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E Se... A cena na fazenda for uma verdadeira reconciliação e... longa? (cena de 15 de janeiro Vitor procura Amélia na fazenda para saber porque rompeu com ele) Vitor passa despercebido entre os empregados da fazenda e avista Amélia, distraída, arrumando o jardim. Ele a chama em tom desesperado e ela então se volta para Vitor, desacreditada no que vê: - Vitor, o que você está fazendo aqui? - Amélia, eu não tô suportando mais. Por que você tá fugindo de mim? Me responde! Amélia fica sem fala, não sabe se está preocupada com sua presença ou feliz em vê-lo. Afinal, para ela também não estava sendo fácil, era como se uma eternidade os separasse naquele curto espaço de tempo que se passou: - Vitor, pelo amor de Deus, vai embora. Nós já falamos tudo o que tínhamos pra falar. Por favor. - Não, Amélia, eu não aceito que você termine tudo assim. Eu não consigo mais ficar longe de você, não consigo entender. Vamos conversar. Amélia se afasta de Vitor e coloca as mãos no rosto, encarando-o com um olhar triste e ao mesmo tempo desesperado. Sem saber o que dizer, tentando fugir do seu próprio desejo, ela vira de costas e pede mais uma vez para ele ir embora. - Não, Amélia, volta aqui. Vitor segura no braço de Amélia e a vira de frente para ele: - Amélia, eu amo você. Por favor, não faz isso comigo. Olha pra mim - ele então segura seu braço com mais suavidade e acaricia seu rosto com carinho - Me diz, o que está acontecendo? Você precisa confiar em mim. Amélia não resiste e cede aos carinhos de Vitor, olhando nos seus olhos. Depois de um tempo trocando olhares, ela diz, olhando pros lados para ver se ninguém estava por perto: - Vitor, eu não quero ficar longe de você. Eu preciso ficar longe de você. Você sabe que eu... que eu te amo. Mas é tanta coisa, minha vida está um caos, eu não aguento ver minha filha sofrendo, o Max me pressionando. Sei que estou sendo egoísta, mas eu também não aguentaria perder você. Vitor se assusta. - Me perder? Do que você está falando? O Max fez alguma ameaça? - Não, ainda não. Mas você conhece o Max. Eu tenho tanto medo por nós dois. E não é só por isso, você sabe. - Como assim, Amélia? Não é só por isso? - Vitor encara Amélia ainda em dúvida. - Eu sei que pode ser ridículo da minha parte, porque é assim que eu me sinto, mas eu... Ai, deixa pra lá, Vitor. Por favor, vai embora. Vitor perde a paciência e a segura mais uma vez. - Eu sabia que tinha alguma coisa acontecendo, Amélia. Olha... - Amélia se afasta - Olha pra mim. O que foi? - A verdade é que eu me sinto insegura com toda essa situação. Cada dia eu vejo mais obstáculos entre a gente. Aquele dia na festa eu vi você com aquela moça... Vitor logo muda a feição do seu rosto, se assustando: - O que? A Nancy?

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E Se... A cena na fazenda for uma verdadeira reconciliação e... longa? (cena de 15 de janeiro – Vitor procura Amélia na fazenda para saber porque rompeu com ele)

Vitor passa despercebido entre os empregados da fazenda e avista Amélia, distraída, arrumando o jardim. Ele a chama em tom desesperado e ela então se volta para Vitor, desacreditada no que vê: - Vitor, o que você está fazendo aqui? - Amélia, eu não tô suportando mais. Por que você tá fugindo de mim? Me responde! Amélia fica sem fala, não sabe se está preocupada com sua presença ou feliz em vê-lo. Afinal, para ela também não estava sendo fácil, era como se uma eternidade os separasse naquele curto espaço de tempo que se passou: - Vitor, pelo amor de Deus, vai embora. Nós já falamos tudo o que tínhamos pra falar. Por favor. - Não, Amélia, eu não aceito que você termine tudo assim. Eu não consigo mais ficar longe de você, não consigo entender. Vamos conversar. Amélia se afasta de Vitor e coloca as mãos no rosto, encarando-o com um olhar triste e ao mesmo tempo desesperado. Sem saber o que dizer, tentando fugir do seu próprio desejo, ela vira de costas e pede mais uma vez para ele ir embora. - Não, Amélia, volta aqui. Vitor segura no braço de Amélia e a vira de frente para ele: - Amélia, eu amo você. Por favor, não faz isso comigo. Olha pra mim - ele então segura seu braço com mais suavidade e acaricia seu rosto com carinho - Me diz, o que está acontecendo? Você precisa confiar em mim. Amélia não resiste e cede aos carinhos de Vitor, olhando nos seus olhos. Depois de um tempo trocando olhares, ela diz, olhando pros lados para ver se ninguém estava por perto: - Vitor, eu não quero ficar longe de você. Eu preciso ficar longe de você. Você sabe que eu... que eu te amo. Mas é tanta coisa, minha vida está um caos, eu não aguento ver minha filha sofrendo, o Max me pressionando. Sei que estou sendo egoísta, mas eu também não aguentaria perder você. Vitor se assusta. - Me perder? Do que você está falando? O Max fez alguma ameaça? - Não, ainda não. Mas você conhece o Max. Eu tenho tanto medo por nós dois. E não é só por isso, você sabe. - Como assim, Amélia? Não é só por isso? - Vitor encara Amélia ainda em dúvida. - Eu sei que pode ser ridículo da minha parte, porque é assim que eu me sinto, mas eu... Ai, deixa pra lá, Vitor. Por favor, vai embora. Vitor perde a paciência e a segura mais uma vez. - Eu sabia que tinha alguma coisa acontecendo, Amélia. Olha... - Amélia se afasta - Olha pra mim. O que foi? - A verdade é que eu me sinto insegura com toda essa situação. Cada dia eu vejo mais obstáculos entre a gente. Aquele dia na festa eu vi você com aquela moça... Vitor logo muda a feição do seu rosto, se assustando: - O que? A Nancy?

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- É, Vitor, ela. E várias vezes eu vi vocês dois conversando na cidade. Eu sei que é ridículo. Mas eu sinto como se estivesse me enganando. Porque eu sei que a qualquer momento tudo isso pode acabar, e você com certeza vai querer um relacionamento mais sólido e... Vitor coloca seus dedos nos lábios de Amélia, fazendo com que ela pare de falar. - Chega, Amélia. Eu posso entender tudo. O Max, seus filhos, até sua insegurança a certo ponto. Mas presta atenção em mim. Eu nunca, NUNCA te trocaria por mulher alguma, ainda mais nesse momento. Vitor a segura pelos braços, a olha com ternura e depois toca seu rosto: - Você é a mulher da minha vida. Eu nunca disse nada em vão. E eu sei que você sente isso quando estamos juntos. Não sente? Me responde. Amélia, quase chorando, levanta seu rosto e retribui o toque de Vitor, segurando sua mão: - Você não sabe o que anda passando pela minha cabeça. Eu sei que eu estou errada, mas eu cheguei num ponto de não saber de mais nada, de me confundir, de sentir medo por estar vivendo esse amor sozinha. - Amélia, você sabe que eu te amo. - Vitor diz desesperado ainda segurando seu rosto. - Eu sei, eu sei. Me perdoa. Eu tô desesperada, eu não sei mais o que fazer, o que pensar. Amélia começa a chorar e Vitor diz: - Calma, meu amor. Com relação a isso, a Nancy, ou qualquer outra mulher, você nem precisa pensar em se preocupar. Eu passei esses dias todos só pensando em você... pensando em te ver de novo - Vitor então chega ainda mais perto - ...em te beijar, em te tocar, em ficar do teu lado, nem que fosse só por alguns minutos. Amélia sente a respiração de Vitor cada vez mais próxima e por um momento ela lembra que eles estão na fazenda e que Max ou qualquer outra pessoa poderia chegar a qualquer momento e flagrar os dois: - Vitor, não - Ela se afasta de Vitor com dificuldade e suplica pra que ele vá embora - Por favor, vai embora agora. O Max ou a Manuela podem aparecer por aqui, até a Lurdinha. A gente não pode piorar as coisas. Vitor se aproxima de novo e segura seu braço suavemente: - Então me diz que esse mal-entendido todo tá resolvido. Que nós vamos descobrir juntos uma maneira de sair dessa situação... - Vitor a olha fixamente. - Hein? Amélia respira fundo e diz: - Tudo bem. Eu também já não aguentava mais ficar longe de você. Dormia e acordava com o celular do meu lado. A aflição era maior ainda. Vitor sorri: - Você não sabe o quanto eu tô... nossa, aliviado. Se quiser eu nunca mais converso com a Nancy, ou com qualquer outra mulher - Vitor continua olhando-a fixamente e ela sorri - Só você me interessa Amélia. Só você... Amélia acaricia o rosto de Vitor e diz: - Não quero nada disso. Agora eu só quero que você vá embora, por favor! - Tá, eu vou indo. Te espero hoje mais tarde na estalagem então? - Eu vou amanhã cedo pra cidade. - Só amanhã?

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- Vai, Vitor! - Amélia empurra Vitor e ele caminha para a saída. Quando Amélia se vira e se aproxima de uma parte mais vazia do jardim, Vitor retorna e a puxa para perto dele. Os dois, com os corpos muito próximos e ofegantes, se entrelaçam num abraço desesperado, e as árvores ao redor os escondem no jardim da fazenda. - Me beija, Amélia. – Vitor pede com a voz cheia de desejo. Amélia, rendida nos braços de Vitor, não resiste e aproxima seu rosto junto ao dele. Ele então a puxa com força e os dois, movidos pela saudade e pela paixão, se beijam intensamente, e por alguns instantes Amélia esquece de todo o perigo e se entrega totalmente, alternando suas mãos entre os cabelos e os braços de Vitor. O beijo dura algum tempo, até ela se desprender com dificuldade. Ainda ofegante, ela diz: - Vitor, você é louco. E eu tô ficando também. Pelo amor de Deus, vai... Vitor sorri e solta os braços de Amélia. - Tchau, meu amor. Te espero amanhã, hein. Amélia sorri ainda sem graça e sob efeito do beijo passa as mãos nos lábios e olha para os lados. De repente, Vitor volta e diz baixo: - Esqueci de uma coisa - Amélia se vira assustada, e ele então dá um selinho rápido e sai correndo. Amélia diz sozinha, sorrindo, olhando novamente por todos os lados da fazenda: - Meu Deus, é maluco! E se... depois da reconciliação tivesse outra reconciliação? (continuação do texto anterior)

Amélia passa o dia todo pensando na surpresa que foi seu encontro com Vitor naquela manhã e nem consegue perceber a presença de Max na hora do almoço: - O que tá acontecendo com a modelo-manequim? Perdeu a fome de vez, é? - Me deixa em paz, Max. Perdi a fome, sim, vou subir. - Que é isso, mulher, volta aqui. - Vou ver o Fred na estalagem. Faz tempo que não vejo o meu filho, e você deveria fazer o mesmo de vez em quando, parece que você esquece que é pai. Ainda mais agora, com essa possibilidade de ter um outro filho, não é? Será que você vai dar conta, Max? Max fecha a cara e não consegue responder Amélia, sendo abandonado na mesa pela mulher. Amélia sobe para o quarto, toma um banho e se arruma para ir até a cidade. Chegando em Girassol, Amélia pára seu carro em frente a uma loja de artesanato. Ela fica encantada com a quantidade de matéria-prima que encontra e seu pensamento vai longe. Nesse instante ela sente seu ombro sendo tocado por alguém, que sussurra em seu ouvido: - Oi, meu amor. - Vitor! - Amélia diz trêmula e assustada, olhando para os lados. - Que surpresa você aqui, pensei que você viesse só amanhã - Vitor abre um sorriso enorme e não pára de fitar Amélia com os olhos cheios de paixão. - Pára com isso! As pessoas vão reparar, Vitor. - Tá bom! Mas me fala, você tá fazendo compras? Posso ajudar?

