1- Política Fiscal e Dívida Pública DÍVIDAS DA FAZENDA PÚBLICA: Análise histórica dos precatórios abordando seus avanços e retrocessos Leonardo David Braga dos Santos 2013
Text of DÍVIDAS DA FAZENDA PÚBLICA: Análise histórica dos
DÍVIDAS DA FAZENDA PÚBLICA: Análise histórica dos precatórios
abordando
seus avanços e retrocessos
2013
2
RESUMO
O presente estudo propõe-se a pesquisar sobre o Sistema de
Precatórios,
analisando seu surgimento nas Constituições brasileiras e as
variáveis trazidas pela
nova Emenda Constitucional nº 62 de 2009. Pretende abordar todo o
histórico de
implantações do Sistema de Precatórios, assim como aprofundar e
tratar de forma
explicativa estudos referentes à nova Emenda Constitucional nº 62
de 2009 e sua
aplicabilidade na atualidade quanto à administração indireta.
Pretende ainda uma
análise completa do caminho que o precatório irá percorrer até ser
pago e das
regras sobre o instituto do sequestro, pagamentos prioritários,
cessão para terceiros,
compensação, bases de cálculo com índices de correção monetária e
juros
aplicados aos precatórios judiciais, além de outros temas polêmicos
como críticas
sobre a forma de pagamento da dívida da Fazenda Pública por via de
precatórios.
Por fim, há muito debate sobre a constitucionalidade da forma de
pagamento de
uma dívida por via de precatório, discussão essa que também será
analisada.
Palavras-chave: Dívida da Fazenda Pública. Precatórios.
Prerrogativas Processuais
da Fazenda Pública. Ofício Requisitório. Regime de precatórios.
Adiantamento do
crédito. Sequestro. Compensação.
ABSTRACT
3
This study aims to research the Precatory System, analyzing its
emergence in
Brazilian Constitutions and new variables introduced by
Constitutional Amendment
No. 62 of 2009. Aims to address the entire history of deployments
Precatory System,
as well as deepen and treat as explanatory studies on the new
Constitutional
Amendment No. 62 of 2009 and its applicability today as the
indirect administration. It
also aims to complete an analysis of the way that the precatory
will go to be paid and
the rules on the institute's kidnapping, priority payments,
transfer to third parties,
compensation calculation bases with rates of monetary and interest
applied to judicial
writ, besides other controversial issues as critical on how to pay
the debt of the
Treasury via writ. Finally, there is much debate about the
constitutionality of the
payment of a debt by precatory, that this discussion will also be
analyzed
Keywords: Debt Public Treasury. Precatory. Procedural powers of the
Treasury.
Craft indictment. Regime of writ. Advance credit. Kidnapping.
Compensation.
SUMÁRIO
4
1
INTRODUÇÃO.............................................................................................................18
4 AS PRERROGATIVAS PROCESSUAIS DA FAZENDA
PÚBLICA............................30 4.1 A justificativa da morosa
satisfação do
crédito...................................................31
5 OFíCIO
REQUISITÓRIO..............................................................................................33
5.1 Requisitos do Ofício
Requisitório..........................................................................33
7.1 Natureza dos
precatórios.......................................................................................38
7.1.1 Pagamento prioritário
.........................................................................................39
7.2
Cessão......................................................................................................................40
Atualmente há milhares de brasileiros que possuem crédito para
ser
pago pela Fazenda Pública (União, Estado, Distrito Federal,
Municípios,
Autarquias, Fundações de Direitos público, Empresas Públicas
prestadoras de
serviço públicos e Sociedades de Economia Mista prestadoras de
serviço
público), número esse que cresce a cada dia.
Muitos desses créditos, por causa da demora da quitação, serão
pagos
apenas aos herdeiros desses credores, pois vários desses morrem à
espera de
receber seus créditos.
O tema tem sido alvo de debates e críticas no meio jurídico e
ganha
destaque na mídia devido à demora nos pagamentos e principalmente
devido à
suspeita de fraude nos pagamentos de precatórios e desvio de
dinheiro público
destinado à quitação desses créditos envolvendo assessores,
servidores,
juízes e até mesmo desembargadores, como ocorrido nos estados de
Rio
Grande do Norte, Roraima e Acre.
Além de ganhar a atenção da mídia, os precatórios também têm
chamado a atenção do Conselho Nacional de Justiça eda própria
ministra
corregedora, Eliana Calmon que se posiciona sobre o
assunto:“Estamos todos
chocados com o que ocorreu em determinado tribunal”, [...] “Estamos
fazendo o
dever de casa nesse tema, que estava sendo por nós
investigado.
Desencadeamos todas as ações específicas e na próxima sessão do
Conselho
Nacional de Justiça é muito provável que venha a público uma
proposta de
abertura de processo administrativo disciplinar naquele tribunal”,
afirmou o juiz
auxiliar da corregedoria, Erivaldo Ribeiro, sobre a suspeita de
fraude e desvio
de dinheiro ocorrido no Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Norte.
(MAAKAROUN,2012).
Prova dessa maior atenção que o CNJ está dando para as dívidas
do
Poder Público foi a aprovação da recende resolução, no dia
21/08/2012,que
cria o Fórum Nacional de Precatórios (Fonaprec), que será um “grupo
formado
por conselheiros do CNJ e magistrados, que ficará responsável por
elaborar
estudos e propor medidas concretas para aprimorar a gestão de
pagamento de
precatórios nos Tribunais de Justiça. ”(BRAGA, 2012).
19
confundem precatório com carta precatória, que é um instrumento
de
comunicação utilizado por magistrados de primeiro grau de
jurisdição, na qual
um solicita a outro a realização de ato processual que aquele é
incompetente.
pois esse ato encontra em comarca diferente. (THEODORO JUNIOR,
2010).
De fato é um termo pouco conhecido e também pouco discutido, o
que
causa esse desconhecimento entre grande parte da sociedade. O
seu
significado vem de deprecar, pedir e solicitar, denominação essa
que faz jus
com o texto constitucional. Segundo o artigo 2° da CF/88, os
Poderes Públicos
são independentes e independentes entre si, razão pela qual o
Judiciário tem
que pedir – e não mandar – que os outros poderes o Executivo,
providenciem
as verbas necessárias para pagar as condenações contra esses
poderes na
Justiça.
O verdadeiro significado da palavra precatório é um instrumento
pelo
qual o Poder Judiciário requisita, à Fazenda Pública, o pagamento a
que essa
tenha sido condenada em processo judicial, ou seja, é uma divida
pública em
virtude de uma decisão judicial.
Conforme Abraham explica:
De maneira simplificada, podemos dizer que o Precatório é a
requisição formal de pagamento que a Fazenda Pública é condenada
judicialmente a realizar. Assim, diversamente do particular que,
quando condenado, é obrigado a realizar o pagamento imediatamente
em dinheiro ao vencedor da demanda judicial, a Fazenda pública,
condenada em uma ação, apenas realiza o respectivo pagamento a
partir do exercício financeiro seguinte, após a inclusão de tal
despesa no seu orçamento, desde que apresentada até primeiro de
julho do ano anterior, prazo este fixado pela própria Constituição
(§ 5º. Art. 100). (ABRAHAM, 2010, p. 230).
Neste sentido ROSA nos ensina de modo singelo que:
Requisição de um juiz de 1º grau, mediante ofício, à autoridade
administrativa, que é o Presidente do Tribunal, de numerário para
pagamento decorrente de decisão judicial de 1º ou 2º graus,
transitada em julgado. (ROSA, 2003, p. 163).
20
2.1 Aplicabilidade do precatório para as empresas públicas e
sociedades
de economia mista
Por existir algumas divergências doutrinarias é importante
esclarecer
que quando afirmamos que a Fazenda Pública irá pagar suas dividas
através
de precatórios, estamos referindo tanto à administração direta:
União, Estado,
Municípios e Distrito Federal, como também a administração
indireta:
Autarquias, Fundações de Direito Público, Sociedade de Economia
Mista e
Empresa Pública, essas últimas duas prestadoras de serviço
público.
Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello há dois tipos de
empresas
públicas e sociedades de economia:
Há, portanto, dois tipos fundamentais de empresas públicas e
sociedades de economia mista: exploradoras de atividades econômicas
e prestadoras de serviços públicos ou coordenadoras de obras
públicas. Seus regimes jurídicos não são, nem podem ser, idênticos,
como procuramos demonstrar em outra oportunidade. (MELLO, 2000,
p.151-152)
Só será admissível o pagamento de dívida da empresa pública ou
da
sociedade de economia mista com precatório quando essas forem
prestadoras
de serviço público. Há muita divergência doutrinaria sobre essa
forma de
pagamento, se seria através do precatório ou não.
