Upload
buituong
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
EDIÇÃO 4 ANO 4 N 3 JULHO/SETEMBRO/2016 ISSN 2358 - 6133
2
Coordenadora do Projeto: Ma. Andréa Kochhann
Editorial Artigos científicos Artigo de opinião Entrevista Relato de experiência Resenhas Caça–Palavras Matando o tédio
Índice EDITORES:
Andréa Kochhann Erlando da Silva Rêses
Márcia Mariana Bittencourt
Este trabalho compõe as atividades do GEFOPI – Grupo de Estudos em For-mação de Professores e Interdisciplinaridade, como fruto de um projeto de ex-tensão chamado “Revista Pedagógica: uma análise sociológica em Educação” da Universidade Estadual de Goiás. A elaboração desse número ocorreu em parceria com os doutorandos e mestrandos em Educação, do Programa da Uni-versidade de Brasília, durante a disciplina de Materialismo Histórico-Dialético, ministrado pelo Dr. Erlando da Silva Rêses.
Capa: Logo do Grupo de Estudos e Pesquisas em Materialismo Histórico-Dialético e Educação
EDIÇÃO 4 ANO 4 N 3 JULHO/SETEMBRO/2016 ISSN 2358 - 6133
3
Caros leitores,
Nessa edição da Revista Pedagógica você encontrará um
pouco mais sobre o Materialismo Histórico-Dialético, uma
epistemologia que pauta as pesquisas e as atividades acadêmicas
que envolvam o estudo da realidade em educação.
Resenhas de filmes, artigos científicos, artigos de opinião,
entrevista, um pouco do muito que essa epistemologia vem pau-
tando nas universidades brasileiras. O tema foi debate de um se-
mestre letivo de um grupo de estudantes da Universidade de
Brasília que se reuniram em torno dos estudos na pós-graduação
em educação e pretendem utilizá-la nos projetos de pesquisa.
Desejamos que façam uma excelente utilização das breves
leitura e sintam-se convidados a conhecer mais sobre a Episte-
mologia, o método e a Teoria Social.
Boa leitura!
Os editores
4
Andréa Kochhann Docente da Universidade Estadual de Goiás
Doutoranda em Educação pela Universidade de Brasília
MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO: considerações breves e gerais
RESUMO: O presente texto faz breves considerações sobre o materialismo histórico dialéti-co a partir do recorte histórico e do percurso de produção de Marx. Da origem dos catadores das cascas de lenha à densa produção de Engels e Marx, o presente artigo de forma ampla, su-cinta e objetiva mostra a lógica e a forma de pensar a forma de ser do ser, do homem capita-lista bem como o desenvolvimento da teoria social de Marx, suas relações sociais e de produ-ção. O referido artigo é elaborado a partir de Marx e no diálogo com outros autores fazendo assim com que as breves considerações desenvolvidas nos leve à compreensão da construção lógica do pensamento marxista e de problematizar alguns conceitos como trabalho, alienação, mediação, historicidade, materialidade entre outros. PALAVRAS-CHAVE: Materialismo Histórico-Dialético. Relações Sociais e de Produção.
A organização produtiva e as relações
sociais entre a burguesia e os catadores de
cascas de lenhas, fizeram com que Marx, re-
pensasse seu papel enquanto redator da re-
vista Gazeta Renana. A forma como a orga-
nização produtiva estava posta reforçaria
ainda mais as relações sociais de submissão.
Isso somente poderia ser rompido com a luta
das classes dos proletariados, com a
“revolução radical”, com a emancipação po-
lítica e religiosa, com a emancipação huma-
na. Marx que desejava ser pro-
fessor universitário, foi mesmo
um grande revolucionário.
.
Isso se estabelece principalmente
após a publicação de “O debate acerca da
lei sobre o furto de lenha” na Gazeta Re-
nana. Para Marx (2010, p. 16) “[...] havia
o problema de se entender a realidade so-
cial (no caso presente, a ‘existência da
classe pobre’).”. Marx criticava muito a
burguesia em seus artigos da Renana. Is-
so lhe rendeu o fechamento da Gazeta
Renana e sua mudança para Paris. Em
Paris criou os Anais Franco-Alemães e
continuou seus escritos e estudos sobre a
relação entre Estado, Política, Economia
e Sociedade Civil/Burguesa.
Renato Barros de Almeida Docente da Universidade Estadual de Goiás e Pontifícia
Católica de Goiás Doutorando em Educação pela Universidade de Brasília
5
Foi nesse período que Marx se aproxi-
ma de Engels, um jovem de família industrial
mas com ideias semelhantes às de Marx. Pas-
sam a escrever juntos. Marx não tinha condi-
ções materiais para se manter, tanto que mo-
rava com sua esposa em uma casa de abrigo a
exilados. Engels por determinado tempo as-
sume as empresas da família, mas não se des-
taca e se vincula ao movimento operário.
Marx continua escrevendo contra a
burguesia. Isso lhe rendeu novo exílio em
Bruxelas. Unido a Engels criam a Liga dos
Comunistas e em 1848 escrevem o Manifesto
do Partido Comunista. A camada popular per-
cebe que seus interesses divergem dos inte-
resses da burguesia e querem ter o direito ao
trabalho e não a exploração. Para Marx e En-
gels (2008, p. 57) em Manifesto do Partido
Comunista “a burguesia produz, acima de tu-
do, seus próprios coveiros. Seu declínio e a
vitória do proletariado são igualmente inevi-
táveis.”. Por isso, com o movimento operário
desencadeia uma crise ideológica e cultural.
Marx não tinha pretensão de criar um
método, mas ao questionar o papel do Estado
quando criou a lei do furto de lenha que im-
pedia os camponeses de pegarem as cascas de
lenhas dos bosques dos proprietários rurais,
colocou em xeque o Estado e a Sociedade Ci-
vil. Mediante essa questão Marx que justifi-
cava a ação dos camponeses pela situação
econômica vigente, apresentava que toda re-
lação social deveria ser entendido mediante a
análise dos determinantes que provocou tal
situação.
