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Porto Alegre, fevereiro de 2012 - 2 a quinzena Ano XVII - Edição N o 604 - R$ 2,00 IMPRESSO ESPECIAL CONTRATO N o 9912233178 ECT/DR/RS FUNDAÇÃO PRODEO DE COMUNICAÇÃO CORREIOS www.jornalsolidario.com.br Os telefOnes dO JOrnal Solidário: (51) 3211.2314 e (51) 3093.3029. e-mail: sOlidariO@pOrtOweb. cOm.br Tudo na sua tela: agora! “Aconteceu, está na tela de seu canal de TV”. É jargão de telenoticioso ultrapassa- do. O YouTube, serviço de vídeos do Google, transmite quatro bilhões de vídeos ao dia. Alta de 25 por cento nos últimos oito meses. A cada minuto, 60 horas de vídeo são armazenadas no site da empresa. Quase nada mais está invisível. Tudo está na tela e instantaneamente. “A travessia não é uma corrida com um ponto de partida e outro de chegada, mas um estado de espírito e uma maneira de ser. A traves- sia é o desdobramento da essência da vida na luta histórica, na partida sem porto indicado em cartas náuticas, no de- sapego que transforma o mundo, na partilha dos bens que são daqueles que os necessitam." Paulo Suess Um outro futuro possível É o que sonham os que desejam um mundo melhor para quem os sucederem. Para uns, esse mundo pode significar apenas mais con- sumo, mais lucro. Para ou- tros, o sonho é de um mun- do mais justo, mais hones- to, mais solidário. Davos, na Suíça, e Porto Alegre, foram sedes de encontros de pessoas que sonharam juntas. Lá, buscando saídas para um mundo econômico em crise. Cá, alimentando a esperança da aurora de um novo dia, de uma socieda- de sem discriminação de raça, cor, religião, cultura ou ideologia e onde o bem comum é o objetivo final. Páginas 2, 9 e centrais É o que a cultura atual estimula. E imagina que a encontrará através do consumismo voraz. Isto é, através de sensações prazerosas viabiliza- das pelo dinheiro, segurança, paz e saúde. Há uma verdadeira indústria por trás disso, potencializada por intensa e permanente publicidade de receitas prontas de felicidade individual. Busca-se a felicidade no shopping center. E não sobra espaço para o outro. “Hoje, na era do consumo, compramos mais e nos satisfazemos menos”, diz o escritor e teólogo Antônio M. Galvão. Seria esse o real sentido da vida? Ou a felicidade estaria na aceitação da finitude pessoal e nas pequenas coisas, em que não há cifras? A plenitude agora Campanha da Fraternidade 2012 e a saúde pública A Igreja propõe como tema da Campanha deste ano: A Fraternidade e a Saúde Pública, tendo como lema: Que a Saúde se difunda sobre a terra (Eclo. 38,8). Deseja assim sensibilizar a todos sobre a dura realidade dos que não têm acesso à assistência de saúde pública condizente com suas necessidades e dignidade. É uma realidade que clama por ações transformadoras. Contracapa Busca-se a felicidade nos shoppings Um dos muitos assuntos abordados pelos participantes do Fórum em Porto Alegre foi... ...o trabalho dos recicladores de lixo, que reivindicam políticas públicas para melhorar a sua situação Agência FEM-CUT/SP Solidário

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Porto Alegre, fevereiro de 2012 - 2a quinzena Ano XVII - Edição No 604 - R$ 2,00

IMPRESSO ESPECIALCONTRATO No 9912233178

ECT/DR/RSFUNDAÇÃO PRODEODE COMUNICAÇÃO

CORREIOS

www.jornalsolidario.com.br

Os telefOnes dO JOrnal Solidário:

(51) 3211.2314 e (51) 3093.3029.

e-mail:sOlidariO@pOrtOweb.

cOm.br

Tudo na sua tela: agora!

“Aconteceu, está na tela de seu canal de TV”. É jargão de telenoticioso ultrapassa-do. O YouTube, serviço de vídeos do Google, transmite quatro bilhões de vídeos ao dia. Alta de 25 por cento nos últimos oito meses. A cada minuto, 60 horas de vídeo são armazenadas no site da empresa. Quase nada mais está invisível. Tudo está na tela e instantaneamente.

“A travessia não é uma corrida com um ponto de partida e outro de chegada, mas um estado de espírito e uma maneira de ser. A traves-sia é o desdobramento da essência da vida na luta histórica, na partida sem porto indicado em cartas náuticas, no de-sapego que transforma o mundo, na partilha dos bens que são daqueles que os necessitam." Paulo Suess

Um outro futuro possívelÉ o que sonham os que

desejam um mundo melhor para quem os sucederem. Para uns, esse mundo pode significar apenas mais con-sumo, mais lucro. Para ou-tros, o sonho é de um mun-do mais justo, mais hones-to, mais solidário. Davos, na Suíça, e Porto Alegre, foram sedes de encontros de pessoas que sonharam juntas. Lá, buscando saídas para um mundo econômico em crise. Cá, alimentando a esperança da aurora de um novo dia, de uma socieda-de sem discriminação de raça, cor, religião, cultura ou ideologia e onde o bem comum é o objetivo final.

Páginas 2, 9 e centrais

É o que a cultura atual estimula. E imagina que a encontrará através do consumismo voraz. Isto é, através de sensações prazerosas viabiliza-das pelo dinheiro, segurança, paz e saúde. Há uma verdadeira indústria por trás disso, potencializada por intensa e permanente publicidade de receitas prontas de felicidade individual. Busca-se a felicidade no shopping center. E não sobra espaço para o outro. “Hoje, na era do consumo, compramos mais e nos satisfazemos menos”, diz o escritor e teólogo Antônio M. Galvão. Seria esse o real sentido da vida? Ou a felicidade estaria na aceitação da finitude pessoal e nas pequenas coisas, em que não há cifras?

A plenitude agora

Campanha daFraternidade 2012e a saúde públicaA Igreja propõe como tema da

Campanha deste ano: A Fraternidade e a Saúde Pública, tendo como lema: Que a Saúde se difunda sobre a terra (Eclo. 38,8). Deseja assim sensibilizar a todos sobre a dura realidade dos que não têm acesso à assistência de saúde pública condizente com suas necessidades e dignidade. É uma realidade que clama por ações transformadoras.

Contracapa

Busca-se a felicidade nos shoppings

Um dos muitos assuntos abordados pelos participantes do Fórum em Porto Alegre foi...

...o trabalho dos recicladores de lixo, que reivindicam políticas públicas para melhorar a sua situação

Agência FEM-CUT/SP

Solidário

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Fevereiro de 2012 - 2a quinzenaA RTIGOS 2

Fundação Pro Deo de Comunicação

Conselho DeliberativoPresidente: Agenor Casaril

Vice-presidente: Jorge La RosaSecretário: Marcos Antônio Miola

CNPJ: 74871807/0001-36

Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Adriano Eli Vice-Diretor: Martha d’Azevedo

Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi, Elisabeth Orofino e

Ir. Erinida GhellerSecretário: Elói Luiz ClaroTesoureiro: Décio Abruzzi

Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

RedaçãoJorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS

Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RSRevisão

Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários)

Administração Elisabete Lopes de Souza e Norma Regina Franco Lopes

Impressão Gazeta do Sul

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Conceitos emitidos por nossos colabora-dores são de sua inteira responsabilidade,

não expressando necessariamente a opinião deste jornal.

Conselho Editorial Presidente: Carlos AdamattiMembros: Paulo Vellinho,

Luiz Osvaldo Leite, Renita Allgayer, Beatriz Adamatti e Ângelo Orofino

Diretor-Editor Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RS

Editora Adjunta Martha d’Azevedo

EditorialVoz do Pastor

Dom Dadeus GringsArcebispo Metropolitano de P. Alegre

Em 1859, Darwin publica a obra A Origem das Espécies, que re-voluciona este modo de pensar.

A partir de então, começa-se a falar em evolucionismo. À primeira vista, parecia a derrocada do criacionismo. O embate foi violento. Uma espécie de tsunami. De um lado parecia estar a Religião e, do outro lado, a ciência. A primeira defenderia que Deus criou, no início, todas as espécies de vida, mantidas inalteradas ao longo dos tempos – com algumas perdas no percurso – e a segunda garanti-ria que a vida se originou de modo rudimentar. Vai evoluindo e se diver-sificando com o passar dos milênios.

Na verdade, não se trata de uma anti-nomia entre criacionismo e evolucionis-mo, mas de uma oposição entre fixismo e evolucionismo, ambos no restrito âmbito da biologia. Os adversários de Darwin eram fixistas, também biólogos, ou seja, defendiam a impossibilidade de passar de uma espécie para outra. Deus teria criado, no início, no dizer deles, tantas espécies quantas existem hoje, menos as que se extinguiram com o passar dos tempos. Nossos ecologistas, talvez inconscien-temente, quando falam de animais e de plantas em extinção, estejam pensando e trabalhando em termos fixistas. Querem preservar as espécies tais quais existiram desde o início da vida.

O evolucionismo não se opõe, pois, ao criacionismo. Apenas lhe proporciona uma explicação, por assim dizer, mais científica. Procura desvendar o modo da criação. Em outras palavras, quem crê em Deus criador e quem professa sua fé na evolução apenas diverge do modo como Deus teria criado a vida. Quem crê na evolução professa que Deus continua criando ao longo dos tempos, aperfeiço-ando cada vez mais a vida. Parece absur-do, ou seja, sem explicação cabal, admitir uma evolução ascendente, que seja cega, sem perspectivas. Há, na base, uma causa inteligente, que vai dispondo os elemen-tos, os genes, de modo a embutir-lhes

A revolução genéticAuma capacidade de se transcender. Falar de geração espontânea significa negar-se a dar explicação à origem da vida. Surgiu porque surgiu.

Com Darwin não nos afastamos de Deus, nem de sua criação. Pelo contrá-rio, entendemo-los mais profundamente. Deciframos finalmente o mistério da vida. Eliminamos a concepção antropológica de Deus, que o vê à semelhança do ser humano, para calcar sua transcendência. Mas também formamos uma ideia mais adequada da criação, ao inter-relacionar todos os seres e entender melhor como Deus cria. Não só conserva mas aperfei-çoa, com o correr dos tempos, sua criação.

