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Revista Ponto Final APOIO Clara Nunes na quadra da Portela. (1981) Créditos: Wilton Montenegro ENTREVISTA COM O ESCRITOR Vagner Fernandes | 08 BACK TO TOP Darlan Santos | 18 LUXO E SIMPLIFICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO ESTILO Jamill Barbosa Ferreira| pág 24 CAMAROTE NA SAPUCAÍ Chico Vartulli | 27

Edição II

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Revista Ponto Fin@l Direção: Elder Martinho Edição e diagramação: Moisés Mota Revisão e consultor editorial: Paulo Antunes

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Revista Ponto Final

Apoio Clara Nunes na quadra da Portela. (1981) Créditos:

Wilton Montenegro

ENTREVISTA COM O ESCRITOR Vagner Fernandes | 08

BACK TO TOPDarlan Santos | 18

LUXO E SIMPLIFICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO ESTILO Jamill Barbosa Ferreira| pág 24

CAMAROTE NA SAPUCAÍChico Vartulli | 27

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OS ARTIGOS SÃO DA EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES, INCLUSIVE CÓPIAS, NÃO REPRESENTAN-DO NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DA DIREÇÃO E EDITORA DESTA REVISTA DIRETOR: ELDER JOSÉ MARTINHO PE-REIRA JORNALISTA RESPONÁVEL: JOELMIR TAVARES EDITOR: MOISÉS MOTA CONSULTOR EDITORIA E REVISOR: PROF. MS. PAULO ROBERTO ANTUNES. LICENÇA CREATIVE COMMONS - ATRIBUIÇÃO - USO NÃO COMERCIAL - OBRAS DERIVADAS PROIBIDAS 3.0 BRASIL. COM BASE NA OBRA DISPONÍVEL EM WWW.OTEMPO.COM.BR/PONTOFINAL. PO-DEM ESTAR DISPONÍVEIS PERMISSÕES ADICIONAIS AO ÂMBITO DESTA LICENÇA EM WWW.OTEMPO.COM.BR/PON-TOFINAL. REVISTA ELETRÔNICA, ATUALIZADA A CADA 15 DIAS. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA, ALAMEDA JUCA MAIA, 52, CENTRO, CONSELHEIRO LAFAIETE - MG, CEP: 36.400-000 E-MAIL: [email protected]

Índice

3. Comunicação | E-mails e cartas recebidas.

4. Editorial | Elder Martinho

5. Caricatura | Jorge Inácio

6. Matéria de Capa | Clara Nunes, a guerreira

13. Aristóteles Drummond | Política

15. Julio Lellis | Cinema

16. Paulo Antunes | Artigo

17. Raimundo Couto | Veículos

18.Darlan Santos | Crônica

20. Sociedade em Rede

23. Claudia Castelloes | Vinhos

24. Jamill Barbosa Ferreira | Alta costura

26. Moisés Mota | Imagem

27. Chico Vartulli | Arquitetura

28. Douglas Henriques | Crônica

29. Diego Rebouças | Crônica

30. Galeria de Arte | Artista Plástica Cidinha

Dutra

36. Música | Dona Jandira em DVD

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ComunicaçãoApós o lançamento do primero número recebemos inúme-ros telefonemas e e-mails parabenizando pela iniciativa.

Élder, parabéns pela publicação! Sempre precisamos de novos veículos de qualidade em Minas. Abraços, Cynthia Aguiar - link Comunicação Empresarial BH_______________________

Parabéns, Elder, pela ini-ciativa. Torço pelo seu su-cesso! Grande abraço, He-loisa Aline - salamandra comunicação e marketing BH_______________________

Parabéns companheiro!!! Suces-so, voçe é um grande amigo!!! Abraços, Rodrigo Simões - ge-rente sucursal O Tempo SP_______________________

Oi Élder e equipe da revis-ta. Ficamos muito felizes com este novo projeto e com o seu espírito empreendedor. Vamos ler cada página para conhecer melhor a revista. Abraços, Fabíola - diretora Com você Comunicação BH_______________________

Oi meu querido! Que maravilha! Então... um sonho realizado! A revista está linda e a capa... chiquerésima!!! Parabéns! Você merece este resultado de muita luta coragem e entusiasmo pelo melhor. Que Deus esteja sem-pre ao seu lado com suas bên-çãos. Voe... voe longe como uma águia que nada teme. Beijinho... Belkiss! Artista Plástica BH_______________________

Você é muito chique. Parabeni-zo-o pela perseverança, profis-sionalismo e competência. A re-vista vai ser um sucesso. José Luiz Lopes - advogado BH

_______________________

Parabéns, Elder, por mais essa iniciativa! Que você obtenha cada vez mais sucesso, pois você me-rece, de verdade! Que Deus te ilumine nesta nova empreitada, dando-lhe sempre muita saú-de, força e perseverança!Você está em nosso coração! Beijo grande! Regina Palla_______________________

Querido Elder. Mil beijos e su-cesso por esse empreendimento que só pode ser concebido por pessoas que tenham uma visão igual a sua. Que esse “suces-so” seja duradouro porque mais que uma conquista é um a vi-toria de um guerreiro que sem-pre vence a luta. Abraços, Ra-chel Werner - Machado MG_______________________

Caro amigo Elder, Não fiquei surpreso com mais este desa-fio, que tenho certeza já nasce com sucesso garantido. Você, com sua lealdade, transparên-cia, simplicidade, amizade e acima de tudo muita luta, é me-recedor de estar a frente deste projeto e PONTO FINAL. Gran-de Abraço, Fernando Elias_______________________

Parabéns pela iniciativa, se-rei uma leitora constante e di-vulgarei para os amigos. Obri-gada, Jovi Hallak Rocha_______________________

Parabéns meu querido por nos dar mais esta oporunidade. Pode estar certo que não per-derei um número! Ótima idéia para mais divulgação e faci-

lidade de poder ler acessan-do o link. Beijos de sua amiga de sempre que o admira cada vez mais: Dora Castanheira_______________________

Elder, Parabéns pela iniciativa, sei que será um sucesso. Abrs Edson Puiati - Gerente hotel escola Grogotó SENAC Minas_______________________

Bom dia, Helder Foi com grande satisfação que recebi essa novi-dade: a revista eletrônica Ponto Final. Parabenizo a você e sua brilhante equipe pelo projeto e desejo muito sucesso nessa nova empreitada. Um abraço, Ana Lídia Ribeiro - Tim MG_______________________

Ao caro amigo Élder,Você é uma pessoa espe-cial, incomparável! Desejamos a você muito sucesso nes-te novo empreendimento. Um abraço fraterno de seus ami-gos. Carinhosamente, Afon-so e Clarisse Borges Pereira______________________

Prezado Elder: aceite caloroso abraço de parabéns pelo lan-çamento da Revista “Ponto Fi-nal”, desejando sucesso sem-pre crescente à esta auspiciosa iniciativa. Carlos Reinaldo de Souza - Diretor Científico da Academia de Ciências e Le-tras de Conselheiro Lafayet-te e Presidente da Seccio-nal CAPPAZ Lafayette - MG.

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Editorial

Elder Martinho colunista do jornal O Tempo (BH), Correio da Cidade (C. Lafaiete) e Ponto de Vista (Ouro Branco) radialista e diretor da revista Ponto Fin@l

Clara Nunes

Ponto Fin@l, uma segunda edição muito Clara

Esta segunda edição da Revista Virtual Ponto Fin@l tem como matéria principal a imortal cantora de MPB, Clara Nunes que, se estivesse viva, teria completado no dia 12 de agosto 69

