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“E, se Cristo não ressuscitou, vazia também é a vossa fé” São Paulo, Primeira Carta aos Coríntios 15, 14 SANTA PÁSCOA 2011 ANO XXIX - N.3 - 2011 R$ 15,00 - 5 In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy. En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à Ufficio Poste Roma Romanina, Italie nella Chiesa e nel mondo nella Chiesa e nel mondo Diretor: Giulio Andreotti na Igreja e no mundo Diretor: Giulio Andreotti na Igreja e no mundo MENSILE SPED. IN ABB. POST. Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma. ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L. ISSN 1827-627X

“E, se Cristo não ressuscitou, vazia também é a vossa fé” Brasiliana 3-2011... · Aos 22 anos, recebeu a crisma, acrescentando a seu nome de ba-tismo o de Maria, e alguns

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“E, se Cristo não ressuscitou,vazia também é a vossa fé”

São Paulo, Primeira Carta aos Coríntios 15, 14

SANTA PÁSCOA 2011

ANO XXIX - N.3 - 2011 R$ 15,00 - € 5

In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid,

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Diretor: Giulio Andreottina Igreja e no mundo Diretor: Giulio Andreottina Igreja e no mundo

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ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L. ISSN 1827-627X

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é a revista mensal internacional maisinformada sobre a vida da Igreja. Nas suas páginas estão presentes os acontecimentos políticos e eclesiásticosmais importantes comentados pelos protagonistas. Em cada número, reconstruções históricas, reportagense serviços especiais de todo o mundo, eventos literários e artísticos, inéditos.

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Na capa: Cristo no trono, Basílica de São Paulo fora dos Muros, Roma

EDITORIAL

EDITORIAL

Os cento e cinquenta anos da Unificação da Itália — por G. Andreotti 4

NESTE NÚMERO

LÍBIA

A África aos africanos — por Giovanni Innocenzo Martinelli 20

TUNÍSIA

As revoltas árabes e a opção turcaEntrevista com Maroun Elias Lahham — por G. Valente 22

IGREJA

A unidade dos cristãos habita na oraçãoEntrevista com o cardeal Kurt Koch — por G. Cubeddu 26

ECCLESIA SUAM

“Um olhar sobre o Jesus dos evangelhos e uma escuta d’Ele”— pelo cardeal Georges Cottier, O.P. 34

O ÚLTIMO LIVRO DE BENTO XVI

Fiel à declaração Nostra aetate — por Riccardo Di Segni 38

A linha demarcatória passa entre a confiança e o ceticismo — por Rainer Riesner 42

FÉ E DEVOÇÃO

“Nada temas. Eu reinarei, apesar dos meus inimigos” — por G. Ricciardi 48

NOVA ET VETERA

“... e Ele partiu como vencedor para tornar a vencer” — por L. Cappelletti 54

Ecce crucem Domini: fugite partes adversae...— por L. Cappelletti 57

SEÇÕES

CARTAS DOS MOSTEIROS 6

LEITURA ESPIRITUAL 10

CARTAS DAS MISSÕES 16

CARTAS DOS SEMINÁRIOS 18

CORREIO DO DIRETOR 19

30DIAS NA IGREJA E NO MUNDO 30

330DIAS Nº 3 - 2011

LíbiaGiovanni Innnocenzo Martinelli,

vigário apostólico de Trípoli, fala sobre os dias da guerra

REDAÇÃOVia Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Tel.+39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95Internet: www.30giorni.it E- mail: [email protected]

Vice-Diretores Roberto Rotondo - [email protected] Cubeddu - [email protected]

RedaçãoAlessandra Francioni - [email protected] Malacaria - [email protected] Mattei - [email protected] Quattrucci [email protected] Valente - [email protected]

GráficaMarco Pigliapoco - [email protected] Scicolone - [email protected] Viola - [email protected]

ImagensPaolo Galosi - [email protected]

ColaboradoresPierluca Azzaro, Françoise-Marie Babinet,Marie-Ange Beaugrand, Maurizio Benzi, Lorenzo Bianchi, Massimo Borghesi, Lucio Brunelli, Rodolfo Caporale,Pina Baglioni, Lorenzo Cappelletti, GianniCardinale, Stefania Falasca, Giuseppe Frangi, Silvia Kritzenberger, Walter Montini, Jane Nogara, Stefano M. Paci, Felix Palacios, Tommaso Ricci, Giovanni Ricciardi

Colaboraram neste númeroCardeal Georges Cottier, Riccardo Di SegniGiovanni Innocenzo Martinelli,Rainer Riesner

Escritório LegalDavide Ramazzotti - [email protected]

Secretaria de redaçã[email protected]

3OGIORNI nella Chiesa e nel mondoé uma publicação mensal registrada junto ao Tribunal de Roma na data 11/11/1993n. 501. A publicação beneficia-se de subsídios públicos diretos de acordo com a lei de 7 de agosto de 1990, n. 250

SOCIEDADE EDITORA Trenta Giorni soc. coop. a r. l. Sede legale: Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma

Conselho de AdministraçãoGiampaolo Frezza (presidente),Massimo Quattrucci (vice-presidente), Giovanni Cubeddu, Paolo Mattei,Roberto Rotondo, Michele Sancioni, Gianni Valente

Diretor responsávelRoberto Rotondo

TipografiaArti Grafiche La ModernaVia di Tor Cervara, 171 - Roma

ESCRITÓRIO PARA ASSINATURA E DIFUSÃOVia Vincenzo Manzini, 45 - 00173 RomaTel. +39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95E-mail: [email protected] segunda a sexta-feira das 9h às 18he-mail: [email protected]

Este número foi concluído na redação dia 2 de abril de 2011

Impressão concluída no mês de abril de 2011

3OGIORNInella Chiesa e nel mondo

Diretor Giulio Andreotti

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS: Foto Vasari, Roma: Capa; Ansa: pp.5,20; DeA Picture Library,concedido sob licença a Alinari: p.5; por gentil concessão da sala de imprensa da mostra Lorenzo Lotto-Scuderie del Quirinale: pp.7,8,16,17,18,19,20; Reuters/Contrasto: pp.20-21,21;Associated Press/LaPresse: pp.21,22,23,32,33; Corbis: p.21; Afp/Getty Images: pp.23,25;Osservatore Romano: pp.26,29,30; Romano Siciliani: pp.26,27; N. Manginas/Patriarcadoecumênico de Constantinopla: p.28; por gentil concessão da Congregação para o Culto Divino:p.31; Archivi Alinari, Firenze: pp.35,37; Tania/Contrasto: p.38; Foto Scala, Firenze: p.40; Franco Capovilla: p.42; Giorgio Deganello Editore: pp.43,44,45,46,47; Ilustrações de MauroCavallini por gentil concessão de Editions du Signe, França: pp.48,49,50,51,52,53; Paolo Galosi: pp.55,56,57,58,59,60,61,62,63,64,65

p. 20

N. 3 - Ano 2011A

no

XX

IX Sumário

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4 30DIAS Nº 3 - 2011

Roma, 15 de março de 2011

A comemoração da Unificação da Itália recorda os acontecimentos de cento ecinquenta anos atrás, através das heroicas empresas do ressurgimento, que le-varam à proclamação da independência e da unificação do país.

Ao recordar esse sesquicentenário, o nosso pensamento é dirigido aos quepossibilitaram a ocorrência daquele grande evento. E a nossa recordação é fru-to de uma avaliação serena, objetiva, a ponto de colocar aqueles grandes per-sonagens acima de qualquer espírito parcial, pois toda a obra que realizaramteve apenas um objetivo: construir a Itália.

Cada um dos grandes personagens da Unificação da Itália, nos próprioslimites e segundo os próprios princípios, empenhou-se e prodigou-se para arealização do mesmo empreendimento: deste modo, foi tão legendária aação de Garibaldi, assim como foi eficaz e decisiva a obra unitária de Vitto-rio Emanuele II, a sagaz política do Conde de Cavour e o ardor patriótico deGiuseppe Mazzini.

Junto destes grandes homens uniu-se também um grande grupo de italianosde todas as classes e de todas as idades, incansáveis em coadjuvar, em encora-jar e animados pela vontade da unificação nacional.

Celebrar solenemente a Unificação é um dever porque através das celebra-ções pode-se construir uma base de discussão sobre o futuro do nosso país eapenas com uma atenciosa meditação e com um rigoroso estudo dos eventosque ocorreram passo a passo até alcançar a unificação as nossas jovens gera-ções poderão idealmente sentirem-se partícipes destes mesmos eventos.

por Giulio Andreotti

Os cento e cinquenta anosda Unificação da Itália

Editorial

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Acima, A abertura do primeiroParlamento italiano em Turim a 18 de fevereiro de 1861,Théodore Tetar van Elven, Museu Nacional do Ressurgimento, Turim

Abaixo, o presidente da República Giorgio Napolitano, o primeiro-ministro

Silvio Berlusconi e os presidentes doSenado e da Câmara, por ocasião das celebrações dos 150 anos da

Unificação da Itália, Altar da Pátria,Roma, 17 de março de 2011

530DIAS Nº 3 - 2011

I50° aniversário da Unificação da Itália

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CLARISSAS DO CONVENTO DE SANTA CLARA

Pacet, Indonésia

Obrigada por sua maravilhosa revista

Pacet, 25 de dezembro de 2010

Prezado senador Andreotti e colaboradores, nossosvotos de um feliz Natal de 2010 e de um bom ano no-vo de 2011.

Muitíssimo obrigada por sua generosidade aos nosenviar sua maravilhosa revista. Obrigada também pornos ter comunicado seu novo endereço.

Que Deus os abençoe!Em união de amor e oração,

as clarissas de Pacet

CARMELITAS DO CONVENTO THAPELONG

Mafikeng, África do Sul

Agradecimentos da África do Sul

Mafikeng, 25 de dezembro de 2010

Caro senhor diretor,mais uma vez lhe agradecemos por sua grande ge-nerosidade e gentileza ao nos enviar 30Days. Possao nosso bom Deus recompensar abundantementeao senhor e à sua família sobretudo por seu bom tra-balho.

Possa a vinda do Menino Jesus trazer-lhe e aosseus entes queridos muita paz e felicidade e todas asbênçãos no novo ano que virá.

Possa Deus abençoá-lo sempre,

as carmelitas de Thapelong

FILHAS DE NOSSA SENHORA DAS DORES

Tarbes, França

Agradeço-lhes pelo envio gratuito da bela revista 30Jours

Tarbes, 5 de janeiro de 2011

Bom dia; eu gostaria que me enviassem vinte exem-plares de Qui prie sauve son âme em francês e ascoordenadas para realizar o pagamento.

Agradeço-lhes pelo envio gratuito, há anos, da belarevista 30Jours, tão aprofundada sobre a Igreja. So-mos as Filhas de Nossa Senhora das Dores, origináriasda diocese de Tarbes e Lourdes. Cuidamos de casas derepouso para idosos na França e no Oriente Médio (noLíbano, em Israel e no Egito), além de acolher doentesque vêm em peregrinação a Lourdes.

Rezamos, de modo particular, pelos cristãos doOriente que sofrem, mas que estão prontos a testemu-nhar sua fé até o martírio.

6 30DIAS Nº 3 - 2011

Nestas páginas, algumas obras de Lorenzo Lotto provenientesde várias localidades e expostas na mostra realizada nas Escuderias do Quirinal, em Roma, de 2 de marçoa 12 de junho de 2011; ao lado, Anunciação (c. 1534-1535),Museu Cívico, Recanati

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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Que Deus o abençoe e a todos aqueles que colabo-ram com a revista! Bom e santo ano de 2011.

Irmã Isabelle-Marie

CARMELITAS DESCALÇAS DE SANTA MARÍA DE LA FE

Ciudad del Carmen, Campeche, México

“Que Deus o recompense” pela revista com que nos presenteia

Ciudad del Carmen, 15 de janeiro de 2011

Caríssimo senador Andreotti,escrevo-lhe no início deste 2011 dizendo-lhe “queDeus o recompense” pela revista com que nos pre-senteia. Uma bela, belíssima revista, com artigos tãoimportantes sobre os santos Padres da Igreja, com osartigos tão profundos sobre Santo Agostinho, sobreSanta Teresinha ou sobre o estadista alemão KonradAdenauer; ou com os artigos de atualidade, como so-bre a recente visita do Papa à Grã-Bretanha. Quere-mos também agradecer-lhe pelo bem que faz nomundo inteiro, por intermédio deste meio de comu-nicação, a tantas comunidades religiosas, aos semi-nários e a tantas pessoas. Que Deus o abençoe, o re-compense, dando-lhe uma vida mais profunda emamizade, amor e conhecimento da Trindade. Reza-

mos pelo senhor, senador, e por sua estimada famí-lia, como também por seu trabalho de homem políti-co e de ajuda à bela Itália.

Com muito afeto e gratidão, a sua

irmã María Josefina de Jesús Apango, O.C.D.

CARMELITAS DO CONVENTO DE NHA TRANG

Nha Trang, Vietnã

De um carmelo no Vietnã

Nha Trang, 22 de janeiro de 2011

Caro senhor diretor,há muito tempo não lhe escrevemos. Peço que nosdesculpe. Todavia, não esquecemos de rezar pelo se-nhor e por todos... “O Espírito vem em auxílio da nos-sa fraqueza... o próprio Espírito intercede por nóscom gemidos inefáveis”.

Por mais de cinco anos, sua revista 30Giorni che-gou-nos um pouco irregularmente, mas... nenhumproblema. Sabíamos por quê. Tudo é graça e o nossoPai Celeste nos dá sempre a melhor parte. Depois delê-la, nós a repassamos a um padre franciscano; ficoufelicíssimo e nos perguntou: “Como vocês recebemuma revista tão preciosa e interessante?”. Deo gratias.

Recebemos também Qui prie sauve son âme e odemos a uma religiosa quese encontra atualmentenum carmelo na França

Muito obrigada por tu-do o que nos enviou.

Em união no seio glorio-so do Pai, que o encha degraças por intercessão deNossa Mãe e Rainha doMonte Carmelo,

as carmelitas de Nha Trang

Adoração dos pastores (1530),

Museus Cívicos de Arte

e História, Bréscia

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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8 30DIAS Nº 3 - 2011

Transfiguração de Cristo

(c. 1511-1512),

Museu Cívico, Recanati

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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930DIAS Nº 3 - 2011

CASA DE FORMAÇÃO DAS IRMÃS CAPUCHINHAS

Fianarantsoa, Madagascar

30Giorninos ajuda muito a conhecer e viver o momento presente da Igreja

Fianarantsoa, 6 de março de 2011

Senhor senador Giulio Andreotti,fico muito contente por lhe escrever duas simples pa-lavras de agradecimento e de admiração pelo serviçoque presta a todos aqueles que têm a graça de poderler e reler as páginas de sua revista 30Giorni. Tenhogrande admiração pelo senhor, conheço-o desde queera pequena, pois meus pais lhe tinham grande esti-ma e confiança e ao mesmo tempo rezavam pelo se-nhor, para que pudesse ser sempre um verdadeirocristão-católico-democrata; meus pais acreditavammuito em sua política limpa e acompanhavam muitosuas ideias. Passaram-se tantos anos e hoje sou euque o admiro e rezo pelo senhor para que Deus lhedê ainda muita saúde para poder fazer um grandebem por intermédio de sua revista. Lamento quemeus pais já não sejam vivos, mas do céu, onde te-nho certeza que se encontram, continuam a rezar pe-lo senhor e a protegê-lo, para que siga fazendo obem a todos nós.

Obrigado por sua revista, da qual tanto eu quanto aminha comunidade de formação, composta de jovenspostulantes e noviças malgaxes em busca de uma vidamelhor no seguimento de Cristo, tiramos muito provei-to espiritual e cultural por todas as informações que ne-la encontramos. Sobretudo, ajuda-nos muito a conhe-cer e viver o momento presente da Igreja, a palavra doMagistério e de nosso amado Papa e Pastor; realmentenos faz sentir mais estreitamente unidas à Igreja e aomundo atual, com todos os problemas em que nos en-contramos; isso nos dá a oportunidade de trazer emnossas orações as intenções pelo mundo, e sobretudopor nossa santa madre Igreja. Muitas vezes fazemos aleitura à mesa, explicando o significado dos temas maisatuais e importantes, especialmente a palavra do Papa.

Nós rezamos muito pelo senhor, por sua equipe,por sua redação, por seus jornalistas, para que Deusos abençoe e ao seu trabalho, e os recompense portodo o bem que fazem por intermédio de sua revista.Peço-lhe que me envie, se for possível, alguns exem-

plares do livrinho Quem reza se salva, tanto em lín-gua italiana quanto em francês, pois nós rezamosem três línguas.

Há um ano ou mais temos a graça de ser assinan-tes de sua revista, graças à caridade de nossas irmãsitalianas. Gostaria ainda de aproveitar para pedir-lhe que me envie algum livrinho-presente da sua co-leção já publicado em francês, para dá-lo como ali-mento às nossas jovens malgaxes. Tenho confiançaem sua resposta positiva e agradeço-lhe desde já detodo o coração.

Sou uma freira missionária capuchinha italiana etrabalho aqui em Madagascar há cerca de quinzeanos; estou muito contente por dar a vida a estes ir-mãos e irmãs malgaxes e sobretudo por formar nos-sas futuras irmãs missionárias malgaxes. Peço-lhe quereze por mim e por elas. Asseguro-lhe a minha e anossa oração e ainda lhe agradeço profundamente e atodos os benfeitores que nos ajudam.

Com todo o meu afeto, no Senhor,obrigada!

Irmã Maria Amata, capuchinha

CARMELITAS DO CONVENTO DE LISIEUX

Lisieux, França

Do carmelo da pequena Teresa

Lisieux, 17 de março de 2011

Senhor diretor,é com o coração cheio de gratidão que desejo agrade-cer-lhe, em nome de todas as minhas irmãs, por suabela revista 30Jours, que o senhor nos envia tão fiel egratuitamente.

Gostaria de garantir-lhe nossa oração toda espe-cial dirigida ao Senhor e à pequena Teresa, para queuma “chuva de rosas” chova sobre cada um de seuscolaboradores.

Gostaria de receber o livrinho Qui prie sauve sonâme em francês, inglês, espanhol, alemão e árabe.Os peregrinos que nos vêm encontrar de todo o mun-do ficariam seguramente interessados em seu precio-so livrinho.

Mais uma vez nossos agradecimentos,

irmã Dominique, O.C.D.

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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Leitura espiritual/41

10 30DIAS Nº 3 - 2011

Em setembro de 2006, inaugurando a se-ção “Leitura espiritual”, começamos apublicar os documentos mais impor-

tantes do magistério da Igreja a respeito dadoutrina da graça. Sobre “o mistério e a açãoda graça”, como diz Péguy. Começamos compassagens do Credo do povo de Deus, de PauloVI (setembro de 2006 a maio de 2007), paradepois continuar com os cânones do Concí-lio de Cartago, de 418 (junho a setembro de2007), com o Indiculus, o pequeno catecismoromano da primeira metade do século V (ou-tubro de 2007 a janeiro de 2008), com os câ-nones do Concílio de Orange, de 529 (feve-reiro de 2008 a setembro de 2009), até chegaraos textos de Santo Ambrósio, que expres-sam, na transparência imediata da oração, osconteúdos dessa mesma doutrina (outubrode 2009 a novembro de 2010).

Voltamos, nesta edição, a publicar os docu-mentos do Magistério, apresentando os de-cretos do Concílio de Trento que de modo de-finitivo preservam santamente e propõemfielmente a doutrina da Igreja sobre a graça.Começamos com a introdução e com os doisprimeiros cânones do Decreto sobre o pecadooriginal, aprovado em 17 de junho de 1546(com uma breve nota histórica que ilustra agênese do texto conciliar).

O Decreto do Concílio de Trento tem, entreoutras coisas, uma atualidade “jornalística”,dada a publicação recente na imprensa, de al-guns artigos nos quais são apresentadas inter-pretações que negam a realidade histórica dopecado original, considerando-o uma inven-ção teológica de Santo Agostinho.

Tendo sempre em mente que os simplesfiéis reconhecem por experiência o quanto é

por Paolo Mattei

Leitura espiritual Leitura espiritual

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1130DIAS Nº 3 - 2011

plenamente razoável “permanecer na dou-trina de Cristo” (2Jo 9), revelam-se um con-forto ao entendimento da fé as observaçõesque Augusto Del Noce publicou em seu livroIl problema dell’ateismo (Bolonha, 1964), arespeito justamente do pecado original. Ofilósofo católico – depois de afirmar que oateísmo moderno não se explica tanto comouma “laicização radical” do cristianismo,mas muito mais como uma “nova com-preensão da novidade cristã segundo catego-rias antigas”, para a qual “o mal se inseririana própria finitude da existência” – escreve:“A opção que condiciona todas as categoriase todo o desenvolvimento do racionalismo éa recusa da visão do pecado tal como se en-contra exposta no Gênesis. A crítica religiosaque demole a Bíblia, reduzindo-a a relatoslegendários, é na realidade consequênciadessa opção. A explicação da Bíblia, que dizque o mal foi introduzido por nós no mun-do por um ato de liberdade, é substituídapor outra, segundo a qual a relação de finitu-de e de morte é considerada como necessá-ria. Assim, voltamos substancialmente à ex-plicação do mal contida no fragmento deAnaximandro”.

