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MERCANTILISMO

Eco 167 - Mercantilismo

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resumo economia clássica, história do pensamento economico, resumo mercantilismo

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MERCANTILISMO

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O MERCANTILISMO Os escritores ingleses dos séculos XVII e XVIII não tiveram consciência de que estavam contribuindo para qualquer corrente de pensamento em particular e muito menos para uma tradição que seria posteriormente atacada, por Adam Smith e outros, sob o rótulo de mercantilismo. Não tinham em comum nem princípios nem instrumentos analíticos. Não obstante, ao longo de trezentos anos de esforços intelectuais desordenados, plenos de controvérsias, e refletindo uma grande diversidade de circunstâncias, repetidas vezes aparecem alguns fios condutores doutrinais. São estes fios que unimos em algo chamado “mercantilismo”, assim impondo a essa literatura um sentido de unidade e lógica muito maior do que na realidade possuía. O cerne do mercantilismo é a tese de que o ouro e a prata são a essência da riqueza e uma balança comercial superavitária é a forma de acumular esses metais e assim gerar a prosperidade nacional. As principais políticas defendidas pelos mercantilistas para atingir esse objetivo são: (i) a regulação do comércio com o exterior de forma a gerar a entrada líquida de ouro e

prata; (ii) a promoção da indústria pela importação de matérias primas baratas; (iii)a cobrança de direitos alfandegários sobre a importação de manufaturados; (iv) a concessão de incentivos às exportações, particularmente de produtos acabados; e (v) a ênfase no aumento da população, para manter baixos os salários. Thomas Mun (1571-1641) O mais conhecido e respeitado dos mercantilistas do século XVII foi Thomas Mun, fllho de um mercador de tecidos que chegou a diretor da East India Company e escreveu dois trabalhos principais: (i) A Discourse of Trade from England into the East Indies (1621), no qual ele usa de

todos os argumentos que conseguiu imaginar para defender a East India Company contra a crítica de que ela exportava ouro e prata para o Oriente em troca de especiarias e assim provocava uma perda de metais preciosos prejudicial à economia inglesa; e

(ii) England’s Trasure by Forraign Trade (1661), publicado postumamente, no qual ele

afirma que:

“The ordinary means ... to increase our wealth and treasure is by Forraign Trade, wherein wee must ever observe this rule; to sell more to strangers yearly than wee consume of theirs in value ... [T]hat part of our stock which is not returned to us in wares must necessarily be brought home in treasure.”

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Mun entendeu que a oferta doméstica de moeda cresceria, como resultado de uma balança comercial superavitária, e causaria uma inflação que, por sua vez, aumentaria o custo da produção local e gradativamente reduziria as exportações. Mas imaginava que esse perigo pudesse ser afastado, fazendo-se com que todo o excedente obtido no comércio exterior fosse investido – um erro que só foi esclarecido posteriormente, por Richard Cantillon e David Hume. William Petty (1623-87) Outro famoso mercantilista do século XVII foi William Petty, um dos primeiros a pensar e escrever sistematicamente sobre economia e a aplicar princípios econômicos à análise da vida e dos negócios. A despeito de ter nascido em uma família pobre, formou-se em medicina em Oxford, onde ensinou anatomia por pouco tempo, antes de abandonar a vida acadêmica e entrar para o exército irlandês e acumular terras e riqueza. Na década de 1660, ajudou a fundar a Royal Society for the Improving of Natural Knowledge, cuja agenda era usar o método científico de observação e experimentação sugerido por Francis Bacon para analisar o mundo natural e a sociedade humana. Petty escreveu diversos trabalhos. Em Taxes and Contributions, ele se opôs à acumulação contínua de metais preciosos, recorrendo ao que já se chamou de “doutrina da necessidade de comércio” a propósito da quantidade de moeda:

“Há uma medida certa e uma proporção exata necessárias para conduzir o comércio de uma nação e qualquer desvio, para mais ou para menos, prejudicaria o mesmo.”

Além disso, ao estimar o valor de todas as propriedades da Inglaterra na década de 1680, concluiu que a quantidade de ouro e prata representava menos de 3 por cento do total. Isto não impediu que outros escritores posteriores viessem a identificar a quantidade de moeda com a riqueza nacional ou preconizassem um saldo permanentemente favorável na balança comercial. Em seu Political Arithmetic (1671) e em outros trabalhos, Petty introduziu o uso de dados e números para fazer análise econômica. Mas, a despeito de sua maior produção de trabalhos empíricos, fez algumas importantes contribuições teóricas. Por exemplo, antecipou a teoria fisiocrática do aluguel da terra, atribuída a Quesnay. Petty é, em geral, classificado como mercantilista, por ter defendido que a Inglaterra deveria buscar um superavit comercial com o exterior. Entretanto, além de justificar esse superavit pela criação de empregos, não pela acumulação de riqueza, Petty divergia dos mercantilistas em vários outros aspectos. Por exemplo, reconhecia benefícios no comércio internacional livre, embora visse nas finanças públicas - na composição do dispêndio e na forma de taxação do governo - um fator mais importante que o comércio internacional para o bem-estar econômico de uma nação.

