinha-a fiImemente sob a sua fOIca Todavia,' no dominiodo espirito, no imenso dominie da angustia e dos terrores religiosos - nodominio, portanto, da criaCao artistica - era aos monges que pertenciaentao 0 pIeno imperio

Uma sociedade que tanto valor dava as fOlmulas e :'aos gestos e queo invisivel fazia tr-emei' pl'ecisava de ritos pala repelir as medos e paraestabelecer Iigacoes com as forcas sobrenaturais: precisava dos sacramento:>e, pOl' consequencia, dos padres Mais necessarias ainda, no entanto, lhepareciam sem duvida as oracoes·, cujo .canto continuo se elevava como 0

fumo do incenso para 0 trono de Deus como uma ofe-renda permanente,urn IouVOl e a implor acao da sua clemencia PI ecisava POItanto dosmonges

A primeira missilo destes consistia em lezar pal ela. Nesse tempo,o individuo nao contava, perdia-3e no seio dum grupo onde as iniciativasde cada urn se fundiam imediatamente em acr;oes e responsabilidadecomuns, Do mesmo modo que a vinganca duma famflia ela feita deconcerto POI toda a Iinhagem reunida e que as desfonas atingiam nao s6o agl essor, mas todos as do seu parentesco, assim todo 0 poVO ~Iistao seseotia solidario per ante a mal e perante Deus, ma.culado pelo cnme desteou daquele dos seus membr-os, purificado pelas abstinencias de alguns Amaior parte dos homens considenivam·,se demasiado fracos ou demasia~oignaros para se salvarem a sl propdos Pelo menos esperavam a seu proplloresgate dum sacriffcio consentido par outros, de que aproveitaria acomunidade inteil'a e que se reflectiria sobre todos, Estes agentes deredenciio colectiva eram os monges 0 mosteiro intervinha como urnargao de compensar;iio espititual Captava 0 perdiio divino e distribuia·oem seu redor Sem duvlda os manges eram os primeiros a tirar pIOveitodos seus pr6prios meritos Garihava~ par a si propdos e~ primeilO lugaro feudo invisivel que I'ecompensaria no ceu os seus seIVIC;OS.Outros quenao eles, no entento, participavam em tais gra~as, e tanto mais lal gamentequanto'mais se situassem nU1}1aproximi~ade estleita em relac;ao il. cornu··nidacle' monastica, Os manges t"rabalhavam pdmeiramente para a salvar;aodos seus parentes segundo a carne~ POI' isso a oblac;ao dectiancas, colo-·cadas n.uma abadia afim' de qtietoda a sua 'vida OIassem pelos irmaos quetinham fica do no seculo,' . . .tao espalhado nasfamilias

Page 4: DUBY, Georges - O tempo das catedrais

,~i\',~:';~"j',\; ;;,i~' : ;;}"i:;/~~Y~:'r::"!;;~r;r~:~~!fl?;~~.t,~~:;~1~~!f.~.;7",:,',;,•.1.~~Z.~t\J'.n,;}~;~~,!~,fl:\~~·:\>l':~~:~ !. '

!irlw',{!; :';, nobles .Os monges trabalhavam em,seguida paia' a salvas:ao dosseiis ",

iHnaos segundo 0 espirito:'-, e numerosos laicos se ligavam, para iss6 a uin:/mosteiro, pela doas:ao dos' seus corpas, pela, homenagemvassalica I,OU ':;"introduzindo-se numa lias associa~5es de preces cuja rec!e se desenvolvia "em ledor de cada santuario Os'monges tlabalhavam fimilmente para asalva<;ao dos benfeitores - 0 que fazia afluir as esmolas as suas maos.Estas laz5es fizeram multiplicar POl' toda a parte os mosteiros (mosteirosde homens: existiam POllCOScOilventos de monjas nesta cuItura masculinaque ainda punha a quesUio; tern as mulheres alma?)' e foram elas qU~ ostomaram tao prosperos Esta fun<;ao primordial justificava tambem. aafectas:ao duma parte impOItante dos rendimentos moniisticos a empreendi-mentos de decora<;ao Porque nao se louva 0 Senhor somente com orac;:5es,mas pela oferenda da beleza, por ornamentos, pela 01dena<;ao arquitectulalmais apropriada para figurar a omnipotencia dum Deus eterno .. 0 recuodo poder monarquico e os movirnentos da sociedade transferilam pOItantopara as abadias as antigas missoes reais de consagrac;:ao e todas as molas dacriac;:ao artistica Foram as fun<;oes liturgicas que os monges desempe-nhavam para 0 coniunto do povo que suscitaram no se.culo XI a fJorac;:aoda al te sacra

Em segundo lugar, os mosteiros tinham-se tornado conservatorios dereliquias: nenhum laico teria ousado guardar em sua posse os restos dosCOIPOSsantos, essas ossadas providas de poderes tao fOlmidaveis e porquem 0 misterio estabelecia a sua presenc;:a no seio do universo vjslvelS6 ao rei competia possuf-Jos, ou entao a homens purissimos Ascomunidades de padres que de gela~ao em gera~ao veiavam pelos reli-carios, mas que se iam abandonando aos costumes do seculo, tinham sidoprogressivamente substitufdas pO! comunidades de monges T odos osmosteiros er'am plOpriedadc dum santo que nao pelmitia que neles setocasse e que lanc;:ava 0 fogo de Deus sobre os violadores dos se·usdireitos Ai tinha Icsidencia corpolalmente pelos vestfgios da sua existenciaterlestre Era junto das suas rcHquias que convinha plcstal,·lhe home ..nagcm, solicitar 0 seu socono nas plovac;:oes, em tal ou tal doen<;a cuiocurso cle govclOa au na espela da morte, A maior palte das abadiaserguiam·sc sobre a sepultura dum mar LiI: ou dum evangelizador, dumdesscs her6is das lutas contra 0 mal e as trcvas Soble um tumulo Sobre.,tumulos Em Saint-Germain d'AuxeIIe, <<oapequena igieia, contavillll-se,!:vinte e dois altaiesl>~ e Raul Glabel, que pos em OIdem os epitWos dos ,)'santos, «ornou da mesma maneil a os sermlcros de algumas i:eligiosas' perso~,~nagenSl> Ordenadores do curto das reHquias que se' desenlolava' ~~ re'4or,:'\'dos sarc6fagos, os manges serviam de intermediarIos necessfuiosentre '0,1mundo subtet rll.~eo dos' m~rtos e 0 da vid~ tellestie Tal e;'il. asu~: ouint';fun<;ao essencial, que marcou plofundamente as formas ait!stiCas'::Imp6r~!,;tava .com efeito dispor em redO! das reHquias ornamentos'dig~os das s.IHi;;':virtudes Foi tambem POt que' se conyer teu n'um 'relicario'que, 'a'igreja:~

" ,,: 68 '" ',':,;/'.f;i~~i{i~

,f~I{I~ W~~C~~/~!t~~~~~~:~t{~?;~~?:'(:~'~1~~,'~r'l~).: ':~"j,' .. ~';.'

