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Anais do VII Simpósio de Contabilidade do Vale do

Rio Pardo

Os desafios da tecnologia da informação

no contexto da contabilidade

Clari Schuh, Daniel Wartchow eFernando Batista Bandeira da Fontoura (Org.)

Santa Cruz do Sul

2018

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Rua Oswaldo Aranha, 444 - Bairro Santo Inácio

Santa Cruz do Sul/RS

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REALIZAÇÃO:Centro de Estudos Contábeis (CEC)Gabinete de Assessoria e Consultoria Contábil (GAC)Curso de Ciências Contábeis da UniscSindicato dos Contadores e Técnicos em Contabilidade do Vale do Rio Pardo (SINCOTEC-VARP)

Bibliotecária responsável: Fabiana Lorenzon Prates - CRB 10/1406

Catalogação: Fabiana Lorenzon Prates - CRB 10/1406

Correção ortográfica: Diana de Azeredo

Projeto gráfico e diagramação: Daiana Stockey Carpes

Edição: Demétrio de Azeredo Soster

S612a Simpósio de Contabilidade do Vale do Rio Pardo (7. : 2018 : Santa Cruz do Sul) Anais do VII Simpósio de Contabilidade do Vale do Rio Pardo: os desafios da tecnologia da informação no contexto da contabilidade [recurso eletrônico] / Clari Schuh, Daniel Wartchow e Fernando Batista da Fontoura (Org.) – Santa Cruz do Sul: Catarse, 2018. 245 p. : 21x30 cm

Texto eletrônico. Modo de acesso: World Wide Web.

1. Contabilidade. 2. Contabilidade - Congressos. 3. Tecnologia da informação. I. Schuh, Clari. II. Wartchow, Daniel. III. Fontoura, Fernando Batista da. IV. Título.

CDD: 657

ISBN: 978-85-69563-26-6

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Bibliotecária responsável: Fabiana Lorenzon Prates - CRB 10/1406Catalogação: Fabiana Lorenzon Prates - CRB 10/1406Correção ortográfica: pelos autoresDiagramação: Daiana Stockey Carpes

Sumário

ApresentaçãoClari Schuh

1 Perfil dos membros dos conselhos fiscais de empresas brasileiras do setor de bens industriais listadas na B3Pâmela Lassen Schirmann, Cleiton Luiz Klochinski, Ari Dal Vesco, Cristiane Zucchi, Fernando Maciel Ramos

2 Impacto da opção tributária no custo e preço de venda de empresa de brigadeirosLuis Felipe Câmara, Clari Schuh, Ana Cristine Heinen

3 Utilização da contabilidade de custos, preços e análise de resultados nas pequenas propriedades rurais e agroindustriaisMariana Schimanowski Wizbicki, Marjory Aparecida Miolo, Euselia Paveglio Vieira

4 Perfil dos membros dos conselhos de administração das empresas dos setores de bens industriais e consumo cíclico listadas na B3Jaíne Letícia Cavalli, Cleiton Luiz Klochinski, Cristiane Zucchi, Ivanir Salete Techio da Silva, ernando Maciel Ramos

5 O impacto das alterações do Simples Nacional introduzidas pela Lei Complementar nº 155/2016 na carga tributária das empresasTailise Ferreira Fagundes, Daniel Wartchow

6 Competências e habilidades requeridas do profissional da contabilidade pela indústria do tabaco da região do Vale do Rio Pardo – RSMarleti Silveira da Silva, Vânia Amires Stiebbe Peiter, Marcia Rosane Frey

7 Análise de viabilidade econômica de empreendimento contábil no município de Concórdia/SCGabriel Giacomin, Cleiton Luiz Klochinski, Nei Eduardo Knob, Cristiane Zucchi, Fernando Maciel Ramos

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8 A utilização de informações advindas da controladoria em empresas de médio e grande portePatrique Rosa Hedlund, Euselia Paveglio Vieira, Leonardo Bernardi Rohenkohl

9 Controle dos custos de feirantes da agricultura familiar da Associação Santacruzense de Feirantes – ASSAFE – RSLetícia Milene Raddatz Kohls, Fernando Batista Bandeira da Fontoura, Marcia Rosane Frey, Cidonea Machado Deponti

10 Assessoria contábil gerencial para empreendimentos de pequeno porte: Um estudo comparativo entre quatro farmácias comerciaisAdriana Tolfo Bandeira, Euselia Paveglio Vieira, Ana Paula da Rosa Dezordi

11 Análise da contribuição dos laboratórios de práticas contábeis na formação do bacharel em Ciências Contábeis da UniscLuana Vanessa Schlesner Arguilar, Márcia Rosane Frey

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Apresentação

O Simpósio de Contabilidade do Vale do Rio Pardo é um evento realizado pelo Centro de Estudos Contábeis (CEC) do curso de Ciências Contábeis da UNISC, do Sindicato dos Contadores e Técnicos em Contabilidade do Vale do Rio Pardo (SINCOTEC-VARP) e do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS).

O tema da sétima edição do Simpósio é: “Os desafios da tecnologia da informação no contexto da contabilidade”. O objetivo do evento é debater de forma interdisciplinar sobre os desafios e oportunidades que o mercado está pondo, frente as inovações tecnológicas, no contexto da contabilidade.

O evento conta com seções de trabalhos científicos, com a publicação dos artigos aprovados pela Comissão Científica do evento, os quais tem abordagem dos mais variados temas e constituem a presente publicação, “Anais do VII Simpósio de Contabilidade do Vale do Rio Pardo”.

Agradecemos os autores que submeteram seus artigos científicos ao evento, colaborando para o sucesso do VII Simpósio de Contabilidade do Vale do Rio Pardo.

Clari Schuh

Coordenadora do Comitê Científico

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Perfil dos membros dos conselhos fis-cais de empresas brasileiras do setor

de bens industriais listadas na B3

Pâmela Lassen Schirmann1

Cleiton Luiz Klochinski2

Ari Dal Vesco3

Cristiane Zucchi4

Fernando Maciel Ramos5

RESUMO

Este estudo teve como objetivo identificar o perfil dos membros dos conselhos fiscais de empresas do setor de bens industriais listadas na B3. A população compreendeu 68 empresas brasileiras do setor de bens industriais listadas na B3, entretanto a amostra foi composta por 30 empresas que possu-íam o conselho fiscal instalado, tendo como análise 207 conselheiros fiscais. A pesquisa classifica-se como descritiva, documental e quantitativa e os re-sultados mostram que a presença de mulheres é relativamente baixa quando comparada à quantidade de homens (somente 10%), entretanto são mais jo-vens e possuem melhor formação quando comparados aos dados do homens. Nota-se, também, a predominância da formação em ciências contábeis (27%) e em direito (20%). Além de que os estados em que estão mais presentes as empresas pesquisadas são: São Paulo (15) e Rio de Janeiro (07), o que justifica as cinco instituições de ensino mais procuradas: FGV, PUC (SP, RJ e MG), UFRJ, USP e UFRGS. Observa-se, ainda, que apenas 9% dos conselheiros possuem treinamento ou curso específico para executivos e que há mais homens como efetivos do que como suplentes nos conselhos fiscais e a situação é contrária em relação as mulheres. Os conselheiros fiscais são eleitos pelos seus respec-tivos controladores e é possível avaliar positivamente as 30 empresas pesqui-sadas, uma vez que a relação de independência dos conselheiros apresenta níveis altos e somente 2 conselheiros possuem relação familiar.

Palavras-chave: Governança Corporativa. Conselho Fiscal. Perfil Dos Membros.

1 Graduada em Ciências Contábeis, Universidade do Contestado (UnC),[email protected] Graduando em Ciências Contábeis, Universidade do Contestado (UnC), [email protected] Mestre em Administração, Universidade do Contestado (UnC), [email protected] 4 Mestre em Administração, Universidade do Contestado (UnC), [email protected] 5 Doutorando em Ciências Contábeis, Universidade do Contestado (UnC), [email protected]

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1 Introdução

A governança corporativa tem como principal objetivo sistematizar empresas e demais organizações, além de possibilitar a direção e o moni-toramento que envolve o relacionamento entre sócios, diretoria, órgãos de fiscalização e demais partes interessadas (IBGC, 2017). De acordo com a Co-missão de Valores Mobiliários (CVM, 2017), as práticas de governança ado-tadas pelas organizações devem considerar os princípios de transparência, equidade de tratamento dos acionistas e prestações de contas.

Berle e Means (1932) discorrem a respeito dos problemas das empre-sas de capital aberto e as divergências de interesses entre a propriedade e o controle, em que a posição do proprietário pode ser reduzida a ter uma série de interesses legais e de fato na empresa, enquanto o grupo chamado de controle está em condições de ter poderes legais e de fato sobre a empresa. Deste modo, a concentração de poder econômico, separada da proprieda-de, criou impérios econômicos e os colocou nas mãos de uma nova forma de absolutismo. Isto relega os “proprietários” à posição dos indivíduos que fornecem os meios pelos quais os controladores podem exercer seu poder.

O aperfeiçoamento da administração da sociedade empresária é base para que a governança corporativa, em conjunto com acionistas/quotistas, conselho de administração, conselho fiscal, assembleia geral, auditoria e ou-tros entes da empresa trabalhem em benefício ao seu desenvolvimento, o que garante, também, sua longevidade (LEITE JUNIOR, 2013).

Destaca-se, entre os organismos responsáveis por garantir o desempe-nho favorável aos acionistas e demais interessados, o conselho fiscal. Con-forme o art. 163 da Lei 6.404/76, as principais competências deste órgão é fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos administradores e ve-rificar o cumprimento dos seus deveres legais e estatutários, além de opinar sobre o relatório anual de administração e sobre as propostas dos órgãos de administração (BRASIL, 1976).

O ambiente de governança corporativa do mercado de capitais brasi-leiro e o conselho fiscal é um mecanismo de monitoramento e fiscalização presente no sistema de governança nacional. Desta forma, este estudo tem como questão norteadora: Qual é o perfil dos conselheiros fiscais das empre-sas brasileiras listadas na B3? Para responder a esta questão traçou-se como objetivo identificar o perfil dos conselheiros fiscais de empresas brasileiras do setor de bens industriais listadas na B3.

As contribuições deste estudo visam a auxiliar na expansão de pes-quisas relacionadas aos conselhos fiscais das empresas, já que este órgão é uma particularidade no sistema de governança brasileiro (BRUGNI, 2016). Esse estudo diferencia-se dos demais por apresentar a discussão do con-selho fiscal dentro do sistema de governança corporativa, em um campo teórico em que grande parte dos estudos está voltada para a discussão do conselho de administração. Ressalta-se que as funções do conselho fiscal são de suma relevância, além da importância da discussão e de estudos com a separação dos papéis de aconselhamento e monitoramento dos conselhos.

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Assim, esta pesquisa contribuirá para que os interessados possam elucidar sobre o perfil dos conselheiros fiscais brasileiros e discutir essa estrutura frente às demandas empíricas.

Diante das competências e das responsabilidades do conselho fiscal para as organizações, conhecer o perfil desses profissionais, que formam os comitês responsáveis pela garantia das informações e análises aos acionistas, configura a importância do desenvolvimento desse estudo para que seja possível enri-quecer a base empírica que norteia o trabalho dos conselheiros e levantar quais as principais características presentes. O setor de bens industriais, dentre os demais setores segregados pela Bolsa de Valores brasileira, foi escolhido para nortear esta pesquisa, uma vez que, conforme Lunkes et al (2014), empresas in-dustriais nacionais possuem importante papel no desenvolvimento econômico e financeiro do país, bem como na geração de empregos.

A estrutura deste estudo tem como sequência o referencial teórico, o qual apresenta a revisão de literatura dividida nos tópicos: governança corpo-rativa, conselho fiscal e estudos relacionados. Após é apresentado o percurso metodológico, em que se mostram os procedimentos metodológicos propos-tos, e, após, os resultados e discussões, em que se faz a análise dos dados coletados, bem como se discute os resultados encontrados. Por fim, a conclu-são apresenta as considerações do trabalho e sugestões para estudos futuros.

2 Referencial teórico

2.1 Governança corporativa

A origem da governança corporativa se fundamenta desde estudos de Berle e Means (1932), quando se analisava as diferenças de interesses na separação entre a propriedade e o controle, conhecido também como problemas de agência. Considerando a evolução desta temática, o termo governança corporativa representa o relacionamento entre os acionistas e os dirigentes das empresas. Sua aplicação se dá em virtude desta separação entre propriedade e controle, o que exigiu a criação de mecanismos que assegurassem que o interesse do proprietário não fosse sobreposto pelos interesses dos administradores (TRAPP, 2009).

No Brasil, os mecanismos de governança têm evoluído fundamental-mente focados na questão da relação entre administradores e acionistas. Isto denota uma tendência a seguir o modelo de governança norte-americano, em que os primeiros conflitos entre a direção da empresa e seus acionistas datam do início da década de 1980 (VIEIRA; MENDES, 2004).

Carvalho (2002) aponta que governança corporativa se trata de um sis-tema que estabelece regras e poderes para conselhos, comitês, diretoria e outros gestores nas organizações, procurando prevenir abusos de poder e criando instrumentos de fiscalização, princípios e regras que possibilitem uma gestão eficiente e eficaz. De acordo com Grün (2005), engloba um conjunto de dispositivos, cada vez mais díspares quanto ao seu escopo e lógica interna,

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mas todos concorrem para estabelecer ou manter uma relação entre acionistas e dirigentes das empresas, considerada satisfatória para os primeiros.

Além de contribuir para a redução de custos de capital, a boa gover-nança corporativa agrega valor às sociedades ao proporcionar mecanismos mais efetivos para consolidar negócios competitivos, elevando o nível de confiança entre todos os acionistas (MALACRIDA; YAMAMOTO, 2006).

Quadro 1 – Conceituação dos princípios de Governança Corporativa

Princípios Conceito Fonte

Transparência

Disponibilizar para as partes interessadas as informações pertinentes, não atentando apenas às leis e regulamentos. A prática correta da transparência possibilita o aumento da confiança interna e externamente das relações da empresa, pois quanto mais transparentes forem as informações sobre ela, mais valor terão seus títulos.

IBGC; CVM; Cadbury (2017)

Equidade

Tratamento justo e isonômico de todos os sócios e demais partes interessadas (stakeholders), atendendo seus direitos, deveres, necessidades e expectativas, sendo inaceitável qualquer atitude ou política discriminatória.

IBGC; CVM; Cadbury (2017)

Prestação de contas

Os agentes de governança devem prestar contas no âmbito de seus papéis e assumir integralmente as consequências de seus atos e omissões. Essa prestação de contas deve ser clara, concisa, compreensível e tempestiva, atuando com diligência e responsabilidade.

IBGC; CVM; Cadbury (2017)

Responsabilidade corporativa

Zelo pela sustentabilidade e viabilidade econômico-financeira das companhias por parte dos agentes de governança, cuja base é a longevidade da empresa, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental entre outros) no curto, médio e longo prazos.

IBGC; CVM; Cadbury (2017)

Fonte: Elaborado pelos autores.

A estrutura da governança corporativa promove a distribuição de di-reitos e de responsabilidades entre os dife rentes participantes na empresa, como os conselheiros, gestores, acionistas e outros stakeholders, e explicita as regras e os proce dimentos para tomada de decisões em as suntos corpora-tivos (MASCENA; BARAKAT; FISCHMANN, 2016). Sendo assim, a governança corporativa possui importante papel nas empresas de capital aberto, leva em consideração a preocupação dos acionistas para com o desempenho da empresa investida e dá enfoque para as práticas da boa governança, o que aumenta o nível de confiança aos acionistas e demais interessados.

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2.2 Conselho fiscal

Conforme Tinoco, Escuder e Yoshitake (2011), os conselheiros fiscais têm papel fundamental no que diz respeito ao acompanhamento das de-cisões relevantes da empresa, como as questões relacionadas ao planeja-mento estratégico, riscos e controles internos para efeito de proteção, não somente aos acionistas minoritários, mas, sobretudo, ao mercado e, assim, certificar proteção e continuidade da empresa.

De acordo com o caderno de governança corporativa (IBGC, 2007), o conselho fiscal é um órgão fiscalizador independente da diretoria e do con-selho de administração que busca, por meio dos princípios da transparência, equidade e prestação de contas, contribuir para o melhor desempenho da organização. Pode servir como instrumento de uma política ativa de boas práticas de governança corporativa direcionada, especialmente, para a trans-parência e o controle dos atos internos da companhia quando o órgão e seus membros atenderem a requisitos e regras de funcionamento que assegurem a efetividade de sua atuação e, especialmente, sua independência.

Segundo Trapp (2009), no Brasil, o conselho fiscal é um órgão de existência obrigatória, mas de funcionamento não permanente, que tem como função fisca-lizar os atos da administração, opinar sobre determinadas questões e posicionar os acionistas. A Lei 6.404/76, conhecida como a Lei das Sociedades Anônimas, regulamenta as competências do conselho fiscal. As principais são (art. 163): fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos administradores e verificar o cumprimento dos seus deveres legais e estatutários; opinar sobre o relatório anual da administração, fazendo constar do seu parecer as informações comple-mentares que julgar necessárias ou úteis à deliberação da assembleia-geral; ana-lisar, ao menos trimestralmente, o balancete e demais demonstrações financeiras elaboradas periodicamente pela companhia (BRASIL, 1976).

A respeito da titularidade do conselho fiscal, o parágrafo primeiro do art. 161 da Lei 6.404/76 regulamenta que o conselho fiscal será composto de, no mínimo, três e, no máximo, cinco membros, e suplentes em igual número, acio-nistas ou não, eleitos pela assembleia-geral (BRASIL, 1976). Em se tratando da característica e dos requisitos do profissional que compõe o conselho fiscal, o art. 162 da supracitada lei, estabelece alguns aspectos: somente podem ser eleitos para o conselho fiscal pessoas naturais, residentes no país, diplomadas em curso de nível universitário, ou que tenham exercido por prazo mínimo de três anos, cargo de administrador de empresa ou de conselheiro fiscal. Não podem ser elei-tos, para o conselho fiscal, membros de órgãos de administração e empregados da companhia ou de sociedade controlada ou do mesmo grupo, e o cônjuge ou parente, até terceiro grau, de administrador da companhia (BRASIL, 1976).

O guia de orientação para o conselho fiscal (IBGC, 2007) apresenta os be-nefícios da existência de um conselho fiscal para os acionistas, que é um órgão independente da administração. Em decorrência da lei, o conselho contribui para o valor da empresa por meio do monitoramento dos processos de gestão dos riscos e da criação de condições mais propícias à redução do custo de capital da empresa. Ainda, pode ser a única instância de defesa, no âmbito da sociedade, à disposição dos acionistas, especialmente nas situações em que o conselho de

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administração não esteja instituído e, o conselho pode dedicar-se, com maior pro-fundidade, ao exame de detalhes de matérias de interesse da sociedade.

A transparência e a gestão de conflitos em relação ao conselho fiscal e a go-vernança corporativa foi tema do estudo de Tinoco, Escuder e Yoshitake (2011). Os autores buscaram pesquisar a opinião dos membros do conselho fiscal das empresas classificadas na Bolsa de Valores de São Paulo, quanto ao cumprimento das práticas de governança corporativa previstas para os conselhos fiscais das instituições. Os principais resultados apresentados após as pesquisas evidenciam que os conselheiros fiscais têm, efetivamente, conhecimento de suas responsa-bilidades e de que as referidas práticas geram valor aos acionistas. Observou-se que as empresas, embora cumpram com os conceitos de boa governança, não incluem, na aplicação desse mecanismo, o conselho fiscal, mantendo-o apenas dentro das regras previstas na legislação das sociedades por ações.

Brugni (2016), com o objetivo de traçar um panorama geral acerca da configuração dos conselhos de administração e fiscal no Brasil ao longo dos últimos cinco anos, realizou estudo associando esses conselhos com medidas de qualidade da informação contábil. Avaliou, de forma agregada, 35 caracterís-ticas estruturais, de remuneração e de composição desses órgãos. De maneira geral, alguns fatores apresentaram relevância para explicar os níveis de con-servadorismo e de gerenciamento dos resultados das empresas. Nesse estudo, não foi possível afirmar que o conselho fiscal afeta de forma positiva o monito-ramento da qualidade dos lucros reportados no mercado de capitais brasileiro.

Baioco e Almeida (2017) realizaram estudo acerca dos efeitos do comitê de auditoria e do conselho fiscal na qualidade da informação contábil no Brasil, reportadas às empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa de 2010 a 2013. Os resultados obtidos na pesquisa, mais especificamente no que diz respeito ao con-selho fiscal, apontaram para maior relevância do lucro e do patrimônio líquido em empresas no qual o órgão permanente instalado, além de maior conservadorismo condicional, o que reflete a função da contabilidade como mecanismo contratual.

Tendo em vista as pesquisas apresentadas, pode-se perceber que o es-tudo do conselho fiscal, suas práticas e responsabilidades são recentemente alvo das investigações que envolvem a governança corporativa. Este conse-lho, que por tempos não vinha sendo estudado e por ter sua funcionalidade vinculada aos interesses dos acionistas das entidades, fiscalizando os atos da administração, possibilita, por meio de pesquisas, apresentá-lo e levantar características que até então não eram conhecidas.

3 Percurso metodológico

De acordo com Collis e Hussey (2005), a investigação científica, no âmbito das ciências sociais aplicadas, pode ser classificada metodologica-mente quanto ao objetivo, o procedimento de coleta de dados e, por fim, quanto à abordagem de análise. Dessa forma, esse estudo classifica-se como descritivo, documental e quantitativo, uma vez que serão empregadas técni-cas de análise estatística descritiva para a análise dos dados.

O estudo foi desenvolvido com base no levantamento de dados das

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empresas brasileiras do setor de bens industriais listadas na bolsa de valores do país, compreendendo 68 empresas. Porém, dessas organizações, apenas 30 entidades possuíam conselho fiscal instalado, o que culminou na obser-vação de 207 conselheiros fiscais que foram analisados.

Os bens industriais são definidos por Pagnani (2017) como sendo aqueles que se destinam à produção de outros bens ou à prestação de serviços. Podendo compreender equipamentos, instalações, acessórios, veículos, matérias-primas, materiais para manutenção e consertos, ferramentas, máquinas entre outros. O setor de bens industriais é composto por empresas dos ramos de comércio, equi-pamentos elétricos, máquinas e equipamentos, material de transporte e serviços.

A coleta dos dados foi realizada durante os meses de setembro e outubro de 2017, por meio de consulta ao formulário de referência do ano de 2016. Para facilitar a coleta, foi utilizada planilha eletrônica de Microsoft® Excel como instru-mento de pesquisa. Os dados coletados referem-se ao gênero dos conselheiros, nível de escolaridade, área de formação, atuação do conselheiro em outros con-selhos, tanto internos, quanto externos, à posição dos conselheiros titulares ou suplentes, como também na sua influência em nível comercial e familiar.

Quadro 1 – Variáveis utilizadas

Variável Descrição da variável Referência

Gênero Masculino/Feminino

Indica quantos homens/mulheres compõem o conselho fiscal.

Brugni (2016)Idade

Mínimo/Máximo/Média

Indica qual a idade do conselheiro mais novo, mais velho e a média de idade dos mesmos, com base na coleta das datas de nascimento dos conselheiros.

EscolaridadeIndica quantos conselheiros possuem graduação, especialização (pós-graduação), mestrado, doutorado ou somente ensino médio.

Área de formação Indica quais as principais formações dos conselheiros fiscais.

Trapp (2009); Brugni (2016)

Instituições de ensinoIndica quais as instituições de ensino mais procuradas pelos conselheiros, tanto para graduação quanto para especialização.

Titularidade Indica a quantidade de conselheiros efetivos e suplentes que compõem o CF.

Brugni (2016)TreinamentoIndica quantos conselheiros realizaram treinamento em curso para executivos (ex.: IBGC, FDC, Harvard).

Experiência Indica quantos conselheiros já tiveram experiências em outros conselhos.

Independência – diretoria

Quantidade de membros do conselho fiscal que fazem parte da diretoria da empresa. Tinoco; Escuder;

Yoshitake, (2011); Brugni,

(2016); Baioco & Almeida (2017)

Independência – comercial

Quantidade de membros do conselho fiscal que têm relação comercial.

Independência – familiar Quantidade de membros do conselho fiscal que têm relação familiar.

IndicaçõesQuantidade de conselheiros que foram indicados pelo controlador, acionistas ordinaristas, minoritários e preferencialistas.

Brugni (2016)

Fonte: Elaborado pelos autores.

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A base de coleta dos dados constitui-se dos formulários de referência publicados pelas empresas, ano-base 2016, retirado do site (2017) da Bolsa de Valores do Brasil – B3. Para a análise dos dados, foram empregadas técni-cas de estatística descritiva.

4 Resultados

Frente ao exposto e considerando as variáveis elencadas, as obri-gações e as características do conselho fiscal, cada variável analisada po-derá conduzir a uma interpretação passível de ser refletida nas empresas de capital aberto. Apresenta-se a análise dos dados com cruzamentos de estudos realizados por autores que fundamentam o levantamento de tais dados. Inicialmente, é necessário citar que das 30 empresas pesquisadas, 12 possuem conselhos fiscais permanentes e 18 possuem conselho fis-cal não permanente instalado por meio de assembleia dos acionistas. A respeito da relação do total da amostra com o gênero dos conselheiros, apresenta-se, na Tabela 1, a quantidade de homens e mulheres presentes nos conselhos fiscais.

Tabela 1 – Gênero

Gênero Quantidade Percentual

Masculino 186 90%

Feminino 21 10%

Total 207 100%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Observa-se que as mulheres são em número relativamente baixo quan-do comparado à quantidade de homens. Estudos de Brugni (2016) também identificaram baixos índices de presença de mulheres nos conselhos fiscais. De uma amostra de 91 empresas, mais da metade não possui sequer uma mulher. Conforme a média apresentada pelo autor, a cada três empresas ana-lisadas, uma mulher está presente no conselho fiscal.

O código das melhores práticas de governança corporativa (2015) in-dica que, para a melhor atuação dos conselhos, o órgão deve ter diversidade em sua composição. Possíveis causas deste cenário são a necessidade de representatividade na empresa e as possibilidades de ascensão. Na Tabela 2, podem ser observados os resultados em relação à idade dos conselheiros que compuseram a amostra, segregados por gênero.

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Tabela 2 – Idade

GêneroNúmero (em anos)

Masculino Feminino

Idade Mínima 26 28Idade Máxima 81 68Idade Média 54 49

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Correlacionando as variáveis, a média geral dos conselheiros fiscais é de 54 anos, tendo em vista que se observa a presença de homens mais ve-lhos do que mulheres, as quais são relativamente mais jovens. Semelhante ao encontrado por Brugni (2016), a média de idade dos conselheiros foi de 54 anos. Esta variável pode determinar a experiência dos conselheiros, conforme Adams (2009), o qual argumenta que conselheiros com menos idade tendem a apresentar menor interação no conselho dificultando a troca de informações e, consequentemente, a eficiência do conselho fiscal. Com relação ao grau de es-colaridade dos conselheiros, a Tabela 3 apresenta a quantidade daqueles que possuem formação de ensino médio a doutorado. Apresentam-se segregados por gênero como também o percentual representado ao total.

Tabela 3 – Escolaridade

Nível de escolaridade

Dados por gêneroTotal %

Masculino % Feminino %

Ensino médio 3 2% 0 0 3 1%Graduação 62 33% 5 24% 67 32%Especialização 45 24% 8 38% 53 26%Mestrado 16 9% 3 14% 19 9%Doutorado 6 3% 0 0 6 3%Não informado 54 29% 5 24% 59 29%Total 186 100% 21 100% 207 100%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Conforme abordado na Tabela 3, de maneira geral, ao se comparar to-dos os níveis de escolaridade, pode-se dizer que graduação e especialização são as formações que apresentam maior frequência entre os conselheiros. Outra perspectiva é que as mulheres possuem melhor formação do que os homens. Assim, mesmo sendo a minoria, o nível da formação é maior.

Na pesquisa de Brugni (2016), para cada 15 conselheiros, um possui es-pecialização e, diferente da pesquisa atual, constatou que 79% das empresas de sua amostra não possuem conselheiros com titulação de mestrado. Outra análise relevante se faz no que diz respeito à área de formação dos conselheiros fiscais. Os números são apresentados em escala do maior para o menor, cons-truindo o ranking dos cursos de formação dos conselheiros, conforme Tabela 4.

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Tabela 4 – Ranking de área de formação

Curso Quantidade PercentualCiências contábeis 64 27%Direito 49 20%Administração 45 19%Ciências econômicas 36 14%Engenharia 31 13%Outros 11 5%Não informado 5 2%Total 241 100%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

A somatória da quantidade total dos cursos ultrapassa a quantidade de conselheiros analisados na amostra, porém foi constatado, durante a coleta de dados, que diversos conselheiros possuem mais do que uma graduação, em áreas por vezes distintas ou não. É considerado ainda que conforme a Ta-bela 3 apresenta, 59 conselheiros não informam a escolaridade e 3 possuem apenas ensino médio.

Comparando este ranking com outros estudos que já analisaram a área de formação dos conselheiros fiscais, as avaliações de Trapp (2009) foram que na amostra de 216 conselheiros, 21% possuíam formação em ciências contábeis, número relativamente menor quando comparado com o estudo atual. Já em pesquisas de Brugni (2016), 68% das empresas de sua amostra possuem ao menos um contador em seu quadro de conselheiros. Este percentual é considerado regular face às necessidades dos conselheiros em interpretar demonstrativos contábeis.

Dentre todos os cursos apresentados, pode-se dizer que as áreas re-lacionadas às competências do conselho fiscal estão significativamente pre-sentes no perfil dos conselheiros. O curso de engenharia possui relevan-te número de formados em virtude de o setor de atuação das empresas pesquisadas ser de bens industriais. Este requer engenheiros que, além de atividades voltadas à sua formação, estão compondo os conselhos fiscais das organizações. Os outros cursos configurados nos onze restantes estão relacionados à área de finanças, história, letras, medicina, sistemas de infor-mação, comunicação e agronomia.

Em virtude de se analisar as áreas de formação, constatou-se perti-nente avaliar, conjuntamente, as instituições de ensino de graduação mais frequentes entre os conselheiros. Conforme a Tabela 5, são apresentadas as onze instituições que mais aparecem na coleta de dados.

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Tabela 5 - Ranking de instituições de ensino - graduação

Instituição Quantidade Percentual

Fundação Getúlio Vargas – FGV 13 10%

Pontifícia Universidade Católica – PUC 9 7%

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ 8 6%

Universidade de São Paulo – USP 7 5%Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

6 4%

Universidade de Brasília – UnB 3 2%

Universidade de São Francisco 3 2%

Universidade Federal de São Carlos 3 2%

FAE Business School 3 2%

Fundação de Estudos Sociais do Paraná 3 2%

Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) 3 2%

Outros 75 56%

Total 136 100%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Nota-se que as instituições de ensino mais procuradas são cinco: FGV, PUC (dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), UFRJ, USP e UFRGS. As demais aparecem em menor número, porém, mais frequentes do que as presentes na subdivisão Outros, na qual a mesma instituição aparece duas vezes ou apenas uma, como escolhida por cada conselheiro. Dentre as 75 instituições listadas em Outros, estão, de forma geral, a Universidade Fe-deral de Santa Catarina (UFSC), Universidade da Região de Joinville - Univille, Universidade do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade de Guarulhos, Universi-dade Vila Velha, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Universi-dade São Judas Tadeu, entre outros.

O total de instituições informadas nos formulários foram 136 (confor-me tabela), porém, dos 207 conselheiros analisados, 85 deles não citaram a instituição de formação. Conforme já mencionado, de acordo com o que a Tabela 3 apresenta, 59 conselheiros não informam a escolaridade e 3 pos-suem apenas ensino médio. Esta diferença, a maior, é justificada porque as formações, algumas vezes, são mais do que uma para cada conselheiro. Portanto, se há mais áreas de formação do que o total de conselheiros, con-sequentemente, há mais instituições de ensino a serem consideradas. Outra análise realizada foi a respeito das instituições de ensino de pós-graduação, especialização, mestrado ou doutorado dos conselheiros, sendo tal apresen-tada na Tabela 6.

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Tabela 6 - Ranking de instituições de ensino - especialização

Instituição Quantidade Percentual

Fundação Getúlio Vargas – FGV 15 16%

IBMEC 5 5%

Universidade de São Paulo – USP 5 5%

Pontifícia Universidade Católica 4 4%

Harvard Business School 3 3%

Universidade Federal do Rio de Janeiro 3 3%

Wharton School – University of Pennsylvania 2 2%

Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2 2%

Universidade de Brasília 2 2%

Centro Universitário Padre Anchieta (SP) 2 2%

Outros 32 34%

Não informado 20 22%

Total 95 100%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Observa-se que, da mesma forma como nas instituições de ensino para graduação, se repete o topo da lista como a instituição mais procurada pelos conselheiros, a Fundação Getúlio Vargas, com índice ainda maior. Diferentemente do ranking anterior, na Tabela 6 pode-se perceber a presença de instituições de ensino do exterior, como a Harvard Business School, Wharton School e considera-da em outros com somatória de 32, a Ohio University. As demais instituições são semelhantes às da Tabela 5, tendo em vista que oferecem cursos de vários níveis.

Estas instituições foram pesquisadas com base na Tabela 3, na qual 53 conselheiros possuem especialização, 19 têm mestrado e 6, doutorado. O to-tal de instituições informadas nos formulários é de 75. Diante disso, dos 78 conselheiros analisados, 20 deles não informam a instituição de formação. Esta diferença (a maior) é justificada pelo mesmo critério das instituições de graduação analisadas na Tabela 6, em que as formações, algumas vezes, são mais do que uma para cada conselheiro. Portanto, se há mais áreas de forma-ção do que o total de conselheiros, consequentemente, há mais instituições de ensino a serem observadas. Considera-se, ainda, que diversos deles pos-suem vários níveis de formação e por isso são listadas todas as apresentadas nos formulários de referência.

A Tabela 7 apresenta a relação das empresas avaliadas com suas respec-tivas localizações e quantidade de conselheiros efetivos e suplentes, para que seja possível conhecer o estado em que está localizada a sede das empresas no país justificando a escolha pelas universidades apresentadas nas Tabelas 5 e 6; também pretende-se verificar o atendimento à lei 6.404/76 quanto à quantidade de conselheiros efetivos e suplentes nas empresas analisadas.

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Tabela 7 - Localização das empresas

EmpresaLocalização

(estado)Suplentes Efetivos

Azevedo e Travassos S.A. São Paulo 5 5

Bardella S.A. São Paulo 5 5

Ccr S.A. São Paulo 3 3

Conc. Aerop. De Guarulhos S.A. São Paulo 3 3

Contax S.A. São Paulo 3 3

Embraer São Paulo 5 5

Eternit S.A. São Paulo 3 3

Forjas Taurus S.A. Rio Grande do Sul 3 3

Fras-Le São Paulo 3 3

Indústrias Romi S.A. São Paulo 3 3

Invest. Em Infra S.A. Invepar Rio de Janeiro 3 4

Jsl S.A. São Paulo 3 3

Kepler Weber S.A. São Paulo 3 3

Log-In Logística Interm. S.A. Rio de Janeiro 3 3

Marcopolo Rio de Janeiro 3 3

Mendes Junior Engenharia S.A. Minas Gerais 3 3

Metisa Metalurg. Timboense S.A. Santa Catarina 3 6

Mills Est. e Serv. de Eng. S.A. Rio de Janeiro 3 3

Pbg S.A. Santa Catarina 3 3

Prumo Logística S.A. Rio de Janeiro 3 3

Randon Participações Rio Grande do Sul 5 5

Rumo S.A. São Paulo 5 5

Santos Brasil Partic. S.A. São Paulo 3 3

Schulz S.A. Santa Catarina 5 5

Tegma Gestão Logística S.A. São Paulo 3 3

Triunfo Particip. e Invest. S.A. São Paulo 2 3

Tupy S.A. Santa Catarina 3 3

Valid Soluções S.A. Rio de Janeiro 3 3

Weg S.A Santa Catarina 3 3

Wlm Ind. Com Rio de Janeiro 3 3

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Pode-se perceber, por meio dos dados da Tabela 7, que o estado em que estão mais presentes as empresas pesquisadas é São Paulo (15 empresas), segui-do do Rio de Janeiro (07 empresas), o que justifica a presença das universidades elencadas nas Tabelas 5 e 6, que representa mais claramente o porquê da escolha dessas instituições. A Tabela 7, ainda, apresenta a quantidade de conselheiros fiscais presentes nos conselhos, o que é analisado detalhadamente na Tabela 8.

Nesta etapa da análise, são abordadas as características específicas dos conselheiros nas atividades dos conselhos fiscais. É exposto se os mes-

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mos são suplentes, efetivos, se possuem treinamento para executivos, ques-tões de independência entre outros. A respeito da titularidade dos conselhei-ros, a quantidade de suplentes e efetivos é apresentada na Tabela 8:

Tabela 8 - Titularidade7

GêneroQuantidade

Masculino Feminino

Suplentes 89 12

Efetivos 97 9

Total 186 21

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Observa-se na Tabela 8 que a diferença entre conselheiros suplentes e efetivos é mínima (cinco conselheiros). No entanto, na diferença entre efe-tivos e suplentes, no que diz respeito ao gênero, observa-se mais homens efetivos do que mulheres. Isto condiz com o estudo de Brugni (2016), que confirma a diferença de conselheiros efetivos e suplentes, sendo levemente maior a quantidade de efetivos. Pode-se perceber também, por meio da Ta-bela 7, que o número de conselheiros efetivos e suplentes atende ao estabe-lecido pela legislação.

No que tange à quantidade dos que possuem ou realizaram treina-mento para executivos, pode-se citar como exemplo de instituições que ofe-recem esse tipo de curso: IBGC, FDC e Harvard. Os dados, segregados por gênero, são apresentados na Tabela 9.

Tabela 9 – Treinamento para executivos

GêneroTreinamento

Masculino Feminino

Quantidade Percentual Quantidade PercentualSim 15 8% 4 19%Não 171 92% 17 81%Total 186 100% 21 100%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

O intuito de promover e pesquisar a respeito dos conselheiros que possuem treinamentos específicos para executivos, voltados à governança corporativa, é de universalizar os conceitos das boas práticas de tal sistema independentemente do tipo de controle da organização (IBGC, 2017). Pode--se notar que, dos 207 conselheiros analisados, somente 19 possuem algum curso ou treinamento específico nessa área, ou seja, 9% do total. Outra aná-lise se faz na diferença entre os gêneros, pois, comparados ao total de cada um, as mulheres são as que mais procuram essa formação.

O aumento deste número se confirma comparado ao estudo de Brugni (2016), no qual, para a amostra analisada, identificou apenas dois conse-

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lheiros com treinamento para executivos, identificando que esses tipos de capacitação não são comuns para esse tipo de profissional. Outro aspecto relevante para análise do perfil dos conselhos fiscais é a experiência em ou-tros conselhos, demonstrado na Tabela 10.

Tabela 10 – Experiência em outros conselhos

GêneroExperiência em outros conselhos

Masculino Feminino

Quantidade Percentual Quantidade PercentualSim 95 51% 11 52%Não 91 49% 10 48%Total 186 100% 21 100%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Ao se observar os dados apresentados, pode-se dizer, de maneira geral, que metade dos conselheiros, tanto homem, quanto mulher, possuem experi-ência ou desenvolvem atividades em outras instituições, dentro de outros con-selhos. Destes, 103 conselheiros não informam em qual conselho possuem experiência, 61 pertencem ao conselho fiscal, 18 ao conselho de administra-ção de outras entidades e 24 estão presentes em ambos os conselhos.

Em contrapartida, Brugni (2016) avaliou, em sua análise, que apenas dezesseis conselheiros fiscais participam de outros conselhos fiscais, con-siderando de forma paralela que estejam presentes em três ou mais con-selhos. Nesta etapa da análise, apresentam-se os dados que determinam a independência dos conselheiros com relação à diretoria da empresa em que atuam, as relações comerciais (se existem) e familiares. É importante ressal-tar que o conceito de independência pode ser subjetivo quando tratado de maneira distinta, somente com base em uma variável.

A respeito da participação dos conselheiros fiscais na diretoria das empresas, dentre as 30 analisadas, em nenhuma delas o conselho fiscal faz parte da presidência. Tal fato pode se confirmar em estudos de Tinoco, Escu-der e Yoshitake (2011), o qual cita que, para uma boa atuação do conselho fiscal, o mesmo deve ter independência técnica, econômica e de vínculos em relação aos acionistas e à companhia. Por ter atuação fiscalizadora, não pode tornar sua função alvo de interesses particulares ou de outrem.

Tabela 11 – Independência comercial

GêneroIndependência comercial

Masculino Feminino Total

Quantidade Percentual Quantidade Percentual Quantidade

Sim 181 97% 20 95% 201

Não 5 3% 1 5% 6

Total 186 100% 21 100% 207

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

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A partir da tabela 11, é possível observar que 06 membros dos con-selhos analisados declaram possuir relação comercial com as entidades em que atuam, enquanto 201 declaram não possuir. Esse resultado permite ava-liar positivamente as 30 empresas pesquisadas, no que diz respeito à in-dependência e não influência do conselho fiscal em aspectos que possam intervir no bom funcionamento da organização e do conselho no que tange à existência de relação comercial com os membros do conselho fiscal. Esse resultado evidencia a garantia da independência dos conselhos fiscais para a tomada de decisão e outras fiscalizações que lhe cabem. De maneira positiva se avalia a independência familiar dos conselheiros, conforme a Tabela 12:

Tabela 12 – Independência familiar

GêneroIndependência familiar

TotalMasculino Feminino

Quantidade Percentual Quantidade Percentual Quantidade

Sim 0 0% 2 10% 2

Não 186 100% 19 90% 205

Total 186 100% 21 100% 207

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Apenas dois conselheiros (gênero feminino) possuem relação familiar, porém, de um total de 207 conselheiros analisados, considera-se um núme-ro baixo. Apenas 1% dos conselheiros não possui independência no que diz respeito às relações familiares.

A independência foi abordada nesta pesquisa em variáveis distintas, como forma de avaliar de que forma está ligada ao perfil dos conselheiros, seja pelas relações na diretoria, seja pelas relações comerciais ou familiares. Estudos de Tinoco, Escuder e Yoshitake (2011) e Brugni (2016) abordam de forma geral os resultados das relações dos conselheiros que podem se tor-nar critério de dependência dos conselhos.

Tinoco, Escuder e Yoshitake (2011) avaliaram, dentre os pressupostos de boa atuação do conselho fiscal, a independência. O resultado de sua pes-quisa, com base na resposta dos entrevistados (membros do conselho fiscal de 40 empresas listadas na BM&FBovespa), a independência, cujo resultado supera 78% dos respondentes, retrata uma posição individual. Observou-se que 21,95% dos respondentes entendem que as empresas não se adequam à independência. Comparativamente alta, a diferença entre adequação e não adequação é uma percepção negativa muito elevada em se tratando de em-presas de nível elevado no entendimento da governança corporativa.

Estudos de Baioco e Almeida (2017) apresentam resultados que in-dicam que a independência do conselho fiscal impacta positivamente na relevância do patrimônio líquido, como também o percentual de membros independentes daquele órgão, sejam eleitos por acionistas minoritários ou membros independentes da administração, tem impacto no conservadoris-

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mo do lucro reportado. Em contrapartida, o estudo de Brugni (2016) encon-trou índices de 17,7% de empresas que possuem ao menos um conselheiro com relações comerciais ou familiares ou partes relacionadas, o que sinaliza níveis de independência menores de seus conselhos fiscais. A última etapa desta análise dá-se por meio de avaliação das indicações dos conselheiros, separados por gênero, indicados pelo controlador, acionistas ordinaristas, acionistas minoritários e preferencialistas, conforme Tabela 13.

Tabela 13 – Indicações dos conselheiros

GêneroIndicações dos conselheiros

Masculino Feminino

Quantidade Percentual Quantidade Percentual

Controlador 100 54% 8 38%

Acionistas ordinários 10 5% 4 19%

Acionistas minoritários 59 32% 5 24%

Preferencialistas 12 6% 4 19%

Não informado 5 3% 0 0%

Total 186 100% 21 100%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

O topo das indicações está nos conselheiros fiscais que são eleitos pe-los seus respectivos controladores, tanto para os homens (54%), quanto para as mulheres (38%). Em igual escala, o segundo maior eleito são os indicados pelos acionistas minoritários; em menor número, os eleitos pelos acionistas ordinários e preferencialistas. Na pesquisa de Brugni (2016), também são em maior número os conselheiros eleitos pelos controladores (67%); já 21% da amostra foi eleita pelos acionistas ordinários e 12% pelos preferencialistas.

Definida pela Lei 6.404/76 em seu art. 240, o funcionamento do con-selho fiscal será permanente nas companhias de economia mista. Um dos seus membros, e respectivo suplente, será eleito pelas ações ordinárias mi-noritárias e outro pelas ações preferenciais, se houver. Já no art. 277, o fun-cionamento do conselho fiscal da companhia filiada a grupo, quando não for permanente, poderá ser pedido por acionistas não controladores que representem, no mínimo, 5% das ações ordinárias ou das ações preferen-ciais sem direito de voto. Frente a esses dispositivos, justifica-se a maioria dos votos que elegem os conselheiros por meio do controlador, e os demais pelos acionistas ordinários, minoritários e preferencialistas. Das variáveis apresentadas, pode-se dizer que a maioria está de acordo com o que foi pes-quisado por outros autores, com exceção às variáveis que dizem respeito à independência dos conselheiros. No presente estudo, a independência foi avaliada como fator positivo por ter apresentado número mais baixo do que comparado com outros autores.

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5 Considerações finais

Com o objetivo de identificar o perfil dos conselheiros fiscais das em-presas brasileiras do setor de bens industriais listadas na B3, este estudo teve como amostra 30 empresas e 207 conselheiros fiscais sendo analisa-dos. Pesquisaram-se, por meio de formulário de referência, questões como gênero dos conselheiros, nível de escolaridade, área de formação, experiên-cia em outros conselhos, titularidade e nível de independência dos mesmos.

A partir do estudo realizado, verificou-se que, de forma panorâmica, as características levantadas para se definir o perfil dos conselheiros fiscais permitem que seja considerado 90% composto por homens, limitando a ne-cessidade de diversificação dos conselhos; a idade média dos conselheiros é de 54 anos, o que, levando em consideração a mínima e máxima, possuem faixa etária conservadora. A graduação é o nível de escolaridade mais fre-quente presente nos formulários (em 32% do total analisado) e o curso de ciências contábeis aparece 64 vezes nos cursos de formação dos conselhei-ros (27% do total). As instituições de ensino, em sua totalidade, são diversas e distintas, porém o ranking, com as de graduação e especialização, possui apenas uma universidade no topo, a Fundação Getúlio Vargas – FGV.

Das características voltadas à questão profissional dos conselheiros, a titularidade possui diferença mínima entre suplentes e efetivos, podendo ser considerada condizente com a legislação. No que envolve treinamen-to para executivos, apenas 9% dos conselheiros possuem formação, o que pode impedir que, em algum momento, desempenhem da melhor forma as atividades corporativas. Porém, no que diz respeito às suas experiências em outros conselhos, aproximadamente 50% possui participação, o que pode eventualmente comprometer as atividades na companhia analisada. A rela-ção de independência ou não dos conselheiros, com o intuito de se manter a boa atuação do conselho fiscal, apresentou níveis baixos de dependência, avaliando-se de forma positiva para o total analisado. Por fim, as indicações dos conselheiros por parte de seus controladores, acionistas minoritários, ordinaristas e preferencialistas, apresenta-se como 52% indicado pelo con-trolador e o restante pelos demais níveis de acionistas.

Diante das variáveis apresentadas e levando em consideração estudos relacionados, a maioria dos índices pode ser correlacionada positivamente com estudos anteriores. Entretanto, a relação de independência apresentou considerável divergência nos achados de cada pesquisa, uma vez que o per-centual de dependência em estudos de Brugni (2016) e Tinoco, Escuder e Yoshitake (2011) foi relativamente maior.

Dentre as principais limitações do estudo, pode-se citar a carência de alguns itens em algumas empresas nos formulários de referência pesquisa-dos, utilizados como base na coleta de dados. Outra limitação dá-se pelo fato de que as análises realizadas não poderão se estender a todas as em-presas de capital aberto, que possuam conselhos fiscais, tendo em vista que este estudo se limitou a um setor específico da bolsa de valores. Sugere-se, como estudos futuros ou ampliação de pesquisa, realizar a análise do perfil

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dos conselheiros fiscais entre todas as empresas listadas na bolsa de valores e expandir os setores de pesquisa. Podendo ainda ser analisada a efetivi-dade do conselho e a influência da formação para executivos. Outro viés que pode ser abordado são os fatores que determinam os conselhos fiscais, permanente e não permanente, nas empresas e, ainda, ampliar as pesquisas no que diz respeito à independência dos conselheiros fiscais, abordando questões sociais que possam influenciar ou comprometer a independência desses conselheiros.

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Impacto da opção tributária no custo e preço de venda de empresa de brigadeiros

Luís Felipe Câmara16

Clari Schuh27

Ana Cristine Heinen38

RESUMO

Este estudo teve como objetivo analisar o impacto da opção tributária no custo e preço de venda indicando o regime tributário que representa menor custo tributário para uma confeitaria. Trata-se de uma pesquisa documental, explicativa e qualitativa. Para a coleta dos dados foram analisados os relatórios gerenciais e realizada entrevista com a administradora da empresa. Após, verificou-se os custos em cada regime tributário, e, por último, foi verificado o preço de venda. Os resultados apontam que na apuração dos custos pelo Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real, o impacto causado pela opção tributária no custo total da empresa é aproximadamente igual nas três opções tributárias analisadas. No entanto, no preço de venda, o impacto é menor no Simples Nacional. Este resultado é influenciado pela tributação existente sobre a sua venda. Conclui-se a importância da contabilidade não apenas para a apuração de impostos, mas também como uma ferramenta de gestão.

Palavras-chave: Planejamento Tributário. Custos. Preço de venda.

1 Bacharel em Ciências Contábeis, Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc, [email protected] Mestra em Ciências Contábeis-Unisinos, docente na Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc, [email protected] Mestra em Ciências Contábeis-Unisinos, docente na Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc, [email protected].

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1 Introdução

O Brasil passa por uma crise política e econômica que afeta diretamente as empresas, as quais encontram dificuldades para se manter no mercado. Além da crise, somada com a alta carga tributária (FISCHER et al., 2018), investir para abertura de uma empresa acaba sendo um desafio. Pois a criação de uma empresa (RIBEIRO et al., 2018) envolve diferentes regras institucionais, desde a idealização até ao acompanhamento, sendo consideradas as estruturas que conduzem o sistema onde a empresa está inserida, neste estudo as regras formais de legislação impostas pelo governo.

Se os impostos fossem destinados para retornar à sociedade proporcionalmente a sua incidência, seria justificável a alta carga tributária. No entanto, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação - IBPT (2017), o Brasil está entre os países de maior tributação e menor contrapartida de serviços públicos de qualidade. Portanto, o planejamento tributário não é mais um diferencial nas empresas, e sim uma necessidade para as empresas se manterem ativas (BOHNEN et al., 2018), podendo ser um dos artefatos para o sucesso da empresa.

Da mesma forma como o planejamento tributário é uma necessidade das empresas para serem competitivas, a busca pela correta evidenciação e classificação dos custos é de suma importância, pois os mesmos levarão a empresa a um nível de maior de controle e formação do preço de venda. Terão, consequentemente, dados mais confiáveis para tomada de decisão.

Nesse contexto, o estudo buscou verificar o impacto que os regimes tributários causam nos custos e preços de venda de uma empresa de doces localizada na região do Vale do Rio Pardo. Deste modo, após a classificação dos custos e da legislação tributária federal, foram aplicados os regimes tributários Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real no intuito de comparar qual a forma de tributação que representa um menor custo tributário. O estudo se justifica pela carência de pesquisas que investigam pequenas empresas com foco em tributos, e ainda em setor específico, nesse caso confeitaria.

2 Referencia teórico

2.1 Contabilidade de custos

Com o surgimento da revolução industrial e proliferação das empresas industriais, a contabilidade necessitava de um avanço para gerenciar e calcular os resultados das empresas industriais, tendo em vista que o processo é muito mais complexo do que as empresas comerciais, onde apenas compravam e revendiam as mercadorias (VICECONTI; NEVES, 2013). O setor responsável por controlar esses gastos foi nomeado “Contabilidade de Custos” (VICECONTI; NEVES, 2013).

Contabilidade de custos é o setor da Contabilidade que trabalha com os custos e está diretamente ligado à produção do bem ou serviço oferecido

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pela empresa (FERREIRA, 2016). É a produção de informações utilizadas para tomada de decisão (LEONE; LEONE, 2010). Os custos podem ser diretos, indiretos, fixos ou variáveis (SCHIER, 2013). Os diretos estão diretamente ligados ao produto produzido (MARTINS; ROCHA, 2010), enquanto que os indiretos são alocados ao produto através de critérios de rateio com determinado grau de subjetividade por não possuir atributos de perfeita identificação no produto (SANTOS, et al., 2015). Os fixos independem da quantidade produzida, enquanto que os variáveis, variam de acordo com o volume de produção (SCHIER, 2013).

Desde modo, além da contabilidade de custos evidenciar todos os custos dos produtos e processos, essas informações são de natureza gerencial e são levantadas para planejamento, controle e tomada de decisão, tornando uma ferramenta essencial dentro da empresa.

2.2 Métodos de custeio

Método de custeio é uma ferramenta de gestão que deve ser escolhida e trabalhada de acordo com a necessidade da empresa, portanto, deve-se definir qual método de custeio mais viável para utilização na empresa (FERREIRA, 2016).

Os diferentes métodos de custeio referem-se às variadas alternativas de decisão de quais elementos de custos serão apurados no cálculo do custo total dos produtos. Os elementos não considerados no custo dos produtos devem ser debitados no resultado do período a que competem (MARTINS; ROCHA, 2010). Neste estudo, será apresentado o conceito do método de custeio variável e custeio por absorção, porém os cálculos serão feitos apenas pelo custeio por absorção.

No método de custeio variável, serão apropriados aos produtos apenas os custos variáveis de produção. Já os custos fixos serão considerados despesas do exercício e serão lançados diretamente ao resultado, sem transitar pelos estoques. Em comparação com o método de custeio por absorção, o lucro bruto calculado pelo custeio variável será maior, pois não são apropriados os custos fixos, ao contrário do custeio por absorção. Em relação ao lucro líquido, esse será igual em ambos os métodos, pois os custos fixos integrarão o custo total dos produtos no custeio por absorção, e estarão como despesas do exercício no custeio variável (FERREIRA, 2016). No custeio variável (VICECONTI; NEVES, 2016), só são apropriados à produção os custos variáveis.

Já no custeio por absorção (ATKINSON et al.,2008; FERREIRA, 2016; MARTINS; ROCHA, 2015; SANTOS et al., 2015), apropria-se todos os custos, sendo eles fixos e variáveis, diretos e indiretos. Dessa forma, os custos fixos e variáveis são ‘estocados’ e lançados ao resultado apenas quando há venda dos produtos. Assim, o custeio por absorção considera como elementos para o custo do produto tudo o que foi utilizado durante o processo de produção, separando custo de despesa. E ainda, é aceito pelo fisco.

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2.3 Formação do preço de venda

Calcular o preço baseado nos custos é determinar o “preço de dentro para fora, onde o ponto de partida é o custo do bem ou serviço apurado segundo um método de custeio. Sobre esse custo agrega-se uma margem, denominada mark up” (MARTINS, 2003, p. 218). Para Crepaldi (2009, p. 325), a fixação do mark up é definido pelo “valor acrescentado ao custo de um produto para determinar o preço de venda final”. O mark up tem por finalidade acobertar os “impostos sobre vendas (ICMS, PIS, COFINS, IPI e ISS) [...] despesas administrativas fixas; de vendas fixas; Custos indiretos de produção fixos; e Lucro” (SANTOS, 2008, p. 129).

O mark up é de suma importância para a formação do preço de venda da empresa, pois é um indicador que visa a cobrir todas despesas, custos, impostos e gerar o lucro desejado pela empresa.

2.4 Opções tributárias

Atualmente, no Brasil, as empresas têm o direito de optar pela forma de tributação sobre o seu resultado. Segundo a Lei nº 9.430/96, art. 1º e Lei Complementar nº 123/06, há três opções tributárias, sendo elas: Simples Nacional, (ii) Lucro Presumido, e (iii) Lucro Real.

O Simples Nacional (i), Ribeiro e Pinto (2014) e Oliveira, et al. (2014) conceituam como sendo um Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições que é atribuído para as Microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP), nos termos definidos na Lei complementar n. 123/2006. De acordo com a referida Lei, este sistema fundamenta-se em uma forma mais simples e unificada de recolhimento de tributos, por meio da aplicação de uma fórmula usando como base a receita bruta da empresa. Para considerar-se microempresa, deve-se obter uma receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00, e, para empresa de pequeno porte, deve-se obter uma receita bruta superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00.

O Lucro Presumido (ii), para Ribeiro e Pinto (2014), é uma forma e tributação simplificada para determinar a base de cálculo do imposto de renda (IRPJ) e da contribuição social (CSLL), devidos trimestralmente, para empresas que não estiverem obrigadas, no ano calendário, à apuração Lucro Real. São aplicados alíquotas de presunção de acordo com o tipo de receita (FABRETTI, 2017), os quais formam a base de cálculo para o imposto de renda e contribuição social. Oliveira et al. (2014) explicam que, depois de calculado o Lucro Presumido, a empresa deverá adicionar a esse lucro, integralmente, os demais ganhos de capitais e outras receitas, dessa forma totalizando a base de cálculo, e, após, será aplicado a alíquota de 15% para IRPJ e 9% para CSLL. Nesse regime, o PIS e COFINS são calculados pelo regime cumulativo com alíquotas de 0,65% e 3% respectivamente.

O Lucro Real (iii) pode ter apuração trimestral ou anual (receita bruta ou

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suspensão redução) (RIBEIRO E PINTO, 2014; OLIVEIRA, 2013), é o resultado contábil ajustado pelas adições, exclusões. As empresas com faturamento acima de setenta e oito milhões no ano-calendário anterior, são obrigadas por esta modalidade de tributação (FABRETTI, 2017). O PIS e COFINS são apurados pelo sistema não cumulativo e suas alíquotas são respectivamente 1,65% e 7,6% (OLIVEIRA, 2013).

O estudo para escolha da opção tributária deve ser feito preventivamente (FABRETTI, 2017), pesquisando seus efeitos jurídicos e econômicos e as alternativas tributárias menos onerosas. Para Ribeiro e Pinto (2014), a importância da escolha da opção tributária que será feita pela empresa, declarando que é um assunto relacionado ao cumprimento de obrigações entre o contribuinte (entidade) e o fisco (governo). O principal objetivo na escolha da opção tributária (RIBEIRO; PINTO, 2014) é a redução da carga tributária da organização.

3 Percurso metodológico

Para a realização dos objetivos do estudo, foi realizado um estudo da legislação, bem como uma análise no movimento da empresa tendo como base o ano de 2018. A empresa atua no ramo de confecção de brigadeiros e está estabelecida no Vale do Rio Pardo desde 2016.

O objetivo do estudo foi de verificar o impacto das opções tributárias no custo e preço de venda de uma empresa de brigadeiros, identificando qual a opção tributária que representa menor custo tributário. Assim, a pesquisa enquadra-se como explicativa, em relação ao objetivo. De acordo com Andrade (2002) citado por Raupp e Beuren (2006), é uma pesquisa mais complexa por investigar o motivo das coisas, não apenas analisar e registrar os fatos.

Quanto aos procedimentos de pesquisa, foi desenvolvido por meio de pesquisa documental em relatórios gerenciais e entrevista com a administradora. Tendo em vista a necessidade de realizar os cálculos dos tributos nas diferentes opções tributárias, sendo elas Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real, bem como os custos e preço de venda, a pesquisa caracteriza-se como qualitativa em relação ao problema. Segundo Richardson (1999) citado por Raupp e Beuren (2006), a pesquisa qualitativa é mais detalhada em algumas particularidades do estudo.

Para analisar as informações de movimentação da empresa foi solicitada autorização da proprietária, momento em que se constatou que a mesma opera de forma ilegal, pois não está registrada na Junta Comercial do Estado. Sendo assim, foram utilizados relatórios gerenciais fornecidos pela proprietária.

Em relação aos custos, foram apurados os elementos de custos e seus valores por opção tributária, utilizando o método de custeio por absorção. Para compensação de créditos fiscais na compra de mercadoria, foram aplicadas as respectivas alíquotas em cada opção tributária. A empresa se caracteriza

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como indústria, sendo assim, há a incidência do IPI. No entanto, como a venda é somente para consumidor final, não há débito do IPI na saída.

Como não há direito de crédito fiscal no Simples Nacional, o custo unitário material direto utilizado na produção ficou igual ao valor de aquisição, porém no Lucro Presumido há direito a crédito fiscal de ICMS de 18%, desta forma, o custo unitário foi menor por ocasião da compensação. Portanto, no Lucro Real, além do ICMS de 18%, há a possibilidade de compensação do PIS e COFINS, aplicando as alíquotas de 1,65% e 7,6%, respectivamente. Sendo assim, o valor de aquisição totalizou com um valor ainda menor.

Para o cálculo da mão de obra direta, foram somados os salários de todos os funcionários, juntamente aos seus encargos trabalhistas e apropriados em valor unitário, dividindo-os pelo número aproximado de brigadeiros produzidos mensalmente. A única diferença obtida entre as opções tributárias foi na Contribuição à Previdência Social, onde não é exigido no Simples Nacional, apenas no Lucro Presumido e Lucro Real, apurando assim o valor total e unitário com Mão de Obra Direta.

Portanto, para o cálculo dos custos indiretos de fabricação, foram evidenciados os itens que compõem este elemento e seus respectivos valores. Por fim, foi somado e dividido pelo número aproximado de brigadeiros produzidos mensalmente, obtendo o valor total e unitário dos custos indiretos de fabricação.

Na sequência, foram elaborados quadros resumidos com todos os valores e informações obtidos anteriormente, servindo também para preparo para a formação do preço de venda, onde foi realizado o cálculo do mark up divisor em cada opção tributária, chegando ao preço de venda ideal para cobrir todos as despesas e gerar o lucro desejado. Após, foi estruturado um quadro comparativo dos valores apurados. Assim, foi possível ter uma visão mais ampla do impacto da opção tributária nos custos e preço de venda da empresa.

4 Descrição e análise dos dados e resultados

Neste capítulo, são apresentados e analisados os dados e resultados da empresa de brigadeiros, referente a um estudo realizado nos custos e preço de venda em cada opção tributária, utilizado como base o ano de 2018. Primeiramente, é realizada a apresentação e características da empresa e, em seguida, será demonstrado o levantamento dos dados e os cálculos para definir qual o impacto da opção tributária nos custos e preço de venda desta empresa.

Tendo em vista que a empresa tem uma grande variedade de sabores de brigadeiros, para a elaboração do presente trabalho, serão utilizados os três sabores mais vendidos pela empresa. São eles: o Brigadeiro Callebaut, Brigadeiro Ninho com Nutella e Brigadeiro Romeu e Julieta.

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4.1 Apresentação da Empresa

A empresa objeto desde estudo localiza-se na região do Vale do Rio Pardo, não possui registro e tem como ramo de atividade principal a confecção e comércio de brigadeiros. Suas atividades iniciaram em agosto de 2016, quando a proprietária da empresa estava passando por dificuldades financeiras e identificou nesse ramo uma oportunidade para o orçamento doméstico. Conta com dois funcionários, além da proprietária, possui uma boa cartela de clientes, os quais são consumidores finais.

A empresa iniciou suas atividades com um capital social de R$ 10.000,00 (dez mil reais), que era um negócio pequeno, começando apenas com poucas variedades de brigadeiros. Foi se expandindo cada vez mais, hoje tendo uma grande variedade de sabores de brigadeiros.