É, certamente, mais sábio criar um ser com possibilidade de evoluir do que criar um ser pronto, sem dinamismo interno, como é mais sábio criar uma vida que se transmite na semelhança da natureza, do que criar uma vida que se feche sobre si mesma e acabe nela. Transcender é mais que simplesmente ser. Isto é evolução. Não estamos diante de um artefato pron-to, mas diante da vida, com dinamismo interno.No século XIX, com o avanço da paleontologia, aventou-se a hipótese da evolução das espécies, tendo Darwin como protagonista. Que a vida se trans-mita por geração é óbvio, desde tempos imemoráveis. Mas dentro de cada espécie. Estas eram vistas como obra da criação, perfeitas desde o início. As pesquisas científicas, porém, levaram à descoberta de uma evolução da própria vida, incluin-do as espécies.

O problema do primeiro não se coloca mais dentro de cada espécie, mas dentro da vida em geral. Seria geração espontâ-nea seu início? Isto equivaleria a dizer que não se conhece a origem. Daí o criacio-nismo e o evolucionismo não se oporem, mas se complementarem: o primeiro no plano metafísico e o segundo no plano científico. Evolucionismo, em verdade, se opõe a fixismo, que as pesquisas pale-ontológicas declaram superado.

Um outro futuro possível, poderia ser a manchete dos meios de comunicação, referindo-se a dois eventos paralelos, que aconteceram, um em Davos, na Suíça,

outro, aqui, em Porto Alegre, com o Fórum Social Temáti-co, no fulcro do Fórum Social Mundial, que conheceu seu gênesis em nossa cidade. O de Davos, buscando respostas e saídas para um mundo econômico em situação de falência das grandes potências; o de Porto Alegre, testando sua fé na utopia de um outro mundo ainda possível, mais justo, honesto, democrático, solidário. Davos, preocupado com a sustentação e viabilidade de um sistema, o capitalista, onde o lucro comanda as ações e reações consumistas da sociedade; Porto Alegre, alimentando a esperança de que há um futuro possível para a humanidade, desde que as pessoas passem de uma sociedade do lucro e do consumo para uma sociedade de relações justas e fraternas. Nesta nova sociedade, o bem em comum dá as cartas e se torna berço de uma nova cultura, de uma nova civilização, enfim redimida do egoísmo do bem-estar individual, tornando possível a aurora de um novo dia, de um novo tempo, cujo sinal distintivo é o bem-estar coletivo e participativo de todos e de todas. Neste outro futuro possível, a utopia de uma sociedade redimida, sem discriminações por motivos de raça, cor, religião, cultura, pensamento ou ideologia será uma feliz realidade.

É uma visão utópica, sem nenhuma chance de se reali-zar? Para os eternos acomodados e mesquinhos, cujo hori-zonte existencial não passa do mais novo e atrativo shopping center da cidade, a resposta é afirmativa. Mas, para quem crê na capacidade humana de superar dificuldades e visões estreitas, somando-se à luta necessária e intransferível por um amanhã melhor para todos/as, realizar esta utopia é uma questão de honestidade consigo mesmo e com a sociedade.

Fiel à sua linha editorial, sua definição de fé no Senhor Jesus e seu utópico projeto de amor solidário, o Solidário marcou presença no Fórum Social Temático de Porto Ale-gre. Entre as atividades selecionadas, estavam: educação popular, papel das religiões para a paz mundial, os direitos de quem não tem direito (excluídos, moradores de rua, terceira idade), os direitos humanos, a exploração sexual de crianças e adolescentes, o cuidado com doentes e defi-cientes mentais, as mulheres recicladoras, os catadores, o voluntariado, a questão do meio ambiente, a água como um bem público, o bioma pampa.

O sonho ou utopia de outro futuro possível passa, certa-mente, pela dimensão religiosa das pessoas, da prática da fé nas famílias e nas comunidades, comprometida seriamente com a realização desta utopia, sonho do Senhor Jesus há dois mil anos. O Solidário assina o que diz a teóloga cubana, coordenadora do CECA (Centro Ecumênico de Capacitação e Assessoria): As religiões tem contribuição muito impor-tante nisso, por conta de suas mensagens comuns de amor, de fraternidade, de solidariedade: elas convergem para um mesmo fim. Temos que aprender a dialogar. Diálogo é ter a abertura para o encontro, para escutar, ver no outro um irmão, um semelhante, que também tem uma verdade assim como você acredita ter uma verdade. (Leia mais nas páginas centrais desta edição e na página 9). ([email protected])

Visão utópica?

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Fevereiro de 2012 - 2a quinzena FAMÍLIA &SOCIEDADE 3

Premiações e punições são necessárias para a formação

de uma pessoa

Entretanto, devem ser praticadas na dose certa e de maneira adequada. É importante, por exemplo, que os filhos percebam que determinados comportamentos são bem-vindos. A especialista em educação financeira Cássia D´Aquino afirma, no entanto, que a recompensa não deve ser dada em dinheiro ou como presentes, pois acaba transmitindo à criança uma noção distorcida do significado da aprovação dos adultos.

Ao demonstrar ao filho a satisfação por ele ter feito uma boa ação por meio de premiações materiais, há a probabilidade de a criança ficar condicionada a obedecer, estudar ou ajudar só se houver recompensa depois. Pessoas assim acabam desenvolvendo o vício de associar dinheiro a tudo, até nas relações afetivas. Ela se relaciona com alguém e se pergunta o que está ganhando com isso, incluindo a relação com a família.

"Às vezes, os pais perdem a dimensão de como um comportamento, hoje, pode influir na personalidade do filho daqui a 15 anos. Escuto com frequência a amargura de pais dizendo que os filhos só se impor-tam em fazer as coisas desde que os recompensem em dinheiro", conta ela.

Mesada como forma de premiação ou castigo também não é uma boa política. Além de exigir o compromisso de manter a mesma quantia todo mês e pagar no dia certo, dificilmente consegue ensinar à criança a ter responsabilidade em relação ao dinheiro.

Um comportamento adequado ou um desempenho escolar acima da média deve ser comemorado, sim. Mas com um abraço gostoso, um lanche especial ou um passeio com a família. Dar à criança um feedback para que ela saiba que agiu bem é essencial.

Os pais precisam ter muita convicção do porque estão dando mesada. É para a criança aprender a lidar com um orçamento mensal? É uma forma de agrado? A mesada administrada de maneira errada pode trazer muitos malefícios, principalmente se for dada como

Castigos e premiações aplicados de forma errada

trazem malefíciosVanessa S. Nakasato

Portal Aprendiz

Qual pai ou mãe nunca se perguntou, ao aplicar um castigo no filho ou premiá-lo por algum motivo, se acertou em sua atitude? Punições e recompensas costumam trazer muitas dúvidas. Ter sido compreendido pela criança ou adoles-cente em suas intenções é sempre uma incógnita. Mas, apesar da incerteza, os pais continuam presenteando e pu-

nindo seus filhos por algum motivo. E, embora o objetivo seja educá-los da melhor maneira possível, não raramente, aca-bam cometendo erros.

uma recompensa pelo bom comportamento", adverte. Outro alerta da educadora é para não negociar a

mesada. Não é possível cortá-la devido a três notas vermelhas naquele bimestre, por exemplo. "O corte é fonte de angústia, e piora quando isso acontece por razões escolares. Os pais precisam entender que ne-nhuma criança ou adolescente vai mal na escola porque quer. O instinto de filho é sempre agradar os pais e, se ele não vai bem, é necessário descobrir a causa por meio de uma boa conversa", sugere.

Por que o castigo?O castigo é válido desde que esteja relacionado ao

comportamento inadequado da criança ou do adoles-cente. A punição somente pela punição pode formar três tipos de personalidade. Na primeira, a rebelde, o indivíduo suporta o castigo e chega a afrontar os seus pais dizendo "não doeu", "não ligo", "eu não queria ir para esse lugar mesmo". A segunda é a construída pelo medo. Por medo da punição, a criança deixa de tentar ter iniciativas. Ela se torna boazinha, mas conformista. E, por último, o chamado cálculo de risco. Na ausência da autoridade do pai, da mãe ou do professor ela age de uma maneira. Na presença, age de outra.

Se a criança sujou a sala, o ideal é fazê-la limpar. Se espalhou a roupa pelo quarto, obrigá-la a arrumar. O castigo tem de ser educativo. Caso contrário, a criança jamais compreenderá a verdadeira razão pela qual o pai agiu daquela maneira.

"Com a tomada de consciência, os pequenos desenvolvem princípios e autonomia, características fundamentais para uma pessoa se autogovernar e conviver em harmonia consigo e com o próximo", afirma Luciana Caetano, autora do livro "O conceito de obediência na relação pais e filhos".

Ela explica que as regras também são funda-mentais para que os filhos tenham disciplina e ajam sem subornar. Quando o pai diz: "Se você não fizer a sua lição você vai apanhar", ele oferece escolhas.

O perigo está em o filho optar por apanhar e deixar de fazer a lição. E o adulto não pode abrir mão dessa regra, uma vez que a lição de casa é um compromisso do estudante que serve para reforçar o conhecimento construído na escola.

O melhor caminho, segundo ela, é dar opções para que a criança não fuja de suas responsabilidades. Por exemplo: "Você quer fazer a sua lição depois ou antes do seu desenho? Você quer fazer a lição sozinho ou prefere que eu fique ao seu lado te apoiando?".

Kriss Szkurlatowsk/sxc.hu

Ter sido compreendido pela criança ou adolescente é sempre uma incógnita

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Fevereiro de 2012 - 2a quinzenaO PINIÃO 4

Urbano ZillesProfessor de Teologia da PUCRS

De diferentes maneiras poetas, litera-tos, artistas e filósofos do século XX discutiram problemas sociais e polí-

ticos. Ocuparam-se com as consequências da industrialização, a ameaça dos totalitaris-mos, a tragédia das duas guerras mundiais, a tensão da guerra fria, o perigo que ameaça o futuro da humanidade, através da destruição cada vez mais rápida de nosso planeta pela poluição do ambiente e a ambivalência do progresso técnico-científico. Perante esses dados, somos chamados a uma reflexão e a uma mudança de atitude e da nossa ma-neira de agir. Depois do carnaval, durante o tempo de preparação para a Páscoa, é opor-tuno ouvir o apelo profético à conversão.

