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Durante a Formação
Os requerentes de asilo que participaram no VIAAS são unânimes na
percepção de que, sem a frequência do curso de formação, o exercício
de uma actividade profissional em Portugal estaria profundamente
dificultado, quer nas possibilidades de encontrar trabalho, quer
porque só teriam acesso a empregos baixamente qualificados e mal
pagos. Percebe-se, portanto, que as expectativas destas pessoas
relativamente aos resultados da formação eram positivos, e que os
seus níveis de motivação eram também francamente elevados, pelo
que a PD cedo compreendeu que deveria sobretudo concentrar
esforços na garantia de que todas as restantes variáveis influenciando
o sucesso da iniciativa fossem cumpridas.
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Sensibilizar para a Diversidade
5 A experiência da PD, e em particular do CPR, dizia-nos que a generalidade dos requerentes de asilo, portadores de
histórias de vida marcadas pelo medo e pela perseguição, são pessoas naturalmente mais desconfiadas,
vulneráveis e susceptíveis, principalmente quando se encontram em ambientes estranhos, desconhecidos. Havia pois que
prestar especial atenção ao modo como se iria processar o acolhimento destes novos formandos no centro de formação,
desde o primeiro momento.
Acolher, do nosso ponto de vista, significa proporcionar e facilitar o processo de integração nas melhores condições
possíveis, pelo que delineámos um plano que congregasse, em simultâneo, a apresentação da estrutura organizacional e
funcionamento do CFPSA, das instalações, agentes da formação e funcionários.
E à medida que a formação foi decorrendo, tornou-se progressivamente mais claro que este acolhimento estruturado dos
requerentes de asilo no centro funcionou efectivamente como um elemento facilitador da sua integração, contribuindo
decisivamente para a conclusão bem sucedida dos cursos: as dificuldades comunicacionais foram-se esbatendo com a
ajuda das relações de proximidade e confiança e intensificou-se a entreajuda.
Mas centros de formação são também espaços sociais, pelo que não se encontram imunes à ocorrência de manifestações
de racismo e de xenofobia, ou de atitudes e comportamentos indiciando formas de discriminação, que afectam
particularmente os grupos de refugiados e os imigrantes mais desfavorecidos. Acontece, porém, que estas populações
trazem consigo toda uma bagagem cultural e experiências muito ricas - cada imigrante e cada refugiado tem um passado
e uma história de vida, um percurso escolar e profissional e, como qualquer outro ser humano, é fruto de múltiplos e
variados contextos - e, tantas vezes, só a ignorância e o receio pelo desconhecido estão na base destas manifestações.
No nosso país, a problemática do asilo é pouco conhecida, e a maioria das pessoas não tem a percepção das dificuldades
sentidas e vividas pelos refugiados, quer em Portugal, quer nos seus países de origem. Por isso mesmo, a PD entendeu de
maior relevância empreender um programa de sensibilização integrado e dirigido.
Numa primeira fase, foram realizadas acções de sensibilização destinadas aos técnicos de recrutamento e selecção e aos
funcionários e agentes de formação, procurando esclarecer e sensibilizar para a diversidade, e promover uma cultura de
compreensão, reconhecimento e valorização das diferenças, o que se veio a revelar particularmente importante para a
selecção dos formandos, mas sobretudo para o modo como estes foram acolhidos e integrados nas actividades do centro.
A título ilustrativo pode referir-se a intervenção do responsável pelo refeitório, que se preocupava em saber se os
requerentes de asilo se estavam a alimentar convenientemente, se gostavam da comida, ou se havia algum problema na
ingestão de determinados alimentos por motivos religiosos/ culturais. Este seu cuidado permitiu inclusivamente detectar
as dificuldades porque passava um dos formandos que, por incompatibilidade com os horários do curso, se via
impossibilitado de recolher o seu jantar no local onde se encontrava alojado.
Numa segunda fase, a PD identificou a necessidade de intervir mais directamente ao nível dos relacionamentos e da
interacção entre os requerentes de asilo e os formandos portugueses e de outras proveniências, com os formadores e com
os restantes funcionários do centro. Os conflitos são normais entre pessoas e grupos, mas havia que distinguir claramente
o que são problemas decorrentes de incompatibilidades de carácter e personalidade dos problemas causados por
incompreensões e discriminações face à diferença dos que são diferentes.
Por exemplo, uma das formandas, natural da República Democrática do Congo, teve bastantes dificuldades em relacionar-
se com os seus colegas e formadores de curso, por resistências mútuas. Ela apresentava sempre um semblante muito
sisudo e carregado, e estava sempre a falar ao telemóvel, comunicando em francês para ninguém perceber o que dizia, o
que causou natural estranheza e desconforto. Quando os colegas e formadores se inteiraram da sua história - fugiu do seu
país deixando para trás quatro filhos menores - a situação alterou-se por completo, e ela tornou-se uma referência da
turma, sobretudo entre os mais jovens, para quem passou a representar um exemplo admirável de luta pela vida.
Ao mesmo tempo, era preciso reiterar esforços no sentido da promoção de uma atitude simultânea de tolerância e de
partilha, o que nos pareceu poder vir a ser concretizado por via de acções de sensibilização dotadas de uma componente
mais prática e interactiva. De entre as várias iniciativas levadas a cabo (visitas de estudo, por exemplo), o nosso destaque
vai para a realização do Atelier Gastronómico e do Concurso de Gastronomia.
Um dos maiores recursos de divulgação cultural é, como todos sabem, a gastronomia, pelo que nos pareceu apropriado -
para mais estando integrados num centro alimentar - promover a realização de uma iniciativa que tivesse precisamente a
gastronomia como anfitriã.
Organizaram-se ateliers gastronómicos e, a 3 de Janeiro de 2007 foi realizado o 1º Concurso Gastronómico, com
elaboração conjunta do respectivo regulamento e a nomeação de um júri constituído pelos dirigentes das instituições da
PD, e participação de 10 candidatos, entre requerentes de asilo em formação no CFPSA e outros vindos de fora.
Pretendíamos assim que os refugiados e requerentes de asilo se tornassem "formadores" por um dia, ensinando os seus
colegas e os formadores do CFPSA a preparar receitas tradicionais do Myanmar, do Congo, da Turquia, da Bielorússia, da
Arménia, etc., e que fossem encarados por todos como "peritos", valorizando as suas competências e a sua cultura.
Este encontro foi, a todos os níveis, extremamente interessante. Os ingredientes foram comprados pela PD e, à hora
marcada, num ambiente informal e descontraído, marcado pela boa-disposição de todos os participantes, os candidatos
começaram a fazer as suas receitas, sob o olhar atento do júri, formandos, formadores e técnicos da PD. Provados os
pratos, o júri procedeu à eleição dos vencedores (se bem que a ideia fosse promover a participação e não a competição
entre eles), seguida de uma festa cultural nas instalações do centro - com a actuação do Grupo Desportivo do CFPSA e do
RefugiActo (grupo de teatro formado por refugidos e requerentes de asilo apadrinhado pelo CPR).
Houve uma preparação prévia dos
formadores. E isso foi fundamental
para existir uma maior receptividade.
(Formador do CFPSA)
A sensibilização integrada de actores e agentes da
formação permite garantir um mínimo de segu-
rança e de conforto aos imigrantes e refugiados
em formação.Melhora a gestão de processos de recrutamento e
selecção, optimiza os tempos e recursos da
formação e envolve todos os departamentos,
tornando-os facilitadores do processo formativo.
Acolher e Integrar
Deve dar-se especial atenção ao modo como
é feito o acolhimento dos formandos. Devem
ser mostradas todos os serviços e instala-
ções, apresentando o staff, e recomenda-se
vivamente a presença de interlocutores
especializados durante a sessão inaugural.
