Economia Do Clima

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Ficha tcnicaEditores e Coordenadores Tcnicos: Sergio Margulis (Banco Mundial) e Carolina Burle Schmidt Dubeux (COPPE/UFRJ). Coordenadores dos estudos setoriais: Alisson Barbieri (CEDEPLAR/UFMG), Alexandre Szklo (COPPE/UFRJ), Bernardo Baeta Neves Strassburg (Instituto GAEA e Universidade de East Anglia), Carlos Azzoni (FEA/ USP), Eduardo Assad (EMBRAPA), Eduardo Haddad (FEA/USP), Emlio La Rovere (COPPE/UFRJ), Eneas Salati (FBDS), Hilton Pinto (UNICAMP), Jos Feres (IPEA), Jos Marengo (CCST/INPE), Paulo Cesar Rosman (UFRJ), Paulo Moutinho (IPAM), Robert Schneider (consultor), Roberto Schaeffer (COPPE/UFRJ) e Ulisses Confalonieri (FIOCRUZ). Presidente do Conselho de Orientao e Coordenador Geral: Jacques Marcovitch (FEA/USP). Conselho de Orientao: Carlos Afonso Nobre (ABC/INPE), Carlos Henrique de Brito Cruz (FAPESP), Carlos Roberto Azzoni (FEA/USP), Fbio Feldmann (FPMC), Francisco de Assis Leme Franco (MF), Israel Klabin (FBDS), Jacques Marcovitch (USP), Jos Domingos Gonzalez Miguez (MCT), Jos Goldemberg (IEE/USP), Luciano Coutinho (BNDES), Luiz Gylvan Meira Filho (IEA/USP), Lus Manuel Rebelo Fernandes (FINEP), Luiz Pinguelli Rosa (COPPE/UFRJ FBMC), Marcio Pochmann (IPEA), Marco Antonio Zago (CNPq), Marcos Sawaya Jank (UNICA), Pedro Leite da Silva Dias (LNCC/CNPq/MCT), Srgio Barbosa Serra (MRE), Suzanna Kahn Ribeiro (MMA/SMCQ), Temistocles Marcelos (FBOMS) e Thelma Krug (IAI).

Ficha CatalogrficaElaborada pela Seo de Processamento Tcnico do SBD/FEA/USP Economia da Mudana do Clima no Brasil: Custos e Oportunidades / editado por Sergio Margulis e Carolina Burle Schmidt Dubeux; coordenao geral Jacques Marcovitch. So Paulo: IBEP Grfica, 2010. 82 p. Bibliografia. 1. Desenvolvimento econmico Aspectos ambientais Brasil 2. Sustentabilidade Brasil 3. Mudana climtica Brasil 4. Economia regional Brasil 5. Polticas pblicas Brasil I. Margulis, Sergio. II. Dubeux, Carolina Burle Schmidt. III. Marcovitch, Jacques. CDD 333.7

As referncias bibliogrficas de cada estudo encontram-se no item Bibliografia, ao final desta publicao. A verso completa do relatrio do estudo Economia do Clima no Brasil pode ser consultada em www.economiadoclima.org.br

Este estudo foi inspirado no Relatrio Stern, do Reino Unido, que fez uma abrangente anlise econmica do problema das mudanas climticas em nvel global. Desenvolvido por instituies de pesquisa atuantes na rea, o estudo tem como premissas o rigor cientfico, a liberdade de pensamento e a busca de consenso atravs do dilogo entre todos os seus autores, seus revisores e os membros do Conselho de Orientao. Devido a seu pioneirismo, os resultados devem ser vistos como primeiras aproximaes sobre um tema complexo, servindo como contribuio para o debate.

AgradecimentosOs autores so devedores de incontvel nmero de pessoas que ofereceram sua valiosa contribuio que tornou este estudou possvel. A todos eles os autores agradecem o decidido apoio que viabilizou a realizao deste projeto. Alan Charlton, Ana Carsalade, Andr Nassar, Christophe de Gouvello, Christopher Taylor, Cristiane Fontes, David Corderi, Daniel Bradley, Dimitri Zenghelis, Dorte Verner, Eduardo Sousa, Eustquio Reis, Ines Iwashita, Iran Magno, James Keough, James Warren Evans, John Briscoe, Jos Eli da Veiga, Laura Tuck , Luciana Carrijo, Marcia Guimares, Marcia Sumire, Mark Lundel, Miranda Munro, Nicholas Stern, Octavio Tourinho, Osvaldo Soliano Pereira, Peter Collecot, Ronaldo Seroa da Motta, Stephanie Al-Qaq e Thatyanne Moreira. Evidentemente, todos os erros e omisses por acaso remanescentes no trabalho so de responsabilidade nica de seus autores.

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ndiceRESUMO EXECUTIVO 1 2 3 INTRODUO CENRIOS DE CLIMA NO BRASIL IMPACTOS AMBIENTAIS, ECONMICOS E SOCIAIS 3.1 Recursos hdricos 3.2 Energia 3.3 Produo agrcola 3.4 Padro de uso da terra 3.5 Biodiversidade amaznica 3.6 Zona costeira 3.7 Regio Nordeste ADAPTAO MUDANA DO CLIMA 4.1 Setor agrcola 4.2 Setor energtico 4.3 Zona costeira ANLISE MACROECONMICA REDUO DE EMISSES 6.1 Reduo do desmatamento na Amaznia Brasileira e seus custos de oportunidade 6.2 Biocombustveis 6.2.1 Cenrios de biocombustveis 6.2.2 Aspectos econmicos da expanso da cana-de-acar 6.2.3 Aspectos socioambientais da expanso da cana-de-acar 6.3 Efeitos de taxao sobre emisso de carbono na economia 6.4 Setor energtico CONCLUSES E RECOMENDAES 6 11 19 23

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73 80 81www.economiadoclima.org.br

ANEXO REfERNCIAS BIBLIOgRfICAS

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Resumo Executivo | Economia da Mudana do Clima no Brasil

Resumo executivoA transio climtica projetada pelo Painel Intergovernamental de Mudana do Clima (IPCC, sigla em ingls)afetar os recursos naturais, a economia e as sociedades do mundo todo em magnitude hoje desconhecida. O estudo Economia das Mudanas do Clima no Brasil (EMCB) uma iniciativa pioneira para analisar e quantificar o impacto da mudana do clima na agenda de desenvolvimento do pas. Sem conhecimento minimamente fundamentado sobre essas tendncias, tomadores de deciso ficam desprovidos de instrumentos para identificar os riscos mais graves e urgentes e para avaliar e implantar as medidas de preveno e adaptao mais eficientes em termos de custos e benefcios. Pela primeira vez no pas reuniu-se uma grande equipe interdisciplinar para integrar projees sobre diferentes setores, formada principalmente por cientistas das principais instituies brasileiras de pesquisa. O ponto de partida foram modelos computacionais que forneceram projees sobre o comportamento futuro do clima no territrio nacional, como temperatura e precipitao. Estas projees alimentaram modelos de simulao de algumas reas estratgicas da economia que traduziram em termos econmicos os impactos esperados em cada setor, de acordo com duas possveis trajetrias do clima futuro desenvolvidas pelo IPCC os cenrios A2 e B2. Estas trajetrias climticas do IPCC so feitas baseadas em hipteses sobre o comportamento futuro da economia global. Este estudo tenta simular o comportamento futuro da economia brasileira compatvel, na medida do possvel, com as mesmas hipteses do IPCC para a economia global. Os cenrios ento gerados para a economia brasileira so aqui chamados de cenrios A2-BR simulados sem mudana do clima e com mudana do clima segundo o cenrio climtico A2 do IPCC, e cenrio B2-BR, tambm simulado sem mudana do clima e com mudana do clima segundo o cenrio climtico B2 do IPCC. Eles representam trajetrias futuras da economia brasileira caso o mundo se desenvolva globalmente segundo as premissas (econmicas) do IPCC do cenrio climtico A2 e do cenrio climtico B2 [1]. Apesar dos problemas climticos associados ao aquecimento global serem de longo prazo, adotou-se o ano de 2050 como horizonte das simulaes excluindo assim os efeitos mais graves sobre a produtividade e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que se faro sentir com maior fora na segunda metade do sculo XXI. Isto foi necessrio por conta de as incertezas envolvidas principalmente macroeconmicas serem ainda muito grandes e a base de dados no suportar projees de mais longo prazo. Algumas das anlises setoriais, no entanto, ultrapassam 2050. Alm dessa limitao temporal, as simulaes do estudo privilegiam os comportamentos mdios das variveis, por conta da dificuldade de representar adequadamente nos modelos as incertezas envolvidas em situaes extremas de mudana do clima. Neste resumo esto relacionados os principais resultados obtidos com esse exerccio indito, seguidos de recomendaes de polticas pblicas. Entre as principais concluses est que os piores efeitos da mudana do clima recairo sobre as regies Norte e Nordeste, as mais pobres do Brasil, e que, portanto, o custo da inao hoje ser o aprofundamento das desigualdades regionais e de renda.

[1] A distino entre cenrios climticos e cenrios socioeconmicos importante. Apesar de a maioria dos estudos referir-se aos comportamentos da economia nacional como cenrios A2 e B2, no existe um comportamento nico para a economia nacional sob cada um dos cenrios globais da economia. A economia global pode seguir uma trajetria A2 e o Brasil eventualmente seguir uma trajetria mais parecida com B2. Ainda que este estudo tenha tentado fazer a trajetria nacional consistente com a global, parece correto manter os nomes A2 e B2 para referir-se estritamente aos cenrios climticos globais A2 e B2; e chamar de cenrios A2-BR e B2-BR para se referir aos cenrios econmicos e climticos quando aplicados ao caso brasileiro.

Perspectiva macroeconmicaEstima-se que sem mudana do clima o PIB brasileiro ser de R$ 15,3 trilhes (reais de 2008) no cenrio A2-BR em 2050, e R$ 16 trilhes no cenrio B2-BR. Com o impacto da mudana do clima, estes PIBs reduzem-se em 0,5% e 2,3% respectivamente. Antecipados para valor presente com uma taxa de desconto de 1% ao ano, estas perdas ficariam entre R$ 719 bilhes e R$ 3,6 trilhes, o que equivaleria a jogar fora pelo menos um ano inteiro de crescimento nos prximos 40 anos. Com ou sem mudana do clima, o PIB sempre maior em B2-BR do que em A2-BR. Isto quer dizer que na trajetria mais limpa do cenrio B2-BR, a economia cresce mais, e no menos. Em ambos cenrios, awww.economiadoclima.org.br

pobreza aumenta por conta da mudana do clima, mas de forma quase desprezvel. Haveria uma perda mdia anual para o cidado brasileiro em 2050 entre R$ 534 (ou US$ 291) e R$ 1.603 (ou US$ 874). O valor presente em 2008 das redues no consumo dos brasileiros acumuladas at 2050 ficaria entre R$ 6.000 e R$ 18.000, representando de 60% a 180% do consumo anual per capita atual.

Perspectivas regionaisAs regies mais vulnerveis mudana do clima no Brasil seriam a Amaznia e o Nordeste. Na Amaznia, o aquecimento pode chegar a 7-8C em 2100, o que prenuncia uma alterao radical da floresta

7amaznica a chamada savanizao. Estima-se que as mudanas climticas resultariam em reduo de 40% da cobertura florestal na regio sul-sudeste-leste da Amaznia, que ser substituda pelo bioma savana. No Nordeste, as chuvas tenderiam a diminuir 2-2,5 mm/dia at 2100, causando perdas agrcolas em todos os estados da regio. O dficit hdrico reduziria em 25% a capacidade de pastoreio de bovinos de corte, favorecendo assim um retrocesso pecuria de baixo rendimento. O declnio de precipitao afetaria a vazo de rios em bacias do Nordeste, importantes para gerao de energia, como a do Parnaba e a do Atlntico Leste, com reduo de vazes de at 90% entre 2070 e 2100. Haveria perdas expressivas para a agricultura em todos os estados, com exceo dos mais frios no Sul-Sudeste, que passariam a ter temperaturas mais amenas. para gerar entre 162 TWh (25% da oferta interna de energia eltrica em 2008) e 153 TWh por ano (31% da oferta interna de energia eltrica em 2008), de preferncia com gerao por gs natural, bagao de cana e energia elica, a um custo de capital da ordem de US$ 51 bilhes a US$ 48 bilhes.