.Esses determinantes são perceptíveis
pela história e materialidade. As análises de-
vem partir do concreto imediato para se al-
cançar o concreto pensado ou mediato, por
meio da materialidade e da historicidade,
buscando desvelar o que está implícito no
objeto. Como por exemplo, o real ou concre-
to imediato era que os catadores roubavam
lenha dos proprietários rurais. Mas, o real ou
concreto pensado, leva Marx a compreender
que os determinantes históricos ou as ques-
tões materiais ou as condições sociais de
existência levavam os catadores a tais proce-
dimentos, para sua sobrevivência.
O Estado que deveria cuidar dos cata-
dores, evitando tais condições sociais de
existência, se coloca em defesa da burgue-
sia, esta que propicia as reais condições so-
ciais de existência. Portanto, a realidade
aparente não pode ser considerada a essên-
cia da realidade. Parte-se da empiria para
chegar à teoria. Parte-se do imediato para se
chegar ao mediato, da aparência para se che-
gar a essência. Assim, a sociedade civil de-
veria compreender, como cita Marx (2010,
p. 50) “do mesmo modo que a religião não
cria o homem, mas o homem cria a religião,
assim também não é a constituição que cria
o povo, mas o povo a constituição.”.
Nessas condições, Marx apresentava
que um objeto para ser compreendido
era necessário que o mesmo fosse enten-
dido pelas suas múltiplas determinações,
mediante o contexto histórico, que é po-
lítico e principalmente econômico.
6
Para além da historicidade ou materia-
lidade é preciso entender a dialética existente
entre o real imediato e o real pensado, entre a
aparência e a essência, a partir de um vir-a-se
ou devir. Para isso Curado Silva (2008, p. 45)
apresenta que “Refletir para conhecer a reali-
dade não é o movimento simples de pensar
sobre os problemas cotidianos, mas um devir
histórico.”. Para Marx esse processo é incon-
dicional. Chegar ao real concreto pensado só
é possível pela materialidade das múltiplas
determinações que cerca o objeto. Sobre essa
questão Húngaro (2008, p. 87) apresenta que
Essas determinações são de múltiplas ordens e estão metamorfoseadas na expressão feno-mênica inicial constituindo um todo articula-do efetivo. Isso quer dizer que elas estão im-bricadas, relacionadas e, portanto, não basta a somatória de partes para a reconstrução do todo no pensamento. Há que se encontrar as relações estabelecidas entre elas, as media-ções. O processo do conhecimento, assim ori-entado, é ascender do imediato ao mediato, por meio da abstração.
Para Marx o trabalho é a condição hu-
mana de existência e do processo de consti-
tuição da materialidade da vida humana. Essa
materialidade vai se constituindo a partir das
relações sociais estabelecidas entre quem tem
os meios de produção e quem tem a força de
trabalho e das múltiplas determinações. Por
isso, o trabalho é ontológico. Para Marx
(1983, p. 149)
Antes de tudo, o trabalho é um processo entre homem e natureza, um processo em que o ho-mem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural co-mo uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corpora-lidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa for-ma útil para a sua própria vida.
REFERÊNCIAS
CURADO SILVA, K.A.P.C. Professores com formação Stricto Sensu e o desenvolvimento da pesquisa na educa-ção básica da rede pública de Goiânia: realidade, entra-ves e possibilidades. Tese. Goiânia: UFG, 2008.
HÚNGARO, E. M. Trabalho, tempo livre e emancipação humana: os determinantes ontológicos das políticas sociais de lazer. Tese de doutorado - Campinas, SP: [264p.], 2008.
MARX, Karl. Sobre a questão judaica. São Paulo: Boitem-po, 2010.
MARX. K. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
MARX, K. e ENGELS, F. Manifesto do Partido Co-munista.Tradução Pietro Nassetti. 2. ed. 2ª reim-pressão. São Paulo: Matin Claret, 2008.
Com as análises de Marx sobre as rela-
ções sociais e de produção, do seu tempo, é
possível dizer que o trabalho humano é estra-
nhado, ou seja, alienado. Ao longo da exis-
tência humana o trabalho se constituiu deter-
minante ontológico para sua relação com a
natureza e com os próprios homens, segundo
Húngaro (2008).
A concepção do trabalho alienado e do
desenvolvimento humano ser freado ou im-
pulsionado é reflexo das mediações dos mo-
dos de produção da época e que o homem se
torna escravo ou senhor. No processo produ-
tivo em que as relações sociais emergem co-
mo divididas em opostos, a materialidade
também se apresenta como oposta.
Os interesses de um grupo não represen-
tam os interesses do outro grupo, colocando-
os como opostos mas complementares devido
o processo produtivo. De um lado, como
apresenta Marx, os burgueses, proprietários
dos meios de produção. De outro, os proleta-
riados, enquanto força de trabalho. A materia-
lidade histórica, que é política e econômica,
vai erigindo e fortalecendo essa dualidade so-
cial contraditória. Eis, pontos para reflexão.
7
A DISCIPLINA MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO NA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNI-
VERSIDADE DE BRASÍLIA
Para nós operar com o Materialismo His-
tórico Dialético (MHD), como disciplina acadê-
mica consiste no desafio de fazer uma ciência
ancorada na materialidade e práxis, compreen-
dendo as possibilidades de organização da disci-
plina em bases mais complexas ao ponto de
constituir fundamentos para o surgimento, a pro-
dução e a reprodução da vida, uma vez que
acreditamos em sua relação direta. O que os in-
divíduos são, portanto, depende das condições
materiais de sua produção. (MARX, 1991, p. 34)
Em Marx não se trata apenas de elaborar
uma lógica, mas de apreender uma lógica deter-
minada, entendida como dinâmica, como movi-
mento, como estrutura movente de um objeto
determinado. Portanto, Marx nos entregou uma
lógica, deu-nos a lógica do O capital (LENINE,
1992) e colocou sua vida, sua pesquisa a serviço
dos trabalhadores e da revolução socialista
(RÊSES, 2014, p.154).