Houve alguns conflitos iniciais. Os formadores têm dificuldades em
perceber que os mesmos gestos podem ter significados muito
diferentes. As pessoas querem a normalização
(Formador do CFPSA)
Actividades sócio-culturais
Sensibilizar para a diversidade através da
realização de actividades de natureza
sócio-cultural que estimulem a partici-
pação de todos os formandos em ateliers
de expressão da sua cultura e dos seus
modos de vida.
Eu fiz este curso porque achei que mais ou menos parecia a minha área. Porque eu sou da área bioquímica, sei coisas de laboratório... é o meu mundo.
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Sensibilizar para a Diversidade
5 A experiência da PD, e em particular do CPR, dizia-nos que a generalidade dos requerentes de asilo, portadores de
histórias de vida marcadas pelo medo e pela perseguição, são pessoas naturalmente mais desconfiadas,
vulneráveis e susceptíveis, principalmente quando se encontram em ambientes estranhos, desconhecidos. Havia pois que
prestar especial atenção ao modo como se iria processar o acolhimento destes novos formandos no centro de formação,
desde o primeiro momento.
Acolher, do nosso ponto de vista, significa proporcionar e facilitar o processo de integração nas melhores condições
possíveis, pelo que delineámos um plano que congregasse, em simultâneo, a apresentação da estrutura organizacional e
funcionamento do CFPSA, das instalações, agentes da formação e funcionários.
E à medida que a formação foi decorrendo, tornou-se progressivamente mais claro que este acolhimento estruturado dos
requerentes de asilo no centro funcionou efectivamente como um elemento facilitador da sua integração, contribuindo
decisivamente para a conclusão bem sucedida dos cursos: as dificuldades comunicacionais foram-se esbatendo com a
ajuda das relações de proximidade e confiança e intensificou-se a entreajuda.
Mas centros de formação são também espaços sociais, pelo que não se encontram imunes à ocorrência de manifestações
de racismo e de xenofobia, ou de atitudes e comportamentos indiciando formas de discriminação, que afectam
particularmente os grupos de refugiados e os imigrantes mais desfavorecidos. Acontece, porém, que estas populações
trazem consigo toda uma bagagem cultural e experiências muito ricas - cada imigrante e cada refugiado tem um passado
e uma história de vida, um percurso escolar e profissional e, como qualquer outro ser humano, é fruto de múltiplos e
variados contextos - e, tantas vezes, só a ignorância e o receio pelo desconhecido estão na base destas manifestações.
No nosso país, a problemática do asilo é pouco conhecida, e a maioria das pessoas não tem a percepção das dificuldades
sentidas e vividas pelos refugiados, quer em Portugal, quer nos seus países de origem. Por isso mesmo, a PD entendeu de
maior relevância empreender um programa de sensibilização integrado e dirigido.
Numa primeira fase, foram realizadas acções de sensibilização destinadas aos técnicos de recrutamento e selecção e aos
funcionários e agentes de formação, procurando esclarecer e sensibilizar para a diversidade, e promover uma cultura de
compreensão, reconhecimento e valorização das diferenças, o que se veio a revelar particularmente importante para a
selecção dos formandos, mas sobretudo para o modo como estes foram acolhidos e integrados nas actividades do centro.
A título ilustrativo pode referir-se a intervenção do responsável pelo refeitório, que se preocupava em saber se os
requerentes de asilo se estavam a alimentar convenientemente, se gostavam da comida, ou se havia algum problema na
ingestão de determinados alimentos por motivos religiosos/ culturais. Este seu cuidado permitiu inclusivamente detectar
as dificuldades porque passava um dos formandos que, por incompatibilidade com os horários do curso, se via
impossibilitado de recolher o seu jantar no local onde se encontrava alojado.
Numa segunda fase, a PD identificou a necessidade de intervir mais directamente ao nível dos relacionamentos e da
interacção entre os requerentes de asilo e os formandos portugueses e de outras proveniências, com os formadores e com
os restantes funcionários do centro. Os conflitos são normais entre pessoas e grupos, mas havia que distinguir claramente
o que são problemas decorrentes de incompatibilidades de carácter e personalidade dos problemas causados por
incompreensões e discriminações face à diferença dos que são diferentes.
Por exemplo, uma das formandas, natural da República Democrática do Congo, teve bastantes dificuldades em relacionar-
se com os seus colegas e formadores de curso, por resistências mútuas. Ela apresentava sempre um semblante muito
sisudo e carregado, e estava sempre a falar ao telemóvel, comunicando em francês para ninguém perceber o que dizia, o
que causou natural estranheza e desconforto. Quando os colegas e formadores se inteiraram da sua história - fugiu do seu
país deixando para trás quatro filhos menores - a situação alterou-se por completo, e ela tornou-se uma referência da
turma, sobretudo entre os mais jovens, para quem passou a representar um exemplo admirável de luta pela vida.
Ao mesmo tempo, era preciso reiterar esforços no sentido da promoção de uma atitude simultânea de tolerância e de
partilha, o que nos pareceu poder vir a ser concretizado por via de acções de sensibilização dotadas de uma componente
mais prática e interactiva. De entre as várias iniciativas levadas a cabo (visitas de estudo, por exemplo), o nosso destaque
vai para a realização do Atelier Gastronómico e do Concurso de Gastronomia.
Um dos maiores recursos de divulgação cultural é, como todos sabem, a gastronomia, pelo que nos pareceu apropriado -
para mais estando integrados num centro alimentar - promover a realização de uma iniciativa que tivesse precisamente a
gastronomia como anfitriã.
Organizaram-se ateliers gastronómicos e, a 3 de Janeiro de 2007 foi realizado o 1º Concurso Gastronómico, com
elaboração conjunta do respectivo regulamento e a nomeação de um júri constituído pelos dirigentes das instituições da
PD, e participação de 10 candidatos, entre requerentes de asilo em formação no CFPSA e outros vindos de fora.
Pretendíamos assim que os refugiados e requerentes de asilo se tornassem "formadores" por um dia, ensinando os seus
colegas e os formadores do CFPSA a preparar receitas tradicionais do Myanmar, do Congo, da Turquia, da Bielorússia, da
Arménia, etc., e que fossem encarados por todos como "peritos", valorizando as suas competências e a sua cultura.
Este encontro foi, a todos os níveis, extremamente interessante. Os ingredientes foram comprados pela PD e, à hora
marcada, num ambiente informal e descontraído, marcado pela boa-disposição de todos os participantes, os candidatos
começaram a fazer as suas receitas, sob o olhar atento do júri, formandos, formadores e técnicos da PD. Provados os
pratos, o júri procedeu à eleição dos vencedores (se bem que a ideia fosse promover a participação e não a competição
entre eles), seguida de uma festa cultural nas instalações do centro - com a actuação do Grupo Desportivo do CFPSA e do
RefugiActo (grupo de teatro formado por refugidos e requerentes de asilo apadrinhado pelo CPR).
Houve uma preparação prévia dos
formadores. E isso foi fundamental
para existir uma maior receptividade.
(Formador do CFPSA)
A sensibilização integrada de actores e agentes da
formação permite garantir um mínimo de segu-
rança e de conforto aos imigrantes e refugiados
em formação.Melhora a gestão de processos de recrutamento e
selecção, optimiza os tempos e recursos da
formação e envolve todos os departamentos,
tornando-os facilitadores do processo formativo.
Acolher e Integrar
Deve dar-se especial atenção ao modo como
é feito o acolhimento dos formandos. Devem
ser mostradas todos os serviços e instala-
ções, apresentando o staff, e recomenda-se
vivamente a presença de interlocutores
especializados durante a sessão inaugural.
Houve alguns conflitos iniciais. Os formadores têm dificuldades em
perceber que os mesmos gestos podem ter significados muito
diferentes. As pessoas querem a normalização
(Formador do CFPSA)
Actividades sócio-culturais
Sensibilizar para a diversidade através da
realização de actividades de natureza
sócio-cultural que estimulem a partici-
pação de todos os formandos em ateliers
de expressão da sua cultura e dos seus
modos de vida.
