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ISSN 2177-5087 Lorena, SP – Brasil volume 6, número 12, jul./dez. 2015 EDUCAÇÃO, CULTURA E COMUNICAÇÃO FACULDADES INTEGRADAS TERESA D’ÁVILA

ECCOM 12 – Revista de Educação, Cultura e Comunicação

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Revista de Educação, Cultura e Comunicação do Curso de Comunicação Social das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila – FATEA, Lorena, SP, Brasil.

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

ISSN 2177-5087

Lorena, SP – Brasil volume 6, número 12, jul./dez. 2015

EDUCAÇÃO, CULTURA E COMUNICAÇÃO

FACULDADES INTEGRADAS TERESA D’ÁVILA

LORENA - SP

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

ISSN 2177 – 5087

ECCOM – Revista de Educação, Cultura e Comunicação

Lorena, SP, volume 6, número 12, jul./dez. 2015

© Faculdades Integradas Teresa D’Ávila – FATEA

Especialização em Educomunicação e Novas Tecnologias

Cursos de Comunicação Social Jornalismo/Publicidade e Propaganda/Rádio, TV e Internet

ECCOM – Revista de Educação, Cultura e Comunicação / Faculdades

Integradas Teresa D´Ávila - vol. 6, n. 12 (2015). – Lorena, SP: Cursos de

Comunicação Social, 2015 –

Semestral

ISSN: 2177-5087

1. Educação - periódicos. 2. Cultura - periódicos. 3. Comunicação - periódicos. I.

Brasil, Faculdades Integradas Teresa D´Ávila.

CDU.001.5(05)

CDU 001.5 (05)

3

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Equipe Editorial

Editor Científico

Neide Aparecida Arruda de Oliveira, Fatea, Brasil

Editor Gerente

Neide Aparecida Arruda de Oliveira, Fatea, Brasil

Revisores

Neide Aparecida Arruda de Oliveira, Fatea, Brasil (Línguas portuguesa e inglesa)

Jefferson José Ribeiro de Moura, FATEA, Brasil (Normatização)

Conselho Editorial

Prof. Dr. Adilson da Silva Mello, UNIFEI, Brasil

Prof. Dr. André Luiz Moraes Ramos, UniFOA, Brasil

Prof. Dr. Carlos Manuel Nogueira, Universidade de Lisboa, Portugal

Profª Drª Débora Burini, UFSCar, Brasil

Profª Drª Lucia Rangel Azevedo, FATEA, Brasil

Profª Drª Olga de Sá, PUC-SP, FATEA, Brasil

Prof. Dr. Rosinei Batista Ribeiro, UniFOA, FATEA, Brasil

Prof. Dr. Walter Moreira, UNIMAR, Brasil

Prof. Dr. Wellington de Oliveira, PUC-SP, FAINC, FATEA, Brasil

Prof. Me. Jefferson José Ribeiro de Moura, FATEA, UNITAU, Brasil

Profª Me. Neide Aparecida Arruda de Oliveira, FATEA, Brasil

Publicação On Line

http://publicacoes.fatea.br/

http://www.issuu.com

http://www.doaj.org

© Faculdades Integradas Teresa D’Ávila – FATEA

Especialização em Educomunicação e Novas Tecnologias

Cursos de Comunicação Social Jornalismo/Publicidade e Propaganda/Rádio, TV e Internet

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SUMÁRIO

EDITORIAL

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O COMUNICADOR ORGANIZACIONAL E A INTERFACE DA

COMUNICAÇÃO COM A ÁREA DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO

Viviane Fushimi Velloso

7

PANORAMA PUBLICITÁRIO: PERSPECTIVAS DA GEOGRAFIA DA

COMUNICAÇÃO NAS ATITUDES DO BLUMENAUENSE EM RELAÇÃO À

PROPAGANDA

Fabricia Durieux Zucco, Mateus Romero Tamborlin, Cristina Schmitt Miranda,

Sara Joana Gadotti dos Anjos

23

DEVELOPMENT PROFESSIONAL PROGRAM IN TEACHING GRAMMAR:

(RE)CONSTRUCTION OF EFL TEACHER´S PEDAGOGICAL PRACTICES

Vagner Matias da Silva

39

ENSAIO SOBRE A COMUNICAÇÃO NAS REDES SOCIAIS - ALTERIDADE E

TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO

Lauren Ferreira Colvara

51

A IMAGEM EM DOIS POEMAS DE PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS

João Francisco Pereira Nunes Junqueira

59

CINEMA E EDUCAÇÃO: POR UMA PEDAGOGIA INDISCIPLINADA

DA IMAGEM

Maurício de Bragança

71

REPRESENTAÇÃO DO ‘NÓS’ E DO ‘ELES’ NA SEÇÃO CARTA AO LEITOR

DA REVISTA VEJA

Fábio Ferreira Pinto, Vânia de Moraes

81

A INTIMIDADE EM TEMPOS DE REDE SOCIAL DIGITAL – O

FACEBOOK E A MIDIATIZAÇÃO DO ÍNTIMO

José Antonio Martinuzzo, Heryck Luiz Jacob Sangalli

91

O EMPREGO DO ENUNCIADO "PADRÃO FIFA" NA MÍDIA APÓS OS

ESCÂNDALOS NO CENÁRIO DO FUTEBOL

Luiz Afonso Fernandes de Meirelles, Pedro Henrique Monteiro Whately Martins

109

“SISTEMA BASEADO EM CONHECIMENTO E SUA APLICABILIDADE NO

MARKETING

Adriana Bernadete Barros Carvalho Garcia

123

NORMAS PARA ENVIO DE ORIGINAIS

141

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EDITORIAL

Prezado leitor,

É com muita satisfação que a revista eletrônica Educação, Comunicação e Cultura – ECCOM,

coloca a sua disposição uma nova edição. São cinco anos e meio mantendo a periodicidade e

divulgando pesquisas científicas ligadas às áreas propostas em sua linha editorial.

Agradecemos a todos os pesquisadores que ao longo deste período têm submetido os artigos;

isso demonstra a confiabilidade no trabalho realizado.

O primeiro artigo “O comunicador organizacional e a interface da Comunicação com a área

de tecnologias da informação” reflete sobre o contexto das tecnologias da informação e a

crescente dependência das aplicações tecnológicas no ambiente organizacional e dos

negócios.

Em seguida, o estudo apresentado retrata o “Panorama Publicitário: Perspectivas da Geografia

da Comunicação nas atitudes do blumenauense em relação à propaganda”, que se propõe a

estudar se, assim como a cultura e os costumes, a propaganda também é vista de maneira

particular em diferentes contextos culturais.

Já o terceiro, de autoria do professor Vagner Mathias dos Santos, retrata o programa de

desenvolvimento profissional no processo de ensino da gramática: uma (re) construção das

práticas pedagógicas para professores.

“Ensaio sobre a comunicação nas redes sociais - alteridade e tecnologias de comunicação”, de

Laura Ferreira Colvara, trata da preocupação com estudos e afirmações sobre a sociabilidade

das redes sociais. Estar na rede não é comunicar, mas estar no risco de uma quase

comunicação que é afastada por um enquadramento existencial e de visibilidade.

O quinto artigo “A imagem de dois poemas de Péricles Eugênio da Silva Ramos” busca

evidenciar o método de construção imagético empregado pelo poeta Péricles Eugênio da Silva

Ramos (1919-1992) em dois de seus poemas: “Propiciação” e “Elegia à lua dos olhos de

prata”, ambos presentes na obra Lamentação floral, de 1946.

Em “Cinema e educação: por uma pedagogia indisciplinada da imagem”, de Maurício de

Bragança, é retratada a ubiquidade das telas e do audiovisual na sociedade contemporânea

exige uma reavaliação da utilização de imagens como recursos pedagógicos na sala de aula.

Já o sétimo artigo intitulado “Representação do ‘Nós’ e do ‘Eles’ na seção Carta ao Leitor da

Revista Veja”, visa apresentar, a partir da Análise Crítica do Discurso, a representação de

poder expressa num texto da seção Carta ao Leitor, da Revista Veja, intitulado “O mesmo

grau de certeza”, na qual essa se coloca como arauto da moral de defesa dos cidadãos, num

discurso polarizado entre o bem – Veja – e o mal – Marcos Valério e o ex-presidente Lula”.

O oitavo estudo trata-se da “A intimidade em tempos de rede social digital – O Facebook e a

midiatização do íntimo”, consiste de uma investigação sobre o conceito de intimidade no

âmbito da rede social digital Facebook.

O nono estudo tem por objetivo discutir as construções de sentido atribuídos pela mídia para o

enunciado "padrão FIFA" após os escândalos de corrupção envolvendo a maior entidade

administrativa do Futebol.

No décimo e último artigo desta edição, intitulado “Sistema baseado em conhecimento e sua

aplicabilidade no marketing” refere-se ao entendimento do marketing e suas ferramentas,

utilizando o Sistema Baseado em Conhecimento como uma abordagem para a tomada de

decisão, ou seja, determinar o tempo de entrada de um novo produto no mercado, analisando

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através do ciclo de vida do produto, qual é o melhor momento de lançar ou retirar o produto

do mercado, através do sistema baseado em conhecimento, que trabalha com inferências para

proporcionar uma melhor vantagem competitiva frente aos concorrentes.

Boa leitura a todos!

Neide Aparecida Arruda de Oliveira

Editora Gerente

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O comunicador organizacional e a interface da

comunicação com a área de tecnologias da informação

Viviane Fushimi Velloso

Graduada em Comunicação Social Habilitação Em Jornalismo pelo Centro Universitário das Faculdades

Integradas Alcântara Machado (1993), é mestre e doutora em Ciências da Comunicação pelo Programa de Pós-

graduação ECA/USP. Atualmente é professora assistente II da Universidade de Taubaté. Tem experiência na

área de Comunicação em Comunicação Organizacional, Assessoria de Imprensa e Cerimonial. Possui

conhecimento prático na Organização Editorial de Jornais, atuando principalmente nos seguintes temas:

magistério indígena, Editoração e Planejamento Gráfico, Marketing, Comunicação Integrada, Formação de

Gestores.

Resumo

No contexto das tecnologias da informação e a crescente dependência das aplicações tecnológicas no ambiente

organizacional e dos negócios, verificou-se a necessidade de compreender como o profissional de comunicação

organizacional percebe essa realidade. Por isso, por meio de uma pesquisa quantitativa, com metodologia

“snowball” para aplicação de questionários, buscou-se traçar o perfil de formação e atuação desses

profissionais nas organizações, bem como identificar o tipo de interação e expectativas que apresentam com a

área de tecnologias da informação. A investigação possibilitou identificar as habilidades dos profissionais de

comunicação organizacional, sua visão sobre a interação com a área de Tecnologias da Informação e detectar a

necessidade de aprofundamento sobre a realidade desse profissional de tecnologia, que impacta a realidade das

organizações.

Palavras-chave

Comunicação organizacional; Tecnologias da Informação e Comunicação; interação TI e Comunicação; Gestão

e Planejamento.

Abstract

In the context of information technology and the increasing dependence on technological applications in

organizational and business environment, there is a need to understand how the professional organizational

communication realizes this reality. So, through a quantitative research methodology with "snowball" to

questionnaires, sought to outline the profile of training and performance of these professionals in organizations

and identify the type of interaction and expectations that present with the area of information technology. The

research enabled us to identify the skills of organizational communication professionals, his vision of the

interaction with the area of Information Technology and detect the need for deepening of the reality of this

professional technology that impacts the reality of organizations.

Key words

Organizational communication; Information and Communication Technologies; IT interaction and

communication; Management and Planning.

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Introdução

As décadas de 1990 e 2000 apresentaram grandes alterações nas relações humanas:

sociais, econômicas e culturais. A tecnologia perpassa o desenvolvimento de novos modelos

socioeconômicos e questões envolvendo os poderes políticos e a identidade cultural. Nesse

contexto, “A Sociedade em Rede” (CASTELLS, 2008) é marcada pela alta circulação de

informação.

Esta nova estrutura social está associada ao surgimento de um novo modo de

desenvolvimento, o informacionalismo, definido historicamente pela

reestruturação do modo capitalista de produção até o final do século XX

(CASTELL, 2008, p. 51).

Diante da complexidade que se configura, a área da Comunicação enfrenta o desafio

de compreender a tecnologia em suas diversas vertentes. Desde as alterações de hábitos,

comportamento de consumo e relacionamentos, até o funcionamento e incorporação das

tecnologias nas organizações, com base à informação.

Nesse sentido, a pesquisa apresentada neste artigo busca evidenciar o perfil dos

profissionais organizacionais e sua visão sobre a interface com a área de Tecnologias da

Informação - TI. Considera-se que esse primeiro passo é essencial para compreender as

relações entre a comunicação e a área da TI, reconhecida na atualidade como indispensável

para o avanço das organizações e dos negócios.

A comunicação digital no contexto organizacional

Tendo em vista que a comunicação digital nas organizações necessita de sistemas

adequados às demandas pautadas nas redes sociais digitais. As Tecnologias de Informação e

Comunicação (TICs) são alvo de atenção para o desenvolvimento de estratégias de

relacionamento e de processamento de informações necessárias para a adequação das políticas

de comunicação.

Considera-se que, [...] as velhas e novas mídias colidem, onde mídia corporativa e

mídia alternativa se cruzam, onde poder produtor de mídia e o poder do consumidor

interagem de maneiras imprevisíveis (JENKINS, 2008, p.27). Nesse sentido, a atenção aos

relacionamentos se amplia pois, cria-se um espaço onde o real e o virtual se complementam

em uma relação de interdependência, que Castells (2009) chama de “virutalidade”. Essa nova

configuração exige a atualização e compreensão das necessidades relacionais humanas,

corporativas e da própria tecnologia.

Nesse contexto, os sistemas interligados processam as mais diversas e diferenciadas

informações sobre a organização, oferecendo a possibilidade de um detalhado relatório nos

formatos necessários para a condução do negócio.

A comunicação digital exige integração e ações coordenadas de áreas com a

Tecnologia da Informação, desenvolvimento e treinamento de pessoas, os

diferentes negócios em seus níveis operacionais e a comunicação corporativa

(TERRA, 2011, p. 21).

Porém a interação com a área de Tecnologias da Informação necessita de uma atenção

especial, uma vez que deve ser vista sob dois aspectos distintos, porém simultâneos: como

instrumento organizacional, que promove agilidade e dinâmica aos processos, e como área

organizacional, que apresenta conflitos comunicacionais e relacionais provenientes das

tensões do ambiente negocial.

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Nesse sentido, verifica-se que a interface com a TI torna-se imperativa, uma vez que,

diante da complexidade das organizações e dos princípios da Governança Corporativa, os

Sistemas Integrados de Informação passam a ser considerados requisitos básicos para a

garantia do controle e monitoramento organizacional. Dessa forma, a Comunicação

Administrativa torna-se mais eficaz para a estrutura decisória da organização, com estratégias

e ações alinhadas aos objetivos de negócio e com uma dinâmica tecnológica eficiente.

Dessa forma, é possível gerar processos mais ágeis de mensuração dos investimentos

em comunicação, com a criação de indicadores financeiros mais alinhados aos princípios de

Governança Corporativa. Dessa forma, segundo Yanaze (et al. 2013, p. 94-95), há a

possibilidade de “[...] escolher um painel coerente de métricas, que não leve os gestores a

conclusões erradas”. Ressalta-se também que, para isso, há a necessidade de “[...] entender

muito bem as funções da comunicação no contexto administrativo, mercadológico e

institucional” (YANAZE et al. 2013, p. 94-95).

Portanto, torna-se imperativo um levantamento pra verificar como os profissionais de

comunicação organizacional compreendem, atuam e consideram a interface com TI diante

dessa realidade.

Procedimentos metodológicos

Com o intuito de iniciar um levantamento sobre o perfil do profissional de

comunicação organizacional e sua visão sobre a interface com a área de Tecnologia da

Informação - TI, optou-se pela realização de uma da pesquisa descritiva para traçar o perfil

desses profissionais, seus conhecimentos sobre suas atividades, seu papel na organização e

sua visão sobre a TI.

A partir da coleta de informações com profissionais da área, foi possível construir uma

base de dados sobre os profissionais de Comunicação. Foi utilizado com instrumento de

coleta de dados um questionário estruturado (SAMARA; BARROS; 2007, p. 120) com

perguntas fechadas e apenas uma aberta – voltada para identificação espontânea de opiniões

pessoais sobre a interface.

O questionário identifica os tipos de experiência de interface com a área da TI

vivenciados e sua percepção acerca do profissional de TI. Além disso, para os profissionais

que não apresentam experiência de interface com TI, buscou-se identificar os motivos pela

falta de parceria e como percebem essa possibilidade de interação.

Definiu-se o método “Bola de neve” (snowball) técnica utilizada na antropologia e foi

proposta por Russell Bernard (1996), que tem como dinâmica a escolha aleatória de contatos

iniciais que são estimulados a convidar outros respondentes que considerarem interessantes

para a pesquisa. Essa técnica é aconselhada para população que se mostra dispersa e não

concentrada, como neste caso.

Considerando a realidade dos profissionais pesquisados, de interação, em seu

ambiente de trabalho, com computadores, internet e redes de relacionamento, evidencia-se a

adequação do método. A distribuição dos questionários, realizou-se por intermédio ferramenta

digital, via internet, denominada Surveymonkey - um sistema pago, que permite a fácil

integração com e-mail e redes sociais, além de oferecer sistema de segurança das informações

e limitação de respondente por IP – internet protocol, uma identificação entre máquinas.

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Para o encaminhamento dos e-mails, definiu-se, a partir da identificação de indivíduos

dos grupos de comunicação que apresentavam um bom “grau de centralidade no cluster”1,

aqueles que formariam o grupo disseminador dos questionários.

A estratégia de contato com os profissionais de interesse da pesquisa, iniciou com os

contatos pessoais da pesquisadora. Estes multiplicaram a pesquisa disponibilizando mailings

pessoais, ou encaminhando pessoalmente para seus contatos um link específico, gerado pelo

sistema de coleta do Surveymonkey, para cada multiplicador - denominado no sistema como

“Coletores”. Esses links específicos foram compartilha dos em dois grupos do Linkedin – Site

de Relacionamento Profissional – e apenas um deles apresentou três coletas, uma delas

multiplicou para mais 12.

Inicialmente, o cálculo amostral definiu, para uma população infinita - superior a cem

mil pessoas, 276 entrevistados, considerando margem de erro de 5% e o nível de confiança de

90%. Contudo, o acompanhamento diário da coleta registrou que, desde o registro de 60

entrevistados, não havia variação significativa das informações. Sendo assim, a coleta foi

interrompida com 151 profissionais de comunicação respondentes. O período da coleta

estendeu-se pelos meses: março, abril, maio e junho de 2013.

Perfil e visão dos profissionais de Comunicação sobre a interação

com a TI

A pesquisa quantitativa desenvolvida com profissionais de Comunicação

Organizacional registrou predomínio do gênero feminino nesse universo, como verifica-se no

Gráfico 1.

Gráfico 1 - Divisão dos profissionais de comunicação por Gênero Fonte: A autora

1 Termo abordado por MONGE, P durante módulo: Redes Sociais e Novas Mídias no contexto organizacional,

noV Congresso Científico Brasileiro de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas, realizado em São

Paulo, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, no período de 02 a 04 de maio de

2011.

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Breno et al. (2001) afirmam que “mulheres apresentam níveis de sociabilidade mais

altos que os homens”. Tais características femininas podem ser percebidas no ambiente

organizacional e, como afirmam os pesquisadores,

[...] as características positivas, como auto-estima, tendem a estar presentes

em sujeitos mais expressivos e com tato social, fazendo com que tenham

mais credibilidade com os outros, do que os sujeitos com ansiedade-social

(RIGGIO, THROCKMORTON & DEPAOLA, 1990; RIGGIO, TUCKER &

THROCKMORTON, 1987, apud BRENO et al. 2001).

Pode-se perceber que, na análise de percepção dos profissionais de TI sobre os

profissionais de comunicação (VELLOSO, 2014, p. 133), a positividade e a credibilidade se

manifestam na expectativa de parceria.

Verifica-se que o vínculo empregatício dos profissionais de comunicação

organizacional, configura-se como demonstrado no Gráfico 2.

Gráfico 2 - Vínculo empregatício dos profissionais de Comunicação Organizacional

Fonte: A autora

Percebe-se que os números apontam uma vinculação afetiva entre os profissionais

de comunicação organizacional e a empresa maior do que o índice dos profissionais de TI, ao

considerar a proporção de funcionários terceirizados (VELLOSO, 2014, p. 123). Dessa forma,

verifica-se que esses dados corroboram as análises anterior. Verifica-se que na prática da

terceirização em comunicação os principais serviços ofertados são os de clipping e de

publicações organizacionais dirigidas, geralmente realizadas por profissionais da área de

jornalismo, pela especificidade da atividade.

Com relação à formação do profissional de comunicação organizacional, verifica-se

que a maior parte deles inicia a formação na graduação, como mostra o Gráfico

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Gráfico 3 - Formação dos profissionais de comunicação organizacional.

Fonte : A autora

Verifica-se que mais da metade se encaminha para especialização na área ou para

MBA, e que complementam seu conhecimento organizacional, considerando que os

profissionais de comunicação são relativamente jovens, como demonstra o Gráfico 4.

Gráfico 4 - Faixa etária de profissionais de comunicação organizacional

Fonte: A autora

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Verifica-se que os profissionais de comunicação organizacional estão concentrados na

faixa de 21 a 30 anos, que 66% têm entre 4 e 10 anos de atuação na área e 27%, entre 1 e 3

anos. Verifica-se também que 79% são funcionários organizacionais, que 25% atuam com

comunicação Institucional, e 21%, com comunicação Administrativa Interna. Percebe-se,

dessa forma, que a grande concentração desses profissionais está voltado para o alinhamento

da organização com os princípios organizacionais aplicados ao público interno.

Ao depurar os dados para os profissionais de comunicação entre 31 e 40 anos,

verifica-se um percentual de 49% deles com mais de 10 anos na área. Verifica-se que 30%

atuam em comunicação institucional, que 32%, em Inteligência de Marketing, demonstrando

que nessa faixa etária estão os profissionais com mais tempo de experiência os profissionais, e

que 80% dos profissionais como funcionários organizacionais se dedicam ao alinhamento da

organização com os princípios organizacionais e análise de mercado.

Registra-se que, dentre os profissionais de comunicação que mais atuam em

organizações, se destacam jornalistas e relações públicas, como demonstra o Gráfico 5.

Gráfico 5 - Área de formação dos profissionais que atuam em comunicação organizacional

Fonte: A autora

Esta situação geral da área de atuação pode ser percebida na distribuição dos

profissionais nas áreas de atuação indicadas no Gráfico 6.

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Gráfico 6 - Distribuição das áreas de atuação dos profissionais de comunicação.

Fonte: A autora

Comunicação Institucional e a Inteligência de Marketing concentram a maior parte dos

profissionais de comunicação, com 33,77% e 24,50%, respectivamente. A Comunicação

Administrativa-Interna, com 18,54% e a Comunicação mercadológica, com 17,88%.

Estes dados demonstram, juntamente com os dados dos gráficos 3 e 4 depurados nas

análises, a importância da comunicação organizacional no alinhamento dos princípios

organizacionais, do mercado e a construção de uma imagem sólida perante dos stakeholders

organizacionais.

O tempo de atuação na área do profissional de comunicação evidencia-se uma

concentração em um faixa etária mais jovem e inicia suas atividades na graduação, como

estagiário, o que é demonstrado no Gráfico 7.

Gráfico 7 - Tempo de atuação na área de comunicação organizacional

Fonte: A autora

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Em complementação, registrou-se que 92% dos profissionais de comunicação

concentram sua atuação no estado de São Paulo. Pode-se atribuir esse resultado à

concentração de empresas e de tecnologia, bem como de centros de excelência nas áreas de

tecnologia e comunicação. Em segundo lugar, empatam, com 6,14%, Rio de Janeiro e Rio

Grande do Sul, do Brasil em parceria com empresas estrangeiras e do Brasil para empresas

estrangeiras.

Verifica-se que, no Gráfico 8, é a significativa interação de profissionais de

comunicação com profissionais da área de TI.

Gráfico 8 - Experiência de interação com a área de TI

Fonte: A autora

Na seqência, o Gráfico 9, evidencia a diversidade de interações já praticadas. Contudo,

há que se destacar que a prática de maior interação, com 56,12% das práticas, é a parceria no

desenvolvimento de sistemas de informação organizacionais. Nesse sentido, pode-se afirmar

que a interação tem sido orientada ao desenvolvimento de diferenciais competitivos no trato

das informações organizacionais. Isso porque os sistemas informacionais podem potencializar

a leitura de dados, bem como analisar dados anteriormente não considerados na tomada de

decisão.

Consequentemente, esse dado também acena para uma contribuição organizacional

significativa para o negócio e para o alinhamento das ações de ambas as áreas. Isso,

principalmente se for observado o segundo item mais assinalado, com 46,94%, a colaboração

no planejamento estratégico e/ou elaboração de peças de comunicação para a implantação de

sistema de informação organizacional e/ou governança de TI e alinhamento da produção de TI

ao negócio.

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Gráfico 9 - Tipos de Interação entre Comunicação e TI Fonte: A autora

Observa-se, a partir do quarto item, uma interação mais técnica da comunicação e da

TI, para atender as necessidades de comunicação da TI ou às necessidades de tecnologias de

informação da Comunicação.

Ainda nesse contexto, verifica-se que a percepção dos comunicadores sobre a

eficiência e eficácia das ações desenvolvidas ainda deixam a desejar, como se observa no

Gráfico 10. Todos os itens foram percebidos eficientes, porém, tendendo à pouca eficiência. O

único item que foi percebido, primeiramente, como eficiente, seguido de uma percepção

eficaz, com 41,75% e 28,16%, respectivamente, foi o desenvolvimento de pecas de

comunicação para a divulgação dos procedimentos de TI.

Tais observações evidenciam um domínio maior sobre a técnica, apontado por Grunig

et. al. (2009, p. 21-23) sobre a eficiência técnica das mulheres no desenvolvimento das ações

de relações públicas. A sistematização e aplicação da filosofia da comunicação integrada, no

trabalho de Kunsch (2003) também evidencia a qualidade técnica dos profissionais de

comunicação, pela diversidade e segmentação dos instrumentos da comunicação

organizacional.

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Gráfico 10- Grau de eficiência e eficácia das ações de comunicação em TI

Fonte: A autora

Os dados avaliados referentes aos profissionais de comunicação que não apresentam

proximidade com a área da TI ainda demonstra que, embora sem relação direta, o bom senso

sobre os tipos de possibilidades de interface são registradas e corrobora a visão dos

profissionais com experiências de interface.

Em visão crítica, os profissionais de comunicação apontam, no Gráfico 11, sua

percepção sobre as dificuldades do profissional de TI apresentam no ambiente organizacional,

no que diz respeito à forma de expressão, compreensão das necessidades e princípios

organizacionais e execução das demandas.

Cabe destacar a visão apresentada por profissionais de comunicação que ainda não

vivenciaram experiência de interface com a área de TI. Verificou-se que eles apresentam

noções sobre as possibilidades de interface, embora positiva, revelam percepção técnica

acentuada sobre a interação.

Gráfico 11 - Percepção dos profissionais de comunicação sobre as dificuldades dos profissionais

de TI

Fonte: A autora

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Cabe ressaltar que as capacidades indicadas foram levantadas a partir do estudo

exploratório em bibliografias e junto a profissionais das áreas de TI e Comunicação. Percebe-

se que a principal capacidade, percebida por 51,92% dos entrevistados como média e por

34,62% como baixa, é a principal característica apontada como fator crítico de sucesso, o

alinhamento da TI ao negócio.

Verifica-se que, para o alinhamento ser atendido de forma satisfatória, a capacidade de

compreensão dos princípios organizacionais deve ser atingida em maior índice do que o

percebido. Ou seja, como médio/baixo em 45,15% e 39,22%, respectivamente. Da mesma

forma, na definição de usuário ele é percebido também como médio/baixo em 40,95% e

38,10%, respectivamente, ainda que 16, 19%, percebam a capacidade como alta.

Esse conjunto apresentado corrobora a possibilidade de capacidade de conclusão do

negócio sem retificação também ser percebida como média/baixa, em 44,12% e 34,31%,

respectivamente. Da mesma forma, a percepção baixa/média, com 39,05% e 34,29%,

respectivamente, para a capacidade de cumprimento de prazos.

A observação dos profissionais de comunicação demonstra que a capacidade de

expressão e esclarecimento de ideias e processos também é percebida com índice

médio/baixo. Esse dado vem justificar a dificuldade de diálogo entre os envolvidos nos

processos organizacionais, o que ressalta a existência do Gap Comunicacional externo à TI,

apresentado inicialmente.

Uma questão aberta e não obrigatória compôs o questionário. Do total de 150

respondentes, 50 deles teceram comentários e observações espontâneas. Foi possível observar,

de forma sistematizada, que a percepção do profissional de comunicação sobre a interface

com TI dá ênfase à relação técnica entre as áreas. Nos aspectos positivos e negativos

proporcionalmente divididos, com 25 comentários cada um deles, identificaram-se três na

forma dicotômica, como se observa no Quadro 1. Os indicativos de neutralidade foram três,

que destacam a falta de capacitação e treinamento dos profissionais das duas áreas.

POSITIVO

Visão de suporte à TI

Dependência da TI.

TI como ferramenta

Visão de suporte mútuo

Visão de suporte ao negócio

NEGATIVO

Comuns

às duas áreas

Falta de entrosamento de ambos.

Diferenças de compreensão e ritmo entre as áreas

Capacitação e treinamento das áreas

Falta de entrosamento com as áreas organizacionais.

Linguagem técnica de ambos

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Problema organizacional, de sistemas incompatíveis.

Falta visão de negócio entre os dois.

Mundos opostos/princípio distinto:

o Comunicação – diálogo e colaboração

o TI - controle e autoridade. Além de acentuado individualismo e

pouca margem de negociação.

TI

Problemas de linguagem da TI

Conflito na percepção da TI sobre o negócio

Baixo engajamento

Falta percepção de TI sobre a comunicação

Falta qualidade na interação com o usuário

TI fechada em si mesma

Enfoque técnico, ágil e superficial.

NEUTRO

Critica a capacitação das áreas.

DICOTÔMICO

Positivo

1 - TI como ferramenta.

2 - Visão de suporte mútuo

3 - Visão de suporte ao negócio

Negativo

1 - Dificuldade em compreender a comunicação.

2 - Falta de definição de papéis e linguagem comuns.

3 - Resistências da TI, ineficácia no atendimento dos prazos.

Quadro1 - Posicionamentos dos profissionais de Comunicação sobre a Interface Comunicação e

TI

Fonte: A autora

Pode-se observar que, assim como os profissionais de TI (Velloso, 2014, p. 136), os

profissionais de comunicação organizacional avaliam a área de interface como instrumental

para atingir seus próprios objetivos. Nesse sentido, as percepções apresentadas demonstram a

necessidade de capacitação e conhecimento mais específico sobre a área de interface e recaem

principalmente sobre o reconhecimento de que elas se configuram como duas áreas

processuais.

Dessa forma, os resultados que ambas oferecem, a construção e condução dos

processos, são determinantes para a compreensão do potencial de cada uma. Portanto falta,

para cada área, entender mais especificamente os processos da área de interface, para ir além

20

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

da visão técnica e utilitarista que se verificou na pesquisa com os profissionais de TI e

Comunicação.

Considera-se, pois, que o potencial estratégico entre as áreas não foi explorado de

forma a possibilitar uma integração em prol do negócio. Por esse motivo, a capacidade de

potencializar as práticas organizacionais no sentido da inovação e diferencial competitivo

ainda não foi atingida.

Considerações finais

Os dados apresentados apontam para o predomínio do gênero feminino dentre os

profissionais da comunicação organizacional. Eles iniciam seus conhecimentos técnicos no

nível de graduação e suas atividades profissionais como estagiários. Este fato corrobora a

capacitação técnica que é evidenciada por pesquisadores como Grunig et. al. (2009).

Verifica-se uma pequena variação percentual entre profissionais de jornalismo,

relações públicas e publicidade e propaganda. Porém, com a margem de erro de 3% para mais

ou para menos, pondera-se que jornalistas e relações públicas são os profissionais que mais se

destacam atualmente na atividade de comunicação organizacional.

Ao identificar que a comunicação institucional se destaca dentre o composto de

comunicação nas organizações, justifica-se essa aproximação das áreas de jornalismo e

relações públicas, principalmente por avaliar que a assessoria de imprensa, um dos

instrumentos da comunicação institucional, apresenta pouca terceirização no que diz respeito

à equipe estratégica, composta por diversas funções profissionais e que concentra a maior

atuação de jornalistas.

Deve-se ponderar que a Comunicação Interna e Responsabilidade Socioambiental e

Sustentabilidade, estão mais relacionadas às habilidades e competências de relações públicas.

Na Comunicação Mercadológica, verifica-se uma necessidade técnica mais voltada para a

atuação de publicitários. Porém, a área mais genérica, Inteligência de Marketing, exige

conhecimento estratégico de pesquisa de mercado e vivência mercadológica e por isso, deve-

se considerar uma possibilidade maior para profissionais mais experientes, com mais tempo

de atuação e com habilidades que se aproximam mais das áreas de publicidade e propaganda e

relações públicas.

A pesquisa demonstra que a visão técnica que os profissionais de comunicação

organizacional têm sobre a interface com Tecnologias da Informação advém de suas

necessidades de aperfeiçoamento sobre questões como o monitoramento organizacional, ou

ainda, na atualidade, impulsionada pelas experiências com as mídias sociais.

A significativa interação com a área de TI dos profissionais de Comunicação

Organizacional, proporcionou o reconhecimento das dificuldades relacionais e

comunicacionais dos profissionais da área de TI. Porém as veem como entrave para o

desenvolvimento de técnicas comunicativas organizacionais e adequações tecnológicas para o

negócio, não como uma área organizacional a ser atendida por suas especificidades e pelo

significativo conflito organizacional que representam.

Contudo, fica evidente, que os profissionais de comunicação organizacional,

necessitam de visão clara sobre a área e os profissionais de TI nas organizações, para que

possa orientar uma atuação mais estratégica, com políticas organizacionais e comunicacionais

adequadas, também, para esse grupo. Haja vista especificidades da área em questões que se

iniciam na dificuldade se de comunicarem, até as diferença contratuais que coloca esse

profissional em condições especiais na estrutura organizacional.

21

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Panorama Publicitário: Perspectivas da Geografia da

Comunicação nas atitudes do blumenauense em relação

à propaganda.

Fabricia Durieux Zucco Doutora em Administração, Mestre em Administração, pós-graduada em Marketing. Publicitária formada pela

FURB. Atualmente é professora titular do curso de Publicidade e Propaganda da FURB e do Programa de

Mestrado e Doutorado em Turismo da Univali.

Mateus Romero Tamborlin Bacharel em Publicidade e Propaganda da Universidade Regional de Blumenau.

Cristina Schmitt Miranda Mestre em Administração, pós-graduada em Marketing Empresarial. Publicitária formada pela FURB.

Atualmente é professora do curso de Publicidade e Propaganda da FURB, da pós-graduação em Engenharia de

Produção da SOCIESC Joinville

Sara Joana Gadotti dos Anjos Doutora em Engenharia de Produção. Mestre em Engenharia de Produção e Bacharel em Administração.

Professora titular do curso de Administração da Univali e do Programa de Mestrado e Doutorado em Turismo

da Univali.

Resumo

Ao iniciar os estudos em Geografias da Comunicação, nota-se como as culturas locais fortaleceram-se a partir

da última década. Este trabalho se propõe a estudar se, assim como a cultura e os costumes, a propaganda

também é vista de maneira particular em diferentes contextos culturais. Desta forma, o presente estudo tem

como objetivo analisar as atitudes dos consumidores de Blumenau, cidade do interior do estado de Santa

Catarina, Brasil, em relação à propaganda. Utilizou-se o método de pesquisa quantitativa, adaptado do

construto original elaborado por Pollay e Mittal (1993), composto por 40 questões. O levantamento ouviu 400

blumenauenses, e abordou as sete dimensões relativas às atitudes dos consumidores: Informativa,

Hedônica/Prazerosa, Imagem e Papel Social, Corrupção de Valores, Falsidade, Boa para a economia e

Materialista. A análise dos dados apontou maior concordância às afirmações positivas em relação à

publicidade. Em contrapartida, as dimensões negativas são as que mais influenciam a percepção geral.

Palavras-chave

Geografias da Comunicação; Atitudes; Propaganda; Extensão.

Abstract

Starting studies in Geographies of Communication, it was possible to observe how local cultures strengthened

from the last decade. This study aims to investigate, as well as culture and behavior, advertising is also seen in a

particular way in different cultural contexts. Thus, this study aims to examine the attitudes of people who live in

Blumenau (blumenauense) concerning advertising. The quantitative research method was used, adapted from the

construct prepared by Pollay and Mittal (1993). The poll of 400 blumenauenses and questioned about the seven

dimensions concerning consumer attitudes: Informational, Hedonic/Delightful, Photography and Social Role,

Corruption Securities, Falsehood, Good for the economy and Materialist. The data analysis indicated greater

agreement with positive statements concerning advertising. In contrast, the negative dimensions are those that

most influence the overall perception.

Key words

Geographies of Communication, Attitudes, Advertising, Extension

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Introdução

Num contexto econômico, a propaganda estimula o consumo, incorpora inovações,

promove a concorrência e crescimento do PIB. Numa perspectiva social, considera-se a

promoção da mudança do comportamento da sociedade em benefício do comportamento

social, pois são programas quem visam aumentar a aceitação de uma ideia ou prática social.

Entretanto, para que a comunicação gere os resultados desejados, seu discurso precisa

ser bem recebido pelo público alvo, resultando, desta forma, em sua efetividade. Fraser e

MacBain (2011) reforçam a ideia de que os profissionais de comunicação devem conhecer

seus consumidores e o meio em que estão inseridos. Os autores apontam ainda a importância

de estar atentos com a percepção popular da propaganda, pois a forma como ela é vista possui

impacto significativo sobre a forma como as mensagens publicitárias são recebidas.

Visando compreender essa realidade em que as pessoas estão inseridas, destaca-se o

marco teórico das Geografias da Comunicação. A disciplina, que a princípio parece apenas

unir comunicação com territorialidade, traz uma visão mais ampla sobre a realidade cultural.

O estudo das geografias traz para a comunicação não apenas segmentações de localidade, mas

também de atitudes e valores, com o intuito de compreender suas particularidades

socioculturais (SILVA, 2013).

O campo teórico da Geografia da Comunicação e das culturas locais ganhou força na

última década a partir do movimento da globalização e das inovações tecnológicas. Em um

momento em que um lado do globo comunica-se com o outro em poucos segundos, surgiu a

ideia de um mundo único e unido. Paradoxalmente, esse fenômeno possibilitou o

conhecimento da cultura de diferentes costumes e povos, abrindo assim as portas para o

interesse em suas particularidades culturais.

A partir disso é possível questionar: Assim como os costumes e tradições, a

propaganda também é vista de maneira particular dentro de contextos culturais diferentes?

Compreender as atitudes dos cidadãos em relação à propaganda em determinada

localidade é importante, pois ao produzir uma peça de comunicação, produz-se também a

maneira como o produto será visto e consumido pelo público. Portanto, ao pensar a

comunicação com base nas particularidades regionais, cria-se relação entre os indivíduos, o

produto e seu meio social. (ASSIS; CARNIELLO, 2010)

Dentro desse contexto, este trabalho visa pesquisar e aprofundar a discussão acerca

das atitudes dos blumenauenses sobre a propaganda atual, e visa contribuir com a produção

científica neste campo de estudo.

Para tal pesquisa, foi utilizado como base o estudo realizado por Pollay e Mittal

(1993), o qual investiga as crenças e opiniões públicas perante a propaganda. Intitulado

“Public Opinion Toward Advertising”, a referida pesquisa aborda as atitudes e crenças das

pessoas em relação à propaganda, analisadas em duas dimensões: pessoal e social. Fatores

pessoais incluem informação sobre produtos, imagem e papel social, e hedônica/prazerosa. Já

a dimensão dos efeitos sociais aborda quatro fatores: boa para a economia, promove o

materialismo, corrupção de valores e falsidade. (POLLAY; MITTAL, 1993).

Ao analisar os estudos a respeito das atitudes dos consumidores acerca da propaganda

é possível identificar a utilização da escala de Pollay e Mital (1993) em mais de trezentos

artigos científicos publicados em revistas indexadas, o que consolida a validade do construto

desenvolvido pelos pesquisadores. No que se refere ao marco teórico da presente pesquisa,

destaca-se Schlosser, Shavitt e Kanfer (1999), Coulter, Zaltman e Coulter (2001), Petrovici,

Marinova e Lee (2007), Wang e Sun (2010), Ling, Piew e Chai (2010), Kemp, Bui e Chapa

(2012), Fang, Ansons, Chattopadhyay e Leboe (2012), Bhatt (2012), Mahmoud (2013),

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Yaakop e Hemsley-Brown (2014).

O presente estudo apresenta um recorte metodológico do Projeto de Extensão

Panorama Publicitário, aprovado em edital da Universidade Regional de Blumenau e está

estruturado em quatro seções: Introdução, Marco Teórico, Metodologia, Apresentação e

Discussão dos Resultados e Considerações Finais.