anos. Essa mineira de timbre vocal especial fez muito sucesso no Brasil e no exterior e consagrou na música nacional a temática que falava dos deuses da religião espírita numa época em que o domínio do catolicismo no Brasil impunha uma espécie de censura ao tema. Com sua voz altissoante, seu modo especial de dançar no palco e com suas roupas brancas, colares e miçangas, a minei-ra que durante muito tempo cantou em Belo Horizonte conquis-tou o Brasil quando lançou a música “Canto de Areia”, cuja letra já se gravou no imaginário sonoro nacional. Uma geração inteira se rendeu à sua técnica vocal, carisma luminoso e jeito mineiro de ser. Mais que uma intérprete, Clara foi quem levou os nomes dos orixás às bocas dos brasileiros das mais diversificadas clas-ses sociais e auxiliou de forma decisiva a quebra do preconceito de muitos contra a religião espírita: uma branca de alma negra. Tive o privilégio de conhecê-la quando residi no Rio de Janeiro, onde nos tornamos amigos e comungamos da mesma fé espiritual. Inesquecíveis os melhores momentos de minha vida em terra cariocas que incluíram, muitas vezes, a guerrei-ra de voz portentosa. Não poderia deixar de render homena-gens à grande intérprete da MPB e à amiga que deixou sauda-des na minha memória e na memória do cancioneiro nacional. Nossa equipe de articulistas prossegue seu traba-lho com a garra e a determinação dos que vislumbram nes-te meio de comunicação um canal informativo de alto poder de abrangência em futuro breve. Muitos foram os e-mails, te-lefones e contactos que recebemos parabenizando-nos pelo lançamento da revista, pela excelência do corpo de colabora-dores e equipe organizacional e, principalmente, pela hospe-dagem no site de um dos jornais de maior circulação no Brasil. Novos colaboradores estão se aderindo à Ponto Fin@l para garantir o que, desde a primeira edição, preconizamos: um vo-lume de informações diversificadas, democraticamente disposto a propagar ideias convergentes e divergentes, garantindo aos nossos leitores possibilidades infinitas de pensar e repensar um posicionamento ideológico. Nossa meta foi, é e sempre será a garantia da democracia que garante o livre circular de pensamen-tos, o fim das mordaças à liberdade de expressão e ao debate. E se chegamos à segunda edição com a certe-za do itinerário correto, agradecemos a você, leitor ami-go, que nos incentiva a prosseguir e nos oferece a oportu-nidade do aprimoramento com suas críticas e sugestões. Muito obrigado é expressão rasa para demonstrar nossa gra-tidão, portanto fazemos nossa uma fala de outro grande nome femi-nino nacional, da área literária, para demonstrar nossa persistência, sonho e prazer de fazer uma revista cada vez melhor para todos:

“Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.” Clarice Lispector

Fabiano Domingos

Divulgação

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[email protected]

Ipatinga - MG

JorgeInácio

Dia do combate ao fumo

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Clara Nunes

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A Guerreira

Clara Nunes no en-saio para o LP Brasil Mestiço, foto de Wil-

ton Montenegro, 1980

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EntrevistaDurante quatro anos, Vagner Fernandes debruçou-se sobre a vida e a obra de Clara Nunes. O autor percorreu

lugares trilhados pela cantora e entrevistou mais de 300 pesso-as, o que resultou em uma pesquisa vasta, criteriosa, com cerca de 400 horas só de depoimentos. Da terra-natal da artista,

Caetanópolis (MG), ao popular bairro de Oswaldo Cruz, no qual se encontra a quadra da escola de samba que se tornou uma das paixões de Clara, a Portela, o autor desnuda, pela primeira vez, este mítico personagem, trazendo à tona sua di-mensão humana. Este livro nos convida a conhecer a trajetória de uma das mais importantes intérpretes da música brasileira, por meio de um texto que segue os critérios do bom jornalismo.Carioca, Vagner Fernandes é jornalista, escritor, pesquisador e pós-graduado em jornalismo cultural, com uma carreira que cobre quase duas décadas de reportagens e comentários de cul-tura no Brasil. Já trabalhou em mídia impressa, rádio, televi-são, Internet. Trabalhou para, entre outros, Bloch Editores, O

Globo, Rádio Jornal do Brasil, Jornal do Brasil e Vogue.

RPF - Como e quando veio a ideia de fazer um livro so-bre a vida de Clara Nunes?VF - Resposta: A Clara sem-pre me fascinou. Mas a Clara que eu e outras pessoas da mi-nha geração conhecíamos era o personagem, com vestimentas brancas que remetiam às rou-pas das filhas-de-santo da um-banda e/ou do candomblé. Ini-ciei a pesquisa em 2003 para a redação da biografia a partir de um material com imagens ra-ras dela que chegou até mim. Fiquei estarrecido com a atem-poralidade de Clara, uma can-tora ainda tão presente e cuja obra se mostra para lá de atual. Aquelas imagens remeteram à minha infância, quando meu tio (e padrinho, um dos dire-tores de Harmonia da escola na época) e minha mãe me le-varam à quadra da Portela. A

Clara estava lá, num palanque, cantando. Eu fiquei hipnotizado quando vi aquela mulher, lin-da, lá em cima, toda de bran-co, com aquela energia cênica incrível. Estava fascinado com a cantora que eu tanto admi-rava da TV. Todos estes fatores me levaram a pesquisar mais e mais, a ir em busca de infor-mações que me direcionassem para a descoberta de quem era aquela mulher que todos idola-travam, mas cuja história en-contrava-se dispersa, sem re-gistro no mercado editorial. Foi por isso que a escolhi: movido pelo interesse que o persona-gem me despertou. Só acredi-to em trabalhos que eu possa realizar com a certeza de que o produto final será bem-suce-dido do ponto de vista da pes-quisa. Outro dia me lembrei de um artigo muito interessante

do Ruy Castro, em que afir-mava: “só biografo morto. E de preferência que tenha sido solteiro, estéril e órfão de pai e mãe”. Isso ele declarou em função das polêmicas levanta-das pelas famílias de biogra-fados, que transformaram o gênero em um verdadeiro filão caça-níqueis, como se biógra-fo no Brasil ficasse milionário. Não conheço um brasileiro se-quer que tenha enriquecido por ter redigido uma biografia. Escolher um bom personagem hoje tornou-se algo de extre-ma complexidade, seja pe-las dificuldades impostas pe-los herdeiros ou pela falta de compreensão e sensibilidade por parte dos próprios biogra-fados que estão vivos, como Roberto Carlos, por exemplo.

Daniela Dacorso

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RPF - Descobriu mui-tos fatos até então não revelados pela impren-sa da vida da cantora?VF - Resposta: Seria leviano destacar esse ou aquele ponto sobre a vida do personagem, descoberto durante o proces-so de produção da biografia. Acho pouco producente levan-tar polêmicas a partir de fatos isolados ocorridos durante a trajetória de um personagem. Muitos detalhes sobre a vida e a obra da Clara poucas pes-soas conhecem certamente, mas o que importa numa obra é o conjunto. É isso o que me interessa: a possibilidade de apresentar ao maior núme-ro de pessoas possível que o biografado era um ser-huma-no como qualquer outro. Sim, porque autor algum deseja escrever sobre um anônimo ou personagens cujas histó-rias sejam pouco interessan-tes. No Brasil e no mundo há uma tendência à heroicização das pessoas famosas, sobre-tudo as que morrem de forma trágica e precocemente. Todos tendem a mitificá-la. O que mais me agrada na redação de uma biografia é o fato de poder trabalhar com as nuan-ces humanas do personagem. Por isso, a necessidade de se tratar o biografado com certo distanciamento crítico, como um objeto de estudo mesmo, por mais admiração e res-peito que tenhamos por ele.

RPF - Como foi o tra-balho de pesquisa?VF - Resposta: Eu sempre lanço mão de uma metodolo-gia que segue determinados critérios. Cada autor organi-za suas pesquisas e seleciona material da forma que lhe con-vém. No meu caso, que tenho formação jornalística, eu parto para a descoberta de persona-gens que possam me contar boas histórias sobre o biogra-

fado. Estabeleço contatos e faço entrevistas. Paralelamen-te, realizo buscas em arquivos de jornais, revistas, bibliote-cas, um amplo levantamento de tudo o que foi publicado sobre o personagem. É então que se começa a etapa que considero de maior dificulda-de: a do cruzamento de infor-mações para a verificação dos dados. As fontes também se enganam. Por isso, a necessi-dade do cruzamento das infor-mações. É um árduo trabalho, mas extremamente prazeroso.Durante a pesquisa nada pode ser desprezado. Todas as in-formações e fontes encontra-das são importantes. Eu vou em busca de tudo e de todos que considero peças funda-mentais para construir o “que-bra-cabeça”, como maridos ou ex-maridos, esposas ou ex-esposas, filhos, irmãos, pais, amigos. Você tem de criar, de imediato, uma rede de fontes confiáveis, que te levem a per-sonagens vários. Uma fonte te leva a outra e assim sucessi-vamente. Às vezes uma in-formação ou um personagem que, aparentemente, não tem tanta importância, pode te apontar caminhos incríveis. No caso do livro da Clara eu não contei com assistentes para a pesquisa. Tive ajuda de pes-soas que, voluntariamente, foram me fornecendo dados. Eu gosto da pesquisa “in loco”.

RPF - Quais as principais di-ficuldades encontradas na produção de uma biografia?VF - Resposta: Para mim, as maiores dificuldades consis-tem exatamente na reunião de materiais e de fontes confiá-veis. Há que se encontrar boas histórias para serem narradas, histórias que nos permitam não só (re)construir a trajetória de vida pessoal e profissional, mas que tragam à tona a dimensão humana do biografado. O meu interesse é desvendar o “mito”.