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- Não, só estou dando uma olhada. Depois te conto melhor, te encontro na estalagem. - Tudo bem... Vou indo pra lá. Não demora, hein! - Vitor sorri novamente e a olha de cima abaixo, com um olhar maravilhado. Naquele momento Max passa de carro pela cidade e avista os dois conversando. Fala consigo mesmo, parando o carro mais longe: - Amélia, Amélia... Nessa hora, o delegado aparece e o aborda: - Max Martinez, que surpresa! Veio fazer uma visita ao povo de Girassol? O que você manda, amigo? Max se assusta e diz, ainda com um pouco do olhar voltado para Amélia: - Ah, Geraldo! Como não? Vim aqui visitar os amigos, saber como anda aquela nossa pendência. - Claro, Max, vamos conversar, tenho novidades. Max, preocupado, reparando em Amélia e Vitor, gagueja ao falar com o delegado: - É... entra aí no carro, vamos pra fazenda. O delegado olha para Vitor e Amélia, percebe o nervosismo de Max e entra no carro. Max liga o motor e segue lentamente para a fazenda, não tirando os olhos da mulher. Geraldo começa a rir discretamente. Enquanto isso Vitor vai embora e Amélia ainda continua na loja sem perceber que o marido a observava. Depois de um tempo, ela agradece as atendentes com um pacote nas mãos e segue até a estalagem, onde encontra Terê. - Oi, Terê, tudo bem? - Amélia! Que bom te ver por aqui. Como vai? - Tudo bem. Melhor do que estava naquela minha última visita... Me desculpe ter feito você escutar tanta coisa, Terê. É que ando tão nervosa. - Imagina, Amélia - Terê segura as mãos de Amélia - Amigas são pra essas coisas, pode contar sempre. - Obrigada, querida. É... - Amélia não consegue terminar a frase, aparentando nervosismo, ela aponta para os quartos ao fundo. - Sim, o Vitor está no quarto dele. - Obrigada, Terê, então eu... vou... - Sim, vá até lá. Terê sorri, fica olhando Amélia se afastar e pensa, preocupada: - Tomara que esses dois se acertem em breve, tomara. Amélia está indo para o quarto de Vitor quando escuta a voz de Nancy se aproximando. Ela então corre para frente do corredor e se esconde atrás de uma pilastra maior e observa Nancy parar em frente ao quarto de Vitor. Nancy fica pensativa e decide bater. Ele abre a porta, sem camisa, com um sorriso enorme e quase diz o nome de Amélia. Quando percebe que é Nancy, se assusta: - Nancy? - Oi, Vitor - Nancy olha para ele de cima abaixo, com um olhar “devorador” - Tudo bem? Desculpa aparecer assim, eu na verdade tava indo ver o Pimpinela, aí resolvi passar aqui, ver se você melhorou. - Se eu melhorei?

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- É, você tava tão tristinho, pensei até que tava doente. - Ah... não, não. Eu tô ótimo, tava só um pouco indisposto, mas já passou. Obrigado, Nancy, pela... preocupação. - Imagina, quando você precisar, já sabe, né? Tô aqui! - Nancy começa a rir e a passar as mãos no cabelo, olhando para Vitor. - Bom, Nancy, acho melhor eu entrar, eu tava indo tomar banho e... - Ah é, percebi - Nancy começa a rir olhando para o peitoral de Vitor - Então, tchau. Ela dá um beijo no rosto dele e se afasta, indo até o quarto de Pimpinela. Vitor fecha a porta e Amélia espera alguns minutos, respira fundo e vai até o quarto dele, se preocupando em não ser vista por ninguém. Ele abre a porta sem paciência, pensando que era Nancy novamente: - Oi, Nan... Amélia? - Oi. Posso entrar? Vitor abre um enorme sorriso e diz: - Cla... claro... Tava te esperando! Amélia entra e ele fecha a porta, com uma toalha amarrada na cintura e sem camisa. - Eu estava vindo te encontrar quando vi a Nancy bater na sua porta. - Amélia... - Não, não precisa dizer nada. Eu não pensei nada, de verdade. Sei que é normal ela estar gostando de você. Vitor se aproxima de Amélia, segura seu rosto em suas mãos: - A Nancy não faz a menor diferença pra mim. Você não é só uma aventura, Amélia. Eu quero você. Eu quero que VOCÊ bata na porta do meu quarto, eu quero que VOCÊ me aborde todos os dias na rua. Eu quero que VOCÊ olhe pra mim, e que VOCÊ goste de mim. Amélia olha Vitor com carinho e sorri tocando em suas mãos: - Eu não consegui esperar até amanhã. Precisava te ver. - Eu também tava morrendo de saudade. Eu esperava tanto pra ficar sozinho com você de novo. Não suporto mais ficar um segundo longe, sem sentir seu perfume... - Vitor se aproxima mais de Amélia, a segura pela nuca e fechando os olhos começa a beijar lentamente vários pontos do seu pescoço - Sem te beijar... Os dois então se aproximam cada vez mais, Amélia também fecha os olhos e sente o corpo de Vitor perto do seu e não resiste ao beijo, que dessa vez é mais desesperado e urgente. Ela segura o rosto de Vitor e pára o beijo: - Vitor, me escuta. Eu queria te explicar melhor o que aconteceu, o que eu ando pensando em fazer. Vitor pára de beijá-la, um pouco relutante, e eles se afastam. - O quê? Amélia se recompõe e anda um pouco aflita pelo quarto: - Bom, eu queria primeiro que você me perdoasse por ter terminado daquela maneira, pelo telefone. Se eu falasse tudo olhando nos seus olhos... - Amélia o olha com tristeza e carinho - talvez eu não saberia seguir adiante com a minha decisão. Vitor se aproxima e ela o repreende fazendo um leve sinal com a mão para ele escutá-la:

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- E durante esse tempo que decidi me afastar de você, além da minha insegurança, eu pensei em resolver todos os meus problemas dentro daquela casa, com o Max. Decidi que vou sair de lá assim que essa situação com a Manuela e o Solano se resolver... E eu pensei então em me desprender do Max, de não depender mais dele pra nada. Vitor se reaproxima dela e pega suas mãos, animado: - Claro! Que notícia ótima, Amélia. É isso que você tem que fazer, sair daquela casa de uma vez. E quando isso acontecer a gente pode... - Calma, Vitor. Tudo precisa ser feito com calma, sem que aconteça nenhum tipo de consequência que vá piorar a nossa situação. Porque o Max pode estar disposto a fazer qualquer coisa, você sabe bem disso. - Eu sei, mas a gente não pode ficar o tempo todo com medo da possibilidade do Max fazer algo. Claro que temos que tomar cuidado, mas a gente merece ser feliz, Amélia, a gente tem que tentar... Vitor segura o rosto de Amélia novamente, e ela diz: - Eu pensei em investir em alguma coisa. Em ser mais independente, trabalhar. Quando eu estava naquela loja de artesanato eu comprei alguns materiais. Tá vendo essa pulseira? Amélia tira a pulseira de seu braço. - Eu pensei em fazer várias como essa e vender. Eu sei que eu não tenho muitas habilidades, que fiquei muito tempo sem me dedicar a nada e já estou sem idade pra... Vitor faz uma cara incrédula e a interrompe: - Pára com isso, Amélia. Você poderia muito bem fazer muitas coisas, e eu acho ótima a sua ideia. Aliás, que tal a gente fazer uma sociedade? - Sociedade, eu e você? - Amélia diz, com um meio-sorriso nos lábios. - Sim, e por que não? Eu posso entrar com o dinheiro inicial pro negócio e você com a ideia das jóias, pode até chamar alguém aqui de Girassol pra ajudar na confecção. Amélia fica pensativa mas gosta da ideia. - É, mas será que as pessoas vão comprar? Vão gostar? - Claro que sim, você tem dúvidas disso? Não conheço outra mulher além de você que tenha tanto bom gosto. Todas as mulheres de Girassol sonham em ser como você, Amélia. - Ai, Vitor, não exagera. Tô falando sério. - Eu também! Vitor pega a pulseira das mãos de Amélia: - Tudo que você usa é lindo, você inteira é linda! Vem aqui... Ele então coloca a pulseira em cima da cama e a segura forte pela cintura. Amélia abraça o corpo de Vitor e sente o peito dele contra o seu, e se envolvendo no abraço, deixa Vitor conduzi-la num beijo. Ele a beija no pescoço com euforia, sem parar. Amélia não consegue mais resistir e deixa que ele tire sua blusa delicadamente, beijando seu corpo... Ele a deita na cama e os dois já não podem mais resistir ao desejo intenso naquela tarde e se entregam a paixão sem pensar em mais nada. Depois de uma tarde de amor, os dois estão ainda deitados na cama e Vitor diz, com Amélia deitada em seu peito: - Não tô acreditando. Somos nós dois mesmo aqui nesse quarto?

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Amélia passa suas mãos no peito de Vitor com carinho: - Sim! Que loucura, meu Deus, a gente não pode se arriscar tanto assim. - Eu não posso mais fugir disso, Amélia, não consigo mais ficar sem você. Ela respira fundo e fecha os olhos. - Eu também não, Vitor. Mas temos que tomar cuidado ainda. Não quero ser repetitiva, só que nós não temos uma relação normal, não é? - Mas a gente vai ter. Com essa sua decisão tudo muda, e eu vou te ajudar, nós vamos falar com a Manu e o Fred, vamos conseguir nos livrar do Max, da sua insegurança, de tudo. Vitor beija os cabelos de Amélia. Ela se solta de seus braços, segura seu rosto e o olha por um instante, dizendo em voz baixa: - Eu amo você. Ela o beija lentamente, e ele a segura em seus braços, aumentando a intensidade do beijo, depois a segura com força olhando nos seus olhos: - Eu também te amo. E presta atenção, eu nunca vou te deixar, nunca! Vou cuidar de você... - ele a beija suavemente - pra sempre. Amélia sorri e diz que precisa ir embora, já se levantando. Vitor a puxa para ele: - Espera, não. Não vai embora, por favor. - Eu preciso ir, Vitor. Já está ficando tarde. - Promete que volta amanhã? - Não sei. Você sabe que eu ficaria aqui pro resto da minha vida, mas não depende só de mim. - Tá bom. Vem aqui mais um pouco então, só mais 1 minutinho. - Não, nem 1 nem 2 minutinhos, Vitor. Vou me trocar. Amélia se levanta, pega suas roupas e vai para o banheiro enrolada no lençol, enquanto Vitor a olha fixamente, encostado na cabeceira da cama e maravilhado com a imagem que vê: - Você é linda... e minha! Amélia sorri sem graça e fecha a porta do banheiro para se trocar. Saindo do banheiro, ela olha para Vitor que já está vestido de pé, e diz, arrumando sua blusa: - Bom, vou indo, então. Vitor se aproxima, a beija no pescoço e levemente nos lábios, fixando por um tempo sua boca na dela, e depois diz: - Vou te esperar, pra gente combinar nossa sociedade. Pensa nisso. Ela retribui o beijo, olha nos seus olhos e passa suas mãos no rosto dele, desenhando as linhas de seu rosto. E depois diz baixo com carinho: - Tchau. Amélia pega a bolsa e vai em direção à porta. Vitor a deixa ir e a olha partindo, até que pega sua cintura, vira seu corpo para ele, a beija novamente e diz com os olhos cheios de desejo: - Tchau! Ela se desprende dele com um olhar de repreensão, mas sorrindo. Ele sorri mais ainda e a solta, levando as mãos para o alto: - Tá bom, tá bom! Você tá livre... por hoje! - Você não tem jeito mesmo! Amélia sai do quarto, com um sorriso incontido no rosto, sem se preocupar se alguém a olhava. Saindo do quarto, ela encontra Terê:

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- Tchau, Terê. Obrigada! - Tchau, Amélia, boa tarde. Terê sorri, já pensando que os dois se entenderam: - Que Deus ilumine esses dois. Amélia abre a porta do carro, olha pra estalagem sorrindo, e logo na porta aparece Vitor, sorridente, tentando disfarçar – sem resultado - que olhava para ela com paixão. Ela o observa também, com os olhos baixos, e ele pisca discretamente. Amélia liga o carro sorrindo e parte para a fazenda. PARTE II Amélia chega em casa ainda pensando em Vitor, e começa a subir as escadas, quando escuta Max e Geraldo às gargalhadas no escritório. - Mas isso é muito bom! Imagines tu, a cara de bode daquele padreco quando ficar sabendo. - Sim, Max, agora é só esperar a visita da assistente social e pronto. Amélia se aproxima: - Boa tarde, delegado, como vai? Max e o delegado se recompõem assustados e olham para Amélia: - Olá, dona Amélia, tudo bem. E a senhora, como vai? - Tudo bem – Amélia diz com um olhar sério. - Amélia! E então, como fostes com o Fred lá na estalagem, conversaram muito, encontrou outros amigos por lá? - Foi ótimo, eu... eu estou cansada, vou subir. Até mais, delegado, com licença. - Pois não, até mais, dona Amélia. Max logo muda sua feição e irritado comenta com Geraldo, fechando a porta do escritório: - Tu vistes? É brincadeira, viu. - Max, eu vi você nervoso na cidade, quando viu sua mulher com o Vitor. Eu sei que não é da minha conta, mas se você me permite dizer o que penso... - Desembucha logo, o que tu pensas? - Bom, eu sei que o Vitor não vai muito com a sua cara, até te denunciou como culpado pelo acidente do avião dele... Então eu imagino que ele queira ver o caminho livre, se é que você me entende. O delegado começa a sorrir, cinicamente. - Mas... mas, o que estás dizendo aí, hein? Que esse loirinho afrescalhado está querendo se ver livre de mim? Ele que endireite essa crista de moleque. Era só o que me faltava. - Não sei, Max, é o que eu penso... não faz sentido? - É... não sei, não sei. Mas se por acaso esse moleque levantar o topete mais uma vez sobre esse acidente contra mim, tu corre pra me contar, hein? Não deixa de me falar. - Claro, Max. Ele reclamou comigo de novo, parece que ele não anda muito conformado com o resultado da perícia. - Mas o que esse paspalho quer, meu Deus? Contestar a perícia de Goiânia? Era só o que me faltava. Nem o gaúcho tem tanta pulga atrás da orelha como o afrescalhado aquele. - Bom, mas não tem muito o que se fazer. Já fechamos o caso, e é isso.

