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360 EDIÇÃO 26 • NOVEMBRO DE 2018 Fábio Gandour defende a ciência na construção de modelos de gestão em saúde Um novo olhar para o Alzheimer Uma ameaça social Como o uso de eletrônicos por crianças e adultos tem transformado o relacionamento com o mundo

EDIÇÃO 26 • NOVEMBRO DE 2018€¦ · tórios do Estado de São Paulo com um sentimento de de-ver cumprido. Havia decidido, ainda no ano passado, a me candidatar ao cargo de deputado

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360EDIÇÃO 26 • NOVEMBRO DE 2018

Fábio Gandour defende a ciência na construção de modelos de gestão em saúde

Um novo olhar para o Alzheimer

Uma ameaça

social Como o uso de eletrônicos por crianças e adultos tem transformado o relacionamento com o mundo

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SOLUÇÕES INOVADORASGLOSAS MÉDICAS

[email protected]

(11) 4562-5923

Entre em contato e saiba mais

Está na hora de superar os desafios tecnológicos do faturamento e enfrentar asMUDANÇAS DE PROCESSOS

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Brun

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riapi

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Após uma licença de alguns meses, volto à presidência da Federação e do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Labora-tórios do Estado de São Paulo com um sentimento de de-ver cumprido. Havia decidido, ainda no ano passado, a me candidatar ao cargo de deputado federal, numa tentativa de levar à Câmara propostas definitivas e que promovessem al-gum tipo de mudança substancial ao setor da saúde. Além do mais, apoiaria, como parlamentar, as reformas tão neces-sárias ao país.

Iniciei minhas andanças pelo interior do Estado muito antes da campanha, como presidente da FEHOESP, a fim de conhecer mais de perto os problemas enfrentados pelos empresários e pela cadeia produtiva da saúde. Intensifiquei a caminhada após a licença e posso dizer que aprendi um bocado, no que diz respeito a política e também sobre a convivência humana, a tolerância, o respeito, a gratidão e a solidariedade.

Numa eleição tão polarizada quanto a que vivemos este ano, ocupar uma cadeira na Câmara se tornou ainda mais desafiador. Pude perceber que vivemos num ambiente de transição: a velha maneira de se fazer política – seja em campanhas ou em governo propriamente dito – se confun-de com os novos tempos, em que as pessoas se apegam às redes sociais, conectadas em seus celulares, para emitirem

opiniões, para lerem notícias e até para escolherem seus candidatos. Os santinhos ainda sujam as calçadas, os co-mícios persistem, os conchavos permanecem. Mas nunca o meio digital influenciou tanto na decisão das pessoas, que, muitas vezes, definem seu voto na última hora, em frente à urna, amparadas por um conjunto de informações estoca-das ao longo de semanas ou meses.

O voto é intuitivo e, sobretudo, tem de gerar empatia. Daí a minha reflexão pessoal sobre o desempenho nas urnas, que não me elegeu. Mas que me deixou um legado de expe-riências sobre sucessos e fracassos. Minha trajetória, pessoal e profissional, é considerada de sucesso. Sou um empresá-rio, um líder, um médico reconhecido pela comunidade científica e, o mais importante, pelos meus pacientes. Mas obviamente enfrentei fracassos ao longo da vida, que me fortaleceram e me trouxeram onde estou. Inspiro-me nisto para seguir em frente, numa jornada que ainda terá longas batalhas, pela saúde e pela melhoria das condições de vida do Brasil. E penso na frase de Winston Churchill para trans-mitir o que ele, com sabedoria, já disse: “Sucesso não é o fi-nal, falhar não é fatal: é a coragem para continuar que conta”.

Yussif Ali Mere JrPresidente

A força do

caminho

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ÍNDICE 05

06

07

08

Como o uso excessivo de eletrônicos por crianças e adultos tem transformado

o relacionamento com o mundo

CAPA 16

Reforma trabalhista completa um ano e mostra nova realidade ao mercado

Atendimento especializado e humanizado é diferencial nos serviços de saúde

Resenha: é possível retardar o avanço do Alzheimer

Irineu Grinberg analisa o novo ambiente laboratorial

22

10

09

2426

12

Profissionais do setor opinam sobre a revista e o destaque do Portal FEHOESP 360

Veja a agenda de cursos do IEPAS para novembro

Os principais eventos da saúde na seção de Notas

Confira o perfil dos estabelecimentos de saúde no Boletim Econômico FEHOESP

Investir em qualidade traz valor e ganhos às clínicas

IN$truir: quatro anos de assessoria especializada aos associados

Fábio Gandour fala sobre ciência, gestão, segurança de dados e inteligência artificial

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PAINEL DO LEITOR

InovadoraGosto muito do formato da Revista FEHOSP 360, que se apre-senta de forma inovadora, agregando três respeitadas instituições: FEHOESP, SINDHOSP e IEPAS. Entidades essas que se integram, atuando como representação do setor empresarial privado da saú-de na política, em prol dos interesses do segmento; na defesa jun-to aos órgãos sindicais, governamentais e sociedade; fomentando conhecimento e estimulando a capacitação e o aperfeiçoamento profissional para melhoria no atendimento aos usuários dos ser-viços de saúde.

Poucas semanas antes das eleições que escolheram o próxi-mo presidente da República, no dia 19 de setembro, na sede da Fiesp, em São Paulo, foi realizado um evento com represen-tantes dos candidatos ao pleito, para falar de suas propostas para a área da saúde. Este foi o principal destaque do portal www.fehoesp360.org.br no último mês.

Na mesma ocasião, a FEHOESP entregou aos representantes uma série de propostas que entende serem urgentes para a sus-tentabilidade do setor em todo o país. O encontro foi promovi-do pelo Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde e Biotecnologia da Fiesp (ComSaude), Colégio Brasileiro de Executivos da Saú-de (Cbexs) e Instituto Coalisão Saúde (Icos).

Outro destaque do portal foi a medida liminar concedida aos sindicatos filiados à FEHOESP, em pedido que visava à suspen-são da proibição de cobrança de medicamentos pelos hospi-tais, clínicas especializadas e assemelhados por valor acima do preço de compra, permitindo a esses estabelecimentos somen-te o reembolso do valor de aquisição.

Papel importanteAcostumamos a acompanhar as novidades nas páginas da Revista FEHOESP 360. Há dois anos, o veículo vem cumprindo seu impor-tante papel de trazer, com exatidão, e fazer chegar aos gestores e profissionais da área de saúde as principais atualizações e movi-mentações do nosso segmento. De forma concisa e bem estrutura-da, a linha editorial da publicação estimula uma leitura agradável e extremamente informativa. Parabéns pela iniciativa e a toda equi-pe. Que venham mais tantos anos pela frente!

JARBAS SALTO JR., DIRETOR DE OPERAÇÕES DA BSL – ADMINISTRADORA DA CLÍNICA SAINTE-MARIE,

CORA RESIDENCIAL SENIOR E ASSISTCARE

LILIANA CHIODO CHERFEN, PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA DOS ADMINISTRADORES HOSPITALARES (FBAH)

PORTAL FEHOESP 360

Confira no Portal:

As principais notícias do setor

Informações jurídicas, contábil e tributária

Podcast

Informativo Notícias Jurídicas

Versão eletrônica da Revista FEHOESP 360

Acesse www.fehoesp360.org.br

DESTAQUE DO PORTAL

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Projeto Líder 360 – módulos V e VI

28 de novembro 8h30 às 17h30

Campinas

Segurança do paciente na coleta de sangue

para fins de diagnóstico

28 de novembro 14h às 18hOurinhos

Excelência no atendimento para

atendentes, recepcionistas e telefonistas

27 de novembro 9h às 17h

Jundiaí

Workshop eSocial – principais

pontos de atenção na visão do RH e do Jurídico

23 de novembro 9h30 às 12h30

Sorocaba

Principais pontos de auditoria em contas médicas para melhores

resultados

27 de novembro 8h30 às 12h30

São Paulo

#AgendaCompletawww.iepas.org.br

*As datas podem estar sujeitas a alterações

Os cinco passos eficazes para o bom

atendimento a clientes

22 de novembro 9h às 17h

Assis

Autoconhecimento – uma chave para

performance

24 de novembro 9h às 17h

Santos

06

CURSOS & EVENTOS

#iepas

Auditoria em contas médicas

23 de outubro9h às 17h

Ribeirão Preto

Excelência no atendimento e

humanização na saúde

22 de novembro 9h às 17h

Presidente Prudente

Excelência em atendimento – modelo

Disney de encantamento

23 de novembro 9h às 17h

Mogi das Cruzes

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Congresso Fenaess debate o futuro do setor O futuro da saúde, inovações que contri-

buem para o avanço da gestão e do atendimento ao cliente e novos

modelos de remuneração foram tópicos debatidos no VII Con-gresso Brasileiro da Federa-ção Nacional dos Estabeleci-mentos de Serviços de Saúde

(Fenaess), que teve como tema

Em comemoração aos seus 80 anos e também para apre-sentar oficialmente ao público o site Memória Saúde, o SINDHOSP realizou, em 20 de setembro, no seu auditório, a palestra “A travessia: adoecer, viver e morrer na marcha imigratória para o Brasil (1890-1926)”, com a historiadora e jornalista Fernanda Rebelo-Pinto.

O tema é homônimo do livro de Fernanda, que na obra volta no tempo para contar a história de mais de 31 milhões de pessoas que imigraram para o Brasil no início do século XX. Segundo ela, famílias inteiras enfrentaram dificuldades, do-enças e morte no processo de travessia, num período em que o mundo enfrentava males como gripe espanholha, peste tur-ca, cólera e febre amarela. Sem contar que a medicina ainda

Historiadora fala sobre imigração e saúde no SINDHOSP

principal “Da saúde que temos para a saúde que queremos”.O evento foi realizado nos dias 20 e 21 de setembro, em

Cuiabá (MT), e contou com a participação de mais de 300 pessoas, entre médicos, gestores, advogados e estudantes. “Discutimos assuntos sobre os quais precisamos ficar aten-tos, pois os desafios são enormes, mas nós, com competên-cia e qualidade, conseguiremos superar esses desafios”, afir-mou Breno de Figueiredo Monteiro, presidente da Fenaess.