4.2 Apuração dos elementos de custos por opção tributária

Os custos são divididos em três elementos básicos, sendo eles os custos de Material Direto (MD), Mão de Obra Direta (MOD) e Custos Indiretos de Fabricação (CIF). Em cada um desses elementos podem ser analisados separadamente os custos da empresa, e em uma soma total desses três elementos, é obtido o total de custos da empresa.

A empresa enquadra-se como indústria, assim, há incidência do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), porém, vende apenas para consumidor final. Portanto, não há o débito do IPI. Desta forma, não é necessário fazer o crédito fiscal deste imposto. Assim, o IPI fará parte do custo da empresa.

Na sequência serão apresentados os custos de Material Direto, Mão de Obra Direta e Custos Indiretos de Fabricação, levando em consideração as três opções tributárias definidas: Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real.

4.2.1 Apuração dos elementos de custos

O primeiro elemento de custo a ser apresentado é o custo com material direto, sendo este composto pelos ingredientes consumidos durante a produção dos brigadeiros e as embalagens para a finalização do produto a ser comercializado. Para os valores dos ingredientes e embalagens foi realizado pesquisa de mercado.

Para o cálculo, os valores foram considerados para apenas 1 brigadeiro, ou seja, o valor total, por exemplo, do leite condensado de 200g, foi dividido pelo número de brigadeiros que são confeccionados com essa quantidade. Por exemplo: leite condensado de 395g custa R$ 5,00 e é possível confeccionar 20 brigadeiros, portanto, o valor custo unitário com leite condensado é de R$ 0,25. O Quadro 1 apresenta o valor de cada material direto e seus tributos para a confecção do Brigadeiro Callebaut.

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Quadro 1 - Custos com Material Direto – Brigadeiro Callebaut

BRIGADEIRO CALLEBAUT

MDOpção

tributáriaValor pago

( - ) ICMS ( - ) PIS( - )

COFINSCusto

Unitário

Leite Condensado

S. Nacional R$ 0,250 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,250

L. Presumido R$ 0,250 -R$ 0,045 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,205

L. Real R$ 0,250 -R$ 0,045 -R$ 0,004 -R$ 0,019 R$ 0,182

Manteiga

S. Nacional R$ 0,012 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,012

L. Presumido R$ 0,012 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,012

L. Real R$ 0,012 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,012

Chocolate Belga Callebaut

S. Nacional R$ 0,041 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,041

L. Presumido R$ 0,041 -R$ 0,007 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,034

L. Real R$ 0,041 -R$ 0,007 -R$ 0,001 -R$ 0,003 R$ 0,030

Embalagem

S. Nacional R$ 0,042 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,042

L. Presumido R$ 0,042 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,042

L. Real R$ 0,042 R$ 0,000 -R$ 0,001 -R$ 0,003 R$ 0,038

Forma

S. Nacional R$ 0,050 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,050

L. Presumido R$ 0,050 -R$ 0,009 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,041

L. Real R$ 0,050 -R$ 0,009 -R$ 0,001 -R$ 0,004 R$ 0,036

Adesivo

S. Nacional R$ 0,008 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,008

L. Presumido R$ 0,008 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,008

L. Real R$ 0,008 R$ 0,000 R$ 0,000 -R$ 0,001 R$ 0,007

Fita

S. Nacional R$ 0,017 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,017

L. Presumido R$ 0,017 -R$ 0,003 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,014

L. Real R$ 0,017 -R$ 0,003 R$ 0,000 -R$ 0,001 R$ 0,012

TOTAL

S. Nacional R$ 0,420 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000R$

0,420

L. Presumido R$ 0,420-R$

0,064R$ 0,000 R$ 0,000

R$ 0,356

L. Real R$ 0,420-R$

0,064-R$

0,007-R$ 0,031

R$ 0,318

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Como visto no Quadro 1, o custo com material direto é formado pelos ingredientes e embalagens informados na primeira coluna, sendo eles leite condensado, manteiga, chocolate belga Callebaut, embalagem, forma, adesivo e fita. Nas demais colunas são apresentados os valores de aquisição e seus respectivos tributos, terminando com o custo unitário de cada material direto no valor de R$ 0,420 no Simples Nacional, R$ 0,356 no Lucro Presumido e R$ 0,318 no Lucro Real.

O Quadro 2 apresenta os materiais diretos e seus respectivos valores para confecção do Brigadeiro Ninho com Nutella.

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Quadro 2 - Custos com Material Direto – Brigadeiro Ninho com Nutella

BRIGADEIRO NINHO COM NUTELLA

MDOpção tribu-

táriaValor pago ( - ) ICMS ( - ) PIS

( - ) COFINS

Custo Unitário

Leite Condensado

S. Nacional R$ 0,250 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,250

L. Presumido R$ 0,250 -R$ 0,045 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,205

L. Real R$ 0,250 -R$ 0,045 -R$ 0,004 -R$ 0,019 R$ 0,182

Manteiga

S. Nacional R$ 0,012 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,012

L. Presumido R$ 0,012 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,012

L. Real R$ 0,012 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,012

Leite Ninho

S. Nacional R$ 0,009 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,009

L. Presumido R$ 0,009 -R$ 0,002 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,007

L. Real R$ 0,009 -R$ 0,002 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,007

Nutella

S. Nacional R$ 0,030 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,030

L. Presumido R$ 0,030 -R$ 0,005 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,025

L. Real R$ 0,030 -R$ 0,005 R$ 0,000 -R$ 0,002 R$ 0,022

Embalagem

S. Nacional R$ 0,042 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,042

L. Presumido R$ 0,042 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,042

L. Real R$ 0,042 R$ 0,000 -R$ 0,001 -R$ 0,003 R$ 0,038

Forma

S. Nacional R$ 0,050 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,050

L. Presumido R$ 0,050 -R$ 0,009 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,041

L. Real R$ 0,050 -R$ 0,009 -R$ 0,001 -R$ 0,004 R$ 0,036

Adesivo

S. Nacional R$ 0,008 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,008

L. Presumido R$ 0,008 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,008

L. Real R$ 0,008 R$ 0,000 R$ 0,000 -R$ 0,001 R$ 0,007

Fita

S. Nacional R$ 0,017 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,017

L. Presumido R$ 0,017 -R$ 0,003 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,014

L. Real R$ 0,017 -R$ 0,003 R$ 0,000 -R$ 0,001 R$ 0,012

TOTAL

S. Nacional R$ 0,417 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000R$

0,417

L. Presumido R$ 0,417-R$

0,064R$ 0,000 R$ 0,000

R$ 0,353

L. Real R$ 0,417-R$

0,064-R$

0,007-R$

0,030R$

0,317

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Os valores se diferenciam apenas por ocasião da troca de ingredientes para a confecção dos brigadeiros. O Quadro 2 evidencia os valores pagos na aquisição, os seus respectivos tributos e o custo unitário de cada material direto no valor de R$ 0,417 no Simples Nacional, R$ 0,353 no Lucro Presumido e R$ 0,317 no Lucro Real. O Quadro 3 apresenta os materiais diretos e seus respectivos valores para confecção do Brigadeiro Romeu e Julieta.

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Quadro 3 – Custos com Material Direto – Brigadeiro Romeu e Julieta

BRIGADEIRO ROMEU E JULIETA

MDOpção

tributáriaValor pago ( - ) ICMS ( - ) PIS

( - ) COFINS

Custo Unitário

Leite Condensado

S. Nacional R$ 0,250 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,250

L. Presumido R$ 0,250 -R$ 0,045 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,205

L. Real R$ 0,250 -R$ 0,045 -R$ 0,004 -R$ 0,019 R$ 0,182

Manteiga

S. Nacional R$ 0,012 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,012

L. Presumido R$ 0,012 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,012

L. Real R$ 0,012 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,012

Queijo Parme-são

S. Nacional R$ 0,067 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,067

L. Presumido R$ 0,067 -R$ 0,012 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,055

L. Real R$ 0,067 -R$ 0,012 -R$ 0,001 -R$ 0,005 R$ 0,049

Goiabada

S. Nacional R$ 0,013 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,013

L. Presumido R$ 0,013 -R$ 0,002 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,011

L. Real R$ 0,013 -R$ 0,002 R$ 0,000 -R$ 0,001 R$ 0,010

Embalagem

S. Nacional R$ 0,042 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,042

L. Presumido R$ 0,042 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,042

L. Real R$ 0,042 R$ 0,000 -R$ 0,001 -R$ 0,003 R$ 0,038

Forma

S. Nacional R$ 0,050 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,050

L. Presumido R$ 0,050 -R$ 0,009 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,041

L. Real R$ 0,050 -R$ 0,009 -R$ 0,001 -R$ 0,004 R$ 0,036

Adesivo

S. Nacional R$ 0,008 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,008

L. Presumido R$ 0,008 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,008

L. Real R$ 0,008 R$ 0,000 R$ 0,000 -R$ 0,001 R$ 0,008

Fita

S. Nacional R$ 0,017 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,017

L. Presumido R$ 0,017 -R$ 0,003 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,014

L. Real R$ 0,017 -R$ 0,003 R$ 0,000 -R$ 0,001 R$ 0,012

TOTAL

S. Nacional R$ 0,459 R$ 0,000 R$ 0,000 R$ 0,000R$

0,459

L. Presumido R$ 0,459-R$

0,071R$ 0,000 R$ 0,000

R$ 0,387

L. Real R$ 0,459-R$

0,071-R$

0,007-R$ 0,034

R$ 0,346

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

O Quadro 3 mostra os custos com material direto utilizado na confecção do brigadeiro Romeu e Julieta. Na primeira coluna, são evidenciados os ingredientes e as embalagens. Nas demais colunas, são apresentados os valores pagos na aquisição e seus respectivos tributos, terminando com o custo unitário de cada material direto no valor de R$ 0,459 no Simples Nacional, R$ 0,387 no Lucro Presumido e R$ 0,346 no Lucro Real.

Portanto, na apuração pelo Simples Nacional a empresa não poderá se creditar de nenhum dos tributos elencados, pois a aquisição destes materiais

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não gera nenhum benefício tributário. Por este motivo, as colunas ICMS, PIS e COFINS estão zeradas. Desta forma, o custo unitário fica igual ao valor pago.

Diferentemente que no SL, no Lucro Presumido e Lucro Real há benefícios tributários, podendo a empresa creditar-se dos tributos pagos na compra das mercadorias.

Sendo assim, no que se refere ao ICMS, o Lucro Presumido e Lucro Real são amparados pelo princípio da não cumulatividade, ou seja, há possibilidades de compensação do ICMS na entrada das mercadorias, tendo o crédito fiscal do ICMS. Porém, há produtos que estão sujeitos ao recolhimento por substituição tributária (ST), ou seja, o ICMS devido em toda a cadeia de comercialização do produto já foi recolhido.

Só há o direito a crédito se a operação de compra das mercadorias for entre empresas optantes pelo Lucro Presumido ou Lucro Real e o produto não for tributado por ST. Desta forma, fará jus ao Crédito Fiscal de ICMS oriundos da entrada de mercadoria, com base na tributação de cada Estado e de cada mercadoria.

Para o PIS e COFINS, no Lucro Presumido é aplicado o princípio da cumulatividade, ou seja, a incidência instituída pela Lei 9.718/98 não permite aproveitamento de crédito dessas contribuições nas aquisições e nem deduções com relação aos custos, despesas e encargos da empresa.

Já no Lucro Real, segundo previsto no inciso I do art. 3º das Leis nº 10.637/2002 e nº 10.833/2003 quando se refere a PIS e COFINS, é amparado pelo princípio da não cumulatividade, ou seja, há possibilidade de crédito do PIS e COFINS na compra das mercadorias de empresas optantes pelo Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real. Entretanto, o produto a ser tomado crédito não pode ter alíquota zero.

Os valores pagos pelos materiais diretos do brigadeiro Callebaut, Ninho com Nutella e Romeu e Julieta são, respectivamente, R$ 0,420, R$ 0,417 e R$ 0,459 nas três opções tributárias. Como Simples Nacional não há crédito fiscal, o valor pago será o mesmo que o custo unitário.

O Quadro 1, 2 e 3, no Lucro Presumido e Lucro Real, a embalagem e adesivo não houve o crédito de ICMS, pois as empresas fornecedoras são enquadradas no Simples Nacional. O ICMS da manteiga é por Substituição tributária e o PIS e COFINS tem alíquota zero, sendo assim, o custo unitário da manteiga, embalagem e adesivo é igual ao valor de compra. Da mesma forma que a manteiga, o leite ninho tem alíquota zero quando se refere a PIS e COFINS, ou seja, no Lucro Real pode-se creditar apenas o ICMS.

Depois da aplicação do crédito de ICMS, PIS e COFINS, os valores de custo com material direto para brigadeiro Callebaut, Ninho com Nutella e Romeu e Julieta, são, respectivamente, R$ 0,420, R$ 0,417 e R$ 0,459 no Simples Nacional, R$ 0,356, R$ 0,353 e R$ 0,387 no Lucro Presumido e R$ 0,318, R$ 0,317 e R$ 0,346 no Lucro Real.

O segundo elemento do custo a ser apresentado é o custo com mão de obra direta, sendo este composto pelos salários e encargos trabalhistas de duas funcionárias e a proprietária. O Quadro 4 apresenta o valor de cada elemento que compõe a mão de obra direta.

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Quadro 4 – Custos com mão de obra direta

Mão de obra direta

Opção tributária

Funcionário 1 Funcionário 2Proprietário/

Pro-labóre

Salários

S. Nacional R$ 954,00 R$ 954,00 R$ 1.400,00

L. Presumido R$ 954,00 R$ 954,00 R$ 1.400,00

L. Real R$ 954,00 R$ 954,00 R$ 1.400,00

Férias

S. Nacional R$ 106,00 R$ 106,00 -

L. Presumido R$ 106,00 R$ 106,00 -

L. Real R$ 106,00 R$ 106,00 -

13º Salário

S. Nacional R$ 79,50 R$ 79,50 -

L. Presumido R$ 79,50 R$ 79,50 -

L. Real R$ 79,50 R$ 79,50 -

FGTS

S. Nacional R$ 91,16 R$ 91,16 -

L. Presumido R$ 91,16 R$ 91,16 -

L. Real R$ 91,16 R$ 91,16 -

CPS - 27,8%

S. Nacional - - -

L. Presumido R$ 316,78 R$ 316,78 R$ 280,00

L. Real R$ 316,78 R$ 316,78 R$ 280,00

Total do empre-gado

S. Nacional R$ 1.230,66 R$ 1.230,66 R$ 1.400,00

L. Presumido R$ 1.547,84 R$ 1.547,84 R$ 1.680,00

L. Real R$ 1.547,44 R$ 1.547,44 R$ 1.680,00

Total 3 Funcioná-rios

S. Nacional R$ 3.861,32

L. Presumido R$ 4.774,88

L. Real R$ 4.774,88

Valor por uni-dade

S. Nacional R$ 0,386

L. Presumido R$ 0,477

L. Real R$ 0,477

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

O salário definido pela proprietária é o salário mínimo de 2018, R$ 954,00. O valor das férias se dá pela soma de 1/12 do salário bruto somado a 1/12 de 1/3 do salário bruto do funcionário. O valor do 13º salário é calculado por 1/12 do salário bruto do funcionário, seguido pelo valor do FGTS que, conforme definido na tabela do FGTS de 2018, a alíquota aplicada é de 8%.

O pró-labore da proprietária foi definido em R$ 1.400,00, e como o benefício de Férias, 13º salário e FGTS não são obrigatórios, optou-se por não considerar esses benefícios. A composição da mão de obra direta é igual no Lucro Presumido e Lucro Real, e se diferencia no Simples Nacional apenas por um encargo: Contribuição à Previdência Social (CPS).

A CPS é composta por três alíquotas, sendo 20% para o INSS patronal, 5,80% a terceiros e 2% para Risco de Acidentes (RAT). Esta alíquota de 27,80% é aplicada apenas para os funcionários, diferentemente do que a aplicação ao pró-labore, que é apenas os 20% do INSS patronal. Estas alíquotas são aplicadas na soma do salário, férias e 13º salário.

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Somado o valor dos dois funcionários e o pró-labore, totaliza o valor que define o custo com mão de obra direta da empresa. Este custo foi alocado para a produção mensal, o valor total do custo com mão de obra direta foi dividido pelo valor total de produção mensal de brigadeiros. Conforme informado pela proprietária, a estimativa de produção mensal é de 10.000 brigadeiros. Com isso, o custo com mão de obra direta a ser alocado em 1 brigadeiro será de R$ 0,386 no Simples Nacional, R$ 0,477 no Lucro Presumido e Lucro Real.

O terceiro elemento de custo a ser apresentado é custo indireto de fabricação (CIF), sendo este composto por energia elétrica, aluguel, gás e custos diversos. O Quadro 5 demonstra o valor de cada elemento que compõe o CIF.

Quadro 5 – Custo indireto de fabricação

CIF Simples Nacional Lucro Presumido Lucro Real

Aluguel R$ 500,00 R$ 500,00 R$ 500,00

Energia Elétrica R$ 120,00 R$ 120,00 R$ 120,00

Água R$ 60,00 R$ 60,00 R$ 60,00

Gás R$ 23,33 R$ 23,33 R$ 23,33

Telefone/Internet R$ 100,00 R$ 100,00 R$ 100,00

Publicidade R$ 100,00 R$ 100,00 R$ 100,00

Escritório Contábil R$ 400,00 R$ 700,00 R$ 1.000,00

Valor total R$ 1.303,33 R$ 1.603,33 R$ 1.903,33

Valor por unidade R$ 0,13 R$ 0,16 R$ 0,19

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

A diferença entre os custos indiretos de fabricação no Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real, é apenas o valor do escritório contábil, sendo R$ 400,00 no Simples Nacional, R$ 700,00 no Lucro Presumido e R$ 1.000,00 no Lucro Real, e para chegar a este valor, foi realizado um levantamento de valores cobrados pelos escritórios de contabilidade do município.

A empresa não possui sede própria, sendo assim, soma-se em seus custos o aluguel no valor de R$ 500,00 mensais, segundo informações obtidas em pesquisa de mercado. Os gastos com energia elétrica, água e gás totalizam em R$ 203,33 mensais; observando que o valor total do gás foi dividido por 3, pois a empresa adquire um novo botijão de gás a cada 3 meses, pagando o valor de R$ 70,00. Como não há internet no próprio estabelecimento, o custo de R$ 100,00 se dá por um plano telefônico que inclui ligações ilimitadas e internet. O gasto com publicidade é apenas com benefícios adquiridos dentro das redes sociais, no valor de R$ 100,00, utilizados para alavancar as postagens e atingir mais usuários, e essa publicidade é feita pela proprietária, não havendo contrato com nenhuma empresa desse ramo.

Todos esses custos indiretos totalizam R$ 1.303,33 mensais no Simples Nacional, R$ 1.603,33 no Lucro Presumido e R$ 1.903,00 no Lucro Real, e

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da mesma forma de rateio utilizado na mão de obra direta, foi dividido o valor total pela estimativa de produção mensal, sendo 10.000 brigadeiros, alocando assim R$ 0,130 para cada brigadeiro no Simples Nacional, R$ 0,16 no Lucro Presumido e R$ 0,19 no Lucro Real.

4.3 Custo total

Apresenta-se os quadros dos custos de forma resumida para um melhor comparativo e análise em cada uma das opções tributárias, Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real. O Quadro 6 apresenta os custos com material e mão de obra direta e custo indireto de fabricação.

Quadro 6 – Custo total

CUSTO TOTAL

Composição BrigadeirosSimples Nacional

Lucro Presumido

Lucro Real

Material Direto

Brigadeiro Callebaut R$0,420 R$0,356 R$0,318

Brig. Ninho com Nutella R$0,417 R$0,353 R$0,317

Brig. Romeu e Julieta R$0,459 R$0,387 R$0,346

Mão de Obra Direta

Brigadeiro Callebaut R$0,386 R$0,477 R$0,477

Brig. Ninho com Nutella R$0,386 R$0,477 R$0,477

Brig. Romeu e Julieta R$0,386 R$0,477 R$0,477

Custo Indireto de Fabricação

Brigadeiro Callebaut R$0,130 R$0,160 R$0,190

Brig. Ninho com Nutella R$0,130 R$0,160 R$0,190

Brig. Romeu e Julieta R$0,130 R$0,160 R$0,190

TOTAL

Brigadeiro Callebaut R$0,936 R$0,993 R$0,985

Brig. Ninho com Nutella R$0,933 R$0,990 R$0,984

Brig. Romeu e Julieta R$0,975 R$1,024 R$1,013

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

No material direto, o Lucro Real tem vantagem em relação ao Simples Nacional, visto que há direito a crédito fiscal no ICMS no Lucro Presumido e ICMS, PIS e COFINS no Lucro Real.

Porém, na mão de obra direta, o Lucro Presumido e Lucro Real perdem essa vantagem em valor, pois no Simples Nacional não há o encargo de CPS, totalizando em um valor menor que o Lucro Presumido e Lucro Real.

No custo indireto de fabricação, o Simples Nacional também tem vantagem, pois os honorários com escritório de contabilidade são menores, sendo este o único valor que se diferencia das demais opções tributárias neste elemento de custo.

O custo total com Brigadeiro Callebaut, Brigadeiro Ninho com Nutella e Bigadeiro Romeu e Julieta são, respectivamente, R$ 0,936, R$ 0,933 e R$ 0,975 no Simples Nacional, R$ 0,993, R$ 0,990 e R$ 1,024 no Lucro Presumido e R$ 0,985, R$ 0,984 e R$ 1,013 no Lucro Real.

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4.4 Formação do preço de venda

A formação do preço de venda foi realizada através do índice de mark up divisor. A composição da formação deste índice se dá por meio da soma dos impostos, custos e despesas e margem de lucro. Após adquirir este índice, deverá ser aplicado em cima do valor do custo total. Desta forma, será obtido o preço de venda ideal para cobrir todos os impostos, custos e despesas e ainda gerar o lucro desejado pela empresa.

Assim, para obter o preço de venda ideal primeiramente deve ser encontrado o índice mark up, e após encontrado, aplicar-se-á em cima do custo total para assim obter o preço de venda ideal para cobrir todos os custos e despesas e ainda gerar o lucro desejado pela empresa. O Quadro 7 apresenta a formação do mark up nas três opções tributárias estudadas.

Quadro 7 – Formação do mark up

Elementos inclusos no preço de venda

Simples Nacional Lucro Presumido Lucro Real

Frete 5,00% 5,00% 5,00%

Despesas Administrativas 8,00% 8,00% 8,00%

Simples Nacional 4,50% - -

ICMS - 18,00% 18,00%

PIS - 0,65% 1,65%

COFINS - 3,00% 7,60%

Margem de Lucro 20,00% 22,28% 26,31%

TOTAL 37,00% 56,93% 66,56%

Mark up 0,6300 0,4307 0,3344

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Para formação do mark up é necessário evidenciar, em porcentagem, os custos, despesas, impostos e a margem de lucro desejada pela empresa. Segundo as informações fornecidas pela proprietária da empresa, o valor gasto com frete de entrega das mercadorias varia muito mensalmente, porém ela estipula um valor representativo de 5% em cima do faturamento mensal da empresa.

No entanto, referente às despesas administrativas, mediante a imprecisão da apuração e dificuldade de alocação aos produtos diante da grande variação, foi estipulado um valor representativo de 8% em cima do faturamento mensal para cobrir as Despesas Administrativas, segundo a proprietária.

Para obtenção da alíquota do Simples Nacional, primeiramente foi necessário que a proprietária fornecesse o faturamento dos últimos 12 meses, sendo aproximadamente de R$ 148.000,00. Então, aplica-se a alíquota de 4,5%, que foi encontrada na tabela do Anexo I da Lei Complementar 155/2016 e, após obtido o valor, dividiu-se novamente pelo faturamento dos 12 últimos meses, R$ 148.000,00, chegando à alíquota de 4,5%.

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Para o Lucro Presumido, o ICMS, PIS e COFINS são, respectivamente, de 18%, 0,65% e 3%, e para o Lucro Real são 18%, 1,65% e 7,6%, então deve ser somado na formula do mark up. Conforme informado pela proprietária da empresa, o lucro desejado é de 20%. Desta forma, é aplicada essa alíquota ao cálculo do mark up no Simples Nacional.

Porém no Lucro Presumido há o IRPJ e CSLL e estes impostos são calculados sobre o lucro após a venda, então, para gerar um lucro de 20% após o IRPJ e CSLL, a porcentagem de lucro desejado antes do IRPJ e CSLL deve ser de 22,28%. Para chegar nesta porcentagem, multiplica-se 8% da presunção por 15% do IRPJ, obtendo 1,2% para IRPJ, e 12% da presunção por 9% da CSLL, obtendo 1,08% para CSLL. Somando esses valores à margem de lucro desejada de 20%, obtém-se os 22,28%.

No Lucro Real, também há o IRPJ e CSLL. Porém, o cálculo é diferente, pois não há a alíquota de presunção de lucro, então a porcentagem de lucro deve ser 26,31%. Para chegar nesta porcentagem, soma-se 15% do IRPJ a 9% da CSLL, totalizando em 24%, fracionado por 100 para facilitar a conta, obtém-se 0,24. Após isso, diminui-se de 1, chegando a 0,76. Por fim, divide-se a margem de lucro desejada, 20%, por 0,76, atingindo o resultado de 26,31%.

Somando todos estes percentuais, foi obtido um total de 37% para o Simples Nacional, 56,93% para o Lucro Presumido e 66,56% para o Lucro Real, e para chegar ao mark up é necessário subtrair este valor de 100 e dividir por 100, ficando 0,6300 no Simples Nacional, 0,4307 no Lucro Presumido e 0,3344 no Lucro Real.

O Quadro 8 evidencia o preço de venda ideal para o brigadeiro Callebaut aplicando o mark up obtido no Quadro 7.

Quadro 8 – Preço de venda – Brigadeiro Callebaut

BRIGADEIRO CALLEBAUT

Simples Nacional Lucro Presumido Lucro Real

Custo R$

0,936 R$

0,993 R$

0,985

Mark up 0,6300 0,4307 0,3344

Preço de venda R$

1,486 R$

2,306 R$

2,946

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

O custo total com o brigadeiro Callebaut no Simples Nacional totaliza R$ 0,936, como calculado nos tópicos anteriores e dividido pelo mark up, obtém-se um preço de venda ideal de R$ 1,486. No Lucro Presumido, o custo total do Brigadeiro Callebaut é de R$ 0,993 e aplicando o mark up de 0,4307, chegando a um preço de venda ideal de R$ 2,306, sendo R$ 0,820 mais caro que o Simples Nacional.

Porém, no Lucro Real o valor de custo é de R$ 0,985, e aplicando o mark up de 0,3344, obtém-se o preço de venda ideal de R$ 2,959, sendo

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R$ 0,653 mais caro que Lucro Presumido e R$ 1,473 mais caro que o Simples Nacional.

Quadro 9 – Preço de venda – Brigadeiro Ninho com Nutella

BRIGADEIRO NINHO COM NUTELLA

Simples Nacional Lucro Presumido Lucro Real

Custo R$

0,933 R$

0,990 R$

0,984

Mark up 0,6300 0,4307 0,3344

Preço de venda R$

1,481 R$

2,298 R$

2,943

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

O custo total com o brigadeiro Ninho com Nutella no Simples Nacional totaliza R$ 0,933, como calculado nos tópicos anteriores e dividido pelo mark up, obtém-se um preço de venda ideal de R$ 1,481. No Lucro Presumido, o custo total do brigadeiro Ninho com Nutella é de R$ 0,990 e aplicando o mark up de 0,4307, chega-se a um preço de venda ideal de R$ 2,298, sendo R$ 0,817 mais caro que o Simples Nacional.

Porém, no Lucro Real o valor de custo é de R$ 0,984, e aplicando o mark up de 0,3344, obtém-se o preço de venda ideal de R$ 2,943, sendo R$ 0,645 mais caro que o Lucro Presumido e R$ 1,462 mais caro que o Simples Nacional.

No Quadro 10, apresenta-se os preços de venda do Brigadeiro Romeu e Julieta.

Quadro 10 – Preço de venda – Brigadeiro Romeu e Julieta

BRIGADEIRO ROMEU E JULIETA

Simples Nacional Lucro Presumido Lucro Real

Custo R$ 0,975 R$ 1,024 R$ 1,013

Mark up 0,6300 0,4307 0,3344

Preço de venda R$ 1,548 R$ 2,378 R$ 3,029

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

O custo total com o brigadeiro Romeu e Julieta no Simples Nacional totaliza R$ 0,975, como calculado nos tópicos anteriores e dividido pelo mark up, obtém-se um preço de venda ideal de R$ 1,548.

No Lucro Presumido, o custo total do brigadeiro Romeu e Julieta é de R$ 1,024 e aplicando o mark up de 0,4307, chega-se a um preço de venda ideal de R$ 2,378, sendo R$ 0,830 mais caro que o Simples Nacional. Porém, no Lucro Real, o valor de custo é de R$ 1,013, e aplicando o mark up de 0,3344, obtém-se o preço de venda ideal de R$ 3,029, sendo R$ 0,651 mais caro que o Lucro Presumido e R$ 1,481 mais caro que o Simples Nacional.

Percebe-se que a vantagem obtida pelo Lucro Real no momento da apuração do custo com material direto acaba-se quando é apurado o preço de

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venda, pois este apresenta maior carga tributária, tornando-se desvantajoso para a empresa.

Mesmo que o Lucro Real tenha uma grande vantagem no momento de apuração do custo com material direto, por ocasião dos créditos de ICMS, PIS e COFINS, percebe-se que esta vantagem acaba quando se é apurado o preço de venda, pois a carga tributária desta opção tributária é maior do que as outras.

O Simples Nacional tem um maior custo com material direto, porém ele se sobressai com uma grande vantagem nos demais elementos de custos, inclusive no seu preço de venda, pois a carga tributária é muito menor do que as demais opções tributárias.

Enquanto o preço de venda no Simples Nacional tem uma média de R$ 1,505 para os três brigadeiros, no Lucro Presumido, a média é de R$ 2,327 e no Lucro Real chega a ser praticamente o dobro que o Simples Nacional, sendo R$ 2,973. Cabe ressaltar que, na formação do preço de venda, foram considerados apenas os custos e o mark up, não considerando a concorrência e o respectivo preço imposto pelo mercado.

Por fim, o impacto causado pela opção tributária no custo total da empresa é aproximadamente igual nas três opções tributárias analisadas, mas em relação ao preço de venda, o impacto é menor no Simples Nacional, devido à tributação existente sobre a sua venda. Desta forma, gera maior benefício para a empresa, tornando-a competitiva no mercado que está inserida.

5 Considerações finais

Diante da alta carga tributária a qual as empresas encontram-se sujeitas, o planejamento tributário e análise de custos torna-se cada vez mais uma ferramenta de gestão, a fim de minimizar os custos da empresa. Além de reduzir custos, faz com que a empresa possa se manter mais fortalecida no mercado em que atua, trabalhando com preços mais acessíveis para seus clientes.

Neste cenário, o estudo objetivou verificar o impacto da opção tributária nos custos e preço de venda e evidenciar qual o regime de tributação mais vantajoso para a empresa de brigadeiros. Para isso, realizou-se um estudo levando em consideração dados de 2018 fornecidos pela empresa.

Assim, inicialmente demonstrou-se as apurações dos custos nos regimes tributários Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real com base nas informações fornecidas de 2018. Verificou-se um custo total para o brigadeiro Callebaut, Brigadeiro Ninho com Nutella e brigadeiro Romeu e Julieta de, respectivamente, R$ 0,936, R$ 0,933 e R$ 0,975 no Simples Nacional, R$ 0,933, R$0,991 e R$ 1,025 no Lucro Presumido, R$ 0,986, R$ 0,984 e R$ 1,014 no Lucro Real. Observando-se que os custos totais não variam muito para cada opção tributária.

Para desenvolver um preço de venda mais adequado e preciso, calculou-se os custos, despesas, impostos e a margem de lucro desejada para, desta forma, calcular-se o índice mark up que cobre todos estes elementos.

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Após apuração do mark up, verificou-se que pelo Lucro Real o preço de venda da empresa seria, em média, o dobro em comparação que o Simples Nacional, ficando um valor muito alto a ser pago pelo consumidor final. Confirmou-se assim que o melhor regime tributário para a empresa é o Simples Nacional.

Conclui-se ainda que nas três opções tributárias analisadas, em relação aos custos dos produtos, a opção tributária mais vantajosa foi o Simples Nacional, mesmo com uma pequena vantagem. Apesar de o Lucro Real ter uma grande vantagem quando se refere ao material direto - tal fato é motivado pela obtenção de créditos de ICMS, PIS e COFINS nessa opção, tendo limitações no Lucro Presumido e totalmente vedada no Simples Nacional, nos demais elementos de custos acaba sendo a opção tributária com maior custo, perdendo a vantagem que obtivera nos custos com material direto.

Quando a análise se refere ao preço de venda, o Lucro Real torna-se desvantajoso, visto que o seu mark up tem a inclusão de alíquotas maiores que deverão estar inseridos no preço de venda, como o ICMS, PIS e COFINS. Devido a essa elevada carga tributária, precisaria aumentar o seu preço de venda para manter sua margem de lucro, enquanto que no Simples Nacional tem uma menor carga tributária, conseguindo competir com seus concorrentes pelo preço que seus clientes estão dispostos a pagar, o que não ocorre no Lucro Real e no Lucro Presumido.

Ao final deste estudo, verificou-se a fundamental importância da contabilidade tributária e de custos e os princípios contábeis para a correta análise nos custos e precificação. Existem diversas empresas no mercado que utilizam a contabilidade apenas para apurar seus impostos, sem entender a grande ferramenta gerencial que podem ter em mãos. Existem ainda profissionais da contabilidade que não se atualizam.

Como limitação do estudo, destaca-se a falta de relatórios contábeis como apoio para os cálculos e a apuração dos custos e preço de venda. Assim como, o cálculo da verificação do impacto tributário foi realizado somente em três itens comercializados. Assim, sugere-se que a partir deste estudo, a proprietária registre devidamente a sua empresa nos respectivos órgãos obrigatórios e opte pelo regime de tributação Simples Nacional, para assim se manter ativa e cada vez desenvolver-se mais no mercado.

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Utilização da contabilidade de custos, preços e análise de resultados nas

pequenas propriedades rurais e agroindustriais

Mariana Schimanowski Wizbicki19

Marjory Aparecida Miolo210

Euselia Paveglio Vieira311

RESUMO

O presente artigo engloba o contexto da agroindústria familiar na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. O objetivo é conhecer primeiramente como se constituem as agroindústrias, principais produtos fabricados e principalmente quais as formas de apuração e controle dos custos de produção, bem como a formação do preço de venda dos produtos comercializados pelos produtores rurais da região mencionada. A pesquisa dá-se pela aplicação de entrevistas aos representantes das agroindústrias e agricultores. Constatou-se que este tipo de empreendimento é de suma importância para o fortalecimento da produção rural da região, pois também fortalece a economia local, mesmo que a maioria dos entrevistados desconhece as estratégias de precificação, bem como as ferramentas de análise de resultados. Diante disso, existe interesse por parte destes para mudar essa situação e receber a assessoria necessária por intermédio de parcerias entre a universidade e o órgão rural local, tendo em vista que estas dificuldades ocorrem por uma série de fatores, entre eles pela falta de tempo e de conhecimento na área de custos e finanças.

Palavras-chave: Custos. Produção. Preços. Margens. Resultados.

1 Acadêmica do Curso de Ciências Contábeis da Unijui, [email protected] Acadêmica do Curso de Ciências Contábeis da Unijui, [email protected] Doutora em Contabilidade, Professora Unijuí/RS, [email protected].

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1 Introdução

Na atualidade, a quebra de divisas e o avanço tecnológico estão cada vez mais presentes nas empresas rurais, influenciando na produtividade, na forma e quantidade de serviços, maquinários, mão de obra e tantas outras mudanças. Ao encontro desses avanços, a contabilidade tem papel fundamental para organizar, mensurar, controlar e gerir informações relevantes para as empresas rurais.

Suski, Braum e Braun (2014) salientam que, com a globalização, a produção de alimentos mundial sofre mudanças, e o constante aumento dos mercados para a produção de alimentos faz com que cada vez mais as propriedades rurais tenham como alicerce a contabilidade rural, na qual as informações relevantes são extraídas para os usuários das mesmas aplicarem na gestão de seus empreendimentos.

No processo gerencial das entidades, a contabilidade de custos apresenta uma importância indispensável. É por intermédio dela que são geradas inúmeras informações para seus usuários, que são fundamentais para a tomada de decisão dentro da entidade.

De acordo com os resultados disponibilizados via contato com a Emater Regional, até o momento o número de propriedades que dedicadas a produtos agroindustriais na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul cadastradas no Programa da Agroindústria Familiar (PEAF) é de cerca de 31 agroindústrias e diversos produtores rurais que comercializam frutas, verduras, legumes direto em feiras e supermercados, mercadinhos, escolas.

É neste contexto que o estudo tem o enfoque na região sul do país, mais precisamente na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Predominam nessa região as pequenas propriedades de agricultura familiar que, além de cultivar soja, milho e a produção leiteira, produzem diferentes tipos de hortaliças, leguminosas, embutidos, farináceos e outros, que são comercializados em feiras de produtores rurais nas cidades próximas.

Levando-se em consideração a proposta de estudo, a questão-problema é: como a apuração dos custos de produção pode contribuir na formação e análise do preço de venda e seus resultados dos produtos comercializados pela agricultura familiar? Desta forma, o objetivo do estudo é identificar as formas de apuração e controle dos custos de produção e a formação do preço de venda dos produtos comercializados pelos produtores rurais da região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Desta forma, utilizou-se da pesquisa descritiva e qualitativa com a aplicação de entrevistas padronizadas para a coleta dos dados, os quais foram sistematizados em planilhas do excel, analisados por intermédio de gráficos, percentuais e outros.

O estudo justifica-se em construir um diagnóstico para os agricultores, tanto na gestão quanto organização de suas agroindústrias ou produção familiar, em função de que não basta somente possuir informações, mas sim saber interpretá-las e utilizá-las na tomada de decisão. O auxílio vem da contabilidade rural, de custos e com a análise dos resultados, os quais são imprescindíveis para verificar e reorganizar a produção para que gere a

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melhor alternativa, dentre as atividades que as pequenas empresas familiares ou as agroindústrias possuem, ou até mesmo, inserir outros produtos ainda não produzidos pelas mesmas.

Conforme o estudo realizado na região de Toledo - Paraná por Metzner et al. (2013), constatou-se que 89,19% dos proprietários rurais se baseiam no conhecimento próprio construído nos anos de atividade, 43,24% baseiam-se nos relatórios enviados pelas empresas cooperativas/parceiras, geralmente cooperativas cerealistas e parceiras no setor da pecuária leiteira e setor de carnes suínas e de aves. Com 29,73%, são utilizados os relatórios de custos e despesas da propriedade, outros 10,81% baseiam-se em conhecimentos próprios e informações repassadas pelo escritório de contabilidade, e apenas 2,70% utilizam-se das informações geradas pelos escritórios de contabilidade para tomar decisões.

Já no estudo realizado na região de Marechal Cândido Rondon – Paraná, por Vorpagel, Hofer e Sontag (2015), verificou-se que a forma como é realizado o controle nas propriedades, constatou que 22% afirmam fazer o controle informal, sem anotações apenas mentalmente, o que leva a crer que por vezes alguns controles passam despercebidos. Por outro lado, 64% dos produtores fazem o controle manual de suas atividades, por meio de anotações em um caderno. Além destes controles, 13% dos produtores administram suas atividades com apoio de planilhas no excel. E, 2% possuem sistemas informatizados próprios ou realizam contabilidade em escritório terceirizado. Alguns produtores alegaram utilizar mais de um tipo de controle, como o informal associado ao controle manual ou controle manual juntamente com planilhas informatizadas em excel.

Outra pesquisa realizada na região de Toledo – Paraná por Braun et al. (2013), constatou que 32 produtores (86,48%) fazem sozinhos a administração da propriedade. Os outros 13,52% dos produtores deixam a administração da propriedade nas mãos dos familiares, geralmente sendo estes os próprios filhos. Buscou-se investigar em que se baseiam os produtores para tomar as decisões em suas propriedades. Percebeu-se que a opção “conhecimento próprio” foi assinalada por 89,19% dos respondentes, “relatórios enviados pela empresa parceira/cooperativa” por 43% dos produtores, “relatórios de custos e despesas por 29,73%, e, “conhecimentos próprios e informações repassadas pelo escritório de contabilidade” por 13,51%.

É nesse sentido que esse artigo se justifica, a partir de estudos já realizados em outros Estados do Brasil, no sentido de verificar como é o comportamento dos produtores rurais no que se refere ao controle e à apuração dos custos de produção e na formação e análise dos preços dos produtos que comercializam em feiras.

2 Referencial teórico

Para dar continuidade ao estudo, é necessário analisar alguns conceitos importantes envolvendo a contabilidade de custos, formação de preços e análise dos direcionados para a contabilidade rural, fundamentais para análise e interpretação dos resultados gerados nesta pesquisa.

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2.1 Contabilidade rural

Com o setor agrícola em expansão pela mecanização, tecnologia e modernização aplicadas nesta atividade, os custos aumentam e os proprietários rurais necessitam de mais controles para gerenciar suas propriedades. Segundo Hall et al. (2008), com o advento da tecnologia, a produtividade das propriedades rurais está cada vez mais acelerada, a demanda do seu gerenciamento por meio da contabilidade é cada vez mais notória pelos gestores das propriedades.

Para Suski, Braum e Braun (2014), as empresas rurais estão vivenciando uma nova realidade: produzir mais em menor espaço. A partir dessa realidade, as empresas precisam estar organizadas para gerenciar seus resultados. Para isso, a contabilidade rural vem ao encontro como instrumento de apoio, controle e planejamento.

A contabilidade rural tem como objetivo levantar informações sobre o patrimônio das empresas rurais, por meio de controles do patrimônio das propriedades e de seus resultados, proporcionando para os usuários internos e externos as informações contábeis necessárias (CREPALDI, 2012).

Neste sentido, Hofer e Huppes (2007) salientam que a contabilidade tem papel fundamental nas empresas rurais, por intermédio de seus demonstrativos, como por exemplo, Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício, que ajudam os gestores das propriedades a alcançarem seus objetivos traçados. Baseando-se nela, os custos, despesas, gastos e todo o patrimônio são demonstrados e controlados, fornecendo informações importantes para a gerência da propriedade, importante fator para o andamento da entidade na questão financeira e de planejamento.

A ferramenta gerencial que as propriedades rurais mais necessitam é a contabilidade. É por meio dela que informações são geradas, permitindo o controle, planejamento e a tomada de decisão, fazendo com que as propriedades consigam acompanhar o desenvolvimento e o crescimento do setor agrícola, tanto na questão financeira, de custos, resultados e diversificação de culturas (CREPALDI, 2012).

Vilckas (2004) afirma que para os agricultores acompanharem a evolução no meio rural, as propriedades precisam ser administradas como uma empresa, fazendo com que as informações gerenciais sejam compatíveis com a realidade da propriedade e permitindo que o planejamento da produção torne a empresa mais competitiva e eficiente. Outro ponto destacado por Magro et al. (2011): a competitividade no meio rural está cada vez mais presente pela concorrência, o que em contrapartida tem resultado em procura pela eficiência e eficácia entre as empresas rurais.

Portanto, com a contabilidade inserida na atividade rural os proprietários verificam que analisar os custos e saber medi-los, controlá-los e racionalizá-los é essencial para esse ramo de atividade, e, ainda, obter informações gerenciais por meio dos sistemas da contabilidade de custos na atividade rural é necessário para o bom andamento do negócio, (GUBERT, BARRO, PFÜLLER, 2010).

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Alguns estudos relevantes condizem com a aplicabilidade da contabilidade no meio rural. Krüger et al. (2014) realizaram uma pesquisa com o objetivo de identificar as principais características da gestão das propriedades rurais do oeste de Santa Catarina por meio da aplicação de 210 questionários com produtores rurais. A pesquisa apontou que apenas 5,24% das empresas rurais possuem mão de obra terceirizada, 54,94% não possuem controles na gestão das propriedades, 18,97% utilizam controle de caixa e somente 3,56% separam os gastos pessoais daqueles da entidade rural. Conclui-se a carência e a necessidade da utilização da contabilidade no meio rural, tanto para a tomada de decisão quanto para análise de viabilidade econômico-financeira nas propriedades.

Desta forma, verifica-se que os produtores rurais têm papel fundamental na economia, é deles que vem o alimento que vai para a mesa do consumidor, inclusive este assunto é o foco principal da pesquisa e a contabilidade também está presente na produção rural. Na visão de Crepaldi (2012, p. 9),

O setor agrícola apresenta algumas características peculiares, que o distinguem dos demais setores da economia. [...] São elas, clima, condições biológicas, tempo de produção e tempo de trabalho, produtos não uniformes [...] A existência destas características condiciona a adequação dos princípios gerais de administração utilizados no setor urbano para o setor rural. De modo geral essas características são válidas não apenas para a agricultura brasileira, mas para as de todos os países.

Ainda na visão de Crepaldi (2011, p. 93), a contabilidade rural é de suma importância para as propriedades rurais. Por meio dela, o proprietário identifica seus possíveis erros e acertos. Nesse sentido, conforme as palavras de Thomas et al. (2008, p. 43), “para obter maiores lucros e utilizar bem os recursos da propriedade, o produtor rural necessita de ferramentas que lhe auxiliem no alcance dos seus objetivos”. A ferramenta ideal é a contabilidade, que beneficia o mesmo com o controle de custos e de patrimônio e se apresenta como uma forte aliada no planejamento das atividades, principalmente, quando estas requerem investimentos.

Conforme Araújo (2016), é fundamental que o produtor rural seja informado sobre a composição e o comportamento de seus custos para elaborar estratégias, além de possibilitar a visualização antecipada de restrições e dificuldades impostas pelas mudanças nos níveis de preço de mercado dos elementos que o compõe.

2.2 Contabilidade de custos

A contabilidade de custos ganhou maior representatividade após a Revolução Industrial: as fábricas começaram a aumentar a produção em virtude do surgimento da energia elétrica, assim, consequentemente, começa o aumento e a representatividade dos custos (PADOVEZE, 2003). Segundo Leone (2008, p. 21), “a Contabilidade de Custos é uma atividade que se

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assemelha a um centro processador de informações, que recebe (ou obtém) dados, acumula-os de forma organizada, analisando-os e interpretando-os, produzindo informações de custos para diversos níveis gerenciais”. Para Padoveze (2003, p. 5), “é o segmento da ciência contábil especializado na gestão econômica do custo e dos preços de venda dos produtos e serviços oferecidos pelas empresas”.

O objetivo da contabilidade de custos são os custos de produção da propriedade rural. Avalia-se o estoque, quando da venda, baixa-se do estoque, é efetuado o lançamento dos respectivos custos da venda dos produtos, gera-se a receita e o resultado é apurado. Portanto, a contabilidade de custos preocupa-se em controlar os custos, verifica suas alterações e orienta a tomada de decisões (SANTOS; MARION; SEGATTI, 2002).

Com a contabilidade inserida na zona rural, o produtor rural tem vantagens. Suski, Braum e Braun (2014) argumentam que, por meio da contabilidade rural, o produtor tem conhecimento dos resultados de suas atividades produtivas, geralmente as pequenas e médias propriedades produzem atividades diferentes, o que reforça ainda mais a necessidade da contabilidade, podendo levantar qual é a atividade mais rentável, com maior ou menor custo, quanto cada atividade representa no resultado total, em qual deve incrementar mais tecnologia, o que fazer para que a atividade menos rentável seja alavancada e analisar possibilidades de substituição de atividades agrícolas.

Na contabilidade, os custos possuem uma classificação que são: custos diretos, custos indiretos, custos fixos e custos variáveis (SAUER, 2008). A classificação dos custos é de suma importância, em função de que cada entidade possui suas atividades, assim, as informações, os usuários que utilizaram as mesmas e os níveis de complexidade são diferentes. A partir da correta classificação dos custos, as informações, a tomada de decisão e os controles são organizados de acordo com a realidade da empresa, (SILVA; LINS, 2010).

Custos diretos, para Santos, Marion e Segatti (2002), são aqueles que são identificados diretamente no produto acabado como, por exemplo, litros de agrotóxicos; quilos de sementes, adubos ou rações; hora de mão de obra; gastos com manutenção dos maquinários; portanto, os mesmos são classificados com exatidão no produto. Já os custos indiretos são aqueles que não possuem perfeita identificação com os produtos, não podendo ser feita a apropriação direta para o produto. Por esse motivo, necessitam de algum critério de rateio para a correta alocação dos mesmos, (PEREZ JR; OLIVEIRA; COSTA, 2001).

Para Silva e Lins (2010) custos fixos são aqueles que, no seu total, não variam proporcionalmente ao volume produzido. Independentemente da quantidade produzida pela entidade, o custo fixo total não sofrerá variação. Já os custos variáveis possuem relação direta com o volume da produção da empresa, assim, a quantidade da produção reflete no custo do produto.

A mão de obra é indispensável em qualquer atividade. Na agricultura, por mais que a automação e a mecanização estejam presentes, a mão de

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obra ainda é necessária para algumas atividades, seu custo é representativo e classifica-se em direta e indireta. De acordo com Crepaldi (2012), a mão de obra direta é o custo da pessoa que trabalha diretamente na produção, ou seja, é possível medir quanto se gasta com o empregado que opera a plantadeira no plantio de soja, por exemplo. Já mão de obra indireta é aquela que está indiretamente ligada à produção, nos setores de apoio e necessitam de rateios, é utilizada em mais de um tipo de produção. No caso de empresas rurais, pode-se citar propriedades com mais de uma atividade (PEREZ JR; OLIVEIRA; COSTA, 2001).

Os custos patrimoniais também possuem relevância na atividade rural. De acordo com Crepaldi (2012), na agricultura existem bens que são usados para a manutenção da atividade, como maquinários, equipamentos e implementos agrícolas, que se classificam no ativo não circulante. Eles possuem vida útil limitada no tempo, geram valor residual e o restante é denominado custo com depreciação. A Resolução CFC n° 1.136 de 2008 define: “Depreciação é a redução do valor dos bens tangíveis pelo desgaste ou perda de utilidade por uso, ação da natureza ou obsolescência”.

Os métodos de custeio têm o objetivo de verificar o custo unitário de cada produto ou serviço, eles também possuem uma classificação, eles são dois: por absorção e variável. Para Souza e Clemente (2011), o custeio por absorção é aquele que os custos diretos e indiretos utilizados na produção integram o custo do produto. Assim, se as entidades produzirem mais de um produto, os custos indiretos sofrem rateios para que os mesmos integrem todos os produtos feitos. Finalizando, Martins (2010) relata que no custeio variável só são considerados os custos variáveis aos produtos. Os custos fixos são considerados como despesa.

Cabe salientar que o custeio por absorção está de acordo com a legislação e aos princípios contábeis e o custeio variável, embora não seja aceito pela legislação, pode ser usado para a tomada de decisão no cunho gerencial na entidade. Ele fornece a informação da margem de contribuição e tem como propósito seguir a direção das vendas.

Para gerenciar os custos, volumes e resultados de uma empresa rural, é necessária a utilização de fórmulas que fornecem informações importantes para o gerenciamento da empresa. A margem de contribuição unitária, segundo Santos, Marion e Segatti (2002), é diferença entre a receita bruta e custos e despesas variáveis. Permitindo conhecer a alocação dos custos variáveis e a eficiência dos recursos diretos, ela pode ser unitária ou total.

De acordo com Padoveze (2003), o ponto de equilíbrio é a quantidade que cada entidade precisa produzir/vender para cobrir todos os custos e despesas fixas e variáveis. Portanto, ele é nulo, com produção adicional a entidade opera no lucro, ao contrário opera no prejuízo.

A margem de segurança operacional indica quanto a entidade deve vender a mais do que o indicado pelo ponto de equilíbrio. Um exemplo: a entidade vende 100 sacas de soja e o seu ponto de equilíbrio é de 70 unidades, sua margem de segurança é de 30 unidades (SILVA; LINS, 2010).

Hofer e Huppes (2007) realizaram uma pesquisa com o objetivo

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de verificar qual é a importância do controle de custos em uma pequena propriedade que possui diversas atividades produtivas. Esta propriedade, no entanto, obtém sua produção das cultivares da soja, do milho e da aveia e da produção leiteira. Com o estudo, constatou-se que o proprietário possui conhecimento de seu patrimônio, mas, por não possuir controle de seus custos e despesas, desconhece o lucro das produções. Assim, foi elaborado o inventário da propriedade, projetou-se planilhas com os custos totais de cada atividade, contabilizou-se todos os fatos, apurando e organizando todos os dados da empresa, e com isso o resultado de cada produção foi apurado. Portanto, pode-se identificar quais atividades trazem maiores retornos, controla-se custos, e permite que o empresário rural se planeje para safras e períodos futuros.

Magro et al. (2014) apresentam o estudo que objetivou verificar a aplicabilidade da contabilidade rural e de custos em uma propriedade rural localizada no oeste de Santa Catarina, visando à melhoria no planejamento, controle e gestão na atividade leiteira durante doze meses do ano de 2013. Baseado na contabilidade rural e de custos, todos os custos da propriedade foram apurados. Assim, a maior margem bruta e o maior lucro foram apresentados no mês de julho. A média mensal de lucro por vaca foi de R$ 73,60 podendo variar conforme a raça dos animais produtores de leite, a lucratividade média mensal foi de 36,86%. Portanto, a contabilidade rural e de custos possibilitam informações relevantes na gestão da propriedade rural na atividade leiteira.

Salienta-se que muitos agricultores ainda são resistentes a controles principalmente de custos e despesas em suas propriedades. De acordo com Crepaldi (2012), isso decorre da mentalidade conservadora de alguns empresários rurais, que se utilizam de experiências passadas, do dia a dia da agricultura e de decisões locais e regionais para gerenciar suas propriedades.

Com todas as mudanças que a zona rural está vivenciando, é importante que, mesmo sendo de forma simples, controles e planejamento sejam efetuados. Magro et al. (2011) compreendem que não se precisa de técnicas modernas para aumentar a produtividade. Controles simples dos custos de produção são essenciais para que o empresário rural gerencie sua produtividade para que seus resultados sejam alcançados.

3 Metodologia

O Caminho metodológico é a via estrutural para a realização da pesquisa. Como o estudo busca identificar como ocorre a apuração dos custos, a formação e análise dos preços nas pequenas propriedades rurais de economia familiar, classifica-se como uma pesquisa aplicada. Silva e Menezes (2005, p. 20) conceituam: “Pesquisa aplicada objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática e dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais”. Assim, neste estudo, utilizou-se a pesquisa aplicada. Como é um assunto que já foi abordado e estudado, busca-se aprofundar as investigações nesta área.

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Do ponto de vista de seus objetivos, a pesquisa é classificada como descritiva porque utilizou os métodos padronizados de coleta de dados, com base na aplicação de entrevistas padronizadas e da observação dos diferentes produtos apresentados em feiras pelos produtores rurais. Conforme Gil (2010, p. 44), “as pesquisas deste tipo têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis”.

Quanto à abordagem do problema, o estudo é qualitativo. De acordo com Beuren et al. (2004, p. 92), “na pesquisa qualitativa concebem-se análises mais profundas em relação ao fenômeno que está sendo estudado. A abordagem qualitativa visa destacar características não observadas por meio de um estudo quantitativo, haja vista a superficialidade deste último.”. As bases estatísticas não foram utilizadas para realizar a pesquisa, utilizou-se informações e dados gerados a partir do estudo realizado na propriedade.

Os procedimentos técnicos para a coleta de dados utilizados neste estudo são a pesquisa bibliográfica, valendo-se de diversas bibliografias e publicações já existentes sobre o assunto.

Pesquisa levantamento, na qual os dados foram coletados por meio de entrevista padronizada, conforme Gil (2010, p.70): “[...] procede-se à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida, mediante análise quantitativa, obter as conclusões correspondentes dos dados coletados”. Esta foi realizada com os proprietários de pequenas propriedades rurais familiares, que produzem diferentes produtos comercializados em feiras, nos meses de maio e junho do ano de 2018. A pesquisa é estudo de diversos casos, por se tratar de 34 propriedades rurais. De acordo com Yin (2001, p. 27), “a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos relevantes”.

Antes da análise dos dados, foi aprofundado o estudo do referencial teórico, contemplando-se a contabilidade rural e a contabilidade de custos. Após, foram aplicadas as entrevistas padronizadas, pelo critério de acessibilidade às propriedades rurais e nas feiras de produtor rural na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, com a participação de 34 produtores rurais entrevistados. A escolha ocorreu pelo fato destes participarem de feiras, eventos rurais e também pela disponibilidade dos produtores em participar da pesquisa. Os dados coletados foram transferidos para uma planilha de Excel, onde se pode analisar cada questão sendo sistematizados, interpretados e apresentados, demonstrando os resultados da forma de apuração e controle dos custos e do preço de venda, o objetivo principal desta pesquisa.

4 Análise dos resultados

Para este estudo, foram entrevistados 34 produtores rurais, alguns com pequenas agroindústrias, todos localizados na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, os quais são assessorados pela Emater do Estado, contemplando produtores com idade a partir de 21 anos conforme o quadro 1.

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Quadro 1 - Faixa etária dos entrevistados

15 a 20 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos 41 a 50 anos Mais de 50

3 6 10 15

Fonte: Elaboração dos autores (2018).

Sendo que não houve participantes na pesquisa de 15 a 20 anos; os entrevistados na faixa entre 21 a 30 anos representaram 8,82% do total de entrevistados, 17,65% representam a faixa etária de 31 a 40 anos; 29,41% demonstram os entrevistados da faixa dos 41 a 50 anos, e os demais 44,12% os participantes com mais de 50 anos, sendo a maioria dos entrevistados.

Quanto ao nível de formação dos participantes, cerca de 32% não concluíram o ensino fundamental, 50% possuem o ensino fundamental completo e, apenas 15% dos entrevistados concluíram o ensino médio. Os demais 3% representam os participantes com nível superior de ensino.

Gráfico 1 - Escolaridade dos entrevistados

Fonte: Elaboração dos autores (2018).

Quanto à área da propriedade, constatou-se que dos 34 entrevistados, 21% são pequenos agricultores e possuem até 10 hectares de propriedade. Por conseguinte, 32% dispõem de propriedade com até 20 hectares; cerca de 14% dos entrevistados possuem até 30 hectares e 18% possuem mais de 30 hectares. Cerca de 15% dos participantes têm propriedades arrendadas.

Dos 34 produtores rurais entrevistados, alguns possuem pequenas agroindústrias, cujos principais produtos fabricados e comercializados são: bolachas, massas, cucas, pães, melado, rapaduras, açúcar mascavo, frutas, verduras e legumes, laticínios, embutidos e outros.

Quanto ao tempo de existência das comercializações dos produtos no mercado, apresenta uma diferença significativa, uma vez que a grande parte permanece por gerações, ou seja, a ideia que passou adiante pelos familiares, sendo o caso de mais da metade dos produtores entrevistados, ou cerca de 53% conforme o gráfico. É importante ressaltar que, muitas vezes, a renda

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deste tipo de produção é a fonte principal de recursos para a manutenção do grupo familiar. Cerca de 32% tem de 5 a 10 anos de existência e os demais 15% são propriedades com produção há menos de 5 anos; destas, constatou-se que surgiram como forma de complementar a renda familiar, cuja fonte principal é a agricultura e pecuária.

Gráfico 2 - Tempo de permanência no mercado

Fonte: Elaboração dos autores (2018).

Quanto ao faturamento mensal das propriedades e suas pequenas agroindústrias, pode-se afirmar que cerca de 21% faturam até R$ 1.000,00, as que faturam até 3.000,00 são cerca de 26%, até R$ 6.000,00 somam 29%, até 10.000,00 21% e, apenas 3% faturam mais que 10.000,00.

Quadro 2 - Média de faturamento mensal por agroindústria em percentual

Até R$ 1.000,00 21%

Até R$ 3.000,00 26%

Até R$ 6.000,00 29%

Até R$ 10.000,00 21%

Mais de R$ 10.000,00 3%

Fonte: Elaboração dos autores (2018).

Com o intuito de aprimorar e incentivar as atividades da agroindustrialização nas propriedades familiares do Estado do Rio Grande do Sul, a Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo do estado (SDR) criou o Programa da Agroindústria Familiar (PEAF), possibilitando assistência da Emater RS a estes, tanto na parte da legislação e regulamentação, como também na parte de fabricação e comercialização. Quanto aos produtores rurais, a venda dos seus produtos é registrada via nota fiscal no bloco de produtor, pois cada um destes possui inscrição estadual. É, ainda, necessário ressaltar que o agronegócio e a agricultura familiar são de suma importância para o desenvolvimento regional.

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4.1 Controle de gastos, noções de custos e precificação

Com base nas entrevistas realizadas, foi possível constatar que mais da metade das agroindústrias, ou seja 56% delas, não tem o controle dos gastos de forma alguma. Isso se deve ao fato de que as contas se misturam com as da família. Todavia, 32% destas fazem o devido controle dos gastos na produção e comercialização de seus produtos por meio de planilhas eletrônicas e/ou outros softwares financeiros. Inclusive, 9% das agroindústrias faz o controle por meio de percepção e feeling pessoal e as demais agroindústrias (3%) controlam os gastos por meio de anotações em cadernos.

Gráfico 3 - Ferramentas de controle de gastos das agroindústrias

Fonte: Elaboração dos autores (2018).

Continuando a análise, foi possível observar que, para montar o custo total dos produtos vendidos nas agroindústrias, cerca de 6% destas consideram como custo total do seu produto, apenas os custos com a matéria prima utilizada para a fabricação do mesmo. Inclusive, cerca de 9% das agroindústrias consideram como custos total do seu produto, apenas os custos indiretos presentes, principalmente a energia elétrica e ainda 15% das agroindústrias consideram apenas os gastos com embalagem necessária para o produto.

Por outro lado, 15% das agroindústrias não souberam responder a esse questionamento; todavia, cerca de 15% das agroindústrias utilizam como critério para apuração do custo total incluindo todos os itens elencados, como a matéria-prima, mão de obra e custos indiretos e embalagens. Constatou-se que cerca de 9% utilizam como critério somente a mão de obra utilizada na produção e os custos com embalagens; ainda, cerca de 21% das propriedades da pesquisa consideram a matéria-prima, os custos indiretos e a embalagem e, as restantes (12%) utilizam para fins de apuração do custo total, os custos indiretos e a embalagem.

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Quadro 3 - Critérios para formação do custo total

Critérios Nº de agroindústrias %

Somente MP 2 6%

Somente os custos indiretos 3 9%

Somente custos com embalagem 5 15%

MO + embalagem 3 9%

Todos os custos citados (MP+MO+CI) 5 15%

MP + CI + embalagem 7 21%

CI + embalagem 4 12%

Não souberam responder 5 15%

Fonte: Elaboração dos autores (2018).

Os resultados do estudo confirmam o que a pesquisa de Rocha, Leal e Junior (2016) constatou: do Sertão da Bahia e de Pernambuco, algumas agroindústrias não mensuram ou caso meçam, não atualizam seus custos de produção, muito próximos ao que se encontra na região noroeste do Estado do RS. Por não saber calcular o custo total, alguns produtores acabam considerando algumas variáveis como da tabela acima como custo e, com isso, fazem o gerenciamento do seu negócio pela percepção e feeling pessoal.

4.2 Formação e análise do preço de venda

A partir do questionamento que se referia ao custo de produção de cada produto elaborado na propriedade ou na pequena agroindústria, buscou-se saber a que se refere a formação do preço de venda. Desta forma, constatou-se que em 26% das propriedades, o preço de venda é formado com base na aplicação de um percentual direto sob o custo; por outro lado, em 47% delas, o preço de venda é formado com base no preço da concorrência, ou seja, em nenhum momento se utiliza do custo de produção ou de um percentual estimado sobre o que se acha que gasta para produzir o produto. Simplesmente, coloca-se o preço com base no preço vendido pelos outros produtores. Praticamente, a metade dos produtores age desta forma, o que é bem significativo e pode impactar diretamente no resultado obtido pela propriedade ou agroindústria, em função de não levar em consideração os seus custos de produção, com estruturas diferenciadas tanto na produção, quanto na qualidade final, nos equipamentos utilizados e também na forma de apresentação dos produtos. Desta forma, basear o preço de venda apenas com o olhar no preço dos outros produtores pode contribuir na obtenção de resultados indesejados.

