Duração Razoável Do Processo. Artigo. Inaldo (1)

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INAPLICABILIDADE DO PRINCPIO DA DURAO RAZOVEL DO PROCESSO E CONSEQUENTE INEFICCIA DA LEGISLAO POSTA E DESRESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS BSICOS

Jos Inaldo Vales[footnoteRef:1] [1: Advogado, graduado em Direito e Geografia pela Universidade Estadual de Alagoas, Especialista em xxx, pela xxxx, Professor do curso de direito da Universidade Estadual de Alagoas, Instituto Santa Ceclia, Universidade da Bahia....]

Resumo: O princpio da razovel durao do processo, apesar de sua expresso no texto constitucional ser relativamente nova, est previsto no ordenamento jurdico interno desde a ratificao do Pacto San Jos da Costa Rica (1969) em 1992, todavia tal princpio est longe de ser uma realidade no mbito jurdico interno, demasiadamente lento o trajeto dos processos no judicirio brasileiro, sendo a celeridade processual uma espcie de legislao simblica, uma norma programtica que institui algo que o Estado pretende alcanar num futuro prximo. Assim, com a ineficcia da norma da razovel durao do processo outros direitos constitucionalmente previstos acabam por serem prejudicados como o direito a ampla defesa e ao contraditrio, o acesso ao judicirio, a inafastabilidade da jurisdio, bem como todos os direitos humanos bsicos do cidado, que, vendo-se prejudicado no consegue a tutela judiciria a tempo de ver seu direito protegido. necessrio, portanto, encontrar um mtodo para concretizar a celeridade processual sob pena de ineficcia jurdica e social das demais normas constitucionais e legais, pois se o processo no anda o direito no exercido, ocasionando srios riscos a democracia, a liberdade e a justia social.Palavras-Chave: processo, razovel durao, direitos humanos, ineficcia, justia social.

Resume: The principle of reasonable duration of the process, despite its expression in the Constitution is relatively new, it is under national law since the ratification of the Pact San Jos, Costa Rica (1969) - in 1992, however this principle is far from being a reality in the domestic legal framework is too slow the course of the processes in the Brazilian judiciary, and the promptness a kind of symbolic legislation, a programmatic norm establishing something the state wants to achieve in the near future. So with the ineffectiveness of the reasonable processing time standard other constitutionally provided rights end up being harmed as the right to legal defense and contradictory, access to the judiciary, inafastabilidade of jurisdiction as well as all basic human rights of citizens, that seeing is impaired can not judicial tutelage in time to see his protected right. It is therefore necessary to find a method to effect a speedy trial under penalty of legal and social ineffectiveness of other constitutional and legal norms, as if the process does not go right is not exercised, resulting in serious risks to democracy, freedom and justice social.Keywords: process, reasonable duration, human rights, inefficiency, social justice.

1. Introduo

A morosidade dos procedimentos judiciais so bices para a concretizao dos direitos humanos dos cidados, pois impede o provimento final, o exerccio do contraditrio e da ampla defesa, impede o transcurso regular do processo, sendo causa de injustias sociais e desrespeito aos direito humanos bsicos, e tal anomalia jurdica precisa ser combatida e retirada do ordenamento jurdico ptrio.Assim, o princpio da razovel durao do processo ou celeridade processual visa garantir a concretizao do direito posto por meio de um processo gio e hbil, e, para tanto, necessrio que tal princpio deixe de ser uma mera norma intencional ou simblica para ser de fato uma realidade no judicirio brasileiro, sendo imperiosa uma reforma jurdica, uma mudana na estrutura do judicirio para concretizao da celeridade processual, sem a qual impera a injustia e a insatisfao social.Para que seja possvel a concretizao da celeridade processual ser preciso ao conjunta dos trs poderes:

Esse princpio dirigido, em primeiro lugar, ao legislador, que deve editar leis que acelerem e no atravanquem o andamento dos processos. Em segundo lugar, ao administrador, que dever zelar pela manuteno adequada dos rgos judicirios, aparelhando-os a dar efetividade norma constitucional. E, por fim, aos juzes, que, no exerccio de suas atividades, devem diligenciar para que o processo caminhe para uma soluo rpida.(VINCIOS; GONALVES, 2012, p. 65-66)

preciso que o executivo, o legislativo, o judicirio e os cidados ajam visando o fim da justia, seja por meio de leis com prazos mais cleres, seja por meio de mais verbas para a realizao de mais concursos e consequente mais membros e servidores estatais trabalhando para a concretizao da celeridade processual, seja por meio de conciliaes e mtodos que deixem o judicirio como ltima ratio, seja como for, preciso uma reforma para concretizao do princpio da celeridade, sem o qual reina a injustia.

2. Conceito e caractersticas legais da razovel durao do processo

O princpio da razovel durao do processo mostra-se imprescindvel para a efetividade dos procedimentos processuais previstos na legislao ptria, para a realizao do devido processo legal, sendo o tempo um fator de suma importncia para a concretizao dos direitos e satisfao da justia:

em algumas situaes, contudo, a demora, causada pela durao do processo e sistemtica dos procedimentos, pode gerar total inutilidade ou ineficcia do provimento requerido. Conforme constatou Bedaque, 'o tempo constitui um dos grandes bices efetividade da tutela jurisdicional, em especial no processo de conhecimento, pois para o desenvolvimento da atividade cognitiva do julgador necessria a prtica de vrios atos, de natureza ordinatria e instrutria. Isso impede a imediata concesso do provimento requerido, o que pode gerar risco de inutilidade ou ineficcia, visto que muitas vezes a satisfao necessita ser imediata, sob pena de perecimento mesmo do direito reclamado"'. (LENZA, 2013, p. 1136-1137) grifo nosso

Importante destacar que no se estar no presente trabalho defendendo que processo justo processo rpido, pelo contrrio, h casos em que o tempo mais dilatado requisito para um julgamento justo, o que estar a ser defendido aqui que a durao razovel do processo caracterstica necessria para a concretizao dos direitos positivados, pois por vezes a morosidade dos rgos judicirios acaba por fazer perecer o objeto da lide, acabando de plano com as chances de o indivduo obter a tutela judicial pretendida, gerando injustia e desconforto para a populao, pois a demora no transcurso do processo at seu provimento final uma praga que nos condena, frustrando os cidados que apelam ao Judicirio na esperana de obter uma reparao justa e adequada pelos direitos lesados. E justia tarda falha. (FROTA, 2007)[footnoteRef:2]. [2: FROTA, Francisco Luciano de Azevedo. Parado no Tempo Judicirio vive sculo XXI com pensamento medieval. Revista Consultor Jurdico. Braslia, s/n, 2007. Artigo disponvel em: Acesso em 31 de agosto de 2015. O artigo escrito pelo juiz da 3 Vara do Trabalho de Braslia.]

O princpio da durao razovel do processo um desdobramento lgico do devido processo legal, da inafastabilidade da jurisdio e do acesso justia, neste ponto vejamos:

A garantia da razovel durao do processo constitui desdobramento do princpio estabelecido no art. 5, XXXV. que, como a lei no pode excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa ao direito, natural que a tutela a ser realizada pelo Poder Judicirio deve ser capaz de realizar, eficazmente, aquilo que o ordenamento jurdico material reserva parte. E eficaz a tutela jurisdicional prestada tempestivamente, e no tardiamente. (WAMBIER, 2005, p. 26).

O conceito de durao razovel do processo ou celeridade processual pode ser identificado no prprio texto constitucional introduzido pela emenda 45/2004, no Pacto San Jos da Costa Rica e na Conveno Europeia, vejamos:

Art. 5(...)LXXVIII - a todos, no mbito judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao. (Constituio Federal, 1988)

Artigo 8 - Garantias judiciais1. Toda pessoa ter o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razovel, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apurao de qualquer acusao penal formulada contra ela, ou na determinao de seus direitos e obrigaes de carter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. (Pacto San Jos da Costa Rica, 1969)

Art. 6, 1. Toda pessoa tem direito a que sua causa seja examinada eqitativa e publicamente num prazo razovel, por um tribunal independente e imparcial institudo por lei, que decidir sobre seus direitos e obrigaes civis ou sobre o fundamento de qualquer acusao em matria penal contra ela dirigida.

