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Edição 05 da revista Muay Thai em Foco

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Revista especializada em Muay Thai tradicional.

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Contato

Equipe MTF

Agradecimentos

Editorial

Supervisão geral: Tiago SimãoEditoração e Design: Arnaldo Rafael Morelli

Jeferson VulpePaulo KawaiReni FragaSandro de Castro Thiago TeixeiraRob Cox Gustavo TeixeiraLucas Nasser

Edição 05.

A edição 05 é dedicada a todos que correm atrás daquilo que amam, seja por prazer, ou por comida na mesa.

Deixo meus pêsames a família e amigos de Leandro “Feijão” morto esse mês por AVC perdendo peso para lutar.

“Você é o único representante do seu sonho nesse mundo” Emicida.

Tiago Simão.

[email protected]

02 DEZEMBRO 2013

Entrevistamos Rob Cox

pag. 04

Paraíso chamado Koh Samuipag. 06

O corte depeso e suacategoriapag. 10

O Muay Thai no Brasilpag. 12 Tradição no Ram

Muay Way Kry pag. 22

O Muay Thai tem dono

pag. 14

Lendas do MuayThai - Parte 3pag. 18

Paiojnoi Muay Thai

Camppag. 08

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Senhor Cox, agradeço sua participação nessa entrevista, aqui no Brasil estamos mostran-do o verdadeiro Muay Thai as pessoas, ain-

da É um começo, mas estamos evoluindo bem.

MTF: Sua profissão È Jornalista, certo? Sempre trabalhou cobrindo artes marciais?

Cox: Não, estou nessa área a mais ou menos 10 anos. Eu estava vivendo, treinando e as vez-es lutando na Tailândia quando um site convidou pessoas para manter informaÁıes sobre o Muay thai de vários locais do mundo, eu me ofereci para mandar da Tailândia, e comecei assim.

MTF: O senhor está na Tailândia a quantos anos? E porque escolheu a Tailândia?

Cox: Vim a primeira vez a Tailândia com 22 anos de idade, eu já treinava na Iglaterra e alguns amigos já haviam treinado aqui, visto lutas no Lumpinee e etc, sendo assim, tirei férias e vim para cá, fiquei apaixonado e sempre voltava. Fi-nalmente 11 anos atras voltei para treinar e lutar, mas uma coisa levou a outra e fiquei.

MTF: Você o proprietário do camp Kiatphontip, pode nos falar um pouco sobre ele?

Cox: Kiatphontip gym começou com o pai de minha esposa 15 anos atras, o irmão de minha esposa era um bom boxeador do campo e queria começar seu próprio campo quando se aposen-tasse, sendo assim construímos o campo atual cerca de 5 anos atras no arredores de Bangkok e estamos indo bem.

MTF: Em sua opinião qual o melhor nak muay em atividade?

Hoje com certeza, Saenchai È o n˙mero um peso por peso. Yodwicha È muito forte e muito duro, mas ele tem uma grande vantagem na altura em relação ao Saenchai.

MTF: Após tantos anos na Tailândia o Muay Thai ainda o surpreende?

Cox: Sim, a Tailândia sempre me surpreende. Eu penso que n„o importa quando tempo você passe

aqui, sempre haverá uma atração, uma surpresa.

MTF: Como você vÍ esse interesse crescente no Muay Thai pelos ocidentais? Culpa talvez do sucesso que o Buakaw fez no K1?

Cox: Não. O Muay Thai È um esporte muito ex-citante, e hoje a influência do MMA/UFC esta aju-dando muito nesse interesse no Muay Thai.

MTF: Qual a melhor luta que você já assistiu?

Cox: Para ser honesto, já assisti muitas lutas boas que mau lembro. Mas uma que posso citar recente foi Pornsaneh vs Pakon no Lumpinee. O quarto round foi algo incrível, procure no youtube, eu tive a grande sorte de estar lá ao vivo do lado do ringue fotografando.

MTF: Sobre as apostas, muitos dizem que está acabando com o Muay Thai, outros dizem que È a alma do esporte, qual sua opinão?

Cox: Com certeza está causado um efeito neg-ativo no esporte já que os apostadores possuem muito poder e influência em como as lutas são ju-lgadas.

