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Edição 85

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Gazeta Vargas #85

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E a farra acabou

Alípio FerreiraMariana Moreira

A cada quatro anos, o Brasil tem no mínimo três feriados a mais garantidos no calendário:

são os três jogos da primeira fase da Copa do Mundo de futebol.

Enquanto a seleção do digníssimo Ricardo Teixeira (de quem já se falou neste periódico em sua edição #84) está em campo, não há presidente da repú-blica que despache, não há fábrica que produza, professor que aplique prova. Tal paralisia nacional é perigosa em tempos de crise como o que vivemos. E talvez dai o sus-piro de alívio com a elimina-ção da seleção brasileira no jogo contra a Holanda.

O presidente Lula não con-seguiu assistir à seleção brasi-leira na final do campeonato e teve de voltar a despachar. As fábricas e xérox não tiveram as folgas es-peradas na semi e na final, e tiveram que produzir. Os profes-sores da FGV Tiveram que corrigir as provas a tempo e lidar com as reações dos alunos. 2010 promete ser muito mais do que essa derrota de Copa do Mundo... ¤

Acesse nosso site:www.gazetavargas.org

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GazeteirosEdição

Alípio Ferreira - Editor Chefe - [email protected] Miyamura - Revisão - [email protected]

Isabelle Glezer - Revisão - 4º [email protected]

RedaçãoFernando Fagá - Dir. Redação - 6º Economia [email protected]

Felipe Yamada - 4º [email protected]

Flavio Ciabattoni - 2º [email protected]

Gesley Fernandes - 6º [email protected]

João Lazzaro - 4º [email protected]

Mariana Pacetta - 4º [email protected]

Rafael Jabur - 6º [email protected]

Ricardo Marchiori - [email protected]

Rafael Kasinski - Redator [email protected]

Daniel Fejgelman 6º [email protected]

Mariana Moreira - Diretora de Arte - 4º [email protected]

Breno Oliveira - 5º [email protected]

Gabriela Szini - 2º [email protected]

Marina Figueiredo - 2º [email protected]

InstitucionalRafael Heredia – Presidente Institucional - 9º AP [email protected] Sznirer - 6º [email protected]

Laurent Broering - 4º AE [email protected]

Pedro Henrique Veloso - 5º [email protected]

Rafael Rossi - 9º [email protected]

Rosa Maria Lima - 4º [email protected]

ImpressãoQuality GráficaTiragem: 3000 exemplares

CapaBreno Oliveira - 5º AE

Tiragem3000 exemplares

DISCLAIMERA Gazeta VarGas não se responsabiliza por dados, informações e opiniões contidas em textos devidamente identificados e assinados por representantes de outras entidades

estudantis, bem como nos textos publicados no Seu Espaço submetidos e devidamente assinados por autor não presente no expediente desta edição. Todos os textos recebidos estão sujeitos a alterações de ordem léxico-gramatical e a sugestões de novos títulos. Por ser limitado o espaço de publicações, compete à Gazeta VarGas a escolha dos textos que melhor se enquadram na sua linha editorial, sendo recusados os textos muito destoantes acompanhados das devidas justificativas e eventuais sugestões de alterações.

DIREITOS RESERVADOS — A Gazeta VarGas não autoriza reprodução de parte ou todo o conteúdo desta publicação.

“Que história vocês que-rem contar?” Foi assim que o professor Daniel Andra-

de rebateu à pergunta dos membros da Gazeta VarGas sobre qual é a importância de se preservar a história. Foi pensando nessas duas questões que a edição #85 foi elaborada. A história não é, como nos fez lembrar o professor Daniel, uma nar-rativa unívoca de eventos sobre a qual todos concordam e teorizam. Em en-trevista a esta edição da Gazeta VarGas, o professor Dimitri Dimoulis observa que a construção de uma narrativa histórica envolve a exclusão e o esquecimento de alguns fatos do passado, de acordo com a conveniência ou simplesmente uma preferência estética...

É claro que a Gazeta VarGas não sofreu uma guinada editorial repentina, pas-sando de uma revista focada em temas da FGV para ser um compêndio de in-vestigações filosóficas. Por isso, ao longo da #85, o leitor se debruçará sobre pro-vocações sobre o presente e passado da Fundação Getulio Vargas. Há dez anos, a FGV-SP se resumia à EAESP, a Con-gregação ainda existia e surgia a ideia da Escola de Direito. Há vinte anos, a Fundação era sustentada em parte por dinheiro público (selos), o curso de Ad-ministração Pública era financiado pelo Governo do Estado de São Paulo, não ha-via patrocínio privado de salas de aula e o presidente da Fundação era o mesmo desde 1944.

A realidade que hoje vivenciamos na FGV, tão diversa de apenas duas déca-das atrás, se modificou em diversas rup-turas, que não careceram de discussões

e debates. O presidente da Fundação renunciou pouco antes de falecer. O di-nheiro do selo foi cortado pelo governo Collor. As bolsas de AP pelo governo Covas. Os patrocínios em sala de aula iniciaram na gestão do diretor Zeitlin. A Congregação foi virtualmente extinta pelo presidente atual da Fundação, Car-los Ivan Simonsen Leal, em 2007.

Em cada um desses eventos, ocorreu uma mudança significativa para a rea-lidade de quem vive a FGV. Em muitos desses eventos, uma postura ideológica acabou desencadeando uma ruptura na história da Fundação. E qual é o nosso posicionamento frente a essas disputas de ideias? Preservar a história trata-se de manter o debate vivo a respeito des-ses eventos: estar ciente de que a reali-dade não é irreversível ou imutável, e de que ignorar essa reflexão equivale a endossá-la.

As demissões na EAESP ocorreram há muito pouco tempo. No entanto, não fosse o trabalho da imprensa – seja ela a grande imprensa, como a Folha de São Paulo, que também registrou o evento, ou a própria Gazeta VarGas – essa histó-ria jamais teria existido. O fato de tra-zermos à tona a memória desse episó-dio das demissões não é gratuito, mas reflete que os conflitos, os debates e as portarias da época não gozam do status pacificado que possuem os consensos. Ignorar isso iria contra o próprio objeti-vo desta entidade. Afinal, se o debate e a crítica são admiráveis em qualquer setor da sociedade, a ausência deles é detestá-vel pelo menos na Academia. ¤

Alípio Ferreira

Você não lembra ou não sabia?

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Cartas/Curtas

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GAZETA VARGAS

Cartas à exclusivíssima edição #84 da Gazeta Vargas

Caros Senhores da Gazeta VarGas,Agradecemos a V.Sas. pelo con-

tato e pela oportunidade, para mais uma vez reafirmar que o Ro-ckafé, ao longo de sua trajetória, procurou e tem procurado manter o compromisso de oferecer produ-tos e serviços da mais alta quali-dade,  e que estão de acordo com o prestígio da FGV e de acordo tam-bém com as expectativas da comu-nidade geveniana, a um preço justo e compatível com o padrão acima citado.

Dentro desse espírito e na busca de atendimento constante aos nos-sos clientes, o Rockafé mantém um relacionamento do mais alto nível com todos que fazem parte dessa reconhecida escola. 

Cordialmente,Armando Paffi VidalRocKafe

Gazeta VarGas – Prezado senhor Armando, agradecemos a colaboração na obtenção das informações para a matéria “De Grão em Grão”. Apro-veitamos o ensejo desta resposta, no entanto, para lembrá-lo da promessa que a empresa fez de levar a cabo uma auditoria nas receitas dos restauran-tes do primeiro andar. O intuito seria garantir aos alunos da FGV que os 5% da receita bruta do restaurante Getu-lio estão efetivamente sendo transfe-ridos ao DAGV. Esperamos que os se-nhores possam encaminhar em breve esta auditoria, com colaboração do DAGV, uma vez que a data prevista para que ela ocorresse era a semana do dia 18 de maio.

Prezados: Li e achei o texto atraente, leve

e divertido, além de divulgar este trabalho que estamos fazendo de um modo cuidadoso e sério, com humor. Portanto, parabéns pelo trabalho, considerando também outras matérias que me parecem tão importantes do ponto de vista político, como é o caso da equipe de trabalho da madrugada na GV.

Nada tão importante, mas vale comentar que o Pró-Saúde surgiu em 2003 e não há vinte anos, como foi dito. Além disso, gostaria tam-bém de adiantar que as conversas com as coordenações de Direito e Economia estão adiantadas e creio que conseguiremos chegar ao final do semestre já com a ampliação efetiva do serviço para estas duas escolas.

Ab. e obrigado pela atenção,Tiago Corbisier [email protected]

Errata – Diferentemente do que foi divulgado na edição #84 da Gazeta VarGas, em artigo intitulado “Saúde Mental na GV” (página 21), o serviço Pró-Saúde não é oferecido aos alunos da EAESP desde 1983. Segundo o professor Tia-go Corbisier Matheus, coordenador do programa, ele surgiu em 2003.

Cartas Curtas da Gazeta Vargas #85Uso do e-classUma vez descoberto que o e-class

possuía uma ferramenta que poderia disparar e-mails a todos os alunos da EAESP, muita gente se apressou. As chapas concorrentes ao Diretório Aca-dêmico – notadamente, a chapa Mani-festo e a chapa Acesso – enviaram suas propostas e oferendas aos seus poten-ciais eleitores por meio dessa ferra-menta. Durante os jogos IntegraMix, um aluno usou a útil ferramenta para fazer comércio de “kits”. Mas a bomba só estourou quando a chapa FBKKK resolveu reivindicar seu democrático direito a falar com o eleitor, e enviou uma carta encharcada de sarcasmo e provocações a todos aqueles listados no mailing do e-class. A denúncia che-gou à alta cúpula da EAESP, ao que o aluno dos “kits” e o representante da FBKKK foram chamados para uma Co-missão de Conduta – outrora designa-do Tribunal do Santo Ofício. A reunião, marcada para as 11h15 do dia 12 de junho, durou até aproximadamente as 11h16 do dia 12 de junho. Os profes-sores presentes notaram que os alunos chamados haviam sido injustiçados, uma vez que nem sequer haviam sido os primeiros a usar o mailing, e arqui-varam o caso..

Uso do e-class (2)Devido ao episódio com o uso da

ferramenta virtual para o torpedea-mento das caixas de e-mails dos alu-nos da Fundação Getulio Vargas, a Coordenação da EAESP enviou um e-mail ao alunado, instituindo catego-ricamente que: “o e-class é uma ferra-menta criada para uso exclusivamente acadêmico. Não se presta, portanto, à utilização para finalidades políticas, comerciais ou de qualquer natureza que não a especificamente escolar. O uso indevido deste instrumento esta-rá sujeito a penas disciplinares.”

Reforma da fachada na ItapevaA Diretoria de Operações da FGV-

SP, em sua incontrolável sanha esteti-zante, fez uma reforma na parede da

Altos e BaixosEm altaHandebol na GV (Cam-

peões da Copa ABC)

Na mesmaProblemas com matrícu-

las na EAESP

Em baixaVazamento de petróleo

no Golfo do México

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Curtas da Gazeta Vargas #85fachada da FGV na rua Itapeva nos meses de maio e junho. É curioso, no entanto, notar o seqüenciamento da operação. 1) Pintar toda a parede sem lixar para retirar a tinta anterior; 2) Furar todo o chão para colocar um jar-dim; 3) Sujar toda a parede com cimen-to e areia devido aos buracos feitos na construção do beiral; 4) Esconder toda a sujeira nas paredes com as plantas afixadas. Apesar da graça e beleza que hoje podemos contemplar ao chegar ao nosso trabalho ou estudo na Fundação, quem ficou literalmente “deslocada” nessa história foi a notória Dona Gra-ça, que fornece a cada dia o desjejum de tantos transeuntes. Além disso, o projeto de arborização da EAESP não é de hoje. No ano passado, algumas

“muretinhas” do estacionamento, onde alunos costumavam sentar-se para confabular sobre o ser e o nada, foram preenchidos com canteiros de plantas. Acabar com o estacionamento ainda é uma proposta que viceja nas correntes mais radicais da administração da Es-cola, apesar de politicamente compli-cada.

Bom bonito e barato? A Gazeta VarGas, que costumeiramen-

te canaliza as reclamações e denúncias de tanta coisa ruim que acontece no cosmos geveniano, apurou uma infor-mação que poderá resolver a vida de alguns estudantes da EAESP. Quase sempre queixosos das altas taxas que devem pagar para poder estudar nos bancos da Fundação, os alunos agora podem contar com uma alternativa no Piauí. Por R$ 515,00 por mês é ofer-tado um curso de graduação que os-tenta o título de “Administração/FGV” na Faculdade NovaFapi, em Teresina. Confira em http://www.novafapi.com.br/ 

International AffairsA Escola de Economia de São Pau-

lo, depois de algumas tentativas fra-cassadas de integrar seus alunos aos programas de intercâmbio da Coor-denadoria de Relações Internacio-

nais (CRI) da EAESP, resolveu mon-tar sua própria Coordenadoria. A chamada International Affairs está sendo desenvolvida pelo professor Samy Dana, com auxílio de alguns alunos e de um funcionário contra-tado, e já conseguiu fechar parce-rias com renomadas escolas, como Michigan University, Universidade Pompeu Fabra (Espanha), London School of Economics, Universidade de Tilburg (Holanda, que venceu o Brasil nas quartas) entre outras. Hoje em dia a CRI atende alunos de Economia e Direito, mas estes têm direito somente a vagas remanes-centes dos programas de intercâm-bio, e viajam na condição de alunos de administração.

ILADDD, a Cepal do DireitoProfessores da Escola de Direito

da FGV-SP participaram dos pri-meiros encontros para a criação do Iniciativas Latino-Americanas de Direito, Democracia e Desenvolvi-mento (ILADDD), em abril na capi-tal colombiana, Santa Fe de Bogotá. O grupo intitulado ILADDD reúne grandes juristas da América Lati-na, e se pretende pensar problemas jurídicos que atravancam ou amea-çam o desenvolvimento da América Latina. O grupo já foi apelidado de

“Cepal do Direito”, em referência à Comissão Econômica para América Latina e Caribe, grupo ligado às Na-ções Unidas que acabou ensejando a criação de uma vertente própria de pensamento econômico, o estrutu-ralismo, e de onde saíram nomes im-portantes para o cenário acadêmico e político do continente e do Brasil, como Celso Furtado, Fernando Hen-rique Cardoso e Maria da Conceição Tavares. Os professores Oscar Vilhe-na, Ronaldo Porto Macedo Jr e Lu-ciana Gross Cunha, todos do Direito GV, acompanharam as reuniões em Bogotá. O professor Oscar afirmou em entrevista ao Estado de São Pau-lo que “assim como a Cepal produziu documentos para entender o subde-senvolvimento, queremos produzir outros para entender os desafios do direito na região.”

Álcool na FGV - ProfessoresNo segundo semestre de 2008, os di-

retores da FGV proibiram o consumo de bebidas alcoólicas nas dependências da Fundação Getulio Vargas. A intenção era impedir que os alunos bebessem, mas o decreto, mal redigido, acabava se aplicando também ao Espaço Bohe-mia, hoje Clube dos Professores, locali-zado no 4º andar. À época, a Diretoria de Operações enviou uma consulta por e-mail a todos os professores pergun-tando-lhes candidamente se achavam que deveria ser proibido o consumo de álcool no 4º andar, ao que a esmagadora maioria respondeu com um contunden-te “NÃO”. Resultados plebiscitários à parte, num acesso de positivismo jurídi-co, a DO-SP achou por bem proibir que seus docentes se inebriassem no espaço escolar. Mas como ninguém é de ferro... No dia 24 de junho, último dia de provas na EAESP, foi concordado com os profes-sores que poderiam naquele dia realizar um discreto bacanal – no sentido mais cristão da palavra – no Clube dos Profes-sores, e o vinho foi liberado aos docen-tes!

Álcool da FGV - AlunosNo segundo semestre de 2008, como

dito acima, acabou-se a alegria de poder beber cerveja no conforto e aconchego do 1º andar da FGV. No primeiro semes-tre de 2009 foi aberta a exceção para uma festa, e só! Dizem que é uma ques-tão de tempo até que outros artigos da Sharia sejam implementados na Escola. Mas mesmo assim, com o poderosíssi-mo lobby da Coordenadoria de Relações Internacionais, a Escola concordou em liberar o consumo de cervejas no 1º an-dar no dia 16 de junho, data do primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo, con-tra a Coreia do Norte. Só que a condição era de liberar o consumo de alcoólicos somente aos alunos intercambistas na FGV. O presidente do DAGV na época, Arthur Veloso, sabiamente vetou a pro-posta, fruto de algum tipo de sinapse mal-resolvida de neurônios pouco repu-blicanos que habitam a EAESP.

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Opinião

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GAZETA VARGAS

Isabelle Glezer

-O que são mil advogados acorrentados juntos no fundo do oceano? – Per-

gunta Andrew Beckett, interpretado por Tom Hanks no clássico “Filadélfia” (Jonathan Demme, 1993), que narra o processo de um advogado (Hanks) injustamente demitido por um grande escritório após descobrirem que ha-via contraído AIDS. Seu advogado de defesa, interpretado por Denzel Wa-shington, encara-o duvidoso. Beckett responde:

- Um bom começo.

Uma fábrica busca defender-se de uma indenização milionária por ter in-capacitado um pai de família num aci-dente de trabalho. Um recém-divorcia-do deseja diminuir a pensão alimentícia que paga para seus filhos, pois quer sus-tentar sua namorada. Um pequeno em-presário busca meios de burlar o fisco.

Lá vai o desprezível advogado, cobrar os olhos da cara para dar assistência ou defender judicialmente os personagens acima. Seu estereótipo de ganancioso, sanguinário e moralmente deturpado está relativamente consolidado na so-ciedade ocidental. Afinal, são os únicos seres capazes de defender, no limite, serial killers, estupradores, Suzane Ri-chtofens e Nardonis mundo afora.

Rastejando entre a escória da huma-nidade, estes seres ganham a vida ga-rantindo os direitos (no Brasil, constitu-cionais) de ampla defesa e contraditório a criminosos torpes que são, em algum grau na psique humana, indefensáveis.

Para uns, a defesa destes criminosos soa como um crime moral quase tão grave (ou até mesmo pior) do que aquele cometido por seus clientes. “Que tipo de pessoa em sã consciência vai ao tribu-nal mentir descaradamente para livrar um criminosos da pena que todos nós

sabemos que ele merece?”, questionam os inconformados espectadores deste teatro midiático.

