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Politize! EBOOK: TUDO SOBRE O IMPEACHMENT DE DILMA EBOOK: TUDO SOBRE O IMPEACHMENT DE DILMA

EBOOK: TUDO SOBRE O IMPEACHMENT DE DILMA · TUDO SOBRE O IMPEACHMENT DE DILMA. Politize! ... pessoa com função pública à Câmara dos Deputados. É claro que, para ela ser acatada,

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EBOOK:TUDO SOBRE OIMPEACHMENT DE DILMA

EBOOK:TUDO SOBRE OIMPEACHMENT DE DILMA

Politize!

Olá, bem-vindo ao e-book do impeachment do Politize! O processo de impeachment de Dilma Rousseff tem movimentado muito a política brasileira em 2016. O Politize entende que é seu papel trazer todos os esclarecimentos possíveis sobre esse processo, que é decisivo para a nação. Neste e-book, você

Com isso, você terá todas as condições para fazer o melhor juízo em relação ao impeachment da presidente. Vamos lá?

• Aprenderá, entre outras coisas, o passo a passo do julgamento - desde a formulação do pedido ao presidente da Câmara até seu julga-mento no Senado Federal; • Entenderá as origens do instituto do impeachment em democracias modernas, e mais especificamente no Brasil; • Revisitará o único caso em que o impeachment foi acionado em nosso país, em 1992; • Entenderá quais seriam as razões para o impeachment de Dilma;• E ficará por dentro do debate existente em torno da ideia de que o impeachment de Dilma é equivalente a um golpe de Estado.

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INTRODUÇÃO

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Antes de mais nada, vamos conhecer melhor o pro-cesso de impeachment e tirar aquelas pequenas dúvidas que surgem na cabeça de todo mundo: em que casos pode acontecer um processo de impeach-ment? Como funciona o processo? Se Dilma sai, quem assume? Haverá novas eleições ou o segundo colocado das últimas eleições a substitui?

Qualquer pessoa com uma função pública no Poder Executivo pode sofrer um impeachment: presidente, governador, ministros e secretários. Os vices também podem ser submetidos a esse processo.

É um processo político, votado por uma Casa legisla-tiva, que julga se uma pessoa com função pública cometeu um crime de responsabilidade política, ou então um crime comum. No caso do presidente, ele pode ser condenado por oito diferentes crimes de responsabilidade.

O QUE É O IMPEACHMENT?

QUEM PODE SER SUJEITO A UM PROCESSO DE IMPEACHMENT?

Qualquer cidadão pode fazer um pedido de impeach-ment. Basta entregar uma denúncia contra uma pessoa com função pública à Câmara dos Deputados. É claro que, para ela ser acatada, ela tem que estar acompanhada de provas do suposto crime cometido pela pessoa acusada. Outros critérios para que a denúncia seja aceita são conter uma lista de pelo menos cinco testemunhas e ter uma assinatura com firma reconhecida.

QUEM PODE FAZER UM PEDIDO DE IMPEACHMENT?

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IMPEACHMENT: O PASSO A PASSO1

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1. Se o presidente da Câmara considerar que a denúncia é válida, ele tem de apresentá-la no plenário da Câmara.

2. Em seguida, ela é encaminhada para uma comissão formada especialmente para analisar o caso.

3. Se for acolhida pela comissão, o presidente tem de apresentar sua defesa. Prazo: 10 sessões da Câmara.

4. Depois da defesa do Presidente, a Câmara apre-senta um parecer sobre o caso. Prazo: 5 sessões.

5. Em 48 horas depois da apresentação do parecer, documento deve ser incluído na ordem do dia e ser votado pelos deputados (513, ao todo). São necessários 2/3 dos votos (342) para o processo de impeachment começar (sim, ele só começa a partir deste ponto).

6. Aprovado o pedido de abertura do processo, ele é passado para o Senado, que é responsável pelo julga-mento propriamente dito. O Senado deve decidir em plenário, por maioria simples (41 votos), se abre ou não o processo.

7. Se os 41 votos forem alcançados, o Senado instau-ra o processo e o Presidente é automaticamente afastado de suas funções. Dois terços dos senadores precisam ser a favor do impeachment para que ele seja condenado. O prazo para finalizar o processo: 180 dias. Se passar desse prazo, o Presidente volta às suas funções, mas se for considerado culpado, será novamente afastado.

8. O político condenado em processo de impeach-ment pode, além de perder o cargo, ficar inelegível por até oito anos.

CASO UM PEDIDO DE IMPEACHMENT SEJA ACEITO, O QUE ACONTECE EM SEGUIDA?