RPF - Na sua opinião, quais as características funda-mentais que um escritor deve ter para se dedicar à redação de uma biografia?VF - Resposta: Tem de ser um bom pesquisador e evitar, aci-ma de tudo, o clichê da mitifica-ção do biografado. Eu costumo sempre dizer que toda biogra-fia é uma grande reportagem, pois os critérios usados são muito peculiares ao processo de apuração e redação jorna-lística. Claro que cada autor tem um estilo próprio de nar-rativa. Mas todos são movidos pela curiosidade, em descobrir fatos, apurá-los corretamente, seja por meio de entrevistas ou documentos. Bem, há que se ressaltar o seguinte: toda biografia é uma grande repor-tagem, mas nem toda reporta-gem pode se tornar uma gran-de biografia. O bom jornalista tem de saber apurar bem e es-crever bem. E nós todos sabe-mos que há profissionais que sabem apurar muito bem, mas escrevem mal e vice-versa.

RPF - Se puder contar casos interessantes que aconte-ceram ao longo do trabalho para a produção de Clara Nunes: Guerreira da Utopia, seria muito interessante.VF - Resposta: Acho que o mais interessante de todos os casos foi a forma como decidi encontrar personagens que me ajudariam na reconstituição da vida e obra da Clara, sobretu-do os que moravam em outros lugares do Brasil que não o Rio de Janeiro. Com uma mochila nas costas, fui a Belo Horizon-te, a Caetanópolis (MG), terra-natal da cantora, Paraopeba (MG), Salvador, Recife e em vários outros locais. Estabeleci um contato com uma morado-ra de Caetanópolis, professo-ra, que morava com a irmã. Ela era fã de Clara, coleciona-va tudo. Tem álbuns e álbuns

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com recortes de jornais e de revistas. Eu a encontrei após contato com um vereador da região. Nos falamos algumas vezes por telefone e, como a cidade era pequena, pedi a ela que fizesse uma reserva num hotel próximo, já que estava com viagem marcada para lá. Quando cheguei, ela foi me receber na rodoviária da cida-dezinha, me colocou no carro e disse que fazia questão de me hospedar na casa dela. Eu tomei um susto. Ela nun-ca tinha me visto antes. Aqui-lo me fez pensar na bondade de nosso povo, na importância do resgate de nossos valores, como a cordialidade, a solida-riedade, o respeito, a confian-ça no próximo. Valores esses tão peculiares a nós, brasilei-ros, e que, dia a dia, nos es-corregam das mãos diante das mazelas sociais pelas quais somos todos responsáveis. Pode parecer clichê falar tudo isso, mera bobagem. Não o é. Therezinha Mascarenhas é o nome dela. Há que se registrar.

RPF - Como é ser fã e escri-tor? Atrapalhou na hora de colocar em prática no papel?VF - Resposta: Sou fã, mas, acima de tudo, um jornalis-ta. Meu compromisso é com a verdade. Persevero em ser fiel aos fatos, à narrativa. Se formos ingressar numa discus-são envolvendo teoria da co-municação, perceberemos que qualquer narrativa, seja ela jornalística ou não, jamais será imparcial em sua totalidade, porque quem narra só o pode fazer a partir de uma interpre-tação própria, de um recorte da realidade. A questão não é fácil. Por isso há determinadas técnicas que nós jornalistas adotamos para minimizar este impacto interpretativo sobre a realidade que narramos. Eu me policio sempre. Mas esse é um exercício constante. Vivo sendo questionado se o meu livro é

de fã. Como é essa relação. Eu sempre explico que se por trás do termo “fã” houver a conota-ção de que algo deixará de ser narrado para não desmistificar o personagem, eu prefiro dizer que não se trata de um livro de fã e sim de trabalho de um jornalista-escritor. Quando se deixa de narrar algo importan-te em um livro, sobretudo bio-gráfico, por ser fã, a obra cer-tamente cairá em descrédito.

PRF - Como você de-finiria Clara Nunes?VF - Resposta: Uma mulher absolutamente generosa e crente no seu ofício. Por isso, o “Guerreira da Utopia” (título do livro). Clara acreditava nos amigos, no amor, no seu can-to como instrumento de con-ciliação, na sua arte como ve-ículo de transformação social.

RPF - A morte de Cla-ra ficou bem resolvida?VF - Resposta: A Morte da Clara sempre me intrigou, as-sim como desperta dúvidas a muitas pessoas até hoje. Eu fui cauteloso ao narrar o fim trágico do personagem. Clara morreu em função de um cho-que anafilático durante uma cirurgia de varizes. Ela teve uma reação alérgica a um dos componentes do anestésico e isso evoluiu para uma parada cardiorrespiratória e em seu cérebro formou-se um enorme edema. Clara teve morte cere-bral imediata, mas os médicos só descobriram esse estado cerca de 10 dias depois da in-tercorrência na Clínica São Vi-cente, na Gávea, onde ela se internou. Na época tomógrafo era um aparelho “top de linha” na medicina. No Rio só havia dois: um na Santa Casa e ou-tro na Clínica São Vicente. O da clínica estava quebrado. Pela primeira vez em 25 anos, o médico que chefiou a equi-pe que operou a Clara conce-

deu uma entrevista. Ele não só falou comigo revelando deta-lhes sobre a cirurgia e tudo o que aconteceu nos 28 dias de agonia até a morte da canto-ra, como solicitou o desarqui-vamento da Sindicância aberta pelo Conselho Regional de Me-dicina do Rio de Janeiro para a apuração do caso. Eu me pau-tei em documentos, não em versões, em boatos. Segundo a documentação a que tive acesso, não houve erro médi-co. Portanto os boatos de que o anestesista teria abandona-do a sala ou uma suposta falha dos equipamentos da sala de cirurgia também não proce-dem. Está tudo na documenta-ção a que tive acesso: um ca-lhamaço de papel disposto em 815 páginas, distribuídas em cinco volumes. Clara não mor-reu porque foi tentar um abor-to ou fazer uma inseminação artificial ou ainda porque usava drogas. Nada disso. Esses boa-tos também foram propagados na ocasião. Ela foi fazer uma cirurgia de varizes e por uma fatalidade seu organismo rea-giu mal a uma das substâncias do anestésico. Qual? Ninguém sabe e jamais saberá. Uma pessoa que é alérgica hoje a uma substância, amanhã pode não ser mais. E vice-versa. RPF - O livro poderia ser dito o definitivo so-bre a vida da cantora?VF - Resposta: Não creio nes-te adjetivo. Nada é definitivo. Acredito que fiz um trabalho correto, sério, sem firulas. Essa foi a história da Clara que eu pude contar, mas se existem outras pessoas com histórias tão boas ou melhores que as que narro no livro, que apre-sentem suas versões em nova obra. Perguntam-me sempre o porquê da demora na publica-ção de algo sobre a vida de uma das maiores cantoras do país. Eu sempre respondo que o fato de se deu devido à complexida-

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de de reunião de elementos que pudessem reconstruir fielmen-te a trajetória da Clara. Eu fui a praticamente todos os lugares pelos quais ela passou e/ou vi-veu em busca de personagens que pudessem contar e/ou re-constituir os fatos. Isso dá tra-balho e requer investimento..

RPF - Como foi a aceitação da família e dos fãs quan-do saiu editado o livro?VF - Resposta: Dividida. Al-guns amaram, outros não. Eu era fascinado pelo persona-gem Clara. Era aquela imagem que nos deixava embevecidos. Mas, no livro, procurei des-vendar a mulher Clara Nunes que se encontrava por trás do personagem, com todas as suas virtudes e defeitos, alegrias e tristezas. Era uma

mulher como qualquer outra. Enfrentava conflitos emocio-nais, idolatrava a maternida-de, amava, sofria, sonhava. O meu trabalho foi pautado pela seriedade e respeito em apurar fatos. Fossem eles “doces” ou “amargos”. Isso incomoda fãs e familiares que prezam pela “manutenção do mito”. No li-vro, eu revelo a grande diver-gência que havia entre Clara e Beth Carvalho. Isso virou uma enorme polêmica, com discus-sões em comunidades na In-ternet e tudo. Sinceramente, não vejo este episódio como algo polêmico. Aconteceu e ponto. Eram duas artistas em busca da delimitação de seus espaços. É importante enfa-tizar que elas sempre se res-peitaram (e muito) apesar das divergências. O livro não tem

proposta de levantar polêmi-cas, mas de procurar ser fiel à história do personagem. E, cla-ro, para ser fiel, os dissabores também precisam ser narra-dos, sempre respeitosamente.