Marco teórico

A interação entre os mercados, intensificada através da globalização, acarretou num

aumento da competitividade e num bombardeio de informações para os consumidores. Este

cenário tem direcionado as organizações a desenvolverem estratégias específicas para

determinados mercados com o objetivo de aumentar as ligações regionais com determinado

público-alvo. Estratégias focadas em atitudes e valores de determinado público acarretam em

uma comunicação com a qual, segundo Assis e Carniello (2010), o público se identifique não

apenas por sua localização geográfica, mas por suas peculiaridades sociais e culturais. Nesse

contexto, é preciso compreender as peculiaridades e as atitudes dos consumidores em

determinados territórios.

Pensar sobre territorialidade exige, nos tempos atuais, levar em conta os aspectos não

apenas de natureza física ou política. Pesquisadores de diferentes áreas estão atribuindo às

discussões geográficas elementos relacionados à cultura, simbolismo e, principalmente à

comunicação. (ASSIS; CARNIELLO, 2010).

A relação interdisciplinar entre Geografia e Comunicação têm, cada uma à sua

maneira, o espaço como elemento comum. Para a Geografia, o espaço é seu objeto primordial

de estudo, tanto na área conceitual quanto no aspecto físico material. A Comunicação, por sua

vez, além de ter o espaço como seu suporte representativo físico, onde ela aparece, ainda tem

a capacidade de encurtar o espaço geográfico, graças ao uso das tecnologias digitais (SILVA,

2013).

Analisando essa influência na dinâmica social, Silva (2013) destaca que cada lugar, à

sua particularidade, insere-se na cultural global com uma carga maior ou menor de conteúdo e

densidade informacional. Os fatores distintivos entre os lugares serão as qualidades e

quantidades dessa carga cultural global, que se inter-relacionam e, juntas, compõem a cultura

e a particularidade local. (SILVA, 2013)

Ao produzir qualquer peça de comunicação, produz-se também a maneira como será

visto e, posteriormente, consumido, através de práticas ideológicas que produzem a

interpretação dos moradores locais através de imagem e discurso. É por meio da comunicação

que se estabelece a relação entre os indivíduos e o meio social, criando assim valor para as

marcas. (ASSIS; CARNIELLO, 2010)

Dentro desse contexto é importante que as marcas que quiserem criar valor na mente

dos consumidores, compreendam suas particularidades culturais para que possam inserir-se

nelas, por isso é de suma importância conhecer e compreender as atitudes de determinado

local sobre a propaganda.

Ling, Piew e Chai (2010) encaram as atitudes como o comportamento da audiência em

relação às mensagens publicitárias. E este comportamento pode ser indicado através de

respostas favoráveis ou desfavoráveis dos consumidores para um anúncio ou campanha.

Se o papel da propaganda for cumprido com êxito, ela irá influenciar as atitudes das

pessoas com relação à marcas e produtos. Yaakop, Hemseley-Brown e Gilbert (2012) expõem

que a propaganda visa mudar as percepções e atitudes por meio das comunicações de massa.

26

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

A atitude dos consumidores em relação à propaganda é um dos indicadores da eficácia

das mensagens publicitárias (LING; PIEW; CHAI, 2010).

À medida que os meios continuam evoluindo, surgem novos problemas

sobre a adequação do papel da propaganda. Os novos de comunicação

interativos intensificaram a preocupação com várias questões tradicionais, e

também levantaram algumas novas.

(ADLER, FIRESTONE, 2002, p. 41)

As atitudes gerais em relação à propaganda são retratadas em função de uma série de

fatores, sendo três de efeito pessoal e quatro de efeito social. Os fatores pessoais são:

informação sobre produtos; imagem e papel social; e hedônica/prazerosa. Já os fatores sociais

incluem os outros quatro fatores: boa para a economia; materialismo; corrupção de valores; e

falsidade. (POLLAY; MITAL, 1993)

Metodologia

A pesquisa efetuada neste estudo caracteriza-se como exploratória de caráter descritiva

quanto aos objetivos, e quantitativa quanto à abordagem do problema.

Para a obtenção dos resultados utilizou-se a pesquisa bibliográfica e a técnica survey.

A coleta dos dados deu-se na forma de um questionário estruturado e auto preenchível,

composto por 40 questões fechadas, distribuídas entre as 7 dimensões de análise e a

identificação sociodemográfica dos entrevistados.

A coleta de dados foi realizada na cidade de Blumenau, e o instrumento de coleta de

dados foi embasado na teoria de Pollay e Mittal (1993), que a partir de um aprofundamento

metodológico, desenvolveu uma escala para medir as atitudes dos consumidores em relação à

propaganda, o respectivo construto foi testado junto a moradores dos estados de Ohio e

Mississipi, nos Estados Unidos, posteriormente, outras pesquisas foram realizadas utilizando-

se a mesma escala, confirmando a consistência das variáveis, destacando-se Wang, Sun, Lei e

Toncar (2009), Wang e Sun (2010), Ling, Piew e Chai (2010), Kemp, Bui e Chapa (2012),

Yaakop e Brown (2013).

As alternativas de resposta basearam-se na escala de sete pontos de Likert, sendo 1

para discordo totalmente e 7 para total concordância.

Em síntese, o trabalho se orienta a partir das seguintes hipóteses:

- H1: A propaganda é percebida de maneiras diferentes dependendo do contexto social

e cultural onde é veiculada.

- H2: Há uma relação entre o escore das dimensões e a qualidade percebida dos

anúncios publicitários.

O universo da pesquisa contempla os cerca de 310 mil moradores da cidade de

Blumenau, enquanto a amostra, que é do tipo probabilística estratificada, reúne 400

respondentes. Além dos critérios demográficos, para a definição da amostra seguiu-se também

o critério de divisão geográfica dos bairros utilizada pela Prefeitura de Blumenau.

A realização do trabalho cumpriu as seguintes etapas: elaboração do questionário, pré-

teste, aprovação do questionário, treinamento da equipe de 15 entrevistadores, coleta de

dados, verificação, codificação e digitação das respostas, elaboração do relatório e

apresentação das conclusões do estudo. Para a análise dos dados, utilizaram-se os softwares

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Microsoft Excel e Statistical Package for the Social Sciences – SPSS.

A análise dos dados se baseou em técnicas da estatística descritiva, analítica e

inferencial, incluindo-se o cálculo de medidas de distribuição de frequência (média, mediana,

moda e desvio padrão), Alfa de Cronbach (Teste F), Modelagem de Equação Estrutural

(MEE), entre outros.

Apresentação e discussão dos resultados

A apresentação e a discussão dos resultados da pesquisa dividem-se em dois blocos. O

primeiro, chamado de estatística descritiva, traz os resultados do estudo a partir do cálculo de

medidas de frequências de resposta. A seguir, expõem-se as descobertas relacionadas ao

emprego de técnicas da estatística analítica e inferencial.

Os resultados apresentados constituem uma aproximação preliminar ao tema, com o

objetivo de contribuir para a realização de novas pesquisas dentro do campo de conhecimento

no qual se situa e do contexto econômico, geográfico e cultural no qual se enquadra.

Estatística descritiva

Os dados expostos a seguir nos mostram a média de cada dimensão pesquisada no

construto, que buscou analisar as atitudes dos blumenauenses em relação à propaganda.

Quadro 1 - Resultados Descritivos do Construto por Dimensão

Dimensão Média

Atitude Global 4,82

Informativa 4,97

Imagem e Papel Social 4,07

Hedônica/Prazerosa 4,55

Boa para Economia 4,95

Materialista 4,89

Falsa/Falta de Sentido 4,67

Corrupção de Valores 4,60

Média Geral 4,69

Fonte: Dados da Pesquisa.

Ao analisar o quadro 1, nota-se que a dimensão Informativa é a que possuiu maior

identificação do público. Portanto, para a maioria dos residentes de Blumenau, é importante

que a propaganda possua um caráter informativo evidente. O resultado do estudo se confirma

com o de Pollay e Mittal (1993), Rubin (2002), Wang, Sun, Lei e Toncar (2009), em que o

fator informativo também a mais evidente característica avaliada pelo público pesquisado.

A dimensão Boa para a Economia também foi bem avaliada entre os entrevistados,

com uma média de 4,95. Ou seja, os moradores de Blumenau compreendem que a propaganda

acelera a adoção de novos produtos e tecnologias, além de gerar empregos e concorrência

saudável entre produtos e empresas.

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Na terceira posição vemos o fator Materialista, com uma média de 4,89, representada

pela ideia de que a propaganda incita o consumo e o transforma em satisfação de

necessidades.

Olhando para as menores médias, temos Imagem e Papel Social (4,07), demonstrando

que na opinião dos moradores da cidade que os produtos anunciados em peças publicitárias

pouco influenciam seu estilo de vida e seu status social. Em seguida, também com uma

média baixa (4,55) está o fator Hedônica/Prazerosa, demonstrando que o blumenauense não

enxerga a propaganda como uma fonte de prazer ou entretenimento.

Desta forma, a avaliação média do construto, com base em todas as dimensões

avaliadas, recebeu nota média de 4,69. Sob esse contexto, apresentou resultados medianos

diante dos aspectos avaliados.

Quadro 2 - Resultados Descritivos do Construto por Variável

Dimensão Variável Média Moda Mediana Desvio

Padrão

Atitude Global

V24. No geral, eu considero a propaganda

uma coisa boa. 5,59 7 6 1,39

V28. Minha opinião geral em relação a

propaganda é desfavorável. 4,05 4 4 1,85

Informativa

V2. Propaganda é uma fonte valiosa sobre as

promoções locais. 6,11 7 7 1,17

V12. Propaganda me diz quais marcas têm

as características que eu estou procurando. 3,87 4 4 1,52

V22. Propaganda ajuda a manter-me

atualizado sobre os produtos / serviços

disponíveis no mercado.

4,92 5 5 1,44

Imagem e Papel

Social

V7. Através da propaganda aprendi sobre

moda e sobre o que comprar para me

destacar.

3,85 4 4 1,88

V10. Propaganda me diz o que as pessoas

com estilos de vida semelhantes aos meus

estão comprando e usando.

3,75 4 4 1,82

V17. Propaganda me ajuda a saber quais os

produtos que vão ou não refletir o tipo de

pessoa que eu sou.

4,61 4 5 1,73

Hedônica /

Prazerosa

V4. Geralmente a propaganda é divertida e

interessante.

4,92 5 5 1,44

V14. Às vezes eu gosto de pensar sobre o

que eu vi, ouvi ou li em anúncios. 5,22 7 6 1,70

V19. Às vezes, os anúncios são mais

agradáveis do que outros conteúdos de

mídia.

3,52 4 4 1,73

Boa para

Economia

V20. Em geral, a propaganda ajuda a

economia. 4,87 5 5 1,68

V23. Em geral, a propaganda é um

desperdício de recursos econômicos. 4,30 4 4 1,73

V29. Em geral, a propaganda promove a

concorrência, o que beneficia o consumidor. 5,67 7 6 1,43

29

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Materialismo

V11. Propaganda está nos tornando uma

sociedade materialista, muito interessada em

comprar e possuir coisas.

5,28 7 6 1,72

V15. Propaganda faz as pessoas compram

produtos que não podem pagar apenas para

se mostrar.

5,05 6 5 1,67

V25. Propaganda faz com que as pessoas

vivam em um mundo de fantasia. 4,20 4 4 1,75

V27. Devido à propaganda, as pessoas

compram um monte de coisas que realmente

não precisam.

5,01 7 5 1,69

Falsidade / Falta

de Sentido

V3. No geral, propaganda é enganosa. 3,8 4 4 1,52

V6. A maioria das propagandas insulta a

minha inteligência. 4,92 5 5 1,44

V18. Em geral, os anúncios apresentam uma

imagem fiel do produto anunciado. 5,22 7 6 1,70

Corrupção de

Valores

V13. Propaganda promove valores

indesejáveis em nossa sociedade. 4,20 4 4 1,75

V21. A maioria das propagandas distorcem

os valores da nossa juventude. 5,01 7 5 1,69

Fonte: Dados da Pesquisa.

Na dimensão Atitude Global, a variável favorável a propaganda foi a melhor avaliada,

com uma média de 5,59. Além disso, também apresentou uma moda 7, ou seja, a maioria das

pessoas considerou o maior índice possível para essa afirmação.

Na segunda dimensão, Informativa, a variáveis com mais destaque são as que abordam

novidades, sejam produtos novos ou promoções locais. A variável 2, que exibe a propõe a

propaganda como uma valiosa fonte sobre promoções locais foi a que recebeu maior média

dentro deste fator, 6,11. Obteve ainda nota máxima na moda (7), demonstrando grande

adesão à essa afirmação.

Dentro da dimensão Imagem e Papel Social tivemos uma variável destacada, e duas

semelhantes. A que mais se destacou foi a que afirmou que a propaganda ajuda as pessoas a

saberem quais os produtos refletem ou não seu estilo de vida. Essa variável recebeu média

4,61. As outras duas, que trazem a propaganda como forma de aprendizado de como se vestir

ou como se destacar, foram as que tiveram menores médias dentro desta dimensão.

Na dimensão Hedônica/Prazerosa, a variável com maior média (5,22) afirma “às vezes

eu gosto de pensar sobre o que eu vi, ouvi ou li em anúncios”. Essa variável teve grande

identificação com o público, demonstrada por receber moda 7. Isso demonstra o lado crítico e

reflexivo da população da cidade. Por outro lado, a variável com menor média (3,52) dentro

desta dimensão foi a que sobrepunha os anúncios a outros conteúdos de mídia. A baixa média

para essa afirmativa demonstra que o blumenauense não gosta de ter seu conteúdo

interrompido para a exibição de anúncios.

A menor média dentro da dimensão Boa para a Economia foi da afirmação “em geral,

propaganda é um desperdício de recursos econômicos”, com 4,30. Unindo este dado ao de que

a maior média (5,67) foi da variável que afirmava que a propaganda promove boa

concorrência e beneficia o consumidor e a alta nota da dimensão informativa, nota-se que o

blumenauense possui o esclarecimento de que a propaganda informa os produtos disponíveis

30

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

afim de ajudar o consumidor a exercer seu poder de escolha.

Dentro da dimensão Materialismo, a variável “propaganda está nos tornando uma

sociedade materialista, muito interessada em comprar e possuir coisas” foi a de maior média,

atingindo média de 5,28 e moda 7. A alta adesão à essa questão pode ser reflexo do grande

número de possibilidades disponíveis nas gôndolas para o consumidor, fator este avaliado

como positivo pelo mesmo.

A dimensão Falsidade/Falta de Sentido demonstrou uma visão favorável à propaganda.

A maior média da dimensão, atingindo 5,22, e moda 7 afirma que os anúncios apresentam, em

geral, imagens fiéis dos produtos anunciados. Essa visão positiva confirma-se ao analisar a

variável “no geral, propaganda é enganosa”, que obteve a menor média da dimensão, com 3,8.

Por fim, na dimensão Corrupção de Valores, mostrou-se a preocupação dos

blumenauenses com os valores transmitidos pela propaganda às gerações futuras. A afirmação

“a maioria das propagandas distorcem os valores da nossa juventude” recebeu média 5,01 e

moda 7, demonstrando alta adesão à esta variável.

O cruzamento dos dados com as variáveis demográficas dos entrevistados não revelou

nenhuma divergência grande a partir de suas divergências sóciodemográficas.

Quadro 3 - Correlação Sociodemográfica por Gênero e Região

Dimensões

MÉDIA

Gênero Região

Masc. Fem. Sul Norte Oeste Leste Central

Atitude Global 4,21 4,24 4,39 4,32 3,94 4,16 4,10

Informativa 5,59 5,63 5,68 5,57 5,42 5,44 5,63

Imagem e Papel

Social 3,65 3,93 3,97 4,16 3,44 3,71 3,57

Hedônica / Prazerosa 4,69 4,93 5,07 4,95 4,68 4,68 4,49

Boa para Economia 4,42 4,48 4,50 4,33 4,30 4,36 4,40

Materialismo 5,00 4,83 4,89 5,09 4,67 4,94 4,74

Falsidade / Falta de

Sentido 3,63 3,68 3,83 3,80 3,23 3,57 3,52

Corrupção de

Valores 4,09 4,38 4,26 4,33 4,09 4,27 3,97

Média Geral da

Dimensão 4,41 4,51 4,58 4,57 4,22 4,39 4,30

Fonte: Dados da Pesquisa.

A partir do quadro 4, podemos observar que, dentre as dimensões pesquisadas, houve

pouca divergência nas opiniões entre homens e mulheres. Este dado demonstra que, no que

diz respeito às atitudes globais, ambos os sexos interpretam a propaganda da mesma forma,

sejam com mensagens direcionadas ou não. Apesar da pouca diferença, as mulheres

obtiveram média maior que os homens na avaliação geral das dimensões, portanto, mostraram

31

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

que concordaram mais com as afirmações propostas do que os homens.

Quadro 4 - Correlação Sociodemográfica por Estado Civil e Renda

Fonte: Dados da Pesquisa.

Ao analisar o quadro 5, podemos observar que, dentre as dimensões pesquisadas,

houve pouca divergência percebemos que, assim como a anterior, não temos grandes

diversidade de respostas diante das variações sociodemográficas dos respondentes. Entretanto,

pequenas variações e padrões apareceram. Se analisarmos quanto ao Estado Civil, os

separados obtiveram maior concordância em quase todas as dimensões, exceto atitudes

globais e materialismo. Diante disso, os separados foram os que obtiveram a maior média de

concordância com as afirmações realizadas pelo construto.

A respeito da renda não observa-se também grandes variações. No geral, os

respondentes enquadrados na Renda 2 foram os que obtiveram maior concordância com as

afirmações, com média 4,68. Destaca-se na renda a dimensão Imagem e Papel Social, na qual

a média de concordância das respostas cai a medida que a renda do entrevistado sobe. O

mesmo fenômeno ocorre nas dimensões Hedônica/Prazerosa e Corrupção de Valores.

Estatística analítica e inferencial

A validade questionário é Alfa Cronbach – 0,929, confirmando a confiabilidade do

construto aplicado e o nível de coerência e veracidade dos entrevistados em relação às

dimensões estudadas, estando portanto validado para futuros estudos. Após a avaliação da

confiabilidade da amostra, realizou-se o diagrama de caminhos, ou Modelagem de Equação

Estrutural (MEE), que determina as relações entre as dimensões do estudo.

A figura 1, exposta a seguir, relata os resultados da Modelagem de Equação Estrutural

desse estudo.

Dimensões

MÉDIA

Estado Civil Renda

Solteiro Casado Separado Renda 1 Renda 2 Renda 3 Renda 4 Renda 5

Atitude Global 4,1 4,36 4,34 4,28 4,4 4,14 4,26 4,06

Informativa 5,61 5,53 6,03 5,88 5,81 5,43 5,66 5,58

Imagem e Papel

Social 3,72 3,8 4,32 4,13 4,14 3,62 3,81 3,17

Hedônica /

Prazerosa 4,67 4,93 5,31 4,94 4,92 4,83 4,73 4,4

Boa para

Economia 4,35 4,51 4,79 4,53 4,67 4,36 4,46 4,27

Materialismo 4,83 5,02 4,81 5,12 5 4,78 5,01 4,47

Falsidade / Falta

de Sentido 3,57 3,74 3,77 3,86 3,86 3,53 3,69 3,29

Corrupção de

Valores 4,01 4,51 4,57 4,44 4,63 4,09 4,33 3,47

Construto

Percepção P&P 4,36 4,55 4,74 4,65 4,68 4,35 4,49 4,09

32

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Figura 1 – Modelagem de Equação Estrutural

Fonte: Dados da Pesquisa.

Como apresentado na Figura 1, o maior relacionamento com o construto Percepção da

Propaganda ocorre na dimensão Corrupção de Valores, apresentando um índice de 61% de

relacionamento, ou seja, as opiniões dos entrevistados com relação a Corrupção de Valores

foram semelhantes entre si.

Em seguida, temos a dimensão Materialismo, que apresentou o segundo maior índice

de relacionamento com a Percepção da Propaganda, com 59%. O terceiro maior índice de

relacionamento com o construto foi Informativa, com 48% de relacionamento.

Ou seja, com base nos dados descritos acima, podemos compreender que as dimensões

Corrupção de Valores, Materialismo e Informativa, são as que mais contribuem para a

formação da Percepção da Propaganda.

Quanto aos aspectos sociodemográficos, a Percepção da Propaganda foi mais

influenciada pela Ocupação, em que apresentou índice de 19%, seguida do Gênero, com 12%.

Esses baixos índices de relação com o construto demonstram que as características

sociodemográficas da população blumenauense pouco influenciam em sua opinião sobre a

propaganda.

Para mensurar as relações entre as dimensões e variáveis do construto, utilizou-se

também a aplicação da Análise Fatorial. Para tal, o presente estudo seguiu dois critérios:

extração dos fatores com autovalores maiores que um e comunalidades maiores que 0,50.

Destaca-se que dois testes estatísticos foram realizados para iniciar a análise, Kaiser (,932) e

Barlett (3276,321). A Tabela resume a variância explicada pelos fatores com autovalores

maiores que um para a aplicação do construto.

33

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Quadro 53 - Análise Fatorial do Construto

Variáveis

Fatores

1 2 3

V1 No geral, eu considero a propaganda uma coisa

boa. 0,672 - -

V2 Minha opinião geral em relação a propaganda é

desfavorável. - - -

V3 Propaganda é uma fonte valiosa sobre as

promoções locais. - - -

V4 Propaganda me diz quais marcas têm as

características que eu estou procurando. - - -

V5 Propaganda ajuda a manter-me atualizado sobre os

produtos / serviços disponíveis no mercado. 0,533 - -

V6 Através da propaganda aprendi sobre moda e sobre

o que comprar para me destacar. - 0,53 -

V7

Propaganda me diz o que as pessoas com estilos de

vida semelhantes aos meus estão comprando e

usando.

- - -

V8 Propaganda me ajuda a saber quais os produtos que

vão ou não refletir o tipo de pessoa que eu sou. - - -

V9 Geralmente a propaganda é divertida e

interessante. - - -

V10 Às vezes eu gosto de pensar sobre o que eu vi, ouvi

ou li em anúncios. - - -

V11 Às vezes, os anúncios são mais agradáveis do que

outros conteúdos de mídia. - - -

V12 Em geral, a propaganda ajuda a economia. - - -

V13 Em geral, a propaganda é um desperdício de

recursos econômicos. - - -

V14 Em geral, a propaganda promove a concorrência, o

que beneficia o consumidor. 0,565 - -

V15

Propaganda está nos tornando uma sociedade

materialista, muito interessada em comprar e

possuir coisas.

- - -

V16 Propaganda faz as pessoas compram produtos que

não podem pagar apenas para se mostrar. - 0,561 -

V17 Propaganda faz com que as pessoas vivam em um

mundo de fantasia. - 0,567 -

34

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

V18 Devido à propaganda, as pessoas compram um

monte de coisas que realmente não precisam. - 0,573 -

V19 No geral, propaganda é enganosa. - - -

V20 A maioria das propagandas insulta a minha

inteligência. - - -

V21 Em geral, os anúncios apresentam uma imagem

fiel do produto anunciado. - - 0,505

V22 Propaganda promove valores indesejáveis em

nossa sociedade. - 0,539 -

V23 A maioria das propagandas distorcem os valores da

nossa juventude. - 0,557 -

Fonte: Dados da Pesquisa.

O Fator 1, nomeado por Utilitária representa as variáveis V1, V5 e V14 e significa que

a propaganda é vista com bons olhos pelos respondentes deste fator. O Fator 1 enquadra as

pessoas que atribuem um fator utilitário à propaganda, ele avalia o nível de concordância da

amostra acerca da utilidade da propaganda para seu público receptor. A construção deste fator

é representada por três questões, conforme o quadro 6.

Quadro 6 - Questões que compõem o Fator 1: Utilitária

V1 No geral, eu considero a propaganda uma coisa boa.

V5 Propaganda ajuda a manter-me atualizado sobre os produtos / serviços disponíveis

no mercado.

V14 Em geral, a propaganda promove a concorrência, o que beneficia o consumidor.

Fonte: Dados da Pesquisa.

Já o segundo fator, denominado Contraventora, representa os valores dúbios

incentivados pela propaganda. Nele verifica-se o quanto a indústria publicitária corrompe

valores pré-estabelecidos pela sociedade e o quanto deixa de contribuir para os valores éticos.

Este fator é formado por seis afirmações, que podem ser observadas no quadro 7.

Quadro 7 - Questões que compõem o Fator 2: Contraventora

V6 Através da propaganda aprendi sobre moda e sobre o que comprar para me

destacar.

V16 Propaganda faz as pessoas compram produtos que não podem pagar apenas para

se mostrar.

V17 Propaganda faz com que as pessoas vivam em um mundo de fantasia.

V18 Devido à propaganda, as pessoas compram um monte de coisas que realmente não

precisam.

V22 Propaganda promove valores indesejáveis em nossa sociedade.

V23 A maioria das propagandas distorcem os valores da nossa juventude.

Fonte: Dados da Pesquisa.

35

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Propaganda pode ser vista como propositalmente enganosa, ou trivial e confusa. Essas

são as características analisadas pelo terceiro e último fator. Denominado Crível, é composto

por uma única variável, que aborda os aspectos referentes a confiabilidade e credibilidade dos

anúncios produzidos. O quadro 8 expõe a variável que compõe este fator.

Quadro 84 - Questão que compõe o Fator 3: Crível

V21 Em geral, os anúncios apresentam uma imagem fiel do produto anunciado.

Fonte: Dados da Pesquisa.

Já o terceiro fator, denominado Crível, representa a credibilidade em relação as

imagens apresentadas nas propagandas. Este fator é formado por uma variável.

Considerações Finais

Observou-se neste trabalho a importância de conhecer o papel da propaganda dentro

de uma sociedade. As peças de comunicação produzidas pelas empresas e agências locais

apresentam aos cidadãos representações que, por sua vez, interferem na dinâmica social e do

momento em que se vive.

É importante compreendermos as atitudes dos cidadãos em relação à propaganda em

uma determinada localidade. As peças publicitárias moldam a maneira como os produtos e

serviços serão vistos pelos cidadãos, portanto, ao pensar comunicação a partir de uma

realidade regional, cria-se conexão entre os indivíduos, o meio em que estão inseridos, e as

marcas e produtos, incrementando desta forma o valor da imagem do anunciante.

As atitudes em relação à propaganda definem uma predisposição para responder de

forma favorável ou não às peças de comunicação. São baseadas em percepções individuais,

quem vem do seu julgamento de veracidade, credibilidade e propósito. As atitudes refletem o

comportamento da audiência em relação às mensagens publicitárias. Suas atitudes são

indicadores de efetividade das mensagens, são refletidas em seus pensamentos e sentidos e,

consequentemente, em atitudes de compra ou identificação por determinada marca.

O presente estudo teve como objetivo analisar as atitudes dos blumenauenses em

relação à propaganda. Após a coleta e análise dos dados coletados em capo, pode-se afirmar

que a média geral do construto ‘Attitudes Toward Advertising’ em Blumenau é de 4,69.

A dimensão Informativa, que compreende a propaganda como meio de levar

informação aos consumidores, recebeu a melhor avaliação do construto, com média 4,97. A

segunda dimensão mais bem avaliada foi Boa para a Economia, com média de 4,95, que

define a propaganda como ferramenta de desenvolvimento econômico. As altas médias desses

dois fatores demonstram com clareza o pensamento do blumenauense em relação à sua

interpretação da propaganda em relação a sua forma e função.

Em contra partida, a dimensão Materialista, que compreende a propaganda como

influenciadora de compras desnecessárias, obteve média 4,89. Ou seja, o blumenauense tem

claro em sua percepção que o objetivo principal da propaganda é vender. No geral, a

propaganda é bem vista pelo blumenauense. A afirmação “eu considero propaganda uma coisa

boa” obteve média 5,59 e moda 7, demonstrando alto nível de concordância com essa

afirmação. Dentro desse contexto, alerta-se também para a necessidade de uma mudança de

atitude por parte dos participantes da indústria publicitária (agências e fornecedores) com o

intuito de reverter essa imagem negativa hoje presente na mente dos cidadãos. Essa mudança

deve iniciar-se de dentro para fora, cabendo aos envolvidos exteriorizar esse movimento de

36

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

novas atitudes, em que a comunicação cada vez mais cria valor e soluções para os

consumidores, além de apenas vender produtos.

A propaganda pode ser encarada, em Blumenau, como um mal necessário, que traz

seus benefícios, mas pede algo em troca. Entende-se aqui um consumidor e cidadão mais

consciente, percebendo que, sob os valores positivos que a propaganda entrega, há um

objetivo maior: o da venda.

Através da Modelagem de Equação estrutural foi possível verificar os fatores que

mais influenciam na percepção geral em relação à propaganda. O maior relacionamento

ocorreu com as dimensões negativas, Materialismo e Corrupção de valores. A MEE evidencia

que, principalmente esses dois fatores, merecem atenção especial por parte dos publicitários

que desejam melhorar a visão dos cidadãos sobre a propaganda atual, pensando em ações que

reduzam as percepções negativas.

A contribuição deste estudo, sob o ponto de vista empírico, direciona os envolvidos

na indústria publicitária de Blumenau que querem melhorar a imagem do segmento em que

atuam perante a população geral. No aspecto teórico, apresentou uma adaptação e abordagem

locais de uma pesquisa realizada a nível internacional.

Como sugestão para futuros estudos indica-se a realização da pesquisa em outras

cidades, para base de comparação das percepções regionais. Além da realização em um

mesmo local, após alguns anos, com o intuito de analisar as mudanças e movimentos da

propaganda e suas consequências na percepção do meio.

Sugere-se também extensão da investigação para uma pesquisa qualitativa com os

profissionais da indústria publicitária de Blumenau, com o intuito de verificar suas percepções

e relacioná-las com as percepções dos cidadãos. Além disso, sugerem-se também estudos

mais aprofundados em dimensões específicas.

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

39

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Development professional program in teaching grammar:

(re)construction of EFL teacher´s pedagogical practices

Vagner Matias da Silva

Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté (2007) e curso de aperfeiçoamento em ensino de

inglês como Língua Estrangeira pela Universidade de Oregon (2012). Atualmente é professor nas Faculdades

Integradas Teresa D´Ávila. Professor titular de Inglês e de Português da Rede Pública do estado de São Paulo.

Resumo

O ensino de gramática em aulas de Inglês como Língua Estrangeira, como ferramenta para solucionar uma

tarefa tem sido um assunto discutido em muitos estudos, particularmente naqueles baseados em perspectivas em

que os elementos sistêmicos são trabalhados pragmaticamente. Nessa perspectiva, livros didáticos e outros

materiais têm sido desenvolvidos para o ensino de Inglês como Língua Estrangeira, no entanto, é evidente que

há uma deficiência no que diz respeito às atividades cujo objetivo é construir conhecimento sobre os aspectos

sistêmicos da língua-alvo. Com base nessas constatações, este estudo propôs a aplicação do “PSTDP

Essentials” em um grupo de professores de Inglês das redes públicas estadual e municipal da região histórica

do Vale do Paraíba a fim de investigar quais as mudanças nas crenças e prática pedagógicas de professores de

Inglês durante um curso de formação contínua com base no ensino de gramática. Para alcançar o objetivo

desta pesquisa, primeiramente foi discutido a construção do conhecimento nas aulas de Inglês como Língua

Estrangeira (LE) à luz da perspectiva Vygotskiana, pontuando como acontecem os estágios de reflexão pelos

quais os participantes do processam passam. Após isso, apresentamos “PSTDP Essentials”, um curso de

formação continua baseado no ensino da gramática, e finalmente, foi feito um estudo sobre a linguística

sistêmico-funcional como ferramenta de análise do discurso. Os resultados revelaram que os professores

tiveram suas crenças modificadas na forma como suas práticas pedagógicas são construídas, durante o curso,

em quatro diferentes momentos.

Palavras-chave

Programa de formação contínua; ensino de gramática; construção do conhecimento.

Abstract

Teaching grammar in EFL classes as a tool to solve tasks has been the topic discussed in many studies,

particularly grounded in perspectives in which the systemic elements are worked pragmatically. In this

perspectives, textbooks and other class materials have been developed, however, it is seen there has been a lack

of activities whose aim is to construct knowledge on the systemic aspects of the language. Based upon these

observations, this study proposed application of PSTDP Essentials to a group of English teachers of the state

and municipal schools of the historical region of Paraiba Valley in order to investigate what changes in EFL

teacher´s pedagogical beliefs and practices are through a Professional Development Course based on teaching

of grammar. To achieve the objective of this research, at first, it was discussed the construction of knowledge in

EFL classes in the light of the Vygotskian perspective, pointing out how the stages of concern which the

participants of the process go through happen. After that, we presented PSTDP Essentials, a professional

development program grounded in teaching grammar, and finally, there was a study on systemic functional

linguistics as tool to analyze discourse. The results revealed that the teachers who participated of PSTDP

Essentials have had their beliefs changed on the way their pedagogical practices are constructed, during the

course, in four different moments.

Key words

Professional Development Program, Teaching of grammar, construction of knowledge.

40

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Introduction

Language teachers have their professional development formation much before going

to a major in languages, i.e., they start constituting discursively from their experience as

students much before beginning their pedagogical practice (LARSEN-FREEMAN, 1983;

BAILEY, et al. 1997), this, therefore, does not take into account the experiences teachers have

had, which is a rich source to develop their teaching skills. Furthermore, many Professional

(Development) Teaching Courses have its dogma grounded in the transmission of knowledge

which does not enable the (future) teachers to establish a relationship between theory and

practice (CASTRO & ROMERO, 2006), i.e., critical thinking is not considered in the

constitution of knowledge on their teaching practice.

In the same perspective, studies on how teachers should evaluate their classroom

context (CASTRO & ROMERO, 2006; HARSHBARGER, 2012; JOHNSON,1999;

LARSEN-FREEMAN, 1983; REID, 2012; RICHARDS, 2008;) have focused on how

language can be taught, what teachers need to do so as to evaluate how effective their

teaching is and what they can do to (re)construct their posture to adequate their context needs.

In these studies it is clearly important both the knowledge on the target language and the way

it is taught.

Grounded in the socioconstructivism approach, the documents which guide and

organize the educational system in Brazil (BRASIL, 1998 and 2006) and the curriculum of the

Educational Board of São Paulo (SÃO PAULO, 2010) (SEE) mention that the teaching and

learning process of English as Foreign Language (EFL) must be centered in the discursive

engagement of the learner, considering his/her social, cultural and political position. In this

perspective, in which teachers and learners are the protagonists, the SEE (SÃO PAULO,

2010) and the National State Standards (NSS) (BRASIL, 1998 and 2006) suggest the

language must be taught through activities socially relevant, considering besides all the

language functions, aspects such as the context of production where a specific piece of

language is produced, the textual organization of it and its systemic elements. This way, it is

assumed learners can understand better why and what for they study a particular element of

the foreign language (FL).

The Regional Language Office in Brazil (RELO) developed a course – Public School

Teacher Development (PSTDP) Essentials - which brings EFL teachers subsidies to improve

their language skills and also ways to reflect upon the teaching of grammar in a

communicative way. This course offers strategies to teach some grammar points which are

quintessential to understand language. Furthermore, it helps the teachers to realize ways to

teach grammar in their classes in order to support their students more effectively to use the

language appropriately in a communicative way. Therefore, we can assume that the subsidies

provided by the RELO have to do with the needs of both teachers and students of public

schools as they have the tools to apply in their teaching and learning contexts, assuming this

is the concept suggested by the documents which guide and organize the basic education in

Brazil (BRASIL, 1998 and 2006; SÃO PAULO, 2010).

Based on these views, this paper proposed the application of PSTDP Essentials to a

group of English teachers of the state and municipal schools of the historical region of Paraiba

Valley in order to investigate the following issue:

What are the changes in EFL teacher´s pedagogical beliefs and practices through a

Professional Development Course based on teaching of grammar?

To achieve the objective of this study, at first, it was gathered as theoretical

background on construction of knowledge in the light of the historical and social vygotskian

approach, and inside of it, studies on stages of concern (REID, 2012), which depict the stages

41

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

of the construction of knowledge. Then, there is the description of PSTDP Essentials. Finally,

it is presented the Systemic Functional Linguistic as a tool of discourse analysis.

Construction of knowledge in EFL classes

The knowledge is constructed in social interactions which occur in activities the

individuals take part of, and the language is the instrument which mediates this process.

According to Vygotsky (1934/2005), the language is the means by which people convey

meanings when they interact with others. During the negotiation of meanings which occur in

social interactions, the participants construct new concepts, which is a result from the

synthesis between the knowledge they already possessed and the new ones.

Vygotsky (1934/2005) claims that there are two types of concepts: spontaneous and

scientific. The former, according to the author, is constructed based on the experiences

acquired during the life. The second is gained during schooling period. Both concepts develop

at the same time, since they relate and influence each other constantly; being part of the same

process, in which inner and outer factors have a quintessential role in their formation

(VYGOTSKY, 1934/2005).

In contexts of professional development, such as the teachers´ one, the process of

construction of knowledge enables teachers to (re)build their own posture and practice in EFL

classes, since through language they can rethink their routine in classes as well as describe,

analyze, and interpret their own practice (MAGALHÃES, 2004).

In consonance with the social-historical vygotskian perspective, Reid (2010) argues

that changes in language classroom are a continuous and ongoing process which is a result of

the changes in participants´ background knowledge and experiences. The author mentions that

changes in language classroom contexts are dependent on the choices participants make

during the teaching and learning process. When “we choose to change, we recognize the

benefits of the change, and we realize that our choice involves both responsibility and

consequences” (REID, 2010). This concept, therefore, has to do with how teachers can

(re)build their practice in EFL classes, assuming that language has an important role in the

construction of knowledge , since it is an instrument which does not only transmit messages

and information, yet provokes, awakes, constitutes and changes thoughts, actions, even

identities (CASTRO & ROMERO, 2006).

In her studies, Reid (2010) points out that when participants can remember, practice

and motivate themselves with the new information, they are aware of the benefits of change.

In professional development course, for example, teachers are given the possibility of practice

the ideas of teaching and learning process in the context and check whether they are worthy or

not and try other possibilities.

Grounded in Hord et al (1987), Reid (2012) indicates the Concerns Based Adoption

Model (CBAM) as an applicable sample to promote changes in language classrooms. This

pattern has shown that there are seven stages of concern in the change process, which occur

when participants faces a new concept. This pattern, then, has to do with the concept of

construction of knowledge (VYGOTSKY, 1934/2005) as the stages show the relationship

between spontaneous and scientific knowledge.

According to Hord et al (1987 apud REID, 2012) there are 7 stages which participants

go through so as to promote changes: awareness, information, personal, management,

consequences, collaboration, refocusing.

In the first two stages, awareness and information, the introduction of new

information is the focus. In this moment, it is expected to raise the participants´ awareness

42

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

besides establishing credibility and trust among them (REID, 2012). As this happens through

interaction, it is assumed participants take roles in providing and requesting information

(VYGOTSKY, 1934/2005), therefore, one is responsible to interest the other in learning the

information, and, on the other hand, this other only need to be interested and willing to learn

(REID, 2012). The third stage of concern, personal, “occurs after the individual has learned

about change but before the individual has committed to that change” (REID, 2012, p.11).

According to the author, this is a crucial moment of learning process because it is filled with

reluctance, frustration, even resentment. Reid (2012, p.11) argues that when participants

“have opportunities to practice and receive feedback on their work, they will probably find the

acquisition of new knowledge – the change – beneficial and thereby will commit to that

change”. This is likely to happen because, according to NSS (BRASIL, 1998) during the

construction of knowledge on the language, participants can reflect on how, why and what for

they are learning in such way. The fourth stage, management, happens when students have

committed to the change. In this moment, it is expected time- and effort-management. Reid

(2012) mentions that

the amount of work seems overwhelming, the time spent doing the work

seems endless, and there is an inability to prioritize or to complete work. Our

language students are often in the same predicament: added with many

changes in their lives, having very little perspective about long-term

objectives and even less understanding of the prioritizing of work and skills,

they feel helpless, and, as a result, they may even retreat to the personal

stage of concern.

The fifth state of concern, consequences, shows how the student can assume

responsibility on their learning process which, according to Reid (2012, p .12) “can have a

significant impact on the class, since the result is a commitment by the students to

independent and long-term learning.” The author mentions that in this moment of the learning

process, learners know how to manage their learning because “they have the self-confidence

to embark, individually, on work within the specific change area and, importantly, to evaluate

how well their skills, strategies, knowledge, and the products associated with the knowledge

constructed” (REID, 2012, p. 12). The last two stages of concern, collaboration and

refocusing, are entirely the responsibility of the students as Reid (2012) advocates. It is in this

moment participants “put their knowledge to work, adapt it to fit specific situations outside

the classroom, and modify it to fit their own needs” (REID, 2012, p.12).

Afterwards, we can say that all these seven stage of concerns occur in context of

teaching and learning through the interaction of the participants. These participants share

social, political and historical beliefs and thoughts (VYGOTSKY, 1934/2005) which establish

the construction of the knowledge on the target language and the development of

psychological mechanisms, such as conscious control of the behavior, voluntary attention and

remembrance, memorization, abstract thought, deductive reasoning, capacity of planning.