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O substituto imediato do Presidente é o seu vice. Ou seja: se Dilma não pudesse mais governar hoje, Michel Temer seria o novo presidente.Mas se o vice também não puder exercer o cargo, seja por cassação, renúncia ou até mesmo novo impeachment, quem assume em um primeiro mo-mento é o Presidente da Câmara dos Deputados (hoje Eduardo Cunha). Mas ele não fica por muito tempo no cargo: será necessário convocar novas eleições para a escolha de um novo representante. Um pequeno detalhe importante nesse caso.

1. Se o impeachment ocorrer nos primeiros dois anos de mandato da Presidente: novas eleições diretas são convocadas. Prazo: 90 dias.

2. Se o impeachment ocorrer nos últimos dois anos de mandato: escolha indireta, por votação do Con-gresso. Prazo: 30 dias.

Um último detalhe: a pessoa que assumir o cargo apenas cumprirá o mandato de quem o antecedeu. Portanto, tem um mandato mais curto do que nor-malmente um Presidente teria.

QUEM ASSUME SE O PRESIDENTE SOFRER IMPEACHMENT?

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Fonte: Agência O Globo Marcelo Carnaval – 15/03/1990

Vamos relembrar o único caso de impeachment já vivido no nosso país? Aconteceu lá em 1992, com o então presidente Fernando Collor.

IMPEACHMENT NA HISTÓRIA: O CASO DE COLLOR2

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Fernando Collor de Melo foi eleito para presi-dente nas eleições de 1989, as primeiras eleições diretas para presidente desde 1960. Ele derrotou candidatos como Luiz Inácio Lula da Silva, Leonel Brizola e Mário Covas. Seu partido, o Partido da Reconstrução Nacional (PRN), era um “nanico” frente a diversos outros surgidos com a redemocratização do país, como o PMDB, o PT, o PSDB e o PDS.

O governo Collor foi iniciado em março de 1990. Logo de cara estabeleceu medidas econômicas radicais para tentar combater um dos principais problemas da economia do país: a inflação, que na época chegava a surreais 1700% ao ano (para efeito de comparação, nos últimos anos ela não passou dos 7% ao ano). A principal dessas medi-das foi o confisco das poupanças por um período de 18 meses, medida estabelecida por meio de medida provisória. A ideia era diminuir a quanti-dade de moeda em circulação e, desse modo, preservar seu poder de compra.

A estratégia não deu certo, já que a inflação continuou um problema ao longo de todo o governo, o que, claro, deixou a população completamente insatisfeita. Ainda por cima, já em 1991 surgiram denúncias de corrupção envolvendo pessoas próximas a Collor, como a sua esposa, Rosane Collor.

Em maio de 1992 estourou a denúncia que levaria o gov-erno Collor a um fim prematuro. O irmão do presidente, Pedro Collor, concedeu entrevista à revista Veja acusan-do-o de manter uma sociedade com o empresário Paulo César Farias, tesoureiro de campanha de Collor.

Segundo Pedro, o tesoureiro seria “testa de ferro” do presidente em negociações espúrias, ou seja, aquela pessoa que faz a intermediação de transações financeiras fraudulentas, a fim de ocultar a identidade de quem real-mente as contrata. Em junho de 1992, o Congresso instaurou uma CPI só para tratar das atividades de PC Farias. Com o desenrolar dos trabalhos da comissão, as acusações de Pedro Collor foram ganhando substância, com muitas provas de transações ilícitas ligando PC Farias a Collor.

UM POUCO DE CONTEXTO

Foi nesse contexto que surgiram os caras-pintadas, um movimento essencialmente estudantil, promovi-do principalmente pela União Nacional dos Estu-dantes (UNE) e pela União Brasileira dos Secundar-istas (UBES). O movimento tinha um objetivo bem claro: remover o presidente do poder. Em agosto de 1992, começam a ser feitas grandes passeatas, reunindo inicialmente 10 mil pessoas, depois 30 mil, até chegar à marca de 400 mil pessoas em uma pas-seata em São Paulo, no dia 25 de Agosto.

Uma das manifestações mais marcantes ocorreu no dia 16 de agosto daquele ano, dois dias depois de Collor aparecer em cadeia nacional para pedir que o povo fosse às ruas de verde e amarelo para defender seu governo. Não colou: os manifestantes aparece-ram de preto, em sinal de luto pelos escândalos de corrupção do governo.