./~'<:1~;\'.:~::)::ffi.\~~:~·:\:~:<:';:f';:''':I': :!,~,:~',; ,,' •

moniistica se cobriu ent~o de esplendores, E esta d~coras:ao, aplicad.a aosdespojos ;dos'saritos,' aparen1p.va-se natUIalmente com, a arte funer{lI1a

.' A~atens:8.o:que: a;cF!stll.ridade~~s~culo XI da ••~ a morte; trad~z , avit6riei' ci~"cleri~as',lindas :do"fundo do. povo, que os tr'JUufos do feud,alismoreVigOIalam, 'que as impuseram "8.gente da Igleia, elevando-as asslm a;eaos nfveis' superiores da cultura onde de novo encontraram ex~ressaos6lida As lendas que constituem a trama ctas can90es de gesta gelmrnaramtodas pelto de necr6poleS,' nos Alyscamps d'Arles, em V~z:Iay sob:e 0tumuI6 de Giralt de Roussillon, numa altura ern que se modlfl.cava 0 IItualcristao dos funerais. Este, ailtigamente, confiava muito ~impl~s:nente amiseric6rdia do Senhor a despojo do pecador A;, cavalana eXlgI~ ag~rados padres que intelviessem -para sacralizar 0 cad~ver,. Nas cenm6masfUnebres introduziram-se nessa epoca as gestos do rncensamento, as f6r-mulas da absolyicao, pela qual 0 sacerd6cio afitmava 0 seu pod:r deperdoar ele pr6prio as faltas Para 0 corpo defunto, ate.que ressu~cI~asse,nenhuma morada pare cia mais pmpfcia a salvac;:aodo que a PIOXlffilda?edos reIicarios a vizinhanc;:a do com onde a orac;:ao, ao longo de todo dla,era lan<;ada ~ara 0 Deus-juiz, Os maiores prfncipes alcanc;:avam fazer-seentenar no proprio interior das igrejas monasticas Em redo:' destasalargaram-se imensos cemiterios, onde as melhores lugar'es, e mals car os,confinavam com 0 mum do santuario Sobre estas sepulturas, a comu-nidadc denamava as benesses dum servic;:o funerario cuia clescenteamplidao invadia as litul'gias Dia apos dia, lia-se n~ necrol6gio ,0 nomedaqueles, cada vez em maior numero" pO'r quem :a ser especmlmentecantado 0 ofielo Enfim, 0 mosteiro acolhia os monbundos Espalhou-seno seculo XI a habito, entre os cavaleiros do Ocidente, d~ se «COnV~I-terem», de mudarem a sua vida no Ieito de morte e revestl~'em 0 ha~ltode S .. Bento Na hOIa da mOlte, agrcgavam-se a grande familia monastlca,a essa Jinhagem espiritual que nao deveria extinguil'-se nunca, que, comotodos os parentescos, se preocupava com a salvas:ao dos seus, defuntos eque olalia por eles em tad os os steulos dos seclllos ~o dla do J~f~oFinal alinhado entre os seus irmaos monges, 0 lessuscltado consegulrlatalve~ esconder aos olhos do Etel no uma tunica menos branca do, queesturiam as deles Porque foram concebidas como tumulos coJectIvos,po\que se via nclas uma passagem intelmedia entle as espessulas da terrac 0 esplendor do ceu, as abaciriis ador oar am -se com todas as belezas doIDundq

Page 5: DUBY, Georges - O tempo das catedrais

\!. :'.',

',C ~~. ~ .,:.}

..:.~'":::~~r,~:~·~t~~:t;:~:~~~;:~·::/,~,.~~:,~",:~'J ;:~urni¥.~{?ft~~(:i.r~~~~f.f,"",'. . ' ;.. ,~

,.:'

defendidas, cheias de riquezas,' as' abadias haviam sido saqueadas, incen-diadus pelos bandos nOlmandos, sarracenos e hungaws, e os mongestinham fugido em desordem, Rompendo contra vontade a clausUIa,encontraram-se brutalmente mergulhados no imperio do Maligno, ab'an-donados sem defesa as tenta~5es do seculo ' A maior parte reagrupou-senas provfncias tefilgios, menos expostas as agress5es pagas, Ap6s umalonga eufmcia, a comunidade de NoilmoutieI, fugindo' cada vez mais paradiante a frente dos Vikings, acabara POl' transferir para Toumus, noSaone, as leliquias do seu' santo padroeiro, S, FiJiberto, Pade enta~erguer nesse Jugal' calmo urn dos mais belos ediffcios'da nova aIte, Masentao os mosteiros CUIvavam"se so.b urn outro jugo, 0 do feudaIismo,Os reis que antigainente os protegiam deixavam-nos escapar das maosNo ana mil, na "diocese de Noyon, situada embo;a muito pelto dasresidencias dosCapetos, 0 rei de Fran9a s6 mantinha sob a sua protec~aouma das sete abadias; todas as outras tinham passado para 0 padroadodos senhores que exerciam localmente, a titulo privado, os poderes dejusti9a, POI' outro Iado, multiplas linhagens nobres, de pzincipes mastambem de caste15es menoles, fundaram nessa epoca mosteiros para bene-ficiarem das suas ora90es, para af porem alguns dos fiIhos, para a{enterrarem os seus mortos, Cada um deles considefava essa casa como seubem pr6priei, e a sOlte comum dos leligiosos veio a sel, bem depressa,dependerem, como os camponeses rendeiros, como os escravos domesricos,dum pat! im6nio familiar Viviam na submissao a urn amo que por vezes asmaltratava e explorava sem vergonha A Venera9ao dos fieis, as oferendasdepostas junto dos lelicarios s6 a clc aproveitavam, Acontecia muitas vezesdelapidar os bens do altar, alimentar com eles as mamhas e as mulherese reduzir os Crades a viverem miseramente com 0 pouco que Ihes deixavaNo mclhor caso, tin ham os monges de consentir ceder em feudo aoscavaleilos do sell patrono uma Iarga parte do seu dominio Por m,'sindependente que fosse, todo 0 abade, todo 0 pdor el'a obligado aplcitear contra os nobres da vizinhan~a que contestavam os diteitos dosanto I inha de fazel guerr a contr a eIes Esta posi9ao entre as tur bu-,lencias feudais engendrava a desordem, os relaxamentos, Como aplicar alegm, fazel respeitar a clausura, pOllpar aos religiosos as maculas dosangue vcrtido nos combates, do ouro e da carne? E como mante-Iosinstrufdos?

Logo que 0 Ocidente escapou aos lumultos e aos desastres, os senhorcstinharn-se dedicado, como tare fa mais urgente, a reslaurar os 6rgaos daolac;iio colectiva A iniciativa viera de certos pIlncipesVotadosa velhice,preocupados com conciliar amigos, no ceu" esforc;avam~se 'por fazerrcgrcssar 11 regra os mosleilos fundados peIos antepassados OU os quetinham subtlafdo ao padroado dos reis Este primeiro movimento dereforma comc9ara muito cedo, nos ptimeiros anos do seculo X Eneon'tt3.va-se em pleno avan90 em 980; celca de 1130, atingidos todos os seusobjectivos, ter mina As fun90es pI imordiais assumidas pelas comunidades

{t~~~~1~'f:Jiff:Z~~,~1;~f\:~:~:~1/?/r:;:\Y:;::-\;~<;ir::}:,.;,"