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John Locke (1632-1704) Nascido em uma família moderadamente rica, Locke formou-se por Oxford, onde ensinou a partir de 1660. Depois de servir ao governo, retornou à vida privada em 1675, dedicando-se desde então à Filosofia e à Economia. Suas obras principais foram An Essay on Human Understanding (1690), Two Treatises on Government (1690), Some Considerations of the Consequence of the Lowering of Interest and Raising the Value of Money (1691) e Several Papers on Money, Interest and Trade (1696). Locke foi primordialmente um filósofo, mas deu também importantes contribuições à Economia. Como filósofo, forneceu justificativas para a propriedade privada e para ao Estado e deu uma base metodológica à Economia, caracterizando os indivíduos como racionais defensores de seus próprios interesses, contrariamente às idéias prevalecentes, que encaravam as pessoas como altruístas seguidoras de ditames religiosos. Uma vez que as pessoas se comportam de maneira previsível, leis e princípios econômicos poderiam ser desenvolvidos. Também contribuiu para a teoria da moeda e dos juros. Argumentou contra o estabelecimento por lei de um limite de 4% para as taxas de juros, conforme proposta por Josiah Child em meados do século XVII, mostrando que isso apenas redistribuiria o ganho entre tomador e emprestador, mas não beneficiaria a sociedade como um todo, pois não aumentaria os empréstimos e os investimentos; ao contrário, poderia até reduzí-los. Argumentou também contra um plano governamental para a desvalorização da moeda, mostrando que isso só faria aumentar os preços, o que o fez um precursor da teoria quantitativa da moeda. Richard Cantillon (1687?-1734?) Richard Cantillon é uma figura misteriosa e fascinante. Poucos detalhes do seu nascimento são conhecidos e suas atividades financeiras, assim como sua morte, muito controvertidas. Embora tenha dedicado sua vida a ganhar dinheiro, Cantillon escreveu - em francês - o primeiro tratado realmente de Economia, denominado Essai sur la nature du commerce en général (1755), um estudo descrevendo a economia como um fluxo circular de bens e de moeda, que exerceu uma forte influência sobre os fisiocratas. Cantillon também contribuiu para a construção de uma teoria monetária e foi o primeiro a descrever o mecanismo dos fluxos de moeda metálica (specie flow mechanism), que demonstrou como a acumulação de metais preciosos em um país, resultante de superavits comerciais, não pode ser permanente. Foi também o primeiro a explicar o papel desempenhado pelos empresários, ao assumir e bancar riscos, dentro de uma economia. Entretanto, defendia o protecionismo e a manutenção de superavits comerciais em produtos manufaturados, mais por razões militares que econômicas.

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David Hume (1711-76) Hume nasceu em Edinburgo, Escócia, em uma família moderadamente rica. Estudou na Universidadede Edinburgo, sem completar o curso. Não conseguindo um cargo de professor universitário, foi tutor do Marquês de Annandale e secretário de um general. Em 1752, foi contratado pela Biblioteca dos Advogados de Edinburgo, o que lhe deu acesso a um grande número de livros e lhe possibilitou escrever uma admirada History of England (1757-62). É considerado um grande filósofo e economista. Seus ensaios estão coletados em Essays, Moral, Political and Literary (1875) e Writings on Economics (1955). Em Economia, contribuiu com teorias da moeda e do comércio internacional, todas amplamente comprovadas hoje em dia.. Primeiro, ele explicou a posição do capitalista em uma economia, justificando-o pela frugalidade e a poupança, que acumula capital para a sociedade. Sua análise fornece também uma teoria dos juros, denominada “teoria dos fundos de empréstimo”(“loanable funds theory”). Ele também explicou como uma maior oferta de moeda só pode provocar, a longo prazo, um aumento dos preços, deixando a produção e o emprego inalterados. Além disso, desenvolveu a teoria do mecanismo dos fluxos de moeda metálica (“specie flow mechanism”) que demonstra como as forças econômicas automaticamente corrigem os desequilíbrios na balança de comércio entre todos os países, impedindo que se mantenham por longos períodos. Embora muitos historiadores econômicos classifiquem Hume como um pensador mercantilista, seu mecanismo dos fluxos de moeda metálica coloca em dúvida essa interpretação, pois a lógica desse mecanismo deixa claro que o objetivo mercantilista de um superavit comercial permanente é um sonho inatingível. Finalmente, Hume examinou a questão, muito discutida em sua época, do que acontece quando um país rico mantém comércio livre com um país pobre, concluindo que o país pobre é beneficiado, sem causar nenhum prejuízo ao país rico, de tal forma que os seus níveis de riqueza convergem.. Os mercantilistas e a teoria quantitativa da moeda Os mercantilistas defendiam a teoria segundo a qual a moeda “acelera” o comércio por aumentar a velocidade de circulação das mercadorias. A conhecida identidade MV PT transforma-se numa teoria quando se relacionam as variáveis de determinada maneira. Na teoria quantitativa da moeda, M está ligado a P, sendo T determinado por forças reais e V por hábitos relativos a formas de pagamento e pelas instituições financeiras da economia. Os mercantilistas deram maior ênfase aos efeitos de M sobre T e não P. Na sua formulação inicial, feita por Locke, a teoria quantitativa estabelecia simplesmente que o nível de preços está sempre em proporção com a quantidade de moeda, nesta última se considerando incluída a velocidade de circulação. Comparam-se dois fluxos: a quantidade total de moeda em circulação em determinado período e o volume total de mercadorias transacionadas durante o mesmo período, asim demonstrando-se que o montante do estoque de moeda não tem significado para a riqueza de uma nação. Esta tese

