440
Janeiro / Fevereiro de 2007 Fisioterapia B r a s i l Ano 8 - n o 1 ISSN 1518-9740 www.atlanticaeditora.com.br Síndrome patelofemoral Taping patelar e fisioterapia Desempenho e capacidade funcional após reabilitação Gravidez Dor lombar e idade gestacional Cardiorrespiratório Dor e função pulmonar após revascularização miocárdica Fisioterapia após cirurgia com circulação extracorpórea Ensino Estágios curriculares em fisioterapia

[E-Book PTBR] Fisioterapia 2007

Embed Size (px)

Citation preview

Brasil Ano 8 - no 1

Janeiro / Fevereiro de 2007ISSN 1518-9740

Sndrome patelofemoral Taping patelar e fisioterapia Desempenho e capacidade funcional aps reabilitao

Fisioterapia

Gravidez Dor lombar e idade gestacional

Cardiorrespiratrio Dor e funo pulmonar aps revascularizao miocrdica Fisioterapia aps cirurgia com circulao extracorprea

Ensino Estgios curriculares em fisioterapia

www.atlanticaeditora.com.br

Brasil Ano 8 - no 2

Maro / Abril de 2007ISSN 1518-9740

Traumato Luxao anterior do ombro Leso obsttrica de plexo braquial

Fisioterapia

Postura Densidade de colches

Neuro Treinamento aerbico dos membros em paraplegia Treienamento da marcha na diplegia espstica

Laserterapia Laser vs. medicamento antiinflamatrio

www.atlanticaeditora.com.br

Brasil Ano 8 - no 3

Maio / Junho de 2007ISSN 1518-9740

Biomecnica Lordose lombar e marcha em esteira inclinada

Fisioterapia

Ombro Cinesioterapia do ombro aps cirurgia do cncer da mama Avaliao do estado funcional do ombro

Eletromiografia Ativao muscular sobre a prancha de equilbrio

Neuro funcional Treinamento da marcha na diplegia espstica Acesso de crianas com paralisia cerebral fisioterapia Paraplegia e treinamento da musculatura respiratria

Mulher Exerccios de fortalecimento do assoalho plvico

www.atlanticaeditora.com.br

Brasil Ano 8 - no 4

Julho/Agosto de 2007ISSN 1518-9740

Cncer da mama Patologia do ombro no pr-operatrio

Fisioterapia

Esporte Atitudes escoliticas em atletas de jud Leses em atletas de montaria em touros

Gravidez Incontinncia no ps-parto

Cardiorrespiratrio Avaliao respiratria na espondilite anquilosante

www.atlanticaeditora.com.br

Brasil Ano 8 - no 5

Setembro/Outubro de 2007ISSN 1518-9740

Cardiorrespiratrio Percusso manual e parmetros cardacos Avaliao pulmonar aps cirurgia cardaca Insuficincia mitral

Fisioterapia

Vertigem Fisioterapia e disfuno vestibular

Laserterapia Laser e estimulao da osteognese Laser e inflamao granulomatosa

Prostata Incontinncia urinria aps prostatectomia radical

Traumato Sndrome da dor fmoro-patelar

www.atlanticaeditora.com.br

Brasil Ano 8 - no 6

Novembro / Dezembro de 2007ISSN 1518-9740

Tecnologias Iontoforese na fisioterapia Iontoforese e eletrodos mveis Ondas de choque na fascite plantar

Fisioterapia

Trabalho Escala de estressores em linhas de produo

Dana Hiperlordose e posio dos ps

Neurologia Doena de Parkinson e desempenho cognitivo-motor Reabilitao e mirror visual feedback

Queimaduras Reabilitao e queimaduras torcicas

www.atlanticaeditora.com.br

(vol.8, n1 janeiro/fevereiro 2007 - 1~80)

Fisioterapia Brasil

EDITORIALA voz do povo a voz de Deus.......ser?, Marco Antonio Guimares da Silva ............................................................................... 3

ARTIGOS ORIGINAISAvaliao isocintica da performance funcional dos msculos quadrceps femoral e isquiotibiais de jogadores prossionais de futebol, Jos Renato Sousa Bulhes, Adriano Prado Simo, Karina Nogueira Zambone Pinto, Marcelo Tavella Navega, Stela Mrcia Gonalves Mattiello Rosa ............................................................................................................................................ 4 Anlise da eccia do taping patelar associado a um programa de tratamento sioteraputico em indivduos do sexo feminino com disfuno patelofemoral, Rafael Aleixo Favarini, Lygia Paccini Lustosa ................................................................................................................................... 9 Avaliao da dor e da funo pulmonar em pacientes submetidos cirurgia de revascularizao miocrdica, Camila Pereira Leguisamo, Moana Franken de Freitas, Natlia Fialho Maciel, Paulo Donato ................................................................................................... 14 Avaliao da progresso no desempenho e capacidade funcional em indivduos em reabilitao devido sndrome patelo femoral, Claudius de Melo Csar, Fabiana Cunha Alves, Leonardo Tadeu Napoleo Gonslves, Juliana Ocarino, Paula Lanna .......................................................... 19 Anlise da conabilidade do teste de Lasgue e do teste de Slump para vericao da tenso neural, Priscilla Hellen Martinez Blanco, Rafael Augustus de Souza Moraes, Ligia Maria Facci ..................................................................................................................... 25 Freqncia de dor lombar em grvidas e relao com a idade gestacional, Eliane de Oliveira Guedes de Aguiar, Joo Santos Pereira, Marco Antonio Guimares da Silva ...................................................... 31 Mtodo teraputico-pedaggico no tratamento da dor lombar, Tiene Deccache, Marco Antnio Guimares da Silva..................................................................................................................... 36

REVISESAmamentao e respirao bucal: abordagem sioteraputica e odontolgica, Fernanda Vargas Ferreira, Fabiana Vargas Ferreira, Zuleica Tabarelli .................................................................... 41 Reabilitao vestibular, Daniella Regina Porto Buzatti, Cntia Albertin, Silvana Teixeira Carmona, Anna Eliza Almeida Lima de Oliveira, Cludia Byrro, Lus Roberto..................................................... 47 O papel da sioterapia respiratria precoce na evoluo de pacientes submetidos cirurgia cardaca com circulao extracorprea, Clarissa Blattner, Eduardo Keller Saadi...................................... 53 Estgios curriculares em sioterapia, Lzaro Juliano Teixeira, Maria Amlia de Campos de Oliveira ........................................................................................................................................... 57 Terapia de restrio e induo do movimento em pacientes ps-AVC, Wilma Costa Souza, Adriana B. Conforto, Charles Andr ............................................................................................................. 64

ESTUDO DE CASOEfeitos da estimulao eltrica neuromuscular sobre o stiness do membro hipertnico, Luciane Aparecida Pascucci Sande, Cyntia Rogean de Jesus Alves, IsmaeI Fatarelli, Rafael Ferraz Marques, Andria Regina Hernandez, Priscila Zimbardi de Almeida ........................................................................ 69

NORMAS DE PUBLICAO ..........................................................................................................................................74 EVENTOS ..........................................................................................................................................................................76

2

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

www.fisioterapiabrasil.com.br Editor cientfico Prof. Dr. Marco Antnio Guimares da Silva (UFRRJ Rio de Janeiro) Editor assistente Dra. Karina de Lima Dias Bauru, SP e Dra. Noemi Damasceno de Oliveira Rio de Janeiro Conselho cientfico Profa. Dra. Anamaria Siriani de Oliveira (USP Ribeiro Preto) Prof. Dr. Dirceu Costa (Unimep So Paulo) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep So Paulo) Prof. Dr. Esperidio Elias Aquim (Univ.Tuiuti Paran) Profa. Dra. Ftima Aparecida Caromano (USP So Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires UBA Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin Argentina) Prof. Dr. Jones Eduardo Agne (Univ. Federal de Santa Maria Rio Grande do Sul) Prof. Dr. Jos Rubens Rebelatto (UFSCAR So Paulo) Prof. Dr. Marcus Vincius de Mello Pinto (Centro Universitrio de Caratinga MG) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York NYU Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antnio Barana (Univ. do Tringulo Mineiro UNIT Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraba UFPB Joo Pessoa) Prof Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR So Paulo) Prof. Dr. Norberto Pea (Univ. Federal da Bahia UFBA Bahia) Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires UBA Argentina) Profa Dra Tania de Ftima Salvini (UFSCAR So Paulo) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI Rio de Janeiro) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE Salvador) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dr. Hlio Pio (Rio de Janeiro) Prof. Dr. Joo Santos Pereira (UERJ Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC Santa Catarina) Grupo de assessores Dr. Jorge Tamaki (PUC Paran) Dra. Marisa Moraes Regenga (So Paulo) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Dr. Paulo Henrique Eufrsio de Oliveira (UNIRB Bahia) Prof. Dr. Paulo Heraldo Costa do Valle (UNICID So Paulo) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Cincias da Sade

Fisioterapia Brasil

Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 Rio de Janeiro RJ Tel./Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br So Paulo Praa Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 So Paulo SP Tel.: (11) 3362-2097 Recife Monica Pedrosa Miranda Rua Dona Rita de Souza, 212 52061-480 Recife PE Tel.: (81) 3444-2083 / 9204-0346 E-mail: [email protected]

Direo de arte Cristiana Ribas [email protected] Colaboradora da Redao Guillermina Arias [email protected] Atendimento ao assinante Edilaine Silva [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereo por correio ou por e-mail aos cuidados de Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 Rio de Janeiro RJ [email protected]

Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Publicidade e marketing Ren Caldeira Delpy Jr. [email protected] Assinaturas 6 nmeros ao ano:

Brasil - 1 ano: R$ 180,00 Amrica Latina - 1 ano: US$ 180,00 Europa - 1 ano: 180,00

www.atlanticaeditora.com.brIlustrao da capa: Msculos do crnio e do rosto, ilustrao de G. Devy, Trait danatomie humaine de Leon Testut, Paris, 1904.

I.P. (Informao publicitria): As informaes so de responsabilidade dos anunciantes. ATMC - Atlntica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicao pode ser reproduzida, arquivada ou distribuda por qualquer meio, eletrnico, mecnico, fotocpia ou outro, sem a permisso escrita do proprietrio do copyright, Atlntica Editora. O editor no assume qualquer responsabilidade por eventual prejuzo a pessoas ou propriedades ligado confiabilidade dos produtos, mtodos, instrues ou idias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitrio estar em conformidade com os padres de tica da sade, sua insero na revista no uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asseres de seu fabricante.

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

3

Editorial A voz do povo a voz de Deus.......ser?