Sem adentrar uma insustentável e infrutífera discussão sobre o que é a moral, adotemos, para fins jornalísti-cos, o conceito tão aceito quanto discu-tido de que “agir moralmente” significa respeitar determinadas condutas e va-lores socialmente estigmatizados como corretos ou incorretos. Neste prisma, quão moral é um homem que veste seu terninho “George Armando” e vai ao Fórum Criminal da Barra Funda em defesa de um delinquente inescusável que (obviamente) estuprou, torturou e mutilou criancinhas?

E isso é engraçado, pois com va-lores democráticos tão consolida-dos, acabamos caindo no seguinte paradoxo: embora acreditemos que vivemos em uma democracia com igualdade de oportunidades, na qual todos têm direito a defesa e impar-cialidade no julgamento, é automáti-co o rótulo de que algumas pessoas simplesmente não têm este direito. Rechaçamos aqueles que exercem a profissão de defendê-los, pois secre-tamente deseja-se que estes crimino-sos sejam clandestinamente tortura-dos e mortos.

Ou todos têm direito a defesa, ou ninguém tem. Se a escolha de universa-lizar este direito já foi feita no contrato social (e renegá-lo nos traria de volta ao estado de natureza e liberdades que ou-trora renunciamos), podemos repensar a crença de que o advogado dos casos acima age de forma moralmente hete-rodoxa.

E não só advogados – popular e cul-turalmente retratados como sangues-sugas ou tubarões –, ou economistas e administradores não trabalham com decisões capazes de demitir as massas, causando enorme impacto social? Os advogados são apenas mais divulgados, pois acredita-se em algum grau que não integram um sistema corporativo, mas optam sozinhos por seguir uma deter-minada conduta socialmente contro-versa.

Talvez este simplesmente não seja um debate moral, e agir com ética profissio-nal seja justamente defender o bendito criminoso, resguardando os deveres de preservar, em sua conduta, “a honra, a nobreza e a dignidade da profissão, ze-lando pelo seu caráter de essencialidade e indispensabilidade”, e todos os conse-guintes lero-leros oriundos do exímio Código de Ética e Disciplina da OAB.

Por que complicar as coisas? Enquan-to aprendizes do Direito, somos treina-dos para transformar qualquer pequena adversidade em um debate moral épico com o qual somos capazes de perder a voz, a força e o sono. Diariamente. Sem querer desmerecer a importância da mo-ralidade, mas forçá-la dentro de todas as nossas escolhas parece um grande passo em direção a sua banalização.

Talvez a moralidade esteja superesti-mada, trivial, e o desejável seja apenas que haja conformidade entre aquilo que optamos por fazer (de forma remune-rada ou não) e o que estimamos como certo. E que todos os dias não sejam um tormento moral-existencialista. ¤

A irrelevância da moral

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Flavio Lima

Foi por motivos que me são, hoje, obscuros, que eu fui con-vencido a participar de um tal

evento que eu melhor chamaria de “Furada Cultural”, sendo que meus planos iniciais para a noite consis-tiam na boa e velha Pink Elephant. Pelo menos uma valiosa lição o ocor-rido me proporcionou: a de nunca mais me meter a frequentar atrações gratuitas, onde a mais asquerosa plebe faz questão de comparecer em peso.

A noite já fora iniciada com o pé esquerdo (e todos sabem quantas péssimas conotações essa palavra guarda): na impossibilidade de che-gar ao centro da cidade utilizando-me de meu potente i30 prateado, fui obrigado a pegar o metrô (o que, anteriormente, me parecia uma rea-lidade bem distante). Sim, o metrô! Até que não seria tão ruim, não fosse pelo calor insuportável e pelo odor desagradável que maculava o ar que eu me via obrigado a inalar, enquan-to espremido em meio às pessoas mais feias que eu já vira, até então. Mas isso está longe de ter sido o pior da noite: logo fui avisado, por meu pseudo-alternativo amigo João, que teríamos de voltar de trem. Gostaria de brecar meu relato, por um instan-te, para fazer uma reflexão acerca da natureza do evento.

Havia, lá, milhares de pessoas como o João, que, por frequentarem tais eventos e estudarem cinema na FAAP, se consideram reais admira-dores da cultura, em geral. Eu lhes digo: se esse interesse fosse real, fi-cariam em casa lendo um livro, ao invés de mascarar sua fútil vontade de sair com o comparecimento a uma falsa atividade cultural. Ao menos

eu não me envergonho ao dizer que não me interesso por cultura e prefi-ro pegar uma boa balada, com muita mulher, vodka e Red Bull. Voltemos ao relato.

Sim, teria de voltar de trem! Sa-bem, aqueles trens que viajam às margens dos rios Pinheiros e Tietê, dos quais ouvimos, frequentemente, notícias de tiroteios e homicídios? Sabem, aqueles trens que vão para lugares terríveis como Osasco e a Zona Sul? Mas a noite ainda haveria de piorar, com o início dos shows.

Chegando ao primeiro, de uma tal banda que creio ser mexicana, fiquei impressionado com o número de pes-soas que pareciam estar se divertindo ao assistir um tedioso e prolongado solo de um estranhíssimo instrumen-to de cordas que não era nem um vio-lão, nem um cavaco, e tinha um som mais feio que o de ambos. Dentre elas, estava meu amigo João. Eu, no entan-to, me recusei a infiltrar-me na multi-dão, que, nesse momento, já se encon-trava embriagada de um vinho barato

e de procedência duvidosa. Esperei o João sentado em uma mureta imunda, que fez com que minha bunda ficasse quadrada e dolorida.

As demais apresentações foram igualmente insuportáveis: só não ia embora pelo simples fato de não saber quais trens tomar, além de ter um cer-to medo de fazê-lo sozinho.

Paro por aqui meu relato cronoló-gico e detalhado para relatar pecu-liaridades isoladas, afinal de contas, não quero entediá-lo, caro leitor, tanto quanto eu me entediei na per-turbada noite.

Em um dado momento, enquanto assistia, de fora, a um show daquele gênero medonho de música instru-mental norte-americana, do qual só gostam os velhos e os chatos, me deparei com algo, no mínimo, inusi-tado: um desfile de gigantescas es-culturas de insetos, feitas de papel. Realmente, não há nada mais cultu-ral do que trinta pessoas carregando um louva-a-deus.

Outro momento incrível deu-se quando avistei um grupo de dez pessoas que tinham todo o corpo pintado monocromaticamente, as cores variando de indivíduo para indivíduo. Alguém precisa avisá-los de que, para ser considerada cultu-ra, a pintura deve ser aplicada sobre uma tela, e não sobre seios e geni-tálias.

O ápice da loucura da noite veio, no entanto, durante a apresentação de um velho maluco chamado Her-meto Pascoal. Em meio a gritos hor-rendos executados pela cantora que o acompanhava, o “artista” resolveu que seria uma ideia sensata a de as-soprar enlouquecidamente pelo bico de uma chaleira, como se ela fosse o mais novo instrumento musical in-ventado pelo homem. Consideram isso cultura? Ou chamam o evento de Virada Cultural apenas para que as pessoas não se sintam culpadas por preferirem uma balada a um li-vro de sociologia? Que lição tiramos disso tudo?

Eis o conselho que eu, Gevênio Padrão, lhes posso dar: no próximo ano, escolha dentre duas opções:

1) Ficar em casa lendo Rous-seau; ou, 2) Ir à Royal (ou melhor, à Disco, já que fica mais longe do cen-tro da cidade).

Até que en(FIM). ¤

A Furada CulturalUm geveniano encara a Virada Cultural 2010

Onde está o geveniano?

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Gazeteando

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GAZETA VARGAS

Felipe Yamada

Na FGV, a existência de espa-ços físicos patrocinados é vista com bastante naturalidade

pela maior parte dos estudantes. Po-rém, essa prática não é encarada da mesma forma em outras instituições. Recentemente, a Faculdade de Direito da USP, tradicional instituição do Lar-go de São Francisco, viveu um forte dilema, o mesmo que deve ter ocorrido na GV quando tal política foi imple-mentada: até que ponto um espaço que possui como atividades-fim o ensino e a pesquisa deve servir como forma de divulgação de instituições privadas? O debate que ocorreu na Sanfran é bas-tante útil para a reflexão referente a esse assunto.

Para que se possa manter como uma instituição de ponta no ensino do Direito, a São Francisco demanda fortes e constantes investimentos, tanto em capital humano quanto em infraestrutura. Porém, o orça-mento a que esta tem direito não é suficien-te para sanar todas as carências da Escola. Tendo isso em vista, foi desenvolvido, ao longo dos últimos três anos, um programa de captação de recursos externos, que con-ta com contribuições de ex-alunos e de em-presas privadas. No modelo criado naquela

faculdade, agentes doadores de mais de um milhão de reais com destino à reforma de espaços físicos poderiam indicar nomes para o “batismo” dos mesmos.

A polêmica iniciou-se com a implantação desta iniciativa, que culminou na instalação do auditório Pedro Conde (banqueiro cuja família patrocinou a obra) e da sala Pinheiro Neto (que também nomeia um dos mais no-tórios escritórios de advocacia empresarial do país). Professores e alunos, então, inicia-ram um movimento contrário a estes atos, baseados em diversas argumentações. Pri-meiramente, haveria um desrespeito às tra-dições históricas da faculdade, segundo as quais os nomes das salas deveriam prestar homenagens a renomados ex-professores já falecidos. Em segundo lugar, questionava-se a formatação institucional do programa de captação de recursos. O aluno Fernando Ramon Machado de Andrade, que cursa cursa o segundo ano na São Francisco e pos-sui envolvimento com essa questão, lembra que tanto o recebimento de doações quan-to a nomeação de salas devem, segundo os regimentos da Faculdade e da USP, passar pela aprovação de órgãos colegiados inter-nos, como a Congregação. Porém, o ocor-rido de fato foi a tomada de uma medida unilateral por parte do ex-diretor (e hoje reitor da USP) João Grandino Rodas, que, desconsiderando tal institucionalidade, li-berou a entrada desses recursos e decretou as respectivas nomeações das salas, agindo de forma isolada (esse episódio, aliás, permi-te perceber que demonstrações de getulita-rismo não são exclusivas dos dirigentes de nossa querida Fundação, mas, na realidade, estão largamente difundidas pelas facul-dades, para preocupação dos estudantes). Ademais, de acordo com o estudante, foram ignorados pareceres da consultoria jurídica da USP, segundo os quais seria necessária a existência de uma concorrência pública para o recebimento de contribuições finan-ceiras que impliquem contrapartidas por parte da faculdade.

De toda forma, iniciou-se um amplo movimento político contrário à nomeação das salas, com a realização de um abaixo-assinado e um plebiscito, nos quais os es-tudantes, em sua maioria, rejeitaram as atitudes de Rodas. Boa parte dos alunos manifesta-se a favor da existência de fon-tes privadas de recursos para a faculdade, dada a incapacidade do Estado em garan-tir um provimento satisfatório de verbas. Os investimentos privados surgem como uma forma de suprir as carências da São Francisco e, mais do que isso, modernizá-la para que siga sendo um estabelecimen-to de ensino altamente qualificado. O que se questiona é a forma com que tais contribuições vêm sendo recebidas, apa-rentemente ao arrepio das normas institu-cionais e com total falta de transparência. Como resultado disso tudo, após alguns meses de intensos debates, a Congregação da São Francisco decidiu, no último 27/05, revogar a nomeação das salas, devido à suposta ilegalidade das medidas do ex-diretor e atual reitor.

Sabe-se que a Fundação Getulio Var-gas é uma instituição privada, bastante diferente da USP e de suas inúmeras fa-culdades. Porém, ainda assim, é possível empregar o caso franciscano para se fazer uma reflexão a respeito do que ocorre em nossa FGV. Como um ambiente de ensino deve ser tratado? A autonomia do ensino e da pesquisa acadêmicas podem, de al-guma maneira, sofrer interferências por parte dos patrocinadores institucionais? Práticas como propagandas em salas de aula devem ser encaradas como sendo comuns? O recebimento das verbas pela FGV é tratado ao “estilo Rodas” ou há transparência no assunto?

O que esta edição da Gazeta VarGas pre-tende é atiçar a curiosidade e o senso crítico em torno de algumas posturas institucio-nais da Fundação. Conquanto para muitos o patrocínio em salas de aula pode parecer algo natural, pode-se constatar que para muita gente isso é um fato inconcebível. Longe de querer instigar a revolução con-tra as propagandas em salas de aula e a notória ASDI, a pergunta a se colocar ao aluno é: qual é sua posição a respeito?¤

Salas patrocinadasO dramático caso no Largo São Francisco

“Privatização do espaço público, só na Direito GV!”

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Processo [email protected]

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Caras: na GV

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Erica Miyamura

Marcelo Silva Dias, 45 anos, ex-funcionário da FGV, é figura conhecida

tanto entre alunos quanto entre fun-cionários e terceirizados – os freqüen-tadores da livraria do térreo no Pré-dio Nove de Julho com certeza foram atendidos, ao menos uma vez, pelo simpático vendedor. Simpático, porém discreto, recebeu a reportagem junto à Banca GV, local onde hoje trabalha. Também procurado, o irmão Marcos Paulo Dias, 36 anos, optou por não conceder entrevista por, segundo o próprio, timidez.

Marcelo iniciou seu trabalho na FGV em 1991, tendo lá permaneci-do por 18 anos, saindo recentemente com o encerramento das atividades da livraria do andar térreo. Sua rotina começava às 7h, quando saía de sua então residência em São Miguel Pau-lista, onde morava com os pais; às 9h abria a livraria e lá permanecia até as 18h. Segundo o entrevistado, na livra-ria fazia “de tudo um pouco”, lidando tanto com a área de vendas como com a parte mais burocrática do serviço. Relacionava os livros novos e os em falta, além de negociar as vendas com a biblioteca, o grande comprador. Pou-co tempo após se tornar funcionário da faculdade, passou a tocar paralela-mente o empreendimento que até hoje mantém com o irmão Marcos, a Banca GV – aliás, apesar da semelhança físi-ca, os dois não são gêmeos, como cogi-tado por boa parte dos alunos.

Durante o longo período em que permaneceu junto à FGV, Marcelo vi-venciou algumas das maiores transi-

ções pelas quais a instituição passou. O entrevistado destacou como mudança mais relevante de sua época o proces-so de informatização e profissionali-zação ocorridas na gestão do diretor Michael Zeitlin. De acordo com as de-clarações de Marcelo, foi neste período no qual foram idealizados e projetados os ambientes patrocinados, bem como o aprimoramento do LEPI. Outro evento que marcou época nesses anos foi a gradual substituição do quadro de funcionários. Mais recentemente, também acompanhou a criação das escolas de Direito e Economia da FGV, hoje estabelecidas na Rua Rocha e no Edifício Itapeva, respectivamente. Aliás, a Banca GV foi outra instalação que passou por modificações: o entre-vistado relata que desde a época em que fora recém-adquirida há 15 anos, a banca cresceu tanto em espaço como na oferta de produtos, feito alcançado com auxílio de um patrocínio da Philip Morris e a autorização e incentivo por parte da FGV.

Ao longo da entrevista, notou-se uma forte propensão à criatividade e ao empreendedorismo por parte de Marcelo. Relembra, com nostalgia, que fornecera a idéia de organizar a primeira feira de livros promovida pela livraria, auxiliando em sua rea-lização. Na época, relata que durante a gestão de Fernando Meirelles, fora elaborado um “Plano de Metas” (não, espera-se que você não tenha pensado em JK), no qual haveria uma bonifi-cação caso as metas fossem atingidas. Marcelo forneceu idéias diversas ao atual gestor, sendo que se destacou a de vender livros novos com 20% a 40% de desconto. A iniciativa terminou por

aumentar de forma relativa o movi-mento na livraria, porém, infelizmen-te, o eficiente funcionário não pôde prosseguir na organização das feiras seguintes, de forma que estas passa-ram de feiras de livros novos a uma mera queima de estoque de edições antigas.

Ao final do ano de 2009, a livraria do térreo encerrou suas atividades, sendo substituída por um departa-mento de controladoria da FGV. Diz-se que o motivo da alteração foi con-seqüência de uma mudança de foco com relação aos clientes, sendo que se planejava atender apenas a demanda interna. Já afastado, o ex-funcionário revela que o que mais lhe faz falta é poder trabalhar com livros, atividade que é exercida de maneira um pouco semelhante quando permanece junto à banca. Com relação às pessoas, con-ta que sempre manteve um bom rela-cionamento com os alunos e também teve a oportunidade de fazer amizades com alguns dos funcionários. Dentre eles, cita dois já afastados – Valdimir, que foi seu gerente, e Suely Espanha, sua ex-supervisora – como sendo os grandes incentivadores de seu traba-lho na FGV, uma vez que valorizavam suas idéias e seus projetos. Atualmen-te, pretende seguir com a banca, rea-lizando melhorias na mesma, para benefício da comunidade GV; também possui a intenção de, em associação com os alunos da faculdade, realizar um projeto de caráter filantrópico. Es-pera-se que obtenha sucesso nestes, e quem sabe, em outros empreendimen-tos futuros. ¤

Entrevista comMarcelo DiasEx-funcionário divide sua história e revela perfil empreendedor

Marcos (E) e Marcelo na sua banca

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Rosa Maria Lima

Germano Guimarães é ex-alu-no da Fundação Getulio Vargas e dono de uma história motiva-

dora. Germano se formou em dezembro de 2008, no curso de Administração Pública e, desde seu ingresso na FGV se envolve com política e começou a ver o governo como um foco e uma motivação de vida. Encontrou-se com a Gazeta VarGas em maio, na nossa fantástica sede.

Seu primeiro ano na FGV foi marca-do, dentre outros fatos, pelo distancia-mento entre a FGV do Rio de Janeiro e a de São Paulo, que foi a causa da demissão de professores. Devido a esse ocorrido os alunos fizeram uma mobilização na Ave-nida 9 de Julho em favor dos professo-res. Germano contou que não participou do movimento, mas que foi um dia mar-cante na sua vida de aluno.

Em seu primeiro semestre, a identi-ficação com a política já começou a aflo-rar. Sentimento que foi aguçado pelo seu envolvimento com a entidade Junior Pública. Nesta, conquistou os cargos de Gerente de Projetos da Área Pública e mais tarde de Diretor de Projetos da Área Pública. Para ele, a entidade proporcio-nou novas amizades e a oportunidade de aplicar na prática o conhecimento adqui-rido em sala de aula. Mais importante, se identificou com valores que leva até hoje, como a idéia de realizar um traba-lho de maior impacto na sociedade aju-dar as pessoas por meio do 3º Setor e do governo.

