24
O VALOR DO CENTRO Apesar de suas desvantagens, o coração de Caxias ainda conquista moradores convictos Renato Henrichs revela carta do PDT local que pede exclusividade a Alceu Barbosa Velho | Roberto Hunoff analisa o aumento das demissões | Duas décadas de Mancha Verde | Paulinho, personagem da memória grená Caxias do Sul, abril de 2010 | Ano I, Edição 21 | R$ 2,50 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet. |S24 |D25 |S26 |T27 |Q28 |Q29 |S30 Uma reflexão sobre os desacertos cotidianos entre pedestres e motoristas indica como eles podem tomar o rumo de uma relação melhor NO CAMINHO DO TRÂNSITO SEGURO

Edição 21

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Uma reflexão sobre os desacertos cotidianos entre pedestres e motoristas indica como eles podem tomar o rumo de uma relação melhor

Citation preview

Page 1: Edição 21

O VALOR DO CENTRO

Apesar de suas desvantagens, o coração de

Caxias ainda conquista moradores convictos

Renato Henrichs revela carta do PDT local que pede exclusividade a Alceu Barbosa Velho | Roberto Hunoff analisa o aumento das demissões | Duas décadas de Mancha Verde | Paulinho, personagem da memória grená

Caxias do Sul, abril de 2010 | Ano I, Edição 21 | R$ 2,50 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.|S24 |D25 |S26 |T27 |Q28 |Q29 |S30

Uma reflexão sobre os desacertos cotidianos entre pedestres e motoristas indica como eles podem tomar o rumo de uma relação melhor

NO CAMINHO DO TRÂNSITO SEGURO

Page 2: Edição 21

Índice

Expediente

Assine

A Semana | 3Um resumo das notícias que foram destaque no site

Roberto Hunoff | 4Número de demissões é maior do que em 2009, exceto na indústria de transformação

Informática acessível | 5As vantagens do software livre são discutidas e apresentadas na UCS

Acusação de cartel | 8Por que a Justiça condenou seis responsáveis por 24 postos de Caxias

Faixa de convivência | 11O rumo da conciliação é o melhor caminho para motoristas e pedestres

No coração da cidade | 14Moradores trocam o sossego dos bairros pela comodidade do Centro

Guia de Cultura | 16Mitologia em palíndromo e Alice adolescente no cinema

Artes | 18 Distrações amorosas de uma tarde de verão

Guia de Esportes | 19As estrelas do handebol brilham em casa no fim de semana

Memórias grenás | 20Paulinho, o lateral esquerdo que consertava os furos de Felipão

Bandeiras alviverdes | 21Mancha Verde completa 20 anos de fidelidade ao Ju

Renato Henrichs | 20Carta para diretório estadual do PDT exclui Gustavo Toigo e Vinicius Ribeiro COMENTÁRIOS NO SITE

Obra na chácara dos Eberle | Mesmo sendo um estudante de Engenharia Civil acho um abuso a

dilapidação da Chácara. As árvores cortadas, a Casa Rosa “enterrada” no meio dos prédios e tudo mais. Acho uma falta gravíssima com a natureza e com os habitantes da cidade. A Chácara dos Eberle é em-blemática e a Casa Rosa então, mais ainda.

Marcus Vinicius dos Reis, em 22 de abril

R$ 100 mil para documentário |Parabéns pela matéria, fico feliz pelo grande amigo e mestre Miche-

lin. Esse Michelin realmente era de muito talento, garra e trabalho, e por incrível que pareça este pioneiro na produção. Aos responsáveis pela coisa pública, sejam vereadores ou integrantes do Executivo, fica a lembrança de melhor se informarem sobre o assunto, antes de tomarem suas decisões.

Paquito Masiá, em 21 de abril

Agradeço a abordagem sempre bem estruturada d’O Caxiense durante a luta dos produtores locais por justiça e igualdade junto a Prefeitura de Caxias e a Secretaria da Cultura. O Michelin é mais um exemplo do esforço dos artistas locais em retratar a nossa cidade por amor e não por dinheiro!

Lissandro Stallivieri, em 21 de abril

Fico chateado de ver pessoas que respeito atacando o filme sobre Caxias. O Financiarte é uma ferramenta importante de apoio, mas não é – e nem pode ser – a única. Sugiro que usem o mesmo tempo que gastam reclamando do patrocínio para desenvolverem e apresen-tarem projetos à prefeitura e às outras esferas do poder público que concedem esse tipo de benefício. Tenho certeza que se o projeto for bom será contemplado.

Raphael Di Tommaso, em 23 de abril

TWITTER(Acompanhe em www.twitter.com/ocaxiense)

20ª edição |@gustavotoigo @ocaxiense Que início de sábado. Grande entrevista com Pozenato. Produto jornalísti-co de alta qualidade. Continuem prestigiando nossa gente.Vereador Gustavo Toigo, em 17 de

abril

@jeanberlanda @ocaxiense Que maravilha! Entrega funcionando como relógio suíço e conteúdo lembrando bom vinho francês. A cada dia melhor. Coisa de 1º mundo!

Jean Berlanda, em 17 de abril

@tonificante Demais essa capa! Não precisa nem de legenda! Tonificante (Marketing), em 17 de abril

@danieldalsoto Hoje comprei a edição do @ocaxiense Me surpreendi com a capa da 20ª edição, e com a reportagem da jornalista @paulas-perb, PARABÉNS! Vale destacar acima de tudo a grande reportagem sobre o @sercaxias. O @marcelomugnol foi muito bem!

Daniel Dalsoto, em 17 de abril

@RoseBrogliato Em tempos de mídias digitais e instantaneidade da informação, os jornais precisam ser menos informativos e mais analí-ticos, como @ocaxiense.

Rose Brogliato, em 21 de abril

@zarabatanacafe @ocaxiense + Clemente Pozenato na capa é leitura de mão cheia! Bela arte, ótimo argumento!

Equipe do Zarabatana Café, em 21 de abril

@vinnibiazzus Terça vi o @ocaxiense impresso, ainda não tinha vis-to. Diagramação muito legal.. o conteúdo dispensa comentários.

Vinni Biazzus, em 22 de abril

@elvcampagnollo @ocaxiense para os caxienses residentes em outras localidades este é o melhor jornal da serra gaúcha.

Elvis Campagnollo, em 22 de abril

www.OCAXIENSE.com.br

Redação: Cíntia Hecher, Fabiano Provin, Felipe Boff (editor), Graziela Andreatta, José Eduardo Coutelle, Maicon Damasceno, Marcelo Aramis, Marcelo Mugnol, Paula Sperb (editora do site), Renato Henrichs, Roberto Hunoff e Valquíria Vita Comercial: Leandro TrintinagliaCirculação/Assinaturas: Tatyany Rodrigues de OliveiraAdministrativo: Luiz Antônio BoffImpressão: Correio do Povo

Para assinar, acesse www.ocaxiense.com.br/assinaturas, ligue 3027-5538 (de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 18h) ou mande um e-mail para [email protected]. Trimestral: R$ 30 | Semestral: R$ 60 | Anual: 2x de R$ 60 ou 1x de R$ 120

Jornal O Caxiense Ltda.Rua Os 18 do Forte, 422, sala 1 | Lourdes | Caxias do Sul | 95020-471Fone 3027-5538 | E-mail [email protected]

Foto

s: M

aico

n D

amas

ceno

/Oca

xien

se

BOLA PARADA

Como a dupla CA-JU está se

armando para enfrentar a Série C

Rafael José dos Santos pede um busto para padre Giobbe | Roberto Hunoff analisa os números da inflação caxiense | Renato Henrichs discute a proposta de eleições para subprefeito | O presente e o futuro da Festa da Uva

Caxias do Sul, abril de 2010 | Ano I, Edição 20 | R$ 2,50 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.|S17 |D18 |S19 |T20 |Q21 |Q22 |S23

A LETRA PERSISTENTE DE

POZENATOAos 71 anos, o professor e escritor José Clemente Pozenato

não quer descanso: arquiteta uma segunda trilogia

2 24 a 30 de abril de 2010 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .O Caxiense

O VALOR DO CENTRO

Apesar de suas desvantagens, o coração de

Caxias ainda conquista moradores convictos

Renato Henrichs revela carta do PDT local que pede exclusividade a Alceu Barbosa Velho | Roberto Hunoff analisa o aumento das demissões | Duas décadas de Mancha Verde | Paulinho, personagem da memória grená

Caxias do Sul, abril de 2010 | Ano I, Edição 21 | R$ 2,50 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.|S24 |D25 |S26 |T27 |Q28 |Q29 |S30

Uma reflexão sobre os desacertos cotidianos entre pedestres e motoristas indica como eles podem tomar o rumo de uma relação melhor

NO CAMINHO DO TRÂNSITO SEGURO

Page 3: Edição 21

A SemanaMais policiais para segurança e menos médicos atendendo em Caxias do Sul

Segurança

Mato Sartori

Caxias conta com mais 74 policiais

Parque abrirá na primeira quinzena de maio

Caxias do Sul conta com 74 novos policiais militares que se formaram em uma solenidade no 12° Batalhão de Polícia Militar, na última sexta (16). Outras solenidades ocorre-ram em todo o Estado resultando, no total, 3.552 policiais formados no todo o Rio Grande do Sul. Se-gundo o Capitão do 12° Batalhão, Jorge Emerson Ribas, o treinamen-to dos soldados durou pouco mais de seis meses e ocorreu no inte-rior de Flores da Cunha. Os novos policiais atuarão no 12° BPM.

Durante cinco dias de greve dos médicos, que durou de 5 a 10 de abril, 10.880 consultas deixaram de ser realizadas em Caxias. Nos serviços de saúde especializados foram 3.226 consultas, e nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), 7.654. A perspectiva é que com a nova greve dos médi-cos, marcada para dia 26 de abril, os próximos números sejam ainda maiores. Os dados de consultas não realizadas foram divulgados pela secretária da Saúde, Maria do Rosário Antoniazzi. Ela cita também a adesão dos médicos à paralisa-ção: nos serviços especializados, 204 médicos pararam de trabalhar (41,4%) e nas UBSs, 161 (49,8%).

Caxias e Juventude empataram em 1 a 1 no primeiro clássico da cate-goria Junior, válido pelo Gauchão da categoria. A partida, disputada no Centenário, foi marcada por um maior volume de jogo alviverde em contraponto a maior demonstração de raça grená. Pouco mais de 200 torcedores grenás e 25 alviverdes (da Mancha Verde) acompanharam o jogo. O primeiro gol da partida foi do lateral direito Pedro Hen-rique, do Caxias. O gol de empate do Ju veio só no segundo tempo.

Os usuários do Zona Azul poderão contar com um número de telefone 0800 para expor problemas como par-químetros estragados, tíquetes com impressão ilegível e solicitar informa-ções. Para que o canal de comunica-ção seja colocado em prática, a Câma-ra de Vereadores terá de aprovar um projeto de lei do vereador Gustavo Toigo (PDT), protocolado nesta segunda, que determina a criação do 0800 para atender as demandas da população. Conforme o projeto, a empresa detentora da exploração do serviço deverá divulgar em todos os parquímetros a existência do telefone.

A central atenderá somen-te durante o horário normal de funcionamento do Zona Azul.

O Samae abriu, na quinta, a loja comercial do bairro Kayser em novo endereço. Os serviços estarão dispo-níveis a toda a comunidade da região na Perimetral Bruno Segalla, nº 122, junto ao Posto Portal Sul. Serão beneficiados com a descentralização da loja e agilidade no atendimento os bairros Kayser, São Caetano, Arco Ba-leno, Bom Pastor, Esplanada, Salgado Filho, Planalto Rio Branco, Charque-adas, Consolação, Santos Dumont, Nossa Senhora das Graças e Oriental, num total de 15.357 ligações de água.

A construção de dois prédios de 14 andares no terreno localizado em frente à Casa Rosa da chácara da família Eberle está temporariamente suspensa. A decisão foi da própria empreendedora, a ADLA Comér-cio e Representações Ltda, empresa pertencente à família. O motivo seria um estudo de remodelação do empreendimento em parceria com construtoras interessadas em realizar a obra. O projeto apresentado pela ADLA foi autorizado pela prefeitura em 2006, antes da aprovação do Plano Diretor do município, portanto foi

O Parque Municipal Mato Sartori deve finalmente ser aberto para visi-tação na primeira quinzena de maio. Esta é a previsão do secretário mu-nicipal do Meio Ambiente, Adelino Teles. O último empecilho, a falta de segurança, já teria sido resolvido com a instalação de 20 câmeras e a colo-cação de quatro guardas municipais, dois de dia e dois à noite. A data exata da abertura ainda não está definida, mas deve ser depois do dia 8, quando o secretário pretende concluir um roteiro de visitas oficiais que estão programadas para o Parque na sema-na de 3 a 7 de maio. “Receberemos no máximo 40 pessoas por dia. Coloca-remos um telefone à disposição para que os interessados possam combi-nar a visita”, explica o secretário.

Greve dos médicos

Ca-ju

Zona Azul

Samae

ConstruçãoQuase 11 mil consultas perdidas

Juniores empatam

Reclamações poderão ser feitas por 0800

Atendimento próximo de 12 bairros

Obra na chácara dos Eberle está parada

SEXTA | 15 de abrilTERÇA | 20 de abril

SEGUNDA | 19 de abril QUARTA | 21 de abril

QUINTA | 22 de abril

Foto

s: M

aico

n D

amas

ceno

/O C

axie

nse

Caxias e Juventude, pelos Juniores, ficaram no 1 a 1; Mato Sartori deve abrir em maio; obra na chácara dos Eberle está estagnada

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r 324 a 30 de abril de 2010 O Caxiense

enquadrado na legislação antiga. Se-gundo a empresa, com a nova lei, há possibilidade de negociar um aumen-to no tamanho dos prédios a partir de trocas de índices construtivos. Como ainda não foi vendido nenhum apartamento, os proprietários da área tentarão ampliar os edifícios. O diretor-geral da secretaria de Urba-nismo, Nelson Carlos Sartori, lembra que qualquer eventual mudança de-verá passar novamente por avaliação na prefeitura. A realização dessa obra gerou polêmica na cidade devido ao valor histórico da chácara da famí-lia Eberle e do corte de vegetação.

Page 4: Edição 21

Clima já com cara de inverno, confiança na economia e Dia das Mães são os ingredientes que devem incrementar em 8,5% as vendas de maio deste ano sobre o mesmo período de 2009. É o que projeta o presidente do Sindicato do Comér-cio Varejista, Ivanir Gasparin.

Confiança

Roberto [email protected]

Especializada em orientação de carreira e recolocação profissional, a Ser Humano Consultoria instala-se em Caxias do Sul com o serviço de outplacement, ainda iné-dito na região. O programa consiste em 10 etapas desenvolvidas ao longo de 12 meses, em que o participante tem acesso a uma assessoria pessoal, com treinamen-tos específicos visando à recolocação no mercado de trabalho. Com sede em Porto Alegre e escritórios em São Paulo e Curiti-ba, a Ser Humano Consultoria será gerida em Caxias do Sul pela consultora Sílvia Bernardi.

A TOV Corretora de Câmbio, Títulos e Valo-res Mobiliários, por intermédio da Majorem En-genharia Financeira, chega à Caxias do Sul para prestar assessoria em investimentos. A empresa é segunda maior corretora independente do Brasil no segmento varejo e oferece, por meio de parcerias estratégicas, uma gama de produtos e serviços, como fundos de investimento, hedge cambial, carteira administrada de ações e opera-ções na BM&F Bovespa.

A Unidade Caxias do Sul da Faculdade de Tecnologia obteve autorização do Mi-nistério da Educação para ofertar, a partir do vestibular de inverno próximo, o curso superior de Tecnologia em Design de Moda. Com duração de dois anos, o curso funcionará pela manhã e noite.

Depois da Riachuelo, sua mais nova âncora que ocupa área superior a 2 mil metros quadra-dos, o Iguatemi Caxias conquistou mais uma marca. A rede de moda íntima feminina Scala, com 78 lojas no Brasil, abrirá suas portas em maio sob o comando da empresária Virgínia Cruz Alves.