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obviamente colide com os princípios mercantilistas, mas Locke não deixa de ser por isso um mercantilista, pois ele considerava mais vantajoso para um país ter um estoque de moeda superior ao de qualquer outro país. Hume interpretou a mesma identidade segundo a versão comumente aceita: se T e V forem insensíveis as variações na quantidade de moeda, M e P variarão proporcionalmente. Ou seja, Locke enxergou a teoria como estática comparativa; Hume interpretou o argumento de Locke num sentido dinâmico. Talvez o melhor representante da teoria segundo a qual o dinheiro estimula as trocas tenha sido o conhecido mercantilista do papel-moeda, John Law. A argumentação apresentada em seu livro Money and Trade Considered (1705) baseia-se essencialmente na inflação de lucros e na premissa de que “um acréscimo da moeda dará emprego às pessoas que presentemente estão ociosas”. É evidente que o raciocínio de Law pressupõe que a oferta de mercadorias seja altamente elástica, de tal maneira que uma pequena subida nos preços conduza a grandes aumentos no montante de bens oferecidos. Ele acentuou a necessidade de um aumento gradual da oferta da moeda, de forma a não se alterar o nível de salários e preços que se estabelecera em função da distribuição de moeda vigente a nível internacional. Cantillon acentuou o fato de que um aumento de M provoca não só um aumento no nível de preços mas, também, uma alteração na estrutura dos mesmos, dependendo de quem são os primeiros a receber aquele aumento de M e da sua demanda relativa de bens. O efeito diferenciado de uma injeção de moeda, determinado pela natureza dessa injeção, é designado por Efeito Cantillon. Os mercantilistas e a taxa de juro A idéia de que a taxa de juro varia inversamente com a quantidade moeda encontra-se, por exemplo, em Petty, Locke e Law. Ela assentava na idéia vulgar de que, como o juro é o preço pago pelo aluguel de dinheiro alheio, ele é mais baixo quando o dinheiro é mais abundante, da mesma maneira que o preço de uma mercadoria baixa quando ela é menos escassa. Adam Smith acusou Locke e Law de acreditarem que a demanda por moeda cairá porque o poder de compra da moeda terá baixado. Esse erro, aponta Smith, foi inteiramente esclarecido por Hume: dado que o único efeito de uma oferta acrescida de moeda é elevar o nível de preços, é óbvio que a taxa de juro não será afetada porque ela é meramente uma razão entre duas somas de dinheiro. Contudo, é pouco provável que alguém tenha alguma vez defendido o ponto de vista atacado por Smith. Antes, como disse Cantillon, é “idéia comumente aceita, partilhada por todos aqueles que têm escrito acerca do comércio, que uma quantidade acrescida de moeda em circulação num país faz baixar a taxa de juro porque, quando a moeda é abundante, é mais fácil encontrar quem a empreste”. Hoje se sabe que a taxa de juro não é determinada apenas pela quantidade de moeda, mas também por forças “reais”, representadas na demanda por investimento e na função

