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Informativo do Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher - NUDEM Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul Nudem ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 Editorial Na 24º edição do boletim a intenção é fazer com que os (as) leitores (as) despertem para as dificuldades enfrentadas no dia-a-a dia por quem é mãe e mulher: no trabalho, nos espaços públicos, etc. Assim, iniciamos com uma convidativa reflexão trazida pela colega Defensora Pública Thais Roque Sagin Lazzaroto que nos instiga sobre a problemática da maternidade e trabalho e sobre o quanto “essa conta é difícil de fechar”. Também compilamos notícias, decisões e legislação recentes, como por exemplo, a lei n. 13.872 de setembro de 2019, que garante o Direito a Mães lactantes amamentarem durante concurso público. E, como o projeto do NUDEM que visa combater a violência obstétrica tem sido destaque nacional com as indicações para o Prêmio Viva da Revista Marie Claire e Prêmio Innovare, não podíamos deixar de trazer um artigo sobre o tema com destaque para a recente e polêmica Resolução do CFM que viola os direitos e a autonomia das mulheres durante o parto, de autoria do Coletivo Nacional de Advogadas Nascer Direito. Também há jurisprudências “fresquinhas” relacionada a aplicação da Lei Maria da Penha, resumo das atividades do NUDEM e dica de livro. Aproveite e boa leitura! Boa leitura! Thaís Dominato Silva Teixeira Coordenadora do NUDEM Tema: Desafios da maternidade Temos ouvido com freqüência sobre certos assuntos. Quem nunca se deparou com dados que demonstram a desigualdade de gênero no mercado de trabalho? Dados como: 52% das mulheres em idade ativa estão inseridas no mercado de trabalho, enquanto o índice entre os homens é de 72%. As mulheres têm renda menor, recebendo cerca de ¾ do salário dos homens. Reflexão A maternidade e o trabalho LAZZAROTO, Thaís Roque Sagin

Edicao 24 Edicao - 2019...Revista Galileu – 18/09/2019. Em manifesto, brasileiras pedem qu 04 científica pedindo que os congressos incluam também profissionais que são mães e

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  • Informativo do Núcleo Institucional de Promoção e Defesados Direitos da Mulher - NUDEM

    Defensoria Públicade Mato Grosso do Sul

    NudemANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019

    EditorialNa 24º edição do boletim a intenção é fazer

    com que os (as) leitores (as) despertem paraas dificuldades enfrentadas no dia-a-a dia porquem é mãe e mulher: no trabalho, nosespaços públicos, etc. Assim, iniciamos comuma convidativa reflexão trazida pela colegaDefensora Pública Thais Roque SaginLazzaroto que nos instiga sobre aproblemática da maternidade e trabalho esobre o quanto “essa conta é difícil de fechar”.Também compilamos notícias, decisões elegislação recentes, como por exemplo, a lei n.13.872 de setembro de 2019, que garante oDireito a Mães lactantes amamentarem

    durante concurso público. E, como o projetodo NUDEM que visa combater a violênciaobstétrica tem sido destaque nacional com asindicações para o Prêmio Viva da RevistaMarie Claire e Prêmio Innovare, não podíamosdeixar de trazer um artigo sobre o tema comdestaque para a recente e polêmicaResolução do CFM que viola os direitos e aautonomia das mulheres durante o parto, deautoria do Coletivo Nacional de AdvogadasNascer Direito. Também há jurisprudências“fresquinhas” relacionada a aplicação da LeiMaria da Penha, resumo das atividades doNUDEM e dica de livro.Aproveite e boa leitura!

    Boa leitura!

    Thaís Dominato Silva Teixeira

    Coordenadora do NUDEM

    Tema: Desafios da maternidade

    Temos ouvido com freqüência sobre certosassuntos. Quem nunca se deparou com dadosque demonstram a desigualdade de gênero nomercado de trabalho? Dados como: 52% dasmulheres em idade ativa estão inseridas nomercado de trabalho, enquanto o índice entreos homens é de 72%. As mulheres têm rendamenor, recebendo cerca de ¾ do salário doshomens.

    ReflexãoA maternidade

    e o trabalho

    LAZZAROTO, Thaís Roque Sagin

  • 02 ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    trabalho. De posse da bendita carteiraassinada, contarão com a licença maternidaderemunerada. De quatro meses, porque nointerior essa história de empresa cidadã nãochegou.

    Quatro meses, enquanto a médica do postode saúde, a pediatra, a OMS, a campanha daTV fa la ram para e las amamen ta rexclusivamente até os seis meses de idadepara garantir mais saúde aos seus rebentos.Uma das tantas contas que não fechamquando o assunto é maternidade.

    Elas voltam para a empresa, deixando emcasa seu recém nascido de quatro meses devida, que até um mês atrás ainda achava queestava dentro da barriga. Elas voltam eprecisam produzir como se não tivessemfilhos. Ai delas se o filho ficar doente, se acólica apertar, se for dia de vacina e se nãopuderem ficar até mais tarde para atenderaquele grupo de turistas.

    Elas voltam e deixam o bebê sabe-se Deuscom quem. Com sorte, contam com uma redede apoio – avó, prima, tia, vizinha (sim, nofeminino, porque o trabalho do cuidado é, atéhoje, quase exclusivamente um trabalho dasmulheres).

    Se não tem rede de apoio, precisamcontratar alguém para cuidar do bebê. Mas aí aconta já não fecha de novo. Não dá para pagaro salário de alguém com os salários que elasganham.

    Elas, então, batem na porta da Secretariade Educação. A resposta: não tem vaga nacreche; 300 famílias aguardam na fila. Aspoucas que procuram à Defensoria Públicaainda têm que esperar um tempo razoávelpara o cumprimento da ordem judicial – tempoque às vezes o patrão não tem.

    Aquelas que ainda não tinham sidodemitidas pelo simples fato de terem setornado mães, jogam a toalha e abandonam oemprego. Vão se aventurar na informalidadeou são forçadas a se lançar no talempreendedorismo materno ou simplesmentedeixam de ter renda. O custo pessoal só elassabem. O custo social, incalculável.

    O destino dessas mulheres mães não étraçado por escolhas, mas sim pela falta deescolhas. O pacto civi l izatór io queconstruímos até então não foi pensado nasmulheres, muito menos nas mães.

    Esses dados são do Fórum EconômicoMundial sobre desigualdade de gênero e umarápida pesquisa no google pode nos mostraroutras fontes que apontam para o mesmocenário.