Cox: Existe muita mais excitação em lutas com apostas que envolvam muito dinheiro, mas ao mesmo tempo se torna algo noviço ao esporte, justamente pela corrupção que o grande volume de dinheiro pode causar.

MTF: Conhece algum lutador brasileiro?

Cox: Sim, conheço Cosmo Alexandre, já o vi lu-tar algumas vezes, Leo Monteiro, Julio Borges que já lutou contra o Buakaw alguns anos atrás e que ficou em meu campo. O Brasil possui lutado-res muito fortes, com bom estilo de luta e grande coração.

MTF: Mais uma vez agradeço pela entrevista senhor Cox, deixe um recado aos leitores brasile-iros que conhecem e admiram seu trabalho.

Cox: Obrigado! Sou muito fã do Muay Thai e go-staria de mais pessoas pelo mundo conhecendo sobre, espero que gostem do meu trabalho.

Entrevistamos

CoxRob

04 DEZEMBRO 2013 DEZEMBRO 2013 05

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Situada no golfo da Tailândia, a cerca de 80 km da costa de Surat Thani a ilha de Samui permaneceu intocada até a década de 70

quando foi descoberta por mochileiros e a notícia de sua beleza se espalhou mundo afora atraindo turistas de todos os cantos do planeta. Hoje pas-sados mais de 40 anos e apesar de todo o desen-volvimento ainda consegue manter toda a bele-za e encantos naturais que fazem da ilha um dos destinos turísticos mais procurados da Tailândia.

Suas praias são fantásticas, as mais badaladas na parte leste da ilha são Chaweng e Lamai onde estão concentrados a maiorias dos hotéis, bares, discos e restaurantes e também os 2 estádios de muaythai da ilha onde pode-se assistir lutas dia-riamente. Para quem prefere tranqüilidade e con-tato com a natureza as praias de Maenam e Bang Por no norte da ilha são as melhores opções.

As opções de hospedagem são para todos os bolsos, desde bungalows de madeira na beira da praia que custam menos de trinta reais a diária até os mais luxuosos hotéis de categoria cinco es-trelas.

Outra opção de passeio próximo a Samui é a ilha de Koh Phangan, famosa pela Full Moon Par-ty, considerada a maior festa de praia do mundo, onde na noite de lua cheia consegue reunir até vinte mil pessoas vindas de todas as partes do globo exclusivamente para o evento que acontece uma vez por mês. Para os praticantes de mergul-ho a ilha de Koh Tao é o melhor destino. O parque nacional marinho de Ang Thong com mais de 40 ilhas também é um passeio imperdível para quem visita Samui.

O paraísochamado

KohSamui

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A ilha paradisíaca de Koh Samui é o mais novo “hotspot” da Tailândia! Por quê?!

Simples, o famoso e conceituado Mestre Pairo-jnoi recentemente abriu as portas do seu campo, o Pairojnoi Muaythai Camp, que tem a intenção de reunir num só lugar a tranquilidade de uma ilha sem o tráfico sem fim de Bangkok, as praias e o maravilhoso clima, com o treino forte, original e adequado dos campeões de Bangkok.

Essa é a missão e a finalidade do Pairojnoi Muay-thai Camp: Um treino de alto rendimento e quali-dade para todos os objetivos, seja aprender, per-der peso, melhorar a sua técnica ou treinar para sua carreira no mundo da luta.

A idéia do Pairojnoi Muaythai Camp como quando a antiga casa e campo no qual o Mestre Pairojnoi era o treinador chefe, o Famoso Romsrithong, foi forçado a terminar, pois o dono aprensentou má saúde e não pode continuar mantendo o campo.

Então o Mestre Pairoj so pôs a planejar e o sonho pareceu mais próximo da realidade quando o apo-io da equipe MAVORS MMA GYM chegou, e as obras começaram...

Hoje a academia está a todo vapor e já têm os primeiros clientes que estão adorando suas férias na ilha da Koh Samui, que reúne a praia incrível, os restaurantes com os melhores pratos tradicio-nais tailandeses e também estrangeiros, as fes-tas e é claro o contato com a natureza e muito mais... Não erre na hora de escolher onde vai passar essa experiência mágica que é beber do muaythai na fonte.