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Quadro 4 - Critérios para formação do preço de venda

Formação do preço de venda Nº de agroindústrias %

Percentual direto sobre o custo 9 26%

Concorrência 16 47%

Valor que o mercado paga 7 21%

Valor percebido pelo cliente 2 6%

Fonte: Elaboração dos autores (2018).

Neste sentido, o estudo de Metzner (2013) e de Schwert (2013) confirmou que um dos fatores que são mais usados na formação do preço é o valor da concorrência. Também no estudo de Braun (2013) a mesma perspectiva se confirma.

É importante ressaltar que algumas propriedades e pequenas agroindústrias conhecem a priori os seus custos, principalmente na produção de pães, bolachas e cucas, assim como para alguns produtos fabricados específicos em que o próprio agricultor produz a matéria-prima utilizada, que é o caso da cana de açúcar para o melado, ou até mesmo os embutidos, a questão da criação dos animais que vão servir posteriormente como a matéria-prima principal na fabricação dos mesmos, ou seja, desde o plantio até a colheita ou abate da matéria-prima utilizada. Outro ponto significativo referente à comercialização em alguns casos, em grandes locais de venda, como nas feiras, que englobam diversos produtores ou agroindústrias: o preço é obrigatoriamente tabelado pelos organizadores deste tipo de evento, muitas vezes reduzindo a margem gerada ao produtor rural.

Prosseguindo com a análise, cerca de 21% das agroindústrias vende seu produto conforme o valor que o mercado paga, ou seja, estas são fornecedoras principalmente de mercados e supermercados, e estes estabelecem o quanto pagam ao produtor; consequentemente, esse valor é menor. Entretanto, conforme o relato do entrevistado chamado de “A”, “mesmo com esse fator do preço ofertado pelo comprador, o agricultor na maioria das vezes acaba vendendo para os supermercados, por serem pontos fixos de vendas e que compram em maior quantidade”. E ainda, chamou atenção durante a pesquisa, que 6% dos entrevistados destacaram que estabelecem o preço de venda conforme o valor percebido pelo cliente, ou seja, eles produzem com diferenciação os seus produtos na qual os clientes optam pelos mesmos, independentemente do preço, observando principalmente a qualidade, o sabor, a apresentação das embalagens, a conservação e a garantia de produtos mais orgânicos e naturais.

Quanto aos locais de venda, os principais clientes dos produtores rurais e das agroindústrias são, na maioria, os mercados, supermercados, escolas, restaurantes, feiras e, em raros casos, a venda é feita “de porta em porta” ao público em geral.

Dentre as dificuldades na definição dos preços dos produtos e a respectiva análise dos resultados, é que para fins de análise de resultado econômico, foi constatado que nenhum deles utiliza ferramentas como a

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margem de contribuição unitária e total, o ponto de equilíbrio e margem de segurança, inclusive, foi unânime entre os entrevistados, o total desconhecimento desta forma de análise de resultado.

Essa dificuldade prevalece na prática de preços e se deve principalmente à falta de tempo e de conhecimento técnico na área de custos e finanças para realizar o devido controle; é claro que outros fatores também influenciam, como a dificuldade na obtenção dos dados necessários, confiabilidade destes e ausência de ferramenta de controle. Por outro lado, verificou-se o interesse dos produtores rurais e das pequenas agroindústrias em entender o processo de apuração dos custos, da formação dos preços e da análise dos resultados, especialmente da margem de contribuição e do ponto de equilíbrio. A maioria deles deseja mudar esta situação e gostaria de ter um curso para montar suas planilhas de custos, preços e análise dos resultados. Relataram que iam solicitar a Emater para providenciar isso, com parcerias da universidade.

5 Conclusão

Neste estudo, verificou-se a importância da agroindústria familiar para o desenvolvimento regional, sendo que elas geram trabalho e renda no meio rural bem como fortalecem a economia local. Boa parte dos envolvidos na pesquisa atuam há um tempo considerável no mercado, principalmente passando os conhecimentos de geração a geração, em muitos casos sendo a única fonte de renda e, para outros servem como meio de complementar a renda.

No que se refere aos controles de custos e formação de preços, constatou-se nas entrevistas a dificuldade em fazer o controle dos gastos em função de que as contas da agroindústria acabam se misturando com as contas da família. Destacam também que o tempo é escasso para a realização do controle, além é claro da falta de conhecimento técnico, tanto em finanças como em custos, apontados pela maioria dos entrevistados. Por conta disso, para comercializar seus produtos, grande parte vende pelo preço que o mercado paga ou conforme o preço dos seus concorrentes.

Em função da falta de controles e principalmente do levantamento dos custos, fica difícil apurar o resultado real da comercialização dos produtos. Constatou-se que nenhum dos entrevistados utilizam ferramentas como a margem de contribuição unitária e total, o ponto de equilíbrio e margem de segurança - inclusive, foi unânime o desconhecimento destes indicadores.

Como sugestão a estudos futuros, verificou-se a necessidade de realizar cursos específicos a esse público entrevistado, com a finalidade a apurar custos, preços e margens, pois além de ter as informações, é preciso saber interpretá-las e utilizá-las para a tomada de decisão. Esse poderá ser o próximo passo deste projeto de pesquisa da universidade.

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Perfil dos membros dos conselhos de administração das empresas dos

setores de bens industriais e consumo cíclico listadas na B3

Jaíne Letícia Cavalli112

Cleiton Luiz Klochinski213

Cristiane Zucchi314

Ivanir Salete Techio da Silva415

Fernando Maciel Ramos516

RESUMO

O estudo teve como objetivo identificar o perfil dos membros dos conselhos de administração das empresas brasileiras dos setores de bens industriais e consumo cíclico listadas na B3, uma vez que estes setores são importantes para o desenvolvimento da economia e abertura de mercado. A pesquisa é classificada como descritiva, documental e quantitativa, e a análise compreendeu 73 empresas e 549 membros dos conselhos de administração. Por meio do formulário de referência divulgado pelas empresas, referente a 2016, foram coletadas informações envolvendo aspectos pessoais, profissionais, de formação e de atuação dos conselheiros. Os resultados mostram que a atuação masculina nos conselhos ainda é bem superior em relação à feminina, uma vez que representam quase 90%. Pode-se perceber que a maioria dos conselheiros possui formação superior, que as áreas de destaque são engenharia e administração e que a maioria dos conselheiros se formou na USP, PUC e UFRJ. Evidenciou-se que a idade média foi de 56

1 Graduada em Ciências Contábeis, Universidade do Vale do Contestado (UnC), [email protected] 2 Graduando em Ciências Contábeis, Universidade do Vale do Contestado (UnC), [email protected] Mestre em Administração, Universidade do Vale do Contestado (UnC), [email protected] Mestre em Engenharia de Produção, Universidade do Vale do Contestado (UnC), [email protected] Doutorando em Ciências Contábeis, Universidade do Vale do Contestado (UnC), [email protected]

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anos e que um número reduzido de conselheiros possui relação familiar com pessoas envolvidas na organização e relação direta com a empresa. Além disso, observou-se que somente 7,29% dos conselheiros realizaram algum curso para treinamento de executivos e que a maioria das empresas adota políticas de remuneração fixa. Os resultados e estudos apontam que prezar pela independência do conselho é fundamental para que a organização atinja seu objetivo e trabalhe em prol de todos os acionistas.

Palavras-chave: Conselho de Administração. Governança Corporativa. Decisões Estratégicas.

1 Introdução

O desenvolvimento do mercado acionário e o conflito entre acionistas majoritários e minoritários foi considerado um fator significativo para mudanças em relação à estrutura governamental das organizações. Isso resultou na necessidade de implantação de modelos de gestão que despertassem o interesse de novos investidores e que intermediassem as relações entre propriedade e poder (CARVALHO, 2002; SILVA, 2002; MOURA; BEUREN, 2011).

Dessa forma, a governança corporativa surge como meio de suprir as necessidades das organizações, de modo a atrair novos investidores e acionistas, uma vez que está intimamente relacionada aos princípios e aos mecanismos que norteiam o processo decisório. A governança corporativa visa ao gerenciamento dos recursos e da tomada de decisões, tendo influente envolvimento do conselho de administração nas relações quanto à propriedade, gestão e monitoramento (ZAGATTI; RIBEIRO, 2005; FRAGA; SILVA, 2012).

Conforme o art. 142 da Lei das Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404, de 15/12/1976), o conselho de administração é o órgão responsável por estabelecer orientações em relação aos negócios da organização, fiscalizar a gestão dos diretores e tomar frente para a tomada de decisões significativas que influenciam o futuro da organização.

A composição e a estrutura do conselho de administração representam um fator determinante para atingir os resultados esperados, conforme exposto por Holtz e Neto (2014), e são poucos os estudos identificados acerca das características de composição dos conselhos de administração. Com base nesta perspectiva, tem-se a seguinte problemática: qual o perfil sociodemográfico dos conselhos de administração das empresas listadas na B3 dos setores de bens industriais e consumo cíclico? Sabe-se que a composição dos conselhos de administração influencia nas decisões tomadas e na qualidade das informações geradas nas organizações. Diante disso, esta pesquisa teve como objetivo identificar o perfil dos membros dos conselhos de administração das empresas brasileiras dos setores de bens industriais e consumo cíclico.

Este estudo justifica-se em aspectos teóricos, empíricos e sociais. No contexto teórico, é relevante, pois visa a contribuir para a literatura nacional que discute a temática de governança corporativa e seus mecanismos. Em

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um panorama nacional, pode-se apontar que ainda são poucos os estudos que analisam especificamente o perfil dos conselhos de administração. Até o momento, a maioria possui como foco avaliar a independência do conselho, como de Holtz e Neto (2014), Dani et al. (2017) e Dutra e Saito (2002).

Empiricamente, os resultados da pesquisa podem contribuir para os órgãos reguladores para análise e avaliação das regras formais existentes e sua aplicabilidade. Para os demais interessados nas organizações, este estudo pode ser útil para que conheçam como está constituído o órgão do conselho de administração das empresas brasileiras e, com isso, possam avaliar a influência do perfil do conselho na efetividade das suas funções, tendo em vista que, conforme preconizado por Carvalho (2002), os membros dos conselhos de administração possuem influência significativa nos resultados da organização. Dessa forma, eleger membros com características exclusivas e adequadas para ocuparem o cargo pode ser fator determinante para o alcance dos resultados almejados.

Cabe ao conselho de administração a tomada de decisões importantes na organização, conforme expresso por Mascena, Barakat e Fischmann (2016). No aspecto social, o estudo é importante por permitir evidenciar o perfil dos conselhos de administração, o que possibilita realizar uma comparação entre as características dos membros e a influência que possuem sobre os resultados da organização, despertando a possibilidade de as organizações reavaliarem a eficiência de seus conselhos.

Conforme o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) (2016), as organizações enfrentam cada vez mais desafios relacionados ao aumento da desigualdade social e problemas ambientais, que afetam e modificam as estratégias preestabelecidas, resultando em impactos que interferem no seu desenvolvimento e valor econômico, exigindo-se, dessa forma, transformações no meio empresarial. Assim, é possível evidenciar que no aspecto social adequar os conselhos de administração com profissionais qualificados gera resultado para a organização e para e economia do país, possibilitando desenvolvimento do mercado de capitais e, consequentemente, crescimento econômico.

Este artigo está estruturado em cinco seções, sendo primeiramente apresentados os aspectos introdutórios do estudo, seguidos pela revisão do arcabouço teórico envolto na temática. Na terceira seção, é apresentado o percurso metodológico; na quarta, a discussão dos resultados e, por fim, as considerações finais.

2 Referencial teórico

2.1 Governança corporativa

O surgimento das práticas de governança corporativa apresentou-se inicialmente em países nos quais os mercados de capitais demonstravam desenvolvimento avançado, como Estados Unidos e Inglaterra. Nestes países, a exposição das organizações a fraudes, erros e abuso de poder impulsionou

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o movimento de governança corporativa, o que fez com que ganhasse força nos últimos dez anos (HALLQVIST, 2000).

Carvalho (2002) define governança corporativa como a junção de procedimentos instituídos na organização, com o objetivo de que o agente trabalhe para beneficiar a todos que possuem direitos legais sobre a entidade e que diminui as práticas de proveito individual sobre os acionistas minoritários, como explorações e abuso de poder, pelos acionistas controladores. Relata, ainda, que os ineficientes mecanismos de governança corporativa são apontados como um dos motivos para o baixo desenvolvimento do mercado de ações brasileiro.

Entende-se como governança corporativa o sistema que envolve a administração da organização de forma a monitorar práticas desempenhadas pelos sócios, conselhos de administração, órgãos de fiscalização e demais partes envolvidas, como investidores, empregados e credores, a fim de facilitar o acesso de capital (CVM, 2002; IBGC, 2016).

Ainda conceituando governança corporativa, pode-se constatar que é o conjunto de mecanismos internos e externos, que envolve princípios e práticas, que visam a reduzir os prejuízos causados, resultantes dos conflitos de interesse entre agentes tomadores de decisão e fornecedores de recursos. Também tem o objetivo de alinhar os interesses de ambos os envolvidos na organização e, em consequência, maximizar o valor da empresa e o retorno para os acionistas (ALMEIDA, 2001; SILVEIRA, 2006).

O estabelecimento de relação entre acionistas, conselho de administração e conselho fiscal é intermediado pelas práticas de governança corporativa, que possibilita aos acionistas o controle estratégico da organização e o monitoramento das ações de responsabilidade dos gestores, além de integrar as decisões da organização para atingir os objetivos dos diversos stakeholders (MARINELLI, 2005). Os conflitos oriundos do abuso de poder referem-se ao controle dos acionistas majoritários em relação aos acionistas minoritários, a diretoria sobre os acionistas e membros da administração sobre terceiros. Dessa forma, a governança corporativa está relacionada com a estrutura de propriedade e controle (HALLQVIST, 2000; SILVA, 2002).

Outro objetivo da governança corporativa está relacionado com o processo decisório e abrange a junção de regras que se destinam a reduzir os problemas de agência que se referem à dependência que o desempenho da organização tem sobre as decisões tomadas pela parte controladora, no caso o agente tomador de decisão, que muitas vezes age de acordo com seus interesses individuais (JENSEN; MECKLING, 1976; CARVALHO, 2002; SILVEIRA, 2006). No Quadro 1, são apresentados os princípios de governança corporativa estabelecidos pelo IBGC, Organisation For Economic Co-Operation And Development (OECD) e Report of the committee on the financial aspects of corporate governance (Cadbury), os quais buscam estabelecer diretrizes a respeito dos mecanismos a serem seguidos pelas organizações.

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Quadro 1 – Princípios de governança corporativa

Princípios Conceito Fonte

Transparência

É o fornecimento de informações para todas as partes interessadas, que envolvam todos os aspectos da empresa e não só as obrigações legislativas, como fornecimento de dados econômico-financeiros, fatores intangíveis e outras informações gerenciais que influenciam os resultados. As informações nos relatórios financeiros devem expressar honestidade e imagem equilibrada.

Cadbary (1992); OECD

(2004);IBGC

(2016).

Equidade

Diz respeito ao tratamento de forma igualitária de todos os sócios e demais partes interessadas na organização (stakeholders), observando os direitos, deveres e interesses. Deve ser assegurado a todos os acionistas o tratamento justo, envolvendo os majoritários e minoritários, a fim de garantir a reparação pela violação dos seus direitos.

Prestação de contas

Prestação de contas pelos agentes de governança corporativa deve ser clara, compreensível e tempestiva, garantindo divulgação minuciosa em relação à situação de desempenho financeiro, de propriedade e de governança.

Responsabilidade corporativa

O conselho de administração responde pelas decisões tomadas e deve envolver e zelar pela viabilidade financeira e econômica, qualidade de informação, garantindo resultados positivos, por meio da utilização de capital financeiro, humano, ambiental, entre outros, considerando médio e longo prazos, além de garantir estratégias e controles que beneficiem a empresa e seus acionistas.

Fonte: Elaboração dos autores (2018).

De acordo com os princípios apresentados no Quadro 1, é notório que as práticas de governança corporativa devem envolver algumas características mínimas, como transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Assim, de acordo com a OECD (2004), os princípios de governança corporativa servem como um alicerce para a divulgação adequada dos relatórios regulares e asseguram o repasse de informações a todos os acionistas, prezando pelo tratamento igualitário.

A adoção de mecanismos de governança corporativa impacta diretamente nos resultados da organização. Assim, a utilização de práticas adequadas faz com que a empresa tenha destaque em meio ao mercado, uma vez que demonstra maior segurança a todos os públicos e resulta em facilidade para vender seus títulos, diminuição dos custos para captação de recursos e valorização dos produtos, o que impacta na capitalização da empresa e no desenvolvimento de um país (MARINELLI, 2005; FERREIRA ET AL., 2013).

Portanto, a governança corporativa está inserida nas organizações como um meio de intermediar e reduzir conflitos, desenvolver práticas

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que auxiliem no desempenho. Além de servir como instrumento para a tomada de decisões e garantir que todos os interessados na organização tenham seus objetivos atendidos, prezando pela independência das práticas, independente do poder que cada acionista detenha sobre a organização.

2.2 Conselho de administração

Os maiores investidores das empresas de capital aberto são os grandes fundos nacionais e internacionais e estes exigem das companhias, práticas de gestão que supram seus interesses. Assim, tem-se a necessidade das empresas em constituir um conselho de administração, o qual, por sua vez, deve ser ativo e independente e servir como um fundamental mecanismo de governança corporativa, de modo a transmitir transparência nas informações, defender o interesse dos investidores e diminuir os problemas de agência (SILVEIRA, 2006; ANDRADE, 2008).

Cabe ao conselho de administração operar em prol da proteção do patrimônio da companhia, conforme exposto pela CVM (2002), visando sempre a seguir o objeto social da empresa e agregar valor ao empreendimento. Ao conselho de administração cabe direcionar a organização por meios de estratégias e tomadas de decisões, prezando pelos princípios, valores, objeto social e sistema de governança corporativa, além de monitorar a diretoria, visando sempre a atuar com base nos interesses de todos os sócios (SCHIEHLL; SANTOS, 2004; IBGC, 2016). Este, por sua vez, contribui para a vigilância dos atos dos diretores, e, conforme Dutra e Saito (2002), é relevante considerar a composição desse conselho, principalmente em relação a sua independência, já que em alguns países, como os Estados Unidos, a preferência é que os membros dos conselhos sejam independentes. Ou seja, conselheiros externos, conhecidos no país como external directors.

Quanto à composição do conselho de administração é relevante considerar alguns aspectos em relação aos membros que fazem parte deste, uma vez que os conselheiros trabalham com valores pertencentes a terceiros. Então, algumas características como bom caráter, integridade pessoal e ética são fundamentais, além de que as experiências e os conhecimentos também são pertinentes para a tomada de decisão (HALLQVIST, 2000).

Segundo Silva, Santos e Almeida (2011), a legislação passou a exigir dos conselhos de administração critérios rigorosos quanto as suas ações, tendo em vista que os membros precisam apresentar resultados de acordo com os interesses corporativos. Assim, o conselho de administração tem como missão preservar, zelar e valorizar o patrimônio dos acionistas a fim de maximizar o retorno sobre os investimentos inseridos na organização.

Criar estratégias, ter liderança para colocar em prática as ideias, fiscalizar os negócios e elaborar relatórios eficientes para os acionistas estão entre as atribuições do conselho de administração, conforme preconizado

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pelo Report Of The Committee on (1992), no qual deverão ser observados a legislação e os regulamentos em vigor. Em relação à independência do conselho, identificar o grau de liberdade à disposição dos conselhos de administração é fundamental para que o trabalho realizado tenha como objetivo beneficiar o grupo total e não apenas os acionistas controladores (DUTRA; SAITO, 2002).

Entre as atribuições dadas aos conselheiros tem-se a formulação de estratégias passíveis de resolver problemas, avaliação das consequências de cada tomada de decisão e definição de metas para o alcance dos objetivos desejados, o que torna evidente que a visão estratégica é uma das principais atribuições que o membro do conselho de administração deve ter; esta pode ser obtida mediante experiências profissionais e conhecimentos relacionados à contabilidade, finanças e sobre a empresa (HALLQVIST, 2000).

A atuação dos conselheiros não pode sofrer influência de quaisquer relacionamentos mantidos com os envolvidos na organização, a fim de garantir políticas que proporcionem igualdade de direitos e deveres, formulação de estratégias, agindo de forma técnica e profissional, uma vez que todas as ações tomadas influenciarão o futuro da organização (CVM, 2002; IBGC, 2016). Desse modo, o conselho de administração exerce papel de total relevância na organização, sendo o responsável pela formulação de estratégias que determinam o resultado e, consequentemente, o desempenho futuro da entidade, ressaltando-se que os objetivos de todos os inseridos no ambiente da empresa devem ser observados, prezando sempre pela independência das ações realizadas.

Na identificação de estudos relacionados aos conselhos de administração, encontram-se análises realizadas por Dani et al. (2017), que buscam identificar a relação entre as características do conselho de administração com o desempenho empresarial das empresas listadas no Novo Mercado da BM&FBOVESPA no período de 2010 a 2014, compreendendo uma amostra de 114 empresas. Evidenciou-se que quanto mais componentes inseridos nos conselhos de administração, melhor é o desempenho das empresas e que a influência das mulheres nos conselhos tem participação negativa quanto aos resultados (DANI et al., 2017).

Buscando investigar os efeitos das características da estrutura e da composição do conselho de administração sobre a qualidade das informações contábeis, Holtz e Neto (2014) realizaram uma pesquisa com as empresas listadas na BM&FBOVESPA referente ao período 2008 a 2011. A partir dos resultados, constatou-se que a informatividade dos lucros da organização sofre influência positiva da independência do conselho e que as empresas com conselhos mais numerosos sofrem redução nas informações quanto aos lucros contábeis reportados.

Mascena, Barakat e Fischmann (2016) direcionam seus estudos na análise da relação entre independência do conselho e dualidade do papel dos conselheiros e o monitoramento realizado por empresas listadas na BM&FBOVESPA. As análises compreenderam uma amostra de

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287 empresas, e foi constatado que a dualidade do papel do CEO possui relação negativa com a remuneração de auditoria externa e que influencia negativamente o nível de monitoramento das decisões. De acordo com os estudos identificados, é possível constatar que estes obtiveram conclusões distintas em relação à composição adequada dos conselhos de administração. Porém, é constatado que o desempenho das organizações sofre influência da composição dos conselhos e que estes interferem no processo decisório.

3 Percurso metodológico

Autores como Beuren (2013) e Collis e Hussey (2005) ressaltam que um estudo no campo de pesquisa das ciências sociais aplicadas pode ser classificado metodologicamente quanto ao objetivo, à estratégia utilizada para a coleta de dados e quanto à abordagem de análise. Esta pesquisa delineia-se como descritiva quanto ao objetivo, documental em relação a sua estratégia de coleta de dados e de abordagem quantitativa.

A população é definida como o agrupamento de seres que apresentem para o autor características em comum, que podem servir como objeto para a pesquisa (MARCONI; LAKATOS, 2017). Para esta pesquisa, a população foi composta pelas empresas listadas na B3, tendo sua amostra composta pelas empresas do setor de bens industriais e consumo cíclico, uma vez que são segmentos que apresentam destaque em meio aos outros setores listados na B3, sendo importantes para o desenvolvimento da economia e abertura de mercado. Desta forma, os resultados obtidos por meio da amostra servem como instrumento para avaliar toda a população (BEUREN, 2013).

A amostra inicial da pesquisa foi composta por 76 empresas brasileiras listadas na B3, envolve informações referentes ao formulário de referência de 2016 e abrange 68 empresas do setor de bens industriais e 8 empresas do setor consumo cíclico. No entanto, 3 dessas empresas não apresentaram os formulários de referência necessários para coleta dos dados, e, por este motivo, a amostra final resultou em 73 empresas, que proporcionaram a coleta de dados referente a 549 conselheiros pertencentes a conselhos de administração.

A coleta dos dados foi realizada no período de setembro de 2017 a outubro de 2017, por meio das informações sobre os conselheiros das empresas listadas na B3 dos setores de bens industriais e consumo cíclico, disponibilizadas no formulário de referência de 2016. As variáveis analisadas, nesta pesquisa, acerca das características dos conselhos de administração estão descritas no Quadro 2.

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Quadro 2 – Variáveis analisadas

Variável Descrição Fonte Estudos relacionados

Gênero Masculino/Feminino

Item 12.5/6 do Formulário de

referência 2016, B3.

Fraga & Silva (2012) e Madalozzo (2011).

Idade Apurada a partir do ano de nascimento do conselheiro

Bruére, Silva & Santos (2007) e Brugni (2012).

Nível de formação

Ensino Médio/ Graduação/Especialização/Pós-graduação/

Mestrado/Doutorado/Não informado

Brugni (2012) e Madalozzo (2011).

Área de formação Área de formação no curso superior realizado pelo conselheiro

Martins et al. (2012) e IBGC (2016).

Instituição de ensino superior

Especificação da instituição de graduação

Bruére, Silva & Santos (2007).Instituição de

ensino pós-graduação

Especificação da instituição pós-graduação

Efetivo/Suplente Participação do conselheiro na organização IBGC (2016)

Curso para treinamento de

executivos

Identifica se o conselheiro realizou algum curso para treinamento

de executivos, como IBGC, FDC, Harvard (sim/não)

Brugni (2012)

Experiência em outros conselhos

Atuação do conselheiro em outros conselhos e em outras organizações

(sim/não)

Brugni (2016) e Dani et al. (2017)

Relação direta com a empresa

Relação direta avaliada a partir do cargo que o conselheiro exerce na

organização (sim/não)

Item 12.5/6 do Formulário de

referência 2016, B3.

Dutra & Saito (2002)

Já foi colaborador da empresa

Identifica se o conselheiro já atuou na empresa como colaborador (sim/não)

Indicação Por quem o conselheiro foi indicado Brugni (2016)

CEO e presidente são a mesma pessoa Sim/Não

Brugni (2012) e Mascena, Barakat & Fischmann (2016).

Atuação em outro conselho da

empresaSim/Não Dutra & Saito

(2002)

Relação familiar Sim/NãoItem 12.9 do Formulário de

referência 2016, B3.Grillo et al. (2017)

Relação comercial Sim/NãoItem 12.10 do Formulário de

referência 2016, B3.Brugni (2012)

Remuneração variável ou fixa

Política de remuneração dos conselheiros, analisada por meio de

fixa ou variável

Item 13.1/13.2 do Formulário de

referência 2016, B3.

Oliva & Albuquerque (2007)

e Brugni (2016)

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

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Após coletadas as informações, foi realizada a análise dos dados por meio da utilização de estatística descritiva. A partir dos procedimentos apresentados foi possível visualizar as variáveis avaliadas e, a partir da apuração desses dados, identificar o perfil dos membros dos conselhos de administração de forma abrangente, envolvendo informações desde a atuação do conselheiro na organização, até mesmo, formação e experiência, o que contribui para os estudos já realizados e para futuros estudos.

4 Resultados

Nessa etapa, foram analisados os dados coletados a partir da estatística descritiva. Iniciou-se com a variável gênero dos conselheiros, pois essa característica possui elevada relevância ao se avaliar a atuação destes e os resultados das organizações. A partir da Tabela 1, identifica-se o gênero dos membros dos conselhos de administração das empresas analisadas.

Tabela 1 – Gênero dos conselheiros

Variável Quantidade Percentual (%)

Masculino 494 89,98

Feminino 55 10,02

Total 549 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

A partir da Tabela 1, torna-se evidente que os homens possuem presença significativa na composição dos conselhos; dos 549 conselheiros analisados 89,98% são de gênero masculino e apenas 10,02% são representados pelas mulheres. Torna-se visível que a presença masculina, ainda, predomina na gestão das organizações.

Estudos já realizados referentes a essa variável, como de Fraga e Silva (2012), apontam que a presença das mulheres nos conselhos de administração é reduzida. Porém, entre as poucas mulheres identificadas nos conselhos, estas apresentaram resultado positivo em relação a sua atuação. Assim, comparando-se os estudos, nota-se que os resultados obtidos em 2012 não sofreram relevante modificação até o presente momento, pois ainda se presencia a atuação predominante do gênero masculino nos conselhos. Nos estudos de Madalozzo (2011), também foi evidenciada a reduzida presença feminina nos conselhos de administração, uma vez que apenas 8,55% das empresas analisadas possuíam em seus conselhos mulheres.

Na Tabela 2, evidencia-se a variável idade dos conselheiros, que foi levantada a partir do ano de nascimento, considerando a idade mínima de 20 anos com um intervalo de 19 anos para identificar a idade aproximada.

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Tabela 2 – Idade dos conselheiros

Faixa Etária Quantidade Percentual (%)20 a 39 anos 59 10,7540 a 59 anos 247 44,9960 a 79 anos 181 32,97Acima de 80 anos 13 2,37Não informada 49 8,92Total 549 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Entre os 549 conselheiros analisados, a idade média apurada foi de 56 anos, e, abrangendo somente o gênero feminino, a média de idade é de 47 anos. Em relação à idade mínima, identificou-se que é de 26 anos e máxima de 92 anos; cerca de 44,99% dos conselheiros possuem idades entre 40 e 59 anos e apenas 2,37% estão acima de 80 anos. Em estudos relacionados, como o de Brugni (2012), foi possível constatar que a idade média apurada também foi de 56 anos, a idade mínima de 34 anos e a idade máxima de 92 anos. Comparando-se os estudos, percebe-se que a idade máxima se manteve a mesma, porém a mínima se modificou. Ou seja, há conselheiros mais jovens presentes nas organizações.

De acordo com a coleta de dados, é possível verificar que os conselheiros que possuem presença mais significativa nos conselhos de administração são aqueles que apresentam idades intermediárias, ou seja, não são jovens e nem conselheiros com idades mais avançadas. Isso pode ser explicado considerando a experiência e a formação superior. Em seus estudos, Bruére, Silva e Santos (2007) concluíram que os conselheiros mais velhos estavam presentes nos conselhos de administração, porém a maioria possuía apenas formação de menor grau, em que se constatou que estes eram eleitos pelos controladores considerando a experiência profissional e não a formação. Em relação à formação dos conselheiros, na Tabela 3 apresenta-se o nível de formação a partir dos dados divulgados no relatório de referência de 2016.

Tabela 3 – Nível de formação

Nível Quantidade Percentual (%)

Ensino médio 4 0,73Técnico 2 0,36Licenciado 2 0,36Graduação 189 34,43Pós-graduação 47 8,56Especialização 114 20,77Mestrado 63 11,48Doutorado 16 2,91Não informado 112 20,40Total 549 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

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Pode-se perceber que apenas 0,73% possuem formação somente no ensino médio e 34,43% possuem pelo menos formação em uma graduação; 20,77% já realizaram especialização; 20,40% não forneceram a informação referente ao nível de formação e a maioria possui formação superior, assim como identificado nos estudos de Madalozzo (2011), no qual 38% dos conselheiros concluíram pelo menos uma pós-graduação, e somente 10% cursaram apenas o ensino fundamental ou médio. Outra questão a ser analisada é que o IBGC (2016) recomenda alguns conhecimentos específicos como na área de finanças e contabilidade. Brugni (2012) ressalta que é de total importância a formação em uma dessas áreas para que se possa evitar e reduzir determinados problemas e para cumprimento das recomendações do IBGC. Na Tabela 4, verificou-se a área de formação dos conselheiros.

Tabela 4 – Área de formação

Variável Quantidade Percentual (%)Administração 137 23,58Engenharia 91 15,66Direito 86 14,80Economia 70 12,05Engenharia civil 36 6,20Ciências contábeis 31 5,34Engenharia mecânica 29 4,99Engenharia elétrica 10 1,71Engenharia de produção 8 1,38Outras áreas 83 14,29Total 581 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Obteve-se o total de 581 formações, uma vez que alguns membros possuem mais de uma formação. Observa-se que 23,58% são formados na área de administração de empresas, 29,94% nas engenharias, abrangendo as áreas especificadas e não especificadas, e 14,29% abrangeram outras áreas. Evidenciou-se que as áreas de administração e engenharia prevaleceram, assim como no estudo de Martins et al. (2012), no qual engenharia, administração e economia se destacaram entre as áreas de formação, representando 14,40%, 13,3% e 25% respectivamente. Porém, no caso dos bancos, a área de economia é a com maior destaque. Isso se deve pelas atividades e negócios do ramo. O IBGC (2016) também realizou estudos com o intuito de analisar o perfil dos conselhos de administração e evidenciou, também, que entre as áreas de formação as que obtiveram destaque foram de engenharia, administração, direito e economia.

Neste estudo é provável que a área de engenharia obtenha destaque por consequência do setor estudado, em que a maioria das empresas abrangem o subsetor de bens industriais e necessitam de profissionais com capacidade técnica para criação, inovação e desenvolvimento das atividades na indústria. Caso outros estudos sejam realizados com ênfase em outro setor, pode ser

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que esses resultados não se confirmem. Na Tabela 5, é demonstrada a área de formação que prevalece em meio ao gênero feminino.

Tabela 5 – Área de formação do gênero feminino

Área de formação Quantidade Percentual (%)Administração 14 23,73Direito 14 23,73Economia 6 10,17Engenharia 5 8,47Engenharia civil 2 3,39Psicologia 4 6,78Outras áreas 14 23,73Total 59 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

A Tabela 5 evidencia as áreas de formação que se destacam entre as 55 mulheres presentes nos conselhos de administração das empresas analisadas, o que torna possível analisar que as áreas que possuem predominância em meio ao gênero feminino são de administração e direito, ambas representando 23,73% da formação. Em relação à instituição de formação dos conselheiros, foram identificadas 139 instituições diferentes, e destas as que obtiveram destaque estão demonstradas na Tabela 6.

Tabela 6 – Instituições de graduação

Instituição de graduação Quantidade Percentual (%)Universidade de São Paulo 47 8,26Fundação Getúlio Vargas 23 4,04Pontifícia Universidade Católica 38 6,68Universidade Mackenzie 13 2,28Universidade Federal de Minas Gerais 14 2,46Universidade Federal do Paraná 12 2,11Universidade Federal do Rio de Janeiro 28 4,92Universidade Federal do Rio Grande do Sul 15 2,64Outras 379 66,61Total 569 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018). Analisando a Tabela 6, nota-se que dentre as 139 instituições de

graduação divulgadas, 8 delas tiveram maior destaque; dos 569 dados referentes a instituições, 8,26% das formações ocorreram na USP, 6,68%, na PUC e 4,92%, na UFRJ, ressaltando-se que, entre os conselheiros que possuem formação no ensino superior, vários deles são formados em mais de uma área. Em comparação com os estudos realizados por Bruére, Silva e Santos (2007), a USP obteve destaque também, representando 8,80%, já a PUC, 4,40% e a UFRJ, 5,20%.

A formação de conselheiro é um dos fatores determinantes para a boa

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atuação no conselho. Dessa forma, realizar o curso de graduação em instituições com renome pode aumentar sua eficiência e também sua reputação. O conteúdo da Tabela 7 diz respeito à instituição de formação de pós-graduação dos conselheiros, demonstrando as 8 instituições que se destacaram.

Tabela 7 – Instituição de Pós-graduação

Instituição de Pós-graduação Quantidade Percentual (%)Fundação Getúlio Vargas 41 18,90Universidade de São Paulo 17 7,83Pontifícia Universidade Católica 15 6,91Fundação Dom Cabral 11 5,07IBMEC 9 4,15COPPEAD 6 2,77Universidade Federal do Rio de Janeiro 5 2,30Kellog School of Management 5 2,30Outras 108 49,77Total 217 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Conforme Tabela 7, foram analisadas 217 informações quanto a instituições de pós-graduação, sendo estas de 94 instituições distintas; a Fundação Getúlio Vargas teve maior destaque, abrangendo 18,90% dos cursos realizados e, em sequência, a USP apresentou 7,83% de cursos realizados, dados que também estão presentes nos estudos de Bruére, Silva e Santos (2007), nos quais se identificaram 24,55% de predominância da Fundação Getúlio Vargas, seguida pela USP, representando 12,73%.

O Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais (IBMEC) se destacou nos estudos de Bruére, Silva e Santos (2007), apresentando 8,18%; no entanto, para esta pesquisa, a Tabela 7 demonstra que a PUC e a Fundação Dom Cabral tiveram maior destaque em comparação ao IBMEC. A participação dos conselheiros nas organizações é demonstrada na Tabela 8, evidenciando sua atuação como efetivos ou suplentes.

Tabela 8 – Participação como suplentes ou efetivos

Variável Quantidade Percentual (%)

Efetivos 435 79,23

Suplentes 110 20,04

Não divulgado 4 0,73

Total 549 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Observa-se que, na Tabela 8, cerca de 79,23% dos conselheiros atuam de maneira efetiva na organização e apenas 20,04% atuam como conselheiros suplentes. Assim, um número maior de conselheiros trabalha na empresa com liderança e superioridade em relação aos outros cargos. Isso pode ser

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justificado pelo fato de o IBGC (2016) recomendar que as organizações devem evitar eleger conselheiros suplentes, uma vez que a responsabilidade destes é indelegável e, também, não estão familiarizados com os problemas e necessidades da organização. Em relação à independência dos conselheiros por meio da variável relação familiar foi possível observar a relação existente entre os membros dos conselhos de administração e outros envolvidos na organização, conforme demonstrado na Tabela 9.

Tabela 9 – Relação familiar

Variável Quantidade Percentual (%)Sem relação familiar 475 86,52Com relação familiar 74 13,48Total 549 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Com base nos dados coletados e expostos na Tabela 9, torna-se evidente que um número reduzido de conselheiros possui relação familiar com pessoas envolvidas na organização, em que 13,48% dos conselheiros possuem relação familiar e 86,52% não possuem nenhum tipo de relação familiar. A partir dessa análise, evidencia-se uma situação favorável para a organização, pois, conforme exposto no estudo de Grillo et al. (2017), quando é identificada a presença familiar na gestão das organizações o impacto é negativo, pois a tempestividade de variações no lucro sofre conflitos, podendo originar problemas de agência. Pode-se, ainda, avaliar a independência do conselho. A Tabela 10 expõe os dados referentes à relação comercial dos conselheiros com a própria organização.

Tabela 10 – Relação comercial

Variável Quantidade Percentual (%)Sem relação comercial 480 87,43Com relação comercial 69 12,57Total 549 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Conforme os dados constantes na Tabela 10, a questão de independência dos conselhos novamente influencia as relações existentes, pois se torna evidente que apenas 12,57% dos conselheiros possuem relação comercial com a empresa, e 87,43% optam por não possuir nenhuma relação comercial que possa influenciar as decisões da organização. No entanto, em outros estudos identificados acerca da variável, como de Brugni (2012), o resultado foi oposto, mostrando que a maioria das empresas possuíam conselheiros com relação comercial com outros membros do mesmo grupo ou com empresas relacionadas.

Na Tabela 11, apurou-se por meio dos dados disponíveis no formulário de referência quantos dos conselheiros possuem relação direta com a empresa, ou seja, além de pertencerem ao conselho de administração, são

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funcionários, presidentes e vice-presidentes da empresa, e, ainda, se o presidente da empresa e o CEO são a mesma pessoa.

Tabela 11 – Relação e atuação do conselheiro

VariávelDescrição

Relação diretaCEO e presidente são a mesma

pessoaSim 109 19,85% 27 4,92%Não 440 80,15% 522 95,08%Total 549 100,00% 549 100,00%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Desta forma, na Tabela 11, nota-se que um número reduzido de conselheiros possui relação direta com a empresa, representando apenas 19,85% dos 549 conselheiros analisados, e apenas 4,92% desses conselheiros são CEOs da organização e ao mesmo tempo presidentes, constatação que foi identificada também nos estudos de Brugni (2012) e Correia, Amaral e Louvet (2014), nos quais a maioria das empresas evita o papel de dualidade de presidente e CEO, fato que pode ser explicado em decorrência das recomendações do IBGC (2016), em que se deve evitar que haja essa concentração de poder, pois isso pode desviar o objetivo da organização.

Mascena, Barakat e Fischmann (2016) constataram em seus estudos que o fato de as funções de CEO e presidente serem executadas pela mesma pessoa pode comprometer o monitoramento da gestão, diminuir os investimentos em auditoria e, em consequência, despertar uma redução de interesse do gestor em exercer um papel ativo no conselho de administração, e, assim, as práticas de governança e os papéis do conselho de administração ficam comprometidos. A forma de indicação dos conselheiros pode ser visualizada na Tabela 12, a qual abrange se a indicação para o conselho de administração ocorreu por meio dos controladores ou dos minoritários.

Tabela 12 – Indicação

Variável Quantidade Percentual (%)Controlador 378 68,85Minoritários 9 1,64Empregados 2 0,37Não informado 160 29,14Total 549 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

De acordo com Tabela 12, a maioria dos membros do conselho de administração foram indicados pelos controladores da organização, cerca de 68,85% dos 549 conselheiros, representando mais da metade dos membros, e apenas 1,64% foram indicados pelos minoritários. Percebe-se, assim, uma significativa influência dos controladores sobre a organização, e isso pode ter como consequência o comprometimento da independência

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do conselho, conforme evidenciado nos estudos de Brugni (2016), em que 75% dos conselheiros foram eleitos pelos controladores. Por meio dos dados coletados, é possível também avaliar a experiência dos conselheiros em outros conselhos e em qual conselho existe maior atuação, conforme demonstrado na Tabela 13.

Tabela 13 – Experiência em outros conselhos

Variável Quantidade Percentual (%)Sim 274 49,91Não 275 50,09Total 549 100,00Em qual conselho?CF 21 3,82CA 214 38,98CA/CF 27 4,92Não informado 12 2,19Total 274 49,91

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Percebe-se que 49,91% possuem experiência em outros conselhos de administração ou conselhos fiscais, e 50,09% não possuem experiência na atuação como conselheiros. Identifica-se que a maioria dos conselheiros que possui experiência já atuou como conselheira de administração (38,98%), conselheiros fiscais (3,83%) e ambos os conselhos (4,92%). Nos estudos de Brugni (2016), verificou-se que 22% dos membros dos conselhos de administração não atuam em nenhum conselho, e 31,58% participam em dois conselhos simultaneamente.

Conforme as conclusões dos estudos de Dani et al. (2017), a experiência dos conselheiros gera resultado positivo em relação ao desempenho da empresa. Na Tabela 14, são apresentados os dados sobre se os conselheiros de administração realizaram algum curso ministrado pelo IBGC, FDC ou Harvard para treinamento de executivos.

Tabela 14 – Curso de treinamento de executivos

Variável Quantidade Percentual (%)Sim 40 7,29Não 509 92,71Total 549 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Apenas 7,29% dos conselheiros realizaram algum curso para treinamento de executivos, e 92,71% não realizaram ou não divulgaram essa informação, conforme demonstrado na Tabela 14. Nos estudos de Brugni (2012), o treinamento dos executivos é um fator de influência para o bom desempenho dos conselhos de administração. Na Tabela 15, é identificada a relação profissional que o conselheiro já manteve com a organização em que

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atua, evidenciando se ele já atuou como colaborador ou, então, em outro conselho da empresa.

Tabela 15 – Atuação como colaborador e como conselheiro

Descrição Variável Quantidade Percentual (%)

Já atuou como colaborador da empresa

Sim 26 4,74Não 523 95,26Total 549 100,00

Já atuou em outro conselho da empresa

Sim 3 0,55Não 546 99,45Total 549 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Analisando a Tabela 15, é notável que as organizações optam por conselheiros que não tenham vínculo, já que apenas 4,74% destes já atuaram como colaboradores da organização, e 0,55%, em outro conselho. Dessa forma, as organizações passam a seguir as recomendações do IBGC (2016), prezando pela independência dos conselhos, já que em estudos como de Dutra e Saito (2002), verificou-se que 12% dos conselheiros já foram ex-funcionários e, no entendimento desses autores, conselhos compostos por membros internos, que possuam relação com a empresa comprometem o monitoramento das ações. Assim, percebe-se que o número de conselheiros afiliados diminui na presente pesquisa em comparação a outros estudos. Entre as 73 empresas que compõem a amostra, foi possível também identificar a política de remuneração, conforme demonstrado na Tabela 16.

Tabela 16 – Remuneração variável

Remuneração variável Quantidade Percentual (%)Sim 14 19,18Não 41 56,16Não informado 18 24,66Total 73 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

A partir dos dados apresentados na Tabela 16, identificou-se que a política de remuneração das empresas compreende remuneração fixa e variável, entretanto apenas 19,18% das empresas remuneram seus administrados de forma variável, 56,16%, de forma fixa, e 24,66% não apresentaram essa informação.

Segundo estudos de Oliva e Albuquerque (2007), as empresas evitam divulgar aspectos relacionados à remuneração dos conselheiros. A prática de remuneração varia de acordo com as políticas estratégicas de cada organização, e, em comparação com esse estudo, confirma-se que a prática de remuneração variável ainda é a menos aplicada nas organizações.

Brugni (2016) realizou estudos em relação à política de remuneração

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das empresas, e os resultados encontrados também expressam que as empresas optam pela remuneração fixa: 68% da remuneração é fixa e 32%, variável. É apontado pelo autor como justificativa para tal situação que em muitas situações os conselheiros que são remunerados por pagamento variável, por meio de lucro e resultado, podem tomar decisões em benefício próprio para aumentar sua reputação, adiando notícias que possam vir a diminuir seu conceito.

De acordo com as análises das variáveis, tem-se a possibilidade de identificar o perfil dos membros dos conselhos de administração, caracterizando as qualificações dos conselheiros, suas experiências e relação com a organização, a fim de possibilitar reflexões de como essas características podem influenciar e refletir na execução das estratégias elaboradas pelos conselheiros e no desempenho da organização.

5 Considerações finais

O estudo teve como objetivo identificar o perfil dos membros dos conselhos de administração das empresas brasileiras dos setores de bens industriais e consumo cíclico. A composição dos conselhos de administração é um aspecto que interfere diretamente nas decisões estratégicas executadas por parte dos administradores que refletem no desempenho e no futuro da organização.

Buscando atingir o objetivo do estudo, foram analisadas as variáveis envolvendo as características pessoais dos conselheiros, como idade, gênero, formação, experiência e participação na organização. A partir dos resultados obtidos, a variável gênero apresentou relevante discrepância, pois a atuação masculina nos conselhos ainda é bem superior em relação à feminina, e a busca por conselheiros com formação acadêmica também é significativa, uma vez que as empresas buscam seguir recomendações do IBGC e optam por conselheiros que apresentem conhecimentos específicos e experiência profissional.

Em relação à independência dos conselhos, essa variável é analisada considerando a relação comercial e familiar e a dualidade do papel do CEO, que se mostrou positiva nas 73 empresas analisadas, tendo em vista que um número reduzido de conselheiros apresentou essas características, e, dessa forma, os problemas de agência são reduzidos, e os conselheiros passam a atuar visando ao benefício de todos os acionistas e não apenas dos majoritários.

No que se refere à remuneração desses conselheiros, a maioria das empresas adota políticas de remuneração fixa, e esse fato pode estar presente para que se evite nas organizações problemas relacionados a benefício próprio e a desvio da real função dos conselheiros, já que a remuneração variável visa ao pagamento mediante resultados, e isso pode impulsionar os conselheiros a agir de acordo com seus interesses. Como limitações para o estudo, verificou-se que algumas das organizações não divulgam determinados dados ou, então, alguns são divulgados de forma

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distorcida, e, dessa forma, essas questões podem dificultar a análise das informações, podendo propiciar resultados opostos aos levantados caso todas as organizações divulgassem de forma coerente todos os dados necessários.

Esta pesquisa contribuiu para a literatura, acrescentando conhecimento aos estudos já realizados, servindo como instrumento de apoio para o desenvolvimento de novos estudos e análises relacionadas ao assunto. Acerca da importância da temática, novos estudos podem ser realizados avaliando outras variáveis, correlacionando-as ao desempenho da organização, verificando se as estratégicas realizadas pelos conselheiros estão sendo eficazes e desenvolvendo análises em comparação à atuação das mulheres em relação aos homens no desempenho das organizações.

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O impacto das alterações do Simples Nacional introduzidas pela Lei

Complementar nº 155/2016 na carga tributária das empresas

Tailise Ferreira Fagundes1 17

Daniel Wartchow2 18

RESUMO

O Simples Nacional é uma forma simplificada de tributação para microempresas e empresas de pequeno porte, como também para o microempreendedor individual. Neste regime de tributação, a apuração dos tributos ocorre com base na receita bruta da empresa, sendo um regime unificado de arrecadação. A partir de 2018, com as mudanças trazidas pela Lei Complementar 155/2016, a forma de cálculo do Simples Nacional sofreu alterações. Assim, o objetivo do presente estudo é identificar as possíveis alterações na carga tributária das empresas da amostra, todas optantes pelo Simples Nacional, devido às alterações trazidas pela Lei complementar 155/2016. Os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa caracterizam-se como exploratória e descritiva, tendo abordagem quantitativa. Quanto aos procedimentos, utilizou-se de pesquisa documental. A amostra da pesquisa contemplou dez empresas prestadoras de serviço classificadas no Anexo III da Lei Complementar 123/2006 e quatro empresas de comércio de materiais de construção pertencentes ao Anexo I da referida lei, todas clientes de um escritório de contabilidade de Santa Cruz do Sul – RS. O período analisado foi o ano de 2017 e o primeiro trimestre de 2018. Foi apurado o Simples Nacional de cada empresa pela sistemática do ano de 2017 e pela sistemática vigente a partir de janeiro de 2018, para posterior comparação da carga tributária. Os resultados apontaram uma diminuição da carga tributária na maioria das empresas da amostra, ocorrendo aumento do peso dos tributos apenas nas empresas com faturamento mais elevado.

Palavras-chave: Simples Nacional. Lei Complementar 155/2016. Carga tributária.

1 Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da UNISC. [email protected] 2 Professor do Curso de Ciências Contábeis da UNISC. Mestre em Ciências Contábeis pela UNISINOS. [email protected]

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1 Introdução

Atualmente, a carga tributária brasileira que incide sobre as empresas é bastante alta, sendo assim essencial que as empresas planejem seus gastos para alcançar seu desejado lucro. Conforme Cardoso et al (2015), o gasto com tributos consome a maior parcela do valor adicionado produzido pelas empresas. Seu estudo encontrou que 31% do valor adicionado produzido pelas empresas em 2013 foi destinado aos governos federal, estadual e municipal. Tinoco et al (2011) encontraram um percentual de carga tributária ainda maior no período de 2005 a 2007, o qual chegou a 39,67%.

Em 2016, a carga tributária, apesar do pequeno acréscimo verificado, manteve a tendência à estabilidade apresentada nos últimos anos. Embora, tenha se verificado aumento de alíquotas de alguns tributos, grande parte das desonerações instituídas nos anos anteriores continuaram a surtir efeitos em 2015. A arrecadação total de cada ano também é influenciada pelas receitas de parcelamentos, que se referem a dívidas de exercícios anteriores. A Figura 1 apresenta a série histórica da carga tributária dos últimos 11 anos, com e sem as receitas oriundas dos parcelamentos (RFB, 2017).

Figura 1 – Evolução da carga tributária do Brasil

Fonte: Receita Federal do Brasil – RFB (2017).

As diferenças entre os percentuais encontradas por Tinoco et al (2011) e o relatório divulgado pela Receita Federal do Brasil ocorre devido a diferenças na amostra e fontes de dados. A amostra do estudo de Tinoco et al (2011) é composta por 40 empresas brasileiras e utilizou como fonte de dados as Demonstrações de Valor Adicionado (DVA). Já o estudo divulgado pela Receita Federal engloba todos os contribuintes do Brasil, e utiliza como denominador o Produto Interno Bruto (PIB), cujo método de cálculo é pouco diferente do cálculo do valor adicionado.

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Visto o impacto da carga tributária no resultado das empresas, fica evidente a importância do planejamento tributário, onde visa a diminuir o pagamento de tributos (impostos, taxas e contribuições), os quais representa a maior parcela de custos das empresas. A opção pelo Simples Nacional geralmente reduz a carga tributária da empresa, porém é prudente realizar os cálculos por todos os regimes de tributação possíveis para confirmar tal hipótese.

Em 2016, o Simples Nacional sofreu grandes mudanças por meio da Lei Complementar 155, sendo que estas alterações têm vigência apenas a partir de 01 de janeiro de 2018. Entre as alterações, está a mudança das tabelas de alíquotas, as quais passaram a ter menos faixas e a apresentar alíquotas nominais. Assim, chega-se ao seguinte problema de pesquisa: as alterações introduzidas pela Lei Complementar 155/2016 alteraram a carga tributária das empresas da amostra enquadradas no Simples Nacional?

O objetivo deste estudo é identificar as possíveis alterações na carga tributária das empresas optantes do Simples Nacional devido às alterações trazidas pela Lei Complementar 155/2016. Para isso, foi realizada uma análise comparativa do tributo apurado utilizando-se as regras de cálculo vigentes em 2017 comparando com as vigentes a partir de 2018. Entender as mudanças e os impactos gerados pela nova legislação para as empresas optantes pelo Simples Nacional é muito importante devido ao elevado número de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte que adotam esse regime, as quais têm importante função social.

O presente artigo está dividido em cinco capítulos, sendo o primeiro a introdução. O segundo capítulo, o referencial teórico, apresenta o Simples Nacional e as alterações vigentes a partir do ano de 2018. O terceiro capítulo descreve os procedimentos metodológicos utilizados para a realização do estudo. Na sequência, no quarto capítulo, são exibidas a análise e a discussão dos resultados. Após, vem a conclusão do presente estudo. Ao final do artigo, as referências.

2 Referencial teórico

Este capítulo apresenta o Simples Nacional e suas principais mudanças que entraram em vigor no ano de 2018 e serviram de base para fundamentar o presente estudo.

2.1 Simples Nacional

Conforme Oliveira et al (2013), o Simples Nacional é um regime unificado de arrecadação, onde no documento de arrecadação do imposto será recolhido ISS, INSS, PIS/Pasep, COFINS, IRPJ, IPI, CSLL, ICMS e Contribuição Patronal Previdenciária (CPP). Podem optar por este regime as microempresas e empresas de pequeno porte, as quais podem ser uma sociedade empresária, sociedade simples, empresa individual de responsabilidade limitada, e o

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empresário que, de acordo com o art. 966 da Lei n° 10406, de 10 de janeiro de 2002, exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens e serviços.

As Microempresas (ME), conforme a Lei 123/2006, podem atingir um limite de receita bruta no ano-calendário igual ou inferior a R$ 360.000,00. Já para se enquadrar como Empresas de Pequeno Porte (EPP), a empresa deve ter receita bruta superior a R$ 360.000,00 e inferior a R$ 4.800.000,00 no ano-calendário.

Quando ocorrer a ultrapassagem de limite de faturamento, pode a empresa ser excluída do Simples Nacional. Caso ultrapassar menos que 20% do limite, a empresa pode fazer a escolha no ano seguinte. Já se a empresa ultrapassar mais de 20% o limite, será excluída no mês seguinte à ultrapassagem de limite. Sendo assim, a empresa deverá optar pela tributação do Lucro Presumido ou Lucro Real.

Segundo § 4º do artigo 3° da Lei 123/2006, não poderá se beneficiar do Simples Nacional, sendo impedidos de optar por esse regime de tributação, as empresas:

I - de cujo capital participe outra pessoa jurídica;II - que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de

pessoa jurídica com sede no exterior;III - de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como

empresário ou seja sócia de outra empresa, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de faturamento;

IV - cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de outra empresa não beneficiada por esta Lei Complementar.

V - cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de faturamento;

VI - constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo;VII - que participe do capital de outra pessoa jurídica;VIII - que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de

desenvolvimento, de caixa econômica, de sociedade de crédito, financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de distribuidora de títulos, valores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros privados e de capitalização ou de previdência complementar;

IX - resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra forma de desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5 (cinco) anos-calendário anteriores;

X - constituída sob a forma de sociedade por ações;XI - cujos titulares ou sócios guardem, cumulativamente, com o

contratante do serviço, relação de pessoalidade, subordinação e habitualidade.Conforme artigo 17 da Lei Complementar 123/2006, não poderão

recolher os impostos e contribuições na forma do Simples Nacional a microempresa ou a empresa de pequeno porte:

I - que explore atividade de prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de

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contas a pagar e a receber, gerenciamento de ativos (asset management), compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring);

II - que tenha sócio domiciliado no exterior;III - de cujo capital participe entidade da administração pública, direta

ou indireta, federal, estadual ou municipal;V - que possua débito com o Instituto Nacional do Seguro Social

- INSS, ou com as Fazendas Públicas Federal, Estadual ou Municipal, cuja exigibilidade não esteja suspensa;

VI - que preste serviço de transporte intermunicipal e interestadual de passageiros, exceto quando na modalidade fluvial ou quando possuir características de transporte urbano ou metropolitano ou realizar-se sob fretamento contínuo em área metropolitana para o transporte de estudantes ou trabalhadores;

VII - que seja geradora, transmissora, distribuidora ou comercializadora de energia elétrica;

VIII - que exerça atividade de importação ou fabricação de automóveis e motocicletas;

IX - que exerça atividade de importação de combustíveis;X - que exerça atividade de produção ou venda no atacado de cigarros,

cigarrilhas, charutos, filtros para cigarros, armas de fogo, munições e pólvoras, explosivos e detonantes; bebidas não alcoólicas; bebidas alcoólicas, exceto aquelas produzidas ou vendidas no atacado por: micro e pequenas cervejarias, micro e pequenas vinícolas; produtores de licores, micro e pequenas destilarias;

XII - que realize cessão ou locação de mão de obra;XIV - que se dedique ao loteamento e à incorporação de imóveis;XV - que realize atividade de locação de imóveis próprios.A opção pelo Simples Nacional, de acordo com Oliveira et al (2013),

faz-se da seguinte forma: primeiro faz-se a inscrição no CNPJ, na inscrição estadual e municipal; após, faz-se a opção no site do Simples Nacional; a Receita Federal do Brasil envia ao estado e município a verificação das informações prestadas pela empresa; após o estado e município verificar as informações, é comunicado à Receita Federal a validade ou não das informações; sendo consideradas válidas, ocorre o deferimento da opção pelo Simples Nacional.

Para Oliveira et al (2013, p. 386), a “base de cálculo para determinação do valor devido mensamente pela ME ou EPP optante pelo Simples Nacional será a receita bruta total mensal auferida (Regime de Competência) ou recebida (Regime de Caixa), conforme opção feita pelo contribuinte”.

A alíquota do Simples é estabelecida pela Lei Complementar 123/2006, onde encontram-se as tabelas de alíquotas distribuídas em cinco anexos, sendo eles: Anexo I – Comércio, Anexo II – Indústria, Anexo III – Prestação de Serviços, Anexo IV – Serviços (de forma mais específica obras de engenharia) e Anexo V – Serviços previstos nos incisos XII a XXI do §2° do artigo 15.

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2.2 Alterações do Simples Nacional vigentes a partir de 2018

Conforme a lei complementar nº 123/2006, artigo 3º, alterado pela lei complementar 155/2016, podem optar pelo Simples Nacional a partir de 2018 empresas com faturamento de até R$ 4,8 milhões. Até 2017, este limite de faturamento era de R$ 3,6 milhões. Também foi alterado o limite para faturamento do MEI, o qual pode faturar até R$ 81 mil a partir de 2018, sendo que antes este limite era de R$ 60 mil.

Para determinar a alíquota do Simples Nacional a ser aplicada, a empresa irá considerar a receita auferida nos últimos 12 meses anteriores ao período ao qual se deseja fazer a apuração e fazer a consulta no Anexo de sua atividade. Assim, obterá a alíquota nominal do Simples Nacional. Para obtenção da alíquota efetiva a ser aplicada sobre a receita do mês, deve-se utilizar da fórmula prevista no artigo 18 §1°A, descrita a seguir:

Fórmula: RBT12xAliq-PD RBT12Onde:- RBT12: receita bruta acumulada nos doze meses anteriores ao

período de apuração;- Aliq: alíquota nominal constante dos Anexos I a V desta Lei

Complementar;- PD: parcela a deduzir constante dos Anexos I a V desta Lei

Complementar. Apurada a alíquota efetiva, a mesma é aplicada sobre a receita do mês

para obtenção do Simples Nacional devido. Antes de 2018, não havia o cálculo da alíquota efetiva, sendo utilizadas diretamente as alíquotas constantes nos Anexos da Lei Complementar 123/2006. O Quadro 1 apresenta uma comparação da apuração do Simples Nacional para uma empresa prestadora de serviço enquadrado no Anexo III pela sistemática vigente até 2017 e pela atual sistemática.

Quadro 1 – Simulação Simples Nacional 2017 versus 2018

2017 2018

Faturamento últimos 12 meses R$ 192.915,49 Faturamento últimos 12

meses R$ 192.915,49

Receita Bruta Auferida no mês R$ 16.588,14 Receita Bruta Auferida no

mês R$ 16.588,14

Alíquota correspondente à faixa 8,21% Alíquota Nominal 11,20%

Parcela a deduzir 9.360,00

Alíquota Efetiva 6,35%

Valor do Simples a pa-gar R$ 1.361,89 Valor do Simples a pa-

gar R$ 1.053,04

Diferença:1,86% ou R$ 308,85.

Fonte: Elaborado pela autora com base na LC 123/2006.

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Pode-se observar que no caso apresentado no Quadro 1 a empresa seria beneficiada pela aplicação da Alíquota que está em vigor a partir do ano de 2018. O Quadro 2 apresenta a situação de outra empresa prestadora de serviço, também do Anexo III.

Quadro 2 – Simulação Simples Nacional 2017 versus 2018

2017 2018

Faturamento últimos 12 meses

R$ 2.444.314,63 Faturamento últimos 12 meses

R$2.444.314,63

Receita Bruta Auferida no mês

R$ 173.570,19 Receita Bruta Auferida no mês

R$ 173.570,19

Alíquota correspondente à faixa

10,35% Alíquota Nominal 21%

Parcela a deduzir 125.640,00

Alíquota Efetiva 10,55%

Valor do Simples a pagar

R$ 17.964,51 Valor do Simples apagar

R$ 18.306,17

Diferença: 0,20% ou R$ 341,65.

Fonte: Elaborado pela autora com base na LC 123/2006.

No caso apresentado no Quadro 2, a empresa estará prejudicada com as alíquotas vigentes a partir de 2018, fazendo um pagamento maior de Simples Nacional. Como pode-se notar, não há um efeito uniforme para as empresas em relação à apuração do Simples Nacional a partir de 2018.

Outra inovação trazida pela Lei Complementar 155/2016 é o investidor-anjo. Conforme Silva et al (2017) o investidor-anjo:

I - não será considerado sócio nem terá direito a gerência ou voto na administração da empresa;

II – não responderá por qualquer dívida da empresa, inclusive em recuperação judicial, não se aplicando a ele o art. 50 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil;

III – será remunerado por seus aportes, nos termos do contrato de participação, pelo prazo máximo de cinco anos.

Para Silva et al (2017, p. 82), o “investidor-anjo aplica o dinheiro em determinada empresa e assim auxilia no fomento e somente poderá exercer o direito de resgate depois de decorridos no mínimo dois anos do aporte de capital, ou prazo superior estabelecido no contrato de participação”.

De acordo com a nova regra do Simples Nacional, a tributação de algumas atividades de serviços dependerá da relação entre a folha de salários e a receita bruta dos 12 meses anteriores ao período de apuração (§5ºJ, §5ºK e §5ºM do art. 18 da LC 123/2006). Considera-se como folha de salários os salários, incluídos encargos, pró-labore, contribuição patronal previdenciária e FGTS (§ 24 do art. 18 da LC 123/2006). Quando o resultado da divisão da folha de salários pelo faturamento dos últimos 12 meses for igual ou superior a 28%, a tributação destes serviços será na forma do Anexo III da Lei Complementar 123/2006. Já quando o resultado for inferior a 28%, a tributação será na forma do Anexo V da legislação mencionada.