RPF - Existe alguma par-te da vida da cantora que você se arrepende de ter colocado ou que poderia ter sido mais explorado?VF - Resposta: Não. Caso con-trário não teria lançado a obra.

RPF - Depois de Clara Nu-nes tem algum projeto para desenvolver sobre a vida e obra de algumap e r s o n a l i d a d e ?VF - Resposta: Sim, mas por enquanto prefiro falar do presente, daquilo que está realizado concretamente.

Clara Nunes no III FEstival Universitário 1970 (Rev O Cruzeiro)

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Clara Nunes | Jovem Guar-da 1969 (Rev O Cruzeiro)

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O ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim, perdeu mais de uma, ou melhor,

duas boas oportunidades de ficar calado quando declarou seu voto ao candidato de oposição E quan-do criticou colegas de Ministério, logo quem deveria dar o exem-plo da disciplina e do respeito.Ora, se foi assim, deveria ter deixado o Ministério. Falhou com o ex-presidente Lula e fa-lhou com a presidente Dilma. Pior, nada lhe acrescentou a declaração em face do can-didato derrotado duas vezes ter uma das maiores rejeições entre os políticos brasileiros.Configurada a saída do minis-tro, passamos a ter um proble-ma em potencial, quando o Bra-sil precisa de paz e união para se defender da crise que vem aí. E Nelson Jobim vinha sen-do hábil, com personalidade e independência para barrar as provocações aos militares, na ação deletéria de grupos que fazem do revanchismo a ban-deira de ação política. A cada dia se percebe que a sociedade brasileira efetivamente não está nessa de perseguir militares.E não apenas em respeito à anistia, que arquivou processos de réus confessos em atos de terror com vítimas fatais, fatos registrados em livros, inclusi-ve, mas por querer olhar para frente neste novo e surpreen-dente Brasil que surgiu com a eleição de Lula e cresce no atual governo. Temos de aperfeiçoar e não regredir no processo de pacificação da família brasileira.Nelson Jobim não teve a for-mação política de um mineiro,

mas foi respeitado na Cons-tituinte pelo seu saber jurídi-co, passou pelo Ministério da Justiça e pelo Supremo Tribu-nal Federal. Roberto Campos, cujas opiniões aprendi a endos-sar sem pestanejar, o aprecia-va pela moderação e bom sen-so evidenciados nos trabalhos constituintes. Agora não teria concordado com as atitudes surpreendentes, inexplicáveis.Os setores mais responsáveis da sociedade devem estar aten-tos para que a substituição do

ministro não leve inquietação ao país, que não considera de-sejável uma crise militar. Afi-nal os tempos são outros, mas uma crise militar desfalca a Na-ção de quadros de excelência.O Embaixador Celso Amorim é marxista-leninista, e turbinado pela militância de sua mulher. O que não o impediu de ter presi-dido a EMBRAFILME no governo João Figueiredo. E mais: é dis-cípulo do sr Marco Aurélio, que guarda antigos ressentimentos e restrições aos nossos militares.A presidente Dilma tem recebido manifestações de apreço, rece-beu muitos votos entre a oficia-lidade das três forças, inclusive

pela rejeição ao seu opositor. E ela mesma tem correspondido a estas manifestações, mostrando que, também da parte dela, as divergências são coisas do pas-sado e que só o olhar para frente conduz à ordem e ao progresso e a fará cada vez mais respei-tada. E tem mostrado um pon-to em comum com os militares: exerce autoridade e não admite insubordinação nem corrupção.A força da base política da pre-sidente e o respaldo popular confirmado em pesquisas de opinião idôneas abrem a pos-sibilidade de um amplo acordo nacional para as reformas e a modernização do Estado brasi-leiro, que anda inchado e per-turbado pela interferência polí-tica nos rumos administrativos e na escolha de prioridades.Não podemos ficar na de ter-ceiro mundo, onde sobrevive a burocracia, a corrupção, o cor-porativismo, a política externa dúbia em relação aos valores da liberdade e da democracia. Os companheiros da presidente não têm o direito de alimentar velhos ressentimentos e anti-gas crenças em relação a ins-tituições e até mesmo países.Todos devem ter cuidado na ação administrativa e con-trolar eventuais incontinên-cias verbais. O momento é de bom senso. A emenda não pode sair pior do que o soneto.

Aristóteles Drummond

DEFESA: O DECEPCIONANTE E O PREOCUPANTE

Fabiano Domingos

Jornalista, apresentador do progra-ma Isso é Brasil na rede Vida de TV e vice-presidente da Associação Co-

mercial do Rio de [email protected]

Rio de Janeiro - RJ

A presidente Dilma tem recebido mani-

festações de apreço, recebeu muitos votos

entre a oficialidade das três forças, inclu-sive pela rejeição ao

seu opositor.

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JulioLellis

Na tela: cinema e teatro em diálogo

No mês passado comple-taram-se dois anos que filmei “Mea Culpa”. Nes-

te mês, parto para uma nova produção. Notícias em breve.Uma dica prá lá de delicada: Marlon Brando, o grande íco-ne do cinema, fez sua estréia como ator na Broadway com a peça “Um Bonde Chamado Desejo”, mais tarde levada ao cinema como “Uma Rua Cha-mada Pecado”, sob a direção de Elia Kazan e roteiro do dra-maturgo Tennesse Williams. A obra ainda conta com a pre-sença da estrela Vivien Leigh (“E O Vento Levou”) em um de seus mais marcantes pa-péis. O filme foi indicado a 12 Oscars. No DVD, o espectador terá a oportunidade de assistir a cenas não vistas no cinema na época, pois a censura da “liga da decência” americana havia impedido. Eis a trama:Blanche DuBois (Vivien Lei-gh) muda-se para a casa de sua irmã Stella (Kim Hunter) e o cunhado Stanley (Marlon Brando). Blanche é uma mu-lher frágil que possui um pas-sado de sofrimentos que oculta histórias fantasiosas. A convi-vência com o cunhado Stanley a abala moral e espiritualmen-te, fazendo com que ela tenha alguns ataques. Stanley, um homem rude, que não respei-ta nem mesmo a esposa, julga sua cunhada uma mentirosa. Ele descobre que ela não dei-xou o trabalho como professora por causa da doença de nervos e sim porque se envolveu com um rapaz de 17 anos, fazendo com que seu marido se suici-dasse, e passa a atormentá-la

por causa disso. É neste filme que há as célebre frase que Blanche DuBois diz em memo-rável cena: “Eu sempre depen-di da bondade de estranhos”.Pois bem: vá a uma loca-dora perto de você e pe-gue o belíssimo filme. Agora, um “plus” ao tema: Pedro Almodóvar, o famoso e aclamado cineasta Espa-nhol, filmou em 1999 o filme “Tudo Sobre Minha Mãe”: o fil-me começa na noite em que Manuela (Cecília Roth) come-mora o 17º aniversário de seu filho, Esteban (Eloy Azarin), levando-o a uma apresenta-ção de uma peça em Madri. E a peça é “Um Bonde Cha-mado Desejo”! O rapaz de 17 anos fica tão encantado pela

Blanche Dubois daquela noi-te, a diva Huma Rojo (Marisa Paredes) e espera por ela na rua, na esperança de obter um autógrafo... e algo de forte e dramático muda a vida da-quele menino e de sua mãe.Como vemos, o texto de Ten-nesse Willians vem marcan-do gerações até hoje. Vale á pena ler o texto ou ver no cinema esta obra prima.Mudando o rumo de meu relato, antes que o Bon-de também me atropele:Li recentemente um excelen-te livro, “Ensaios de Cinema”, de L. G. de Miranda Leão, que é o mais constante crítico de cinema em atuação no Norte

e Nordeste. Nomes como os de Orson Welles, Stanley Ku-brick, Ingmar Bergman, Fran-çois Truffaut, Federico Fellini e Michelangelo Antonioni, entre tantos outros, vão passando por você ao longo da leitura como se fossem seus conhe-cidos. Esse homem tem a ca-pacidade de nos aproximar de diretores e filmes, como se estes convivessem conos-co e viessem para o jantar de cada dia em nossa casa. É leitura sobre cinema para quem é leigo e quer iniciar nesse mundo com clareza e distinção. O livro de L. G. tem prefácio do jornalista Rubens Ewald Filho, valendo a pena sua transcrição: “Tivemos o prazer de editar pela Coleção Aplauso da Imprensa Oficial uma seleção de seus textos. Mas que são apenas uma pe-quena representação do que ele escreveu nesta última dé-cada. Agora temos mais de seus escritos, maior e melhor. Neste livro, todos os textos referem-se a filmes, cineastas ou cinematografias especiais (como cinema alemão, sue-co, americano) e há uma ca-racterística que admiro: seu rigor. L.G. não escreve sem ter visto pelo menos três ve-zes o filme ou a obra a qual se reporta. Antes de tudo, é um livro para mergulhar de cabeça e alma, coração aber-to e olhos cheios de imagem”.Bons sonhos!

