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E. E. Prof. Loureiro jr Apostila de filosofia 3° ano / Eja

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E. E. Prof. Loureiro jr

Apostila de filosofia

3° ano / Eja

“A condição humana” de Hannah Arendt

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Ao começar sua obra, “A condição humana”, Hannah Arendt alerta: condição humana não é a mesma coisa que natureza humana. A condição humana diz respeito às formas de vida que o homem impõe a si mesmo para sobreviver. São condições que tendem a suprir a existência do homem. As condições variam de acordo com o lugar e o momento histórico do qual o homem é parte. Nesse sentido todos os homens são condicionados, até mesmo aqueles que condicionam o comportamento de outros se tornam condicionados pelo próprio movimento de condicionar. Sendo assim, somos condicionados por duas maneiras:

1. Pelos nossos próprios atos, aquilo que pensamos, nossos sentimentos, em suma os aspectos internos do condicionamento.

2. Pelo contexto histórico que vivemos, a cultura, os amigos, a família; são os elementos externos do condicionamento.

Hannah Arendt organiza, sistematiza a condição humana em três aspectos:

Labor Trabalho Ação

O “labor” é processo biológico necessário para a sobrevivência do indivíduo e da espécie humana. O “trabalho” é atividade de transformar coisas naturais em coisas artificiais, por exemplo, retiramos madeira da árvore para construir casas, camas, armários, objetos em geral. É pertinente dizer, - ainda que, para a autora, o trabalho não é intrínseco, constitutivo, da espécie humana, em outras palavras, o trabalho não é a essência do homem. O trabalho é uma atividade que o homem impôs à sua própria espécie, ou seja, é  o resultado de um processo cultural. O trabalho não é ontológico como imaginado por Marx. Por último a “ação”. A ação é a necessidade do homem em viver entre  seus semelhantes, sua natureza é eminentemente social. O homem quando nasce precisa de cuidados, precisa aprender e apreender, para sobreviver. Qualquer

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criança recém nascida abandonada no mato morrerá em questão de horas. Por isso dizemos que assim como outros animais o homem é um animal doméstico, porque precisa aprender e apreender para sobreviver. A mesma coisa não acontece com aqueles animais que ao nascer já conseguem sobreviver por conta própria, sem ajuda. A qualidade da ação supõe seu caráter social ou como escreve Hannah, sua pluralidade. Tanto ação, labor e trabalho estão relacionados com o conceito de “Vita Activa”. Para os antigos, a “Vita Activa” é ocupação, inquietude, desassossego. O homem, no sentido dado pelos gregos antigos, só é capaz de tornar-se homem quando se distancia da “vida activa” e se aproxima da vida reflexiva, contemplativa. É justamente nessa visão de mundo grega que os escravos não são considerados homens. O escravo ao ocupar a maior parte de seu tempo em tarefas que visam somente à sobrevivência de si e de outros, é destituído do conceito grego de homem, mas por outro lado ele não deixa de ser humano. Portanto, dentro dessa lógica só é homem aquele que tem tempo para pensar, refletir, contemplar. Nietzsche afirma em seu “Humano, demasiado humano” que, aquele que não reserva, pelo menos, ¾ do dia para si é um escravo. A base disso encontra em  Sócrates: se é apenas para comer, dormir, fazer sexo, que o homem existe, então, ele não é homem, é um animal. Pois assim era visto o escravo: um animal. Um animal necessário para à formação de “homens”. É muito importante salientar que a escravidão da Grécia antiga é bem diferente da escravidão dos tempos modernos. Pois, na era moderna a escravidão é um meio de baratear a mão-de-obra, e assim, conseguir maior lucro. Na antiguidade a escravidão é um meio de permitir que alguns, por exemplos,  os filósofos, tivessem o controle do corpo, das necessidades biológicas; a temperança. Para os gregos, a escravidão, do ponto de vista de quem se beneficia dela, - os próprios filósofos da época - salva o homem de sua própria animalidade, e não lhe prende às tarefas pragmáticas. A dignidade humana só é conquistada através da vida contemplativa, reflexiva: uma vida sem compromisso com fins pragmáticos. A religião cristã toma emprestada a concepção de mundo grega, e vulgariza a dignidade humana. Agora qualquer indivíduo pode, e deve viver uma vida contemplativa. Enquanto na Grécia antiga a vida contemplativa era destinada aos filósofos, no cristianismo ela é destinada a todos. Essa é única forma que o cristianismo encontra para convencer os homens a rezar.

Hannah Arendt identifica três formas dicotômicas de trabalho:

Improdutivo e produtivo Qualificado e não qualificado Intelectual e manual.

