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E o grande egoísmo não ó o que tudo quer para si, senão o que tudo quer até para os outros. O grande egoísmo é aquele qne se tor- nou tão vasto que até consiste em dar ! O grande egoísmo é a boca que anun- cia que não bá pedaço de pão que se não possa partir em dois. Se êle não fosse sabedor da verdade eterna, seria um fanático da verdade eterna, porém assim anuncia a condescendência! Porém assim anuncia a condescendência e tudo quanto seja aliviar, sem querer falar das dádivas dos bons e das restantes abne- gações febris! Nós, — é esta a primeira pessoa do grande porvir, e — Nosso — o pronome pre- dilecto do Homem Excelente! — Nós-todos — é como falarão os supre- mos egoístas, e— Nós-tudo os homens em Deus. Caminhamos sem cessar para a terra do Único onde o Eu se tornou em Nós! Se o poeta sabe de si o filósofo sabe de todos! E o que é que diz o filósofo ? Que o pensamento ó mais veloz que os músculos; que seria preciso uma eternidade para pôr em prática um só dos nossos planos! E por outro lado ó mais volúvel um músculo que um pensamento; porque antes que os nossos planos sejam outros, já nós seremos outros. Portanto, meu amigo, possuir eterno efeito de efémera causa, eis a loucura im- possível. A mulher que te atraiçoa continua a procurar-te: aquilo que seduziu a tua mu- lher, deslocou-se de ti, para outro, tu! E na verdade tu, já não és tu! Fulminarás até o próprio insecto que roi o veludilho da pétala querida, quando afinal tu és o próprio insecto, e agora és tu a sombra do insecto! Educar é ensinar a esconder o imundo; porém à tona do espírito há-de tornar a vasa das suas entranhas. A conceituosa bondade é falsa harmonia. Educar ó ministrar o equilíbrio; mas onde haverá um equilíbrio não sendo ingé- nito ?! Só o homem inteligente tem por iiiluição o que o homem medíocre logrou do ensino, llecolherá do ensino o espírito do amor e o génio o dará do próprio amor! O inteligente compreende quando fere; é fino e imponderável nos seus ditos. O seu sorrir não ó de escárneo nem de bondade, é o sorrir dos fortes, dos que temem a refle- xão das suas maldades. E fugir de quem não vê; o malvado ó daninho mas o inconsciente ó dano! Se os homens tivessem olhos até nos bicos dos pés, estaria entre os homens o paraíso terrestre. O cego é o inconsciente que não pres- sente o abismo nem tampouco o coração nas coisas pequenas. O cego vagabundo que pede esmola ó o terror dos animálculos do caminho. Porém dos máximos olhos descenderá um dia o máximo egoísmo ; descenderá um dia o grande cuidado e a dor pela dor alheia! Não jures amor eterno ao teu amigo, porque olha que algum dia te esquecerás do nome do teu amigo! Aquele que é amado precavenha-se por- que antes do fim do dia saberá a desleal- dade dos que o amam! Quando se pergunta a alguém se sabe bem o que é casar, responde que casar sabe bem; porque em verdade não é difícil ser pai, mas o que custa é continuar a sê-lo. D'um homem poderei fazer um côn- juge, mas poucas vezes dum cônjuge farei um homem. E pensava: « — U m b o m fato é inques- tionavelmente um predomínio; e na ver- dade ser rico ou simular riqueza ó denun- ciar uma força oculta. O snobismo é o disfruto expontâneo da própria glória. A boa aparência ó um valor inscrito. O valor intelectual não trás letrei- ros, mas a boa-aparência é um excelente valor! Os homens sentem melhor do que pressentem. E os homens ainda querem demais às conveniências para que possam ser supe- riores às suas vaidades. Porque em ver- dade o moço infeliz seria aquele que pas- sasse o lustro do coração — ao fato. Se o olham, desolham-no; e até a sua amada haveria de passar do sorriso ao riso.

E o grande egoísmo não ó o que tudo...Aquele que é amado precavenha-se por que antes do fim do dia saberá a desleal dade dos que o amam! Quando se pergunta a alguém se sabe bem

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Page 1: E o grande egoísmo não ó o que tudo...Aquele que é amado precavenha-se por que antes do fim do dia saberá a desleal dade dos que o amam! Quando se pergunta a alguém se sabe bem

E o g r a n d e egoísmo n ã o ó o que t u d o que r p a r a si, senão o que t u d o quer a té p a r a os ou t ros .

O g r a n d e egoísmo é aquele qne se tor­nou t ão vas to que a té consis te em dar !

O g r a n d e egoísmo é a boca que anun­cia que não b á pedaço de pão que se não possa pa r t i r em dois .