PSTDP Essentials

The Public School Teacher Development Program (PSTDP) Essentials is a project

devised by the Regional Language Office in Brazil (RELO), which is part of the Bureau of

Educational and Cultural Affairs of the U.S. Department of State, and sponsored by the

American Embassy. The program focuses specifically on improving the way grammar is

taught, assuming it as a linguistic tool to solve tasks in the target language. As for its goals,

PSTDP Essentials aims to improve the English language classroom practices and to increase

the English language proficiency of public school English language teachers. To achieve both

of these, through experiential learning and short video clips which is a concise grammar

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

instruction, the teachers study different elements of English Language Teaching (ELT)

methodology. Moreover, they participate in reflective discussions and encouraged to practice

these elements in their own classrooms and produce short reports. The course is taught using

a communicative approach with engaging activities so that teachers have a teaching model

that encourages reflection and inspiration of their own teaching practices. Learning activities

were based upon 4 components: Experience; Reflection; Analysis and; Application. For the

experience and reflection components, participants were in the role of “language learner”. For

the analysis and application components, participants were in the role of “language teachers”.

PSTDP Essentials in Aparecida/SP had 5 meetings of 6 hours each, which took place

every Saturdays. In the first meeting, teachers were exposed to ELT methodologies and

critical thinking studies, through which they were led to discuss about and associate these

studies with their teaching practices. Besides that, they took part of activities which illustrated

these methodologies and how the course would be carried out. From the second meeting

onwards, the course was divided into three parts: a) Discussion on their class reports; b)

Engaging in new activities and grammar studies and; c) Discussion on the applicability of the

new activities.

In the first part, discussion on their class reports, teachers were engaged to discuss the

applicability of the activities they were in contact with in previous classes. They were

motivated to say what worked or not in their classes, and what they would do differently. In

the second part, engaging in new activities and grammar studies, teachers took part in

activities grounded in ELT methodologies they previously studied and in a new grammar

content. After each activity they experienced, a discussion about what they liked on the

experience they had was carried out. In the last part, discussion on the applicability of the new

activities, the group reflected on the applicability of the activities they had just experienced.

Systemic Functional Linguistic

It is clear that since very early, when we are still acquiring the language, we realize

that its composition and structure are never the same; they change when they are used in

different situations (BUTT et al., 2001). When the participants of an interaction use the

language to say what it is happening, we can realize that the organizational and linguistic

choices change according to the subject which they are treating and who they are treating with

(BUTT et al., 2001). From the moment our experiences expand, we can realize other subtle

differences in the usage of the language, and we recognize that there are subsets within the

oral and written variants “when we realize exactly how these changes occur, we're having a

functional view of language” (BUTT et al., 2001, p. 10).

According to Butt et al (2001), as a speaker of a language, we sharpen the capacity of

using the adequate language to different political, historical and social moments and for

different purposes. "We are aware, even if only subconsciously, that certain aspects of the

contexts in which the language is used influence on linguistic choices” (BUTT et al., 2001,

p.10). The authors urge that discrimination has been constructed from our accumulated

experiences of the different situations and the linguistic choices made within (BUTT et al.,

2001). According to the authors, when participants produce texts, orally or written, they make

meanings through it, which can be described grounded in three main functions, since they,

together, will materialize the meanings (BUTT et al., 2001).

Halliday calls these main functions as metafunctions: Ideational, interpersonal and

textual. According to Butt et al (2001, p.13), the ideational metafunction uses the language to

encode our experiences of the world and transmit a figure of the reality, i.e., create ideational

meanings. “In fact, ideational meanings are divided in experiential meanings which encode

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

experiences and logical meanings which connect these experiences.” The interpersonal

metafunction “uses the language to encode the interaction and show how we find defensible

or receptible our propositions or proposes, i.e., make interpersonal meanings.” And the textual

metafunction “uses the language to organize our experiential, logical and interpersonal

meanings in a coherent text.”

Since the objective of this study is to investigate what the changes in EFL teacher´s

critical thinking are through a Professional Development Course based on teaching of

grammar, the choice of ideational metafunction to analyze the teachers´ utterance is

appropriate as through the subsidies provided by this tool of realizing the language can show

the meanings made by the participant of the course with regard to the way they perceive the

role of the critical thinking in their professional development.

When the participants of an interaction are talking about a specific subject, they

establish the position they take when they are interacting. This is only possible because they

are talking about a particular subject. The interaction constructed by these participants reflect

representations or experiential meanings (EGGINS, 2004). According to Eggins (2004), these

meanings can be described from lexicogrammatical elements labeled as processes, which can

be featured in six different categories: material, mental, behavioral, verbal, existential and

relational.

When it is described processes of doing, generally concrete, tangible and real actions,

this linguistic element is featured as material process. The elementary meaning which this

process brings itself is that one does something, takes some action (EGGINS, 2004). When in

a verbal interaction the subject treated is what we think or feel, the processes which convey

such situations are called mental ones, whose meanings encode thoughts and feelings

(EGGINS, 2004). Another type of process has its meaning made between material and mental

processes. The behavioral process, as it is called by Eggins (2004), is in part related to action,

nevertheless, it has to be made by a conscious being. According to the author, this process is

typically physiological and psychological behaviors. A fourth type of process is called by

Eggins (2004) as verbal, which is related to verbal actions: say and other synonyms.

According to Eggins (2004), there are two other types of processes which encode meanings

about being: existential and relational processes. The existential processes, according to the

author, determine simply the existence of a situation, object, etc. “Existential process

represents the experience stating that there was/is something” (EGGINS, 2004, p. 255). The

last process, relational one, is described by Eggins (2004) as that in which being can be

conveyed in clauses. The author claims that this process“establishes a relationship between

two terms, which is conveyed by the verb be or other synonym” (EGGINS, 2004, p. 256).

And , semantically, suggests definition” (EGGINS, 2004, p. 258).

If all these processes are responsible to convey experiences of the world, it is

expected, therefore, that these situations involve participants, which can be recognized from

nominal groups (EGGINS, 2004).

Discussion

This article aimed to investigate what changes in EFL teacher´s critical thinking are

through a Professional Development Course based on teaching of grammar. To achieve that,

studies on the construction of knowledge have been made grounded in the social and

historical vygotskian concept and inside of it, the stages of concerns stated by Reid (2012). To

analyze the data, we were grounded in the systemic functional linguistic to interpret the

meanings which were chosen by the respondents. So as to understand how the processes were

identified, it was determined the following strategy:

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Mental process – italic Relational process – bold

Material process - underlined Behavioral process –italic and underlined

The analysis of the result has suggested that there has been a change in the way

teachers analyze their language class contexts. This change can be seen in four different

moments.

In a first moment, when the teachers were exposed to various ELT methodologies and

experienced how this theoretical background would be used for the rest of the course, most of

the processes chosen by the participants were mental and relational. This has suggested that

when they responded to what they liked about the activities and why, the respondents were

probably reflecting on the contributions of the activities. However, the participants of these

processes are all regarded to the teachers, which explains they were focusing on their own

learning or how they could make useful those theories studied in that day. Regarding the

relational processes chosen by the teachers, we can assume the respondents wanted to

evaluate the activities and the topics studied, and considering the attributes of these processes,

they presented a positive outcome for the class, as you can see in the answers below:

S8: I liked most of the activities because they provided us an opportunity to be in the

students´ place. I mean, we could do the activities students do and reflect about the

importance of them in the teaching context.

S7: I liked most of the activities because they are very useful and fulfill the needs that we

have in teaching grammar in the classroom.

S1: Very interesting and agile. I found them so exciting.

S2: The explanations were very clear and understandable. I felt comfortable to learn and to

interact. The activities are very helpful.

S3: I liked the activities because people interacted. It was a way to learn about Simple

Present and hours, joying us.

S4: I liked all activities because I want to improve my English and I think it is an

opportunity.

S5: I liked because it was funny and different. The teacher is very good, too.

As the data suggests, this was likely to happen because the teachers were used to

analyze and investigate their background grounded in their beliefs, which means that they

supported themselves on their previous knowledge to evaluate and reflect on the applicability

of the topics and activities studied in that class. Maybe, the teachers used more mental

processes because they were exposed only to theories and idealized activities. According to

Vygotsky (1934/2005), in the process of constructing knowledge, there are two important

concepts: spontaneous and scientific, which develop at the same time, since they relate and

influence each other constantly, being part of the same process, in which inner and outer

factors have a quintessential role in their formation. Based upon this concept, we can assume

the teachers had this moment of constructing knowledge about the activities. However, the

fact they have chosen more mental and relational processes shows us the teachers have

realized a possible change in their classes. On the other hand, the subsidies they had that day

were only to start up a reflecting process on the applicability of the activities. When the

teachers had the possibility to discuss the applicability of the activities and the theories in

their contexts, the only sample they had to compare was their own practice, which explains

why they used more mental and relational processes. This might have happened because in

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the first two stages of constructing knowledge, awareness and information, the introduction of

new information was the focus. In this moment, it was expected to raise the teachers´

awareness besides establishing credibility and trust among them (REID, 2012). As this

happened through interaction, it was assumed the teachers took roles in providing and

requesting information (VYGOTSKY, 1934/2005), therefore, the facilitator was responsible

to interest them in learning the information, and, on the other hand, the participants only

needed to be interested and willing to learn (REID, 2010).

In a second moment, the respondents were exposed to various activities based upon

the ELT methodologies they had studied in their first class. The results have suggested that the

teachers put themselves more in the position of students rather than teachers to understand

and evaluate the applicability of the activities. As long as they responded to the questionnaire,

we can realize they have kept almost the same frequency of mental and relational processes,

and a lower frequency of material processes. However, the participants of these processes are

not only teachers anymore. The language class context assumes a role in their reflection about

the activities, as it is seen below:

S1: They are very useful and interesting to apply them.

S2: The activities were very interactive, adaptable, very easy, nice. It is a way to

make teaching and learning real.

S5: I found them funny, different and practical.

S6: I liked them very much because they were very interesting.

S9: The activities provided more interaction and had a purpose, a context. They

were dynamic and funny.

S3: I liked very much because we exchanged experiences with each other. The

activities were very interesting.

S4: I liked all activities. I liked the interaction, the easy way, how each activity had

an objective. Because with this method the classes will be more interesting and dynamic.

S7: I liked most of the activities because they are interactive activities, interesting

and helpful, I can use and fit them perfectly in my classes.

S11: I liked the games because I believe I can get my students’ interest.

As it seems, this was likely to happen because the teachers could experience the

activities as they were the students, i.e., they could act like students. This probably made them

feel like their students, which explains why they reflected on the applicability of the activities,

whether they work or not. However, the fact they were exposed to different activities

grounded in the ELT methodologies they had previously studied, might have provided a

situation where they could associate the theory and the practice, as urged by Castro and

Romero (2006) in the light of vygotskian perspective.

On the other hand, the moments of reflection depicted by mental and relational

process, made the teachers think how they could apply the activities in their classes, which

explains the incidence of material processes. This, according to Reid (2012), happens because

changes in language classroom are a continuous and ongoing process which is a result of the

changes in participants´ background knowledge and experiences.

In a third moment, the respondents, in their answers to the questionnaires, continued to

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

use mental processes, which evidences the teachers have kept on reflecting on the

applicability of the activities. However, the incidence of material processes has increased.

Moreover, another process has been used by the respondents, behavioral ones. This high

incidence of material processes and the use of behavioral processes have suggested that

teachers have changed the way they analyze and evaluate the applicability of those activities,

as it is described below:

S1: I liked because of the interaction.

S2: I liked because the activities are very interesting to apply grammar tenses in a

funny way.

S4: I liked about the interactive and dynamic suggestions. The students have to

memorize, pay attention to take decisions, read, listen, etc.

S5: I liked because students can interact.

S7: I liked them because all of them involve practice.

S11: I liked the calendar because I can use the future for possibilities and plans.

S9: The activities provided moments of interaction among the group. We had

positive interaction and we worked with pictures/sentences about routines.

S10: The activity is interactive and we have to think all the time.

Likewise the two previous moments, the teachers have kept on reflecting on the

applicability of the activities, since this was the purpose of the course – provide moments of

critical thinking. However, it is noticeable a change in the way they have conducted this

moment. As the data shows, they have started using more material processes rather than

mental ones, this implies that they have analyzed and evaluated how they could manage the

activities in their classes. The lack of relational processes in their responses has suggested

they are no longer simply evaluating or characterizing the practices. This might have

happened because they did not only have their prior knowledge as teachers and EFL students

anymore to reflect upon the theories and ELT methodologies. This has shown that the fact

they could apply the activities in their context to check what either works or not, evidence the

importance of providing moments of practice and creating ways to discuss the relationship

between theory and practice. This has illustrated how the teachers could assume responsibility

on their learning process which, according to Reid (2012, p. 12) “can have a significant

impact on the class, since the result is a commitment by the students to independent and long-

term learning.”

In a fourth moment, we can observe that there has been an incidence of mental,

material, behavioral and relational processes in the teachers´ responses. This has suggested

that the respondents have analyzed and evaluated the activities in the light of their students´

needs, pointing out what could happen in their classes and what possible contribution these

activities could provide. Furthermore, the reflection they made was based on behaviors and

actions. It seems that the teachers have started to consider not only the language and the

participants´ prior knowledge, but also the behaviors and actions students have to take to

perform the activities and the possible reflections they have on the target language performing

the tasks, as the answers to the questionnaire shows:

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S2: All the activities are motivating. We can participate, learn and experience in a

funny way.

S3: I liked very much this activity “go fishing”. But I would use this activity with a

smaller group because I think with a bigger group, they would make a mess.

S4: I liked these activities because they are a dynamic way to learn Present perfect.

S5: I liked everything because the activities are different and funny. I could interact

with my classmates.

S6: Very interesting because they are easy and I can adapt to my students.

S8: I think the activities we did today provide students a good opportunity to

understand and practice grammar points, the language structures in an almost real situation.

Another important thing to consider is the fact that works like this can help the students to

understand why the present perfect is used, which is difficult for them.

S1: In these activities we could discuss the important applications for Present

Perfect.

S2: I liked the activities for today because I think they are easier for the students to

understand.

S4: I liked the activities, but I think it is possible that students have some difficulties

to understand Present Perfect.

S5: These activities help the students to be able to use the present perfect tense to

talk and write about their experiences.

S7: They are very interesting and useful. We don´t have a similar tense in

Portuguese and this point can become difficult to talk about Present Perfect. The activities

can help us with this.

S8: The most important point of these activities is that they are a very nice

opportunity to practice speaking, listening and writing about real experiences, not that kind

of boring activities that are only repetition and not production.

As everything indicates, the teachers took the entire responsibility over their practice

in EFL classroom. This was possible because Reid (2012, p.12) advocates that it is in this

moment participants “put their knowledge to work, adapt it to fit specific situations outside

the classroom, and modify it to fit their own needs”.

What we can realize through their moments of reflection is that four elements were

quintessential in the teachers´ professional development: the teacher´s background, the ELT

methodologies and moment of studying the practice, the application of the activities in their

EFL class context and the critical thinking moments. These four elements has shown how

spontaneous and scientific knowledge have a role in the construction of knowledge

(VYGOTSKY, 1934/2005), which enables teachers to (re)build their own posture and

practice in EFL classes, since through language they could rethink their routine in classes as

well as describe, analyze, and interpret their own practice (MAGALHÃES, 2004).

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Conclusion

The results revealed that the teachers who participated of PSTDP Essentials have had

their beliefs changed on the way their pedagogical practices are constructed, during the

course. In a first moment the EFL teachers analyzed and evaluated the applicability of the

activities grounded in their backgrounds as teachers and students, using the ELT

methodologies which they were exposed to. Nevertheless, as long as the other suggested tasks

of PSTDP have been accomplished, such as the activities based upon the ELT methodologies

they previous studied in the course; the Class Reports which aimed to provide the opportunity

to report the activities they tried in their contexts and; the Jornals, which is the critical

thinking moment, the participants have started to analyze and evaluate the activities they were

studying through other aspects besides the others they had been using. The practice has made

the teachers to (re)think the concept of effectiveness, since they have started consider not only

the acquisition, comprehension of the target language, but also the way students behave

during the EFL learning process as a way to evaluate their pedagogical classes.

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francês por Maria Ermantina Galvão Gomes Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

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Ensaio sobre a comunicação nas redes sociais -

alteridade e tecnologias de comunicação

Lauren Ferreira Colvara

Pós Doutora em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), Doutora em Psicologia Social pelo Instituto de

Psicologia USP com a pesquisa “Tecnototemismo: a subjetividade tecnológica” e Mestre em Comunicação

Midiática pela UNESP/Bauru. Pesquisadora do FiloCom (Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação) –

ECA/USP e do ESPACC (Grupo de Pesquisa Espaço-Visualidade/Comunicação-Cultura). Email:

[email protected]

Resumo

Este ensaio trata da perocupação com estudos e afirmações sobre a sociabilidade das redes sociais. Estar na

rede não é comunicar, mas estar no risco de uma quase comunicação que é afastada por um enquadramento

existencial e de visibilidade. Dentro do referencial da Nova Teoria percebe-se que as redes sociais são

meramente informacionais e que alimentam um narcisismo.

Palavras-chave

Comunicação; Alteridade; Narcisismo; Redes Sociais; Subjetividade.

Abstract

This essay deals with the perocupação studies and statements about the sociability of social networks. Be on the

network is not communicating, but being in risk of almost communication that is removed by an existential

framework and visibility. Within the New Theory reference it is clear that social networks are merely

informational and feeding a narcissism.

Key words

Communication; Otherness; Narcissism; Social Networks; Subjectivity.

Introdução: de que comunicação estamos a falar

O tema deste ensaio se dedica a qualidade da comunicação nas redes sociais,

pretende-se assim vivenciar a construção da imagem do Outro/alteridade nestes ambientes

sociais.

A comunicação deve ser vista como um acontecimento em que o sujeito está cercado

de sinais e informações. Para ser uma comunicação esta informação deve alterar algo nele, em

sua produção de sentido. Desta forma, entende-se que o estudo da subjetividade é o início,

mas não o fim de uma pesquisa em comunicação.

O sujeito interage com seu ambiente não apenas em nível consciente e objetivo, mas

também em emissões pessoais, intencionais ou não, para atrair a atenção do Outro e assim

estabelecer o que chamamos de comunicação. Portanto, o que vemos como noções de ideal,

de mundo, de eu e de comunicação são colocados em cheque dentro desta perspectiva.

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A linha mestra do acontecimento comunicacional parte da emissão de sinais. Ao

tempo todo estamos sinalizando, isto é, simplesmente “estão aí” como já havia dito Husserl.

No entanto, quando percebo algo, quando isto se torna algo no mundo, torna-se informação.

Não bastam haver as revistas na banca de jornal, elas precisam ser lidas, nem que sejam para

serem esquecidas depois. Analogamente estão os perfis em redes sociais. As fotos estão lá,

isso não quer dizer que se saiba o perfil ou mesmo se conheça a pessoa. Apenas informam

uma possível existência, informam algo, mas não comunicam.

Para haver isso que chamamos de comunicação, que se difere de meras trocas de

informações, seria necessário um salto qualitativo. E este seria uma percepção, algo que muda

por estar em contato com o Outro ou com a cena comunicacional. A informação seria

transformada, não sendo apenas aquilo que passa por uma racionalidade, mas que provocaria

um sentido. A comunicação seria o que toca aos sentidos, o que altera a produção do sentido e

que haja um impacto subjetivo. Para tanto, tal situação é carrega de tensão.

A partir de Geertz (1989) estabeleceremos um paralelo a fim de esclarecer nosso

ponto de vista da pesquisa em comunicação. Em Interpretações da Cultura, o autor procura

alertar o pesquisador sobre uma descrição densa que seria a observação não apenas “dura” da

cena, mas que haja envolvimento do pesquisador com o acontecimento que ele procura

interpretar. Geertz escreveu contra a redução da cultura a um campo muito restrito ao que

realmente ela ocupa. Embora seu conceito de cultura fosse essencialmente semiótico, isto é,

“que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assim

assumo a cultura como sendo essas teias e sua análise; portanto, não como uma ciência

experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura de

significados.” (IDEM, 1989, p. 4)

Paramos de concordar com Geertz no momento da interpretação, mas ainda podemos

usá-lo para falar sobre o movimento, o momento, o acontecimento. Embora o autor fale das

teias culturais e vivenciais a serem interpretadas, aqui falamos das teias comunicacionais, do

que é constituído em um “entre” (atmosfera comunicacional) que se faz no ranger do eu e da

Alteridade. Reforço no que é constituído e não no que é interpretado.

Continuaremos só mais um pouco com Geertz, pois ele trará à tona outra questão, a

da “descrição densa”. Apesar da expressão não ser sua, Geertz usa o mais do que conhecido

“episódio da piscadela” para dizer que apenas com uma observação “fenomenalista” é que se

poderia dizer se o movimento era tique involuntário ou havia algum sentido. Isto é, se havia

algum tipo de comunicação no gesto. Delimitando assim dois planos: a descrição superficial

(o que se está fazendo) e a descrição densa (e o que se está fazendo com o que se faz). E o

objeto da etnografia é exatamente o segundo caso, o que se faz com aquilo que se está

fazendo, isto é, quais são as teias de sentido permeadas pelo cultural que um gesto, uma ação,

um acontecimento tem.

Para Geertz, o etnógrafo enfrenta “uma multiplicidade de estruturas conceituais

complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas, umas às outras, que são simultaneamente

estranhas, irregulares e inexplicáveis, e que ele tem que, de alguma forma primeiro apreender

e depois apresentar” (IDEM, 1989, p.8) Portanto, o fazer etnografia é a tentativa de ler (no

sentido de “construir uma leitura de”) algo estranho, em um manuscrito em que haverá

incongruências, elipses, assim como aquilo que acontece diante do etnógrafo.

Embora Geertz e Marcondes Filho concordem que seus objetos tenham movimento

próprio (cultura e comunicação) e não passível de um enquadre prévio, a diferença

fundamental está que no registro do acontecimento não haverá tentativa de construção de

leitura, mas uma mera exposição daquilo que se está acontecendo no entre, “é o momento da

comunicação, em que a faísca é provocada pelo encontro de duas instancias: a palavra e a

coisa.” (MARCONDES FILHO, 2009, p.110)

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A comunicação é um processo, um acontecimento, que se dá neste atrito do entre.

Não há uma transmissão direta do que se diz e do que se recebe, pelo contrário, o que se

recebe nunca é o que foi dito. A comunicação se realiza nas transformações dos sinais em

informação, e da informação em comunicação. Não é naquilo que é ritualizado, ou seja, não é

apenas no nível da linguagem, porque isso poderia ser apenas um mascaramento do eu diante

do Outro. O racionalizado que impede o sensível de emergir. O racional que controla e diz

como se deve ser e como se deve expressar.

Neste momento insere-se a questão tecnológica. Se emitimos sinais em nossa vida

cotidiana e interpessoal esperando (in)conscientemente o acontecimento comunicacional, o

que acontece na virtualidade tecnológica em que a sinalização é imperativa e o fluxo de troca

de informações é frenético? Questiona-se se há comunicação na rede, pois o que parecia ser

apenas um aprimoramento de técnicas traz esta deturpação neste esboço da constituição da

comunicação.

Entende-se que a procura de uma comunicação interpessoal mediada pela tecnologia

é uma comunicação entre aspas. Porque percebe-se que as redes sociais são estratégia para um

alívio da solidão, uma incapacidade de ficar só. No entanto, o que também é percebido, é

certa radicalidade e baixa tolerância a frustração, transformando a presença do Outro em

antisséptica e livre de tensões, dificultando, assim, a criação de qualquer atmosfera

comunicacional.

A partir do momento que este Outro começa a me angustiar, fecho a janela,

interrompo o processo de troca que no face a face me traria certas dificuldades de findá-lo. O

que se evita é o olhar do Outro, ver a face do Outro, o instante do contato não verbal,

corporal, esta instância do incerto que atualiza e contesta o eu.

É quase uma neutralização do vinculo, deixando apenas uma vontade, algo quase

metafísico de experiência. O que se faz com o desejo não importa mais, importa é estar

visível, sinalizando, tentando existir. Retoma-se a afirmação: o desejo não importa mais,

porque submete-se a um formato rígido de expressão, a um modo específico de existência. As

redes sociais são formulários de enquadramento em que afetos e imagens são colocados para

caber e se adaptar a um olhar imaginado, idealizado.

Ao lançar a hipótese de que as redes sociais não comunicam, ou que pelo menos

dificultem mais que do auxiliam na comunicação, pois criam a ilusão de uma comunicação.

Tentamos assim demonstrar que há uma característica antissocial nos usos da rede. Pois, o

necessário salto qualitativo e significativo das trocas de informação é dificultado pela fixação

na representação, na encenação enunciativa que se faz nas plataformas ditas de sociabilidade.

A própria definição do que vem a ser rede social instiga ainda mais a discussão:

“Uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas,

instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais).”

(WASSRMAN e FAUST, 1994; DEGENNE e FORSE, 1999 apud RECUERO, 2009, p.24)

A sociabilidade fica restrita ao âmbito de meras trocas de informação [mensagens,

posts, comentários]. Conhecer pessoas é tê-las numericamente em seu perfil virtual, é o

agregar sem haver trocas ou poucas trocas no face a face. As trocas são informacionais,

mesmo quando se fala de intimidade ou se mostra certa intimidade, são explosões

informativas1 que não entra em qualquer dinâmica de alteridade. O reconhecimento é mais

ligado a quantidade do que a qualidade das relações. O ser gostado (valor afetivo) se

transforma no ser colecionado, comentado e visitado.

Enquanto que a expressão ator é colocada como elemento da rede social e

1 Hayles, Katherine (2002)

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representada pelos nós (ou nodos) 2. Isto é, elas são conforme a sua interação e constituição de

laço social. No entanto, a própria autora já admite que os atores sociais sejam constituídos de

forma diferente na internet, porque há o distanciamento entre os envolvidos na interação

social, eles não são “imediatamente discerníveis” 3 Estes atores são vistos através de suas

“expressões sociais” de sua personalidade ou individualidade.

O que se percebe, é uma redução da preocupação com a qualidade da comunicação

não apenas nas redes, mas também nos estudos sobre as Redes. Estes entendem que “o

processo de sociabilidade está baseada nas impressões que os atores percebem e constroem

quando iniciam sua interação” 4 E a interação representa um processo sempre

comunicacional5, afirmação esta já refutada no início desta argumentação. A interação para

Recuero (2009) é uma ação que tem reflexo comunicativo quente indivíduo e seus pares,

como reflexo social. Entendendo assim que a interação tem um caráter social perene e

diretamente relacionado ao processo comunicativo. No entanto, a autora deixa de lado a

qualidade deste contato. Não é porque se está interagindo que é uma mudança qualitativa

neste processo. Pedir uma informação e Outro interagir comigo não quer dizer que houve um

processo de comunicação, mas apenas uma troca de informação. O mesmo acontece nas redes

sociais, não é um post que vai conectar uma pessoa a outra, mas a produção de sentido

provocada ali. Isso quer dizer que nem tudo é construído pela mediação do computador, como

afirma Recuero, existe uma instancia da percepção, do humano, do acontecimento.

Portanto, o que se percebe neste panorama tanto a comunicação (e uma das linhas

que a aborda) como o Outro se encontram reduzidos em sua dimensão alteritária, é um misto

de quantificação de fluxos e os reflexos de uma idealização e eu e um pretendido olhar do

Outro.

O que se observar com uma leitura é que este eu (subjetividade) é um eu como

unidade-imagem em construção, transformação e atualização constante por plataformas

virtuais. É observando as sinalizações deste eu é que se evidenciará a presença do Outro, isto

é, da construção de um suposto olhar externo. Colocamos em duvida se há uma relação de

alteridade, relativizando assim o acontecimento de uma comunicação. A simples visita já é

uma informação, porque é contabilizado como sinal captado e a postagem e/ou comentário

também se trata de uma informação. Não se procura o salto comunicacional, porque assim,

corre-se o risco da comunicação, do desconforto da alteridade.

Neste momento se faz importante a compreensão do que é o narcisismo em

termos de formação da subjetividade. Isto é a compreensão dos investimentos psíquicos feitos

pelo sujeito são registrados simbolicamente, isto é, como é significado e associado.

O Narciso é o elemento motor e protótipo de todas as relações deste eu com o Outro

e o mundo externo. É o privilégio do discurso do eu em detrimento do Outro – “ama o

próximo como este te ama” (FREUD, 1930, p.132). O narcisismo é a forma de investimento

libidinal voltado para o eu (narcisismo primário), e o eu por sua vez, a ser constituído numa

relação com o Outro (narcisismo secundário). A resistência do eu é em ser confrontado com o

diferente, com o não eu, o outro, o inicio da alteridade. Mas o eu resiste, não suporta ser

confrontado, então, tira do objeto características e incorpora a si.

A passagem para o narcisismo secundário é a conquista da alteridade, o vencimento

da resistência daquilo que é diferente e traz o corte do real. Na busca do narcisismo

secundário o sujeito busca o objeto, busca o que está fora, o investimento deixa de ser

direcionado ao interno (libido narcísica) para ser ao externo (libido do objeto).

2 Recuero, Raquel (2009) p.25

3 Idem, p.25

4 Idem, p.29

5 Idem, p. 31

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O processo de sociabilidade pode ser descrito como a busca do sujeito em suprir suas

necessidades e garantir o laço afetivo-sexual (Eros), mas para isso é necessário o controle da

agressividade (tolerância a frustração). A conquista que o sujeito deve aprender é a

referencialização de que a vida pelas provas de realidade, e a alteridade, a dinâmica do eu

para o Outro.

A conquista da alteridade, desta relação eu-outro, é a experienciação que as fantasias

e idealizações em relação ao outro não podem ser totalmente realizadas. Há a interdição,

existe o laço social. O vínculo patológico daria-se ao apontar o Outro como fim e não como

meio, criando assim a dívida eterna simbólica, a tensão entre o eu e o Ideal de eu. A conquista

da alteridade se traduz na apreensão da referencialização da vida pelas provas de realidade, e

a alteridade, a dinâmica do eu para o Outro.

É neste interjogo de forças entre o eu e Outro que se dão as manifestações do vazio,

das imagens, das angustias. É nesta busca pelo Outro não em vida, mas em morte

(virtualização) é que há o maior paradoxo da tecnologia comunicacional: há o desejo de

comunicar, mas ele não é atendido, portanto, se comunicar torna-se um risco. Há algo de

denso, algo que mexe e fere o eu, por isso o esconderijo por imagens, tanto técnicas quanto

fantasmáticas. O próprio eu se torna estranho.

O sujeito é sempre algo parcial e que é completado pelo fantasma virtual

tecnológico. Ver o que falta na realidade é sentir a subjetividade. Confrontar a subjetividade é

se relacionar com o Outro e se relacionar com o Outro é comunicar. Ao (re)inventar o espaço,

se expressando por estas vias, ele reinventa-se a si e ao espaço, fundindo-se sonho e realidade,

porque não há um corpo para o atualizar em sua carne. Não há o obstáculo.

O narcisismo como ponto de partida é para chegar na constituição de uma lei. A lei

da inversão do contato com o Outro. O corpo passa a ser um registro indigno fadado a

desaparecer. O mundo imaterial oferece a eternidade.

O Ciberespaço é o modo de existência integral, com linguagens, culturas,

utopias. Mundo real e imaginário, de sentidos e valores que só existem a

partir do cruzamento de milhões de computadores que colocam

provisoriamente em contato indivíduos afastados no tempo e no espaço e

que, às vezes, nada sabem uns dos outros. Mundo onde as fronteiras se

confundem e onde o corpo se apaga, onde o Outro existe na interface da

comunicação, mas sem corpo, sem rosto, sem outro toque além do teclado do

computador, sem outro olhar além do da tela. Livre das coerções corporais

habituais, em um mundo simplificado cujas chaves são fáceis de manipular,

o viajante virtual conhece realmente um mundo fictício, sente fisicamente

um mundo sem carne. Nesse universo sintético, o jogo com as situações

produz todas as aparências da verdade, sem o ônus da prova e podendo viver

inúmeras atividades inéditas. Apenas de sua reduzida mobilidade, o

individuo vive uma plenitude sensorial que a sociedade não lhe

proporcionaria com tanta generosidade. Ele se desloca concretamente em um

universo constituído. Ao dissociar corpo e experiência, ao tornar irreal a

relação com o mundo e transformá-la em relação com dados, o virtual

legitima, aos olhos de muitos internautas (ou defensores radicais da

inteligência artificial), a oposição essencial entre espírito e corpo, levando ao

fantasma de uma onipotência do espírito. A realidade virtual está aquém e

além do corpo, esse é o passivo mesmo se ecoa inúmeros efeitos de

sensações e de emoções provocadas por imagens. (LE BRETON, p. 127-8)

Esta nova forma de subjetivação que traz as redes sociais deve e precisa ser avaliada e

investigada. Em como há esta configuração de sujeito e como estas novas relações se dão. Por

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isso, vemos que o caráter singular e plural da existência é quase suprimido pela metástase da

imagem. Esta presença excessiva tanto de um Outro como do eu traz uma incapacidade de

responder e compreender todas as informações que o circundam. Isto seria a reprodução

frenética de fragmentos de representações, quase como objetos parciais, primitivos na

constituição subjetiva do sujeito. A imagem que se cria é cancerígena, e impede e destrói a

formação da imagem, em termos bergsonianos.

O que se percebe é que com o idealizado o sujeito passa a se mais referir ao que

aparenta ser, isto é, o parcelamento da subjetividade que na ânsia de alcançar uma realização

que não consegue na realidade objetiva ou mesmo em sua própria idealização, o que

representa a possibilidade do aparentar e o ser confundidos, amalgamados, é o reino das

aparências.

Este Outro é tratado como um reflexo especular, em que se agregam coisas

imaginadas e elas “colam” nesta imagem, paralisando, congelando, representando. A

percepção do Outro enquanto corpo não é suportada, é uma unidade que vai além da

percepção. O que se vê é que com a virtualidade tecnológica é a instância virtual do sujeito

em crise, e que por sua vez reflete em sua sociabilidade e na própria sociedade. A

descorporificação do Outro potencializa um aspecto de delírio, em que o sujeito vive a

fantasia, o subjetivo e não consegue ter um momento mais “palpável” através do corpo. Este

eu vive a fantasia do corpo dividido entre uma realidade objetiva com dificuldades físicas

(transito, trabalho, dinheiro, ditames estéticos) e uma potencialidade de criação e de vivencia

dos ideais, e este dilema se sobrecarrega em direção a Alteridade. Os indícios de baixa

tolerância a frustração em que o sujeito determina que o Outro deve ser, como ser e a

obrigação de obedecer ao seu prazer, inverte e reduz a incerteza, a tensão que a Alteridade e a

comunicação trazem ao sujeito.

O Outro está num nível identificatório: é o que sinaliza também, mas é

“inalcançável”. O Outro está distante, mas mesmo assim deixa marcas de sua presença na

estruturação por meio da identificação forçada por aquilo que é montado pelas redes sociais.

Traduzindo: as redes sociais funcionam por mecanismo de identificação, o que desta forma,

agencia afetos, expressões e semânticas, conseqüentemente, a produção do sentido. A

identificação como mecanismo psíquico diz como se deve desejar e o que se deve desejar para

entrar em uma estética de existência e assim pertencer.

O processo de sociabilidade está diretamente ligado ao processo civilizatório: são

figuras passíveis de racionalização, isto é, elementos [sinais] que podem ser compreendidos

por qualquer um. Para tanto é necessário “perder algo” para entrar neste processo hegemônico

chamado sociedade, e este algo é o desejo. Ele tem que ser barrado, ele tem que se tornar algo

socialmente aceitável.

No entanto, nos perfis é percebido que este “perder algo” se tornou “ganhar algo”, o

que antes era privado e íntimo do sujeito torna-se público. Ganha-se a possibilidade de

transmutação contínua sem passar pelo sofrimento do corpo, assim, a possibilidade do

pertencer é ilusória. O mal estar da angústia da incerteza da aceitação é substituída pelo bem

estar e segurança do narcisismo. O Outro não me atinge, apenas me reflete a imagem que eu

quero idealizar. A tela do computador é o espelho do Narciso e a ninfa Eco se torna as redes

sociais que apenas ecoam esta paixão por narciso.

Tanto que na própria definição de interação, utilizada por uma das correntes vigentes,

baseia-se na troca quantitativa de mensagens e não qualitativa:

A interação é, portanto, aquela ação que tem um reflexo comunicativo entre

indivíduos e seus pares, como reflexo social. Os autores entendem que a

interação, pois, tem sempre um caráter social perene e diretamente

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relacionado ao processo comunicativo. [...] Estudar a interação social

compreende, deste modo, estudar a comunicação entre os atores Estudar as

relações entre suas trocas de mensagens e o sentido das mesmas, estudar as

trocas sociais dependem, essencialmente, das trocas comunicativas”.

(RECUERO, p. 31, 2009)

O que é replicado na rede, em explosões de sinais são reflexos (representação) e não

imagens. Os sinais são para o Ego e não para o Alter. Sem este olhar do Outro, o eu se perde,

procura uma forma e uma fôrma. A imagem do eu não se constitui, continua estilhaçada como

uma ferida narcísica. Ferida esta que faz com que o sujeito não aceite o Outro, não aceite um

tempo que seja diferente do seu próprio. Ele se paralisa e paralisa o outro para impedir

qualquer incerteza. Corre-se, assim, o perigo da imagem deste sujeito se congelar e se tornar

uma representação, um falso self.

Os sujeitos unem-se em torno de algo comum, e este algo é o aparecer, definindo

assim o que é publicamente valioso, bem como os modos com que se integra e se distingue o

sujeito na sociedade. É a ampliação de expectativas e até certo ponto uma nova maneira de

ser. Sendo assim, as visões de comunicação e sociabilidade devem ter em consideração estas

mudanças na subjetividade, configurada pela tecnologia, de que o sujeito depende daquilo que

se possui ou daquilo que se pode possuir.

Por isso, com a fragmentação do sujeito, sem o Outro (a alteridade), sem a

comunicação, o que resta são estes pequenos fragmentos consumíveis de informação, que

criam pequenas pseudo-alteridades, que o vinculam a aparentemente a sociedade. E esta

forma de vinculação é coloca sujeito como representação, “coisificado” nas relações, nos

afetos, abrindo um vazio existencial.

O sistema vinculativo antes dado pela diferença e pela dialética eu/Outro, agora se

faz presente na fragmentação, na segmentação das várias identidades desempenhadas pelo

sujeito, isto é, por uma falta identificação em que as relações sociais e as representações de

alteridade.

Essas questões remetem diretamente em como a individualidade deu forma às ações

e como os vínculos sociais foram afetados, isto é, a comunicação. As regras e o modo de agir

se desintegraram dentro de uma rede tecnológica social. Estas são manifestações dessa cultura

tomada pelo excesso para suprir o vazio do sujeito, resultando em uma realidade construída

com base em ideais difusos (pseudo-alteridades) em que o individualismo parece ser a única

saída possível para a proteção de um ego fragilizado.

Ao atestar esta modificação das possibilidades de interação, isto é, eu- outro,

modifico assim os campos da experiência. Sibilia (2004) sugere que a experiência subjetiva

tem 3 dimensões ou perspectivas descritivas: 1) Nível singular – a análise focaliza a trajetória

única de cada indivíduo; 2) nível particular – detecta os elementos comuns aos sujeitos mas

não a todos eles (a interioridade seria um bom exemplo deste tipo de atributo subjetivo, pois

se trata de uma construção histórica); 3) Nível universal característica comuns a todos da

espécie humana, tais como a inscrição corporal da subjetividade e a sua organização por meio

da linguagem.

Ao passar de nosso texto percebe-se que estas instâncias e os espaços de

sociabilidade interpessoal tornam-se perigosos, porque ampliam os limites e ameaçam o

conforto da acomodação provocando uma acomodação comunicativa. A transformação dos

espaços está diretamente ligada à mudança da intimidade. A reatualização de si acontece pela

imagem, não chega à fase do olhar do outro.

Apesar de Sibilia teorizar sobre o homo psychologicus, que seria o sujeito que

aprendeu a organizar suas experiências em torno de um eixo situado em sua complexa “vida

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interior”. Concorda-se em termos com ela, pois o que queremos contestar é exatamente esta

“vida interior” em termos de construção de imagem, relação de alteridade e as constituições

de leis.

Discorda-se de Sibilia, a autora aponta que a subjetividade estaria estruturada em

torno do corpo, que se tornaria mais um objeto de design epidérmico do que um suporte para

um “espaço interior” que deve ser ouvido por meio de complexas técnicas introspectivas.

Trabalhar-se-a com a questão do corpo, mas adianta-se que pela metástase da imagem, que se

dissertará sobre a questão da não formulação de um corpo físico, por exatamente, estar-se

preso a uma imagem de um ideal de eu. A vivência não atravessa mais o corpo e as sensações,

mas estabelece-se algo em torno de uma “acorporalização racional e asséptica”. Logicamente

que é um processo ligado ao (não) desenvolvimento do narcisismo secundário. Pode – se

argumentar em torno das questões de imagens: Orkut, facebook, MSN... mas não há imagem

real, mas sim performances. Olha-se mais para si, do que para o outro, com a voz não há

delete, não há reversibilidade. Por isso, não há corpo, mas representações.

Pode se estar disponível sem saber. Assim se refaz a pergunta: O que é o Outro?