O movimento foi marcado pelo apartidarismo, demonstrando que os partidos existentes não davam conta de atender às reivindicações da população. As manifestações continuaram a crescer no mês de setembro, quando um pedido de impeachment foi elaborado e entregue à Câmara dos Deputados. No dia 29 de setembro, a Câmara aprovou o pedido por ampla maioria e o processo foi aberto. Naquele dia, estima-se que milhões de pessoas haviam aderido ao movimento dos caras-pintadas, saindo às ruas com o rosto pintado de verde e amarelo para pedir a saída do presidente.

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CARAS-PINTADAS

É um processo político, votado por uma Casa legisla-tiva, que julga se uma pessoa com função pública cometeu um crime de responsabilidade política, ou então um crime comum. No caso do presidente, ele pode ser condenado por oito diferentes crimes de responsabilidade.

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Com a abertura do processo de impeachment, Collor foi imediatamente afastado do cargo, algo que explicamos no nosso post sobre esse processo. Nesse meio tempo, assumiu o vice-presidente, Itamar Franco, enquanto o Senado apurava se Collor havia cometido um crime de responsabilidade.

O processo correu até o final do ano (lembrando que ele dura até 180 dias com o presidente afastado, ou até mais tempo, com o presidente de volta ao cargo). Com a condenação iminente no Senado, Collor resolve renunciar ao cargo, no dia 29 de dezembro, para evitar ficar inelegível nos oito anos seguintes. Mesmo com a renúncia, o Congresso votou a favor da perda dos direitos politicos do ex-presidente, afastando-o de cargos políticos pelo resto da década de 1990.

O IMPEACHMENT

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O impeachment de Collor teve como início um escândalo de corrupção que estava diretamente ligado ao nome do presidente. Mas o pano de fundo dessa história teve como ingredientes indis-pensáveis a fraca sustentação política do governo, com poucos partidos de peso apoiando o presidente, além da profunda crise econômica do país, que havia apenas piorado com as medidas controversas adota-das pelo próprio governo Collor. Tudo isso causou grande insatisfação popular e também causou. Esses são típicos elementos que podem levar ao impeach-ment de uma figura pública.

CONCLUINDO…

Governo Collor: O Brasil começou a década de 90 ainda sem ter superado as inúmeras crises da década anterior (conhecida como década perdida), quando alcançamos níveis estratosféricos de inflação, mesmo em meio à estagnação econômica, além de problemas enormes com a dívida externa. Os planos econômicos criados para tentar frear a inflação e trazer estabilidade à moeda fra-cassaram.

Assumindo a presidência com a imagem de um líder jovem e forte, Collor resolveu arriscar para atacar a questão inflacionária. Para isso, tomou uma decisão que muito provavelmente selou seu destino: confiscou a poupança de praticamente toda a população. Esse ato ousado rev-elou-se completamente ineficaz, já que a inflação continu-ou a subir da mesma maneira - com a diferença de que agora o povo não tinha acesso a suas economias.

SITUAÇÃO ECONÔMICA DO PAÍS

Governo Dilma: A presidente Dilma não tomou nenhum ato que tenha chocado os brasileiros da mesma forma que o confisco da poupança por Collor. Mas isso não significa que a economia brasileira tenha ido bem durante seu gov-erno. Muitas medidas de Dilma foram duramente critica-das - como manter taxas de juros artificialmente baixas, a redução das tarifas de energia, a política de desoneração das indústrias -, todas medidas que pressionaram as contas públicas, levando à necessidade de criar um ajuste fiscal e retirando a confiança dos investidores e consumi-dores no país. Como resultado, estamos em recessão, en-carando alta inflação, dólar nas alturas, sem conseguir garantir superávits primários.A fraca gestão econômica de Collor pesou definitivamente contra ele. Esse fator também pesa contra Dilma.

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O andamento do processo de impeachment de Dilma nos faz lembrar quase que automatica-mente do episódio do impeachment de Collor, afinal esse foi o único caso em que esse instru-mento constitucional foi usado na história do nosso país. As semelhanças e diferenças entre os casos desses dois presidentes podem nos ajudar a entender como Dilma pode ou não se livrar do afastamento do cargo. Vamos ver alguns fatores muito importantes para o impeachment de Collor.

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DILMA X COLLOR: A COMPARAÇÃO DOS IMPEACHMENTS2

Governo Collor: as medidas econômicas impopulares (e também visivelmente fracassadas) que tomou foram suficientes para que o apoio expressado nas urnas se dissipasse. O presidente viu crescer sua rejeição entre eleitores ao longo de seu mandato e em 1992, ano em que foi cassado no Congresso, en-carou megaprotestos no Brasil inteiro, sem que houvesse uma contrapartida de apoiadores. As mani-festações populares apenas ajudaram a aumentar a sensação de que Collor não tinha como continuar no poder. Em seu pior momento, Collor era aprovado por apenas 9% da população, enquanto era reprovado por 68%, segundo o Instituto Datafolha.

