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PROCESSO Nº 0000351-73.2016.4.05.8200 RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 2.324/PB ORIGEM: 16ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADOR DA REPÚBLICA: WERTON MAGALHÃES COSTA RECORRIDO: VICTOR GOUVÊIA TAVARES DA SILVA ADVOGADO: MARCOS ANTÔNIO LEITE RAMALHO JÚNIOR RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ALEXANDRE LUNA FREIRE 1ª TURMA E M E N T A «173» PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME AMBIENTAL. DENÚNCIA. REJEIÇÃO. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DESPROVIMENTO. I - Recurso em Sentido Estrito interposto à Decisão proferida nos autos de Ação Criminal, que rejeitou Denúncia, a qual atribui ao Denunciado a prática dos Crimes previstos nos artigos 40 e 48 da Lei nº 9.605/1998, por conduzir veículo automotor em área de Praia, localizada em Unidade de Conservação Ambiental, causando Danos ao Meio Ambiente. II A Lei nº 9.503/1997 regula o Trânsito de qualquer natureza (por pessoas, veículos e animais) nas vias terrestres do Território Nacional (artigo 1º), sendo que as Praias abertas à circulação pública são consideradas vias terrestres, que terão seu uso regulamentado pela Entidade Pública com circunscrição sobre elas, de acordo com as peculiaridades locais e as circunstâncias especiais (artigo 2º). III - Compete aos Órgãos e Entidades Executivos Rodoviários da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, no âmbito de sua circunscrição, cumprir a Legislação e as Normas de Trânsito, no âmbito de suas Atribuições, executar a Fiscalização de Trânsito, autuar, aplicar as Penalidades de Advertência, por escrito, e ainda as Multas e Medidas Administrativas cabíveis, notificando os Infratores e arrecadando as Multas que aplicar (artigo 21). IV - Transitar em área de Praia, em local e horário não permitidos, sujeita o Infrator à Multa (artigo 187), razão pela qual a condução de veículo automotor, nestas condições, constitui Infração Administrativa. Não vai ao ponto de convergir para a Tipicidade Criminal. V Ademais, sobre o Delito do artigo 40 da Lei nº 9.605/1998 considera-se que É pressuposto para a configuração do delito ambiental em comento a ocorrência de dano direito ou indireto à Unidade de Conservação e às áreas particulares localizadas nos seus limites territoriais que tenham sido incorporadas ao domínio público, através de desapropriação.(AC nº 9.172, Relator Desembargador Federal Luiz Alberto Gurgel de Faria, 3ª Turma do TRF-5ª Região, DJE de 24.07.2013, p. 101). Esta premissa vale, igualmente, para a Infração do artigo 48 da mesma Lei. VI A Conduta em cogitação amoldar-se-ia a eventual Infração de Trânsito e ausente caracterização técnica, alusiva a Dano(s) ambiental(is) específico(s) causado(s) por 1 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL ALEXANDRE LUNA FREIRE

E M E N T A · 2017-05-09 · A autuação lavrada contra o denunciado é clara, ... o Sr. Pedro Augusto Macedo Lins, f. 50, o veículo conduzido ... O Ministério Público Federal

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PROCESSO Nº 0000351-73.2016.4.05.8200 – RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº2.324/PBORIGEM: 16ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBARECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADOR DA REPÚBLICA: WERTON MAGALHÃES COSTARECORRIDO: VICTOR GOUVÊIA TAVARES DA SILVAADVOGADO: MARCOS ANTÔNIO LEITE RAMALHO JÚNIORRELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ALEXANDRE LUNA FREIRE – 1ª TURMA

E M E N T A«173»

PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME AMBIENTAL. DENÚNCIA. REJEIÇÃO.RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DESPROVIMENTO.I - Recurso em Sentido Estrito interposto à Decisão proferida nos autos de Ação Criminal,que rejeitou Denúncia, a qual atribui ao Denunciado a prática dos Crimes previstos nosartigos 40 e 48 da Lei nº 9.605/1998, por conduzir veículo automotor em área de Praia,localizada em Unidade de Conservação Ambiental, causando Danos ao Meio Ambiente.II – A Lei nº 9.503/1997 regula o Trânsito de qualquer natureza (por pessoas, veículos eanimais) nas vias terrestres do Território Nacional (artigo 1º), sendo que as Praiasabertas à circulação pública são consideradas vias terrestres, que terão seu usoregulamentado pela Entidade Pública com circunscrição sobre elas, de acordo com aspeculiaridades locais e as circunstâncias especiais (artigo 2º).

