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Economia Numa Unica Licao - Henry Hazlitt

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economia licoes de economia de uma forma simplificada e facil de aprender uma forma diferente de olhar o mundo

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    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutandopor dinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo

    nvel."

  • Economianuma nica

    lio

  • HENRY HAZLITT

    Economia numanica lio

    Edio revista e atualizada da traduo deLENIDAS GONTIJO DE CARVALHO

    Verso digital produzida e revisada porMONICA MAGALHES E ELISA LUCENA MARTINS

    ORDEMLIVRE.ORGem parceria com

    INSTITUTO LIBERAL

    Ttulo do original em ingls ECONOMICS IN ONE LESSON

    Copyright 1962 and 1979 by Henry Hazlitt Copyright 1946 byHarper & Brothers Published by arrangement with Arlington House,

    Inc.

    Direitos de republicao da verso digital reservados para a lnguaportuguesa no mundo todo: OrdemLivre.org, marca da Atlas

    Economic Research Foundation.

    ISBN 85-03-00081-4 Edio original ISBN 0-87000-427-1

  • SUMRIO

    INDICAESBIOBIBLIOGRFICASSOBRE O AUTOR

    viii

    PREFCIO DAEDIO DE 1979(H.H.)

    ix

    PREFCIO DAPRIMEIRA EDIO(H.H.)

    x

    ECONOMIANUMA NICA

    LIO

    PRIMEIRA PARTEA LIO

    Cap.I A Lio 2

  • SEGUNDA PARTEA LIO APLICADA

    Cap.II

    A vitrinaquebrada 6

    Cap.III

    As bnos dadestruio 6

    Cap.IV

    Obras pblicassignificamimpostos

    10

    Cap.V

    Os impostosdesencorajam aproduo

    14

    Cap.VI

    O crditodesvia aproduo

    15

    Cap. A maldio da

  • VII maquinaria 19

    Cap.VIII

    Esquemas dedifuso dotrabalho

    26

    Cap.IX

    A disperso detropas eburocratas

    29

    Cap.X

    O fetiche dopleno emprego 30

    Cap.XI

    Quem "protegido"pelas tarifas?

    32

    Cap.XII

    Adeterminaode exportar

    38

  • Cap.XIII

    A "paridade" depreos

    40

    Cap.XIV

    A salvao daindstria X 45

    Cap.XV

    Como funcionao sistema depreos

    48

    Cap.XVI

    A"estabilizao"dasmercadorias

    51

    Cap.XVII

    Tabelamentode preos pelogoverno

    55

    Cap.XVIII

    O que faz ocontrole de 60

  • aluguisCap.XIX

    Leis do salriomnimo 64

    Cap.XX

    Os sindicatoselevamrealmente ossalrios?

    67

    Cap.XXI

    "O suficientepara adquirir oproduto"

    74

    Cap.XXII

    A funo doslucros 78

    Cap.XXIII

    A miragem dainflao 80

    Cap.XXIV

    O assalto poupana 87

  • Cap.XXV

    Repete-se alio 95

    TERCEIRA PARTEA LIO TRINTA ANOS

    DEPOISCap.XXVI

    A lio trintaanos depois 101

    APNDICEUMA NOTA SOBRELIVROS 107

  • Educar desensinar com o propsitode superar preconceitos eintolerncia.

    FRANK H. KNIGHT

    Quando se trata de liberdade, oconservador deveria ou calar ouencontrar algo de til para dizer. Eupenso que h algo de til a ser dito, e o que est aqui.

    GEORGE J. STIGLER

  • Henry Hazlitt nasceu em 28 de novembro de 1894. Pretendia estudarFilosofia e Psicologia, mas foi obrigado a abandonar os estudos para ganhara vida.

    Ao decidir ser jornalista, empregou-se no Wall Street Journal comotaqugrafo, sem nenhum conhecimento de Economia. Entretanto,rapidamente se inteirou do assunto.

    Em 1946, escreveu uma critica popular sobre a interveno do governona vida econmica das pessoas. Tornou-se editor literrio do New YorkSun, em 1925, de The Nation, em 1930, e editor de The AmericanMercury, em 1933. Entre 1934 e 1946, escreveu a maioria dos editoriaiseconmicos para The New York Times e, a seguir, entre 1946 e 1966,passou a assinar a coluna "Business Ties" do Newsweek, passando mais tardepara o Los Angeles Times Syndicate , como colunista.

    Hazlitt autor de 18 livros. Economia numa nica lio j foitraduzido em 10 pases, com cerca de um milho de exemplares vendidos. Aprimeira edio foi publicada em 1946 e a edio revista em 1979, at hoje, uma das leituras mais sucintas sobre Economia.

    Um outro livro do mesmo autor, intitulado Will Dollars Save theWorld?, editado em 1947, foi condensado em janeiro de 1948 peloReader's Digest e publicado em vrios pases.

    Algumas de suas obras analisam as falcias keynesianas e outrasenfocam o assunto inflao.

  • Prefcio da edio de 1979

    A primeira edio deste livro foi publicada em 1946. Foram feitas oitoedies e surgiram vrias outras em brochura. Na de 1961, foi introduzidoum novo captulo sobre controle de aluguis, que no havia sidoespecificamente estudado, na primeira edio, separadamente dotabelamento de preos pelo governo em geral. Foram atualizadas algumasreferncias sobre dados estatsticos e ilustraes.

    De outra forma no houve modificaes at agora. A principal razodisto que no foram consideradas necessrias. Meu livro foi escrito paradar nfase aos princpios econmicos gerais e s penalidades por ignor-los,no aos danos causados por um determinado artigo de lei. Embora meusexemplos sejam baseados, principalmente, na experincia americana, o tipode intervenes governamentais, que eu abomino, tem-se tornado tointernacionalizado, que, para muitos leitores estrangeiros, me parece estarparticularmente descrevendo as polticas econmicas de seu prprio pas.

    No obstante, penso que, agora, aps trinta anos, esteja exigindo umaextensa reviso. Alm de atualizar todos os exemplos e dados estatsticos,introduzi um capitulo inteiramente novo sobre controle de aluguis. Achoque o estudo de 1961 agora est inadequado. E acrescentei um novocaptulo final, "A lio trinta anos depois", para mostrar por que hoje estalio mais desesperadamente necessria que nunca.

    Wilton, Conn. H.H. Junho de 1978

  • Prefcio da primeira edio

    Este livro uma anlise das falcias da economia, hoje to correntes quese tornaram quase uma nova ortodoxia. A nica coisa que impediu que istoocorresse foram suas prprias contradies, que dispersaram os que aceitamas mesmas premissas e criaram uma centena de diferentes "escolas", pelasimples razo de ser impossvel, em assuntos referentes vida prtica, sercoerente com o erro. Mas a diferena entre uma nova escola e outra est,simplesmente, no fato de um grupo despertar mais cedo que outro ante osabsurdos a que suas falsas premissas o esto conduzindo e, nesse momento,tornar-se inconsequente, quer abandonando-as involuntariamente, queraceitando concluses delas decorrentes menos inquietantes ou menosfantsticas que as que a lgica exigiria.

    No h no mundo, porm, neste momento, um governo sensato cujapoltica econmica no seja influenciada pela aceitao de algumas dessasfalcias, quando no for inteiramente dirigido por elas. O meio mais curto emais seguro para compreender a economia talvez seja mediante umadissecao de tais erros e, especialmente, do erro fundamental do qual elas seoriginam. esta a pretenso desse livro e de seu titulo um tanto ambicioso ebelicoso.

    Esta obra contm, por isso, em primeiro lugar uma exposio. No tem apretenso de ser original no tocante a quaisquer das principais idias queexpe. Pelo contrrio, seus esforos objetivam mostrar que muitas das idias,que agora passam por brilhantes inovaes e progressos, so, na realidade,mera revivifica o de antigos erros e mais uma prova do ditado, segundo oqual todo aquele que ignora o passado est condenado a repeti-lo.

    O presente ensaio , suponho, impudentemente "clssico", "tradicional"e "ortodoxo": pelo menos s o esses os eptetos com os quais as pessoas, cujos

  • sofismas so aqui analisados, procuraro, indubitavelmente, tentar rejeitaressa anlise. Mas o estudante, cujo objetivo , na medida do possvel,alcanar a verdade, no se atemorizar com tais adjetivos. No estarprocurando uma permanente revoluo, uma "nova arrancada" nopensamento econmico. Seu esprito acolher, naturalmente, tanto as novas,como as velhas idias, mas ter prazer em afastar a inquietao ou oexibicionismo dos que andam cata de novidade e originalidade. Comoobservou Morris R. Cohen: "A idia de que podemos abandonar asopinies de todos os pensadores que nos precederam no deixa, por certo,qualquer base para a esperana de que nosso trabalho prove ter algum valor

    para outrem."1

    Tratando-se de uma obra expositiva, manifestei-me livremente e sementrar em detalhes quanto contribuio de idias alheias (salvo raras notasde rodap e citaes). Isto inevitvel quando penetramos num campo emque trabalharam arduamente muitos dos mais belos espritos do mundo.Minha dvida, porm, para com trs autores, pelo menos, de natureza toespecifica que no posso deixar de mencion-la. Minha dvida maior,relacionada espcie de enquadramento elucidativo, na qual se ap ia opresente argumento, para com o ensaio de Frdric Bastiat, Ce qu'on voitet ce qu'on ne voit pas, que data de quase um sculo. Este meu trabalhopoder, realmente, ser considerado como a modernizao, ampliao egeneralizao de idias encontradas no opsculo de Bastiat. Minhasegunda dvida para com Philip Wicksteed: especialmente os captulosrelativos aos salrios e ao resumo final devem muito a seu trabalho CommonSense of Political Economy. Minha terceira divida para com Ludwigvon Mises. Omitindo tudo quanto esse tratado elementar possa dever s suasobras, minha dvida mais especfica refere-se exposio sobre a maneirapela qual o processo de inflao monetria se difunde.

  • Ao analisar as falcias, julguei mais aconselhvel reconhecer mritos quecitar nomes, individualmente. Se fosse cit-los, deveria render justia especiala cada autor criticado, com transcries exatas, e considerar a nfasepeculiar que d a um ou a outro ponto, s qualificaes que faz,ambigidades pessoais, incoerncias etc. Espero, portanto, que ningumfique desapontado com a ausncia, nessas pginas, de nomes tais como KarlMarx, Thorstein Veblen, Major Douglas, Lord Keynes, Prof. Alvin Hansen eoutros. No propsito deste livro expor erros peculiares a determinadosautores, e sim erros econmicos mais freqentes, generalizados ou influentes.Quando atingem a fase popular, as falcias tornam-se praticamente annimas.Eliminamos sutilezas ou obscurantismos encontrados nos autores maisresponsveis por sua propagao. Uma doutrina simplificada; o sofisma deque tenha permanecido enterrada numa rede de qualificaes, ambigidadesou equaes matemticas torna-se patente. Espero, portanto, no seracusado de praticar injustia, sob a alegao de que uma doutrina em vogapela forma por mim apresentada no precisamente a que Lord Keynes oualgum outro autor formularam. Estamos aqui interessados nas crenas quegrupos politicamente influentes aceitam, e com as quais agem os governos, eno nas suas origens histricas.

