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MARCAS DE UM CIDADÃO ATIVO Bráulio Silva *Profa. Leda Figueiredo Rocha do Lago “Tá vendo aquele colégio moco, eu também trabalhei lá! Lá eu quase me arrebento, pus a maça, fiz cimento Ajudei a rebocar ....(Da Música: Cidadão, de Zé Geraldo) 1.INTRODUÇÃO. Cidadão! é a palavra, talvez, mais oportuna, para qualificar a pessoa e escrever a história de vida de Braulio Silva, sob a nossa ótica, sem o propósito de esgotá-la e sem ignorar qualquer outra que indica participação, colaboração, generosi- dade, bondade e alto senso de humanidade. Braulio Silva é um nordestino, baiano original, na mais exequível das expressões e um homem simples, dos mais simples, entre os seres humanos, que aos 19 anos deixou o Estado da Bahia em direção a Mato Grosso, onde, em 1948, juntou-se a sua primeira companheira até 1977, quando a perdeu, vindo a contrair um novo relacionamento somente em 1983, com Sidalva Lélis Macedo, com quem vive até hoje Um homem que foi garimpeiro, pedreiro, barbeiro e capangueiro dos mais procurados pelos garimpeiros para vender suas vultosas partidas de diamante entre as década de 70 e 90, quando as limitações da visão o impediu de continuar o negócio. Um baiano cidadão que ajudou a construir a história de Poxoréu, desde que aqui chegou, na década de 40 e que aqui continua, do alto da sua simplicidade, promovendo as suas intervenções anônimas, sempre para o bem estar de outro cidadão. UNIÃO POXORENSE DE ESCRITORES Setembro/2010 - Poxoréu - Mato Grosso A Upenina Nº 3 - 1ª Edição A UPENINA - Edição Especial E U E E M A R D U E T L F U E C S A D A A E A D T R E União Poxorense de Escritores 52

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MARCAS DE U M CI DADÃO ATIVOBráulio Silva

*Profa. Leda Figueiredo Rocha do Lago

“Tá vendo aquele colégio moco, eu também trabalhei lá!

Lá eu quase me arrebento, pus a maça, fiz cimento

Ajudei a rebocar....” (Da Música: Cidadão, de Zé Geraldo)

1.INTRODUÇÃO.Cidadão! é a palavra, talvez, mais

oportuna, para qualificar a pessoa e escrever a história de vida de Braulio Silva, sob a nossa ótica, sem o propósito de esgotá-la e sem ignorar qualquer outra que indica participação, colaboração, generosi-dade, bondade e alto senso de humanidade.

Braulio Silva é um nordestino, baiano original, na mais exequível das expressões e um homem simples, dos mais simples, entre os seres humanos, que aos 19 anos deixou o Estado da Bahia em direção a Mato Grosso, onde, em 1948, juntou-se a sua primeira companheira até 1977, quando a perdeu, vindo a contrair um novo relacionamento somente em 1983, com Sidalva Lélis Macedo, com quem vive até hoje

Um homem que foi garimpeiro, pedreiro, barbeiro e capangueiro dos mais procurados pelos garimpeiros para vender suas vultosas partidas de diamante entre as década de 70 e 90, quando as l imitações da visão o impediu de continuar o negócio. Um baiano cidadão que ajudou a construir a história de Poxoréu, desde que aqui chegou, na década de 40 e que aqui continua, do alto da sua simplicidade, promovendo as suas intervenções anônimas, sempre para o bem estar de outro cidadão.

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2. A BAHIA DA SUA INFÂNCIABráulio Silva é natural de

Ibitiara (Bom Sucesso), estado da Bahia, nascido aos 04 de abril de 1925, filho de Joaquim Silva e dona Presilina de Jesus.

Desde muito cedo, como era a rotina dos baianos jovens de sua época, Bráulio aprendeu com seu pai o valor do trabalho, ajudando-o a laborar na lavoura e a cuidar de pequenos animais. Em part icular, narra uma passagem, ocorrida aos 07 anos de idade, por volta de 1938, segundo a qual, o pai (Sr. Joaquim) teria acendido um fogo (provavelmente nas coivaras da roça) para aquecer a comida fria durante uma colheita de feijão. Bráulio esclarece que seu pai lhe pôs para estudar até a terceira série, mas mesmo assim lhe deixou doutor, com os ensinamentos e valores morais (honestidade, coragem de trabalhar, humildade, respeito e solidariedade para com o próximo) que lhe passou, numa clara alusão a importância dos valores de um cidadão, principalmente numa sociedade capitalista como a nossa. É claro que na época, o processo industrial brasileiro, apenas começava uma lenta marcha nas reformas promovidas pela Era Vargas. Entretanto, independente da sociedade que vivemos, os valores denotam sociabilidade e civilidade e os pré-requisitos mínimos para uma sociedade menos doentia.

