30
Sistema planificado na União Soviética: lições históricas e visão atual Irina Mikhailova Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Resumo Os objetivos principais deste trabalho foram analisar o sistema planificado na União Soviética, seguir a sua evolução desde a origem até a desmontagem e apresentar as visões alternativas sobre determinantes desse processo. A hipótese do trabalho gira em torno do argumento de que o colapso da URSS não deveu às desvantagens inerentes do próprio sistema planificado e de que as falhas do funcionamento deste sistema advieram da excessiva politização do processo de planificação socialista e das tentativas fracassadas de reformas. Procurou-se também revelar, baseando-se nas próprias fontes russas, o tipo de economia ao qual a Rússia chegou vinte anos após o fim do sistema planificado, e como a sua população avaliou as mudanças ocorridas no período pós-soviético. Palavras-chave: Economia planificada; União Soviética, Rússia Abstract The main objectives of this study were to analyze the Soviet Union planned system, to follow its evolution from the origin to the dismount and to present the alternative views on the determinants of this process. The hypothesis of this work consists in the argument that the Soviet Union collapse did not occurred due to the inherent disadvantages of the planned system and the planned system failure was caused by the excessive politicization of the socialist

Economia Planificada Da União Soviética

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Os objetivos principais deste trabalho foram analisar o sistema planificado na União Soviética, seguir a sua evolução desde a origem até a desmontagem e apresentar as visões alternativas sobre determinantes desse processo. A hipótese do trabalho gira em torno do argumento de que o colapso da URSS não deveu às desvantagens inerentes do próprio sistema planificado e de que as falhas do funcionamento deste sistema advieram da excessiva politização do processo de planificação socialista e das tentativas fracassadas de reformas. Procurou-se também revelar, baseando-se nas próprias fontes russas, o tipo de economia ao qual a Rússia chegou vinte anos após o fim do sistema planificado, e como a sua população avaliou as mudanças ocorridas no período pós-soviético

Citation preview

Sistema planificado na Unio Sovitica: lies histricas e viso atual

Irina Mikhailova

Universidade Federal de Santa Maria

[email protected]

Os objetivos principais deste trabalho foram analisar o sistema planificado na Unio Sovitica, seguir a sua evoluo desde a origem at a desmontagem e apresentar as vises alternativas sobre determinantes desse processo. A hiptese do trabalho gira em torno do argumento de que o colapso da URSS no deveu s desvantagens inerentes do prprio sistema planificado e de que as falhas do funcionamento deste sistema advieram da excessiva politizao do processo de planificao socialista e das tentativas fracassadas de reformas. Procurou-se tambm revelar, baseando-se nas prprias fontes russas, o tipo de economia ao qual a Rssia chegou vinte anos aps o fim do sistema planificado, e como a sua populao avaliou as mudanas ocorridas no perodo ps-sovitico.

Palavras-chave: Economia planificada; Unio Sovitica, RssiaAbstract The main objectives of this study were to analyze the Soviet Union planned system, to follow its evolution from the origin to the dismount and to present the alternative views on the determinants of this process. The hypothesis of this work consists in the argument that the Soviet Union collapse did not occurred due to the inherent disadvantages of the planned system and the planned system failure was caused by the excessive politicization of the socialist planning and by the failed attempts of its reforms. Based on the Russian sources, we also tried to reveal to what kind of the economy the Russia arrived twenty years after the planned system end, and how its population evaluated the post-soviet transformations.Key words: Planned economy; Soviet Union; RussiaGEL classification: P21; N14; N94

rea ANPEC: rea 2 Histria Econmica

1. Introduo

No ano de 2011, completaram-se 90 anos desde o incio do sistema planificado na Unio Sovitica (URSS) e a fundao do GOSPLAN (Comit Estatal do Planejamento da Unio), o rgo central que coordenava todo o processo da planificao na URSS e garantia o funcionamento da economia socialista. Experincias da planificao sovitica foram pioneiras na histria econmica e tornaram-se nicas. Posteriormente, elas foram aproveitadas por outros pases socialistas e, em certa medida, por alguns pases capitalistas. Alguns mecanismos da economia planificada continuam demonstrando a sua eficincia. Por exemplo, planejamento econmico na China, atualmente, abrange elementos do perodo-base de 5 anos de tal forma que, na poca, foi proposta pelo GOSPLAN. No mesmo ano de 2011, em dezembro, completaram-se 20 anos desde a desintegrao da Unio Sovitica em quinze Estados independentes, entre os quais a Rssia ficou a sua herdeira principal. O colapso da Unio Sovitica finalizou a desmontagem do sistema da economia centralmente planificada e controlada pelo Estado. Durante sete dcadas soviticas o sistema planificado percorreu o caminho que vai da sua formao original acompanhada pela forte luta poltica, passando por reformas econmicas, inclusive pela tentativa fracassada de Perestroika, at a sua desmontagem. A rpida desmontagem do sistema planificado, na ausncia de instrumentos de mercado, levou ao caos na economia e crise transformacional profunda da dcada de 1990. Reconhece-se que a histria da economia planificada merece maiores reflexes e anlises do ponto de vista contemporneo. Na ltima dcada, no meio acadmico do espao ps-sovitico acaloraram-se debates em torno da importncia de planificao econmica. Aps a desabilitao de mecanismos de planificao e seu desprezo total no perodo da dcada de 1990, vem crescendo a conscincia de que instrumentos de plano e de mercado podem atuar conjuntamente na economia. Opina-se que [...] a negao da planificao da economia levou o pas a uma armadilha econmica [...] precisa-se repensar e levar em conta a experincia sovitica na planificao econmica (FELDBLUM, 2001, p.5, traduo nossa).Os objetivos principais deste trabalho foram analisar o sistema planificado na Unio Sovitica, seguir a sua evoluo desde a origem at a desmontagem e apresentar as vises alternativas sobre determinantes desse processo. A hiptese do trabalho gira em torno do argumento de que o colapso da URSS no deveu s desvantagens inerentes do prprio sistema planificado e de que as falhas do funcionamento deste sistema advieram da excessiva politizao do processo de planificao socialista e das tentativas fracassadas de reformas. Procurou-se tambm revelar, baseando-se nas prprias fontes russas, o tipo de economia ao qual a Rssia chegou vinte anos aps o fim do sistema planificado, e como a sua populao avaliou as mudanas ocorridas no perodo ps-sovitico.

O corpo do presente trabalho compe-se, alm desta introduo, de trs sees. A primeira destas volta-se anlise do perodo inicial do sistema planificado. Na seo subsequente, buscar-se- revelar tendncias e compreender reformas da economia planificada desde a dcada de 1950 at a fim da URSS. Na seo 4, apresentam-se brevemente vises contemporneas sobre o sistema econmico na Rssia e avaliaes subjetivas (percepes da populao russa) dos resultados de transformaes econmicas ao longo do perodo de vinte anos sem economia planificada. Ao final, apresenta-se uma concluso.

2. Origem e fundao do sistema planificado na Unio Sovitica A Rssia aps a vitria da revoluo socialista, em 1917, passou inicialmente por perodo chamado comunismo de guerra do controle rgido estatal e da plena mobilizao de recursos durante a guerra civil. No final da guerra civil economia russa estava praticamente acabada: no incio da dcada 1920, em comparao do ano 1913 (pouco antes da I Guerra Mundial), a produo industrial caiu em 80%, a produo agrcola diminuiu em 40 %, muitas empresas pararam de funcionar, infraestrutura produtiva e social foi destruda, expropriao forada de produo agropecuria levou a pauperizao da populao rural (BAYER, 2011, p.1).