PairojnoiMuay Thai Camp

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MMA Antigamente, na época do Vale-Tudo, lutava-se sem um limite de tempo e de peso previamente estipulados. Quem não

se lembra das primeiras edições do UFC, onde lutadores faziam combates que duravam até 40 minutos, sem falar na discrepância de peso en-tre eles. Atleta de 70 kg enfrentando adversári-os já com três dígitos na balança era comum nos primórdios do que é hoje o MMA.

Com a evolução natural do esporte veio a neces-sidade de separar a luta por rounds e estipular um tempo para eles e, além disso, criar catego-rias de peso para os atletas. Era o início de uma modernização do esporte e adequação do MMA a regras mais humanas. Mas ainda hoje há, na minha visão, falhas que precisam ser analisadas

para se preservar o espetáculo. Quantas vezes você já ouviu falar em lutadores que perdem ou ganham peso para lutar em uma determinada cat-egoria? Essa prática de ganho ou perda de peso acontece no Judô, no Boxe e em vários outros esportes, porém a prática é muitas vezes con-denável. Até se admite um lutador perder dois, três, até quatro quilinhos para se enquadrar em uma cat-egoria em que queira lutar. Mas perder 10, 12, 15 quilos em um prazo de 24 horas para lutar é desumano. Não precisa ser nenhum expert em educação física ou fisiologia para saber que essa prática é insana. Infelizmente esta prática é co-mum.

Até onde vai a responsabilidade do atleta, da equipe, do treinador e, principalmente, da organi-

zação de um evento que permite isso. Lembrando que a prática não é imposta por nenhum evento. A responsabilidade do ato é de inteira responsabili-dade do atleta e seu staff.

No dia 26 de setembro o atleta de MMA da equipe Nova União, Leandro Feijão, morreu subitamente logo após uma série de atividades para perda de peso. Logo surgiram hipóteses ligando a morte do rapaz a práticas “milagrosas” de perda de peso. Leandro morreu vítima de um acidente vascular cerebral. O Lutador teve o AVC minutos depois de uma atividade física desgastante.

O que causou o derrame cerebral em Leandro foi a maratona de exercícios a que teve que passar para se adequar ao peso ideal? Não sei. O que sei é que, infelizmente, mais uma vez alguém tem que

morrer para que o debate acerca de um assunto venha a tona. Os órgãos competentes, equipes e lutadores teriam que se unir para que esses mét-odos sejam revistos a fim de segurar, além de um bom evento, principalmente a boa saúde dos atle-tas. Já houve casos em que um atleta perdeu 15 quilos em um dia para lutar. Isso é surreal. Sem-pre fui defensor de atletas se pesarem apenas no dia do combate, e não um dia antes, como é feito. Isso ajudaria, e muito, a evitar esse tipo de coisa. Nós, jornalistas esportivos, os atletas, treinadores e dirigentes do MMA deveríamos debater mais so-bre isso. Pois procedimentos como esses feitos para emagrecer a todo custo nada tem a ver com saúde. A saúde dos atletas deverá sempre ser pri-oridade.

O corte

e sua

por Lucas Nasser

categoriade peso

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Todos nós fãs, amantes, praticantes e admi-radores dessa arte marcial maravilhosa que é o muaythai conhecemos, mesmo que seja

só de vista a maioria dos nakmuays que lutam a nível internacional e que estão sempre protago-nizando as lutas mais emocionantes que assisti-mos... Ou vai me dizer que você nunca ouviu falar do Saenchai? Buakaw?

Pois bem, o intuito desta nova coluna na Muaythai em foco é de nos familiarizarmos também com os nossos guerreiros tupiniquins que estão fazendo bonito, seja no cenário nacional ou no internacio-nal! E para a estréia em alta classe teremos um guerreiro de verdade, que saiu do Brasil com um sonho e hoje é um dos nomes mais fortes na cat-egoria a nível mundial.

