ECONOMIA POLÍTICA

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Economia Poltica - 3 Perodo

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UNIDADE IA Pr-Histria da Economia 1.1 Introduo 1.2 A Grcia Antiga 1.3 A Doutrina Econmica da Igreja 1.4 O Mercantilismo 1.5 A Fisiocracia 1.6 Referncias 1.1 INTRODUO A Cincia Econmica, como atualmente conhecida, foi o resultado de um longo processo de amadurecimento intelectual e da tentativa de se refinar as teorias e mtodos de anlise. Mesmo que desde a antiguidade os assuntos econmicos tenham sido objeto da preocupao de filsofos, telogos, governantes e homens de negcios, a Economia somente se transformou em um ramo autnomo do conhecimento aps o sculo XVIII. Por essa razo, possvel dividir o desenvolvimento da Cincia Econmica em dois momentos: o primeiro corresponde a sua Pr-histria, momento marcado pela subordinao da Economia, sobretudo, Filosofia, Poltica, ao Direito e Religio. O segundo iniciado principalmente com a obra A Riqueza das Naes, publicada em 1776 pelo escocs Adam Smith (1723-1790), quando so lanadas as bases cientficas da Economia. Topo 1.2 A GRCIA ANTIGA Uma etapa importante da sua Pr-histria ocorreu na Grcia Antiga. Xenofonte (431-355 a.c.), historiador e pensador grego, em Ho Oikonomikos ofereceu o primeiro conceito de Economia, pela juno de dois vocbulos, oikos (casa) e nomos (lei), que significava a gesto da casa (SANDRONI,1999, p. 643). Ou seja, a Economia deveria prover os recursos para uma boa administrao da casa, da cidade e do Estado. Ainda na Grcia Antiga, se estabelece pela primeira vez na histria, o debate entre os defensores do comunismo, expresso nas ideias de Plato (428/7-348/7 a.C.), de um lado, e aqueles favorveis propriedade privada, refletido nas ideias de Aristteles (383-322 a.C.), de outro. Plato foi um crtico das instituies atenienses e rejeitava a democracia como era praticada no seu tempo, medida que acreditava o governo das multides obrigatoriamente desembocaria na tirania. Na sua grande obra, A Repblica, ele denunciou as vrias formas de governo que se sucediam em virtude da corrupo crescente da plis, que se manifestava pela riqueza de alguns em meio ao empobrecimento da grande maioria. Na sua viso, a busca pela riqueza seria moralmente indesejvel pois:

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Economia: A palavra surgiu da unio de vocbulos, oikos (casa) e nomos (lei), que significava a gesto da casa.

Figura 1: Aristteles foi o mais bem sucedido discpulo de Plato. Mesmo assim, no se acanhou em divergir do mestre: "Amicus Plato, sed magis amica veritas amemos a Plato, porm amemos mais a verdade" (DURANT, 1951, p. 76). Fonte: http://esashistoria.blogs.sapo.pt/arquivo/platon-aristoteles.jpg

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(..) o ouro e a virtude so como duas conchas de uma balana, das quais uma no pode subir sem fazer a outra baixar [...] Assim sendo, quanto mais um Estado estima a riqueza e os ricos, tanto menos preza a virtude e os virtuosos" (PLATO, s/d, pp. 338-339).

Para se impedir a decadncia da plis, Plato idealizou uma cidade-modelo, governada pelos homens mais sbios e melhores, que concretizasse os ideais de justia e virtude. Nessa cidade, deveria prevalecer uma rgida diviso de tarefas, entre os dirigentes (filsofos), os protetores (guerreiros) e os produtores (camponeses, artesos e artfices). As duas classes superiores, a dos dirigentes e guerreiros, receberiam uma educao especial, levariam uma vida em comum, compartilhando bens, mulheres e crianas. Aristteles, por sua vez, foi o mais destacado discpulo de Plato, mas divergiu profundamente do seu mestre quanto ao comunismo e ao projeto de uma cidade ideal. Embora fosse igualmente conservador e desconfiasse do governo das multides, usou das ideias do mestre para legitimar a escravido e a situao de submisso das mulheres, Aristteles condenou a propriedade comum argumentando que, quando todos so donos de tudo, todos se preocupam com quase nada, pois:(...) a propriedade comum a maior nmero de donos recebe ateno menor; os homens cuidam mais de seus bens exclusivos, e menos dos que eles possuem em comum, ou somente at onde vai a sua parte individual (1985, p. 37).

Em virtude dos inconvenientes da propriedade comum, Aristteles promoveu a defesa da propriedade privada. Contudo, a propriedade no implicaria um direito absoluto, mas a posse privada dos bens deveria ser orientada para a busca do bem comum. Ou seja, ele ressaltou a funo social da propriedade: ainda que a sua posse fosse privada, ela deveria gerar benefcios para toda a comunidade. Em suma, " obviamente melhor que a propriedade seja privada, mas que o uso seja comum" (Idem, Ibidem, p. 42). Outras duas contribuies importantes de Aristteles estiveram relacionadas tentativa de aprimorar o conceito de economia e ao pioneirismo em analisar a distino entre valor de uso e valor de troca. De forma semelhante a Xenofonte, Aristteles conceituou Economia como a arte da aquisio das "coisas passveis de acumulao necessrias vida e teis comunidade composta pela famlia ou pela cidade". Contudo, Aristteles foi alm ao estabelecer a separao da economia em: a) economia domstica, a arte do enriquecimento natural, composta pelos bens que "parecem constituir a verdadeira riqueza" e sua quantidade no infinita. Dentre as atividades que constituem a economia domstica esto a agricultura, a pecuria, a pesca, a caa e at mesmo a guerra ("quando usada adequadamente contra animais selvagens e contra homens que, embora marcados para a sujeio, se recusam a aceit-la") (Idem, Ibidem, pp. 24-25). b) A crematstica, que uma arte do enriquecimento antinatural, pertencente ao comrcio. A crematstica uma arte de enriquecer "que no tem limites quanto ao seu fim, e seu fim a riqueza e a aquisio de produtos no sentido comercial" (Idem, Ibidem, p. 26). Portanto, ainda que Aristteles condenasse a crematstica, reconheceu que havia uma diferena entre as necessidades humanas que so limitadas e o desejo de enriquecimento do homem que ilimitado - mesmo numa sociedade que somente concebia a realizao humana em atividades como a filosofia, a poltica, a guerra e as artes e, que desprezava a vida dedicada ao acmulo de riquezas. Aristteles tambm distinguiu valor de uso e valor de troca das mercadorias. A mercadoria, que no estgio primitivo da sociedade quando prevalecia economia domstica - s servia para a satisfao das necessidades humanas (por causa da sua utilidade), progressivamente se transformou em objeto de troca e de obteno de lucro momento de predomnio da crematstica. Ou seja, a mercadoria, que inicialmente deveria apenas servir para o uso (o que modernamente passou a ser chamado valor de uso) ganhou uma nova caracterstica, ao servir tambm como instrumento de troca (valor de troca), sendo utilizada para gerar ganhos e acumular riqueza. E, ao indicar que as mercadorias possuem valor de troca, ele tambm esboou uma Teoria da Moeda, quando definiu a funo do dinheiro como medida de valor. Contudo, mesmo que tenha analisado a importncia do dinheiro, Aristteles condenou veementemente a prtica da usura (emprestar dinheiro a juro), fato que iria influenciar profundamente a doutrina econmica da Igreja durante a Idade Mdia. Apesar das divergncias entre Plato e Aristteles, os dois autores compartilhavam a mesma desconfiana com relao vida dedicada riqueza. Coerentes com os filsofos da Grcia Antiga reconheciam que a conduta humana que permitiria a prtica do bem e o alcance da felicidade se distancia da vida devotada produo. O homem somente encontraria a verdadeira realizao na filosofia, na poltica e nas artes. Entre os romanos, a economia recebeu bem menos ateno que entre os gregos. Muitas das questes abordadas pelos romanos j haviam sido tratadas de forma mais adequada pelos gregos, como a questo da usura e o comrcio. Embora tenham construdo o maior imprio da antiguidade, as concepes sobre Economia estiveram limitadas anlise das questes agrrias, pois havia um evidente desprezo pelas atividades comerciais e industriais. Na rea jurdica, Roma ofereceu uma grande contribuio ao pensamento ocidental, com o Direito Romano. Topo 1.3 A DOUTRINA ECONMICA DA IGREJA Com a desintegrao do Imprio Romano a partir do sculo IV depois de Cristo, inaugura-se um novo

Leia o Livro I, da obra tica a Nicmaco, de Aristteles (pginas 9 a 24), no qual o autor indica todas as formas de vida que levam a felicidade.

Feudalismo: modo de produo sustentado no feudo, pertencentes tanto nobreza (os senhores feudais) quanto ao clero, cujas relaes sociais se baseavam na servido. Os feudos eram unidades relativamente autnomas e os senhores feudais tinham poder para ditar as leis, cunhar moedas, cobrar impostos e pedgios e formar exrcitos. Escolstica: Filosofia crist elaborada pela Igreja Catlica durante a Idade Mdia, cujo propsito era buscar uma explicao racional da f.

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Economia Poltica - 3 Perodoperodo na histria da humanidade, com o advento da Idade Mdia e de uma nova forma de organizao econmica e social, o feudalismo. Nesse perodo, as ideias econmicas foram profundamente influenciadas pela Igreja Catlica, cuja pretenso era estabelecer um conjunto de regras morais coerentes com a doutrina crist para regular a atividade econmica. O domnio da Igreja Catlica durante a Idade Mdia se estendeu a praticamente todos os aspectos da vida humana: poltico, cultural, filosfico, tico, moral e econmico. Foi o perodo de domnio da Escolstica, a Filosofia da Igreja. Houve uma associao muito estreita entre as ideias econmicas e as questes teolgicas. Mas, tais ideias possuam um carter muito mais normativo que explicativo, ou seja, a economia envolvia quase sempre a fixao de normas ticas e morais para a conduta dos indivduos, cuja atividade econmica deveria obrigatoriamente ser coerente com a vida crist. As regras defendidas pela Igreja nem sempre eram normas coercitivas que tinham fora de lei, mas acabavam sendo aceitas pelos indivduos, grmios e corporaes. O interesse pessoal no poderia ser guiado por motivaes como a busca excessiva do lucro, da riqueza e do luxo, consideradas indecorosas, sendo, portanto, condenadas. Ao contrrio, o interesse pessoal deveria buscar sempre a moderao o meio termo Aristotlico - para que cada indivduo estabelecesse relaes econmicas com seus semelhantes pautadas pela justia. Ao mesmo tempo, pela primeira vez na histria, houve o reconhecimento da dignidade do trabalho - em oposio aos antigos - que foi afirmado no s como uma atividade econmica, mas tambm como uma obrigao para com a famlia e a sociedade e uma pr-condio para uma vida decente e para a salvao da alma.

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Leia o livro Mercadores e Banqueiros na Idade Mdia, de Jacques Le Goff, que mostra as inconsistncias entre a doutrina e a prtica da Igreja durante a Idade Mdia.