Seguindo o entendimento que não se aplica a forma de pagamento
das
dividas pelo precatório esta José Cretella Júnior:
Sendo pessoas de direito privado, regendo-se, pois, pelo direito
comercial, as obrigações da empresa pública e sociedade de economia
mista para com terceiros são resolvidas da mesma forma que as
obrigações mercantis, sendo, por isso, seus bens sujeitos à
penhora, como os bens de qualquer sociedade privado. (JÚNIOR, 2003,
p. 185)
Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro tem o posicionamento
contrário:
Com relação às entidades da Administração Indireta com
personalidade de direito privado, grande parte presta serviços
públicos; desse modo, a mesma razão que levou o legislador a
imprimir o regime jurídico publicístico aos bens de uso especial,
pertencentes às pessoas jurídicas de direito públicointerno,
tornando- os inalienáveis, imprescritíveis, insuscetíveis de
usucapião e de direitos reais, justifica a adoção de idêntico
regime para os bens de
21
A autora completa afirmando: [...] entende-se que, se a entidade
presta
serviço público, os bens que estejam vinculados à prestação do
sérvio não
podem ser objeto de penhora, ainda que a entidade tenha
personalidade
jurídica de direito privado. (DI PIETRO, 2011, p.473)
Diante dessa divergência doutrinaria, surge a questão que se os
bens
das empresas públicas e das sociedades de economia mista
serão
impenhoráveis, pois sendo considerados impenhoráveis, suas dívidas
serão
pagas através de precatórios.
O Supremo Tribunal Federal já se posicionou perante esse assunto
e
teve várias decisões entendendo que se aplica às empresas
públicas,
prestadoras de serviço público, e sociedade de economia mista,
também
prestadoras de serviços públicos, o regime dos precatórios.
Recurso extraordinário n. 225.011-0 Minas Gerais:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. EMPRESA BRASILEIRA DE
CORREIOS E TELÉGRAFOS. IMPENHORABILIDADE DE SEUS BENS, RENDAS E
SERVIÇOS. RECEPÇÃO DO ARTIGO 12 DO DECRETO-LEI Nº 509/69. EXECUÇÃO.
OBSERVÂNCIA DO REGIME DE PRECATÓRIO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 100 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. À empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos, pessoa jurídica equiparada à Fazenda Pública, é
aplicável o privilégio da impenhorabilidade de seus bens, rendas e
serviços. Recepção do artigo 12 do Decreto-lei nº 509/69 e
não-incidência da restrição contida no artigo 173, § 1º, da
Constituição Federal, que submete a empresa pública, a sociedade de
economia mista e outras entidades que explorem atividade econômica
ao regime próprio das empresas privadas, inclusive quanto às
obrigações trabalhistas e tributárias. 2. Empresa pública que não
exerce atividade econômica e presta serviço público da competência
da União Federal e por ela mantido. Execução. Observância ao regime
de precatório, sob pena de vulneração do disposto no artigo 100 da
Constituição Federal. Recurso extraordinário conhecido e provido.
(BRASIL, 2000).
O Supremo Tribunal Federal manteve o mesmo posicionamento em
face
das sociedades de economia mista no referendo em medida cautelar em
ação
cautelar 2.318-1 Alagoas:
22
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. EFEITO
SUSPENSIVO. CONSTITUCIONAL. EXECUÇÃO. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.
SUBMISSÃO AO REGIME DO PRECATÓRIO. Ação cautelar ajuizada para se
conferir efeito suspensivo a recurso extraordinário em que se
discute a submissão de sociedade de economia mista ao regime de
precatórios. Medida liminar concedida e referendada pela Turma.
(BRASIL, 2009).
Podemos concluir, amparados no posicionamento do Supremo
Tribunal
Federal, que as dívidas das empresas públicas e sociedades de
economia
mista, prestadoras de serviço público, serão pagas através de
precatórios.
2.2 Diferença entre precatório e requisição de pequeno valor
Tanto precatório como requisição de pequeno valor (RPV) são
requisições do judiciário para o pagamento de sentenças judiciais
transitadas
em julgado. O RPV surgiu com a EC Nº 30/2000 no propósito de
garantir o
princípio da celeridade, o que para muitos não existe no
precatório.
A diferença é que o RPV se origina de sentença condenatória em
face
da Fazenda Pública de valor igual ou inferior a 60 salários-mínimos
no âmbito
federal, 40 salários-mínimos no âmbito estadual, incluindo Distrito
Federal, e 30
salários-mínimos no âmbito municipal.
Nesse sentido, o art. 100 §3º da Constituição Federal (1988) dispõe
que
as Fazendas poderão fixar leis próprias com valores distintos às
necessidades
de direito público, sendo o mínimo igual o valor do maior beneficio
do regime
geral de previdência social.
Decreto nº 44.136 de 25 de outubro de 2005 do Estado de Minas
Gerais,
amparado no art. 100 §3º da Constituição Federal (1988) prevê, para
o Estado
de Minas Gerais, o valor máximo de R$11.000,00 (onze mil reais)
para
autarquia e fundação mantida pelo Estado liquidar o pagamento do
RPV em
até 90 dias contados da data do recebimento da intimação judicial.
(Brasil,
2005).
23
Por ser mais rápido o pagamento do RPV muitos credores abrem
mão
de parte de seus créditos para que esse não se tornar em um
precatório,
evitando assim esperar na respectiva fila para o pagamento. Nesse
sentido,
Oliveira (2006) explica que não há necessidade de expedição de
ofício de
precatório para créditos de pequeno valor. A ordem é dada
diretamente pelo
juiz da execução à autoridade administrativa.
24
Precatório surgiu não por luxo, mas como uma necessidade de
satisfazer o crédito, de pessoa física ou jurídica, ganho por uma
sentença
condenatória judicial face de um ente da administração.
Para atingir essa garantia foi necessária várias mudanças ao longo
das
constituições brasileiras. Desde a primeira Constituição do Brasil,
a de 1824, já
existia disposição sobre a dívida pública, claro que o assunto não
era tão
abortado como é na nossa atual magna carta. A Constituição de 1824
previa,
em seu artigo 15 inciso XIV que: “É da atribuição da Assembléia
Geral:
estabelecer meios convenientes para pagamento da dívida
pública.”
(NOGUEIRA, 2001, p.82).
O assunto continuou pouco aportado na Constituição de 1891,
sendo
que a única alteração que ocorreu foi, conforme artigo 34, no nome
da
Assembléia Geral para Congresso Nacional:“Compete privativamente
ao
Congresso Nacional: 3º) legislar sobre a dívida pública e
estabelecer os meios
para o seu pagamento;” (BALEEIRO, 2001, p.84).
A nomenclatura precatório aparece de fato na Constituição Federal
de
1934, e é com ela que a dívida pública ganha um pouco mais de
atenção,
trazendo novas regras importantes para o pagamento de tais
dividas.
Conforme Silva explica:
[...] até a vigência da Constituição Federal de 1934, os pagamentos
devidos pela Fazenda Pública Federal realizados em função de
condenação prevista em sentença judiciária processavam-se perante
as autoridades administrativas federais (Ministério da Fazenda e
Tesouro Nacional), as quais, por sua vez, enviavam ao Congresso
Nacional a inclusão dos respectivos valores no Orçamento da União,
a fim de ali serem votados os créditos extraordinários necessários
ao pagamento das dividas judiciais. Tais pagamentos não obedeciam a
nenhum critério de ordem, ou cronológico, motivo pelo qual se
verificavam as mais variadas espécies de abusos. (SILVA, 2011,
p.72).
25
A partir de agora o Poder Legislativo, com a sanção do Presidente
da
República, passa ter competência privativa dívida pública da União
e sobre os
meios de pagá-la. As dívidas públicas estaduais e municipais seriam
reguladas
e pagas pelos próprios Estados e Municípios.