Ou o mal que constatamos no mundo foiintroduzido por um ato da liberdade do ho-mem, por “um pecado grave de soberba e dedesobediência”, como diz o Catecismo de SãoPio X, ou o mal coincide com a própria cria-ção e portanto “vem de Deus e está em Deus”,como diz Hegel. Tertium non datur.

Empregando as palavras do apóstolo pre-dileto em sua segunda carta, podemos dizer(cf. 2Jo 9): ou permanecemos na doutrina deCristo e assim permanecemos em Deus, oudela saímos e caímos assim no gnosticismoou na gnose, ou melhor, como é mais exatodizer, na falsa gnose.

O pecado original, Capela Palatina, Palermo

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12 30DIAS Nº 3 - 2011

Eva, detalhe de O pecado original, Capela Palatina, Palermo

Nota histórica*

O pecado original foi a primeira questão dogmática enfrentada pelo Concílio de Trento. O estímulo a tratar delaveio dos legados papais Del Monte, Pole e Cervini, em 21 de maio de 1546; só a eles era dado o direito de proporos temas do Concílio. Naturalmente, ao frisar a doutrina do pecado original, pretendia-se rechaçar os erros dosprotestantes em torno dela, que estes haviam tomado de empréstimo dos gnósticos e dos pelagianos. Seguin-do os procedimentos dos trabalhos, a questão foi discutida primeiramente na “congregação dos teólogos”, con-vocada para bem cedo (às 5 da manhã!) em 24 de maio. Os trinta e dois teólogos, quase todos pertencentes àsgrandes ordens religiosas, concluíram a discussão no dia seguinte. Em 28 de maio deu-se a “congregação ge-ral”, a reunião dos padres conciliares que tinham direito de voto, na qual Del Monte apresentou aos padres o es-quema-base. Trabalharam sobre este de 31 de maio a 5 de junho, em sucessivas congregações gerais. A pri-meira redação do decreto apareceu em 8 de junho, preparada, com a ajuda de alguns bispos e teólogos, pelospróprios legados, que se esforçaram por só usar expressões dos concílios e dos doutores católicos já aprova-dos. Após alguns retoques, o texto definitivo do decreto foi promulgado em 17 de junho de 1546, na quinta ses-são solene do Concílio, realizada em Trento, na Catedral de São Vigílio.

* Por Lorenzo Cappelletti, publicada em 30Giorni, n. 1, janeiro de 1994, p. 71.

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Para que a nossa fé católica, sem a qual“é impossível agradar a Deus” (Hb11,6), continue, removidos os erros,íntegra e intacta em sua pureza, e paraque o povo cristão não fique “ao sabordas ondas, agitado por qualquer soprode doutrina” (Ef 4,14), uma vez que aserpente antiga, inimiga perene do gê-nero humano, entre os muitíssimosmales pelos quais é agitada a Igreja deDeus nestes nossos tempos, suscitounão apenas novas, mas também anti-gas disputas mesmo a respeito do pe-cado original e de seu remédio, o sa-crossanto ecumênico e geral ConcílioTridentino, legitimamente reunido noEspírito Santo, sob a presidência dostrês legados da própria Sé Apostólica,querendo agora dispor-se a chamar aatenção dos errantes e a confirmar osincertos, seguindo os testemunhos dasSagradas Escrituras, dos santos Padrese dos concílios mais venerandos, e ojuízo e o consenso da própria Igreja,estabelece, confessa e declara o que se-gue sobre o pecado original.

Ut fides nostra catholica, “sine quaimpossibile est placere Deo” (Hb11,6), purgatis erroribus in sua sinceri-tate integra et illibata permaneat, et nepopulus christianus “omni vento doc-trinae circumferatur” (Ef 4,14), cumserpens ille antiquus, humani generisperpetuus hostis, inter plurima mala,quibus Ecclesia Dei his nostris tempo-ribus perturbatur, etiam de peccatooriginali eiusque remedio non solumnova, sed etiam vetera dissidia excita-verit: sacrosancta oecumenica et gene-ralis Tridentina Synodus in SpirituSancto legitime congregata, praesi-dentibus in ea eisdem tribus Apostoli-cae Sedis legatis, iam ad revocandoserrantes et nutantes confirmandos ac-cedere volens, sacrarum Scripturarumet sanctorum Patrum ac probatissimo-rum conciliorum testimonia et ipsiusEcclesiae iudicium et consensum secu-ta, haec de ipso peccato originali sta-tuit, fatetur ac declarat:

Decreto sobre o pecado originalDecretum de peccato originali

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Deus chama Adão e Eva depois do pecado, Capela Palatina, Palermo

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1. Se alguém não admite que o pri-meiro homem Adão, tendo transgredi-do no paraíso o mandamento de Deus,perdeu de imediato a santidade e a jus-tiça, nas quais tinha sido constituído, epor tal pecado de prevaricação incor-reu na ira e na indignação de Deus, eportanto na morte com que Deus pri-meiramente o ameaçou, e, com a mor-te, na escravidão sob o domínio daque-le que a partir daí teve “o império damorte, isto é, o demônio” (Hb 2,14); eque Adão inteiro, por esse pecado deprevaricação, ficou piorado, de corpo ealma, seja excomungado.

2. Se alguém afirma que a prevarica-ção de Adão prejudicou a ele apenas, enão à sua descendência, e afirma que asantidade e a justiça que este recebeude Deus, e que perdeu, ele as perdeupara si só, e não também para nós; ouque ele, manchado pelo pecado de de-sobediência, transmitiu a todo o gêne-ro humano apenas a morte e as penascorporais, e não também o pecado,que é a morte da alma, seja excomun-gado, pois contradiz o Apóstolo, queafirma: “Como por um só homem en-trou o pecado no mundo, e pelo peca-do a morte, assim a morte passou a to-do o gênero humano, porque [nele]todos pecaram” (Rm 5,12).

1. Si quis non confitetur, primumhominem Adam, cum mandatumDei in paradiso fuisset transgressus,statim sanctitatem et iustitiam, inqua constitutus fuerat, amisisse in-currisseque per offensam praevarica-tionis huiusmodi iram et indignatio-nem Dei atque ideo mortem, quamantea illi comminatus fuerat Deus, etcum morte captivitatem sub eius po-testate, “qui mortis” deinde “habuitimperium, hoc est diaboli” (Hb2,14), totumque Adam per illampraevaricationis offensam secundumcorpus et animam in deterius com-mutatum fuisse: anathema sit.

2. Si quis Adae praevaricationem si-bi soli et non eius propagini asseritnocuisse, acceptam a Deo sanctita-tem et iustitiam, quam perdidit, sibisoli et non nobis etiam eum perdidis-se; aut inquinatum illum per inoboe-dientiae peccatum mortem et poenascorporis tantum in omne genus hu-manum transfudisse, non autem etpeccatum, quod mors est animae:anathema sit, cum contradicat Apos-tolo dicenti: “Per unum hominempeccatum intravit in mundum, et perpeccatum mors, et ita in omnes ho-mines mors pertransiit, in quo om-nes peccaverunt” (Rm 5,12).

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LEIGOS MISSIONÁRIOS DA CARIDADE

Cárdenas, Cuba

Gostaríamos de receber um exemplar de Quien reza se salva, que poderíamos fotocopiar

Cárdenas, 9 de fevereiro de 2011

Caros irmãos,somos um grupo de jovens da igreja de Santo Antôniode Cárdenas, na província de Matanzas (Cuba). Per-tencemos aos leigos Missionários da Caridade e,quando estávamos na biblioteca paroquial, vimos al-gumas velhas edições da revista 30Días e ficamos en-

cantados. Todos os membros do nosso grupo vocacio-nal gostaram. Nunca tínhamos visto uma revista quefalasse da Igreja no mundo dessa forma. Gostaríamosde receber, se possível todos os meses, pelo menosum exemplar para compartilhar com as religiosas,mas gratuitamente, dado que a nossa situação econô-mica não é muito boa. Se não for um incômodo muitogrande, gostaríamos também de receber um exem-plar do livrinho Quien reza se salva, que poderíamosfotocopiar para as nossas missões em “bateyes”, paraas regiões rurais e para as nossas casas de missão.

Com Maria, nossa Mãe, Deus nosso Pai abençoe atodos os colaboradores da sua redação.

Seus irmãos de Cuba

Nestas páginas, algumas obras de Lorenzo Lotto provenientes de várias localidades e expostas na mostra realizada nas Escuderias do Quirinal, em Roma, de 2 de março a 12 de junho de 2011; acima Cristo carrega a cruz (1526), Museu do Louvre, Paris

Cartas das missões Cartas das missões

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PARÓQUIA DO SAGRADO CORAÇÃO

Porto-Novo, Benin

Dois mil exemplares de Qui prie sauve son âme

Porto-Novo, 9 de março de 2011

Obrigado, senhor diretor,por Qui prie sauve son âme, que o senhor envioupara os catecúmenos deste ano.

É bom ver como, de maneira unânime, eles mani-festaram sua satisfação e sua alegria por contar comesse precioso instrumento de trabalho. Nós os demosde presente também aos estudantes anglófonos queestão fazendo um “mergulho” linguístico na universi-dade situada no território da nossa paróquia.

Este pequeno livro é tão bom e oportuno, que asassociações e os grupos de crianças presentes na pa-róquia também desejam beneficiar-se dele.

É, portanto, por essa razão e em nome deles quedesejamos solicitar respeitosamente a doação deduas mil cópias desse pequeno livro.

À espera de uma resposta favorável ao nosso pe-dido, nós lhe asseguramos a nossa disponibilidadepastoral no campo do Senhor.

Padre Paul Akplogan

MISSIONÁRIO NO JAPÃO

Hyúga, Japão

De um missionário que trabalha no Japão há vinte e cinco anos

Hyúga, 22 de março de 2011

Prezado diretor Giulio Andreotti, e respeitável reda-ção de 30Giorni,sou um missionário que trabalha no Japão há vinte ecinco anos. Sou também leitor apaixonado e assíduoda revista, de que gosto muitíssimo. Antigamente, eupagava a assinatura, mas, quando vocês começaramgentilmente a enviar a revista aos meus confrades deforma gratuita, solicitei, por vontade de meu supe-rior, recebê-la também gratuitamente.

Desde então, recebo-a sem despesas e com regula-ridade, e lhes agradeço de coração. Escrevo-lhes agoratambém para notificar a mudança de meu endereço.Muitíssimo obrigado por tudo; eu os lembrarei em mi-nhas orações, e que o Senhor abençoe o seu trabalho.

Boa Páscoa.

Padre Severino Mastrotto

Cristo morto, sustentado por um anjo, São José de Arimateia,Nossa Senhora e Maria Madalena, detalhe do Políptico de São Domingos (1506-1508), Museo Cívico, Recanati

Cartas das missões Cartas das missões

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SEMINÁRIO DIOCESANO CORAZÓN DE CRISTO

Callao, Peru

Sua revista é um meio fantástico de educação para os nossos seminaristas

Callao, 1º de fevereiro de 2011

Caro senhor Giulio,receba o cordial cumprimento dos formadores e semi-naristas do seminário diocesano Corazón de Cristo.Escrevo-lhe deste seminário que este ano acolhe, porgraça de Deus, 111 jovens que, com grande entusias-mo, deixaram tudo para seguir a Jesus Cristo, o BomPastor. Eles vêm de Callao e de outras jurisdições ecle-siásticas: das arquidioceses de Piura e de Arequipa e

das dioceses de Carabayllo e Huacho; os bispos os en-viam para o nosso seminário, para que formemos osfuturos sacerdotes.

Nossos seminaristas vêm de famílias pobres, quenão podem arcar com as despesas para sua formação.Nós, sacerdotes da equipe de formadores, compreen-demos que, quando Deus nos confiou a preparaçãodos futuros sacerdotes, confiou-a completamente anós; e essa missão seria impossível sem a ajuda que oSenhor nos dá por intermédio de pessoas e institui-ções generosas.

É por isso que, conhecendo o seu espírito de cola-boração, tomo a liberdade de pedir-lhe uma assinaturagratuita de sua revista, que é um meio fantástico deeducação para os nossos seminaristas que se encon-tram no caminho do sacerdócio.

Com a certeza de que Deus os abençoará pela obrade evangelização que vocês realizam, despeço-me en-tregando-os aos cuidados de Nossa Senhora, a Vir-gem do Carmelo, padroeira de Callao.

Com afeto, em Cristo,

padre Carlos Esparza Gómez, reitor

SEMINÁRIO SAINT FRANCIS XAVIER

Lahore, Paquistão

Uma carta do Paquistão

Lahore, 10 de março de 2011

Caro Giulio Andreotti,receba os melhores votos do seminário Saint FrancisXavier. Munido de orações e de uma gratidão ilimitada,tenho o prazer de agradecer-lhe em nome dos estudan-tes e do reitor pelo envio dos exemplares da revista30Days e por sua atenção e interesse para conosco.

Além disso, todos os estudantes estão profunda-mente afeiçoados a essa revista, que nos torna maisfácil reforçar a nossa fé e nos põe a par das recentesnovidades enfrentadas pela Igreja.

Esteja certo de que o senhor está sempre em nossassúplicas e orações. Possa Deus abençoá-lo e preservá-lo sob a Sua presença. E que a sua “rede” de evangeliza-ção conserve a alegria divina nas lidas deste mundo.

Afeiçoadíssimo, em Jesus e Maria,

Waqas Sadiq

Trindade (1523-1524), igreja de Santo Alexandre da Cruz,

Bérgamo

Cartas dos seminários

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DIOCESE DE BALANGA

Balanga, Filipinas

30Giorninos mantém em comunhão com a sé de Pedro

Balanga, 14 de março de 2011

Caro senador Andreotti,afetuosas saudações, cheias de paz e respeito!Durante o período em que fui reitor do Pontifício Co-légio Filipino, pude constatar e fazer experiência aolado de meus sacerdotes de sua constante gentileza esolicitude pastoral. Deus nos concedeu um dom comsua inspirada e realmente iluminadora revista. Tive-mos a bênção de receber 30Giorni gratuitamente. Eainda hoje Deus continua a nos oferecer suas dádivas

e graças. Como bispo de Balanga, sou mais uma vezconstante leitor de 30Giorni. Mesmo que quilômetrosde distância e oceanos nos separem, 30Giorni nospermite estar em contato com Roma e ficar a par dasatividades e dos ensinamentos da Igreja. 30Giorninos mantém em comunhão com a sé de Pedro.

Esteja certo das orações cotidianas e da celebraçãodiária da santa missa pelo senhor e por todos os seuscolaboradores. Peço sempre a nosso Senhor que oguie e o cubra de Suas maiores graças. E possa a nos-sa Santa Mãe, a quem imploro com ternura comoNossa Senhora de Guadalupe, manter-nos sob o seumanto de proteção materna. Sempre com profundagratidão e constantes orações.

Sinceramente seu, em Cristo Jesus,

Ruperto Cruz Santosbispo de Balanga

Nossa Senhora notrono com o Menino e os santos José,Bernardino de Sena, João Batista, Antônio abade, e anjos (o Pala de São Bernardino,1521), igreja de São Bernardino in Pignolo, Bérgamo

Correio do Diretor

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20 30DIAS Nº 3 - 2011

Um sacerdote fidei donumde Trento, logo que enten-deu o que estava para

acontecer, conseguiu pegar o últi-mo voo para Trípoli, e voltou paracá, para ficar ao lado dos que pre-cisavam dele. Uma família de mu-çulmanos de Beida fez, a seu mo-do, ainda mais do que isso. Per-correu centenas de quilômetrosaté a fronteira com o Egito paraesperar irmã Lucia, uma amigaque voltava para trabalhar no hos-pital. Não tendo a possibilidadede um voo direto para Bengasi, ir-mã Lucia teve que passar pelafronteira do Egito, onde estavahospedada na casa de parentesdos mesmos amigos líbios que de-pois a acolheram na fronteira. Elatambém agora está aqui, agoraque se espalhou muita dor e aspessoas não entendem realmenteo porquê.

Em outubro, no 25º aniversá-rio da nomeação episcopal do vi-gário apostólico de Trípoli [o pró-prio Giovanni Innocenzo Marti-nelli], realizou-se uma festa es-pontânea, serena e compartilha-da entre cristãos e muçulmanos,com muita cordialidade entre to-dos. Ninguém imaginava que viriauma guerra.

Depois dos primeiros momen-tos da rebelião contra o regime,em Trípoli a vida continuava quasecomo sempre, enquanto que oscombates aconteciam longe. Ha-via um silêncio fora do normal,uma tranquilidade aparente e pro-curada para espantar o medo e atristeza. Há os que, compreensi-velmente, fugiram, esperando po-der voltar logo. A presença dospostos de controle recordava queno país aconteciam violentas bata-lhas. Depois vieram os bombar-deamentos da coalizão, que causa-ram muitas vítimas civis: tive co-

nhecimento de numerosos teste-munhos dignos de fé e repeti issopublicamente. Como se pode pre-tender atingir um objetivo militarque está ao lado das casas das pes-soas sem imaginar as consequên-cias? Por causa das bombas “hu-manitárias” caíram edifícios levan-do com eles famílias inteiras; so-freram danos até mesmo algunshospitais.

Agora temos uma camioneteda polícia em frente ao portão danossa casa franciscana, tornamo-nos objeto de maior proteção porparte do governo, e é mais do queóbvio dada a situação.

De modo geral, todavia, a Igre-ja Católica não foi tocada, ao con-trário, foi protegida.

As atividades da nossa comuni-dade diminuíram... mas conti-nuam. Nesta “normalidade”, comos poucos católicos que permane-ceram conseguimos ainda cele-brar a santa missa nas manhãs dassextas-feiras, dos sábados e dosdomingos. A maior parte dos fiéisé composta por estrangeiros; sa-be-se que a nossa identidade cató-

lica é afro-asiática, representadaprincipalmente pelos trabalhado-res filipinos, empregados nos hos-pitais, e pelos imigrantes africa-nos, francófonos e anglófonos. Osocidentais que trabalhavam nascompanhias concessionárias es-trangeiras foram embora logo que

A África aos africanosLíbia

O vigário apostólico de Trípoli fala sobre os dias da guerra

Um bombardeio da coalizão ao longo da estrada entre Bengasi e Ajdabiya, 20 de março de 2011

por Giovanni Innocenzo Martinelli

Monsenhor Giovanni Innocenzo Martinelli, vigário apostólico de Trípoli, com alguns refugiados eritreus na casa canônica da igreja de São Francisco,em Trípoli, 28 de fevereiro de 2011

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cessaram as atividades, ao primei-ro rumor de armas.

Nesta guerra o islã não temqualquer participação e nós nuncativemos problemas com os nossosamigos muçulmanos. Pelo contrá-rio. O islã líbio nunca foi umapreocupação para nós.

Com a guerra em curso, no fi-nal de março, mantivemos os nos-sos regulares encontros com aDawa al Islamiya, conhecida co-mo World Islamic Call Society, acélebre entidade governamentalde diálogo religioso. Inicialmentetive uma conversa pessoal com osecretário-geral Mohamed Ah-med Sherif, e alguns dias depoisse realizou um encontro com ogrupo de religiosos cristãos e ca-tólicos presentes em Trípoli. Den-tro de minhas possibilidades, pro-movi esta iniciativa. São visitasúteis, vividas com espírito frater-no, e agora servem também para

propiciar uma atividade de media-ção, na medida do possível, nestaguerra. A Dawa, com efeito, emsintonia com a Santa Sé, apelapor uma saída o mais cedo possí-vel desta guerra.

Enquanto falo ainda se podeesperar por uma solução política ediplomática. Isto é, que aconteçaum verdadeiro diálogo entre asfacções e que se possa com realis-mo oferecer uma solução honrá-vel a todos. Deve-se contar obriga-toriamente com a participação daUnião Africana e da Liga Árabe.

Nestes dias parece que vejo al-guns sinais de reconciliação, sejano país como fora. Há tentativasem ação.

A União Africana (UA) não éseriamente interpelada, não demaneira que possa levar adianteas negociações. Talvez alguém te-nha complexo de superioridade.Os africanos, da sua parte, não seexpõem, mas sabemos que dentroda UA há os que solicitaram açãopara a Líbia.