Zona costeira. O custo de aes de gesto costeira e outras polticas pblicas (14 aes recomendadas) somariam R$ 3,72 bilhes at 2050, ou cerca de R$ 93 milhes por ano.

Oportunidades de mitigaoDesmatamento. Um preo mdio de carbonona Amaznia de US$ 3 por tonelada, ou US$ 450 por hectare, desestimularia entre 70% e 80% da pecuria na regio. Ao preo mdio de US$ 50 por tonelada de carbono, seria possvel reduzir em 95% o desmatamento.

Perspectivas setoriaisRecursos hdricos. Os resultados projetados seriam alarmantes para algumas bacias, principalmente na regio Nordeste, com uma diminuio brusca das vazes at 2100. Energia. Perda de confiabilidade no sistema de gerao de energia hidreltrica, com reduo de 31,5% a 29,3% da energia firme. Os impactos mais pronunciados ocorreriam nas regies Norte e Nordeste. No Sul e no Sudeste os impactos se mostrariam mnimos ou positivos, mas neste caso no compensariam as perdas do Norte e do Nordeste. Agropecuria. Com exceo da cana-de-acar, todasas culturas sofreriam reduo das reas com baixo risco de produo, em especial soja (-34% a -30%), milho (-15%) e caf (-17% a -18%). A produtividade cairia em particular nas culturas de subsistncia no Nordeste.

Biocombustveis.A substituio de combustveis fsseis poderia evitar emisses domsticas de 92 milhes a 203 milhes de toneladas de CO2 equivalente em 2035. Exportaes de etanol acrescentariam de 187 milhes a 362 milhes de toneladas s emisses evitadas em escala global. O crescimento da rea plantada de 17,8 milhes a 19 milhes de hectares no causaria substituio de reas destinadas s culturas de subsistncia em nenhuma regio brasileira nem pressionaria o desmatamento da Amaznia, mas nas regies Sudeste e Nordeste poderia afetar florestas e matas dos estabelecimentos agrcolas, caso as polticas para o setor no sejam implementadas adequadamente. No Centro-Sul, principalmente, exposio de grandes concentraes populacionais a altos nveis de poluio atmosfrica, caso no seja adotado o sistema de colheita mecanizada.

Zona costeira. Considerando o pior cenrio de elevao do nvel do mar e de eventos meteorolgicos extremos, a estimativa dos valores materiais em risco ao longo da costa brasileira de R$ 136 bilhes a R$ 207,5 bilhes.

AdaptaoAgricultura. As modificaes genticas seriam alternativas altamente viveis para minimizar impactos da mudana do clima, exigindo investimento em pesquisa da ordem de R$ 1 bilho por ano. A irrigao tambm foi investigada como alternativa de adaptao, mas com razes benefcio-custo em geral menores. Energia. Seria preciso instalar uma capacidade extra

Taxao de carbono. O estudo estimou que o impacto de uma taxao entre US$ 30 e US$ 50 por tonelada de carbono reduziria as emisses nacionais entre 1,16% e 1,87% e resultaria em uma queda no PIB entre 0,13% e 0,08%. Setor energtico. Tomando como referncia o PlanoNacional de Energia 2030, o potencial estimado de reduo de emisses seria de 1,8 bilho de toneladas de CO2 acumuladas no perodo 2010-2030. Com uma taxa de desconto de 8% ao ano, o custo estimado seria negativo, ou seja, haveria um ganho, ou benefcio, de US$ 34 bilhes em 2030, equivalentes a US$ 13 por tonelada de CO2.www.economiadoclima.org.br

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Resumo Executivo | Economia da Mudana do Clima no Brasil

Prioridades de aoOs custos e riscos potenciais da mudana do clima para o Brasil seriam ponderveis e pesariam mais sobre as populaes pobres do Norte e Nordeste, de modo que polticas de proteo social nestas regies devem ser reforadas. possvel e necessrio associar metas ambiciosas de crescimento com a reduo de emisses de gases de efeito estufa, para assegurar acesso a mercados que favoream produtos com baixa emisso de carbono em seu ciclo de vida. A mudana do clima deve integrar as polticas governamentais do setor ambiental , incluindo a emisso e sequestro de gases do efeito estufa no processo de licenciamento, tanto no caso da agenda marrom (poluio) quanto no da agenda verde (setor rural e afins) setores de transportes, habitao, agricultura e indstria. Garantir que a matriz energtica mantenha-se limpa, investir nas muitas opes de eficincia energtica altamente rentveis. No presente, a principal recomendao estancar o desmatamento da Amaznia. O desmatamento gera significativas mudanas do clima local e regional e resulta em uma perda projetada de at 38% das espcies e de 12% de servios ambientais em 2100. Aumentar o conhecimento tcnico sobre o problema, com o desenvolvimento de modelos climticos, modelos que traduzam as mudanas esperadas do clima em impactos fsicos nos diversos setores da economia e apresentar alternativas de mitigao e adaptao mais eficientes. Investir em pesquisa agrcola de ponta, em particular na modificao gentica de cultivares. Desenvolver mais estudos para identificar a natureza e quantificar os riscos de eventos extremos alm de 2050 e 2100. Finalmente, cumpre notar que, principalmente em decorrncia do debate nacional sobre a posio que o Brasil deveria adotar nas negociaes internacionais, tem-se discutido intensamente cenrios que levam em considerao o grande potencial de mitigao do pas, ao se buscar uma economia de baixo carbono. Alguns tm denominado esta trajetria de Brasil Potncia Ambiental. O referencial de modelagem aqui desenvolvido ser til na elaborao de uma srie de diferentes cenrios econmicos, sociais e climtico-ambientais que incorporem as medidas de mitigao que se queira testar. Recomenda-se, assim, como trabalho para o futuro imediato que se incorpore esta modelagem s recm criadas redes de pesquisa, como a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanas Climticas Globais (Rede CLIMA) e o Instituto Nacionalwww.economiadoclima.org.br

de Cincia e Tecnologia para Mudanas Climticas, as quais incorporam a maioria dos grupos de pesquisa do EMCB.

Limitaes do estudoO carter pioneiro deste estudo implica uma srie de limitaes, que no se pode deixar de levar em conta na ponderao de seus resultados. So cinco as principais limitaes: O uso de apenas um modelo climtico global, no qual se basearam as anlises setoriais e econmicas, deciso fundamentada no grau de conhecimento disponvel no incio do estudo com simulaes de funes de distribuio de probabilidade para diversos parmetros e na experincia do INPE com o downscaling (reduo de escala) dos modelos globais. A abordagem determinstica do estudo, isto , a no considerao explcita do risco e da incerteza e a nfase em valores mdios esperados, com foco restrito sobre custos imediatos de pequenas mudanas de temperatura sobre um conjunto limitado de impactos mensurveis. O fato de os valores estimados de precipitaes futuras pelos vrios modelos climticos no concordarem em sinal (aumento ou diminuio), o que limita projees sobre o clima futuro e seus potenciais impactos econmicos. A incompletude da base de dados e de informaes tcnicas disponveis, desde modelos climticos e projees sobre o clima futuro at dados ecolgicos e socioeconmicos, incluindo a valorao econmica. Nos setores mais complexos ou com conhecimento tcnico restrito (como biodiversidade e zona costeira), as anlises e a valorao econmica so preliminares. A no incorporao de mudanas tecnolgicas de longo prazo, pela falta de cenrios e anlises sobre as quais basear as projees, uma deciso decorrente da incipincia dos modelos e das restries tcnicas de ligar todos os modelos, desde as projees de variaes climticas at seus impactos socioeconmicos. O presente estudo focalizou a perspectiva nacional, deixando para estudos futuros as anlises locais e dos impactos das dimenses institucionais, legais e culturais. As anlises sociais se limitaram ao que surgiu da anlise macroeconmica e apenas parcialmente dos diversos captulos setoriais. Alm disso, no se estimaram os impactos das mudanas climticas sobre a infraestrutura, e menos ainda sobre alternativas de adaptao, aspectos que aguardam pesquisas futuras e que representam custos significativos.

9O CUSTO Da InaO: perdas acarretadas pelos impactos das mudanas climticas no Brasil, em reais de 2008PIB em 2050 PIB per capita em 2050 Excedente hdrico bacias nordeste (perodo 2041-2070) agricultura Arroz Algodo Caf Feijo Soja Milho Cana Energia eltrica firme Energia mdia Demanda de etanol (domstica + export.) em 2050 aumento demanda energia eltrica 1.333 ktEp (A2-BR) e 1.092 ktEp (B2-BR) Projeo para 2100 Sujeito a srias limitaes metodolgicas/dados Sujeito a limitaes metodolgicas/dados Sujeito a limitaes metodolgicas/dados 40% e 85% (sem e com desmatamento) Perda dos servios ambientais Perda de espcies na amaznia Zona costeira, patrimnio em risco -12,4% em 2100 (A2-BR) = US$ 26 bilhes/ano 12% ou 30-38% (sem/com desmatamento, 2100) De R$136 bilhes a R$ 207,5 bilhes Perda de cobertura florestal (amaznia) De 354 milhes para 199 milhes ha (A2-BR) = - 44%. Variao % da rea de baixo risco (2050) -12% nos 2 cenrios -14% nos 2 cenrios -17% ou -18% (A2-BR ou B2-BR) -10% nos 2 cenrios -34% ou -30% (A2-BR ou B2-BR) -15% nos 2 cenrios 139% ou 147% (A2-BR ou B2-BR) -31,5% ou -29,3% (A2-BR ou B2-BR) + 2,7% ou 1,1% (A2-BR ou B2-BR) 169,7 bilhes (A2-BR) e 118,2 bilhes de litros (B2) = 16,4 ou 13,5 milhes ha (A2-BR ou B2-BR) 16% rea adequada para cana -R$ 719 bilhes (A2-BR) e -R$ 3.655 bilhes (B2-BR) -R$ 534 (A2-BR) e -R$ 1.603 (B2-BR) -60% (de 7.075 para 2.833 m3/s, A2-BR) e -56% (B2-BR) Bacias Atlntico NE Oriental e Ocidental, Parnaba e So Francisco Perda produtivide mdia -12% (CO) e +44% (S) -------8% (CO) e +37% (S) -0,7 (CO) e +21% (S) -27% (NE) e -10% (S) +66% (S) e +34% (SE) Perda anual, Cenrio a2-BR R$ 530 milhes/ano R$ 408 milhes/ano R$ 1.597 milhes/ano R$ 363 milhes/ano R$ 6.308 milhes/ano R$ 1.511 milhes/ano ---0,5 % e 2,3% dos PIBs de 2050, em cada cenrio

CUSTOS E OPORTUnIDaDES Da aO: investimentos para preparar a economia brasileira e seus benefcios

CUSTOS E BENEFCIOS DA ADAPTAOagricultura Arroz Algodo Caf Feijo Soja Milho Energia Zona costeira Modificao Gentica R$ 65 milhes/ano R$ 38 milhes/ano R$ 104 milhes/ano R$ 51 milhes/ano R$ 378 milhes/ano R$ 354 milhes/ano custo operacional, cenrio A2-BR RS$ 6,8 bilhes (total) ou RS$ 170,6 milhes/ano Custos de gesto do governo, exclui obras Irrigao R$ 197 milhes/ano --R$ 494 milhes/ano -R$ 309 milhes/ano Benef./Custo Modif. Gentica 8,2 10,7 15,4 7,1 16,7 4,3 Benef./Custo Irrigao 2,7 --0,7 -4,9