Dessa forma, acreditamos que a con-
dição material da sua própria produção é a
realidade concreta, é ela que gera o pensa-
mento e o transporta para as formulações
mais claras. Dessa análise parte-se que o
mundo real é que deverá ser o ponto de par-
tida para uma análise do mundo das ideias e
isso coincide, portanto, com o modelo de
produção no qual estão inseridos os indiví-
duos em cada sociedade.
Daí saber operar com o Materialismo
Histórico Dialético nas pesquisas acadêmi-
cas é um desafio que se coloca diante de
professores, estudantes e pesquisadores em
pleno século XXI, em busca não só de com-
preender, mas também de transformar a rea-
lidade que nos impõe a forma
de fazer ciência nas universida-
des e no mundo.
A disciplina começou a ser ofertada no primeiro semestre letivo de 2014, e já
atendeu cerca de 100 estudantes (de graduação, pós-graduação, funcionários e aspi-
rantes aos cursos de pós-graduação stricto sensu da Universidade de Brasília – UnB),
com 04(quatro) turmas nos diferentes turnos conforme a demanda do semestre.
ORIGEM E EXPLICITAÇÃO DA EPISTEMOLOGIA
Erlando da Silva Rêses e Márcia Mariana Bittencourt
8
* Licenciatura em educação do campo na perspectiva da formação de professores que trabalham com os povos ribeirinhos da Ama-zônia paraense; * Escolas da vida: as experiências com o mundo sonoro e o desenvolvimento da mu-sicalidade; * A materialização da formação continuada dos professores de anos iniciais; * Espaço tempo da coordenação pedagógica na SEED-DF; * Reflexos da autoavaliação e da avaliação institucional na gestão e na qualidade da educação em instituições de ensino superior privadas no Brasil; o brincar da criança indígena: entre educa-ção e tradição; * Desenvolvimento da musicalidade de be-bês; * EAD na educação profissional; * Práticas pedagógicas interdisciplinares de professores na Educação de Jovens e Adul-tos como desafios e possibilidades: pesquisa participante em uma escola pública do Dis-trito Federal * Avaliação da Educação Superior – SINA-ES * Processo de institucionalização da EAD na UnB; * Concepções de formação continuada de professores no Brasil; * Arte e política
PERFIL DA TURMA
A turma do ano de 2016 era composta por 32 estudantes dos quais 90,6% exerciam
atividade remunerada, ou seja, eram estudantes e trabalhadores da área de educação, divi-
dindo-se entre a docência e a gestão. 84% dos estudantes não recebiam bolsa de fomento e
os 15,6% que recebiam eram provenientes da CAPES e CNPq. Desses estudantes 50% eram
do mestrado acadêmico, 34,4% do doutorado e 15,6% provenientes das matrículas como
alunos especiais. 87% deles tinham formação acadêmica no curso de Licenciatura em Peda-
gogia. No que tange a relação com a disciplina, praticamente todos estavam na fase de ela-
boração de projeto de pesquisa e se matricularam com objetivo de compreender o Materia-
lismo Histórico Dialético para pesquisar sobre vários objetos.
* Formação de professores pela extensão universitária; * O protagonismo da mulher na transmissão dos conhecimentos tradicionais na América Latina; Identidade territorial, memória, lutas soci-ais, educação popular; * Autoavaliação Institucional; * Educação e espiritualidade: a educação e a dimensão da espiritualidade: perspectivas de busca da totalidade do ser; * A emancipação da mulher na educação de jovens e adultos; * Educação musical. * Vivência musical dos bebês a partir da perspectiva histórico-cultural; * Diversidade na escola * Formação de professores * Elaboração do Plano Distrital de Educa-ção na visão dos diretores escolares; * Direito e arte a partir das artes dos movi-mentos sociais. * Musicalidade do surdo * Educação do campo: os estudantes e egressos da licenciatura da educação do campo na região dos kalungas * Movimentos sociais (e profissionais) / tra-balhadores / formação / consciência * O estudo de história sobre a cidade de Ceilândia no primeiro segmento da EJA com ênfase na memória viva dos pioneiros da cidade.
PROJETO DE PESQUISA COM BASE NO MHD
9
REFERÊNCIAS
RÊSES, Erlando da Silva. A construção do método no materialismo histórico-dialético e a atualidade do pensamento marxista no contexto da crise econômica financeira. In: SOUZA, José Vieira (Org.) O método dialético na pesquisa em educação. Campinas: Editora: Autores Associados, 2014. MARX, Karl. A ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1991.
CONSIDERAÇÕES
Percebe-se que a adesão e o interesse dos estudantes em operar com o Mate-
rialismo Histórico Dialético se dá não exatamente por se tratar dos conteúdos de
seus projetos estarem ligados diretamente ao movimento da realidade seja no que
tange as políticas públicas educacionais, seja o que afeta às questões referente ao
desenvolvimento e aprendizagem dos educandos.
Em avaliação específica realizada para verificar a importância da disciplina
para os projetos de pesquisas os estudantes foram categóricos em dizer que houve
muita contribuição da disciplina para os projetos de mestrado e doutorado, pois,
por meio dela aprofundaram algumas questões sobre o método dialético de uma
forma muito mais rigorosa e radical. Ainda consideram a disciplina basilar na
condução da fundamentação teórica do projeto de pesquisa.
Professor da Faculdade de Educação (FE) da UnB e do Programa de Pós-Graduação
em Educação (PPGE). Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Materia-
lismo Histórico-Dialético e Educação (Consciência) da FE/UnB.
E-mail: [email protected]
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Uni-versidade de Brasília (UnB) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Materia-
lismo Histórico-Dialético e Educação (Consciência) da FE/UnB.