Como a intenção da autora é mostrar a fraqueza do pensamento de Karl Marx, ela diz que o conceito de trabalho usado por Marx, é  um conceito comum de sua época: trabalho é trabalho produtivo. Segundo a autora esse conceito de trabalho produtivo, isto é, trabalho que produz objetos, matéria; eclodiu das mãos dos fisiocratas. A escolha de Marx pelo uso do termo trabalho como trabalho que produz que gera, que cria, estava em moda na época. Com o avanço do processo de industrialização haveria de designar algum nome para todo aquele trabalho que não estava ligado ao trabalho industrial,

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daí nasceu o trabalho intelectual em contraposição ao trabalho manual. Tanto um como outro, faz uso das mãos, quando colocados em prática. O intelectual precisa das mãos para escrever seu pensamento. Nesse sentido o trabalho intelectual também é trabalho manual. É dessa forma que o trabalho intelectual é integrado dentro do conceito “trabalho” da revolução industrial. A ideologia que atravessa os tempos modernos é a seguinte: Qualquer coisa que se faça tem que ser necessariamente produtivo, tudo deve ser transformado em mercadoria, ou seja, o valor de troca tem a última palavra. Qual é o caráter objetivo implícito do conceito “força de trabalho” em Marx? Compreende que todos têm a mesma força de trabalho, até mesmo aqueles que são fisicamente mais fracos. Assim, Marx consegue formar o conceito de “valor de troca”, tempo de trabalho necessário dispendido para produzir um objeto. Necessário para quem? Para todos. Se o tempo médio da produção de um sapato é 6 horas, todos os trabalhadores devem se adequar. Marx não explica como ele consegue calcular o tempo médio abstrato, o tempo social? Portanto, ele, pressupõe que todos devem ter a mesma força de trabalho, e desconsidera as diferenças subjetivas. É obvio que uma criança não tem a mesma força de trabalho de um adulto, nem o deficiente físico terá a mesma força, sem falar nas diferenças mais minuciosas. Em suma, Marx pensava que todos devem ter a capacidade de produzir um mesmo objeto num tanto “x” de horas. E é isso que será exigido pelos proprietários dos meios de produção. A força de trabalho é aquilo que o homem possui por natureza, só cessa com a morte. Diferente do produto, a força de trabalho não acaba quando o produto termina de ser produzido. Portanto, a força de trabalho é aquilo que Hannah Arendt entende por “labor”. “O labor não deixa atrás de si vestígio permanente”. (101, Arendt) Arendt dá alguns exemplos que nos pode ajudar entender o conceito de labor. Qual é a diferença entre um pão e uma mesa? A mesa pode durar anos e o pão dura, como muito, dois dias. O trabalho é força gasta para produzir a mesa. O labor é a força despedida para produzir o pão. Mesa: objeto material produzido para o uso cotidiano e ocupa lugar no espaço. Pão: elemento material produzido para a sobrevivência de seres vivos e não ocupa lugar no espaço, visto que durante a digestão o pão é transformado em energia do corpo. “O que os bens de consumo são para a vida humana, os objetos de uso são para o mundo do homem”. (Arendt) O bem de consumo é o pão e o objeto de uso é a mesa. O primeiro permite a vida; o segundo é necessário aos relacionamentos humanos. Em suma, o homem se torna dependente daquilo que produz. E para a autora, torna-se dependente é torna-se condicionado. Daí encontra a justificativa do nome do livro: “A condição humana”. Quais são as condições que o homem se impõe e se submete para permanecer em sociedade, para viver em coletividade? Se fossemos analisar essa questão mais pormenorizadamente teríamos necessariamente de falar sobre auto-repressão do prazer, aquilo que  Freud chama de controle do superego sobre o id. Mas não podemos esquecer que o nosso fim neste trabalho é perscrutar alguns aspectos e vertentes que o trabalho tem na obra da escritora alemã. Sendo assim, como entender uma realidade que tem como pedra de toque o que chamamos  trabalho? Para que o mundo dê curso à vida é preciso transformar o abstrato em matéria, o impalpável no papável. Isso é uma necessidade humana. Sociedades ocidentais e não-ocidentais (tribais) realizam