Custo de capital R$ 93,6 bilhes + RS$ 12,7 bilhes/ano de

RS$ 88 bilhes + RS$ 13,2 bilhes/ano, cenrio B2-BR

OPORTUNIDADES DE MITIGAODesmatamento da amaznia Produo de etanol Taxao de carbono Eficincia energtica Reduo 70-95% do desmatamento De 187 milhes a 362 milhes de toneladas de CO2 eq Emisses -1,16% e -1,87%; PIB -0,13% e -0,08% Potencial de 1,8 bilho t de CO2 entre 2010-30 Conforme um custo de US$3 ou 50/t de carbono Em 2035, conforme destino do alcool exportado Conforme taxa de US$ 30 ou 50/t de carbono Custo mdio equivalente de US$ -13/t de CO2

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captulo 1

Introduo

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Introduo | economia da Mudana do Clima no Brasil

introduoa questo central deste estudo avaliar o grau de influncia da mudana do clima na agenda de desenvolvimento do Brasil. Ele teve incio em meados de 2007, por iniciativa conjunta da Embaixada Britnica no Brasil, da Academia Brasileira de Cincias e das instituies pblicas brasileiras que aderiram ao estudo. A partir da fixao de bases conceituais, especialistas dessas 11 instituies comearam a atuar de forma integrada sob a coordenao tcnica de dois especialistas, tendo sido realizados cinco workshops tcnicos ao longo dos 24 meses de elaborao do estudo e quatro reunies de consulta ao Conselho de Orientao (v. anexo 1, pg. 80).

a. Contextoas alteraes climticas decorrentes do aquecimentoglobal constituem um problema social da maior importncia para o Brasil. A ideia de que so questes para os pases ricos porque eles as criaram e, portanto, tm a obrigao de resolv-las uma traduo infiel do princpio da responsabilidade comum, porm diferenciada, consagrado na Conveno da ONU sobre Mudana do Clima. cada vez mais improvvel que seus impactos possam ser evitados s com esforos de mitigao das naes mais ricas, pois as emisses anuais de alguns pases em desenvolvimento, como China, ndia e Brasil, j so hoje maiores que as de muitas economias desenvolvidas (em termos brutos, mas no per capita). O aquecimento global um problema que afetar principalmente as populaes mais pobres (e, portanto, mais vulnerveis), e o tempo curto demais para optarmos pela inao. A dimenso econmica do problema o objeto de ateno deste estudo. Os ltimos dois relatrios do IPCC (2001 e 2007) e vrios outros trabalhos cientficos recentes afirmam que a mudana climtica um fato inequvoco e se deve principalmente ao do homem. Desde 2001 houve uma srie de avanos cientficos e de modelagem climtica que permitiram um ajuste contnuo das estimativas. O Quarto Relatrio de Avaliao do IPCC (AR4, 2007) indica uma variao extrema entre 1,1C e 6,4C, com mdia de 4C, at o final do sculo XXI, considerando a mdia de 1990 como referncia. Alm de aumentos de temperatura so previstas mudanas no regime de chuvas, apesar de essas projees serem mais laboriosas e permanecerem ainda muito incertas.www.economiadoclima.org.br

Sendo hoje cada vez mais aceito que o aumento das concentraes de gases de efeito estufa (GEE) decorre primordialmente de aes antrpicas, recai inicialmente sobre os pases ricos a responsabilidade principal pelo problema, o que ainda agravado pelo fato de que foram justamente as emisses de GEE que alavancaram o crescimento econmico desses pases. Nada mais justo, portanto, que os pases em desenvolvimento tenham a oportunidade de tambm crescer lanando mo de emisses per capita semelhantes s dos pases desenvolvidos. O desafio consiste precisamente em resolver essa injusta equao: garantir o direito equitativo de crescimento dos pases em desenvolvimento sem aumentar as concentraes de GEE na atmosfera. crucial e urgente, portanto, que todos os pases busquem uma soluo de consenso que seja tcnica e politicamente factvel, alm de equitativa. No entanto, faltam estudos econmicos que subsidiem as tomadas de deciso no plano interno e internacional. Este , assim, o objetivo central do presente estudo.

B. objetivos e escopo do estudoo propsito do estudo fazer uma avaliaoeconmica dos impactos da mudana do clima no Brasil. Considerando os diferentes cenrios desse fenmeno, so identificadas as principais vulnerabilidades da

Mitigao e adaptaoa literatura no especializada sobre as causas e as consequncias da mudana do clima algumas vezes confunde o leitor. as causas do problema e as medidas necessrias para mitiglo envolvem todos os pases e dizem respeito fundamentalmente s emisses de GEE. a se incluem as questes dos combustveis fsseis, das fontes renovveis e da eficincia energtica, os acordos internacionais, a taxao das emisses, as mudanas de comportamento e hbitos de consumo etc. a reduo da emisso de 1 tonelada de co2 pode vir da Sucia ou da Etipia: os benefcios so idnticos e compartidos por todos os pa-

13economia e da sociedade brasileiras, alm de estratgias custo-efetivas para lidar com os riscos associados a tais cenrios. Uma questo fundamental aqui tratada o grau de influncia do aquecimento global na agenda de desenvolvimento do Brasil, um pas com grande extenso de florestas e significativa participao do setor agropecurio no PIB e nas exportaes. Os objetivos gerais do estudo so os seguintes: Reunir as principais instituies de pesquisa para avaliar o problema por meio de uma perspectiva multidisciplinar; Aproveitar o conhecimento local existente como subsdio para a anlise econmica dos provveis impactos da mudana do clima no Brasil; Contribuir para o debate sobre que aes o Brasil deve tomar em relao mudana do clima, baseando-se em anlises tcnicas e econmicas slidas; Apoiar a formulao e a implementao de polticas pblicas no Brasil, assim como estabelecer posies para negociaes internacionais que favoream os interesses do pas e, ao mesmo tempo, otimizem suas contribuies para o tratamento do problema global comum. Os objetivos especficos so: Fazer uma avaliao econmica dos provveis impactos de diferentes cenrios da mudana do clima no Brasil; Avaliar os provveis impactos sociais e regionais de diferentes cenrios de mudana do clima; Identificar aes custo-efetivas de mitigao e seus potenciais benefcios locais e nacionais; Identificar estratgias de adaptao em setores selecionados e avaliar seus custos e benefcios; Fazer uma anlise econmica, social e ambiental do potencial dos biocombustveis no Brasil, em particular da cana-de-acar, em termos de oportunidades de substituio da gasolina e de exportaes para os mercados mundiais; Avaliar oportunidades econmicas para a regio amaznica em termos de reduo das emisses, benefcios do desmatamento evitado e, por fim, compensaes entre interesses locais, nacional e globais.

C. peculiaridades do problema: desafios do estudoIncerteza e risco. Os modelos climticos regionais apontam um risco de savanizao de boa parte da Amaznia, secas mais intensas e mais frequentes no Nordeste, chuvas intensas e inundaes nas reas costeiras e urbanas das regies Sudeste e Sul e redues significativas do potencial de gerao hidreltrica nas regies Norte, Centro-Oeste e Nordeste. No entanto, isso apenas uma parte do problema. Inmeras incertezas permanecem na modelagem dos impactos das mudanas climticas, especialmente alm do horizonte de planejamento de 20 a 50 anos. A avaliao econmica das mudanas do clima e as polticas para abord-las dependem de informao ainda no disponvel. A incerteza relacionada cincia do clima e s projees climticas tem forte influncia sobre as anlises econmicas e sobre a formulao de polticas. Tal incerteza, no entanto, no deve ser motivo para a inao, justamente o contrrio: ela simplesmente aumenta o custo da inao. As decises de ao sobre a mudana do clima esto sujeitas a dois tipos de risco: (i) o de nada fazer e futuramente deparar-se com um impacto no previsto; (ii) o de decidir por uma ao preventiva que se mostre futuramente desnecessria. Como o risco a que estamos sujeitos no caso da mudana do clima envolve

ses. a estratgia bsica da mitigao , portanto, a de custo-efetividade: idealmente o mundo todo deve buscar a forma mais barata de reduzir a emisso de qualquer tonelada de GEE, seja em que pas for, e seja da fonte que for. por outro lado, a inevitabilidade da mudana do clima fora todos os pases a buscarem estratgias individuais de adaptao. ao contrrio da mitigao, tanto os custos quanto os benefcios das aes de adaptao recaem sobre cada pas. a deciso do Brasil de investir muito ou pouco em adaptao no afeta em princpio nenhum outro pas. Em suma, a natureza dos problemas distinta, os custos e benefcios

incidem de forma distinta sobre os pases, e os incentivos para priorizar um ou outro problema so tambm distintos. a adaptao no um substituto da mitigao, pois h limites claros sobre o que ela pode alcanar. Indubitavelmente, o esforo global deve enfocar a mitigao. Mas, por uma questo de responsabilidade diante do custo bilionrio, a comunidade internacional tambm deve ajudar os pases mais pobres a desenvolverem suas prprias estratgias de adaptao e custear ou financiar as aes prioritrias. apesar das diferenas intrnsecas, mitigao e adaptao esto relacionadas: os esforwww.economiadoclima.org.br

os despendidos em um problema diminuem a necessidade de fazer frente ao outro. Na prtica, razovel nestas fases iniciais de compreenso e avaliao do aquecimento global que se trate dos problemas de forma independente, sem desprezar oportunidades de aes conjuntas e complementares. o melhor exemplo se encontra talvez no setor florestal, onde o reflorestamento igualmente medida de mitigao e de adaptao: as florestas em crescimento absorvem co2 (mitigao) e ao mesmo tempo ajudam na manuteno de servios ambientais, o que em geral aumenta a resilincia aos choques climticos (adaptao).

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Introduo | economia da Mudana do Clima no Brasila sobrevivncia do homem e do planeta, parece natural priorizar sempre que possvel a ao preventiva. Na medida em que os recursos so mais escassos nos pases pobres, porm, os incentivos para investir na preveno e na preparao para mudana do clima so menores que nos pases ricos, onde o risco de investir demais menor. A maior parte dos problemas sociais est resolvida nas naes mais desenvolvidas e sua populao alcanou um nvel satisfatrio de qualidade de vida. Nas naes menos desenvolvidas, questes como a eliminao da pobreza e a obteno de um nvel mnimo de sade e segurana alimentar ganham prioridade sobre a mudana do clima no momento de decidir onde investir. agricultura: para vrias culturas, uma elevao gradual da temperatura mdia de 2-3C leva a uma queda gradual da produtividade que pode ser mitigada em boa medida com irrigao, melhorias genticas e outras prticas. No entanto, a partir de 3C, aproximadamente, torna-se fisiologicamente impossvel intervir no processo, independentemente da tecnologia, porque a planta simplesmente no capaz de tolerar maiores temperaturas.