Márcia Mariana Bittencourt Erlando da Silva Rêses
E-mail: [email protected]
10
No período de Lenin, Vigotski é convi-
dado a contribuir, no sentido de pensar os
fundamentos da psicologia e pedagogia sovi-
ética, que visava a formação do Novo Ho-
mem Socialista. Em 1924 Lenin morre e
quem assume é Stalin. No final da década de
1920, Vigotski passa a ser perseguido e entre
1936 a 1953. Sua obra esteve censurada em
seu próprio país.
Lev Semionovitch Vigotski é um pensador russo de origem judaica. É considerado,
junto com Leontiev e Luria, um dos precursores da psicologia soviética. Vigotski nasceu e
viveu sua infância e adolescência no regime tzarista. Quando estava com apenas nove anos
de idade, em 1905, a Rússia passa pela primeira tentativa de realizar uma Revolução Socia-
lista. Com 21 anos de idade conclui a graduação – Direito e História/Filosofia – momento em
que ocorre a Revolução de Outubro de 1917. Nesse período, a população é, em sua maioria,
analfabeta e sofre com a miséria, além de constantes conflitos internos e, também, padecendo
com a participação do país na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Vale destacar que o pri-
meiro volume de “O capital” foi traduzido para o russo em 1869 e os primeiros partidos de
inspiração marxista foram fundados na década de 1890 (PRESTES, 2012).
Além de pesquisador e professor,
atuou na militância política como diretor de
seção de teatro da Oficina de Educação Po-
pular até 1921 e depois da seção de arte da
Secretaria de Formação Política. Vigotski
morre antes de completar 38 anos de idade,
em decorrência de uma tuberculose. Em
poucos anos de vida, passa por três mo-
mentos distintos em seu país, com fortes
turbulências históricas e sociais.
VIGOTSKI E O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO
Andréia Pereira de Araújo Martinez, Augusto Charan Alves Barbosa Gonçalves e
Patrícia Lima Martins Pederiva
Vigotski é considerado o fundador da teoria histórico-cultural. Esta vertente dá ênfase
aos aspectos culturais sem desprezar os elementos biológicos, tendo a base material das coi-
sas como fundamento. Vigotski (2000, 2012a, 2012b, 2013) estudou profundamente o mate-
rialismo histórico-dialético de Marx em busca de compreender, dentre outras coisas, o orga-
nismo humano como um todo. Buscava, compreender a base material da mente e o compor-
tamento humano na sociedade permeada constantemente por lutas de classes.
11
Vigotski, influenciado por Marx, concluiu que a origem das formas superiores de com-portamento consciente estava nas relações sociais dos indivíduos com o meio externo.
Mas o homem não é só um produto de seu meio, pois também, é um ser
ativo na criação desse meio.
Não são poucas as vezes que Vigotski se declara explicitamente marxista ou filiado
ao materialismo histórico-dialético. A obra de Vigotski se forma nos anos que se seguem à
revolução, na época de transformação e de radical reestruturação das ideias. As concepções
psicológicas do pesquisador orientam-se para a metodologia própria ao conhecimento cien-
tífico dialético-materialista.
Em poucas palavras, a perspectiva histórico-cultural estuda a evolução humana em
estreita relação com o desenvolvimento individual. Investiga a sociedade e o indivíduo – a
menor unidade social. Acredita que o meio histórico-cultural precede a exis-
tência do indivíduo. Para Vigotski, o desenvolvimento não se dá em sequên-
cias previamente fixadas de modo linear. Nada está garantido, trata-se de
uma possibilidade e como qualquer possibilidade, pode ocorrer ou não.
REFERÊNCIAS
PRESTES, Zoia. Quando não é quase a mesma coisa: Traduções de Lev Semionovitch Vigotski no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2012.
VIGOTSKI, Lev Semionovich. Manuscrito de 1929. Educação & Sociedade, Campinas, ano XXI, nº 71, p. 21-44, jul. 2000.
______. (VYGOTSKI). Obras Escogidas III – Problemas del desarrollo de la psique. Madrid: Machado Libros, 2012a.
______. (VYGOTSKI). Obras Escogidas IV: Paidología del adolescente/Problemas de la psicolo-gia infantil. Madrid: Machado Libros, 2012b.
______. (VYGOTSKI). Obras Escogidas I – El significado histórico de la crisis de la Psicología. Madrid: Machado Libros, 2013.
Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Facul-dade de Educação da Universidade de Brasília. Líder do Grupo de Es-tudos em Práticas Educativas – GEPPE.
Andréia Pereira de Araújo Martinez
Patrícia Lima Martins Pederiva
Augusto Charan Alves Barbosa Gonçalves
Graduada em Pedagogia com Especi-alização em Educação Infantil e Mes-trado em Educação. Cursa Doutorado em Educação na Faculdade de Edu-cação da Universidade de Brasília. Professora da Secretaria do Estado de Educação do Distrito Federal.
Licenciado em Educação Artística com Habilitação em Música e com Mestrado em Educação. Cursa Doutorado em Educação na Facul-dade de Educação da Universidade de Brasília.
12
Entender a ideologia que as políticas educacionais assumem entre o Estado e a
sociedade, na minha opinião, compreende entender a história e o desenvolvimento na
sociedade brasileira. Também é entender qual será seu peso político na base desta
mesma sociedade. Analisando a história, e mais propriamente o papel destinado a
educação, percebe-se os principais passos e suas consequências que foram desencade-
ando ao longo da sociedade. Em minhas pesquisas, evidencio tensões e contradições
que marcaram a organização sociopolítica e educacional do Brasil.
NEIMAR FAORO
Formado em Filosofia e Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia e Do-
cência do Ensino Superior. Colaborador do Programa de Extensão e Ação
Contínua PÓS-POPULARES da Faculdade de Educação (FE) da UnB.