Há décadas que dizemos a“África aos africanos”. Por queisso não deve valer justamenteagora?

Por outro lado, há países dacoalizão que querem, ao contrá-rio, dar armas aos rebeldes. Asarmas não levam à paz, qualquerum que as use. O que se quer?Que os líbios continuem a mata-rem-se entre eles? Aqui o povo éunido por sua natureza – eu nãoencontrei ninguém que me tenhadito que queira o país dividido emdois – e dar armas é contra o po-vo. Até parece que se queira eli-miná-lo. É preciso fazer de tudopara favorecer um diálogo entreas partes, em um clima sereno,com pessoas aptas, é precisochegar a um acordo com com-promisso.

Gostaria de agradecer a todosos bispos que me telefonaram, eantes de tudo agradecer ao PapaBento que nos confortou e assumiuuma posição simples e precisa.

Da Praça de São Pedro pediu“que um horizonte de paz e con-córdia surja o mais cedo possívelsobre a Líbia e sobre toda a regiãonorte-africana”. Chega de armas;sim imediatamente ao diálogo e àpaz. Traduzimos as suas declara-ções em inglês e em árabe e difun-dimos o máximo possível. Temoslido o texto em todas as nossasmissas e entreguei-o pessoalmen-te a alguns amigos líbios.

O que me sustenta a cada dia éo testemunho dos cristãos que es-tão aqui, às enfermeiras filipinas eàs religiosas que trabalham noshospitais em Tripolitânia, e muitasoutras que estão em Cirenaica,nas cidades dos revoltosos. Todoseles cuidam das vítimas, de um la-do e de outro da barricada.

(texto reunido por Giovanni Cubeddu)

2130DIAS Nº 3 - 2011

Acima, à esquerda, rebeldes líbios na cidade de Ajdabiya, ao sul de Bengasi, a 26 de março de 2011 depois da retomada do controle dacidade; à direita, o funeral de um rebelde morto pelas forças fiéis ao líder líbio Muammar Kadafi, em Ajdabiya, a 23 de março de 2011

Trabalhadores emigrantes da África subsaariana na igreja de São Francisco, em Trípoli

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O s acontecimentos pega-ram-no de surpresa. Ma-roun Lahham, palestino da

Jordânia, arcebispo de Túnis desdeoutubro de 2005, realmente nãoesperava que justamente dali fosseiniciada a grande transformaçãoque há dois meses está abalando ospaíses árabes. Para o bispo, os diasde fevereiro foram dias de incertezae de preocupação, com estado desítio que o limitava no perímetro de

sua residência, as manifestações,gás lacrimogênio e os tanques blin-dados parados bem em frente à Ca-tedral, na Place de l’Indépendance.Mas agora a situação está tranquila.Dificuldades, incógnitas e o rumorda guerra que acontece na vizinhaLíbia acabam com o sonho de umachamada “primavera árabe”. E po-de-se tentar fazer um primeiro ba-lanço provisório do que aconteceuaté agora.

Na Tunísia, a centelha quefez explodir a revolta foi de ca-ráter social: o aumento dos pre-ços, o desemprego, a pobreza.

MAROUN ELIAS LAHHAM:Sim, mas depois de dois dias afrente dos protestos já tinha sealargado a questões políticas, co-meçando pela intolerância à cor-rupção. A velocidade com a qualas revoltas se propagaram de umpaís a outro são o sinal de que evi-

22 30DIAS Nº 3 - 2011

A evolução do cenário político nos países árabes poderá acontecer com a passagem do islã através da democracia. Seguindo o exemplo do que está acontecendo na Turquia de Erdogan. Entrevista com Maroun Lahham, arcebispo de Túnis

por Gianni Valente

Tunísia

As revoltas árabes e a opção turca

Refugiados líbios no campo de Ras Ajdir, na fronteira entre a Líbia e Tunísia, 12 de março de 2011

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dentemente a tensão estava seacumulando sob a calma aparen-te imposta pelos regimes. Houvea centelha, mas os amontoadosde lenha com as folhas secas jáestavam ali prontos há muitotempo, em toda a área.

As revoltas no mundo ára-be têm realmente semelhan-ças?

Obviamente as várias situa-ções têm muitas diferenças. Masao menos há um coisa em co-mum: há uma geração de jovensárabes que não suporta mais vi-ver em uma condição de silencio-sa submissão em regimes opres-sivos, com nomenclaturas cor-ruptas que bloqueiam os proces-sos de desenvolvimento econô-mico, político e social. Muitos de-les estudaram, e conhecem muitobem as dinâmicas g lobais domundo atual. Este elemento des-ta geração é um dado históricoque deve ser levado em conside-ração, sem ênfases.

Hoje, como está a situaçãona Tunísia?

Agora a situação social estácalma, mas a economia está noponto zero e o setor turístico,grande recurso do país está prati-camente parado. Isso explica afuga em massa dos jovens.

Para o governo italiano etambém outros governos eu-ropeus, os tunisianos que che-gam em barcas não são refu-giados, mas clandestinos quedevem ser recusados ou repa-triados no seu país.

O aspecto político e jurídiconão é de minha competência.Mas na minha opinião também oaspecto humano deve ser levadoem conta. Os que tentam chegarna Europa não são terroristas, agrande maioria são jovens que es-tudaram e muitos deles são gra-duados. É gente que perdeu o em-prego. O turismo dava trabalho a450 mil jovens que agora estãodesempregados. Muitos delessempre sonharam em ir à Europa,e agora fazem isso porque as fron-teiras estão menos controladas.Se foram repatriados tentarãovoltar novamente.

Com isso se poderá ver se aEuropa realmente é uma entidadepolítica e cultural com condições

de enfrentar os problemas. En-quanto isso a Tunísia acolheu 170mil refugiados que escapavam daLíbia: primeiro chegaram os filipi-nos, paquistaneses, eri treus,egípcios, e depois começaram achegar os líbios... Os tunisianosderam uma prova formidável de

acolhida. As pessoas preparavamcomida em casa e levavam aos re-fugiados. As nossas irmãs tam-bém foram aos campos de refu-giados para preparar refeições to-dos os dias para dez mil pessoas.

Quais são as perspectivaspara o futuro? Há uma classedirigente em condições desubstituir o regime de BenAli?

Desde a queda de Ben Ali, se-guiram-se três governos, e o atualresiste porque em seu grupo nãohá expoentes do velho regime.Em julho teremos a eleição para aConstituinte. A vontade de parti-cipar é grande e pode-se ver pelaexplosão de partidos e siglas polí-ticas, por enquanto já aparece-ram mais de cinquenta.

Nesta situação, não há orisco de uma fragmentaçãosectária, como aconteceu noIraque?

Agora tudo é possível. Prevejoe espero que com o tempo muitas

dessas siglas se reagrupem emtorno de uma perspectiva maisclara e definida de interesse e debem nacional. O governo disseque durante a campanha eleitoralnão apoiará nenhum part idoconcorrente. Muitas siglas quenasceram na onda do entusias-

2330DIAS Nº 3 - 2011

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Entrevista com Maroun Lahham arcebispo de Túnis

Acima, Mohamed Ghannouchi, então primeiro-ministro com o arcebispo MarounLahham em Túnis, 20 de fevereiro de 2011, depois do assassinato de padre MarekRybinski; à esquerda, uma manifestação contra o governo de transição diante da sede do primeiro-ministro em Túnis, em 21 de janeiro de 2011

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mo desaparecerão, porque nãotêm dinheiro. Todavia seria umahonra para a Tunísia se tornar oprimeiro país árabe com umaConstituição realmente leiga edemocrática.

Um cenário tão incerto efragmentado pode favorecero partido islâmico local.

O partido islâmico Ennahdha,com efeito, parece bem organiza-do, apesar de ter sido autorizadoapenas em primeiro de marçopassado. Tinha sido proibido des-de 1991, mas evidentemente con-tinuava sua atividade em clandes-tinidade. Por enquanto usa umalinguagem pluralista e democráti-ca, reivindicando novos espaços enovas formas para exprimir publi-camente a própria visão religiosa.Pode-se acreditar neles, mas sedeve manter os olhos bem aber-tos. Por enquanto nunca tinha

existido um partido islâmico mo-derado, todas as siglas do islã polí-tico, de fato, tinham como objeti-vo a criação de um regime islâmi-co. A novidade é que agora há nocenário político um modelo histó-rico diferente, o do partido de Er-dogan que na Turquia está reali-zando um encontro entre islã e de-mocracia. Esperemos que aqueleexemplo seja também seguido poroutros. A evolução do cenário po-lítico no Oriente Médio poderáacontecer somente com a passa-gem do islã através da democra-cia, ou seja, através de uma evolu-ção do islã político. Com parcialanalogia do que aconteceu noOcidente, no encontro entre cris-tianismo e democracia moderna.

De qualquer modo vocês,bispos católicos do Magreb,fizeram um apelo comum ma-nifestando a sua preocupação

diante da intervenção militarguiada pelo Ocidente na Lí-bia. “Sabemos que a guerranão resolve nada e, quandoexplode, é tão incontrolávelquanto a explosão de um rea-tor nuclear... As primeiras ví-timas são sempre os mais po-bres e os menos favorecidos”.

A intervenção militar pode rea-cender os sentimentos antiociden-tais do povo, os quais até agora es-tavam ausentes nas revoltas ára-bes. Queira ou não, isso será vistocomo uma nova cruzada. E pode-rá ressoar o apelo à guerra santacontra os “invasores” um forte ar-gumento usado sempre como mo-tivação dos integralistas.

Como viveram este períodoos católicos na Tunísia? Pou-cos dias depois da revoltahouve o bárbaro homicídio dosalesiano padre Marek...

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Tunísia

Caríssimas e caríssimos, não cessamos de viveracontecimentos (deixo a palavra sem adjetivo). Agora foio padre Marek, salesiano de 34 anos, na Tunísia desde2007, degolado em um depósito da escola dos salesia-nos em Manouba.

O Ministério do Interior divulgou um comunicado segun-do o qual o assassino é um carpinteiro da escola. Os padressalesianos afirmam que o assassino tinha feito um emprés-timo, no passado Eid (três meses atrás), dois mil dinares tu-nisianos, para comprar material de trabalho. Parece que ti-nha usado o dinheiro para outras coisas, assim o fornece-dor recusava-se a entregar o material que não tinha sido pa-go e padre Marek insistia com ele, para que devolvesse o di-nheiro da escola. Dominado pelo pânico, e temendo serdescoberto, confirma o comunicado do Ministério do Inte-rior, “o assassino surpreendeu o sacerdote, atingindo-o re-petidamente com violência com um objeto contundente nanuca e no pescoço provocando a sua morte” [...].

Por que padre Marek foi assassinado? Por dois mildinares! Mal podemos acreditar. Certamente há deta-lhes que não conheço. No entanto, há coisas que eu sei:

– Sei que padre Marek tinha escrito, duas semanasantes do seu assassinato, a propósito do povo tunisiano:“É uma nação jovem, inteligente, incapaz de violência[sic!], profundamente bondosa, incapaz de odiar”.

– Sei que tinha terminado de escrever o seu primeirolivro sobre a Tunísia, do qual diz, entre outras coisas:“Durante a minha permanência na Tunísia, o meu com-portamento para com meus irmãos muçulmanos mudoumuito. Esse medo de terrorismo e de extremismo desa-pareceu completamente. Os tunisianos são muito aco-lhedores, amistosos e cordiais. Ensinam-me este com-portamento”.

– Sei que se propôs voluntariamente para vir a Tuní-sia quatro anos atrás, quando tinha sido recém ordena-do sacerdote.

Padre Marek, que amava a Tunísia

Osalesiano polonês Marek Rybinski foi morto em Manouba dia 18 de fevereiro passado. Naquelesdias, o resultado da chamada “revolução dos jasmins” ainda era incerto e a Tunísia ainda estava

abalada com incessantes protestos e contrastes entre a polícia e manifestantes. Em tal clima, o bárba-ro assassinato do sacerdote polonês tinha alimentado as preocupações sobre a sorte dos cristãos emum mundo árabe onde as revoltas acabavam com antigos equilíbrios e enchiam o futuro de incertezas.

Mais tarde, as investigações excluíram qualquer motivação “religiosa” para o homicídio. E o bispoMaroun Lahham escreveu aos fiéis uma carta que exprime de maneira simples e imediata um olhar co-movido e agradecido diante de um fato de ordinária gratuidade cristã, usque ad sanguinem.

Seguem alguns trechos.

Page 26: “E, se Cristo não ressuscitou, vazia também é a vossa fé” Brasiliana 3-2011... · Aos 22 anos, recebeu a crisma, acrescentando a seu nome de ba-tismo o de Maria, e alguns

Isso nos deixou realmente aba-lados [cf. quadro na p. 24]. Nos pri-meiros dias da revolta havia preo-cupação. A Igreja católica na Tuní-sia é formada quase toda por es-trangeiros, portanto ninguém esta-va envolvido nos protestos em pri-meira pessoa.

De modo geral, para oscristãos, que consequênciaspodem ter as mudanças queestão acontecendo nos países

árabes? Pode acontecer de sedizer que era melhor antes?

Eu não sei o que pode aconte-cer. Mas creio que se realmenteforam ativados processos de alar-gamento democrático, não con-vém e não é correto que os cris-tãos fiquem do lado oposto, ouque cultivem nostalgias anacro-nistas. Nem mesmo a busca deproteções no Ocidente me pareceoportuna ou adequada à situação.

E então?Os cristãos podem simplesmen-

te permanecer onde estão, parti-lhando as esperanças e os temoresde todos. Como aconteceu em ou-tras circunstâncias, por exemplo notempo do nacionalismo árabe. Par-ticipando aos processos históricos,poderão também colaborar com osirmãos muçulmanos na tentativa deassegurar no mundo árabe os me-canismos de um sistema democráti-co adaptado à situação local.

Entre os comentaristas há osque imaginam que as minoriascristãs possam ensinar aos paí-ses árabes a laicidade da políti-ca e a democracia. Não há o ris-co de cultivar ilusórias preten-sões de influência social?

Não vejo este risco. Na Tunísiae de modo geral nos países árabes,nós cristãos somos humildes pornatureza... q

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Entrevista com Maroun Lahham arcebispo de Túnis

– Sei que tinha pedido dinheiro por todo lugar paracriar novos espaços para a escola que amava muito e daqual era ecônomo.

Imagino estar diante de seu assassino para propor-lhe algumas perguntas: por que você matou, realmen-te, padre Marek? E por que deste modo tão bárbaro? Asua jovem idade e a sua inocência não lhe inspiraramnenhum sentimento de piedade? Nem o seu físico frá-gil? Matou-o com marteladas, não era suficiente? Pre-cisava realmente degolar-lhe e deixar-lhe numa poçade sangue? Como pôde dormir depois de ter feito is-so? Do que você é feito? Que religião você professa?Você é dos que acreditam no Deus da compaixão e damisericórdia (Al Rahman Al Rahim)? Como você con-segue fazer conviver seu crime com a sua fé?

Responda a essas perguntas, tranquilize-nos, tran-quilize o nosso coração de pai e de irmãos... Depois euprometo seu perdão. Antes deve pedi-lo a Deus, e de-pois terás o da Igreja católica da Tunísia.

“Se a semente caída na terranão morre...”. Caiu, morreu, e se-guindo o exemplo de Cristo, aoqual padre Marek tinha se consa-grado, trouxe frutos. Todas asmensagens de solidariedade, to-das as participações, as flores co-locadas na porta da Catedral, ostunisianos e as tunisianas que ma-

nifestaram diante da Catedral com os slogans “Marek,perdão!”, os jovens tunisianos vindos à Catedral no do-mingo 20 de fevereiro com as flores, as lágrimas nosolhos... “Não o matamos, diziam, essa não é a Tunísia...Perdoe-nos!”; e foram embora abraçando as irmãs. [...]

Precisava do assassinato de um sacerdote para dar-mo-nos conta de toda essa participação e desse afeto?O preço é muito alto. Apreciamos enormemente todosestes gestos de amizade, mas estes não valem uma go-ta de sangue do nosso Marek.

E agora? Sigamos em frente. Não é o momento dopânico, é o da fé, da paciência, da precaução. Ir embo-ra? Nem pensar nisso, os tempos difíceis não são tem-pos de fuga. Digo isso principalmente em meu nome, epenso que posso dizê-lo em nome de todos os religiososda Igreja da Tunísia e em nome dos cristãos presentesno país. Digo também em nome dos nossos irmãos mu-çulmanos e judeus. Nós ficaremos neste país que nosacolhe, que nos ama e que nós amamos.

Uma criança homenageia com flores padre Marek Rybinski, diante do altar da Catedral de Túnis a 20 de fevereiro de 2011

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N omeado cardeal pelo PapaBento XVI no consistóriode 20 de novembro de

2010, Kurt Koch foi bispo de Basi-leia a partir de 1995 e por trêsanos, de 2007 a 2010, presidenteda Conferência Episcopal da Suí-ça. No dia 1º de julho passado, oPapa nomeou-o presidente doPontifício Conselho para a Unida-de dos Cristãos. E neste encargo ocardeal Koch já fez uma visita aopatriarca ecumênico de Constanti-nopla, Bartolomeu I, e ao patriarcade Moscou e de todas as Rússias,Kirill. Isso não diminui, são suaspalavras, o seu interesse essencialpelas Igrejas nascidas da Reforma.

KURT KOCH: Os compromis-sos não faltam, e é preciso dividi-losentre a sessão oriental e a ocidentaldo nosso Pontifício Conselho.

Começaria com a primeira, re-cordando o encontrocom todas as IgrejasOrtodoxas, em Viena,em setembro de 2010,no âmbito da Comis-são Mista Internacio-nal para o DiálogoTeológico entre a Igre-ja Católica e a IgrejaOrtodoxa, ocasião naqual demos um passoimportante: consegui-mos definir a necessi-

dade para a Igreja de um protos, ouseja, de uma cúpula local, regionale universal, e de aprofundar tam-bém os estudos históricos sobre amodalidade com a qual o primado

do bispo de Roma exis-tia no primeiro milênioda Igreja não dividida.São os mesmos argu-mentos do nosso prece-dente encontro em Chi-pre em 2009. Porém,em seguida, os ortodo-xos decidiram não con-tinuar este estudo histó-rico, considerando-oobjetivamente comple-xo e impróprio à Co-

por Giovanni Cubeddu

A unidade dos cristãoshabita na oração

Igreja

Kurt Koch

Entrevista com o cardeal Kurt Koch,presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos

Page 28: “E, se Cristo não ressuscitou, vazia também é a vossa fé” Brasiliana 3-2011... · Aos 22 anos, recebeu a crisma, acrescentando a seu nome de ba-tismo o de Maria, e alguns

missão. No entanto iniciou o apro-fundamento teológico e sistemáti-co da relação entre primado e sino-dalidade, que será objeto do encon-tro do ano próximo.

Em janeiro deste ano foirealizado um congresso comos ortodoxos orientais, duran-te a Semana de Oração pelaUnidade dos Cristãos.

Na ocasião concentramo-nosem primeiro lugar nas questõescristológicas, dado que algumasIgrejas ortodoxas orientais nãoaceitaram o Concílio de Calcedô-nia de 451 e que a partir desteponto era necessário recomeçar.Concluímos este encontro reco-nhecendo que as diferenças entrenós não concernem à fé, mas acertas modalidades de expressão.Em 1984 o Papa e o Patriarca Sí-rio-Ortodoxo de Antioquia ti-nham assinado uma profissão defé conjunta sobre a encarnaçãode Nosso Senhor Jesus Cristo e ahospitalidade recíproca nos sa-cramentos da reconciliação, daeucaristia e da unção dos enfer-mos, em casos urgentes. Agora,ao invés, queremos aprofundar asquestões eclesiológicas e o prima-do petrino.

E a sessão ocidental?Atualmente, nas Igrejas nasci-

das da Reforma está acontecendouma grande fragmentação. Entãoa primeira necessidade é discutircom os reformados sobre a nature-za da Igreja, porque a declaraçãoda Congregação para a Doutrinada Fé Dominus Iesus afirmou queno mundo protestante não há Igre-jas no sentido próprio, mas comu-nidades eclesiais. E no livro Luz doMundo, Papa Bento XVI diz queaqui nos encontramos diante deum outro tipo de Igreja. De fato éassim, e não cabe a nós definir oconceito eclesial das Igrejas da Re-forma, mas a elas mesmas. Por is-so nossa tarefa é dialogar sobre anatureza da Igreja: com efeito, ca-da denominação tem sua própriaconcepção do que seja a unidadedentro de si mesma.

O movimento ecumênico tementre os seus objetivos o de redes-cobrir esta multiplicidade, vistoque sobre o tema da unidade exis-tem e competem as diversas ideiasconfessionais.