Eu fiz este curso porque achei que mais ou menos parecia a minha área. Porque eu sou da área bioquímica, sei coisas de laboratório... é o meu mundo.
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6 Quando chegam aos países de acolhimento, e durante todo o processo de integração, refugiados e
requerentes de asilo (assim como imigrantes) experimentam toda uma série de dificuldades de
natureza sociopsicológica. As experiências por que passaram e todos os problemas relacionados com as
suas condições de vida, nomeadamente a inserção no mercado de trabalho, têm uma influência directa no
modo como se relacionam com o novo mundo em seu redor.
Os técnicos da PD estavam alertados para o facto de que, para estes formandos, a formação profissional
insere-se num projecto de vida mais vasto, que inclui a sua adaptação e integração na sociedade portuguesa
em condições plenamente dignas e, assim, era imprescindível criar condições para que a sua performance
escolar ocorresse sem sobressaltos. Neste sentido, a existência de um Gabinete de Apoio ao Formando no
CFPSA foi um elemento determinante para o sucesso do projecto.
Quando chegaram ao centro de formação, os refugiados já eram apoiados pelo CPR, e também pelos serviços
da SCML e do CDSS Lisboa, no entanto, passando grande parte do seu dia em actividades de formação, foram
progressivamente deixando de ir ao encontro dos técnicos que vinham acompanhando os seus processos
desde a chegada a Portugal. A técnica do Gabinete de Apoio ao Formando do CFPSA passou assim a ser a sua
interlocutora privilegiada e, simultaneamente, também a ponte de contacto entre os refugiados e as
restantes instituições de acolhimento: ouvia-os, escutava as suas inquietudes, os seus problemas, os seus
receios, procurava soluções para os seus pedidos… e acabou por desempenhar, ela própria, um papel central
em todo o processo formativo.
Na verdade, foi ela a encabeçar a luta contra o preconceito e a estereotipização das diferenças responsáveis
por grande parte dos conflitos que opunham refugiados, formandos portugueses, formadores. Foi graças à
sua intervenção que a tesouraria do centro permitiu que os passes sociais pudessem ser reembolsados
contra recibo, e não por transferência bancária, dado que a maioria dos requerentes de asilo ainda não havia
aberto conta em qualquer banco, e foi o seu gabinete a preocupar-se com as questões da vida de todos-os-
dias destas pessoas: saber se estavam a fazer uma alimentação equilibrada, se as aulas estavam a correr
pelo melhor, se as crianças estavam bem, etc.
Com os mais de 100 atendimentos personalizados que efectuou, sem dúvida alguma contribuiu para a
melhoria da auto-estima dos requerentes de asilo em formação e, consequentemente, para a melhoria dos
seus resultados nos cursos que frequentavam.
Do mesmo modo, a PD cedo percebeu que a participação das mulheres seleccionadas traria problemas
acrescidos, dado que, todas elas, à excepção de uma, tinham filhos a residir consigo em Portugal. Acresce
que, do conjunto de quatro mulheres com filhos, todas estavam em situação de desemprego, e apenas uma
tinha ambos os filhos a frequentar estabelecimentos de ensino, o que significa que a maioria vivia um
quotidiano completamente dedicado à realização de tarefas domésticas e prestação de cuidados a filhos
menores de idade.
Assim sendo, fomos confrontados com a evidência de que, sem apoio familiar directo, estas mulheres,
apesar do seu interesse e da sua vontade, jamais conseguiriam frequentar a formação.
A participação nos cursos não previa, no entanto, a atribuição de bolsas de formação, deixando claro que, a
acontecer, o ingresso das crianças a cargo em creches/ jardins-de-infância ou ATLs, teria de ser inteiramente
suportado pela PD, o que efectivamente veio a acontecer depois de feita a análise individual de cada caso.
Percebeu-se que não se poderia pedir a famílias em situação de grande precariedade económica, e
financeiramente dependentes de subsídios e apoios institucionais, que decidissem utilizar os seus parcos
recursos para apoio a formação não financiada, ainda que com boas expectativas de valorização profissional
e acesso ao emprego no futuro próximo.
Por exemplo, a uma das formandas do curso de "Empregados de Mesa/ Bar" foi concedido apoio para
pagamento do ATL do filho, uma vez que, saindo do curso às 16h, ela só conseguia chegar junto do filho,
matriculado numa escola perto de casa, pelas 17h30. A filha mais nova, por seu lado, foi inscrita numa creche
privada junto ao centro de formação já que, na Bobadela - local de residência da família - as creches só
abriam depois das 8h da manhã, hora de entrada da mãe no curso a decorrer nas instalações do CFPSA na
Pontinha (mesmo com o empenhamento de um dos parceiros do VIAAS, o CDSS de Lisboa, não foi possível
encontrar vaga nas creches públicas disponíveis perto do centro de formação).
Considerada a melhor aluna do curso, esta formanda foi convidada a estagiar num hotel de 4 estrelas
situado na zona do Parque das Nações, o que exigiu nova articulação de esforços para conseguir transferir a
criança para outra creche, igualmente próxima do local de formação da mãe. Do mesmo modo, e para
garantir a perfeita conciliação entre a vida profissional e familiar/ privada, e assegurar o compromisso com a
igualdade de oportunidades, a PD, e em particular o CFPSA, negociou com o hotel onde a refugiada cumpria o
programa de estágio, um horário de trabalho que a deixasse livre durante a noite e aos fins-de-semana -
sozinha no nosso país, ela não tem com quem deixar os filhos nessas alturas.
Num outro caso, em que a filha de uma formanda não poderia ser transferida para um infantário mais
próximo do centro de formação por total incompatibilidade de horários, a PD optou por pagar o transporte, e
assim assegurar que a criança se deslocaria entre a casa e a escola em absoluta segurança. Nos dias em que a
formanda tinha aulas de Português, a criança era deixada no Centro de Acolhimento do CAR, na Bobadela,
onde, na mesma sala onde a mãe aprendia uma língua nova, ficava a dormir, a brincar, a fazer desenhos… o
que exigia um esforço extra quer por parte da formanda, quer por parte da formadora.
Resta dizer que, ao nível dos procedimentos e regulação das actividades no CFPSA, foi também necessário
Apoio e Assitência à FamiliaIdentificar as necessidades especiais das mu-
lheres, disponibilizando apoios para aguarda
de dependentes e ascendentes a cargo (filhos,
pais, familiares portadores de deficiência).
Reduz a influência de factores adicionais de
exclusão social e promove a igualdade de
oportunidade entre mulheres e homens.
Uma vez fiquei fraca e não queria continuar, mas não deixaram. “Não! Vais ficar! Vais continuar!”
O curso ajudou a tirar o medo de mim própria. Quando chegava lá esquecia o medo
Acompanhamento
Personalizado dos
Formandos
Disponibilizar serviços e técnicos espe-
cializados no apoio e aconselhamento
social e psicológico dos formandos.
Os meus filhos é que me dão força, mas não foi fácil com duas crianças pequenas. Saía de casa às 6 da manhã e deixava o de 11 anos sozinho para ir à escola. Ele arranjava-se sozinho e apanhava a camioneta, 20 minutos, mas eu comprei um telemóvel para ele e falámos e trocávamos mensagens todo o dia. Mas nunca fiquei descansada. Já passei por muitas coisas.
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6 Quando chegam aos países de acolhimento, e durante todo o processo de integração, refugiados e
requerentes de asilo (assim como imigrantes) experimentam toda uma série de dificuldades de
natureza sociopsicológica. As experiências por que passaram e todos os problemas relacionados com as
suas condições de vida, nomeadamente a inserção no mercado de trabalho, têm uma influência directa no
modo como se relacionam com o novo mundo em seu redor.