III - Compete aos Órgãos e Entidades Executivos Rodoviários da União, Estados, DistritoFederal e Municípios, no âmbito de sua circunscrição, cumprir a Legislação e as Normasde Trânsito, no âmbito de suas Atribuições, executar a Fiscalização de Trânsito, autuar,aplicar as Penalidades de Advertência, por escrito, e ainda as Multas e MedidasAdministrativas cabíveis, notificando os Infratores e arrecadando as Multas que aplicar(artigo 21).IV - Transitar em área de Praia, em local e horário não permitidos, sujeita o Infrator àMulta (artigo 187), razão pela qual a condução de veículo automotor, nestas condições,constitui Infração Administrativa. Não vai ao ponto de convergir para a TipicidadeCriminal.V – Ademais, sobre o Delito do artigo 40 da Lei nº 9.605/1998 considera-se que “Épressuposto para a configuração do delito ambiental em comento a ocorrência de danodireito ou indireto à Unidade de Conservação e às áreas particulares localizadas nos seuslimites territoriais que tenham sido incorporadas ao domínio público, através dedesapropriação.” (AC nº 9.172, Relator Desembargador Federal Luiz Alberto Gurgel deFaria, 3ª Turma do TRF-5ª Região, DJE de 24.07.2013, p. 101). Esta premissa vale,igualmente, para a Infração do artigo 48 da mesma Lei.VI – A Conduta em cogitação amoldar-se-ia a eventual Infração de Trânsito e ausentecaracterização técnica, alusiva a Dano(s) ambiental(is) específico(s) causado(s) por

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transitar com veículo automotor sobre área(s) de duna e de vegetação de restinga,situada(s) em Unidade de Conservação Ambiental, a implicar a carência de Justa Causaà Persecução Criminal, cuja propositura pressupõe, minimamente, a Tipicidade.VII – Desprovimento do Recurso em Sentido Estrito.

A C Ó R D Ã O

Vistos e relatados estes autos em que são Partes as acima indicadas, decide aPrimeira Turma do Egrégio Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade,negar Provimento ao Recurso em Sentido Estrito, nos termos do Relatório e do Voto doRelator constantes dos autos, que integram o presente Julgado.

Recife, 16 de Fevereiro de 2017 (Data do Julgamento).

Desembargador Federal ALEXANDRE LUNA FREIRERelator

«174»

HFO/PSM/CLS

R E L A T Ó R I O

Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto pelo Ministério Público Federalem face de Decisão proferida nos autos do Processo 0000351-73.2016.4.05.8200, querejeitou Denúncia, a qual atribui a Victor Gouvêia Tavares da Silva a prática dos Crimes

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Ambientais previstos nos artigos 40 e 48 da Lei nº 9.605/19981

, por conduzir veículo automotor em área de Praia, localizada em Unidade deConservação Ambiental, causando Danos ao Meio Ambiente.

Consta na Denúncia:

“O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL por intermédio do Procurador da República que estasubscreve, no uso de suas atribuições legais, vem, respeitosamente, com base no inquérito policialincluso e de conformidade com o preconizado no art. 41 do Código de Processo Penal brasileiro,oferecerDENÚNCIAcontraVICTOR GOUVEIA TAVARES DA SILVA, brasileiro, solteiro, estudante, nascido aos 13/03/1995,natural de Paris/França, portador da cédula de identidade nº 3194782/SSP-PB, inscrito no CPF sob onº 065.943.974-35, filho de Gustavo Tavares da Silva e Yone Wanderlei da Nobrega Gouveia,residente na Rua Maria Facunda de Oliveira Dias, 90 – apto. 1101, Brisamar, João Pessoa-PB combase nos fatos e fundamentos que passa a expor, ao final requerendo:O réu, livre e conscientemente, dirigiu veículo automotor sobre praia situada em Área deProteção Ambiental (APA), causando danos à referida Unidade de Conservação (UC).No dia 1º de fevereiro de 2014, o denunciado teve o veículo MMW4817 (de propriedade de sua tiaNelbe Wanderley da Nobrega Gouveia, f. 34), autuado pelo ICMBIO (Auto de Infração nº 007887/PB,fls. 06/10), por tê-lo conduzido sobre a areia da praia Barra do Rio Mamanguape, no Municípiode Rio Tinto/PB.O art. 40 da Lei 9.605/98 prevê pena de reclusão de um a cinco anos para quem ‘causar dano direitoou indireto às Unidades de Conservação [...]’; do § 1º do art. 40-A, depreende-se que o tipo abarca,também, as UCs de Uso Sustentável (nos termos do art. 14, I, da Lei 9.985/2000, as APAs sãoclassificadas como UCs de Uso Sustentável).