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esse processo de maneiras diferentes. Na primeira, existe o valor de troca, na segunda, não há valor de troca. A palavra trabalho é um termo, conceito, ocidental que é constitutivo do capitalismo, das sociedades ocidentalizadas. E este conceito não pode ser aplicado nas sociedades não ocidentalizadas, onde o capitalismo não existe. Portanto, não faz sentido dizer que os índios trabalham. Eles não trabalham, apenas realizam atividades. Estamos num ponto delicado do nosso trabalho. Um ponto que é ignorado por grande parte de estudiosos das ciências. A afirmação: os índios não trabalham, não quer dizer que eles são preguiçosos, quer dizer que eles não produzem valor de troca, portanto, não realizam trabalho. Quando Marx pensa que o trabalho pode ser constitutivo do homem, ele não está usando como pressuposto o conceito valor de troca. E, é importante entender isso, porque esse foi o lugar onde ele foi mais mal interpretado. Peço que esqueça do conceito valor de troca por um momento. Vamos imaginar aquela velha estória do homem que se encontra isolado, sozinho numa ilha. Ele quer encontrar alguma forma para sair da ilha. E para isso ele deverá construir um barco,  irá trabalhar. Antes de construir o barco o homem tem a idéia do que seja um barco, isto é, ele já viu um barco pelo contato direto. Ao ver um barco pela primeira vez, ele forma o conceito de barco. Então, imagina um barco, cria a imagem na mente, para depois construí-lo. A construção do barco dependente necessariamente do conceito  barco. Esse exercício de imaginar e depois construir é próprio do ser humano, e, é nesse sentido que Marx diz que o homem é o único animal que trabalha. O homem imagina e depois faz. Se acrescentarmos o valor de troca, temos o trabalho capitalista. O trabalhador da fábrica sabe de antemão qual objeto irá produzir, sabe para que seja usado. Todo objeto antes de ser construído tem sua finalidade, sua utilidade. Nesse aspecto entre o meio (recurso usado para obter um fim) e o fim, temos a distinção entre objeto e instrumento. O instrumento é usado para produzir o objeto, por exemplo, o alicate é usado na produção de automóveis. Uma vez acabada a produção do automóvel, este serve como meio de transporte. A princípio temos o automóvel como fim, e num segundo momento temos o automóvel como meio. Ele é um fim em relação ao alicate, e depois, é um meio em relação ao homem. Se em relação ao alicate temos um objeto, em relação ao homem temos um instrumento. É nesse sentido que Arendt fala que existe um processo circular entre meio e fim, instrumento e objeto; em que todo fim se torna meio e todo meio se torna fim. Assim nos explica Hannah Arendt: “Num mundo estritamente utilitário, todos os fins tendem a ser de curta duração e a transformar-se em meios para outros fins.” (Arendt, 167) Nenhum instrumento é produzido a bel-prazer, é produzido para atender ao tipo de objeto desejado. O que realmente importa ao empregador é o objeto final acabado, o instrumento é apenas o meio. Por isso dizemos que os meios de produção são instrumentos usados para gerar mais-valia. Usados por quem? Pelo trabalhador assalariado. Quando o assalariado não percebe que o uso que ele faz do instrumento, - seu trabalho-, gera mais-valia, dizemos que ele se encontra num estado de alienação. Vamos voltar um pouco na distinção entre trabalho e labor. Já foi dito que o labor é trabalho gasto para produção de alimentos. Portanto, é o que mantém a saúde do indivíduo. Só assim ele poderá trabalhar. Nesse aspecto o labor é pré-requisito do trabalho. O que quer dizer isso? Não é possível, (dentro dos termos de Arendt), existir trabalho sem labor, ainda que seja possível o inverso.

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Ao passo que o labor produz a matéria para incorporá-la ao organismo, o trabalho a produz para que esta seja usada na produção de outros objetos e na materialização do abstrato (exemplo, colocar no papel uma idéia). Uma outra distinção entre trabalho e labor consiste em que, enquanto o labor exige o consumo rápido ou imediato, o trabalho não. A lógica do trabalho é a durabilidade dos objetos. Sua durabilidade permite a acumulação e estoque dos objetos. É por meio da troca de produtos, - troca intermediada pelo valor de troca-, que se dá as relações humanas, visto que, durante a produção os homens encontram-se isolados uns dos outros. “Sem isolamento nenhum trabalho pode ser produzido” (Arendt, 174). “Somente quando pára de trabalhar e quando o produto está acabado é que o trabalhador pode sair do isolamento” (Arendt, 174). Nesse sentido de trabalho, Arendt imaginara um trabalho industrial. Se incluirmos os serviços, nem uma das afirmações anteriores se sustenta. Tendo em vista que muitos serviços são realizados no contato direto entre os homens.

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Ideologia

Tanto na linguagem política prática como na linguagem filosófica, sociológica e político-científica, não exista talvez nenhuma outra palavra que possa ser comparada à ideologia pela freqüência com que é empregada e, sobretudo pela gama de significados diferentes que lhe são atribuídos. No intrincado e múltiplo uso do termo, podem-se delinear, entretanto, duas tendências gerais ou dois tipos gerais de significado que podemos chamar de “significado forte” e de “significado fraco” da ideologia. No seu significado fraco, a ideologia designa os sistemas de crenças políticas, idéias e de valores respeitantes à ordem pública e tendo como função orientar os comportamentos políticos coletivos. O significado forte tem origem no conceito de ideologia de Marx, entendido como falsa consciência das relações de domínio entre as classes, e se diferencia claramente do primeiro porque mantém, no próprio centro, diversamente modificada, corrigida ou alterada pelos próprios autores, a noção de falsidade: a ideologia é uma crença falsa. No significado fraco, ideologia é um conceito neutro, que prescinde o caráter eventual e mistificante das crenças políticas. No significado forte, ideologia é um conceito negativo que denota precisamente o caráter mistificante da falsa consciência de uma crença política.

