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ANO 8 - Nº 88 - MARÇO DE 2016 - R$ 12,50 EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA

EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA - revistaecologico.com.br · Neusa Costa Santos Saraiva, via Facebook “A tragédia só aconteceu porque as leis ambientais ... a coleta seletiva, não desperdício

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ANO 8 - Nº 88 - MARÇO DE 2016 - R$ 12,50 EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA

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“Eu já cobri este pla nE eu posso cobri -

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Em toda lua cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

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revistaecologico ecologico

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Dezembro de 2015

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DIRETOR-GERAL E EDITORHiram Firmino

[email protected]

DIRETORA DE GESTÃOEloah Rodrigues

[email protected]

EDITOR-EXECUTIVOLuciano Lopes

[email protected]

DIRETOR DE ARTESanakan Firmino

[email protected]

CONSELHO EDITORIALFernando Gabeira, José Cláudio

Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani,

Nestor Sant'Anna, Patrícia Boson, Paulo Maciel, Ronaldo Gusmão e

Sérgio Myssior

CONSELHO CONSULTIVOAngelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos Carvalho, Roberto Messias Franco,

Vitor Feitosa e Willer Pos

REPORTAGEMCristiane Mendonça, Déa Januzzi,

Luciana Morais e Vinícius Carvalho

EDITORIA DE ARTEAndré Firmino

COLUNISTAS Antonio Barreto, Leonardo Boff,

Marcos Guião, Maria Dalce Ricas e Roberto Souza

REVISÃOGustavo Abreu

CAPAFoto: Victor Moriyama/Greenpeace

DEPARTAMENTO COMERCIALFábio Vincent

[email protected]

Sarah [email protected]

Representante Comercial BrasíliaForza CM - Comunicação e Marketing

[email protected]

Representante Comercial Rio de Janeiro

Tráfego [email protected]

MARKETINGJanaína De Simone

[email protected]

ASSINATURAAna Paula Borges

[email protected]

IMPRESSÃOLog & Print Gráfica e Logística S/A

PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL Ecológico Comunicação em

Meio Ambiente [email protected]

REDAÇÃORua Dr. Jacques Luciano, 276

Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) [email protected]

VERSÃO DIGITALwww.revistaecologico.com.br

(*) Os artigos são de responsabilidade

de seus autores e não expressam

necessariamente a opinião da revista.

1 RIO DE LIXO Após autoridades fecharem o aterro de Naameh, na

periferia de Beirute, no Líbano, e não apresentarem

um novo local para a disposição de resíduos, milhões

de sacolas de lixo vêm sendo jogadas em uma rua da

região. O "rio" que se formou no subúrbio da capital

libanesa é um protesto da população que há seis

meses convive com o problema.

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IMAGEM DO MÊS

CARTAS DOS LEITORES

CARTA DO EDITOR

GENTE ECOLÓGICA

ECONECTADO

ESTADO DE ALERTA

FELIS CONCOLOR

PÁGINAS VERDES

CÉU DO MUNDO

SAÚDE

ALMA PLANETÁRIA

EMPRESA E MEIO AMBIENTE

AQUECIMENTO GLOBAL

BIODIVERSIDADE

GESTÃO & TI

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

NATUREZA MEDICINAL

VOCÊ SABIA?

MEMÓRIA ILUMINADA

O SEGREDO (1)

OLHAR POÉTICO

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E mais...

CAPANA TERCEIRA PARTE DA REPORTAGEM SOBRE A

TRAGÉDIA DE MARIANA, UMA REFLEXÃO SOBRE O

FUTURO DA REGIÃO E O ACORDO ENTRE A SAMARCO

E OS GOVERNOS FEDERAL E ESTADUAIS PARA A

RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DO RIO DOCE.

Pág.

28

UMA AMEAÇA À SEGURANÇA ALIMENTAR, A DESERTIFICAÇÃO AVANÇA NO BRASIL. NO ENTANTO, HÁ COMO EVITÁ-LA

73ECOLÓGICO NAS ESCOLAS

PRIMEIRA PARTE DA SÉRIE RETRATA AS DESCOBERTAS DE FÓSSEIS EM MINAS GERAIS, DATADAS DE 1785

64AS PEGADAS DE LUND

ÍNDICE1

LIVRO “OS SERTÕES DO BRASIL” TRAZ SÉRIE DE FOTOS FEITAS POR JOSÉ ISRAEL ABRANTES SOBRE A NATUREZA AGRESTE

82ENSAIO FOTOGRÁFICO

FIEMG.COM.BRFIEMG.COM.BR

SS001316-A forca de quem faz-AD Revista Ecologico-Homem Fundo Roxo-205x275 mm-FIN.indd 1 3/4/16 6:47 PM

CARTAS DOS LEITORES1

MATÉRIA DE CAPA - E AGORA, MARIANA? (2)Especialistas analisam a tragédia do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG)

“Até agora, não vimos nada de concreto sendo feito, ministra Izabella Teixeira. O mundo inteiro já sabe quem são os responsáveis.” Neusa Costa Santos Saraiva, via Facebook

“A tragédia só aconteceu porque as leis ambientais brasileiras são uma piada, somado à ineficiência dos fiscais corruptos, que culminou em um acidente de proporções desastrosas e inseparáveis. Tem algum culpado preso? Nem vai ter. No Brasil só vai preso bandido pé de chinelo!” Marcos Naval, via Google+

“Isso não foi um acidente, foi um crime de omissão, pois os fatos já estavam apontando que iria acontecer.” William Silva, via Google+

MEMÓRIA ILUMINADA - CHICO SEM DESCULPASMatéria sobre o documentário “Chico – Artista Brasileiro”, que fala da vida e carreira do cantor Chico Buarque

“O documentário é imperdível! Assisti e adorei!” Christiane Carvalho Uchoa, via Facebook

ECOLÓGICO NAS ESCOLAS – BRASIL É CAMPEÃO!A reciclagem de latas de alumínio no país chega a 98,4% e bate recorde mundial

“Só porque uma embalagem é completamente reciclável não é sinônimo de sustentabilidade. Deve-se observar os fatores mais importantes, que são os custos de sua fabricação, o consumo de água e energia para chegar ao produto final. Se pesquisarem mais sobre isso, vão se assombrar com a contradição de todo este processo de produção e sua logística. Além do que ninguém está levando em conta os custos ambientais e energéticos para a extração e produção do alumínio para esses fins.”Juan Mario Arenas Sandoval, via Facebook

“O fato é bom, no entanto, só ocorre por conta dos catadores de latinha que as usam como fonte de renda. Para se comemorar mesmo, essa reciclagem teria de acontecer por conta da educação ambiental. Mas, acredito que estamos no caminho.”Lailla Coutinho, via Facebook

REFLEXÕES – O REGRESSO CLIMÁTICOO ator e ativista ambiental Leonardo DiCaprio fala sobre o papel da sociedade na questão das mudanças climáticas

“Guarde esse discurso na gaveta! Aqui no Brasil precisamos é investir em educação, segurança, saneamento básico e na recuperação das matas e florestas. Gastar com energias renováveis num país que a duras penas vem estabelecendo sua matriz energética é só para alienados!” Aloisio Cotta, via Facebook

“Que mais personalidades como Leonardo DiCaprio usem de sua arte para abrir a cabeça das pessoas sobre a questão ambiental. Investir em energia limpa é algo urgente e isso pode ser feito paralelamente ao oferecimento de uma melhor educação ambiental, projetos que fortaleçam a economia de água, a coleta seletiva, não desperdício de energia e, principalmente, fomentem o reflorestamento.”Kelly Lígia, via e-mail

“Com a quantidade de impostos que pagamos, é possível investir em tudo isso. O problema é a corrupção dos nossos gestores, que não fazem nada pela sociedade.” Romilda Alves, via Facebook

08 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

MINAS PLANTA O FUTUROProjeto liderado pela Codemig pretende plantar 30 milhões de árvores e recuperar 40 mil nascentes

“Minas Gerais foi do período colonial até hoje vítima de violações de sua natureza. A importância de restabelecer nossas florestas vai refletir no futuro.”Renato Pereira, via Facebook

RÉQUIEM DA IMPRENSA VERDEMais longeva e educativa publicação do país, Folha do Meio Ambiente deixa de ser impressa por falta de publicidade e apoio governamental

“Credito ao Silvestre Gorgulho não só o pioneirismo na imprensa verde no Brasil, mas também a motivação para que eu, ainda um publicitário, seguisse o incerto caminho do meio ambiente como profissão, lá em 1989, quando comecei. Silvestre é um dos mais cultos jornalistas que conheço, um grande especialista na história de Brasília e de seus construtores, e poderia estar em qualquer redação do país ocupando posição sênior. Silvestre, continue na internet - ou melhor ainda, reinvente-

FALE CONOSCOEnvie sua sugestão, opinião ou crítica para [email protected] motivo de clareza ou espaço, as cartas poderão ser editadas.

EU LEIO

“Como rotina da minha

profissão, tenho contato

diário com vários veículos de

comunicação. Mas o prazer

em ler a Revista Ecológico

é o de sentir e saber sobre

os movimentos de pessoas

e empresas em direção à

sustentabilidade. Os temas

ligados à qualidade de vida,

reciclagem, preservação da

natureza, espiritualidade e

ética são valores que tornam a publicação referência no

setor. Para mim, ecologia sempre esteve na moda e faz

parte dos meus princípios. E, por todos esses motivos, a

cada lua cheia aguardo ansiosa por mais uma edição.”

Cristiane Nobre, empresária e profissional de

Relações Públicas

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se e amplie-se nela, que é um espaço muito maior do que algumas páginas impressas, inclusive para promover educação.”Rogerio Ruschel, via site

RESGATE A TRADIÇÃO DO FOGÃO A LENHA COM UM ECOFOGÃO

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10 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

CARTA DO EDITORHIRAM FIRMINO | [email protected]

Parece estar escrito, desde sempre, no dicionário da nossa travessia sobre a Terra: o que nos move, mesmo feito gado indo para o matadouro das

mudanças climáticas, acelerando a colheita do que fazemos com a sua natureza, é a esperança. Quando estamos confusos e deprimidos, buscando um senti-do na vida, seja em nós mesmos ou no que fazemos ao planeta, é ela que nos salva: a “velha” esperança, por nós compartilhada, de sobrevivermos. A confiança de que algo bom irá nos acontecer. De que quanto maior o desamor e a escuridão da noite, mais próxima está a chegada de um novo amanhecer, a luz de um novo amor, como poetizava Vinicius de Moraes.

É com essa crença que, apesar de nossa escolha pre-ferencial pela dor, parece estarmos condenados a dar certo. Predestinados a evoluir sempre, tal como todas as espécies vivas do planeta.

É com esse pensamento de “re-acreditar” sempre na melhora natural do ser humano, que a Revista Ecoló-gico acompanha, em mais uma edição especial sobre o “Dia Mundial da Água”, o desfecho/acordo federal que se esboça para enfrentar e sanar o ocorrido com a tra-gédia de Mariana. Um acordo de reparação ambiental de R$ 20 bilhões, seguido de governança pela própria Samarco, que causou o acidente, ninguém pode negar e tem o aval dos ambientalistas mais moderados: ele é melhor que a falta de acordo e governança alguma, vide o perigo desse dinheirão entrar nos cofres públicos e nada chegar ao Rio Doce.

Foi o que não aconteceu há 15 anos, na tra-gédia da Mineração Rio Verde, em Macacos, Nova Lima (MG), onde cinco operários morre-ram; e a Ecológico também recorda, com muita dor, nesta edição. Um recado comparativo dito pela própria ministra Izabella Teixeira, para se manter a eterna vigilância: “O modelo do nos-so acordo com a Samarco só vai ser exitoso se tivermos o engajamento da sociedade”. É o cha-

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mado segundo passo que se espera do processo.Caro leitor, você também vai conferir uma outra tra-

gédia anunciada, muito maior e silenciosa, prestes a acontecer, segundo o professor, doutor em Arqueologia e especialista em Cerrado, Altair Sales Barbosa: o fim anunciado deste bioma brasileiro, o maior ecossistema da parte central de toda a América Latina, incluindo as veredas e os buritis de Guimarães Rosa.

Você vai saber ainda por que o arroto do boi no Bra-sil, hoje o maior criador de gado e exportador de carne do mundo, ameaça nos levar mais depressa ao inferno do aquecimento global.

Vai entender o que se passa na mente do “Cabeça da Terra”, como é chamado Ailton Krenak, um dos maiores líderes políticos e intelectuais dos povos indígenas no país.

E, por fim, para não perdermos de vez a velha espe-rança no mundo, no Brasil e em nós mesmos, vide a crise econômica e financeira que nos abate, além dos embates éticos e políticos, você vai reler o primeiro capítulo da série, acredite se quiser, de “O Segredo”, o best-seller de Rhonda Byrne, que publicamos original-mente na JB Ecológico, revista antigamente encarta-da no Jornal do Brasil.

No mais, é aguardarmos para ver se a nova novela da Rede Globo também irá tratar, mesmo de leve, mas

de forma esperançosa e educativa, a questão am-biental. O nome do seu personagem principal diz tudo: é o Velho Chico mesmo! Quando ainda lhe

havia água abundante, antes da sua degradação, como diria Drummond: 90% de água em seu curso e 80% nas almas das pessoas ribeirinhas.

É dele, do Velho São Francisco, um dos temas do “VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilida-de & Amor à Natureza”, que também estaremos falando em nossa próxima edição, com a cober-tura completa do evento, o registro de seus ven-cedores e recados de esperança hídrica.

Boa leitura! Até o dia 22, lua cheia de abril.

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12 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

GENTE ECOLÓGICA 1

“‘O Regresso’ foi sobre a relação do homem com a natureza, um mundo que teve em 2015 o ano mais quente já registrado.

Nossa produção teve que se mudar para a parte mais ao sul do planeta só para achar neve. A mudança climática é real. Está acontecendo agora. É a ameaça mais urgente à nossa espécie. E precisamos trabalhar coletivamente e parar de adiar isso. Precisamos apoiar os líderes mundiais que não

falam pelos grandes poluidores e grandes corporações. Mas que falam por toda a humanidade, pelos povos indígenas do mundo, pelos bilhões de pessoas desamparadas que serão as

mais afetadas por isso. Pelos nossos netos e pelas pessoas que tiveram suas vozes afogadas pela ganância política.”

LEONARDO DICAPRIO, ator norte-americano, ao receber o Oscar

de “Melhor Ator” por sua atuação no filme “O Regresso”

“O animal selvagem e cruel não é aquele que está atrás das grades.

É o que está na frente delas.”

AXEL MUNTHE, médico

e escritor sueco

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“Às vezes ouço passar o vento. E só de ouvir o vento passar, vale a

pena ter nascido.”

FERNANDO PESSOA, poeta português

“Toda crise éfonte sublime de

espírito renovador para os que sabem

ter esperança.”

CHICO XAVIER, médium espírita

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 13

CRESCENDO

“A natureza não sabe fazer perguntas como

nós. Mas tem respostas claras e diretas para o que

fazemos com ela.”

MALU NUNES, diretora-executiva

da Fundação Grupo Boticário

de Proteção à Natureza

“A pior guerra é a guerra contínua contra a

natureza, que é silenciosa, que destrói ao longo

do tempo.”

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, ex-presidente

da República

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DÉLIO MALHEIROSO vice-prefeito e

secretário de Meio

Ambiente de BH foi

visto, e virou viral,

descendo de seu

carro em uma das

avenidas menos

verdes da capital

mineira. Sozinho, ele

levantou e "amarrou"

várias mudas de árvores caídas no

chão, que estavam soltas de suas

estacas ao longo do canteiro central:

“Estou dando o exemplo de que cada

cidadão pode fazer o mesmo. E não

ficar contando só com a prefeitura

para zelar o verde da cidade”, disse

ele em seu blog.

“Não são poucos os exemplos de córregos canalizados, escondidos sob concreto,

que transbordam causando transtornos sérios para a

população. Esconde-se o curso d’água e sobre ele constrói-se

uma avenida, que funciona bem até que a chuva destrua

tudo novamente.”

PAULO CÉSAR OLIVEIRA, jornalista

e diretor-geral da VB Comunicação

“A natureza tem uma estrutura feminina: não

sabe se defender. Mas sabe se vingar como ninguém.”

MARINA SILVA, ex-ministra

de Meio Ambiente

GISELE BÜNDCHENEmbaixadora da Boa

Vontade do Programa

das Nações Unidas

para o Meio

Ambiente (Pnuma),

a modelo participou

recentemente de

um encontro na

sede da ONU no

“Dia Mundial da Vida

Selvagem” (03 de março), cujo tema

é “O futuro dos elefantes está em

nossas mãos”. No evento foram

debatidos os desafios e as novas

iniciativas para os países acabarem

com o tráfico ilegal de animais.

SÉRGIO MYSSIOREspecialista em

Meio Ambiente e

Urbanismo, atual

conselheiro titular

estadual no Conselho

de Arquitetura e

Urbanismo de Minas

Gerais (CAU-MG)

e do Conselho

Municipal de

Meio Ambiente de Belo Horizonte

(Comam), Myssior foi nomeado

diretor de Sustentabilidade

do Sindicato das Empresas de

Arquitetura e Engenharia Consultiva

de Minas Gerais (Sinaenco-MG).

ECONECTADOCRISTIANE MENDONÇA1

CINCO PARQUES FLORESTAIS DE MINAS QUE VOCÊ PRECISA CONHECERMinas Gerais não tem mar, mas possui reservas naturais repletas

de cachoeiras de encher os olhos (e a alma). Por isso, a matéria

que indica cinco parques verdes do estado foi a mais acessada,

no site da revista, durante o mês de fevereiro. Se você também

deseja conhecer e visitar pontos turísticos mineiros ainda verdes e

preservados, não deixe de se informar em: http://goo.gl/MMx3Kq

MAIS ACESSADA

“Não há debate sobre

o clima; a mudança

climática é inequívoca,

verdadeira e urgente de

resolver. As escolhas

que fazemos agora

asseguram ou eliminam

o nosso futuro.”

@JimCameron - James Cameron,

cineasta canadense

“Não há um só índio entre 513

deputados e 81 senadores. Se a

PEC 215 for aprovada, nunca mais

haverá demarcação de terra no Brasil

#PEC215Nao.”

@silva_marina - Marina Silva,

ex-senadora

“Os jovens

desempenham um

papel essencial

para a construção

de um novo futuro

para o mundo

árabe, integrado à

economia global.”

@Lagarde - Christine Lagarde,

diretora-gerente do FMI

“Muito triste...O ser humano ainda tem

que aprender muito com a natureza.”

@gewbank - Giovanna Ewbank, atriz

“Pelo menos uma a duas vezes

por semana, é preciso dar uma geral

na casa. Água parada e descoberta,

nunca!” #zikazero

@drfernandoneuro – Fernando Gomes

Pinto, neurologista

“Pobreza global: obesidade supera

a fome no Brasil e, na França, lei

obriga a doar alimentos.”

@AmeliaGonzalez8 - Amelia Gonzalez,

jornalista

“62 pessoas têm a

mesma renda de 3,5

bilhões, segundo a

Oxfam! Alguma coisa

está mesmo fora da

ordem!”

@ReinaldoCanto -

Reinaldo Canto, jornalista

TWITTANDO#ZIKAZEROAs temidas doenças dengue, zika

e chikungunya, transmitidas pelo

mosquito Aedes aegypti, têm causado

grande apreensão nas pessoas. Para

reforçar ações de prevenção, como

não deixar água parada em nenhum

recipiente, já existem aplicativos que

ajudam a mapear focos de possível

reprodução do Aedes. Um bom

exemplo é o app AntiZika. Criado por

universitários da Escola Superior de Tecnologia da Universidade

do Estado do Amazonas (EST-UEA), o programa permite que você

tire fotos de reservatórios de reprodução do mosquito e coloque no

mapa. Ao acessar o aplicativo você também pode visualizar quais

lugares no seu bairro são mais críticos e até mesmo utilizar a

informação para denunciar às autoridades responsáveis.

Em Belo Horizonte, o número é 156. O aplicativo é gratuito

e pode ser baixado no Google Play.

FICA A DICA!O site da Revista Ecológico é atualizado diariamente com notícias

sobre meio ambiente e sustentabilidade. Política e educação

ambiental, denúncias, bons exemplos, dicas e entrevistas com

especialistas são alguns dos assuntos publicados.

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ECO LINKS

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A LIÇÃO FOI APRENDIDA?

A Samarco tem obrigação de arcar com a recupera-ção de tudo que causou com a ruptura da Barra-gem de Fundão. Mas isso, nem de longe, significa

salvar o rio Doce. Esta tarefa depende do poder público - governos federal, estadual e municipal, do Legislati-vo - e da sociedade, que é cúmplice, omissa e também responsável por sua agonia. A população das cidades que foram atingidas pela lama da Samarco, ficaram sem água ou sofreram prejuízos, com exceção provável de al-guns “gatos-pingados” e ambientalistas “chatos”, enxer-ga o rio como depósito de esgoto e lixo.

Não tivemos acesso ao plano de recuperação apre-sentado pela Samarco. Mas sabemos que o Rio Doce e a maior parte de seus afluentes já estavam em proces-so de agonia antes da ruptura da barragem, em fun-ção de: mau uso do solo, representado pelo alto nível de erosão que entupiu seu leito de terra; destruição de suas matas ciliares e nascentes; ocupação urba-na desenfreada; lançamento de esgotos domésticos e industriais; lixo; e construção sequencial de barra-gens para geração de energia elétrica. Estruturas que ameaçam matar o Rio Santo Antônio, um dos poucos afluentes que mantêm qualidade ambiental. Além de tudo isso, estão na lista de ameaças ao Rio Doce a abertura e manutenção de estradas por prefeituras e particulares, agricultura, minerações etc.

A lama da barragem obviamente foi um duro e de-cisivo golpe nesse processo de morte. Mas atingiu muitas áreas que, sob ponto de vista ambiental, já estavam degradadas - como as margens do Rio Doce, onde a lama está agora depositada.

É preciso então saber se a recuperação consistirá em voltá-las à condição de antes da lama. Ou se elas serão realmente recuperadas com plantio de mata ciliar. A segunda opção esbarra na concordância dos proprietários rurais que ocuparam as margens para atividades agrícolas ou criação de gado. E a empresa não pode obrigá-los a aceitar o plantio, que prevê, no mínimo, restrições de uso. Se o governo quer realmen-te recuperar o Rio Doce, o que duvido, a oportunidade deveria ser aproveitada. Mas, se assim for, terá de ado-tar medidas diversas e até conflitivas com os proprie-tários. Para a empresa, retirar a lama é provavelmente mais fácil e mais barato do que recriar a floresta que protegia as barrancas do rio contra desmoronamento

e criava condições para a vida aquática e terrestre.A recuperação da fauna terrestre, que foi dura-

mente atingida, principalmente nas áreas de encosta onde ainda existiam ambientes naturais como flores-tas, é um ponto fundamental.

CAMINHOS A SEGUIRPenso que não há muito que fazer em termos de diag-nosticar o tamanho do impacto. E mesmo se é possível questionar a utilidade disso. Pragmaticamente, a Sa-marco deve assumir compromisso, com projeto execu-tivo completo, incluindo monitoramento de resultados e proteção contra incêndios, de recriar esses ambientes e transformar a área em unidade de conservação de proteção integral. Se as terras não forem de sua proprie-dade, deve comprá-las. Como são impróprias para ativi-dades econômicas pela declividade, qualidade do solo, áreas de ocorrência de Mata Atlântica protegidas por Lei, o custo é baixo. Penso também que as barragens de-vem ser definitivamente encerradas, com recuperação e anexação às unidades de conservação propostas.

A recuperação da fauna aquática é fundamental e depende de fatores pouco controláveis. É preciso aguardar e monitorar a sedimentação e dispersão da lama ao longo de seu leito e no mar. A proteção de afluentes, principalmente o Rio Santo Antônio, é ação indispensável na recuperação. Será a partir de-les que o Doce será recolonizado. Ele é um rio de pi-racema e o maior berçário de reprodução da bacia. Também não é demais lembrar: se a Semad conceder

16 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

LAMA na foz do Rio Doce,

no Espírito Santo:

biodiversidade impactada

“Não deixar ‘um tostão’ nas mãos do governo do Estado, da União e das prefeituras, criar instituição privada para administrá-los, com espaço institucional para acompanhamento pela sociedade, são parâmetros para acreditarmos que a

tragédia causada pela Samarco servirá realmente de lição neste país.”

(*) Superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).

licença para construção das Pequenas Centrais Hi-drelétricas (PCHS) em “cascata” projetadas para ele, adeus fauna aquática! Adeus, recuperação do Rio Doce! Adeus, “demagogia ambiental”!

Na verdade, o verbo “recuperar” é impróprio. O cor-reto é “paralisar” a degradação. Recuperar suas matas ciliares, proteger nascentes e afluentes que o alimen-tam, recuperar os milhares de hectares de terra que se transformaram em deserto por causa do desmata-mento, fogo e super pastoreio, agricultura em encos-tas, tratar esgotos e não jogar lixo é tarefa gigantesca, desafiadora, longa. Mas possível.

Retirar a terra que durante séculos entupiu o leito do Rio Doce devido ao mau uso do solo e a lama que desceu da mineração e reduziu sua profundidade mé-dia para 90 cm é impossível. Mesmo assim, continua sendo um rio; e sua água, vital para as populações hu-manas que vivem em sua bacia, mesmo sem ter cons-ciência ou preocupação com ele.

Há muitos atores sérios atuando nessa discussão.

Mas seu número é bem menor que o dos oportunis-tas que enxergam nos recursos que a Samarco está aportando ou será obrigada a fazê-lo a chance de ganhar dinheiro ou desviá-lo para outros fins. Não deixar “um tostão” nas mãos do governo do Estado, da União e das prefeituras, criar instituição privada para administrá-los, com espaço institucional para acompanhamento pela sociedade, são parâmetros para acreditarmos que a tragédia causada pela Sa-marco servirá realmente de lição neste país.

E o governo do Estado e a União teriam de garantir a execução das ações ambientais a serem realizadas, pois lhes cabe fazer cumprir a lei. Mas, alguém acredi-ta que Fernando Pimentel considera que salvar o Rio Doce é “política de Estado”? Que contrariará interesses mesquinhos de ruralistas, prefeitos, políticos etc?

Importante: essas interrogações valem para qual-quer outro governo, de qualquer partido.