É grande o avanço que Constituição Federal de 1934 trouxe para
os
credores da época, pois, além de dar início de uma fila de chegada
para os
pagamentos de seus créditos, também trouxe a possibilidade de
sequestro da
quantia no cofre dos depósitos públicos para satisfazer o crédito
não pago pelo
pela União. Determinava o art. Art.182 que:
Os pagamentos devidos pela Fazenda federal, em virtude de sentença
judiciária, far-se-ão na ordem de apresentação dos precatórios e à
conta dos créditos respectivos, sendo vedada a designação de caso
ou pessoas nas verbas legais”. O parágrafo único do art. 182
estabelecia que “Estes créditos serão consignados pelo Poder
Executivo ao Poder Judiciário, recolhendo-se as importâncias ao
cofre dos depósitos públicos. Cabe ao Presidente da Corte Suprema
expedir as ordens de pagamento, dentro das forças do depósito, e, a
requerimento do credor que alegar preterição da sua precedência,
autorizar o seqüestro da quantia necessária para o satisfazer,
depois de ouvido o Procurador-Geral da República. (POLETTI, 2001,
p.179).
A Constituição Federal de 1937 não trouxe mudanças nos
dispositivos
sobre os pagamentos das dívidas públicas, o seu artigo 95 nada mais
era que
uma cópia do artigo 182 da Constituição Federal de 1934, alterou
algumas
palavras mais o significado continuo o mesmo. Segundo o Art.
95:
Art. 95: os pagamentos devidos pela Fazenda federal, em virtude de
sentenças judiciárias, far-se-ão na ordem em que forem apresentadas
as precatórias e à conta dos créditos respectivos, vedada a
designação de casos ou pessoas nas verbas orçamentárias ou créditos
destinados àquele fim. (PORTO, 2001, p.92-93).
Na Constituição Federal de 1946 a alteração mais importante
que
ocorreu em face dos precatórios foi à previsão em face dos
precatórios
estaduais e municipais, que nas constituições anteriores havia uma
omissão
sobre as dívidas da Fazenda Estadual e Municipal. Segundo o Art.
204 dessa
constituição:
26
Art. 204: Os pagamentos devidos pela Fazenda federal, estadual ou
municipal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão na ordem de
apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos,
sendo proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações
orçamentárias e nos créditos extra-orçamentários abertos para
esse
fim. (BALEEIRO; LIMA SOBRINHO, 2001, p. 114-115).
Além dessa importante inclusão das dividas da fazenda estadual
e
municipal no texto da constituição, a magna carta de 1946 também
trouxe
outras mudanças, sendo que dentre essas mudanças duas se diz
respeito em
relação de cargos. A Constituição de 1937, como já visto no
parágrafo único
do artigo 95, previa que o Presidente do Supremo Tribunal Federal
era
responsável para expedir as ordens de pagamento, com a mudança,
o
Presidente do Tribunal Federal de Recursos, e alguns casos, o
Presidente do
Tribunal de Justiça. A outra mudança ocorreu no parágrafo único do
artigo
204:
As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados
ao Poder Judiciário, recolhendo-se as importâncias à repartição
competente. Cabe ao Presidente do Tribunal Federal de Recursos ou,
conforme o caso, ao Presidente do Tribunal de Justiça expedir as
ordens de pagamento, segundo as possibilidades do depósito, e
autorizar, a requerimento do credor preterido no seu direito de
precedência, e depois de ouvido o chefe do Ministério Público, o
sequestro da quantia necessária para satisfazer o débito.
(BALEEIRO; LIMA SOBRINHO, 2001, p. 114-115).
Até então não havia nenhuma ordem para os devedores incluírem
no
orçamento verbas para pagamento de precatórios, somente após
a
Constituição Federal de 1967 que os entes devedores foram obrigados
a incluir
no orçamento verbas para pagamento de suas dividas, sob de incidir
em crime
de responsabilidade.Essa obrigação era expressa no Art. 112 § 1º
“É
obrigatória à inclusão, no orçamento das entidades de direito
público, de verba
necessária ao pagamento dos seus débitos constantes de
precatórios
judiciários, apresentados até primeiro de julho.”(BRASIL,
1967).
Os demais avanços que estavam sendo alcançados das
constituições
anteriores foram mantidos na de 1967. Com a Emenda Constitucional
Nº01, de
17 de outubro de 1969, a Constituição de 1967 recebeu uma nova
redação em
algumas partes do seu texto, mais nada foi alterado no que se
tratava de
precatórios. Alterando apenas o número do artigo para 117.
27
Art. 117 - Os pagamentos devidos pela Fazenda federal, estadual ou
municipal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão na ordem de
apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos,
proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações
orçamentárias e nos créditos extra-orçamentários abertos para esse
fim. § 1º - É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de
direito público, de verba necessária ao pagamento dos seus débitos
constantes de precatórios judiciários, apresentados até primeiro de
julho. § 2º - As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão
consignados ao Poder Judiciário, recolhendo-se as importâncias
respectivas à repartição competente. Caberá ao Presidente do
Tribunal que proferir a decisão exeqüenda determinar o pagamento,
segundo as possibilidades do depósito, e autorizar, a requerimento
do credor preterido no seu direito de precedência, ouvido o chefe
do Ministério Público, o seqüestro da quantia necessária à
satisfação do débito.”( BRASIL, 1969).
Comentando sobre o avanço do art. 117, Ferreira Filho diz:
A regra contida no caput deste artigo moraliza porque impede sejam
alguns credores da Fazenda beneficiados em prejuízo de outros,
recebendo preferência na satisfação de seus créditos [...]. Com
efeito, até a promulgação da Constituição vigente, não estavam as
pessoas jurídicas de direito público obrigadas a incluir em seus
orçamentos o necessário para o atendimento às condenações
judiciais. (FERREIRA FILHO,1974, p.239)
3.1 Evolução do precatório na Constituição Federal de 1988
A atual Constituição Federal, conhecida como Constituição
cidadã,
aborda mais profundamente o tema precatório, agradando de um lado,
os
entes devedores, e desagradando a outra parte, de credores, que
para alguns,
o precatório quase se torna um bicho de estimação, segundo
Mendes:
Como é legal (sem duplo sentido) ter um precatório! Não chega a ser
um animalzinho de estimação, mas é quase. Como esse “bichinho” é
quase imortal, pois só se extingue com o pagamento (que nunca
chega), o dono se vê obrigado a conviver com ele, e desenvolve uma
espécie de afeição. (MENDES, 2012)
28
A Constituição Federal de 1988 já surgiu com um grande problema
para
resolver, da demora que os credores tinham para receberem seus
créditos,
problema esse que as constituições anteriores não conseguiram
sanar, talvez,
no máximo conseguiram alguns avanços.
No decorre dos anos de vivencia da nossa atual Carta de 1988,
ela
passou por muitas mudanças, tento seu texto alterada por várias
emandas
constitucionais, sendo a 1º de 31 de março de 1992 e a última, até
a presente
data, a de nº 70 de 29 de março de 2012.
No seu texto original, sem nenhuma mudança resultante de
emendas
constitucionais no que se refere aos precatórios, o art. 33 do Ato
de
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), previa o 1º
estágio moratória,
que dava o prazo máximo de 8 anos para o pagamento dos
precatórios
judiciais.
O constituinte, verificando que a fila cronológica de precatórios
só
aumenta, pois os entes devedores não conseguiam quitar seus débitos
no
prazo estabelecido em lei, em 13 de setembro de 2000 surgiu a
Emenda
Constitucional Nº 30 que acrescentou o artigo art. 78 no ADCT e
alterou a
redação do art. 100 da Constituição Federal, criando o 2º estágio
moratória que
iria substituir o 1º estágio, prolongando o prazo máximo de
pagamento dos
precatórios de 8 para 10 anos, trazendo uma novidade, da
possibilidade de
cessão de créditos.
Persistindo o problema da mora, no dia 09 de dezembro de 2009
surgiu
a Emenda Constitucional Nº 62, criando o 3º e atual estágio
moratória,
aumentando o prazo máximo de 10 anos para 15 anos para a Fazenda
Pública
quitar seus débitos judiciais.
Muitos debates surgiram juntamente com a EC 62 de 2009,
muitos
desentendimentos doutrinários, debates sobre a sua
constitucionalidade, de
princípios constitucionais e processuais, que a priori, ela
fere.
Da nova redação, do art. 100 da CRFB/88 trazida pela EC 62 de
2009
trouxe, encontramos termos não abortados pelas Constituições
anteriores,
29
como uma nova forma de sequestro, tipos de naturezas dos
precatórios,
novidades na possibilidade de cessão de crédito, editais como forma
de acordo
entre credor e devedor, a modalidade de pagamento prioritário aos
idosos e
portadores de doença graves. Temas esses que serão aprofundados
no
momento oportuno. Também a nova e atual EC 62 acrescentou o art. 97
ao
ADCT, surgindo logo após ela a Resolução do CNJ Nº 115 que dispõe
sobre a
Gestão de Precatórios no âmbito do Poder Judiciário.