Durante o congresso, foi realizada a entrega da comenda Francisco Ubiratan Dellape ao médico pediatra José Carlos de Souza Abrahão, ex-presidente da ANS, Feherj, CNSaúde e da IHF.

engatinhava em relação aos descobrimentos que logo vieram a mudar os conceitos de contágio, como a microbiologia.

O então presidente em exercício do SINDHOSP, Luiz Fer-nando Ferrari Neto, apresentou o site Memória Saúde (www.memoriasaúde.org.br), lan-çado naquela semana, para celebrar os 80 anos completados este ano do Sindicato, considerado o maior da categoria patronal na América Latina e um dos mais antigos.

NOTAS

07

Evento da SBPC/ML reúne 4,2 mil pessoasA Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Labo-ratorial (SBPC/ML) reuniu 4,2 mil pessoas, entre congressis-tas, visitantes, palestrantes e expositores do Brasil, América Latina, Estados Unidos, Europa e Ásia, em seu 52° Congres-so Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (CBPC/ML), realizado em Florianópolis (SC), entre 25 e 28 de setembro.

Com o tema "A medicina laboratorial agregando valor ao desfecho clínico", a programação do evento compreendeu 101 atividades – conferências, mesas-redondas, cursos, en-contros com especialistas, workshops, casos clínicos, dentre outras –, apresentadas por mais de 190 palestrantes brasi-leiros e estrangeiros. Foram expostos aproximadamente 400 pôsteres eletrônicos e houve lançamentos de três publica-

ções. Na exposição técnico-científica, 89 empresas e insti-tuições apresentaram novidades para o segmento de labo-ratórios clínicos.

Segundo o presidente da SBPC/ML, Wilson Shcolnik, “a participação dos profissionais da área no congresso e as dis-cussões propostas são imprescindíveis para o entendimento do papel exercido pe-los laboratórios nas diferentes eta-pas do ciclo de cuidado à saúde”.

Breno Monteiro, presidente da Fenaess

Luiz Fernando Ferrari Neto, diretor da FEHOESP, Shcolnik e José Carlos Barbério, presidente do IEPAS

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Fernanda Rebelo-Pinto, historiadora e jornalista

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egundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), em junho de 2018, o Brasil registrava 322.002 instituições de saúde, com crescimento de 3% em compa-ração a dezembro de 2017. Nesse contexto, destacam-se o aumento de 14,2% das unidades de home care e de 5,8% no número de pronto atendimento. No Estado de São Paulo, no período em questão, a quantidade de estabelecimentos de saúde cresceu 2,5%, com destaque para o aumento de

Primeiro semestre registra crescimento no número de estabelecimentos de saúde

4% de clínicas e ambulatórios e o recuo de 1,4% no número de prontos-socorros. O Estado de São Paulo registrou, em junho de 2018, o contingente de 728.113 trabalhadores em hospitais, clínicas e laboratórios. No acumulado do ano, o segmento gerou 16.061 vagas, destacando-se a geração de 5.519 postos na função “atendimento hospitalar”. O Estado emprega 33% do contingente de trabalhadores alocados no setor no país.

S

BOLETIM ECONÔMICO

Edição nº 3/Agosto 2018 Dados de janeiro a junho de 201808

Fonte: Ministério da Saúde - Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil (CNES) - Consulta dia 23/7/2018

*Pronto Atendimento Geral refere-se às UPAS, que atendem complexidade intermediária, compondo a rede com a atenção básica e a hospitalar

Por tipoBrasil São Paulo Variação %

Jun18 Dez17 Jun18 Dez17 BR SP

Hospitais especializados 6.810 6.810 1.090 1.084 0,0% 0,6%

Clínicas e Ambulatórios especializados 48.785 46.280 10.919 10.499 5,4% 4,0%

Consultórios 158.501 154.018 50.326 49.189 2,9% 2,3%

Home Care 676 592 161 155 14,2% 3,9%

Serviço de Apoio de Diagnose e Terapia 24.014 23.266 4.401 4.257 3,2% 3,4%

Policlínica 7.781 7.504 1.988 1.941 3,7% 2,4%

Pronto Atendimento Geral* 1.166 1.102 289 280 5,8% 3,2%

Prontos-Socorros Geral e Especializado 439 453 144 146 -3,1% -1,4%

Outros 73.830 72.477 8.444 8.306 1,9% 1,7%

Total 322.002 312.502 77.762 75.857 3,0% 2,5%

Tabela 4 - Estabelecimentos por tipo - Em variação % | Acumulado de janeiro a junho de 2018

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“Um bom exemplo é o que acon-tece com o índice de glosas, uma das maiores dores financeiras do setor. Elas são os atores principais do ciclo de receita dos prestadores de saúde e, muitas vezes, o grande erro das or-ganizações é pensar em gerenciar glosas apenas com o fa-turamento. O gestor deve olhar esta área como um apoio estratégico, uma atividade-meio que leva indicadores de melhoria contínua para a administração e produz a qualida-de e a eficiência esperadas.”

De acordo com o CEO da FEHOESP, Marcelo Gratão, o impacto para serviços que não pensam nessas duas áreas vai muito além da perda financeira. “Vemos uma mudança na relação entre prestadores e operadoras, entre médicos e pacientes. Há uma busca maior por ofertas de valor e isso tem um custo para todas as pontas da cadeia produtiva na saúde. A aposta em automação de processos faz com que nos tornemos mais organizados quanto ao que estamos oferecendo ao nosso cliente final e como estamos sendo re-munerados para isso. Desde 2013, com o programa Bússola, que tem como instituições parceiras o Ibes e a Organiza-ção Nacional de Acreditação (ONA), buscamos otimizar recursos e assegurar melhores resulta-dos assistenciais, para que o prestador se torne um referencial de mercado.” (Por Rebeca Salgado)

em sempre qualidade é sinônimo de eficiência em ad-ministração. Gestores podem ofertar valor sem necessaria-mente serem produtivos em determinadas áreas e, quando o tema é saúde, as chances deste problema acontecer são grandes. “A discussão sempre foi permeada pelos recursos disponíveis versus custos. Por muito tempo acreditou-se que quanto melhor a qualidade, maiores eram os gastos. No entanto, é plenamente possível apostar em qualidade e ge-rar eficiência sem inflar o orçamento da organização, e isso só pode acontecer por meio de gestão eficiente e indicado-res de desempenho”, afirmou Christian Hart Ferreira, diretor de Projetos e Novos Negócios do Instituto Brasileiro para Eficiência em Saúde (Ibes), durante evento realizado pela FEHOESP, em setembro, em São Paulo.

Para Ferreira, todo processo produtivo de uma instituição deve ser norteado por cinco pilares: qualidade, confiabilida-de, agilidade, custo e flexibilidade. “Nos serviços de saúde, esses cinco itens visam valorizar os pacientes, organizar a prática médica em torno de ciclos de cuidados e obter resultados ajustados ao risco, medindo diretamente seus custos. Nosso desafio é trabalhar esses conceitos com o ri-gor metodológico devido, como são aplicados no processo de acreditação, por exemplo. Promover qualidade e ainda obter eficiência nos processos é uma questão de vida ou morte para as empresas de saúde. É uma mudança cultural que impacta diretamente o caixa das instituições”, explicou.

Fábio Monsanto, da consultoria Tradimus, concordou e destacou como fatores principais para a ineficiência: a fal-ta de automação por meio de um alto volume dos dados

trafegados e não padronizados, a ineficácia dos processos com

pouco tempo para tarefas de análise e a falta de co-

municação interna que gera informações e/ou conclusões divergentes.

QUALIDADE

09

Investir em qualidade traz às clínicas geração de valor e ganhos financeiros

Retorno garantido

Christian Ferreira, diretor do Ibes

N

Marcelo Gratão, CEO da FEHOESP

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atividade de prestação de serviços em saú-de é composta por empresas dos mais variados tipos e portes. Em comum a todas, no entanto, está a necessidade sempre de se contar com uma assessoria nas questões contábeis que preze pela qualidade e, acima de mudo, inspire confiança. Falando em serviços de saúde, isso ganha ainda mais destaque, dadas as especificidades que so-mente o segmento possui.

Atenta a essa necessidade junto aos seus re-presentados, a FEHOESP criou, com apoio de seus sindicatos filiados, o IN$truir, serviço que promove orientação em relação a dúvidas con-tábeis. O atendimento é feito de forma persona-lizada e gratuita a empresas associadas ou con-tribuintes pagantes de um dos seis sindicatos filiados à Federação, esclarecendo questões não só na área contábil, mas também fiscal, tributária e societária. A iniciativa é pioneira no setor e está completando, neste mês de novembro, quatro anos de existência.

Neste período, foram realizadas 309 consultas, a maioria (280) envolvendo empresas pertencen-

INSTITUCIONAL

Promovendo uma boa

gestão contábil

A

Serviço da FEHOESP, que presta assessoria especializada a empresas do setor, completa quatro anos

tes à base territorial representada pelo SINDHOSP. Embora o serviço esteja disponível para empre-sas de saúde em todo o Estado, grande parte dos atendimentos tem sido direcionada a empresas da capital paulista, totalizando 184 solicitações – ou 60% do total. O restante está dividido entre os escritórios regionais e demais sindicatos da FEHOESP na Grande São Paulo e interior.

As consultas são feitas pessoalmente, por tele-fone, Skype ou ainda por e-mail, sendo que esse último canal tem sido utilizado para a maioria das solicitações. O prazo para retorno das dúvidas le-vantadas é de, no máximo, 24 horas e os atendi-mentos pessoais são previamente agendados e realizados na sede da Federação, por um consul-tor especializado e uma vez por semana.