Governo Dilma: também convive com manifestações contra o seu governo desde o início do segundo mandato. Os protestos do último 13 de março já entraram para a história como as maiores já registra-das no país (maiores até do que os da Diretas Já, nos anos 1980). As pesquisas de aprovação também registram resultados extremamente negativos, piores até que os de Dilma chegou a ser rejeitada por 71% da população, enquanto era aprovada por apenas 8% (novamente, dados do Datafolha).

A grande diferença em relação ao caso de Collor, porém, é que Dilma recebeu um apoio significativo das ruas. Poucos dias após os protestos de 13 de março, foi a vez de manifestações pró-governo reunir cen-tenas de milhares de pessoas. Fenômeno semelhante não foi observado no governo Collor. O que se mostra aqui é que a saída de Dilma não é uma unanimidade entre os eleitores, como foi no caso de Collor, o que é um ponto a favor para Dilma. .

POPULARIDADE

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APOIO PARTIDÁRIO E DO CONGRESSO

Governo Collor: governou com pouco apoio do Congresso. No início, até tinha aliados dentro de parti-dos importantes, como PFL, PDS, PTB e PL. Mas quando a ideia de seu impeachment surgiu, em meio à comoção popular causada pela revelação de fatos comprometedores, poucos parlamentares se opuse-ram: as únicas lideranças expressivas que ficaram ao seu lado foram Leonel Brizola e Antônio Carlos Magalhães.

Governo Dilma: a presidente conta (ou pelo menos contava até pouco tempo atrás) com uma ampla base aliada no Congresso, que segundo estimativas incluía mais de 300 deputados na Câmara. Seu par-tido ainda possui a segunda maior bancada do Congresso. Por outro lado, esse apoio diminuiu com a saída de partidos como o PMDB - que tem o maior número de representantes no Congresso. O fato é que Dilma tem uma margem de manobra maior do que Collor nesse sentido: o governo ainda tem a possibilidade negociar com partidos como PSD e PR, que juntos somam mais de 100 deputados - capital político que tornaria possível barrar o impeachment no plenário da Câmara.

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SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA

Governo Collor: gmais um sinal do isolamento político de Fernando Collor quando estava na presidência, a socie-dade civil organizada (movimentos sociais, movimentos estudantis, sindicatos e entidades de classe) viraram as costas para o presidente nos momentos decisivos daquele processo. Os grandes protestos contra o então presiden-te realizados em 1992 foram organizados pela União Nacional dos Estudantes (UNE).

Governo Dilma: possui maior respaldo dos movimentos sociais. Se na época de Collor a UNE se colocou contra o presidente, pedindo seu impeachment, desta vez ela e outras entidades importantes, como a Central Única de Tra-balhadores (CUT) se articularam para defender o governo nas ruas.

. AS ACUSAÇÕES

Governo Collor: em maio de 1992, o então presidente foi surpreendido por uma reportagem da revista Veja, em que seu próprio irmão revelava a participação do ex-presidente em um esquema que contava com a ajuda de PC Farias, seu tesoureiro de campanha. A Comissão Parlamentar de Inquérito que investigava o caso também compro-vou que um Fiat Elba havia sido comprado à ex-primeira dama com um cheque de uma conta fantasma de PC Farias. Tais acusações apenas aceleraram a saída de Collor do poder, que teve a abertura do processo de impeachment aceita pela Câmara em setembro de 1992.

Governo Dilma: ao contrário de Collor, Dilma não está implicada diretamente em nenhuma denúncia de corrupção. Os crimes de responsabilidade que constam em seu pedido de impeachment são de natureza administrativa, como as famigeradas pedaladas fiscais e os decretos que abrem crédito suplementar (em tese, acusa-se, deveriam ter tido aprovação prévia do Congresso). Como já vimos em outro post, no entanto, os crimes de responsabilidade são vários e bastante amplos, e não necessariamente precisam envolver o favorecimento pessoal do presidente. .