Descontinuidades. Muitos dos problemas e impactosapresentam forte descontinuidade, ou seja, os fenmenos exibem determinada tendncia at que ela subitamente descontinuada e passa a apresentar um comportamento extremo. Um exemplo tpico a

Irreversibilidade. Um terceiro aspecto, relacionado descontinuidade, a irreversibilidade. No exemplo da agricultura, uma eventual volta da temperatura aos nveis historicamente observados viabilizaria novamente a produo. No entanto, a savanizao da Amaznia, a perda de espcies biolgicas e de ecossistemas e as elevaes dos nveis do mar so fenmenos irreversveis e em grande medida catastrficos. Inrcia. Como o tempo de permanncia dos gases de efeito estufa na atmosfera muito grande, ainda que fosse possvel eliminar imediatamente todas as emisses antrpicas a humanidade ainda enfrentaria um determinado nvel de aquecimento global. Alm disso, decises de investimento em infraestrutura, transporte, planejamento urbano, uso do solo e tecnologias tm reflexos sobre a possvel velocidade de adaptao e mudana, pois seus efeitos se estendem por dcadas. A deciso de construir uma termeltrica a carvo hoje implica que dificilmente a instalao deixar de operar antes do trmino de sua vida til de 20 a 30 anos, o que significa que estar queimando carvo e lanando gases do efeito estufa por todo esse perodo. A deciso de construir estradas e pavimentar rodovias incentiva consumidores a comprarem carros e as empresas, a planejarem transporte por caminhes, ao invs de utilizarem transportes coletivos e outros modais com menor emisso. Em resumo, vrios fenmenos climticos e vrias decises tomadas no presente tm implicaes de muito longo prazo e pouco, ou nada, se pode fazer para revert-los. Modelagem fsica e econmica. Nenhum estudopode abordar com preciso as incertezas da mudana do clima, o que, no entanto, no justifica ignor-las. Usar apenas modelos determinsticos que medem um conjunto fixo de projees significa desconsiderar boa parte da histria. Ainda assim, antes de tentar avaliar todos os possveis riscos, importante entender as implicaes provveis do aquecimento global com base nas expectativas mdias mais provveis. As ferramentas para avaliar esses impactos j existem. O primeiro passo da abordagem busca entender melhor as ameaas da mudana do clima ao pas medindo com preciso o que sabido hoje com alto

UMa Metodologia inovadorao grande desafio metodolgico do estudo ligar projees sobre o clima futuro com os setores econmicos e com inmeras caractersticas ambientais e socioeconmicas locais e regionais. alm disso, preciso definir um nvel de agregao, ou desagregao, das anlises que torne o estudo relevante e minimamente fiel realidade local e ao mesmo tempo seja vivel do ponto de vista do manuseio de informaes e dos dados. Isso crtico em um estudo envolvendo inmeros setores com naturezas muito dspares. o estudo tenta assim combinar a perspectiva macroeconmica, que supostamente integra as anlises setoriais de forma agregada, com a perspectiva setorial (microeconmica). os estudos setoriais buscam incorporar as variveis climticas e analisar seus efeitos econmicos sobre os setores, enquanto que no nvel nacional um modelo macroeconmico integra as anlises entre setores e entre estes e as variveis climticas. o arcabouo geral das anlises pode ser visto no diagrama pgina 15, que estabelece as relaes entre mudanas climticas, atividades econmicas e recursos naturais, alm de impactos sobre as metas do desenvolvimento sustentvel.

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15umA teiA de relAes: como se articulam os mdulos deste estudoAquecimento GlobalAquecimento Global

Mitigao Setorial Mitigao Setorial

Mudana do climaMudana do clima

Mitigao Setorial Mitigao Setorial

Recursos hdricosRecursos hdricos

Agricultura & Florestas Agricultura & Florestas

Competio alimentos-biocombustveis-florestas Competio (inclui Amaznia) alimentos-biocombustveis-florestas(inclui Amaznia)

EnergiaEnergia

SadeSade

Biodiversidade Biodiversidade

Populao & Migrao Populao & Migrao

Modelo macroeconmico Modelo macroeconmico de Equilibrio Geral de Equilibrio Geral Equilbrio Geral Computvel Equilbrio Geral Computvel

Elevao do nvel do mar Elevao do nvel do mar

Adaptao Adaptao Natural Natural

DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL Impactos Ambientais Impactos Econmicos Impactos Ambientais Impactos Econmicos

Adaptao Adaptao

Impactos Sociais Impactos Sociais

fluxo de insumo e produtos: Modelo Macroeconmico de Equilbrio Geral - Equilbrio Geral Computvel - Sade/SociedadeInteraes dosdos setoresblocos I I Interaes setores e e blocosAgricultura Agricultura (biofsica) (biofsica) Agricultura Agricultura (economia) (economia) Recursos Recursos hdricos hdricos Recursos Recursos hdricos hdricos Energia Energia eficincia eficinciaBiodiversidade Biodiversidade & Custo Oportunidade & Custo Oportunidade Sade/Sociedade Sade/Sociedade Migrao Migrao

Interaes dos setores e blocos II Interaes dos setores e blocos IIAmaznia Amaznia Desmatamento Desmatamento Agricultura (economia) Agricultura (economia) Energia Confiabilidade Energia Confiabilidade

Equilbrio Geral Computvel Equilbrio Geral Computvel

Agricultura Biodiversidade Agricultura Biodiversidade (economia) (economia)

Energia Energia Confiabilidade Confiabilidade

grau de certeza: os custos de curto prazo de pequenas mudanas de temperatura sobre um conjunto limitado de impactos mensurveis, em geral com preos de mercado. Ilustra-se como o Brasil poder parecer no futuro no caso mdio esperado. Os resultados apresentados, muitos alarmantes, em geral representam subestimativas dos custos absolutos.

Valorao do futuro e anlises custo-benefcio.Do ponto de vista econmico existem dois grandes

problemas para analisar implicaes do aquecimento global em qualquer pas. O primeiro refere-se dificuldade de valorar as perdas econmicas. Tomando o exemplo da agricultura, necessrio que, a partir de um determinado cenrio de mudana do clima em uma regio, se conheam as implicaes dessas mudanas sobre a produtividade agrcola na mesma regio, a partir das quais se torna possvel projetar medidas de adaptao como irrigao e desenvolvimento de variedades adaptadas ou estratgias maiswww.economiadoclima.org.br

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Introduo | economia da Mudana do Clima no Brasilradicais, como mudana de culturas ou abandono da agricultura e introduo da pecuria. A dificuldade est, evidentemente, em definir a relao entre determinada mudana climtica e o efeito sobre a produtividade agrcola tarefa que envolve uma combinao de cincia agrcola, economia e avaliao de condicionantes como mercados locais e externos, competitividade e sistemas de produo vigentes, entre outros. Alguns problemas so ainda mais difceis. Como prever os impactos da mudana do clima sobre os ecossistemas por exemplo, na Amaznia e como valorar economicamente as potenciais perdas? Como considerar os impactos sobre as populaes mais pobres? Que critrio econmico utilizar para decidir entre alternativas de ao envolvendo enorme incerteza? O segundo problema diz respeito s valoraes futuras. A mudana do clima vai se intensificar ao longo do tempo, mas muitas das decises devem ser feitas no presente. Ainda que as ressacas no devam aumentar significativamente na prxima dcada, fundamental que os projetos presentes de construo de casas e de infraestrutura ao longo da costa contemplem medidas de adaptao a eventos extremos ligados elevao do nvel do mar. E os recursos tambm tm que estar disponveis agora, e no daqui a dcadas. No entanto, os eventuais benefcios s sero sentidos daqui a 30 anos ou mais. H, portanto, uma assimetria entre custos e benefcios. Sero nossos filhos e netos a se beneficiar, mas seremos ns a arcar com os custos. O estudo foi desenvolvido em cinco blocos, apresentado nesta publicao da seguinte maneira: alteraes especficas nos setores econmicos (s vezes denominados de dose-resposta). Consiste de modelos temticos e setoriais de baixo para cima (equilbrio parcial), nos quais impactos e possveis respostas mudana do clima so analisados a partir de uma perspectiva microeconmica: recursos hdricos; produo agrcola; padro de uso da terra; setor energtico; biodiversidade e seus servios; e zona costeira. Inclui tambm uma anlise sumria dos impactos sobre a regio Nordeste, particularmente afetada. Outros setores notadamente infraestrutura urbana no foram includos para limitar o escopo do estudo.

Captulo 4: adaptao mudana do climaa literatura dedicada s anlises tcnicas eeconmicas sobre adaptao bastante limitada, em contraste com a mitigao, de modo que o tratamento dado questo ainda incipiente. Os setores para os quais se analisam algumas alternativas de adaptao so (i) agricultura, (ii) energia e (iii) zona costeira. Na medida do possvel, comparam-se os custos destas medidas com os benefcios gerados (reduo de danos).

Captulo 5: anlise macroeconmicaavalia de forma integrada os impactos sobre a economia brasileira e sobre as diferentes regies causados por mudanas do clima, principalmente em termos de temperatura e pluviosidade, bem como os impactos de polticas de adaptao no Brasil, e como eles interagem com outros fatores macroeconmicos. O ncleo central da modelagem utilizada um modelo de equilbrio geral computvel (EGC) capaz de lidar de maneira consistente com outros modelos do estudo, notadamente os de demanda e oferta de energia, uso da terra e de produtividade agrcola. Estes, por sua vez, so integrados a modelos climticos.

Captulo 2: Cenrios de clima no BrasilDescreve o processo fsico resultante do aquecimento global e delineia os cenrios futuros do clima. A pergunta bsica : Quais as variaes e as mudanas esperadas de temperatura e de chuva nas diversas regies do pas? Os resultados dos modelos so usados para projetar cenrios de temperatura e pluviosidade, entre outros parmetros. Todos os demais captulos tm como base esses dados gerados pelo INPE, exceto no caso das anlises sobre a zona costeira e sobre a biodiversidade.

Captulo 6: reduo de emissesDiscute as principais opes do pas de contribuircom o esforo global para reduzir emisses, primordialmente: (i) custo de reduo de emisses na regio amaznica; (ii) impacto dos biocombustveis tanto para reduzir emisses domsticas quanto de outros pases; e (iii) utilizao de uma taxa sobre o carbono emitido como instrumento de mitigao e seus impactos na economia. Um quarto item fundamental, eficincia energtica, foi objeto especfico de um estudo do Banco Mundial em parceria com o governo brasileiro, tendo entre seus principais executores membros da mesma equipe dos captulos de energia; este trabalho faz apenas uma anlise sumria baseada no referido trabalho.

Captulo 3: impactos ambientais, econmicos e sociaisa partir das projees climticas futuras, asmudanas so traduzidas em resultados fsicos especficos. A pergunta bsica deste bloco : Dadas as projees das variaes climticas, quais os impactos econmicos, sociais e ambientais esperados? Neste item incluem-se as anlises setoriais e os modelos que ligam variaes de temperatura e pluviosidade swww.economiadoclima.org.br