Nessas condies, o governo da Rssia Sovitica comeou a construir o sistema de planificao diretiva e centralizada como forma de gesto e de funcionamento da economia socialista. Na dcada de 1920, muitos profissionais formados na Rssia tzarista foram chamados para elaborar o sistema de planificao que nunca antes foi experimentado no mundo em nvel do Estado. Entre eles merece destaque o cientista Nikolai Kondratiev que ficou mundialmente reconhecido pela sua teoria de Kondratiev waves (Ondas de Kondratiev). Segundo esta, existem grandes ciclos econmicos (ondas) com durao de 50-60 anos provocados principalmente por inovaes tecnolgicas. Em 1920, Kondratiev fundou e encabeou o Instituto de Conjuntura em Moscou - a primeira fundao cientfica da rea socioeconmica na Rssia Sovitica.

O primeiro plano elaborado, em 1920, foi o Plano GOELRO (Plano Estatal da Eletrificao da Rssia). O Plano garantiu o monoplio estatal sobre a produo e o fornecimento de energia e previu o crescimento acelerado do setor energtico, entre as outras diretrizes principais. Em 1921, em primeira vez na histria, foi fundado o rgo estatal da planificao, o GOSPLAN. Tambm foram criados Comits de planejamento, subordinados ao GOSPLAN, em nveis mais baixos: OBLPAN (comit de oblast unidade administrativa) e RAYPLAN (comit de rayon distrito administrativo de oblast). O GOSPAN funcionava durante todo o perodo sovitico como o principal coordenador do funcionamento da economia centralmente planificada. A elaborao da base metodolgica da planificao socialista demorou alguns anos. Em 1926, na resoluo do I Congresso Nacional dos comits de planejamento foi aprovada estrutura do sistema de planos e inter-relacionamentos entre eles. Elemento principal do sistema passou a ser Plano Quinquenal. Foram tambm determinados os princpios da elaborao de planos. Declarou-se o carter diretivo de planificao, ou seja, a obrigao de cumprir planos por todas as empresas. O primeiro Plano Quinquenal foi elaborado para o perodo de 1928-1932. .

No entanto, j em 1921, para retirar a economia do caos ps-revolucionrio e o da guerra civil, necessitaram-se medidas urgentes. Decidiu-se voltar temporariamente e parcialmente aos mecanismos da economia de mercado, permitindo a atividade de empresas privadas em setores secundrios e liberalizando o setor do comrcio, entre outras medidas. Esta poltica ficou conhecida como NEP (Nova Poltica Econmica). O terico e idelogo principal da NEP foi Kondratiev. Ele e seus proponentes defenderam a ideia da economia mista, ou seja, de que instrumentos da planificao centralizada e os de mercado poderiam ser utilizados juntos na economia. A poltica da NEP permitiu reanimar a economia em poucos anos. Conforme algumas estimativas, no perodo da NEP, a economia cresceu em mdia 18% por ano (BAYER, 2011, p.2).

No decorrer da elaborao do I Plano Quinquenal, houve grande discusso entre duas correntes contraditrias na economia socialista emergente. Defensores da primeira corrente, a qual Kontratiev tambm pertenceu, chamaram-se genticos. Eles pensavam que diretrizes dos planos devem basear na anlise das tendncias existentes na economia, levar em conta disponibilidade de recursos e conjuntura real econmica. A esta corrente pertenceram, em geral, especialistas da elite profissional e intelectual da Rssia tzarista, os quais no eram, na maioria, membros do Partido Comunista.

A segunda corrente defendeu a abordagem teleolgica, e seus proponentes chamaram-se telelogos. Eles consideravam a formulao de objetivos e a elaborao das metas de desenvolvimento como a etapa mais importante da planificao. Para o cumprimento das metas, devem ser buscados recursos necessrios, alterada conjuntura econmica e formadas novas tendncias. Sendo assim, o plano basear-se-ia mais nas diretrizes centrais do que nas previses cientficas. Os proponentes da segunda corrente foram, na maioria, membros do Partido Comunista e aqueles economistas que prefeririam seguir pela linha geral do Partido (ver KARR, 1990; KURNOSOV, 2010).

No final das contas, a corrente teleolgica venceu, o que implicou a prioridade de fatores polticos sobre fatores socioeconmicos. A partir da, formou-se a grande crena de que

[...] a econmica sovitica pode crescer num ritmo impossvel para a economia capitalista. Planificao no deve levar em conta o passado. Devem-se ser colocadas grandes metas e procurados meios para seu cumprimento (BRUTSKUS, 1995, p.125, traduo nossa). No incio do perodo do I Plano Quinquenal, a poltica da NEP foi revogada como contraditria s ideias socialistas. Os proponentes da NEP e defensores da corrente gentica foram reprimidos. O prprio Kondratiev foi dispensado do Instituto de Conjuntura, em 1928, preso, em 1930 e executado, em 1938, por ordem de Stalin. Muitos profissionais, os quais poderiam contribuir para o desenvolvimento cientfico da teoria da planificao, compartilharam o destino trgico de Kondratiev. Como resultado disso, o processo de planificao centralizada, desde o seu incio, submeteu-se esfera ideolgica, tornando-se dependente das decises polticas, s vezes voluntaristas e no profissionais. Em certa medida, a ideologizao e a politizao excessiva da planificao econmica predeterminaram vrias despropores no desenvolvimento socioeconmico em todo o perodo sovitico.

A partir do I Plano Quinquenal, a histria da economia sovitica vinha-se apresentando como a dos perodos quinquenais consecutivos, contando, no total, com doze perodos (com uma nica exceo, quando se tentou, em 1959, pela iniciativa de Khrushchev, mudar o perodo base planificado de 5 para 7 anos). Para os soviticos, surgiu o slogan permanente: nossos planos so a lei, cumprir o plano o nosso dever, sobrecumprir (overfulfil) o plano uma honra. I Plano Quinquenal objetivou industrializao forada e definiu a prioridade da indstria pesada sobre outros setores da economia. Plano foi sobrecumpido, ou seja, cumprido em menos de 5 anos. Metas principais, previstas nas diretrizes do plano, foram atingidos em 4 anos. A construo da base industrial do socialismo continuou no decorrer do II Plano Quinquenal para o perodo de 1933-1937, o qual tambm foi bem sucedido. Conforme avaliao do Centro de Pesquisa sobre a Unio Sovitica da Universidade de Melbourne, a qual pode ser considerada alternativa estatstica sovitica, no perodo de 1928-1940, a indstria da URSS apresentava taxas incrveis de crescimento, em torno de 16% por ano (WHEATCROFF et al., 1986, p. 274). Como resultado principal de dois primeiros planos quinquenais foi a formao da base material do socialismo. Em 1936, o XVIII Congresso do Partido Comunista da URSS, nomeado Congresso dos Vencedores, declarou a finalizao, em princpio, da construo do socialismo. Naquele momento, a participao do setor estatal na produo total e, tambm, na capacidade produtiva total ampliou at 99%. Para comparar, os mesmos indicadores, no ano de 1924, contavam s por volta de 35% (ABALKHIN, 1978, p.3). No entanto, para tal sucesso da economia, os esforos e sacrifcios da populao foram grandes. Concorda-se com H. Magdoff, que, numa entrevista, afirmou o seguinte:

Para cumpri-lo [o plano] requeria-se, em um sentido, uma militarizao da economia. A militarizao pode ser uma grande palavra, mas a mobilizao econmica tomou a forma de uma economia de guerra. Diretores fortes, pressionando as pessoas ao extremo, perseguindo aqueles que no produzissem por vrias razes [...]. Da mesma forma, os agricultores foram forados coletivizao (MONTHLY REVIEW, 2002, p.2).A verdadeira militarizao da economia deu incio a partir do III Plano Quinquenal para o perodo de 1938-1943. Este plano indicou a prioridade de indstria blica sobre outros setores da economia. Nos anos 1938 -1940, as taxas mdias anuais de produo industrial foram 13%, e as mesmas taxas do setor blico foram trs vezes mais altas, ou seja, 39% por ano. Sendo assim, no incio de ano 1941, a participao da indstria blica na indstria total sovitica chegou a 45% (SHEPOVA, 2011, p.103). O processo de construo socialista e de execuo do III Plano Quinquenal foi atropelado, em 22 de junho de 1941, pelo incio da Grande Guerra Patritica (o nome pelo qual ficou conhecida a participao da Unio Sovitica, de 1941 a 1945, na II Guerra Mundial) quando a economia sovitica se dirigiu totalmente para o caminho militar. Aps a Guerra, o planejamento diretivo, que foi tambm interrompido, recebeu continuao. As diretrizes do IV Plano Quinquenal (1946-1950) objetivaram a rpida recuperao da economia ps-guerra. Depois dos perodos da militarizao forada pr-guerra, da II Guerra Mundial e da restaurao dos prejuzos enormes no perodo ps-guerra, ou seja, a partir da dcada de 1950, a economia sovitica poderia voltar-se prioritariamente para os objetivos de desenvolvimento socioeconmico junto corrida competitiva com o mundo capitalista. Essa inteno de atingir e ultrapassar pases capitalistas expressou-se no termo cunhado como desenvolvimento de catch-up.

3. Evoluo do sistema planificada sovitica e sua desmontagem no perodo de 1950 a 1991

No perodo de 1950 ao incio da dcada de 1990, a economia socialista percorreu o caminho que vai do crescimento acelerado estagnao, da maturidade do sistema planificado at a sua desmontagem. A dcada de 1950 representou o perodo da culminao econmica: a economia demonstrou o melhor desempenho e o mais rpido crescimento na sua histria. Na expresso de um dos pesquisadores russos principais sobre o perodo sovitico, Grigory Khanin, essa foi a dcada de triunfo e maravilho econmico quando a URSS fazia parte do grupo de pases com o crescimento mais rpido no mundo (KNAHIH, 2002, p.55, traduo nossa).

Nesse perodo, somente dois pases, o Japo e a Unio Sovitica, cresciam, reduzindo o seu atraso econmico em comparao com os USA. A tendncia de crescimento acelerado se prolongou, mesmo com menor ritmo, at a dcada de 1960 (ver dados da tabela 1). Se no Imprio Russo, em 1913, e na Unio Sovitica, em 1928, o seu PIB per capita foi 30% e 20%, correspondentemente, do nvel do mesmo indicador dos USA, ento, no final da dcada de 1960, o PIB per capita da Unio Sovitica atingiu quase 40% do nvel dos USA (POPOV, 2008, p. 6). Apesar do fato de que a diferena entre USA e URSS, em PIB per capita, ainda ficar grande, a expectativa de vida da populao sovitica aumentou at 70 anos na metade dos anos 1960, o que foi quase a mesma do que a dos USA. Esse resultado social ficou como o mximo histrico na URSS e nunca foi atingido depois, inclusive na Rssia ps-sovitica.

Tabela 1 - Taxas anuais de crescimento da Renda Nacional e do Investimento total na economia sovitica nas dcadas de 1950 a 1980 (em %, mdia no perodo)Indicadores1951 19601961

19651966

19701971 19751976

19801981

1985

Renda Nacional 10,26,57,86,34,23,5

Investimento total10,85,47,36,73,73,7

Fontes: adaptado de GOSUDARSTVENNYE ECONOMICHESKIE STRATEGII, 1998; VEDUTA, 2002, p.237. A partir da dcada de 1960, alguns problemas da economia planificada comearam a se agravar. A prioridade da indstria blica e a dos meios de produo, em detrimento dos outros setores, causou a demanda no atendida com vrios bens de consumo e servios. Nos primeiros planos quinquenais, esta prioridade era necessria para construir a base material do socialismo e criar fundos produtivos (osnovnye proizvodstvennye fondy) e, assim, era considerada como sacrifcio inevitvel para vencimentos futuros. J no perodo em questo, a existncia desses problemas no poderia ser justificada e por isso repercutiu negativamente sobre a motivao de trabalhadores e a produtividade de trabalho. Alm disso, a perda da motivao para o trabalho vinha acontecendo devido a certo nivelamento das remuneraes. O entusiasmo sovitico, inspirado nas ideias do comunismo, tambm j havia diminudo. Outro ponto fraco da economia sovitica passou a ser o gradativo atraso do setor agrcola, devido ao financiamento precrio, baixa estimulao e a condies climticas difceis. Vale a pena mencionar, tambm, os crescentes gastos estatais soviticos com a corrida armamentista e, tambm, com a ajuda financeira aos outros pases, para reforar pases do campo socialista e obter novos aliados na possvel expanso do socialismo no mundo. Todos esses custos ideolgicos comearam a afetar o desempenho econmico da Unio Sovitica. No entanto, o problema geral da economia planificada (e uma das determinantes do seu colapso posterior) foi a chamada corrida planejamentista, a qual visou ao cumprimento das diretrizes do Plano corrente a qualquer custo e o mais rpido possvel. As empresas que conseguiram atingir as metas do Plano Quinquenal em perodo menor do que 5 anos, ou seja, no final do quinqunio, ultrapassaram o nvel previsto de indicadores, receberam destaque especial, foram beneficiadas financeiramente e privilegiadas na distribuio centralizada de recursos para o prximo perodo. Isso levou prioridade de indicadores quantitativos do Plano (como o nvel de produo, a quantidade produzida, etc.) em detrimento da qualidade dos bens produzidos e do uso racional dos recursos da sociedade. Assim, chegou-se ao reconhecimento de que o sistema planificado necessitava de modificaes em direo menor centralizao e a maiores estmulos para aumento da eficincia econmica.

Em 1965, foi lanada a reforma econmica conhecida como Reforma de Kosygin (em nome de A. Kosygin, na poca primeiro ministro da URSS). Pela primeira vez, visou-se ligeiramente modificar a prpria base econmica do socialismo, introduzindo alguns elementos de mercado atravs do mecanismo de khozraschet (comercializao). A Reforma de Kosygin objetivou a certa liberalizao de inter-relaes econmicas e a flexibilizao do mecanismo vertical de comando e controle. Empresas, antes consideradas como simples peas de propriedade pblica, passaram a ser quase proprietrias do seu capital fixo (isso nada tinha a ver com a privatizao ps-sovitica nos anos 1990). Tentou-se fazer com que o indicador de lucro da empresa passasse a ser o critrio principal da sua atividade. Para isso, as transferncias obrigatrias de lucros, acima do normativo, para o Oramento Estatal foram substitudas pelo imposto sobre o capital fixo.