    Espero, finalmente, que me relevaro o fato de raramente fazerreferncia a estatsticas, nas pginas seguintes. Procurasse eu apresentarconfirmao estatstica ao referir-me aos efeitos de tarifas, fixao de preos,inflao e controle sobre mercadorias tais como carvo, borracha e algodo,e teria aumentado as dimenses desse livro muito alm das previstas. Almdisso, como jornalista militante, sei perfeitamente quo depressa as estatsticasse tornam antiquadas e superadas por cifras mais recentes. Aconselho a quemestiver interessado em problemas econmicos especficos a ler exposies"realistas" correntes, com documentao estatstica; no encontrardificuldade em interpret-las corretamente luz dos princpios bsicos que

  • aprendeu.

    Procurei escrever este livro com simplicidade e sem detalhes tcnicos,embora compatvel com razovel exatido, de sorte a poder sercompreendido perfeitamente por um leitor que no tenha tido prvioconhecimento de economia.

    Quando o livro estava sendo composto, trs captulos apareceram comoartigos independentes, e desejo agradecer a The New York Times, TheAmerican Scholar e The New Leader por haverem permitido areimpresso da matria anteriormente publicada em suas pginas. Sou gratoao Prof. von Mises por ter lido o manuscrito e apresentado teis sugestes.Claro que inteiramente minha a responsabilidade pelas opinies aquiexpressas.

    H. H.

    Nova York,25 de maro de 1946.

    1 Reason and Nature (1931) p. x

  • Economianuma nica

    lio

  • PRIMEIRA PARTEA lio

  • CAPTULO IA lio

    A ECONOMIA mais assediada por falcias que qualqueroutro estudo conhecido pelo homem. Tal fato no acidental. Asdificuldades inerentes ao assunto seriam, em todo o caso,bastante grandes; so, entretanto, mil vezes multiplicadas por umfator insignificante na fsica, matemtica ou medicina: alegaesespeciais de interesse egostico. Conquanto qualquer grupo tenhainteresses econmicos idnticos aos de todos os demais, cada umtem tambm, conforme veremos, interesses opostos aos detodos os outros grupos. Enquanto certa poltica governamentalprocuraria beneficiar todo mundo a longo prazo, outra polticabeneficiaria apenas um grupo, custa dos demais. O grupo quese beneficiasse com esta poltica, tendo nela interesse direto,ach-la-ia plausvel e pertinente. Contrataria os melhorescrebros que pudesse conseguir, para dedicarem todo o tempona defesa de seu ponto de vista. E acabaria convencendo opblico de que o caso justo ou o confundiria de tal modo, quese tornaria quase impossvel formar, sobre ele, um juzo claro.

    Alm desses infindveis argumentos relacionados ao interesseprprio, h um segundo fator principal que todos os dias semeianovas falcias. a persistente tendncia de os homens veremsomente os efeitos imediatos de determinada poltica ou seusefeitos apenas num grupo especial, deixando de averiguar quaisos efeitos dessa poltica a longo prazo, no s sobre essedeterminado grupo, como sobre todos os demais. a falcia demenosprezar consequncias secundrias.

    Nisso talvez esteja toda a diferena entre a boa e a meconomia. O mau economista v somente o que est diante deseus olhos; o bom economista olha tambm ao seu redor. O maupercebe somente as conseqncias diretas do programaproposto; o bom olha, tambm, as conseqncias indiretas e

  • mais distantes. O mau economista v somente quais foram ouquais sero os efeitos de determinada poltica sobre determinadogrupo; o bom investiga, alm disso, quais os efeitos dessa polticasobre todos os grupos.

    Parece bvia a diferena. A precauo de averiguar todas asconseqncias de uma certa poltica sobre todos talvez pareaelementar. No sabe todo mundo, em sua vida privada, que htoda sorte de complacncias que, na ocasio, so agradveis eque, no fim, se tornam desastrosas? No sabe toda criana quese comer muito doce poder ficar doente? No sabe o indivduoque se embriaga que, na manh seguinte, despertar com oestmago ruim e com horrvel dor de cabea? No sabe odipsomanaco que est arruinando o fgado e abreviando a vida?No sabe o Dom Juan que se est entregando a toda sorte deriscos, da chantagem doena? Finalmente, para voltarmos aoreino da economia, se bem que ainda pessoal, no sabem oocioso e o esbanjador, mesmo em meio a gloriosas experincias,que esto caminhando para um futuro de dvidas e pobreza?

    Todavia, quando entramos no campo da economia pblica,ignoramos essas verdades elementares. H homens, hojeconsiderados brilhantes economistas, que condenam a poupanae recomendam o esbanjamento em escala nacional como meiode salvao econmica; e quando algum assinala quais sero,por fim, a longo prazo, as consequncias dessa poltica,respondem, petulantemente, tal como um filho prdigo ao paique o estivesse prevenindo: "A longo prazo estaremos todosmortos." Essas pilhrias vazias passam por epigramasdevastadores e sabedoria amadurecida.

    Mas a tragdia que, ao contrrio, j estamos sofrendo asconsequncias a longo prazo da poltica do passado remoto ourecente. O dia de hoje j o amanh que os maus economistas,ontem, nos aconselharam a ignorar. As consequncias a longo

  • prazo de certa poltica econmica podero tornar-se evidentesdentro de poucos meses. Outras, talvez no se evidenciemdurante vrios anos. Outras, ainda, talvez no o sejam durantedcadas. Mas, em qualquer caso, essas conseqncias a longoprazo esto contidas na poltica econmica, com a mesmacerteza com que a galinha estava no ovo, a flor na semente.

    Partindo, portanto, desse aspecto, pode-se resumir toda aeconomia em uma nica lio, e pode-se reduzir essa lio a umanica proposio. A arte da economia est em considerar no s os efeitosimediatos de qualquer ato ou poltica, mas, tambm, os mais remotos; est emdescobrir as conseqncias dessa poltica, no somente para um nicogrupo, mas para todos eles.

    2

    Nove dcimos das falcias sobre economia, que estocausando um terrvel mal ao mundo, resultam da ignornciadessa lio. Originam-se todas elas de uma das duas falciasfundamentais, ou de ambas: considerar somente asconsequncias imediatas de um ato, ou proposta, e apenas assuas consequncias, para um determinado grupo, esquecendo osdemais.

    verdade, naturalmente, que possvel o erro oposto. Aoconsiderarmos uma poltica, no devemos concentrar-nos somenteem resultados a longo prazo para a comunidade como um todo. o erro muitas vezes cometido pelos economistas clssicos. Oresultado foi certa indiferena com o destino de gruposimediatamente feridos pela poltica ou pelos desenvolvimentos queprovaram ser benficos no cmputo geral e a longo prazo.

    So, porm, relativamente poucas as pessoas que, hoje,cometem esse erro; e estas pessoas so, principalmente, oseconomistas profissionais. A mais frequente falcia, hoje em dia,

  • a que surge repetidas vezes em quase toda conversao queaborda assuntos econmicos, o erro em mil discursos polticos, osofisma predominante da "nova" economia, est em concentrar-se nos efeitos a curto prazo da poltica sobre determinadosgrupos e em ignorar, ou menosprezar, os efeitos a longo prazosobre a comunidade como um todo. Os "novos" economistasiludem-se ao pensar que isso constitui um grande, quase umrevolucionrio avano em relao aos mtodos dos economistas"clssicos" ou "ortodoxos", porque levam em considerao osefeitos a curto prazo que estes ltimos, muitas vezes, ignoravam.Mas, ignorando ou menosprezando os efeitos a longo prazo,esto cometendo o mais grave dos erros. Esquecem-se dafloresta, ao examinarem, precisa e minuciosamente,determinadas rvores. Seus mtodos e concluses so, quasesempre, profundamente reacionrios. s vezes, ficamsurpreendidos ao perceberem que concordam com omercantilismo do sculo XVII.* Incorrem, na realidade, (ouincorreriam se no fossem to contraditrios em todos os antigoserros que os economistas clssicos,** como espervamos, sehaviam libertado de uma vez por todas.

    Observa-se com tristeza, muitas vezes, que os mauseconomistas apresentam seus erros ao pblico muito melhor, doque os bons economistas apresentam suas verdades. Existe,freqentemente, a queixa de que os demagogos, em suasplataformas, so mais razoveis ao exporem tolices sobreeconomia, do que os homens sinceros, que procuram mostrar oque est errado na economia. A razo bsica para isso,entretanto, no encerra mistrio algum. Est em que osdemagogos e os maus economistas apresentam meias-verdades.Falam somente sobre o efeito imediato da poltica que propemou sobre seu efeito num nico grupo. No tocante a isso, talvezestejam algumas vezes com a razo. Nesses casos a respostaest em mostrar que a poltica proposta teria, tambm, efeitosmais demorados e menos desejveis ou que ela poderia

  • beneficiar somente certo grupo, a expensas dos demais. Aresposta est em completar e corrigir cada meia-verdade com aoutra metade. Mas considerar todos os principais efeitos de umamedida proposta sobre todos requer, muitas vezes, longa,complicada e fastidiosa srie de raciocnios. A maioria dosouvintes acha difcil acompanhar o encadeamento das idias e,logo, torna-se enfarada e desatenta. Os maus economistasjustificam essa debilidade e essa preguia intelectual, assegurandoaos ouvintes que no precisam seguir o raciocnio ou julg-losegundo seu mrito, porque se trata, apenas, de "classicismo", dolaissez-faire, de "desculpa de capitalistas" ou de qualquer outrotermo injurioso que lhes possa ocorrer como eficaz.

    Enunciamos a natureza da lio e das falcias que seinterpem no caminho, em termos abstratos. Mas a lio noser concludente e as falcias continuaro a no serreconhecidas, a menos que ambas sejam ilustradas comexemplos. Utilizando-os, poderemos passar dos problemaseconmicos mais elementares, aos mais complexos e difceis. Pormeio deles poderemos aprender a detectar e evitar, em primeirolugar, as falcias mais cruas e mais palpveis e, finalmente,algumas das mais sofisticadas e sutis. dessa tarefa que, agora,vamos tratar.

    * Mercantilismo: sistema poltico econmico que evolui com o estadomoderno e que procura assegurar a soberania econmica epoltica de uma nao em sua rivalidade com outras. De acordocom esse sistema, o dinheiro considerado um depsito deriqueza; o objetivo de um estado o acmulo de metais preciososobtidos atravs da exportao da maior quantidade possvel deseus produtos e a importao do mnimo possvel, assimestabelecendo uma balana comercial favorvel. (N. do T.)

  • ** Economistas clssicos: Adam Smith, Jeremy Bentham, ThomasMalthus, David Ricardo, e outros, desenvolveram um sistema depensamento econmico que defende um mnimo de intervenodo governo, a livre iniciativa e o livre comrcio, e que considera otrabalho a fonte de riqueza. (N. do T.)

  • SEGUNDA PARTEA lio aplicada

  • CAPTULO IIA vitrina quebrada

    Comecemos com o exemplo mais simples possvel:escolhemos, imitando Bastiat, uma vitrina quebrada.