Marco Antonio Guimares da Silva,[email protected]

Antes que se faa alguma interpretao ou leitura equivocada de minha opinio sobre a armao de Popper (Karl Raimund Popper, 1920-1996) que, com a retirada da indagao, acaba por ser o ttulo do presente editorial, quero confessar que, apesar de tudo, ainda sou um democrata confesso. A expresso apesar de tudo aqui usada para expressar a desiluso com um sistema que acabou abrigando em seu seio lideres como um Jrg Haider, na ustria , um Jean Marie Le Pen, na Frana, e a penca de populistas que parecem orescer como nunca na Amrica Latina. Todos de um modo ou de outro eleitos democraticamente e dirigentes da sociedade contempornea. Mas qual poderia ser a diferena entre os regimes e a sociedade do passado e a democracia supostamente sedimentada no presente. Haveria semelhanas entre ambas? A concepo de sociedade na antiga Grcia encontrava na Repblica (Plato) a sua melhor denio e admitia o mito do destino que condenava essas sociedades a seguir por um caminho previamente traado pelo visionrio de planto. Plato acaba sendo o paladino desse tipo de sociedade ao defender, em seu modelo de Estado, um governo totalitrio. A sociedade que defendia era utpica, esteticista e perfeccionista, identicada com um ideal social abstrato, no levando em conta a natureza do homem e a realidade material do mundo. Para Plato, somente o iluminado pelas idias poderia dirigir a sociedade para a sua perfeio. Ao povo, no iluminado pela idia, a Repblica, segundo palavras de Plato, dever ensin-lo a no sonhar nunca, a no atuar com independncia e a tornar-se incapaz de faz-lo. Esse tipo de sociedade foi denominada por Popper de sociedade fechada e foi defendida na contemporaneidade por Hegel e Marx. A concepo marxista da sociedade, dirigida exclusivamente pela economia, em permanente luta

de classe, era formada por uma infra-estrutura material e superestrutura poltica e cultural, no deixando margem a nenhuma outra interpretao e a qualquer critica externa. Ou se estava com o Marxismo ou se estava contra ele. Para Popper a sociedade Marxista era utpica, messinica e mal dirigida por umas profecias que prometiam uma igualdade perfeita. Tal qual a sociedade Platnica, a sociedade Marxista negava a liberdade aos que no pertenciam ao grupo de profetas iluminados. A massa deveria seguir docilmente a seus lideres. As doutrinas defensoras deste tipo de sociedade pretendiam que a historia fosse dirigida por idias ou metas nais e acabariam, segundo Popper, provocando um anquilosamento social. A soluo para o problema, ainda segundo Popper, seriam a liberdade de todo mundo para opinar e contradizer os lderes polticos. Ao que tudo indica, o Marxismo no mais o fantasma que apavora a atual e globalizada (?) economia e a Repblica parece no ser a bblia da maioria dos dirigentes, at porque alguns deles teriam diculdade em l-la. O limiar de pobreza, expresso em seus limites mximos em alguns paises da frica e em quase todos os paises da Amrica Latina, e a ingnua credulidade das grandes massas, presentes nessas regies e em paises da Europa e Amrica do Norte, podem estar contribuindo para o surgimento dos populismos abertos ou velados, manejados pelos tiranetes de planto, travestidos como democratas ou como republicanos. O resultado para tudo isso: a violao das mais elementares normas da humanidade. Lamentavelmente essa a realidade do sculo XXI. E uma lstima ter que constatar que o real e o ideal no andam de mos dadas. O nosso ideal submetido a fatalidade modicvel da histria, acabou por adaptar-se a uma ditatorial e demaggica democracia. Plato nunca esteve to atual!!

*Professor da UFRRJ e de curso de Doutorado recomendado no exterior e Editor cientico da Revista Fisioterapia Brasil

4

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

Artigo original Avaliao isocintica da performance funcional dos msculos quadrceps femoral e isquiotibiais de jogadores prossionais de futebol

Isocinetic evaluation of the functional performance of quadriceps and ischiotibial muscles in professional soccer playersJos Renato Sousa Bulhes*, Adriano Prado Simo*, Karina Nogueira Zambone Pinto*, Marcelo Tavella Navega, D.Sc.**, Stela Mrcia Gonalves Mattiello Rosa, D.Sc.** *Universidade Federal de So Carlos, **Curso de Graduao de Fisioterapia da UFSCar

ResumoO objetivo deste trabalho foi analisar o pico de torque concntrico e excntrico e a relao isquioitibiais/quadrceps, em jogadores prossionais de futebol, ao nal do campeonato paulista da 2 diviso. Oito jogadores foram avaliados em um aparelho isocintico Biodex System II. Entre os jogadores avaliados no encontramos diferenas signicativas entre os membros dominantes e no dominantes, prevalecendo um maior valor de pico de torque para o msculo quadrceps femoral do que os squios-tibiais de acordo com nossa expectativa.Palavras-chave: quadrceps, isquiotibiais, avaliao isocintica.

AbstractThe aim of this study was to analyze eccentric and concentric peak torque and the relation between ischiotibial/quadriceps, in professional soccer players, at the end of the second division of Paulista championship. Eight players were evaluated using a Biodex System II isokinetic. We did not nd signicant dierence between the dominant and the non-dominant limbs, a higher torque peak of the femoral quadriceps muscle prevailed on ischiotitibial according to our expectative.Key-words: quadriceps, ischiotibial, isocinetic evaluation.

IntroduoO futebol considerado o esporte mais popular do mundo. Acompanhando esta alta taxa de popularidade existe um alto ndice de leses, sendo que a maioria ocorre principalmente nos membros inferiores, de 69 a 88% dos casos [1]. O joelho, com 26%, obtm a maior porcentagem e os msculos da coxa tem 11% das leses em jogadores de futebol [2]. Coisier et al. [3] especicam os squiotibiais como a musculatura com maior incidncia de distenses musculares em atletas e uma alta porcentagem de re-ocorrncias tambm est presente, sendo problemtico no s para o atleta, mas para os treinadores e o departamento mdico. Vrios so os fatores que podem levar a leses como fraqueza muscular, for-

talecimento no balanceado, exibilidade diminuda, fadiga e aquecimento inadequado. Segundo Weineck [4] a fora em acelerao (concntrica) pode ser vericada em saltos e nalizaes, j as frenagens (fora excntrica) tm como exemplos tpicos as paradas bruscas, as mudanas de direes e a fase inicial das corridas e dos saltos. Devido a grande solicitao desses msculos torna-se alta a probabilidade de leses, que poderiam ser prevenidas com a realizao de aquecimento adequado antes dos jogos de futebol, assim como por meio de um programa de exerccios dirios, incluindo alongamento e fortalecimento muscular [5]. Pela sua ao antigravitacional, o msculo quadrceps femoral cerca de trs vezes mais forte que os isquiotibiais [6,7], sendo assim, o torque mximo do quadrceps femoral

Recebido em 20 de dezembro de 2004; aceito em 9 de fevereiro de 2007. Endereo para correspondncia: Jos Renato Sousa Bulhes, QRSW 01 Bloco B15 apto. 302, Sudoeste, 70675-135 Brasilia DF, E-mail: jrsb1@ zipmail.com.br

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

5

maior que o torque mximo dos isquiotibiais. Segundo Smith et al. [8] a diferena de torque entre estes grupos musculares pode estar relacionada com a rea de seco transversal, sendo que os extensores geralmente apresentam o dobro da rea de seco transversal dos msculos exores do joelho, alm do que o quadrceps femoral tem um brao de fora mais longo, quando comparado com os msculos isquiotibiais. Em estudo realizado por Cometti et al. [9], entre jogadores de futebol da Frana da primeira e segunda diviso e amadores, foi constatada diferena signicativa de fora excntrica na musculatura exora do joelho, quando comparados com jogadores da primeira diviso com amadores, nas diferentes velocidades angulares. Segundo os autores, este aumento da fora dos isquiotibiais pode ser devido ao mecanismo de controle articular que ele exerce, limitando a amplitude de movimento do joelho durante um chute ou agindo na desacelerao quando o indivduo est correndo. Alm da capacidade funcional isolada de cada msculo, a relao quadrceps femoral e squiotibiais, segundo Ladeira e Mage [10], pode predispor o jogador de futebol a maiores ou menores nmeros de distenses musculares. Em estudo realizado com jogadores amadores canadenses, antes do incio de um campeonato de futebol, estes autores identicaram que os atletas com alta proporo da razo entre os exores e extensores do joelho, obtidas na avaliao pr-campeonato, sofreram mais distenses musculares nos membros inferiores do que seus companheiros com baixa proporo. Soderman et al. [11] vericou em seu estudo com atletas de futebol que 05 sofreram leses no ligamento cruzado anterior e esses atletas possuam uma razo concntrica diminuda entre os msculos squios-tibiais e quadrceps femoral, quando comparado ao membro contralateral. Orchard et al. [12] encontraram em atletas leses dos squios-tibiais naqueles que possuam uma musculatura fraca comparada com a contralateral de acordo com a razo existente entre squios-tibias e quadrceps-femoral. Citam que aps uma leso nos squios-tibiais importante se recuperar, atravs de um trabalho em um equipamento isocintico, a proporo agonista/antagonista de uma maneira equilibrada, reduzindo a incidncia de nova leso. Portanto, alguns autores [1,7,8] citam a importncia de se realizar um fortalecimento de forma adequada e equilibrada, ao invs de se preconizar o fortalecimento de um grupo muscular ignorando o treinamento de outros. Alm disso, tambm preciso considerar o papel principal do membro inferior na prtica esportiva, analisando se o mesmo utilizado com a nalidade bsica de apoio ou para a realizao do chute, o que poderia determinar o valor de torque gerado assim como os valores de relao isquiotibiais/ quadrceps, dependendo da respectiva ao destes msculos. Com este intuito, Holtmann e Hettinger [13] realizaram um estudo com jogadores de futebol no qual foram encontradas diferenas signicativas de fora entre o quadrceps direito e esquerdo, sendo que a perna preferida de apoio desenvolveu maior valor de fora esttica, o que foi justicado pelos autores

pelo fato de a mesma ter a funo de garantir a estabilidade do corpo. Em outro estudo, Rahnama et al. [14] citam a importncia do fortalecimento que vise no somente um aumento de fora, mas de resistncia a fadiga. Foram submetidos a um protocolo de futebol trinta jogadores, que passaram por avaliaes isocinticas antes do programa, no intervalo e ao nal do protocolo e vericaram uma diminuio progressiva da fora muscular atravs do pico de torque do msculo quadrceps e squios-tibiais. Devido importncia de uma adequada relao funcional entre os msculos quadrceps femoral e isquiotibiais do mesmo membro inferior e entre os membros contralaterais para a realizao da prtica do futebol e preveno das leses que podem acompanh-la, justica-se a realizao deste trabalho.

Material e mtodos SujeitosParticiparam deste estudo oito atletas do sexo masculino, com idade mdia de 21,1 3,4 anos que praticam prossionalmente a modalidade desportiva futebol pelo Grmio Esportivo Socarlense, disputando o campeonato paulista da segunda diviso. Foram excludos da pesquisa os voluntrios que apresentaram leses do sistema msculo esquelticas, identicadas por avaliao funcional sioteraputica. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo comit de tica local e todos os atletas foram instrudos sobre o objetivo da pesquisa e a forma de realizao dos procedimentos, assinando um termo de consentimento.