1 Lei 9.605/98 �Seção II�Dos Crimes contra a Flora�Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização:�Pena - reclusão, de um a cinco anos.�§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção Integral as Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e os Refúgios de Vida Silvestre. (Redação dada pela Lei nº 9.985, de 2000)�§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Proteção Integral será considerada circunstância agravante para a fixação da pena. (Redação dada pela Lei nº 9.985, de 2000)�§ 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. �Art. 40-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000)�§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural. (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000) �§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Uso Sustentável será considerada circunstância agravante para a fixação da pena. (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000)�§ 3o Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000)�Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação:�Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.�

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Por seu turno, o art. 48 da mesma lei define como crme ‘Impedir ou dificultar a regeneração naturalde florestas e demais formas de vegetação: Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.A APA em questão foi criada pelo Decreto nº 924, de 10 de setembro de 1993, com o objetivo de seconservar o habitat do peixe-boi marino (Trichechus manatus) e de outras espécies ameaçadas deextinção, os remanescentes de manguezal e mata atlântica e os recursos hídricos ali existentes.É de público e notório conhecimento na região que a área é de protegida.A autuação lavrada contra o denunciado é clara, registrando que causou dano, trafegandocom carro na área de praia (localizada dentro da extensa área coberta pela APA da Barra doRio Mamanguape).O Relatório de Fiscalização – Parte II (f. 13/14) destaca aspectos cruciais: houve consequênciasnegativas para o meio ambiente, comprometimento da biota, dos recursos naturais e da qualidadeambiental, em área que não tem boa resiliência.E, conforme o Laudo 542/2014 (fls. 28/33), observou-se que o local da infração é constituído dedunas arenosas de origem marinha, recobertas por vegetação de restinga, verificando-se aexistência de faixas de areia desprovidas de vegetação, formando trilhas ou caminhos, sendotais faixas resultantes de ação humana, como tráfego de pessoas e veículos, muito emborahaja plana de sinalização informando a proibição de trânsito de veículos (anote-se, porém, quea existência de sinalização não faz parte do tipo penal!).O laudo ainda acentua que a passagem de veículos gera modificação da paisagem, com alteraçãofísica do relevo e destruição de vegetação, com impacto negativo e alteração na configuração naconfiguração original do terreno com impedimento (ou dificuldade) na regeneração da restinga.De acordo com o analista do ICMBIO, o Sr. Pedro Augusto Macedo Lins, f. 50, o veículo conduzidopelo denunciado, para ter chegado até o local da abordagem (na APA, vindo da Praia de Campina),teve que passar necessariamente por trecho de vegetação e dunas; esclareceu que a condução deveículos dessa forma causa destruição de vegetação de restinga, possível destruição deninhos de tartaruga e compactação do solo.É possível, assim, atribuir o resultado danoso às pessoas que, como o denunciado, avançamcom seus veículos sobre áreas de delicada condição ambiental e por esta razão preservadas,sem qualquer preocupação com a integridade da flora e da fauna e com as consequências dasua deterioração. Obviamente, não pode existir, nunca demonstração paupável imediata dodano causado em particular pelo denunciado, já que resultado decorre da atividade demúltiplas pessoas que agem como ele. Mas se ninguém entender isso, como o tempo, todo oambiente estará desfigurado, sem que o judiciário, em sua ingenuidade, tenha encontrado um únicoculpado.Ademais, isentar pessoas que praticam essa conduta desmoraliza e desestimula a fiscalização (vidematerial anexo a esta denúncia), estimulando a continuidade da prática lesiva e aprovando aagressão ao meio ambiente, na contramão do que reza a Constituição Federal.Conclui-se que o acusado incorreu na conduta tipificada nos arts. 40 48 da Lei 9.605/98, em concursoformal.Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FDERAL requer o recebimento da presente inicialacusatória, citando-se o denunciado para apresentação de resposta no prazo decenal, na forma dosarts. 396 e 396-A do CPP, de acordo com o procedimento ordinário, e, ato contínuo, rejeitadaseventuais arguições materiais e formais apresentadas pela defesa, seja designada audiência deinstrução e julgamento para oitiva de testemunhas, produção de outras provas requeridas einterrogatório do acusado, a teor do estabelecido pelo art. 400 e seguintes do CPP.Requer, por oportuno, que V. Exa. Requisite cópia integral do processo administrativo referente àautuação.João Pessoa, 3 de fevereiro de 2016.WERTON MAGALHÃES COSTAProcurador da República”

A Decisão rejeitou a Denúncia, verbis:

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“1. O Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra VICTOR GOUVEIA TAVARES DA SILVA,imputando-lhe a prática dos delitos tipificados nos artigos 40 e 48 da Lei n.º 9.605/98, em concursoformal impróprio.2. Em apertada síntese, narra a peça acusatória que o denunciado conduziu, no dia 1.º/02/2014,veículo automotor, placa MMW-4817, sobre praia situada em área de proteção ambiental (praia Barrado Rio Mamanguape), no Município de Rio Tinto/PB, causando danos à referida unidade deconservação.3. De início, a peça inaugural apresenta os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal,estando qualificado o denunciado, suficientemente descritos os fatos e classificado o crime, a fim depermitir o exercício da ampla defesa.4. Contudo, falece justa causa à propositura da ação penal. Vejamos. A situação de fatodescrita na denúncia não se constituiu em um delito, máxime pela ausência de prova mínimade que a infração cometida tivesse ocasionado danos ambientais.5. O réu foi autuado por "causar dano a U.C (unidade de conservação), APA Barra do RioMamanguape, trafegando com carro na área de praia sem autorização" (fl. 10 - IPL). Entrementes, aconduta de dirigir veículo nessas áreas, ainda que possa ter caracterizado infração denatureza administrativa, não se configura fato típico, mormente pela ausência de maioresimpactos ambientais.6. Note-se, à luz do Relatório de Fiscalização - AI 007887-B, que os agentes do Instituto ChicoMendes de Conservação de Biodiversidade concluíram de forma genérica pela a existência dedano ao ambiente natural com lastro em mera presunção. É esta a conclusão em comento: "Otrânsito de veículos sobre as praias poderá causar sérios danos da destruição de ninhos detartarugas, afetando substancialmente na reprodução das tartarugas daquele ambiente" (fl. 12/14 -IPL).7. Com efeito, não há evidência de lesão ao meio-ambiente, eis que o mero tráfego de veículoem praia ou duna, conquanto possa ocasionar alteração do ambiente natural, no caso, por terse tratado de uma conduta isolada, e sem a demonstração in concreto do dano ambiental ouda potencialidade lesiva, não pode ser tido como um fato típico.8. É bem verdade que a perícia realizada identificou a existência de faixas de areia desprovidas devegetação, formando trilhas, como resultado da ação humana (fls. 28/33 - IPL).9. Ocorre que sequer foi indicado que esses caminhos foram produzidos pelo acusado quandoconduzia seu veículo, afora que se afigura desarrazoado supor que esses trilhos de areia nãoexistissem no momento em que o denunciado por lá passara ao conduzindo seu veículo.10. Ademais, o laudo apenas indicou que a passagem de veículos automotores, a depender daintensidade e do tempo, pode comprometer a paisagem, ocasionar alteração física do relevo edestruição da vegetação, mas, em momento algum, destacou algum comportamento da conduta deVICTOR GOUVEIA TAVARES DA SILVA, ou mesmo tenha a ele imputado a autoria dos supostosdanos.11. A par das premissas já fixadas, entendo que busca o membro do MPF transformar crimes dedano em delitos de perigo abstrato, já que os tipos dos art. 40 e 48 da Lei n.º 9.605/98 reclamam,para os escorreitos enquadramentos nas regras, respectivamente, a existência de dano (art. 40) eimpedimento ou criação de obstáculos para a regeneração do ambiente natural, não sendo suficiente,assim, a exposição do meio a risco, reputando, de forma exclusiva, a conduta imputada ao agente.12. Assim, tendo em conta a desconformidade entre a conduta narrada na denúncia e os tipos dosartigos 40 e 48 da Lei 9.605/98, reconheço a atipicidade formal das condutas ora imputadas aoacusado VICTOR GOUVEIA TAVARES DA SILVA, não obstante entenda que a condução deveículo em praia e duna é remerecedora de sanção administrativa.13. Ante o exposto, REJEITO a denúncia por ausência de justa causa - atipicidade formal -, nostermos do art. 395, III, do Código de Processo Penal.14. Ciência à MPF.

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15. Após o transcurso do prazo recursal, dê-se baixa e arquive-se.16. João Pessoa, 18 de março de 2016.CRISTINA MARIA COSTA GARCEZJuíza Federal Titular da 3ª Vara, no exercício da titularidade da 16ª Vara”

As Razões do Recurso em Sentido Estrito:

“Razões de Recurso em Sentido EstritoColenda TurmaO MPF não se conforma com a ideia de que basta, no caso concreto, a atuação administrativa ou deque não houve dano comprovado.Guiar veículo sobre areia de praia (duna) e vegetação de restinga, como fez o recorrido,especialmente em áreas de proteção ambiental (APA), como a da Barra do Rio Mamanguape(uma unidade de conservação), mostra-se altamente gravoso para o meio ambiente.A conduta do recorrido foi livre e consciente, causando danos à referida Unidade de Conservação(UC), e deve, sim, responder pelos artigos da L. 9605/98 indicados na denúncia.Não podemos concordar com a conclusão da decisão, quando temos presente que a autuaçãolavrada contra o denunciado registrou o dano decorrente do tráfego com carro na área de praia(localizada dentro da extensa área coberta pela APA da Barra do Rio Mamanguape).O Relatório de Fiscalização — Parte II (f. 13/14) destacou aspectos cruciais: houve consequênciasnegativas para o meio ambiente, comprometimento da biota, dos recursos naturais e da qualidadeambiental, em área que não tem boa resiliência.E, conforme o Laudo 542/2014 (fls. 28/33), observou-se que o local da infração é constituído dedunas arenosas de origem marinha, recobertas por vegetação de restinga, verificando-se a existênciade faixas de areia desprovidas de vegetação, formando trilhas ou caminhos, sendo tais faixasresultantes de ação humana, como tráfego de pessoas e veículos, muito embora haja placa desinalização informando a proibição de trânsito de veículos (anote-se, porém, que a existência desinalização não faz parte do tipo penal).O laudo ainda acentua que a passagem de veículos gera modificação da paisagem, com alteraçãofísica do relevo e destruição de vegetação, com impacto negativo e alteração na configuração originaldo terreno com impedimento (ou dificuldade) na regeneração da restinga.De acordo com o analista do ICMBIO, o Sr. Pedro Augusto Macedo Lins, f. 50, o veículo conduzidopelo denunciado, para ter chegado até o local da abordagem (na APA, vindo da Praia de Campina),teve que passar necessariamente por trecho de vegetação e dunas; esclareceu que a conduçãode veículos dessa forma causa destruição de vegetação de restinga, possível destruição de ninhosde tartaruga e compactação do solo.Não há nada de genérico nisso, como, equivocadamente, entendeu a decisão.É possível, assim, atribuir o resultado danoso às pessoas que, como o denunciado, avançamcom seus veículos sobre áreas de delicada condição ambiental e por esta razão preservadas,sem qualquer preocupação com a integridade da flora e da fauna e com as consequências da suadeterioração. Obviamente, não pode existir, nunca, demonstração palpável imediata do dano causadoem particular pelo denunciado, já que resultado decorre da atividade de múltiplas pessoas que agemcomo ele. Mas se ninguém entender isso, com o tempo, todo o ambiente estará desfigurado, semque o judiciário, em sua ingenuidade, tenha encontrado um único culpado.O que deseja o eminente juízo monocrático? Que haja um laudo prévio demonstrando, porexemplo, que determinada semente deixou brotar porque o recorrido passou ali com seucarro? Isso não é razoável. E são raciocínios desse jaez que enfraquecem a luta pelaconservação do meio ambiente, a ponto de podermos afirmar sua inconstitucionalidade, àmedida que não garante sua preservação para as gerações futuras.

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Ademais, isentar pessoas que praticam essa conduta desmoraliza e desestimula a fiscalização (vidematerial anexo a esta denúncia), estimulando a continuidade da prática lesiva e aprovando aagressão ao meio ambiente, na contramão do que reza a Constituição Federal.Mesmo que o dano não tenha sido provocado "exclusivamente" pelo recorrido, sua participaçãonão há de ser desprezada e o judiciário deve processar e julgar mesmo aquele que, a conta-gotas, contribui para um crime; imagine-se a situação de um grupo de 500 pessoas que, atentandocontra a vida de alguém, lhe obrigasse a ingerir 2m1 de água sanitária; se cada pessoa apenasforçasse a vítima a engolir esses 2m1 (que não é capaz de matar ninguém), todos escapariam dajustiça se a lógica da decisão recorrida prevalecer, mesmo sabendo que, após ingerir 1 litro, a pessoamorreria.Barrar uma acusação como a dos autos logo de início é deveras temerário.O laudo elaborado por peritos da Polícia Federal também é explícito (veja-se, em especial, o queconsta às f. 33 do IPL).Segundo o servidor do ICMBio (f. 50), conforme declarações que certamente confirmará em juízo, odenunciado estava dentro da APA da Barra do Rio Mamanguape; passou por dunas; passou por cimade vegetação; dirigir carro onde já havia sido destruída a vegetação pode dificultar a regeneração emvirtude de aumentar a compactação; quem está dirigindo não pode ter certeza de que não há ninhode tartaruga na praia onde transitou; devem ser repelidas as alegações do denunciado, pois o veículoteria de passar, sim, por cima de vegetação e dunas.É possível, assim, atribuir o resultado danoso às pessoas que, como recorrido, avançam com seusveículos sobre áreas de delicada condição ambiental e por esta razão preservadas, sem qualquerpreocupação com a integridade da flora e da fauna com as consequências da sua deterioração.Obviamente, não pode existir, nunca, demonstração palpável imediata do dano causado em particularpelo denunciado, já que resultado decorre da atividade de múltiplas pessoas que agem como ele.Mas se ninguém entender isso, com o tempo, todo o ambiente estará desfigurado, sem que ojudiciário, em sua ingenuidade, tenha encontrado um único culpado.Perceba-se como condutas como a ora descrita causam compactação de dunas e vegetação morta,pouco importando a efetiva existência de placas/avisos esclarecedores (mas registre-se que essasplacas não são exigência do tipo penal).Enfim, ao contrário do que entendeu a decisão, já existe prova da infração penal, e mais provasse robustecerão com as testemunhas... há, sim, grandes impactos ambientais! Há danoconcreto, e o recorrido contribuiu para seu agravamento (é preciso ouvir as testemunhas, quepoderão esclarecer melhor em juízo).É muito injusto com a vítima (a sociedade), aniquilar, já em seu nascedouro, a presente açãopenal.Junta-se noticiário que revela a importância do combate a condutas como a destes autos, erecomenda-se a leitura de "O ESTUDO DO IMPACTO DA CIRCULAÇÃO DE VEÍCULOS EMPRAIAS ARENOSAS ATRAVÉS DE PARÂMETROS FÍSICOS",Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer o provimento deste recurso, para o fimde receber-se a denúncia.João Pessoa, 30 de maio de 2016.WERTON MAGALHÃES COSTAProcurador da República”