    Lembro de ter me deparado com númerossemelhantes quando preparava uma fala paraum evento do qual participaria comodefensora pública. Tinha recém entrado nacarreira e, sinceramente, aqueles dados nãoconversavam comigo.

    Hoje percebo que a minha incompreensãosobre a profundidade do tema, minha cegueiraquanto a sua gravidade, era fruto do meu lugarde privilégio.

    Aquela não era a minha realidade, mas eraa realidade da maioria esmagadora dasmulheres brasileiras. Eu não entendia naépoca o quanto essa realidade, ou melhor,essas realidades (porque são muitas ediferentes entre si) impactam a vida de todosnós.

    Há dois anos eu freqüento rodas deconversa com mulheres da minha cidade.Mais especificamente mulheres grávidas quefazem atendimento de pré natal pelo SUS. Aproximidade com elas foi abrindo meus olhospara o que é ser mulher e o que é ser mãe emum país em que privilégios são para poucos.

    As mulheres com quem eu convivo nasrodas, em sua maioria, não planejaramaquelas gravidezes.Amaternidade aconteceue elas a enfrentam como se enfrenta tudo queacontece sem ser planejado: como é possível.

    Essas mulheres serão as responsáveispelos cuidados do bebê quando ele nascer. Dobebê, da casa e dos outros filhos se eles jáexistirem. Nesses dois anos, dá pra contar nosdedos os homens que acompanhavam suasmulheres grávidas, muito embora a própriacaderneta da gestante preveja a presençapaterna nas consultas, para que seja realizadopré natal do homem.

    E o trabalho, como fica nessa narrativa?Algumas dessas mulheres, quando

    engravidaram, já não estavam inseridas nomercado de trabalho. Com o bebê nascido,continuarão levando a vida, daquele jeitoconformado e resiliente, tão naturalizado entrenós. Deus ajuda – posso ouvir uma delas falar.

    Outras mulheres, com muita luta, haviamconseguido uma colocação no mercado de

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    O outro caminho inevitável, pelo qual temosque passar, é diminuir as desigualdades entrea maternidade e a paternidade. É voltar para oinício do texto e encher aquela sala de esperado posto de saúde de pais, interessados nasua gravidez, na criança que está por vir.

    Precisamos fazer isso por vários motivos.Para libertamos mulheres e homens depadrões culturais que já não atendem asnecessidades das pessoas, trazendo maissaúde e equilíbrio às relações humanas.

    Para derrubar o duplo padrão predominanteno universo corporativo, em que amaternidade é vista como um risco a carreira ea paternidade como sinal de maturidade,possibilitando o acesso mais democrático aotrabalho e a ascensão profissional.

    E, sobretudo, porque quanto mais pessoassentirem, na própria pele, a dificuldade de serresponsável por um ser humano e, ao mesmotempo, conciliar as inúmeras obrigações dodia, quanto mais pessoas perceberem amagnitude do trabalho que é criar um serhumano, quem sabe as soluções sejam maisrapidamente desenhadas.

    Thaís Roque Sagin Lazzaroto é Defensora Públicado Mato Grosso do Sul desde dezembro de 2013.Atualmente, lotada na 2ª Defensoria Pública daComarca de Bonito. Co-fundadora do Mães de Bonito,coletivo que busca diminuir a violência contra mulherese crianças desde o nascimento. É MÃE DO MARTÍN EDO SANTIAGO.

    Pelo contrário: a sociedade como estáorganizada exclui as mães de vários espaçosimportantes e decisivos, dentre eles, o domercado de trabalho e, conseqüentemente,da renda, da autonomia, do crescimentopessoal e da plena cidadania.

    A s m u l h e r e s m ã e s – e m a i sfreqüentemente as negras, pobres, indígenas,deficientes, camponesas e outros tantasgrupos invisibilizados que sequer consigo citar– são empurradas para as beiradas do tecidosocial. São forçadas a existir assim, como lhesé possível, tanto pela ausência de políticaspúb l i cas e pr i vadas adequadas amaternidade, tanto pela nossa própria cultura,de divisão de tarefas entre mulheres ehomens, tão arraigada em nós mesmos.

    O que não enxergamos é o tamanho doimpacto negativo que essa irresponsabilidadecom as mulheres mães causa na sociedade,seja do ponto de vista humano ou econômico.

    Ao abandonar as mães a sua própria sorte,estamos abandonando nós mesmos. Aonegligenciá-las, negligenciamos nossopróprio futuro. Filhos são encarados comoprojetos pessoais, quando deveriam sercuidados como um projeto da humanidade.

    Para mudar esse cenário – e qualqueroutro, o primeiro passo é o diálogo, em todosos espaços possíveis. Nas conversas do dia-a-dia, nas empresas, nos ambientes em quese faz política. Debater insistente eincansavelmente, para que as fichas caiam(como vem caindo na mente desta que vosescreve) e as engrenagens se movimentem.

    ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    Fatos & Notícias

    Maternidade

    G1 – 31/08/2019. Intérprete de Librastraduz parto para pais surdos e emocionaequipe médica em Marília. Profissionaltraduziu até o momento mais importante: ochoro do bebê. Foi a primeira vez que um partoteve esse tipo de comunicação no HospitalMaterno-Infantil; exames apontaram que

    criança não tem deficiência auditiva. Um partorealizado em Marília (SP) se tornou umexemplo de inclusão. O casal que é deficienteauditivo contou com a ajuda de uma intérpretede Libras durante todo o procedimento e dessaforma pode se comunicar com a equipemédica. Esse foi o primeiro parto realizadocom esse tipo de comunicação e esse reforçoda equipe médica do Hospital Materno-Infantil.

    e eventoscientíficos acolham mães e bebês - Brasileirasescreveram uma carta aberta à comunidade

    Revista Galileu – 18/09/2019. Emmanifesto, brasileiras pedem qu

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    científica pedindo que os congressos incluamtambém profissionais que são mães e seusbebês. O manifesto fez com que as mulherescriassem um grupo, chamado de ObservatórioCajuína, que atua no contato com instituiçõese eventos para a inclusão de mães na ciência.O texto argumenta que na nossa cultura“tarefas que envolvem cuidado com os filhosainda são vistas como essencialmentefemininas” e logo, “excluir crianças [doscongressos] é excluir mulheres”, afirma. “Épreciso lembrar que existem bebês que aindamamam, não podem ficar tanto tempo longeda mãe”, diz o documento. “Existem mãessolo, existem mães sem rede de apoio,existem crianças que não conseguem ficarcom outras pessoas por muito tempo”. Omanifesto reivindica ainda estruturas básicasdurante os eventos científicos, como salas deamamentação e trocadores, e pede por“garantia de livre amamentação em todos osloca is do evento ” e “ to le rânc ia àimprevisibilidade que a presença de umacriança gera”.