Chegou a hora de perguntarmos: Em que consiste o ver-dadeiro progresso da humanidade? Quais são seus limites? Conseguiremos desenvolver um novo ethos que nos permitirá o uso responsável das novas conquistas tecnológicas?

A era pós-moderna, caracterizada por um amplo plura-lismo, conduziu à secularização, ou seja, a uma perda dos vínculos religiosos tradicionais; levou-nos a um questiona-mento de todos os sistemas metafísicos do passado. Com isso, o homem atual vive uma grave crise de autocompreensão. Os seus sintomas mais importantes são a crise de identida-de, o crescente isolamento do indivíduo e as consequentes perturbações na convivência em sociedade.

Urge examinarmos nossas atuais atitudes e nossa ma-neira de viver no mundo cada vez mais ávido por inovação em todos os campos. Vivemos numa sociedade consumista, voltada para as coisas, para a ganância de sempre ter as últimas novidades. Até que ponto nos tornamos escravos das coisas que temos ou tentamos ter? Será esta a melhor maneira humana de viver?

Nossa existência pode orientar-se pelo modo do ter ou pelo modo do ser. O modo do ter deriva, segundo o filósofo alemão Erich Fromm, da propriedade privada. Nele, apenas

Depois Do cArnAvAl conta a aquisição de coisas e o direito ilimitado de dispor sobre elas. Para possuir as coisas, eliminam-se semelhantes e postula-se um mínimo de esforço. É a atitude que na reli-gião judaica e cristã se chama de ganância, ou seja, a atitude de submeter tudo ao seu poder. Dizendo “eu tenho algo” pressupõe-se que o sujeito possuidor e o objeto possuído sejam duradouros. Mas somos realmente duradouros? Sei que vou morrer, posso perder meu cargo, os ganhos que me permitem ter algo. Morrendo não levarei as coisas que tenho comigo. O que hoje tenho, amanhã me pode ser tirado ou destruído. No modo de existir do “ter” inexiste uma relação viva entre mim e aquilo que tenho. O ter torna-se recíproco, pois as coisas também nos têm, tornamo-nos escravos das coisas que temos, ou melhor, o homem se coisifica. Perde o respeito de si e dos semelhantes.

As condições para o modo de existir do ser são: inde-pendência, liberdade e uso da razão crítica, pois as coisas são apenas meios e não o fim do homem. Este é fim em si mesmo. A atitude fundamental, no modo de existir do ser, é a reno-vação interior pela atividade produtiva das forças humanas. Significa crescer no amor, em humanidade e solidariedade, transcendendo o isolamento do próprio eu. Se no modo de existir do ter impera a palavra morta, no modo de existir do ser é a experiência viva.

Ao homem do século XXI cabe decidir se quer per-severar no modo de existir do ter, da ganância e definir-se exclusivamente a partir daquilo que tem (dinheiro, prazer, fama), numa aparência ilusória de sua identidade, ou o modo de existir do ser solidário com os outros, construindo a paz pelo desenvolvimento pessoal, pelos valores interiores e es-pirituais. Pensadores e artistas advertem-nos, em diferentes perspectivas, contra o medo e a incerteza implicados no curso do existir no modo do mero ter. Sua voz profética chama à conversão, a uma mudança profunda na relação com as coisas e o mundo. Sem essa mudança não se constrói um mundo de paz, não se eliminará a violência dos que querem ter tudo com o mínimo de esforço. Sem amor, sem austeridade de vida, o mundo perde o sentido. Para essa conversão urge cultivar os valores interiores ou espirituais (honestidade, respeito, justiça, moderação, responsabilidade), pois sem eles o mundo do homem deixará de ser humano e o sonhado “superman” terminará sua evolução num selvagem macaco.

a dor do desprezoMaria Regina Canhos Vicentin

Escritora

Existem momentos em que ficamos profundamente desapontados e, por que não dizer, tristes. É

que esperávamos uma outra atitu-de de alguém que nos é importante. Esperávamos, talvez, a mesma aten-ção que temos para com a pessoa.

Quando nós gostamos de alguém, costumamos ser cuidadosos, não queremos magoar ou pôr em risco uma grande amizade. Medimos nossas palavras, pres-tamos atenção nas nossas ações, tudo para ter certeza de que não corremos o risco de ferir quem amamos. Seria bom se todos fossem assim, não é mesmo? Mas, infelizmente, a maioria das pessoas está muito mais preocupada consigo mesma do que com os outros. Às vezes, nem é por mal, acontece apenas por descuido e ignorância, pois ainda não aprenderam que somos in-terdependentes e, amanhã, o amigo desprezado poderá, de alguma forma, ser necessário novamente. Richard Bach já escreveu um dia que devemos tomar cuidado ao bater uma porta, pois poderemos querer voltar.

É lamentável que grande parte das pessoas viva somente prestando atenção em seu próprio ego e em tudo o que diga respeito a ele. É quase como se as outras pessoas não existissem. Ora, mas isso é um absurdo. Diariamente nos deparamos com as "outras pessoas" que fazem parte de nossas vidas. Elas também têm ego, anseios, desejos, problemas, dificuldades, sonhos, e, acima de tudo (não podemos nunca esquecer), sentimentos. É muito fácil magoar uma pessoa. Basta mentir, enganar, usar de falsidade, fazer promessas que não se cumprem, ignorar, fazer o outro crer que é um "nada no mundo". Isso tudo é "tiro e queda" para deixar alguém lá embaixo. Difícil depois é recuperar o estrago feito, quando a pessoa tomou consciência de como foi ludibriada e já não tem o desejo de tentar novamente. Muitos casamentos terminam assim, muitas amizades, muitos laços de pa-rentesco. "Quem ama, cuida" é o que diz o provérbio.

O problema é que nem sempre nos damos conta de que aquela pessoa nos é importante. Achamos que ela é apenas mais uma, e que se for embora isso não nos fará a mínima diferença. Afinal, com tantas pessoas à nossa volta, por que teríamos de nos preo-cupar justamente com essa? Eu gostaria de lhe fazer uma pergunta que precisa de uma resposta sincera, e pode ficar tranquilo que não terá de responder para mim, somente para você. Será que existe um outro alguém que goste de você tão sinceramente quanto essa pessoa? Será que ela é tão prescindível assim? Consegue imaginar um amigo mais fiel, mais com-panheiro, mais honesto com você? Será que pode realmente descartar essa pessoa da sua vida sem sofrer as consequências disso?

Se você tem dúvida não deixe acontecer o pior, pois pode ser que esse alguém nunca mais olhe na sua cara. Pode ser que queira ficar bem longe de você, desta vez. É que as pessoas se magoam, so-frem, choram quando são enganadas, desprezadas, humilhadas. Nem sempre a gente se dá conta do estrago que pode fazer na vida de alguém. É muito triste ser verdadeiro com pessoas que não sabem valorizar o que é isso. Mas, preste atenção, o tempo é implacável e trará luz sobre esses episódios. Não haverá quem deixe de testemunhar a verdade. Tem muita gente boa sendo desprezada por quem "não vale o feijão que come". Deus está vendo tudinho. Foi Jesus quem disse que não devemos dar coisas santas aos cães e nem pérolas aos porcos (Mt 7, 6). Se você está cansado de ser ignorado, dê um basta em tudo isso. Tem gente que só aprende a dar valor para quem merece quando acaba perdendo. Agora, se você foi quem "pisou na bola", corra. Quem sabe ainda dá tempo de reverter o prejuízo. ([email protected] - www.mariaregina.com.br)

Antônio Mesquita GalvãoFilósofo, escritor e doutor em Teologia Moral

Tem vezes que a gente é obrigado a transcrever textos de outros jornalis-tas, dada a extrema propriedade do

escrito. É o caso de uma matéria intitulada “Que país é esse?”, do jornalista paulistano Wálter Fanganiello Maierovitch. A crítica é contra o Judiciário e a Polícia Militar.

“Ontem foi concluída a reintegração na posse, determinada por ordem judicial da 6ª Vara de São José dos Campos, no chamado bairro Pinheirinho, com 1,3 milhão de metros quadrados de área ocupada por cerca de 6 mil moradores desde 2004. A reintegração se deu em favor da massa falida da Selecta Comércio e Indústria S/A, uma holding administrada, até a quebra em 2004, pelo megaespeculador Naji Nahas, acusado de quase quebrar a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Preso preventivamente, se beneficiou da liminar con-cedida pelo ministro Gilmar Mendes em favor do ban-queiro Daniel Dantas. E também da decisão, ainda não definitiva, do STJ que anulou a Operação Satiagraha.

Com a reintegração de posse concluída, desenca-deou-se uma operação militar da tropa de choque da Polícia Militar de São Paulo desalojando cerca de 1.500 famílias. Como se nota, não houve tempo oportuno para

JuDiciário De sAlto Altoser apreciado o pedido de suspensão da reintegração. Em São Paulo, a decisão foi mantida e o ministro pre-sidente do STJ entendeu não ser da Justiça federal a competência para suspender a reintegração. Essa deci-são de Ari Pargendler foi dada liminarmente, quando a Polícia Militar, truculenta como todas, desalojava, com bombas, balas de borrachas e cães, os pobres moradores do Pinheirinho.

Juntamente com a ação da Polícia Militar, máquinas cuidaram da derrubada de casas de alvenaria e de ma-deira que abrigavam os antigos moradores e residentes há mais de 8 anos na área. Num grotesco espetáculo mostrado pelas televisões, a juíza responsável pela decisão de reintegração compareceu ao Pinheirinho para deliciar-se com o cumprimento do seu obscuro mandado judicial.