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- Claro, é isso, é isso. Então, delegado, que fique assim, eu aguardarei aí mais novidades, né, sobre esse caso dos órfãozinhos do padreco comunista. - Qualquer novidade te comunico, Max. Até mais. Max e o delegado se cumprimentam e Geraldo sai. Nesse instante chega Lurdinha: - Seu Max, o senhor aceita um cafezinho? - Sai daqui, seu estrupício. Agora que a visita foi embora tu vens com o cafezinho? Sai daqui. - Ai, licença, seu Max. - Sai, sai. Max fica pensativo sobre o que o delegado lhe disse sobre Amélia e Vitor. - Hum, é bem capaz que seja isso mesmo. Acho que chegou a hora de melhorar o servicinho. Enquanto isso no quarto, Amélia pensa em Vitor e relembra a tarde que passaram juntos. Ela começa a sorrir sozinha quando Manuela entra: - Mãe, mãe? Você tá bem? - O... oi, filha. Você tava aí? - Nossa, o que a dona Amélia tanto pensa com esse sorriso estampado no rosto? Que bom ver a senhora assim. - Não é nada, filha. Eu tava aqui pensando em... - Em quem? Manuela sorri. - Manu... - Amélia diz em tom repreensivo - Eu andei procurando alguma coisa pra me ocupar se caso eu sair da fazenda, me separar do seu pai. - Hum. - Pensei em algum negócio pra ter independência financeira, confeccionar algumas bijuterias. O que você acha? Nesse instante, Max entra no quarto: - Ah, mas que maravilha, não? Agora a modelo, toda elegante, vai começar a vender jóias falsas na cidadezinha de Girassol? Que decadência hein, dona Amélia? - Pára com isso, pai. - Mas é verdade isso, não? E quem é que vai investir dinheiro nessa maluquice aí? O seu amiguinho Vitor, que não tem mais nada pra fazer da vida? Amélia já sem paciência, não consegue se segurar: - Sai daqui, Max, sai daqui. - Calma, tu não precisas ficar assim tão alterada. Vamos ver até onde tu consegues ir com essa baboseira. - Pai, vamos. Vamos embora. Manuela leva Max para fora, deixando Amélia sozinha, que, nervosa, resolve ligar para Vitor. - Vitor. Desculpa te ligar a essa hora. - Oi, meu amor, o que aconteceu? Você tá bem? - Não. Eu sei que pode ser loucura, mas eu preciso te ver urgente. - Claro, calma. Me espera aí no seu quarto que eu chego rápido. - Mas você vem a pé? Não, espera. Deixa pra lá, Vitor. - Am... Amélia, me escuta, calma. Eu vou praí, tá escutando? Me espera. Não, eu vou tomar cuidado, fica tranqüila.

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Vitor desliga e Amélia fica apreensiva. Se arrependendo por ter ligado, se desespera sozinha: - Meu Deus, o que eu fiz? E se o Max descobre? Ela coloca as mãos no rosto e espera Vitor dar algum sinal. Enquanto isso, Vitor está saindo do banheiro, terminando de se arrumar quando encontra Fred no seu quarto: - Vitor, preciso falar com você. Você por um acaso conhece essa pulseira? - Como? - O que a pulseira da minha mãe tá fazendo no seu quarto, Vitor? Vitor se lembra que Amélia havia deixado cair a pulseira quando passaram a tarde juntos. - Calma, Fred. Eu, eu ... só encontrei a pulseira da sua mãe no corredor e guardei pra devolver. - Hum, sei... Eu entrego pra ela, pode deixar. E desculpa aí, ter entrado no seu quarto sem bater, a porta tava aberta. Queria falar sobre essa sociedade sua com minha mãe, a Manu me contou agora há pouco. - Tudo bem, Fred. Eu poderia te explicar tudo melhor agora, mas eu tô muito atrasado pra um compromisso, posso te procurar amanhã? - Tudo bem. Até mais. - Até. Vitor sai correndo e Fred o segue com os olhos e depois olha a pulseira de Amélia, desconfiado. Já são 11 horas da noite e toca o celular de Amélia. - Alô, Amélia? Já tô aqui embaixo da sua janela. Não quis fazer barulho pra não acordar o Max ou a Manuela. Tem como você descer agora? - Meu Deus, Vitor. Toma cuidado, por favor. Já estou indo, me espera mais perto do jardim. - Tudo bem, te espero por lá. Amélia desce lentamente as escadas para não acordar ninguém na casa. Ela consegue chegar até a porta dos fundos da saída, quando de repente escuta um barulho. - Quem está aí? - Sou eu, meu amor. Amélia se assusta e diz sussurrando, nervosa: - Vitor! Que susto. Eu disse pra você me esperar no jardim! - Eu sei, eu sei. É que eu vi você saindo e quis me adiantar, pra gente não perder tempo. Vem, vamos. - Pra onde, Vitor? A pé? - Sim. Acho melhor irmos a pé, mas não se preocupa, que eu te trago de volta. - Meu Deus, Vitor, não. Acho melhor eu voltar, isso é uma loucura. - Calma, Amélia, confia em mim. Vem comigo. Vitor a puxa pelos braços e os dois caminham já para fora da fazenda, sem que ninguém os visse. Amélia e Vitor seguem por uma estrada de terra, e chegam perto dos acampamentos na margem do rio. - Vem, Amélia, vamos sentar aqui. – Vitor avista bancos de madeira logo à frente. - Mas não tem ninguém aqui? Não vão nos ver?

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- Não, calma. Aqui é tranquilo a essa hora. Todos estão na cidade. Agora me diz, o que aconteceu? Os dois se sentam e Amélia enfim se tranquiliza: - Eu não queria desabar todos os meus problemas em cima de você, Vitor, mas acabei de brigar com o Max. Acho que ele descobriu que você pensa em me ajudar com a confecção das bijuterias e foi completamente sarcástico... Vitor, ele vai fazer alguma coisa, eu tenho certeza. - Eu sei, eu sei. Mas a gente não pode ficar desesperado agora, Amélia. Vamos pensar com calma, seguir adiante com o que a gente tinha planejado. Por enquanto são só suposições. Amélia fica nervosa: - Não, Vitor. Não são “só” suposições. A qualquer momento ele vai fazer algo contra você, contra mim. E pode ser tarde demais. - Acho melhor você sair o quanto antes da fazenda. - Agora? Não posso. Eu preciso ficar perto da Manuela nesse momento, eu não posso abandonar tudo assim. Criar mais um problema. - Amélia, eu não vejo outra saída. O Max é perigoso, sim, só que agora o que resta fazer é você pedir a separação, sair daquela casa. Amélia fica pensativa por um instante e diz preocupada: - Meu Deus, não sei o que fazer. - Calma, meu amor. Vem aqui. Vitor levanta Amélia do banco e a leva pelas mãos... - Pra onde a gente vai? - Vem comigo... - Vitor sorri para ela e rouba um beijo rápido. Eles caminham até a mata, e Amélia se preocupa: - A gente vai entrar aqui? Você tá louco! - Vem, Amélia, não diz nada. - Mas... Vitor a beija novamente e a conduz, até chegarem à beira de um riacho. Amélia avista a cachoeira. - Não acredito nisso. Você não tá pensando em... - Bingo! Exatamente. Esse banho de rio vai acontecer agora. Lembra que você tava me devendo? Amélia faz uma cara assustada, sem acreditar que Vitor falava sério e que estavam de frente para a cachoeira. Vitor larga as mãos de Amélia e fica olhando para ela. - O que foi? – Amélia sorri sem graça. - E então? Você não vai entrar comigo, ou vai de roupa mesmo? - Vitor! Pára com isso. Não vou entrar aí. - Não? Sério mesmo? – Vitor vai se aproximando de Amélia com um sorriso levado no rosto. - Vitor, pára... sai. Ele chega mais perto e Amélia tenta o repreender com os braços – sem sucesso. Ele a pega nos braços e a leva até o riacho. - Vitor, me coloca no chão, agora! - Calma... Vitor a leva até a parte mais afastada do riacho, entrando embaixo da cachoeira. - Vitor!!!!!!!!!!

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Os dois se molham embaixo da cachoeira e Amélia não tem mais como evitar. Vitor a solta e Amélia passa as mãos arrumando seu cabelo e bate no peito de Vitor: - Eu não acredito nisso! Vitor dá gargalhadas, adorando a situação e abraça Amélia. - Pronto, agora tenho certeza que você vai esquecer todos os seus problemas. Já ouviu falar que banho de cachoeira lava até a alma? - Seu bobo. Não acredito, Vitor. Eu tô de roupa, como eu vou voltar assim pra casa? - Fica tranquila, aproveita o banho! Amélia respira fundo e se deixa levar pelo momento. Retribui o abraço de Vitor e os dois entrelaçam os dedos, apertando as mãos e aproximando seus corpos cada vez mais. Ele então a beija, solta suas mãos da dela e as prende em seu rosto, a beijando intensamente. Ela desliza suas mãos pela cintura de Vitor, ele então tira a blusa e joga dentro do riacho, beijando o pescoço de Amélia e tirando também sua blusa. Amélia percebe que já não pode resistir aos carinhos de Vitor, mas reluta e afasta-se dele: - Espera, Vitor, não. Aqui não. - Não tem ninguém aqui, Amélia. - Eu sei, Vitor, mas pode aparecer, é arriscado. E, meu Deus, a gente vai ficar doente desse jeito. Você tá todo molhado, eu também. De roupa... - Ah, isso não é problema, a gente tira o resto da roupa. – Vitor sorri. - Pára com isso! Vamos embora, por favor. Já tomamos o banho de cachoeira, já está ótimo, não é? - Tá bom, vai, mas vamos só ficar aqui, abraçados, então. Juro que fico mais comportado. - Chega, Vitor. Vamos... – Amélia vai saindo com dificuldade do riacho de costas para Vitor, até a margem, e ele a abraça com força pela cintura e beija seu pescoço. Amélia fecha os olhos e se vira de frente para ele e os dois se beijam e se abraçam por longos minutos. Nesse instante, aparece um vulto atrás dos arbustos da mata e sem que a vejam, Estela observa o casal na cachoeira e sorrindo se afasta, deixando-os a sós. Os dois, sem perceber a presença rápida de Estela, se separam e começam a se vestir. - E agora? Como vou me secar? - Vem cá, vamos pro acampamento, lá a gente se arruma melhor. Os dois caminham até o acampamento e se sentam no banco que estavam anteriormente. Amélia tira o excesso de água do cabelo e Vitor faz o mesmo. - Calma que já já a gente seca. - Já já? Eu preciso ir embora. Que loucura, não devia ter aceitado isso. Vitor sorri e rouba um beijo de Amélia, que ainda está nervosa. - Vem cá, me abraça que eu te seco rápido. Amélia cede, sem falar nada, e fica parada encostada no peito de Vitor enquanto ele a abraça e acaricia seus cabelos. - Nossa, você fica linda assim, com o cabelo molhado, iluminada debaixo dessa lua. – Vitor sorri e encara Amélia com desejo. - O que eu faço com você? – Amélia sorri sem graça e deixa Vitor beijá-la suavemente.

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Meia hora se passa e Amélia e Vitor decidem voltar para a fazenda. Os dois vão caminhando e conseguem se secar razoavelmente até chegarem. - Acho melhor você ir agora, Vitor. Eu vou sozinha o restante do caminho até a casa. - Não, eu te levo. - Não, ninguém pode te ver. Por favor, não complica, vai indo... - Tá certo. Qualquer coisa me liga. Vitor a puxa contra si, e dá vários selinhos em seus lábios. - Tchau! – Amélia o empurra e retribui os beijos com as mãos que Vitor joga para ela, e segue sorrindo até a casa. Ela entra com cuidado e olha por todos os lados. Finalmente chega até a sala e sobe devagar a escada, quando a luz acende... - Mãe? - Manuela se assusta ao ver Amélia chegar naquele estado. - O... Oi, filha. - Amélia responde assustada, sem saber organizar as palavras. - Onde a senhora estava? Tá toda molhada. - Eu? Ai, filha... Eu estava caminhando e decidi tomar um banho de cachoeira, mas por favor, não diz nada pro seu pai, você sabe como ele é. Acho melhor eu subir rápido pra me trocar, tomar um banho. - Cachoeira? – Manuela diz, com um sorriso desconfiado no rosto. - Vamos subir, filha? - Tá bom, tá bom. Eu não vou falar nada, claro. Vamos subir. As duas sobem as escadas e Manuela continua sorrindo incrédula e entra com a mãe no quarto: - A senhora tava sozinha, é? - Que pergunta, Manu. Claro. Eu ia estar com quem? - Hum, não sei, por isso perguntei. - Manuela ri ainda mais. - Ai, Manu, pára com isso. Vou tomar um banho. – Amélia sai nervosa, rumo ao banheiro, deixando Manu no quarto, ainda rindo com a situação. PARTE III Amélia acorda no dia seguinte ainda com a lembrança do banho de cachoeira. Fica horas sentada na cama com um sorriso estampado no rosto e os olhos brilhando, como se fosse uma adolescente que acabara de se apaixonar pela primeira vez. Em meio a esse tempo, que parecia ter parado para Amélia, batem na porta do seu quarto. Era Max, que abre a porta impaciente e enfurecido: - Que diabos tu tá fazendo nessa cama ainda, mulher? - Isso é jeito de entrar no meu quarto, Max? O que houve? – Amélia diz, levantando-se. - Eu preciso que tu dê um jeito de segurar tua filha Manuela, que deu pra desconfiar agora que o exame de DNA é falso. Onde já se viu isso? - Ah, claro. A Manu me contou ontem a noite sobre isso, e a cada dia que passa eu só tenho mais certeza do monstro que você é Max, se isso for realmente verdade. - E tu acreditas mesmo nessa lorota? Esse gaúcho fica colocando caraminhola na cabecinha de nossa filha, tão ingênua. Tu vai deixar que Manuela cometa um pecado e que desacredite no próprio pai?