30
As prerrogativas processuais da Fazenda Pública é um tema
muito
debatido, amplo e polêmico no âmbito jurídico, não cabendo o
presente
trabalho discutir seus fundamentos, desenvolvimento histórico e
possíveis
conflitos existentes entre princípios constitucionais, como da
isonomia em face
princípios da supremacia do interesse público sobre o privado e a
da
indisponibilidade do interesse público pela Administração.
O precatório surgiu justamente por causa das prerrogativas
processuais
da Fazenda Pública, como a impenhorabilidade dos bens públicos
prevista no
art. 100, caput da Constituição Federal:
“Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais,
Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária,
far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos
precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a
designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos
créditos adicionais abertos para este fim. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 62, de 2009).” (BRASIL,1988).
Outra é a prevista no art. 730, II do Código do Processo Civil:
“Na
execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, citar-se-á a
devedora
para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no
prazo legal,
observar-se-ão as seguintes regras: [...] II - far-se-á o pagamento
na ordem de
apresentação do precatório e à conta do respectivo crédito.”
(BRASIL, 1973).
Além dessas prerrogativas, hás outras que fazem que o pagamento
dos
créditos em face da Fazenda Pública demore muito mais que 15 anos,
como
prazos dilatados previsto no art. 188 Código do Processo
Civil:“Computar-se-á
em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando
a parte
for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.” (BRASIL, 1973), e o
duplo grau
de jurisdição obrigatório também previsto no Código do Processo
Civil no art.
475: “Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo
efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: I - proferida
contra a União, o
Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas
autarquias e fundações
de direito público; [...]” (BRASIL, 1973).
31
É sabido por todos que um dos objetivos do poder judiciário é
alcançar o
princípio constitucional da celeridade processual, art.5º inciso
LXXVII da
Constituição Federal: “a todos, no âmbito judicial e
administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam
a
celeridade de sua tramitação.” (BRASIL, 1988). No entanto, quando
nos
deparamos com os precatórios, parece tal princípio não é
observado.
4.1 Ajustificativa da morosa satisfação do crédito
Não fica difícil de entender o porquê que o pagamento de um
precatório
demora tanto. No Brasil vária muito o tempo em que uma ação
ordinária
demora a ser transitada e julgada, pois vai depender dos recursos
que esse
processo terá durante a sua tramitação, das partes envolvidas, se a
ação é em
face de uma pessoa física ou em face da fazenda pública, pois nesse
caso,
como já visto, ela terá as prerrogativas processuais, depende
também da
complexidade do caso que envolve a ação, também depende da comarca
que
essa ação tramita, pois alguns tem maior número de processos que
outros.
Não é absurdo dizer que em muitos casos o credor vai demorar mais
de
20 anos para receber seu crédito, o caminho será longo que ele irá
percorrer,
sendo que só na fila cronológica de pagamento, muitos desses irão
esperar por
15 anos até chegar a sua vez. O primeiro passo será propor uma ação
de
conhecimento ordinária em face da Fazenda Pública, lembrando que
essa terá
todas as prerrogativas processuais fazendo que o tempo do processo
seja bem
maior. Após todas as formalidades, citações, prazos, recursos, o
juiz de
primeiro grau vai proferir uma sentença.
Após a sentença do processo de conhecimento ordinário, haverá
o
recurso do poder judiciário,duplo grau de jurisdição obrigatório,
para instância
superior, que poderá manter a decisão do juiz de 1º grau ou não.
Após o
trânsito em julgado dos embargos à execução ou a impugnação, a
entidade
devedora deverá ser intimada no prazo de 30 (trinta) dias para
compensação
32
do crédito do precatório com a dívida ativa, conforme § 9º e § 10
do art. 100 da
CF:
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal,
Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença
judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de
apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos,
proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações
orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009). [...] §
9º No momento da expedição dos precatórios, independentemente de
regulamentação, deles deverá ser abatido, a título de compensação,
valor correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou
não em dívida ativa e constituídos contra o credor original pela
Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas vincendas de
parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em
virtude de contestação administrativa ou judicial. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 62, de 2009). § 10. Antes da expedição dos
precatórios, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora, para
resposta em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de
abatimento, informação sobre os débitos que preencham as condições
estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 62, de 2009). (BRASIL,1988).
Podemos dizer, pelo nosso convívio diário com o poder judiciário,
que da
data do início do processo de conhecimento até o seu trânsito em
julgado,
demora em média de 5 a 10 anos. Lembrando que não é absurdo dizer
que
demora esses anos todos, pois, esse processo terá seu tramite com
todas as
5 OFíCIO REQUISITÓRIO
Como já visto, por causa da impossibilidade de penhora sobre
bens
públicos, a satisfação de uma execução de um crédito de uma pessoa,
seja ela
física ou jurídica, em face da Fazenda Pública só será possível
através de
precatório, e esse se formaliza através de um ofício requisitório
emitido pelo
juiz da causa ao Presidente do respectivo Tribunal ao qual se
vincula, para
requerer à entidade devedora a inclusão da dívida do precatório na
sua
proposta próxima orçamentária.
O ofício requisitório nada mais é do que uma solicitação, que o
juiz da
causa manda para o Presidente do Tribunal, contendo todas as
informações
necessárias para que solicite a verba necessária ao pagamento do
credor.
5.1 Requisitos do Ofício Requisitório
A expedição do precatório deve atender as formalidades previstas
no
Regimento Interno do respectivo Tribunal competente, além de
Portarias e
Resoluções. O atual Regimento Interno do Tribunal de Justiça de
Minas Gerais,
que entrou em vigor no dia 25 de setembro de 2012, prevê
requisitos
essenciais do ofício requisitório:
Art. 400 - O ofício requisitório, que será numerado e mencionará a
comarca e vara de origem, somente poderá ser processado e
transformado em precatório quando atendidos os seguintes requisitos
fornecidos pelo juízo da execução: I - número do processo de
execução e data do ajuizamento do processo de conhecimento; II -
natureza da obrigação a que se refere o pagamento; III - nomes das
partes, com a indicação do Cadastro de Pessoas Físicas - CPF ou
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas - CNPJ, nome do procurador
da parte, com o CPF e número de inscrição na Ordem dos Advogados do
Brasil - OAB; IV - nomes e números dos beneficiários no CPF ou no
CNPJ, inclusive quando se tratar de advogados, peritos, incapazes,
espólios, massas falidas, menores e outros; V - natureza do
crédito; VI - valor individualizado por beneficiário, contendo
valor e natureza dos débitos compensados, bem como valor
remanescente a ser pago, se houver, e valor total da requisição;
VII - data-base considerada para efeito de atualização monetária
dos valores;
34
VIII - data do trânsito em julgado da sentença ou acórdão no
processo de conhecimento e cópia da respectiva decisão; IX - data
do trânsito em julgado dos embargos à execução ou impugnação, se
houver, acompanhadas de cópia da respectiva decisão ou data do
decurso de prazo para sua oposição; X - data em que se tornou
definitiva a decisão que determinou a compensação dos débitos
apresentados pela Fazenda Pública na forma dos §§ 9º e 10 do art.
100 da Constituição da República; XI - valor total, por
beneficiário, do crédito executado, em se tratando de requisição de
pagamento parcial, complementar, suplementar ou correspondente a
parcela da condenação comprometida com honorários de advogado, por
força de ajuste contratual; XII - data de nascimento do
beneficiário e se portador de doença grave, na forma da lei, em se
tratando de precatório de natureza alimentícia; XIII - data de
intimação da entidade de Direito Público devedora para fins do
disposto nos §§ 9º e 10 do art. 100 da Constituição da República,
ou, nos casos em que tal intimação for feita no âmbito do Tribunal,
data da decisão judicial que dispensou a intimação em primeira
instância; XIV - memória detalhada de cálculos efetuados, com
inclusão do valor principal da dívida, taxa de juros e a forma do
seu cálculo, índices e base de cálculo da correção monetária e
multa, se houver; XV - apresentação do ofício em duas vias
autenticadas pelo escrivão da secretaria do juízo da execução, ou
por seu substituto legal; XVI - certidão de inexistência de
impugnação à expedição do requisitório, referente à parte
incontroversa do valor da execução; XVII - expedição
individualizada, por credor, ainda que exista litisconsórcio; XVIII
- procurações outorgadas aos advogados por todos os credores nas
quais constem nomes legíveis, número de inscrição na OAB, CPF e
endereço, desde que o credor os tenha constituído com poderes
expressos para a fase de recebimento do precatório. (MINAS GERAIS,
2012).