17FRONTPAGE/SHUTTERSTOCk

d. limitaesEste estudo constitui uma primeira aproximao na anlise das mudanas climticas globais sob o enfoque econmico. O estudo avalia parte do espectro de riscos associados mudana do clima no Brasil. Apesar de suas limitaes, de resto comuns em estudos semelhantes e com os mesmos propsitos gerais, constitui contribuio relevante para abordar a mudana do clima e o delineamento de polticas pblicas nessa rea. Uma primeira limitao foi o fato de adotar apenas um modelo climtico global no qual se basearam as anlises setoriais e econmicas. Esta deciso, deliberada quando do delineamento do estudo em outubro de 2007, teve por origem o conhecimento disponvel na poca com simulaes de funes de distribuio de probabilidade para diversos parmetros. Alm disso, a experincia do INPE com o downscaling (reduo de escala) dos modelos globais era tambm limitada. A segunda limitao a abordagem determinstica do estudo, isto , a no considerao explcita do risco e da incerteza. Como j mencionado, uma caracterstica bsica da mudana do clima global o aumento das oscilaes dos fenmenos climticos acompanhado da possibilidade de ocorrncia de eventos extremos. Esta primeira aproximao adota valores mdios esperados, tendo por foco o que hoje conhecido com um alto grau de certeza, isto , os custos imediatos de pequenas mudanas de temperatura sobre um conjunto limitado de impactos mensurveis. Estudos futuros devero focalizar os eventos de baixa probabilidade e de muito alto impacto. A terceira limitao tcnica, que atinge todos os estudos sobre o tema, o fato de os valores estimados

de precipitaes futuras pelos vrios modelos climticos no concordarem em sinal (aumento ou diminuio). Isso limita em grande medida as projees sobre o clima futuro e, assim, sobre seus potenciais impactos econmicos e decises quanto s medidas por adotar. A quarta limitao do estudo decorre da incompleta base de dados e de informaes tcnicas disponveis. Esto a abrangidos desde modelos climticos e projees sobre o clima futuro at dados e conhecimentos sobre a cadeia de eventos ecolgicos e socioeconmicos, incluindo a valorao econmica. Nos setores mais complexos, ou quando o conhecimento tcnico mais restrito, como no caso da biodiversidade e da zona costeira, as anlises feitas e a valorao econmica so preliminares. Cabe finalmente registrar a no incorporao de mudanas tecnolgicas que podero ocorrer no longo prazo pela falta de cenrios e anlises sobre as quais se pudessem basear as projees. Esta deciso decorreu da incipincia dos modelos e das restries tcnicas de ligar todos os modelos, desde as projees de variaes climticas at seus impactos socioeconmicos. Concluindo, o presente estudo focalizou a perspectiva nacional, deixando para estudos futuros as anlises locais e dos impactos das dimenses institucionais, legais e culturais. Com referncia s anlises sociais, elas se limitaram ao que surgiu da anlise macroeconmica e apenas parcialmente dos diversos captulos setoriais. Alm disso, este estudo no estimou os impactos das mudanas climticas sobre a infraestrutura, e menos ainda sobre alternativas de adaptao. Trata-se de reas que recomendam pesquisas futuras, por representarem custos significativos em termos econmicos.www.economiadoclima.org.br

Dr. Morley reaD/shutterstock

captulo 2

Cenrios sobre o clima no Brasil

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Cenrios Futuros |economia da Mudana do clima no Brasil

cenrios de clima no BrasilEste captulo se baseia no estudo cenrios futuros sobre o clima no Brasil, elaborado por uma equipe do cptEc/INpE liderada por Jos Marengo e integrada por lincoln alves, luiz Salazar, Roger torres e Daniel caetano Santos.a tarefa de construir cenrios futuros de clima no[2]Modelagem nada mais doque um processo de simulao matemtica da realidade por meio de variveis quantitativas calculadas de maneira interativa com auxlio de computadores. Ela permite modificar o comportamento de algumas variveis para antecipar o efeito dessa modificao sobre outras variveis. Consultar http://precis. metoffice.com para o modelo do Hadley Centre e Marengo et al.(2009) e Ambrizzi et al. (2007) em http://mudancasclimaticas. cptec.inpe.br.

Brasil foi desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em 2007. As anlises dos impactos econmicos apresentados nos prximos captulos so baseadas nessas projees de clima, que refletem cenrios de alta e baixa emisso global de gases de efeito estufa, respectivamente A2-BR e B2-BR, por sua vez baseados nas projees globais do IPCC (2007).

coMputao global para ao local: reduo da escala possibilita predies regionaisA simulao do comportamento da atmosfera se faz com modelos climticos globais (GCMs, na abreviao em ingls), programas de computador que integram dados sobre um grande nmero de variveis por meio de equaes fsicas.Cada clula tem 19 nveis de altitude (a altura das clulas no est em escala)

MetodologiaModelos climticos. Neste estudo foi utilizado o HadRM3P do sistema de modelagem2 climtica regional PRECIS (Providing Regional Climates for Impact Studies) do Hadley Centre, do Reino Unido, que possui uma resoluo horizontal de 50 km com dezenove nveis

Clulas

Os cenriOs A2 e B2 dO iPccos conhecidos cenrios do Ipcc so roteiros mais ou menos detalhados encadeando pressuposies sobre o comportamento da economia mundial nas prximas dcadas, compondo uma viso possvel do desenvolvimento futuro de emisses de substncias que possam exercer um efeito radiativo potencial (gases do efeito estufa, aerossis), contribuindo para aquecer ou resfriar a atmosfera. as anlises deste estudo concentram-se em torno de dois deles, um mais pessimista (a2) e outro mais otimista (B2). Sumariamente, o cenrio a2 projeta um mundo heterogneo, voltado para a autossuficincia nacional e a preservao das identidades locais. os padres de fertilidade entre as regies convergem muito lentamente, o que acarreta um aumento crescente da populao. o crescimento econmico no ocorre de forma homognea e a disparidade de renda entre pases ricos e pobres se mantm. pressupe-se um fluxo menor de comrcio, menor difuso de tecnologia e menor nfase nas interaes econmicas entre regies. o roteiro do cenrio B2 distingue-se do a2 principalmente pela adoo de polticas para enfrentar os problemas do meio ambiente e da sustentabilidade social. um mundo em que a populao global aumenta a uma taxa inferior do cenrio a2, com nveis intermedirios de desenvolvimento econmico e mudana tecnolgica menos rpida e mais dispersa. as disparidades internacionais de renda decrescem um pouco mais do que no cenrio a2.www.economiadoclima.org.br

Esta tcnica matemtica chamada de downscaling permite refinar as projees para que forneam informao sobre pores menores do territrio. Estas informaes so mais teis para estudo e planejamento no nvel regional e nacional.

50 KM

Neste estudo utilizou-se a ferramenta do modelo regional HADRM3Pt do Hadley Centre britnico e que foi rodado no Brasil. O modelo trabalha com clulas de 50 km de lado e 19 nveis de altitude (correspondentes a 30 km, j na estratosfera). O GCM fornece a informao inicial, a partir da qual se computam os comportamentos de cada clula em cenrios variveis usando o modelo regional.

21na vertical (da superfcie at 30 km na estratosfera) e quatro nveis no solo. Para o downscaling (reduo de escala) de cenrios climticos futuros foi utilizado um modelo climtico global, o HadAM3P, escolhido por ser o nico disponibilizado em 2007 com a frequncia necessria (sadas a cada seis horas) e por representar satisfatoriamente o clima do presente. Inicialmente foram feitas integraes do modelo regional para obter a climatologia do modelo para o clima presente (1961-1990) e posteriormente as projees de clima futuro (2071-2100) para os cenrios climticos A2-BR (altas emisses de gases do efeito estufa, ou GEE) e B2-BR (baixas emisses de GEE). Para os valores dos perodos 2010-2040 e 2041-70 foi aplicada uma regresso linear simples ponto a ponto de grade considerando o clima presente e projees futuras do modelo regional HadRM3P como varivel dependente, e do modelo global HadCM3 como independente. seguintes (principais) foram usadas pelos diferentes grupos de trabalho participantes deste estudo, que tiveram disposio valores futuros dirios de: temperatura (mdia, mxima e mnima) do ar prximo superfcie; precipitao; fluxos de radiao (solar e de onda longa, proveniente da superfcie terrestre); componentes do balano de energia (radiao lquida, calor sensvel e latente); velocidade do vento prximo superfcie; e umidade atmosfrica (relativa e especfica).

resultados: projees futuras de chuva e temperaturaAs reas consideradas mais vulnerveis so notadamente a Amaznia e o Nordeste do Brasil. O aquecimento mdio pode chegar a 5C em 2100 no cenrio A2-BR e 3C no cenrio B2-BR, embora na Amaznia o aquecimento gradativo possa chegar, em 2100, a 7-8C ou 4-6C, respectivamente. As chuvas tendem a diminuir durante o sculo XXI, sendo as redues mais intensas no Nordeste (2-2.5 mm/dia) e na Amaznia (1-1.5 mm/ dia). Para todo o Brasil, as projees indicam aumento da temperatura e de extremos de calor, bem como redues na frequncia de geadas devido a aumento da temperatura mnima, principalmente nos estados do Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

Variveis climticas. Das quase 300 variveis climticas geradas pelo modelo regional HadRM3P, asMuDaNas No brasIl: Projees do clima por regio no ano 2100

Mais chuvas (aumento extremo em algumas regies)

AMAZNIA DO OESTE

NORTEAumento de temperatura (at 4-6 C) Menos chuva (redues de at 1.5 mm/dia) NORDESTE Menos chuvas no Semi-rido (redues de at 2.5 mm/dia na estao chuvosa)

concluses e recomendaesO nvel de incertezas ainda significativo. Torna-se importante aprimorar e criar novas ferramentas para avaliar detalhadamente os impactos no Brasil, fornecendo base cientfica para a tomada de decises sobre regies vulnerveis e processos crticos de conservao ambiental. So necessrias anlises que incluam as respostas dos ecossistemas s forantes climticas de LEGENDA escala global e corrente dinmica de alteraes causada Fonte: INPE pela ocupao humana, e que apontem os fatores que causam os impactos mais relevantes.

Confiabilidade Baixa

Mdia

Alta

CENTRO OESTEMais ondas de calor e menos geadas em Mato Grosso do Sul

Aumento de temperatura

Mais ondas de calor

Menos geadas

Aumento de chuvas

SULNo Rio Grande do Sul, aumento de chuvas intensas e menos geadas.

SUDESTEMais chuvas intensas e reduo de geadas em So Paulo www.economiadoclima.org.br

Aumento de chuvas extremas

Reduo de chuvas

Aumento de dias secos

Reduo de dias secos

Fonte: INPE

luchschen/shutterstock

captulo 3

Impactos ambientais, econmicos e sociais

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Impactos ambientais, econmicos e sociais | Economia da Mudana do Clima no Brasil

Impactos ambientais, econmicos e sociaisa pergunta bsica que permeia as subsees deste captulo : Dadas as projees dasvariaes climticas, quais os impactos econmicos, sociais e ambientais esperados? Dela resultam anlises setoriais e os modelos que relacionam variaes de temperatura e pluviosidade s alteraes especficas nos diferentes setores econmicos (por vezes denominados dose-resposta). Os temas analisados so: recursos hdricos; produo agrcola; padro de uso da terra; setor energtico; biodiversidade e seus servios; e zona costeira.

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carlOs netO/shutterstOck

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3.1. Recursos hdricosEsta seo se baseia no estudo Estimativas da oferta de recursos hdricos no Brasil em cenrios futuros de clima (2015 2100), elaborado por uma equipe da Fundao Brasileira para o Desenvolvimento Sustentvel (FDBS). a equipe foi formada por Enas Salati (coordenador), Walfredo Schindler, Daniel de castro Victoria, Eneida Salati, Joo carlos Simanke de Souza e Nilson augusto Villa Nova.a alterao da disponibilidade hdrica superficial e subterrnea tem implicaes importantes sobre a economia, a qualidade de vida e os ecossistemas. O estudo de sua variao deve ser o primeiro na investigao da cadeia de alteraes e impactos da mudana climtica sobre os diversos setores. com base nos dados do inPe, o estudo partiu do balano hdrico no Brasil, nos perodos de 2011 a 2041, 2041 a2070 e 2071 a 2100, para os cenrios a2-Br e B2-Br, comparados com o perodo de 1961-1990 calculados para 12 bacias hidrogrficas, segundo a diviso da ana (agncia nacional de guas). foi tambm estimada a variao da disponibilidade hdrica subterrnea para as regies hidrogrficas. Os resultados gerados foram ento empregados para estimar os impactos da disponibilidade hdrica sobre a produo hidreltrica e agrcola.