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Governo Dilma: A presidente Dilma não tomou nenhum ato que tenha chocado os brasileiros da mesma forma que o confisco da poupança por Collor. Mas isso não significa que a economia brasileira tenha ido bem durante seu gov-erno. Muitas medidas de Dilma foram duramente critica-das - como manter taxas de juros artificialmente baixas, a redução das tarifas de energia, a política de desoneração das indústrias -, todas medidas que pressionaram as contas públicas, levando à necessidade de criar um ajuste fiscal e retirando a confiança dos investidores e consumi-dores no país. Como resultado, estamos em recessão, en-carando alta inflação, dólar nas alturas, sem conseguir garantir superávits primários.A fraca gestão econômica de Collor pesou definitivamente contra ele. Esse fator também pesa contra Dilma.

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Os cenários dos impeachments de Dilma e Collor são distintos, apesar de algumas semelhan-ças. O enfrentamento de uma crise econômica e de uma forte impopularidade é um fator comum aos dois governantes. Entretanto, enquanto Collor teve de enfrentar o processo praticamente isolado, Dilma ainda conta com forte apoio de movimentos sociais, historica-mente ligados ao PT, além de parte da classe artística e intelectual, bem como uma parcela do eleitorado. No Congresso, Dilma ainda conta com o apoio de aliados e briga para manter alguns partidos importantes sob sua influência. Isso será suficiente para evitar a abertura do processo de impeachment no Senado (o que pode acontecer já na próxima semana)? Isso ainda teremos de descobrir. Mas a resistência desta vez é maior que em 1992.

CONCLUINDO…

A saída de dilma da presidência da república é desejado por muitos brasileiros. Mas para que um impeachment aconteça, é preciso muito mais do que a insatisfação popular. O impeachment, em que pese seu caráter político (é todo julgado pelo Congresso), precisa ter um embasamento jurídico: deve ser provado que o presiden-te, no exercício das suas funções, cometeu um crime de responsab-ilidade. Vamos entender quais os crimes que Dilma é acusada de cometer?

A acusação: Dilma editou uma série de decretos em 2014 e 2015 para abertura de crédito suplementar, sem a aprovação do Congresso, de modo a garantir que as metas de superávit do orçamento fossem atingi-das. A abertura de créditos suplementares não é em si um problema; pelo contrário, é um instrumento feito para lidar com gastos imprevis-tos. O crime de responsabilidade estaria em dois aspectos principais: (1) a meta fiscal estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) foi desconsiderada, e a presidente estaria gastando bem mais do que o aprovado pelo Congresso e (2) o crédito suplementar foi emitido sem aprovação parlamentar, em violação ao processo de definição do orça-mento.

A defesa: A ação orçamentária e financeira tem características difer-entes. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) tem uma finalidade de orientação e planejamento e nunca é capaz de dar conta da realidade fiscal. Queda na arrecadação e despesas imprevistas podem pedir por uma mudança na estratégia financeira. Não haveria descumprimento do orçamento, mas uma adaptação à realidade.Para corroborar com o argumento de que esse tipo de ação não é atípi-co, ficou comprovado o uso semelhante de créditos suplementares por governos municipais e até mesmo pelo Governo Federal em outros anos (inclusive anteriores aos mandatos de Dilma).

DECRETOS ORÇAMENTÁRIOS SUPLEMENTARES

POR QUE UM IMPEACHMENT CONTRA DILMA? VEJA OS ARGUMENTOS3

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A acusação: O principal crime de responsabili-dade de que Dilma é acusada é relacionado à gestão fiscal do governo. O nome “pedaladas fiscais” se refere a práticas contábeis reprováveis e que poderiam ser inclusive interpretadas como fraude, já que o superávit primário era inflado artificialmente (ou seja, era maior do que na reali-dade seria).

Mas afinal, o que são essas tais pedaladas? Não é tão fácil explicar, pois é uma questão bastante técnica. Mas vamos explicar de um jeito bem sim-ples: o governo, através do Tesouro Nacional, precisa fazer várias remessas de recursos a bancos e instituições afins, para que eles possam executar vários programas sociais do governo. Entre esses programas estão o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, além de vários direitos assegurados ao trabalhador.

Ok, mas o que o governo fez de errado? É com-provado que entre 2013 e 2014, ainda no pri-meiro mandato de Dilma, várias dessas trans-ferências de recursos para os bancos foram atrasadas ou nem sequer realizadas, obrigando essas instituições a tirar de seu próprio orça-mento os recursos para garantir a continuidade dos programas mencionados acima. A suspeita é que o governo reteve esses recursos para que pudesse cumprir outras obrigações orça-mentárias, principalmente o superávit primário – que nada mais é do que manter a conta do governo no positivo, como forma de sinalizar o equilíbrio nas contas públicas a investidores. Com isso, o governo pode maquiar o estado das suas finanças, ludibriando todos os interessa-dos nessas informações (eleitores, investidores, agências de rating, governos de outros países, mercado financeiro, etc).