Um segundo aspecto é a gran-de mudança que está se arraigandono pensamento das comunidadesreformadas: estas não veem mais

como um fim do movimento ecu-mênico a unidade visível na fé, nossacramentos e no ministério, masreclamam a permanência de umapluralidade de Igrejas que se reco-nheçam uma com as outras, cujatotalidade produziria enfim a Igrejade Cristo. Mais ou menos como ascasas-famílias, que de vez emquando enviam um convite aos vi-zinhos para alguma festividade.Aos católicos e aos ortodoxos estaposição não agrada. Este não é oúnico e indivisível corpo de Cristo,isto não corresponde à oração deJesus para que todos os discípulossejam unidos, assim como o Pai, oFilho e o Espírito Santo.

Qual é a resposta adequada?Nenhum caminho comum po-

derá ser realizado fora da espiritua-lidade ecumênica, isto é, sem aoração.

O movimento ecumênico nas-ceu com a proposta de realizar nomês de janeiro a Semana de Ora-ção pela Unidade. A ideia foi de umanglicano convertido ao catolicis-mo, Paul Wattson, e de um episco-paliano americano, Spencer Jones,e foi apoiada aos poucos pelos pon-tífices em tempos mais recentes, eaprofundada por Paul Couturier,um protagonista da espiritualidadeecumênica. A Semana deve recor-dar-nos que nós homens não pode-mos realizar esta unidade, mas po-demos, talvez, colocar alguma tran-sitória condição histórica, que de-pois o Espírito Santo usa.

Este é o fundamento do ecume-nismo, e isso eu gostaria de apro-fundar durante o meu mandato.

O senhor afirmou que nodiálogo entre cristãos, uni-dade não tem uma acepçãopartilhada. Qual a sua pro-posta? ¬

Entrevista com o cardeal Kurt Koch

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Na página ao lado, um momento da celebração das Vésperas, presidida por Bento XVI, na festa daConversão de São Paulo Apóstolo, na conclusão da Semana de Oração pelaUnidade dos Cristãos, Basílica de São Paulo fora dos Muros, Roma, 25 de janeiro de 2011; na foto ao lado, algunsrepresentantes das outras Igrejas e Comunidades Eclesiais assistem à celebração

Nenhum caminho comum poderá ser realizado fora da espiritualidadeecumênica, isto é, sem a oração.O movimento ecumênico nasceu com a proposta de realizar no mês de janeiro a Semana de Oração pelaUnidade. Ela deve recordar-nos que nós homens não podemos realizaresta unidade, mas podemos, talvez, colocar alguma transitória condiçãohistórica, que depois o Espírito Santo usa

Page 29: “E, se Cristo não ressuscitou, vazia também é a vossa fé” Brasiliana 3-2011... · Aos 22 anos, recebeu a crisma, acrescentando a seu nome de ba-tismo o de Maria, e alguns

A unidade na mesma fé, na ce-lebração dos sacramentos e no re-conhecimento dos ministérios naIgreja não significa uma homolo-gação, porque as diferenças entreas Igrejas existem e não é neces-sário eliminá-las. Devemos elimi-nar apenas as que causaram umaruptura entre nós e precisam deuma cura. As outras... podem atécontinuar. Papa Bento repetiuaos anglicanos que querem entrarna Igreja Católica: vocês podemconservar as suas tradições. Eis aunidade na diversidade e diversi-dade na unidade: de outro modohá apenas uma unificação homo-logante, alheia à substância mes-ma do catolicismo. O conjuntodas ordens religiosas e das formasde vida eclesial compõem tam-

bém na história da Igreja um jar-dim com muitas flores e nós nãoqueremos substituí-lo com umamonocultura, a Igreja não é as-sim. O mesmo deve valer no cam-po do ecumenismo.

Com a constituição apostó-lica Anglicanorum coetibuso caminho comum realizadocom os anglicanos progrediu.

A Igreja da Inglaterra nasceuporque o Papa não aceitou as se-gunda núpcias do rei, e isso garan-tiu que os anglicanos se mantives-sem, no fundo, mais católicos queos outros. Na Cúria Romana te-mos uma separação clara das com-petências. A Congregação para aDoutrina da Fé tem responsabili-

dade pela Anglicanorum coeti-bus; o Pontifício Conselho para aPromoção da Unidade dos Cris-tãos continua com o diálogo ecu-mênico.

Voltemos às diversas con-cepções de unidade.

Existem, dizíamos, dois estilosde ecumenismo. Um busca a uni-dade visível, trabalha e reza porela. O outro mantém a pluralidadeatual, codifica-a, e pede o reconhe-cimento final de todas as Igrejascomo cotas-partes da Igreja deCristo. Os bispos católicos, orto-doxos e luteranos que sustentam aprimeira via são felizes que a SantaSé proponha a unidade e a plurali-dade; os outros menos. Na homiliapara as Vésperas da festividade daConversão de São Paulo, na con-

clusão da Semana de Oração pelaUnidade dos Cristãos, Papa Bentodisse que não podemos renunciarao objetivo do ecumenismo, ou se-ja, à unidade visível na fé, nos sa-cramentos e no ministério.

No texto do Diretório Ecu-mênico, recorda-se em maisde uma passagem que exis-tem meios de salvação alémdos limites visíveis da IgrejaCatólica.

A Igreja de Jesus Cristo não éuma ideia abstrata, que ainda nãoexiste, mas está na Igreja Católica,entendida como sujeito histórico.E isso não implica que os católicossejam melhores do que os outros,mas apenas que na Igreja Católica

existem os meios de salvação. Éum fato objetivo. Então, quandoouço que há fiéis protestantes quepretendem tornarem-se católicosdigo-lhes: “Vocês não devem dei-xar nada, mas receberão algumacoisa a mais”, ou seja, os meios desalvação presentes na Igreja Cató-lica. Que não são um mérito daIgreja, mas um dom do Senhor.

Com isso já está subentendidoque também nas outras Comuni-dades Eclesiais existem meios desalvação.

Qual é o ponto do diálogocom as Igrejas da Reforma?

Com eles, certamente não po-demos começar pelo primado.Com a Reforma nasceu uma outraIgreja, e isso não era o que Luteroesperava, ele pedia a renovação da

Igreja Católica. O ecumenista pro-testante Wolfhart Pannenberg dis-se que a existência de novas Igrejasnão é o sucesso, mas o insucessoda Reforma. Este juízo ajuda-memuito em vista do ano 2017, oquingentésimo aniversário da Re-forma, porque me pergunto comoos próprios protestantes vejam ho-je a Reforma: um empenho pelarenovação da Igreja ou uma ruptu-ra? Pessoalmente interessa-memuito que os reformados falemnão só dos quinhentos anos trans-corridos depois da ruptura, mastambém e principalmente dos doismil anos da vida da Igreja, dosquais mil e quinhentos transcorri-dos juntos. Fico muito contente

30DIAS Nº 3 - 2011

Igreja

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Acima, à esquerda, o cardeal Kurt Koch com o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, por ocasião da divina liturgia da Festa de Santo André, na igreja de Fanar, em Istambul, dia 30 de novembro de 2010; à direita, com o patriarca de Moscou e de todas as Rússias, Kirill, em Moscou, dia 16 de março de 2011

Page 30: “E, se Cristo não ressuscitou, vazia também é a vossa fé” Brasiliana 3-2011... · Aos 22 anos, recebeu a crisma, acrescentando a seu nome de ba-tismo o de Maria, e alguns

que o novo presidente da Comuni-dade Evangélica da Suíça, o pastorGottfried Locher, tenha-se defini-do não um protestante, mas umcatólico reformado. Isto é, católicocom a experiência da Reforma,mantendo assim o fundamento daprópria fé apostólica, comum até1517. Gostaria que as coisas fos-sem vistas deste modo.

O senhor acha que poderátrabalhar também pela unida-de da Igreja na China?

Até agora não tivemos a possi-bilidade. É competência principal-mente da Secretaria de Estado. Co-nhecemos bem a delicadeza daque-la realidade e a delicadeza da carta,cheia de compaixão, que o PapaBento escreveu aos fiéis chinesesem 2007. Se o nosso Conselho pu-der facilitar alguma coisa no futuro,faremos de boa vontade...

Como?Isso dependerá do que os orga-

nismos da Cúria poderiam solici-tar. Mas para a China, na minhaoração pessoal, já cumpro tudo oque posso fazer.

No diálogo com os judeus,elementos não faltaram. Co-mecemos com a indicaçãoproveniente do livro-entrevis-ta do Papa, isto é, de uma ade-são ao que São Paulo confes-sava sobre a relação entrecristãos e judeus.

Confio totalmente na bondadedos ensinamentos que nos foramtransmitidos por São Paulo, elenos ajuda até hoje. Assim comoconfio que o Papa tenha seguidoSão Paulo ao redigir a nova versãoda oração da Sexta-Feira Santa.Papa Bento é muito sensível ao te-ma judaico, começando pelo fatode que não chama mais os judeusde “irmãos maiores”, sabendomuito bem o quanto seja proble-mática a definição de “irmãomaior” no Antigo Testamento. Euteria muito prazer em aprofundarum diálogo teológico.

Sobre quais temas?Os cristãos acreditam na uni-

versalidade da salvação em JesusCristo, porém por outro lado, diz-se que uma missão para com os ju-

deus é absolutamenteimpossível. Como estasduas afirmações podemnão ser incompatíveis?Também por isso a no-va oração da Sexta-feiraSanta causou tantas dis-cussões.

Gostaria de compreender me-lhor o que signifique para um ju-deu a fé cristã e a relação entre ju-deus e cristãos. O diálogo do Pa-pa Bento com o rabino Neusner,no primeiro livro Jesus de Naza-ré, para mim é relevante, é exata-mente o diálogo teológico queimagino. E sobre a missão siste-mática para com os judeus... aIgreja não a procura. Mas nóscristãos confessamos a fé em Je-sus, e a depomos gratis diante daliberdade do outro.

Existe um leitmotiv que oacompanha desde o início doseu trabalho em Roma?

Há quem diga que Bento XVInão se interesse pelo ecumenismocom as Igrejas nascidas com a Re-forma, dado que as Igrejas Orto-doxas estão mais próximas denós, e esta afirmação não corres-ponde à verdade. Quando o Papapediu-me para assumir este cargo,disse que era necessário ter umapessoa que conhecesse as comu-nidades eclesiais nascidas com aReforma não apenas através deestudos, mas graças à experiên-cia. O Papa alimenta uma grandeesperança no movimento ecumê-nico. De fato, temos esse texto, oDiretório ecumênico, que nos re-corda que cada bispo na sua dioce-se é o principal responsável peloecumenismo.

Será sempre útil a todos reler eusar este documento. Em cada dio-cese existem realidades ecumêni-cas particulares, e o bispo localtem a primeira responsabilidadecom relação a isso. O nosso Ponti-fício Conselho quer estar tambéma serviço da Igreja local quando is-so for solicitado e desejado. q

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Entrevista com o cardeal Kurt Koch

Existem dois estilos de ecumenismo. Um busca a unidade visível,trabalha e reza por ela. O outro mantém a pluralidade atual, codifica-a, e pede o reconhecimento final de todas as Igrejas como cotas-partes da Igreja de Cristo. Na homilia para as Vésperas da festividade da Conversão de São Paulo, na conclusão da Semana de Oração pelaUnidade dos Cristãos, Papa Bento disse que não podemos renunciar ao objetivo do ecumenismo, ou seja, à unidade visível na fé, nos sacramentos e no ministério

Bento XVI cumprimentaRiccardo Di Segni, rabino-chefe daComunidade Judaica deRoma, por ocasião da visita ao Sacrário dasFossas Ardeatinas a 27 de março de 2011

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PAPA /1Santo Afonso: “Quem reza se salva”

Bento XVI dedicou a cate-quese de quarta-feira, 30 demarço, a Santo Afonso Ma-ria de Ligório, o santo napo-litano autor, como recordouo Papa, de um dos mais po-pulares cânticos de Natalmais populares na Itália, enão só: Tu scendi dalle stel-le. “Na sua época difundiu-seuma interpretação muito ri-goroista da vida moral, tam-bém por causa da mentalida-de jansenista que, em vez dealimentar a confiança e a es-perança na misericórdia deDeus, fomentava o medo eapresentava um rosto deDeus áspero e severo, muitodistante daquele que nos foirevelado por Jesus. Sobretu-do na sua obra principal, inti-tulada Teologia moral, San-to Afonso propõe uma sínte-se equilibrada e convincenteentre as exigências da lei deDeus, esculpida nos nossos

corações, revelada plena-mente por Cristo e inter-pretada respeitavelmen-te pela Igreja, e os dina-mismos da consciência eda liberdade do homemque, precisamente naadesão à verdade e ao bem,permitem o amadurecimen-to e a realização da pessoa.Aos pastores de almas e aosconfessores, Afonso reco-mendava que fossem fiéis àdoutrina moral católica, as-sumindo ao mesmo tempouma atitude caritativa, com-preensiva e dócil, a fim deque os penitentes pudessemsentir-se acompanhados,sustentados e encorajadosno seu caminho de fé e de vi-da cristã. Santo Afonso nun-ca se cansava de repetir queos sacerdotes são um sinal vi-sível da misericórdia infinitade Deus, que perdoa e ilumi-na a mente e o coração dopecador a fim de que se con-verta e mude de vida. Na nos-sa época, em que existemclaros sinais de perda da

consciência moral e – é ne-cessário reconhecê-lo – deuma certa falta de estima pe-lo Sacramento da Confissão,o ensinamento de SantoAfonso ainda é de grandeatualidade [...]”.

No seu discurso o Papatambém recordou a insistên-cia do santo pela oração, ex-plicando: “No que se refere àoração, ele escreve: ‘Deusnão nega a ninguém a graçada oração, com a qual se ob-tém a ajuda para vencer qual-quer concupiscência e tenta-ção. Digo, reitero e repetireisempre, enquanto viver, que

toda a nossa salvação se en-contra na oração’. Daqui de-riva o seu famoso axioma:‘Quem reza se salva’ (Delgran mezzo della preghierae opuscoli affini. Opere as-cetiche II, Roma, 1962, p.171). A este propósito, vol-ta-me ao pensamento aexortação do meu predeces-sor, o Venerável Servo deDeus João Paulo II: ‘As nos-sas comunidades cristãs de-vem tornar-se ‘escolas deoração’ [...]. Entre as formasde oração aconselhadas fer-vorosamente por SantoAfonso sobressai a visita aoSantíssimo Sacramento ou,como diríamos hoje, a adora-ção, breve ou prolongada,pessoal ou comunitária,diante da Eucaristia. ‘Semdúvida’, escreve Afonso, ‘en-tre todas as devoções, a deadorar Jesus sacramentado éa primeira depois dos sacra-mentos, a mais querida aDeus e a mais útil para nós.[...]. Oh, como é bom per-manecer diante de um altarcom fé... e apresentar-lhe aspróprias necessidades, comofaz um amigo a outro amigo,no qual se tem toda a con-fiança!’ (Visitas ao Santíssi-mo Sacramento e à Santís-sima Maria para cada diado mês. Introdução)”.

PAPA/2São Lourenço de Bríndisi e o “doce jugo” de Jesus

Na catequese de quarta-feira23 de março, dedicada aSão Lourenço de Bríndisi,Bento XVI disse: “Falandoaos sacerdotes e aos semina-ristas na catedral de Bríndisi,cidade natal de São Louren-ço, recordei que ‘o momen-to da oração é o mais impor-tante na vida do sacerdote,aquele em que a graça divinaage com maior eficácia, dan-do fecundidade ao seu minis-

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Bento XVI rezando

Curtas Curtas Curtas Cu3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN

As capas das edições em inglês,espanhol, francês, português e alemão do livro Quem reza se salva

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tério. Rezar é o primeiro ser-viço a prestar à comunidade.Por isso, os momentos deoração devem ter na nossavida uma verdadeira priori-dade... [...]’”.

Ao concluir a sua cate-quese, o Papa recordou agrande devoção de São Lou-renço ao Espírito Santo: “OEspírito Santo torna dócil ojugo da lei divina e leve o seupeso, a fim de que observe-mos os mandamentos deDeus com enorme facilida-de, e até com amabilidade”.

PAPA/3As meditações da Via-Sacra escritas e desenhadas pormonjas agostinianas

No dia 25 de março a Salade Imprensa do Vaticanocomunicou que os textosdas meditações para as esta-ções da Via-Sacra no Coli-seu da Sexta-feira Santadeste ano foram compostas,a pedido do Papa, pela Ma-dre Maria Rita Piccione,

presidente da Federaçãodas Monjas Agostinianas,residente no mosteiro dosSantos Quatro Coroados,em Roma. As imagens queilustrarão as várias estaçõessão desenhos realizados pe-la irmã Elena Manganelli,também monja agostiniana,do mosteiro de Lecceto (Se-na, Itália).

IGREJA/1Cañizares e a Virgem Maria, agora também NossaSenhora da Arábia

“‘Proclamo Nossa Senhorada Arábia padroeira dosdois vicariatos apostólicosdo Golfo’. Com esta solenedeclaração, o cardeal Anto-nio Cañizares Llovera, pre-feito da Congregação parao Culto Divino e a Disciplinados Sacramentos, a 16 dejaneiro de 2011, procla-mou, na Catedral de Ku-wait, a Bem-AventuradaVirgem Maria Nossa Senho-ra da Arábia, padroeira de

todos os países do Golfo, ouseja: Kuwait, Bahrein, Qa-tar, Arábia Saudita, Emira-dos Árabes Unidos, Iêmen eOmã. Esse ‘novo’ título deNossa Senhora tocou o co-ração das gentes. Agora, aolado de gloriosos títulos co-mo ‘Nossa Senhora deLourdes’, ‘Nossa Senhorade Fátima’ e muitos outros,podemos humildementeacrescentar também ‘NossaSenhora da Arábia’. No Ku-wait, Nossa Senhora não fezaparições como em Lour-des, Fátima e outros luga-res, mas aqui sempre estevepresente, e aqui conseguiutrazer Jesus ainda antes dachegada do islã. De fato, nailha de Failaka, que perten-ce ao Kuwait, há restos deuma igreja, provavelmentenestoriana, do século V.Também existem outros im-portantes sítios arqueológi-cos com igrejas destas épo-cas em outros países do Gol-fo. A Ela, com grande vene-ração, quisemos dedicar to-do o Golfo para que seja elaa preceder e a acompanhartodo o nosso ministério”.Este é o início de um artigopublicado no L’OsservatoreRomano de 11 de marçoescrito pelo vigário apostóli-co no Kuwait, o combonia-no Camillo Ballin. O artigoconcluía com uma frase da

homilia do cardeal Cañiza-res de janeiro passado:“Possa a Virgem Maria,Nossa Senhora da Arábia,ajudar-nos a seguir Jesus, apermanecermos fiéis e fir-mes na fé e a olhar sempre aJesus fonte da nossa fé”.

IGREJA/2Tettamanzi, São João Crisóstomo e o Evangelho do bom cristão

“Poderíamos dizer assim: aa crença implica de algummodo a posse de um ideal,ou de um Deus, que acabapor ser colocado ao pró-prio serviço. Aquele que éanimado pela fé, ao invés,entrega si mesmo ao ou-tro, abandona a ideia dedomínio sobre a realida-de”. São palavras do car-deal Dionigi Tettamanziem uma entrevista publica-da no La Repubblica de14 de março. A uma per-gunta sobre o que significacrer em Deus, o cardealrespondeu: “Significa nãotanto fazer referência a umser absoluto e transcen-dente, mas a um ser quetem um nome, um rosto eum coração. Significa crerem alguém que me nota,que me acompanha, me ¬O mosteiro de Lecceto, Sena

Antonio Cañizares Llovera no vicariato apostólico do Kuwait

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urtas Curtas Curtas CurtasNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO

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desafia, me consola. E obri-ga-me a comportar-me deoutro modo. Enfim, a fémais do que um conceito éum encontro, uma comu-nhão. E isso não vale apenaspara o católico ou o cristão”.Enfim, para explicar no queconsiste o testemunho cris-tão, recordou o ensinamen-to de São João Crisóstomo“o qual afirma que não hánecessidade de anunciar oEvangelho. Se a fé vive nosgestos mais humildes e sim-ples do bom cristão, ele mes-mo torna-se Evangelho: um

Evangelho vivo”.SAGRADO COLÉGIOA morte do cardealVithayathil. Asdemissões de Mahony

No dia 1º de abril faleceu ocardeal indiano Varkey Vit-hayathil, de 84 anos, re-dentorista, desde 1999 ar-cebispo-mor de Ernaku-lam-Angamaly dos Sírio-malabares. Na data o Sa-grado Colégio resulta com-posto por 200 cardeais,dos quais 116 eleitores. En-

quanto que no dia 1º demarço, o Papa aceitou a re-núncia ao governo pastoralda arquidiocese de Los An-geles (EUA) apresentadapelo cardeal Roger MichaelMahony, que tinha comple-tado 75 anos dois dias an-tes. Seu sucessor é o arce-bispo José Horacio Gómes,59 anos, do clero do OpusDei, que era coadjutor damesma arquidiocese desdeabril de 2010.