A Feira de Hannover, realizada esta semana, delineou um novo marco no uso de combustíveis pelo segmento automotivo. O veículo deixou de ser apenas um conceito e foi apresentado na for-ma de produto acabado, pronto para ser coloca-do à disposição do consumidor tão logo os países criem as condições para sua homologação. Para tratar deste tema atual a seção Caxias do Sul da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil) promove na terça-feira, dia 27, a partir das 19h30, no Bloco M da UCS, palestra sobre os desafios e as oportunidades do desenvolvimento dos veículos elétricos no Brasil e no mundo. O palestrante será o supervisor de engenharia da Mitsubishi do Brasil, Fabio Maggion, que irá para detalhar o projeto i-MiEV, veículo compac-to movido somente por eletricidade, já comercia-lizado no Japão, ao preço base de US$ 40 mil, e em testes no Brasil.

A expansão da construção civil tem possibilita-do o crescimento de mercados não relacionados diretamente ao setor. É o caso da tecnologia di-gital, que agora estará presente em obras de Ca-xias do Sul e região por meio da Arko Imagem, empreendimento de Diego de Lima. A empresa trabalha com maquetes eletrônicas com pers-pectivas digitais, plantas humanizadas, passeios virtuais, estudos de insolação e fotomontagens 3D. Também irá inserir as maquetes eletrônicas em ambientes de realidade virtual e aumentada.

O levantamento sobre o número de empregos gerados em Caxias do Sul no mês de março traz interessantes dados para análise. O mais significa-tivo é de que o número de desliga-mentos é superior aquele apurado no igual período do ano passado, situa-ção que se estende ao acumulado do primeiro trimestre. Em março último 9.677 trabalhadores foram demitidos ou pediram para sair contra 8.310 no mesmo mês de 2009. No trimestre

são 23.619 desligamentos neste ano e 21.026 no passado. Interessante é ob-servar que em todos os setores produ-tivos da cidade, exceto em um, houve este aumento. Apenas na indústria de transformação há mais admissões que saídas, mesmo assim a diferença é pe-quena: pouco mais de 100. O fenôme-no pode ser atribuído à disputa por mão-de-obra qualificada entre em-presas e setores, já que é comprovada a carência de profissionais na cidade.

Mais 1 mil vagasO importante, no entanto, é a ma-

nutenção do quadro de crescimento na geração de empregos. Em março foram mais 1.004 e, no trimestre, mais de 6,3 mil. Nos mesmos períodos de 2009 os números eram negativos: 2.101 em março e 3.076 no acumula-do do ano. O grande gerador de em-pregos continua sendo a indústria de transformação com 926 em março e 4.576 no ano.

ContradiçãoNúmero que desperta curiosidade é

o da construção civil. O setor fechou 144 vagas, fato estranho quando se tem informações sobre o expressivo aumento de obras em construção. No ano o saldo também é negativo: 15. A desativação de 386 postos de trabalho na agropecuária é normal em função do fim das safras de frutas na região, como uva, que emprega grande nú-mero de pessoas.

CarreirasAssessoria

Novo curso

Novas marcas

Eleições na CIC

Transporte elétrico

Tecnologia diferenciada

Disputa pela mão-de-obra

Lili

ane

Gio

rdan

o/D

iv./O

Cax

iens

eA

rko,

Div

ulga

ção/

O C

axie

nse

Com crescimento de 30% no número de ex-positores, a 4ª Feira Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente (Fiema Brasil) congrega-rá, na exposição, avançadas tecnologias, equipa-mentos e soluções voltadas às questões ambien-tais e, nos mais de 15 eventos simultâneos, ideias e ações focadas na sustentabilidade. O evento ocorre nos pavilhões da Fundaparque, em Bento Gonçalves, das 10h às 18h de 27 a 30 de abril. A Fiema Brasil terá como expositoras mais de 200 empresas e entidades, do Brasil e do exterior. Entre os atrativos estarão a Casa Sustentável e o voo inaugural de um dirigível.

Meio Ambiente

A Eletrobras, RGE e Pontifí-cia Universidade Católica do Rio de Janeiro realizam nos dias 29 e 30 de abril, em Caxias do Sul, o treinamen-to Economizando energia elétrica nas prefeituras. Mais de 50 órgãos muni-cipais já confirmaram presença no treinamento, que transmitirá con-ceitos e dicas de eficiência na gestão energética municipal, na iluminação e nos prédios públicos, o que ajudará as prefeituras participantes a reduzirem seu consumo de energia elétrica, sem prejuízo aos usuários. Os encontros serão realizadas das 8h às 18h, no au-ditório da RGE.

Sebrae, Sindilojas, CDL e Pre-

feitura de Caxias do Sul promovem na terça-feira, dia 27, workshop do pro-grama Mais Varejo. O objetivo é ava-liar os aspectos internos e externos de 293 lojas localizadas na Avenida Júlio de Castilhos e a infraestrutura da área a fim de diagnosticar os pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças. O workshop terá início às 19h30 no 2º andar do Edifício Sindilojas.

O Festival Latinoamericano de Instalação de Software Livre 2010 ocorrerá neste sábado, dia 24, das 8h30 às 19h, no Bloco 71 da UCS, com entrada franca. Realizado desde 2005 de forma simultânea em diversos paí-ses da América Latina, o evento busca

estreitar e ampliar o contato de usuá-rios de computadores com o mundo do software livre.

Uma abordagem regional do estudo de lembrança e preferência de marcas, realizado há 12 anos no Rio Grande do Sul pela QualiData em parceria com o Jornal do Comércio, será o tema da reunião-almoço de se-gunda-feira da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul. O consultor de marketing e gestão de marcas da QualiData, Paulo Rogério Di Vicenzi Rodrigues, e o diretor co-mercial do Jornal do Comércio, Luiz Borges, apresentarão o tema As Mar-cas de Quem Decide na Serra Gaúcha.

Curtas

4 24 a 30 de abril de 2010 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .O Caxiense

Fonte: Caged do Ministério do TrabalhoEvolução do emprego

2009 2010

Acumulado no trimestre

6.349

-3.076

Março

1.004

-2.101

Acumulado em 12 meses

9.840

102

Os associados da CIC de Caxias elegem na próxima quarta-feira, dia 28, os novos membros do Conselho Deliberativo, atualmente presidido por André Vanoni de Godoy. Na ordem do dia da assembleia que se iniciará às 17h também consta apreciação do relatório anual de atividades da di-retoria executiva, das demonstrações financeiras do exercício de 2009 e dos pareceres de auditores independentes e do Conselho Deliberativo.

Page 5: Edição 21

por JOSÉ EDUARDO [email protected]

lternativa crescente para quem quer economizar passando longe da pira-taria, o software livre é muito mais do que um programa gratuito de compu-tador (aliás, nem sempre é gratuito). É um movimento, que será explicado e debatido em Caxias, na UCS, e em diversas cidades do Brasil e de países vizinhos simultaneamente, no Festival Latino Americano de Software Livre. “Muitas pessoas associam o livre com o grátis. O objetivo é associar a liberdade com a evolução contínua do software”, revela o analista Jeronimo Zucco, um dos palestrantes do encontro. Essa li-berdade de ele fala se baseia em quatro pressupostos: liberdade para executar o programa, com qualquer propósito; liberdade de estudar como o programa funciona e de adaptá-lo para as suas necessidades; liberdade de redistribuir, inclusive vender, cópias de modo que você possa ajudar ao próximo; e liber-dade de modificar o programa e liberar essas modificações de modo que toda a comunidade se beneficie.

Para os profissionais da computação, entra-se até em uma questão filosófica: é ético aprisionar o conhecimento? O software livre se desenvolve por meio da colaboração de centenas de pesso-as, de todos os cantos do mundo, para produzir programas que atendam de-terminadas demandas. Jerônimo conta que o movimento iniciou nos anos 80, com o programador Richard Stallman, depois que muitas empresas começa-ram a impor restrições aos usuários com os contratos de licença de softwa-re. “Stallman compara os programas de computador com receitas culinárias. Você tem uma receita de bolo de cho-colate, que é o código fonte, e o bolo, o código de máquina. Se a receita for fechada, o bolo fica sempre igual e nin-guém consegue alterá-lo. Se for aberta, se pode alterar a receita, colocar no-

vos ingredientes e melhorá-la conti-nuamente”, conta Jeronimo. De forma geral, pode-se traduzir software livre com outras duas palavras: trabalho co-laborativo.

O coordenador geral do festi-val na UCS e analista de redes do Nú-cleo de Processamento de Dados da universidade, Amador Pahim destaca que, além das palestras – que iniciam às 9h e terminam no final da tarde, em no Bloco 71 –, será realizado o Install Fest. É a chance de muitos usuários co-nhecerem ferramentas livres, que serão distribuídas e instaladas gratuitamen-te. “Temos uma sala com estrutura elé-trica e monitores. Pessoas capacitadas auxiliarão na instalação dos progra-mas. Não é necessário mudar o sistema operacional. O Linux pode funcionar em paralelo com o Windows. Acredi-tamos que devem circular de 100 a 150 pessoas no Install Fest”, diz Pahim.

No dia a dia, a universidade dá prefe-rência ao uso de software livre sempre que possível. “Todos os computadores da UCS usam o OpenOffice. Podemos citar também o Firefox, ferramentas de e-mails, multimídia, player de vídeo, entre outros”, diz o analista. A redução de custos com o uso desses programas é grande. “Temos quase 5 mil compu-tadores. A economia total é difícil de dimensionar. Só o Office custa em tor-no de R$ 600 por computador o upgra-de, e R$ 1 mil a versão standard, no va-rejo, para o computador caseiro. Claro que comprando em um grande núme-ro esse valor diminuiria bastante.”

Mesmo com essa vantagem econô-mica, ainda é necessário manter em alguns computadores o sistema opera-cional comercial devido à necessidade de executar programas sem suporte para Linux. É o caso do Photoshop (edição de fotos) e do Premier (edição de vídeo), ambos da empresa norte-americana Adobe. “Não existe outro programa que possa ser comparado a

eles no mercado. Há similares, como o Gimp, mas não são tão bons. Os labo-ratórios de Publicidade e Propaganda precisam de softwares de ponta. Outro programa que precisamos comprar a licença é o AutoCAD, destinado para os cursos de Arquitetura e Engenha-ria”, explica Pahim. Uma licença desse software custa em torno de R$ 4,5 mil.

Na prefeitura, o software livre também gera economia. O diretor do Departamento de Informática, Antô-nio Jacob Bracht, conta que os compu-tadores dos 14 Centros de Inclusão e Alfabe-tização Digital (Ciad), três telecentros, a Casa Brasil e cerca de 58 la-boratórios das escolas municipais possuem somente programas desse tipo instalados. A primeira experiên-cia do Município com software livre ocorreu ainda em 1998. “Nos-so primeiro site foi co-locado no ar já sob a plataforma Linux. Depois começamos a instalar o Star Office, predecessor do BrOffice”, lembra.

Atualmente, todos os servidores da administração têm sistema operacio-nal Linux. O programa de bancos de dados é livre. O pacote BrOffice está instalado nos 1,3 mil computadores da prefeitura. A tecnologia dos sof-twares de gestão também é livre, sen-do necessário apenas o pagamento de uma licença de uso para a empresa que desenvolve o programa. Fora o siste-ma operacional Windows, presente em 85% desses computadores, o úni-co programa pago instalado neles é o antivírus. As exceções são o AutoCad, o Corel Draw e o Photoshop, em algu-mas máquinas.

“Temos uma tendência de migração para o Linux. Vamos devagar pois pre-

cisamos dar suporte para os usuários. As novas aquisições já vêm com o Li-nux instalado. Ainda mais que as suas funções já estão bem semelhantes às do Windows”, compara Jacob. Uma forma de fazer com que o funcionário aceite melhor essa substituição é a aquisição de novos computadores. “Não adianta colocar o Linux num micro velho. Má-quina nova, ambiente novo. Assim se compra o usuário.”

No Estado, um dos principais promotores do uso e do desenvolvi-

mento dos programas não proprietários e defensores da inclu-são digital é Sady Ja-cques, embaixador e membro fundador da Associação Softwa-re Livre – sediada em Porto Alegre, desde 1999. Naquele ano, a entidade promoveu o 1° Fórum de Software Livre, que reuniu pro-fissionais de diversos lugares do mundo. Na

última edição, 10 anos depois, mais de 8 mil pessoas estiveram presentes. “Esse é um processo que está em plena expansão e cresce a passos largos. Do ponto de vista numérico, a Microsoft ainda tem nove em cada 10 computa-dores no mundo. E é bem possível que seis deles tenham um produto pirata. Hoje, o que mudou é que o mundo começou a trabalhar com o software livre. Não pode haver uma impressora que não rode em Linux, por exemplo”, afirma.

Sady lembra que, do ponto de vista histórico, o software sempre foi livre. Com a criação dos primeiros computa-dores, precisava-se de uma programa-ção para que eles executassem deter-minados comandos. Essa lógica, que não era simples, foi sendo construída dentro das universidades, principal-

Mentes abertas

A

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r 524 a 30 de abril de 2010 O Caxiense

Mai

con

Dam

asce

no/O

Cax

iens

e

“Se a receita for fechada, o bolo fica sempre igual. Se for aberta, pode-se melhorá-la continuamente”,cita JeronimoZucco

A Casa Brasil, que atende gratuitamente à população no bairro Reolon, adota o software livre - simbolizado por Tux, o pinguim do Linux, pendurado nas paredes

LibERDADETECnOLógiCAOs softwares livres, que a cada dia conquistam mais usuários, são tema de debates e demonstrações

Page 6: Edição 21

6 24 a 30 de abril de 2010 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .O Caxiense

Mai

con

Dam

asce

no/O

Cax

iens

emente dos Estados Unidos e Europa. O objetivo era desenvolver softwares que ajudassem a resolver determinados problemas. E a comunidade científica fazia isso trocando códigos, no início pelo correio, e mais adiante usando a rede telefônica para transferir dados. Assim se elaboravam softwares de forma coletiva, sem a preocupação de se apropriar desse conhecimento. Se-gundo Sady, esse modelo de mercado faz com que o profissional da progra-mação deixe de ser apenas um “aper-tador de botões”, que vende e instala programas fechados, e transforma-o em um programador de verdade – o que, inclusive, pode ser uma forma de trabalho bem rentável.

Foi com a criação do Fórum de Software Livre que o jovem pro-gramador caxiense Dorneles Treméa conseguiu seus primeiros contatos in-ternacionais na área. Junto com outros colegas universitários, ele criou a em-presa X3ng, em maio de 2001. “Nosso primeiro contrato foi com a UCS. Eles queriam reformular o site da univer-sidade usando como plataforma sof-tware livre. Mesmo sem muita expe-riência, apresentamos uma proposta e acabamos sendo contratados”, lembra.

Os jovens empresários optaram por trabalhar com uma plataforma chama-da Zope, em uma linguagem denomi-nada Phyton. No Fórum de 2002, Dor-neles teve o primeiro contato pessoal com os representantes da Zope. “Nós e os americanos que vieram trabalha-

mos em alguns conceitos, e a nossa empresa acabou desenvolvendo o pró-prio site da Zope”, conta.

Dorneles é formado em Ciência da Computação pela UCS, com ênfase em Segurança de Informação. “Meu inte-resse na época era trabalhar com se-gurança. Depois comecei a investir na a programação pesada. Pensamos que era mais futuro investir nessa área com poucos concorrentes. Existiam apenas duas empresas no Brasil que progra-mavam com Zope”, lembra.

Após expirar o primeiro contrato de um ano com o UCS, a X3ng migrou para o Sistema de Gerenciamento de Conteúdo chamado Plone, também em código aberto. “Entrávamos nas listas de discussão para perguntar como se fazia tal coisa. Para nossa surpresa, os criadores eram muitos abertos. No se-gundo ano já estávamos respondendo dúvidas de outros usuários. O pessoal da Plone perguntou se não queríamos terceirizar alguns serviços. Aí aban-donamos o mercado nacional e traba-lhamos exclusivamente para os EUA e Noruega. Na UCS, nosso contrato era de 10 reais a hora. Nos contratos inter-nacionais passou para 50”, relata.