Principais ideologias do século XX

- Ideologia fascista: implantada na Itália e Alemanha, principalmente, nas décadas de 1930 e 1940. Possuía um caráter autoritário, expansionista e militarista.- Ideologia comunista: implantada na Rússia e outros países (principalmente do leste europeu), após a Revolução Russa (1917). Visava a implantação de um sistema de igualdade social.

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- Ideologia democrática: surgiu em Atenas, na Grécia Antiga, e possui como ideal a participação dos cidadãos na vida política.- Ideologia capitalista: surgiu na Europa durante o Renascimento Comercial e Urbano (século XV). Ligada ao desenvolvimento da burguesia, visa o lucro e o acumulo de riquezas.- Ideologia conservadora: idéias ligadas à manutenção dos valores morais e sociais da sociedade.- Ideologia anarquista: defende a liberdade e a eliminação do estado e das formas de controle de poder.- Ideologia nacionalista: exaltação e valorização da cultura do próprio país.

Características gerais

“Qual a ideologia que está por trás disso?” – eis aí uma pergunta estranha, mas que várias pessoas formulam, descuidadamente. Não há ideologia “por trás”. Caso exista algo “por trás” de um texto ou de  um vídeo ou de uma peça de teatro ou de uma bula de remédio ou de uma legislação, pode acreditar você não está diante da ideologia.  Por uma razão simples: ideologia é algo que não vem “por trás”, ideologia é o que vem em primeiro plano, é o que está “na frente”.

Quando notamos movimentos sociais e de grupos, institucionais ou não, aprendemos rapidamente isso: a ideologia e a propaganda são parentes não distantes, e a semelhança familiar é justamente esta: ambas querem aparecer.

Um conjunto de caravelas espanholas ataca as caravelas inglesas. Eis aí o tempo de Elizabeth. O que carregam os espanhóis junto de suas velas, ou em bandeiras ou como figura estampada nas próprias velas? O Cristo na Cruz. É o desenho do Cristo o que está “por trás”? De modo algum, a gravura, que é sem

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dúvida, no caso, o símbolo ideológico, vai à frente. Não se esconde. Mostra-se. Tem de se mostrar.

Vejamos agora um documento educacional, uma peça de legislação. Vamos às reformas educacionais de Getúlio Vargas. Ali, claramente, o ensino médio aparece como voltado para a criação de “elites condutoras” – esta é a frase usada à risca, na letra da lei. Ora, a ideologia conservadora, que diz que o povo precisa ser conduzido por grupos da “elite”, está escondida? Está “por trás”? De modo algum. Está explícita e bem acomodada nas primeiras linhas. Está na frente.

A primeira característica de um conjunto de idéias que se pode chamar de ideologia é a de vir antes que qualquer outra coisa. Ela pertence ao que se quer mostrar e, de preferência, em primeiro plano. Ora, mas há outras duas características da ideologia.

A segunda característica é a busca de universalidade a qualquer preço. Um conjunto de idéias que é bem particular, que não tem grande força lógica para se tornar universal e, no entanto, busca se tornar universal e quer ser uma verdade independente de todos e uma verdade para todos, já está funcionando como ideologia. É próprio de um conjunto de idéias que se quer transformar em ideologia procurar se colocar de modo abstrato, para ganhar universalidade.

“O amor é a única lei” é uma idéia cristã, contra a idéia pagã da “lei do olho por olho e dente por dente”. Todavia, quando já ninguém sabe o que é que se quer dizer por amor, dado sua transformação em palavra abstrata, então a frase pode ser endossada por todos. Todo mundo diz que a coisa mais importante do mundo é “ter amor”. Assim, o próprio cristianismo, se está ligado a isso, se comporta como ideologia.

A terceira característica da ideologia é que ela quer antes mostrar a verdade “que se tem de seguir” do que um conjunto de enunciados que, possa levar à reflexão a respeito de outros conjuntos de enunciados e assim por diante. Ela, a ideologia, aceita pouco aquilo que Robert Brandom, louvado por Rorty, chamou de “o jogo de dar e pedir razões”. Nesse sentido, é próprio da ideologia o engodo, a ilusão ou o erro.

Nesse caso, não falamos de erro psicológico (da percepção ou do raciocínio). Trata-se de engano, certamente, mas como uma feição bem especial, a saber, nem sempre a ilusão ideológica se desfaz uma vez que seu mecanismo de engodo é revelado. Trata-se aqui do contrário do erro perceptivo ou de um raciocínio equivocado, que pode ser corrigido, e geralmente o é, quando vemos que em que lugar a frase endossada está dando problemas O engodo ideológico permanece, mesmo quando denunciado. A realidade que vemos ideologicamente não muda, mesmo que o que tomamos por realidade esteja, então, denunciado como produto ideológico.