Agora, a área esta pronta para ser vendida e a sobra vai para o bolso dos sócios da Selecta, ou seja, de Naji Nahas. O prefeito de São José dos Campos, cuja insen-sibilidade chegou a ponto de não se preocupar em alojar as famílias tiradas violentamente do Pinheirinho, vai ter um bom caixa para promover o populismo. Enquanto isso, com o ritmo de ‘lesma reumática’, o governador Geraldo Alckmin afirma que cuidará de verbas para a locação de casas aos expulsos do Pinheirinho, pois não existem casas populares disponíveis”.

Com tanta insensibilidade, repito o refrão cantado pela banda Legião Urbana: “Que país é esse?”

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Fevereiro de 2012 - 2a quinzena EDUCAÇÃO &PSICOLOGIA 5

A vida profissional e a religiosa podem se aproximar mais?Parei para pensar sobre as relações entre vida pro-

fissional e religiosa desde minha tese de doutorado, na qual agradeço ao meu Grupo de Oração da Renovação Carismática Católica, enquanto “outra vida” além da profissional. Neste trabalho de pesquisa comecei a me aproximar de escritos na área de Educação que se pre-ocupam com o professor como pessoa. Pessoa esta que recebe influências tanto de seus estudos formais como de tudo o que vive fora da profissão, que para o músico significa aprender, tanto tocando no barzinho como tocando na Igreja. Em meu trabalho tenho procurado estimular os jovens a perceberem que seus aprendizados “informais” também moldam a maneira de se dizerem e serem professores de música. Nesta direção reflexiva trabalhei com Laise quando ela começou a escrever, sobre como a sua atuação no movimento “Emaus”, enquanto cantora, fazia com que se aproximasse dos jovens do Ensino Médio com uma postura de líder.

Os diários de aula de uma jovem professora podem nos

auxiliar nesta reflexão?Quando a coordenação pedagógica do Colégio

Politécnico da UFSM solicitou a atuação de um aluno de música num momento de prática de ensino, não imaginei que poderia se tornar um desempenho e uma pesquisa tão significativa. Muito da riqueza deste processo se deve à intervenção da minha colega Caroline Pozzobon Xisto, que orientou esta prática pe-dagógica. Ocorre que nos diários a Laise, cuja análise para a monografia foi orientada por mim, pondera sobre uma série de influências formais e informais que a levam a optar por cada atitude como professora. Assim, além de buscar compreender como os alunos podem fazer conexões entre as músicas que escutam no dia a dia e o conteúdo sobre música previsto; Laise, enquanto professora, reflete como sendo jovem passa a ensinar

O professor em formação: da música na Igreja para

a sala de aulaAna Lúcia Louro

Professora Universitária, UFSM

Existe uma pessoa em formação atrás do músico que canta e toca nas missas? Estamos acostumados a ver as pessoas à frente, cantando e tocando nas missas. Sempre fico muito feliz que haja pessoas que se põem a serviço, nesta e em outras funções litúrgicas, também pelas oportunidades que tive de exercer esta função. Mas já paramos para pensar

que, para além de colocar seus dons a serviço da comunidade, estas pessoas, muitas vezes jovens, estão em um momento rico de aprendizagem para a vida? Neste artigo, trago reflexões sobre diários de aula de uma jovem professora de Música – Laise Mathioni Carneiro –nos quais ela menciona o quanto sua atuação como musicista da Igreja influência suas atitudes

como professora. Ela pensa sobre isto através da escrita de diários de aula, que são anotações que se faz a cada dia depois da aula, os quais analisou em sua monografia de conclusão do Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal de

Santa Maria (UFSM).

música para jovens. Ela destaca em primeiro lugar as vantagens e desvantagens da proximidade de idade e reflete como pode construir a sua autoridade de pro-fessora neste contexto. Nesta tentativa de encontrar o “tom” da sua maneira de ser professora, ela nos conta como a sua experiência dentro da Igreja a ensinou a ser líder entre os jovens, o que a auxilia a se tornar uma melhor professora.

A Igreja pode ser considerada uma instância formadora?O que me parece interessante para nós, como Igreja,

é a possibilidade de nos darmos conta do quanto somos

instância formadora, isto é, local onde as pessoas apren-dem a viver e a ser também no que se refere às suas profissões. Às vezes, parece–me que vivemos a nossa profissão de maneira dissociada de nossas crenças reli-giosas. Os diários da Laise podem levar a repensar essa dissociação. Muitos de nós, em diferentes movimentos e documentos da Igreja, pensamos que devemos viver a nossa fé para além dos ritos litúrgicos. A narrativa de Laise aponta para refletirmos sobre como isto se torna verdadeiro, além de nos lembrar sobre o ser humano por trás do músico, bem como em relação ao ser huma-no presente em todas e tantas pessoas que colaboram nos serviços que tornam a igreja um organismo vivo e solidário.

Kym McLeod/sxc.hu

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Fevereiro de 2012 - 2a quinzenaTEMA EM FOCO 6

O futuro depende de todosComo será o amanhã do mundo? Que caminho escolher? O que nos espera: a utopia ou antiutopia?

Foi essa a principal interrogação que povoou a mente, talvez apenas no inconsciente, dos participantes dos recentes fóruns de Davos e de P. Alegre. Em Davos – Suíça - dezenas de chefes de estado e presidentes de bancos centrais, diretores de grandes multinacionais, homens ricos e centenas de economistas e entendidos estavam - e estão - preo-cupados com o rumos do sistema de produção vigente, ante a grave crise econômica que se abate sobre a Europa e Estados Unidos. No Fórum Social Temático de P. Alegre,

pauta similar lançou olhar sobre o cotidiano da humanidade e o futuro do planeta, preparando-se para influir positivamente na Rio+20 – Conferência das Nações Unidas sobre De-senvolvimento Sustentável – em junho próximo. Que futuro temos e que futuro queremos para nós e nossos descendentes? Depende de todos nós.

Os sonhos de P. AlegreDespido de eventual preconceito e interessado em ampliar seu horizonte, qualquer cidadão teve chance de atualizar-se

sobre contexto social em que está inserido. Excluídas talvez algumas conferências de ativistas sociais de renome, as mais de 500 atividades autogestionárias – oficinas, mesas-redondas, debates, etc – do Fórum Social Temático de P. Alegre nada continham de conteúdo ou proselitismo ideológico partidário. O Solidário havia selecionado 25 atividades identificadas com sua proposta editorial: educação popular, papel das religiões para a paz mundial, os direitos de quem não tem direito – os excluídos, moradores de rua, terceira idade – direitos humanos, exploração sexual de crianças e adolescentes, cuidado com doentes e deficientes mentais, mulheres recicladoras, catadores, voluntariado, meio ambiente, água-um bem público, bioma pampa. Por ora, abordaremos resumidamente o que foi debatido em quatro.

Reiventar o Mundo e o Papel das Religiões

Mesa-redonda promovi-da pela CEBs-Porto Alegre e CEBI, CPT, Fórum Inter-religioso do GHC, ESTEF, refletindo sobre a necessidade de reinventar o mundo, desmas-carando os valores do sistema vigente e apontando alternati-vas. Na proposta da iniciativa, o convite para “o desafio de reinventar o mundo, a partir da fé – seja qual for o nome do Deus que adoramos – o que isso significa? O que podemos e devemos fazer para colaborar”?

Marcelo Schneider, um dos palestrantes, lembrou a importância da unidade das diferentes representações reli-giosas na luta de um bem em comum e da preservação do ambiente. Enfatizou que “não podemos ficar somente no desa-bafo, mas sim, levar a vontade e o pensamento de todos para ecoar na Cúpula do Rio + 20. E, se possível, levar o máximo de representação durante todo encontro no Rio de Janeiro.

Mídia e Religião Debate sobre religião, política e democratização, iniciativa do ISER – Instituto de Estudo da Reli-

gião – com sede no Rio de Janeiro e participação da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Nídia Nunes de La Paz, teóloga cubana e coordenadora do CECA – Centro Ecumênico de Capacitação e Assessoria – em São Leopoldo, acredita que a pacificação do mundo passa por muitos caminhos. “Mas as religiões têm contribuição muito importante nisso, por conta de suas mensagens comuns de amor, de fraternidade, de solidariedade: elas convergem para um mesmo fim. Temos que aprender a dialogar. Não compactuo com o termo tolerância ou intolerância. Porque tolerar já expressa a mera postura interior: tolerar. O que não significa diálogo, querer saber do outro. Diálogo é ter a abertura para o encontro, para escutar, ver no outro um irmão, um semelhante, que também tem uma verdade assim como você acredita ter uma verdade”.

A jornalista paraense Thamiris Magalhães de Souza, mestranda da Unisinos, palestrou sobre a midiatização da religião. Isto é, como a religião se apropria das mídias, as mais antigas (rádio, televisão e jornal) e as novas mídias. “Hoje não há mais só o fiel passivo, que vai à igreja, assiste à missa, ouve a homilia. Existe já uma religiosidade virtual, uma prática online. Pelo site de Aparecida, SP, é possível acender sua vela em intenção a alguém em casa, fazer pedido, agradecer, rezar o terço, ler a bíblia online, ter orientação espiritual online. Que consequências isso traz? Essa é a grande pergunta. Que espirituali-dade é essa? Temos apenas hipóteses: que a religião está passando do 1.0 para um mundo digital, isto é, uma religião 2.0. E ela já existe e traz a o esvaziamento institucional, ou seja, a desinstitucionalização da religião organizada? É uma outra igreja, com novas formas de expressão de fé e de relação com o sagrado. Mas que religião é essa?”

Marga Stroher, teóloga e coordenadora do Comitê de Diversidade Religiosa da Secretaria de Direi-tos Humanos da Presidência da República, gaúcha, do Vale do Caí, manifestou sua preocupação com a crescente intolerância religiosa no País. “Ela é aberta, muito aberta. Só que não se percebe. A maioria das pessoas está numa situação de conforto porque pertence a religiões majoritárias no cristianismo. E não se dá conta que existe intolerância em vários níveis – nos espaços públicos, inclusive na escola. Professores e professoras que colocam a sua fé particular como referência no conhecimento acabam por discriminar alunos, especialmente as que são de candomblé e umbanda. O ensino religioso convencional já é um sinal de intolerância religiosa. Deveria ser ensino do conhecimento e não ensino de fé, catequético. E, sim, ensino do conhecimento, do fenômeno, religioso. E a mídia também participa na formação de opi-nião”. Lembrou que há leis municipais que proíbem abate de animais, que são formas de exteriorizar a religião e que também acontecem assassinatos de pais-de-santo, de mães-de-santo, terreiras incendiadas, perseguição. “Muito mais que crime comum – como muitas vezes a própria Justiça se equivoca – isso é crime de intolerância, com tipificação específica respaldada no artigo 5º da nossa Constituição”.