[3] Perda de gua de um ecossistema para a atmosfera, por evaporao ou transpirao das plantas

BAciAs mAis secAs: com exceo do sul-sudeste, cai a vazo dos rios Bacia hiDrOGrficatocantins Amaznica Paraguai Atlntico ne oriental Atlntico leste Paran Parnaba so Francisco Atlntico sul6000 uruguai

Metodologiaforam definidos e verificados os mtodos para determinao da evapotranspirao3 potencial e do clculo do balano hdrico para o territrio brasileiro. calculou-se o balano hdrico de forma espacializada e georreferenciada, em um sistema de informaes geogrficas com resoluo espacial de 0,5o x 0,5o de latitude/longitude (50 km x 50 km, ou 2.500 km2), utilizando mdias climticas mensais de longo prazo. a determinao do melhor mtodo para cada regio hidrogrfica foi feita comparando o resultado do balano hdrico com as estimativas de descarga, precipitao e evapotranspirao de longo prazo medidas pela ana. a relao evapotranspirao real/ precipitao foi utilizada na comparao entre o balano hdrico modelado e o observado para as diversas regies. Para a simulao do balano hdrico do clima presente empregaram-se dados climticos da base cru05, considerada padro climtico para o perodo 1961-1990. Dois mtodos para calcular a evapotranspirao potencial (etP) foram testados, thornthwaite e camargo. as estimativas foram adaptadas para climas mais secos e midos utilizando dados de temperaturas mxima e mnima (camargo et al. 1999).

excedentes hdricos (vazes) (m3/s) AnA cenrio B2-Br 9.825 122.911 1.915 119 381 9.700 241 1.088 4.643 4.577 2.547 1.935 9.091 111.609 2.169 83 375 9.649 150 1.227 4.496 4.511 2.674 1.670 7.376 98.944 2.175 14 99 10.699 108 1.331 4.832 4.783 2.779 1.570 9.945 123.238 2.145 133 423 10.764 261 1.223 4.659 4.435 3.174 1.915 cenrio A2-Br 7.545 97.197 2.023 67 328 10.038 98 1.273 4.239 4.084 2.966 1.395 6.434 91.930 3.470 2 88 12.669 75 1.504 4.599 4.342 3.036 1.250

1961-1990 2011-2040 2041-2070 2071-2100 2011-2040 2041-2070 2071-2100

13.624 131.047 2.368 779 1.492 11.453 763 2.850 4.174 4.121 3.179 2.683

Atlntico ne ocidental 40003000

Atlntico sudeste 5000

Diminui GuA DisPonVel no norDeste: Vazo de bacias reduz-se a um tero 1000 da mdia histrica0 1961-1990 2011-2040 2041-2070 2071-2100

2000

DIsponIBIlIDaDE HDRICa (M3/sEgunDo)

cenrio a2-BR6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 1961-1990 2011-2040 2041-2070 2071-2100

cenrio B2-BR6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 1961-1990 2011-2040 2041-2070 2071-2100

so francisco Parnaba atlntico e atlntico ne Oriental

so francisco Parnaba atlntico e atlntico ne Oriental

ResultadosOs resultados so alarmantes para algumas bacias, principalmente na regio nordeste. nas bacias do nordeste Oriental e atlntico leste estima-se uma reduo brusca das vazes at 2100 para os dois cenrios, chegando a valores quase nulos. Para a bacia do so francisco projeta-se uma diminuio da vazo no perodo 2011-2040, com tendncia de pequeno aumento no perodo de 2041 a 2100. Para as bacias do

6000

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Impactos ambientais, econmicos e sociais | Economia da Mudana do Clima no Brasilatlntico sul e uruguai o resultado obtido uma pequena tendncia de aumento das vazes at 2100. a vazo da bacia do atlntico sudeste apresenta uma tendncia de pequena diminuio at o ano 2100 para o cenrio B2-Br e praticamente no se altera no cenrio a2-Br. Diante das muitas incertezas envolvidas e do sinal varivel obtido de modelos climticos (aumento/ diminuio de precipitao regional), foram ainda feitas comparaes entre os possveis efeitos das mudanas climticas globais nos excedentes hdricos, calculados pelo mtodo de thornthwaite-Mather, para oito regies hidrogrficas do Brasil, em uma escala aproximada de 2 x 2 de latitude/longitude, com dados provenientes do estudo em uma escala de 50 km x 50 km, a partir das mdias obtidas de 15 modelos climticos globais, cujos resultados esto na tabela Bacias hidrogrficas(abaixo). Os resultados evidenciam as discrepncias das projees dos diversos modelos climticos globais e suas implicaes em termos de excedentes hdricos. particularmente importante destacar as projees menos dramticas de quedas na regio nordeste a mdia dos demais modelos projeta para o Parnaba, por exemplo, um excedente de 56% at 2100, ao contrrio de 14% previsto pelo modelo aqui utilizado do hadley centre (cenrio B2-Br). estes mesmos nmeros para o atlntico ne Ocidental so 86% e 59%. no caso das bacias do Paraguai e do Paran, as projees tem inclusive sentidos contrrios: excedente de 40% ao invs de 147% (Paraguai) e 47% ao invs de 110% (Paran, ambos no cenrio a2-Br em 2100). com respeito variao da disponibilidade das guas subterrneas, observou-se que, levando em considerao apenas a variao da precipitao pluviomtrica para os cenrios a2-Br e B2-Br, as bacias hidrogrficas amaznia, atlntico sul, atlntico sudeste, uruguai, Paran e Paraguai devero manter ou mesmo aumentar a oferta. as demais bacias hidrogrficas devero sofrer recarga deficitria.

Concluses e RecomendaesOs resultados deste estudo so uma primeira aproximao ao tema. em especial, deve-se chamar ateno para o fato de que os valores estimados pelos vrios modelos das precipitaes futuras no concordam em sinal (aumento ou diminuio). no entanto, as disponibilidades hdricas superficiais para quase todas as regies no Brasil apresentam uma diminuio de acordo com os dados de clima fornecidos pelo inPe, especialmente para o nordeste, com grande diminuio do excedente hdrico. Praticamente em todas as bacias hidrogrficas do Brasil a tendncia de diminuio das vazes, inclusive nas regies em que os modelos indicam um aumento das precipitaes. nestes casos a diminuio das vazes decorrente das perdas por evapotranspirao causada pelo aumento da temperatura. em razo da gravidade j existente na oferta de recursos hdricos na regio do nordeste semirido, os dados indicam que em apenas uma ou duas dcadas ela poder tornar-se crtica. urgente que os rgos de recursos hdricos, planejamento e ao social iniciem ou reforcem programas de gesto integrada, identificando situaes mais graves e usos prioritrios, antecipando medidas de adaptao das populaes mais pobres e das atividades econmicas mais dependentes desses recursos. O aspecto crtico da situao sugere que no horizonte de 10 a 20 anos pode ocorrer migrao de populaes atingidas mais fortemente pelas secas, gerando por sua vez a um aumento da demanda por servios principalmente nas reas urbanas da regio, agravando condies socioeconmicas que j figuram entre as mais desfavorveis do pas.

BAciAs hiDroGrFicAs: comparao dos resultados da mdia de 15 modelos climticos alternativos e hadrM3P, relativamente aos excedentes de 1961 a 1990 Bacias hiDrOGrficasrio tocantins rio Amazonas rio Paraguai rio Parnaba rio so Francisco regio sul rio Paran1961 a 1990

mdias dos modelos 2 x 2lat/lon cenrio B2-Br 83% 88% 68% 69% 73% 88% 95% 80% 77% 82% 60% 59% 57% 87% 93% 74% 73% 80% 59% 56% 43% 86% 92% 67% 84% 89% 73% 70% 72% 92% 95% 83% cenrio A2-Br 73% 80% 54% 54% 46% 85% 90% 67% 63% 73% 40% 47% 30% 80% 86% 47% 72% 93% 81% 32% 38% 72% 111% 84%

hadrm3P 50 km x 50 km cenrio B2-Br 67% 84% 91% 19% 42% 62% 109% 84% 54% 75% 92% 14% 47% 59% 116% 93% 73% 93% 90% 34% 43% 71% 109% 94% cenrio A2-Br 55% 73% 85% 13% 45% 52% 101% 88% 47% 70% 147% 10% 53% 47% 107% 110%

2011-2040 2041-2070 2071-2100 2011-2040 2041-2070 2071-2100 2011-2040 2041-2070 2071-2100 2011-2040 2041-2070 2071-2100

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Atlntico ne ocidental 100%

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27PaVel cheikO/shutterstOck

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3.2. setor de energiaEsta seo se baseia no estudo Impactos na demanda e na confiabilidade no setor de energia, elaborado por uma equipe do programa de planejamento Energtico da coppE/uFRJ. o estudo foi coordenado por Roberto Schaeffer, alexandre Szklo e andr Frossard pereira de lucena, tendo como co-autores Raquel de Souza, Bruno Borba, Isabella Vaz leal da costa, amaro olmpio pereira Jnior e Sergio Henrique cunha.[4] Utilizou-se o ano 2035porque era o ano para o qual a modelagem estava disponvel. Ademais, 2035 um horizonte no qual as inovaes tecnolgicas so ainda previsveis. Estima se que aps 2035 podem ocorrer rupturas tecnolgicas que modificariam o paradigma da relao oferta/ demanda de energia.

a mudana do clima tem implicaes sobre aproduo e o consumo de energia, em especial sobre algumas fontes renovveis de energia. De forma a investigar a vulnerabilidade do sistema energtico brasileiro, analisaram-se os possveis impactos sobre a gerao hidreltrica, a produo de biocombustveis lquidos e a demanda por ar condicionado nos setores residencial e de servios at o ano 20354. Os impactos sobre o potencial elico e a gerao termeltrica tambm foram analisados, mas so menos significativos.

[5] Energia firme corresponde maior quantidade de energia que o sistema hidreltrico pode fornecer na pior condio hidrolgica, por sua vez caracterizada pelo pior perodo crtico (quando um reservatrio vai do nvel mais cheio ao mais vazio). Energia mdia ndica a quantidade de energia que o sistema pode atender dada uma condio hidrolgica mdia.

MetodologiaImpactos sobre a hidreletricidade. investigaramse os impactos de novas condies climticas sobre a gerao de hidreletricidade como resultado de modificaes no nvel e na variabilidade das vazes

naturais que fornecem gua aos reservatrios das usinas. Dividiu-se a anlise em duas etapas. na primeira, com base nas projees apresentadas na seo anterior, projetaram-se novas sries de vazo para alimentar um modelo desenvolvido pelo centro de Pesquisas em energia eltrica (cePel), suishi-O, que simula a operao do sistema hidreltrico interligado para uma determinada condio hidrolgica. O modelo calcula a energia firme e a energia mdia5 para uma dada configurao do sistema hidreltrico e um dado conjunto de sries de vazo, medidas que foram utilizadas na avaliao dos impactos nos cenrios a2-Br e B2-Br.

Impactos sobre a produo de biocombustveis. estes impactos incidemprimordialmente sobre o cultivo de biomassa, tanto

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29para a manufatura de etanol como para a de biodiesel. na seo 3.3 a seguir, estima-se a evoluo das reas propcias produo de cana-de-acar e outras oleaginosas (soja e girassol), segundo os cenrios climticos a2-Br e B2-Br. com base nesse estudo e em valores de produtividade industrial, analisou-se a possibilidade de novas condies climticas restringirem o atendimento da demanda projetada para biocombustveis no pas.

menos eletriciDADe em 2100: energia firme cai em todas as bacias, em especial no nordeste e no norte Bacia VariaO eM relaO a cenriOs seM MuDana DO cliMacenrio A2-Br e. Firme Amazonas tocantins Araguaia so Francisco Parnaiba Atlntico leste Atlntico sudeste Atlntico sul uruguai Paraguai Paran totAl -36% -46% -69% -83% -82% -32% -26% -30% -38% -8% -31,5% e. mdia -11% -27% -45% -83% -80% 1% 8% 4% 4% 43% 2,7% cenrio B2-Br e. Firme -29% -41% -77% -88% -82% -37% -18% -20% -35% -7% -29,3% e. mdia -7% -21% -52% -82% -80% -10% 11% 9% -3% 37% 1,1%

Impactos sobre a demanda de eletricidade.Para projetar o impacto na demanda de energia para condicionamento de ar nos setores residencial e de servios, estimou-se a elevao do consumo vinda tanto da elevao da temperatura mdia (efeito coeficiente de desempenho) quanto do aumento da utilizao pela maior frequncia de dias quentes (efeito degree-days).