NORTE DA ÁFRICA/1O Egito e ossemeadores de cizâniaentre cristãos emuçulmanos

No La Repubblica de 8 demarço foi publicado um arti-go no qual se explica comdetalhes, como durante a re-cente insurreição egípcia, osrevoltosos, ao invadirem ospalácios do poder, teriamreunido fichários com infor-mações reservadas, para de-pois colocá-los na rede, osquais documentariam algunscrimes por obra do passadoregime. Esta é a conclusãodo artigo: “Particularmentegraves são as acusações so-bre as tensões criadas pro-positadamente entre cris-

tãos e muçulmanos, segui-das por apreensões entre osislamistas [...]. E o desapare-cimento de documentos tor-na mais acreditável o inqué-rito contra o ministro do In-terior de Mubarak, o onipo-tente Habib al-Adly. No dia7 de fevereiro a procurado-ria do Cairo inscreveu-o en-tre os indiciados por ter or-ganizado o atentado de Na-tal contra a Igreja copta deAlexandria”.

NORTE DA ÁFRICA/2Os nazistas, asbombas inteligentes eas guerras preventivas

Em um artigo publicado noCorriere della Sera de 21de março, Armando Torno,partindo do atual conflito lí-bio, faz uma reflexão sobreas sutis fronteiras entre con-flitos justos e injustos. As-sim escreve: “No primeiroconflito do Golfo, espalhou-se o conceito de ‘bombasinteligentes’ e em 2002 opresidente George W. Bushfalou de ‘guerra preventi-va’, mas estes termos nãoeram novos: já tinham sidousados por Joseph Goeb-bles em 1940 e 1941 paraos bombardeios sobre Lon-

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O cardeal Varkey Vithayathil

Obama visita o túmulo de Romero. No dia 23de março, o presidente dos Estados Unidos daAmérica, Barack Obama, durante a visita a SanSalvador, prestou uma homenagem ao bispoÓscar Arnulfo Romero, morto em 24 de marçode 1980 enquanto celebrava a missa. A visita,em programa pelo 31º aniversário do assassina-to do bispo, foi antecipada por causa da partidaantecipada do presidente americano.

Curtas Curtas Curtas Cu3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN

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dres – ‘somente’ onde haviaarsenais – e para o ataque àRússia, desencadeado paraprevenir a ofensiva de Sta-lin”. Em seguida, entre asperspicazes argumenta-ções pró e contra a guerraali apresentadas, pode-seler: “Tito Livio intuiu a suanatureza: ‘Bellum se ipsealet’, ou seja, ‘A guerra nu-tre a si mesma’ (Ab urbecondita XXXIV, 9); talvezpor isso a justa e a injusta àsvezes se confundem”.

IGREJAS CATÓLICAS ORIENTAISRaï o novo patriarcamaronita e Shevchuknovo arcebispo-mor de Kiev

No dia 25 de março o Papaconcedeu a EcclesiasticaCommunio solicitada-lhepor Béchara Boutros Raï,

canonicamente eleito pa-triarca de Antioquia dosMaronitas em 15 de marçono Sínodo dos Bispos daIgreja Maronita, reunidoem Bkerké no Líbano. Raï,71 anos, da Ordem Maro-nita da Bem-AventuradaVirgem Maria, desde 1986era vigário patriarcal e em1990 foi transferido à epar-quia de Jbeil (Byblos). Ain-da no dia 25 de março o Pa-pa concedeu a confirma-ção solicitada-lhe por Svia-toslav Shevchuk, que em23 de março tinha sido elei-to canonicamente arcebis-po-mor de Kyiv-Haly no Sí-nodo dos Bispos da Igrejagreco-católica ucraniana,reunida em Lviv. Shev-chuk, 41 anos, desde 2009era auxiliar da eparquia deSanta Maria do Patrocíniode Buenos Aires, na Argen-tina, da qual, desde 2010,era administrador apostóli-co sede vacante. qO patriarca libanês Béchara Raï

Causou muitas polêmicas no mundo judaico o gesto deabertura do escritor Amos Oz, ao presentear um exem-plar de um de seus últimos livros, De amor e trevas, aolíder palestino Marwan Barghouti, detento em uma pri-são israelense. Chamado a explicar o seu gesto, em umaentrevista concedida a Elena Loewenthal no jornal ita-

liano La Stampa de 30 demarço, o escritor israelen-se afirmou: “Eu queria queMarwan Barghouti lesseDe amor e trevas, porquesei que este livro ajudoumuitos árabes a entende-rem Israel. E porque tenhocerteza de que mais cedoou mais tarde nós falare-

mos com ele. Por ‘nós’entendo o Estado de Is-rael. Mais cedo ou maistarde Israel deverá falarcom Barghouthi mesmosendo ele o mandante dasegunda Intifada e quetenha em sua consciên-cia um grande númerode atendados suicidas eoutras tantas vítimas deataques terroristas. Omeu romance traduzido em italiano [pela editora Feltri-nelli, ndr] é uma história profundamente individual e fa-miliar, mas é também e talvez principalmente a epopeiado sionismo visto de dentro, com as suas razões e assuas raízes [...]”. E concluindo a entrevista, aludindo àmotivação do gesto, repetiu: “Fiz isso em plena cons-ciência. Armado principalmente de uma certeza quenão faz mal lembrar: ou seja, que a paz se faz com os ini-migos. Com os amigos não se faz paz, com os inimigossim. Não é verdade?”.

A edição italiana do livro

de Amos Oz, Una storia di amore

e di tenebra, ed. Feltrinelli,

Turim, 2005, 627 p.

Marwan Barghouti

ORIENTE MÉDIOA paz se faz com os inimigos

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A segunda parte do livro Jesus de Nazaré, escritopor Bento XVI-Joseph Ratzinger, é certamenteuma obra importante. Não é uma leitura fácil, porsua complexidade. O autor desenvolve um diálogoaprofundado e intenso com o ambiente dos exege-tas, mesmo não sendo exegeta. Já esse aspectotem sua relevância, dado que às vezes, no mundoteológico, parece perpetuar-se uma certa distânciaentre os exegetas e os teólogos dogmáticos. Masnão nos devemos deter demais nesse ele-mento, se quisermos ir além da pu-ra erudição. O próprio autor expli-ca nas primeiras páginas que nãoera essa a sua intenção. Ele queriasimplesmente escrever algo “útil a to-dos os leitores que queiram encontrarJesus e acreditar n’Ele” (p. 12).

Na base do livro está justamente odado reconhecido de que o Jesus dahistória e o Jesus da fé são a mesmapessoa. Uma constatação corajosa, seconsiderarmos a penetração desastro-sa, também entre os crentes, da tendên-

cia racionalista a contrapor aquilo que é possívelsaber de científico a respeito de Jesus Cristo e oque a Igreja ensina. Segundo essa linha de pensa-mento, o ensinamento da Igreja sobre Cristo seriaum acréscimo posterior, uma construção míticacriada pela comunidade cristã independentemen-te dos fatos.

O livro de Bento XVI, fazendo referência cons-tante à historicidade de Cristo, responde também àtentação oposta, a da gnose, que transparece ain-

da hoje nos escritos de alguns teólogos.Quando lemos o Evangelho – oautor o sublinha em muitas pági-nas – temos de lidar com fatos, quecontinuam como tais mesmo quan-do são misteriosos, como a eficáciaredentora da paixão ou a ressurrei-ção. “Há muitos detalhes que podemcontinuar em aberto”, escreve JosephRatzinger na página 93, “mas o fac-tum est do ‘Prólogo’ de João (1, 14)

não só vale como categoria cristã funda-mental para a encarnação como tal, mastambém deve ser reivindicado para a últi-ma ceia, a cruz e a ressurreição”. Deusentrou na história. A Bíblia fala da histó-ria de Deus com a humanidade. Mas

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pelo cardeal Georges Cottier, O.P.teólogo emérito da Casa Pontifícia

“Um olhar sobre o Jesus dos evangelhos e uma escuta d’Ele”

¬

À direita e nas páginas seguintes as capas do livro

de Joseph Ratzinger-Bento XVI, Jesus de Nazaré.

Da entrada em Jerusalém à ressurreição

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O livro de Bento XVI, fazendo referência constante à historicidade de Cristo,responde também à tentação oposta, a da gnose. Quando lemos o Evangelhotemos de lidar com fatos, que continuam como tais mesmo quando sãomisteriosos, como a eficácia redentora da paixão ou a ressurreição

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Jesus no jardim das oliveiras, Barna de Sena, Colegiata de San Gimignano, Sena

JESUS DE NAZARÉ. Da entrada em Jerusalém à ressurreição

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não no sentido hegeliano de uma gnose que incor-pora o dado histórico numa construção teológico-lógica. Falando da ressurreição, o autor sublinhaque “o terceiro dia não é uma data ‘teológica’, maso dia de um acontecimento que se tornou, para osdiscípulos, a viragem decisiva depois da catástrofeda cruz” (p. 210).

Nessa perspectiva histórica, Joseph Ratzingerretoma a própria posição da Igreja primitiva, queolhava para os fatos de Cristo à luz do Antigo Tes-tamento. A unidade dos dois Testamentos parece-me ser um dos eixos fundamentais em torno dosquais o livro se desenvolve.

Os primeiros cristãos tinham como Sagrada Es-critura o Antigo Testamento. Para eles, foi umasurpresa e um conforto de fé quando se deram con-ta de que os textos misteriosos das antigas Escritu-ras eram elucidados plenamente pela vida, pelapaixão, pela morte e pela ressurreição de Jesus. Oautor faz várias vezes, de modo eficaz, um paraleloentre a leitura cristã e a leitura rabínica do VelhoTestamento, sem esconder as diferenças.

Indo mais a fundo, a íntima união entre o Velhoe o Novo Testamentos é percebida na própria pes-soa de Jesus. Jesus reza usando os Salmos. A rela-ção mais íntima do Filho com o Pai também se dápor intermédio das orações dos pobres de Israel.Escreve o autor: “Mesmo na sua Paixão – tanto nomonte das Oliveiras como na cruz – Jesus fala de Sie fala a Deus-Pai com palavras dos salmos. Mas es-sas palavras tiradas dos salmos tornam-se total-mente pessoais, palavras absolutamente própriasde Jesus na sua tribulação: Ele é realmente o verda-deiro orante desses salmos, o seu verdadeiro sujei-to. Aqui identificam-se a oração muito pessoal e orezar com as palavras de súplica do Israel crente esofredor” (p. 129).

Jesus viveu na Sagrada Escritura de Israel. Se,de um lado, o livro rechaça qualquer reduçãognóstica dos fatos a símbolos, evidencia também,

de outro lado, o laço de prefiguração que existeentre os fatos do Velho e do Novo Testamentos.Essa relação, dentro da história da salvação, nãoacontece como desenvolvimento imanente eprogressivo de um princípio salvífico predispos-to, à maneira hegeliana. É o próprio Deus que in-tervém e, na continuidade da história da salva-ção, prepara e leva à realização mediante, porassim dizer, “saltos qualitativos” gratuitos, ou se-ja, por intermédio de ações sempre novas. Essaunidade estreita entre a Lei antiga e a Lei nova doEvangelho, marcada pelas intervenções gratuitasde Deus, é uma trama que se desenrola por todoo livro. Por exemplo, no capítulo sobre a oraçãosacerdotal de Jesus, Bento XVI cita o exegetaAndré Feuillet, para sublinhar que essa oração“só é compreensível tendo como cenário de fun-do a liturgia da festa judaica da Expiação (YomKippur). O ritual da festa, com o seu rico conteú-do teológico, realiza-se – literalmente – na ora-ção de Jesus: o rito é traduzido na realidade queele mesmo significa. Aquilo que aí era represen-tado em ações rituais acontece agora de modoreal e definitivo” (p. 72).

Enfim, também neste livro aparece aquela“questão metodológica” que já tinha sido analisadano primeiro volume, com a crítica – que não é umarejeição – do método histórico-crítico. Novamente,Bento XVI evidencia que a exasperação da questãodo método pode facilmente conduzir a uma formade superstição metodológica. Nas ciências natu-rais, se o método é bem aplicado, funciona quaseque por si só. Mas isso não se dá nas ciências hu-manas, em que o método, ainda que responda àsexigências do rigor científico, tem seus próprioscritérios. De fato, o objeto possui sua singularidadee o intérprete, historiador ou exegeta, se empenhapessoalmente. No caso da Palavra de Deus, o intér-prete, assistido pelo Espírito, acima do cientista, éa Igreja como sujeito vivo. q

A Bíblia fala da história de Deus com a humanidade. Mas não no sentidohegeliano de uma gnose que incorpora o dado histórico numa construçãoteológico-lógica. Falando da ressurreição, o autor sublinha que “o terceiro dianão é uma data ‘teológica’, mas o dia de um acontecimento que se tornou, para os discípulos, a viragem decisiva depois da catástrofe da cruz”

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Jesus rezando no jardim das oliveiras, detalhe, Barna de Sena, Colegiata de San Gimignano, Sena

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M uito se falou nestes dias a respeito do novolivro do Papa, e isso é normal e necessário.Mas a coisa mais estranha, embora não de

todo insólita, é que tenham falado quase tão somen-te do capítulo em que se discutem as responsabilida-des judaicas na morte de Jesus. Digo que não é algoinsólito porque é comum que a mídia dê destaque aum dado que poderia ser marginal em relação a ou-tros, que mereceriam maior atenção; acontece nainformação em geral, e ainda mais na ligada ao atualPapa, cujas grandes posições doutrinais são ignora-das, para dar atenção apenas a detalhes que desper-tam a curiosidade. Mas não deixa de ser estranho,pois tanto alvoroço nasce em torno de uma questãoque já deveria ser pacífica e óbvia. A revolução nasrelações cristão-judaicas tem como referência sim-bólica um texto oficial, promulgado pelo Concílio

Vaticano II: a declaração Nostra aetate, na qual éexplicado, ou melhor, é declarado solenemente quea responsabilidade pela morte de Jesus não pode seratribuída a todos os judeus de seu tempo, nem muitomenos aos das gerações seguintes. Dessa forma, caia terrível acusação de deicídio que se arrastou por sé-culos, constituindo uma das bases e das justificativaspara o ódio e para a perseguição cristã contra os ju-deus. Mais de quarenta e cinco anos depois daqueladeclaração, um livro que trata da história da paixãode Jesus, que leva a mais autorizada assinatura douniverso católico, só pode acolher essas ideias, e nomáximo explicá-las com sua reconhecida doutrina.Foi justamente o que aconteceu no livro do Papa.Surpreendente seria se Bento XVI tivesse tomadooutro rumo, empregando outras teses e argumen-tos. Ou se o que ele escreve tivesse sido escrito porum papa antes do Concílio. Mas, então, por que tan-to alvoroço? Há diversas respostas possíveis para is-so, que não se excluem; proporei duas. A primeira éque era preciso fazer um lançamento publicitário,que requer sempre uma isca atraente, e, quando nãohá notícia, é preciso inventá-la. A segunda respostamostra como o que deveria ser simples e óbvio não oé de modo algum; no sentido de que, apesar das dé-cadas passadas, do amplo esforço educativo e damudança real de clima nas relações cristão-judaicas,a questão do deicídio parece continuar sempre e dequalquer forma a ser um nó não resolvido ao menosna parte mais profunda das consciências. Portanto,há a necessidade de enfrentar o problema todos osdias, com novos instrumentos. O alvoroço não vem,portanto, do fato de o papa ter apresentado uma

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Fiel à declaração Nostra aetate

Riccardo Di Segni

Em seu último livro, tratando dasresponsabilidades na morte de Jesus, Bento XVI explica, com reconhecidadoutrina, o que o Concílio Vaticano II declarou solenemente. As reflexões do rabino-chefe de Roma

¬

por Riccardo Di Segni

JESUS DE NAZARÉ. Da entrada em Jerusalém à ressurreição

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Crucificação branca, Marc Chagall, The Art Institute of Chicago

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certa explicação, mas de haver a necessidade dessaexplicação. Pois, se as coisas estão nesse pé, há ra-zão para nos preocuparmos.

Um dos problemas difíceis de resolver, na origemda questão, é a dureza dos textos evangélicos, cadaum dos quais, a seu modo, lança mensagens que,juntas, compõem o quadro tradicional dos judeushostis que gritam “crucifige” e assumem a responsa-bilidade sobre eles e as gerações futuras. Muito se de-ve ao clima em que nasceram esses textos, que refle-tem o que inicialmente era apenas uma polêmica in-terna do mundo judaico. Mas uma leitura simplifica-da e não comentada dos textos evangélicos corre orisco de apresentá-los como textos antijudaicos e deavalizar uma imagem negativa dos judeus, que podelevar à hostilidade e ao ódio. Uma das tarefas do diá-logo é justamente combater o ensino do desprezo.Paralelamente, os biblistas católicos se esforçam pornegar ou redimensionar o aparente antijudaísmo dosEvangelhos. Um importante documento oficial nes-se sentido, produzido pela Pontifícia Comissão Bíbli-ca já há dez anos, em 2001, traz o título significativoO povo judaico e suas Sagradas Escrituras na Bí-blia cristã e o prefácio assinado pelo então cardealRatzinger. Também isso demonstra a falta de novida-

de na contribuição atual e o prosseguimento coeren-te de uma linha. Isso, todavia, não diminui a impor-tância do novo livro. Para evitar os dramas do passa-do é necessário desmontar as antigas conclusões eas aproximações hostis, comentar, distinguir, expli-car cada frase e cada detalhe, inserindo-os no con-texto específico. Operação que o professor Ratzin-ger sabe executar magistralmente. Um observadoratento, o professor Ugo Volli, sugeriu que essa ope-ração exegética, antes de ser uma apologia dos ju-deus, é uma defesa dos Evangelhos contra a acusa-ção de serem antijudaicos. Seja como for, é relevan-te. Como também é relevante que certas técnicas decomentário que subvertem os significados aparente-mente óbvios dos textos, e que são características datradição rabínica, entrem a fazer parte dos modos depesquisa e expressão da tradição católica.

Quem frequenta os blogs e os sites tradicionalis-tas pode facilmente observar como essas páginas doPapa são desconsideradas, contestadas, rejeitadas,em favor da visão clássica do judeu deicida. O queprecisamos entender, com um pouquinho de curiosi-dade, quando não de ansiedade, é quais são as ideiassobre a questão realmente mais arraigadas no mun-do católico. q

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A deposição da cruz, Marc Chagall, Musée National d’Art Moderne, Centre Pompidou, Paris

JESUS DE NAZARÉ. Da entrada em Jerusalém à ressurreição

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Onovo livro do Papa não é uma dádiva apenas pa-ra quem tem fé. É uma dádiva para todas as pes-soas que buscam a verdade. O papa Bento XVI

é a voz cristã mais ouvida no mundo inteiro. Nesse livro,ele não fala de um tema qualquer, mas do âmago da fécristã. Trata-se da figura de Jesus de Nazaré. Mais preci-samente, de dois momentos em sua vida nos quais se de-cide se Jesus Cristo tem ou não tem um significado irre-cusável também para o século XXI. No centro do segun-do livro do papa Bento XVI sobre a figura de Jesus estãoa cruz e a ressurreição1.

Num espaço breve como este, não é possível salien-tar adequadamente a riqueza dos pensamentos profun-dos que se encontram neste livro. Posso apenas desta-car algumas das peculiaridades que considero impor-tantes para a nossa condição pós-moderna e, em parte,também pós-cristã.

A última ceia e a exegese histórico-críticaO livro do Papa sobre Jesus não é, como ele mesmo sa-lienta, uma publicação magisterial. Esse livro não foi pre-parado em conjunto com comissões teológicas; o Papa,nele, transcreve a sua imagem pessoal de Jesus. Dessa for-ma, sem dúvida embarcou numa empreitada arriscada.Ao apresentar o primeiro volume, o cardeal de Viena,Christoph Schönborn, traçara uma comparação: tal co-mo o apóstolo Paulo, em Atenas, o Papa ousou ir à ágora,à praça do mercado do embate de opiniões2.