Em termos comparativos, o número de atendi-mentos feitos nos primeiros nove meses de 2018 já supera o registrado no mesmo período do ano passado. Mesmo com avaliações positivas, a ini-ciativa vem buscando atingir ainda mais empre-sas de saúde. “Nossa luta nesses quatro anos foi sempre no sentido de divulgar o IN$truir para o

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maior número possível de empresas, pois a avaliação que recebemos dos clientes que já o utilizaram é ótima. Temos ciência de que é um bom serviço, que ajuda as empresas a economizarem recursos, pagarem menos impostos e regularizarem sua situação fiscal. Além disso, muitas instituições ainda não sabem que podem consultar gratuitamente nos-so contador”, destaca Denise Macedo Bezerra, gerente de Controladoria da FEHOESP e respon-sável pelo serviço.

Atuação aprimorada

Com o passar do tempo, o IN$truir foi aprimo-rando suas ações, atendendo, com isso, um pú-blico cada vez maior. Hoje, além das orientações em si, são publicados periodicamente no portal FEHOESP 360 (www.fehoesp360.org.br) notícias e artigos com temas relacionados ao serviço. As redes sociais da Federação e seus sindicatos também divulgam semanalmente orientações e dicas.

São realizados, ainda, workshops e encontros com a categoria, abordando temas como recu-peração tributária e eSocial, entre outros. Estava previsto para este mês de novembro, inclusive, a realização de um evento direcionado espe-cialmente a empresas de contabilidade, já que muitas delas representam estabelecimentos da área da saúde. A partir disso, a ideia é que seja criado um comitê formado por escritórios con-tábeis, proporcionando a troca de experiências e estreitando o relacionamento. “Os escritórios contábeis são parceiros importantes e um elo com nossos representados. Por meio do comitê, queremos que conheçam de perto nossa estrutu-ra e todos os serviços que temos a oferecer para a área da saúde. Também que nos tragam neces-sidades e questões que possam ser trabalhadas e retornem em soluções que agreguem mais valor ao dia a dia das empresas”, pontua Denise Bezerra. (por Ricardo Balego)

Tira-dúvidas

Confira algumas das dúvidas – e suas respostas – que já passaram pela equipe do IN$truir:

Se o profissional tiver registro de microempreende-dor individual (MEI), é possível realizar a contratação?

Na contratação por MEI há o risco de se considerar o profis-sional como um contribuinte individual, ou até mesmo de enquadrá-lo na condição de vínculo empregatício, se esti-verem presentes as condições elencadas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para caracterizar o vínculo.

Como encerrar uma empresa inativa?É necessário fazer o Distrato Social, com data atual, e em seu teor mencionar expressamente desde quando a empresa se encontra inativa, baseado em documentos, caso seja neces-sária depois a comprovação da data de início da inatividade. Com assinaturas de todos os sócios, é recomendável reco-nhecer a firma e efetuar o registro do Distrato Social nos ór-gãos competentes, onde constam os registros da empresa, dando baixa e verificando as possíveis pendências e débitos que possam existir.

Com a implantação do eSocial, será necessário ter um programa de folha de pagamento e depois exportar para o sistema?Será necessário preencher diversos campos. Assim, a reco-mendação é que a empresa tenha o programa da folha, o que inclusive atenderá e apoiará o atendimento às exigên-cias do eSocial.

Para a transmissão de Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF) e Escrituração Fiscal Digital das Contribuições (EFD-Contribuições) para PIS/Cofins, é necessário ter o certificado digital do contador ou so-mente com o da empresa é possível realizar o envio?A transmissão pode ser feita com o cartão da empresa. Caso queira que a contabilidade faça a transmissão, é necessário fazer uma procuração para o contador.

Para mais informações sobre o IN$truir, acesse o portal FEHOESP 360 (www.fehoesp360.org.br), ou entre em con-tato pelo telefone (11) 3226-9455 e pelo e-mail instruir@ fehoesp.org.br.

Denise Bezerra, gerente de Controladoria da FEHOESP e responsável pelo IN$truir

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Para resolver problemas cada vez mais complexos,

Fábio Gandour defende a utilização de método

científico, inclusive na construção de modelos de gestão

ábio Gandour é um médico nada tradicional. A começar pela formação, na Universidade de Brasília, onde es-tudou medicina, mas frequentou em paralelo cadeiras como cálculo e histó-ria em quadrinhos. Ao mesmo tempo em que tomou gosto pela matemática, descobriu a computação, ainda na dé-cada de 1980, quando quase ninguém tinha um computador. Brinca que, nesta época, morreu de septicemia

computacional. A verdade é que sofreu tamanha metamorfose que foi estudar ciência da computação na Universi-dade Stanford (EUA), após concluir a especialização em cirurgia pediátrica pelo Toronto Sick Children Hospital, no Canadá. Desde então, nunca mais foi o mesmo. Largou a medicina, virou cien-tista-chefe da IBM e carrega a bandeira da aplicação da ciência nos negócios. Após 28 anos na gigante norte-ameri-

cana, Gandour acredita que facultou seu legado na empresa para os próxi-mos cem anos, como a participação na construção do Watson. Este ano, resolveu se desligar e voar em carreira solo. Ele esteve na FEHOESP para uma conversa sobre ciência, átomos, cogni-ção, segurança de dados e inteligência artificial. Afinal, as máquinas são mes-mo inteligentes? Descubra, na entrevis-ta a seguir:

F

ENTREVISTA

a serviço da saúdeA ciência

POR ALINE MOURA

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Revista FEHOESP 360: O que o levou a esta transição de carreira, da medici-na para a tecnologia? Fábio Gandour: Foi um processo que começou na faculdade, na Universida-de de Brasília. Na época, lá se praticava um modelo experimental de educação, o que tinha uma série de consequên-cias, mas a que mais me afetou foi que eu poderia frequentar cadeiras fora da medicina. Então eu fiz também um monte de outras matérias, por exem-plo, história em quadrinhos, línguas, psicologias. E o que realmente me inte-ressava muito era matemática. Durante a residência, preparando um caso mais complexo para publicação, lidando com percentagens de ocorrência de achados médicos, acabei montando um modelo de relação causa e efeito, mas que tinha que ser validado. Nesse processo, comecei a trabalhar primeiro com lápis e papel, fazendo um grande gráfico na parede da minha casa, com cores, números, legendas, até que um amigo foi me visitar e falou que eu pre-cisava usar o computador. Detalhe, isso foi início dos anos 1980, computadores

não eram muito populares, nem de fácil acesso. Esse amigo me inoculou o vírus da informática, o que me deu uma grave septcemia computacional. Então eu morri, porque fui me inte-ressando, estudando, fazendo curso aqui e acolá, e me transformei num médico louco que entendia de com-putador. Até que chegou uma hora que eu disse: preciso de uma creden-cial acadêmica adequada para poder consolidar esse conhecimento, e fui atrás de uma pós-graduação em ci-ência da computação, na Universidade Stanford.

360: E como foi parar na IBM?FG: Na época, fim dos anos 80, as grandes corporações sofreram uma transformação organizacional, onde as empresas criaram os famosos verti-cais da indústria. Isso não existia antes. Era uma estrutura dentro da empresa dedicada a indústrias estratégicas: go-verno, educação, transporte, saúde. Com essa transformação, a IBM pre-cisava de alguém que entendesse de saúde e tivesse um skill em computa-ção. E aí vieram atrás de mim. Entrei na companhia americana para trabalhar na indústria saúde, com uma missão extremamente relacionada com o B de IBM, que significa business. Obviamen-te, quando vi o portfólio de produtos e serviços que estavam à venda no Bra-sil, eu falei: não vai dar, isso está feito para os EUA. A identidade do setor saú-de no Brasil, em particular, e na Amé-rica Latina, em geral, é muito diferente do resto do mundo. É claro que, desde 1990, muita coisa mudou. Mas ainda há uma diferença. Não dá para visitar o Johns Hopkins e querer trazer o mode-lito de lá para cá.

360: Em 2006, você defendeu a ideia da ciência como um negócio no Brasil. Acha que conseguiu implantar este con-ceito?FG: Acho que consegui plantar uma semente, mas ela ainda vai demorar para virar uma árvore. Tem um deta-lhe: a ciência que a gente transforma como negócio não é esta financiada pelo setor público. É uma ciência que tem que ser desenvolvida pelo setor privado. Por que ciência como negó-cio? Porque o mundo está cada vez mais complexo. E a complexidade do mundo está de tal tamanho que os métodos tradicionais de gestão, de resolução de problemas, não conse-guem mais dar conta. No entanto, a metodologia científica lida bem com essa complexidade, de uma forma pe-culiar, que exige aplicação de etapas dentro do método científico. Eu tenho que observar o fenômeno, formular hipóteses, testá-las, refutar as que não forem verdadeiras, acolher as que fo-rem verdadeiras e implementar o de-senvolvimento. Primeira dificuldade para implantar esse tipo de metodolo-gia é algo que tem a ver muito com o brasileiro, que eu chamo de achismo. A gente acha demais. Sem contar que

A identidade do

setor saúde no

Brasil, em particular,

e na América Latina,

em geral, é muito

diferente do resto

do mundo"

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ENTREVISTA

FG: Comecei a pensar em métricas que motivam as pessoas a serem susten-táveis e cheguei à conclusão que elas estavam muito ruins, porque são de difícil entendimento. A grandeza que eu acabei encontrando como ponto de partida parece exótica, mas é mui-to real e facilmente estimável, que é o número de átomos do planeta. É relati-vamente estável, oscila um pouco para mais e para menos, mas como é muito grande, essas oscilações passam des-percebidas. O número, estimado em 10 elevado a potência 50, foi calculado ba-seado na massa da Terra. Esse número é importante porque é o tamanho do supermercado que nós temos para vi-ver. Nem mais, nem menos. Tudo que está aqui é átomo. Átomos que formam moléculas, proteínas, metal, polímeros de plástico, átomos que estão na ce-lulose, na tinta que imprime a revista. Obviamente, existem inúmeras formas de interpretar. Se eu sei o número de átomos que tem no planeta e sei qual é a riqueza monetária do globo terres-tre, posso descobrir quanto custa cada átomo. Mais: posso descobrir quantos átomos você está gastando. Como o

número de habitantes está crescen-do e o número de átomos é fixo, quando eu divido um pelo outro, a quantidade de átomos que te per-tence cai muito. É assustador.