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- Pelo amor de Deus, Max. Você é ridículo. Eu já não acredito em mais nada do que você diz, e acho muito bom a Manu e o Fred fazerem esse exame novamente. Nesse instante Manu entra no quarto da mãe e interrompe a conversa: - Pronto, pai. Agora está tudo certo, eu e Fred fomos com o Solano agora cedo fazer um novo exame de DNA no mesmo laboratório em Juruanã. - Como? Como assim? - Isso mesmo, seu Max... Nisso, Max pega o celular e tenta fazer uma ligação. - Pode desistir, se por acaso o senhor vai ligar pro seu amigo do laboratório. Enquanto a gente tava fazendo o exame ficamos sabendo que ele foi demitido por justa causa. Uma pena, não é? Amélia fica atordoada com o que ouve de Manuela: - Meu Deus, Manu, então... - Sim, dona Amélia, tudo indica que o seu marido pagou pra fazerem um trabalho sujo. Contra a própria filha. - Não, não. Mas o que é isso? Aquele gaúcho é que fez tua cabeça... - Pára, seu Max, pára! Já chega. Com o resultado novo de DNA nós vamos ver quem tentou fazer a cabeça de quem aqui. Vou indo embora, porque não aguento mais ficar na sua presença. Amélia olha com tristeza Manu saindo do quarto: - Filha... Max se enfurece: - Mas o que é isso... Amélia, segura tua filha, segura. - Max, você conseguiu. Seu reinado está perto do fim, e junto com ele, todo o respeito que a sua filha ainda tinha por você. - Isso é uma calúnia, tu não percebes, Amélia? - Eu percebo que você é um grande manipulador. Já chega disso tudo, eu tenho nojo dessas suas artimanhas, nojo! - Mais respeito comigo, eu sou teu marido! Max se exalta e Amélia, que está de pé diante dele, leva um susto, com o quase tapa que Max insinua lhe dar, mas que contém. - Bate, Max, anda. Tá esperando o quê? - É o que tu mereces. Mas não vou fazer nada, ainda. Entendeu bem? Ainda. Amélia se apavora e nervosa, grita: - Sai daqui, Max, sai! Max se retira do quarto com os olhos cheio de ódio. Amélia começa a chorar, se sentindo pressionada pela situação e pelas ameaças já não tão veladas de Max. Ela pega o celular para ligar para Vitor: - Ai, Vitor, atende esse celular... Vitor não atende o celular e Amélia desiste de insistir e assim que Max vai embora ela desce para tomar seu café da manhã: - Bom dia, dona Amélia. A senhora vai querer Mané Pelado? Fiz agorinha. - Não, Lurdinha, vou só tomar um suco rápido, preciso sair. Amélia sai de casa apressada e entra em seu carro, rumo à estalagem. Enquanto liga o motor, a porta do carro abre e Max entra: - Aonde é que minha mulher vai tão apressada assim? Amélia se assusta: - Max? O que você tá...

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- Vais pra cidade, é? Ultimamente tu andas indo tanto à cidade, assim a noivinha do teu filho vai ficar com ciúmes da sogrinha pegajosa. - Me poupe, Max. Com licença, você quer por favor sair do carro. Max segura Amélia pelo braço, mudando o tom de voz: - Tu ficas quietinha que nós precisamos ter uma conversinha. - Max, me solta, você tá me machucando! Ele a solta e diz em tom ameaçador: - Olha aqui, agora tu presta atenção no que vou falar, dona Amélia. Hoje a noite tu vais sair comigo pra jantar. Quando eu chegar da lida quero ver a minha mulher bem formosa, perfumadinha só pro marido. Tu entendeu? - Jantar, Max? Como assim? - Vou fazer uma surpresa pra ti. Não aceito não como resposta. Agora tu podes ir pra cidade visitar o teu filho, tua nora, o passarinho azul – Max a encara com os olhos, com um sorriso sarcástico no rosto e sai do carro. - Meu Deus. – Amélia coloca a mão no rosto, incrédula com o que acabara de acontecer e teme pelo jantar misterioso, seguindo nervosa para a estalagem: - Oi, Terê, como vai? - Bom dia, Amélia! Tudo bem e você? - Um pouco nervosa, como sempre! O Vitor tá aí? Não consegui falar com ele pelo celular. - Sim, ele tá no quarto. - Obrigada, Terê. Amélia está indo para o quarto de Vitor e bate na porta, quando de repente aparece Fred e a flagra: - Dona Amélia. Veio visitar o Vitor? Vitor abre a porta e se surpreende. Amélia treme ao falar: - O... oi, filho. Tudo bem? - E então, mãe? Veio visitar o Vitor? Amélia olha para Vitor parado na frente do quarto, estático, e depois para Fred, e fala nervosa: - Sim, é... eu queria falar com o Vitor sobre um negócio que eu queria fazer e como ele é empresário, entende sobre o assunto, eu... - Mãe, por favor... Vitor fica sem saber o que dizer e olha para Amélia, como se estivesse a incentivando a abrir o jogo para Fred. - Filho, a gente precisa conversar. - Também acho, dona Amélia. Vamos pro meu quarto. Vitor inconscientemente diz: - Fred, eu... - Tudo bem, Vitor, vou conversar com minha mãe, depois a gente se fala. - Tá certo... Amélia? Amélia o olha com ternura e tenta tranquilizar a situação: - Tudo bem, Vitor... Fred e Amélia chegam no quarto e se olham quietos até que Fred começa a conversa: - Mãe, vem aqui, senta. – Os dois se sentam frente a frente e Fred segura suas mãos:

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- Eu sei que a senhora tem alguma coisa pra me dizer, por favor, confia em mim. Você e o Vitor... - Ai, meu filho, eu já não posso mais esconder isso de você, da Manu. Mas eu não encontrava uma maneira pra dizer tudo isso a vocês. Eu tinha medo de vocês não aceitarem, de não entenderem. - Então é verdade? Você e o Vitor estão tendo um caso? - Não é um caso, Fred. Eu e o Vitor estamos apaixonados. E eu não pude fugir disso, entende? Fred fica sem reação, só olhando para a mãe, ainda surpreso. - Eu não consigo levar isso adiante, em paz, sem que você e a Manuela aprovem. Você ficou chateado, não é? Eu sei que o Vitor tem a sua idade e... - Mãe. Eu não vou dizer que eu não tô surpreso com isso tudo. É difícil pra mim, mas eu percebo que a senhora tá feliz e... e é isso que eu quero. Que a senhora seja feliz, dona Amélia. – Fred sorri para a mãe. Amélia se emociona e dá um abraço no filho. - Ai, Fred, você não sabe o quanto eu precisava desse apoio, desse desabafo. Eu não escolhi me apaixonar justamente pelo Vitor, mas aconteceu. - Tudo bem, mãe, eu entendo. É complicado, porque o Vitor é seu ex-genro, não sei o que a Manuela vai achar disso. - Pois é, eu espero que ela compreenda. Nada foi premeditado e aconteceu depois da separação deles. Eu preciso muito do apoio de vocês dois, pra superar tudo que eu venho passando com o pai de vocês... - Sim, a senhora merece ser feliz ao lado de um homem que a respeite, que a ame como a senhora merece. - Obrigada, meu filho! – Amélia o olha com ternura e beija suas mãos com carinho. - Eu sei que o Vitor tem praticamente a minha idade, mas eu passo por uma situação parecida, né? A Janaína descobriu antes de mim e me abriu os olhos pra isso. - Sério? Sabe, filho, eu tenho um carinho muito grande pela Janaína, e não me surpreendo com isso. Agradeço muito a vocês dois. - E o Vitor? Ele anda cuidando bem da senhora? Amélia sorri sem graça: - Sim, pode ficar tranquilo. - Vou ter uma conversinha com ele depois! – Fred sorri junto com a mãe, os dois se levantam e se abraçam novamente. Amélia e Fred saem do quarto e encontram Vitor andando de um lado para o outro no corredor. Quando ele os vê, fica estático esperando alguma reação. Fred diz sério: - Vitor. Precisamos ter uma conversa. Vitor nervoso diz: - Cla... claro. A gente pode conversar ali na Terê, não sei... Amélia interrompe os dois: - Eu vou até a casa da Pérola, então, e volto logo. - Tudo bem, mãe. Fred dá um beijo no rosto de Amélia, que sai na frente e olha Vitor um pouco preocupada: - Tchau, Vitor. Vitor a olha ir embora, nervoso, até a hora que Fred o desperta:

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- Então, Vitor, vamos? - Vamos, vamos. Os dois sentam à mesa: - Vitor, a minha mãe já disse tudo sobre vocês dois. - Sério? Então... - Olha só, Vitor, eu não aceito. - Não? - Eu não aceito... que você se descuide um segundo sequer da minha mãe, entendeu? Vitor abre um sorriso, aliviado. - Claro, Fred, você pode ter certeza que isso nunca vai acontecer. - Acho bom mesmo, cara. Tô de olho em você, hein. - Nossa, você não sabe o alívio. Obrigado, Fred, a gente precisava muito que você entendesse... entendesse que nós nos amamos de verdade. - Eu sei, Vitor. Eu vejo isso nos olhos da minha mãe, vejo que ela tá realmente feliz do seu lado. E é isso que importa. Vitor sorri ainda mais, se levanta um pouco da cadeira e dá um leve tapa no ombro de Fred. - Cara, obrigado mesmo, pode ficar tranquilo que a sua mãe é a pessoa mais importante na minha vida, e eu vou fazer o possível pra recompensar tudo que ela perdeu e sofreu durante tanto tempo. - Tá certo. Eu acredito em você, Vitor. Percebi que você mudou muito e realmente parece gostar muito da minha mãe. - Eu amo sua mãe. Fred sorri ainda desconcertado: - Bom, preciso trabalhar, tô cheio de coisas pra fazer. Toca aí, cara. Os dois se cumprimentam com as mãos, se levantam e dão tapas nas costas. - Até mais. - Falou, cara, obrigado mesmo. Vitor sorri ainda desacreditado e fica parado com as mãos no bolso, vendo Fred ir embora. O tempo passa e a manhã acaba. Amélia chega da casa de Pérola e vai direto para a estalagem falar com Vitor, que está na varanda esperando por ela, impaciente. Quando o carro estaciona, Vitor sai correndo: - Amélia! Amélia sorri para ele: - Vitor! Nem tô acreditando, me sinto tão bem. O Fred falou com você? Como foi? Vitor a puxa pelas mãos e eles sentam do lado de trás da estalagem, longe do movimento. - Foi ótima a conversa, Amélia. Eu sabia que o Fred ia entender. - Ai, que bom! Ele foi tão compreensivo, fiquei tão feliz. - Pronto, agora a gente já deu o primeiro passo. Falta a Manuela, e tudo vai ficar mais fácil pra você, pra nós dois. – Vitor a olha com carinho. - Sim. Tomara que a Manu reaja bem. - Ela vai entender, tenho certeza.

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Amélia sorri e toca o rosto de Vitor suavemente, mas logo retira as mãos, com medo que alguém os vejam. - Vitor, você me acompanha até o armazém da Janaína? Pensei em mostrar pra ela algumas bijuterias que eu e a Pérola fizemos. Ela vai me ajudar, não é ótimo isso? - Claro, meu amor! Que notícia maravilhosa. Quero ver também. - Vamos até lá, mostro pra vocês dois. Os dois seguem até o armazém de Janaína, que os recebe muito feliz, já a par da conversa que tiveram com Fred: - Dona Amélia, Vitor. Que bom ver vocês aqui. Já fiquei sabendo das novidades. Amélia a abraça: - Janaína, como vai? Primeiro de tudo queria agradecer você, pela força, por ter intercedido a meu favor conversando com o Fred. - Imagina, dona Amélia. Quer dizer... Amélia. Eu entendo muito bem a situação de vocês e quero muito que vocês dois sejam felizes. – Janaína diz em tom baixo para não escutarem. - Obrigado, Janaína, isso foi muito importante pra nós dois. – Vitor diz sorrindo. - Que é isso! - Bom, Janaína, na verdade eu queria pedir um favor pra você também. - Claro, em que eu posso ajudar? Amélia explica toda sua ideia da confecção de bijuterias e o conceito, e Janaína fica encantada. - Adorei a ideia. Tenho certeza que vai ser um sucesso. - Então, eu e a Pérola confeccionamos algumas amostras, queria que você desse sua opinião, como consumidora! Amélia lhe entrega uma pulseira feita com materiais indígenas com detalhes folheados a ouro: - Que lindo! Posso experimentar? - Claro! Era isso mesmo que queria, pode experimentar. - É maravilhosa, Amélia. De verdade, você tem muito talento. Vitor pega o braço de Janaína e fixa os olhos na pulseira, maravilhado, dizendo empolgado: - Lindo demais! Ficou maravilhosa, Amélia, tenho certeza que todas as mulheres desse Araguaia e do mundo vão brigar pra ter uma dessas. Amélia sorri animada: - Ai, sério mesmo? Eu tô tão empolgada com isso tudo, vocês nem imaginam. Será que vai dar certo? - Claro, Amélia – Janaína diz olhando a pulseira – É maravilhosa mesmo. Tenho certeza que vai ser um sucesso. - Fica com essa pra você, Janaína. Muito obrigada mesmo, por tudo. – Amélia pega as mãos de Janaína, agradecendo. - Nossa, pra mim? Muito obrigada, Amélia! Amélia sorri e nisso chega Fred. - O que as mulheres da minha vida estão fofocando? - Oi, filho! Estava aqui contando pra sua noiva sobre um negócio que estou investindo. - Negócio? A senhora agora vai virar empresária como o Vitor? Vitor diz sorrindo: - Praticamente isso. Na verdade sua mãe vai ser empresária “junto” comigo!