    Porunanimidade, a Primeira Turma do TribunalRegional Federal (TRF1) negou provimento àapelação do Departamento Nacional deInfraestrutura de Transportes (Dnit) contra asentença, do Juízo da 14ª Vara da SeçãoJudiciária do Distrito Federal, que julgouprocedente o pedido de uma servidora públicafederal para a prorrogação da licença-gestante. Na hipótese, a requerente alega queapós o nascimento prematuro de vinte e setesemanas e dois dias de gestação foramnecessários cuidados médicos especiaisdesde o nascimento até recebimento da alta,totalizando oitenta e quatro dias eminternação hospitalar, o que impediu aconvivência de mãe e filho em período tãoimportante nesse estágio inicial da vida.Consta nos autos que a licença-maternidadetem por escopo proporcionar um períodomínimo de convivência da criança com afamília a fim de criar laços de saúde e bem-estar. O apelante, em suas razões, argumenta

    Portal do Holanda – 13/09/2019. Justiçaautoriza prorrogação de licença-gestanteem nascimento de prematuro.

    Decisões judiciais

    não existir previsão legal para se prorrogar alicença-maternidade para além de seis meses.A relatora, desembargadora federal GildaSigmaringa Seixas, destaca que o art. 207, §2º, da nº Lei 8.112/90, determina no caso denascimento prematuro que o distanciamentosó teria início a partir do parto. Por essa razão,o suporte maternidade somente ocorre assimque o bebê receber alta. Ressalta amagistrada, em seu voto, “quanto aosservidores públicos federais, a Seção V, da Leinº 8.112/1990, que trata da Licença àGestante, da Licença-Adotante e da Licença-Paternidade, dispõe que será concedidalicença à servidora gestante por 120 diasconsecutivos, sem prejuízo da remuneração”.Nesses termos, o Colegiado, acompanhandoo voto da relatora, manteve a sentençarecorrida.

    Mães lactantes terão o direito de amamentarseus filhos de até seis meses de idade durantea realização de provas de concursos públicos.A amamentação poderá ocorrer a cada duashoras, por até trinta minutos e o tempo nãoserá descontado do tempo de duração daprova. De acordo com o texto, a mãe deverá,no dia da prova, levar uma pessoa paraacompanhá-la. O acompanhante somenteterá acesso ao local das provas até o horárioestabelecido para fechamento dos portões eficará com a criança em sala reservada paraessa finalidade, próxima ao local de aplicaçãodas provas. A lei entrará em vigor após 30 diasda publicação.

    Veja a íntegra da norma.

    Art. 1º Esta Lei estabelece o direito de asmães amamentarem seus filhos de até 6 (seis)

    Migalhas – 17/09/2019 - Sancionada a Leique garante Direito a Mães lactantesamamentarem durante concurso público -

    Lei nº 13.872, de 17 de setembro de 2019.

    Estabelece o direito de as mãesamamentarem seus filhos durante arealização de concursos públicos naadministração pública direta e indireta dosPoderes da União.

    Legislação

    ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

  • 05ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    Direitos

    Resolução do CFM que viola

    direitos e garantias fundamentais

    das mulheres

    meses de idade durante a realização deconcursos públicos na administração públicadireta e indireta dos Poderes da União.

    Art. 2º Fica assegurado à mãe o direito deamamentar seus filhos de até 6 (seis) mesesde idade durante a realização de provas ou de

    etapas avaliatórias em concursos públicos naadministração pública direta e indireta dosPoderes da União, mediante prévia solicitaçãoà instituição organizadora.

    Recentemente, os movimentos dehumanização do parto e do enfrentamento àVio lênc ia Obs té t r i ca têm cresc idoexponencialmente, seja em razão dafacilidade do acesso à informação, o quepossibilita que mais mulheres tenhamconhecimento sobre seus direitos sexuais ereprodutivos, ou em razão da matéria estar seenraizando no mundo jurídico, ganhandodessa forma uma maior visibilidade e atençãoa essa temática tão importante.

    Muitos profissionais operadores do direitotêm tomado conhecimento dos direitos quesão violados no período do ciclo gravídico-puerperal, entendendo as diferenças do erromédico e da violência obstétrica no âmbito daresponsabilidade civil, e buscando oreconhecimento de algumas intervençõescomo crimes previstos no nosso Código Penal.Existem muitas questões e paradigmas queprecisamos transpor, além da construção dasteses jurídicas dentro do contexto da violênciaobstétrica, reconhecendo que trata-se deviolação de direitos humanos das mulheres, ede suas garantias e liberdades fundamentaiscontidas na nossa Constituição Federal.

    CARDOSO, Laura e RODRIGUES, Ruth.

    Laura Cardoso

    Ruth Rodrigues

  • 06 ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    Porém dentro do sistema processual,desde as delegacias para o reconhecimentode por exemplo - episiotomia sem oconsentimento livre e esclarecido daparturiente ser uma lesão corporal prevista noart. 129 do CP, que pode inclusive ser demaneira qualificada prevista nos §§ 1º e 2º -nas salas de audiência bem como nos autosdo processo, ainda precisamos avançar muitono seu reconhecimento para que seja dada adevida atenção para os desrespeitos, abusose maus tratos que ocorrem diariamente nasMaternidades de todo o Brasil, configurandopráticas de violência obstétrica, sejam elasfísicas, sexuais, psicológicas, materiais ouinstitucionais. Ademais há um movimentomuito contradicente do Conselho Federal deMedicina - CFM, que em muitas das vezestrava uma luta de braço desnecessária com omovimento, bem como com as mulheres,como se estivéssemos exigindo questõestotalmente inapropriadas, e que já nãoestivessem previstas como direitos no nossoordenamento jurídico. Buscando muitas vezesa imposição ao invés do diálogo e uma falta depercepção da importância da construçãocoletiva nesse cenário. Mesmo que há algunsanos o Conselho Federal de Medicina temt raba lhado no reconhec imen to dahumanização do parto, do protagonismo damulher e na importância da humanização doprocesso de parto e nascimento. Contudo, emuma at i tude claramente eivada depreconceitos e de ignorância sobre asevidências científicas, o Conselho Federal deMedicina publicou a resolução nº: 2.232/19que estabelece quais são os limites daautonomia do paciente. A Resolução denotaproblemáticas já em seu preâmbulo quandofaz suas considerações para instituir asnormas previstas na Resolução, pelasmesmas serem conflitantes com o que aprópria Resolução se propõe.Já em seu art.3º, viola gravemente a autonomia de vontadedo paciente, um princípio básico da Bioética,quando libera a autonomia do profissional emintervir, se dentro da sua percepção técnica,quando tiver um risco relevante à saúde, nãotendo o paciente - nesse caso a parturiente -nem quem esteja representado ou assistido, apremissa de recusar alguma terapêutica.Eisso é grave, pois estamos colocando emrisco, uma relação horizontal, pois não