360: Em 2017, a IBM disponibilizou no mercado o Watson, inteligência artificial capaz de realizar diagnósti-cos médicos. Como vê essa inovação para a medicina?FG: Há um fascínio na área de saúde com inteligência artificial, porque o processo de operação da saúde é baseado em “se isso, então aquilo”. Se há febre num paciente idoso no inverno em São Paulo, então per-gunta-se se ele está tossindo; se há tosse, então eu faço um raio x de tórax. Só que a quantidade de “se”

e “então” que o profissional de saú-de tem que lidar está crescendo cada vez mais. No tratamento oncológico, a quantidade de “se” e “então” é gigan-tesca, e o ser humano se perde se usar só o cérebro desarmado. O Watson é uma marca comercial de sistemas de cognição automática. A mais popular é o Watson for Oncology, que faz exata-mente isso: parametriza a informação num mar infindável de “se” e “então”, para orientar o profissional de saúde na direção do melhor tratamento pos-sível. E o Watson for Oncology tem ou-tra vantagem: ele sabe qual o conjunto mínimo de perguntas que devem ser feitas para a tomada de decisão. Per-guntas essas que incluem resultado de exame. Se o profissional de saúde não entrar com aquela informação, porque não fez o exame, ou porque esqueceu de perguntar, ou porque o convênio não cobre, o Watson trava. Tem de se-guir o que a gente chama de protocolo de tratamento. Na minha opinião, acho que essa é uma vantagem secundária dos sistemas de cognição automática ainda mais importante do que a vanta-gem primária.

essa metodologia tem uma cadên-cia que não pode ser ignorada, e isso esbarra um pouco na dinâmica do mundo dos negócios do Brasil, onde a maioria dos empresários quer resultados num prazo cada vez mais curto.

360: Existe experiência desta aplica-ção no Brasil, na saúde?FG: Não. Na saúde, a ciência entra por uma outra porta, não como mé-todo de análise, mas como processo de execução. Por exemplo: a ciência desenvolveu um robô que faz uma cirurgia. Então o processo de exe-cução é que se beneficia da ciência. Mas eu estou trazendo este concei-to para dentro do setor. É possível aplicar método científico na gestão dos serviços de saúde. Mas não espere que é algo que você joga para cima e cai tudo em pé. É preciso contar com um pouco de tempo. O primeiro passo é desenhar o ecossistema de um deter-minado hospital, onde ele está, o que ele tem feito, como ele atende, identi-ficar as relações entre o ecossistema para que a gente possa se beneficiar das que são positivas e inibir as que são negativas. Então cria-se um mode-lo matemático, de funcionamento, e a partir daí a gente formula uma hipóte-se, aplica-a no modelo e vê como ele reage. A primeira coisa que o cientista faz é um protótipo operacional. Em es-cala reduzida, mas operacional. Você conhece algum protótipo operacional na área da saúde? Os fabricantes de equipamentos prototipam seus equi-pamentos, claro, mas na gestão não te-mos o hábito de fazer protótipo opera-cional. Mas custa barato, é rápido e dá a visão do que vai acontecer na escala maior.

360: Explique o que são os seus estudos relacionados a modelos matemáticos e sustentabilidade.

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Na gestão não

temos o hábito de

fazer protótipo

operacional. Mas

custa barato, é rápido

e dá a visão do

que vai acontecer

na escala maior"

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360: Você se referiu ao Watson como um sistema de cognição automática. Não é inteligência artificial?FG: Vamos pegar inteligência artificial de um modo geral. Ela existe? Todo mundo acha que sim, mas felizmente ainda não. Por outro lado, a filosofia ensina que algo é possível se o seu extremo também é possível. Qual é o extremo oposto de inteligência artifi-cial? Burrice natural. Ela existe? Claro que sim. Se burrice natural existe, é provável que inteligência artificial um dia vá existir. O atributo de inteligên-cia exige um grau de abstração que as máquinas ainda não fazem. O que as máquinas fazem hoje é cognição au-tomática. Cognição é a transformação da informação em conhecimento, e as máquinas estão começando a fazer isso, desde que bem alimentadas. Mas elas fazem de uma maneira incomple-ta e fragmentada, não há máquina que seja capaz de produzir uma obra literá-ria completa, ou uma peça de teatro.

360: Como cientista da computação e médico, avalia que a segurança dos da-dos em saúde está garantida?FG: Vou te dar uma resposta metafó-rica. Sou proprietário de um grão de areia único no mundo, porque ele é azul. Ele é caríssimo, raríssimo e está

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escondido na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Ele está seguro? É difícil encontrar, mas se alguém souber da sua existência, pode sair buscando pela praia. Qual a proba-bilidade de encontrar esse grão de areia? Baixa, mas não é zero. Tem uma coisa pior do que isso tudo: é alguém achar esse grão de areia, inadvertidamente, por acaso, e não saber o que ele signi-fica. Dados em saúde equivalem ao grão de areia azul. São raros, caríssimos, e podem ser encon-trados por alguém que não saiba da sua real importância. Acredito

que a proteção dos dados não pode ser como essa que fiz para o meu grão de areia azul. Tenho que escon-der esse dado dentro de um cofre, muito bem protegido.

360: Quer dizer que os dados em saúde não estão bem guardados?FG: Os dados em saúde não estão bem guardados em todos os lugares, em alguns lugares estão. Sempre haverá alguém tentando roubar dado de al-gum lugar, porque dado é quase sinô-nimo de dinheiro. Tem sempre alguém tentando roubar dinheiro, por méto-dos mais brutais até os mais elegantes,

O atributo de

inteligência exige

um grau de

abstração que as

máquinas ainda

não fazem"

O número de

átomos existente na

Terra é o tamanho

do supermercado

que nós temos

para viver"

como fraudes na internet. Volta e meia a gente vê uma notícia de que um dado vazou do Facebook. É uma questão não resolvida, nem com dinheiro, nem com dado.

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danos começam quando o aparelho deixa de ser um instru-mento de auxílio no desempenho de funções corriqueiras e secundárias, e vira o centro de todas as atividades. Para as crianças, as consequências são preocupantes. Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2017, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), 93% dos jovens entre 9 e 17 anos acessam a internet pelo celular. De acordo com especialistas, a prática jamais deveria se tornar um hábito.

A lei que estabelece o Marco Digital no país (12.965/2014) já deixa claro, em seu artigo 29, a necessidade de controle e vigilância dos pais e responsáveis no uso das tecnologias como forma de proteção às atualizações constantes e aos impactos que elas podem causar. “É importante que os pais e mães realmente exerçam seus papéis antes que um algo-ritmo adote seus filhos”, alerta Evelyn Eisenstein, do Depar-tamento Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

A médica lembra que o principal problema é que, embora o celular seja um equipamento de comunicação desenvolvi-do para o uso de adultos, ele está sendo usado como um brinquedo. “O dispositivo faz o papel de distrair as crianças, e os pais não percebem que elas vão ficando dependentes e desenvolvem transtornos de humor, de comportamento, de sono. Elas ficam mais ansiosas e quando o problema se torna grave, com as consequências como o sedentarismo e o isolamento social, aí os pais levam ao médico.” Isso sem contar os problemas físicos, como “tec neck” (danos ao pes-

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Parceiro tecnológico diário e útil, o celular pode trazer problemas sérios quando usado em excesso

POR ELENI TRINDADE E REBECA SALGADO

Hábitos digitais,

problemas reais

s primeiros smartphones começaram a ser lançados em 2004, unindo o conceito de telefone com acesso à internet. Uma grande transformação se anunciava, e os aparelhos passaram a ser o sonho de consumo das pessoas, como os Blackberry, com miniteclados semelhantes aos de compu-tadores, exibição de vídeos, fotos e leitura de sites.

Mas foi em 2007, quando a Apple anunciou seu primeiro iPhone, que se iniciou uma verdadeira revolução de costu-mes. Os aparelhos ganharam um design completamente inovador, que acabou se tornando o padrão dos celulares atuais: tela sensível ao toque, vídeos e imagens cada vez mais nítidos e de alta qualidade, acesso rápido e fácil a um portfólio de recursos aparentemente infinito de serviços e diversão. Uma década depois, fica difícil pensar na rotina de uma pessoa sem o uso de um celular. A inovação rapida-mente se popularizou e hoje está nas mãos das pessoas na fila do banco, na sala de espera do médico, no metrô, nos ônibus, nos carros, aviões e nos restaurantes.

De acordo com a Agência Nacional de Telecomunica-ções (Anatel), o Brasil registrou 234,37 milhões de linhas móveis em operação em agosto de 2018. Levando em conta que o país tem hoje cerca de 208,5 milhões de habitantes, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Es-tatística (IBGE), há um excedente de quase 26 milhões de celulares em uso.

Sedutora e cada vez mais necessária, a tecnologia pode representar um risco à saúde quando usada em excesso. Os

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coço), problemas de postura em geral, síndrome de oposi-ção do polegar, lesões por esforço repetitivo e dificuldades de aprendizado.

Em muitos casos, os próprios pais não percebem os da-nos porque estão, eles mesmos, com foco no celular, dei-xando as crianças sem a atenção que elas necessitam para o seu desenvolvimento físico e psicológico. Segundo Valde-mar Setzer, engenheiro eletrônico e professor do Departa-mento de Ciência da Computação do Instituto de Matemá-tica e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), a abordagem de tratamento refere-se a termos como “vício” e usuário” porque a tecnologia, embora útil, foi projetada para distrair e prender a atenção. Estudioso dos aspectos filosó-ficos da tecnologia, computação e meios eletrônicos, ele é contrário ao uso de celulares por crianças. “Eles produzem

distração. A criança começa a se distrair e quanto mais ela se entretém, mais quer brincar. Isso leva a um vício”, expli-ca. Assim como videogames e computadores, o celular gera uma espécie de aprisionamento mental. “Ensinar a garota-da a usar é tratá-la como adulto, por isso sou contrário.”