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Fred os encara com dúvida: - Como? Janaína interrompe a conversa dos dois: - Fred, que tal nós conversarmos lá em cima, nós quatro. O almoço já está pronto, a gente aproveita pra fazer um brinde com as novidades todas que aconteceram. - Ótima ideia, meu amor. Vamos lá que eu estou com fome e curioso! Vitor e Amélia se olham e aceitam o convite de Janaína. Chegando lá, todos se sentam à mesa e conversam sobre o novo investimento de Amélia. Fred aprova: - É, dona Amélia, agora a senhora é uma mulher independente e eu fico muito feliz por isso. - Obrigada, meu filho – Amélia sorri e toca a mão do filho com carinho. Vitor interrompe e diz: - Vamos fazer um brinde então? Todos concordam e prestam atenção no que Vitor tem a dizer: - Primeiro eu queria brindar à vida, por ter me presenteado com tudo que me aconteceu depois daquele acidente, a chance que tive de recomeçar, de ser alguém melhor, e acima de tudo, de conhecer essa mulher maravilhosa. – Vitor olha Amélia com amor e ela retribui emocionada. Janaína sorri: - Ai, que lindo! Um brinde! Todos brindam felizes. E Fred também resolve falar: - Bom, eu queria também fazer um brinde à felicidade dos casais apaixonados aqui presentes nesse almoço tão especial e às mulheres que fazem e fizeram da minha vida, a melhor possível. Vitor concorda: - Isso aí, Fred. Um brinde às mulheres dessa mesa. Vitor dá um beijo em Amélia e Fred também beija Janaína. Nesse momento Manuela chega ao armazém e pergunta de Fred para Bruno. - Ele tá lá em cima com a minha mãe e a sua mãe também tá lá. - Sério? Posso subir, então? - Claro, sobe lá. Manuela sobe e de repente vê Vitor e Amélia abraçados e se assusta: - Nossa, que confraternização toda é essa? Amélia logo se solta de Vitor, assustada, e se levanta: - Filha?! O que você tá fazendo aqui? - Eu vim falar com o Fred. – Manuela diz com um olhar de dúvida para a mãe, desviando logo para Vitor: - Oi, Vitor. - Oi, Manu, tudo bem? - Tudo... É... Fred. Eu vim até aqui falar que o exame fica pronto amanhã mesmo, acabei de ligar pro laboratório. - Que bom, Manu. Vamos juntos buscar amanhã cedo então e resolver logo tudo isso. - E vocês não vão me contar o motivo dessa festa toda? Por que não fui convidada? Todos se entreolham sem saber o que dizer. - Ihhh, o que foi, gente? – Manuela sorri.

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- Nada, filha, a gente tava falando sobre aquela minha ideia das bijuterias, a Janaína adorou a ideia também. - Hum. Eu achei ótima também. - Olha só a pulseira que sua mãe fez junto com a Pérola. Não é linda? - Maravilhosa, mãe! A senhora tem mesmo jeito pra isso. Eu sempre apostei. - Obrigada, filha. - Mas era só isso mesmo que vocês comemoravam? Fred olha pra mãe, pedindo com os olhos que ela conte logo à Manu. Vendo que a mãe não se prontifica, ele diz: - Manu, vem aqui. Fred leva Manuela até a parte de baixo do armazém, que não entende nada. Enquanto isso Amélia fica nervosa e Vitor tenta acalmá-la em um abraço. - Que foi, Fred? O que aconteceu? - Calma, maninha. O assunto é um pouco complicado e a dona Amélia não ia ter coragem de contar na frente de todo mundo. - Ai, meu Deus, o que aconteceu? - É o seguinte, Manu. Lembra que a gente tava desconfiado que a nossa mãe poderia estar tendo um caso? - Sim... Peraí, Fred... Você ta querendo dizer que... - A nossa mãe e o Vitor estão juntos. Manuela coloca a mão na boca, surpresa. Depois de se recuperar do susto, Manuela diz: - Eu imaginava um pouco, mas te juro que não esperava exatamente isso. Quando eu vi os dois agora abraçados eu estranhei... - Então. Nós conversamos e eu vi que os dois estão mesmo apaixonados. - Meu Deus. - Mas e você, Mané? O que você ta sentindo com essa notícia? - Eu tô surpresa, mas não sei... - Calma, Manu. Nossa mãe disse que eles se apaixonaram depois que você e o Vitor terminaram. - Não, nem cheguei a pensar nisso, Fred. É estranho, mas eu não sinto mais nada pelo Vitor há muito tempo, e eu só quero ver nossa mãe feliz. E pelo jeito o Vitor tá fazendo muito bem a ela, né? - Sim, eu notei isso. E apoiei. - Claro. Independente de quem seja, o que interessa é que ele tá cuidando bem da dona Amélia... E ele mudou tanto também. - Vamos lá? Conversar com eles? - Nossa! Vamos! Os dois sobem e Amélia e Vitor estão separados e apreensivos, esperando a reação de Manuela. Ela se aproxima da mãe, com o olhar sério e pega suas mãos. Amélia, nervosa, diz, atropelando as palavras: - Filha, olha, se você não entender, tudo bem, o que me interessa são vocês, se você não aceitar eu... – Nesse momento Vitor a olha com tristeza e Amélia abaixa os olhos. - Pára com isso, mãe. Olha pra mim. Eu quero que a senhora seja feliz, entendeu? Promete pra mim que vai ser feliz? Amélia sorri e chora ao mesmo tempo, abraçando Manuela por alguns minutos. - Obrigada filha, obrigada! Eu prometo! Todos olham sorrindo.

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Depois de um tempo de conversa, Amélia, Vitor e Manuela decidem ir embora. Amélia vai até a estalagem com Vitor se despedindo dos filhos e agradecendo a Janaína pelo almoço. Chegando no quarto, Vitor fecha a porta enquanto Amélia continua contando animada sobre as pulseiras que pretende confeccionar. - Aí eu pensei em juntar também algumas miçangas indígenas que eu vi outro dia na loja de artesanato... Amélia pára de falar e olha Vitor, que está sério e triste. Ela se aproxima e coloca suas mãos no rosto dele: - O que aconteceu? Vitor olha para baixo fazendo com que as mãos de Amélia se soltem de seu rosto: - É que... quando você estava falando com a Manuela, você deu a entender que abriria mão da gente se caso ela não aceitasse nosso relacionamento... - Vitor. Olha pra mim – Amélia pega as mãos de Vitor – Eu ia sim dizer isso, porque meus filhos são tudo na minha vida, você sabe disso. Ia ser difícil, mas se por acaso eles pedissem que eu me afastasse de você, eu o faria. Vitor não consegue olhar para Amélia e desprende suas mãos. - E se isso acontecesse? Você ia se afastar mesmo de mim, de novo? - Ia. Mas não sei se ia conseguir manter isso por muito tempo. Da última vez você sabe bem que foi impossível. Vitor a olha fixamente e chega mais perto, segurando seu rosto: - Eu amo você – Ele se aproxima cada vez mais e a beija devagar. Ela retribui e os dois vão caminhando para trás, até que Vitor a encosta na parede, deslizando suas mãos pela cintura de Amélia e trazendo seu corpo com força para perto. Seus lábios vão deixando os de Amélia, percorrendo todo seu rosto até chegar ao pescoço. Amélia abraça Vitor e o segura com as duas mãos, apertando o corpo dele contra o seu enquanto ele beija seu pescoço com fervor. Vitor coloca uma das mãos de Amélia na parede e vai desfazendo o laço de seu vestido enquanto a beija intensamente. De repente, alguém bate na porta, e os dois se assustam. - Quem será? Você tá esperando alguém? – Amélia se recompõe arrumando sua roupa. - Não. Deve ser a Terê... Mas acho melhor você ficar no banheiro. – Vitor ainda eufórico, faz uma cara de insatisfação e espera Amélia entrar no banheiro para então, abrir a porta. Amélia pega sua bolsa, vai até o banheiro e fecha a porta enquanto Vitor abre e se depara com Max Martinez. Quando Amélia escuta a voz do marido, ela gela, e seu coração dispara. - Vitor Villar! - Max? O que faz aqui? - Posso entrar nesse teu quartinho? Vitor hesita mas acaba abrindo espaço para Max e olha ao redor para confirmar se Amélia não deixou nada que a entregasse no quarto. - E então, Max Martinez? Em que eu posso ajudá-lo? - Pois então, rapaz, eu fiquei sabendo aí que tu pensas em ajudar “minha” mulher a fazer aquelas baboseiras de capim dourado de não sei o que? Max frisa a palavra “minha” para Vitor.

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- Sim, é verdade, Max. Eu me ofereci a ajudar a Amélia, acredito que vai ser um bom investimento. Por quê? Tem medo da Amélia ficar mais rica do que você? – Vitor sorri e joga um olhar sarcástico e de ódio para Max, que gargalha: - Ah, mas o que é isso, Vitor? Tu pensas mesmo que isso vai dar mais lucro que aquele teu frigorífico? Tu tá mesmo maluco das ideias! - Bom, Max, eu estou disposto a ajudar, a Amélia aceitou e é ela quem decide isso. Você quer mais alguma coisa aqui? - Não, não. Era isso. Max começa a olhar por todos os cantos e percebe a porta do banheiro fechada... Começa a andar pelo quarto e passa bem perto de onde está Amélia. Vitor engole em seco. - Bom, já vou indo. Mesmo sem um cafezinho... Até mais rapaz. Depois a gente continua nossa conversinha sobre isso. Vitor responde com um olhar frio. Quando Vitor está indo fechar a porta, Max retorna: - Só mais uma coisinha. Tu sabes onde a Amélia está? Ela saiu cedo pra cidade e não a encontro. - Não sei onde a Amélia está, Max. - Hum. Max olha desconfiado novamente e vai embora. Vitor espera alguns minutos até pedir para Amélia sair do banheiro. Ela sai aflita e olha para todos os lados, perguntando se Max já havia ido embora mesmo. - Calma, Amélia, ele já foi. - Calma, Vitor? Como eu posso ficar calma? Imagina se o Max tivesse aberto essa porta? Você tem noção do que poderia acontecer aqui? - Eu sei, meu amor. Mas ele não descobriu nada, fica tranquila, vem aqui. Vitor a puxa em seus braços e a abraça apertado, beijando seus cabelos. - Meu Deus, Vitor. Eu tô muito nervosa. - Eu sei, eu sei. Olha pra mim. – Vitor se desfaz do abraço e a olha fixamente – Essa situação vai acabar logo, você tem que se separar dele o mais rápido possível. Amélia se solta de Vitor e fala nervosa, andando pelo quarto: - Eu não consigo ainda. Não pode ser assim, a gente tem que agir com cautela, senão você sabe muito bem o que ele é capaz de fazer conosco. - Mas, meu amor, a gente não pode ficar de braços cruzados. Uma hora isso vai ter que acontecer. Amélia pega as mãos de Vitor e diz: - Eu sei. Mas eu preciso de mais tempo, por favor, me entenda. - Tudo bem. – Vitor se solta de Amélia, um pouco chateado. - Eu preciso ir. Será que o Max ainda tá lá fora? - Fica aqui que eu vou ver com a Terê. Seu carro está aonde? - Quando retornamos eu estacionei ele mais longe, atrás do galpão de abastecimento dos aviões. - Certo. Vou ver se o Max tá por lá. Amélia senta na cama, ainda muito assustada. Até que depois de alguns minutos Vitor retorna e ela se levanta nervosa. - A Terê disse que ele já saiu de carro com o delegado. - Certeza?