Figura 2: A usura (emprestar dinheiro cobrando juros) foi muito atacada pela Igreja durante a idade Mdia. A figura retrata a Viso Popular do Dinheiro, Crdito e Especulao (Baker Library Historical Collections). Fonte: http://www.ursispaltenstein.ch/blog/weblog.php?/weblog/2006/12/P30/

Para a Igreja, o comrcio no era um mal em si mesmo, mas o comerciante dificilmente conseguia resistir ao desejo de obter ganhos fceis, lucros ilegais e praticar a usura, comprometendo a salvao da sua alma. Por essa razo, era preciso a imposio de normas rgidas de conduta individual, por meio do estabelecimento de limites propriedade privada e fixao de critrios morais para a definio dos preos, salrios, lucros e juros. Por essa razo, surgiram os conceitos de preo justo, salrio justo e lucro justo. O dinheiro era considerado pela Igreja como um instrumento para facilitar as trocas e no para acumular riquezas. O dinheiro deveria ser empregado exclusivamente para adquirir as mercadorias necessrias ao consumo. De modo semelhante, a cobrana do juro era condenada. Entretanto, com o desenvolvimento do comrcio e a ampliao das operaes de emprstimo, a cobrana de juros passou a ser admitida pela Igreja em determinados casos. A volta da normalidade econmica com o desenvolvimento do comrcio e o renascimento das cidades aos poucos abalou as estruturas do sistema feudal. O surgimento de uma nova classe social, a burguesia, foi o principal resultado dos novos acontecimentos econmicos. O seu desejo de lucro e de poder se chocava frontalmente com os interesses da nobreza feudal e do clero. Ademais, as bases de sustentao, tanto econmicas, quanto ideolgicas e polticas do feudalismo inibiam o progresso econmico e da prpria burguesia. Do ponto de vista econmico, as relaes de propriedade, o mercado local e os pesados tributos e taxas cobrados pelos senhores feudais e pelo clero prejudicavam a nascente burguesia. Alm disso, as restries

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Economia Poltica - 3 Perodoimpostas ao comrcio pelos senhores impedia a criao de um mercado nacional. Do ponto de vista ideolgico, a tica religiosa impunha limites ao interesse e ao enriquecimento pessoal. A burguesia, ao contrrio, queria liberdade e converter em virtude aquelas motivaes pessoais que eram reprovadas pela Igreja, como o egosmo e a busca da riqueza. Para a burguesia, o bem-estar social seria o resultado do progresso individual e, portanto, o interesse pessoal no poderia ser sacrificado em nome da harmonia e do bem-estar social, ou, como declarou Laski:(...) o movimento do feudalismo para o capitalismo a passagem de um mundo no qual o bem-estar individual era considerado o resultado final de uma ao socialmente controlada para um mundo em que o bem-estar considerado a conseqncia de uma ao individualmente controlada (1973, p. 21).

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Durante a Idade Mdia, a Cincia Econmica ainda careceu de condies satisfatrias para o seu aparecimento. Isto , o contexto histrico ainda era desfavorvel para que a Economia pudesse ser considerada um campo autnomo do conhecimento humano. A Economia continuava subordinada tica, Moral, Religio e Poltica. A Economia era menos um conhecimento objetivo da realidade e muito mais uma tentativa de fixao de normas de conduta econmica coerentes com princpios cristos. Isso na verdade refletiu a profunda interveno da Igreja e do Estado sobre o sistema econmico. Tal sistema permaneceu impossibilitado de alcanar um funcionamento autnomo. O funcionamento do sistema econmico e a conduta individual necessitavam de uma sano divina por meio da Igreja Catlica. Somente com a expanso do capitalismo e a crescente autonomia do fato econmico, tornou-se possvel a construo de uma Cincia Econmica emancipada das outras cincias. A partir deste momento, comeou a ganhar fora o entendimento de que o sistema econmico tem suas prprias leis de funcionamento que podem ser observadas cientificamente. Topo 1.4 O MERCANTILISMO O advento do capitalismo foi marcado pelo processo de consolidao dos Estados Nacionais, com desmoronamento da antiga ordem feudal e do poder do papa. A burguesia referendou tal processo, pois seu progresso econmico exigia o fim das ingerncias da Igreja, que via com desconfiana o lucro e riqueza, bem como a eliminao dos poderes dos senhores feudais de legislar, cobrar tributos, pedgios possuir exrcitos, etc. o o a e

Revoluo Comercial: Perodo marcado por grandes descobrimentos e intenso crescimento do comrcio, com a progressiva monetizao da economia europeia, consolidao dos mercados nacionais e expanso do colonialismo. A Revoluo Comercial foi um dos fatores determinantes para a supremacia da burguesia e para o enfraquecimento do sistema feudal.

Figura 3: Os descobrimentos provocaram o desenvolvimento de portos e mercados importantes da Europa, como o de Veneza, como foi retratado por Canaletto (1732). Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Canaletto_Return_of_the_Bucentoro_to_the_ Molo_on_Ascension_Day,_1732._Royal_Collection._Windsor..jpg

Com o desenvolvimento do comrcio no final da Idade Mdia e, sobretudo, com a Revoluo Comercial provocada pelos descobrimentos martimos, houve uma srie de transformaes na Europa. Os descobrimentos martimos permitiram tanto a explorao de minas de ouro e prata na Amrica, quanto pilhagem de tesouros dos antigos habitantes destas regies, proporcionando um enorme afluxo de metais preciosos para a Europa, estimulando o uso do dinheiro e o desenvolvimento ainda mais acelerado de uma economia de trocas, enfraquecendo o sistema de produo para a subsistncia. Alm disso, as novas rotas comerciais viabilizaram um intenso comrcio de mercadorias e a ampliao dos mercados. A Revoluo Comercial, por outro lado, intensificou as rivalidades entre as naes europeias provocando guerras, cujo objetivo era a reao s praticas desleais dos concorrentes, a quebra dos monoplios e a conquista de colnias pertencentes a outras metrpoles. Por essas razes, os assuntos referentes economia tornaram-se de interesse de comerciantes e de homens pblicos, cujas ideias deram origem filosofia econmica mercantilista. Os princpios bsicos do mercantilismo so: 1) a defesa da interveno do Estado para promover o comrcio e a riqueza da nao; 2) a viso de que a riqueza um fundamento para o poder do Estado, ao mesmo tempo ressaltavam que para o desenvolvimento do comrcio era necessrio um Estado poderoso; 3) a noo de que o comrcio a grande fonte de riqueza, principalmente o comrcio exterior; 4) a nfase na riqueza como sendo resultante do acmulo de metais preciosos, conseguido por meio da manuteno de uma balana comercial favorvel e 5)

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Economia Poltica - 3 Perodoo destaque s prticas protecionistas do Estado, cuja poltica deveria estimular as exportaes e inibir as importaes alm de promover os monoplios e a conquista de mercados, notadamente por meio do domnio de colnias. O mercantilismo deve ser compreendido especialmente como um conjunto de propostas que continuamente identificaram a ampliao da riqueza com a interveno do Estado. Por isso, as atenes dos mercantilistas se voltaram prioritariamente para a poltica econmica. O mercantilismo legitimou ideologicamente a chamada: acumulao primitiva de capital. A partir do momento que a burguesia conquistou os seus mercados, pases como Inglaterra e Frana tornaram-se potncias industriais, praticamente monopolizando a produo industrial. Aps o sculo XVIII, foram necessrias novas ideias que enfatizassem os benefcios do comrcio sem restries, garantindo assim a entrada dos produtos destes dois pases em todos os mercados do mundo. Os mtodos primitivos de acumulao de capital ficaram obsoletos. O capitalismo precisou usar meios mais sutis de explorao. O liberalismo econmico foi ideologia desse novo tempo.

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Liberalismo: Filosofia poltica apoiada na defesa das liberdades individuais e de imposio de restries interveno do Estado. O liberalismo teve como princpios, a defesa do individualismo, a democracia representativa, o direito de propriedade, a livre iniciativa e a criao de um ambiente favorvel ao desenvolvimento de uma economia competitiva de mercado. Figura 4: Colbert foi um dos mais proeminentes mercantilistas (Quadro de Villacerf/1683). Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Colbert_villacerf_1685.jpg

por essas razes que, no obstante as diferenas marcantes entre o mercantilismo e o liberalismo, as duas ideologias devem ser entendidas como etapas diferentes de um mesmo processo, do processo de consolidao do capitalismo e da burguesia. por essa razo que Laski destacou que "o mercantilismo foi o primeiro passo dado pelo nascente Estado secular no caminho da plena realizao do liberalismo" (1973, p. 43). Alm de ter sido uma etapa importante para o liberalismo, o mercantilismo inaugura uma nova tica que se tornaria a base da sociedade burguesa: a busca da riqueza se transformaria num fim para a vida social. A riqueza deixa de ser condenada. A busca do auto-interesse, do egosmo e a paixo pela riqueza so vistas como qualidades inerentes aos indivduos e merecem todo reconhecimento social. A riqueza fruto da iniciativa individual. O argumento de que quando cada um se empenha em perseguir a sua prpria riqueza, contribui tambm para o enriquecimento dos outros, tornou-se progressivamente uma poderosa justificativa ideolgica para a nova ordem burguesa. Foi por esses motivos que as atividades comerciais e bancrias, animadas pela ambio, egosmo, paixo pelo lucro e avareza, tornaram-se "atividades dignas", depois de terem sido reprovadas durante sculos (HIRSCHMAN, 1979, p. 19). No incio do sculo XVIII, Giambattista Vico - um dos principais filsofos daquela poca - justificou bem essa mudana de mentalidade, como se segue:Da ferocidade, da avareza e da ambio - os trs vcios que levaram toda a humanidade sua perdio - (a sociedade) - faz a defesa nacional, o comrcio e a poltica, e, assim, ela produz a fora, a riqueza e a sabedoria das repblicas; desses trs vcios que seguramente acabariam por destruir o homem na terra, a sociedade faz desse modo surgir a felicidade civil. Esse princpio prova a existncia da providncia divina: por obra de suas leis inteligentes, as paixes dos homens inteiramente ocupados na busca de sua vantagem privada so transformadas em uma ordem civil que permite ao homem viver em sociedade humana.

Elabore um pequeno texto indicando quais foram os principais obstculos que impediram que a Economia conquistasse o status de campo autnomo do conhecimento na fase da sua Pr-histria.

O mercantilismo igualmente contribuiu para uma progressiva autonomia da Cincia Econmica. Ainda que a grande preocupao dos mercantilistas tenha sido com a poltica econmica - conservando a Economia fortemente ligada Poltica -, colocando em segundo plano a anlise econmica, eles foram os pioneiros na

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Economia Poltica - 3 Perodotentativa de elaborar uma teoria que envolveu basicamente os aspectos econmicos. Sobre esta questo Denis assinalou: assim que pela primeira vez teremos diante de ns uma teoria da sociedade que se desenvolve essencialmente no mbito da economia, dado que o fim da vida social concebido como um fim econmico e que [...] os meios encarados para realizar esse fim so tambm econmicos (1982, p. 99).