Citando estudos da Associação Americana de Pediatria, Setzer relativiza, ao recomendar que, ao menos, crianças e adolescentes não façam uso dos aparelhos eletrônicos quando estão sozinhas em seus quartos, já que isso inibe ainda mais um possível controle. “A luz azulada das telas atrapalha o sono e as crianças e jovens ainda não têm au-toconsciência e autocontrole suficientes. Querem jogar, in-teragir e acessar conteúdos, muitas vezes impróprios para a idade, ininterruptamente.”

ControleA atuação para prevenir o vício no celular e os danos causa-dos por ele deve ser vigilante, limitando o uso para as crian-ças não só em termos de tempo, mas de qualidade do que elas assistem ou jogam. Um dos maiores problemas é que muitos pais sabem nada ou muito pouco do que seus filhos estão fazendo na internet. “Um dos riscos mais danosos é o bullying digital, que traz graves consequências para o de-senvolvimento emocional. Se antes havia as brincadeiras de mau gosto na escola e a gozação presencial, agora as humi-lhações se propagam e não saem nunca mais do ambien-te da internet, prolongando o sofrimento e levando até ao suicídio”, alerta Evelyn Eisenstein. Por isso, a intermediação dos pais é fundamental. “A SBP tem materiais com várias re-comendações que trazem informações detalhadas sobre a conduta a ser adotada: desde o número de horas limitado ao dia, esclarecimentos constantes sobre o que é real e o que é fantasioso, até muita conversa sobre o conteúdo que acessam.”

Quando a prevenção não é feita e o uso de celulares e tablets permanece elevado e constante, é muito mais difícil reverter os danos e os maus hábitos, segundo Irene Maluf, especialista em psicopedagogia e fundadora do Núcleo de

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Valdemar Setzer, engenheiro eletrônico e professor do IME-USP

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Formação Profissional em Psicopedagogia e Neuroapren-dizagem. As situações variam conforme a quantidade de horas gastas no uso do celular, a idade da criança e seu desenvolvimento emocional e físico. “Os eventuais danos e benefícios vão variar muito pelo perfil da criança, pois tem algumas que se beneficiam com o uso do celular e outras que se tornam mais adictas, sofrem prejuízos de aprendiza-do. De qualquer maneira, os casos que chegam no consultó-rio são, em sua maioria, os que poderiam ser evitados com a prevenção, pois consistem na dificuldade de a garotada sair do processo prazeroso dos jogos, interações em redes sociais e dinamismo de vídeos e programas.”

Quando o celular se torna a atração principal do dia, a criança ou o jovem perde o interesse pela lição de casa, con-versa menos, deixa de lado as atividades físicas, acarretan-do conflitos nas famílias, entraves no desenvolvimento pes-soal e no aprendizado. Segundo Irene, quanto mais idade, mais complicado o processo, daí a necessidade de se fazer a prevenção. “É importante trocar o mau hábito do uso exces-sivo do celular pela prática saudável de usá-lo poucas horas por dia. Se ninguém estuda, joga bola ou se alimenta 24 ho-

ras seguidas, também não pode usar o celular por todo esse período.

É fundamental proporcionar o diálogo para encontrar mais

equilíbrio”, recomenda.

DependênciaOs problemas não se restringem apenas ao universo infan-til. Com a vantagem de ter informações na palma da mão, smartphones e tablets deixaram de ser apenas mais um meio de comunicação para se tornarem, muitas vezes, o único meio de comunicação dos adultos. É o que explica Cristiano Nabuco, psicólogo e coordenador do Grupo de Dependên-cia Tecnológica do Programa dos Transtornos do Impulso (Pró-Amiti), do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Me-dicina da USP. “Certamente, a informação na palma da mão foi um avanço fantástico, mas o que ninguém previa é que os aparelhos eletrônicos se tornassem o único modo das pessoas se conectarem entre si e com a sociedade. Com a desculpa de estarmos sempre informados, as demandas que nos chegam por meio das plataformas digitais aumen-tam a cada dia e consomem a nossa atenção de modo tão intenso que estamos totalmente voltados a elas, nos desli-gando do que acontece ao nosso redor.”

O médico cita a expressão inglesa Fomo (fear of missing out), que se traduz como o medo psicológico de perder al-gum acontecimento importante caso o aparelho fique sem bateria ou fora da área de cobertura. “Muitos relatam que se sentem nus, o que traça para nós, profissionais de saúde, contornos de uma nova doença em saúde mental, chamada de dependência tecnológica ou nomofobia.”

A doença caracteriza-se pelo envolvimento e interação crescente com telas, como computadores, televisores, ta-blets e smartphones, a ponto de o usuário perder o controle sobre o tempo de uso e contabilizar prejuízos em sua vida pessoal, social e profissional. “Há pesquisas internacionais

Irene Maluf, do Núcleo de Formação Profissional em

Psicopedagogia e Neuroaprendizagem

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que apontam um índice de 90% a 95% de pacientes depen-dentes tecnológicos que também apresentam transtornos como ansiedade, fobia social, bipolaridade ou depressão”, conta Nabuco.

A nomofobia, que vem do inglês no mobile phobia, já vem sendo estudada há alguns anos por médicos e pesquisado-res brasileiros. É o caso da psicóloga e doutora em saúde mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Anna Lucia Spear King, que, desde 2013, aborda o tema em livros e palestras, além de ser uma das criadoras e diretoras do Instituto Delete, o primeiro núcleo no Brasil especializa-do em detox digital. Segundo ela, o problema não é exclu-sivo ao uso de celulares, mas ao surgimento de novas tec-nologias que afetam o comportamento das pessoas como um todo. “O progresso tecnológico é também o avanço do individualismo e da necessidade de prazer do eu. Se deixo de realizar alguma atividade, como ir ao shopping para ficar em casa no videogame, ou então não consigo me comuni-car com as pessoas ao meu redor porque estou checando a todo instante as redes sociais, ou ainda se evito relaciona-mentos, isso já pode ser considerado um problema sério de dependência”, explica.

No Instituto Delete, o diagnóstico é feito por meio de en-trevistas com os pacientes. “Recebemos a pessoa e avalia-mos. Com os dados, podemos descobrir se o uso dos equi-pamentos eletrônicos pode ser considerado normal ou se há algum distúrbio patológico, ansiedade, fobia ou pânico. Quando o paciente é considerado um usuário normal, ele recebe orientações para fazer uso consciente e também di-cas de ética social para esta prática. Já os casos com diag-nóstico positivo para nomofobia são encaminhados para

tratamento médico, via medicação ou sessões de terapia cognitiva comporta-mental”, esclarece Anna.

A psicóloga também chama a atenção para o fato de muitos pais estarem influenciando diretamente seus filhos. “Vemos uma clara repetição de comportamento dos filhos em relação aos pais. Há casos em que para que eles tenham a possibili-dade de realizar tarefas domésticas ou até mesmo ter algum momento de tranquilidade, acabam entregando de mão beijada o vício para as crianças.”

Diversas pesquisas já demonstraram que as ondas ele-tromagnéticas afetam a saúde dos seres humanos, chegan-do inclusive a causar impactos neurológicos e cognitivos a bebês cujas mães fizeram uso excessivo de celulares du-rante a gestação. “Se isso não é um dado alarmante, para o qual a Organização Mundial de Saúde (OMS) deve se atentar, então não sei o que é”, questiona Cristiano Nabuco. Como as relações reais se perdem, segundo o psicólogo, as pes-soas buscam preencher seus vazios no mundo virtual e, por este motivo, fidelizam-se a aquilo que se vende na internet. “Toda a diversão se resume a uma tela de pequenas polega-das. Sexo, jogos, conversas, todos os prazeres reais têm sido trocados e, muitas vezes, não é possível ao menos saber se aquilo que estamos vendo de fato é real. A vida tecnológica e cibernética, principalmente, pode ser totalmente editada.”

Cristiano Nabuco, psicólogo e coordenador do Pró-Amiti

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Dores reaisAlém da saúde mental, coluna, audição e visão podem ser diretamente afetadas quando, além do uso constante dos eletrônicos, a postura para tal for incorreta, como explica o ortopedista e professor de medicina da UFRJ, Márcio Shie-fer. “O ideal para usar qualquer tela é que ela fique na altura do nosso rosto a uma distância de, minimamente, 45 centí-metros. Mas, em se tratando do uso de celular, tablet ou até mesmo notebooks, isso é raro de acontecer. Acabamos nos colocando na altura do peito, dobrando o pescoço ao olhar para baixo e comprimindo os discos intervertebrais, o que pode causar hérnia de disco.”

O médico afirma ainda que elevar demais os braços para manter o celular na altura dos olhos pode sobrecarregar os ombros e a mão, causando tendinite ou outras lesões por esforço repetitivo, que afetam músculos, nervos, ligamentos e tendões. Os sintomas podem ser fraqueza, rigidez ou for-migamento na área afetada.

As distrações e comportamentos inconsequentes tam-bém trazem riscos à vida. Uma pesquisa realizada no ano passado pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) revelou que o uso de celular na direção já é a ter-ceira maior causa de mortes de trânsito no Brasil, perdendo apenas para acidentes por excesso de velocidade e embria-guez. Os dados mostram ainda que os motoristas levam, em média, de oito a nove segundos para atender a uma cha-mada telefônica e de 20 a 23 segundos para responder uma mensagem de texto. Ao todo, são 150 vítimas por dia e 54 mil por ano, segundo a associação.

