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UM OLHAR CONSCIENTE www.neomondo.org.br Ano 2 - Nº 19 - Fevereiro 2009 - Distribuição Gratuita NEOMON DO Construções Sustentáveis EDIçãO ESPECIAL Certificações Nova Cultura 14 Habitante sustentável Consciencia 32 Telhados verdes Alternativa 24

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um olhar consciente

www.neomondo.org.br

Ano 2 - Nº 19 - Fevereiro 2009 - Distribuição Gratuita

NeoMoNdo

Construções Sustentáveis

Edição ESpEcial

certificações Nova Cultura

14

Habitantesustentável Consciencia

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Telhadosverdes Alternativa

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neo mondo - Julho 2008 2

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Seções

Diretor Executivo: Oscar Lopes LuizConselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Takashi Yamauchi, Liane Uechi, Eduardo Sanches, Marcio Thamos, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Dilma de Melo Silva, Artaet Martins e Natascha TrennepohlRedação: Liane Uechi (MTB 18.190), Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586) e Rosane Araújo (MTB 38.300)Estagiário: Caio César de Miranda MartinsRevisão: Professor Antonio Colavite FilhoDiretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190)Diretora de Arte: Renata Ariane RosaProjeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

Correspondência: Instituto Neo MondoRua Caminho do Pilar, 1012 - sl. 22 - Santo André – SPCep: 09190-000

Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@[email protected]

Para anunciar: [email protected]. (11) 4994-1690Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

Expediente PublicaçãoA Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 30 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.

Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

Perfila Voz da natureza pela Geologia o geólogo é um intérprete das informações da natureza.

certificadoras defendem nova culturaÉ possível vencer desafios, como falta de conhecimento e mudança de paradigmas.

Dicas de livros e glossário.46

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um olhar consciente da amazônia.

neo mondo - Fevereiro 2009 3

no Prumo da construção sustentávelas construções sustentáveis representam um novo paradigma para o futuro.

10

artigo: comunidades de Bem-estar e Prevenção de acidenteso exemplo de Kobe no Japão.

17

esPecial - construções sustentáveis 10

Produtos do Bemnão faltam materiais de construção ecologicamente corretos.

18

artigo: ampliação industrial e sustentabilidade sem demagogiaanalisar um empreendimento exige uma visão holística de todo o processo construtivo.

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fiscal Da floresta

artigo: À mercê do marketingo aspecto social deve estar vinculado na concepção da sustentabilidade do setor.

21 Papel de Plástico reciclado material alternativo e ecológico está prestes a ser comercializado.

22 telhados Verdesutilizando a natureza a nosso favor.

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ações pela sustentabilidadeexemplos não faltam na iniciativa privada ou pública.

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habitante consciente em construções convencionaisÉ possível adotar uma postura ambientalmente correta sem ter que reconstruir a casa.

3232

artigo: construções sustentáveis: o Green Building no Brasil o compromisso ambiental validando a construção sustentável.

35 sustentabilidade se aprende e se faz na escolaeducação é matéria-prima de mudanças, em que a pesquisa faz a sua parte.

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artigo: técnicas e Padrões de construções sustentáveiso padrão verde atinge o segmento da construção.

hotelaria sustentávelmais do que um produto, um conceito de negócio e de vida.

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44artigo: a moderna construção sustentável. a moradia como um ecossistema particular.

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Editorial

Um olhar consciente

InstitutoInstituto

NeoMondo

NeoMondo

Desde 1987, após a divulgação do relatório “Nosso futuro comum”, encomendado

pela Assembleia das Nações Unidas à Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a palavra sustentabilidade passou a ser entoada quase como um mantra nos diálogos internacionais. O conceito de desenvolvimento sustentável, que prevê crescimento econômico, equidade social e equilíbrio ecológico passou a ser inserido nas pautas de discussões dos diversos segmentos da economia mundial. No Brasil, a discussão não é tão antiga, mas já está presente nos principais setores e o que é melhor, trazendo benefícios, melhorias e gerando mudanças de comportamento sobre como habitar o planeta sem destrui-lo. A construção sustentável é o tema desta nossa edição, que traz informações sobre os principais mecanismos adotados pelo setor, que é apontado como um dos que mais impactam no meio ambiente. Afinal, as edificações fazem parte do estilo de vida humano. Passamos a maior parte de nossa vida dentro de alguma construção, seja trabalhando, dormindo, estudando ou em atividades de lazer e convívio social. Tanto a construção quanto a operação

desses edifícios consomem grande parte dos recursos naturais, considerando-se todas as etapas dessa longa cadeia, desde a exploração da matéria-prima até a manutenção diária do imóvel, o que coloca a todos nós como agentes indissociáveis dessa necessária transformação.Os leitores poderão entender esse novo conceito que chega ao mercado imobiliário, conhecer modelos e vantagens de algumas construções sustentáveis, redescobrir técnicas do paisagismo que melhoram a eficiência e conforto dos imóveis, entender a importância da normatização e certificação, assim como o papel dos centros de pesquisas e universidades no desenvolvimento de tecnologias que preservem nossos recursos não renováveis.No perfil deste mês conversamos com o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, um intérprete das informações do planeta, que reclama cuidados e uma nova postura de cada um de seus habitantes.

Boa leitura!

Liane UechiDiretora e Redaçã[email protected]

neo mondo - Fevereiro 20094

Construções Sustentáveis

2009

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5neo mondo - agosto 2008

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O geólogo é um intérprete das informações da Natureza.Liane Uechi

Perfil

O professor e geólogo Álvaro ro-drigues dos santos, pesquisador senior V do iPt (instituto de Pes-

quisa tecnológica, da usP) e um dos maio-res especialistas brasileiros em Geologia de engenharia e Geotecnia aplicadas a obras e ao uso e ocupação do solo, analisa, em entrevista à revista neo mondo, os cami-nhos utilizados pelo homem na ocupação

Neo Mondo: Qual a relação entre a geologia e o cotidiano do homem?Santos: Para o atendimento de suas necessidades, como energia, transporte, alimentação, moradia, segurança física, saúde, comunicação, o Homem é inexo-ravelmente levado a ocupar e modificar espaços naturais das mais diversas formas (com cidades, indústrias, usinas elétricas, estradas, portos, canais, agropecuária, extração de minérios e madeira, dispo-sição de rejeitos ou resíduos industriais e urbanos), fato que já o transformou no mais poderoso agente geológico hoje atuante na superfície do planeta. Caso essas ocupações e esses empreendi-mentos não levem em conta, desde seu projeto até sua implantação e operação, as características dos materiais e dos processos geológicos naturais com que vão interferir e interagir, é quase certo que a Natureza responda através de acidentes locais (o rompimento de uma barragem, o colapso de uma ponte, a ruptura de um talude, por exemplo), ou problemas regionais (o assoreamento de um rio, de um reservatório, de um porto, enchentes, ou a contaminação de solos e de águas subterrâneas, por exemplo), consequências extremamente onerosas social e financeiramente, e muitas vezes trágicas no que diz respeito à perda de vidas humanas. Residem aí, portanto, as relações essenciais entre a Geologia e o cotidiano do homem.

Professor e Geólogo Alvaro Rodrigues dos Santos

A Voz da Natureza

GEoloGiapela

do planeta. santos, que já ocupou cargos como diretor de Planejamento e Gestão do iPt, bem como da Divisão de Geologia e de diretor geral do Dcet - Departamento de ciência e tecnologia do estado de são Paulo, acaba de lançar seu último livro “Di-álogos Geológicos”, no qual traduz as men-sagens da natureza ao homem e alerta: “é preciso conversar mais com a terra”.

neo mondo - Fevereiro 20096

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Neo Mondo: Como tem sido historica-mente a ocupação do solo pelo homem e em que ponto ele deixou de ter um re-lacionamento saudável com o Planeta? Santos: O homem paleolítico abastecia-se basicamente da caça e da coleta de alimentos vegetais e não modificava deliberadamente a Natureza. Se seu ambiente natural já não mais o atendia, procurava um novo ambiente por simples migração. No período Neolítico, que se estende de 10 mil a 5 mil anos a.C., o Homem muda drasticamente suas relações com a Natureza. Com o aumento dos indivíduos em cada grupo e o aumento de grupos disputando os mesmos espaços de abundância em caça e coleta, as migrações foram se tornando extremamente trabalhosas e problemáticas e o pressionaram ao sedentarismo e à superação dos limites ecológicos de seu hábitat, por meio da agricultura e da atividade pastoril. Essa é a essência revolucioná-ria da Revolução Neolítica: o Homem passa a garantir as condições de seu desenvolvimento e multiplicação não mais pela migração, mas pela altera-ção orientada de seu hábitat.

Neo Mondo: Desde então, quais as principais ações atuais que comprome-teram o equilíbrio e a sustentabilidade do planeta?

Santos: As principais formas de inter-venção direta do Homem na natureza geológica, por força e demanda de seu desenvolvimento tecnológico, social e cultural, são a agricultura/pecuária (por meio do desmatamento, do revol-vimento de solos, das operações de drenagem e irrigação), a exploração de florestas naturais (para fins construtivos e energéticos), a mineração (mediante à exploração de insumos minerais para a construção e para a produção de metais utilitários), a urbanização (por meio da construção e expansão de cidades e de todos os equipamentos decorrentes da necessidade de abastecimento de água, energia, alimentos e esgotamento sanitário) e a produção de energia (com as sucessivas formas de aproveitamento das fontes energéticas naturais).Há formas de interferências indiretas do Homem na Natureza, mas não menos graves, como o efeito estufa/aquecimento global, a poluição de águas superficiais e subterrâneas, etc.

Neo Mondo: Quais os principais desafios que a sociedade moderna terá para reverter esse quadro de desequilíbrio? Santos: O Homem é colocado hoje, pela primeira vez em sua trajetória, face a face com a patente finitude de muitos desses recursos e espaços, como também com dimensões inesperadas,

GEoloGiae gravíssimas, de desarmonizações ambientais provocadas pela diversida-de, intensidade e persistência de ações sobre o meio natural. Essa percepção da limitação física de espaços e recursos naturais encontra a Humanidade ainda perigosamente despreparada espiritual e culturalmente para a reação tecno-lógica e comportamental necessária a uma eficaz reversão dos processos de desequilíbrio ambiental. Nações em disputa, estruturas de poder e interes-ses econômicos fortíssimos em jogo, dissensões políticas, sociais, ideológicas e religiosas em alto nível de acirramento, disseminação comercial de uma cultura consumista compulsiva associada à pre-gação insistente de comportamentos de exacerbado individualismo, têm impe-dido, na prática, a tomada de decisões coletivas globais, decisões que necessita-riam ser entendidas e assumidas como decisões da Humanidade, decisões da espécie humana. É de se perguntar se a Humanidade conseguirá resolver essas questões todas a tempo de salvar seu único hábitat de danos irreversíveis.

Neo Mondo: Como a geologia pode auxiliar na análise, conscientização e construção de uma nova visão e menta-lidade do uso que fazemos do Planeta? Santos: A Natureza, por suas formas de relevo, sua dinâmica de superfície e sua história geológica, dá informações

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8 neo mondo - Fevereiro 2009

relevos topograficamente mais acidenta-dos e, portanto, mais instáveis geotec-nicamente. O enfrentamento técnico do problema deveria ocorrer com uma componente preventiva, especialmente no âmbito de uma eficiente gestão do uso do solo sob a ótica geológica e uma componente corretiva, no âmbito de programas de consolidação geotécnica (incluindo a indispensável remoção de edificações instaladas em áreas de alto risco com a realocação das famílias en-volvidas em áreas geologicamente ade-quadas). Sob o aspecto social envolvido no problema, são justamente as áreas caracterizadas por fatores de periculo-sidade e insalubridade (especialmente encostas íngremes e fundos de vale) que acabam oferecendo-se à população mais pobre como solução habitacional orça-mentariamente compatível com seus parcos recursos. Essa deformação sócio-urbana somente será superada com a implementação de corajosos programas habitacionais, especialmente voltados à população de menor renda.

Neo Mondo: Qual o papel da tecno-logia nas soluções para equacionar e permitir um uso consciente e racional nos processos produtivos e no dia-a-dia dos habitantes?Santos: Ao lado das mudanças sociais e comportamentais necessárias a transi-tar de um modelo vivencial altamente consumista e individualista (fonte das mais graves ameaças ambientais) para um modelo assentado em valores mais espiritualizados e humanistas, por-tanto ambientalmente harmônicos, é indispensável intensificar a busca e a produção de conhecimentos científicos e tecnológicos que tornem possível a compatibilização entre o desenvol-vimento econômico socialmen-te necessário e a decisão de conservar o ambiente e respeitar tam-

bém o direito das gerações futuras ao pleno gozo de suas vidas.

Neo Mondo: Estamos conseguindo avançar nesse sentido?Santos: Os reais avanços que vêm sendo registrados nesses últimos anos sugerem uma atitude otimista diante dos problemas colocados. Exemplo emblemático desse esforço foi a substi-tuição do gás CFC – clorofluorcarbono, antes largamente utilizado em equi-pamentos de refrigeração, produção de espumas flexíveis e recipientes tipo spray, por gases inofensivos à Camada de Ozônio, como a mistura propano/butano e o gás R-134.Na mesma perspectiva, vários centros de pesquisa dedicam-se à viabilização de produção limpa de energia através da Fusão Atômica, de aperfeiçoamentos que permitam o uso amplo de motores tipo Célula Combustível. O Brasil, com o Álcool Combustível e, agora, com o Biodiesel, deu um exemplo formidável na produção de combustíveis ambien-talmente menos agressivos. Progridem animadoramente os aperfeiçoamentos voltados a conseguir melhores rendi-mentos nos sistemas eólicos e solares de produção de energia.No campo da Engenharia Civil brasi-leira, fato alvissareiro e marcante foi a construção da pista descendente da Rodovia dos Imigrantes, na transposi-ção da Serra do Mar no Estado de São Paulo. O avançado entendimento do comportamento geológico-geotécnico das instáveis encostas da serra pro-porcionou e sugeriu uma concepção de projeto, fundamentada no uso intensivo de túneis e viadutos, e um plano construtivo cuja máxima preocu-pação foi reduzir ao mínimo possível as interferências nessas encostas. O resultado foi uma obra inteiramente harmonizada com o meio geológico e ambiental que a envolve. Um exemplo que se pode considerar clássico de um empreendimento sintonizado com os preceitos do Desenvolvimento Susten-tável, provando que essa sintonia, além de desejável, é inteiramente possível

se apoiada em um criativo esforço

de inovação tecnológica.