Porque pode ser o outro para aquele que o eu valoriza na intencionalidade. Assim, o agir é

assumir o tempo presente e estabelecer uma relação com a auto existência; é um ato que exige

luta, esforço. A disponibilidade do ser torna-se a manifestação do que se é. O sujeito é

afirmativo mas diferente do planejado, não há como planejar. É uma arrumação de tempos em

tempos para permitir a existência.

Entende-se que este ensaio pertence a uma condição não explorada dos meios de

comunicação e/ou de suas relações eu-Outro. Este posicionamento evita a cristalização de um

“conhecimento a cerca de” (grau mínimo de abstração) e do “o conhecimento de” (vivido na

relação de observar) no que se refere à dinâmica das relações dentro das redes sociais virtuais.

Tal procedimento só é possível quando concebemos que o observador e o observado são

vividos num mesmo momento vivencial, que se manifesta num plano de comunicação com

elementos que articulam o processo contínuo de produção de sentido.

Referências

FREUD,S.Sobre o Narcisimo: uma Introdução. ESB, vol.XIV. Rio de Janeiro: Imago

Editora, 1990(1914).

HAYLES, Katherine Redes metafóricas em Lexia to Perplexia In: MIRANDA, José A.

Bragança (org) crítica das ligações da Era Técnica. Cidade do Porto: 2002

MARCONDES FILHO, Ciro Até que ponto, de fato, nos comunicamos? São Paulo: Paulus,

2007

MARCONDES FILHO, Ciro (org) Dicionário da Comunicação São Paulo: Paulus, 2009

RECUERO, Raquel Redes sociais na internet, Porto Alegre: Sulinas, 2009

SIBILIA, Paula O homem pós-orgânico: corpo, subjetividade e tecnologias digitais, RJ:

Relume Dumará, 2002.

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A imagem em dois poemas de Péricles Eugênio da Silva

Ramos

João Francisco Pereira Nunes Junqueira

Doutorando em Estudos Literários na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –

UNESP/Araraquara (Bolsista CAPES). Professor das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila - FATEA

Resumo

O presente artigo busca evidenciar o método de construção imagético empregado pelo poeta Péricles Eugênio

da Silva Ramos (1919-1992) em dois de seus poemas: “Propiciação” e “Elegia à lua dos olhos de prata”,

ambos presentes na obra Lamentação floral, de 1946. A análise específica destes poemas – de um dos mentores

da “Geração de 45” - se dá a partir de um depoimento feito pelo próprio poeta à Revista de Poesia e Crítica

(ano VIII, número 10, 1984), em que ele descreve a recepção de sua obra pelo poeta-crítico Mário de Andrade,

em bilhete encontrado no acervo deste último, e nunca remetido em vida a Péricles Eugênio. Logo no início do

depoimento, afirma Péricles Eugênio: “Notara eu que certos de meus poemas, como ‘Propiciação’, que seguiam

o princípio de economia do poema ou do poema como unidade, cada estrofe, relacionando-se com o todo e o

todo com cada estrofe, haviam sidos apreciados, ao passo que outros, elaborados mais tarde, eram considerados

‘herméticos’” (RAMOS, p. 69, 1984). Segundo o poeta, o hermetismo se dava “porque eu me movia ou por

liames que ficavam em meu espírito ou então por símbolos puros, para mim transparentes, mas que podiam não

o ser para os leitores” (RAMOS, p. 69, 1984). Caso próximo do que ocorre no poema “Elegia à lua dos olhos de

prata”, que para Mário de Andrade não possuía uma “organicidade de composição”, ou seja, as estrofes eram

construídas de forma descontínua, como um complexo de imagens justapostas. Assim, o que pretendemos neste

estudo é demonstrar no poema “Propiciação” esta relação entre a parte e o todo, e a economia do poema

proposta pelo poeta em sua “micro-poética” presente no depoimento. E, por outro lado, evidenciar a

descontinuidade imagética das estrofes apontadas por Mário de Andrade no poema “Elegia à lua dos olhos de

prata” como método de composição do poema.

Palavras-chave

Poesia brasileira; Péricles Eugênio da Silva Ramos; Imagem poética.

Abstract

This article seeks to evidence the imagery construction method employed by poet Péricles Eugênio da Silva

Ramos (1919-1992) in two of his poems: "Propiciação" and "Elegia à lua dos olhos de prata" both present in

Lamentação floral (1946). A specific analysis of these poems - one of the mentors of "Generation 45" - takes

place from a statement made by the poet himself to the Revista de Poesia e Crítica (year VIII, Number 10, 1984),

in which he describes the reception of his work by the poet-critic Mário de Andrade in note found in the latter

collection, and never remitted in life for Péricles Eugênio. Early in the statement says Pericles Eugene: "I had

noticed that some of my poems, such as 'Propiciação', which followed the principle of economy of the poem and

the poem as a unit, each stanza, relating to any and all with each verse, had solids appreciated, whereas others

prepared later were considered "hermetic" (RAMOS, p. 69, 1984). According to the poet, the hermetic was given

"because I was moving or bonds that were in my mind or by pure symbols, for me transparent, but they could not

be for readers" (RAMOS, p. 69, 1984). If close to what occurs in the poem "Elegia à lua de olhos de prata"

which to Mário de Andrade did not have a "composition of organic nature," that is, the verses were built

discontinuously, as a complex of juxtaposed images. So what we want in this study is to demonstrate the poem

"Propiciação" this relationship between the part and the whole, and the poem economy proposed by the poet in

his "micro-poetic" in this statement. On the other hand, emphasize the discontinuity of imagery stanzas pointed

out by Mário de Andrade in the poem "Elegia à lua de olhos de prata" as the poem composition method.

Keywords

Brazilian poetry; Péricles Eugênio da Silva Ramos; Poetic imagery.

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Introdução

O presente artigo busca evidenciar o método de construção imagético empregado pelo

poeta Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919-1992) em dois de seus poemas: “Propiciação” e

“Elegia à lua dos olhos de prata”, ambos presentes na obra Lamentação floral, de 1946. A

análise específica destes poemas – de um dos mentores da “Geração de 45” - se dá a partir de

um depoimento feito pelo próprio poeta à Revista de Poesia e Crítica (ano VIII, número 10,

1984), em que ele descreve a recepção de alguns de seus poemas pelo poeta-crítico Mário de

Andrade, em bilhete encontrado no acervo deste último, e nunca remetido em vida a Péricles

Eugênio.

Em dezembro de 1983, mais precisamente no dia 8 de dezembro, Telê Porto Ancona

Lopez perguntou a Péricles Eugênio da Silva Ramos se lhe interessava “um artigo, algumas

notas e um bilhete” que Mário de Andrade havia escrito a propósito de sua poesia, de Péricles

Eugênio, quando este principiava sua carreira poética, em meados da década de 40. Péricles

Eugênio, como resposta, disse não acreditar na existência destes papéis. A descrença do poeta

seria por ter tido um único contato com Mário de Andrade, contato que se deu no ano de 1944

através de um relatório verbal que Mário havia transmito para Péricles Eugênio através do

irmão deste, Frederico, que no período trabalhava numa editora. Péricles Eugênio havia

acabado de se formar na Faculdade de Direito da USP, em 1943. E naquele ano de 1944

resolvera reunir material para publicar seu primeiro livro, sob o nome de Fonte negra. Através

de seu irmão, Frederico, enviou a Mário de Andrade seus poemas. Mário de Andrade após a

leitura do material transmitiu neste relato verbal alguns pontos que Péricles Eugênio deveria

pensar sobre seus poemas: viu nos textos certa “afinidade” com a obra do poeta alemão Stefan

George, que recomendou a Péricles Eugênio como leitura; apontou vários “defeitos formais”

nos poemas, entre eles, nas próprias palavras de Péricles Eugênio:

A falta de organicidade de grande parte dos poemas, e essa eu procurei acatar

integralmente. Outra, de que me lembro, era o duplo vocativo, isto é, num

poema eu mudava o invocado, às vezes, sem grande razão para isso; outra

ainda, a rima acidental; finalmente, o que lhe pareciam versos iniciais ou

finais de antigos sonetos aproveitados em composições em versos livres.

(RAMOS, 1984, p. 70).

Contudo, quase quarenta anos depois, Péricles Eugênio toma conhecimento de textos

que Mário de Andrade havia escrito sobre seus poemas. Por um lado o poeta se sentiu

honrado pela atenção despendida por Mário de Andrade, já que Mário não se achava muito

bem de saúde na época, vindo a falecer no ano seguinte, em 1945, por outro lado Péricles

Eugênio se entristeceu por não ter lido este material naqueles anos que iniciava sua carreia,

pois agora, em 1983, esta carreira já se via praticamente consumada e traçada.

O depoimento de Péricles Eugênio trabalha com vários pontos, porém nosso objetivo

neste estudo é apontar a organicidade ou a falta de organicidade em dois poemas de Péricles

Eugênio, sendo um deles, “Elegia à lua dos olhos de prata”, lido e comentado por Mário de

Andrade. Nós aqui tentaremos analisar estes textos tendo como pano de fundo o conceito de

montagem proposto por Serguei Eisenstein em seu artigo “Palavra e imagem”.

Abandonando os planos para a Fonte negra, Péricles Eugênio trabalhou em seus

poemas, descartando alguns e reescrevendo outros, e deste trabalho saiu o livro Lamentação

floral em 1946, que venceria o prêmio Fábio Prado. Os dois poemas em questão

“Propiciação” e “Elegia à lua dos olhos de prata” encontram-se no livro Lamentação floral.

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A Organicidade do Poema “Propiciação”

Logo no início de seu depoimento Péricles Eugênio traça algumas palavras sobre seu

poema “Propiciação”. O poeta ainda em começo de carreira parece ter certas preocupações

sobre a recepção de seus textos. E vê a apreciação positiva do poema “Propiciação” como

resultado da organicidade do texto. Afirma Péricles Eugênio:

Notara eu que certos de meus poemas, como “Propiciação”, que seguiam o

princípio de economia do poema ou do poema como unidade, cada estrofe,

relacionando-se com o todo e o todo com cada estrofe, haviam sidos

apreciados, ao passo que outros, elaborados mais tarde, eram considerados

“herméticos”. (RAMOS, p. 69, 1984).

Segundo o poeta, o hermetismo se dava “porque eu me movia ou por liames que

ficavam em meu espírito ou então por símbolos puros, para mim transparentes, mas que

podiam não o ser para os leitores” (RAMOS, p. 69, 1984).

Em seguida, discutiremos o poema “Propiciação” tentando relacionar esta

organicidade, esta ligação de cada estrofe e o todo.

PROPICIAÇÃO

1 Por fim choveu,

2 e nas águas dissolveu-se a amargura das coisas.

3 Atenta, ó companheira

4 de beleza enlouquecida pelo sol,

5 dispensadora da recusa taciturna:

6 as árvores ainda não brotaram,

7 as sementes no solo não germinam.

8 Ah! é preciso propiciar a terra,

9 para que as ervas rebentem e haja flôres.

10 Escuta: praticaremos hoje mesmo o rito mágico,

11 e em teu ventre mais branco do que a lua ou do que o gêsso

12 acordaremos o mistério da fecundação.

13 Teus seios permanecem neutros como as penhas de granito;

14 teu dorso é como as glebas sem consôlo,

15 onde fantasmas vegetais se estorcem lamentosos:

16 teu corpo é como a árvore sem frutos.

17 Ouve porém:

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18 quando os raios de sol atravessarem ramos florescidos,

19 talhando estátuas de luz,

20 entre elas nascerá teu filho,

21 sôbre as relvas odorantes:

22 e as pétalas receberão as abelhas,

23 e os frutos estarão maduros para o bico dos pássaros.

24 Unamo-nos sôbre o solo,

25 para que a terra inveje nosso amor

26 e lhe venha o desejo das florações divinas,

27 sombreadas pelas nuvens sem tosquia:

28 em teu busto errarão minhas mãos,

29 generosas como a chuva.

30 Olha! Já o louro ventre da manhã

31 começa a refletir-se pelas fontes:

32 e em teu regaço delicioso como as plumas,

33 neste conchego saboroso como a noite e imenso como o sono,

34 esperarei até que a terra propiciada reverdeça.

(RAMOS, 1972, págs. 5-6)

Partindo do título, segundo o Dicionário Caldas Aulete, o termo propiciação, em umas

de suas definições, seria um “sacrifício para aplacar a ira ou a justiça divina: como os ritos

funerários pelos antepassados, as cerimônias do casamento, a consagração da propriedade, a

propiciação para as sementeiras e colheitas...” (AULETE, 1980, p. 2962). Este último sentido

parece se encaixar plenamente com o poema, já que a chuva propiciada torna favorável o

brotar das sementes e o desabrochar das flores, além do rito ou cerimônia que ronda o ato da

fecundação.

O poema possui 34 versos, e é dividido em 7 estrofes irregulares: a estrofe (I) com 2

versos; a estrofes (II) com 10 versos; a estrofe (III) com 4 versos; a estrofe (IV) com 7 versos;

a estrofe (V) com 6 versos; a estrofe (VI) com 4 versos; e a estrofe (VII) com apenas 1 verso.

Com exceção das estrofes (III) e (VI) com 4 versos cada, as outra estrofes tem versos em

quantidade diferente.

O poema aborda um tema comum na obra de Péricles Eugênio da Silva Ramos: o

erótico entrelaçado ao rito da fecundação. Neste mesmo entrelaçamento se dá a eroticidade do

homem e da natureza (ervas, flores, sol, lua, sombras, chuvas).

Assim, entre este ir e vir entre homem e natureza, o poeta descreve o rito da

fecundação. A mulher que gera um filho, que é fecundada, traz em seu ser toda uma

representação da criação natural. O poeta parece defender a idéia de que, se vista como parte

da natureza, a mulher deve se reproduzir, unir-se ao homem. Todo o jogo erótico, como a

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

chuva sendo para a fecundação da natureza, o que o sêmen do homem é para a fecundação da

mulher, pode ser levantado como imagem deste poema. O poeta, para não vulgarizar um tema

para ele tão nobre, usa de comparações com a natureza, e a usa a partir da naturalidade desta.

Partindo para o poema, na estrofe (I) temos como abertura a idéia do fim de algo amargurado,

que é diluído pela água das chuvas, no sentido de que a chuva propicia o início da mudança:

1 Por fim choveu,

2 e nas águas dissolveu-se a amargura das coisas.

Na estrofe (II), uma “companheira” é convocada a atentar-se ao rito mágico da fecundação.

Esta “companheira” é descrita por uma beleza “enlouquecida pelo sol”, qualidade psicológica

do ser humano.

3 Atenta, ó companheira

4 de beleza enlouquecida pelo sol,

Mantendo a idéia da parte pelo todo, o poeta utiliza imagens de árvores e sementes que não

brotaram devido à falta da propiciação da terra, em uma imagem inversa da estrofe anterior,

mas agregadora: é necessária a presença da água.

6 as árvores ainda não brotaram,

7 as sementes no solo não germinam.

8 Ah! é preciso propiciar a terra,

9 para que as ervas rebentem e haja flôres.

Ainda nesta estrofe (II), o eu-lírico convoca a “companheira” para o rito mágico da

fecundação, é preciso propiciar a terra, que será acordada do mistério:

10 Escuta: praticaremos hoje mesmo o rito mágico,

11 e em teu ventre mais branco do que a lua ou do que o gêsso

12 acordaremos o mistério da fecundação.

O poeta em algumas passagens (como na citada acima) cria um discurso para relatar a

situação, embora não tão metafórico como em outros momentos. Ainda assim, o autor deixa

transparecer comparações, como, por exemplo, a do ‘ventre’ mais branco que a ‘lua’ ou o

‘gesso’.

Na estrofe (III) o poeta traça imagens que mostram o corpo sem vida do ente feminino,

através de analogias e recorrências cria um ambiente de secura. Para o poeta não basta dizer

que os seios do ente são neutros como penhas de granito, isto tem que ser intensificado com o

dorso sem consolo, onde vivem fantasmas vegetais, e por fim com mais uma recorrência

analógica - “teu corpo é como a árvore sem frutos” - para fechar a idéia.

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13 Teus seios permanecem neutros como as penhas de granito;

14 teu dorso é como as glebas sem consôlo,

15 onde fantasmas vegetais se estorcem lamentosos:

16 teu corpo é como a árvore sem frutos.

Até este ponto percebemos que o poeta traça em seu poema a idéia da importância da

fecundação, feita por um rito mágico, para que a secura da vida não permaneça.

Na estrofe (IV) os versos continuam o diálogo entre o eu-lírico e o ente feminino, dizendo que

o filho desta nascerá quando a natureza já estiver verdejante. É como se a fecundação da

mulher se transpassasse toda para a fecundação da natureza. A gravidez seria o verdejar dos

ramos florescidos, e o nascimento do filho o madurar dos frutos prontos para serem bicados

pelos pássaros, ou das flores que receberão as abelhas. Uma nota especial cabe aos versos 18

e 19, com a forte imagem de estátuas de luz talhadas entre os galhos das árvores.

17 Ouve porém:

18 quando os raios de sol atravessarem ramos florescidos,

19 talhando estátuas de luz,

20 entre elas nascerá teu filho,

21 sôbre as relvas odorantes:

22 e as pétalas receberão as abelhas,

23 e os frutos estarão maduros para o bico dos pássaros.

A estrofe (V) acontece a união do eu-lírico e do ente feminino, esta união não é algo banal de

uma relação com fins apenas prazerosos, mas um ritual que serve como exemplo para que

toda a natureza, invejando o casal, floresça divinamente. O diálogo permanece entre os seres,

o que, aliás, ocorre no início de todos os blocos de versos (“Atenta, ó companheira”, “Teus

seios permanecem”, “Ouve porém”, “Unamo-nos sôbre o solo”, “Olha!”). Recordando as

categorias ou procedimentos poéticos de Alfredo Bosi, analogia e recorrência, o poeta não

deixa de usá-las, e é isto que mantém o poema estruturado e unido, dando-nos no final uma

imagem perto da materialização.

24 Unamo-nos sôbre o solo,

25 para que a terra inveje nosso amor

26 e lhe venha o desejo das florações divinas,

27 sombreadas pelas nuvens sem tosquia:

28 em teu busto errarão minhas mãos,

29 generosas como a chuva.

Na estrofe (VI) a manhã desponta, e seu reflexo brilha nas fontes, e no regaço do ente

feminino já não há mais a dureza do granito, mas sim, a delícia das plumas, que serviram de

aconchego saboroso para a espera pela terra propiciada, ou da mulher fecundada.

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30 Olha! Já o louro ventre da manhã

31 começa a refletir-se pelas fontes:

32 e em teu regaço delicioso como as plumas,

33 neste conchego saboroso como a noite e imenso como o sono,

O poema encerra com a estrofe final contendo apenas 1 verso, e este verso confirma o

que ocorre em todo poema, a fecundação foi feita, concluída, resta a espera de que tudo

reverdeça.

Assim, através de idas e vindas, o poema permanece num diálogo constante sobre o

rito da fecundação, a geração da vida como fim da secura e da infertilidade. Se a imagem total

do poema pode ser percebida em cada verso, cada verso se encarrega de fundir esta mesma

imagem total.

Montagem em “Elegia à lua dos olhos de prata”

O outro poema que trazemos à discussão é “Elegia à lua dos olhos de prata”, que para

Mário de Andrade, segundo Péricles Eugênio, não possuía uma “organicidade de

composição”, ou seja, as estrofes eram construídas de forma descontínua, como um complexo

de imagens justapostas. Porém, para Péricles Eugênio, ao contrário do que afirmava Mário de

Andrade, este poema possuía unidade sim, uma unidade de espírito entre as estrofes, como o

próprio Péricles Eugênio afirma em seu depoimento:

Mas parece-me que a “Elegia” tinha unidade, ditada pelo estado de espírito –

as confissões de um jovem amargurado e esperançoso à Lua [...] Não era um

poema hermético, guiado por associações longínquas, mas com as estrofes

transitando com clareza de uma para outras. (RAMOS, 1984, págs. 71-72).

Visto assim, pareceu nos interessante relacionar esta ligação entre as estrofes, movida

por um estado de espírito contínuo, com a idéia de montagem proposta por Serguei

Eisenstein, pois entendemos que este complexo de imagens em estado de justaposição

potencializa a idéia geral das confissões amarguradas do jovem à lua.

Nosso uso do conceito de montagem foi retirado do ensaio de Serguei Eisenstein

“Palavra e imagem” (1938), presente no livro O sentido do filme. De início citamos o conceito

fundamental de montagem apontada por Eisenstein em que

a justaposição de dois planos isolados através de sua união não parece a

simples soma de um plano mais outro plano – mas o produto. Parece um

produto – em vez de uma soma das partes – porque em toda justaposição

deste tipo o resultado é qualitativamente diferente de cada elemento

considerado isoladamente. (EISENSTEIN, 2002, p. 16).

E adentrando o ensaio de Eisenstein chegamos ao ponto principal para nós, pois longe

da montagem ser apenas a justaposição de planos isolados, passa a ser importante para

Eisenstein que haja uma maior preocupação “em examinar a natureza do próprio princípio

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

unificador”.

Mas o ponto chave para nosso estudo fica com o seguinte trecho do ensaio que parece

dialogar de forma plena com nosso poema em estudo. Diz Eisenstein:

[...] seria necessário que o interesse do pesquisador se voltasse basicamente

não em direção aos casos paradoxais, nos quais o resultado global, geral e

final não é previsto, mas emerge inesperadamente. Deveríamos ter-nos

voltado para os casos nos quais os planos não só estão relacionados entre si,

mas nos quais este resultado final, geral, global não é apenas previsto, mas

predetermina tanto os elementos individuais quanto as circunstâncias de sua

justaposição. Casos como esses são normais, comumente aceitos e ocorrem

com freqüência. Nestes casos, o todo emerge normalmente como “uma

terceira coisa”. (EISENSTEIN, 2002, págs. 17-18).

O trecho acima é revelador se a ele unirmos as palavras de Péricles Eugênio sobre a

“Elegia”, no que respeita à descontinuidade entre as estrofes, mas à união entre elas pelo

estado espiritual permanente. Ou seja, como planos, as estrofes se ligam pelo tema, assim,

potencializando o produto na imagem final, ou “terceira coisa” como quer Eisenstein.

A “Elegia” é composta por 38 versos dispostos em 9 estrofes. As estrofes mantêm um

padrão um pouco mais regular do que o poema anterior, “Propiciação”. A estrofe (I) tem 5

versos; a estrofes (II) 4 versos; em seguida temos as estrofes (III), (IV) e (V) com três versos

cada; a estrofes (VI) volta a ter 5 versos; a estrofe (VII) tem 4 versos; a estrofe (VIII) possui 5

versos novamente; e fechando o poema, a estrofe (IX) com 6 versos. Percebemos, portanto,

certa regularidade na distribuição dos versos nesta “Elegia”.

ELEGIA À LUA DOS OLHOS DE PRATA

A Carlos Burlamáqui Kopke

1 Lua dos olhos de prata,

2 que embalaste com dedos de sândalo e mel

3 a luxuriante florescência das primeiras esperanças,

4 quantas vêzes tranqüila presenciaste

5 as horas velarem o rosto ao chamado do sonho!

6 Oh! ter-se que imprimir com o sangue das derrotas

7 o derradeiro alento às ilusões feridas no seio de trevo,

8 que logo se esvairão como iaras de bruma

9 junto à fonte negra da amargura!

10 Oh! ter-se pelos ombros sacudido a dor

11 e em vão tentando penetrar-lhe os olhos,

12 em busca da verdade da existência!

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13 Mas sobretudo, castigo entre os castigos!

14 ter-se visto a candidez das uvas resplendentes

15 de súbito gerar desesperados vinhos rubros!

16 Lua, ó lua do rosto de pedra,

17 contempla a vida soluçando novas criaturas,

18 - lágrimas de sangue ardente e poeira agônica!

19 Floresta de lamentações,

20 no desconsôlo de que vale a graça de teus raios?

21 Recolhe essas lianas,

22 calcina êsses galhos de gêlo,

23 que a esfinge está cantando nas alturas mortas.

24 Outra floresta, mas floresta de aflição,

25 a humanidade verga ao sôpro da incerteza;

26 foi com o sereno adormecido nesse vento

27 que fecundei a planície intangível dos ritmos.

28 Atenta, ó fantasma do peito sem voz!

29 na triste adolescência,

30 na floral desolação dêstes meus versos,

31 onde as abelhas não pousam,

32 nem os vaga-lumes fosforescem.

33 Que importa,

34 se um dia inda os verei,

35 redoirados de sol ou pálidos de luar,

36 - ipês a despencar imagens –

37 erguer-se vigorosos para as nuvens

38 brancas como deusas sem espôso!

(RAMOS, 1972, págs. 11-12)

Antes de partirmos para o poema, convém salientar que uma elegia, segundo Hênio

Tavares em sua Teoria literária, “comporta composições de tristeza e de luto”. E nos parece

claro, tendo como ponto de partida as próprias palavras de Péricles Eugênio sobre a “Elegia”

em seu depoimento, que esta elegia versa sobre a tristeza, ou melhor, como quer Péricles

Eugênio, sobre as amarguras de um jovem esperançoso frente à lua. E especificamente os

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versos abaixo assim demonstram o teor do poema:

28 Atenta, ó fantasma do peito sem voz!

29 na triste adolescência,

30 na floral desolação dêstes meus versos,

Lendo o poema no aspecto geral, percebemos que a estrofe (I) trabalha como uma espécie de

introdução contrastante com o resto do poema, já que nesta primeira estrofe a lua é

apresentada de acordo com um imaginário comum, onde a lua é tratada de forma humanizada,

como uma mãe a embalar os filhos no sono da noite:

1 Lua dos olhos de prata,

2 que embalaste com dedos de sândalo e mel

E também é trabalhada como detentora dos bons auspícios e esperanças:

3 a luxuriante florescência das primeiras esperanças,

4 quantas vêzes tranqüila presenciaste

5 as horas velarem o rosto ao chamado do sonho!

Portanto, a partir da estrofe (II), o teor dos versos tende àquela áurea amarga que ronda

o eu-lírico. Antes de continuarmos, vale a pena ver o contraste ampliado no diálogo específico

entre os versos 1 e 16:

1 Lua dos olhos de prata,

16 Lua, ó lua do rosto de pedra,

No verso 1 a lua humanizada tem olhos com brilho como o da prata, um metal nobre da

natureza. Já no verso 16 a lua, ainda com rosto, mas agora um rosto de pedra, característica

não-humana, a lua é agora apenas uma rocha dura, sem os vestígios da esperança passada.

A estrofe (II) inicia com a exclamação “Oh!” que será repetida na estrofe seguinte. As

desilusões (“imprimir com o sangue das derrotas”) do eu-lírico são postas às claras em uma

seqüência de três analogias que potencializam a imagem da desilusão: a primeira, “ilusões

feridas no seio de trevo”, possui o vocábulo “trevo”, termo recorrente na obra de Péricles

Eugênio e que quase sempre no sentido da esperança ou boa sorte; a segunda analogia,

“esvairão como iaras de bruma”, novamente, com o uso do vocábulo “iara” (beleza

tentadora), traz a imagem do que não permanece à tona. Vale ressaltar que a “iara” é um termo

também recorrente na obra do poeta, a mitologia da beleza, ou da beleza sensual que seduz, é

sempre tratada por Péricles Eugênio, como pode ser visto neste interessante epigrama do

poeta, que entrelaça a mitologia tupi e a alemã:

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EPIGRAMA N.o3

Suspeita

Por certo a Iara é morena,

Por certo a acácia é amarela;

Mas quem me pode dizer

Se Lorelei é donzela?

(RAMOS, 1972, p. 18)

A última analogia desta desilusão do eu-lírico se dá com a imagem da iara desaparecendo

entre as brumas “junto à fonte negra da amargura”, ambientação tétrica percebida pelo eu-

lírico. Vale lembrar que “fonte negra” era o título original com o qual os poemas foram

entregues a Mário de Andrade, e que depois, após revisão, passou a se chamar Lamentação

floral.

A estrofe (III) inicia, como já frisado, com uma exclamação mantendo certo padrão

com o primeiro verso da estrofe anterior, desta forma, mostrando como as estrofes não

estavam tão inteiramente desligadas umas das outras como dizia Mário de Andrade. A estrofe

(III), em nossa leitura, parece ser vista como o fracasso pela busca das respostas, pois mesmo

com a dor sacudida pelos ombros não houve como penetrar-lhe em seus olhos. Ponto de

mudança da desilusão para a realidade

A estrofe (IV), um terceto, gira em torno de um paradoxo, pois, em princípio, no que o eu-

lírico vira de candidez das uvas resplendentes, agora como num passe de mágica para a ser

“desesperados vinhos rubros”, imagem vibrante ao leitor, pois o que é um vinho desesperado?

A idéia de algo ruim nos torna claro a partir do verso 13: “Mas sobretudo, castigo entre os

castigos!”.

Com a estrofe (V), a lua com a face de pedra contempla novas vidas, mas vidas soluçadas,

como o vinho desesperado, além da forte imagem das “lágrimas de sangue” (vinho

desesperado?) e “poeira agônica!”.

Até este ponto, digamos, a primeira metade do poema, a imagem de algo desconsolador

parece se estabelecer claramente em nossa frente, se as estrofes não se ligam sintaticamente, o

tom, o conteúdo das estrofes dialogam, a lua das primeiras estrofes sofrem uma seqüência de

transformações, culminando nesta “poeira agônica!”, nova criatura filha da lua.

As palavras de Eisenstein são esclarecedores neste ponto, e nos ajudam a entender melhor a

construção do poema: “[...] apesar de a imagem entrar na consciência e na percepção, através

da agregação, cada detalhe é preservado nas sensações e na memória como parte do todo.

Isto ocorre seja ela uma imagem sonora – uma seqüência rítmica e melódica de sons – ou

plástica, visual, que engloba, na forma pictórica, uma série lembrada de elementos isolados”

(EISENSTEIN, 2002, p. 21).

As duas estrofes seguintes (VI) e (VII) giram em torno da imagem da lua envolta à imagem de

uma “floresta de lamentações”. Se na estrofe (I) a lua possuía olhos de prata, agora no

desconsolo os raios lunares já não têm mais “graça”, nos aproximamos da lua como deserto,

aridez, lianas (cipós) e “galhos de gelo” a serem calcinados. A esfinge impera sobre esta terra

de morte, como imperava em Tebas nos tempos de infertilidade e tristeza. Na estrofe (VII) a

floresta passa a ser tratada como “de aflição”, uma “outra floresta”. A humanidade verga sob o

efeito do espírito da incerteza. Nos dois versos finais desta estrofe,

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26 foi com o sereno adormecido nesse vento

27 que fecundei a planície intangível dos ritmos,

o poeta expõe algo que poderíamos relacionar com um aspecto formal importante em sua

obra, que é seu apreço pelo uso de ritmos organizados de forma sistemática. Como o uso do

ritmo binário, que o próprio poeta diz desconhecer na literatura brasileira exemplo de rigor

como o que foi empregado em vários poemas do livro Lamentação floral.

Seguindo, a estrofe (VIII) coloca de forma direta a questão do lamento ou tristeza do

eu-lírico, e nos parece relevante o fato dos versos 31 e 32 versarem sobre “abelhas” e “vaga-

lumes”, pois, mesmo de forma metafórica, o poema versa sobre florestas, o poeta passa assim

a usar estes itens como correlatos objetivos (no sentido proposto por T. S. Eliot) no poema.

A estrofe (IX), a última do poema, uma das mais densas em imagens, arremata de

forma direta a questão do lamento ou tristeza do eu-lírico. Pois, tudo parece perder a

importância, e o ipê, como uma espécie de correlato objetivo ao humor do eu-lírico,

representa seu estado interior, onde as dúvidas sobre ser visto sob o sol ou sob o luar, ou

mesmo erguer-se vigoroso em direção às “nuvens brancas como deusas sem esposo”, já não

faz diferença.

E nada melhor que finalizarmos com palavras de Eisenstein, que parecem resumir bem

o que encontramos na estrutura da “Elegia” durante sua leitura: “de um modo ou de outro, a

série de idéias é montada, na percepção e na consciência, como uma imagem total, que

acumula os elementos isolados.” (EISENSTEIN, 2002, p. 21). A idéia da amargura do jovem

frente à lua, seu estado de espírito desde o início do poema rondou as estrofes ligando-as no

tom. E o “despencar de imagens” de cada estrofe do poema, como na figura metonímica do

ipê, potencializou na mente do leitor “uma terceira coisa”.

Referências

AULETE, C. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Delta, 1980.

Vol. 4.

BOSI, A. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Companhia da Letras, 2000.

EISENSTEIN, S. O sentido do filme. Trad. Teresa Ottoni. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,

2002.

RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. Poesia quase completa. Rio de Janeiro: José Olympio,

1972.

______. Um depoimento: palavras de Mário de Andrade quarenta anos depois. Revista de

poesia e crítica, Brasília - São Paulo - Olinda, n. 10, ano VIII, p. 69-74, 1984.

TAVARES, H. Teoria literária. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974.

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Cinema e educação: por uma pedagogia indisciplinada

da imagem

Maurício de Bragança

Doutor em Letras/Universidade Federal Fluminense/ Professor Adjunto do Departamento de Cinema e

Video e Professor do corpo permanente do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFF.

Coordenador do curso de Licenciatura em Cinema e Audiovisual da UFF. Bolsista PQ 2 do CNPq

Resumo

A ubiquidade das telas e do audiovisual na sociedade contemporânea exige uma reavaliação da utilização de

imagens como recursos pedagógicos na sala de aula. A complexidade destes registros necessita uma nova

postura do educador, que deve enfrentar este corpo a corpo com a imagem através de uma aproximação às

teorias próprias do audiovisual como forma de preservar-lhes sua potência política e estética. Este artigo

discute a impropriedade da adequação do audiovisual ao mero uso conteudístico pautado pelo perfil das

disciplinas, a fim de evitar a domesticação da imagem e sua subserviência a contextos escolares.

Palavras-chave

Audiovisual, escola, disciplinas escolares, cinema e educação

Abstract

The ubiquity of screens and audiovisual texts in contemporary society requires a reassessment of the use of

images as learning resources in the classroom. The complexity of these records demands a new attitude of the

educator, who must face the images through an approach to audiovisual own theories as a way to preserve their

political and aesthetic power. This article discusses the impropriety of the adequacy of the audiovisual to the

contents defined by the profile of the disciplines in order to avoid the domestication of the image and its

subservience to school contexts.

Keywords

Audiovisual, school, school subjects, cinema and education

Introdução

Sabemos da preponderância de uma cultura visual na contemporaneidade e da

necessidade urgente de uma sensibilização do olhar nesse panorama de ubiquidade de telas e

de registros audiovisuais. O mundo das imagens e do audiovisual, em particular, organiza as

sociedades e as formas como as relações sociais se estabelecem no âmbito da cultura. Isso

implica não apenas no fato de que o ambiente das novas tecnologias nos proporcionou uma

maior intimidade com os processos de realização de textos audiovisuais mas, sobretudo, no

aspecto de que o audiovisual demanda novas práticas de leitura, articuladoras dos processos

de mediação dos quais somos agentes ativos. Esse corpo a corpo com as imagens exige uma

mobilização intelectual capaz de promover o enfrentamento não de forma ingênua ou neutra,

mas que nos permita compreender que os textos audiovisuais são carregados de proposições

estéticas e políticas.

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A nova escola já percebeu a irreversibilidade do enfrentamento das imagens,

confirmada pelas inúmeras pesquisas que hoje em dia comportam as relações entre as várias

disciplinas e o universo imagético. O mercado editorial voltado para a produção de livros

didáticos está cada vez mais aberto à recepção destas perspectivas interdisciplinares que

percebem a inevitabilidade do contato com as imagens e o universo audiovisual. Podemos

dizer que, hoje em dia, é praticamente impossível pensarmos em estudar biologia, história,

literatura ou qualquer outro conteúdo disciplinar constante das grades dos currículos do

ensino básico sem estarmos sensíveis ao contato com as imagens e às práticas que demandam

estes encontros.

Esse enfrentamento, no entanto, exige que se compreenda a natureza desestabilizadora

da produção audiovisual e sua capacidade de colocar em xeque os regimes de afirmação

contextual que compõem os horizontes disciplinares. E é exatamente nesse ponto que

percebemos o descuido, de grande parte dos educadores, que insistem em tratar os textos

audiovisuais como meros apêndices confirmadores das teses disciplinares com as quais

trabalham. Esse desacerto advém de uma falta de intimidade com as teorias da imagem e do

audiovisual, que percebem a complexidade discursiva e estética destes textos, demandando

mais do que boas intenções na utilização do cinema e do audiovisual aliados aos conteúdos

disciplinares em sala de aula. Corremos o risco de, ao desconsiderar esta especificidade

teórica, despolitizarmos o texto audiovisual e pensarmos esses registros apenas como reflexo

dos conteúdos a serem tratados.

A imagem tem uma capacidade de instabilidade e questionamento que, antes de ser

domesticada através de apropriações didáticas ou utilitaristas, deve ser evidenciada como

forma de garantir sua potência. O que vemos, em geral, nas rotinas de utilização das imagens

em sala de aula, é uma redução dessa capacidade desafiadora do discurso audiovisual em

função de uma acomodação do texto imagético às teorias disciplinares que estão sendo

trabalhadas. O resultado é uma subserviência da imagem às disciplinas, reduzindo de forma

drástica e arbitrária a radicalidade das proposições inerentes ao universo das imagens e do

audiovisual.

Gostaríamos de evocar uma experiência singela e corriqueira, porém bastante

ilustradora dos desafios impostos pela abertura às experiências de contato com as imagens

inseridas numa prática de intenção pedagógica. Ainda no início do meu trabalho como

professor de história da rede estadual de ensino do estado do Rio de Janeiro, recém-saído da

universidade no início da década de 1990, deparei-me com a dificuldade encontrada em uma

turma da 5ª. série do antigo regime de ensino. Esta era uma turma de uma cidade do interior

do estado, que apresentava uma carência no conteúdo básico da disciplina relacionada à

História e Estudos Sociais. Aqueles alunos não conseguiam conceber, por exemplo, a ideia de

tempo a partir da divisão por unidades de século. Não conseguiam, portanto, identificar

claramente o que significava a ideia de século XX, século XIX, Idade Moderna, conceitos e

unidades temporais que construímos para definir uma abordagem ocidental da história. Para

propor uma reflexão sobre o conceito de tempo com a turma, preparei uma aula baseando-me

em várias coleções de imagem que sugeriam a ideia de “presente” e “passado”. As imagens

traziam mulheres em figurinos do século XIX, carruagens, aparelhos eletrônicos, meios de

transportes contemporâneos e antigos, paisagens de várias épocas distintas, dentre várias

outras imagens que evocavam registros ligados ao passado e ao presente.

Dividi a turma em duplas e, para cada uma, distribuí uma coleção de várias dessas

imagens solicitando que eles agrupassem esses repertórios em dois conjuntos, sem definir a

priori o conceito que iria orientar a separação dessas imagens. Ao final, as duplas

apresentariam suas seleções que, na minha ingênua expectativa, iriam confirmar a

apropriação das imagens a partir destas ideias com as quais gostaria de trabalhar: passado e

presente.

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Minha surpresa se deu ao constatar que as imagens vieram agrupadas a partir de várias

percepções distintas: havia quem tivesse observado que as imagens podiam ser coloridas ou

em preto e branco; outros notaram que as figuras eram recortadas de forma retangular ou de

forma arredondada; alguns perceberam que parte das imagens apresentavam pessoas e outras,

objetos; outro grupo observou que algumas imagens eram registros fotográficos e outras eram

figuras desenhadas. Eu, particularmente, absorto na minha legítima, porém ingênua, intenção

de orientar a discussão preparada para aquela aula, não havia sequer cogitado a possibilidade

de outros resultados que não aqueles que orientavam os meus objetivos e nem havia

observado as múltiplas diferenças daqueles conjuntos de imagem.

Diante dessas várias possibilidades apresentadas pela turma, que frustravam o meu

interesse inicial, tive a oportunidade de perceber a dificuldade que se instaurava ao

depararmo-nos com as imagens: elas remetiam a percepções distintas e nos desafiavam de

formas diferentes. Esse episódio, quase simplório de tão cotidiano, registro rotineiro de

muitas práticas comuns no ato pedagógico de inúmeros professores do ensino básico, nos

impõe uma série de reflexões, demonstrando a complexidade do trabalho de enfrentamento

das imagens em âmbito coletivo numa sala de aula. Aqui, nos debruçávamos sobre ilustrações

e registros fotográficos, mas se pensarmos na utilização de produtos audiovisuais, a

complexidade dos textos tende a ser ainda maior. De qualquer maneira, este episódio pode ser

bastante profícuo e propositor de uma série de reflexões em torno da utilização de imagens e

textos audiovisuais na sala de aula, ajudando-nos a pensar algumas questões fundamentais

que pautam a relação entre educação e o audiovisual.

Uma primeira questão que nos surpreende no relato é da ordem da mediação. Aquelas

imagens funcionavam como textos mediadores que estabeleciam conexões entre uma ideia de

realidade histórica, representada pelos símbolos evocados, e o mundo a qual estes

observadores pertenciam. No meu imaginário, uma charrete e cavalos, por exemplo,

pertenciam a um mundo deixado para trás, devido a minha experiência eminentemente

urbana. Estas figuras evocavam um tempo passado, superado, por exemplo, pelos meios de

transporte como aviões, trens balas e foguetes. A minha insensibilidade e distanciamento da

vivência daquela comunidade de alunos me impediam de perceber os cavalos que ainda

serviam como meio de locomoção naquele ambiente de características marcadamente rurais.