As Contrarrazões foram no sentido da manutenção da Decisão recorrida.

A Procuradoria Regional da República opinou pelo Provimento do Recurso:

“PARECER 71/2017I-DO RELATÓRIO

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Trata-se de ação penal movida pelo MPF em desfavor de VICTOR GOUVEIA TAVARES DA SILVA,na qual lhe imputa o cometimento do crime capitulado nos arts. 40 e 48 da Lei n°9.605/98, emconcurso formal próprio.Narra a exordial acusatória que no dia 01/02/2014, o denunciado teve o veículo MMW4817 autuadopelo ICMBio (auto da infração n 007887/B, fls. 06/10), por tê-lo conduzido sobre a areia da praiaBarra do Rio Mamanguape, Município de Rio Tinto/PB.A denúncia foi rejeitada em 18/03/2016, por ausência de justa causa, conforme decisão de fls.17/18.Irresignado com essa decisão, o MPF interpôs o presente curso em Sentido Estrito (fls.21/25),aduzindo, em síntese, que houve nsequências negativas para o meio ambiente e que há danoconcreto, tendo a ação do recorrido contribuído para o agravamento do quadro.O recorrido apresentou contrarrazões às fls. 38/52, pugnando pelo não provimento do recurso, a fimde que seja mantida a decisão vergastada.Em seguida, vieram os autos a esta Procuradoria Regional da R pública da 5a Região paraoferecimento de parecer.II. ANÁLISE MINISTERIALAssiste razão ao recorrente, uma vez que a conduta do recorrido, livre e consciente, causoudanos à Unidade de Conservação da Barra do Rio Mamanguape, devendo sim, por isso,responder pelos artigos da Lei 9.605/98 indicados na denúncia.A autuação lavrada contra o denunciado registrou o dano decorrente do tráfego com carro na área depraia, o relatório de fiscalização (fls. 13/14) destacou que houve consequências negativas para omeio ambiente, o Laudo 542/2014 (fls.28/33) mostrou que a formação de trilhas e caminhosprovocado pelo reiterado tráfego de veículos e pessoas no local, embora haja placa de sinalizaçãoproibindo este trânsito. O Laudo ainda acentua que a passagem de veículos gera modificaçãoda paisagem, com alteração física do relevo e destruição de vegetação. Não há nada degenérico nisso, como, equivocadamente, entendeu a decisão. Não é só possível, como tambémaconselhável, atribuir o resultado danoso às pessoas que, como o denunciado, avançam com seusveículos sobre áreas de delicada condição ambiental e, por esta razão, preservadas. Não podeexistir, nunca, demonstração palpável imediata do dano causado pela ação isolada do denunciado,uma vez que o dano decorre da atividade de múltiplas pessoas que agem como ele. Isentar pessoasque praticam essa conduta desmoraliza e desestimula a fiscalização, estimulando a continuidade daprática lesiva e aprovando a agressão ao meio ambiente, em descompasso com a ConstituiçãoFederal. Mesmo que o dano não tenha sido provocado "exclusivamente" pelo recorrido, suaparticipação não há de ser desprezada e o judiciário deve processar e julgar todo aquele que,em qualquer medida, contribui para um crime.III. DA CONCLUSÃOAnte o exposto, o Ministério Público Federal opina provimento do Recurso em Sentido Estrito,devendo a decisão vergastada ser reformada, para que seja recebida a denúncia.Recife, 9 de janeiro de 2017.Duciran Van Marsen Farena.Procurador da República”

É o relatório.