    Suponhamos que um molecote atire um tijolo numa vitrina depadaria. O padeiro sai correndo furioso, mas o moleque jdesapareceu. Junta-se gente, e todos passam a olhar com mudasatisfao o rombo na vitrina e os estilhaos de vidro sobre pese tortas. Aps um momento, a multido julga necessrio fazerreflexes filosficas. quase certo que diversos de seuscomponentes lembrem, uns aos outros e ao padeiro, que, afinalde contas, aquela desventura tem seu lado proveitoso:proporcionar negcio para algum vidraceiro. Comeando apensar no caso, passam a estender-se em suas idias. Quantocustar uma vitrina nova? Duzentos e cinqenta dlares? Seruma quantia respeitvel. Afinal de contas, se vitrinas no fossemquebradas, que aconteceria ao negcio de vidros? O problema,naturalmente, parece ento no ter fim. O vidraceiro ter maisUS$250 para gastar com outros negociantes e estes, por sua vez,tero mais US$250 para despender com outros comerciantes e,assim, ad infinitum. A vitrina quebrada passar a proporcionardinheiro e emprego a reas cada vez maiores. A concluso lgicade tudo isso, se a multido assim pensasse, seria que omolecote, que atirara o tijolo, em lugar de tornar-se umaameaa pblica, seria um benfeitor.

    Encaremos agora a questo sob outro ngulo. A multido temrazo, pelo menos, em sua primeira concluso. O pequeno atode vandalismo, em primeira instncia, significar mais negciopara algum vidraceiro. Este no se sentir mais infeliz, ao saberdo ocorrido, que um dono de funerria ao ter conhecimento deuma morte. Mas o padeiro ficar sem US$250, quantia quepretendia gastar na compra de um novo terno. Precisando

  • substituir a vitrina, renunciar compra do novo terno (ou de algosemelhante, necessrio ou desejvel). Em vez de possuir umavitrina e US$250, ter, agora, simplesmente, uma vitrina. Ora,como planejava comprar o terno naquela mesma tarde, em vezde ter uma vitrina e um terno, dever contentar-se com a vitrinae nenhum terno. Se o considerarmos como parte dacomunidade, esta perdeu um novo terno que possuiria, se nosurgisse aquela ocorrncia, fato que a torna mais pobre.

    Em suma, o que o vidraceiro ganhou nesse negciorepresenta, somente, o que o alfaiate perdeu. Nenhum"emprego" novo surgiu. As pessoas, naquela multido, estavamapenas pensando em dois elementos da transao: o padeiro e ovidraceiro. Esqueceram a terceira pessoa em potencial envolvida:o alfaiate. Esqueceram-se dele porque no tinha entrado emcena. Vero, da a um ou dois dias, a nova vitrina. Nunca vero oterno extra, exatamente porque nunca ser confeccionado. Vemapenas o que est imediatamente diante dos seus olhos.

  • CAPTULO IIIAs bnos da destruio

    Terminamos assim com a vitrina quebrada. Uma falciaelementar. Poderamos supor que qualquer pessoa seria capazde evit-la, aps alguns momentos de reflexo. Contudo, sob umacentena de disfarces, a falcia da vitrina quebrada a maispersistente na histria da economia. mais generalizada agora,do que foi no passado, em qualquer tempo. solenementereafirmada todos os dias por grandes capites de indstria, pelascmaras de comrcio, pelos lderes de sindicatos trabalhistas,pelos redatores, pelos colunistas de jornais, pelos comentadoresradiofnicos, por estatsticos cultos que usam as mais requintadastcnicas, por professores de economia em nossas melhoresuniversidades. Sob as mais variadas formas, todos eles discorremlongamente sobre as vantagens da destruio.

    Embora alguns deles no cheguem a dizer que h lucroslquidos em pequenos atos de destruio, veem benefcios, quaseinterminveis, nas destruies de grande porte. Afirmam quantoestamos, economicamente, melhor na guerra, que na paz. Vem"milagres de produo", que para ocorrerem exigem uma guerra.E vem, ento, o mundo tornar-se prspero, graas a umaenorme demanda "acumulada" ou "insatisfeita". Na Europa,depois da II Guerra Mundial contam alegremente as casasdestrudas, cidades inteiras arrasadas, e que "devero serreconstrudas". Nos Estados Unidos, contam as casas que nopuderam ser construdas durante a guerra, meias de nilon queno puderam ser oferecidas, automveis e pneumticosestragados pelo uso, aparelhos de rdio e refrigeradoresobsoletos. Juntos, constituem um formidvel total.

    , nada mais nada menos, a nossa velha amiga, a falcia davitrina quebrada com novas roupagens e que, de to gorda, setornou irreconhecvel. E, desta vez, apoiada por todo um grupo de

  • falcias afins. Confundem necessidade com demanda. Quanto mais aguerra destri, tanto mais empobrece, e, indubitavelmente, tantomaiores se tornam as necessidades do ps-guerra. Necessidade,porm, no demanda. A demanda econmica efetiva requer,no apenas necessidades mas, tambm, o correspondente poderaquisitivo. Hoje, as necessidades da ndia so,incomparavelmente, maiores que as dos Estados Unidos. Mas seupoder aquisitivo, no obstante os "novos negcios" que possaestimular, incomparavelmente menor.

    Se conseguirmos ir alm desse ponto, teremos oportunidadede encontrar uma outra falcia, a que os adeptos da tese davitrina quebrada geralmente se agarram. Pensam no "poderaquisitivo" somente em termos de moeda. Hoje o dinheiro fabricado pela tipografia. No momento em que estamosescrevendo, a emisso de moeda seria, de fato, a maior indstriado mundo, se o produto fosse medido em termos monetrios.Todavia, quanto maior quantidade de moeda for emitida, mais sereduzir o valor de uma determinada unidade monetria. Estaqueda de valor pode ser medida pelo aumento dos preos dasmercadorias. Como, porm, a maioria das pessoas tem oarraigado hbito de pensar em sua riqueza e rendimento emtermos de moeda, consideram-se elas em melhor situao medida que tais somas monetrias aumentam, a despeito deque, em termos de bens, passam a possuir menos e, tambm, acomprar menos. A maioria dos "benficos" resultados econmicosque o povo atribui guerra so, na realidade, devidos inflaodos tempos da II Guerra Mundial. Poderiam ser, da mesmaforma, produzidos por igual inflao em tempos de paz.Voltaremos, mais adiante, a tratar dessa iluso monetria.

    Ora, existe meia-verdade na falcia da demanda "insatisfeita",do mesmo modo como ocorria na da vitrina quebrada. A vitrinaquebrada proporcionou mais emprego para o vidraceiro. Adestruio da guerra proporcionou mais negcio para os

  • produtores de certos artigos. A destruio de casas e cidadesincentivou as atividades das companhias construtoras e fbricasde material de construo. A impossibilidade de produzirautomveis, aparelhos de rdio e refrigeradores, durante aguerra, criou, no ps-guerra, uma demanda acumulada desses ltimosprodutos.

    Isto parecer, maioria das pessoas, um aumento nademanda total, assim como foi, em parte, em termos de dlares demenor poder aquisitivo. Mas o que realmente acontece um desvioda demanda de outras mercadorias para essas. Os povos daEuropa construram maior nmero de casas novas, em lugar defabricar outras coisas porque, na realidade, delas necessitavam.Quando, porm, construam mais casas, dispunham de muitomenor quantidade de mo-de-obra e de capacidade produtivapara tudo o mais. Quando compraram casas, dispunham demuito menor poder aquisitivo para comprar outras coisas.Sempre que os negcios so aumentados numa s direo,reduzem-se, forosamente, em outra (exceto quando as energiasprodutivas puderem ser, em geral, estimuladas pelo sentido denecessidade e urgncia).Em sntese, a guerra modificou a direodos esforos do ps-guerra; modificou o equilbrio das indstrias;modificou a estrutura da indstria.

    Desde o trmino da II Guerra Mundial na Europa, tem havidorpido e mesmo espetacular "crescimento econmico", tanto nospases que foram devastados pela guerra, como naqueles queno o foram. Alguns dos pases onde houve maior destruio,como a Alemanha, progrediram mais rapidamente que outros,como a Frana, onde a destruio foi muito menor. Em parte istose deu porque a Alemanha Ocidental seguiu uma polticaeconmica mais eficiente. Em parte, porque a necessidadedesesperada de recuperar a habitao e outras condies de vidanormais estimulou maiores esforos. Mas isto no significa que a

  • destruio de propriedades uma vantagem para a pessoa cujapropriedade foi destruda. Ningum queima sua prpria casapensando que a necessidade de reconstru-la estimular suasenergias.

    Aps uma guerra, normalmente, h um estmulo de energiapor algum tempo. No incio do famoso Cap. III da History ofEngland, Macaulay observava que:

    Nenhum simples infortnio, nenhum simples mau governocontribuir tanto para tornar uma nao pobre, quanto oprogresso constante do conhecimento fsico e o esforoconstante de cada pessoa para progredir na vida contribuiropara tornar uma nao prspera. Frequentemente, tem-seobservado que o gasto exagerado, imposto pesado, restriocomercial absurda, tribunais corruptos, guerras desastrosas,incitaes, perseguies, conflagraes, inundaes, no socapazes de destruir bens to rapidamente quanto os esforosde cidados particulares so capazes de cri-los.

    Nenhum homem gosta de ter sua propriedade destruda, sejana guerra ou na paz. Aquilo que prejudicial ou desastroso parauma pessoa deve ser tambm igualmente prejudicial oudesastroso para o grupo de pessoas que formam a nao.

    Muitas das mais frequentes falcias no raciocnio econmicoprovm da tendncia, especialmente acentuada hoje, de pensarem termos de abstrao a coletividade, a "nao" eesquecer ou ignorar as pessoas que a criam e lhe do sentido.Ningum que pensou primeiro nas pessoas cuja propriedade foidestruda pela guerra poderia imaginar que a destruio daguerra fosse uma vantagem econmica.

    Aqueles que pensam que a destruio da guerra aumenta a"demanda" total esquecem que demanda e oferta so,simplesmente, duas faces de uma s moeda. So a mesma coisa

  • vista de diferentes direes. Oferta cria demanda porque, nofundo, demanda.

    A oferta das coisas que um povo fabrica , de fato, tudo oque ele tem para oferecer em troca dos artigos que deseja.Nesse sentido, a oferta de trigo pelos fazendeiros constitui suademanda de automveis e outros bens. Tudo isso inerente moderna diviso do trabalho e a uma economia de intercmbio.

    Esse fato fundamental torna-se, na verdade, incompreensvelpara muitas pessoas (inclusive para certos economistasreputadamente brilhantes), tendo em vista complicaes, taiscomo o pagamento de salrios e a forma indireta pela qual,praticamente, todo intercmbio moderno feito por intermdiodo dinheiro. John Stuart Mill e outros autores clssicos, emboramuitas vezes falhassem quando no levavam suficientemente emconta as conseqncias complexas resultantes do uso do dinheiro,viram, pelo menos, atravs do "vu monetrio", as realidadessubjacentes. At esse ponto estiveram frente dos crticos de seutempo, mais confundidos que instrudos pelo dinheiro. Merainflao isto , mera emisso de mais dinheiro com aconseqente elevao de salrios e preos pode parecercriao de maior demanda. Em termos, porm, de verdadeiraproduo e troca de coisas, no .

    evidente que o poder aquisitivo real extinguido na mesmaproporo que extinguido o poder de produo. No nosdevemos deixar iludir ou confundir nesta questo pelos efeitos dainflao monetria no aumento de preos ou "renda nacional" emtermos monetrios.

    Diz-se, s vezes, que, no ps-guerra os alemes ou osjaponeses levaram vantagem sobre os americanos porque asfbricas velhas, tendo sido totalmente destrudas pelas bombasdurante a guerra, puderam ser substitudas por fbricas eequipamentos mais modernos e, desta forma, produzir mais

  • eficientemente e a preos mais baixos que os americanos comsuas fbricas e equipamentos mais velhos e meio obsoletos. Mas,se isto fosse realmente uma vantagem evidente, os americanospoderiam facilmente compens-la, pondo abaixo imediatamenteas fbricas velhas e jogando fora todos os equipamentos velhos.De fato, todos os fabricantes em todos os pases poderiamdestruir todas as fbricas e equipamentos velhos todos os anos elevantar novas fbricas, instalando novos equipamentos.

