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42 | 2015 | STARTUPS Ecossistema tecnológico em plena ebulição Thalita Matta Machado Minas Gerais entrou no radar dos in- vestidores de tecnologia em 2005, quando a Google comprou a Akwan, uma empresa que desenvolvia siste- mas de busca, fundada por professo- res da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde então, o cená- rio tecnológico no estado não parou de evoluir. Hoje, só em Belo Horizon- te há mais de 230 startups, grande parte delas localizada no bairro São Pedro. A aglomeração rendeu à região a alcunha de San Pedro Valley, uma referência ao Silicon Valley, ou Vale do Silício, na Califórnia, que abriga gigantes da tecnologia, como a Goo- gle, o Facebook e a Apple. O que começou como uma piada feita em uma padaria do bairro rapidamente ganhou o mundo. O apelido San Pedro Valley começou a ser repetido nas redes sociais, na forma de hashtag, principalmente quando uma iniciativa ganhava um prêmio ou recebia investimentos. Com a divulgação de San Pedro Valley nos blogs internacionais de tecnologia, a marca ganhou a grande mídia, sendo citada até pela revista americana The Economist, em abril do ano passado. “O nome foi somente uma forma de chancelar o movimento, que já estava acontecendo nos bastidores”, explica Pedro Filizzola, CMO da Samba Tech, empresa líder em soluções para víde- os on-line, com atuação na América Latina. Segundo ele, o diferencial da comunidade é se mover de forma es- pontânea e colaborativa. “Temos um grupo de WhatsApp muito ativo e um canal no Slack pelo qual todos con- versam, tiram dúvidas e trocam ex- periências. Estamos sempre ajudan- do uns aos outros, por sermos todos muito próximos e entendermos que, em algum momento, seremos ajuda- dos também. Isso fortalece a comuni- dade como um todo.” O site oficial da comunidade tem cadastradas 228 startups, cinco aceleradoras, sete incubadoras, 24 escritórios de coworking, seis inves- tidores e dois hackerspaces, os quais trabalham colaborativamente com os diversos players do cenário. Cooperação orgânica O conceito inerente ao San Pedro Val- ley é que ele não tem qualquer ins- titucionalização. É uma comunidade de empreendedores que prezam pelo compartilhamento livre e desinteres- sado de informações para reduzir o tempo de aprendizagem, otimizar o tempo, organizar os recursos e ace- lerar o crescimento dos negócios. Rodrigo Cartacho, fundador e CEO da Sympla, plataforma on-line de eventos de pequeno e médio porte, conta que San Pedro Valley foi um fator importantíssimo na decisão de se instalarem em Belo Horizonte, há quatro anos, quando os sócios volta- ram para o Brasil depois de morarem fora. “Sentíamos a pressão de ir para São Paulo, que seria o caminho óbvio, mas quando chegamos e começamos a nos movimentar nos cenários tec- nológicos de lá e daqui, percebemos que Belo Horizonte tinha um ecossis- tema de comunidade, em que todo mundo compartilha informação e dá apoio para que as empresas consigam crescer mais rápido. Brinco que che- gamos com o ônibus passando, dei- xaram-nos subir e, ainda, sentarmos na janelinha”. A nova equipe de vendas da Sympla foi recentemente treinada pela Rock Content e pela Samba Tech. “Em que outra indústria você conseguiria ter sua equipe treinada por profissionais alta- mente qualificados, de duas startups diferentes, compartilhando seus núme- ros, estratégias e métricas? Isso dimi- nuiu nossa curva de aprendizagem de seis para três meses”, conta Cartacho. Israel Salmen, CEO e fundador do Méliuz, portal que disponibiliza gra- tuitamente cupons de desconto e devolve parte do valor gasto ao com- prador, também contou com o apoio da comunidade no início do negócio. “Antes de lançarmos o Méliuz, dois empreendedores, o Gabriel e o Ma- teus Lana, da S10i, ajudaram-nos com os primeiros passos no univer- so das startups. Somos eternamente gratos a eles. O pessoal da comuni- dade costuma se encontrar todos os meses, trocar experiências, partilhar sucessos e fracassos”, conta. Um dos encontros mais populares é o San Pe- dro Cervas, um happy hour regado a cerveja, cachaça e bate-papo, bem à moda mineira. Nessa política de cooperação, o Mé- liuz também já teve a oportunidade de compartilhar sua expertise com a SmarttBot, startup que desenvolve ferramentas para automatizar ope- rações e estratégias de investimento na bolsa de valores. “Tivemos recen- temente um desafio de usabilidade enquanto planejávamos um de nos- sos produtos. Procuramos o Méliuz, especialista no assunto, que nos rece- beu muito bem e contribuiu bastante. Práticas como essa acontecem o tem- po todo entre nós”, reforça Leonardo Conegundes, fundador da SmarttBot. João Drummond acaba de iniciar sua terceira startup, a LogHub – que ofe- rece melhoria na gestão de frotas e motoristas privados para empresas de logística. O empreendedor sempre esteve próximo de San Pedro Valley e também vê o processo colaborativo como o grande diferencial mineiro. “Desde que lançamos nossa primeira startup, estivemos em contato com o pessoal da comunidade. Nosso am- biente em Belo Horizonte é muito fa- vorável para novas empresas. Quem já está mais à frente e com iniciativas mais sólidas oferece mentoria sem esperar algo em troca. Sempre tem alguém disposto a ajudar e guiar”, co- menta. Drummond vê isso como ponto fundamental para quem está iniciando no mercado de tecnologia e inovação. Na expectativa do SEED O processo colaborativo contaminou o Governo do Estado que, em 2013, criou o SEED (programa de Desenvol- vimento do Ecossistema de Empreen- dedorismo e Startups), com o objetivo de fomentar projetos ligados à tecno- logia. Considerado uma das principais ações de fomento às novas startups do país, o SEED foi responsável por colo- car no mercado cerca de 80 iniciativas que, juntas, faturaram R$ 23 milhões. “Governo falando de startup, até en- tão, era uma coisa bem rara. O SEED nasceu com uma característica di- ferente, que foi primordial para seu sucesso: a de se aproximar dos em- preendedores e da comunidade local, o San Pedro Valley, conversando com quem já passou por várias dificuldades e, consequentemente, beneficiando as startups aceleradas pela iniciativa”, conta Matt Montenegro, fundador do Beved, um organizador on-line de au- las presenciais e a distância. A notícia da suspensão do projeto, no início deste ano, pegou a comunidade de surpresa e tem gerado expectativas sobre seu retorno. “Infelizmente, per- demos o SEED, que era uma iniciativa genial do Governo mineiro para incen- Com mais de 220 startups reunidas e um ecossistema altamente desenvolvido, San Pedro Valley consolida uma nova cultura de trabalho em rede e um crescimento em conjunto | 2015 | 43