Em cada Tribunal há um modelo específico do ofício requisitório,
mais
em todos devem conter as informações que consta no art. 400 que
acabamos
de ler, pois elas estão previstas literalmente no art. 5º da
Resolução nº 115 do
Conselho Nacional de Justiça que dispõe sobre a Gestão de
Precatórios no
âmbito do Poder Judiciário.
Segundo o Juiz da Central de Precatórios do TJMG Ramon Tácio
de
Oliveira em sua Cartilha de Precatórios, elaborada com finalidade
de
informatizar os municípios que fazem parte de Minas Gerais,
material para um
Seminário que teve como tema: Precatórios sob a ótica da Emenda nº
62/09 e
das Resoluções nºs 115 /2010 e 123 /2010 do Conselho Nacional de
Justiça-
Conciliações em análise, realizado pela Escola Judicial
Desembargador Edésio
35
Fernandes (EJEF), do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais,
em Abril
de 2011, o oficio requisitório incompleto será devolvido ao juízo
de execução:
Sem o fornecimento completo dos dados ou documentos, o ofício
requisitório será devolvido ao juízo da execução para
regularização, ficando cancelado o registro do protocolo desse
oficio. Após envio ao Tribunal das informações e documentos
completas, novo registro de protocolo para fins da cronologia será
aberto..”(OLIVEIRA,2011,p.10).
Além da importância do ofício requisitório que é o fornecimento
completo
dos dados do futuro precatório, pois o título executivo em face da
Fazenda
Pública só tornara precatório após a provação do ofício, ele será
responsável
para determinar o ano de vencimento do precatório. Prevê o §5º do
art. 100 da
Constituição Federal que: “É obrigatória a inclusão, no orçamento
das
entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de
seus
débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes
de
precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o
pagamento
até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores
atualizados
monetariamente” (BRASIL,1988).
As requisições recebidas no tribunal até 1º de julho de um ano,
são
convertidas em precatórios e incluídas na proposta orçamentária do
ano
seguinte. Já as requisições recebidas no tribunal após 1º de julho,
são
convertidas em precatórios e incluídas na proposta orçamentária do
ano
subsequente. O pagamento dos valores inscritos na proposta
orçamentária,
uma vez convertida em Lei, deve ser efetuado dentro do respectivo
exercício
orçamentário, mediante depósito junto ao Tribunal requisitante,
observadas as
regras aplicáveis a cada tipo de crédito, regime especial ou geral
que
abortaremos mais a frente.
Portanto, um precatório que tenha seu ofício requisitório
protocolizado
no respectivo Tribunal competente na data de 30 de Junho de 2012, e
que
tenha sido aprovado por constar todas as informações necessárias,
terá o seu
vencimento no ano de 2013. Já o precatório que tenha seu ofício
requisitório
protocolizado e aprovado no respectivo Tribunal competente na data
de 1º de
Julho de 2012, terá o seu vencimento no ano de 2014.
36
6 REGIME PARA PAGAMENTO DOS PRECÁTORIOS
Existem dois tipos de regimes para o pagamento dos precatórios,
o
regime geral e o regime especial. Essa é outra novidade que a
Emenda
Constitucional nº 62 de 2009 trouxe. Falar sobre o regime é falar,
de grosso
modo, a forma e quando que a entidade devedora irá realizar o
pagamento do
precatório para o seu credor. Dependendo do regime essa divisão
será é
benéfica para os devedores, já para os credores, poderá ser uma
lastima.
Regime especial de pagamento de precatórios é o regime que
permite
que a dívida de precatórios seja paga em 15 anos, seja pela divisão
do seu
estoque em parcelas anuais, seja pela destinação de percentuais,
entre 1% a
2%, que incidirão sobre a receita corrente liquida da entidade
devedora. Estão
enquadrados nesse regime os Estados, Distrito Federal e Municípios
em mora
no pagamento vencidos, relativos à sua Administração direta e
indireta, em
10/12/2009.
Prevê o art. 97 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórios
(ADCT):
Art. 97. Até que seja editada a lei complementar de que trata o §
15 do art. 100 da Constituição Federal, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios que, na data de publicação desta Emenda
Constitucional, estejam em mora na quitação de precatórios
vencidos, relativos às suas administrações direta e indireta,
inclusive os emitidos durante o período de vigência do regime
especial instituído por este artigo, farão esses pagamentos de
acordo com as normas a seguir estabelecidas, sendo inaplicável o
disposto no art. 100 desta Constituição Federal, exceto em seus §§
2º, 3º, 9º, 10, 11, 12, 13 e 14, e sem prejuízo dos acordos de
juízos conciliatórios já formalizados na data de promulgação desta
Emenda Constitucional. [...] II - pela adoção do regime especial
pelo prazo de até 15 (quinze) anos, caso em que o percentual a ser
depositado na conta especial a que se refere o § 2º deste artigo
corresponderá, anualmente, ao saldo total dos precatórios devidos,
acrescido do índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança e de juros simples no mesmo percentual de juros incidentes
sobre a caderneta de poupança para fins de compensação da mora,
excluída a incidência de juros compensatórios, diminuído das
amortizações e dividido pelo número de anos restantes no regime
especial de pagamento. (BRASIL,1988).
Essa é uma das novidades, se não for à maior, que é
extremamente
criticada, sendo que os credores deverão esperar por mais tempo
para que os
seus créditos sejam pagos pelo ente devedor, segundo Pedro
Lenza:
37
Como se vê, além do parcelamento em até 8 anos que já havia sido
instituído pelo art. 33 do ADCT e da moratória fixada pela EC
n.20/2000 em até 10 anos (art. 78 do ADCT), a EC n.62/2009
estabelece novo e desarrazoado parcelamento de até 15 anos, o que
já vem sendo caracterizado como o maior e mais desastroso ´´ calote
oficial `` e, ainda, atrelado a percentuais sobre as receitas
correntes líquidas das entidades federativas, fixados em valores
nada razoáveis.(LENZA, 2010, p.627).
Atualmente não há mais a possibilidade do ente devedor optar para
qual
será o seu regime de pagamento dos precatórios, especial ou comum,
pois os
entes devedores tinham o prazo de até 90 dias contados a partir de
9 de
dezembro de 2009 para fazer essa escolha.
Prevê o art. 3º da EC 62/2009:
Art. 3º A implantação do regime de pagamento criado pelo art. 97 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias deverá ocorrer no
prazo de até 90 (noventa dias), contados da data da publicação
desta Emenda Constitucional. (BRASIL, 2009)
Regime Geral de pagamento de precatório é o regime em que
Estados,
Distrito Federal e Municípios não estavam em mora no pagamento de
seus
precatórios vencidos, relativos à sua administração direta e
indireta, em 10 de
dezembro de 2009. O ente devedor que se enquadra no regime geral
de
pagamentos deverá realizar o pagamento integral do precatório não
cabendo a
possibilidade de parcelamento do valor do seu débito.
O Estado de Minas Gerais, pelo decreto Decreto n. 45.317/10,
do
Governador do Estado de Minas Gerais, optou em parcelar o pagamento
dos
precatório no prazo de 15 anos, ou seja, pelo regime
especial.
38
pagamento dos precatórios demorado, pois a EC 62/2009 regula
algumas
formas em que o credor poderá adiantar parte seu crédito, são
três
possibilidades: credor do precatório de natureza alimentar que seja
maior de 60
anos ou portador de doença grave receber como adiantamento o valor
de até o
triplo do valor fixado em lei para obrigações de pequeno valor;
acordo direito do
credor com seu ente devedor através de leilões, abrindo mão de
parte do seu
crédito e por último é a possibilidade de ceder o seu precatório
para terceiros.
7.1 Natureza dos precatórios
Essa é uma das novidades que a Emenda Constitucional 62/2009
trouxe, existem dois tipos de natureza dos precatórios, o de
natureza alimentar
e natureza comum. Os de natureza alimentícia compreendem aqueles
que
estão listados no §1º do art. 100 da Constituição Federal:
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal,
Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença
judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de
apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos,
proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações
orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009). (Vide
Emenda Constitucional nº 62, de 2009)
§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles
decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas
complementações, benefícios previdenciários e indenizações por
morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em
virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos
com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles
referidos no § 2º deste artigo.(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009) (BRASIL,1988).