Os técnicos da PD estavam alertados para o facto de que, para estes formandos, a formação profissional
insere-se num projecto de vida mais vasto, que inclui a sua adaptação e integração na sociedade portuguesa
em condições plenamente dignas e, assim, era imprescindível criar condições para que a sua performance
escolar ocorresse sem sobressaltos. Neste sentido, a existência de um Gabinete de Apoio ao Formando no
CFPSA foi um elemento determinante para o sucesso do projecto.
Quando chegaram ao centro de formação, os refugiados já eram apoiados pelo CPR, e também pelos serviços
da SCML e do CDSS Lisboa, no entanto, passando grande parte do seu dia em actividades de formação, foram
progressivamente deixando de ir ao encontro dos técnicos que vinham acompanhando os seus processos
desde a chegada a Portugal. A técnica do Gabinete de Apoio ao Formando do CFPSA passou assim a ser a sua
interlocutora privilegiada e, simultaneamente, também a ponte de contacto entre os refugiados e as
restantes instituições de acolhimento: ouvia-os, escutava as suas inquietudes, os seus problemas, os seus
receios, procurava soluções para os seus pedidos… e acabou por desempenhar, ela própria, um papel central
em todo o processo formativo.
Na verdade, foi ela a encabeçar a luta contra o preconceito e a estereotipização das diferenças responsáveis
por grande parte dos conflitos que opunham refugiados, formandos portugueses, formadores. Foi graças à
sua intervenção que a tesouraria do centro permitiu que os passes sociais pudessem ser reembolsados
contra recibo, e não por transferência bancária, dado que a maioria dos requerentes de asilo ainda não havia
aberto conta em qualquer banco, e foi o seu gabinete a preocupar-se com as questões da vida de todos-os-
dias destas pessoas: saber se estavam a fazer uma alimentação equilibrada, se as aulas estavam a correr
pelo melhor, se as crianças estavam bem, etc.
Com os mais de 100 atendimentos personalizados que efectuou, sem dúvida alguma contribuiu para a
melhoria da auto-estima dos requerentes de asilo em formação e, consequentemente, para a melhoria dos
seus resultados nos cursos que frequentavam.
Do mesmo modo, a PD cedo percebeu que a participação das mulheres seleccionadas traria problemas
acrescidos, dado que, todas elas, à excepção de uma, tinham filhos a residir consigo em Portugal. Acresce
que, do conjunto de quatro mulheres com filhos, todas estavam em situação de desemprego, e apenas uma
tinha ambos os filhos a frequentar estabelecimentos de ensino, o que significa que a maioria vivia um
quotidiano completamente dedicado à realização de tarefas domésticas e prestação de cuidados a filhos
menores de idade.
Assim sendo, fomos confrontados com a evidência de que, sem apoio familiar directo, estas mulheres,
apesar do seu interesse e da sua vontade, jamais conseguiriam frequentar a formação.
A participação nos cursos não previa, no entanto, a atribuição de bolsas de formação, deixando claro que, a
acontecer, o ingresso das crianças a cargo em creches/ jardins-de-infância ou ATLs, teria de ser inteiramente
suportado pela PD, o que efectivamente veio a acontecer depois de feita a análise individual de cada caso.
Percebeu-se que não se poderia pedir a famílias em situação de grande precariedade económica, e
financeiramente dependentes de subsídios e apoios institucionais, que decidissem utilizar os seus parcos
recursos para apoio a formação não financiada, ainda que com boas expectativas de valorização profissional
e acesso ao emprego no futuro próximo.
Por exemplo, a uma das formandas do curso de "Empregados de Mesa/ Bar" foi concedido apoio para
pagamento do ATL do filho, uma vez que, saindo do curso às 16h, ela só conseguia chegar junto do filho,
matriculado numa escola perto de casa, pelas 17h30. A filha mais nova, por seu lado, foi inscrita numa creche
privada junto ao centro de formação já que, na Bobadela - local de residência da família - as creches só
abriam depois das 8h da manhã, hora de entrada da mãe no curso a decorrer nas instalações do CFPSA na
Pontinha (mesmo com o empenhamento de um dos parceiros do VIAAS, o CDSS de Lisboa, não foi possível
encontrar vaga nas creches públicas disponíveis perto do centro de formação).
Considerada a melhor aluna do curso, esta formanda foi convidada a estagiar num hotel de 4 estrelas
situado na zona do Parque das Nações, o que exigiu nova articulação de esforços para conseguir transferir a
criança para outra creche, igualmente próxima do local de formação da mãe. Do mesmo modo, e para
garantir a perfeita conciliação entre a vida profissional e familiar/ privada, e assegurar o compromisso com a
igualdade de oportunidades, a PD, e em particular o CFPSA, negociou com o hotel onde a refugiada cumpria o
programa de estágio, um horário de trabalho que a deixasse livre durante a noite e aos fins-de-semana -
sozinha no nosso país, ela não tem com quem deixar os filhos nessas alturas.
Num outro caso, em que a filha de uma formanda não poderia ser transferida para um infantário mais
próximo do centro de formação por total incompatibilidade de horários, a PD optou por pagar o transporte, e
assim assegurar que a criança se deslocaria entre a casa e a escola em absoluta segurança. Nos dias em que a
formanda tinha aulas de Português, a criança era deixada no Centro de Acolhimento do CAR, na Bobadela,
onde, na mesma sala onde a mãe aprendia uma língua nova, ficava a dormir, a brincar, a fazer desenhos… o
que exigia um esforço extra quer por parte da formanda, quer por parte da formadora.
Resta dizer que, ao nível dos procedimentos e regulação das actividades no CFPSA, foi também necessário
Apoio e Assitência à FamiliaIdentificar as necessidades especiais das mu-
lheres, disponibilizando apoios para aguarda
de dependentes e ascendentes a cargo (filhos,
pais, familiares portadores de deficiência).
Reduz a influência de factores adicionais de
exclusão social e promove a igualdade de
oportunidade entre mulheres e homens.
Uma vez fiquei fraca e não queria continuar, mas não deixaram. “Não! Vais ficar! Vais continuar!”
O curso ajudou a tirar o medo de mim própria. Quando chegava lá esquecia o medo
Acompanhamento
Personalizado dos
Formandos
Disponibilizar serviços e técnicos espe-
cializados no apoio e aconselhamento
social e psicológico dos formandos.
Os meus filhos é que me dão força, mas não foi fácil com duas crianças pequenas. Saía de casa às 6 da manhã e deixava o de 11 anos sozinho para ir à escola. Ele arranjava-se sozinho e apanhava a camioneta, 20 minutos, mas eu comprei um telemóvel para ele e falámos e trocávamos mensagens todo o dia. Mas nunca fiquei descansada. Já passei por muitas coisas.
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Bolsas e Subsídios
de Formação
Garantir que todos os formandos possuem
meios da subsistência, articulando esforços
para que lhes sejam concedidos apoios mone-
tários à formação. Reduz o número de desis-
tências, aumentando os índices de motivação e
de assiduidade.
assegurar uma certa flexibilização dos critérios de assiduidade instituídos. Em termos globais, os
refugiados não faltaram mais que a média dos formandos portugueses, mas, para os primeiros - sobretudo
quando mulher sozinhas - a gripe mais simples do filho/filha é motivo para não conseguir comparecer nas
aulas durante uma semana inteira, inevitável atendendo que não têm ao seu dispor qualquer rede familiar
(ou amigos) de apoio.
No entanto, e por mais paradoxal que pareça considerando o que foi dito anteriormente, a PD enfrentou
também bastantes dificuldades no que se refere à frequência dos cursos por parte de requerentes de asilo do
sexo masculino, verificando-se um número significativo de abandonos entre os homens, sobretudo os que
estão sós em Portugal, sem família, dada a sua maior mobilidade.