Nome: Thiago TeixeiraIdade: 25 anosCategoria: 70-72.5kgCartel: 80 lutas, 62 vitorias, 17 derrotas, 1 empate, 34 KOsTítulos: Campeão Z1 World Muaythai Series 2010 -72kgCampeão Queens Cup 2011 vs Nonsai sor Sanya-korn -70kgCampeão Intercontinental WMF 2012 -72kgCampeão Intercontinental WMC 2013 -72kgEquipe: WMC Lamai MuaythaiLema: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum porque Tu estás comigo.”

Thiago Teixeira é hoje um dos maiores e mais

fortes nomes da categoria 70-72.5kg no cenário mundial do muaythai, tendo enfrentado os top thais e estrangeiros da categoria. Thiago é paulista, nascido na freguesia do O, porém mudo-se e viveu na brasilândia até vir para a Tailândia e começou a treinar o muaythai com 16 anos de idade, apaixonado pelo muaythai, com um sonho e muita força de vontade, superou todas as dificuldades e conseguiu alcançar o primeiro dos seus objetivos: Ser um nakmuay na Tailân-dia. Os 4 anos morando no Meca do muaythai o fez um perigosíssimo nakmuay, tendo a técnica e a malícia dos thais, e a força descomunal do seu boxe, que é a sua marca registrada. Tendo enfrentado os tops thais da categoria tais como Sayiok Pumphanmuang, Eakpracha Meenayo-thin, Samranchai 96Peenang e nocauteado a fera Nonsai Sor. Sanyakorn, Thiago conseguiu através de muito esforço, suor – e sangue - ser rankeado pela WBC Muaythai (World Boxing Council) e é at-ualmente o 15º melhor nakmuay do planeta, den-tentor de títulos mundiais e internacionais. Tam-bém conhecido e frequentemente presente nos grandes eventos na Tailândia, como o aniversário do Rei, da Rainha, do Príncipe, o Torneio da Toy-ota e outros super shows fazem com que Thiago seja um dos melhores nakmuay que o Brasil já produziu.

Grande ser humano e com um coração gigante, Thiago sempre ajuda a todos e é uma pessoa super humilde. De volta ao Brasil pela primeira vez em outubro desde que saiu em busca dos seus sonhos em 2009, Thiago estará ministrando seminários pelos país, compartilhando seus con-hecimentos e suas experiências que com certeza são muito interessantes!

Abaixo uma mensagem do nakmuay para os leitores:

“Basicamente, a luta é mais do que apenas um esporte e, mais do que um treinamento físico. To-dos nós diariamente temos que enfrentar algumas batalhas, em situações pequenas ou maiores. To-dos nós temos de dar o máximo, soco e ponta pés para tirar os obstáculso e negatividade para fora de nossas vidas. Nós sempre temos que en-trar no ringue e lutar por nossos sonhos, lutar por melhores condiçoes de vida. Nós lutamos e nos esforçamos e só depois comeremos os frutos do nosso trabalho. Isso é a vida e é também a vida no Muaythai. O combate e o treinamento me dão a força física e mental para viver e me manter. Para mim não é apenas um esporte, eu adaptei o estilo de vida, eu vivo o Muaythai, eu faço parte dele e ele é uma parte indispensável de mim. E que DEUS esteja em sua vida!”

Brasileirosno Muay Thai

ThiagoTeixeira

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Page 8: Edição 05 da revista Muay Thai em Foco

Os charlatões do esporte e os mistérios que travam o desenvolvimento da arte tailand-esa no Brasil.

O que é lenda e o que, de fato, é verdade sobre o Muay Thai no Brasil? Porque temos tantas voz-es para falar em nome do esporte? Até que ponto estas organizações ajudam a divulgar e organizar nosso esporte?

É claro que qualquer esporte deve ser regulam-entado, organizado e desenvolvido, este deveria ser o papel das confederações, federações e af-ins. Os estados ou o Governo Federal, através de suas secretarias e órgãos ligados ao esporte, re-passariam uma quantidade de dinheiro para que

essas “empresas” que cuidam do esporte possam difundi-lo cada vez mais, com a realização de campeonatos, seminários e etc.

Note que falei em empresas propositalmente, pois o que era para ser uma organização sem fins lu-crativos, com o passar dos anos virou uma dispu-ta pelo comando do esporte no Brasil.