SELVA DE CONCRETO FELIS CONCOLOR

[email protected]

Alô, alô, meus leitores de antigamente! Vocês se lembram de mim, Felis Concolor? Essa veia onça parda, suçuarana, que costumava infer-

nizar quem estivesse fora da lei da vida? Pois é. Como naquela canção do Roberto... “eu voltei! Agora pra fi-car, porque aqui, aqui é meu lugar...”.

É verdade. Também conhecido como puma brasi-leiro, fui obrigado a voltar para conseguir confiar no-vamente na espécie humana, flagrada que fui outro dia mesmo, adivinha onde? Em plena Serra do Cipó, mais precisamente no Ermo das Gerais, logo depois da Lapinha, no município de Santana do Riacho. Tava subindo rumo ao Cruzeiro e ao Pico do Breu, em direção a Conceição do Mato Dentro, quando dois jo-vens ciclistas, Leandro Figueiredo e Paulo Henrique Moreira, me flagraram.

Os dois esportistas acharam que me assustei. As-sustei, não. Apenas saí de cena, faminta. Contornei o rio e fui até o acampamento deles para ver se ti-

É O FIM DA PICADA!nha sobrado algo de comer. E o que li numa edição já amarelada do jornal “O Tempo”, na porta da barraca? Que a empresa Via 040, nova administradora da Ro-dovia BR-040, já estava iniciando o corte de mais de 15 mil árvores frondosas nas margens e nos canteiros centrais, entre o trevo de Ouro-Preto e Curvelo, para implantar um novo deserto ao longo de... 145 quilô-metros de distância entre os dois locais!

A alegação dada pela empresa, de uma ignorância e desamor profundo pelo meio ambiente e a natureza que nos resta, é pior que soneto antiecológico: “Para diminuir a gravidade dos acidentes e aumentar a se-gurança dos motoristas naquele trecho”. E, o fim da picada: com autorização dada pelo Ibama, cuja tra-dução é “Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis”.

Segundo a concessionária, o fim das árvores “irá permitir que sejam criadas áreas de escapes livres de obstáculos fixos aos motoristas”. E, assim, “que eles

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A TRAGÉDIA das 15 mil

árvores condenadas, inspirada

na canção de Toni Tornado: "A

gente tambem morre na BR-3"

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possam reduzir a velocidade dos carros ou mesmo retornar o controle da direção sem se chocar contra uma árvore, o que pode aumentar consideravelmen-te a gravidade de um acidente”.

Em sua defesa, essa tal de Via 040 disse ter se basea-do em vários estudos sobre o tema, o que cabe a essa suçuarana aqui perguntar: será que ela ou o Ibama contaram quantos passarinhos não terão mais onde fazer seus ninhos e se reproduzir, tal como soltar seus cocôs com sementes, que caem no chão e fazem a natureza recriar a biodiversidade, naturalmente? E a custo zero, para todos nós?

Li também no jornal, e pasmei com o que disse o especialista em trânsito (e não na universalidade da vida) Silvestre de Andrade Filho (observem a ironia do nome dele - Silvestre): “O corte é algo praticado na engenharia mundial, em outros países, e faz parte do manual de segurança da engenharia”. Parece que ele não sabe que, há muito, já existe a “engenharia ambiental”, e ela é irreversível, se qui-sermos sobreviver neste planeta. Ele continuou: “A retirada das árvores não elimina um acidente, mas minimiza muito o impacto da batida. É uma me-dida válida”, ajudou a sentenciar.

Nessa visão surrealista, ele, a Via 040 e o Ibama encarnam o mesmo pensa-mento que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, nos anos 2000, que criou polêmica internacional ao propor o corte das árvores das florestas públicas para evitar incêndios em seu país. O plano e o manual de Bush tam-

bém incluía a retirada das matas fechadas e de arbus-tos, para conter o avanço das chamas. Sem natureza, era a sua tese, o cidadão americano estaria salvo.

Bush, então presidente do país considerado um dos maiores poluidores do mundo, entrou para a his-tória como o inimigo número um da humanidade, por se recusar a assinar o Protocolo de Kyoto contra o aquecimento global e defender sua outra tese maior, mais antropocêntrica impossível: a de o ser humano estar acima da natureza e ser mais importante que ela, vide o aceleramento das mudanças climáticas que ele provocou. E a escola antiecológica e insus-

tentável que ele continua fazendo. Fica, então, a sugestão dessa onça

veia. A Via 040 prestar-lhe uma paritá-ria homenagem, colocando uma pla-ca de asfalto e cimento, com a foto e o nome dele, quando da inauguração da futura rodovia sem árvores. Passa-rinho algum estará presente, nem irá defecar sementes nas nossas cabeças, o que na roça interior significa “sorte”. Apenas o asfalto mais quente e a na-tureza morta na paisagem ensolarada, monótona e sonolenta.

Azar nosso!

“Nos anos 1990, a Prefeitura de BH planejou uma

reforma completa para a Avenida do Contorno. Tudo

seria revisto e melhorado. Mas, ao ser examinado

pelos órgãos ambientais, notou-se um problema

sério: o projeto incluía o corte de centenas de

árvores. O objetivo era alargar a pista para os carros,

sacrificando os canteiros centrais.

Deu-se uma discussão em torno da escolha "árvores

versus carros”. Ao fim, quase todas as árvores

permaneceram. Boa parte delas, ipês."

Paulo André Barros (*) Jornalista e geógrafo, colaborador da Arca Amaserra.

Fonte: O Tempo

BEAGÁ SORTUDA

OLHEM EU aí, em carne e osso, flagrada por dois

jovens ciclistas na região do Ermo das Gerais,

logo depois da Lapinha, distrito do município

de Santana do Riacho, no Parque Nacional da

Serra do Cipó, a 160 km de BH: “Eu voltei...”

PRIMEIRA EDIÇÃO da JB Ecológico, em 2002, com o Bush na

capa: na época, ele declarou que os EUA eram o maior poluidor

do mundo. E que, se fosse preciso, iriam "poluir ainda mais para

evitar uma recessão na economia americana"

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Por que uma mudança de atitude em relação à preservação da água é tão difícil de acontecer?O homem atual é o resultado de dois processos evolutivos que se sobrepuseram ao longo do tempo: o biológico, que compartilha com os demais seres vivos e que funda-mentalmente consiste na transfe-rência de adaptações biológicas, que facilitam a sobrevivência e a seleção das espécies; e o cultural, resultado dos avanços tecnológi-cos logrados pela espécie humana em sua evolução biológica. A evo-lução cultural tem significado, por

ALTAIR SALES: “A extinção do berço das águas,

como conhecemos o Cerrado, irá agravar a crise

hídrica até à parte central da América Latina"

Luciano [email protected]

Para quem acha que água saindo da torneira é sinal de infinitude, é melhor rever seus valores, porque a realidade e o futuro são desanima-dores. A crise hídrica é um fantasma que veio para ficar. E será cada vez mais grave caso ecossistemas como o Cerrado, que abrigam grandes ba-cias hidrográficas no país, entrem em colapso. É o que diz o antropólo-go e doutor em Arqueologia Pré-Histórica pelo Smithsonian Institution National Museum Of Natural History (EUA), Altair Sales Barbosa.

Nesta entrevista concedida à Ecológico, ele alerta que qualquer dano feito ao bioma, como desmatamento para plantação de monoculturas, é irreversível e tem impacto direto na absorção de água pelos lençóis freáticos que alimentam os rios. Também denuncia as grandes empresas multinacionais que se apossaram das águas. E aponta que a privatiza-ção do recurso natural já está acontecendo.

Sales, que é fundador do institutos Goiano de Pré-História e Trópico Subúmido em Goiânia (GO), não é um pessimista. O que ele nos mos-tra é a realidade cientificamente provada de que a revitalização com-pleta do bioma já não é mais possível. E que os efeitos da degradação ambiental que todos nós permitimos poderão ser uma conta a ser paga com mais racionamento, desemprego, epidemias e miséria num futuro próximo. Confira:

PÁGINAS VERDES1

um lado, a organização do homem em grupos sociais que tem gerado problemas demográficos, de saú-de, educação, institucionais etc. E, por outro lado, agregou o fluxo do dinheiro como resultado dos inter-câmbios e das transações, gerando assim uma série de variáveis eco-nômicas relacionadas com pro-dução, capital, trabalho, comér-cio, indústria, consumo, níveis de preços, maximização de ganho... A aplicação das diversas tecnologias sobre as biogeoestruturas naturais não só originou diversas manu-faturas como também criou uma

A EXTINÇÃO QUE

AMEAÇA O BERÇOF

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grande quantidade de ecossiste-mas artificiais: cidades, metrópo-les, campos de cultivo, pastagens artificiais, represas, canais de re-gadio, rodovias, vias férreas, aero-portos, grandes usinas, complexos atômicos, etc. E, para tudo isso funcionar, água é fundamental.

Mas não é infinita.Exato. O fato é que hoje temos conhecimento suficiente para afirmar que a água é um recurso finito, que em breve vai faltar em várias partes do mundo, que os aquíferos que sustentam os rios estão na base mínima de suas re-servas e que com a retirada da vegetação nativa a recarga desses aquíferos se torna impossível. Sa-bemos que precisamos de água em nossas casas para a produção de alimentos e de energia, para a indústria, mas também sabemos que sem saneamento a água, que é fonte da vida, se transforma num veneno letal.

Qual a avaliação que o senhor faz da crise hídrica que vem assolando o Brasil?A tecnologia, que possibilitou ao homem sair do seu planeta e fin-car bandeirolas em outros rincões do Sistema Solar, trouxe também o consumismo voraz como modelo de desenvolvimento e progresso. E, em nome deste, uma pequena parcela da humanidade moderna, de posse dessa alta tecnologia, é re-presentada por grandes empresas multinacionais desvinculadas dos estados. E, por isso, sem responsa-bilidade social e moral, se apossa-ram das águas modernas, poluindo os rios, construindo represas, des-viando e transpondo os cursos dos corpos d’água, sem levar em consi-deração as histórias evolutivas par-ticulares de cada lugar.

A privatização das águas será então um caminho sem volta?

“Os buritis, eternizados na obra de Guimarães Rosa, levam até 500 anos para atingir 30 metros, em

ambientes já degradados. Se o Cerrado morrer, eles não sobreviverão em outro lugar.”

ALTAIR SALES BARBOSAAntropólogo e doutor em

Arqueologia Pré-Histórica

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 21

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Os donos do mundo já estão fa-lando em privatização das águas, ou seja, querem considerá-la apenas um bem comercial, em contraposição aos que a veem como patrimônio da humanida-de e que, por isso, deve ser pre-servada e não privatizada. E mui-to menos transplantada. Agindo dessa forma, os grupos podero-sos, que em nome de um falso progresso já desestruturaram o território, orquestram agora o controle do planeta pela privati-zação da água.

A crise hídrica é uma confirmação de que o Cerrado está em vias de extinção? Sim. O Sistema Biogeográfico do Cerrado, que ocupa desde a au-rora do Cenozóico à parte cen-tral da América do Sul, também é conhecido como o “berço das águas” ou a “cumeeira” do conti-nente, porque é distribuidor das águas que alimentam as grandes bacias hidrográficas da Améri-ca do Sul. Isso ocorre porque, na área de abrangência do Cerrado, encontram-se três grandes aquí-

feros responsáveis pela formação e alimentação dos grandes rios continentais. Um deles, e o mais conhecido, é o aquífero Guarani, associado ao arenito Botucatu e a outras formações areníticas mais antigas. Esse aquífero é respon-sável pelas águas que alimentam a bacia hidrográfica do Paraná, além de alguns formadores que vertem para a bacia Amazônica.

E os outros dois?São os aquíferos Bambuí e Uru-cuia. O primeiro está associa-do às formações geológicas do Grupo Bambuí, o segundo está associado à formação arenítica Urucuia, que em muitos locais está sobreposta ao Bambuí. Em certos pontos, há até um conta-to entre os dois aquíferos, ape-sar de existir entre ambos uma imensa diferença cronológica. Os aquíferos Bambuí e Urucuia são responsáveis pela formação e alimentação dos rios que in-tegram a bacia do São Francis-co e as sub-bacias hidrográficas do Tocantins, Araguaia, além de outras situadas na abrangência

do Cerrado. Além dessas im-ponentes bacias hidrográficas de dimensões continentais, no bioma ainda nascem águas que dão origem a bacias hidrográ-ficas independentes de grande importância regional. Assim, representada por uma comple-xa teia, as águas que brotam do Cerrado são as responsáveis pela alimentação e configuração das grandes bacias hidrográficas da América do Sul.

Como esses aquíferos são alimentados?O aquífero possui área de descar-ga e recarga. A área de recarga se situa nos chapadões ou em suas áreas mais planas. Quem exerce a função de alimentar os lençóis profundos é a água da chuva, que penetra no solo por meio da ve-getação, especialmente a nativa. No caso específico das plantas do Cerrado, elas possuem um siste-ma radicular extremamente pro-fundo e complexo, muito eficien-te na absorção das águas pluviais.

De que forma uma área de

“Sem saneamento, a água, que é

fonte de vida, se transforma em um

veneno letal.”

22 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

FOTO: SÉRGIO G. COUTINHO

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plantação ou criação de gado impacta a absorção de água pelo solo/aquíferos? Com a introdução da monocul-tura, as plantas do Cerrado são substituídas por vegetais com raízes subsuperficiais, que não sugam as águas como as plantas nativas. A consequência é que, com o passar dos tempos, as águas dos aquíferos foram dimi-nuindo. Num primeiro momento, ocorre o fenômeno denominado “migração de nascen-tes”, que se deslocam das partes mais eleva-das para as partes mais baixas. Num segundo momento, os cursos d’águas menores ini-ciam um processo de diminuição da vazão e, com o tempo, o desa-parecimento. E assim por diante, são veias menores que deixam de irrigar as maiores.

No caso do fantasma da crise de água que vem afetando grande parte do Brasil nos últimos anos, o problema então jamais será solucionado em sua totalidade?A situação está inti-mamente ligada a dois fatores: o primeiro é a estiagem prolongada provocada por fatores que inde-pendem da ação humana, como El Niño, por exemplo. O segundo é a vazão dos rios alimentadores das represas, que não ostentam mais a quantidade de água de tempos atrás. Consequência: mesmo com a normalização da precipitação pluviométrica, como aconteceu no início deste ano, depois de cer-to tempo é possível que os níveis das represas atinjam a plenitu-de. Entretanto, com o advento de

outra estiagem cíclica, a situação voltará a se repetir, tendendo a se agravar em função da diminuição da vazão dos rios.

Historicamente, o que potencializou esse fato?A partir de 1970, uma nova matriz territorial foi implantada na área do Cerrado. Essa matriz tem raí-zes e consequências predatórias. A partir daí, foi só uma questão de tempo para que os problemas am-

bientais viessem a aparecer e se agravarem com o tempo. A ques-tão atual do desaparecimento dos pequenos cursos d’água, alimen-tadores dos maiores, é apenas a ponta de um “iceberg” que tende a se tornar cada vez mais evidente. Em um futuro não muito distan-te, não haverá mais água para ali-mentar os rios.

O Cerrado é um ambiente passivo de revitalização ou qualquer dano à sua biodiversidade é irreversível?

Em primeiro lugar, o Cerrado dos Chapadões Centrais do Brasil é um sistema biogeográfico com vá-rios subsistemas. Eles se diferen-ciam por solos, fisionomia vegetal, quantidade de água nos lençóis, comunidades animais etc. Qual-quer modificação nos elementos dos subsistemas provoca modifi-cações no Sistema como um todo. Em segundo lugar, convém desta-car que o Cerrado é uma das ma-trizes ambientais mais antigas da

história recente do Pla-neta Terra, que tem seu início no Cenozóico. Isso significa que este ambiente já chegou ao seu clímax evolutivo, ou seja, uma vez degra-dado, não se recupera jamais na plenitude de sua biodiversidade. Em terceiro lugar, a maior parte das plantas do Cerrado tem um de-senvolvimento lento, algumas levam séculos para atingirem a maior idade, fato que torna quase impossível um trabalho de recom-posição vegetal. Sem mencionar que estas plantas estão condi-cionadas a um tipo de solo oligotrófico com

balanço hídrico específico, fato hoje difícil de ser encontrado em equilíbrio no Cerrado. Isso faz dele o bioma que mais limpa a atmos-fera, pois esse tipo de solo se ali-menta de CO

2.

O bioma guarda importantes espécies da flora, como os buritis, que só vivem em ambientes com água. Existe alguma solução biotecnológica que possa garantir o crescimento e a manutenção dessa espécie, por exemplo, se o solo estiver seco?

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 23

ALTAIR SALES BARBOSAAntropólogo e doutor em

Arqueologia Pré-Histórica

PÁGINAS VERDES1Até o presente momento as plantas nativas do Cerrado têm enfrentado grandes problemas com relação à produção atra-vés da biotecnologia. Eles estão relacionados essencialmente à existência de fungos, que no am-biente natural vive em simbiose com as plantas do Cerrado, mas, “in vitro”, constitui elementos inibidores do desenvolvimen-to das espécies. Portanto, não há solução biotecnológica para produção em massa de diver-sas espécies de plantas nativas do Cerrado, como também não há até o momento, soluções que mantenham o desenvolvimen-to de plantas nativas, como os buritis, que levam até 500 anos para atingir 30 metros, em am-bientes já degradados. Ou seja: se o Cerrado morrer, os buritis não sobreviverão em outro lugar. No entanto, vale lembrar que não se mede a degradação ambiental apenas pela ocorrência de uma ou outra planta. Há de se consi-derar comunidades, tanto vege-tais quanto animais, incluindo insetos polinizadores, água etc., e tudo isso já não existe no Cerrado de forma contínua. O que há são fragmentos que não representam 10% da área total.

O que é preciso para garantir a preservação das poucas áreas ainda preservadas do Cerrado e de suas águas? A criação de novos espaços protegidos por lei é suficiente?Essas áreas são insignificantes em relação à grande biodiversidade que o Cerrado apresentava até bem pouco tempo. As existentes mais ou menos preservadas são relictos de um ambiente outrora muito mais diverso e represen-tam apenas parcelas de um sub-sistema. Não há todos os elemen-tos do sistema preservados. No

entanto, para garantir a existência desses locais são necessários dois pontos importantes: primeiro deixá-los como estão. Segundo, demonstrar a importância do va-lor científico e econômico da ve-getação ainda existente.

Depois do Rio São Francisco, no Nordeste, agora é a vez do Rio Paraíba do Sul, no Sudeste, ser transposto. Fazer uma transposição é assinar o atestado de óbito dos rios?No caso específico do Rio São Francisco, já escrevi inúmeros artigos salientando os perigos da transposição, pois o fato signi-fica a médio prazo a morte lenta dos rios, já que o Velho Chico tem mais de 90% de sua pereniza-ção regulada pelos cursos d’água que o alimentam pela margem esquerda. Esses rios existentes, principalmente no oeste de Minas e da Bahia, estão todos doentes e uma mudança significativa na sua dinâmica, provocada essencial-mente pela transposição, poderá acelerar o processo de desapare-cimento desses rios, fato que vem acontecendo de forma crescente.

Como a urbanização pode impactar os rios do Cerrado,

tendo em vista que a maioria das cidades localizadas no bioma cresceu em função dos seus cursos d’água?Incrementada atualmente pelo processo de desterritorialização do homem do campo, a urbaniza-ção impacta os rios do Cerrado de diversas maneiras. Uma delas é a poluição generalizada (esgotos, resíduos sólidos, produtos quími-cos etc.), que afetam a qualidade da água e a vida nela existente. Outro impacto fundamental se dá em função da grande expansão das malhas urbanas que reque-rem a pavimentação dos solos, impedindo-os de “transpirarem”, como também impede a infiltra-ção das águas que alimentam os lençóis freáticos, que na época da estação chuvosa, regulam os níveis desses rios. A pavimenta-ção desenfreada provoca cheias e inundações violentas na época chuvosa trazendo graves trans-tornos sociais.

Qual será o futuro hídrico do Cerrado e, consequentemente, do país?O potencial agrícola que ele tem demonstrado o transformou em uma das últimas reservas da Ter-ra capazes de suportar, de modo imediato, a produção de grãos e a formação de pastagens. E o de-senvolvimento das técnicas mo-dernas de cultivo tem atraído, recentemente, grandes investi-mentos e criado modificações significativas do ponto de vista da infraestrutura de suporte. O fato da não existência de uma política global para a agricultura tem provocado a desterritoriali-zação, trazendo as consequên-cias amargas da desestruturação da população rural, que provoca migrações em massa e dão ori-gem ao crescimento desordena-do dos núcleos urbanos. Todos

“As empresas se apossaram das águas modernas, poluindo os rios, construindo represas, desviando

e transpondo os cursos dos corpos

d’água, sem levar em consideração as histórias

evolutivas particulares de cada lugar.”

24 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

esses fatores, no seu conjunto, têm provocado situações nocivas ao meio ambiente, com perspec-tivas preocupantes.

De todas as grandes matrizes ambientais brasileiras, o Cerrado é a que mais tem sofrido mudanças nos últimos anos. Quais são elas?Não são apenas transformações das técnicas de produção, mas ou-tras muito mais profundas, isto é, transformações culturais, que têm afetado o próprio modo de vida das populações, desestruturando os valores e, muitas vezes, provocan-do um “vazio”. Não falo de algo que venha a preencher o espaço dei-xado pelos elementos que foram ou estão sendo subtraídos. Os an-tigos núcleos urbanos veem-se de repente transformados em polos regionais de inovações e agencia-dores de “mudanças radicais” nos sistemas de relações, com seus inú-meros serviços, quase todos volta-dos para atividades agroindustriais e com preocupações imediatistas e consumistas. A retirada total da cobertura vegetal tem afetado de

forma decisiva a já reduzida re-carga dos aquíferos, cujas reservas chegarão a um nível crítico, pois as águas pluviais que consegui-rem penetrar através do solo serão de imediato absorvidas por estes, dado seus estados de aridez em função da insolação. A pouca umi-dade retida se evaporará de forma rápida pelas mesmas causas.

Por quê?No início, os problemas oriundos dessa situação serão contornados com a construção de barramen-tos, através de curvas de níveis e pequenos açudes, para reterem as águas das chuvas. Entretanto, os ambientes que surgem desse pro-

cesso têm caráter bêntico, fato que origina a argilicificação e a con-sequente impermeabilização do fundo dos poços, que, associada à forte insolação, resultará numa ação de nula eficácia, provocando a diminuição do nível de água dos lençóis subterrâneos. Essa situa-ção começará a refletir de forma visível nos polos urbanos.

O que acontecerá caso o cenário pessimista que vivenciamos duramente em 2015 retorne este ano?Haverá mais racionamento de água, em função da diminuição da vazão dos rios, que, por sua vez, provocará a redução do nível dos reservatórios. O racionamen-to de energia elétrica também será cada vez mais imposto pelas mes-mas causas. O desemprego e os serviços, antes fartos e variados, afundarão numa crise sem pre-cedentes. Os polos urbanos serão assolados por diversas epidemias, que provocarão índices alarman-tes de mortalidade. E a maioria da população sucumbirá diante da miséria crescente.

“A retirada da cobertura vegetal tem afetado a já reduzida

recarga dos aquíferos. Em um futuro não

muito distante, não haverá mais água para

alimentar os rios.”

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ALTAIR SALES BARBOSAAntropólogo e doutor em

Arqueologia Pré-Histórica

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FUTURO

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POR UM NOVO

E AGORA, MARIANA? 3

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“I Seminário Internacional sobre Direito Ambiental e Minerário” debateu as consequências da maior tragédia da mineração e ressalta como a mediação de conflitos é essencial para solucionar a reparação de danos sociais e ambientais

O dia 05 de novembro passa-do amanheceu ensolarado em Mariana. A vida na pri-

meira capital de Minas e em seus distritos seguia normalmente. Por ser uma região rica em recursos minerais e muito explorada, ela teve seu crescimento impulsiona-do pelo pagamento de royalties das empresas que atuavam na re-gião, notadamente a Samarco, que em 2014 teve lucro líquido de R$ 2,8 bilhões.

Mas os R$ 20 milhões pagos em royalties à cidade se torna-riam ínfimos perante a devasta-ção provocada pelos 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos da Barragem de Fundão, que desce-ram vale abaixo na tarde do dia 05. E ceifaram 19 vidas, quase 1.500 hectares de florestas, levan-do também a memória cultural, histórica e social de comunidades como Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. Aquele passado ensola-rado se tornou um presente enla-meado. E um futuro incerto.

“A catástrofe se abateu sobre Mariana. O acidente gerou per-das de receita, comprometendo os serviços essenciais para a popu-lação. Mariana clama por justiça”, afirmou o prefeito Duarte Júnior durante a abertura do “I Seminá-rio Internacional de Direito Am-biental e Minerário”, promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) em Mariana, no mês passado.

Na ocasião, foram debatidas a necessidade urgente de reparação

J. Sabiá [email protected]

dos danos ambientais e sociais, as questões jurídicas relacionadas ao meio ambiente e à atividade mi-nerária, consequências e perspec-tivas pós-tragédia. Também foram feitos questionamentos quanto à segurança da disposição de rejei-tos em barragens de contenção.

CONTROLE, SEGURANÇA E FISCALIZAÇÃO“As barragens de alteamento a montante, como era a de Fundão, constituem a solução mais econô-mica para as mineradoras em ge-ral, mas tais soluções apresentam também uma condição mais crí-tica em termos de segurança. Na disposição dos rejeitos na forma de polpa (mistura sólido-líquido), os materiais granulares são mais simples de controle tecnológico, ao

passo que os materiais mais finos (lamas) são muito mais complexos de manejo operacional e podem levar, por exemplo, a processos re-pentinos de ruptura da barragem por fenômenos de liquefação”, afirmou Romero César Gomes, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e doutor em Geotecnica pela Universidade de São Paulo (USP).

Um dos palestrantes do semi-nário, ele afirmou que a alma da atividade minerária é a água. “Por isso, o monitoramento e o controle da drenagem interna da barragem são fundamentais, principalmente neste tipo de estrutura, que utiliza comumente os próprios rejeitos como materiais e construção.”