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consumo. Os economistas clássicos podem ter errado ao desprezarem a influência das forças monetárias sobre a taxa de juro, mas houve efetivamente progresso na análise quando eles rejeitaram as explicações da taxa de juro unicamente em termos da quantidade de moeda. Defesas do mercantilismo A severa condenação dos erros mercantilistas feita pela teoria clássica não foi posta em causa durante mais de cem anos. Keynes, porém, nas “Notas acerca do Mercantilismo” inseridas em seu livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, faz uma defesa vigorosa do mercantilismo, argumentando que, assim que se compreenda que um sistema econômico não tende automaticamente para uma situação de pleno emprego, os argumentos dos clássicos contra as políticas mercantilistas, baseados na divisão internacional do trabalho, perdem muito de sua força. Segundo Keynes, a preocupação dos mercantilistas com o afluxo de ouro não era uma obsessão pueril, mas um reconhecimento intuitivo da relação entre abundância de ouro e baixas taxas de juros. Quando o investimento público direto ou a política monetária estão fora de questão, como acontecia até há alguns anos atrás, o melhor que podia ser feito para se alcançar o pleno emprego era encorajar a inflação através de uma balança comercial superavitária. O excedente de exportações serve para manter elevados os preços e a entrada de ouro faz baixar as taxas de juros, assim estimulando o investimento e o emprego por aumentar a oferta de moeda. Este seria, reconheceu Keynes, “o elemento de verdade científica da doutrina mercantilista”. O erro básico da interpretação de Keynes - como aponta o economista sueco Eli Heckscher em sua crítica às “Notas acerca do Mercantilismo” de Keynes - consiste em acreditar que o desemprego na época mercantilista tinha um caráter semelhante ao desemprego involuntário e cíclico que ocorre nas economias industrializadas, quando esse tipo de desemprego era praticamente desconhecido antes da Revolução Industrial. O desemprego involuntário keynesiano se refere a uma situação em que o fluxo de investimento é insuficiente para absorver a poupança que resultaria da renda de pleno emprego. O desemprego dito marxiano, por outro lado, é resultante da escassez relativa de capital face à oferta de trabalho. Nessas circunstâncias, é a falta de poupança, e não a demanda insuficiente, que impede a expansão da produção. O desemprego marxiano é um problema estrutural, não um problema cíclico. Por essa razão, o investimento público ou uma política monetária expansionista, eficazes para remediar o desemprego keynesiano, apenas geram inflação sem conduzirem ao pleno emprego, quando o desemprego é marxiano. Na realidade, muito pouca coisa na literatura mercantilista sugere que, naquela época, o interesse por esquemas de fomento do emprego derivava do reconhecimento de que este era devido a uma insuficiência (ou queda) da demanda efetiva. Pior do que isso, eram recomendados esquemas sem a mínima preocupação com a necessidade de estimular a

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poupança ou de criar instituições apropriadas para canalizar esses fundos de poupança para os investidores potenciais. Recentemente, um historiador britânico, Charles Wilson, mostrou que a necessidade de moeda forte pela Inglaterra no período mercantilista se justificava por suas circunstâncias: ela não produzia praticamente nada que pudesse exportar e, para cobrir suas necessidades de trigo do Báltico e dos artigos das Índias Orientais que não tinham sucedâneos na Europa - tais como têxteis, corantes, açúcar, café, chá e salitre - precisou, inclusive, pressionar o seu comércio colonial para obter a quantidade necessária de metais preciosos. Essa discussão levanta a hipótese de que, na presença de um mercado financeiro internacional pouco desenvolvido, o comércio livre e multilateral era impraticável e a manutenção de controles bilaterais, imprescindível - um elemento de racionalidade no pensamento mercantilista. Todo o corpo do pensamento mercantilista contém hipóteses não explicitadas acerca do mundo real, hipóteses que deveriam ser tão óbvias para os observadores da época que não precisavam ser mencionadas. A concepção estática da atividade econômica como um jogo de soma zero, no qual o ganho de um indivíduo ou de um país é igual à perda de outro, a aceitação tácita de que as necessidades são limitadas, uma demanda predominantemente inelástica, fracos incentivos pecuniários - todas estas são noções nada surpreendentes numa economia pré-industrial, acostumada a um crescimento da produção e da população tão lento que se torna quase imperceptível. Numa época em que o comércio se caracterizava por ganhos imprevistos, o comércio interno era esporádico e estava confinado a determinadas localidades, o emprego regular e a disciplina fabril eram praticamente desconhecidos, nada mais natural que considerar uma balança comercial superavitária como um aumento líquido das vendas, face a um mercado interno mais ou menos limitado, ou pensar que salários mais elevados fariam diminuir, não aumentar, a oferta de trabalho.

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O MERCANTILISMO RESUMO DO TÍTULO I - CAP. III DA HISTÓRIA DAS DOUTRINAS ECONÕMICAS DE PAUL HUGON Chama-se “mercantilismo” ao conjunto de idéias e práticas econômicas que floresceram na Europa, entre 1450 e 1750. No decurso desses três séculos o continente europeu sofre uma tríplice transformação – de ordem intelectual, política e econômica que assinala, na aurora desse período, o início dos tempos modernos. SEÇÃO I – OS FATOS PAR. 1o – TRANSFORMAÇÃO INTELECTUAL Com a Renascença, além das artes, transforma-se a vida intelectual, com o retorno às antigas fontes. Em primeiro lugar, o pensamento laiciza-se. A idéia materialista se junta às preocupações até então quase exclusivamente de ordem espiritual. Em segundo lugar, observa-se um retorno aos métodos de observação e experiência que possibilitarão o desenvolvimento da ciência moderna. O estudo científico vai substituir, em parte, a tradição; a noção de progresso se impõe. A idade de ouro já não é mais um sonho de retorno ao passado, mas a ambição de progresso futuro. Esta evolução do pensamento desenvolve ao mesmo tempo no homem da Renascença a curiosidade do saber e um ideal novo de bem-estar, de consumo, de luxo. A habitação se transforma. A alimentação se diversifica, tornando-se de uso corrente as especiarias e o açúcar. O prazer pelas viagens se desenvolve. O correio começa a funcionar no decurso do século XV. As estradas melhoram. Mas é sobretudo pela imprensa que essa transmissão de idéias se desenvolve de maneira decisiva e ilimitada. A essa curiosidade intelectual se junta uma vontade de criar, e de criar em todos os domínios. “Rien de trop” é um preceito antigo retomado na Renascença e através do qual se exprime essa vontade de descobrir “o homem e o mundo”, essa vontade de fazer recuar todos os limites do conhecido. A esse espírito da Renascença convém associar o trazido pela Reforma, não a de Lutero, que permanece medieval e estática, mas a de Calvino, que exalta o individualismo e a atividade econômica. O dogma calvinista da predestinação se concilia com o êxito material do indivíduo, estimulando sua atividade econômica, condenando sua ociosidade, apelando para sua consciência profissional, justificando a busca do lucro e o empréstimo a juros. A influência das idéias da Reforma sobre a formação e a evolução da mentalidade e do sistema capitalista surge como fato histórico inegável.