Neste sentido, inspirados pelas proposições metodológicas de Martín-Barbero (2001;

2014), devemos deslocar o foco metodológico da “imagem como meio” para a “imagem

como processos de mediação”, capaz de desvelar os distanciamentos e as relações

hegemônicas implicadas naquelas práticas de leitura da imagem, priorizando as articulações

entre as práticas de comunicação nas quais se esboçam diferentes temporalidades e a

pluralidade de matrizes culturais. Assim, “pensar a linguagem como mediação é pensá-la ao

mesmo tempo como feita de signos e prenha de símbolos”, em que “o símbolo não se presta à

fria análise das estruturas, mas reaquece e contamina tudo com o excesso e o conflito das

interpretações” (MARTÍN-BARBERO, 2014, p. 31).

Relacionar as imagens ao âmbito das mediações, como processos capazes de organizar

mundos e construir realidades, não exclui, no entanto, a experiência do enfrentamento direto

entre o espectador e as imagens. Pelo contrário, tais processos são atravessados pela fantasia,

pela capacidade que essas imagens apresentam de superar o real e proporcionar a experiência

da invenção de mundos para além da ideia de representação. Neste sentido, os filmes apelam

para a fantasia, a intuição, a imaginação e as emoções, que não cabem no modelo explicativo

com que os professores costumam enfrentar o texto fílmico. É nessa chave que a educadora e

pesquisadora Adriana Fresquet (2013) ressalta o potencial “deseducador” do cinema, no

sentido em que os filmes, muito frequentemente, não se adéquam ao regime normatizador

com que se construiu o ambiente escolar.

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

A escola, mesmo sem ser uma prisão, é o lugar da regra, da ordem, da

transmissão de determinados saberes considerados essenciais para a

formação das crianças e dos adolescentes. O cinema entra na escola como

um gérmen de caos e desordem. Já temos um belo contraste. Uma tensão

(FRESQUET, 2013, p. 45).

É nesse caos estimulado pelos filmes que os alunos e os professores experimentam

novas formas de ser e estar no mundo, expandindo processos de subjetivação e exercitando

práticas de leitura contaminadas pelo potencial intuitivo em desacordo com metodologias

tradicionais desenvolvidas pelos registros científicos que marcaram a formação do

conhecimento pelas disciplinas.

Dessa forma, ao estabelecermos o potencial discursivo presente nas mediações que os

textos audiovisuais apresentam, podemos pensar, como nos sugere Martín-Barbero (2014, p.

10-11), que a educação é, antes de tudo, um processo comunicativo que envolve três

dimensões fundamentais: seu vínculo com a cultura; seu compromisso com a capacitação dos

alunos (que permita sua inserção no campo de trabalho); e sua responsabilidade na formação

de cidadãos comprometidos com o ideal de uma sociedade justa e democrática. É nessa

perspectiva que o autor colombiano evoca os estudos de Antonio Gramsci e Paulo Freire,

como forma de evidenciar a comunicação como processo social e como campo de batalha

cultural (MARTÍN-BARBERO, 2014, p. 21), capaz de superar, na nossa compreensão,

dualidades reducionistas que vinculam olhar e passividade, mediação e simulacro, imagem e

disciplina, ou ainda, saber e hierarquia.

Retomando, portanto, o exemplo da aula frustrada acima citada, chegamos a uma

segunda questão: ao pensarmos os textos audiovisuais como processos de mediação,

apostamos também na suspeita da própria relação hierárquica que tradicionalmente se

construiu entre “aquele que ensina” e “aquele que aprende”. Essa lógica que preservou o

papel da escola como reprodutor ideológico é posta em xeque a partir da ideia de que os

saberes são recicláveis e, sobretudo, algo que só existe em relação. O texto audiovisual se

organiza a partir das apropriações simbólicas que produzem sentido aos grupos e, sob este

aspecto, descredenciam o a priori que o saber disciplinar autoritariamente insiste em afirmar.

As imagens, ao contrário, instauram a suspeita, desarticulando as relações de poder que o

mestre, como explicador/tradutor de imagens, tenta preservar. Os textos audiovisuais

demandam o exercício efetivo de práticas de leituras que desautorizam a hierarquização de

saberes e, para isso, o educador deve estar ciente de que estes textos são polifônicos e abertos

às mais diversas produções de sentido.

Denunciar a hierarquia de poder que se estabelece dentro da sala de aula impõe uma

outra abordagem do texto audiovisual. Estas imagens devem ser encaradas não como um

mero reflexo contextual ou como um dispositivo a serviço de um projeto político pautado

apenas pelos modelos de representação que preservem o status quo disciplinar, mas sobretudo

como práticas discursivas complexas que incorporam as contradições próprias ao diálogo

interdisciplinar. Nesse modelo de apropriação das imagens, se estabelece “uma dialética da

crença e da dúvida”, como pontuou Jean-Louis Comolli (2008), que declara que

no cinema, a dúvida, já que ela é articulada com a verdade da inscrição,

sempre é trazida por uma crença; dúvida e certeza se combatem e voltam a

atuar em um movimento sincrônico, e essa alternância define o lugar do

espectador como lugar incerto, móvel, crítico (COMOLLI, 2008, p. 171).

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

É exatamente nesse ponto que devemos insistir numa espécie de suspeita da imagem,

que faz com que o espectador se sinta convocado a interagir com o que assiste, não a partir de

uma interpretação que busque “o significado do filme”, mas como problematizador do

próprio estatuto da imagem sob aquilo que o mesmo Comolli aponta como “o risco do real”.

“O cinema não existe apenas – isto já é muito – para tratar do mundo e da realidade que nos

define. Ele deve também inscrever cinematograficamente sua potência e complexidade. O

monumental e o ínfimo” (COMOLLI, 2008, p. 170).

É necessário insistir numa espécie de reeducação do olhar frente às imagens como

maneira de sustentar a suspeita inerente a qualquer texto audiovisual a que o teórico francês

faz menção. É neste sentido que a “indisciplinaridade da imagem” demanda a formação de

um educador que problematize nossa relação frente às provocações impostas pela

complexidade dos textos audiovisuais.

Tais provocações se organizam em torno da ideia de que o contato com os filmes, por

exemplo, se dá não apenas a partir de um encontro com textos narrativos que propõem uma

discussão, mas sobretudo que tais textos se configuram um mergulho no vazio e no

insondável proposto pelo universo da arte. Assim, da mesma forma que assistimos ao filme,

essa experiência espectatorial também indica que o filme, de alguma forma, nos “lança um

olhar”. Ele nos interroga, ele demanda uma leitura sobre nós mesmos, no eixo daquilo que

Georges Didi-Huberman nos desafia em “O que vemos, o que nos olha”: “E eis que surge a

obsedante questão: quando vemos o que está diante de nós, por que uma outra coisa sempre

nos olha, impondo um em, um dentro?” (DIDI-HUBERMAN, 2010, p. 30). Nesta dinâmica

da relação entre o espectador e a arte, se o objeto é apreendido pelo nosso olhar, nós também

somos capturados pelo objeto, promovendo uma espécie de aproximação e afastamento que

organiza a arquitetura de olhares nesse em a que Didi-Huberman faz menção. A proposta é

radical e nos impele a um mergulho interior motivado pela circularidade de olhares que se

impõe na nossa relação com a arte: “devemos fechar os olhos para ver quando o ato de ver

nos remete, nos abre a um vazio que nos olha, nos concerne e, em certo sentido, nos constitui”

(ibidem, p. 31). Para o cineasta brasileiro Rogério Sganzerla (2001, p. 31), sob um

determinado ponto de vista, esse também foi um desafio proposto pelo cinema moderno, ao

intuir uma nova relação entre o espectador e a tela.

Hoje o espectador não é iludido pela tela: passou a época da fascinação e do

deslumbramento alienante. De certa maneira, ele tem consciência de sua

situação – de que é um espectador, nada mais (“Bandido Giuliano”, “Viver a

vida”). O público não precisa aceitar em bloco o filme e as ideias contidas: é

preciso dar-lhe liberdade para que possa pensar e concluir por si mesmo.

Desde “Cidadão Kane”, o espectador é um homem livre, seja para refletir os

fenômenos sociais (Visconti, Rosi), seja para observar o mecanismo da

tragédia (Welles, Losey), ou simplesmente para deixá-lo livre (Godard).

Além da verdade do autor, na relatividade do cinema moderno impõe-se a

verdade do espectador.

Essa dimensão constitutiva da subjetividade do olhar destitui qualquer possibilidade

de condução dessa experiência por parte de um “educador” munido de um protocolo de

prévias intenções. Desprovido desse saber apriorístico domesticador diante do texto

audiovisual, o novo educador repropõe o estatuto da imagem ao mesmo tempo em que recusa

a verticalidade como eixo de construção de saberes. Dessa forma busca incentivar nos alunos

aquilo que Jacques Ranciére (2012) identifica como o “espectador emancipado”, capaz de,

através da experiência, pensar as imagens em relação, constituindo uma práxis que tensiona a

dicotomia olhar/agir.

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

A emancipação, por sua vez, começa quando se questiona a oposição entre

olhar e agir, quando se compreende que as evidências que assim estruturam

as relações do dizer, do ver e do fazer pertencem à estrutura da dominação e

da sujeição. Começa quando se compreende que olhar é também uma ação

que confirma ou transforma essa distribuição das posições. O espectador

também age, tal como o aluno ou o intelectual. Ele observa, seleciona,

compara, interpreta. Relaciona o que vê com muitas outras coisas que viu em

outras cenas, em outros tipos de lugares. Compõe seu próprio poema com os

elementos do poema que tem diante de si (RANCIÈRE, 2012, p. 17).

O aluno envolvido nesse processo emancipador percebe, a partir de uma formação

teórica e prática, que a leitura de um filme é um gesto que se configura como práxis política

num processo de reeducação do olhar. Essa é a virada epistemológica fundamental necessária

para que possamos enfrentar os textos audiovisuais não mais como apêndices ou ecos de uma

realidade objetiva ou contextual, como tradicionalmente são utilizados nas práticas dos

educadores do ensino básico que convocam o audiovisual como recurso em sala de aula. É

neste sentido que devemos apostar numa sensibilização dos educadores que trabalham com o

cinema e audiovisual a partir de uma aproximação às teorias próprias ao universo da imagem

como forma de prepará-los para a emancipação de espectadores desde o âmbito do ensino

fundamental e médio. É importante ressaltar, mais uma vez, que esse processo de

emancipação, como nomeia Rancière, se dá de forma coletiva, na qual professor e aluno se

colocam como espectadores que experimentam, juntos, os desafios impostos pelos textos

audiovisuais. Estes, por sua vez, nesta perspectiva emancipadora, não podem ser silenciados

por apropriações meramente contextuais e disciplinares que, na verdade, oprimem o

espectador, tornando-o refém de uma leitura já previamente indicada. É nesse horizonte que,

recuperando os escrito de Paulo Freire, podemos pensar a emancipação do espectador

anunciada por Jacques Rancière, como um processo de democratização das práticas de leitura

e de libertação do olhar frente ao processo domesticador imposto pela leitura disciplinarizada:

O que pode e deve variar, em função das condições históricas, em função do

nível de percepção da realidade que tenham os oprimidos, é o conteúdo do

diálogo. Substituí-lo pelo antidiálogo, pela sloganização, pela verticalidade,

pelos comunicados é pretender a libertação dos oprimidos com instrumentos

de “domesticação”. Pretender a libertação deles sem a sua reflexão no ato

desta libertação é transformá-los em objeto que se devesse salvar de um

incêndio. É fazê-los cair no engodo populista e transformá-los em massa de

manobra (FREIRE, 2014, p. 72).

A partir deste trecho esclarecedor de Paulo Freire, podemos pensar que o uso

meramente disciplinarizado da produção audiovisual funciona como uma espécie de

verticalização de saberes, na qual a leitura conteudística proposta pelo professor, ainda que

motivada por nobres intenções, já indica previamente o caminho para a apropriação do texto,

que está a serviço de uma confirmação contextual como forma de “salvar os alunos desse

incêndio”, sem deixar que eles mesmos percebam os caminhos de fuga.

É preciso que pensemos possibilidades de deslocar o lugar do espectador a um ponto

de questionamento crítico do próprio estatuto da imagem na cultura contemporânea. Isso faz

parte de uma nova proposta de consciência crítica que viabilize uma outra leitura do mundo,

pelas imagens, conjugada às práticas de interpretação próprias da cultura letrada. Esse é um

outro desafio imposto pela contemporaneidade, que insere o audiovisual como um texto que

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

deve ser enfrentado e lido na mesma importância que a produção vinculada ao universo do

letramento. A nova escola não pode mais fugir deste desafio, proporcionar o ambiente

necessário para o desenvolvimento da capacidade crítica das imagens, articulada à

interpretação e leitura dos textos tradicionais. As práticas de leitura, na cultura

contemporânea, conjugam a imagem, as sonoridades e as letras, de forma que a articulação

entre essas linguagens contribuam para o desenvolvimento de uma capacidade de crítica e de

reflexão. Martín-Barbero mais uma vez nos ajuda a pensar a questão, ao denunciar o

preconceito com que os intelectuais mais tradicionais e o próprio ambiente de uma escola

conservadora costumam tratar o audiovisual:

Boa parte do mundo adulto, e em especial o acadêmico, atribui aos meios

audiovisuais a causa da crise da leitura e do empobrecimento cultural em

geral. (...) Enquanto o livro é declarado espaço próprio da razão, do

argumento, do cálculo e da reflexão, o mundo da imagem massiva é

reduzido ao espaço das identificações primárias e das projeções irracionais,

das manipulações consumistas e da simulação política (MARTÍN-

BARBERO, 2014, p. 45).

É a aposta no surgimento de uma outra atuação de cidadania, estimulada pelo

exercício de leitura problemática das imagens e pela possibilidade de intervenção social, que

essa interação sujeito/imagem agencia. Como ler as imagens? Como estabelecer uma relação

crítica com os textos audiovisuais que nos permita suspeitar da própria narrativa fílmica e não

nos manter “fieis” às proposições em questão. A proposta é desafiadora e estimulante, uma

vez que coloca em xeque a estabilidade do nosso próprio lugar de leitor/espectador, em busca

de uma postura que seja capaz de abandonar nossa cômoda posição de observador e assumir

uma atitude que conjugue a ideia de conhecimento e ação, num processo de emancipação

intelectual já mencionado.

Essa preocupação vem a reboque da própria necessidade de mudanças do

funcionamento da escola como dispositivo de produção de subjetividades no contexto

contemporâneo. A escola é um organismo vivo que deve responder aos estímulos de

formação de novos corpos, subjetividades e sensibilidades próprias aos desafios da sociedade

atual. A escola tradicional não atende mais a essas demandas e, muitas vezes, reside nesse

desencaixe os motivos da falência de um projeto pedagógico mais conservador.

Se o século XX foi atravessado pela cultura midiática e a superexposição de discursos

visuais, a virada do século XXI tensionou ainda mais nossa relação com a produção

audiovisual. As novas tecnologias e a chegada massiva dos dispositivos digitais trouxeram

novos e urgentes desafios para a escola, que não pode mais se pautar apenas, ou

fundamentalmente, na cultura letrada. Sobre essas mudanças, e as incompatibilidades que elas

geram no âmbito da escola, nos aponta Paula Sibilia (2012, p. 198):

É uma transição entre certos modos de ser e estar no mundo – que,

certamente, eram mais compatíveis com o colégio tradicional e com as

diversas tecnologias dessa linhagem escolar – e as novas subjetividades que

atualmente florescem, e que manifestam sua flagrante incompatibilidade

com tais ferramentas enquanto se ensamblam com outros artefatos.

Nessa perspectiva, é muito importante que as escolas dialoguem com as novas

tecnologias, e mais que isso, proporcionem uma reflexão crítica acerca dos processos de

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

mediação nos quais se inserem os dispositivos digitais e a produção e circulação de imagens

virtuais. Aqui a contribuição da Educomunicação é fundamental. Nessa proposta

metodológico-pedagógica, a educação é enfatizada na sua interface com os processos de

comunicação, numa dinâmica interdisciplinar, colaborativa e multimidiática. A dimensão do

audiovisual se expande para além do cinema, incluindo também a fotografia, games, e a

produção de imagens compartilhadas nas mídias sociais.

Essa nova concepção de educação, trabalhada no âmbito do ensino fundamental e

médio, representa uma perspectiva mais democrática e menos hierarquizada nas relações com

os artefatos e dispositivos tecnológicos sem, no entanto, deixar de problematizá-los em sua

dimensão social. É nesse horizonte, também interessada na dimensão comunicacional do

processo educativo, que Paula Sibilia, encaminha sua discussão acerca da obsolescência da

escola, instituição concebida a partir de um modelo adestrador de corpos a serviço de uma

espécie de “cruzada disciplinadora” (SIBILIA, 2012, p. 201) capaz de fornecer as bases de

manutenção da sociedade moderna no século XIX.

A autora, ao desenvolver seus argumentos acerca da necessidade de superação deste

modelo, reconhece a importância de uma interface tecnológica ao disseminar um outro

processo de constituição de subjetividades na contemporaneidade. Nesse modelo, a presença

permanente das telas e a hiperconectividade a partir dos múltiplos dispositivos eletrônicos se

destacam como discussões fundamentais, que contribuem para uma profunda transformação

das linguagens organizada em torno da civilização da imagem que se ergue nos escombros de

uma cultura letrada.

Tendo atravessado um século inteiro sob a coruscante luz do cinema, e

várias décadas de intenso contato com a televisão, a cultura atual está

fortemente marcada pelos meios de comunicação audiovisuais e, mais

recentemente, essa produção e circulação de imagens foi exponencialmente

multiplicada com a irrupção triunfal dos dispositivos digitais (SIBILIA,

2012, p. 206).

Nesta paisagem contemporânea marcada pela profusão de dispositivos digitais e telas

dos mais variados tamanhos espalhadas por todos os cantos, a escola enfrenta seu maior

desafio ao lidar com novos agenciamentos e processos de constituição de subjetividades e

articulações identitárias, nos quais a preponderância dos meios de comunicação audiovisuais

é um aspecto fulcral, como aponta a autora.

Assim, como forma de avançar o debate, propomos uma reflexão acerca do

investimento numa nova abordagem da imagem em ambiente escolar. Para isso, destacaremos

alguns eixos de trabalho que podem orientar os educadores a lidarem com esses desafios,

introduzindo uma pedagogia da imagem na escola dissociada de uma perspectiva meramente

utilitarista como recurso pedagógico em sala de aula, mas sofisticando a formação do aluno

no que concerne à leitura, apropriação e produção dos textos audiovisuais. Sobre essa tensão

que o ensino do cinema pode proporcionar à própria natureza das práticas escolares, Adriana

Fresquet (2013, p. 62) nos diz: “O cinema provoca o devir da escola, prevê uma ‘outra

escola’, renovando-se pelo exercício que só a alteridade permite. Eu diria que o cinema

inclina a escola para a frente, mas também para trás, para os lados, ele a deixa de ‘pernas para

o ar’ mais de uma vez; basicamente, ele a desestabiliza”.

Num primeiro eixo, o audiovisual é trabalhado a partir de uma reflexão teórica sobre a

própria imagem, de forma a proporcionar um contato dos alunos com o texto audiovisual em

sua articulação discursiva. Nessa perspectiva, a análise da imagem é encaminhada a partir de

uma preocupação política aliada à estética e à linguagem dos textos audiovisuais, enfatizando

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

uma conjugação do campo das artes e da comunicação. Aqui é fundamental também atentar

para aspectos relacionados à linguagem cinematográfica, aos estudos da narrativa e a alguns

conceitos teóricos principais. Essa abordagem permite ao aluno questionar os filmes e as

imagens a partir de seu próprio campo de construção de conhecimento e horizonte filosófico.

Como compromisso a ser alcançado, a escola proporciona aos alunos desenvolverem

uma intimidade com a linguagem cinematográfica que lhes permita fazer uma análise fílmica

partindo da própria materialidade discursiva do filme e não a partir de simples especulações

de gosto pessoal ou de objetivos de ordem utilitarista alheios à especificidade dos textos

audiovisuais. Esse eixo apresenta uma função pedagógica muito clara vinculada à

sensibilização e à autonomia do olhar do espectador na percepção das especificidades do

discurso construído pelo texto audiovisual. Além disso, esse cuidado teórico permite uma

ampla abordagem de textos de naturezas diferentes, como a publicidade, o cinema, o universo

dos games, os videoclipes, assim como textos midiáticos audiovisuais de uma forma geral.

Um segundo eixo de atuação na escola se dedica à formação de público e à

constituição de um repertório em torno da produção de imagens. Num processo de

aprendizagem de leitura do texto audiovisual, é fundamental que se pensem estratégias

voltadas à constituição de referências que ajudem a entender estes textos como um processo,

constituído a partir de uma dimensão histórica e dos diálogos que se constroem na própria

relação com uma tradição da produção de imagens. Assim, os discursos audiovisuais

constroem-se também como práticas intertextuais e dialógicas que se revelam nas várias

camadas de sentido que se apresentam a partir de suas filiações com a própria história e

teoria. Desta forma, pensamos esses textos em relação, reduzindo a ênfase que geralmente é

dada na vinculação com os objetivos curriculares disciplinares, procedimento que ameaça a

polifonia dos textos audiovisuais ao torná-los subservientes ao contexto. Com o

desenvolvimento desta prática, o grupo de alunos se sente mais confortável em pensar

relações e diálogos possíveis de experiências diacrônicas e não lineares, ao mesmo tempo em

que coloca em relação uma produção audiovisual de natureza diversa.

É importante perceber, neste eixo, uma crescente sofisticação do olhar sobre os textos

e a construção de um arquivo de memória que permite ampliar as referências ressaltadas nas

análises propostas. Um outro aspecto deste eixo é o incentivo de debates convocados pelos

filmes, criando-se, a partir desta experiência, um fórum de discussão permanente na escola

sobre os vários aspectos sociais e culturais sugeridos pelos filmes. Um objetivo deste núcleo é

perceber que os filmes são experiências discursivas capazes de mobilizar importantes tensões

presentes na cultura e na sociedade. Essa prática valoriza também a experiência coletiva ao

estimular que os alunos e professores assistam aos filmes juntos e passam a discuti-los,

enfatizando um aspecto fundamental da sociabilidade fílmica e do próprio processo de debate

público para o exercício da cidadania. É importante ressaltar que essa experiência faz parte de

uma tradição cineclubista, por exemplo, essencial para a constituição e manutenção de um

capital simbólico em torno do cinema e de outras produções audiovisuais.

Num terceiro e último eixo de atuação, propomos a constituição de um núcleo de

produção audiovisual, onde os alunos da escola participam de oficinas técnicas que os

capacitam a produzir suas próprias narrativas audiovisuais. Neste laboratório de produção de

vídeos, os alunos experimentam o deslocamento do lugar de espectador para o de realizador,

através da construção de imagens. Estas práticas proporcionam uma experiência pedagógica

importante complementar à aprendizagem do processo de leitura dos textos audiovisuais.

Aqui, os alunos vivenciam a escritura destes textos, exercitando uma sensibilização de seu

olhar sobre as suas próprias práticas de leitura sobre a vida e o mundo, através de narrativas

audiovisuais e/ou experiências imagéticas pensadas em equipe. Os resultados destas

experiências são também objeto de discussão no fórum cineclubista mencionado acima, de

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

forma a ressaltar que os exercícios produzidos pela turma se inserem num espectro mais

amplo de reflexão sobre o papel do texto audiovisual no mundo contemporâneo.

Assim, tendo como preocupação uma conscientização da autonomia do discurso

imagético, associada a um estímulo à emancipação do olhar do espectador, acreditamos que a

escola pode tornar-se um importante lugar de reflexão sobre o audiovisual na sociedade

contemporânea. Para isso, como pretendemos discutir neste artigo, cabe ao professor, e à

escola como um todo, perceber que estes textos se apresentam como discursos problemáticos

capazes de deflagrar importantes reflexões de ordem estética e política se enfrentados e

respeitados em toda a sua especificidade. A produção audiovisual não pode ser encarada

apenas como um mero recurso metodológico vinculado ao cumprimento de um programa

curricular, ajustado a uma leitura previamente estabelecida pela necessidade de confirmação

de determinadas proposições conteudísticas.

Referências

COMOLLI, Jean-Louis. Ver e poder – a inocência perdida: cinema, televisão, ficção,

documentário. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. 2. ed. São Paulo: Editora 34,

2010.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 56. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

FRESQUET, Adriana. Cinema e educação – Reflexões e experiências com professores e

estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica

Editora, 2013.

MARTÍN-BARBERO, Jesús. A comunicação na educação. São Paulo: Contexto, 2014.

RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,

2012.

SGANZERLA, Rogério. Por um cinema sem limite. Rio de Janeiro: Azougue Editorial,

2001.

SIBILIA, Paula. A escola no mundo hiperconectado: redes em vez de muros? MATRIZes,

São Paulo, Ano 5 – No. 2, p. 195 – 211, jan/jun 2012. Disponível em

http://www.matrizes.usp.br/index.php/matrizes/article/view/269. Acesso em: 28 jun 2014.

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Representação do ‘Nós’ e do ‘Eles’ na seção Carta ao

Leitor da Revista Veja

Fábio Ferreira Pinto

Mestre em Linguística Aplicada pela PUC/SP. Professor da Rede Objetivo de Ensino.

Vânia de Moraes

Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Professora da Universidade de Taubaté -

UNITAU

Resumo

Este artigo visa apresentar, a partir da Análise Crítica do Discurso, a representação de poder expressa num

texto da seção Carta ao Leitor, da Revista Veja, intitulado O mesmo grau de certeza, na qual essa se coloca

como arauto da moral de defesa dos cidadãos, num discurso polarizado entre o bem – Veja – e o mal – Marcos

Valério e o ex-presidente Lula. A partir do quadrado ideológico de van Dijk representar-se-á o “Nós” e o

“Eles” dentro do chamado “discurso poderoso”, em que o poder e a dominação aparecem institucionalizados e

polarizados entre a autoapresentação positiva e a outra-apresentação negativa.

Palavras-chave

Análise crítica do discurso; Discurso Poderoso; Escolha Lexical; Topicalização.

Abstract

This article aims to present, from the Critical Analysis Discourse, the representation of power expressed in a text

of the section Letter to the Reader, from Veja magazine, entitled The same degree of certainty, in which this

arises herald as a moral defense of citizens, in a polarized discourse between the good - Veja - and the evil -

Marcos Valério and ex-president Lula. From the ideological square of van Dijk will be represent "We" and

"They" inside the "powerful speech", in which power and domination appear institutionalized and polarized

between positive self presentation and the other negative presentation.

Key words

Critical Analysis Discourse; Powerful Speech; Lexical Choice; Topicalization.

Introdução

O objetivo pesquisa é examinar e analisar criticamente as escolhas lexicais e seus

respectivos efeitos de sentido e a construção simbólica de ideologia numa publicação de Carta

ao Leitor, da Revista Veja, em que tal construção baseia-se num discurso poderoso e que

utiliza aspectos bastante sutis presentes no discurso, sobretudo, as imagens criadas através

desses, cujo controle foi definido por van Dijk:

Controle do discurso público é controle da mente do público, e, portanto,

indiretamente, controle do que o público quer e faz. Não há necessidade de

coerção se se pode persuadir, seduzir, doutrinar ou manipular as pessoas.

(VAN DIJK, 2012, p. 23).

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Tais imagens cristalizariam e perpetuariam as ideias, os valores e as perspectivas sociais.

O corpus analisado trata de um texto publicado em 26 de setembro de 2012, p.13, na

seção Carta ao Leitor, intitulado “O mesmo grau de certeza” 1, em que a revista Veja exalta a

repercussão alcançada por uma de suas reportagens de capa, na qual denúncia o escândalo do

mensalão.

Optou-se por trabalhar com a Análise Crítica do Discurso que opera, necessariamente,

com uma abordagem crítica de discurso em que contexto é uma dimensão bastante

importante. A respeito da importância do “contexto”, vale apresentar o que diz van Dijk:

o poder não se mostra apenas em alguns dos aspectos do “discurso do poder” (“poweful speech”), de

modo que precisamos ter acesso ao contexto como um todo e em toda a sua complexidade, para

entender de que modo o poder se relaciona com o texto e com a fala e, mais geralmente, de que modo

o discurso reproduz a estrutura social. (VAN DIJK, 2012, p.23).

Ele ainda acrescenta que tal tese, embora muito simples, é crucial para a compreensão

do que vem a ser o contexto e de que maneira relaciona-se com o discurso: Não é a situação

social que influencia o discurso (ou é influenciada por ele), mas a maneira como os

participantes definem essa situação. (Van Dijk, 2012, p.23).

O discurso é bastante complexo e define muitos níveis de estruturas, todos com

categorias e elementos que se combinam de mil maneiras. Com isso, uma ideologia pode

aparecer potencialmente em todas as estruturas da linguagem escrita ou oral. O contexto,

então, está diretamente ligado à escolha lexical, que por sua vez é peça-chave na criação de

ideologias dominantes. Van Dijk (2005) diz que ao darmos determinada denominação a

alguém, fazemos escolhas lexicais diferentes que dependem muito da opinião que temos desta

pessoa; e, que essa opinião, depende de nosso posicionamento ideológico e das atitudes que

temos a respeito de um grupo e das pessoas que a ele pertencem e que essa – ou essas –

ideologia(s) organiza(m) as pessoas e a sociedade em termos polarizados.

Tais estratégias e movimentos dentro dos diversos níveis de discurso não seriam

surpreendentes em si, uma vez que eles estabelecem o quadrado ideológico comumente usado

na polarização presente nos discursos ideológicos.

Estratégia básica do discurso e o Quadrado ideológico

A estratégia básica do discurso ideológico é de maneira geral:

- Falar de nossos aspectos positivos;

- Falar de seus aspectos negativos.

Essa representação pode ainda ser ampliada para o que van Dijk chamou de Quadrado

Ideológico:

- Dar ênfase aos nossos aspectos positivos;

- Dar ênfase aos seus aspectos negativos;

- Retirar a ênfase de nossos aspectos negativos;

- Retirar a ênfase de seus aspectos positivos.

Saliente-se que nas análises ideológicas do discurso é muito importante estudar por

que se fazem explícitos alguns significados inferidos da frase ou do texto, pois a opção de

expressar uma informação ou deixá-la implícita não é neutra. Quando colocamos uma palavra

1 Texto apresentado na integra no ANEXO 1.

83

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

no princípio, praticamos a “topicalização”; também podemos “degradá-la” se a colocamos ao

final ou inclusive se a omitimos. Quer dizer, a ordem das palavras nas orações marca de

diversas formas se o significado que expressamos com certas palavras recebe mais ou menos

ênfases e se essa ênfase tem implicações ideológicas.

Numa leitura atenta, tal “topicalização” aparece tanto para enfatizar o discurso de

autoapresentação positiva do “Nós” quanto a outra-apresentação negativa do “Eles”:

Quadro 2.1 – Topicalização positiva “Nós” e Topicalização negativa “Eles” no texto O mesmo grau de

certeza apresentado na seção Carta ao Leitor da Revista Veja

Topicalização positiva – “Nós” Topicalização negativa – “Eles”

VEJA trouxe revelações bombásticas de

Valério sobre o papel central do ex-

presidente Lula nas operações que

resultaram em um escândalo que, por

pouco, não lhe custou o mandato

presidencial.

O ex-presidente Lula manteve-se calado

VEJA foi a mensageira. Marcos Valério também não se

pronunciou.

Fonte: Elaborado pelos autores

Assim, quando o discurso apresenta uma característica positiva, Veja está no início do

período. Ocorrendo o contrário, Marcos Valério ou Lula são colocados nessa posição.

Corpus: O mesmo grau de certeza

Alguns grupos bastante poderosos e seus membros controlam ou têm acesso a um

número cada vez mais amplo e variado de papéis, gêneros, oportunidades e estilos de discurso

e uma condição importante para o exercício do controle social por meio do discurso é o

controle do discurso e a sua própria produção. Tal poder faz parte do que van Dijk (2012)

chamou de “poder simbólico”.

Ao publicar o texto “O mesmo grau de certeza”, mencionando e exaltando uma

reportagem da semana anterior sobre uma entrevista com Marcos Valério, o pivô do escândalo

do mensalão durante o governo do ex-presidente Lula, em sua seção Carta ao Leitor, a revista

Veja, de acordo com seu discurso, considera ocupar papel central como vigilante da moral e

da ética política no país e lança mão de seu discurso poderoso para exercer esse poder

simbólico:

Foi extraordinária, em todos os sentidos, a repercussão da reportagem de

capa de VEJA da semana passada, com o publicitário mineiro Marcos

Valério, o pivô financeiro do mensalão. VEJA trouxe revelações bombásticas

de Valério sobre o papel central do ex-presidente Lula nas operações que

resultaram em um escândalo que, por pouco, não lhe custou o mandato

presidencial (Revista Veja, 26 de setembro, 2012, p.13).

Dentro dos meios de comunicação jornalísticos, essa estratégia de controlar o

conhecimento, é exercida por meio da seleção restritiva de assuntos e, mais geralmente, por

meio de reconstruções específicas das realidades sociais e políticas dentro de um determinado

contexto.

84

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Tal perspectiva vai ao encontro do que diz Emilia Pedro:

O poder e a dominação estão organizados e institucionalizados, implicando

esta organização social, política e cultural da dominação também uma

hierarquia de poder, já que alguns membros de grupos e de organizações

dominantes assumem um papel especial no planejamento, na tomada de

decisões e no controle das relações e processos da activação de poder.

(EMILIA PEDRO 1998, p.29).

O discurso de Veja baseia-se numa autoapresentação positiva a respeito de si,

exaltando seus atos por meio de uma escolha lexical positiva: extraordinária, exortando,

mensageira, missão de informar com fidelidade, coragem e espírito público, estrondosas.

Quanto ao “Eles” – Marcos Valério, Lula e os partidários do governo -, a outra-apresentação

assume um caráter negativo: o pivô financeiro do mensalão, escândalo, calado, silêncio

ensurdecedor, homem do dinheiro do mensalão.

Autoapresentação positiva e outra-apresentação negativa

Pode-se formular o seguinte quadro para ilustrar a autorepresentação positiva de si e a

outra-apresentação negativa do outro:

Quadro 4.1 – Modelo 1: Auto apresentação positiva e outra-apresentação negativa referente ao texto O

mesmo grau de certeza apresentado na seção Carta ao Leitor da Revista Veja

“Nós” (Veja – autoapresentação

positiva)

“Eles” (Marcos Valério e o ex-

presidente Lula – outra-apresentação

negativa)

Extraordinária Pivô financeiro do mensalão

Exortando Escândalo

Mensageira Calado

Missão de informar com fidelidade,

coragem e espírito público

Silêncio ensurdecedor

Bombásticas Homem do dinheiro do mensalão

Estrondosas

Fonte: Elaborado pelos autores

Podemos observar que no texto há dois grupos opostos: o grupo do “Nós”,

representado pela população com a liderança de revista Veja, e o grupo do “Eles”,

representado pelas pessoas de Marcos Valério e de Lula.

De acordo com o quadro, é possível perceber o quanto a escolha lexical evidencia a

polarização dos papeis dentro do texto. Além dessa escolha, o acesso e a cobertura

privilegiados (sejam negativos ou positivos) a respeito de protagonistas envolvidos – ou

apresentados - nas notícias é um fator importante da reprodução do discurso poderoso o qual é

mediado pelos meios de comunicação de massa.

85

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

As escolhas presentes no quadro chamam atenção para o posicionamento de ação que o

discurso de Veja coloca para si, e a passividade com que apresenta o “outro”. Enquanto Veja é

a “mensageira”, que segundo o dicionário Houaiss tem a seguinte definição:

1) que ou o que leva e/ou traz mensagem escrita ou oral; portador;

2) que ou o que anuncia ou pressagia; anunciador, precursor, pressagiador; “eles”,

representados pela figura de Marcos Valério, é o “pivô financeiro do mensalão”, que, segundo

o mesmo dicionário, define “pivô” como aquilo que sustenta, suporte, o principal agente. A

palavra “pivô” ainda pode referir-se a uma posição na qual jogadores de basquete ou futebol

de salão têm pouca mobilidade e servem como referência aos demais jogadores.

Uma vez que o discurso de Veja procura criar uma imagem de ação e heroísmo sobre

o “Nós” – “missão de informar com fidelidade, coragem e espírito público” -, lança mão do

uso de uma antítese ao opor sua autoapresentação positiva e a outra- apresentação negativa do

“Eles”:

Quadro 4.2 – Modelo 2: Auto apresentação positiva e outra-apresentação negativa referente ao texto O

mesmo grau de certeza apresentado na seção Carta ao Leitor da Revista Veja

“Nós” (Veja – autoapresentação

positiva)

“Eles” (Marcos Valério e o ex-presidente

Lula – outra-apresentação negativa)

Foi extraordinária, em todos os

sentidos, a repercussão da reportagem

de capa de Veja.

O ex-presidente Lula manteve-se calado.

Veja trouxe revelações bombásticas de

Valério sobre o papel central do ex-

presidente Lula.

Marcos Valério não se pronunciou.

Ambas são estrondosas por reunirem

declarações que deram materialidade a

situações sobre as quais já tinham sido

levantados diversos detalhes

significativos, porém esparsos.

São dois casos de silêncio ensurdecedor.

Fonte: Elaborado pelos autores

A antítese aqui opõe barulho a silêncio, numa retomada do confronto entre ação e

passividade citado anteriormente;

Propriedades do texto

Aspectos relevantes para análise crítica do discurso são as propriedades do texto em si:

organização frasal, topicalização, vocabulário, metáforas. A respeito de tais aspectos, Emilia

Pedro coloca que:

o poder, como vimos, pode ser conceptualizado como o conjunto de

assimetrias entre participantes nos acontecimentos discursivos, a partir da

eventual capacidade desigual desses participantes para controlar a produção

dos textos, a sua distribuição e o seu consumo – e, portanto, a forma dos

textos – em contextos socioculturais particulares. Torna-se, pois, necessário

olhar para as propriedades dos textos com base na sua natureza

86

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

potencialmente ideológica, sejam traços de vocabulário e metáforas, traços

gramaticais, pressuposições e implicaturas, convenções de delicadeza,

sistemas de tomada de vez, estrutura genérica, ou estilo (EMILIA PEDRO

1998, p.35).

No texto de Veja, por exemplo, ao exaltar seu papel de detentora da verdade, suas

ações não são descritas de maneira simples: sua reportagem não repercutiu apenas, mas

repercutiu de forma “extraordinária”; ela não trouxe simples revelações, trouxe revelações

“bombásticas”.

Tal escolha não é aleatória. Faz parte da estratégia básica de discursos ideológicos os

quais, de maneira geral, baseiam-se em falar dos aspectos positivos de si e falar dos aspectos

negativos do outro. Daí a opção positiva de campos semânticos ligados ao “som” ao falar do

“Nós” – mensageira, informar, repercussão, bombásticas – e campos semânticos negativos ao

falar do “Eles” – calado, não se pronunciou, silêncio ensurdecedor.

O discurso de Veja também é marcado pela generalização ao citar de maneira genérica

os partidos políticos, sejam eles concordantes com seu discurso, sejam eles discordantes:

(...) os partidos da base de sustentação do governo protestaram e os de

oposição emitiram notas exortando VEJA a tomar públicas as evidências

materiais que embasaram a publicação das contundentes declarações do

publicitário mineiro (Revista Veja, 26 de setembro, 2012, p.13).

Os partidos que enxergam nas revelações de Marcos Valério vantagens

políticas podem proceder como quem vislumbrou essas mesmas

propriedades no depoimento de Pedro Collor trazido a público vinte anos

atrás e que culminaram com o impeachment do irmão, Fernando Collor

(Revista Veja, 26 de setembro, 2012, p.13).

A revista, não abrindo mão de seu discurso poderoso e exercendo seu poder simbólico,

coloca-se como mensageira da população, ou seja, ela tem a função de desvelar a corrupção

no país:

(...) quem se sentiu prejudicado pela divulgação das informações do homem

do dinheiro do mensalão tem a possibilidade de interpela-lo publicamente ou

procurar reparação na Justiça. Valério está vivo e tem endereço conhecido. A

mensagem é de Marcos Valério. Veja foi a mensageira (Revista Veja, 26 de

setembro, 2012, p.13).

Veja traça ainda um paralelo entre uma reportagem de 1992 sobre o irmão do ex-

presidente Collor, Pedro Collor, que fez denúncias à revista, e uma das figuras mais evidentes

desse novo escândalo, o publicitário Marcos Valério, dando mais ênfase ao seu papel por meio

daquilo que van Dijk chama de Memória de Longo Prazo (MLP), em que a MLP “armazena

não apenas as experiências interpretadas subjetivamente, como os modelos mentais, mas

também crenças compartilhadas socialmente de forma estável” (van Dijk, 2008: 246):

Existe outro paralelo entre a reportagem de VEJA com Pedro Collor e a de

agora com Marcos Valério. Ambas são estrondosas por reunirem declarações

que deram materialidade a situações sobre as quais já tinham sido levantadas

diversos detalhes significativos, porém esparsos (Revista Veja, 26 de

setembro, 2012, p.13).