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Topo 1.5 A FISIOCRACIA Os fisiocratas representaram uma tentativa pioneira de construo sistemtica de um pensamento econmico. Formularam pela primeira vez uma filosofia econmica baseada no liberalismo, ao mesmo tempo, reagiram ao mercantilismo e se autodenominaram les conomistes. O principal autor fisiocrata foi o francs Franois Quesnay (1694-1774), mdico do rei Luis XV. Dois elementos marcaram as ideias dos fisiocratas: em primeiro lugar, a crena no liberalismo econmico, apoiada na ideia da existncia de uma ordem natural, que possua suas prprias leis de funcionamento. A economia de mercado apresentaria um funcionamento coerente com essas leis. A ordem natural propiciaria, espontaneamente, o caminho mais vantajoso para que o indivduo alcanasse a sua felicidade. Consequentemente, a liberdade econmica seria um meio essencial para que a ordem natural pudesse atuar em favor dos indivduos, dispensando assim a ingerncia estatal, como defenderam os mercantilistas. Em segundo, a nfase na capacidade da natureza de produzir a riqueza. Toda a riqueza gerada proveniente da terra e a nica classe capaz de gerar um excedente econmico a classe agrcola, refutando assim a viso mercantilista de que a fonte de riqueza de uma nao seria o comrcio. Os traos fundamentais dessa crena esto no Quadro Econmico, o Tableau do Dr. Quesnay. A doutrina fisiocrtica representa um passo importante na direo da consolidao da Economia Poltica como um campo autnomo do conhecimento emancipado da Poltica, da tica, da Moral e da Religio. Ao conferir um papel proeminente ao sistema econmico, estabelece um objeto especfico de conhecimento, a riqueza, capaz de transformar a Economia numa Cincia. A Cincia da Economia Poltica progressivamente se transforma em conhecimento responsvel pela investigao das leis que governam a produo, distribuio e a reproduo da riqueza, elementos fundamentais da mecnica econmica. Referncias ARISTTELES. 1985. Poltica. Braslia, Editora da UNB. --------. 1987. tica a Nicmaco. So Paulo, Nova Cultural. BIANCHI, A. M. 1988. A Pr-histria da Economia: De Maquiavel a Adam Smith. Campinas, Hucitec. HIRSCHMANN, A. 1979. As Paixes e os Interesses: Argumentos Polticos a Favor do Capitalismo Antes de seu Triunfo. Rio de Janeiro, Paz e Terra. HUGON, P. 1980. Histria das Doutrinas Econmicas. So Paulo, Atlas. HUNT, E. K. 1987. Histria do Pensamento Econmico. Rio de Janeiro, Campus. KUNTZ, R. N. 1982. Capitalismo e Natureza. Ensaio Sobre os Fundadores da Economia Poltica. So Paulo, Brasiliense. LASKI, H. J. 1973. O Liberalismo Europeu. So Paulo, Mestre Jou. LE GOFF, J. 1991. Mercadores e Banqueiros na Idade Mdia. So Paulo, Martins Fontes. PLATO. 1985. A Repblica. Apresentao e Comentrios de Bernard Piettre. Braslia, Editora da UNB. QUESNAY, F. 1986. Quadro Econmico dos Fisiocratas. So Paulo, Nova Cultural. SMITH, A. 1985. A Riqueza das Naes: Uma Investigao Sobre sua Natureza e suas Causas. So Paulo, Nova Cultural. SANDRONI, P. (org.). 1999. Novssimo Dicionrio de Economia. So Paulo, Editora Best Seller. TAYLOR, O. 1965. Histria do Pensamento Econmico. Idias Sociais e Teorias Econmicas de Quesnay a Keynes. Rio de Janeiro, Editora Fundo de Cultura, 2 vol. VACHET. A. 1972. La Ideologia Liberal 2. Madrid, Editorial Fundamentos. Topo

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UNIDADE IIA Escola Clssica 2.1 Introduo 2.2 Adam Smith 2.3 Thomas Malthus 2.4 David Ricardo 2.5 Referncias

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2.1 INTRODUO O momento de emergncia da Escola Clssica de economia poltica coincide com a chamada Era das Revolues: no campo poltico, a Revoluo Francesa. No campo econmico, a Revoluo Industrial. Esta foi, portanto, a poca de importantes transformaes que abalaram a vida econmica, poltica, social e cultural europeia, com efeitos significativos para o restante do mundo. Os economistas clssicos sobretudo Adam Smith, David Ricardo (1772-1823) e Thomas Malthus (1766-1834) dedicaram grande ateno ao entendimento das condies necessrias ao desenvolvimento econmico de longo prazo. No modelo da Escola Clssica, o crescimento dependeria do comportamento da populao e, consequentemente, da fora de trabalho, cujo salrio seria determinado pela dimenso do contingente de mo de obra e pela disposio dos capitalistas em proverem o fundo salarial e outras formas de capital. Por outro lado, o incentivo para acumular seria condicionado pela taxa de lucro. A acumulao de capital afetaria tanto a produo quanto o crescimento populacional. O crescimento seria interrompido quando a tendncia dos rendimentos decrescentes elevasse o custo de subsistncia da fora de trabalho de tal modo a tornar os lucros insuficientes para estimular a acumulao, chegando-se, assim, ao estado estacionrio. No mbito do pensamento clssico, possvel destacar, sobretudo, duas perspectivas distintas quanto ao crescimento econmico: por um lado, Adam Smith, cujos escritos objetivaram investigar tanto a natureza e as causas da Riqueza das Naes, quanto o modo como o desenvolvimento econmico afetava o bem-estar das trs classes: dos capitalistas, dos proprietrios de terra e, principalmente, dos trabalhadores. Ele acreditava que a acumulao de capital ampliaria a riqueza da sociedade e o bem-estar da classe trabalhadora. Ele igualmente acreditava que o livre-comrcio permitiria que cada pas se especializasse na produo daqueles produtos em que tivesse maiores vantagens comparativas, maximizando assim os ganhos e garantindo que o progresso econmico se difundisse pelas vrias regies do mundo. David Ricardo e Thomas Malthus compartilhavam vises diferentes de Smith. Eles tambm estavam interessados no crescimento econmico, mas acreditavam que o sistema capitalista estava fadado a um dia chegar ao estado estacionrio devido tendncia declinante da taxa de lucros, o que impediria a continuidade do processo de acumulao de capital e do crescimento econmico. Topo 2.2 ADAM SMITH Adam Smith pode ser considerado o mais notvel economista liberal, fundador da Cincia Econmica moderna e o pai da Escola Clssica, com o seu livro, A Riqueza das Naes (1776). A obra de Smith se apia em alguns princpios fundamentais, A saber: 1) O instinto psicolgico fundamental do homem, como ser econmico, a nsia pelo lucro; 2) A existncia de uma ordem na natureza se manifesta como uma mo invisvel, que coordena todos os a esforos individuais, canalizando-os para atividades que promovam o mximo de bem-estar para toda a sociedade; 3) A defesa da liberdade individual como um requisito indispensvel para que o processo econmico siga o seu curso natural, rumo prosperidade; 4) O Estado deve exercer funes mnimas; 5) O trabalho a fonte de riqueza de uma nao e, quanto mais correta for diviso desse trabalho e a distribuio do produto do trabalho, maior ser essa riqueza; 6) Quanto maior a diviso do trabalho, maior a sua especializao e a sua produtividade; 7) Cada pas deve se especializar na produo dos produtos em que tenha maiores vantagens comparativas, importando aqueles que no pode produzir a baixo custo (ou que tenha menos vantagens); 8) A liberdade de comrcio facilita a especializao dos pases, tornando o intercmbio comercial favorvel para todos os participantes.Assista ao Vdeo A Revoluo Industrial, produzido pela Enciclopdia Britnica do Brasil, que est disponvel no acervo da Biblioteca Central Prof. Antnio Jorge na Unimontes.

Revoluo Industrial: Momento de rpidas transformaes econmicas, tecnolgicas e sociais, impulsionadas pela indstria, que tiveram como base a Inglaterra, mas que, posteriormente, foram disseminadas pela Europa e por outras reas do globo. Foi, certamente, o momento de nascimento do sistema fabril propriamente dito e de consolidao do capitalismo industrial.

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Figura 5: Adam Smith foi considerado por Engels o Lutero da Economia Poltica. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:AdamSmith.jpg

Trs elementos merecem destaque na obra de Smith: o primeiro, o liberalismo econmico, que se sustentou como os fisiocratas - na crena da existncia de uma ordem na natureza, que levaria a um funcionamento espontneo e harmnico do sistema econmico. A ordem natural se manifesta por meio da mo invisvel do mercado. Cada indivduo, ao perseguir o prprio interesse, colabora para a prosperidade de todos, em virtude da ao benigna da mo invisvel. Portanto, a mo invisvel do mercado, num ambiente de liberdade, conduziria espontaneamente cada indivduo para as atividades mais vantajosas para si prprio e para a sociedade, dispensando que outras pessoas ou o Estado planejassem o seu destino. Dessa forma, caberiam ao Estado basicamente trs atribuies, que configurariam o chamado Estado mnimo:... primeiro, o dever de proteger a sociedade contra a violncia e a invaso de outros pases independentes; segundo, o dever de proteger, na medida do possvel, cada membro da sociedade contra a injustia e a opresso de qualquer outro membro da mesma, ou seja, o dever de implantar uma administrao judicial exata; e, terceiro, o dever de criar e manter certas obras e instituies pblicas que jamais algum indivduo ou um pequeno contingente de indivduos podero ter interesse em criar e manter, j que o lucro jamais poderia compensar o gasto de um indivduo ou de um pequeno contingente de indivduos, embora muitas vezes ele possa at compensar em maior grau o gasto de uma grande sociedade (SMITH, 1983, II, p. 147).

Valor: Propriedade que confere aos bens materiais sua condio de bens econmicos.

Valor de Uso: utilidade da mercadoria ou a capacidade da mercadoria satisfazer necessidades humanas.

Valor de Troca: atributo que permite que a mercadoria seja trocada por outra mercadoria.