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42 | 2015 |

startups

Ecossistema tecnológico em plena ebulição

thalita matta machado

Minas Gerais entrou no radar dos in-vestidores de tecnologia em 2005, quando a Google comprou a Akwan, uma empresa que desenvolvia siste-mas de busca, fundada por professo-res da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde então, o cená-rio tecnológico no estado não parou de evoluir. Hoje, só em Belo Horizon-te há mais de 230 startups, grande parte delas localizada no bairro São Pedro. A aglomeração rendeu à região a alcunha de San Pedro Valley, uma referência ao Silicon Valley, ou Vale do Silício, na Califórnia, que abriga gigantes da tecnologia, como a Goo-gle, o Facebook e a Apple.

O que começou como uma piada feita em uma padaria do bairro rapidamente ganhou o mundo. O apelido San Pedro Valley começou a ser repetido nas redes sociais, na forma de hashtag, principalmente quando uma iniciativa ganhava um prêmio ou recebia investimentos. Com

a divulgação de San Pedro Valley nos blogs internacionais de tecnologia, a marca ganhou a grande mídia, sendo citada até pela revista americana The Economist, em abril do ano passado.

“O nome foi somente uma forma de chancelar o movimento, que já estava acontecendo nos bastidores”, explica Pedro Filizzola, CMO da Samba Tech, empresa líder em soluções para víde-os on-line, com atuação na América Latina. Segundo ele, o diferencial da comunidade é se mover de forma es-pontânea e colaborativa. “Temos um grupo de WhatsApp muito ativo e um canal no Slack pelo qual todos con-versam, tiram dúvidas e trocam ex-periências. Estamos sempre ajudan-do uns aos outros, por sermos todos muito próximos e entendermos que, em algum momento, seremos ajuda-dos também. Isso fortalece a comuni-dade como um todo.”

O site oficial da comunidade tem cadastradas 228 startups, cinco

aceleradoras, sete incubadoras, 24 escritórios de coworking, seis inves-tidores e dois hackerspaces, os quais trabalham colaborativamente com os diversos players do cenário.