Neste trecho, o discurso de Veja revela, por uma lado, implicitamente, o caráter

investigativo de suas duas reportagens, já que deixa subentendido a ideia de que ela apresenta

provas (materialidade) para crimes cometidos por políticos (situações sobre as quais tinham

sido levantados diversos detalhes significativos, porém esparsos); por outro, assume, através

de um léxico pouco comum a maior parte do público que ela diz representar – demiurgo-

colocar-se na essência do que significa o termo “demiurgo” que é “aquele que produz para o

povo”. Assim, ela se denomina como líder da população.

87

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Faz-se importante observar que o poder não se mostra apenas em alguns dos aspectos

do “discurso do poder”, de tal maneira que precisamos ter acesso ao contexto como um todo e

em toda a sua complexidade, para entender de que forma o poder se relaciona com o texto e

com a fala e, mais geralmente, de que modo o discurso reproduz a estrutura social. Sendo

assim, é preponderante para compreendermos o discurso poderoso de Veja em O mesmo grau

de certeza ressaltar que existem informações relevantes não explicitadas pela revista e que

dentro do quadrado ideológico de van Dijk, coincidem com a característica de “retirar a

ênfase de nossos aspectos negativos”. São eles:

- A revista Veja é a maior revista do país, com uma tiragem semanal de mais de 1 milhão e

200 mil exemplares;

- Pertence ao grupo Abril, que é o maior grupo editorial do país com mais de 54 títulos;

- O ex-presidente Collor, que foi alvo das denúncias do próprio irmão, Pedro Collor, na citada

reportagem de 1992, foi capa da revista, em 23/03/1988, sendo alçado ao posto de exemplo

contra a corrupção e sob a alcunha de “o caçador de marajás”.

Parece claro que para ser capaz de exercer a manipulação sobre os outros através de

discursos falados e escritos, é preciso, antes mais nada, ter acesso a alguma forma de discurso

público. Tendo em vista que o discurso manipulador ocorre tipicamente na comunicação

pública, temos, então, que grupos que controlam o discurso mais influente também possuem

mais chances de controlar as mentes e as ações de outros. Van Dijk afirma que se os que

detêm o poder precisam controlar sua imagem na mídia de massa para dessa forma ganhar

apoio e influenciar os humores e as mentes públicos, então eles precisam controlar os

detalhes discursivos e interacionais da produção do discurso público.

A revista Veja, ao traçar um paralelo entre situações que mexem com a opinião pública,

lança mão de um discurso em que enfatiza suas qualidades em ambas as situações, mas omite

sua participação negativa em uma delas, e também a de que faz parte de um grande grupo

editorial, detentor de um número já bastante grande de leitores que, de uma forma ou de outra,

levarão as informações à diante.

Para as elites de poder, que são caracterizadas por terem um acesso particular ao

discurso, o acesso e a cobertura privilegiados a respeito de protagonistas das notícias é um

fator importante da reprodução do poder social a qual é mediada pelos meios de comunicação

de massa, portanto, uma ideologia pode aparecer potencialmente em todas as estruturas da

linguagem escrita ou oral.

Outro aspecto relevante para embasar o que foi apresentado até agora no presente

artigo, sobretudo no que cabe acerca do “discurso ideológico”, é uma observação que pode

passar despercebida num olhar menos atento, mas que van Dijk chama atenção ao dizer que

(...) o discurso ideológico dos membros de um grupo (endogrupo), por

exemplo, tipicamente enfatizam, de várias maneiras discursivas, as

características positivas do Nosso próprio grupo e seus membros, e as

(supostas) características negativas dos Outros, o grupo de fora (exogrupo).

Os autores podem fazer isso ao selecionar tópicos especiais, como o

tamanho ou a cor das manchetes, o uso de fotografias ou cartuns, por gestos

ou ao escolher itens lexicais especiais e metáforas, por argumentos (e

falácias), ao contar histórias, e assim por diante (VAN DIJK, 2012, p.14).

Na capa da revista, o título “Veja” aparece sempre grafado em letras minúsculas, mas

no texto O mesmo grau de certeza foi usado “VEJA”, em letras maiúsculas. Além disso, outra

palavra que não tem uma justificativa gramatical para ser colocada em maiúscula, é “justiça”,

que aparece grafada “Justiça”, com a primeira letra em maiúsculo, numa associação implícita

do nome da revista com a ideia de justiça:

Da mesma forma, quem se sentiu prejudicado pela divulgação das

88

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

informações do homem do dinheiro do mensalão tem a possibilidade de

interpelá-lo publicamente ou procurar reparação na Justiça. Marcos Valério

está vivo e tem endereço conhecido. A mensagem é de Marcos Valério.

VEJA foi a mensageira (Revista Veja, 26 de setembro, 2012, p.13).

Já que o poder pressupõe conhecimento, crenças e ideologias para que se sustente e

reproduza-se, crucial no exercício do poder, então, é o controle da formação das cognições

sociais por meio da manipulação sutil do conhecimento e de tais crenças. O poder da revista,

assim, implica a exclusão de fontes alternativas de informação, informações alternativas e

outros fatores relevantes na descrição dos acontecimentos, uma vez que Veja é a única fonte

de informação apresentada no texto, seja no fato mais recente ou no mais distante. Tal

expediente faz parte de um tipo de manipulação da compreensão do discurso baseada no que

van Dijk chama de “memória de curto prazo” e que em linhas gerais ele diz que

uma forma de manipulação consiste no controle de algumas dessas

estratégias parcialmente automatizados de compreensão do discurso. Por

exemplo, ao imprimir parte do texto em uma posição saliente (por exemplo,

no topo), em fontes grandes ou em negrito, esses dispositivos atrairão mais

atenção e, consequentemente, serão processados com recursos extras de

tempo ou memória, como é o caso das manchetes, títulos ou slogans

publicitários – assim contribuindo para um processamento mais detalhado e

para uma melhor representação e lembrança. Manchetes e títulos também

funcionam como a categoria convencional do texto para a expressão das

macroestruturas semânticas, ou tópicos, que organizam as estruturas

semânticas locais; por essa razão, tais tópicos são mais bem representados e

lembrados. (VAN DIJK 2012, p. 241)

Ao colocar o título O mesmo grau de certeza, Veja apresenta de maneira sucinta sua

ideologia de discurso poderoso num período nominal, mas ainda assim bastante declarativo e

imperativo. Já que o texto não apresenta nenhuma outra fonte de informação, e mostra dois

momentos distintos com a participação “investigativa” da revista, a única certeza existente dá-

se pelo discurso produzido por ela, uma vez que é antes a forma e o significado de um título

do que sua estrutura em si que podem estar relacionados à situação social e consequentemente

ao triângulo discurso-cognição-sociedade.

Considerações finais

É possível concluir que para cada prática discursiva faz-se necessário examinar

cuidadosamente os contextos, normas e valores específicos que definem a prática adequada,

uma vez que tais práticas estão diretamente ligadas a discurso-cognição-sociedade na

representação de um poder simbólico que ocorre por meio de um discurso poderoso embasado

num discurso manipulador que visa ao controle mental.

Essa manipulação envolve ênfase, sobretudo, no poder, numa suposta superioridade

moral e na credibilidade do falante e na descredibilidade do dissente ao difamar os Outros, o

inimigo; o uso de apelos emocionais; e a utilização de provas aparentemente inegáveis de suas

crenças e razões na construção ideológica do discurso.

A noção de “controle da mente” vai muito além da compreensão da escrita ou da fala:

dela também fazem parte o conhecimento pessoal e social, as experiências previamente

adquiridas, as opiniões e as atitudes sociais, as ideologias e as normas ou valores, entre

diversos outros fatores que podem exercer um papel na mudança de mentalidade das pessoas,

algo que é essencialmente subjetivo.

O presente artigo procurou debruçar-se num texto da revista Veja – O mesmo grau de

89

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

certeza – para analisar, sob a ótica da Análise Crítica do Discurso, de que forma esse discurso

poderoso é apresentado dentro de um contexto, no qual um enunciador coloca-se no lugar de

representante de um grupo frente a outro, criando uma tensão, uma polarização através de

instrumentos discursivos utilizados na demonstração de um poder simbólico.

Por meio dessa amostragem de análise, foi possível perceber que o discurso de Veja

tenta mostrar-se como porta-voz da população diante dos fatos de corrupção por ela

divulgados em caráter de indignação. Ela se coloca como líder da população enfatizando seus

aspectos positivos e distanciando-se do outro grupo, atribuindo a esses, aspectos negativos.

Veja ainda – enfatizando o título de seu texto – apresenta-se como única fonte de informação.

Podem-se verificar no discurso de Veja aspectos abordados na ACD, tais como o

Quadrado Ideológico de van Dijk, a topicalização, a Memória de Curto Prazo e a Memória de

Longo Prazo na construção de uma autoapresentação positiva e uma outra-apresentação

negativa.

Essa representação subjetiva, os modelos mentais de eventos definidos, o

conhecimento, as atitudes e ideologias são responsáveis por influenciarem os discursos e

outras práticas sociais das pessoas. Ou seja, a cognição pessoal e social sempre perpassam a

sociedade ou as relações sociais e o discurso.

Referências

MINIDICIONÁRIO Houaiss da Língua Portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

PEDRO, Emília Ribeiro (org.). Análise Crítica do Discurso: Uma perspectiva sociopolítica

e funcional. Alfragide: Editora Caminho, 1998.

Revista Veja, edição nº 2288. São Paulo: Editora Abril, 2012.

VAN DIJK, Teun. A. Cognição, discurso e interação. São Paulo: Contexto, 2004.

___________. Discurso e Contexto – uma abordagem sociocognitiva. SP: Contexto, 2012.

___________. Discurso e Poder. Contexto, São Paulo: 2012.

Anexo 1: O mesmo grau de certeza

Texto publicado em 26 de setembro de 2012, p.13, na seção Carta ao Leitor da Revista

Veja

Foi extraordinária, em todos os sentidos, a repercussão da reportagem de capa de

VEJA da semana passada, com o publicitário mineiro Marcos Valério, o pivô financeiro do

mensalão. VEJA trouxe revelações bombásticas de Valério sobre o papel central do ex-

presidente Lula nas operações que resultaram em um escândalo que, por pouco, não lhe

custou o mandato presidencial.

O ex-presidente Lula manteve-se calado. Marcos Valério também não se pronunciou.

São dois casos de silêncio ensurdecedor.

Em contraste, os partidos da base de sustentação do governo protestaram e os de

oposição emitiram notas exortando VEJA a tomar públicas as evidências materiais que

embasaram a publicação das contundentes declarações do publicitário mineiro.

Os partidos que enxergam nas revelações de Marcos Valério vantagens políticas

90

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

podem proceder como quem vislumbrou essas mesmas propriedades no depoimento de Pedro

Collor trazido a público vinte anos atrás e que culminaram com o impeachment do irmão,

Fernando Collor.

Da mesma forma, quem se sentiu prejudicado pela divulgação das informações do

homem do dinheiro do mensalão tem a possibilidade de interpelá-lo publicamente ou procurar

reparação na Justiça. Marcos Valério está vivo e tem endereço conhecido. A mensagem é de

Marcos Valério. VEJA foi a mensageira.

O grau de certeza de VEJA em relação ao conteúdo da reportagem com Marcos

Valério é o mesmo que a revista tinha quando publicou, em 1992, a capa "Pedro Collor conta

tudo". Tanto em um caso quanto no outro, VEJA cumpriu sua missão de informar com

fidelidade, coragem e espírito público fatos testemunhados por pessoas com grande

intimidade com o poder.

Existe outro paralelo entre a reportagem de VEJA com Pedro Collor e a de agora com

Marcos Valério. Ambas são estrondosas por reunirem declarações que deram materialidade a

situações sobre as quais já tinham sido levantados diversos detalhes significativos, porém

esparsos. Ficava faltando um demiurgo com informações privilegiadas capaz de amarrar todos

os eventos, dando-lhes coerência. Foi o que Pedro Collor fez em 1992 e, na semana passada,

Marcos Valério.

91

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

A intimidade em tempos de rede social digital – O

Facebook e a midiatização do íntimo

José Antonio Martinuzzo Professor Doutor no Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades, na mesma instituição, do qual é

coordenador-adjunto. Lidera os grupos de pesquisa Laboratório de Comunicação e Cotidiano (ComC) e

Sociedade Midiatizada e Práticas Comunicacionais Contemporâneas.

Heryck Luiz Jacob Sangalli Graduado em Jornalismo pelo Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito

Santo (UFES), pesquisador nos grupos de pesquisa Laboratório de Comunicação e Cotidiano (ComC) e

Sociedade Midiatizada e Práticas Comunicacionais Contemporâneas.

Resumo

Este artigo consiste de uma investigação sobre o conceito de intimidade no âmbito da rede social digital

Facebook. As perguntas iniciais foram constituídas para saber qual a visão que os usuários da rede social têm

acerca dessa esfera da vida cotidiana, e quais são os critérios para a publicação de conteúdos íntimos na era do

Facebook. A metodologia utilizada inclui revisão de literatura específica, abordando temas como intimidade,

tecnologia, sociedade em rede, redes sociais na internet, entre outros; e aplicação de uma pesquisa on-line junto

aos usuários da rede social digital por intermédio de um questionário. Os resultados obtidos evidenciam que o

conceito de intimidade mudou com o surgimento de redes sociais digitais.

Palavras-chave

Intimidade; Público; Privado; Rede Social Digital; Facebook.

Abstract

This article consists of an investigation into the concept of intimacy within the Facebook online social network.

The initial questions were set up to find out what the vision that social network users have about that sphere of

everyday life; and what are the criteria for publishing intimate content in the age of Facebook. The methodology

includes reviewing literature concerning topics such as intimacy, technology, network society, social networking

sites, among others; and implementation of an online survey of users of digital social network through a

questionnaire. The results showed that the concept of privacy has changed with the emergence of online social

networks.

Keywords Intimacy; public; private; Digital Social network; Facebook.

Introdução

As redes sociais são as estruturas dos agrupamentos humanos, constituídas pelas

interações, que viabilizam grupos e comunidades os mais diversos (RECUERO, 2014, p.16).

A partir da mediação das tecnologias digitais, essas redes passaram por transformações

significativas, sendo o uso da Comunicação Mediada por Computador (CMC) um dos

motores dessa mudança. A partir dele, o espaço comunicacional das antigas redes sociais

92

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

também se alterou, migrando para a internet e atualizando os meios de interação humana por

meio das tecnologias digitais.

Investigar essa nova forma de sociabilidade é algo impositivo, tendo em vista que suas

reverberações no conjunto do modo de existir atual são evidentes. Com a pesquisa que

redundou neste artigo, buscamos analisar um tema específico no conteúdo publicado no site

da rede social Facebook, a intimidade. Assim, nossa pergunta central é: qual a visão que os

usuários da rede social têm acerca dessa determinante da vida cotidiana?

Fundado em 2004, o Facebook atualmente é a maior rede social na internet. Além

disso, o próprio slogan da empresa direciona uma relação pessoal entre os usuários e a

plataforma na web: “No Facebook você pode se conectar e compartilhar o que quiser com

quem é importante em sua vida”.

Para desenvolvermos este estudo, além de pesquisa empírica on-line, executada por

meio de um questionário dirigido aos usuários do Facebook, realizamos uma revisão de

literatura ligada ao tema e à nossa problemática. Assim, vamos discutir, a partir da

diferenciação entre os ambientes público e privado, o aparecimento e as transformações do

conceito da intimidade.

Em seguida, estão os estudos teóricos referentes ao pano de fundo em que se enquadra

o objeto de estudo, a midiatização, em especial a era das redes sociais na internet, além de

conceitos como Comunicação Mediada por Computador (CMC), ciberespaço, redes e Web

2.0. Apresentaremos uma breve análise psicológica do sujeito em rede, problematizando a

questão da subjetividade e da intimidade na sociedade midiatizada.

Numa terceira seção, apresentaremos os dados sobre o Facebook e os principais

resultados da pesquisa acerca das concepções de intimidade que regem as publicações na

maior rede social digital do mundo.

Intimidade – um conceito em contínua transformação

O conceito de intimidade está diretamente ligado ao surgimento da diferenciação entre

os ambientes público e privado, notadamente a partir dos séculos XVIII e XIX. O sentido e o

emprego das palavras "público" e "privado" são diferentes conforme a época, ressalta Sennett

(2014), para quem:

As primeiras ocorrências da palavra "público" em inglês identificam o

"público" como bem comum na sociedade. Em 1470, por exemplo, Malory

falou do imperador Lucius "[...] ditador ou procurador do bem público [grifo

do autor] em Roma". Setenta anos mais tarde, havia-se acrescentado ao

sentido de público aquilo que é manifesto e está aberto à observação geral

(p. 33).

O âmbito privado nasceria a partir do que é relacionado, no contexto moderno, ao que

o Sennett (2014, p. 16) diz ser "um florescimento da vida psíquica diante do isolamento”.

Neste âmbito, é que as relações íntimas são criadas.

Para o termo "privado" também houve mudança de significado quanto a cada época.

No século XIV, como é referenciado por Sennett (2014), a palavra "privado" estava

relacionada, em alguns casos, ao sentido de "privilégio". Já Sibilia (2008), diz que:

[...] a separação entre o público e privado é uma invenção histórica e datada,

uma convenção que em outras culturas não existe ou se configura de outras

formas. Inclusive entre nós, essa distinção é bastante recente: a esfera da

privacidade só ganhou consistência na Europa dos séculos XVIII e XIX,

ecoando o desenvolvimento das sociedades industriais que um certo espaço

93

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

de refúgio para o indivíduo e a família nuclear começou a ser criado, no seio

do mundo burguês, fornecendo a esses novos sujeitos aquilo que tanto

almejavam: um território a salvo das exigências e dos perigos do meio

público, aquele espaço "exterior" que começava a ganhar um tom cada vez

mais ameaçador (p. 60).

Para Sennett (2014, p. 33), a partir do século XVII, "a oposição entre 'público' e

'privado' era matizada de modo mais semelhante ao atual". "Público" significava aberto à

observação de qualquer pessoa, enquanto "privado" significava uma região protegida da vida,

definida pela família e pelos amigos.

Segundo Saldanha (2005), o "privado" também está relacionado à convivência íntima

e familiar. Além disso, o autor conclui que "[...] a família sempre se entendeu como

concentração do existir privado, diretamente ligado aos afetos mais pessoais e aos

componentes domésticos [...]” (p. 21).

Sibilia (2008) também relaciona o lar como o ambiente de surgimento da privacidade

e da intimidade. A autora destaca: "as casas se tornaram lugares privados e, como explica

Rybczynski, junto com essa privatização do lar surgiu um sentido cada vez maior de

intimidade, de identificar a casa exclusivamente com a vida familiar" (p. 62, grifo da autora).

Por falar em intimidade, iremos recorrer à definição de Sasaki (2015) quanto ao termo:

"a palavra 'intimidade' deriva do superlativo latino intìmus, isto é, 'o mais afastado, o mais

recôndito; o âmago, o mais secreto'” (p. 152, grifo do autor).

A privacidade e a intimidade tomaram significados quase que sinônimos para o senso

comum. No entanto, Sasaki faz a distinção entre os dois conceitos. Para o autor, a intimidade

diz respeito a uma instância mais profunda em relação à privacidade e conclui: "Nela,

encontram-se os atributos, questionamentos e sentimentos mais particulares de uma

existência, o que faz de 'intimidade', por conseguinte, uma noção mais psicológica" (p. 152).

Sennett (2014) defende que, a partir do século XVIII, com o surgimento da vida

cosmopolita, "público" veio a significar um local em que a pessoa passa fora da convivência

familiar. Na região pública, grupos sociais diferentes teriam que entrar em contato. E o centro

dessa convivência era o capital. Para o autor, nesse século,

[...] a divisão entre a vida pública e a vida privada era constituída por um

local em que haviam exigências de civilidade, no caso do comportamento

público cosmopolita, e eram confrontadas pelas exigências da natureza,

representadas pelo âmbito familiar (2014, p. 36).

Juntos, esses dois âmbitos criaram o que Sennett iria chamar de um universo de

relações sociais. Entretanto, a vida pública não começou no século XVIII. É atribuída a essa

época uma nova versão dela (SENNETT, 2014, p. 78-79). Nesse período, a vida pública era

centralizada em dois marcos: a burguesia em ascensão e uma aristocracia em declínio.

Essa conclusão mostra que o século XVIII foi um divisor de águas quanto à vida

pública e à vida privada que, somado ao surgimento da burguesia mercantil, proporcionou a

convivência entre "estranhos". Isso significa uma mudança no olhar para o outro, agora visto

como sinônimo de forasteiro.

O começo do século XVIII apresentou ainda a ascensão dos cafés nas cidades de

Londres e Paris. Esses ambientes eram "os centros de informação mais importantes em ambas

as cidades nessa época" (SENNETT, 2014, p. 124). Nesses locais, "as pessoas então

experimentavam a sociabilidade [...] sem revelar muito seus sentimentos próprios, de sua

história pessoal, ou de sua posição social". O autor denomina este fenômeno como "a arte da

conversação".

Perrot (2009) defende que, desde então, o equilíbrio entre o público e o privado é

94

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

incessantemente reformulado, mas sempre de forma precária. Tais modulações instáveis,

nota-se, estão ao sabor das contingências socioeconômicas, político-culturais e tecnológicas.

Nesse sentido, a partir do final do século XX, com o florescer das tecnologias digitais,

os limites entre o público e o privado vêm se liquefazendo, e modificando o conceito de

intimidade, por consequência. É nesse ambiente que, segundo Sibilia (2008), a intimidade

toma novas proporções, deixando de ser algo do interior do indivíduo para o seu exterior, o

que ela denomina ser extimidade.

Essa autora ressalta a falta de segurança presente nos espaços públicos como fator que

influencia um isolamento das pessoas, protegidas pelos muros de suas residências e que

buscam refúgios virtuais, como na internet. Sibilia conclui que "[...] por isso não surpreende

que se multipliquem os convites para acompanhar em detalhe os aspectos mais íntimos das

próprias rotinas domésticas de qualquer um" (p. 262).

Além disso, também é possível concluir que o "fascínio suscitado pelo exibicionismo

e pelo voyeurismo encontra terreno fértil em uma sociedade atomizada por um individualismo

com beiradas narcisistas, que precisa ver sua imagem refletida no olhar alheio para ser"

(SIBILIA, 2008, p. 263).

O narcisismo também é pontuado por Sennett (2014) como algo que permeia a

vertigem de interação. Quanto a isso, o autor diz que:

[...] o narcisismo é o princípio psicológico para a forma de comunicação que

chamamos de representação da emoção para outrem, ao invés de uma

apresentação corporificada de emoção. O narcisismo cria a ilusão de que

uma vez que se tenha um sentimento ele precisa ser manifestado - porque, no

final das contas, o "interior" é uma realidade absoluta. A forma de

sentimento é apenas um derivativo do impulso de sentir (p. 481).

Segundo Martín-Barbero (2006), os ambientes público e privado também sofreram

transformações após a evolução das tecnologias da informação:

[...] o uso alternativo das tecnologias e de redes informáticas (R. Kroes, S.

Finquelevich, J.L. Molina) na reconstrução da esfera pública passa, sem

dúvida, por profundas mudanças nos mapas mentais, nas linguagens e nos

desenhos de políticas, exigidos, todos eles, pelas novas formas de

complexidade que revestem as reconfigurações e hibridações do público e do

privado. Começando pela própria complexidade que, a respeito, a Internet

apresenta: um contato privado entre interlocutores que é, ao mesmo tempo,

mediado pelo lugar público que constitui a rede: processo que, por sua vez,

introduz uma verdadeira explosão do discurso público (p. 69).

Como efeito dessas transformações e evoluções tecnológicas, comumente, hoje, ao

entrarmos em locais públicos ou privados, nos deparamos com o aviso "Sorria, você está

sendo filmado". Isso mostra que cada vez mais a indagação clichê "o que você faria se não

estivessem olhando?" torna-se difícil de se responder. A questão de privacidade é corrompida

para garantir a sensação de segurança – ou porque esta já fora afetada.

Outro ponto a ser observado diante das novas tecnologias é quanto à utilização da

internet como meio de interação pessoal, o que acabou constituindo o nosso objeto de

pesquisa. Destacamos aqui que a Comunicação Mediada por Computador (CMC), que será

mais bem abordada na próxima seção, proporcionou mudanças nessa interação social

proveniente da conversação, cujas origens remontam há cerca de três séculos.

Atualmente, os sites de redes sociais "[...] acabam gerando uma nova forma

conversacional, mais pública, mais coletiva, que chamaremos de conversação em rede"

(RECUERO, 2014, p. 17, grifo da autora). Por falar em atualidade, veremos, a seguir, como

ocorreram as transformações tecnológicas que vislumbramos no cotidiano contemporâneo.

95

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Pontuaremos fatores históricos relacionados à midiatização, ao surgimento da internet e uma

nova configuração social, agora, conectada em rede.

Midiatização – Tecnologia e subjetividade

“Na atualidade frenética, as relações humanas tendem a vitualizar-se ou telerrealizar-

se no cenário de midiatização, caracterizado por mediações e interações baseadas em

dispositivos teleinformacionais”, reporta Moraes (2006, p. 36), focalizando a ideia de

sociedade midiatizada apresentada por Muniz Sodré (2002).

A dar suporte a essa nova sociabilidade, podemos destacar, também a partir de Moraes

(p. 35), que "a digitalização favorece a convergência de redes e plataformas numa linguagem

única, forjando a base para a hibridação das infraestruturas de transmissão de dados, imagens

e sons", viabilizando a midiatização das interações humanas.

Cardoso (2007, p. 27) parte da observação de Castells para abordar o que seria um

imperativo na atual sociedade: uma cultura da virtualidade real. Sendo virtual, “pois está

construída com processos virtuais de comunicações de base eletrônica”; e real, diante do fato

de que constituímos, frente a esse aparato tecnológico, a nossa percepção de existência,

nossos sistemas de representação, afetando diretamente a nossa subjetivação. “Essa

virtualidade é nossa realidade”. Aprofundamos essa observação por meio desta citação de

Cardoso:

A cultura da era da informação é a da virtualidade real porque, uma vez mais

no continuum histórico, fez surgir um novo sistema de comunicação

simbólica diretamente associado àquilo que se designa como cristalização de

um contexto de alteração das relações de produção/consumo, de experiência

e de poder em territórios específicos, originando, assim, culturas e

identidades coletivas (CARDOSO, 2007, p. 27, grifos do autor).

Segundo Sodré (2006, p. 22), hoje verificamos “uma mediação social exacerbada, a

midiatização, com espaço próprio e relativamente autônomo em face das formas interativas

presentes nas mediações tradicionais”. Tal fato implica “uma qualificação particular da vida,

um novo modo de presença do sujeito no mundo, ou, pensando na classificação aristotélica,

um bios específico”.

Os fatores que possibilitam essa nova forma de viver se originam de uma articulação

em rede de mídias (CARDOSO, 2007, p. 17). Essa articulação é caracterizada entre duas

redes principais, respectivamente a internet e a televisão, que estabelecem nós com outras

tecnologias, como o telefone e o rádio. Por sua potencialidade interativa e participativa, a

internet energiza o novo modus vivendi planetário, em maior ou menor grau, de acordo com

cada região.

A evolução tecnológica no século XX foi um divisor de águas na constituição de uma

nova realidade, ou melhor, de uma “digitalidade”. Santella (2013, p. 35) reporta que a

evolução da informática foi pontuada por quatro grandes marcos: o primeiro, com os

semicondutores dos anos 1960; o segundo marco, com o computador pessoal; o terceiro, com

o advento da Internet Explorer e das interfaces gráficas de usuários. Atualmente, o quarto

grande marco da revolução digital são as redes sociais na internet. Ainda segundo essa autora,

A história, a economia, a política, a cultura, a percepção, a memória, a

identidade e a experiência estão todas elas hoje mediadas pelas tecnologias

digitais. Estas penetram em nosso presente não só como um modo de

participação, mas como um princípio operativo assimilado à produção

humana em todas as suas áreas (2013, p. 33).

96

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Para Recuero (2009), o desenvolvimento da internet proporcionou mudanças na

sociedade, entre elas a possibilidade de expressão e sociabilização através das ferramentas de

Comunicação Mediada pelo Computador (CMC). As práticas conversacionais delimitadas por

trocas entre atores sociais é o que compreende a CMC (RECUERO, 2014, p. 27). Essas trocas

são possíveis através de uma rede de conexão.

Uma rede é um conjunto de interconectados (CASTELLS, 2003, p. 7). Como

ferramenta, umas das vantagens da rede é a flexibilidade e adaptabilidade, características

importantes em tempos de rápidas e intermitentes mudanças. Essas duas competências se

destacam ainda mais com as tecnologias de comunicação baseadas por computador e pela

internet. Diante disso, as redes estão se desenvolvendo em todos os domínios da existência.

Uma rede social digital é definida como um conjunto de dois elementos: atores

(pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais)

(RECUERO, 2009, p. 24). A atuação dos atores nesses espaços digitais constitui em "moldar

as estruturas sociais, através da interação e da constituição de laços sociais" (RECUERO,

2009, p. 25). Por laços sociais compreende-se as "conexões entre os indivíduos, criadas e

mantidas através da interação e conversação." (Idem, p. 16).

Já as conexões são os elementos que interligam os atores uns aos outros. "Nas redes

sociais, essas conexões são constituídas principalmente de relações sociais, ou seja, de

relações criadas através de eventos de fala e de troca de informações entre atores, que

terminam por construir laços sociais" (RECUERO, 2014, p. 129).

Outro fato importante para esta pesquisa, em decorrência desse ponto da discussão

sobre as redes sociais na internet, mais especificamente com o foco para a intimidade, são as

interações a partir dos laços sociais fortes. Sob a análise de Recuero (2014, p. 129), "os

[laços] fortes são aqueles que compreendem mais intimidade, relacionados a uma maior

quantidade de valores construídos entre os interagentes".

Nessa observação, a autora fala da construção de uma relação íntima direta entre as

pessoas (os atores) em uma rede social. No entanto, é preciso observar, a intimidade entre os

atores por laços fortes pode estar aberta ao público, sob a possibilidade de observação de

todos, como aqui se discute.

Conforme apontado, com o advento da internet, houve a atualização das redes socais

para os meios digitais. Assim, vários sites de redes sociais são utilizados atualmente, como

exemplo, o Twitter, o Instagram, o Flicker, e, o nosso objeto de análise, o Facebook.

Esses sites são o grande diferencial da Web 2.0, caracterizada pela possibilidade da

interação e intervenção dos utilizadores. Segundo Recuero (2014, p. 131), tais sites são

peculiares em razão da publicização das redes sociais dos atores e pela possibilidade de se

construir um perfil individualizado.

Além disso, a estrutura dessas plataformas, para a autora, é caracterizada pela

"exposição pública da rede dos atores, que permite mais facilmente divisar a diferença entre

esse tipo de site e outras formas de comunicação mediada por computador" (Idem).

Recuro, reportando-se a Sibilia (2008), destaca como fator determinante para o

exibicionismo no ambiente da web o "imperativo da visibilidade". "É preciso ser 'visto' para

existir no ciberespaço" (RECUERO, 2009, p. 27). Essa exibição tem terreno fértil nas redes

socais na internet, pois permitem aos usuários estarem mais conectados e interativos. Como

ressalta Recuero (p. 108), "isso significa que há um aumento da visibilidade social desses nós.

A visibilidade é constituída enquanto um valor porque proporciona que os nós sejam mais

visíveis na rede". Já Santaella (2013) pontua que:

As redes [sociais na Internet] operam a partir da criação de perfis que

representam os usuários. Assim, elas oferecem serviços de mensagem

97

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

instantânea, murais de mensagens, postagem de fotos e vídeos, entre outros.

A popularização desses serviços faz com que, cada um desses perfis, criem-

se pontos de referência para a identidade digital de alguém. Esses pontos de

referência podem se multiplicar em bolhas identitárias sem limites

predefinidos (p. 42).

Toda esse novo modo de se viver e se relacionar está produzindo mudanças na forma

de subjetivação contemporânea. Türcke (2010, p. 39) explica que, para existir na sociedade

excitada, em meio às sensações, é preciso ser visto, ou melhor, "ser é ser percebido" – Esse

est percipi –, o que implica uma outra determinante: “ser é perceber” – Esse est percepire.

Nessa direção, Melman defende que estamos vivendo sob uma “nova economia

psíquica”. Diante de tal perspectiva, "estamos lidando com uma mutação que nos faz passar

de uma economia organizada pelo recalque a uma economia organizada pela exibição do

gozo" (2008, p. 16).

O psicanalista utiliza como exemplo dessa nova economia uma exposição

contemporânea de arte anatômica que exibe cadáveres humanos conservados da putrefação a

partir de processos químicos, como se fossem corpos plastificados. O autor demonstra

surpresa e estranhamento com o grande número de pessoas que vão a essa exposição, que já

circulou os quatro cantos do mundo, para ver corpos abertos com as vísceras à mostra.

Essa nova economia, defendida por Melman, implica um ser disposto a tudo em busca

de seus prazeres, da exibição do seu mais íntimo ou do espreitar o outro: "não há limites"

(MELMAN, 2004).

Contextualizando a visão de Melman (2008; 2004) e de Türcke (2010), podemos nos

direcionar para o ciberespaço. Pois, as redes estariam propiciando profundas transformações

nos dispositivos de produção das subjetividades devido aos novos formatos de relações

intersubjetivas que nelas se consubstanciam, aponta Santaella (2013, p. 39), afirmando que:

[...] a instabilidade, que é constitutiva do eu e da subjetividade, encontrou

agora no ciberespaço vias muito propícias de encenação e representação. Ou

seja, encontrou no ciberespaço os ambientes lúdicos nos quais se tornou

possível brincar com as construções subjetivas e intersubjetivas (p. 40).

Portanto, podemos chegar a constatação, sob uma ótica geral, de que os indivíduos são

afetados diretamente pelas construções sociais tecnológicas, midiáticas e comunicacionais. As

pessoas estão constantemente buscando uma significância para sua timeline pontilhada,

fragmentada e midiatizada.

O eu deve estar sempre se comunicando e se exibindo para ser lembrado e fazer-se

existir. Como observado por Melman, "não há limites!" nessa nova economia psíquica, sendo

as redes sociais digitais um locus privilegiado desse novo existir, notadamente o Facebook, a

maior delas.

O Facebook e a atualização da intimidade

O Facebook, no Brasil muito conhecido como Face, foi um sistema desenvolvido pelo

estadunidense Mark Zuckerberg, em 2004. Em suas origens, houve a colaboração de colegas

de Zuckerberg - Chris Hughes, Dustin Moskovitz e Eduardo Saverin. Antes de se tornar uma

rede social na internet conhecida mundialmente, o sistema foi chamado de Facemash, o qual

era utilizado para classificar, entre duas fotos dispostas lado a lado, quem seria a pessoa mais

98

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

quente1.

O sistema funcionava na universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e era

alimentado com imagens de identificação dos estudantes da instituição. Porém, o Facemash

foi fechado poucos dias após estar no ar, em outubro de 2003, pois foi considerado quebra de

segurança e violação de privacidade aos parâmetros da universidade2.

Mesmo com poucos dias de funcionamento, a criação de Zuckerberg ganhou

notoriedade no campus de Harvard. Devido ao sucesso, no ano seguinte, em 4 de fevereiro de

2004, Mark Zuckerberg relançou sua ideia. Agora, com o nome do site chamado

"thefacebook.com". Mas esse sistema ainda estava restringido ao âmbito acadêmico, servindo

como uma rede para conectar estudantes de diversas universidades.

Naquele mesmo ano, Sean Parker, fundador do Napster, assumiu o papel de investidor

anjo, e tornou-se presidente da empresa. Uma das primeiras mudanças após a parceria com

Parker foi no nome, que passara a chamar-se Facebook, logo após ter comprado o domínio de

internet Facebook.com em 2005 por US$ 200 mil.

Somente no ano de 2006, o site foi aberto ao público para cadastro (MARTINUZZO;

REZENDE, 2014). A partir deste ano, o número de usuários disparou. Sob uma ótica geral,

observamos que de fevereiro de 2005 a agosto de 2006, o uso de sites de redes sociais entre os

jovens internautas, com idades entre 18 e 29 anos, saltou de 9% para 49%3.

Nos primeiros anos de existência, o sucesso do Facebook pode ser explicado por

vários motivos, entre os quais se enquadram a possibilidade de modificação da plataforma

pelos usuários e pelo fato de o sistema ser percebido como mais privado que outros sites de

redes sociais, pois apenas usuários que fazem parte da mesma rede podiam ver o perfil uns

dos outros (RECUERO, 2009).

O Facebook proporciona ao usuário a possibilidade de publicar/postar textos, fotos e

vídeos. Além de possibilitar também a interação com outros usuários a partir de mensagens

inbox4, comentários ou curtidas em postagens, seja em perfis, páginas ou grupos.

Números recentes mostram que o Facebook é o maior site de rede social no mundo5.

Até março de 2015, cerca de 1, 44 bilhão de pessoas acessaram o site. Já em dezembro do ano

anterior, o público era de 1, 39 bilhão. Isso mostra que em cerca de 3 meses, 50 milhões de

novos usuários entraram nessa rede.

No Brasil, por exemplo, o número de usuários do Facebook chegou a 89 milhões, no

segundo trimestre de 2014. A estimativa é de que 8 a cada 10 internautas brasileiros estão no

Facebook, frente ao total de pessoas que navegam na internet no país – mais de 107 milhões.

1 Cf. GLOBO, O. A origem do Facebook. 2012. Disponível em

http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/aorigem-do-facebook-4934191>. Acesso em 19 maio 2015.

2 Cf. BUSINESS INSIDER, 2010. The full story of how Facebook was founded. Disponível em:<

http://www.businessinsider.com/how-facebook-was-founded-2010-3#we-can-talk-about-that-after-i-get-all-the-

basic-functionality-up-tomorrow-night-1>. Acesso em 19 maio 2015.

3 Cf. PEWINTERNET. Social Networking Fact Sheet. 2014. Disponível em: <http://www.pewinternet.org/fact-

sheets/social-networking-fact-sheet/>. Acesso em 19 maio 2015.

4 As mensagens inbox são privadas. Elas podem ser enviadas à caixa de mensagens de um outro

usuário do Facebook ou à caixa de mensagens de um grupo de usuários.

5 Cf. PEWINTERNET. Social Media Update 2014. 2015. Disponível em:

<http://www.pewinternet.org/2015/01/09/social-media-update-2014/>. Acesso em 19 maio 2015.

99

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Diante disso, o Facebook é o site de rede social mais popular no Brasil6.

É no âmbito dessa gigantesca e tentacular rede de sociabilidade digital, fundada na

exposição midiatizada, que vamos buscar entender o conceito de intimidade, a partir da visão

dos próprios usuários.

Conforme salientamos, os resultados foram obtidos com o levantamento proveniente

de um questionário on-line, direcionado aos utilizadores do Facebook. Foram 20 perguntas

sobre o tema, numa enquete que ficou disponível durante 15 dias, de 23 de maio a 06 de junho

de 2015, alcançando dias úteis e dois finais de semana. Nesse período, obtivemos 742

respostas.

A divulgação dessa pesquisa quantitativa foi realizada por meio do perfil do segundo

autor, com um total de três compartilhamentos em sua rede de amigos no Facebook. Nessa

mesma plataforma, o questionário foi divulgado em alguns grupos.

Identificamos, com a pesquisa, o alcance geográfico nacional de respondentes

residentes em 15 Estados (Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo,

Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São

Paulo e Tocantins). Já do exterior, houve respondentes na Espanha, nos Estados Unidos, no

México e em Portugal. Esse tipo de identificação não era obrigatório na pesquisa.

A maior parte dos respondentes da pesquisa foi do gênero feminino (65,90%) e da

faixa-etária entre 21 a 30 anos (60,65%), como podemos observar nas Tabelas 1 e 2, abaixo.

Tabela 1 - Gênero dos respondentes

Gênero Respondentes Percentual

Feminino 489 65,90%

Masculino 249 33,56%

Outro 4 0,54%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

Tabela 2 - Faixa-etária dos respondentes

Idade Respondentes Percentual

Até 20 anos 229 30,86%

De 21 a 30 anos 450 60,65%

De 31 a 40 anos 46 6,20%

De 41 a 50 anos 10 1,35%

6 Cf. GLOBO.COM. Oito a cada dez internautas do Brasil estão no Facebook. Disponível em:<

http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/08/oito-cada-dez-internautas-do-brasil-estao-no-facebook-diz-rede-

social.html> Acesso em 19 maio 2015.

100

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

De 51 a 60 anos 7 0,94%

Mais de 61 anos 0 0,00%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

Além das características apresentadas nas Tabelas acima, a maioria dos entrevistados

possui ensino superior (72,37%), como podemos ver na Tabela 3.

Tabela 3 - Escolaridade dos respondentes

Escolaridade Respondentes Percentual

Ensino Fundamental 3 0,40%

Ensino Médio 134 18,06%

Ensino Superior 537 72,37%

Pós-graduação 68 9,16%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

Antes de abordarmos os resultados referentes à exposição de intimidade no Facebook,

vamos discutir como os usuários classificam a plataforma, como utilizam as ferramentas de

publicação e qual o fluxo de informações geradas por eles e por terceiros em sua rede.