Procedimento experimentalPara a coleta do pico de torque concntrico e excntrico foi utilizado um dinammetro isocintico da marca Biodex System II (Verso Software 4.5) localizado no Ambulatrio de Fisioterapia da Universidade Federal de So Carlos. Inicialmente o aparelho foi calibrado conforme as orientaes do fabricante. Aps essa etapa, efetuou-se o aquecimento dos membros inferiores dos atletas, em uma bicicleta ergomtrica estacionria, durante cinco minutos com carga mnima, cando o atleta apto a realizar a avaliao isocintica concntrica e excntrica de exo e extenso de ambos os joelhos. Para a avaliao isocintica utilizou-se a metodologia proposta por Cometti et al., [9]. Com o jogador sentado, alinhamos visualmente o cndilo lateral do joelho do atleta (escolhido aleatoriamente) com o eixo do dinammetro isocintico. O atleta foi estabilizado por um cinto plvico, dois cintos torcicos em cruz e um cinto no tero distal da coxa, para evitar ao mximo as compensaes e permitir movimentao livre do joelho a ser testado. Antes de iniciar o teste, foi realizada uma familiarizao com o equipamento consistindo de 3 at 5 contraes concntricas submximas (~50%) e uma contrao concntrica mxima. O arco de movimento foi

6

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Figura 2 - Mdias e desvios padro do pico de torque, na velocidade de 120/seg.

de 90 de exo at extenso total. Para a realizao do teste concntrico, os jogadores realizaram trs contraes mximas concntricas nas velocidades de 60, 120 e 300/segundo, com um perodo de descanso de 2 a 3 minutos entre as sries. O mesmo procedimento foi feito para o outro membro. Finalizado os testes concntricos com ambos membros, foi dado um intervalo de 5 minutos e iniciada a avaliao excntrica. O paciente manteve-se posicionado no equipamento da mesma forma que a anterior. O joelho a ser testado foi o joelho contralateral ao que foi testado por ltimo na contrao concntrica, devido ao maior tempo de descanso para uma melhor recuperao. Para o teste excntrico repetiu-se todo o protocolo adotado para o teste concntrico, porm houve alterao somente nas velocidades angulares, utilizando-se somente duas velocidades a de 60 e 120/segundo. Finalizado os testes, obteve-se o relatrio do prprio equipamento indicando a razo entre os exores e extensores do joelho nas modalidades concntrica e excntrica e os valores de pico de torque.

Conc= concntrico, excen= excntrico, ND= membro no dominante, Dom= membro dominante.

Os valores de pico de torque na contrao concntrica na velocidade de 300/seg., tambm no apresentaram diferena signicativa entre os membros, representados na gura 3.Figura 3 - Mdias e desvios padro do Pico de Torque, na velocidade de 300/seg.

Analise estatsticaOs dados foram analisados estatisticamente atravs de tcnicas descritivas. Para comparar os valores de pico de torque e a relao isquiotibiais/quadrceps, entre os membros inferiores dominante e no dominantes, foi utilizado o Teste t de Student. Para as concluses das anlises estatsticas foi utilizado o nvel de signicncia de 5% ( p 0,05).

ResultadosOs resultados do Pico de Torque, obtidos nas avaliaes isocinticas concntrica e excntrica, para os membros inferiores dominante e no dominante nas velocidades de 60 e 120/seg., como mostram as Figuras 1 e 2, respectivamente, no apresentaram diferena signicativa entre os valores mdios de pico de torque, tanto para contrao concntrica, como para excntrica.Figura 1 - Mdias e desvios padro do Pico de Torque (Nm), na velocidade de 60/seg.ND= membro no dominante, Dom= membro dominante.

Quando foi comparada a relao isquiotibiais/quadrceps, o teste aplicado tambm no identicou diferena entre os membros, como mostra a Tabela I.Tabela I - Mdias e desvios padro da relao Isquiotibiais/Quadrceps para Pico de Torque isocintico, nas velocidades de 60, 120 e 300/s.Membro no dominante Concntrico 60/s Excntrico 60/s Concntrico 120/s Excntrico 120/s Concntrico 300/s 51,955,03 54,2012,18 56,687,77 68,2520,26 73,585,69 Membro dominante 50,886,00 53,656,65 57,588,83 57,326,97 72,517,82 Teste t-Student NS NS NS NS NS

Valores expressos em porcentagem. NS = no significativo (p > 0,05).

conc= concntrico, excen= excntrico, ND= membro no dominante, dom= membro dominante

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

7

DiscussoEm jogadores de futebol prossional local parece no existir diferena da capacidade funcional entre os msculos quadrceps femoral e isquiotibiais. Os jogadores tm a preocupao de ganhar os diferentes campeonatos almejando disputar as divises mais importantes. Para o cumprimento desta meta, estes atletas so submetidos a vrios tipos de treinamentos e sobrecargas musculares, que poderiam resultar em alteraes funcionais principalmente da musculatura exo-extensora dos membros inferiores, de acordo com a especicidade de treinamento e da atividade desenvolvida pelo membro durante a prtica do futebol. Para a avaliao funcional destes msculos, uma das variveis do nosso estudo foi o valor do pico de torque desenvolvido pelos exores e extensores do joelho do membro inferior utilizado para o chute e o membro de apoio, aqui denominados, dominante e no dominante, respectivamente. No encontramos diferena estatisticamente signicativa entre o valor do PT do membro inferior dominante ou no dominante - independente da velocidade (60,180 e 300/seg) e do tipo de contrao do teste (concntrica e excntrica), tanto para exo quanto extenso do joelho. Apesar destes achados, Holtmann e Hettinger [13] encontraram diferenas signicativas de fora entre o quadrceps do membro de apoio e o de chute em jogadores de futebol, com maior fora esttica desenvolvida pelo membro de apoio. No nosso trabalho s foram realizadas avaliaes isocinticas, no fez parte de nossa metodologia a avaliao isomtrica, de tal forma, no possvel discutir os resultados deste trabalho. No entanto, nossos resultados so corroborados pelos obtidos por Magalhes et al. [1], que tambm no encontraram predomnio do torque gerado pelos msculos exores e extensores de acordo com a funo desencadeada pelo membro inferior em campo, realando o carter bilateral do treino e atuao desta modalidade. Em relao ao comportamento do pico de torque excntrico, segundo Westing et al. [15], o msculo quadrceps femoral no altera o seu pico de torque excntrico com a variao de velocidade, sendo ele sempre maior que o pico de torque concntrico. Ainda segundo o autor supracitado, essa diferena entre o torque produzido nos dois tipos de contrao aumenta com a elevao da velocidade angular de teste. Nossos resultados corroboram os achados descritos acima, uma vez que analisando o pico de torque gerado nos dois tipos de contrao avaliados, pudemos observar uma tendncia de aproximao dos valores concntrico e excntrico do mesmo membro inferior na velocidade de 60/seg, tanto para quadrceps quanto para isquiotibiais, e uma tendncia de aumento do PT excntrico em relao ao concntrico na velocidade de 120/seg, tambm para os dois grupamentos musculares. Alm disso, observamos tambm a manuteno dos valores

do pico de torque excntrico com o aumento da velocidade de teste, como referido pelos autores acima. De acordo com Dvir [16], estes resultados seriam justicados pelo fato de apesar de o valor de PT diminuir para os dois tipos de contrao com o aumento da velocidade de teste, a contrao concntrica seria mais velocidade dependente, ou seja, o valor de pico de torque concntrico apresentaria queda mais visvel com o aumento da velocidade, resultando no aumento proporcional do valor do pico de torque gerado na contrao excntrica. A mdia de idade dos atletas em nosso trabalho foi de 21,1 anos 3,4 anos, porm Gur et al. [17] demonstram a importncia de se considerar a varivel idade. Em seus trabalhos dividiram 25 jogadores de futebol em adultos (> 21 anos) e jovens ( 21 anos) e encontrou valores de pico de torque concntrico maiores no membro dominante em atletas adultos comparando aos jovens. Quanto aos resultados obtidos sobre a relao funcional isquiotibiais/quadrceps femoral, no foi encontrada diferena estatisticamente signicativa entre o membro dominante e no dominante em nenhuma das velocidades de teste, no entanto, houve um aumento progressivo do valor de torque gerado pelo grupamento exor do joelho em relao ao extensor com o aumento da velocidade angular. Dvir [16] conrma estes achados, considerando esta variao da proporo I/Q uma varivel dependente da velocidade angular, com valores menores para velocidade baixas e acrscimo dos valores com o aumento da velocidade de teste. Rochongar [18], props recentemente uma concepo funcional (excntrico exor/concntrico extensor) como um mtodo preventivo para leses musculares e do ligamento cruzado anterior. Poderamos tambm considerar a inuncia da especicidade do treinamento dos msculos exores e extensores do joelho nesta atividade esportiva. No entanto, para isso seria preciso avaliar as atividades especcas para a funo de cada jogador na equipe, o que no seria possvel analisarmos neste trabalho, uma vez que foram avaliados voluntrios com diferentes funes em campo.

ConclusoBaseado nos resultados obtidos neste estudo, pudemos concluir que a capacidade funcional do joelho de jogadores de futebol apresentaram torques semelhantes aos encontrados em outros estudos. Entretanto, mais estudos so necessrios buscando informaes quanto ao desempenho especicamente de jogadores de futebol, considerando divises diferentes, posio em campo, idade e outras variveis, para que desse modo, sioterapeutas e preparadores fsicos possam melhorar programas de preveno e tratamentos das leses decorrentes desse esporte.

8

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 200710. Ladeira C, Magee D. Fatores de risco no futebol: desproporo exores/extensores de torque no joelho e encurtamento muscular. Rev Bras Fisioter 2000;4(2):65-74. 11. Sderman K, Alfredson H, Petil T, Werner S. Risk factors for leg injuries in female soccer players: a prospective investigation during one out-door season. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc 2001;9(5):03-13. 12. Orchard J, Marsdn J, Lord S, Garlick D. Preseason hamstring muscle weakness associated with hamstring muscle injury in Australians footballers. Am J Sports Med 1997;25(1):81-5. 13. Hollmann W, Hettinger T. Medicina do esporte. So Paulo: Manole; 1989. p. 576. 14. Rahnama N, Reilly T, Lees A, Graham-Smith P. Muscle fatigue induced by exercise simulating the work rate of competitive soccer. J Sports Sci 2003;21(11):933-42. 15. Westing SH, Cresswell A, Thorstensson A. Muscle activation during maximal voluntary eccentric and concentric knee extension. Eur J Appl Physiol 1991;62: 104-108. 16. Dvir Z. Isokinetics: muscle testing, interpretation and clinical applications. 1a ed. Singapore: Churchill Livingstone; 1995. 17. Gr H, Akova B, Pndk Z, Kkoglu S. Eects of age on the reciprocal peak torque ratios during knee muscle contractions in elite soccer players. Scand J Med Sci Sports 1999;9(2):81-7. 18. Rochongar P. Isokinetic thigh muscle strength in sports: a review. Ann Readapt Med Phys 2004;47(6):274-281.

Referncias1. Magalhes J, Oliveira J, Ascenso A, Soares J. Avaliao isocintica da fora muscular de atletas em funo do desporto praticado, idade, sexo e posies especcas. Revista Portuguesa de Cincias do Desporto 2001;1(2):13-21. 2. Ostenberg A, Roos H. Injury risk factors in female European football. A prospective study of 123 players during one season. Scand J Med Sci Sports 2000;10(5):279-85. 3. Croisier JL, Forthomme B, Namurois MH, Vanderthommen M, Criellard JM. Hamstring muscle strain recurrence and strength performance disorders. Am J Sports Med 2000;30:199-203. 4. Weineck EJ. Futebol total: O treinamento fsico no futebol. So Paulo: Phorte; 2000. 5. Gray M. Leses no futebol. Rio de Janeiro: Livro Tcnico; 1984. 6. Kapandji I. Fisiologia articular. 5a ed. So Paulo: Manole; 1991. 7. Pinto SS, Arruda CA. Avaliao isocintica de exores e extensores de joelho em atletas de futebol prossional. Fisioterapia em movimento 2001;13(2):37-43. 8. Smith LK, Weiss EL, Lehmkuhl LD. Cinesiologia clnica de Brunnstrom. So Paulo: Manole; 1997. 9. Cometti G, Mauletti NA, Pousson M, Chatard J, Maulli C. Isokinetic strength and anaerobic power of elite, subelit and amateur French soccer players. Int J Sports Med 2001;22:45-51.