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- Sim, eu vasculhei bem a área perto do seu carro também, discretamente. A barra tá limpa. - Meu Deus, que situação... Bom, já vou indo então. Vitor entra na frente de Amélia, a olha com desejo e lhe dá um beijo apaixonado. Amélia se solta, lhe dá um beijo suave, passando as mãos no rosto de Vitor e vai embora. Ele a olha partir e fica pensativo. No caminho para a fazenda, Amélia lembra do real motivo que a levou até a estalagem naquela manhã, antes de encontrar Fred no corredor. Ela ia contar para Vitor sobre a proposta de Max para um jantar e da ameaça que ele lhe fez anteriormente. Porém, ela tenta esquecer, acreditando ser mais uma tentativa do fazendeiro de amenizar a situação diante da família, depois do exame falso de DNA. Amélia chega em casa e Max a espera de prontidão na sala: - Amélia! Finalmente chegastes. Já está quase noite. Esquecestes do jantar, é? - Não esqueci, Max, eu vou subir. Onde está a Manu? - Manuela não apareceu ainda, mas deve estar chegando. - Tudo bem. Vou subir. Max a olha subir as escadas sorrindo e fala sozinho: - Não, minha querida, tua filha não vai participar desse jantarzinho. Só vai ser tu e eu. Nesse instante, Manuela liga para fazenda dizendo à Lurdinha que está na casa de Pérola e vai com as jóias para um show na cidade. Ela avisa que vai dormir por lá, pois logo cedo pretende ir até Juruanã com Solano e Fred buscar o resultado do exame de DNA: - Lurdinha, assim que minha mãe sair do banho você dá esse recado pra ela, tá? Não quero que ela fique preocupada. Qualquer coisa liga no meu celular. - Tá bom, Manu, pode deixar que eu dou o recado direitinho pra dona Amélia. Max escuta toda a conversa no telefone do escritório e sorri satisfeito. Ele então grita Lurdinha: - Lurdinha, Lurdinha!!!! - Oi, seu Max, tô aqui. - Olha só, tu vais fazer um jantar maravilhoso agora e depois vai sair com o teu namorado e não precisa voltar tão cedo. - Eu? Mas eu não tenho namorado não, seu Max. - E eu com isso? Tu sai então com aquelas tuas amigas, vai tomar uma cachacinha com elas, mas some daqui. - Mas eu também não bebo não, seu Max. - Lurdinha! Sai daqui agora, faz esse jantar e depois vai pra onde tu quiseres. E pode deixar que eu mesmo dou o recado da Manuela pra tua patroa. - Ah, o senhor tava escutando, é? Que feio, hein, seu Max. - Sai daqui, seu estrupício. E não pisa nessa fazenda tão cedo. - Tá bom, tá bom. Tô indo. Max sorri, já confabulando o plano para sua noite com a esposa e sobe para se arrumar. Passam alguns minutos, Amélia ainda está se trocando quando o celular toca: - Oi, Vitor!

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- Oi, meu amor. Hoje a noite vai ter show aqui na cidade, você acha que consegue vir com a Manuela? - Não sei, a Manu ainda não chegou e o Max inventou uma história de jantar. Acho que ele quer fazer uma média comigo e com a Manuela depois da vergonha que ele passou com esse exame de DNA. - Hum. Bom, tenta vir, eu espero vocês. Qualquer coisa me liga, tá? - Tudo bem. Um beijo. - Um beijo, te amo. - Te amo. Amélia desliga o celular sorrindo e termina de se arrumar. Quando ela desce, vê a mesa pronta, quase um banquete em dia de festa, e se assusta. Nisso, Max aparece por trás e a toca nos ombros. - Amélia! Tu estás divina, linda! E então? Gostou da surpresa que mandei Lurdinha preparar? - Surpresa? Onde está a Manuela, nós não íamos sair? - Ah, pois então. Manuela ligou há umas horinhas atrás dizendo que vai dormir na casa da Pérola e do Cirso depois que voltar de um showzinho lá naquele casebre. - Sério? Ela devia ter ligado pro meu celular. - Deixa disso, mulher, sossega aí que tua filha tá bem. Eu decidi fazer esse jantar aqui em casa mesmo, bem mais aconchegante, tu não achas? Max puxa a cadeira para Amélia, que fica alguns minutos estática, sem saber como reagir. - Anda, tu não vais sentar? - Eu não estou com muita fome, Max, acho que vou deitar. - Senta agora! Max levanta o tom de voz, mudando sua feição e deixando Amélia nervosa, que cede ao pedido do marido. - Então, a Lurdinha caprichou, olha quanta coisa. – Max conversa como se nada tivesse acontecido e muda de repente sua voz, tentando ser carinhoso com Amélia. - Onde está a Lurdinha? Ela não vai nos servir? - Ah não. Lurdinha saiu com o namorado. - Namorado? - É, sei lá. Ela saiu e estamos só tu e eu aqui, meu amor. Isso não é bom? Amélia o encara com ódio e nervosismo ao mesmo tempo. - Relaxa e aproveita o jantar – Max segura na mão de Amélia, que a retira rapidamente. Passa algum tempo, e os dois terminam de jantar. Amélia segue para sala. - Eu vou subir, Max. Estou com dor de cabeça. Max a puxa pelo braço com força: - Onde tu pensas que vai? A noite não terminou ainda. Pelo contrário, tá apenas começando. - Max, larga o meu braço. - Senta aí. – Max a força a sentar no sofá e Amélia não consegue evitar. - O que você quer de mim? - Eu quero você. Tu és minha esposa, não? - Max, pára com isso.

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- Parar com o quê? Tu sabes muito bem que estou no meu direito de marido. E há algum tempo que nós dois não jantamos sozinhos, não bebemos vinho, e outras coisas... - Eu realmente tô com muita dor de cabeça, Max, não me obriga a ser intolerante com você. - Há muito tu estás sendo intolerante comigo. E eu tenho aceitado até muito bem. Mas chega. Cansei disso tudo, dessa tua mudança. - Eu não quero discutir isso. A gente já falou tudo o que tinha pra falar e você sabe muito bem sobre sua situação comigo e com seus filhos. Que não é nada boa, não é? - Pois é exatamente por isso que eu estou aqui tentando me redimir diante de ti, me humilhando, Amélia. – Max tenta ajoelhar aos pés de Amélia, que logo se levanta e faz com que Max se levante também: - Pára com isso. Levanta. Eu não vou mais ceder à esses seus rompantes de arrependimento. Eu não acredito mais em você, Max. - Eu não quero que tu acredites em mim. Eu quero que tu voltes a ser minha mulher. Agora! Max a puxa pelo braço e tenta beijá-la. Amélia reage e tenta se desprender dos braços do marido, que cada vez mais a pressiona, machucando seus braços. - Me larga, Max, me solta. - Tu vais ser minha de novo, entendeu? Nenhuma aventura vai substituir esse casamento que eu construí. Max a força ainda mais e Amélia se solta finalmente dele, se debatendo: - Chega, pára com isso Max! É assim que você quer o meu respeito? É me machucando e me obrigando a ficar do teu lado? Você tá muito enganado. Tenho nojo de você! Max se enfurece e dá um tapa no rosto de Amélia, que desacreditada no que aconteceu, coloca a mão no rosto e o encara indignada. Max fica aflito: - Viu só o que tu fizeste? É culpa tua, eu não queria. Amélia sente vontade de chorar de raiva, mas contém as lágrimas: - Só faltava isso pra tudo acabar, Max. Chega! Essa foi a gota d´água. Eu odeio você, odeio! Amélia sai nervosa em direção a escada e Max a alcança: - Não, não. Tu ainda não acabastes com a minha dignidade. Agora chegou a minha vez. Vem comigo. Max a segura pelo braço, forçando Amélia a subir as escadas. Ela resiste, tropeça algumas vezes, mas o marido consegue ser mais forte e a empurra na cama do quarto da suíte principal: - Tu vais ser minha. Amélia encara Max com medo e teme não conseguir fugir da situação. Ela tenta sair da cama, Max tranca a porta e a encara com ódio: - Não tem ninguém aqui, nem adianta tu gritar ou tentar alguma coisa. Teus filhos, o teu ex-genrinho e nem mesmo a tapada da Lurdinha vão te tirar daqui.- Max sorri. Amélia engole em seco e não consegue chegar até a porta, sendo impedida por Max: - Você tá maluco, Max, me deixa sair daqui, sai da minha frente. - Calma. Tu vais passar uma noite maravilhosa. – Max diz, se aproximando da esposa e a olhando de cima a baixo.

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Amélia começa a chorar e Max consegue enfim dominá-la. Ela - já sem forças - é obrigada a dormir com o marido. Quando tudo acaba, Amélia empurra Max e ele a deixa sair, sem forçá-la a ficar. Ela sai correndo do quarto e vai até o seu banheiro. Enojada com tudo que acabara de acontecer, Amélia não consegue evitar e vomita, como se estivesse jogando fora tudo o que lhe fez mal. Ela resolve então tomar um banho, se sentindo a mulher mais suja e mais humilhada do mundo. Já é quase de manhã e Max desce feliz para tomar seu café da manhã. Lurdinha pergunta como foi o jantar e ele a elogia: - Tu fizeste um trabalho excepcional, Lurdinha, mereces um aumento, hein! - Ai, seu Max, muito obrigada! - Onde está tua patroa? - Ela ainda tá no quarto, seu Max. Quer que eu vá chamá-la? - Não, deixa. Já já ela desce. Amélia está em seu quarto, deitada, sem pregar os olhos desde o acontecido. Ela não consegue evitar as lágrimas e também não tem coragem de ligar para Vitor. Nesse momento, Vitor está na estalagem e encontra Manuela e Solano conversando com Terê: - Oi, Manu, oi, Solano. - Oi, Vitor, tudo bem? - Tudo bem. E aí? Sua mãe não quis ir ao show por quê? Eu vi vocês sem ela por lá, então decidi voltar. - Então, Vitor. Eu liguei lá pra casa e a Lurdinha disse que ela estava tomando banho, estava indisposta. Ela nem retornou minha ligação, acho que devia estar com dor de cabeça, algo assim. - Vou ligar pra ela. Obrigado, Manu. Até mais, Solano. Solano encara Manu, espantado: - É impressão minha ou o Vitor e a sua mãe... - Não é impressão, não. Depois eu te conto com detalhes! – Manu sorri para Solano. - Tudo bem! Fred chega e os três seguem para o laboratório de Juruanã. Amélia espera Max ir embora e desce. Lurdinha a vê com o rosto pálido e uma tristeza evidente no olhar: - Dona Amélia? A senhora tá se sentindo bem? - Tá tudo bem, Lurdinha. Onde está o Max? - Ele acabou de fazer uma ligação no escritório e saiu. - Tudo bem. Eu vou... eu vou sair um pouco, mais tarde eu volto. - A senhora não vai tomar café? Não pode sair assim de barriga vazia, não. - Eu tô bem Lurdinha, obrigada. Eu volto logo. Amélia entra em seu carro e nisso Max a impede de entrar: - Aonde tu vais? - Sai de perto de mim, Max. - Mas o que é isso? Pensei que tu ia acordar feliz da vida hoje.

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- Cala a .... Eu não vou discutir com você. Escuta bem, Max, o que você me fez foi uma atrocidade, foi monstruoso. Se você relar em mim de novo, eu juro que você vai se arrepender amargamente. - Isso é uma ameaça? - Exatamente. Agora sai da minha frente que eu não tenho tempo pra gastar com você, Max, nunca mais. Max abre espaço para Amélia, como se não se importasse. Já saindo da fazenda, sem que Amélia percebesse, um homem a segue. Até a metade do caminho ela não consegue notá-lo, só quando desperta das lembranças terríveis da última noite, ela olha pelo retrovisor e repara que um carro preto a segue há algum tempo. Amélia resolve então parar o carro perto da operadora de Fred, já imaginando do que se tratava o carro desconhecido que a perseguia. Ela estaciona e o carro misterioso pára logo atrás de algumas árvores. Nesse mesmo instante, Fred, Manu e Solano chegam na cidade e param o carro perto de Amélia. Manu desce feliz e logo abraça a mãe: - Mãe! O resultado do exame tá aqui. Imagina o que deu? Eu e o Solano não somos irmãos, não somos mãe!!! - Meu Deus, filha, que notícia maravilhosa, que alívio! Fred e Solano sorriem e os quatro comemoram o resultado. - Pois é, e o seu Max mais uma vez cai do cavalo com as suas artimanhas. – Fred diz com a voz cheia de raiva. - É. E eu cheguei a acreditar por um momento que o Max estava sendo sincero – Amélia fala abatida. - Esse homem é um monstro. Desculpa, mas é isso. Só de imaginar que a minha mãe inventou essa história junto com ele, eu fico revoltado. Preciso falar com ela. – Solano se despede dos três e segue para a estalagem. - Mãe? A senhora tá bem? Está pálida. Ontem não retornou minha ligação. - Retornar? Você deixou esse recado com seu pai? - Não, foi com a Lurdinha. Ela não avisou? - É... sim, ela avisou, mas eu, eu estava com dor de cabeça e acabei dormindo. Fred e Manu se olham, desconfiando que Amélia está escondendo algo. - E a senhora ficou sozinha com o seu Max? Ele não fez nada, não brigou? - Nós brigamos um pouco, filha, como sempre. Mas não foi nada demais. Eu só estou assustada com o que ele pode fazer, ele está um pouco estranho e cheio de indiretas sobre o Vitor. - Como assim, mãe? - Fred pergunta apreensivo. - Bom, a Lurdinha disse que ele fez uma ligação hoje cedo e saiu. Logo depois eu notei um carro me seguindo. Pode ser coisa da minha cabeça, mas... - Você acha que ele pediu pra alguém te seguir? - pergunta Manuela. - Acho... - Cadê esse carro? - Não sei, eu perdi de vista. Quando vocês chegaram ele estava estacionado atrás de umas árvores, logo atrás. Fred fica atordoado: - Vou dar uma vasculhada, fiquem aí. Amélia e Manu seguem até a estalagem, abraçadas. - Ai, mãe, apesar de tudo eu tô tão feliz. Eu sabia que o Solano e eu não podíamos ser irmãos.