    queremos que seja pautado numa prática doatendimento tradicional paternalista, ondetodas as considerações e decisões acerca dotratamento são decididas de forma isolada,pelo médico exclusivamente, visão queencontra-se ultrapassada, pois impede assimque o paciente seja o agente de seu própriotratamento, sendo assim, deve se prezar pelomodelo onde as decisões são feitas de formacompartilhada, no qual o médico informa,orienta, para que o paciente tome uma decisãode forma livre e esclarecida.Ademais, no casode discordância sobre a prática terapêuticaque deverá ser realizada no paciente, entre omédico e o familiar, deve o médico conduzir asautoridades competentes, seja ela ConselhoTutelar, Ministério Público ou a Polícia, vejambem, voltamos a era de um modelo de relaçãovertical, onde há aceite inegável sobrepráticas médicas, mesmo que as mesmas nãoestejam pautadas nas melhores evidênciascientíficas, que configura como garantiaconstitucional que encontra-se no art. 196CF/88 e recepcionada pela Lei 8.080/90 emseu art. 19-Q, §2º, I, além do rompimento clarocom o princípio da autonomia do paciente queaté então encontrava-se respaldado noCódigo de Ética Médico. A Declaração deBioética e Direitos Humanos, versa sobre asquestões éticas relacionadas à medicina, àsciências da vida e às tecnologias associadasquando aplicadas aos seres humanos,levando em conta suas dimensões sociais,legais e ambientais. Sendo assim, trazprincípios e conceitos atinentes às práticasbaseadas na bioética, que são os princípiosda beneficência, não-maleficência, respeito àvida, a confidencialidade e à privacidade,acrescidos do respeito à autonomia dopaciente, o seu direito em receber todas asinformações e participar mais ativamente doseu tratamento.

    No art. 5º vemos clara violação a essespreceitos, como forma de coibir o abuso dedireito, mesmo que seja contrário a diretivaantecipada de vontade, garantia de todos ospacientes pela Resolução do CFM de nº:1.995/2012. Sim, pois agora uma mulher podeser mutilada ou agredida durante o parto, se omédico entender que a vida do feto corre risco.No caso deste artigo, a mulher teria seusdireitos violados sob pena de abuso de direitodo feto, que é um ser que tem EXPECTATIVA

  • 07ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    de direito. Oras, se a mulher se recusa a sersubmetida a uma episiotomia e o profissionalmédico, desatualizado, não consegue prestarassistência ao parto normal sem o uso viciantedo procedimento de corte do períneo, a mulherdeve aceitar que lhe cortem sob a alegação deque se não for feito o procedimento o bebêpode morrer? Sem que tenha bases científicaspara determinada colocação, sendo que arecomendação da Organização Mundial daSaúde seja de no máximo 10% dos partosrealizados com episiotomia, e ainda é utilizadade maneira rotineira nos partos no Brasil. Nãohá previsão em nenhum instrumento legal deque a vida do feto deve sobrepor-se a damulher, ou de que o feto tem mais direitos.Quando é que o profissional assume aautonomia do processo natural e fisiológico donascimento? Muitas são as discussões acercadessa autonomia e qual seria o limite daautonomia médico-paciente. Contudo, alegarque a mulher que se nega a se submeter aprocedimentos invasivos, dolorosos esabidamente danosos, inclusive comevidência científicas que comprovam essasinformações, cometa um abuso de direitobeira à ignorância e destrói todo o movimentode humanização que estava sendo realizadopelo próprio Conselho Federal de Medicina. Éimportante ressaltar que o Conselho Federalde Medicina já previu a possibilidade do usodo plano de parto, documento esse que éclassificado como diretiva antecipada devontade, Resolução acima referida,documento este que deve ser respeitado,sempre que se fizer possível dentro dascircunstâncias daquela assistência ao parto,sendo baseado em evidências científicas,bem como os protocolos do Ministério daSaúde e as recomendações da OrganizaçãoMundial da Saúde. Ele substitui o termo deconsentimento genérico assinado no ingressoàs maternidades, pois este termo dispõesobre direitos da personalidade que sãointransmissíveis e irrenunciáveis. Ele contribuipara melhores desfechos pois é umacomunicação direta da parturiente com aequipe que vai atendê-la, deixando a equipeciente sobre qual o tipo de assistência quedeseja.Essa resolução vem contra a todas asevidências científicas e reflete um movimentodo Conselho Federa l de Medic inacontraditório e bastante preocupante. Se a

    mulher que vai dar à luz a seu filho pode serconsiderada uma abusadora de direitos de seupróprio bebê ao querer garantir a suaintegridade e os seus direitos sexuais ereprodutivos, estamos vivendo um retrocessoimenso. Oras, se os direitos do nascituro sesobrepõem aos direitos sexuais e reprodutivosdas mulheres, direitos esses garantidos pelanossa Constituição Federal, pelos tratadosinternacionais assinados pelo Brasil, como aConvenção Interamericana para prevenir,punir e erradicar a violência contra a mulher -Convenção Belém do Pará de 1994 e aConvenção sobre a eliminação de todas asformas de discriminação contra as mulheres -CEDAW (1979) que visam a erradicação,punição e eliminação de todas as formas deviolência contra a mulher, não seria essaresolução mais uma forma de violência? Nãoestaríamos sobrepondo a atuação de umúnico profissional sobre os direitos dasgestantes e parturientes? Cabe salientar que afunção social do Médico também deve sercumprida, e para além de ser um órgão deClasse, o Conselho tem a função de fiscalizara atuação de seus profissionais de acordo comas melhores condutas recomendadas.Autoria:Laura Cardoso e Ruth Rodrigues - peloColetivo Nacional de Advogadas NascerDireito.

    Ruth Rodrigues.

    Laura Cardoso.