A GV foi muito importante na elabo-ração dos planos de Germano, por ter lhe dado oportunidades que sustentaram sua vontade e seus sonhos. Dentre elas foi lembrado o intercâmbio de um mês em Brasília, no qual vivenciou a rotina de um gabinete que cuidava dos processos de fusões e aquisições de empresas. Esta

foi uma excelente experiência também por ter conhecido outros jovens com o mesmo perfil que o seu. Neste período em Brasília, visitou o Congresso Na-cional e o Ministério da Fazenda. Esse momento serviu de inspiração para suas decisões.

Posteriormente, Germano foi estagiar na área pública, mais especificamente, na Secretaria de Assistência e Desenvol-vimento Social do Estado de São Paulo, onde ficou por seis meses. O seu chefe foi chamado a trabalhar na Secretaria da Educação e convidou Germano para ir com ele. Essa é a maior secretaria do Estado

Ao aceitar o convite, Germano se confrontou com um grande desafio: tra-balhar com a educação. Esta também era uma ótima chance para começar a trabalhar diretamente em prol de seus objetivos.

Nesse estágio, coordenou um projeto inovador chamado Escola de Gestão pelo qual recebeu no mês de abril dois prê-mios Mário Covas, nas categorias inova-ção e excelência em gestão. Tal projeto ti-nha como objetivo tornar o Estado mais eficiente de forma a aumentar os inves-timentos em educação. Germano era o mais novo dentre todos os premiados, o que o fez sentir que seu esforço era valo-rizado e que ele pode fazer a diferença.

Na sua trajetória pela FGV, ocorreu um fato curioso que, segundo ele, foi muito importante para a definição de sua carreira. Germano lembrou que durante uma eletiva uma garota que ele não conhecia, o abordou e falou sobre uma bolsa de estudos em Washington que poderia ser de seu interesse. Foi as-sim que ele ficou sabendo da viagem que proporcionou a experiência de ter aulas com grandes líderes de diversos países. O propósito do intercâmbio era fazer os alunos pensarem em liderança global e

serem líderes. Desta experiência, ele ti-rou três grandes mensagens. A primeira: é possível fazer uma mudança global agindo localmente. A segunda: a idéia de rede é extremamente importante atu-almente, já que estamos a um passo de cada pessoa no mundo. E como última mensagem: o fato de a cidade ter trans-mitido a ele o valor da esperança. Esta última mensagem o fez refletir sobre a importância de fazer a mudança em seu espaço já que exercendo impacto sobre onde está inserido ele poderia ter a es-perança de verificar uma mudança no mundo como um todo. Durante a gradu-ação, Germano conheceu quatro pessoas que fazem parte de sua vida profissional até hoje, e compartilham com ele os mes-mos objetivos, inquietações e ideais de vida. Juntos, arquitetaram um instituto para trabalhar com política e governo que objetiva aproximar os jovens da po-lítica esclarecendo a atual imagem da mesma e fazendo-os enxergar a admi-nistração pública fora da caixa. Essa foi uma iniciativa empreendedora de alunos que queriam melhorar o país e envolver outros jovens com esse objetivo.

Por fim, Germano contou que sua re-lação com a faculdade não acabou com o fim do curso de graduação, mas que a FGV continua sendo parte de sua vida. Germano aprendeu muito na FGV e nas experiências que viveu junto da faculda-de e hoje está transmitindo os valores que incorporou durante sua vida para outras pessoas através de seu trabalho. ¤

Entrevista com

Germano Guimarães

Germano, “German” ou ainda “Chairman”, no QG da Gazeta VarGas

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Gazeteando

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Rafael Jabur

As ideias acima representam o espírito que embalou as eleições. Pipocaram em e-mails, discus-

sões para formação de chapas, nas bocas quentes. E como qualquer ideia que pu-lula pode pulular sem que se pare para pensar por que pulula, assim aconteceu.

É apresentado a Fulano a ideia de que a Chapa X vai mudar o que está aí. Legal votar nela. Depois, a Chapa Y fala sobre mudanças também. Z, T, R... Mas o que às vezes se esquece, é que a palavra

“mudar”, assim soltinha, não muda nada. Esse verbo traz consigo uma série de questões que, se não forem respondidas de forma contundente, revelam despre-paro. Primeiro deve-se ver com nitidez o que se pretende mudar e, com isso, qual efeito negativo provém da forma atu-al da coisa a ser mudada (pois o que se muda é a forma, não a coisa, se não, seria extinção). Depois esclarecer satisfatoria-mente as perguntas: “Qual será a nova forma?” e “Como mudar?”.

As primeiras questões, o que deve ser mudado e por que, e qual será a nova for-ma, são compreendidas e suas respostas fornecidas aos eleitores a contento. Para verificá-las, basta ler as cartas-programa. A última, “Como mudar?”, porém, safada ou inocentemente, é esquecida. Respon-dê-la significa explicitar os mecanismos que serão acionados em cada etapa: do zero à conclusão (quando a coisa tomou a forma que fora desejada). E, quando es-tamos falando de DAGV, para a maioria das coisas que precisam ser mudadas, os mecanismos passam longe da economia e administração. Eles acabam se inserin-do no escopo da política, ou melhor, algo com um quê de politicagem, mas cujo foco final é o fortalecimento e melhora do DAGV como uma entidade pública, dos alunos, e não o favorecimento pessoal.

Mas, politicagens à parte, é inevitável citar o contexto em que se inseriu essa eleição: o da “crise”. Não é necessário aqui repetir a história (ela já foi conta-da pela Gazeta e pelo Presença, jornal do DAGV), mas sim investigar melhor como ela influenciou os rumos que to-maram as eleições.

A “crise” do DAGV: uma crise que aba-lou a instituição ou uma crise pessoal, uma crise que se encerra no âmbito dos nomes?

No escopo político, acusações são o bastante para deflagrar uma crise feia. No caso do DAGV, acima das formas elas tomaram, ganhou destaque elas terem feito com que aflorasse a falta de transparência nas tomadas de decisão. Quem saiu maculado, porém, não foi a instituição DAGV, mas os envolvidos di-retamente na “crise”. Por isso, a ideia de que a “crise” manchou o DAGV e que por isso mudanças são necessárias é errada. Caso se ache que é necessário alterar al-guma coisa no DAGV, é necessário com ou sem crise (mesmo que ela tenha aju-

dado a enxergar o que é preciso ser mu-dado, a necessidade não depende dela). E quais mudanças foram propostas? Fo-ram as principais chapas que concorre-ram: Manifesto, Acesso e FBKKK, todas com mudanças fortes em mente.

A chapa Manifesto tinha como princi-pal chamativo um apelo à volta dos “ve-lhos tempos”, da época em que o aluno-padrão geveniano não sofria de letargia política. E clamava, em sua súmula in-titulada “Manifesto por um DAGV me-lhor”, que a culpa de tal passividade dian-te de fatos como “uma mensalidade que sobe 5% em um período de IGP negativo” é do DAGV, pois seria papel dele, por ser feito por e para os alunos, intermediar as relações entre estes e a Diretoria, e colo-cá-los a par das situações, informá-los, já que eles “não frequentam o terceiro an-dar”. O discurso em tom rebelde, porém, não conseguiu angariar votos necessá-rios na segunda eleição (sim, foram duas

- e mais abaixo uma breve explicação do que ocorreu), que foi a que valeu.

Mas de todas as chapas, a proposta mais atroz, no sentido de ser a mais ex-trema, veio da FBKKK. Já conhecida por todos por sempre participar das eleições com a intenção de ganhar mais risos do que votos, a chapa desta vez entrou pra valer, pra “botar o pau na mesa”. E a ideia principal da chapa era a devolução aos alunos do quinhão correspondente ao repasse (que vem embutido na mensali-dade). Essa proposta se baseava na teoria de que o repasse criava um vínculo entre o DAGV e a diretoria que seria pernicio-so aos alunos. A FBKKK entendia que isso nutria uma dependência financeira com relação à diretoria, e essa depen-dência tornava o DAGV politicamente mais fraco em questões sobre as quais as opiniões e propostas divergissem das da diretoria. E, tornando o DAGV mais po-liticamente mais fraco, tornava os alu-nos politicamente mais fracos. Acabar com o repasse era, portanto, condição não só suficiente, mas também neces-sária, para devolver ao DAGV indepen-dência com relação à diretoria - questão fundamental para devolver aos alunos

Eleições no DAGVO DAGV está em crise! Precisamos mudar! Chega de...

Aguenta essa Dunga!

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poder nas tomadas de decisão das es-colas. Isso tudo, contudo, não passa de teoria. É bem sabido de todos que opini-ões divergentes não são muito aprecia-das na alta cúpula altamente cupulante da fundação. Pensar que o dinheiro é a mais valorosa moeda de troca nesse jogo político e, por isso, abrir mão dele para abrir novas veredas, pode ser perigoso. Pode-se acabar ficando sem o já escasso poder político e, além disso, sem dinhei-ro. Mas agora não tão cedo teremos um teste empírico da teoria, uma vez que a chapa não conseguiu votos suficientes para pôr o experimento em prática.

Quanto à vencedora, a chapa Acesso, parecia a mais tímida das chapas. Mas acabou ganhando, de virada. E em se tratando da vencedora, é importante explicitar aqui algumas das propostas. A mais controversa parece ser a ideia de reescrever o texto do estatuto. Segundo a carta-programa da chapa, ele se en-contra defasado. Porém, o estatuto, que vigora desde 2005 (e pode ser lido no site do DAGV), não é facilmente modi-ficável: mais da metade dos associados (alunos de AP, AE e economia) devem estar presentes na primeira convoca-

ção ou mais de um terço nas seguintes, e deve contar com o voto concorde de pelo menos dois terços dos presentes. Espera-se que os gevenianos participem,

ou seja, que estejam presente e leiam as modificações para julgá-las. Além disso, espera-se que as modificações sejam divulgadas de forma ampla, do jeito que irão constar no estatuto. Outra mu-dança preconizada pela carta-programa é a criação do cargo de Vice Presidente Acadêmico de Administração Pública. Essa proposta vem corrigir um lapso,

que cursos com substâncias diferentes tenham um mesmo nome na Diretoria Executiva. Na carta, porém, não são en-contradas propostas mais sólidas. Fica-se, então, na expectativa.

No decorrer das eleições, acusações e comprovações de falcatruas foram evidenciadas, principalmente durante os debates. A chapa FBKKK trouxe dois fatos à tona, cada um dizendo respeito a uma das outras chapas. O primeiro deles foi o registro, pelo presidente da chapa Acesso, de um site na internet cujo domínio era “www.chapamanis-festo.com.br”. O segundo foi a acusação de que o presidente da chapa Manifesto teria votado pela a impugnação da can-didatura da chapa Acesso. Contra essa acusação, o presidente da Manifesto se calou. Enfim, as três chapas agiram de forma antidemocrática utilizando-se de mecanismos não-ilegais. O registro do domínio, o voto pela impugnação, e a ladina estratégia da chapa FBKKK de

“concorrer” através das chapas “FBKKK-com asteriscos” para ganhar um maior espaço durante os debates são atos que surtem o mesmo efeito, quiçá revelam um mesmo fim: potencialmente dimi-nuir ou extinguir o espaço da(s) outra(s) chapa(s). E esse efeito é condenável para quem preza por uma competição demo-

crática saudável (de ideias e não de ma-landragens).

O primeiro sufrágio aconteceu nos dias 26 e 27 de Maio. Com uma boa participação do alunato, a possibilidade real da chapa FBKKK ganhar e a disputa ferrenha entre as chapas, a expectativa quanto ao resultado era grande. Mas qualquer estômago foi pouco: mesmo com a chapa Manifesto já cantando vitória, percebeu-se que havia uma de-sigualdade entre o número de votantes que constavam lista (que se assina ao votar) e o total de votos computados pelo sistema - foram computados 38 votos a mais do que assinaturas. Alguns reclamam: a diferença de votos entre as chapas que foram primeira e segunda colocadas (respectivamente, Manifesto e Acesso) foi maior do que o número de votos computados a mais. De qualquer forma, a decisão da Comissão Eleitoral foi unânime entre os membros: anular as eleições.

A segunda eleição, realizada nos dias 1º e 2 de Junho, foi totalmente escru-tinante: com medo de novos paus que pusessem em cheque o resultado final das apurações, decidiu-se utilizar um processo mais primitivo - a cédula de papel colocada na urna. Após o término da apuração, uma surpresa: uma virada! No ínterim das eleições a chapa Acesso conseguiu persuadir eleitores que ves-tiam a camisa da Manifesto? Parece que não.

Essa virada veio pra mostrar o quão frágil é a conexão entre o resultado das urnas e a vontade dos votantes (a não ser que se suponha uma vontade volátil a ponto de ter mudado no curto espa-ço de tempo entre as eleições). Ou seja, para fazer valer a vontade não bastam as urnas. Ela tem que ser externada por meios legitimados, diariamente, se aproveitando dos mecanismos que a democracia nos proporciona. Portanto, não achem que exercer os seus direitos significa votar. É uma coisa bem maior que isso, e construída com um esforço bem maior do que o apertar de botões da urna.¤

Enfim, as três chapas agiram de

forma antidemocrá-tica utilizando-se de mecanismos não-ilegais.

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O debate estremeceu a República

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Entrevista: Dimitri Dimoulis

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Alípio Ferreira

Aquela quarta-feira estava ensolarada na capital paulista. Manchetes nos jornais anun-

ciavam que o jogador Cacau chorara ao ouvir o hino alemão. O papa Bento XVI dava uma audiência sobre Santo Tomás de Aquino. O jornal O Estado de São Paulo publicava uma errata: o índice IPC-S, que dera um resultado deflacionário de 0,19%, revelava uma queda mais intensa do que a apura-da na prévia, com dados até o dia 15 de junho, e não até o dia 7 de junho, como fora publicado. Algum desses fatos se tornará “História”? Um even-to a mais nesse dia nos joga alguma luz sobre o assunto. O professor Di-mitri Dimoulis, nascido na Grécia e desde 1999 no Brasil, conversou com a Gazeta VarGas sobre o que é e qual é a importância de se preservar a His-tória. O professor Dimitri estudou Direito em Atenas, possui mestrado pela Universidade Sorbonne, além de doutorado e pós-doutorado pela Universidade do Sarre, na Alemanha. É diretor do Instituto Brasileiro de Estudos Constitucionais, que tam-bém presidiu de 2007 a 2010 e aju-dou a fundar em 2004. Gentilmente nos recebeu em sua sala, na Escola de Direito da FGV-SP, onde leciona desde 2007, para nos expor algumas das suas visões a respeito dos papéis desempenhados pela tradição e pela história, em especial dentro de orga-nizações como a Fundação Getulio Vargas.

Gazeta VarGas - Professor Dimitri, o senhor nasceu na Grécia, país com no-tória tradição e história. Além disso, o senhor estudou na Sorbonne, tradicio-nal universidade francesa. Hoje o senhor

leciona na Fundação Getulio Vargas que, em menor medida, também é uma ins-tituição que angaria respeito nacional e internacional devido a sua tradição de excelência e ativismo pelo desenvol-vimento do Brasil. Qual é o papel que a história e a tradição possuem na carac-terização da identidade de uma organi-zação ou de um país?

Dimitri Dimoulis – Eu começa-ria fazendo uma reflexão sobre o ter-mo “tradição”. Tradição, que é até um termo jurídico em direito, significa

“entrega de alguma coisa”. Se alguém compra meu carro, eu vou entregar o meu carro, e isso no direito se chama tradição: o ato de entregar. Esse é o sentido mais banal do termo tradição, que não tem nada de valorativo. Mas podemos ainda pensar: tudo aquilo que nós, seres humanos, temos é o resultado de uma tradição de capa-cidades anteriores. Aí vem uma ideia de imortalidade. Por que os seres hu-manos talvez sejam imortais? Porque

um está sempre entregando ao outro as suas capacidades, seus conheci-mentos, experiências e inclusive seus bens materiais. Nós podemos ter o conhecimento de o que é o tempo, o que é planejamento, a capacidade de comunicação, de várias emoções porque alguém fez a “tradição”, nos

“entregou” esses elementos e capa-cidades. Nesse sentido a tradição é, para mim, a condição humana. Não é aquele sentido nobre de que vou falar depois. É um sentido muito simples: só falo português porque meus pais e o ambiente, amigos, professores, li-vros, cursos me ensinaram isso. Nós somos neste sentido necessariamen-te o produto de uma tradição. Mas por ser tão importante, essa condição humana, essa idéia de imortalidade, que passa de geração para geração, do fato de que você está no meio de uma cadeia que vem de algum lugar e você está indo para algum outro, implica que sem tradição não se trabalha, não se vive, não existe nada. O ser humano é tão diferente em relação aos animais porque tem grandes ca-pacidades de transmitir e grandes ca-pacidades de receber, enquanto que o animal aprende muito pouco.

Agora, o que isso tem a ver com aquilo que outro sentido de “tradi-ção”? “A Sorbonne é uma faculdade tradicional”. Aí entra outro elemento, que é a seletividade. Dentro daquilo que alguém ofereceu, o que você vai valorizar? A expressão “família tra-dicional”, no sentido banal de tradi-ção, é ridícula, pois que família não é tradicional? Todos nós descendemos de um macaco da África, então nesse sentido todos nós temos uma tradi-ção de sei lá quantos milhões de anos. E então ocorre aquilo que vários his-

História e Tradição:Preservá-las para quê?

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Professor Dimitri Dimoulis, um constitu-cionalista internacionalíssimo

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Entrevista: Dimitri [email protected]

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toriadores vão chamar “a invenção da tradição”: seletividade. Se você perguntar à maioria dos gregos eles vão dizer: “somos descendentes de Alexandre Magno, de Sócrates, Pla-tão...” Ah é? E de que mais? Assisti a uma banca em que o candidato disse:

“os gregos, que eram filósofos...” E um professor falou: “não, os gregos eram marinheiros e camponeses. Entre milhares e milhares de marinheiros e camponeses houve uns vinte filóso-fos”. Quer dizer: estamos descartan-do do passado elementos e estamos guardando outros. A tradição deixa de ser um aprendizado, e passa a ser a construção de um valor.