[email protected]

Rio de Janeiro - RJ

Como vemos, o texto de Tenesse Willian vem

marcando gerações até hoje.

Andre Damin

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PauloAntunes

Sobre os perigos e a eterna dor das vítimas crônicas

Há pessoas que, numa determinada época da vida, anunciam-se como

vítimas crônicas e passam a colecionar dores imaginárias, muros de lamentações, fome de ansiolíticos e, de praxe, um número razoável de pessoas outras que desejam ferozmente desse tipo de vítima se afastar. São amplamente conhecidas como “fura bolo”. Aonde che-gam tais criaturas “doloridas” com seu eterno destino trágico, gentes de todas as idades vão, gradativamente, afastando-se, com desculpas as mais varia-das, para se verem livres da pregação melancólica e repleta de temores infundados. É que ninguém suporta o outro quan-do este insiste e se torna rein-cidente na mania de reclamar.As vítimas crônicas são, sob o ponto de vista delas próprias, presas fáceis de humilhações alheias, preconceitos de todas as sortes, dores e doenças até então inimagináveis pela me-dicina. E seus ouvintes que não se metam a insinuar que estão fazendo drama ou ima-ginando coisas... O desagra-do pode-se elevar ao tom de inimizade mortal, pois esse tipo de ser humano reclama sempre para si o eco de sua desgraça, a aquiescência do semelhante em relação à sua tragédia pessoal. Ele quer no outro o espelho para seu cor-po e alma que estão constan-temente nublados, em per-manente estado de iminentes tempestades devastadoras.A identificação desse “doente de alma” é de fácil diagnósti-co: ele já responde a um sim-

ples bom dia com um “bom dia, nada. Essa noite não dormi de-vido a uma dor de cabeça que teve início há três dias. E como se não bastasse, meu chefe está pegando no meu pé e al-guém, entre meus colegas de trabalho, está de olho no meu cargo”. Daí é fácil adivinhar o final do enunciado: “Ah, não sei se vou aguentar tanta pres-são. Só comigo acontece isso”.E realmente só com as vítimas crônicas acontece o acúmulo de pequenos dramas humanos já que de tanto verbalizarem dores e receios imaginários acabam por concretizarem tais monstros na vida. Dizem que a palavra possui força, evoca o significado que dela se espera. Em algumas tribos antigas do

continente africano, palavras de significação negativa eram banidas a bem do progresso e da harmonia dos seres de suas comunidades. Os antigos de nossa sociedade utilizam-se de eufemismos ao se referi-rem ao que consideram ruim. Não é raro e árduo encontrar um ancião de nossa socieda-de que a falar câncer prefere a expressão “doença ruim”; que à informação morreu preferem “passou desta para melhor”. E são felizes, por-que criaram um antídoto lexi-cal contra os azares da vida.Não é tarefa nada fácil convi-ver com vítimas crônicas. Elas incendeiam caminhos, põem

“nãos” em estradas repletas de “sins”, veem o pior até no mais agradável instante de um al-guém que ousou e está conse-guindo ser feliz. Essas pessoas pensam que nasceram para pregarem a intranquilidade e a inquietação por onde passam. E, na pós-modernidade, en-contram um arsenal de exem-plos para engrandecerem sua teoria do “quanto pior, melhor”.Se você é um desses, ou tem de conviver com um desses, cau-tela: essa coisa pode ser conta-giosa aos de fácil influência. E o que uma vítima crônica mais deseja é um cortejo de segui-dores lastimando juntamente com ela as dores do mundo.Caso tenha de conviver com essas personagens de tragé-dias gregas em constante en-saio, certifique-se de que está munido de um arsenal de an-tídoto contra o negativismo. E se o imaginário nebuloso da vítima crônica que con-vive com você for ganhando demasiado espaço, não he-site em marcar datas e horá-rios com um bom psicanalista: para a vítima e para si próprio.E para se imunizar e imunizar o semelhante desse comporta-mento desagradável, cite sem-pre Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.

mestre em Letras (Linguagem, cultura e discurso), professor universitário e escritor

[email protected] Lafaiete - MG

Arquivo Pessoal

E realmente só com as vítimas crônicas acon-

tece o acúmulo de pequenos dramas...

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RaimundoCouto

Segurança ainda causa controvérsia

A prometida invasão dos carros chineses pode an-dar em pleno curso. Muita

propaganda e até fila de espera. Mas certas considerações preci-sam ser feitas antes da escolha de um “made in China” por um produto nacional de preço si-milar. Como a legislação brasi-leira não exige dos fabricantes, nem importadores de automó-vel, teste de impacto (frontal, lateral e traseiro), conhecidos como “crash-test”, os chineses desembarcam por aqui apenas com certificação de laboratório local que, evidentemente, não contam com a tradição nem experiência dos corresponden-tes ocidentais. Ou seja, não atestam terem se submetidos aos exigentes padrões de se-gurança do EuroNcap ou NCap, respectivamente entidades li-gadas à segurança veicular da Europa e dos Estados Unidos. São essas provas que determi-nam a capacidade de absorção e deformação da carroceria em um acidente e as consequências que sofrem os ocupantes. Exibir a comprovação de que o veículo seja de fato seguro, com testes de impacto feito através de um instituto reconhecido mundial-mente, vai agregar ainda mais

valor. Afinal não basta ter em seu pacote de equipamentos o Air-bag (bolsas de ar infláveis) e o freio com sistema que não blo-queia as rodas, o ABS, se estes itens não foram testados, efe-tivamente, em uma simulação prática que tenha tido a inspe-ção de órgãos de altíssima cre-dibilidade como os europeu e o norte-americano. Os chineses, em busca da trilha do carro ide-al, precisam provar que seus produtos foram exaustivamente testados e, no caso de um aci-dente de maiores proporções, motorista e seus passageiros possam estar seguros dentro do habitáculo. Segurança ativa e passiva são itens fundamentais para o sucesso de um produto. De que adianta a bolsa de ar inflável (Air-bag) abrir no mo-mento de uma colisão dianteira, por exemplo, se parte do motor invadir o habitáculo? Para evitar uma situação assim, a célula de sobrevivência deve estar pre-parada para receber as defor-mações causadas pelo impacto.Não custa lembrar que há, na China, quase uma centena de fabricantes e marcas, muitas de fundo de quintal, como existem, também, g r a n -des in-dústrias multina-c iona is , tradicio-nais fa-b r i c a n -tes do ocidente que se associam ao go-

verno local para produção de automóveis no maior mercado consumidor do mundo. A Chery e a JAC Motors já confirmaram fábricas no Brasil; a primeira em Jacareí, no interior de São Paulo e a segunda, apesar de ter anunciado o investimen-to de US$ 600 milhões, ain-da não definiu o estado onde será erguida a planta industrial. Além da certificação por um labo-ratório de alta confiabilidade em segurança veicular, outra prova em que os chineses deverão ser aprovados e que apenas com o passar do tempo será possível a comprovação: a durabilidade de seus componentes e a qualida-de da assistência técnica de sua rede de concessionários, atra-vés da reposição de peças. Em se tratando de China, tudo ainda é uma incógnita, mas nas déca-das de 60 e 70, os japoneses da Honda e os coreanos da Hyundai e da Kia ainda engatinhavam no mundo das quatro rodas, longe da potência que hoje exibem.

[email protected]

Belo Horizonte - MG

De que adianta a bolsa de ar inflável (air-bag) abrir no momento de

uma colisão dianteira, por exemplo, se parte

do motor invadir o habitáculo?