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PAR 2o – TRANSFORMAÇÃO POLÍTICA O século XVI vê surgir o Estado moderno. A centralização monárquica vai, a partir do século XV, tomando o lugar dos pequenos núcleos feudais. Surge a idéia de economia nacional, no sentido moderno dessa expressão, isto é, a concepção de Estado que coordena todas as diferentes forças ativas da nação – materiais e humanas. A nação doravante é um organismo econômico. Sob esse novo impulso dirigido, o mercado se expande: de regional que era, passa a nacional. PAR 3o – TRANSFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS O fim do século XV marca o início da era das grandes descobertas. Os limites do mundo parecem recuar. Não se trata de um acontecimento espontâneo, mas que resulta de do programa de pesquisa e desenvolvimento português para encontrar o caminho marítimo para o Oriente. À vida econômica rasga-se, então, o horizonte universal. Os metais preciosos do Novo Mundo afluem para a Europa, deslocando rapidamente o eixo econômico mundial. Os grandes centros comerciais marítimos, localizados até então no Mediterrâneo, desenvolvem-se agora no Atlântico e no Mar do Norte: é o início da prosperidade de Lisboa, Amsterdã, Londres e Bordéus. SEÇÕ II – AS IDÉIAS ECONÔMICAS E MONETÁRIAS PAR 1o – AS IDÉIAS REFERENTES À MOEDA Paralelamente ao considerável afluxo de metais preciosos para a Europa, no século XV, verifica-se, sobretudo na segunda metade desse século, uma rápida e considerável alta de preços nos principais países europeus. Os trabalhadores são seriamente atingidos por esse fenômeno. A sobrevivência das idéias medievais do justo preço e justo salário cristaliza em nível imutável a taxa de salários, a despeito da elevação do custo de vida. O descontentamento se generaliza, a opinião pública se inquieta. O rei Carlos IX encarrega seu conselheiro De Malestroit de estudar essa alta, indicando sua causa e o meio de remediá-la. No relatório apresentado ao rei em 1566, sob o título “Paradoxes sur le fait des monnaies”, Malestroit conclui não ter havido aumento de preço algum; a alta seria apenas aparente, ocasionada pela redução no valor das moedas. A quantidade de metal precioso entregue em troca de cada bem era a mesma: não houvera uma valorização real das coisas, mas apenas uma alta nominal de preços. Essa tese é refutada por Jean Bodin, em 1568, em sua “Réponse aux paradoxes de Monsieur de Malestroit”. Com o auxílio de estatísticas, demonstra ser a elevação dos

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preços superior à redução no valor das moedas e a verdadeira causa do fenômeno residir, portanto, no enorme aumento do estoque metálico monetário. Põe, assim, em evidência existir uma relação direta entre o movimento do estoque de metal precioso e os movimentos de preços, desenvolvendo aí o que de essencial existe na teoria quantitativa da moeda. A abundância de metais preciosos não constitui apenas o fundamento dessa controvérsia sobre a moeda mas é ainda o determinante de uma concepção central do mercantilismo: a idéia metalista. PAR. 2o – A IDÉIA METALISTA Essa idéia, deduzida fundamentalmente do exemplo da Espanha no século XVI, consiste em que a prosperidade dos países parece estar na razão direta da quantidade de metais preciosos que possuem. Daí nasce a convicção – predominante nos séculos XVI e XVII – de serem riqueza e quantidade de metal precioso possuídas por um país expressões de um só e mesmo fenômeno. É preciso dar a essa idéia “metalista” seu verdadeiro sentido. Os mercantilistas não vêem o ouro e a prata como a única riqueza, mas os consideram como o mais perfeito instrumento para a aquisição de riqueza. “Tudo é seu, se tiver dinheiro”, escreve Scipion de Grammont. Ouro e prata são, pois, para a nação, a forma eminente de riqueza. É assim que se deve entender a idéia metalista. Outra razão explicativa da idéia metalista é o caráter de durabilidade das riquezas metálicas, expresso por Locke: “O dinheiro – escreve ele – é um amigo firme que, embora viaje muito de cá para lá, passando de mão em mão, não corre o risco de ser dissipado ou consumido, contanto que não o deixemos sair do país”. Um terceiro fundamento para a idéia metalista é a necessidade de dinheiro para se fazer a guerra. Essa preocupação já se encontra na própria “Utopia” de Thomas More, publicada em 1516, e é melhor expressa por Montchrétien em seu “Traité d’Economie Politique”, de 1615. Lá estava a experiência da Espanha para corroborar essa convicção: Carlos V e Felipe II pareciam prestes a conquistar o mundo. Essa idéia metalista é a alma do pensamento mercantilista e se encontra subjacente em todas as suas formas, das quais distinguiremos cinco: a espanhola ou bulionista; a francesa ou industrialista; a inglesa ou comercialista; a alemã ou cameralista; e a fiduciária. Foi nessa ordem que o pensamento mercantilista se desenvolveu de 1450 a 1750, indo, nas suas principais aplicações, de um intervencionismo rigoroso a um outro, mais inteligente e sutil.