39
Nessa natureza de precatório, alimentar, existe mais uma divisão,
que
também esta prevista no art. 100 da Constituição Federal no
parágrafo 2º, que
prevê para aqueles credores de precatório de natureza alimentar que
tenha 60
anos de idade ou mais na data do protocolo do ofício requisitório,
ou que sejam
portadores de doença grave terão parte de seus créditos pagos
com
preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente
ao triplo do
valor do RPV do ente devedor fixado em lei. É uma preferência sobre
os
precatórios de natureza alimentar.
As doenças consideradas graves estão listadas no art. 13 do
da
Resolução Nº 155 de 2010 do Conselho Nacional de Justiça:
Art. 13. Serão considerados portadores de doenças graves os
credores acometidos das seguintes moléstias, indicadas no inciso
XIV do artigo 6º da Lei n.º 7.713, de 22 de dezembro de 1988, com a
redação dada pela Lei n.º 11.052/2004: a) tuberculose ativa; b)
alienação mental; c) neoplasia maligna; d) cegueira; e) esclerose
múltipla; f) hanseníase; g) paralisia irreversível e incapacitante;
h) cardiopatia grave; i) doença de Parkinson; j) espondiloartrose
anquilosante; l) nefropatia grave; m) estado avançado da doença de
Paget (osteíte deformante); n) contaminação por radiação o)
síndrome da deficiência imunológica adquirida (AIDS); p)
hepatopatia grave; k) moléstias profissionais. Parágrafo único.
Pode ser beneficiado pela preferência constitucional o credor
portador de doença grave, assim considerada com base na conclusão
da medicina especializada comprovada em laudo médico oficial, mesmo
que a doença tenha sido contraída após o início do processo.
(RESOLUÇÂO Nº155, 2010)
Lembrando que os créditos de requisição pequeno valor (RPV)
estão
fora das regras de expedição de precatórios.
Conforme Oliveira explica sobre RPV :
Trata-se de condenações judiciais em face da Fazenda Pública de
valor igual ou inferior a 60 salários-mínimos para a esfera
federal, 40 salários-mínimos para a Fazenda dos Estados e do
Distrito Federal e 30 salários-mínimos para a dos Municípios. É
categórico ao afirmar
40
que para os créditos de pequeno valor não há necessidade de
expedição de oficio precatório. A ordem é dada diretamente pelo
juiz da execução à autoridade administrativa.( OLIVEIRA, 2006,
p.524).
É necessário que aqueles que possuem esse direito de
pagamento
prioritário, o de natureza alimentícia, tenham 60 anos de idade ou
mais na data
de expedição do precatório. Já aqueles que são portadores de doença
grave
não é necessário que sua doença tenha ocorrido antes da data de
expedição
do precatório.
Já o precatório de natureza comum são os demais casos. No que
se
refere aos precatórios de natureza comum a Emenda Constitucional
foi muito
infeliz não se atentando para o princípio constitucional da
isonomia, pois os
credores de precatórios de natureza comum que tenham mais de 60
anos ou
que sejam portadores de doença grave não possuem o direito de
receber o
pagamento prioritário.
7.2 Cessão
Outra possibilidade do credor adiantar parte do seu crédito será
ele
ceder o seu precatório para um terceiro, nesse caso o precatório
não se
extingue, sendo que apenas irá mudar de credor.
O autor César Fiuza, de forma bem singela, traz a definição de
cessão:
“È ato pela qual o credor transfere a terceiro seu direito de
crédito contra o
devedor.” (FIUZA, 2009, p. 367).
A cessão de precatório segue as mesmas normas estabelecidas
no
Código Civil de 2002 nos arts. 286 e seguinte.
O credor poderá ceder total ou parcialmente para terceiro sem
precisar
da concordância do ente devedor , sendo que o novo credor do
precatório não
terá direito ao pagamento prioritário e tal cessão só produzirá
efeitos após a
comunicação ao Tribunal de origem e à entidade devedora, por meio
de
petição.
Alguns credores, ao ceder seu precatório, agem de má-fé,
transferindo o
mesmo crédito a várias pessoas, transferindo até mesmo a parte do
credito que
cabe ao seu advogado. O ente devedor e respectivo o Tribunal de
Justiça não
se responsabiliza sobre a cessão, pois essa é feita extra
judicialmente por
escritura pública. Caso ocorra a cessão do crédito do advogado,
deverá esse
41
mover uma ação em face do seu credor, e caso haja várias cessões
sobre o
mesmo valor, prevalece-a aquela que se completar com tradição do
titulo de
crédito, conforme o artigo 291 do Código Civil: “ocorrendo várias
cessões do
mesmo crédito, prevalece a que se completar com a tradição do
título do
crédito cedido.” (BRASIL, 2002).
Por isso é muito importante que o cessionário fique atento ao
crédito que
esta adquirindo, assim como o advogado da causa ficar atento a
tramitação do
procedimento do precatório, pois por ser um procedimento muito
demorado,
muitos advogados só consultam o precatório anos após à sua
expedição,
somente quando chega o dia do pagamento, sendo que nesse dia
é
surpreendido pela cessão, realizado pelo seu cliente, do crédito
total do
precatório não ressalvando a sua parte.
7.3 Leilões
Essa é mais uma novidade que a EC 62/2009 trouxe, é previsto no
Art.
97 § 6º e 8º que pelo menos 50% (cinquenta por cento) dos
recursos
financeiros do ente devedor serão utilizados para pagamento de
precatórios em
ordem cronológica de apresentação, respeitadas as preferências
dos
pagamentos prioritários, sendo que a aplicação dos outros 50% dos
recursos
poderão ser destinados aos pagamento dos precatórios por meio do
leilão,de
pagamento à vista em ordem única e crescente de valor, ou por
acordo direto
com os credores.
Essa possibilidade é alvo de muitas críticas, sendo que, para
muitos,
nesse procedimento não obedece a ordem cronológica dos precatórios,
pois
quem abrir mão de maior parte do seu crédito será selecionado para
fechar o
acordo com o ente devedor. Sendo assim esse procedimento, para
muitos, fere
o princípio da isonomia.
Uma das criticas sobre esse tema é o do autor CARVALHO FILHO:
Reflete, na verdade, um total desrespeito aos credores dos entes
públicos, que, depois de intermináveis demandas judiciais, ainda
têm que sujeitar-se à inadimplência do Estado para pagamento de
seus débitos. O leilão de precatórios, por exemplo, novidade criada
pela já citada EC 62/2009, é algo que causa indignação e repúdio
por parte da sociedade, sendo, com justiça, alvo de severas
críticas: de fato, para evitar a demora no recebimento dos
créditos, os credores podem habilitar-se para negociar seus
precatórios comdeságio, numa
42
autêntica fraude oficial contra os titulares de créditos públicos.
Estes não dispõem de alternativas: ou recebem os créditos nas
calendas (o que é o mesmo que nãoreceber) ou, se quiserem
recebê-los, serão obrigados a aceitar valor inferior ao do crédito
original. (CARVALHO FILHO, 2010, p.1226)
O credor que desejar se habilitar nesse leilão deverá abrir mão de
no
mínimo 50% do seu crédito para que o ente devedor feche o acordo
para com
ele. Essa é a modalidade menos vantajosa para o quer adiantar o seu
crédito.
7.4 Melhor escolha
Diante dessas três possibilidades que o credor possui para adiantar
o
seu crédito, deverá analisar aquela na qual irá perder menos
dinheiro.
Nem todos terão a possibilidade de acumular esses adiantamentos,
mais
para aqueles que possuem o direito do pagamento prioritário,
maiores de 60
anos ou portadores de doença grave, a melhor forma será a
seguinte:
primeiramente solicitar o seu pagamento prioritário perante o
Tribunal de
Justiça do seu respectivo ente devedor, após o recebimento do o
valor
equivalente ao triplo do valor do RPV, esse, em vez de abrir mão de
no mínimo
de 50% do crédito restante em leilões realizados pelos Tribunais
Superiores, é
melhor ceder o seu precatório para um terceiro, sendo que hoje é
muito comum
empresas de grande porte e ate mesmo instituições bancarias
adquirem
precatório mais em alguns casos obter uma compensação
tributária.