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

9

Artigo original Anlise da eccia do taping patelar associado a um programa de tratamento sioteraputico em indivduos do sexo feminino com disfuno patelofemoral

Evaluation of patellar taping efcacy associated to physical therapy in women with patellofemoral dysfunctionRafael Aleixo Favarini, Ft.*, Lygia Paccini Lustosa, M.Sc.* *Unicentro Newton Paiva, Belo Horizonte MG

ResumoA sndrome dolorosa patelofemoral descrita como uma disfuno multifatorial, de difcil tratamento. No programa de reabilitao so propostas vrias teraputicas que visam o fortalecimento do mecanismo extensor do joelho no intuito de promover melhor a estabilidade para a articulao. Um dos recursos utilizados o taping de McConnell associado ao programa de exerccios. O objetivo do estudo foi vericar a eccia do uso do taping patelar de McConnell na diminuio da dor e na melhora do desempenho funcional, em um programa de tratamento, de indivduos do sexo feminino, com diagnstico de SDPF. Participaram do estudo cinco indivduos, do sexo feminino, com idade mdia de 21,5 anos ( 2,57). Todas as voluntrias foram avaliadas pelo mesmo examinador antes, aps a 9. sesso de tratamento e aps a 18. sesso. A avaliao constou de testes de exibilidade, testes especcos para diagnstico de SDPF, Escala Visual Analgica de Dor para quanticar o nvel de dor e aplicao da Escala de Karlsson para quanticar o desempenho funcional. Trs voluntrias realizaram tratamento atravs de alongamentos especcos e exerccios de reforo muscular em cadeia cintica aberta (Grupo I). Duas voluntrias realizaram os mesmos exerccios, mas com a colocao do taping patelar segundo McConnell, antes da realizao dos exerccios de reforo muscular (Grupo II). Os resultados no demonstraram diferena signicativa entre os grupos, quanto a melhora da dor e do desempenho funcional aps a 9. sesso (p = 0,34, p = 0,08, respectivamente). Tambm no houve diferena signicativa entre os grupos aps a 18. (p > 0,18). No possvel armar, atravs dos resultados obtidos, que o uso do taping patelar associado ao programa de exerccios para o tratamento da SDPF, seja mais ecaz na melhora da dor e no desempenho funcional, que o uso somente do programa de exerccios.Palavras-chave: taping patelar, disfuno patelofemoral, dor, desempenho funcional.

AbstractPatellofemoral painful syndrome (PPS) is described as a hard to treat multifatorial dysfunction. Various conservative therapeutic approaches are proposed to manage such syndrome with the intention to strengthen the knee extensor mechanism to promote better joint stability. One of the rehabilitation resources is the McConnell taping technique associated to physical therapy. The goal of this study was to verify the ecacy of patellar taping in reducing pain and improving functional performance associated to a treatment program in female patients diagnosed with PPS. Five female subjects, average age of 21,5 ( 2,57) years, participated in the study. The same examiner, before and after the 9th and 18th treatment session, evaluated them. Evaluation was comprised of exibility tests, specic tests to diagnose PPS, pain analogue visual scale to quantify the intensity of pain and Karlsson scale to quantify functional performance. Three volunteers were submitted to specic stretching and strengthening muscle exercises in open kinetic chain (group 1). Two volunteers performed the same exercises done by the group 1 plus patellar taping technique described by McConnell, before performing the strengthening exercises (group 2). Results showed no signicant dierence between groups concerning pain relief and functional performance after the 9th session (p = 0,34, p = 0,08, respectively). Also, there was no signicant statistical dierence between both groups after the 18th session (p > 0,18). It is not possible to arm, through the present results, whether the patellar taping technique associated to physical therapy to treat PPS shows more ecacies to reduce pain and functional performance than exercises alone.Key-words: taping patellar, patellofemoral disfunction, pain, functional outcomes.

Recebido 6 de dezembro de 2005; aceito em 12 de dezembro de 2006. Endereo para correspondncia: Lygia Paccini Lustosa, Rua Alvares de Azevedo, 122, Bairro Colgio Batista, 31110-290 Belo Horizonte MG, Tel: (31) 9983-1854, E-mail: [email protected]

10

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

IntroduoO termo sndrome dolorosa patelofemoral (SDPF) dene uma queixa comum de dor anterior ou retropatelar no joelho [1,2]. Essa disfuno est geralmente associada com o exerccio e piora com atividades que aumentam as foras compressivas do joelho como o permanecer por longos perodos na posio sentada, o subir e descer escadas e o agachar [1-10]. Tem maior incidncia em adolescentes do sexo feminino e em indivduos ativos [1], com idade entre 10 e 35 anos [3,7,8,11,12]. A SDPF discutida como uma afeco multifatorial com causas diversas, mas talvez a mais comum seja a sndrome de deslocamento lateral [13]. Alguns dos fatores que podem desencadear o deslocamento lateral da patela incluem as anormalidades sseas, a tenso do retinculo lateral e da banda iliotibial [4], a tenso do msculo isquiosural e/ou do msculo gastrocnmio, o tendo patelar alongado, a patela alta, o mau alinhamento da tbia [2,14,15], o geno valgo, o aumento do ngulo Q, a anteverso femoral, o joelho recurvatum, a pronao excessiva do p e os traumas [2,4,13-15]. O tratamento sioteraputico para a dor na articulao patelofemoral direcionado principalmente para a reabilitao do msculo quadrceps e especicamente, o msculo vasto medial oblquo (VMO), que denido como o estabilizador dinmico medial da patela [16,17]. Esse tratamento inclui geralmente o fortalecimento do msculo quadrceps favorecendo a ativao do msculo VMO, o alongamento do msculo isquiosural, do gastrocnmio, do tensor da fscia e da banda iliotibial, o treinamento da estabilidade articular, a aplicao do taping patelar ou o uso do bracing, a indicao de rteses para correo da pronao excessiva da subtalar e as modicaes das atividades de vida diria [2,3,5,11-14,1721]. Para a realizao dos exerccios de fortalecimento Laprade et al. [7] e Fonseca et al. [22] avaliaram uma srie de exerccios utilizados na prtica clnica em cadeia cintica aberta e em cadeia cintica fechada, com o objetivo de demonstrar a sua eccia atravs da anlise da ativao muscular. Esses autores sugeriram que exerccios envolvendo a extenso do joelho associado rotao da tbia poderiam ser utilizados por apresentar uma melhor relao entre o msculo VMO e o msculo vasto lateral [7,22]. McConnell [14] introduziu a tcnica do taping patelar em seu programa de tratamento em meados dos anos 80, com o objetivo de melhorar o posicionamento da patela, diminuindo a dor e favorecendo o fortalecimento do msculo quadrceps. A autora preconiza que a correo da patela e o seu melhor posicionamento favorecem a funo do msculo quadrceps. O objetivo do estudo foi vericar a eccia do uso do taping patelar de McConnell na diminuio da dor e na melhora do desempenho funcional, em um programa de tratamento, de indivduos do sexo feminino com diagnstico de SDPF.

Material e mtodosForam convidados a participar do estudo indivduos do sexo feminino, com idade variando entre 15 e 35 anos, que apresentavam caractersticas de SDPF. Os critrios de excluso para o estudo foram histria pregressa de cirurgia de joelho, instabilidade patelar, leso meniscal, leso ligamentar e fraturas prvias dos membros inferiores. As voluntrias foram recrutadas atravs de cartazes axados em uma instituio de ensino particular e assinaram um termo de livre consentimento e esclarecido, concordando em participar do estudo. A mesma avaliao foi repetida aps a realizao da nona sesso e ao nal do tratamento (18. sesso), pelo mesmo examinador que no teve conhecimento em momento algum, do grupo de tratamento das participantes. Aps a avaliao inicial, as voluntrias foram sorteadas para o incio do tratamento para Grupo I ou Grupo II. O Grupo I realizou exerccios de alongamento especcos conforme a avaliao e exerccios para reforo do msculo quadrceps em cadeia cintica aberta. O Grupo II realizou os mesmos exerccios que o Grupo I, mas associado ao uso do taping patelar, conforme a tcnica descrita por McConnell [14], colocado pelo mesmo examinador, antes do incio dos exerccios de reforo muscular. Esse examinador acompanhou todo o tratamento, mas no participou das avaliaes. Dessa forma, foram avaliadas 13 mulheres, com idade variando entre 15 e 25 anos (21,5 2,57anos). Dessas voluntrias, quatro no iniciaram o tratamento. Das nove participantes que deram incio ao tratamento, uma abandonou o tratamento aps a primeira sesso, duas abandonaram o tratamento aps a segunda sesso e uma aps a quarta sesso. Todas elas alegaram motivos pessoais e diculdade quanto ao horrio e deslocamento para o local de tratamento. Apenas cinco participantes deram continuidade ao estudo, concluindo o tratamento. O Grupo I constou ento de trs voluntrias e o Grupo II de duas voluntrias. A avaliao sioteraputica constou da aplicao da escala de Karlsson [23], especca para a articulao patelofemoral. Essa escala foi preenchida pela prpria participante, tendo recebido apenas a informao que os sinais e sintomas referiam-se a ltima semana antes da aplicao da mesma. Todas as voluntrias foram orientadas a manter o mesmo nvel de atividade fsica durante a realizao do tratamento, sem dar incio a nenhuma atividade nova, para que no houvesse possveis alteraes em relao ao quadro clnico e do desempenho funcional. Para quanticar o nvel de dor utilizou-se a Escala Visual Analgica de Dor [2]. Os testes para pesquisa da exibilidade muscular foram o teste de Ober para o encurtamento do msculo tensor da fscia lata [24], o teste de Ely para o encurtamento do msculo reto femoral [24], o teste de Thomas modicado para avaliar a presena de encurtamento do msculo iliopsoas [24], o teste para encurtamento de adutores [25] e o teste para encurtamento dos isquiosurais [25]. Finalmente, foram realizados testes especiais

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

11 Figura 3 - Contrao isomtrica em cadeia cintica aberta com o membro inferior em posio neutral.

para a disfuno patelofemoral: teste de McConnell, sinal de Zohler e sinal de Frund [24]. Essa mesma avaliao foi repetida pelo mesmo examinador, que no teve conhecimento dos grupos de tratamento, aps a voluntria realizar a 9a sesso e aps a 18a sesso de tratamento. Durante o tratamento, tanto as participantes do grupo I quanto as do grupo II realizaram os mesmos exerccios de reforo muscular para os msculos extensores do joelho. Esses exerccios seguiram a descrio de Fonseca et al. [22] para a extenso do joelho em cadeia cintica aberta mantendo a rotao externa de quadril (Figura 1). Foram realizados ainda, os exerccios para a extenso do joelho em cadeia cintica aberta direcionando o movimento para a rotao interna da tbia e exerccio para a extenso de joelho em posio neutra de acordo com a descrio de Laprade et al. (Figura 2 e 3) [7]. O tratamento foi realizado trs vezes por semana, durante o perodo de seis semanas (total de 18 sesses). Nas voluntrias do grupo II foi colocado o taping patelar (Figura 4) antes do incio dos exerccios de reforo muscular citados acima.Figura 1 - Contrao isomtrica em cadeia cintica aberta mantendo a rotao externa do quadril.