Três aspectos principais devem ser observados na gestão de uma

O EVENTO reuniu especialistas sobre meio ambiente, direito

minerário e ambiental na primeira capital de Minas

E AGORA, MARIANA? 31

barragem de rejeitos, aponta Ro-mero: “A implantação de uma borda livre (free board) adequada, para evitar galgamentos; um siste-ma de drenagem interna eficiente para evitar problemas de piping, fenômeno de ruptura hidráulica induzida pela passagem descon-trolada da água através do maciço da barragem; e a garantia da não ocorrência de situações críticas no caso de rejeitos que apresentam uma suscetibilidade ao fenômeno da liquefação”.

Ele também destacou a impor-tância da fiscalização ambiental de empreendimentos de mine-ração a céu aberto: “Barragens devem ser cuidadosamente mo-nitoradas e estudadas de forma global. Elas são corpos dinâmicos, exigem manejo operacional crite-rioso e avaliações periódicas do seu comportamento. Uma ques-tão relevante é esclarecer como os órgãos ambientais podem controlar e aferir comportamen-tos de barragens com múltiplos alteamentos. Estes empreendi-mentos envolvem uma sistemáti-ca contínua de acompanhamento e monitoramento. A Barragem de Fundão, por exemplo, foi alteada 11 vezes em um período de ape-nas sete anos!”.

Soluções para o rejeito existem, como a Ecológico mostrou em sua edição 86, com o paviECO, piso ecológico feito de rejeitos se-dimentados retirados de cursos d’água assoreados pela mineração, em substituição à areia e à brita. É enxergar o resíduo como oportuni-dade, transformando-o em produ-to industrial.

Para as barragens de contenção, há inúmeras alternativas para o aporte sustentável de rejeitos. Uma bastante simples, informa o pro-fessor Romero Gomes, é a separa-

30 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

ção do rejeito total em suas frações granular e fina, dispostos de forma compartilhada em pilhas (inclusi-ve com outros materiais). “Assim, evita-se a disposição dos rejeitos totais, envolvendo grandes volu-mes de água, em reservatórios de barragens.” Foram apresentadas na palestra diversas outras alterna-tivas tecnológicas para a disposi-ção de rejeitos de mineração, sem a opção por barragens de contenção, discutindo-se suas principais van-tagens e limitações.

APERFEIÇOAMENTO LEGALRinaldo Mancin, diretor de Meio Ambiente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), reconhece

que há uma dissonância concei-tual no setor sobre o que é rejei-to. Mas destacou a importância da Política Nacional de Seguran-ça de Barragens (Lei 12.334) para nivelamento equitativo do setor. “Continuamos trabalhando nas regulamentações posteriores à legislação. Não como olhar de auditores, mas de oportunidade de melhoria do processo de ges-tão desses empreendimentos. Antes do acidente em Mariana, o Ibram estava atuando para o aperfeiçoamento de duas nor-mas específicas da ABNT sobre barragens de rejeitos. O trabalho foi interrompido temporaria-mente, mas será retomado em breve. E envolve toda a socieda-de, incluindo especialistas aca-dêmicos, projetistas, minerado-ras e órgãos fiscalizadores.”

Entre as novas exigências em discussão para a operação de bar-ragens, segundo Mancin, estão a limitação da construção delas em sequenciamento de vales, reenge-nharia de minas e redução de re-jeitos e uma maior interação com as comunidades, mineradoras e Defesa Civil em relação aos planos de emergência.

"O princípio que rege o meio ambiente é o da precaução.

Tem de se precaver para que não haja o dano ambiental. E como se faz isso? Através de uma estrutura de fiscalização efetiva e eficaz, que nós não

temos em Minas Gerais."

ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA, promotor de Justiça da Curadoria de

Meio Ambiente da Comarca de Mariana

RINALDO MANCIN: “Há uma

dissonância conceitual no

setor sobre o que é rejeito”

ROMERO GOMES: “Barragens

devem ser extremamente

monitoradas”

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Mediar conflitos não é tarefa fácil. Principalmente quando a questão envolve não apenas duas ou três pessoas, mas uma comunidade inteira. Esse foi o foco da palestra inspiradora do presidente da Comissão Espe-cial do Conselho Seccional de Direito Ambiental, Luiz Ooster-beek, em que ele propôs uma análise dos pontos culturais, so-ciais e econômicos que influen-ciam as tomadas de decisões em casos de crises.

Para se ter uma ideia, o Brasil ocupa o terceiro lugar, ao lado da Nigéria, em conflitos ambien-tais, segundo um mapa divulga-do pela Universidade Autônoma de Barcelona, em 2014. A pesqui-sa mostra que as comunidades mais impactadas por conflitos ecológicos são pobres e frequen-

Mediação sustentáveltemente não têm poder político para ter acesso à justiça ambien-tal e aos sistemas de saúde.

Esses dados vão ao encon-tro das observações feitas por

Oosterbeek. “A primeira coisa sobre um conflito é que ele é o seu próprio contexto. Não exis-tem posições absolutas. Toda crise nasce de uma percepção. E essa percepção é sempre rela-tiva a alguma coisa. Nesse caso, vamos ter múltiplas variáveis sociais, culturais, psicossociais e econômicas. Mas há, basica-mente, duas cadeias que geram mais conflito: a desigualdade e a discordância.”

Oosterbeek explica que a desi-gualdade pode ser tanto de aten-dimento de direitos quanto de acesso a recursos. “Estou falando do conhecimento daqueles que percebem que na vida encontrar um ponto de equilíbrio é o melhor para todos, porque o confronto de ruptura leva habitualmente à destruição”, reforçou, citando que

SEGUNDO palestrante, toda crise

nasce de uma percepção. No

caso de Mariana, a população

tem de convergir para uma visão

coletiva mais forte

LUIZ OOSTERBEEK: “Em vez

de Mariana aparecer chorando,

é hora de ela se tornar

esperança para o mundo”

Cristiane Mendonç[email protected]

E AGORA, MARIANA? 31

o esforço em caso de conflitos deve ser o de “minimizar a desi-gualdade, mas, ao mesmo tempo, maximizar a discordância”.

E explica: “A discordância não é ruim. Ter perspectivas e interes-ses diferentes é fundamental. A história do nosso sucesso de sete milhões de anos de evolução é a da diversidade. Ninguém que está vivo hoje sabe a estratégia para continuarmos vivos daqui a 100 anos. A humildade é isso: perce-ber que temos uma ideia e que de-vemos lutar por ela. Mas, ao mes-mo tempo, levar em consideração que podemos estar enganados”.

É o caso do rompimento da Bar-ragem de Fundão, em Mariana, e como se deve planejar o futuro a partir dele. “O problema da bar-ragem que se rompeu aconteceu numa escala. Como enfrentar uma situação de conflito, de ten-são, de contradição, de interesses divergentes, nesse modelo? Mu-dando de escala. Não existe solu-ção de contradição de interesses que seja resumível na própria es-cala, porque é preciso encarar as dificuldades. As pessoas não são todas iguais, não têm os mesmos interesses, as mesmas ansieda-des. Portanto, nunca vão estar de acordo unanimamente sobre o caminho a prosseguir frente a uma dificuldade”.

E completa: “Como é que elas podem continuar divergindo e não romper? Construindo uma visão de futuro numa escala mais ampla, uma visão coletiva que seja mais forte. “Em vez de Maria-na aparecer chorando, é hora de se tornar esperança para o mun-do. Se fizer isso, ela será um exem-plo positivo no mundo global. E aí, sim, ela terá investimentos.”

32 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

“O desastre era muito possível de que viesse a acontecer. Mas não estamos

procurando culpa. E sim responsabilidade.”

Cármen Lúcia Antunes, ministra

do Supremo Tribunal Federal

“O distrito de Bento Rodrigues é um retrato na parede. Esse seminário não se presta a ser um tribunal

de condenação ou absolvição, e sim um fórum de diretrizes para balizar os interesses nacionais em

relação ao meio ambiente e à mineração.”

Roque José de Oliveira, presidente da Casa de Cultura e

da Academia Marianense de Artes e Letras

“O Direito está moribundo e suas fontes estão secas, reduzidas a leis, doutrina e

jurisprudência. O Direito é diferente de lei e a justiça se aplica não só com o cumprimento da lei, mas com sensibilidade. A lei tem que

respeitar o direito. O dano moral causado pelo acidente tem que ser compensado.”

Eduardo Cruz, reitor da Universidade de Portugal

“O marco regulatório de barragens no plano federal deve ser modificado. No estadual, a mudança já está acontecendo. É preciso

diminuir os riscos da mineração com urgência.”

Caetano de Souza, doutor em Fitotecnia e especia-

lista em Geociências com ênfase em Hidrogeologia

“A expectativa que temos é que a discussão melhore e avance. É importante criar uma perspectiva de que as coisas possam ser solucionadas de forma

consciente e sem radicalismos.”

Mário Werneck, presidente da Comissão Especial do

Conselho Seccional de Direito Ambiental da OAB

Eles disseram

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Mesmo sob uma saraivada de balas disparadas pelos mais di-versos movimentos e instituições sociais, ambientais e jurídicas da vida nacional, sob a alegação de que não participaram democra-ticamente da sua feitura, mui-to menos serão incluídos na sua aplicação, já existe um acordo. Um acordo, que se espera matricial, para a recuperação ambiental, so-cial e econômica de toda a Bacia Hidrográfica do Rio Doce agredi-da pelo rompimento da Barragem do Fundão, da Samarco, há quase cinco meses da sua tragédia anun-ciada, na simbólica Mariana.

Com valor total de até R$ 20 bi-lhões, a ser investido ao longo de 15 anos, ele foi assinado em Bra-sília, no último dia dois de março, entre a presidência da República, o Ministério do Meio Ambiente, os governos de Minas e do Espírito Santo, e representantes da Samar-co, Vale e BHP Billiton, empresas responsáveis pelo custeio.

O acordo prevê a criação, em até quatro meses, de uma fundação de direito privado para a sua go-vernança junto à Samarco, a qual responderá pela execução de 40 programas de reparação socioam-biental e socioeconômica. Somen-te nos primeiros três anos, haverá a liberação de R$ 4,4 bilhões e a destinação de outros R$ 500 mi-lhões unicamente para serem aplicados na área de saneamento, tamanho o contraste de realida-de entre os municípios banhados pelo Rio Doce – como Governador Valadares, que pouco investe.

A prefeita Elisa Costa, todos se lembram, convocou os mais de

Alô Rio Doce, temos um acordo!

200 mil habitantes da cidade para ver a lama passar, à época da tragé-dia. Mas omitiu a informação que o mesmo município, administrado por ela, está no ranking dos “cin-co piores” em saneamento básico do país. Ou seja, a lama apenas se somou – e fez piorar, como nunca antes na história de Valadares – a todo o esgoto humano e industrial “in natura” jogado no Velho Doce.

O acordo foi um primeiro passo, sim, de cima pra baixo. Autoritário e excludente, à primeira vista, vide a reação da sociedade civil e o fato de não ter havido nas negociações o aval democrático e orientador do Ministério Público Federal, nem dos Ministérios Públicos de am-bos os estados atingidos. Eles são, hoje, os principais protagonistas do debate da questão mineral no país. Mas, devemos também reco-nhecer, foi um passo importante e inegável para romper a inércia de recuperação e requalificação so-cioambiental do Rio Doce.

AGUARDAR OS DESDOBRAMENTOS “Temos um acordo!” já é melhor que somente “temos um pro-blema!”. Os ambientalistas mais moderados comemoram minei-ramente, com cautela e estratégia políticas de longo alcance.

Diante da impossibilidade real e até ideológica de todas as par-tes interessadas, prós e contras, discutirem e apresentarem um acordo 100% participativo, uma delas é aguardar os desdobra-mentos. Acompanhar e verificar se a proposta governamental e empresarial vai, de fato, andar e funcionar. E, se positivo, con-seguir que ela também seja gra-dativamente legitimada. Aí sim, pela sociedade civil, por meio de sua participação em programas específicos, somada à anuência do Ministério Público e dos co-mitês de bacia hidrográfica. Não apenas quem conhece e luta pela preservação do Rio Doce em sua

DEPENDÊNCIA CRUCIAL: as manifestações pelo retorno da

mineradora tiveram início 16 dias após o acidente

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calha maior. Mas, tão importante e sábio, a anuência e participa-ção também dos comitês de seus rios menores, afluentes. Seria algo semelhante ao que ocorre na própria natureza que, a partir de suas nascentes, onde as águas brotam livres e limpas, antes do contato e da degradação huma-na, se refaz permanentemente.

Um exemplo dessa possibilida-de de inclusão a posteriori, que é democratizar o acordo, está ex-pressa no que foi assinado em Brasília. Diz, textualmente, o documento: “Faz parte, a título compensatório, a recuperação de cinco mil nascentes a serem defi-nidas pelo Comitê da Bacia Hidro-gráfica do Rio Doce”.

Está, pois, nas mãos da Vale, da BHP e, principalmente, da Samar-co, vide seus memoráveis concei-tos de mineração e modelo de ges-tão levados e desacreditados junto à lama, a validação social, jurídica e ambiental do primeiro e maior acordo ecológico jamais assinado na história do país. Em nome de um rio chamado “Atu”, na língua Krenak, cujo vale mais verde e po-puloso trocou o “Doce” pelo “Aço”, depois dos ciclos na época nada sustentáveis do café, da cana e da pecuária extensiva que depreda-ram a natureza e empobreceram a qualidade de vida da sua popu-lação. Não deixaram nem árvores nas suas margens. Até tornou os seus morros “carecas”, tamanha a perda de vegetação e assoreamen-to. E trocaram suas nascentes por manilhas de esgoto ainda hoje jor-rando a céu aberto.

Que haja mais acordos, planos e projetos. Mais amorosidade e concretude, enfim, na nossa espe-rança. É o que a Revista Ecológico continuará acompanhando.

“Haverá reparação das condições socioeconômicas e do meio ambiente das regiões afetadas pelo

desastre, sem limites financeiros, até sua integral reparação. Este acordo demonstra que é possível fazer justiça sem destruir empresas, empregos e

modos de vida. É possível corrigir erros e, ao mesmo tempo, zelar pelos direitos da população.”

Dilma Rousseff, presidente do Brasil

“Todos nos mobilizamos para evitar aquilo que seria a segunda tragédia de Mariana e do Rio Doce; o início de uma disputa judicial infindável. Não faltou matu-ridade para que, num espaço de tempo curtíssimo, construíssemos o caminho que vai permitir o início

quase que imediato dos trabalhos de recuperação da calha do rio e de toda a bacia do Rio Doce.”

Fernando Pimentel, governador de Minas

“As ações ainda estão sendo diagnosticadas e planejadas; e, por isso, não há um valor final. Os

recursos serão repassados à fundação para financiar as ações programadas a cada período do acordo. Como ainda há coisas que estão sendo estudadas, pode ser

mais ou menos de R$ 20 bilhões.”

Roberto Lúcio de Carvalho, novo presidente da Samarco

“Vamos ter capacidade de avaliar a qualidade dessa caminhada daqui a um ano, dois, dez

anos. Vamos ter que falar muito. Nosso objetivo é devolver à população uma bacia do Rio Doce

melhor do que antes do desastre.”

Paulo Hartung, governador do Espírito Santo

“O acordo é ímpar, mas é preciso dotá-lo de credibilidade. Não queremos uma nova Ingá no país. Quem é do Rio sabe disso. Ficou uma massa falida 20

anos na Baía de Sepetiba.”

Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente

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“A Samarco era um exemplo de mineração sustentá-vel para o país e o mun-

do. E, de repente, se transformou no patinho feio da nossa história socioambiental. Nós todos lamen-tamos o que aconteceu com o Rio Doce. Como também sabemos que acidentes podem acontecer. Não existe risco zero em qualquer ati-vidade humana. Agora, a aludida prisão de seu ex-dirigente maior, o Ricardo Vescovi, que abraçou e valorizou a causa da sustentabi-lidade, não vai nos levar a lugar algum. Ele é um dos poucos líde-res da mineração preparados para consertar o que aconteceu.”

A declaração exclusiva à Revista Ecológico é do presidente da Fe-deração das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado, ao comentar a decisão do acordo de R$ 20 bilhões anun-ciado pelo governo brasileiro com a Samarco e suas controladoras, a Vale e a BHP. Nele está expresso que quem irá gerir e fiscalizar a aplicação desse recurso na recu-peração socioambiental e econô-mica da Bacia Hidrográfica do Rio Doce é uma fundação privada de direito público ainda a ser criada pela Samarco.

Na visão dele, também a favor de que a mineradora volte logo a operar dentro da lei para man-ter os seus empregados e voltar a contribuir com 80% do orçamen-to arrecadatório do município de Mariana - e certamente de outros

“É urgente um plano de desenvolvimento”

municípios em Minas e no Espiri-to Santo-, “embora possa parecer o contrário, o setor privado e a própria empresa têm muito mais capacidade de gestão e governan-ça para o desafio da reconstrução que o Estado brasileiro. Seja o go-verno federal ou os governos es-taduais de Minas e Espírito Santo, por meio de seus órgãos ambien-tais, a maioria deles depaupera-dos. Além de agilidade, qualidade e preço melhor”.

Acrescentou Olavo: “Se deixar-mos uma soma dessa de recursos nas mãos do Estado, nós sabemos o que pode acontecer ou deixar de acontecer em termos de contin-genciamento financeiro ou polí-tico. Entendo que não cabe à so-

ciedade civil operar, executar, mas sim acompanhar, fiscalizar e par-ticipar da governança do acordo”.

Em sua opinião, a crise causa-da pela tragédia de Mariana tem de ser vista imediatamente como oportunidade a mais do que está sendo previsto no acordo oficial. “As pessoas falam na aplicação acertada de R$ 20 bilhões como se isso não fosse dinheiro. É mui-to dinheiro. Acertadamente ele já tem as suas destinações especí-ficas. O que precisamos fazer, e é para isso que a Fiemg está fixando parcerias com a Fundação Dom Cabral, o IBio, a Codemig e a Se-cretaria Estadual de Desenvolvi-mento Econômico, é avançarmos além da recuperação do que foi degradado. Precisamos aproveitar esta oportunidade e desenvolver sustentavelmente toda a bacia do Rio Doce, que já estava ecologica-mente degradada muito antes do acidente. Investir em barramen-tos, com eclusas ao longo do rio para transporte industrial e explo-ração do turismo, por exemplo. É isso que estamos preparando para propormos à nova Fundação e às empresas responsáveis. E depois, é claro, aos demais atores da ini-ciativa privada e dos governos fe-deral e estaduais de Minas Gerais e do Espírito Santo. O que preci-samos, doravante, é transformar o Vale do Rio Doce em um grande projeto nacional de oportunida-des e investimentos.”

O presidente da Fiemg lembrou

OLAVO MACHADO: “Ao invés

da aludida prisão, Ricarco

Vescovi é um dos poucos

líderes preparados para

consertar o que aconteceu”

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do que aconteceu em Lisboa, Por-tugal, em 1755: “Nós temos que fazer o que o Marquês de Pombal disse e fez quando do terremoto na capital portuguesa. ‘Enterra-mos os mortos com todo o pesar e cuidamos dos vivos com todo o respeito’. Aproveitar a oportunida-de de desenvolvimento criada, tal como também aconteceu no Vale do Tennessee (EUA), na década de 1930. Em plena recessão econômi-ca, no Rio Mississipi, onde foram criados postos de trabalho que não só o preservaram, mas incen-tivou investimentos do governo e transformou toda a região”.

“Não temos o direito de, tal como fazemos no Vale do Jequi-tinhonha, caracterizado por sua pobreza secular, criar obstáculos para a implantação de uma em-presa do porte da Manabi, com investimentos canadenses capa-zes de gerar emprego, renda e de-senvolvimento local. O Estado não se posiciona, e o projeto sob júdi-ce e críticas permanentes acaba não acontecendo, perdendo todo mundo com isso.”

Olavo Machado também listou os empecilhos deste processo em Minas e no Brasil: “Além da exces-siva judicialização que temos visto do licenciamento ambiental, no-tadamente na área de mineração, o que afasta investidores inter-nacionais, incluindo a constante falta do poder público, que não se posiciona nem contra nem a favor; ficamos reféns das leis e da interpretação do Ministério Publi-co que, com razão, exige o cum-primento da lei, que muitas vezes é obsoleta e atrasada. Tudo alinha-do com a falta de informações e estatísticas oficiais, que gera des-confiança, ignorância e precon-ceito no mercado”.

“Isso nos aconteceu” – conti-nuou ele – “quando implantamos o nosso Programa Minas Susten-tável, em Contagem (MG). Prepa-ramo-nos, do ponto de vista da legislação ambiental, para orientar as ditas 1.700 empresas fora-da-lei naquele município. E quando fo-mos lá, existiam somente em torno de 400 empresas. E onde existia ou passou a existir empresas e empre-sários 100% envolvidos e compro-missados com a causa ecológica”.

“Precisamos deixar de nos auto-desvalorizar, de fazer comentários negativos, típicos ainda do nosso comportamento enquanto ser so-cial. “Fulano de tal e sua empresa já fizeram isso e aquilo de exem-plar na área de sustentabilidade, mas... Ou seja, há sempre um teor negativo, o que joga todos nós pra baixo. Isso é terrível, é real e acon-tece em nosso meio” – disse Olavo.

Sobre mineração, ele voltou a ci-tar o exemplo da Samarco, em Ma-riana: “Sangrá-la, mais ainda, com

novas multas e interdições, não é sustentável. Precisamos apoiar e acreditar na sua volta ambiental-mente correta perante a Semad, logo ao mercado e à própria go-vernança. Minerar é usar bem a ri-queza mineral que temos no nosso subsolo e pertence à toda popula-ção. No caso do Rio Doce degrada-do, até os peixes nativos que não foram atingidos por estarem nas cabeceiras de seus afluentes estão nos ajudando naturalmente, no seu repovoamento natural”.

E concluiu: “Somos minerado-res e devemos nos orgulhar disso. Temos de agregar valor às nossas riquezas e nos preparar para o fu-turo, criando condições para que quando as reservas minerais se exaurirem nossos descendentes possam criar novas oportunidades. Quem vai nos ajudar a salvar o país ainda adormecido que temos?”.

(*) Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

RIO MISSISSIPI em Nova Orleans (EUA): investimentos

e preservação em plena recessão norte-americana

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ENTRE O ÓDIO E O AMOR

São Sebastião das Águas Cla-ras, distrito de Nova Lima, Mi-nas Gerais, mais conhecido

por Macacos, no coração geográfi-co da Área de Proteção Ambiental (Apa-Sul) da Região Metropolita-na de Belo Horizonte. Às 16h45 do trágico dia 22 de junho de 2001, o rompimento da barragem de con-tenção de rejeitos de minério de ferro da Mineração Rio Verde ma-tou cinco trabalhadores.

Eles foram soterrados e leva-dos pela lama até seis quilôme-tros abaixo do Córrego Taquaras, afluente do Fechos, próximo à ponte que dá acesso ao vilarejo turístico - famoso por suas rique-zas naturais. A exemplo do que aconteceu em Bento Rodrigues, na tragédia de Mariana, causada pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, um dos cor-pos jamais foi encontrado.

Foi assim que o último núme-ro do então suplemento Estado Ecológico, do jornal “Estado de Minas”, precursor da hoje Revista Ecológico, noticiou em sua Edição Especial “Entre o ódio e o amor”, sob a lembrança do artigo 225, pa-rágrafo 2º, da Constituição Brasi-leira: “Aquele que explora recursos

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A “escolha de Sofia” que a mineração ainda não fez 15 anos depois da tragédia da Rio Verde em Macacos (MG)

minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exi-gida pelo órgão público”.

Reveja, caro (a) leitor (a), a atuali-dade da abordagem, já decorridos quase 15 anos do acidente que aba-lou a sociedade e fez piorar, mais ainda, a imagem pública do setor em um estado chamado Minas Gerais:

“A Mineração Rio Verde, que degradou o Córrego Taquaras, cinco vidas humanas, dois cami-nhões e um trator sob uma lama cinza e mortal de rejeitos na ba-

cia hidrográfica de Macacos, não está sozinha. A dor é e vem de to-dos. A mineradora, que se encon-tra no banco dos réus por não ter projeto, nem sabido operar uma barragem ecologicamente corre-ta, já teve contrato com a MBR (antiga Minerações Brasileiras Reunidas, hoje Vale). Ela mine-ra (50% da sua produção) para a Ferteco, que foi comprada pela Vale, em Brumadinho.

A Vale, que também comprou a Samitre e estuda comprar a MBR, passou a ser vizinha, em Sabará, da AngloGold, antiga Mineração Mor-ro Velho. A Mineração Brumafer, que herdou o passivo ambiental da Miprisa, que degradou metade da Serra da Piedade, quer explorar o seu outro lado, em Caeté, para atender à Cia. Siderúrgica Belgo--Mineira, em João Monlevade”.

Minas é assim. Vai por aí, como já foram, e

eram várias, as suas montanhas. Curral, Cauê e Piedade, agora, já pela metade. Várias minas, cra-teras gerais. As mesmas e clo-nadas paisagens lunares onde a beleza era estonteante. Uma beleza que, querendo alcançar as estrelas, sempre se molhou

Hiram [email protected]

Não é só a atividade minerária por

responsabilidade solidária, do explorador ao comprador e exportador,

que corre perigo. São as nossas nascentes,

córregos, rios e mares que, juntos, podem morrer

ou se recuperar. É a escolha final que o

setor deve fazer

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A ESCOLHA final que o setor

deve fazer: acirrar mais ainda

o ódio da população cada dia

mais indignada com os danos

causados pela mineração

ou se abrir para o amor que

advém, naturalmente, de tudo

aquilo que é feito com respeito

de nuvens, mesmo quando tudo abaixo estava deserto e seco.

Minas também é assim. De vez em quando, um oásis.

Uma esperança. Um exemplo de recuperação ambiental. É a MBR, por exemplo, toda verde e atlân-tica, preservando a Mata do Jam-breiro e devolvendo água limpa para Nova Lima. É a CBMM, em Araxá, que chega até a se confun-dir com um parque, de tão limpa, ajardinada e florida.

Entretanto, o trabalho de re-construção da imagem de um setor que, tradicionalmente, foi inimigo e desprezou a natureza, está apenas começando. Tem con-dições e promete bons frutos. Isso porque a feiura e o jeito antigo, nada ecológico e ainda degradan-te, que, infelizmente, caracteriza a maioria das nossas mineradoras, não têm como se sustentar mais.