Do debate também participaram o professor Emerson Giombelli e a secretária Nadine Borges, da Secretaria de Direitos Humanos.

Nídia de La Paz

Thamires de Souza

Marga Stroher

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Fevereiro de 2012 - 2a quinzena AÇÃOSOLIDÁRIA 7

Bioma Pampa Debate promovido pela Associação Força Verde e coordenada por Moacir

Barbosa de León, professor aposentado da UFPel. O Bioma Pampa estende-se por quatro países. A parte do RS representa 20 por cento. Já o Uruguai é 100 por cento pampa. Argentina e parte do Paraguai formam o restante. Moacir conseguiu a participação dinâmica de boa parte da plateia ao expor as ameaças desse sistema. “Temos várias termoelétricas. E uma delas é a fina flor da ecologia, sem ironia, pois é autosustentável. Refiro-me à Usina de Candiota, em Piratini, que utiliza resíduos da agricultura transformando-os em vapor superaquecido para gerar eletricidade. E os resíduos formam aterros controlados com plantação de essências vegetais apropriadas: extensas matas estão hoje ao redor da Usina de Candiota.Também temos a termoelétrica de Alegrete e a termoelétrica de Uruguaiana, que usa gás. E, por fim, a de Charqueadas, que usa carvão. Todas elas se submetem a controle rigoroso da Fundação Estadual de Proteção Ambiental, das prefeituras e do IBAMA. Em suma, no RS existem medidas vitoriosas na questão das termoelétricas”.

Moacir também referiu a desertificação em trechos do Bioma Pampa que ocorre em Alegrete. “Temos aqui uma imitação do Deserto do Kalaha-ri - África do Sul. Já é formado por algumas centenas de hectares. Mas o termo ‘deserto’ não é muito adequado porque não há clima de deserto. Na verdade, esse deserto vermelho é resultado de erosão de terrenos arenosos vermelhos, consequência da transformação do solo do arenito Botucatu, que é uma formação geológica bastante superficial e extensa que chega na superfície submetida a intempéries”. Por fim, o orientador do bate-papo lembrou o problema, talvez o mais sério que ocorre de contaminação do Bioma Pampa, que é o uso de agrotóxicos, especialmente no Uruguai e um pouco na Argentina”.

O futuro depende de todosComo será o amanhã do mundo? Que caminho escolher? O que nos espera: a utopia ou antiutopia?

Foi essa a principal interrogação que povoou a mente, talvez apenas no inconsciente, dos participantes dos recentes fóruns de Davos e de P. Alegre. Em Davos – Suíça - dezenas de chefes de estado e presidentes de bancos centrais, diretores de grandes multinacionais, homens ricos e centenas de economistas e entendidos estavam - e estão - preo-cupados com o rumos do sistema de produção vigente, ante a grave crise econômica que se abate sobre a Europa e Estados Unidos. No Fórum Social Temático de P. Alegre,

pauta similar lançou olhar sobre o cotidiano da humanidade e o futuro do planeta, preparando-se para influir positivamente na Rio+20 – Conferência das Nações Unidas sobre De-senvolvimento Sustentável – em junho próximo. Que futuro temos e que futuro queremos para nós e nossos descendentes? Depende de todos nós.

Políticas Públicas: Reciclagem e Recursos HídricosPainel muito concorrido (foto à esquerda) e que teve coordenação de

Irmão Cecchin e representantes da Petrobrás, Correios e Federação dos Recicladores. César Carneiro, assessor da Gerência Regional dos Cor-reios no RS, falou sobre os passos da implementação do decreto 5940, que prevê a destinação de todo material reciclável das repartições federais às cooperativas de catadores.

Ana Regina Medeiros Filho, presidente da Federação das Recicla-doras do Rio Grande do Sul, explanou um pouco sobre o quadro atual da entidade e reivindicou políticas públicas para melhorar a situação da classe. “Hoje, os 17 galpões de P. Alegre recebem papelão dos Correios. Também estamos com problemas sérios de manutenção em nossos galpões. O repasse mensal da Prefeitura, de R$ 2.500,00 reais para cada galpão, não permite a conservação e recuperação”. Relatou que a Federação tem 49 galpões filiados no Estado, mas que a maioria das prefeituras do interior prefere a incineração do material reciclável. Ana Maria, mãe de dois filhos, divide a presidência da Federação, com a de recicladora no Galpão da Vila Pinto, zona leste de P. Alegre. “Estamos no mercado de trabalho. Somos profissionais. A lei reconhece o catador como um trabalhador com direitos trabalhistas. Temos oportunidade de trabalho, mas precisamos desfazer a imagem de “coitadinhos, que trabalham com lixo”’.

Nídia de La Paz

Thamires de Souza

Marga Stroher

Nadine Borges

Irmão Cecchin

César Carneiro

Ana Regina Medeiros

Moacir de León

Émerson Giombelli

Page 8: Ed 604 Jornal Solidario 2a_quinz_fev_2012

Fevereiro de 2012 - 2a quinzenaSABER VIVER 8

Visa e Mastercard

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TERAPIA DIRETA DO INCONSCIENTECura alcoolismo, liberta

antepassados, valoriza a dimensão espiritual

Ninguém quer discutir ou planejar minuciosamente como vai envelhecer, nem mesmo nossos pais e avós... “No entanto, externar planos, ideias, desejos e projetos para esta etapa da vida é necessário. Em família, não devem existir assuntos tabus. Assim, temas relativos à saúde, às finanças e à qualidade de vida na etapa final da vida devem ser dis-cutidos. E é enquanto o idoso tem autonomia que ele deve informar aos seus familiares como deseja envelhecer. Não precisa ser um plano de ação detalhado e minucioso...”, afir-ma a médica Renata Diniz, que dirige uma empresa especiali-zada em cuidados domiciliares na terceira idade.

Para a médica Vanessa Morais, da mesma empresa, “se há resistência do idoso em abordar o tema, filhos e netos podem empregar algu-mas estratégias para iniciar este diálogo, pois conhecer o posicionamento do idoso sobre determinados assuntos – tais como doenças terminais, doenças debilitantes, iminên-cia da morte, necessidade da contratação de cuidadores especializados, necessidade de internamento por longo prazo – pode auxiliar e nor-tear ações futuras de filhos e netos”, defende.

A seguir, as médicas enu-meram estratégias que podem ser empregadas na abordagem destes temas:

1) Fale em terceira pessoa. Comente o exemplo de uma

Terceira idade: como abordar a questão do envelhecimento com seus pais?

T e m a s r e l a t i v o s à s a ú d e , à s f i n a n ç a s e à q u a l i d a -de de vida na etapa f inal da vida devem ser discut idos.

ocorrência na família de um amigo.

"Fale sobre quando a tia do seu amigo estava muito doente e o médico explicou à família todas as possíveis opções de tratamento. Expli-que que foi difícil para o seu amigo decidir o que era certo ou errado para a tia. Como saber o que ela gostaria que fosse feito? Qualquer cenário que você use para introduzir o tema é importante para lançar a conversa como algo que você precisa saber para a sua própria paz de espírito”, diz Renata Diniz.

2) Comente eventos atuais, que repercutiram na mídia.

“A notícia não precisa ser tão dramática ou chocante. A controvérsia médico-ética local ou um relato sobre um terrível acidente pode servir como uma abertura para di-zer: ‘Você sabe, qualquer um de nós poderia estar em uma situação como essa, sem avi-so prévio. Deveríamos falar sobre o que gostaríamos que fosse feito na nossa família’”, recomenda Vanessa Morais.

3) Use histórias ficcionais: livros, cinema e TV podem ser pauta.

“Alugar um filme, como O Filho da Noiva, pode criar uma abertura para abordagem do Alzheimer, por exemplo. Um comercial de TV destina-do a espectadores mais velhos, mesmo que seja pueril, pode preparar o terreno para o as-sunto que você deseja abordar. Você também pode mencionar

um livro ou um artigo que você leu”, orienta a médica Renata Diniz.

4) Comece o assunto falan-do sobre o seu próprio plano e compartilhe suas impressões sobre o assunto.

“Utilizar-se como um exemplo pode ser uma boa tática. Faça o seu próprio pla-nejamento avançado de cuida-dos na velhice, enquanto você é jovem e saudável, e peça a seus pais e avós para fazerem o mesmo”, sugere a médica Vanessa Morais.

5) Aborde o tema numa reunião de confraternização da família.

Você pode aproveitar a hora da sobremesa e do cafezinho para levantar a questão do futuro de seus pais. “A dinâmica de cada família vai determinar se você deve começar a con-versa a sós com sua mãe e seu pai ou se irmãos e irmãs devem participar também, o que seria muito importante, para, eventualmente, todos reunirem as mesmas infor-mações. Introduzir um tema árduo, como um câncer ter-minal, pode ser um desafio se a sua família tem conflitos ou diferentes crenças religiosas. Se você prevê que haverá dificuldades, pode trazer uma terceira pessoa para esta conversa, como um tio, um padre, um pastor de con-fiança da família”, explica a médica Renata Diniz.

6) Seja receptivo, caso sua mãe ou seu pai levante o tópico por conta própria.

Às vezes não são os pais ou os avós que evitam esta conversa. Se a sua mãe inicia este diálogo, não diga: ‘você ainda é tão jovem’, ‘você ain-da está muito bem’... Apro-veite a oportunidade para ouvir o que ela pensa sobre o assunto. Mesmo que você tenha problemas para falar sobre sua morte, não prive os seus pais e avós da chance de falar sobre a deles”, diz a médica Vanessa Morais. (Fonte: site VR MedCare - [email protected])

Pacientes com glaucoma podem continuar dirigindo?