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2.3 Simples Nacional Gaúcho

Em 27 de dezembro de 2017, o governador do Estado do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, sancionou a Lei nº 15.057, que alterou a Lei n.º 13.036, de 19 de setembro de 2008. Tal legislação instituiu benefícios aplicáveis às empresas estabelecidas no Estado e enquadradas no Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte – Simples Nacional.

A referida norma, buscando adequar a legislação tributária do Rio Grande do Sul às novas regras do Simples Nacional, trouxe alterações na tabela de benefícios conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 – Simples Gaúcho

Receita bruta acumulada nos 12 meses anteriores (em R$) Redução do ICMS

De 360.000,01 até 720.000,00 40%

De 720.000,01 até 1.080.000,00 29%

De 1.080.000,01 até 1.440.000,00 24%

De 1.440.000,01 até 1.800.000,00 19%

De 1.800.000,01 até 2.700.000,00 18%

De 2.700.000,01 até 3.240.000,00 10%

De 3.240.000,01 até 3.420.000,00 6%

De 3.420.000,01 até 3.600.000,00 3%

Fonte: Lei Estadual 15.057/2017.

As empresas localizadas no estado do Rio Grande do Sul e enquadradas nos limites de faturamento apresentados na Tabela 1 possuem um percentual de redução na sua base de cálculo do ICMS.

3 Procedimentos metodológicos

O presente trabalho se caracteriza como um estudo descritivo, exploratório, quantitativo e documental. É classificado como descritivo pois, conforme Cervo, Belvian e Silva (2006), a pesquisa descritiva é a coleta de dados, onde se observa, registra, analisa e correlaciona aos fatos. Nela se identifica formas, funções e conteúdo, é um estudo de descrição das características da situação pesquisada. Já a pesquisa exploratória, para Cervo, Belvian e Silva (2006), não requer a elaboração de hipóteses, mas tem por seu principal objetivo familiarizar-se com o fenômeno e assim obter uma nova percepção dele e descobrir novas ideias.

Em relação à abordagem do tema, a pesquisa classifica-se em quantitativa, a qual é, conforme Beuren (2004), uma abordagem que se utiliza de métodos estatísticos na coleta e no tratamento dos dados.

Quanto aos procedimentos, a presente pesquisa é documental. Para

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Raupp e Beuren (2004), os procedimentos metodológicos estão delineados a fim de articular planos e estruturas para obter respostas para os problemas de estudo. Para a contabilidade, não há um tipo específico de delineamento, mas há pesquisas que auxiliam na investigação de problemas desta área do conhecimento. Conforme Cervo, Belvian e Silva (2006), a pesquisa documental é a investigação de documentos, fazendo uma comparação entre a realidade presente com o passado da pesquisa histórica. Ocorre a coleta de dados, sendo que neste caso foram utilizados os Documentos de Arrecadação do Simples (DAS).

Para a realização do estudo, foram utilizadas 10 empresas de prestação de serviço, todas pertencentes ao Anexo III do Simples Nacional, e 4 empresas comerciais do ramo de materiais de construção. Os documentos para a realização do estudo foram cedidos por um escritório contábil de Santa Cruz do Sul, RS, sendo todas empresas com sede na cidade de Santa Cruz do Sul. O Quadro 3 apresenta os dados das 14 empresas da amostra.

Quadro 3 – Amostra do estudo

Empresa Faturamento 2017 (R$) Faturamento 2018 (R$ – jan. a mar.)

Empresa 1 229.766,04 57.124,41

Empresa 2 397.761,53 107.267,15

Empresa 3 129.391,13 53.708,39

Empresa 4 136.488,49 34.484,00

Empresa 5 870.877,92 230.540,93

Empresa 6 383.357,31 101.030,49

Empresa 7 2.771.929,85 742.279,70

Empresa 8 165.502,35 32.537,50

Empresa 9 338.004,00 102.150,00

Empresa 10 198.362,05 55.584,42

Empresa 11 381.154,05 132.481,81

Empresa 12 891.152,32 249.856,60

Empresa 13 1.943.097,11 378.725,72

Empresa 14 2.939.295,68 809.891,35

Fonte: dados da pesquisa.

Após levantamento de todos dados necessários, foram apurados os valores de Simples Nacional referentes a 2017 observando as regras vigentes a partir de 2018. Assim, foi possível verificar a diferença de valor do Simples Nacional apurado pelas duas regras. Após, calculou-se o percentual deste aumento ou diminuição do imposto apurado. Por fim, foi realizada uma análise através da correlação de Pearson, buscando verificar se há relação entre o aumento/diminuição da carga tributária provocada pela alteração trazida pela Lei Complementar 155/2016 e o faturamento da empresa.

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4 Resultados

Levantada a carga tributária suportada pelas empresas da amostra no ano de 2017, calculou-se também a carga tributária que estas empresas teriam pago caso as novas regras do Simples Nacional já estivessem em vigor naquele ano. Os Quadros 4 a 8 apresentam as alíquotas utilizadas em 2017, chamadas no presente estudo de R1, e as alíquotas com bases nas regras vigentes a partir de 2018, denominadas de R2.

Quadro 4 – Carga tributária do Simples Nacional nas empresas prestadoras de serviço (continua)

MÊSEMPRESA 1 EMPRESA 2 EMPRESA 5

R1* R2** DIF. R1* R2** DIF. R1* R2** DIF.

JAN 8,21% 6,35% 1,86 5,79% 6,19% (0,40) 11,40% 12,00% (0,60)

FEV 8,21% 6,40% 1,81 7,36% 6,29% 1,07 11,40% 11,96% (0,56)

MAR 8,21% 6,45% 1,76 5,78% 6,18% (0,40) 11,40% 11,99% (0,59)

ABR 8,21% 6,50% 1,71 7,60% 6,55% 1,05 11,40% 11,83% (0,43)

MAIO 8,21% 6,49% 1,72 7,62% 6,59% 1,04 12,42% 12,05% 0,37

JUN 8,21% 6,50% 1,71 7,17% 6,27% 0,90 11,40% 11,76% (0,36)

JUL 8,21% 6,52% 1,69 7,31% 6,38% 0,93 12,42% 12,20% 0,22

AGO 8,21% 6,48% 1,73 7,39% 6,50% 0,89 12,42% 11,57% (0,17)

SET 8,21% 6,55% 1,66 7,33% 6,48% 0,85 11,40% 11,71% (0,31)

OUT 8,21% 6,74% 1,47 7,28% 6,48% 0,80 11,40% 11,48% (0,08)

NOV 8,21% 6,92% 1,29 7,18% 6,46% 0,73 11,40% 11,63% (0,23)

DEZ 8,21% 7,03% 1,18 7,69% 6,92% 0,77 11,40% 11,66% (0,26)

2017 1,61 0,67 (0,29)

JAN 8,21% 7,13% 1,08 7,45% 6,70% 0,75 11,40% 11,91% (0,51)

FEV 8,21% 7,17% 1,04 7,16% 6,56% 0,61 11,40% 11,80% (0,40)

MAR 8,21% 7,21% 1,00 7,38% 6,82% 0,56 11,40% 12,04% (0,64)

1º TRIM. 2018

1,04 0,65 (0,52)

*R1 = Regra de cálculo vigente até Dez/2017. **R2 = Regra de cálculo vigente a partir de Jan/2018.Fonte: dados da pesquisa.

As empresas 3 e 4 se encontram na faixa mínima de faturamento, sendo que nesta faixa não houve alterações na forma de apuração do Simples Nacional nem na alíquota. Por tal motivo, não são apresentadas no Quadro 4. Já nas empresas com faturamento mais alto, há oscilação nos valores de Simples Nacional conforme percentuais apresentados nos Quadros 4 a 8.

A coluna DIF apresentada nos Quadros 4 a 8 refere-se à diferença entre os percentuais de R1 e R2, em pontos percentuais. Ou seja, apresenta a redução ou aumento em pontos percentuais da carga tributária. Quando houve redução da carga tributária, DIF é positivo e quando houve aumento, DIF tem sinal negativo.

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Como se pode observar no Quadro 4, as empresas 1 e 2 teriam tido uma redução de 1,61 e 0,67 ponto percentual, respectivamente, na carga tributária de 2017 caso as regras incluídas pela Lei Complementar 155 já estivessem em vigor naquele ano. Já a empresa 5 teria tido uma carga tributária maior em 0,29 ponto percentual.

No primeiro trimestre de 2018, a redução da carga tributária da empresa 1 ficou em 1,04 ponto percentual, enquanto da empresa 2 se manteve semelhante a 2017. A carga tributária da empresa 5 aumentou mais ainda no primeiro trimestre de 2018: 0,52 ponto percentual.

Quadro 5 – Carga tributária do Simples Nacional nas empresas prestadoras de serviços (continuação)

MÊSEMPRESA 6 EMPRESA 7 EMPRESA 8

R1* R2** DIF. R1* R2** DIF. R1* R2** DIF.

JAN 8,21% 8,36% (0,15) 10,35% 10,55% (0,20) 8,21% 6,05% 2,16

FEV 8,21% 8,40% (0,19) 10,35% 10,55% (0,20) 8,21% 6,01% 2,20

MAR 8,21% 8,46% (0,25) 10,35% 10,58% (0,23) 6,00% 6,00% -

ABR 8,21% 8,50% (0,29) 10,35% 10,60% (0,25) 6,00% 6,00% -

MAIO 8,21% 8,54% (0,33) 10,35% 10,63% (0,28) 6,00% 6,00% -

JUN 8,21% 8,58% (0,37) 10,35% 10,60% (0,25) 6,00% 6,00% -

JUL 10,26% 8,63% 1,63 10,48% 10,66% (0,18) 6,00% 6,00% -

AGO 10,26% 8,69% 1,57 10,48% 10,67% (0,19) 6,00% 6,00% -

SET 10,26% 8,74% 1,52 10,48% 10,70% (0,22) 6,00% 6,00% -

OUT 10,26% 8,80% 1,46 10,48% 10,73% (0,25) 6,00% 6,00% -

NOV 10,26% 8,82% 1,44 10,48% 10,78% (0,30) 6,00% 6,00% -

DEZ 10,26% 8,85% 1,41 10,48% 10,86% (0,38) 6,00% 6,00% -

2017 0,63 (0,25) 0,24

JAN 10,26% 8,90% 1,36 11,85% 10,95% 0,90 6,00% 6,00% -

FEV 10,26% 8,94% 1,32 11,85% 11,01% 0,84 6,00% 6,00% -

MAR 10,26% 8,96% 1,30 11,85% 11,09% 0,76 6,00% 6,00% -

1º TRIM. 2018

1,33 0,83 0,00

*R1 = Regra de cálculo vigente até Dez/2017. **R2 = Regra de cálculo vigente a partir de Jan/2018.Fonte: dados da pesquisa.

Conforme visto no Quadro 5, a empresa 6 teria tido uma redução de 0,63 ponto percentual na carga tributária de 2017 caso as regras incluídas pela Lei Complementar 155 já estivessem em vigor naquele ano. No primeiro trimestre de 2018, a redução da carga tributária da empresa 6 ficou em 1,33 ponto percentual. Já a empresa 7 teria tido um aumento de 0,25 ponto percentual na sua carga tributária de 2017, sendo que em 2018 teve uma diminuição de 0,83 ponto percentual.

A empresa 8 apresentou diferença na carga tributária apenas nos meses de janeiro e fevereiro de 2017, pois após isso voltou para a faixa mínima de faturamento, assim não apresentando alteração no método de cálculo do

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imposto. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2017, foi obtida uma redução de 2,16 e 2,20 pontos percentuais, respectivamente. No primeiro trimestre de 2018, manteve-se na faixa mínima de faturamento, não apresentando diferença em seu cálculo de tributação.

Quadro 6 – Carga tributária do Simples Nacional nas empresas prestadoras de serviços (final)

EMPRESA 9 EMPRESA 10

R1* R2** DIF. R1* R2** DIF.

JAN 12,42% 12,08% 0,34 8,21% 6,55% 1,66

FEV 11,40% 11,83% (0,43) 8,21% 6,62% 1,59

MAR 11,40% 11,21% 0,19 8,21% 6,54% 1,67

ABR 11,31% 10,99% 0,32 8,21% 6,62% 1,59

MAIO 11,31% 10,91% 0,40 8,21% 6,53% 1,68

JUN 11,31% 10,80% 0,51 8,21% 6,53% 1,68

JUL 11,31% 10,72% 0,59 8,21% 6,45% 1,76

AGO 11,31% 10,58% 0,73 8,21% 6,52% 1,69

SET 11,31% 10,35% 0,96 8,21% 6,65% 1,56

OUT 10,26% 10,14% 0,12 8,21% 6,63% 1,58

NOV 10,26% 9,73% 0,53 8,21% 6,53% 1,68

DEZ 8,21% 8,56% (0,35) 8,21% 6,54% 1,67

2017 0,39 1,65

JAN 8,21% 8,43% 0,22 8,21% 6,48% 1,73

FEV 10,26% 8,67% 1,59 8,21% 6,60% 1,61

MAR 10,26% 9,02% 1,24 8,21% 6,62% 1,59

1º TRIM. 2018

0,75 1,65

*R1 = Regra de cálculo vigente até Dez/2017. **R2 = Regra de cálculo vigente a partir de Jan/2018.Fonte: dados da pesquisa.

Como se pode notar no Quadro 6, as empresas 9 e 10 apresentariam uma redução de 0,39 e 1,65 ponto percentual, respectivamente, na carga tributária de 2017 com as novas regras do Simples Nacional. No primeiro trimestre de 2018, a redução da carga tributária da empresa 9 ficou em 0,75 ponto percentual, enquanto da empresa 10 manteve a redução de 1,65 ponto percentual.

Dando continuidade à mostra dos resultados do estudo, passa-se à apresentação das empresas de comércio de materiais de construção, nos quadros 7 e 8.

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Quadro 7 – Carga tributária do Simples Nacional nas empresas Comércio de materiais de construção (continua)

MÊSEMPRESA 11 EMPRESA 12 EMPRESA 13

R1* R2** DIF. R1* R2** DIF. R1* R2** DIF.

JAN 2,75% 2,64% 0,11 4,90% 4,97% (0,07) 6,97% 6,84% 0,12

FEV 2,75% 2,64% 0,11 4,93% 4,98% (0,06) 7,12% 7,04% 0,08

MAR 3,61% 2,74% 0,87 4,95% 5,00% (0,04) 7,01% 6,87% 0,15

ABR 3,61% 2,96% 0,65 4,87% 4,90% (0,03) 7,17% 7,05% 0,12

MAIO 3,61% 3,10% 0,51 4,99% 5,05% (0,06) 7,17% 7,05% 0,12

JUN 3,61% 3,27% 0,34 5,47% 5,10% 0,37 7,06% 6,95% 0,10

JUL 3,61% 3,37% 0,24 5,43% 5,17% 0,27 7,13% 7,03% 0,10

AGO 3,61% 3,44% 0,17 5,42% 5,30% 0,12 7,13% 7,04% 0,09

SET 3,61% 3,54% 0,07 5,53% 5,51% 0,02 7,04% 6,95% 0,08

OUT 3,61% 3,65% (0,04) 5,52% 5,57% (0,06) 7,10% 7,03% 0,06

NOV 3,61% 3,71% (0,10) 5,61% 5,84% (0,23) 7,11% 7,07% 0,05

DEZ 4,51% 3,82% 0,69 5,70% 5,97% (0,27) 7,00% 6,95% 0,05

2017 0,28 0,01 0,09

JAN 4,51% 3,90% 0,61 5,41% 5,85% (0,44) 7,14% 7,08% 0,06

FEV 4,51% 3,81% 0,70 6,23% 6,28% (0,05) 7,16% 7,03% 0,13

MAR 4,51% 3,73% 0,78 6,22% 6,31% (0,09) 7,25% 7,12% 0,13

1º TRIM. 2018

0,71 (0,23) 0,10

*R1 = Regra de cálculo vigente até Dez/2017. **R2 = Regra de cálculo vigente a partir de Jan/2018.Fonte: dados da pesquisa.

São apresentados nos Quadros 7 e 8 as cargas tributárias das empresas 11,12, 13 e 14, todas de comércio de materiais de construção, com base nas regras vigentes até 2017 e a partir de janeiro de 2018. Para os referidos cálculos foi feita a segregação das receitas em receita tributada de ICMS e receita com substituição tributária de ICMS, conforme a faixa de tributação da empresa. Para o cálculo da carga tributária de 2018, também foi utilizada a tabela do Simples Gaúcho, a qual sofreu alterações a partir de janeiro de 2018.

Conforme se pode observar em alguns casos, a diferença não é de grande proporção em termos de pontos percentuais. Porém, para uma empresa que tem um faturamento alto no mês, uma diferença aparentemente não relevante pode ser significativa em reais.

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Quadro 8 – Carga tributária do Simples Nacional na empresa Comércio de materiais de construção (final)

MÊSEMPRESA 14

R1* R2** DIF.

JAN 7,85% 8,39% (0,54)

FEV 8,15% 8,68% (0,53)

MAR 7,98% 8,51% (0,52)

ABR 8,16% 8,69% (0,53)

MAIO 8,08% 8,59% (0,51)

JUN 8,00% 8,53% (0,53)

JUL 8,77% 8,75% 0,02

AGO 8,53% 8,53% 0,00

SET 8,66% 8,76% (0,11)

OUT 8,53% 8,61% (0,08)

NOV 8,84% 8,89% (0,04)

DEZ 8,71% 8,81% (0,10)

2017 (0,28)

JAN 8,67% 8,72% (0,05)

FEV 9,18% 9,26% (0,08)

MAR 9,27% 8,35% (0,09)

1º TRIM. 2018 (0,07)

*R1 = Regra de cálculo vigente até Dez/2017.**R2 = Regra de cálculo vigente a partir de Jan/2018.Fonte: dados da pesquisa.

A empresa 14 seria prejudicada caso a lei estivesse em vigor no ano de 2017, pois pagaria a mais de imposto 0,28 ponto percentual em 2017, por exemplo. Em valores, isso representa R$ 685,84 mensais, considerando um faturamento mensal médio de R$ 244.941,31.

Concluída a análise individual das empresas, foi realizada a correlação de Pearson entre o faturamento das empresas da amostra e as respectivas reduções (aumentos) da carga tributária, conforme demonstrado no Quadro 9.

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Quadro 9 – Correlação faturamento e carga tributária

2017 2018

Faturamento 2017

Redução (Aumento) Carga Tributária

Faturamento 1º Trimestre 2018

Redução (Aumento) Carga Tributária

Empresa 1 229.776,04 1,61 57.124,41 1,04

Empresa 2 397.761,53 0,67 107.267,15 0,65

Empresa 3 129.391,13 0,00 53.708,19 0,00

Empresa 4 136.488,49 0,00 34.484,00 0,00

Empresa 5 870.877,92 (0,29) 230.540,93 (0,52)

Empresa 6 383.357,31 0,63 101.030,49 1,33

Empresa 7 2.771.929,85 (0,25) 742.27,70 0,83

Empresa 8 165.502,35 0,24 32.537,50 0,00

Empresa 9 338.004,00 0,39 102.150,00 0,75

Empresa 10 198.362,05 1,65 55.584,42 1,65

Correlação (0,43308) 0,04541

Empresa 11 381.154,05 0,28 132.481,81 0,71

Empresa 12 891.152,32 0,01 249.856,60 (0,23)

Empresa 13 1.943.097,11 0,09 378.725,72 0,10

Empresa 14 2.939.295,68 (0,28) 809.891,35 (0,07)

Correlação (0,85559) (0,50086

Fonte: dados da pesquisa.

Como pode observar-se no Quadro 9, constatou-se uma correlação negativa entre faturamento e redução (aumento) da carga tributária. Ou seja, quanto menor o faturamento da empresa, maior a diminuição da carga tributária. Apenas para o primeiro trimestre de 2018, no grupo de empresas de serviços, não foi constatada essa correção negativa, permanecendo próximo a zero.

5 Conclusão

O problema de pesquisa do presente estudo surgiu devido à alteração ocorrida no Simples Nacional com a promulgação da Lei Complementar 155/2016. Com base nisso, o objetivo proposto foi descobrir se houve alterações na carga tributária das empresas optantes pelo Simples Nacional.

Para a realização da pesquisa foi utilizada uma amostra contendo quatorze empresas de Santa Cruz do Sul, sendo dez prestadoras de serviços e quatro de comércio de materiais de construção. Os resultados apontaram que a grande maioria das empresas tiveram uma redução da carga tributária. Tiveram aumento da carga tributária apenas empresas com faturamento mais alto.

Das dez empresas de prestação de serviços, com base em dados de 2017, seis teriam redução da carga tributária, duas teriam aumento e duas

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não teriam alteração. Já no primeiro semestre de 2018, apenas uma dessas empresas teve aumento da carga tributária, sendo que três não tiveram alteração. Nas empresas de comércio de materiais de construção, com base em dados de 2017, das quatro empresas estudadas, somente uma teria aumento da carga tributária e as outras três teriam redução. No ano de 2018, duas dessas empresas tiveram aumento no peso dos tributos e duas reduções.

Dessa forma, atingiu-se o objetivo deste estudo, que foi de verificar se as alterações trazidas pela lei complementar 155/2016 modificaram a carga tributária das empresas optantes pelo Simples Nacional. Com isso, é possível concluir a importância do acompanhamento das alterações na legislação tributária e do planejamento tributário para orientar o empresário na tomada de decisões.

Este estudo limitou-se em fazer o levantamento de dados de apenas 10 empresas de prestação de serviço, classificadas no Anexo III do Simples Nacional, e 4 empresas de comércio de materiais de construção, pertencentes ao Anexo I do Simples. Sugere-se, para pesquisas futuras, a análise de empresas de outros ramos de atividades para verificar o impacto dessa alteração da legislação, bem como a utilização de períodos de tempo maiores.

Referências

BEUREN, Ilse Maria (Org.). Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

BRASIL, Lei Complementar 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis no 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp123.htm>. Acesso em: 25 mar. 2018.

______. Lei Complementar nº 155, de 27 de outubro de 2016. Altera a lei complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, para reorganizar e simplificar a metodologia de apuração do imposto devido por optantes pelo simples nacional; altera as leis nos 9.613, de 3 de março de 1998, 12.512, de 14 de outubro de 2011, e 7.998, de 11 de janeiro de 1990; e revoga dispositivo da lei no 8.212, de 24 de julho de 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp155.htm>. Acesso em: 25 mar. 2018.

______. Lei nº 9.718, de 27 de novembro de 1998. Altera a legislação tributária federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9718.

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_______. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o sistema tributário nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à união, estados e municípios. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 25 mar. 2018.

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Competências e habilidades requeridas do profissional da

Contabilidade pela indústria do tabaco da região do Vale do Rio Pardo – RS

Marleti Silveira da Silva119

Vânia Amires Stiebbe Peiter220

Marcia Rosane Frey321

RESUMO

Com as mudanças ocorridas na contabilidade, seja em função da convergência às normas internacionais ou pelas exigências do SPED, o mercado de trabalho passou a requerer maiores qualificações para atuação do profissional da contabilidade. Neste contexto, o presente estudo investigou as competências e habilidades que a indústria do ramo de tabaco, concentrada no Vale do Rio Pardo, busca do profissional da contabilidade. A metodologia utilizada para a pesquisa foi de natureza descritiva com abordagem quantitativa do problema. O levantamento dos dados foi realizado por meio de survey, com aplicação de questionário eletrônico em 11 indústrias do ramo do tabaco, associadas ao Sinditabaco. Os resultados sinalizaram a exigência de várias competências e habilidades técnicas e interpessoais, como conhecimentos específicos na área de custos, legislação fiscal e tributária e habilidades de trabalho em equipe e comprometimento. Concluiu-se que os profissionais da contabilidade requeridos pela indústria do tabaco devem ter exímio conhecimento e experiência na área contábil e possuir um amplo conjunto de habilidades interpessoais.

Palavras-chave: Habilidades e competências. Perfil profissional do contador. Mercado de trabalho. Indústria do tabaco.

1 Bacharela em Ciências Contábeis. Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc, [email protected] Mestre em Administração. Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc, [email protected] Doutora em Desenvolvimento Regional. Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc, [email protected]

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1 Introdução

A demanda no mercado de trabalho do profissional da contabilidade tem-se intensificado a partir das mudanças ocorridas com a convergência das normas brasileiras de contabilidade às normas internacionais. Aliado a essas mudanças, também se tem a criação do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED). Com as mudanças, o mercado de trabalho passou a exigir outras qualificações para atuação do profissional contábil, buscando um novo perfil do profissional, ou seja, um contador melhor preparado para enfrentar tantas mudanças de forma atualizada e competente.

Segundo Oliveira e Silva (2014), os novos profissionais estão sendo forçados a expandir seus conhecimentos para além dos números, mudando a forma como tratam os problemas, passando a considerá-los para além das fronteiras nacionais. O profissional que o mercado deseja deverá dedicar-se muito mais para decisões e previsões futuras do que para dados históricos. Dentro deste contexto, surgem as questões de habilidades e competências profissionais que muitos empresários buscam no perfil do profissional como forma de agregar valor e qualificação.

Como referência de habilidades e competências que são trabalhadas na formação do profissional em nível de graduação, tem-se, no Brasil, a Resolução do Conselho Nacional de Educação CNE/CES nº. 10/2004 que determina as diretrizes curriculares a serem seguidas pelas instituições de ensino superior na elaboração curricular dos cursos de Ciências Contábeis. Em nível internacional as instituições de ensino superior podem utilizar como referência a International Education Standards 3 (IES 3) do International Federation of Accountants (IFAC) que, entre outros objetivos, busca desenvolver mundialmente a profissão contábil.

Conforme Rodrigues (2009), o profissional da contabilidade precisa estar atento à necessidade de obtenção do conhecimento global, buscando aprimorar-se sempre mais. O contador que deseja manter-se no mercado de trabalho não deve ser aquele profissional tradicional que se limita apenas a efetuar lançamentos de débito e crédito, e sim aquele que incorpora a inovação e a atualização como tarefas diárias.

Em relação às expectativas globais, Lemes e Miranda (2014) verificaram o grau de importância que os profissionais da contabilidade atuantes no Triângulo Mineiro atribuem às habilidades preconizadas pela IES 3 da IFAC. No estudo, foram constatados altos percentuais de concordância dos profissionais em relação às habilidades e competências preconizadas pela International Education Standards 3 (IES 3). As competências e habilidades profissionais e a análise do perfil do profissional contábil requerido pelo mercado é foco de diferentes pesquisas, no qual além de Lemes e Miranda (2014), pode-se citar os estudos de Biasibetti e Feil (2017), Reis et al. (2015), Anzilago, Bernd e Voese (2014), Rua (2014), Oliveira e Silva (2014), Santos et al. (2013), Ferreira (2013) entre outros.

O atendimento das expectativas do mercado de trabalho também deve ser uma preocupação permanente das Instituições de Ensino responsáveis

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pela formação profissional dos contadores. Além de observarem as Diretrizes Curriculares Nacionais e terem como referência documentos internacionais como, por exemplo, a IES 3 do IFAC, é necessário conhecer as expectativas e necessidades do mercado de trabalho que é bastante diversificado em termos de habilidades e competências requeridas.

A realidade econômico-social de cada região do país precisa ser considerada por parte das Instituições de Ensino para a definição do perfil profissional desejado. Neste contexto, a problemática do estudo buscou responder à seguinte questão: quais são as competências e habilidades requeridas do profissional da contabilidade pela indústria do ramo de tabaco da região do Vale do Rio Pardo?

Para responder à pergunta de pesquisa teve-se como objetivos específicos identificar o perfil socioeconômico e o perfil profissional dos contadores requeridos pela indústria do tabaco. No perfil do profissional, buscou-se verificar junto à indústria do tabaco quais conhecimentos de contabilidade, habilidades organizacionais, habilidades intelectuais, habilidades pessoais, habilidades interpessoais e de comunicação são desejáveis do contador, bem como também as principais características do perfil do profissional para ser contratado.

Na sequência, apresenta-se o referencial teórico que está estruturado em duas seções. Após, segue o capítulo da metodologia, da análise dos resultados também estruturada em duas seções e da conclusão do presente estudo.

2 Referencial teórico

Para fundamentar o estudo, aborda-se inicialmente a profissão e os campos de atuação do profissional da contabilidade e após, na segunda seção, apresenta-se uma síntese sobre as habilidades e competências do profissional contábil.

2.1 A profissão e o campo de atuação do profissional da contabilidade

As atribuições profissionais do contabilista estão previstas em legislação própria, o Decreto-lei n. 9.295 de 1946, alterado em 2010 pela Lei n. 12.249 (CFC, 2018a). Especificamente, em relação às atribuições profissionais, as mesmas foram detalhadas em Resolução pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) em 1983 pela Resolução n. 560/83, que agrupou e detalhou um conjunto de 48 atividades privativas para os contabilistas e 19 atividades compartilhadas, cujo exercício também é prerrogativa de outras profissões (CFC, 2018b).

Segundo Iudícibus e Marion (2002), o profissional da contabilidade tem a tarefa de produzir e gerenciar informações que sejam úteis a todos os usuários da contabilidade, subsidiando seus processos decisórios, sendo, portanto, muito mais ampla do que a simples satisfação das exigências do fisco. Conforme

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Fonseca et al. (2014), a área de atuação do profissional contábil é ampla. Por meio da informação contábil, é possível elaborar um bom planejamento tributário, realizar a análise da situação patrimonial, financeira e econômica, permitindo avaliar a evolução dos recursos econômicos, do lucro e da rentabilidade.

Na visão de Marion (2015), a contabilidade é uma das áreas que mais proporcionam oportunidades de trabalho. O estudante que optar pelo curso de bacharelado em Ciências Contábeis terá inúmeras alternativas. Reunindo as atividades que são ou podem ser exercidas pelos profissionais da contabilidade Marion (2015) apresenta uma síntese das principais áreas de atuação e funções especializadas do contador evidenciadas no Quadro 1.

Quadro 1 – Atividades exercidas pelo profissional da contabilidade

Contador

na empresa

Contador Geral, Contador de Custo, Controller

Auditor Interno

Controlador Fiscal

Cargos Administrativos

independente

Auditor Independente

Consultor

Escritório de Contabilidade

Perito Contábil

no ensino

Professor

Pesquisador

Escritor

Consultor

órgão público

Contador Público

Fiscal de Tributos

Controlador de Arrecadação

Tribunal de Contas

Fonte: Marion (2015, p. 9).

Conforme pode ser observado no Quadro 1, o campo de atuação do contador é bem vasto. O profissional pode atuar em empresas em diversas funções, de forma independente como auditor e perito contábil, no ensino como professor, pesquisador e escritor e em órgãos públicos como contador, fiscal de tributos entre outros cargos. O profissional da contabilidade tem a tarefa de produzir e gerenciar informações que sejam úteis a todos os usuários da contabilidade, subsidiando seus processos decisórios, sendo, segundo Iudícibus e Marion (2002), muito mais ampla do que a simples satisfação das exigências do fisco.

Conforme Abadie (2017) o avanço tecnológico e as constantes evoluções pelas quais passa a ciência contábil despertam uma série de dúvidas no jovem profissional, principalmente a respeito do caminho a seguir, pois a profissão apresenta cada vez mais atrativos, principalmente no que diz respeito às especializações e diversidade de áreas de atuação.

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Acompanhar as tendências da ciência contábil é fundamental para que o profissional conheça todo o universo de opções disponíveis (ABADIE, 2017).

Com a chegada da era digital, segundo Jochem (2012), é possível fazer tudo que antes já era feito, porém, de maneira mais rápida e precisa. Jochem (2012, p. 44) salienta que o principal desafio do profissional da contabilidade “é tornar-se arauto do conhecimento. Assim adere-se à ideia de que é necessário o aperfeiçoamento constante”. No entendimento de Abadie (2017), o jovem profissional da contabilidade está vivendo um dos períodos mais favoráveis da profissão, pois as diversas possibilidades de atuação e as novas formas que estão por vir tornam o conhecimento contábil de fundamental importância.

Conforme evidenciado no Quadro 1, segundo Marion (2015), são muitas as áreas de atuação em que o profissional contábil pode trabalhar desde que busque os caminhos para sua inserção no mercado. Necessita estar atento às mudanças que ocorrem de forma muito acelerada. Cada dia que passa é um software novo, uma visão global diferente, uma legislação nova, dentre outras. Acompanhar as mudanças tornou-se uma necessidade e estar atualizado é uma questão de sobrevivência para quem almeja o sucesso.

De acordo com Zanluca (2016), todos possuem conhecimento de que a Contabilidade mudou no Brasil. Normas e até a estrutura do Balanço Patrimonial foram alteradas, suprimidas e adaptadas às regras internacionais de contabilidade. Como profissionais, é preciso estar atualizado destas e outras alterações significativas. As mudanças têm sido cada vez mais rápidas e profundas, o que requer atualização. Além de atender às necessidades contábeis e fiscais, o profissional da contabilidade, segundo Pretto (2011), necessita atender às expectativas voltadas às habilidades empreendedoras.

O cenário atual da contabilidade possui grande ligação com o comportamento das organizações, exigindo do profissional uma visão de futuro e flexibilidade para adequar-se as constantes mudanças. Iudícibus et al. (2010) ressaltam que o mercado de trabalho para o profissional da contabilidade é de alto nível no Brasil. É, em média, um dos melhores entre os profissionais liberais, no sentido financeiro, principalmente.

No entendimento de Gassner (2010) em um cenário de aceleradas inovações tecnológicas, elevada prática econômica, modificações legais e convergência das normas contábeis, as instituições de ensino têm o papel fundamental de fornecer durante a formação do profissional contábil condições para que os estudantes possam desenvolver as competências e as habilidades que os tornarão aptos para as demandas requeridas pelo mercado de trabalho.

A profissão contábil, segundo Figueiredo (2000), é regida pela maior organização em âmbito mundial, a International Federation of Accountants (IFAC), que possui um comitê de educação que tem como objetivo buscar o desenvolvimento e o prestígio da profissão contábil. A IFAC por meio do seu comitê de educação elaborou um Guia de Educação Internacional que estabelece critérios de experiência a serem observados para a formação profissional em termos de conhecimentos, habilidades e valores profissionais, detalhados na próxima seção.

Conforme Leal, Soares e Souza (2008) o mercado demanda dos especialistas da área de contabilidade um entendimento que supera o procedimento exclusivo preparado para a tecnicidade. O mercado busca um profissional com competências

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para entender o ‘negócio’, orientando o administrador na tomada de decisão. Para os profissionais da contabilidade significa a exigência de um novo perfil, mais harmônico, alinhado com o ponto de vista adotado pelas empresas.

2.2 Habilidades e competências do profissional da contabilidade

Por habilidades entende-se as capacidades técnicas para realizar alguma tarefa. Resultado da integração entre teoria e prática, ou seja, o conhecimento aliado à experiência. Já as competências são mais amplas, pois são formadas pela soma de talentos e habilidades. As habilidades e competências são tema de vários estudos, que fundamentaram e inspiraram a presente investigação, delimitada às necessidades da indústria do tabaco, concentrada na região do Vale do Rio Pardo – RS. No Quadro 2, são apresentados alguns dos estudos identificados que se relacionam ao presente estudo.

Quadro 2 – Pesquisas relacionadas às habilidades e competências

Título Autor Ano

Análise do perfil do profissional contábil requerido pelas empresas do Vale do Taquari-RS

Ana Paula Biasibetti, Alexandre André Feil

2017

Perfil do profissional contábil: habilidades, competências e imagem simbólica

Anderson de Oliveira Reis; Gislaine Aparecida Santana Sediyama; Vinicius de Souza Moreira; Camila Carolina Moreira

2015

Análise das competências e habilidades dos profissionais de contabilidade na região de Curitiba/PR

Marcielle Anzilago; Daniele Cristina Bernd; Simone Bernardes Voese

2014

Mercado do profissional contábil: uma análise comparativa entre o perfil demandado pelas empresas cadastradas na Fenacon e os currículos das instituições de ensino superior de Brasília

Karen de Souza Patrasso Rua 2014

Perfil do profissional contábil: um estudo de suas habilidades

Hugo Moreira de Oliveira; Júlio Ores-tes da Silva

2014

Habilidades profissionais do contador preconi-zadas pela Ifac: um estudo com profissionais da região do triângulo mineiro

Danielle Ferreira Lemes; Gilberto José Miranda

2014

Perfil do profissional contábil demandado pelo mercado de trabalho: um estudo no norte do Brasil

Carla Macedo Velloso dos Santos Tamer; Clilson Castro Viana; Luiz Au-gusto de Carvalho Francisco Soares; Mariomar de Sales Lima

2013

O perfil do profissional exigido pelo mercado de trabalho

Vagner Paz Ferreira 2013

“Guarda-Livros” ou “Parceiros de Negócios”? Uma análise do perfil profissional requerido pelo mer-cado de trabalho para contadores na Região Me-tropolitana de Porto Alegre (RMPA)

Charline Barbora Pires, Ernani Ott, Cláudio Damacena

2009

A ética na profissão contábil Maria das Graças Vieira 2006

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

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Diante de diversos estudos, percebe-se que o mercado de trabalho busca profissionais contábeis que possuam habilidades distintas, mas que durante o curso de graduação os alunos tendem a não perceber a importância disso, tendo como foco apenas as competências técnicas requeridas para a qualificação no exame de suficiência profissional.

Segundo Vieira (2006), as habilidades demandadas do profissional da contabilidade podem ser encontradas nas áreas técnicas, gerenciais e nas características pessoais. Habilidades técnicas caracterizam-se por saber ouvir, escrever, organizar, captar informações com agilidade, ter capacidade oratória, exercer liderança, trabalhar em equipe e, para finalizar, possuir conhecimentos técnicos na sua área de atuação. Já as habilidades gerenciais incluem: marketing, administração, finanças, operação, produção, tomada de decisão, controle e boa negociação e as características pessoais incluem: disciplina, capacidade de correr riscos, inovação, orientação a mudanças, persistência e liderança visionária.

De acordo com Hermenegildo (2002, apud VIEIRA, 2006), o profissional contábil precisa desenvolver competências e habilidades voltadas à capacitação para empreender, gerenciar e estabelecer estratégias de gestão, as quais são demonstradas no Quadro 3.

Quadro 03 - Competências e habilidades

Competências Habilidades

Capacidade para empreender

-conhecimento de si mesmo;- aprender com a própria experiência;- dedicação, motivação;- espírito para inovar;- análise de mercado;- correr risco calculado;- planejamento empresarial.

Capacitação para gerenciar

- delegar, liderar, negociar, persuadir, técnicas de gestão financeira, administração de recursos humanos, liderança e direção, produção e comercialização.

Capacitação estratégica

- delegar;- ação de longo prazo;- controle e avaliação de operações;- prospectar mercados; - identificar tendências;- realizar alianças e parcerias.

Fonte: Adaptado de Hermenegildo (2002, p.102) citado por Vieira (2006).

O profissional da contabilidade empreendedor pode explorar diversas oportunidades, desde que tenha suas competências e habilidades bem destacadas. Conforme Pires, Ott e Damacena (2009), o desenvolvimento da contabilidade possui uma estreita relação com as mudanças ocorridas no ambiente, refletindo nas organizações. Para atender às necessidades dos usuários, o contador deve acompanhar esta evolução, desenvolvendo suas atividades de forma adequada, atendendo as expectativas dos que demandam seus serviços.

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Segundo Figueiredo (2000) o profissional contábil, além dos conhecimentos técnicos necessários para o desempenho da atividade, deve conhecer o ambiente interno e externo das organizações e suas relações de comportamento humano, social e econômico devem ser conscientes e responsáveis. Diante da necessidade de adequar-se à realidade sociopolítica e econômica atual, as perspectivas de mudanças futuras geram oportunidades profissionais e segundo Figueiredo (2000) o profissional da contabilidade precisa desenvolver um conjunto de habilidades e competências.

No Brasil, as habilidades e competências necessárias para o desenvolvimento da profissão contábil estão estabelecidas na Resolução CNE/CES n. 10/2004 que instituem as diretrizes curriculares do curso de Graduação em Ciências Contábeis para as Instituições de Ensino Superior. Conforme o Art. 4º descrito na Resolução do CNE/CES 10/2004, o Curso de Graduação em Ciências Contábeis deve possibilitar a formação profissional que revele, pelo menos, as seguintes competências e habilidades descritas no Quadro 4.

Quadro 4 – Habilidades e competências da Resolução CNE/CES n. 10/2004

I – utilizar adequadamente a terminologia e a linguagem das Ciências Contábeis e Atuariais;

II – demonstrar visão sistêmica e interdisciplinar da atividade contábil;

III – elaborar pareceres e relatórios que contribuam para o desempenho eficiente e eficaz de seus usuários, quaisquer que sejam os modelos organizacionais;

IV – aplicar adequadamente a legislação inerente às funções contábeis;

V - desenvolver, com motivação e através de permanente articulação, a liderança en-tre equipes multidisciplinares para a captação de insumos necessários aos controles técnicos, à geração e disseminação de informações contábeis, com reconhecido nível de precisão;

VI - exercer suas responsabilidades com o expressivo domínio das funções contábeis, incluindo noções de atividades atuariais e de quantificações de informações financei-ras, patrimoniais e governamentais, que viabilizem aos agentes econômicos e aos ad-ministradores de qualquer segmento produtivo ou institucional o pleno cumprimento de seus encargos quanto ao gerenciamento, aos controles e à prestação de contas de sua gestão perante à sociedade, gerando também informações para a tomada de decisão, organização de atitudes e construção de valores orientados para a cidadania;

VII - desenvolver, analisar e implantar sistemas de informação contábil e de controle gerencial, revelando capacidade crítico-analítica para avaliar as implicações organiza-cionais com a tecnologia da informação;

VIII - exercer com ética e proficiência as atribuições e prerrogativas que lhe são pres-critas através da legislação específica, revelando domínios adequados aos diferentes modelos organizacionais.

Fonte: Ministério da Educação (2004).

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Observa-se que, conforme estabelecido na Resolução do CNE, o profissional contábil formado precisa atender a pelo menos oito exigências descritas na Resolução para que esteja apto a exercer a profissão. Para a formação dos profissionais da contabilidade, os Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) de Ciências Contábeis devem observar as Diretrizes Nacionais estabelecidas pela Resolução CNE/CES n. 10/2004.

Além dessas bases legais, também devem ser consideradas as orientações do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), órgão normatizador da profissão contábil, que disponibiliza uma proposta de matriz curricular de referência para os cursos de Ciências Contábeis. A matriz curricular deve contemplar todas as disciplinas e atividades necessárias para o desenvolvimento das competências e habilidades requeridas para os egressos do curso, tendo presente a realidade regional e o compromisso social do profissional na área contábil.

Segundo Ott et al. (2011), na esfera internacional, órgãos especializados têm desenvolvido relatórios que sinalizam e enfatizam os conhecimentos, habilidades e atitudes que os egressos dos cursos de Ciências Contábeis devem ter para ingressar na profissão, a fim de alinhar o ensino ofertado e as demandas do mercado. A esse respeito, em 1977, foi criada a IFAC, com o objetivo de criar conselhos e comitês que buscam o desenvolvimento de padrões, regras e normas internacionais de setores específicos da área contábil, mencionada por Figueiredo (2000).

Conforme a IFAC (2012), os alunos devem ser capazes de adquirir e integrar conhecimentos, habilidades, valores e atitudes éticas. Com relação às habilidades que devem ser adquiridas, consolidadas e desenvolvidas pelo contabilista, a IES 3 da IFAC (2012) cita cinco grupos, especificados no Quadro 5.

Além dos conhecimentos e habilidades apresentados, a IFAC ressalta, também, que o comportamento ético do profissional da área contábil é tão importante quanto as competências técnicas (IFAC, 2012).

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Quadro 5 - Habilidades que devem ser adquiridas, consolidadas e desenvolvidas pelo contabilista

Habilidades intelectuais(contribuem na identifica-ção e solução de proble-mas, na análise crítica e na tomada de decisões)

Habilidade para localizar, obter, organizar informações vindas de fontes humanas, impressas e eletrônicas; Capacidade para investigar, pesquisar, raciocínio, pen-samento lógico e de análise crítica; Capacidade para identificar e resolver problemas e si-tuações inesperadas.

Habilidades técnicas e funcionais (compreendem as habilida-des específicas e gerais de contabilidade)

Proficiência em matemática, estatística e domínio da tecnologia da informação;Conhecimento de modelos de decisão e análise de risco; Conhecimento de medidas de acompanhamento de re-sultados; Desenvolvimento e elaboração de relatórios; Atuação em conformidade com a legislação e requeri-mentos de agências reguladoras.

Habilidades pessoais (diz respeito às atitudes e comportamentos do profis-sional contábil)

Autogerenciamento;Iniciativa, influência e autoaprendizagem;Habilidade para selecionar e definir prioridades para atingir as metas com os recursos disponíveis;Capacidade de antecipar e se adaptar às mudanças;Considerar as implicações de valores, ética e atitudes nas tomadas de decisões;Ceticismo profissional (atitude/postura profissional).

Habilidades interpes-soais e de comunicação (permitem a interação do profissional com outras áreas de conhecimento)

Trabalhar com outras áreas da empresa como consultor de processos e solucionar conflitos;Trabalhar em equipe;Interagir com pessoas de outras culturas e nível intelectual;Negociar soluções aceitáveis e acordos em diversas situações;Ser capaz de trabalhar em um ambiente multicultural;Comunicar-se escrita e oralmente; e falar e ouvir efeti-vamente.

Habilidades organizacio-nais e de gerenciamento de negócios(estão relacionadas ao fun-cionamento da organização)

O planejamento estratégico, gerenciamento de proje-tos, gestão de pessoas e recursos e tomada de decisão;Habilidades para organizar e delegar tarefas, motivar e desenvolver pessoas;Capacidade de liderança;Julgamento profissional e o discernimento.

Fonte: Lemes e Miranda (2014), adaptado de International Education Standards 3.

De acordo com Leal, Soares e Souza (2008), o perfil profissional dos contabilistas precisa ser renovado no intuito de prover os requisitos das empresas. O mercado demanda dos especialistas da área de Contabilidade um entendimento que supera o procedimento exclusivo preparado para a tecnicidade; ou mesmo de um profissional com conhecimento para inferir o ‘negócio’, orientando o administrador na tomada de decisão. O autor ainda

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discorre que, para os profissionais de Contabilidade, significa uma nova condição e um perfil mais harmônico alinhado com o ponto de vista adotado pelas organizações.

3 Procedimentos metodológicos

Considerando-se a proposta do presente estudo, de verificar quais são as competências e habilidades que a indústria do tabaco, concentrada na região de abrangência da Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc, busca no profissional contábil, a pesquisa quanto aos objetivos, classifica-se como descritiva. Quanto à abordagem do problema, a pesquisa apresenta características quantitativas, por buscar quantificar a opinião dos gestores da indústria do tabaco referentes às competências e habilidades requeridas do profissional contábil.

Para Raupp e Beuren (2004), a pesquisa descritiva tem como principal objetivo descrever características de determinada população ou fenômeno bem como o estabelecimento de relações entre variáveis e a unidade de análise. Cervo e Bervian (2002, p. 66) também entendem que a descritiva é aquela que “observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los”. No entendimento de Gil (1999), uma das características mais significativas desta abordagem está no uso de técnicas padronizadas de coleta de dados.

Desta forma, para a execução do presente estudo delimitou-se a unidade de análise num segmento econômico significativo na região de abrangência da Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc que é a indústria do tabaco do Vale do Rio Pardo - RS, identificada no Quadro 6. A indústria do tabaco emprega um número significativo de profissionais da contabilidade diplomados pela Unisc com exigências bem específicas em termos de perfil profissional, vinculados a questões socioeconômicas e a informações sobre o perfil desejado.

A unidade de análise está constituída por 14 empresas associadas ao Sinditabaco, no qual contou-se com a participação de 11 empresas. Três empresas não participaram do estudo. A empresa ‘Brasfumo Indústria Brasileira de Fumos S.A’ foi excluída por ter sua contabilidade terceirizada e das empresas Souza Cruz Ltda. e Indl. Boettcher de Sinimbu não se obteve o contato eletrônico (e-mail) dos respectivos contadores, e por isso não foi enviado o questionário.

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Quadro 6 – Indústrias do Tabaco do Vale do Rio Pardo - RS associadas ao Sinditabaco

Indústria Município

ATC – Associated Tobacco Company (Brasil) Ltda. Santa Cruz do Sul – RS – Brasil

JTI Processadora de Tabaco do Brasil Ltda. Santa Cruz do Sul – RS – Brasil

Philip Morris Brasil Indústria e Comércio Ltda. Santa Cruz do Sul – RS – Brasil

Premium Tabacos do Brasil S/A Santa Cruz do Sul – RS – Brasil

Universal Leaf Tabacos Ltda. Santa Cruz do Sul – RS – Brasil

Souza Cruz Ltda. Santa Cruz do Sul – RS – Brasil

Alliance One Brasil Exportadora de Tabacos Ltda. Venâncio Aires – RS – Brasil

UTC – United Tobacco do Brasil Ltda. Venâncio Aires – RS – Brasil

Brasfumo Indústria Brasileira de Fumos S.A. Venâncio Aires – RS – Brasil

China Brasil Tabacos Exportadora S.A. Venâncio Aires – RS – Brasil

CTA – Continental Tobaccos Alliance S.A. Venâncio Aires – RS – Brasil

Tabacos Marasca Ltda. Venâncio Aires – RS – Brasil

Industrial Boettcher de Tabacos Ltda. Sinimbu - RS – Brasil

Intab – Indústria de Tabacos e Agropecuária Ltda. Vale do Sol – RS - Brasil

Fonte: Sinditabaco (2017).

O survey junto às 11 indústrias do ramo do tabaco foi realizado por meio de um questionário eletrônico ‘online pesquisa’. O questionário foi composto por 15 questões, enviado via e-mail aos contadores e/ou gestores da área contábil identificados anteriormente, por contato prévio. A ferramenta do questionário eletrônico ‘online pesquisa’ permitiu a tabulação automática das respostas. Para a análise e elaboração dos gráficos também foram utilizadas planilhas eletrônicas do Software Microsoft Office Excel 2010.

As perguntas do questionário foram elaboradas a partir dos estudos de Rua (2014), Ferreira (2013) e Lemes e Miranda (2014), o que permitiu referências para a análise dos resultados. As questões sobre a identificação do perfil profissional desejado pela indústria do tabaco foram elaboradas tendo por referência Rua (2014) e Ferreira (2013); e as questões que buscaram identificar as habilidades que devem ser adquiridas pelo profissional contábil foram apoiadas no estudo de Lemes e Miranda (2014) que utilizaram como referência a International Education Standards 3 (IES 3) da IFAC.

Quanto à abordagem do problema, a presente pesquisa pode ser classificada como quantitativa. Segundo Raupp e Beuren (2004, p. 93), a

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importância da pesquisa quantitativa é “ter a intenção de garantir a precisão dos resultados, evitar distorções de análise e interpretação, possibilitando uma margem de segurança quanto às interferências feitas”.

4 Análise dos dados e resultados

A análise dos dados e resultados está estruturada em duas seções. Inicialmente, apresenta-se os resultados do perfil socioeconômico dos profissionais da contabilidade requeridos pela indústria do tabaco e, na segunda seção, o perfil profissional no qual buscou-se verificar quais conhecimentos de contabilidade, habilidades organizacionais, habilidades intelectuais, habilidades pessoais, habilidades interpessoais e de comunicação são desejáveis do profissional da contabilidade.

4.1 Perfil socioeconômico dos profissionais da contabilidade requeridos pela indústria do tabaco

Para o perfil socioeconômico, buscou-se verificar questões referentes ao perfil do profissional, idade, escolaridade, gênero, estado civil, tempo de experiência e conhecimentos de informática. As questões sobre o perfil foram elaboradas a partir dos estudos de Rua (2014) e Ferreira (2013). Rua (2014) realizou uma análise comparativa entre perfil demandado pelas empresas e os currículos das Instituições de Ensino Superior de Brasília e o estudo de Ferreira (2013) identificou o perfil do profissional contábil exigido pelo mercado de trabalho.

A análise da idade do profissional contábil desejável revela que 9,09% das indústrias preferem profissionais com até 25 anos de idade, outros 27,27% de 26 até 45 anos e 36,36% não manifestaram preferências. Quanto ao grau de instrução, constatou-se que 36,40% das indústrias preferem profissionais que tenham pós-graduação e para 63,60% a preferência é por profissionais que tenham graduação em Ciências Contábeis.

No estudo de Biasibetti e Feil (2017), 60% das empresas preferem profissionais com idade entre 26 até 35 anos e 16% não manifestaram preferências e no estudo de Rua (2014), 50% das empresas preferem profissionais com idade de até 25 anos e 41% não manifestaram preferências. De acordo com o estudo de Ferreira (2013), 31% dos respondentes julgam essencial a graduação e 19% um curso de pós-graduação.

As indústrias, em relação ao gênero do profissional contábil 90,91% responderam não ter preferência e 9,09% das indústrias preferem profissionais do sexo masculino. O estado civil dos profissionais contábeis, segundo 81,82% das indústrias pesquisadas, não tem preferência, já 18,18% preferem profissionais casados.

Em relação à preferência de gênero para profissionais contábeis no estudo de Biasibetti e Feil (2017), 52% responderam não ter preferência e no

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estudo de Rua (2014), 91% dos respondentes disse não ter preferência. Já no estudo de Ferreira (2013), com relação à amostra, 75% dos respondentes disse não ter preferência. O restante da amostra que totalizou os 25% revela que o gênero feminino é preferível. Portanto, segundo Ferreira (2013) o gênero não é levado em consideração em pelo menos 75% das análises. Quanto ao estado civil, no estudo de Biasibetti e Feil (2017), 51% das empresas pesquisadas não tem preferência e no estudo de Rua (2014), o índice significativo de 96% revela que as empresas não têm preferência pelo estado civil do profissional contábil.

Em relação ao tempo de experiência desejado, 54,55% das indústrias preferem profissionais de 4 até 5 anos de experiência, para 27,27% das empresas deve ser de 2 até 3 anos; 9,09% responderam até 1 ano; e outras 9,09% responderam que não têm preferência. No estudo de Biasibetti e Feil (2017), 44% das empresas preferem profissionais de até 4 anos de experiência e para 37% das empresas, a experiência deve ser de 2 até 3 anos.

As indústrias demandam de profissionais contábeis que possuam conhecimento de informática, no qual 90,90% exigem domínio do editor de texto e planilha eletrônica, 72,70% conhecimento dos programas da área contábil, 63,60% dos sistemas de gestão empresarial e de programas de órgãos governamentais, 27,30% do banco de dados e sistemas operacionais e 9,09% conhecimentos na área de Enterprise Resource Planning (ERP). No estudo de Biasibetti e Feil (2017), 25% dos respondentes preferem profissionais que possuam conhecimento em editor de texto e planilha eletrônica, 22% preferem por programas da área contábil e os demais estão subdivididos dentre os outros conhecimentos.

Em relação ao perfil socioeconômico, ficou evidente perante esta pesquisa e ao estudo de Biasibetti e Feil (2017), Rua (2014) e Ferreira (2013) que as empresas preferem profissionais entre 26 até 35 anos, graduados em Ciências Contábeis. Em relação ao gênero e estado civil, a maioria revelou não ter preferência. Quanto ao tempo de experiência profissional as empresas optam por aqueles que possuam de 4 até 5 anos e em relação aos conhecimentos de informática empresas buscam profissionais que possuam domínio em editor de texto e planilha eletrônica.

4.2 Perfil profissional dos contadores desejado pela indústria do tabaco

Para a identificação do perfil profissional desejado pela indústria do tabaco, foram elaboradas questões que tiveram como referência o estudo de Lemes e Miranda (2014). Os autores utilizaram os cinco grupos de habilidades, apresentados no Quadro 5 do referencial teórico, que devem ser adquiridas e consolidadas pelo contador com base na International Education Standards 3 (IES 3) da IFAC.

O grupo 1 refere-se às habilidades intelectuais que contribuem

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na identificação e solução dos problemas, na análise crítica e tomada de decisões. O grupo 2 trata das habilidades técnicas e funcionais, que têm como objetivo compreender as habilidades específicas e gerais de contabilidade. O grupo 3 aborda as habilidades pessoais, as quais dizem respeito às atitudes e comportamentos do profissional contábil. O grupo 4 versa sobre as habilidades interpessoais e de comunicação que visam à interação do profissional com outras áreas de conhecimento. O grupo 5 preconiza as habilidades organizacionais e de gerenciamento de negócios, relacionadas ao funcionamento da organização. Além dos 5 grupos de habilidades preceituados pela IFAC, incluiu-se mais uma questão na qual buscou-se verificar as características essenciais do perfil do profissional contábil desejáveis para ser contratado.

No Gráfico 1, apresenta-se o resultado referente às habilidades intelectuais desejadas do profissional contábil de acordo com o grupo 1 da IFAC – IES 3.

Gráfico 1 - Habilidades intelectuais desejadas do profissional contábil

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Dentre as habilidades intelectuais, conforme resultados evidenciados no Gráfico 1, 81,80% dos respondentes classificam a análise crítica, o raciocínio e pensamento lógico e a capacidade para investigar e pesquisar como as mais desejadas. Na sequência, a flexibilidade para mudanças e a capacidade para identificar e resolver problemas com 72,70%, habilidade para localizar, obter e organizar informações com 54,50% e a capacidade de inovação corresponde a 36,40%.

Nos Gráficos 2 e 3, estão apresentados os resultados sobre os conhecimentos gerais de contabilidade, de acordo com o grupo 2, referente às habilidades técnicas e funcionais da IFAC – IES 3.

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Gráfico 2 - Conhecimentos gerais de contabilidade desejados do profissional contábil

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Dentre os conhecimentos desejados do profissional contábil, 9,10% corresponde ao sistema de gestão e qualidade, a área de finanças e auditoria em 36,40%, as áreas de contabilidade tributária e contabilidade gerencial em 90,90% e as áreas de contabilidade de custos e contabilidade financeira e relatórios corresponde a 100%.

Gráfico 3 – Conhecimentos específicos desejáveis do profissional contábil

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Referente aos conhecimentos específicos desejáveis, aparece em primeiro lugar a legislação fiscal e tributária com 90,90%. Em seguida, lidera o SPED com 81,80%, a gestão de custos e as normas internacionais de contabilidade com 72,70%, análise de balanço e a contabilidade societária com 54,50%. Já a legislação trabalhista e a tecnologia da informação com 18,20% e os conhecimentos menos desejáveis são a auditoria interna e gestão financeira com 9,10%.

No Gráfico 4, estão apresentadas as habilidades pessoais em relação às atitudes desejadas do profissional contábil de acordo com o grupo 3 da IFAC – IES 3.

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Gráfico 4 - Habilidades pessoais em relação às atitudes desejadas do profissional contábil

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Conforme evidenciado no Gráfico 4, dentre as habilidades pessoais em relação às atitudes desejadas, a iniciativa destaca-se como característica essencial do perfil do profissional contábil com 90,90%, valores éticos com 81,80%, capacidade de antecipar e se adaptar às mudanças com 72,70%, habilidade para selecionar e definir prioridades e a liderança e influência com 63,60%, o autogerenciamento com 45,50%, autoaprendizagem com 36,40% e a automotivação com 9,10%.

No Gráfico 5, estão apresentados os resultados referentes às habilidades interpessoais e de comunicação desejadas do profissional contábil de acordo com o grupo 4 da IFAC – IES 3.

Gráfico 5 - Habilidades interpessoais e de comunicação desejadas do profissional contábil

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Diante das habilidades interpessoais e de comunicação desejadas, pelos resultados obtidos e evidenciados no Gráfico 5, destaca-se a solução de conflitos com outras áreas da empresa e o trabalho em equipe com 72,70%, em seguida a habilidade de negociação e acordos em situações conflitantes com 54,50%. Com 45,50%, classificam-se o domínio efetivo de outros idiomas, capacidade de apresentação, discussão e defesa de visões em situações formais e informais e

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a interação com pessoas de outras culturas e nível intelectual. Já com 36,40%, está o autogerenciamento e a aptidão de redigir e falar em público e finalizando a capacidade de trabalhar em ambiente multicultural com 18,20%.

No Gráfico 6, estão apresentados os resultados referentes aos conhecimentos e habilidades organizacionais e de gerenciamento de negócios desejados pela empresa do profissional contábil de acordo com o grupo 5 referente às habilidades organizacionais e de gerenciamento de negócios da IFAC – IES 3.

Gráfico 6 - Conhecimentos e habilidades organizacionais e de gerenciamento de negócios desejados pela empresa do profissional contábil

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Dentre as habilidades e o gerenciamento de negócios, destaca-se o desenvolvimento e elaboração de relatórios com 90,90%; em seguida, a gestão de pessoas e de recursos com 81,80%, a tomada de decisão e julgamento profissional e o planejamento estratégico e gerenciamento de projetos com 72,70%, os modelos de decisão e análise de risco com 54,50%; a estrutura e o comportamento organizacional com 27,30% e por último os negócios internacionais e globalização com 18,20%.

Além das habilidades preconizadas pela IFAC na IES 3, no Gráfico 7, ilustra-se as características essenciais do perfil do profissional contábil desejado pela indústria do tabaco para ser contratado.

Gráfico 7 - Características essenciais do perfil do profissional contábil desejáveis para ser contratado

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

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A característica julgada como a mais essencial pela indústria do tabaco é a do comprometimento com 90,90%, em seguida a iniciativa com 72,70%, a visão sistêmica e o trabalho em equipe com 63,60%, a organização com 54,50%, o dinamismo e o espírito de liderança com 45,50% e na sequência a facilidade de comunicação com 27,30%.

Os resultados obtidos em relação ao perfil profissional desejado pela indústria do tabaco no presente estudo tiveram um elevado grau de concordância dos gestores em relação às habilidades preconizadas pela IFAC – IES 3. Através dos gráficos, pode-se perceber a exigência dos gestores no momento da contratação para que os profissionais contábeis estejam cada vez mais alinhados e preparados de acordo com o padrão internacional exigido pela IFAC – IES 3.

O estudo de Lemes e Miranda (2014) revelou que os profissionais contábeis pesquisados possuem total aderência às habilidades da IFAC - IES 3 de acordo com a realidade que vivem. Os autores ainda destacam a importância da IES 3 uma vez que a implementação de tais habilidades na formação dos futuros profissionais da contabilidade poderá minimizar a distância entre as práticas existentes no mundo do trabalho e o processo de formação que ocorre no interior das instituições de ensino superior no Brasil.

5 Conclusão

O presente estudo investigou o perfil do profissional da contabilidade requerido pela indústria do tabaco, no qual buscou-se identificar e analisar as competências e habilidades que a indústria do ramo de tabaco, concentrada no Vale do Rio Pardo na região de abrangência da Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc, requer do profissional contábil. A pesquisa foi realizada junto a 14 indústrias do ramo do tabaco associadas ao Sinditabaco, por meio de survey, com aplicação de questionário eletrônico ‘online pesquisa’. Das 14 indústrias associadas, duas não participaram, pois não se obteve o contato eletrônico do contador e uma não participou por ter a contabilidade terceirizada.

Os resultados do perfil socioeconômico evidenciaram que a maioria das empresas não tem preferência por idade do profissional contábil, mas a escolaridade mínima deve ser o curso de graduação em Ciências Contábeis. Quanto ao gênero e estado civil também não indicaram preferência. Foi diferente no quesito tempo de experiência, no qual a maioria das indústrias (54,55%) requer profissionais que já tenham de 4 até 5 anos de experiência na área. Como conhecimentos de informática, os mais requeridos dos profissionais são o editor de texto e a planilha eletrônica.

Quanto à análise do perfil dos profissionais da contabilidade desejado pela indústria do tabaco, verificou-se que, dentre as habilidades técnicas e funcionais, os conhecimentos gerais mais desejados são a contabilidade de custos, contabilidade financeira e relatórios e, quanto aos conhecimentos específicos, o mais requerido é a legislação fiscal e tributária. As habilidades

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organizacionais e de gerenciamento de negócios mais requeridas são o desenvolvimento e a elaboração de relatórios.

Em relação às habilidades intelectuais, as mais requeridas são o raciocínio e o pensamento lógico, capacidade para investigar, pesquisar e análise crítica. Entre as habilidades pessoais, em relação às atitudes, destacou-se a iniciativa e quanto às habilidades interpessoais e de comunicação destacaram-se a solução de conflitos em outras áreas da empresa e o trabalho em equipe. A característica ponderada como a mais essencial foi a de comprometimento do profissional da contabilidade.