Nessa praça do mercado, hoje, não se encontramapenas os filósofos, mas também os exegetas histórico-críticos. Tal como, na época de Paulo, havia correntes fi-losóficas contrapostas, como os estoicos e os epicuristas(At 17,18), da mesma forma a exegese histórico-crítica

não constitui de modo algum uma realidade unitária.Todavia, se existem hoje contraposições inconciliáveisna exegese do Novo Testamento, estas não se originamde divergências confessionais. A linha demarcatória,hoje, situa-se entre os exegetas que abordam o NovoTestamento munidos de substancial confiança e aquelesque, no fundo, carregam consigo um ceticismo históri-co. O Papa sabe bem disso e, assim, não se baseia ape-

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A linha demarcatória passa entre a confiança e o ceticismo

Rainer Riesner, professor de Novo Testamento no Instituto de Teologia Protestante da Faculdade de Ciências Humanas e Teológicas da Universidade das Técnicas de Dortmund, por ocasião da apresentação do livro de Bento XVI, Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalém à ressurreição, no teatro da Faculdade Teológica do Trivêneto, em Pádua, a 16 de março de 2011

“As contraposições inconciliáveis que se encontramhoje na exegese do Novo Testamento não seoriginam de divergências confessionais. A linha demarcatória situa-se entre os exegetas que abordam o Novo Testamento munidos desubstancial confiança ou de um ceticismo históricode fundo”. A recensão de um teólogo luterano

por Rainer Riesner

JESUS DE NAZARÉ. Da entrada em Jerusalém à ressurreição

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nas nos estudiosos católicos. O fatode ter convidado Martin Hengel ePeter Stuhlmacher, estudiososevangélicos do Novo Testamento, aencontrar-se com ele em CastelGandolfo em 2008 para discutircom eles a respeito do segundo vo-lume de sua obra sobre Jesus é umademonstração indubitável de suaexcepcional humildade3. Os dois,de quem fui aluno, tinham sido cole-gas do jovem professor Joseph Rat-zinger na Universidade de Tübin-gen. Com seu convite, Bento XVIdeu um sinal ecumênico de enormealcance, pedindo que cristãos de di-ferentes confissões se aproximemuns dos outros para escutar com se-riedade a Sagrada Escritura.

No modo como trata da últimaceia, fica claro o quanto o Papa levaseriamente em consideração a exe-gese histórico-crítica, ainda que aomesmo tempo indique o limite ideo-lógico de determinados estudiosospertencentes a essa corrente. As-sim, Bento XVI admite que há pro-blemas de caráter histórico nosEvangelhos, para os quais são pos-síveis respostas científicas diferen-tes. É por isso que deixa em aberto aquestão a respeito da relação que existiria entre a ceiade despedida de Jesus e a ceia pascal judaica. Todavia,existe outra questão que o Papa não deixa absoluta-mente sem resposta. Hoje, muitos exegetas duvidam deque Jesus tenha pronunciado na última ceia as palavrasque lhe são atribuídas. Justificam seu ceticismo com ba-se no fato de que o anúncio do reino de Deus feito porJesus não se conciliaria com o pensamento da expia-ção. Geralmente trazem como exemplo a parábola dofilho pródigo, que obtém o perdão do pai sem cumprirnenhuma expiação (Lc 15,11-24). Mas já Paulo apre-senta as palavras da última ceia como uma tradição fir-memente consolidada, que ele mesmo teria apreendidoda comunidade primitiva de Jerusalém, por intermédioda comunidade de Damasco (1Cor 11,23-24). O Papa

tem toda a razão, portanto, quando escreve: “Olhandoos dados históricos, não há nada de mais original do queprecisamente a tradição da Ceia. Mas a ideia de uma ex-piação é qualquer coisa de inconcebível para a sensibili-dade moderna. No seu anúncio do Reino de Deus, Je-sus deve estar nos seus antípodas. Em questão está na-da mais, nada menos do que a imagem que temos deDeus e do homem. Por isso, toda a discussão só aparen-temente é um debate histórico” (p. 103).

A Sexta-Feira Santa como grande dia da expiaçãoOutra objeção à historicidade das palavras da última ceiaé que estas seriam impensáveis num contexto judaico.Um dos pontos fortes do livro do Papa é a demonstraçãode que as afirmações do Novo Testamento a respeito

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Nestas páginas, afrescos de Giusto de’ Menabuoi no Batistério de Pádua; aqui, ao lado, os milagres de Jesus

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O Papa tem toda a razão, portanto, quando escreve: “Olhando os dadoshistóricos, não há nada de mais original do que precisamente a tradição da Ceia.Mas a ideia de uma expiação é qualquer coisa de inconcebível para a sensibilidade moderna. No seu anúncio do Reino de Deus, Jesus deve estar nos seus antípodas. Em questão está nada mais, nada menos do que a imagemque temos de Deus e do homem. Por isso, toda a discussão só aparentementeé um debate histórico”

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da morte de Jesus como expiação do pecado do homemsó se tornam compreensíveis, precisamente, com a ajudado Antigo Testamento e de sua explicação em hebraicoantigo. Aqui também se expressa a grande estima do Pa-pa pelo judaísmo, que com razão obteve repercussãomuito positiva na imprensa internacional. Faz parte des-ses fenômenos difíceis de compreender o fato de certosexegetas sublinharem de modo particular a religiosidadejudaica de Jesus, mas ao mesmo tempo quererem tirar-lhe quase todos as referências à Sagrada Escritura de Is-rael. Essas referências não se limitam a citações diretas.As palavras de Jesus são permeadas de alusões ao AntigoTestamento. Se quisermos eliminar todas elas, não so-brará muita coisa. Jesus viveu na Sagrada Escritura de Is-rael, como também o Papa. Nem todas as descobertassobre as referências ao Antigo Testamento puderam serdeduzidas da literatura exegética. Algumas coisas deri-vam evidentemente da meditação que Bento XVI fez so-bre a Sagrada Escritura ao longo da vida.

Essa abordagem permite ao Papa demonstrar, naapresentação que faz de Jesus, que no desenrolar doseventos que acontecem entre a entrada de Jesus em Je-rusalém e sua crucifixão no Gólgota podemos encontrar

uma relação interna. Essa relação é ao mesmo tempoplausível do ponto de vista histórico e altamente signifi-cativa em termos teológicos. A chamada purificação dotemplo não representou apenas um gesto de crítica so-cial à classe dos sumos sacerdotes, que enriquecia com ocomércio das ofertas. Mediante um simples gesto sim-bólico profético, Jesus anunciou, antes, que tinha che-gado ao fim o culto sacrifical no templo de Jerusalém (Jo2,14-22). Isso é confirmado pelo discurso sinóptico so-bre o tempo final e pela predição a respeito da destrui-ção do templo (Mc 13,14-17). Todavia, a tese de fundonão corresponde nem de longe à opinião de que os sa-crifícios do Antigo Testamento tenham sempre carecidode valor. Ao contrário, tais sacrifícios, remetiam com oapoio do anúncio de um profeta como Jeremias, a algoque ia além deles mesmos, prenunciando a estipulaçãode uma nova aliança (Jr 31,31).

A figura misteriosa do “servo de Deus” sofredor e mo-ribundo do Livro de Isaías esclarece sem sombra de dúvi-da que a expiação só é possível graças à função vicária deum especial enviado de Deus (Is 53). Jesus ligou a si mes-mo a profecia do servo de Deus, já a partir da formulaçãodas palavras da última ceia (Mc 14,24). O sumo sacerdó-

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A última ceia

Jesus viveu na Sagrada Escritura de Israel, como o Papa. Nem todas asdescobertas sobre as referências ao Antigo Testamento puderam ser deduzidasda literatura exegética. Algumas coisas derivam evidentemente da meditaçãoque Bento XVI fez sobre a Sagrada Escritura ao longo da vida

JESUS DE NAZARÉ. Da entrada em Jerusalém à ressurreição

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cio também não é de modo algum questionado por Jesus,mas encontra n’Ele sua plena realização. A chamada ora-ção sacerdotal, no Evangelho de João (capítulo 17), sópode ser compreendida a partir da liturgia da celebraçãojudaica do Yom Kippur. Nisso, o Papa segue a interpreta-ção do ilustre exegeta católico André Feuillet4, cujas obrassão muitas vezes amplamente ignoradas até mesmo pelaexegese católica contemporânea, o que é um erro. Porocasião do “grande dia da Expiação”, o sumo sacerdoteatravessava, na única vez em que fazia isso ao ano, o li-miar do Santo dos Santos no templo, e purificava o povode Israel de seus pecados aspergindo a Arca da Aliançacom sangue (Lv 16). Em sua resposta ao sumo sacerdoteCaifás, que o interroga perguntando-lhe se é o Messias,Jesus proclama-se “sacerdote segundo a ordem de Mel-quisedec” (Mc 14,62), lembrando o Salmo 110. O véu dotemplo rasgando-se em dois no momento da morte deJesus remete simbolicamente ao fato de que no Gólgotarealizou-se na cruz o grande dia final da expiação (Mc15,38). A interpretação da morte de Jesus como expia-ção vem, portanto, do próprio Jesus. Paulo conhecia es-sa interpretação, pelo que recebera da comunidade pri-mitiva de Jerusalém (Rm 3,24), e a Carta aos Hebreus de-senvolveu notavelmente esse tema. Na vida dos primei-ros cristãos, esse significado da morte de Jesus oriundoda comunidade primitiva de Jerusalém transformou-senuma realidade viva graças à celebração regular da ceiado Senhor (At 2,42; 1Cor 11,25).

O Getsêmani e as duas naturezas de JesusA formulação do Concílio de Calcedônia (451), pelo qualJesus é reconhecido “verdadeiro homem e verdadeiroDeus”, une os católicos, os ortodoxos, os anglicanos e osevangélicos. Já as Igrejas copta e síria não aceitaram achamada doutrina das duas naturezas. Elas atribuem a Je-sus apenas a natureza divina. Ao lado desse antigo mono-fisismo, existe também a variante moderna, muito difun-dida, segundo a qual Jesus possuía somente uma nature-za puramente humana. Ao recordar os episódios evangé-licos da tentação e da oração de Jesus no jardim do Get-sêmani, o papa Bento XVI esclarece por que essas duasvisões de Jesus não são corretas. O Getsêmani mostraJesus, sobretudo na lição do Evangelho de Lucas (22, 44)e da Carta aos Hebreus (5, 7-8), em toda a sua vulnerávele atemorizada humanidade. Todavia, o Pai celeste esperadele que beba “o cálice” (Mc 14,36), que aqui significa, nalinguagem veterotestamentária, a ira destrutiva de Deus(Is 51,17). Isso indica que Jesus deve ser mais que umsimples homem. Propositalmente, sem dúvida alguma, oevangelista Marcos transmitiu justamente nesse ponto aíntima invocação “Abba, pai”, em sua forma semítica, talcomo foi ouvida da boca de Jesus. Nesse aspecto, o Papa

se vale das descobertas do estudioso evangélico do NovoTestamento Joachim Jeremias5, que em meados do sécu-lo passado foi um dos críticos mais eminentes da concep-ção cética de Rudolf Bultmann. O evangelista Marcos sa-bia que antes de Jesus nenhum judeu devoto se dirigiraassim a Deus, nem tampouco qualquer profeta. Portan-to, só Ele, que era realmente o filho de Deus, podia falardessa forma. O papa Bento XVI comenta assim: “Preci-samente porque é o Filho, sente profundamente o hor-ror, toda a imundície e perfídia que deve beber naquele‘cálice’ que Lhe está destinado – todo o poder do pecadoe da morte. Ele tem de acolher tudo isso dentro de Si mes-mo, para que n’Ele fique despojado de poder e superado”(pp. 130-131). Todavia, o Getsêmani impõe também aseguinte pergunta: existe algo que vá além do juízo divinosobre a culpa do homem? É a mesma pergunta que nosfazemos quando nos interrogamos a respeito da realida-de da ressurreição de Jesus.

A realidade da ressurreiçãoTambém ao tratar desse tema o Papa mostra estar extre-mamente a par dos problemas históricos e exegéticos queos textos do Novo Testamento apresentam. Todavia, elefaz uma distinção entre as questões secundárias, de deta-lhe, e a questão principal, da qual tudo depende. A propó-sito disso, Bento XVI escreve com extrema clareza: “So-mente se Jesus ressuscitou é que aconteceu algo de verda-deiramente novo, que muda o mundo e a situação do ho-mem. Então Ele, Jesus, torna-Se o critério em que nos po-demos fiar; porque, então, Deus manifestou-Se verdadei-ramente. Por isso, na nossa pesquisa sobre a figura de Je-sus, a ressurreição é o ponto decisivo. Que Jesus tenhaexistido só no passado ou, pelo contrário, exista tam- ¬

“Por isso, na nossa pesquisa sobre a figura de Jesus, a ressurreição é o pontodecisivo. Que Jesus tenha existido só no passado ou, pelo contrário,exista também no presente depende da ressurreição. No ‘sim’ ou no ‘não’ a essa questão, pronunciamo-nos não sobre um acontecimento particular ao lado de outros, mas sobre a figura de Jesus enquanto tal”

A subida do Calvário

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bém no presente depende da ressurreição. No ‘sim’ ou no‘não’ a essa questão, pronunciamo-nos não sobre umacontecimento particular ao lado de outros, mas sobre a fi-gura de Jesus enquanto tal” (p. 198). Nesse inevitável autaut, o Papa tem do seu lado o apóstolo Paulo, que na pri-meira carta à comunidade cristã de Corinto escrevia: “E seCristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem funda-mento, e sem fundamento também é a vossa fé. Se osmortos não ressuscitam, estaríamos testemunhando con-tra Deus que ele ressuscitou Cristo enquanto, de fato, elenão o teria ressuscitado” (1Cor 15,14-15).

Mas em que medida é crível o tes-temunho apostólico da ressurreição?O Papa se questiona sobre isso tantodo ponto de vista histórico quanto doponto de vista filosófico. Ele criticajustamente a ideia de que a formula-ção “Jesus ressuscitou no terceirodia” (1Cor 15,4) possa representaruma pura e simples derivação do An-tigo Testamento. O “terceiro” dia re-presenta a indicação de uma data his-tórica. No terceiro dia após a crucifi-xão de Jesus, seu sepulcro é encon-trado vazio. O Papa observa a respei-to disso que, “se o sepulcro vazio, co-mo tal, não pode certamente provara ressurreição, permanece porémum pressuposto necessário para a féna ressurreição, uma vez que esta serefere precisamente ao corpo e, porseu intermédio, à pessoa na sua tota-lidade” (p. 208). No “terceiro dia”,Jesus encontrou, como pessoa viva,testemunhas com um nome, ho-mens como Pedro ou o irmão do Se-nhor, Tiago, e mulheres como MariaMadalena. Nesse sentido, constata oPapa, “também isto é importante –os encontros com o Ressuscitadosão uma realidade distinta de aconte-cimentos interiores ou de experiên-cias místicas – são encontros reaiscom o Vivente que, de um modo no-vo, possui um corpo e permanececorpóreo” (p. 218).

O Papa trata também da objeçãofilosófica segundo a qual a ressurrei-ção de Jesus contrariaria as leis queregem a natureza. Exorta a não ex-

cluir a possibilidade de novas experiências na história quevão além daquilo a que até agora estamos habituados. Eescreve: “É certo que, nos testemunhos sobre a ressurrei-ção, se fala de algo que não ocorre no mundo da nossa ex-periência. Fala-se de algo novo, algo que, até então, eraúnico: fala-se de uma nova dimensão da realidade que semanifesta. A fé na ressurreição não contesta a realidadeexistente, mas diz-nos que há uma dimensão ulterior, paraalém das que conhecemos até agora. Porventura estará is-so em contraste com a ciência? Só poderá verdadeira-mente existir aquilo que desde sempre existiu? [...] Se

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JESUS DE NAZARÉ. Da entrada em Jerusalém à ressurreição

“Só um acontecimento real de uma qualidade radicalmente nova era capaz de tornar possível o anúncio apostólico, que não se pode explicar medianteespeculações ou experiências interiores, místicas. Na sua audácia e novidade, o referido anúncio ganha vida a partir da força impetuosa de um acontecimentoque ninguém tinha ideado e que ultrapassava toda a imaginação”

A crucifixão

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Deus existe, não poderá Ele criar também uma dimensãonova da realidade humana? Da realidade em geral?” (p.202). Portanto, questionar a realidade da ressurreição deJesus significa questionar a realidade de Deus.

Com a ressurreição de Jesus, a pergunta sobre Deusdeixa de estar confinada aos limites da especulação inte-lectual, mas passa a nos perseguir como pergunta sobre arealidade histórica do corpo. O Papa lembra, com razão,que as aparições de Jesus ressuscitado “no conjunto miste-rioso de alteridade e identidade” têm como paralelo maispróximo as teofanias do Antigo Testamento (p. 217). Aquiencontramos uma razão convincente para o fato de já des-de a Páscoa se evidenciar claramente que Jesus pertenceao modo de ser de Deus (cf. Jo 20,28). O Papa conclui aargumentação escrevendo: “A ressurreição de Jesus ultra-passa a história, mas deixou o seu rasto na história. Por is-so pode ser atestada por testemunhas como um aconteci-mento de uma qualidade completamente nova” (p. 223).

Bento XVI prossegue assim: “Só um acontecimentoreal de uma qualidade radicalmente nova era capaz de tor-nar possível o anúncio apostólico, que não se pode expli-car mediante especulações ou experiências interiores,místicas. Na sua audácia e novidade, o referido anúncioganha vida a partir da força impetuosa de um aconteci-mento que ninguém tinha ideado e que ultrapassava todaa imaginação” (p. 223). Mas como pode esse evento al-cançar os homens do século XXI?

A necessidade de uma nova evangelizaçãoCom sua interpretação das palavras de Jesus: “Mas pri-meiro é necessário que o Evangelho seja pregado a to-das as nações” (Mc 13,10), o papa Bento XVI evoca àmemória um episódio significativo da história da Igreja(p. 46). Bernardo de Claraval teve de passar um sermãono papa Eugênio III. Bernardo lhe escreveu: tu tens “umdever também para com os infiéis, os judeus, os gregos eos pagãos. [...] Admito, relativamente aos judeus, quetens a desculpa do tempo; para eles foi estabelecido umdeterminado momento, que não se pode antecipar. Pri-meiro devem entrar os pagãos na sua totalidade [cf. Rm11,25-27]. Mas que dizes tu precisamente sobre os pa-gãos? [...] Que tinham em mente os teus predecessorespara [...] interromper a evangelização, enquanto estáainda difundida a incredulidade? Por que motivo [...] foiparada a palavra que corre veloz?”6.

Ao papa Bento XVI não é preciso passar um sermãosobre o tema da evangelização. Como demonstra, entreoutros fatos, o livro entrevista Luz do mundo, ele temuma visão muito realista das coisas7. Sabe muito bem queem amplas regiões da Europa e da América do Norte hou-ve uma queda dramática da fé cristã. Bento XVI não só es-tá a par da necessidade de uma nova evangelização, mastambém adotou providências organizativas nesse sentido.Com seu livro sobre Jesus, oferece todavia também umacontribuição muito pessoal à difusão da fé. Os cristãos de-veriam ajudá-lo nesse esforço. Uma possibilidade poderiaser dar seu livro sobre Jesus de presente aos amigos cuja févacila ou que estão em busca de um caminho para a fé. Oimportante é que esse presente se transforme em oportu-nidade para uma conversa em que nós também falemossobre a nossa fé. Um ponto particularmente forte do livrodo Papa consiste no fato de a obra aproximar duas coisas.

Os leitores ali encontram uma imagem de Jesus Cristo his-toricamente crível e relevante para a sua vida. Mas encon-tram também uma indicação da fé pessoal do papa BentoXVI. No primeiro volume, ele indicava como “ponto dereferência mais autêntico” da fé cristã “a íntima amizadecom Jesus, da qual tudo depende”8. Estou convicto deque, com o segundo volume, o Papa tenha conseguidorealizar o que na premissa indica como seu desejo. Efetiva-mente, a ele foi dado aproximar-se “da figura de NossoSenhor de um modo que possa ser útil a todos os leitoresque queiram encontrar Jesus e acreditar n’Ele” (p. 12).

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A descida de Jesus ao Limbo

Notas1 Gesù di Nazaret. Dall’ingresso in Gerusalemme fino alla ri-surrezione. Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2011.Trad. portuguesa: Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalématé à ressurreição. Cascais (Portugal): Princípia, 2011.2 Der Papst auf der Agora. In: “Jesus von Nazareth” kontro-vers. Berlin: Lit-Verlag, 2007, p. 9-17.3 Gespräche über Jesus: Papst Benedikt XVI. im Dialog mitMartin Hengel und Peter Stuhlmacher. Hrsg. P. Kuhn. Tübin-gen: Mohr Siebeck, 2010.4 Feuillet, André. Le sacerdoce du Christ et de ses ministres:d’après la prière sacerdotale du quatrième Évangile et plu-sieurs données parallèles du Nouveau Testament. Paris:Pierre Téqui Éditeur, 1972.5 Abba. Studien zur neutestamentlichen Theologie und Zeit-geschichte. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1966.6 De consideratione III, 1, 2-3.7 Bento XVI. Luce del mondo. Il Papa, la Chiesa e i segni deitempi. Una conversazione con Peter Seewald. Città del Vati-cano: Libreria Editrice Vaticana, 2010.8 Iesus von Nazareth. Erster Teil: Von der Taufe im Jordanbis zur Verklärung. Freiburg: Herder, 2007, p. 11. Trad. bra-sileira: Jesus de Nazaré. Primeira parte: Do batismo no Jor-dão à transfiguração. Trad. José Jacinto Ferreira de Farias.São Paulo: Planeta, 2007, p. 10.