    Desde o seu segundo parto, há 4anos, interessou-se pelo mundo da humanização e daViolência Obstétrica. Em 2017 fez um curso decapacitação jurídica em Violência Obstétrica pelaArtemis e, após isso, atua diariamente orientando eauxiliando as vítimas a buscarem os seus direitos. Em2018, criou um movimento com advogadasespecializadas em Violência Obstétrica e, juntamentecom Bruna Sales e Laura Cardoso, criaram o NascerDireito, coletivo de advogadas que procura orientar eatender as vítimas. Autora do livro a Estória do MeuParto.

    Deparou-se com a violênciaobstétrica quando engravidou, em 2013. Uma dasfundadoras do Movimento Nascer Sorrindo Pelotas.Hoje está com um processo na Justiça de dano porviolência obstétrica - o parto em que há cenas nodocumentário O Renascimento do Parto 2 eacompanhando um processo ético disciplinar no CRM.Faz vídeos em seu Instagram sobre parto humanizado eviolência obstétrica, buscando disseminar informação.Sua luta é para que essa discussão chegue cada vezmais ao Judiciário, sendo um tema emergente e queprecisa de visibilidade nos tribunais.

  • 08

    Nudem realiza curso de capacitação

    para agentes de saúde

    Destaques do Nudem no Bimestre

    O curso “Agentes de saúde em ação nocombate à violência de gênero” foi ministradopela equipe do NUDEM no mês de setembro amais de 500 agentes de saúde na capital. Opúblico foi dividido em 5 turmas e osprofissionais foram munidos de informaçõessobre violência de gênero, Lei Maria daPenha, formas de violência contra a mulher, ociclo da violência, a rede de atendimento e osmecanismos de denúncia. Com isso pretende-se que esses profissionais, que sãovisitadores de residências e estão em contatodireto com a população, transformem-se emmultiplicadores dessa temática e estejamaptos a prestar algumas orientações,auxiliando no combate da violência contra amulher. A idéia é executar os projetos tambémem outros municípios do Estado.

    Com a premissa de difundir os direitoshumanos das mulheres, o curso batizado de“Em Defesa Delas no Bairro” pretende divulgare fazer com que as mulheres, principalmentelideranças dos bairros, compreendam a Lei

    ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    Defensora Thaís Dominato Silva Teixeiraproferindo palestra sobre violência de gênero

    para os agentes de saúde

    Nudem realiza curso de capacitação

    para agentes de saúde

    Encerramento da 1ª Edição do Curso

    “Em Defesa Delas no Bairro”

    Maria da Penha como uma das principaisferramentas legislativas de atuação naassistência, prevenção e erradicação daviolência de gênero e, a partir disso, passem autilizar o conhecimento para operar a

    As participantes com os certificadosfornecidos pela ESDP no dia doencerramento e a embaixadora da RedeMulher Empreendedora, Caroline Reis(09/10)

  • 09ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    mudança social no grupo em que estãoinseridas, de modo a não permitirem violaçõesou buscarem a reparação em caso de danos.

    Depois de 22 horas de curso com diversaspalestras ministradas às terças e quintas-feiras, no período noturno, na Escola AracyEudociak, localizada na capital, na região doLagoa, encerrou-se a primeira edição e osentimento gerado pelo interesse ecomprometimento das participantes já nos fazpensar nos próximos em outras localidades.

    Gisele Bacanelli, diretora da Escola AracyEudociak e participante do curso, destacouque “todas as informações recebidas irãoreforçar e embasar muitos atendimentos quefazemos às mulheres (alunas) na Escola. O

    conhecimento é fundamental para encaminharmuitos casos que as alunas trazem ecompartllham conosco. Como sou diretora daEscola é importante saber como orientarcorretamente”.

    Já a participante Keyla Mariano fez questãode dizer que muita coisa mudou depois doprojeto, que aprendeu se colocar no lugar dooutro sem julgar. “ Estou mais preparada paraconversar e explicar as pesssoas sobreviolência contra a mulher e principalmenteencorajar e ajudar outras mulheres a selibertar e recontruir a vida”, disse a aluna quenão perdeu uma aula.

    A Defensora PúblicaCamila Maués dos Santos Flausino

    falando sobre o tema“O preconceito em razão

    de raça e etnia” (12/09)

    O grupo de mulheres junto a assessora de imprensa da DPGE CarlaGavilan, Psicóloga Keila de Oliveira Antonio e as DefensorasPúblicas Graziele Carra Dias e Thaís Dominato Silva Teixera (05/09).

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    Destaque

    NUDEM MS em destaque nacional

    ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    Prêmio VIVA

    Prêmio Innovare:Projeto contra violência obstétrica

    da Defensoria Pública de MS

    é finalista da edição 2019

    A Defensoria Pública de MS é finalista nosdois prêmios em razão do projeto“Capacitação e Informação no Combate àViolência Obstétrica”, desenvolvido peloNúcleo Institucional de Promoção e Defesados Direitos da Mulher (NUDEM).

    A iniciativa da Defensoria Pública de MSque aposta na máxima “informação é poder”promove palestras e capacitações quedivulgam amplamente os direitos dasmulheres durante a gestação, parto e pós-parto, além das consequências jurídicas daprática da violência obstétrica, tanto para asgestantes quanto para os profissionais da redede saúde e demais áreas de atendimento àmulher.

    O projeto se iniciou no ano de 2017 e nessetempo já foram capacitados mais de 900profissionais e já participaram das rodas deconversa mais de 700 mulheres.

  • 11ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    Lei Maria da Penha

    Jurisprudência em destaque

    Superior Tribunal de Justiça – STJ -

    19/09/2019 - Para Sexta Turma INSS deve

    arcar com afastamento de mulher

    ameaçada de violência doméstica.

    Segue decisão:

    A SextaTurma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)decidiu que o Instituto Nacional do SeguroSocial (INSS) deverá arcar com a subsistênciada mulher que tiver de se afastar do trabalhopara se proteger de violência doméstica. Parao colegiado – que acompanhou o voto dorelator, ministro Rogerio Schietti Cruz –, taissituações ofendem a integridade física oupsicológica da vítima e são equiparáveis àenfermidade da segurada, o que justifica odireito ao auxílio-doença, até mesmo porque aConstituição prevê que a assistência socialserá prestada a quem dela precisar,independentemente de contribuição. Nomesmo julgamento, a turma definiu que o juizda vara especializada em violência domésticae familiar – e, na falta deste, o juízo criminal – écompetente para julgar o pedido demanutenção do vínculo trabalhista, por atéseis meses, em razão de afastamento dotrabalho da vítima, conforme previsto no artigo9º, parágrafo 2º, inciso II, da Lei Maria daPenha (Lei 11.340/2006). A manutenção dovínculo de emprego é uma das medidasprotetivas que o juiz pode tomar em favor damulher vítima de violência, mas, comodestacou o ministro Rogerio Schietti, a lei nãodeterminou a quem cabe o ônus doafastamento – se seria responsabilidade doempregador ou do INSS – nem esclareceu seé um caso de suspensão ou de interrupção docontrato de trabalho.