Figura 6 : A difuso do uso do vapor permitiu a inveno da locomotiva, trabalho a base da riqueza do sistema O segundo elemento diz respeito ao papel central do trabalho. O que revolucionou os meios de transportes no Sculo riqueza de uma nao. A magnitude dessa riqueza capitalista e, por conseguinte, o fator determinante da XIX. Fonte :destreza e bom senso com os quais seu trabalho for geralmente http://sou-eu-lene.spaces.live.com/ depende principalmente da habilidade,

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Economia Poltica - 3 Perodoexecutado (Idem Ibidem, I, p. 35), que resultam da diviso do trabalho. A diviso do trabalho proporcionaria o aumento do bem-estar da populao, o incremento da especializao do trabalhador e uma maior dependncia e integrao dos indivduos ao mercado, gerando a necessidade de produo de excedentes. Ou seja, a diviso do trabalho contribui para a expanso do mercado, e, do mesmo modo que h a diviso do trabalho no interior das empresas e dos pases, existe a diviso internacional do trabalho, pois cada pas tende a se especializar na produo dos produtos que tiver maiores vantagens comparativas. E, se cada respeitar a sua vantagem comparativa, produzindo somente os produtos, os quais o tornam competitivo, o comrcio exterior se tornaria mutuamente mais vantajoso, favorecendo todos os pases que rejeitarem o protecionismo ao contrrio do que defendiam os mercantilistas pois contribui para que cada pas maximize a eficincia do seu capital e, por conseguinte, maximize a sua renda e a sua riqueza. Essa era a viso de Smith ao desenvolver a Teoria das Vantagens Comparativas. Essas vantagens podem ser naturais, como: as associadas ao clima, tipos de solos ou existncia de minas, ou adquiridas, resultantes do aumento da especializao em algumas linhas de produo, que permite a melhoria da habilidade dos trabalhadores, reduzindo os custos de produo. O terceiro elemento se relaciona a Teoria do Valor. Para Smith, o valor de uma mercadoria determinado pelo tempo de trabalho gasto na sua produo. Com essa afirmao, ele ofereceu uma importante contribuio para a formulao da Teoria do Valor-trabalho, um dos fundamentos da Escola Clssica. Ao destacar o trabalho, ele excluiu a utilidade como determinante do valor da mercadoria, citando o paradoxo da gua e do diamante: a gua muito til e barata e o diamante tem pouca utilidade, mas muito caro. Na sua anlise, Smith distinguiu dois momentos na histria da humanidade: no estgio primitivo (anterior a acumulao de capital e a apropriao privada da terra). O trabalho empregado na produo de uma mercadoria seria a nica circunstncia capaz de regular o seu valor e o valor do produto do trabalho pertence inteiramente ao trabalhador. No estgio moderno, quando ocorre a acumulao de capital e a transformao da terra em propriedade privada, o valor produzido pelo trabalho deve ser repartido com os capitalistas e os proprietrios de terra. Por essa razo, o valor real ou natural de uma mercadoria o somatrio do salrio, lucro e renda da terra (Teoria da Soma). Entretanto, nesse estgio, o valor da mercadoria continua sendo medido pelo tempo de trabalho gasto na sua produo. Implicitamente, Smith reconheceu que lucro e renda da terra representam dedues no produto do trabalho, que originalmente foi gerado pelo trabalhador. Posteriormente, Marx iria desenvolver tal argumento para tentar provar que o lucro e a renda da terra so as parcelas retiradas do trabalhador sob a forma de mais-valia, que uma medida do grau de explorao da fora de trabalho. Ao elaborar a Teoria do Valor-trabalho, Smith reconheceu o carter conflituoso da sociedade capitalista, quando afirmou que o produto social se divide entre as trs classes sociais (trabalhadores, capitalistas e proprietrios de terra) que lutam constantemente entre si para aumentar as suas participaes neste produto. Ademais, ele igualmente reconheceu que o progresso econmico afetaria de modo distinto as trs classes, tornando impossvel a existncia de harmonia no mbito do capitalismo. Apesar dos trabalhadores receberem um salrio de subsistncia, o progresso econmico afetaria positivamente os trabalhadores, com a ampliao da demanda por mo de obra, causando elevao desses salrios, que, por sua vez, melhorariam as condies de vida dos trabalhadores e provocariam incremento populacional. O incremento da populao ampliaria a procura por terra, aumentando o valor da renda fundiria, favorecendo assim os proprietrios. Mas, a elevao dos salrios e da renda fundiria implicaria declnio dos lucros. Por isso, haveria coincidncia de interesses entre trabalhadores e proprietrios de terra. O interesse dessas duas classes estaria diretamente relacionado ao da sociedade, ao contrrio do interesse dos capitalistas. Apesar dessa viso de que o capitalismo era um sistema conflituoso, Smith se mostrou otimista quanto ao futuro. Ele se mostrou convicto de que o progresso econmico iria gerar efeitos positivos para a populao, sobretudo para os segmentos mais pobres. Os efeitos positivos no se limitariam superao da pobreza e da misria extrema, mas envolveriam tambm o aumento do bem-estar da populao trabalhadora, progressivamente incorporada ao processo produtivo da nova ordem capitalista.

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Ser que existe algum tipo de semelhana entre as Leis dos Pobres (Poor Law) da Inglaterra, do tempo de Malthus, e os programas governamentais de ajuda aos pobres brasileiros, como o Bolsa Famlia? As crticas de Malthus foram pertinentes naquela poca? E nos dias atuais?

Figura 7: Malthus foi um dos homens mais odiados do seu tempo, em virtude do seu prognstico sombrio sobre o futuro da humanidade. Fonte : http://en.wikipedia.org/wiki/File:Thomas_Malthus.jpg

A obra de Smith foi convertida em livro sagrado, que justificou a nova ideologia e tica burguesas, apoiadas no individualismo, no egosmo, na competio e na busca incessante pelo lucro. Suas ideias colaboraram para uma nova viso sobre a economia, agora considerada o aspecto mais relevante da vida humana, que deveria submeter todos os demais aspectos, e cujas leis de funcionamento so autnomas, independentes da vontade humana. Suas ideias tambm contriburam para que, durante o Sculo XIX, gradativamente fossem criadas efetivamente as condies para o apogeu da economia de mercadoe para a emergncia das bases intelectuais e objetivas para que a Cincia Econmica se emancipasse da tica, da Moral, do Direito, da Poltica e da Religio. Topo 2.3 THOMAS MALTHUS O tempo de Thomas Robert Malthus, por sua vez, foi marcado pela consolidao da Revoluo Industrial como um processo que trouxe rpidas e profundas mudanas, especialmente na Inglaterra. Foi, certamente, o momento de nascimento do sistema fabril propriamente dito e de emergncia do capitalismo industrial. Foi igualmente um perodo marcado pela introduo de inovaes tecnolgicas que propiciaram o aumento da produo e da produtividade sem precedentes, possveis com a mecanizao da indstria txtil e a introduo de novas fontes de energia inanimadas, em substituio a energia humana e animal, especialmente a disseminao da mquina a vapor. As inovaes introduzidas geraram efeitos cumulativos por toda a economia. Em meio opulncia e ao aumento sem precedentes da riqueza industrial, houve a expanso do nmero de pobres e miserveis, sobretudo entre os trabalhadores que estavam sendo incorporados ao sistema fabril. As condies de trabalho eram pssimas em razo de longas jornadas, rotinas rgidas e desgastantes e da violenta represso sobre os trabalhadores, especialmente por meio de multas. As mulheres e crianas tambm eram submetidas a longas jornadas e s mesmas condies degradantes dos homens.

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Figura 8: Durante a revoluo industrial o trabalho infantil foi utilizado em larga escala. Fonte: http://www.learnhistory.org.uk/cpp/1750gal.htm

Em geral, os trabalhadores executavam suas atividades em ambientes insalubres, submetidos constantemente a riscos de acidentes. Os operrios ainda enfrentavam baixssimos salrios. A vida nas cidades tambm era deplorvel para os trabalhadores, em virtude da situao precria das habitaes, das pssimas condies sanitrias e da poluio das cidades industriais. O ambiente urbano onde os trabalhadores habitavam era dominado pelo alcoolismo, doenas, violncia e degradao. A piora da situao da classe trabalhadora chamou a ateno de intelectuais e religiosos. Entretanto, uma parte da intelectualidade, contaminada pela ideia do livre mercado, se posicionou pela completa eliminao dos mecanismos vigentes de ajuda aos pobres, pois consideravam que tais mecanismos produziam um efeito contrrio, ampliando o nmero de pobres. O crtico mais influente das chamadas Leis dos Pobres (Poor Laws) foi Malthus. Na sua principal obra, o Ensaio sobre a Populao (1798), ele expressou tanto a inquietao com as turbulncias da sua poca, explicitadas, sobretudo, no rpido crescimento industrial e na acelerada urbanizao, quanto a sua rejeio aos programas de ajuda aos pobres que estavam sendo adotados. No Ensaio, Malthus manifestou todo o seu pessimismo quanto ao futuro da humanidade, sobretudo quanto possibilidade dos pobres receberem os benefcios do progresso econmico. Ele argumentou que existiria uma tendncia a um crescente desequilbrio entre populao e oferta de alimentos:Ento [... ] afirmo que o poder de crescimento da populao indefinidamente maior do que o poder que tem a terra de produzir meios de subsistncia para o homem. A populao, quando no controlada, cresce numa progresso geomtrica. Os meios de subsistncia crescem apenas numa progresso aritmtica. Um pequeno conhecimento de nmeros demonstrar a enormidade do primeiro poder em comparao com o segundo (1986, p. 280). Estado Estacionrio: Situao profetizada por Ricardo em que a queda dos lucros dos capitalistas provocaria a interrupo dos investimentos dos empresrios (acumulao de capital), trazendo assim o risco de levar o capitalismo estagnao.

O desordenado crescimento populacional afetaria o mercado de trabalho, com consequncias desastrosas para os trabalhadores medida que o valor do trabalho tende a decrescer, enquanto o preo dos mantimentos, por outro lado, tende a subir, estando o nmero de trabalhadores tambm acima da capacidade de trabalho do mercado (Idem, Ibidem, p. 285). Em razo do crescimento populacional estimulado pelas Leis dos Pobres - haveria, por um lado, maior oferta de mo de obra, provocando a queda dos salrios e, por outro, maior numero de bocas para serem alimentadas, afetando a demanda por alimentos, que se situaria em nvel superior ao da produo, causando, assim, o aumento do preo desses alimentos. Os pobres seriam duplamente penalizados: queda dos salrios e elevao do preo dos alimentos. Os capitalistas, por sua vez, seriam favorecidos pela diminuio dos salrios. Por conseguinte, a pobreza seria inevitvel para uma parcela da populao. Contudo, a prpria economia de mercado colocaria em funcionamento mecanismos para ajustar a populao oferta de alimentos, por meio dos obstculos preventivos (que reduzem o crescimento da populao) e dos obstculos positivos (que aumentam a taxa de mortalidade, e que atingem sobretudo os mais pobres). Malthus foi um crtico implacvel das Leis dos Pobres. Na sua viso, a ajuda aos pobres causava efeitos como, em primeiro lugar, provocar, em razo do seu custo exorbitante, prejuzo ao conjunto da sociedade, sem gerar resultados expressivos na reduo da pobreza. Em segundo, o seu custeio implicava na subtrao dos recursos dos ricos que deveriam ser utilizados para acumular capital e, que, poderiam causar aumento da oferta de emprego para os pobres. Em terceiro, corromperia o esprito e a moral dos pobres, ao estimular a negligncia e a falta de economia. Em quarto, provocaria o aumento da populao - sem o correspondente incremento da oferta de alimentos -, acirrando a concorrncia no mercado de trabalho, com efeitos negativos sobre os salrios. Para Malthus, as medidas destinadas aos pobres serviriam apenas como paliativos. Ele sugeriu a adoo de

Acumulao de capital: Ampliao do estoque de capital da economia (novas mquinas, equipamentos, construes). Corresponde ao investimento que permite a ampliao da capacidade produtiva das empresas e, por conseguinte, da economia. tambm denominada de formao de capital.