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- Eu no fundo também acreditava nisso minha filha. Fico muito feliz por você, de verdade. Elas cumprimentam Terê e logo Vitor aparece: - Nossa, tava tentando ligar pra você desde ontem. – Vitor se aproxima e pega nas mãos de Amélia - Onde você tava, aconteceu alguma coisa? - Oi, Vitor. Não, não aconteceu nada. Você me ligou agora? – Amélia abre sua bolsa tentando achar o celular – Que estranho, eu tenho certeza que deixei meu celular aqui, será que eu perdi? - Tentei ligar a manhã toda. Manu os interrompe: - Você deve ter deixado no seu quarto, mãe. Bom, eu vou esperar o Fred lá fora. – Manuela se despede dos dois com beijos no rosto. Vitor puxa Amélia, a levando até seu quarto sem que ninguém os visse. Ele fecha a porta do quarto, se vira para Amélia e a pega pela cintura lhe dando um beijo. Amélia não consegue retribuir o beijo por muito tempo e se desprende de Vitor, se afastando. - O que foi, meu amor? Você tá tão pálida, tá passando mal? – Vitor se aproxima de Amélia, passando suas mãos no rosto dela delicadamente. - Não, quer dizer. Só estou um pouco indisposta. Acho que foi alguma coisa que comi. - Hum. E ontem a noite eu vi a Manuela no show e você não tava. Ela disse que você não retornou a ligação... Amélia responde tropeçando nas palavras: - Eu, eu não consegui falar com a Lurdinha na realidade... que, que... ficou de dar o recado, e acabei dormindo. - Então não teve jantar nenhum com o Max? - Não, quer dizer...teve, mas... Vitor percebe o nervosismo de Amélia: - Amélia, olha pra mim. – ele segura seu rosto com as mãos novamente. – o que foi que aconteceu? Me conta. - Nada, Vitor. A gente só jantou e eu fui pro meu quarto e... eu estava com muita dor de cabeça e... - O Max não fez nada mesmo pra você nesse jantar? - Não, Vitor. Tá tudo bem. – Amélia hesita ao falar, se sente mal em mentir mas ao mesmo tempo não consegue contar o que aconteceu. Se sente suja e não consegue sequer tocar em Vitor. Alguém bate na porta e os interrompe. Amélia fica ainda mais pálida e se assusta: - Meu Deus, será que é o Max? - Calma, Amélia, não deve ser ele... De repente Fred grita: - Sou eu, podem abrir. Amélia fecha os olhos, aliviada, enquanto Vitor abre a porta: - E aí Fred? Fred o cumprimenta e olha para Amélia: - Mãe, não encontrei carro algum lá fora. Deve ter ido embora. - Tudo bem filho. Deve ter sido impressão minha.

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- Carro, que carro? – Vitor pergunta curioso. - Nada, é que eu tive a impressão que um carro me seguia, mas deve ser coisa da minha cabeça... Vitor a olha preocupado e diz: - Isso é sério, Amélia. A gente tem que ficar de olho, pode ser o Max. Fred concorda com a cabeça: - Eu concordo, mãe, vou ficar de olho sim. Ah, e eu encontrei a Aspásia no caminho agora, e ela perguntou se a Lurdinha tinha chegado bem, porque dormiu lá na Estância. Achei estranho... A Lurdinha não estava lá na fazenda com você ontem à noite, então? Vitor olha assustado direto para Amélia, que fica ainda mais pálida e nervosa. Percebendo que ela não consegue responder, Vitor logo diz sem tirar os olhos dela: - Fred, me desculpa, mas você poderia nos dar licença? Preciso conversar sério com sua mãe. Fred entendendo a situação, um pouco em dúvida, diz: - Mãe? - Tudo bem, filho. Pode ir. - Certo, qualquer coisa passa lá na operadora. - Sim. Vitor cumprimenta Fred e dá um tapa em seu ombro, querendo dizer que estava tudo bem. Ele fecha a porta olhando fixamente para Amélia que está com a cabeça baixa e uma das mãos no rosto, confirmando seu nervosismo. - Amélia, vem cá. Senta aqui comigo, se acalma. Amélia de repente começa a chorar, sem freios. Se senta com dificuldade, sendo ajudada por Vitor. - Meu Deus, o que aconteceu, Amélia? Foi o Max, não foi? O que aquele canalha fez com você, me diz? Eu vou até lá e... - Pára, Vitor, pelo amor de Deus. Você não vai fazer nada. Me escuta. Vitor fica enfurecido e se levanta diante de Amélia que fica com a cabeça baixa tentando enxugar as lágrimas que não param de sair de seus olhos. - Eu, eu não queria te contar, Vitor. Mas eu preciso me abrir com alguém... com você. Você só me promete que não vai fazer nada depois que me ouvir, por favor. Vitor fica ainda mais ansioso e nervoso: - Amélia, dependendo do que for, não me peça isso. Eu não vou aguentar se o Max... - Calma, Vitor, senta aqui, olha pra mim. Vitor reluta, mas se senta ao lado de Amélia, pegando em suas mãos e a escutando com atenção: - O Max mandou preparar um jantar e ficou claro que ele deu um jeito da Manuela e da Lurdinha não estarem em casa, sem que eu soubesse. Amélia respira fundo e tenta terminar... - E então... nós jantamos, brigamos como sempre, e ele...ele... Vitor segura mais forte as mãos de Amélia, que de repente o abraça sem dizer mais nada. Os dois continuam no abraço por mais um tempo, até que Amélia se solta e levanta: - Foi horrível, Vitor. Eu não consigo, não consigo olhar nos seus olhos e dizer tudo que aconteceu naquela casa ontem.

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- Amélia, você tá me assustando. Ele te machucou, o que aquele desgraçado te fez, me diz? - Eu não queria te ver assim, pelo amor de Deus, se você tentar fazer algo nesse estado, o Max vai fazer alguma coisa conosco. Por favor... Vitor fica indignado e não consegue assimilar as palavras de Amélia: - Eu tô a ponto de explodir, se esse desgraçado, covarde, aparecer na minha frente, eu... - Me escuta, Vitor, por favor, olha aqui, pára. – Amélia tenta conter o nervosismo de Vitor e o puxa para perto dela: - Nós não podemos fazer nada ainda. Você sabe o perigo que nós corremos. Isso foi só o começo e foi por isso que eu decidi pedir a separação de uma vez, e sair daquela casa. – Vitor a olha fixamente e segura seu rosto: - Vamos embora daqui. - Calma, Vitor. Não é assim. Eu preciso que você fique perto de mim, que fique calmo agora. - Mas, Amélia.... Se aquele... se ele te machucou, você tem que denunciar, você tem...Ou melhor, EU vou atrás dele e quero ver se o desgraçado tem coragem de me enfrentar, ou se ele só sabe ser valentão com uma mulher... – Vitor sai em direção a porta e Amélia o detém rapidamente: - Vitor, não! Você não entende. Eu ainda sou casada com aquele homem. Ele... ele se sentiu no direito de fazer o papel de marido, sem a minha vontade, e...- Amélia começa a ficar apavorada novamente e Vitor a abraça com força falando desesperado: - Ah, meu amor... Se eu pudesse te proteger a todo o momento, se eu estivesse do teu lado... - Vitor começa a beijá-la no rosto várias vezes. – eu prometo que isso nunca mais vai acontecer, que ele não vai relar um dedo em você. Você vai sair daquela fazenda agora. Amélia não diz nada e beija Vitor com urgência e paixão, esquecendo os pudores que a separavam de Vitor depois da noite com Max, se sentindo finalmente protegida por aquele amor. Ela então olha para Vitor e fala com tristeza nos olhos: - Vitor. Não desiste de mim. Vitor a olha com amor e com firmeza diz: - Eu nunca vou te deixar. Nunca! Você é minha vida, Amélia. Eu quero cuidar de você, passar o resto da minha vida do seu lado, te amando, te protegendo. E eu sou capaz de qualquer coisa pra isso, qualquer coisa. – Vitor a beija e fixa seus lábios nos de Amélia, permanecendo assim durante alguns minutos, a segurando de um jeito desesperado, como se fosse a última vez. Os dois se abraçam e Vitor continua: - Fica calma, a gente vai arrumar um jeito pra tudo isso, e hoje mesmo você deveria falar com o Max, colocá-lo contra a parede. - Eu tenho um medo tão grande, Vitor... - Eu sei, eu vou com você... - Não, é melhor não. A Manuela vai estar em casa, vai ser mais fácil. - Amélia, se por acaso você ficar sozinha com aquele canalha, você me liga correndo. De repente o celular de Vitor toca, e a chamada é do celular de Amélia. Ele se assusta e olha para ela. - O que foi?

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- É o seu celular. - O quê? Deixa eu ver... Amélia se apavora e pega o celular das mãos de Vitor. - Meu Deus, é o meu número. Meu celular... sumiu hoje cedo, lembra? Vitor, será que é o Max? - Vou atender. - Não! - Calma, Amélia. Vitor atende: - Alô. Amélia, é você? Do outro lado da linha Max fica quieto e desliga, pensando alto: - Seu moleque afrescalhado! É tua última vez. Enquanto isso, Amélia fica nervosa: - E então? Quem era? - Não sei, desligaram. - Meu Deus, era ele, Vitor, tenho certeza. - Sim, pode ser. Mas agora não faz diferença, Amélia. Temos quase certeza absoluta que ele já sabe de tudo. A gente tem que abrir o jogo e acabar com isso. Amélia o encara com medo, e Vitor a abraça novamente. - Você não tá sozinha, meu amor. Não esquece disso... Eu nunca mais vou deixar aquele homem te tocar, nunca mais você vai sofrer. – Vitor beija a testa de Amélia, depois seu rosto várias vezes. Ela se desfaz do abraço e olha Vitor com um leve sorriso no rosto: - Eu amo tanto você... Vitor a pega nos braços e a beija com fervor como se tivesse uma grande necessidade em mantê-la ali, em seus braços, protegendo-a. Amélia se despede e vai embora, disposta a terminar tudo com Max. Amélia, já a caminho da fazenda, dirige pela estrada, quando avista novamente o mesmo carro preto. Ela acelera e tenta se distanciar. O homem do carro fala ao celular: - Tudo certo, Doutor. Eu tô seguindo ela agora, vou tentar fechar o carro e levo a madame até o lugar combinado, pode ficar tranquilo. De repente o carro de Amélia freia, por conta de um cavalo perdido que bloqueia o seu carro. Ela não consegue fazer a curva para desviar do animal e acaba parando. O carro do capanga de Max não consegue evitar a batida na traseira do carro de Amélia e o empurra bruscamente para frente, e os dois caem numa ribanceira. Nesse instante, Solano passa pela estrada com seu cavalo e presencia todo o acidente. Assustado, ele corre em direção à Girassol e por sorte encontra Mamed: - Mamed, rápido, me ajuda aqui! - O que foi, Solano? - Por favor, pára esse carro, é urgente! - Sim, sim, o que? - Mamed, a dona Amélia acaba de sofrer um acidente bem ali na frente, numa ribanceira. Liga agora pro Dr. Ricardo. Você tem telefone aí, eu esqueci o meu em casa? - Tenho sim, já vai, já vai. Que Alá a proteja.

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Mamed liga correndo para Ricardo, que por sua vez contata com urgência os médicos de Juruanã. Solano não consegue ficar parado e vai até o local do acidente. Mamed o segue. - Menino Solano, você não pode descer aí, não. Vai machucar. - Calma, Mamed. Eu sei o que eu tô fazendo. Fica aí. - Shui shui. – Mamed olha Solano descer a ribanceira, preocupado. Ele desce até onde estão os carros, que são praticamente iguais. Ele avista primeiro o carro do capanga, já desacordado e muito machucado. Logo a frente está Amélia. Solano olha pela janela com dificuldade e não consegue vê-la, até que no banco traseiro ele reconhece o rosto de Amélia, que está acordada. - Dona Amélia! Calma, calma. O resgate já está chegando, fica calma. Eu vou tentar tirá-la daí, pra não ter perigo de nenhuma explosão. Amélia não responde nada, está um pouco desacordada e muito machucada. Solano consegue entrar pela janela com cuidado e percebe que Amélia não está presa em nenhuma ferragem, o que facilita a sua retirada: - Dona Amélia, olha pra mim. Tenta me responder com a cabeça se você sente que quebrou alguma coisa? Amélia consegue falar com dificuldade: - Acho que não... Solano deixa a porta do carro entreaberta e vai tirando Amélia devagar e com cuidado, para não piorar sua situação. Ele traz Amélia até a parte de cima, e de repente os carros explodem. Mamed os ajuda com dificuldade, mas finalmente conseguem se salvar na margem da ribanceira. O capanga morre no local. Enquanto isso, em Girassol, Dr. Ricardo vê Manuela, Fred e Vitor em frente a operadora, e pensa que é a hora certa para dar a notícia para todos. - Oi, gente, tudo bem? - Ricardo, tudo bem e você? – Manu responde animada. - Não muito bem. Eu preciso dar uma notícia pra vocês, mas eu quero que vocês tenham calma. - O que foi, Ricardo? – Fred fica apreensivo. - É o seguinte, parece que já está tudo sob controle, já chamamos o avião direto de Juruanã, e eles já devem ter socorrido... - Socorrido quem, Ricardo? – Interrompe Vitor assustado. - Bom, a dona Amélia acabou de sofrer um acidente na estrada. - O quê??????? – Todos dizem assustados como num coral de vozes. - Mas ela já deve estar bem. Acalmem-se. – diz Ricardo, tentando controlar a situação. - Mas espera, Ricardo, onde ela tá? Como foi isso, pelo amor de Deus? – Manuela começa a chorar, desesperada. Fred com os olhos marejados, diz aflito: - Ricardo, eu quero ir até lá. Onde é que minha mãe tá, me responde? - Fala, Ricardo! – Vitor nervoso e atônito, pega a camisa de Ricardo pelo colarinho, tentando saber algo mais detalhado sobre o estado de Amélia. Fred segura Vitor e pede que ele se acalme, pois no momento todos precisariam ter força e ir até Juruanã. Os três seguem no carro de Manuela até o hospital.