Arquivo pessoal

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Darlan Santos

BACK TO TOP

O maior temor de qualquer artista é o ostracismo. Deixar de ser re-conhecido, experimentar o gosto

amargo do fracasso, perder seus fãs – tudo isso equivale à “morte” artística, ao sepultamento de uma carreira, perante os olhos do público e do showbiz. Iro-nicamente, a “morte física”, muitas ve-zes, é o que concede ao artista a “imor-talidade” no inconsciente coletivo. Uma garantia de que será sempre lembra-do, principalmente, se a morte ocorrer precocemente, ou no auge do sucesso.O mais recente exemplo disso é Amy Wi-nehouse. Morta em 23 de julho, em pouco mais de um mês, teve seu disco Back to Black, lançado em 2006, lançado ao pos-to de mais vendido do século 21 no Rei-no Unido. Segundo a lista compilada pela Official Chart Company, o álbum ultrapas-sou Back to Bledam, de James Blunt, lan-çado em 2005, e tomou o primeiro lugar de vendas. Para Keith Caulfield, diretor do ranking de músicas da revista Billboard, há uma explicação para esse fenômeno post mortem: “Uma das razões para a subida meteórica do disco nas paradas é que muitas pessoas o estão comprando pela primeira vez. É uma ironia do des-tino que muitos só descubram o traba-lho de um artista depois que ele morre”.Como todos sabem, a trajetória de Amy foi marcada por muitos escândalos, fla-grantes de uso de drogas e vexames, que fizeram a festa da imprensa sensaciona-lista. Em seus últimos shows, a cantora chegou a interromper apresentações e esquecer as letras das próprias canções,

sendo vaiada, até mesmo, pelos fãs que, até bem pouco tempo, idolatravam-na. Muitos chegaram a afirmar que seu ta-lento estava definitivamente comprome-tido. Com apenas dois CDs lançados, em uma curta carreira (iniciada em 2003), o futuro de Amy Winehouse era incerto. Com sua morte, por mais cruel que pos-sa parecer, agora já se sabe qual será o destino da artista britânica: ocupar um lugar no “panteão” de artistas que mor-rem precocemente e atingem o status de “deuses”, já ocupado por Janis Joplin, Bob Marley e Kurt Kobain, entre outros. Mas, e se Amy não tivesse morrido? Teria fôle-go (e talento) para novos trabalhos bem sucedidos? Teria espaço entre as grandes cantoras, ou não passaria de um modis-mo de poucos discos? Nunca saberemos. O fato – incontestável – é que a mor-te foi uma ótima “estratégia” para ala-vancar a carreira de Amy. Em 1970, dois anos antes de sofrer uma overdose fa-tal, Jimi Hendrix parecia concordar com essa teoria, ao afirmar: “Uma vez mor-to, você está feito para o resto da vida”. Ele se referia ao êxito comercial de ar-tistas já falecidos. Algo que aconteceu com o próprio guitarrista e, agora, com Amy Winehouse. Para quem gostava da cantora, fica uma sensação estranha: festejar seu sucesso, mas lamentar sua ausência. Ironia de um triste destino, que a própria Amy ajudou a construir.

Jornalista e Doutor em Literatura [email protected]

Conselheiro Lafaiete - MG

Patrícia Santos

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Foto: GezaM

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Sociedadeem Rede

Desembargador Irmar Teixeira Campos recebe título

de Cidadão Honorário de BH

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Fotos: Fabiano Domingos

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ClaudiaCastellões

Os benefícios do vinho

Hoje fala-se muito dos be-nefícios do vinho para a saúde e bem-estar das

pessoas. Estudos recentes des-tacam a importância do consu-mo moderado do vinho para que estes benefícios sejam alcança-dos. Importante salientar que os limites diários admitidos por especialistas são fundamentais e que seu consumo exagerado pode gerar graves consequên-cias. Mas como saber quais são estes limites? Segundo os estu-dos científicos realizados, o con-sumo moderado de álcool corres-ponde à ingestão diária máxima de 500 ml de vinho, ou seja, o máximo de 3 taças de 150 ml. Porém essa quantidade varia de acordo com as características de cada pessoa como idade, peso, sexo etc. Por exemplo, as mu-lheres devem consumir de 25% a 30% menos do que os ho-mens, pois a mulher tem gordu-ra corporal maior e volume san-guíneo menor que dos homens. O que chamou a atenção do mundo para os benefícios do vi-nho para a saúde foi o fenômeno chamado de “PARADOXO FRAN-CÊS”, pois os franceses, apesar de comerem muitas gorduras, fumarem bastante e praticarem menos atividade física, que são fatores facilitadores para doen-ças cardíacas, têm menos doen-ças do coração. Este é o paradoxo francês e sua explicação foi que os franceses tomam mais vinho, sempre durante as refeições.Segundo as pesquisas, o vinho tomado nas refeições protege o coração das doenças cardiovas-culares isquêmicas e do infarto do miocárdio. Os principais res-ponsáveis pelos benefícios do vi-nho são os chamados Polifenóis

e Resveratrol que são originá-rios principalmente da casca das uvas, sendo mais abundantes nos vinhos tintos do que nos vinhos brancos. Possuem propriedades antioxidantes e antibióticas, di-minuem a incidência da ateros-clerose, artrite, trombose. Os polifenóis têm ação preventiva e curativa na placa e cárie den-tária, além de ser uma barrei-ra nas manifestações alérgicas.O Resveratrol tem o efeito de diminuir as taxas de LDL, o “mau colesterol”, que se de-posita nos vasos sanguíneos e de aumentar o nível de HDL, o colesterol “bom”. Os Flavo-nóides, também presentes no

vinho tinto, têm poder antioxi-dante até maior que a vitamina E, e por isso protegem o cora-ção dos efeitos das gorduras.O vinho é a bebida mais favo-rável para os obesos e diabéti-cos. Porém antes de começar a bebê-lo, é importante consultar o médico. A indicação, nesse caso, é de uma taça de 150 ml ao dia e, de preferência, o tinto seco ou vinho sem álcool. Sempre junto às refeições, para evitar a hi-per e ou a hipo-glicemia e por quem não te-nha contra-indicação e esteja com a doença controla-da. Nas

pessoas com diabetes, o vinho diminui a necessidade de medi-camentos; melhora o aprovei-tamento da insulina pelo orga-nismo; diminui a quantidade de insulina circulante e, como conse-qüência, auxilia na perder peso.As pesquisas também dizem que as pessoas que bebem vinho moderadamente, durante as refeições e regularmente, têm 20% menos câncer de qualquer tipo. E os pacientes que fazem tratamento com quimioterapia e/ou radioterapia toleram bem mais este tratamento, além de terem uma sobrevida maior.Portanto pode-se perceber que os benefícios são inúmeros. Aqui só enumerei alguns deles, não me esquecendo de que a palavra-chave no quesito vinho e saúde é a moderação. Seja no beber, no comer, pois uma vida saudável se resume à qua-lidade e não à quantidade. Que bebamos nossos vinhos com moderação para usufruirmos de todos os seus benefícios.

O vinho é a bebida mais favorável para obesos e diabéticos.

Arquivo pessoal

Enófila e empresá[email protected]

Conselheiro Lafaiete - MG

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Page 24: Edição II

Jamill BarbosaFerreira

LUXO E SIMPLIFICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO ESTILO

Apesar da pouca quantidade de clientes, a legítima alta costu-ra continua pelo mesmo cami-

nho de prestígio e elegância... Isso não é resultado somente da criati-vidade do costureiro de uma mar-ca, que não tem como influenciar na elegância ou no prestígio social de uma mulher, limitando-se à ofer-ta de moda para o bem-vestir, que é a base para o ‘chique’, cumprin-do regras protocolares para agradar à clientela, que manda no pedaço. O mercado de luxo dobra-se à cliente, é isso mesmo, não impõe medida de manequim nem compri-mento de saia ou altura de cintura; o mercado de luxo adequa a técnica e a tecnologia às necessidades da clien-te – que paga muito bem por isso –, e também aos seus caprichos. Uma mulher muito magra, por exemplo, ganha curvas com um vestido mais ajustado à cintura – ou “acinturado”, como eu gosto de dizer –, ombros ali-nhados pela postura ou pelos tecidos e volume no quadril [ver ilustração]. Isso é técnica a favor da cliente e é o que deve ser valorizado, consumi-do e incentivado na moda no geral. As mulheres mais elegantes do mundo, com seus nomes nas listas de clientes da alta costura, não copiam os figurinos completos da passarela – a menos que seja para um baile temá-tico –, cada uma tem seu próprio esti-lo; é individual, além das roupas, até

os penteados, maquiagens etc. Elas adaptam a oferta de luxo ao próprio estilo e tornam-se reconhecidas por isso. Mulheres como Carmen Mayrink Veiga, Paloma Picasso, Jacqueline de Ribes e Bethy Lagardère, por exemplo, são expressões de estilos reconhecí-veis em qualquer lugar do mundo. Isso é inteligente e muito chique. É pela qualidade que aprendemos e somente. Portanto, seja qual for o tipo fí-sico, a rotina ou necessidades de usar determinada cor que não está na car-tela dos desfiles da temporada, é im-portante que a cliente, ou o cliente, tenha consciência de que a obrigação da moda é a adequação, oferecendo harmonia entre seu vestir e o que é, faz e o que pretende dizer. Quando a moda é encarada pelo seu real papel para a humanidade, mesmo que para isso não seja uma expressão artística e economicamente cara, o consumi-dor conseguirá construir seu próprio estilo, uma identidade que, aliada ao comportamento bem educado e civili-zado, compõe os acordes da elegân-cia, indicando um estado de maturida-de, beleza e presença essencial para o bem-estar, auto-estima e satisfação.