Se êle não fosse sabedor da v e r d a d e e terna , seria um fanát ico da v e r d a d e e te rna , po rém assim anuncia a condescendênc ia !

Porém assim anuncia a condescendência e t udo q u a n t o seja aliviar, sem querer falar das dádivas dos bons e das r e s t a n t e s abne­gações febr i s !

— Nós, — é e s t a a p r ime i ra pessoa do g r a n d e porvir, e — Nosso — o p ronome p re ­dilecto do H o m e m E x c e l e n t e !

— Nós-todos — é como falarão os supre­mos egoís tas , e—Nós- tudo— os homens em D e u s .

Caminhamos sem cessar p a r a a t e r r a do Único onde o Eu se t o r n o u em Nós!

Se o poe ta sabe de si o filósofo sabe de t o d o s ! E o que é que diz o filósofo ?

Que o pensamen to ó mais veloz que os múscu los ; que seria preciso u m a e te rn idade p a r a pôr em prá t i ca um só dos nossos p l a n o s !

E po r ou t ro lado ó mais volúvel um múscu lo que u m p e n s a m e n t o ; p o r q u e an tes que os nossos p lanos sejam ou t ros , j á nós seremos ou t ros .

P o r t a n t o , meu amigo , possu i r e t e rno efeito de efémera causa , eis a loucura im­poss íve l .

A mulher que te a t ra içoa con t inua a p r o c u r a r - t e : aqui lo que seduziu a t u a mu­lher , deslocou-se de t i , p a r a ou t ro , t u ! E na v e r d a d e t u , j á não és t u !

F u l m i n a r á s a té o p rópr io insec to que roi o veludi lho da pé t a l a quer ida , q u a n d o afinal t u és o p róp r io insec to , e agora és tu a sombra do i n s e c t o !

E d u c a r é ens ina r a esconder o i m u n d o ; porém à t o n a do espír i to há-de t o r n a r a v a s a das suas e n t r a n h a s . A conce i tuosa b o n d a d e é falsa h a r m o n i a .

E d u c a r ó min is t ra r o equ i l íb r io ; mas onde have rá um equil íbrio não sendo ingé-n i to ?! Só o homem in te l igente tem p o r ii i luição o que o homem medíocre logrou

do ens ino , l l eco lherá do ensino o espír i to do amor e o génio o dará do própr io amor!

O in te l igente compreende quando fere; é fino e imponderável nos seus d i tos . O seu sorr i r não ó de escárneo nem de bondade , é o sorrir dos fortes , dos que t e m e m a refle­xão das suas m a l d a d e s .

E fugir de quem não v ê ; o ma lvado ó dan inho m a s o inconsc iente ó dano!

Se os h o m e n s t ivessem olhos a té nos bicos dos pés , es ta r ia en t re os h o m e n s o para í so t e r r e s t r e .

O cego é o inconsciente que n ã o p re s ­sente o abismo n e m t ampouco o coração nas coisas p e q u e n a s .

O cego v a g a b u n d o que pede esmola ó o t e r r o r dos animálculos do caminho .

P o r é m dos máximos olhos descenderá u m dia o máx imo egoísmo ; descenderá um dia o g r a n d e cuidado e a dor pe la dor a lhe ia!

• Não j u r e s amor e te rno ao t eu amigo ,

p o r q u e olha que a lgum dia te esquecerás do nome do t eu a m i g o !

Aque le que é amado p recavenha- se por­que an tes do fim do dia saberá a desleal­dade dos que o a m a m !

Quando se p e r g u n t a a a lguém se sabe b e m o que é casar , r e sponde que casar sabe b e m ; p o r q u e em v e r d a d e não é difícil ser pa i , mas o que cus ta é con t inua r a sê-lo. D ' u m homem poderei fazer u m côn­j u g e , mas poucas vezes d u m cônjuge farei u m h o m e m .

• E p e n s a v a : « — U m bom fato é inques­

t i onave lmen te u m p r e d o m í n i o ; e n a ver­d a d e ser rico ou s imular r iqueza ó denun­ciar u m a força ocul ta .

O snobismo é o disfruto expon tâneo da p róp r i a g lór ia . A boa aparência ó um valor inscr i to . O valor in te lec tua l n ã o t r á s letrei­ros , mas a boa-aparênc ia é u m excelente v a l o r !

Os homens sentem melhor do que pressentem. E os homens a inda que rem demais às

conveniências p a r a que possam ser supe­r iores às suas va idades . P o r q u e em ver­dade o moço infeliz seria aquele que p a s ­sasse o lus t ro do coração — ao fato .

Se o o lham, — deso lham-no; e a té a sua a m a d a haver ia de p a s s a r do sorr iso ao r i so .