UM BRASIL EM TRANSFORMAÇÃO SOCIOPOLÍTICA E
EDUCACIONAL
É importante salientar que o surgi-
mento de políticas públicas não estão ape-
nas na direção dos interesses da elite polí-
tica. O Estado tende a agir de forma a
equilibrar as diferenças entre grupos que
estão no poder e aqueles que são opostos
ao sistema. Entendo que vivemos sempre
em um "jogo de braços". Assim, entendo
que o papel do Estado seria criar políticas
socioeducacionais para equilibrar a socie-
dade e dar a sustentação social que ela
merece. As políticas públicas voltadas pa-
ra a educação são uma maneira que o Es-
tado tem de estabilizar a sociedade, sendo
que elas surgem de necessidades sociais e
educacionais desta própria sociedade.
Estas iniciativas oriundas do Es-
tado além de equilibrar a sociedade, as-
seguram que elas administrem conflitos
entre grupos, garantindo assim os inte-
resses do mundo globalizado e capitalis-
ta. Para isso, é muito importante enten-
der quando políticas públicas ou educa-
cionais são feitas. É importante entender
o sentido e a época histórica em que ela
se apresenta, porque elas podem vir car-
regadas de ideologias causando mudan-
ças profundas para a sociedade.
A criação de políticas socioeduca-tivas devem estar além das neces-sidades de relações entre o Estado
e a sociedade.
13
Não devem apenas serem projetos
para que certos números nacionais dei-
xem posições negativas e configurem ní-
veis positivos diante de estatísticas inter-
nacionais. A globalização impulsiona os
países a alcançarem patamares modernos
e exemplares em seus sistemas educacio-
nais, sociais e econômicos, e por isso, as
orientações externas relativas às políticas
socioeducativas, muitas vezes não são
implantadas de forma a agraciar a história
cultural e social daquela sociedade.
Entendo que estas ações criadas pelo Estado em prol da sociedade devem
trazer benefícios para toda a sociedade, não deve ser apenas uma opção
para alinhavar arestas no mundo global.
Nunca se buscou criar políti-
cas educacionais para atender a mas-
sa, mas sim para diferenciar a elite
da maioria. As diversas mudanças
enfrentadas pela sociedade brasileira
ao longo das décadas sem-
pre deixaram marcas profun-
das na maneira de pensar e
de ensinar no Brasil.
SEMPRE TIVEMOS UMA MI-
NORIA PROGRAMANDO E
COMANDANDO POLÍTICAS
SOCIAIS E EDUCACIONAIS
PARA APENAS EQUILIBRAR"
AS DIFERENÇAS ENTRE AS
CLASSES BRASILEIRAS.
Acredito ser importante que uma
política socioeducativa venha envolvida
por considerações relativas a história de
cada lugar, não basta ter excelentes obje-
tivos e tentar alcançar metas perfeitas,
sem antes fazer uma leitura da realidade
local de cada povo, de cada sociedade,
envolvendo sua cultura, suas lutas e ne-
cessidades. Todas as épocas em que hou-
ve mudanças substanciais na educação,
foram devido a grandes mudanças no ce-
nário político.
Eis ai o grande problema que carregamos por décadas, onde decisões que de-
veriam ter um cunho social oriundas da necessidade da sociedade e estritamente
educacional, vieram carregadas de ideologias político-partidárias para solidificar
formas governamentais da época.
Não foram mudanças que brotaram da necessidade educacional do povo.
14
O complexo entendimento sobre classe social não pode negligenciar a importante
relação entre capitalismo e racismo. Se as sociedades capitalistas constituíram-se histo-
ricamente devido a exploração e opressão do homem pelo homem, então as questões ra-
ciais, assim como as de gênero, não podem ficar fora da reflexão das categorias que
fundamentam o capitalismo.
POSSÍVEIS ELOS ENTRE CAPITALISMO, TRABALHO
E RACISMO
GERALDO PEREIRA DA SILVA FILHO Professor da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal; Graduado
pela Universidade de Brasília; Especialista em Obesidade e Emagrecimento pela Universidade Veiga de Almeida – UVA/RJ
O trabalho assalariado que move o sistema de pro-
dução, possui centralidade na organização da sociedade
capitalista. Para Ângela Davis (2013), o trabalho assalari-
ado não é única forma de trabalho no capitalismo, segun-
do a autora, a escravidão e a servidão são compatíveis
com a lógica do capital. Ainda segundo Davis, a divisão
social e os conflitos são componentes estruturais do siste-
ma capitalista, sistema este, que só pode ser compreendi-
do pela divisão em classes. As classes por sua vez, divi-
dem-se em grupos, e os grupos em indivíduos. A partir
dessa estratificação social, grupos e indivíduos são classi-
ficados hierarquicamente de acordo com a sua posição
nos processos de produção capitalista.
Existe uma estreita re-
lação entre o racismo
moderno e o capitalis-
mo. Relação esta muitas
vezes relegada nas pro-
duções teórico-
marxistas e, por outro
lado, ignoradas pelos
movimentos negros e
por outras pessoas que
discutem a questão raci-
al no Brasil.
O declínio do sistema feudal que ocorreu entre os séculos XI e XIV, o qual culminou
com a revolução burguesa, criou a partir do seu violento processo de acumulação primitiva
a figura do proletariado. Contudo, a acumulação primitiva, que ocorreu em solo europeu,
só foi possível devido à colonização das Américas e das Antilhas (SILVA, 2012, p. 23).
15
As contradições do pensamento filosó-
fico-científico burguês, aliado às necessidades
de expansão do capitalismo, tiveram como
consequência o fim do regime escravocrata.
Dessa forma, nasceu o trabalho assalariado
que passou a ser reconhecido oficialmente co-
mo o único modo de produção. Contudo, para
LUCÁKCS (1981) o trabalho ao mesmo tem-
po em que emancipa o indivíduo enquanto ser
social, desencadeia processos alienantes ao
trabalhador.