Como notar isso na universidade? A FGV é uma instituição muito tradi-cional. Primeiro elemento: não posso questionar a sua excelência, que é reconhecida pelos especialistas e a sociedade, nesse sentido a FGV tem uma tradição de excelência científica, de pesquisa, consultoria etc. Segun-do elemento: a FGV dispõe de meca-nismos para transmitir a excelência para as próximas gerações de alunos e professores através de processos seletivos, notas, reprovações, concur-sos e outros mecanismos de controle da qualidade do ensino e do nível de aproveitamento. Essa transmissão-tradição (ou transmissão da tradi-ção) ocorre através de conflitos. Se o professor quiser ser muito sincero (e antipático), diria ao aluno: “eu te re-provei em nome da tradição da FGV, você não merece fazer parte daqui”. A tradição nesse aspecto tem um elemento doloroso, um elemento de conflito e de exclusão.

GV - Apesar de, como dito, a Funda-ção Getulio Vargas possuir sólida tradi-ção em excelência, a Escola de Direito de São Paulo, na qual o senhor leciona, é bastante recente. Recentemente foi lan-çado um livro “A história de um sonho”, que celebra os 10 anos da “ideia” da EDESP, relatando os passos para chegar ao que ela hoje constitui. Essa iniciativa revela um esforço prematuro da Escola

de Direito em estabelecer uma tradição? É possível ter tradição sem ter história?

DD - Quando eu falo pra um taxis-ta “Vamos para a GV na Rua Rocha”, ele pergunta “O senhor é professor da GV?”, e falo que sim. O taxista então me classifica nessa tradição de excelência. Só que ele na verdade me trata como se fosse professor do EAESP... Aí podemos perceber o va-lor da tradição – que vários sociólo-gos, como o Bourdieu, vão analisar. É um valor de troca, uma moeda (ou capital) de prestígio cultural-social: se eu falar que sou da GV abrem-se as portas. Porque a tradição de cer-ta maneira permite essas “trapaças”. Por outro lado, a Direito-GV foi fun-dada e dirigida por professores da Es-cola de Administração, que portanto pertenceram àquela tradição. Então, por um lado estamos um pouco “tra-paceando”, eu estou me aproveitando de uma tradição de excelência que eu não tenho. Por outro lado, a tra-dição permite que uma parte da his-tória da instituição efetivamente se transmita. Essa escola está tentando

seguir os padrões de excelência. Nós podemos construir uma própria tra-dição, mas por outro lado nós quase sempre temos uma previsão de qua-lidade com base na transmissão da tradição alheia. Prova disso: faz-se o exame da OAB e a primeira turma da Direito-GV está entre as dez me-lhores do país. Como consegue fazer isso? Graças justamente à assimila-

ção daqueles padrões de tradição. A tradição é algo que se aprende e pode ser transplantada.

GV – O que é a História? A História é uma abstração?

DD - Renan, historiador francês do século XIX, diz que um dos ele-mentos fundamentais que permite ao povo-nação construir sua tradição, e manter sua identidade, é o fato de esquecer alguns fatos do passado. A história, então, é o contínuo esqueci-mento de inúmeros fatos que aconte-ceram. Eu, na minha história muito modesta e pessoal, não me lembro de o que eu almocei ontem. É um fato histórico? É um fato ao qual eu não atribuo valor histórico e por isso apago da minha memória. Ao mesmo tempo todos nós, de maneira em par-te consciente em parte inconsciente estamos esquecendo ou pelo menos ocultando acontecimentos que nos desagradam ou que são percebidos como contrários à identidade que pretendemos ter. História é esqueci-mento e seletividade de fatos.

Sou um pouco cético com relação à história, porque não é produto de uma superioridade natural. Nesses dias saiu n’O Estado de São Paulo que 33% dos brasileiros não comem o suficiente. Governo Lula, Fome Zero, milagre econômico, o Brasil vai para o Conselho de Segurança da ONU, Copa do Mundo, Olimpíadas, uma potência, e 33% não comem o suficiente. No Nordeste a porcenta-gem chega a quase 50%. Que tipo de tradição é essa? Ao mesmo tempo o Brasil diz: agora não somos um país do terceiro mundo, estamos no pri-meiro. É a construção de uma histó-ria. Provavelmente daqui a cem anos esse um terço da população que não come direito vai estar esquecida e o Lula será lembrado e glorificado pela sua fé”gestão brilhante...”

GV - O passado está repleto de even-tos e rupturas que assombram pelo con-traste que representam com os valores de hoje em dia. São golpes de Estado

A primeira turma da Direito

GV está entre as dez melhores do país. Como? A tra-dição se aprende e pode ser transplantada

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Entrevista: Dimitri Dimoulis

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sangrentos, assaltos a cidades inteiras, genocídios entre outros. Há também, hoje em dia, inúmeras iniciativas que visam preservar a memória dessas atro-cidades, a fim de evitar que se repitam, notoriamente com relação ao Holocaus-to. Preservar a história, por si só, é uma maneira de evitar que ela se repita?

DD – O filósofo francês Alain Badiou tem uma teoria que diz o seguinte, simplificando muito: na nossa vida, ou na vida dos grupos, acontecem alguns eventos que são marcantes. Então o resto da vida da pessoa fica marcado por aquele even-to: há uma fidelidade a ele e nos atu-amos no sentido de manter-se fieis àquele evento do passado (fidélité à l’Evènement). A Revolução Francesa certamente tem uma enorme impor-tância para o mundo e também para mim. Mas o que eu almocei ontem, não tem. Assim, algumas pessoas, grupos ou países, valorizam certos eventos e esquecem ou ocultam ou-tros.

Por um lado, portanto, temos o evento e a fidelidade ao evento. A isso podemos acrescentar um segundo elemento filosófico. Hegel diz: a His-tória pode nos ensinar e nos ensina. A história nos ensina: entender o pas-sado e lembrar permite que algo ruim não se repita. Se você ler a história, se, usando o seu exemplo, estudar tudo aquilo que aconteceu na Europa no decorrer da segunda guerra mundial, se informar com detalhes sobre as atrocidades, suas causas e as pessoas envolvidas, isso pode contribuir sim para que esses horrores nunca mais aconteçam. Nesse sentido, a histó-ria ensina. No entanto, o ser huma-no tem tantos interesses que não vai aprender pela história, não vai aprender porque não quer aprender, diz Hegel continuando seu raciocínio. Ditadura é uma coisa boa? Faça uma pesquisa de opinião. A população em sua esmagadora maioria, no mundo inteiro, julga a ditadura uma coisa ruim. Agora por que com certeza nos

próximos dez anos haverá muitos golpes de Estado no mundo? Porque o valor educativo da história é mui-to limitado. Há outros fatores que influenciam. Por que já aconteceu uma vez o Holocausto? Será que os alemães não sabiam que o antissemi-tismo e a perseguição de pessoas com base em sua origem ou crença é uma coisa horrível? Claro que sabiam! É bom matar a esposa? Não. Alguém discorda? Não. Mas todo fim de se-mana alguém em São Paulo mata a esposa. Leia as estatísticas. O valor educativo da história é grande. Nos ensina, mostra consequências ter-ríveis de certos atos, que com gran-de regularidade vão se reproduzir porque existe algum interesse nisso. Alguém na semana que vem vai no-vamente matar a esposa. Essa pessoa sempre soube e continua sabendo que é errado fazer isso e um dia mata a esposa. Devemos ser muito pessi-mistas sobre o valor educativo da ex-periência passada.

GV - Há alguns anos houve uma ampla e rápida reestruturação da go-vernança da FGV, com a redução da de-mocracia na gestão das escolas em prol de mais “eficiência”. Hoje, no entanto, a atual estrutura está sedimentada entre os alunos, e o debate inexiste em torno disso, sugerindo que um pequeno número de anos é suficiente para a con-

solidação de uma nova realidade numa instituição como a FGV. Qual é o poder da presidência da FGV de causar ruptu-ras definitivas na história da Fundação e quais são os perigos desse poder?

DD – Dois anos atrás os professo-res foram perguntados se poderia ser servida bebida alcoólica no Espaço Bohemia [atual Clube dos Professo-res]. Houve uma troca de e-mails por muito tempo e praticamente todos os professores diziam que era bom que houvesse a venda de bebida alcoólica, sendo seu consumo muito esporádico e moderado. Pessoalmente, acho que não é uma boa ideia beber no espaço de trabalho, mas após essa troca de emails saí de férias em janeiro tendo certeza de que continuaria a venda de bebidas alcoólicas no restaurante. Fui ao restaurante em fevereiro e vi que não havia. É um exemplo carica-tural que passa um recado. Houve a ideia de consultar todo mundo, tive-mos uma quase unanimidade de pro-fessores a favor da venda de bebida alcoólica e de repente a FGV decide:

“não vai ter mais”. Isso é uma ruptura. Nessa ruptura, aquele que diz “eu sou tradicional” indica que possui tam-bém o poder de mudar. Há explica-ção dessa mudança e do desrespeito à maioria: Já que foi proibido que os alunos bebam, tem que proibir aos professores também, até para dar um exemplo. Excelente argumento. Mas se houve um verdadeiro plebiscito, bem ou mal, teria que seguir. Nesse caso, em nome da tradição, houve uma ruptura, ignorando o impera-tivo democrático. E logo em seguida vem o esquecimento. Daqui a dez anos os alunos terão mudado por completo, o corpo docente sofrerá muitas alterações, ninguém vai estar lembrado daquilo que ocorreu. Se em 2020 alguém entrar no ex-Espaço Bo-emia com uma cerveja na mão todos dirão que é uma pessoa desajustada que ignora as “tradições” acadêmicas consumindo álcool em um estabele-cimento de ensino e pesquisa.

Por que já aconteceu uma vez o

Holocausto? Será que os alemães não sabiam que o an-tissemitismo e a perseguição de pes-soas é uma coisa horrível? Claro que sabiam!

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Entrevista: Dimitri [email protected]

GAZETA VARGAS

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Voltando à sua pergunta. Existe esse risco de alguém modificar todo o cenário e transformar uma escola no seu contrário. Mas pensemos, apesar de ser um pouco ingênuo o que vou falar: as pessoas que chegaram aos cargos de direção de uma escola tra-dicional certamente compartilham da maioria dos valores, e nós deve-ríamos confiar nelas. É uma forma de pensamento que não dá muita garantia, mas a ideia da tradição é exatamente essa. Este é o elemento mais conservador da tradição: se um aluno que questiona decisões da FGV conversar com o presidente da Fun-dação ele dirá: “mas você acha que eu destruiria a tradição de mais de meio século?” É um argumento forte:

“Aqueles que votaram em mim e que estão acompanhando minha gestão nunca vão permitir uma ruptura com a tradição”. O que falta na realidade é um debate político contínuo sobre valores, tradições e decisões. Falar em alguns eventos sensibiliza as pes-soas, e as faz pensar.

GV - Acreditando que o debate em torno de certas rupturas históricas seja um caminho para a construção de um ambiente intelectual salutar e mo-ralmente admirável, a Gazeta VarGas decidiu voltar a tocar na atual edição a questão da democracia na EAESP. Na própria academia o debate polarizou-se entre os que priorizassem eficiência e os que priorizassem democracia na gestão da organização. O professor Bresser-Pereira afirmou que “usa-se o modelo democrático para dirigir o país, não organizações”. No entanto, trinta anos antes, o professor Maurício Tragtenberg preconizava justamente o oposto: que a Academia somente teria a perder com a redução da participação dos alunos e professores na gestão de organizações. Como o senhor se posiciona a respeito desse debate?

DD - As universidades surgiram na Idade Média na Europa como cor-porações administradas por alunos, o que faz muito sentido. O professor

é um funcionário contratado como técnico para ensinar aos alunos: eles são os que querem aprender e tem o maior interesse em que a Universi-dade seja bem administrada, garan-tindo a qualidade do ensino. Assim, antes de pensar a democracia e nas suas vantagens e desvantagens, me parece que temos que refletir sobre esse ponto: quem deve mandar? Os alunos. No hospital quem manda? Os médicos? Não. O poder público, que representa os usuários, e é quem administra os hospitais. É claro que ele deve consultar os médicos sobre o tipo de aparelhos a serem compra-do. Vamos também confiar no diag-nóstico do médico, como o aluno tem que confiar no professor. Mas quem disse que um excelente cirurgião tem capacidade de criar e administrar um hospital? A não ser que o médico queira ganhar dinheiro e se transfor-me num capitalista. Mas aí não atua como médico, mas como empresário. Não quero ser demagógico, mas para

mim é um contra-senso histórico uma universidade ser administrada por professores. Nesse sentido a ideia de democracia universitária não se-ria a representação paritária. Houve um movimento mundial em que os professores se apoderaram das uni-versidades. Foi uma queda de braço

entre alunos e professores em que os alunos perderam. Vamos pensar me-lhor sobre isso.

O segundo aspecto é a ideia de universidade como empresa, em que os empresários mandam. Um outro contra-senso terrível para mim. O saber universitário deveria estar fora do comércio, não deveria ser produto. A Constituição da Grécia proíbe qual-quer universidade privada. Não colo-caria o debate entre eficiência versus democracia, povo contra a elite, mas chamo a atenção para as especificida-des da universidade: alunos ou pro-fessores? Eu voto pelos alunos. Em-presários ou poder público? Eu voto pelo poder público. Conheço exce-lentes universidades privadas assim como excelentes hospitais-empresas, mas isso não me parece invalidar a objeção de princípio que estamos dis-cutindo aqui.

Falando em lições da história e tra-dição, vou dar um exemplo. O Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, conhecido como CACO, é uma organização muito poderosa. Os alunos conseguiram mandar embora o Diretor, fizeram uma verdadeira re-volução na qualidade do ensino. Hou-ve um processo em que os professores foram passivos e os alunos reformu-laram em dez anos toda a faculdade. Os estudantes só conseguem parti-cipação na medida em que eles vão adquirir esse poder aos poucos, com contínuas lutas. Temos aqui o oposto da tradição. Estamos diante de uma ruptura que também pode se inspirar em elementos do passado. O que vo-cês querem fazer no Centro acadêmi-co? Qual é a missão da Gazeta VarGas? Devem encontrar na tradição estu-dantil e acadêmica elementos ins-piradores. Os alunos se identificam com alguma tradição e tentam sozi-nhos conquistar uma parcela do po-der universitário. Criando sua pró-pria tradição através da seleção de elementos e de conflitos. ¤

Não coloca-ria o debate entre efici-

ência versus demo-cracia, mas chamo a atenção para as especificidades da universidade: alu-nos ou professo-res? Eu voto pelos alunos.

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História Esquecida

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Alípio Ferreira Erica Miyamura

Flavio Lima

Por que preservar

Todos os dias, quando os ge-venianos vão pegar seus pratos-feitos no deck do res-

taurante Getulio, passam em frente ao que é uma relíquia da história da EAESP. Pregada na parede, uma dis-creta placa ostenta um texto do céle-bre professor Maurício Tragtenberg. Nele, denuncia-se uma tendência ao esvaziamento da reflexão e da crítica na Academia, a qual estaria se tor-nando um “cemitério de vivos”, na expressão de Lima Barreto. Curio-samente, apesar das numerosas vi-sitas àquele canto do Getulinho e da visibilidade de que a placa dispõe, ela cumpre de fato muito mais uma função decorativa do que um convite à reflexão. Teria sido esta placa idea-lizada simplesmente para finalidade estética? Provavelmente, esse não era bem o objetivo do DAGV e do Ro-ckafé.

  Depois de almoçar seu PF e ir pagar sua continha, o aluno passa os olhos sobre fotos dos momentos mais informais e descontraídos da vida de nosso glorioso patrono, Ge-tulio Vargas.  Teria esse aluno algum posicionamento sobre a escolha des-sas imagens para ornarem  o restau-rante? Uma vez paga sua conta, nos-so querido aluno pega um cafezinho

“na faixa” e umas 7-Belos de troco, e se dirige a uma tradicional partida de pebolas no espaço do Diretório Acadêmico Getulio Vargas, que até a década de 1984 ainda se intitula-va   Centro Acadêmico Administra-ção de Empresas... Será que nosso aluno pimpão possui algum posicio-

namento sobre a mudança do nome do Diretório e a escolha do patrono? São 13h05! Nosso protagonista corre para sua aula de Mat Fin na sala 603, a sala do Bandeirantes. O que nosso aluno pensa sobre patrocínios em sa-las de aula? Os alunos da Faculdade de Direito da USP parecem não gos-tar muito da ideia...

Caso nosso aluno serelepe jamais tenha pensado bulhufas a respeito,

espera-se que, com esta edição da Gazeta VarGas, ele mude sua postura. Mas afinal, por que alguém deveria se dar ao trabalho de pensar  sobre essas coisas? Por que preservar a história? Há iniciativas de preserva-ção da história dentro da Fundação Getulio Vargas, como por exem-plo, alguns livros comemorativos publicados (50 anos da EAESP, e “A construção de um sonho”, sobre os 10 anos da idealização da Escola de Direito). No entanto, a reflexão sobre alguns eventos e rupturas da histó-ria da Fundação não é mantida acesa. Mais do que isso,  os alunos são fei-tos atores passivos da história, inter-pretando-a como um mero registro de acontecimentos de uma determi-nada época que já não se inserem em sua realidade.

 A Gazeta VarGas se propõe a ser o espaço de debate, crítica e reflexão sobre certas rupturas em que houve

embate de valores e ideias. Alguns eventos, em especial a onda de de-missões que assolou a EAESP em 2006, foram tratados com extensão e propriedade ao longo de suas edi-ções. Registraram as manifestações que ocorreram naquela época, e os debates que cercaram esse tema. No entanto, passados quatro anos, a história se esqueceu. Para o aluno de graduação, que fica aproximada-mente quatro anos na escola, não há parâmetros para comparação – os alunos que presenciam as transições de hoje já não são os que sentirão as mudanças de amanhã. Parece que a EAESP sempre foi como é atualmen-te. Quatro anos é longo prazo na gra-duação.

 Demissões: a história relegada ao esquecimento

Aconteceu em fevereiro de 2006. A notícia da sumária demissão de quinze professores de carreira da EAESP e de um da EDESP causou re-buliço nos corredores da faculdade. Não, não se tratava de um mero “cor-te de pessoal” típico de uma empresa qualquer: a “lista” de dispensados abarcava renomados docentes, inclu-ídos coordenadores de centros de es-tudo e orientadores de programas de mestrado e doutorado. Entretanto, segundo relatos da época, o motivo de indignação maior deveu-se à ca-rência de esclarecimentos por parte da Diretoria e, principalmente, da não-divulgação dos critérios adota-dos no processo de demissão, geran-do especulações a respeito do caráter arbitrário e até político da mesma.