PEDALADAS FISCAIS

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A defesa: O governo não nega a existência dessa prática, mas pontua vários fatores que relativi-zam a gravidade do fato. Um fato é que presi-dentes anteriores (como Itamar, FHC e Lula) fizeram pedaladas também. Vários governadores, muitos deles ainda em exercício de seus manda-tos hoje, também se utilizaram desses recursos. Se Dilma for condenada pelas pedaladas, abre-se no mínimo um precedente para a queda de boa parte dos mandantes no nível estadual. Caso isso aconteça, haverá uma incoerência.

Outra questão importante nessa acusação é de ordem temporal. Dilma “pedalou” em 2013 e 2014, ainda em seu primeiro mandato.

Existe uma grande discussão se fatos de man-datos anteriores podem servir como alegação para remover um presidente em um mandato posterior

Por saber dessa controvérsia, o presidente da Câmara Eduardo Cunha recomendou que o impeachment não fosse sustentado com base nas pedaladas – mas os elaboradores do pedido de impeachment em análise na Câmara vol-taram a mencionar essa acusação na comissão do impeachment.

Além disso, sustenta a defesa, as pedaladas não configuram qualquer tipo de favorecimento pessoal da presidente, que não poderia ser acu-sada de corrupta por esse motivo.

PEDALADAS FISCAIS

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A acusação: O governo teria deixado de registrar dívidas com o BNDES, para o Programa de Suste-ntação do Investimento (PSI) e com Banco do Brasil pelo Minha Casa Minha Vida. A ausência desse registro nos cálculos fiscais teria acarreta-do em uma avaliação equivocada da situação e, consequentemente, a metas irreais de superávit. Legalmente, essa falta de transparência violaria a Lei Orçamentária, constituindo crime de responsabilidade.

A defesa: A Presidente não é diretamente responsável pela metodologia fiscal, que fica a cargo do Banco Central. Seria impossível, nesse caso, comprovar ação ou omissão deliberada da presidente em relação ao não registro dos valores.

NÃO REGISTRO DE VALORES

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A acusação: Essa denúncia é diferente das ante-riores, pois não faz referência a crimes contra a lei orçamentária. O principal argumento se baseia no art. 9 n.3, segundo o qual é crime “não tornar efetiva a responsabilidade dos seus subor-dinados, quando manifesta em delitos funcionais ou na prática de atos contrários à Constituição”.

Para os denunciantes, Dilma não seria só culpada por ter sido descuidada com a supervisão dos assuntos da Petrobrás, como a compra super-faturada da refinaria em Pasadena ou os ilícitos da Lava Jato de uma forma geral, mas por ter de-liberadamente omitido informações.

Em primeiro lugar, Dilma era Presidente do Con-selho de Administração da Petrobrás na época da compra da refinaria e, alega a acusação, deveria saber do superfaturamento. Em segundo lugar,

foi citada na delação premiada de Alberto Youssef como alguém que sabia dos ilícitos. Por fim, pessoas próximas à presidente como o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto e o ex-dirigente da Petrobrás Nestor Cerveró estariam diretamente envolvidas nos esque-mas, o que torna suspeita a omissão da presi-dente.

A defesa: Uma grande parte da argumentação dos denunciantes se sustenta em informações anteriores ao mandato da presidente, e não ser-viriam a respaldar qualquer denúncia de crime de responsabilidade. Além disso, não há provas além das delações premiadas, que são ques-tionáveis, que demonstrem categoricamente que a presidente sabia dos esquemas de cor-rupção.

CRIMES CONTRA A PROBIDADE ADMINISTRATIVA

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O atual momento político brasile-iro é de grande polarização e instabilidade. Nesta situação, o medo de que aconteça um golpe de Estado aumenta. A Presidente Dilma insiste em afirmar que o processo de impeachment em curso é uma tentativa de der-rubá-la ilegalmente e também afirma que os grampos divulga-dos por Sérgio Moro são ilegais. Mas o que pode e o que não pode ser considerado um golpe? Vamos entender.