Chegar a esse estágio de sucesso, evi-dentemente, não é fácil. “Precisa-se de muita dedicação e mostrar um serviço bem feito. Trabalhar com software livre é plenamente sustentável, e para o Ex-terior é ainda mais vantajoso. É como estar morando na América Latina ga-nhando padrão de salário americano”, conclui Dorneles. Pahim espera ter entre 100 e 150 pessoas experimentando software livre no Install Fest

Page 7: Edição 21

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r 724 a 30 de abril de 2010 O Caxiense

Page 8: Edição 21

8 24 a 30 de abril de 2010 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .O Caxiense

por VALQUÍRiA [email protected]

ois anos de interceptações telefônicas, uma reunião de empresários gravada e a análise de documentos cedidos pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) resultaram na condenação de seis do-nos de postos de gasolina de Caxias do Sul por formação de cartel. A de-núncia do Ministério Público susten-tou que, em conversas travadas entre 2004 e 2006, os acusados combinaram preços de gasolina e álcool. A decisão de condená-los – e de absolver ou-tros dois proprietários envolvidos no processo – foi tomada pela juíza da 3ª Vara Criminal, Sonáli da Cruz Zluhan, na terça-feira (13). Dois dias depois, foi divulgada pelo jornal Pioneiro. Na última quinta (22), entretanto, os seis réus ainda não tinham sido intimados – teriam ficado sabendo da condena-ção pela imprensa.

Por causa disso, tanto eles quanto seus advogados evitam falar sobre o processo. Ademir Antonio Onzi (só-cio-gerente de dois postos Onzi), Dar-ci José Tonietto (diretor de dois postos Coocaver), Deunir Argenta (sócio-ge-rente de 11 postos Di Trento), Iur de Souza Lavratti (sócio-gerente do posto Petrolium), Roberto Tonietto (admi-nistrador de seis postos Rodeio) e Vil-son Luiz Pioner (sócio-gerente de dois postos Comboio) foram condenados a dois anos de reclusão em regime aber-to, podendo ser substituídos por multa de R$ 153 mil. Como a decisão é em primeira instância, os acusados pode-rão recorrer.

Darci: (...) O, Deunir, eu vou.. vou usar da sinceridade contigo, tá, nós se reunimos: o Jaoquim, o Nene, o Dirceu e eu, tá, nós vamos alterar esse preço aí segunda, quando subir o com-bustível segunda ou terça-feira, tá. Veja bem, eu quero deixar bem uma coisa clara pra ti, não sou só eu que decido aí nós somos em quatro pra decidir isso aí, tá. (...) Oh, segunda ou terça, tu pode ter certeza de uma coisa, nós não vamos ficar abaixo de ninguém, tá, Deunir, tenha certeza disso. (...)

Deunir: E nós teríamos que mexer, né, tchê.

Darci: Sim, eu vou mexer, eu não te-nho como aguentar aqui.

Deunir: Espera aí só um pouquinho, deixa que o (...) vem na bomba, tu sabe que eu nem sei quanto tá aqui. Nós es-tamos aqui com R$ 1,49 tá. Se tivesse que subir R$ 0,14... R$ 1,49 ponto R$ 0,14, eu tenho que ir pra R$ 1,63.

Darci: Não, não, tem que ficar na fai-xa de R$1,58, R$ 1,57 por aí.

Deunir: Então vou botar R$ 1,59.Darci: Eu vou botar R$ 1,57. Deunir: Não, por que tu? Então tu

R$ 1,59 e eu R$ 1,57.O trecho, transcrito na sentença ju-

dicial (e reproduzido aqui inclusive com alguns erros de digitação e grafia), é de uma das ligações telefônicas que, de acordo com o Ministério Público, comprovam que havia combinação de preços. A conversa, entre Deunir Argenta, dos postos Di Trento, e Dar-ci Tonietto, dos postos Coccaver, se comparada a outros excertos citados no documento, é uma das mais fáceis de se compreender – na sentença, há um trecho de diálogo repetido e nomes que não são explicados, por exemplo. Nada, porém, que afete a convicção da promotora Janaína De Carli dos Santos da acusação contra os donos de postos. “A base é o conjunto da prova. A juí-za que condenou usou poucas ligações perto das que nós colocamos à dispo-sição. É difícil mesmo entender só pela sentença. Tem que olhar o conjunto de todas as ligações, porque ele demons-tra que o cartel existia”, afirma.

Outro trecho, de uma conversa de Deunir Argenta com um irmão, de-monstraria a existência da pressão para o ajuste de preços.

Deunir: (…) Agora com o Coccaver ficamos duas horas ontem pro cara, porque ele botou R$ 2,30 pra botar R$ 2,32, aí ele disse que ia botar hoje e não botou. Aí fomos almoçar, eu e o Beto do Rodeio (….), então o que fizemos? Fomos vê pra ele disse que vai aumen-tar amanhã. Aí agora fui lá no Cocca-ver, ele não aumentou, agora vou ter que ir no Rodeio porque o Rodeio, o Beto me disse que tem uma portaria lá de Minas Gerais que os caras entraram com um mandado no MP e tão conse-guindo que as cooperativas não podem vender combustível. Elas são coopera-tivas, elas só podem vender pros seus associados e eles estão irregular. Ele vai me dar tudo que tá na portaria aí pra levar pra eles, ou eles se ajustam de um lado, ou nós vamos ajustar por outro, entendeu como é que tá?

O uso de alguns códigos, segundo o Ministério Público, também dificulta o entendimento dos diálogos. “Eles di-ziam que iam se reunir para falar sobre futebol, sobre segurança. Às vezes isso significava falar sobre preço. Às vezes, não”, relata Janaína. Sem dizer o que as expressões “boiadeiro” e “alavancar o espírito” significam, ela aponta outro trecho das conversas, desta vez entre Deunir e Iur Lavratti, do posto Petro-lium:

Deunir: (...) Viu, outra coisa, o coi-sa, o boiadeiro lá, tu falou a respeito do

Comércio de combustíveis

DM

aico

n D

amas

ceno

/O C

axie

nse

DiÁLOgOS COnDEnADOSJustiça aceita, em primeira instância, interceptações telefônicas e uma reunião gravada como provas de formação de cartel

Responsáveis por 24 postos teriam combinado preços em Caxias

Page 9: Edição 21

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r 924 a 30 de abril de 2010 O Caxiense

Mai

con

Dam

asce

no/O

Cax

iens

e

porquê que não tem jeito de alavancar o espírito?

Iur: Bah, eu não tou sabendo de nada, eu estava fora da cidade, eu vol-tei hoje só.

Deunir: Vê aquele número do espírito lá que o teu tá baixo e fala com o rod... com o cara dos boiadeiros aí, né.

Iur: Tá legal, deixa pra mim.

Deunir: Eu acho que ele está segurando isso aí, né. tchê.

Iur: Tá, deixa pra mim.

A constatação do MP e da juíza Sonáli é que se os acusados não esti-vessem visando à fixação de preços não utilizariam códigos para ludibriar a in-terceptação. A combinação de valores, segundo Janaína, vai contra o princípio da livre concorrência, e, além de pre-judicar outros postos, diminui a opção dos consumidores. “Não precisa que se comprove um dano. Basta que o acu-sado infrinja o que está na lei. A for-mação de cartel é organização, acordo, convênio, ajuste ou aliança dos postos no intuito de fixar preços artificiais. E isso fere o consumidor”, diz Sonáli. Ela explica que não importa se houve dano efetivo nem se a combinação era para aumentar ou para baixar o valor do litro da gasolina e do álcool, pois o proibido é combinar.

De acordo com a promotora Janaína, a investigação começou em 2004, a partir de questionamentos da comunidade sobre o preço da gasolina em Caxias ser mais elevado do que em outras cidades. Durante dois anos, os acusados tiveram seus telefones gram-peados e, sem que soubessem, um en-contro deles foi gravado – em 12 de novembro de 2004 –, mediante autori-zação judicial. O MP concluiu que os envolvidos se encontravam também em outros lugares para falar sobre pre-ços: restaurantes, residências, sedes de empresas, sítios e até nos próprios postos de combustíveis. “Com os tele-fonemas a gente sabia onde iam ser fei-

tos esses encontros. Não que eles não tinham outros assuntos, mas a gente sustenta que em determinadas reuni-ões eles combinavam preços”, completa Janaína.

O conteúdo das li-gações serviu para que o MP denunciasse 12 donos de postos. Dois foram absolvidos e quatro aceitaram uma suspensão condicional do processo, compro-metendo-se a cumprir certas determinações. Os outros seis optaram por deixar o processo correr. “A promotoria só denunciou quem tinha indícios suficien-

tes. A gente investigou outros postos, que também faziam parte disso, mas não havia provas suficientes para con-dená-los”, diz Janaína, que já anunciou que o MP vai recorrer da absolvição de um dos envolvidos.

O Ministério Público também uti-lizou a documentação da ANP como prova contra os seis donos de postos. Os relatórios da agência demonstram, segundo a promotoria, que depois des-sas reuniões a gasolina aumentava nes-ses postos.

Paulo Tonolli, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sindipetro/Serra Gaúcha), explica que carteliza-ção se configura quando existe a tota-lidade de empresas. “E aqui em Caxias são seis postos de um total de 85 na cidade. A visão de fora é que essa for-mação de cartel fica deturpada, porque teria que ter um número de empresas que causasse dano à população. Repre-sentamos uma categoria muito maior do que esses seis envolvidos. Não sen-do contra a decisão, mas seis é univer-so muito pequeno”, considera.

“Não interessa quantos, poderia ser dois postos. O intuito do delito é for-mar acordo com a intenção de fixar ar-tificialmente os preços. Se vários colo-cam o mesmo preço o consumidor não tem opção”, rebate Sonáli.

Em relação ao encontro gravado

pelo MP, Tonolli nega que tenha ocor-rido no Sindipetro: “Não somos favo-ráveis à formação de cartel nenhum. Nossa razão de existir é a defesa dos combustíveis. Queremos fazer que seja justo. Não tenho conhecimento dessa reunião. Uma vez por mês reunimos os sócios, mas é para debater diversas demandas do nosso setor.”

Ele diz desconhecer que os telefones dos acusados estavam grampeados. Pelo menos um dos envolvidos, porém, afirma saber que estava sendo gravado. Isso aparece em um trecho da conversa entre Roberto Tonietto, dos postos Ro-deio, e Bilú (apelido do dono de outro posto, que não foi condenado).

Bilú: (…) Me diz uma coisa, o com-bustível aí aumentou, né? Caxias?

Roberto: Caxias subiu, subiu bastan-te por causa do alcool, né.

Bilú: Tá R$ 2,85. E os meus vizinhos ali do lado tá com R$ 2,83.

Roberto: Bah, Bilú, falar isso por te-lefone é complicado. Tu tá em Caxias?

Bilú: Não, não, não, eu tou... eu vou pra Caxias de tarde.

Roberto: Tá, tu não quer dar uma passadinha aqui no posto?

Bilú: Não, porque daí eu não sei, daí de repente eu sou obrigado a botar R$ 2,83 igual.

Roberto: Tá tudo grampeado esse telefone, não dá pra falar em preço né, tchê.

“Lógico que eu sabia (que estava grampeado). Porque a promotora se impor-ta mais com holofotes do que com o proces-so. Falar em preços em qualquer empresa é a coisa mais normal do mundo. Uma coi-sa é combinar preço, e não existe prova disso, outra é falar em preço constantemente. Tenho que saber a quanto meu vizinho está venden-do. Se ele coloca um centavo a menos, vou colocar o mes-mo preço pra não perder venda. Não tem como ter diferenciação de preço. O que não pode é combinar, dizer ‘eu vou colocar dois e tu coloca dois’. Mas

isso não aconteceu nas gravações. Nas minhas, eu digo”, defende-se Tonietto.

Para ele, não houve formação de cartel, mas sim um processo abusivo de escuta telefônica por parte do MP: “Dois anos fazendo escuta na vida de uma pessoa, isso não é simplesmente uma investigação, isso é bisbilhotar a vida dela. Eu questionei muito esse processo porque a promotora descre-veu coisas pessoais e coisas íntimas mi-nhas no processo a partir das ligações. Me deu a impressão de ser alguma per-seguição maior do que simplesmente fazer o trabalho dela”.

Conforme o texto da decisão judicial, todos os acusados negam ter realizado combinação de preços e di-zem que as reuniões sempre foram para defender outros interesses da ca-tegoria. Essas alegações deverão ser re-petidas nas instâncias superiores. “Vai mais de ano até julgarem recursos, tan-to da defesa quanto do MP”, diz Sonáli.

Airton Barbosa de Almeida, advo-gado de Deunir Argenta, Iur Lavratti, Roberto Tonietto e de mais dois acu-sados que foram absolvidos, explicou que quer entender o processo, já que ainda não foi intimado: “Dois dos meus clientes foram absolvidos, quero analisar o motivo dessas absolvições”, disse na sexta-feira (23).

Adauto Afonso Viezze, advogado de Vilson Pioner, disse que nem ele

nem o réu haviam re-cebido a intimação até a tarde de quinta. “Posteriormente pode ter apelação”, antecipa-va. O mesmo afirmou o advogado de Darci Tonietto, Tarcilo Man-tovani. Como o seu cliente ainda não havia recebido a intimação, alegou que não pode-ria se manifestar sobre o qual seria o próximo passo. Erivelto Ferrei-

ra, advogado de Ademir Onzi, adianta que irá recorrer: “Não houve esse car-tel, não existe cartel de seis pessoas. O que houve nas reuniões foi por causa das eleições do Sindipetro”.

“A formação de cartel é organização, acordo, convênio, ajuste ou aliança dos postos no intuito de fixar preços artificiais”, diz a juíza Sonáli

“Uma coisa é combinar preço, outra é falar em preço. Tenho que saber a quanto meu vizinho está vendendo”, rebate Roberto Tonietto

A promotora Janaína, que apresentou a denúncia: “Não que eles não tinham outros assuntos, mas a gente sustenta que em determinadas reuniões eles combinavam preços”

Page 10: Edição 21

10 24 a 30 de abril de 2010 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .O Caxiense

Page 11: Edição 21

por gRAZiELA [email protected]

yrton Lobo é um homem simples e modesto. Ingênuo e talvez um pouco ignorante. Não estudou muito, tra-balha como uma espécie de faz-tudo para a casa de comércio Sá, Pato & Cia, e tem uma ambição: comprar um carro. Mas o que move Ayrton não é puramente o desejo de ter um auto-móvel. É a cobiça de poder “esmagar” os “pobres e assustadiços” pedestres.Esse homem divide a humanidade em duas castas, a dos pedestres e a dos “rodantes”, como apelidou os moto-ristas. E ele definitivamente odeia pertencer à primeira. Segundo Ayr-ton, o pedestre “é um ser inquieto de pouco rendimento, forçado a gastar a sola das botinas, a suar em bicas nos dias quentes, a molhar-se nos dias de chuva e operar prodígios para não ser amarrotado pelo orgulhoso e impas-sível rodante, o homem superior, que não anda, mas desliza veloz.”

Ayrton, felizmente, não existe. É o personagem principal do único ro-mance adulto publicado por Monteiro Lobato, O Presidente Negro, de 1926, quando o trânsito brasileiro era ainda bem diferente, mas já trazia consigo conceitos de classe e segregação. Era a ficção sinalizando uma realidade que só viria a se agravar: a da difícil con-vivência entre pedestres e motoristas.

Em Caxias do Sul, existem 145.851 automóveis, 23.150 motocicle-tas e 1.381 ônibus, segundo os dados mais atualizados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), com

base nos cadastros de emplacamento. Juntas, essas três categorias somam 170.382 veículos. Se a elas forem acres-centadas caminhonetes, caminhões, reboques e outros tipos de veículos menos comuns, o número chega a 218.924.