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SEÇÃO III – OS SISTEMAS MERCANTILISTAS PAR 1o – A FORMA ESPANHOLA No século XVI e sobretudo no século XVII, os principais representantes do mercantilismo bulionista cometiam o erro “criso-hedonista”, confundindo riqueza com metal precioso. A fim de acumular o máximo de ouro e prata, dois processos foram preconizados e empregados: a) Trata-se, primeiro, de impedir que o metal precioso saia do país. A partir de fins do

século XV, Fernando e Isabel proíbem a exportação de ouro e prata, seja em barra, ou amoedados, ou ainda sob a forma de baixelas e outros objetos de luxo. A inobservância dessa proibição é punida com penas severas e até mesmo com a morte.

b) Trata-se, em seguida, do processo conhecido como “balança de contratos”. Embora

compreendessem a importância das trocas entre as nações, os bulionistas perceberam também que esse comércio acarretava deslocamentos dos estoques metálicos. Por isso, os navios espanhóis que vão vender mercadorias no exterior devem, obrigatoriamente, trazer de volta para a Espanha o valor de sua carga em ouro. Por outro lado, os navios estrangeiros que desembarcam os produtos de seus países de origem na Espanha, devem, necessariamente, levar, ao partir, o valor de sua carga em produtos espanhóis.

Esses processos esbarravam em duas dificuldades principais: (a) a fiscalização devia ser contínua; e (b) sua prática só era possível restrita a um país ou a um pequeno número de países. Eis aqui um dos aspectos peculiares à política mercantilista: economias nacionais em antagonismo. Essa noção de “balança de contratos” torna-se, em breve, demasiado restrita e é, aos poucos, substituída pela noção de “balança de comércio” credora para o país como um todo, adotada pelas formas francesa e inglesa do mercantilismo. PAR. 2o – A FORMA FRANCESA A França, impedida de se beneficiar das fontes diretas de metais preciosos, entende obtê-los indiretamente e, para isso, o meio empregado é o fomento à indústria. A indústria é preferida à agricultura, em virtude de (a) sua produção mais certa e regular e (b) seu valor específico maior. Esta forma é também chamada de mercantilismo “industrialista” ou “colbertismo” (derivado de Colbert, o ministro de Luiz XIV que a implementou). Esse esforço em prol do desenvolvimento industrial voltado para a exportação é acompanhado de numerosas medidas intervencionistas: (a) monopólios de produção são estritamente regulamentados; (b) o corporativismo é estendido a todas as profissões, com interdição do trabalho livre; (c) o preço do trabalho é fiscalizado, fixando-se um “salário máximo”; (d) a taxa de juros é fixada pelo Estado; (e) pratica-se uma política demográfica populacionista; (f) limita-se o consumo de objetos de luxo. Em suma, pratica-se uma acentuada intervenção do Estado na produção e no consumo.