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Economia Poltica - 3 Perodomedidas paliativas como, em primeiro lugar, a eliminao de todo o sistema de auxlio que vigorava na Inglaterra desde 1601. Em segundo, oferta de incentivos para a explorao de novas terras, com maior nfase na agricultura, que na indstria, e, mais no cultivo de solos do que nas pastagens. E, em terceiro, o recolhimento compulsrio dos pobres para os albergues de condado, onde receberiam pouca comida e ainda seriam obrigados a trabalhar (Idem, Ibidem, pp. 302-302). Alm de ter gerado polmica ao elaborar uma Teoria sobre a Populao, Malthus foi conhecido por ter formulado uma das primeiras crticas consistentes Lei dos Mercados, de Say. De acordo com essa Lei, toda a produo cria sua prpria demanda e, por conseguinte, o capitalismo estaria permanentemente em equilbrio, pois a produo sempre se igualaria demanda. A Lei de Say foi aceita por David Ricardo e pelos chamados economistas neoclssicos. Malthus, ao contrrio, afirmou que o capitalismo poderia enfrentar crises em razo da insuficincia de demanda. Enquanto os trabalhadores e os proprietrios gastam seus salrios e as suas rendas, garantindo mercado para os produtos produzidos, os capitalistas preferem muitas vezes poupar os seus lucros, deixando de gast-los em bens de consumo ou de investimento, causando assim insuficincia de demanda. Posteriormente, Marx ao tratar do problema da realizao da produo - e Keynes ao analisar a questo da demanda efetiva iriam igualmente contestar a Lei de Say. A forma realista que Malthus utilizou para retratar o problema da populao e o seu apego velha moral das classes abastadas da Inglaterra, o transformaram num dos homens mais odiados do seu tempo. Alm disso, a sua obra retratou a vida miservel de uma parcela considervel da populao como um resultado previsvel e aceitvel de uma economia em expanso, que produziria naturalmente ganhadores e perdedores. Tal resultado tambm seria coerente com as leis implacveis da economia. Apesar das criticas, a Teoria da Populao de Malthus ganhou fora junto a empresrios, intelectuais e membros do parlamento ingls e se constituiu em importante argumento em favor da revogao e/ou modificao das leis de ajuda aos pobres, por meio da Poor Law Reform Act, concretizando assim o sonho burgus do mercado de trabalho livre. Essas mudanas, coincidentemente, aconteceram em 1834, ano do falecimento de Malthus. Contudo, a partir desse perodo, ocorreu o aumento da organizao poltica do proletariado, em reao s mudanas instaladas, que culminaram em importantes avanos nas leis fabris, na legislao social e nos direitos polticos dos trabalhadores. Topo 2.4 DAVID RICARDO O apogeu da Economia Clssica ocorreu com as ideias de David Ricardo, que aprofundou a anlise de muitas questes que haviam sido tratadas por seus antecessores, como a Teoria do Valor, a Teoria da Renda da Terra, a Teoria da Distribuio e a Teoria do Comrcio Internacional. Ricardo viveu num momento marcado por acontecimentos importantes, tais como: a) a crescente hegemonia inglesa no campo econmico, financeiro, comercial, industrial e militar; b) a consolidao da produo manufatureira e do emprego da mquina a vapor; c) a urbanizao e a generalizao do trabalho assalariado; d) a reduo dos salrios reais em funo do uso intensivo da maquinaria, substituindo a mo de obra; e) as guerras napolenicas, que provocaram o bloqueio dos portos, causando dificuldade de importao de gros e a respectiva subida dos preos. Contudo, com o fim da guerra (1815), a Inglaterra aprovou as Corn Laws (Leis dos Cereais), que impediram a importao destes produtos. Com isso, se explicitou o conflito entre a burguesia industrial apoiada por Ricardo - e os proprietrios de terra defendidos por Malthus. As referidas leis dificultaram a importao de alimentos de pases que apresentavam um custo de produo agrcola inferior ao verificado na Inglaterra, obrigando assim o aumento do cultivo de reas de baixa produtividade, elevando a renda da terra favorecendo a nobreza fundiria , o preo dos cereais e os salrios e causando uma reduo nos lucros dos capitalistas. Figura 9: David Ricardo acumulou fortuna ainda muito jovem no mercado financeiro londrino.

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A incorporao de novas tecnologias tem sido um trao marcante no capitalismo. Atualmente, no incio do Sculo XXI, os avanos tecnolgicos ocorrem numa velocidade ainda maior do que no tempo da Revoluo Industrial (difuso do uso da informtica, dos celulares, da internet, da automao industrial). Quais os efeitos desse avano tecnolgico para as empresas, para os trabalhadores e para os consumidores?

Elabore um pequeno texto assinalando quais foram as transformaes que ocorreram no capitalismo durante a

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Figura 9: David Ricardo acumulou fortuna ainda muito jovem no mercado financeiro londrino. Fonte : http://en.wikipedia.org/wiki/File:Ricardo.gif

Para Ricardo, o objeto da Economia Poltica determinar as leis que regulam a distribuio do produto entre proprietrios de terra, capitalistas e trabalhadores. Na sua viso, o capitalismo marcado pela luta entre as classes sociais, motivada pela distribuio da renda. A Teoria do Valor se constituiu em pea fundamental da sua obra, especialmente por poder explicar a acumulao de capital e a diviso do produto entre as trs classes. Na elaborao da Teoria do Valor, Ricardo sustentou, baseando-se na tese de Smith, que a utilidade da mercadoria essencial, mas no pode regular o seu valor de troca (conforme o paradoxo da gua e do diamante). Assim, para Ricardo, se a mercadoria tem utilidade, o seu valor de troca deriva de "duas fontes: de sua escassez e da quantidade de trabalho necessria para obt-las" (1985, p. 43). Contudo, Ricardo ressaltou que valor da mercadoria, em qualquer poca, regulado pela quantidade de trabalho gasto na sua produo ao contrrio de Smith, que argumentou que somente no estgio primitivo o trabalho determinaria o valor da mercadoria. E no somente o trabalho aplicado diretamente produo das mercadorias (capital circulante), mas tambm o trabalho empregado nos implementos, ferramentas e edifcios (capital fixo). Ao afirmar a importncia do trabalho passado no valor das mercadorias, Ricardo conceituou capital como trabalho acumulado. Quando analisou a obra de Ricardo, Marx demonstrou grande apreo pelo economista ingls, mas destacou que tal concepo de capital foi um dos seis maiores enganos, pois capital uma relao social - relao de explorao dos trabalhadores pelos capitalistas. No momento que os instrumentos, que constituem o trabalho acumulado, servirem para viabilizar a explorao do trabalho tero a funo de capital. A expanso da acumulao de capital provocaria importantes efeitos sobre a distribuio de renda entre as trs classes da sociedade, pois ampliaria a demanda por mo de obra, incrementando os salrios. Isso acabaria favorecendo o crescimento da populao e da demanda por alimentos, elevando a renda da terra e diminuindo os lucros dos capitalistas. O encarecimento dos alimentos decorreria da lei dos rendimentos decrescentes na agricultura, um dos pressupostos da Teoria da Renda da Terra elaborada por Ricardo. Na sua Teoria da Renda da Terra, ele argumentou que, com a expanso da acumulao de capital e o crescimento populacional - num contexto em que existem restries importao de alimentos haveria a incorporao no processo agrcola de lotes de terras cada vez menos frteis, cuja produtividade agrcola baixa, gerando taxas de lucros menores. Taxas de lucros menores na agricultura seriam transmitidas para todos os outros setores da economia. Ao mesmo tempo, ocorreria o aumento da renda da terra paga pelos lotes mais frteis e, por conseguinte, do preo dos alimentos. Como os salrios dos trabalhadores correspondem ao nvel de subsistncia, todo o incremento no preo dos alimentos implicaria elevao dos salrios e queda da taxa de lucro, inviabilizando a acumulao de capital, conduzindo progressivamente a economia para o estado estacionrio, quando inexiste crescimento econmico. Com a sua Teoria da Renda da Terra, Ricardo procurou justificar a necessidade de abolio das Corn Laws. Ou seja, a necessidade de eliminao de todas as restries importao de cereais, para garantir a diminuio dos preos dos alimentos e dos salrios, elevando a taxa de lucro dos capitalistas, que viabilizaria a retomada da acumulao de capital, evitando assim o estado estacionrio.

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Figura 10 : Luditas destruindo mquinas (1812), em protesto pela substituio dos trabalhadores na indstria. Os luditas representaram uma das primeiras formas de protesto contra os efeitos perversos da Revoluo Industrial. Fonte : http://www.learnhistory.org.uk/cpp/1750gal.htm

A Teoria da Renda da Terra de Ricardo se articula com a sua Teoria do Comrcio Internacional. Para ele assim como Smith a especializao da produo em cada pas necessria para maximizar os ganhos do comrcio exterior. Isto , deveria prevalecer o livre comrcio de tal modo que cada pas invista seu capital e seu trabalho naquelas atividades que sejam mais produtivas, pois a utilizao eficiente do trabalho incrementa o bem-estar e a riqueza. Contudo, cada pas deveria se especializar na produo dos produtos cuja vantagem relativa fosse maior e no na produo dos produtos cuja vantagem absoluta fosse maior, como argumentou Smith. Como exemplo, possvel citar dois pases: a) Portugal, que gasta 1 hora para produzir um litro de vinho e 8 horas para produzir 1 metro de tecido; b) Inglaterra, que gasta 8 horas para produzir um litro de vinho e 10 horas para produzir 1 metro de tecido. Conforme a Teoria das Vantagens Comparativas Absolutas de Smith, Portugal deveria produzir os dois produtos e a Inglaterra ficaria fora do comrcio internacional. Entretanto, de acordo com a Teoria das Vantagens Comparativas Relativas de Ricardo, a superioridade de Portugal to grande na produo de vinho que compensaria a sua especializao somente na produo desse produto, abrindo mo da produo de tecido. Com isso, Portugal maximizaria o seu ganho e permitiria a participao da Inglaterra no comrcio internacional. A Teoria das Vantagens Comparativas Relativas de Ricardo , ainda hoje, referncia importante nas discusses sobre o comrcio internacional. Um ltimo ponto que merece ser mencionado na obra de Ricardo a questo da maquinaria. Ele admitiu que a substituio de trabalho humano por maquinaria frequentemente muito prejudicial aos interesses da classe dos trabalhadores (Idem, Ibidem p. 262). Ademais, as mquinas e o trabalhador mantm-se em constante competio, e as primeiras s podem ser utilizadas se o preo do trabalhador se elevar (Idem Ibidem, p. 266). Apesar dos seus efeitos negativos para os trabalhadores, o emprego da maquinaria teria de ser estimulado:[...] pois, se no for permitido ao capital obter o maior rendimento lquido que o emprego de mquinas possibilita, ele ser transferido para o exterior e isso representar um desestimulo muito maior demanda de trabalho do que a generalizao mais completa do usode mquinas, uma vez que, enquanto o capital aplicado no pas, alguma demanda de trabalho dever ser criada [...] (Idem, Ibidem, pp. 266-267).