O Homem é colocado hoje, pela primeira vez em sua trajetória, face a face com a patente finitude

de muitos recursos e espaços naturais

“”

claras sobre suas características, seus comportamentos e suas vulnerabilida-des frente a uma possível intervenção humana. A “leitura” dessas informações que nos são passadas pela Natureza e sua “tradução” para as ações humanas de engenharia, uso e ocupação do solo é uma ação interdisciplinar, mas, sem dúvida, cabe ao geólogo a grande responsabilidade profissional pelo bom cumprimento dessa tarefa. Ainda que sempre haverá o que aperfeiçoar nessa ação técnica, eu diria que os geólogos e outros profissionais que trabalham nessa área têm cumprido bem seu papel de produzir levantamentos e orientações técnicas de boa qualidade. O problema não está aí. Está na incrível má vontade, descompromisso e, em muitos casos, na irresponsabilidade com que administradores públicos e privados lidam com essas questões. Todos sempre apostando que em suas gestões não irá acontecer nenhum desastre ou tragédia e que, se acontecer, será, como sempre, fácil e cômodo “culpar a Natureza”.

Neo Mondo: Como encontrar o equi-líbrio entre as demandas das grandes populações (habitação, por exemplo) e a exploração dos recursos naturais e, ainda, garantir a qualidade de vida? Santos: Com a convergência de ações de cunho social, cultural e tecnológi-co, que devem ser tradutoras de uma decisão política maior. Na questão habitacional e suas relações com as áreas de risco, por exemplo, se levarmos em conta o ponto de vista estritamente técnico, verificaremos que não há uma questão sequer envolvida no problema que já não tenha sido estudada e perfeitamente equacionada, com suas soluções resolvidas e disponibi-lizadas pela Geologia e pela Engenharia Geotécnica brasileiras. Essas expansões urbanas tendem, em muitas regiões

brasileiras, a progressivamente, atingir

Perfil

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As construções sustentáveis representam um novo paradigma para o futuro.Liane Uechi

especial - Construções Sustentáveis

relevância atinge também o aspecto so-cial, sendo o maior gerador de empregos diretos e indiretos no país, muito embo-ra grande parcela dos operários do setor situe-se na linha da pobreza.

as discussões e constatações da ne-cessidade de novas práticas que permitam a sobrevivência do planeta têm atingido indistintamente todos os setores da eco-nomia mundial e é claro também alcançou o setor da construção civil, que busca atra-vés de novas e antigas técnicas alternati-vas de práticas mais sustentáveis.

a definição de especialistas para o termo “construção sustentável” vai muito

A s construções fazem parte do estilo de vida humano. Dentro delas, o homem passa a maior

parte de sua existência. no entanto, elas são responsáveis por grande impacto am-biental seja pela inerente ocupação do solo, assim como pelas etapas de sua ca-deia de produção e operação, incluindo-se a extração de matérias-primas, o con-sumo de energia e a geração de resíduos. estudos apontam que o segmento conso-me de 50% a 75% dos recursos ambientais do planeta, 50% de energia, 12% de água, gera cerca de 60% dos resíduos produzi-dos e 35% das emissões de carbono. sua

além da utilização de materiais ecologica-mente corretos. “trata-se de um conceito amplo que inclui os aspectos ambientais, econômicos, sociais e culturais. ela deve ser uma construção ambientalmente cor-reta, economicamente viável, socialmente justa e culturalmente adequada e aceita” - conceituou a arquiteta silvia manfredi, diretora-geral da associação nacional de arquitetura Bioecológica - anaB-Brasil.

Para atender esses critérios, o setor de-veria adotar de início, de forma sistemática, cuidados que incluem a análise do impacto local do empreendimento, trabalho de cons-cientização junto aos funcionários e usuá-rios, redução da informalidade do segmento, agregado à melhoria de vida dos operários, preocupação com o desenvolvimento da co-munidade local, assim como atuar dentro do marco legal (impostos, licenças e alvarás).

a obra em si deveria privilegiar a subs-tituição de recursos naturais não renováveis

No prumo da coNSTRUção SUSTENTÁVEl

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por materiais de baixo impacto ambiental e de menor energia embutida, gestão e tratamento dos resíduos, não utilização de materiais po-luentes, utilização de madeiras provenientes de manejo sustentável e certificadas, e efici-ência na utilização dos materiais. a arquiteta acredita que vinculado a esses rigorosos crité-rios estaria o benefício econômico, na redução do custo operacional e de manutenção, assim como a acessibilidade à população.

o engenheiro roberto de souza, Presi-dente do centro de tecnologia de edifica-ções (cte), e do cBcs – conselho Brasileiro de construção sustentável, entende que as práticas sustentáveis também englobam programas de investimento social privado, voluntariado, educação e cultura, gestão participativa, inclusão digital, alfabetização de adultos, capacitação e desenvolvimento, combate à corrupção, combate à discrimi-nação e ao trabalho infantil e outras ações de responsabilidade social empresarial.

Para o presidente da cBcs, a constru-ção sustentável começa na fase de projeto, identificando as necessidades dos clien-tes, as condições climáticas, os materiais locais, as potencialidades e as tecnologias sustentáveis passíveis de serem desenvol-vidas e implantadas.

o Ritmo Brasileiromanfredi explicou que as mudanças

no Brasil ainda são lentas se compara-das aos países da comunidade européia. “nos países mais desenvolvidos já exis-tem edifícios “zero carbon”, ou seja, que produzem a própria energia, e a sobra da demanda é devolvida à concessionária local e o edifício ainda recebe por isso! ao invés de pagar uma conta de energia, ele vende a energia!! também já não se comercializam imóveis na comunidade européia, atualmente, sem se apresen-tar um atestado de eficiência energética

No prumo da coNSTRUção SUSTENTÁVEl

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especial - Construções Sustentáveis

do edifício” – exemplificou ela, que disse ainda que, no Brasil, as principais tecno-logias adotadas são: aproveitamento de água de chuva, reuso de água, sistemas e equipamentos de conservação de água, equipamentos e produtos com maior efici-ência energética, painéis de aquecimento solar, utilização de madeiras certificadas, utilização de tinta e colas com solventes à base de água ou naturais, dentre outros, além de gestão de resíduos em canteiro de obras e a responsabilidade social em empreendimentos imobiliários

Para souza, no entanto, o processo é irreversível. “a visão do cte, que está en-volvido em mais de 60 projetos sustentá-veis, é que, paulatinamente, estamos cons-truindo uma cultura de sustentabilidade no setor da construção” – afirmou. Para ele, há um enorme potencial para incluir as práticas socioambientais em sua ges-tão e operação, agregando valores como a ética, a transparência, a comunicação e as boas práticas de governança corporati-va. o engenheiro cita ainda a ecoeficiên-cia como uma das práticas relevantes, por meio da qual as incorporadoras e constru-toras optam por produzir mais com menor utilização de energia, água e materiais, seja graças à melhoria de eficiência nos processos existentes, seja por abordagens inovadoras em projeto, materiais, equipa-mentos e construção. “Podem-se destacar

a inovação dos projetos de edificações vi-sando à redução do consumo de energia, o reuso e a economia de água, a gestão de resíduos de obra, a coleta seletiva e a reci-clagem do lixo. trata-se de uma questão de visão estratégica e decisão empresarial que resultará em ganhos tanto para a com-panhia quanto para os clientes, a comuni-dade, a sociedade e as gerações futuras”. – defendeu.

Um novo perfil profissionalo tema tem exigido dos profissionais que

atuam na construção civil uma nova postura e atuação. tanto souza quanto manfredi acre-ditam que algumas competências precisarão ser desenvolvidas como a visão sistêmica de todo o processo e envolvidos, assim como a utilização de conhecimentos multidisciplina-res para a aplicação de ferramentas de susten-tabilidade, dentre as quais estão os estudos de viabilidade, gestão de custos, biodiversi-dade, estudos de clima e geotecnia, desenvol-vimento de produtos, eficiência energética, arquitetura bioclimática, uso racional de água, materiais sustentáveis, conforto no ambiente construído, processos e tecnologias construti-vas sustentáveis, gestão de resíduos, respon-sabilidade social, dentre outras.

custo & Benefícioos argumentos para o investimento

num edifício sustentável são convincen-tes, por se tratar de um produto com maior valor agregado e percebido. “ele é melhor em vários aspectos, desde o baixo consumo de água e energia até o alto ní-vel de conforto para seus usuários, além, é claro, dos benefícios da imagem do pro-duto e dos empreendedores” – justificou souza, que, baseado na experiência do cte, informa que pode haver um aumen-to no custo de construção entre 1% e 8%, se comparado às tradicionais. no entanto, ele aponta que diversas pesquisas ameri-canas têm comprovado que o valor agrega-do é superior aos investimentos. “outras pesquisas demonstram que um edifício certificado green building, por exemplo, pode reduzir em até 30% o consumo de energia, 35% as emissões de carbono, 30%

a 50% o consumo de água e de 50% a 90% o descarte de resíduos” - afirmou.

Para os habitantes, souza afirma que os impactos são extremamente signifi-cativos por apresentar um desempenho superior aos convencionais em diversos critérios relacionados ao conforto e bem-estar dos usuários, tais como: renovação adequada do ar, iluminação natural e adequada, temperatura, umidade, visão para o exterior, áreas verdes e de conví-vio, filtragem do ar, materiais com baixa emissão de coV (compostos orgânicos Voláteis) e sem resinas tóxicas, entre outros. “assim, a construção sustentá-vel, além de gerar redução de despesas com energia e água, também propicia um maior conforto térmico, acústico e visual aos usuários” – disse.

Habitante Sustentávela diretora geral da anaB Brasil

acredita que o comportamento ainda é fator decisivo nessa proposta. “não bas-ta investir em produtos sustentáveis, é preciso ser sustentável! isso representa 90% de comportamento e atitude e 10% de tecnologia. não adianta, por exem-plo, instalar equipamentos de redução de consumo de água e usá-la para varrer a calçada! Primeiro é preciso uma cons-cientização e mudança de comportamen-to, aí sim, adotar produtos e tecnologias mais sustentáveis” – afirmou. manfredi exemplificou também a questão da re-ciclagem de lixo. “antes de mais nada, deve-se reduzir, depois reutilizar, e so-mente depois reciclar! e tem gente que vai além e inclui mais 2 “rs”, o repensar e o recusar” – concluiu.

Não basta investir em produtos sustentáveis, é preciso ser sustentável“

Arquiteta Silvia Manfredi: “mudanças ainda são lentas”

Roberto de Souza: processo irreversível

NeoMoNdo

Água

Edição ESpEcial

A origem da vida

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um olhar consciente

www.neomondo.org.br

Ano 2 - Nº 20 - Março 2009 - Distribuição Gratuita

NeoMoNdo

Água

Edição ESpEcial

A origem da vidaNo dia 22 de março é comemorado o dia mundial da água. Esse bem precioso está

intrinsecamente ligado a vida, não apenas como componente bioquímico de seres vivos ou como fonte de sobrevivência das espécies vegetais e animais, mas também no papel fundamental

que desempenha nos processos produtivos industriais e até como elemento de valores sociais e culturais. Nossa necessidade dela é tão grandiosa que já se sabe que a possibilidade de escassez mundial pode ser fator desencadeante de sérias disputas. Nessa edição de março, nossas páginas estarão mergulhadas nesse elemento da natureza, que brota em abundância em algumas regiões

do nosso país, abençoado por quatro grandes bacias hidrográficas. Mas não é apenas de água doce que vive o brasileiro. Temos 9 mil km de costa marítima e apesar da pouca informação

que chega ao cidadão comum é nesse imenso portal que se esconde um enorme potencial de desenvolvimento. O oceano oferece mais do que praias e lazer. Fornece alimento, sal, energia, água, 50% do oxigênio que respiramos, 80% do petróleo nacional, e ainda é responsável por

95% do transporte de cargas, no comércio exterior brasileiro. Traremos um diagnóstico das águas brasileiras, que assim como o sangue para o corpo, faz pulsar a vida no planeta.

RESERVa – aTÉ dia 13/03 FEcHaMENTo – dia 17/03 ENTREGa dE MaTERial – dia 19/03

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É possível vencer desafios, como falta de conhecimento e mudança de paradigmas.Gabriel Arcanjo Nogueira

especial - Construções Sustentáveis

Certificadoras defendem

P rodutores e consumidores fiquem atentos! É preciso cada um fazer a sua parte para que o País mer-

gulhe na nova cultura de mercado com foco no desempenho ambiental, voltada à sustentabilidade. não dá mais para se acomodar ante barreiras, como a falta de conhecimento e a mudança de pa-radigmas, “que levam as pessoas a não tomarem decisões corretas ou pouco se importarem com os impactos que esse mercado causa ao planeta e os benefícios da construção sustentável”.

o apelo para vencer esses dois gran-des desafios vem, quase em uníssono, de especialistas de organismos de respeito ouvidos por neo monDo para esta edi-ção especial.

o mais enfático deles é o engenheiro civil marcos alberto casado Pereira, ge-rente técnico do Green Building council Brasil (GBc Brasil). organismo que, no País, promove o sistema leeD - leader-ship in energy and environmental Design do Green Building council united sates (usGBc). casado diz que este é “conside-rado a principal ferramenta mundial na avaliação socioambiental e no reconheci-mento de empreendimentos projetados e operados visando à diminuição dos impactos negativos ao meio ambiente”. ele cita a agência Granja Viana do Ban-co real, em cotia (sP), como a primeira construção sustentável da américa do sul pelo selo leeD. e acrescenta: outros 100 empreendimentos estão registrados em busca da certificação no Brasil.