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PAR 3o – A FORMA INGLESA Na Inglaterra, o mercantilismo reveste a forma chamada “comercialista”. Já grande potência marítima no período das grandes descobertas, com possibilidades comerciais extraordinárias, solicitaram os negociantes – e obtiveram - a abolição da saída de metais preciosos do país. Sua argumentação, vitoriosa, estava apoiada em dois argumentos: (a) um de ordem prática: nas Índias Orientais, os vendedores só querem pagamento em metais preciosos; e (b) outro de ordem histórica: na Antigüidade, cidades como Sidon, Tiro, Cartago e Alexandria haviam enriquecido com essa liberdade. Nessa concepção mercantilista, é a nação, e não o indivíduo, o comerciante que deve envidar esforços para conseguir uma balança de comércio exterior saldada mediante a entrada de metal. Nesse sentido, todo um sistema de regulamentação é elaborado, tanto mais rigorosa quanto, na verdade, à preocupação metalista se vai juntar a preocupação política: impedir a saída de produtos e matérias-primas que possam ser úteis à defesa do país ou à condução da guerra (bem expressa por Montchrétien em seu “Tratado de Economia Política”). PAR 4o – A FORMA ALEMÃ A Alemanha permanece dividida. Grande número de principados luta entre si para impor sua soberania; constituem eles pequenos Estados isolados na sua economia e opostos pela sua política. Filosoficamente, predominam as idéias de Pufendorf (1632-1694), que afirmam: (a) a autoridade direta do Estado sobre o povo, justificando assim o paternalismo político; e (b) a estrita subordinação dos interesses do indivíduo aos da coletividade, justificando a intervenção do Estado em todos os domínios, de forma ainda mais rigorosa do que nas outras formas do mercantilismo. No século XVII, um dos mais importantes cameralistas foi Ludwig von Seckendorf (1626-1692). Partidário de uma população numerosa, preconiza medidas para aumentar a produtividade da agricultura e das manufaturas. Insiste na necessidade de leis suntuárias a fim de diminuir a importação dos bens não necessários e reservar a mão-de-obra e as matérias-primas às produções indispensáveis. Propõe medidas severas para lutar contra a ociosidade e medidas que favorecem os trabalhadores empenhados nas atividades mais produtivas, notadamente aquelas que contribuem para a exportação. Johan Joachim Becker (1625-1685) insiste nos problemas do comércio; condena a importação e a exportação, quando realizadas em proveito dos particulares – que devem ser tratados como “os mais indignos criminosos”, por importarem produtos que poderiam ser obtidos no próprio país, contribuindo assim para a “destruição de sua própria comunidade”. É, pois, o Estado que deve tomar conta do comércio exterior. A constituição de sociedades comerciais estatizadas é recomendada. Os produtos exportados devem ser vendidos pelo preço mais baixo possível. No sentido de sistematização da doutrinação mercantilista alemã, Joanes Friedrich von Justi (1717-1771), tenta uma classificação das funções econômicas do Estado, a fim de distinguir

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os princípios de uma política econômica. Tais princípios constituem o essencial da ciência cameralista, que se esforça no sentido de separar a ciência da Administração Geral do estado. Von Justi tenta igualmente sistematizar as regras de tributação, insistindo na necessidade de simplificar a avaliação e o recebimento do imposto, limitar as taxas para assegurar a produtividade e se mostrar favorável à igualdade de todos diante do imposto. É sem dúvida por haver sido menos profundamente atingido pelo humanismo da Renascença que o cameralismo tende a negligenciar os aspectos qualitativos dos problemas econômicos. Quanto ao esforço de sistematização, trata-se apenas de tentativa. Os princípios são sufocados pelos fatos; perdem-se na massa dos detalhes regulamentares e nos minuciosos ensaios de classificação. Tanto na forma como no fundo, a obra dos cameralistas carece de síntese. É uma análise de casos e medidas particulares. PAR. 5o – A FORMA FIDUCIÁRIA O mercantilismo reveste, nos primórdios do século XVIII, a forma fiduciária. Seus principais representantes são Dutot, Melon e sobretudo John Law. A experiência de Law constitui, com efeito, um sistema mercantilista. Se não é mais o metal precioso que constitui diretamente o centro do sistema, é, entretanto, a quantidade de moeda que continua sendo o elemento primordial. Seu fundamento é sempre da mesma ordem a necessidade de aumentar o volume de moeda para aumentar a riqueza pública. Ao examinar os meios de que o Estado pode lançar mão para aumentar o volume monetário, Law rejeita as restrições à exportação de moeda; elimina a utilização do crédito bancário, por lhe parecer demasiado lenta; e detém-se na criação de papel-moeda, que lhe parece um simples “bonus” que permite a aquisição de mercadorias. Para desempenhar as funções de tal “bonus”, o metal precioso é dispensável, por supérfluo, além de sofrer variações de valor – um inconveniente para o seu emprego como padrão monetário. Para essa função, o papel-moeda é suficiente; além disso, é mais barato que o metal e pode ser produzido à vontade, em função das necessidades. Boa sendo, para Law, a moeda abundante, emitida em quantidade sempre igual à procura, o papel-moeda deve ser escolhido como instrumento de troca. Law porá em prática suas idéias durante a Regência, em Paris. Funda, em 1716, um banco particular e, em 1717, reorganiza a Companhia do Ocidente, sociedade comercial para a exploração do Mississipi, transformada, em 1719, em Cia, das Índias e à qual é anexada a Cia. da África. Controla, assim, quase todo o comércio marítimo francês. Em 1718, seu banco privado transforma-se em banco real: o Estado substitui os acionistas, aos quais reembolsa, e torna-se proprietário do capital. Law recebe, também, a incumbência de cunhar moeda e é encarregado da percepção dos impostos e do reembolso da dívida pública. Em 1729 – ano do apogeu do sistema – Law é nomeado Controlador Geral das Finanças e opera a fusão da companhia comercial com o banco. Durante toda a sua experiência, desejoso Law de multiplicar o numerário – finalidade do sistema –, emite notas de banco sem a garantia de lastro metálico; a diferença entre o valor das notas emitidas e a cobertura metálica representa o lucro da operação. As contínuas