A contrapartida veio com a publi-cação da Gazeta #62, que trazia uma seleção especial de reportagens com vistas à elucidação dos fatos por trás de algumas das demissões. Foi evi-denciado, por exemplo, que o afas-

Parece que a EAESP sempre

foi como é atual-mente. Quatro anos é longo prazo na graduação.

Getulitarismo e CríticaAs demissões de professores na FGV-SP repercutem hoje?

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tamento do renomado Prof. Marcelo Neves, da EDESP, esteve vinculada a uma negativa da Diretoria em lhe conceder uma licença de 11 dias para um importante evento na Alema-nha – o professor foi convidado a ser observador das eleições nacionais, mas para isso teria que se ausentar de suas responsabilidades docentes. Aparentemente, o fato de o docente ter tentado solucionar seu impasse com a Escola por “vias externas” (ou seja, contatos de influência) teria sido visto como “desrespeito à hie-rarquia interna da Fundação”, con-dição suficiente para sua demissão.1 Expondo os meios pouco democrá-ticos em que se deram esta e outras demissões, a edição também contou com depoimentos visivelmente con-trários às mesmas, caso emblemá-tico sendo o do Prof. Michael Paul

Zeitlin, ex-diretor da EAESP. Na con-tracapa da revista, foi publicado um manifesto conjunto dos alunos de graduação e pós, funcionários, enti-dades e até mesmo ex-alunos, clama-va pela democracia e ética na Funda-ção. E há quem diga que gevenianos capitalistas não são muito afeitos a manifestos...

A mobilização maior, entretan-to, viria com o anúncio da saída em fevereiro de 2006 do Prof. Zeitlin, dispensado pouco depois de realizar

1. Para maiores detalhes consultar a edição #62 da Gazeta VarGas, disponível para empréstimo na Biblioteca Karl A. Boedecker

um pronunciamento à Folha de S. Paulo, no qual questionava a Direção quanto à demissão de seus colegas. Em meio a acusações de articulação política e ameaça à liberdade de ex-pressão, os alunos foram às ruas e fecharam a Nove de Julho, numa manifestação com direito a spray de pimenta e cacetetes de policiais. O DAGV, sentindo o peso da represen-tação discente, marcou uma Assem-bleia Geral de Alunos, na tentativa de cobrar da Escola a convocação de uma Congregação, o órgão máximo deliberativo da EAESP. Ao final da Assembleia, os alunos, em cena fú-nebre, depositaram quase mil rosas brancas em frente à sala da Diretoria, em um último ato de homenagem àqueles que se foram.

O que motivou tanto as demissões quanto as reações espalhafatosas de

professores e alunos foi uma mano-bra da Presidência da Fundação no sentido de reformular a gestão da FGV. O processo conhecido como

“Repensar a Governança” tinha a vi-são de que havia um trade-off entre a eficiência e a democracia na gestão de organizações, e que naquele mo-mento, convinha privilegiar a bus-ca pela eficiência. Após o mal-estar causado pelas demissões, o professor Luis Carlos Bresser-Pereira enviou à professora Maria Rita Loureiro Du-rand um e-mail em que lamentava a truculência da diretoria da EAESP

nas demissões, mas reconhecia e en-dossava a finalidade do processo de reformulação da governança. No e-mail, que está publicado em seu we-bsite2, o professor afirma: “Eu não acredito que se possam administrar de forma eficiente organizações, in-clusive organizações de ensino su-perior, adotando-se um modelo de organização e gestão ‘democrático’. Não é isto o que ensinamos a nossos alunos. Usa-se o modelo democrático para dirigir o país, não organizações.”

Consoante às palavras do ex-ministro, o presidente da Fundação, Carlos Ivan (o Terrível) outorgou um novo regimento para a Escola de Ad-ministração de Empresas de São Pau-lo. No novo estatuto, mudaram tanto a maneira de se eleger o diretor (ago-ra eleito por meio de um search com-mittee) quanto  a forma  de delibera-ção  acerca de questões importantes: antes a Congregação, composta por alunos, professores e funcionários, era o órgão máximo deliberativo, mas foi tirado do protagonismo polí-tico pelo novo regimento, além de ver reduzida a participação dos alunos e extinta a dos funcionários.

O nosso aluno do primeiro pará-grafo, estudante de AP na EAESP, estará satisfeito com a gestão da Es-cola? Que ele saiba que nem sempre foi assim. Um dia o aluno possuía  re-presentação discente através da Con-gregação e do Diretório Acadêmico, e hoje estes quase não passam de uma instituição pró-forma e um organi-zador de eventos. Que ele saiba tam-bém que o professor Bresser possui um contraponto na Academia quan-to a suas posições de gestão de or-ganizações (especialmente Escolas), como o texto do professor Tragten-berg sugere. Ao classificar de “delin-quência acadêmica” a falta de crítica e reflexão na Academia, que se torna cada vez mais tecnicista, o professor anuncia: “A alternativa é a criação de canais de participação real de profes-2 . h t t p : // w w w. b r e s s e r p e r e i r a . o r g . b r /papers/2006/06.3.ACriseDaEaesp.pdf

Bresser: “Usa-se o modelo democrático para dirigir o país, não organizações”

Tragtenberg: “A simples presença discente em colegiados é fator de sua moralização”

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sores, estudantes e funcionários no meio universitário, que oponham-se à esclerose burocrática da instituição. (...) A participação discente não cons-titui um remédio mágico aos males acima apontados, porém a experi-ência demonstrou que a simples pre-sença discente em colegiados é fator de sua moralização.”

Catorze dos dezoito docentes de-mitidos (16 em janeiro, o professor Zeitlin em fevereiro e o professor Norberto Torres, outro “insubordi-nado”, em 2008) entraram na Justi-ça contra a Fundação Getulio Vargas (os outros dois compuseram acor-do). Muitos desses processos ainda estão em andamento (o professor Zeitlin foi reintegrado em 2008), e os professores são cuidadosos ao falarem do assunto. Um dos profes-sores demitidos, que preferiu não se identificar para não comprometer o processo judicial que ainda corre, fez o seguinte desabafo à Gazeta VarGas recentemente: “A FGV tem utilizado todos os recursos, sempre de baixo nível, para ir jogando as ações das demissões irregulares que fez para frente. Seria inimaginável, há al-guns anos atrás, pensar em uma FGV agindo desta forma, mas é típico de quem sabe que está muito errado.”

Os jovens da naçãoA exclusão dos alunos do processo

político na FGV repercutiu na força do Diretório Acadêmico Getulio Var-gas com os alunos que representa. Traçando um panorama das gestões do DAGV desde 2007 até 2010, é níti-do o declínio do nível de poder políti-co e de mobilização da entidade estu-dantil. Durante a gestão 2005-2006 (Decisão), ocorreu a demissão do pro-fessor Michael Zeitlin. Aproveitando que o 1º andar estava cheio devido à cervejada que ocorria naquele 9 de março de 2006, os membros do Dire-tório mobilizaram os alunos para in-terditar a avenida Nove de Julho (por uns dez minutos, mas mesmo assim). A Gazeta VarGas publicou uma edição

especial, impressa na xérox (#62,5) em que o presidente do DAGV, Fer-nando Oshima, dá um depoimento chamado “Pra não dizer que não fa-lei das flores”, em referência às cente-nas de flores depositadas em frente à porta da Diretoria da EAESP após a manifestação.

As gestões seguintes (Atitude! e Contato) seguiram fazendo firme oposição ao aviltamento do regi-mento antigo da EAESP, assim como à imposição da “Polaca”, o regimen-to outorgado pela Presidência. No entanto, a perda de espaço político na Fundação ocorria a olhos vistos. Logo após a indicação da nova dire-tora da EAESP, Maria Tereza Leme Fleury, no segundo semestre de 2008, foi proibido o consumo de cer-vejas nas dependências da Fundação. A gestão em exercício, Impacto!, pre-gou cartazes nas mesas do 1º andar e tentou negociar a volta da bebida, sem sucesso. Talvez o único resulta-

do dessa pequena mobilização tenha sido a extensão do consumo de alco-ólicos também aos professores, no antigo Espaço Bohemia (hoje Clube dos Professores). Com a recente cri-se ocorrida no DAGV, que rachou a gestão Interação, será muito difícil recuperar o capital político e o poder de mobilizar alunos. Isso se reflete muito nos resultados das últimas eleições, em que a vitória foi definida por uma diferença de somente dezes-seis votos e a FBK (no caso, FBKKK,

chapa que historicamente instiga o debate de maneira sardônica, sem pretensões reais de vitória), atingiu uma marca recorde de mais de cem votos - aproximadamente 15% do total

Assim como a gestão da Escola não foi sempre como hoje, a falta de expressão política do Diretório Aca-dêmico é também uma característica conjuntural: não foi sempre assim. Há poucos anos – embora, como dito, quatro anos seja longo prazo para aluno de graduação – a atuação do DAGV na faculdade era bastante di-versa. Não é à toa que,ironicamente, a imagem atual do DA serve como metonímia precisa do perfil geral dos gevenianos: resignados e indife-rentes.

Seria intencional o encaminha-mento dos alunos em direção à re-signação? O debate permite que o posicionamento crítico seja funda-mentado em melhores premissas. Assim, é essencial que se promova a permuta de valores e opiniões pesso-ais se o objetivo for o combate a essa

“apatia”, à resignação. É recorrente na Fundação que haja um debate durante as aulas? Ou a matéria nos é entregue com pragmática eficiên-cia? A preservação da história incita a formação de questionamentos, na medida em que demonstra que o pas-sado não é constituído por uma linha contínua de sucessões, mas sim de rupturas iniciadas pelo homem com vistas à alteração de determinado status quo , o que fornece a perspec-tiva de que a realidade é alterável. Assim, a homeopática preservação da história na FGV vai em encontro com a conveniente manutenção de um ambiente de resignação ao mun-do. Compra-se a realidade, com todas as possíveis acepções do termo. Mas afinal, isso não seria positivo, consi-derando que quanto menos questio-nador o administrador de empresas, mais eficiente o seu trabalho? Sábio Taylor... ¤

O ‘Repen-sar’ via um trade-off

entre eficiência e democracia, e que naquele momento, convinha privile-giar a busca pela eficiência.

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Radiografia [email protected]

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Fernando FagáPedro Henrique Veloso

A equipe da Gazeta VarGas vem le-vantando novas informações so-bre processo judicial envolvendo

a FGV Projetos, a PRODAM(Companhia de Processamentos de Dados de São Paulo) e a prefeitura de São Paulo, que vem se arrastando a algumas edições. Esse processo é referente a uma licitação concedida à FGV, contratada por notória especialização em serviços de informá-tica, para modernizar o sistema de “es-cola on-line” do ensino municipal. Nesse caso, a FGV foi acusada pelo Ministério Público (MP) de subcontratar ilicita-mente uma empresa de informática de Belo Horizonte, a Auge. Após algumas idas ao Ministério Público, ao Fórum da Fazenda Pública, conversa com um especialista e tentativas de contato com as partes envolvidas, a reportagem da Gazeta VarGas levantou novas informa-ções. Obtivemos dados que apontam uma constante suspeita do MP sobre os contratos envolvendo a FGV e a pre-feitura. Primeiro conseguimos acesso a partes de um processo e uma petição inicial, da qual se desmembraram 7 pro-cessos tendo como um dos réus a FGV. Procuramos as partes envolvidas que, mais uma vez, silenciaram.

Estes processos têm perspectiva de voltar a andar depois de três anos pa-rados, frente à aprovação da quebra do sigilo total do Instituto Florestan Fer-nandes (IFF). Essa figura, que ainda não havia sido citada ao leitor, consta na pe-tição como sendo um instituto fundado pelo PT, que contava com membros do partido em seus quadros na época do

ocorrido. Ou seja, durante os anos de gestão da prefeita Marta Suplicy, que, na época, também era presidente deste instituto. Atualmente, essa organização não existe mais. Segundo uma carta publicada no seu site na internet (http:www.iff.org.br/iff/) o instituto passou por transtornos operacionais, financei-ros e mesmo políticos. Algo inusitado para um instituto criado para moderni-zar a gestão pública.

O Ministério Público moveu uma ação contra a FGV, o Instituto Florestan Fernandes e um dos secretários da ges-

tão Marta e algumas outras empresas, exigindo o ressarcimento de verbas aos cofres públicos.

Na visão do MP ocorre o seguinte: primeiramente, a FGV Projetos é con-tratada por meio de sua notória espe-cialização. Essa notória especialização é ilegal dado que serviços de consultoria similares poderiam ser prestados por outras instituições como FIA e FIPE. En-tretanto, há um debate jurídico a esse respeito. A lei de licitações e contratos, nº 8666/93, prevê casos de contrata-ção sem licitação, em seus artigos 24

e 25. Dois deles têm como objeto insti-tuições dedicadas ao desenvolvimento institucional e à contração de serviços singulares, enquadrando uma série de fundações. O IFF diz que tudo foi feito conforme a lei, que o Ministério Público errou ao acusá-los, que os contratos visa-vam o bem da sociedade e que essa insti-tuição nunca possuiu vínculos políticos.

Controvérsias jurídicas

Sucede a isso então o debate entre a tese da “unicidade” e a da “singularida-de”. No campo do direito administrativo, segundo explicou à Gazeta VarGas o pro-fessor Carlos Ari Sunfeld, há um posicio-namento geral de órgãos públicos regu-ladores de buscar o questionamento de licitações regidas sob a égide da notória especialização. Afirmam que esta deve ocorrer somente quando houver um ofertante único daquele tipo de bem ou serviço: esta é a tese da unicidade. A tese da singularidade, que normalmente é apoiada nos tribunais, diz que a con-tração por notória especialização deve ocorrer quando há singularidade do ser-viço contratado pelo poder público. Essa singularidade é decorrente da inexis-tência de termos objetivos de compara-ção entre diversas ofertas. Por exemplo, como comparar, somente por meio do preço, a qualidade e confiabilidade de um hospital? Seria recomendável olhar somente para o preço para essa tomada de decisão? Tal singularidade permite aos gestores públicos contratar serviços mais confiáveis em detrimento de ou-tros de menor custo. Portanto, pode-se, segundo essa tese, aceitar a notória es-pecialização da FGV Projetos, especial-mente porque as consultorias realizam trabalhos de cunho intelectual. Nesse caso, a singularidade do serviço devido à falta de termo objetivo de contratação é facilmente defendida, segundo o profes-sor Carlos Ari.

Há um segundo ponto no processo que é ainda mais polêmico, nesse caso, assim como no processo abordado nas edições anteriores: a terceirização de

O que está em jogo no tribunalDepois de três anos, processos envolvendo FGV podem voltar a andar

As ações contra a FGV, o IFF e um se-

cretário da gestão Marta, exigem o ressarcimento de verbas aos co-fres públicos.

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Radiografia FGV

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trabalhos. Um serviço de consultoria por vezes é de longa duração e conside-rável complexidade. Assim, é recorrente a necessidade de subcontratar partes do serviço para outras empresas/consulto-res de modo a auxiliar na execução do projeto. A cessão dos recursos de licita-ções é ilícita se ocorrer em bloco, isto é, se todo o serviço envolvido na licitação for repassado em sua totalidade para terceiros. No caso de transferência em pequenas partes não haveria, a priori, problemas, pois o dinheiro poderia estar sendo usado para contratar o serviço de especialistas, normalmente, para su-porte em tópicos bem específicos. Desse modo, a contratação de consultores ter-ceirizados, como os vinculados ao IFF, ou de empresas de tecnologia, como a Auge (de Belo Horizonte, subcontratada pela FGV no caso da PRODAM), nada teriam de ilícito. A irregularidade teria ocorrido se a FGV tivesse emprestado o seu nome para conseguir a dispensa das licitações e repassado o serviço na ínte-gra para outras instituições.

Nos contratos aos quais tivemos aces-so, o MP apontou algumas evidências que podem indicar que os projetos não foram feitos da forma mais impessoal possível. Por mais que a FGV Projetos seja notoriamente especializada e por

mais que haja necessidade de subcon-tratação de serviços de terceiros, o MP criou suspeitas sobre o vínculo entre a FGV Projetos, a prefeitura de São Paulo os consultores e empresas terceirizadas. Daí, um dos motivos da dúvida suscita-da pelo MP sobre a legalidade do con-trato. Os terceirizados nesses processos, segundo consta na petição, aparentam possuir vínculos políticos e/ou pessoais ainda não completamente elucidados com as partes envolvidas, que não cola-boram para a rejeição da hipótese de uso impróprio dos recursos públicos.

Muitos dos consultores elencados nestes autos pertencem ao Instituto Flo-restan Fernandes, alguns são inclusive advogados de políticos do PT. Há, entre os consultores em um dos processos, a mãe de um membro do IFF e uma inte-grante do conselho editorial de uma re-vista (Teorias e Debates), fundada pelo PT. Em um dos contratos, no valor de R$ 3.648.260,87, tendo como contratante o ex-Secretário Municipal de Finanças e Desenvolvimento Econômico, com o objeto de “Prestação de serviços de con-sultoria visando o desenvolvimento do sistema de apoio ao atendimento (SAA) para a praça de atendimento de finanças e desenvolvimento econômico”, o MP levantou dúvida sobre todos os quatro

consultores elencados para o projeto. Todos vinculados ao Instituto Florestan Fernandes ou ao Sampa.Org (instituição ligada ao IFF, sediado no mesmo prédio e andar). Isso incluiu a tesoureira desse instituto, Maria Theresa MacNevin Eg-ger Moellwald, que responde pelo Insti-tuto juntamente com a sua presidente, Maria Teresa Augusti. Em um outro con-trato de valor semelhante, com o objeto de “prestação de serviços técnicos espe-cializados de Consultoria e assessoria para a implementação e consolidação de novos processos e mecanismos diretos de atendimento ao contribuinte” foram elencados 6 consultores. Os 4 mesmos do anterior, um outro membro do IFF e um advogado que advogou para ex-pre-feitos petistas de Santo André perante a justiça eleitoral em 2000. Daí vem uma pergunta a qual não conseguimos sanar por meio da nossa pesquisa: essas pes-soas afinal, são ou não são contratadas regularmente pela FGV Projetos? O tra-balho foi realmente terceirizado comple-tamente para pessoas que não possuem vínculo algum com a FGV Projetos?

A equipe da Gazeta VarGas buscou to-das as partes, mas nenhuma quis dar declarações e praticamente todas as in-formações que foram utilizadas nesse texto constam nos autos dos processos. Essa pesquisa foi interrompida por uma greve no Judiciário que forçou o Fórum da Fazenda Pública, onde estão arquiva-dos os processos, a fechar as portas inde-finidamente.