Tambm a reforma pretendeu aumentar o interesse dos trabalhadores nos resultados das empresas. Foram criados Fundos de estmulos econmicos nas empresas, os quais dependiam dos lucros lquidos e dos indicadores da eficincia da produo. A destinao desses Fundos era a premiao de trabalhadores, auxlios financeiros a esses e o financiamento de objetos da infraestrutura social das empresas. Como resultado da Reforma, as empresas obtiveram mais recursos financeiros para uso prprio, os quais poderiam ser alocados conforme a sua deciso, sem diretrizes centrais. Antes da Reforma, a relao de recursos prprios sobre os totais da empresa era em torno de 20%, enquanto, em 1970, esse indicador ficou em quase 35 % (VEDUTA, 2002, p. 193). Os efeitos positivos da Reforma contriburam para melhores resultados do desempenho do VIII Plano Quinquenal, para o perodo de 1966-1970 (ver dados da Tabela 1), no entanto, efeitos no conseguiram prolongar-se muito.

A economia continuava a se-desacelerar. Conforme dados da Tabela 1, as taxas mdias anuais do crescimento da Renda Nacional (Produto Nacional Lquido) gradualmente vinham diminuindo de 7,8 %, no perodo de 1966-1970, at 3,5%, no perodo de 1981-1985, ou seja, do XI Plano Quinquenal. Visando desacelerao acentuada, fez-se nova tentativa de reformar a economia. Em julho de 1979, foi lanada mais uma reforma econmica com o objetivo de aumentar a eficincia da planificao, racionalizar o uso de recursos e elevar a qualidade de bens e servios produzidos. A principal proposta foi modificar, mais uma vez, os critrios de avaliao da atividade das empresas, acabando com a prtica plano pelo prprio plano qualquer que seja o custo. Na elaborao de diretrizes dos Planos, foi previsto substituir indicadores da produo total pelos da produo final, estimulando a reduo do uso de insumos de produo. Visou-se tambm maior incluso de indicadores qualitativos e no monetrios no conjunto dos indicadores planificados. Previa-se correlacionar o fundo da remunerao dos trabalhadores com a evoluo da produtividade do trabalho, para reverter a tendncia de maior aumento de salrios nominais em comparao com o da produtividade de trabalho. As medidas da Reforma enfatizaram a intensificao do mecanismo de khozraschet (comercializao) nas relaes e as atividades das empresas. A inteno foi descentralizar a planificao, fazendo com que a elaborao dos planos se iniciasse no nvel das empresas produtoras e se baseasse no estudo das demandas de consumidores finais. Infelizmente, a maioria das medidas no foi implementada devido forte resistncia do corpo executivo das empresas, burocracia e inrcia dos rgos de controle e planejamento central . No perodo posterior Reforma fracassada, o do XI Plano Quinquenal (1981-1985), os resultados macroeconmicos ainda pioraram: a taxa mdia anual do crescimento da Renda Nacional ficou em 3,5% (mais baixa do que a de 4,2%, no perodo anterior, 1976-1980), enquanto o investimento total cresceu em ritmo igual em dois perodos quinquenais (ver Tabela 1).

O perodo do XII Plano Quinquenal (anos 1986-1990) foi o ltimo perodo planificado na Unio Sovitica. Porm, as diretrizes deste plano no foram cumpridas. Na Tabela 2, visualizam-se as taxas do crescimento dos indicadores macroeconmicos, neste perodo e no ano de 1991. No final do perodo do ltimo plano, em 1990, o crescimento ficou negativo, e a verdadeira crise deu-se em 1991, quando a Renda Nacional e o Investimento Total encolheram em aproximadamente 15%. Tabela 2 - Taxas de crescimento da Renda Nacional e do Investimento Total na economia sovitica, no perodo de 1986 - 1991 (em % ao ano anterior)Indicadores

198619871988198919901991

Renda Nacional102,4100,7104,5101,996,085,7

Investimento Total109,2105,9107,7104,199,984,5

Fonte: Adaptado de VEDUTA, 2002, p.237.

As diretrizes do XII Plano Quinquenal foram aprovadas j depois da vinda do novo (e o ltimo) Secretrio Geral do Partido Comunista da URSS, Mikhail Gorbachev, que iniciou a nova reforma da economia socialista atravs do processo da Perestroika (literalmente, reconstruo). Na etapa inicial da Perestroika, foram realizadas algumas medidas administrativas. A partir de janeiro de 1987, comearam as transformaes no mecanismo econmico. Pretendeu-se reduzir o monoplio estatal, afrouxar o controle do Estado, liberar a tomada das decises empresariais, descentralizar o sistema planificado e permitir a propriedade privada em setores secundrios de produo de bens de consumo, do comrcio varejista e dos servios no essenciais. Essa ltima medida foi o elemento mais radical da implementao do chamado socialismo de mercado como o novo modelo da economia sovitica. No final da dcada de 1980, o Estado continuava como o principal proprietrio da base produtiva, mas j existiam inmeras microempresas e empresas de pequeno porte nas mos de proprietrios privados. No setor da agricultura, foi permitido o arrendamento de terras estatais por grupos familiares e indivduos. Medidas econmicas da Perestroika foram elaboradas com vistas a retomar o crescimento econmico e melhorar o desempenho social por meio da reformulao dos mecanismos existentes, porm mantendo inalterados os principais fundamentos do socialismo, conforme o prprio termo socialismo de mercado (ver Gorbachev, 1995).No entanto, acontecimentos polticos no pas e na Europa do Leste, no fim dos anos 1980, travaram as realizaes das medidas econmicas previstas pela Perestroika. A reconstruo de outras esferas da vida sovitica na direo da descentralizao de gesto deu incio aos movimentos nacionalistas e consequente destruio das relaes econmicas entre elementos do sistema planificado, o qual acabou sendo desmontado.

4. Depois da economia planificada O colapso da Unio Sovitica finalizou a desmontagem do sistema planificada. A Rssia, junto com outros pases do ex-campo socialista, comeou a transitar para outro sistema poltico e econmico - o capitalismo e a economia de mercado. A maioria dos pesquisadores ps-soviticos reconhece que, na poca, nenhuma estratgia de transio do sistema socialista para o capitalista foi definida. O prprio caminho de transio foi inesperado. Entre os pesquisadores ocidentais, tambm se encontra a viso de que a transio da Rssia para o capitalismo foi a consequncia imprevisvel das tentativas das reformas do socialismo. Para eles,

Policies adopted by the Soviet Union when it embarked on the path of reforms were not intended to turn it into fifteen independent capitalist nations. Rather, Gorbachev hoped that perestroyka would strengthen socialism by making it more efficient and more humane. The transition to capitalism was a largely unanticipated consequence of the changes initiated by Gorbachev (SCHWARZ et al, 2002, p.2).

Hoje, avaliando o caminho de vinte anos da economia russa em transio, pode-se afirmar que resultados deste caminho tambm foram inesperados e causaram muitos efeitos indesejveis sobre a sociedade. Grandes custos sociais, no perodo de transio, contriburam negativamente para avaliaes subjetivas do caminho escolhido no pas. Conforme a pesquisa do Instituto da Sociologia da Academia de Cincias da Rssia, em 2011, 39% da populao russa considerava o caminho atual do pas como para lugar nenhum (sem perspectiva), e 73% da populao tinha opinio, em princpio, negativa sobre a desintegrao da Unio Sovitica (INSTITUT SOTSIOLOGII 2011, p.279 e p.39). No entanto, isso no quer dizer que se duvidava da necessidade da reformulao do socialismo. Vem-se questionando a possibilidade de seguir outro caminho e adotar uma estratgia alternativa de transio. No presente trabalho, defende-se a viso de que existiram, sim, possibilidades reais de optar por outros caminhos e estratgias alternativas de transio.