. . 'da hist6ria crista explicam que 0 espirito r~foI-monastlcas neste peuodo ',',' '. .' 'badias A Igreja secular flcoumador se tenha desenvolvido pnme:I? n~s a. "t' 'aI' '0 ,que fez com, " ;. "1' XII pnslOnella no empOl" ,ate ao prlnCtplO do seClIa , , b" ' pol' toda a parte os monges, d' t ssem aos lSPOSeque os abades se a Ian a , torque os selvi~os que prestavamtriunfassem, Porque eram malS san os,r~ d Antes de 1130, os maioresu Deus ganhavam c1alam~nte emo;uar~n~e:' cadinhos da nova arte naocentres da cultu.ra do OClden,te, 0;mosteiros instalados no campo, nosao pois catedrals, mas mostelIoS , tfnuo das te.cnicas agdcolas

d 'io 'que 0 pIOgresSO concentro dum omm" d t dos as exigencias e as estIutmasvivificava, estavam m.aIs bem a af ~as 0 seu primado rcsulta sobretudoduma sociedade essenclaImente rura, . 'do muito mais cedo,- 't' - monastlcas terem Sldo facto de as Illstl U1~oes _ ue as tinham pOl momentos conom--renovadas, pur'gad~s .das l.nfeq;~es q bades ascenderam -a santidade antespido. Na Idade Me,dla OClden~a, ~~ ~o ue estes a escola, deixaram mais'dos bispos, IeOrgantzara~ mals ce qI s mais aburldantes aumentavamdepressa de dissipar rendlmentos que esmo at" para a gl6ria de Deus,incessantemente Empregaram-nos em recons [UlI,a sua igreja e 'em adorna-la,. t onasticos foi geralmente obra dum

A rcfOlm.a dos estabeleclmen o~e:do elo rigor dos seus costumes ehomem especlalmente dotad~, con " P feudais que queriam con tar

. ue POl' lSSOos puncrpes .pela sua energw, e q 'quI' e alem a indisciplina A suanvidaram a extnpar a ,com bans monges co . d 'homens de urn lado para outro,, - d 'izurao fazla an ar esses . - fmlssao e lcorgan Y _ bara de introduZlI nao ossem

Mas, desejando que as cone~c;?~s q~~ ~~~serva[ a dircc9aO das multipIasefemeras, esfor9ava-se de ordlllaIlo p. . urn corpo que ele dirigia,

d E t s agregavam,se aSSlm ncasas lenova as s a .- is bem pretegidos contrab contravam pela lIIl1ao, ma • .cujos mem r os se en , t' lal mente conh a a ingerencla

o retorno das fon;:as dissolventes e par ~~~ont:i.neamente a congt ega9ao,dos poder es Jaicos Da refOlma na~ceum certos tr ac;os da arte sacr a, Emisto e uma estrutur a de que depen e[I~ e a delimitaz nacda9ao

, .' d da arte ap Icavam-s ' Itempos os hlstona ores I do Poitou duma csco a.' " , falavam duma esco a ' dromanlca. provlll,Clas, d' ( gue entre as monumentos 0

Provenc;al. Ora, 0 parentesco que se IS Ill, 'd de do que das liga~5es1 't menos da proxlm1 a ,sceulo XI resu ta mut 0 t a outra da cdstandade, untam

espirituais, aquelas que, de uma pon af 'ma e que pOl' isso ficavam em, d d or uma mesma re' or ,mosteuos epura os P "d'" 't's manifestavam a ahanc;a cons-

. f t 'dade Os seus Ulgen e Ih t'estrelta ra ernl . omando-as de decora~ao seme an etlUindo igl'ejas do mesmo tlpo, . Citemos aquela que nasceuna

'Estas congrega~5es foram numse~ots,avsanneou 0 'grupo meditenaniCoI-de Ricardo de am·. . 1-Lorena l a ac~ao , . do M 'selha muitos mostclIoS cata aes,

que reuniu sob a eglde de S. Yftor d ~ Vall 'ano abade de S Benigno, em" E' G ilherme e OPI , .sardos e toscanos IS u , d' hama ..o a conduzir ao cammho

"1001 duque da Norman la c " . b d'DIJon; e~ , a . em 1003,' funda FIuttuana, na lom ~I, laiecto os monges de Fe~amp, , ': ", ',: t ema dgidez: diziam--no eXlgenteo triunfo deste mestre ,est,!-vana sua ex I

. I ':.

Page 6: DUBY, Georges - O tempo das catedrais

iii"[ii'fh'i "'!~~'):,i'"t.· "f/~t~" ; super regula, para al6m da regra; «niortifica~ao da carne, abjec~ao do~f1:1' COIPO, I'Oupas vis, uma alimental;aoparcimoniosa», impunha aos JradesiJ!',P 0 a~cetism() ligOIOSO que os manteria em estado de perfeita l>ureza Sobre~!~!~' .' 0 elXO que as suas. primeiras tentativas tinham tra~ado, entre a Italia do;'!g !~i Norte e as malgens da Mancha,' floriram lamos: de Fecamp, a reforma

":., •.••:>.:.,.:..:•.. f.,:.",.'.,:." ~ ','" Cctheglou a s(ain t-oRuelnd_de. Rouen, Bemay, Jumi<':ges, Saint-Michel-au-peril-

, ( - co. a-mer que· 0 ao mvoca na hora de morTer, porque e ao ucanjo

:;~.,.;..:i,. ~~::J.~.. , qbued~abe a dtard'a de pesar as almas perante 0 tribunal de Deus), essas. ., a alas aon e Guilherme, 0 Conquistador, e Lanfranco foram buscar

"'[fl :~:1de po is de 1066, com que prover a Inglateria de bons bispos e ondc s~"ti formaram os maiores sabios do ano 1100, entre as quais Santo Anselmo'i' Dijon inadiou sobre Beze, Septfontaines, Saint·Michel de Tonnene Saint:

;;; ,--Germain d'Auxerre, onde Raul Glaber foi mange; Fruttuari; sabreSanto Ambr6sio de Milao, sobre Santo Apolimirio de Ravena Quandomorreu, em 1031, Guilherme era 0 umco abade de quarenta mosteirosoude or avam mais de mil e duzentos religiosos

Acima de todas as congrega~5es do seculo XI, elgue-se, soberana, aordem de Cluny, Esta abadia fora instituida em 910 com independenciatotal: nenhuma intrusao permilida, nem das polencias temporais nemmesmo dos bispos; 0 seu fundador tinha-a, com esta intent;ao directamentcligado a igreja de Roma: os mesmos padroeiros, S., Pedro 'e S Paulo, aprotegiam. Esta segrega~ao perfeita, 0 privilegio que os monges conser-valam de designarem eles pr6prios 0 seu abade ao abrigo de qualquetpressao exterior, fez 0 triunfo da instituicao cluniacense Em 980 eramuito respeitada, mas ainda de illadiacao diserela: 0 seu abate, M~'icuJ,reCllsara-se a reformal Fecamp e Saint-Maur-des-Fosses,. e deixava 0 seudiscipulo, Guilherme de Volpiano, trabalhar em seu lugal 0 imperio deCluny foi construido por Santo Odilon depois do ano mil, Conjugandocasas modeslas mas numerosas, reuniu-as em redor da pcssoa de ums6 abade, duma certa concepciio ela vida mowbticll, II orda duniacenlis,e por fim de Iiberdades palticulares que com 0 auxilio da Santa 56 assegu·Imam a tod,as as filiais as imunidades perante os cRste16es, a isencaoperante os blSPOS A ordem estendeu·,se de urn Jado e OUtIO da frontciraque sepalava 0 Ieino de Flanca e 0 Imphio, sobre a Borgonha aProvenca e a Aquitania Instalou-se pois em regi6es do Ocidente ~ueescapavam mais completamente a tutela dos soberanos, na ten a de eleicaoda pulverizat;ao feudal e da paz de Deus, em provincias enfim onde a.Iatinidade nao procedia duma ressurreicao artlficialinente suscitada porarque6(ogos de corte, mas mcrguIhava profundamente as suas· ra{zesemplena humus da hist6da·";' em sum.a, no verdadeiro' dominio da estetieaI'Omllnica Progressivamentc, a influencia c1uniacense chegou 'a Espanha,ao longo do caminho de Santiago, estabeIeceu·seno grande mosteil'o real,de San Juan de" la' Pefia, pelo qual a Igleja ,ib6dca' adoptou os litosromenos, Em 1077, 0 rei de Inglatena confiava a Cluny 0 mosteilO 'de'Lewes; dois anos mais tarde, 0 I ei de Franl;a, 0' mosteiro padsiense de