Por exemplo, se alguém olha para a realidade de negros e brancos, em um país fortemente racista, em que há discriminação contra os negros, e vê os negros como inferiores, o fato de se denunciar que isso não é nada senão uma

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visão ideológica, não extirpa dos “olhos” de quem assim vê tal realidade. Ele não vê algo novo. Ele não pensa de modo novo. A denúncia não altera a compreensão (imediata) como alteraria a compreensão de alguém que é denunciado ter cometido um erro lógico, como o de manter duas sentenças contraditórias ao mesmo tempo e no mesmo lugar. A denúncia não altera a compreensão (imediata) como mudaria a compreensão de alguém que vê um cachorro e, ao chegar mais perto, percebe que errou, que o que estava  ali era um gato.

Totalitarismo

Hitler e Mussolini: representantes de regimes totalitários do século XX.

O totalitarismo é uma experiência política que se refere a alguns tipo de governo estabelecidos na Europa do pós-Segunda Guerra. O termo foi primeiramente cunhado pelo filósofo Giovanni Amendola, que definiu o regime totalitário enquanto auge de um processo onde um indivíduo ou partido político passa a controlar o Estado. No entanto, o totalitarismo também pode ser definido por meio de uma relação com a sociedade onde os indivíduos têm suas vidas intimamente controladas pelo governo. Partindo desse ideal onipresente que o Estado totalitário ganha em seu discurso formal, podemos pontuar genericamente alguns dos traços mais recorrentes a esse tipo de governo. Na esfera política, o totalitarismo reprime sistematicamente a existência de diferentes grupos políticos divergentes da orientação oficial. Por isso, tais governos costumeiramente defendem a adoção de um sistema uni partidário, sendo nenhum outro grupo político reconhecido. Na economia, vemos a instalação de uma doutrina de caráter visivelmente intervencionista. A participação direta do Estado na economia seria um ponto onde qualquer outra forma de ordenação das atividades produtivas seria

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contrária ao fortalecimento da economia e do próprio governo. Geralmente, esse tipo de intervenção se manifesta na implantação de empresas estatais e na regulação direta dos empreendimentos da iniciativa privada. Tendo a concentração de poderes como um de seus traços mais característicos, os governos totalitários estabelecem as forças armadas e policias como uma extensão do Estado. Frente aos possíveis opositores políticos, a polícia tem como papel fundamental garantir a submissão ao governo utilizando de violência física, tortura, prisões arbitrárias, espionagem, censura e exílio. As forças armadas, complementando essa ação, devem estar fortemente munidas contra qualquer ameaça externa. Fora essas manifestações diretas de seu poder de ação, o totalitarismo também conta com uma ideologia sistematicamente reafirmada por meio de agências de propaganda. Por meio de uma propaganda massiva, o regime repete sistematicamente uma visão histórico-ideológica da nação. Geralmente, os líderes totalitários buscam reconstruir um “passado glorioso” que deve ser incessantemente glorificado enquanto exemplo a ser retomado. Nesse aspecto, a veneração a símbolos e heróis nacionais reforça tal interpretação do passado. O ufanismo nacionalista é repetidas vezes comemorado por meio de manifestações públicas, feriados nacionais, cartazes, canais de comunicação do Estado e políticas educacionais. Além de supervalorizar um passado de glórias, a ideologia totalitarista oferece uma perspectiva de futuro onde a unidade oferece um porvir próspero e soberano. Retomando os traços característicos do regime totalitarista, podemos visualizar alguns governos onde esse tipo de ação tomou forma. Entre os mais conhecidos governos totalitaristas podemos destacar o nazismo alemão, o fascismo italiano e o stalinismo soviético. O totalitarismo, sendo uma forma ideal de governo, também teve em cada uma dessas nações características que os diferenciaram. Além disso, podemos destacar que as práticas totalitaristas podem existir em alguns governos que não se reconhecem totalitários. Dessa forma, não podemos dizer que o totalitarismo sumiu completamente ou perdeu força entre as nações que partiram para a adoção de um regime democrático. Mesmo em algumas democracias, a questão da liberdade individual, organização dos movimentos sociais ou o sistema eleitoral podem conter alguns traços de natureza totalitária. Tanto a religião quanto a irreligião (ateísmo) podem contribuir para a pacificação da sociedade, desde que mantidas separadas do poder político estatal.