Arquivo Pessoal

Jamill Barbosa Ferreira: blogueiro, escritor e crítico de moda.

[email protected] Grande - PB

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Legenda da Ilustração: Vestido atemporal da alta costura de Christian Lacroix, 1984, divulgação,

arquivo pessoal.

A fotografia [Arquivo Pessoal] mostra Gisele Bündchen após o desfile de alta costura de 60 anos da Dior, ainda vestida com a

versão feita por John Galliano do “Tailleur Bar”, dessa vez mais ajustado, preto, todo bordado. A maquiagem exageradamente moderna, assim como sapatos muito altos e desconfortáveis

mostram que, apesar da produção, a base de oferta e bom gosto mantém a linha da moda, que é chique, independente da idade da cliente. O clássico é luxuoso, sobretudo quando é aliado aos

detalhes técnicos que a moda oferece para deixar a cliente mais bonita e mais confortável. Óbvio que o material usado, desde os tecidos tecnológicos até os bordados com pedras e metais pre-ciosos, passam como simples detalhes quando o que as clientes buscam é “apenas” – e não menos especial ou menos caro por

isso – satisfação visual, conforto e estilo.

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Page 26: Edição II

MoisésMota

Carina Couto

Crédito: CubaGallery

Se me interrogam, porém, calar seria extinguir, por mim mesmo, poucos e tênues raios de luz que o

destino consentiu surgissem na minha existência.Edgar Roquette Pinto, pai do rádio no Brasil

Funcionário público, secretário geral da UAB em Conselheiro Lafaiete

[email protected]

IMAGEM

Ondas

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Page 27: Edição II

ChicoVartulli

CAMAROTE NA SAPUCAÍ

Já há alguns anos, faço o camarote de uma escola de samba do Grupo Especial do

Rio, na Sapucaí, a Vila Isabel. O primeiro passo é desenvol-ver o projeto em função do que pretendo fazer: criar, montar as estruturas e tudo mais que se fizer necessário. O que mais me admira é a rapidez com que toda a decoração tem que ser montada. Eles nos entregam o espaço (que tem três andares) um mês antes do Carnaval. Por causa do tempo curto, é preci-so ter uma equipe especializa-da no negócio, pois eles conhe-cem os trâmites para trabalhar no Sambódromo e os profis-sionais e equipamentos neces-sários para o processo fluir:

eletricista, forrador, criação de adesivagem, gerador etc.‘’Tudo para ontem’’, é o lema. São praticamente um mês, 24 horas no ar. Apesar da corre-ria, adoro fazer este trabalho: é um grande desafio correr contra o tempo. É preciso estar atento aos mínimos detalhes: caso chova, se há risco de go-teiras; o ar-condicionado tem que funcionar super bem; a localização do bufê e bares; a distribuição dos mesmos para que todos sejam bem servidos; a arquibancada que é montada para os convidados... E outras coisas mais. Nessa época do ano, minha cabeça fica a mil!Geralmente, os adesivos usa-dos na decoração devem cor-

responder ao enredo que a es-cola irá apresentar na avenida. Tenho a preocupação de mon-tar salas de espera, com mobi-liários modernos, confortáveis, para que os convidados descan-sem entre uma escola e outra.Pelo que escrevi, neste diá-rio, vejo que nós, arquitetos, podemos desenvolver proje-tos bem diferentes - e o que é melhor, num curto espaço de tempo. Certamente o tra-balho é árduo, mas compensa. Me sinto realizado com mais um projeto pronto e diferen-te. Na próxima edição dicas de decoração e arquitetura.

BRUNO RYFER

Fotos: Marcos Rodrigues

Arquiteto [email protected]

Rio de Janeiro - RJ

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Page 28: Edição II

DouglasHenriques

ESCAPAMOS DO ORÁCULO DAS DOENÇAS

A moda hoje é fazer tudo a distância. Trabalhar a dis-tância, consultar o advo-

gado a distância, estudar a dis-tância e tudo o mais a distância. Arrepio-me toda vez que vejo a propaganda da fé a distância pela TV. Isto mesmo: disque-oração. E nessa onda de modernidade – onde nos vemos às voltas com i-Pods, i-Pads e tablets de toda natureza, geringonças fantásti-cas que, a cada vez que ligamos, fazem coisas que nem podemos acreditar –, mesmo a distân-cia, paradoxalmente, ficamos muito próximos uns dos outros, ao menos virtualmente. Não se pode dizer que é uma proxi-midade completa, mas muitos chegam a afirmar que, com o advento dos e-mails e das inter-ligações cibernéticas em redes sociais, aumentaram significa-tivamente o contato que man-tinham com parentes e amigos

antes da novidade tecnológica.Na área da medicina, conforme tem noticiado a imprensa, os cientistas estão planejando fazer cirurgias a distância, com médi-cos no lado oposto do planeta do local onde está o paciente. Equipamentos raríssimos e de precisão absoluta. A ideia é que os procedimentos cirúrgicos se-

jam acompanhados presencial-mente por profissionais que se-riam capazes de intervir no caso de alguma emergência, com co-nhecimento suficiente para dar prosseguimento à cirurgia. Falta-me compreensão para entender a necessidade do médico a dis-tância nesse caso, mas, enfim... Essa coisa toda tem causado uma enorme confusão ética. Sobretudo com relação ao rela-cionamento pessoal entre médi-co e paciente. A maior questão é: será possível fazer consulta médica a distância? Como fazer uma anamnese, investigar uma história pregressa sem olhar no olho do paciente? Muitas vezes a consulta já está no final quan-do surge um detalhe que muda todo o diagnóstico. O médico pode perceber coisas omitidas pelo paciente (conscientemente ou não), através de cicatrizes, tiques nervosos, tom da cor da pele... E a pergunta não quer calar: Seria possível um site de consulta médica on-line sem prejuízo do correto diagnóstico?Eu não sei, não; mas, para mim, não é. Eu jamais aceitaria uma consulta médica a distância. Fi-caria inseguro. Não julgo que já haja tecnologia suficiente para que o médico, com o seu manejo, possa verificar todos os detalhes necessários para um julgamento seguro acerca de minha saúde. E acho que estou com a ra-zão, porque o CFM – Conselho Federal de Medicina publicou no dia 19 de agosto, no Diário Oficial da União, a resolução n. 1.974/2011, de onde se extrai, entre outras novidades, esta:

“Art. 3º É vedado ao médico:(...) J) Oferecer consulto-ria a pacientes e familiares como substituição da consul-ta médica presencial; (...)”Isso equivale a dizer que, por mais que estejamos tenden-tes a fazer tudo a distância, o médico deverá ser consulta-do pessoalmente, presencial-mente, como há quinhentos anos, para o bem de todos e felicidade geral da nação.E para proteção da sociedade contra alguns gatunos que, não sendo médicos de verdade, já poderiam estar se multiplicando em milhares de atendimentos a vinte mãos e uma assinatura só, numa distribuição de diagnósti-cos imprecisos mais semelhan-tes a um oráculo de doenças.

Advogado, administrador, presiden-te da ACLCL e Conselhro do Patri-

mônio Histórico Municipal de Cons. Lafaiete - MG

[email protected] não sei, não; mas,

para mim, não é. Eu jamais aceitaria uma

consulta médica a distância.