Os contratos analisados somam R$ 12.815.461,87 . Desse valor, mais de 4 milhões foram repassados para consul-tores, o que não é anormal. Porém, é sa-bido que o MP contestou mais licitações do que as aqui citadas. O que importa nesses casos é, em suma, quem são esses consultores, quem são os terceirizados e quais serviços exatamente eles presta-ram.

Devido a morosidade do Judiciário, é capaz que esse processo, que já se arras-ta há anos, ainda demore para ser apu-rado. ¤A greve do judiciário atrapalhou a Gazeta VarGas

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Nota do Instituto Florestan Fernandes à Gazeta Vargas:Prezados Senhores,A respeito das ações do Ministé-

rio Público envolvendo a Fundação Getulio Vargas

(FGV) e o Instituto Florestan Fernandes (IFF), propostas a par-tir de denúncias “absolutamente infundadas e equivocadas” veicu-ladas em jornal à época da campa-nha eleitoral de 2004, gostaríamos de registrar que:

1) Diferentemente do que su-gerem as ações, a destinação de recursos para o IFF mediante con-tratos, no âmbito de convênios de cooperação técnica e científica com instituições como a FGV e a Fun-dep e conhecida e pode ser verifi-cada por qualquer um. Resultaram em benefícios concretos para a mo-dernização administrativa de polí-ticas de assistência social, a melho-

ria do atendimento ao cidadão e a elaboração de

p l a n o s

diretores em São Paulo. Todos os trabalhos do IFF no âmbito desses contratos foram conferidos e va-lidados por essas instituições, de notória reputação e seriedade.

2) Aquilo que as ações traduzem como “triangulação” corresponde a uma relação contratual absoluta-mente corriqueira, regular e trans-parente entre organizações priva-das com histórico de excelência na condução de projetos de interesse público. E natural que instituições como a FGV ou a Fundep agreguem a expertise de outras organizações parceiras, como o IFF, para melhor executar aspectos específicos de seus projetos.

3) O IFF não possui nenhum vinculo institucional com parti-dos políticos. Eventual simpatia ou militância política de pessoas que também atuam como seus consul-tores ou associados não constitui nem pode ser tomada como indício de “irregularidades”, e direito in-dividual. A lista completa dos con-sultores que executaram os servi-ços mediante contratação de FGV ou FUNDEP, bem como a relação dos pagamentos por eles recebidos,

foram devidamente entre-gues ao Minis-

t é r i o

Público, o que demonstra a trans-parência e responsabilidade do IFF no manejo dos recursos que admi-nistra.

5) O IFF lamenta o tratamento superficial e equivocado dado a instituição e profissionais sérios e competentes, causando-lhes danos irreparáveis. Essa situação já havia levado a inviabilidade de celebra-ção de novas parcerias e contratos, por parte do IFF, com instituições públicas e privadas, a partir das denuncias publicadas. Mais recen-temente, em 2009, forçou a total paralisação das atividades da orga-nização e a formulação de um pedi-do judicial de insolvência, a fim de assegurar o respeito às prerrogati-vas de seus credores. A sociedade civil deixou de contar, assim, com uma de suas organizações mais le-gítimas na discussão e implemen-tação de soluções inovadoras no âmbito o tema do aprimoramento da gestão publica brasileira como competência estratégica.

5) Está indicado no site www.iff.org.br : Respondem pela Direção do IFF, Maria Teresa Augusti e Ma-ria Thereza M. Egger Moellwald, por decisão da Assembleia dos As-sociados em 2009. ¤

INSTITUTO FLORESTAN FERNANDES

SP, junho de 2010.

Lembrando...

Alípio Ferreira

Não é de hoje que a FGV se en-contra envolvida com escândalos de desvio de dinheiro público. O caso da Prodam – explicado nas últimas três edições da Gazeta VarGas – é um exemplo até que bastante bem com-portado. Em 2003 a revista IstoÉ pu-blicou uma matéria que denunciava um esquema de corrupção envolven-do professores da FGV, em que a Fun-dação subcontratava empresas de terceiros – empresas de propriedade de professores da Fundação – em consultorias prestadas ao setor pú-blico. Dessa forma, consultores liga-

dos à FGV, que costuma ser contratada pelo Estado brasileiro sem licitação sob o argu-mento de “notória especialização”, conseguiam engrossar sua renda terceirizando o projeto solicitado à FGV para suas próprias empresas. Os casos de contratação da FGV por notória especialização são abundan-tes: para a Copa de 2014, o Ministé-rio do Turismo contratou a FGV para “formular, implantar e monitorar pesquisas e metodologias de plane-jamento estratégico de turismo para a Copa do Mundo no Brasil” pela bagatela de R$4,6 milhões de reais,

segundo o site Contas Aber-tas. A Gazeta VarGas #80 dedicou uma extensa matéria para discutir a contratação, também sem licitação, da FGV para uma reforma administrativa no Senado Federal, que não deu em nada e vai começar de novo. No entanto, não tomamos conhecimento de nenhuma conde-nação da Fundação por esses casos, que aparentemente ocorreram todos dentro da lei. ¤

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Gazeteando

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GAZETA VARGAS

João Lazzaro

A FGV é, sem dúvidas, uma das faculdades mais conceituadas do país. Seja na área da admi-

nistração, do direito e da economia, a FGV se pretende a ser o melhor curso do país. Para tal, são contratados os melhores professores e os melhores métodos de ensino e aprendizagem são aplicados, sem contar as vultosas quan-tias investidas em pesquisas. Fato que os alunos reconhecem, não é à toa que seu vestibular é concorrido. Porém, tan-ta qualidade tem um custo, e alto, aos bolsos dos alunos.

Com mensalidades superiores a dois mil reais, um curso de graduação na FGV não sai por menos de R$96.000,00. Valor muito superior ao que a maioria dos brasileiros pode pagar. Foi pensan-do nisso que a FGV criou, em 1965, o fundo de bolsas, destinado aos alunos da graduação. Na realidade, trata-se de um financiamento, em que o aluno recebe um desconto na mensalidade, que pode chegar até a 100%, e deve reembolsar o fundo após o 5º ano de ingresso no curso, sem juros, apenas corrigido pela inflação. Hoje, o finan-ciamento não é mais a única forma de auxilio concedido, existindo também as seguintes bolsas: material, transpor-te, moradia e alimentação. Vale ressal-tar que o aluno deverá ressarcir todas estas bolsas, sendo que a única bolsa realmente concedida pela FGV é aquela obtida por mérito, ou aquela fornecida a casos excepcionais de alunos em con-dição sócio-econômica realmente com-plicada.

O modelo criado pela FGV foi pionei-ro e inovador. Desde então, alunos com grandes potenciais puderam se formar com maior facilidade. Pois, para a FGV, a dificuldade financeira poderia vir a atrapalhar o rendimento dos alunos.

O modelo é hoje utilizado por diversas outras faculdades. A fundação Estu-dar, que concede bolsas meritocráticas, também se baseou no modelo da FGV e apesar de não haver a obrigatoriedade do reembolso, isto está implícito.

Para se utilizar do fundo de bolsas o aluno deve, a cada inicio de semestre, enviar à comissão cópias do imposto de renda da família e uma carta explican-do o porquê da necessidade do financia-mento. Os critérios para a concessão, se-gundo o presidente do fundo de bolsas

da EAESP, Profº Roberto Cardoso, são determinados por uma comissão com-posta pelo presidente da Associação Ex-GV, os coordenadores dos cursos de graduação, alguns professores designa-dos a isso e o presidente do DAGV.

A comissão leva em consideração a situação financeira de toda a família do requerente. Notas não são critérios para a concessão dos financiamentos, apesar de Cardoso dizer que é de “bom tom” pelo menos não ficar de depen-dências. Ter baixa renda não é o único motivo pelo qual o fundo é concedido: há relatos de que o fundo já foi conce-dido a pessoas cujos pais tiveram seus

bens bloqueados pela justiça, filhos que brigaram com os pais e até mesmo a gri-pe eqüina já foi motivo para a concessão.

O fundo começou com uma doação inicial de aproximadamente um mi-lhão de dólares e desde então, se man-tém com doações de empresas, empre-sários e ex-alunos, além do reembolso obrigatório. Como a demanda pelo fun-do é flutuante, há períodos em que ele é deficitário, tendo que se valer de recur-sos da FGV, e outros em que há sobra de recursos - neste caso o excedente é aplicado.

O fundo de bolsas, apesar de ser uti-lizado por cerca de 17% dos alunos e ser aprovado pela maioria, também é alvo de reclamações. Aqueles que soli-citaram bolsas alimentação, moradia ou transporte, reclamam do atraso do depósito destas, uma vez que o pedido é feito no semestre anterior e eles só vêm a receber no meio do semestre. Se-gundo Cardoso, estas reclamações não são de seu conhecimento, pois, toda a parte financeira é de responsabilidade do departamento financeiro da FGV, localizado no Rio de Janeiro - o que é feito aqui é somente a triagem dos alu-nos que devem recebê-lo ou não. Tem se notado um leve aumento na taxa de inadimplência do fundo. Porém, nada muito significativo, pois, para a maioria dos alunos que se utilizaram do fundo, é um orgulho pagar, afinal foi graças a ele que puderam se formar e pagar a faculdade

Por fim, conclui-se que o fundo é uma boa forma que a FGV descobriu para captar bons alunos, não sendo somente um benefício para a funda-ção, mas também, para os alunos, que podem ficar tranqüilos que, caso ve-nham a ter algum problema financeiro, isto não será motivo para abandonar a faculdade. Segundo o site da EESP “ne-nhum aluno deixou de estudar na FGV por falta de recursos financeiros”. Não conseguimos averiguar a veracidade desta informação, mas com certeza muita gente conseguiu se formar gra-ças ao fundo de bolsas. ¤

O Fundo de BolsasUm alívio financeiro aos alunos da FGV

Há relatos de que o fundo já foi conce-

dido a pessoas cujos pais tiveram seus bens bloqueados pela justiça, filhos que brigaram com os pais e até mesmo a gripe eqüina já foi motivo para a concessão

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[email protected]

GAZETA VARGAS

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Pedro Henrique Veloso

O campus da FGV-SP é um tan-to incomum quando compara-do com o de outras faculdades.

A separação física das escolas, com a ligação entre elas sendo feita em uma área não cercada é no mínimo inusitada quando visitamos ou conversamos com conhecidos de USP, PUC ou Mackenzie. Para esses alunos, ter o campus de suas faculdades marcado pela vastidão de uma área horizontal é algo interessan-te. É possível interagir mais facilmente com gente de diferentes cursos e ter uma sensação de liberdade maior ao não ter seu deslocamento pautado pelo vai e vem dos tumultuados elevadores, infindáveis degraus ou estreitos cor-redores. Há, por outro lado, um ponto questionável que seria a segurança. É aparente que a segurança de um prédio vertical é mais fácil de ser feita que a de um largo campus.

Para nós, alunos da FGV-SP, sobram as consequências da disposição do ar-ranjo físico verticalizado e isolacionista da FGV-SP, que todos bem conhecemos. O lotado primeiro andar, com seu visu-al quase idílico, é o tradicional ponto de encontro dos alunos das EAESP. No prédio de Economia, a confraterniza-ção ocorre no térreo, próxima a entra-da do prédio ou nos bancos na parte de trás do mesmo andar. Já na EDESP, o lugar recém-eleito é a nova sede do Centro Acadêmico – a casa do CA - na Rua Itapeva. Mas, e se os futuros advo-gados, economistas e administradores se encontrassem em um lugar só? Ob-viamente a atual fragmentação física da FGV-SP torna esse evento um tan-to quanto dispendioso para os alunos

tanto em termos de tempo quanto de calorias. Uma possível saída para o atu-al entrave seria a unificação das escolas em um mesmo campus viabilizada pelo uso do terreno do Hospital Matarazzo, um velho desejo da FGV-SP.

Mas o que impede?

Conforme consta no blog da campa-nha para resgate do hospital, hospital-matarazzo.blogspot.com, a história do hospital remete a vontade de abastadas famílias italianas da cidade que deseja-vam criar um centro de saúde de qua-lidade para os menos favorecidos. O conde Francisco Matarazzo catalisou o processo e em 1904 foi aberta a pri-meira ala. O hospital chegou a ser reco-nhecido como a melhor maternidade da América do Sul e foi abrigo também do primeiro banco de sangue do Estado de São Paulo. Entretanto, por falta de re-cursos, o hospital foi fechado em 1993 e vendido para a PREVI em 1996 por 68 milhões de reais na época. Somados 23 milhões relativos a pagamento de credores que ameaçavam ir a Justiça, o negócio custou a PREVI – Caixa de Pre-vidência dos funcionários do Banco do

Brasil - R$183 milhões em valores atu-alizados.

Diante das diversas notícias surgi-das em tempos recentes na mídia so-bre a venda do hospital para um sem número de donos, a Gazeta contatou a PREVI para ficar a par das negocia-ções. Entretanto, o simples fato de fazer GV, diferente do que muitos pensam, não abriu todas as portas para nós. A assessoria de imprensa da instituição disse que não poderia dar nenhuma informação pois as negociações correm sob sigilo comercial. Em um primeiro instante, foi noticiado que o terreno do hospital havia sido comprado pela PUC-SP, que pretenderia utilizar parte do espaço como campus. Entretanto, dias após essa primeira notícia, surgiu um novo fato noticiado pela Folha de São Paulo que o terreno haveria sido na verdade adquirido por um fundo pouco conhecido, o fundo WWI, com supostas ligações com os Emirados Árabes. Em seu site, o fundo diz atuar com foco nos mercados brasileiros de infra-estrutu-ra, imobiliário, energia, energias reno-váveis e tecnologias.

Nas notícias, em momento algum, aparece o nome da FGV veiculado junto às negociações do terreno.

Quem ri por último, ri melhor?A fim de saber a posição da FGV-SP

sobre o andamento das negociações, a Gazeta VarGas procurou a Diretoria de Operações, que preferiu não se pronun-ciar a respeito do assunto. Entretanto, a vice-diretora da EAESP, Maria José To-nelli, em visita as salas para comentar as mais recentes conquistas acadêmicas da Escola, foi indagada por um aluno sobre o fato da FGV ter ou não feito uma proposta pelo terreno. Ela comen-tou brevemente que a FGV havia feito uma proposta para a PREVI.

Resta, por enquanto, aguardar o des-fecho do caso. Sem dúvida alguma, os interesses são muitos e aptos a ir não se sabe até onde, em termos financeiros e políticos, para arcar com o jogo – joga-do com os dados da fortuna e o peso da influência - e conquistar esse terreno. ¤

A FGV sabe jogar Banco Imobiliário?Novidades com o Hospital Matarazzo

O cobiçado imóvel vizinho

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Coluna de Tecnologia

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GAZETA VARGAS

Daniel Fejgelman

O último mês esteve cheio de eventos para apresentar os lança-mentos em serviços e tecnologias voltados aos consumidores finais. A Apple fez o lançamento do seu iPhone 4G, a Google mostrou a Goo-gle TV e foram apresentados vários tablets na feira de tecnologia Com-putex 2010, com destaque para aqueles com sistema operacional Android.

A reinvenção do iPhone... O celular apresentado nas mãos

de Steve Jobs fascinou os segui-dores da maçãzinha ao introduzir mudanças radicais no modelo que praticamente não foi alterado, des-de seu lançamento em 2007. A nova versão, o iPhone 4G, que apesar do nome não possibilita o uso de in-ternet 4G, está cheia de novidades como a bateria maior duração e o processador mais potente. As mu-danças mais radicais, no entanto, vieram da tela que teve sua resolu-ção duplicada (o que quadruplicou a densidade de pixels) e do novo ser-viço de vídeo-chamadas, apelidado de Facetime e que funciona apenas entre iPhones 4G e somente quando conectados a uma rede WiFi.

A apresentação só não foi mais emocionante porque, semanas an-tes, um prototipo do aparelho foi encontrado pela imprensa interna-cional e suas fotos aparecem no site “gizmodo.com”. Segundo relatos não oficiais, um funcionario descui-dado da Apple teria perdido o apa-relho em um botiquim no Vale do

Silício. Para piorar a situação para a Apple, a sede do site gizmodo foi invadida por policiais que levaram servidores e revistaram o local atrás do celular. Certamente um episódio triste para os seguidores da marca e para a liberdade de imprensa.

Google TV... Diferentemente do previsto, o

cinema não morreu com a invenção das fitas de vídeo e, pelo contrário, incorporou novas tecnologias digi-tais, melhorou sua definição e, atu-almente, ofereçe experiências rea-listas em 3D. A TV certemente não irá perecer, mas seu formato deve mudar significativamente nos pró-ximos anos, ao menos no mercado americano.

TVs que acessam a internet já são realidade, mas o conceito introdu-zido pela Google se pretende mais completo e abrangente. A idéia é oferecer um sinal de televisão de alta definição transmitido via web oferecendo o acesso a diversos ca-nais de distribuição de conteúdo como a Netflix e a Amazon. Re-sumindo a idéia: Será possível ver qualquer conteúdo pago e gratuito fazendo uma simples pesquisa goo-gle na sua TV.

Ebooks nacionais... O conceito de livro digital é an-

tigo e a venda de aparelhos para lê-los que não cansam a vista também não é de hoje, apesar de tudo, o mer-cado nacional agora parece estar preparado para receber essa velha-novidade. O primeiro modelo a ser vendido no Brasil é da marca Cooler,

comercializado pela Gato Sabido, uma loja virtual cujo catálogo inter-nacional de livros já apresenta mais de 100.000 obras.

Nos próximos meses, teremos um grande player entrando no mercado nacional, a Positivo, que divulgou fotos de seu protótipo chamado (al-pha). O leitor terá uma tela de 6 po-legadas, sensível ao toque e com 2GB de armazenamento e será montado no Brasil. Se a ideia emplacar,ele irá alavancar a indústria de livros na-cional, uma vez que os ebooks in-centivam a competição, reduzem os preços, fomentam o surgimrnto de escritores independentes, além de trazer mais facilidades aos leitores.

Android em novo corpo... Segundo uma pesquisa realiza-

da pela empresa AdMob em todo o mundo, foi identificado que no Bra-sil já existem mais de 2000 iPads. O número surpreendente indica a aceitação do produto pelo mercado que hoje é composto, em sua maio-ria, por usuarios que querem deixar seus notebooks em casa e andar com um display touch de 700 gra-mas, vulgo iPad.