Figura 4 - Tcnica de colocao do taping patelar segundo McConnell.

Anlise estatsticaFigura 2 - Contrao isomtrica em cadeia cintica aberta saindo da rotao externa e direcionando para a rotao interna do quadril.

A anlise estatstica foi realizada atravs do programa estatstico SPSS 11.0. Para a comparao entre os grupos, quanto ao nvel de dor e desempenho funcional, aps a nona sesso e aps a dcima oitava sesso foi utilizando o teste no-paramtrico de Wilcoxon. O nvel de signicncia foi estabelecido em = 0,05.

12

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

ResultadosApesar de haver melhora em todos os parmetros analisados, os resultados no demonstraram diferena signicativa quando comparado os grupos I e II, quanto ao nvel funcional p = 0,08 e quanto a melhora do nvel da dor p = 0,34, aps a nona sesso de tratamento. Da mesma forma quando comparados os grupos aps a 18a. sesso, tambm no houve diferena signicativa na melhora da funcionalidade e na melhora da dor (p > 0,18).

livres da dor aps 8 sesses de tratamento utilizando o taping patelar e exerccios. Apesar da ausncia de diferena signicativa entre os grupos estudados, pde-se observar uma melhora dos sintomas e da funo aps o tratamento. Essa observao sugere que o tratamento apresenta resultados satisfatrios, mas que novos estudos devero ser realizados, para vericar o real papel do taping patelar no tratamento da SDPF.

ConclusoApesar da melhora observada nos grupos estudados, os resultados encontrados neste estudo no permitem armar que a utilizao do taping patelar associado a um programa de fortalecimento muscular, para o tratamento da SDPF, seja mais ecaz do que apenas o programa de exerccios, na diminuio da dor e na melhora do desempenho funcional.

DiscussoO presente estudo teve como objetivo vericar a eccia da utilizao do taping patelar associado a um programa de exerccios no tratamento de indivduos com SDFP, quanto melhora da dor e do desempenho funcional. No entanto, os resultados no demonstraram diferena signicativa entre os grupos estudados, o que no permite armar que o taping patelar aumente a eccia do tratamento da SDFP. O tratamento das disfunes patelofemorais baseia-se no fortalecimento do msculo VMO, no intuito de estabelecer uma maior estabilidade articular [14,26]. Acredita-se que esse fortalecimento muscular possa promover uma maior medializao da patela, levando ao seu melhor alinhamento durante a extenso do joelho [14]. No entanto, existem controvrsias quanto ao melhor exerccio e a melhor ativao desse grupo muscular [26]. O taping patelar proposto por McConell teve como objetivo no s a melhora da dor, mas tambm uma maior possibilidade do posicionamento adequado da patela. Bockrath et al. [17], utilizando o taping patelar durante o tratamento da SDFP, demonstraram que houve signicativa reduo no nvel da dor, comprovando sua eccia no resultado do tratamento. Ao contrrio, Kowall et al. [12] tambm comparando grupos que utilizaram o taping com aqueles que no utilizaram, demonstraram que no houve diferena signicativa entre os grupos estudados, o que corrobora com os resultados encontrados neste estudo. No presente estudo, uma das limitaes que pode ter interferido nos resultados foi o nmero reduzido de participantes envolvidos, tornando a amostra muito pequena. Com relao ao tempo de tratamento, foi estabelecido o perodo de 6 semanas baseado no estudo de Crossley et al. [2] que demonstrou ser necessrias 6 semanas de tratamento para o alvio da dor utilizando o taping patelar associado a um programa de exerccios. No entanto, o perodo ideal de tratamento tambm apresenta controvrsias, visto existirem evidncias que 4 semanas podem ser sucientes para a melhora da dor e retorno completo funcionalidade, como armam Wittingham et al. [27]. Os resultados observados no presente estudo demonstraram melhora nos dois grupos principalmente entre a 1. e 9. sesso de tratamento. Esses resultados foram semelhantes ao do estudo de McConnell [14] que encontrou que 92% dos pacientes tratados, caram

Referncias1. Andrade PH, et al. Comparao da atividade eltrica dos msculos vasto medial oblquo e vasto lateral oblquo em indivduos com disfuno fmoro-patelar. Rev Fisioter Univ So Paulo 2001;8:65-71. 2. Crossley K, et al. Physical therapy for patellofemoral pain: a randomized, double-blinded, placebo-controlled trial. Am J Sports Med 2002; 30:857-65. 3. Cowan SM, et al. Physical therapy alters recruitment of the vasti in patellofemoral pain syndrome. Med Sci Sports Exerc 2002;34:1879-85. 4. Cowan SM, Bennell KL, Hodges PW. Therapeutic patellar taping changes the timing of vasti muscle activation in people with patellofemoral pain syndrome. Clin J Sport Med 2002;12:33947. 5. Crossley K, et al. Patellar taping: is clinical success supported by scientic evidence? Man Ther 2000;5:142-50. 6. Handeld T, Kramer J. Eect of McConnell taping on perceived pain and knee extensor torque during isokinetic exercise performed by patients with patellofemoral pain syndrome. Physiother Can 2000;2:39-44. 7. Laprade J, Culham E, Brouwer B. Comparison of ve isometric exercises in the recruitment of the vastus medialis oblique in persons with or without patellofemoral pain syndrome. J Orthop Sports Phys Ther 1998;27:197-204. 8. Muller K, Snyder-Mackler L. Diagnosis of patellofemoral pain after arthroscopic meniscectomy. J Orthop Sports Phys Ther 2000;30:138-42. 9. Powers CM et al. The eects of patellar taping on stride characteristics and joint motion in subjects with patellofemoral pain. J Orthop Sports Phys Ther 1997;26: 286-91. 10. Salsich GB et al. The eects of patellar taping on knee kinetics, kinematics, and vastus lateralis muscle activity during stair ambulation with patellofemoral pain. J Orthop Sports Phys Ther 2002;32:3-10. 11. Ernst GP, Kawaguchi J, Saliba E. Eect of patellar taping on knee kinetics of patients with patellofemoral pain syndrome. J Orthop Sports Phys Ther 1999; 29:661-7.

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 200712. Kowall MG, et al. Patellar taping in the treatment of patellofemoral pain. A prospective randomized study. Am J Sports Med 1996;24:61-6. 13. Larsen B, et al. Patellar taping: a radiographic examination of the medial glide technique. Am J Sports Med 1995;23:465-71. 14. McConnell J. The management of chondromalacia patellae: A long-term solution. Aust J Physiother 1986;32:215-223. 15. Powers CM, et al. Criterion-related validity of a clinical measurement to determine the medial/lateral component of patellar orientation. J Orthop Sports Phys Ther 1999;29:372-7. 16. Holmes SW, Clancy WG. Clinical classication of patellofemoral pain and dysfunction. J Orthop Sports Phys Ther 1998;28:299-306. 17. Bockrath K, et al. Eects of patella taping on patella position and perceived pain. Med Sci Sports Exerc 1993;25:989-92. 18. Watson CJ, et al. Reliability of McConnells classication of patellar orientation in symptomatic and asymptomatic subjects. J Orthop Sports Phys Ther 1999,29:378-385. 19. Herrington LC. The inter-tester reliability of a clinical measurement used to determine the medial-lateral orientation of the patella. Man Ther 2002;7:163-7.

1320. Fulkerson JP. Diagnosis and treatment of patients with patellofemoral pain. Am J Sports Med 2002;30:447-56. 21. Gigante A et al. The eects of patellar taping on incongruent. A computed tomography study. Am J Sports Med 200;29:88-92. 22. Fonseca ST et al. Anlise eletromiogrca dos msculos vasto medial oblquo e vasto lateral em exerccios usados no tratamento da sndrome da dor patelofemoral. Rev Fisioter Univ So Paulo 2001;8:1-10. 23. Karlsson J, Thome R, Sward L. Eleven year follow-up of patellofemoral pain syndrome. Clinical J Sport Med 1996;6:22-6. 24. Magee DJ. Quadril. In: Avaliao msculo esqueltica. 3 ed. So Paulo: Manole; 2002. p.587-8. 25. Alter MJ. Cincia da exibilidade. 2a ed. Porto Alegre: Artmed; 1999. p.304-308. 26. Serro FV, Nunes CM, Brzin F, Candolo C, Monteiro-Pedro V. Eect of tibia rotation on the electromyographical activity of the vastus medialis oblique and vastus lateralis longus muscles during isometric leg press. Physical therapy in Sport 2005;6:15-23. 27. Wittingham M, Palmer S, Macmillan F. Eects of taping on pain and function in patellofemoral pain syndrome: A randomized controlled trial. J Orthop Sports Phys Ther 2004;34:504-10.

14

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

Artigo original Avaliao da dor e da funo pulmonar em pacientes submetidos cirurgia de revascularizao miocrdica

Pain evaluation and pulmonary function in patients submitted to surgery of coronary artery bypass graftingCamila Pereira Leguisamo, M.Sc.*, Moana Franken de Freitas**, Natlia Fialho Maciel**, Paulo Donato*** *Universidade de Passo Fundo (UPF), **Curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo (UPF), ***Hospital So Vicente de Paulo, Passo Fundo RS

ResumoA CRM constitui um procedimento que pode ser realizado em pacientes portadores de cardiopatia isqumica. O trauma cirrgico reete-se diretamente na funo pulmonar desses pacientes. O estudo foi quase experimental analtico, com o objetivo de avaliar e comparar a percepo da dor torcica em repouso, bem como mensurar e comparar a funo pulmonar. Participaram neste estudo 25 pacientes submetidos a CRM eletiva. Os resultados mostraram altos escores na percepo de dor no primeiro dia de ps-operatrio, os quais se reduziram no quarto dia de ps-operatrio. Os valores mdios dos volumes pulmonares do primeiro para o quarto dia de ps-operatrio aumentaram, porm no retornaram aos valores do pr-operatrio. Analisando a dor e a funo pulmonar, foi vericado que no houve relao entre as mesmas. Vericou-se que a CRM altera a funo pulmonar e provoca dor torcica em repouso, contudo esta no inuenciou nos dados espiromtricos.Palavras-chave: CRM, dor, espirometria.

AbstractThe Coronary Artery Bypass Grafting (CABG) constitutes a procedure that can be done in patients with ischemic cardiopathy. The surgery trauma has a direct eect in the pulmonary function of the patient. The research was almost an analytic and experimental study with the general objective of assessing and comparing the perception of thorax pain at rest and also measuring and comparing the pulmonary function. In this study, there were 25 patients who were submitted to elective CABG. The results showed high scores in the perception of the thoracic pain at rest on the 1st postoperative day considering that they decreased on the 4th postoperative day. The medium pulmonary volume marks increased from the 1st to the 4th postoperative day, however, they did not return to the preoperative ones. When the pain and pulmonary function were analyzed we could notice there was no relation between them. On this study we could check that the CABG alters the pulmonary function and provokes the thoracic pain at rest, however, this pain did not inuence the spirometric data.Key-words: CABG, pain, spirometry.