Saint-Martin-des-Champs Desta maneira, a congregac;ao, implantava-se. emiegi5es submetidas a' arte 1nonarqui~a, Asseguiava tambem p~I'a SI oSfavores .dos'maioressobe:i-iinos "do Ocidente Do rei .deCastela, recebeupe~a; 'de aura mur,;uIrilamis, D8 iei de Inglatena, pe~as de prata Foramestas moedas que serviram para reconstIuh a abacial, para ~odel~l.l~eurn activo digno do ·imenso corpo de que era a cabe<;a TodavIa, a 19reJade .Cluny nao era nem imperial nem real. Era aut6noma. E. se os I

monges cluniacenses celebravam em Afonso de Castela, em Hennque d,eInglatelTa, os vel'dadeiros fundadores do monumento, todo 0 empreen~l-mento foi conduzicio pelo abade Hugo, amigo do imperador, conseIhelIodo papa e, sem contestacao, 0 guia da cristandadc no seu tempo

Os monges reformados de Lorena aceitavam a tu~ela dos se~sbispos, de prelados que, pe1a vontade do impelador, aco~te~la serem entaoos menos maus da Eumpa, Em compensa<;ao, naspmvlllclas onde Clunyse instalava, as intrus6es do feudalismo tinham vici~do a tal po.nto as.engrenagens centrais da Igreja secular, que 0 movlII:ento clunrace~sese afirmou lesolutamente aritiepiscopal. Desagregou as dIOceses no precrsomomento ern que a independencia dos caste15es desagregava os condadoso tliunfo de Cluny significa na hist6ria das instituit;5es urn refluxo doepiscopado, 0 esboroamento maior do sistema carolingio que ?ase~va 0

Estado na autoridade conjunta do bispo e do conde, urn e outro hscahzadospeJo soberano Este triunfo significa na hist6ria da ,cultl1la e das s~asexpressoes 0 lecuo da escola .catedlal, 0 enfraqueclment~ ~as te~soeshumanistas que encontravam a sua enelgia na leitura dos classlcos latInOS,isto e a Iegressao da estetica imp'erial No plano do espirito, das atitudesIeIigi~sas e da ,cria~ao altfstica, as conquistas de Cluny correspondeI? asconquistas do feudalismo. Umas e oUtl as conjugam-se ~ara destIUII asantigas bases Na area das vit6rias cluniacenses- que nao ptua de alar-gal-se e que coincide exactamente com 0 do~i~io privil~gi~do ~as formasde arte a que .chamamas mmanicas - as tradlcoes earolmg1as dlssolvem·see apagam ..se, deixando as for<;as indfgenas, surgidas do substrato romano,

toda a Iiberdade de desenvolvimento ,Com os progressos da economia Iural, com a instalar,;ao do fe~d~ltsmo,

o triunfo de Cluny, que Ihes conespondc, representa 0 fae,to malS lmp~r·tante da hist6ria eUlop,eia do scculo XI Foi total. 0 brspo Ada~b~r,aoescreve urn poema inteiro para mostral ao rei de Fran9a que as. vltol.lasdesta milfcia vestlda de preto, posta em toda a parte e que ludo lilvadlIa,<lrruinavam, em veldade~ 0 seli poder Uma tal. vitoria rc~ulta:a d~qualidade; excepcional dos quatro. abades que, dUI~nte dOl~.' secuIos,assurriirari1 sucessivamente a di['ec~ao do gl ande mosteuo Apolava~se norigorda'regra, numa propaganda'habil Fllndaya~s~ m~is solidamente naperfeita acllipta¢ao duma instituil;ao religiosa as' fun~oes que 0 m,undo.

i :laico esp~~ ava! queela desempenhasse. «Sa~ei, esc~~ve F-.aul Glabe,r. que,,,"esle'2onveri'to nao tem igual no mundoromano, sobretud0 parallbertar

'as"'" c'airamsob' 0 senh9iio .,dodem6nio'. 0.-li'se consuma tao" :'1 ; : :~:

Page 7: DUBY, Georges - O tempo das catedrais

. :; i ~(:\:-}~~~?-~

frequenlemente 0 sacri.ficio' T ' ",' ";;:':'sem que esta incessante rela;:'VI lcant~, que quase nao s'e passa urn s6~'ddem6nios malditos Neste m ato,permlla arr~ncal uma alma ao podel:.'dd ,os elIa earn efelto eu p " ", f " , ',>e urn uso, permitido PI"" ,.' rop1Jo Ul testemuil, . e a grande malOlla das ':,.'.<seJam celebradas missas sem inte' . - d' n:on~es, que quer 'qira hora do r'epouso' nela _ rrup~a?" esde a pnmel1a hora do dia ai'ra~ao, que julgali~m~s sv:~P::J'otsantaf'~Ignldad:, tanta piedade, tanta ven~~

o JCWl e nao horn ens E C'I "',manges capturaram 0 afieio do adre' _» .m, uny, osdo sacerd6do, associava-se as ab Pt' , ',a consa~ra~ao eu~aI1stlea, fun~aoA 'd' , s menClas pr6pnas da p 'f - "m Jgmdade dos prelados I, r0 Issaa monastica:'mais evidente mesmo a su:ecu :le~.tOIl~ava-se desde logo mais sensive] epar a a universalidade do mo su o~' ma<;aa 0 tdunfo clunia.cense tendia',

d naqUlsmo Com que os bi d Apu eram sonhar no rheio da 'd' spas e quitania ", s epr emIas e das angUsti "aproxlmava a data do milenio da P '- CI a~, enquanto seesse foi talvez 0 instl'u'men to d . ,arxao uny soubera rgualmente ~ e

, eCISIVOdas sua 't"deseJo, duma cristandade selvagem em ue s VIoI1as~,responder aoeonflUlam para a culto dos m t E q todas as pratJcas reEgiosas ,grande abadia borgonhesa fOI~~OS: ~ paljtebalguma melhor do que na i,-

. " Jamals ce e radas as ce' , ,laIlas, as mlssas, os tiinticos f' '" Ilmomas fune-comunidade dos monges par~ os t'~~tJns de amversano que reuniam asom~ras haviam sido evocadas ;~~ ~al:o~fam tal_ ou ta! defunto, cujasreqUlntados que e'ram servidos ' ' 0 pao, 0 vmho e os pratosI ' a mesa dos principes Fe umaeenses 'que inventaram J' t·. 2 oram os abades, un ar a de Novembro n . I' .a ,comemOlaCao de todos os defunt Af' ' uma so Itur gJa,

podia libertar·.se mais cedo d t os lImaram que a alma em pena. os ormentos do alemem sua mteneao as ora<;5es presc it E se se ordenassem

submetidos a sua autoridade r .a~ lm redol das eentenas de prioradosespn !tua desenvolvel amento que visava cristianizal d t' , m. urn empreendi ..