Primeiro prédio a obter o selo LEED na América do Sul; e há estudos para tornar a certificação mais eficiente à realidade brasileira

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neo mondo - Fevereiro 2009 15

Certificadoras defendem

Para chegar a essa conquista, cada um deles “deve ser concebido, projetado e construído de acordo com as diretrizes do sistema escolhido”.

engenheiro civil há mais de 10 anos, com duas pós-graduações, casado fala de experiência própria, como gestor de obras por 7 anos na instituição financeira e coor-denador de todo o processo. “Desenvolvi e implantei o PPics - Programa Prático de im-plantação da construção sustentável, com o desenvolvimento de fornecedores, mate-riais e tecnologias a serem utilizados”.

o especialista aponta, entre as princi-pais vantagens do leeD, a possibilidade de ele ser aplicado fora dos estados uni-dos, seu país de origem, com resultados positivos ao ambiente, à saúde do ocupan-te e retorno financeiro. o GBc Brasil tem um grupo de trabalho que elabora estudo para adaptar os atuais créditos do siste-ma, para torná-lo ainda mais eficiente à realidade brasileira.

Empreendedor e equipes o selo aqua - alta Qualidade ambien-

tal, por enquanto, é o único no País com critérios brasileiros. Quem garante - e o fato é reconhecido no mercado - é o enge-nheiro civil manuel carlos reis martins, coordenador executivo de certificação da construção sustentável - Processo aqua e coordenador técnico certificação de siste-mas de Gestão ambiental iso 14000 da Fundação Vanzolini.

martins destaca aspectos que consi-dera relevantes para a mudança de cul-tura no setor, em que a importância do empreendedor e das equipes de trabalho

sobressai. entre outros, é preciso cuidar para que “o projeto do empreendimento seja gerenciado, com continuidade de equipe e responsáveis, desde o programa passando pela concepção até a realiza-ção”; o comprometimento do empreen-dedor é fundamental desde o programa - fase em que “se definem os objetivos e se analisa o custo-benefício do inves-timento”; as equipes necessitam sempre de mais tempo, nas várias etapas, para levar o projeto a bom termo - o que in-clui a participação da equipe do projeto no gerenciamento da obra. “em países onde o processo é mais organizado, como na França (o selo aqua é adaptado do modelo francês - n.r.), esse esforço inicial resulta em coerência, economias e desempenho nas fases subsequentes e, portanto, valor”, esclarece.

com a autoridade de quem é PhD e passagens em cargos diretivos no iPt e na aBnt, martins elenca entre os principais benefícios da construção sustentável: para os usuários, economia de água, energia, gestão de resíduos e manutenção, além de manutenção da atualização, do valor e da durabilidade do imóvel; a sociedade e o meio ambiente ganham em integração

interesse do cliente em primeiro lugar

O processo de certificação obedece a uma sequência lógica:

• interesse do cliente pela sua obtenção;

• critérios - pode ser uma norma existente ou desenvolvimento de específicos

• implantação do sistema ou adequação de produto/serviço, conforme critérios estabelecidos

• avaliação pelo organismo certificador

• correção de eventuais desvios

• concessão do certificador e licença para uso da marca

Fonte: ABNT

Esforço inicial no processo resultaem coerência, economias e

desempenho nas fases seguintes“”

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especial - Construções Sustentáveis

sócio-econômico-ambiental do empreen-dimento no bairro.

ao longo do mês de março, adianta o engenheiro, serão auditados os primei-ros cases do processo aqua, que se en-contram na fase programa. se atendido o referencial técnico, terão como exibir seus certificados e demonstrar as solu-ções adotadas.

Selo ecológico de produtoo instituto Falcão Bauer da Qualidade

(iFBQ) não deixa por menos quando tra-ta da necessidade de cultivar a “cultura do melhor desempenho ambiental por parte seja dos produtores seja dos consumido-res”. Quem afirma é o engenheiro civil ce-sar augusto de Paula Pinto, coordenador do Polo da construção civil do instituto. “somos a segunda organização a receber a acreditação para produtos pelo inmetro”, lembra marisa Plaza, administradora de empresas e analista de produto do iFBQ.

os dois especialistas desenvolveram o selo ecológico Falcão Bauer e enfatizam que o organismo tem presença constante em co-missões de estudos, nas quais se discutem elaborações e revisões do normas de produ-tos. “Para sistemas de gestão, nossa atuação é mais recente, mas já representativa no uni-verso da certificação”, diz o engenheiro.

Já concedido à escória de aciaria da ar-celor mittal, o selo iFBQ destina-se a mate-riais e tecnologias sustentáveis, avaliados em ensaios e auditorias in loco. cesar e marisa citam pré-requisitos para alcançar a certificação, como o atendimento a nor-mas técnicas de desempenho e legalidade da empresa (licenças, obrigações fiscais e trabalhistas). são feitas análises de carac-terização química, do ciclo de vida (acV), em que o produto é avaliado desde a en-trada de matérias-primas passando pelo

processo produtivo, utilização e destinação final. ações socioambientais do fabricante no entorno também são verificadas.

Todas acreditadas no inmetroa associação Brasileira de normas

técnicas (aBnt) é organismo-chave quan-do o assunto é normatização e também certificação. Guy ladvocat, engenheiro mecânico com 27 anos de experiência em qualidade e gerente de certificação de sis-tema da associação, explica como funcio-nam as certificadoras.

“também chamadas de organismos de certificação, são entidades que prestam serviços de avaliação de conformidade com o objetivo de certificar produtos, sistemas ou serviços. são independentes da relação cliente-fornecedor, o que dá credibilidade do processo de certificação”, diz.

ladvocat cita a variedade de atuação das certificadoras: pode ser de produtos, de sistemas ou áreas específicas - caso da construção civil. “todas têm alguma acreditação junto ao inmetro”, acentua, para lembrar que acessar o site deste instituto (www.inmetro.gov.br) é a ma-neira mais adequada de identificar as empresas habilitadas.

o especialista ressalta: “a aBnt tam-bém é organismo de certificação e opera

um programa de rotulagem ambiental para a concessão do rótulo ecológico aBnt, que pode ser concedido a construções”. a entidade representa no Brasil o Global ecolabelling network (Gen), com cerca de 30 membros pelo mundo. entre eles, rei-no unido, Japão, união européia, estados unidos, canadá, austrália e alemanha.

sinal de que o País está em boa compa-nhia quando o assunto é sustentabilidade. esta deve sempre levar em conta três di-mensões: a social, a ambiental e a econô-mica, conclui ladvocat.

Demanda

Classificação nacategoria

Pesquisa decritérios no GEN

Realiza aCERTIFICAÇÃO

Existe?

Elaboraprocedimento

Desenvolvecritérios

Faz adequação

Não

Sim

FLUXOGRAMA DO PROGRAMA DE ROTULAGEM AMBIENTAL ABNT FlUxoGRaMa do pRoGRaMa dE RoTUlaGEM aMBiENTal aBNT RÓTUlo EcolÓGico aBNT

SERViçoS

Para contatar:O GBC Brasil - por telefone: (11)4191-7805; pelo site www.gbcbrasil.or.brA Fundação Vanzolini - por telefone: (11)3836-6566, ramais 102 a 106 e 114/115; por e-mail [email protected] O Instituto Falcão Bauer - por telefone: (11)3611-1729, ramais 189 e 205 A ABNT - pelo site www.abnt.org.brPara acessar o site do Inmetro: http://www.inmetro.gov.br/credenciamento/organizacoesCredenciadas.asp#oc

Guy Ladvocat, da ABNT: também um organismo certificador

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A cidade de Kobe foi muito citada na imprensa brasileira, no ano de 2008, devido à comemoração do

centenário da imigração Japonesa no Bra-sil. em 1908, saiu do porto dessa cidade o navio Kasato maru levando a primeira leva de imigrantes japoneses para santos, que depois seguiram para trabalhar em fazen-das de café no interior de são Paulo.

esse porto sofreu o impacto de um grande terremoto que destruiu a cidade e ocasionou mais de de 6.400 mortes no ano de 1995. esse desastre deixou marcas profundas na população do país. medidas foram tomadas para reviver a cidade,e não apenas restaurar os edificios.

o terremoto deixou evidente que Kobe não estava preparada para desastres, quer no âmbito físico, econômico ou insti-tucional. a cidade precisava elaborar uma nova estratégia de desenvolvimento e, em junho de 1995, foi estabelecido o Plano de recuperação de Kobe (KrP - Kobe revival Plan), cobrindo um período de dez anos.

o objetivo do KrP era revitalizar a cidade mediante incentivos às comunidades e forta-lecimento da economia e da cultura através de um processo decisório que contava com a participação de diversas partes interessadas. a curto prazo, o foco foi a recuperação rápida da infra-estrutura urbana, enquanto a longo prazo, a meta era criar uma sociedade com capacidade de resistir à calamidades.

a estratégia de Kobe foi reconhecer e utilizar as comunidades como força propulsora do plano. em uma situação de calamidade, os grupos comunitários conseguem reagir com mais eficiência às demandas imediatas, há mais lentidão no ritmo do governo federal.

e, talvez, seja sobre esse diferencial, surgido na cidade de Kobe, que possamos refletir. um mês após o abalo, a cidade co-locou em ação planos para reestabelecer as funções urbanas, criando “comunidades de bem-estar e prevenção de acidentes” – DWcs

Disaster-preventive Welfare communities, capazes de implementar o programa de ad-ministração e superação de calamidades.

o resultado foi tão positivo que surgiu a proposta de instalação de um centro in-ternacional especializado em operações de reconstrução depois de grandes catastro-fes, usando essa metodologia.

a revitalização da cidade, além de uti-lizar um método de construção que coloca uma espécie de amortecedor de impacto - uma estrutura composta de camadas finas de chapeamento de borracha e de aço, en-tre o edifício e a terra amortece os abalos - também definiu que as medidas de prote-ção para ocorrências de calamidades devem ser classificadas em três níveis, baseados na sua temporalidade: os dois primeiros dizem respeito à emergência e assistência a curto prazo. Já o terceiro, refere-se à reconstrução a longo prazo, e precisa de um tempo maior para ser implementado, devendo usar a abordagem participativa para que se obte-nha resultados justificáveis e sustentáveis.

torna-se necessário criar uma cultura par-ticipativa, englobando a população, os especia-listas, o setor privado, as autoridades, para se

Dilma de Melo Silva

realizar mais com maior eficiência, otimizando os recursos, e deixando de lado a abordagem de cima para baixo que ignora as pessoas e “de-termina” metas, tarefas, ações e resultados.

através das “comunidades de bem-estar e prevenção de acidentes”, a cidade de Kobe foi revitalizada, surgindo, naquele local devastado pelos abalos sismicos, um lugar seguro, confortável e belo.

a cidade de Kobe é cidade irmã do rio de Janeiro, por estar entre as montanhas e o mar, por seus espaços amplos que lem-bram a cidade brasileira. e de lá nos vem um exemplo de organização comunitaria, im-prescindível em momentos de catástrofes.

Correspondente especial de Quioto – Japão

Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade

de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre

Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros.

O exemplo de Kobe no Japão.

e prevenção de acidentes

Mais de 67.000 edificações ruíram na cidade de Kobe como conseqüência do Grande Terremoto Hanshin-Awaji.

para saber mais: www. city. kobe. jp

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especial - Construções Sustentáveis

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Opções de materiais de construção ecologicamente corretos não faltam, desde a

infra-estrutura até o acabamentoRosane Araújo

T oda a estrutura de uma constru-ção atualmente pode ser ambien-talmente correta. a gama de eco-

produtos, artigos de origem artesanal ou industrializada, produzidos sem agredir o meio ambiente e a saúde dos seres vivos, é cada vez maior.

”existem milhares de opções, mas a utilização ainda é pequena”, opinou o engenheiro agrônomo márcio araújo, consultor em ecoprodutos do iDhea, instituto para o Desenvolvimento da habitação ecológica, primeiro centro de referência no Brasil para pesquisa, aplicação e uso de ecoprodutos e tecno-logias sustentáveis.

segundo ele, no Brasil este é um mer-cado praticamente virgem, ainda há muito o que explorar e faltam normas para iden-tificação e classificação de produtos. “nós do iDhea seguimos algumas regras, mas não há uma certificação”, disse.

na intenção de combater a falta de critério, o iDhea, em parceria com o ins-tituto Falcão Bauer da Qualidade (iFBQ) lançou, em novembro do ano passado, o selo ecológico Falcão Bauer, sistema de rotulagem ambiental que visa garantir o desenvolvimento sustentável de produtos e equipamentos. Foi a primeira iniciativa científica deste gênero no país, mas é co-mum em países como alemanha, Japão e eua e certamente auxiliará o consumidor na hora de escolher que produtos utilizar.

outra dificuldade apontada pelo consultor márcio araújo no setor de

ecoprodutos é a falta de incentivo do governo para quem fabrica e vende . segundo ele, uma política de incenti-vo poderia reduzir o custo, que ainda é elevado em comparação aos produtos convencionais.

“agora, com a crise econômica, hou-ve um retrocesso na construção civil e as pessoas estão procurando ecoprodutos com o mesmo preço ou, se possível, até mais baratos do que os produtos conven-cionais” revelou.

ele, porém, vê vantagens nesta mu-dança de comportamento. “isso obriga as empresas a pensarem em como vão forne-cer ecoprodutos dos quais os clientes real-mente precisem e que estejam em um cus-to razoável. o impacto disso surge quando cria cultura na própria cadeia, fabricante, revendedor e consumidor”, afirmou.

outro ponto positivo na mudança comportamental ocasionada pela crise é que tanto as construtoras quanto os in-divíduos agora preferem investir em um ponto sustentável de seus empreendimen-tos e não deixá-lo integralmente sustentá-vel, o que se aproxima mais da realidade das pessoas, que podem ajustar o projeto conforme o bolso.

”É uma postura pé no chão. conforme os investimentos dão resultado, trazem benefícios econômicos, os clientes vão querendo investir mais. os ecoprodutos devem sempre considerar os fatores ecolo-gia, economia e técnica. ecologia tem tudo a ver com economia”, finalizou.

