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Economia – inflação e emprego

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“A arte de ensinar Economia de uma maneira simples,

sem mistérios”. De Maria Eulália, uma ex-aluna.

AULA 2: INFLAÇÃO E EMPREGO: -A CURVA DE PHILLIPS

Esta nossa Aula 2 – do curso de Economia II – junta

dois tópicos do programa de Economia do AFRFB: Inflação e emprego e a Curva de Phillips. Na realidade, são dois tópicos sobre o mesmo tema. A Curva de Phillips, como veremos aqui, nada mais é que uma relação entre taxas de inflação e taxas de desemprego. Trata-se de um tema interessante e de fácil assimilação, com o qual você não deverá ter nenhuma dificuldade em aprender. Vamos lá, então!

1. Introdução

A partir do final da década de 50, o enfoque analítico do processo inflacionário tem-se deslocado de modelos puros de inflação de demanda e/ou de custos para os chamados “modelos híbridos” ou mistos, que incorporam elementos explicativos tanto do lado da oferta como do lado da demanda.

Nesses modelos, a inflação geralmente é debitada às exigências dos sindicatos trabalhistas, mas, no mais das vezes, tais exigências são influenciadas pela pressão de demanda no mercado de trabalho.

Se a economia está “aquecida”, o mercado de trabalho se torna “apertado” e, assim, os trabalhadores batalharão por aumentos salariais mais elevados. Mas, caso o mercado de trabalho esteja “frouxo”, devido a uma crise econômica ou recessão, por exemplo, as exigências dos sindicatos se tornam mais brandas, reduzindo seu poder de pressão.

O mais familiar modelo de inflação híbrida é caracterizado pela

Curva de Phillips – que, em sua versão original, relaciona a taxa

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percentual de variação de salários nominais ∆W/W com a taxa percentual de desemprego (U%), taxa esta que reflete o nível de pressão de demanda no mercado de trabalho. A Figura 1 mostra a Curva de Phillips na sua versão original.

∆%W

8%

2% µn% µ%

Figura 1

O eixo vertical da Figura 1 mostra a taxa de variação percentual de salários (∆%W) e, o eixo horizontal, a taxa de desemprego (µ%). Já µn% representa a chamada taxa natural de desemprego da economia – um conceito que será visto um pouco mais à frente.

A Figura 1 ilustra o fato de que, estando o mercado de trabalho “apertado” – isto é, com baixa taxa de desemprego, como é o caso da taxa de 2% - os trabalhadores têm condições de obter maiores reajustes de salários (8%, neste caso).

A curva de Phillips - assim chamada em homenagem ao economista inglês Arthur W. Phillips que, pioneiramente, publicou em 1958 o resultado de uma pesquisa sobre inflação e taxas de desemprego na Grã-Bretanha - ilustra o fato de que níveis relativamente baixos de desemprego – coincidentes com níveis relativamente altos de demanda agregada por bens e serviços - fazem com que os trabalhadores exijam (e consigam) maiores reajustes do salário nominal, surgindo, assim, elementos de inflação de custo. Deste modo, o componente “alta demanda

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agregada por bens e serviços” junto com esses aumentos de custos (aumentos salariais) pressionam os preços para cima – e por isso, a curva de Phillips caracteriza um modelo híbrido de inflação.

Do mesmo modo, esta curva mostra que durante períodos de altas taxas de desemprego, os reajustes salariais são baixos, quando não nulos, já que demanda por bens e serviços está “fraca” e os sindicatos trabalhistas não têm condições de reivindicar reajustes salariais.

Em termos dinâmicos, diz-se que existe um “trade-off” (troca) entre a taxa de aumento do salário nominal e o nível de pressão de demanda. O argumento subjacente é que um excesso de demanda por bens e serviços, principalmente se for acompanhado de elevações de preços, conduzirá a um excesso na demanda por trabalho, fazendo com que os sindicatos obtenham aumentos dos salários nominais. Este aumento salarial será tanto maior quanto maior for o excesso de demanda no mercado de produtos.

2. A Curva de Phillips transformada

Observe-se que a versão original da curva de Phillips relacionava a taxa de variação de salários nominais no eixo vertical com a taxa de desemprego no eixo horizontal. Ocorre que, de uma forma geral, a taxa de variação salarial corresponde à soma da taxa de inflação mais a taxa média de crescimento da produtividade - situando-se esta última geralmente em torno de 2% ao ano, o que, a bem da verdade, em períodos de altas taxas de inflação, pouco representam nos aumentos salários. Em outras palavras, os reajustes dos salários nominais seguem, grosso modo, a taxa de inflação.

Se assim é, podemos substituir no eixo vertical a taxa de variação dos salários nominais pela taxa de inflação, resultando daí a chamada “versão transformada” da curva de Phillips. É esta versão que tem sido objeto de estudos e debates.

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∆%P

7%

2% µn% µ%

Figura 2

Na realidade, esta versão modificada da curva de Phillips mostra o nível de inflação que prevaleceria na economia para diferentes níveis de desemprego. Como mostra a Figura 2, esta curva é negativamente inclinada, refletindo o fato de que a níveis baixos de desemprego (ou, visto de outra forma, elevada demanda agregada por bens e serviços), os fatores que pressionam a demanda fazem com que aumentem, também, os fatores que pressionam os custos (reivindicações trabalhistas por maiores salários), elevando a inflação. De outro lado, a altos níveis de desemprego, os fatores que pressionam os custos são arrefecidos, reduzindo-se as pressões inflacionárias.