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“E is o meu Coração, ondenascestes, vós, f iéis,vós, minha Igreja, como

Eva nasceu do costado de Adão.Vede como a lança o abriu, paraque vos fosse aberta a porta doParaíso.” Na primeira metade doséculo XIV, Santo Antônio de Pá-dua, numa homilia, parece anteci-par a devoção ao Sagrado Cora-ção, que teve nos últimos séculosda história da Igreja uma enormedifusão, ligada à figura de SantaMargarida Maria Alacoque.

Essa religiosa da Ordem da Vi-sitação, fundada em 1610 porSão Francisco de Sales, nos 43anos de sua breve vida conheceugraças extraordinárias. Jesus apa-receu-lhe várias vezes: Ele a esco-lheu, como lhe disse, para dar aconhecer ao mundo inteiro SeuSagrado Coração, fonte de Seuamor infinito pelos homens.

Margarida nasceu em 1647,em Lauthecourt, um vilarejo nocoração da França, a poucos qui-lômetros de Paray-le-Monial, lo-cal onde depois passou sua vidareligiosa. Era a quinta filha deClaude Alacoque, advogado e ta-belião do rei Luís XIV.

Cresceu primeiro no castelo deCorcheval, na casa de uma madri-nha, e depois num colégio dirigidopelas irmãs clarissas de Charolles.

Fé e devoção

Foi o que disse Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque

“Nada temas. Eu reinarei, apesar dos meus inimigos”

por Giovanni Ricciardi

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Nestas páginas, algumas imagens de Mauro Cavallini, extraídas do livro Sainte Marguerite Marie,Strasbourg, Éditions du Signe, 2000. Acima, Margarida, com apenas quatro anos,aprende a rezar no castelo de Corcheval

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Ali aprendeu a rezar e a amar Je-sus tão ardentemente, que as reli-giosas lhe concederam fazer a pri-meira comunhão aos nove anos,uma exceção naquele tempo. Aadoração do Santíssimo Sacra-mento, o Rosário: isso era o quemais comovia e atraía a pequenaMargarida. “A Santíssima Vir-gem”, escreve, a propósito de suainfância, “sempre teve um grandecuidado comigo; eu recorria a elaem todas as minhas necessidades,

e ela me tirou de grandes perigos”.A proteção especial de Nossa

Senhora a acompanharia sobre-tudo durante a longa doença quea obrigou a ficar de cama por qua-tro anos, dos dez aos catorze, enos anos que se seguiram, até suaentrada no mosteiro.

Foram tempos difíceis, em queMargarida perdeu o pai e uma ir-mã e se tornou, por assim dizer,“estranha” em sua própria casa.Os parentes que a mãe chamou

para administrar seus bens na ver-dade privaram a ela e a Margaridade toda e qualquer liberdade, tra-tando-as como servas. QuandoMargarida pedia um vestido de-cente para ir à missa, eles o recu-savam e ela era obrigada a pedi-loemprestado de uma amiga. Alémdisso, muitas vezes não lhe permi-tiam nem mesmo sair. “Eu não sa-bia onde me refugiar”, escreve asanta, “a não ser em algum cantodo jardim ou da cocheira onde

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Com o olhar fito no campanário da igreja, onde sabe que Jesus está presente,Margarida está absorta na oração e não ouve o irmão chamá-la

Santa Margarida Maria Alacoque

A adoração do Santíssimo Sacramento, o Rosário: isso era o que maiscomovia e atraía a pequena Margarida. “A Santíssima Virgem”, escreve, a propósito de sua infância, “sempre teve um grande cuidado comigo; eu recorria a ela em todas as minhas necessidades, e ela me tirou de grandes perigos”

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fosse possível ficar de joelhos eabrir o coração a Deus em meioàs lágrimas.”

Depois, a mãe também adoe-ceu e só se pôde curar graças aoamor, aos cuidados e às oraçõesde Margarida, que nesse meio-tempo crescia e começava a seperguntar qual era a vontade deDeus para ela. A mãe teria gostoem vê-la casada e mãe de família,mas o desejo mais profundo deMargarida era consagrar-se aoSenhor: “O desejo de amá-lo meconsumia”, diria mais tarde.

Aos 22 anos, recebeu a crisma,acrescentando a seu nome de ba-tismo o de Maria, e alguns anosmais tarde, vencendo finalmenteas resistências da família, conse-guiu coroar o sonho de fazer-se re-ligiosa, com sua entrada no mos-teiro da Visitação de Paray-le-Mo-nial, em 25 de maio de 1671.

“Como uma tela à espera do pintor”Ao entrar no mosteiro, viu-se per-dida em meio aos ritos e às fórmu-las latinas que não entendia. Pe-diu então à mestra das noviçasque lhe ensinasse a rezar. Ela lherespondeu: “Ponha-se diante deNosso Senhor, como uma tela àespera do pintor”. Irmã Margari-da Maria não entendeu de imedia-to, e tempos depois, enquanto iarefletindo em seu coração sobre osentido daquelas palavras, ouviuuma voz interior que lhe disse:“Vem, eu te ensinarei”. Naquelemomento, como se lembraria asanta, Jesus tornou-se próximodela, concedendo-lhe uma grandepaz. A partir daí tudo ficaria porconta d’Ele.

Seu amor por Jesus a impelia apassar em oração, diante do San-tíssimo Sacramento, muito maishoras que suas irmãs de profis-são, que começavam a olhá-lacom desconfiança e suspeita;pensavam que quisesse aparecer,e assim lhe davam os trabalhosmais humildes, para mantê-la“com os pés no chão”. Por exem-plo, mandavam-na ao quintal domosteiro para vigiar uma asna eseu potro, para que não fossempastar na horta. Uma vez, irmãMargarida Maria, mergulhada naoração, se esqueceu de vigiá-los,

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Fé e devoção

Aos 22 anos, recebeu a crisma, acrescentandoa seu nome de batismo o de Maria, e algunsanos mais tarde, vencendo finalmente as resistências da família, conseguiu coroar o sonho de fazer-se religiosa, com sua entradano mosteiro da Visitação de Paray-le-Monial,em 25 de maio de 1671

Margarida Maria entra no mosteiro da Visitação, em 25 de maio de 1671

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mas, apesar disso, para espantodas outras freiras, os animais nãodanificaram nada.

A vida continuava, dividida en-tre oração e trabalho. Irmã Mar-garida Maria foi encarregada daenfermaria do mosteiro, e era àsvezes obrigada a sofrer com a du-reza com que as superioras a tra-tavam. Margarida não respondiaàs acusações e procurava ser obe-diente em cada pequena coisa.

Discípula predileta do Sagrado CoraçãoTudo isso foi o prelúdio para a pri-meira aparição e revelação do Sa-grado Coração a irmã MargaridaMaria, e para a missão que lhe foiconfiada, de dá-lo a conhecer aomundo, o que ocorreu em 27 dedezembro de 1673: “Meu divinoCoração”, disse-lhe Jesus, “estátão apaixonado de amor peloshomens e por ti em particular,que, não podendo mais conter emsi mesmo as chamas de seu amorardente, sente a necessidade de

difundi-las por teu intermédio ede manifestar-se a eles para enri-quecê-los com seus preciosos te-souros, que te revelarei e que con-têm graças santificantes”.

A partir daquele dia, Jesus lheapareceu muitas outras vezes.Durante uma aparição, em 1674,pediu-lhe duas coisas simples econcretas: comungar toda primei-ra sexta-feira do mês e passaruma hora em oração todas asquintas-feiras, das 23 à meia-noi-te, em lembrança de seus sofri-mentos no Horto das Oliveiras, epara pedir misericórdia para ospecadores. Oração e sacramen-tos: os caminhos ordinários queabrem à graça de Deus. Ou seja,ao seu Sagrado Coração.

A essas práticas, Jesus acres-centou promessas a todos aquelesque as seguissem, pedindo a irmãMargarida Maria que as difundisseno mundo. Margarida não sabia oque fazer, cercada como estava dadesconfiança das outras irmãs,que não lhe permitiam nem mes-

mo fabricar uma imagem do Sa-grado Coração e expô-la publica-mente. Mas Jesus a encorajava.Numa de suas aparições, Ele lhedisse: “Nada temas. Eu reinarei,apesar dos meus inimigos e dequalquer um que tentar se opor”.“Isso me consolava muito”, acres-centou a santa em sua autobiogra-fia, “pois eu não desejava nadaalém de vê-Lo reinar. Deixei, por-tanto, em Suas mãos o cuidado dedefender a Sua causa, enquantoeu sofreria em silêncio”.

De fato, bem cedo recebeu au-xílio, na pessoa do padre jesuítaClaude La Colombière, que foipor muitos anos seu orientadorespiritual, reconheceu como real-mente inspiradas por Deus as re-velações recebidas por irmã Mar-gar ida Maria, encorajou-a,apoiou sua causa junto às superio-ras da Visitação e fez-se ele mes-mo apóstolo da devoção do Sa-grado Coração.

Pouco a pouco, primeiro seumosteiro, depois algumas famí-

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Santa Margarida Maria Alacoque

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Margarida Maria, mergulhada na oração,esquece-se de cuidar para que a asna e o potronão pastem na horta do mosteiro. Mas os animais não causam nenhum problema

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lias e, enfim, muitíssimas pessoas,já durante a vida de Santa Margari-da Maria, aderiram à devoção aoSagrado Coração, que depois desua morte difundiu-se de maneiraextraordinária, tanto que, menosde cem anos depois do falecimen-to de Margarida Maria, ClementeXIII, solicitado a instituir para todaa Igreja uma festa do Sagrado Co-ração, ficou sabendo com surpresaque já existiam no mundo 1.090confrarias a este consagradas, e seconvenceu a estipular essa festa,em 6 de fevereiro de 1765.

Foi o papa Leão XIII, mais tar-de, quem acolheu plenamente a

mensagem de Santa MargaridaMaria, consagrando o mundo in-teiro ao Sagrado Coração em 11de junho de 1899. Vinte anos de-pois, em Paris, na colina de Mont-martre, onde São Dionísio sofrerao martírio com seus companhei-ros, foi consagrada a grande Basí-lica do Sagrado Coração, que do-mina a capital da França.

Paralelamente a esses atos pú-blicos, difundiu-se cada vez maisem todo o mundo católico a devo-ção ao Sagrado Coração.

Quanto a Margarida Maria, osúltimos anos de sua vida forammarcados pela crescente procura

por conselhos espirituais e porum número cada vez mais amplode pessoas que queriam ver e to-car aquela que tinha visto e toca-do, como Tomé, o Coração de Je-sus. Mas isso só fazia aumentarseu desejo de viver à parte, aspira-ção que resumiu numa frase: “Tu-do vem de Deus e nada de mim;tudo é de Deus e nada de mim; tu-do para Deus e nada para mim”.Essa frase era a simples respostaàs palavras amorosas que Jesuslhe dirigira diretamente poucotempo antes: “Eu sou a tua vida ede agora em diante tu só viverásem mim e para mim”. q

Fé e devoção

Numa de suas aparições, Ele lhe disse: “Nada temas. Eu reinarei, apesar dos meus inimigos e de qualquer um que tentar se opor”. “Isso me consolava muito”, acrescentou a santa em sua autobiografia,“pois eu não desejava nada além de vê-Lo reinar. Deixei, portanto, em Suasmãos o cuidado de defender a Sua causa, enquanto eu sofreria em silêncio”

Margarida Maria, mestra das noviças, recebe delas como presente um desenho do Sagrado Coração

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Santa Margarida Maria Alacoque

Promessas do Sagrado CoraçãoNos escritos de Santa Margarida Maria Alacoque se encontram numerosas promessas feitas por Jesus aos devotos de seu Sagrado Coração. As relacionadas abaixo, extraídas das cartas da santa,nos lembram de modo sintético e fácil as graças ligadas a essa devoção

Concederei as graças necessárias a seu estado de vida. Trarei e conservarei a paz em suas famílias, e os consolarei nas aflições. Serei seu refúgio em vida e especialmente na hora da morte. Derramarei abundantes bênçãos sobre todos os seus trabalhos e empreitadas. Os pecadores encontrarão em meu Coração a fonte e o oceano infinito da misericórdia. As almas tépidas se tornarão fervorosas. As almas fervorosas se elevarão logo a grande perfeição. A minha bênção descerá sobre os lugares onde for exposta e venerada a imagem

de meu Sagrado Coração. Aos sacerdotes e àqueles que trabalharem pela salvação das almas,

darei a graça de comover os corações mais endurecidos. As pessoas que divulgarem esta devoção terão seu nome escrito

para sempre em meu Coração. A todos aqueles que comungarem na primeira sexta-feira do mês durante nove meses

consecutivos darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

Jesus aparece a Margarida Maria

Papa Clemente XIII institui em 6 de fevereiro de 1765 a festa do Sagrado Coração e Paray-le-Monial se torna meta de peregrinações

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por Lorenzo Cappelletti

Citar a si mesmo é sempre embaraçoso. Escrever uma introdução para si mes-mo, ainda mais. Mas, deixado de lado o embaraço, pois não se trata de umacausa pessoal, vamos logo ao ponto: por que reapresentamos este artigo,

que originalmente foi motivado pela publicação de um livro sobre a cripta da Cate-dral de Anagni, numa época de trágicos acontecimentos bélicos? Porque, paraalém daquela contingência, este artigo, na medida justamente em que retoma demaneira literal uma das mais belas representações pictóricas dos versículos doApocalipse de João relativos à abertura dos selos (excluindo o sétimo, significati-vamente), pode-nos ajudar a ler também o momento presente. Afinal, esse é o mo-tivo pelo qual, sobretudo durante o primeiro milênio cristão, recorreu-se ao Apo-calipse de João como chave de leitura do tempo que passa entre a ressurreição deNosso Senhor e seu retorno. Portanto, do tempo que é também o nosso.

Pois bem, o que nos diz hoje o texto joanino acompanhado daquela doce e poé-tica matéria pictórica?

Muitas coisas, mas em primeiro lugar que os acontecimentos da história, miste-riosa mas realmente, têm como único fio condutor a reação à inexorável vitória deJesus Cristo (que venceu e vence ainda) sobre a guerra fratricida dos homens, so-bre o inferno e sobre a morte. Além de legitimamente buscar múltiplas causas eefeitos para os fatos históricos, é preciso levar em conta que neles se reflete sem-pre uma contenda que tem a ver com a rebelião e a acolhida da vitória de Cristo.Contenda que é tão profunda e universal a ponto de não poder ser expressa nementendida toda em prosa, mas na forma das imagens superdimensionadas doApocalipse de João.

A R T E S A C R A

“... e Ele partiu como vencedor para tornar a vencer”

(Apocalipse6, 2)

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Paradoxalmente, o motivo da reação à vitória inexorável de Cristo é que essa vi-tória revela Ele mesmo, não como mistério de morte, mas de salvação; não metemedo, mas põe fim ao medo; é inexorável mas é misericordiosa; é definitiva mas épaciente. Eis por que “Jesus convida a não nos deixarmos espantar”, escrevia o car-deal Martini em 27 de março na primeira página do Corriere della Sera.

É interessante, desse ponto de vista, que, segundo a letra do texto do Apocalip-se de João, à abertura do sexto selo, que marca a iminência do fim (cf. Ap 6,12-17),siga-se não o fim, mas a ordem dada aos quatro anjos posicionados nos quatro can-tos da terra de que detenham os ventos de destruição, para que não devastem nema terra, nem o mar, nem as plantas, enquanto não tiver sido impresso o selo do Se-nhor na fronte de seus servos (cf. Ap 7,1-3). Que o Senhor, que é paciente e miseri-cordioso, nos dê paz. Boa leitura.

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Novavetera

et

Cristo vitorioso sobre a guerra fratricida, o inferno e a morte, na figura do primeiro dos quatro cavaleiros doApocalipse, afresco do século XIII conservado na cripta da Catedral de Anagni, Frosinone

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A R T E S A C R A

Vi quando o Cordeiro abriu o primeiro dossete selos, e ouvi o primeiro dos quatro Se-res vivos dizer como o estrondo dum tro-

vão: “Vem!”. Vi então aparecer um cavalo branco,cujo montador tinha um arco. Deram-lhe uma co-roa e ele saiu vitorioso para vencer ainda.

Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundoSer vivo dizer: “Vem!”. Apareceu então um outro ca-valo, vermelho, e ao seu montador foi concedido opoder de tirar a paz da terra, para que os homens sematassem entre si. Entregaram-lhe tam-bém uma grande espada.

Quando abriu o terceiro selo,ouvi o terceiro Ser vivo dizer:“Vem!”. Eis que apareceuum cavalo negro, cujomontador tinha na mãouma balança. Ouvi entãouma voz, vinda do meiodos quatro Seres vivos,que dizia: “Um litro detrigo por um denário e trêslitros de cevada por um de-nário! Quanto ao óleo e aovinho, não causes prejuízo”.

Quando abriu o quarto selo,ouvi a voz do quarto Ser vivo que dizia:“Vem!” Vi aparecer um cavalo esverdeado. Seumontador chamava-se “a Morte” e o Hades oacompanhava. Foi-lhe dado poder sobre a quar-ta parte da terra, para que exterminasse pela es-pada, pela fome, pela peste e pelas feras da terra.

Quando abriu o quinto selo, vi sob o altar asvidas dos que tinham sido imolados por causada Palavra de Deus e do testemunho que dela ti-nham prestado. E eles clamaram em alta voz:

“Até quando, ó Senhor santo e verdadeiro,tardarás a fazer justiça,vingando nosso sanguecontra os habitantes da terra?”.

A cada um deles foi dada, então, uma vestebranca e foi-lhes dito, também, que repousas-sem por mais um pouco de tempo, até que secompletasse o número dos seus companheirose irmãos, que iriam ser mortos como eles.

Vi quando ele abriu o sexto selo: houve umgrande terremoto; o sol tornou-se negro comoum saco de crina, e a lua inteira como sangue;as estrelas do céu se precipitaram sobre a terra,como a figueira que deixa cair seus frutos ainda

verdes aos ser agitada por um fortevento; o céu afastou-se, como um

livro que é enrolado; as mon-tanhas todas e as ilhas fo-

ram removidas de seu lu-gar; os reis da terra, osmagnatas, os capitães,os ricos e os poderosos,todos, escravos e ho-mens livres, esconde-ram-se nas cavernas e

pelos rochedos dasmontanhas, dizendo aos

montes e às pedras: Desmoro-nai sobre nós e escondei-nos da

face daquele que está sentadono trono, e da ira do Cordeiro, pois

chegou o Grande Dia da sua ira, e quem poderáficar de pé?

Depois disso, vi quatro Anjos, postados nosquatro cantos da terra, segurando os quatro ven-tos da terra, para que o vento não soprasse so-bre a terra, sobre o mar ou sobre alguma árvore.Vi também outro Anjo que subia do Orientecom o selo do Deus vivo. Esse gritou em altavoz aos quatro Anjos que haviam sido encarre-gados de fazer mal à terra e ao mar: “Não dani-fiqueis a terra, o mar e as árvores, até que te-nhamos marcado a fronte dos servos do nossoDeus”.

O S V E R S Í C U L O S 6 , 1 - 7 , 3 D O A P O C A L I P S E

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veteraNovaetNovaetArquivo de 30Dias - Março de 2002

por Lorenzo Cappelletti

O ciclo apocalíptico afrescado na cripta da catedral de Anagnirepresenta a um só tempo a vitória já conquistada por Cristo e suabatalha ainda em andamento contra a guerra, o inferno e a morte

A pocalípticos ou conformis-tas? Perante essa alternati-va, nem um pouco alterna-

tiva, entre a utopia e a aquiescên-cia, o Apocalipse sempre preten-deu lançar uma luz mais verdadei-ra sobre os acontecimentos da

história: um ponto de vista inco-mensurável, no entanto extrema-mente realista, nem apocalípticonem conformista. Hoje, ante ostambores de uma guerra maior doque nós, sentimos mais do quenunca a necessidade dessa luz.