    RECURSO ESPECIAL. VIOLÊNCIADOMÉSTICA E FAMILIAR. MEDIDAP R O T E T I VA . A FA S TA M E N T O D OEMPREGO. MANUTENÇÃO DO VÍNCULO

    TRABALHISTA.COMPETÊNCIA. VARAESPECIALIZADA. VARA CRIMINAL.NATUREZA JURÍDICA DO AFASTAMENTO.INTERRUPÇÃO DO CONTRATO DET R A B A L H O .P A G A M E N T O . I N T E R P R E T A Ç Ã OT E L E O L Ó G I C A . I N T E R P R E TA Ç Ã OE X T E N S I V A . P R E V I S Ã OL E G A L . I N E X I S T Ê N C I A . F A L T AJ U S T I F I C A D A . PA G A M E N T O D EINDENIZAÇÃO. AUXÍLIO DOENÇA.INSTITUTO NACIONAL DO SEGUROSOCIAL. RECURSO ESPECIAL PROVIDOPARCIALMENTE. 1. Tem competência o juizda vara especializada em violência domésticae familiar ou, caso não haja na localidade ojuízo criminal, para apreciar pedido deimposição de medida protetiva de manutençãode vínculo trabalhista, por até seis meses, emrazão de afastamento do trabalho de ofendidadecorrente de violência doméstica e familiar,uma vez que o motivo do afastamento nãoadvém de relação de trabalho, mas desituação emergencial que visa garantir aintegridade física, psicológica e patrimonial damulher. 2. Tem direito ao recebimento desalário a vítima de violência doméstica efamiliar que teve como medida protetivaimposta ao empregador a manutenção devínculo trabalhista em decorrência deafastamento do emprego por situação deviolência doméstica e familiar, ante o fato de anatureza jurídica do afastamento ser ainterrupção do contrato de trabalho, por meiode interpretação teleológica da Lei n.11.340/2006. 3. Incide o auxílio-doença, dianteda falta de previsão legal, referente ao períodode afastamento do trabalho, quandoreconhecida ser decorrente de violênciadoméstica e familiar, pois tal situação advémda ofensa à integridade física e psicológica damulher e deve ser equiparada aos casos dedoença da segurada, por meio de

  • 12 ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    interpretação extensiva da Lei Maria daPenha. 4. Cabe ao empregador o pagamentodos quinze primeiros dias de afastamento daempregada vítima de violência doméstica efamiliar e fica a cargo do INSS o pagamento dorestante do período de afastamentoestabelecido pelo juiz, com necessidade deapresentação de atestado que confirme estara ofendida incapacitada para o trabalho edesde que haja aprovação do afastamentopela perícia do INSS, por incidência do auxílio-doença, aplicado ao caso por meio deinterpretação analógica. 5. Recurso especialparcialmente provido, para a fim de declararcompetente o Juízo da 2ª Vara Criminal deMarília-SP, que fixou as medidas protetivas afavor da ora recorrente, para apreciação dopedido retroativo de reconhecimento doafastamento de trabalho decorrente deviolência doméstica, nos termos do voto.

    (REsp 1757775/SP, Rel. MinistroROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTATURMA,julgado em 20/08/2019, DJe 02/09/2019).

    Em caso de violênciadoméstica contra a mulher, a reconciliaçãoentre a vítima e o agressor não é suficientepara afastar a indenização pelos danoscausados. Prova de dano moral é dispensávelem caso de violência contra mulher. Oentendimento foi firmado pela 6ª Turma doSuperior Tribunal de Justiça ao reformaracórdão que havia isentado um homem deindenizar a vítima. No caso, o homem foiinicialmente condenado a 25 dias de prisão e apagar indenização de R$ 3 mil. Como foiconcedida a sursis, a execução da penaprivativa de liberdade foi suspensa. Porém,apesar de reconhecer que o homem agrediusua companheira com socos no peito e nosbraços, o Tribunal de Justiça de Mato Grossodo Sul decidiu reduzir o tempo de prisão eafastar a indenização, argumentando que "ofato gerador da condenação não passou demero aborrecimento na vida da vítima, semproduzir abalo psicológico ou ofensa a atributoda personalidade". A decisão, contudo, foireformada pelo 6ª Turma do STJ que aplicou a

    Conjur - 19/09/2019 - Reconciliação não

    afasta indenização por violência

    doméstica, diz STJ.

    tese firmada na corte de que em caso deviolência doméstica contra a mulher, o danomoral é presumido, dispensando prova. "Aatitude de violência doméstica e familiar contraa mulher está naturalmente imbuída dedesonra, descrédito e menosprezo àdignidade e ao valor da mulher como pessoa",registrou a relatora, ministra Laurita Vaz,restabelecendo a indenização fixada nasentença. A relatora esclareceu ainda que aposterior reconciliação entre a vítima e oagressor não é fundamento suficiente paraafastar a necessidade de fixação do valormínimo, "seja porque não há previsão legalnesse sentido, seja porque compete à própriavítima decidir se irá promover a execução ounão do título executivo, sendo vedado aoPoder Judiciário omitir-se na aplicação dalegislação processual penal que determina afixação de valor mínimo em favor da vítima".