Antônio Meira, diretor da Abramet, afirma que o celular é mais perigoso do que parece. "As pessoas pensam que tudo bem atender a uma ligação, responder uma mensagem de texto enquanto dirige, mas isso, além de proibido por lei, di-vide a atenção e concentração entre a conversa telefônica e o que acontece na via. A percepção periférica do trânsito é prejudicada e o tempo de reação do condutor frente a um obstáculo se torna muito mais lento.”

Antônio Meira, diretor da Abramet

Para as crianças:

Restringir o uso e adiar o máximo possível o mo-mento em que a criança ou adolescente terá um celular, tablet ou computador. Não há necessida-de nenhuma de começar cedo, pois o aprendiza-do dessas tecnologias é intuitivo e rápido.

Já se fala em “prescrever natureza” para desinto-xicar as crianças do uso excessivo da tecnologia. Por isso, os médicos recomendam atividades ao ar livre e que exijam movimentação, jogos com bola, exposição ao sol, caminhada ao ar livre e contato social com outras crianças e com os pais. O celular, se utilizado, deve representar uma pe-quena parte das atividades do dia.

Aos adultos:

Tenha bom senso para que o uso não se torne abuso no cotidiano e fique atento às consequên-cias físicas (privação do sono, dores na coluna e problemas de visão) e psicológicas (depressão, angústia e ansiedade) devido ao excesso.

Analise se seu desempenho acadêmico e/ou no trabalho não está sendo afetado e reflita sobre seus hábitos, mudando-os quando necessário.

Não troque atividades ao ar livre para ficar co-nectado. Prefira uma vida social real à virtual, es-colhendo atividades e amizades reais e pratique exercícios físicos regularmente.

Valorize suas relações familiares e não abale seu humor com publicações virtuais. Não acredite em tudo o que é postado.

Fontes: Instituto Delete, Valdemar Setzer e Evelyn Eisenstein

Dicas para se desconectar

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Márcio Shiefer, ortopedista e professor da UFRJ

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om o objetivo de mudar o panorama das rela-ções trabalhistas e modernizar dispositivos que ti-veram vigência por anos em contraste com novos formatos de empresas e negócios, a reforma tra-balhista (lei nº 13.467/2017), que entrou em vigor em 11 de novembro de 2017, completa um ano de vigência. A nova legislação alterou a Consolida-ção das Leis do Trabalho (CLT), regida pelo decre-to-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. “De forma geral, o Judiciário brasileiro tem acolhido bem as mudanças advindas com a reforma trabalhista nos pontos que não conflitam com a Constituição

LEGISLAÇÃO

Nova realidade

no mercado

C

Após um ano da reforma trabalhista, empresas e funcionários ainda se adaptam às mudanças

brasileira”, afirma Eriete Teixeira, superintendente Jurídica da FEHOESP.

Ela explica que a maioria dos empregadores está mantendo a mesma conduta em relação aos contratos de trabalho e buscando orientação ju-rídica para qualquer alteração, sendo prudente que elas sejam feitas por acordo em vez de sim-plesmente modificar o contrato individual do tra-balhador. Eles têm mantido cautela, segundo a advogada, para aguardar se a Justiça vai receber as mudanças na lei trabalhista de uma forma po-sitiva. “Algumas decisões judiciais validam pon-tos da reforma, mas, em relação à jornada, por exemplo, não temos manifestação do Judiciário quanto à validade da adoção da modalidade de contratação 12h por 36h por acordo direto entre empregador e empregado, podendo haver enten-dimento judicial de conflito com a Constituição Federal, que prevê compensação de horário e redução de jornada somente por acordo ou con-venção coletiva”, diz.

Na opinião do advogado Ulisses Augusto Bittencourt Dalcól, do escritório Dalcól Advoga-dos, a tendência é que as relações de trabalho ainda se mantenham parecidas ao que era prati-cado antes da entrada em vigor da lei por causa da cultura brasileira, ao mesmo tempo que os novos termos da legislação comecem a ser mais aceitos. “Com questões mais modernas e tecno-lógicas sendo discutidas, vemos que há uma reci-procidade nas relações de emprego por conta da contemporaneidade desses empregos e ativida-des econômicas, havendo uma grande aceitação das mudanças propostas na reforma da lei traba-lhista ocorrida em 2017”, destaca.

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Para ele, as atuais medidas trazem mais esta-bilidade nas relações de trabalho. “Há uma segu-rança maior em contratar e manter empregados, em razão das mudanças ocorridas no âmbito pro-cessual e do controle maior imposto pela nova le-gislação, o que fez com que os empregadores pu-dessem reduzir gastos com litígios e redirecionar esse valor para a organização, produzindo mais e garantindo mais vagas.”

O mútuo acordo, uma das formas de rescisão do contrato de trabalho, foi previsto na reforma trabalhista para facilitar a demissão daquele trabalhador que quer sair da organização e res-gatar o FGTS, legalizando essa forma de rescisão contratual que já era utilizada no passado. Além disso, existem muitos pontos positivos que as empresas vêm implementando aos poucos e com cuidado. “Nossa orientação para os asso-ciados tem sido que, desde que não seja matéria que conflite com determinações constitucionais, pode ser aplicada, como é o caso do negociado sobre o legislado e o parcelamento de férias, en-tre outros”, explica Eriete. As dúvidas, no entanto, estão nos itens que dizem respeito às normas de segurança e saúde ocupacional, como alteração de percentual do adicional de insalubridade, por acordo ou convenção coletiva, o que pode gerar passivo trabalhista se o Judiciário entender que essa permissão fere dispositivos da Constituição Federal.

Uma outra novidade que exige atenção do empregador, segundo Dalcól, é o teletrabalho.De acordo com o advogado, o empregador continua responsável em relação a possíveis doenças e acidentes de trabalho e deve orientar os empre-gados de forma clara e rotineira sobre precauções que devem ser tomadas. “É um problema porque o empresário não tem qualquer ingerência so-bre as práticas do empregado, mas, ainda assim,

precisa documentar todo e qualquer processo no

sentido de evitar da-nos ao trabalha-

dor”, ressalta.

Terceirização

Uma das mudanças de gran-de impacto no âmbito dos di-reitos trabalhistas, que também vinha sendo discutida nos últimos anos, é a terceirização que, após deci-são do Supremo Tribunal Federal (STF), em agos-to deste ano, colocou um ponto final ao declarar lícita a contratação de terceirizados inclusive para as atividades-fim dos estabelecimentos. De acor-do com Rodrigo Marin, advogado da FEHOESP, houve muita discussão no ano passado sobre a possibilidade ou não de a atividade-fim das em-presas poderem ser terceirizadas, a exemplo do que já acontecia com as atividades-meio, até o debate chegar na mais alta corte jurídica do país. “O STF analisou a questão do ponto de vista da constitucionalidade e a decisão foi que, consti-tucionalmente, não existe diferença entre o que é atividade-meio ou atividade-fim, mas isso não quer dizer que a partir disso seja possível demitir um grupo de empregados e recontratá-los no dia seguinte como terceirizados", explica.

Para terceirizar trabalhadores, segundo Ma-rin, continua valendo a previsão legal atual: a lei 13.429/17, que incluiu a terceirização na lei nº 6.019/74, e a lei nº 13.467/17, da reforma traba-lhista. “Ambas trazem uma série de regras que obrigam o contratante a fiscalizar a empresa que contrata para a terceirização, uma vez que ele, o contratante, tem responsabilidade subsidiária em questões trabalhistas”, destaca. No entanto, ele salienta que as empresas devem analisar os prós e contras antes de implementar a terceiri-zação. Porque, se por um lado há vantagens em ter profissionais para executar atividades com alto grau de especialização, redução de encargos trabalhistas e maior espaço para negociação, por outro, nesse formato de contratação não existe a possibilidade de controle direto sobre as ativida-des dos prestadores e pode haver transferência de conhecimento do negócio para terceiros. “É um risco que precisa ser muito bem examinado antes de qualquer decisão”, conclui. (Por Eleni Trindade)

Eriete Teixeira, superintendente

Jurídica da FEHOESP

Ulisses Dalcól, advogado

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m atendimento humanizado deve priorizar sempre o bem-estar e a segurança do paciente. Afinal, é ele que está atento para julgar o estabelecimento de saúde e os serviços ofertados pelo seu próprio ponto de vista, pelo que imagina serem os pontos críticos para a qualidade dos seus exames e procedimentos.

A instituição que der uma especial atenção a aspectos de humanização no atendimento aos seus clientes estará, de fato, criando valor ao seu trabalho e para o paciente. “Uma boa forma de garantir um atendimento mais humanizado é acolher bem e fornecer corretamente as orientações para os pacientes”, orienta Antonio Carlos de Carvalho, diretor da FEHOESP e do SINDHOSP.

Proprietário do Laboratório Fênix, em Campinas, ele acredita que apresentar um ambiente seguro e sanar as dúvidas do cliente é fundamental para gerar confiança. “Se

a instituição de saúde atua desde a chegada do paciente de ma-

neira adequada e agradável, orientando-o até em situa-

ções mais simples, isso é um diferencial a favor da

ASSISTÊNCIA À SAÚDE

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Atendimento especializado com tecnologia e acolhimento é diferencial em serviços de saúde

humanização”, ressalta Carvalho, que lembra que coleta de sangue costuma ser um dos momentos mais críticos para muitos pacientes. “Pela minha experiência, algumas crian-ças têm fobia, outras não, além disso, noto que os membros da família também ficam inseguros e passam esse medo às crianças. No caso dos idosos, uma das principais dificulda-des é o acesso venoso. Se o laboratório tem conhecimento da suscetibilidade de seus usuários, pode oferecer um trata-mento diferenciado”, afirma.

A dica do Grupo Fleury é chamar a atenção para a im-portância de criar diferenciais de acolhimento favoráveis aos pacientes. “A saúde é o pilar mais importante na vida das pessoas e isso exige muita responsabilidade. Por isso, excelência é um critério mandatório”, explica Jeane Tsutsui, diretora-executiva de Negócios da rede de laboratórios.