Visando a verificar como os internautas classificam a rede social digital, levando em

consideração a hipótese de que há incidência de conteúdos íntimos sendo postados de forma

pública, perguntou-se se o Facebook era considerado um local público ou privado. Para a

grande maioria (89,08%), essa rede social digital é um local público. Apenas 10,92%

consideram-na como local privado (Tabela 4).

Tabela 4 - Facebook como local público ou privado

Você considera a rede social Facebook como: Respondentes Percentual

Público 661 89,08%

Privado 81 10,92%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

A sensação de segurança e de confiabilidade no local em que se apresenta algo pessoal

é de fundamental importância para que as relações se desenvolvam, fato que não foge ao

ciberespaço, dotado de ambientes destinados à apresentação e representação de si. Diante

disso, procurou-se averiguar se os internautas se sentem seguros ao fazerem publicações

101

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

(Tabela 5). Cerca de 57% disseram que não se sentem seguros ao fazerem publicações no

Facebook. De forma contrária, cerca de 42% disseram que se sentem seguros ao realizarem

algum tipo de postagem na rede.

Tabela 5 - Sensação de segurança ao publicar no Facebook

Você se sente seguro ao postar/publicar algo no

Facebook?

Respondentes Percentual

Sim 312 42,05%

Não 430 57,95%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

Outra condição importante para contextualizarmos o cerne desta pesquisa segundo a

ótica dos internautas foi saber se eles consideram o Facebook e as redes sociais digitais uma

instância diferente daquela da vida presencial. Esta perspectiva foi construída para nos ajudar

quanto à categorização do ambiente em que as publicações são feitas, e, também, averiguar,

caso seja observado um distanciamento de realidade frente ao mundo cibernético, se há uma

separação em relação ao trato com a intimidade nesses dois ambientes.

Sob este viés, o embate não obteve um peso muito grande em relação ao outro, pois

54,72% consideram o Facebook uma instância diferente da vida real (assim descrita para

designar a experiência presencial das relações humanas). Já outros 45,28% dos respondentes

disseram que a rede social digital não é uma instância apartada da vida real (Tabela 6).

Tabela 6 - Sobre as redes sociais digitais serem ou não uma instância distante da vida real

Você considera o Facebook e as redes sociais

digitais como uma instância distante/diferente da

vida real?

Respondentes Percentual

Sim 406 54,72%

Não 336 45,28%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

Até aqui a pesquisa mostrou que o entendimento dos usuários do Facebook quanto à

plataforma é, em caráter de maioria, o de que a rede social digital é considerada um ambiente

público, em que não há a sensação de segurança durante a realização de publicações e que se

coloca como distante da vida tecida nas relações presenciais.

Além dos fatores expostos acima, também buscou-se saber como era a relação entre o

usuário com as ferramentas de postagem, a frequência de emissão de conteúdos e a que grupo

seria destinada tais informações. A importância dessa observação diz respeito ao fato de que

as publicações de cunho íntimo passam, antes de tudo, pela filtragem de mecanismos de

seleção disponibilizados aos usuários.

102

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Então, procurou-se entender a média de publicação realizada pelos internautas (Tabela

7), sendo que mais da metade dos respondentes (50,27%) disseram que geralmente não fazem

postagens. Já entre os que publicam no Facebook (49,73%), 19,41% o fazem 1 ou 2 vezes por

semana; seguidos de 17,39%, que realizam publicações 1 ou 2 vezes por dia; os que postam

no Facebook 3 ou 4 vezes por semana representam 7%; já 5,93% dos respondentes disseram

que fazem postagens 3 ou 4 vezes por dia.

Tabela 7 - Frequência de postagem dos usuários

Em média, quantas postagens você faz por dia

(como textos, fotos, vídeos, etc.)?

Respondentes Percentual

1 ou 2 por dia 129 17,39%

3 ou 4 por dia 44 5,93%

1 ou 2 por semana 144 19,41%

3 ou 4 por semana 52 7%

Geralmente não faço postagens 373 50,27%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

Perguntou-se a que grupo de pessoas as postagens, quando realizadas, são

direcionadas. Cerca de 47% dos entrevistados responderam que as postagens são direcionadas

a amigos. Já os que consideram que o direcionamento das informações pode mudar conforme

o conteúdo representam 40,43%. Em face contrária a esses dois grupos, 11,73% falaram que

as postagens, quando realizadas, são direcionadas a todos que visualizarem o perfil, como

podemos observar na Tabela 8.

Tabela 8 - Direcionamento das postagens realizadas

Fonte: elaboração dos autores.

Para averiguarmos se as postagens eram direcionadas a cada tipo de grupo utilizando

os mecanismos de seleção, investigou-se se os usuários usavam as chaves de seleções de

público ao fazerem publicações.

As suas postagens na rede social digital são

direcionadas a:

Respondentes Percentual

Todos que visualizarem meu perfil 87 11,73%

Amigos 355 47,84%

Depende. Podem mudar conforme o conteúdo 300 40,43%

Total 742 100%

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Um total de 52,96% afirmou selecionar os grupos a quem as mensagens devem ser

direcionadas, por meio da escolha de chaves. Já 35,98% dos respondentes disseram que não

fazem esse tipo de seleção. Em contrapartida aos que detêm conhecimento sobre este tipo de

procedimento, 11,05% afirmaram desconhecer as possibilidades de seleção de grupos por

meio das ferramentas no Facebook (Tabela 9).

Tabela 9 - Utilização de chaves de seleção de postagem no Facebook

Ao fazer publicações você utiliza as chaves para

selecionar a quais grupos de pessoas será enviada a

informação?

Respondentes Percentual

Sim 393 52,96%

Não 267 35,98%

Desconheço essa ferramenta. 82 11,05%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

Além da questão abordando a utilização de ferramentas de seleção de grupos, como

visto acima, buscou-se saber como estava configurado esse mecanismo no momento em que

os usuários do Facebook estavam respondendo o questionário (Tabela 10).

A maior parte dos respondentes, representada por 62,94%, disse que as publicações

estavam configuradas na chave que seleciona somente os amigos na rede como destinatários

da mensagem. Já os que estavam com a configuração como público representam 16,98% dos

entrevistados.

Tabela 10 - Chave de seleção dos usuários no momento da pesquisa

Neste momento, suas publicações no Facebook estão

configuradas em:

Respondentes Percentual

Público 126 16,98%

Amigos 467 62,94%

Amigos, exceto conhecidos 36 4,85%

Somente eu 19 2,56%

Personalizado 81 10,92%

Não sei 13 1,75%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

Sobre um panorama geral das respostas que mais foram escolhidas pelos usuários,

quanto às perguntas que estavam relacionadas à utilização do Facebook e suas ferramentas de

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

seleção, a maior parte dos entrevistados disse não fazer postagens regularmente na rede social

digital; mas, entre os mais ativos, são realizadas de 3 a 4 publicações por semana, no mínimo.

Além disso, seguindo essa ótica, podemos destacar que a maioria das mensagens são

direcionadas aos amigos da rede, e, durante a realização de postagens, são utilizadas chaves

de seleção de grupos. A grande maioria disse também que, no momento da pesquisa, as

configurações para futuras publicações estavam configuradas em "amigos". No entanto, ao

responderem sobre quais tipos de conteúdo deveriam estar configurados como "público", os

internautas disseram que os não pessoais deveriam ser destinados a esta categoria.

Já entrando no cerne de nossa pesquisa, relacionado à intimidade, procuramos saber

dos internautas quais tipos de conteúdo devem ser classificados como "públicos" ao serem

postados. Essa indagação é relevante frente à variedade de definições da ferramenta e,

também, levando-se em consideração que a mensagem tem um direcionamento.

Diante disso, a maioria dos respondentes (86,52%) disse que os conteúdos

classificados como "públicos" ao serem postados devem ser os não pessoais, ou seja,

publicações que não tenham relação com características individuais, exclusivas das pessoas,

relacionadas à sua personalidade. Em contrapartida, 6,87% das repostas apontaram que as

postagens definidas como públicas podem seguir qualquer forma de conteúdo (Tabela 11).

Tabela 11 - Classificação de conteúdos públicos

Quais tipos de conteúdos devem ser classificados

como "públicos" ao serem postados?

Respondentes Percentual

Todos 39 5,26%

Pessoais 10 1,35%

Não pessoais 642 86,52%

Tanto faz 51 6,87%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

Mas qual seria a visão dos usuários em relação a conteúdos íntimos publicados no

Facebook? Visando a esclarecer isso, à ótica de cada usuário, perguntamos sobre a incidência

de características de intimidade na rede de amigos. Além disso, vamos expor as alternativas

mais votadas, sem quantificar o percentual, de questões com múltipla escolha de mais de uma

resposta, direcionadas a saber de que forma e como a intimidade se configura; e, também,

qual a opinião relacionada ao motivo de publicação de tais conteúdos.

Para configuração geral do assunto frente às redes sociais digitais, 86,66% dos

usuários afirmaram que a intimidade deve ficar no âmbito privado (Tabela 12). O que

podemos confrontar, como visto anteriormente, com a classificação do Facebook como um

ambiente público. Logo, em uma visão ampla, a intimidade não deveria ser exposta na

plataforma, pelo menos da forma como é exibida. No entanto, na visão de 11,86% dos

entrevistados, a intimidade pode ficar no âmbito privado ou no âmbito público.

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Tabela 12 - Classificação da intimidade na era das redes sociais digitais

A intimidade, na era das redes sociais digitais,

deve ficar:

Respondentes Percentual

No âmbito privado 643 86,66%

No âmbito público 11 1,48%

Tanto faz 88 11,86%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

Levando em consideração a hipótese de que conteúdos íntimos são postados no

Facebook, resolvemos saber se o usuário já viu postagens deste tipo feitas pela rede de

amigos. A grande maioria dos respondestes (93,40%) disse já ter presenciado publicações

íntimas em sua rede de contato. Apenas 6,60% dos entrevistados negaram ter visto, como

podemos observar na Tabela 13, abaixo.

Tabela 13 - Sobre a ocorrência de publicações íntimas no Facebook

Você já viu algo de cunho íntimo postado por algum

amigo no Facebook?

Respondentes Percentual

Sim 693 93,40%

Não 49 6,60%

Total 742 100%

Fonte: elaboração do autores.

Tratando-se de intimidade exposta no Facebook, buscou-se também avaliar a

frequência em que se deparavam com tais tipos de publicação em sua rede de amigos. Diante

disso, um total de 55,80% disse que às vezes vê conteúdos de cunho íntimo postados por

amigos. Já 39,49% dos entrevistados afirmaram que sempre veem esse tipo de publicação

entre seus contatos (Tabela 14).

Os principais tipos de conteúdos íntimos apontados pelos usuários são veiculados por

meio de fotos, textos ou dizeres pessoais e vídeos. Além disso, para a maioria, a intimidade

está relacionada a sexo, família, nudez e coisas que acontecem dentro de casa. Os

respondentes também pontuaram que a postagem de conteúdos íntimos está relacionada aos

fatores exibicionismo, falta de atenção quanto às postagens e solidão.

Tabela 14 - Sobre a frequência de publicações íntimas no Facebook

Com que frequência você vê postagens de cunho

íntimo em sua rede social digital?

Respondentes Percentual

Sempre 293 39,49%

Às vezes 414 55,80%

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Nunca 35 4,72%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

Além da observação de informações postadas por terceiros, também se investigou se

os respondentes já haviam realizado alguma publicação de cunho íntimo em seu perfil. A

maioria (67,25%) disse nunca ter postado esse tipo de conteúdo. Já entre os que afirmaram ter

realizado publicações de algo íntimo no Facebook (32,75%), o número dos que não se

arrependiam da publicação contabilizou 17,39%; já os que se arrependiam de ter publicado

algo relacionado a intimidade representou 15,36% das respostas, como podemos ver na

Tabela 15, abaixo.

Tabela 15 - Sobre a realização de alguma postagem íntima (continua)

Você já postou algo íntimo no Facebook? Respondentes Percentual

Sim. Me arrependi da postagem 114 15,36%

Sim. Mas não me arrependi da postagem 129 17,39%

Nunca postei 499 67,25%

Total 742 100%

Fonte: elaboração dos autores.

Anteriormente, expusemos, à ótica do arcabouço teórico arrolado, que a intimidade

surgiu no ambiente de distinção entre os âmbitos público e privado. Além disso, pudemos

constatar que, com o surgimento de tecnologias comunicacionais, como a internet, a questão

da intimidade também se coloca nas relações constituídas no meio cibernético.

Em face dessas mudanças e atualizações, buscou-se saber, do próprio utilizador da

internet, se a concepção de intimidade mudou devido à imersão nas redes sociais da internet.

A grande maioria (88,81%) afirmou que com o advento de locais digitais, como o Facebook,

o conceito de intimidade mudou (Tabela 16).

Tabela 16 - Mudança do conceito de intimidade devido às redes sociais na internet

Fonte: elaboração dos autores.

Você acredita que o conceito de intimidade mudou

devido às redes sociais na internet?

Respondentes Percentual

Sim 659 88,81%

Não 83 11,19%

Total 742 100%

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Considerações finais

A intimidade, sob análise geral dos resultados da pesquisa realizada com usuários do

Facebook, é um conceito que está mudando em razão do uso sistemático das redes sociais da

internet. Também podemos chegar à conclusão que há grande incidência de conteúdos íntimos

sendo publicados, mesmo que eles estejam restringidos à rede de contatos do internauta

emissor da mensagem.

Ademais, observamos um descompasso entre a percepção ou ideia do que seja o

espaço do Facebook e a realidade, a apropriação da rede social. A contradição é a seguinte: se

a intimidade deveria ficar somente no âmbito privado, como apontou a opinião dos

respondentes, como há tantas publicações, inclusive percebidas como íntimas, num espaço

considerado público pelos mesmos internautas?

Uma simples verificação mais atenta leva qualquer observador a encontrar grande

quantidade de postagens públicas, inclusive referenciadas ao conceito moderno de intimidade.

Até porque há ferramentas disponíveis aos usuários do Facebook – como as que adicionam

fatores de subjetivação à mensagem – que proporcionam uma nova forma de exposição do

que é íntimo. Isso amplifica as possibilidades de exposição da intimidade, permitindo que esta

esteja à vista de todos ou de um determinado grupo.

Pelo viés do exibicionismo, podemos retomar a ideia de Türcke (2010), para quem

existir, nesta sociedade excitada em meio às sensações audiovisuais e aos fluxos

informacionais, é ser visto e percebido. Já sob outro viés, o do receptor, não fechamos os

olhos aos conteúdos íntimos de terceiros, pois, em contrapartida ao exibicionismo de outrem,

também é necessário perceber para existir.

Essas observações nos fazem lembrar, também como já exposto, a argumentação de

Sibilia (2008), que observou que, nos dias atuais, com o advento das novas tecnologias de

comunicação, a intimidade tomou novas proporções, deixando de ser algo do interior do

individuo para o seu exterior, o que a autora denominou ser extimidade.

Devemos remarcar, também, as observações de Sennett (2014), que vincula o

aparecimento do conceito de intimidade às mudanças capitalísticas que ocorreram durante os

séculos XVIII e XIX. Nesse período, observamos uma transformação estrutural no

capitalismo, que redundou num distanciamento dos lares (então, o ícone máximo do privado)

em relação aos ambientes públicos, firmando uma nova configuração comportamental e

psicológica, e, por consequência, constituindo a delimitação da intimidade.

Mais uma vez, no decorrer da história, percebemos hoje que as transformações

estruturais capitalísticas acabam interferindo de modo incisivo no universo da intimidade. Na

base dessas mudanças, tanto do capital quanto da visão do que é íntimo, estão as tecnologias

digitais de comunicação e informação, notadamente as redes sociais digitais. Ainda mais

quando o assunto é a peculiar subjetividade atual, especialmente quanto a sua percepção da

intimidade – cada vez mais midiatizada ou menos privada.

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109

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

O emprego do enunciado "padrão FIFA" na mídia após os

escândalos no cenário do futebol

Luiz Afonso Fernandes de Meirelles

Mestrando em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté. Atualmente é Master de programação na TV

Canção Nova. [email protected]

Pedro Henrique Monteiro Whately Martins

Especilaista em Educação e Mídia pelas Faculdades Integradas Teresa D’Ávila, mestrando em Linguística

Aplicada pela Universidade de Taubaté. Atualmente é Assistente de Comunicação e Marketing no Instituto

Nossa Senhora Auxiliadora. [email protected]

Resumo

Este artigo tem por objetivo discutir as construções de sentido atribuídos pela mídia para o enunciado "padrão

FIFA" após os escândalos de corrupção envolvendo a maior entidade administrativa do Futebol. De acordo com

os estudos de Bakhtin e o Círculo, o enunciado concreto estabelece conexões com o contexto extraverbal da vida

e todo signo ideológico representa a realidade a partir de um lugar valorativo. A metodologia deste trabalho

consiste na análise de como tal expressão foi apresentada no jornal Meia Hora de Notícias publicado dia vinte e

oito de maio de 2015; na edição 2428 da revista Veja de três de junho de 2015 e edição 2374 da revista IstoÉ de

mesma data. A fundamentação teórica se complementa à luz da perspectiva Bakhtiniana dos conceitos de

enunciado, enunciado concreto e signo ideológico; Citelli (2005), responsável por apresentar algumas

estratégias para a realização do efeito persuasivo e Farina (2007), com a abordagem sobre a psicodinâmica das

cores. Após a análise, verificou-se que tal expressão recebeu um novo sentido a partir dos contextos em que foi

inserida.

Palavras- chave

Enunciado Concreto; Signo ideológico; Mídia; Padrão FIFA.

Abstract

This article aims to discuss the sense of constructions attributed by the media to the statement "FIFA standard"

after the scandals of corruption involving the highest administrative body of soccer. According to the studies of

Bakhtin and the Circle, the statement sets out concrete connections to the extraverbal context of life and every

ideological sign is the reality from an evaluative place. The methodology of this work is the analysis of how such

an expression was presented in the journal Half Hour News published on May 28, 2015; in the 2428 edition of

Veja magazine of June 3rd, 2015 and 2374 edition of the same date Isto É magazine. The theoretical framework

is complemented in the light of the statement Bakhtinian perspective concepts as set out concrete and ideological

sign; Citelli (2005), responsible for presenting some strategies for the realization of the persuasive effect and

Farina (2007), with the approach of the psychodynamics of colors. After analysis, it was found that such

expression has received a new order from the context in which it was inserted.

Key words

Concrete statement; Ideological sign; media; FIFA standard.

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ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Introdução

A Federação Internacional de Futebol (FIFA) é uma associação de direito suíço criada

em 1904 e com sede em Zurique. Hoje conta 209 membros associados em todo o mundo,

número superior que ao de filiados à Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o site

oficial da FIFA o objetivo da instituição é desenvolver o futebol em todos os lugares e para

todos, de modo a tocar o mundo através de seus torneios e para construir um futuro melhor

através do poder do jogo.

Nos últimos anos, a organização tem sido associada a práticas antiéticas e escândalos

de corrupção, o que levou a entidade a instaurar uma Comissão Independente de Ética.

Entretanto, foi em maio de 2015 que a imagem da FIFA sofreu seu maior ataque. Após

investigações realizadas pelo FBI (Federal Bureau of Investigation) um grande número de

pessoas ligadas a federação máxima do futebol foram indiciadas, acusadas

de fraude, extorsão e lavagem de dinheiro. Estima-se que foram recebidos US$ 150 milhões

em suborno.

A mídia de todo o mundo repercutiu a notícia dos escândalos envolvendo a FIFA, no

Brasil porventura não foi diferente. As revistas IstoÉ e Veja, por exemplo, dedicaram capas

inteiras a expor o tema, bem como o jornal Meia hora de Notícias do Rio de Janeiro,

conhecido pelas manchetes polêmicas e os famigerados títulos de duplo sentido em suas

edições. Estes são um fragmento, ou um retrato, dos outros muitos meios - sites de notícias,

redes sociais, programas de tevê - que reproduziram este fato. No trabalho a seguir pretende-

se analisar como o enunciado "Padrão FIFA" que está presente em todos os três objetos de

estudo foi apresentado e qual o papel das editorias em empregar-lhe sentido na construção

verbo-visual de suas capas.

Anteriormente tal expressão era reconhecida como um sinônimo de boa qualidade,

vide as próprias notícias que permeavam a esfera jornalística e que por vezes reproduziram

esta ideia. Esse chavão teria surgido a partir das primeiras visitas de inspeção realizadas pela

FIFA aos estádios durante a preparação para a Copa do Mundo 2014 a ser realizada no Brasil,

na ocasião uma extensa lista de exigências foi apresentada pela Federação Internacional de

Futebol, dando origem a epígrafes como: "Estádio não tem padrão da FIFA para segurança",

exibida pela Folha Uol em 29 de agosto de 2007.

A partir disto, a expressão se espalhou rapidamente designando uma espécie de selo de

qualidade. Em junho de 2013, prestes a realizar-se a Copa das Confederações, evento FIFA

que precede a Copa do Mundo, notícias sobre os gastos excessivos para a construção dos

estádios e para a organização da Copa em geral circulavam com mais frequência, e deram

início a manifestações populares de cunho político. Dentre uma série de reivindicações,

muitos cartazes levados às ruas pediam por hospitais, escolas e qualidade de vida ao dito

"padrão FIFA" caracterizado, então, como modelo de excelência a ser atingido.

A seguir, será apresentada a fundamentação teórica deste artigo, onde a análise se

baseia. Na sequência, o leitor encontrará a apreciação dos objetos de pesquisa e as

considerações após a conclusão do objetivo da análise.

Fundamentação teórica

Primeiramente é necessário compreender que a língua não pode ser entendida como

pertença do homem enquanto indivíduo solitário, mas como fenômeno necessariamente social

da interação verbal. A palavra, como produto da interação entre dois indivíduos, comporta

111

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

“duas faces”: procede de alguém e se dirige a alguém (sempre busca a reação do outro). Por

isso que, para a teoria bakhtiniana, não existe discurso neutro e nem “fala individual”: ela é

sempre composta de discursos já-ditos e dirigida a alguém.

Nessa perspectiva, a linguagem medeia as diversas situações de interação verbal, que

implica dois indivíduos (enunciador e enunciatário) de mesma comunidade lingüística e de

uma sociedade organizada. Eles precisam estar integrados na “unicidade da situação social

imediata”, ter relações entre si; isto é, “a unicidade do meio social e a do contexto social

imediato” são as condições básicas para haver um “ato de linguagem” (BAKHTIN, 2004, p.

70-71).

O diálogo, entendido como o momento da enunciação, é irrepetível: o discurso, como

um “evento” (ações sociais mediadas pelo discurso) no mundo, é proferido uma única vez em

determinada situação de interação. Não pode ser repetido, apenas citado. O mesmo acontece

com a unidade real de comunicação discursiva: o enunciado, conceito-chave para a teoria

bakhtiniana.

Enunciado, Enunciação e Enunciado Concreto

Ao longo dos anos, alguns modelos teóricos têm pretendido explicar como se dá o

processo de comunicação nas relações humanas, dentre eles destacam-se os conceitos

bakhtinianos voltadas para o estudo da linguagem e que tem influenciado muitos

pesquisadores contemporâneos. Segundo essa linha de pensamento que tem sua origem nos

estudos do filósofo russo Bakhtin, esse processo comunicacional se desenvolve sob a forma

de enunciados.

Esse termo "enunciado", é chamado viskázivanie na língua russa, e deriva do infinitivo

viskázivat que significa ato de enunciar, de exprimir, transmitir pensamentos, sentimentos,

etc. em palavras. Brait (2005, p.63) explica que nessa perspectiva o enunciado é concebido

como:

[...] unidade de comunicação, como unidade de significação,

necessariamente contextualizado. Uma mesma frase realiza-se em um

número infinito de enunciados, uma vez que esses são únicos, dentro de

situações e contextos específicos, o que significa que a ‘frase’ ganhará

sentido diferente nessas diferentes realizações enunciativas.

A sequência processual pela qual esses enunciados são produzidos determinamos

enunciação. De acordo com Ducrot (apud BRAIT, 2005, p. 64):

[enunciação] é o acontecimento constituído pelo aparecimento de um

enunciado. A realização de um enunciado é de fato um acontecimento

histórico: é dado existência a alguma coisa que não existia antes de se falar e

que não existirá depois. É esta aparição momentânea que chamo de

enunciação.

Brait (2005, p.64) acrescenta: “a enunciação [...] deixa marcas da

subjetividade, da intersubjetividade, da alteridade que caracterizam a linguagem em uso”.

Neste aspecto, a linguagem precisa ser concebida a partir de um ponto de vista amplo que

abrange o contexto histórico, cultural e social para que seja compreendida, é preciso

112

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

considerar a comunicação como um todo. "O enunciado e as particularidades de sua

enunciação configuram, necessariamente, o processo interativo, ou seja, o verbal e o não

verbal que integram a situação". (BRAIT, 2005, p.67)

Neste panorama apresenta-se o enunciado concreto. Este tem correlação mui próxima

com o enunciado. Volochinov descreve que estes “estabelecem uma miríade de conexões com

o contexto extraverbal da vida, e, uma vez separados deste contexto, perdem quase toda a sua

significação” (VOLOCHINOV, 1926, p.8)

Parafraseando Bakhtin, um enunciado é individual e pode ser encontrado em diversas

possibilidades de utilização da língua. Sua organização através do conteúdo temático, estilo e

construção composicional recebe o nome de gênero discursivo.

Gêneros Discursivos

Entender o que um meio de comunicação quer transmitir ao seu leitor exige muito

mais do que uma simples observação. Esta, aliás, é apenas uma das etapas que o indivíduo

que quer interpretar este produto midiático, caracterizado como um gênero discursivo deve

fazer. Sobre os gêneros do discurso, Bakhtin (2003, p.279) afirma que estes são os tipos

relativamente estáveis de enunciados elaborados por cada esfera de utilização da língua.

As capas de revista e de jornal, quando analisadas com profundidade, revelam uma

sequência de enunciados organizados com uma finalidade. Durante o processo de elaboração

de uma capa, deixa-se evidente o tema, a forma composicional e o estilo. Este conjunto

permite que uma capa seja encarada como um gênero discursivo. Conforme encontra-se em

Bakhtin (1990, p. 262):

Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada

referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da

linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e

gramaticais da língua mas, acima de tudo, por sua construção composicional.

Todos esses três elementos – o conteúdo temático, o estilo, a construção

composicional – estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são

igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da

comunicação.

Neste cenário, pode-se perceber que a extensão e a diversidade dos gêneros

discursivos é imensa, pois os processos de comunicação da humanidade são múltiplos, e de

tempos em tempos ganham novas formas, principalmente à medida que a tecnológica da

comunicação evolui, apresentando novas possibilidades.

Dentre os muitos gêneros que perpassam os veículos de comunicação, o jornalístico causa

grande impacto no seu destinatário. Este tem como premissa informar de forma imparcial. O

jornalismo se propõe processar informação em escala industrial e para consumo imediato. As

variáveis formais devem ser reduzidas, portanto, mais radicalmente do que na literatura. Para

Lage (2004, p.35), enquanto na literatura a forma é compreendida como portadora, em si, de

formação estética, no jornalismo a ênfase desloca-se para os conteúdos, para o que é

informado.

Faz-se necessário dizer ainda que uma característica do discurso jornalístico, ao qual

pertence o gênero discursivo capa de revista e jornal é lidar com o inusitado, como bem

lembra Citelli (2005, p.82):

113

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Trabalho com o inusitado. Esse é um dos mais importantes aspectos a serem

trabalhados por veículos sensacionalistas. O comum e corriqueiro não

interessam, é preciso que haja algo diferente, algum ângulo não explorado,

alguma situação que provoque impacto e estranhamento. (CITELLI, 2005, p.

82)

Dialogismo e Responsividade

Todo enunciado carrega em si outros, é a interação de um encontro de vozes sociais,

de forma dialógica e ligada a uma cadeia responsiva.

Conforme Bakhtin (2003): “O falante não é um Adão bíblico, só relacionado com

objetos virgens ainda não nomeados, aos quais dá nome pela primeira vez”. (BAKHTIN,

2003[1979], p. 300). Ou seja, nenhum discurso é original mas reflexo de outros que o

precedem. Nesta perspectiva, a fala do indivíduo não pode ser entendida como algo que

emana exclusivamente dele enquanto ser único, mas como um produto do coletivo de sua

relação com outrem, pois refere-se direta ou indiretamente a uma pluralidades de outros

discursos pertinente ao contexto em que este encontra-se inserido.

Dialogismo, portanto, é entendido como essa propriedade da linguagem que propicia o

diálogo entre os enunciados, correlacionando o discurso individual com os outros discursos.

Desta maneira, a língua em seu contexto real de uso é essencialmente dialógica. Assim

explica Bakhtin (2003, p. 300):

O enunciado é um elo na cadeia da comunicação discursiva e não pode ser

separado dos elos precedentes que o determinam tanto de fora quanto de

dentro, gerando nele atitudes responsivas diretas e ressonâncias dialógicas.

Entretanto, o enunciado não está ligado apenas aos elos precedentes, mas

também aos subsequentes da comunicação discursiva. Quando o enunciado é

criado por um falante, tais elos ainda não existem. Desde o início, porém, o

enunciado se constrói levando em conta as atitudes responsivas, em prol das

quais ele, em essência, é criado. O papel dos outros para quem se constrói o

enunciado, é excepcionalmente grande.

Quanto ao conceito de responsividade, este está intimamente ligado ao dialogismo, e

parte da noção que todo enunciado gera por parte do interlocutor uma atitude responsiva,

mesmo que ela não se apresente de imediato através de um ato ou fala. Para

Bakhtin/Volochinov (2004, p. 271), todo enunciado é dirigido a alguém (auditório social),

logo seu sentido pleno só possível se provocar no outro alguma reação para com o discurso do

locutor. Marcando assim seu papel na "relação de anterioridade e posterioridade com outros

enunciados, de modo que podemos dizer que todo enunciado é fruto de enunciados anteriores,

e semente para enunciados futuros" (SANTOS e FILHO 2012, p. 147).

O Signo ideológico

A palavra signo, proveniente do termo latim signum, é por definição um objeto,

fenômeno ou ação material que, por natureza ou por convenção, representa ou substitui outro.

Isto é, algo que está no lugar de outro, diferente dele mesmo de forma a simbolizá-lo. O signo,

segundo Brait (2013, p. 170) “representa a realidade a partir de um lugar valorativo,

revelando-a como verdadeira ou falsa, boa ou má, positiva ou negativa, o que faz o signo

114

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

coincidir com o domínio do ideológico.

A consciência humana é constituída a partir de signos ideológicos. Assim como dito

anteriormente, do mesmo modo que a língua é compreendida como de natureza social,

precisamos admitir que nossa própria consciência também é, visto que resgatamos no meio

social os signos necessários para formular o pensamento. Logo, mesmo na intimidade de

nosso raciocínio encontram-se valores e ideologias externas. Bakhtin (2006, p.16) afirma:

a ideologia é um reflexo das estruturas sociais; assim, toda modificação da

ideologia encadeia uma modificação da língua [...] A variação é inerente à

língua e reflete variações sociais; se, efetivamente, a evolução, por um lado,

obedece a leis internas (reconstrução analógica, economia), ela é, sobretudo,

regida por leis externas, de natureza social.

Bakhtin torna evidente que se fosse possível qualquer atividade mental que não

comportasse ideologia, esta não seria pensamento, apenas uma manifestação biológica e

fisiológica do indivíduo, o que foge ao estudo da língua.

Sob esta ótica, o signo ao ser incorporado pelo sujeito, traz em si uma ideologia,

porém o seu valor ideológico pode altera-se de acordo com signos relativos ao discurso

interior. O signo é, portanto, renovado a cada vez que é utilizado. Stella (2005) explica que a

palavra também é um produto ideológico vivo, isto é em constante mudança, capaz de

funcionar em qualquer situação social, e se torna “signo ideológico” justamente por

concentrar entoações decorrentes dos diálogos vivos entre interlocutores e dos valores sociais.

"A palavra é o fenômeno ideológico por excelência" (BAKHTIN, 2006, p.34).

Em suma, o signo receberá a cada enunciação um novo sentido dotado de carga

individual e social, dado que lidamos com uma língua dinâmica, capaz de crescer e evoluir a

cada nova situação de comunicação.

A partir destas considerações teóricas, a sequência deste artigo dedica-se a análise dos

objetos de estudos sugeridos.

Análise do Corpus

Antes de iniciar-se a apreciação dos objetos de análise propostos na introdução deste

artigo, algumas considerações são necessárias. As capas de revista e jornal são constituídas de

diversos itens, como imagens, cores e textos que permitem ao leitor entender a temática que a

editoria conduzirá nas páginas seguintes. Estes elementos serão analisados de forma a

compreender-se o propósito comunicativo da editora, contudo o foco será destinado às

representações do enunciado “padrão FIFA” nos veículos selecionados para este trabalho.

115

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Imagem 1. Edição 2428 da revista Veja.

Fonte: Acervo digital da Revista Veja.

A primeira capa analisada, edição 2428 da revista Veja, publicada no dia três de junho

de 2015, apresenta um homem trajando roupa social com uma cartola na mão esquerda e uma

bola de metal atada a perna. Em destaque, encontra-se o seguinte enunciado: “PADRÃO FIFA

– A prisão dos cartolas na Suíça é o começo de uma era de transparência que pode fazer o

futebol ser de novo a alegria do povo”.

Localizada na parte superior da capa, encontram-se também menções a outros temas

que estarão presentes no interior da revista. A título de explanação, o background da capa é

116

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

composto majoritariamente pela cor azul com parte em degrade para o branco.

Sobre o homem representado na capa, este traja um terno de aparência impecável com

sapatos engraxados nos quais há um efeito nítido cujo objetivo parece ser transparecer o

brilho dos mesmos, sinal que este representa um arquétipo de alguém bem sucedido.

Ao deslocar o olhar para a direita, o leitor depara-se com uma bola de futebol feita de

metal atada à perna esquerda do sujeito. Este recurso faz alusão às arcaicas bolas metálicas

que eram presas na perna de um detento para que ele não fugisse o que sugere que o indivíduo

em questão também já foi julgado e condenado.

Na cartola encontra-se estampada a marca da entidade máxima do futebol. É possível

inferir representações para esta imagem: numa primeira observação, é possível presumir que

trata-se de um mandatário da entidade (na linguagem popular que circula o universo

esportivo, “cartola” é o nome atribuído a um presidente de um clube ou ainda aos grandes

líderes de associações ligadas ao futebol, como a CBF a FIFA, por exemplo) que foi julgado.

Em outra interpretação, a marca de forma invertida simboliza que a instituição está “de cabeça

para baixo”, em meio aos escândalos revelados após as investigações.

A presença do enunciado que acompanha a imagem na capa é determinante para a

compreensão do assunto a ser abordado nas páginas interiores. Escrito em amarelo e em letras

maiúsculas, contornado ainda por uma sombra preta, destaca-se: “PADRÃO FIFA”. O

enunciado é complementado por outro, posicionado logo abaixo em letras brancas também

sombreadas como no anterior: “A prisão dos cartolas na Suíça é o começo de uma era de

transparência que pode fazer o futebol ser de novo a alegria do povo”. O efeito de

proximidade exige uma leitura contínua. Para Williams (1995, p.15) “Itens relacionados entre

si devem ser agrupados e aproximados uns dos outros, para que sejam vistos como um

conjunto coeso”.

A escolha do amarelo, segundo Farina (2007, p.07) causará no leitor a sensação de

alerta. Essa sensação é reforçada pelo uso de letras em caixa alta para escrever este enunciado.

A cor branca, empregada no enunciado seguinte, na concepção de Farina (2006), reforça a

mensagem deixada: o branco, numa perspectiva afetiva, indica ordem ou limpeza. Percebe-se,

portanto, que nesta enunciação, a expressão “padrão FIFA” refere-se à grandiosa e bem-

sucedida investigação, com punições já aplicadas e problemas supostamente superados. Neste

sentido, o enunciado “padrão FIFA” resguarda certo sentido de qualidade e organização,

punindo aqueles tidos como contraventores.

Na capa a seguir, será analisada outra abordagem da mídia para o enunciado em

estudo.

117

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Imagem 2. Edição 2374 da revista IstoÉ.

Fonte: Acervo digital da Revista InstoÉ.

Publicada no dia três de junho de 2015, a edição 2374 da revista Isto É também traz

em sua capa a mesma temática, entretanto apresenta um outro posicionamento frente os

escândalos envolvendo a FIFA.

No alto, bem como na revista Veja, encontram-se os demais assuntos que também

serão abordados na edição. Ocupando o espaço privilegiado da edição, a revista apresenta ao

seu leitor a marca da empresa, que assina o conteúdo e logo a frente do logo uma bola de

futebol com uma aparência de desgastada e murcha com a presença da fotografia de alguns

118

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

dirigentes nos gomoso que compõem o objeto.

Logo abaixo da imagem, encontra-se o enunciado: “CORRUPÇÃO PADRÃO FIFA”,

acompanhado de um segundo que diz: “A vida excêntrica dos cartolas que desviaram milhões

de dólares. Como eles operavam e por que as investigações do FBI podem mudar o futebol”.

Completam a capa outros dizeres: “EXCLUSIVO” e “J. HAWILLA: ‘Houve uma

investigação. Mas delação não houve’.

A respeito da bola, além de representar a modalidade esportiva que a entidade figura,

chama a atenção as fotografias dos mandatários dentro dela. Sobre as fotografias, Kossoy

(2001, p.50) afirma:

Toda fotografia é um testemunho segundo um filtro cultural, ao mesmo

tempo que é uma criação a partir de um visível fotográfico. Toda fotografia

representa o testemunho de uma criação. Por outro lado, ela representará

sempre a criação de um testemunho.

Desta forma, as fotografias são interpretações sob determinados juízos de valor, e

nunca a realidade em si. Elas se apresentam, portanto como forma da editoria da revista Isto É

de representar os dirigentes em meio aos escândalos. A bola murcha também se refere à uma

expressão popular originada no futebol que quer dizer que o “individuo não foi bem sucedido

em algo”. Para facilitar o reconhecimento dos indivíduos localizados na bola, a revista

colocou a seguinte legenda: “OS ENVOLVIDOS: Em sentido horário, Ricardo Teixeira (ao

lado), Joseph Blatter, joão Havelange e J. Hawilla. No centro, José Maria Marin.

Na sequência e em letras garrafais, o enunciado “CORRUPÇÃO PADRÃO” na cor

preta. Para Farina (2007, p.06) a cor preta simboliza sujeira. Por sua vez, os enunciados

“FIFA”, “ISTO É” e “EXCLUSIVO” estão representados na cor azul claro, que segundo a

autora (2007, p. 07) pode significar verdade. Infere-se a intenção da Isto É em expor a aquilo

dito como verdade a respeito da FIFA.

Percebe-se o emprego da ironia na construção deste enunciado. Cherubim (1989, p.41)

afirma que a ironia se configura como uma figura de linguagem “pela qual se diz o contrário

do que se pensa, com intenção sarcástica”. Sobre a ironia, ela pode se apresentar de diversas

formas. Neste enunciado, por exemplo, encontra-se presente a ironia na forma de sarcasmo,

que ainda de acordo com este autor (1989, p. 45) “se constrói de modo mais explícito, é

sempre um deboche altamente crítico”. Por consequente, entende-se que, ao alinhar

“Corrupção”, “Padrão FIFA”, a editoria pretende quantificar o substantivo corrupção,

desempenhando função similar ao adjetivo de intensidade.

Neste enunciado concreto específico, o “padrão FIFA” que antes era associado a coisas

positivas e grandiosas, adquiriu um novo sentido, havendo uma inversão de valores: agora a

entidade passa a ser entendida como aquela que desenvolve esquemas ilícitos. A edição da

revista IstoÉ constrói uma crítica veemente a instituição mandatária do futebol internacional,

destacando os “mentores” dos esquemas fraudulentos.

A próxima análise será realizada a partir da capa de uma edição de jornal, que

apresenta novas possibilidades de representação para o enunciado “padrão FIFA”.

119

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Imagem 3. Jornal Meia Hora de Notícias, Ano 10, Nº 3420.

Fonte: Fanpage oficial do Jornal Meia Hora de Notícias.

Tradicionalmente conhecido por empregar uma linguagem mais popular na construção

de suas capas, o jornal carioca Meia Hora de Notícias (que recentemente conquistou o Prêmio

Esso de Primeira página de 2014) também dedicou um espaço generoso de página principal

para tratar da polêmica envolvendo os líderes do futebol mundial.

A edição 3420, do dia vinte e oito de maio de 2015 teve o cuidado de privilegiar os

temas ligados ao futebol com a parte predominante da página e dedica uma coluna à direita

para os temas variados. Sobressaem nesta edição os escândalos envolvendo a entidade

máxima do futebol.

Nesta publicação, encontra-se o enunciado “PADRÃO FIFA VIRA LADRÃO FIFA”

acompanhado da legenda “Polícia prende sete dirigentes da entidade, entre eles o ex-

presidente da CBF José Maria Marin. Assunto virou piada na rede”. Estes enunciados são

120

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

acompanhados de duas fotografias: a primeira, onde o mascote da Copa do Mundo de 2014 é

carregado por dois homens e a segunda trata-se da foto do ex-presidente da CBF José Maria

Marin.