Para os geeks, viciados em tecnologia,que não aguentam mais ouvir falar de Apple, temos uma boa notícia: Recentemente foram lança-dos alguns tablets para Windows 7, Linux e Android. Os dois primeiros são para viciados em computador e que precisam instalar progra-mas sem abrir mão da mobilidade que um tablet traz. Já aqueles que apresentam o sistema operacional Android vem para competir dire-tamente com o iPad e devem rodar todos os aplicativos do Android Ma-rket. Em breve, aguardamos que a Google lance um pacote para desen-volverdores criarem aplicativos oti-mizados para as telas grandes dos tablets. ¤

Lançamentos do Estado da arte

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Coluna do [email protected]

GAZETA VARGAS

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Rafael Kasinski

Ao invés de respostas, perguntas. Talvez esse seja por ora um cami-nho mais produtivo, já que poucos questionam temas elementares. Por exemplo:

A inépcia política dos árabes é tão grande que o melhor que eles hoje conseguem fazer é embarcar junto à uma irresponsabilíssima provoca-ção do governo turco aos israelen-ses? São os governos árabes tão in-capazes de acertarem sobre algo que não sua própria mediocridade que assistirão passivamente à Turquia cinicamente assumir o posto de salvadora dos palestinos? São os pa-lestinos tão inábeis e fissurados que não serão capazes de se unir porque acham que a revolta do mundo para com Israel eleva-se à estatura de uma arma?

Os palestinos certamente não são apenas vítimas, pois se só isso fos-sem, não passariam, como tantos acham, de animais. São, isso sim, seres humanos, e como seres huma-nos, cometem erros e acertos, têm sucessos e fracassos. O patronato da Turquia certamente não figura como sucesso, dado o terrorismo de estado que ela pratica contra os curdos há décadas. Ou os palestinos não enxergam nos curdos situação similar à sua?

A tristeza que nos acomete quan-do vemos o sofrimento imposto aos palestinos, tanto por Israel e seus Adoradores (ISA) quanto pelos ára-bes, é, no entanto, unidimensional? Ele vem apenas da brutalidade do vizinho-irmão e de injustiças his-

tóricas? E a vitimização? Como já observou Tony Judt, entre outros, a vitimização palestina é uma das características que os aproxima dos sionistas. E essa vitimização não é à toa e nem pouca coisa: Israel foi fundado não só após a ONU come-ter erros grosseiros e históricos, mas também na base da limpeza étnica1. Mas tal vitimização ajuda? Ela põe comida sobre a mesa? Ela traz paz? Talvez ISA ajudem a res-ponder a essa pergunta.

A razão mais frequentemente usada para desculpar qualquer ação israelense, seja ela limpeza étnica, desrespeito às leis internacionais, ou o uso indiscriminado de bombar-deios contra alvos civis2, são os cri-mes perpetrados pelos alemães du-rante sua época nazista, comumente conhecido como Holocausto. Par-ticularmente marcantes para mui-1. Ver Pappe, Ilan. The Ethnic Cleansing of Palestine. Oneworld: Oxford, 2006. A operação para expulsar os Palestinos foi o Plan Dalet. Segundo o autor, tal pro-jeto de expulsão continua até os dias de hoje. Pappe, aliás, faz parte da geração dos Novos Historiadores israelenses que, através do trabalho de acadêmicos como Benny Morris, Avi Shlaim e outros, vem des-mistificando a história de Israel desde os anos 80. Infelizmente, raros árabes fazem o mesmo desde en-tão para com suas histórias.2. Só a Comissão MacBride, que investigou a invasão do Líbano por Israel em 1982, já é atordoante.

tos são os crimes cometidos contra judeus onde os nazistas, em meio a delírios de grandeza e alucinações a respeito de vastas conspirações so-bre a eminente tomada do mundo pelos judeus, resolveram que seria proveitoso exterminá-los todos. Foram os nazistas a culminação de séculos de um comportamento anti-judeu europeu – e particularmente alemão-violento e virulento, e as imagens que surgiram ao final da Segunda Guerra Mundial, que mos-travam os campos recém libertados por soldados aliados, eram brutais.

O que, então, fazem Israel e seus Adoradores, usando a memória des-tas milhões de pessoas -judias ou não - como razão para que Israel tenha carta branca para fazer o que bem entende?! Isso não é apenas um descalabro à memória dos que so-freram nas mãos dos nazistas: isso é o auge, o ápice do cinismo! Isso torna o mais-do-que-real sofrimen-to de palestinos, libaneses e tantos outros em mero obstáculo retórico.

E o que fazem tantos árabes, per-sas e afins, caminhando destemidos ao mesmo destino retórico torpe?! O que fazem tantos odiadores de Israel pensarem que o sofrimento imposto aos palestinos vale o que grupos como Hamas e Hezbollah pregam e praticam? A história, por mais recente e trágica, vale a ne-gação de uma realidade tal como a existência de Israel? Ora, não está lá ele, o Estado em questão? Não há nele civis, gente, pessoas?

Às vezes, quando há breves silên-cios entre as inépcias e os cinismos dos habitantes do Oriente Médio e das potências Ocidentais correla-tas, pergunto-me: haverá Israel de-pois de exterminados os sonhos (e os próprios) Palestinos? Haverá Pa-lestina após a destruição de Israel (e os próprios israelenses)? Duvido. Vamos todos nós termos que pagar para ver? Se depender de Irã, EUA, Turquia, Israel... ¤

Tiros nos pés, no peito, na cabeça...Culpados e inocentes entre israelenses e árabes

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Seu Espaço - Empreendedorismo

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GAZETA VARGAS

Marina AmaralEmygdio Neto

Felipe SaltoGermano Guimarães

São formados pela FGV-SP e fun-dadores do Instituto Tellus

Dizem que a nossa gera-ção é ansiosa por mu-danças de todos os tipos

– econômicas, políticas, sociais, culturais, ambientais – que é res-ponsável, preocupada com os pro-blemas e desafios do mundo e, ao mesmo tempo, segura de que o homem tem o poder e a criativida-de para solucioná-los. Falam que somos movidos por valores como engajamento, responsabilidade cívica e colaboração. Nossa gera-ção também é considerada aberta, com pensamento empreendedor, que abraça a inovação e a tecno-logia, que é pragmática, que quer crescer e fazer agora, mas não fa-zer qualquer coisa, pois busca no que faz um sentido maior, uma contribuição para além de si.

Provavelmente essas caracterís-ticas geracionais estão presentes em nós, em maior ou menor grau, e nos tornaram mais propensos a empreender. No entanto, foi a bus-ca por encontrar um caminho que aliasse a paixão (o que nos move), o talento (o que sabemos fazer), a consciência (o que acreditamos que temos que fazer) e a necessi-dade (o que o mundo precisa), o fator determinante para que nós, quatro amigos formados na Fun-dação Getúlio Vargas, resolvêsse-mos criar a iniciativa apresentada neste espaço.

Porém, o que fazer quando a paixão é Governo? Se o que você quer fazer de sua vida é mudar o país da perspectiva do Governo, como montar um negócio quando

o problema – oportunidade com o qual o grupo queria trabalhar - é a incapacidade do Estado brasileiro em realizar uma série de reformas, em alocar e priorizar os recursos, bem como atuar de forma a aten-der às demandas da população? E o distanciamento entre sociedade, política e governo? Parecem desa-fios complexos e grandes demais e faziam-nos ter questionamentos, tais como: será que é possível fa-zer algo de efetivo para lidar com essas nossas inquietações e insa-tisfações em relação ao Governo? Quais são as iniciativas que saem da discussão para focar na ação, que não são simplesmente “mais do mesmo”?

Conscientes do desafio de tra-balhar com Governo, cada um com

um histórico de quatro anos de experiências pessoais e profissio-nais relacionadas ao setor público, o grupo se uniu pela crença de que, para se ter um Governo diferente, é preciso mudar a maneira como enxergamos e nos relacionamos com ele, a fim de que seja possível inovar e formar uma rede de pes-soas que queiram pensar a admi-nistração pública “fora da caixa”.

Por mais que o objetivo final da iniciativa estivesse muito cla-ro, de 2008 a 2009, passamos por um ano repleto de conversas com

muitas pessoas, reflexões, traba-lho, escolhas, pesquisa, análise e visitas a organizações que pudes-sem nos inspirar na Europa e nos Estados Unidos, de angústia por querer começar a agir mesmo sem saber ao certo como, e de cons-trução e reconstrução do projeto. Este período foi fundamental para que encontrássemos o papel da or-ganização e o formato das iniciati-vas para que, por meios delas, pu-déssemos contribuir efetivamente para um Estado mais dinâmico, eficiente, inovador, transparente e próximo, responsivo e represen-tativo, capaz de inspirar jovens de nossa geração a serem agentes de transformação dentro do Gover-no.

Durante o processo, ficou bas-tante claro para nós a necessida-de de mudarmos a imagem que se tem do Governo e, para tanto, tomamos para nós o desafio de simplificar a linguagem usada no meio público, de forma a torná-la mais leve, acessível e atraente. Ademais, desafiamo-nos a cons-truir uma marca que remetesse à inovação, criatividade, abertura e transparência, a fim de começar a dar uma “cara” diferente para te-mas ligados a Governo. Decidimos mudar não só a linguagem e os ca-nais, mas também, a perspectiva sobre a qual se fala do país, dando enfoque às soluções já existentes e que estão dando certo para deter-minada questão pública. Assim, partimos de iniciativas pontuais que pudessem ser expandidas, ao invés de focarmos nos inúmeros problemas e desafios com os quais já sabemos que o Brasil ou o Esta-do têm que lidar - afinal, apesar de existirem projetos inovadores e promissores, muitos ficam res-tritos a sua própria localidade de origem.

A disseminação dessas soluções já existentes e dessa imagem de

Instituto Tellus

Durante o processo, ficou bas-

tante claro para nós a necessidade de mudarmos a ima-gem que se tem do Governo

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Seu Espaç[email protected]

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um Governo diferente é essen-cial para atrairmos jovens (novas idéias, novo espírito) para a área pública. Afinal, só vamos inspi-rar nossa geração a fazer parte da construção de um Governo ide-al para o futuro se mostrarmos o mesmo como sendo um campo de possibilidade, como uma organi-zação desafiadora, em que o po-tencial de impacto é enorme e em que é possível, SIM, fazer mudan-ças e se ter uma carreira.

A partir dessas constatações e reflexões, surgiu em 2010, o Tellus, organização sem fins lucra-tivos, suprapartidária, que traba-lha com inovação (disseminação e desenvolvimento de soluções ino-vadoras para Governo) e contribui para a formação de uma nova ge-ração de líderes públicos e de uma comunidade política de pessoas que busquem uma administração pública diferente.

Se, por um lado o desafio de encontrar a forma de atuação da organização foi superado, agora temos o de garantir sua sustenta-bilidade financeira, além de fazer com que os projetos do Tellus re-almente sejam capazes de inspirar jovens a atuarem no Governo, de forma a levarem mudanças e ino-vações ao Estado e estimular a formação de uma rede de pessoas que queiram construir um novo Governo e uma nova Política.

O trabalho e os desafios não acabam nunca. No entanto, de nossa trajetória até aqui, pudemos tirar algumas lições que, com cer-teza, servirão daqui para frente e em outras iniciativas empreende-doras.

Brilho no Olho: as pessoas com-pram o que você acredita antes de o que você faz

Sonhar alto e acreditar que é possível

Muita dedicação, trabalho, per-severança e clareza de valores e de onde se quer chegar

União, sintonia, transparência e sinceridade entre o grupo. Um deve ser fonte de inspiração e de segurança do outro.

Ir para fora: conversar, conhecer pessoas e experiências diferentes, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir e ouvir.

Cultivar a rede de relaciona-mentos e conseguir padrinhos e coachs para o projeto

Identificar oportunidades e es-truturá-las em projetos, dar a cara para bater e botar para fazer

Tentar, tentar, ter paciência e não desistir se o grupo de empre-endedores e pessoas relevantes para o negócio realmente acredi-tam na viabilidade do negócio

“Lá, onde meu talento se en-contra com a minha paixão, está o meu caminho para contribuir com um mundo melhor”. ¤

Estamos No Meio da Revolução!Dany Simon

Aluno do oitavo semestre de Economia e idealista

Na segunda-feira 12 de abril a Carta Capital lançou um suple-mento verde em um evento no Tuca, teatro da Puc. O evento trou-xe grandes nomes da sustentabili-dade, como Marina Silva, senadora e pré-candidata à presidência, Luiz Gonzaga Beluzzo, economista, La-dislau Dowbor, também economis-ta, Tasso Azevedo, do Ministério do Meio Ambiente, Guto Quintella da Vale e Linda Murasawa, do San-tander, empresas que patrocina-ram o evento.

Marina Silva discursou cerca de uma hora. Falou bastante sobre o desafio que o Brasil enfrenta na

transição para uma economia de baixo carbono. Fez um breve his-tórico acerca do problema das mu-danças climáticas, causadas pelo

aumento das emissões globais de gases de efeito estufa causadas pelo homem. Lembrou das respon-sabilidades dos países desenvolvi-dos e em desenvolvimento na reso-lução desta questão. Como consta no Protocolo de Quioto, lembrou que há “responsabilidades comuns

porém diferenciadas”.A senadora insistiu na neces-

sidade de haver um diálogo, que por sua vez deve ser entre empre-sários, sociedade civil e governo. O Brasil deve aproveitar as opor-tunidades nesta questão, que são muitas, principalmente na geração de energia, com largas vantagens comparativas, e se atentar aos ris-cos. Uma frase que proferiu e vale ser repetida é que o Brasil tem “responsabilidade política e dever ético de atuar”. Deve também pro-porcionar um “constrangimento” ético, criando uma estrutura de regulação.

É importante ressaltar que está havendo aqui e no mundo uma mudança no modelo de desenvol-vimento, onde posso opinar que é

Há uma mudança no mo-

delo de desen-volvimento

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Seu Espaço

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uma mudança para melhor. Para isso precisa criar os incentivos corretos, sejam eles econômicos ou não. Parodiando uma psicanalista argentina, disse ainda que deve haver uma “desadaptação criati-va”, indicando para uma sociedade com novos paradigmas, com um novo modo de consumir e de pro-duzir.

“No começo, a mudança é apenas um desvio” também aponta para este caminho de ruptura, onde aos poucos estes desvios começam a ser o padrão. Por fim, diz ainda que deve-se ter uma “visão ante-cipatória de mundo e país”, onde a visão de sustentabilidade tende a ser uma realidade no futuro. Con-ceitos como felicidade, bem-estar e riqueza devem ser repensados. Uma das variáveis que indica a saúde econômica de uma nação é o PIB. Contudo, este é apenas um indicador de crescimento, e não de desenvolvimento. Está preocu-pado com o aumento do consumo, aumento da riqueza, e não de uma maior distribuição de renda entre os cidadãos. É uma pena, mas a tendência é que este tipo de indi-cadores mude com o tempo.

Após ela, falaram os empresá-rios da Vale e do Santander. Lin-da Murasawa atentou para o papel das empresas perante os desafios do aquecimento global, dizen-do que estas devem ter um papel proativo. Citou tambpem a Plata-forma Empresas Pelo Clima, do Centro de Estudos em Sustenta-bilidade da Fundação Getúlio Var-gas, GVces, no qual ambas empre-

sas fazem parte.Ladislau fez breve discurso, mas

falou muito bem. Falou sobre os dez mandamentos que descreveu para este novo mundo. Por fim, Tasso atentou para o fato de que a Conferência de Copenhague não ter sido um fracasso como a mí-dia insiste. Esta faz parte de um processo no qual o mundo está passando, e que em breve virá um acordo internacional, que será tra-çado com base no que já está em andamento, e há muito sendo tri-

lhado pela sociedade civil, gover-nos e empresas. Também lembrou do papel fundamental da adapta-ção ao novo cenário, que ao lado da mitigação se faz necessária. As mudanças climáticas causarão grandes impactos, e os agentes deverão se adaptar a um novo con-texto.

Após esta densa manhã de mui-to conteúdo saí bastante conten-

te. Há muito sendo feito no Brasil em termos de combate ao aqueci-mento global. Políticas estaduais e municipais estão se proliferando, organizações da sociedade civil mobilizam cada vez mais pessoas e o mundo empresarial vem toman-do consciência da seriedade deste tema e atuando nas diversas fren-tes, como por exemplo pressionan-do o governo federal para a regula-mentação da Política Nacional de Mudanças Climáticas. Para quem não sabe, esta prevê que o Brasil deverá reduzir suas emissões com base em uma projeção do que emi-tiria em 2020, ou seja, é completa-mente fictícia e manipulável. Me-tas claras são muito importantes.

Parodiando o glorioso professor polonês Ignacy Sachs, estamos em meio a uma terceira grande revo-lução. A primeira foi a Revolução do Neolítico, quando o homem se sedentarizou. Depois veio a Re-volução Industrial, onde os meios de produção sofreram enorme ex-pansão. Estamos em meio a quebra de paradigmas e a criação de uma nova sociedade. Estamos mudan-do nosso modo de consumir. O consumo de uma sociedade reflete diretamente nela. Por que preci-samos comer cerejas chilenas em meio ao inverno francês? Um novo modo de consumir, mais racional está por vir. Assim também está havendo uma mudança nos meios de produção, que aos poucos vão tornando-se mais verdes. Tudo isso colaborando para uma socie-dade mais justa.

Não estou aqui para defender nenhuma ideologia política. Não estou aqui para fazer campanha para partido nenhum. Quero ape-nas expressar minha felicidade ao poder constatar que a sociedade está caminhando lentamente para uma sociedade melhor, mais verde e mais justa… Tomara que eu este-ja certo! ¤Maurits Coensllis Escher

Há muito sendo feito no Bra-

sil em termos de combate ao aque-cimento global (...) e o mundo em-presarial vem to-mando consciência da seriedade deste tema

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GAZETA VARGAS

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Bruno BarsanettiAluno do sexto semestre

de Economia

Na última edição da Gazeta VarGas, o aluno Ismael Caval-cante escreveu um texto em

que defendia um imposto sobre tran-sações financeiras, o imposto “Robin Hood”. Baseado em um comentário de Dani Rodrik publicado no Valor Econô-mico, Cavalcante inicia seu argumento descrevendo, em cores vivas, a crise fi-nanceira recente. Para o autor, o siste-ma financeiro seria um circo, no qual “qualquer banco podia emprestar para qualquer um” e “qualquer um podia pegar dinheiro para comprar qualquer coisa”, simplesmente porque “ninguém estava prestando muita atenção”.