    A pura verdade que h uma taxa tima de substituio,uma poca oportuna para substituio. Seria uma vantagem paraum fabricante ter sua fbrica e equipamentos destrudos porbombas, mas apenas se isto acontecesse quando sua fbrica eequipamentos, pela destruio ou desuso, j tivessem atingido umvalor nulo ou negativo e as bombas cassem bem na hora que eletivesse chamado uma equipe de demolio ou, de outra forma,comprado novos equipamentos.

    bem verdade que a desvalorizao prvia e desuso, se noestiverem apropriadamente registrados nos livros, podem tornara destruio de sua propriedade um desastre, no saldo lquido,maior do que parece. tambm verdade que a existncia defbricas e equipamentos novos acelera o desuso de fbricas eequipamentos mais velhos. Se os proprietrios dessas fbricas eequipamentos mais velhos tentassem mant-los em uso por umperodo de tempo mais longo, de modo a tirar maior proveitodeles, ento, os fabricantes cujas fbricas e equipamentosfossem destrudos (se supusermos que tivessem vontade e capitalpara substitu-los por fbricas e equipamentos novos) iriam obteruma vantagem comparativa ou, para ser mais preciso, reduziriamsua perda comparativa.

    Em resumo, somos levados a concluir que nunca vantagemter as fbricas destrudas por granadas ou bombas, a menos queestas fbricas j tenham se tornado sem valor ou adquirido um

  • valor negativo por desvalorizao e desuso.

    Alm do mais, em toda esta argumentao at agoraomitimos uma razo central. Fbricas e equipamentos nopodem ser substitudos por uma pessoa (ou um governosocialista), a menos que ela ou ele adquira ou possa adquirir aeconomia, a acumulao de capital, para fazer a substituio.Mas a guerra destri capital acumulado.

    verdade que pode haver fatores de compensao.Descobertas e progressos tecnolgicos durante a guerra, porexemplo, podem aumentar a produtividade nacional ou individual,num ou noutro ponto, e, conseqentemente, pode haver umaelevao de lucro na produtividade total. A demanda de ps-guerra nunca reproduzir o modelo exato da demanda de antesda guerra. Mas estas complicaes no devem impedir-nos dereconhecer que a verdade bsica que a destruio devastadorade qualquer coisa de real valor sempre uma perda irreparvel,um infortnio ou um desastre e, quaisquer que sejam asconsideraes de compensao, jamais ser, no balano final,uma vantagem ou benefcio.

  • CAPTULO IVObras pblicas significam impostos

    No existe crena mais persistente e mais influente, hoje emdia, que a crena nos gastos governamentais. Em toda parte soeles apresentados como panacia para todos os nossos maleseconmicos. Est a indstria privada parcialmente estagnada?Podemos regulariz-la por meio de gastos governamentais. Hdesemprego? Isso, obviamente, causado pelo "insuficiente poderaquisitivo particular". O remdio , tambm, bvio. Tudo o que necessrio o governo despender o suficiente para compensar a"deficincia".

    Considervel literatura baseia-se nesta falcia e, como muitasvezes acontece com doutrinas dessa espcie, tornou-se parte deuma complexa rede de falcias que se sustentam mutuamente.No podemos, a esta altura, investigar toda essa rede;voltaremos mais tarde a tratar de outros ramos dela. Maspodemos, aqui, examinar a falcia-me que deu nascimento aessa prognie, a principal fonte da rede.

    Tudo o que obtemos fora das ddivas livres da natureza tem,de certo modo, que ser pago. O mundo est repleto de pseudo-economistas que, por sua vez, esto cheios de planos para obteralguma coisa por nada. Dizem-nos que o governo pode gastar egastar sem absolutamente tributar; que pode continuar aacumular dvidas sem jamais as liquidar, j que "devemos a nsmesmos". Trataremos dessas extraordinrias teorias maisadiante. Receio que, nisso, tenhamos de ser dogmticos eassinalar que sonhos to agradveis assim foram sempredestrudos pela insolvncia nacional ou por uma inflaogalopante. Devemos aqui dizer, simplesmente, que todos osgastos governamentais tero, praticamente, que ser pagos com oproduto lquido da tributao. A prpria inflao no passameramente de uma forma, uma forma particularmente anormal,

  • de tributao.

    Tendo posto de lado, para posteriores consideraes, a redede falcias que se apiam em emprstimos crnicos do governo ena inflao, admitiremos em todo este captulo que cada dlargasto pelo governo dever ser arrecadado imediata ouposteriormente por meio de imposto. Uma vez que consideremosa questo nesse sentido, os supostos milagres dos gastosgovernamentais aparecero sob outro aspecto.

    Um certo montante de despesas pblicas necessrio paraque o governo desempenhe suas funes essenciais. Uma certaquantidade de obras pblicas ruas, estradas, pontes, tneis,arsenais, estaleiros, edifcios para as assemblias legislativas,departamentos de polcia e bombeiros necessria paraatender aos servios pblicos essenciais. Em tais obras pblicas,necessrias pelo que representam, e defendidas somente nessabase, no estou interessado. Quero aqui tratar das obraspblicas consideradas como meios de "dar emprego" ouaumentar a riqueza da comunidade, sem as quais isso no teriasido possvel.

    Constri-se uma ponte. Se construda para atender a umademanda pblica insistente, se soluciona um problema de trfegoou de transporte, insolveis sob outra forma, se, em suma, mais necessria aos contribuintes coletivamente que coisas comas quais individualmente gastariam seu dinheiro, se este no lheshouvesse sido tirado atravs dos tributos, no poder haverobjeo. Mas uma ponte, construda principalmente para "daremprego", uma diferente espcie de ponte. Quando ofereceremprego constitui um fim, a necessidade torna-se umaconsiderao subordinada. Tem-se que inventar "projetos". Em vezde pensarem apenas nos locais em que devem ser construdas aspontes, os responsveis pelo dinheiro pblico comeam a indagara si mesmos onde podem constru-las. Podem inventar razes

  • plausveis pelas quais deve uma nova ponte ligar Easton a Weston?Breve isso se torna absolutamente essencial. Os que duvidamdessa necessidade so tachados de obstrucionistas ereacionrios.

    Apresentam-se dois argumentos para a ponte: um, o que seouve principalmente antes de ser construda; outro, o quefreqentemente se ouve depois de terminada. O primeiroargumento que a construo proporcionar emprego.Proporcionar, digamos, 500 empregos durante um ano. Aimplicao disso que esses empregos, de outra forma, noteriam surgido.

    Isso o que se v de imediato. Se estamos, porm, treinadospara poder ver mais alm, ver as conseqncias secundrias,alm daqueles que so diretamente beneficiados por um projetogovernamental, ver outros, os que passam a ser indiretamenteafetados, o quadro que se apresenta diferente. verdade quedeterminado grupo de construtores recebe mais ocupao, o queno ocorreria, no fosse a ponte. Esta, porm, deve ser pagacom os impostos, pois todo dinheiro gasto tem que ser tirado doscontribuintes. Se a ponte custa dez milhes de dlares, oscontribuintes perdero dez milhes. Ser-lhes- tirada a mesmaimportncia que, no fosse a construo, seria despendida emcoisas de que necessitavam mais.

    Portanto, para cada emprego pblico, criado pelo projeto daponte, fica destrudo, em algum lugar, um emprego particular.Podemos observar os operrios empregados na construo daponte. Podemos observ-los no trabalho. O argumento por partedo governo, de proporcionar emprego, torna-se vvido e,provavelmente, convincente para a maioria das pessoas. H,entretanto, outras coisas que no vemos porque, infelizmente,no se permitiu que surgissem. So os empregos destrudos pelosdez milhes de dlares tirados dos contribuintes. Quando muito,

  • tudo o que aconteceu foi uma transferncia de empregos por causade um projeto. Mais operrios para a construo da ponte;menos operrios para a indstria automobilstica, menos tcnicosde rdio, menos empregados para fbricas de artigos devesturio e para as fazendas.

    Chegamos, ento, ao segundo argumento. A ponte existe. ,suponhamos, uma ponte realmente bonita. Surgiu graas magiados gastos governamentais. Que teria acontecido se osobstrucionistas e os reacionrios tivessem imposto sua vontade?No teria havido a ponte. O pas se teria tornado mais pobre.

    Nisso, os responsveis pelo dinheiro pblico, outra vez, levama melhor na discusso com todos aqueles que no sabem ver,alm do alcance imediato de seus olhos. Podem ver a ponte. Mas,se tiverem aprendido a perceber as conseqncias indiretas damesma maneira que as diretas, podem, mais uma vez, ver, comos olhos da imaginao, possibilidades que nunca chegaro aexistir. Podem ver casas no construdas, automveis, rdios,vestidos e palets no fabricados, e talvez alimentos nocultivados nem vendidos. Ver esses elementos que no foramcriados requer certa imaginao, que nem todo mundo possui.Podemos, talvez, imaginar imediatamente esses objetos no-existentes, mas no podemos mant-los diante de nosso esprito,do mesmo modo com que podemos manter a ponte queatravessamos todos os dias, quando vamos para o trabalho.Aconteceu que, simplesmente, foi criada uma coisa em vez deoutras.

    2

    O mesmo raciocnio aplica-se, naturalmente, a qualqueroutra espcie de obras pblicas. Aplica-se tambm, por exemplo, construo, com fundos pblicos, de habitaes para pessoasde baixa renda. O que acontece que o dinheiro arrancado,

  • por meio de impostos, de famlias de renda mais elevada (e,talvez, at de famlias de renda menor), para for-las a financiarfamlias selecionadas, de renda inferior, capacitando-as a viveremem melhores moradias, pelo mesmo aluguel anterior ou poraluguel ainda mais baixo.

    No pretendo esmiuar aqui todos os prs e contras naconstruo de moradias com dinheiros pblicos. Interessa-meapenas assinalar o erro de dois dos argumentos maisfreqentemente apresentados a favor desse tipo de construo.Um, o de que ela "cria empregos"; o outro, que ela criariquezas, que, sem isso, no teriam sido produzidas. Ambos osargumentos so falsos, uma vez que no levam em consideraoo que se perde pela tributao. A tributao para construo demoradias, com fundos pblicos, destri tantos empregos emoutras atividades, quanto cria na de construo. Resulta em nose construrem casas particulares, em no se fabricaremmquinas de lavar roupa e refrigeradores e na falta deinumerveis outras mercadorias e servios.

    E nada disso respondido pela espcie de resposta queassinala, por exemplo, o fato de a construo de moradias comdinheiros pblicos no precisar ser financiada por uma quantia aser paga de uma s vez, mas apenas por meio de subsdiosanuais. Significa isso, simplesmente, que o custo passa a serdistribudo por muitos anos, em vez de concentrar-se num s.Significa, tambm, que o que se tira dos contribuintes distribudo por muitos anos, em vez de concentrar-se num s.Tais detalhes tcnicos so irrelevantes para o ponto principal.