Arquivo pesoal

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DiegoRebouças

O PRESENTE DE TODA ARTE

Se tivesse nascido hoje, em tempos tão conectados, Clara Nunes provavelmente surgiria em um vídeo do youtube, que rapidamente seria postado em murais do facebook e twittado internet afora. Porque todo ar-tista é fruto do seu tempo. Por isso avaliar a produção artís-tica que surge no presente a partir de critérios nostálgicos é um exercício paradoxal, por-que aprisiona quando, na ver-dade, interagir com o produto artístico deveria servir para nos libertar – inclusive (e prin-cipalmente) de nós mesmos.Seja um poema de Drummond, um quadro de Van Gogh. Tem gente que diz que gosta por-que se identifica. Sou do clu-be dos que pensam que é jus-tamente o contrário: a gente gosta porque se des-identifica. Porque depois de uma música de Clara Nunes ou um poema de Drummond ou um qua-dro de Van Gogh, a gente já é alguém diferente. No jar-gão de hoje, seria o caso de dizer que Clara, Drummond e Van Gogh obrigam a que o software da nossa identidade sofra um update. E convenha-mos que um software atuali-

zado é sempre mais potente. Mas Drummond, Clara e Van Gogh são consagrados e reco-nhecer qualidade em quem já é consagrado é relativamente fácil. Muito mais difícil é ga-rimpar o novo, que pode estar em qualquer lugar. Trabalhan-do em uma fábrica de sabão, como foi o caso de Elza Soa-res. Ou num cemitério, como Rod Stewart. Porque qualidade não tem GPS. E isso pode ser um problema ou uma delícia. Depende do ponto de vista. Para isso, no entanto, é pre-ciso acreditar que há espaço para o novo. Porque tem quem jure de pé junto que hoje tudo o que poderia ser criado já foi criado. Sempre que ouço isso, tenho vontade de fa-zer como o jornalista Luciano Trigo, em seu livro “A grande feira”, que para e pergunta: a quem esse discurso serve? Porque, convenhamos: se tudo já foi criado, o artista de hoje fica na confortável posição de só repetir, reler, reproduzir. É claro que é preciso manter um diálogo com a tradição, conhe-cer o que foi feito antes, mas isso deve servir para mobilizar e incentivar quem está che-

gando e não para engessar. Desde que o novo não seja confundido com a novidade. Porque a novidade é até rela-tivamente fácil. Mas o novo é um risco. Um risco porque não diz respeito ao passado ou ao futuro, mas ao presente – e o presente é esse tempo que, por mais que tentemos, é sem-pre impossível de dar conta. Mais importante (e mais delica-do) ainda é equilibrar-se entre a tradição e o novo. Clara Nunes conseguiu, ao resgatar com-positores que estavam esque-cidos e valorizar a tradição das escolas de samba e incentivar os autores jovens que surgiam.Não importa se você está do lado dos que fazem ou dos que só consomem. “Sempre ande pela vida como se você tives-se algo para aprender – e você vai.” A livre tradução, com as devidas desculpas, é minha. O pensamento é do norte-ameri-cano Vernon Howard e esconde uma convocação ética impor-tante e que merece reflexão.

Diego Rebouças é jornalista e roteirista.

Rio de Janeiro - RJ

Tem gente que diz que gosta porque se identifica. Sou do clu-be dos que pensam que é jus-tamente o contrário: a gente gosta porque se des-identifica.

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Galeria deArte

CIDINHA DUTRA

Artista Plástica - Conselheiro Lafaiete - MG

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Dona Isa

Dep. Dr. João Nogueira Maria Augusta O Sanfoneiro Sr Antonio Macario

Dr. Ronaldo Pena Edson Zile Sr. Geraldo

A pintora Cidinha Dutra nasceu na cidade mineira de Conselheiro Lafaie-te. Iniciou sua car-reira artística aos 15 anos de idade e, desde então, dedi-ca-se plenamente à pintura sobre telas. Em julho de 2008, foi homenageada pela empresa de Correios e Telégra-fos – ECT – com selo nacional em

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que se publicou um de seus trabalhos. Este tratava da manifestação cultural popular do Congado. Sua galeria de arte pessoal expõe, perma-

nentemente, parte expressi-va de suas obras que revelam sua visão sobre as pessoas, o folclore, as paisagens, as flo-res e a arquitetura de Minas.

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As técnicas e habilidade que dão “vida” às obras foram aprimora-das ao longo de muita prática na arte da pintura e sofreram a influência positiva dos seus mestres, Bernadete Campolina Maia, Frederico Bracher Junior, Euclides Bottaro, Beatriz Lopes Vieira e Jair Gilberto Geraldo.

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DONA JANDIRA também em DVD

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Belo Horizonte, agosto de 2011 – Voz singular, ma-dura e timbre forte. Essas são as principais caracte-rísticas de Dona Jandira, uma das maiores revelações dos últimos anos. Com 72 anos de vida e quase 300 shows na carreira, a intérprete emocionará o público no show de gravação do primeiro DVD, nos dias 15 e 16 de setembro, no Teatro Sesiminas. A cantora foi selecionada entre mais de 200 projetos inscritos no Edital Regional Minas Gerais 2010 do Natura Musical. Acompanhada pelos músicos José Dias (baixo), Fernando Rodrigues (violão, cavaquinho e guitarra), Jairo de Lara (sax e flauta), Willian de Barros (viola e clarineta), Eliseu de Barros (violino), Eduardo Ma-cedo (cavaquinho), José Moura (teclado), Pedro Mo-reira (bateria), Aloysio Ribeiro (percussão), (Weller-son de Castro Coelho percussão), a artista mostrará o melhor da música brasileira. Canções de Lupicínio Rodrigues, Ary Barroso, Noel Rosa, Mário Lago, Ataul-fo Alves, Jacob do Bandolim e Vinícius de Morais ga-nham um brilho especial na voz da cantora. Além disso, Dona Jandira interpreta composições dos músi-cos mineiros, Murilo Antunes/José Dias, Chico Amaral, Clever Bambu, Renato Guima, Sérgio Moreira, Helvé-cio Viana/Ramon Maia, feitas especialmente para ela. Os shows contarão ainda com a participação dos convidados especiais Marco Lobo, Luiz Melodia, Sérgio Moreira, Paulinho Pedra Azul e Clever Bambu. O cenário será supercolorido, com painéis de patchwork (trabalho artesanal que tem como objetivo juntar re-talhos costurados de modo a formar desenhos) pro-duzidos pela própria artista. A criação do cenário é de Dokttor Bhu e a cenografia fica a cargo do Waguinho. Magela Cardoso é responsável pelas gravações do ví-deo. E a iluminação é por conta de Danilo Manzi. Mu-rillo Corrêa será o responsável pela técnica do som. A produção executiva é de Marisa Toledo e os arranjos são de Caio Gracco. José Dias é o diretor musical. Com patrocínio da Natura por meio do Natu-ra Musical e apoio da Transnorte, os shows de gra-vação do DVD marcarão uma nova fase na carreira de Dona Jandira. “Agora, as pessoas além de escu-tarem as lindas canções interpretadas por esta gran-de artista através do CD e dos shows, também terão a oportunidade de tê-la em casa, cantando em um show repleto de emoção e alegria”, comenta a pro-dutora da artista, Marisa Toledo. De acordo com ela, o público sempre pergunta carinhosamente ao tér-mino dos shows: “Posso levar a senhora pra casa?”. Além de uma excelente intérprete, cantora, Dona Jandira também é pedagoga, artesã e possui um histórico de vida que encanta pela simplicidade e determinação. Nascida em 1938, na cidade de Maceió (AL), Dona Jandira iniciou seus estudos musicais ain-da criança, com a mãe, que era professora de pia-no e acordeom. Devido aos preconceitos da época, não recebeu incentivo para seguir a carreira musical. Quando adolescente, formou-se em Pedagogia e optou pela profissão de educadora na qual trabalhou por longo tempo. Depois, se dedicou ao artesanato e, por isso, participou de várias feiras pelo Brasil. Em seguida recebeu convite para vir para Minas Gerais. No estado, se instalou na cidade de Ouro Branco e algum tempo depois foi morar no pequeno distrito de Itatiaia, onde fundou a Associação das Artesãs e o coral com crianças e adolescentes Os Bem-Te-Vis. Sua carreira musical começou no final de 2004, aos 65 anos, quando necessitou de uma car-teira profissional de músico pelas suas atividades

com o coral. Quando procurou a Ordem dos Músi-cos do Brasil, encontrou o músico, empresário, José Dias, que ficou encantado com a força e o talento dela. Com a ideia de investir na carreira de Dona Jan-dira como cantora profissional, convidou a produtora Marisa Toledo para trabalharem juntos. Assim, co-meçou uma parceria que obteve os melhores resul-tados possíveis em apenas pouco mais de seis anos de carreira, com total aceitação de público e crítica. Atualmente Dona Jandira mora em Belo Hori-zonte e realiza diversos shows por Minas e pelo Brasil.

Artista fará dois shows em se-tembro, para gravar o primei-ro DVD da carreira ao lado de grandes nomes da música bra-sileira como Luiz Melodia, Mar-co Lobo, Sérgio Moreira, Pauli-nho Pedra Azul e Clever Bambu

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Revista Ponto Final