popular, eonciliando a mensage~l desEU v<:z em pmfundldade, a religiaof' J a SCrItura que promet 'ma, e as crenvas na sobreviveneia do' , e a resSunelcaoEuropa quiselam POItanto Iep , s mo.rto~ Os malOres senhores daf CI Ousar no cemlteIJo do mo t' A b .( e uny, em que culminou a al te d . I X s elfO. aSllica

suas estruturas e Com os se 0 sccu 0 I e que pretendla com as. us ornamentos represent . ,todos as martos ao som da t' b ar a ressul'rel~ao de

s rom etas sob a luz da Pa 'urn solo que uma multidao d t' I f rUSia, rompeu dee umu os ecundava

No seeuJo XI, os monges da Euro .vias distintas Urna toma u 'f' 'a ,pa proglldem para Deus POl' duasbizantino e 0 dominl'o d m I mer rJO antes tra<;ado pelo eristianismo

os seus glandes ex't ' .na proximidade da indecisa fran' , , 1 os s!tua-se por essa raza0Jatinidade do helenismo T' bJadque s~para, atraves cia HaHa central a

, ' rans or a eVldenteme t d' "o suI. Estende-se a Sicilia eat ' , n e, essa frontClIa par ados senhores normandos v- s e~ rernldades da peninsula, onde os filhos

.' ao nessa epoea concr avcnturas, que eles

conquistararn poueo a pouco a Bizanc)o e ao IsHio, anexando-a aoOcidente e implantando em Bari uma catedral romaniea N~stas .tegi5es,o monge fugiu Y~rdadeiramente do mundo. Alcan<;ou a deserto Como noSinai, como' na Capad6cia, foi anichar-se numa gruta Nu, coberto depiolhos, co~ total desprezo do seu cor po, vive de nada, do que a bondadede Deus concede aOs lidos dos campos e as aves do ceu.

As montanhas do Lido, da Toscania, da Calabr ia estao entaopovoadas de anacoretas, de ermiter-ios dispersos em pequenos grupos,onde discfpulos, em redor dum mestre, se submetem as macera<;oes salva-doras Poueo a pouco, estas cOlonias de solitarios reunem·se em fedelaeoes,como a ordem das Camaldulas que -S Romualdo fundou Muitos homensnao'itaIianos se dei?Cam fascinar por esta forma feroz de penitencia 0imperador OHio III fora ate Junto de S Nilo, outro campeao cia mortifi-cac;:ao; com 0 bispo de Worms, Francao, instalou-se «em glande segredo,usando cilicio e descaleo, numa gruta pr.6xima da igreja de Cristo, empre-ganda-se na oraeao, no jejuII) e nas vigilias», Este estilo de vida monastica,proposic;:ao de uma absoluta recusa do mundo, da absoluta pobreza, daeela e do silencio, excluia evidentemente 'qualquer' criac;:ao artistica - pelomen os enquanto nao se instalasse, como aconteceu em Pomposa, no exitotempolal. Ora esse estilo de vid; eonheeeu um favor crescente ao longo detodo 0 seculo XI, em virtude do que nele podia seduzir 0 mundo cava lei-resco, a'quilo que supunha de herofsmo fisico, de dominio de si proprio, 0

seu gosto pela proeza, Propagou-se pouco a pouco, implantou-se no eorac;:aodo Oeidente, quando Bruno fundou a Cal tuxa e Esteviio de MUIet aordem de Grandmont Com ele comceou a elguer-se uma vori.tade deauster/dade contra a estetica roma-niea, preparando-a pala se prestar asinflexoes da arte eistelciense, Mas 0 seu verdadeiro triunfo foi posteriora 1130 Antes, a monaquismo ocidcntal no seu eonjunto eaminhou pelaoutra via, aquela que no seculo VI fora abeIta POl' Bento de NlllsiaA regra bcneditina difundira-se a pal tir do Monte Cassino, a par tir daabadia de Fleury-sur-Loire que afirmava conservar as reliquias do mestle,e sobrctudo pela InglateIIa que os monges dest~ observancia haviamevangelizado Os refor madores carolingios tinham-na imposto it maiorpar te dos mosteiros da Europa

Esta via apraximava·se da p~imeila pal llma mesma vontade deisolamento e de renuncia e pela sua indiferenva pela a.cc;:1iomissiomiria,Contudo, dois pi indpiosas afastavam: 0 espfrito comuniUirio e a mode-meao Cada mosteiro beneditino abriga uma sociedade de tipo familiardirigida firmemente por urn padre, 0 abade, investido de todos os poderese carregado de todas' as responsabilidades do paleI' familias da RomaantigaOs monges sac irmaos e"as regras diseiplinares' que quebram nelestoda a iniciativa pessoalmostlam-:se mais estritas -ainda do que' as quesaldam num s6 cor po' os grupos do parentesco calna!. S Bento baseiana virtude da obediencia 0 conjtmto das suas injune5es «A obedienciaeumpiida sem demor~ e 0 prirnelr~ 81BU donosso estado de humildade,, i '

Page 8: DUBY, Georges - O tempo das catedrais

~~fC/"'R<"'"cia '. tu~ i::~::~:":;:~~\~I~T:~"':~~~~'~:1J:~tl~f~bi!:' obediencia para combater~s sob 0 estandalte de Cristo,nosso vei:dadeiro. ii~' rei» Armas, cqmbate; estandiu te:>a familia rnomisti.ca apresent~~seconio .

j,I,~:~:~::\.' t{, uma S'cola, isto. e, \com'o mna' milicia; sujeita: a alito~jdade .milit~r 'du~ ';'!

_ .,. chefe Os religiosos alistavam-se, no pleno sentido da palavI a; POl' profissaoif ~ i escIita analoga a que subscreviam os soldados do Baixo ImpeIio EspiIito1J' i" de grupo, ombro a ombro: nenhum Jugal para Ii solidao, nem mesmo;;; ~,pa.~~ .0 abade, qjue!'come, dorine, reza no meio dos seus filhos, verdadeiros,i ~t~lTIllClanos, a e e 19ados por urn las;o mais apertado do que a dedicaciio~1 ),tj?' do vassalo e de que nao podem evadir-se. . ,n A cstabilidade, a condena~ao da vagabundagem e de toda a veleidade

de indcpendencia constituem outl'as viltudescardeais na etica beneditina'A comunidade, pOI consequencia, implanta··se, a maneira de todas asfamflias feudais, num patrirn6nio, num dominio fundiario em que secnl'afza. Nenhum dos seus membros tern bens individuais Pode, semhesitas:ao, dizel-se pobre. Mas, na verdade, a sua pobreza nao diferedaquela em que pelmane.cem os filhos de cavaleiros, cujo pai e rico masque nno dispoem de nenhum peculio Parece··se mais com ados gueneirosc1omesticos que os maiores senhores de castelos alimentam na sua tocae que de seu s6 tern as aIm as Como os membros da milicia do mundo 0mongc participa numa fortuna colectiva de que tira subsistencia e'. 0

robusto desafogo em que vive entao a nobreza rUIal Porque podc surgircomo uma casa semelhante as comunidades familiures da aristocracia 0