    A grande vantagem psicolgica a favor da construo demoradias com dinheiros pblicos est em verem-se homenstrabalhando, enquanto esto sendo construdas as casas, e queestas so vistas depois de terminadas. Passam a ser habitadas eos moradores, orgulhosamente, mostram as dependncias aos

  • amigos. No se vem os empregos destrudos pelos impostosdestinados s moradias, nem os bens e servios que deixaram deser feitos. Exige um esforo concentrado do pensamento, e umnovo esforo cada vez que se vem as casas e seus felizesmoradores, imaginar a riqueza que em vez disso no foi criada. de surpreender que os defensores da construo de moradiascom dinheiros pblicos no tivessem considerado esse ponto, quese lhes levada ao conhecimento, tacham-no de puraimaginao, de simples objees tericas, ao mesmo tempo emque realam as moradias pblicas existentes. Isso faz lembrarum personagem de Saint Joan, de Bernard Shaw, que, ao lhefalarem sobre a teoria de Pitgoras, segundo a qual a terra redonda e gira em torno do sol, respondeu: "Que consumadoidiota! No podia ver isso com os prprios olhos?"

    Devemos aplicar o mesmo raciocnio, mais uma vez, aosgrandes projetos, como o de Tennessee Valley Authority. Ali,simplesmente pelo tamanho, o perigo da iluso de tica maiorque nunca. Ali est uma gigantesca represa, um formidvel arcode ao e concreto "maior que qualquer outro empreendimentoque o capital privado pudesse ter construdo", o fetiche dosfotgrafos, o paraso dos socialistas, o smbolo maisfreqentemente usado dos milagres da construo, propriedadee operao pblicas. Ali esto gigantescos geradores e usinas defora. Ali est toda uma regio, diz-se, elevada para o mais altonvel econmico, atraindo fbricas e indstrias que, de outromodo, no teriam existido. E tudo apresentado, nos panegricosde seus partidrios, como ganho econmico lquido, semcontrapartidas.

    No precisamos, aqui, entrar no mrito do TVA nem no deprojetos pblicos semelhantes. Desta vez, entretanto,necessitamos de especial esforo de imaginao, de que poucaspessoas so capazes, para ver o lado devedor da razo. Se osimpostos, arrecadados de pessoas e companhias, so aplicados

  • em determinada regio do pas, por que motivo causariasurpresa, por que deveria ser considerado milagre que essaregio se tenha tornado relativamente mais rica? Outras regiesdo pas, deveramos lembrar-nos, se encontram, ento,relativamente mais pobres. Aquele empreendimento to grandeque "o capital privado no teria podido realizar", foi, na verdade,realizado pelo capital privado pelo capital expropriadomediante imposto (ou, se o dinheiro foi tomado comoemprstimo, acabar sendo expropriado tambm com impostos).Precisaremos, novamente, fazer um esforo de imaginao paravermos as usinas de fora e as habitaes particulares, asmquinas de escrever e os aparelhos de televiso, que no sepermitiu viessem a surgir, porque o dinheiro que se arrancara dopovo, em todo o pas, fora empregado na construo dafotognica Represa de Norris.

    3

    Escolhi, propositadamente, os mais favorveis exemplos deprojetos de dispndios pblicos isto , os que so maisfreqente e ardentemente aconselhados pelos agentesgovernamentais e mais altamente considerados pelo pblico. Nofalei das centenas de projetos frvolos que, invariavelmente,aparecem logo que o objetivo principal "dar empregos" e "prgente a trabalhar". Isso porque, conforme vimos, a utilidade doprprio projeto torna-se, inevitavelmente, consideraosecundria. Alm disso, quanto mais extravagante a obra, quantomais dispendioso o trabalho, quanto maior o custo da mo-de-obra, tanto melhor para o objetivo de proporcionar maisempregos. Sob tais circunstncias, altamente improvvel que osprojetos inventados pelos burocratas proporcionem o mesmoaumento lquido riqueza e ao bem-estar, por dlar gasto, comoteria sido proporcionado pelos prprios contribuintes se,individualmente, lhes tivessem permitido comprar ou fazer o queeles mesmos desejassem em vez de serem forados a entregar

  • parte das suas poupanas ao Estado.

  • CAPTULO VOs impostos desencorajam a produo

    Existe, ainda, outro fator que torna improvvel que a riquezacriada pelos dispndios governamentais seja completamentecompensada pela riqueza destruda pelos impostos lanados parapagar tais dispndios. No , como tantas vezes se supe, simplesquesto de tirar algo do bolso direito da nao para coloc-lo noesquerdo. Os rgos governamentais dizem-nos, por exemplo,que, se o rendimento nacional de US$1,500 bilhes, osimpostos do governo, ento, de US$360 bilhes por ano, somente24% da renda nacional estavam sendo transferidos de finsparticulares para fins pblicos. Isso falar como se o pas fosseuma entidade da mesma espcie de uma grande companhia comrecursos em comum, e como se tudo que estivesse envolvidofosse simples transao contbil. Os rgos governamentaisesquecem-se de que esto tirando dinheiro de A a fim de opagarem a B. Ou, ento, sabem disso perfeitamente, mas, aomesmo tempo em que discorrem largamente sobre todos osbenefcios do processo para B, e sobre todas as coisasmaravilhosas que ele ter e que no teria, se o dinheiro no lhehouvesse sido transferido, esquecem-se dos efeitos da transaosobre A. B olhado e A esquecido.

    Em nossa sociedade moderna, a porcentagem do impostosobre a renda arrecadado nunca igual para todo mundo. Agrande carga desse imposto recai sobre pequena porcentagem dorendimento da nao; e este imposto deve ser suplementado poroutros de outra espcie. Esses impostos, inevitavelmente, afetama ao e os incentivos daqueles dos quais so cobrados. Quandouma grande empresa perde 100 centavos de cada dlar, eleperde, e somente lhe permitem conservar 60 centavos de cadadlar que ganha, e quando no pode compensar os anos deprejuzos com os anos de lucros, ou no pode faz-loadequadamente, sua poltica fica afetada. A companhia no

  • expande as operaes ou expande somente aquelas que podemser atendidas com um mnimo de risco. As pessoas quereconhecem essa situao vem-se impedidas de iniciar novosempreendimentos. Assim, antigos empregadores no maisempregam ou no empregam tantos quantos talvezempregassem; e outros resolvem no mais ser empregadores.Maquinaria aperfeioada e fbricas mais bem equipadas passama surgir muito mais lentamente, dada essa situao. O resultado,a longo prazo, afinal, verem-se os consumidores impedidos deconseguir produtos melhores e mais baratos, e no havermelhoria nos salrios.

    H efeito semelhante, quando os rendimentos pessoais sotributados em 50, 60 e 70% . As pessoas comeam a perguntar-se por que devem trabalhar seis, oito ou nove meses do ano todopara o governo e somente seis, quatro ou trs meses para si esuas famlias. Se perdem o dlar inteiro, quando perdem, esomente podem conservar apenas uma frao dele quandoganham, acham tolice assumir riscos com seu capital. Alm disso,o capital disponvel para os riscos diminui consideravelmente.

    Vai sendo arrebatado pelos tributos antes que possaacumular-se. Em sntese, o capital para prover novos empregosparticulares fica em primeiro lugar impedido de surgir, e a parteque realmente surge no encontra estmulo para criao denovos empreendimentos. Os rgos do governo criam o problemado desemprego que afirmam solucionar. Certa soma de impostos, na verdade, indispensvel para o desempenho de funesgovernamentais essenciais. Impostos razoveis para esse objetivono prejudicam muito a produo. A espcie de serviosgovernamentais prestados, ento, em retribuio e que, entreoutras coisas, protege a prpria produo mais que umacompensao para isso. Mas quanto maior a porcentagem darenda do povo arrancada, por meio de impostos, tanto maioresos empecilhos produo e aos empregos de entidades

  • particulares. Quando o gravame do imposto vai alm de umaimportncia suportvel, torna-se insolvel o problema de criarimpostos que no desencorajem e desorganizem a produo.

  • CAPTULO VIO crdito desvia a produo

    Tanto o "encorajamento" do governo aos negcios, quanto suahostilidade deve, s vezes, ser temido. Este supostoencorajamento quase sempre assume a forma de concessodireta de crditos governamentais ou de garantia de emprstimosparticulares.

    A questo do crdito governamental pode, s vezes, sercomplicada, porque envolve a possibilidade de inflao.Deixaremos para um captulo posterior a anlise dos efeitos dosvrios tipos de inflao. Aqui, a bem da simplicidade, vamosadmitir que o crdito, sobre o qual estamos debatendo, seja no-inflacionrio. A inflao, conforme veremos mais tarde,conquanto complique a anlise, no fundo no muda asconseqncias das normas discutidas.

    A proposta mais frequente dessa espcie, no Congressonorte-americano, a de concesso de mais crdito para osfazendeiros. Segundo o ponto de vista da maioria dos membrosdo Congresso, os fazendeiros no esto, realmente, conseguindosuficiente crdito. O crdito, fornecido por companhiashipotecrias particulares, companhias de seguro ou bancosrurais, nunca "adequado". O Congresso est sempreencontrando novas falhas, que no so preenchidas pelasinstituies creditcias existentes, no importando quantas delas jtenham sido criadas. Os fazendeiros podem ter suficiente crditoa longo ou a curto prazo, mas em compensao no tmsuficiente crdito "intermedirio" ora as taxas de juros sodemasiado altas, ora se queixam de que os emprstimos privadosso concedidos somente a fazendeiros ricos e bem aparelhados.O Legislativo vai, ento, criando sucessivamente novas instituiesde financiamento e novos tipos de emprstimos agrcolas.

  • A f em toda essa poltica, vamos ver adiante, advm de doisatos de impreviso. Um, encarar a questo apenas do ponto devista dos fazendeiros, que tomam dinheiro emprestado. O outro,est em pensar somente na primeira parte da transao.

    Ora, aos olhos de pessoas honestas todos os emprstimostm, afinal, que ser pagos. Todo crdito dvida. As propostaspara aumento do volume do crdito, portanto, representamsimplesmente outro nome para propostas do aumento da cargadas dvidas. Iriam parecer menos atraentes se a elas,habitualmente, se referisse pelo segundo nome em vez de peloprimeiro.

    No precisamos discutir aqui os emprstimos normais queso feitos aos fazendeiros, por intermdio de fontes privadas.Consistem eles em hipotecas, em crditos para pagamento aprestaes, destinados aquisio de automveis, refrigeradores,aparelhos de TV, tratores e outras mquinas agrcolas, e ememprstimos bancrios, com os quais o fazendeiro possa irvivendo at fazer a colheita, colocar a produo no mercado epag-los. inteno nossa ocupar-nos aqui s com osemprstimos a fazendeiros, quer feitos diretamente por algumrgo governamental, quer por este garantidos.

    Tais emprstimos so de dois principais tipos. Um odestinado a capacitar o fazendeiro a conservar sua produo forado mercado. o tipo de emprstimo especialmente danoso*;ser, porm, mais conveniente consider-lo mais adiante, quandochegarmos questo do controle de mercadorias por parte dogoverno. O outro o empregado para proporcionar capital parao fazendeiro, muitas vezes, poder estabelecer-secomercialmente, capacitando-o a comprar a prpria fazenda,uma mula ou um trator, ou todos os trs.

    primeira vista, as alegaes para esse tipo de emprstimopodem parecer muito fortes. Considere-se uma famlia pobre, ou

  • seja, sem qualquer meio de subsistncia. Ser crueldade edesperdcio deix-la sob assistncia econmica do governo.Adquira-se ento uma fazenda para ela; arranje-se para que seestabelea comercialmente e que seus membros tornem-secidados produtivos e respeitveis; faa-se com que possamcontribuir para o aumento da produo nacional e pagar oemprstimo, aps haverem produzido. Ou, ento, consideremosum fazendeiro que esteja mourejando com mtodos primitivos deproduo, por no dispor de capital para adquirir um trator.Empreste-se-lhe dinheiro para comprar um. Permitindo-se,assim, que aumente sua produtividade, ele poder resgatar oemprstimo com o acrscimo do rendimento de suas colheitas.Desse modo, no s o enriqueceremos e o reergueremos, comoenriqueceremos tambm toda a comunidade, com o aumento daproduo. E o emprstimo conclui o argumento custarmenos ao governo e aos contribuintes, porque ser"autoliquidvel".