Para isso, o Fleury estruturou parte de seus serviços, na capital paulista, por meio de Centros Integrados de Medici-na Diagnóstica: espaços que integram serviços diagnósticos e terapêuticos. Nesses locais, os clientes realizam exames e serviços em sequência, e os médicos têm um parceiro na in-vestigação da hipótese clínica suspeita e na abordagem de seus pacientes.

Um desses locais é a Vila da Saúde, que possui ações lú-dicas, ambientes decorados, novas técnicas de coleta e até elementos de interatividade para os pequenos perderem o receio de fazer exames. “É um serviço de resposta rápida

A favor da humanização

POR FABIANE DE SÁ

Antonio de Carvalho, diretor da FEHOESP e

do SINDHOSP

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com realização de exames sem agendamento prévio, com microcoleta e resultados em até quatro horas. Com isso, o pediatra não precisa direcionar seu paciente para um pron-to atendimento, proporcionando uma solução mais acolhe-dora às crianças, tudo num espaço inspirado na Vila Sésa-mo”, conta Jeane.

Um dos pioneiros no uso de ferramentas tecnológicas no atendimento é o Grupo Hermes Pardini, que usa a realidade virtual (VR) para a realização de vacinação e coleta de exa-mes. A criança coloca os óculos 3D que transmite um vídeo 360º de um personagem que pede ajuda para se tornar um herói e salvar todo o reino. O momento em que o paciente vê o personagem colocando o “poder especial” em seu bra-ço é o instante em que o enfermeiro aplica a vacina (ou co-lhe o sangue). “Com a tecnologia dos óculos 3D, as crianças se distraem e acabam não percebendo a picada da agulha. Os pais ficam felizes por não terem de ver o sofrimento do fi-lho, além da aplicação ser mais tranquila para o enfermeiro”, explica Marilene Lucinda, médica responsável pelo setor de vacinas do Hermes Pardini

O custo da tecnologia, porém, pode ser uma das barrei-ras para a ampliação do uso da tecnologia. Na clínica Va-cinVille, de São Paulo, por exemplo, foram gastos cerca de R$ 150 mil com o desenvolvimento da animação e aquisição de seis óculos e seis celulares para três estabelecimentos do laboratório.

Mas há opções mais em conta. A Esconderijo Criativo pro-duz kits VR (óculos de realidade virtual e smartphone), com solução com conteúdos imersivos, incluindo áudio espacial, animações 2D e 3D em 360°, que custam entre R$ 500 e R$ 2 mil/mês, dependendo dos temas e serviços de marketing e suporte.

Nos Estados Unidos, a prática de uso de VR tem sido bas-tante utilizada pelas instituições de saúde. Alguns estudos- piloto utilizam a realidade virtual como ferramenta psicoló-gica para acalmar o sistema nervoso. “Os resultados indicam que a VR pode ajudar a reduzir até 25% da dor e 31% da an-siedade”, conta Fabio Costa, CEO da Agência Casa Mais, que disponibiliza kits de realidade virtual em projetos voluntaria-dos, sem fins lucrativos, para mudar a vida das pessoas que estão realizando tratamento em instituições de saúde.

Melhor recuperação

Estudos mostram que a felicidade, as risadas e a companhia de pessoas especiais são excelentes catalisadores no pro-cesso de defesa do organismo. Isso quer dizer que o fato de o paciente estar feliz e se divertindo aumenta as chances de recuperação e abrevia sua estadia no hospital.

A humanização no atendimento à saúde tem sido cada vez mais valorizada por hospitais de todo o mundo, propos-ta que não se utiliza apenas de fantasias e brincadeiras. O Hospital Infantil Sabará faz uso de aplicativos para reduzir a ansiedade antes da cirurgia em determinados pacientes. Isso passou a ser feito após pesquisas conduzidas pela coor-denadora do serviço de anestesiologia pediátrica da institui-ção, Débora Cumino, que mostraram que os games ajudam a reduzir a ansiedade nos momentos pré-operatórios.

Também há outros recursos em centro cirúrgico, como a entrada dos pais até a sala de cirurgia, o uso de aromas agradáveis (morango, por exemplo) na máscara de sedação e a criação de histórias para envolver a criança e reduzir o medo da anestesia e da cirurgia.

A equipe de anestesiologia do Sabará também está de-senvolvendo um aplicativo educativo voltado para crianças de 4 a 8 anos sobre anestesia e cirurgia. “A ideia é que, por meio de um jogo, a criança entenda o que acontecerá com ela e, assim, a ferramenta a ajude a perder o medo e reduzir a ansiedade do procedimento”, destaca Débora.

Além disso, o hospital ainda oferece tomografia compu-tadorizada com o uso de tablet para substituir a anestesia, conforme a idade e condição do paciente; ambientes child life specialist, com paredes decorativas, atividades lúdicas e kit médico para aliviar o estresse durante os procedimentos; e uma rede de humanização formada por atores, músicos, cachorros, contado-res de histórias e voluntariado.

Débora Cumino, coordenadora de Anestesiologia Pediátrica do Hospital Sabará

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egundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o núme-ro de pessoas com demência em todo o mundo deve tripli-car nos próximos 30 anos. Serão 152 milhões de doentes até 2050, contra os 50 milhões que existem hoje.

Tipo mais comum de demência, a doença de Alzheimer responde sozinha por 60% a 70% de todos os casos. A OMS indica a idade como seu principal fator de risco, mas isso não é uma condição exclusiva do envelhecimento, já que hoje a quantidade de casos em que os sintomas aparecem antes dos 65 anos já representa 9% do total.

Não por acaso, a doença costuma ser precedida de sin-tomas mais leves e sutis, com muitos casos apontados ini-cialmente como déficit cognitivo subjetivo (SCI) ou déficit cognitivo leve (MCI). Algumas pesquisas relacionam esses quadros a fatores de risco relacionados ao estilo de vida,

RESENHA

Pelo resgate da

capacidade cognitiva

S

Pesquisador afirma, em seu livro, que é possível retardar e reverter os sintomas do mal de Alzheimer

POR RICARDO BALEGO

como tabagismo, obesidade, sedentarismo, diabetes e hi-pertensão arterial. O fato, infelizmente, é que o Alzheimer é um mal para o qual ainda não existe cura, tampouco opções de tratamento que não sejam apenas paliativas.

Diante dessa realidade, o pesquisador Dale E. Bredesen traz uma proposta bastante ousada a respeito do tema, com a publicação de seu livro, recém-lançado no Brasil pela Edi-tora Objetiva. “O fim do Alzheimer - o primeiro programa para prevenir e reverter o declínio cognitivo” é best-seller do The New York Times e aponta a possibilidade de uma nova abordagem para esta doença que, há muito tempo, desafia a comunidade científica.

Nele, o autor afirma que tememos o Alzheimer como não tememos nenhuma outra doença, e isso acontece por duas razões. A primeira porque ela é uma das causas de morte

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O fim do AlzheimerAutor: Dale E. BredesenPáginas: 288Preço: R$ 54,90Editora: Objetiva

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mais comuns para a qual não existe tratamento efetivo e, segundo, porque a doença não é apenas fatal, mas também priva as vítimas de suas vidas muito antes de morrerem.

Elencando dados que acabam por delinear um cenário desalentador, porém real, Bredesen lembra que “não há como escapar da enxurrada de notícias sombrias sobre o mal de Alzheimer: que ele é incurável e, em larga medida, intratável; que não existe nenhuma maneira confiável de preveni-lo; e que a doença tem derrotado os melhores neu-rocientistas do mundo por décadas”.

E isso acontece mesmo apesar das enormes quantias de dinheiro gasto por parte dos governos e das empresas farmacêuticas, assim como dos “magos da biotecnologia” inventarem e testarem medicamentos contra o problema. Sobre os tratamentos, o autor lembra que uma droga genui-namente nova para Alzheimer não é aprovada desde 2003, e os medicamentos atualmente utilizados são ineficazes em deter ou desacelerar seu curso. Os poucos que existem “tal-vez ajudem a diminuir os sintomas”, mesmo assim o fazen-do por tempo limitado.

O princípio para a nova abordagem à doença proposta por Bredesen, no entanto, é que o Alzheimer não surge por uma única causa – fator que tem direcionado seu tratamen-to até aqui –, mas sim por um conjunto delas. Indica, com isso, que há três subtipos principais da patologia, resultados de diferentes perfis dos doentes e que são acionados por diferentes processos bioquímicos. Isso significa que, para cada pessoa, existe um tratamento específico.

Após três décadas de investigações em seu laboratório, o pesquisador é categórico em afirmar que o mal de Alzheimer não só pode ser prevenido, como, em mui-tos casos, os sintomas baseados no declínio cogni-tivo relacionados a ele podem ser revertidos.

Dale Bredesen é reconhecido internacional-mente como especialista nos mecanismos das doenças degenerativas, tendo ocupado cargos na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, San Diego e San Francisco (EUA). É ainda presidente fun-dador do Buck Institute, importante centro de pesqui-sa dedicado ao envelhecimento e doenças relacionadas à idade.

Abordagem personalizada

Uma das grandes diferenças apontadas pelo autor em re-lação ao tratamento tradicional do Alzheimer é que seu método se baseia na abordagem personalizada da doença. Isso porque suas hipóteses sugerem o uso de uma medicina integrativa e focada no indivíduo como um todo. D

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A medicina atual, como compara, é baseada no treina-mento dos médicos para diagnosticar doenças e prescrever algum tratamento-padrão para elas. Mas, assim como já vem acontecendo na oncologia de precisão, por exemplo, onde o perfil genético do tumor pode determinar a droga a ser ministrada especificamente em um paciente, o trata-mento do Alzheimer deve se dar a partir da união entre o co-nhecimento dos mecanismos moleculares e o entendimen-to da pessoa em sua integralidade. “Isso nos permite ir além de simplesmente perguntar qual é o problema e perguntar o porquê do problema”, justifica.