Com base nos resultados obtidos, conclui-se que o profissional da contabilidade requerido pela indústria do tabaco do Vale do Rio Pardo deve ter conhecimento e experiência na área contábil, concomitantemente, possuir um amplo conjunto de habilidades interpessoais. Com base no estudo, salienta-se que os futuros profissionais conheçam as habilidades e competências requeridas pelo mercado de trabalho durante a graduação para que possam buscar a adequada qualificação e atenderem a tais exigências.

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Análise de viabilidade econômica de empreendimento contábil no

município de Concórdia/SC

Gabriel Giacomin122 Cleiton Luiz Klochinski223

Nei Eduardo Knob324

Cristiane Zucchi425

Fernando Maciel Ramos526

RESUMO

O presente estudo foi realizado no município de Concórdia/SC e propôs uma análise de viabilidade para implantação de um empreendimento contábil. Este método tem por finalidade avaliar os resultados econômicos e financeiros de um investimento, constatando se o mesmo é viável e se traz o retorno esperado. Apresenta-se inicialmente uma revisão bibliográfica com conceitos básicos de engenharia econômica e seus indicadores, sendo VPL, TIR, TMA, IBC e payback descontado. Em relação à metodologia, a pesquisa classifica-se quanto ao objetivo como descritivo e quanto ao procedimento de coleta de dados como um estudo de caso e de abordagem qualitativa. Em seguida, tem-se a projeção do fluxo de caixa, com os investimentos iniciais, receitas e despesas projetadas para cinco anos, e, com isso, calculou-se e analisou-se os indicadores, apresentando-se todos viáveis e constatando-se a viabilidade do negócio. Esse estudo é relevante para futuros bacharéis de contabilidade que desejam ser empreendedores contábeis, servindo como roteiro para a constituição de um escritório contábil.

Palavras-chave: Engenharia econômica. Análise de viabilidade. Empreendimento contábil. Fluxo de caixa.

1 Graduado em Ciências Contábeis, Universidade do Contestado (UnC), [email protected] Graduando em Ciências Contábeis, Universidade do Contestado (UnC), [email protected] Especialista, Universidade do Contestado (UnC), [email protected] Mestre em Administração, Universidade do Contesto (UnC), [email protected] 5 Doutorando em Ciências Contábeis, UNISINOS, [email protected]

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1 Introdução

No atual cenário econômico e empresarial, são necessárias atitudes inovadoras e criativas na gestão dos empreendimentos. Por isso, torna-se importante buscar novos caminhos, com o máximo de informações e maneiras para iniciar uma empresa.

Para Silva (2013), a análise de viabilidade econômica consiste em um exame das informações e dos dados financeiros, considerando informações exógenas e endógenas à organização. O autor aborda que podem ser considerados endógenos os dados financeiros, projeções de vendas e projeções de fluxo de caixa, estrutura organizacional, capacidade gerencial e nível tecnológico, já as condições exógenas são os fatores políticos e econômicos e concorrência.

De acordo com os dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2016) das empresas iniciadas em 2012, apenas 76,6% sobreviveram por mais de dois anos no mercado no âmbito nacional. Considerando, apenas o estado de Santa Catarina, na categoria serviços, esse percentual cai para 74,3%, e ainda, a atividade de contabilidade iniciou 9.512 empresas no Brasil, das quais apenas 76% sobreviveram por mais de dois anos.

A pesquisa realizada pelo Sebrae (2016) demonstra ainda que além do ambiente em que a organização está inserida, as características dos seus donos, o planejamento prévio à abertura, a gestão do negócio, e as atitudes empreendedoras dos sócios são fatores que influenciam na sobrevivência das empresas nos primeiros anos que estão no mercado. Dessa forma, pode-se argumentar que a análise de viabilidade econômica de um empreendimento é de grande importância, de modo, a permitir aos investidores conhecimento sobre a projeção dos dados financeiros e econômicos, sendo um fator que contribui para a sustentabilidade da organização.

Considerando a situação econômica do cenário brasileiro e as informações supracitadas, é de suma importância a aplicação de técnicas de engenharia econômica para realizar a avaliação da viabilidade econômica de um empreendimento.

Ter um empreendimento próprio possibilita vantagens como ser seu próprio chefe, criar uma rotina própria e adequada às suas necessidades, e depender apenas do seu esforço pessoal. Para Fernandes (2010), existe outra vantagem que é alcançar a liberdade de trabalhar por opção e nunca por obrigação, sendo assim, o profissional contábil também muitas vezes deseja ter seu próprio escritório contábil. Porém, no início, acaba deparando-se com diversas situações e dificuldades, que poderiam ser evitadas com a elaboração de uma análise de viabilidade econômica.

Frente ao contexto, tem-se como questão de pesquisa: “Qual a viabilidade econômica de um empreendimento contábil no município de Concórdia/SC?” E para responder a essa pergunta, traçou-se como objetivo analisar a viabilidade econômica de um empreendimento contábil no município de Concórdia/SC.

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Por abordar a temática de análise de viabilidade econômica, esse artigo reúne informações financeiras necessárias que podem contribuir com os profissionais contábeis na avaliação da viabilidade de abertura de um escritório contábil. O estudo possibilita, por meio dos métodos empregados, a previsão do desempenho futuro do negócio, possibilitando prever a sua viabilidade e expectativa de rentabilidade.

Este estudo justifica-se pela possibilidade de auxiliar qualquer pessoa interessada em abrir um negócio no ramo contábil, pois permite a obtenção de conhecimento na área, no cenário do mercado e dos aspectos econômicos do segmento. Ainda, a realização deste estudo irá ampliar conhecimentos, aprofundando o aprendizado obtido durante a graduação, podendo estar à disposição para novas pesquisas e fonte de consulta a bacharéis em ciências contábeis, pois o estudo constitui-se como uma ferramenta que poderá ser utilizada no futuro profissional, ampliando horizontes e facilitando o investimento na área contábil.

2 Referencial teórico

2.1 Engenharia econômica

Para Souza e Clemente (2009) e Lapponi (2007), investimento consiste em um desembolso financeiro com expectativa de obter benefício futuro, geralmente superior a um ano. Independentemente das ações que sejam tomadas, em qualquer investimento existe o risco. Assim, estudos preliminares podem reduzir ao máximo o campo de risco do investimento (GALESNE; FENDTERSEIFER; LAMB, 1999).

Esses estudos preliminares são a engenharia econômica que pode ser entendida como a área de conhecimento que se preocupa simultaneamente com a viabilidade das propostas de investimentos em bens de capital, tanto na perspectiva da engenharia como no ponto de vista econômico (MONTENEGRO, 1983).

Casarotto Filho e Kopittke (2010) dizem que a engenharia econômica objetiva a análise econômica na decisão sobre investimentos, em diversas aplicações, podendo ser utilizada por particulares, empresas e entidades governamentais. A viabilidade financeira é uma condição necessária para o sucesso do investimento, porém uma análise de viabilidade econômica é particular e válida apenas para o projeto analisado (MONTENEGRO, 1983). Para realizar um estudo de viabilidade, Casarotto Filho e Kopittke (2010) definem que deve haver ao menos duas alternativas de investimentos sempre expressas em dinheiro, e apenas as diferenças entre elas são relevantes, assim como os juros do capital investido.

Os indicadores de viabilidade são associados à rentabilidade e ao risco do projeto, assim o Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR) e o Índice Benefício/Custo são associados à rentabilidade, enquanto que Taxa Interna de Retorno (TIR), o Período de Recuperação do Investimento (payback) são associados ao risco (SOUZA; CLEMENTE, 2009). Esses índices estão demonstrados no quadro 1.

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Quadro 1 - Técnicas de análise de investimento

ÍNDICE CONCEITO FÓRMULA ANÁLISE REFERÊNCIAS

TAXA MÍNIMA DE ATRATIVIDADE (TMA)

É a melhor taxa de um investimento oportuno que está sendo descartado. Taxa definida pelo investidor, e é o mínimo de retorno que o investidor pretende receber.

Base para estabelecer a TMA: Taxa Referência (TR); Taxa Básica Financeira (TBF); Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP); Taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC)

Para o investimento ser viável, sua Taxa Interna de Retorno deve ser maior que a TMA.

(SOUZA; CLEMENTE, 2009; CASAROTTO FILHO; KOPITTKE, 2010).

TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR)

Taxa que torna o VPL de um fluxo de caixa igual a zero

VP = valor do investimento; N = quantidade de períodos; Ft = entrada de capital no período t.

Se TIR>TMA, o custo inicial será recuperado; Se TIR<TMA, o custo inicial não será recuperado.

(SOUZA; CLEMENTE, 2009; CASAROTTO FILHO; KOPITTKE, 2010;LAPPONI, 2007)

VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL)

Pode ser utilizada em qualquer tipo de projeto, o que a faz ser mais conhecida e utilizada. O VPL é todos os saldos do Fluxo de Caixa, concentrados no período inicial, e para a taxa de desconto utiliza-se a TMA.

FC = fluxo de caixa t = momento em que o FC ocorreu i = TMA n = período de tempo

Se VPL>0, remuneração será maior que a TMA; Se VPL<0, o custo inicial não será recuperado; Se VPL=0, o projeto será remunerado igual a TMA.

(LAPPONI, 2007;SOUZA; CLEMENTE, 2009; CASAROTTO FILHO; KOPITTKE, 2010)

BENEFÍCIO-CUSTO (IBC)

É a medida de quanto se espera ganhar para cada unidade investida. Assim, IBC é a razão entre o fluxo de benefícios e o fluxo de investimentos.

VPB = Valor Presente do Fluxo de BenefíciosVPI = Valor Presente do Fluxo de Investimentos

Se IBC > 1, o projeto torna-se viável.Se IBC < 1, o projeto torna-se inviável.

(SOUZA; CLEMENTE, 2009)

PAYBACK DESCONTADO (PD)

Representa o número de períodos necessários para que o fluxo de benefícios a valor presente, supere o capital investido.

Mede-se o tempo de períodos para recuperar o capital investido no projeto.

(SOUZA; CLEMENTE, 2009;LAPPONI, 2007)

Fonte: Elaboração dos autores.

Assim sendo, a análise de viabilidade econômica, por meio dos índices de lucratividade e rentabilidade permite ao empresário diminuir os riscos, projetar quanto e quando o investimento terá retorno. Neste sentido, a análise do VPL, TIR e IBC permite quantificar o retorno, enquanto que a análise do payback demonstra quando o retorno irá acontecer.

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2.2 Panorama de escritórios contábeis

A função da contabilidade é ser uma ferramenta para a gestão econômica, financeira, administrativa, social e ambiental para as organizações, sejam elas jurídicas ou físicas (HOOG, 2017). O contador é o profissional responsável, por elaborar e fazer a contabilidade cumprir sua função principal (MARION, 2015). Nesse sentido, os escritórios contábeis são parceiros importantes que o empresário deve ter em seu meio, pois são eles que repassam as informações para a gestão do negócio.

Segundo dados do Conselho Federal de Contabilidade (CFC, 2017) até agosto do corrente ano, existiam 878.092 profissionais contábeis no Brasil. O CFC apresenta também que entre as formas de constituição de empresas no ramo contábil, existem no Brasil 61.147, destas 4.066 estão atuantes no estado de Santa Catarina, classificado como o quinto estado com mais escritórios contábeis no Brasil. Ainda ao analisar os dados do CFC (2017), é perceptível que quando comparado o número de escritórios de 2004 a 2013, ocorreu um aumento de 21,52%.

O papel da contabilidade, para Hoog (2017), é interpretar, analisar e gerar relatórios econômicos, sociais e financeiros, fazendo com que os bens, direitos e obrigações estejam demonstrados e valorizados na gestão das organizações.

A contabilidade, para Abreu (2006), é a ciência que estuda as situações patrimonial, financeira e econômica das organizações, assim como, elabora relatórios que resumem a situação das organizações.

A contabilidade é antiga e sempre existiu para auxiliar as pessoas na tomada de decisão. Porém, com o passar do tempo, o governo começou a utilizá-la para arrecadar impostos e a tornou obrigatória para a maioria das empresas (MARION, 2015). Essa obrigação de contratar os serviços de um profissional da área contábil para atender às exigências legais induz parte dos empresários a criar uma antipatia pela classe, assim alguns gestores preferem contratar serviços de contabilidade com baixo custo, com a finalidade exclusiva de cumprir a lei (ABREU, 2006). Ainda assim, para Marion (2015), todos os negócios, independentemente de seu tamanho, necessitam de dados para a tomada de decisão, e para agregar valor aos negócios, a contabilidade deveria focar em seu principal objetivo: ser instrumento gerencial. O problema está nos muitos escritórios contábeis com ênfase exagerada na parte burocrática: guias, folhas de pagamentos e impostos, pois nestes, o usuário da contabilidade nem sempre é atendido conforme suas principais necessidades decisórias, passando, uma falsa impressão de serviços de “despachante” (MARION, 2015).

Como pode ser observado, o setor contábil está em expansão na atual economia, pela importância que o escritório vem tendo, em reduzir a carga tributária das empresas, sempre de maneira lícita, e ainda por ser a base para a tomada de decisões que os empreendedores precisam. Nesse sentido, percebe-se que existe uma grande oportunidade para bons profissionais e bons escritórios contábeis.

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2.3 Estudos relacionados

Ao iniciar este estudo, foram realizadas pesquisas onde encontrou-se trabalhos com o enfoque proposto nesse artigo. Assim, foi elaborado o quadro 2, no qual são apresentados os objetivos, justificativa e os resultados obtidos de estudos relacionados.

Quadro 2 - Estudos relacionados

AUTOR OBJETIVO GERAL JUSTIFICATIVA CONCLUSÃO

Machado e Gasparetto (2010)

Desenvolver uma abordagem para analisar a viabilidade da abertura de um escritório de contabilidade em Florianópolis/SC.

22% das empresas fecham as portas antes de completar dois anos pela falta de conhecimento gerencial e de mercado;

Verificou-se ser viável a abertura do negócio.

Marconi e Borges (2011)

Analisar a viabilidade da abertura de um escritório de contabilidade em Florianópolis, SC, usando como ferramenta o plano de negócio.

Alto índice de mortalidade das empresas, por problemas de gestão deficiente, falta de planejamento prévio, ausência de estudo e conhecimento de mercado.

O plano de negócio demonstrou um crescimento na receita de 20% ao ano, durante 5 anos, sendo assim o projeto apresentou-se viável.

Dalmedico e Enderli (2014)

Desenvolver uma análise de viabilidade econômica e financeira para estruturação de um escritório de assessoria contábil na cidade de Panambi-RS.

Justifica-se pela decisão de futuramente estruturar um escritório contábil próprio.

O empreendimento apresentou-se viável em relação aos resultados encontrados na análise de viabilidade.

Karczeski e Brandli (2014)

Analisar a viabilidade, do ponto de vista econômico e financeiro, da implantação de um escritório de consultoria em gestão empresarial na região norte do RS.

O empreendedorismo vem se destacando, evidenciando a importância do planejamento e controle e a necessidade de análises periódicas.

Se seguido o plano de negócio, o empreendimento torna-se viável, e com ótimas perspectivas de crescimento.

Cadorin e Lorandi (2016)

Elaborar um plano de negócio para abertura de um escritório de contabilidade na cidade de Florianópolis/SC.

Justifica-se pois ampliará o conhecimento obtido durante a vida acadêmica e profissional, e será base para concretizar a abertura do escritório contábil.

Com o planejamento financeiro dos três primeiros anos no mercado, alcançou-se índices que demonstram ser um bom e viável investimento.

Fonte: Elaboração dos autores.

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Observa-se que o tema foi abordado por diversos autores anteriormente e em diversas regiões. Em todas as cidades dos estudos anteriores, o projeto de um empreendimento contábil se tornou viável. Assim, o diferencial desta pesquisa será a região a ser estudada, sendo outra cultura empresarial, assim como outro cenário econômico. Portanto, será demonstrado, nesse estudo, a análise de viabilidade de empreendimento contábil na região de Concórdia/SC, seguindo o padrão das demais cidades estudadas pelos autores e estudos supracitados.

3 Metodologia

3.1 Delineamento da pesquisa

Collins e Hussey (2005) mencionam que as pesquisas da área de ciências sociais aplicadas podem ser classificadas metodologicamente quanto ao objetivo, à estratégia de coleta de dados e quanto à abordagem de análise. Frente ao exposto, esse estudo classifica-se quanto ao objetivo como descritivo, quanto ao procedimento de coleta de dados como um estudo de caso e de abordagem qualitativa.

A pesquisa descritiva tem como principal objetivo identificar, relatar, comparar, analisar e registrar características de determinada população ou relações entre as variáveis, sem que ocorra a interferência do pesquisador nos fatos (BEUREN et al., 2010). Neste sentido, a presente pesquisa caracteriza-se como descritiva, pois identifica e analisa dados de determinada amostra quanto ao futuro investimento em um empreendimento contábil e ainda relata quais os investimentos devem ser feitos durante o período analisado para que o retorno esperado se realize.

A pesquisa ainda caracteriza-se como um estudo de caso que, para Gil (2017), é uma modalidade amplamente utilizada nas ciências sociais, sendo que consiste em um estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita amplo e detalhado conhecimento, proporcionando uma visão global do problema ou identificando possíveis fatores que o influenciam ou são por ele influenciados, sem proporcionar o conhecimento preciso das características de uma população. Assim sendo, o presente estudo está assim classificado por realizar uma análise minuciosa de um único caso no município de Concórdia/SC, analisando fatores que influenciam no retorno e na viabilidade econômico-financeira do estudo.

Os estudos de caso classificam-se quanto à abordagem como qualitativa, que descreve a complexidade de determinado processo e possibilita em maior nível de profundidade o entendimento de particularidades no comportamento dos indivíduos. Assim, na contabilidade o uso da abordagem qualitativa é bastante comum, por se tratar de uma ciência social, sendo a abordagem qualitativa primordial no aprofundamento de questões relacionadas à teoria e à prática contábil (BEUREN et al., 2010).

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3.2 População e amostra

Silva (2010) define população como um conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam, pelo menos, uma característica em comum. O autor ainda define, que amostra é uma porção ou parcela, convenientemente selecionada da população, ou seja, é um subconjunto da população.

A presente pesquisa caracteriza-se pelo método de amostragem como não probabilística, que conforme Silva (2010), por interesse e responsabilidade do pesquisador, seleciona-se determinado número de casos para formar a amostra desejada.

Desta forma, tem-se como população desta pesquisa os contadores e futuros contadores que possuem o desejo de empreender na área contábil no município de Concórdia/SC. E como amostra, delimitam-se três futuros contadores com o intuito de empreender em serviços contábeis diferenciados aos empresários de Concórdia/SC e região.

Assim, esse empreendimento a ser analisado, terá como diferencial dos atuais escritórios o foco no empresário e no desenvolvimento de sua empresa, fornecendo dados e base para tomada de decisão, ou seja, desenvolver e apresentar a contabilidade gerencial aos empresários. Nesse sentido, busca-se empresários que estejam dispostos a investir um valor maior do que o praticado atualmente no mercado, porém recebendo, uma contabilidade de melhor qualidade e que forneça informações para fins decisórios.

3.3 Coleta e análise dos dados

Gil (2017) diz que na maior parte dos estudos de caso bem conduzidos, coleta-se dados mediante entrevista, análise de documentos e observação. Neste trabalho de elaboração de um estudo de viabilidade para abertura de um escritório contábil, faz-se necessária a busca de informações por meio de pesquisas e entrevistas com possíveis clientes, com a aplicação de questionário. Assim, esse estudo foi realizado em 5 etapas.

Na primeira etapa, foram estimadas as receitas. Para isso, foi necessária a aplicação de um questionário por meio da ferramenta de dados Google Forms ®, sendo que, o questionário foi enviado aos administradores e proprietários das empresas pelo e-mail cadastrado e disponível no site da Câmara de Dirigentes e Lojistas Concórdia (CDL). Porém, o índice de retorno foi baixo, sendo inferior a 1%. Desta forma, para que fosse possível uma melhor análise da projeção das receitas, foi aplicado o questionário pessoalmente, diretamente nas empresas, sendo que as mesmas foram escolhidas de forma aleatória.

Para aplicação do questionário nas empresas, na maioria delas o questionário foi deixado em um dia, e passado para recolher em outro, sendo que em alguns casos foi necessário retornar mais de uma vez para retirar o questionário. Pode-se ainda destacar que muitos empresários

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se recusaram a responder, alegando falta de tempo ou desinteresse em colaborar. Porém, conseguiu-se 266 respondentes, sendo um número aceitável para a presente pesquisa.

Após a coleta dos dados, o questionário foi digitado no Google Forms

®, para que fossem elaborados gráficos e tabelas da projeção das receitas e do interesse dos empresários em novos serviços.

A segunda e a terceira etapa se deram em conjunto, pois foram projetados os investimentos iniciais e as despesas para manutenção da atividade durante os períodos analisados. Os valores foram levantados por meio de orçamentos, em sites de vendas online e comércios na cidade de Concórdia/SC, sendo que os valores unitários orçados foram multiplicados pelas quantidades necessárias em cada período.

Para projeção das despesas e das receitas a partir do terceiro período, cabe ressaltar que as mesmas foram reajustas em 7% ao ano, com base na majoração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) 2016, que conforme Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016) encerrou com 6,29% no acumulado anual.

A quarta etapa se deu por meio da junção das receitas e das despesas, ou seja, ocorreu a elaboração de um fluxo de caixa projetado para cinco períodos - cabe ressaltar que cada período equivale a um ano. O fluxo de caixa foi feito de forma resumida, colocando-se somente os valores totais para que o mesmo não ficasse muito extenso – a forma detalhada encontra-se no fim do artigo (APÊNDICES A, B, C, D e E).

A partir disso, deu-se a elaboração da última etapa, onde por meio dos resultados do fluxo de caixa realizou-se os cálculos dos índices de engenharia econômica (TMA, VPL, TIR, IBC e payback). Após analisados, chega-se à solução da questão de pesquisa.

4 Resultados

Para possibilitar a abertura de um empreendimento independentemente do ramo, têm-se os gastos iniciais do negócio, sendo que estes podem ser constituídos por capital próprio ou de terceiros.

Ao planejar a abertura de um empreendimento contábil, estipula-se a sede do escritório. Sendo assim, planejou-se alugar uma sala comercial no centro da cidade com estrutura física de aproximadamente 80m², que irá suprir as necessidades iniciais.

Além da sala comercial, da mesma forma que Cardoso e Espejo (2012) para iniciar o empreendimento, têm-se as taxas de registro e os custos de compra de móveis, máquinas e equipamentos, materiais de escritório e materiais de limpeza do escritório para atendimento e prestação de serviço de qualidade desde o início, sendo que a tabela 1 demonstra os itens e os respectivos valores. Os valores utilizados referem-se aos valores de mercado desses imobilizados e das taxas, os quais foram pesquisados em lojas do município de Concórdia/SC e sites na internet.

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Tabela 1 - Investimento inicial

INVESTIMENTO INICIAL

Equipamentos de Informática R$ 16.778,00

Móveis R$ 10.508,00

Logomarca R$ 3.800,00

Website R$ 4.800,00

Materiais de Escritório R$ 1.001,13

Materiais de Limpeza R$ 710,45

CRC - Inscrição R$ 350,00

Taxas de Registro R$ 114,00

e-CPF/e-CNPJ R$ 400,00

Software R$ 2.500,00

Aluguel R$ 1.500,00

Telefone R$ 90,00

Internet R$ 60,00

Alvará Municipal R$ 400,00

Alvará Bombeiros R$ 150,00

TOTAL R$ 43.161,58

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Observa-se que o investimento inicial para o empreendimento contábil no município de Concórdia/SC é de R$ 43.161,58, perto do valor de R$ 40.750,50 encontrado em 2014, em Passo Fundo, cidade próxima a Concórdia, por Karczeski e Brandli (2014). Pode-se perceber que o valor mais relevante se encontra na parte da informática e dos móveis, que são os computadores e periféricos, impressora, servidor, mesas, cadeiras e armários, sendo que os detalhes de produtos, valores unitários e valor total se encontram disponíveis nos APÊNDICES A e B. Ainda nos APÊNDICES C e D, são detalhados os materiais de limpeza e de escritório.

Cabe ressaltar que um mês de aluguel foi considerado um investimento inicial, pois nesse período não ocorre recebimento de receitas, já que a empresa estará ainda em fase de constituição e em organização da sua infraestrutura física.

O valor considerável investido em website e logomarca é importante pois, segundo Hernandes (2014), elementos como móveis e utensílios, aparência pessoal, websites, logomarca e e-mails contribuem para melhorar os processos de vendas e, consequentemente, aumentar as receitas e a relação com o cliente.

Além do investimento inicial, Cardoso e Espejo (2012) ainda demonstram que é necessário o valor de capital de giro, para suprir com as despesas e custos iniciais, enquanto não ocorre entradas consideráveis ou suficientes para manter as atividades. Assim, o capital de giro é baseado no valor de 4 meses de gastos do primeiro ano, sendo estimado em R$

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53.083,00. Vale ressaltar que todos os valores são provenientes de recursos próprios, então, o valor total de investimento inicial é de R$ 96.244,58, sendo o valor próximo ao estimado por Cardoso e Espejo (2012).

Após a projeção dos investimentos iniciais, há os gastos anuais que o empreendimento terá nos cinco períodos analisados e estão demonstrados na Tabela 2.

Tabela 2 - Saídas

SAÍDAS ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

Informática R$ 660,00 R$ 1.015,00 R$ 1.599,65 R$ 2.261,18 R$ 3.007,48

Móveis R$ 120,00 R$ 128,40 R$ 137,39 R$ 147,01 R$ 157,30

Website R$ 958,80 R$ 1.025,92 R$ 1.097,73 R$ 1.174,57 R$ 1.256,79

Livraria R$ 596,19 R$ 1.256,31 R$ 1.607,82 R$ 1.908,11 R$ 2.353,58

Limpeza R$ 2.034,70 R$ 2.739,29 R$ 2.931,04 R$ 3.136,21 R$ 3.355,75

CRC R$ 768,00 R$ 821,76 R$ 879,28 R$ 940,83 R$ 1.006,69

e-CPF/e-CNPJ R$ 428,00 R$ 457,96 R$ 490,02 R$ 524,32

Publicidade R$ 24.000,00 R$ 25.680,00 R$ 27.477,60 R$ 29.401,03 R$ 31.459,10

Software R$ 6.480,00 R$ 8.229,60 R$ 8.805,67 R$ 9.422,07 R$ 10.081,61

Simples Nacional R$ 16.031,25 R$ 27.240,86 R$ 25.927,55 R$ 29.742,86 R$ 33.825,23

ISS R$ 3.000,00 R$ 3.210,00 R$ 3.434,70 R$ 3.675,13 R$ 3.932,39

Aluguéis R$ 16.500,00 R$ 19.260,00 R$ 20.608,20 R$ 22.050,77 R$ 23.594,33

Condomínio R$ 1.800,00 R$ 1.926,00 R$ 2.060,82 R$ 2.205,08 R$ 2.359,43

Energia Elétrica R$ 8.109,72 R$ 8.677,40 R$ 9.284,82 R$ 9.934,76 R$ 10.630,19

Telefone R$ 1.138,80 R$ 1.218,52 R$ 1.303,81 R$ 1.395,08 R$ 1.492,73

Internet R$ 1.018,80 R$ 1.090,12 R$ 1.166,42 R$ 1.248,07 R$ 1.335,44

Combustíveis R$ 2.400,00 R$ 2.568,00 R$ 2.747,76 R$ 2.940,10 R$ 3.145,91

Alvará Municipal R$ 428,00 R$ 457,96 R$ 490,02 R$ 524,32

Alvará Bombeiros R$ 160,50 R$ 171,74 R$ 183,76 R$ 196,62

Consultoria R$ 2.317,00 R$ 2.479,19 R$ 2.652,73 R$ 2.838,42 R$ 3.037,11Folha de

PagamentoR$ 24.000,00 R$ 25.680,00 R$ 27.477,60

FGTS a pagar R$ 2.133,33 R$ 2.282,67 R$ 2.442,45

Pró labore R$ 72.000,00 R$ 77.040,00 R$ 77.040,00 R$ 82.432,80 R$ 88.203,10

Férias R$ 666,67 R$ 713,33 R$ 763,27

13º salário R$ 2.000,00 R$ 2.140,00 R$ 2.289,80

Flores e Plantas R$ 480,00 R$ 513,60 R$ 549,55 R$ 588,02

Antivírus R$ 329,98 R$ 404,24Despesas de manutenção

R$ 1.200,00 R$ 1.284,00 R$ 1.373,88 R$ 1.470,05

Depreciação R$ 4.306,40 R$ 4.306,40 R$ 4.306,40 R$ 4.306,40 R$ 4.306,40

TOTALR$

164.569,64R$

192.609,26R$

226.754,66R$

245.467,95R$

264.817,01

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

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Nota-se que da mesma forma que o encontrado por Dalmedico e Enderli (2014) o item mais relevante fica por conta das retiradas dos sócios, que na atual pesquisa fica em torno de 46% das despesas do ano 1 e 34% para o ano 5. Em seguida, observa-se que as despesas com publicidade representam em torno de 14% do total.

Destaca-se que o valor investido em publicidade e propaganda justifica-se pois a propaganda pode ser uma ferramenta de suporte às empresas para divulgar os benefícios dos serviços, orientar os consumidores sobre a aquisição dos serviços e destacar as qualidades superiores que a entidade tem a oferecer (SARQUIS, 2009).

Quanto à tributação, cabe ressaltar que os impostos serão recolhidos em guia única pelo Simples Nacional, e que a fórmula utilizada nessa pesquisa passará a ser usada pelas empresas a partir de 2018, conforme Lei Complementar 155/2016.

Como a atividade de contabilidade se enquadra no anexo III, até o oitavo mês do primeiro período analisado foi utilizada a alíquota de 6%, sem dedutibilidade. A partir do nono mês, a receita bruta acumulada (12 meses) ultrapassou a faixa de R$ 180.000,00, e passou-se a utilizar a alíquota de 11,2%, com dedutibilidade mensal de R$ 9.360,00 sobre a receita mensal, e a partir do nono mês do segundo ano, a receita bruta acumulada (12 meses) ultrapassa os R$ 360.000,00 e a alíquota passa para 13,5% com dedutibilidade de R$ 17.640,00 sobre a receita mensal, os detalhes dos valores pagos de forma detalhada encontram-se no APÊNDICE E.

Quanto à depreciação, foi considerada a taxa de 20% a partir do preço de custo para os computadores e periféricos, pois estima-se que a vida útil seja de 5 anos para esses equipamentos. Para móveis, foi considerada a taxa de 10%, pois a expectativa de vida útil dos móveis é maior.

Nas despesas mensais de informática e livraria, pode-se destacar que além do reajuste anual de 7% no preço de custo, estima-se um aumento gradativo nas quantidades utilizadas, pelo crescimento das empresas, e do próprio escritório, enquanto que os demais gastos apresentaram apenas o reajuste já comentado.

A partir do 3º (terceiro) período analisado, os gastos aumentaram consideravelmente pois além dos reajustes já mencionados, estima-se a contratação de um assistente para auxiliar no atendimento, arquivo e nos lançamentos fiscais e contábeis.

Quanto às receitas, estas foram projetadas por meio da tabulação dos dados da pesquisa realizada com os empresários da cidade de Concórdia, onde constatou-se o interesse dos empresários em adquirir novos serviços pagando em média os seguintes valores, conforme tabela 3.

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Tabela 3 - Percentual de interessados e honorário médio

SERVIÇO PORCENTAGEM HONORÁRIO MÉDIO

Contabilidade Fiscal 100% 476,69

Assessoria/Consultoria 71,80% 304,19

Contabilidade de Custos 56,02% 291,28

Contabilidade Gerencial 48,87% 388,46

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Ao elaborar a tabela 3, o valor do honorário médio do serviço de contabilidade fiscal foi elaborado com base nos valores que os empresários pagam atualmente de honorários, e os serviços de assessoria/consultoria, contabilidade de custos e contabilidade gerencial foram elaborados com base no interesse e na vontade dos empresários em pagar e adquirir esses serviços.

Pode-se perceber que o maior interesse estaria em receber serviços de assessoria/consultoria, com um valor de honorário médio de R$ 304,19, enquanto que o interesse em utilizar dos serviços de contabilidade gerencial fica em 48,87%. Em relação aos três serviços, esse apresenta o menor percentual de interesse, porém apresenta o maior valor de honorário médio. No geral, percebe-se que o valor de honorário médio maior está em relação à contabilidade fiscal, e é o serviço que os empresários já possuem, ou seja, a maioria tem interesse em adquirir novos serviços, porém pagando menos do que o atual serviço recebido.

Assim, a partir dessas informações, estipulou-se um número máximo de 30 empresas que o novo empreendimento teria capacidade de atender com qualidade e dando total atenção ao empresário, e ainda, que partindo de 8 empresas, esse o número estipulado para iniciar a contabilidade, seriam conquistados 2 novos clientes por mês de serviço, até ser atingida a capacidade máxima em dezembro do primeiro ano. A receita foi aumentando gradativamente até atingir seu ponto máximo, conforme tabela 4, e o reajuste de valores em 7% foi a partir do terceiro ano.

Tabela 4 - Receitas

Contabilidade Fiscal

Contabilidade Gerencial

Contabilidade de Custos

Assessoria/Consultoria

Receita Total

ANO 1 R$ 108.685,71 R$ 43.285,71 R$ 37.200,00 R$ 49.800,00 R$ 238.971,43

ANO 2 R$ 171.609,02 R$ 68.345,86 R$ 58.736,84 R$ 78.631,58 R$ 377.323,31

ANO 3 R$ 183.621,65 R$ 73.130,08 R$ 62.848,42 R$ 84.135,79 R$ 403.735,94

ANO 4 R$ 196.475,17 R$ 78.249,18 R$ 67.247,81 R$ 90.025,29 R$ 431.997,46

ANO 5 R$ 210.228,43 R$ 83.726,62 R$ 71.955,16 R$ 96.327,07 R$ 462.237,28

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Analisando a tabela 4, pode-se perceber que a maior influência nos recebíveis está ligado à contabilidade fiscal, pois como comentado, é o único valor baseado nos valores que já estão sendo pagos, porém nota-

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se que os outros três serviços ofertados apresentam valor considerável em relação ao todo, sendo o menor valor voltado à contabilidade de custos, pois é também o menor valor de honorário médio. No geral, a receita apresenta ser considerável desde o primeiro ano, aumentando para o segundo ano e depois disso tendo apenas o reajuste anual dos honorários, estipulados em 7%. Para maiss detalhes, principalmente em relação ao ano 1, tem-se a tabela mensal de recebimentos, e a mesma se encontra no APÊNDICE E.

Cabe ressaltar que diferente dos trabalhos de Machado e Gasparetto (2010), Karczeski e Brandli (2014), Cardoso e Espejo (2012) que estimaram a receita com base, no salário mínimo, horas para cada serviço realizado e tabela-base de honorários disponibilizada pelo Sindicato dos Contabilistas de Curitiba, respectivamente, esta pesquisa estipula as receitas com base no interesse e no valor que os empresários de Concórdia/SC estariam dispostos em adquirir e pagar por esse serviço.

Após detalhados os itens de investimentos iniciais, despesas e receitas, elaborou-se o fluxo de caixa dos cinco períodos analisados, que demonstra as entradas e saídas de forma resumida, assim como o déficit ou superávit de caixa. O fluxo de caixa projetado para os cinco períodos está demonstrado na tabela 5.

Tabela 5 - Fluxo de Caixa (Valores em R$)

INÍCIO ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

ENTRADAS - 238.971,43 377.323,31 403.735,94 431.997,46 462.237,28

SAÍDAS 96.244,58 164.569,64 192.609,26 226.754,66 245.467,95 264.817,01

SALDO - 96.244,58 74.401,79 184.714,05 176.981,28 186.529,51 197.420,27

SALDO

ANTERIOR- 74.401,79 259.115,84 436.097,12 622.626,63

SALDO

ACUMULADO

74.401,79 259.115,84 436.097,12 622.626,63 820.046,90

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Com a tabela 5, nota-se que para iniciar o investimento utiliza-se R$ 96.244,58, e em todos os períodos observa-se um superávit de caixa, sendo que no primeiro ano o valor é de R$ 74.401,79, e no segundo ano esse valor aumenta consideravelmente, recuperando o valor inicial. É ainda possível observar que o valor do superávit do período 3 diminui, isso relacionado ao aumento das despesas, pois nesse período é que se estipula a contratação de uma funcionária para auxiliar nos serviços. Observa-se ainda que a partir do terceiro período o superávit aumenta, ficando próximo a R$ 200.000,00 no período 5.

Da mesma forma que Dalmedico e Enderli (2014), Cardoso e Espejo (2012) e Karczeski e Brandli (2014), a presente pesquisa apresenta uma evolução no saldo de caixa com o decorrer dos períodos e ainda apresenta superávit de

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caixa em todos os períodos analisados. A partir disso, pode-se elaborar uma análise de viabilidade, utilizando-se dos indicadores de viabilidade econômica, os quais estão demonstrados na tabela 6 e analisados a seguir.

Tabela 6 - Indicadores de Viabilidade Econômica

Ano FC Anual FC Acumulado FC Descontado

0 -R$ 96.244,58 R$ - -R$ 96.244,58

1 R$ 74.401,79 -R$ 21.842,79 R$ 62.001,49

2 R$ 184.714,05 R$ 162.871,26 R$ 128.273,65

3 R$ 176.981,28 R$ 339.852,54 R$ 102.419,72

4 R$ 186.529,51 R$ 526.382,05 R$ 89.954,43

5 R$ 197.420,27 R$ 723.802,32 R$ 79.338,78

TMA 20%

TIR 124%

VPL R$ 365.743,49

IBC R$ 8,52

Payback Descontado 1 ano e 4 meses

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Para estimar a TMA, utiliza-se de referência os títulos do tesouro direto que, conforme o site do tesouro, o maior rendimento acumulado nos últimos doze meses em títulos prefixados com capitalização semestral apresenta rentabilidade 18,23%, sem descontar a tabela progressiva do IR, com garantia do governo de 100% do valor investido. Assim, pela alta rentabilidade do título e por possuir pouco ou nenhum risco, optou-se por utilizar uma TMA maior que a rentabilidade do título pelo risco que ocorre no mercado independentemente das ações que sejam tomadas (GALESNE; FENDTERSEIFER; LAMB, 1999).

A TIR tem a finalidade de comprovar a rentabilidade de determinado projeto, sendo calculada a partir do valor investido e dos fluxos de caixa dos períodos analisados. No presente investimento, a TIR apresentou-se 6 vezes maior do que a TMA, demonstrando que o investimento trará retorno maior que o esperado.

Sendo que o VPL complementa o valor encontrado pela TIR, e é o valor dos fluxos de caixa a valor presente, e sempre que positivo demonstra um retorno maior que o esperado pelo investidor. Sendo assim, o VPL demonstra que o investimento é altamente rentável e viável.

O IBC demonstra o retorno do investimento para cada R$ 1,00 investido no projeto. Neste investimento, o retorno será de R$ 8,52, demonstrando que o investimento é altamente rentável, e do mesmo modo que os índices anteriores apresentam ser viáveis.

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O payback descontado não apresenta a viabilidade do investimento, apenas serve de base para a tomada de decisão, pois demonstra qual o espaço de tempo necessário para se obter o retorno do investimento inicial. Considerando o valor do dinheiro no tempo, este sendo descontado pelo valor da TMA. O investimento analisado apresenta que o retorno ocorrerá em 1 ano e 4 meses, ou seja, logo no início do investimento já podemos obter o retorno do capital investido, sendo este um valor satisfatório.

Assim, de maneira geral os presentes índices respondem o objetivo da pesquisa, pois todos apresentam-se como satisfatórios e tornam o empreendimento contábil viável, da mesma forma que o encontrado por Marconi e Borges (2011), Machado e Gasparetto (2010), Karczeski e Brandli (2014), Cardoso e Espejo (2012), Dalmedico e Enderli (2014) e Cadorin e Lorandi (2016) em anos anteriores e em cidades diferentes. Os índices desse projeto ainda demonstram que retorno ocorrerá de forma rápida.

5 Considerações finais

O planejamento prévio à abertura de um negócio é fator importante para a sobrevivência do empreendimento. O mesmo não é diferente em um escritório contábil. Nesse sentido, a análise de viabilidade econômica vem para auxiliar o empresário na tomada de decisão de um investimento, consiste em um exame das informações e dos dados financeiros do negócio e ainda contribui para diminuir os riscos de perda de dinheiro. Neste contexto essa pesquisa teve por objetivo identificar analisar a viabilidade econômica de um empreendimento contábil no município de Concórdia/SC.

Primeiramente, foram buscados os valores referentes ao investimento, receitas e despesas. Esses valores foram obtidos por meio de pesquisa de preço, com elaboração de orçamentos em sites de vendas e comércios de Concórdia/SC. Cabe destacar que a estimativa das receitas foi mais complexa por ser preciso tomar certo cuidado em não superestimar esses valores, então para isso, foram questionados os empresários quanto ao interesse em adquirir novos serviços e os valores a serem pagos por estes, garantindo a fidedignidade do trabalho.

Após isso, juntou-se o investimento inicial, no valor de R$ 96.244,58, que consta o capital de giro e os gastos iniciais, as receitas e despesas totais de cada período, e elaborou-se o fluxo de caixa para cinco períodos, ou seja, cinco anos após o investimento.

Com o fluxo de caixa, foi possível calcular os indicadores de engenharia econômica (TMA, TIR, VPL, IBC e payback descontado). Com a análise desses indicadores, constatou-se que todos os resultados apresentaram ser extremamente favoráveis quanto à abertura de um empreendimento contábil nos moldes do projeto analisado. Sendo assim, indicam que o empreendimento é viável. Portanto, percebe-se que o objetivo da presente pesquisa foi alcançado de forma integral.

Como limitações dessa pesquisa tem-se a área de abrangência, sendo limitada ao município de Concórdia/SC, ter sua aplicação exclusiva a esse caso, não podendo ser generalizada a outras análises, ou outros ramos de

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negócios. Também pela estrutura abranger uma análise de viabilidade, os dados estão limitados a análises econômicas e financeiras.

Para próximas pesquisas, sugere-se a análise de viabilidade de outros investimentos em outros ramos, ou até mesmo nesse empreendimento, como a aquisição de sala comercial própria, contratação de novos funcionários ou até mesmo a ampliação do escritório pela aquisição de carteira de clientes. E ainda, como o projeto se apresentou viável, sugere-se a elaboração de um plano de negócio, com elaboração de identidade organizacional (missão, visão e valores), análise de concorrentes, de mercado e dos pontos fortes e fracos do investimento.

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SOUZA, A.; CLEMENTE, A. Decisões financeiras e análise de investimentos: fundamentos, técnicas e aplicações. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 186 p.

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Apêndice A

Produto Unidade Preço unitário Total

Notebook Dell Inspiron 5468 Core i5 / 4GB / 1TB

3 R$ 2.299,00 R$ 6.897,00

Mouse USB Concórdia 3 R$ 10,00 R$ 30,00

Teclado USB Concórdia 3 R$ 25,00 R$ 75,00

Suporte de Notebook NT-Multi 3 R$ 49,00 R$ 147,00

Multifuncional Laserjet HP Pro M426DW 1 R$ 1.892,00 R$ 1.892,00

Tonner HP 2 R$ 100,00 R$ 200,00

Telefone com fio Intelbras Pleno 3 R$ 49,00 R$ 147,00

Terminal Inteligente Intelbras TI500 1 R$ 569,00 R$ 569,00

Calculadora com bobina térmica Ratio12PD

3 R$ 359,00 R$ 1.077,00

Servidor Lenovo TS150 XEON E3-1225 V5 / 8GB / 1TB

1 R$ 2.799,00 R$ 2.799,00

Calculadora HP 12C 3 R$ 182,00 R$ 546,00

Computador para recepção 1 R$ 1.899,00 R$ 1.899,00

Contrato de manutenção (contrato trimestral) 2 horas por mês

4 R$ 125,00 R$ 500,00

TOTAL R$ 16.778,00

Fonte: Elaboração do autor.

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- 149 -

Apêndice B

Produtos Unidade Valor

Unitário Total

Armário baixo para materiais de expediente

1 R$ 330,00 R$ 330,00

Armário pequeno para almoxarifado 1 R$ 390,00 R$ 390,00

Balcão para recepção 1 R$ 1.200,00 R$ 1.200,00

Cadeira para recepção 1 R$ 220,00 R$ 220,00

Pia 1 R$ 899,00 R$ 899,00

Arquivo de pastas suspensas 1 R$ 390,00 R$ 390,00

Mesa de cozinha 1 R$ 449,00 R$ 449,00

Mesas (em L) para atendimento com duas gavetas fixas

3 R$ 650,00 R$ 1.950,00

Cadeiras presidenciais 3 R$ 390,00 R$ 1.170,00

Cadeiras para clientes 6 R$ 190,00 R$ 1.140,00

Poltronas para recepção 3 R$ 290,00 R$ 870,00

Purificador de água 1 R$ 1.500,00 R$ 1.500,00

TOTAL R$ 10.508,00

Fonte: Elaboração do autor.

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- 150 -

Apêndice C

Produto Unidade Preço Unitário Total

Papel-toalha (1.000 un) 4 R$ 13,00 R$ 52,00

Papel higiênico 12 un 3 R$ 12,00 R$ 36,00

Detergente 500ml 1 R$ 1,60 R$ 1,60

Saco cru grande (100 un) 1 R$ 3,00 R$ 3,00

Esponja dupla face 1 R$ 0,85 R$ 0,85

Pano de prato 3 R$ 3,50 R$ 10,50

Rodo nylon 4s 1 R$ 18,80 R$ 18,80

Cabo Br 1 R$ 20,00 R$ 20,00

Toalheiro interf. branco 2 R$ 28,00 R$ 56,00

Saboneteira c/ reservatório 2 R$ 28,00 R$ 56,00

Sabonete 5l 1 R$ 23,00 R$ 23,00

Tira de copo 180ml 2 R$ 3,20 R$ 6,40

Disp. acrílico 180ml 1 R$ 25,00 R$ 25,00

Disp. 1 Tubo 180ml 1 R$ 22,00 R$ 22,00

Vassoura Noviço 1 R$ 10,50 R$ 10,50

Pá plástica 1 R$ 3,00 R$ 3,00

Lixeira 14l c/ tampo V/V 2 R$ 18,00 R$ 36,00

Desinfetante 5l 1 R$ 12,00 R$ 12,00

Limpa-vidros 5l 1 R$ 16,00 R$ 16,00

Sapólio Radium 1 R$ 6,00 R$ 6,00

Álcool 92% 1 R$ 6,00 R$ 6,00

Multiuso 5l 1 R$ 15,00 R$ 15,00

Água sanitária 1 R$ 8,00 R$ 8,00

Balde 15l 1 R$ 10,00 R$ 10,00

Luva látex 2 R$ 3,50 R$ 7,00

Cesto office 3 R$ 48,00 R$ 144,00

Saco de Lixo 25l (100 un) 1 R$ 9,00 R$ 9,00

Escova para vaso 2 R$ 9,80 R$ 19,60

Bom Ar 2 R$ 8,80 R$ 17,60

Flanela amarela 3 R$ 2,20 R$ 6,60

Tira de copo 80ml 2 R$ 3,00 R$ 6,00

Disp. café acrílico 1 R$ 25,00 R$ 25,00

Pedra sanitária 6x 1 R$ 10,00 R$ 10,00

Puro Ar c/ Refil 2 R$ 6,00 R$ 12,00

TOTAL R$ 710,45

Fonte: Elaboração do autor.

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- 151 -

Apêndice D

Produto Unidades Valor Unitário Valor Total

Lapiseira 4 R$ 5,75 R$ 23,00

Canetas 10 R$ 1,80 R$ 18,00

Borrachas 4 R$ 0,95 R$ 3,80

Estilete 1 R$ 2,50 R$ 2,50

Fita crepe larga 1 R$ 17,25 R$ 17,25

Fita dupla face 2 R$ 1,95 R$ 3,90

Cola litro 1 R$ 14,15 R$ 14,15

Régua 3 R$ 2,50 R$ 7,50

Grampos grandes (1000 un) 1 R$ 2,80 R$ 2,80

Caixa de clipes grandes (200 un) 1 R$ 17,65 R$ 17,65

Caixa de clipes pequenos (800 un) 1 R$ 26,50 R$ 26,50

Pacote de borrachinhas (300 un) 2 R$ 7,25 R$ 14,50

Pastas suspensas 100 R$ 3,75 R$ 375,00

Fita durex larga 2 R$ 3,90 R$ 7,80

Grafite 1 R$ 3,90 R$ 3,90

Marca-texto 10 R$ 3,25 R$ 32,50

Grampos pequenos (5000 un) 2 R$ 6,90 R$ 13,80

Papel (caixa 10 resmas) 1 R$ 160,00 R$ 160,00

Porta-canetas 3 R$ 17,90 R$ 53,70

Cola tubo 2 R$ 4,10 R$ 8,20

Tesoura grande 1 R$ 14,90 R$ 14,90

Tesoura pequena 1 R$ 4,95 R$ 4,95

Grampeador pequeno 4 R$ 41,50 R$ 166,00

Grampeador grande 1 R$ 122,50 R$ 122,50

Bobinas para calculadora 1 R$ 63,00 R$ 63,00

TOTAL R$ 1.001,13

Fonte: Elaboração do autor.

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- 152 -

Apêndice E (Valores em R$)

Fonte: Elaboração do autor.

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Maio

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Setembro

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- 153 -

A utilização de informações advindas da controladoria em empresas de

médio e grande porte

Patrique Rosa Hedlund127 Euselia Paveglio Vieira228

Leonardo Bernardi Rohenkohl329

RESUMO

Este artigo busca apresentar a importância e a influência das informações oriundas da controladoria para a gestão organizacional em empresas de médio e grande porte, relatando os principais impactos que os dados fornecidos pelo Controller gera no processo decisório das empresas. A controladoria visa a auxiliar a gestão das empresas, bem como fundamentar as decisões do grupo gerencial por intermédio da geração de informações seguras e confiáveis, alcançando a eficácia organizacional. Ao observar os conceitos advindos da controladoria, procurou-se descrever as técnicas, dados e indicadores que permeiam este departamento, e como estes corroboram para uma melhor análise e avaliação do melhor uso das informações geradas. Utilizando-se dessa estratégia metodológica adotada da pesquisa de caráter descritivo e qualitativo, com as informações angariadas em entrevistas estruturadas, foram desenvolvidas as análises e evidenciações dos dados, os quais foram correlacionados com outros artigos aplicados em diversas regiões do país. Confrontando a gestão empresarial em relação à atual situação financeira em que se encontra a economia global, torna-se uma necessidade cada vez maior que os gestores das empresas estejam munidos de indicadores e informações advindas da controladoria como suporte ao processo de gestão empresarial, na busca pela manutenção da saúde financeira organizacional, perante um mercado cada vez mais seletivo. Conclui-se que na região noroeste do estado do RS as organizações necessitam investir mais nesse profissional e no seu departamento de controladoria visando à agilidade no desenvolvimento de relatórios gerenciais, na projeção de cenários futuros e por consequência instrumentalizar os seus gestores na tomada de decisão.

Palavras-chave: Gestão. Gerenciamento. Informação.

1 Pós-Graduado pela Unijuí, [email protected] Doutora em Contabilidade, Professora Unijuí/RS, [email protected] Mestre em Contabilidade pela FURB, [email protected].

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1 Introdução

No contexto organizacional, os líderes empresariais precisam considerar diversas variáveis e informações que estão presentes neste meio com o intuito de garantir a potencialização dos seus lucros e reduzir ao máximo seus custos a fim de assegurar a continuidade empresarial. Para Vieira, Raupp e Beuren (2015), devido às constantes mutações presentes no mercado, as empresas estão sendo atingidas por mudanças que demandam um alto nível de criticidade na tomada de decisão dos seus gestores, refletindo numa realidade onde as decisões são aferidas de acordo com as manifestações do mercado e da concorrência.

Neste cenário de alta volatilidade informacional, caracterizado por mudanças estratégicas e mercadológicas no ambiente que a empresa está inserida, a controladoria torna-se protagonista no gerenciamento e no plano estratégico da organização. Desta forma, seu desenvolvimento acontece a partir dos fundamentos básicos da contabilidade a fim de ampliar seu suporte informacional, no correto planejamento de tributos, controles internos, orçamento estratégico, análises de viabilidade de investimentos, etc. (COELHO; LUNKES; MACHADO, 2012).

Um aspecto importante para a continuidade de uma empresa é um sistema informativo dinâmico e eficiente, onde a integração entre departamentos seja observada, evitando que algum núcleo se disperse dos objetivos fixados e almejados pela organização. Com esse propósito, a contabilidade e a controladoria estão sendo utilizadas como maneiras de munir os gestores com informações precisas e acuradas ao planejar e controlar as atividades gerenciais e os controles internos do processo de gestão (OLIVEIRA; PEREZ JR.; SILVA, 2005).

Slomski et al. (2013) relatam em seus estudos que a concepção da controladoria empresarial precisa funcionar como um concerto musical, na qual o diretor da controladoria nada mais é do que o produtor da sintonia, coordenando para que os demais departamentos da empresa alinhem o toque de seus instrumentos musicais. Desta forma, é imprescindível que todas as partes envolvidas trabalhem com toda a sua agilidade e capacidade, de forma a manter a harmonia desejada e contínua, onde o fenômeno acústico propagado corresponderá à maximização dos lucros gerais da organização.

Ao surgir novas variáveis influenciadas pelo mercado externo, é imprescindível que a empresa esteja preparada para tomar a decisão mais oportuna. Neste sentido, aliado à controladoria, o planejamento estratégico é um sistema que evidencia as aspirações e a aceitação do dono da empresa, transformadas em metas de resultados, baseados nos moldes de proatividade e eficiência procurando alcançar o comportamento esperado pela gestão da empresa, auxiliando os dados de avaliação das lideranças, deliberando os parâmetros para atingir seus resultados, sejam eles através de um feedback positivo ou negativo (BIANCHI; BACKES; GIONGO, 2013).

Em conseguinte, Ferreira e Angotti (2016) evidenciam que em empresas de médio porte estão trabalhando no processo de implementação

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e análise, de planejamento estratégico. Esse desenvolvimento, por mais que seja primário, já revela as benfeitorias do uso desta ferramenta como instrumento de apoio à gestão, ou seja, cria-se a necessidade de um estudo aprofundado dessas estratégias, bem como, seu desenvolvimento até os processos operacionais.

A controladoria em empresas brasileiras de grande porte sofre de uma carência literária. Para Santos et al. (2008), a controladoria é uma ramificação que surgiu como um desenvolvimento do processo evolutivo da contabilidade, por meio de suas bases conceituais para processos, planejamentos e manutenção de sistemas de informações. Supre a necessidade de informações que os líderes necessitam durante sua gestão. Alinhado a isso, a mesma atua como uma unidade responsável a coordenação e disseminação desta nova tecnologia de gestão, bem como, direcionar os negócios a otimização dos resultados.

No entendimento de Fernandes e Galvão (2016), a falta de uma controladoria bem estruturada, alinhando planejamento, controle financeiro e patrimonial destaca a carência de profissionais capazes de alavancar o crescimento e a longevidade de uma organização. Geralmente, nessas empresas não há domínio do mercado externo, baixo investimento em novas tecnologias e identificação e minimização dos riscos direto em sua origem.

A gestão baseada na intuição e sem a controladoria como apoio informacional não é suficiente para garantir a continuidade de uma empresa. Esta falta de conhecimento técnico colabora com o aumento das ameaças presentes no mercado e a escassez de recursos financeiros, comprometendo, assim, as decisões estratégicas (FERNANDES; GALVÃO, 2016).

Em outro dimensionamento, Silva e Dandaro (2015) ressaltam que a consistência e a confiabilidade são um dos principais benefícios da controladoria, ambas aperfeiçoam e auxiliam os gestores em seu cotidiano. Essas benfeitorias colaboram com a interação entre coordenação e equipe, além de colaborar com o desenvolvimento das estratégias comerciais da empresa, análise de fatores que impactam na economia e o fornecimento de respostas consistentes à diretoria.

Neste entendimento, a controladoria é um ramo oriunda da contabilidade que possui o viés de fundamentar e potencializar a tomada de decisões, considerando as áreas de gerenciamento, tributos, contabilidade e custos evidenciando sua importância fundamental dentro de uma empresa. Desta forma, a questão do estudo consiste em saber: como as empresas de médio e grande porte utilizam das informações geradas pela controladoria na gestão de seus negócios? Como objetivo, esta pesquisa busca verificar como estão sendo utilizadas as informações dos relatórios gerenciais fornecidos pela controladoria e sua efetiva contribuição na gestão das empresas de médio e grande porte do noroeste do estado do Rio Grande do Sul.

Este estudo se justifica devido à fundamental importância da controladoria dentro de uma organização, pois conforme Garrison e Noreen (2001), no atual cenário de uma organização, a controladoria está começando a fazer parte da alta administração, colaborando na formulação e na implementação de estratégias, no intuito de interpretar o plano estratégico

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através de formas administrativas e operacionais. Trata-se de um integrante ativo do processo decisório, considerada cointendente pelas decisões.

O estudo de Nascimento et al. (2016) afirma que um dos principais objetivos da controladoria é a geração de informações úteis para os processos de tomada de decisão das empresas. Desta maneira, justifica-se este estudo pela necessidade de uma correta compreensão e do fomento a estudos que abarcam instrumentos que munem a controladoria, especialmente as organizações que são exemplos de sistemas funcionais em governança coorporativa. Adicionalmente, Su, Baird e Schoch (2015) sustentam que, para melhorar o desempenho de uma organização, os gerentes que almejam um crescimento financeiro devem considerar confiar mais em relatórios de controle para monitorar resultados e revisar variáveis de desempenho crítico. Através do desenvolvimento de uma maturidade, espera-se um parecer favorável ao desempenho organizacional.

Pode-se observar que, para Maciel e Maciel (2015), os dirigentes das organizações, perante um mercado cada vez mais complexo e competitivo, onde se exige mais planejamento e flexibilização, carecem de instrumentos e indicadores fornecidos pela controladoria para sustentar suas estratégias. Neste aspecto, os dados extraídos dos indicadores e informações advindas da controladoria são peças-chave para o processo decisório.

2 Referencial teórico

O presente capítulo está dividido em dois subcapítulos. O primeiro subcapítulo abordará estudos que inferem teoricamente sobre a controladoria, seus benefícios para a qualidade da tomada de decisão empresarial, bem como estudos que abordam aspectos da gestão empresarial. No segundo subcapítulo constarão conceitos sobre os indicadores financeiros e estudos que demonstram a importância dos mesmos no gerenciamento empresarial.

2.1 Controladoria e gestão empresarial

A procura por agilidade nos processos de produção e a crescente concorrência tem instigado os gestores e líderes a explorarem novos artifícios gerenciais, que necessitam de informações seguras, precisas e em tempo eficaz para o suporte a tomada de decisão. Advindo deste cenário histórico, surge a controladoria, que teve como principal intuito suprir a carência da contabilidade em relação às informações gerenciais, potencializando a eficácia empresarial (SOUZA et al., 2013).

A controladoria, enquanto ramo estudado pelo contador gerencial, exerce em um sentido mais abrangente o domínio empresarial. Desta forma, a controladoria analisa desde o planejamento financeiro, orçamento, indicadores monetários, apoio aos gestores para a tomada de decisão (BARRETO, 2008). Para Catelli (2001), a controladoria não está voltada

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para a execução de tarefas, ou seja, ela não pode ser apresentada como um método. Todavia, quando observada como um ramo do conhecimento a mesma é responsável pelos estudos imprescindíveis para o desenvolvimento, criação e potencialização dos sistemas de informações e cenários de gestão econômica, que preencham a carência de informações dos gestores e os instrumentalizem para a tomada de decisões mais adequadas.

Sob o ponto de vista de Barreto (2008), a controladoria está presente em todas as etapas de um processo: início, desenvolvimento e após a finalização, analisando com total cautela para que tudo ocorra conforme os padrões pré-estabelecidos pela empresa. O desempenho é realizado por um órgão que apesar de não possuir autoridade sobre os demais departamentos, é reconhecido por todos os setores como responsável pela parte operacional, tanto pelo sistema de informações quando pelos controles, ou seja, é de responsabilidade da controladoria fornecer informações gerenciais com o viés de auxiliar na tomada de decisão e controle.

Oliveira et al. (2005) entendem que as funções da controladoria podem ser em síntese: a Informação: capacidade de entendimento abrangendo os sistemas contábil, fiscal, financeiro e gerencial; Motivação: derivado dos efeitos dos processos de controle sobre a área comportamental na empresa; Coordenação: refere-se à centralização das informações instruindo para a aceitação dos planos; Acompanhamento/Controle: analisa e estuda o desenvolvimento e a eficiência dos planejamentos com a finalidade de corrigir equívocos e revisão dos processos; Planejamento: conduzir e nortear a diretoria da empresa na resolução e mensuração das estratégias e objetivos almejados; Avaliação: interpretação dos dados, cenários e informações, evidenciando os desempenhos alcançados por departamentos, por indicadores, por processos.

Aliado a isso, Crepaldi (2008) define que por intermédio de um sistema de informações com uma estrutura adequada, se é permitido aos gestores informações imprescindíveis para a gestão econômico-financeira de organização, além de, dispor de uma grande eficácia na geração e integração de informações.

Crepaldi (2008) chama a atenção para as mutações ocorridas nos negócios devido à competitividade global promovida pelas inovações tecnológicas. Essas alterações refletem na indispensável utilização de um sistema de informações financeiro e operacional dentro de uma empresa. Este novo cenário exige a utilização de um sistema de custeio e desempenho muito bem aperfeiçoado.

Para a tomada de decisões, são necessárias informações. Diante disso, os sistemas de dados devem servir como fundamentadores e apoiadores as decisões dos gestores em todas as etapas do processo onde é imprescindível a utilização de dados específicos. O trabalho em conjunto realizado pelo processo de gestão e o sistema de informações determinam a eficácia do autocontrole e do feedback na busca pelos resultados almejados. Neste sentido é necessário desenvolver sistemas que garantam o suporte a atuação gerencial. Diante disso, o sistema de informações sobre os ambientes externos

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e internos compreendem as informações de diversos cenários do ambiente externo, que possui uma grande flexibilidade e influencia na organização, ou seja, pouco estruturado quanto à sua fonte, podem ser revistas, jornais, pesquisas de mercado (SCHIER, 2011).

Para Catelli (2001), o papel do sistema de informações operacionais é atuar sobre as transações físicas-operacionais, com o viés de avaliar o controle físico do patrimônio da organização, utilizando planejamento e controle. Esses dados são processados com o intuito de mensurar, planejar e controlar os resultados. Tais transações podem ser: volumes, taxas, vencimentos, etc. O autor complementa, ainda, que o modelo de informações econômico-financeiras permite um esclarecimento a respeito dos resultados dos cenários simulados, desenvolvidos e aplicados, em todas as etapas do processo de gestão. Etapas que consistem no módulo de simulações, de planejamento e de realização, além do módulo de mensuração, acumulação e informação.

A controladoria possui a premissa de converter os dados contábeis para o correto controle econômico-financeiro da empresa. Para isto, o controlador deve escolher um sistema que pode ser desenvolvido exclusivamente para seu negócio ou realizar a compra de um software já disponível no comércio. Nos dois cenários, o administrador deve ter o total conhecimento sobre esse sistema para que seja possível utilizá-lo com eficiência e eficácia, além de abranger todos os níveis hierárquicos dentro de uma empresa para que seja uma efetiva ferramenta de gestão empresarial e avaliação de desempenho (CREPALDI, 2008).

Frente a isso, a gestão empresarial pode ser entendida como um conjunto de processos e indicadores que visam ao direcionamento e controle de uma organização. Seria como a energia dentro de uma empresa que impulsiona todas as demais atividades (VIEIRA et al. 2015).