Uma vez que dirigir é uma habilidade complexa, nossa capa-cidade de dirigir com segurança pode ser desafiada por mudanças físicas, emocionais e mentais

Para a maioria das pessoas, dirigir representa liberdade, inde-pendência, controle e competência. A capacidade de dirigir permite que a maioria das pessoas possa ir a qualquer lugar, quando desejar... “No entanto, a condução de um veículo é uma habilidade complexa. Nossa capacidade de dirigir com segurança pode ser desafiada por mudanças em nossa condição física, emocional e mental”, observa o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.

“O glaucoma pode causar perda de visão parcial ou integral, o que pode fazer com que o paciente com a doença tenha mais difi-culdades para dirigir o seu automóvel. Se o glaucoma for detectado cedo e o paciente não apresentar perda significativa do seu campo visual, ele pode ser capaz de continuar dirigindo. No entanto, para manter uma condução segura e confiante, o melhor a fazer é con-sultar um oftalmologista para uma avaliação mais aprofundada”, recomenda o médico.

Glaucoma e seu impacto na direçãoO glaucoma pode causar perda de visão parcial ou cegueira

total. A doença geralmente afeta a visão periférica, aquela parte da visão que nos permite ver “com o canto do olho”.

“Muitas vezes, o glaucoma afeta a visão periférica e os indi-víduos podem não estar cientes desta perda de visão até uma fase mais avançada da doença, quando ocorrem alterações substanciais na visão. Assim, se o paciente tem glaucoma e dirige, pode não enxergar outros carros, ciclistas ou pedestres que estejam fora do seu campo de visão central”, explica o oftalmologista.

Divulgação

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Fevereiro de 2012 - 2a quinzena ESPAÇO LIVRE 9

Humor

O Livro da Família 2012 e o Familienkalender 2012 estão à venda na Livraria Padre Reus e também na filial dentro do Santuário Sagrado Coração de Jesus, em São Leopoldo.Faça o seu pedido pelos fones: 51-3224-0250 e 51-35665086 ou através do e-mail: [email protected]

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VÁrias

Nadi Maria Dotto - 28/02

Uma senhora da cidade estava visitando uma amiga da roça. Ao vê-la levando uma lata de esterco, excla-mou:

- Que coisa horrível! Esse mau cheiro me mata. Aonde você está levando isso?

- É pra pôr nos moran-guinhos!

- Cruz-credo! Lá na ci-dade nós colocamos creme ou nata nos moranguinhos...

xxx

- Joaquim, o que fazes em cima dessa laranjeira?

- Estou chupando man-gas.

- Mas como, se tu estás numa laranjeira?

- Eu trouxe mangas co-migo...

xxx

Um policial dirige-se a um homem bastante embria-gado e diz-lhe:

- O senhor está preso!Resposta do bêbado:- Ah! Então é por isso

que eu não consigo sair daqui...

xxx

No telefone, Pedro expli-ca a um amigo:

- Hoje, antes de sair de casa, dei um beijo arco-iris na minha mulher.

- Beijo arco-iris? Espera aí. Me explica isso!

- Beijo arco-iris é um beijo dado depois de uma tempestade...

Missa não é operetaPadre Zezinho, SCJ Escritor e compositor

Ópera é um teatro todo cantado. Opereta, um teatro declamado, falado e cantado. Pode haver danças no meio. É mais ou menos

isso! Os detalhes eu deixo para os especialistas em artes cênicas. Missa é culto católico, com séculos de história, que não depende de lugar para acon-tecer, mas, em geral, acontece num templo. Não é nem nunca foi ópera ou opereta. Quem dela parti-cipa não é ator, e nem o presidente da assembleia nem os cantores podem ser sua principal atração.

Mas são! E o são por conta de um fato: a maioria não estudou ou não respeita as orientações dos especialistas de uma ciência chamada "liturgia". Liturgia deve ser o que impede que o altar vire palco, e o lado direito ou esquerdo dele vire coxia! Regula o culto de maneira que transpareça a catequese e a teologia daquele momento. Na hora em que o presidente daquele culto, ofuscado pelas luzes e pela fama local ou nacional, e algum cantor ou cantora deslumbrado com a sua chance de mostrar seu talento roubam a cena, temos mais uma exibição de opereta, num templo católico. Gestos, corridinhas, roupas lindas, música que estoura os ouvidos, o padre onipresente, inserções aqui e ali no script do que tratam como peça de arte, 20 músicas para uma missa, as canções duram 50 minutos e as palavras da missa 12 ou 15, o sermão do padre 25... E o povo que não pagou para assistir, é convidado a deixar sua contribuição no ofertório. Na semana que vem haverá outra exibição... Isto, nos cultos em que o altar vira palco e o celebrante que poderia, sim, ser alegre, comunicativo, acolhedor, resolve ser o ator principal com alguns coadjuvantes chamados banda católica.

Nos outros cultos chamados de eucaristia e tratados como eu-caristia a coisa é bem outra! Tem decoro, tem lógica, obedece-se ao conteúdo e aos textos daquele dia, as canções são verdadeiramente litúrgicas, os leitores sabem ler e não engasgam, os microfones não estouram, ninguém toca nem fala para ensurdecer, músicos não entram em competição, nenhum solista canta demais, cantores apenas lideram o povo, ninguém fica dedilhando cançõezinhas durante a consagração, como fundo para Jesus que faz o seu debut, as canções são ensaiadas e escolhidas de acordo com o tema da missa daquele dia, não se canta na hora da saudação de paz por-que ninguém diz bom dia, ou como vai cantando...Tais coisas só acontecem nas operetas...

Nas missas sérias e com unção ninguém fica passando à frente ou atrás do altar, ministro não fica mexendo no altar enquanto o padre prega, padre não exagera nas vestes, não berra, não grita, não dá show de presença, tudo é feito com muita seriedade e decoro. O padre até se destaca pela seriedade. Celebra-se, dentro das nuances permitidas, o mesmo ato teológico com implicações sociais que se celebra no mundo inteiro. Todos aparecem e ninguém se destaca.

Mas receio ser inútil escrever sobre estas coisas, porque pou-quíssimas bandas e pouquíssimos sacerdotes admitem que isso acontece com eles...E ai de quem disser que acontece! Mandam consultar o Ibope sobre as novas missas transformadas em opere-tas, nas quais se privilegia mais canção do que os textos do dia. Perguntem se, depois daquele "somzão" e daquelas inserções com exorcismo, oração em línguas e outros adendos não aumentou a frequência aos templos! É! Pois é! (Fonte: www.paulinas.org.br)

do FóruM social de poa à cúpula dos poVos no rio

Esther VivasColaboradora internacional do EcoDebate*

Um dos temas centrais, abordado em múltiplas atividades – debates, seminários, grupos de trabalho, atos culturais – do Fórum So-

cial Temático em Porto Alegre foi como enfrentar a crise ecológica e climática global, combater o capitalismo verde e acordar propostas de ação e mobilização que permitam a coordenação das lutas.

De olho na Cúpula dos Povos pela Justiça Social Ambiental, contra a Mercantilização da Vida e a Natureza e em Defesa dos Bens Comuns que se celebrará no Rio de Janeiro, de 18 a 23 de junho de 2012, coinci-dindo com a Cúpula Oficial da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, os coletivos reunidos em Porto Alegre colocaram no centro de seus debates a necessidade urgente de vincular a luta social indignada ao movimento pela justiça climática global. E, deste modo, preparar, desde o Fórum Social Temático em Porto Alegre, o caminho à Rio+20.

É que desde a celebração da Conferência da ONU sobre Meio Am-biente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992, onde se aprovou a Convenção sobre Mudança Climática e se estabeleceram as bases sobre desenvolvimento sustentável, os acordos e negociações referentes ao clima não fizeram senão ir de mal a pior. Os resultados das cúpulas do clima da ONU em Copenhage (2009), Cancún (2010) e Durban (2011) são a melhor prova deste estrondoso fracasso. O capitalismo é incapaz de nos tirar da crise ecológica global à qual sua lógica produtivista e de curto prazo nos conduziu.

As soluções tecnológicas à mudança climática, desde as nucleares passando pelos agrocombustíveis até os cemitérios de CO2, não são uma alternativa real para frear o aquecimento global. Ao contrário, estas medidas não vão senão agravar a crise social e ecológica na qual nos encontramos, sendo um instrumento a mais, a serviço do capitalismo verde, para fazer negócio.

Assim dizia Pat Mooney, diretor do Grupo ETC, no seminário ‘Ecossocialismo ou barbárie. É a armadilha do capitalismo verde, quando diz que a "tecnologia não é uma resposta ao povo". E acrescen-tava: "Na cúpula das Nações Unidas em 92, a gente tinha um montão de palavras que os capitalistas converteram num montão de dinheiro".

O Fórum de Porto Alegre acerta em cheio ao apontar a centralidade da crise ecológica e climática. É que o futuro do planeta nos afeta a todos. Não há justiça social sem justiça ambiental, nem justiça ambiental sem justiça social. Tomemos nota.

*Co-autora de “Resistencias globales. De Seattle a la crisis de Wall Street” (Fonte: Revista Iglesia Viva)

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Fevereiro de 2012 - 2a quinzenaIGREJA &CCOMUNIDADE 10

Solidário Litúrgico Catequese

Cor: roxa26 de fevereiro - 1o Domingo da Quaresma

19 de fevereiro - 7o Domingo do Tempo ComumCor: verde dinâMicas para os

encontros de catequese01. Meus sentimentosObjetivo: apresentação e entrosamento Material: papel, lápis de cor.Desenvolvimento: cada um deve retratar num desenho os sen-

timentos, as perspectivas que tem.Dar um tempo para este trabalho individual que deve ser feito

em silêncio, sem nenhuma comunicação.Num segundo momento, as pessoas se reúnem em subgrupos

e se apresentam dizendo o nome, de onde vem, mostrando o seu desenho, explicando-o.

O grupo escolhe um dos desenhos para ser o seu símbolo apresentando-o e justificando.

Pode-se também fazer um grupão onde cada um apresenta mostrando e comentando o seu desenho.

Palavra de Deus: Fl. 1,3-11; SL 6.