Nesse sentido, é rechaçada a hipótese de que a causa da doença é alguma adversidade com o cérebro, mas sim um excesso das defesas naturais do corpo. Ou seja, o mal de Al-zheimer seria a resposta do cérebro tentando se defender de ameaças metabólicas e tóxicas, uma espécie de “faxina cerebral normal que saiu do controle”.

O que Bredesen indica, então, é não uma terapia ou um medicamento único, mas sim um protocolo de tratamento, que tem por objetivo atacar as origens do problema. Por meio de um programa detalhado, indica maneiras de ree-quilibrar os mecanismos ajustando fatores do nosso estilo de vida, como micronutrientes, níveis de hormônio, estresse e qualidade do sono.

Os resultados, de acordo com suas conclusões, têm sido bastante promissores, para não dizer impressionantes. Pela proposta apresentada e pela relevância do tema, “O fim do Alzheimer” é uma leitura bastante recomendada.

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Este interesse, em crescimento contínuo, transformou de forma radical e instigante todo o sistema que regulava o mercado, à época fundamentado em pequenas empresas familiares, uniprofissionais, ou em sociedades de profissio-nais habilitados ao exercício das análises clínicas. O capital flutuante, investidor em saúde, de diversas origens, encon-trou nas maiores e melhores geridas empresas laboratoriais do país um meio de produzir maiores ganhos e galgar posi-ções fundamentais na cadeia do diagnóstico, por meio de aquisições, fusões, venda de quotas, ou lançamentos de ações no mercado de capitais.

Transformaram-se em referências técnicas e científicas, com a capacidade de adquirir equipamentos da mais alta qualidade e resolutividade. Comunicaram-se com tudo pe-los mais evoluídos softwares, capazes de realizar os mais ra-ros e sofisticados procedimentos em pouco tempo, com a exatidão e precisão necessárias ao diagnóstico correto.

Tornaram-se o porto seguro de apoio ao pequeno e médio laboratório pelos excelentes sistemas de captação e entrega de resultados, oferecendo preços extremamente convidativos para alguns testes. O país tornou-se um atra-tivo tão cobiçado, que além das corporações laboratoriais genuinamente nacionais, algumas do exterior também por aqui chegaram. Outras estão de bilhetes comprados para os próximos voos. Nada existe, e nem deve existir, contra as grandes corporações laboratoriais. Assim são refletidas as condições e situações de mercado.

Entretanto, há que se cuidar e proteger de todas as for-mas os pequenos e médios laboratórios distribuídos pelo país, que constituem os principais pontos de entrada dos pacientes, mas que encontram dificuldades para se manter constantemente atualizados em novos sistemas técnicos e de gestão. As questões técnicas, por incrível que possa pa-recer, são as de mais fácil solução. Não há dificuldade para acompanhar o surgimento de novas tecnologias e equipa-mentos dirigidos aos laboratórios de menor porte, visando resolver, com qualidade, todas as necessidades da rotina laboratorial.

POR IRINEU GRINBERG

ARTIGO

amos retornar a um passado remoto, muito anterior ao tempo da esterilização de seringas de vidro em caixas metá-licas, antes mesmo da divulgação do trabalho, em 1954, de Carlos Galli Mainini, do teste gestacional realizado ao injetar urina no dorso de um sapo macho. Retroagir ao tempo em que uma das formas de diagnosticar diabetes era com a co-locação de um pequeno frasco com a urina do paciente ao alcance de formigas e, caso esses pequenos seres se apro-ximassem para degustar o material, a doença estava con-firmada. Assim os sábios e magos de então iniciavam uma nova ciência.

Quem sabe agora, um imenso salto na trilha do tempo, pedindo licença para uma aterragem rápida no século pas-sado, ao fim dos anos 1960, quando nos deparamos com um novo laboratório. Microscópios binoculares, coloríme-tros guardados no armário, substituídos pelos irmãos foto-elétricos, ou espectrofotômetros. Rumores que laboratórios cogitavam adquirir automações. Chegaram de forma rápida, bem como, após pouco, os primeiros sistemas de TI labo-ratorial.

Ao mesmo tempo, crescia de modo vertiginoso a impor-tância dos serviços laboratoriais. Com o advento de novas metodologias e de equipamentos que propiciaram concei-tos renovados em precisão e exatidão, quase tudo em diag-nóstico clínico passou a ser concluído com o auxílio presti-moso e indispensável das instituições laboratoriais.

Um novo ambiente

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Já existem soluções negociadas entre operadoras e hos-pitais onde um número expressivo de patologias deixou de ser enquadrado no sistema tradicional fee-for-service, em que o pagamento final da internação ou tratamento am-bulatorial é feito a partir de cada procedimento realizado. Transformaram-se em pacotes acertados, levando em conta apenas a patologia do atendimento, contratados a valores fixos. São negociações complexas, que envolvem técnicas avançadas de avaliação de custos, com base na experiên-cia de metodologias já testadas em outros países (como o DRG - Diagnosis Related Groups).

Merece citação e reflexão as tratativas que vêm ocorren-do, desde janeiro deste ano nos EUA, onde as corporações Amazon, Buffett e JPMorgan declararam a intenção de criar uma companhia sem finalidades lucrativas no setor saúde, visando à redução de custos dos planos que oferecem a seus quase um milhão de colaboradores. Tão pronto decla-rada esta movimentação inicial, ocorreu importante inten-ção de venda de ações das principais operadoras de planos de saúde americanas. Desvalorização inevitável.

Evidente está que em pouco tempo esses novos critérios de remuneração chegarão aos laboratórios de análises clí-nicas. As corporações laboratoriais com toda certeza esta-rão preparadas para tal. Possuem quadros aptos a avaliar custos e eventuais perdas de receita. A preocupação ficará restrita aos de pequeno e médio portes, em especial aos que sempre estão comprometidos com qualidade, eficiência e equidade. E que, apesar das dificuldades, acompanham as exigências sanitárias, cada vez mais complexas, e os indis-pensáveis e onerosos processos de acreditação.

É imprescindível que as fontes pagadoras tenham conhe-cimento pleno e permanente de que as informações conti-das nos laudos laboratoriais estão muito acima da relação custo-benefício.

O momento presente sinaliza grandes mudanças em to-dos os cenários. Portanto, nada mais salutar do que se man-ter tão perto quanto possível de tudo o que ocorre em tec-nologia, gestão, tendências e vertentes políticas, no sentido de programar as ações e atitudes. Atuais e futuras.

*Irineu Grinberg é ex-presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (Sbac) e diretor da Lab-Farm Consult

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O mais difícil e complicado é conseguir manter em dia os processos que possam garantir a eficiência na gestão do es-tabelecimento. É extremamente árduo para profissionais de bancada, na maioria das vezes proprietários dos estabeleci-mentos, obter conhecimentos para estar à testa da gestão do laboratório. Não ocorreu o necessário preparo para es-sas tarefas extensas e complicadas. Na maioria das vezes, o caixa não permite a contratação de um gestor competente. Resta a dependência de escritórios de contabilidade despre-parados e desligados dos setores de prestação de serviços, saúde entre eles.

Ao mesmo tempo, a situação econômica e social do país percorre uma ladeira descendente, fazendo com que nu-merosas famílias abandonem seus planos de saúde. Não conseguem acompanhar os reajustes, superiores aos índi-ces oficiais de inflação, e, de forma mais acentuada, à que-da da renda familiar. Procuram soluções de menor preço, ou abrigo no Sistema Único de Saúde (SUS). Este, por sua vez, depende dos processos de gestão dos Estados e muni-cípios. Razoável em alguns e nefastos em outros. Na média geral, muito longe do ideal. Existe insuficiência de repasses, vergonhosos níveis de remunerações e nefastas influências políticas que prejudicam as gestões municipais. Imperioso também citar que o SUS atual não conseguirá absorver a totalidade dessa nova clientela. Todos à procura de novos rumos que possam ser palatáveis ao conjunto dos players que integram o mercado.

É imprescindível que

as fontes pagadoras

tenham conhecimento de

que as informações nos

laudos laboratoriais estão

muito acima da relação

custo-benefício"

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CHARGE

A Revista FEHOESP 360 é uma publicação da FEHOESP, SINDHOSP,

SINDHOSPRU, SINDJUNDIAÍ, SINDMOGI-DASCRUZES, SINDRIBEIRÃO, SINDSUZANO e IEPAS

Tiragem: 13.000 exemplares

Periodicidade: mensal

Correspondência: Rua 24 de Maio, 208, 9º andar - República - São Paulo - SP - [email protected]

Coordenadora de Comunicação Aline Moura

Editora responsávelFabiane de Sá (MTB 27806)

RedaçãoEleni Trindade, Rebeca Salgado e Ricardo Balego

Projeto gráfico/diagramação - Thiago Alexandre

Fotografia - Leandro Godoi

Publicidade: [email protected]

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista.

Diretoria FEHOESP

Presidente - Yussif Ali Mere Junior

1º Vice-Presidente - Marcelo Soares de Camargo

2º Vice-Presidente - Roberto Muranaga

1º Diretor Secretário - Rodrigo de Frei-tas Nóbrega

2º Diretor Secretário - Luiz Augusto Te-nório de Siqueira

1º Diretor Tesoureiro - Luiz Fernando Ferrari Neto

2º Diretor Tesoureiro - Paulo Roberto Grimaldi Oliveira

Diretores Suplentes - Elucir Gir, Hugo Ale-xandre Zanchetta Buani, Carlos Eduardo Lich-tenberger, Armando de Domenico Junior, Lui-za Watanabe Dal Ben, Jorge Eid Filho e Michel Toufik Awad

Conselheiros Fiscais Efetivos - Antonio Car-los de Carvalho, Ricardo Nascimento Teixeira Mendes e João Paulo Bampa da Silveira

Conselheiros Fiscais Suplentes - Maria He-lena Cerávolo Lemos, Fernando Henriques Pin-to Júnior e Marcelo Rodrigo Aparecido Netto

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NOVEMBRO AZULPela saúde do homem

Nós apoiamos a luta contra o câncer de próstata

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