Esse processo de gestão deve ser estruturado baseando-se no modelo de gestão da empresa, sendo balizado de forma a andar em conjunto com a missão da organização apesentada no planejamento estratégico sem fugir da realidade em que se encontra a organização. Contempla as etapas de planejamento, execução e controle dos processos, além de haver um sistema que auxilie as decisões que ocorrerem no desenvolvimento de cada uma dessas fases (SCHIER, 2011).

Na percepção de Santos (2005), o modelo de gestão empresarial tem o intuito de potencializar os resultados financeiros de uma empresa, ou seja, expor diversos cenários comportamentais com o viés de compreender e aplicar ações positivas sobre essas perspectivas expostas. É possível citar que um modelo de gestão para uma organização é como o Manual do Colaborador em uma cooperativa, onde nele são colocados os princípios e diretrizes que balizarão todas as atividades realizadas dentro da empresa. Tendo em vista essas colocações, a controladoria coligada ao processo de gestão empresarial atua de forma direta ou indiretamente a todas as etapas do processo decisório por intermédio de um sistema de informações de controladoria.

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2.2 Indicadores gerenciais da controladoria

Os indicadores gerenciais da controladoria são considerados uma alternativa de monitoramento dos processos. Esta análise pode ser realizada por meio de controles financeiros ou não financeiros que vão elucidar o caminho que o gerente deve seguir (PRADO ET AL., 2013). Os controles financeiros transcrevem os resultados apontados referentes ao retorno do investimento, entre a relação das aplicações e das fontes, sobre o lucro perante as ações, elementos de receita, custos, despesas e resultados. Os indicadores não financeiros são operações capazes de projetar cenários futuros que buscam, de forma preventiva, antecipar e balizar os resultados almejados. São considerados os indicadores de tendências e devido à esta característica costumam ser pouco controlados, pois ainda não foi encontrada uma forma clara de realizar esta forma de controle, principalmente no atual cenário econômico em que o mercado se encontra (LIMA; IMONIANA, 2008).

Nesta perspectiva, os indicadores gerenciais utilizados neste estudo têm suas definições básicas, no intuito de esclarecer e apresentar uma visão geral de cada um desses controles, possuindo sua singularidade e seus enfoques particulares. Neste contexto, não procurou se aprofundar meticulosamente cada um deles e, sim, apresentar pelo menos um referencial da peculiaridade de cada indicador, conforme segue:

•Balanço patrimonial: Este demonstrativo contábil evidencia os elementos patrimoniais, ou seja, é um quadro que reflete a situação quantitativa e qualitativa do patrimônio da empresa na data em que foi realizado (BASSO; ENDERLI; FILIPIN, 2015).

•BSC – Balanced Scorecard: Ferramenta responsável pelo monitoramento dos indicadores-chave de performance os quais são decompostos a partir da estratégia da organização, propiciando um eficiente sistema de gestão (PRADO ET AL., 2013).

•EBITDA: Silva (2004) explica que o EBITDA (Lucro antes de Juros, Depreciação e Amortização) é um indicador que compreende uma medida de desempenho operacional o qual avalia as receitas operacionais líquidas, subtraindo os custos e as despesas operacionais, com exceção às depreciações e amortizações.

•DRE: é o relatório contábil que expõe de forma sintética todas as operações que originaram o resultado de um exercício social específico (BASSO; ENDERLI; FILIPIN, 2015).

•EVA®: Iudícibus (2009) esclarece que o EVA (Valor Econômico Adicionado) é a medida correta para atingir um objetivo, avaliar indicadores, definir políticas de ordenados do executivo, deliberar sobre o orçamento. São os lucros operacionais subtraindo o custo pelo uso do capital.

•Lucro Real x Lucro Orçado: Iudícibus (2009) destaca que o lucro real é o lucro líquido do período estudado, adequado pelos acréscimos, exclusões ou ressarcimentos prescritos pela legislação do IR. O indicador apresenta a diferença entre o real e o orçado.

•Fluxo de caixa projetado: projeta as entradas e saídas de recursos

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(origens e aplicações) que trafegaram pelo Caixa e equivalente de Caixa referente a determinado período (BASSO; ENDERLI; FILIPIN, 2015).

•Nível de inadimplência (%): este índice faz análise da inadimplência e giro dos valores a receber. É através destes indicadores que são estabelecidas as diretrizes de crédito a serem exercidas. Por meio deste indicador que é estabelecida a forma do parcelamento para cliente e fundamentada a necessidade do recebimento à vista da empresa (MIRANDA, 2016).

•Giro do estoque: o gerenciamento de estoque (contagem, rotatividade, ociosidade, estoque de segurança e previsão de perda) mensura o quanto o estoque se renovou ou girou. É o valor consumido no período, dividido pelo valor do estoque médio no período (LIMA; IMONIANA, 2008).

•DVA: demonstra, em síntese, a evidenciação da riqueza gerada pela empresa, e sua repartição entre os dados que contribuíram para sua geração (BASSO; ENDERLI; FILIPIN, 2015).

•Vendas reais x orçadas: o orçamento de vendas/ duplicatas a receber é o volume projetado das receitas de vendas. O indicador compreende a comparação entre o real e o orçado (LIMA; IMONIANA, 2008).

• Faturamento dia: Sandroni (1996) acredita que este indicador Faturamento é o conjunto dos recebimentos de uma empresa adquirida através das vendas de bens ou serviços.

•Unidades vendidas: para Basso, Enderli e Filipin (2015), é o indicador que abrange as unidades que foram produzidas e vendidas num período específico. Este indicador pode ser avaliado através do cálculo: estoque inicial de unidades + unidades produzidas - estoque final de unidades = unidades vendidas no período.

•Indicador de custos: demonstra as receitas e os custos variáveis separados dos outros custos na mensuração do lucro, além da repartição das receitas ganhas. Com a distribuição dos custos indiretos ou conjuntos, pode causar distorções significativas e pode desbalizar a tomada de decisão (ATKINSON et al., 2000).

•MCDA – Multicritério em Apoio à Decisão: é um caminho metodológico utilizado para auxiliar o contexto decisional, é considerada um facilitador, sua preocupação principal é encontrar o recurso de melhor valia segundo a percepção e valores dos decisores, de maneira a construir um modelo em favor do que eles acreditam ser o mais apropriado (DUTRA et al., 2007).

•Margem bruta sobre vendas: o resultado decorrente deste indicador apresenta cada unidade em valores que se manteve em estoque no período estudado (BASSO; ENDERLI; FILIPIN, 2015).

•ROA da companhia (Lucro / Ativo): o retorno sobre o ativo total, mensura a rentabilidade sobre o total do ativo, desconsiderando como os mesmos são financiados, ou seja, não considera de que forma foi realizada a negociação do financiamento dos ativos (FESS; REEVE; WARREN, 2008).

•ROE da companhia (Lucro / P. Líquido): o retorno sobre o patrimônio líquido, demonstra quanto de dividendo as empresas e acionistas que investem na bolsa estão alcançando em relação a seus valores agregados no negócio (CREPALDI, 2008).

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•Margem líquida de vendas: o resultado deste indicador é obtido quando é dividido o lucro líquido pelas vendas, o que resultará no lucro por unidade monetária vendida (BASSO; ENDERLI; FILIPIN, 2015).

•Planejamento orçamentário: a origem do plano orçamentário é o planejamento estratégico, o qual expõe as metas que necessitam ser agregadas nas diferentes peças orçamentárias. Ou seja, o orçamento finaliza os procedimentos gerais de planejamento empresarial, pois apresenta as informações de um horizonte temporal de curto prazo e, desta forma, se apresenta com a característica de ser imprescindível a gestão (PADOVEZE, 2010).

•Planejamento tributário: é a forma de deduzir os impostos pagos por uma empresa para que a mesma alcance resultados positivos (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2015).

•Auditoria: análise dos processos administrativos, operacionais e das práticas contábeis, a qual procura evidenciar a lisura, legalidade, correção e fidedignidade dos procedimentos (BASSO; ENDERLI; FILIPIN, 2015).

•Avaliação de desempenho: devido à complexidade da gestão no cotidiano das empresas, é notória a obrigatoriedade de melhorias no processo de tomada de decisão, especialmente no que envolve problemas complexos. Para isto, utiliza-se a avaliação de desempenho organizacional (DUTRA et al., 2007).

Cabe ressaltar que a utilização de indicadores de gestão possibilita responder às demandas proporcionadas pelo mercado em que a empresa está inserida. Neste sentido, o gestor estará instrumentalizado de um sistema informacional o qual permitirá optar pelas decisões mais consistentes, bem como, reconhecer o desígnio de identificar e dominar os recursos administrados de forma a abordar os objetivos da empresa de maneira eficiente e eficaz (GRATERON, 1999).

Constata-se que os indicadores de desempenho se manifestam como instrumentos apropriados para colaborar na definição do planejamento estratégico e na consequente resolução das estratégias organizacionais. Visto que essas ferramentas permitem avaliar sua performance como um todo e/ou partes de sua atividade, além de fundamentar a propriedade com que as decisões foram adotadas de acordo com as suas características e o setor econômico em que atuam (FISCHMANN; ZILBER, 2000).

Diante disso, para um sistema de planejamento e de gestão estratégica ser eficiente e eficaz, é necessário presumir a experiência de uma rede de informações confiáveis e contínuas. Em contraponto, a escolha de um determinado indicador, quantificável, ou mensurável, ou financeiro e não-financeiro pode solicitar antes de sua implantação, a compilação de dados, originando-se formas de sua aquisição e tratamento a longo prazo (FISCHMANN; ZILBER, 1999).

A utilização de indicadores de gestão vai ao encontro do propósito que pode ser focalizado de duas maneiras distintas. A primeira perspectiva busca ao gestor proporcionar instrumentos que lhe admitam administrar melhor os recursos disponíveis, alinhado a isso permitir realizar uma análise do desempenho da utilização destes recursos; a segunda, de uma visão geral da empresa, que poderá desempenhar um mais perfeito controle e avaliação

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do desempenho dos gestores, (GRATERON, 1999).A necessidade da utilização de indicadores é de extrema importância,

pois as informações tradicionais são, de certa forma e na maioria das vezes, com excesso de inadequações. Além disso, esses recursos carecem de elementos que proporcionem segurança, aos tomadores de decisão, estes indicativos suficientes e indispensáveis para definirem e escolherem pelas melhores deliberações ante as perspectivas da organização (FISCHMANN; ZILBER, 1999).

Nesta mesma linha de pensamento, Fischmann e Zalber (2000) destacam que as informações mensuradas tradicionalmente e historicamente podiam resultar em uma compilação de dados informacionais desvirtuados aos gestores se eles precisarem tomar decisões referentes a probabilidades de mais longo prazo. Situações como essa prejudicariam a implantação de novas tecnologias ou de empreendimento que almejam o atendimento da satisfação do cliente.

Diante disso, Grateron (1999) expõe que algumas das vantagens na utilização de indicadores colaboram em conhecer os objetivos e as metas que a empresa almeja. Ou seja, a obtenção de dados em detalhes dos processos e os gastos envolvidos para alcançar os objetivos desejados, bem como, conhecer os resultados e conciliá-los com padrões constituídos promovendo o entendimento dos termos eficiência, eficácia e economia, além disso, potencializar o processo de transparência e controlar de maneira efetiva os recursos.

Tendo em vista o desenvolvimento estratégico, a utilização dos indicadores deverá ser um reflexo das principais áreas da organização, evidenciando as estratégias e os principais objetivos colaborando com a evolução da empresa que se pretende construir. A análise dos processos deverá ser feita alinhada aos indicadores construindo uma visão consistente e sistêmica de desempenho. A mensuração precisa possuir uma curta periodicidade, frente às exigências atuais, ao avanço das informações hoje existentes e disponíveis. Ela dependerá do setor que desempenha tal atividade dentro da organização (FISCHMANN; ZILBER, 1999).

Os executivos frente às organizações necessitam de ferramentas eficazes, no que se refere a um forte esclarecimento e abrangência de como essa performance pode ser quantificada e comunicada. As demandas do cliente e a competição estão cada vez mais acirradas, o tempo ficou refreado, tudo tendo de ser potencializado, e com redução de custo. Com essas pressões, ficou evidenciado que os sistemas financeiros podem colaborar a administrar e informar dados monetários a respeito de lucros, porém, não acerca dos processos que determinam esses lucros. Ou seja, as organizações precisam alinhar indicadores de desempenho a suas estratégias almejadas (FISCHMANN; ZILBER, 2000).

Para a efetiva utilização dos indicadores, é necessário que os mesmos sejam capazes de mensurar os processos realizados, os resultados alcançados e os elementos utilizados e a sua conciliação com as metas preestabelecidas deve consentir identificar mutações importantes. O prazo de mensuração de um indicador é diretamente proporcional à sua força, o que só poderá ser

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avaliado pelas lideranças e pela gestão, dependendo apenas da qualidade da informação prestada (GRATERON, 1999). Desta forma, a pesquisa tem o propósito de verificar como esses indicadores disponibilizados pela controladoria são utilizados pelos gestores como ferramenta de apoio na tomada de decisão das empresas.

3 Material e método

A estratégia metodológica utilizada consiste em uma abordagem aplicada, descritiva e qualitativa, que empregou em suas análises a coleta de dados, o roteiro de entrevistas estruturadas que foi fundamentado com questionamentos baseados na escala de Likert, a qual, é apresentada por Zanberlan et al. (2014) que a considera uma das mais utilizadas pois preconiza que o entrevistado indique um determinado grau de importância ou discordância referente a uma serie de afirmações sobre o objetivo estimulado. Essas perguntas e afirmações foram alinhadas em teorias, hipóteses e outros estudos, que se incluem ao tema da pesquisa.

Os dados foram coletados em 15 empresas, conforme a disponibilidade dos líderes e gestores das mesmas para a realização das entrevistas, as quais caracterizam-se como empresas de médio e grande porte, conforme o faturamento médio superior ou igual a R$ 3.600.000,00. Esse serviu como parâmetro para nortear a pesquisa e determinar a relevância das informações geradas pela controladoria como ferramenta de auxílio e suporte à tomada de decisão.

As entrevistas foram realizadas nas próprias organizações diretamente com o profissional controller ou com o contador da empresa que assume ao mesmo tempo a responsabilidade pela controladoria. Os segmentos das organizações atuantes desta entrevista são muito abrangentes. Trata-se de uma região com uma vasta riqueza entre os setores de comércio, indústria e serviços, ou seja, não apresenta predominância de apenas um setor específico.

Para uma maior compreensão do perfil das organizações analisadas questionou-se sobre os setores de atividades nas quais as mesmas atuam no mercado. Neste sentido, constatou-se que os ramos são bastante abrangentes, devido aos diversos segmentos de mercado que movimentam a economia desta região do estado, com predominância de 53,33% relativas ao comércio, 40% dedicadas ao setor industial e 6,67% com sua atuação na prestação de serviços.

No que se refere ao faturamento das empresas que fazem parte da entrevista, nos três segmentos, o faturamento anual das empresas é superior a R$ 3.600.00,00. Já em relação ao faturamento entre R$ 3.600.000, 01 até R$ 12.000.000,01 os segmentos de indústria e comércio apresentaram empresas com estes montantes, sendo que 33,33% das empresas entrevistas do setor de indústrial atingiram esse índice e cerca de 25% da organizações do ramo de comércio também estão inclusas nessa faixa. Neste sentido, os três segmentos apresentaram empresas com os resultados superiores a R$

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12.000.000,01, no segmento de indústria foram 66,67%, comércio 75% e serviços 100%.

Levando-se em consideração que um dos quesitos para a realização das entrevistas era as empresas que tivessem um faturamento maior que R$ 3.599.999,99 anualmente e, que esta condição era obrigatória para a análise dos dados, todas as organizações atenderam essa estimativa. O enquadramento fiscal dessas empresas utilizadas como objeto de estudo para este artigo são 20% optantes pelo lucro presumido e 80% possuem sua tributação regida pelo lucro real. Devido aos altos valores de faturamento também serem um dos quesitos decisivos para a escolha das empresas entrevistadas, esse indicador acarretou em nenhuma organização ser optante pelo Simples Nacional. Neste sentido, das 15 empresas entrevistadas, treze são sociedades limitadas, uma empresa individual e uma sociedade anônima.

Nota-se que do total das 15 empresas entrevistadas, 46% possuem filiais, sendo que esta porcentagem pode ser desmembrada em: 33% que possuem 3 filias, 33% que possuem 2 filiais, 17% que possuem 1 filial e 17% que possuem 30 filiais. Esta disparidade de dados ocorre pelo fato de uma das organizações ser a matriz de um posto de combustíveis que abrange toda a região noroeste do Estado.

No que se refere à quantidade de colaboradores existentes nas empresas, assim como a quantidade destes alocados ao departamento de controladoria/contabilidade, constatou-se que no número de colaboradores por empresa existe uma variação significativa entre as organizações entrevistadas, onde 3 empresas possuem entre 1 a 50 colaboradores, 5 empresas apresentam entre 51 a 100, 4 empresas variam entre 101 a 300, apenas uma delas se encontra na faixa de 301 a 500 e, somente duas possuem seu quadro de funcionários com mais de 500 colaboradores.

Esta variação também pode ser observada em relação à quantidade de colaboradores destinados ao setor de controladoria/contabilidade. Por mais que o estudo da controladoria não seja algo recente, muitas empresas ainda apresentam resistência em separar essas duas áreas. Este dado pode ser observado também quando foi traçado o perfil dos colaboradores, pois fica evidenciado que muitas das organizações entrevistadas possuem como controller a mesma pessoa que é responsável pela contabilidade da empresa.

O número de colaboradores destinados ao departamento de controladoria/contabilidade são distribuídos na seguinte escala: 20% das empresas possuem dois colaboradores destinados à área, outros 20% das empresas possuem três colaboradores, 26,66% das empresas possuem quatro colaboradores, 13,33% das empresas possuem sete empregados e os outros 20% das empresas possuem dez, 11 e quatorze profissionais.

O tempo de existência das empresas participantes da pesquisa corresponde a 20% entre 6 a 10 anos, 27% delas entre 11 e 20 anos e 53% das empresas possuem mais de 20 anos de história. Fica evidenciado que, nestes casos, os controllers têm demandado um maior investimento em colaboradores e no seu posicionamento perante o mercado, pela necessidade de informações para o gerenciamento. Com visão inovadora

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e de posicionamento estratégico, estas organizações se diferenciam no mercado e correspondem ao maior percentual das empresas entrevistadas.

Os profissionais entrevistados na grande maioria, 60%, têm idade superior a 40 anos, possuindo outras atividades dentro da empresa, entre as quais pode-se citar a contabilidade, o financeiro e a análise de vendas. Por outro lado, 33,33% dos entrevistados estão na faixa etária de 31 a 40 anos e apenas 6,67% apresentam idade entre 21 e 30 anos, ou seja, é notável que muitas organizações se mantenham receosas em relação à contratação de jovens para um cargo com tamanha responsabilidade, o que de certa forma se justifica pela necessidade de amplo conhecimento, vivência e experiência para atuar responsavelmente na área contábil e de controladoria.

Quanto ao nível de formação dos entrevistados, 14 controllers que representam 93% da pesquisa possuem pós-graduação lato sensu. Somente 7%, ou seja, um dos entrevistados possui a formação em nível de graduação. Dos entrevistados que possuem pós-graduação lato sensu, a maioria deles optou pela área de contabilidade gerencial. Esta procura aconteceu porque, nessa área, aborda-se o cenário socio-organizacional da nossa sociedade, requerendo a adoção de uma visão estratégica e gerencial dos negócios. Os demais entrevistados optaram por cursos que potencializariam o seu trabalho, esses controllers optaram pelos cursos de controladoria e gestão empresarial, auditoria e contabilidade gerencial, gestão estratégica em instituição saúde e o de controladoria e finanças.

É notável a diferença no tempo de experiência entre os profissionais entrevistados: 60% dos entrevistados respondentes trabalham há mais de 10 anos na área. Os profissionais que atuam entre 6 a 10 anos ficaram em 15%, e ainda 13,33% dos controllers atuam entre 3 a 5 anos. Apenas um profissional está atuando na área há dois anos, sendo jovem, com pouca experiência em controladoria, mas com muita vivência na área contábil.

Com as informações angariadas nas entrevistas estruturadas, foram desenvolvidas a análise e evidenciação das informações, sendo expostos os resultados por meio de gráficos, explanações e análises fundamentadas dos questionários aplicados. O questionário foi desenvolvido procurando analisar e conhecer as empresas participantes desta região, tendo em vista mapear os segmentos das organizações, quantidade de funcionários, se possui filiais, faturamento anual e há quanto tempo a empresa está atuando no mercado.

Após isso, procurou-se aprofundar o perfil dos entrevistados, a sua formação, há quanto tempo atua na área. Logo após, foi questionado como é a controladoria na empresa em que atuam, se possui um setor específico, como é a atuação da controladoria alinhada ao planejamento estratégico, a participação na tomada de decisão, a fundamentação as lideranças e, por fim, é listado uma série de indicadores já citados acima os quais cada profissional deverá classificá-los conforme a sua utilização. Finalizadas as entrevistas, os dados são analisados e comparados com outros estudos realizados pelo país, buscando elucidar a visão dos controller nas empresas participantes do estudo e conciliá-los com outras organizações que possuem cenários adversos ao desta região.

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4 Análise do resultado

Em conseguinte são apresentados os resultados evidenciados perante a aplicação da entrevista em 15 empresas do noroeste do estado do Rio Grande do Sul, onde foram entrevistados os controllers ou contadores responsáveis pela controladoria nessas organizações.

4.1 A relevância das informações advindas da controladoria na gestão empresarial

Nesta etapa, é relatada a percepção dos entrevistados, no que se refere à utilização das informações advindas da controladoria na gestão das organizações, constatou-se que nas empresas onde possui o setor definido e também o profissional controller responsável pela qualidade das informação disponibilizada, com o propósito de instrumentalizar e qualificar a tomada de decisão pelos gestores. Um aspecto relevante apontado: das empresas entrevistadas, 86,66% não possuem um setor específico denominado controladoria, mas as informações são geradas no setor de contabilidade, que engloba o setor fiscal, pessoal, financeiro e outros. Já as outras duas possuem um setor e uma equipe voltada totalmente para o desenvolvimento da controladoria e da gestão empresarial.

Dos 15 profissionais entrevistados, todos afirmam que conseguem fornecer os relatórios da controladoria em tempo eficaz para a tomada de decisão, destacam que possuem um cronograma de tempo de entrega. Sempre é trabalhado para se reduzir esse prazo, com o intuito de instrumentalizar os gestores com informações com qualidade e em tempo hábil.

Ao questionar se a empresa possui um software de apoio ao gerenciamento, 73,33% dos controllers afirmaram que sim. Entre eles, foram citados o Sigquali para o gerenciamento de indicadores, o orçamento que controla as receitas e despesas das empresas, o sistema Pirâmide que oferece relatórios gerenciais e contabeis, além de planilhas do próprio excel para análises de resultados. Dos profissionais que possuem sistemas, 54,54% deles trabalham com uma fonte de dados alinhada ao sistema contábil, o que potencializa e auxilia no suporte mais ágil ao gestor, enquanto os demais controllers sentem uma carência nessa parte, até mesmo alguns deles esperam a liberação dos gestores para aquisição de um sistema mais atualizado e de gestão integrada.

Quando questionados se a controladoria participa ativamente do planejamento estratégico e qual é seu papel nesse processo, 6 controllers afirmam que sim, por meio de reuniões com a diretoria são construídos o planejamento estratégico e utilizam como suporte os indicadores do balanced scorecard, formulando estratégias, apenas em duas organizações deste grupo. A própria controladoria define quais estratégias serão adotadas, as outras basicamente auxiliam a diretoria e seus acionistas na interpretação dos indicadores gerados.

Em contraponto, 9 controllers não participam, pois a diretoria optou por utilizar apenas as informações advindas da controladoria. Deste grupo, dois controllers salientam que sua opinião é consultada, mesmo assim o maior peso referente às estratégias tomadas está baseada no feeling do diretor.

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Avaliar as atividades realizadas pela controladoria e sua elaboração de metas e objetivos futuros são processos desenvolvidos por 86,66% das empresas objetos desse estudo, as quais, realizam esse trabalho por intermédio de painéis de Dashboard, BSC, sistema de desenvolvimento de projetos, criação de cenários e simulações de investimentos de longo prazo.

Referente à utilização das demonstrações contábeis pelas organizações e demais indicadores utiizados pela controladoria, apresenta-se o quadro abaixo destacando a visão dos controllers respondentes, levando-se em conta o seu grau de importância em uma escala de 1 a 5, onde 1 representa nunca utilizo, 2 – utilizo pouco, 3 – utilizo razoavelmente, 4 – utilizo muito e 5 - sempre utilizo.

Quadro 1 – Utilização dos indicadores gerenciais

Grau de utilização/relatórios

1 – Nunca utilizo

2 – Utilizo pouco

3 - Utilizo razoavelmente

4 – Utilizo muito

5- Sempre utilizo

Margem líquida de vendas

4 0 0 0 11

BSC – Balanced Scorecard

11 1 0 0 3

EBITDA 9 0 1 0 5

EVA® 10 0 2 0 3

Lucro Real x Lucro Orçado

7 0 1 0 7

Nível de inadimplência (%)

3 1 1 0 10

Giro do estoque 3 0 2 0 10

Vendas reais x orçadas 8 0 1 0 6

Faturamento dia 3 0 0 0 12

Unidades vendidas 2 0 1 0 12

Indicador de custos 5 0 0 0 10

MCDA – Multicritério em Apoio à Decisão

5 1 4 0 5

Margem Bruta sobre Vendas

4 0 1 0 10

ROA da companhia (Lucro / Ativo)

9 1 1 0 4

ROE da companhia (Lucro / P. Líquido)

9 1 1 0 4

Fluxo de caixa projetado

7 2 1 0 5

Fonte: Conforme entrevista realizada em julho (2017).

Evidencia-se que o Balanço Patrimonial e a DRE fazem parte da rotina das empresas, são ferramentas que instrumentalizam e permitem a análise da situação econômica, beneficiando os empreendedores que buscam excelência na gestão do seu negócio.

Já o indicador de fluxo de caixa projetado na maioria das organizações

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não é de grande valia, porém, geralmente seus resultados são utilizados como apoio para a geração de outros relatórios para a diretoria e a DVA não é utilizada pelo fato de ser uma demonstração na maioria das vezes utilizadas somente por outras empresas investidoras que buscam aplicar seu capital nas empresas entrevistadas. Por intermédio dos seus resultados, é possível elucidar as informações socioeconômicas sobre a organização e sua relação com o ambiente onde está localizada.

Neste viés, Castro et al. (2007), no estudo realizado sobre a percepção de alunos de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV) nas cidades de Blumenau e Florianópolis, ficou evidenciado que as visões relativas ao fluxo de caixa projetado concentra as principais atenções dos alunos desta pesquisa o que confirma a importância de medidas financeiras na administração das empresas. Nota-se a grande diferença em se tratando de indicadores econômicos utilizados pelos gestores daquela região do país. Referente aos indicadores gerenciais utilizados pelas empresas, ficou evidenciado que os indicadores de margem líquida de vendas, nível de inadimplência (%), giro do estoque, faturamento dia, unidades vendidas, indicador de custos, margem bruta sobre vendas, fazem parte do grupo dos indicadores mais utilizados, demonstrando a preocupação dos lideres com ferramentas financeiras. Por outro lado, o BSC – balanced scorecard, EBITDA, EVA®, lucro real x lucro orçado, vendas reais x orçadas, MCDA – Multicritério em apoio à decisão, ROA da companhia (Lucro / Ativo), ROE da companhia (Lucro / P. Líquido) fazem parte do grupo dos indicadores menos utilizados, o que de certa forma é preocupante, quando aponta que os controllers ainda mantem uma resistência a um software especifico de gestão, porém esses indicadores como o BSC e EBITDA ainda vêm sendo citados de forma significativa, ou seja, por mais que sejam pouco utilizados, algumas empresas ainda estão conduzindo pesquisas para implantação de indicadores de gestão.

Por outro lado, Lima e Imoniana (2008) no estudo realizado nas empresas do munícipio de São Caetano do Sul situado na região metropolitana de São Paulo apresentam resultados surpreendentes no que se refere a indicadores estratégicos, onde a maioria das empresas os utilizam até mais do que os indicadores econômicos, contrariando diversas literaturas. Isso evidencia a importância das ferramentas estratégicas que potencializam a tomada de decisão e reflete a singularidade cultural das diferentes regiões do país.

Quando questionados referentes às demonstrações contábeis e sua utilização para o planejamento orçamentário, 53,33% entrevistados responderam que as demonstrações servem como alicerce para o planejamento do novo ano, já os outros 46,66% utilizam-se apenas de uma projeção orçamentária realizada por intermédio dos dados dos anos anteriores. Com relação à utilização da situação atual do mercado ser utilizada para traçar as estratégias das empresas e se a mesma possui um planejamento tributário, todas as respostas foram unânimes ao concordar, bem como, quando questionados se o felling do controller é levado em consideração para traçar as estratégias da empresa, somente 3 controllers informaram que é insignificante devido à diretoria não permitir que os mesmos participem das reuniões decisórias.

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Em relação à auditoria, controles internos e avaliação de desempenho todos os entrevistados possuem consciência da importância desses processos, entretanto 60% utilizam as informações recebidas e aplicam em suas organizações, já 26,66% deles não possuem essas ferramentas de gestão e os outros 13,33% estão buscando apoio da diretoria para essa implementação. Os 40% dos entrevistados que não se apropriam desses dados alegam que precisam de um aumento no quadro de funcionários e que sejam pessoas especializadas nessa área o que acarretará em um aumento no custo para a organização. Frente à situação atual do mercado as empresas não estão dispostas a fazer esse investimento no momento, porém, é um assunto que já vem sendo pautado em reuniões e assim que o mercado se estabilizar é um investimento que poderá vir a ser implementado.

5 Conclusão

Frente a um mercado cada vez mais competitivo, onde as mudanças organizacionais estão tornando-se tendências no campo empresarial, é imprescindível que os gestores possam contar com ferramentas para seu planejamento e gestão estratégica, as quais forneçam informações íntegras e consistentes para a elaboração dos planos e respectivos controles. Diante disso, o objetivo do presente estudo buscou evidenciar como estão sendo utilizadas as informações dos relatórios gerenciais fornecidos pela controladoria e sua efetiva contribuição na gestão das empresas de médio e grande porte do noroeste do estado do Rio Grande do Sul.

Neste sentido, tem-se a certeza de que o objetivo de verificar como estão sendo utilizadas as informações dos relatórios gerenciais fornecidos pela controladoria e sua efetiva contribuição na gestão das empresas de médio e grande porte foi alcançado. Mesmo que, por motivos adversos não foi possível ter uma maior representatividade das empresas que aderem ao segmento de prestação de serviços respondendo à entrevista, as empresas entrevistadas elucidam em parte, o contexto da gestão empresarial nesta cidade, com base nos resultados das entrevistas realizadas com os controllers e contadores nas organizações, tendo a visão de como a teoria se aplica na realidade da gestão organizacional.

Desta forma, fica evidente que as empresas de médio e grande porte utilizam das informações geradas pela controladoria na gestão de seus negócios, bem como, os indicadores de desempenho que por sua vez demonstram-se, imprescindíveis, conforme o elucidado por inúmeros autores e em decorrência da manifestação de todos os entrevistados. A controladoria deve ser considerada como um suporte aos processos do planejamento estratégico, de controle das estratégias adotadas e como fundamentação para tomada de decisões.

Nesta perspectiva, com a entrevista realizada em diversos setores do mercado, que abrangem, comércio de petróleo, prestação de serviços no ramo da saúde, loja de materiais de construção, indústria de balas,

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indústria metalúrgica, indústria de energia, indústria de máquinas agrícolas, entre outros, teve-se a análise de como as informações proporcionadas pela controladoria estão sendo utilizadas nas mais diversas formas no gerenciamento dos negócios, sustentando e transformando a tomada de decisões, e sendo referência como um dos pilares que alicerçam e apoiam as lideranças no planejamento estratégico da organização.

Mesmo que a função específica denominada controladoria, na maioria das vezes, não sendo do conhecimento dos gestores, foi identificado durante as entrevistas que o próprio contador desempenha o papel de controller, e a equipe do setor contábil que engloba o financeiro, fiscal, recursos humanos, tornam-se a controladoria. Todas as empresas destacaram que neste setor são produzidas informações para os diferentes usuários, projetando cenários, planejamento, que são fundamentais para a gestão das organizações. Neste sentido, fica elucidado que as empresas precisam investir mais nesse profissional e na sua equipe de controladoria tendo em vista a agilidade na construção de relatórios gerenciais, a projeção de cenários futuros e por consequência o apoio à tomada de decisão mais adequada para cada situação.

Portanto, levando em conta a atual situação financeira em que se encontra a economia global, torna-se uma obrigatoriedade que os gestores das empresas estejam munidos de ferramentas administrativas no intuito de que suas organizações consigam manter sua saúde financeira perante um mercado cada vez mais seletivo, utilizando-se da controladoria e do profissional controller para instrumentalizarem seus gestores a tomar a decisão mais oportuna perante o mercado externo.

Para estudos futuros, sugere-se que essa pesquisa seja replicada em outras cidades ou regiões, de forma que possam ser comparados e analisados os resultados, buscando compreender que a controladoria é um setor indispensável no fornecimento de informações gerenciais, na projeção de cenários, que são basilares na gestão empresarial.

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Controle dos custos de feirantes da agricultura familiar da Associação

Santacruzense de Feirantes – ASSAFE – RS

Letícia Milene Raddatz Kohls130

Fernando Batista Bandeira da Fontoura231

Marcia Rosane Frey332

Cidonea Machado Deponti433

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo identificar as necessidades comuns das informações de controle de custos para análise da produção comercializada nas feiras rurais da Associação Santacruzense de Feirantes (ASSAFE) do município de Santa Cruz do Sul –RS. Para o levantamento dos dados, utilizou-se da entrevista semiestruturada e observações in loco, tendo-se como unidade de análise uma das seis feiras rurais da ASSAFE. Os dados foram analisados e apresentados em forma de textos descritivos que relatam as respostas com sínteses das perguntas abertas referentes às avaliações dos entrevistados. Com o estudo, pode-se concluir que os feirantes não realizam controle de custos em suas propriedades. Em contrapartida, para os entrevistados, toda propriedade rural deveria ter uma gestão de custos. Como controles de custos comuns foram identificados a definição do preço de venda, análise da margem de lucro dos produtos, análise de produção, volume de vendas, análise de resultados e levantamento de custos para cada cultura.

Palavras-chave: Gestão rural. Feiras rurais. Desenvolvimento rural/regional.

1 Bacharela em Ciências Contábeis da Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc, [email protected] Mestre em Administração pela EBAPE-FGV RJ, [email protected] Doutora em Desenvolvimento Regional. Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc, [email protected] Doutora em Desenvolvimento Rural, UFRGS/RS, [email protected].

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1 Introdução

A agricultura familiar é a principal responsável pelo abastecimento do mercado brasileiro e pela comida que abastece as mesas das famílias, respondendo por 70% dos alimentos consumidos em todo o país (PORTAL BRASIL, 2015). O agronegócio aumentou sua participação no Produto Interno Bruto - PIB de 21,5% para 23% no período de 2015 para 2016, e nas exportações participa com 48%, o que evidencia sua importância para a economia do País (PORTAL BRASIL, 2016).

Com o desenvolvimento tecnológico, segundo Crepaldi (2016), a agricultura vem se desenvolvendo e produzindo cada vez mais, para o qual, torna-se necessário, um rigoroso controle econômico-financeiro. O gerenciamento nas propriedades rurais, em especial as de economia familiar rural é fundamental para se alcançar resultados de produção e de produtividade que viabilizem o empreendimento rural.

Neste contexto, a contabilidade rural oferece ferramentas gerenciais que possibilitam o planejamento, o controle e a tomada de decisão. No entendimento de Crepaldi (2016, p. 43) a contabilidade possibilita que que as propriedades rurais sejam gerenciadas e vistas como empresas “com capacidade para acompanhar a evolução do setor, principalmente no que tange aos objetivos e atribuições da administração financeira, controle de custos, diversificação de culturas e comparação de resultados”.

Tendo em vista que a agricultura familiar possui alta representatividade dos estabelecimentos rurais brasileiros, pode-se afirmar que ela também é de suma importância para o país, não só pela grande participação na economia, mas também por garantir a produção de alimentos que abastece a própria propriedade, os estabelecimentos das regiões locais e o país com as exportações.

Nesse contexto, para a agricultura familiar continuar em desenvolvimento ela necessita de condições adequadas para produzir e agregar valor ao seu produto. Para torná-los rentáveis, é necessário espaço e oportunidade de mercado para comercializarem os seus produtos. Assim, as condições ideais são encontradas quando existe infraestrutura que viabiliza a produção e seu desenvolvimento (GOMES, 2011).

Conforme Guilhoto et al. (2007) citado por Silveira (2014), o setor agropecuário familiar é lembrado por sua importância na absorção de emprego e na produção de alimentos, principalmente para autoconsumo. Além disso, destaca-se que a produção familiar contribui para a geração de renda dessas famílias.

Uma alternativa para agricultores familiares venderem os seus produtos aos consumidores finais, estimulando a oferta regular de alimentos e de produtos a baixo custo são as feiras rurais localizadas nos municípios. As feiras rurais também instigam a economia local pela circulação das mercadorias e geração de empregos (SILVA et al., 2016).

Considerando-se que a agricultura familiar constitui a base dos negócios da família rural no que se refere à renda principal ou complementar

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e a importância das feiras rurais que possibilitam ao produtor ofertar seu produto diretamente ao cliente, com um custo menor, e para tal necessita de controles dos custos de produção, levantou a seguinte questão de pesquisa: quais são as necessidades comuns de informações de controle de custos para análise da produção comercializada nas feiras rurais da Associação Santacruzense de Feirantes (ASSAFE)?

Para responder ao problema de pesquisa, levantou-se junto aos produtores rurais que comercializam seus produtos na feira rural da ASSAFE do município de Santa Cruz do Sul informações sobre seus controles de custos, buscando-se identificar as necessidades comuns de informações de controle de custos para análise da produção comercializada.

A contabilidade rural ainda é pouco utilizada nas propriedades rurais e para tal buscou-se sistematizar no capítulo do referencial teórico, apresentando na sequência conceitos e entendimentos necessários para a análise dos dados e resultados. Após o referencial teórico, seguem os capítulos da estratégia metodológica que expõe o delineamento da pesquisa, da análise dos dados e dos resultados no qual se descreve a análise realizada, seguida do capítulo da conclusão e das referências utilizadas para fundamentar o presente estudo.

2 Referencial teórico

Para fundamentar o estudo, aborda-se inicialmente no referencial teórico a agricultura familiar e sua comercialização em feriras rurais. Após apresenta-se fundamentos de contabilidade e custos na agricultura familiar, e na sequência, um contexto da gestão de custos na agricultura familiar.

2.1 Agricultura familiar e comercialização em feiras rurais

A evolução da agricultura e das tecnologias vem mudando a fisionomia das propriedades rurais. Elas estão cada vez mais modernas com máquinas sofisticadas que facilitam a produção e sementes mais resistentes, aumentando a produção. Segundo Sanferla et al. (2015, p. 2), a modernização agrícola, os estudos de melhoramento genético e a comercialização no mercado internacional “são alguns dos fatores que inseriram o agronegócio brasileiro em um cenário dinâmico, no qual é relevante que o produtor tenha informações sobre o processo produtivo para que suas decisões melhorem os resultados”.

Segundo dados da EMATER/ASCAR-RS, em 2016 no Rio Grande do Sul existem aproximadamente 6.650 agricultores familiares se que dedicam para o abastecimento local e regional de produtos, através das feiras rurais. Cerca de 3.928 destes agricultores fazem parte do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) em escolas municipais e estaduais; outros 1.514 estão cadastrados no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); existem

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ainda 120 cooperativas que fornecem alimentos ao exército, universidades, mercados, escolas, entre outros (JORNAL EMATER, 2016).

A EMATER/ASCAR-RS está presente em 494 municípios gaúchos e presta Assistência Técnica e Extensão Rural – Ater a 213.960 famílias com produção familiar, sendo compostas por agricultores e pecuaristas, indígenas, quilombolas, assentados agrários, agricultores, pescadores e artesãos. No Brasil, como um todo, existem mais de 4 milhões de agricultores familiares, dos quais apenas a metade deles recebe assistência técnica continuada (JORNAL EMATER, 2016).

Conforme revista Santa Cruz do Sul terra de iniciativas de sucesso, publicada pela Editora Gazeta (2015), em Santa Cruz do Sul existem 4.365 propriedades rurais cadastradas junto à prefeitura com uma área média de 12,7 hectares. A diversificação das propriedades vem se destacando, pois os agricultores encontram novas alternativas de cultivos que auxiliam a fomentar a geração de renda complementar em suas propriedades.

A maior parte do que é produzido no interior serve para abastecer a rede de supermercados e restaurantes da cidade. Além disso, agricultores completam a renda familiar participando de programas governamentais para a aquisição de alimentos destinados a entidades sociais e merenda escolar. (EDITORA GAZETA, 2015, p. 69).

Segundo Silva (2014, p. 50) a agropecuária familiar

é de grande importância na geração de emprego e na produção de alimentos, principalmente para subsistência do próprio agricultor. Seu foco principal é mais de caráter social do que econômico, tanto pela baixa produtividade quanto pelo uso de tecnologia.

Dessa forma, tendo-se conhecimento da história da agricultura, bem como importância e representatividade da agricultura familiar, faz-se necessário o entendimento da diferença entre agronegócio e agricultura familiar, para dar sequência ao estudo.

A Lei nº 11.326/06 estabelece conceitos, princípios e instrumentos direcionados à Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. A mesma considera agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural seguindo tais requisitos: não possuir área maior a quatro módulos fiscais; utilizar a mão de obra administrativa ou de campo dos familiares nas atividades de seu empreendimento; ter renda com percentual mínimo originada de atividades econômicas de seu estabelecimento agrícola; e dirigir sua propriedade com a família (BRASIL, 2006).

A comercialização de produtos agrícolas é um fator importante para os produtores rurais, em especial aos agricultores familiares. Uma dificuldade por eles encontrada é a comercialização de seus produtos. Dessa forma, uma escolha para distribuição e comercialização de seus produtos são as feiras, as quais vêm ganhando destaque nos últimos anos (PEREIRA et al., 2009).

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As feiras livres são tradicionais em grande parte do território brasileiro. Nelas, são comercializados produtos típicos de cada localidade, permitindo assim que os produtores rurais comercializem sua produção sem a interferência de terceiros, ou seja, não possuem intermediários nesse processo, existindo assim um canal direto de comercialização entre produtor e consumidor, tendo-se assim a garantia de venda de produtos da região e contribuindo para o fortalecimento da agricultura familiar (PEREIRA; et al., 2009).

As feiras livres vêm desenvolvendo um papel importante para a agricultura familiar, pois impulsionam e fortalecem a produção gerando renda para essas famílias e garantindo um mercado fixo de comercialização de seus produtos. As feiras agregam valor ao produto, pois impedem que atravessadores realizem a venda de seus produtos (SILVA et al., 2016).

As feiras rurais são pontos de venda onde cada produtor/comerciante monta sua banca em locais pré-determinados pelos municípios. Os produtos a serem comercializados são expostos sobre as bancas, estabelecendo assim uma relação de confiança entre feirante e os consumidores (PEREIRA et al, 2009). Ainda conforme Pereira et al. (2009), os produtos comercializados nas feiras apresentam preços mais acessíveis e maior qualidade de produto, uma vez que são frescos e muitos são produzidos sem agrotóxicos, também conhecidos como produtos orgânicos.

Verificou-se que as publicações na área da gestão de custos nas feiras rurais na base de dados scopus (Elsevier) e na web of sience é reduzida. Na base de dados da scopus (Elseiver), limitado à expressão in rural activity (na atividade rural), foram identificados 246 artigos no período de 2013 a 2017. Restringindo a busca para o termo in rural fairs (nas feiras rurais) foram identificados apenas quatro artigos publicados. Os países que possuem artigos científicos com o tema controle de custos nas feiras rurais são: Canadá, Bélgica e Índia. As revistas que publicaram os quatro estudos identificados foram a Ecological Economics, a International Journal of Clothing Science and Technology, a Environment, Development and Sustainability e a Strategic Management Journal.

Na base de dados da web of science pesquisou-se por cost control (controle de custos) e in rural fairs (nas feiras rurais) no período 2013 a 2017. Nesta base de dados foram encontrados apenas três artigos nas áreas materiais de ciências têxteis e florestais que possuam em seus tópicos o controle de custos nas feiras rurais.

2.2 Contabilidade e custos na agricultura familiar

A contabilidade rural ainda é pouco utilizada e difundida no Brasil devido ao desconhecimento da importância das informações que podem ser obtidas da contabilidade rural para auxiliar a tomada de decisões. Outro motivo pelo qual a contabilidade rural é pouco utilizada é a mentalidade conservadora dos agricultores e agropecuaristas, que persistem em utilizar controles baseados na experiência adquirida (CREPALDI, 2016).

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Na atividade rural, o exercício social coincide com o ano agrícola, ou seja, com o período em que se planta, colhe e comercializa a safra. Isso ocorre devido à sazonalidade da maioria das produções agrícolas, por isso considera-se o ano agrícola o término da colheita. Dessa forma, não é necessário esperar até 31/12 para fazer a mensuração do resultado da safra, podendo o ciclo operacional ter fechamento variado (MARION, 2014).

Para Rodrigues et al. (2015), as culturas agrícolas dividem-se em temporárias e permanentes. Culturas temporárias são as culturas que se extinguem com a colheita, sendo seguidas por um novo plantio; e as culturas permanentes são as que possuem duração superior a um ano ou proporcionam mais de uma colheita, sem ter a necessidade de fazer um novo plantio, recebendo assim apenas tratamentos no intervalo das colheitas.

A contabilidade de ativos biológicos abrange tudo aquilo que nasce, cresce e morre, desde as culturas até os animais (MARION, 2014). Conforme a Norma Brasileira de Contabilidade – NBC TG 29, que trata sobre o ativo biológico e produto agrícola, entende-se por ativo biológico “um animal e/ou uma planta, vivos”. Os ativos biológicos são divididos em: consumíveis e de produção. Os consumíveis são aqueles que podem ser colhidos como produto agrícola ou vendidos como ativo biológico, como por exemplo: os rebanhos para criação de carne, rebanhos para venda, produção de peixes, plantação de milho, café, soja, entre outros. E os de produção são autorrenováveis, ou seja, estão aptos a sustentar colheitas regulares, por exemplo, os rebanhos para produção de leite, vinhas, árvores frutíferas, dentre outros (MARTINS et al., 2013).

Com a evolução da tecnologia e a busca por produtos de melhor qualidade, o produtor rural necessita desenvolver cada vez mais técnicas tanto na área de produção como no gerenciamento financeiro de sua propriedade (CREPALDI, 2016). No entendimento de Callado e Callado (2007), a contabilidade de custos é uma ferramenta gerencial essencial para tomada de decisões. É desenvolvida por meio da coleta e processamento de dados com o objetivo de produzir informações úteis na forma de relatórios contábeis e gerenciais que permitam a avaliação da situação patrimonial, financeira e econômica da atividade.

A contabilidade de custos proporciona informações para a gestão de custos que, segundo Gomes (2011), é um processo no qual utiliza-se um conjunto de técnicas multidisciplinares para a compreensão dos custos. Esse processo pode conduzir para a redução de custos e obtenção de melhores níveis de produtividade (GOMES, 2011). É uma importante ferramenta gerencial para os produtores rurais tomarem decisões a respeito de sua produção tendo por finalidade controlar e conhecer o resultado econômico da atividade, bem como acompanhar a evolução da produção.

O método de avaliação dos custos é dado pelo valor justo (valor de mercado), considerando que os ativos crescem e/ou engordam com o passar do tempo. Por estarem em constantes mudanças, deve haver contínuas avaliações a fim de aumentar o ativo, pois na medida em que os ativos crescem e/ou engordam produzem valor econômico, devendo ser reconhecido como receita do período enquanto não for vendido (MARION, 2014).

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Para a apuração dos custos, utiliza-se métodos de custeios. Os principais são: o Custeio Variável, o Custeio por Absorção, o Custeio Activity-Based Costing – ABC e o Custeio por Unidade de Esforço de Produção - UEP. Cada método possui diferentes critérios de aplicação para determinar o valor dos objetos de custeio, reduzir custos, melhorar os processos, eliminar desperdícios, decidir entre produzir ou terceirizar, e eliminar, criar e aumentar, ou diminuir a produção de certos produtos (ABBAS; GONÇALVES; LEONCINE, 2012).

Este estudo apresenta o custeio variável e suas ferramentas como uma base inicial para gerar informações e controles nas propriedades, bem como a análise de mix. No custeio variável somente os custos variáveis são alocados aos produtos, assim os custos fixos ficam separados e são considerados como despesa do período, indo diretamente para o resultado (BIASIO, 2012; MARTINS, 2010).

Collatto e Reginato (2005, p. 4) sustentam que o custeio variável

oferece à gestão de custos informações úteis para a decisão de preço, principalmente por apresentar, de forma clara, a margem de contribuição e o ponto de equilíbrio da empresa. O conhecimento e uso da margem de contribuição de cada produto são muito valiosos, pois, contribuem diretamente para a tomada de decisão.

Dessa forma, o custeio variável é um método muito utilizado pelas empresas que necessitam tomar decisões com análises administrativas e gerenciais, podendo ser utilizado igualmente pela contabilidade rural, para a gestão de custos. Entretanto, este método não atende aos princípios contábeis, bem como não é aceito por autoridades fiscais, sendo sua utilização apenas para efeitos de contabilidade gerencial da empresa (OLIVEIRA; PEREZ JR., 2000).

2.3 Gestão de custos na agricultura familiar

A gestão de custos na atividade rural passa por algumas mudanças sociológicas no caminho do desenvolvimento histórico do capitalismo ocorrido nos demais segmentos empresariais com necessidade de aperfeiçoamento e aplicação para a atividade (FONTOURA, 2013; MARTINS; ROCHA, 2015; CREPALDI 2016).

O principal fator que influencia na necessidade de informações e gestão é o nível de atividade das propriedades sendo quanto mais diversificado mais complexo para a gestão dos controles. Entre as informações úteis para a gestão da empresa/propriedade rural, com base no sistema de custeio variável, tem-se a análise do custo-volume-lucro que abrange a margem de contribuição, e o ponto de equilíbrio.

A análise custo-volume-lucro abrange conceitos de margem de contribuição, ponto de equilíbrio e margem de segurança, sendo considerada uma importante ferramenta para os gestores de custos (WERNKE, 2001). A

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margem de contribuição designa o valor resultante da venda de uma unidade após serem deduzidos, do preço de venda respectivo, os custos e despesas variáveis associados ao produto comercializado (FONTOURA, 2013).

Em síntese, a “margem de contribuição é a diferença entre o preço de venda e a soma dos custos e despesas variáveis” (OLIVEIRA; PEREZ JUNIOR; COSTA, 2012, p. 207). A margem de contribuição unitária é dada pela seguinte fórmula:

MC = PV – (CV + DV) (1)Onde:MC = margem de contribuição PV = preço de venda CV = soma dos custos variáveis DV = soma das despesas variáveis

Segundo Fontoura (2013), a margem de contribuição é o valor que cada unidade comercializada contribui para pagar os gastos fixos da propriedade e, posteriormente, gerar o lucro do período. Para empresas e propriedades rurais que produzem mais de um produto pode ser aplicada a ‘margem de contribuição mix’, uma vez que não faz sentido o rateio de custos indiretos aos produtos para obter o ponto de equilíbrio, pois não há apenas uma combinação de produtos que propicia lucro zero. Assim, cada produto deve cobrir seus custos diretos e a margem de contribuição que sobra deve cobrir os custos indiretos e a geração do lucro (BORNIA, 2010).

Segundo Fontoura (2013), para o planejamento do lucro da atividade rural, é fundamental a análise do ponto de equilíbrio que possibilita informações que podem auxiliar a manter ou até melhorar os resultados operacionais obtidos em um determinado período (FONTOURA, 2013). Em síntese, o ponto de equilíbrio avalia e calcula o volume de vendas necessário para cobrir os custos e começar a gerar lucro, sendo que no momento em que o custo se iguala a zero tem-se o ponto de equilíbrio, apurado tradicionalmente em três modalidades, a saber: contábil, econômico e financeiro (FONTOURA, 2013).

Cada uma das modalidades de ponto de equilíbrio apresenta características próprias para o cálculo, que devem ser consideradas. Para o ponto de equilíbrio contábil devem ser levados em conta todos os custos e despesas de produção. Para o ponto de equilíbrio econômico, também devem ser incluídos nos custos e despesas fixas os custos de oportunidade referentes ao capital próprio e para o ponto de equilíbrio financeiro devem ser considerados apenas os custos desembolsados que realmente oneram financeiramente a empresa (CREPALDI, 2016).

O Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC), segundo Crepaldi (2016), é obtido quando há volume suficiente para cobrir todos os custos e despesas fixas, ou seja, é o ponto em que não tem nem lucro nem prejuízo. É o ponto onde a receita total é igual ao custo total, apurado com a seguinte formula:

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(2)

PEC = CDFT

MC

Onde: PEC =Ponto de equilíbrio contábilCDFT = Custo direto fixo totalMC = Margem de contribuição

O Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE) ocorre quando existe lucro propriedade e esta busca comparar e demonstrar o lucro da empresa em relação à taxa de atratividade que o mercado financeiro oferece ao capital investido (CREPALDI, 2016). Ou seja, mostra a rentabilidade real que a atividade escolhida traz para propriedade rural, apurado conforme a seguinte fórmula:

(3)

PEE =CDFT + Custo de Oportunidade

MCu

Onde:PEE = Ponto de equilíbrio econômicoCDFT = Custo direto fixo totalMCu = Margem de contribuição unitária

O Ponto de Equilíbrio Financeiro (PEF) indica o volume de vendas necessário para que a propriedade rural possa cumprir todos os seus compromissos financeiros (CREPALDI, 2016). Ou seja, informa quanto ela terá que vender para não ficar sem dinheiro e prejudicar os lucros, conforme a seguinte fórmula:

(4)

PEF =CDFT + Despesas não desembolsáveis

MCu

Onde:PEF = Ponto de equilíbrio financeiroCDFT = Custo direto fixo totalMCu = Margem de contribuição unitária

No entendimento de Crepaldi (2002), a análise do ponto de equilíbrio é fundamental quando se busca informações sobre as obrigações referentes aos investimentos, planejamento de controle do lucro, para lançamento ou corte de produção de produtos e análise das alterações do preço de venda conforme comportamento do mercado (CREPALDI, 2002).

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Como a maioria das empresas e das propriedades da agricultura familiar comercializam diversos produtos, o ponto de equilíbrio deve ser calculado para múltiplos produtos. A diversidade de produtos que compõem o mix ofertado e as consequentes distintas margens de contribuição de cada mercadoria é uma dificuldade para calcular o ponto de equilíbrio mix (WERNKE, 2001). Segundo Fontoura (2013, p. 75), o ponto de equilíbrio contábil mix é calculado utilizando-se as seguintes fórmulas:

(5)PEC mix = CF soma/ mc mix = fator equilíbrioMc mix = mc produto x volume (soma de todos os itens)PE físico por produto = volume produto x fator equilíbrioPE R$ produto = PE físico x preçoPE geral = soma de todos PE R$ produtos

O fator equilíbrio diz que se a empresa vender uma percentagem da receita média de seu mix, já atingirá o ponto de equilíbrio contábil. A margem de contribuição do produto é a margem de contribuição da unidade multiplicada pelo referido volume do item. O ponto de equilíbrio físico corresponde ao volume em unidades a ser vendido para atingir o ponto de equilíbrio por produto do mix (FONTOURA, 2013).

Silva (2016) salienta que a utilização das práticas de gestão de custos possibilita aos produtores rurais um melhor gerenciamento de suas atividades agrícolas, contribuindo para a tomada de decisões, pois o método de mensuração do custo da propriedade demonstra o real resultado da produção agrícola. No entendimento de Wernke (2001), a contabilidade gerencial busca informar os custos precisos dos produtos, de modo que a fixação de preços possa basear-se na melhor informação sobre as necessidades de recursos a serem destinados para tal finalidade.

Para Fontoura (2013) e Bornia (2002), a formação de preços é ditada pelo mercado que se apresenta cada vez mais concorrencial, ou seja, é o mercado que fixa os preços, e não mais as empresas. A técnica utilizada para a formação de preços é a por mark-up. O mark-up é um índice que serve para calcular o preço de venda e cobrir os custos de vendas, como os impostos, taxas, margem de contribuição e o lucro desejado (FONTOURA, 2013).

Para encontrar o mark-up, utiliza-se a seguinte fórmula: (6)

Mark-up =100 / (100 - ( Ʃ custos proporcionais + % MC))

1 - desconto em decimal

Após encontrado o índice de mark-up, pode-se calcular o preço de venda ideal (PVI), que é a multiplicação do índice de mark-up pelo custo de fabricação:

(7)PVI = mark-up x custo de fabricação

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O valor encontrado é o preço a ser comercializado para que a empresa possa cobrir todos os custos de fabricação e alcance o lucro desejado.

O presente referencial teórico discorreu sobre os principais conceitos relacionados à agricultura familiar e definições da contabilidade de custos aplicada à agricultura. Esse conhecimento foi necessário para fundamentar o levantamento e a análise dos dados e resultados do estudo realizado junto aos produtores rurais que comercializam seus produtos na Associação Santacruzense de Feirantes (ASSAFE).

3 Procedimentos metodológicos

Para realização da pesquisa escolheu-se como unidade de análise, pelo critério de acessibilidade, uma das seis feiras que fazem parte da Associação Santacruzense de Feirantes (ASSAFE), do município de Santa Cruz do Sul, a feira do Arroio Grande. Quanto aos objetivos, o presente estudo possui características da pesquisa descritiva e exploratória. Descritiva porque foi necessário verificar e descrever como os integrantes da ASSAFE realizam o seu controle dos custos nas suas propriedades, descrevendo assim as características do grupo estudado para verificar a existência de necessidades comuns entre as variáveis estudadas.

Exploratório visto que, de acordo com a pesquisa bibliométrica realizada, existem poucos artigos científicos que abordam o controle de custos nas feiras rurais, no qual o presente estudo buscou identificar as necessidades de informações de controle de custos para análise da produção comercializada nas feiras rurais. A pesquisa exploratória, conforme Raupp e Beuren (2004) possibilita o aprofundamento sobre o tema em questão, proporcionando mais informações sobre o assunto investigado com o intuito de torná-lo mais evidente.

Quanto aos procedimentos a referida pesquisa é caracterizada como pesquisa de campo, pois foi necessário fazer uma observação direta das atividades do grupo estudado, verificando se o grupo possui algum controle dos produtos que estão sendo comercializados na feira. Na oportunidade foram realizadas três visitas de observação na feira rural, na primeira visita foi realizada uma conversa com os feirantes e apresentação do estudo realizado, as outras visitas foram para realização da entrevista e observação das atividades realizadas na feira.

Para o levantamento dos dados utilizou-se de entrevista estruturada e da observação in loco. As questões utilizadas para a entrevista tiveram por base o questionário elaborado pelo projeto do Núcleo de Extensão Tecnológica e Gestão Rural para Agricultura Familiar da Universidade de Santa Cruz do Sul - NEGAF, sendo que possuem questões iguais e outras que foram adaptadas às necessidades da presente pesquisa. A observação in loco foi realizada durante as entrevistas junto aos dez produtores da feira do Arroio Grande, possibilitando a confrontação das informações levantadas e analisadas.

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Quanto à abordagem do problema a pesquisa é qualitativa. É assim classificada quando os dados coletados, segundo Raupp e Beuren (2004), descrevem a complexidade do problema sem valer-se de dados estatísticos, no qual foram analisadas as interações das varáveis pesquisadas nas feiras rurais.

4 Análise dos dados e resultados

Para a análise dos dados e resultados que evidenciam as necessidades comuns das informações de controles de custos da produção comercializada nas feiras rurais, primeiramente aborda-se uma breve caracterização histórica da Associação Santacruzense de Feirantes (ASSAFE). Na sequência, apresenta-se a descrição dos controles de custos utilizados nas propriedades rurais e a análise dos controles de custos comuns das feiras rurais.

4.1 Trajetória da Associação Santacruzense de Feirantes (ASSAFE)

Conforme o técnico agrícola da Emater de Santa Cruz do Sul, Paulo Zampieri, os agricultores de pequenas propriedades rurais do município, buscando novas fontes de renda, resolveram investir na diversificação de culturas. Assim, em 23 de setembro de 1980 foi instalada uma estrutura provisória em frente ao parque da Oktoberfest, surgindo a primeira feira rural do município. Inicialmente, 23 feirantes, de diversas localidades, fundaram as feiras rurais do município, no qual os produtos eram levados às feiras com caminhão-caçamba da prefeitura.

Após algumas semanas, a feira rural passou a acontecer também próximo à antiga Estação Férrea, onde foram construídas as primeiras barracas de madeira que ofereciam uma estrutura fixa, mais apropriada aos feirantes oferecerem seus produtos. Em 1985 foi criada a Associação Santacruzense de Feirantes (ASSAFE), uma entidade que representa os feirantes de Santa Cruz do Sul junto às entidades públicas e civis.

As feiras rurais são regulamentadas tendo por base um estatuto próprio, em que a comissão organizadora é responsável por fiscalizar o cumprimento do mesmo, assim, devem avaliar os produtos dos agricultores cadastrados e verificar se estão aptos a participar das feiras. A Comissão de Regulamentação, que é formada pela EMATER/ASCAR-RS, Sindicato de Trabalhadores Rurais, Secretaria de Agricultura, Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e pela própria ASSAFE, criou o estatuto e faz com que o mesmo seja cumprido.

Atualmente, em 2017, existem 82 famílias inscritas na associação, que comercializam aproximadamente 200 toneladas por mês nas feiras rurais (ZAMPIERI, 2017). Dentre os produtos vendidos nas feiras destacam-se: batata-doce, couve, repolho, alface, mandioca, cenoura, beterraba, rabanete, tomate, pimentão, brócolis, couve-flor, feijão, vagem, ovos, tempero verde, rúcula, agrião, laranja, banana, couve chinesa, espinafre, mostarda, manjerona, orégano, chicória,

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pão, moranguinho, requeijão, leite, chuchu, cebola, batatinha, waffle, bolacha, massa caseira, cuca, canudinho, bergamota, pepino, queijo, geleias, melado, açúcar mascavo, mel, conservas variadas, milho, alho, carne de porco, linguiça, carne defumada, torresmo, banha, morcilha, rapadura, dentre outros produtos coloniais.

As feiras rurais acontecem em seis pontos diferentes no município de Santa Cruz do Sul que são: feira Central, feira Oktoberfest, feira do Senai, feira do Arroio Grande, feira da Independência e feira do Esmeralda. Ao longo dos anos, as estruturas das feiras foram melhoradas, sendo que atualmente a feira Central possui estrutura metálica e com 30 bancas, já as feiras dos bairros são em estilo germânico tendo por média de 8 a 10 bancas.

O principal diferencial que as feiras rurais oferecem a seus clientes é a qualidade dos produtos, que são frescos e não possuem intermediários, por isso podem ser oferecidos a um preço menor. Além disso, os feirantes podem participar de capacitações oferecidas pelos órgãos regulamentadores e investir em tecnologias produtivas que contribuem para ter um fornecimento regular de seus produtos.

Por limitações de tempo e acessibilidade, o estudo foi realizado apenas na feira do Arroio Grande da ASSAFE, que possui sua estrutura em estilo germânico com 10 bancas. A feira ocorre nas terças-feiras, com cinco bancas que comercializam seus produtos das 14h às 19h, e também aos sábados, operando com capacidade total das bancas e atendendo aos seus clientes das 6h às 12h. O questionário da entrevista foi aplicado a todas as bancas da feira do Arroio Grande.