Resultadosproduo hidreltrica. O principal impactoidentificado foi uma queda na confiabilidade do sistema hidreltrico e fortes efeitos regionais na gerao hidreltrica no norte-nordeste. De maneira geral, embora a energia mdia tenha se mantido quase constante nos cenrios a2-Br e B2-Br, a energia firme sofre uma forte queda, de cerca de 30%. Desagregando resultados por bacia, verifica-se que as mais afetadas esto no nordeste (principalmente) e no norte, tanto em termos de energia mdia quanto de energia firme. na verdade, a energia mdia do sistema se mantm s em funo da variao positiva nas bacias do sul e sudeste, especialmente a do Paran, que possui forte participao no agregado nacional. Os resultados de balano hdrico para as bacias do nordeste so extremamente negativos. nas bacias do Parnaba e do atlntico leste o excedente hdrico chega a cair mais de 80% em alguns pontos da projeo, com forte queda na produo de energia.

DaViD DaVis/shutterstOck

produo de biocombustveis. no caso doetanol, constatou-se que as alteraes climticas no provocaro consequncias negativas para a cultura da cana. Mudanas na distribuio agrcola ocorrero, com a cultura deslocando-se para as regies mais ao sul do pas, sem no entanto gerar perdas econmicas nem redues na quantidade produzida. De acordo com o estudo sobre os impactos das mudana do clima sobre o padro de uso da terra, reas com baixo risco de produo de oleaginosas devero reduzir-se com a alterao climtica no caso da soja e do girassol, matria-prima para a fabricao de biodiesel. a deficincia hdrica dever tornar-se uma realidade no nordeste, forando a migrao dessas culturas para regies mais ao sul do pas, que se tornariam ainda mais propensas agricultura com a reduo das geadas.

Demanda de energia. Os resultados projetam maior consumo de eletricidade, nos setoreswww.economiadoclima.org.br

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Impactos ambientais, econmicos e sociais | Economia da Mudana do Clima no BrasilMichael hieBer/shutterstOck

residencial e de servios, com condicionamento de ar, em razo de temperaturas mais elevadas. no pior cenrio, o aumento fica em torno de 6% (residencial) e 5% (servios).

Concluses e recomendaesO impacto mais relevante a perda de confiabilidade na gerao de hidreletricidade, por uma combinao de efeitos climticos desfavorveis com uma grande dependncia desse recurso no Brasil. Projeta-se maior vulnerabilidade no norte e no nordeste, as regies menos desenvolvidas do pas. Devem-se considerar seriamente, portanto, polticas adicionais de desenvolvimento socioeconmico nessaswww.economiadoclima.org.br

regies, a fim de prepar-las para lidar com tais impactos. a confiabilidade do sistema de gerao de eletricidade depender de uma capacidade instalada maior, que poder ficar ociosa grande parte do tempo. O setor energtico deve buscar a flexibilizao de opes de gerao, abrangendo no s aspectos operacionais e institucionais, mas tambm a diversificao da matriz para reduzir a dependncia de uma nica fonte de energia. alm da gerao a gs natural, a energia elica e a gerao a bagao de cana podem ser alternativas interessantes, ainda que a gerao a gs tenha a vantagem de apresentar maior flexibilidade operacional.

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3.3. produo agrcolaEsta seo se baseia no estudo Impactos da Mudana do clima na produo agrcola, elaborado por Hilton Silveira pinto (cepagri/unicamp), Eduardo assad (Embrapa agropecuria), e Giampaolo Q. pellegrino. No trabalho do zoneamento de riscos, os pesquisadores da Embrapa e da unicamp contaram com a cooperao de outras instituies nacionais e estaduais e com a gerncia e o apoio financeiro do proagro, do Ministrio da agricultura.

Esta seo tem por objetivo antecipar astendncias de alterao do potencial agrcola das regies produtoras em consequncia da mudana do clima. as projees abarcam nove culturas: algodo, arroz, caf, cana-de-acar, feijo, girassol, mandioca, milho e soja. Os resultados indicam em quais municpios podero ser plantadas essas culturas com baixo risco de frustrao de safras.

Metodologiaa avaliao dos impactos seguiu a metodologia utilizada no programa de zoneamento de riscos climticos adotada pelos ministrios da agricultura e do Desenvolvimento agrrio para orientar o crdito e o seguro agrcola. O zoneamento estabelece nveis de risco das regies para vrios tipos de cultura, com perdas de safras de no mximo 20%, indicando o que plantar, onde plantar e quando plantar, de acordo com a disponibilidade climtica regional, em trs tipos de solos. utilizou-se uma modelagem que projeta cenrios climticos futuros para rearranjar a distribuio das culturas agrcolas de acordo com o aumento das temperaturas. tomou-se em conta tambm o consequente aumento da evapotranspirao e da

deficincia hdrica. Para avaliar a disponibilidade de gua no solo durante as fases crticas das culturas, foi utilizado o conceito de isna (ndice de satisfao da necessidade de gua), representado pela relao entre a evapotranspirao real e a evapotranspirao mxima, que tipicamente fica ao redor de 0,60. foram estimadas as variaes de reas cultivadas, do nmero de municpios aptos ao cultivo, da produo e dos valores econmicos associados a variaes de produtividade, tendo como base o zoneamento oficial de riscos climticos de 2007. Os modelos utilizados neste estudo, que relacionam os impactos das projetadas mudanas climticas na agricultura brasileira, no levaram em considerao de maneira explcita e completa os efeitos dos extremos climticos na agricultura e pecuria. Portanto, eles no representam as perdas na agricultura associadas projetada maior frequncia de ondas de calor, secas, veranicos, chuvas intensas e perodos midos, entre outros, os quais sabidamente so a principal causa ambiental de perdas e prejuzos atividade agrcola. nesse sentido, alguns impactos positivos, encontrados principalmente para o sul do Brasil, poderiam ser reduzidos, ou mesmo tornaremse impactos negativos, se os efeitos dos extremos climticos fossem explicitamente considerados.

colheitA AmeAADA: reas propcias se reduzem para todas as culturas, com exceo da cana culturas2020 Algodo Arroz caf cana Feijo Girassol mandioca milho soja -11% -9% -7% 171% -4% -14% -3% -12% -22%

ResultadosOs resultados mostram que, com exceo de um impacto positivo sobre a cana-de-acar e parcialmente sobre a mandioca, todas as outras culturas tero resultados negativos. O aumento das temperaturas dever reduzir as reas com baixo risco de produo, como no caso extremo da soja, que no cenrio a2-Br ter sua rea favorvel de plantio encolhida em 41% at o ano 2070. J a cana poder ter expanso de at 118% nos mesmos cenrio e ano. Os maiores impactos afetaro soja, milho e caf. as culturas de milho, arroz, feijo, algodo e girassol devero sofrer um impacto significativo no agreste nordestino, hoje responsvel pela maior parte da produo regional de milho, e na regio dos cerrados nordestinos sul do Maranho, sul do Piau e oeste da Bahia.

VariaO eM relaO rea atualcenrio B2-Br 2050 -14% -13% -18% 147% -10% -17% -7% -15% -30% 2070 -16% -14% -28% 143% -13% -18% -17% -17% -35% 2020 -11% -10% -10% 160% -4% -14% -3% -12% -24% cenrio A2-Br 2050 -14% -12% -17% 139% -10% -16% -13% -15% -34% 2070 -16% -14% -33% 118% -13% -18% -21% -17% -41%

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Impactos ambientais, econmicos e sociais | Economia da Mudana do Clima no Brasilterrance eMersOn/shutterstOck

cenrio a2-BR. a perda de rea potencial elevada em todas as lavouras anuais, tornando-se quase nula no caso do arroz. a cana-de-acar se expande um pouco e a mandioca, ligeiramente mais. nas trs principais culturas anuais (soja, milho e algodo), o sentido e a dimenso relativa do impacto j aparecem na simulao de 2020. na pecuria, um aumento de temperatura da ordem de 3c pode causar a perda de at 25% da capacidade de pastoreio para bovinos de corte e um aumento de custo de produo de 20% a 45%. a carne brasileira se tornaria mais cara que a de seus concorrentes mais importantes (uruguai, argentina e austrlia), caso estes pases no sofram igualmente as consequncias da mudana do clima. na hiptese de uma elevao generalizada de preos das fontes de calorias e protenas para alimentao animal, a mandioca aparece como um substituto importante. a cana-de-acar se consolidaria como fonte de energia primria, e a ampliao significativa da rea apta para seu plantio sugere que haveria uso econmico para todo o bagao e parte das folhas na cogerao de energia eltrica. cenrio B2-BR. as trs lavouras de maiorimportncia econmica para o centro-Oeste soja, milho e algodo apresentam a maior reduo de rea potencial, seguidas de arroz e feijo. O caf deve ter elevada reduo de rea potencial e se deslocar para o sul. cana-de-acar e mandioca so as nicas que apresentam possibilidade de expanso, em especial a primeira.

Concluses e RecomendaesOs cenrios analisados afetaro o agronegcio do pas como um todo. algumas tecnologias podem ser recomendadas, como o plantio direto na palha, que j utilizado em cerca de 22 milhes de hectares, pois diminui sensivelmente o risco de perda de safra por seca. Outra tecnologia indicada a integrao pecurialavoura-floresta, que permite a recuperao de reas degradadas de forma rentvel. uma poltica que deve ser fortalecida a de melhoramento gentico das culturas direcionado para tolerncia ao calor e seca. considerando que uma nica variedade melhorada demora cerca de dez anos para ser desenvolvida, alm de outros trs, no mnimo, para ser multiplicada, os projetos tm de ser iniciados de imediato. no Brasil, cerca de 60% da produo agrcola provm da agricultura familiar ou de pequena escala. sistemas de extenso agrcola deveriam ser desenvolvidos para que tais agentes estabeleam comunicao rpida e integrada com centros de pesquisas ou de divulgao tcnica, como no caso do acesso a dados meteorolgicos pblicos.www.economiadoclima.org.br

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3.4. padro de uso da terraEsta seo se baseia em um estudo Impactos da Mudana do clima no uso da terra elaborado por equipe do IpEa composta por Jos Feres (coordenador), Juliana Speranza, paulo antnio Viana, thas Barcellos e Yanna Braga.a deciso dos agricultores sobre qual uso dar terra no depende apenas da fenologia6 das plantas e de sua resposta mudana do clima, mas igualmente de variveis econmicas, que levaro a importantes diferenas regionais nas estratgias de adaptao dos produtores rurais. Por exemplo, dependendo do preo dos insumos, numa regio tpica produtora de soja cuja produtividade caia muito por conta do aumento da temperatura, pode valer a pena aumentar o uso de fertilizantes, compensando o efeito fenolgico sobre a planta. especificamente, esta seo avalia os efeitos da mudana do clima sobre as reas de lavoura, pasto e floresta dos estabelecimentos agrcolas brasileiros, a partir de um modelo simulador de uso da terra no nvel municipal. alocaes de terra reagem a mudanas das diferentes variveis explicativas (preo dos produtos, preo dos insumos e fatores agroclimticos). a partir deles, possvel simular o impacto da mudana do clima sobre as variaes de rea. Primeiramente, foram simuladas reas destinadas a cada um dos trs tipos de uso, com base nas mdias de temperatura e precipitao projetadas para o perodo-base (1961-1990). em seguida, simularam-se as reas alocadas para cada tipo de uso considerando a mudana do clima projetada. Por fim, foi calculada a variao percentual da rea destinada a cada tipo de uso. a construo das variveis envolveu a compatibilizao de diferentes bases de dados. as relativas aos tipos de uso lavoura, pasto e florestas foram construdas com dados municipais do censo agropecurio do iBGe (1996). a varivel produtividade agrcola foi calculada como mdia municipal (razo entre quantidade colhida e rea colhida). foramnilO DaVila

Metodologia[6] Estudo das relaesentre processos ou ciclos biolgicos e o clima.

no modelo de uso da terra empregado, os parmetros estimados para as equaes de pasto, lavoura e floresta permitem analisar de que maneira as

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Impactos ambientais, econmicos e sociais | Economia da Mudana do Clima no Brasil como muDA o uso Do solo em cADA reGio: tendncias projetadas para estabelecimentos rurais

analisadas sete culturas (arroz, cana-de-acar, feijo, fumo, milho, soja e trigo), que representam parcela significativa da produo agrcola nacional.