    Ora, eis, na realidade, o que acontece todos os dias em umainstituio de crdito privado. Se um homem deseja comprar umafazenda e tem, digamos, apenas metade ou uma tera parte dodinheiro correspondente ao custo, um vizinho ou um bancoempresta-lhe o dinheiro restante, mediante hipoteca da fazenda.

    Se deseja comprar um trator, o prprio fabricante ou umaempresa financiadora lhe permitir adquiri-lo, mediantepagamento da tera parte do preo de compra, devendo orestante ser pago em prestaes obtidas com a poupana, que oprprio trator ajudou a conseguir.

    H, entretanto, decisiva diferena entre os emprstimosfornecidos por particulares e os fornecidos por um rgogovernamental. Todo emprestador particular arrisca seusprprios fundos. ( verdade que o banqueiro arrisca fundos deoutros que lhe foram confiados; mas, se perder o dinheiro, ter

  • de compensar a perda com seus prprios fundos ou, ento, serobrigado a abandonar o negcio.) Quando algum pe em riscoseus prprios recursos, comumente cuidadoso em suasinvestigaes, para determinar a adequao do ativo empenhado,a perspiccia comercial e honestidade do tomador doemprstimo.

    Se o governo operasse com este mesmo rigor, no haveria defato bom argumento para sua entrada nesse campo. Por quefazer precisamente o que os rgos particulares costumamfazer? O governo, entretanto, quase invariavelmente, operaobservando normas diferentes. Todo o argumento para entrarnesse negcio de conceder crdito prende-se, realmente, ao fatode que far emprstimos a pessoas que no poderiam consegui-los de entidades particulares. Isso , simplesmente, outramaneira de dizer que os rgos governamentais assumiro riscoscom o dinheiro de outras pessoas (os contribuintes?); riscos queos emprestadores particulares no assumiriam com seu prpriodinheiro. Defensores dessa poltica reconhecem, s vezes, que aporcentagem de perdas mais alta nos emprstimosgovernamentais, que nos efetuados por particulares. Afirmam,porm, que isso ser compensado pelo aumento da produo,trazido pelos tomadores de emprstimos, que os resgatam, e,mesmo, pela maioria dos que deixam de resgat-los.

    Esse argumento parecer plausvel somente enquantoconcentrarmos a ateno em determinados tomadores deemprstimos, aos quais o governo fornece os fundos, eesquecermos as pessoas, s quais seu plano priva de dinheiro. Oque, na realidade, est sendo emprestado no dinheiro, que apenas meio de intercmbio, mas capital. (J anunciei ao leitorque deixaremos para tratar, mais adiante, das complicaes queuma expanso inflacionria de crdito traz consigo.) O querealmente est sendo emprestado digamos a fazenda ouo prprio trator. Ora, o nmero de fazendas existentes

  • limitado, assim como a produo de tratores (admitindo-se,especialmente, que um excedente econmico de tratores noseja produzido simplesmente, custa de outras mercadorias). Afazenda ou o trator, que esto sendo emprestados a A, nopodem ser emprestados a B. A verdadeira questo prende-se,portanto, ao seguinte: se A ou B quem obter a fazenda.

    Isto nos leva a comparar os mritos de A e B e a saber comquanto cada um deles contribui, ou quanto capaz de contribuirpara a produo.

    Digamos que A fosse o homem que obteria a fazenda, se ogoverno no interviesse. O banqueiro local ou seus vizinhosconhecem-no, bem como a seus antecedentes. Desejamencontrar um emprego para seus fundos. Sabem que bomfazendeiro e homem honesto, que cumpre sempre a palavradada. Consideram-no bom risco. Talvez ele j tenha, por meio desua operosidade, frugalidade e previso, acumulado dinheirosuficiente para pagar a quarta parte do preo da fazenda.Emprestam-lhe as trs quartas partes restantes e ele adquire afazenda.

    Corre uma idia estranha, mantida por todo financistaextravagante, que crdito algo que o banqueiro d a umhomem. Crdito, no entanto, algo que o homem j possui.Tem-no, talvez, porque j possui um ativo negocivel de valormonetrio, maior que o emprstimo que est solicitando. Ou otem, porque seu carter e seus antecedentes o conquistaram.Leva-o consigo ao banco. Essa a razo porque o banqueiro lhefaz o emprstimo. Este no lhe est dando algo por coisa alguma.Est seguro de que ser pago. Est simplesmente trocando umaforma mais lquida de ativo ou crdito por uma forma menoslquida. s vezes, comete um erro, e, nesse caso, no s obanqueiro quem sofre, mas toda a comunidade, pois os valoresque se supunha seriam produzidos pelo tomador do emprstimo

  • no foram produzidos e, com isso, desperdiaram-se osrecursos.

    Agora, digamos que o banqueiro conceda o emprstimo de A,que tem crdito. O governo, porm, entra no mercado financeirocom caridosa disposio de esprito porque, conforme vimos, estpreocupado com B. B no pode conseguir uma hipoteca ou outroemprstimo junto a capitalistas privados, porque no tem crditocom eles. No dispe de poupanas, no consta de seu registroter sido bom fazendeiro e talvez esteja na ocasio, sob assistnciagovernamental. Por que, indagam os defensores dos crditosgovernamentais, no o transformar num membro da sociedade,til e produtivo, concedendo-Ihe crdito suficiente para adquirirum stio e uma mula, ou um trator, e estabelecer-secomercialmente?

    Talvez, em determinados casos individuais, essa medida dcerto. Mas bvio que, em geral, as pessoas escolhidas, segundoesses padres governamentais oferecero riscos muito maioresque as escolhidas, segundo os padres de entidades privadas.Perder-se- mais dinheiro ao conceder tais emprstimos. Haver,entre elas, maior porcentagem de falncias, menor eficincia,maior desperdcio de recursos. Alm disso, pessoas que recebemcrdito governamental obtero suas fazendas e tratores custade outras, que teriam sido beneficiadas pelo crdito privado.Como B consegue uma fazenda, A ficar privado de ter uma. Atalvez seja forado a desistir de uma, ou porque as taxas de jurossubiram, como resultado das operaes do governo, ou porque,em virtude dessas operaes, os preos das fazendas subiram,ou porque no existe outra fazenda nas vizinhanas. Em todocaso, o resultado lquido das operaes de crdito do governo nofoi aumentar a importncia da riqueza produzida pelacomunidade, mas reduzi-la, pois o efetivo capital disponvel (quena verdade constitudo de fazendas, tratores etc.) foi colocadoem mos de devedores menos eficientes, em vez de ser colocado

  • em mos de pessoas mais eficientes e dignas de confiana.

    2

    O caso torna-se ainda mais claro se passarmos das fazendaspara outras formas de negcio. Prope-se, frequentemente, queo governo assuma os riscos "demasiado grandes para a indstriaprivada".** Significa isso que se deve permitir aos burocratasassumirem riscos com o dinheiro dos contribuintes; riscos queningum est disposto a assumir com o seu.

    Tal poltica acarretaria males de muitas espcies. Acarretariao favoritismo: pela concesso de emprstimos a amigos, ou empaga de subornos. Levaria, inevitavelmente, a escndalos.Provocaria recriminaes, sempre que o dinheiro doscontribuintes fosse despendido com empresas que falissem.Aumentaria a exigncia de uma poltica socialista: pois, perguntar-se-ia muito justamente, se o governo vai arcar com os riscos, porque no receber tambm os lucros? Que justificativa pode haver,de fato, para solicitar aos contribuintes que assumam os riscos,ao mesmo tempo em que se permite aos capitalistas particularesque conservem os lucros? (Isto, no entanto, precisamente o quej fazemos, no caso de emprstimos do governo a fazendeiros"sem recursos", conforme veremos mais adiante.)

    Deixemos de lado, porm, por enquanto, todos esses males,e concentremo-nos em apenas uma das conseqncias dosemprstimos desse tipo. A conseqncia est em que elesdesperdiaro capital e reduziro a produo. Lanaro o capitaldisponvel em projetos ruins ou, pelo menos, duvidosos. Lan-lo-o em mos de pessoas menos competentes ou menos dignas deconfiana que aquelas que, de outro modo, poderiam t-loobtido, pois a quantidade de capital efetivo em qualquermomento (que se distingue dos smbolos monetrios sados deuma impressora) limitada. O que colocamos nas mos de B no

  • pode ser colocado nas mos de A.

    H pessoas que desejam empregar capital prprio. So,porm, cautelosas. Desejam receb-lo de volta. A maioria dosconcessores de crdito, portanto, investiga meticulosamentequalquer proposta, antes de nela arriscar seu prprio dinheiro.Pesam as perspectivas de lucro, contra as possibilidades deperda. Podem, s vezes, errar. Mas, por diversas razes,provavelmente cometero menor nmero de erros que asinstituies governamentais de crdito. Em primeiro lugar, odinheiro delas ou foi-lhes confiado voluntariamente. No caso deemprstimos feitos pelo governo, o dinheiro de outras pessoase foi-lhes tirado, independentemente do desejo pessoal, por meiode impostos. O capital privado ser investido somente onde seespera, com certeza, seja amortizado e sejam pagos os juros.Isso sinal de que se espera que as pessoas, s quais o dinheirofoi emprestado, produziro, para o mercado, mercadorias que opblico realmente deseja. O dinheiro do governo, por outro lado,provavelmente ser emprestado para algum propsito vago egeral, como "criar emprego"; e quanto mais ineficiente for a obra isto , quanto maior o volume de empregos que ela requer emrelao ao valor do produto tanto mais provvel ser que oinvestimento seja altamente considerado.

    Os capitalistas particulares, alm disso, so selecionados poruma prova cruel do mercado. Se cometerem erros graves,perdero seu dinheiro e no tero mais capital para emprestar.Somente se forem coroados de xito no passado, tero maiscapital para emprestar no futuro. Assim, os capitalistasparticulares (salvo proporo relativamente pequena dos quetenham obtido fundos por meio de herana) so rigidamenteselecionados por um processo de sobrevivncia dos mais aptos.Os credores governamentais, por outro lado, ou so os queforam aprovados nos concursos para o exerccio de cargospblicos, e sabem como responder a perguntas hipotticas, ou

  • so os que podem oferecer as mais plausveis razes paraconceder emprstimos e as mais plausveis explicaes de queno lhes coube culpa, se houve malogro nos emprstimos queconcederam. Permanece, entretanto, o resultado lquido: nosemprstimos de particulares, utilizam-se recursos e capitaisexistentes muito melhor que nos emprstimos do governo. Osemprstimos governamentais desperdiaro muito mais capital erecursos que os de particulares. Em suma: os emprstimosgovernamentais, comparados aos privados, reduziro a produo,no a aumentaro.