A associação proporciona, por meio do estatuto, organização nas feiras e exige que os feirantes sejam residentes de Santa Cruz do Sul e que possuam uma diversidade de produção, não fazendo nenhuma exigência em relação a um controle de custos. Foi abordado pelos feirantes que ocorrem fiscalizações nas propriedades, para verificar a organização e se estão obedecendo ao estatuto. Outro aspecto de participar da ASSAFE são as dicas e os treinamentos oferecidos em propriedades mostrando exemplos de práticas adotadas à agricultura pelos técnicos dos órgãos regulamentadores da associação.

De acordo com os seis entrevistados, o que levou os mesmos a fazerem parte da ASSAFE é dar continuidade aos trabalhos realizados por algum familiar que fazia parte da associação e não tinha mais condições de seguir suas atividades. Já para os outros quatro entrevistados é a possibilidade de terem um lugar fixo para comercializar seus produtos, facilidade nas vendas no qual o cliente que se desloca até a feira, não precisando bater de porta em porta para oferecer seus produtos.

Quando perguntados se fazem parte de outras associações e grupos e por que participam deles, os feirantes que fazem parte de alguma outra instituição responderam conforme apresentado no Quadro 1.

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Quadro 1 - Participação em outras associações

Associação ou grupo que participa

Motivo de fazer parte

Associação de Criadores de Peixes, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e

EMATER/ASCAR-RS

A Associação de Criadores de Peixes é uma fonte de renda extra para a propriedade. O Sindicato oferece treinamen-tos com a possibilidade de aprender técnicas novas para a propriedade. Já a EMATER/ASCAR-RS possui os técnicos agrícolas que dão suporte técnico de manuseio de solo e as melhores sementes.

Sindicato dos Trabalha-dores Rurais e Sebrae

O Sindicato por oferecer diversos cursos sobre novas técnicas na agricultura e organização da propriedade. O Sebrae por estar realizando um estudo de controle de cus-tos na propriedade. Neste estudo são realizadas visitas periódicas à propriedade com anotação dos tempos gastos em cada atividade desenvolvida. Também são anotados os gastos com insumos, embalagens, máquinas, dentre outros gastos, bem como registradas todas as vendas de cada cultivo e seu respectivo preço de venda.

Sindicato dos Trabalha-dores Rurais

Participo das reuniões e os treinamentos oferecidos, pois é uma maneira de manter-se informado.

Associação de Produto-res da Linha João Alves e Sindicato dos Traba-

lhadores Rurais

O sindicato oferece programas como o troca-troca de se-mentes, máquinas para realização de serviços nas proprie-dades, e além de defender a classe da agricultura também oferece assistência de saúde e cursos. Já a Associação realiza compra de produtos em maior quantidade para os associados por menor preço.

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Dessa forma, fazer parte de outras associações e grupos é de extrema importância, pois além de conseguir produtos com menor preço, também é possível participar de treinamentos, cursos, ter disponibilidade de máquinas para realizar serviços na propriedade, ter a classe sendo defendida pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais, e ainda, ter assistência à saúde.

4.2 Perfil socioeconômico dos feirantes

As primeiras perguntas da entrevista visam a apreender uma visão socioeconômica dos feirantes abordando a localidade onde residem, o tamanho e quantas pessoas moram na propriedade, as principais atividades desenvolvidas, a existência de outras fontes de renda, se a feira rural é a atividade principal e onde ocorre a comercialização, apenas na feira do Arroio Grande ou em outros locais também.

Os feirantes da ASSAFE do bairro Arroio Grande possuem suas propriedades distribuídas em diferentes localidades do município, sendo elas: Linha João Alves, Linha Santa Cruz, Boa Vista, Linha Antão. No Quadro 2, pode-se observar que o número de residentes por propriedade é bem variado.

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Quadro 2 - Número de pessoas por propriedade rural

Número de propriedades Número de pessoas na residência

4 propriedades 2 pessoas

3 propriedades 4 pessoas

2 propriedades 3 pessoas

1 propriedade 10 pessoas

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

A produção para comercialização na feira rural é a principal atividade desenvolvida por eles. Já em relação a fontes de renda na propriedade, uma família participa também da Associação de Criadores de Peixes, e outras quatro residências possuem a aposentadoria como outra fonte de renda.

Quando perguntados sobre o tamanho da propriedade e qual a utilização para cada atividade, os feirantes informaram a área total e a utilizada para a produção, não sabendo ao certo qual a área utilizada para cada cultivo. No Quadro 3, apresenta-se o tamanho total da propriedade e a sua utilização para produção.

Quadro 3 - Tamanho e utilização da propriedade

Área total Área produzida

2 hectares 1,7 hectares

6,6 hectares 2,5 hectares

9 hectares 2,5 hectares

4 hectares 2 hectares

8 hectares 3 hectares

3 hectares 2,7 hectares

24 hectares 2 hectares

10 hectares 6 hectares

14 hectares 7 hectares

5 hectares 3 hectares

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Observa-se que as propriedades variam de 2 a 24 hectares de área total, porém a área que é utilizada para a produção não é, necessariamente, extensa. Isso porque os produtos comercializados nas feiras possuem ciclo curto, sendo possível produzir a mesma variedade diversas vezes em um ano. Além disso, esses cultivos ocupam pequenos espaços, sendo possível produzir muito em pequenas propriedades, conforme constatado no estudo, onde os agricultores possuem de 1,7 a 7 hectares de terra úteis para produção. Além da feira rural do Arroio Grande, alguns agricultores comercializam seus produtos em outras feiras do município, bem como atendem mercados e

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clientes fixos em suas próprias residências ou fazendo entregas conforme pedido dos compradores.

Quando questionados acerca do uso da internet na propriedade rural como ferramenta de pesquisa para as atividades do campo, apenas quatro dos dez feirantes possuem internet em suas residências. Um dos motivos por não possuírem internet em suas propriedades é a localização, pois o sinal ainda não é distribuído a todas localidades do interior do município. As principais atividades que costumam ser acessadas na internet segundo os feirantes são: previsão do tempo, atualidades para a propriedade, notícias, redes sociais e e-mails.

Segundo os feirantes, a internet ajuda nas atividades do campo, pois com ela é possível fazer as vendas e encomendas pelas redes sociais, auxilia a modernizar a propriedade porque se consegue pesquisar o que outros produtores estão utilizando em sua atividade. Segundo os pesquisas, também é possível fazer compra de materiais, utensílios e maquinários para a propriedade, ver as novidades e assuntos atuais do ramo agrícola, fazer pesquisa de valores, ver a previsão do tempo, informações gerais, por exemplo.

Porém, nenhum dos entrevistados utiliza a internet e as ferramentas do computador para fazer o controle de custos de suas atividades rurais. Os feirantes que fazem o controle preferem o uso do velho caderno no qual são realizados as anotações e os cálculos necessários para a gestão de sua propriedade.

4.3 Identificação de controle de custos nas propriedades rurais

Dos dez agricultores da feira do Arroio Grande, apenas quatro fazem controle de custos na propriedade. As anotações são realizadas diariamente em cadernos referentes aos gastos com embalagens, sementes, insumos, adubos, bem como das vendas realizadas nas feiras e fora delas. Deponti et al. (2017) corroboram com este resultado, pois em seu estudo verificaram que os agricultores não possuem o hábito de fazer registros das entradas e saídas financeiras da propriedade, sendo que muitos agricultores não compreendem que esta prática pode ajudá-los na gestão e tomada de decisões da propriedade.

Para os feirantes que fazem controle financeiro em suas propriedades, as anotações dos custos são importantes para saber o quanto está sendo gasto ou vendido. Se é preciso aumentar ou diminuir a produção, se o preço que os produtos estão sendo vendidos cobrem as despesas e retorna a margem de lucro esperada. Quais são os ganhos mensais da propriedade, qual o preço que deve vender cada produto, quais os produtos que dão mais despesas e quais que apresentam maior retorno.

Os feirantes que não fazem controle dos custos da propriedade declaram que o mesmo não é realizado porque os valores dos insumos, adubos, sementes e embalagens mudam constantemente, dificultando o controle. Outro fator apontado pelos agricultores foi a falta de tempo para realizar as anotações e os cálculos necessários, bem como, a incerteza de produção.

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Relataram que dificilmente tudo que é plantado chega ao desenvolvimento final para comercialização. A variação de temperaturas, chuvas e vendavais também são fatores de risco, o que, para os feirantes, é um fator que afeta o controle da propriedade. Também foi exposto por eles que possuem uma pequena noção dos gastos e das receitas, pois já produzem e comercializam seus produtos por vários anos. Acreditam que se um produto está dando prejuízo o outro dará o lucro necessário para manter a propriedade, não necessitando assim de anotações e dos controles de custos.

Quando perguntados se é possível ter mais de uma cultura sem controle na propriedade, os produtores que não fazem controle responderam que é possível ter mais de uma cultura sem controle, pois só haverá gasto se for produzido e tudo será comercializado. Outro fator destacado por eles é a possibilidade de plantar culturas diversificadas podendo utilizar os mesmos insumos e adubos para todas elas, tendo assim, um menor gasto de produção. Tendo maior variedade de produtos, haverá mais vendas tendo um bom retorno financeiro. Já para os produtores que fazem controle em suas propriedades, não é possível ter diversas culturas sem ter controle. Segundo eles, com o controle de custos é possível saber o quanto está sendo gasto e quanto estão ganhando, se vale a pena continuar produzindo determinado produto ou deve-se parar de produzi-lo. Também é possível controlar a sazonalidade das vendas, controlando assim a quantidade a ser plantada para ter produto suficiente a ser comercializado, sendo assim uma ferramenta para a tomada de decisões importantes na propriedade.

Para os feirantes, as principais dificuldades enfrentadas para realizar o controle de custos nas propriedades é o clima (chuvas, calor, vendavais, granizo) que afeta a produção tornando o controle impreciso. Outro fator abordado foi a falta de tempo, pois trabalha-se o dia inteiro e a noite é o momento de descanso. Também foi relatado a variação dos valores de insumos, adubos, embalagens que mudam frequentemente.

Dos dez feirantes, apenas quatro já realizaram treinamentos de controle de custos para as propriedades, sendo que três deles realizam controles e teriam interesse de participar de novo treinamento para se atualizarem no assunto e um não faz o controle na propriedade, pois acredita que quanto maior for a diversidade de produtos maior serão as vendas dos mesmos, não sendo necessário o controle para ele. Os outros sete entrevistados não possuem interesse em participar de treinamentos de controle de custos para propriedade.

Com o estudo, pode-se verificar que o controle de custos nas propriedades rurais é um recurso pouco utilizado como ferramenta de gestão de custos na atividade rural e para a tomada de decisões. Os feirantes que não fazem o controle de custos de sua propriedade desconhecem o real lucro obtido por não conhecerem suas despesas. Acredita-se que eles não realizam este controle por não compreenderem a real importância das informações que podem ser obtidas através da contabilidade rural e de custos.

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4.4 Análise dos controles de custos comuns dos produtores das feiras rurais

Referente ao conhecimento dos feirantes em relação ao controle de custos, observou-se diferenças entre as necessidades de controles de custos comuns, no qual cada um deles avaliou a importância de cada item de custos apresentados no questionário de forma diferente. Com a resposta dos entrevistados, pode-se analisar os custos que são comuns a cada propriedade. Os agricultores que não fazem controle das saídas e entradas financeiras em sua propriedade também responderam à pergunta, sabendo da importância dos controles que deveriam estar realizando da sua atividade.

Os controles de custos considerados importantes pelos feirantes para ter-se um bom controle de sua propriedade foram: para os dez entrevistados a definição do preço de venda; para oito a análise da margem de lucro dos produtos; para sete o controle do estoque; para seis a análise dos resultados, para cinco a análise de produção e volume de vendas; para quatro o levantamento de custos de cada cultura; e para três o custo com mão de obra e a análise de custos fixos de produção.

Com base nos resultados, constatou-se que o controle de custos comuns a todos os feirantes rurais é a definição do preço de venda, pois o mesmo deve estar coerente com o valor dos concorrentes, cobrir os custos e proporcionar o lucro esperado. A análise da margem de lucro dos produtos é outro controle comum, sendo importante para saber quanto estão faturando, se é o valor esperado. Para encontrar a margem de lucro utiliza-se o faturamento total deduzido dos custos fixos e variáveis da produção, apurando-se assim o lucro de determinado produto. Outro controle comum a eles é o de estoques, no qual os feirantes precisam analisar quanto possuem plantado, o tempo de desenvolvimento, a sazonalidade das vendas, quando precisam plantar para terem seu produto disponível para os clientes.

Em termos de controles comuns de custos, pode-se afirmar que a análise de produção e o volume de vendas é um dos mais relevantes, no qual os feirantes precisam ter um controle do quanto é produzido em sua propriedade e saber quanto que é vendido em cada época do ano para assim conseguirem produzir o necessário evitando desperdícios. Os outros controles não foram considerados comuns pois não atingiram 50% dos entrevistados.

O controle de custos na propriedade rural é uma ferramenta importante para a propriedade rural, pois com ela é possível definir preço de venda, controlar estoque, analisar a cultura que apresenta maiores gastos ou maiores retornos, analisar resultados, produção, volume de vendas, margem de lucro, custos de produção, custos fixos, custo de mão de obra, custo de cada cultura, dentre outros.

Perguntados sobre a importância de se ter um controle de custos da produção que é comercializada nas feiras rurais, os feirantes afirmaram que além do conhecimento mais aprofundado da propriedade é possível verificar se o negócio está dando rentabilidade, definir o preço de venda, apurar a margem de lucro esperada, controlar os gastos, analisar qual o cultivo

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está dando maior resultado, observar os meses com maiores vendas e um gerenciamento financeiro familiar.

Tendo por base a importância de controle de custos para a gestão de uma propriedade rural, perguntou-se aos feirantes sobre a necessidade de controle que toda propriedade rural deveria ter para gestão de suas atividades. Todos feirantes responderam que a definição do preço de vendas é o principal controle e que toda propriedade rural, independentemente da atividade desenvolvida, deveria saber. Para nove feirantes a análise da margem de lucro dos produtos também deve ser uma ferramenta de controle para toda propriedade rural. Para seis feirantes, a análise de produção e volume de vendas é outro controle que todos deveriam ter em suas atividades. Para cinco agricultores, a análise de resultados e o levantamento de custo de cada cultura deveria ser aplicado nas atividades rurais. Para quatro entrevistados o controle de estoque deveria ser realizado pelas propriedades num todo, e para três dos entrevistados o custo com mão de obra e a análise de custos fixos de produção deveria ser um controle comum a todas as propriedades.

O controle de custos comuns às propriedades rurais, considerando apenas as que obtiveram 50% das respostas dos entrevistados tem-se: a definição do preço de venda, que é imprescindível a todos porque deve estar alinhado com o mercado e com os concorrentes, deve cobrir os custos fixos e variáveis de produção, bem como retornar o lucro desejado. A análise da margem de lucro é outro controle necessário a todas propriedades, pois com ela é possível verificar se o lucro é suficiente para manter a propriedade e as necessidades pessoais.

Outro controle comum é a análise de produção e volume de vendas, pois com ela é possível saber o quanto está sendo produzido, quando deve ser plantada nova safra, qual o tempo de desenvolvimento de cada cultura e ainda quanto que vende em cada época do ano, pois sabendo-se a sazonalidade das vendas sabe-se quando deve plantar mais e quando deve reduzir o cultivo, evitando assim desperdícios e gastos desnecessários. Por fim tem-se a necessidade de análise dos resultados que retorna ao feirante, ou seja, se a comercialização de seus produtos está cobrindo os gastos e proporcionando o lucro projetado. Com o levantamento do custo de cada cultura é possível verificar qual a cultura que possui o maior custo, se é vantajoso continuar produzindo-a ou se deve deixar de ser comercializada.

Destaca-se a partir do problema de pesquisa que as propriedades rurais estão passando por transformações sociológicas e que tem particularidades em relação às demais organizações. Entretanto, os controles iniciais oriundos da metodologia de custeio variável como controle dos custos fixos e variáveis, análise de margem, ponto de equilíbrio e projeção de resultados são instrumentos importantes para a gestão rural. Além de servirem de base ao processo de planejamento econômico e financeiro das propriedades proporcionam uma visão mais sistêmica da atividade e das possibilidades de diversificação.

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5 Conclusão

Como resultado do estudo, que buscou verificar quais são as necessidades comuns de informações de controle de custos para análise da produção comercializada nas feiras rurais da Associação Santacruzense de Feirantes, verificou-se que apenas 40% dos feirantes realizam controle de custos em suas propriedades enquanto de 60% dos entrevistados não realizam controles.

Além da feira rural do Arroio Grande, alguns feirantes comercializam seus produtos em outras feiras da cidade e ainda em mercados e clientes fixos fazendo entregas nas propriedades evidenciando a busca de alternativas para a comercialização. A feira rural é, para todos entrevistados, a principal fonte de renda, sendo que um produtor também participa da Associação de Criadores de Peixes e outros possuem aposentadoria como fonte de renda extra.

Referente ao uso da tecnologia da informação e internet nas propriedades, verificou-se que apenas quatro propriedades possuem acesso à internet, sendo que o principal motivo para não terem é a sua localização que ainda não possui sinal da internet. Para os feirantes, a internet é uma ferramenta considerada para as atividades do campo. Os principais benefícios relatados pelos feirantes do uso da internet é a possibilidade de realizar vendas, modernizar a propriedade atualizando-se de novas tecnologias, realizar compras de materiais, utensílios e maquinários para a propriedade, bem como realizar pesquisas de valores e produtos para reduzir. Entretanto, nenhum dos feirantes utiliza-se da tecnologia de informação para fazer o controle da propriedade rural.

Outro aspecto importante verificado no estudo é o fato de 60% dos feirantes fazerem parte da ASSAFE para dar continuidade às atividades de algum familiar que fazia parte da associação. Já para os outros 40% dos entrevistados o motivo para fazer parte da associação é o lugar fixo para comercializar seus produtos, não precisando oferecer os produtos de porta em porta. A principal exigência para fazer parte da associação é residir no município e observar e cumprir as normas do estatuto.

Em relação aos controles de custos considerados necessários pelos feirantes para se ter um controle das atividades, foram apontados os seguintes controles: definição do preço de venda, margem de lucro dos produtos, controle de estoques, análise dos resultados e análise de produção e volume de vendas. Com eles, é possível ter uma gestão de custos e tomar decisões importantes das atividades desenvolvidas, bem como possuir maior conhecimento do negócio.

Referente aos controles de custos comuns nas propriedades rurais, independentemente da atividade desenvolvida, o estudo identificou a definição do preço de venda, a análise da margem de lucro dos produtos, a análise de produção e volume de vendas, análise de resultados e o levantamento de custo de cada cultura.

Espera-se que os resultados do estudo possam servir para subsidiar melhorias na gestão da agricultura familiar dos feirantes do município,

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inclusive em outras regiões, contribuindo para que mais agricultores possam fazer o uso desta ferramenta de controle em suas propriedades. Como limitação do estudo tem-se a delimitação do recorte da pesquisa que abrangeu apenas os produtores da feira do Arroio Grande, da Associação Santacruzense de Feirantes de Santa Cruz do Sul.

Considerando a lacuna de trabalhos científicos que abordam o tema controle de custos nas feiras rurais e dada à relevância da agricultura familiar na produção de alimentos, sugere-se a aplicação do estudo com outras feiras do município e de outras regiões. Para pesquisas futuras, também indica-se a realização de estudos empíricos junto a propriedades rurais de feirantes a fim de identificar se os controles comuns de custos identificados no presente estudo são suficientes para uma boa gestão de custos na agricultura familiar.

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Assessoria contábil gerencial para empreendimentos de pequeno porte: um estudo comparativo entre quatro

farmácias comerciais

Adriana Tolfo Bandeira134

Euselia Paveglio Vieira235

Ana Paula da Rosa Dezordi336

RESUMO

Frente à competitividade no mundo das organizações, torna-se essencial ao gestor, conhecer o seu negócio, fazer projeções confiáveis, estar munido de informações contábeis gerenciais, de modo que suas decisões sejam alicerçadas em dados confiáveis, buscando maximizar seus lucros e minimizar seus custos. Neste sentido, o estudo tem o objetivo de propor uma assessoria contábil gerencial para empreendimentos de pequeno porte, especificamente para farmácias comerciais, buscando apresentar indicadores fundamentais na instrumentalização dos gestores para o gerenciamento de suas empresas. Desta forma, buscou-se uma fundamentação teórica a respeito do tema, evidenciando estudos realizados em empresas do mesmo porte. O estudo metodológico se classifica como uma pesquisa aplicada, qualitativa, quantitativa, descritiva e estudo de multicasos, utilizando-se da entrevista despadronizada e da análise documental na coleta dos dados. O estudo foi desenvolvido em quatro farmácias comerciais, situadas na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, numa faixa de faturamento médio mensal entre R$ 79.000,00 a R$ 200.000,00, enquadradas no regime de tributação do Simples Nacional. Selecionou-se uma amostra de produtos que apresentavam maiores volumes de vendas no setor de medicamentos e perfumaria, e, a partir deles, calculou-se os indicadores contábeis gerenciais. Baseados nos indicadores apurados, foi realizado um feedback aos gestores, com orientações quanto à operacionalização de suas informações, buscando

1 Pós-graduada em Controladoria e Gestão Empresarial pela Unijuí/RS, [email protected] Doutora em Contabilidade, Professora Unijuí/RS, [email protected] Pós-graduada em Auditoria e Contabilidade Digital pela Unijuí/RS, [email protected].

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auxiliá-los em seus controles e na gestão dos empreendimentos. Concluiu-se que os gestores de empresas de pequeno porte geram seus negócios, sem o respaldo da contabilidade gerencial, o que pode acarretar em situações indesejadas, devido à imprevisibilidade no cenário dos negócios. Nesta perspectiva, os indicadores contábeis gerenciais são estruturantes para a gestão das pequenas empresas comerciais do ramo farmacêutico.

Palavras- chave: Assessoria contábil gerencial. Indicadores. Controles.

1 Introdução

A vulnerabilidade no âmbito empresarial provocada pela competitividade acirrada, no atual cenário econômico, tem provocado constantes incertezas e imprevisibilidade quanto ao futuro das organizações. Neste sentido, os gestores, precisam estar munidos de informações sobre o ambiente de suas organizações, a fim de serem eficientes e eficazes em sua tomada de decisões. Desta forma, o uso de indicadores contábeis gerenciais passa a ser uma prática essencial na instrumentalização dos gestores das empresas.

Neste sentido, a contabilidade gerencial vem auxiliar o empresário, fornecendo subsídios para a otimização do processo de tomada de decisão. Padoveze (2011, p. 3) define a contabilidade como, “a ciência do controle em todos os aspectos temporais – passado, presente, futuro [...], à controladoria cabe a responsabilidade de implantar, desenvolver, aplicar e coordenar todo o ferramental da Ciência Contábil dentro da empresa, nas suas mais diversas necessidades”.

Desta forma, a contabilidade gerencial, como suporte da controladoria é responsável por assegurar a eficácia da empresa, mediante o controle das operações e seus resultados planejados (PADOVEZE, 2011). Busca-se otimizar recursos, por meio do controle do planejamento, avaliação dos resultados, com vistas a assegurar a eficácia da empresa por meio da otimização dos seus resultados.

Neste contexto, as empresas, independentemente do seu porte, possuem um papel fundamental para o desenvolvimento econômico, social de uma nação, contribuindo na geração do produto nacional, absorção de mão de obra, renda, e, por conseguinte, no desenvolvimento local e nacional.

No panorama empresarial, as micro e pequenas empresas, segundo dados do SEBRAE (2014), já são as principais geradoras de riqueza no país (comércio: 53,4% do PIB deste setor; indústria: 22,5% e serviço: 36,3%). Estes empreendimentos representam 99% do total de estabelecimentos existentes e respondem por cerca de 40% da massa de remuneração paga aos empregados formais nas empresas privadas. Estes dados demonstram a importância de incentivar e qualificar estes empreendedores, já que, são decisivos para a economia e o desenvolvimento do país.

Conforme a Lei Complementar nº 123 (2006), considera-se microempresa a empresa que aufira no ano-calendário receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e no caso de

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empresa de pequeno porte, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais).

De acordo com dados levantados pelo SEBRAE (2013), tomando por referência as empresas brasileiras constituídas em 2007, e as informações sobre elas disponíveis na Receita Federal até 2010, a taxa de sobrevivência das empresas com até 2 anos de atividade foi de 75,6%. E a taxa de mortalidade de empresas com até 2 anos de 24,4%. Esta extinção prematura das empresas no centário empresarial pode ser justificada pela falta de experiência com o ramo de negócios, falta de competência administrativa do empresário, gestão do seu negócio pelo feeling, por conhecimento tácito adquirido pela experiência, na maioria das vezes, sem o devido conhecimento da gestão administrativa e contábil.

É neste cenário, que a contabilidade gerencial aplicada a pequenos empreendimentos pode subsidiar os gestores com indicadores contábeis gerenciais substanciais na gestão e no desenvolvimento desses empreendimentos, no sentido de criar controles internos, desenvolver os processos, fornecer informações que possam qualificar a gestão e, consequentemente, contribuir para a continuidade das atividades.

Neste sentido, a questão que surge é saber como uma assessoria contábil gerencial pode contribuir com informações e indicadores fundamentais na instrumentalização dos gestores de pequenas empresas comerciais do ramo farmacêutico.

Para tanto, o objetivo da pesquisa é, a partir dos instrumentos contábeis gerenciais, aplicada a pequenos empreendimentos, propor indicadores contábeis gerenciais, de rentabilidade, atividade e de pagamento, tais como: prazo médio de recebimento/ pagamento, giro dos estoques, giro total do Ativo, métodos de custeio, precificação, margem de contribuição, ponto de equilíbrio, margem de segurança, fluxo de caixa, com vistas a subsidiar a tomada de decisão e a continuidade do negócio no desenvolvimento do país.

Neste contexto, Monteiro e Barbosa (2011) salientam que as micro e pequenas empresas não utilizam as ferramentas da controladoria empresarial, como o planejamento, orçamento, análise financeira, gestão da informação em seus processos de gestão. Evidenciando a necessidade de administrar as micro e pequenas empresas com profissionalismo, com vistas a reduzir a mortalidade destas, uma vez que são fundamentais para o desenvolvimento do país.

Os estudos de Miranda et al. (2016) apontam que o principal motivo para o encerramento das atividades é a falta de planejamento, tanto financeiro como estratégico. As micro e pequenas empresas não possuem estrutura eficiente e adequada, pois são gerenciadas, na grande maioria pelo feeling do gestor. É com este enfoque que o presente artigo aborda a contabilidade gerencial aplicada em pequenas empresas, com vistas a verificar os indicadores contábeis gerenciais fundamentais para o seu gerenciamento, com o propósito de auxiliar na gestão e na continuidade dos negócios.

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2 Base conceitual

Baseado na fundamentação teórica do presente estudo, buscou-se aprofundar o tema, evidenciando processos contábeis gerenciais possíveis de serem aplicados no dia a dia de empresas de pequeno porte.

2.1 Contabilidade

A contabilidade é uma ciência social, pois estuda o patrimônio das células sociais. Seu objeto de estudo é o patrimônio das empresas, em seus aspectos quantitativo e qualitativo, buscando evidenciar e mensurar a evolução patrimonial das empresas, fornecendo informações aos seus usuários.

Nesta perspectiva, Padoveze (2011) destaca que a contabilidade trata do controle econômico do patrimônio e de suas mutações, assim como fornece subsídios de informação econômica para a gestão da empresa. Basso, Brizollla e Filipin (2017) complementam conceituando a contabilidade como um conjunto de normas, princípios e métodos próprios, constituindo-se na técnica de controlar, registrar e informar aos usuários situações impactantes de ordem socioambiental. É importante ressaltar que o controle contábil implica num processo de acompanhamento que perpassa todas as etapas do processo decisório e de gestão, por conseguinte, de todas as etapas do planejamento (PADOVEZE, 2011).

A contabilidade, conforme citado pelos autores, tem sentido, quando fornecer informações úteis aos seus usuários, de forma concisa, objetiva e clara, em tempo hábil para auxiliar na tomada de decisão. Nesta perspectiva, Parisi e Megliorini (2011) destacam que as organizações têm o propósito de satisfazer os objetivos dos stakeholders, que podem ser: contribuintes das entidades sem fins lucrativos, proprietários ou acionistas, funcionários, clientes, fornecedores, comunidade e governo.

O campo de aplicação da ciência contábil, de acordo com Basso, Brizolla e Filipin (2017) é o mais amplo possível: onde existir patrimônio definido e nitidamente delimitado, há a necessidade da aplicação da contabilidade para controlar, fazer jus às obrigações fiscais, e subsidiar as decisões gerenciais. Neste sentido, é utilizada em todas as organizações, com ou sem fins lucrativos.

2.2 Legislação aplicável à pequena empresa

Com relação à legislação aplicável a uma empresa de pequeno porte, há vasta legislação, sendo necessário abranger a legislação trabalhista, fiscal e contábil. Desta maneira, destaca-se de forma bem sucinta, as principais obrigações.

A Legislação trabalhista passou por um processo de mudanças, alguns aspectos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foram alterados a partir da lei 13.467/2017, os quais estão em vigor a partir de novembro de 2017. A jornada diária poderá ser de 12 horas com 36 horas de descanso,

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respeitando o limite de 44 horas semanais (ou 48 horas, com as horas extras) e 220 horas mensais.

Deve-se observar o período entre jornadas de trabalho, considerando que entre 2 (duas) jornadas de trabalho deve haver um intervalo mínimo de 11 (onze) horas consecutivas. Todo empregado tem direito a um repouso semanal remunerado de 24 (vinte e quatro) horas consecutivas, preferencialmente aos domingos.

Em todas as atividades, é obrigatório para o empregador o registro dos respectivos trabalhadores, podendo ser adotados livros, fichas ou sistema eletrônico (CLT, art. 41). De acordo com a legislação, são direitos do empregado: salário, horas extras, adicional de insalubridade, adicional de periculosidade, adicional noturno, salário família, diárias para viagem, ajuda de custo, adicional por tempo de serviço, férias, 1/13 salário, vale-transporte, repouso semanal remunerado, entre outras. Para os estabelecimentos com mais de 10 trabalhadores, é obrigatória a anotação da hora de entrada e saída, em registro manual, mecânico ou eletrônico (CLT, art. 74).

A legislação contábil é regida pelo Conselho Federal de Contabilidade, por meio dos princípios e normas contábeis. A norma brasileira de contabilidade que dispõe sobre as normas de contabilidade aplicáveis às pequenas e médias empresas é a NBC TG 1000 (R1). Segundo ela, as demonstrações contábeis, possuem o objetivo de oferecer informação sobre a posição financeira (balanço patrimonial), o desempenho (resultado e resultado abrangente) e fluxos de caixa da entidade, servindo de subsídios para a tomada de decisão, para todos os seus usuários, (CFC, 2016).

De acordo com a NBC TG 1000 (R1) a entidade deve apresentar um conjunto completo de demonstrações contábeis pelo menos, anualmente, inclusive com informação comparativa. O conjunto completo de demonstrações contábeis da entidade deve incluir as seguintes demonstrações: balanço patrimonial; demonstração do resultado do exercício; demonstração do resultado abrangente; demonstração das mutações do patrimônio líquido; demonstração dos fluxos de caixa e notas explicativas, compreendendo o resumo das políticas contábeis significativas e outras informações explanatórias. As demonstrações contábeis, devem ser elaboradas usando o regime contábil de competência, exceto as informações do fluxo de caixa (CFC, 2016).

A ITG 1000 define como obrigatória a elaboração do Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado e as Notas Explicativas ao final de cada exercício social. Apesar de não serem obrigatórias, para as Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, a elaboração da Demonstração dos Fluxos de Caixa, a Demonstração do Resultado Abrangente e a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido é estimulada pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC, 2012).

Com relação à área fiscal, a empresa pode enquadrar-se no regime de tributação do Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real. Dependendo da atividade da empresa e das especificidades, é feita a opção para a modalidade que resultar em maior economia para a empresa, por meio da

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elisão fiscal. As microempresas e as empresas de pequeno porte, geralmente, são enquadradas no Simples Nacional, dado o regime menos oneroso para as empresas.

O Simples Nacional, por ser um Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições, implica no recolhimento mensal, mediante documento único de arrecadação. Ele abrange os seguintes impostos e contribuições: Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ); Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS); Contribuição para o PIS/PASEP; Contribuição Patronal Previdenciária (CPP) para a Seguridade Social; Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS); e Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS).

2.3 Contabilidade gerencial

A contabilidade gerencial é um ramo da contabilidade que tem o propósito de fornecer subsídios ao gestor, auxiliando em suas decisões gerenciais por meio de indicadores, buscando minimizar os riscos inerentes ao negócio e maximizar resultados.

A contabilidade gerencial é conceituada por Crepaldi (2012) como um ramo da contabilidade com o objetivo de fornecer instrumentos aos gestores da empresa que os subsidiem em suas funções gerenciais. Neste sentido, Padoveze (2011, p. 10), afirma que “a contabilidade gerencial está ligada à necessidade de informações para planejamento, controle, avaliação de desempenho e tomada de decisão”. Desta forma, é fundamental a elaboração de demonstrativos contábeis confiáveis e de qualidade, que atendem às necessidades de seus usuários (ZDANOWICZ, 2012). Nesta perspectiva, os demonstrativos contábeis obrigatórios fornecem informações tanto para os usuários internos, quanto para os externos. A partir destes demonstrativos, são apurados diversos indicadores que subsidiam a gestão. A figura 1 apresenta uma síntese dos indicadores elaborados a partir das publicações dos autores citados, com o propósito de utilizar como instrumento de análise do estudo aplicado.

Além dos indicadores baseados nas informações dos demonstrativos contábeis, gera-se indicadores gerenciais utilizados apenas pelos usuários internos, os quais instrumentalizam os gestores na tomada de decisão.

O capital de giro da empresa, valor financeiro que a empresa deve manter disponível para financiar seu ciclo operacional, é encontrado pela diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante. Sendo influenciado pelo volume de vendas, compras, prazo de estocagem e pagamento das compras. Como estes fatores variam bastante, ele precisa ser monitorado com frequência para não afetar e comprometer o fluxo de caixa da empresa (CREPALDI; CREPALDI, 2017).

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Os indicadores de capacidade de pagamento evidenciam a condição da empresa em saldar suas dívidas e sua estrutura de endividamento. Estes indicadores são extraídos do balanço patrimonial, calculados por meio do índice de liquidez corrente, seca, imediata, geral e índice de endividamento. De acordo com Padoveze (2010), o índice da liquidez corrente é encontrado por meio da equação AC/PC, sendo que este indicador deve ser sempre superior a 1,00, sendo classificado como ótimo a partir de 1,50. A liquidez seca é obtida por meio do cálculo (AC – estoques/PC). Subtrai-se os estoques, pois considera-se os ativos de maior liquidez, para avaliar a capacidade da empresa em honrar com os seus compromissos. O índice de liquidez imediata considera apenas os ativos financeiros efetivamente disponíveis (disponibilidades (caixa, aplicações financeiras) /PC), demonstrando efetivamente a capacidade de pagamento de curto prazo da empresa. Já o índice de liquidez geral (AC+ realizável a longo prazo / PC + exigível a longo prazo) objetiva verificar a capacidade de pagamento, considerando as condições totais tanto do ativo como do passivo. O índice de endividamento (PC + exigível a longo prazo/ PL) demonstra a estrutura de financiamento da empresa. O ideal é que este indicador seja inferior a 1,00. Esta relação entre o capital de terceiros e o capital próprio, demonstra quanto a empresa tomou de empréstimo para cada R$ 1,00 de capital aplicado. Neste caso, quanto menor for o percentual, melhor a situação da empresa (PADOVEZE, 2010).

Os indicadores de atividade evidenciam a performance operacional da empresa, em seus principais aspectos, a partir das informações do balanço patrimonial e do demonstrativo do resultado do exercício. São calculados por meio do indicador de prazo médio de recebimento, prazo médio de pagamento, giro de estoques e giro do ativo total. O prazo médio de recebimento é encontrado por meio da equação (duplicatas a receber x 360 dias/ receita operacional bruta), demonstrando quanto tempo, em média, a empresa demora para receber suas vendas diárias. O prazo médio de pagamento (duplicatas a pagar x 360 dias/ compras brutas de materiais e serviços) tem objetivo de evidenciar o prazo médio que a empresa consegue para pagar seus fornecedores. O indicador de giro de estoques (CPV/ estoques totais) demonstra a velocidade com que o estoque se transforma em produção vendida. O índice encontrado irá demonstrar o número de vezes que o estoque gira no período analisado. Já o prazo médio de estocagem é encontrado por meio da equação (360 dias/ giro do estoque). Os estoques devem ser bem administrados pelo gestor, visto que representa uma aplicação de recursos e, se mal aplicado, pode comprometer a liquidez da empresa (PADOVEZE, 2010). Estes índices de atividade objetivam evidenciar o ciclo operacional da empresa que, de acordo com Crepaldi e Crepaldi (2017, p. 559), “compreende o tempo de estocagem, de industrialização (caso seja uma indústria) e o prazo de recebimento”. É encontrado por meio da soma do prazo médio de recebimento com o prazo médio de estocagem. Já o ciclo financeiro compreende o tempo entre pagar os fornecedores e receber dos clientes, também conhecido como ciclo de caixa. O cálculo é feito considerando o ciclo operacional subtraído pelo prazo médio de pagamento aos fornecedores (CREPALDI; CREPALDI, 2017). O indicador de

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giro do ativo (receita operacional líquida/ AT) evidencia a velocidade com que o investimento total se transforma em volume de vendas (PADOVEZE, 2010).

Os indicadores de rentabilidade podem ser calculados por meio dos indicadores: rentabilidade do ativo total (lucro líquido do exercício/ AT x 100) e a rentabilidade do patrimônio líquido (lucro líquido do exercício/ PL x 100). O primeiro evidencia quanto a organização remunerou os seus ativos, e o segundo, o seu capital próprio no período analisado (BASSO; ENDERLI; FILIPIN, 2015).

A escolha pelo método de custeio a utilizar estabelece como deve ser mensurado o custo dos produtos. Os métodos de custeio mais utilizados, são o custeio variável ou direto e o custeio por absorção. O primeiro, conforme Crepaldi (2012), considera como custo de produção do período apenas os custos variáveis incorridos. Os custos fixos, como incorrem mesmo que não haja produção, não são considerados como custos de produção. Eles são alocados às despesas do período, sendo abatidos diretamente do resultado do período. Já pelo custeio por absorção, consideram-se todos os gastos diretos e indiretos, fixos ou variáveis para obter o custo dos produtos (PADOVEZE, 2010). Nesta perspectiva, Zdanowicz (2012) complementa destacando que a limitação ao uso do método de custeio por absorção reside no fato de os custos fixos precisarem ser alocados aos produtos por meio de critérios de distribuição ou rateio, podendo este, distorcer os resultados apurados por produto ou área.

Estabelecer qual a estratégia de precificação adotar é fundamental para a permanência no mercado. Segundo Padoveze (2011), há três modelos principais para a gestão do preço de venda: preço de venda orientado pela teoria econômica, orientado pelos custos e orientado pelo mercado. O primeiro estabelece que o preço de venda está dado pelo mercado, desta forma, a empresa precisa adequar-se a ele por meio do custo-meta. O segundo considera a formação do preço de venda a partir do preço de custo e o último considera o valor percebido pelo consumidor por meio da criação de valor do mercado do produto ou serviço.

Para a formação do preço de venda a partir do custo, utiliza-se o uso do mark up que, de acordo com Padoveze (2010), adiciona aos custos os demais elementos formadores do preço de venda, que seriam as despesas administrativas, comerciais, custo financeiro de produção e vendas, impostos incidentes sobre a venda e a margem de lucro desejada.

Neste sentido, por meio do mark up, o gestor consegue calcular o preço de venda orientativo ou cheio que, segundo Vieira e Linn (2010), considera todos os componentes de custo, despesas e lucro pretendido com a venda do produto. E o preço mínimo de venda que, de acordo com Vieira e Linn (2010, p. 28), seria “[...] o valor pelo qual acontece a comercialização dos produtos sem cobrir os custos fixos e sem a pretensão de lucro”.

A margem de contribuição, de acordo com Padoveze (2010), representa o lucro variável. É encontrada pela diferença entre o preço de venda unitário e os custos e despesas variáveis, multiplicando-se pelo total vendido, tem-se a margem de contribuição total.

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A margem de contribuição é uma ferramenta que possibilita ao gestor tomar decisões confiáveis, orientando nas decisões de precificação, avaliando até que ponto é vantajoso para a empresa efetuar a venda, ou não, dadas as condições, e qual o volume de vendas é necessário alcançar para cobrir os custos incorridos.

O ponto de equilíbrio indica a quantidade mínima que a empresa pode operar sem ter lucro e nem prejuízo. Demonstra qual o volume que a empresa precisa produzir ou vender para pagar seus custos fixos e despesas variáveis. No ponto de equilíbrio, não há lucro nem prejuízo. O ponto de equilíbrio pode ser calculado em unidades (CFT/MCu) e em valor (CFT/MC%) (PADOVEZE, 2010). Nesta perspectiva, Vieira e Linn (2010) destacam que este demonstrativo pode auxiliar a gestão, demonstrando qual o volume de vendas que a empresa precisa operar para conseguir pagar todos os seus custos fixos, ou até que dia do mês é necessário vender, para só então pensar em obter lucros.

A margem de segurança consiste no volume de vendas que excedem as vendas no ponto de equilíbrio. Pode ser calculada em quantidade, em reais e em percentual. A primeira é encontrada pela subtração das vendas atuais com o volume de vendas no ponto de equilíbrio. A segunda calcula-se utilizando o resultado encontrado na margem de segurança em quantidade multiplicada pelo preço de venda, e a última, margem de segurança em quantidade dividindo-se pelas vendas atuais (PADOVEZE, 2010). Nesta perspectiva, Crepaldi e Crepaldi (2017) complementam que, quanto maior for o volume de vendas acima do ponto de equilíbrio, maior será a margem de segurança, mais segura do risco operacional estará a empresa.

O demonstrativo do fluxo de caixa é um demonstrativo contábil, o qual evidencia ingressos e desembolsos de numerário no decorrer de determinado período. Seu objetivo consiste em fornecer informações ocorridas ou planejadas das entradas ou saídas de recursos financeiros da empresa, num determinado período. Neste sentido, possibilita à empresa visualizar a posição de caixa para o período projetado, administrando com antecedência os períodos que necessitam captar recursos ou aplicar excedentes de caixa (CREPALDI; CREPALDI, 2017). Neste cenário, Padoveze (2010) relata que o relatório de fluxo de caixa é segmentado em três áreas: atividades operacionais, de investimento e de financiamento. Este demonstrativo pode ser elaborado pelo método direto ou pelo indireto, sendo fundamental para subsidiar a gestão em seus processos gerenciais.

O ambiente de negócios em que as empresas estão inseridas é amplamente competitivo. Desta forma, os gestores precisam administrar com competência, buscando maximizar os resultados e minimizar custos. Neste sentido, o uso da contabilidade gerencial é substancial para a gestão de todas as empresas, independentemente do seu porte. Neste contexto, a empresa precisa assegurar que as informações fornecidas são confiáveis e reflitam a real situação da organização. Surge aí a necessidade dos controles internos, que são políticas adotadas pela empresa com o objetivo de minimizar os riscos e melhorar os processos. Eles proporcionam: confiabilidade e rapidez

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nas informações, obediência às leis e aos regulamentos, eficácia e eficiência de operações (CREPALDI; CREPALDI, 2017). Desta forma, Crepaldi (2012) relata que a eficiência do sistema de controle interno permite detectar erros, irregularidades, possibilitando a identificação de fraudes. Zdanowicz (2012, p. 211) complementa relatando que o “[...] ambiente de controle é efetivo quando as pessoas envolvidas sabem quais são suas responsabilidades, seus limites de autoridade, e se têm a consciência, competência e o comprometimento de realizarem as atividades da forma correta”.

Por fim, o uso de um sistema de informações gerenciais, é de fundamental relevância para as empresas. A partir dele, são produzidas informações de cunho gerencial para o posicionamento da empresa no mercado. Um sistema de informações gerenciais “[...] pode ser entendido como um processo de transformação de dados em informações, integrando as principais atividades do dia a dia da empresa, para fornecer subsídios ao processo de gestão dos negócios” (HOJI; SILVA, 2010, p. 4).

3 Estudo metodológico

A pesquisa tem o objetivo, a partir dos instrumentos contábeis gerenciais, aplicada a pequenos empreendimentos, propor indicadores contábeis gerenciais, de rentabilidade, atividade e de pagamento com vistas a subsidiar a tomada de decisão e a continuidade do negócio no desenvolvimento do país. Caracteriza-se, de acordo com Silva e Menezes (2005, p. 20), como aplicada por “gerar conhecimentos para aplicação prática e dirigidos à solução de problemas específicos”. Quanto aos seus objetivos, caracteriza-se como descritiva no sentido de descrever características de determinada população, podendo ser elaboradas com o propósito de identificar possíveis relações entre variáveis (GIL, 2010).

Quanto à forma e abordagem do problema, a pesquisa pode ser qualitativa ou quantitativa. Segundo Marconi e Lakatos (2011, p. 269), “o método qualitativo difere do quantitativo não só por não empregar instrumentos estatísticos, mas também pela forma de coleta e análise dos dados”. Para Zamberlan et al. (2014, p. 94), a pesquisa quantitativa “considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las” e a abordagem qualitativa, pois há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito (ZAMBERLAN et al., 2014). Nesta pesquisa, utilizou-se da abordagem qualitativa para analisar e descrever as informações obtidas nas farmácias em estudo, assim como quantitativa no momento de utilizar-se das planilhas de sistematização das demonstrações contábeis e apuração dos indicadores contábeis gerenciais.

A coleta de dados ocorreu por meio de pesquisa bibliográfica, pesquisa eletrônica, entrevista despadronizada e análise documental. A pesquisa bibliográfica e eletrônica foi utilizada para o embasamento teórico sobre o assunto, sendo baseada em pesquisa em livros, revistas, leis, artigos e sites da internet. Segundo Marconi e Lakatos (2011, p. 166), “a pesquisa

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bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc”. A entrevista despadronizada foi realizada com a finalidade de levantar as informações sobre estas empresas, coletar dados, conhecer como ocorre os processos internos dentro das organizações, o levantamento dos custos, precificação, a tomada de decisão, relacionando a percepção destas com a contabilidade gerencial. A análise documental, segundo Gil (2010, p. 29), “vale-se de toda sorte de documentos, elaborados com finalidades diversas”. Neste sentido, foram analisados os demonstrativos contábeis, relatórios, notas ficais de compra, com o objetivo de fazer o levantamento dos dados para formação dos indicadores.

O estudo de multicasos de acordo com Gil (2010, p. 37) é “o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhamento conhecimento”. Neste estudo, foram utilizados 4 casos reais de farmácias comerciais, situadas na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, numa faixa de faturamento médio mensal entre R$ 79.000,00 a R$ 200.000,00, enquadradas no regime de tributação do Simples Nacional.

Os dados foram coletados em quatro farmácias comerciais de pequeno porte, conforme acessibilidade para a pesquisa, sendo utilizados os 30 itens de medicamentos mais vendidos, conforme a curva ABC de vendas e os 20 itens de perfumaria. Desta forma, foi coletado os dados, sistematizado, e realizado todo o sistema de custos para quatro farmácias comerciais. Seguido da tabulação dos dados dos demonstrativos contábeis em planilhas do Excel, buscando organizar os dados, de forma que fossem transformados em informações e indicadores contábeis gerenciais, subsidiando os gestores na realização de uma análise confiável que instrumentalize o processo de tomada de decisão.

4 Análise dos resultados

Nos dias atuais, gerir uma empresa não é uma tarefa fácil, dada as incertezas provocadas pela crise econômica e política do país. Desta forma, o gestor precisa estar munido de informações claras, objetivas, que lhe assegure previsibilidade em suas decisões. Neste sentido, a contabilidade gerencial tem o propósito de subsidiar o gestor com informações e indicadores que possam auxiliar a gerir sua empresa de forma a maximizar resultado e minimizar custos. Neste propósito, o estudo foi realizado em quatro empresas de pequeno porte, especificamente, em farmácias comerciais, com vistas a propor uma assessoria contábil gerencial para a instrumentalização dos gestores frente à tomada de decisão.

O estudo contou com a pesquisa nas farmácias comerciais, situadas na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, numa faixa de faturamento médio mensal de R$ 79.000,00 a R$ 200.000,00, enquadradas no regime de tributação do Simples Nacional. O estudo apresenta as planilhas de uma das

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empresas como base de informação (empresa A) e, das outras três, apenas os resultados finais, os indicadores de análise.

No comércio, o custo de aquisição do produto se encontra mediante a Nota Fiscal de compra de mercadorias. No caso das empresas em estudo, como são enquadradas no regime de tributação do Simples Nacional, considera-se o custo de compra unitário, somando a ele todos os impostos que não são recuperáveis fiscalmente (IPI) e também os recuperáveis (ICMS ST), em função de que, neste regime de tributação não há créditos pela compra, diferentemente da tributação pelo Lucro Presumido e Lucro Real. Adicionam-se ainda os custos com frete.

Quadro 1 - Despesas mensais da farmácia A

Despesas Mensais da Farmácia A % Despesa

Salários e Encargos sociais R$ 3.378,96 27,10

Pró-Labore R$ 4.437,00 35,59

Software R$ 165,00 1,32

Energia Elétrica R$ 191,00 1,53

Telefone R$ 92,00 0,74

Material de Expediente R$ 25,00 0,20

Depreciações R$ 260,83 2,09

Escritório Contabilidade R$ 760,00 6,10

Água R$ 61,00 0,49

Embalagens R$ 125,00 1,00

Internet R$ 72,90 0,58

Aluguel R$ 1.000,00 8,02

Serviços terceirizados R$ 500,00 4,01

Propaganda R$ 560,00 4,49

Despesa com cartão de crédito (3%) R$ 749,97 6,02

Mensalidade Máq. Cartão R$ 89,00 0,71

Total R$ 12.467,66 100,00

Média de Faturamento R$ 91.000,00

% de despesas sobre o faturamento R$ 13,70

Fonte: Dados conforme pesquisa (2017).

As despesas mensais da farmácia A totalizaram R$ 12.467,66. Destas, a soma das mais representativas acumulou 82,83%, sendo representadas em 35,59% pelo pró-labore, 27,10% pela despesa de salários e encargos sociais, 8,02% de aluguel do prédio, 6,10% escritório de contabilidade e 6,02% com despesas com vendas em cartão de crédito. Considerando um faturamento médio mensal de R$ 91.000,00, apurou-se um custo operacional de 13,70%. No quadro 2, consta o resumo da representatividade das despesas das outras três farmácias em estudo.

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Quadro 2 - Despesas mensais das farmácias B, C e D

Farmácia B Farmácia C Farmácia D

Salários e Enc. sociais

54,24%Salários e Enc. sociais

40,43%Salários e Enc. sociais

53,03%

Pró-labore 18,24% Pró-Labore 13,63% Pró-labore 27,50%

Software 6,42%Aluguel e Taxas Cartões

31,33% Aluguel 10,31%

Propaganda 5,47%

TOTAL 84,37% TOTAL 85,39% TOTAL 90,84%

Total de despesas (R$)

16.450,09 58.712,67 14.544,41

Média de faturamento

79.149,56 200.000,00 95.987,99

% desp. s/ faturamento

20,78% 29,36% 15,15%

Fonte: Dados conforme pesquisa (2017).

Observa-se que, nas quatro farmácias em estudo, de todas as despesas elencadas, as mais representativas correspondem às contas de salários e encargos sociais, pró-labore, aluguel, propaganda e taxas, as quais variaram entre 82,83% a 90,84%. Isso se confirma, quando comparados com estudos do SEBRAE (2014), ao referir-se que nas empresas comerciais, especialmente as de pequeno porte, é muito significativa a participação das despesas com salários, pró-labore e aluguéis no montante das empresas totais. Destaca, ainda, que em alguns empreendimentos que necessitam de câmeras frias, ou iluminação direta, a energia elétrica também tem uma participação relevante.

Ao comparar o montante das despesas de cada farmácia como o respectivo faturamento médio mensal, verificou-se que os índices de despesas variam entre 13,70% a 29,36%. A farmácia A foi a que apresentou menor despesa operacional, seguida da farmácia D, B e C. Verificou-se que este resultado pode ser entendido devido ao fato da empresa A possuir somente 2 funcionários, a D 3, a B 5 e a C 10 funcionários. Mesmo a farmácia C, tendo um faturamento médio mensal mais representativo que as demais, sua despesa total é bem expressiva, logo, sua despesa operacional ficou mais elevada que as demais.

Constatou-se, nas entrevistas com os gestores, que as farmácias não fazem um controle rigoroso quanto às suas despesas mensais. Logo, não têm acompanhamento sobre quanto cada despesa representa sobre seu faturamento, tampouco, seu custo operacional. Das quatro farmácias da pesquisa, nenhuma tinha a informação do quanto cada despesa representava do seu faturamento médio mensal, o que surpreendeu os gestores ao confirmar os valores e os resultados apresentados.

Esta constatação pode ser confirmada também nos estudos de Campos e Gáudio (2014), quando demonstraram em sua pesquisa que 65% das empresas entrevistadas não fazem a gestão das despesas como aluguel, pró-labore, energia elétrica, telefone e internet e 95% das PME’s da

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pesquisa não fazem gestão de despesas com depreciação das instalações, evidenciando a pouca preocupação com a gestão mais apurada dos custos fixos e os ativos imobilizados.

No quadro 3, apresenta-se os resultados dos produtos mais vendidos em cada farmácia, considerando os 30 itens de medicamentos e os 20 da perfumaria, conforme a curva ABC de vendas de cada uma.

Quadro 3 - Faturamento médio dos produtos em estudo

Empresa Farmácia A Farmácia B Farmácia C Farmácia D

Total das vendas no mês dos prod. em estudo

11.805,19 2.400,82 22.797,20 13.630,29

Faturamento médio mensal da farmácia

91.000,00 79.149,56 200.000,00 95.987,99

% Dos produtos em estudo s/ o faturamento mês

12,97

3,03 11,40 14,20

Despesas totais mensais da farmácia

12.467,66 16.450,09 58.712,67 14.544,41

Despesas mensais ref. aos produtos em estudo

1.617,40 498,98 6.692,42 2.065,31

Fonte: Dados conforme pesquisa (2017).

Observou-se que a farmácia C foi a que apresentou o maior volume em faturamento dos seus 30 itens de medicamentos e 20 de perfumaria mais vendidos, seguida da farmácia D, A e B. Considerando o faturamento médio mensal de cada farmácia em estudo, obteve-se a informação de quanto estes 50 itens representam sobre o faturamento médio mensal de cada empresa. Neste sentido, a farmácia D foi a que teve a maior representatividade, em seu volume de vendas, dos produtos em estudo, seguida da A, C e B. Considerando as despesas totais mensais de cada empresa, apurou-se a informação de quanto cada farmácia possui de despesa mensal, levando-se em consideração somente estes 50 itens. Nesta perspectiva, a farmácia C, foi a que teve maior representatividade, seguida da empresa D, A e B.

Quadro 4 - Informações do mark up das empresas em estudo

FarmáciaSimples Nacional

(%)

Despesas Mensais

(%)

Descontos /

comissões

Margem de Lucro

(%)Soma (%)

Mark up Divisor

Mark up Multiplicador

A 8,36 13,70 10 2 a 4834,06 a

80,060,659 a

0,1991,517 a 5,015

B 8,45 20,78 0 5 65,77 0,658 1,521

C 11,61 29,36 0 5 54,034 0,540 1,851

D 8,28 15,15 0,5 25 48,932 0,511 1,958

Fonte: Dados conforme pesquisa (2017).

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A partir do quadro 4, observa-se as informações do mark up para a formação do preço de venda dos produtos em estudo. Salienta-se que os medicamentos possuem preço de venda tabelado pelo governo, mediante aplicação de uma tabela de preços, os quais não permite liberdade na precificação dos mesmos. Os medicamentos genéricos e similares são os que acabam contribuindo de forma mais efetiva para a formação do resultado, havendo mais margem de negociação nesta linha de medicamentos.

Para a formação do mark up, considerou-se a alíquota do Simples Nacional, que varia conforme a faixa de faturamento de cada empresa, as despesas mensais de cada farmácia, os descontos, comissões e a margem de lucro desejada. A farmácia A chegou a um mark up divisor variável de 0,659 a 0,199, devido à variação em sua margem de lucro de 2 a 48% em relação aos produtos em estudo. Esta variação de margem é explicada pelo fato de o gestor precificar os seus produtos aplicando um percentual sobre o preço de custo de suas mercadorias, sem considerar as variáveis envolvidas no processo de compra e venda dos produtos. Dessa forma, a margem de lucro real, por produto, teve uma variação bem significativa. A farmácia B apurou um mark up divisor de 0,658, considerando uma margem de lucro de 5%, despesas mensais de 20,78% e 8,45% de Simples Nacional. Já a farmácia C apurou um mark up divisor de 0,540, considerando suas despesas mensais de 29,36%, Simples Nacional 11,61% e margem de 5%. A farmácia D, chegou a um mark up divisor de 0,511, a partir de uma margem de lucro de 25%, despesas mensais de 15,15%, Simples Nacional 8,28 e comissões de 0,50%.

Por meio do estudo realizado, constata-se que os gestores das farmácias precificam seus produtos aplicando um percentual desejado, intitulado erroneamente de lucro, pois desconhecem os elementos que são formadores do preço de venda, ou melhor, que a partir do preço de venda calculado, este, deve cobrir os impostos, as despesas variáveis, os descontos, comissões e sobrar o lucro desejado.

Nesta perspectiva, Domingues et al. (2017), em seus estudos, apresentam que, as micro e pequenas empresas, adotam como precificação de seus produtos, mercadorias e serviços, o critério de calcular os custos apenas de compras, acrescentando uma margem que, no caso das micro e pequenas empresas de seu estudo, variam de 20% a 50%. Somente 33,33% destas empresas alegaram que possuem o hábito de fazer pesquisa de mercado e somente 22,22% afirmaram incluir no cálculo do preço de venda, além dos custos de compra, as despesas fixas, os impostos e fretes.

Esta constatação pode ser confirmada também nos estudos de Amorim e Silva (2012), no tocante à precificação dos produtos, onde aproximadamente 76,6% dos gestores afirmaram não utilizar como base de precificação de seus produtos e/ou serviços fatores como: custos e despesas, elasticidade da demanda, crescimento da economia, preços dos concorrentes etc.

O quadro 5 apresenta a análise custo, volume e resultado dos 50 itens mais vendidos na farmácia A.

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Quadro 5 - Análise custo, volume e resultado dos medicamentos e perfumaria Farmácia A

Produtos Preço de Venda Praticado

Margem Contribuição

Unitária

Volume de vendas

Margem Contribuição

Total Sal Fruta Eno Env 5 g R$ 1,46 R$ 0,01 42 R$ 0,41 Lixa de Unha Rosa 1un R$ 0,50 R$ 0,13 21 R$ 2,81 Doralgina 4 cpr R$ 2,46 R$ 0,38 14 R$ 5,30 Compressa Melhormed 13fio 10un R$ 2,50 R$ 0,27 24 R$ 6,50 Curat Band-aid Transp c/10 R$ 4,41 R$ 0,66 10 R$ 6,60 Manteiga de Cacau Ricosti 1un R$ 3,38 R$ 0,87 9 R$ 7,82 Abs S Livre Adapt Espe s/abas R$ 5,50 R$ 1,07 9 R$ 9,63 Abs Mili Abs Suave lv16 pg14 R$ 8,00 R$ 1,29 8 R$ 10,33 Buscopan Cpto cpr Revestidos R$ 13,52 R$ 0,68 17 R$ 11,52 Microvlar 21cp Bayer Schering R$ 7,51 R$ 0,53 26 R$ 13,81 Calmador 4 cpr R$ 2,71 R$ 0,47 33 R$ 15,47 Esmalte The Fusion 6,5ml R$ 4,50 R$ 1,68 10 R$ 16,84 Touca Descartável Santa Clara R$ 0,45 R$ 0,17 105 R$ 17,82 Compressa de Gaze Cremer 7,5x1 R$ 2,69 R$ 0,42 43 R$ 18,08 Aas Infantil Dormec 100mg 10cp R$ 0,96 R$ 0,43 52 R$ 22,50 Abs Sl Adapt Especial c/16un R$ 9,33 R$ 2,38 10 R$ 23,77 Neosaldor cpr R$ 2,46 R$ 0,85 29 R$ 24,60 Abs Bigmax Super Pós Parto 20u R$ 18,73 R$ 2,32 11 R$ 25,53 Repelente Spray Xo Inseto 200m R$ 22,89 R$ 1,72 19 R$ 32,63 Acetona Farmax 100 ml R$ 4,45 R$ 1,44 23 R$ 33,19 Resodic 50mg 20cpr Vitamed R$ 3,92 R$ 1,68 20 R$ 33,61 Soro Fisiológico 0,9% 100ml R$ 4,87 R$ 2,16 16 R$ 34,49 Dipirona Sod 50 mg10 cp Pratdo R$ 3,47 R$ 1,47 25 R$ 36,82 Paracetamol gts 15ml un Quimic R$ 5,86 R$ 2,95 13 R$ 38,32 Dorfebril Dipirona Sódica 20ml R$ 5,77 R$ 2,65 15 R$ 39,76 Biovicerin Flac. c/5 ml R$ 3,66 R$ 0,46 94 R$ 43,28 Dorflex Cartela Envelope 10cp R$ 6,27 R$ 1,54 32 R$ 49,25 Roupa Íntima Plenitud Plus 16u R$ 49,95 R$ 6,68 8 R$ 53,43 Esmalte Beauty Color 8 ml R$ 5,45 R$ 1,80 30 R$ 53,98 Ferisept Sol Spray 45 ml União R$ 15,30 R$ 7,32 8 R$ 58,57 Natucler Dose Única 10ml R$ 2,47 R$ 1,53 39 R$ 59,80 Flexalgin 10cp Envelope Geolab R$ 6,87 R$ 3,80 16 R$ 60,78 Sorinan Ad 30ml R$ 7,21 R$ 3,72 18 R$ 66,89 Onetest Teste de Gravidez 1un R$ 12,50 R$ 7,56 9 R$ 68,00 Selene Cartela c/ 21 cp R$ 15,92 R$ 1,52 47 R$ 71,30 Ceftriaxona Sod 1g Im Eurof R$ 24,84 R$ 5,22 16 R$ 83,51 Novoprazol 20mg 28cp Globo R$ 12,33 R$ 5,65 15 R$ 84,79 Fralda Pampers Supersec G 26un R$ 33,00 R$ 9,94 9 R$ 89,47 Meloxican 15mg 10cp Gen Legran R$ 16,88 R$ 6,63 14 R$ 92,83 Paracetamol 750 mg Zydus R$ 3,37 R$ 1,97 54 R$ 106,45 Batom Líquido Pro Dailus Matte R$ 31,98 R$ 5,11 25 R$ 127,71 Ibuprofeno Gts 100 mg 20 ml Ge R$ 15,09 R$ 9,15 15 R$ 137,28 Esmalte Dailus 8ml R$ 7,32 R$ 1,23 117 R$ 143,45 Alprazolam 1mg 30cp Gen Germed R$ 22,60 R$ 12,22 13 R$ 158,87 Ibupril 600mg 20cp Ibuprofeno R$ 16,07 R$ 7,36 23 R$ 169,35 Citalopram Gen Euro 20 mg 28 c R$ 52,71 R$ 15,23 15 R$ 228,49 Alprazolam 2mg 30cp Germed R$ 35,94 R$ 17,80 14 R$ 249,16 Cimegripe c/20 Cápsulas R$ 11,58 R$ 6,75 37 R$ 249,89 Pantoprazol 40 mg 28 cp Gen Ph R$ 47,00 R$ 23,40 15 R$ 351,01 Cimelide c/12 cpr R$ 13,90 R$ 8,50 48 R$ 407,90 Total R$ 3.753,63

Fonte: Dados conforme pesquisa (2017).