Não há dados sobre pedestres para se fazer um comparativo. Mas, se le-varmos em conta que a Viação Santa Tereza (Visate) transporta, por dia, cerca de 165 mil passageiros e que até quem dirige um carro se transforma em pedestre a partir do momento em que estaciona o veículo, a quantidade de gente que anda a pé é bem maior do que a de quem, como descreveria Ayrton, “circula sobre quatro pneus”. Mas essa superioridade numérica não se reflete em vantagem.

A Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes calcula que uma pessoa precisa de um segundo para dar cada passo ao atravessar uma rua. Em uma via como a Sinimbu, seriam neces-sários 13 segundos para se chegar de uma calçada à outra. Mas ninguém tem esse tempo. Quando não há trá-fego na rua principal, o das perpen-diculares rapidamente reivindica seu espaço. Ao pedestre, cabe correr.

O office boy Jader Luis Pereira de Medeiros, 20 anos, dribla carros e si-nais da região central da cidade há três anos e aconselha: “Não dá pra ratear. Se vê que dá pra atravessar a rua tem que apressar o passo. Do contrário, ou não atravessa, ou é atropelado”.

Jader garante que aprendeu que a faixa de segurança é o melhor lugar para cruzar a via, porque andar fora dela pode enraivecer motoristas mais impacientes. “Tem motorista que ace-

lera de propósito quando enxerga o pedestre. É melhor não arriscar.”

A Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes não tem levan-tamento oficial sobre quais são os pontos de travessia e circulação mais perigosos. Segun-do o secretário Jorge Spinelli Dutra, as me-didas de segurança são reforçadas a partir da observação dos téc-nicos da prefeitura e também das queixas de pessoas e associações de moradores. “Claro que nós sabemos que todo o Centro é com-plicado e que algumas vias de acesso aos bairros também. O que podemos fazer para melhorar estamos fazendo.”

De acordo com Dutra, estão em an-damento na cidade 12 grandes obras de trânsito, como a remodelação na entrada do bairro Desvio Rizzo, o acesso à UCS e as mudanças na Rua Moreira César e na Avenida Rio Bran-co, além de mais de 50 outras meno-res. Todas trarão benefícios aos pe-destres, segundo ele. “Nosso objetivo é fazer o tráfego fluir melhor e mais rápido. Mas temos consciência de que essas mudanças podem dificultar a travessia e, por isso, estamos refor-çando a sinalização para quem precisa atravessar a rua, e não só para quem passa por ela.”

O secretário informa que em 30 cruzamentos foram instaladas sinalei-ras para pedestres, que são acionadas automaticamente ou quando a pes-

soa aperta um botão (o tipo do equi-pamento depende do ponto onde foi colocado). Nesses lugares, a sinaleira fica vermelha para os carros de to-dos os sentidos por alguns segundos,

conforme a largura da via. É o caso dos cru-zamentos da Rua Pi-nheiro Machado com a Visconde de Pelotas e a Dr. Montaury, por exemplo.

Mas Dutra afirma que as sinaleiras não podem ser usadas em toda a cidade, princi-palmente no Centro. Ele argumenta que na Pinheiro Machado é possível porque a rua

não tem engarrafamentos do porte de outras vias essenciais, como Os 18 do Forte e Sinimbu. “Se eu parar a Sinim-bu por mais 13 segundos, vou parar Caxias.”

A travessia difícil não é exclu-sividade do Centro. Há diversos ou-tros lugares perigosos – e esta repor-tagem nem está levando em conta as rodovias. A Rua Matteo Gianella é um deles. Além de ser acesso para diversos bairros, recebe o movimento de carros e pessoas do Colégio Santa Catarina. Frentista do posto de combustíveis lo-calizado quase em frente à escola, Ivan Paim, 52 anos, conta que em alguns horários a situação é complicada para todos que tentam cruzar a Matteo, de carro ou a pé. “Aqui tem batida toda a hora. Hoje de tarde mesmo deu uma”, relatou na terça-feira (20). “Quem qui-ser atravessar a rua tem que ser ligei-

Desafios urbanos

A

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r 1124 a 30 de abril de 2010 O Caxiense

Mai

con

Dam

asce

no/O

Cax

iens

e

PARA ACERTAR O PASSO

nO TRÂnSiTOA cada troca de sinal, motoristas e pedestres estabelecem uma relação que deve ser encarada como convivência, e não como oposição

“O que tem que acontecer é motoristas e pedestres começarem a fazer sua parte e respeitar a faixa”, diz o secretário Dutra

A travessia é mais complicada na região central, em ruas como a Visconde de Pelotas, onde as faixas de segurança nem sempre são respeitadas – por quem está a pé ou de carro

Page 12: Edição 21

12 24 a 30 de abril de 2010 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .O Caxiense

Mai

con

Dam

asce

no/O

Cax

iens

ero”, completou.Na Avenida Bom Pastor, as funcio-

nárias de uma farmácia dizem que às vezes precisam esperar até 10 minutos para ir de um lado ao outro da via. Isso ocorre porque só há uma sinalei-ra, no cruzamento com a Perimetral Sul. “Colocaram um quebra-molas e deu uma melhorada para os pedestres, mas agora são os carros que se aciden-tam. Uns minutos antes de você che-gar teve um que bateu na traseira do outro em cima do quebra-molas”, con-tou a balconista Sabrina Canquerino Santos, 29 anos, naquela terça-feira. “Tinha que ser como algumas ruas em Canoas. Você levanta o braço e os mo-toristas param para você atravessar”, contou a colega Tauana Cristina Geh-len, 18 anos.

Situações parecidas ocorrem tam-bém em trechos de ruas como a Luiz Michelon, a Moreira César e a Avenida São Leopoldo. Mas Dutra afirma que, mais do que intervenção do poder pú-blico, esses lugares precisam de bom senso por parte de quem os utiliza. “Não posso colocar um semáforo por-que 10 minutos por dia tem travessia. O que tem que acontecer é motoristas e pedestres começarem a fazer sua parte e respeitar a faixa de segurança.”

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, sempre que hou-ver faixa de segurança e o sinal estiver aberto para o pedestre, é por esse lo-cal que a rua deve ser atravessada – e não pelo meio da quadra, como mui-tas pessoas ainda acreditam ser mais

seguro. Os motoristas devem dar a preferência.

Entretanto, quem está acostumado a circular pela cidade sabe que não pode levar a lei ao pé da letra. O auxiliar administrativo Fabrício Bellaver Gui-marães, 28 anos, que gasta cerca de 50 minutos por dia em deslocamentos entre sua casa, no bairro Rio Bran-co, e o trabalho, no Centro, já adotou uma regra: “Eu só atravesso a rua se os carros estiverem parados, mesmo que o sinal esteja fechado para eles e eu esteja na faixa de segurança, porque nunca sei se eles vão realmente frear”.

Fabrício admite que, assim como não é fácil para ele, também não é para os motoristas, pois nem todos os pedestres utilizam a faixa. Na opinião dele, os dois são culpados, mas per-dem muito tempo responsabilizando um ao outro em vez de fazer sua parte. “Todo mundo tem pressa, ninguém quer esperar, e todos se acham meio donos da rua.”

Na verdade, para transitar em segurança, o melhor é cuidar sem-pre. Inclusive na calçada. Roseli Ma-zzochi Ribas, 39 anos, varredora da Rua Visconde de Pelotas há quatro anos, garante que os pedestres tam-bém são perigosos. Trabalhando em um trecho movimentado, ela precisa prestar atenção nos carros e nas pes-soas que andam a pé. “Se você estiver distraída, elas te atropelam mesmo.”

Enquanto explicava como era varrer o meio-fio e as calçadas nesse ponto do Centro, ela ia desviando dos passantes No Cruzeiro, a movimentada Luiz Michelon é arriscada para pedestres e motoristas

Page 13: Edição 21

que atravessavam a rua correndo e mantinham quase o mesmo ritmo ao atingir o outro lado. Seguiam com a pressa e a determinação de quem está disposto a ir eliminando obstáculos, mesmo que eles sejam outras pessoas. “Acredito que o problema no trânsito esteja na falta de respeito de alguns motoristas e também de alguns pedes-tres. As pessoas são muito individua-listas”, diz Roseli.

Se o individualismo cresceu na pro-porção dos carros nas cidades, talvez seja difícil dizer. Na obra de Montei-ro Lobato, muitas décadas atrás, ele já era registrado como um ingrediente do trânsito. O personagem Ayrton, que muitas vezes precisou correr para fugir de atropelamentos e dos buzina-ços – que ele interpretava como gritos de “Arreda, canalha” –, demonstrou não se preocupar com os pedestres, mas apenas consigo mesmo. Quando conseguiu comprar o seu primeiro automóvel, imediatamente assumiu a posição dos “rodantes” e passou a desprezar quem andava a pé. “Paguei diversas multas, matei meia dúzia de cães e cheguei a atropelar um pobre surdo que não atendera ao meu inso-lente ‘arreda’”, confessava.

O taxista caxiense aposentado

João Isoton, 81 anos, diz que já não se impressiona com a urgência que move quem anda a pé ou de carro – nem com suas consequências. Do banco do ponto de táxi da Rua Marquês do Herval, em frente à Praça Dante Ali-ghieri, com as mãos apoiadas na ben-gala, hoje observa tudo com apatia. Foi taxista por 54 anos, quase sempre naquele ponto. Só abandonou a profis-são em 27 de dezembro do ano passa-do, por causa de uma dor nas pernas e da pressão da mulher, que não queria mais vê-lo se arriscando. “Quando eu comecei a trabalhar com o táxi não tinha uma sinaleira na cidade, tinha bem menos carros, menos pessoas, e já era assim”, relata.

Isoton diz que agora só pega o carro de vez em quando, aos finais de sema-na. “A última vez que eu peguei o auto foi no domingo, para ir buscar um galeto. Fazia um mês que eu não diri-gia.” Apesar da saudade do trabalho, ele confessa que já estava perdendo a paciência com o trânsito e seus per-sonagens. “Tem motorista abusado, que se você para e deixa um pedestre passar já começa a buzinar, e tem pe-destre sem-vergonha. Às vezes eu che-gava bem perto pra dar um sustinho, pra ver se ele prestava mais atenção”, confidencia Isoton.

O “sustinho” e outros métodos politicamente incorretos, porém, em nada têm ajudado na pedagogia do trânsito. Ao contrário, só aumentam a tensão entre motoristas e pedestres. O Código de Trânsito Brasileiro, criado em 1997, vem tentando resolver esses problemas. Além de medidas de con-trole mais rígidas, o CTB reconheceu a importância da educação para me-lhorar a relação entre pedestres e mo-toristas.

Graças ao código, as regras básicas de convivência no trânsito estão ga-nhando mais espaço na preparação dos novos motoristas. Nas aulas teóri-cas dos Centros de Formação de Con-dutores (CFCs) essas lições já ocupam mais espaço do que as imagens de aci-dentes de trânsito, que até um tempo atrás, acreditava-se, seriam a melhor maneira de conscientizar motoristas – ideia que se mostrou equivocada: milhares de cenas de acidentes foram estampadas nos noticiários, mas o nú-mero de mortes continuou crescendo.

A legislação a partir de 1997 tam-bém forçou a introdução do tema nas escolas. Em Caxias, a educação para o trânsito faz parte do currículo nos colégios municipais. O vereador Vi-nicius de Tomasi Ribeiro (PDT), ex-secretário dos Transportes e com for-

mação em Arquitetura e Urbanismo, acredita que esse seja o melhor cami-nho para solucionar os conflitos exis-tentes hoje. “Acho que vai acontecer com o trânsito, no futuro, o que acon-teceu com o meio ambiente nos anos 80. O caminho passa pelas crianças, os adultos do futuro.”

Vinicius reconhece que o poder pú-blico tem obrigação de instalar equi-pamentos de segurança, mas destaca que ele não consegue obrigar as pes-soas a seguirem as sinalizações e as regras de bom senso. “Acredito que a palavra-chave para uma boa convi-vência seja respeito”, define.

Quanto a Ayrton, o personagem de Monteiro Lobato, acidentou-se e perdeu o carro. Sofreu tanto que che-gou a dizer que preferia ter perdido um braço só de pensar em seu retorno miserável à casta dos que andavam a pé. Durante sua recuperação, porém, deslumbrou-se com outras maquina-ções da trama – mais especificamen-te, com uma máquina que mostrava o futuro – e esqueceu seu ódio de pe-destres. Por vias tortas e involuntaria-mente, Ayrton até que enfim deixou um bom exemplo: quem quiser pensar no futuro precisa pôr de lado as desa-venças – especialmente no trânsito.

Na Avenida Bom Pastor, no bairro Esplanada, a falta de sinaleiras obriga as pessoas a esperar até 10 minutos para atravessar

Mai

con

Dam

asce

no/O

Cax

iens

e

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r 1324 a 30 de abril de 2010 O Caxiense

Page 14: Edição 21

14 24 a 30 de abril de 2010 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .O Caxiense

por RODRigO LOPES

uando a comerciante Marilê Procedi mudou-se para o Centro de Caxias do Sul, mais especificamente para a Pra-ça Dante Alighieri, em 1986, o lugar possuía um Calçadão, os ligustros e as rosas vermelhas dominavam os cantei-ros, havia um parque para crianças e o fluxo de veículos não se sobrepunha ao vaivém dos transeuntes. Morar na Ave-nida Júlio de Castilhos e ter como vizi-nhos de porta a Catedral Diocesana, os lendários cinemas Guarany e Central, a extinta Livraria Ramos, o portento-so Clube Juvenil, a agência central do Banco do Brasil e a Loja Magnabosco ainda era considerado um símbolo de status social.

Deixando esse cenário “de filme” um pouco de lado, a Caxias de 25 anos atrás já somava 250 mil habitantes e apresentava também evidências de tudo o que as áreas centrais das gran-des cidades costumam abrigar na ca-rona do desenvolvimento econômico: poluição visual e sonora, insegurança, proliferação de ambulantes, patrimô-nio histórico deteriorado, caos no trân-sito. Não por acaso, o uso da expressão “degradação do Centro” passou a ser corriqueiro desde então.

Hoje, ao abrir os janelões do apar-tamento localizado no sexto andar do Condomínio Galeria Auto João Mura-tore, popularmente conhecido como Caixa de Fósforo, Marilê observa que não só a Dante mudou. Mudaram o Centro, as pessoas, as referências de outrora. O Calçadão foi removido, a Júlio voltou a receber o tráfego de ve-

ículos, a praça passou por um amplo (e polêmico) processo de revitalização, os jerivás substituíram os ligustros, as rosas sumiram, o fluxo de migração e o barulho aumentaram, o comércio popular se impôs, enfim, a cidade cres-ceu.

Dados preliminares do Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimaram, em 2009, uma população de 410.166 habitantes. Acompanhando esse patamar, um total aproximado de 220 mil veículos em circulação, segun-do o Departamento Nacional de Trân-sito (Denatran), colocou Caxias do Sul entre as dez cidades acima de 400 mil habitantes com as maiores frotas do país: quase um veículo para cada dois habitantes. Em meio a índices que se refletem diretamente na área central e contribuem para inchá-la ainda mais, o que não mudou foi o pensamento da fiel moradora. “Adoro o Centro, tenho tudo o que preciso a poucos metros. Nunca sairia daqui, apesar do que cos-tumam falar de ruim”, argumenta.

Para quem relaciona o coração da cidade com engarrafamentos, su-jeira, baderna noturna e outros subs-tantivos menos nobres, a afirmação de Marilê pode soar provocativa. Mas ela não é a única a enxergar o Centro além de seus problemas. Gente como a publicitária e professora de Design Ca-mila Cornutti, o médico Marco de Me-nezes, a farmacêutica Mara Zanatta e o empresário Felipe Grivot de Carvalho faz coro às vantagens de se morar em meio ao fervo. Todos residem a menos de três quarteirões uns dos outros e ra-

ras vezes cogitaram abandonar a área mais “nervosa” da cidade. Inclusive até preteriram outras.

Marco e Camila chegaram a adqui-rir um apartamento no bairro Jardim América, nas proximidades do Hospi-tal Nossa Senhora Medianeira, onde o médico atua. Imóvel novíssimo, 70 metros quadrados, tranquilo, 10 minu-tos a pé até o trabalho, nenhum desses fatores bateu a opção pelo Centro. Há um ano e meio, o casal voltou atrás e mudou-se para uma espaçosa unidade no 16º andar do Edifício Vêneto, junto à Galeria JC, na Rua Sinimbu.