A este propósito, o diagnóstico efectuado pelos técnicos da PD, a partir de inquirições junto dos próprios,
aponta para o facto do projecto não ter previsto a atribuição de bolsas de formação aos participantes. Para
estas pessoas os meios de subsistência são escassos, vendo-se muitas vezes obrigadas a aceder ao trabalho
informal.
Por isso mesmo a PD optou por priorizar a integração de requerentes de asilo que estivessem a receber
apoios da SCML ou da Segurança Social.
7 Pertence ao maior senso comum a constatação de que uma dos mais proeminentes problemas com
que se deparam imigrantes e refugiados à chegada ao nosso país consiste na incapacidade de
comunicar em língua portuguesa. De facto, a grande maioria possui um nível de conhecimentos bastante
básico ou rudimentar do Português, apresentando imensas dificuldades na comunicação e na compreensão.
Nesse sentido, a PD adoptou como prioritárias as aulas de Português para estrangeiros, considerando que
poderiam desempenhar um papel fundamental para a integração e adaptação dos requerentes de asilo ao
contexto da formação e também para a sua inclusão social mais abrangente.
Inicialmente previstas para ocorrerem nas instalações do CPR em Chelas, a incompatibilidade de horários
dos formandos no CFPSA fez com que grande parte das aulas tivesse de ser transferida para as instalações do
centro de formação. Contudo, ao verificar-se que se mantinham ainda alguns constrangimentos - sobretudo
para as formandas com filhos pequenos -, houve necessidade de estender também as sessões de Português
ao CAR da Bobadela, o que só foi possível graças à colaboração e total disponibilidade da formadora externa
do CPR, que se predispôs a leccionar em 3 locais em simultâneo.
A PD estabeleceu também desde logo a necessidade de articular o ensino da língua portuguesa com a
formação profissional em curso no CFPSA, pelo que a formação em Português foi sendo reajustada
periodicamente em função do plano do curso de formação, bem como da disponibilidade de horários dos
participantes.
A formação no CFPSA funciona entre a 8h e as 16h, não restando muito tempo para poder assistir a aulas para
além das definidas dentro do horário do curso. Enquanto alguns requerentes de asilo tiveram acesso a 6
horas semanais de aulas de Português, outros só puderam ter apenas 2 horas por semana, e, para quem tem
filhos em idade escolar, a situação é bastante mais problemática. A título de exemplo, uma das formandas
do curso de "Analistas de Laboratório", apesar de desejar ter uma carga horária mais elevada, só conseguiu
ter aulas uma vez por semana dado que tinha de ir buscar os filhos à escola e de tratar da lida doméstica.
Mesmo assim, os formandos empenharam-se fortemente durante as aulas, afirmando por diversas vezes a
convicção de que as aulas de português eram determinantes para poderem acompanhar o seu curso de
formação profissional sem maiores problemas, e, do mesmo modo, existiu também flexibilidade nas
actividades do CFPSA (por exemplo, as alunas do curso de "Analistas de Laboratório" foram dispensadas de
proceder a operações de limpeza para poderem assistir às aulas de Português).
Acreditamos que é preciso sobretudo ter presente que, ao nível da formação em Português, "cada caso é um
caso", ou seja, é necessário dar uma resposta distinta a pessoas com diferentes necessidades. Tendo em
conta a diversidade de situações e experiências de vida dos requerentes de asilo, o ensino da língua
Aulas de Português DirigidoA articulação da formação com a apren-dizagem da língua portuguesa é funda-mental. É necessário garantir que a comu-nicação se faz sem ruídos e que os formandos apreendem correctamente as matérias leccionadas.
O Maior problema é a língua. A sua participação
e desempenho dependem em grande medida
do domínio da língua portuguesa. Sem as aulas
de Português, não teriam conseguido finalizar
o curso. O Português prévio à frequência das
aulas de durante todo o curso deveriam ser
obrigatórias. (Formador do CFPSA)
Só temos o problema da língua. Nós precisamos de “corante” em língua portuguesa [risos] porque é muito importante
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Bolsas e Subsídios
de Formação
Garantir que todos os formandos possuem
meios da subsistência, articulando esforços
para que lhes sejam concedidos apoios mone-
tários à formação. Reduz o número de desis-
tências, aumentando os índices de motivação e
de assiduidade.
assegurar uma certa flexibilização dos critérios de assiduidade instituídos. Em termos globais, os
refugiados não faltaram mais que a média dos formandos portugueses, mas, para os primeiros - sobretudo
quando mulher sozinhas - a gripe mais simples do filho/filha é motivo para não conseguir comparecer nas
aulas durante uma semana inteira, inevitável atendendo que não têm ao seu dispor qualquer rede familiar
(ou amigos) de apoio.
No entanto, e por mais paradoxal que pareça considerando o que foi dito anteriormente, a PD enfrentou
também bastantes dificuldades no que se refere à frequência dos cursos por parte de requerentes de asilo do
sexo masculino, verificando-se um número significativo de abandonos entre os homens, sobretudo os que
estão sós em Portugal, sem família, dada a sua maior mobilidade.
A este propósito, o diagnóstico efectuado pelos técnicos da PD, a partir de inquirições junto dos próprios,
aponta para o facto do projecto não ter previsto a atribuição de bolsas de formação aos participantes. Para
estas pessoas os meios de subsistência são escassos, vendo-se muitas vezes obrigadas a aceder ao trabalho
informal.
Por isso mesmo a PD optou por priorizar a integração de requerentes de asilo que estivessem a receber
apoios da SCML ou da Segurança Social.
7 Pertence ao maior senso comum a constatação de que uma dos mais proeminentes problemas com
que se deparam imigrantes e refugiados à chegada ao nosso país consiste na incapacidade de
comunicar em língua portuguesa. De facto, a grande maioria possui um nível de conhecimentos bastante
básico ou rudimentar do Português, apresentando imensas dificuldades na comunicação e na compreensão.
Nesse sentido, a PD adoptou como prioritárias as aulas de Português para estrangeiros, considerando que
poderiam desempenhar um papel fundamental para a integração e adaptação dos requerentes de asilo ao
contexto da formação e também para a sua inclusão social mais abrangente.
Inicialmente previstas para ocorrerem nas instalações do CPR em Chelas, a incompatibilidade de horários
dos formandos no CFPSA fez com que grande parte das aulas tivesse de ser transferida para as instalações do
centro de formação. Contudo, ao verificar-se que se mantinham ainda alguns constrangimentos - sobretudo
para as formandas com filhos pequenos -, houve necessidade de estender também as sessões de Português
ao CAR da Bobadela, o que só foi possível graças à colaboração e total disponibilidade da formadora externa
do CPR, que se predispôs a leccionar em 3 locais em simultâneo.
A PD estabeleceu também desde logo a necessidade de articular o ensino da língua portuguesa com a
formação profissional em curso no CFPSA, pelo que a formação em Português foi sendo reajustada
periodicamente em função do plano do curso de formação, bem como da disponibilidade de horários dos
participantes.
A formação no CFPSA funciona entre a 8h e as 16h, não restando muito tempo para poder assistir a aulas para
além das definidas dentro do horário do curso. Enquanto alguns requerentes de asilo tiveram acesso a 6
horas semanais de aulas de Português, outros só puderam ter apenas 2 horas por semana, e, para quem tem
filhos em idade escolar, a situação é bastante mais problemática. A título de exemplo, uma das formandas
do curso de "Analistas de Laboratório", apesar de desejar ter uma carga horária mais elevada, só conseguiu
ter aulas uma vez por semana dado que tinha de ir buscar os filhos à escola e de tratar da lida doméstica.
Mesmo assim, os formandos empenharam-se fortemente durante as aulas, afirmando por diversas vezes a
convicção de que as aulas de português eram determinantes para poderem acompanhar o seu curso de
formação profissional sem maiores problemas, e, do mesmo modo, existiu também flexibilidade nas
actividades do CFPSA (por exemplo, as alunas do curso de "Analistas de Laboratório" foram dispensadas de
proceder a operações de limpeza para poderem assistir às aulas de Português).