Percebemos que para o credor, só em último caso, é viável fazer
a
escolha pelos leilões, sendo que essa é a modalidade que terá uma
perda
maior de dinheiro.
8 SEQUESTRO
O sequestro surgiu em resposta da indagação do que poderá ser
feito
quando o ente devedor não for satisfeito o pagamento do seu débito.
Assim
como uma pessoa jurídica qualquer, que possui deveres e direitos, o
estado
possui uma responsabilidade civil. No artigo 37 § 6º da CF/88
prevê: “as
pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,
nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso
contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.” (BRASIL, 1988)
O sequestro é uma garantia que o credor possui para que seu
crédito
seja pago dentro do prazo e da forma estabelecida na Constituição
Federal,
pois caso o ente devedor não respeite o seu prazo, o que não é
curto, sofrerá o
sequestro. É importante saber que o sequestro será nas verbas
públicas do
devedor.
Na realidade, o seqüestro de rendas públicas é uma medida
constritiva, de natureza extraordinária, que se justifica pela
inversão da ordem de precedência de apresentação e de pagamento de
determinado precatório. (BULOS, 2011, p.1273)
As formas de possibilidade do seqüestro irá variar de acordo com
o
regime de pagamento do Devedor.
O sequestro irá ocorrer no regime geral somente quando
ocorrer
preterimento de seu direito de precedência ou de não alocação
orçamentária
do valor necessário à satisfação do seu débito, nesse regime cabe
ao credor
denunciar o devedor para o Tribunal sob quebra de ordem de
pagamento. Já
no regime especial o cabimento do seqüestro será bastante diferente
devido as
peculiaridades que esse regime possui.
No regime especial, o pedido do credor não importa, pois a CF
estabeleceu o parcelamento do débito em até 15 anos. Assim, é dever
de
ofício do Tribunal de Justiça do ente dever em mora, sob pena
de
responsabilidade do Presidente desse Tribunal a instauração do
procedimento
de sequestro caso não tenha havido o depósito da parcela anual ou
do
percentual de duodécimo estabelecido no decreto do ente devedor,
conforme
prevê o parágrafo 7º do art. 100 da CF:
44
Art. 100. [...] [...] § 7º O Presidente do Tribunal competente que,
por ato comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a
liquidação regular de precatórios incorrerá em crime de
responsabilidade e responderá, também, perante o Conselho Nacional
de Justiça.
O sequestro é uma punição autorizada pelo Presidente do
Tribunal,
correspondente ao ente devedor, para o Estados, Distrito Federal e
Municípios
que não arcarem com o pagamento, ou se não se atenta para a
ordem
cronológica dos seus credores. Essa penalidade recai nas contas
conta
bancarias dos devedores até o limite do valor não liberado.
Caso persista a omissão pelo ente devedor em face do não
pagamento
do precatório ou do depósito não realizado, o parágrafo 10 do
inciso III e inciso
IV alínea ´´a ``e ´´b`` art. 97 do ADCT prevê as penalidades para
os devedores
caso persista a omissão no pagamento:
Art. 97. [...] § 10. [...] III - o chefe do Poder Executivo
responderá na forma da legislação de responsabilidade fiscal e de
improbidade administrativa IV - enquanto perdurar a omissão, a
entidade devedora: a) não poderá contrair empréstimo externo ou
interno; b) ficará impedida de receber transferências
voluntárias;
45
9 COMPENSAÇÃO
Compensação é tratada no direito civil no art. 368 como: ´´se
duas
pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as
duas
obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.`` (BRASIL,
2002).
Compensação de precatório não se distancia da compensações tratada
no
direito ora citada.
Casa houver duas pessoas, seja física ou jurídica, que são ao
mesmo
tempo devedoras e credoras uma para com a outra, poderá ocorrer
a
compensação, que terá dedução do valor a ser pago por precatório
do
montante da divida do credor perante a Fazenda Pública.
A resolução do CNJ nº 115 regula como será o procedimento da
compensação. O juiz da execução intimará o ente devedor para, que
no prazo
de 30 dias, informar a existência de débitos do credor do
precatório, caso haja,
deverá ser abatido, a título de compensação, valor correspondente
aos débitos
líquidos e certos, sob pena de perda do direito de abatimento. O
juiz da
execução encaminhara o ofício requisitório para o Presidente do
respectivo
Tribunal, informando o valor total da obrigação, bem como o valor
da
compensação.
A Lei nº 12.431/2011 regula compensação entre precatórios e
débitos
com a Fazenda Pública:
Art. 30. A compensação de débitos perante a Fazenda Pública Federal
com créditos provenientes de precatórios, na forma prevista nos §§
9o e 10 do art. 100 da Constituição Federal, observará o disposto
nesta Lei. . § 1o Para efeitos da compensação de que trata o caput,
serão considerados os débitos líquidos e certos, inscritos ou não
em dívida ativa da União, incluídos os débitos parcelados. § 2o O
disposto no § 1o não se aplica a débitos cuja exigibilidade esteja
suspensa, ressalvado o parcelamento, ou cuja execução esteja
suspensa em virtude do recebimento de embargos do devedor com
efeito suspensivo, ou em virtude de outra espécie de contestação
judicial que confira efeito suspensivo à execução. [...]§ 6o
Somente poderão ser objeto da compensação de que trata este artigo
os créditos e os débitos oriundos da mesma pessoa jurídica devedora
do precatório. (Redação dada pela Lei nº 12.431, de 2011).
Por sua vez, munidos desse documento probatório da mora da Fazenda
Pública, cabe ao contribuinte pleitear administrativamente a
compensação do crédito tributário com o débito emergente do
precatório não depositado no prazo legal, porém, caso negado essa
pretensão pela autoridade fazendária, face à inexistência do
contencioso administrativo, restar-lhe-á aberta a via judicial,
sendo que a demanda poderá encampar o caráter mandamental,
cautelar, consignatório ou declaratório, no sentido de restaram
devidamente vislumbrados os elementos ensejadores da compensação.
(TAVARES, 2002, p.1.).
Neste sentido Machado nos ensina que:
Na verdade, o direto do contribuinte à compensação tem inegável
fundamento na Constituição. Isto quer dizer que nenhuma norma
inferior pode, validamente, negar esse direito, seja diretamente,
seja por via oblíqua, tornando impraticável o seu exercício. Assim,
a questão de saber se o direito à compensação tem ou não fundamento
constitucional é, em outras palavras, a questão de saber se valem
as normas jurídicas inferiores que, de algum modo, inviabiliza, a
compensação. O direito de compensar é decorrência natural da
garantia dos direitos de crédito, que consubstanciam parcelas do
direito de propriedade combinada com outros preceitos
constitucionais. Seria absurdo pretender que alguém, sendo credor
e, também, devedor da mesma pessoa, pudesse exigir daquela o
pagamento de seu crédito, sem que estivesse também obrigado a pagar
o seu débito. A compensação é, na verdade, um efeito inexorável das
obrigações jurídicas e desse contexto não se pode excluir a fazenda
pública. A Constituição Federal de 1988 diz que a República
Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito
e tem como fundamento, entre outros, a ``cidadania´´. Coloca entre
os princípios fundamentais de nossa República o de construir uma
sociedade livre, jus e solidária. Diz que ``todos são iguais
perante a lei``, e que são garantidos os direitos, entre os quais o
direito á propriedade. E estabelece, ainda, que a Administração
obedecerá aos princípios que enumera, entre os quais da moralidade.
( MACHADO, 2005, p.214).
A possibilidade de compensação do precatório é um dos pontos que
a
EC 62/2009 sofre criticas. O §9º do art. 100 da Constituição
Federal prevê uma
obrigação do ente devedor que não respeita o princípio do
contraditório:
Art. 100 [...] § 9º No momento da expedição dos precatórios,
independentemente de regulamentação, deles deverá ser abatido, a
título de compensação, valor correspondente aos débitos líquidos e
certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o
credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas
vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução
esteja suspensa em virtude de contestação administrativa ou
judicial.(BRASIL, 1988) (grifo nosso) .
47
Nesse sentido, ABRAHAM diz:
[...] esta compensação acarreta a expropriação imediata do direito
pecuniário do credor do precatório, sem exigir a sua prévia
manifestação ou contemplar um rito formal de defesa e
contraditório, sem exigir a sua prévia manifestação ou contemplar
um rito formal de defesa e contraditório, e nem mesmo estabelecer o
concurso de credores, típica norma garantidora do princípio da
igualdade. (ABRAHAM, 2010, p. 230).