    A proposta de emprstimos governamentais a indivduos ouprojetos particulares, em sntese, v B e se esquece de A. V aspessoas em cujas mos colocado o capital, ignora as que, deoutro modo, o teriam recebido. V o projeto para o qual seconcede o capital e no considera os projetos para os quais noexistiu capital. V o lucro imediato de um grupo, omite as perdasde outros grupos e a perda lquida da comunidade como umtodo.

    mais um exemplo da falcia de ver apenas um determinadointeresse a curto prazo, e esquecer o interesse geral, a longoprazo.

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    Observamos, no incio deste captulo, que se deve temer a"ajuda" governamental aos negcios tanto quanto sua hostilidade.Aplica-se isso tanto aos subsdios, quanto aos emprstimos. Ogoverno jamais empresta ou concede algo s empresas que delasno retire. Ouvem-se muitas vezes "new dealers", e outrospartidrios do estatismo, vangloriarem-se da maneira pela qual ogoverno americano "amparou os negcios", em 1932, e depois, coma Reconstruction Finance Corporation, a Home Owners Loan Corporatione outros rgos governamentais, em 1932 e mais tarde.

  • Acontece, porm, que o governo no pode conceder auxliofinanceiro a empresas sem que, antes ou depois, o tire. Todos osfundos do governo advm de impostos. Mesmo o muito alardeado"crdito do governo" apia-se na suposio de que osemprstimos sero finalmente liquidados com o produto lquidodos impostos. Quando o governo concede emprstimos ousubsdios s empresas, o que ele faz tributar as empresasprivadas bem-sucedidas, a fim de amparar as mal sucedidas. Sobcertas circunstncias de emergncia, poder haver para issoargumentos plausveis, cujos mritos no precisamos discutir aqui.Mas, a longo prazo, isso no se afigura como proposiocompensadora, encarada do ponto de vista do pas como umtodo. E a experincia tem demonstrado que no .

    * A traduo da frase foi alterada. (Nota de reviso).

    ** A traduo da frase foi alterada. (Nota de reviso).

  • CAPTULO VIIA maldio da maquinaria

    Entre as mais viveis de todas as iluses econmicas est acrena de que a mquina, na realidade, cria desemprego.Destruda mil vezes, tem ressurgido sempre das prprias cinzascom a mesma firmeza e o mesmo vigor. Sempre que hprolongado desemprego em massa, a mquina que,novamente, leva a culpa. Essa falcia ainda a base de muitasmanifestaes de sindicatos. O pblico tolera tais manifestaesporque acredita que, no fundo, eles tm razo, ou sente-sedemasiado confuso para ver com justeza por que esto errados.

    A crena de que as mquinas causam desemprego, quandomantida com alguma consistncia lgica, conduz a ridculasconcluses. Devemos estar causando tanto desemprego com oaperfeioamento tecnolgico de hoje em dia, quanto o homemprimitivo deve ter comeado a causar com os primeiros esforosfeitos no sentido de poupar, para si, trabalho e suor inteis.

    Para no irmos muito longe, consideremos The Wealth ofNations, de Adam Smith, livro publicado em 1776. O primeirocaptulo dessa notvel obra intitula-se "Da diviso do trabalho", ena segunda pgina desse primeiro captulo o autor conta que umoperrio, no familiarizado com o uso da mquina utilizada numafbrica de alfinetes, "dificilmente faria um alfinete por dia e,certamente, no poderia fazer vinte", mas poderia, com o usodessa mquina, fazer 4.800 por dia. Assim, j ao tempo de AdamSmith que lstima! a mquina havia posto fora de trabalho240 a 4.800 operrios fabricantes de alfinetes para cada um quepermanecesse trabalhando. Na indstria de alfinetes j havia, sepor causa das mquinas os homens ficassem sem trabalho,99,98% de desemprego. Poderia haver situao mais negra queesta?

  • A situao podia tornar-se mais negra, pois a RevoluoIndustrial estava apenas na infncia. Consideremos alguns dosincidentes e aspectos dessa revoluo. Vejamos, por exemplo, oque aconteceu na indstria de meias. Ao serem introduzidasnovas mquinas de meias, foram elas destrudas pelos operriosmanufatureiros (mais de 1.000 numa nica desordem),incendiaram-se casas, os inventores foram ameaados de mortee obrigados a fugir, e a ordem somente foi restabelecida depoisde chamados os militares e presos ou enforcados os cabeas dasdesordens.

    Ora, importante ter em mente que, enquanto osdesordeiros estavam pensando em seu futuro imediato ou,mesmo, em seu futuro mais remoto, sua oposio mquina eraracional, pois William Felkin, em History of the Machine WroughtHosiery Manufactures (1867), conta-nos (embora sua declarao noparea plausvel) que a maior parte dos 50.000 teceles de meiasinglesas e suas famlias no ficaram totalmente livres da fome eda misria, causadas pela introduo da mquina, durante osquarenta anos seguintes. Mas quanto crena dos desordeiros,cuja maioria estava indubitavelmente imbuda de que a mquinaestava substituindo permanentemente os homens, era errada,pois antes do fim do sculo XIX a indstria de meias estavaempregando pelo menos cem homens para cada um dos queempregara em comeos daquele sculo.

    Arkwright inventou, em 1760, sua mquina de tecer algodo.Calculava-se haver na Inglaterra, a esse tempo, 5.200 fiandeirosusando rocas de fiar e 2.700 teceles, ao todo, 7.900 pessoasempregadas na produo de tecidos de algodo. Houve oposio inveno de Arkwright, sob a alegao de que ela ameaava asubsistncia dos operrios, e essa oposio teve que serdominada pela fora. Entretanto, em 1787 vinte e sete anosdepois do aparecimento da inveno uma investigaoparlamentar mostrou que o nmero de pessoas que estava

  • trabalhando em fiao e tecelagem de algodo havia subido de7.900 para 320.000: um aumento de 4.400% .

    Se o leitor consultar Recent Economic Changes, livro de David A.Wells, publicado em 1889, encontrar passagens que, excetuadasas datas e as cifras absolutas apresentadas, poderiam ter sidoescritas por nossos tecnfobos de hoje. Permita-me o leitor citaralgumas:

    Durante o decnio de 1870 a 1880, inclusive, a marinhamercante britnica aumentou seu movimento para cerca de22.000.000 de toneladas, s em matria de carregamentospara o exterior e descargas; (...) entretanto, o nmero dehomens empregados na realizao desse grande movimentodiminuiu em 1880, comparado ao de 1870, para cerca de3.000 (2.990, exatamente). Que motivou tal diminuio? Aintroduo de mquinas de iar a vapor e elevadores de grose cereais nos cais e nas docas, o emprego de fora a vaporetc.(...)

    Em 1873, o ao de Bessemer, na Inglaterra, cujo preono fora aumentado pelas tarifas protecionistas, era deUS$80 a tonelada; em 1866 era fabricado com lucro evendido na mesma regio, por menos de US$20 a tonelada.Ao mesmo tempo, a capacidade de produo anual de umconversor Bessemer aumentara quatro vezes sem que seaumentasse o preo da mo-de-obra utilizada; esta, pelocontrrio, diminuiu (...)

    A potncia, que j estava sendo produzida pelas mquinasa vapor existentes no mundo, e em operao no ano de1887, foi calculada pelo Departamento de Estatstica, emBerlim, como equivalente de 200.000.000 de cavalos,representando aproximadamente a de 1.000.000.000 dehomens; ou, pelo menos, trs vezes a populao obreira da

  • terra. (...)

    Pensar-se-ia que a ltima cifra citada obrigasse Mr. Wells afazer uma pausa e meditar por que ainda restava algum empregono mundo em 1889; ele, porm, concluiu simplesmente, comdiscreto pessimismo, que: "sob tais circunstncias, asuperproduo industrial (...) poder tornar-se crnica".

    Na depresso de 1932, comeou-se novamente a lanar mquina a culpa pelo desemprego. A teoria de um grupo que seintitulava os Tecnocratas espalhou-se, em poucos meses, pelopas, como um incndio numa floresta. No vou enfastiar o leitorcom um recital de cifras fantsticas, apresentadas por essegrupo, ou corrigi-las, para mostrar que fatos eram osverdadeiros. Basta dizer que os Tecnocratas retornaram ao erro,em toda a sua pureza, de que a mquina substituapermanentemente o homem exceto que, em sua ignorncia,apresentaram esse erro como descoberta nova e revolucionria.Era, nada mais nada menos, outra ilustrao do aforismo deSantayana, segundo o qual os que no se lembram do passadoesto condenados a repeti-lo.

    O ridculo finalmente liquidou os Tecnocratas, mas suadoutrina, que os precedera, permanece. Reflete-se em centenasde regulamentos de sindicatos e na prtica de "obrigar a daremprego"; e esses regulamentos e normas so tolerados e,mesmo, aprovados em virtude da confuso que, a esse respeito,paira sobre o esprito do pblico.

    Prestando declaraes em nome do Departamento de Justiados Estados Unidos perante a Temporary National Economic Commitee(mais conhecida como TNEC) em maro de 1941, Corwin Edwardscitou inmeros exemplos de tais prticas. O sindicato doseletricistas, da cidade de Nova York, foi acusado de recusar-se ainstalar equipamento eltrico fabricado fora do Estado de Nova

  • York, a menos que o equipamento fosse desmontado enovamente montado no local em que deveria ser instalado. EmHouston, Texas, mestres-encanadores e o sindicato dosencanadores concordaram em que canos pr-fabricados parainstalao seriam instalados pelos membros do sindicato somentese a rosca de uma das extremidades do cano fosse cortada, paraque se pudesse acrescentar uma nova, no local da instalao.Vrios ramos do sindicato dos pintores impuseram restries aouso de revlveres-pulverizadores, restries, em muitos casos,apenas para "obrigar a dar emprego", ao exigirem a aplicao datinta com pincel, processo mais vagaroso. Um ramo do sindicatodos condutores de veculos exigia que todo caminho, queentrasse na rea metropolitana de Nova York, tivesse ummotorista local, ao lado do motorista j empregado. Em vriascidades, o sindicato dos eletricistas exigia que, se qualquer luz oufora temporria tivesse que ser usada numa construo, deviaser mantida na obra um eletricista com tempo integral, ao qualno seria permitido realizar qualquer trabalho de eletricidade.Esse regulamento, segundo Mr. Edwards: "implica, muitas vezes,contratar um homem que passa o dia lendo ou jogando pacincia,no fazendo coisa alguma a no ser manobrar a chave nocomeo e no fim do dia".

    Poder-se-ia prosseguir citando tais prticas de obrigar a daremprego em muitos outros setores. Na indstria ferroviria, ossindicatos insistem em que se empreguem foguistas em tipos delocomotivas, que deles no necessitam. Nos teatros, sindicatosinsistem no emprego de trocadores de cenrios, mesmotratando-se de peas nas quais no se usam cenrios. O sindicatodos msicos exige que se empreguem msicos ou orquestrasinteiras em muitos casos em que somente so necessrios discose vitrolas.

    Em 1961 no havia sinal de que a falcia houvessedesaparecido. No apenas os lderes sindicais, mas funcionrios

  • do governo, falavam solenemente da "automao" como aprincipal causa do desemprego. A automao foi debatida comose fosse alguma coisa inteiramente nova no mundo. Na verdade,foi apenas um novo nome para o progresso tecnolgico contnuo eoutros avanos em equipamentos de economia de trabalho.