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emissões minam gradativamente a confiança dos portadores de títulos. Ao ser o banco autorizado a emitir notas, tendo em vista possibilitar aos capitalistas a subscrição de ações da Cia. das Índias, a confiança se transforma subitamente em desconfiança generalizada. Todos perceberam o caráter artificial e “inflacionista” dessas emissões. Os pedidos de reembolso se precipitaram e, a despeito do estabelecimento de curso forçado para as notas bancárias, seu valor volatilizou-se. Termina, assim, a experiência por uma catástrofe. O erro capital de Law foi ter colocado, como centro do sistema, o volume de moeda em circulação, sem levar em conta a procura efetiva dessa moeda em função do real desenvolvimento da riqueza. Essa desastrosa experiência deixa também patente a confusão que, no espírito de Law, existia entre crédito e moeda, entre volume monetário e velocidade de sua circulação. Indica ainda o perigo de se ignorar uma das funções peculiares a toda boa moeda – a de reserva de valor – que não podia ser exercida pelo papel-moeda do banco de Law. Smith qualificou a tentativa do banqueiro de “o mais extravagante projeto de banco e de especulação que o mundo já tenha conhecido”. De positivo, a experiência de Law (a) fez com que se desse atenção aos inconvenientes do emprego dos metais preciosos como moeda; (b) pôs em realce as vantagens da nota bancária como fator de elasticidade de circulação; (c) concorreu para que também se visse ser útil a concentração do estoque de metais preciosos em um banco central; (d) constitui uma ilustração para o mecanismo da teoria quantitativa da moeda; e (f) coloca em evidência os riscos da inflação proveniente de uma concepção inexata dos efeitos do multiplicador de renda. PAR. 6o – A POLÍTICA COLONIAL DO MERCANTILISMO A política colonial dessa época é uma conseqüência lógica do mercantilismo, dele se deduzindo integralmente. A metrópole busca na colônia elementos materiais suscetíveis de aumentar sua riqueza e seu poderio. Deseja sobretudo encontrar aí produtos diferentes dos seus, o que a leva, em geral, a possuir colônias em zonas de latitude diferentes das européias. Se a colônia tiver metais preciosos, sua importação permitirá atingir diretamente o fim almejado, ou seja, o aumento do estoque metálico da nação. Esse fim será atingido , embora indiretamente, importando da colônia produtos outros que não o ouro e a prata, os quais serão vendidos no estrangeiro, ajudando assim a tornar favorável a balança metropolitana de comércio. Um segundo grupo de produtos é constituído pelas matérias-primas úteis à indústria do país colonizador. Para que o conjunto dessas operações comerciais com a metrópole seja nitidamente favorável a esta última, é necessário que a metrópole seja dona absoluta e exclusiva da economia da sua colônia - monopolizadora das compras e vendas dos produtos de sua colônia. A colônia, com efeito, está sempre forçada a vender seus produtos a preços impostos e em lugares indicados pela metrópole e está proibida de vendê-los em outros mercados. Conseqüentemente, compreende-se que a balança comercial dessas trocas seja sempre favorável ao país colonizador. Essa política colonial mereceu o nome de regime do exclusivo, definido por Josias Child em seu Brief observations concerning trade, de 1668. .

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As conseqüências dessa política são diversas e contraditórias, deixando certos países colonizadores mais esgotados do imenso esforço realizado do que enriquecidos de forma durável. Muitos mercantilista, sobretudo portugueses, prodigalizaram a seus soberanos, desde o início do século XVII, sábios conselhos no sentido de diminuir a extensão excessiva das conquistas a fim de não perderem definitiva e completamente as vantagens econômicas tão caro obtidas. Resumindo: a política colonial do mercantilismo ajudou fortemente as grandes nações européias a constituírem suas economias nacionais, mas, de outro lado, opôs-se à formação de economia nacional nas colônias – oposição profunda que até hoje complica o crescimento econômico de certas nações, oposição geradora de graves desequilíbrios internacionais. SEÇÃO IV – INFLUÊNCIA DO MERCANTILISMO A falha principal dos mercantilistas reside no fato de haverem atribuído, na sua concepção de riqueza, demasiado valor ao metal precioso. Outra falha é a de haverem considerado a produção apenas em função da prosperidade do Estado, sem jamais examinar a relação existente entre aquela e o bem-estar individual. Falharam ainda os mercantilistas na sua concepção de comércio internacional, que, por estar diretamente ligada à preocupação metalista, constitui um dos aspectos mais criticáveis do sistema. Por outro lado, deve-se reconhecer aos mercantilistas o mérito de haverem desenvolvido uma ação favorável sob um duplo aspecto: a) no campo intelectual, elaboram, com vigor, a noção de economia nacional, baseada na

unidade e na solidariedade nacional; e b) no campo dos fatos, criam, aplicam e desenvolvem a economia nacional tal como a

conceberam.