Telhado verde também é opção, mas ecotelhas são as mais utilizadas, principalmente em construções corporativas

Forro pintado com ecotinta Plus Lisa

Estrutura formada por ecotelhas

Vista interna com ecotelha instalada

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Ecoprodutos

Opções de ecotintas desenvolvidas pelo IDHEA

Fontes: IDHEA, Arquitetura – UFSC e EPEMA – Instituto de Permaculturas e Ecovilas da Mata Atlântica

Telha reciclda - vista aproximada

Modelo de torneira Decalux, da Deca, tem potencial econômico de até 70%

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Algumas das principais opções

Concreto reciclado

Pode ser obtido a partir de matérias-primas com custo muito baixo. A contribuição para o meio ambiente é grande, já que se deixa de extrair o montante de 1.560 mil m³ de matéria-prima por ano, só no Município de São Paulo.Apenas os concretos com substâncias contaminantes, como sulfato de cálcio, cloretos e óleos podem trazer prejuízo às propriedades do concreto e não devem ser utilizados como matéria-prima. Atualmente no Brasil a aplicação mais comum do concreto reciclado ocorre em sub-base de pavimentos, de concreto ou asfalto. No entanto, quando são atingidas as propriedades especificadas, a utilização pode acontecer em qualquer situação. Estimativas da Abesc (Associação Brasileira das Empresas de Serviço de Concretagem) mostram que somente na região metropolitana de São Paulo são gerados entre 3.500 a 7 mil m³ de concreto residual nas centrais dosadoras.

Adobe

O adobe é um tijolo feito pela mistura de barro com palha, sem ser levado a qualquer processo de aquecimento. É um material construtivo bastante antigo, de muita durabilidade e indicado para regiões secas, já que para secar o tijolo é colocado ao ar livre. A construção feita com este tijolo torna-se muito resistente e oferece conforto térmico e acústico. A preparação do adobe é feita em solo argiloso. Faz-se um buraco perto do local da obra onde há solo apropriado, colocando-se água. Depois, amassa-se com os pés até sentir que tem boa liga. O barro é posto em formas de madeira, que são molhadas antes de se colocar a argila. Depois, realiza-se um processo de secura por 10 dias, virando-o a cada 2 dias. Suas vantagens perante o tijolo comum são o baixo custo, o uso de material regional e o fato de poder ser preparado no próprio local da construção.

Tintas Naturais

Elas podem ser base de terra, cal ou de minerais e não têm elementos nocivos, como COVs (Compostos Orgânicos Voláteis). São diversos os fabricantes. No caso da Ecotinta desenvolvida pelo IDHEA, a composição é de silicato de potássio, um mineral que protege e embeleza a superfície sem selar a parede ou agredir o meio ambiente. Entre suas características sustentáveis está o gasto de energia inferior e o fato de após sua aplicação 75% dos gases emitidos na queima da matéria-prima original são reabsorvidos.

Coberturas ecológicas

Telhas de barro, pedra, folhas de palmeiras, madeira, cimento armado. Essas são algumas das opções de coberturas ecológicas disponíveis, isso sem falar, é claro, do telhado verde. A mais usada em construções urbanas, porém, é a telha de material reciclado. Já existem até opções fabricadas a partir de embalagens de longa vida, pet, papelão laminado e latas recicladas. Todas têm como principal vantagem o abandono do modelo convencional de telhas, à base de amianto, mineral bastante nocivo à saúde, cancerígeno, e que já teve seu uso proibido em diversos países.

Equipamentos sanitários de baixo consumo e lâmpadas de alta eficiência energética

Dentre os produtos sustentáveis utilizados em construções com esta proposta, não dá para esquecer os vasos sanitários e pias, alguns dos campeões no quesito desperdício de água. E é por esta característica que a tendência do mercado é que cada vez mais os sanitários tenham equipamentos reguladores de consumo. Torneiras com sensor de presença e vasos sanitários com duplo acionamento são algumas opções. A linha Decalux, da Deca, é um exemplo de tecnologia a favor da sustentabilidade. As torneiras proporcionam até 70% de economia em comparação com as convencionais, pois interrompem o fluxo de água se acionadas por mais de 50 segundos ininterruptos, não liberando até que a obstrução seja removida.Ainda nesta linha, estão as lâmpadas eficientes. As mais comuns são as fluorescentes compactas, que representam um consumo de energia 80% menor e duram 10 vezes mais que lâmpadas convencionais, além de aquecerem menos o ambiente. A maior inovação na área, porém, são os LEDs, aquelas luzes que ficam acesas indicando que o aparelho está ligado ou em stand by. São luzes que desperdiçam pouquíssima energia, não esquentam, extremamente compactas, apresentam facilidade em controlar a qualidade da luz emitida e têm longevidade até cinquenta vezes superior àquela das lâmpadas incandescentes convencionais. O único inconveniente do modelo, porém, é o preço, geralmente mais do que o dobro das fluorescentes.

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Q uando falamos em arquitetura ou construção sustentável e eco-logicamente correta, temos em

mente a utilização de materiais reciclados, certificações, utilização de fontes de energia alternativa e soluções com economicidade.

no entanto, essas propostas serão apenas paliativas, caso a sua concepção não obedeça aos requisitos das normas da aBnt nBr 16.001, 16.002; e do cFc – conselho Federal de contabilidade, resolução nº 1.003/04 e a nBr t15. sem atendê-las, as soluções apresentadas se-riam apenas uma vantagem de marketing para os proprietários, sem sentido social e ambiental.

Desta forma, os profissionais e as em-presas construtoras e do segmento têm a necessidade urgente de conhecer essas normas, criando novos conceitos de proje-tos e soluções com ênfase social e ambien-tal, e então sim, receber a denominação de “construção sustentável”.

nada adianta construir uma residên-cia, comércio ou indústria com matérias-primas com caráter de respeito ecológico, se o mesmo apresentar problemas como:• índice de impermeabilização do solo

que provoque redução do nível do len-çol freático;

• barreiras para movimento do ar,• barreiras para transito de aves e ani-

mais de pequeno porte,

• índice de contribuição ao aqueci-mento global,

• barreiras para insolação,• uso de mão-de-obra sem respeito às

normas de responsabilidade social e ambiental,

• arquitetura sem respeito à cultura e tradições regionais,

• utilização de materiais sem a neutrali-zação ambiental,

• instalação em terrenos inadequados ambientalmente,

• escolha da localização sem respeito aos aspectos sociais, dentre outros.

Portanto, a questão da sustentabili-dade não pode ser avaliada apenas no método construtivo, no material empre-gado e nas soluções arquitetônicas. o aspecto social e suas interfaces ambien-tais deverão também ser observados e respeitados para receberem a denomina-ção de “sustentável”.

nos cursos de graduação de arqui-tetura e engenharia não há abordagem sobre as interfaces com as normas de responsabilidade social e ambiental. Portanto, os profissionais passam a ob-ter informações apenas depois de forma-dos, com o mercado, que por sua vez não tem, em sua maioria, um conceito ade-quado do processo, possibilitando um fluxo de informações distorcidas.

Takashi Yamauti

isso obriga os profissionais a bus-carem informações complementares, muitas vezes desvinculadas de estudo e pesquisa. Desse modo, muitos acabam ficando à mercê do marketing, perdendo totalmente a noção sobre a questão da responsabilidade e passando a utilizar-se apenas do apelo comercial.

Portanto, para uma construção ser sustentável, há necessidade do envol-vimento com pesquisas de produtos e soluções tecnológicas e inovadoras, cons-tituindo-se um grande desafio para os profissionais do setor e, ao mesmo tem-po, um novo mercado aberto.

hoje, podemos afirmar que ainda não há construção dentro deste conceito mais amplo no mercado brasileiro, apesar de existir uma série de iniciativas ambientais, desvinculadas do aspecto da responsabili-dade social, portanto com uma demanda muito grande nesse sentido.

Takashi Yamauchi é especialista em Terceiro Setor, Consultor do Sistema de Apoio

Institucional – SIAI e Consultor da Comissão de direito

do Terceiro Setor da OAB Seccional Pernambuco.

Participou do grupo de estudos para a formulação da Norma ABNT 16001.

O aspecto social deve estar vinculado na concepção da sustentabilidade do setor.

À Mercê do Marketing

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Material alternativo e ecológico está prestes a ser comercializado.Rosane Araújo

D esde 1995, a professora e pesqui-sadora do Departamento de en-genharia de materiais da univer-

sidade Federal de são carlos (ufscar), satie marinch, realiza pesquisas voltadas para o reaproveitamento de resíduos urbanos.

em 1998, a pesquisadora conseguiu firmar parcerias com empresas privadas para desenvolvimento da pesquisa que visava transformar resíduos plásticos em papel. um ano depois, porém, com a crise econômica brasileira, as parcerias foram canceladas.

somente em 2005, os estudos en-contraram apoio no Departamento de Pesquisa da empresa Vitopel, produtora de filme de polipropileno biorientado (BoPP), película usada em embalagens para contato com alimentícios. o finan-ciamento da FaPesP para o desenvol-vimento da pesquisa e o depósito de patente fecharam o ciclo necessário. em março de 2006, foram realizados os últimos testes. “a pesquisa específica demorou bastante, mas agora já temos o produto pronto, a tecnologia desenvolvi-da para ser industrializado. Já foram fei-tos testes em planta piloto, está na fase de licenciar”, revelou a professora satie. o papel é produzido à base de uma mistu-ra que pode ter composição variada (po-liolefinas, copolímeros de poliolefinas), mas em geral são utilizadas embalagens

plásticas descartáveis, garrafas de água, potes de alimentos e embalagens de ma-terial de limpeza. uma vez pronto o papel pode ser empregado em outdoors, carti-lhas, manuais, catálogos de visitas, me-nus, entre outros artigos.

“a utilização é bem variada. sua resistência mecânica e à umidade são bem maiores do que o papel comum. algumas impressões ficam bem melho-res e em algumas composições ele se assemelha ao papel couchê (comum em revistas). somente impressões à base de água como jatos de tinta e caneta hidro-gráfica é que não ficam boas, para elas é preciso mais uma etapa no tratamen-to do papel, mas a caneta esferográfica, por exemplo, escreve muito bem”, disse a pesquisadora.

e as vantagens do novo papel não param por aí. os equipamentos utiliza-dos na produção são os mesmos do filme plástico, uma infra-estrutura industrial comum, não sendo necessários equipa-mentos específicos.

“estamos aguardando a definição da Vi-topel que tem preferência no licenciamento da tecnologia. se a empresa concordar, ain-da este ano poderá ter início a comercializa-ção”, comentou a professora satie.

segundo ela, outros estudos na área de reaproveitamento de plástico estão sendo desenvolvidos na universidade.

especial - Construções Sustentáveis

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“minha proposta é tentar dar um des-tino melhor para os resíduos plásticos ur-banos pós-consumo. existe outro estudo que está sendo desenvolvido para criação de um processo mais econômico de des-contaminação de garrafas Pet, para retor-no em embalagens que tenham contato direto com os alimentos. isso ainda está em escala de laboratório, muitas empresas mostraram interesse, mas preferem espe-rar a patente. este é um dos pontos mais importantes para agregar valor”, disse. atualmente, existem opções de papel sintético sendo comercializadas, mas estas são produzidas com derivados de petróleo.

o pioneirismo da pesquisa desenvol-vida em são carlos é exatamente partir do plástico reciclado, material que seria desti-nado a aterros sanitários ou lixões.

ValE a pENa

• Para produzir 1 tonelada de papel sintético são necessários 850 kg de plástico reciclado. Com essa quantidade, pelo menos 30 árvores deixam de ser cortadas.

• O lixo brasileiro contém de 5 a 10% de plásticos, conforme o local. São materiais que, como o vidro, ocupam um considerável espaço no meio ambiente. Plásticos são derivados do petróleo, produto importado (60% do total no Brasil). A reciclagem do plástico exige cerca de 10% da energia utilizada no processo primário.

• Do total de plásticos produzidos no Brasil, só 15% é reciclado. Os plásticos recicláveis são: potes de todos os tipos, sacos de supermercados, embalagens para alimentos, vasilhas, recipientes e artigos domésticos, tubulações e garrafas de PET, que convertida em grânulos é usada para a fabricação de cordas, fios de costura, cerdas de vassouras e escovas.

Fonte: www.ambientebrasil.com.br

Professora Satie Manrich coordenou a pesquisa que contou com financiamento da FAPESP. Desde a idéia, inicial foram quase 14 anos para o produto ser finalizado

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Telhados Verdes

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As coberturas com vegetação apresentam vantagens de ordem técnica,

estética e psicológica“”

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Utilizando a natureza a nosso favor.Liane Uechi

O brasileiro, nas grandes metrópoles cercadas de cinza e concreto, conhece bem os efeitos do verão quente e úmi-

do, com temperaturas elevadas, desconforto tér-mico e o dolorido aumento na conta de energia, em função do consumo de ventiladores e apare-lhos de ar condicionado. na busca por conforto e na contramão do uso de equipamentos, está o paisagismo, que apresenta soluções e alternati-vas naturais e eficazes, sem comprometer ainda mais os recursos naturais do planeta. Por isso mesmo, nas construções sustentáveis, ele de-sempenha um papel muito importante. Diversas técnicas como: paredes verticais com plantas, uso de quebra-ventos, árvores para sombrea-mento, telhados vivos, dentre outros, ganham a cada dia mais adeptos no Brasil.

no entanto, o uso de vegetação nas edifica-ções não é uma prática nova. Quem nunca ouviu falar nos Jardins suspensos da Babilônia, datados de 450 a.c? Porém, o que a sociedade moderna está (re)descobrindo é que as plantas podem ser mais do que elementos decorativos, ou medida compen-satória pelo desmatamento do solo. o engenheiro agrônomo João manuel linck Feijó, presidente da associação Brasileira de telhados Verdes, membro do conselho do World Green roof infrastructure network e diretor da ecotelhados, explicou que a vegetação tem a característica de: amenizar a tem-peratura urbana, com economia de energia; reter a água da chuva, evitando a poluição de mananciais; limpar o ar pela fotossíntese, criar ambientes agra-dáveis e aumentar a biodiversidade.

Feijó informou que um telhado ou laje co-mum absorve o calor durante o dia e o perde durante a noite. “uma superfície vegetada perde calor por evaporação e transpiração na ordem de 500 kcal por litro d’água e outro tanto na fotossíntese. À noite, o substrato e a vegetação evitam a perda de calor. assim, usamos a natureza de forma inteligente a nosso favor, economizando energia de cli-matização de forma muito significativa” – defendeu ele.