V O T O

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A Lei nº 9.503/1997 regula o Trânsito de qualquer natureza (por pessoas, veículos eanimais) nas vias terrestres do Território Nacional (artigo 1º)2

, sendo que as Praias abertas à circulação pública são consideradas vias terrestres, queterão seu uso regulamentado pela Entidade Pública com circunscrição sobre elas, deacordo com as peculiaridades locais e as circunstâncias especiais (artigo 2º)3.

Compete aos Órgãos e Entidades Executivos Rodoviários da União, Estados,Distrito Federal e Municípios, no âmbito de sua circunscrição, cumprir a Legislação e asNormas de Trânsito, no âmbito de suas Atribuições, executar a Fiscalização de Trânsito,autuar, aplicar as Penalidades de Advertência, por escrito, e ainda as Multas e MedidasAdministrativas cabíveis, notificando os Infratores e arrecadando as Multas que aplicar2 Art. 1º O trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do território nacional, abertas à

circulação, rege-se por este Código. � § 1º Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga.� § 2º O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito.� § 3º Os órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito respondem, no âmbito das respectivas competências, objetivamente, por danos causados aos cidadãos em virtude de ação, omissão ou erro na execução e manutenção de programas, projetos e serviços que garantam o exercício do direito do trânsito seguro.� § 4º (VETADO)� § 5º Os órgãos e entidades de trânsito pertencentes ao Sistema Nacional de Trânsito darão prioridade em suas ações à defesa da vida, nela incluída a preservação da saúde e do meio-ambiente.

�3 Art. 2º São vias terrestres urbanas e rurais as ruas, as avenidas, os logradouros, os caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias, que terão seu uso regulamentado pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre elas, de acordo com as peculiaridades locais e as circunstâncias especiais.� Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são consideradas vias terrestres as praias abertas à circulação pública, as vias internas pertencentes aos condomínios constituídos por unidades autônomas e as vias e áreas de estacionamento de estabelecimentos privados de uso coletivo. �

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(artigo 21)4

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Transitar em área de Praia, em local e horário não permitidos, sujeita o Infrator àMulta (artigo 187)5, razão pela qual a condução de veículo automotor, nestas condições,constitui Infração Administrativa. Não vai ao ponto, ao meu ver, de convergir para aTipicidade Criminal.

P

4 Art. 21. Compete aos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição: � I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições; � II - planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas; � III - implantar, manter e operar o sistema de sinalização, os dispositivos e os equipamentos de controle viário; � IV - coletar dados e elaborar estudos sobre os acidentes de trânsito e suas causas; � V - estabelecer, em conjunto com os órgãos de policiamento ostensivo de trânsito, as respectivas diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito; � VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar, aplicar as penalidades de advertência, por escrito, e ainda as multas e medidas administrativas cabíveis, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar; � VII - arrecadar valores provenientes de estada e remoção de veículos e objetos, e escolta de veículos de cargas superdimensionadas ou perigosas; � VIII - fiscalizar, autuar, aplicar as penalidades e medidas administrativas cabíveis, relativas a infrações por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como notificar e arrecadar as multas que aplicar; � IX - fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. 95, aplicando as penalidades e arrecadando as multas nele previstas; � X - implementar as medidas da Política Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito; � XI - promover e participar de projetos e programas de educação e segurança, de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN; � XII - integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação de multas impostas na área de sua competência, com vistas à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade das transferências de veículos e de prontuários de condutores de uma para outra unidade da Federação; � XIII - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga, de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio às ações específicas dos órgãos ambientais locais, quando solicitado; � XIV - vistoriar veículos que necessitem de autorização especial para transitar e estabelecer os requisitos técnicos a serem observados para a circulação desses veículos. � Parágrafo único. (VETADO) �

5 Art. 187. Transitar em locais e horários não permitidos pela regulamentação estabelecida pela autoridade competente: � I - para todos os tipos de veículos:� Infração - média;� Penalidade - multa;�

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nº9172,RelatorDesembargadorFederalLuizAlbe

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rtoGurgeldeFaria,3ªTurmadoTRF-5ªRegião,DJE

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de24.07.2013,p.1016

). Esta premissa vale, igualmente, para a Infração do artigo 48 da mesma Lei.