    2

    Mas, mesmo hoje, a oposio a mecanismos de economia detrabalho no fica apenas entre leigos em economia. Por volta de1970, apareceu um livro de um autor que at recebeu o PrmioNobel em economia. Seu livro opunha-se introduo demquinas que economizam mo-de-obra nos pasessubdesenvolvidos, tendo em vista que elas "reduzem a demanda

    de mo-de-obra"!1 A concluso lgica disso seria que o meio degerar o maior nmero de empregos tornar todo trabalho toineficiente e improdutivo quanto possvel. Isto significa que osrevoltosos ingleses de Luddite, que no incio do sculo XIXdestruram mquinas de tecer meias, teares de mquina a vapore mquinas de tosquear, apesar de tudo, estavam fazendo acoisa certa.

    Cifras e cifras poderiam ser acumuladas para mostraremquo errados estavam os tecnfobos do passado. De nada,porm, adiantaria, a menos que compreendssemos por queestavam errados, pois estatsticas e histrias so inteis emeconomia, salvo se vm acompanhadas de compreenso dedutivabsica dos fatos o que, neste caso, significa compreenso darazo por que tiveram que ocorrer as consequncias do passadocom a introduo da mquina e de outros elementos naeconomia de mo-de-obra.

    Por outro lado, afirmaro os tecnfobos (como de fatoafirmam quando se lhes assinala que as profecias de seuspredecessores se mostraram absurdas): "Tudo isso poderia muito

  • bem ser certo no passado; mas as condies atuais sofundamentalmente diferentes; no podemos de forma alguma,agora, admitir o desenvolvimento de qualquer outra mquina quevenha poupar mo-de-obra." A Sra. Eleanor Roosevelt, alis,escreveu numa coluna de jornal sindicalizado, em 19 de setembrode 1945: "Chegamos, hoje, a um ponto em que os processospara economizar mo-de-obra s so bons quando no deixam ooperrio sem seu emprego."

    Se, de fato, fosse verdade que a introduo da mquina quepoupa mo-de-obra uma permanente causa do crescentedesemprego e da misria, as concluses lgicas que se tirariamseriam revolucionrias, no s no campo tcnico, mas tambmno nosso conceito de civilizao. No s teramos que considerarcalamidade todo progresso tcnico, como teramos queconsiderar com igual horror todo progresso tcnico passado.Todos os dias, cada um de ns, segundo sua prpria capacidade,empenha-se em reduzir o esforo exigido para consecuo dedeterminado resultado. Cada um de ns procura economizar seutrabalho, economizar os meios necessrios para atingir seus fins.Todo empregador, pequeno ou grande, procura, constantemente,conseguir seus resultados de maneira mais econmica e maiseficiente, isto , poupando trabalho. Todo trabalhador inteligenteprocura reduzir o esforo necessrio realizao da tarefa quelhe atribuda. Os mais ambiciosos procuram, incansavelmente,aumentar os resultados que podem conseguir num determinadonmero de horas. Os tecnfobos, se fossem lgicos e coerentes,teriam que deixar de lado todo esse progresso e engenho, no scomo inteis, mas tambm como prejudiciais. Por que devem sertransportadas mercadorias por estradas de ferro, de Nova Yorka Chicago, se poderamos empregar um nmeroconsideravelmente maior de homens que carregassem todas elasnos ombros?

    Teorias falsas como essa no tm consistncia lgica; mas

  • prejudicam bastante, s pelo fato de serem sustentadas.Procuremos, por exemplo, ver exatamente o que acontece,quando se introduzem aperfeioamentos tcnicos e mquinas queeconomizam mo-de-obra. Os detalhes variaro em cada caso,dependendo das condies particulares que prevalecem em cadaindstria ou perodo. Admitamos, porm, um exemplo queenvolve as principais possibilidades.

    Suponhamos que um fabricante de roupas venha a saber daexistncia de uma mquina capaz de fazer sobretudos parahomens e mulheres, pela metade da fora trabalho que antesempregava. Instala a mquina e despede metade de seuoperariado.

    Isso, primeira vista, parece evidente perda de emprego.Mas a prpria mquina exigiu trabalho para ser construda; desorte que, em compensao, foram criados empregos que, deoutro modo, no existiriam. O fabricante, porm, somenteadotar a mquina se ela fizer melhores roupas com metade damo-de-obra, ou a mesma espcie de roupas por menor custo.Se admitirmos esse segundo ponto, no poderemos admitir que aquantidade de mo-de-obra para construo da mquina seja togrande, em termos de folha de pagamento, quanto a quantidadede mo-de-obra que o fabricante de roupas espera, afinal,economizar, adotando a mquina; de outro modo no haveriaeconomia e o fabricante de roupas no a teria adotado.

    Tem-se ainda, portanto, que levar em conta, uma perdalquida de emprego. Mas devemos, pelo menos, lembrar a realpossibilidade de que o primeiro efeito da introduo da maquinariapoupadora de trabalho pode ser, em ltima instncia, o deaumentar o emprego, porque, geralmente, s a longo prazo queo fabricante de roupas espera economizar dinheiro ao adotar amquina; poder levar vrios anos at que a mquina "seja pagapor si mesma".

  • Depois que a mquina tiver produzido economia suficientepara compensar seu custo, o fabricante de roupas ter maislucro que antes. (Admitiremos que ele apenas venda suas roupaspelo mesmo preo dos concorrentes e no faa esforo algumpara vender mais barato que eles.) A essa altura, pode parecerque a mo-de-obra tenha sofrido perda lquida de emprego, aopasso que somente o fabricante, o capitalista, quem tenhaganho. Mas precisamente desse lucro extra que devem vir ossubseqentes ganhos sociais. O fabricante estar usando esselucro extra, em pelo menos, um destes trs caminhos e,possivelmente, usar parte dele em todos trs: 1) usar o lucroextra na expanso de suas operaes, comprando outrasmquinas para confeccionar maior nmero de casacos; ou 2)investir o lucro extra em alguma outra indstria; ou 3)despender o lucro extra aumentando seu prprio consumo. Emqualquer uma das trs direes estar aumentando o emprego.

    Em outras palavras: o fabricante, como resultado de suaeconomia, tem lucros que antes no tinha. Todo dlar, queeconomizou em salrios diretos com os antigos operrios, temagora que pagar, em salrios indiretos, ou aos que fabricam anova mquina ou a operrios de outra indstria ou aosconstrutores de uma nova casa ou pelo automvel que comprarpara si ou pelas jias e casacos de pele que adquirir para aesposa. Em qualquer caso (a menos que seja um simplesamealhador), proporcionar, indiretamente, tantos empregosquantos os que deixou de proporcionar diretamente.

    A questo, entretanto, no termina aqui. Se esse fabricanteempreendedor, comparado com seus competidores, faz grandeseconomias, comear a expandir suas operaes, a expensasdeles, ou eles tambm comearo a comprar mquinas.Novamente, mais trabalho ser dado aos fabricantes destas. Masa concorrncia e a produo comearo, ento, a forar a baixado preo dos sobretudos. Dentro em breve no mais haver

  • lucros to grandes para aqueles que adotam as novas mquinas.A taxa de lucro dos fabricantes que as empregam comea a cair,ao mesmo tempo em que os fabricantes, que ainda no asadotaram, talvez no obtenham lucro algum. As poupanas, emoutras palavras, comearo a passar para os compradores desobretudo os consumidores.

    Como, porm, os sobretudos so agora mais baratos, maiornmero de pessoas passa a compr-los. Significa isso que,embora seja menor o nmero de pessoas necessrias para afabricao da mesma quantidade anterior de sobretudos, maiornmero destes feito agora. Se a demanda de sobretudos for oque os economistas denominam "elstica" isto , se uma quedano preo faz com que maior quantidade de dinheiro seja agoradespendida em sobretudos ento, maior nmero de operriospode ser empregado na fabricao de sobretudos que antes daintroduo das novas mquinas. J vimos como isso na verdadeaconteceu, historicamente, com as meias e com outros tecidos.

    Mas o novo emprego no depende da elasticidade dademanda de determinada mercadoria. Suponhamos que, emborao preo dos sobretudos sofra um corte de quase 50% umpreo antigo de, digamos, US$150 cai para US$100 , no sevenda um nico sobretudo adicional. O resultado seria que,enquanto os consumidores estivessem bem providos de novossobretudos, tanto quanto antes, cada comprador teria agoraUS$50 deixados de lado, o que antes no se verificava.Despender, portanto, esses US$50 em outra coisa,proporcionando, assim, aumento de empregos em outros ramos.

    Em sntese: bem pesado tudo, as mquinas, osaperfeioamentos tecnolgicos, a automao, as economias e aeficincia no deixam os homens sem trabalho.

    3

  • claro que nem todas as invenes e descobertas somquinas para "economizar mo-de-obra". Algumas delas, comoos instrumentos de preciso, o nilon, a lucite, a madeiracompensada e plsticos de toda espcie, simplesmente melhorama qualidade dos produtos. Outras, como o telefone ou o avio,realizam operaes que a mo-de-obra direta no poderiarealizar. Outras, ainda, do origem a objetos e servios tais comoo raio X, os rdios, aparelhos de TV, de ar-refrigerado ecomputadores que, de outro modo, nem sequer existiriam. Noexemplo precedente, entretanto, consideramos precisamente aespcie de mquina que tem sido objeto especial da tecnofobiamoderna.

    possvel, naturalmente, ir mais longe com o argumento deque as mquinas no deixam os homens desempregados. Alega-se, s vezes, que elas criam, por exemplo, mais empregos que,de outra forma, no teriam existido. Em certas condies issotalvez seja verdade. Em determinados ramos de negcios elas poderocriar um nmero consideravelmente maior de emprego. As cifrasdo sculo XVIII, relativas s indstrias txteis, oferecem tpicoexemplo. Seus correlatos modernos no se apresentam menossurpreendentes. Em 1910, 140.000 pessoas estavamempregadas, nos Estados Unidos, na indstria automobilsticarecentemente criada. Em 1920, com o aperfeioamento e com areduo do custo do produto, a indstria empregava 250.000pessoas. Em 1930, continuando o aperfeioamento e a reduodo custo, o nmero de empregados na indstria era de 380.000.Em 1973 subiu para 941.000. Por volta de 1973, 514.000 pessoasestavam empregadas na fabricao de aeronaves e peas deaeronaves e outras 393.000 na indstria de componenteseletrnicos. E o mesmo ocorreu em cada uma das novasindstrias que, sucessivamente, se criaram, medida que seaperfeioavam as invenes, e se reduzia o custo dos produtos.

    Pode-se tambm dizer, com absoluto bom senso, que as

  • mquinas aumentaram consideravelmente o nmero deempregos. A populao do mundo, hoje em dia, quatro vezesmaior que a de meados do sculo XVIII, antes de a RevoluoIndustrial estar em plena marcha. Pode-se dizer que a mquinadeu origem a esse aumento da populao, pois sem as mquinaso mundo no teria podido sustent-la. Pode-se dizer, portanto,que trs em quatro pessoas devem mquina no s o emprego,como tambm, a prpria vida.

    Entretanto, preconceito pensar que a funo ou o resultadoda mquina seja basicamente criar empregos. Seu verdadeiroobjetivo aumentar a produo, elevar o padro de vida e o bem-estar econmico. No fcil empregar todo mundo, mesmo (ouespecialmente) na mais primitiva economia. Pleno emprego emprego integral, demorado e que requer esforo umacaracterstica, precisamente, das naes industrialmente maisatrasadas. Onde ainda existir pleno emprego, novas mquinas,invenes e descobe