    RECURSO ESPECIAL. PENAL EPROCESSUAL PENAL. VIOLÊNCIADOMÉSTICA. VIAS DE FATO. DANOMORAL. VALOR MÍNIMO PARA AREPARAÇÃO CIVIL. DANO MORAL IN REIPSA. MENOSPREZO À DIGNIDADE DAMULHER. MERO ABORRECIMENTO. NÃOO C O R R Ê N C I A . P O S T E R I O RRECONCIL IAÇÃO. IRRELEVÂNCIA.EXECUÇÃO DO TÍTULO. OPÇÃO DAVÍTIMA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1.A Terceira Seção do Superior Tribunal deJustiça, no julgamento do Recurso EspecialRepetitivo n.º 1.675.874/MS, fixou acompreensão de que a prática de violênciadoméstica e familiar contra a mulher implica aocorrência de dano moral in re ipsa, de modoque, uma vez comprovada a prática delitiva, édesnecessária maior discussão sobre aefetiva comprovação do dano para a fixaçãode valor indenizatório mínimo. 2. A Corteestadual, apesar de manter a condenação doRecorrido pela conduta de agredir suacompanheira com socos no peito e no braço,afastou a fixação de valor mínimo parareparação dos danos causados, sob oargumento de que o fato não passou de meroaborrecimento na vida da vítima, sem produzir

    Segue a decisão:

  • abalo psicológico ou ofensa a atributo dapersonalidade. 3. A atitude de violênciadoméstica e familiar contra a mulher estánaturalmente imbuída de desonra, descréditoe menosprezo à dignidade e ao valor damulher como pessoa. Desse modo, mostra-senecessário o restabelecimento do valor fixadopelo Juízo de origem como montante mínimopara a reparação dos danos causados pelainfração. 4. A posterior reconciliação entre avítima e o agressor não é fundamentosuficiente para afastar a necessidade defixação do valor mínimo previsto no art. 387,inciso IV, do Código de Processo Penal, sejaporque não há previsão legal nesse sentido,seja porque compete à própria vítima decidirse irá promover a execução ou não do títuloexecutivo, sendo vedado ao Poder Judiciárioomitir-se na aplicação da legislaçãoprocessual penal que determina a fixação devalor mínimo em favor da vítima. 5. Recursoespecial provido para restabelecer o valormínimo de reparação dos danos causadospela infração, determinando-se ao Tribunal deorigem que prossiga no julgamento daapelação defensiva quanto ao pleitosubsidiário de redução do quantum fixado nasentença. (REsp 1.819.504, Rel. MinistraLAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em10/09/2019, DJe: 30/09/2019).

    Oconsentimento da vítima de violênciadoméstica quanto à permanência do agressorna residência do casal, após o deferimento demedidas protetivas de urgência, não afasta osefeitos da decisão judicial. Esse foi oentendimento unânime da 3ª Turma Criminaldo TJDFT ao julgar recurso de agressor,condenado, em 1ª instância, pelos crimes delesão corporal, descumprimento de medidaprotetiva e constrangimento da filha menorque presenciou as agressões contra a mãe.Ao apresentar o recurso, a defesa solicitou aabsolvição do acusado pelo crime de lesãocorporal por ausência de provas e pelo delitode descumprimento de medida protetiva,

    Tribunal de Justiça do Distrito Federal e

    dos Territórios – TJDFT – 15/10/2019.

    Descumprimento de medida protetiva com

    anuência da vítima não afasta crime.

    tendo em vista que a vítima permitiu que oagressor voltasse a residir com ela. Alémdisso, alegou que não restou comprovada aintenção do agressor em constranger sua filha,motivo pelo qual requereu que ele tambémfosse absolvido com relação ao referido crime.Por fim, solicitou o afastamento dacondenação por danos morais. Conformedepoimento da vítima, o réu recusou-se a sairda residência do casal, apesar de ciente dasmedidas protetivas. Como não tinha para ondeir com os quatro filhos, a vítima acabou sereconciliando com o marido. No entanto, relataque um dia o cônjuge chegou em casaalcoolizado e queria bater no filho que estavadormindo. Ao tentar impedi-lo, a mulher levouum soco no olho e caiu no sofá, ocasião emque o agressor tentou enforcá-la e foi impedidopela filha.Avítima afirma ter se arrependido dareconciliação, diante da gravidade dasagressões, confirmadas por exame de corpode delito e pelo depoimento da filha. Segundoa desembargadora relatora do caso, “o fato dea vítima inicialmente aceitar a presença domarido em casa, após deferimento de medidasprotetivas de urgência, não significa que adecisão judicial deixou de ter validade. Issoporque mesmo nos casos em que a própriavítima da violência doméstica e familiarconcorre para o descumprimento da medidaprotetiva, a decisão judicial continua em vigor”.Além disso, a magistrada reforçou que “nãopode a vítima revogar a decisão judicial quedefere as medidas protetivas de urgência, poishá interesse público na vigência delas, tantoque o Ministério Público possui legitimidadepara formular requerimentos de medidasprotetivas, independentemente da vítima,conforme prevê o artigo 19, caput, da Lei nº11.340/2006”. Assim, a Turma manteve acondenação do agressor com relação ao crimede descumprimento de medida protetiva, bemcomo as condenações por lesão corporal econstrangimento de menor. No entanto, deuparcial provimento ao recurso do réu parareduzir o valor da indenização por dano moralde R$ 5 mil para R$ 300, por considerá-laexcessiva, uma vez que o condenado éoperador de máquina e não há no processoinformação sobre seus rendimentos ou davítima. Além disso, o colegiado afastou a

    13ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

  • agravante da violência doméstica aplicada aocrime de descumprimento de medidaprotetiva, para evitar bis in idem, ou seja, que oindivíduo fosse apenado pelo mesmo crimemais de uma vez, uma vez que a lesãocorporal aconteceu em contexto de violênciadoméstica. Diante do exposto, a pena foireduzida de 8 meses e 19 dias de detençãopara 8 meses e 4 dias de detenção.

    Agenda

    02/10 - Seminário: “Nossos diálogos eCidadania”

    09/10 - Encerramento do Curso “Em DefesaDelas no Bairro”

    28 à 30/10 - Formação para Guarda CívilMetropolitana de Campo Grande/MS “Oatendimento às situações de violência cotraa mulher na segurança pública municipal”

    01/11 – Curso “Agentes de saúde em açãono combate à violência contra a mulher”

    06/11 – Audiência Pública Parto Domiciliar:Riscos e Benefícios

    25/11 - Cerimônia de Premiação Prêmio Viva2019

    29/11 – Seminário Acesso à Justiça 2019:“Atenção às Mulheres em Situação deViolência eAutores de Violência”

    12 a 15/11 – XIV CONADEP – CongressoNacional das Defensoras e DefensoresPúblicos 2019

    Local: Museu daArte e do SomHorário: 08h30

    Local: Escola EstadualAracy EudociakHorário: 19h

    Local:Auditório da Casa da Mulher BrasileiraHorário: 13h ás 17h.