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Telhados Verdes

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especial - Construções Sustentáveis

Por outro ângulo, a técnica ainda é uma forma de saldar o passivo ambiental contra-ído quando do desmatamento original da área urbanizada. “creio que nenhuma teo-ria de cidade sustentável estaria completa sem este item” – afirmou o engenheiro.

o agrônomo toni Backes e a arquiteta Gabi Pizzetti são outros defensores da utilização de telhados verdes. segundo Backes, no ambien-te urbano eles podem promover um efeito de resfriamento no micro-clima das áreas do seu entorno, garantindo um conforto térmico e ambiental favoráveis à ocupação humana. “as coberturas com vegetação apresentam vanta-gens de ordem técnica, estética e psicológica, em relação a outros tipos de coberturas” – ga-rantiu o agrônomo. entre as vantagens ele cita: a redução de poluição; o isolamento térmico; o equilíbrio da temperatura do ambiente e das variações de umidade relativa do ar; a retenção da água da chuva; a proteção anti-chamas; o isolamento acústico; a proteção das lajes e o consequente aumento da vida útil da estrutura; e ainda o embelezamento da cidade, reduzindo fatores que levam ao estresse humano.

ele explica que telhados vivos têm caracte-rísticas distintas das demais coberturas e que precisam ser bem planejados para funciona-rem adequadamente, sendo necessário consi-derar uma série de aspectos como o tipo mais adequado de vegetação, o peso que ela repre-senta, a inclinação das águas do telhado, sua orientação solar, escoamento das águas plu-viais absorvidas e, naturalmente, a finalidade principal que se queira atingir entre as muitas possibilidades que um telhado vivo oferece.

No BRaSilFeijó conta que no Brasil já existe tecno-

logia própria, como a desenvolvida pelo eco-telhado, que há seis anos realiza pesquisas

e atua na construção de coberturas verdes. a técnica brasileira permite vegetar pratica-mente qualquer tipo de telhado existente sem que seja retirada a cobertura original. segundo ele, trata-se de um sistema modu-lar de baixo peso (que equivale à cerâmica convencional) que já vem plantado. É colo-cada uma membrana de proteção anti-raízes, outra de retenção de água e então os módu-los vegetados. “É tudo muito simples e rá-pido. Para construções novas ele recomenda lajes planas impermeabilizadas, pois evita a utilização de armações de madeira e permite o uso da cobertura como jardim” - disse.

ele alega que o custo é similar ao telha-do convencional sendo que as vantagens são muito maiores, evidenciando a melhor relação custo-benefício.

dURaBilidadEa técnica permite a escolha de espécies

vegetais de baixa, média ou alta manuten-ção. conforme explicou a arquiteta Gabi Pi-zzetti, é possível optar por um conjunto de plantas nativas tratadas com o mínimo de

interferência ou plantas exóticas submetidas a podas de topiaria e exigentes em tratos es-pecíficos. “normalmente, recomendamos a escolha mais natural possível” – disse. uma espécie muito utilizada é a suculenta que não requer muita irrigação, manutenção de cor-te, capina, adubação, etc...

apesar de tantos benefícios, Backes en-tende que o maior entrave ainda é a questão cultural. “a crença de que as plantas são ini-migas das estruturas das construções e dos revestimentos das paredes é infundada, pois elas protegem a fachada contra o sol, a chuva e o vento. os danos só se verificam quando a parede já apresenta um processo de dete-rioração e as plantas podem vir a acelerar tal processo, aumentando fissuras e despren-dendo pedaços de argamassa de reboco, por infiltração das raízes” – esclareceu ele.

Já a durabilidade do telhado verde é a gran-de vantagem. no tocante aos itens de substrato e vegetação é indefinida, pois cria-se um ecossis-tema com condições de se perpetuar. “a lona de impermeabilização dura mais de 100 anos (esti-mativa do fabricante.)” – explicou Backes.

BENEFÍcioS do TElHado VERdE

• Controle do fluxo de água pluvial e consequente diminuição da poluição dos manan-ciais pelo arrasto de nutrientes da superfície das cidades;

• Limpeza do ar urbano pela ação da fotossíntese e aderência de material particulado ao substrato e plantas;

• Diminuição do calor urbano gerado pela acumulação nos prédios;

• Economia na energia de climatização com consequente contribuição na emissão de CO2 de geração desta energia;

• Utilização da área de cobertura, antes desprezada com o uso de telhado convencional;

• Maior durabilidade do prédio à ação das intempéries como raios solares (esquenta, esfria) e consequente vida útil do mesmo e da membrana de impermeabilização;

• Proporciona espaço para biodiversidade;

• Diminui reverberação de som aumentando conforto acústico.

Fonte: Ecotelhados

Divulgação

Toni Backes: o maior entrave ainda é a questão cultural.

Residência em Vera Cruz com o Sistema Modular ECOTELHADO

eduardo liotti

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É comum avaliarmos a participação social de uma empresa através de projetos sociais com investimen-

tos com prazo de validade determinado. nesses projetos, a comunidade recebe ajuda para uma determinada necessi-dade, seja ela, relativa a saúde, educa-ção, etc. no primeiro descompasso do mercado, tais programas são descon-tinuados e as comunidades perdem o “benefício”. esse ritual acontece porque a empresa tem um escopo e um objetivo principal: o de produzir e gerar cresci-mento econômico. como contrapartida, sobre seu lucro são gerados impostos que deveriam ser destinados pelo esta-do para suprir as necessidades ineren-tes da comunidade, dentre as quais: a educação, a saúde, a infra-estrutura, o saneamento, a moradia e demais con-dições dignas.

Quando pensamos em construções sustentáveis dentro do segmento in-dustrial, sobretudo no ramo químico e petroquímico, elas têm um papel rele-vante, principalmente num contexto de

crise financeira mundial, pois represen-tam a geração de renda através de novos postos de trabalho (temporários e fixos), a movimentação da economia e o esta-belecimento de melhores condições de vida para as pessoas.

essas ampliações proporcionam também melhorias significativas nos aspectos ambientais, principalmente na comunidade do entorno, pois uti-lizam novas tecnologias, que por sua vez propiciam melhores controles das emissões e também maior segurança nos processos.

Podemos traçar um paralelo com a evolução dos automóveis, cada vez mais seguros e com maiores controles de emis-sões atmosféricas.

Quando falamos em geração de em-prego significa a criação de novos postos (diretos e indiretos) em toda a “cadeia de produção”, isto é, uma empresa amplia sua capacidade produtiva para receber matéria-prima (fornecedores) e para en-viar aquele produto para outras empresas (clientes) que, consequentemente, tam-

Eduardo Sanches

bém ampliarão suas produções e necessi-tarão de novos colaboradores.

Desse modo, essa ampliação é be-néfica quando as regras de controle ambiental são devidamente seguidas. hoje, para uma empresa crescer e obter financiamentos, torna-se necessário que a produção ampliada siga regras mais rigorosas, como poluir menos que a pro-dução anterior.

analisar a gestão de sustentabili-dade de um empreendimento sem uma avaliação holística dessa atuação e dos benefícios de um empreendimento in-dustrial pode promover ações descabi-das e com impacto significativamente negativo para a sociedade.

Eduardo SanchesGerente de Meio Ambiente,

Segurança, Saúde e Qualidade de Grupo

Petroquímico. Professor universitário

de Gestão Ambiental e de Pós-Graduação (MBA).

Analisar um empreendimento exige uma visão holística de todo o processo construtivo.

ampliação industrial e

sustentabilidade sem demagogia

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Exemplos não faltam na iniciativa privada ou pública Gabriel Arcanjo Nogueira

especial - Construções Sustentáveis

Ações pelaSUSTENTaBilidadE

neo mondo - Fevereiro 2009

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neo mondo - Fevereiro 2009 29

A sustentabilidade plena, em que pese ainda ser “sonho de consu-mo”, “tem sido meta permanen-

te” da companhia de Desenvolvimento habitacional e urbano do estado de são Paulo (cDhu). Quem garante é o diretor técnico da empresa, João abukater neto, ex-presidente do crea-sP.

na visão do experimentado engenheiro civil, o conceito muda, “e nós procuramos implementar mais forte os instrumentos” que tornem o sonho realidade. ainda mais, lembra, quando se trata de desenvolver projetos que atendem a populações com renda entre 1 e 3 salários mínimos.

abukater esclarece que as obras em an-damento baseiam-se em novas medidas que levam em conta os avanços possíveis, como utilizar materiais de reciclagem garantida, aproveitamento da energia solar, madeiras certificadas, piso drenante, equipamen-tos de medição individual do consumo de água. “as estruturas metálicas estão entre nossas preferidas porque representam pre-servar 120 mil árvores nativas, ou 60 mil de reflorestamento, na produção anual de nossas unidades”, diz o diretor.

Novos bairros, novas cidadesabukater enfatiza o alcance socioam-

biental de projetos que a cDhu realiza na serra do mar, em cubatão (sP), que visam recuperar toda a serra com a construção de novos bairros, novas cidades. o que é possível mediante parcerias e com base em dois pilares de sustentação técnica da empresa: a alta capcitação de seus profis-sionais e a contratação de empresas geren-ciadoras gabaritadas.

entre os parceiros constantes da cDhu estão a universidade de são Paulo (usP) e o instituto de Pesquisas tecnoló-gicas (iPt), que possibilitam chegar a um

Estruturas metálicas representam preservar 120 mil árvores nativas

em projetos da CDHU“

”Ações pela

Abukater, da CDHU: ações para tornar real o sonho de consumo

empreendimento como esse, classificado pelo Banco interamericano de Desenvolvi-mento (BiD) como “o maior em andamen-to no mundo”, afirma abukater.

Para ele, “um dos papéis do governo é ser um indutor de ações que tragam bene-fícios sociais, e nesse aspecto estamos na vanguarda”. isso porque, avalia, sustentabi-lidade é necessidade, e a busca por ela deve ser constante. o que faz a empresa encarar a cada dia o desafio de efetivar ações que pro-duzam ganho de escala e redução de custos, entre outros efeitos socioeconômicos.

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a companhia em números

Na média, a empresa constrói 25 mil moradias/ano

Em 2009, a meta é atender a 41,5 mil famílias

Fonte: CDHU

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neo mondo - Fevereiro 2009

cronograma de um ano e meio para ela-boração dos projetos e contratação das obras e a conclusão do empreendimen-to em até 36 meses”. Quem esclarece é o engenheiro civil luciano ranieri, com mBa em administração para en-genheiros pelo instituto mauá de tec-nologia e em administração de Pro-jetos pela universidade de são Paulo. tanto cuidado não é pouco porque, quando estiver concluído, esse será o projeto com o maior número de solu-ções sustentáveis da instituição. “não poderia ser diferente porque ao longo do processo toda a evolução de nossos conceitos será incorporada ao projeto”,

diz luciano, gestor de Projetos, Plane-jamento e orçamento do sesc-sP. Para ele, a preocupação com a sustentabili-dade não é de hoje e mesmo as uni-dades já existentes passam por atuali-zações e modernizações que o clamor ecológico exige. “todas elas terão, a pártir deste ano, sistemas solares para aquecimento de água das piscinas, as-sim como o tratamento de água das pis-cinas passará a ser feito com ozônio”. estas e outras intervenções menores já se tornaram rotina na instituição, ga-rante o engenheiro. sobre o sesc Gua-rulhos, especificamente, luciano res-salta alguns fatores que serão levados em conta. Que o diga o termo de re-ferência que norteará a elaboração dos projetos. “Da área total do terreno, 25% no mínimo deverão ter a vegetação ori-ginal, mata primária, recuperada. os pi-sos das áreas descobertas, em sua gran-de maioria, deverão ser permeáveis, e as coberturas da edificação receber cobrimento de vegetação,apropriada à melhoria do conforto térmico e re-tenção de vazão das águas pluviais,

Evolução de conceitosconstruçao sustentável é empreen-

dimento que deve ser muito bem pen-sado desde antes de fixar as fundações. exemplo é a unidade do sesc Guaru-lhos, que até abril próximo receberá os trabalhos para escolha do escritório responsável pelo projeto arquitetôni-co, mediante concurso (interessados podem acessar http://www.internet.sescsp.or.br/sesc/licitacao/lista_con-curso.cfm). Da análise dos trabalhos por uma comissão multidisciplinar composta por arquitetos e servidores do sesc e posterior contratação do arquiteto e projetistas, “estimamos o

especial - Construções Sustentáveis

30

A CDHU, com seus projetos na Serra do Mar, pretende criar novos bairros, novas cidades

Conjuntos sustentáveis da companhia paulista de habitação são fruto de parcerias qualificadas

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neo mondo - setembro 2008 a

Para Luciano, do Sesc, a preocupação com a sustentabilidade não é de hoje

que depois serão tratatadas para reu-so”, diz. além disso, de acordo com o gestor, a consultoria de profissionais especializados servirá para avaliar a eficiência energética, bem como o de-sempenho dos sistemas construtivos, de instalações e materiais, entre outros. luciano considera relevante também o fato de o futuro empreendimento pre-ver a construção de uma estação de tra-tamento de esgoto integrada a uma es-tação de educação ambiental, com área para exposições permanentes, mini-auditório para palestras e ações educa-tivas, sala para oficinas culturais temá-ticas, viveiro de plantas e mudas, mais a pequena usina de compostagem. sem

esquecer das medidas de sustentabili-dade que levam em conta a comunida-de vizinha, que proporcionarão coleta de lixo reciclável, eliminação de fiação da rede pública aérea, arborização do entorno, atividades educativas com relação à saúde, cidadania, alimenta-ção e esporte.

sempre com foco na qualidade de vida e bem-estar das pessoas, luciano está convicto de que no sesc “agrupa-mos um conjunto de ações, procedi-mentos e programas que lhe permiti-ram um avanço na sustentabilidade em áreas que envolvem design arquite-tônico e de sistemas, especificação de materiais, operação e manutenção”.