Embora, Ricardo tenha demonstrado f no capitalismo como sistema que poderia gerar grande eficincia econmica e extraordinria expanso da produo de riquezas, ele foi sincero ao indicar que tal sistema possua contradies que poderiam representar obstculos a sua contnua expanso o risco do estado estacionrio -, ao alcance da harmonia social e, principalmente, a melhoria do bem-estar da classe trabalhadora. Para os trabalhadores que representavam a maioria da populao , Ricardo apresentou um diagnstico sombrio: eles sempre enfrentariam o excesso de populao e o risco de substituio pela maquinaria, fatores que puxariam os salrios permanentemente para o nvel de subsistncia. Logo, Ricardo se mostrou bem menos otimista que Smith quanto s possibilidades do capitalismo promover o bem-estar dos trabalhadores. O legado dos economistas clssicos foi essencial para a afirmao do livre mercado e para a difuso da concepo de que o capitalismo seria um sistema em constante equilbrio, cujo desenvolvimento proporcionaria o bem-estar para todos os indivduos e conduziria harmonia social, desde que houvesse plena liberdade e fosse mnima a interveno do Estado. No campo poltico, o liberalismo clssico proporcionou avanos importantes, como a defesa das liberdades individuais, da democracia representativa,

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Economia Poltica - 3 Perododo governo constitucional, da separao entre os poderes: Executivo, Legislativo e Judicirio, alm da oposio ao regime absolutista, ao feudalismo, ao mercantilismo e aos dogmas religiosos. Mas, esses avanos tiveram como contrapartida o aumento da misria humana numa velocidade sem precedentes, em virtude do progressivo funcionamento livre do mercado, conforme preconizado pelos liberais. Entretanto, medida que a burguesia se consolidou no poder, o liberalismo deixou progressivamente de ser uma doutrina revolucionria, tornando-se mera ideologia dos interesses da burguesia, com a defesa da livre concorrncia, do Estado mnimo, do direito de propriedade, rejeitando a ampliao da participao popular, da democracia e da expanso das polticas sociais do Estado. Assim, o apogeu da economia de mercado subordinou praticamente todos os aspectos da vida humana s leis da economia, desprezando-se os resultados desastrosos produzidos para uma parcela expressiva da sociedade. Mas, foi por causa desses resultados, reflexos da grande misria e degradao provocada pelo desenvolvimento sem limites do capitalismo, que comearam a surgir as primeiras reaes ao sistema, especialmente a crtica contundente de Marx. REFERNCIAS DENIS, H. 1982. Histria do Pensamento Econmico. Lisboa: Livros Horizonte, 4. ed. DEANE, P. 1980. A Evoluo das Idias Econmicas. Rio de Janeiro, Zahar. DURANT, W. 1951. Histria da Filosofia A vida e das Idias dos Grandes Filsofos. So Paulo, Companhia Editora Nacional. MALTHUS, T. R. 1986. Princpios de Economia Poltica e Consideraes Sobre a sua Aplicao Prtica / Ensaio Sobre a Populao. So Paulo, Nova Cultural. RICARDO, D. 1985. Princpios de Economia Poltica e da Tributao. So Paulo, Nova Cultural. RIMA, I. H. 1977. Histria do Pensamento Econmico. So Paulo, Atlas. Topo IR PARA A UNIDADE IIIImprimir

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UNIDADE IIIKarl Marx 3.1 Introduo 3.2 Os Elementos da Teoria Econmica de Marx 3.3 A Influncia de Marx 3.4 Referncias

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3.1 INTRODUO Karl Marx (1818-1883), filsofo e economista alemo, elaborou uma das mais importantes e influentes crticas ao capitalismo e fundou as bases do chamado socialismo cientfico. As principais fontes do pensamento de Marx foram: 1) Filosofia alem (Hegel, Feuerbach); 2) Socialistas Utpicos/Socialismo Francs; 3) Economia Poltica Clssica e 4) Situao da classe trabalhadora na Inglaterra. O livro O Capital (1867) foi consagrado como uma das maiores obras da histria do pensamento econmico. Marx pretendeu realizar uma anlise cientfica da Economia Poltica, pois acreditava que a anatomia da sociedade [...] deve ser procurada na economia poltica (1986, pp. 24-25). Ao proceder anlise cientfica da Economia Poltica, Marx teve por objetivo: 1) descobrir as relaes de produo fundamentais do sistema capitalista, ou seja, compreender a natureza essencial (ethos) do capital e investigar as leis gerais do movimento (acumulao) do capital; 2) identificar os elementos determinantes do desenvolvimento das foras produtivas capitalistas; 3) apontar as condies que levariam superao desse sistema e 4) construir uma Teoria Econmica alternativa que pudesse inserir a cincia na perspectiva de transformao do mundo, ou seja, conciliar objetividade com ideais de liberdade.

.

A partir da viso materialista da histria, de Marx, reflita sobre o modo de produo capitalista e tente responder as seguintes questes: 1. O capitalismo um modo de produo definitivo? 2. Qual o papel da economia para a formao dos sistemas polticos, jurdicos e para a ideologia de uma sociedade? 3. Reflita sobre a passagem abaixo, contida no clebre Prefcio do Livro Para a Crtica da Economia Poltica, escrito por Marx em 1859: O modo de produo da vida material condiciona o processo em geral de vida social, poltica e espiritual. No a conscincia dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrrio, o seu ser social que determina sua conscincia (1986, p. 25).

Figura 11: Karl Marx permanece como um dos mais influentes crticos do capitalismo. Fonte : http://en.wikipedia.org/wiki/File:Karl_Marx_001.jpg

Marx se apoiou no mtodo dialtico para analisar a histria da humanidade. Partindo da dialtica hegeliana, Marx formulou a concepo do materialismo histrico, segundo a qual a base material da sociedade alicera toda a organizao social. As relaes de produo - definidas pelas formas de propriedade e as classes sociais - constituem o sustentculo das instituies jurdicas e polticas e da ideologia e das formas de conscincia, costumes, comportamento, arte, religio. A sucesso de modos de produo e das formaes sociais (asitico, antigo, feudal e burgus moderno) determinada pela dialtica entre foras produtivas e relaes de produo, bem como entre superestrutura poltica, jurdica, institucional e ideolgica. Por isso, o capitalismo (a sociedade burguesa) concebido como um estgio transitrio de organizao social, rumo a uma sociedade sem classes e antagonismos sociais. Alm disso, Marx criticou a Economia Poltica Clssica por conceber como naturais as leis econmicas,

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Economia Poltica - 3 Perodoprodutos da evoluo histrica. O capitalismo no uma ordem natural, mas uma fase do desenvolvimento da humanidade que deve ser superada. Topo 3.2 OS ELEMENTOS DA TEORIA ECONMICA DE MARX A Teoria Econmica de Marx possui quatro componentes fundamentais: o primeiro, a Teoria do Valortrabalho. No seu livro O Capital, Marx iniciou a sua anlise do valor pela forma mais elementar, a clula da produo capitalista, a mercadoria. O capitalismo se caracteriza pela "imensa coleo de mercadorias" (1985, I, p. 45). Aqui, ele tambm fez a distino entre valor de uso (utilidade) e o valor de troca. O valor de uso de uma mercadoria consiste na sua capacidade de satisfazer necessidades humanas e serve ainda como portador do valor de troca. O valor de troca, por sua vez, a qualidade que permite que uma mercadoria seja trocada por outras mercadorias. A grandeza do valor de uma mercadoria deve ser medida em termos de trabalho, ou seja, "o quantum de trabalho socialmente necessrio ou o tempo de trabalho socialmente necessrio para a produo de um valor de uso o que determina a grandeza do valor" (Idem, Ibidem, p. 48). Ao utilizar o trabalho como determinante do valor, Marx segue a mesma trilha de Smith e Ricardo. Pelo carter dplice da mercadoria, que ao mesmo tempo valor de uso e valor de troca, h o carter dplice do prprio trabalho, que , simultaneamente, trabalho concreto e trabalho abstrato. Trabalho concreto o trabalho til que cria objetos com qualidades fsicas especficas que satisfazem necessidades humanas. O trabalho abstrato o trabalho de cada produtor de mercadoria que constitui uma partcula de todo o trabalho social, um gasto de trabalho humano nas suas mais diferentes formas, ou, conforme Marx:De um lado, todo o trabalho humano um dispndio de fora de trabalho humano, no sentido fisiolgico, e nessa qualidade, de trabalho humano igual, ou abstrato, que ele constitui o valor das mercadorias. Por outro lado, todo trabalho um dispndio de fora de trabalho humano de uma determinada forma e com um objetivo definido e nessa qualidade de trabalho concreto til que produz valores de uso (Idem, Ibidem, p. 53).

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Assista ao vdeo A Vida de Karl Marx, que est disponvel no acervo da Biblioteca Central Prof. Antnio Jorge na Unimontes.

O segundo componente, a Teoria Geral da Acumulao Capitalista. Para Marx, a acumulao de capital causa e efeito do capitalismo, pois com a acumulao de capital desenvolve-se, portanto, o modo de produo especificamente capitalista e, com o modo de produo especificamente capitalista, a acumulao de capital (1985, II, pp. 195-196). A acumulao de capital proporciona a valorizao do capital - capital valor que se valoriza. Isto , a finalidade da produo capitalista (...) a valorizao do capital, isto , a apropriao de mais-trabalho, produo de mais-valia, de lucro (1985, IV, p. 190). E a evoluo do capitalismo gera tanto a tendncia concentrao do capital, que corresponde concentrao dos meios de produo (mquinas, utenslios, propriedades, dinheiro), nas mos de capitalistas individuais, quanto tendncia centralizao do capital, que corresponde concorrncia entre os capitais, de tal modo que as empresas maiores eliminam e absorvem as empresas menores. Para Marx, "a circulao de mercadorias o ponto de partida do capital". No estgio no-capitalista, de produo simples de mercadoria, o produtor produzia uma determinada quantidade de mercadorias para venda com o nico objetivo de adquirir outras mercadorias para o prprio uso, ou seja, trocava mercadorias com valores de uso diferentes. Inexistia, portanto, o objetivo da acumulao. Assim, trocava a mercadoria por dinheiro que, por sua vez, era trocado por mercadoria: Mercadoria - Dinheiro - Mercadoria (M - D - M). Entretanto, com o advento do capitalismo, ocorre uma transformao radical no processo, pois, na circulao, o dinheiro trocado por mercadoria e depois novamente transformado em dinheiro: D - M - M' D', em que D' terminava com um valor superior ao existente inicialmente. Do mesmo modo, M' seria uma mercadoria com valor superior a M. A diferena entre M' e M a mais-valia. Entretanto,A formao de mais-valia e da a transformao de dinheiro em capital no pode ser, portanto, explicada por venderem os vendedores as mercadorias acima do seu valor, nem por os compradores as comprarem abaixo de seu valor (1985, I, p. 135).