O caminho alternativo ao capitalismo poderia ser a transio para o socialismo de mercado. Conforme Oleg Bogomolov, (um dos economistas reconhecidos que foi convidado por Mikhail Gorbachev, em 1989, para fazer parte do Comit Cientfico das reformas de mercado) existiam trs verses das reformas. A primeira seria evolutiva, de lento caminho, com modificaes cautelosas do sistema. Na segunda verso, a ultraliberal, optara-se-ia pelo rpido caminho ao capitalismo atravs da simultnea liberalizao de preos e do comrcio, privatizao da propriedade estatal, entre outras medidas. A terceira verso era moderadamente radical, ela propusera modificaes graduais em direo aos mecanismos de mercado e a manuteno do controle estatal sobre setores cruciais da economia. Conforme esta verso, a implementao dos mecanismos de mercado e a privatizao comeariam gradualmente no setor agrcola e na pequena e mdia indstria de meios de produo para a agricultura e a de alimentos (BOGOMOLOV, 2011, p.3).

Apresentando as verses da reforma, Leonid Abalkin, na poca o presidente do referido Comit, avisou sobre o carter prejudicial e os efeitos sociais imprevisveis da verso ultraliberal e recomendou optar pela verso moderadamente radical das reformas. Esta mesma, ou seja, a terceira verso foi aprovada com 75% de votos pelo II Congresso dos deputados federais, em dezembro de 1989. Na resoluo do Congresso, foi tambm aprovada a nova abordagem para a elaborao do XIII Plano Quinquenal para o perodo de 1991-1995, ou seja, foi dada a continuao da planificao estatal, mas com menor grau de centralizao e de diretividade (II S`EZD NARODNYH DEPUTATOV, 1990).

A realizao da verso de reforma moderadamente radical, aprovada pelo referido Congresso, levaria, provavelmente, ao chamado socialismo de mercado com uma economia mista. No entanto, a realizao desta nem conseguiu se iniciar devido a fatores polticos: houve a diviso da elite poltica em sua atitude para com as reformas, o que desencadeou a forte luta dentro dela e aumentou a tenso na sociedade. Entretanto, medida que o incio das reformas demorava, a situao poltica e econmica do pas ficava cada vez mais incontrolvel. Em agosto de 1991, um grupo de alto, dirigentes do pas, inclusive o Vice-Presidente, o Ministro da Defesa e o Chefe do KGB, entre outros, organizou o (Comit Estatal para o estado de emergncia) com o objetivo de normalizar a situao e impedir a possvel desintegrao da Unio Sovitica. O Comit existiu por trs dias e fracassou. Essa tentativa de golpe de Estado somente agravou a situao e acelerou o processo de desintegrao. Mikhail Gorbachev perdeu, de fato, o poder, o qual passou para Boris Yeltsin, que logo assinou o decreto suspendendo a atividade do Partido Comunista e forou a independncia das repblicas soviticas.

A partir de 1992, as reformas econmicas da Rssia seguiram o caminho da chamada terapia de choque. Para a populao do pas, foi um choque mesmo. No primeiro ano da Rssia ps-sovitica, o de 1992, o PIB (Produto Interno Bruto) e o PIB industrial caram em 14, 5%, e 16%, correspondentemente, e o investimento total encolheu-se em quase 40% (ver Tabela 3). A crise prolongou at o final da dcada de 1990. No perodo de 1991 a 1998, a profunda contrao de indicadores macroeconmicos (ver Tabela 2) foi acompanhada pela hiperinflao: os preos dos consumidores subiram, neste perodo, em 4458 vezes (Minekonomrazvitiya, 2003, p.4), e pela excessiva piora de indicadores sociais. Durante essa crise transformacional, a taxa geral de mortalidade da populao aumentou em quase 50%, fato assustador para um perodo pacfico (POPOV, 2007, p. 14).

Tabela 3 - Taxas de crescimento dos indicadores macroeconmicos na Rssia, em alguns anos da dcada 1990 (em % ao ano anterior)Indicadores19921994199619981998 em % ao ano 1991

Produto Interno Bruto85,587,396,694,760,6

PIB do setor industrial 84,079,196,094,849,8

PIB do setor agropecurio 90,688,094,986,858,6

Investimento Total60,375,781,988,024,8

Fonte: Adaptado de GOSKOMSTAT, 2001, p.37.A estratgia das transformaes, adotada na Rssia, foi classificada como a estratgia neoliberal de transio do socialismo para o capitalismo. Esta estratgia inclui trs polticas. A primeira a politica de liberalizao, ou seja, a remoo das restries governamentais sobre o nvel de preos e a eliminao do controle estatal sobre a distribuio de recursos. A segunda a poltica de estabilizao, ou seja, a conduo da rgida poltica fiscal e monetria para conter a inflao causada pela liberalizao de preos. A terceira poltica, a mais radical, a privatizao. Alm disso, a estratgia neoliberal props a imediata abertura comercial (KOTZ, 2000, p.3).

As polticas dessa estratgia foram conduzidas na Rssia com muita rapidez. Desde o dia 2 de janeiro de 1992 todos os preos foram liberados e saltaram da noite para o dia, desencadeando a hiperinflao. A poltica monetria restritiva fez com que o indicador de estoque da moeda sobre o valor do PIB caiu de 100%, no ano de 1990, at somente 16%, em 1994 (World Bank, 1996, p.21). Tanta desmonetizao da economia levou at a situao na qual alguns bens desempenharam o papel de moeda. Salrios com pagamentos atrasados por meses ou parcialmente substitudos pelas mercadorias produzidas na mesma empresa foram comuns na primeira metade da dcada de 1990. Neste perodo, o valor total de pagamentos atrasados superou a metade do valor do PIB (MOROZOV, 1997, p.4). Segundo algumas fontes, de 70 a 80% de todas as transaes na economia, nos anos variados, foram efetuadas nas formas no monetrias, principalmente na forma natural via escambo (barter) (KOTZ, 2000, p.5; LEBEDEV, 1998, p.28). Finalmente, a terceira poltica de estratgia de transio, a privatizao da propriedade estatal, foi efetuada com velocidade inesperada e por mtodos duvidosos. Sob as condies da desmonetizao da economia, da pauperizao da maior parte da populao e da crescente corrupo e criminalizao da sociedade, o resultado de tal privatizao foi a formao da nova, muito pequena, classe oligrquica - a nica que se-beneficiou da privatizao da propriedade pblica estatal criada pelo trabalho imenso, muitas vezes forado, dos milhes de pessoas ao longo de sete dcadas soviticas.

Entre os problemas gerais da transio vale notar as condies iniciais, oriundas de tais caractersticas da economia sovitica, como militarizao do setor industrial, prioridade do setor da indstria pesada sobre outros setores, predomnio de empresas de grande ponte e pouco especializadas tanto no setor industrial como no agrcola (POPOV, 2007, p.17). Na opinio de pesquisadores americanos, no s a economia mas tambm a sociedade sovitica tinham o estilo e a orientao militar, por isso o processo de transio do socialismo para o mercado capitalista exigiu certa desmobilizao , que no foi fcil. Para eles,

In many ways the Russian transition is comparable to the demobilization that occurred after WW II in Western European economics. The quasi-military structure no longer applies: goods used to sustain the empire are no longer needed. In the Soviet Union, every industry was state owned and every worker was a soldier in the states economic army. Now every person must be more responsible for himself and place less reliance on higher authority (SCHWARZ, et al, 2002, p. 4).