Esse “valor do trabalho” que, deveras dignifica o homem, Bráulio assimilou com determinação, tanto que, com seus 20 anos de idade já possuía um pequeno rebanho de gado, adquirido através de seu trabalho a lavoura, no garimpo de cristais, nos serviços de pedreiro, de marceneiro ou como barbeiro.

4. A PARTIDA DA BAHIABraulio Silva deixou a Bahia no dia 13 de Novembro de

1945 por uma razão bastante inusitada. Podia se esperar inúmeras outras, menos uma motivação por questão sentimental.

Narra o sr. Braulio Silva, que no auge do sentimento namorava uma moça chamada Arlinda, sua prima, com a qual mantinha proposta de casamento. A relação estava um pouco desgastada, de modo que, concomitantemente, começou a paquerar outra moça chamada Leolinda, a quem passou desejá-la ardentemente e preferi-la para o casamento.

No prenúncio do rompimento com Arlinda, a sua tia Ana Julia, numa clara preferência a esta, inicia um processo de intriga contra o pai de Leolinda sob alegação de que a família da moça não era de boa índole, portanto, não era a pessoa mais adequada para se casar com ele.

Aborrecido, para não contrariar ninguém, muito menos os seus pais, sabendo dos garimpos de Mato Grosso, na manhã do dia 13 de novembro toma a estrada na companhia de mais 04 jovens aventureiros, dispostos a construírem um novo futuro.

5. A VIAGEM DA BAHIA A POXORÉUEra manhã, quando a aurora rompia com a escuridão das

paisasgens, no dia 13/11/1945, quando Bráulio Silva e os 04 amigos (Francisco Rocha, Isaulino, Antônio e Flaviano(primo de Bráulio), deixaram Tamburi (distrito de Ibitiara), a pé, para

tomarem o vapor “Djalma Dutra”, em Ibotirama, no Rio São Francisco e seguirem a bordo, por sete dias, até Pirapora (MG). Em P i rapora , a v iagem continuou de trem de ferro, até Belo Horizonte, e de lá , utilizando o mesmo transporte (trem de Ferro) desembarcaram em Leopoldo Bulhões, no Estado de Goiás.

Em Leopoldo Bulhões p e g a r a m u m a p e q u e n a condução (carro de passeio) até Goiânia, que, para o vexame do grupo, alguns se deram conta que o dinheiro já havia acabado, t e n d o a q u e l e s m a i s

provisionados que arcar com ônus da viagem dali adiante, já que não pararam para trabalhar no caminho, como fizeram a maioria das comitivas de nordestinos que chegaram Poxoréu. O jeito foi tomar um caminhão( pau-de-arara) de um moço chamado “Vicentão” e foram parar em Lajeado (atual Guiratinga). De “Lajeado” vieram para Poxoréu a pé, gastando cinco dias de viagem.

Segundo o prof. João de Souza (Cearense que chegou a Paraiso em 1944) entre Paraiso do Leste e Lajeado existiam poucas fazendas, entre elas, a de Abel Vilela, “Talão” Vilela, Gerônimo Vilela, entre outras, as quais eram abastecidas na Currutela de Paraíso do Leste ou no distrito de Toriparo, este, mais próximo da atual cidade de Guiratinga.

Chegaram em Poxoréu, dia 22/12/1945, às 17:00 horas. Aqui chegando , Bráulio se hospedou na Pensão de Dona Rita, na esquina da Rua Maranhão com a Mato Grosso. Dona Rita, anos mais tarde, foi para o RJ.

6. PROFISSÕES E OCUPAÇÕES EM POXORÉUAo chegar em Poxoréu, pouco tempo depois, em janeiro

de 1946, foi para o garimpo do irmão de Dió Mandioca( Irenio Mandioca), lá pretendia trabalhar no garimpo, porém não foi possível, pois quando disse a Aloiso, irmão de Irênio Mandioca que nos finais de semana ele iria trabalhar como barbeiro, Aloiso disse que só permitiria se dividisse com ele os lucros do serviço, visto que ele sustentaria Bráulio no garimpo. Como esses serviços seriam feitos nos dias de folga, Bráulio não concordou e voltou para a vila e foi trabalhar como marceneiro com João de Bráz e Galdino, trabalhou também como pedreiro e exercia a função de barbeiro nos momentos de folga.