Não é só a atividade minerária, por responsabilidade solidária, do explorador ao comprador e ex-portador, que corre perigo. São as nossas nascentes, córregos, rios e mares que, juntos, podem morrer ou se recuperar.

É a escolha final que o setor deve fazer. Acirrar mais ainda o ódio da população cada dia mais consciente, amedrontada e in-dignada com os danos causados pela mineração. Ou se abrir para o amor que advém, naturalmen-te, de tudo aquilo que é feito por respeito, e não apenas pela força de lei, no solo que é impactado para nos servir como consumi-dores – e não abrimos mão – de minério de ferro.

Ódio ou amor à mineração?A escolha é mineral. É deles.

É nossa!A torcida é da natureza, incluin-

do a natureza humana. O setor decide!

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Segundo o ambientalista Marcus Polignano, coordenador-geral do Projeto Manuelzão, a tragédia de Mariana, causada pela Samarco, será lembrada um dia como o “divi-sor de águas” na história da minera-ção brasileira: “O setor vai ter que se reinventar. Mariana é o grito de que não temos mais como caminhar com esse modelo”, disse ele.

Será?Quinze anos atrás, tamanho o im-

pacto visual causado pelas imagens dos corpos das vítimas boiando so-bre a lama, o acidente da Mineração Rio Verde também foi anunciado como um “divisor de águas” para o setor. Na época, sob a coordenação da Secretaria de Estado de Meio Am-biente e Desenvolvimento Sustentá-vel (Semad), os órgãos ambientais se juntaram ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea--MG), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e ao Ministério Público prometendo um basta a toda e qualquer atividade predatória em Minas Gerais.

Foi o que o Estado Ecológico tam-bém registrou nessa sua mesma edi-ção, sob o título igualmente espe-rançoso de “Nada será como antes” (veja na página ao lado), que repro-duzimos a seguir, tamanha a sua in-desejada e ameaçadora atualidade:

“O tempo do xiismo ecológico passou. Ninguém vai proibir a mi-neração como atividade produtiva, responsável e ecologicamente cor-reta. Mas o tempo da tolerância eco-lógica também passou. A mineração predatória, irresponsável ou com passivo ainda não acertado com o meio ambiente – esta, sim – está com os dias contados.

Todas as suas licenças, planos de operação e pedidos de expansão passarão a ser revistos sob a nova

ótica do licenciamento integrado. Isso significa análise, acompanha-mento, fiscalização e pareceres a se-rem dados em conjunto, doravante, pelos técnicos da Feam, Igam e IEF. Isso antes de passar pela Câmara de Atividades Minerárias e, finalmente, à decisão final do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). A mudança mais profunda que pode entrar para a história, envolvendo e definindo mais os papéis do DNPM, Crea e Ministério Público é a aplica-ção, na prática, da ‘responsabilidade solidária’ do setor.”

Esse foi também, em síntese, o posicionamento do então gover-no Itamar Franco quando Paulino Cícero era titular da Semad. Não apenas a Mineração Rio Verde, mas toda a situação da mineração, tan-to na bacia hidrográfica de Maca-cos quanto na parte sul da Região Metropolitana de BH, passou por esta varredura. E o que se consta-tou nas vistorias é trágico, de meter medo mesmo na população.

A maioria das mineradoras ainda traz traços de uma cultura antiga, quando se jogava rejeitos de miné-rio, esgotos industriais e humanos rio abaixo e o DNPM nem se im-portava. Depois, com o advento da consciência ambiental e a escas-sez das águas, que essas empresas provocavam, descobriu-se que era melhor construir barragens. Mas isso foi feito de qualquer jeito, sem técnicas apropriadas, na medida em que uma barragem (modelo) de água não é o mesmo que uma para conter sedimentos.

Foi o que adiantou, na época, o então secretário-adjunto da Se-mad, Celso Castilho, ao Estado Ecológico: “O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que representa a maioria das grandes e médias mi-neradoras, também será convoca-do a sair do discurso para a prática ambiental de ajudar a recompor a paisagem das nossas montanhas degradadas indistintamente pelo setor ao longo do tempo”.

Novo “divisor de águas”?

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NOV/DEZ DE 2015 | ECOLÓGICO 41

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REPORTAGEM vanguardista do Estado Ecológico, de agosto de

2001, já apontava a necessidade de monitoramento

mais eficiente de barragens de rejeitos

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Um mês após o rompimento da barragem, o próprio diretor da Mineração Rio Verde, Pedro Lima, declarou ter sido o resul-tado trágico de “um copo que já estava prestes a transbordar”. Ou seja, cheio de outros aciden-tes na história nada ecológica da região com mais passivos am-bientais acumulados do Quadri-látero Ferrífero do Estado. Vide a ruptura também, em 1986, 15 anos antes, da barragem de re-jeitos da mina Fernandinho, da Itaminas, que provocou a morte de sete funcionários.

“O nosso acidente, infeliz-mente, foi a gota d´água que faltava para transbordar este copo”, lamentou Pedro, lem-brando que a barragem onde ocorreu a tragédia já vinha sen-do impactada há anos por várias outras empresas e empreiteiros terceirizados que exploraram a região muito antes da existência da consciência ecológica e da legislação ambiental.

O terreno da lavra explorada pela Rio Verde, ele explicou, foi comprado da MBR que, por sua vez, teve outros empreiteiros, como a Empresa Técnica de Mi-neração, que pertencia ao Grupo Caemi, hoje Vale:

“Não quero, com isso, eximir a nossa responsabilidade. Pelo contrário, eu não desejo para empresa alguma o que nos acon-teceu. Inclusive, isso nunca de-veria acontecer em lugar algum. E como não temos mais como voltar no tempo, nossa única preocupação, doravante, é con-seguirmos condições, novamen-

A gota que transbordou

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te, para operarmos. E, assim, consertar o que causamos.”

DO BERÇO AO TÚMULOA própria MBR, ele lembrou, já foi fornecedora de material para a Rio Verde. A Ferteco, então comprada pela Vale, correspon-dia com 50% de seu mercado: “O nosso relacionamento com ela é apenas comercial, o que signifi-ca que estamos sozinhos diante do ocorrido”.

Ele refutou a posição, então defendida pelos ambientalistas e órgãos de governo na época, de que a responsabilidade quan-to ao ressarcimento dos danos causados por acidentes ao meio ambiente deveria ser estendi-da a toda a cadeia produtiva, tal como prevê a norma de quali-dade ambiental ISO 14.000, do “Berço ao Túmulo”.

Quando do acidente em Maca-cos, uma média de seis mil tone-ladas de minério explorado pela Rio Verde seguia diariamente via

caminhões para a planta indus-trial da Ferteco, localizada tam-bém na Apa-Sul. Os outros parcei-ros da Rio Verde, enquanto seus compradores, eram a Açominas, o setor guseiro e a própria Vale.

Segundo a nova política am-biental em estudo pelo governo estadual, isso significava que, a partir do acidente, também es-sas empresas deveriam, solida-riamente, participar do plano de recuperação ecológica da região, impactada há anos pelo setor mineral como um todo.

Quinze anos depois da tra-gédia, a hoje Revista Ecológico voltou ao cenário do Córrego Ta-quaras, em Macacos, Nova Lima, para ver o que de fato aconteceu. É o que você, caro (a) leitor (a), vai conferir e se estarrecer na nossa próxima edição, dia 22, lua cheia de abril. Nela, iremos trazer a recordação de uma en-trevista concedida pelo consul-tor Joaquim Pimenta de Ávila, membro do Comitê Brasileiro de Barragens e representante do Brasil junto à ONU. O mesmo especialista envolvido na tragé-dia da Samarco em Mariana que, desde a dor e o desamor mineral ocorrido em Macacos, já defen-dia uma nova lei para o setor, a partir de Minas.

“Só assim” – ele anteveu – “va-mos obrigar as empresas a serem mais responsáveis. Afinal, as ex-periências comprovam que o co-nhecimento técnico disponível para evitar acidentes não é utili-zado pelas mineradoras, seja por ignorância ou negligência”.

Aguarde!

Na época do acidente em Macacos, uma média de seis mil

toneladas de minério explorado pela

Rio Verde seguia diariamente via

caminhões para a planta industrial da Ferteco, na Apa-Sul

42 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

2JAN/FEV DE 2016 | ECOLÓGICO 39

NO LIMITE DE DEUS

Foi esse o artigo intitulado “Remissão So-lidária”, que a repórter Luciana Morais escreveu durante a cobertura jornalística do acidente em Macacos:

“Poucos setores produtivos têm uma rela-ção tão estreita com a sociedade e a natureza como a mineração. Em Minas Gerais, então, estado minerador por vocação, esse vínculo é natural. Faz parte do trabalho de inúmeras empresas que extraem, de nossas monta-nhas, a riqueza que constrói divisas e sus-tenta a economia brasileira e mundial. Mas, ironicamente, muitas delas ainda fecham os olhos para a grandeza de seu ofício, degra-dando mais do que protegendo.

A nossa mineração, que representa 30% do total da produção mineral do país, é a mesma que mostra o peso de sua mão ao devastar Macacos. Retira minerais precio-sos e raros, mas não tem piedade suficien-te para devolver a vida às suas crateras.

Estamos no limite da natureza que Deus

nos deu. E o tempo da remissão é agora! Dizer não à mineração, como querem os ambientalistas extremistas, é negar que consumimos automóveis, geladeiras, gar-fos e facas.

Queremos a mineração, sim. Sustentá-vel, com seus empregos, com o seu dom de transformar metal em bens de produ-ção. Mas queremos somente a mineração responsável, que proteja o meio ambiente e a vida humana.

Queremos minério de ferro, bauxita, pra-ta, ouro e todo metal necessário para sus-tentar nossas vidas. As tecnologias, estu-dos e levantamentos estão aí, à espera de serem aplicados, inclusive para garantir a segurança das barragens de rejeitos.

O que falta, mais que tudo, é o desejo de minerar com respeito à natureza, em par-ceria com a vida. Mostrar o exemplo das empresas que têm o orgulho de abrir as suas portas e comunicar seus avanços. Ou seguiremos esse caminho juntos ou não haverá futuro para ninguém”.

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 43

Todd Southgate / Greenpeace

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DESASTRES METEOROLÓGICOSSegundo um relatório do Escritório

da ONU para a Redução dos Riscos de

Desastres, o UNISDR, os desastres

meteorológicos naturais foram

responsáveis por 606 mil mortes nos

últimos 20 anos. O clima foi responsável

por 90% dos grandes desastres no

período: foram registradas 6.457

inundações, tempestades, ondas de

calor, secas e outros eventos.

CRIANÇAS AMEAÇADASMais de 500 milhões de crianças vivem em

áreas com risco extremo de inundações e

cerca de 160 milhões vivem em zonas afetadas

por fortes períodos de seca por consequência

dos efeitos da mudança climática, informa

o Fundo das Nações Unidas para a Infância

(UNICEF). A maioria das áreas com alto risco

de inundação está na Ásia e as que estão em

risco de maior seca se encontram na África.

44 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

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CÉU DO MUNDO

O ANO DO CALORSegundo a Nasa, 2015 foi o

ano mais quente registrado na

história. A temperatura média

da Terra e dos oceanos foi

de 0,90ºC acima da média do

século XX. O recorde anterior

era de 2014, com 0,16ºC.

UD000616BP-Adr_2ª FASE_DENGUE–ZIKA–CHIKUNG202x275.indd 1 14/03/16 16:22

1SAÚDE

Neymar? Roberto Carlos? Xuxa? Luan Santana? Não. Hoje, a “celebridade” mais

famosa do Brasil se chama... Aedes aegypti. O que o diferencia dos outros nomes citados é que ele não tem nenhum fã, mas, ainda assim, vem causando comoção (e deixando muita gente acamada) por onde aparece.

Para se ter ideia, apenas nos três primeiros meses deste ano, este mosquitinho de tamanho entre 0,5 e um centímetro foi responsá-vel por provocar casos prováveis de dengue em mais de 124 mil pessoas em Minas. E há também o registro importante de outras doenças transmitidas por ele.

Em relação aos casos de chikun-gunya, 413 foram notificados, sendo 233 descartados e 180 em investigação. Para os de zika vírus, informa a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG), “todos os 755 casos notificados em

SAÚDE EM PRIMEIRO LUGAR

2016 seguem sob investigação”. “Os criadouros mais comuns do

Aedes aegypti são aqueles criados pelo próprio homem”, afirma José Bento Pereira, pesquisador do La-boratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores da Funda-ção Oswaldo Cruz (Fiocruz), em vídeo publicado no site da institui-ção. Entre esses criadouros estão caixas d’água abertas e qualquer recipiente que possa acumular água, como pneus, vasos de plan-ta e tampas de refrigerante.

“Por ser um mosquito que vive perto do homem, sua presença é mais comum em áreas urbanas e a infestação é mais intensa em regiões com alta densidade po-pulacional - principalmente, em espaços urbanos com ocupação desordenada, onde as fêmeas têm mais oportunidades para alimen-tação e dispõem de mais criadou-ros para desovar. A infestação do mosquito é sempre mais intensa

no verão, em função da elevação da temperatura e da intensificação de chuvas – fatores que propiciam a eclosão de ovos do Aedes aegypti. Para evitar esta situação, é preciso adotar medidas permanentes para o controle do vetor, durante todo o ano, a partir de ações preventivas de eliminação de focos de repro-dução do mosquito. Como ele tem hábitos domésticos, essa ação de-pende, sobretudo, do empenho da população”, informa a Fiocruz.

O Ministério da Saúde publi-cou vários materiais explicativos que podem ser baixados gratuita-mente no site portalsaude.saude.gov.br, apresentando informa-ções e dicas para se evitar a pro-liferação do mosquito (a seguir, reproduzimos algumas delas). São hábitos simples, que não le-vam mais que dez minutos, e que fazem grande diferença para que a epidemia não avance.

Faça a sua parte!

A Revista Ecológico também entra na luta contra o Aedes aegypti. Participe desse movimento conosco!

46 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

#DENGUEZERO #CHIKUNGUNYAZERO

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 47

Lave semanalmente pordentro com escova e sabão

os tanques utilizadospara armazenar água.

2

Mantenha a caixa-d’águabem fechada. Coloquetambém uma tela no

ladrão da caixa-d’água.

3

Mantenha bemtampados tonéise barris de água.

1

Coloque areia dentrode todos os cacos que

possam acumular água.

15

Troque a água dos vasosde plantas aquáticas

e lave-os com escova,água e sabão umavez por semana.

8

Encha os pratinhos devasos de plantas com

areia até a borda.

6

Outra opção para ospratinhos de plantas é lavar

uma vez por semana.

7

Se o ralo não for de abrir efechar, coloque uma tela

fina para impedir o acessodo mosquito à água.

14

Mantenha as garrafascom a boca virada

para baixo, evitandoo acúmulo de água.

11

Pneus devem seracondicionados em

locais cobertos.

12

Não deixe águaacumulada

sobre a laje.

5

Faça sempre a manutençãode piscinas ou fontes utilizando os produtosquímicos apropriados.

13

Limpe sempre a bandeja do ar-condicionado para

evitar o acúmulo de água.

18

Os vasos sanitários forade uso ou de uso eventual

devem ser tampados everificados semanalmente.

17

Lonas usadas para cobrirobjetos ou entulhos

devem ser bem esticadaspara evitar poças-d’água.

19

Não deixe águaacumulada emfolhas secas e

tampas de garrafas.

16

Coloque o lixo em sacosplásticos e mantenha a

lixeira bem fechada.

9

Remova folhas, galhose tudo que possaimpedir a água de

correr pelas calhas.

4

Feche bem os sacos delixo e deixe-os fora do

alcance de animais.

10

COMBATA O MOSQUITO

PERIODICAMENTE

TUDO QUE ACUMULE ÁGUA

É FOCO DE MOSQUITO.

APOIO:

ALMA PLANETÁRIALEONARDO BOFF (*)www.leonardoboff.com1

Se é verdade que os transtornos climáticos são antropogênicos, quer dizer, possuem sua gênese nos comportamentos irresponsáveis

dos seres humanos (menos dos pobres e muito mais das grandes corporações industriais), então fica claro que a questão é antes ética do que cien-tífica. Vale dizer, a qualidade de nossas relações com a natureza e a Casa Comum não eram e não são adequadas e boas.

Citando o Papa Francisco em sua inspiradora encíclica “Laudato Si: sobre o cuidado da Casa Co-mum”: “Nunca maltratamos e ferimos a nossa Casa Comum como nos últimos dois séculos. Essas si-

tuações provocam os gemidos da irmã Terra, que se unem aos gemidos dos abandonados do mundo, com um lamento que reclama de nós outro rumo”.

Esse outro rumo implica, urgentemente, uma éti-ca regeneradora da Terra, que deve ser fundada em alguns princípios universais, compreensíveis e pra-ticáveis por todos. É o cuidado essencial, que é uma relação amorosa para com a natureza; é o respeito por cada ser porque possui um valor em si mesmo; é a responsabilidade compartida por todos pelo fu-turo comum da Terra e da humanidade; é a solida-riedade universal pela qual nos entreajudamos; e, por fim, é a compaixão pela qual fazemos nossas as

48 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

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A SEDE ESPIRITUAL

HUMANA

(*) Professor e teólogo.

dores dos outros e da própria natureza.Esta ética da Terra deve devolver-lhe a vitalida-

de vulnerada a fim de que possa continuar a nos presentear com tudo o que sempre nos presen-teou durante todos os tempos de nossa existência sobre esse planeta.

Mas não é suficiente apenas uma ética da Terra. Precisamos fazê-la acompanhar por uma espiri-tualidade. Esta lança suas raízes na razão cordial e sensível. De lá, nos vem a paixão pelo cuidado e um compromisso sério de amor, de responsabilidade e de compaixão para com a Casa Comum.

O conhecido e sem-pre apreciado escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, num texto póstumo, escri-to em 1943 – “Carta ao General X” – afirma com grande ênfase: “Não há senão um problema, somente um: redescobrir que há uma vida do espí-rito que é ainda mais alta que a vida da in-teligência, a única que pode satisfazer o ser humano”.

No texto “É preciso dar sentido à vida”, de 1936, quando era correspondente do jornal “Paris Soir”, durante a guerra da Espanha, ele retoma o tema da vida do espírito. Para isso, afirma que “precisamos nos entender reciprocamente; o ser humano não se realiza senão junto com outros seres humanos, no amor e na amizade. No entanto, os seres hu-manos não se unem apenas se aproximando uns dos outros, mas se fundindo na mesma divindade. Temos sede, num mundo feito deserto, de encon-trar companheiros com os quais dividimos o pão”.

E assim termina a “Carta ao General X”: “Temos tanta necessidade de um Deus!”.

Efetivamente, só a vida do espírito satisfaz plena-mente o ser humano. Ela representa um belo sinôni-mo para a espiritualidade, não raro identificada ou confundida com religiosidade. A vida do espírito é mais, é um dado originário de nossa dimensão pro-funda, um dado antropológico como a inteligência e a vontade, algo que pertence à nossa essência.

Sabemos cuidar da vida do corpo, hoje um ver-dadeiro culto celebrado em tantas academias de

ginástica. Os psica-nalistas de várias ten-dências nos ajudam a cuidar da vida da psi-que, de como equili-brar nossas pulsões, os anjos e demônios que nos habitam para le-varmos uma vida com relativo equilíbrio.

Mas, na nossa cul-tura, praticamente esquecemos de culti-var a vida do espírito, que é nossa dimensão mais radical, onde se albergam as grandes perguntas, se ani-nham os sonhos mais ousados e se elabo-ram as utopias mais generosas. A vida do espírito se alimenta de bens não tangíveis,

como o amor, a amizade, a compaixão, o cuidado e a abertura ao infinito. Sem a vida do espírito di-vagamos por aí, desenraizados e sem um sentido que nos oriente e que torna a vida apetecida.

Uma ética da Terra não se sustenta sozinha por muito tempo sem esse supplément d’âme (suple-mento da alma) que é a vida do espírito. Ela nos convoca para o alto e para ações salvadoras e rege-neradoras da Mãe Terra.

"Temos sede, num mundo feito deserto, de encontrar companheiros com os quais dividimos o pão."

Sustentabilidade é a nossa pauta!

Leia e assine!

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 49

Quanto mais áreas verdes se preserva e se cria, mais im-pactos positivos se tem so-

bre os recursos hídricos. É amparada nessa certeza que a Anglo American vem fortalecendo e ampliando a sua atuação em prol da conservação da biodiversidade. Em especial na região

que inclui a mina de minério de fer-

-

-

e Peixe”, importantes tributários da -

ciais para manter o equilíbrio hídrico

da região. Esse projeto foi aprovado com maioria expressiva na reunião do

áreas que hoje estão degradadas e -

tos no aumento da oferta de água aos usuários da bacia, além de melhorar a

“O projeto de recuperação en-volve uma série de atividades, entre elas o plantio de mudas, ações de

áreas de recarga hídrica. Nossas ex-pectativas são as melhores possíveis. A ideia é que ele possa se tornar in-clusive um modelo de recuperação ambiental para toda a bacia”, infor-

Parcerias e programas conduzidos pela mineradora Anglo American favorecem a criação de unidades de conservação e o aumento da

disponibilidade hídrica na região da Serra do Espinhaço

Brasil e representa a empresa como

-

-

informações coletadas são analisadas em conjunto com os dados de moni-

-

VISÃO SISTÊMICANo dia a dia de trabalho, além de

50 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

ÁREA de preservação próxima ao Rio

do Peixe: a proposta da Anglo American

é proteger quase 10 mil hectares de

florestas em forma de RPPNs

EMPRESA & MEIO AMBIENTE

seguir as diretrizes globais de con-servação ambiental estabelecidas pela companhia, as equipes da Anglo American procuram adaptá-las à rea-

é feito com base em estudos criterio-sos e com a chancela de universida-

mundialmente reconhecidas, como

considerada a mais antiga entidade internacional de conservação da na-tureza, fundada em 1903.

--

ram uma completa avaliação dos recur-

áreas essenciais para a conservação e também os riscos de impacto à biodi-versidade ocasionados pelo empreen-

dimento. Com base nessas análises, foi criado um plano de ação para a mitiga-ção dos riscos.

“Possuímos um processo de gestão -

do alcançar a conservação dos recursos naturais e o ganho ambiental em nossas ações de mitigação e compensação. Ou seja, desde o início do empreen-dimento, sempre procuramos ir além.

legislação, estamos permanentemente em busca das melhores práticas sus-

COBERTURA VEGETAL AUMENTAOutro ponto forte da atuação da An-

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 51

Há ainda uma área de cerca de 200

hectares, localizada no município de Tombos,

famoso por suas cachoeiras, na Zona

da Mata, que também recebeu proposta de

compensação ambiental

2

glo American é o seu empenho em salvaguardar áreas representativas de

atenção e cuidado demonstrados pela -

região altamente estratégica para a formação de mosaicos de unidades de conservação.

-mações vegetais de campos rupestres

-

Unesco em 2006. Por meio da inte-gração de projetos de relocação de

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52 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

-can vem investindo de forma maciça no aumento da cobertura vegetal em toda a região.

A proposta de criação de aproxima-damente 10 mil hectares de áreas ver-des – que estão sendo instituídas sob

compromisso da empresa. E o concei-to-base que norteia todo o processo de criação e conservação dessas áreas é exatamente o da conectividade.

Assim, a cada proposta de regu-

-panhia faz, o principal critério de escolha das áreas é a possibilidade de conectá-las a outras unidades de conservação existentes, fomentando

e, consequentemente, a proteção da

nas quais já atuamos de forma efe-tiva na conservação, por meio de

exemplo. Agora, estamos na fase de contratação dos planos de gestão, vi-sando aprimorar o manejo e favore-cer o enriquecimento ambiental des-

formalização de todos esses proces-sos junto ao Estado, para a criação

-

Os resultados obtidos até agora são animadores. “Quando analisamos as imagens de satélite da região do empreendimento, principalmente do

2008 até agora, houve um aumento considerável da cobertura vegetal”,

áreas que será protegida sob a forma

de 200 hectares, localizada no municí-

também recebeu proposta de com-pensação ambiental.

que desenvolvemos. E esperamos co-lher, em conjunto com a comunidade, os melhores frutos de todo o nosso comprometimento com a conserva-ção ambiental. Queremos ser reco-nhecidos como um agente ativo na busca do desenvolvimento equilibrado e sustentável das regiões onde atua-mos. Essa é a nossa visão”, ressalta o

EMPRESA & MEIO AMBIENTE

O Rio Santo Antônio nasce na

Serra do Espinhaço, no município

de Conceição do Mato Dentro, e se

estende por 283 quilômetros.

Criado em 2002, o seu Comitê de

Bacia Hidrográfica é formado por 64

membros, sendo 32 titulares e 32

suplentes. Sua composição inclui

18 representantes do poder público,

distribuídos de forma paritária entre

o estado e os municípios inseridos

na bacia; bem como representantes

de usuários e de entidades da

sociedade civil.

A Bacia do Santo Antônio integra a

macrobacia do Rio Doce e abrange uma

área de 10,4 mil km2. Entre os seus

principais cursos d’água estão ainda os

rios Guanhães, do Peixe e Tanque, em

29 municípios mineiros, beneficiando

uma população de 182 mil pessoas.

A Serra do Espinhaço é uma

das mais importantes cadeias de

montanhas do Brasil, localizada entre

Minas Gerais e Bahia. Tem mais de

mil quilômetros de extensão e reúne

famosos cartões-postais brasileiros,

como a Serra do Cipó, a Chapada

Diamantina (BA) e a cidade de

Diamantina.

FIQUE POR DENTRO

O RIO SANTO ANTÔNIO

tem 283 quilômetros de

extensão e passa por 29

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MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 53

O Sistema Minas-Rio inclui uma mina de minério de

ferro e unidade de beneficiamento em Conceição do

Mato Dentro e Alvorada de Minas (MG); um mineroduto

com 529 km de extensão, que atravessa 33 municípios

mineiros e fluminenses; e o terminal de minério de

ferro do Porto de Açu, no qual a Anglo American é

parceira da Prumo Logística com 50% de participação,

localizado em São João da Barra (RJ).

Atualmente, a Anglo American tem mais de 460 mil

hectares preservados sob o seu controle e gestão em todo

o mundo, sendo que apenas 84.214 foram impactados de

forma direta pelas atividades de mineração.