A estratgia alternativa de transio (logo que foi escolhido o caminho para o mercado capitalista e no para o socialismo de mercado) poderia ser a da transio gradativa com forte controle estatal. David Kotz, pesquisador da University of Massachusetts, fazendo um comparativo das duas (a estratgia neoliberal para o caso da Rssia e a estratgia de controle estatal para o caso da China) sumarizou os problemas da primeira estratgia e, em especial, quando sua aplicao para a Rssia. Ele anota que a rpida desmontagem do sistema planificado, na ausncia de instrumentos do mercado, leva ao caos na economia; a liberalizao abrupta de preos desencadeia inflao, a qual dificilmente pode ser coibida; a privatizao numa sociedade onde no existe a legtima classe mdia corre o perigo de se transformar em grande roubo de bens estatais, sem nenhum benefcio para a prpria sociedade (KOTZ, 2000, p.9).

Concorda-se que os problemas da estratgia neoliberal, citados acima, so muito relevantes no perodo de transio na Rssia. No entanto, no se pode afirmar que a outra estratgia, de forte controle estatal, se fosse adotada, levaria aos resultados desejveis, embora ajudasse a evitar vrias perdas sociais. O assunto continua a ser muito polmico. Reconhece-se que o perodo transformacional na Rssia no est terminado, ao mesmo tempo, no se pode dizer que a economia est em pura transio porque as alteraes mais radicais do sistema j foram realizadas. Ento, a qual tipo de economia chegou a Rssia?

Se se considerar o tipo da propriedade predominante, este o tipo privado. O setor privado na Rssia domina hoje um pouco menos do que dois teros do PIB. A participao do setor privado no PIB aumentou de 5%, em 1991, at 70%, em 1997, atingindo o seu mximo. Desde 1997, o domnio do setor privado no PIB vinha diminuindo, chegando at 65%, em 2005, e 60%, em 2010 (INSTITUT GAIDARA, 2011, p.407). No final de 2010, foi elaborado o novo Programa de Privatizao para o perodo de 2011-2015. Apesar do predomnio da propriedade privada, a economia no pode ser caracterizada como a economia do capitalismo convencional de mercado, pois o funcionamento dos mecanismos do mercado est fraco na economia russa: este fato no est sujeito a dvida. s vezes refere-se ao termo economia do capitalismo perifrico. Se se concordar com o termo capitalismo, essa definio teria algum sentido visando o papel do pas como grande exportador de matria-prima para pases desenvolvidos, mas simplificaria a caracterstica do tipo de economia na Rssia.

A importncia de mecanismos de modo da produo no capitalista parece estar parcialmente recuperando-se na conscincia social. Aps a desabilitao de mecanismos de planificao e seu desprezo total no perodo da dcada de 1990, vem crescendo, de novo, a conscincia de que instrumentos de plano e de mercado podem atuar conjuntamente na economia. Conclui-se que [...] a negao da planificao da economia levou o pas a uma armadilha econmica [...] precisa-se (queira ou no) repensar e levar em conta a experincia sovitica na planificao econmica (FELDBLUM, 2001, p.5, traduo nossa). Ultimamente, vrias medidas tm sido realizadas nesta direo. No final de 2011, foi apresentada a nova verso do projeto da Lei Federal sobre a planificao estratgica estatal, o qual prev a elaborao do sistema de planos de vrios nveis, entre as outras medidas (MINEKONOMRAZVITIYA, 2011).

Grigory Yavlinsky, o ex-candidato da oposio para o cargo do presidente da Federao Russa (ele foi eliminado das eleies presidenciais de 2012), na sua tese de doutorado definiu o tipo da economia russa como economia mista. O termo dado entre aspas, pois este no tem o significado que a teoria econmica lhe confere. Nas palavras do Yavlinsky,

Isto a economia na qual [...] a prpria lgica do comportamento ficou mista [...]. Tem segmentos com concorrncia de mercado e com monoplio puro, mas estes segmentos no determinam a face da economia [...]. Alguns segmentos da economia so dominados pelas forcas criminais, outras esto sob pleno controle administrativo [...]. Hoje a atividade econmica [...] se baseia numa mistura ecltica de instituies e relaes [...] (YAVLINSKY, 2005, p.137, traduo nossa).

Para responder indagao do ttulo desta seo, seria interessante revelar as percepes subjetivas da populao, a qual vivenciou essas grandes mudanas, em torno dos eventos principais ocorridos e da sua repercusso sobre a sociedade.

Leonid Abalkin, um dos famosos economistas j referido acima, afirmou, na virada de milnio, que a destruio do nosso Estado [Unio Sovitica] foi uma grande tragdia para a populao (ABALKIN, 2000, p.3, traduo nossa). Para refletir sobre tal afirmativa, refere-se aos resultados da pesquisa Vinte anos das Reformas sob o olhar da populao russa, realizada pelo Instituto da Sociologia da Academia de Cincias da Rssia. Na Tabela 4, apresenta-se a dinmica da atitude da populao em relao desintegrao da Unio Sovitica. Vale notar que a populao da Rssia inclui, alm de 81% de russos propriamente ditos, dezenas de outras etnias.

Conforme os dados da Tabela 4, a atitude da maioria da populao em relao desintegrao da URSS foi negativa em 2001. A mudana desta atitude, em 2011, ocorreu, principalmente, em parte pelo aumento da porcentagem da populao que no tem a resposta definitiva e, correspondentemente, reduo da porcentagem daqueles que consideravam o acontecimento como a catstrofe nacional.

Tabela 4 Atitude da populao da Rssia, em 2001 e 2011, em relao desintegrao da Unio Sovitica (URSS), em %, total das verses das respostas = 100%Verses das respostasAno 2001Ano 2011

Desintegrao da URSS foi a catstrofe global1414

Desintegrao da URSS foi a catstrofe nacional4336

H consequncias tanto positivas como negativas da desintegrao da URSS3029

Desintegrao da URSS levou renascimento da Rssia e de outras ex- republicas soviticas46

Desintegrao da URSS foi o acontecimento positivo no plano global23

No tenho resposta definitiva712

Fonte: Adaptado de INSTITUT SOTSIOLOGII, 2011, p.189.Percepes em torno dos resultados das reformas, realizadas aps a desintegrao da URSS, foram um pouco mais positivas do que a atitude em relao prpria desintegrao do Estado. Como consequncias positivas das reformas para a sua vida, respondentes destacaram a saturao da demanda por bens de consumo e servios; a diversificao da oferta destes; algumas novas liberdades e direitos adquiridos, inclusive o direito da livre sada para o exterior, entre outros efeitos. No entanto, 25% da populao responderam, em 2011, que as reformas no tiveram nenhum efeito positivo sobre a sua vida (INSTITUT SOTSIOLOGII, 2011, p. 23). Entre os efeitos negativos, os mais citados foram os seguintes: a perda da confiana no futuro e a perda da sensao de segurana (foi indicada por 43% e 35% dos respondentes, correspondentemente); o aumento da injustia social (27%); a piora geral no padro de vida (35%); a corrupo (19%); a perda de alguns valores morais da sociedade (18% dos respondentes), entre outros (INSTITUT SOTSIOLOGII, 2011, p. 27).