   Totalitarismo Norte-Coreano E Direitos Humanos

 Aldir Guedes Soriano - Correio Braziliense, 22 de outubro de 2007  Com o termino da Segunda Grande Guerra Mundial, em 1945, a Coréia foi dividida em Coréia do Norte e Coréia do Sul. Esta seguiu a orientação democrática estadunidense enquanto aquela seguiu a orientação marxista-leninista da União Soviética e se tornou um Estado totalitário. O cientista político Rudolph J. Rummel, em seu livro Death by Government, estima que 800 mil coreanos escaparam da coréia comunista para a democrática logo

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após a cisão do País, prevendo o iminente desastre. O pânico da população não era indevido, porquanto a revolução comunista na Coréia do Norte cobraria o saldo de 1 milhão e 600 mil vítimas assassinadas, segundo a moderada estimativa de Rummel. Os contra-revolucionários eram enviados para os campos de trabalhos forçados ou executados. Como se não bastasse, em 1955, a Coréia do Norte invadiu a Coréia do Sul provocando a morte de aproximadamente 2 milhões e 550 mil pessoas em batalhas. Durante a ocupação de 4 meses, os anticomunistas eram sistematicamente executados.   Kim Il Sung assumiu o poder da República Coreana como Premier e promoveu uma intensa estatização ou intromissão do Estado na vida privada dos coreanos. Assim, do nascimento à morte os indivíduos passaram a ser controlados pelo regime comunista e totalitário. Em sua própria homenagem, o Premier mandou contruir uma estátua de 18 metros de altura, totalmente coberta de ouro. Honra e lealdade a Kim Il Sung era uma exigência que não podia ser negligenciada sob pena de prisão e, por vezes, morte.

  A situação atual na Coréia do Norte é dramática, em face da tirania perpetrada pelo governo de Kim Jong Il. Os norte-coreanos são privados dos mais elementares direitos humanos, como o direito à liberdade religiosa. De acordo com uma classificação publicada em fevereiro de 2007 no site Portas Aberta, a perseguição na Coréia do Norte é severa. Esse país ocupa o primeiro lugar da lista em termos de perseguição religiosa.

 As religiões contrárias ao totalitarismo norte-coreano foram peremptoriamente proibidas. As igrejas passaram a ser dominadas pelo Estado. Os religiosos e inimigos do Estado são enviados para campos de trabalhos forçados. Segundo R. J. Rummel, 265 mil pessoas foram assassinadas nesses campos de concentração. Em um vídeo produzido pelo Ministério Portas Aberto, a norte-coreana Soon OK Lee conta a sua experiência. Por razões políticas, ela foi encarcerada em um campo de trabalhos forçados para mulheres, supostamente doentes mentais. Com o tempo, contudo, pôde verificar que se tratava apenas de cristãs, que eram submetidas a terríveis maus tratos. Pouquíssimo alimento era oferecido para as prisioneiras. Durante o seu encarceramento, observou que as prisioneiras grávidas eram espancadas brutalmente até que abortassem. Lee conseguiu fugir para a Coréia do Sul, mas a maioria dos fugitivos é capturada e executada publicamente, como relata Rummel. Os prisioneiros são colocados em um regime de 16 horas por dia de trabalhos forçados e 2 horas de doutrinação ideológica. Além das execuções, muitos morrem em razão da desnutrição ou de doenças.  Seria difícil para uma mente humana imaginar cenário tão desolador quanto à realidade dos campos de concentração norte-coreanos.    Segundo Christopher Hitchens, a Coréia do Norte embora seja comunista não é propriamente um Estado ateu, uma vez que o líder atual, Kim Jong Il, e o seu pai Kim Il Sung – no contexto confucionista – são cultuados como deuses. Assim, tratar-se-ia de um Estado religioso ou confessional. Paradoxalmente, como observa Hans Küng, o confucionismo – supostamente a religião do Estado norte-coreano – tem como regra áurea os seguintes dizeres: “O que não desejas para ti mesmo, isso também não faças aos outros”, antecipando em 500 anos o ensinamento de Cristo no Sermão da Montanha. Tal regra parece ter sido olvidada pelo Partido Comunista norte-coreano ou, então, o que

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é mais provável, a Coréia do Norte tenha se tranfomado em Estado ateu e totalitário, sob a influência da orientação soviética: marxista-  

ALDIR GUEDES SORIANO, advogado no Estado de São Paulo, membro da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da OAB-SP (seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil) e autor do livro "Liberdade Religiosa no Direito Constitucional e Internacional" Site do autor: www.aldirsoriano.com.br

   Ruanda 

 Genocídio praticado em Ruanda é o evento mais trágico da segunda metade do século passado; todavia, dez anos depois, ele está quase totalmente esquecido. A hecatombe de 1994 deve ser lembrada, estudada, analisada, discutida, porque contém um grande número de lições que nos ajudam a entender melhor nosso tempo. Os massacres de 1994 não são frutos de uma explosão de loucura coletiva, mas a máxima expressão de um ódio muito antigo.

A Ruanda pré-colonial certamente não era um país onde todos gozassem de suficiente dignidade e oportunidade; havia divisões sociais, tribais; as monarquias distribuíam privilégios e riqueza de maneira articulada. Mas os colonizadores – inicialmente alemães e, depois, belgas – tiveram grande responsabilidade na exasperada divisão do país entre dois grupos rivais, os hutus e os tutsis. Em 1932, quando os belgas criaram o documento de identidade étnica, chegou-se a uma situação sem retorno: os twás, além dos hutus e os tutsis, viram-se oficialmente divididos.