No Brasil, ela está presente com quatro negócios:

minério de ferro, com o Sistema Minas-Rio; níquel,

com operações nos municípios de Barro Alto e

Niquelândia, em Goiás; nióbio, em Catalão e Ouvidor,

em Goiás; e fosfatos, com operações em Ouvidor (GO),

Catalão (GO) e Cubatão (SP).

SISTEMA MINAS-RIO

CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO, com a Serra da Ferrugem ao fundo,

na cadeia do Espinhaço: terra-mãe do Rio Santo Antônio

APOIO A PRODUTORESPara a Anglo American, o incentivo à atuação sustentável de pequenos produtores rurais nos municípios em seu entorno também é prioridade. Por isso, a empresa apoia a regulari-zação ambiental das propriedades e promove a capacitação dos produto-res, para que eles conheçam e ado-tem práticas mais amigáveis de uso dos recursos naturais.

Atualmente, 17 proprietários rurais já aderiram de forma voluntária à ini-

-co. “Essa adesão é essencial, uma vez que a responsabilidade de manutenção desse corredor não cabe apenas à em-presa. Ela deve ser compartilhada por todos os atores envolvidos”, explica

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-tem conhecer melhor toda a biodiver-sidade e também as particularidades da

estudos já resultaram em teses de mes-trado e de doutorado.

-co tem se mostrado valiosa para toda

conhece uma região e as suas riquezas naturais, mais se pode fazer para que elas sejam protegidas e respeitadas.

-mos que há muitas formas de prote-ger os recursos naturais. No entanto, poucas iniciativas nesse sentido são concebidas e implementadas numa

nossa atuação, tendo como principal catalisador o envolvimento das comu-

SAIBA MAIS www.angloamerican.com.br

Na prática, ele esclarece, o nome mais adequado seria “corredor agroe-

algum, a criação dessas áreas de conec-tividade tem como objetivo paralisar ou impedir qualquer atividade produ-tiva tradicional na região.

“A ideia é fazer mais do que isso. Queremos seguir atuando em parce-ria com os produtores rurais, para que possam conhecer e aplicar os melho-

assim conciliaremos conservação com desenvolvimento.”

PROTEÇÃO E RESPEITO-

ce que todas as ações de conservação ambiental promovidas pela empresa – além de trazer ganhos reais para a na-tureza – também fomentam a pesquisa

cultura, fortalecendo a conscientização das populações vizinhas.

"Queremos ser reconhecidos como um agente ativo na busca do desenvolvimento

equilibrado e sustentável das regiões onde

atuamos."

Aldo Souza

Estão em execução até

o momento atividades de

conservação, enriquecimento e

plantio de áreas, em um montante

de, aproximadamente, 1.300

hectares na região de Conceição

do Mato Dentro, nos municípios de

Tombos e Santo Antônio do Grama.

Além disso, está planejado um

total de recuperação e manejo

de cerca de 3.000 hectares

contemplados nas compensações

florestais do Sistema Minas-Rio,

além de doações de áreas em

unidades de conservação de gestão

pública, a exemplo do Parque

Nacional de Jurubatiba (na vegetação

de restinga) e do Monumento Natural

da Serra da Ferrugem.

Também houve registro de

Henochilus wheatlandii (andirá),

espécie endêmica de peixe da bacia

do Rio Santo Antônio que teve um

exemplar registrado nos estudos

anteriores de monitoramento. De

maneira geral, todas as ações de

conservação destinadas às bacias

beneficiam essas espécies que

necessitam de áreas preservadas

para manterem suas populações

viáveis no longo prazo.

AÇÕES DE PROTEÇÃO

VEGETAÇÃO rupestre da Mata Atlântica: maravilha endêmica e protegida

54 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

EMPRESA & MEIO AMBIENTE

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CY000116H-Olimpiadas de Matematica-AD Revista Ecologico-202x275 mm-FIN.indd 1 2/16/16 11:16 AM

Achar maneiras de mini-mizar o efeito dos arrotos de bois e vacas -por incrí-

vel que pareça, uma fonte im-portante de gases que aquecem o planeta- pode ser mais difícil do que se imaginava, indica um novo estudo.

Esperava-se que, conforme a criação de bovinos ficasse mais eficiente - ou seja, com os ani-mais ganhando o mesmo peso, mas consumindo menos comi-

O ARROTO QUE ESQUENTA O MUNDOArrotos bovinos são uma fonte importante de gases do aquecimento global;

cientistas brasileiros colocaram tubos na boca do gado para medir quanto gás sai de lá e descobriram que, infelizmente, não será tão fácil cortar as emissões

56 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

1AQUECIMENTO GLOBAL

da-, seria reduzida a emissão de metano (CH

4), gás causador do

efeito estufa produzido durante a digestão dos bichos.

Cientistas brasileiros desco-briram, porém, que isso não acontece. Bois que engordam facilmente soltam tanto metano quanto os comilões.

É uma notícia ruim, porque, de maneira geral, o gado bra-sileiro não é conhecido por ser econômico em gases. O fenô-

meno pode estar ligado à ali-mentação do rebanho, que é de qualidade relativamente pobre (rica em celulose) e levaria as bactérias do estômago dos bi-chos a trabalharem bastante e, assim, gerarem mais metano.

O estudo, coordenado por cien-tistas do Instituto de Zootecnia de São Paulo, sugere, portanto, que vai ser preciso intervir em outros aspectos da criação de bovinos do país para diminuir as emissões.

Reinaldo José Lopes (*) [email protected]

Segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (Seapa) de Minas, o abate de bovinos

cresceu 6,3% em 2014, totalizando 3,2 milhões de

cabeças. O número representa quase 10% do total de

bovinos abatidos no país.

Em 2014, 33,9 milhões de cabeças de gado foram

abatidas no Brasil, 1,5% a menos do que o recorde

registrado em 2013. Segundo o IBGE, isso se deve à

redução do consumo, já que, com a alta do preço da carne

bovina, a população tem consumido mais frango e suínos.

FIQUE POR DENTRO

Arroto complicadoEntenda a relação entre gases de bovinos e aquecimento global

DIGESTÃOAnimais como os bovinos possuem um estômago altamente especializado para digerir matéria vegetal, que inclui o rúmen (daí a palavra "ruminantes")

MICRÓBIOSNessas câmaras estomacais, vivem bactérias que ajudam

bois e vacas a "quebrar" as moléculas complexas do capim. 0 problema é que, nesse processo, os micróbios também liberam metano (CH

4), um potente

gás-estufa.

QUANTIDADEAo eructar (arrotar), cada bovino emite

uma quantidade pequena de metano (150 gramas por dia). Mas, com um rebanho mundial na casa dos bilhões (cerca de 200 milhões só no Brasil), o metano emitido pelos bichos se torna um problema

considerável .

MEDIÇÃO

Pesquisadores brasileiros conduziram experimentos para medir os "arrotos" de metano do gado nelore na fase de crescimento. Verificaram que a emissão do gado brasileiro é elevada, mesmo entre os animais mais eficientes no ganho de peso por dia.

  20% é o potencial

de mudança climática produzido pela ação

humana ligado às emissões de metano

Disso, cerca de um terço

derivaria do metano dos rebanhos (há

outras fontes do gás)

1

2

3

Intestino

Esôfago

Omaso

Abomaso

Rúmen

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 572

1AQUECIMENTO GLOBAL

XX ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

Calcula-se que o metano seja responsável por cerca de 20% do aquecimento global até agora. Mas o aumento de emissões da molécula preocupa porque seu efeito é dezenas de vezes mais po-tente que o do dióxido de carbo-no (CO

2), o principal gás-estufa.

A “usina” de metano no organis-mo dos bovinos é o rúmen, uma das estruturas que compõem o comple-xo estômago dos ruminantes.

Para “quebrar” as moléculas mais complexas presentes nos ve-getais que comem, o organismo dos bichos conta com a ajuda de bactérias que povoam o rúmen. É o metabolismo dos micróbios que acaba produzindo o metano.

CÁPSULAS E CABRESTOSA coordenadora do estudo, Ma-ria Eugênia Zerlotti Mercadante, explica que o método para medir as emissões do gado brasileiro (animais da raça nelore) envolve, antes de mais nada, a colocação de cápsulas de SF6 (hexafluoreto

de enxofre) no rúmen dos bichos.Se as cápsulas estiverem funcio-

nando direito, liberarão a substân-cia num ritmo constante. O aparato de medição, que inclui um cabresto especial com um cano muito fino, vai sugando tanto o SF6 quanto o metano. Se a proporção de SF6 for a esperada, quer dizer que a medição está sendo feita corretamente.

Esse cano desemboca num re-ceptáculo de PVC, que guarda os gases que serão posteriormente analisados. O procedimento foi feito em 464 animais em fase de crescimento, junto com medidas de seu consumo de alimentos e de produção de fezes, no pasto e em confinamento.

Os resultados: embora os ani-mais mais eficientes consumis-

sem 10% menos alimento e tives-sem uma capacidade de absorção de nutrientes 4% maior para ga-nhos equivalentes de peso, não houve diferenças significativas quanto ao metano nos arrotos.

“A dieta dos nossos animais é muito mais fibrosa do que a dos bois nos EUA, por exemplo”, ex-plica Maria Eugênia. “É possível que, no nosso contexto, os ani-mais mais eficientes sejam aque-les cujo organismo ataca mais es-sas fibras, o que acabaria levando à maior produção de metano.”

Segundo a pesquisadora, isso não significa necessariamente que os animais mais eficientes não teriam nenhum efeito benéfico para o clima ao consumir menos comida, por exemplo, eles pode-riam contribuir para uma cadeia produtiva menos poluente, daí o interesse em entender o organis-mo deles para investir no melho-ramento genético do rebanho.

O procedimento foi realizado com 464 animais em fase de crescimento

(*) Colaboração para a Folha de São Paulo.

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2, além de proporcionar maior resistência contra impactos. Tudo isso com a qualidade

e a sustentabilidade da ArcelorMittal, a maior empresa do setor de Siderurgia e Metalurgia no ranking da edição especial EXAME Melhores & Maiores 2015.

A Fundação Biodiversitas, com o apoio da American Bird Conservancy (ABC),

vem trabalhando intensamente para promover a conservação da Mata Atlântica e de sua fauna exu-berante. A conquista mais recente é a ampliação da Reserva Particu-lar de Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Passarinho, localizada na divisa entre Minas Gerais e Bahia, na região do Vale do Jequitinho-nha. Foram incorporados cerca de 300 hectares, totalizando 950 hectares de área preservada.

BIODIVERSIDADE

MATA DO PASSARINHO

AMPLIADAA Mata do Pasarinho abrange

os municípios de Bandeira e Jor-dânia (MG) e Macarani (BA). O

1

GLÁUCIA DRUMMOND: “A RPPN

protege uma infinidade de animais”

A RPPN Mata do

Passarinho agora tem

950 hectares de Mata

Atlântica preservadas

Reserva da Biodiversitas, que ganhou mais 300 hectares, é refúgio de aves ameaçadas de extinção, como o entufado-baiano

60 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

novo espaço inclui grandes áreas de floresta primária, bem como antigas zonas de criação de gado que, intocadas por mais de uma década, tornaram-se florestas se-cundárias robustas.

De propriedade da Biodiversi-tas, a reserva foi criada em 2007 e passou a proteger o último re-manescente de Mata Atlântica em bom estado na região. Um dos principais motivos de ter sido criada foi a presença de uma ave extremamente ameaçada de extinção – o entufado-baia-

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FOTO: LUIZ FABIANO/PREF. OLINDA

no (Merulaxis stressemani). Até 2007, ela estava em vias de ser considerada extinta pelos cien-tistas. Estima-se que haja apenas 15 indivíduos na natureza.

Segundo Gláucia Drummond, presidente da Fundação Biodi-versitas, a RPPN Mata do Passa-rinho é considerada um baú de biodiversidade. “Além do entufa-do, provavelmente a espécie mais ameaçada da região, a reserva protege uma infinidade de outros animais, muitos deles ameaça-dos de extinção em grau regional, nacional ou mundial”, explica ela, que também é bióloga. São várias espécies de mamíferos, como o macaco-prego-do-peito--amarelo, o tatu-canastra e a on-ça-parda (ou suçuarana). Trezen-tas e trinta espécies de aves estão protegidas no local, tornando a reserva um paraíso para obser-vadores – os birdwatchers.

OBSERVAÇÃO DE AVESA Fundação Biodiversitas investiu em infraestrutura para propor-cionar o recebimento de turistas, observadores de aves e pesquisa-dores na RPPN. Além da reforma de algumas edificações que já existiam no local, foram construí-dos um quiosque na mata - ponto de parada das trilhas interpre-tativas que podem ser feitas na reserva-, um centro de visitantes multimídia e um alojamento para turistas. Este último tem uma ca-racterística peculiar: todo o es-goto produzido pelos visitantes é tratado na própria reserva por meio de um canteiro biosséptico, tecnologia ecologicamente corre-ta e muito barata.

GUIA FOTOGRÁFICORecentemente, a Biodiversitas lançou o “Guia Fotográfico das Aves da Reserva Mata do Passari-nho”, de autoria de Thais Aguilar e Alexandre Enout, ecólogo da

Fundação Biodiversitas, que tem apoio da Petrobras e da Funda-ção Grupo Boticário.

Com imagens de um dos mais experientes guias de observado-res de aves do Brasil, o fotógrafo cearense Ciro Albano, a publica-ção é inteiramente dedicada às espécies de aves que habitam a RPPN. São 140 fotos que regis-tram a beleza de algumas das aves catalogadas na reserva.

Cada foto vem acompanha-da de informações da espécie, como hábitat, estrato, tamanho, dieta e peso, distribuição e os principais fatores de ameaça. O guia apresenta preferencialmen-te imagens de espécies de maior interesse para os observadores de aves, como as florestais, as ameaçadas de extinção ou de di-fícil identificação.

SAIBA MAIS www.biodiversitas.org.br

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 61

Com mais de 25 anos de

experiência no desenvolvimento

de ações voltadas para a

conservação da biodiversidade

brasileira, a Fundação

Biodiversitas é uma organização

sem fins lucrativos. Com sede

em BH e atuação nacional,

vem implementando projetos

de conservação e estudos

científicos de espécies

ameaçadas da fauna e da flora

brasileiras. Reconhecida por

suas publicações técnico-

científicas, entre elas, as

Listas Vermelhas de Espécies

Ameaçadas de Extinção, a

Biodiversitas possui três

reservas: Estação Biológica

de Canudos, em Canudos

(BA), dedicada à conservação

da arara-azul-de-lear

(Anodorhynchus leari), a RPPN

Mata do Sossego, em Simonésia

(MG), dedicada à conservação do

muriqui-do-norte (Brachyteles

hypoxanthus), o maior primata

das Américas; e a RPPN Mata

do Passarinho.

FIQUE POR DENTRO

Após a publicação da "Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção"

pelo Ministério do Meio Ambiente em 2014, a Mata do Passarinho teve sua importância

elevada no que tange à proteção da fauna brasileira. O número de espécies

ameaçadas na reserva passou de 39 para 46

ENTUFADO-BAIANO: só

existem 15 exemplares

da espécie na naturezaF

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“Elementar, meu caro Watson!” A frase, de Sir Sherlock Holmes a seu médico e assistente John Watson, sempre deixou o segundo com

cara de tacho. Lendo as histórias de Conan Doyle, fica latente a intenção de idiotizar o médico, constante-mente surpreso diante das brilhantes e inesperadas conclusões do amigo investigador.

Mas Watson mudou. Ele não é mais um assistente periférico de Holmes.

Fruto de homenagem ao fundador da IBM, Watson já recebeu o título de “Pessoa do Ano” em 2011, indicado pelo Webby Awards, prêmio de destaques na internet. Já ganhou um jogo de TV, o “Jeopardy”, dis-putando com dois humanos, os mais qua-lificados do game em todos os tempos.

Watson venceu!Mas quem é Watson?Trata-se de uma solução cognitiva da

IBM, um computador que aprende, lite-ralmente. Ao ter acesso a um conjunto de textos sobre determinado tema, Watson é capaz de ler, ler e ler sobre o assunto, em segundos, e apresentar as hipóteses mais prováveis, de doenças a estratégias de mercado.

Watson é isso... só que não! Watson se transformou, desde então, num conjunto de dezenas de funções fornecidas em nuvem que compõe os diversos aspec-tos da computação cognitiva. Ver, falar, analisar perso-nalidade e vai por aí afora.

Temos medo dessas coisas, é verdade. Não negue, caro leitor, que, saída de cenas da série Jornada nas Estrelas, a perspectiva de homens conversando e sendo aconselhados por máquinas é assustadora, principalmente no terreno da velocidade, onde é no-tória a capacidade das máquinas.

Empresas brasileiras, como o Bradesco, já estão avançando para ensinar a Watson suas regras de ne-gócio e, por esta via, oferecer melhor atendimento a seu público, livrando-os de respostas modorrentas em seu call center.

Não se trata mais de ficção. A computação cogni-tiva é uma realidade presente, expressa em produtos que podem ser comprados e instalados em poucos meses ou consumidos como serviço na internet.

É possível que o meio ambiente agradeça um dia.

Se pegarmos firme, é possível que Watson nos ajude muito a plantar corretamente, a prevenir doenças do campo, a conservar nascentes, a prevenir desastres ambientais. Não é à toa que a IBM comprou o The Weather Channel, uma empresa de tecnologia que atua com... meteorologia!

Feitas as contas, a computação cognitiva está sendo festejada como um fenômeno de muito maior impac-to do que tudo o que já se construiu em tecnologia,

uma espécie de extensão do fenômeno da “uberização”, em que a próxima onda não é termos outros motoristas mais gentis, mas carros sem motorista que, certamen-te, poderão conversar conosco enquanto nos transportam, tratando de assuntos que gostamos e nos distraindo a contento.

Feitas as contas, o desafio de Watson é o desafio da humanidade: ou a usamos bem, para justificar as ações que só hu-manos poderão tomar, ou sucumbiremos a um planeta em que o Fórum Econômico Mundial, em seu relatório de setembro de 2015, prevê diretores-máquinas sentados em boards - aquilo a que chamo de CRO (Chief Robotic Officer). Isso até 2025.

É tempo de pensarmos nisso. É tempo de enfrentarmos, cada um de nós, em nossas indús-trias, esta profunda transformação. É preciso cora-gem e decisão. Sem elas, brevemente correremos o risco de ouvir, sem qualquer piedade, uma frase es-tranha: “Elementar, meu caro humano!”.

Não aposto nisso. Estou a postos. Já me pus a cami-nho. Deixo o convite.

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GESTÃO & TIROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*)[email protected]

O DESAFIO DE WATSON

O que é o Webby Awards e o prêmio de 2011 http://goo.gl/DeXfH9

Computação cognitiva no call center http://goo.gl/qXjLGZ

O que quer uma companhia de TI com o Weather Channel? http://goo.gl/p4DZ8A

TECH NOTES

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) e diretor do Arbórea Instituto.62 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

O ATOR Jude Law, que

interpretou Watson no

filme "Sherlock Homes",

de Guy Ritchie: a tecnologia

copiando a realidade

1 AS PEGADAS DE LUND (1)

64 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

Nesta edição, você acompanha os primeiros passos das descobertas do dinamarquês

Peter Lund, o “pai” da paleontologia

Cástor [email protected]

Na primeira metade do sé-culo XIX não poucos na-turalistas escolheram a

América do Sul como centro de suas atividades. Governos euro-peus subvencionavam essas pes-quisas: Alemanha, Rússia, França, Espanha... foram responsáveis pelos trabalhos de naturalistas como Azara, Von Humboldt, Saint Hilaire, Spix, Martius, Agassiz, Wallace ou do mais célebre de to-dos, Charles Darwin, financiado pela coroa inglesa. Nesse período, coleções de numerosos museus da Europa tiveram grande incre-mento. Novos horizontes abriam--se para as ciências naturais.

Na pequena Dinamarca, ao lon-go da história, surgiram notáveis cientistas, como Tycho Brahe e Ole Romer, astrônomos, Christian J. Thomsens, arqueólogo, ou Niels Stensen (=Nicolaus Steno), médi-co e mineralogista, o primeiro a interpretar corretamente a natu-reza dos fósseis.

É consequência dessa tradição a existência no país de museus e coleções excepcionais. Podemos citar, na capital Copenhague, os Museus de Zoologia, Geologia e Botânica, este com quase 2,5 milhões de espécimes. Não é

de se estranhar que o dinamar-quês Peter Wilhem Lund, como outros cientistas da época, che-gasse ao Brasil para aqui realizar suas pesquisas.

Pedro Guilherme Lund nasceu em Copenhague no dia 14 de junho de 1801. Seu pai era um dos mais prósperos comerciantes de lãs da cidade. Com 17 anos, iniciou o cur-so de medicina, que abandonou para estudar zoologia e botânica. Aos 23 anos publicou seus primei-ros trabalhos científicos nas áreas da fisiologia médica e da zoologia, que tiveram grande destaque.

Para realizar estudos botânicos

no Brasil, obteve financiamento de um fundo público, deixando Co-penhague em 28 de setembro de 1825. Além do interesse pela bo-tânica brasileira, o medo da tuber-culose, que vitimara dois dos seus irmãos, o influenciou para deixar a Europa. Lund conservaria durante toda a sua vida grande preocupa-ção com a saúde, tornando-se um tanto hipocondríaco.

COLEÇÕES VEGETAISEm 8 de dezembro, após peno-sa travessia de veleiro, chegou ao Rio de Janeiro em festa pelo nas-cimento daquele que viria a ser o Imperador Pedro II. Além da ca-pital do Império, Campos e Nova Friburgo foram os principais lo-cais nos quais realizou seus estu-dos e formou as coleções de ve-getais que faria chegar ao Museu botânico de Copenhague, onde ainda se preservam.

Em 1829 retornou à Europa, pre-tendendo dedicar-se ao estudo do material coletado. Chegando no mês de abril, já em outubro recebeu o título de doutor e iniciou viagens por diversos países, mantendo con-tato com destacados cientistas da época, como Humboldt, Ampère, Milne Edwards e Georges Cuvier.

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DESBRAVAMENTO

AOS 17 anos, Lund iniciou o curso de

medicina, que abandonou para estudar

zoologia e botânica. Aos 23, publicou

seus primeiros trabalhos científicos

A SAGA DO

RIO DE JANEIRO, Cais, Paço

Imperial e Catedral: neste local,

Lund desembarcou em 1833

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MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 652

Para realizar estudos botânicos no Brasil, Lund

obteve financiamento de um fundo público,

deixando Copenhague em 1825. Além do interesse pela botânica brasileira, o medo da tuberculose também o influenciou para deixar a Europa

Publicou então diversos trabalhos versando sobre aves, moluscos e formigas brasileiras.

Cuvier, diretor do Museu de História Natural de Paris, além de hábil político, o que fez com que se mantivesse no cargo apesar do conturbado período pelo qual a França passava, foi um gênio científico. Excepcional anatomis-ta, é considerado o pai da paleon-tologia. A influência de Cuvier sobre Lund foi intensa. A teoria catastrofista do cientista francês iria fornecer-lhe um parâmetro científico para interpretar as des-cobertas que realizaria na sua vol-ta ao Brasil.

Além de visitar diversos centros científicos, como Berlin, Viena, Roma e Paris, recebeu convites de diversas universidades para permanecer na Europa e estudar o material que coletara durante sua estadia no Brasil. A morte da mãe, o clima inóspito, a pobreza da fauna e da flora europeias e o desejo de conhecer mais ampla-mente as riquezas da exuberante

natureza do Brasil o fizeram deci-dir pelo regresso.

TIRADENTES E DIAMANTESEm janeiro de 1833, o naturalista dinamarquês desembarcou pela segunda e última vez no Rio de Ja-neiro. No ano anterior, Darwin per-manecera vários dias nesse porto, na sua viagem ao redor do mundo. Retomou imediatamente seus es-tudos de botânica, associando-se ao alemão Ludwig Riedel.

Ambos programaram ambi-ciosa expedição para o estudo e coleta de plantas do Cerrado, partindo de São Paulo para o planalto central no mês de ou-tubro desse mesmo ano. As ci-dades de Campinas, Franca e Catalão ficaram para trás. Mas as dificuldades aumentaram até que, finalmente, foi abandona-do o projeto de chegarem à ca-pital de Goiás.

Passara-se um ano desde o início dessa aventura. A solidão inóspita do planalto central e doenças que atingiram Riedel abortaram a ambiciosa expedi-ção. Iniciaram, então, o regresso ao Rio de Janeiro. A alquebra-da caravana, com sua tropa de equinos, menos carregada do que o previsto ao iniciar-se a viagem, adentrou-se por territó-rio da então Província de Minas Gerais, dirigindo-se a Uberaba e daí a Paracatu para rumar em direção a Curvelo. Desde lá, a fatigada comitiva dirigir-se-ia a Ouro Preto, a capital da Provín-

1cia das Gerais e, pela Estrada Real, descendo serranias, chegaria até o Rio de Janeiro.

Essa estrada, que se estendia por 1.200 quilômetros e da qual se pre-servam trechos calçados e pontes de cantaria, foi aberta no século XVII para escoar e controlar as ri-quezas minerais das Gerais e, em consequência, era a única via per-mitida para o transporte de merca-dorias. No controle dos impostos, a metrópole Portugal era implacável.

Em trechos estratégicos dela fo-ram expostos membros do arau-to da Independência, Tiradentes, após seu esquartejamento. Era essa a forma mais eficiente de espalhar a notícia da brutal puni-ção. A Rota dos Diamantes ia de Diamantina a Ouro Preto. Daí bi-furcava-se: até o Rio de Janeiro era o Caminho Novo; o outro ramo, o Caminho Velho, passava por São João d’El Rei, Tiradentes, Passa Quatro e finalizava em Paraty, no Estado do Rio de Janeiro.

CRÂNIO DE TIGREMas em Curvelo, a casualidade es-tava à espreita para mudar planos e fazer história. Peter Claussen era conhecido pela população como Pedro Cláudio dinamarquês. Tra-balhara para o botânico e natura-lista alemão Sellow, que chegara ao Brasil em 1814 a convite de Langs-dorff, médico e cônsul da Rússia no Rio de Janeiro, a fim de fazer parte da expedição científica que organizara para percorrer o país.

No Rio Grande do Sul e no Uru-guai chegaram a coletar fósseis, pelo que adquirira certa prática e tomara consciência da impor-tância que os museus da Europa davam a essas peças. Sellow mor-reu afogado em 1831 no Rio Doce, perto da atual cidade de Ipatinga.