É aí que mora, lite-ralmente, outra vanta-gem dos edifícios mais antigos da área central: o espaço físico. São 115 metros quadrados, di-vididos em uma ampla sala, dois quartos, cozi-nha, dois banheiros, uma dependência de serviço e garagem. Traduzindo: a metragem média dos novos aparta-mentos de dois dormitórios em relação às construções de três décadas atrás foi praticamente reduzida à metade.

Para o casal, trocar um prédio por outro com mais de 40 anos e carente de reformas não foi uma decisão difícil. E por uma série de outros argumen-tos. “Perderíamos essa integração com o movimento da cidade, algo de que sempre gostei. Sair e ter tudo à disposi-ção lá embaixo, sem depender de car-ro”, enumera Marco. Camila trabalha

em um escritório de design no bairro Lourdes e atua como professora na Fa-culdade América Latina, a duas qua-dras de casa. “Faço tudo a pé. Quando preciso, tenho transporte praticamente na porta”, ressalta.

Livrarias, cafés, shopping, lojas, su-permercados, restaurantes, agências bancárias e todo tipo de serviço tam-bém pesaram a favor. Sem falar na vista de cartão-postal, que permite en-

xergar até bairros dis-tantes, como Galópolis, e municípios próximos, como Nova Petrópolis e Gramado. “No ou-tro, a visão era para um prédio vizinho e uma parede”, recorda Mar-co. No Centrão, os dois incomodam-se apenas com o barulho e o som alto dos veículos, algo que nem a altura do apartamento consegue barrar. “Mas isso é ape-

nas em alguns horários. É tolerável”, completa o médico.

A menos de dois quarteirões, a farmacêutica Mara Zanatta aprendeu a administrar a poluição sonora. No caso dela, não o ronco dos motores, mas o som dos bailes promovidos pelo Clube Juvenil e pelo Recreio da Juven-tude. Mara e o marido, o empresário Felipe Grivot de Carvalho, moram no último andar do Edifício Rian, na Mar-quês do Herval, praticamente no fogo cruzado entre as duas sedes sociais. “Já acordei de madrugada ao som de ‘Eu

Escolhas imobiliárias

Q

Mai

con

Dam

asce

no/O

Cax

iens

e

A ViDA nO CEnTRO Apesar de seus problemas, a área

central atrai quem procura conciliar moradia, trabalho e interação social

“Adoro o Centro, tenho tudo o que preciso a poucos metros. Nunca sairia daqui, apesar do que costumam falar de ruim”, diz Marilê

Marilê, moradora do Caixa de Fósforo: “quem mora nos bairros tem um casa-dormitório, quem mora no Centro tem uma casa-casa. E isso faz toda a diferença”

Page 15: Edição 21

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r 1524 a 30 de abril de 2010 O Caxiense

Mai

con

Dam

asce

no/O

Cax

iens

e

perguntava Do You wanna dance?/ e te abraçava Do You wanna dance?’, pare-cia que a banda estava tocando dentro de casa”, recorda, aos risos.

Esses detalhes parecem mesmo risí-veis quando Mara enumera as vanta-gens do local. Mãe da pequena Sophie, de dois anos, ela não demora mais do que cinco minutos para chegar à farmá-cia de manipulação onde trabalha, na Rua Borges de Medeiros. Em caso de necessida-de, Mara pode dar um pulo em casa ou na loja de bolsas da mãe, que fica no mesmo prédio da farmácia. Felipe co-manda uma loja focada em vestuário infan-til na Avenida Júlio e também prefere deixar o carro na garagem, que, por sinal, é alugada – como o prédio é antigo, não possui vagas próprias. Esse é um dos pontos negativos. Outro é que o eleva-dor chega apenas até o 5º andar. Mara, Felipe e Sophie precisam subir a pé mais um lance, até o 6º, já que o duplex original acabou dividido em dois apar-tamentos distintos. Chegando-se lá em cima, porém, compreende-se por que nada disso tem muita importância.

Transformado em um moderno e charmoso loft, o espaço perdeu pare-des e ganhou em circulação e amplitu-de. Cozinha integrada à sala, banheiro com dois acessos, melhor aproveita-mento dos nichos, novos revestimen-tos nas paredes e uma iluminação in-timista foram agregados à arquitetura modernista dos anos 50. “Foi pratica-mente todo refeito, um trabalho que não acabava mais. Mas valeu a pena ter decidido por ficar aqui”, observa Mara, lembrando que a opção inicial do casal era construir uma casa em algum bair-ro mais afastado, próximo à natureza. A ideia, segundo a farmacêutica, não está 100% descartada. “Mas só ser for uma casa com uma grande área verde e mais espaço para ela (a filha Sophie).

Em apartamento, continuo no Centro”, diz, enfática.

Da janela tripla que percorre toda a extensão da sala, o Clube Juvenil pode ser apreciado de cima a baixo – inclu-sive internamente, em dias de festas, bailes e casamentos. E o exemplo mais recente dessa “vantagem” ocorreu em

dezembro. Nivelados com o último piso do Aristocrático, Mara e Felipe reuniram ami-gos para assistir, de camarote, ao espetá-culo Noite Encantada, apresentado por 100 crianças nos janelões e varandas do clube. “Não teve vista mais privilegiada. Onde mais isso seria possí-vel?”, questiona ela.

Interagir com a urbe, sentir-se

parte dela e acompanhar suas constan-tes mudanças é algo que Marilê Proce-di também considera fundamental. “Se hoje vou para um local mais tranquilo e distante, sinto falta do movimento, da agitação, de tudo que pulsa aqui no Centro”, exemplifica.

Há 24 anos, quando a comerciante trocou a BR-116 pela Praça Dante, os motivos eram também dispor de uma infraestrutura de serviços mais próxi-ma e não depender de carro para levar os dois filhos à escola. “Aguardei um ano até o antigo inquilino esvaziar o apartamento”, recorda Marilê, enu-merando, da janela, alguns dos vários “personagens” que passam e já passa-ram pela Dante nessas mais de duas décadas de convivência. São bolivia-nos, equatorianos, tocadores de flauta, índios, artesãos, prostitutas, taxistas, vendedores de toda sorte de badu-laques, artistas de circo. “Daqui do 6º andar é posssível reconhecer todo mundo”, observa.

Se externamente o Caixa de Fósforo lembra apenas o que motivou o apelido e não desperta grande curiosidade nos passantes, em seu interior surpreende.

A pompa que cercava o nome Condo-mínio Galeria Auto João Muratore era justificável. O edifício inaugurado em 1961 foi o primeiro prédio de aparta-mentos da praça. São 18 pavimentos, incluindo térreo e sobreloja, mais 16 andares ocupados por dois apartamen-tos cada, um de frente para a Dante, outro para a Pinheiro Machado. Os 170 metros quadrados englobam três amplos dormitórios, dois banheiros, uma sala de estar, uma sala de jantar, uma sala íntima, cozinha, área de ser-viço e dois acessos, o principal e o de serviço. Tudo impecável até meados dos anos 70, mas com visíveis sinais de falta de manutenção quando Marilê chegou, em 1986. A reforma, segundo ela, durou um ano e incluiu a troca das instalações elétrica e hidráulica, subs-tituição dos azulejos, das louças dos banheiros e das 11 portas e aberturas de janelas, além de pequenos detalhes na decoração. “Quem opta por mudar para um prédio antigo já sabe que terá de passar por isso. Eu vi vantagens em vir para cá e reformar, tem gente que não vê”, observa.

Todo esse envolvimento atingiu o ápice quando a comerciante presidiu a Associação dos Mo-radores (Amob) Cen-tro, durante oito anos, entre a década de 90 e os anos 2000. São des-se período algumas das maiores conquistas – e confusões – envol-vendo a área. Marilê acordou de madrugada com as motosserras bo-tando abaixo os antigos ligustros da praça, em 2000; chiou contra os argumentos do então secretário do Planejamento, Mauro Cirne, para o corte; e apresentou, pio-neiramente, o projeto de instalação e monitoramento por câmeras de vídeo, depois colocado em prática pela admi-nistração municipal. Hoje, concorda que tanto a praça quanto o Centro em geral estão mais seguros, iluminados e

organizados. “O que incomoda mesmo é um certo abuso, principalmente na-queles dias de Carnaval. É um inferno, som alto demais, tudo extrapola o bom senso”, reclama.

Outro comparativo traçado por ela ocorre entre os chamados templos do consumo e o comércio de rua: “Shop-pings costumam excluir uma camada da sociedade. O Centro da cidade aco-lhe todo mundo”.

Questões envolvendo exclusão, migração e transformações da área urbana, aliás, motivaram um trabalho da professora e coordenadora do curso de Geografia da Universidade de Ca-xias do Sul (UCS), Giovana Mendes de Oliveira. Natural de Porto Alegre, Gio-vana mudou-se para Caxias em 2004 e logo desenvolveu por aqui o estudo População e Desemprego: Análise das Migrações.

Segundo ela, à medida em que uma cidade cresce, a área central precisa se expandir. “Isso acaba resultando em uma série de aspectos negativos, po-luição, barulho, falta de vagas de esta-cionamento etc., que fazem muitos dos antigos habitantes procurarem bairros

residenciais ou mais nobres”, avalia.

Embora Caxias ain-da não tenha sofri-do esse fenômeno de descentralização na mesma proporção das grandes metrópoles e capitais brasileiras, o que se percebe, se-gundo a pesquisadora, é um retorno às aglo-merações urbanas. “A valorização do Centro das cidades é um fe-

nômeno mundial. Talvez Caxias passe por um processo de rescentralização antes mesmo da descentralização”, pro-jeta. Ou, como a moradora do Caixa de Fósforo bem resume: “quem mora nos bairros tem um casa-dormitório, quem mora no Centro tem uma casa-casa. E isso faz toda a diferença”.

“Faço tudo a pé. Quando preciso, tenho transporte praticamente na porta”, ressaltaCamila

“Talvez Caxias passe por um processo de rescentralização antes mesmo da descentralização”, avalia a pesquisadora Giovana

A infraestrutura do Centro convenceu o médico Marco e a professora Camila a trocarem um apartamento novo em um bairro por um imóvel com mais de 40 anos

Page 16: Edição 21

l Alice no País das Maravilhas | Aventura. 13h30, 16h, 18h30 e 21h (dublado) e 14h, 16h30, 19h e 21h30 (legendado) | Iguatemi

Uma Alice adolescente se desespera ao saber que será pedida em casamen-to e, ao fugir, segue um coelho branco e chega ao País das Maravilhas, lugar que não lembrava já conhecer. Diri-gido por Tim Burton. Com Johnny Depp e Helena Bonhan Carter. 10 anos, 108 min..

l A Fita Branca | De quinta (29) a domingo, 20h | Ordovás

Em 1913, vilarejo alemão é tomado por estranhos acidentes, com caráter punitivo, levantando clima de descon-fiança geral. Dirigido por Michael Ha-neke. Com Susanne Lothar e Ulrich Tukur. 16 anos, 144 min., leg..

l Coração Louco | Drama. 14h20, 16h50 e 22h | Iguatemi

Cantor country decadente, alcoó-latra e anos longe do sucesso vê tudo mudar ao se apaixonar por jornalista. Dirigido por Scott Cooper. Com Jeff Bridges e Maggie Gyllenhaal. 12 anos, 112 min., leg..

l Ensinando a viver | Drama. Quinta (29), 15h. Entrada franca | Ordovás

Escritor recentemente viúvo tem ajuda de amiga ao adotar menino ór-fão que acredita ser marciano. Diri-gido por Menno Meyjes. Com John Cusack e Amanda Peet. Livre, 106 min., leg.. A exibição integra o projeto Matinê às 3.

AINDA EM CARTAZ - A Caixa. Sus-pense. 19h30. Iguatemi | Caçador de Recompensas. Comédia romântica. 13h50, 16h20, 18h50 e 21h20. Iguate-mi | Chico Xavier – O Filme. Drama. 14h10, 16h40, 19h10 e 21h50. Iguatemi | Como treinar seu dragão. Anima-ção. 14h45. Iguatemi | Ervas Dani-nhas. Drama. Sábado e domingo, 20h. Ordovás | O Fada do Dente. Comédia. 16h30. UCS | O Livro de Eli. Ação. 20h30. UCS | Simplesmente compli-cado. Comédia. 18h15. UCS | Uma Noite Fora de Série. Comédia. 17h10, 19h20 e 21h40. Iguatemi

INGRESSOS - Iguatemi: Segunda e quarta-feira (exceto feriados): R$ 11 (inteira), R$ 7,50 (Movie Club Pre-ferencial) e R$ 5,50 (meia entrada, crianças menores de 12 anos e sêniors com mais de 60 anos). Terça-feira: R$ 6,50 (promocional). Sexta-feira, sába-do, domingo e feriados: R$ 13 (intei-ra), R$ 10 (Movie Club Preferencial) e R$ 6,50 (meia entrada, crianças meno-res de 12 anos e sêniors com mais de 60 anos). Horários das sessões de sá-bado a quinta – mudanças na progra-mação ocorrem sexta. RSC-453, 2.780, Distrito Industrial. 3209-5910 | UCS: R$ 10 e R$ 5 (para estudantes em geral, sênior, professores e funcionários da UCS). Horários das sessões de sábado a quinta – mudanças na programa-ção ocorrem sexta. Francisco Getúlio Vargas, 1.130, Galeria Universitária. 3218-2255. No domingo haverá sessão extra do filme O Fada do Dente, às 14h30min, com ingressos no valor de R$ 3 para todos os públicos | Ordovás: R$ 5, meia entrada R$ 2. Luiz Antu-nes, 312, Panazzolo. 3901-1316

l Os Três Porquinhos ou Con-fissões de Um Menino Levado | Sábado e domingo, 16h |Espetáculo infantil apresentado pelo grupo Teatro da Juventude, do Rio de Janeiro.Teatro Municipal – Casa da CulturaR$ 12 (criança, acompanhante, estu-dante e sênior) e R$ 24 (público em geral) | Dr. Montaury, 1333, Centro | 3221-3697

l 12° Caxias em Cena | Até 14 de maio |

O festival recebe inscrições de gru-pos e companhias interessados em participar da programação do evento. Os candidatos devem enviar ficha de inscrição, ficha técnica, currículo do espetáculo, descrição das necessida-des técnicas, material de divulgação, clipping e DVD/Vídeo do espetáculo na íntegra. O material pode ser en-tregue pessoalmente ou enviado pelo e-mail [email protected]. O regulamento e a ficha de inscrição do 12º Caxias em Cena estão disponí-veis no site da prefeitura: www.caxias.rs.gov.br.Secretaria Municipal de CulturaLuiz Antunes, 312, Panazzolo | 3901-1316

CINEMA

TEATRO

[email protected] de Cultura

A Alice adolescente de Tim Burton é atração no cinema do Iguatemi

Wal

t D

isne

y Pi

ctur

es, D

ivul

gaçã

o/O

Cax

iens

e

16 24 a 30 de abril de 2010 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .O Caxiense

Edital dE Citação - CívEl6ª vara Cível - Comarca de Caxias do Sul

Prazo de vinte (20) dias. Natureza: Cobrança Processo: 010/1.08.0024150-1 (CNJ: 0241501-80.2008.8.21.0010). Autor: Instituição Comunitária de Crédi-to da Serra. Réu: lauro antônio Cegieuka e outros.

Objeto: CITAÇÃO de lauro antônio Cegieuka e lauro antônio Cegieu-ka, atualmente em lugar incerto e não sabido, para, no PRAZO de QUINZE (15) dias, a contar do término do presente edital (art. 232, IV, CPC), contestar, querendo, e, não o fazendo, serão tidos como verdadeiros os fatos articulados pelo autor na inicial.

Caxias do Sul, 08 de abril de 2010.ESCRIVÃ: Zélia Thomasini. JUIZ: Sérgio Augustin.