Na função de marceneiro destaca o seu trabalho na construção do telhado do “colégio das irmãs” e do forro do Diamante Clube, dentre vários outros serviços realizados. Na condição de pedreiro disse ter construído em 1948 a casa que hoje mora a funcionária Miralita Pacheco. A casa foi feita para Dona Anísia, sua prima sendo a mão-de-obra, convertida em pagamento pela hospedagem de Bráulio, que residia na casa com a prima.

Em 1948 comprou de Rachid Mamed uma cadeira para a barbearia, pagando pela referida cadeira o valor de dois contos e quinhentos réis, pagos em prestações, posteriormente construiu uma cadeira de madeira para outro colega trabalhar com ele na barbearia. Inicialmente montou a barbearia na casa que alugou de dona Maria José, prima de senhor Rochinha, de lá mudou depois a barbearia para a casa do senhor “Tonico Ribeiro”. Sua barbearia era muito freqüentada por garimpeiros, comerciantes e autoridades locais; se recorda que quando Tarquínio Soares Silva por aqui chegou foi cortar cabelo com ele. Em 1952, vendeu o salão por onze contos de réis e passou a comprar diamantes.

Bráulio Silva e sua mãe Presilina de Jesus

O moço Bráulio Silva

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7. CONSTATAÇÕES E REMEMORAÇÕESSeus relatos dão conta, que quando aqui chegou, os leilões da

igreja eram realizados na rua Mato Grosso, no trecho que fica entre as ruas Minas Gerais e Bahia. No período as prendas eram arrematadas por altas quantias, havia prenda que chegava a quatro mil .

Bráulio Silva atuou como comprador de diamantes no período de 1952 até o ano de 2000, quando teve que parar, pois, as vistas já não ajudavam mais.

Segundo Bráulio, desde que por aqui chegou, sempre se preocupou com sua aparência, por isso buscava ter boas amizades, visto que para ele o respeito se conquista dependendo da maneira com que tratamos os outros e agimos, pois acredita que quando se respeita se é respeitado.

Quando chegou a Poxoréu, a cidade era bem pequenina, havia poucas ruas, disse se lembrar das ruas Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba e Goiás. As casas eram quase todas de alvenaria, mas tinha também algumas de palha. Informou que havia a Igreja Matriz, não como agora, era bem menor, tinha a praça, bem simplesinha, sem as muretas e sem o coreto, ao lado da Igreja havia a delegacia, onde hoje é a casa do Carlos Moura.

Sobre os meios de transporte, recorda que havia uma baleia que fazia linha para Cuiabá e o caminhão do Senhor Pedro Silva, para outros transportes e também para transportar pessoas, no famoso pau-de-arara. Só para se ter uma idéia da condição das estradas, segundo ele, naquele período, se gastava cinco dias para ir de Poxoréu a Cuiabá.

Quanto a Rondonópolis, anos mais tarde, surgiu um pequeno vilarejo criado pelo Marechal Rondon, ao instalar uma estação telegráfica. Além do caminhão e da baleia, aqui muito se usava o avião pelas pessoas de melhor poder aquisitivo e as mais fracas financeiramente usavam as mulas, burros e cavalos para se transportar de um lugar para outro. A canoa também era usada, saindo do Rio Vermelho em direção a Rondonópolis. Ainda constata que o carro-de-boi era meio de transporte muito usado para transportar cargas, já que as pessoas iam a Cuiabá comprar sal e outros mantimentos que saiam de São Paulo pelo rio e iam até Corumbá e de lá eram transportados para Cuiabá e de Cuiabá se distribuía para o interior de Mato Grosso utilizando essas conduções.

Consta das suas reminiscências que o local onde hoje ele mora , antes haviam mangueiras e uma escolinha do professor João Torres, um dos primeiros professores a ensinar as primeiras letras em Poxoréu.