Cooperação orgânicaO conceito inerente ao San Pedro Val-ley é que ele não tem qualquer ins-titucionalização. É uma comunidade de empreendedores que prezam pelo compartilhamento livre e desinteres-sado de informações para reduzir o tempo de aprendizagem, otimizar o tempo, organizar os recursos e ace-lerar o crescimento dos negócios. Rodrigo Cartacho, fundador e CEO da Sympla, plataforma on-line de eventos de pequeno e médio porte, conta que San Pedro Valley foi um fator importantíssimo na decisão de se instalarem em Belo Horizonte, há quatro anos, quando os sócios volta-ram para o Brasil depois de morarem fora. “Sentíamos a pressão de ir para São Paulo, que seria o caminho óbvio,

mas quando chegamos e começamos a nos movimentar nos cenários tec-nológicos de lá e daqui, percebemos que Belo Horizonte tinha um ecossis-tema de comunidade, em que todo mundo compartilha informação e dá apoio para que as empresas consigam crescer mais rápido. Brinco que che-gamos com o ônibus passando, dei-xaram-nos subir e, ainda, sentarmos na janelinha”.

A nova equipe de vendas da Sympla foi recentemente treinada pela Rock Content e pela Samba Tech. “Em que outra indústria você conseguiria ter sua equipe treinada por profissionais alta-mente qualificados, de duas startups diferentes, compartilhando seus núme-ros, estratégias e métricas? Isso dimi-nuiu nossa curva de aprendizagem de seis para três meses”, conta Cartacho.

Israel Salmen, CEO e fundador do Méliuz, portal que disponibiliza gra-tuitamente cupons de desconto e devolve parte do valor gasto ao com-prador, também contou com o apoio da comunidade no início do negócio. “Antes de lançarmos o Méliuz, dois empreendedores, o Gabriel e o Ma-teus Lana, da S10i, ajudaram-nos com os primeiros passos no univer-so das startups. Somos eternamente gratos a eles. O pessoal da comuni-dade costuma se encontrar todos os meses, trocar experiências, partilhar sucessos e fracassos”, conta. Um dos

encontros mais populares é o San Pe-dro Cervas, um happy hour regado a cerveja, cachaça e bate-papo, bem à moda mineira.

Nessa política de cooperação, o Mé-liuz também já teve a oportunidade de compartilhar sua expertise com a SmarttBot, startup que desenvolve ferramentas para automatizar ope-rações e estratégias de investimento na bolsa de valores. “Tivemos recen-temente um desafio de usabilidade enquanto planejávamos um de nos-sos produtos. Procuramos o Méliuz, especialista no assunto, que nos rece-beu muito bem e contribuiu bastante. Práticas como essa acontecem o tem-po todo entre nós”, reforça Leonardo Conegundes, fundador da SmarttBot.

João Drummond acaba de iniciar sua terceira startup, a LogHub – que ofe-rece melhoria na gestão de frotas e motoristas privados para empresas de logística. O empreendedor sempre esteve próximo de San Pedro Valley e também vê o processo colaborativo como o grande diferencial mineiro. “Desde que lançamos nossa primeira startup, estivemos em contato com o pessoal da comunidade. Nosso am-biente em Belo Horizonte é muito fa-vorável para novas empresas. Quem já está mais à frente e com iniciativas mais sólidas oferece mentoria sem esperar algo em troca. Sempre tem alguém disposto a ajudar e guiar”, co-

menta. Drummond vê isso como ponto fundamental para quem está iniciando no mercado de tecnologia e inovação.

Na expectativa do SEED O processo colaborativo contaminou o Governo do Estado que, em 2013, criou o SEED (programa de Desenvol-vimento do Ecossistema de Empreen-dedorismo e Startups), com o objetivo de fomentar projetos ligados à tecno-logia. Considerado uma das principais ações de fomento às novas startups do país, o SEED foi responsável por colo-car no mercado cerca de 80 iniciativas que, juntas, faturaram R$ 23 milhões.

“Governo falando de startup, até en-tão, era uma coisa bem rara. O SEED nasceu com uma característica di-ferente, que foi primordial para seu sucesso: a de se aproximar dos em-preendedores e da comunidade local, o San Pedro Valley, conversando com quem já passou por várias dificuldades e, consequentemente, beneficiando as startups aceleradas pela iniciativa”, conta Matt Montenegro, fundador do Beved, um organizador on-line de au-las presenciais e a distância.

A notícia da suspensão do projeto, no início deste ano, pegou a comunidade de surpresa e tem gerado expectativas sobre seu retorno. “Infelizmente, per-demos o SEED, que era uma iniciativa genial do Governo mineiro para incen-

Com mais de 220 startups reunidas e um ecossistema altamente desenvolvido, San Pedro Valley consolida uma nova cultura de trabalho em rede e um crescimento em conjunto

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tivar novas startups. Tenho escutado que existem planos para reativar o pro-grama e torço muito para que dê certo. Iniciativas como essa são essenciais e fundamentais para que o San Pedro Valley seja cada vez mais forte e lance mais novas empresas de sucesso”, co-menta Salmen, do Méliuz.