É fácil perceber como essa justifica-tiva, baseada no senso comum e em argumentos de autoridade, é fraca. Por exemplo: seria muito pior se os bancos não emprestassem para ninguém ou se o crédito só pudesse ser usado com uma finalidade específica. Com certeza, o se-tor financeiro não é eficiente, mas essa situação é provocada principalmente por problemas relacionados à (falta de) informação disponível para os agen-tes. Além disso, a atividade financeira é uma área na qual prestar atenção é essencial. Obviamente, os bancos po-deriam ser mais bem regulados, mas o fato é que as mudanças necessárias têm de ser feitas após uma discussão séria e sensível, que analise cautelosamente as conseqüências das mudanças propos-tas.

Infelizmente, conclusões precipita-das e soluções fáceis são muito comuns em praticamente qualquer decisão to-mada na nossa sociedade. São prática freqüente tanto dos tribunais de jus-

tiça como dos debates para as eleições do DA. Fazem com que aqueles que as propõem não pareçam incompetentes, evitando a inconveniência de ter que dizer que não sabem. O gestor de uma empresa que apresenta uma solução fácil em uma reunião, o professor que improvisa uma resposta quando tem de responder a uma pergunta difícil,

o político que promete qualquer coisa ao eleitor ou o jornalista que não é su-ficientemente rigoroso ao escrever uma reportagem são protegidos, com essa atitude, de terem que participar de uma discussão mais inteligente, desgastan-te e sem respostas claras. O prejuízo, por sua vez, recai sobre todos aqueles a quem a decisão afetará.

Quem visitar o site da proposta de-fendida por Ismael Cavalcante (www.robinhoodtax.org) e ter o prazer de as-sistir a alguns dos vídeos que divulgam o imposto, verá como não há qualquer discussão séria sobre a idéia, com todo o argumento baseado em idéias sim-plistas e em um populismo de péssimo gosto, que incomodaria até mesmo Mi-chael Moore. No entanto, os vídeos são bem-feitos e contam com atores famo-sos, como Ben Kingsley.

Se encontrar soluções para os proble-mas fosse tão fácil assim, então por que estudamos direito, administração ou economia? Por mais que o senso comum seja atraente, é nossa obrigação com a sociedade, que já nos deu tantos pri-vilégios, fundamentar as nossas ações sobre um método coerente, buscando analisar seriamente cada problema e os efeitos das ações a serem tomadas.

Não que não haja mérito na proposta de taxação das transações financeiras. O economista James Tobin, em 1978, propôs uma tarifa sobre a movimen-tação internacional de capitais. No en-tanto, para Tobin o problema principal não residia na ineficiência do sistema financeiro, mas na dificuldade com que os preços dos bens e os salários tinham em se ajustar às mudanças freqüentes dos preços dos ativos financeiros. Logo, a tarifa não atacaria a raiz do problema, mas reduziria as conseqüências desse desequilíbrio. Além disso, um imposto sobre transações financeiras também pode servir para corrigir outros dese-quilíbrios. De fato, o socorro aos bancos provocou o aumento dos gastos públi-cos, e esse imposto poderia financiar parte desse déficit. Contudo, é provável que essa medida resulte em maiores distorções, com recursos sendo redis-tribuídos dentro do sistema financeiro para bancos ineficientes e mais propen-sos a assumir riscos. Mesmo que a taxa seja aplicada somente sobre os bancos mais importantes, os “too big to fail” - a própria classificação das instituições nessa categoria poderia gerar distor-ções significativas. Logo, o imposto por si só não é uma solução, embora possa ser um componente importante de um plano mais elaborado de regulação.

A própria dificuldade de entender todas as relações dentro do sistema fi-nanceiro torna necessário um enorme esforço para propor as melhores políti-cas de regulação. Há, ainda, após toda a ajuda aos bancos, uma enorme urgência em encontrar soluções. Que sejam solu-ções inteligentes, por mais trabalho que isso traga. ¤

O Perigo nas Soluções Fáceis

Se encon-trar solu-ções para

os problemas fosse tão fácil assim, então por que es-tudamos direito, administração ou economia?

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Seu Espaço

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GAZETA VARGAS

Diogo BardalÉ formado em Administração Pública

É só falar em gasto público que os economistas fazem al-voroço. Eu sei porque também

sou estudante de economia. É como no conto de Hegel em Wer denkt abs-trakt, (em português, Quem pensa abstratamente?) em que a vendedora ouve que seus ovos estão podres e logo responde: “Podre é você!” E então tudo mais ganha a cor dos ovos podres e não é possível mais dialogar.

O aluno Vítor Augusto Possebom, na edição #84 da Gazeta VarGas, enviou resposta ao meu artigo da edição #83, O Inchaço da Máquina Pública. Primei-ro, queria sintetizar os argumentos do Vítor que, para alguém que não acom-panhou a edição passada, possa enten-der a que me refiro.

Segundo Vítor, meu texto, que era basicamente um diálogo entre um ad-ministrador e um economista, apre-sentava a opinião de que o governo “deve proceder da forma como vem agindo”, ou seja, de que o governo deve continuar ampliando seus gastos.

Ele discorda de que o governo deva proceder ‘da forma como vem agindo’ pois o Brasil tem uma elevada carga tributária e oferece serviços públicos de baixa qualidade. Então, os econo-mistas têm razão em criticar o inchaço da máquina pública.

Além disso, eu teria sugerido no texto que os economistas não se pre-ocupariam com os ‘aspectos humanos’ no sistema econômico. Mas, segundo ele, eu ignoraria que há modelos de

crescimento econômico que conside-ram o capital humano na função de produção, e, logo, minha afirmação seria falsa.

Bem, sobre essas afirmações, gos-taria de dizer que elas não tem nada a ver com o escopo do meu texto, e que Vitor está discutindo coisas comple-tamente diferentes. Nesse sentido, ele não dialogou comigo e disse que podre era eu, por apoiar a farra fiscal. Mas como acredito no diálogo, vou esclare-cer meus pensamentos:

O governo deve continuar amplian-do seus gastos? Essa é uma questão que certamente não era a do meu texto. Se Vitor quiser uma opinião sincera, eu acredito que o governo deva aumentar seus gastos quando isso é conveniente, e depois diminuir quando for oportu-no. Quando é conveniente? Ora, isso quem diz é a análise da economia polí-tica. Mas um ano de recessão mundial parece-me um período conveniente para se fazer políticas anticíclicas...

Mas como disse, minha questão era outra: gastos correntes elevados são ruins? Ora, do meu texto, depreende-se que não necessariamente! A crença geral, em vez disso, é de que investir é bom mas contratar não. Eu argumen-to que isso é logicamente falso, uma vez que todo o investimento gera uma contrapartida de gastos correntes no futuro. Além disso, os gastos corren-tes são a alma do serviço público e por isso usei a imagem do Estado como um grande hospital. Veja, caro Vítor, são os desenvolvimentistas os primeiros a demonizar os gastos correntes e can-

tar as belezas do investimento público do Estado-fábrica. Estou dizendo, em bom português, que esta dicotomia é burra.

Mas meu colega Vitor não se con-tentou em confundir as bolas, ele co-locou mais gente no samba: que feio eu dizer que os economistas não con-sideram o fator humano! Eles conside-ram sim, colocando uma letra “H” na função de produção dos modelos de desenvolvimento! Ah sim, o “H” é de “Humano”! Isso deve bastar, uma le-trinha deve bastar... Bem, em relação a essas adaptações do modelo de Solow, e dos modelos de crescimento endóge-no, eu poderia levantar muitas obje-ções que não caberiam neste espaço. Mas, para começo de conversa, eu não sei se é metodologicamente correto ca-racterizar uma economia por meio de uma função de produção agregada. Por exemplo, para construir as curvas de isoproduto, é necessário que a quanti-dade de capital seja independente dos salários e da taxa de lucro; também, o intercepto da curva só pode ser de-finido quando os preços relativos dos fatores são já dados; e H e K não podem ser agregados a menos que sejam con-siderados como homogêneos, o que é forçar a barra demais; enfim, são mo-delos que exigem muitas hipóteses ad hoc para suportar críticas de Sraffa e Robinson, e eu penso que devam ser abandonados de vez.

Mas novamente, essa não era a ques-tão que eu estava discutindo. Eu estava mais “pé no chão”, e dizia apenas que o tamanho da rubrica do investimento não é critério para dizer se o governo gasta bem. Vítor citou os números e disse que temos um desempenho pífio na educação, que não temos acesso a água potável, que morremos empolei-rados nas favelas e prisões. Porque isso acontece? Não é por que pensamos, durante toda a república, o desenvolvi-mento do Brasil sob a ótica do concreto armado e do óleo de rícino?

Estes ovos estão podres, meu caro Vítor... ¤

O diálogo entre o economista e o administrador

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GAZETA VARGAS

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Misantropia Ricardo Marchiori

Uma boa técnica para se con-viver com um sentimento in-tenso de misantropia é separar

as pessoas em “pessoas que não me in-comodam se eu conversar com elas por mais de 5 minutos” (alguns preferem chamá-las de “Amigos” para encurtar) e o Resto, divididos nas seguintes sub-classes: Babacas, Imbecis, Otários, Bur-ros e Medíocres.

Por exemplo, considere aquela colega de classe que agora no final do semestre adora se martirizar e contar para todo mundo como “está quase bombando” e adora reclamar da “carga de leitura” mas é, entretanto, uma pessoa educa-da: isto faz dela uma Imbecil, mas caso você não se importa se as pessoas são minimamente educadas ou não, pode-se então considerá-la uma Babaca, ou ainda mais, uma Babaca Escrota (que é a adição de uma Imbecil com Babaca). Se além de tudo ela for burra, ela ainda é uma Babaca, mas é, por inferência ló-gica, uma Babaca Burra. Caso ela reco-nheça ser burra, ela é sincera mas isto não entra nesta equação que eu arbitra-

riamente inventei e ela continua sendo Burra. Para os confusos aviso que a ló-gica interna deste sistema de medição está sendo analisada e estudada pelos meus melhores assistentes, infelizmen-te alguns são Burros, e em média outros tantos se localizam no espectro entre Imbecis e Medíocres, podendo alguns, entretanto, serem Babacas.

Quero ressaltar que este método na verdade tem mais o propósito de di-vertir os misantrópicos do que de fato ter alguma utilidade real, uma vez que todas as classificações são inofensivas, quando muito irritantes – exceto é cla-ro a Vaca Escrota, espécie perigosíssi-mo pois sua natureza tende ao debate sem sentido e à uma lógica deturpada que busca mostrar que ela está sempre certa, irritando os mais misantrópicos ao ponto de muitos estarem atualmen-te presos por homicídio culposo (e por terem sido presos se tornaram, é claro, Imbecis na visão dos misantrópicos li-vres).

É verdade que em algumas situações nos depararemos com pessoas cabíveis de serem consideradas “Inteligentes” mas é importante observar que após certa convivência e observação cuida-

dosa destes seres eles poderão infeliz-mente serem rebaixados a categoria de “Hipócritas”, a questão aqui é que quem considerar o outro hipócrita pri-meiro é o mais inteligente. Infelizmen-te acusar o outro de hipocrisia é pouco normal - a não ser que seja um debate, ainda mais quando o assunto são dro-gas ou ambientalismo – e assim ne-nhum destes seres saberá qual é de fato o mais inteligente, prevalecendo sem-pre a opinião óbvia de que cada um se considera pessoalmente mais esperto.

Ressalto que no geral, independente-mente de ser mais esperto ou não, é me-lhor qualificado na minha classificação aquele que reconhece que todo mundo é hipócrita, sabendo portanto que esse parâmetro não vale nada, então se você concordou com o parágrafo anterior você está em maus lençóis pois meus assistentes estão quebrando a cabeça procurando calcular em qual subgrupo você passou a infelizmente se encaixar (lembre-se que alguns são Burros, e em média outros tantos se localizam no espectro entre Imbecis e Medíocres, podendo alguns, entretanto, serem Ba-bacas). Ah, e vale avisar que se a outra pessoa acabar te chamando de hipócri-ta como o intuito de te irritar a chance dela não ser uma hipócrita mas sim uma Escrota aumenta em 75%. ¤

GV Points, o teste mais esperado desse semestre!!!

Dando continuidade ao teste dos GV Points... Qual das seguintes palavras e expressões você usou nas últimas 48 horas?

Estée Lauder +45 GV PointsPink +40 GV PointsEclair +35 GV PointsVallet +30 GV PointsMiami +15 GV Points

Ubatuba -15 GV PointsFarofa -30 GV PointsSalchicha -35 GV PointsMicareta -40 GV PointsEdícula -45 GV Points

Total

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Gazeta Várzea

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GAZETA VARGAS

Personae non grataeO município gaúcho de Getulio

Vargas está para aprovar moção na Câmara de Vereadores declarando to-dos os membros da revista paulista Gazeta VarGas “personas non gratas” (sic) no município. A razão para a drás-tica decisão advém da publicação da edição #82 da revista, que segundo os cidadãos e representantes do poder público municipal, desrespeita a me-mória do memorável presidente. Cida-dãos de Getulio Vargas promoveram no dia 5 de março uma queima de cinco mil exemplares da Gazeta VarGas no su-búrbio da cidade, e os bombeiros tive-ram que ser acionados. Segundo nota de um altíssimo oficial da Prefeitura da cidade, a publicação “phere a imma-gem de nosso patronno”. O mesmo ofi-cial, que não quis se identificar, disse à Gazeta VarGas que julgou irresponsáveis e desproporcionais as comparações fei-tas com situações vivenciadas na Fun-dação Getulio Vargas. “Doutor Getulio jamais dissolveu a Congregação nem demitiu professores desafetos. Não era de seu feitio”, protesta.

Reajuste de aposentadoria

Fontes infiltradas da Gazeta VarGas apuraram que tem havido uma forte mobilização de alguns professores para promover o reajuste do PDI. Argumentam que é injusto terem as-sinado o contrato de Desligamento Incentivado alguns meses antes do reajuste de 7,7% dado pelo presiden-te Lula aos aposentados. “Foi de má-fé. Eles sabiam que haveria o reajus-te”, afirmou um dos professores, que acabara de voltar de uma reunião em Brasília. Os professores planejam um protesto simbólico na Avenida Nove de Julho para chamar a atenção da Diretoria e fazer retroagir o que lhes é de direito. O reajuste aos aposenta-dos foi sancionado no dia 15 de junho pelo presidente da República.

Biblioteca revelará mistérioA Biblioteca Karl A. Boedecker

anunciou a uma comitiva de imprensa ontem que muito em breve anunciará o maior mistério que a ronda: o que significa o “A” de Karl A. Boedecker? Mistério insondável, assim como o “W” de George W. Bush ou a existência de acento em “Getúlio” Vargas. Segun-do a Biblioteca, que tem sofrido muita pressão pela liberação da informação, o segredo será revelado após o término da Copa do Mundo, para dar maior vi-sibilidade à notícia.

Parceria público-privada Numa demonstração de habilida-

de política ímpar, a empresa Itaipava acaba de fechar uma inédita parceria comercial. Depois de muito trabalho para convencer representantes da prefeitura de São Paulo a sentarem-se numa mesa para negociar, os fun-cionários da empresa Itaipava conse-guiram convencer o poder público a trocar o nome da rua onde se localiza a FGV de “Rua Itapeva” para “Rua Itai-pavaTM”. Em troca, a partir do ano próximo, a Prefeitura poderá comprar cerveja a preços reduzidos para a re-alização de viagens de planejamento e integrações. A sacada da empresa é atingir também os alunos da Fundação Getulio Vargas e da PUC, que deverá se instalar no Hospital Matarazzo dentro em poucas horas.

Outlet da Abercrombie na ITCPInteressada em capitalizar-se, a In-

cubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, ITCP, alugará seu espaço na FGV-EAESP durante os fins de sema-na para a instalação de um Outlet da empresa Abercrombie & Fitch USA. A empresa americana apurou que a EA-ESP é o local com maior concentração de clientes por sala de aula, e já vinha há cinco anos tentando se instalar na Fundação. A Abercrombie interessou-

se pelo trabalho de economia solidária promovido pela ITCP, e fez uma oferta agressiva pelo espaço. Cogita-se que a ITCP só não o vendeu completamen-te porque integrantes da Incubadora solicitaram “blindagem” ao presiden-te Lula, que afirmou que “deseja uma empresa brasileira forte, e não quer vendê-la”. A data coquetel de inaugu-ração do espaço ainda não foi definido, mas sabe-se que contará com open de Veuve Clicquot, biscuit integral com berinjela crua, e a presença das mais badaladas blogueiras da cidade.

Teleférico ligará EDESP à EAESPNuma tentativa de integrar alunos

das Escolas de Direito, Administração e Economia da FGV-SP, já foi aprova-do na Escola de Direito o orçamento para a construção de um teleférico que conectará a Escola de Direito da Rua Rocha e a Escola de Administração, na Itapeva. Os alunos de Direito, que mui-tas vezes têm de subir até o prédio da EAESP, reivindicam o teleférico desde a fundação da Escola – reivindicação que é espertamente omitida do livro “A Construção de um Sonho”, publicação recente que conta a história da Escola. Os alunos se dizem fartos de ter que pegar táxis para subir a Itapeva ou en-tão ter de pagar mensalidade em dois estacionamentos diferentes. “Mal vejo a hora de poder subir de teleférico”, disse Ana XXX, que não quis revelar seu sobrenome para evitar os papara-zzi. Espera-se que a FGV será contra-tada por notória especialização para tocar a construção da obra.

The Gazeta Herald

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GAZETA VARGAS

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O ornitorrinco vai ao churrasco dos bixos...

Gabriela Szini

O mascote precisa de um nome!

Mande sugestões para:

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facebook.com/cpv.edu twitter.com/cpvCPV na web:

vestibulares

cpv.com.br/proximasturmas

A FGV antecipou o Vestibular para 24/outubro...

CPV — liderança absoluta em aprovações na FGV.

... e o CPV alterou seu calendário, para nossos alunos não perderem conteúdos.

Só o CPV reage às mudanças da FGV sem perder a qualidade.

Avise seus amigos: Matrículas Abertas

Início: 19 julho Semi FGV Adm, Dir e Eco

Locais: Consolação e Vila OlímpiaManhã: 7h00 às13h00Tarde: 14h30 às 19h30Veja no site o novo Calendário CPV

278 alunos CPVaprovados

na FGV 2009

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