Unidades do Sesc (na foto, o de Vila Mariana, na capital paulista) passam por atualizações e modernizações para atender ao clamor ecológico

Divulgação

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especial - Construções Sustentáveis

Habitante consciente

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É possível adotar uma postura ambientalmente

correta sem ter que reconstruir a casaRosane Araújo

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em construções convencionais

Habitante consciente

M orar em uma construção convencional não é descul-pa para deixar de lado os

conceitos de sustentabilidade. com mudança de hábitos e simples trocas de equipamentos é possível deixar o lar mais integrado com o meio am-biente. “se somente as pessoas que moram em edifícios projetados ado-tarem conceitos de sustentabilidade teremos um cenário muito infeliz, já que, mesmo em países desenvolvidos, este tipo de construção representa menos de 1% das habitações”, opinou a professora doutora da Faculdade de engenharia civil, arquitetura e urba-nismo da unicamP, Vanessa Gomes, especialista em Projetos de constru-ções sustentáveis .

Para ela, as principais melhorias podem ser feitas na gestão da água e da energia. a própria escolha dos eletrodomésticos da residência pode

ser pautada pela economia, já que, há mais de 20 anos, o país possui o selo Procel cujo objetivo é orientar o con-sumidor no ato da compra, indicando os produtos que apresentam os me-lhores níveis de eficiência energética dentro de cada categoria.

“no caso da economia de água, o que consome mais são os vasos sanitários e o chuveiro. hoje já existem válvulas de descarga com dois volumes de limpeza, não sendo necessário o uso da caixa de descarga. Já para os chuveiros existem reguladores de vazão que podem ser im-plantados, com custo baixo e que dimi-nuem a quantidade de água considera-velmente”, disse.

segundo ela, muitas vezes o que de-sestimula a implantação deste tipo de recurso é que as pessoas comparam com a economia imediata que terão na con-ta de água e luz, uma postura incorre-ta. “não pagamos o valor real dos bens

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especial - Construções Sustentáveis

como água e energia. se pensarmos que estes são produtos cuja oferta está di-minuindo, pelas regras de mercado, os preços deveriam estar subindo, mas isso não acontece, pois o setor é muito subsi-diado”, comentou.

outras saídas para adaptação das construções é o investimento em peque-nas reformas, incluindo substituição de artigos cromados, cujo impacto é gran-de, recusa de móveis com tratamentos de couro, que geralmente possuem alta toxicidade, opção por produtos de ma-deiras certificadas, substituição de lâm-padas incandescentes por fluorescen-tes, entre outras.

segundo Vanessa, sistemas de apro-veitamento de água da chuva e de aque-cimento solar também são simples de

Habitante consciente

Pequenas ações que fazem a diferença

• Optar por eletrodomésticos com o selo Procel, que aponta níveis de eficiência energética;

• Atentar para o consumo de vasos sanitários e chuveiros, se possível, incrementando reguladores de fluxo;

• Tintas, lâmpadas, móveis, tudo deve ser pensado considerando o impacto ambiental;

• Abrir janelas com frequência ajuda a melhorar a qualidade do ar e evita aparecimento de fungos;

• Procurar interagir com os elementos do edifício pode evitar desperdício, como utilização do ar condicionado em dias frescos, utilização da luz solar ao abrir cortinas, etc.

• É sempre válido lembrar um dos principais conceitos da sustentabilidade: REDUZIR- REUTILIZAR – RECICLAR

Fonte: Profª Vanessa Gomes

Sistema de capatação de água de chuva é de simples implantação e já muito utilizado em algumas regiões do nordeste.

serem implantados, ao contrário dos de reuso da água, que necessitam de inves-timento e assessoria especializada. “no caso da água de chuva, já é bastante uti-lizado no nordeste, enquanto o de aque-cimento solar já tem tecnologia consoli-dada”, afirmou.

maus hábitos utilizados na limpeza das residências também devem ser com-batidos por habitantes com consciência ambiental. a utilização de produtos de limpeza à base de solvente ou cloro deve ser evitada, pois podem causar danos à saúde. Produtos à base de água ou mais diluídos devem ter preferência.

atentar para o clima do lado de fora da casa pode evitar uso desnecessário do ar condicionado ou mesmo de ilumina-ção exagerada.

“tudo é uma questão comportamen-tal. o reaproveitamento de concreto já é feito há muito tempo no Brasil, mas an-tes não era divulgado, porque as pessoas não recebiam bem. hoje isso é visto como uma vantagem porque há uma preocupa-ção com a destinação dos resíduos. existe a consciência de que qualquer processo de produção de qualquer coisa tem que con-siderar os impactos do processo como um todo” teorizou.

iDhea

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S ustentabilidade é a palavra de or-dem na construção civil. a preocu-pação com os resíduos gerados, as

emissões de co2 e a economia de água e

energia ganharam destaque na pauta de discussões das construtoras.

esse setor é um dos que mais consomem matéria-prima e acaba sendo responsável por boa parte do uso de água e energia, bem como pela geração de resíduos provenientes de construções e demolições, totalizando milhões de toneladas anualmente.

as soluções sustentáveis, como o uso racional da água, o controle das emissões de co

2 e a economia de energia, fazem bem

para a imagem e o bolso da empresa. os ín-dices Dow Jones de sustentabilidade (Dow Jones sustainability indexes) mostram que as empresas com responsabilidade ambien-tal estão se diferenciando no mercado de ações e se beneficiando por serem conheci-das pelas suas preocupações ambientais.

o conceito de sustentabilidade está relacionado com a integração de três as-pectos distintos: ambiental, econômico e social. Quando o termo é aplicado na cons-trução civil, ele deve estar presente desde o início, ainda na elaboração do projeto, e acompanhar todo o funcionamento do em-preendimento. assim, não só os arquite-tos, projetistas e engenheiros devem estar familiarizados com o tema e cientes da sua necessidade e aplicabilidade, mas também os consumidores, na medida em que fazem um investimento inicial maior, porém com um baixo custo de funcionamento e um re-torno ambiental garantido a longo prazo.

a construção sustentável não é apenas si-nônimo de tecnologia de ponta e de alto custo, como o conceito ZeB (Zero energy Building),

no qual o prédio gera a energia que consome. mas, também, de atendimento a pequenos de-talhes que fazem a diferença ao diminuírem o desperdício e, ainda, potencializarem o desem-penho dos recursos empregados. o reaprovei-tamento da água doméstica e a utilização das águas pluviais para a irrigação do paisagismo e para o abastecimento das bacias sanitárias são exemplos de soluções sustentáveis.

em outubro de 2008, foi assinado, em são Paulo, o Protocolo da construção civil sustentável. trata-se de uma cooperação firmada entre estado, FiesP e alguns sin-dicatos e associações de são Paulo, tendo como objetivo a consolidação do conceito de desenvolvimento sustentável na cons-trução civil. as partes que aderiram ao protocolo se comprometeram a orientar os empreendedores a cumprirem a legislação ambiental e a introduzirem critérios sócio-ambientais em suas atividades, visando mi-nimizar os impactos ao meio ambiente.

a adesão das empresas ao protocolo é voluntária e as práticas sustentáveis de-vem ser priorizadas em cinco pontos: pro-jeto e desempenho, insumos, resíduos, de-senvolvimento urbano e relacionamento.

no quesito projeto e desempenho, deve ser considerado o uso racional dos recursos naturais na concepção dos empreendimentos. Dessa forma, é possível construir de modo a utilizar a iluminação e a ventilação natural, bem como usar fontes de energia renováveis, garantindo eficiência energética. Quanto aos insumos, deve-se priorizar a madeira de reflo-restamento e a utilização de produtos (areia e brita) de empresas licenciadas. no tópico re-síduo, é mencionada a resolução conama 307/02, a qual estabelece critérios para essa gestão na construção civil. assim, os resídu-

Natascha Trennepohl

os de demolições e das fases da obra devem ser encaminhados para beneficiadores licen-ciados. Por fim, os quesitos desenvolvimen-to urbano e relacionamento dizem respeito ao parcelamento do solo, minimizando-se a supressão de vegetação nativa, e à adoção de uma postura pró-ativa na conscientização am-biental e divulgação do protocolo.

as construções sustentáveis, ou Green Building como são chamadas em âmbito internacional, podem receber certificações, como a realizada pelo usGBc (united sta-tes Green Building council) baseada nas normas do leeD (leadership in energy and environmental Design) e com isso atestar compromisso ambiental.

tais certificações são disseminadas no mercado nacional através do GBc Brasil, o qual pretende propor ao usGBc uma adapta-ção das normas leeD à realidade brasileira.

em outubro de 2008, um edifício no rio de Janeiro recebeu a certificação leeD da usGBc e representou um marco para o mercado imobiliário. o impacto ambiental da construção foi minimizado a partir da instalação de vidros isotérmicos, controle de ar-condicionado individual, tratamento do ar exterior por filtragem, descontami-nação do solo, vagas especiais para veícu-los de baixa emissão de gases etc.

como pode se perceber, essas novas referências do setor são uma excelente forma de construir o ano de 2009 voltado para a responsabilidade ambiental.

construções Sustentáveis: o Green Building no Brasil

Natascha TrennepohlAdvogada e consultora ambiental

Mestre em Direito Ambiental (UFSC)Doutoranda na

Humboldt Universität (HU) em Berlim

O compromisso ambiental validando a construção sustentável.

Correspondente especial de Berlim – Alemanha

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Educação é matéria-prima de mudanças, em que a pesquisa faz a sua parte.Gabriel Arcanjo Nogueira

especial - Construções Sustentáveis

Sustentabilidade se Aprende - e se faz - na EScola

S e o País parece ainda engatinhar no quesito construção sustentável, não é o que acontece em instituições de

ensino superior como a Faculdade de ar-quitetura e urbanismo da universidade de são Paulo (Fau-usP) e o instituto mauá de tecnologia (imt). oreste Bortolli Jr, profes-sor doutor do Departamento de Projeto na Fau, fala do prédio “vivo”, projeto escolhi-do entre 20, voltados à sustentabilidade, participantes de processo seletivo na Pró-reitoria de Pesquisa da universidade paulis-ta (ver números desse projeto no Quadro). e avisa: “a Fau não engatinha no tema”.

elaborado no laboratório de informati-zação de acervo de arquitetura (labarq) da Fau e desenvolvido pela coordenadora desse laboratório, professora doutora marlene Yur-gel, com o vice-diretor, professor doutor mar-celo romero, e o professor doutor eduardo de Jesus rodrigues, a iniciativa tem a participa-ção de estagiários e alunos da Faculdade.

o edifício ficará no campus Butantã, em terreno que resultará em 7,4 mil m2 de área construída, com subsolo, térreo, 3 pavimentos e cobertura técnica. tudo em 3 blocos funcio-nais capazes de manter tanto uma indepen-dência relativa como uma interatividade. “Dois vazios entre os blocos funcionam como túneis verticais de iluminação e ventilação”, adianta o professor doutor. estão previstos no projeto um auditório, local de exposições e de encon-tro, além de laboratórios e salas de aula.

oreste define o conceito que está na essência do prédio “vivo”: ser auto-susten-

tável, o que significa ser automático em seu todo, com o gerenciamento preciso dos equipamentos e sistemas de climatiza-ção, iluminação, geração de energia, aque-cimento e consumo de água quente e fria. se não bastasse, a obra “será também um artefato didático para a pesquisa de proje-tos e edificações auto-sustentáveis”.

entre as inovações do projeto da Fau, o professor doutor cita o uso de coletores foto-voltaicos, para a geração de eletricidade, “na forma de placas em painéis posicionados na cobertura, com outras placas destinadas a re-ter o calor para o aquecimento da água”. ou-tro dispositivo, este de forma paraboloide, se destina ao fornecimento de ar condicionado.

Excedente de luz e menos água “a previsão de consumo é de 245 mil

quilowatts/hora por mês, obtidos dos pai-néis fotovoltaicos. o sistema solar acaba por gerar um excedente de luz durante o dia para ser aproveitado à noite”, contabili-za oreste. com experiência em arquitetura e urbanismo no país e no exterior, ele lem-bra outra novidade no projeto: estão previs-tas turbinas eólicas de pequeno porte para a geração de eletricidade. e esclarece:

“com a instalação de equipamentos especiais de torneiras e válvulas com siste-mas antidesperdício, pelos cálculos do pro-jeto, o consumo de água tratada poderá ser reduzido em até 30%´”. além do que, a água utilizada nos vasos sanitários será captada da chuva armazenada na cobertura.

persianas e paisagismo o prédio “vivo” leva em conta outras ino-

vações. a exemplo das persianas, a ser coloca-das na parte exterior das fachadas. “elas ser-vem como elementos de proteção solar, cujo controle será automizado por meio de senso-res, ou seja, abrirão e fecharão de acordo com a intensidade da luz solar”, afirma oreste.

Para o tratamento paisagístico, “serão adotadas espécies vegetais que se adaptem ao solo e clima da cidade universitária e que sobrevivam somente com as águas da chu-va”, explica.

amplas opções Da graduação à pós, o imt, cujo campus

fica em são caetano do sul, no aBc Paulista, oferece amplas opções. “Durante o curso de graduação de engenharia civil, nossos alunos têm a oportunidade de realizar visitas tecnoló-gicas na área da construção civil para vivenciar a atividade profissional na prática. os concei-tos sobre a sustentabilidade são inseridos nas disciplinas de graduação. na pós-graduação lato sensu, o instituto oferece, desde 2006, um mBa na área com o título de Gestão es-tratégica do meio ambiente. na graduação te-mos ainda, desde 2007, um curso superior de tecnologia, com duração de dois anos, com o título de Gestão do meio ambiente”, afirma o reitor do centro universitário do imt, profes-sor doutor otávio de mattos silvares.

o imt buca oferecer uma formação ampla e generalista sobre engenharia civil e meio ambiente, de modo a colocar no

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Sustentabilidade se Aprende -

Oreste, da FAU-USP: inovações do projeto mos-tram que instituição não engatinha no tema

e se faz - na EScola

mercado profissionais comprometidos com o desenvolvimento sustentável. “Do proje-to até a execução final da construção”, res-salta o professor doutor márcio J. estefano de oliveira, do curso de engenharia civil. ele considera positivo o fato de questões ambientais serem tema de discussões em escolas desde o ensino fundamental.

cuidados com a sustentabilidade “a educação é a matéria-prima principal

para impulsionar as mudanças. entretanto, quando se fala em construção sustentável, outros cuidados devem ser tomados, como não confundir sustentabilidade com eco-nomia de projeto, redução de mão-de-obra especializada, dispensa de consultores, economia de material e de outros insumos necessários”, diz.

a preocupação do professor doutor faz sentido porque o setor da construção ci-vil anda no fio da navalha. “Quando se fala que é o que mais impacta o meio ambiente” (com todas as implicações negativas de ocu-pação de áreas de risco, desmatamento, ge-ração de poluentes e resíduos de construção e demolição), “no entanto, é também aquele que mais benefícios traz à população com ha-

bitações, edifícios de todo tipo e obras que reduzem os impactos ambientais”.

a capacidade inesgotável do ser huma-no de encontrar soluções de problemas é posta à prova a todo momento. o ensino de engenharia civil é prova disso, ao englo-bar na área da construção civil disciplinas como materiais de construção, construção de edifícios, instalações prediais, sistemas construtivos, tecnologia das construções, arquitetura, topografia, construções pesa-das e outras. são disciplinas que, no en-tender de estefano, “além de apresentarem o conteúdo, especificam e discutem a ma-neira otimizada de se construir, ou seja, o dimensionamento e práticas construtivas que evitem desperdícios e minimizem o consumo de energia. nosso aluno recebe informações que auxiliam na concepção de projetos mais sustentáveis”.