Os colonizadores atribuíram privilégios e cargos de comando apenas a uma restrita elite dos tutsis, despertando o ódio crescente nos hutus. Depois de deixar o país, os colonizadores assistiram à tomada do poder pela maioria hutu, até então oprimida, sem a preocupação de refrear as tensões causadas por sua política criminosa.

Durante os anos setenta, quando Juvenal Habyarimana chegou ao poder, um grande número de países ocidentais concedeu ao país enorme

crédito político, mas principalmente econômico. O auxílio externo equivalia a 22% do Produto Interno Bruto, com rasgados elogios do Banco Mundial, apesar de Habyarimana reprimir de modo sistemático e duro os dissidentes.

Antecedentes da guerra civil

Menina ruandesa com as pernas amputadas pela explosão de uma mina

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O envolvimento de potências estrangeiras, e sua conseqüente responsabilidade, foram crescendo cada vez mais. A aceleração na direção do genocídio agravou-se em 1990. A Frente Patriótica Ruandesa, formação político-militar dos tutsis egressos do país após o fim do colonialismo, atravessou a fronteira da Uganda e iniciou a guerra civil. A França se alinhou ao governo de Habyarimana mas, para alimentar o

conflito, chegaram também armas egípcias, britânicas, italianas, sul-africanas, israelenses, do Zaire e de outros países.

Ruanda, pequeno país, famoso por sua miséria, tornou-se o terceiro país africano na importação de armas. Entre janeiro de 1993 e março de 1994, graças, sobretudo a financiamentos franceses, adquiriu da China 581.000 machetes (sabre de artilheiro, com dois gumes), armas impróprias, mas de preço acessível. Nenhuma potência ocidental ou organismo internacional monitorou seu comércio, nem impôs proibições; assim é que, nos mercados de Ruanda, é mais fácil encontrar granadas do que frutas ou verduras.

 

      Propaganda Política.

"Quando eu uso a palavra", disse Humpty Dumpty num tom desdenhoso, "ela significa exatamente o que eu quero que signifique - nem mais nem menos." "A questão é", disse Alice, "se você pode fazer uma palavra significar tantas coisas diferentes." "A questão é", disse Humpty Dumpty, "saber quem manda. Isso é tudo" (Lewis Carrol, Alice Através do Espelho).

Cena de destruição e cadáveres espalhados

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A arte de convencer pela palavra é muito antiga. Em sua forma moderna, a propaganda política foi inaugurada pelo bolchevismo e especialmente por Lênin e Trotsky. Mas mesmo antes deles houve líderes que reconheceram sua importância. Napoleão Bonaparte foi um desses líderes. Ele disse: "Para ser justo, não é suficiente fazer o bem, é igualmente necessário que os administrados estejam convencidos. A força fundamenta-se na opinião. Que é o governo? Nada, se não dispuser da opinião pública.” Mas foram Hitler e Goebbels que (infelizmente) utilizaram com maior sucesso as técnicas de controle à opinião pública e, assim, acabaram dando enorme contribuição à propaganda moderna. Mas o que é propaganda? "A propaganda é uma tentativa de influenciar a opinião e a conduta da sociedade, de tal modo que as pessoas adotem uma conduta determinada", escreveu Bartlett, em Political Propaganda. E qual a diferença, então, entre propaganda e publicidade? Jean-Marie Domenach, em seu livro A Propaganda Política, à página 10, responde: "A publicidade suscita necessidades ou preferências visando a determinado produto particular, enquanto a propaganda sugere ou impõe crenças e reflexos que, amiúde, modificam o comportamento, o psiquismo e mesmo as convicções religiosas ou filosóficas.”

Manipulados, sem saber

Pesquisa de opinião pública encomendada pelo Ministério da Justiça e pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) ao Ibope mostrou que, para 30% dos pesquisados, a televisão é o principal veículo informativo e, para muitos, 28%, formativo. Ela é avaliada como uma importante fonte de atualização de conhecimentos e de entretenimento. No entanto, a maioria dos entrevistados, 57%, afirmou não se preocupar com o conteúdo da programação televisiva. Poder de influenciar somado ao desinteresse pelo conteúdo dos programas. Eis aí a fórmula ideal para o controle da opinião pública. A partir do momento que se percebeu que o homem médio é um ser essencialmente influenciável, e que é possível mudar-lhe as opiniões e as

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idéias, os especialistas passaram a utilizar em matéria política o que já se verificara viável do ponto de vista comercial.

Assim, as campanhas eleitorais nos EUA - com suas "paradas", orquestras, girls (garotas bonitas) e cartazes, que são um verdadeiro e ruidoso reclamo - pouco diferem das campanhas publicitárias. E o que dizer da campanha eleitoral brasileira de 2002? Candidatos foram oferecidos ao público como produtos em uma loja... "Os poderes destrutivos contidos nos sentimentos e ressentimentos humanos podem ser utilizados, manipulados por especialistas", disse J. Monnerot. E para isso são utilizadas leis específicas. Vamos a elas.