Resultadosa mudana do clima poder causar reduo entre 15% e 20% das reas de florestas e matas localizadas nos estabelecimentos agrcolas, que cederiam espao para outros usos, dependendo do cenrio e do horizonte temporal considerados. a converso das reas florestais dever ocorrer sobretudo para o uso na pecuria, com aumento de rea de pastagens entre 7% e 11%. Destacam-se a variao positiva nas reas de lavoura e pasto na regio norte, sugerindo uma maior presso do desmatamento na regio amaznica, a expressiva reduo das matas e um aumento das reas de pastagem na regio nordeste, o aumento significativo da rea de lavoura em detrimento das reas de pastos e florestas no centro-Oeste e o aumento da presso sobre os remanescentes florestais nas regies sul e sudeste. alm da questo da mudana do uso da terra, foram analisados tambm os impactos das mudanas climticas sobre a produtividade mdia de sete culturas: arroz, cana-de-acar, feijo, fumo, milho, trigo e soja. Os resultados sugerem que as regies norte, nordeste e centro-Oeste sero afetadas negativamente pelas mudanas climticas em termos de produtividade agrcola. em particular, a queda prevista de produtividade das culturas de subsistncia no nordeste (feijo, arroz e milho tm quedas entre 20% e 30% conforme o cenrio e o perodo) poder ter importantes consequncias socioeconmicas, uma vez que atinge diretamente a agricultura familiar.

NORTE

Mais lavoura Mais pastagens Menos florestasMais presso por desmatamento, para abertura de pastagens

NORDESTE

Mais lavoura Mais pastagensGrande reduo reas mais afetadas: sul do Marano, sul do Piau e oeste da Bahia Em geral de baixa rentabilidade

Menos florestas Menos floresta Menos lavoura Mais pastagensAumento de temperatura diminui produtividade, favorecendo converso para pastagem

CENTRO OESTE

SUDESTE

Menos lavoura Mais pastagens Menos florestas

SUL

Mais lavoura Menos pastagens Menos florestasProPrieDADes com menos FlorestAs: reduo vai de 15% a 20% e abre terreno para a pecuriaVaRIaEs DE REas DE laVouRa, pasto E floREsta nos EstaBElECIMEntos agRColas

reGiO2010 - 2040 lavoura Pasto Brasil norte sudeste sul centrooeste -1,7% - 2,4% -7,0% +27,9% -6,4% +17,7% +4,9% -6,0% +8,4% +11,1% -17,1% -14,6% -23,2% -32,2% -14,2% +28,3% -17,9%

cenriO a2-Br2040 - 2070 +3,1% +17,9% -18,9% +11,1% +30,4% -7,1% +11,1% -19,36% +11,0% +16,7% -15,8% +25,1% -18,7% +5,9% -4,6% -30,6% -40,2% +44,1% +31,8% -7,6% +33,4% -12,0% 2070 - 2100 Floresta -15,4% -27,2% -23,8% -14,7% +6,5% +9,8% +9,6% +9,3% Floresta lavoura Pasto Floresta lavoura Pasto

Concluses e Recomendaesem vista da tendncia de reduo das reas florestais nos estabelecimentos agrcolas, recomendase adotar polticas de ordenamento de uso de solo para garantir o cumprimento das metas de reduo de desmatamento definidas pelo governo brasileiro. O zoneamento ecolgico-econmico e agrcola, no plano estadual, pode ser um instrumento poderoso para conter a converso de reas de floresta nas propriedades e direcionar a produo agropecuria para reas abandonadas ou de pastagens degradadas, se o poder pblico providenciar tambm financiamento e assistncia tcnica para tornar sua utilizao rentvel. alm disso, tendo em vista as perdas de produtividade nas culturas de subsistncia do nordeste, recomenda-se o desenvolvimento de tecnologia para adaptao dos cultivares a condies climticas adversas e reduo da vulnerabilidade dos produtores agrcolas da regio.

+10,4% -13,3%

nordeste -27,6%

-16,8% -13,1%

+10,2% -17,4%

reGiO2010 - 2040 lavoura Pasto Brasil norte +0,5% +4,0% +9,9% -16,2%

cenriO B2-Br2040 - 2070 +2,7% +10,3% -23,5% +16,3% +27,1% -9,1% +10,6% -18,2% +15,5% -14,0% +25,1% -16,4% +3,7% -1,7% 9,6% -28,6% -42,1% -15,9% -3,0% 24,9% +12,6% -20,3% +15,9% -15,2% 2070 - 2100 Floresta -13,3% +10,1% -15,0% 12,8% +14,1% -22,3% +13,6% -24,0% -8,6% -4,7% +10,0% -15,3% Floresta lavoura Pasto Floresta lavoura Pasto

+13,0% -11,3% +25,5% -15,3% +3,5% +8,0% -25,2% -31,8% -13,8%

nordeste -26,6% sudeste +13,6% sul centrooeste -5,1%

+22,6% -2,7%

nota: variaes percentuais em relao ao presente www.economiadoclima.org.br

35eky chan/shutterstOck

3.5. Biodiversidade da floresta amaznicaEsta seo se baseia no relatrio Sumria avaliao econmica dos impactos das mudanas climticas sobre biomas brasileiros, elaborado por Bernardo Strassburg (Instituto GaEa e universidade de East anglia) com a colaborao de Felipe cronemberger (uFF) e Gilla Sunnenberg (uEa).os ecossistemas proveem bens e servios humanidade, como a ciclagem de nutrientes, a formao de solos, a regularizao do ciclo hidrolgico, o controle de poluio e a regulao do clima global. embora estimativas do valor desses servios sejam polmicas, consenso que possuem elevado valor econmico, talvez na ordem de trilhes de dlares por ano. as rpidas alteraes climticas previstas para este sculo, as consequentes perturbaes e outros fatores de presso, como o desmatamento, impactaro de maneira severa os ecossistemas e seus servios.do clima na amaznia legal em termos de distribuio espacial, espcies animais, produtividade primria lquida e valor dos servios gerados pelo ecossistema. Os cenrios climticos utilizados so a2 e B1 do iPcc (o cenrio B1 teve que ser adotado por no existirem estudos utilizando o cenrio B2). as abordagens so simplificadas, pois as projees climticas disponveis no possuem a resoluo adequada para estimativas do gnero.

Metodologiaanalisaram-se os impactos futuros da mudanawww.economiadoclima.org.br

Distribuio dos biomas. salazar, nobre e Oyama (2007) utilizaram o modelo de vegetao potencial cPtec/inPe e 15 modelos climticos globais (McG), considerando que cada clula seria ocupada pelo bioma indicado por pelo menos 75% dos 15 modelos. neste

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Impactos ambientais, econmicos e sociais | Economia da Mudana do Clima no BrasilnilO DaVila

[7] Funo ecolgica que relaciona a reduo da rea de um bioma com o nmero de espcies perdidas

estudo adotou-se critrio alternativo: a vegetao esperada ser igual do ano 2005 multiplicada pela frao de modelos que indica cada cobertura vegetal. Ou seja, utilizou-se uma abordagem contnua, na qual cada bioma ocupa uma frao da clula igual frao de modelos que indicam aquele bioma.

espcie-rea, foram obtidos valores mdios atuais de us$ 591/ha/ano para a floresta amaznica.

Resultadosprojees dos biomas. estima-se que a mudana do clima resultar em reduo de 40% da cobertura florestal na regio sul-sudeste-leste da amaznia, que ser substituda pelo bioma savana em 2100, no cenrio a2-Br. perda de espcies. uma perda 12% das espcies devertebrados da regio mais biodiversa do planeta j seria um valor expressivo, mas, quando associado ao desmatamento projetado, o impacto da mudana do clima na biodiversidade leva a um quadro catastrfico de extino de cerca de um tero das espcies.

perdas de espcies. foi utilizada a funo espcierea,7 conforme a prtica na literatura. Para analisar interrelaes com o desmatamento, o estudo considerou os efeitos das mudanas do clima e do desmatamento, cada um isoladamente e em conjunto, para o perodo 2070-2100 no cenrio a2. Para o desmatamento, foram utilizados os nveis histricos (2 milhes de hectares/ano) e as projees de Business-as-usual de soares-filho et al. (2006). produtividade primria lquida (ppl). a PPl ataxa de armazenamento da energia solar nos tecidos vegetais. indica a capacidade de um ecossistema de manter a vida e tem uma relao forte com os servios providos pelos ecossistemas sociedade. Para estimar os impactos sobre a PPl, multiplicaram-se os valores das mudanas de bioma pela produtividade primria lquida da amaznia, estimada em 1.200 g c/m2/ano.

produtividade primria lquida. a regio mais afetada o sul-sudeste-leste da amaznia. Os estados do Par e de Mato Grosso so os mais afetados negativamente. Valor dos servios do ecossistema. a projeofinal que o impacto da mudana do clima fique entre us$ 14 bilhes (cenrio B1) e us$ 26 bilhes (cenrio a2-Br) por ano no fim deste sculo. importante observar que tais impactos so medidos onde os servios so gerados, no necessariamente consumidos. Grande parte do valor da amaznia est relacionada a servios de carter regional e global, como seu papel na regulao do ciclo hdrico regional (com influncia no cinturo agrcola do centro-sul do pas) e no armazenamento de carbono.

Valor dos servios dos ecossistemas. neste estudo, foram utilizados os valores encontrados por costanza et al. (1997), entre os quais o bioma floresta assume um valor presente mdio de us$ 742 por hectare por ano. ajustando este valor em funo da escassez relativa utilizando a curvawww.economiadoclima.org.br

Bioma savanaA2 2010-2040 A2 2040-2070 A2 2070-2100

Bioma florestaA2 2010-2040

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Concluses e recomendaesOs resultados desta seo devem ser tomados com cautela e apenas como indicativos. esto de acordo com as tendncias encontradas pela maioria dos estudos na literatura e ilustram qualitativamente um quadro inequvoco de significativo impacto da mudana do clima sobre a biodiversidade, os ecossistemas e os servios por eles providos. Os impactos mais graves so esperados nas regies rurais do centro-oeste e do leste da amaznia, onde o nvel de pobreza e dependncia dos servios ambientais mais elevado. fundamental que medidas de adaptao sejam tomadas com antecedncia para evitar o agravamento das j deficientes condies sociais. as projees deste estudo, conservadoras por fora de diversas simplificaes, como o fato de as projees climticas disponveis no possurem a resoluo adequada para estimativas mais refinadas, apontam que 12% das espcies da amaznia podero ser extintas at o fim deste sculo por conta somente dos efeitos climticos. caso o desmatamento continue em nveis histricos, ele ser responsvel pela extino de 21% a 29% das espcies da amaznia. Quando os impactos da mudana do clima e do desmatamento so analisados em conjunto, chega-se extino de 30%