Relao entre lucro e mais-valia: Na viso tradicional, lucro o rendimento decorrente do emprego do capital por uma empresa. a diferena entre a receita e a despesa. Na viso Marxista, lucro corresponde parcela que o capitalista subtrai do valor total criado pelos trabalhadores, e uma das formas de manifestao da mais-valia.

Dessa forma, a mais-valia no tem origem na esfera da circulao. Ao contrrio, a mais-valia criada na esfera da produo, onde o capitalista encontra uma mercadoria que tem "a caracterstica peculiar de ser fonte de valor", que "a capacidade de trabalho ou fora de trabalho" (Idem, Ibidem, pp. 138-139), cujo consumo ou uso permite a produo de um valor maior que o contido no salrio. A mais-valia , por conseguinte, o trabalho no pago apropriado pelos capitalistas. No processo de trabalho, o trabalhador recebe apenas o suficiente para a sua subsistncia, mas trabalha um tempo muito superior ao exigido para realizar tal tarefa. No esquema de reproduo ampliada (fase capitalista), parte da mais-valia obtida pelo capitalista reinvestida no ciclo produtivo seguinte, permitindo, assim, que o volume de capital cresa, ampliando a capacidade de extrao de mais-valia. A valorizao do capital implica exigncia de taxas cada vez mais elevadas de explorao da fora de trabalho, ou seja, de extrao de mais-valia. Por essa razo, Marx distingue duas formas de extrao de mais-valia: a mais-valia absoluta, por meio do prolongamento da jornada de trabalho ou intensificao das tarefas; e a mais-valia relativa, por meio do aumento da produtividade do trabalho, com a incorporao de inovaes tcnicas, nos setores que produzem meios de subsistncia para os trabalhadores (ou seja, reduo do tempo de trabalho necessrio). O terceiro componente, a Teoria da Tendncia Queda da Taxa de Lucros. Com o avano da acumulao de capital, o capitalista utiliza cada vez mais o capital constante (c) mquinas e equipamentos -, em

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Economia Poltica - 3 Perododetrimento do emprego do capital varivel (v) fora de trabalho. Esse fenmeno foi denominado por Marx de crescente Composio Orgnica do Capital (cuja frmula c/v). Consequentemente, h uma reduo do Exrcito Industrial Ativo (trabalhadores empregados) e aumento do Exrcito Industrial de Reserva (trabalhadores desempregados). Quanto maior o Exrcito Industrial de Reserva, mais intensa a concorrncia no mercado de trabalho e menores os salrios dos trabalhadores. Alm disso, se consolida a tendncia queda da taxa de lucro, pois a mais-valia est relacionada ao capital varivel (c). Isto , o aumento da mais-valia acompanhada de uma queda da taxa de lucro, pois somente o trabalho vivo capaz de produzir lucro para o capitalista. De acordo com Marx, taxa de lucro cai no porque o trabalhador seja menos explorado, mas porque, em relao ao capital empregado, utiliza-se em geral menos trabalho (1985, IV, p. 183). A queda da taxa de lucro acelera a tendncia concentrao e centralizao do capital.

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Figura 12: Rua de um bairro pobre londrino durante a Revoluo Industrial (Gravura de Gustave Dor/1872). Fonte : http://urbanidades.arq.br/2008/03/o-surgimento-do-planejamento-urbano/

Internacional Socialista: Movimento internacional dos trabalhadores, criado em 1864, sob a inspirao de Marx e Engels, que tambm foram os seus fundadores. Era um movimento de composio muito ecltico (marxistas, sindicalistas, anarquistas, blanquistas, socialistas utpicos), mas cujos estatutos serviram de inspirao para a maioria dos partidos comunistas e socialistas criados desde ento.

A necessidade de taxas cada vez mais elevadas de explorao da fora de trabalho faz com que o crescimento da produo no capitalismo condene misria os trabalhadores empregados e os desempregados. Marx destacou essa tendncia ao assinalar que "toda a forma de movimento da indstria moderna decorre, portanto, da constante transformao de parte da populao trabalhadora em braos desempregados ou semi-empregados". Por essa razo, ele formulou a chamada Lei Geral da Acumulao Capitalista, como se segue:Quanto maiores riqueza social, o capital em funcionamento, o volume e a energia de seu crescimento, portanto tambm a grandeza absoluta do proletariado e a fora produtiva de seu trabalho, tanto maior o exrcito industrial de reserva. A fora de trabalho disponvel desenvolvida pelas mesmas causas que a fora expansiva do capital. A grandeza proporcional do exrcito industrial de reserva cresce, portanto, com as potncias da riqueza. Mas quanto maior esse exrcito de reserva em relao ao exrcito ativo de trabalhadores, tanto mais macia a superpopulao consolidada cuja misria est em razo inversa do suplcio de seu trabalho. Quanto maior, finalmente, a camada lazarenta da classe trabalhadora e o exrcito industrial de reserva, tanto maior o pauperismo oficial. Essa a lei absoluta geral, da acumulao capitalista (1985, II, p. 209). As ideias de Marx e os estatutos da Internacional Socialista tiveram influncia sobre o movimento sindical que renasceu no Brasil aps o final da dcada de 1970 e sobre a criao do PT?

A partir dos pontos abordados at aqui, indique os elementos comuns e os divergentes entre a Escola Clssica e Marx.

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Figura 13: Marx foi um dos fundadores do Movimento Internacional dos Trabalhadores (1864). Fonte : http://cmi-poa.noblogs.org/page/2

O quarto componente, a Teoria das Crises Capitalistas. O sistema capitalista seria incapaz de absorver a enorme produo de riquezas por ele gerada, em virtude da ausncia de consumidores, provocando assim contnuas crises de superproduo e subconsumo, que se acentuariam at a crise definitiva que destruiria todo o sistema. A ausncia de consumidores estaria relacionada ao fato de que o capitalista pode preferir entesourar parte da mais-valia obtida, causando diminuio na sua demanda, e ao baixssimo poder de compra dos trabalhadores, submetidos permanentemente a uma condio miservel. Sobre esse ltimo aspecto, Marx ressaltou:A razo ltima de todas as crises reais sempre a pobreza e a restrio ao consumo das massas em face do impulso da produo capitalista desenvolver as foras produtivas como se apenas a capacidade absoluta de consumo da sociedade constitusse seu limite (1985, V, p. 24).

Marx reconheceu que o capitalismo corresponderia a uma fase emancipatria e civilizatria para a humanidade, ao se difundir por meio de um processo contnuo de destruio e substituio das estruturas pr-capitalistas e at proclamou, no Manifesto Comunista (1848), que a burguesia desempenhou na histria um papel altamente revolucionrio. Contudo, o capitalismo possua um carter transitrio e historicamente determinado, demonstrado pelas suas crises:(...) a produo capitalista (...) no nenhum modo de produo absoluto, mas apenas histrico, um modo de produo correspondente a certa poca, limitada, de desenvolvimento das condies materiais de produo (1985, IV, p. 195).

Topo 3.3 A INFLUNCIA DE MARX As ideias de Marx influenciaram geraes inteiras de filsofos, economistas, revolucionrios e polticos desde o sculo XIX. Essa influncia pode ser verificada: 1) no Movimento Internacional dos Trabalhadores: Marx e Engels foram fundadores da I Internacional (1864); 2) no Marxismo revolucionrio: Lnin (leninismo), Luxemburgo, Stalin (stalinismo), Trotsky (trotskismo), Mao Tse-Tung (maoismo), Che Guevara; 3) A Teoria Econmica Marxista: Lnin, Luxemburgo, Kaustky, Trotsky, Hilferding; 4) no Revisionismo e na Socialdemocracia: Kautsky, Bernstein.; 5) na chamada Esquerda americana: Leo Huberman, Paul Baran, Paul Sweezy, Harry Braverman; 6) na Teoria do Imperialismo: Lnin, Hilferding; 7) na Teoria da Dependncia: Lnin, Andr Gunder Frank, Rui Mauro Marini, Fernando Henrique Cardoso. REFERNCIAS ANTUNES, R. 1996. "A metamorfose do Mundo do Trabalho e os Desafios para o Sindicalismo". Movimento/ADUFU, 1o semestre, edio 01. FRIEDMAN, M. & FRIEDMAN, R. 1980. Liberdade de Escolher. Rio de Janeiro, Record. FRIEDMAN, M. 1985. Capitalismo e Liberdade. So Paulo, Nova Cultural. HOBSBAWN. E. J. 1977. A Era das Revolues: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro, Paz e Terra. MARX, K. 1985. O Capital: Crtica da Economia Poltica. So Paulo, Nova Cultural, 5 Volumes. --------. 1986. Para a Crtica da Economia Poltica. So Paulo, Nova Cultural.

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UNIDADE IVA Escola Neoclssica 4.1 Introduo 4.2 A Revoluo Marginalista 4.3 Os Neoclssicos e a Lei de Say 4.4 Referncias

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4.1 INTRODUO As grandes mudanas que assolaram o mundo capitalista desde o advento da primeira Revoluo Industrial atravessaram a segunda metade do Sculo XIX. Foi solidificada a crena no liberalismo econmico e na capacidade do livre mercado e da livre iniciativa empurrar o mundo ocidental em direo ao progresso, agora considerado um processo irreversvel e ilimitado, alimentado pelo grande avano da cincia e da tcnica. A Inglaterra manteve a sua posio de liderana, tornando-se centro de abastecimento de produtos industrializados especialmente bens de capital - para uma parte significativa do mundo e grande exportadora de capitais, numa fase em que as empresas empreenderam um processo de internacionalizao, acelerando o imperialismo. Esse foi igualmente um perodo marcado pelo incio do predomnio das grandes empresas, com intensa concentrao de capitais, configurando a transio da fase concorrencial para a fase monopolista do capitalismo.

Figura 14 : A crena no progresso ilimitado pode ser retratada no Palcio de Cristal, construdo para Exposio da Indstria, do Comrcio e das Artes, realizada em Londres (1851), para mostrar as novas tecnologias desenvolvidas com a Revoluo Industrial. Fonte : http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Crystal_Palace.PNG

Foi nesse contexto que emergiu a Escola Neoclssica, um movimento de oposio ao marxismo e uma rejeio a muitos pressupostos da Teoria Clssica. Embora os neoclssicos tenham aceitado o credo liberal, e se sustentado nas premissas da Lei de Say, contestaram categoricamente a Teoria Clssica do Valor e da Distribuio, bem como negaram qualquer possibilidade de conflito no capitalismo, praticamente omitindo a existncia de classes sociais. Topo 4.2 A REVOLUO MARGINALISTA Os trabalhos que inauguraram a Escola Neoclssica foram escritos, de forma quase que simultnea e independente, por trs autores: o francs Leon Walras (1834-1910), o ingls Stanley Jevons (1835-1882) e o austraco Carl Menger (1840-1921). Estes trs autores ofereceram as bases para a chamada Revoluo Marginalista. Outros autores neoclssicos tambm merecem destaque: o ingls Alfred Marshall (1842-1926), o italiano Vilfredo Pareto (1848-1923), o sueco Knut Wicksell (1851-1926), o austraco Eugene Bhm-Bawerk (1851-1914) e o norte americano Irving Fisher (1867-1947).