Façamos uma analogia com o futebol, todos sabem que a famigerada CBF, órgão que man-da (e desmanda) no futebol brasileiro, ajuda mui-to pouco na promoção do nosso futebol. A rec-lamação de clubes e jogadores com o calendário apertado, campos em péssimo estado e outros problemas é recorrente.

O Muay Thai

tem

dono?

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Page 9: Edição 05 da revista Muay Thai em Foco

Em matéria publicada no site do jornal Estado de S. Paulo (nota de 2010) consta que a CBF conta hoje com patrocinadores como o Grupo Pão de Açúcar, Gilette, Nestlé e Nike. O que garante por ano a confederação uma renda de R$ 220 milhões de reais. Isso sem falar nos cachês milionários que a CBF recebe com os jogos da seleção pelo mundo. Nenhuma confederação no Brasil se com-para com a poderosa CBF, mas é só para ilustrar como este pode ser um bom negócio. Sem falar na vaidade pessoal, afinal, falar que é o coman-dante de uma modalidade esportiva em seu país certamente mexe com o ego de muitos.

Agora te pergunto, onde está esse dinheiro? Nos campos esburacados, nos estádios horríveis, na logística de se fazer campeonatos rentáveis?Voltemos ao Muay Thai verde e amarelo, teori-camente, quanto mais pessoas cuidando do es-porte, melhor, certo? Errado!

Na prática o que vemos é a total falta de diálogo de uma entidade com a outra. Vale ressaltar que

entos por montar academias e federações para surfarem na onda do momento.

Vá atrás do histórico do seu professor, de quem ele é quem foi, o que ele já fez pela modalidade.Falsificam o Muay Thai, desvirtua-se a filosofia e negam a história do esporte aos alunos. O resul-tado são mestres falsos, alunos alienados e insti-tuições que nada acrescentam ao Muay Thai.

Porque a cada dia que passa se multiplica o núme-ro de entidades que “cuidam” desses esportes?E começa no Brasil uma movimentação para sa-ber de quem é a “paternidade” do nosso MMA. Há nos bastidores uma disputa para saber quem assumirá o comando da entidade que definirá os rumos do Mixed Martial Arts no país.

Outra coisa a se desvendar é o fato da quase total falta de informação a respeito do VERDADEIRO MuayThai nas academias.

Digo da modalidade autêntica. Nada contra o K-1, Kickboxing, Full Contact, admiro todas elas. Toda arte marcial tem seu valor.

Mas fato é que poucas academias ensinam o que hoje é o Muay Thai.

Experimente trocar uma ideia com pessoas do meio sobre as tradições do esporte, a filosofia, ou algo assim, e se prepare para ouvir enrolações e informações deturpadas.

É como se você jogasse rugby e achasse que es-tava jogando futebol americano. São parecidos, porém tem enormes diferenças, que precisam e devem ser valorizadas e respeitadas.

Meu primeiro contato com o Muay Thai foi em 2003, comecei a treinar e a estudar mais a fundo o esporte e a cultura tailandesa. E descobri que muito do que ouvi de professores e pessoas liga-das ao esporte eram informações equivocadas.

E não vou cair na ignorância de falar que para ser um professor tem que obrigatoriamente conhecer e visitar o país de origem de um esporte, ou ser o mestre dos mestres, nada disso. Mas ao menos saber informações básicas da história do esporte,

todas elas dizem ter a chancela de órgãos inter-nacionais.

Não julgo nenhuma delas, só acho estranho tan-to cuidado com o esporte ser refletido em poucos campeonatos, pouca visibilidade, enfim, com um aparato profissional desses, o esporte não era para estar em outro patamar?

O Muay Thai é um só, mas na prática reinven-taram a arte e a multiplicaram, assim todos saem ganhando. Quem perde é o praticante da modali-dade que fica perdido com tanta informação. Não sabe ao certo quem está o guiando, se seus pro-fessores realmente sabem o que estão falando e ensinando. O Muay Thai originário da Tailândia muitas vezes é confundido com outras artes.

Todos querem falar da arte marcial tailandesa, to-dos querem a mídia, os holofotes, e mais do que nunca hoje – com o sucesso do UFC – o Muay Thai está em alta.