IntroduoA cirurgia de revascularizao miocrdica (CRM), descrita por Favaloro no nal da dcada de 60, tornou-se um procedimento cirrgico freqentemente realizado em muitos hospitais, sendo altamente efetivo para o tratamento da doena

arterial coronariana, com denida melhora da sobrevida em grupos selecionados [1]. A hospitalizao e a passagem por procedimento cirrgico trazem mudanas sensitivas ao ser humano, dentre elas a dor. De acordo com a Sociedade Internacional para o Estudo da Dor, esta denida como uma experincia desagradvel de

Recebido em 19 de dezembro de 2005; aceito em 14 de fevereiro de 2007. Endereo para correspondncia: Camila Pereira Leguisamo, Rua Capito Eleutrio, 69/304, Centro, Passo Fundo RS, Tel: (54) 33146473/99769840, E-mail: [email protected]

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

15

carter sensorial emocional associada a leso tecidual real ou potencial. Assim, em ps-operatrio de CRM, torna-se importante a avaliao da dor torcica em repouso, que pode ser mensurvel atravs da escala numrica visual [2]. Outra anlise importante na avaliao de pacientes hospitalizados e que faro CRM a da funo pulmonar, vista atravs de ndices espiromtricos, uma vez que no psoperatrio h reduo dos volumes pulmonares, em razo da disfuno diafragmtica, da ausncia de respiraes profundas, dor, alteraes pulmonares e mecnicas [3]. Avaliar a percepo da dor torcica em repouso e a funo pulmonar foi o objetivo geral da presente pesquisa. Os objetivos especcos compreenderam: avaliar e comparar a percepo da dor torcica em repouso atravs da escala numrica visual, bem como mensurar e comparar a funo pulmonar atravs de ndices espiromtricos de volume expiratrio forado no primeiro segundo (VEF1) e capacidade vital forada (CVF), alm de vericar se h relao entre as mesmas no pr-operatrio, no primeiro e no quarto dia ps-operatrio em pacientes submetidos a cirurgia de revascularizao miocrdica. Assim, o sioterapeuta, como integrante de uma equipe multidisciplinar, pode avaliar a dor torcica em repouso e a funo pulmonar nesses pacientes, para identicar alteraes sensitivas e funcionais a m de proporcionar melhores condies para esses pacientes no perodo de internao hospitalar.

da avaliao da percepo da dor torcica em repouso, pela Escala numrica visual, que varia de 1 a 10 pontos, sendo 1 indicativo de dor mnima e 10, de dor mxima (o valor 0 indica ausncia de dor) [2], e, seqencialmente os dados da funo pulmonar, atravs da espirometria simples, conforme o I Consenso Brasileiro de Espirometria [4]. Foi utilizada a Anova para medidas repetidas a m de comparar as variveis nos trs momentos distintos. O teste de comparaes mltiplas Post Hoc Sche foi empregado na identicao das diferenas especcas, quando os valores de F encontrado mostraram-se superiores ao critrio de signicncia estatstica estabelecido em p < 0,05 [5]. A m de analisar a relao entre a dor torcica em repouso e a funo pulmonar, utilizou-se a correlao de anlise multifatorial, dividindo-se as variveis nas seguintes classes: CVF em cinco classes de 0,51 a 3,00 em um intervalo de 0,49; VEF1 em quatro classes de 0,31 a 2,70 num intervalo de 0,59 e a dor em quatro classes de 0 a 10 num intervalo de 2,5 [6].

Resultados e discussoFizeram parte deste estudo 25 pacientes, sendo 17 homens (68%) e 8 mulheres (32%), apresentando uma mdia de idade de 60 2,82 anos. Todos apresentaram diagnstico clnico de cardiopatia isqumica e realizaram sioterapia respiratria e motora, conforme rotina hospitalar. A mdia de percepo da dor no pr-operatrio foi de 0,48 0,87 e, no primeiro dia ps-operatrio, foi de 4,12 2,64, valores que se modicaram no quarto dia ps-operatrio para 2,48 2,20 (Tabela I). A anlise desses resultados pode mostrar diferena signicativa (p = 0,000000) entre todos os grupos (Tabela II).Tabela I - Valores mdios e desvio-padro referentes DOR de pacientes submetidos a CRM.Variveis DORPR DOR1 DOR4 N 25 25 25 Mdia 0,48 4,12 2,48 DP 0,87 2,64 2,20 F 28,12 p 0,000000

Materiais e mtodosA pesquisa caracterizou-se por um estudo quase experimental analtico, atravs do qual se avaliou a dor torcica em repouso e a funo pulmonar no pr-operatrio, no primeiro e quarto dias de ps-operatrio, em 25 pacientes submetidos cirurgia eletiva de revascularizao miocrdica com anastomose mamria e/ou ponte de safena, internados na CTI cardiolgica ou em leitos hospitalares do Hospital So Vicente de Paulo (HSVP) na cidade de Passo Fundo RS, no perodo de maio a julho de 2005. O projeto de pesquisa do presente estudo foi encaminhado e aprovado pelo Comit de tica e Pesquisa do HSVP. Aps, foi encaminhado ao Comit de tica da Universidade de Passo Fundo, na cidade de Passo Fundo, RS, pelo qual obteve aprovao. Posteriormente, foi lido, entregue e assinado pelos pacientes, individualmente, um termo de consentimento livre e esclarecido elucidando de forma clara e objetiva os procedimentos, riscos e benefcios da pesquisa para sua autorizao de participao na mesma. A amostra teve como critrio de excluso pacientes que se negaram a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido ou que exerceram seu direito de desistir, a qualquer momento, de sua participao. Foram preenchidas chas de avaliao contendo dados de identicao pessoal, diagnstico clnico dos pacientes e posteriormente os dados obtidos, primeiramente, atravs

Tabela II - Post Hoc Sche para DOR.1 (0,48) ______ ______ ______ 2 (4,12) 0,000000 ______ ______ 3 (2,48) 0,000712 0,006066 ______

DOR1PR (1) DOR1 (2) DOR4 (3)

A vericao da administrao analgsica foi realizada por meio de dados do pronturio dirio dos pacientes e no interferiu na rotina das avaliaes. Nenhum paciente estava sob efeito analgsico no perodo pr-operatrio, ao passo que, no primeiro e quarto dia de ps-operatrio, 22 (88%) e 13 (52%), respectivamente, haviam utilizado algum tipo de medicamento analgsico antes das avaliaes (Fig. 1 e 2).

16 Figura 1- Controle analgsico no primeiro dia ps-operatrio.

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Tabela IV - Post Hoc Sche para CVF.1 (3,08) ______ ______ ______ 2 (1,26) 0,000000 ______ ______ 3 (1,61) 0,000000 0,043459 ______

CVFPR (1) CVF1 (2) CVF4 (3)

Figura 2 - Controle analgsico no quarto dia ps-operatrio.

A Tabela V mostra que o valor mdio de VEF1 obtido no pr-operatrio foi de 2,16 + 0,81 l/min; no primeiro dia ps-operatrio, a mdia foi de 0,88 + 0,35 l/min e, no quarto dia ps-operatrio, de 1,16 + 0,45 l/min. Com esses dados, pode-se observar diferena signicativa (p = 0,00000) entre o pr e o primeiro dia ps-operatrio e entre o pr e o quarto dia ps-operatrio, porm entre o primeiro e o quarto dia psoperatrio no houve diferena signicativa (p = 0,075691), observada na Tabela VI.Tabela V - Valores mdios e desvio-padro referentes VEF1 de pacientes submetidos a CRM.Variveis VEF1PR VEF11 VEF14 n 25 25 25 Mdia 2,16 0,88 1,16 DP 0,81 0,35 0,45 F 63,34 p 0,00000

Em estudo semelhante, analisou-se a percepo de dor em pacientes submetidos cirurgia cardaca, observando que, mesmo sob o efeito de analgsicos, os pacientes indicavam altos escores nas escalas de dor no perodo ps-operatrio [7]. Esse achado tambm foi comprovado no presente estudo, pois estar ou no sob efeito analgsico no inuenciou na percepo da dor torcica em repouso. No quarto dia de ps-operatrio pde-se vericar uma menor mdia da percepo da dor em relao ao primeiro dia de ps-operatrio, o que pode ser relacionado ao fato de j ter ocorrido a retirada dos drenos. H reduo dos escores da percepo da dor nesses pacientes aps a retirada dos drenos [8]. Na espirometria o valor mdio da CVF foi de 3,08 + 0,80 l/min no perodo pr-operatrio; no primeiro dia psoperatrio a mdia foi de 1,26 + 0,43 l/min e, no quarto dia ps-operatrio, foi de 1,61 + 0,54 l/min. (Tabela III). Com a anlise dos dados identicados (Tabela IV) observou-se diferena signicativa (p = 0,000000) entre o pr-operatrio e o primeiro dia ps-operatrio, entre o pr-operatrio e o quarto dia ps-operatrio e entre o primeiro e quarto dia ps-operatrio.Tabela III - Valores mdios e desvio-padro referentes CVF de pacientes submetidos a CRM.Variveis CVFPR CVF1 CVF4 N 25 25 25 Mdia 3,08 1,26 1,61 DP 0,80 0,43 0,54 F 101,68 p 0,000000

Tabela VI - Post Hoc Sche para VEF1.1 (2,16) ______ ______ ______ 2 (0,88) 0,000000 ______ ______ 3 (1,16) 0,000000 0,075691 ______

VEF1PR (1) VEF11 (2) VEF14 (3)

O principal achado que responde ao objetivo de avaliar a funo pulmonar foi a reduo dos ndices espiromtricos do pr-operatrio para o ps-operatrio. Essa reduo dos volumes pulmonares pode ser explicada pelo fato de os pacientes estudados serem cardiopatas e apresentarem no properatrio uma diminuio do uxo sangneo para os tecidos e, conseqentemente, uma reduo da oferta de oxignio para a musculatura respiratria, podendo acarretar prejuzo funo pulmonar, pois, anal, essa condio est presente nos pacientes desde o pr-operatrio at aps o procedimento cirrgico [3]. Apesar de ocorrerem danos inevitveis na funo pulmonar no ps-operatrio, muitas vezes esses no oferecem signicncia clnica [9]. O sistema de correlaes da anlise multifatorial mostrou neste estudo que a dor no esteve relacionada tanto funo pulmonar quanto ao uso analgsico em nenhum dos momentos analisados. Os valores de CVF e VEF1 diminuram no primeiro dia ps-operatrio, independentemente do tipo de analgsico utilizado [10]. Nos pacientes do presente estudo, percebeu-se que estar ou no sob efeito analgsico no inuenciou os dados de volumes pulmonares e na percepo da dor torcica em repouso (Fig.3).

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007 Figura 3 - Distribuio das variveis de dor, volumes pulmonares e analgsicos.