Pelo prprio texto acima se entende o conceito do princpio em questo, alm do prprio nome do princpio ser sugestivo. Por durao razovel do processo, muitas vezes chamado de celeridade processual (apesar de muitos doutrinadores entenderem tratar-se de princpios distintos), entende-se que o processo deve seguir o tempo necessrio para a segurana do exerccio do direito das partes, ou seja, preciso haver um tempo hbil e seguro para proteo do objeto do direito requerido.Nas lies de Nelson Nery Jnior a durao razovel do processo tem uma dupla funo, vejamos:

O princpio da razovel durao do processo possui dupla funo porque, de um lado, respeita ao tempo do processo em sentido estrito, vale dizer, considerando-se a durao que o processo tem desde seu incio at o final com o trnsito em julgado judicial ou administrativo, e, de outro, tem a ver com a adoo de meios alternativos de soluo de conflitos, de sorte a aliviar a carga de trabalho da justia ordinria, o que, sem dvida, viria a contribuir para abreviar a durao mdia do processo. (NERY JNIOR, 2010)

Lembrando que tempo hbil no preciso ser extremamente rpido, tempo hbil o tempo necessrio para a regular tramitao do processo e seus procedimentos de forma que o direito pretendido no perea ou no perca seu valor para as partes:

No se pode, pois, considerar que o princpio da tempestividade da tutela jurisdicional sirva de base para a construo de processos instantneos. O que se assegura com esse princpio constitucional a construo de um sistema processual em que no haja dilaes indevidas. Em outros termos, o processo no deve demorar mais do que o estritamente necessrio para que se possa alcanar os resultados justos visados por fora da garantia do devido processo. Deve, porm, o processo demorar todo o tempo necessrio para que tal resultado possa ser alcanado. (CMARA, 2011)

Assim, razovel durao do processo exatamente o que a nomenclatura razovel significa, sendo o tempo necessrio para o regular trmite processual sem que as partes sejam prejudicadas pelo tempo, sem que o objeto perea, de forma que o direito possa ser satisfeito sem demora desnecessria, nem mais nem menos que isso, somente o tempo certo para o regular transcurso dos procedimentos processuais.

3. Introduo do princpio da razovel durao do processo no ordenamento jurdico interno e sua importncia prtica

O texto inicial da Constituio federal no previa expressamente o princpio da razovel durao do processo, no entanto previu o direito da inafastabilidade da jurisdio, afirmando que a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito (art. 5, XXXV), bem como o direito ao contraditrio e ampla defesa, ao afirmar que: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (art. 5, LV), e, tais direitos sem uma celeridade razovel no seriam possveis de serem concretizados, estariam prejudicados pela morosidade.O princpio da razovel durao do processo ou da celeridade processual estava introduzido no ordenamento jurdico brasileiro de forma expressa desde a ratificao em 1992 do Pacto San Jos da Costa Rica (1969), no entanto, o poder constituinte derivado achou por bem introduzir de forma expressa na Magna Carta, sendo introduzido na legislao ptria pela Emenda Constitucional 45/2004 (Reforma do Judicirio), tendo sido acrescentado o inciso LXXVIII no artigo 5 da Constituio Federal, com a seguinte redao: a todos, no mbito judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao.Apesar de estar presente no ordenamento jurdico brasileiro com a ratificao do Pacto San Jos da Costa Rica, e de ser um princpio implcito e necessrio para a concretizao dos demais direitos processuais e materiais postos, estando presente em dispositivos infralegais, a incluso em 2004 do princpio da durao razovel do processo no texto constitucional no captulo dos direitos fundamentais foi uma forma que o Estado teve de expressar preocupao com a insatisfao social causada pela morosidade dos rgos judicirios e demonstrao da necessidade de provimentos jurisdicionais mais cleres, sem o quais resta frustrado o devido processo legal:

Um dos direitos individuais que, ao longo da histria, sempre tem figurado entre aqueles de importncia fundamental, em relao garantia da correta administrao de Justia e no que se refere aos instrumentos de proteo contra os abusos do poder, o direito a um juzo justo, ou a um processo equitativo, tambm chamado de direito ao devido processo, ou direito a um processo regular, ou identificado no art. 8 do Convnio Americano de Direitos Humanos. (PAES, MARIA, 2006 P. 4)

Sem uma durao razovel dos provimentos jurisdicionais o direito posto no pode ser efetivado, frustrando o devido processo legal e os direitos e garantias individuais e coletivos previstos na legislao constitucional e infralegal, gerando insegurana e injustia, como afirma Rui Barbosa:

(...) Mas justia atrazada no justia, seno injustia qualificada e manifesta. Porque a dilao illegal nas mos do julgador contrara o direito escripto das partes, e, assim, as lesa no patrimnio, honra e liberdade. Os juzes retardatarios so culpados, que a lassido comum vai tolerando. Mas a sua culpa tresdobra com a terrvel aggravante de que o lesado no tem meio de reagir contra o delinquente poderoso, em cujas mos jaz a sorte do litgio pendente. (BARBOSA, 1920, p. 29).

Assim, a durao razovel do processo um meio necessrio para combater as injustias e garantir o devido processo legal, uma vez que o tempo hbil essencial para elucidao dos fatos e para concretizao eficaz dos procedimentos processuais regularmente previstos na norma posta.A legislao infraconstitucional tentou implementar uma durao razovel do processo com mecanismos mais cleres para alguns procedimentos processuais como a implementao dos juizados especiais, a incluso no estatuto do idoso de mecanismo de preferncia e rapidez para as aes em que idoso seja parte, o incentivo a conciliao, a lei de arbitragem, alm de dispositivos do Cdigo de Processo Civil que visam uma certa proteo ao provimento final como as medidas cautelares e tutelas de urgncia.No entanto, apesar das tentativas do legislativo para implementao de procedimentos mais cleres, o fato que h um verdadeiro caos no judicirio brasileiro, processos que levam dcadas para chegarem ao fim, um amontoado de processo nos fruns do judicirio e uma grande multido de indivduos presos ao injusto trmite processual, vendo seus direitos desaparecem com o tempo, vendo suas pretenses tornarem-se inexequveis em razo do decurso do tempo, gerando uma grande insatisfao da populao, uma enorme injustia institucionalizada, como assevera de forma meio cmica Jos Rogrio Cruz e Tucci:

Verifica-se, efetivamente, que em um nmero considervel de processos a espera do julgamento assemelha-se expectativa, para alguns crentes, da chegada do Messias. E esse crucial problema tem se agravado, pelo menos em vrios Estados brasileiros, especialmente na rbita do segundo grau de jurisdio. Desnecessrio repetir que o fator tempo, que permeia a noo de processo judicial, constitui, desde h muito, a mola propulsora do principal motivo de crise da justia. (1997, p. 15 e 16).

4. Inaplicabilidade do Princpio da durao razovel do processo e consequente desrespeito aos direitos fundamentais do cidado

Quando um indivduo v seus direitos humanos bsicos lesados ou deseja uma pretenso que acha ser justa recorre ao judicirio para ter seus direitos protegidos, assim, quando h demora na deciso judicial em consequncia da inrcia ou lentido das decises do processo, em total desrespeito a razovel durao do processo, o prprio Estado responsvel pela afronta ao direito lesado, pois a este incumbe proteger as leses ou ameaas de leses aos direito individuais e coletivos. Vejamos:

O cidado cumpridor de seus deveres, ao ver seu direito lesado, recorre ao Poder Judicirio acreditando ver reparado o dano sofrido num prazo mximo de dois anos. Ningum procura o Judicirio para ver seu direito reconhecido em 5, 10 ou at 20 anos depois. Sempre acredita que sua demanda, por ser justa, ser vitoriosa judicialmente num curto espao de tempo. No poder ela aguardar tanto tempo para ter uma sentena depois de investir em custas processuais, advogado defensor, provvel percia, oficial de justia e outras despesas. (...) Mas valeu a pena? Sete a oito anos de espera no apenas um incmodo, mas principalmente injusto. No no sentido de a sentena ter sido injusta, mas de que a demora no trouxe a esperada justia, tornando-se menos justa ou menos injusta. A reparao que traria justia entre um e dois anos, depois de tanto tempo, no somente faz perder o valor monetrio da demanda, mas, principalmente, a pacincia, a esperana e a crena na Justia dos homens. (BEAL, 2006, p. 178)

Demora por vezes sinnimo de perda do direito, pois muitos objetos de direitos perecem com o tempo, ou at mesmo o sujeito do direito, imperando a injustia social acobertada pelo prprio Estado que devia proteger seus cidados.A realidade do sistema judicirio brasileiro reflete um verdadeiro caos onde h demora nos julgamentos em todos os nveis de matria, sendo bem preocupante a demora no mbito penal, onde diversos indivduos cumprem pena sem mesmo serem declarados culpados, simplesmente pela demora do judicirio em apreciar o caso e sanar as injustias cometidas pelo executivo. No mbito cvel a morosidade tambm e bastante preocupante, tendo muitos indivduos falecidos sem ter uma sentena positiva quanto ao direito a uma operao ou a um medicamento por causa da demora do judicirio em efetivar seu direito expressamente previsto, tais demoras so responsabilidade no s o judicirio, mas o prprio legislativo d causa em razo dos lentos procedimentos previstos na legislao posta:

(...) proposta uma ao condenatria, aps decorridos meses e anos em busca da cognio exauriente (com contraditas, saneamento, instruo, percia, sentena), o advogado por fim informava ao cliente sua vitria na demanda. Sim, fora vitorioso, mas no poderia exigir a prestao que lhe era devida, pois o vencido apelara, e a apelao de regra assume o duplo efeito. Os tempos correm, a apelao do ru por fim rejeitada, recursos de natureza extraordinria so intentados e repelidos, e certo dia - mirabile dictu, o paciente autor recebe a grata notcia: a sentena a ele favorvel havia transitado em julgado. Alvssaras, pensou o demandante. Pensou mal. Para receber o bem da vida, cumpria fosse proposto um segundo processo, j agora visando o cumprimento da sentena, novo processo exigente de nova citao, com a possibilidade de um subseqente contraditrio atravs da ao incidental de embargos do devedor (propiciando instruo e sentena), e com o uso de meios executrios inadequados ao comrcio moderno, tais como a hasta pblica (um anacronismo na era eletrnica). (CARNEIRO, 2007, p. 88)

H demora em todos os setores do judicirio, desde a entrega de uma simples citao ou intimao at uma deciso ou sentena, e tal fato um grande, seno o principal motivo da descrena da populao no Estado, da descrena da populao no judicirio e no legislativo, e de verem seus direitos humanos protegidos. belo o texto constitucional que diz ser garantido a todos o direito a intimidade, a inviolabilidade de domiclio, de correspondncia, ir e vir, associar-se, etc., todavia insano os meios que o legislativo criou para proteg-los e execut-los, to insano quanto a presteza do judicirio em dar andamento aos processos e procedimentos em seu mbito. De fato os procedimentos criados pelo legislativo no condiz com uma real celeridade:

MOVIMENTAO PROCESSUAL EM RITO ORDINRIO

Exordial concluso (24h art. 190, CPC) despacho do juiz citao do ru (2 dias art. 189, I, CPC) cumprimento do despacho (48h art. 190, CPC) ru contesta(15 dias art. 297, CPC) concluso (24h art. 190, CPC) despacho do juiz manifeste o autor sobre a contestao (2dias art. 189, I, CPC) cumprimento dodespacho (48h art. 190, CPC) autor impugna contestao (10 dias art. 327, CPC) concluso (24h art. 190, CPC) despacho do juiz designao de audinciapreliminar (2 dias art. 189, I, CPC) audincia preliminar fixa os pontoscontrovertidos e designa audincia de instruo (30 dias art. 331, CPC) cumprimento do despacho intimao das eventuais testemunhas (48h art. 190, CPC) audincia de instruo alegaes finais por memoriais, 10 dias sucessivos para cadaparte (30 dias art. 331, CPC analogia) alegaes finais (20 dias art. 454, 3 c/cart. 177, CPC) concluso (24h art. 190, CPC) sentena (10 dias art. 456,CPC).

Fonte Alessandra Mendes Spalding, 2005

Todavia, apesar do lento procedimento previsto pelo legislativo, ainda o judicirio um grande responsvel pela morosidade dos processos, pelo fato de que, mesmo que de forma no to eficiente o procedimento posto pelo legislativo foi aquele que ele achou necessrio para o regular trmite processual, prevendo algumas poucas medidas de urgncia, todavia, tais mtodos e medidas previstas pelo legislativo, na maioria das vezes deixa de serem efetivadas pelo judicirio, que deixa de cumprir os prazos legais, dando causa ao imprio da injustia e desrespeito aos direitos humanos bsicos:

o notrio atravancamento dos servios no se d pela excessiva necessidade de decises, mas decorre, isso sim, da no tomada de decises ou at da omisso de meros despachos. So as etapas mortas, constantemente entremeadas no curso do processo, em todas as instncias, que condenam os processos hibernao nos escaninhos das secretarias do juzo ou do gabinete dos juzes, relegando oencerramento do feito para futuro incerto e imprevisvel. (THEODORO JNIOR, 2006, p. 64)

Assim, preciso mudanas nas estruturas do judicirio, aumentando-se o nmero de servidores e membros, bem como com a implementao de mtodos mais eficazes para adotar com os processos em seus mbitos. Para a devida durao razovel do processo preciso haver mudana nas prticas dos operadores do direito em geral, devendo haver uma predileo pela conciliao e mtodos mais hbeis:

implantao de mudanas na estrutura dos rgos jurisdicionais, com nmero de juzes em proporo adequada populao que atendem e ao nmero de processos neles em curso, dotando-lhes de recursos materiais suficientes e de pessoal treinado e tecnicamente qualificado, aspecto do problema em questo sempre olvidado. Ao lado disto, impe-se a mudana de mentalidade e de formao tcnica dos operadores prticos do direito (juzes, advogados, defensores pblicos, membros do Ministrio Pblico), que precisam enxergar o processo como metodologia normativa de garantia dos direitos fundamentais, vale dizer, compreend-lo como processo constitucionalizado e no como simples instrumento tcnico da jurisdio ou mero calhamao de papis no qual o juiz profere sentena aps a prtica desordenada de atos pelos sujeitos processuais, como vem ocorrendo, de forma catica, na maioria das vezes. (DIAS, 2007, p. 218)

Assim, nota-se que o judicirio um grande responsvel pela morosidade processual atual e consequente desrespeito aos direitos humanos bsicos que, quando violados no so corrigidos a tempo. Lembrando que reconhecer a grande responsabilidade do judicirio no exime os outros poderes e setores sociais de sua parcela de culpa.