Este conteúdo está posicionado dentro de um entorno amarelo, que gera um contraste

com o restante das informações dispostas na capa. Segundo uma das regras de noções básicas

de planejamento visual, Williams (1995, p.53) afirma:

O contraste é uma das maneiras mais eficazes de acrescentar algum atrativo

visual a uma página (algo que realmente faça com que uma pessoa queira

olhar para ela), criando uma hierarquia organizacional entre diferentes

elementos. [...] Cria-se o contraste quando dois elementos são diferentes [...]

uma letra grande pode ser contratada com uma letra pequena, [...] uma cor

fria com uma mais quente.

Chamam a atenção no jornal o uso de fotografias para reforçar o propósito

comunicativo. A fotografia explorada é do personagem FULECO (Mascote da copa do Mundo

FIFA 2014) com o dizer “sobrou até para o fuleco”. De forma bem humorada, a editoria faz

uma sátira com os resultados da investigação, sugerindo que tantas pessoas foram indiciadas

que até o mascote “estaria envolvido”. Outa fotografia em destaque é a de José Maria Marin,

que também foi indiciado nas investigações. Sobre as fotografias de personalidades, Puzzo

(2012, p.96) destaca:

Um dos componentes de maior impacto são as fotos de personagens públicas

do cenário político e cultural, cujas imagens, estampadas nessas capas,

exercem força persuasiva, já que uma das potencialidades dos retratos é

constituir-se como representação da realidade.

Quanto ao enunciado discutido neste artigo, o Jornal Meia Hora de Notícias utiliza-se

do verbo "virar", no sentido de tornar-se algo novo, para afirmar categoricamente que este tem

agora outro significado. No proposto pelo Jornal por meio de um jogo de palavras, “Padrão

FIFA”, antes entendido como sinônimo de qualidade, tornou-se “Ladrão FIFA”; ou seja algo

pejorativo, de má índole.

Considerações Finais

A presente análise buscou investigar a presença do enunciado "Padrão FIFA" nas

revista Isto É, Veja e no Jornal Meia Hora de Notícias como objetivo de expor como nestes

gêneros discursivos pertencentes a esfera jornalística e publicitária é possível perceber o tom

valorativo dos enunciados através dos itens composicionais, propiciando novas perspectivas

de leituras acerca da linguagem verbovisual.

Esse contexto também ofereceu a possibilidade de enriquecer compreensão a respeito

das diferenças conceituais de enunciado e enunciado concreto, este último enquanto aquele

que comporta um sentido mais pleno.

Após este estudo, percebeu-se que os três objetos pesquisados manifestaram formas distintas

de empregarem a expressão "Padrão FIFA". Ficou evidente também que os fatos sociais (os

escândalos) propiciaram novas significâncias enquanto signos representativos de uma

ideologia social, isto porque as editoras só optaram por esse enunciado uma vez que ele tinha

121

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

novo tom valorativo. Se ainda representasse pura e simplesmente um sinônimo de qualidade,

provavelmente não teria sido escolhido em um universo de signos possíveis, dadas as

intencionalidades destes veículos midiáticos.

Numa ótica discursiva, revela-se a necessidade de promoção do pensamento crítico-

reflexivo não apenas daquele que, de alguma maneira, tem contato com este produto

midiático, mas também de educadores que devem desenvolver projetos que possibilitem a

identificação do posicionamento ideológico na construção dos enunciados verbovisuais.

Esta análise apresenta-se como uma fuga a interpretação normalmente realizada de

forma superficial dos diversos gêneros discursivos midiáticos, como as capas de revista e

jornal. Desvendar o que as linguagens verbal e visual transmitem possibilita ao leitor um ato

mais consciente frente aos enunciados.

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123

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Sistema baseado em conhecimento e sua aplicabilidade

no marketing

Adriana Bernadete Barros Carvalho Garcia

Graduação em Publicidade e Propaganda (Unitau), Pós-Graduação em Administração de Marketing (FAAP),

MBA em Gestão de Produção (UNESP), mestre em Engenharia de Mecânica, área de Gestão e Otimização

(UNESP). Professora e Coordenadora do MBA em Marketing na Faculdade Integrada Teresa D´Ávila

Resumo

Este artigo refere-se ao entendimento do marketing e suas ferramentas, utilizando o Sistema Baseado em

Conhecimento como uma abordagem para a tomada de decisão, ou seja, determinar o tempo de entrada de um

novo produto no mercado, analisando através do ciclo de vida do produto, qual é o melhor momento de lançar

ou retirar o produto do mercado, através do sistema baseado em conhecimento, que trabalha com inferências

para proporcionar uma melhor vantagem competitiva frente aos concorrentes.

Palavras chaves

Marketing, Estratégia de Marketing, Sistema Baseado em Conhecimento

Abstract

This article refers about understanding of marketing and its tools, using the Knowledge Based System as an

approach to decision making, so, determine the time of entry of a new product in the market by looking through

the life cycle product, which is the best time to launch or withdraw the product from the market, through the

knowledge-based system, which works with inferences to provide a better competitive advantage to competitors.

Key word

Marketing, Marketing Strategy, Knowledge Based System

Conceito de marketing

Denomina-se marketing as atividades sistemáticas de uma organização voltada à busca

e realização de trocas, visando benefícios específicos. Isso significa trabalhar com mercados

para realizar trocas potenciais a fim de satisfazer a necessidades e desejos humanos. É

necessário que essa troca seja ao mesmo tempo intencional, sistemática e voltada a uma

expectativa de resultados quantificáveis ou não.

Os processos de troca exigem considerável quantidade de trabalho, chamada de

administração de marketing. A administração desse processo consiste no planejamento para

entregar bens e serviços às pessoas certas, nos locais adequados e no tempo preciso, adotando

também uma comunicação direcionada e ferramentas promocionais adequadas, criando trocas

que satisfaçam os consumidores e os objetivos organizacionais (KOTLER E ARMSTRONG,

2010).

O conceito de marketing assume que a chave para atingir as metas organizacionais

consiste em determinar as necessidades e desejos dos mercados-alvo e oferecer a satisfação

desejada de forma mais eficiente que os concorrentes.

124

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Os conceitos dessa nova ciência sugerem a uma empresa pensar ao longo do processo

o que está fazendo, por que e para que, e também desenvolver um plano a fim de atingir seus

objetivos.

As estratégias de marketing levam em consideração a pesquisa de tendências do

mercado consumidor, concebendo que indivíduos, regiões e nações possuem aspectos

culturais diferentes e também habilidades diferentes. Para Kotler (2000, p. 116), o marketing

das empresas deve ter o seguinte pensamento: “o consumidor vem antes de tudo”.

Outro fator para o sucesso do plano de marketing é a definição dos objetivos e das

estratégias para alcançá-los, analisando os recursos e objetivos da companhia. Para uma

estratégia ser bem sucedida, o gerente de marketing deve estar ciente dos fatores controláveis

e incontroláveis. Neste artigo serão abordados somente os fatores controláveis do marketing,

chamados de marketing mix, pois afetam empresa e consumidores diretamente.

Marketing Mix

Para Yinghong e Wang (2011), a análise do marketing mix é um fator relevante, pois

permite que a empresa consiga entender melhor sobre o produto, mercado, concorrência e o

que fazer para alavancar as vendas. Deve-se também trabalhar dentro dos elementos dos 4 P’s

(ou seja, preço, produto, praça e promoção) com o intuito de se diferenciar perante os

concorrentes, o que pode gerar preços competitivos, um canal altamente eficiente e uma

promoção atraente, conforme Figura 1, sobre a análise dos 4 P’s.

Mix de Marketing

ProdutoVariedade de produtosQualidadeDesign

CaracterísticasNome da marcaEmbalagemTamanhosServiçosGarantia

Devoluções

Preço Preço de ListaDescontosComissões

Prazo de pagamentoCondições de Fiananciamento

Promoção Promoção de VendasPublicidadeForça de Vendas

Relações PublicasMarketing Direto

PraçaCanaisCoberturaVariedades

LocaisEstoque Transporte

Figura 1: Os 4P’s do marketing mix.

Fonte: Kotler (2000).

A seguir, serão tecidas considerações relevantes sobre os 4 P’s, dividindo-se o primeiro

P em produtos e serviços.

Importante ressaltar que os 4P’s são interdependentes; portanto, quando se seleciona

um do composto, todas as decisões relativas aos itens que engloba devem ser tomadas ao

mesmo tempo.

125

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

a) Produto

Produto é algo que pode ser realmente oferecido a um mercado para sua apreciação,

aquisição, uso ou consumo para satisfazer um desejo ou necessidade. O que realmente é

vendido é a capacidade de proporcionar a satisfação, o uso e talvez o lucro desejado pelo

consumidor. Mas para que isso de fato ocorra é importante que todos esses requisitos

pertençam ao produto.

De acordo com Kotler (2000, p. 309), os produtos podem ser classificados em cinco

grupos, de acordo com sua durabilidade ou tangibilidade:

Bens não duráveis: são bens tangíveis que, normalmente, são consumidos após um ou

alguns usos.

Bens duráveis: são bens tangíveis que, geralmente, sobrevivem a muitos usos.

Serviços: são atividades, benefícios ou satisfações que são colocadas à venda.

Bens de conveniência: bens que o consumidor, normalmente, compra com frequência, de

imediato e com o mínimo esforço.

Bens de compra comparada: são aqueles que o consumidor, no processo de seleção e

compra comparada, caracteristicamente, baseia-se na adequação qualidade, preço e estilo.

Bens de especialidade: bens com características e/ ou identificação de marcas exclusivas,

em relação aos quais grupos significativos estão habitualmente dispostos a fazer um

esforço especial de compra.

A estratégia de produto implica tomada de decisões coordenadas sobre composto de

produtos, linhas de produto, marcas, embalagem e rotulagem. Essas análises criam os

benefícios para o produto gerando um impulso de compra. O modo como os consumidores

veem os produtos, observam sua disponibilidade e demonstram seu interesse em obtê-lo tem

importante ligação com o quanto estão dispostos a pagar por ele.

b) Preço

A organização deve resolver sobre o preço adequado para o produto quando estiver

resolvendo sobre as outras estratégias do marketing mix (KOTLER, 2000).

Esse item deve ser o mais atraente possível. Ao se estabelecer o preço, deve-se

considerar a natureza do produto e a competição no mercado em perspectiva, bem como a

possível existência de práticas, tais como venda em liquidações, com descontos sob condições

especiais.

Para se estabelecer um preço, é necessário avaliar os objetivos de marketing, a

previsão da demanda, custos de produção e posicionamento do produto e do preço em relação

aos concorrentes. Uma dessas variáveis deverá ter uma importância maior na hora da

definição do preço final.

As condições de mercado, como a região geográfica, descontos, promoções,

diferenciação do preço e o preço do composto também devem ser levados em conta para a

empresa desenvolver um preço competitivo.

c) Praça

Um produto ou serviço não tem muita utilidade para o consumidor, se não estiver

disponível quando e onde ele desejar. Para que isso aconteça, é preciso desenvolver canais de

126

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

marketing, ou seja, um conjunto de organizações independentes envolvidas no processo de

tornar o produto ou serviço disponível para uso ou consumo.

As decisões de canal estão entre as mais complexas e desafiadoras que as empresas

enfrentam. Cada sistema de canal gera um nível diferente de vendas e custos; às vezes as

organizações têm que optar por complicados canais de distribuição, enquanto que em outras

ocasiões métodos muito simples proporcionam bons resultados (KOTLER, 2000).

A rede de distribuição é constituída por vários canais: a armazenagem, o transporte, o

atacado e o varejo. Os intermediários são utilizados para desempenhar as funções de canais

mais eficientemente do que os fabricantes e por um custo menor.

Todos os sistemas de canal apresentam um potencial de conflito vertical, horizontal e

de multicanais, decorrente de fontes como incompatibilidade de metas, papéis e direitos

indefinidos, diferença de percepção e alta dependência. A administração desses conflitos pode

ser realizada, através da adoção de metas superordenadas, troca de pessoas, filiação de

representantes em associações comerciais, diplomacia, medição e arbitragem.

c) Promoção

A promoção diz respeito a qualquer método que comunique ao mercado-alvo a

respeito do produto certo a ser vendido, no lugar certo, pelo preço certo. O composto de

comunicação consiste em cinco importantes ferramentas:

Promoção de vendas – Incentivos a curto prazo para encorajar a experimentação ou

compra de um produto ou serviço. Comunicação, incentivo e convite caracterizam

essa ferramenta. A comunicação atrai a atenção dos consumidores para o produto,

enquanto o incentivo oferece algum valor e o convite aparece, para que ocorra uma

transição imediata de produto.

Propaganda – Qualquer forma paga de apresentação impessoal e de promoção de

ideias ou serviços por um patrocinador identificado. Essa ferramenta possui as

seguintes características: caráter público, ou seja, muitas pessoas receberão a mesma

mensagem, e isso confere ao produto certa legitimidade; a universalidade permite ao

vendedor exibir a mesma mensagem repetitivamente e também permite ao comprador

compará-la a dos concorrentes; expressividade, ou seja, a mensagem poderá ser

exibida de forma criativa; impessoalidade, os consumidores expostos à mensagem não

se sentem obrigados a prestar atenção ou responder à mensagem.

Venda pessoal – Coloca o consumidor a ouvir a explanação do vendedor e exige dele

uma resposta, seja positiva ou negativa. O relacionamento entre o consumidor e

vendedor é interativo. Esse tipo de comunicação permite uma manutenção do

relacionamento, tornando-o mais duradouro.

Marketing direto – O uso do correio, telefone e outras ferramentas de contato

impessoal para comunicar ou solicitar resposta de consumidores ativos e potenciais

específicos. Essa ferramenta pode ser utilizada de duas maneiras, uma é

individualizada, ou seja, a mesma mensagem é destinada a cada pessoa específica e

não atingem outras, enquanto a personalização envia uma mensagem personalizada

para atrair o interesse de objetivos específicos.

Relações públicas – Uma variedade de programas preparados para promover e/ ou

proteger a imagem de uma empresa ou de seus produtos individuais. A mensagem

chega aos compradores em forma de notícia e não como comunicação destinada à

venda; elas ganham assim alta credibilidade e parecem mais autênticas, já que a

propaganda tem potencial para dramatizar uma organização ou produto.

127

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

O composto tradicional de marketing constituído pelos 4 P’s: produto, praça,

promoção e preço, também são essenciais para um marketing de serviços bem-sucedido.

Planejamento de Marketing

De acordo com Pulendran et al. (2003), Greenley et al. (2004) o planejamento de

marketing é tido como uma tecnologia que auxilia a organização a alcançar um alinhamento

estratégico, com análise do ambiente interno e externo, o que auxilia na tomada de decisão de

forma racional e objetiva, levando a empresa à melhor alocação dos recursos e

consequentemente ao melhor desempenho organizacional, pois está diretamente ligada aos

objetivos, estratégias, táticas, implementação e controle. LEE et al. (2013)

O planejamento pode ser considerado como um meio para melhorar a orientação para

o mercado, pois fornece um foco, e, se for dirigido com aquisição de informações sobre

clientes e concorrentes, produzirá uma resposta coordenada para atender às necessidades dos

clientes, a Figura 2, está relacionada ao desempenho dos negócios no que diz respeito à

orientação para o mercado e planejamento de marketing, para melhor desempenho da

empresa.

Figura 2: Desempenho nos negócios

Fonte: Pulendran et al. (2003)

Mesmo com estudos que demonstram a importância do planejamento de marketing, há

evidências que apenas 1/5 das empresas executam o planejamento de marketing, de acordo

com Greenley et al (2004).

De forma especial o planejamento compreende passos, procurando atender a questões

específicas, segundo Siqueira (2005):

- Identificar a missão e objetivos da organização;

- Avaliar o desempenho atual x à missão e aos objetivos;

- Criar planos para alcançar os objetivos

- Implantar planos;

- Avaliar resultados e renovar o processo de planejamento.

Para tal planejamento, há a necessidade de compreender as características e

128

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

componentes básicos das estratégias corporativas, conforme Quadro 1.

Características Estratégia de Negócios Estratégia de Marketing

Escopo Planos de Guerra Planos de batalha

Questões Básicas Quais produtos, quais

mercados, com que

vantagem competitiva:

Quais variações de

produtos para quais

segmentos, a que preços,

como comunicar e

distribuir os produtos

Objetivos Amplos em termos dos

negócios, com alvos

específicos sbre lucros e

retorno sobre

investimentos.

Estreitos em termos de

segmentos, com volumes

específicos de vendas e

margens de contribuição

Horizonte de Planejamento Longo Prazo Médio Prazo

Recursos alocados para: Engenharia, produção e

marketing

Planejamento de produto,

promoção e distribuição

Foco Externo Macroambiente dentro do

contexto dos negócios

Focalização nos clientes

competidores, canais e leis

que afetam o marketing

Preocupação Principal Formular uma estratégia

global e integração

funcional

Formulação e

implementação,

administração de

marketing, relações

funcionais

Componentes Estratégia de Negócios Estratégia de Marketing

Escopo - Domínio de negócios

- Desenvolvimento da

estratégia de negócios

- Definições de

segmentação e

posicionamento

- Profundidade e amplitude

da linha de

produtos/serviços

- Política de marca

- Plano de

Desenvolvimento de novos

produtos/serviços

- Extensao da linha ou

eliminação de

produto/serviço

Objetivos - Fixados segundo os - Fixados segundo os

129

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

objetivos corporativos e

obedecendo seus limites

- Objetivos das unidades de

negócios

- Aumento e fortalecendo

as bases da vantagem

competitiva

objetivos corporativos e de

negócios obedecendo a

seus limites

- Objetivos de marketing

- Vendas

- Participação de

mercado

- Margem de

contribuição

- Satisfação do

consumidor

Alocação de Recursos -Alocação entre

produtos/mercados da

unidade de negócios

- Alocação entre os

departamentos funcionais

ou processos dentre de

cada unidade de negócios

Alocação pelo

componentes do plano de

marketing para cada

produto/serviço

Fontes de Vantagens Estratégia competitiva

superior; competências das

unidades de negócios

relativas aos mesmos

concorrentes do mesmo

ramo industrial

Posicionamento superior

dos produtos/serviços;

superioridade em um ou

mais componentes de

composto de marketing em

relação aos concorrentes de

um mercado específico

Sinergia Recursos compartilhados,

incluindo imagem

favorável junto aos clientes

ou competências

funcionais entre os

mercados de cada negócio.

Recursos de marketing,

competências e atividades

compartilhadas em cada

mercado.

Quadro 1: Estratégia de Marketing, adaptado Siqueira (2005)

Para que o planejamento ocorra de forma a garantir o sucesso organizacional, a

formulação da estratégia deve envolver uma análise da situação atual, selecionar as estratégias

adequadas, e colocá-las em prática, seguindo um controle para que sejam realizadas as

devidas adequações.

Segundo Siqueira (2005) é necessário definir os objetivos e partir para a análise

interna da empresa, onde são avaliadas a eficiência operacional e a eficácia estratégica.

Partindo dessa análise, é realizada a análise externa, em que há questões relevantes a serem

analisadas, como:

- o setor de negócio é atrativo?

130

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

- a empresa tem uma posição vantajosa no setor?

- quais são as forças competitivas?

- quais os sistema de valor?

Ainda dentro do planejamento de marketing há que se analisar também a SWOT,

ferramenta de marketing, que vem das iniciais das palavras inglesas Strenghts (forças),

Weaknesses (fraquezas), Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças), pois estes são

justamente os pontos a serem analisados (Yuan, 2013).

Ameaças e oportunidades - Uma das partes da análise SWOT é o estudo do ambiente

externo à organização, em busca de ameaças e oportunidades.

Forças e fraquezas - A outra parte da análise SWOT trata dos pontos fortes e fracos da

organização, ou seja, de seu ambiente interno.

Sistema Baseado em Conhecimento

De acordo com o artigo “Designing a knowledge-based system for strategic planning:

A balanced scorecard perspective”, de Huang (2009) o usuário de computador de alta

tecnologia define sistema baseado em conhecimento como um sistema de computador

concebido para imitar o problema humano resolvendo esse, através de uma combinação de

artificial inteligência e uma base de dados de conhecimento específico assunto.

Onde, sistemas baseados em conhecimento são baseados em artificial inteligência (AI)

através de métodos e técnicas para o processamento na solução de problemas, com

informações úteis para a tomada de decisão.

Para complementar Dhaliwal e Benbasat (1996) propõem que o SBC (Sistema

Baseado em Conhecimento) possuem quatro principais componentes que se baseiam na

seguinte estrutura: o conhecimento-base, motor de inferência, o conhecimento, com base na

ferramenta de engenharia, e interface de usuário específico, já para Chau e Albermani (2002)

compreendem-se em três componentes: o conhecimento de base, o contexto e o mecanismo

de inferência, sendo em ambos o conhecimento, o componente principal, que são

representados através de programação com o uso de “if” (condição).

Rocha (2009) completa ainda dizendo que um Sistema de Especialista consiste em

“cinco recursos principais, sendo: pessoas, hardware, software, dados e redes”, onde: pessoas

são os usuários finais ou especialistas; hardware são máquinas; software são programas e

procedimentos; dados são bancos de dados e bases de conhecimento; e redes são mídias e

redes de comunicações, ou seja, caso se tenha uma base de conhecimento especialista pode-se

colocar as informações em um sistema e utilizá-la de forma que auxilie na tomada de decisão,

minimizando riscos e tempo.

Na mesma linha Rezende e Abreu (2003) referem-se aos benefícios que as empresas

procuram obter com o uso de Sistemas de Especialista: a) melhoria na tomada de decisões,

por meio do fornecimento de informações mais rápidas e precisas; b) estímulo de maior

interação entre os tomadores de decisão; c) carga de trabalho reduzida; d) redução de custos

operacionais; e) melhoria na estrutura organizacional, por facilitar o fluxo de informações; f)

redução da mão-de-obra burocrática; g) aperfeiçoamento nos sistemas, eficiência, eficácia,

efetividade, produtividade; h) melhoria no acesso às informações, propiciando relatórios mais

precisos e rápidos, com menor esforço; i) fornecimento de melhores projeções dos efeitos das

decisões; j) redução dos níveis hierárquicos.

Bueno (2005) complementa ainda que o Sistema Baseado em Conhecimento o SBC

131

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

possui como principal característica uma base de conhecimento e um mecanismo de

raciocínio capaz de realizar inferências sobre essa base e obter conclusões a partir desse

conhecimento, pois o especialista é a base do conhecimento. Rezende (2003) ressalta ainda

que os SBC requer conhecimento sobre a habilidade, a experiência e as heurísticas usadas

pelo especialista, além de uma profunda interação com este profissional, sendo necessário

muitas vezes, uma equipe de especialistas em diversos assuntos para sanar as dúvidas e

realizar inferências para que o sistema tenha um resultado confiável. Por essa razão, a

utilização de SBCs é crescente, principalmente nas organizações com amplas bases de dados

para o gerenciamento do conhecimento.

Sistemas baseados em conhecimento (SBC) são, portanto, ferramentas baseadas em

computador que facilitam a decisão gerencial apresentando várias alternativas eficazes,

segundo Huang(2009).

O Sistema Baseado em Conhecimento e o marketing

Sabe-se que no marketing o objetivo principal é identificar é identificar a melhor hora

de colocar um produto no mercado e colocando-o da melhor forma possível para que se

obtenha um sucesso em vendas. No artigo “ “Developing a marketing decision model using a

knowledge-based system”, de Yavuz et al. (2004), analisar o ciclo de vida do produto e saber

em qual fase o produto se encontra, é de extrema importância, sendo ele na fase de

lançamento, crescimento, maturidade ou declínio. E um sistema baseado em conhecimento de

especialistas, poderia identificar a melhor forma de analisar essa fase, identificando se é

melhor manter o produto no mercado, lançar um novo produto ou ainda continuar a investir.

Afinal, a estratégia de lançamento de um novo produto está relacionada à criação de

um mercado. Porter (1989) e Olson et al. (2010) acrescentam também que as empresas mais

criativas e inovadoras têm a oportunidade de se permitirem arriscar em novos caminhos, nos

quais se pode analisar oportunidades e conquistar mercado, além de propor valores, novos

modelos de precificação e relacionamento com clientes que possuem necessidades únicas;

porém, para isso, é necessário o entendimento do mercado, completa Siqueira (2005) e

Zenone (2011). E esse entendimento do mercado de acordo com Yavuz et al. (2004) pode ser

facilitada com o uso de Sistemas Especialistas, pois são avaliados indicadores do micro e

macro ambiente, o qual inclui fatores de mercado, além de comparação entre produtos rivais,

no que tange ao desempenho.

Se de acordo com Cobra (1989) o planejamento de marketing é uma importante

ferramenta, pois assume um elo importante entre os recursos disponíveis dentro da

organização e os objetivos estabelecidos, por essa organização, para o período considerado, o

uso do Sistema Baseado em Conhecimento, pode fornecer benefícios para a tomada de

decisão.

De acordo com Rocha (2009), tendo como foco o Marketing a análise da

competitividade, observa-se uma mudança da concepção de informações e sistemas de

informações, que passa a ser um recurso estratégico

Assim os sistemas baseados em conhecimentos, iniciam um destaque, pois:

o Substancial aumento de desempenho.

o Captura conhecimentos, ou seja, a experiência dos especialistas é perdida com

o tempo, no momento em que eles se especializam em outros problemas ou

trocam de trabalho. Um sistema especialista nunca esquece um procedimento,

nem mesmo em seus mínimos detalhes.

132

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

o Possuem a mesma velocidade e dinâmica de um especialista vinte e quatro (24)

horas por dia, durante todos os dias.

o Significativo aumento da produtividade, devido a agilidade na tomada de

decisão.

o Com sistemas especialistas uma tarefa de grande complexidade pode ser

realizada por funcionários que não sejam experts, porém que entendam sobre o

assunto e ferramenta.

o Sistemas especialistas podem combinar a capacidade de um especialista com a

velocidade e precisão de uma máquina.

E se passa a ser um recurso estratégico é necessário um entendimento a certo do tema,

que pode ser melhor descrito no tópico abaixo.

Estratégia e estratégia de marketing

Alcançar um melhor entendimento das estratégias na gestão do mercado é uma

questão importante. Assim, é necessário iniciar uma discussão sobre estratégia, ou seja, como

tem sido definido esse conceito. (NDUBISI et al. 2011)

O conceito de estratégia origina-se do grego, da palavra strategos, que significa “arte

do general” (Mintzberg e Quinn, 1991), conceito esse que vinha fundamentado nas atividades

militares, no qual o foco era vencer as tropas inimigas.

Já para autores renomados da área, “estratégia” vem sendo defendida da seguinte

forma:

Andrews (1980): define estratégia como sendo um padrão de decisões que determinam

e revelam os objetivos da empresa, produzem as principais metas e planos, identificam

o segmento de negócio no qual está a empresa, o tipo de organização econômica e

humana que ela é ou pretende ser e a natureza das contribuições econômicas e não

econômicas a serem oferecidas aos acionistas, empregados, clientes e comunidade;

Ansoff (1990): desenvolveu uma matriz, que é utilizada para determinar oportunidades

de crescimento de unidades de negócio de uma organização. A matriz tem duas

dimensões: produtos e mercados. Sobre essas duas dimensões, quatro estratégias

podem ser formadas:

penetração de mercado: a empresa tenta conquistar clientes da concorrência e

introduzir produtos existentes em mercados externos ou introduzir novas marcas no

mercado;

desenvolvimento de mercado: a empresa foca na mudança de clientes ocasionais para

clientes regulares e de clientes regulares para usuários intensivos do produto;

desenvolvimento de produtos: a empresa busca vender outros produtos a clientes

regulares, frequentemente intensificando os canais de comunicação existentes;

diversificação: é a mais arriscada das estratégias. A empresa normalmente foca na

comunicação, explicando por que está entrando em novos mercados com novos

produtos, visando a ganhar credibilidade.

Chandler (1962): está relacionada a determinar os objetivos a longo prazo, preparar a

organização para a ação, a adotar políticas para o crescimento empresarial;

133

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Drucker (1994): é uma perspectiva, uma maneira como a empresa responde às

questões como: “O que é nossa empresa?”, “Qual é a sua missão?”, “O que ela deveria

ser?”, “Quais deveriam ser seus objetivos atuais e futuros?

Mintzberg (1979): conceitua estratégia empresarial de forma mais abrangente

propondo, assim, cinco definições de estratégia, denominando-as de 5 P’s plano,

pretexto, padrão, posição e perspectiva (plan, ploy, pattern, positioning e perspective),

com o foco em entender em qual contexto a organização está inserida e como ela se

transforma, dependendo da força existente em sua estrutura e nas mudanças que

ocorrem no ambiente competitivo, obrigando-a a reagir e adaptar-se a este novo meio;

Porter (1989): o caminho para atingir uma vantagem competitiva, pelo posicionamento

da empresa e a criação da cadeia de valor.

O ponto crucial, portanto, é entender o pensamento estratégico de cada empresa, que

proporcionará a ela um diferencial. E, se esta souber posicionar-se com eficácia, conquistará

sucesso; afinal, estratégia, na sua versão mais simples, é seguir uma direção, uma vez que “é a

busca deliberada de um plano de ação para desenvolver e ajustar a vantagem competitiva da

empresa”, segundo Montgomery e Porter (1998, p. 5).

Seguindo o conceito de estratégia, Montgomery e Porter (1998) trabalham como

destacar uma empresa da de seus rivais. Com isso, o setor industrial vem estudando forças

internas e externas, analisando como se diferenciar da concorrência, com o intuito de avaliar o

potencial de lucratividade, conforme Figura 3.

Figura 3: Esquema do desenvolvimento da estratégia econômica

Fonte: Montgomery e Porter (1998)

Seguindo essa linha, Cravens (1988) e Olson et al. (2010) referem-se ao

desenvolvimento da estratégia de marketing para ganhar vantagem competitiva, processo no

qual se deve analisar as necessidades do mercado, ameaças competitivas, além de ser feita

uma análise situacional que inclui forças, fatores ambientais e vantagens exclusivas da

empresa, chamadas também de variáveis internas, de acordo com Kotler e Armstrong (2010).

134

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

O processo de implantação da estratégia de marketing envolve a obtenção da vantagem

competitiva, e para isso é necessária a capacidade de adaptar, integrar e implantar.

Para Ries et al. (1986) e Zenone (2011), o princípio básico da estratégia é tê-la

claramente definida; para isso, é necessário atingir a excelência e comunicá-la constantemente

aos clientes, empregados e acionistas, pois o foco principal é identificar a razão do cliente

comprar com você e não com um de seus concorrentes.

O papel crucial do marketing estratégico é orientar a empresa a utilizar seus recursos e

suas competências e explorar melhor as oportunidades de mercado. Para tanto, é necessário

criar um processo de implementação, que, segundo Siqueira (2005), é definido da seguinte

forma:

– Decisões dos objetivos e estratégias corporativas;

– Análise das oportunidades de mercado;

– Desenvolvimento de estratégias de marketing;

– Formulação de programas de marketing para situações específicas;

– Implantação e controle das estratégias e programas de marketing.

Assim se tem a importância do posicionamento, como visto anteriormente, como

forma de compor a estratégia, pois está relacionada à pesquisa e implementação de ações que

façam o produto/ serviço causar uma percepção diferenciada, comparada a dos produtos

concorrentes, segundo Ries et al. (1986).

Kanagal (1999) e Brown (1993) ainda completam que o marketing estratégico envolve

uma análise de mercado também em relação aos fornecedores, governo e gestão interna, Ries

et al. (1986) no que tange a forças, fraquezas, competências comerciais e restrição de

recursos.

E com base no objetivo de marketing, na análise estratégica de mercado, na análise

interna (variáveis controláveis), a estratégia de marketing para uma determinada decisão é

desenvolvida baseada em um problema, o qual inclui decisões a respeito dos 4 P’s (produto,

preço, praça e promoção). No processo de desenvolvimento da estratégia de marketing,

também é analisada a concorrência, e só então a estratégia é implementada. E quaisquer

desvios do plano podem ser feitos de acordo com o controle, conforme Figura 4. Há ainda que

se identificar no processo os objetivos, que podem ser desde maximização do lucro,

maximização da participação de mercado, maximização das vendas, melhoria da imagem da

marca, melhoria da satisfação do cliente, fornecimento de valor ao cliente e até manutenção

de preço competitivo (KANAGAL, 1999).

Figura 4: Estrutura do marketing estratégico

Fonte: Kanagal (1999)

135

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Se for analisado que a empresa, seguindo Montgomery e Porter (1998), busca um

processo interativo para identificar a procura pelo seu conhecimento, onde o ponto crucial é

“quem somos?” e “o que temos neste momento?”, pode-se analisar que os principais

concorrentes, ou os principais competidores são os mais parecidos com você. Para se destacar,

é necessário criar uma vantagem sobre os demais.

Kaplan e Norton (1997) caracterizam estratégia como a escolha dos segmentos de

mercado e clientes que as unidades de negócios pretendem servir, logo identificando os

pontos críticos, para que a empresa atinja a excelência, o que pode ajudá-la a concretizar suas

propostas de valor aos clientes-alvo, e selecionando as capacidades individuais e

organizacionais para atingir o objetivo.

Os elementos básicos para competição estratégica seguem da seguinte forma: (1)

capacidade de compreender o comportamento competitivo, no qual concorrentes, clientes,

dinheiro, pessoas e recursos interagem; (2) capacidade de usar a compreensão como dado

estratégico para alterar o equilíbrio competitivo; (3) reinvestimento com o objetivo de gerar

benefícios; (4) capacidade de prever riscos e lucros com exatidão para justificar o

investimento; (5) disposição de agir, para o que Montgomery e Porter (1998) completam que

estratégia envolve tudo e requer comprometimento e dedicação por parte de toda organização.

Dentro do escopo da estratégia de marketing, de acordo com Varadarajan (2009), na

Figura 5, a empresa deve analisar itens como: processo estratégico de marketing,

comportamento da estratégia de marketing, análise interna e externa do ambiente da

organização, estratégia de marketing de relacionamento, interface horizontal e vertical.

Baseando-se nesses itens, pode-se ter um domínio do campo geral do método que a empresa

deve seguir para estruturar sua estratégia de marketing.

Figura 5: Domínio do campo do marketing estratégico

Fonte: Varadarajan (2009)

136

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Concluindo, Varadarajan (2009) afirma que a estratégia de marketing da organização

deve estar integrada às decisões, as quais devem especificar escolhas sobre produtos/ serviços,

mercados, atividades de marketing e recursos de marketing na criação, comunicação e/ ou

entrega desses produtos/ serviços que agreguem valor aos clientes, e assim permitir que a

empresa possa alcançar seus objetivos; ou seja, a proposta de decisão constitui uma ampla

definição, que engloba praticamente todas as questões de marketing estratégico delineado,

conforme Quadro 2.

Marketing estratégico Decisões, estratégias e constructos a

respeito de marketing estratégico

Como competir?

Estratégia da marca;

Estratégia de marca única;

Introdução de um novo produto;

Estratégia de canal;

Estratégia de posicionamento;

Estratégia de preços;

Estratégia de promoção.

Empurrar estratégia x puxar estratégia

Como competir no mercado de cada país?

Estratégia de marketing multinacional/

estratégia de marketing competitivo

global.

Padronização das variáveis específicas de

marketing da concorrência (por exemplo,

posicionamento, branding)

Onde competir? Estratégia para o mercado-alvo;

Segmentação de mercado.

Onde e como competir? Estratégia, âmbito do negócio;

Clientes (mercados e segmentos de

mercado);

Satisfação do cliente;

Tecnologia;

Criação de valor;

Estratégia de cobertura de mercado do

produto.

Qual a estratégia global? Estratégia de condução do mercado

(formação, influenciando/ modificando o

ambiente de mercado) x estratégia

orientada para o mercado (de forma

adaptativa, respondendo ao ambiente de

137

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

mercado).

Estratégia de estimulação da procura

primária (aumentando o tamanho do

mercado para os produtos) versus

estratégia de estímulo à procura seletiva

(aumentando a participação da empresa no

mercado de um produto).

Quando entrar em um mercado? Pioneiro no mercado;

Estratégia em todos os mercados;

Entrada simultânea para os mercados dos

países mais importantes;

Entrada sequencial em mercados dos

países mais importantes.

Como entrar em um mercado? Estratégia de entrada no mercado;

Desenvolvimento interno x aquisição x

joint venture/ aliança estratégica.

Qual deve ser a estratégia de crescimento? Alternativas de crescimento do produto-

mercado.

Penetração no mercado (promovendo

produtos presentes no presente mercado) e

estratégia de desenvolvimento do mercado

(promovendo produtos atuais em novos

mercados).

Estratégia de desenvolvimento de produto

(desenvolvimento de novos produtos para

os mercados atuais).

Ênfase relativa em estratégias de

inovação.

Desenvolvimento de variedades de

extensão de novos produtos.

Retenção de clientes atuais (estratégia

defensiva) x maior ênfase na aquisição de

novos clientes (estratégia ofensiva).

Estratégia de CRM.

Quadro 2: Marketing estratégico

Fonte: Varadarajan (2009), adaptado

Com base nos autores estudados até o momento, nota-se que toda empresa precisa

desenvolver estratégias, assim como atividades de marketing. Com isso, mesmo sem

evidências, toda empresa, de certa forma, se comporta estrategicamente. Afinal, as atividades

organizacionais envolvem ações de análise de mercado, crescimento em vendas. Para Kotler e

138

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Armstrong (2010), “o desenvolvimento da estratégia de marketing abrange um conjunto de

estratégias que envolvem mercado-alvo, posicionamento e estratégia do composto de

marketing”, pontos que foram estudados anteriormente.

Segundo Olson et al. (2005) o modo como a diretoria determina a estratégia de

mercado é de extrema importância para a correta relação do posicionamento da empresa. O

que faz com que a empresa possa se diferenciar no mercado através de quatro tipos de

estratégias, são elas: garimpeiros, analisadores, defensor de baixo custo e Defensor de

diferencial.

O principal desafio do Garimpeiro é identificar e explorar novos produtos e

oportunidades, sua capacidade principal está na inovação e desenvolviemento de novos

produtos. Pode acompanhar de perto as reações do cliente e as atividades dos concorrentes, e

através das falhas podem-se identificar segmentos de melhoria do produto/serviço.

Analisadores procuram aperfeiçoar os produtos de sucesso e oferecer produtos comparados a

preços customizados. Defensor de baixo custo, está baseado na eficiência por meio de práticas

padronizadas e não em eficácia. E os defensores diferenciaveis direcionam seus produtos em

excelência de serviços e alta qualidade, sem terem o foco no preço, muitas vezes estão

atrelados à imagem.

Uma vez que a empresa definiu sua estratégia, o foco da administração tende a alterar

o comportamento estratégico da organização que pode partir de: comportamento orientado

para o cliente, comportamento orientado para o concorrente, comportamento orientado para

inovação e comportamento orientado para custos.

Se a estratégia da empresa estiver focada no comportamento orientado ao cliente,

segundo o estudo realizado por Olson et al. (2005), toda e qualquer prioridade estará focada

na criação e manutenção de valor ao cliente, de modo que a empresa deve antecipar a

evolução da necessidade do cliente, através do desenvolvimento de novos produtos/serviços.

Uma perspectiva diferente acontece na estratégia de comportamento orientado para o

concorrente, onde ocorre uma avaliação aprofundada do concorrente, com base em seus

objetivos, estratégias, ofertas, capacidades e disseminação de informações.

A terceira perspectiva sustenta que as empresas com comportamento em inovações

tendem a ter uma probabilidade em desenvolver radicalmente novos produtos. E a quarta

orientação é a focada em minimizar os custos internos, assim como Porter (1989) já se referia,

em que as empresas devem perseguir a eficiência em todas as partes da cadeia de valor e

devem procurar minimizar os custos com atividades primárias, como logística, operações,

vendas e marketing.

Em estudos, Rosier et al. (2010), Olson et al. (2010) relatam sobre a implementação

das estratégias de marketing, em que declaram que a maior dificuldade está na

implementação, de forma que pensar em estratégias de marketing é inevitavelmente mais

fácil, porém, as empresas muitas vezes não sabem que caminho seguir; daí a necessidade de

saber onde se pretende chegar e qual mercado pretende perseguir.

Em estudos realizados por Andrews e Smith (1996) foi descoberto que as atividades de

marketing estão atreladas positivamente pela análise situacional da empresa, o que inclui:

conhecimento do gerente do macro-ambiente, conhecimento empresarial da direção,

motivação para planejar, vontade em assumir riscos e um planejamento formal, o que reforça

a necessidade de saber identificar o mercado que deseja conquistar, no estudo de Olson et al.

(2005).

139

ECCOM, v. 6, n. 12, jul./dez. 2015

Considerações Finais

Se há uma busca no entendimento sobre a necessidade do consumidor, para saber o

momento certo da inserção do produto no mercado, fatores revisados no artigo como

marketing, estratégia de marketing e sistema baseado em conhecimento é de extrema

importância para o auxilio na tomada de decisão. O estudo com base em referências

bibliográficas, verifica que é adequado o uso de uma ferramenta que minimize os riscos,

através de uma investigação mais realista do problema, nesse caso, com o uso de especialistas

na área de marketing.

Com o uso de indicadores de micro e macro ambiente com base em diferentes variáveis é

possível definir circunstâncias no lançamento do produto no mercado, através de um sistema

especialista, promovendo assim um entendimento mais apurado do mercado com base em

diferentes análises.

Referências

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creativity of marketing programs for mature products. J Mark Res 1996; 33(May):174–

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