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Figura 15: O positivismo de Auguste Comte influenciou a Escola Neoclssica. Fonte : http://en.wikipedia.org/wiki/File:Auguste_Comte.jpg

A Escola Neoclssica se sustentou, por um lado, no utilitarismo individualista que havia sido desenvolvido nas dcadas anteriores por autores como o filsofo, economista e reformador social Jeremy Bentham (1748-1832) e pelos economistas Jean-Baptiste Say e Nassau Snior (1790-1864). De acordo com o utilitarismo, a grande motivao dos indivduos a busca da felicidade, por meio da satisfao pessoal. Assim, o desejo de maximizar utilidades um objetivo perfeitamente legtimo e uma fora que move permanentemente os indivduos. Por outro, no positivismo, movimento liderado por Augusto Comte (1798-1857), os neoclssicos buscaram construir a Economia como uma cincia positiva, neutra (ou isenta de valores), objetiva, apoiada na investigao dos fatos, desligada de qualquer pretenso de se tornar um conhecimento a servio da transformao social. Ao contrrio, a economia neoclssica, desde o seu nascimento, promoveu a justificativa do capitalismo do livre mercado e de todas as suas consequncias. A viso utilitarista dos neoclssicos implicou na formulao de uma nova Teoria do Valor apoiada na utilidade. Diferentemente dos economistas clssicos e de Marx, que afirmaram que o trabalho - uma medida objetiva - regula o valor, atribuindo assim nfase ao lado da oferta e ao custo de produo, os economistas neoclssicos destacaram que o valor determinado pela utilidade. Portanto, a nfase foi transferida para os aspectos psicolgicos (subjetivos) na definio do valor de uma mercadoria. Para Jevons, utilidade significa a qualidade abstrata que torna um objeto apropriado para nossos fins, caracterizando-o como um bem. Tudo o que capaz de gerar prazer ou evitar sofrimento pode possuir utilidade. (1996, p. 63). Ou seja, utilidade tem uma conotao abstrata (subjetiva). Coerente com a viso subjetiva, o objeto da Economia foi reduzido ao simples clculo do prazer e do sofrimento, conforme salientou Jevons:O prazer e o sofrimento so indiscutivelmente o objeto ltimo do clculo da Economia. Satisfazer ao mximo as nossas necessidades com o mnimo de esforo obter o mximo do desejvel custa do mnimo indesejvel , ou, em outras palavras, maximizar o prazer, o problema da Economia. (Idem, Ibidem, p. 63)

Microeconomia: ramo da economia que estuda o comportamento dos agentes econmicos (empresas e famlias) e a forma como eles interagem em mercados especficos. A microeconomia trata de temas como preos, custos, oferta e demanda.

A perspectiva utilitarista reduz, portanto, a Economia ao problema da maximizao subjetiva. Ao mesmo tempo, a Economia passa a ser conceituada como cincia que visa promover o uso eficiente dos recursos escassos que devem ser alocados para o alcance de fins alternativos. Tal concepo se sustentou nas hipteses de que todas as pessoas so racionais e que fazem as melhores escolhas, para usar de forma eficiente seus recursos escassos, sempre orientadas por um comportamento maximizador indivduos buscam maximizar suas utilidades e as empresas, seus lucros. O pressuposto da racionalidade tambm se aplica ao mercado, mecanismo autorregulvel cujo funcionamento garante a eficiente alocao de recursos. A Teoria Neoclssica foi caracterizada por um crescente rigor lgico e matemtico. Walras afirmou queSe a Economia Poltica Pura, ou a teoria do valor de troca e a da troca, isto , a teoria da riqueza social considerada em si prpria, , como a Mecnica, como a Hidrulica, uma cincia fsico-matemtica, ela no deve temer que se empreguem o mtodo e a linguagem das Matemticas (1996, p. 44).

Macroeconomia: ramo da Economia que estuda o comportamento dos agregados econmicos, como renda nacional, poupana, investimento, nvel de emprego e inflao.

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Figura 16: A utilidade marginal uma funo decrescente da quantidade consumida. Fonte: Sousa (2009)

O intenso emprego da matemtica em detrimento da compreenso dos fatos histricos ou das relaes sociais foi proclamado como uma evidncia do carter cientfico da teoria. Walras, Jevons e Menger foram tambm denominados de fundadores da Revoluo Marginalista, pelo uso da ferramenta do clculo marginal-diferencial. Combinando os pressupostos de racionalidade individual com a ferramenta marginaldiferencial, os neoclssicos sustentaram a tese de que os indivduos tomam decises pensando na margem. O conceito de utilidade marginal foi um exemplo do emprego da matemtica para demonstrar o comportamento maximizador. A utilidade seria uma funo da quantidade consumida: medida que aumentam as quantidades consumidas, h um incremento da utilidade. Contudo, tal incremento cada vez menor. Ou seja, a utilidade marginal mede o a variao na utilidade decorrente de uma variao na quantidade consumida. Para Hunt, o marginalismo permitiu que a viso utilitarista da natureza humana, que era considerada somente uma maximizao racional e calculista da utilidade, fosse formulada em termos de clculo diferencial (1987, p. 279). Ao mesmo tempo em que foi se intensificando o uso da matemtica na Economia, houve a sua crescente especializao, com a separao em macroeconomia, microeconomia, econometria, Teoria Monetria, etc. Por um lado, a Economia Poltica foi restringida Economia. Por outro, ocorreu uma progressiva institucionalizao da Economia nas Universidades, com o aparecimento de Cursos de Economia em diversos pases. E a Escola Neoclssica se tornou a principal corrente de pensamento econmico entre 1870 e 1929 fase da ortodoxia - e aps 1980 fase do neoliberalismo -, dominando boa parte da produo acadmica e exercendo grande influncia na poltica econmica de diversos governos capitalistas. Alm disso, os economistas neoclssicos progressivamente abandonam a preocupao com o problema do valor e passaram a dedicar ateno questo da formao de preos numa economia competitiva de mercado. Na perspectiva neoclssica, a anlise microeconmica se sobrepe perspectiva global contida na chamada macroeconomia. Isto , o comportamento agregado da economia passa a ser explicado pela ao dos agentes econmicos (indivduos e empresas). O equilbrio dos mercados em particular assegura o equilbrio da economia como um todo. A anlise das condies que garantem o crescimento de longo prazo, que caracterizou a Escola Clssica, foi substituda pelos neoclssicos pela abordagem do equilbrio. medida que os agentes econmicos empresas e famlias so racionais e adotam comportamento maximizador, interagem no mercado por meio da concorrncia e so conduzidos para uma posio de equilbrio que corresponde a uma situao tima (ou o timo de Pareto). Assim, os preos dos produtos e dos fatores de produo so determinados mutuamente e simultaneamente e haveria uma tendncia de que todos os mercados se direcionem para o equilbrio, em que a oferta se iguala a demanda, gerando um preo satisfatrio tanto para os produtores quanto para os consumidores. Supondo-se que a oferta e a demanda determinam os preos de equilbrio do mercado, a Teoria Neoclssica da Distribuio constitui-se em um elemento da Teoria dos Preos. Ao contrrio dos economistas clssicos, que admitiam a existncia de conflito de classes na anlise da distribuio, os neoclssicos afirmaram que a remunerao de cada fator (terra, capital e trabalho) proporcional a sua contribuio ao processo de produo. A produo deixa de ser entendida como um processo social, dependente da diviso do trabalho, e passa a ser concebida como o resultado da combinao de fatores de produo, cuja produtividade decrescente. Em outras palavras, a remunerao correspondente ao produto marginal de cada fator o acrscimo de produo proporcionado pela incorporao de uma unidade a mais deste fator. Como o processo produtivo flexvel, permitindo diversas combinaes e, obviamente, a perfeita substituio dos fatores capital pode ser trocado por trabalho e vice-versa , o empresrio empregar um fator de acordo com a sua produtividade e o seu custo.

O Brasil um pas que depende muito da exportao de produtos primrios e semi-elaborados (soja, minrio de ferro, suco de laranja, carnes), que, de acordo com a Teoria Neoclssica do Comrcio Internacional, utiliza a grande vantagem que o pas possui os seus recursos naturais. Ao mesmo tempo, o pas importa produtos de elevado contedo tecnolgico (mquinas, equipamentos, computadores). Ser possvel o desenvolvimento do pas e sua insero competitiva no mundo globalizado com esse padro de comrcio?

A partir dos pontos abordados at aqui, indique os elementos comuns e os divergentes entre a Escola Clssica e a Escola Neoclssica.

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Figura 17: De acordo com a Teoria Neoclssica, oferta e demanda se equilibram automaticamente no mercado, assegurando assim um preo satisfatrio tanto para o consumidor quanto para o produtor. Fonte: Mankiw (1999)

Por exemplo, os salrios no so mais definidos pelo seu nvel de subsistncia, mas regulados de acordo com o produto marginal do trabalho: o capitalista ter interesse em contratar trabalhadores at o momento em que o salrio for igual ao produto marginal do trabalho o produto que cada trabalhador adicional incorpora produo. Se o primeiro trabalhador contratado ganha R$10,00 por hora e produz R$20,00 por hora, o capitalista ter interesse em admitir novos trabalhadores at o momento em que o ltimo trabalhador que empregar produzir pelo menos R$10,00 por hora. O critrio estabelecido pelos neoclssicos para explicar a distribuio refuta qualquer perspectiva conflituosa no capitalismo. As remuneraes dos fatores so preos regulados pelo mercado e os seus proprietrios (os trabalhadores, proprietrios de terras e os capitalistas) so agentes econmicos que concorrem entre si e cujos interesses so harmonizados pela concorrncia. O pressuposto de que a produo o resultado da combinao de fatores (terra, capital e trabalho) ofereceu sustentao Teoria Neoclssica do Comrcio Internacional. De acordo com essa teoria, os pases tendem a exportar os bens cuja produo intensiva nos fatores que esto dotados de forma mais abundante. Isto , um pas como o Brasil abundante em terra deveria produzir e exportar produtos agrcolas e o Japo abundante em capital deveria exportar produtos intensivos em capital e tecnologia, como automveis. Se houver livre comrcio, os dois pases sero beneficiados, pois o comrcio internacional promover a convergncia dos preos relativos dos produtos: haver queda do preo dos alimentos no Japo onde a produo escassa - e o seu respectivo aumento no Brasil onde a produo abundante. O mesmo efeito ocorrer com o preo dos automveis, tanto no Brasil (queda) quanto no Japo (elevao). Esse mesmo mecanismo permitir tambm a convergncia dos preos relativos dos fatores: o aumento das exportaes agrcolas provocar elevao do preo das terras no Brasil, favorecendo os proprietrios de terra. Tal efeito ser igualmente verificado no Japo, com a remunerao do capital. Assim,