    Local: Naviraí/MSHorário: 07h30 às 11h30 – 13h às 17h

    Local: Câmara Municipal de Campo GrandeHorário: 8h

    Local: Sala São Paulo/ SP

    Local: Escola da Defensoria PúblicaHorário: 07h30 às 11h30 – 13h30 às 17h30

    Local: Rio de Janeiro/ RJ

    14 ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    agravante da violência doméstica aplicada aocrime de descumprimento de medidaprotetiva, para evitar bis in idem, ou seja, que oindivíduo fosse apenado pelo mesmo crimemais de uma vez, uma vez que a lesãocorporal aconteceu em contexto de violênciadoméstica. Diante do exposto, a pena foireduzida de 8 meses e 19 dias de detençãopara 8 meses e 4 dias de detenção.

    Livro

    O livro Tecendo Fios das Críticas Feministas aoDireito no Brasil é fruto dos esforços do ConsórcioLei Maria da Penha pelo Enfrentamento a Todas asFormas de Violência de Gênero contra asMulheres em fortalecer o pensamento críticofeminista sobre o direito brasileiro. O movimentofeminista é o maior responsável por jogar luzessobre a estratégia de constante alijamento damulher da história e do espaço público, de forma aconfiná-la ao espaço doméstico.

    Tecendo Fios das Críticas Feministas

    ao Direito no Brasil

    SETEMBRO

    OUTUBRO

    05/0906/09

    14/09

    23/09

    28/09 –

    29/09 –

    01/10

    10/10

    11/1012 a 18/10

    15/1025/10

    Dia Internacional da Mulher Indígena.Dia Internacional pela Ação pelaIgualdade da Mulher.Dia latino-americano da imagem damulher nos meios de comunicação.

    – Dia Internacional contra a ExploraçãoSexual e o Tráfico de Mulheres eCrianças.Dia pela Descriminalização do aborto naAmérica e Caribe.Dia da Visibilidade Lésbica.

    Dia Nacional de Doação do LeiteHumano.Dia Nacional de Luta contra a Violência àMulher.Dia Internacional das Meninas.

    Semana Nacional de Prevenção daViolência na Primeira Infância.Dia Mundial da Mulher Rural.Dia Internacional contra a Exploração daMulher.

    ––

    ––

    Datas comemorativas

  • As mulheres brasileiras têm cada vezmenos filhos e escolhem cada vez mais pelamaternidade tardia, entre os 30 e 39 anos.Este é um dos dados apontados pela pesquisa“Estatísticas do Registro Civil 2017”,divulgada nesta quarta-feira (31), pelo IBGE(Instituto Brasileiro de Geografia Estatística),que confirma uma constante na sociedadebrasileira. Desde 2013, o instituto aponta que,a cada ano, cresce o número de mulheres quecontemplam este perfil no País.

    O total de nascimentos cujas mãespossuíam menos de 30 anos caiu de 74,3%para 64,9%, entre 2016 e 2017. Segundo apesquisa, a taxa de fecundidade entre as

    mulheres mais jovens vem caindoexpressivamente nos últimos 10 anos. Entre2007 e 2017, a proporção dos filhos de mãesque tinham até 19 anos de idade passou de20,22%, em 2007, para 15,95%, em 2017.

    No mesmo período analisado, o grupo demulheres que deram à luz entre 20 a 29 anosdiminuíram. De 54,1%, abaixou para 48,98%.

    Já no grupo de mulheres de 30 a 39 anos,houve crescimento.Antes somavam-se 23,4%e, com os dados atuais, contabilizam-se32,2%.

    Na faixa de mulheres com 40 anos ou mais,o percentual de nascimentos avançou de 2,2%para 2,9%. Este dado é uma crescente nasociedade brasileira.

    15ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    Mitos

    Mulheres têm cada vez menos filhos

    e escolhem pela maternidade tardia, aponta IBGE

    Pesquisa aponta que houve aumento de nascimentosno grupo de mulheres com mais de 30 anos.

    Por Andréa Martinelli, do HuffPost Brasil

    REPRODUÇÃO/IBGE - Gráfico do IBGE mostra a proporção de nascimentossegundo a idade da mãe, comparando os anos de 2007 e 2017.

  • 16 ANO 5 - 24ª Edição | Set/Out 2019 - Tema: Desafios da maternidade

    Em 2005 a mesma pesquisa apontou que30,9% das mulheres que deram à luz no Brasiltinham entre 20 e 24 anos.

    Já em 2015, dez anos depois, o percentualnessa faixa etária caiu para 25,1%.

    Além disso, foi observado um aumento denascimentos entre mães na faixa etária dos 30anos. De 22,5%, em 2005, para 30,8%, em2015.

    No grupo de mães de 15 a 19 anos, opercentual de nascimentos caiu de 20,3%, em2005, para 17%, em 2015.

    Dados analisados pela pesquisa tambémapontam que o número total de nascimentoscresceu 2,6% em 2017. A pesquisa apontaque esse dado recupera parte da quedaregistrada em 2016, embora ainda seja menor

    O número de nascimentos cresceu no

    Brasil

    que os números de 2015 e 2014. A pesquisaaponta que a redução dos chamados“registros tardios” foi a responsável por esseaumento. Estes registros são efetuados emanos posteriores ao do nascimento, querepresentaram 2,7% em 2017 contra 3,5% em2016.

    (Fonte: geledes.com.br)

    Defensoria Pública de Mato Grosso do SulDefensoria Pública-Geral do Estado

    Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da MulherNUDEM

    24ª Edição - Setembro/Outubro de 2019

    Fábio Rogério Rombi da Silva

    Patrícia Elias Cozzolino de Oliveira

    Valdirene Gaetani Faria

    Defensor Público-Geral do Estado.

    Primeira Subdefensora Pública-Geral.

    Segunda Subdefensora Pública-Geral.

    Thaís Dominato Silva TeixeiraCoordenadora do Núcleo Institucional

    de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher

    EXPEDIENTE

    Colaboradores desta edição:Thaís Dominato Silva Teixeira - Coordenadora do NUDEM e DefensoraPública de Defesa da MulherAmélia Luna –Assessora do NUDEM

    Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da MulherNUDEM

    Centro Judiciário de Solução de Conflitos, Núcleo de Mediação

    Defensoria Pública de Defesa da Mulher - Casa da Mulher Brasileira

    Rua DoutorArthur Jorge, 779 - Centro79002-440 - Campo Grande-MSEmail: [email protected]: (67) 3313-5801

    Rua DoutorArthur Jorge, 779 - Centro79002-440 - Campo Grande-MSFone: (67) 3313-5800

    Rua Brasília, S/N, Lote 10A, Quadra 2 - Jardim ImáCampo Grande-MSFone: (67) 3304-7589

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