Claussen permaneceu na região, adquirindo em Curvelo uma pe-quena fazenda, Porteirinhas, onde a abortada expedição botânica acabou se hospedando. Na época, numerosas grutas da região eram

exploradas para a obtenção de sa-litre, nitrato de potássio de origem orgânica, usado como fertilizante e na fabricação de pólvora. Claus-sen, além de retirar esse produto, coletava fósseis que comercializa-va na Europa.

Destaca-se, entre eles, o crânio de um tigre-de-dentes-de-sabre hoje guardado no Museu de História Natural de Paris e uma pequena co-leção de peças depositadas no Mu-seu Britânico em Londres. O ines-perado encontro, ocorrido em 10 de outubro de 1834, com um com-patriota na imensidão quase vazia

de habitantes do sertão mineiro, teve imediata reação de Lund. Ao contemplar os fósseis que Claussen lhe mostrou, certamente afloraram na sua memória os contatos havi-dos com Cuvier em Paris.

CAVERNAS DE OSSOSDez dias depois, a viagem pros-seguiu em direção a Ouro Preto, passando por diversas localida-des. Uma delas, o Arraial de Nos-sa Senhora da Saúde de Lagoa Santa. Tiveram também a opor-tunidade de conhecer a Serra da Piedade, onde fizeram grande coleta de plantas, e as minas de ouro dirigidas por ingleses nos arredores de Sabará.

A expedição chegou, finalmen-

te, a Ouro Preto no final de no-vembro. Lund permaneceu na então capital da Província por dez semanas, até que seu amigo Ridel se restabeleceu e pôde prosseguir viagem pela Estrada Real até o Rio de Janeiro. Nesses dias de estadia em Ouro Preto, redigiu e enviou à Sociedade de Ciências de Cope-nhague uma memória sobre a ve-getação dos planaltos do interior do Brasil.

Em 9 de fevereiro retomou o ca-minho de volta para Curvelo, deci-dido a estudar as “cavernas de os-sos”, como eram denominadas. As cidades históricas de Congonhas e Sabará foram visitadas na viagem de retorno e, pela segunda vez, La-goa Santa. Em Curvelo iniciaria o trabalho na paleontologia, a nova ciência que Cuvier fundamenta-ra. Permaneceu como hóspede de Claussen de março a setembro de 1835, conhecendo, então, o no-rueguês Andreas Brant, excelente desenhista, que viera visitar seu anfitrião e que se tornou seu se-cretário e melhor amigo.

Realizou imediatamente sua primeira escavação, que ocorreu no admirável marco da Gruta de Maquiné, situada no atual muni-cípio de Cordisburgo e que havia pouco, em 1825, sido descoberta. O resultado desse trabalho, que demorou três meses, foi ampla e poética memória escrita em 1836, mas publicada na Europa em 1837, o que dá a Lund a primazia ou paternidade na América no tra-balho sistemático de três ciências.

GUIMARÃES ROSAPela magnífica descrição da gruta – que mais de um século depois seria apelidada de Mil Maravilhas pelo escritor Guimarães Rosa, fi-lho de Cordisburgo – completada com minuciosa topografia, Lund é o fundador da espeleologia ame-ricana. Ao longo dos anos regis-traria numerosas grutas (escreveu que penetrou em mais de 800), faria outras descrições, como a do

Em trechos estratégicos da

Estrada Real foram expostos

membros do arauto da Independência,

Tiradentes, após seu esquartejamento. Era

essa a forma mais eficiente de espalhar

a notícia da brutal punição

66 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

AS PEGADAS DE LUND (1)

conjunto de Cerca Grande (Mato-zinhos), e diversas topografias.

Nessa primeira memória referida a Maquiné narra também o achado de instrumentos líticos e a presen-ça de pinturas nas paredes do salão da entrada, que interpretou como feitos por primitivos moradores.

No mês de dezembro de 1836 escreveu uma segunda memória sobre as cavernas, publicada tam-bém em 1837, na qual registra, pela primeira vez na história, uma figura com pinturas rupestres que observara no conjunto de Cerca Grande. E pouco depois, em 1841, anuncia a notável descoberta de fósseis humanos. Tudo isso permi-te considerá-lo o iniciador da ar-queologia sistemática americana.

As numerosas pinturas rupes-tres observadas por Lund foram inicialmente interpretadas por ele como manifestações de indí-genas nômades que supôs seriam Caiapós. Ao descrever o conjun-

to de Cerca Grande, relata que lá ter-se-iam fixado “...encontrando abrigo nas grutas do imponente rochedo. Entusiasmados pela be-leza da paisagem, tentaram imitar os objetos ali existentes, e o sopé

do rochedo se acha coberto de desenhos, que são, na verdade, toscos como a imaginação que os criou; também o Rochedo dos Ín-dios... será sempre um lugar clás-sico para o naturalista viajante, em vista da extraordinária rarida-de de monumentos comemorati-vos dos selvagens do Brasil...”.

Há diversos registros de acha-dos paleontológicos anteriores a Lund nas Américas, como os de Darwin na Argentina e do citado Sellow no Uruguai. No Brasil, o Padre Cazal, em 1817, encontrou um grande esqueleto no Rio das Contas (BA) que seria de masto-donte. Saint-Hilaire, nesse mes-mo ano, recebeu um dente, tam-bém de mastodonte, em Minas Novas (MG).

Spix e Martius, em 1818, reco-lheram fósseis numa caverna de Montes Claros e, segundo Dar-win, encontraram, nos arredores de Formiga, ossos que seriam de

A expedição chegou, finalmente, a Ouro

Preto. Lund permaneceu na então capital da Província por dez

semanas... Nesses dias de estadia, redigiu e

enviou à Sociedade de Ciências de Copenhague

uma memória sobre a vegetação dos planaltos

do interior do Brasil

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 2

LAPA DO MOSQUITO, em Curvelo (MG): o desenho de Lund está exposto no Musel de História Natural da Dinamarca

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CONFIRA na próxima edição:"Uma picada de aranha e o embate de

uma nova biologia na Europa".

Apoio cultural:

uma preguiça terrícola. Já foram referidos os achados do dinamar-quês Claussen em Curvelo, na coleta esporádica de fósseis com a finalidade de comercializá-los. Além desses há outros registros de viajantes que encontraram fósseis em cavernas de Minas Gerais antes de Lund, como os geólogos Mawe, britânico, em 1809, e Eschwege, alemão, em 1816, e Pohl, médico e geólogo austríaco, em 1817.

ARRAIAL DOS PRADOSO mais antigo registro de fósseis em Minas Gerais (e provavelmente do Brasil) teria ocorrido em 1785, no “Arraial de Prados”, próximo da já então importante cidade de São João d’El Rei. O governador da Ca-pitania de Minas Gerais, Luiz da Cunha e Meneses, Conde de Lu-miares, narrava em carta que “...no desmonte de uma lavra apa-receu um esqueleto de 56 palmos de comprido e na altura de 46 pal-mos... e não me parecendo despre-zível uma sempre extraordinária notícia... mandei indagar qual a sua origem... e sua qualidade...; os restos resíduos... tinham ficado em grande desordem que houve quan-do conheceram ser ossos de algum animal depois de três dias que... ti-nham andado quebrando os mes-mos ossos com labancas, cuidando que eram raízes de pau. Já mandei ser avisado, logo que se encontrar mais algum... com vestígios que indiquem antiguidades por todos os grandes socavões que continua-damente se andam fazendo pelas lavras de toda esta capitania...”.

Os restos foram enviados a Coimbra, juntamente com um relatório minucioso feito pelo te-nente Sardinha. São poucos os dados descritivos contidos no arrazoado do relator, mas por algumas tênues pistas as peças, identificadas como “restos ante-diluvianos”, poderiam ser de mas-todonte. Desconhece-se o para-deiro dessas peças.

Nos Estados Unidos da Améri-

ca do Norte, Caspar Wistar, mé-dico e anatomista, citou alguns fósseis em seus escritos. Thomas Jefferson, que chegou à Presidên-cia da República, teria descoberto ossos de uma preguiça terrícola. Richard Harlan, médico e natura-lista referiu, numa monografia de 1825 sobre a fauna americana, al-guns fósseis. Mas foram achados circunstanciais e nenhum dos ci-tados teve dedicação continuada à paleontologia.

Joseph Leidy (1823-1891) é con-siderado o pai da paleontologia norte-americana. Em 1844, gra-duou-se em medicina, iniciando em 1845 sua atividade científica, que incluiu a paleontologia, justa-mente quando Lund abandonava

seus trabalhos de campo. Em con-sequência, Lund foi o primeiro a empreender o trabalho e o estu-do sistemáticos, também nessa área, na América. Deve, pois, ser considerado o “pai” da arqueolo-gia, espeleologia e paleontologia americanas.

MUDANÇA PROFUNDAO paleontólogo iniciante pesqui-sou durante sua estadia em Cur-velo algumas grutas como a Lapa do Saco Comprido e a Lapa do Mosquito. Em 2 de setembro de 1835, encerrou sua permanência nessa cidade, iniciando viagem rumo a Lagoa Santa. O lento des-

locamento foi aproveitado na pes-quisa de diversas grutas, ao todo 19, mas somente em duas achou restos de animais extintos. Che-gou, finalmente, a Lagoa Santa no dia 17 de outubro.

Iniciava uma mudança profunda de vida, escolhendo para morar a então pequena vila de Nossa Se-nhora da Saúde de Lagoa Santa, que teria sido fundada em 1773 por um tropeiro e que consistia em poei-renta rua única, de onde se avista-va a lagoa que hoje lhe empresta o nome. Era localidade estrategica-mente equidistante de numerosos maciços calcários perfurados por grutas. No arraial não chegavam a 180 as casas ocupadas por cerca de 1.500 moradores. Lund definiu a localidade como “...um lugar bom para se viver”. Sua primeira viagem de pesquisa a partir de Lagoa Santa ocorreria em 1836, de meados de abril a meados de maio.

Empregou dez árduos anos em trabalho sistemático de explora-ção, sendo o período da seca (abril a novembro) dedicado à coleta de fósseis nas grutas. Como já assina-lado, mais de 800 foram pesqui-sadas por ele ou seus ajudantes. Somente umas poucas, em volta de 60, guardavam os fósseis que Lund tanto procurava, dos quais somente a metade tinha real im-portância científica. Trabalho hercúleo pelas dificuldades logís-ticas enfrentadas: deslocamentos distantes com tropas de equinos, abertura de caminhos em vegeta-ção cerrada, transporte de ferra-mentas e alimentação, iluminação com lampiões e tochas...

Lund definiu Lagoa Santa como “um lugar bom para se viver”. Sua

primeira viagem de pesquisa a partir desta localidade

ocorreria em 1836, de meados de abril a meados de maio

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68 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

AS PEGADAS DE LUND (1)

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Cristiane Mendonç[email protected]

A fumaça do fogão a lenha sobe vagarosa, enquanto na horta o sol forte ilumi-

na as ervas. A cigarra canta pe-dindo chuva quando, de repente, um esquilo sobe em uma árvore para buscar alimento. As crianças e adolescentes estão espalhadas: algumas na sala tocando flauta, enquanto outras, sentadas em cír-culo no meio da mata, debatem as últimas notícias.

Se você acha que estou descre-vendo um ambiente rural, errou. Na verdade, esse é o cotidiano de

APRENDENDO NA

FLORESTAuma escola diferente que a Eco-lógico visitou em Nova Lima, Re-gião Metropolitana de BH: o Ins-tituto Educacional Ouro Verde. Localizada no bairro Ouro Velho, a instituição tem princípios que se baseiam na Pedagogia Waldorf – que busca integrar de maneira holística o desenvolvimento físi-co, espiritual, intelectual e artís-tico dos alunos.

O ambiente da escola encanta à primeira vista. Situado em uma casa branca rodeada por uma Área de Proteção Ambiental (APA), o

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

espaço atende atualmente 130 alunos dos ensinos infantil e fun-damental. E só nos remete à ideia de uma escola tradicional quando cruzamos com as crianças e ado-lescentes e ouvimos de uma delas algo sobre uma lição que será fei-ta em alemão. Ou ainda, quando durante o recreio os meninos dis-putam uma partida de futebol. No resto, tudo destoa dos prédios de muros altos e das estruturas iguais das escolas que comumente en-contramos pela vida.

O Instituto Educacional Ouro

SALA VERDE: as paredes

são árvores e as aulas

tratam de rios e plantas

Instituição educacional de Nova Lima (MG) mostra que é possível aliar teoria e prática de forma integrada à natureza

70 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

Verde é uma associação sem fins lucrativos, criada por um grupo de pessoas que inclui pais na busca de um ensino mais integrado para os filhos. A escola foi fundada há dois anos e não apenas segue o modelo pedagógico desenvolvi-do pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner. Também se orienta pelos princípios da gestão participativa dos pais e da chamada “escola ver-de”, cujos conceitos de agricultu-ra, resíduos e alimentação seguem uma lógica sustentável.

Em pouco mais de oito mil me-tros quadrados, os estudantes aprendem disciplinas tradicio-nais, como matemática, portu-guês e física, conforme diretrizes do Ministério da Educação (MEC), intercaladas de forma interdisci-plinar a aulas de marcenaria, mo-delagem, astronomia e agricultu-ra biodinâmica, entre outras.

AULA DE PLANTARO professor de agricultura, Gus-tavo Passos, é quem ministra as aulas sobre como produzir hortas seguindo os preceitos da agroflo-resta, que agrega as culturas agrí-colas às florestais. Nelas, os jovens literalmente colocam a mão na terra para plantar, adubar, colher e até mesmo fazer compostagem. Reunido no meio da mata com os estudantes, ele não apenas “os en-sina a cuidar das plantas, mas pes-quisar sobre os nomes das bacias

hidrográficas e córregos que os ro-deiam”. Mais. Instrui todos a plan-tar levando em consideração um hábito ancestral: respeitar as fases da lua e as constelações. Por meio dessa vivência, os alunos produ-zem, na sequência, relatórios com observações sobre a influência dos astros no cultivo das espécies.

DA ESCOLA PARA A MESAOutra atividade que conquistou os estudantes do Instituto Edu-cacional Ouro Verde é a oportuni-dade de levar o alimento que eles mesmos plantaram na horta da escola para ser preparado lá. Um bom exemplo é o trigo, que re-centemente foi colhido e encami-nhado para a cozinha para que os próprios alunos pudessem fazer massas e pães.

Esta prática está diretamente ligada ao projeto de reeducação alimentar que a escola chama de “ecologia da boca para dentro”, que visa conscientizar os alunos sobre os benefícios de uma ali-

mentação saudável. Para se ter uma ideia, no cardápio não en-tra carne vermelha, mas apenas frango caipira, um dia, durante a semana.

Izabel Stewart, diretora de Meio Ambiente da escola, conta que o instituto busca constantemente fazer uma reflexão sobre o que se come. “Servimos arroz integral e, de repente, um aluno chega con-tando que o intestino dele está funcionando melhor. Isso reflete o que nós pregamos aqui: de que seu corpo é o seu primeiro plane-ta!”, resume.

A presença dos pais no am-biente escolar também é recor-rente. Existem oficinas artesanais feitas exclusivamente para eles, incluindo feirinhas, onde as pe-ças produzidas são vendidas. Iza-bel, que também é mãe de duas alunas do instituto, conta que a presença dos pais se dá em con-selhos participativos que discu-tem e determinam temas ligados à escola, além de contarem com o apoio deles em outras ativida-des. “Estamos construindo uma nova sala e os pais de um aluno que são arquitetos colaboraram com o projeto”, afirma ela, apon-tando um exemplo prático de gestão participativa e sustentável que está consolidando uma nova forma de educar.

PEDAGOGIA WALDORFO plano pedagógico anual do

OS CONTEÚDOS das disciplinas são dados de forma interdisciplinar e trabalham o mesmo tema em diferentes aspectos

IZABEL Stewart: “No instituto

nós pregamos que nosso corpo é

nosso primeiro planeta!” MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 712

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Instituto Educacional Ouro Ver-de é elaborado no início de cada ano letivo. Um assunto pode ser trabalhado em sala de aula du-rante três ou quatro semanas, de acordo com o desenvolvimento de cada turma. Se o tema é Idade Média, por exemplo, esse conteú-do será amplificado em todas as matérias, de forma a ser molda-do ao perfil de cada uma delas. A Pedagogia Waldorf prevê que um mesmo professor acompanhe a turma do primeiro até o oitavo ano. Ele ministrará exclusiva-mente os conteúdos até a quinta série. Do sexto ano em diante, o professor poderá contar com o apoio de novos professores para ministrar os demais conteúdos.

As avaliações e reprovações também são trabalhadas de for-ma diferenciada. Segundo a di-retora pedagógica, Eliza Alves, no modelo Waldorf as avaliações são continuadas. “Ao contrário das instituições tradicionais, a nossa avaliação é feita quase que dia-riamente. A partir do momento que é dada a aula principal, faze-mos uma recapitulação dos con-teúdos ministrados no dia an-terior. Isso funciona como uma sondagem. A todo o momento o professor convida o aluno a par-ticipar do conteúdo que ele está ministrando. Dessa forma, acre-

ditamos que a construção da ava-liação é feita desde a oralidade até o momento em que ele tem um trabalho de ditado, de reda-ção, uma cópia de texto.”

A diretora também diz que os pais recebem boletins descriti-vos semestralmente até o quinto ano. E, trimestralmente, a partir do sexto ano - onde se registra todo o conteúdo dado e quais fo-ram os avanços e deficiências do aluno em cada tema trabalhado. Dessa forma, Eliza explica que não existe o termo reprovação. “Como nós vamos destacando o que cada aluno alcança e não al-cança, ele vai tendo um registro que fica para o instituto e para a Secretaria de Educação sobre suas conquistas. Para nós, isso não faz do aluno melhor ou pior

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

que o outro. É um reconhecimen-to de aptidões”, conclui.

Esta forma de aprendizagem vem deixando os alunos satisfei-tos. Lucas Schneider Gallo, de 13 anos, é estudante do sexto ano e conta que sempre estudou em es-colas tradicionais, mas que, este ano, optou por frequentar o Ins-tituto Educacional Ouro Verde. Quando perguntado sobre a prin-cipal diferença entre a antiga es-cola e a nova, ele respondeu rápi-do: “Senti muita diferença no jeito de os professores darem as aulas. Onde eu estudava, o professor apenas repassava a matéria e saía. Aqui, sinto que os professores são mais envolvidos com o aluno, o que deixa a aula mais interessan-te! Temos também mais liberdade para dar opinião. Não é só sentar e ouvir”, afirma. Lucas, que integra a Comissão de Meio Ambiente da escola, quer ser biólogo quando crescer. Também disse que quis estudar no instituto por “gostar da paisagem e da natureza, além de querer contribuir mais com o meio ambiente”. E completou: “A gente vê tanta gente desmatando. O ser humano não precisa disso, ele pode viver com pouco, sem precisar destruir tudo!”.

LUCAS Gallo sonha em ser

biólogo e contribuir para um

mundo melhor

MODELAGEM: aula artesanal conta com a participação de alunos e pais

72 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

A presença dos pais no ambiente escolar também é

recorrente. Existem oficinas artesanais

feitas exclusivamente para eles, incluindo feirinhas, onde as peças produzidas

são vendidas

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SAIBA MAISwww.institutoouroverde.com.br

Nº 37

Definida como um processo cumulativo de degradação ambiental passível de ocor-

rer nas zonas de clima seco de todo o mundo, a desertificação é causa-da por diversos fatores que envol-vem variações climáticas e ativi-dades humanas. E requer ações de mitigação urgentes.

No Brasil, segundo dados do Ministério do Meio Ambien-te (MMA), são 1.488 municípios suscetíveis a esse fenômeno, que necessitam de boas práticas para interromper e reverter o processo de degradação. O Semiárido bra-sileiro, com quase um milhão de quilômetros quadrados, é a região com mais áreas afetadas – parti-cularmente nos estados do Nor-deste –, além de alguns núcleos em Minas Gerais.

A desertificação ameaça a segu-rança alimentar, pois reduz con-tinuamente a superfície das ter-ras agricultáveis e o rendimento das colheitas, fazendo com que moradores do campo se mudem para novos territórios em busca de

melhor qualidade de vida. Afeta, portanto, as condições ambien-tais, econômicas e sociais de uma região ou país, comprometendo a produtividade do solo, os serviços ambientais (como a produção de água e a conservação das paisa-gens), interferindo no equilíbrio de toda a biodiversidade.

Estudos feitos pelo MMA in-dicam que as áreas suscetíveis à desertificação englobam 16% do território brasileiro e 27% do total de municípios, envolvendo mais de 31 milhões de habitantes, exa-tamente no polígono em que se concentra 85% da população mais carente do país. Atualmente, esti-ma-se que uma área maior que a do estado do Ceará já tenha sido atingida pela desertificação de for-ma grave ou muito grave.

São seis os Núcleos de Deserti-ficação do Semiárido onde o pro-cesso de deterioração dos solos se encontra em estágio avançado: Seridó (PB e RN), Cariris Velhos (PB), Inhamuns (CE), Gilbués (PI), Sertão Central (PE) e Sertão do

Causada por fatores que envolvem variações climáticas e atividades humanas, a desertificação tem repercussões social, econômica e ambiental. Boas práticas de uso e conservação do solo são saídas para interromper e reverter o processo de degradação

Luciana [email protected]

São Francisco (BA), correspon-dendo a 200 mil km2.

OS GRANDES VILÕESO desmatamento é uma das práti-cas que contribuem para a degra-dação de terras e a desertificação. Em especial na Caatinga, expondo os solos ao sol, à água e ao ven-to, favorecendo assim a erosão. A agropecuária sem manejo adequa-do dos solos é outra causa de es-tragos, abrindo espaço para a ero-são, que leva ao empobrecimento do solo e, consequentemente, ao maior escoamento superficial e ao assoreamento dos cursos d’água.

A criação de gado (pecuária) também é vilã. O pisoteio contínuo de animais compacta o solo e difi-culta a regeneração da vegetação. A todos esses fatores, soma-se ainda o manejo inadequado dos sistemas de irrigação, que podem levar à sa-linização dos solos. As áreas brasi-leiras suscetíveis à desertificação caracterizam-se por longos perío-dos secos, seguidos por outros de intensas chuvas. Em MG, elas com-

1ECOLÓGICO NAS ESCOLAS -DESERTIFICAÇÃO

UMA AMEAÇA

SILENCIOSA

74 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

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prreendem mais de 50 cidades loca-lizadas no Vale do Jequitinhonha e no Norte do estado.

A baixixa fertilidadde e natural dos solos e a topografia acidentadada que caararactcteerizizamam bboaoa pparartete ddoo JeJe-quitinhonha e do Norte de Minaassreduzem ainda mais a ccapa accidi adede suportee ddasa pastaagens e au-mentam a oococorrência de erosão. Extensas florestas planntatadad s cocom eucalipto e a produção dde soojaja eemmregiimeme dde momononocucultltuura tatambémdedeggradama inúmeros terrenos, as-sim como o garimpo rrududimmenentatar r de ooururo o ee dede ddiaiamamantnte e a explora-çãão de ardósia e de quartzo.

DESERTIFICAÇÃO: é um processo de

degradação que resulta

da ação humana e das

mudanças climáticas.

DESERTO: ecossistema natural

que ocorre em zonas

áridas do planeta.

EROSÃO: desgaste

progressivo do solo

decorrente do arraste

de partículas que o

compõem. De modo

geral, é provocada pela

ação da água, do vento,

do homem ou dos

animais.

SALINIZAÇÃO DOS SOLOS: processo

resultante do

manejo inadequado

da irrigação e da

drenagem em regiões

áridas e semiáridas.

Afeta a germinação, o

desenvolvimento e a

produtividade

das lavouras.

MITIGAÇÃO: medidas tomadas para reduzir

causas ou consequências de um desastre ou de

uma situação a um nível mínimo aceitável de

riscos ou de danos.

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 75MARMAMARMAMARMAMARMARMARMARMARMMMAMAAAMARRRRRMAMARMARMARMMARARRRMMARARMAMARMARMARMARMARMARRRRMAMARRRMARR OÇÇÇÇÇÇÇOOOOÇOÇOÇÇÇÇÇÇÇOÇOÇOOÇOÇÇOOOOÇOOÇOÇOÇOÇOÇOÇÇOÇOÇÇOOOOÇÇÇÇÇO EDEEDDEDDDDDDEEEDE DEEDE DEDEEEEDEDE DDEDEEEDEEEEDEDEEEEEEDE 201202012012020201201201201201222011201010120012010112012002 1666666666666666666666 ||||||||||||||||| ECECECECECECECEECECECECEECECECECECCCCEEEECECECCCCCOLÓOLÓOLÓOLÓOLÓOLÓOLÓOLÓOLOLLLÓOLÓOLÓOLÓOOLLLOLÓOLLOLO ÓOLOLLÓÓÓÓÓÓOLLÓLÓÓÓGICGICGIGIICICCCGICGICGICCG CCICCCCGICGIICCCCCGICCCG CGICCCGGGGIICCGICCCCCGGIICGICOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO 757557575755775755555

RECUPERAÇÃO E GERENCIAMENTOCom sede em Campina Grande, na Paraíba, o Instituto Nacional do Semiárido (Insa), criado em 2004, desenvolve uma série de estudos sobre a dinâmica do pro-cesso de desertificação, contem-plando diferentes aspectos. Entre eles, destacam-se as estratégias de recuperação e gerenciamento das áreas afetadas.

Um dos programas desenvolvi-dos pelo Insa, órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), é voltado para o monitoramento sistemático da

desertificação e se fundamen-ta em dois focos. O primeiro é o estabelecimento de uma linha de investigação de base científica consistente e rigorosa sobre a si-tuação dos processos de deserti-ficação no semiárido.

Já o segundo visa à geração de informações consistentes, siste-matizadas e acessíveis a diferentes públicos-alvo, favorecendo a cria-ção de políticas públicas adequa-das e a elaboração de modelos de utilização que promovam a con-servação e a sustentabilidade dos recursos naturais em toda a região semiárida brasileira.