Percebemos um claro procedimento unilateral, por parte do Estado,
em
garantir o seu credito em face do seu próprio credor, mas não
podemos dizer
que a compensação do precatório seja errada.
Ora, esta sendo abatido do crédito do credor um valor que já do
seu
conhecimento e que não esteja suspenso administrativamente ou
judicialmente, pois para que se ocorra a compensação, como já visto
no § 9º
do art. 100 da CF, é necessário que o débito seja liquido e
certo.
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10 PRECATÓRIO EM OUTROS PAISES
O Brasil, desde o seu descobrimento, é muito conhecido e
também
admirado no âmbito internacional. Nosso país é famoso por causa da
gente
bonita e simpática, conhecido pelo carnaval, pela caipirinha, pelo
futebol,
conhecido pelas riquezas naturais como à floresta Amazônica e entre
outras
descobertas e invenções como a realizada por brasileiros, como o
mineiro
Santos Dumont, em 1906, que inventou o avião.
Infelizmente o Brasil não é conhecido, internacionalmente, somente
de
coisas boas, mas também de coisas ruins, que dentre essas está o
precatório.
O precatório é uma criação brasileira que inexiste no cenário
mundial,
causando até mesmo espanto em palestras ou fóruns internacionais
quando se
discutido a forma em que os países pagam suas dívidas.
Percebe-se algumas semelhanças na forma de pagamento da dívida
da
Fazenda Pública em alguns países, como por exemplo, na Argentina,
sendo
que a diferença mais marcante é no caso em que o ente devedor não
pague o
seu débito, nesse sentido SILVA diz:
[...] observa, na Argentina, a principio, o procedimento a ser
adotado para o cumprimento das sentenças contra a Fazenda pública
também é a requisição de pagamentos através da inclusão de verbas
em orçamento. Todavia, caso não seja realizado o deposito da
quantia requisitada dentro de prazo previsto em regulamento, após a
publicação do orçamento, a cobrança da condenação pode seguir o
procedimento de execução forçada.(SILA, 2011, p.112).
Já em outros países, a forma de pagamento das dívidas da
Fazenda
Pública é totalmente diferente, pois é de uma forma célere. Nos
Estados
Unidos não é há a possibilidade da Fazenda Pública ser executada
para o
pagamento de um crédito, o pagamento das dívidas são realizados em
acordos
realizados entre os entes devedores e os seus respectivo credores,
DANTAS
explica que:
Existe o instituto da sovergn immunity, definido no Black´s Law
Dictionary como a imunidade estabelecida em favor dos governantes
de não serem processados em suas próprias cortes sem o seu
consentimento. (DANTAS, 2005, p.93).
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Também é desconhecido a forma de pagamento de dívidas por via
de
precatório no continente europeu, na Espanha à autoridade,
funcionários e
agentes são responsáveis diretamente pelo cumprimento do julgado,
cabendo-
lhes multa caso não ocorra o pagamento.
Nesse país, há um procedimento em que, transitada em julgado a
sentença, se estabelece um prazo de dois meses – ou o prazo que a
própria sentença fixe, sempre em termos mais reduzidos em atenção à
``natureza do reclamado e à efetividade da sentença`` - para que a
Administração cumpra o julgado. (DANTAS, 2005, p.92).
A Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, preocupada com a fama
do
Brasil no cenário mundial, usou como argumento na ADI nº 4357,
dentre várias
outras críticas, tem argumentado que não fica bem visto
internacionalmente a
forma que o Brasil vem pagando os precatórios:
Vivemos a insegurança jurídica e legislativa no seu ápice. Se este
Pretório Excelso tardar a concluir o julgamento das
inconstitucionalidades da Emenda 62 – que já vigora há dois anos e
meio – ou não dirimir as vicissitudes da execução judicial contra o
poder público, o Brasil, que vem ocupando no cenário mundial um
papel político e econômico de extrema relevância, estará fadado a
ser internacionalmente conhecido como o país do calote público.
(BRASIL, 2009).
Por não existir em nenhum outro país uma forma de pagamento
das
dívidas da Fazenda Pública como a do Brasil, podemos dizer que o
precatório
é uma criação exclusivamente brasileira. Criação essa que não trás
boa fama
para o nosso país, pois, no cenário mundial, o que importa é o país
que tem
interesse de pagar as suas dívidas e não ficar omisso e prolatando
o máximo
possível o momento do pagamento do débito como ocorre no
Brasil.
50
11 CONSTITUCIONALIDADE
Esta em trâmite, desde do mês de dezembro do ano de 2009, a
ADI
(Ação Direta de Inconstitucionalidade) nº 4357 ajuizada por seis
entes de
classe, sendo um desses Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do
Brasil - CFOAB para reformar a EC 62/09.
Além dessa ADI ainda há outras três que questionam a
constitucionalidade da EC 62/09, a ADI 4372 proposta pela
Associação
Nacional dos Magistrados Estaduais (ANAMAGES), a ADI 4400 proposta
pela
Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho
(ANAMATRA) e
a ADI 4425 proposta pela Confederação Nacional da Indústria
(CNI).
Em todas essas ADIs os pontos discutidos da EC 62/09 são
praticamente os mesmo, são críticas do texto de tal emenda, que,
segundo os
requerentes, devem ser declarados inconstitucionais por ferirem
vários
princípios constitucionais.
Um dos pontos abortados pela ADI nº 4425, também pelas outras
ADIs,
é da violação ao princípio da igualdade previsto no art. 5º da
Constituição da
República.
O cidadão comum tem o direito de perguntar-se: por que o Estado
deve ter o privilégio de pagar qualquer dívida de modo parcelado,
após o trânsito em julgado da condenação judicial, e esse mesmo
privilégio não possuem os devedores comuns, nem mesmo aqueles que
são devedores do próprio Estado? (BRASIL, 2010).
A ADI nº 4372 aponta algumas supostas, supostas porque ainda não
foi
julgado pelo Supremo Tribunal Federal, inconstitucionalidades na
redação da
EC62/09, sendo que dentre os pedidos da petição inicial, estão que
o Supremo
Tribunal Federal declare a inconstitucionalidade dos art. 100, §2º,
§9º, § 10,
§12 da Constituição da República e artigo 97 §1, §2º, §6º, §7º,
§8º, §9º e §16
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
Dentre esses parágrafos que a ADI nº 4372, os § 9º e § 10 trata
da
compensação, sendo que ANAMAGES aponta como inconstitucionais por
ser
uma modalidade confiscatória, indo de contra aos princípios da
liberdade (art.
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5º ´´caput`` da Constituição Federal) e da propriedade (art. 5º,
XXII da
Constituição Federal):
Percebe-se, pela leitura do dispositivo, que essa obrigatoriedade
de compensação não leva em consideração a vontade do titular do
crédito, em desrespeito ao principio da autonimia da vontade.
Institui- se, a bem da verdade, meio coercitivo para o pagamento de
débitos tributários sem permitir que o cidadão possa manifestar seu
interesse na compensação. (BRASIL, 2009).
A ADI nº 4400 pede que seja declarada a inconstitucionalidade do §
15
do art. 100 da Constituição Federal por negar o acesso ao Poder
Judiciário:
O § 15 do artigo 100, ao permitir que o legislador complementar
estabeleça o ``regime especial de crédito de precatórios, ...,
dispondo sobre vinculações a receita líquida e forma e prazo de
liquidação``, nega o acesso ao Poder Judiciário – portanto, violam
direitos e garantias individuais, que estariam sendo abolidos, em
contrariedade ao inciso IV, do § 4º, do art. 60 da CF --, uma vez
que, ao admitir a limitação do pagamento à possibilidade do
devedor, impede que se concretize a entrega da prestação
jurisdicional de forma efetiva e eficaz; (BRASIL, 2010)
O assunto mais criticado em todas ADIs e também mais debatido
e
abortado sobre a EC 62/09 no mundo jurídico é do prazo que os
entes
devedores possuem para realizarem os pagamento. Atualmente está em
vigor
o 3º estágio moratória, o de 15 anos.
Esse extenso prazo vai de contra os princípios do devido processo
legal
( art. 5º, LVI, CF/88) e da duração razoável do processo (art. 5º,
LXXVIII,
CF/88):
O prazo de até 15 (quinze) anos não é adequado nem razoável,
mormente tendo-se em conta que será ainda mais dilatado pela
interposição de sucessivos recursos pela Advocacia Pública por
ocasi&atild