E é aí que entram vários mestres e doutores sed-

e um pouco, um pouquinho da história dele.

Durante minha peregrinação por academias da minha cidade vi gente dando aula com faixa ama-rrada na cintura, gente dando paulada na canela para “acostumar” a canela ao impacto, grãos me-stres instantâneos e outras bizarrices.

Ao que parece muitas academias não ligam para isso, socializam a idéia de que o Muay thai, Karatê, Kickboxing, são a mesma coisa.

Toda e qualquer arte deve ser amplamente difun-dida, valorizada e respeitada. Nenhuma arte mar-cial é melhor que a outra, porém cada uma tem suas tradições e valores específicos. Não se pode vender Muay Thai e entregar Karatê ou vice versa.

Para aonde vai o Muay thai brasileiro, o que quer o Muay Thai brasileiro – O esporte serve apenas de ponte para o MMA? Basta saber meia dúzia de chutes e socos e pronto! Está formado um lutador de MMA que veio do Muay Thai?

Existe uma massificação do MMA às cegas, muitas vezes o aluno não tem noções básicas de Muay Thai, luta de solo, de disciplina... De nada! Cul-pa do professor, que esquece que o ambiente da academia é o espaço para se formar pessoas de caráter, difundir entre seus alunos (as) conceitos como disciplina e respeito ao próximo, e depois, bem depois disso, se este aluno se enquadrar no perfil e contar com talento para lutar MMA, aí sim, inserí-lo na modalidade. MMA profissional é es-porte sim! Mas de alto rendimento e para atletas de alto rendimento.

Voltando ao nosso Muay Thai: Sempre ficarei com a concepção de que o diálogo entre partes dis-cordantes é a melhor opção para se chegar a um denominador comum. Mas, com tantas entidades, vozes e poderes, esse denominador comum não seja, de fato, o que alguns querem.

Lucas NasserJornalista

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Page 10: Edição 05 da revista Muay Thai em Foco

Olá amigos, voltamos com mais uma parte da nossa viagem no tempo, conhecendo as LENDAS DO MUAY THAI.

Hoje vou apresentar duas histórias bem diferen-ciadas e interessantes, que mostram como o povo tailandês desde sempre venceu as dificuldades da vida através do Muay Thai, deixe de lado o que você esta fazendo e embarque conosco nessa lei-tura!

Sook Prasarthinpimai “Yak Pikamod” Sook começou a treinar Muay Thai com o cabo Boon Choorat do exercito real Tailandês. Sua pri-meira luta foi em um estádio improvisado no Dis-trito de Pimai, aos 21 anos de idade, nocauteando seu oponente NaiBao no segundo round. Apenas alguns dias depois de sua luta, Sook enfrentou uma acusação de assassinato e foi condenado a 20 anos de prisão em Nakorn Ratchasima.

Durante sua prisão, ele foi escolhido para lutar em

um combate especial no funeral em massa dos soldados que morreram na Guerra da Indochina. Seu adversário era Prasert SorSor, o famoso luta-dor da época. A luta terminou em empate.

Devido ao seu bom comportamento, sua pena foi reduzida para 12 anos. Logo que foi solto em 1946, dirigiu-se imediatamente para o Estádio de Rajadamnern. Com o apoio do gerente do está-dio, o senhor Pramote Puengsoontorn, Sook foi autorizado a fazer uma luta de teste, pois já tinha 34 anos, mas apesar de sua idade, ele derrotou o seu adversário mais jovem com um nocaute no quarto round.