Observe-se que o ponto em que a curva intercepta o eixo horizontal representa a taxa de desemprego existente quando o mercado de trabalho está em equilíbrio – conhecida na literatura econômica como a taxa natural de desemprego (Un%) - sendo este nível de desemprego constituído de indivíduos que estão desempregados por condições estruturais1 e friccionais do mercado de trabalho. De outra parte, a curva nunca intercepta o

1 -Diz-se que há desemprego estrutural quando, mesmo havendo vagas nas empresas, seu preenchimento é impossibilitado pelo fato de a mão-de-obra ofertada não possuir os requisitos ou qualificações exigidas. No caso dos países em desenvolvimento, esse conceito pode ser ampliado de forma a incluir, também, aqueles indivíduos que sempre estiveram desempregados pelo simples fato de que a economia é incapaz de gerar empregos suficientes para absorvê-los todos, decorrendo daí a economia informal (biscateiros, camelôs, etc.).

Já o desemprego friccional é caracterizado pelos indivíduos que estão em processo de transferência de um para outro emprego, isto é, momentaneamente desempregados, incluindo também aí aqueles que estão chegando, agora, no mercado de trabalho e começando a procurar seu primeiro emprego.

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eixo vertical, devido à existência permanente do desemprego friccional.

Vista nessa sua versão transformada, com variações de preços no eixo vertical, a Curva de Phillips parece oferecer à autoridade econômica um “menu de escolhas” entre dois demônios que ela gostaria de evitar a todo custo: a inflação e o desemprego. De fato, observando-se a Figura 2, a curva mostra que existe um “trade-off” entre os dois demônios, e movendo-se ao longo da mesma pode-se ter ou mais inflação com menos desemprego ou (quase) nenhuma inflação porém com uma taxa mais alta de desemprego.

Matematicamente, a Curva de Phillips pode ser expressa assim:

Л = -ß(µ - µn) (1)

onde, Л é a taxa de inflação;

ß é a elasticidade da inflação em relação aos desvios da taxa de desemprego vigente em relação à taxa natural de desemprego;

µ é a taxa de desemprego prevalecente na economia;e,

µn é a chamada taxa natural de desemprego (isto é, a taxa de desemprego compatível com o pleno emprego).

Note-se que, quando a taxa de desemprego vigente for igual à taxa natural, a inflação é zero. A inflação será positiva se o desemprego estiver abaixo da taxa natural, como no caso de U1% que leva a inflação para 7%, e será negativa (deflação), se o desemprego estiver acima daquela taxa.

Considerando que as condições de troca entre desemprego e inflação não parecem política e economicamente atraentes, a “melhor” solução de política econômica estaria na tentativa de deslocar a Curva de Phillips para a esquerda através de políticas de formação e de aperfeiçoamento de mão-de-obra - o que reduzirá o desemprego estrutural - além de políticas que facilitem uma maior mobilidade setorial ou mesmo regional da mão-de-obra desempregada.

Essas deduções retiradas da Curva de Phillips orientaram a política econômica – notadamente na Inglaterra e nos Estados Unidos – por mais de uma década. Nesse período, caso se julgasse

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que a taxa de desemprego estava em um nível relativamente alto, o governo adotava uma política econômica expansionista que reduzia a taxa de desemprego, mas à custa de uma maior taxa (porém aceitável) de inflação.

No entanto, já na segunda metade da década de 60, notava-se que algumas economias desenvolvidas enfrentavam o fenômeno da “estagflação”, isto é, pouco ou nenhum crescimento da produção nacional acompanhada, porém, de taxas de inflação acima da média histórica.

Tal fato, em si, reduziu a importância da Curva de Phillips - e seu trade-off implícito, dando margem ao surgimento de críticas e contestações acadêmicas quanto à sua eficácia como orientadora de política econômica. A crítica mais contundente e mais comumente conhecida nos meios acadêmicos partiu dos eméritos professores Milton Friedman e Edmund S. Phelps que desenvolveram o chamado “modelo de expectativas inflacionárias”, cujas linhas básicas são a seguir desenvolvidas.

3. O modelo de expectativas inflacionárias e a tese aceleracionista.

Como foi dito acima, ao final da década de 60, alguns economistas começaram a questionar conclusões tiradas da Curva de Phillips, duvidando de que a autoridade econômica, de fato, se defronte com as alternativas de inflação ou desemprego, ou seja, se, de fato, uma taxa menor de desemprego pode ser “comprada” ou “trocada” por uma taxa mais elevada de inflação. O expoente maior desses críticos foi o Professor Friedman, da Universidade de Chicago, e é dele que tomamos o argumento contrário às prescrições derivadas da curva de Phillips.

Assim, a crítica do Professor Friedman começa por afirmar que existe um erro crasso na Curva de Phillips original, uma vez que seu autor analisou a variação dos salários nominais quando deveria ter considerado a variação dos salários reais. Apoiando-se na escola clássico-monetarista, Friedman argumenta que os ajustamentos no mercado de trabalho se dão em função do salário

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real e não do salário nominal. A falha de Phillips, ao tomar salários nominais, diz ele, reflete a influência keynesiana então em voga.