17

A pesquisa mostrou que 19 pacientes utilizaram a veia safena associada artria mamria interna (Fig. 5). A estabilidade do esterno afetada tanto nos pacientes que utilizaram somente a veia safena como nos que a utilizaram e a artria mamria interna, porm nestes ltimos o aporte sanguneo para os msculos intercostais pode estar reduzido. Esses fatores podem ter favorecido para a reduo da mecnica pulmonar observada no presente estudo e, por conseqncia, a reduo da funo pulmonar quando comparados os valores dos volumes pulmonares do pr-operatrio aos valores obtidos no perodo ps-operatrio [13,14].

ConclusoCom a presente pesquisa, vericou-se que a CRM provoca dor torcica em repouso e altera a funo pulmonar. Os volumes pulmonares diminuram do perodo pr-operatrio para o primeiro dia de ps-operatrio, com aumento dos ndices de CVF e VEF1 no quarto dia de ps-operatrio, sem retornar aos valores iniciais. Fatores como a presena de drenos e tipo de enxerto utilizado podem ter inuenciado nos dados obtidos. O estudo vericou que as variveis de dor torcica em repouso e volumes pulmonares no estiveram relacionadas, mesmo quando analisadas com o uso de analgsicos. H carncia na literatura consultada de estudos que tragam essa relao, pois, observou-se que as variveis so estudadas de forma isolada ou relacionadas a procedimentos que envolvem a CRM. Assim, fazem-se necessrios estudos que analisem essas relaes, at mesmo correlacionando-as, por exemplo, a fatores de riscos e variveis transoperatrias, bem como ao tipo de dreno e enxerto utilizados, j que estes so fundamentais para a realizao desse procedimento cirrgico. Dessa forma, torna-se de suma importncia que o sioterapeuta, bem como os demais prossionais da rea da sade, continue a buscar, atravs de estudos, melhores condies para pacientes tanto no perodo pr-operatrio quanto durante o ps-operatrio.

Aps a CRM, trs pacientes (12%) utilizaram dreno pleural bilateral, seis pacientes (24%), dreno mediastinal e 16 pacientes (64%) zeram uso tanto de dreno pleural quanto mediastinal (Fig.4). Pequenas efuses na pleura inuenciam na reduo dos volumes pulmonares e o posicionamento dos drenos pode ter inuenciado nos resultados referentes funo pulmonar e na percepo da dor [11]. O grupo dos pacientes que realizou a CRM somente com veia safena utilizou somente dreno mediastinal e obteve melhores ndices de CVF e VEF1 em relao ao grupo que realizou o mesmo procedimento cirrgico, porm com o enxerto da artria mamria interna. A literatura mostra que a percepo de dor relatada pelos pacientes menor naqueles que utilizam somente veia safena [12].Figura 4 - Utilizao de drenos.

Referncias1. SantAnna JRM, Castro I. Revascularizao miocrdica. In: Castro I et al. Cardiologia: princpios e prtica. Porto Alegre: Artmed; 1999. p.750-8. 2. Pereira MHC, Slullitel A. Analgesia, sedao e bloqueio neuromuscular no ps-operatrio de cirurgia cardaca. In: Auler Jnior JOC et al. Ps-operatrio de cirurgia torcica e cardiovascular. Porto Alegre: Artmed; 2004. p.116-37. 3. Carvalho JBR et al. Evoluo das presses e volumes pulmonares na cirurgia cardaca. Salusvita 2003;22(1):85-98. 4. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisologia. I Consenso Brasileiro de Espirometria. J Pneumol 1996;22(3):105-64. 5. Pestana MH, Gageiro JN. Anlise de dados para cincias sociais - A complementaridade do SPSS. 3a ed. Lisboa: Slabo; 2003. 6. Carvalho H. Anlise multivariada de dados qualitativos Utilizao da HOMALS com SPSS. Liboa: Slabo; 2004.

Figura 5 - Utilizao da artria mamria interna e/ou veia safena.

187. Boldt J et al. Pan management in cardiac surgery patients: comparison between standard therapy and patient controlled analgesia regimen. J Cardiothorac Vasc Anesth 1998;12(6):654-58. 8. Bonacchi M et al. Respiratory dysfunction after coronary artery bypass grating employing bilateral internal mammary arteries: the inuence of intact pleura. Eur J Cardiothorac Surg 2001;19(6): 827-33. 9. Leguisamo CP et al. A efetividade de uma proposta sioteraputica pr-operatria para cirurgia de revascularizao do miocrdio. Rev Bras Cir Cardiovasc 2005;20 (2):134-41. 10. Boisseau N et al. Improvement of dynamic analgesia does not decrease atelectasis after thoracotomy. Br J Anaesth 2001;87(4):564-69.

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 200711. Bourn J, Jenkins S. Post-operative respiratory physiotherapy (indications for treatment). Physiotherapy 1992;78(2):80-85. 12. Hagl C et al. Site of pleural drain insertion and early postoperative pulmonary function following coronary artery bypass grafting with internal mammary artery. Chest 1999;115:757-61. 13. Berrizbeitia LD et al. Eect of sternotomy and coronary bypass surgery on postoperative pulmonary mechanics comparison of internal mammary and saphenous vein bypass grafe. Chest 1989;96(4):873-76. 14. Vargas FS et al. Relationship between pleural changes after myocardial revascularization and pulmonary mechanics. Chest 1992;102(5):1334-6.

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

19

Artigo original Avaliao da progresso no desempenho e capacidade funcional em indivduos em reabilitao devido sndrome patelofemoral

Improvement evaluation in functional performance and capacity in individual rehabilitation due to patellofemoral syndromeClaudius de Melo Csar, Fabiana Cunha Alves, Leonardo Tadeu Napoleo Gonslves, Juliana Ocarino, M.Sc.*, Paula Lanna, M. Sc.* * Professoras do Centro Universitrio de Belo Horizonte (UNI-BH)

ResumoDe acordo com a Classicao Internacional de Funcionalidade (CIF), o estado funcional de um paciente pode ser classicado em dois componentes distintos: capacidade e desempenho funcional. O objetivo deste estudo foi avaliar a progresso no desempenho, na capacidade funcional e no nvel de dor de indivduos em processo de reabilitao devido a Sndrome Patelo Femoral (SPF). Participaram do estudo, nove indivduos de ambos os sexos, com diagnstico clnico de SPF. Como instrumentos foram utilizados a Escala de Avaliao de Kujala (EAK), a Escala Anloga Visual (EAV) e o Teste de Oscilao e o Teste do Degrau. Os participantes foram avaliados na primeira semana de tratamento, 20 e 40 dias aps a primeira avaliao. Para anlise estatstica foram utilizados o teste de Friedman, uma ANOVA com um nvel de medida repetida e contrastes pr-planejados. Foi observado um aumento signicativo do escore da EAK (p = 0,0001) e do nmero de repeties realizadas no teste de oscilao (p = 0,0001) e no teste do degrau (p = 0,0001), quando comparadas as 3 avaliaes. Em relao intensidade da dor foi observada uma diminuio do nvel de dor apenas quando comparadas as avaliaes 1 e 2. Os resultados do presente estudo demonstraram que pacientes com SPF aps o tratamento sioterpico, tiveram uma melhora signicativa nos 3 nveis de classicao do CIF, avaliados atravs da capacidade, do desempenho funcional e do nvel de dor.Palavras-chave: funo, sndrome patelofemoral, reabilitao.

AbstractAccording to the International Classication of Functioning (ICF), a disease or pathology may have impact on three dierent levels denominated body function and structure, activities and participation. The ICF classies patients functional status in two distinct components: capacity and performance. The objective of this study was to evaluate increasing on performance, capacity and pain in individuals treated due to a patellofemoral syndrome (PFS). Nine individuals with PFS from both sex participated of this study. Kujala Scoring Questionnaire (KSQ) was used to evaluate the functional performance. The level pain of the subjects was evaluated by visual analogue scale (VAS). The step down and balance tests were used to evaluate the functional capacity. The rst evaluation was done in rst week of treatment. The participants had been evaluated again 20 and 40 days after the rst one. To statistical analysis was used the analyses of variance with one level of repeated measure and Friedman test. In addition was used pre planed contrasts. According to obtained results, it was observed a signicant increase in the KSQ score (p = 0.0001) and repetition number realized in the balance (p = 0.0001) and step test (p = 0.0001) after treatment. In addition, was observed a signicant decrease in the pain level when compared the evaluations 1 and 2. The results of the present study demonstrated that patients with PFS after physiotherapy treatment obtained a signicant improvement in the pain and in functional capacity and performance.Key-words: function, knee pain, patellofemoral syndrome, rehabilitation.

Recebido em 5 de junho de 2006; aceito em 20 de janeiro de 2007. Endereo para correspondncia: Juliana de Melo Ocarino, Av. Dr Joo Augusto da Fonseca e Silva, 995, Eldorado, 32341-100 Contagem MG, Tel: 031-33560853 / 9741-8509, E-mail: [email protected]

20

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

IntroduoO processo de reabilitao denido como um conjunto de servios integrados que tem como objetivo, prevenir, avaliar, identicar a ocorrncia de decincias e incapacidades, minimizando-as e revertendo-as [1-4]. Enquanto a medicina visa o controle e a preveno da patologia e seus sintomas, a sioterapia concentra seus esforos nas conseqncias funcionais que uma doena traz. Como uma mesma doena pode ter impacto funcional diferente na vida de cada indivduo, importante se desenvolver intervenes individualizadas para cada paciente [2,4]. Dado isso, importante que haja um modelo terico que enfatize o contedo funcional, explicando todo processo vivenciado por um indivduo desde a instalao da doena at suas conseqncias funcionais [2,4]. A OMS desenvolveu um modelo terico deste tipo, denominado Classicao Internacional de Funcionalidade Incapacidade e Sade (CIF), que busca classicar as conseqncias funcionais de uma doena ou patologia. Este modelo viabiliza a caracterizao de um perl funcional individualizado dos pacientes, guiando o processo de avaliao e interveno sioteraputica [4]. De acordo com a CIF, uma doena ou patologia pode resultar disfunes em trs nveis [4]. O primeiro nvel denominado estrutura e funo do corpo tem como objetivo identicar anormalidades dos sistemas orgnicos. O segundo nvel descreve a diculdade na realizao de tarefas e atividades sendo denominado atividade. O terceiro nvel caracteriza a diculdade de um indivduo participar socialmente e culturalmente, ou seja, o envolvimento de um indivduo numa situao de vida real e denominado participao [5]. Nestes dois ltimos nveis, existem dois itens que os qualicam: a capacidade e o desempenho [4]. A capacidade descreve a aptido de um indivduo para executar uma tarefa ou uma ao, tendo como objetivo avaliar o nvel mximo de funo que a pessoa pode atingir. No entanto, necessrio ter um ambiente padronizado para excluir qualquer interferncia de ambientes diferentes. O desempenho descreve aquilo que o indivduo faz no seu ambiente de vida diria, incluindo o contexto social. Portanto, a capacidade e o desempenho qualicam a atividade e participao em um ambiente padronizado e real de vida diria, respectivamente, proporcionando uma informao importante para o prossional da sade atuar no ambiente do individuo e melhorar seu desempenho. importante que os prossionais da equipe de reabilitao, incluindo o sioterapeuta, conhea os trs nveis de funo, especicadas pelo modelo j citado, para que as teraputicas relacionadas visem, mudanas nestes trs nveis e no sejam baseadas apenas em informaes sobre a patologia [2,4]. A Sndrome Patelo Femoral (SPF) uma patologia ou entidade clnica comum usada para descrever uma variedade de condies patolgicas associadas com a articulao entre a superfcie patelar e o cndilo femoral [5-8]. comum encontrar na grande maioria dos portadores com a SPF dores