Tambm pode-se afirmar que o modelo neoliberal da economia de mercado no apoiado pela a sociedade. A favor deste modelo, com a mnima participao do Estado, foi, em 2011, somente 9 % da populao. Entretanto, 28% da populao, em 2011, acharam a melhor forma da participao do Estado como a restaurao da regulao centralizada da economia (INSTITUT SOTSIOLOGII, 2011, p.166). Ento, para onde chegou a Rssia aps 20 anos do fim da economia planificada? Chegou-se a um tipo da economia mista, em que mista um termo usado no s no sentido convencional, que combina instrumentos de mercado e os de regulao centralizada estatal, mas, sim, no sentido especfico para o caso da Rssia. Chegou-se a uma sociedade onde parte significativa da populao considera a experincia vivenciada no perodo ps-sovitico como negativa e quase a metade da populao perdeu a confiana no futuro. Finalmente, chegou-se ao momento quando em que h a necessidade de novas reformas. Recentemente, foi elaborada a Estratgia de Desenvolvimento Socioeconmico da Rssia para o perodo at 2020. Neste documento do planejamento estratgico, reconhece-se o modelo atual de desenvolvimento est esgotado e prope-se um novo modelo de crescimento e uma nova poltica social atravs de novas reformas em todas as esferas da sociedade (STRATEGIYA-2020, 2011).

5. Concluso

A planificao socialista, desde o seu incio, submeteu-se esfera ideolgica, tornando-se dependente das decises polticas, s vezes voluntaristas e no profissionais. A politizao excessiva da planificao econmica impactou negativ33amente no desenvolvimento socioeconmico em todo o perodo sovitico.

O chamado triunfo econmico, na dcada de 1950, representou a culminncia do desenvolvimento socioeconmico, baseado no planejamento diretivo, e demonstrou vantagens competitivas do sistema socialista frente do mundo capitalista. Na dcada seguinte, de 1960, esse sistema j havia dado os primeiros sinais da ineficincia devido ao afrouxamento de estmulos econmicos junto perda gradual do entusiasmo dos trabalhadores e da motivao ideolgica.

A Reforma Econmica de Kosygin, lanada em 1965, flexibilizou a gesto central, liberalizou parcialmente a tomada das decises das empresas e tentou elevar a motivao financeira, para obter resultados do trabalho e do uso eficiente de recursos. Os efeitos positivos da Reforma contriburam para melhores resultados do desempenho do VIII Plano Quinquenal, para o perodo de 1966-1970, no entanto, efeitos no conseguiram prolongar-se muito. Fatores negativos do desenvolvimento socioeconmico, tais como distores estruturais e crescentes custos ideolgicos continuaram repercutir sobre o desempenho macroeconmico.Conclui-se que a desacelerao econmica e a estagnao posterior no final do perodo sovitico no foram consequncia inevitvel do funcionamento do sistema planificado. Deteriorao gradual do sistema planificado revelou-se na chamada corrida planejamentista: cumprimento do Plano pelo prprio Plano a qualquer custo. A mais uma tentativa de aperfeioamento do sistema planificado na segunda Reforma Econmica, lanada em 1979, tambm no foi bem sucedida devido forte resistncia do corpo executivo nas empresas, burocracia e inercia dos rgos centrais de controle e planejamento.

As mudanas cruciais da economia planificada na direo da economia do socialismo de mercado, previstas pela Perestroika, no foram realizadas devido ao fracasso das reformas. No entanto, efeitos da Perestroika, como mudanas organizacionais, liberalizao das decises de agentes econmicos, perda parcial do controle por parte do Governo, entre outros, junto com acontecimentos polticos, contriburam para a destruio do sistema planificado socialista.

A escolha do caminho de transio para a economia de mercado e adoo da estratgia neoliberal de transio deveu-se vontade poltica dos dirigentes do pas naquele momento. A rpida desmontagem do sistema planificado, na ausncia de instrumentos de mercado, levou ao caos na economia e crise transformacional profunda; a liberalizao abrupta de preos desencadeou a hiperinflao; a privatizao na sociedade, onde no existiu a legitima classe mdia, resultou na formao da pequena classe oligrquica - a nica que se-beneficiou da privatizao da propriedade pblica estatal, sem nenhum benefcio para a prpria sociedade.

Hoje, mais que vinte anos do perodo de transformaes ps-soviticas, a Rssia chegou a um tipo de economia mista em que a denominao mista no tem s o sentido que a teoria econmica lhe confere, mas, sim, o sentido mais amplo e especfico para o caso do pas. Percepes subjetivas da populao em torno das reformas do perodo ps-sovitico demonstraram significativa insatisfao da populao com as transformaes realizadas. Reconhece-se, no pas, que os modelos atuais do crescimento econmico e da poltica social devem ser modificados. Referncias Bibliogrficas

ABALKHIN, Leonid. Sovetskiy Soyuz Unio Sovitica. In: Bolshaya Sovetskaya Entsiklopediya (Grande Enciclopdia Sovitica). Moscou: Politizdat, 1978, vol.24, n.2: 1-56, No original: .. . . . 24, 2. ABALKIN, Leonid. Smena tysyachiletij e sotsialnye alternativy (Virada do milnio e alternativas sociais). Biblioteca Gumer: politologia, p.p. 1-5, 2000. Disponvel em:

< http://www.gumer.info/bibliotek_Buks/Polit/Article/Abalk_SmT.php > Acesso em 4 de jan.2012. No original: , .. . -, 2000.

BARNETT, Vincent. Kondratiev and the Dynamics of Economic Development: Long Cycles and Industrial Growth in Historical Context. Palgrave Macmillan Country, UK, 282 p. 1998.

BAYER, Aleksey. 90 let NEPu redkomu uspekhu bolshevikov (90 anos do NEP um raro sucesso dos bolsheviks). Gazeta Snob, 11 de agosto, p.p. 1-3, 2011. No original: , . 90 . Disponvel em < http://www.snob.ru/selected/entry/39382 >. Acesso em 2 de mar. 2012.BOGOMOLOV, Oleg. Dvadtsat let spustya: etse raz ob bezalternativnosti rynochnyh reform (Vinte anos depois: mais uma vez sobre as alternativas das reformas de mercado). Em: Gazeta Zavtra. n. 48( 941), nov. 2011.

No original: . . . n. 48( 941), 2011.

BRUTSKUS, B.D. Sovetskaya Rossiya e sotsializm (Rssia Sovitica e socialismo). So Petersburgo: Zvezda, 1995.

No original: . . . : , 1995.

FELDBLYUM, Vladislav. Besplanovaya Rossiya: k 90 letiyu sozdaniya e 20-letiyu razrusheniya Gosplana SSSR (A Rssia sem Plano: 90 anos da fundao e 20 anos da destruio do Gosplan da URSS). Forum Nauka i Zhizn, p.p. 1-4, 23 de agosto de 2011.

No original: , . : 90- 20- . Disponvel em: . Acesso em 2 de mar. 2012.GORBACHEV, Mikhail. Zhizn e reformy (Realidade e Reformas). Moscou: Politizdat, 1995, 64 p.

No original: , . . . . , , 1995.

GOSCOMSTAT. Rossiya v tsifrah (Rssia em nmeros). Relatrio Estatstico: anos variados. Moscou: Roskomstat, 2001-2011.No original: . . , . . , 2001-2011 ..GOSUDARSTVENNYE ECONOMICHESKIE STRATEGII - ESTRATEGIAS

ECONMICAS DO ESTADO, (org. Veduta, E.N.) Ekaterinburgo: Delovaya kniga,

1998, 260 p.

No original: .. . . , , 1998.

INSTITUT GAIDARA. Rossiyskaya ekonomika v 2010 godu: tendentsii i perspektivy. (Economia russa em 2010: tendncias e perspectivas). Moscou. Instituto de Gaidar. Relatrio n. 32, Moscou, 2011, 592 p.

No original: . . 2010 . . . 32, 2011.

INSTITUT SOTSIOLOGII. Dvadtsat let reform glazami rossiyan (Vinte anos das Reformas sob o olhar da populao russa). Relatrio Final, Moscou: Instituto da Sociologia, 304 p, 2011.