02. Mancha ou pontoObjetivo: oração, pedido de perdão, preces, revisão de vida...Material: uma folha branca com um ponto escuro ou mancha,

bem no centro da mesa.Desenvolvimento: mostrar ao grupo a folha com o ponto ou

mancha no centro.Depois de um minuto de observação silenciosa, pedir que se

expressem descrevendo o que viram.Provavelmente, a maioria se deterá no ponto escuro.Pedir, então, que tirem conclusões práticas.Exemplo: em geral, nos apresentamos nos aspectos negativos

dos acontecimentos, das pessoas, esquecendo-nos do seu lado lu-minoso que, quase sempre, é maior.

Palavra de Deus: 1 Cor 3,1-4 Sl 51

03. Quem sou eu ???Objetivo: Conhecimento pessoalMaterial: papel e canetaDesenvolvimento:1. Refletir individualmente:- A vida merece ser vivida?- Somente a vivem os que lutam, os que querem ser alguém?2. Escrever numa folha- Quem sou eu? (enumerar seus valores, qualidades e defeitos).- O que eu quero ser? (escrever o que quer com a vida, os seus

objetivos e ilusões).- Como atuo para chegar no que quero?3. Terminada a reflexão pessoal, formar grupos para partilhar.4. Avaliação:- Como cada um se sentiu ao se comunicar?- E depois da dinâmica?Palavra de Deus: Gn 1,26-31 Sl 139

www.catequisar.com.br

Encontro da Pascom reunirá comunicadores de todo Brasil

De 19 a 22 de julho, a cidade de Aparecida (SP) sediará o 3º Encontro Nacional da

Pastoral da Comunicação (Pascom). O objetivo do evento é reunir todas as pessoas que fazem a comunicação católica no Brasil, para trocar, partilhar, celebrar, e fazer da ocasião um espaço de reflexão e aprimoramento do ser. Para o encontro são esperados mais de 600 comunicadores de todo Brasil.

A programação do evento foi planejada por representantes de alguns Regionais da CNBB, que ficaram reunidos em Brasília durante dois dias, sob coordenação da assessora da Comissão Episcopal Pastoral para Comunicação Social da CNBB, irmã Élide Fogolari. O evento terá início no dia 19 de julho, com a abertura feita pela coordenadora da Pascom do Regional Sul 4 (Santa Catarina) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Maria Terezinha de Campos. Na ocasião será lançado o hino e a logomarca da Pascom. Interessados em participar do encontro devem acessar www.cnbb.org.br e preencher o cadastro do 3º Encontro Nacional da Pascom. Outras informações também poderão ser encontradas no site da CNBB, ou no www.encontropascombrasil.blogspot.com.

1a leitura: Livro do Gênesis (Gn) 9,8-15 Salmo: 24(25), 4bc-5ab.6-7bc.8-9 (R/. cf 10)2a leitura: 1a Carta de Pedro (Pd) 3,18-22Evangelho: Marcos (Mc) 1,12-15Comentário: Jesus está prestes a iniciar sua vida pública. Isso acontece logo

depois de João, seu precursor, ser preso por Herodes e acabar sendo decapitado na prisão, consequência do orgulho do rei que não queria “ficar mal” diante dos seus convidados ilustres, e do ódio ressentido de sua concubina, Herodiades, que pede à filha dançarina “a cabeça de João” (cf Marcos 6,14-29). Jesus intui que sua sorte de pregador e de profeta seria semelhante à de João e à de todos os verdadeiros profetas de todos os tempos: a perseguição, a calúnia, a prisão, a morte. Por isso, ele sente a necessidade de se preparar para o que estava por vir durante e como consequência da sua Missão de anunciador de uma Boa Nova de libertação e salvação para todos, privilegiando os “mais pequeninos” da sociedade do seu tempo e de hoje também. Então, para preparar o corpo e o espírito para seu tempo de pregador, Jesus se retira para o “deserto”, quer dizer, se afasta das suas atividades normais e se recolhe para estar com o Pai, em jejum e oração. O objetivo desta “retirada estratégica” é claro: examinar sua vida, refletir sobre sua missão e dispor corpo e espírito para a “peregrinação evangelizadora” que anuncia a proximidade do Reino de Deus.

O tempo da Quaresma que a Igreja, todos os anos, traz para a comunidade cristã é semelhante a este tempo de “deserto” que Jesus tomou para si para viver melhor e mais plenamente sua Missão. E a Campanha da Fraternidade deste ano, trazendo o tema da saúde pública, quer enfatizar que a saúde, mesmo não sendo um fim em si mesmo, é um meio necessário para uma vida digna de qualquer pessoa. A Campanha ressalta que “a saúde é um processo harmonioso de bem-estar físico, psíquico, social e espiritual, e não apenas a ausência de doença, processo que capacita o ser humano a cumprir a missão que Deus lhe destinou" (texto-base da CF/2012).

Que o “deserto” deste tempo quaresmal nos ajude a preparar nosso viver de cris-tãos e cristãs, iluminados pela Páscoa da ressurreição de Jesus e prenúncio de nossa própria Páscoa/passagem para a vida e a vida eterna. ([email protected])

1a leitura: Livro do Profeta Isaias (Is) 43,18-19.21-22.24b-25Salmo: 40(41), 2-3.4-5.13-14 (R/.5b)2a leitura: 2a Carta de S. Paulo aos Coríntios (2Cor) 1,18-22Evangelho: Marcos (Mc) 2,1-12Para uma melhor compreensão dos comentários litúrgicos leia, antes, os res-

pectivos textos bíblicos.Comentário: Não há milagre sem fé; a fé vem sempre antes do milagre. Mais:

para Jesus, é a fé das pessoas que produz o milagre. Na passagem de Marcos deste domingo isso fica bem claro: Vendo a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: os teus pecados estão perdoados (2,5). E logo, para mostrar a todos os presentes, tanto para a gente simples que fica feliz pela presença libertadora de Jesus (Nunca vimos uma coisa assim, 2,12), como para os mestres e doutores da lei, fariseus e outros poderosos do mundo religioso e político (Ele está blasfemando; ninguém pode perdoar pecados, a não ser Deus (27), ele diz ao paralítico: levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa (2,11). A fé e a solidariedade daqueles homens produziram uma dupla ação sanadora no paralítico: a saúde da alma, pelo perdão dos pecados; a saúde do corpo, pela volta da capacidade de se locomover e integrar-se plenamente na sua família e na sociedade. Este o sentido de “ir para sua casa”.

Duas verdades emanam deste texto: primeiro, para que o milagre possa acontecer é preciso que a pessoa tenha fé. A fé vem sempre antes do milagre. E se for uma fé coletiva, como a daqueles homens que carregaram, num belo gesto de solidarieda-de, o seu amigo paralítico até Jesus, esta fé tem maior força ainda. Segundo, Jesus nunca cura pela metade: só a alma ou só o corpo. Para ele, a libertação do pecado, causa de tantos males do corpo e da alma, é o mais importante. A saúde, física e psíquica, do corpo e da alma/do espírito, são, em toda pessoa, uma necessidade para uma vida digna, de relações justas e honestas, de integração na família, de um viver participativo na comunidade e na sociedade. Jesus oferece para a humanidade e para todos nós a melhor “receita” de saúde que se possa imaginar: perdoar-nos uns aos outros para receber o perdão de Deus e crer que, pelo perdão, nos libertamos de nossas amarras e temos tudo para caminhar pela vida como alegres e felizes filhos e filhas do mesmo Pai que está nos céus.

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Fevereiro de 2012 - 2a quinzena ESPAÇO DAARQUIDIOCESE Coordenação: Pe. César Leandro Padilha

11Jornalista responsável: Magnus Régis - ([email protected])Solicita-se enviar sugestões de matérias e informações das paróquias. Contatos pelo fone (51)32286199 e [email protected] Acompanhe o noticiário da Pascom pelo twitter.com/arquidiocesepoa

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Arquidiocese entregou Mérito Cardeal Scherer

A Arquidiocese de Porto Alegre realizou no dia 1o de fevereiro a entrega oficial do Mérito Cardeal Scherer. A solenidade aconteceu durante a Celebração Eucarística no Santuário Nossa Senhora do Rosário, rua Vigário José Inácio, 402; centro da Capital.

O Mérito Cardeal Scherer foi instituído nas festividades do Centenário de nascimento do Cardeal Dom Vicente Scherer. Ele nasceu em Bom Princípio/RS, no dia 3 de fevereiro de 1903. A honraria é concedida a pessoas e instituições que se destacam em sua trajetória histórica na promoção humana e no desenvolvimento de projetos sociais que beneficiam a comunidade e a sociedade gaúcha.

Em 2011, duas personalidades e uma instituição foram esco-lhidas pelo Conselho de Presbíteros da Arquidiocese para receber a honraria. De acordo com o Conselho, os agraciados foram esco-lhidos pelo testemunho de vida que mostram que a fraternidade e o desenvolvimento social são possíveis para aqueles que acreditam na força da fé e da solidariedade.

Foram homenageados: Florentina Castro Alves (Pastoral Social e trabalho de geração de emprego e renda para famílias carentes), Instituição Novo Lar de Menores (Padres Salesianos) e Diácono Ivo Gizzarddi (Cáritas Arquidiocesana). As honrarias foram entregues, respectivamente pelo Dom Remídio José Bohn, bispo nomeado da Diocese de Cachoeira, monsenhor Tarcísio Scherer, vigário geral da Arquidiocese e sobrinho do Cardeal Scherer e por Dom Dadeus Grins, arcebispo metropolitano. Confira o perfil dos agraciados no site da Arquidiocese.

Mais de 130 mil fiéis participaram da 137a Festa de N. Sra. dos NavegantesA tradicional procissão de Nossa Senhora dos

Navegantes levou mais de 130 mil fiéis para as ruas de Porto Alegre no dia 2 de fevereiro. Nem mesmo o forte calor afastou a multidão de pessoas que há 137 anos fazem deste feriado o principal evento religioso da capital gaúcha.

O arcebispo metropolitano de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings, o prefeito municipal, José Fortunati e o governador do Estado, Tarso Genro, dentre outras autoridades e padres da Arquidiocese, participaram da procissão.