Page 17: Edição 21

l Alice no País das Maravilhas | Até sexta (30), das 8h às 20h |

Mostra com 17 banners de imagens relacionadas à obra de Lewis Carroll.SescEntrada franca | Moreira César, 2.462, Centro | 3221-5233

l Desenhos | Quarta (27), 19h30 |Abertura de exposição da artista

plástica Rosali Plentz.Campus 8 – UCSEntrada franca | RS-122, Km 69, s/nº | 3289-9000

AINDA EM EXPOSIÇÃO - Amor à primeira vista. Sábado e domin-go, das 9h às 22h; segunda e terça, das 9h às 18h. Hall da Sala de Cine-ma – Ordovás. 3901-1316 | Passagem Permanente. Até sexta (23). Campus 8 – UCS. 3289-9000 | Sentimentos. De segunda a sexta, das 9h às 21h; Sábados e domingos, das 15h às 21h. Ordovás. 3901-1316 | Um olhar sobre nossa terra. Até sexta (30), das 17h às 21h. Galeria em Transição – Teatro do Moinho da Estação. 8404-1713 | Vitri-ne da História. De terça a sexta, das 9h às 17h. Arquivo Histórico Munici-pal. 3228-5757 e 3218-6114

l Livro Livre | Sábado e domingo, das 15h30 às 20h30 |

Troca de livros do mesmo gênero, gratuitamente e sem necessidade de devolução.OrdovásEntrada franca | Luiz Antunes, 312,– Panazzolo | 3901-1316

l 11º Concurso de Trovas e Poe-sias Literárias | Até 7 de maio |

Esta edição tem como tema O meio ambiente nos trilhos da história de Caxias contada em versos. Inscrições na Secretaria Municipal do Meio Am-biente (Semma) ou pelo site www.ca-xias.rs.gov.br.Secretaria do Meio AmbienteAv. Rubem Bento Alves, 8.303 | 3901-1416, ramal 221

l Falando de amor à beira do abismo | Sábado, 18h |

Como parte do ciclo de painéis Ci-randa do Pensamento, esta edição trará o psiquiatra Caetano Fenner Oliveira e o músico e poeta Marco de Menezes.Zarabatana Café Entrada franca | Luiz Antunes,312, Panazzolo | 3901-1316

l Clarice Lispector e a angús-tia | Quarta (28), das 18h às 19h40 |

Palestra com a professora Cecil Gia-nini Albert Zinani, parte do curso Filosofia e Literatura – Leitura Reco-mendada de Textos Clássicos.

Auditório do Bloco E – UCSEntrada franca | Francisco Getúlio Vargas, 1.130, Galeria Universitária | 3218-2100

l Tributo a Creedence | Rock. Sábado, 21h30 |

Antes do show, o professor Giovani Monteiro dá uma aula de dança.Clube BallroomR$ 15 (feminino), R$ 20 (masculino) e R$ 30 (casal) | Coronel Flores, 810, sala 107, São Pelegrino | 3223-2159

l 3º Encontro em Comemoração ao Dia Internacional da Dança | De terça (27) a quinta (29), 20h |

O Teatro Municipal Pedro Parenti sedia apresentações de grupos de di-versas modalidades de dança da cida-de: Ballet Margô, Cia. Matheus Brusa, Cia. Municipal de Dança de Caxias do Sul, Diapositivo, Dora Ballet, En-dança Jazz e Cia., Escola de Flamen-co La Cueva, Grupo Atlantics Dança de Rua, G.E.E.L - Grupo de Estudos e Experimentação em Laban, Grupo Independente, Oito Tempos Escola de Dança de Salão, Quarta Parede Dan-ça Contemporânea, Studio de Danças Camila Oliveira e Tablado Andaluz Caxias do Sul.Teatro Municipal – Casa da CulturaEntrada franca - retirada de ingresso na Casa da Cultura ou na secretaria da Unidade de Dança/Cia. Municipal de Dança (Ordovás) | Dr. Montaury, 1.333, Centro | 3221-3697 ou 3901-1316, ramal 203

l Idem [Variáveis] Ibidem | Sexta (30), sábado (1) e domingo (2), 20h30 |Espetáculo de dança apresentado pelo grupo ArticulAÇÕES, da Universida-de de Caxias do Sul (UCS), e convi-dados.Teatro Municipal – Casa da CulturaEntrada franca | Dr. Montaury, 1333, Centro | 3221-3697

l Projeto Pôr-do-Sol | Danças latinas. Domingo |

Em comemoração ao mês da latini-dade, serão oferecidas atividades rela-cionadas à dança.

17h: Oficina gratuita de dança de salão para casais, mediante inscrição. Salão de Ensaios | 18h: Apresentação de tango de Vilmar Fagundes e Natie-le de Souza Toledo, aluna deficiente visual. Após, Escola Chamamé, com espetáculo de bolero, chamamé, zouk, forró, samba no pé e samba de gafiei-ra. Sala de Cinema.OrdovásEntrada franca | Luiz Antunes,312, Panazzolo | 3901-1316

l Feira Internacional de Cultura e Artesanato Mãos da Terra e 2ª Mostra do Artesão Caxiense | Sábado e domingo, das 11h às 21h |Centro de Eventos dos Pavilhões da Festa da UvaIngressos a R$ 5 (menores de 12 anos e pessoas acima de 60 não pagam) |

Ludovico Cavinatto, 1.431, N. Sra. da Saúde | 3027-1733Sábado: Balaio Cultural. 16h. Estrela Sirius. 17h e 19h. Índios Tapajós. 18h. Grupo Equatoriano. 20h | Domingo: Grupo Equatoriano. 14h. Estrela Sirius. 15h. Coral Municipal de Caxias do Sul. 16h. Tablado Andaluz. 17h. Cia. Municipal de Dança. 19h. Índios Tapajós. 20h.

l Rock Parque | Sábado, 18h, e domingo, 15h |

A primeira edição do festival em 2010 oferece dois dias de shows com bandas caxienses de estilos diversos. No sábado, sobem ao palco Lustrando os Trastes, Nantra, Pá Virada e Pin-dorália. O domingo tem rock mais pesado, com apresentações de AC/DC Cover RS, Agente Ed, Herdeiros e Pi-nhead.Parque dos MacaquinhosEntrada franca | Dom José Barea, s/nº, Exposição | 3901-1386 ou 3901-1388

l Concertos ao Entardecer | Domingo, 18h |

Apresentação do Quarteto de Sa-xofones da Orquestra Municipal de Sopros que marca a abertura da tem-porada 2010. Os músicos mostram um repertório eclético, com composições que vão de Mozart e Bizet a Gleen Mil-ler e Roberto Carlos.Capela do Santo SepulcroEntrada franca (sugestão de doação de alimentos não perecíveis) | Júlio de Castilhos, s/nº, N. Sra. de Lourdes

OUTROS SHOWS - Sábado: Blues de Bolso. Blues. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Dona Dita. Rock. 22h. Leeds Pub. 3238-6068 | Explosion is Party. Música ele-trônica. 23h. Studio54Mix. 9104-3160 | Festa do Twitter. Música eletrônica. 23h. Nox Versus. 3027.1351 | H5N1. Rock. 23h. Portal Bowling – Mar-tcenter. 3220-5758 | Izequiel Carraro. Pop/música eletrônica. 23h. La Boom Snooker. 3221-6364 | Killer on the dance floor. Música eletrônica. 22h. Havana Café. 3215-6619 | Libertá. Nativista e outros gêneros. 22h30. Li-bertá Danceteria. 3222-2002 | Mayron de Carvalho e Gustavo Reis. Samba rock/pop. 22h. Badulê American Pub. 3419-5269 | Vintage. Anos 70, 80 e 90. 23h. La Barra. 3028-0406 | Zumbis do Espaço e Corpo Presente. Punk rock. 23h. Vagão Bar. 3223-0007 | Terça (27): Rodrigo Campagnolo e Gra-ziano. Blues. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Quarta (28): Blues Head. Blues. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Só Bati-dão. Sertanejo universitário. 22h. Por-tal Bowling – Martcenter. 3220-5758 | Quinta (29): Franciele Duarte. Blues. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | H5N1. Rock. 23h. Vagão Bar. 3223-0007 | Sexta (30): Andy & The Rockets. Blues. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Hecatombe e Mouai. Metal/Nu metal. 23h. Vagão Bar. 3223-0007 | Wuilliam Mello & Os Canibais. Rock. 23h. Portal Bowling – Martcen-ter. 3220-5758.

EXPOSIÇÕES

LITERATURA

PAINEL

CURSO

FEIRA

DANÇA

MÚSICA

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r 1724 a 30 de abril de 2010 O Caxiense

Livro | o taL Eros só - osso rELato

O mito ao contráriopor PAULA SPERB

Se vivos e usuários do Twitter, James Joyce, Guimarães Rosa, Georges Perec e Erico Verissimo seriam seguidos pelo escritor e professor Paulo Ribeiro. Ele usa o exemplo para mostrar que esses expoentes da Literatu-ra de Invenção são a “turma que ele segue” – e não a quem se compara. Seu recém lançado livro-palíndromo O tal Eros só – Osso relato reinventa a linguagem e exige do autor mais do que a criatividade inerente à ficção. Vai além de contar uma história, a do jovem Sores, interiorano que usa chapéu nos pés e caminha de costas. Cria, além desse universo inspirado na mitologia grega tão bem esmiuçada por Donaldo Schüler, um modo de narrar. Em troca do trabalho de quatro meses para ficar pronto, o livro pede apenas que o leitor aceite participar do jogo que é ler de trás para frente, de baixo pra cima, uma regra simples. A inte-ração pode ser comparada à aplicada por Julio Cortázar em O jogo da Amarelinha, onde quem lê é que escolhe a ordem dos capítulos.

Poderá se pensar que escrever um livro-palíndromo é andar de costas, como faz Sore. Mas tanto para Paulo Ribeiro como para Eros a ação surge natural, não é para ser difícil ou incompreensível. O que pode ocorrer é a falta de um dos elementos da tríade autor-obra-público explicada por Antônio Cândido em Formação da Literatura Brasi-leira, de 1959. Não há dúvida sobre a consis-tência de autor e obra. Quanto ao público, este deve, no mínimo, ler a introdução, que certamente irá instigá-lo a ir adiante.

A primeira parte de O tal Eros só conta uma versão do mito de Eros amaldiçoado por seu pai, Zeus. Sores é um jovem excêntrico. Filho de Zeda e Otto, namorado de Alma, aluno aplicado que, entretanto, não gosta da repressiva Matemática ensinada pelos freis. Após sua morte – “Ciclista que transita de costas é atropelado na BR”, Alma descobre uma caixa com os textos de Sore. Começa, então, a segunda e melhor parte do livro.

A caixa cheia de poemas aberta pela namo-rada é como uma caixa de Pandora de onde sai o caos linguístico de frases que podem ser lidas no sentido contrário. Para Eros, o caos é o mundo ideal, e no caos sua expressividade atinge o auge. Os palíndromos de Paulo Ribei-ro mostram um Sores contemplativo, que pas-sa tempo no café, lê jornais e conversa laconi-camente. As poesias são repletas de ah!, é, ôh!, interjeições típicas de quem observa a realida-de e escuta e responde as indagações daqueles que o rodeiam. Na epígrafe, o autor seleciona um trecho de O Banquete, de Platão, que diz que tudo que Eros “consegue pouco a pouco sempre lhe foge das mãos”. Mas é na Repúbli-ca que podemos entender a poesia de Paulo Ribeiro. Platão não diferencia o poeta do filó-sofo. O raciocínio filosófico, mesmo em ver-sos, permanece filosofia. E O tal Eros só pode ser compreendido como uma filosofia erótica, niilista talvez, de poemas enxutos e concisos e, em raríssimos momentos, imperfeitos. A junção de lh no verso “em olho, olho-me” do primeiro poema gera uma ilusão de ótica que enganou até mesmo o autor. É metafórico, como todas poesias, que ao falar do olhar a visão seja embaralhada pelas consoantes. É na busca por um significado além do proposto que reside a maior riqueza de Osso relato.

l O tal Eros Só - Osso relato

Editora Belas-Letras, 112 pgs., R$ 25.

Page 18: Edição 21

[email protected]

Vasco Machado| Tarde de verão |

Reconhecido pelas obras que retratam a história, as paisagens e os hábitos da cultura gaúcha, Vasco Machado mostra neste óleo sobre tela as marcas da colonização italiana. Um fundo de quintal é o local escolhido para revelar um cenário onde o lento passar do tempo preserva antigos costumes.

18 24 a 30 de abril de 2010 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .O Caxiense

UM AMORDISTRAÍDO

Epor CLÁUDIO B. CARLOS

ra um amor distraído que se esquecia de dar beijo na boca e afagar as crianças. Mas a mãe gostava do pai, a seu modo e o pai gostava da mãe, a seu grosso modo. E na medida do impossível tudo se provia. O nosso tudo era pouca coisa mais do que o nada. Era o que podia o indecente salário mínimo do pai, que era atirado sobre a mesa todo dia 5. Ouvia-se na casa inteira o tilintar das patacas, que em rodopio iam se deitando e se acalmavam sobre a ma-deira carcomida pelo cupim, da mesa da cozinha. E depois o silêncio. O lampião de chama trêmula pendurado no baldrame, o cheiro do querosene queimado, a fumaça negra que subia. Picumã. Tudo tudo conti-

nuava como antes. Manhã cedo o pai saía. A mãe lavava roupa pra fora pra engordar o que por insistência ou por deboche cha-mavam de orçamento familiar, descia pro açude com o menor nos braços e só vinha um pouco antes do almoço. À tarde repetia o trecho. O pai voltava no iniciozinho da noite e sempre se queixava de dores e can-saço. Serviço pesado. Eu passava os dias cuidando dos dois do meio, que ranhentos, brincavam com os cuscos e comiam terra. Eu era diferente. O pai falava que eu tinha um brilho nos olhos. Eu sonhava um ama-nhã e um depois de amanhã e um depois de depois de amanhã e conseguia perceber no meio do imenso nada, a distração.

* Do livro Um arado rasgando a carne, Editora Maneco (2005), 68 páginas.

Page 19: Edição 21

l Brisa Open de Tênis | Sábado e domingo, 9h15 | Último final de semana do campeona-to. No sábado, as partidas começam às 9h15h e se estendem até as 15h30. As finais serão disputadas no domingo pela manhã.Sede Esportiva do Clube JuvenilEntrada gratuita | Marquês do Herval, 197

l Campeonato Municipal | Sába-do e domingo, 13h15 e 15h15 |A quinta rodada do Campeonato Mu-nicipal ocorre neste final de semana. Os jogos são disputados nas categorias Ouro, Prata e Suplente.SÉRIE OURO - Sábado, 15h15: XV de Novembro x União de Zorzi (En-xutão), Goiás x Guarani (Serrano) | Domingo, 13h15: União Reolon x Cristal (Sta. Corona) | Domingo, 15h15: Fiorentina x São Victor Cohab (Municipal 1), Londrina x Vindima (S. Família), União Industrial x Século XX (Sta. Corona), Fonte Nova x Az de Ouro (Reno)SÉRIE PRATA - Sábado, 13h15: Mundo Novo x Ouro Verde (Muni-cipal 2) | Sábado, 15h15: Kayser x

Vera Cruz (Municipal 1), Bom Pastor x Hawaí (Fátima) | Domingo, 13h15: Unidos da Esperança x Águia Negra (Reno) | Domingo, 15h15: Esperança x Uruguai (Enxutão), Unidos x Atléti-co (Fátima)SÉRIE SUPLENTE - Sábado, 13h15: XV de Novembro x Cristal (Enxutão), Az de Ouro x Londrina (Municipal 1), União Reolon x Guarani (Serrano), Hawaí x Século XX (Fátima) | Domin-go, 13h15: Bom Pastor x Esperança (Enxutão), São Victor Cohab x Fio-rentina (Municipal 1), Ouro Verde x Vindima (Sagrada Família), Kayser x Unidos (Fátima). Enxutão, Serrano, Sta. Corona, Mu-nicipal 1 e 2, Sagrada Família, Reno e FátimaEntrada gratuita

l Copa União | Sábado, 13h30 e 15h30 |

A disputa pela liderança continua acirrada na Copa União. Na catego-ria Juvenil, as equipes São Francisco da 6ª Légua, Pedancino e Forquetense estão empatadas com 12 pontos. Já na Sênior, o Esporte Clube São Virgílio dispara na frente, com cinco pontos de vantagem sobre o Juvenil, segundo colocado.