8. VIDA POLÍTICA

Considerando-se o trabalho desenvolvido e as amizades que Bráulio construiu aqui em Poxoréu, ele atraiu a atenção das lideranças políticas que na época eram comandadas pela UDN e PSD, os quais faziam uma política rígida. Conforme Braulio, a pedido de Lindolfo de Araújo deu seu primeiro voto na UDN; e a convite de Senhor Joaquim Nunes Rocha candidatou-se a vereador em 1968, exerceu o mandato no período de janeiro de 1969 a dezembro de 1972,sendo que durante esse mandato ele

foi presidente da Câmara e posteriormente se elegeu vice-prefeito do Senhor Lucas Ribeiro Vilela, a convite de Lindberg Ribeiro N. Rocha que era o prefeito no mandato anterior e tinha começado a construção da U s i n a D r. J o s é F r a g e l l i (barragem), como não havia concluído a obra desejava eleger alguém de seu lado para terminar a construção.

A política, desde todos tempos, está sedenta de bons líderes e boas pessoas. Mesmo assim não era seu interesse adentrar a v ida públ ica . Conforme narra, afirma que

quando Senhor 'Rocha' o convidou para a convenção da UDN, ocasião em que aprovariam os nomes dos candidatos a vereador, ele, Bráulio iria na reunião, mas não confirmou se aceitaria ou não o convite para a candidatura, e como chegou atrasado na convenção, ata da convenção já estava pronta e seu nome confirmado como candidato, que apesar da sua constatação exposta ao “Dr. Rochinha”, mas esse não aceitou pois disse que a ata estava encerrada e o nome dele listado como candidato. Não coube alternativa senão aceitar e começar a buscar a ajuda dos companheiros.

Quando se candidatou a vereador, Dona Dalva Nascimento lhe disse que não precisava se preocupar, pois estaria eleito, uma vez que os garimpeiros diziam que iriam votar nele. Bráulio era muito querido pelos garimpeiros da região, ao ponto de numa determinada época se realizar uma pesquisa sobre a populari-dade dos cidadãos de Poxoréu e, ele foi eleito o cidadão mais humilde e querido, fato que fez com certos garimpeiros disses-sem que se pegassem um diamante e não vendesse para Bráulio era o mesmo que não terem encontrado nada, tama-nho era o prazer de comerciali-zar com Bráulio.

Senhor Bráulio partici-pava ativamente da vida pública deste município, além de exercer a função de vereador e vice-prefeito, ele também foi presi-dente da primeira APM (Asso-ciação de Pais e Mestres ) da E.E. Profª Juracy Macedo, em 1978 anos antes foi adminis-trador da sociedade Hospitalar São João Batista, no período em que o Dr. Valdir era o diretor do corpo clínico daquela entidade.

Em conversa com o Senhor Francisco Dorilêo, esse informou que foi um dos clientes de Bráulio na barbearia, época em que funcionava ao lado da Farmácia do Senhor Joaquim Nunes Rocha, na rua Mato Grosso, como também que se recorda do período em que o senhor Bráulio foi presidente da Sociedade Recreativa Diamante Clube.

Bráulio Silva sendo diplomado pela justiça vice-prefeito de Poxoréu

Lucas Ribeiro Vilela - PrefeitoBráulio Silva - Vice-Prefeito

Posse na APM Escola Juraci Macêdo

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O Senhor Bráulio Silva, por várias vezes enalteceu o caráter do homem e político Senhor Joaquim Nunes Rocha, dizendo que admirava a inteligência de “Rocha”, pois ele não perseguia adversário, pelo contrário ele tentava conquistar. Reporta-se a uma ocasião em que um amigo chegou para Rocha e disse que não vendesse remédios para um senhor lá do Alto Coité , visto que esse vivia falando mal dele (”Rocha”). Pois aconteceu o inverso, assim que esse o procurou ele atendeu muito além do que ele precisava. Disse também que havia um senhor por nome Joaquim Corcunda que pediu a um funcionário para vir na rua comprar um remédio na Farmácia de senhor Amarílio, não encontrando lá fosse na Farmácia do “Cretino”. O funcionário não encontrou o remédio na Farmácia São Pedro de Amarílio, foi a outra farmácia, lá chegando perguntou :

_ Senhor Cretino o senhor tem esse remédio?Rocha disse que sim. O moço falou:_ Quanto custa Senhor Cretino? Rocha respondeu e o moço

novamente falou:_ Não faz um menos Senhor Cretino? Rocha fez o menos e depois

perguntou quem era o patrão do moço. Isso só para afirmar o que já imaginava, pois sabia que quem tinha o mal hábito de chamá-lo assim era Joaquim Corcunda.