mosteiro beneditino conseguiu tacilmente inser ir-se nos quadros sociai.~cia Alta Idade Media, acolher tantos jovens nobres e todos os senhoresjil velhos que desejavam acabar os seus dias a sombra 'de Deus. Dmatal situa<;:ao temporal concilia-se com ° espirito de model'as:ao que marcaos preceHos de S. Bento, uma vontade de equilibrio, uma Ieten~ao, urnsentido da rnedida, uma sugeza feita de born senso, que fizeram noOcidente a fortuna desta «pequena Iegra para principiante» «Nao dese-jamos estabelccel nada de lUde nem de pesadol), disscra a mestrc, qucassim se afasturu delibcladamente dos hcr6is do ascetismo Limitura astempos de jejum e propusera uma moral simples contra os cxcessos demisticismo Considcruva que para bem fazelem 0 seu .Gombate, os soldadosde Cristo precisavam de estur convenientcmente aHmentados, vestidos,rcpousados, Que 0 monge csquc~a 0 seu corpo em vez de se obstinar emvencc-lo Que explole convenientcmcntc a teua da sua casa' u fim deextrair dela as mais abundantes colheitas e ofere eel assim a Deus maisopulentos sacriffcios ' .

Cluny seguiit a regra beneditina, mas intclpretava-a a sua maneiraDas inflexoes que os costumes cluniacenses impuseramao ensino do mestredecorrem os maispr?fundos caHlcteres d~ nova arteci~ny,c6me~0l:lporocupar lugal sem hesltar nas estluturas hierarquizadas ,que desdc oS primei~;.·.10S seculos da cristandade latina colocavam os sel vidol es de Deus no: mais .alto grau dn escala social Aceitou completamente a rique~a, a optilanc'in

i : .i. ; t~:.; . ~

{~~~·~i8~,~? ~it:;~~::'~~~i~::~~~:~Z( ~f .A.~ J"\ . .':. j " ;

~'-"X!;,;~gi:'1.~iiHf'i':~~;i;;;:;-:L:;.,~; "':: '{ ~" ,"que e~' cada urn dos pIion~dos da con.grega~ao a vaga continua dasesmolas' 'alimenti. hrIga com efeito qu~ mnguem melho!. do que ela p~dcem:pieg~I:;e'ssa·~(;riquezas.·!Na()~s .~oris~gra ela i~t~iran:-en\.e ao ,seIvl~o'de'Deus? Porque haveria de recusa-Ias? E porqu~ ea pIlmelra das aI~asdo Eterno, POI' que nao aceitaria que os seus fillios, como os cavalerIOsdo s6culo vivessero como senhores, fossem sustentados pelo trabalhodos eamp~neses, que quer Deus que alimente os gueneiros e. os h.:>mensde ora~ao? S., Bento previla que os monges poriaro eIes pr6pnos ~aos aotrabalho, que levatiam e colheriam nos seus campos. Para se, pumrern, epOI'que a ociosidade abre a poita as tenta~oes Em. Cluny t,rIUnfaram os

'preconceitos nobili{uios q~e considera:,am. co.mo meonvenrente par~ 0homem verdadeiramente bvre penal' a manelIa dos camponeses,. VIumo labol Fisico como urn castigo, quase uma macula, em to do 0 casouma indignidade,e afirmavam que Deus, pol' essa mesma razao, tinhacdado os escravos. Os monge~ cluniacenses s6 efectuavam trabalhossimb6licos. Como senhores, eram servidos pelos Ie~deiIOs qu~ cultivavamas seus dominios, pOl' edados ,encalTegados dos seIvr~os grosserI'Os.Homensde lazeres, estes monges nao eram, no entanto, hom~ns de est~do. S Bentodescurara com efeito as actividades propriamente rntelectuars ~reocupa-va-se com 0 alimento da alma e nao com as conquistas do espidto: ~ ,suaregra previa que 0 mosteiro pudesse acolhel iletrados. Os benedrtrnosanglo-sax5es, cujos eonselhos inspiraram ~o sec~lo VIII a reform a daIgreja franca, tinharn pleenchido este vazlO e ferto da ~scola, pelo con-trado urn dos pHares da vida monastica: pOIque 0 latrm era pa.ra deslingu~ totalmente estrangeiIa, Ham Virgilio Por iss~ os moste~ros daGalia e da Germania se tOlnaram na epoca caroling~a focos ~nlhant~soa eultma imperiaL Muitos ainda 0 elam no ano mrl, nos parses malsfi6is a tradi(,':uo monarquica, na Baviera, na Suabia, na Catalu~ha Asmelhores bibliotecas, os meshes mais ousados enco~travam-se no. se.cul0 X.Iem Saint-Gall ou em Reichenau, no Monte Casslllo, na abadlll do Bee,em Ripoll Mas nao em Cluny .' ,.

Na ordern c1uniacense prosseguia com derto 0 movJmento d~ Ieacs;aocontI a 0 trabalho intelectual que, pOI preocupa~ao de austendade, $epuseru em marcha emcertas abadias do Imperio no limial ~o s6cul~ l~Nao se' fora ao ponto de fechar as escolas nem os UIllHinos de l!vros,mas pretendia.~seconcentIlir os 'cxerdciosna leituJa ;d.os Padres, emptit.neiio..lugar na de Greg6ri(). Magno, De~ois do ano m~l, as ab~des de

,Cluny, naocessar a~ de afast.a~os seus. fJlho~ dos .c1.asslcospaga?s:, dep5-)os . em' guarda contra' osnsc9s de Illfw;:ao,esplIl~u~1 que COI!la 0

morigequando se compraziil n?s. poemas de Rollla Q~e uma tal ~e?con:. fi~n9a paxri' 'c·om.as' (llIC~O/~( da' Artlguidad~ t()n.-h~dOrnl~~d9 o. m~~o;onde" se fo;jou aestetic~ .rom~nica,' aiu<ia ,t~~vez a c~mpI.eender 0, que' dtstH)gue ::;,'csta; da :estetica imperial, detodos os, «renascrme~!9S», e, d~ ~uav?ntad~ ,:;0ide'hu:na~is~o~ Das 'tras ades{do'trivium, naoparecl,am n~essanas ~o ;ii:;

.' "mO;iig'rine~ J' ret6Iica~:: ·?e.qu~ :;~elyiria .a eloq~.an.~i~,':~queqJ. vive r;~ '; {~':

:~t:~~~~;i~11jtjl~hlll':'i[;-,~1~j~~!~fi;,.~:...'.:2?;lj:;:;,: ;b~.\:,:,::),}::11~\

Page 9: DUBY, Georges - O tempo das catedrais

silencio e se exprime quase sempre POl gestos? - d' 'I" '.', " . nem a la ectlca ClenCla 'do racJOCInlo,. tota,lmente inutil no retiro claustral cnde ninguem ~ncontra .-com q~em dlscutlr nem a quem pelsuadir. S6' a gIam;HicaconveriJ.;· a

.'~ Iforma~ao, Mas devera ele por isso expOI-se as seduroes nociva's 'das

., elms profan ? N- Ih ' y~~i . ,as. ao . e, basta, para conhecei a sentido das palavras~ , latrnas, e~pregar r~pertorl?S, como as Etimologias de Isidoro de Sevilha?(~ Com a aJud.a de tals compllac;oes, onde 0 conteudo das obras litenirias se