Para COUTINHO (2010), o capitalismo
impõe uma sujeição da produção ao mercado,
fazendo com que o homem oculte sua própria
consciência durante o processo de produção.
A grande questão foi que, enquanto na Europa, o trabalhador tornou-se proletariado li-
vre e vendia sua força de trabalho, nas Américas e Antilhas, ele foi transformado em escravo e
integrado aos meios de produção. O próprio Marx em O Capital (1996a), reconheceu que esse
fato histórico foi o marco da produção capitalista e de importância fundamental à acumulação
primitiva. Portanto, falar de capitalismo sem mencionar o racismo moderno - proveniente do
processo de escravização das nações africanas, e discutir o racismo sem considerá-lo como
fruto das relações capitalistas, parece não ser coerente.
A alienação é uma categoria objetiva
do ser social, mas que age diretamente nos
indivíduos. Não seria nenhum absurdo di-
zer que os processos alienantes estão pre-
sentes nas relações humanas sócio-
historicamente construídas e que, estão
imiscuídas nos relacionamentos individuais
e coletivos da nossa sociedade.
Com um passado de base escravista e
patriarcal, muitos dos preconceitos pratica-
dos abundantemente hoje em dia no Brasil,
podem representar uma condi-
ção alienante tanto por parte
dos agressores, como de suas
vítimas.
Por fim, eu acredito que um caminho possível para a superação da alienação de cu-
nho racista e, de outros tipos, seria o reconhecimento do ser apenas enquanto gênero hu-
mano. Dessa forma, partiria da perspectiva individualista e unilateral do desenvolvimento
humano para uma perspectiva omnilateral do homem, como nos diz Silva ( 2012).
REFERÊNCIA COUTINHO, Carlos Nelson. O estruturalismo e a miséria da razão. 2ª ed. São Paulo, Expressão Popular, 2010. DAVIS, Angela. Mulher, Raça e Classe. Tradução livre. Plataforma Gueto_ 2013 LUKÁCS, Georg. El Asalto a laRazón: La trayectoriadel irracionalismo desde Schelling hasta Hi-tler. México – Buenos Aires, Fondo de Cultura Económica, 1959. LUKÁCS, Georg. Per l’ontologiadell’esseresociale. Tr. de Alberto Scarponi. Roma, Riuniti, 1981. MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro I, vol. I, tomo I. Os Economistas, São Paulo, Nova Cultural, 1996a. SILVA, Uelber Barbosa. Racismo e Alienação: Uma aproximação à base ontológica de temática racial. São Paulo: Instituto Lukács, 2012.
16
Márcia Bittencourt: Qual a importância do Materialismo Histórico Dialético para a pesquisa? E para o desenvolvimento de projeto de pesquisa nas Uni-versidades? Erlando Rêses: O materialismo histórico dialético é uma epistemologia assim co-
mo as outras. Portanto, tem uma Teoria do Conhecimento envolvida na sua elabo-
ração, se constituindo também como uma possibilidade de investigação científica,
porque tem um método, conceitos, teorias e temas envolvidos. Então por ter isso
se constitui em algo fundamental para o desenvolvimento das pesquisas nas uni-
versidades. Hoje ela se constitui como importante por conta da possibilidade de
envolver a dialética, que é o método envolvido no materialismo histórico-dialético
com a ênfase na contradição. Você busca ressaltar algo na sua pesquisa que tem a
ver com um fato, uma tese, um acontecimento e ao buscar a contradição você vai
exatamente envolver aspectos que podem colaborar muito para o desenvolvimento
da pesquisa porque a possibilidade de você ir a raiz é grande. A raiz de um proble-
ma, a fundamentação sólida consistente, coesa e coerente, buscando alguns ele-
mentos da contradição daquilo que você está investigando ou que tem interesse
em investigar. Outro ponto central quando se usa materialismo histórico é a prá-
xis. Aí tem um detalhe importante no chamado campo do marxismo científico,
muitas vezes esse elemento não é incluído ou observado porque a práxis induz vo-
cê a pensar em uma possibilidade de desenvolvimento de algo concreto, a ser rea-
lizado a partir do que você investigou. Essa práxis vai depender muito do tipo de
pesquisa que você realizou. Se você realizou uma pesquisa em que não tem possi-
bilidade nenhuma de você trazer uma situação ou um problema e trabalhar com os
envolvidos da pesquisa na solução desse problema a práxis vai ficar prejudicada.
Então, vai depender muito porque, como eu disse, o Marxismo científico tem ne-
gado essa possibilidade do uso da práxis. Não é o caso do que nós temos tentado
fazer com as pesquisas de pessoas que estão envolvidas conosco, junto do nosso
Grupo de Estudos e Pesquisas em Materialismo Histórico Dialético – CONSCI-
ÊNCIA, da Faculdade Educação.