Acreditamos que é preciso sobretudo ter presente que, ao nível da formação em Português, "cada caso é um
caso", ou seja, é necessário dar uma resposta distinta a pessoas com diferentes necessidades. Tendo em
conta a diversidade de situações e experiências de vida dos requerentes de asilo, o ensino da língua
Aulas de Português DirigidoA articulação da formação com a apren-dizagem da língua portuguesa é funda-mental. É necessário garantir que a comu-nicação se faz sem ruídos e que os formandos apreendem correctamente as matérias leccionadas.
O Maior problema é a língua. A sua participação
e desempenho dependem em grande medida
do domínio da língua portuguesa. Sem as aulas
de Português, não teriam conseguido finalizar
o curso. O Português prévio à frequência das
aulas de durante todo o curso deveriam ser
obrigatórias. (Formador do CFPSA)
Só temos o problema da língua. Nós precisamos de “corante” em língua portuguesa [risos] porque é muito importante
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portuguesa durante a formação teve de ser estruturado a partir de uma abordagem individualizada,
apresentando soluções à medida de cada pessoa (aulas extra, por exemplo). Por essa razão tentámos
sempre que as aulas fossem acompanhadas por actividades dotadas de uma componente sócio-cultural e
organizámos os alunos em turmas reduzidas, normalmente constituídas por alunos falando a mesma
língua.
A título ilustrativo, pode referir-se o exemplo de uma refugiada que participou no curso de "Empregados de
Mesa/ Bar" que teve início em Fevereiro de 2006. Chegada a Portugal aproximadamente um mês antes
dessa data, começou a ter aulas de Português 6 vezes por semana, e rapidamente estas sessões se tornaram
num espaço privilegiado de expressão individual: nestas aulas ela conseguia exprimir-se e fazer-se
entender - ainda que de modo imperfeito -, e podia verbalizar estranhezas e incompreensões, desde as
reacções dos colegas e formadores, às experiências no comboio e no autocarro, até à comida servida no
refeitório ou no restaurante, tão estranha e com nomes indecifráveis. Para esta formanda, embora se tenha
seguido um esquema programático previamente definido, houve que pensar um conjunto de tarefas
diversificadas capazes de desencadear novas situações de comunicação, tendo como suporte documentos,
textos, e exercícios que ajudasse a aprendente a levar a bom termo a formação profissional, a compreender
códigos sociais e culturais e a adquirir competências linguísticas, sociais e pragmáticas.
No entanto, e apesar do balanço global desta actividade ser bastante positivo, importa salientar que se
verificaram alguns problemas de resolução mais complicada, em concreto, no que se refere à conjugação e
flexibilização de horários e falhas de comunicação. O CFPSA cedeu gentilmente as suas salas para que as
aulas de Português pudessem estar mais facilmente acessíveis aos requerentes de asilo em formação na
Pontinha, todavia, porque estas aulas não faziam parte do programa dos cursos, não existiam também
grandes pontes de contacto entre a formadora de Português e os formadores e coordenadores de formação
do centro.
Na realidade, e apesar de ter tido acesso às matérias de todos os módulos dos cursos (para apoio e
clarificação dos conceitos e referenciais da formação junto dos requerentes de asilo), esta formadora
encontrava-se à margem, fora da rotina do centro (antes de tudo o mais porque se via forçada a leccionar
também em mais 2 locais distintos), e esta circunstância acabou por afectar de uma forma menos positiva a
articulação entre as duas componentes formativas.
A nossa proposta vai, por isso, ao encontro da ideia de que se deve integrar o responsável pela formação em
língua portuguesa para estrangeiros na equipa de formadores dos cursos de formação profissional. Desta
forma, poderá ter um papel mais activo, fazer as sugestões e recomendações que achar mais convenientes e,
principalmente, contribuir para a articulação mais concertada entre dois tipos de formação que são, para os
formandos imigrantes e refugiados, sem dúvida absolutamente complementares.
Na mesma linha, entendemos indispensável o desenvolvimento articulado de todas as actividades
formativas, bem como flexibilizar e adequar metodologias às necessidades e especificidades dos
requerentes de asilo.
De facto, o contacto quotidiano com as necessidades dos formandos e as dificuldades com que nos fomos
deparando ao longo da implementação do projecto, fizeram com que os técnicos da PD, profissionais
experimentados no terreno quer enquanto agentes da formação quer como técnicos vocacionados para o
acolhimento e integração de refugiados e imigrantes, tivessem de colocar em marcha um conjunto
articulado de actividades, procedimentos e medidas, nomeadamente:
Alterações nos horários de formação feitas em função das aulas de Português
Planeamento quinzenal dos horários
Alargamentos nos Planos de Estágio em contexto laboral, com o objectivo de consolidar a aprendizagem
Selecção de formadores com o perfil mais adequado a cada um dos casos
Coordenação de salas de aula para disponibilização de espaço destinado a sessões de apoio em língua
portuguesa
Avaliação permanente das necessidades de cada formando
Implementação de aulas especiais complementares (aulas extra) quando necessário
Reuniões periódicas entre os formadores, incluindo a formadora de Português, para analisar os
progressos alcançados pelos formandos e identificar dificuldades, constrangimentos, áreas em que seria
necessário aprofundar conhecimentos (não foi possível, no entanto, com a regularidade pretendida, uma
vez que a formadora e as aulas de Português não faziam parte da equipa e do plano de formação do
centro)
Para que tal fosse possível e produzisse resultados foi obviamente indispensável que todos os actores
envolvidos - formandos, formadores, técnicos, dirigentes, funcionários - estivessem disponíveis para
trabalhar em conjunto, de modo a potenciar a consolidação e o pleno funcionamento de uma abordagem
integrada que garantisse o mínimo de disrupções ao normal funcionamento do programa de formação e,
concomitantemente, permitisse alcançar resultados com o maior índice de sucesso. Felizmente para o
VIAAS, isso aconteceu.
Voltando um pouco atrás, ainda à questão da língua, pode porventura ser interessante esclarecer a opção da
PD em manter a regra das turmas mistas, isto é, em ter incluído os requerentes de asilo participantes no
projecto em turmas constituídas por alunos portugueses e de outras proveniências. É certo que o número
algo limitado de requerentes de asilo e a sua distribuição em mais do que um curso sem dúvida dificultavam
a constituição de uma turma única, porém, pareceu-nos claro que seria extremamente vantajoso para os
próprios a sua inserção em turmas mistas, quer para potenciar a aprendizagem e o treino na língua
*
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*
*
*
Dentro da formação precisa falar Portu-guês, mas o nosso pensamento está no nosso país, na nossa língua... e quero guardar também. Mas aprender e estu-dar é melhor em português, porque que-remos trabalhar dentro de Portugal.
Os portugueses aprendem mais rapida-mente e nós... porque se não compre-ender a parte da teoria... no laboratório, quando tu não sabes uma palavra, não consegues compreender as coisas.
Não tinha conseguido fazer o curso sem aula de Português. Ajuda muito. mesmo dentro do laboratório se não percebes uma coisa podes escrever e depois perguntar professora de Português. ela explicava sempre as palavras que eu não percebia.
A documentação escrita foi funda-
mental, para as aulas de Português.
Foi necessário adaptar os slides.
Considerou-se que era melhor pas-
sar menos informação, mas que
todos compreendessem.
(Formador do CFPSA)
Ficar sozinha entre portugueses?! Todos falam!
Para mim, eu acho que quando estamos estrangeiros todos falam Português. Tu falas comigo português!