difusas no joelho, creptao, subluxao, rigidez na articulao do joelho, edema, alterao distrca da pele e decrscimo no nvel de atividades [6,7,9-11]. Apesar da siopatologia da SPF ser ainda desconhecida, ela pode ser causada por uma variedade de fatores incluindo a fraqueza do quadrceps, insucincia do vasto medial oblquo (VMO) associado tenso do msculo vasto lateral (VL), aumento do ngulo Q, tenso do retinculo lateral, mau alinhamento patelar e alteraes biomecnicas nas extremidades inferiores [1,2,7,9,11-18]. Portanto, indivduos acometidos pela SPF podem apresentar disfunes. Essas possveis causas da SPF esto relacionadas com o nvel de estrutura e funo do corpo. Alm das disfunes anteriores, indivduos com SPF tambm apresentam restries no nvel de atividade tais como sentar e car ajoelhado por tempo prolongado, subir e descer escadas, agachar, correr, atividades que requerem exo repetitivas do joelho [5,7,10,19-21]. No nvel de participao os indivduos podem apresentar restries que afetam seu papel social na comunidade, interferindo em suas atividades dirias e esportes [1]. Portanto, os estudos encontrados na literatura demonstram claramente o impacto funcional da SPF. Como os sioterapeutas centram suas aes na resoluo das disfunes resultantes de uma patologia, estes prossionais parecem ter um papel fundamental no tratamento de indivduos apresentando a SPF [22]. As aes do sioterapeuta so centradas no tratamento das disfunes no nvel da estrutura e funo do corpo [23-26]. No entanto, espera-se que as intervenes resultem em modicaes tambm em outros nveis. Apesar disto, poucos estudos documentam as progresses funcionais no nvel de atividade de indivduos com SPF submetidos a tratamento sioteraputico. Dessa forma, foi objetivo do presente estudo, avaliar a progresso no desempenho e na capacidade funcional, alm da melhora da dor de indivduos em processo de reabilitao que apresentam a SPF.

Materiais e mtodos AmostraNove voluntrios com diagnstico clnico de Sndrome Patelo Femoral (SPF) participaram do estudo. Os participantes foram 4 homens e 5 mulheres com mdia de idade de 29,43 (DP = 12,29) que estavam iniciando o tratamento no Centro Universitrio Uni-BH e PUC-Betim. Aqueles indivduos que j se encontravam em tratamento sioterpico e/ou aqueles que foram submetidos a procedimentos cirrgicos para SPF no foram includos no estudo. O perl de atendimento sioteraputico da Clnica Escola do UNIBH e PUC Betim baseado na losoa do modelo da OMS CIF. O tratamento foi individualizado e visou intervir nas disfunes especcas encontradas nos pacientes durante a avaliao, no sendo baseado em protocolos determinados apenas por informaes a respeito da patologia. Alm disso,

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

21

o tratamento buscou o aumento da capacidade dos pacientes para lidar com as demandas especcas de suas atividades. Esta pesquisa foi aprovada pelo comit de tica em Pesquisa do UNI-BH.

InstrumentaoPara avaliar o desempenho funcional dos indivduos com SPF, foi utilizada a Escala Funcional de Kujala (EFK). Esta escala constituda de 13 perguntas de mltipla escolha relacionadas a atividades de vida diria (AVDs) e a diculdade em realiz-las. A EFK foi escolhida por ter suas propriedades psicomtricas documentadas. Alm de ter sido validada para pacientes com SPF, possui alta responsividade e conabilidade (ICC de 0,81) [20]. Para quanticar a dor do paciente foi utilizada a Escala Anloga Visual (EAV), numerada de 0 a 10 sendo, 0 nenhuma dor e 10 dor mxima [27].

pante posicionou as pontas dos ps na marca inicial, oscilou uma das pernas e em seguida apoiou o calcanhar frente o mais distante possvel sem desequilibrar. Esta atividade foi realizada continuamente durante 30 segundos e o nmero de repeties foi quanticado. Cada repetio foi considerada vlida para a contagem, somente quando o participante conseguia atingir, a marca de 80% ou ultrapassasse a mesma. Ambos os testes foram realizados com as duas pernas, sendo a primeira avaliao realizada na perna no acometida ou na perna menos acometida. A ordem de realizao dos testes de capacidade foi randomizada. A primeira sesso de testes foi realizada no mximo 1 semana aps o incio do tratamento dos voluntrios (avaliao 1). Os mesmos foram reavaliados 20 dias (avaliao 2) e 40 dias (avaliao 3) aps a primeira avaliao.

Anlise estatsticaUma anlise de varincia (ANOVA) com um nvel de medida repetida foi utilizada para vericar diferenas nas mdias das variveis dependentes: EFK, testes do degrau e oscilao nas trs avaliaes. Contrastes pr- planejados foram utilizados para vericar os pares entre os quais as diferenas forma signicativas. Teste no paramtrico de Friedman com contraste foi utilizado para analisar os resultados obtidos na EAV de dor. Foi estabelecido um nvel de signicncia de 0,05 para todas as anlises.

ProcedimentoInicialmente todos os participantes foram informados sobre os procedimentos do estudo e assinaram um termo de consentimento concordando com sua participao no mesmo. Em seguida foi indagado ao voluntrio o quanto de dor ele sentiu na ltima semana, sendo quanticada atravs da EAV. Aps a avaliao da dor, foi aplicada a EFK, sendo que os participantes responderam aos aplicadores qual opo dentre as oferecidas melhor representava sua realidade. O escore da EFK foi calculado fazendo-se a soma dos pontos referentes s respostas dadas pelos participantes em cada questo. Aps a avaliao do desempenho funcional e da dor, a capacidade funcional foi avaliada atravs de dois testes especcos descritos na literatura [7]. O primeiro teste, denominado Teste do Degrau uma avaliao unilateral, realizada a partir de uma plataforma de 17cm de altura. Para a realizao deste teste, o voluntrio permanecia com os dois ps na plataforma, e em seguida dava um passo frente com uma das pernas, encostando a ponta dos dedos no cho e imediatamente retornava a mesma para o degrau, estendendo a perna de apoio. Este movimento repetiu-se continuamente durante 30 segundos, e foi registrado para anlise o nmero de repeties que o participante conseguiu realizar. O segundo teste denominado Teste de oscilao. Para a sua realizao, primeiramente foi solicitado ao participante para oscilar sua perna acometida (ou mais acometida) e apoiar o seu calcanhar frente, alcanando a maior distncia possvel, sem perder o equilbrio. A distncia entre a ponta do p de apoio e o calcneo da perna foi ento mensurada. Este procedimento foi realizado trs vezes e a maior medida foi registrada. Em seguida, calculou-se o valor referente a 80% da distncia mxima alcanada e esta distncia foi marcada com ta crepe no cho. Para a realizao do teste, o partici-

Resultados Escala funcional KujalaA ANOVA demonstrou que houve um aumento signicativo no escore obtido na EFK aps o tratamento (F = 31,249; p = 0,0001). Os contrastes pr-planejados demonstraram diferenas signicativas entre todas as avaliaes: 1X2 (p = 0,0001), 1X3 (p = 0,0001) e 2X3 (p = 0,0203).Figura 1 - Mdias e desvios padro dos escores obtidos no questionrio de Kujala nas avaliaes 1, 2 e 3.

22

Fisioterapia Brasil - Volume 8 - Nmero 1 - janeiro/fevereiro de 2007

Teste do degrauPara o teste do degrau, a ANOVA demonstrou um aumento signicativo no nmero de repeties realizadas pelos participantes (F = 42,385; p = 0,0001). Os contrastes pr planejados tambm demonstraram diferenas signicativas entre todas as avaliaes: 1x2 (p = 0,0001), 1x3 (p = 0,0001) e 2x3 (p = 0,0007).Figura 2 - Mdias e desvios padro do nmero de repeties obtidos no Teste do Degrau nas avaliaes 1, 2 e 3.

DiscussoVisto que o processo de reabilitao um conjunto de servios integrados que previne, avalia, identica a ocorrncia de decincias e incapacidades objetivando minimiz-las e revert-las, a sioterapia necessitou de um modelo terico que enfatizasse o contedo funcional, que difere do modelo mdico. O modelo denominado CIF [4], desenvolvido pela OMS satisfaz esta necessidade. Neste modelo esto classicados trs nveis nos quais uma doena ou patologia pode ter impacto: Estrutura e Funo do Corpo, Atividades e Participao. Como todas as patologias ou doenas, a SPF leva o indivduo alterao nestes trs nveis propostos na CIF comprometendo assim o nvel de funcionalidade do indivduo. Normalmente, a ao da sioterapia se concentra no nvel de estrutura e funo do corpo da CIF, buscando tambm alterao nos outros dois nveis. Entretanto, atualmente poucos estudos documentaram os resultados desta atuao no nvel de atividade e participao. Assim, este estudo tem como objetivo somar conhecimento a respeito de resultados obtidos com o tratamento sioterpico ao avaliar a progresso da capacidade e desempenho funcional de pacientes com dor femoro patelar. De acordo com os resultados obtidos no presente estudo, foi observada uma melhora signicativa no desempenho funcional desses pacientes, detectado atravs da EFK. O escore obtido neste questionrio aumentou signicativamente ao comparar as avaliaes iniciais, aps 20 dias e aps 40 dias de tratamento. Estes resultados esto em concordncia com outros estudos que demonstraram uma melhora no desempenho funcional de pacientes com SPF aps tratamento sioterpico utilizando diferentes tipos de questionrio [23-26]. Witvrouw et al. [26] e Callaghan et al. [24] observaram uma melhora signicativa no escore da avaliao de Kujala aps o tratamento. Estes achados demonstram uma melhora no que o indivduo faz no seu ambiente de vida diria, incluindo o contexto social, proporcionando uma informao importante para o prossional da sade atuar no ambiente do individuo para melhorar seu desempenho funcional. Os nmeros de repeties realizados nos testes do Degrau e Oscilao aumentaram signicativamente aps o tratamento de forma progressiva. Dessa forma, alm da melhora no desempenho funcional foi observado um ganho signicativo tambm na capacidade funcional desses pacientes. Ou seja, aps o tratamento sioterpico, o estado funcional do indivduo seja no ambiente padronizado ou habitual apresentou uma melhora signicativa. Em relao avaliao de intensidade de dor, classicada pela CIF como estando no nvel de estrutura e funo do corpo, foi observada uma melhora signicativa da dor aps o tratamento. A diminuio na pontuao da EAV foi signicativa quando comparadas apenas as avaliaes iniciais (avaliao 1) e no vigsimo dia (avaliao 2). A pontuao obtida na avaliao 2 e 3 no diferiram estatisticamente. Este

Teste de oscilaoA ANOVA demonstrou um aumento signicativo no nmero de oscilaes realizadas pelos participantes F = 36,514; p = 0,0001). Nos contrastes pr planejados foi detectad