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ACORDO INTERNACIONALInstituída na França em 17 de junho de

1994, a Convenção das Nações Unidas

para o Combate à Desertificação

(UNCCD, na sigla em inglês) é um

acordo internacional que vincula

juridicamente o meio ambiente e o

desenvolvimento à gestão sustentável

dos solos. Em vigor desde 1996, ela

foi ratificada pelo Brasil por meio do

Decreto Legislativo nº 28, de 13 de

junho de 1997. Ela é um importante

resultado da implementação da

Agenda 21 e trata especificamente das

zonas áridas, semiáridas e subúmidas

secas, onde podem ser encontrados

alguns dos ecossistemas mais

vulneráveis. Já o “Programa de Ação

Nacional de Combate à Desertificação

(PAN-Brasil)”, de 2005, visa identificar

os fatores que contribuem para

a desertificação e as medidas de

ordem prática necessárias tanto ao

seu combate quanto à mitigação dos

efeitos da seca.

O Semiárido brasileiro se

estende por oito estados do

Nordeste – Alagoas, Bahia, Ceará,

Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio

Grande do Norte e Sergipe – e pelo

norte de Minas Gerais.

As regiões semiáridas

representam quase 1/3 da

superfície do planeta. Abrigam

mais de um bilhão de pessoas e

são responsáveis por quase 22% da

produção mundial de alimentos.

São áreas importantes pela

extensão de terras, pelo contingente

populacional e potencial

econômico, bem como pelos

desequilíbrios que podem provocar

no clima e na biodiversidade,

quando mal manejadas.

Apesar do grande potencial

produtivo dessas regiões, uma série

de fatores históricos e estruturais

vem condicionando os padrões de

organização social e exploração dos

recursos naturais ali encontrados,

provocando perdas econômicas

e ambientais significativas,

destruindo a produtividade da

terra e contribuindo para o

aumento da pobreza.

FIQUE POR DENTRO

1ECOLÓGICO NAS ESCOLAS -DESERTIFICAÇÃO

76 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

TRÊS PERGUNTAS PARA...

ALEXANDRE PEREIRA DE BAKKER Pesquisador titular III do Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTI)

MANEJO SUSTENTÁVEL DA TERRAQuais foram, em termos de pesquisas e de ações práticas, os principais resultados alcançados pelo Insa em 2015?Destacaria a participação na UNCCD e a abertura de uma representação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o escritório do Nor-deste, dentro do Insa. Acredito ser este um grande passo para que o instituto desenvolva mais ações de pesquisa e sobretudo de extensão na área de desertificação, que é de extrema importância para o Semiárido brasileiro. Em 2015, a FAO celebrou o “Ano Internacional dos Solos” e o Insa promoveu diversas ações em torno desse tema, por meio de parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a própria FAO. Um exemplo foi o “Dia Nacio-nal da Caatinga”, que em 2015 foi focado em discussões ligadas à conservação e ao uso sustentável dos solos.

O Insa desenvolve iniciativas ou projetos voltados para jovens, no sentido de evitar o êxodo rural em razão da desertificação?A principal missão do Insa é promover a convivência sus-tentável com o Semiárido brasileiro. Nesse sentido, busca promover de forma direta a permanência de homens e mulheres em seus territórios. Mais que isso, considera fundamental permitir o acesso à educação contextua-lizada à realidade do Semiárido, bem como o acesso a políticas que propiciem melhores condições de vida à população. Sob esse ponto de vista, todas as nossas ini-ciativas visam contribuir para evitar o êxodo rural. Os jovens também têm sido foco das ações. De 28 a 31 de janeiro passado, promovemos o “Encontro de Jovens Ru-rais do Semiárido Brasileiro”, em parceria com o governo da Paraíba, por meio do “Projeto de Desenvolvimento

Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú” (Procase), e com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (Fida). Nosso objetivo central é fortalecer as pautas das juventudes do Semiárido nos espaços de participação e no processo de construção das políticas de desenvolvimento territorial. Além de contribuir com subsídios e diretrizes para o Plano Nacional de Juventude e o Plano de Sucessão Rural.

O senhor considera que há esforços suficientes por parte dos estados e prefeituras no combate e/ou controle da desertificação? Existem esforços variados por parte dos governos e da sociedade civil. O Insa, em parceria com o MMA, tem atuado no âmbito da Comissão Nacional de Combate à Desertificação (CNCD) para apoiar projetos em prol da conservação e sustentabilidade dos solos, além de mobilizar a população para a importância das boas práticas e do manejo sustentável de terras para a segurança hídrica, alimentar e energética. Cursos de capacitação técnica voltados para pesquisadores, técnicos agrícolas, líderes comunitários e agricultores são fundamentais para promover a conservação e o uso sustentável dos solos. No entanto, ainda observo que falta sensibilização dos gestores públicos, em sua grande maioria, sobre esse assunto de grande importância para o homem do semiárido. Há que se ter mais ações. Urge que nesta região e no país como um todo haja ações efetivas para se implantar um sistema educacional de boa qualidade, com escolas em tempo integral, nas quais as crianças aprendam desde cidadania à conservação dos recursos naturais, nacionais e territoriais.

Não podemos mudar o passado, mas podemos iniciar um novo futuro. E ele começa pela educação.

Junte-se a nós!

Nós apoiamos essa ideia!

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 77

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MARRÇO DE 2016 || ECOLÓGICO Ó 7777

Dia desses estava encarapitado no derredor de um braseiro, assoprando um enorme fole no intento de amolecer um feixe de mola de ca-

minhão. A ideia era fazer daquilo um facão e a lâmina em brasa esticada, por riba da bigorna, recebia seve-ras marretadas do Tião, mestre nessas artes aqui do sertão. Homem sério, dotado de muitas habilidades, ele aos poucos foi dando forma à ferramenta.

O trem tava inté dando certo, quando João Bar-riga adentrou na oficina. Seu rosto estava verme-lho qual o fogo da forja. E um dos pés descalços se apresentava igual uma pipa, de tão inchado. A cada passo, ele soltava uma praga e fazia uma careta, dando maior visibilidade ao seu sofrimento. Ele foi

me vendo e dizendo: “É essa danada da gota! Num tô me aguentando em pé. Passei essa noite em claro esperando amanhecer pra buscar recurso e dar fim nesse sofrimento. Pois chego na farmácia e num tem o remédio... Maria, valei-me!”

Fiquei observando sua expressão injetada pelos olhos vermelhos da insônia e me alembrei que a Gota é uma doença que aparece derivada do excesso de áci-do úrico circulando no sangue, fazendo com que cris-tais de sódio se depositem nos tecidos e articulações, gerando dor e inflamação que acompanha os “goto-sos”. Tem uma planta afamada nas tratativas de casos como o do João, que é o araticum (Anonna crassifolia). Típica de nosso Cerrado, nessa época do ano esparra-ma seus frutos de paladar arenoso, cheiro adocicado (e até enjoativo) nas feiras sertanejas.

Foi só o tempo de falar sobre essa possibilidade que ele logo se interessou. E foi se apoiando em meu bra-ço enquanto dizia: “Por misericórdia, você sabe don-de arranjo desse remédio aí? Num tô me aguentando de dor”. Maldade demais deixar um amigo em sofri-mento! Prontamente me dispus a buscar um boca-do da entrecasca da árvore, pois sabia de um pé dele beirando a cerca da casa de Mariinha de Antônio. Fui num pé e voltei noutro - gastei tiquim de tempo. Trouxe uns galhos e rapidamente raspei a parte mor-ta da casca, se dei na entrecasca e bati forte com um porrete, até que ele deu de soltar grandes lascas, que fui picando em pedaços menores.

A água já tava no fogo e joguei um punhado equiva-lente a pouco mais que uma colher de sopa das cas-cas, deixei ferver e esperamos até dar ponto de tomar. Num demorou um “tim” e ele já havia tomado todo o chá em grandes goles enquanto conversávamos. Aos poucos foi se acalmando e acabei por levá-lo em casa para evitar o sofrimento da caminhada. Poucos dias depois nos esbarramos na rua e ele fez festa agrade-cendo “santo remédio, que jogou água na fervura”. O facão até hoje ainda não tá pronto, mas o remédio do João Barriga até já deu resultado.

Inté a próxima lua!

O AFAMADO ARATICUM

(*) Jornalista e consultorem plantas medicinais.

NATUREZA MEDICINALMARCOS GUIÃO (*)[email protected]

ARATICUM

(Anonna crassifolia)

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78 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

1 VOCÊ SABIA?

80 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

No mês em que se celebra o “Dia Mundial da Água”, a Ecológico faz uma viagem pelo universo das plantas aquáticas, tipos de

vegetação que adornam lagoas e rios e colaboram para o equilíbrio dos ecossistemas. E que, devido

à ação humana, podem se tornar um sinal de desequilíbrio ambiental e contaminar corpos hídricos. Ficou curioso? Então saiba mais, a seguir, sobre as plantas que podem desempenhar o papel de mocinhas e vilãs da natureza:

Cristiane Mendonç[email protected]

Flora aquática

QUEM SÃO ELAS?Plantas aquáticas são vegetações

adaptadas ao meio hídrico e

classificadas pelos pesquisadores

como macrófitas (macro =

grande, fita = planta). Pelo fato de

constituírem um grupo amplo de

variações, essas plantas recebem

sete diferentes classificações

conforme seu modo de vida,

que podem designar vegetais

que habitam desde brejos até

ambientes totalmente submersos.

Esse grupo inclui desde macroalgas

até plantas com folhas que podem

atingir 2,5 m de diâmetro e suportar

até 40 kg bem distribuídos, como a

vitória-régia (Victoria amazonica).

FLOR-DE-LÓTUS Uma das plantas aquáticas mais conhecidas no

mundo é a flor-de-lótus (Nelumbo nucifera). Seu

hábitat natural são os pântanos, onde ela cresce se

nutrindo das águas permeadas por lodo e lama.

Mas, ainda que “sua morada” possa parecer um

ambiente inóspito, a flor-de-lótus cresce bela e

imponente. Outra curiosidade interessante sobre

esta espécie é que todas as noites sua flor se fecha

e ela submerge, voltando apenas no dia

seguinte, tão bonita quanto no dia anterior.

Tudo porque ela possui micro-organismos que

repelem a sujeira. Características que fizeram da

flor um símbolo, principalmente, das religiões orientais,

que veem na espécie uma metáfora do progresso da

condição humana ao superar as adversidades.

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SALVE O BURITI! O buriti (Mauritia flexuosa),

reverenciado nas obras do escritor

mineiro Guimarães Rosa, é também

classificado como uma planta

aquática. A palmeira, comum no

Cerrado, cresce apenas em regiões

úmidas - as veredas - e sua presença

indica que a água é de boa qualidade.

Infelizmente, a palmeira está incluída na lista de

espécies ameaçadas de extinção, já que seu hábitat

vem sofrendo com a crise hídrica e a expansão

desordenada da agricultura. Mesmo ameaçado, do

buriti tudo se aproveita: seus frutos são utilizados na

culinária e na obtenção de óleos, tanto para indústria

de cosméticos quanto na medicina natural, além do

uso da madeira para construção de móveis.

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INDICADORES BIOLÓGICOS Sabe aqueles rios cujas águas parecem estar

literalmente verdes? Ou ainda outros completamente

cobertos por aguapés (Eichhornia crassipes)? Esse

fenômeno é chamado de “eutrofização”. Trata-se de

um processo de multiplicação de plantas, comum em

corpos d'água sem tanta movimentação, como lagos

e represas. Quando as plantas aquáticas crescem de

forma desordenada, elas indicam dois problemas:

o primeiro é que a quantidade de nutrientes como

nitrogênio e fósforo, comuns em esgotos domésticos,

estão altas. O segundo é que ao formar uma cortina

verde sobre a superfície, elas impedem a passagem

de luz e a realização da fotossíntese. Assim, o nível de

oxigênio diminui, causando a morte da biodiversidade

aquática, como os peixes. Péssimo sinal!

BELEZA INTERIOR Não tão bela como a flor-de-lótus, porém bem mais

comum em terras brasileiras, é a taboa (Typha Domingensis). A planta é perene. Possui uma espiga

marrom e seu caule cilíndrico pode atingir até três

metros de altura. Seu crescimento desordenado pode

representar risco de desequilíbrio, já que é capaz de

abafar outras plantas e reduzir as áreas abertas de

espelhos d’água. Ainda assim, é um vegetal que tem

grande capacidade de absorver metais pesados, podendo

servir para limpeza de águas contaminadas. Sua fibra

é durável e resistente, sendo utilizada como matéria-

prima no artesanato de bolsas, caixas e até móveis.

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MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 81

1ENSAIO FOTOGRÁFICO - JOSÉ ISRAEL ABRANTES

82 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

Premiado fotógrafo registra a beleza dos sertões brasileiros com textos-poemas de Olavo Romano e Geraldo Amâncio

GRANDE SERTÃO:

BRASIL

LAJEDO de Pai Mateus,

Cabaceiras (PB)

2MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 83

Uma viagem pelo Brasil profundo dos grotões distantes das grandes cidades. Esta é a propos-ta da obra "Sertões do Brasil", do fotógrafo José

Israel Abrantes. Resultado de cinco anos de pesquisas e viagens pelo interior dos estados de Minas Gerais, Pa-raíba, Pernambuco, Ceará e Alagoas, o livro faz um per-curso de rara beleza pelos magníficos sertões do país.

A obra é uma realização da Conceito Editorial, em edição bilíngüe (português/inglês), com patrocínio da Pottencial Seguradora, via Lei de Incentivo à Cul-tura/Ministério da Cultura.

Em 184 páginas e mais de 100 fotografias, sele-cionadas especialmente para este projeto, encon-tramos a natureza agreste, os homens na lida do gado, os mestres do artesanato, as festas populares e as manifestações da fé. São imagens carregadas de força e simbolismo. Nos registros da vida cotidiana ou nos detalhes que saltam das caatingas, cavernas, rios e cerrados, o que se exprime é um Brasil profun-do, pouco conhecido, mas exuberante.

Três fotos do livro foram selecionadas recente-mente no concurso Itaú BBA e no 11º Prêmio New Holland de Fotojornalismo.

“Sertão é lonjura onde a terra azula, a vista mal alcança e vivente desiste de seguir adiante”, escreve Olavo Romano. O livro viaja por esse território mí-tico que já inspirou grandes clássicos da literatura brasileira, como “Grande Sertão: Veredas”, de Gui-marães Rosa; “Memorial de Maria Moura”, de Ra-

chel de Queiroz; “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna; “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto; e “Fogo Morto”, de José Lins do Rego. Foi no rastro desses cenários inspiradores que José Is-rael Abrantes empreendeu a sua jornada fotográfica.

Com a experiência de mais de três décadas vascu-lhando o Brasil, ele mirou a sua lente com sensibilida-de e precisão, nos entregando um livro memorável.

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SAIBA MAIS (31) 99941-5152

[email protected]

(31) 3225-1888

PARQUE Nacional da

Serra da Capivara, São

Raimundo Nonato (PI)

SACA de Lã,

Cabaceiras (PB)

VEREDAS do

Rio Pandeiros,

Januária (MG)

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1ENSAIO FOTOGRÁFICO - JOSÉ ISRAEL ABRANTES

QUEM É ELE

Graduado em Comunicação Visual pela

Universidade Mineira de Arte, José

Israel Abrantes começou a publicar

seus trabalhos em 1980. A partir de

1982, passou a atuar no mercado

publicitário como fotógrafo e editor

de fotografia. Entre seus principais

trabalhos autorais estão os livros "São

Francisco Rio Abaixo" (2006), vencedor

do "Prêmio ABIGRAF" do mesmo

ano, "Retratos de Minas" (2007) e

"Tesouros de Minas" (2014). Suas fotos

integraram ainda o livro “Caminhos de

Ouro e a Estrada Real”, vencedor do

"Prêmio Jabuti" de 2006.

IPÊ-AMARELO,

Parque Nacional Grande

Sertões Veredas

IGREJA Senhor do Bonfim,

Piranhas (AL)

1MEMÓRIA ILUMINADA - AILTON KRENAK

86 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

KRENAK: "O nosso território

é o 'Atu', o rio que vocês

chamam de Doce"

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Qualquer pessoa que estudar mais a fundo a vida e a obra do brasileiro-índio Ailton

Krenak irá entender literal e verda-deiramente o sentido da palavra “líder”. Verá que liderar é um verbo que só faz sentido de ser conjugado se for para ajudar e unir os seres hu-manos. E, mais importante, tornar o mundo um lugar melhor – mais justo e igualitário – para se viver.

Não há como separar a vida de Ailton Krenak do movimento in-dígena brasileiro. Ele nasceu em 1953, no Vale do Rio Doce. Aos 17 anos, mudou-se com a família para o Paraná, onde se alfabetizou e se tornou jornalista e produtor gráfi-co. A invasão e a destruição das ter-ras indígenas pelo “povo branco” levou Krenak a se tornar um ati-vista de destaque a partir dos anos 1970, encabeçando a luta para que a Constituição brasileira contem-plasse os direitos dos índios em sua totalidade. O discurso de Krenak no Congresso Nacional, em 1987, é histórico e também está registrado no livro (leia mais no box).

“Queríamos ser respeitados na

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nossa identidade. Que o índio continuasse a ser índio”, disse ele durante o lançamento do livro da série “Encontros” (Azougue Edito-rial), na capital mineira, que reúne entrevistas concedidas à impren-sa entre 1984 e 2013. “A sociedade achava que tínhamos de evoluir quase que biologicamente para ter direitos humanos. Percebi isso e comecei a ‘espernear’.”

Mesmo com as conquistas da Constituição Federal de 1988, a luta de Krenak não havia terminado: a repressão ao índio e as ameaças ao povo e ao território continuaram. Nas décadas seguintes, atuou, com a participação de representantes de outras tribos, na criação de ins-

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 87

Luciano [email protected]

O "CABEÇA" DA

TERRAPrincipal líder do movimento indígena dos anos 1970 recebe o título de “Professor Honoris Causa” pela Universidade Federal

de Juiz de Fora e tem sua história de luta rememorada

tituições para lutar pelos direitos e garantir melhores condições de vida para os indígenas, como a ONG Núcleo de Cultura Indígena, que ele mesmo fundou. E, ainda, o Centro de Pesquisa Indígena e a Embaixa-da dos Povos da Floresta, centro cul-tural localizado na capital paulista que reúne povos indígenas e extra-tivistas da Amazônia com a propos-ta de divulgar a cultura e o conheci-mento dos povos tradicionais.

O trabalho de Krenak foi reco-nhecido no país e fora dele em várias ocasiões: em 1989, recebeu o “Prêmio de Direitos Humanos Letelier-Moffitt", nos Estados Unidos. E, na Grécia, foi homena-geado pela Fundação Aristóteles Onassis com o “Prêmio Homem e Sociedade”. Recentemente, ele também foi condecorado com o título de “Professor Honoris Cau-sa em Sabedoria Indígena” pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Confira, a seguir, alguns dos seus principais pensamentos des-te grande líder indígena:

ETNIA KRENAK“Na nossa língua, ‘kren’, é cabeça. ‘Nak’ é terra. O nome do meu povo é ‘cabeça da terra’. Estávamos aqui antes de ganharmos o apelido de ‘índio’. A nossa autoidentificação é que somos ‘burum’, gente. Como quem sempre escreveu a história foram os portugueses, eles diziam que tinham encontrado índios. Mas somos gente mesmo.”

“Esse nome – krenak – é o nome da minha tribo, de onde eu venho. E o nosso território é o Atu, aquele rio que, nos mapas, vocês conhecem como Rio Doce. Esse povo vive em uma região de Minas Gerais, que é o Médio Rio Doce e que chamamos de Uatu. Quando começaram a explo-rar essa região, passaram a chamá--la de Vale do Aço.”

“Não somos sedentários. Mesmo o Estado tendo criado uma reserva para nós, nós circulamos por outros lugares. Uma das nossas fontes de conflito com os nossos vizinhos – os brancos –, foi exatamente porque eles queriam que ficássemos confi-nados dentro da reserva.”

“Tanto os krenak quanto os ma-xacali, nas décadas de 1940, 1950 e 1960, foram retirados de seus territó-rios de origem e despejados em terri-tórios distantes, pelo governo, como política de dissolução da família indígena. Fizeram isso intencional-mente, para os índios acabarem.”

SER BRASILEIRO“O Brasil diz que é formado por ín-dios, negros e brancos. Mas a vida inteira ele tenta apagar da ‘foto’ os dois parentes que não são os brancos. Então, que família mais perversa é essa? Brasileiros somos todos, inclusive os índios.”

LUTA CONSTITUCIONAL“Estávamos definidos pelo Código Civil Brasileiro e pelas Constitui-ções anteriores como relativamen-te capazes do ponto de vista jurídi-co. E essa situação de capacidade relativa jurídica é que nos colo-cava numa situação que não era

vantajosa, assim como as mulheres e os doentes mentais.”

“Teve uma época em que o jor-nalista Hiram Firmino teve que ‘apanhar’ para que tirassem as algemas daqueles que eram con-siderados doidos.Uma coisa que o Brasil fazia era achar, naquela época, que os índios eram inca-pazes de brigar por si mesmos - eles também prendiam qualquer pessoa que eles achavam que era doida. O nosso Código Civil acha-va que os índios, as mulheres, os

doidos deveriam ser assistidos juridicamente. Isso denunciava que nós, até recentemente, éra-mos considerados uma sociedade atrasada, no sentido de se perce-ber como plural.”

“Na Constituinte de 1988, liderei um movimento indígena que ti-nha vários povos, como os xavan-tes, ianomamis, guaranis, pataxós, os karajás, da Ilha do Bananal, os terenas, do Mato Grosso, os índios do Nordeste, xucuru-pariri, quiri-ri, pancaradu, os caingangue, do Sul do Brasil. Todos eles se senti-ram ameaçados pela política do estado brasileiro. E, na década de 1980, com 26 anos, já estava enga-jado no movimento.”

“Organizamos uma união das nações indígenas, com todos esses povos reunidos em um conselho de tribos. E foi representando esse con-selho que fizemos uma interven-ção na Constituinte de 1988, rei-vindicando os direitos aos nossos territórios, e sinalizando aos povos que não estávamos ali tempora-riamente para depois virar branco. Não temos interesse nenhum nessa perspectiva. Queríamos ser respei-tados na nossa identidade. Que o povo indígena continue sendo ín-dio. Que meus tataranetos possam sentar aqui e falar ‘eu sou Krenak’, contar a história de seus antepas-sados com orgulho.”

MEIO AMBIENTE“Se você for a uma nascente e se abastecer de água ali, é preciso ter certeza que, passadas cinco, seis gerações, a sétima também poderá ir àquele lugar e beber água com a mesma qualidade.”

“A natureza não é uma fonte inesgotável de recursos naturais.”

“Se perguntarmos para alguém o que é meio ambiente, cada um vai falar uma coisa. Quando o Brasil foi deixando de ser um país de economia agrícola e começou a acabar com nossas nascentes e percebeu que as florestas estavam sendo desmatadas – e, mais recen-

88 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

"Mais de 250 indígenas foram

assassinados nos dez primeiros anos do

governo Lula/Dilma."

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MEMÓRIA ILUMINADA - AILTON KRENAK

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temente, começou a ver a crise de abastecimento de água e agrava-mento do clima - é que se percebeu que existia uma coisa chamada meio ambiente.”

“Na cultura da maioria dos po-vos indígenas, a percepção de que o vento mudou é desde que o cama-rada nasceu. Meio ambiente, de po-vos que sempre viveram colados na natureza, é uma experiência mais do ambiente integrado a todo o ci-clo da vida do que apenas à ideia do recurso natural. A grande diferença que existe entre o pensamento dos índios e o pensamento dos brancos é que estes acham que o ambiente é recurso natural, como se fosse um almoxarifado em que se tira as coi-sas. Para o índio, é um lugar que tem de se pisar suavemente, porque está cheio de outras presenças.”

“Meio ambiente pode ser qual-quer lugar, um depósito onde se tira minério, água, floresta, se exaure todo. Essa visão de recur-sos naturais, na qual foi consa-grado o meio ambiente, é equi-vocada. Tentaram consertar isso com a expressão desenvolvimen-to sustentável, mas os recursos naturais devem ser renováveis. Para o povo índigena, não há nada de sustentável naquilo que chamamos de economia, porque esse termo supõe que se vai sa-quear a terra. Se você tira e não põe, não é sustentável.”

“A natureza foi sendo configura-da como um lugar perigoso para as crianças. Quando pequenos, a gente nem sabia andar direito, mas já se misturava a ela, entrando nos córregos, cachoeiras, brincando com os animais...”

“Se somos capazes de nos desfa-zer da paisagem, a ponto de daqui a gerações nossos tataranetos não terem a oportunidade de vê-la, como é que podemos dizer que es-tamos sendo sustentáveis? Que sustentabilidade há nisso? Pode-se, por exemplo, roubar o que é ima-terial, porque ele não conta? O que é espírito, o que dá sentido à vida,

que é subjetivo, que só poetas e ín-dios enxergam, se pode tirar?”

“O meio ambiente que devemos pensar é a nossa casa comum. Não podemos desfazer de uma parte de nossa casa porque o sentido de co-mum nos obriga a cuidar dela. Não é a casa que a mãe cuida, cozinha, de-pois todo mundo suja e vai embora. É preciso cuidar da água, da floresta...”

“Fiquei impressionado com o tanto de consciência ambiental que

‘surtou’ alguns de nossos governos estaduais e municipais de que é importante conservar a água. Eles estavam o tempo todo transfor-mando os nossos rios em esgoto. E depois fazem campanhas para não abrirmos a torneira, tipo se você ver uma gota, recolha e guarde...”

SUSTENTABILIDADE“Hoje, é de uma convicção abso-luta que o meio ambiente tem va-lor. Toda empresa bacana agora faz relatório de sustentabilidade, principalmente se ela for usuária e transformadora de matéria-pri-ma visível que vira mercadoria. Ela tem de fazer propaganda para dizer que é sustentável, que se pode comprar carro, geladeira, porque para fazer aquilo não foi preciso ti-rar nada de lugar nenhum. Parece que são mágicos. É como se não ti-vessem depredando as montanhas, exaurindo os rios, o subsolo, mas têm relatórios de sustentabilidade.”

MÁRIO JURUNA“Muitos de vocês, principalmente os que têm a minha idade, se lem-bram do Mário Juruna, um xavan-te que saiu do Mato Grosso, com-prou um gravador e gravava fitas e falas das autoridades. Um dia, ele gravou uma fala do então minis-tro do Interior Mário Andreazza, e percebeu que ele se contradisse, que era mentiroso. Naquela época, di-zer que um ministro era mentiroso ainda não era moda.”