~i; en contra felto em bocados e despojado dos seus atractivos, que 0 fjIho de~'~)~...S. Bento, nos tramos do cla~stIO, prossiga sozinho a longa ruminac;ao de)}jt algun~ textos sant,os, que os lmyrima pouco a pouco na memoria Porque

DaO e, pelas subtllezas da razao, nem abandonando-se aos encantos dabela Imguagem qu~ ,se .pode progredir no verdadeiro conhecimento, 0mo~ge vota-se a~ sllenclO, march,a para 0 ceu e para a luz divina Veramals cedo 0 bnlho dela se delxar aflorar na cons.ciencia pelo .espontfmeo da lemblanc;a tal vocabulo tal imagem A . t : - b Jog~, , m Ul<;ao rotaranatur a,lmente da associac;ao dessas palavr as e da iluminac;ao dos simbolosTal fOl 0 quadro mental ~ue rodeou no seculo XI 0 nascimento da pinturada escultura e da arqllltectura momisticas Nenhumas razoes h'metod . ' f" ' nen um

0, pouqUlsslmas re erenclas aos textos cliissicos, Mas' a Escritulat?da eia rememOIada, cada uma das suas palavras considerada como umsmal ,de Deus, conservado por isso como um tesouro, pesado, tacteado,expe.Ilmentado, ate que, da sua aproximac;ao fortuita .com' urn outrosurglssc bruscamente a luz Urn pensamento que se m 'd'd" f ' . , ' ove segun ° as

Ivelsas. ace~as da remlnlscencla, mas que procura ordenal-se na coesaoduma slmb6hca, a da liturgia

Po:'que', e este e ° trac;o fundamental do estilo cJuni~cense de vidamonast!ca, tudo converge pala 0 servi~o de Deus par a a 0 D' ,. 6' d f" ,pus el, para asceOm nlas 0 0 IctO, e todos os 1etoques que a oldo cl . , 'f, , Unlauen Sl 5 ez aotexto da '. regra b~nedltJna concorriam para engrandecer essi1 un~1ioS Bento Ja a conslderava essencial Apontal a como missao especffica do~~ng~ cantar a gl6da de Deus, c consagrara a ordena<;ao dos ritoshtur gicos doze dos capitulos da sua regIa Para ele 0 ob' t' dprofissao mom'tstica era celebral em comunidade e p'ar b JeCf,IV,Od

a

t d _ .' ' a ene ,CIO ea 0 0 pov.o a Ola<:ao pubhca Se 0 mosteiro abrigava uma escola era

para se preparar, pa~a esta acc;~o Nela realizavam·se em plenitude asvoca?oes de o~edl~~c~a e de humlldade Nela aprofundava·se a experi~nciade ~Ida ,colectlva, ?OlS que nada reunia melhoI 0 glUpO dos fr'ades que 0

ceIl~oOlal do O~fcIO e porque na Iitulgia se vinham atarem feixes todasas lIquezas col'hldas durante as leituras e durante as medita<;5es solitariasMas Cluny mostr~u.se nest~ ponto mnis exigente Em primeiro Jugaralon~ando ~ dura<;ao do servl<:o A recita<:iio do salt6rio em cada semana'U leltma ntmada ~e alguns extlactos da Bfblin,' os monges, segundo ~texto da, regIa, deVlam consagrar menos tempo do que a outras ~cupa~oest~n:porals Segundo os costumes cluniacenses, pelo contrario 0 offciodIVIno chegou a preenchei sete horas por dia ordinaria e mais' ainda em

" ,~.;';~.~.•",; ~':t~.~.:

;r;.~~~~;~[~~~}j;'::~"

dias solenes, Cantar durante tanto tempo torna-se urn trabalho esrna-gador-o'que justificou 0 abandorlOdO,trabalho manual eo confortoem que aordem instalou os sew; 'religiosos Cluny ap!icou-se, por outro lado,a desviar para 0 oficiO divino, para que resplande.cesse a gl6ria de Deus,o gosto dos ador'DoS, a propensao para 0 luxe que 0 espfrito cavaleuescocontinha em sL Que fazer de todas as riquezas que as dominios maisbem geridos produziam cada dia em maior abundflOcia e que, de toda acristaridade, a devor;:ao dos ofieis fazia afluir pala a abadia, que fazer dasmoedas de O\lro, dos lingotes de prata que os cavaleilOs de Cristo, vence,~dores ,do Islao dedicavam ao mosteiro? Deviam servir para tomar ascerim6nias mai's sumptuosas, Todas as casas cluniacenses fOlmaram assimcomouma vasta o'ficina onde monges artistas se aplicaram a adomar a.casa do SenhoI', e foi esta vontade detel minada qu~ suscitou a eclosao deque Raul G1aber se maravilha, a (werdadeira emula~ao que levava cadacomunidade crista a possuir uma igreja mais sumptuoS(i que ados vizi-nhos», que fez «0 pr6prio mundo sacudir-se para despojar a sua vetusteze revestiI'-se por todo 0 lado qe urn branco manto de igrejas}) Mas estesediffcios novos, as decora<;oes com que foram cobeI'tos, a profusao deourivesada que vem rodear os altares, nao constitufam de facto senaoo inv6lucro, perfeitamente ajustado para a canter, duma obr a de artemuito mais ampla que se renovava quotidianamente nos faustos disci-

plinados da liturgia

Ao lango do ano, estes clesenvolviam-se como uma especie de bailadomuito lento cujo papel ela mimar 0 destino do homem e 0 desenrolar dotempo, desde a Cria<:ao ate ao Ultimo Dia A participa<;ao corporal dacomunidade monasticn exprimia ..se em primeilO lugar' pOI uma malcha,semelhante a do povo de Deus que Moises conduziu para a 1er raPrometida e que Cristo leva consigo para a Jerusalem do Cell Umaprocissao Este rito fundamental governara na epoca caroHngia a plantados novoS conjuntos abaciais, incitara, pOI exemplo, os construtores deSaint.Riquier a construil tr~s igrejas separadas POI alguma distt\.ncia: emprocissao, a famIlia dos monges visitava·as uma ap6s outr a, tal como,fnvorecido pela intui<;1io dos slmbolos anal6gicos, 0 espJrito, animadopelo desejo de Deus, se transporta de uma para outla das tr~s pessoasdivinas Semelhantemcnte,ris necessidades cia litur gia processional impu,seram que se acrescentassem 'as estiuturas da basflicanovas colaterais, quese desenvolvesse 0 deambulat6rio em ledor do COI'O, que se dispusessemmuitiplas said as, 'esugedu que se profongasse 0 compr imento .da naveEm Cluny, na telceira ,igleja' que S Hugo edificoti.' este, para melhorfigureir as longulssimos caminhos' que separalam 0 homem da sua ~alva9ao,quis :que fosse marcado um vasto intervalo' entre 0 p6rtico, lugar de

, inicit\~a6- as Ji.lZes,e 0 ponto central onde se cumpre a sacriflcio, onde... ' :",' .', .,':', .. ". .

Page 10: DUBY, Georges - O tempo das catedrais

a orar;:ao cOlectiva sobe para De~s;'esse espa~o desenvoivido napela tensao dos pila;ese, das ab6badas: 0 COlO, ' (

o acto liturgico era musical. A espiritualidade do cseculo XI flOlesce' ,,J ,; num canto lanc;adoa'plena voz, em 'unissono; por u"inc'oro d~ homens, .