Professor da Faculdade de Educação (FE) da UnB e do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE). Coordenador do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Materialismo Histórico-Dialético e Educa-ção (Consciência) da FE/UnB. E-mail: [email protected]
Erlando da Silva Rêses
17
Márcia Bittencourt: Qual a relação do Mate-rialismo Histórico-Dialético com a militân-cia? Erlando Rêses: Isso de certa forma está respon-dido, mas tá respondido com relação a pesquisa, quando nós envolvemos o elemento da práxis. Eu diria que para o Materialismo Histórico Dia-lético é fundamental o exercício da militância, o que seria uma militância refletida e analisada e não a militância desprovida de análise, crítica e de avaliação. O Materialismo Histórico-Dialético fundamentalmente nos a ajuda a per-cebermos a contradição entre capital e trabalho. Para nós percebemos também a relação entre dominante e dominado ou qualquer similarida-de com relação a isso. Então, o Materialismo Histórico-Dialético com toda o seu legado, nos permite, pelo contato concreto com a realidade social, fundamentarmos ou fortalecermos a cha-mada militância. Também no sentido inverso a militância serve de fundamento para o materia-lismo histórico-dialético. Eu posso vir de uma raiz prática pautada no senso comum e, a partir da militância, entender, compreender e até ana-lisar melhor o Materialismo Histórico-Dialético. Eu diria que esses dois campos, o MHD e a militância, são indissociáveis. A aca-demia tende a condenar o exercício da militân-cia, por entender, a ciência desprovida de qual-quer ato político, ou seja, como neutra cientifi-camente e ela pode prejudicar a pesquisa, o pes-quisador e a pesquisadora, por exemplo, de exercer o juízo de valor em torno de um objeto de pesquisa. O pesquisador tem condições de fazer isso com tranquilidade, a partir de outras epistemologias. Mas também ele pode exercer, pelo materialismo histórico-dialético, a distân-cia disso, porque a própria epistemologia enseja um posicionamento do pesquisador. Ele não po-de ser neutro. Ele tem que se posicionar frente ao que esta sendo investigado, usando todos os elementos necessário a construção da ciência, usando todos os elementos necessários à cons-trução da ciência e tirar suas conclusões. Uma metodologia que não permita tocar na realidade para alterá-la, fazendo a intervenção social, tem sua fragilidade com relação ao materialismo histórico-dialético.
Márcia Bittencourt: Qual o significa-do da Teoria Social do Marxismo ho-je? Erlando Rêses: Na questão anterior nós falamos do legado para a pesquisa e aqui qual a importância da teoria social. Não tem sentido, eu hoje ou nós hoje numa sociedade em que a crítica vai de-saparecendo de vários aspectos da vida e dizer que a Teoria Social de Max não tem sua importância. Tem e é grande, no sentido de que a percepção do mundo pautado numa crítica deve ser feita. Uma crítica que nos leva a perceber pe-la Dialética a tese e a antítese e constru-indo daí, a partir do que essa teoria en-seja, a chamada Síntese das Múltiplas Determinações, o conhecimento ou a verdade daquilo que nós queremos des-cobrir e observar. Portanto, a Teoria So-cial do Marxismo hoje nos ajuda a pen-sar ações concretas, por exemplo, ao chamado projeto escola sem partido. Não dá para a gente imaginar a existên-cia de uma elaboração por um docente sem o envolvimento da crítica, sem o envolvimento da busca por analisar pro-fundamente algo e nessa análise profun-da nós estamos envolvidos naquilo que nós conhecemos sobre o mundo e do mundo, na vivência e experiência que nós utilizamos na relação com a teoria Então, isso é fundamental da teoria so-cial do Marxismo. É exatamente essa possibilidade que nós temos no mundo. Pensar de forma crítica, não só uma avaliação superficial abstrata ou idealis-ta, mas concreta com efetiva ação.
Por: Márcia Mariana Bittencourt
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da
Universidade de Brasília (UnB) e membro do Grupo de Estudos e Pes-quisas em Materialismo Histórico-Dialético e Educação (Consciência)
da FE/UnB.
E-mail: [email protected]
18
Responder a tal questionamento não é algo complexo, pois posso resumir que
aprendi qual é o caminho para a realização de uma pesquisa na área da educação. Ao
mesmo tempo é algo de extrema complexidade, visto que sua concepção e sentido, bem
como suas categorias são complexas e quiçá não sendo possível meramente explicitá-
las em um grupo de palavras, mas sim, com a práxis acadêmica.
Para além de conseguir escrever algumas linhas sobre o método, melhorei minha
postura docente, que por vezes era divergente às concepções que passei a compreender.
Na educação, muitas vezes, buscamos respostas rápidas e com mudanças imediatas nas
estruturas ou nas relações sociais estabelecidas. Mediante o método, as mudanças são
mediatas e processuais. Além de que se alicerçam em questões históricas, econômicas e
culturais, que se apresentam com uma gama de contradições. Alcançar a essência de
uma questão demanda um mergulho fecundo na análise das aparências. Questões que
estou tentando efetivar em minha práxis acadêmica, com o GEFOPI - Grupo de Estudos
em Formação de Professores e Interdisciplinaridade.
O QUE APRENDI COM A DISCIPLINA DO MATERIA-
LISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO?
Andréa Kochhann Docente da Universidade Estadual de Goiás
Doutoranda em Educação pela Universidade de Brasília
O GEFOPI, foi criado em 2006, por mim, devido as
necessidades dos acadêmicos no sentido da interpretação de
textos científicos e elaboração de trabalhos acadêmicos.
Dessa forma incentivei os estudos e participação em proje-
tos de pesquisa e de extensão. Ao longo dos seus 10 anos,
o GEFOPI, se renovou a cada ano, ou seja, a todo momento
com novas experiências. Em 2016, as experiências que os
componentes do GEFOPI viveram foi de práxis acadêmica
pela concepção do Materialismo Histórico-Dialético.
* Assim como eu me
encontrei enquanto
profissional com o
GEFOPI, me encontrei
como acadêmica com
o Materialismo Histó-
rico-Dialético. Contu-
do, é um processo de
eterna aprendizagem.