“Mário Juruna não falava portu-guês e saiu da aldeia xavante de-pois de ter liderado, como chefe e guerreiro, a resistência dela contra a entrada dos gaúchos e dos cata-rinenses que estavam derrubando o Cerrado para promover campos de monocultura. Toda aquela exten-são de florestas foi território indíge-na até o início do século XX. Quan-do os brancos entraram nas terras dos xavantes para tomá-las, o Ju-runa liderou uma resistência con-tra essa ocupação e ele aprendeu a falar português brigando com os

MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 89

"A grande diferença entre o pensamento dos

índios e o dos brancos é que estes acham que o meio ambiente é um almoxarifado em que

se tira coisas."

brancos. Ele não teve professor, fa-lava um português muito peculiar. Conseguiu se eleger deputado pelo Rio de Janeiro e viram que ele tinha potência mobilizadora.”

“O primeiro discurso que Juru-na fez no Congresso foi no idioma da tribo dele. E a presidência da casa cortou o microfone e disse que ele não podia falar línguas estranhas no Congresso, mas sim o português. O jeito do Juruna se comportar era uma flagrante contestação da babaquice que es-tava no Brasil naquele momento. Ele fez o discurso em xavante, sua língua materna, e exigiu que fos-se registrado porque isso era ma-ravilhoso, já que os integrantes do Congresso não sabiam falar a mesma língua que ele.”

HISTÓRIA“Se eu fosse escrever a história, seria como o poema ‘Erro de Português’, de Oswald de Andrade: ‘Quando português chegou/ debaixo de uma bruta chuva/ vestiu o índio./ Que pena!/ Fosse uma manhã de sol/ o índio tinha despido o português’.”

ESPIRITUALIDADE“Há uma banalização da vida. Se nós achamos que podemos tratar a água, o ar que nós respiramos, os alimentos, a terra de onde os suprimos, todas essas bênçãos que temos na nossa vida de uma ma-neira superficial, também estare-mos tratando a nossa existência superficialmente. Só vamos levar um susto e mudar quando estiver-mos perto de ter uma tragédia.”

“Quanta gente foi convencida de que quando uma pessoa está doen-te deve enfiá-la em um hospital? Isso porque as pessoas não querem admitir que a gente nasce, passa um tempo aqui na Terra e, com muita sorte, fica velho e morre. Pa-rece que querem contar às crianças que morrer é chato. Então, culti-vam essa ideia da espiritualidade como um recurso auxiliar para

não aceitar que somos como as fo-lhas das árvores, que florescem, fi-cam bonitas e depois caem e viram adubo na terra. Somos assim.”

“Não é simpático lembrar que as pessoas morrem, por isso se fica despistando todo mundo. Quando uma avó, por exemplo, está com 93 anos e adoece, correm com ela para um hospital, porque não supor-tam ficar junto com ela. Aí dizem que ‘todo mundo trabalha’. Com a criança é a mesma coisa. São duas categorias de gente que se põem em algum lugar. Aí fica aquele pessoal achando que sempre terá saúde, correndo... Essa turma bacana não se preocupa com espiritualidade. Isso é para quem vai morrer.”

TRANSCENDÊNCIA“Todos os seres humanos natural-mente têm uma transcendência

que nos põe além da mediocrida-de. Quando dormimos, o nosso es-pírito sonha. E é por isso que con-seguimos acordar no outro dia e andar. Na minha tribo, temos essa coisa de perguntar para o outro com o que ele sonhou. Sonho é im-portante. Dependendo do que se sonhou, se tem material para de-cidir sobre o que você vai fazer du-rante o dia. Agora, se você não tem tempo de contar o que sonhou, sa-berá muito pouco sobre o que terá de fazer na vida.”

“Viver é uma experiência que pode ser muito mais compensa-dora do que viver sem saber o que está comendo, fazendo, dormin-do, sonhando. Talvez isso implica em renunciar algumas coisas que a vida moderna fez com que acre-ditássemos que é importante, que não conseguimos viver sem.”

“Espero não agredir, com a minha

manifestação, o protocolo desta

casa. Mas acredito que os senhores

não poderão ficar omissos, alheios,

a mais esta agressão movida pelo

poder econômico, pela ganância,

pela ignorância do que significa ser

um povo indígena. Temos um jeito

de pensar, de viver. Temos condições

fundamentais para a manifestação

da nossa tradição, da nossa vida, da

nossa cultura, que nunca colocaram

em risco a existência dos animais

que vivem ao redor das áreas

indígenas, quanto mais a dos seres

humanos. Nenhum dos senhores

poderia apontar atos da gente

indígena do Brasil que colocaram em risco seja a vida seja o patrimônio

de qualquer pessoa, grupo humano, nesse país. Hoje, somos alvo de uma

agressão que pretende atingir, na essência, a nossa fé, a nossa confiança

de que ainda existe dignidade, de que é possível construir uma sociedade

que sabe respeitar os mais fracos, aqueles que não têm dinheiro para

manter uma campanha incessante de difamação. Que saiba respeitar

um povo que sempre viveu à revelia de todas as riquezas, que habita

casas cobertas de palha, que dorme em esteiras no chão. Um povo que

não deve ser identificado como inimigo dos interesses do Brasil e nem

coloca em risco qualquer forma de desenvolvimento. O povo indígena

tem regado com sangue cada hectare dos oito milhões de quilômetros

quadrados do Brasil. Os senhores são testemunhas disso.”

DISCURSO HISTÓRICO NO CONGRESSO

1MEMÓRIA ILUMINADA - AILTON KRENAK

90 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

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“Tudo que você deseja - alegria, amor, abundância, prosperidade, bem-

aventurança - está ali, pronto para você pegar. E você precisa ter fome

disso. Precisa ter intenção. E quando você agir intencionalmente e deseja com ardor, o Universo lhe entregará

cada coisa que você desejou.”Lisa Nichols, escritora

92 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

Quem assistiu ao filme ou leu o livro “O Segredo”, de Rhon-da Byrne, se surpreendeu com a simplicidade que é desco-brir o poder dos pensamentos e sua influência em nossos

corpos e na nossa vida. Mais que isso, é descobrir que eles são a mola propulsora da felicidade, funcionando como um escudo contra a tensão e outros males que assolam a humanidade hoje. Com uma filosofia ecológica e direta, “O Segredo” profetiza: você atrai, é e vive o que pensa.

Mas como pode um filme ou um livro despertar tanta curiosi-dade e provocar uma comoção em escala mundial? Os números dizem por si: mais de 20 milhões de cópias foram vendidas em todo o mundo desde o seu lançamento, em 2007. Isso porque o “O Segredo” sagra-se por ser mais do que um instrumento de auto-ajuda. Traz uma grande quantidade de depoimentos, his-tórias reais que às vezes até parecem inacreditáveis. A ciência já havia provado que o pensamento positivo tem um efeito pode-roso sobre o corpo, mas esses depoimentos parecem estar além. São casos em que o universo e as pessoas produzem e atraem tanta energia que todas as ações humanas têm resultados satis-fatórios. Mais. Conclama a “Ecologia da Atração” como a grande esperança de um mundo melhor, com paz, igualdade e liberdade comuns à toda vida pulsante no único planeta com vida conhe-cido na Via Láctea. É isso que você, caro leitor, irá conferir aqui, na primeira das três partes da série especial sobre “O Segredo”, que a Ecológico apresentará até o mês de maio. Boas vibrações! Seja bem-vindo (a) ao segredo mais poderoso do universo para sair da crise. Desde que você acredite, é claro. E tenha fé em si mesmo, como Jesus nos ensinou. Boa e proveitosa leitura!

PARA VENCER A

CRISEEm tempos de recessão econômica, ceticismo e depressão generalizada, a Revista Ecológico

reedita a série de artigos que publicou enquanto “JB Ecológico”, no Jornal do Brasil e em

parceria com a Ediouro, sobre o livro-filme “O Segredo”, da escritora Rhonda Byrne,

best-seller mundial até hoje

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MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 93

O que é osegredo

O segredo é a lei da atração. Tudo o que vem até você é atraído por você mesmo. É

atraído pelas imagens que você mantém em sua mente. É o que você está pensando. Alguns povos, como os ba-bilônios, sempre souberam disso. São grupos privilegia-dos de pessoas. Por que você acha que 1% da população mundial ganha cerca de 96% do dinheiro que é gerado em todo o planeta? Você acha que isso é um acidente?

Isso não é um acidente! É planejado dessa forma. Eles entendem o segredo.

Sabem que o modo mais simples de se encarar a lei da atração é imaginar a si mesmo como um imã. Um ímã atrai outro ímã.

Basicamente, os semelhantes se atraem, tendo em vis-ta que essa é uma lei que trabalha no nível do pensamen-to. Nosso trabalho, como seres humanos, é pensar no que nós queremos e deixar isso absolutamente claro em nossas mentes. A partir desse ponto em diante, nós pas-samos a invocar uma das leis mais poderosas do Univer-so ou de Deus, da Criação, como quiser: a lei da atração.

Muitas pessoas não entendem que pensamentos pos-suem uma frequência. E nós podemos medi-la em um pensamento. Se você pensa em uma mesma coisa por várias e várias vezes, se mantém aquela imagem na ca-beça: aquele carro novo, a casa ou o apartamento de seus sonhos, tendo o dinheiro de que você precisa, construin-do aquela empresa, encontrando a sua cara metade, etc.

Se você imagina como seriam essas coisas, você emite uma determinada frequência consistentemente.

Pensamentos emitem um sinal magnético que atrai um sinal semelhante de volta a você. Imagine-se vivendo com abundância e você atrairá isso. Sempre funciona. Funciona a qualquer momento, com qualquer pessoa.

Muitas pessoas pensam naquilo que não querem e se perguntam porque essas coisas aparecem repe-tidamente na vida delas. A lei da atração não quer saber se você busca algo que seja bom ou ruim ou se você quer ou não determinada coisa. Ela simples-mente responde aos seus pensamentos. Se você fica olhando para um monte de dívidas e sente-se mal a respeito, este é o sinal que você está enviando para o Universo: “Eu me sinto muito mal por conta desse monte de dívidas que eu te-nho”. Você está afirmando isso para você mesmo. Você sente essa situação ruim profunda-mente em todos os ní-veis do seu ser. Assim, você terá mais dívi-das ainda.

LEI DA ATRAÇÃOQuando você olha para algo que quer e diz sim para esse algo, você está ativando o pensa-mento, e a lei da atração respon-de a ele. Ela lhe traz coisas que combi-nem com esse algo. Quando olhar para algo que você não quer e diz não para ele, você, na verdade, não o está afastando. Você está ativando o pensamento relaciona-do ao que você não quer e a lei da atração trata de trazer mais desse algo para você. Tudo está relacionado a ela. A lei da atração trabalha o tempo todo, quer você acre-dite nela, a entenda ou não.

Você pode estar pensando em algo relacionado ao passado, presente ou futuro. Quer esteja relembrando, observando ou imaginando, ainda assim você ativa o processo do pensamento e a lei da atração responde ao seu pensamento. A Criação acontece o tempo todo. Toda vez que um indivíduo tem um pensamento, no processo de criação algo irá se manifestar.

A lei da atração diz: nós lhe daremos o que quer que você diga e no que quer que você se foque. Então se você reclama de quão ruim uma situação é, você cria mais dessa mesma situação. Nós podemos ser muito positivos na nossa orientação e, assim, tendermos a atrair pessoas, eventos e circunstâncias positivistas.

“O que está em cima é como o que está embaixo. O que está dentro é

como o que está fora.”Tábua de Esmeraldas, cerca de 3.000 a.C.

94 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

Se nós formos nega-tivos na nossa orien-

tação, nós tenderemos a atrair pessoas, eventos e circunstân-

cias negativistas. Você atrai até você os pensamentos mais

predominantes na sua mente. Quer eles sejam conscientes ou inconscientes. Se você prestar

atenção no poder da nossa mente, no poder das nossas intenções, das nossas vidas diárias, o se-

gredo está por todos os lados! Tudo o que nós te-mos de fazer é abrir os olhos e ver! Você vê a lei da atração evidente na nossa sociedade

quando percebe que aqueles que mais falam de doen-ças as têm, quando você percebe que aqueles que mais falam de prosperidade a têm. A lei da atração é evidente ao nosso redor se você entende o que ela é. Tem a ver com você ser um ímã atraindo pensamentos, atraindo pessoas, atraindo eventos, atraindo estilos de vida. De fato, tudo o que você traz à sua experiência de vida você traz por causa dessa poderosa lei.

Esse entendimento é básico e profundo. A física quân-tica diz que não se pode ter um Universo com a mente separada dele. A mente, na verdade, molda o tempo todo o que está sendo percebido por ela mesma.

Geralmente quando as pessoas começam a enten-der isso elas ficam com medo por conta da quantida-

de de pensamentos negativos que normalmente têm. Há duas coisas das quais você precisa estar ciente: a primeira é que já foi provado cientificamente que um pensamento positivo é centenas de vezes mais forte do que um pensamento negativo. Isso, por si só, já elimina um certo grau de preocupação.

Segundo, é que vivemos numa realidade onde nós temos um tempo de espera. E isso nos é útil. Você não gostaria de viver num ambiente onde os seus pensa-mentos se manifestassem imediatamente. As coisas vêm constantemente, mas a um certo prazo, o que é muito bom. Você quer estar ciente dos seus pensamen-tos, quer escolher os seus pensamentos cuidadosa-

mente e ainda quer se divertir com isso. Porque você é a obra prima da sua própria vida. Você é o Michelangelo da sua própria vida. A obra que você está esculpindo é você! E você faz isso através dos seus pensamentos.

Tudo ao seu redor nesse momento da sua vida, in-cluindo as coisas das quais você reclama, você atraiu. Isso é algo que você vai odiar ouvir. Você pode dizer que não atraiu aquele acidente de carro, não atraiu aquele cliente específico, não atraiu aquela dívida, não atraiu qualquer que seja a coisa da qual você reclama. Você atraiu, sim. Esse é um dos conceitos mais difíceis de ab-sorver. Mas, uma vez que você aceite isso, é transforma-dor. Faz parte do grande segredo.

Costumamos pensar que nós não temos nenhum controle sobre os pensamentos, que eles funcio-nam em piloto automático. Mas tudo é trazido até nós por eles.

ECOLOGIA EMOTIVAAs emoções são um dispositivo incrível que nós te-mos para nos informar sobre o que temos atraído. Há apenas duas emoções: uma é boa e a outra, ruim. Você as chama por vários nomes diferentes. Mas, es-sencialmente, todas aquelas emoções negativas, quer você as chame de culpa, raiva ou frustração, todas elas carregam a mesma sensação: uma sensação ruim. E tais emoções mostram que o que você está pensando nesse exato momento não está alinhado com o que você realmente quer.

De um outro ponto de vista isso pode ser chamado de uma frequência ruim ou uma vibração ruim ou qual-quer outro nome que você queira. Aquelas emoções boas, aqueles sentimentos de esperança ou felicidade ou amor, aquelas emoções positivas, mostram que o que você está pensando nesse momento está alinhado com o que você realmente quer. Nossos sentimentos ou emoções são como um termômetro que informa se es-tamos nos trilhos ou não. Quanto melhor você se sente, mais alinhado está. Quanto pior você se sente, mais de-salinhado está. O que você faz quando você passa pelas

“A imaginação é tudo. É uma prévia das próximas atrações da vida.”

Albert Einstein, cientista

“Na há como escapar à lei do amor. É o sentimento que transmite

vitalidade ao pensamento. Sentimento é desejo, e desejo é

amor. O pensamento impregnado de amor se torna invencível.”Charles Haanel, empresário e escritor

2MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 95

variedades das experiências do seu dia-a-dia é oferecer pensamentos que, literalmente, dão forma às suas ex-periências futuras. Você pode saber pelo modo como você se sente se as coisas que você está buscando irão lhe agradar quando as conquistar. O que quer que você esteja sentindo é um reflexo perfeito do que está acon-tecendo no processo de criação.

Você atrai exatamente o que sente, não exatamente o que pensa. Se uma pessoa levanta da cama e já tropeça em algo, ela tende a reclamar da má sorte e seguir assim o resto do dia. As pessoas não fazem ideia de que uma simples mudança na atitude e humor delas pode mu-dar um dia inteiro e até as suas vidas. Se você começa o dia se sentindo bem e se mantém nesse estado, contan-to que você não permita que algo mude o seu ânimo, você passará o dia, continuamente, de acordo com a lei da atração, atraindo mais situações e pessoas que man-tenham esse ânimo.

Você pode passar a se sentir saudável nesse exato mo-mento, ou próspero, ou mesmo sentir o amor que está ao seu redor. Mesmo que estas coisas ainda não este-jam lá de verdade. O que acontece é que o Universo irá corresponder ao ritmo da sua música, do seu sentimen-to interior. Ele irá se manifestar simplesmente porque é assim que você se sente. Aquilo no qual você se foca com pensamento e sentimento é o que você atrai. Quer seja algo que você queira ou não. É duro de engolir. Mas quando nós conseguimos aceitar isso, as consequên-cias são maravilhosas. Significa que o que quer que o pensamento já tenha feito na sua vida pode ser desfeito por uma mudança na sua consciência.

“Você cria a sua própria realidade à medida que caminha.”

É muito importante que você se sinta bem, porque esse sentimento é o que é disperso como um sinal para o Universo e começa a atrair mais desse mesmo senti-

mento até você. Quanto mais você se sentir bem mais você irá atrair as coisas que o (a) ajudarão a se sentir bem e continuará elevando você cada vez mais.

Quando você se sente para baixo, você já notou que é possível mudar isso num estalo de dedos? Colo-que alguma música, comece a cantar, isso mudará o seu ânimo. Ou pense em algo lindo, pense em um bebê chorando ou sorrindo, talvez um que você ame. Se apegue a isso, mantenha esse pen-samento na sua cabeça, se esqueça de tudo e se foque somente nesse pensamento. Você passará a se sentir bem.

Você é o criador da sua própria realidade. O processo de criação é um processo que consiste em três passos.

O primeiro é pedir o que você deseja. Você não precisa usar palavras para pedir, porque o Universo não ouve as suas palavras. O Universo (Deus) res-ponde completamente aos seus pen-samentos e à intensidade dos seus bons sentimentos.

O que você realmente quer? Sente-se e escreva o que você quer

num pedaço de papel, no presente do indicativo. Você pode começar assim: “Eu estou muito feliz e grato agora que tenho...” e então explique como deseja que seja a sua vida em todas as áreas. Isso é muito diverti-do. É como se você tivesse o Universo como o seu catálogo: você o folheia e pensa: “Puxa, gostaria de ter esta expe-riência, este produto, uma pessoa as-sim etc.”. É você fazendo encomendas com o Universo. É fácil assim!

O segundo passo é responder. É provo-

“A maioria de nós jamais se permitiu querer o que verdadeiramente

queremos, porque não podemos ver como isso vai se manifestar.”

Jack Canfield, escritor

“Você quer ficar ciente de seus pensamentos, escolhê-los com

cuidado e também se divertir com isto, porque você é a obra-prima

de sua própria vida. Você é o Michelângelo de sua própria vida.

O Davi que você esculpe é você mesmo.”

Joe Vitale, doutor em Metafísica

96 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

car, atrair uma resposta ao que você está pedindo. Essa não é a sua parte, fisicamente falando. Essa é a parte do Universo. Todas as forças do Universo estão respon-dendo aos pensamentos e aos bons sentimentos que

você enviou. Então o Universo passará a se rearran-jar para fazer com que as coisas aconteçam para você. Muitas pessoas nunca se permitem querer o que elas realmente querem porque não conseguem ver como isso pode se concretizar. Se você fizer uma pequena pesquisa, verá como

é evidente que todos que já conquistaram algo não sabiam como o fariam. Eles sabiam so-

mente que iriam fazer. Você não precisa saber como as coisas virão. Você não

precisa saber como o Universo vai se rearranjar. Você não sabe como,

mas será mostrado a você. Você atrairá o caminho.

Algumas pessoas irão dizer pro-vavelmente que pedem, mas nada acontece. Então veremos: você está pedindo, está em dia com o passo um; o Universo está

respondendo, - sempre responde, sem exceção - mas há uma outra coisa que você deve compreender.

O terceiro passo é o da recepção. Esse é o passo no qual você deve se alinhar com o que está pedindo. Quando você está alinhado com o que quer, se sente esplêndido. Isso é o que se conhece por entusiasmo, alegria, gratidão, paixão. Mas quando você se sente desespe-rado, com medo ou com raiva, demonstra

indicadores fortíssimos de que não está em alinhamento com o que está pedindo. Quando você passa a se dar conta de que o modo como se sente é tudo e passa a di-recionar os seus pensamentos baseados no modo como eles fazem você se sen-tir, pouco a pouco consegue encontrar o pensamento e sentimento corretos.

E passa a fazer com que o que pediu se manifeste em sua vida.

Quando você fizer dessa fanta-sia um fato, estará em posição de construir fantasias ainda maio-res e melhores. E isso é o proces-so de criação. O estudo e a prá-tica da lei da atração consistem em descobrir o que pode lhe ajudar a gerar os sentimentos

de já possuir o que deseja. Vá fazer o test drive do carro que você deseja, visite a casa

que você quer comprar,

faça o que puder para gerar o sentimento de já possuir o que você quer! E lembre dessas pequenas sensações, guarde-as e irá atrair o que deseja.

Pode ser que você acorde de manhã e o que você pe-diu já esteja lá. Ou você pode ter uma inspiração para alguma coisa que lhe levará até o que deseja. Pode ser solicitada uma ação sua. Você pode pensar nas ações que tenha que tomar e detestar ter que fazer tais coisas, talvez porque você não goste de tais atividades. Se você não se sente bem com as ações que tem que tomar, você está no caminho errado. Você não está alinhado com o que você pediu. Ações serão solicitadas de sua parte. Mas se você estiver em alinhamento com o que você quer, essas ações lhe serão prazerosas.

O Universo gosta de velocidade. Não adie, não pense duas vezes, não duvide. Quando a oportunidade estiver lá, quando o impulso estiver lá, quando algo lhe cutu-car por dentro, aja! É esse o seu trabalho. E é tudo o que você tem a fazer. Você irá atrair tudo o que você solici-tar. Quer sejam grandes recursos financeiros que você queira atrair, quer sejam pessoas ou um livro. Você deve prestar atenção para o que você está sendo atraído. Você será atraído a coisas e elas serão atraídas a você. Elas se movem na realidade física com e através de você. E isso acontece seguindo uma lei.

Você pode começar do nada. E partindo do nada, par-tindo de alternativa nenhuma, um caminho será cons-truído. Pense nisso: um carro sendo guiado no meio da noite. Só é possível se enxergar cerca de 60 metros à frente. Mesmo assim, é possível que você vá de Porto Alegre até São Paulo dirigindo no escuro, porque tudo o que você precisa ver são esses 60 metros. É assim que a vida tende a se desenrolar para nós. Se você confiar que os próximos 60 metros estarão lá, a vida continuará se desenrolando. E você chegará ao destino, qualquer que seja ele, desde que realmente queira chegar lá. Você chegará lá, porque você quer.

Não perca, na nossa próxima edição, a segunda parte de "O Segredo".

Para adquirir o livro, acesse www.ediouro.com.br.

“Se você é contra a guerra, em vez disso seja pro-paz. Se você é

antifome, seja pro-fartura.”Hale Dowoskin, escritor

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MARÇO DE 2016 | ECOLÓGICO 97

OLHAR POÉTICOANTONIO BARRETO (*)[email protected]

água ainda é tudo que nada nonada no nada humano do mundo no nadaágua é mundo que ainda nonada no humano nada do mundo no nadaágua é ainda o humano nonada de mundo que nada no tudo no nadaágua ainda é o mundo nonada de tudo que nada no nada do nada

tudo que nada no mundo nonada é água que ainda se acaba nonadado nada humano de mundo nonadaque em mágoa se acaba em mánágua

tudo que ainda é mundo (jornada) é água que ainda se acaba (jorrada)no nada humano da dor (adornada) que em mágoa se acaba (amarrada)na mágoade sede que pinga da água (nadágua)em nonágua em nó d’águaem nonada

NÓ D’ÁGUA

98 ECOLÓGICO | MARÇO DE 2016

AR POÉTICOONIO BARRETO (*)

[email protected]

da é tudo que nada mano do mundo

o que ainda a do mundo

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(*) Autor de “A Noite é um Circo sem Lona” (Editora RHJ)[email protected] | facebook.com/antonio.barreto.12139

Ministério dasMulheres, da Igualdade Racial

e dos Direitos Humanos

Secretaria dePolíticas para as Mulheres

Mais direitos.Mais participação. Mais poder.É assim que, nós mulheres, estamos construindo uma vida do jeito que a gente quer. Por isso, as políticas públicas são importantes para seguirmos conquistando ainda mais.

Março. Mês da Mulher.

brasil.gov.br/mulheres

COMBATER O

MOSQUITO.ESSA É A

NOSSA LEI.

O rastro da tragédia não nos deixa esquecê-la,mas há caminhosa seguir.A Assembleia Legislativa trabalhou sem parar, desde o primeiro dia da tragédia do rompimento das barragens em Mariana. Ficou claro para os deputados de Minas o caminho a ser seguido: cobrar, fiscalizar e acompanhar todas as ações para restabelecer a qualidade de vida das vítimas, os empregos e o desenvolvimento econômico dos municípios atingidos.

Depois de inúmeras visitas ao local para ouvir a comunidade, as autoridades públicas e a empresa, a Assembleia convocou agentes das polícias Federal, Civil e Militar, os empresários responsáveis e dezenas de outras autoridades. Os resultados já começaram a surgir, com indenização às vítimas, recurso para revitalização do meio ambiente, reconstrução da infraestrutura e apuração de todas as responsabilidades, como mostra o relatório final do laudo de peritos da Polícia Civil, apresentado no dia 23 de fevereiro, no Legislativo Mineiro.

A Assembleia quer evitar novas catástrofes, mas não vai deixar que a maior de todas caia no esquecimento. #nãoesqueçamariana.

CONHEÇA TODAS AS AÇÕES DA COMISSÃO EXTRAORDINÁRIA DAS BARRAGENS NO PORTAL ALMG.GOV.BR