9. O COMÉRCIO E A COMPRA E VENDA DE DIAMANTESNo período que Bráulio comprou diamante em Poxoréu, ele

vendia os mesmos para Manoel Silva, Judeus marido de Dona Elzita, Sebastião de Castro, Generoso Mendonça, José de Anacleto, Napoleão ( de Uberlândia) Altino Matos e Otávio Magalhães que vinha de Tesouro.

Segundo Bráulio, o comércio em Poxoréu era liderado pelos turcos, que com a redução da produção diamantífera foram para Cuiabá. Depois dos turcos destacou-se a atuação da família Coutinho no comércio local (Joaquim Dias Coutinho, Zezé Coutinho, Amaro Coutinho, todos esses tocavam lojas de tecidos e Manoel Coutinho tinha um açougue), lembrou do Bolicho de Senhor Caé, irmão de Dideus comprador de diamantes e da Casa Guarani de senhor Antônio Noleto( esposo de Dona Ilda Noleto ).

10. AS OPÇÕES DE LAZER NAS DÉCADAS DE 50 E 60 EM POXORÉU

Segundo Bráulio, naquela época se destacavam as boates em Poxoréu, citando a Boate da Zilda, Tudo Azul e Quebra Copos na rua Bahia, já na rua Paraíba, onde hoje reside a profª Isabel , localizava-se a boate Lua Branca e na rua Mato Grosso, na casa que mora o Waguito( Wagner, genro do Sr. Tunico) era o salão de dança das famílias, a Ala Moça, mais tarde, em 1948 surgiu o Diamante Clube Sociedade Recreativa, local que ajudou a construir, como marceneiro fez o forro do salão. Bráulio fez questão de registrar que os homens se vestiam muito bem quando iam aos salões ou as boates, usavam ternos e gravatas e sempre tinham muito dinheiro para gastar. Afirma que ele foi sempre foi muito reservado, que não gastava à toa, às vezes até emprestava dinheiro para pessoas que poderia emprestar para ele, mas que pelo descuido nem sempre estavam em boas condições. Bráulio, sempre procurou guardar aquilo que ganhava com muito sacrifício, ao ponto de conquistar aquilo que

tinha sonhado, ter uma casa, uma fazenda e ser comprador de diamantes.

11. A RELAÇÃO COM OS GARIMPEIROSDe acordo com o Sr. Bráulio, os garimpeiros são e sempre foram

respeitados por ele e também sempre teve o respeito dos garimpeiros, que lotavam sua casa em busca de vender os diamantes que tinham encontrado ou buscavam a ajuda para a despesa da semana. Na sua casa tinha o escritório onde ele atendia os garimpeiros e uma ante-sala, para espera. Enquanto ele atendia um , outros aguardavam, mas nunca teve a necessidade de contratar auxiliar ou segurança, enquanto trabalhou na compra de diamantes.

12. A VIDA AMOROSAEm 1948, Bráulio escolheu para

sua companheira a Dona Adália Martins, com quem viveu durante 29 anos, até 11/09/1977, data de seu falecimento. Durante o período que estava casado com Dona Adália, Bráulio não teve nenhum filho e por várias vezes ele e a esposa socorreram uma criança que morava próximo, e por estar sozinha , chorava muito, era o menino Benedito, filho da Maria Baiana, como se apegaram à criança, e sendo amigos da mãe do menino, esta resolveu doá-lo para Bráulio e Adália, que adota-ram-no e criaram com todo cuidado e amor (Benedito era filho de Maria Baiana e Jonas Martins). Anos mais tarde, (1983) reencontrou-se com Sidalva Lélis de Macedo, que estava viúva e essa passou a ser sua esposa, estando juntos até a presente data, com a qual teve duas filhas: Lucélia e Célia.

A nossa entrevista foi finalizada com um dos assuntos mais difícil de se falar: o trágico acidente que tirou a vida de sua filhinha Lucélia, que ao falecer tinha 05 anos, incidentes daqueles que se aprende a conviver, jamais esquecer.

Braulio Silva se considera um homem sem paixões, agradecido a Deus e sonha com uma Poxoréu, com indústria e empregos para todos.

Leda Figueiredo Rocha do Lago: Pedagoga, Atual Assessora Pedagógica de Educação (SEDUC/MT).

Adália MartinsAdália Martins

Bráulio Silva na APM - Escola Juraci Macêdo

Bráulio, Célia, Ana Maria, Sidavla e Lucélia (In memorian)

Ana Maria, Felipe e Célia

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