19
O documentário Como se fosse da família, dirigido por
Alice Riff e Luciano Onça, com 13 minutos foi lançado em 2013 mundialmente. Neste filme duas empregadas domésti-cas que passaram a vida trabalhando para mesma família de classe média brasileira falam sobre sentimentos, vínculos familiares, trabalho, direitos e opinam sobre a Emenda Constitucional das domésticas nº 72/2013. A primeira traba-lhadora, Vanderlea Santos, com 40 anos, começou a traba-lhar aos 14 anos, na entrevista a patroa participa da filma-gem onde também apresenta sua visão. A segunda trabalha-dora é Áurea Andrade de 64 anos, aposentada, trabalhou durante anos com a mesma família, a mesma apresenta os
laços afetivos diante de sua família sanguínea e a família da patroa. O docu-mentário expõe fatos da alienação do trabalho doméstico em que a sociedade capitalista submete as trabalhadoras e gera consequências. (Assista: https://vimeo.com/111841020)
O longa Capitão Fantástico lançado em 2016 nos
EUA, com duração de 118 minutos, direção e roteiro de Matt Ross gira em torno de Bem (Viggo Mortensen) - O capitão, que cria seus seis filhos na mata; ensina técni-cas de sobrevivência na floresta e a educação que é fa-miliar baseada em literaturas socialistas-libertárias que apresenta como ícone Noam Chomsky. A Notícia da morte de Leslie, mulher de Bem e mãe de seus seis fi-lhos, fazem com que a família viaje para o funeral e pla-neje impedir que fosse realizado a cerimônia de forma cristã. A viagem traz aos jovens prodígios terem contato com ideais liberais da sociedade capitalista nas relações sociais, e os desconcertos são inevitáveis o que é um
dos grandes atrativos do longa ao provocar certeiras risadas. O filme traz im-portantes reflexões sobre a falsa liberdade da sociedade de consumo, problema-tiza de forma crítica a morte e o sagrado e perpassa a consciência de totalidade do trabalho; porém apesar das consideráveis reflexões e o potencial de tensão o filme deixa na terceira parte a leveza da conciliação.
Por Roberta Fernandes Batista, gradu-ada e especializada em História, se aperfeiçoou em cinema para diversi-dade em educação. Pesquisadora cola-boradora do programa de extensão e Ação contínua PÓS-POPULARES, bem como colaboradora do Grupo de Estudo e Pesquisas Consciência, am-bos da Faculdade de Educação-UnB. É professora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.
20
Por: Neimar Faoro - Professor de filosofia.
"Da Ideologia" (Zahar Editores, 1977, primeira tradução brasileira em 1980, 326 páginas), organizado pelo Centre for Contemporary Cultural Studies da Universidade de Birmingham e traduzida no Brasil por Rita Lima, traz em primeiro lugar as ideias de Althusser, Gramsci, Lukács e Poulantzas acerca da ideologia como um todo na humanidade. Em um segundo momento o livro irá falar sobre o comportamento ideológico das lutas de classe dentro da história com base no conceito de ideologia e alienação em Karl Marx.
Louis Althusser (1918-1990), descreve dois pontos relevantes sendo o primeiro a própria ideologia e assim as relações capitalistas de ex-ploração. Para o autor existe uma relação intrín-seca com esses dois pontos. ideologia é uma relação imaginária (mente) e essa relação possui uma vinculação com as condições reais da exis-tência. É uma maneira de como as pessoas ima-ginam uma situação real da existência. A ideo-logia pode ser uma existência material que sur-ge através dos Aparelhos Ideológicos do Estado como a igreja, escola e meios de comunicação social. Esses aparelhos favorecem ao imaginário a produção de meios capitalistas para a explora-ção das massas.
Antonio Gramsci, (1891-1937) desenvolve o conceito de hegemonia sendo aquilo que uma classe impõe a sociedade implantando um conjunto de significados. Para o autor, hege-monia cultural que se dá através da educa-ção, religião e os meios de comunicação, tem como objetivo educar os dominados para que estes vejam o mundo como natural. Diante desta ideologia "natural" ocorre a neutraliza-ção da capacidade revolucionária das classes sociais. A hegemonia, segundo Gramsci, não é um processo acabado, mas sim, são proces-sos contra-hegemônicos que produzem con-flitos no interior da sociedade.
György Lukács (1885 - 1971) traz dois conceitos de ideologia: a ideologia burguesa e a ideologia proletária. A ideologia burguesa são as classes que detêm o poder de comandar e esse comando sempre está muito próximo da política, já a ideologia proletária é responsável por absorver os co-mandos políticos. Para Lukás, o homem tem a hora de pensar e a hora de produzir dentro do traba-lho. A política é uma forma de ideologia onde o homem tem, por meio de suas ideias, condições de se conscientizar de seus conflitos sociais e assim enfrentá-los e criar novas direções. A ideologia é um conceito que independe da ideia ser falsa ou verdadeira porque seu objetivo é agir dentro da realidade social independente de posições. Para Lukács, toda a ideia é uma ideologia, mas se essa ideia não propôs mudanças efetivas não será uma ideologia.
Em um segundo momento, a luz de conceitos de alienação e ideologia de Marx, o livro busca trabalhar aspectos alienantes dentro da econo-mia, da moral, da educação, política e outros pontos de conflito na sociedade. Desenvolve-se várias reflexões sobre problemas atuais de ideo-logia dentro do trabalho, lutas de classe, capital e produção e especificamente sobre a natureza humana. Assim, o livro nos provoca a refletir sobre tais assuntos dentro de uma visão marxis-ta com enfoques de vários autores dentre os quais damos destaques aos citados aqui.
Nico Poulantzas (1936-1979) defende o estado como uma ideologia, esse estado personaliza, individualiza, e isola os trabalhadores entre si, impedindo a luta de classes. Isto ocorre atra-vés da concorrência entre os assalariados e os capitalistas, donos da propriedade privada. Pa-ra Poulantzas não se separa uma ideologia da dominação de uma classe. O estado não tem poder por si mesmo, não é uma “entidade” mas sim a condensação de uma relação de classes ideológicas. Pela ideologia o estado se transforma em um campo de batalha estratégi-co. É moldado pela luta de classes.
21
Por: Ma. Andréa Kochhann
Encontre as palavras mais frequentes na discussão sobre Materialismo Histórico– Dialético
Alienação, emancipação, capitalismo, opres-sor, oprimido, religião, política, totalidade,
dialética, historicidade, contradição, singula-ridade, concreto.
22
MATANDO O TÉDIO
https://acasadevidro.com/tag/tirinhas/
Adaptação: Ma. Andréa Kochhann
23
PARA REFLETIR
Por: Ma. Andréa Kochhann
Fonte: http://micaeladiarte96.blogspot.com.br/2012/11/filosofia.html
24