A força da colaboraçãoApesar de ainda não haver um estudo oficial sobre as novas empresas bra-sileiras, a Associação Brasileira de Startups (ABStartups) acredita que a taxa de falência delas supera a de pe-quenas empresas tradicionais. A as-sociação se baseia em uma estatística global que aponta: nove de cada 10 startups que surgem no planeta não conseguem sobreviver.

Nesse sentido, a força da comunidade ganha peso na gestão dos empreendi-mentos. É o que explica o fundador do Beved, Matt Montenegro. “Nosso negócio é de alto risco e trabalhamos margens de lucro pequenas. Qual-quer erro pode tomar uma proporção muito grande. As parcerias entre os membros da comunidade ajudam as startups a se tornarem rentáveis em menos tempo e com mais seguran-ça, contribuindo bastante na redução dessa margem de erro”, pondera.

Recentemente, o site Draft, projeto editorial dedicado a cobrir a expan-são da inovação disruptiva no Brasil, levantou as principais dificuldades de se criar um novo Vale do Silício nacio-nal. Além de questões como a reali-dade tributária e burocrática ou o fato

de a nossa educação ser voltada para o desenvolvimento de empregados ao invés de empreendedores, um ponto merece destaque: o empreendedor brasileiro parece ainda não ter apren-dido a importância da colaboração.

Em sua entrevista para o Draft, Tom Fleming, consultor em indústrias cria-tivas para o Conselho Britânico, que já atuou em mais de 30 países – dentre eles, o Brasil – afirma que “a coopera-ção é um conceito-chave, senão, o que veríamos seria uma série de empresá-rios criativos individualizados, ao invés do surgimento de um ecossistema de comunidades criativas interdependen-tes”. Como bem citou o site, é isso o que alguns polos brasileiros, como Mi-nas Gerais e Recife, oferecem. E é aí que está a importância desses centros.

Quem desponta em San Pedro Valley?

Samba Tech Reconhecida pelo Instituto Great Place to Work® como uma das 100 melhores empresas para se trabalhar no Brasil, na categoria TI & Telecom, em 2012, a Samba Tech é líder em soluções para vídeos on-line na América Latina. É investida pela DFJ FIR Capital e tem parceria global com o Massachusetts Ins-titute of Technology (MIT). Com 54 funcionários e duas unidades, uma em Belo Horizonte e outra em São Paulo, trafega cerca de 20PB por ano.

SymplaPlataforma on-line para eventos de pequeno e médio porte, com apenas quatro anos de atuação no mercado nacional. A Sympla já é o maior site de vendas simultâneas de ingressos do Brasil, com 2 mil eventos abertos para venda ao mesmo tempo. Em 2014, movimentou mais de R$ 20 milhões em venda bru-ta. A previsão, segundo Rodrigo Cartacho, é de que esse número ultrapasse a casa dos R$ 35 milhões em 2015. sympla.com.br

Méliuz É um portal que disponibiliza, gratuitamente, cupons de desconto de diversas lojas on-line do país e devolve parte do valor gasto ao comprador, direto na con-ta bancária. Com 30 funcionários distribuídos em Belo Horizonte e São Paulo, oMéliuz movimentou mais de R$ 160 milhões em vendas para as lojas parceiras e tem a perspectiva de chegar a R$ 400 milhões em 2015. meliuz.com.br

LogHub Recém-chegada ao mercado, a LogHub propõe uma melhor gestão de frotas e motoristas privados para empresas de logística e órgãos do governo. João Drum-mond afirma que o objetivo é reduzir custos dos órgãos, adequando as soluções da startup aos editais desse perfil de prestação de serviço. loghub.com.br

SmarttBotPlataforma on-line para operar, de forma automatizada e estratégica, os inves-timentos em bolsas de valores. Leonardo Conegundes explica que a SmarttBot está plugada às quatro maiores corretoras do Brasil (XP Investimentos, Ágora, Um Investimentos e Gradual) e já desenvolveu cerca de 100 robôs diferentes.Seus clientes movimentam, semanalmente, mais de R$ 8 milhões em investi-mento real. smarttbot.com

A startup é líder de marketing de conteúdo no Brasil. Em 2015, anunciou o recebimento de um aporte de R$ 6 milhões dos investidores e.Bricks e Digital News Ventures. Fundada em 2013, tem 65 funcionários e aten-de cerca de 500 empresas. A expectativa é de expandir os negócios para a América Latina. rockcontent.com

Beved É um organizador on-line para aulas presenciais. Segundo o fundador Matt Montenegro, uma pesquisa em Princeton (EUA) descobriu que só 10% de tudo o que aprendemos vem da vida escolar. Cerca de 70% é memorizado por experiências reais. Assim, o Beved acredita que qualquer pessoa pode ensinar e aprender. Com quatro anos de atuação, o site possui mais de 30 mil usuários e 10 mil alunos pelo país. beved.com.br

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