Estudos de caso entre os diferenciais dos cursos do imt

o professor doutor ressalta a combinação do preparo do corpo docente com a reali-dade do mercado: “atuamos na concepção de projetos que sejam compatíveis com as novas exigências ambientais ditadas por

legislações brasileiras e internacionais. os conhecimentos dos professores são adqui-ridos pelos alunos em aulas e estudos de caso, que são a base e o subsídio importan-te em sua futura vida profissinal”.

seu colega de cátedra, professor hélio narchi, lembra a importância de atividades desenvolvidas nos cursos de engenharia ci-vil na linha da construção sustentável. “nos últimos anos abordamos temas como im-pacto ambiental de urbanizações, utilização de águas de chuva em empreendimentos habitacionais, condomínio ecológico e ges-tão ambiental na implantação de edifícios.

narchi lamenta que “ainda não haja normas, regulamentações legais suficientes para o amplo escopo de temas abrangido pela construção sustentável”, mas reconhe-

O prédio ‘ vivo´ será um artefato didático para a pesquisa de projetos

de edificações auto-sustentáveis“”

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especial - Construções Sustentáveis

ce que as “certificações, em especial as da linha iso 14000, são instrumentos muito eficientes para alavancar a sustentabilidade na construção. muito embora sua aplicação se restrinja a poucas empresas do setor, longe de atingir pequenos construtores”.

“pensar ambientalmente” nem tudo está perdido, porém, mesmo

ao considerar que a construção sustentável está longe de fazer parte da ordem do dia de construtoras, empresas em geral, cidadãos e onGs. o professor faz coro com outros segmentos, como o dos organismos certi-ficadores (ver matéria na página 14), que apontam entre os grandes desafios a falta de informação e conscientização da impor-tância do tema. mas vê a ação de órgãos públicos de licenciamento ambiental como algo que pode ajudar muito o desenvolvi-mento da sustentabilidade na construção.

narchi cita o semasa, de santo andré, no aBc Paulista: “nos casos previstos pela lei local, edifícios habitacionais ou comer-ciais são objeto de licenciamento ambiental em que são exigidos do empreendedor o equacionamento de questões. entre outras, a gestão adequada de resíduos de constru-ção, o reuso das sobras que ficam nas cai-xas de retenção de águas pluviais e o con-trole dos principais impactos causados pela obra”. um conjunto de medidas, na avalia-ção do professor, que faz “o empreendedor pensar ambientalmente na obra como um todo - cenário ideal para a implantação dos conceitos de sustentabilidade”.

se no setor público há bons exem-plos, a iniciativa privada também faz a sua parte, como a produção de literatura técnica disponibilizada pelo sinduscon a

seus associados, de modo a incentivá-los na prática da sustentabilidade. a lupa do professor do imt não deixa escapar nada: “há ainda os programas de qualidade de

Reitor Otávio de Mattos Silvares: da graduação ao MBA, passando por curso de tecnologia, as opções são amplas

Campus do Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia forma alunos preparados para contribuir com o desenvolvimento sustentável

pesquisa permite avanços

Roberto de Souza, engenheiro civil e doutor pela Escola Politécnica da USP, lembra a importância das pesquisas tecnológicas como aliadas do setor produtivo no desenvolvimento da construção sustentável.Mesmo porque, argumenta, em “todo o mundo, e em especial no Brasil, o assunto é novo e o desenvolvimento de produtos requer investigação, ensaios e validação, antes de serem aplicados em larga escala no mercado”. Roberto, que é diretor-presidente do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), empresa associada ao Instituto Ethos, USGBC, GBC Brasil e CBCS – Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, destaca o papel que as universidades representam. Sobretudo porque “realizam pesquisas no campo dos materiais, sistemas construtivos, eficiência energética, conforto ambiental, economia de água e modelos de avaliação da sustentabilidade”. As iniciativas acadêmicas somam-se às da indústria de materiais, por exemplo. Setor que “também faz a sua parte, ao desenvolver produtos e sistemas com características sustentáveis, já disponíveis no mercado”, afirma o especialitsa. Entre outros, ele cita componentes hidráulicos economizadores de água, componentes elétricos economizadores de energia, sistemas construtivos industrializados que combatem o desperdício e componentes de revestimentos fabricados com materiais reciclados. Embora exista uma infinidade de tecnologias em uso, das quais o mercado já tem domínio, Roberto acredita que seria necessário ampliar o seu alcance. “As dificuldades em sua adoção muitas vezes estão ligadas ao investimento necessário. Por outro lado, o aumento da demanda por produtos sustentáveis tem provocado uma diminuição significativa desses custos; há também o surgimento de novos fornecedores e com melhores preços”, conclui.

Números do prédio “vivo”

→ em 2007, a Pró-Reitoria de Pesquisa da USP recebeu 20 projetos; dos 20, 10 são selecionados

→ o projeto da FAU, cujo mentor é o vice-diretor prof. dr. Marcelo Romero, é o escolhido

→ encaminhado à Finep, o projeto recebe verba de R$ 700 mil da financiadora do Ministério da Ciência e Tecnologia

→ a Reitoria da USP destina R$ 5 milhões ao projeto

→ a soma desses recursos é suficiente para a construção das fundações

→ o custo estimado da obra é de R$ 20 milhões

→ a inauguração do prédio está prevista para 2011

→ empresas privadas interessadas em parcerias para efetivar o projeto podem contatar [email protected]

Fonte: FAU-USP

obra desenvolvidos por entidades públicas e privadas, que embora não visem exata-mente o tema da sustentabilidade, abor-dam questões a ele relacionadas”.

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Um exemplo da utilização de téc-nicas ambientalmente limpas começa a ser adotado no Brasil.

trata-se do ‘padrão verde de construção’, conhecido com leeD (leadership in ener-gy and environmental Design).

esse processo foi criado em 1998 e de-senvolvido na américa do norte pelo u.s. Green Building council (usGBc), e prevê um conjunto de normas para a construção ambientalmente sustentável. Desde que foi criado, o leeD já certificou mais de 14.000 projetos de construção, em todos os 50 es-tados americanos e mais de 30 países.

nessa esteira da certificação, vários governos estaduais e municipais dão van-tagens fiscais a quem utiliza os padrões leeD, e um grande número de prédios go-vernamentais nos estados unidos exigem empresas que sigam esses padrões.

Depois do sucesso do leeD, a unilever se uniu ao WWF (World Wildlife Fund) para criar a msc (marine stewardship council), com o objetivo de oferecer eco-selos confi-áveis aos consumidores a fim de manter o mercado ambientalmente correto e evitar boicotes. a msc funciona pressupondo vo-luntariedade e auditorias de certificação por organizações certificadoras.

em 1992, a união européia (eu eco-labelling scheme) editou a regulação 880/92, prevendo que as indústrias que

a ela aderissem fizessem produtos menos poluentes e que informassem aos seus consumidores sobre o impacto do produto que estavam adquirindo.

essa regulação continha disposições no sentido de determinar que as empresas in-formassem todo o ‘ciclo do produto’, a fim de mostrar seu impacto para o meio ambiente.

Joseph stiglitz, assessor do governo americano na era clinton e economista-chefe do Banco mundial até 2000, sugeriu um sistema de certificação similar para as madeiras nobres oriundas de países tropi-cais, em razão do desmatamento ilegal e da imensa degradação ambiental.

Propôs que a madeira fosse cortada e be-neficiada de forma sustentável para que as pre-sentes e futuras gerações pudessem aproveitar seus benefícios (ambientais e econômicos). nes-se sentido, a madeira extraída fora dos padrões convencionados não encontraria mercado.

no Brasil, o selo que garante a extra-ção legal é fornecido pelo conselho Bra-sileiro de manejo Florestal, o Fsc. o selo Fsc (Forest stewardship council) certifica áreas e produtos florestais.

na verdade, o Forest stewardship council não é brasileiro. É uma organização internacio-nal não lucrativa, criada em 1993, com sede na alemanha e patrocinada por diversas em-presas, fundações e organizações não-governa-mentais. o Conselho Brasileiro de Manejo

Terence Trennepohl

Florestal (Fsc/Brasil) é uma organização não-governamental (onG), sem fins lucrativos, e reconhecida como uma osciP (organização da sociedade civil de interesse Público).

o objetivo maior do Fsc no Brasil é facilitar o manejo sustentável das florestas brasileiras conforme os princípios e dire-trizes do desenvolvimento sustentável.

essa certificação florestal serve para garantir que a madeira utilizada em deter-minados produtos foi originada dentro de processos de manejo sustentável, de for-ma ecologicamente correta, atendendo a toda legislação ambiental vigente.

a observância a esses standards deve orientar a atuação empresarial, haja vista o irreversível mundo globalizado em que se vive, pois o comércio internacional virou prática corriqueira para qualquer consumi-dor em potencial.

Diga-se de passagem, as empresas que participaram da formação do Fsc incluem a relação de grandes produtores e beneficiado-res de madeira, dentre eles: a home Depot (maior varejista de madeira de construção do mundo); a lowe’s (segunda maior varejista de madeira); a columbia Forest Products (uma das maiores empresas de produtos florestais dos estados unidos); a Kinko’s (maior forne-cedor mundial de serviços de escritórios e cópias de documentos); a collins Pine e Kane hardwoods (um dos maiores produtores de cerejeira do mundo); a Gibson Guitars (um dos maiores produtores de violões do mun-do); a seven island company (que administra 400 mil hectares de floresta no estado do mai-ne/usa); e a andersen corporation (maior fa-bricante mundial de portas e janelas).

com isso, vê-se que as construções sustentáveis apontam para um irreversível caminho em prol do meio ambiente ecolo-gicamente equilibrado.

Advogado de Martorelli e Gouveia Advogados

Professor da UFPEMestre e Doutor em Direito (UFPE)

E-mail: [email protected]

O padrão verde atinge o segmento da construção

Técnicas e padrões de Construções Sustentáveis

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especial - Construções Sustentáveis

HotelariaSUSTEN TÁVEL

neo mondo - Fevereiro 200940

Mais do que um produto, um conceito de negócio e de vida.

Liane Uechi

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HotelariaSUSTEN TÁVEL

Mais do que um produto, um conceito de negócio e de vida.

Liane Uechi

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D esde o relatório de Brundtland, encomendado em 1983 pela assembléia das nações unidas

como tema de meio ambiente e Desen-volvimento, a sustentabilidade passou a permear como eixo central a linguagem internacional. todos os segmentos da economia passaram a colocar o assunto em sua pauta e agenda. o mesmo ocorreu com o turismo, que passou a ser valori-zado por ações que garantissem negócios “ecologicamente suportáveis em longo prazo, economicamente viáveis, assim como, éticos e socialmente equitativos para as comunidades locais” (organização mundial de turismo).

Desse modo, há várias iniciativas no Brasil onde recantos da natureza antes intocados são hoje explorados de forma sustentável, gerando ganhos econômicos e sociais, sem abrir mão da preservação da natureza.

mas há ainda alguns exemplos sur-preendentes que assumiram a respon-sabilidade de recriar espaços naturais e restabelecer sistemas ecológicos. Foi isso que fez o empresário paulista luiz França de mesquita. numa área de um milhão de metros quadrados, consti-tuída basicamente por pasto seco, ele comandou ao longo de 10 anos um re-

florestamento com espécies nativas que fez surgir bosques, recantos, trilhas eco-lógicas e proporcionou o retorno de inú-meros animais silvestres. só então im-plantou o canto da Floresta hotel, um resort ecológico, no circuito das Águas, em amparo, no interior de são Paulo.

mesquita, antes de falecer em 2008, pode comprovar os resultados desse sonho, que trouxe vida e verde àque-le trecho dos contrafortes da serra da mantiqueira. conforme explicou sua filha, Fernanda mesquita Berkovit, que atualmente divide a administração do empreendimento com o irmão luiz no-gueira de mesquita, o hóspede que visita o local, cercado por montanhas, ar puro, cortado por rio encachoeirado e marcado pela algazarra do canto dos pássaros não consegue imaginar o quadro de degrada-ção da antiga fazenda.

mesquita acredita que todo o traba-lho desenvolvido demonstra que a dis-cussão da sustentabilidade no turismo passa necessariamente por um plane-jamento de longo prazo e a percepção de que o turismo sustentável não é um produto, mas um conceito interno.

no caso do canto da Floresta, a nature-za encontrou um perseverante aliado cuja proposta ecológica era uma filosofia de vida.

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especial - Construções Sustentáveis

“Durante muitos anos, meu pai dedicou-se (nos finais de semana, férias e em todos os momentos que não se encontrava trabalhan-do) à missão de recuperar esse espaço. ele respirava natureza!” – afirmou a empresária.

De 1996 a 2005, deu- se a fase do reflorestamento. Foi feita uma parce-ria com a onG mata ciliar, que trouxe o conhecimento técnico, analisou as espécies nativas e auxiliou a criação de um Viveiro, que produziu e for-neceu as mudas para o plantio, com exceção das primeiras 97 mil mudas, que foram adquiridas.