No caso, destaco da Decisão recorrida os Fundamentos para rejeição da Denúncia,com os quais compartilho:

6 “PENAL. CRIME AMBIENTAL. ART. 40 DA LEI N 9.605/98. DANO À UNIDADE DE CONSERVAÇÃO FEDERAL. ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE MURICI/AL. INCÊNDIO EM ÁREA PARTICULAR NÃO INCORPORADA AO DOMÍNIO PÚBLICO. DELITO DE COMPETÊNCIA FEDERAL. AUSÊNCIA. 1. Nos termos do art. 40 da Lei nº 9.605/98, constitui crime "causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização", cujo processo e julgamento é da competência da Justiça Federal. 2. É pressuposto para a configuração do delito ambiental em comento a ocorrência de dano direito ou indireto à Unidade de Conservação e às áreas particulares localizadas nos seus limites territoriais que tenham sido incorporadas ao domínio público, através de desapropriação. 3. Hipótese em que o Decreto Sem número, de 28/05/2001, criou a Unidade de Proteção Integral Estação Ecológica de Murici/AL, declarando de utilidade pública os imóveis constituídos de terras e benfeitorias existentes nos limites descritos no seu art. 2º, para fins de desapropriação e efetiva implantação da referida Estação Ecológica. 4. Há que se afastar a tipicidade do fato ilícito narrado na denúncia (incêndio florestal ocorrido na Usina Santa Clotilde), no tocante à competência da Justiça Federal para o seu processo e julgamento, pois a área onde aconteceu o suposto evento criminoso ainda não restou incorporada ao patrimônio da Unidade de Conservação Federal em tela, sendo de propriedade privada, eis que a Administração Federal não efetuou a sua desapropriação. 5. Absolvição dos réus que se impõe, ressalvando-se a possibilidade de apuração de crime ambiental residual, de competência da Justiça Estadual. 6. Apelação desprovida.”(AC nº 9172, Relator Desembargador Federal Luiz Alberto Gurgel de Faria, 3ª Turma do TRF-5ª Região, DJE de 24.07.2013, p. 101)� � � �

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“Contudo, falece justa causa à propositura da ação penal. Vejamos. A situação de fato descrita nadenúncia não se constituiu em um delito, máxime pela ausência de prova mínima de que ainfração cometida tivesse ocasionado danos ambientais.5. O réu foi autuado por "causar dano a U.C (unidade de conservação), APA Barra do RioMamanguape, trafegando com carro na área de praia sem autorização" (fl. 10 - IPL). Entrementes, aconduta de dirigir veículo nessas áreas, ainda que possa ter caracterizado infração denatureza administrativa, não se configura fato típico, mormente pela ausência de maioresimpactos ambientais.6. Note-se, à luz do Relatório de Fiscalização - AI 007887-B, que os agentes do Instituto ChicoMendes de Conservação de Biodiversidade concluíram de forma genérica pela a existência dedano ao ambiente natural com lastro em mera presunção. É esta a conclusão em comento: "Otrânsito de veículos sobre as praias poderá causar sérios danos da destruição de ninhos detartarugas, afetando substancialmente na reprodução das tartarugas daquele ambiente" (fl. 12/14 -IPL).7. Com efeito, não há evidência de lesão ao meio-ambiente, eis que o mero tráfego de veículoem praia ou duna, conquanto possa ocasionar alteração do ambiente natural, no caso, por terse tratado de uma conduta isolada, e sem a demonstração in concreto do dano ambiental ouda potencialidade lesiva, não pode ser tido como um fato típico.8. É bem verdade que a perícia realizada identificou a existência de faixas de areia desprovidas devegetação, formando trilhas, como resultado da ação humana (fls. 28/33 - IPL).9. Ocorre que sequer foi indicado que esses caminhos foram produzidos pelo acusado quandoconduzia seu veículo, afora que se afigura desarrazoado supor que esses trilhos de areia nãoexistissem no momento em que o denunciado por lá passara ao conduzindo seu veículo.10. Ademais, o laudo apenas indicou que a passagem de veículos automotores, a depender daintensidade e do tempo, pode comprometer a paisagem, ocasionar alteração física do relevo edestruição da vegetação, mas, em momento algum, destacou algum comportamento da conduta deVICTOR GOUVEIA TAVARES DA SILVA, ou mesmo tenha a ele imputado a autoria dos supostosdanos.” (grifei)

Assim, considerando que a Conduta amoldar-se-ia a eventual Infração de Trânsito euma vez ausente caracterização técnica, alusiva a Dano(s) ambiental(is) específico(s)causado(s) por transitar com veículo automotor sobre área(s) de Praia, composta(s) porduna e vegetação de restinga e situada(s) em Unidade de Conservação Ambiental, aimplicar a carência de Justa Causa à Persecução Criminal, cuja propositura pressupõe,minimamente, a Tipicidade.

ISTO POSTO, nego Provimento ao Recurso em Sentido Estrito.

É como voto.HFO/PSM/CLS

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