A programação começou às 7 horas com uma Missa na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, centro de Porto Alegre. Pe. Irineu Brandt presidiu a primeira celebração e, recordando o Evangelho, destacou que a presença de Nossa Senhora na vida das pessoas serve para apontar Jesus como a salvação: “Maria nos colo-ca Jesus como um farol para nossas vidas. Queremos caminhar hoje e dizer: Eu sinto que o Senhor caminha comigo, eu sinto a presença Dele na minha vida”.

Ao final da Missa, a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes foi conduzida em procissão pelas ruas de Porto Alegre: saindo da rua Vigário José Inácio e seguindo pelas avenidas Mauá, Castelo Branco e Sertório, onde fica o Santuário de Nossa Senhora dos Navegantes. A imagem foi recebida no local por fiéis de todas as idades, com uma chuva de papel picado, aplausos e queima de fogos.

Uma Missa campal foi celebrada e presidida por Dom Dadeus. Ele destacou que na festa de apresenta-ção de Jesus, os cristãos devem agir como Simeão e contemplar a salvação que vem de Deus. Lembrando o tema da Festa de Navegantes e a Campanha da Fraternidade de 2012 que é “Saúde”, o arcebispo des-

tacou: “Temos que nos olhar como irmãos e, por isso, devemos pensar para que todos tenham acesso a uma saúde pública de qualidade”, enfatizou.

Governador e prefeito participaram da procissão

O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, parti-cipou da procissão. Para ele, a festa de Nossa Senhora dos Navegantes é a maior expressão de fé da capital: “É uma festa religiosa e cultural extraordinária. É o maior evento religioso que a cidade tem. E a prefeitura apoia de forma dobrada este ano, acabamos sendo o principal patrocinador, além de toda a infra-estrutura para garan-tir segurança e tranquilidade aos fiéis. O que demonstra a sua importância para a nossa cidade”, disse.

Já o governador Tarso Genro ressaltou a ‘solidarie-dade’ e o ‘acolhimento’ como principais características da festa dedicada a Maria: "Esse evento é forte, solidá-rio e de acolhimento para a população. A fé é um ele-mento religioso de agregação, de estabelecer vínculos e isso ocorre aqui, na procissão de Navegantes", disse.

Ordem do MéritoAntes do Início da Missa Campal, a Irmandade

de Nossa Senhora dos Navegantes fez a entrega da Ordem do Mérito de Nossa Senhora dos Navegantes. A homenagem é entregue àqueles que prestarem serviços inestimáveis para a realização da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, que é o primeiro patrimônio imaterial de Porto Alegre. Receberam a honraria, o arcebispo Dom Dadeus, e o prefeito José Fortunati. Os agraciados tiveram seus nomes apro-vados por unanimidade pela Mesa Administrativa da Irmandade.

NOTAS Posse no Legislativo: Dom Dadeus Grings participou da posse da nova Mesa Diretora da Assembleia Legislativa

do RS, ocorrida no dia 31 de janeiro. Na ocasião, o deputado Alexandre Postal foi empossado como o 53o presidente do parlamento gaúcho. O comparecimento do arcebispo à solenidade representa a presença pública da Igreja Católica junto à sociedade gaúcha e a demonstração clara de diálogo da Igreja com a classe política. O novo presidente fez questão de fazer uma menção especial ao arcebispo, agradecendo sua presença carinhosa na solenidade de posse.

PASCOM: A Pastoral da Comunicação (PASCOM) já planeja o primeiro encontro da Equipe Arquidioce-sana. Na reunião, foram acertados os detalhes para o retiro anual, planejado para o dia 16 de março. Também foi definida a realização de encontro de comunicação para os padres e reuniões com os representantes das pastorais e movimentos da Arquidiocese.

Liturgia: Pe. Gustavo Haas é o novo presidente da Associação dos Liturgistas do Brasil (ASLI). A eleição aconteceu durante Assembleia da entidade realizada no dia 3 de fevereiro, em Itaici, São Paulo. Além do Pe. Gustavo Haas, de Porto Alegre, também foi eleito para a Secretaria da entidade Frei Faustino Paludo, professor de liturgia da ESTEF.

Padres da Arquidiocese presentes no 14o Encontro Nacional de Presbíteros

O Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte (SP), acolheu o 14o Encontro Nacional dos Presbíteros. O tema escolhido para este encontro foi: “Identidade e Espiritualidade do Presbítero, no processo de mudança de época”; e o lema: “Escolhido entre os homens e constituído em favor da humanidade” (Hb 5,1). O encontro aconteceu entre os dias 1o e 7 de fevereiro.

Presbíteros provenientes das varias regiões do Brasil partici-param do encontro com desejo de dialogar, estudar, debater, rezar e celebrar a própria vida e vocação. Dom Jaime Spengler, bispo auxiliar de Porto Alegre, ressaltou a importância do encontro: “A identidade diz de um rosto, de uma feição que caracteriza o presbítero. A espiritualidade expressa aquilo que anima, sustenta e impulsiona a vida de ministros ordenados em favor do Povo de Deus, num processo de mudança de época”, ressaltou.

O Rio Grande do Sul esteve representado no encontro por 36 presbíteros pertencentes aos diversos presbitérios que compõem as quatro Províncias Eclesiásticas. Representam a Arquidiocese de Porto Alegre os presbíteros Moisés Dalcin, José Heizmann, Gelson Ferreira, Jorlei Santos, além do Pe. Loivo Koch, que se encontra no Xingu em missão naquele pedaço de chão, em nome da Arquidiocese.

Demonstração de fé repetiu-se em Porto Alegre durante a procissão de Navegantes

Mérito Cardeal Scherer entregue durante celebração eucarística

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Porto Alegre, fevereiro de 2012 - 2a quinzena

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Escolhido como tema da Campanha da Frater-nidade de 2012, a Igreja Católica tem autoridade moral para abordar esse tema. Porque, antes de qualquer outra iniciativa similar, foi ela, a Igreja, que se preocupou em agir em favor dos doentes desassistidos no Brasil. Muito antes de o estado assumir a saúde pública – o que aconteceu apenas no século 20, e assim mesmo, de forma muito pre-cária – missionários jesuítas já haviam instalado enfermarias que acolhiam doentes. Depois, ainda no século 16, surgiram as Santas Casas, também sob inspiração da Igreja. As primeiras foram as de Santos, Salvador e Olinda. E foi apenas no pri-meiro governo de Rodrigues Alves (1902-1906) que houve a primeira medida sanitarista no país. Com isso, o conceito de saúde como caridade, aos poucos, foi evoluindo para direito.

A assistência médica para a população pobre surge somente em 1923, com a criação das Caixas de Aposentadoria e Pensão, mantidas pelas em-presas que passaram a oferecer esses serviços aos seus funcionários. A União ainda não participava. Getúlio Vargas, em 1930, cria o Ministério da Educação e Saúde e as ‘Caixas’ foram substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs). Os governos militares unificaram os IAPs em 1967, criando o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Em decorrência de demanda superior à oferta disponibilizada pelo INPS, criou-se o Institu-to Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) em 1978, ajudando o trabalho de intermediação dos repasses para iniciativa privada. Antes da Constituição de 1988, só tinha acesso à saúde pública quem tinha emprego formal e con-tribuía para a Previdência

Saúde pública na UTIÉ o jargão usado por alguns setores da mídia

para descrever a situação atual. De fato, há defici-ências gritantes que afrontam a dignidade humana quando ela mais precisa de atenção. Há falta de médicos, demora para atendimento em postos, cen-tros de saúde ou hospitais e demora para conseguir uma consulta com especialistas, fazendo com que muitas vezes o paciente morra antes de realizar a consulta. E mais, os locais de atendimento deixam muito a desejar. A qualidade da saúde pública oferecida aos brasileiros ocupa lugar bem atrás de países com PIB menor, perdendo inclusive para países da África e Ásia.

O SUS – Sistema Único de Saúde – de criação mais recente, deveria ser modelo para o mundo. Mas ainda não conseguiu ser implantado em sua totalidade, nem consegue atender bem os mais necessitados. Seu desafio de curto, médio e longo prazo é avançar em direção à prevenção, pois hoje apenas consegue investir na cura de doenças

A bilionária receita previdenciária anual do Brasil – mais de 500 bilhões – não cobre as neces-sidades da saúde pública, principalmente porque da carga tributária é preciso deduzir os recursos que não pertencem ao governo e sim aos mais de 30 milhões de aposentados, o que não é benefício social. Faltam recursos ou é má gestão?

Fraternidade e saúde pública

A Igreja do Brasil propõe refletir sobre essa situação durante a Quaresma que co-meça na Quarta-feira de Cinzas, dia 22 de fevereiro próximo. Ao meditar a parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10,25-37), a Igreja entende que não é lícito delegar o alívio do sofrimento apenas à medicina: é necessário ampliar o significado desta ati-vidade humana. Quer-se, assim, atualizar a missão individual de bom samaritano que acolhe o doente à beira da estrada. Porque, mesmo obrigação do estado, cada cristão tem dever com seu próximo, espe-cialmente o que lhe é mais próximo ainda mais quando enfermo. As enfermidades, o sofrimento e a morte apresentam-se como realidades duras de serem enfrentadas e contrariam os anseios de vida e bem-estar do ser humano.

Os enfermos evangelizam: com a doença passamos a perceber o corpo como um ‘outro’, independente, rebelde e opressor. Ninguém escolhe ficar doente. A doença se impõe. Ela pode tolher nosso direito de ir e vir e é, por isso mesmo, um forte convite à reconciliação e à harmo-nização com nosso próprio ser.

A doença é também um apelo à frater-nidade e à igualdade, pois não discrimina ninguém. Atinge a todos: ricos, pobres, crianças, jovens, idosos. Com a doença, escancara-se diante de todos nossa pro-funda igualdade. Num mundo cada vez

materialista, a ética samaritana se faz ainda mais necessária para cuidar das pessoas que estão se aproximando do final de suas existências. O sofrimento humano somen-te é intolerável se ninguém cuida. Como fomos cuidados para nascer, precisamos também ser cuidados para morrer. Cuidar fundamentalmente é sermos solidários com os que hoje passam pelo ‘vale das sombras da morte’. Amanhã seremos nós.

Campanha da Fraternidade 2012

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