Um golpe de Estado acontece quando um governo estabelecido por meios democráticos e constitucionais é derrubado de maneira ilegal – portanto, de uma forma que desrespeita esses processos democráticos (eleições diretas, por exemplo) e as leis de um país. Um golpe não neces-sariamente acontece com o uso da força, apesar de que são comuns na história do Brasil e de outros países da América Latina a ocorrência de golpes militares – ou seja, a ameaça do uso da força é usada para remov-er o poder constituído

Outras formas de golpe também são possíveis, como pelo uso indevido da Justiça para incriminar pessoas no poder – ou seja, a Justiça agindo ela mesma de maneira ilegal. Essa é uma forma de golpe mais sutil, mas que produz os mesmos resultados: a deposição de um governo eleito democraticamente por vias que extrapolam as regras de um Estado Democrático de Direito..

GOLPE DE ESTADO: CONCEITO

IMPEACHMENT É GOLPE? VEJA OS ARGUMENTOS A FAVOR E CONTRA4

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Também é importante entender que um golpe de Estado pode ter apoio da maioria ou de uma minoria. O apoio popular é, na verdade, um ingrediente bastante presente em diversos golpes.

Um golpe também pode ser realizado pelo próprio governo, que se recusa a ceder o seu poder em situações previstas em lei. Por exemplo: um governo que continua no poder quando deveria ter permitido novas eleições diretas.

A história do Brasil é marcada por diversos episódios de golpe. O mais recente deles tem sido muito mencionado por quem sus-tenta que estamos presenciando um golpe. Vamos relembrar esse momento?

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A COMPARAÇÃO DO MOMENTO ATUAL COM O GOLPE DE 64

A acusação: O governo teria deixado de registrar dívidas com o BNDES, para o Programa de Suste-ntação do Investimento (PSI) e com Banco do Brasil pelo Minha Casa Minha Vida. A ausência desse registro nos cálculos fiscais teria acarreta-do em uma avaliação equivocada da situação e, consequentemente, a metas irreais de superávit. Legalmente, essa falta de transparência violaria a Lei Orçamentária, constituindo crime de responsabilidade.

A defesa: A Presidente não é diretamente responsável pela metodologia fiscal, que fica a cargo do Banco Central. Seria impossível, nesse caso, comprovar ação ou omissão deliberada da presidente em relação ao não registro dos valores.

Muito se tem falado a respeito das semelhanças entre os cenário políticos do Brasil de 1964 e do Brasil de 2016. Por isso, é interessante resgatar um pouco do que foi aquele momento da vida nacional.

52 anos atrás, o Brasil tinha como presidente João Gou-lart, o Jango. O presidente não era muito bem visto por uma boa parte da imprensa e da classe média, pois apre-sentava inclinações políticas à esquerda (antes de virar presidente, ele foi ministro de Getúlio Vargas, quando aumentou o salário mínimo em 100%; enquanto chefe de governo, defendia reformas de base com viés popular). Goulart tinha alcançado o poder após o estranho episódio da renúncia de Jânio Quadros, em 1961. Jango era vice de Quadros e assumiria a presidência já naquela época, mas foi impedido de assumir o cargo, sob a ameaça de uma intervenção militar e o início de uma guerra civil. O país passou então por uma rápida experiência de parlamenta-rismo, em que os poderes de Goulart eram bastante limita-dos (você pode aprender mais sobre sistemas de governo aqui!). Mas após um plebiscito, o país voltou ao presiden-cialismo e Goulart finalmente virou o presidente com plenos poderes.

O período de Goulart como presidente foi bastante breve e agitado, com muitas greves, protestos e

comícios marcantes. A polarização política crescia enquanto a imprensa pedia pela saída do presidente (fosse por impeachment ou por renúncia). As justifica-tivas para esse pedido são bastante familiares para nós, mesmo depois de meio século. Naquela época, o confronto da Guerra Fria basicamente dividia o mundo entre comunistas e capitalistas. A presença de um gov-erno de esquerda inclinado a ampliar direitos sociais tornava mais simples colar a ideia de que havia uma ameaça comunista no país.Outro motivo alegado para a deposição de Goulart, como em outros momentos na história do país, foi a corrupção, que teria se tornado um problema sério naquele momento, acusava-se. Lembra muito alguma coisa, não? Aqui, a semelhança de 1964 e 2016 se torna bastante evidente.Com o ambiente instável e uma grande convulsão social no país – mais uma vez, parecido com o que aconteceu neste ano no país-, grandes protestos foram realizados no Rio de Janeiro e outras grandes cidades, contra e a favor do governo. Em meio ao cenário turbu-lento, os militares intervieram no dia 31 de março de 1964. João Goulart foi mandado para o exílio no Uru-guai. Todas as forças favoráveis ao governo, seja nos meios militares ou políticos, não foram capazes de reagir. O golpe estava dado.