5. Durao razovel do processo e a Lei 13.105/2015 (Novo Cdigo de Processo Civil)

Com a crescente insatisfao social em razo da grande morosidade processual o legislativo tenta inovar o ordenamento jurdico brasileiro com mecanismos legais mais cleres, assim como fez com a lei dos idosos, a criao dos juizados, a lei de arbitragem, a primazia e incentivo da conciliao, e mais recente, trazendo meios mais cleres no novo Cdigo de Processo Civil.A Lei 13.105/2015 novo CPC traz expressamente em seu artigo 4 a importncia da durao razovel do ao afirmar que as partes tm direito de obter em prazorazovel a soluo integral da lide, includa a atividade satisfativa, mostrando assim a preocupao com o tempo processual, alm de trazer expressamente medidas de desburocratizao dos procedimentos processuais, simplificando alguns institutos e acabando com mtodos mais lentos, vejamos o que a ilustre Graziela Rosa afirma sobre a questo:

"O foco contemporneo , por assim dizer,apaziguar os dissdios jurisprudenciais dentro dos tribunais superiores e entreeles e os tribunais inferiores. As inovaes propostas para os recursos,analogamente quelas referentes ao processo em primeiro grau, orientam-sepela necessidade de racionalizar ao mximo o processamento e julgamentode recursos, bem como de uniformizar a aplicao do direito e estabilizar ajurisprudncia, o que, respectivamente, valoriza a segurana jurdica e oprprio princpio da igualdade de todos perante a lei (e, tambm, em facedecises judiciais). O PLS n166/2010 optou por suprimir uma modalidaderecursal (embargos infringentes), reduzir as hipteses de cabimento dealguns recursos (agravo de instrumento), bem como por simplificar-lhes oprocedimento." (ROSA, 2014)

So mtodos mais cleres, por exemplo, a primazia da conciliao, da arbitragem, da transao, a reduo dos recursos protelatrios como a extino dos embargos infringentes e agravo retido, o fim do prazo em qudruplo para a fazenda contestar, o fim da nomeao a autoria, limitao do reexame necessrio a alguns casos especficos, efeito suspensivo da apelao a cargo do relator (podendo a sentena ser imediatamente cumprida, salvo entendimento contrrio do relator) e a flexibilizao dos procedimentos, esta:

O art. 191, de sua vez, vai ainda mais longe, ao permitir s partes a transao antes ou durante o processo, a respeito de regras de procedimento, desde que se trate de direitos que admitam autocomposio. O destaque que me permito fazer em relao ao art. 191 para a possibilidade de disposio a respeito de nus, poderes, faculdades e deveres processuais, por via contratual, previamente existncia do processo, mesmo que se trate de contrato de adeso. Essa regra, no que diz respeito prova, ratificada, por assim dizer, no pargrafo quarto do art. 380, que prev a possibilidade de se convencionar a respeito da distribuio do nus da prova diferentemente do que dispe a regra geral, antes ou durante o processo. Os riscos de eventuais abusos nessa negociao anterior ao processo foram previstos pelo legislador. De acordo com o pargrafo quarto, caber ao juiz controlar a validade dessas convenes, que no devero ser aplicadas se houver nulidade (por vcio de vontade, por exemplo) ou se houver sua insero de modo abusivo em contratos de adeso. (WAMBIER, 2013)

Merece destaque o instituto da tutela de evidncia que no novo CPC tem o condo de antecipar os efeitos da sentena quando for evidente o direito perseguido, sem a necessidade de comprovar o perigo da demora, mostrado-se um grande mtodo de preservao do direito e acesso a justia, in verbis:

Art. 306. A tutela da evidncia ser concedida, independentemente da demonstrao de perigo da demora da prestao da tutela jurisdicional, quando: I ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propsito protelatrio da parte; II as alegaes de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em smula vinculante; III se tratar de pedido reipersecutrio fundado em prova documental adequada do contrato de depsito, caso em que ser decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominao de multa. Pargrafo nico. A deciso baseada nos incisos II e III deste artigo pode ser proferida liminarmente. (Lei 13.105/2015 Novo CPC)

No sendo objeto do presente trabalho relatar todas as inovaes trazidas pelo novo Cdigo de Processo Civil, foi possvel ver acima algumas mudanas no novo CPC, em que o legislativo tenta corrigir alguns institutos processuais que impedem a durao razovel do processo e consequente dignidade da pessoa humana, pois, Omo visto no incio do trabalho, sem um prazo razovel o direito perece, perde o objeto, fazendo com que o cidado perca o exerccio de seus direitos humanos bsicos, perca sua dignidade:

(...) o processo o instrumento encarregado de salvaguardar os interesses do cidado, oferecendo-lhe condies para, na medida em que for atingido em qualquer dos seus direitos, pea auxilio ao Estado. Por essa razo, o processo deve ser estruturado, interpretado e aplicado de forma suficientemente capaz de garantir os direitos fundamentais decorrentes do princpio da dignidade humana (mesmo porque o caminho entre a norma e a realidade ainda complexo). (NUNES, 2013)

E ainda:

Vale recordar que, caminhando numa postura de resguardo do Estado Democrtico de Direito, o Projeto do nosso novo CPC reala a dignidade da pessoa humana, colocando-a como um dos pontos centrais do nosso ordenamento, alada condio de verdadeiro superprincpio. A dignidade da pessoa e o acesso justia so princpios que devem caminhar juntos, norteando o processo moderno. Logo, o processo cunhado em valores divorciado de ambos conflita com princpios constitucionalmente estabelecidos. (DUARTE, 2013)

Assim, o legislativo tenta inovar a ordem jurdica com mecanismos mais prticos e procedimentos processuais mais cleres, visando uma maior proteo legal ao indivduo que busca o judicirio objetivando o exerccio de seus direitos, a defesa de sua dignidade.A durao razovel do processo como princpio mestre do ordenamento jurdico ptrio ganha destaque e maior proteo no novo CPC, todavia, o judicirio e o executivo precisa por em prtica os novos mtodos para que haja tal celeridade.

6. Concluso

Percebe-se que a morosidade da justia tem sido ao longo do tempo um bice para o exerccio de direitos, sendo uma falha no sistema jurdico que impede o indivduo de ter real acesso ao judicirio, de ter uma vida digna e ver seus direitos humanos bsicos respeitados.O processo o mio pelo qual o cidado busca a proteo do Estado quando ver seus direitos lesados, e a demora do Estado em reparar as leses e ameaas de leses aos direitos de seus indivduos causa de insatisfao social e injustia, sendo um desrespeito aos direitos humanos protegidos pelas leis internas e internacionais. recente mas o legislativo implementou mecanismos visando uma maior celeridade processual, e tais mecanismos precisam ser colocados em prtica pelo judicirio, executivo e pela populao tambm, sem os quais as normas no passaram de letras mortas.O respeito a razovel durao do processo deve ser ensinado a populao, esta deve aprender a conciliar antes de litigar, a instituir rbitros entre si. O legislativo tambm precisa proteger mais, inovar mais normas cleres. O executivo precisa possibilitar os meios prticos por meio de projetos de execuo das leis postas, seja por meio de concursos, seja por meio de mais recursos para implementao de uma justia mais clere. Mas, mesmo com a ao integrada da populao, do legislativo e do executivo, sem a atuao do judicirio a razovel durao do processo ser apenas um sonho a ser perseguido e nunca alcanado. preciso uma reestruturao do judicirio brasileiro, preciso haver mais treinamento aos membros e servidores, mas bem mais preciso mais membros e servidores. Urge necessrio que sejam os prazos previstos em leis respeitados, cumpridos.De que adianta modificar as normas colocando nela mecanismos mais cleres se estas normas no chegarem a serem respeitadas? preciso mtodos para concretizao das normas e prazos processuais sob pena de perpetuao do desrespeito aos direitos humanos dos cidados que veem seus direitos infringidos e no tem quem os socorra pois o judicirio demora anos para julgar suas lides, fazendo com que seja perdido no tempo o objeto do direito perseguido.O direito a razovel durao do processo um direito humano previsto em tratados internacionais, na lei maior do Estado e na legislao infraconstitucional, deve ser perseguida e concretizada pelo Estado para que reine a justia e a dignidade da pessoa humana.

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