O apelido Sook deriva de sua aparência temível. Um grande lutador com olhos penetrantes e tat-uagens imponentes em seu peito, Sook sempre lutou com bravura. A cotovelada era a sua arma perigosa. Sook tinha uma estrutura corporal mui-to forte, sem a qual ele não podia lutar naquela idade. Suas habilidades impressionantes desem-penharam um grande papel ao ressuscitar o in-teresse pelo Muay Thai após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Mesmo com a idade avançada, Sook obteve um cartel impressionante, nele fez uma sequencia im-pressionante de lutas no Rajadamnern contra os melhores lutadores de sua época em sequencia, tais como a vitória por nocaute sobre Srimuang-In¬tarayot no quarto round, o nocaute sobre Pr-asit Chomseemek no terceiro round, venceu por nocaute Tawee Jaimeeboon no terceiro round, foi derrotado duas vezes por pontos por Tawan Wongtevet, em seguinda vieram dois empates com Prasert SorSor, depois venceu por pontos Saman Dilokwilas, venceu por nocaute técnico Sompong Vechasit no terceiro round, foi derrotado por um ponto pelo jovem Surachai Looksurincon-tra, no qual venceu duas vezes seguidas por no-caute logo em seguida. Depois disso perdeu por pontos para Sakchai Nagapayak e foi nocauteado por Choochai Prakanchai no quinto round. Essa sequencia entrou para a história do Rajadamnern pelas altas apostas na época. Sook fez sua última luta com Linglom Chaweewong que o derrubou no quarto round. Quando declarou sua aposenta-doria no mundo das lutas, ele já tinha 41 anos de idade.

Apesar de seu passado como ex-presidiário, Sook Prasarthinpimai levou sua vida como um bom ci-dadão, chegando a ser nomeado chefe do seu Distrito natal em Rang-ga. Ele serviu sua comuni-dade até se aposentar aos 60 anos. Aos 72, Sook ainda é muito ativo no círculo do Muay Thai e mui-tos de seus parentes mais jovens ainda seguem de perto os seus passos; alguns deles, inclusive, tiveram maior destaque do que ele.

Um deles é Sorasak Sor Lookbukalo, o ex-campeão dos pesos meio-médios júnior do Lumpinni. Out-ro de seus descendentes bem-sucedidos é Sakad Petyindee que chegou a desafiar o campeão mun-dial de boxe, Wilfredo Gomez, para quem perdeu LENDAS

MUAY THAIdoParte 3

Texto de: Gustavo Teixeira Tradução: Felipe Abreu

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por nocaute técnico. O nome de Sook Prasarthin-pimai tornou-se uma lenda. Começando aos 34 anos e aposentando-se aos 41, nenhum lutador teve um feito tão extraordinário como o seu. Pelo menos não até o dia de hoje.

Choochai Prakanchai “O Adônis dos ringues”

Seu primeiro treinador foi Kru Poon Prakanchai. Choocnai fez sua primeira luta de Muay Thai em um ringue construído temporariamente no Te-atro de Pattanakorn. Ele empatou com o seu ad-versário Tawat Wongtevet.

Com o passar do tempo, ele foi melhorando seu desempenho, aos vinte anos fez sua primeira luta no prestigiado Estádio de Rajadamnern em 1945 e derrotou facilmente Suwat Pornpompoh por no-caute técnico.

Quanto aos seus recordes, teve em seu cartel um total de 25 lutas, Choochai teve 8 vitórias por no-caute técnico, 11 vitórias por pontos, um empate e quatro derrotas. Mesmo com tão poucas lutas, foi considerado um dos excelentes lutadores de Muay Thai daquele tempo, graças as várias lutas memoráveis que fez durante sua carreira. Seus recordes incluem: uma vitória sobre Banchong Si-lachai, que lhe presenteou com uma jaqueta de louvor, a vitória por pontos sobre o lutador filipino Speedy Navaro em uma luta de boxe internacio-nal, um belo nocaute técnico sobre Sook Prasar-thinpimai em 1951, que lhe rendeu 17.000 bahts (aproximadamente R$ 1200,00), o maior prêmio em dinheiro da época, e vitória por pontos sobre Prasit Chomsrimek no combate emocionante real-izado na Província de Chiang Mai.

Comparado a outras lendas do Muay Thai, Choo-chai teve menos estatísticas de luta do que outros lutadores da sua época, porque sua carreira foi interrompida devido a problemas de saúde. De-pois de ter sido diagnosticado com tuberculose, ele foi impedido de entrar nos ringues por vários anos. Apesar disso, Choochai manteve suas ha-bilidades de luta afiadas. Aos 50 anos, ele rep-resentou o Muay Thai e lutou contra um mestre de karatê do Japão, Hideo Asano, no Estádio de Rajadamnern. Sem muita dificuldade, ele derru-

bou seu adversário com um nocaute técnico no quarto round.