Fernanda relata que a idéia de cons-truir um resort padrão cinco estrelas, que estivesse dentro de uma floresta e onde as pessoas pudessem conviver com elementos da natureza e valorizar sua preservação foi mantida durante as etapas da construção do hotel, que privilegiou materiais também de áreas de manejo, como madeiras certificadas. “na movimentação das terras na área onde foi levantado o complexo hote-leiro, as poucas árvores que já existiam foram transplantadas e até as grandes pedras encontradas foram recolocadas após a construção” – revelou ela. a de-finição dos espaços internos e da de-coração contemplou a milenar técnica chinesa do Feng chuí, que harmoniza

os ambientes, com cantos arredonda-dos para o fluxo de energia vital, lago interno, utilização de fibras naturais na decoração, acessórios e mobiliários. Fo-ram criados os recantos do ar, da terra, do Fogo e da Água, onde são realizadas vivências com esses elementos.

a programação para os hóspedes in-clui a educação ambiental nas trilhas, cachoeira e demais ambientes natu-rais. as crianças possuem um espaço denominado Fazendinha, onde podem conhecer e praticar atividades na horta orgânica, que abastece os restaurantes do hotel, alimentar as aves, participar de pesca ecológica, andar a cavalo, sem-pre com a proposta de integração e res-peito à natureza. até mesmo a sala de ginástica está instalada em ambiente natural, num quiosque na entrada das trilhas ecológicas.

mas a sustentabilidade envolve questões sociais, que também estão inseridas no contexto desse empre-endimento. o hotel está instalado em área rural e além do desenvolvimento inerente que ocorre na região, como melhorias de infra-estrutura e geração de empregos diretos e indiretos, Fer-nanda explicou que o hotel mantém um projeto social há dez anos, voltado às crianças do entorno, de 5 a 15 anos,

oferecendo gratuitamente em horário contrário à escola, atividades educacio-nais, esportivas e culturais com base na filosofia dos Valores humanos. Parale-lamente à construção do hotel, foi er-guido o núcleo de educação em Valores humanos, onde são realizadas essas ações sociais. conforme Fernanda, esse projeto mudou muita coisa, sobretudo na conscientização e comportamento da comunidade. “as crianças apren-dem, mudam sua postura e influenciam a família. temos muitas histórias que aferem esses resultados. no começo, em 1999, as crianças relatavam que tinham o hábito de atirar pedras nos animais que cruzavam o caminho. Dois anos depois, eles chegaram ao núcleo trazendo uma pequena ave que encon-traram com a pata quebrada, para que o veterinário pudesse ajudar. É um exem-plo pequeno, mas que mostra uma pro-funda mudança no procedimento de vida” – exemplificou.

nesse espaço também são realiza-dos atendimentos de saúde (fitoterapia e acupuntura), palestras educativas e cursos profissionalizantes para adoles-centes e adultos da comunidade, for-mando profissionais tanto para o pró-prio empreendimento hoteleiro como para o mercado em geral.

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45Neo Mondo - Maio 2008

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neo mondo - outubro 2008a

Um olhar consciente da amazônia

Fiscal da Floresta

A Revista Neo Mondo vasculha as ações e devastações da Amazônia Legal Brasileira e traz as principais novidades sobre a região.

Da Redação

44 neo mondo - Fevereiro 2009

prêmio por estudo amazônicoOs cientistas americanos Thomas Lo-vejoy, diretor de Biodiversidade do Centro Heinz para a Ciência, e William Laurance, do Instituto Smithsonian de Pesquisa Tropical, ganharam, no final de janeiro, o prêmio “Frontei-ras do Conhecimento” da Fundação BBVA, da Espanha, por suas pesqui-sas sobre a fragmentação da mata. O projeto, chamado de Biodinâmica de Fragmentos Florestais, teve início em 1979, em parceria com o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e, até hoje, gerou mais de 520 publicações científicas sobre fragmentação científica.

A revista Biological Conservation pu-blicou um estudo que alerta sobre o risco de extinção do ipê, madeira no-bre e considerada rara nas florestas tropicais brasileiras, caso sua explora-ção desordenada continue. Estima-se que, apenas em 2004, cerca de 1,1 milhão de m³ de ipê foram explo-rados, rendendo US$ 82,8 milhões aos exploradores (cerca de 8,8% do valor total de madeira exportada da Amazônia). Um dos maiores proble-mas da exploração dessa madeira é a necessidade de abrir novas áreas para chegar até ela. Em 2004, mais de 600 mil hectares de florestas fo-

ipê a beira da extinção

Novo mundo a caminhoO Ibama, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Reno-váveis, liberou uma licença definitiva para a empresa de telecomunicações Embratel para que se tornasse viável a operação de uma rede de fibras óticas na Amazônia. A implantação da rede teve início em 2005, mas atuava com uma licença ainda provisória. Após o aval, a companhia ampliou a velocida-de de transmissão de dados e pretende atingir cerca de 20 mil clientes de pe-queno e médio portes com serviços de acesso à internet e telefonia. Até ago-ra, a empresa estipula que tenha gasto 100 milhões de reais no processo.

deserto paulistaSão Paulo tem um grande problema ligado à Amazônia. Com sua vocação natural para deserto, caso os desmatamentos na região amazônica não cessem, em pouco tempo, as terras paulistas, que têm o maior potencial econômico do Brasil, irão secar. Isso só não ocorreu ainda devido à umidade do Oceano Atlântico que é “bombeada” pela Amazônia para dentro do continente, sendo responsável pela irrigação da região que é responsável por 70% do PIB da América do Sul. Continuar com o desmatamento seria dar um tiro no pé dos agronegócios.

ram devastados na Amazônia apenas para extrair a quantidade de ipê ex-portada nesse ano.

Queda no desmatamento em novembro e dezembroNos meses de novembro e dezem-bro de 2008 foram registrados, res-pectivamente, 61 e 50 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal, segundo dados do Imazon, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia. Os números apresentados indicam uma queda de 94% em relação a novembro de 2007 e de 27% em relação a dezembro do mesmo ano. Em novembro, os esta-dos que mais desmataram foram Pará (60%), Rondônia (12%), Mato Grosso (10%), Acre (10%) e Amazonas (8%). Em dezembro, o estado campeão foi Mato Grosso que devastou 65% do total, seguido pelo Pará (20%), Ron-dônia (10%) e Amazonas (5%).

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outros fatores de degradaçãoApesar do desmatamento ser o principal motivo para a destrui-ção amazônica, ele não é o único. A grande corrida pela apropria-ção das gigantescas reservas de terra e o abuso na exploração de matérias primas, principalmente minerais, também são culpados pela deterioração da Amazônia. Os critérios adotados nos mo-delos de exploração do bioma não levam em conta projetos de-senvolvimentistas sustentáveis, conduzindo à fragmentação dos ecossistemas e à erosão da bio-diversidade.

os últimos suspirosO, após mais de 175 mil imagens, deu seus últimos suspiros no dia 15 de janei-ro, segundo o Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. As imagens do saté-lite eram usadas para monitorar o des-matamento na Amazônia. O CBERS-2 foi projetado para durar dois anos, mas superou a expectativa, chegando a ter uma vida útil de quase cinco. Seu servi-ço será continuado por sua espaçonave-irmã, o CBERS-2b, lançado em 2007. Além disso, para repor o satélite, o Inpe está adquirindo novos componentes para a produção do primeiro satélite totalmente brasileiro, o Amazônia-1. O novo “olho da Amazônia” permitirá não só a cobertura da área amazônica, mas também a cobertura completa da terra, tornando o Brasil autônomo para obter imagens de média resolução.

acordo de proteção do ouro amazônicoO presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da França, Ni-colas Sarkozy, assinaram, no final de dezembro, um acordo para proteger a Amazônia da garimpagem ilegal. A proposta é preservar o ouro amazôni-co que vem sendo retirado ilegalmen-te da região norte do Brasil, das Guia-nas e do Suriname. O projeto tem o apoio de indústrias do ramo bélico e aeronáutico, além da rede ambien-talista WWF (WWF-Brasil e WWF-França), que considera a iniciativa de grande importância para o cuidado socioambiental da área.

pesquisa para recuperação ambientalO Embrapa Rondônia avaliou o de-sempenho de 11 espécies nativas da Amazônia para tentar recuperar áreas degradadas. Nos seis primeiros meses, as plantas analisadas tiveram um índice de sobrevivência superior a 99%, o que comprova que algu-mas espécies têm grande potencial para a recuperação dos locais. O ex-perimento, que ainda está em anda-mento, está sendo conduzido numa área de 3,86 hectares, localizada no Campo Experimental de Presiden-te Médici, em Rondônia. Dentre as espécies plantadas, uma das que apresentou melhor desempenho foi a guapuruvú ou garapuvú, legumi-nosa característica da floresta atlân-tica, mas que também ocorre natu-ralmente na região amazônica, que atingiu 1,6 metro de altura.

Mais de 1 milhão de assinaturasO movimento Amazônia para Sem-pre, liderado pelos atores Victor Fasa-no e Christiane Torloni, completou, no início de 2009, dois anos de existência. Nesse tempo, o programa já alcançou o apoio de 1,1 milhão de pessoas, através de assinaturas feitas pela in-ternet em um documento que pede o cumprimento do artigo 225 da Cons-tituição (elege a Amazônia como pa-trimônio nacional e diz que, portanto, é dever do governo e da sociedade mantê-la para as gerações futuras). A idéia de lançar o movimento apare-ceu quando Torloni e Fasano partici-param da minissérie ‘Amazônia’, que foi filmada no Amazonas e no Acre e contou a história de Chico Mendes. Desde que completou 1 milhão de as-sinaturas, os artistas tentam entregar o documento ao presidente.

SoS indígenaAlguns índios da Amazônia en-tregaram, no final de janeiro, um pedido de ajuda ao Parla-mento Europeu. A iniciativa tem como objetivo denunciar as precárias condições de saúde de seis tribos que vivem isoladas no Vale do Javali, no Estado do Amazonas. Após uma invasão na sala de imprensa do Fórum Social, em Belém, o porta-voz indígena declarou como “um genocídio silencioso” o que está acontecendo com essas tribos. Segundo um membro do par-lamento Europeu, as condições dessas tribos são realmente pre-cárias, nas quais mais da metade dos índios adoeceu nos últimos dois anos com hepatite e não recebeu tratamento.

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Dica

Sugestões de livros

i nsalubridadesão atividades ou operações que, por sua nature-za, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. Paulatinamente

algo feito aos poucos, com uma certa progressão de tempo. J ardins suspensos da Babilônia

considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo, os Jardins suspensos da Babilônia eram com-postos por seis montes de terra artificiais, com ter-raços arborizados, apoiados em colunas de 25 a 100 metros de altura. Foram construídos no século Vi a.c. pelo rei nabucodonosor, para agradar e consolar sua esposa preferida, semíramis, que sentia saudade

o livro reúne o histórico e os princípios nortea-dores dos estudos sobre construções e projetos sustentáveis desenvolvidos por integrantes do núcleo orientado para a inovação na edificação (norie), da universidade Federal do rio Gran-de do sul (uFrGs ).

HABITAçõES DE BAIxO CUSTO MAIS SUSTENTÁvEIS: A CASA ALvORADA E O CENTRO ExPERIMENTAL DE TECNOLOGIAS HABITACIONAIS SUSTENTÁvEISAutore: Miguel Aloysio SattlerEditora: Habitare

MANUAL DO ARQUITETO DESCALçOAutor: Johan van LengenEditora: Livraria do Arquiteto

DIÁLOGOS GEOLóGICOS: é PRECISO CONvERSAR MAIS COM A TERRAAutor: Álvaro Rodrigues dos SantosEditora: O Nome da Rosa

o livro traz um retrospecto crítico das relações do homem com o planeta, desde o Paleolítico aos tempos atuais, e uma coleção de textos ilustrados que expõem e discutem aspectos conceituais, me-todológicos e práticos dessas relações no território

brasileiro. o diferencial está na abordagem do au-tor, que aplica a grande soma de seus conhecimen-tos para demonstrar e advogar a vital necessidade da plena e cabal consideração do fator geológico pela engenharia brasileira.

além de apresentar o núcleo e sua linha de pesquisas em edificações e comunidades sustentáveis, aborda o con-ceito de sustentabilidade, seu caráter holístico, interdisci-plinar e sistêmico. É uma obra que destaca a importância de que a moradia seja projetada e construída de acordo com a ótica, a ética e a estética da sustentabilidade.

o livro foi escrito por um autor holandês que desistiu de uma bem sucedida carreira como arquiteto na califórnia para fixar residência na américa latina, no ramo de moradias populares. Depois de trabalhar em várias agências governa-mentais, inclusive a onu, e de ter sido professor de arquitetura solar na unicamP, continuou seu trabalho de desenvolvimento de tecnologias de

construção e em como transmiti-las ao usuário. Disto, resultou o “manual do arquiteto Descal-ço”, obra considerada pelos especialistas desta área como indispensável para a compreensão e emprego de tecnologias usadas na arquitetura. o autor também fundou, no Brasil, o instituto tiBÁ, criando assim um instrumento para uma arquitetura mais integrada com a natureza.

P assivo ambiental: corresponde ao investimento que uma empresa deve fazer para que possa corrigir os impactos ambientais adversos, gerados em decorrência de suas atividades e que não tenham sido controla-dos ao longo dos anos de suas operações.

a lvissareiro relativo a alvo, claro, esclarecedor, mais próximo da verdade.

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Sem dúvida

P ericulosidade: são atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo ministério do traba-lho, que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado.

P eríodo neolítico:conhecido também como idade da Pedra Polida, é o período da Pré-história em que há o surgimento da agricultura e da ativida-de pastoril, acabando com a necessidade de locomoção em busca de alimentos e, conse-quentemente, provocando o sedentarismo dos povos (moradias fixas).

das montanhas de sua terra. eram localizados perto do rio eufrates, sul do iraque, na Babilônia.

u níssono:som reproduzido em um mesmo tom por vá-rias pessoas.

v alor agregado: É a percepção que o cliente (consumidor) tem de um bem (produto ou serviço) que atenda seu conjunto de necessidades considerando o be-nefício X preço, em comparação com um bem disponível na concorrência.

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