A palavra “apocalipse”, comosabem até mesmo aqueles quetêm um conhecimento superficialda Sagrada Escritura, significa re-velação, demonstração, desvela-mento. “Revelação de Jesus Cris-to: Deus lha concedeu para que ¬

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A abóbada de ângulo da abside principal, no centro, o Cordeiro apocalíptico circundado pelos quatro seres vivos e os vinte e quatro anciãos

ECCE CRUCEM DOMINI

FUGITE PARTES ADVERSAE...

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mostrasse aos seus servos as coi-sas que devem acontecer muitoem breve”, diz o primeiro versícu-lo programático, retomado deforma quase idêntica na con-clusão do livro (Ap 1,1 e 22,6).Jesus Cristo, “a Testemu nha fiel,o Primogênito dos mortos, o Prín-cipe dos reis da terra” (Ap 1,5),após sua vitória, mostra ao após-tolo João, “arrebatado em espíri-to” para fora da história, o quenesta realmente acontece. Comoescrevia o grande exegeta Heinri-ch Schlier no início de um famosoensaio sobre o Apocalipse (que

retomamos há alguns anos: cf.30Dias nº 6, junho de 1995, pp.65-68), “o Apocalipse de João éo único livro do Novo Testamentoque tem por tema a história. Foi,portanto, meditando essencial-mente sobre ele que se desenvol-veu a reflexão cristã em torno dahistória”. Reflexão que se expri-miu ao longo dos séculos não ape-nas por palavras, mas tambémpor imagens e cores.

Na cripta da catedral da fatídicacidade italiana de Anagni, numasérie de afrescos iniciados na mes-ma época em que começavam a se

difundir as elucubrações sobre ahistória de Joaquim de Fiore († 30de março de 1202), conserva-se amagníf ica i lustração de umaconcepção da história que aindabrota da tradicional meditaçãosobre o Apocalipse, que tem co-mo paradigma o De civitate Deide Agostinho. Até a ruptura reali-zada por Joaquim, com sua tripar-tição da história em eras que se su-cediam, do Pai, do Filho e do Espí-rito, não se podia nem mesmoconceber que o acontecimentohistórico de Cristo pudesse ser su-perado ao longo do tempo da

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A R T E S A C R A

A abertura dos quatro primeiros selos, representada à direita da abóbada de ângulo da abside principal

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história por uma pos-terior era do Espírito,portadora de uma gra-ça maior. O aconteci-mento de Jesus Cristoera concebido como oinício do fim do mun-do. Para a reflexão decaráter agostiniano etomístico, “Cristo nãoé o eixo da história,com o qual tem inícioum mundo mudado eremido e é abandona-da uma história não-remida que durou até aquele mo-mento; para essa reflexão, Cristoé muito mais o princípio do fim.Ele é ‘redenção’, na medida emque com Ele o ‘fim’ começa a res-plender na história. A redençãoconsiste (de um ponto de vistahistórico) nessa fase iniciada en-quanto a história, por assim dizer,procede ‘per nefas’ ainda por umcerto tempo, conduzindo a antigaidade deste mundo a seu fim” (J.Ratzinger. San Bonaventura. Lateologia della storia, p. 211).

Justamente por querer seruma leitura do tempo da Igreja co-mo tempo final sub gratia e não aimagem da superação desse tem-po, o ciclo apocalíptico anagnia-no é constituído apenas de cenasextraídas dos primeiros dozecapítulos do Apocalipse. E, dostrês setenários (dos selos, dastrombetas e das taças), opta porrepresentar apenas o dos selos,detendo-se quando está para seraberto o sétimo. Ou seja, optapor deter-se na proclamação dojuízo; não se interessa em investi-gar as inúmeras imagens que po-dem ser exploradas em sua pro-mulgação e execução. (Provavel-mente não estavam ainda aperfei-çoados os “instrumentos políticose espirituais cheios de força e dedegeneração” [Schlier] que hojeparecem levar ao pé da letra algu-mas das visões proféticas doscapítulos 13-18 do Apocalipse).

Assim, numa versão pictóricacheia de graciosidade, represen-ta-se com suprema compostura ainexorabilidade da vitória obtidapor Jesus Cristo, ao lado dos ele-mentos de uma luta que, emboracontinue, já não pode mais meter

medo. De fato, emAnagni a guerra e amorte (Ap 6,4-8) fe-cham os olhos demedo, os astros quemudam de cor (Ap6,12) são apenasduas bolinhas sub-metidas ao sopro pa-cato de um anjo, odragão de dez chifres(Ap 12,3) é umdragãozinho sob ospés de um terno ar-canjo. Toda a honra,

a força e a beleza são reservadasÀquele que se assenta ao trono eao Cordeiro, e àqueles que com-partilharam sua vitória e carre-gam a coroa real dos vencedores,os vinte e quatro anciãos, os vir-gens e os mártires alinhados nu-ma ordem quase musical.

Cristo é a manifestação de uma força que vence o mundoNo centro de todo o projetopictórico, no coração da abóbadade ângulo da abside, entre os qua-

tro seres vivos e os vinte e quatroanciãos, está o vencedor, o Cor-deiro, no momento em que abreos sete selos que fechavam o livroque ninguém antes de sua vitóriaera capaz de abrir.O que fizeraJoão chorar, faz-nos chorar tam-bém sempre de novo, diante domistério humanamente inexplicá-vel da história. Mas “o Leão datribo de Judá, o Rebento de Davi,venceu para poder abrir o livro”(Ap 5,5), lê-se nas páginas escan-caradas do livro. Não devemoschorar!

À direita e à esquerda da absi-de central, sobre um atípico arcotriunfal e as abóbadas e arcos aele adjacentes, são representadasas cenas que correspondem àabertura de cada um dos selos.Começa-se, à direita, pela repre-sentação dos quatro cavaleiros,que aparecem quando são aber-tos os quatro primeiros selos. Ca-valeiros bem pouco apocalípti-cos, no sentido de que não ser-vem como símbolo de quatro for-ças destrutivas equivalentes e so-beranas. Quase como se o des-

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O início da construção da cate-dral de Anagni na sua formaatual se deve a São Pedro deSalerno, bispo de Anagni de1062 a 1105.

Sua cripta guarda um dosmais importantes ciclos afresca-dos da Idade Média italiana. Sãomais de 50 quadros, além deinúmeros frisos, que pertencema um único projeto, obra demestres e ateliês diversos. Aoateliê do chamado PrimeiroMestre deve-se integralmente ociclo apocalíptico, e é possíveltambém que a ele tenha sido en-comendada inicialmente a reali-zação de todo o projeto. Éplausível que tenha trabalhadona época de Inocêncio III (1198-1216), em linha com a sensibili-dade e o magistério desse Papa.

A catedral de Anagni e sua cripta

ECCE CRUCEM DOMINI

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A R T E S A C R A

velamento final coincidis-se com uma destruição fi-nal, quase como se seuobjetivo fosse o fim. Não.Diferentemente do quecontinua a repetir uma crí-tica temerosa até de obser-

var a realidade, de tanto quetem medo de perder-se ao per-

der seus preconceitos,trata-se, segundo a in-terpretação tradicionalbaseada na coordena-ção entre os versículosAp 6,1-2 e Ap 19,11-16, da luta instauradapelo primeiro cavaleirocontra os outros três. Oprimeiro dos quatro cavalei-ros (que monta um cavalo bran-co, é coroado e recebe um arco,segundo Ap 6,2) é também reves-tido de um manto, vermelho dacor de seu sangue, e da diademada glória divina, segundo Ap19,13: é o Verbo de Deus, o Reidos reis, o Senhor dos senhores,que, segundo o que reza a Vulgata(Ap 6,2), exivit vincens ut vince-ret, saiu vitorioso para vencer oque resta a ser vencido. Cristovenceu, é Cristo que vence ainda.“De onde saiu, senão do seloaberto?”, escrevia Ambrósio Aut-perto, abade do grande mosteirocarolíngio de São Vicente al Vol-turno, cuja cripta encerra outroestupendo ciclo afrescado na Alta

Acima, na frente do arco, o anjo que sobe do oriente grita que nada seja devastadoenquanto o selo do Deus vivo não for impresso na fronte de seus servos;ao lado, na abóbada acima do arco, os anjos posicionados nos quatro cantos da terra seguram os ventos da destruição

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Idade Média, inspira-do em seu comentáriosobre o Apocalipse. Ocavalo branco parecequase sair da absideprincipal, onde o Cor-deiro abre os selos, eestá para dispararuma flecha na direçãodo segundo cavaleiro,que, fugindo, volta-seapavorado.

Para o primeiro ca-valeiro, trata-se de darprosseguimento auma inexorável vitória. O cavalosegue a passo firme, o cavaleiroenverga o arco sem agitação, comfirmeza, mas nenhuma agressivi-dade no olhar. Ao segundo cava-leiro resta apenas galopar em fu-ga. Não é a guerra que aterroriza,ela é que parece aterrorizada etem de fugir, girando com as duasmãos a grande espada para se de-fender. Mas a espada, por maisque seja mastodôntica, não defen-de, pois lhe fora concedida para oataque, para “tirar a paz da terra,para que os homens se matassementre si” (Ap 6,4). Como defen-der-se agora contra uma flecha?

No canto baixo do mesmoquadro, a morte tem também oolhar aterrorizado da guerra. Ca-valga em fuga, galopando numcavalo de cor esverdeada, perse-guida pelo demônio nu e alado,que monta o inferno tenebroso,segurando uma grande balançaque pesa sem piedade. Tal comoa guerra é perseguida e procurafugir do Rei vitorioso, da mesmaforma a morte é perseguida etenta escapar do inferno, da se-gunda morte. Quem projetou ociclo explica dil igentemente,com um verso transcrito sob oquadro, que são duas duplas decavaleiros: Has per picturas bisbinas disce figuras (entendas deduas em duas as figuras represen-tadas nestas pinturas). Mas o pa-ralelo é parcial: o inferno e amorte também são, por sua vez,perseguidos pelo primeiro cava-leiro. Seu destino é acabar no la-go de fogo (Ap 20,14).

Portanto, em vez de um pano-rama de destruição e medo que atudo transtorna (que comumente é

designado como aconcepção apocalíp-tica em plena IdadeMédia, mas, na ver-dade, coincide nomáximo com o pre-valecimento da leitu-ra milenarista e gnos-ticizante retomada deJoaquim), estamosaqui diante da repre-sentação de uma for-ça que venceu o mun-do, e que, vencendouma vez mais, prote-

ge em primeiro lugar a paz.Esse tema continua e se torna

mais preciso na abóbada que estáencima da representação dosquatro cavaleiros. Aqui, quatroanjos, postos dos quatro lados deum quadro pontilhado de flores,derrubam quatro figuras munidasde chifres e asas. Não se trata daluta alegórica entre o bem e omal, como tantas vezes a críticarepetiu, acreditando serem reali-dades os fantasmas da sua pré-compreensão maniqueísta. É,

sim, a barreira contra os ventosda destruição, que ameaçam ascondições que permitem a vidanesta terra, como diz Ap 7,1. Talcomo a paz, da mesma forma arealidade natural é preservada pe-lo Rei vitorioso e misericordioso:Tu, victor Rex, miserere. Háuma enorme distância entre a le-tra do Apocalipse e as elucubra-ções alucinadas que pretendematribuir-lhe pessoas que têm fan-tasmas na cabeça e ódio no cora-ção: “Vi quatro Anjos, postadosnos quatro cantos da terra, segu-rando os quatro ventos da terra,para que o vento não soprassesobre a terra, sobre o mar ousobre alguma árvore. Vi tambémoutro Anjo que subia do Orientecom o selo do Deus vivo. Esse gri-tou em alta voz aos quatro Anjosque haviam sido encarregados defazer mal à terra e ao mar: ‘Nãodanifiqueis a terra, o mar e as ár-vores, até que tenhamos marcadoa fronte dos servos do nossoDeus’” (Ap 7,1-2). De fato, outroanjo, como se subisse das co-

Abaixo, a abóbada VIII, onde é representada a promessa de uma descendêncianumerosa como as estrelas do céu (recebida por Abraão após a bênção de Melquisedec, representada na abóbada adjacente)

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ECCE CRUCEM DOMINI

FUGITE PARTES ADVERSAE...

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stas do arco inferior, indica o de-senho de uma carta, na qual estãoescritas essas palavras, e segurauma cruz-estandarte, da qual pen-dem o alfa e o ômega.

Esse último pormenor é ape-nas o atributo iconográfico iden-

tificador do anjo? Mero detalhe?Não, essa cruz estreita (que “é osinal da Trindade que todos rece-bemos no batismo”, escrevia SãoBruno, bispo de Segni, comen-tando esse versículo do Apocalip-se), é a razão última de tudo o que

é representado. O objetivo da ba-talha que o Rei vitorioso promo-ve contra guerra, como tambémda ordem peremptória de sus-pender qualquer destruição, dadapelo anjo detentor do selo (que éapenas outra forma de dizer no-vamente “Cristo ressuscitado”,como afirmam Beda, AmbrósioAutperto e tantos outros), é per-mitir, graças ao batismo, queuma sublime descendência, nu-merosa como as estrelas, segun-do a promessa, goze de uma feli-cidade celeste, incomensurável:promissa posteritas caelesti fe-licitate sublimis, escreve Agos-tinho (De civitate Dei 16, 23).

Mais de uma vez (ao menostrês) reaparece na cripta ana-gniana o selo batismal em formade monograma do nome de Cris-to, mas nenhum crítico nunca oconsiderou digno de nota. Quasecomo se a promessa fe i ta aAbraão de que seria pai de mui-tos povos, de uma descendênciatão grande quanto as estrelas docéu, se realizasse em algo dife-rente do batismo (por outro lado,a própria promessa a Abraão ja-mais foi reconhecida pela críticana abóbada VIII de Anagni, o querompe todo o “mecanismo” docristianismo, diria Péguy). O ba-tismo, sussurrado por Jesus a Ni-codemos naquela noite em Jeru-salém, que Pedro repetiria emvoz alta depois da morte e ressur-reição do Senhor: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batiza-do em nome de Jesus Cristo paraa remissão dos vossos pecados.Então recebereis o dom do Espí-rito Santo. Pois para vós é a pro-messa, assim como para vossosfilhos e para todos aqueles queestão longe, isto é, para quantoso Senhor, nosso Deus, chamar”(At 2,38s).

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Ao lado, a representação da abertura do quinto selo: Jesus Cristo doa as vestes gloriosas às almas dos mártires

Ao lado, os santos mártires Nemésio,Saturnino e Abrão, parte do cortejo de 18santos mártires postos aos pés do dragãoapocalíptico

A R T E S A C R A

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veteraNovaetArquivo de 30Dias - Março de 2002

Dentro de breve tempo

Simetricamente, emrelação a esse conjunto

de cenas, na outra partedo arco triunfal que emol-dura a abside principal, é

representada a abertura doquinto e do sexto selos.

O tempo ainda éconcedido, não apenas

para que sejam marcadoscom o selo batismal todos

aqueles que o Senhor cha-mar, mas também para que se

complete o número daquelesque devem ser mortos propterVerbum Dei et propter testimo-nium quod habebant. Às almasdaqueles que foram imolados, quereceberam o batismo de sanguedo martírio e gritam que a justiçafinalmente seja feita, é dito “querepousassem por mais um poucode tempo [tempus modicum], atéque se completasse o número dosseus companheiros e irmãos, queiriam ser mortos como eles” (Ap6,11). Para que possam ter pa-ciência, Aquele que está assenta-do no trono os veste com vestesde glória alvejadas nosangue do Cordeiro.Tendo-as recebido,poderão esperar empaz que outros ven-ham completar o nú-mero dos mártires,apressando assim ores gate definitivo.

De qualquer for-ma, o tempo de espe-ra é breve, o tempo dahistória é um tempusmodicum: “O Senhornão retarda o cumpri-

mento de sua promessa.[...]. Esse breve intervalo detempo nos parece longo, poisdura até agora; quando tiveracabado, nos daremos conta doquanto foi breve” (Santo Agos-tinho. Comentário ao evange-lho de João 101,6). O tempofez-se breve depois da vitóriade Cristo. Assim, na aberturado sexto selo, o sol e a lua nafrente do arco da esquerda mu-dam de cor e um anjo se prepa-ra para soprar um vento queprecipita as estrelas do céu, talcomo a tempestade faz com osfrutos da figueira; e outro anjotraz o turíbulo de ouro, por meiodo qual, da mesma forma comosobe o perfume das orações dossantos, descerá dali a poucosobre a terra o fogo da ira dAque-le que se assenta no trono e doCordeiro.

Se a brevidade do tempo exer-cita a paciência daqueles que es-peram justiça, suscita no dragãouma “raivosa vontade de potênciaque nasce da ânsia do tempo quelhe escapa”, escrevia Schlier noensaio citado. Ao lado do dragão

da pequena abside dadireita, houve tempoem que havia emAnagni também umarepresentação hojeperdida da Ascensãodo Senhor, como aque existe no estu-pendo afresco dacontra-fachada daigreja de Civate, nomonte Pedale, poucodistante de Leco. Es-sa cena descreve oque o Apocalipse

Acima, na frente do arco, a representação da abertura do sextoselo; abaixo, na abóbada de ângulo da direita, o arcanjo Miguel submete o dragão apocalíptico

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ECCE CRUCEM DOMINI

FUGITE PARTES ADVERSAE...

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chama “o arrebatamento do filhopara junto de Deus e de seu trono”(cf. Ap 12,5). De fato, é “com aAscensão de Jesus Cristo ao céu”,continua Schlier, “que o dragão,figura ideal do que é satânico, daforça absoluta do egoísmo, é lan-çado por terra”.

Já precipitado à terra por forçada Ascensão do Senhor, o dragão“pôs-se a perseguir a Mu lher” (Ap12,13), que, porém, lhe escapacom asas de águia (nós a encon-tramos com o fi lho, perto deJoão, na pequena abside da es-querda). Então o dragão vai “guer-rear contra o resto dos seus des-cendentes, os que observam osmandamentos de Deus e mantêm

o Testemunho de Jesus” (Ap12,17). De fato, o dragão, emAnagni, encontra-se ao lado de18 santos mártires, ou seja, da-queles que detêm o testemunhode Jesus, sendo, como repetemtodos os Padres e escritores me-dievais, 18 o valor numérico dasiniciais IE do nome Iesus (do qualo número da besta é uma falsifica-ção grosseira: 666). Em Civate,são também 18 os santos mártiresafrescados dentro da pequena cú-pula do cibório: “É por isso queestão diante do trono de Deus,servindo-o dia e noite em seu tem-plo. Aquele que está sentado notrono estenderá sua tenda sobreeles” (Ap 7,15).

A R T E S A C R A

Na abside da esquerda, Maria Virgo virginum é rodeada por duas santas virgens e pelas duas testemunhas do Apocalipse, os virgens João Batista e João Evangelista,posicionados no arco triunfal; abaixo, as santas virgens peregrinas Aurélia e Noemísia, representadas na parte inferior da abside da esquerda

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veteraNovaetArquivo de 30Dias - Março de 2002

Mas não são apenas os mártiresque morrem, ou seja, que revelamde modo real, como escreveSchlier, “o anacronismo de ummundo que ainda hoje pretendeafirmar a si mesmo”, e que, comsua morte, tornam “acessível, tam-bém a seus inimigos, o futuro aber-to por Cristo”. Os virgens tambémmorrem, obedecendo. A eles é de-dicada toda a parte da pequena ab-side da esquerda em torno de Ma-ria, Virgem dos virgens. Te nimisimplorant virgo iubilant et ado-rant. Dum tibi subduntur natummoriendo secuntur. Esses ver-sos, que relembram o hino ambro-siano “Iesu corona virginum”, cor-rem na pequena abside da esquer-da pela faixa que divide Nossa Se-nhora com o Menino (rodeada porduas santas virgens e pelos doisJoão, no alto) da história da virgin-dade e martírio de Secundina, em-

baixo: “Quanto te imploram,quanto te louvam e te veneram, óVirgem. Enquanto se submetem ati, morrendo acompanham teu Fi-lho”. É o que, no fundo, deseja e vi-ve qualquer pobre pecador, nemvirgem nem mártir, que, partici-pando do vitorioso amor de Cristo,olhou durante séculos, arrependi-do e devotado, para os rostos dacripta de Anagni. “Quando pensoque um homem, um jovem, um in-divíduo, só pode se casar com umamulher por amor a Cristo – pare-ce-me já ter dito esta frase: só poramor a Cristo –, quando uma pes-soa diz isso, sente toda a imen-sidão – imensidão quer dizer quealgo não é comensurável –, a inco-mensurabilidade de um ponto devista, que é ‘o’ ponto de vista, mastambém o ponto de renascimento,de nascimento do renascimento”(L. Giussani).

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