Juvenil, 13h30: Botafogo x São Francisco, São Cristóvão x Pedancino, Bevilacqua x Forquetense |

Sênior, 15h30: Conceição x Bota-fogo, Forquetense x Canarinho, Dia-mantino x Pedancino, Bevilacqua x São Virgílio, Juvenil x São Francisco.Campo do time mandanteEntrada gratuita

l Campeonato Citadino Adulto | Terça e quinta, 19h45 e 20h45 |

Os jogos do campeonato, que ini-ciou em 15 de abril, ocorrem sempre às terças e quintas no Enxutão. As 18 equipes estão divididas em quatro grupos e jogam entre si. Classificam-se os dois primeiros colocados de cada grupo para fase seguinte.

Terça, 19h45: Arsenal Futsal x SER Suruba Futsal | Terça, 20h45: Os Deva/América Rio Branco x G.E. Juventus | Quinta, 19h45: Pio X Fut-sal x São Vicente Futsal | Quinta, 20h45: Sulfer Futsal x SER Real.EnxutãoEntrada gratuita | Luiz Covolan, 1.560, Santa Catarina

l Farrapos x Serra | Sábado, 15h |Neste sábado a equipe do Serra tenta

a reabilitação no Campeonato Gaú-cho, após a derrota contra o San Die-go, pela primeira rodada, jogando em Flores da Cunha.

Estádio da MontanhaEntrada gratuita | Av. Osvaldo Ara-nha, 493 , Bento Gonçalves

l Campeonato Brasileiro Jú-nior Feminino | Sábado, 17h30, e domingo, 16h30 |A equipe da UCS disputa o Campeo-nato Brasileiro Júnior Feminino neste final de semana. O evento iniciou na sexta-feira. No sábado, as meninas caxienses enfrentam a equipe da Fee-vale/Novo Hamburgo, e, no domingo, a FME Criciúma. Este será o primeiro teste antes do início da Liga Nacional que começa em maio. Os destaques da UCS são a goleira Lais Bordin da Silva, titular da Seleção Brasileira campeã do Campeonato Pan-Americano Juve-nil, e as atletas Danielle Jóia, Karoline de Souza e Adriana de Castro, que re-tornaram da Seleção Brasileira Júnior após o vice-campeonato no Pan-Ame-ricano na Argentina.Sábado, 16h: Coca Cola x Criciúma | Sábado, 17h30: UCS x Feevale/Novo Hamburgo | Domingo, 15h: Coca-Cola x Feevale/Novo Hamburgo | Domingo, 16h30: UCS x Criciúma.Ginásio Poliesportivo da UCSEntrada franca | Francisco Getúlio Vargas, s/nº, Petrópolis

Guia de Esportes

Mai

con

Dam

asce

no/O

Cax

iens

e

Cla

iton

Stu

mpf

, Div

ulga

ção/

O C

axie

nse

Atletas da UCS disputam em casa o Campeonato Brasileiro Júnior de handebol no fim de semana; no rugby. time de Caxias vai a Bento jogar pelo Estadual

TÊNIS

FUTEBOL

RUGBY

[email protected]

HANDEBOL

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r 1924 a 30 de abril de 2010 O Caxiense

Page 20: Edição 21

20 24 a 30 de abril de 2010 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .O Caxiense

por MARCELO [email protected]

essas úmidas tardes de outono o vento frio traz consigo a melancolia. Os pás-saros agarrados às copas das árvores são os que mais sentem esse balanço. Nem todos resistem a essa brisa que cessa e ressurge como num improviso acentuado por notas breves e longas, como um jazz de Miles Davis. Mesmo um passarinho pode despencar lá do alto e morrer. Quase ninguém percebe porque logo cedo terá outro, assovian-do, acomodado no mesmo galho.

Essa sensação de tristeza pode-se enxergar no olhar de um passarinho em apuros, que percebe suas garras desgarrando-se do galho, ou na revisão da vida de um ex-jogador de futebol, que por muito pouco não se viu des-pencar lá do alto. E quem se importa?

Afinal de contas, é só mais um jogador dentre tantos. Ainda mais um lateral esquerdo. Tivesse ele estufado as redes do time adversário numa final de Copa do Mundo, ou por um lance de garra e sorte tivesse impedido o gol inimi-go em pleno Maracanã abarrotado de torcedores mudos, como se fossem tes-temunhas de um crime perfeito a reza-rem por um milagre.

Mas Paulinho não foi esse homem flagrado pelas câmeras de televisão. Nunca virou manchete do Jornal Na-cional. Tem em casa pouco mais de meia dúzia de fotos. E apenas uma dessas o revela como o protagonista da cena. Nesse retrato, Paulinho não fez gol, tampouco impediu. De cer-ta forma parece aliviado pelo juiz ter marcado alguma coisa a favor do seu time. Dá pra ver ainda o suor de quem correu por meio time. O placar já não importa, faz tanto tempo, numa época em que Caxias do Sul tinha um só time dividido entre dois corações. Paulinho vestia a camisa alvinegra da Associa-ção Caxias de Futebol, fusão entre o Flamengo da Baixada Rubra e o Juven-

tude, do Alfredo Jaconi. União que não durou muito tempo.

Paulo Oliveira Pereira nasceu em Porto Alegre no dia 8 de julho de 1944. Jogava bola como quem toma um copo d’água. Pelo prazer de saciar a sede de ver a bola rasgar o céu. Não co-gitava viver do ofício de chutar aquele pedaço de couro branco. Nos campos de terra batida divertia-se com a vitó-ria apertada ou mesmo com a derrota de goleada. Porque no final das contas eram todos amigos mesmo vestindo camisetas de outras cores. Numa des-sas peladas um olheiro maravilhou-se com a habilidade do lateral esquerdo do time Bagé, do bairro Petrópolis, de Porto Alegre.

“Nessa época eu trabalhava no Ban-co Mercantil de São Paulo há um mês. Nosso time jogou dois amistosos con-

tra os juvenis do Internacional. Em-patamos um e ganhamos o outro. Na semana seguinte desses jogos, chegou uma carta dizendo que era pra eu me apresentar no Inter. Fui lá e disseram que pagavam o mesmo salário que eu ganhava no banco. Eu tinha 16 anos, mas acabei não ficando”, conta Pauli-nho. Com essa idade, o jovem peladei-ro precisava do aval dos pais. “Meu pai era adventista e não gostava que eu jo-gasse. Depois foi entendendo, mas no início ele não queria”.

Se a vida muda em um breve segun-do, assim também ocorre no mundo da bola. Um dia o garoto alto e esguio vestia o pano colorado, no outro, cor-ria pra defender o tricolor porto-ale-grense. Em 1969, Paulinho via-se no Grêmio. “Na minha posição o Grêmio tinha o Everaldo, que no ano seguin-te, em 1970, seria o titular da Seleção Brasileira. Então o Grêmio resolveu me emprestar para o Flamengo de Ca-xias. Vim pra ficar um ou dois anos e estou aqui há 40”, recorda Paulinho, deixando escapar um breve sorriso de felicidade. E sorri fitando a esposa,

a produtora de eventos Liege Caza-rotto Pereira, 57 anos. Casados há 40 anos, com dois filhos, sobreviveram a essa imperativa dança das cadeiras de quem ganha o pão correndo atrás de uma bola.

“Sei que o Paulo às vezes pensava que eu ou a mãe dele não que-ríamos que ele jogasse futebol. Mas pensa só. Naquela época os clu-bes não pagavam direi-to. O Paulo não ganha-va mal, não. Eu tinha empregada e babá para cuidar dos meus filhos. Mas o problema é que às vezes o Paulo fica-va dois, três meses sem receber salá-rio”, pondera Liege. Ou então tinha de

buscar o salário em boate de meninas prendadas. “Eu jogava no Internacio-nal de Lages, quase no final da minha carreira. E depois de um jogo tive que ir numa boate, que nem me lembro o nome, pra buscar o meu salário. O presidente do time era dono da boate”, lembra Paulinho.

Em Caxias, o lateral conheceu, jogou e conviveu com aquele que viria a ser o gringo mais conhecido desse mundão afora. Paulinho era alto, esguio e tinha uma cabeleira, que ao final das partidas ficava toda desgrenhada. Luiz Felipe era mais baixinho, troncudo, de pouco cabelo e um poderoso bigode. Como jogador ele era tão ruim como dizem?, questiona o repórter. “Ele era tosco sim”, sorri Paulinho. “Mas é gente boa”, pondera. Nos jornais da época é possí-vel encontrar uma reportagem em que fica evidente como Paulinho era me-lhor jogador que Felipão. Numa delas diz que era Paulinho, lateral esquerdo, quem dava cobertura a possíveis falhas do zagueiro Luis Felipe. “O certo deve-ria ser o zagueiro cobrir as costas do lateral. Mas no nosso caso era eu quem

cobria o Luiz Felipe”, revela.Dias cinzas como o da entrevista com

Paulinho são propícios para revisitar o passado. Felipão tem na bagagem uma série de títulos, enfim, uma vasta car-

reira vitoriosa e ainda um cobiçado troféu de campeão da Copa de 2002. Paulinho não. O ex-lateral esquerdo, versátil como descrevia a imprensa da época, não encontrou a mes-ma trilha de sucesso como treinador. Quis o destino que Paulinho e Luiz Felipe tivessem caminhos opostos. “Na temporada de 1982 para 1983 eu era

treinador dos juniores do Caxias e o Felipão do Juventude. Ganhei os dois

CA-JUs. Mas aí os profissionais do Ju-ventude foram para uma excursão na Arábia Saudita e resolveram enviar o Luiz Felipe como treinador. No ano seguinte o Felipão foi para lá com con-trato de dois anos para trabalhar no Al-Shabab.”

O maior troféu da carreira de Paulinho é uma carteirinha que ele diz não saber onde está. Em 1973, o então lateral esquerdo queria a todo custo receber a menção honrosa do futebol brasileiro, o Belfort Duarte. Por jamais ter sido expulso na carreira, Paulinho ganhou uma carteirinha que concede entrada gratuita em qualquer estádio no Brasil. Essa condecoração Felipão não tem. Desde o ano passado, Pau-linho abandonou de vez o futebol, fechou a escolinha que mantinha em convênio com o Grêmio. Torcedor do Caxias, diz não ir mais ao estádio. Can-sou do futebol. Passa as manhãs guian-do um carro de som que espalha aos quatro cantos as promoções dos super-mercados. “À tarde venho pra casa des-cansar”, revela, acendendo um cigarro.

Personagens grenás

N

Foto

s: M

aico

n D

amas

ceno

/O C

axie

nse

SOnATA DE OUTOnO

Paulinho, o lateral esquerdo que cobria as costas de Felipão, não teve o mesmo sucesso que o ex-companheiro de clube

Paulinho defendeu o Flamengo, ACF (Associação Caxias de Futebol) e Caxias, de 1970 a 1976

“O Grêmio resolveu me emprestar para o Flamengo. Vim pra ficar um ou dois anos e estou aqui há 40”, recorda Paulinho

Page 21: Edição 21

por FAbiAnO [email protected]

undada na época em que briga de tor-cidas era empurra-empurra e troca de desaforos, a organizada Mancha Ver-de espera voltar a comemorar títulos. Apesar de os últimos três anos terem sido praticamente excluídos da memó-ria de grande parte dos papos, a luta para aumentar o número de sócios, bem como de integrantes, é diária. “Os dois rebaixamentos foram difíceis. Mas o pior de tudo ainda acho que foram aqueles 8 a 1, na final do turno con-tra o Inter, em 2008”, desabafa o atual presidente da Mancha, Cláudio Júnior Spigolon, 27 anos, popularmente co-nhecido por Dinho. Ele está à frente do grupo desde 2002.

Para saber mais sobre os grupos organizados que ocuparam as arqui-bancadas do estádio Alfredo Jaconi ao longo da história, nada mais justo do que ouvir o depoimento de um dos fundadores da Mancha, o músico Ra-fael Gubert, 34 anos. Segundo ele, até o final da década de 1980 o Ju tinha três torcidas: a Fiel Força Jovem, a Império Alviverde e a Verdão Bafo na Nuca. “A primeira foi a Força, eu era integran-te. Mas eram torcidas muito pequenas. A Império praticamente desapareceu quando tivemos a ideia de juntar as restantes. Estavam tão pequenas que

nem conseguiam fazer barulho no es-tádio”, brinca o torcedor fanático, que participou da peça publicitária do clu-be que visa a conquistar novos sócios – os planos Papo Paixão (interessados podem acessar www.juventude.com.br ou ligar para o clube, no 3027-8700).

O projeto da organizada surgiu no final de 1989 e, em março do ano se-guinte, após uma reunião de final na tarde, realizada no estacionamento do Jaconi, um grupo de jovens papos criaram a Mancha Verde. “Queríamos fazer uma torcida forte. A principal dúvida foi definir o nome”, recorda Gubert. A opção adotada foi escolhida pela vinculação criada com o Palmei-ras, de São Paulo. O músico, que na época ensaiava os primeiros acordes, escreveu cartas para os paulistas. “Os laços foram estreitados com o Palmei-ras. Na época era uma torcida grande a Mancha, para os padrões do Ju. Hoje ela cresceu muito, tem escola de sam-ba, paga o aluguel de uma sala própria. Em 2007 falei para o Dinho: ‘Meu, nunca imaginei que essa torcida ficaria desse tamanho’, ao olhar para a ferra-dura sul completamente lotada. Boas lembranças”, destaca Gubert.

Naquela mesma noite de 30 de abril de 1990 foram desenhados mode-los da camisa do grupo. Já no segundo encontro todas foram comercializadas.

“Estávamos em uns 80, nem todos das três torcidas concordaram. A Mancha poderia ter iniciado muito maior, pois alguns desistiram. Era uma coisa muito louca, muito amadora”, relembra Gu-bert, que ficou ativo até 1994. Um inci-dente em Lajeado o fez desistir de viajar com a organizada. “Aconteceu uma briga generalizada depois de um jogo pelo Gauchão. Um cara veio em minha direção e ar-remessou um tijolo. Só deu tempo de proteger o rosto com o braço”, conta, mostrando um calombo no cotovelo direito, resultado da agressão sofrida. “Está certo que as brigas eram mais frequentes, mas não eram violentas. Tinha um lado mais român-tico, meio lúdico, parece besteira o que estou dizendo, mas é o que penso”, opi-na o músico.

Outro incidente citado por Gubert envolveu até jogadores do Juventude em Bento Gonçalves. O jogo contra o Esportivo foi no desativado Estádio da Montanha. “Está certo que provoca-mos... Uma bola caiu bem na torcida do Ju. Escondemos e tentamos levá-la embora. Ao tentar sair ficamos encur-ralados e o ‘pau comeu’. O Veneza e

o Ferreira saíram do ônibus e vieram ajudar a gente”, diz o papo de berço, filho e neto de juventudistas. Na sua opinião, as duas quedas em três anos – da Série A para a Série B em 2007 e da B para a C em 2009 – começaram

a ser desenhadas com a saída da Parmalat, em 2000. Mas, um ano antes, uma campanha fraca rebaixou o Ju. O que de fato não ocorreu devido à famosa “vira-da de mesa” feita pela Confederação Brasilei-ra de Futebol (CBF).