Articulação de todas as Actividades Formativas
Turmas Mistas
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portuguesa durante a formação teve de ser estruturado a partir de uma abordagem individualizada,
apresentando soluções à medida de cada pessoa (aulas extra, por exemplo). Por essa razão tentámos
sempre que as aulas fossem acompanhadas por actividades dotadas de uma componente sócio-cultural e
organizámos os alunos em turmas reduzidas, normalmente constituídas por alunos falando a mesma
língua.
A título ilustrativo, pode referir-se o exemplo de uma refugiada que participou no curso de "Empregados de
Mesa/ Bar" que teve início em Fevereiro de 2006. Chegada a Portugal aproximadamente um mês antes
dessa data, começou a ter aulas de Português 6 vezes por semana, e rapidamente estas sessões se tornaram
num espaço privilegiado de expressão individual: nestas aulas ela conseguia exprimir-se e fazer-se
entender - ainda que de modo imperfeito -, e podia verbalizar estranhezas e incompreensões, desde as
reacções dos colegas e formadores, às experiências no comboio e no autocarro, até à comida servida no
refeitório ou no restaurante, tão estranha e com nomes indecifráveis. Para esta formanda, embora se tenha
seguido um esquema programático previamente definido, houve que pensar um conjunto de tarefas
diversificadas capazes de desencadear novas situações de comunicação, tendo como suporte documentos,
textos, e exercícios que ajudasse a aprendente a levar a bom termo a formação profissional, a compreender
códigos sociais e culturais e a adquirir competências linguísticas, sociais e pragmáticas.
No entanto, e apesar do balanço global desta actividade ser bastante positivo, importa salientar que se
verificaram alguns problemas de resolução mais complicada, em concreto, no que se refere à conjugação e
flexibilização de horários e falhas de comunicação. O CFPSA cedeu gentilmente as suas salas para que as
aulas de Português pudessem estar mais facilmente acessíveis aos requerentes de asilo em formação na
Pontinha, todavia, porque estas aulas não faziam parte do programa dos cursos, não existiam também
grandes pontes de contacto entre a formadora de Português e os formadores e coordenadores de formação
do centro.
Na realidade, e apesar de ter tido acesso às matérias de todos os módulos dos cursos (para apoio e
clarificação dos conceitos e referenciais da formação junto dos requerentes de asilo), esta formadora
encontrava-se à margem, fora da rotina do centro (antes de tudo o mais porque se via forçada a leccionar
também em mais 2 locais distintos), e esta circunstância acabou por afectar de uma forma menos positiva a
articulação entre as duas componentes formativas.
A nossa proposta vai, por isso, ao encontro da ideia de que se deve integrar o responsável pela formação em
língua portuguesa para estrangeiros na equipa de formadores dos cursos de formação profissional. Desta
forma, poderá ter um papel mais activo, fazer as sugestões e recomendações que achar mais convenientes e,
principalmente, contribuir para a articulação mais concertada entre dois tipos de formação que são, para os
formandos imigrantes e refugiados, sem dúvida absolutamente complementares.
Na mesma linha, entendemos indispensável o desenvolvimento articulado de todas as actividades
formativas, bem como flexibilizar e adequar metodologias às necessidades e especificidades dos
requerentes de asilo.
De facto, o contacto quotidiano com as necessidades dos formandos e as dificuldades com que nos fomos
deparando ao longo da implementação do projecto, fizeram com que os técnicos da PD, profissionais
experimentados no terreno quer enquanto agentes da formação quer como técnicos vocacionados para o
acolhimento e integração de refugiados e imigrantes, tivessem de colocar em marcha um conjunto
articulado de actividades, procedimentos e medidas, nomeadamente:
Alterações nos horários de formação feitas em função das aulas de Português
Planeamento quinzenal dos horários
Alargamentos nos Planos de Estágio em contexto laboral, com o objectivo de consolidar a aprendizagem
Selecção de formadores com o perfil mais adequado a cada um dos casos
Coordenação de salas de aula para disponibilização de espaço destinado a sessões de apoio em língua
portuguesa
Avaliação permanente das necessidades de cada formando
Implementação de aulas especiais complementares (aulas extra) quando necessário
Reuniões periódicas entre os formadores, incluindo a formadora de Português, para analisar os
progressos alcançados pelos formandos e identificar dificuldades, constrangimentos, áreas em que seria
necessário aprofundar conhecimentos (não foi possível, no entanto, com a regularidade pretendida, uma
vez que a formadora e as aulas de Português não faziam parte da equipa e do plano de formação do
centro)
Para que tal fosse possível e produzisse resultados foi obviamente indispensável que todos os actores
envolvidos - formandos, formadores, técnicos, dirigentes, funcionários - estivessem disponíveis para
trabalhar em conjunto, de modo a potenciar a consolidação e o pleno funcionamento de uma abordagem
integrada que garantisse o mínimo de disrupções ao normal funcionamento do programa de formação e,
concomitantemente, permitisse alcançar resultados com o maior índice de sucesso. Felizmente para o
VIAAS, isso aconteceu.
Voltando um pouco atrás, ainda à questão da língua, pode porventura ser interessante esclarecer a opção da
PD em manter a regra das turmas mistas, isto é, em ter incluído os requerentes de asilo participantes no
projecto em turmas constituídas por alunos portugueses e de outras proveniências. É certo que o número
algo limitado de requerentes de asilo e a sua distribuição em mais do que um curso sem dúvida dificultavam
a constituição de uma turma única, porém, pareceu-nos claro que seria extremamente vantajoso para os
próprios a sua inserção em turmas mistas, quer para potenciar a aprendizagem e o treino na língua
*
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Dentro da formação precisa falar Portu-guês, mas o nosso pensamento está no nosso país, na nossa língua... e quero guardar também. Mas aprender e estu-dar é melhor em português, porque que-remos trabalhar dentro de Portugal.
Os portugueses aprendem mais rapida-mente e nós... porque se não compre-ender a parte da teoria... no laboratório, quando tu não sabes uma palavra, não consegues compreender as coisas.
Não tinha conseguido fazer o curso sem aula de Português. Ajuda muito. mesmo dentro do laboratório se não percebes uma coisa podes escrever e depois perguntar professora de Português. ela explicava sempre as palavras que eu não percebia.
A documentação escrita foi funda-
mental, para as aulas de Português.
Foi necessário adaptar os slides.
Considerou-se que era melhor pas-
sar menos informação, mas que
todos compreendessem.
(Formador do CFPSA)
Ficar sozinha entre portugueses?! Todos falam!
Para mim, eu acho que quando estamos estrangeiros todos falam Português. Tu falas comigo português!
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Para mim, não. Eu acho que quando nós ficamos juntos de portugueses eu tenho mais vantagem de língua. Quando estamos só estrangeiros falamos mesmo mal. Portanto eu gosto mais com portugueses.
A experiência foi muito positiva para nós
(formadores e técnicos). Tivemos oportunidade
de conhecer outras culturas, contactar com
vivências. Ficámos mais sensíveis a este público
(refugiados) e também para outros similares
(imigrantes e minorias étnicas).
(Formador do CFPSA)
portuguesa, quer porque tal seria um elemento essencial para o cumprimento de um dos objectivos centrais
do programa: a promoção da interculturalidade.
Em todo o caso, entre os requerentes de asilo, mesmo aqueles que afirmam enormes dificuldades de
comunicação, este ponto não colhe unanimidade. Numa sessão realizada em Agosto deste ano, com o
objectivo de recolher os testemunhos e feedback dos formandos que participaram no VIAAS, a questão da
propriedade das turmas mistas foi colocada, e o debate que se seguiu - ilustrado pelo pequeno excerto de
diálogos que se segue - consegue ser, cremos, esclarecedor:
Finalmente, a questão dos Estágios. Neste aspecto julgamos conveniente distinguir a realização de estágios
integrados no plano curricular dos cursos e os estágios profissionais, cada vez mais entendidos como a
grande porta de entrada de pessoas que frequentaram esquemas de formação profissional no mercado de
trabalho.