Lei da Simplificação e do Inimigo Único

Consiste em concentrar sobre uma única pessoa as esperanças do campo a que se pertence ou o ódio pelo campo adverso. Reduzir a luta política, por exemplo, à rivalidade entre pessoas é substituir a difícil confrontação de teses. No caso do nazismo, os judeus acabaram eleitos como o "inimigo único". Um bom exemplo mais ou menos contemporâneo foram as campanhas presidenciais brasileiras de 1989. Em Fernando Collor de Mello se depositaram todas as esperanças - muitas delas trabalhadas pelos meios de comunicação - do povo brasileiro: um presidente jovem, esportivo, religioso e aparentemente honesto, pois prometia acabar com os "marajás".

Lei da Ampliação e Desfiguração

A ampliação exagerada das notícias é um processo jornalístico empregado correntemente pela imprensa, que coloca em evidência todas as informações favoráveis aos seus objetivos. Exemplo: a greve nacional dos petroleiros, em 1998. Os veículos de comunicação (especialmente a Globo) anunciavam com frequência que os combustíveis, principalmente o gás, iam faltar. Ressaltavam os problemas que adviriam da falta de gás. Mostravam as filas de compradores em busca de seus botijões. Assim, garantiram a opinião pública desfavorável aos petroleiros.

Lei da Orquestração

A primeira condição para uma boa propaganda é a infatigável repetição dos temas principais. Goebbels dizia: "A Igreja Católica mantém-se porque repete a mesma coisa há dois mil anos. O Estado nacional-socialista deve agir analogamente.” Adolf Hitler, em seu Mein Kampf, escreveu: "A propaganda deve limitar-se a pequeno número de idéias e repeti-las incansavelmente. As massas não se lembrarão das idéias mais simples a menos que sejam repetidas centenas de vezes. As alterações nela introduzidas não devem jamais prejudicar o fundo dos ensinamentos a cuja difusão nos propomos, mas apenas a forma. A palavra de ordem deve ser apresentada sob diferentes aspectos, embora sempre figurando, condensada, numa fórmula invariável, à maneira de conclusão."

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Portanto, a qualidade fundamental de toda campanha de propaganda é a permanência do tema, aliada à variedade de apresentação.

Quantas vezes já não ouvimos: "O Brasil é um ótimo país para se viver. Não há guerras, terremotos, catástrofes..." Ao transmitirem os infortúnios de outros países e noticiarem, apenas de modo superficial, problemas brasileiros, os meios de comunicação estão contribuindo para manter o status quo.

Lei da Transfusão

A propaganda não se faz do nada e se impõe às massas. Ela sempre age, em geral, sobre um substrato preexistente, seja uma mitologia nacional, seja o simples complexo de ódios e de preconceitos tradicionais. É o que os oradores fazem quando querem amoldar uma multidão ao seu objetivo: jamais contradizem as pessoas frontalmente, mas de início declararam-se de acordo com ela. A maior preocupação dos propagandistas reside na identificação e na exploração do gosto popular, mesmo naquilo que tem de mais perturbador e absurdo. Tomemos como exemplo a luta pela preservação da Amazônia. A quem interessa? Que interesses estão por trás? Até chavões como "a Amazônia é o pulmão do mundo" - equivocado, do ponto de vista biológico - foram criados para garantir que os donos do "quintal" não o explorem como os países industrializados já o fizeram, desastrosamente.

Lei da Unanimidade

Baseia-se no fato de que inúmeras opiniões não passam, na realidade, de uma soma de conformismo, e se mantêm apenas por ter o indivíduo à impressão de que a sua opinião é esposada unanimemente por todos no seu meio. É tarefa da propaganda reforçar essa unanimidade e mesmo criá-la artificialmente. Quando Ayrton Senna morreu, os meios de comunicação trataram de multiplicar por mil sua característica de ídolo, até mesmo para pessoas que pouco sabiam sobre Fórmula 1. Ao ser perguntada por um repórter sobre o que estava sentindo, uma mulher respondeu: "Estou muito triste. Eu nem sabia o quanto amava o Ayrton." Não sabia mesmo, até a mídia dizer isso a ela. É preciso que as pessoas conheçam a fundo os mecanismos de controle de opinião. Principalmente os profissionais de comunicação, para que não entrem nessa ciranda de manipulação e façam jornalismo ético e responsável.

 

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Bibliografia Meszaros, IstanFilosofia, ideologia e ciência social – ensaiosBoitempo editorial – São Paulo – 2008

Morelli, AnnePrincípios elementares de La propaganda de guerraHinu – 1989

Raposo, BertoOrigem do totalitarismo.Clã das letras – São Paulo - 1989

Souza, Sonia Maria Ribeiro deUm outro olhar – filosofiaSão Paulo – FTD – 1995