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52 anos depois do golpe de 64, o país vive mais uma vez momentos difíceis e que nos fazem perguntar: é possível acontecer um novo golpe de Estado por aqui, em pleno 2016? O lema “não vai ter golpe” virou grito de guerra de grupos que ou apoiam o governo da presidente Dilma (ou então se declaram a favor da ordem democrática, não necessariamente a favor do governo). A própria presidente usou essa expressão em discurso. Do outro lado, os opositores negam qualquer tentativa de golpe de sua parte e que o gov-erno é que estaria dando um golpe na população. Nessa guerra semântica, quem tem a razão? Vamos checar alguns argumentos:

E HOJE?

Veja por que muita gente entende que as diferentes tentativas de levar à saída da presidente Dilma do gover-no são uma espécie de golpe de Estado:

• O processo de impeachment que a presidente está sofrendo é injustificado, já que Dilma não tem nada que possa ser comprovado contra ela (e um impeachment depende da comprovação de um crime de responsabili-dade). Já o processo de cassação de Dilma e Temer por cometer crimes eleitorais, que corre no Tribunal Supe-rior Eleitoral (TSE), não está concluído e não comprovou qualquer uso de dinheiro ilícito nas campanhas.

• Já as manifestações populares realizadas contra o governo, alegam seus defensores, também não são sufici-entes para depor um presidente. Mesmo que algo entre 2 e 6 milhões de pessoas tenham ido às ruas no último dia 13/03, argumenta-se que a presidente chegou ao poder pelo voto de 54 milhões de pessoas, e isso deve ser respeitado. Em 2018, haverá novas eleições, mais uma chance de eleger alguém que não seja do Partido dos Trabalhadores. As regras democráticas devem ser respeitadas.

• O Poder Judiciário tem sido um ator importante do golpe, ao investigar de maneira seletiva o governo, agindo voluntariamente em prol de sua derrubada. Os rumos recentes da Operação Lava Jato mostram isso: o grupo político do PT tem sido duramente atacado (inclusive com medidas ilegais). O destaque vai para medi-das tomadas contra o ex-presidente Lula, que passou por condução coercitiva, pedido de prisão preventiva e finalmente teve gravações de conversas telefônicas suas reveladas à imprensa (esta também acusada de colaborar com o golpe).

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Sim, Dilma está sofrendo um golpe

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A oposição nega veementemente que exista qualquer golpe em curso.

• Todas as medidas contra o governo petista estão dentro da legalidade e fazem parte do jogo democrático. O processo de impeachment é previsto na Constituição Federal como um mecanismo para remover governos corruptos e incompetentes – é o que se acusa o governo Dilma de ser. O processo no TSE, se acabar na cas-sação da presidente, também será legal.

• A crise que levou milhares de pessoas às ruas é resultado de uma sucessão de erros do governo que causaram uma grande insatisfação popular, e não de uma grande conspiração anti-democrática da oposição.

• A Operação Lava Jato e os trabalhos da Justiça, defendem os oposicionistas, estão dentro da normalidade – não foi comprovada nenhuma ilegalidade nos atos do juiz Sérgio Moro, por exemplo, que está à frente da Lava Jato, apesar das controvérsias da condução coercitiva e da divulgação dos grampos de Lula.

• O golpe, apontam os oposicionistas, estaria sendo dado pelo próprio governo, que ao nomear o ex-presiden-te Lula para o importante ministério da Casa Civil o colocou, na prática, na condição de chefe de Estado – ao mesmo tempo em que estaria protegendo Lula dos trabalhos da Justiça, ao concedê-lo o foro privilegiado (Lula deixa de ser investigado por Moro e passa a responder apenas ao STF – isso se ele realmente se tornar ministro).

Não, Dilma não está sofrendo golpe

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Como você pode ver, a questão é bastante com-plexa. A experiência de 1964 mostra que o combate à corrupção já foi uma bandeira usada para der-rubar governos no Brasil. Semelhanças à parte, porém, não há sinal de que o Brasil passará por um golpe de Estado aos moldes de 1964, com tanques de guerra nas ruas e exílios forçados de líderes políticos. A acusação é de que o golpe agora estaria acontecendo pelo

Poder Judiciário, que tem se excedido em sua função de julgar (a possível ilegalidade da divulgação dos grampos de Lula é o principal argumento). Mas é igual-mente difícil afirmar que o Judiciário esteja trabalhan-do para derrubar o governo, e não simplesmente exer-cendo seu papel de julgar os fatos, mesmo que às vezes cometendo erros controversos.

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