No momento em apreço - Durante a Formação - é justo que nos concentremos apenas nos estágios
curriculares realizados pelos requerentes de asilo antes da conclusão dos seus cursos.
Como já se disse, também por razões que se prendem com a discriminação e os preconceitos relativamente à
sua origem nacional e étnica, as populações de imigrantes e refugiados enfrentam toda uma série de
obstáculos à sua entrada no mercado formal de emprego. E o facto de poderem apresentar certificados
atestando uma qualificação profissional realizada em Portugal nem sempre é suficiente para suprimir essa
dificuldade.
Por isso mesmo entendemos que seria muito importante conseguir que todos os requerentes de asilo
tivessem a oportunidade de concretizar um estágio curricular na sua área de formação, tal como previsto no
programa de formação. Tal serviria não só para consolidar os conhecimentos adquiridos durante a formação,
mas também, e sobretudo, como veículo de sensibilização excedendo os limites de influência das
instituições que integram a PD - no caso, as empresas e as associações empresariais - capaz de aumentar a
integração e a empregabilidade dos formandos no futuro.
No âmbito do VIAAS, o CFPSA e os seus técnicos desenvolveram actividade enquanto facilitadores e
promotores do projecto junto de empresas e associações empresariais, tentando assim estabelecer pontes
de contacto entre os requerentes de asilo e potenciais empregadores, numa dinâmica de estratégia de
integração mais abrangente, que se perpetuasse para além da formação. Não foi possível celebrar ainda
protocolos formais prevendo, por exemplo, a realização de estágios profissionais, mas acreditamos ter
servido para esclarecer e fomentar o potencial dos refugiados em formação junto dos seus principais
mercados de trabalho.
Em termos globais, a avaliação da PD sobre o trabalho efectuado durante a formação, ao nível do
acompanhamento dos formandos e desenrolar das actividades formativas, é bastante positiva. As acções de
sensibilização realizadas deram resultados, tornando as atitudes e os comportamentos mais tolerantes cada
dia que passou, e os planos de formação conseguiram adequar-se às necessidades e às dificuldades próprias de
formandos com carências linguísticas/ comunicacionais sem que ficasse de modo algum comprometida a
qualidade e o nível da formação profissional.
Mais importante foi o facto de termos, até ao momento, um elevado número de requerentes de asilo com
aproveitamento, alguns inclusivamente acima da média das suas turmas, o que nos deixa, naturalmente, com
sentido de missão cumprida, embora falte ainda concretizar o passo mais difícil: conseguir que estas pessoas
integrem o mercado de trabalho e possam assim, mesmo longe dos seus lares e dos seus afectos, prosseguir, um
pouco mais felizes que seja, as suas vidas.
No futuro eu acho que podiam juntar um grupo só de estran-gueiros. Porque assim somos todos iguais.
Estágios Curriculares
Instrumentos de combate ao racismo e
à xenofobia, e de destruição progres-
siva das barreiras de discriminação e do
preconceito que as sociedades de aco-
lhimento ainda têm relativamente aos
trabalhadores estrangeiros.
No estágio, as colegas ajudam. Dão muitas informações. Outras informa-ções sem ser do curso. Por exemplo, sobre saúde, sobre banco, sobre tudo. Eu não sabia! E isso é muito importante!
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Para mim, não. Eu acho que quando nós ficamos juntos de portugueses eu tenho mais vantagem de língua. Quando estamos só estrangeiros falamos mesmo mal. Portanto eu gosto mais com portugueses.
A experiência foi muito positiva para nós
(formadores e técnicos). Tivemos oportunidade
de conhecer outras culturas, contactar com
vivências. Ficámos mais sensíveis a este público
(refugiados) e também para outros similares
(imigrantes e minorias étnicas).
(Formador do CFPSA)
portuguesa, quer porque tal seria um elemento essencial para o cumprimento de um dos objectivos centrais
do programa: a promoção da interculturalidade.
Em todo o caso, entre os requerentes de asilo, mesmo aqueles que afirmam enormes dificuldades de
comunicação, este ponto não colhe unanimidade. Numa sessão realizada em Agosto deste ano, com o
objectivo de recolher os testemunhos e feedback dos formandos que participaram no VIAAS, a questão da
propriedade das turmas mistas foi colocada, e o debate que se seguiu - ilustrado pelo pequeno excerto de
diálogos que se segue - consegue ser, cremos, esclarecedor:
Finalmente, a questão dos Estágios. Neste aspecto julgamos conveniente distinguir a realização de estágios
integrados no plano curricular dos cursos e os estágios profissionais, cada vez mais entendidos como a
grande porta de entrada de pessoas que frequentaram esquemas de formação profissional no mercado de
trabalho.
No momento em apreço - Durante a Formação - é justo que nos concentremos apenas nos estágios
curriculares realizados pelos requerentes de asilo antes da conclusão dos seus cursos.
Como já se disse, também por razões que se prendem com a discriminação e os preconceitos relativamente à
sua origem nacional e étnica, as populações de imigrantes e refugiados enfrentam toda uma série de
obstáculos à sua entrada no mercado formal de emprego. E o facto de poderem apresentar certificados
atestando uma qualificação profissional realizada em Portugal nem sempre é suficiente para suprimir essa
dificuldade.
Por isso mesmo entendemos que seria muito importante conseguir que todos os requerentes de asilo
tivessem a oportunidade de concretizar um estágio curricular na sua área de formação, tal como previsto no
programa de formação. Tal serviria não só para consolidar os conhecimentos adquiridos durante a formação,
mas também, e sobretudo, como veículo de sensibilização excedendo os limites de influência das
instituições que integram a PD - no caso, as empresas e as associações empresariais - capaz de aumentar a
integração e a empregabilidade dos formandos no futuro.
No âmbito do VIAAS, o CFPSA e os seus técnicos desenvolveram actividade enquanto facilitadores e
promotores do projecto junto de empresas e associações empresariais, tentando assim estabelecer pontes
de contacto entre os requerentes de asilo e potenciais empregadores, numa dinâmica de estratégia de
integração mais abrangente, que se perpetuasse para além da formação. Não foi possível celebrar ainda
protocolos formais prevendo, por exemplo, a realização de estágios profissionais, mas acreditamos ter
servido para esclarecer e fomentar o potencial dos refugiados em formação junto dos seus principais
mercados de trabalho.
Em termos globais, a avaliação da PD sobre o trabalho efectuado durante a formação, ao nível do
acompanhamento dos formandos e desenrolar das actividades formativas, é bastante positiva. As acções de
sensibilização realizadas deram resultados, tornando as atitudes e os comportamentos mais tolerantes cada
dia que passou, e os planos de formação conseguiram adequar-se às necessidades e às dificuldades próprias de
formandos com carências linguísticas/ comunicacionais sem que ficasse de modo algum comprometida a
qualidade e o nível da formação profissional.
Mais importante foi o facto de termos, até ao momento, um elevado número de requerentes de asilo com
aproveitamento, alguns inclusivamente acima da média das suas turmas, o que nos deixa, naturalmente, com
sentido de missão cumprida, embora falte ainda concretizar o passo mais difícil: conseguir que estas pessoas
integrem o mercado de trabalho e possam assim, mesmo longe dos seus lares e dos seus afectos, prosseguir, um
pouco mais felizes que seja, as suas vidas.
No futuro eu acho que podiam juntar um grupo só de estran-gueiros. Porque assim somos todos iguais.
Estágios Curriculares
Instrumentos de combate ao racismo e
à xenofobia, e de destruição progres-
siva das barreiras de discriminação e do
preconceito que as sociedades de aco-
lhimento ainda têm relativamente aos
trabalhadores estrangeiros.
No estágio, as colegas ajudam. Dão muitas informações. Outras informa-ções sem ser do curso. Por exemplo, sobre saúde, sobre banco, sobre tudo. Eu não sabia! E isso é muito importante!