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O resgate de Amélia chega rápido e o avião já pára em Juruanã e a leva direto para a UTI. Solano está de um lado para o outro esperando notícias e não consegue ligar do telefone do hospital, que detecta o sinal fora de área no celular de Vitor, Manuela e Fred. De repente, os três chegam no hospital. Manuela estranha a presença de Solano, mas sem perguntar nada ela corre para ele e o abraça chorando. - Calma, meu amor, calma. Já está tudo bem. Ela está se recuperando bem. - Solano, o que aconteceu? Onde está minha mãe? Vitor interrompe e junto com Fred se aproximam de Solano, desesperados por notícia: - Onde está ela, Solano? – Vitor diz quase gritando. - Calma, vocês precisam se acalmar. Eu presenciei o acidente, o carro dela estava sendo perseguido por um outro, e de repente os dois caíram numa ribanceira na estrada pra fazenda. - Meu Deus. – Todos dizem juntos com olhares desesperados. Mamed aparece saindo da cantina: - Mas o menino Solano conseguiu tirar a dona Amélia dos escombros, e salvou a vida dela, não é mesmo? - É, eu consegui tirá-la a tempo do carro não sofrer uma explosão. Ela parecia bem. Mas o homem que a seguia acabou morrendo. - Quem era esse cara? – Diz Fred, nervoso. - Não sei. - É claro que foi o Max. – Vitor não consegue se conter e fica ainda mais nervoso, com os olhos marejados. Manuela se espanta: - Calma, Vitor. A gente não sabe de nada ainda. - Sim, vamos esperar a dona Amélia se recuperar.- Solano diz e abraça Manu. Vitor começa a andar de um lado para o outro e Fred o chama: - Vitor, você lembra que a minha mãe percebeu um carro a seguindo? Será mesmo que foi o meu pai? - Eu pensei nisso também, Fred. Mas o canalha do teu pai me paga se ele tá envolvido nisso. Me paga! Fred e Vitor se olham cheios de ódio só em pensar que Max tenha sido o responsável. - A gente precisa avisar o meu pai.- Manuela se lembra e interrompe os dois. - Não, deixa, Manu. Uma hora ele fica sabendo. – Fred se recusa a avisá-lo. - Mas ele precisa saber, Fred. - Não, Manu. Calma, a gente tá aqui com ela, e isso basta. Manuela fica apreensiva e ainda não consegue parar de chorar. Solano resolve levá-la até a cantina para tomar uma água até que o médico apareça para dar notícias. Fred e Vitor ficam aflitos, e decidem ficar em pé, esperando pelo médico na sala principal. Enquanto isso, na fazenda, Max recebe um telefonema do Dr. Ricardo, sendo avisado do acontecido com detalhes. Quando ele escuta que o capanga morreu, coloca as mãos na cabeça assustado e desliga o telefone sem falar nada. - Mas que diabo foi isso? Aquele incompetente! Ele fica horas sentado no escritório, sem saber o que fazer.

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No hospital o médico aparece e Vitor sai correndo até ele, junto com Fred, Manu e Solano: - E então, doutor? Como está a Amélia, ela está bem? – Vitor começa a falar desesperado por notícias. - Calma, acalmem-se. A dona Amélia por enquanto está fora de perigo. – todos se aliviam – Mas é preciso que ela fique ainda na UTI para observação, até se recuperar totalmente. Ela está com muitos ferimentos, perdeu muito sangue e está com a respiração também abalada, por conta de hematomas no pulmão. Porém não é nada muito preocupante. E imagino que ela saia em breve da UTI. Temos que ter fé. - Meu Deus! – Manuela coloca a mão no rosto e abraça Fred. Vitor olha para baixo, com os olhos já vermelhos, e passa as mãos no cabelo, ainda desacreditado e desesperado. Solano tenta acalmar todos: - Calma, gente. A Amélia é forte, ela vai sair dessa rápido. Vitor muito nervoso aborda o médico: - Doutor, eu quero ver a Amélia. - Sinto muito, mas só daqui umas duas horas eu posso deixar entrar, um de cada vez. Todos concordam com a cabeça e esperam ansiosos na sala de espera do hospital. Manuela e Solano dão uma saída para respirarem, mas Fred e Vitor continuam de plantão. As duas horas se passam, Manuela e Fred são os primeiros a visitar a mãe, que ainda estava desacordada e respirando com a ajuda de aparelhos. Seu rosto estava um pouco machucado em decorrência da batida brusca e dos cacos de vidro do carro. Depois que eles saem, fazem sinal para Vitor entrar. Ele caminha aflito até o quarto, olha pela janela e avista Amélia dormindo. Vitor fica alguns minutos só a olhando pela janela de vidro, desacreditado. E começa a chorar, sem perceber. Ele resolve entrar e chega perto da cama de Amélia, enxugando as lágrimas que caem de seus olhos: - Meu amor. – Ele pega as mãos de Amélia com cuidado. – Eu tô aqui, do seu lado. Você me escuta? Amélia continua desacordada. - Eu amo tanto você. Tanto. – Vitor se senta numa cadeira ao lado e beija a mão de Amélia com suavidade. – Você vai ficar bem logo, você é forte, meu amor. Você é forte. Vitor começa a chorar sem controle e diz aflito: - Não me deixa sozinho, Amélia. Não me abandona! O horário de visita acaba, e Vitor não aceita ir embora. Solano convence Manuela de ir com ele pra Estância descansar e voltar no dia seguinte, logo cedo. Fred continua no hospital com Vitor e os dois seguem para a cantina. Nesse instante, Max aparece e se certifica que não há ninguém por perto. Ele consegue o número do quarto de Amélia e entra sem que ninguém o veja. Ele olha com tristeza para a mulher na cama, desacordada: - Desculpa, minha querida. Me desculpa, eu tinha que fazer isso. Só que não correu como o planejado sabe?

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Max se aproxima ainda mais: - Agora eu preciso que tu descanses, porque se tu acordas e diz tudo o que aconteceu... – Max se aproxima da máquina responsável pelo oxigênio de Amélia e ameaça desativá-lo. Quando de repente Fred e Vitor entram no quarto junto com os enfermeiros. Vitor com muita ira não aguenta ver aquela cena e parte para cima de Max, agarrando a sua camisa e derrubando o fazendeiro no chão, conseguindo evitar que ele mate Amélia. - Seu desgraçado, sai de perto dela... Eu vou te matar, seu desgraçado! Os dois se debatem no chão, Vitor paralisa os braços de Max e lhe dá um soco no rosto e o fazendeiro desmaia. Fred tenta apartar a briga, já vencida. (Nesse momento é acionada a polícia de Juruanã, que fica de prontidão ao lado do hospital no caso de alguma emergência.). Max é retirado do quarto pelos enfermeiros e o médico pede que todos saiam do quarto para ele cuidar de Amélia. Max acorda no banco da sala do hospital e se levanta assustado. Vitor e Fred reagem, mas a polícia chega e o fazendeiro é rendido em flagrante. Quando os policiais tentam algemar Max, ele grita: - Ninguém prende Max Martinez. Ninguém! Max está com uma fisionomia assustadora, enlouquecido pela situação. De repente ele coloca as mãos no coração, abre sua boca e arregala os olhos, tendo um evidente infarto na frente dos policiais, de Fred e Vitor. Enfermeiros o socorrem, mas já é tarde demais. Passa o tempo e Amélia se recupera bem, já fora de perigo. Manu e Fred contam tudo o que aconteceu para a mãe, assim que ela retorna da UTI. Ela se sente aliviada mas chocada com os acontecimentos que não pôde presenciar, em torno da morte de Max. Amélia então recebe Manu e Fred pela segunda vez em seu quarto no hospital de Juruanã: - Como a senhora está, mãe? - Me sinto bem melhor, filha, graças a Deus. Fred e Manu abrem caminho para uma outra pessoa, que ainda não havia tido autorização médica para visitá-la. Era Vitor, que se aproximava ansioso para finalmente rever Amélia: - Meu amor! - Vitor! - Como você tá? Hein? – Vitor se aproxima, e com os olhos cheios de emoção ao rever Amélia, pega em suas mãos e as beija. - Estou bem. Está tudo bem. – Amélia sorri, vira as mãos de Vitor para ela e as beija também. - Eu fiquei com tanto medo, tanto... - Calma, já está tudo bem, querido. Acho que Deus não quer mesmo separar a gente, não é? – Amélia diz baixo acariciando o rosto de Vitor, que sorri cheio de alegria e com lágrimas nos olhos. Manuela e Fred, abraçados, olham os dois com felicidade e saem devagar do quarto, deixando Vitor e Amélia a sós. Vitor senta ao lado da cama e diz: - Amélia, eu... eu tô tão feliz de te ver assim... bem!

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Vitor olha maravilhado para Amélia, ainda segurando suas mãos, com um sorriso enorme estampado no rosto, e depois de alguns segundos ele muda sua feição, falando com preocupação: – Eu deveria ter ficado com você, ter ido até a fazenda... - Não. Não diz mais nada. – Amélia coloca os dedos nos lábios de Vitor. – Agora eu estou bem, nós dois estamos juntos. Não é isso que importa? Hein? – Vitor está com o rosto abaixado e Amélia o levanta com as mãos: - Olha pra mim. Me ajuda... me ajuda a esquecer tudo isso que aconteceu. Vitor a olha com amor, paixão, alívio e desejo: - Meu amor, minha vida... – Vitor se levanta e beija a testa de Amélia com ternura - Do que depender de mim, a partir desse momento, você vai ser a mulher mais feliz desse mundo. Vamos começar do zero... – Ele se senta e beija mais uma vez as mãos de Amélia. - Eu tava com tanta saudade de você! Ela sorri com carinho e acaricia o rosto de Vitor: - Eu também... meu amor. Os dois se aproximam e finalmente se beijam, cheios de amor e saudade, depois de tanto sofrimento. O tempo passa, Amélia e Vitor estão livres de Max Martinez, o investimento na confecção das bijuterias já é um sucesso e eles então caminham nas margens do rio Araguaia, brincando com a água e se abraçando embaixo de um sol que parecia ter nascido somente para os dois naquela manhã. - Amélia! Esse é o momento mais feliz da minha vida! – Vitor fala em um tom de voz empolgado e feliz. Amélia sorri, pega o rosto de Vitor com as mãos e o beija várias vezes: - Te amo. Te amo tanto. Vitor a beija intensamente com paixão e os dois seguem para uma parte da estrada onde o carro está estacionado. Vitor tira uma bolsa grande do porta-malas seguindo com Amélia até o campo atrás dos girassóis. Os dois encontram uma árvore, arrumam o local para um piquenique e brindam: - Ao amor. - Ao amor! Vitor retira a taça das mãos de Amélia, a olha fixamente, segura sua nuca, a beija novamente com uma caixa nas mãos: - Amélia, abre... Amélia surpresa, olha para ele sorrindo e ao mesmo tempo o repreendendo: - O que é isso, Vitor? Quando ela abre a caixinha, se depara com um anel de ouro e diamante. - Você aceita ser minha mulher, pra sempre? - Meu Deus, Vitor! Amélia fica estática, olhando para o anel e para Vitor e fala com os olhos lacrimejando: - É o que eu mais quero nessa vida! Vitor sorri, pega as mãos de Amélia e as beija, colocando o anel no seu dedo. - Linda, ficou linda! Agora você é oficialmente só minha! Amélia segura a nuca de Vitor, o beija e diz: - Eu sempre fui sua, e sempre vou ser só sua. – Vitor sorri, a pega pela cintura com força, puxando-a para si, e os dois se beijam com mais intensidade. Eles passam a tarde toda no campo, Vitor encostado na árvore lê um livro e Amélia fica deitada em seu colo. Ela levanta, tira os óculos de grau que Vitor

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usa para ler o livro, os dois começam a rir e se beijam mais uma vez, deitando seus corpos na grama e não se importando com mais nada. E a visão de Terê se faz realidade: Amélia e Vitor caminham pelos campos do Araguaia e finalmente se sentem livres para viver esse imenso amor! FIM