Choochai é lembrado tanto por sua boa aparência como por suas habilidades de luta. Sua aparência atraente, juntamente com seus talentos artísticos, ajudaram essa estrela dos ringues a brilhar em outros círculos, e com o mesmo brilho.

Com sua fama e aparência, Choochai tornou-se facilmente um ídolo no mundo do cinema. O filme histórico “Pantai Narasingha”, em que estrelou ao lado da famosa atriz Supan Buranapim, foi um grande sucesso. Sua música-tema “Nam Ta Sang Tai” também foi um grande sucesso e agora é considerada um clássico.

Choochai também marcou presença no círculo jornalístico com a sua habilidade literária refina-da, inesperada para um lutador durão. Chooch-ai foi um assistente bem próximo do ex-primeiro ministro M.R. Kukrit Pramoj, na época em que esse extraordinário líder ainda estava envolvido ativamente como diretor de seu jornal Siam Rath. Armado com um toque literário, Choochai era conhecido pelo seu trabalho em todas as formas de poesia tailandesa. Sua habilidade para fazer gravuras em amuletos era excepcional. Além do Muay Thai, Choochai também imprimiu o seu es-tilo no boliche, chegando a jogar pela liga tailand-esa em várias competições no exterior. Choochai tem dois irmãos mais jovens que seguiram seus passos no Muay Thai. Nenhum deles, porém, conseguiu alcançar o sucesso de Choochai. At-ualmente, Choochai Prakanchai mudou seu nome para Choochai Rittiruechai.

Bom, é isso ai galera, espero que tenha gostado. O tempo que tiro procurando, lendo e conhecen-do sobre os antigos lutadores, venho aqui e par-tilho com vocês. Voltaremos na próxima edição da nossa revista, e não deixem de compartilhar e indica-la a seus amigos, alunos e conhecidos. Vamos a fundo conhecer e estudar o verdadeiro e único Muay Thai.

Sawadee Krap...

DEZEMBRO 2013 DEZEMBRO 2013 2120

Page 12: Edição 05 da revista Muay Thai em Foco

Todo praticante de Muay Thai tem por obrigação ao menos conhecer essa prática e seu senti-do aplicado ao ringue. Não se usa a palavra

Arte em vão, todo o conjunto de técnicas envolve filosofia e crenças milenares.

Wai = Ação de unir as mãos como em prece para mostrar respeito.Kru = Podemos traduzir como professor/treinadorRam = Antigo estilo de dança tailandesaMuay = boxeador

No Ocidente estamos acostumados com o siste-ma de academia padrão, você entra, gosta paga e começa a treinar, mas no Oriente durante muito tempo não era tão simples, você era apresentado ao Professor, prestava respeito a ele oferecendo flores, comida, velas perfumadas ou algo que lhe fosse de valor.

Após essa aceitação o aluno começava seu tre-inamento básico na Arte focado na disciplina, re-speito e técnica, dessa tradição temos o que hoje é conhecido por Ram Muay Wai Kru.

O rito:

O lutador percorre o ringue com sua mão direita tocando as cordas como forma de selar o local da luta, nos 4 cantos faz uma breve parada e realiza uma prece. Se dirige ao centro do ringue se ajoel-ha e se curva por 3 vezes em sinal de respeito ao seu Deus e seu adversário.

Assim o lutador executa o Ram Muay, que possui variações das mais simples as mais complexas, o Ram Muay é pessoal, desenvolvido pelo lutador, campo de treino ou treinador. Ele demonstra equi-librio, calma, técnica e de forma simbólica pede proteção na “batalha” que irá começar.

Todo o rito é seguido de música e todo lutador usa seu Mongkon na cabeça para simbolizar seu cam-po, seu professor, seu local de origem.

É de grande importância que todo praticante de Muay Thai busque conhecer e aprender o Ram Muay Wai Kru, não apenas como forma de arte e tradição mas servirá muito bem para acalmar e fortalecer a mente antes da luta.

Tradição no

Ram MuayWay Kru

DEZEMBRO 2013 DEZEMBRO 2013 2322

por Tiago Simão

Page 13: Edição 05 da revista Muay Thai em Foco

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