~ Nele Iealiza-se , a' unaniri:lidade que' agI'~da 'a Deus no louvor das suas~i Crlaturas, Cada dia~ POl' sete vezes, 0 COIO dos monges cluniacensesi ," dirigia-se em procissao a igreja para cantaI os salmos e no seu canto

• ~,,1:;,.:,1':'" re:lecttialm-se os trar;:os que ?is.tinguem. 0 estilo beneditino do monaquisrno

•~ onen a : a retenr;:ao, a modestia, uma lllterpletar;:ao que repIirnia qualquer~~1tendencia para a fantasia individual. Os principios de humildade e de

obedii;ncia exaltavam em Cluny as funr;:oes do chantre, em quem' 0

abade delegava os seus poderes magistJ ais para qu{ dirigisse 0 coro e 0

disciplinasse Sem duvida, nos mosteiros do Ocidente a invenr;:ao naoesteve exclufda da criar;:ao musical. Grandes abadias do seculo XI, comoSaint-Gall ou S Marcial de Limoges, foram, extraordinariamente vivasos focos do que e a arte principal desse tempo, a arte liturgica, cUja~conquistas associavam 0 poema e a melodia Na lingua gem tecnica dessasoficinas, «trovan> significava muito exactamente dispor sobre, as modu·,lar;:oes do cantochao textos novos, Os homens que se votaram a tal emplesatinham plena consciencia de sacralizar assim a gramatica Os seus altificios'sujeitavam 0 vocabultuio da o~ar;:aoaos rHmos simples da melodia grcgo-dana, perfeitamente ajustados aos do cosmos, logo ao pensamento divinoIuntavam as palavlas da linguagem humana ao JOUVOIdos anjos Nasescolas do secuIo XI, 0 quadlivium, 0 segundo cicio das artes liberaisresumia-se pois quase inteiramente a musica A aritmet~ca, a geometria:a astronomia, ciencias subalter nas, nao eram mais do que servas delaAparecia como 0 COlOamento do ensino glamatical, em que se concen-,trava 0 trivium Uma vez que ninguem lia em voz baixa, uma vez quetoda a vel dadeira leitura seguia os vocalizos da cantilena, e pOI'que paraatingir a perfei~1io 0 canto dos salmos cxigia que cada um dos celebrantcssoubessc de cor 0 texto sagrado, a reflex1io sobre 0 sentido dos vocabuloslatinos e a meditar;:ao soble os tons da musiCa caminhavam, nesse tempoa par A unica 16gica que este mcio cultural admitiu foi a das harmonia~musicais, Quando Gerbelto se dedicavu u «tomar completamente senslveisas difcrentes notas dispondo-as sobre 0 monoc6ldio dividindo as suasconsonancias e as suas sinfonias em fons, em meiost;ns e em sustenidose repartindo-os metodicamente», sem duvida reconhecla as proximidadesdo que devia sel, dais seculos mais tarde, a anaIiseescolastica Mas aquilcipara que tendia 0 seu esforr;:o era captar a oldem escondida'do universe

A muska, e POl'ela a Jiturgia, foram os instiumentos de conhecimentornais eficazes de que disp<"Jsa' cultum do seculo' XI. As pahivras, pela suasignifica~iio simb61ica e pelas associar;:6es qi.reo seu encontro suscita nopensamento, permitem sondarintuitivamentc; os lr'1is(eIios ,do ;mundoConduzem a Deus A melodia conduz a eleainda mais' dilcctamenteporque deixa distinguir Rcordos halm6nicosda criiwao, e peto meio 'qu~

. • '.. I I , ~ • .

• I • ~

."~.."

;,\i:~.;?~/::;~

ao cor~~1io humano oferece 'de se mOldar na perfeir;:ao das intenr;:Oesdivinas" No capitulo XIX da RegIa:: S:' Bento cita \> salmo:, «Cantal' ..vos-eiem :presenr;:a dos"artjos'»~Para':ele,'? com dos monges prefigura 0 corod:iest~ Elimina" os'muros' que ~separam 0 ceu e a ten-a, Introduz ja noinefavd e nas Iuzes incriadas. «Na'salmodia, diz ele, encontramo~nos napr:esen~a da divindad~ e dos seus anjos,» Pclo canto coral, todo 0homem, COIpO, a:Jma e esp(rito, avan~a para a iluroinac;ao Acede a esseUUpOl', a essa admiralio de que fala, no seculo XIII, 0 cistercienseBidduino de Ford, a contemplar;:ao do esplendor etemo, 0 monge naoquer raciocinar sobre a fe, dedica-se a excita-la pelo malavilhamentocolectivo qu~ enche os celebrantes do aikio, Nao cuida de causa, nem deefeito nero de prova mas de comunicar com 0 invislvel, e nenhuma viaIhe p~rece mais dil'e~ta do que a experiencia do coro liturgico Quandovolta' em cada semana ua mesma hora do dia, as mesmas melodias, aosmes~os verslculos, na~ esHi. 0 monge em estado de ,partiCipar em pr,o-fundidade, pelo proprio acto da proferir;:ao musical, em viI tudes indiziveisque 0 espfrito do homem nao pode atingir doutIa maneira? «Os ritos que,segundo 0 cicIo do ano, se cumprem no oncio divino, sac sinais das maisaltas realidades; contem os sacramentos maiores e toda a majestade dosmistcrios celestes; foram instituidos para a gl6ria do chefe da Igreja, 0

Senhor Jesus Cristo, por homens quecompreeuderam toda a sublimidadedos misterios e souberam pIOclama,la pela palavra, pelas letr'as e pelosritos Entre os tesouros espirituais com que 0 Espirito Santo enriquecea sua IgIeja, devemos cultivar com amor aquele que consiste em ganharinteligencia do que dizemos na ora~ao e na salmodia», e Ruperto de Deutzacrescenta, «c nada menos que uma maneira de profetizaIll,

Na sociedade do scculo XI, os monges sao os ofidantes duma celiom6nia de perpetuo 10nvOI, em que comungam todas as for~as criadorasda obr a de ar te Esta, intima mente ligada a litur giiJ" C..O mais profunda-mente a arte musical Hugo de Cluny decidiu colocar no centlo da novabasllica nos capiteis do COIO, uma repr esentac;ao dos tons da musicaE,stcs c~nstituiam para ele as elementos duma cosmo gonia, em viI tude dascoirespondeneias secretas que, segundo Boecio, Jigam as se.te no.tas dacscala aos sete planctas, fornecendo uma chave da harmoma unIversalMas acima de tudo 0 aba~e queIia propoi essas imagens a meditac;5.o dosfrades como uma especie de diaglama do misterio divino' «Tel fius impigitClistumque few; gens lingil»; ne'sta; inscri<;ao que acompanha a fig~laen.contra-se defJnida a fui19UOdo terceiro tom Pelu emoc;uo que Susclta,prepiua a alma" Inelhor do quepoder iam f~ze-Io palavras, Ie'it~r~s ou

'de'monstrar;:oes, para sentir a que' e verdadelIament,e a ressu~relr;:ao do'Senhol~ I ' ,"

<! '.:: ':: ~:'/1• 'I I.

(;;:i'~ I "", I \ • ' ',:.' ': \~, '.", ,

,)t;~rl~!~~il;{r\r';:"i.':;M'.r"\~l;~;iJ.i:Jii{ii"j;~:. ii,;':'l~;:'::"" .; .!. 'j I)

'~i.i ":: ~';•