No original: . . , 304 ., 2011.

KARR, E.H. Russkaya revolyutsiya ot Lenina do Stalina: 1917-1929. (Revoluo russa de Lenin a Stalin: 1917-1929). Traduo do ingls de Chernyakhovskaya, L. Moscou: Inter-Verso, 1990, 208 p.

No original: , . . , 1917-1929. . .. : -, 1990, 208 .

KHANIN, Grigory. Desyatiletie triumfa sovetskoi ekonomiki: pyatidesyatye gody (Dcada de triunfo da economia sovitica: anos de 1950). Em: Svobodnaya mysl- XXI vek, n.5, p.p. 50-67, 2002. No original: , . . : . - XXI , n. 5, . 50-67, 2002.

KOTZ, David M. Lessons from Economic Transition in Russia and China. In: BAIMAN, R.et.al (org.). Political Economy and Contemporary Capitalism: Radical Perspectives on Economic Theory and Policy, Armonk, NY: M.E. Sharpe, p.p. 210-217, 2000.

KURNOSOV, Vasily. Kak nachinalos sovetskoe planirovanie (Como se iniciou a planificao sovitica). Em: Izvestiya. Universidade de Economia e Finanas de So Petersburgo, n.6, p.p. 113-117, 2010.

No original: . . . - , 6, . 113-117, 2010.

LEBEDEV, N. Rossijskaya ekonomika v 1998 godu (Economia russa em 1998). Em: Obshestvo e Ekonomika (Sociedade e Economia), Moscou, n. 1, p.p. 22-35, 1998.

No original: , . 1998 . , 1, 1998.MEDEIROS, C.A.de. A Economia Poltica da transio na Rssia. Em: ALVES A.G. de M.P. (org.) Uma longa transio. Vinte anos de transformaes na Rssia. Braslia: IPEA, p.p.13-38, 2011.

MINEKONOMRAZVITIYA (Ministrio da Economia). Ob itogah sotcialno-ekonomicheskogo razvitiya RF za 2000-2002 gody (Desenvolvimento socioeconmico da Federao Russa nos anos 2000-2002). Moscou: Minekonomrazvitiiya, 2003, 182 p.

No original: . - 2000-2002 . : , 2003.

MINEKONOMRAZVITIYA (Ministrio da Economia) O gosudarstvennom strategicheskom planirovanii (Planificao Estratgica Estatal). Proekt Federalnogo Zakona (Projeto da Lei Federal). Moscou 2011, 72 p.

No original: . . . , 2011. Disponvel em:

Acesso em 10 de maro de 2012.

MONTHLY REVIEW. Criando uma Sociedade Justa: Lies da planificao na URSS & nos EUA. Entrevista com Harry Magdoff, co-editor da Monthly Review. Vol. 54: 5, p.1-4, 2002. Traduo de Srgio Ortiz. Disponvel em: Acesso em 12 de janeiro de 2012.MOROZOV, V. Programa stabilizatsii ekonomiki e finansov (Programa da estabilizao da economia e de finanas). Em: Voprosy Ekonomiki (Questes da Econmia), Moscou, n.1, p.p. 3-12, 1997.

No original: , . . , 1, 1997.POPOV, Vladimir. Chinas Rise in the Medium Term Perspective: an Interpretation of the differences in Economic Performance of China and Russia since 1949. Em: Historia e Economia. Revista Interdisciplinar, vol. 3, n.1-2, 2007, p.13-38, 2007.

POPOV, Vladimir. Zakat planovoi ekonomiki: pochemu sovetskaya model poteryala

dinamism v 1970-1980 gody. (O Declnio da Economia Planificada: por que a

economia da URSS perdeu o seu dinamismo nos anos de 1970-1980). In: Perito, vol. 640, n.1, 2008, 4-22.

No original: . . : 1970-1980- . , 1 (640), 2008.

SCHWARZ, Michael; LAZEAR, Edward; ROSEN, Sherwin. Russia in transition. In: Harvard Instutute Research Working Paper, Harvard, n.1982, p. 1- 42, November 2002.

II S`EZD NARODNYH DEPUTATOV (II CONGRESSO DOS DEPUTADOS FEDERAIS). O merax po ozdorovleniyu ekonomiki, etapah ekonomicheskoy reformy e printsipialnyh podhodah k razrabotke XIII pyatiletnego plana (Medidas e etapas da reforma econmica e abordagens principais sobre a elaborao do XIII Plano Quinquenal). Moscou: Politizdat, 1990, 124 p.

No original: II . , XIII . . , 1990.SHEPOVA N.Y. Byl li gotov SSSR k vedeniyu Velikoj Otechetvennoj Voiny? (A URSS foi preparada para a Grande Guerra Patritica?). Em: Vestnik MGIMO Universiteta, n.2, 2011, p.p. 89-108.

No original: . . . ? . n. 2, 2011.STRATEGIA-2020. Novaya model rosta i novaya sotsialnaya politika (Estratgia-2020. Novo modelo de crescimento e nova poltica social). Relatrio Final. Moscou, 2012, 864 p. No original: 2020. . . , 2011. Disponvel em Acesso em 1 mar. 2012

VEDUTA, Elena. Strategiya e ekonomicheskaya politika gosudarstva. (Estratgia e poltica econmica do governo). Moscou: Vyschee obrazovanie, 2002, 361 p.

No original: , .. . , , 2002.

VOLOIZANOVA, G.; GODZINA, G. Istoriya menezhmenta (Historia da Gesto). Moscou: INFRA-M, 2001, 231 p. No original: . ., . . . - : -, 2001.

WHEATCROFF, C.J. et al. Soviet Industrialization Reconsidered: some preliminary conclusions about economic development between 1926 and 1941. In: Economic History Review, vol. 39, n. 2: 264-294, 1986.THE WORLD BANK. Transition. The first 10 years. Analysis and Lessons for Eastern Europe and the Former Soviet Union. The World Bank, Washington, D.C., 2002, 149 p.

YAVLINSKY, Grigory. Sotsialno ekonomicheskaya sistema Rossii e problema eyo modernizatsii (Sistema socioeconmico da Rssia e o problema da sua modernizao). Moscou. Tese (Doutorado em Economia), TSEMI RAN, 2005, 348 p. No original: , . - . . , , 348 . Disponvel em:

< http://www.yavlinsky.ru/said/articles/index.phtml?id=2073 > Acesso em 1 de fev. 2012. A prpria Unio das Repblicas Socialistas Soviticas (Unio Sovitica, URSS) foi fundada mais tarde, em dezembro de 1922.

Sobre contribuies de Kondratiev pode ver BARNETT, 1998.

Descrio mais detalhada do I Plano Quinquenal pode-se ver em KURNOSOV, 2010, p.p. 113-117.

Vale notar que, anteriormente, em 1957, tambm foi iniciada a reforma econmica, conhecida como a Reforma de Khrushchev, quando foram criados os sovnarkhozy (sovety narodnogo hozyajstva), e a administrao de empresas passou de uma base por ramos industriais (setores da economia) para uma regional, entre outras medidas. No entanto, as medidas da referida reforma foram, principalmente, de carter administrativo e no tocaram em elementos fundamentais do sistema socialista planificado.

Pode-se ver a anlise mais detalhada da referida reforma econmica em Voloizanova e Godzina, 2001.

Na literatura brasileira uma anlise da estratgia de reformas de Gorbachev pode ser encontrada em MEDEIROS, 2011, p.p 20-24.

A soma das verses das respostas supera 100%, pois poderiam ser escolhidas at 3 respostas