E sobre esse as-sunto cabe um parên-teses, porque muitos torcedores não sabem

realmente o que aconteceu no final da década passada. Gubert e Dinho lem-bram muito bem do título da Série B em 1994 e do Gauchão, conquistado de forma invicta em 1998. Mas em 1999 o Ju teve apenas cinco vitórias em 21 jogos, somando 22 pontos no Brasilei-rão, o que decretaria seu rebaixamento ao lado de Gama, Botafogo-SP e Para-ná. Em 2000, o alviverde não disputou a Segunda Divisão por decisão do Su-perior Tribunal de Justiça Desporti-va (STJD) – leia-se Luiz Zveiter. Em favorecimento ao Botafogo, o Gama

História alviverde

F

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r 2124 a 30 de abril de 2010 O Caxiense

Mai

con

Dam

asce

no/O

Cax

iens

e

A FORÇA QUE VEM DA

TORCiDA Mancha Verde, fundada após fusão de duas torcidas do Juventude, completa 20 anos no próximo dia 30

“Em 2007 faleipara o Dinho: ‘Meu, nunca imaginei que a torcida ficaria desse tamanho’, ao olhar para a ferradura lotada”, lembra Gubert

Da equerda para a direita: Rafa Gubert foi um dos fundadores do grupo hoje comandado por Dinho, com ajuda de Caroline e William

Page 22: Edição 21

22 24 a 30 de abril de 2010 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .O Caxiense

foi prejudicado e acabou na Série B. Os dirigentes brasilienses acionaram a Justiça comum e ganharam em todas as instâncias. Para resolver o impasse, a CBF fez um acordo e criou a Copa João Havelange (módulos Azul, Amarelo, Verde e Branco, lembram?). Na ocasião, alguns ti-mes foram beneficia-dos, como Fluminense, Bahia, Gama, Botafo-go-SP e Juventude. O único que ficou na Sé-rie B (Módulo Amare-lo) foi o Paraná.

Voltando ao pensa-mento de Gubert, as direções do alviver-de não se prepararam para a saída da Parmalat. “O custo do futebol era altíssimo, e assim foi sen-do mantido. Não fomos bem em 2001, 2003, 2005 e 2006. Em 2007 caímos para a B. Na época, até as cotas de tele-visão estavam sendo antecipadas para tentar montar um time bom e salvar a temporada”, revela o músico, sem citar a fonte da informação.

Entre as atividades desenvol-vidas para comemorar os 20 anos da Mancha Verde, conta Dinho, esteve o 1º Campeonato de Futebol Society, sendo que sagrou-se campeã a equipe da Mancha Zona Norte – ao todo 10 times participaram. A entrega da pre-miação foi feita pelo ex-técnico Valmir Louruz (campeão da Copa do Brasil com o Ju em 1999) e o ex-goleiro Mar-celo Conte Isoton (campeão da Série B em 1994). O evento reuniu cerca de 300 pessoas na última semana de mar-ço. O nome do time é alusivo à Escola de Samba Mancha Verde, criada em 2009 como bloco. Neste ano foi cam-

peã da categoria e, convidada para o grupo especial, chegou ao 4º lugar no Carnaval de Rua de Caxias do Sul em 2010. “Nosso samba-enredo foi esco-lhido o melhor, com o tema Do Pre-

conceito à perseguição prevalece o amor no coração”, conta, orgu-lhoso, o atual presiden-te da organizada.

Ao contrário de Gu-bert, que começou a ir ao Jaconi acompanha-do dos familiares, Di-nho foi convidado por um vizinho da rua em que morava, no bairro Universitário. “Minha família não é ligada em futebol. Minha primei-

ra vez no Jaconi foi num amistoso do Ju contra o Parma (Itália), eu tinha 11 anos. Meu vizinho pegava toda a gu-rizada da rua e levava para o estádio. Até então eu não sabia como era um jogo de futebol. Foi quando me apai-xonei pelo Juventude”, lembra. Mas foi num jogo da segunda fase do Brasilei-rão de 1997 que Dinho considera seu início como torcedor. O Ju havia pas-sado com Vasco, Atlético-MG, Santos, Flamengo, Portuguesa, Palmeiras e Inter. “A partida foi em Porto Alegre, no Olímpico, pois a determinação da CBF era a de que os jogos deveriam ocorrer em estádios com capacidade mínima para 40 mil pessoas. A mobi-lização foi enorme. Foram 153 ônibus com papos para a Capital, sem contar os carros particulares”, frisa, emocio-nado. O Ju perdeu aquele jogo por de 3 a 0 – gols de Juninho, Adilson (contra) e Edmundo.

Entre 1994 e 1997 o líder integrou a torcida Comando Verde, que acabou extinta. A maioria migrou para a Man-

cha. Atualmente, o grupo tem 1.120 torcedores cadastrados, porém, nem todos comparecem nas partidas. “Mui-tos deixaram de vir até pela campanha do time. Outros ainda foram para a Loucos da Papada (outra organizada). Além disso, a maioria se aposenta, di-gamos assim, com 25 anos”, comple-menta.

Há dois anos a Mancha Verde tem uma sede própria na esquina das ruas Hércules Galló com Borges de Medeiros, onde são comercializados produtos temáticos e realizados en-contros para viagens. O motivo para sair do estádio, segundo Dinho, era a falta de espaço e o pedido da direção para ampliar a loja oficial do Ju. “Pre-cisávamos de espaço também para a Escola de Samba.” Na década anterior, incidentes registrados por integrantes da Mancha Verde motivaram os diri-gentes a fechar a sala. Após acordo, os torcedores voltaram ao estádio. Na sua gestão, Dinho foi deti-do no dia 28 de março de 2009, horas antes do Juve-Nal disputado no Jaconi, válido pelo Gauchão. Na época, em meio a uma confusão com a torcida colora-da foram disparados três tiros de revólver. Policiais militares pre-deram o presidente da organizada, acusado de ser o autor dos dis-paros. Pela sua versão, a arma fora jogada no chão, próxima de onde ele estava. “Quem me conhe-ce sabe que luto pela paz nos estádios. Minha função é tentar unir a torcida. Depois dos rebaixamentos nosso tra-balho dobrou, pois ficou mais difícil

convencer as pessoas, principalmente os jovens. Não existe outra palavra se-não tristeza. Temos de fazer como meu vizinho fez há 16 anos: pegar a guriza-da e levar para o estádio”, argumenta, citando o apoio dado à direção nas no-vas ações de marketing que estão sen-do desenvolvidas.

Além disso, a Mancha acompanha de perto a vida política do clube. Foi o que ocorreu no final do ano passado, quando, pela primeira vez na história, duas chapas disputaram a presidência do Juventude. Segundo Dinho, o apoio seria dado para quem ganhasse, mas era consenso que todos preferiam uma renovação – a chapa de Milton Scola foi a vencedora. Nos últimos dias in-tegrantes da Mancha acompanham de perto a apresentação de reforços para a disputa da Série C. Foi o caso do atacante Júlio Madureira, que mar-cou um gol pelo Caxias no CA-JU que decidiu a vaga na final da Taça Fábio Koff (segundo turno) do Estadual do

ano passado. O time grená venceu por 2 a 0 – Marcos Denner, que foi para o Criciúma-SC do técnico Argel, anotou o outro gol. No final da manhã do dia 16 Dinho cobrou de Madureira gols contra o Caxias. Ainda faltam algumas peças no time que a direção está em-penhada em montar para que o clube dis-pute a Série B em 2011.

“Vamos fazer de tudo para apoiar”, resume Dinho. Ou melhor, citando o músico Rafael Gubert, “quem sabe agora, no fundo do poço, o Ju cresça novamente, de forma ordenada, e volte a ser o grande clube que sempre foi”.

Organizada temsede própria e uma Escola de Samba. Sãoexatamente1.120 os paposcadastrados,mas nem todos estão ativos

“Meu vizinho pegava toda a gurizada da rua e levava para o estádio. Foi quando me apaixonei pelo Juventude”, lembra Dinho

Page 23: Edição 21

Com a licença de operação libera-da esta semana pela Fepam, o ater-ro entra em operação de imediato?

Só na semana que vem. Ainda temos um restinho de vida útil na célula do São Giácomo e vamos aproveitá-la totalmente. Depois, vamos levar a imprensa e autori-dades ao novo aterro para mostrar o que foi feito por lá e que ele não vai causar nenhum dano ao meio ambiente. Seguimos fielmente a legislação ambiental que a Fepam nos exigiu. E a prefeitura tem interesse que se cumpra tudo o que manda a lei. Todas as exigências foram cumpridas à risca. É um aterro que vai servir de modelo a todo o país. Tudo foi pensado para a preservação do meio ambiente. O chorume terá um tratamento cons-tante e uniforme. Ele vai passar por 12 etapas de purificação. Quando chegar na etapa final estará na for-ma de água potável - não adequada para consumo humano, mas própria para irrigação da cobertura vegetal que implantaremos ali, um total de 26 mil árvores ao redor da primeira célula, de 35 mil metros quadrados. Os gases também passarão por um processo de purificaçao, um proces-so semelhante, mas mais demorado. Vamos levar um ano para deixá-lo pronto. Aí vamos saber se ele será utilizado como combustível ou para geração de energia. Haverá geraçao de energia suficiente para abastecer um bairro como o Reolon. Podere-mos até vendê-la para a RGE, mas é quase certo que ela será usada

mesmo no próprio aterro. E o Mato Sartori?

O trabalho todo estará concluído na primeira quinzena de junho. O Mato Sartori será voltado para a educação ambiental. A população não poderá ir lá para fazer um chur-

rasco, por exemplo. Essa não é finalidade dele. O que se quer é a preser-vação e o estudo da vegetação e da pequena fauna existente naquela área tão nobre. A opção pela educação ambiental foi do próprio prefeito. Ele entendeu que, se libe-rássemos a área, ela não seria preservada como

deve. Aquilo é um pulmão no meio da cidade. Todas as visitas serão agendadas, guiadas e monitoradas. Os grupos terão no mínimo 15 pessoas e no máximo 40. Ninguém poderá entrar desacompanhado.

Os problemas de vandalismo,

que atrasaram a entrega dos traba-lhos feitos ali, estão resolvidos?

Depois que colocamos as câmeras de vídeo cessaram os atos de van-dalismo. A Guarda Municipal dizia que não tinha como policiar a área. Agora tem. Colocamos até infraver-melho. Estamos gravando tudo o que acontece ao redor. Os vizinhos estão conscientes e sensíveis em relação à importância do Mato Sar-tori. É uma minoria que prejudicava a área. Faziam do mato o pátio do bairro Primeiro de Maio. Agora tira-mos o quintal da casa deles, aquilo é uma área de preservação pública.

Renato [email protected]

Os agentes penitenciários têm dificultado o trabalho da Brigada Militar

Juiza Sonáli da Cruz Zluhan, sobre o conflito institucional existente na administração do novo presídio regional de Caxias do Sul

O secretário do Meio Ambiente comemora dois feitos: o início das ope-rações do aterro sanitário de Rincão das Flores e a abertura do Mato Sartori, transformado em área de preservação ambiental.

perguntas paraAdelino Teles

Os dados são do site do Tribunal Superior Eleitoral:

No primeiro turno das eleições de 2006, o candidato do PSDB à presi-dência da República, Geraldo Alckmin fez em Caxias do Sul 138.225 votos, enquanto que Lula (PT) alcançou 62.352.

No segundo turno, a votação de Al-ckmin chegou a 150.436. Exitoso em nível nacional na busca pela reeleição, Lula obteve na cidade 83.649 votos.

Correspondência do dirigente municipal pedetista Luis Carlos Muniz ao presidente es-tadual Romildo Bolzan Júnior deixa bem claro o posicionamento do PDT caxiense em relação ao resultado da reunião que definiu as pré-candidaturas de Alceu Barbosa Velho (foto) e Kalil Sehbe Neto à Assembleia Legislativa e à Câmara dos Deputados. Muniz pede que o diretório estadual referende apenas as pré-candidaturas de ambos, “a fim de assegurar um crescimento ainda maior do nosso partido não

só no âmbito do município de Caxias do Sul como de resto em toda a região serrana”.

Escreve o presidente local do Partido Demo-crático Trabalhista: “Rogo que tais indicações sejam acolhidas e mantidas na sua plenitude pelo comando estadual, uma vez que aos demais participantes do processo, quais sejam os vereadores Vinicius de Tomasi Ribeiro e Gustavo Luís Toigo, foram asseguradas todas as prerrogativas legais e estatutárias vigentes”.

Para Muniz, respeitar a decisão do encontro

é uma medida que se impõe para reafirmação da unidade partidária e para que o PDT tenha condições plenas de desenvolver uma campa-nha eleitoral profícua, “sem correr o risco de alimentar quaisquer constrangimentos/animo-sidades entre os nossos milhares de militantes”.

Ao final, o dirigente partidário lembra que o “D” inserido na sigla PDT “é a guia mestra que deve nortear o respeito que devemos trilhar diante da vontade manifestada pelo voto depo-sitado pelas maiorias”.

Do vereador Gustavo Toigo (PDT), sobre nova greve dos médicos da rede municipal de saúde, marcada para esta segunda-feira:

- A reivindicação é justa e a greve, um direito legal. Mas a população não pode ficar vulnerável à queda de braço entre poder público e classe médica. Além disso, o descontentamento com o salário não é motivo para muitos profissionais não cumprirem o horário de trabalho, com a justificativa de vencimentos insatisfatórios. A causa da paralisação deveria ser ao menos razoável.

A vereadora Ana Corso (PT) não chegou a defender a paralisação dos médicos, mas afirmou na Câmara esta semana que as reivindicações da categoria por melhores condições de trabalho são históricas e de dimensão nacional. E pregou o diálogo, o que, segundo ela, não está sendo preocupa-ção do governo municipal.

Em reunião esta semana, o diretório municipal do Partido dos Trabalhado-res deliberou pelo afastamento do padre Roque Grazziotin do Conselho Diretor da Fundação Universidade de Caxias do Sul.

Os petistas caxienses ficaram des-contentes com o voto de Roque a favor da reeleição do professor Isidoro Zorzi para a reitoria da UCS. A oposição de Roque bateu de frente com o resultado da consulta popular feita entre pro-fessores, funcionários e estudantes da universidade. A maioria deles optou pela candidata Nilva Rech Stédile.

Detalhe: Roque representa o Minis-tério da Educação no Conselho Diretor não por força do PT caxiense mas por suas vinculações com o ministro Fernando Haddad, de quem é amigo pessoal e ex-colega de trabalho no ministério.

O presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas (Ipea), Márcio Pochman, será substituído pela diretora adjunta de estudos e políticas macroeconômicas do órgão, Denise Gentil. Em compensa-ção, o senador Paulo Paim e a deputada Manuela D’Ávila estão confirmados para participar, neste fim de semana, do 4 Congresso dos Metalúrgicos de Ca-xias do Sul, no Hotel Samuara. Os três participarão do painel “Novo projeto nacional de desenvolvimento - o futuro para quem trabalha”.

O ápice do encontro terá, é claro, pa-lestra do candidato a deputado federal pelo PC do B, vereador Assis Melo.

Uma realização a ser conferida de perto no fim de semana: a segunda edição da Conferência Municipal de Habitação. Além das políticas nacional e municipal de habitação e produção de moradia de interesse social, o encon-tro discutirá também um tema tão importante quanto: as regularizações fundiárias - em áreas de risco e em áreas consolidadas. A concretização das políticas habitacionais somente será possível com ações efetivas e amplas na área da regularização fundiária, que vêm sendo feitas pela Secretaria Muni-cipal de Urbanismo.

Mais pobre do que o encontro meta-lúrgico, que acontece no Hotel Samua-ra, a conferência está em realização na Câmara de Vereadores.

O projeto Câmara vai aos bairros pode ser imperfeito e criar problemas futuros, inclusive aos vereadores, mas é uma tentativa válida de aproximar o Legislativo da população e intermediar reivindicações comuns junto a órgãos públicos, a começar pela prefeitura.

Neste sábado, o projeto irá à Escola Municipal Paulo Freire, no Mariani, para ouvir moradores e presidente de associações daquele bairro e também da região do Matioda, Vale Verde, Cidade Nova, entre outros.

Núcleo tucano

Carta ao comando pedetista: nada de Vinicius ou Toigo

Falou e disse

Por sinal

Vigilância Sindicalismo e política

Dentro dos trilhos

Canal direto

Luiz

Cha

ves /

O C

axie

nse

Luiz

Cha

ves /

O C

axie

nse

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r 2324 a 30 de abril de 2010 O Caxiense

Page 24: Edição 21

stoc

k.xc

hng