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Observa-se que, ao analisar os 50 produtos mais vendidos na farmácia A, considerando o seu volume de vendas no mês, estes produtos deixaram uma margem de contribuição total de R$ 3.753,63, o que representa 31,80% do faturamento total desses produtos. Destaca-se que nenhum dos produtos estudados deixa margem de contribuição negativa, mesmo que, em alguns deles apresentam uma margem unitária mínima, mas em função do volume de vendas, acabam contribuindo na margem de contribuição total.

O quadro 6 apresenta a margem de contribuição total das farmácias B, C e D, em reais e em faturamento, considerando os 50 itens em estudo.

Quadro 6 - Margem de contribuição total das farmácias B, C e D

Farmácia MCT em R$ MCT sobre o Faturamento dos 50 itens

B R$ 887,50 36,97%

C R$ 7.006,71 30,73%

D R$ 2.513,68 18,44%

Fonte: Dados conforme pesquisa (2017).

Percebe-se que a margem de contribuição total em reais das farmácias em estudo variou entre R$ 7.006,71 a 887,50. A farmácia C foi a que apresentou a melhor margem de contribuição total, chegando a R$ 7.006,71, o que representa 30,73% do faturamento dos produtos analisados, seguida da farmácia A, com R$ 3.753,63, representando 31,79%; farmácia D R$ 2.513,68, representando 18,44% e farmácia B, R$ 887,50 e 36,97%, respectivamente.

A margem de contribuição é um indicador fundamental para o gestor. Ao analisar a margem unitária e total de cada produto, é possível tomar decisões de cunho gerencial. Como por exemplo, permanecer ou não com a comercialização de tal produto, buscar alternativas com outros fornecedores (produtos similares), aceitar ou não, proposta de venda com preço mais baixo que o oferecido no balcão, entre outros.

Quadro 7 - Ponto de equilíbrio contábil e margem de segurança operacional das farmácias em estudo

Farmácia PE u PE R$ MSO u MSO %

A 575 5.086,72 760 56,91

B 281 1.665,87 118 29,72

C 2.586 25.262,27 121 4,49

D 427 9.439,70 93 17,84

Fonte: Dados conforme pesquisa (2017).

O ponto de equilíbrio contábil em unidades demonstra o volume em vendas que a empresa precisa operar para não ter lucro nem prejuízo. Considerando o percentual dos produtos em estudo sobre o faturamento/mês das farmácias A, B, C, D, respectivamente: 12,97%, 3,03%, 11,40% e

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14,20%, demonstrado no quadro 3, apura-se um ponto de equilíbrio em unidades de 575 para a farmácia A, 281 unidades para B, 2.586 unidades para a C e 427 para a D. Esta variação entre a farmácia A e C, onde ambas, possuem um percentual de 12,97% e 11,40% sobre o faturamento mês dos 50 itens em estudo, respectivamente, pode ser entendida pelo fato de a farmácia C operar com uma margem de lucro de 5%, e a A, com margem média de 17,25%, oscilando de 2% a 48%. Já a farmácia B apresentou o menor volume em vendas para atingir seu ponto de equilíbrio, comparando com as demais farmácias, ou seja, 281 unidades. Isto pode ser explicado pelo fato de apenas 3,03% dos produtos em estudo representar sobre o faturamento médio mensal da empresa.

Já o ponto de equilíbrio em faturamento demonstra o volume em reais que a empresa precisa faturar para atingir o seu equilíbrio. Neste sentido, a farmácia C foi a que apresentou maior volume em reais para atingir o seu ponto de equilíbrio em faturamento, seguida das empresas D, A e B. Percebe-se que no ponto de equilíbrio em reais, a empresa D fica em segundo lugar, na escala de comparação com as demais, e a A, em terceiro, diferentemente, do ponto de equilíbrio em unidades. Isto pode ser entendido, pelo fato de a empresa D usar como referência a margem de lucro de 25% e a A, uma margem média de 17,25%.

Constatou-se que os gestores das empresas em estudo desconheciam esta ferramenta gerencial, que lhes fornece subsídios de quanto seu empreendimento precisa faturar no mês para conseguir honrar com seus compromissos, não obtendo lucro nem prejuízo. Esta informação permite ao gestor saber até que dia do mês a empresa (com base em seu faturamento combinado com a margem de contribuição total) precisa vender para atingir seu ponto de equilíbrio, possibilitando ao gestor, tomar decisões de cunho estratégico, como lançamento de promoções etc.

Nesta perspectiva, Miranda et al. (2016) constataram que apenas 30% das empresas comerciais se preocupam e utilizam algum tipo de indicador financeiro para norteá-los no momento das decisões. O restante (70%) ainda não faz uso dos mesmos, alegando que os controles ficam todos com o contador.

O indicador de margem de segurança operacional demonstra o número de unidades vendidas que superam a quantidade necessária para a empresa atingir o seu ponto de equilíbrio. Desta forma, observa-se que as quantidades vendidas pela empresa D e B ficaram muito próximas das quantidades do ponto de equilíbrio, o que evidencia que as farmácias ficaram muito perto de atingir o nível de lucro e prejuízo zero com esta amostra de produtos, superando em 93 e 118 unidades, respectivamente, a quantidade vendida com a quantidade no ponto de equilíbrio.

Quanto ao uso da ferramenta gerencial do fluxo de caixa, verificou-se que em nenhuma das empresas analisadas há um controle eficiente do seu financeiro, das entradas e saídas diárias de caixa. Logo, seu controle se dá de forma mais superficial, não contemplando as projeções de valores a pagar e a receber.

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Domingues et al. (2017) revelaram que apesar do pouco conhecimento sobre o gerenciamento do giro dos negócios, a grande maioria dos gestores procura manter reservas monetárias para eventuais emergências, visando a suprir esta falta de informações, que lhes possibilitaria um planejamento estratégico do seu negócio.

A partir dos demonstrativos contábeis obrigatórios, especificamente o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício, os quais geram informações para seus usuários internos e externos, é possível obter informações gerenciais quanto aos seus indicadores de pagamento, de atividade e de rentabilidade, possibilitando averiguar a saúde econômica e financeira da empresa. Estes demonstrativos precisam retratar a realidade da empresa para que suas informações sejam fidedignas e possíveis de subsidiar a gestão.

Desta forma, de posse dos demonstrativos contábeis das empresas analisadas, verificou-se, que algumas informações estavam incompletas, como, por exemplo, as despesas mensais. Isso pode ser entendido pela falta de comunicação (assessoria) entre os escritórios de contabilidade e as empresas. Desta forma, de posse destas informações, foram reestruturados os demonstrativos, para que pudessem retratar a realidade da empresa.

O quadro 8 apresenta os indicadores de pagamento das empresas em estudo.

Quadro 8 - Indicadores de pagamento das empresas em estudo

Farmácias A B C D

Índice de Liquidez 14,17 3,79 5,39 4,71

Liquidez Seca 8,95 2,96 2,73 3,25

Liquidez Imediata 6,34 1 0,67 1,52

Liquidez Geral 14,17 2,19 5,87 5,46

Índice de Endividamento 0,087 0,66 0,21 0,22

Fonte: Dados conforme pesquisa (2017).

O índice de liquidez considerado ótimo, conforme Padoveze (2010), deve estar acima de 1,50. Desta forma, percebe-se que todas as empresas estão com índices acima deste parâmetro, o que significa dizer que possuem capacidade ótima de honrar com seus compromissos a curto prazo. No indicador de liquidez seca subtrai-se os estoques, pois considera os ativos de maior liquidez, para avaliar a capacidade de honrar com seus compromissos. Todas as empresas analisadas, ficaram com indicadores satisfatórios, com destaque da empresa A que atingiu um índice de 8,95%. Para o indicador da liquidez imediata, igualmente a empresa A, superou as demais, evidenciando efetivamente sua capacidade de pagamento de curto prazo. Igualmente, para o indicador de liquidez geral, que considera as condições totais tanto do ativo como do passivo, a empresa A foi a que apresentou melhor resultado. O indicador de

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endividamento, o qual evidencia a estrutura de financiamento da empresa demonstrou o melhor índice para a empresa A, seguida da C, D, e B. Cabe salientar que cada empresa possui suas especificidades, desta forma, somente com os dados analisados, não seria possível fazer comparações entre as empresas em estudo.

A partir dos indicadores elaborados e apresentados aos gestores, infelizmente, constatou-se que as empresas em estudo não utilizam os mesmos como subsídio para a sua gestão, e tampouco conheciam os demonstrativos contábeis. Questionadas sobre o suporte contábil gerencial de seus contadores, todos utilizam dos serviços terceirizados, via escritório de contabilidade. Por unanimidade, afirmaram que seu contato com o contador é para receber as guias de pagamento de impostos e outros documentos pertinentes ao serviço contratado.

Neste sentido, compara-se com o estudo de Moreira et al. (2013), o qual revela que 49,20% dos gestores apontaram o administrador como o profissional mais indicado para realizar o controle e a avaliação da empresa. Somente 29,2% reconheceram a importância do contador para a avaliação do desempenho de suas empresas.

O quadro 9 demonstra os indicadores de atividade e rentabilidade das farmácias A, B, C e D.

Quadro 9 - Indicadores de atividade e rentabilidade das empresas em estudo

Indicadores A B C D

Prazo Médio de Recebimento 43,04 19,5 21,30 32,1

Prazo Médio de Pagamento 23,29 21,2 20,2 25,2

Giro do Estoque 2,62 1,19 5,22 0,92

Rentabilidade do Ativo 37,26 66,14 49,31 32,12

Rentabilidade do PL 47,44 109,59 59,44 33,42

Lucratividade 26,06 60,15 34,82 12,72

Fonte: Dados conforme pesquisa (2017).

Os indicadores de atividade e rentabilidade das empresas em estudo evidenciaram um prazo médio de recebimento entre 19 e 43 dias e pagamento entre 20 a 25 dias, o que significa dizer que a empresa precisa ter um fluxo de caixa eficiente para conseguir honrar com seus compromissos. O indicador do giro do estoque demonstrou que o estoque girou entre 5,22 a 0,92 vezes no mês analisado, demonstrando que as empresas, em média, não possuem produtos em estoque com pouco giro. A rentabilidade do ativo variou de 32,12 a 66,14%, e do patrimônio líquido entre 33,42 a 109,59%, o que evidencia ótimo indicador de rentabilidade para as empresas. Da mesma forma, a lucratividade ficou entre 12,72% a 60,15%, demonstrando ótimos indicadores de lucratividade no ano de 2016.

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5 Conclusão

Diante da vulnerabilidade no âmbito dos negócios, provocada pela oscilação da economia e a acirrada competividade entre empresas, o uso de informações contábeis gerenciais faz-se fundamental para a permanência no mercado. Neste panorama, de acordo com dados do SEBRAE (2014), 99% das empresas são micro e empresas de pequeno porte, evidenciando a vital importância destas empresas no desenvolvimento do país.

Neste sentido, os gestores destas empresas precisam estar munidos de informações contábeis gerenciais, que lhes subsidiem em seu dia a dia e, consequentemente, em suas decisões de cunho gerencial, por conseguinte, maximizando seus lucros e minimizando custos.

Tomando como base o objetivo do estudo que consiste em, a partir dos instrumentos contábeis gerenciais, identificar quais são os indicadores substanciais para o gerenciamento de pequenas empresas com vistas a subsidiar a tomada de decisão e a continuidade do negócio, foi plenamente contemplado durante a realização do estudo. Englobando os indicadores propostos na figura 1 do referencial teórico, o gestor é instrumentalizado por meio das informações contábeis gerenciais, com vistas a tomar decisões confiáveis.

A partir da realização do estudo, verificou-se que as empresas praticamente não fazem uso de indicadores contábeis gerenciais, tampouco são orientadas quanto ao seu uso pelo profissional da contabilidade, havendo, neste caso, mercado propenso para a área de assessoria contábil gerencial.

Observou-se que essas empresas necessitariam gerir os seus negócios com base em indicadores reais. Apesar de seus indicadores de pagamento, de atividade e de rentabilidade estarem aceitavelmente bons, o mercado pode oscilar, imprevistos podem ocorrer, e decisões tomadas, sem respaldo de informações confiáveis, podem acarretar em futuros incertos, até mesmo na falência destas empresas.

Nesta perspectiva, orientou-se os gestores das empresas em estudo, a munirem seus sistemas com todas as informações pertencentes à empresa, a fim de que possam utilizar seus sistemas como apoio para alimentar os relatórios contábeis gerenciais. Percebeu-se que muitas informações e controles particulares em apontamentos em papéis pelos gestores apresentam divergências com as informações no sistema. Foram apresentadas as planilhas com os resultados dos dados coletados, proporcionando um feedback instrutivo aos gestores, no sentido de alertá-los quanto a alguns procedimentos adotados pela empresa. Apresentou-se o índice de despesas operacionais, assim como saber compreender, interpretar e exigir a disponibilização dos mesmos pelos escritórios que fazem sua contabilidade. Foram mostrados os elementos constitutivos para a formação do mark up, instruindo-os a respeito das variáveis que incidem sobre o preço de venda dos produtos, os indicadores de margem de contribuição, ponto de equilíbrio, margem de segurança operacional e os indicadores extraídos dos demonstrativos contábeis. O retorno dos empresários foi muito positivo, enaltecendo a importância dos profissionais da área da contabilidade.

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Desta forma, conclui-se que há, sim, gestores preocupados na gestão de seus negócios, e com interesse visível em um assessoramento contábil gerencial, o que possibilita a abertura de novos caminhos a este profissional tão fundamental no desenvolvimento das empresas e da nação.

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Análise da contribuição dos laboratórios de práticas contábeis

na formação do bacharel em Ciências Contábeis da Unisc

Luana Vanessa Schlesner Arguilar137

Marcia Rosane Frey238

RESUMO

O presente estudo identificou e analisou a contribuição dos laboratórios de práticas contábeis na formação dos bacharéis em Ciências Contábeis da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), graduados entre 2012 a 2016, que tiveram em seu currículo, estágios curriculares assistidos em Laboratórios de Práticas Contábeis. O estudo caracterizou-se como uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa do problema. Para o levantamento de dados, recorreu-se à pesquisa survey com a aplicação de um questionário elaborado no Online Pesquisas. Trabalhou-se com uma amostra de 54,41% dos diplomados no período. Como resultado, verificou-se que os laboratórios de Práticas Contábeis, na opinião de 75,3% dos egressos pesquisados, ampliaram os conhecimentos úteis à profissão. Para 62,6%, melhorou o aprendizado em si e, para 25,3%, os laboratórios de Práticas Contábeis reduziram a falta de experiência. A pesquisa também possibilitou a identificação de deficiências na formação profissional, que subsidiaram recomendações sobre medidas que visem à melhoria do ensino superior de Ciências Contábeis.

Palavras-chave: Perfil profissional. Ciências Contábeis. Laboratórios de Práticas Contábeis.

1 Introdução

Após a formação acadêmica, o bacharel em Ciências Contábeis depara-se com um mercado de trabalho que requer um profissional de alta qualidade

1 Bacharela em Ciências Contábeis. Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc, [email protected] Doutora em Desenvolvimento Regional. Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc, [email protected]

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e muito bem preparado para exercer a profissão de contador. Para isso, as Instituições de Ensino Superior (IES) devem investir em qualidade de ensino para desenvolver a formação profissional que atenda às necessidades do mercado.

O levantamento de dados sobre o perfil dos egressos, o campo de atuação dos profissionais e as questões relacionadas com a qualidade do curso de Ciências Contábeis são objeto de pesquisas, dentre as quais pode-se destacar: os levantamentos realizados pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) sobre o perfil sócio-econômico-cultural dos contabilistas brasileiros. O primeiro levantamento foi realizado em 1996. Após a publicação, os dados foram atualizados com três novas pesquisas: uma de 2009, outra em 2013 e a mais recente, em 2018.

A pesquisa do CFC de 2018, diferentemente das anteriores, teve como objetivo fornecer subsídios ao CFC para a elaboração do Planejamento Estratégico do Sistema CFC/CRCs para os próximos 10 anos. O estudo traz questões relacionadas a dados pessoais, comportamentais e de utilização de ferramentas de tecnologia. Também incluiu abordagens que buscaram levantar os desafios e as oportunidades da profissão, entre outros tópicos.

Especificamente em relação aos egressos do curso de Ciências Contábeis da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), pode-se citar dois estudos. O primeiro realizado por Frey (1997) envolveu uma pesquisa para conhecer e analisar a atuação profissional dos egressos formados nos anos de 1967 a 1994. O segundo estudo realizado por Marquartdt (2003) apresentou uma análise comparativa do perfil do bacharel em Ciências Contábeis da Unisc com enfoque na inserção do Estágio Supervisionado das turmas diplomadas de 1995 a 2001.

Verifica-se um interesse na busca de um maior conhecimento do perfil do profissional da contabilidade. Segundo Schwartzman e Castro (1991, p. 12), a análise de egressos “recupera, de fato, várias questões, do estudo de alunos, particularmente as ligadas à qualidade do ensino e adequação dos currículos à situação profissional [...]”. Neste sentido, pode-se salientar que os estudos em relação aos egressos dos cursos de Ciências Contábeis auxiliam para adequação dos currículos, tornando estes mais adequados de acordo com o perfil do profissional no momento.

Diante das exigências impostas pelo mercado de trabalho e a preocupação constante de aprimoramento do curso de Ciências Contábeis da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), o presente estudo investigou o seguinte problema de pesquisa: os Laboratórios de Prática em Escrituração Contábil e Fiscal e de Prática em Custos ampliaram os conhecimentos úteis à profissão e reduziram a falta de experiência sinalizada pelos egressos de turmas anteriores do curso de Ciências Contábeis da Unisc? Para responder à pergunta de pesquisa, realizou-se um levantamento com os egressos do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis da Universidade de Santa Cruz do Sul graduados a partir de 2012 a 2016 que tiveram em sua graduação o Laboratório de Prática em Escrituração Contábil e Fiscal no 4º semestre e o Laboratório em Prática de Custos no 5º semestre.

Para fundamentar o estudo, buscou-se subsídios da profissão contábil

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no Brasil e sobre o curso de Bacharelado em Ciências Contábeis da Unisc, apresentado na sequência, no capítulo do referencial teórico. Após, seguem os capítulos dos procedimentos metodológicos que apresenta o delineamento do estudo, da descrição e análise dos dados e resultados e da conclusão, seguido das referências utilizadas e citadas no estudo.

2 Referencial teórico

O referencial teórico está organizado em duas seções. Inicialmente, apresenta-se a profissão contábil no Brasil, seu contexto histórico, o perfil do contabilista brasileiro e as habilidades e competências requeridas do contador. Na segunda seção, aborda-se o curso de Ciências Contábeis da Unisc, as atividades de natureza prática e o perfil profissiográfico desejado do egresso a partir das novas diretrizes curriculares.

2.1 A profissão contábil no Brasil

A formação do profissional da contabilidade no Brasil teve sua origem em 1754, quando o Governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado propôs a criação de uma Aula de Comércio, supervisionada pela junta de Lisboa. Até 1940, a evolução da contabilidade no Brasil consistia num mercado de economia agrária, com o predomínio do “guarda-livros”, nome este, definido no Código Comercial de 1850. A primeira escola de Contabilidade no Brasil foi a Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, que surgiu em 1902, em São Paulo, como Escola Prática de Comércio.

Em 22 de setembro de 1945, foi criado o curso de Ciências Contábeis e Atuariais através do Decreto-lei n. 7.988, que confere aos formandos o grau de bacharel em Ciências Contábeis e Atuariais. No ano seguinte, em 27 de maio de 1946, foi criado o Conselho Federal da Contabilidade e os Conselhos Regionais de Contabilidade por meio do Decreto-lei n. 9.295, que definiu as prerrogativas e as categorias dos profissionais da contabilidade no Brasil (CFC, 2018).

É comum a utilização do termo ‘contabilista’ para referir-se ao profissional da contabilidade que possui duas categorias: a de contador que são os profissionais com formação em curso superior de bacharelado em Ciências Contábeis e a categoria de técnicos em contabilidade com formação de em curso Técnico em Contabilidade de nível médio. Também há uma certa confusão em relação ao termo contabilista, utilizado para referir-se apenas aos técnicos em contabilidade.

Em 1997, o Superior Tribunal de Justiça definiu que não existe a profissão de contabilista. Segundo a decisão, existem duas profissões na área contábil: o contador, com formação em nível de ensino superior, e o técnico em contabilidade, com formação de nível médio. Posteriormente, em 2010 com a alteração do Decreto-lei n. 9.245/46 que dispõe sobre atividades

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dos profissionais da contabilidade, o termo contabilista foi substituído por profissional da contabilidade, que abrange tanto contadores quanto técnicos em contabilidade.

Segundo dados do Conselho Federal de Contabilidade – CFC (2018b), existem cerca de 521.664 profissionais da contabilidade inscritos nos diversos Conselhos Regionais de Contabilidade – CRCs do país. Deste total, 33,57% são técnicos em contabilidade e 66,43% são contadores (CFC, 2018). A composição da profissão contábil vem se modificando a cada ano, na qual os contadores que inicialmente eram a minoria passam a ser a maioria dos profissionais da contabilidade.

2.1.1 Perfil do profissional da contabilidade no Brasil

O perfil do profissional da contabilidade é acompanhado pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) desde 1996, quando foi realizada e publicada a primeira pesquisa sobre o perfil do contabilista brasileiro, com dados individualizados sobre o perfil dos técnicos em contabilidade e dos contadores. Na pesquisa realizada em 1995/1996, foi definido o perfil sócio-econômico-cultural do contabilista brasileiro, bem como indicativos para orientar a atuação do CFC. Após, os foram atualizados com três novas pesquisas, uma em 2009, outra em 2013 e a mais recente em 2017/2018.

Na pesquisa realizada em 1995/1996, dentre as inúmeras questões, o CFC buscou descrever o perfil do contador brasileiro. Foram apresentados vários resultados, com destaque para a empregabilidade. Dos profissionais entrevistados, 93,50% responderam que estavam trabalhando, índice considerado alto. Em relação ao grau de satisfação com a profissão escolhida, 73% responderam estarem satisfeitos com a escolha. No contexto das principais dificuldades encontradas pelos profissionais, 24,46% responderam as constantes mudanças na legislação.

Os profissionais que usam a informática, desde as formas mais simples (digitação) até a utilização ou elaboração de um software, 84% afirmaram que usam deste atributo. Em relação à participação dos contabilistas em eventos relacionados com a profissão, ressalta-se que cerca de 40% dos contabilistas (técnicos) não participaram, nos últimos dois anos, de qualquer evento relacionado com a profissão. Diferentemente dos contadores, no qual 76% afirmaram que sentem a necessidade de aprofundar os seus estudos.

Na pesquisa realizada em 2009 pelo CFC, houve algumas mudanças ao descrever o perfil do contador brasileiro. Dos profissionais que desempenham sua profissão, 78,4% responderam que trabalham somente na área da contabilidade, e 20,8%, também atuam em outras atividades, como advocacia e administração. Os principais motivos sinalizados desta mudança é a busca por melhor remuneração e a ascensão profissional.

No contexto das principais dificuldades encontradas pelos profissionais, 59,4% responderam as constantes mudanças na legislação. Apesar das dificuldades, 90,9% dos entrevistados estão satisfeitos com a

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profissão escolhida. Em relação à participação dos profissionais em eventos promovidos pelos Conselhos Regionais de Contabilidade (CRCs) e programas de capacitação, 50,5% têm participado dos eventos. Índice este que mudou em relação à pesquisa realizada em 1995/1996. Além disso, 81,20% destes profissionais têm interesse em participar de programas de treinamento.

Na atualização do perfil do profissional contábil realizada em 2012/2013, 85,6% desenvolvem outra ocupação profissional para complementar a renda e/ou em função da sinergia com a atividade contábil. Em relação às dificuldades enfrentadas no exercício profissional, as que se destacaram mais foram a falta de valorização pela sociedade (76,4%), as constantes mudanças na legislação (76,8%) e a burocracia dos órgãos públicos (78,6%).

Verifica-se que os profissionais, ao longo destas três pesquisas, relataram a necessidade de participar mais de programas de treinamento e de capacitar-se, buscando uma maior profissionalização. Esta é uma exigência do mercado de trabalho que está cada vez mais competitivo, e só vai permanecer nele o profissional que estiver adequadamente capacitado.

2.1.2 Habilidades e competências requeridas do profissional da contabilidade

Cardoso, Riccio e Albuquerque (2009, p. 366) destacam que “o termo competência tem origem no latim competentia significando a qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, de fazer determinada coisa, com capacidade, habilidade, aptidão e idoneidade”.

Na visão da IFAC (2012), os alunos devem ser capazes de adquirir e integrar conhecimentos, habilidades, valores e atitudes éticas. Conforme definição da IES 2, os conhecimentos que devem ser apresentados pelos contadores dividem-se em:

(a) conhecimentos de contabilidade, finanças e áreas afins – que devem contemplar a contabilidade financeira e relatórios, contabilidade gerencial, tributação, direito comercial, auditoria, finanças e gestão financeira e ética profissional;

(b) conhecimentos organizacionais e dos negócios – que devem abranger a economia e mercado financeiro; métodos quantitativos e estatísticos da administração; políticas administrativas, estrutura e comportamento organizacional; funções e práticas operacionais, gerenciais e estratégicas; marketing, negócios internacionais e globalização; e

(c) conhecimentos sobre tecnologia da informação – que permitem ao profissional contábil a utilização, estruturação, avaliação e gerenciamento dos sistemas de informações informatizados.

Com relação às habilidades que devem ser adquiridas, consolidadas e desenvolvidas pelo contabilista, a IES 3 da IFAC (2012) cita cinco grupos, conforme especificados no Quadro 1. A IFAC ressalta que além dos conhecimentos e habilidades apresentados, o comportamento ético do profissional da área contábil é tão importante quanto as competências técnicas.

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Quadro 1 - Habilidades a serem adquiridas, consolidadas e desenvolvidas pelo profissional da contabilidade

Habilidades Intelec-tuais: contribuem na iden-tificação e solução de pro-blemas, na análise crítica e

na tomada de decisões.

a) Habilidade para localizar, obter, organizar informa-ções vindas de fontes humanas, impressas e eletrônicas; b) Capacidade para investigar, pesquisar, raciocínio, pen-samento lógico e de análise crítica; c) Capacidade para identificar e resolver problemas e situações inesperadas.

Habilidades Técnicas e Funcionais: compreen-dem as habilidades espe-

cíficas e gerais de contabi-lidade.

a) Proficiência em matemática, estatística e domínio da tecnologia da informação; b) Conhecimento de modelos de decisão e análise de risco; c) Conhecimento de medidas de acompanhamento de resultados;d) Desenvolvimento e elaboração de relatórios; e) Atuação em conformidade com a legislação e requeri-mentos de agências reguladoras;

Habilidades Pessoais: diz respeito às atitudes e comportamentos do pro-

fissional contábil.

a) Autogerenciamento;b) Iniciativa, influência e autoaprendizagem;c) Habilidade para selecionar e definir prioridades para atingir as metas com os recursos disponíveis; d) Capacidade de antecipar e se adaptar às mudanças; e) Considerar as implicações de valores, ética e atitudes nas tomadas de decisões; f) Ceticismo profissional;

Habilidades Interpes-soais e de Comunica-

ção: permitem a interação do profissional com outras

áreas de conhecimento.

a) Trabalhar com outras áreas da empresa como consul-tor de processos e solucionar conflitos; b) Trabalhar em equipe; c) Interagir com pessoas de outras culturas e nível inte-lectual; d) Negociar soluções aceitáveis e acordos em diversas situações; e) Ser capaz de trabalhar em um ambiente multicultural; f) Apresentar, discutir, relatar e defender visões em si-tuações formais, informais, redigir e falar corretamente em público; g) Domínio efetivo de outros idiomas;

Habilidades Organizacio-nais e de Gerenciamento de Negócios: estão relacio-nadas ao funcionamento da

organização.

a) O planejamento estratégico, gerenciamento de proje-tos, gestão de pessoas e recursos e tomada de decisão; b) Habilidades para organizar e delegar tarefas, motivar e desenvolver pessoas; c) Capacidade de liderança; d) Julgamento profissional e o discernimento.

Fonte: Adaptado de International Education Standards (2012).

Guimarães (2006) traçou o perfil dos profissionais de contabilidade requerido pelo mercado de trabalho da Região Metropolitana de São Paulo, expresso em ofertas públicas por meio de anúncios de emprego na Folha de S. Paulo, o Estado de São Paulo e Gazeta Mercantil, no período de março/2004 a junho/2005. Foram identificados 4.017 anúncios dos quais 2.560 exigiam

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habilidades profissionais como pré-requisito para o candidato disputar a vaga. Os anúncios foram divididos em grupos de conhecimentos: experiência

profissional; conhecimentos diversos; idiomas; contabilidade gerencial e gestão empresarial; contabilidade societária, tributária e legislação; administração, economia e finanças; tecnologia da informação; e normas contábeis internacionais. Estas habilidades foram comparadas com a exigência de níveis hierárquicos, tendo sido constatado:

• as empresas buscam um profissional de contabilidade que demonstre capacidade de participação na sua gestão e que acompanhe, em termos de qualificação profissional, as mudanças que ocorrem no cenário macroeconômico;

• a regulamentação da legislação profissional é outro fator que faz com que as empresas busquem um profissional da contabilidade que possua um perfil que atenda tanto às necessidades técnicas quanto aos princípios éticos e morais;

• a habilidade mais requerida para todos os níveis hierárquicos foi a experiência profissional, demonstrando que as empresas buscam um bacharel em ciências contábeis já experiente;

• o profissional deve complementar seus estudos por meio da educação profissional continuada; e

• embora algumas habilidades não tenham sido muito requeridas pelas empresas, o profissional deve buscá-las para que apresente um perfil adequado às necessidades do mercado de trabalho.

O contador deve ser o profissional mais bem informado de toda a empresa, pois a sua atuação exige que conheça todas as operações realizadas, para que possa, a partir do registro, apresentar as informações resultantes do processo contábil na forma de relatórios para a administração da empresa, a fim de que esta possa tomar as decisões corretas. As decisões tomadas, por sua vez, podem ocasionar retornos positivos ou negativos para a empresa e influenciar quem dela depende. Nessas circunstâncias, o contador assume verdadeiramente uma responsabilidade social.

Logo, para ser um bom profissional, é necessário adotar um perfil dinâmico e inovador, buscando se atualizar, trazendo novas estratégias e meios de interpretar os números, para auxiliar nas tomadas de decisões mais viáveis da empresa, inserindo-se em um mercado de trabalho competitivo e com mudanças frequentes.

2.2 O curso de Ciências Contábeis da UNISC e os laboratórios de práticas contábeis

O curso de Ciências Contábeis da Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc teve seu funcionamento autorizado pelo Decreto n. 53.749, de 19 de março de 1964, e segundo seu projeto didático-pedagógico visa a formar “um multiprofissional capacitado a compreender e interagir em questões técnicas e científicas, econômicas, financeiras e sociais, em âmbito regional,

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nacional e internacional, nos diferentes modelos de organização” (UNISC, 2013. p. 21).

Os laboratórios de práticas contábeis foram instituídos no curso de Ciências Contábeis da Unisc como resultado da pesquisa realizada por Marquartdt (2003), que analisou o perfil do bacharel em Ciências Contábeis da instituição com enfoque na inserção do Estágio Supervisionado das turmas diplomadas de 1995 a 2001. Nesse estudo, verificou-se, além do estágio supervisionado obrigatório de final de curso, incluído na estrutura curricular do curso de 1994, a necessidade de estágios curriculares intermediários. Esses estágios curriculares intermediários foram incluídos no currículo do curso em 2009 denominados de Laboratórios de Práticas Contábeis.

O primeiro Laboratório de Prática ao qual o estudante tem acesso é o Laboratório de Prática em Escrituração Contábil e Fiscal, no 4º semestre, no qual são consolidados os conhecimentos, de forma interdisciplinar, adquiridos nos 3 primeiros semestres. Essa prática constitui-se numa forma de Estágio Supervisionado assistido em Laboratório, no qual o estudante é colocado em contato com a documentação de uma empresa, referente às operações de um período de 2 a 3 meses. Por meio de software de contabilidade de uso comercial, é realizada toda a escrituração fiscal e contábil, desde o registro dos documentos até a elaboração das Demonstrações Contábeis. Ao final das atividades práticas, o estudante elabora e entrega um relatório descrevendo a fundamentação legal e todas as práticas adotadas na escrituração.

A segunda prática é específica, no qual o curso elegeu a área de Custos, considerada fundamental na área empresarial, tanto no âmbito das empresas de grande, médio e pequeno porte, oportunizando aos acadêmicos do 5º semestre o Laboratório de Prática em Custos. Essa prática objetiva estabelecer uma vivência na área de custos, interligando a fundamentação teórica à prática. Além das atividades desenvolvidas em laboratório, as atividades também contemplam visitas técnicas a empresas, visando à observação in loco de processos contábeis na área de custos.

Além dessas duas práticas contábeis obrigatórias, o curso oferece laboratórios de práticas optativas, no qual o estudante poderá cursar o Laboratório de Prática em Contabilidade Governamental, o Laboratório de Rotinas Fiscais e Contábeis e os Laboratórios de Simulação Gerencial I e II. Os laboratórios de práticas contábeis optativas podem ser utilizados como horas para o Núcleo Flexível do curso.

Em virtude das exigências introduzidas pela nova lei dos estágios, Lei n. 11.788/08, o Estágio Supervisionado Obrigatório específico de fim de curso (componente curricular opcional do curso) foi substituído a partir de 2009 pelo Trabalho de Curso (TC), desenvolvido na modalidade de Monografia.

Para a concepção da formação geral e específica, o Projeto Pedagógico do Curso observa as Diretrizes Nacionais estabelecidas pela Resolução CNE/CES n. 10 de 16/12/04 e as Diretrizes Institucionais estabelecidas no Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e no Plano de Desenvolvimento

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Institucional (PDI). Além dessas bases legais, o PPC também considera as orientações do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), órgão normatizador da profissão contábil. Assim, a matriz curricular contempla todas as disciplinas e atividades necessárias para o desenvolvimento das competências e habilidades requeridas para os egressos do curso, tendo presente a realidade regional e o compromisso social do profissional na área contábil (UNISC, 2013).

Com base na formação multidisciplinar, o egresso está apto a atuar com eficácia e eficiência junto às organizações, atendendo às necessidades das empresas da região que apresentam uma grande diversificação nas suas atividades econômicas, com responsabilidade social e comprometimento com o processo de desenvolvimento. Pode-se afirmar que o curso de Ciências Contábeis da Unisc forma profissionais altamente capacitados, preparados para encarar o mercado que é tão competitivo.

Com base no referencial teórico, pode-se afirmar a importância do conhecimento do perfil do profissional da contabilidade e em especial o perfil dos egressos dos cursos de Ciências Contábeis. Especificamente em relação ao curso de Ciências Contábeis da Unisc, os laboratórios de práticas contábeis são um diferencial do curso, pois buscam proporcionar ao aluno a especialização de um saber promovendo melhores condições de inserção no mercado e participação ativa na sociedade em que participa.

3 Procedimentos metodológicos

Esse estudo, conforme os objetivos propostos, caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, uma vez que foi necessário o levantamento de dados junto aos egressos do curso de Ciências Contábeis da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, graduados a partir de 2012 a 2016 mediante aplicação de um questionário, com descrição e análise dos resultados. Segundo Raupp e Beuren (2004, p. 81), “a pesquisa descritiva busca identificar, relatar, comparar, entre outros aspectos”, proporcionando ao investigador uma série de informações sobre o objeto que deseja-se conhecer.

Quanto aos procedimentos de levantamento de dados, utilizou-se a pesquisa survey, com envio por e-mail de um questionário autopreenchível, elaborado no Online Pesquisas. Para a identificação dos egressos foi utilizado o cadastro fornecido pela coordenação do curso de Ciências Contábeis, no qual obteve-se um bom número de endereços eletrônicos. Dos 340 egressos, foram localizados 244 contatos. Com base na amostra identificada de 71,76%, obteve-se um retorno de 185 questionários, representando 54,41% dos egressos do período. No Quadro 2, está detalhado o retorno por turma de formandos.

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Quadro 2 – Demonstrativo do retorno de respostas por ano de formatura

Ano Egressos Acumulado Retorno % de Retorno

2012 56 56 32 57,14%

2013 66 122 26 39,39%

2014 61 183 30 49,18%

2015 79 262 46 58,23%

2016 78 340 51 65,38%

Total 340 340 185 54,41%

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

No intuito de conhecer e diagnosticar o perfil dos egressos do curso de Ciências Contábeis da Unisc formados após a inserção dos Laboratórios de Práticas Contábeis, graduados entre 2012 e 2016, buscou-se informações referentes a questões acadêmicas e sobre a situação profissional entre outros. Para que os mesmos pudessem ser comparados com o perfil dos egressos que não tiveram em sua estrutura curricular o Estágio Supervisionado, utilizou-se como referência a pesquisa realizada por Frey (1997). Com o perfil que tiveram em sua estrutura curricular o Estágio Supervisionado, utilizou-se como referencial a pesquisa realizada por Marquardt (2003).

Para viabilizar a comparação com os outros estudos, utilizou-se o questionário aplicado por Frey (1997) que realizou uma pesquisa junto aos egressos do curso de Ciências Contábeis para conhecer e analisar a atuação profissional dos egressos formados nos anos de 1967 a 1994. Posteriormente, o mesmo questionário foi utilizado por Marquartdt (2003) que realizou uma análise comparativa do perfil do bacharel em Ciências Contábeis da Unisc com enfoque na inserção do Estágio Supervisionado, tendo como unidade de análise as turmas diplomadas de 1995 a 2001.

No presente estudo, o questionário recebeu a inserção de uma nova questão vinculada ao problema de pesquisa, no qual buscou-se verificar, no entendimento dos egressos formados a partir de 2012, se o Laboratório de Prática em Escrituração Contábil e Fiscal no 4º semestre e o Laboratório em Prática de Custos, no 5º semestre, reduziu a falta de experiência profissional e ampliou os conhecimentos úteis à profissão. O trabalho também coletou opiniões e sugestões dos pesquisados para o curso de Ciências Contábeis da Unisc. Para a análise dos resultados, buscou-se um comparativo com as pesquisas desenvolvidas por Frey (1997) e Marquardt (2003).

Quanto à abordagem do problema, o estudo proposto se classifica como uma pesquisa quantitativa. Para Raupp e Beuren (2004, p. 92), a abordagem quantitativa caracteriza-se pelo: “emprego de instrumentos estatísticos, tanto na coleta quanto no tratamento dos dados. Esse procedimento não é tão profundo na busca do conhecimento da realidade dos fenômenos, uma vez que se preocupa com o comportamento geral dos acontecimentos”. Para Richardson (1999, p. 70), as técnicas estatísticas vão desde “as mais

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simples como percentual, média, desvio-padrão, às mais complexas, como coeficiente de correlação, análise de regressão etc.”.

Com a análise, foi possível verificar se os Laboratórios de Prática Contábeis ampliaram os conhecimentos úteis à profissão e reduziram a falta de experiência sinalizada pelos egressos de turmas anteriores. Também foram averiguadas outras questões relacionadas à vida profissional dos egressos, como as principais dificuldades dos que estão atuando na área contábil e dos que não estão; possíveis motivos de não estarem trabalhando na área de sua formação; e a frequência de continuidade de seus estudos.

4 Descrição e análise dos dados e resultados

A análise dos dados e resultados está estruturada em três seções. Inicialmente, apresenta-se a análise da situação profissional no qual aborda-se o perfil acadêmico, as áreas de atuação do egresso e as principais dificuldades da atuação profissional. Na segunda seção, expõe-se a análise da contribuição dos laboratórios de Práticas Contábeis na formação acadêmica e, na terceira seção expõe-se a análise da importância do curso e educação continuada.

4.1 Perfil acadêmico

No intuito de conhecer e diagnosticar o perfil dos egressos do curso de Ciências Contábeis da Unisc formados após a inserção dos Laboratórios de Práticas Contábeis, buscou-se informações referentes a questões acadêmicas e sobre a situação profissional entre outros, para que os mesmos fossem comparados com o perfil dos egressos que não tiveram em sua estrutura curricular o Estágio Supervisionado, utilizando-se como referência a pesquisa realizada por Frey (1997), e com o perfil que tiveram em sua estrutura curricular o Estágio Supervisionado, utilizando-se como referencial a pesquisa realizada por Marquardt (2003).

Quanto às informações acadêmicas, buscou-se conhecer junto aos egressos diplomados no período de 2012 ao segundo semestre de 2016:

a) os principais motivos da sua escolha pelo curso;b) a sua faixa etária de conclusão do curso;c) a importância do curso para sua realização profissional e/ou pessoal;d) as principais dificuldades encontradas para a realização do curso;e) o tempo despendido para a realização do curso;f) realização de atividades de atualização e outros eventos; e g) contribuição dos laboratórios de Práticas Contábeis e o Trabalho de

Curso na formação acadêmica.No primeiro questionamento apresentado aos egressos, referente aos

motivos que influenciaram sua escolha pelo curso, demonstrado no Gráfico 1, verificou-se que os motivos que mais influenciaram os bacharéis pesquisados a optarem pelo curso foram: com 49,2%, a possibilidade de trabalhar e estudar, tratando-se de um curso noturno, com 37,2%, as perspectivas salariais; com

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36,1%, a influência de amigos e familiares, com 33%, vocação; e com 29,0%, adequação do curso às funções que já vinham exercendo.

Diferentemente das pesquisas anteriores de Frey (1997) e Marquardt (2003), o principal motivo pela escolha do curso dos egressos do período de 2012 a 2016 foi a possibilidade de trabalhar e estudar, com indicação de 49,2% dos egressos. Esta foi uma das questões de múltipla escolha, onde o pesquisado poderia indicar até 05 opções.

Gráfico 1 – Motivos da escolha pelo curso de Ciências Contábeis

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Tomando-se como referência a pesquisa de Frey (1997), verifica-se que na ocasião o motivo mais apontado para a escolha do curso foi que a profissão contábil era adequada às funções que exerciam com 61,4%, seguido da possibilidade de trabalhar e estudar com 59,1% e o terceiro motivo mais votado foi a formação anterior compatível. Na pesquisa de Marquardt (2003), verificou-se que os motivos que mais influenciaram os bacharéis pesquisados a optarem pelo curso foram a possibilidade de trabalhar e estudar com 20,8%, adequação às funções que exerciam com 17,7%, perspectivas salariais que pode proporcionar com 15,4% e vocação com 14,6%.

Identificou-se que a possibilidade de estudar e trabalhar são fatores que influenciam na opção pelo curso, reforçado por outra pergunta, sobre quando o egresso começou a trabalhar na área contábil. Dos 185 pesquisados, 135 responderam já trabalhavam na área contábil antes de ingressar no curso ou iniciaram no decorrer do curso, o que representa 73,7% dos egressos. Na pesquisa realizada por Frey (1997), 79,8%, e na pesquisa de Marquardt (2003), 70% já trabalhavam na área contábil antes de ingressar no curso ou iniciaram a sua vinculação com a área contábil no decorrer do curso.

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Esta informação é relevante ao planejamento do curso de Ciências Contábeis, tendo em vista que o aluno ao ingressar no curso, espera que ao concluí-lo consiga uma melhor colocação profissional. Entende-se que o curso deve, com base nestes dados, buscar cada vez mais uma maior aproximação à realidade do mercado de trabalho do futuro profissional que está sendo formado.

Constatou-se que mais da metade dos bacharéis pesquisados conclui o curso com menos de 25 anos de idade. Os egressos podem ser classificados como jovens, pois 61,75 % tinham à época da conclusão do curso até 25 anos, 28,42 % até 30 anos, e outros 9,84% acima de 30 anos. Na pesquisa realizada por Frey (1997), a realidade retratada foi um pouco diferente, no qual 42,5% tinham à época da conclusão do curso até 25 anos, e outros 34,4% até 30 anos. Na pesquisa de Marquardt (2003), esse percentual já era um pouco maior, no qual 48% tinham à época da conclusão do curso até 25 anos, 24% até 30 anos.

Quanto à importância do curso para a realização profissional ou pessoal dos diplomados, conforme resultados da pesquisa, ilustrados no Gráfico 2, verificou-se que as opções consideradas com maior número de indicações do total de egressos pesquisados (2012/2016) foram: a possibilidade de melhores oportunidades de emprego com 73,8%, a possibilidade de proporcionar competência técnico-profissional com 71,0%, as expectativas sobre o curso foram correspondidas com 56,8% e o aumento da capacidade de pensar criticamente com 50,3%.

Gráfico 2 – Importância do curso para a realização profissional e/ou pessoal

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Comparando-se os dados com os da pesquisa de Frey (1997), os itens considerados mais importantes na formação do contador foram: competência técnico-profissional com 64,0%, ampliação da cultura geral com 63,7% e melhores oportunidades de emprego com 54,8%. Na pesquisa de Marquardt (2003), os itens selecionados foram: competência técnico-profissional com 69,75%, ampliação da cultura geral com 65,1% e o aumento da capacidade de

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pensar criticamente com 63,55%. Destaca-se que nas pesquisas anteriores os egressos consideraram a competência técnico-profissional o requisito mais importante na formação do contador.

As dificuldades apontadas pelos egressos para a realização do curso, conforme evidenciado no Gráfico 3, foram: a ausência de atividades de prática profissional com 55,7%, a falta de tempo para dedicação às disciplinas do curso com 55,2% e falta de base no curso de nível médio (2º Grau) com 28,4%.

Em comparação com as opções assinaladas na pesquisa de Frey (1997) e Marquardt (2003), verificou-se que a ausência de atividades de prática profissional reduziu consideravelmente em 20,8% evidenciando que as práticas em laboratórios introduzidas pelo curso de Ciências Contábeis, objeto de investigação do presente estudo, podem estar amenizando a falta de atividades de prática profissional no curso. Na pesquisa de Marquardt (2003), a ausência de atividades de prática profissional foi apontada por 70,3%, na pesquisa Frey (1997) por 76,2%, apresentando-se uma redução gradativa. A falta de tempo para dedicação às disciplinas do curso também está apresentando uma redução em relação as pesquisas anteriores de Marquardt (2003) e (1997) que nesse item tinham, respectivamente, uma indicação de 59,4% e 60,4%.

Gráfico 3 – Razões que dificultam a realização do curso

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

A falta de atividades práticas foi reforçada pelos pesquisados no espaço da pesquisa reservado para sugestões ao curso. Os pesquisados indicam que teoria desenvolvida nas aulas do Curso de Ciências Contábeis deveria ser, necessariamente, complementada pela prática profissional, em razão do curso ter características técnicas. Acredita-se que essa prática pode ser desenvolvida na forma de mais laboratórios de práticas contábeis, como vem sendo feito atualmente no curso, para

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que o egresso adquira mais habilidades e competências no decorrer do curso, que são fundamentais para exercer com eficiência e capacidade a atividade contábil.

4.1.1 Áreas de atuação do egresso

A área contábil é considerada uma das áreas que mais proporcionam possibildiades de trabalho ao seu profissional. As oportunidades de emprego sempre existiram, e continuam surgindo a cada dia, em função da globalização da economia, complexidade das normas internacionais de contabilidade e necessidade da participação do profissional contábil na gestão das empresas, entre outros motivos.

Na análise da área de atuação dos egressos, considerou-se tanto os que atuam na área contábil, como também os egressos que não atuam na sua área de formação. Verificou-se que 74,32% dos respondentes trabalham na área, realidade que vem alterando-se, quando comparada aos resultados de estudos anteriores. Na pesquisa realizada por Frey (1997), 62,90% dos respondentes estavam trabalhando na área, e na pesquisa de Marquardt (2003), 71,4%.

O principal ramo de atividade onde o pesquisado trabalha ou é empregador é a prestação de serviços, com 31,15%. Esse resultado é semelhante ao encontrado por Marquardt (2003) referente ao período de 1998 a 2001, no qual o setor de serviços absorveu 30,85% dos egressos. Diferentemente na pesquisa realizada por Frey (1997) o setor industrial com 34,7% absorveu mais egressos do que o setor de prestação de serviços contábeis (14,7%).

Com relação ao nível de preparação para atuar no mercado de trabalho, conforme evidenciado no Gráfico 4, somente 3,28% dos egressos responderam que estavam mal preparados, sendo que 34,43% responderam estarem pouco preparados para o mercado de trabalho e 49,73% responderam que estavam bem preparados, o restante, 12,57% responderam que estavam muito bem e excelentemente preparados para o mercado de trabalho. Comparando aos resultados da pesquisa de Frey (1997) e de Marquardt (2003), verifica-se que não houve mudanças significativas na opção “bem preparado para o mercado de trabalho”. Na pesquisa de Frey (1997), o resultado indicou que 44,8%, consideraram estar bem preparados e a pesquisa de Marquardt (2003) mostrou 41,5%. Com esta constatação, pode-se sinalizar que os Laboratórios de Práticas Contábeis estão contribuindo na formação do bacharel em termos de atividade prática, amenizando a insegurança e a falta de prática.

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Gráfico 4 – Nível de preparo dos egressos para atuarem no mercado

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Com relação aos motivos para não trabalharem na área contábil, ilustrados no Gráfico 5, as alternativas mais indicadas pelos pesquisados foram: a falta de experiência com 24,1%; a baixa remuneração com 16,3%; exercício de função administrativa com 16,3%; e insegurança com 12,7%.

Gráfico 5 – Motivos por não trabalhar na área contábil

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Na pesquisa de Frey (1997) e Marquardt (2003), o principal motivo apontado pelos pesquisados por não atuarem em atividades afins da contabilidade também foi a falta de experiência com 30,2% e 26,13%, respectivamente. Muitas são as variáveis que interferem na formação dos egressos, sendo os Laboratórios de Práticas Contábeis apenas uma entre muitas. Dada à sua característica e objetivos, o curso, ao incluir os laboratórios de práticas contábeis no currículo, justificou que iriam contribuir como atividade essencialmente prática para a vida profissional dos alunos.

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4.2 Principais dificuldades da atuação profissional

O principal motivo apontado como dificultador para iniciar a vida profissional após a conclusão do curso foi a falta de experiência prática com 54,5%, seguido pelo salário não compatível com a profissão com 34,6% conforme detalhado no Gráfico 6.

Gráfico 6 – Principais dificuldades dos egressos ao iniciarem sua vida profissional após a conclusão do curso

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Confrontados estes resultados com os da pesquisa de Frey (1997) e de Marquardt (2003), verificou-se que o item mais apontado em períodos anteriores como dificuldades para iniciar a vida profissional dos egressos também foi a falta de experiência prática, representando 37,1% na pesquisa de Frey (1997) e 56,3% na pesquisa de Marquardt (2003).

4.3 Análise da contribuição dos laboratórios de práticas contábeis na formação acadêmica

O currículo do curso de Ciências Contábeis atualmente em vigor, implantado a partir do ano letivo de 2009 na UNISC, incluiu uma maior carga de disciplinas com atividades de natureza prática. Conforme o Projeto Pedagógico do Curso (PPC) de Ciências Contábeis, entende-se que estes conhecimentos de natureza prática instrumentalizam o futuro contador ao se formar, para desempenhar melhor determinadas funções próprias da profissão, diminuindo um pouco as principais dificuldades enfrentadas ao iniciar a trajetória profissional, que são a falta de experiência e a insegurança (UNISC, 2013).

No Gráfico 7, evidencia-se a opinião dos pesquisados formados após a inserção dos laboratórios de práticas contábeis, no qual 75,3% afirmam

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que os laboratórios de práticas contábeis ampliaram os conhecimentos úteis a profissão; 62,6% indicam que melhorou o aprendizado em si, sendo que 25,3% afirmam que os laboratórios reduziram a falta de experiência.

Gráfico 7 – Opinião dos egressos formados a partir de 2012 sobre a contribuição dos laboratórios de práticas contábeis

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Com a introdução dos laboratórios de práticas contábeis no currículo do curso de Ciências Contábeis da Unisc, a lacuna entre teoria e prática deveria ser minimizada, pois os laboratórios buscam proporcionar ao aluno um maior contato com atividades práticas com objetivo que os mesmos adquiram experiência em três áreas (fiscal, contábil e custos), colocando-os frente a frente com as dificuldades da atividade contábil e exigindo um conjunto de conhecimentos que são testados e aplicados em situações reais.

No Gráfico 8, tem-se o resultado da opinião dos pesquisados sobre a contribuição do Trabalho de Curso (TC) na sua formação profissional.

Gráfico 8 – Opinião dos egressos sobre a contribuição do Trabalho de Curso

Fonte: Dados da pesquisa (2017).

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Para 63,8% dos egressos, o Trabalho de Curso (TC) ampliou os conhecimentos úteis à profissão e para 57,4%, melhorou o aprendizado em si. Outra indicação positiva foi que o Trabalho de Curso (TC), para 26,2%, propiciou maior segurança profissional. Cabe salientar que os egressos pesquisados podiam assinalar mais de uma opção. Considerando que esta questão só foi considerada nos questionários dos pesquisados formados a partir de 2012, não se tendo o comparativo com as pesquisas anteriores.

4.4 Análise da importância do curso e educação continuada

Os egressos afirmaram estar sentindo a necessidade de aprofundar os seus estudos na área contábil em percentuais cada vez maiores, computando-se um índice de 92,82% nos formados após 2012. Nota-se a preocupação dos profissionais contábeis em continuar seus estudos. Comparando-se com a pesquisa desenvolvida pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) em 1995, é cada vez maior. Na pesquisa do CFC (1995), 76% dos contadores estavam motivados a aprofundar os seus estudos contábeis.

Constata-se que os egressos da Unisc estão preocupados com o aprofundamento e a especialização dos seus conhecimentos técnicos, face à complexidade da atividade contábil em suas diversas áreas. Na pesquisa anterior de Frey (1997), 67,6% dos bacharéis estavam preocupados em continuar seus estudos contábeis e na pesquisa de Marquardt (2003), 86,3% dos egressos sentiam a necessidade de continuar seus estudos.

A crescente participação do profissional contábil na gestão das empresas e a globalização da economia leva-o também a querer aprofundar os seus estudos. Um grande número de egressos do curso buscou formação complementar para aprofundar seus estudos sob forma de cursos de atualização e aperfeiçoamento com 58,6% ou cursos de especialização com 24,9%. Isto demonstra o alto grau de interesse dos egressos do curso de Ciências Contábeis em aprofundar os seus estudos, buscando uma maior profissionalização.

Na pesquisa de Frey (1997) e de Marquardt (2003), os egressos também buscaram formação complementar para aprofundar seus estudos sob forma de cursos de atualização e aperfeiçoamento com uma representatividade de 41,7% na pesquisa de Frey (1997) e 59,95% na pesquisa de Marquardt (2003) ou cursos de especialização com 6,6% e 43,35%, respectivamente.

Em relação ao questionamento feito aos pesquisados sobre aspectos importantes na formação do contador, os principais itens apontados pelos egressos como essencial e muito importante, considerando as exigências atuais e futuras das organizações e do mercado de trabalho, pelos pesquisados foram: a capacidade de leitura e interpretação de assuntos técnicos, a capacidade de leitura e interpretação da Teoria Contábil para melhor aplicá-la na prática, o conhecimento significativo de legislação tributária e habilidade para raciocínio lógico e numérico.

Na pesquisa realizada por Frey (1997), os principais itens apontados como sendo de essencial importância para a formação do contador, sendo

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consideradas as exigências do mercado de trabalho, foram: o conhecimento de legislação tributária, a capacidade de leitura e interpretação de assuntos técnicos, a habilidade para o raciocínio lógico e o conhecimento de processamento de dados. Na pesquisa de Marquardt (2003), os principais itens apontados foram: o conhecimento de legislação tributária, a habilidade para o raciocínio lógico, a capacidade de leitura e interpretação de assuntos técnicos e a capacidade de leitura e interpretação da Teoria Contábil para melhor aplicá-la na prática.

Percebe-se que as três alternativas mais indicadas nas três pesquisas são as mesmas, o conhecimento de processamento de dados deve ser considerado quase uma obrigação por parte de qualquer profissional, independentemente de área de formação, sendo por isto, talvez pouco indicado pelos egressos mais recentes.

As sugestões que foram apresentadas pelos egressos na questão aberta da pesquisa, foram agrupadas em áreas de concentração comum ao assunto, e a principal sugestão apresentada pelos egressos pesquisados foi indicado por 48% aulas e disciplinas práticas e um maior número de laboratórios de práticas contábeis. Outra sugestão indicada por 19,23% foi melhorar o nível técnico e renovação dos professores e a metodologia das aulas. Foi indicado pelos egressos a especialização e qualificação dos professores do curso, devendo os mesmos terem uma formação pedagógica adequada ao curso e estarem comprometidos com o mesmo.

Em relação ao currículo, os pesquisados sugerem alterações como a inclusão de matérias com conteúdo necessário à realidade do mercado e disciplinas mais práticas. Também sugerem a retirada de disciplinas tidas como desnecessárias e aumento de disciplinas contábeis, como por exemplo: sobre a declaração do Imposto de Renda e sobre contabilidade rural ou administração rural.

Outra sugestão apresentada pelos egressos é que os acadêmicos sejam estimulados, desde o início da graduação, a elaborarem artigos científicos para congressos e convenções. Sugeriu-se também a instalação de escritório-modelo, onde o aluno trabalharia em todas as áreas, sugerindo-se até que o trabalho fosse a serviço da comunidade.

Muitas das sugestões apresentadas já foram executadas com a implantação do currículo atual do curso. Entretanto, nota-se a grande preocupação dos egressos pesquisados quanto à questão da prática da profissão, dos conhecimentos de direito, de legislação, de contabilidade tributária, entre outras.

Dos resultados obtidos, ressalta-se que dentre os motivos que mais pesaram para o egresso optar pelo curso de Ciências Contábeis como profissão foram, a possibilidade de trabalhar e estudar, por ser um curso noturno, e também pelas perspectivas salariais. Um considerável percentual dos egressos (74,32%) desempenha atividades ligadas à área contábil, tendo iniciado suas atividades antes ou no decorrer do curso, sendo muito pequeno o percentual daqueles que começaram a trabalhar após a conclusão do curso.

Na opinião dos egressos formados após a inserção dos laboratórios

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de práticas contábeis, introduzidos no currículo do curso após a pesquisa de Marquardt (2003), 75,3% dos pesquisados afirmam que os laboratórios ampliaram os conhecimentos úteis à profissão; 62,6% indicam que melhorou o aprendizado em si, sendo que 25,3% afirmam que os laboratórios reduziram a falta de experiência.

Cabe salientar que alguns egressos manifestaram a satisfação pela formação obtida e pela profissão, sugerindo que se mantenha um feedback dos egressos regularmente, pois estes são a imagem da instituição de ensino.

5 Conclusão

Este trabalho teve como objetivo diagnosticar e analisar o perfil do egresso graduado pelo curso de Ciências Contábeis da UNISC no período de 2012 até o segundo semestre do ano de 2016, que tiveram em seu currículo acadêmico, disciplinas de Laboratórios de Práticas Contábeis. Como referência teve-se dois estudos anteriores em relação aos egressos do curso de Ciências Contábeis da Unisc: o primeiro realizado por Frey (1997), que envolveu uma pesquisa para conhecer e analisar a atuação profissional dos egressos formados nos anos de 1967 a 1994, e posteriormente Marquartdt (2003), que realizou uma análise comparativa do perfil do bacharel em Ciências Contábeis da Unisc com enfoque na inserção do Estágio Supervisionado dos diplomados de 1995 a 2001.

Os resultados da pesquisa realizada evidenciaram que os motivos que mais pesaram para o egresso optar pelo curso de Ciências Contábeis como profissão foram a possibilidade de trabalhar e estudar, por ser um curso noturno, e também pelas perspectivas salariais. Um considerável percentual de egressos desempenha atividades ligadas à área contábil, tendo iniciado suas atividades antes ou no decorrer do curso (73,77%), sendo muito pequeno o percentual daqueles que começaram a trabalhar após a conclusão do curso (4,37%).

Verificou-se que a conclusão do curso não trouxe imediatamente mudanças muito significativas na ocupação profissional dos egressos. Com algumas variações, os bacharéis continuaram trabalhando, após a conclusão do curso, onde trabalhavam antes de ingressar no curso e durante a sua realização. Os resultados também evidenciaram que a renda de uma grande parcela dos egressos é relativamente baixa, pois 90,11% dos egressos ganham, atualmente, de 1 a 5 salários mínimos.

Os motivos apontados como dificultadores para a realização do curso foram: a ausência de atividades de prática profissional, a falta de tempo para dedicação às disciplinas do curso e falta de base no curso de nível médio (2º Grau). Trabalhos e aulas mais práticas foram sugeridos por um número considerável dos pesquisados: 48,08%. Os egressos pesquisados sugerem a ampliação do conhecimento técnico-científico trabalhado no curso, entendendo-se como tal as atividades práticas de rotina contábil e sua melhor forma de operacionalizá-las, possibilitando desta maneira tais experiências durante a realização do curso

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Segundo a opinião dos egressos, os professores devem ser agentes motivadores dos seus alunos para a prática do conhecimento e da pesquisa. Também expressaram que os currículos são colocados para desenvolver os conhecimentos, as habilidades e as atitudes dos alunos, não podendo ser estes apenas objetos receptores de conteúdos prontos, mas sim participantes do processo construtivo do conhecimento.

Na avaliação que os egressos fizeram sobre o nível de preparo para a atuação no mercado de trabalho, não houve mudanças significativas na opção “bem preparado para o mercado de trabalho” quando comparado com as pesquisas anteriores. Verificou-se que houve um aumento de 8,23% em relação ao resultado obtido na pesquisa anterior de Marquardt (2003). Essa melhora, embora pequena, pode sinalizar que os Laboratórios de Práticas Contábeis estão contribuindo na formação do bacharel em termos de atividade prática, amenizando a insegurança e a falta de prática.

Os principais motivos apontados pelos profissionais que não trabalham na área contábil foram a falta de experiência (24,1%), a baixa remuneração (16,3%), exercício de função administrativa (16,3%) e a insegurança (12,7%). Sugere-se que o curso reavalie a grade curricular para que os alunos possam ter outras práticas, além das já oferecidas. Um exemplo sugerido por egresso é a instalação de um Escritório-Modelo onde o aluno trabalharia em todas as áreas, sugerindo-se até que o trabalho fosse a serviço da comunidade.

Na opinião dos egressos formados, após a inserção dos laboratórios de práticas contábeis, quanto à introdução deste trabalho de natureza prática no currículo e o seu reflexo na formação do bacharel, 75,3% dos pesquisados afirmaram que os laboratórios ampliaram os conhecimentos úteis à profissão; 62,6% indicam que melhorou o aprendizado em si, e 25,3% afirmam que os laboratórios reduziram a falta de experiência.

Com base nos resultados obtidos, recomenda-se ao curso que sejam ampliados os laboratórios de Práticas Contábeis, com mais carga horária, ou até a inclusão de um novo laboratório de práticas contábeis na grade curricular. É de extrema importância que o curso promova meios para formar seus alunos de maneira que possam estar seguramente inseridos no contexto exigido dos profissionais contábeis na região.

Constatou-se, com a pesquisa, a preocupação dos egressos em aprofundar seus estudos e a especialização dos seus conhecimentos teóricos em virtude da complexidade das atividades contábeis. A capacidade de leitura e interpretação de assuntos técnicos foi apontada pelos pesquisados como sendo essencial à formação dos contadores, assim como a capacidade de leitura e interpretação da Teoria Contábil para melhor aplicá-la na prática, o conhecimento significativo de legislação tributária e habilidade para raciocínio lógico e numérico.

Devido à importância que a formação adequada do profissional contábil tem diante da sociedade, deve-se buscar formar contadores competentes, que saibam assimilar as mudanças rápidas que ocorrem no mundo, tais como: mudanças tecnológicas, mudanças econômicas, na ciência e culturais.

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Recomenda-se que o curso procure sempre atualizar o seu currículo segundo metodologias modernas e apoiado em trabalhos práticos.

Salienta-se que os resultados obtidos nesta pesquisa, juntamente com os demais parâmetros do curso que buscam qualificar a formação de Ciências Contábeis da Unisc para a região, devem nortear as propostas para formar profissionais com uma visão sistêmica, integrada e interdisciplinar das atividades contábeis. Por fim, entende-se e recomenda-se a continuação de estudos desta natureza, obtendo-se o feedback dos egressos a respeito de suas experiências, necessidades e realizações.

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