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E MAIS: 7317456802/2002-DR/MG IBDFAM EDITORIAL Autonomia e Vontade A consideração da vontade dos indivíduos. Esta é, em síntese, a melhor virtude da Lei 11.441, na opinião de muitos estudiosos e operadores de Direito. A Lei, que entrou em vigor em janeiro deste ano, está provocando uma grande movimentação entre os profissionais – ávi- dos por conhecer suas regras e procedimentos. Mas, principalmente, está modificando substancialmente a re- lação Estado/cidadão, ao gerar condições de o indivíduo gerir seu próprio destino em alguns assuntos de família. Há restrições. Mas em casos específicos, onde há con- senso, é possível promover uma separação ou divórcio sem necessidade de um juiz. Mais do que redução de prazos, o interessado ganha também autonomia para ge- rir sua própria vida familiar, em situações previamente definidas, sem intervenção ou jugo do Estado. Um lugar para o exercício de cidadania, um avanço da sociedade brasileira. Para muitos, a Lei ainda precisa de ajustes e reparos. Mas trouxe também, como benefício adicional, a possibilidade de fortalecimento da prática de mediação interdisciplinar no campo do Direito de Família. Para além das questões burocráticas ou de mercado, a Lei pode ser um importante meio de aprimoramento para os profissionais de Direito de Família. Estas e outras abordagens estão nessa edição do Boletim do IBDFAM. Lei 11.441 – Em debate.Páginas 3,4 e 5. Famílias sem juiz: Exercício de direitos. Página 6. Cartórios: espaço para a mediação. Página 7. A Lei Maria da Penha nas varas de família. Página 8. A função social da família. Página 12. Investigação de paternidade socioafetiva? Página 9. O IBDFAM no Congresso Nacional. Página 9. VI Congresso Brasileiro de Direito de Família. Páginas 2 e 10. Agenda • Jurisprudência • Notas • Publicações Publicação Oficial do Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM • Nº 42 • Ano 7 • Janeiro/Fevereiro 2007 Joe Tilson: Zigurat

EDITORIAL Autonomia e Vontade - notariado.org.br · E MAIS: 7317456802/2002-DR/MG IBDFAM EDITORIAL Autonomia e Vontade A consideração da vontade dos indivíduos. Esta é, em síntese,

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E MAIS:

7317456802/2002-DR/MG

IBDFAM

EDITORIAL

Autonomia e Vontade

A consideração da vontade dos indivíduos. Esta é, em síntese, a melhor virtude da Lei 11.441, na opinião de muitos estudiosos e operadores de Direito. A Lei, que entrou em vigor em janeiro deste ano, está provocando uma grande movimentação entre os profissionais – ávi-dos por conhecer suas regras e procedimentos. Mas, principalmente, está modificando substancialmente a re-lação Estado/cidadão, ao gerar condições de o indivíduo gerir seu próprio destino em alguns assuntos de família.

Há restrições. Mas em casos específicos, onde há con-senso, é possível promover uma separação ou divórcio sem necessidade de um juiz. Mais do que redução de prazos, o interessado ganha também autonomia para ge-rir sua própria vida familiar, em situações previamente definidas, sem intervenção ou jugo do Estado. Um lugar para o exercício de cidadania, um avanço da sociedade brasileira. Para muitos, a Lei ainda precisa de ajustes e reparos. Mas trouxe também, como benefício adicional, a possibilidade de fortalecimento da prática de mediação interdisciplinar no campo do Direito de Família.

Para além das questões burocráticas ou de mercado, a Lei pode ser um importante meio de aprimoramento para os profissionais de Direito de Família. Estas e outras abordagens estão nessa edição do Boletim do IBDFAM.

• Lei11.441–Em debate.Páginas 3,4 e 5.

• Famíliassemjuiz:Exercício de direitos.Página 6.

• Cartórios:espaçoparaamediação. Página 7.

• ALeiMariadaPenhanas varas de família. Página 8.

• Afunçãosocialdafamília. Página 12.

• Investigaçãodepaternidadesocioafetiva? Página 9.

• OIBDFAMnoCongressoNacional. Página 9.

• VICongressoBrasileirodeDireitodeFamília. Páginas 2 e 10.

Agenda • Jurisprudência • Notas • Publicações

Publicação Oficial do Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM • Nº 42 • Ano 7 • Janeiro/Fevereiro 2007

Joe Tilson: Zigurat

Boletim IBDFAM Janeiro/Fevereiro • 20072

NOTAS

MINAS GERAIS - O presidente do IBDFAM-MG, Newton Teixeira Carvalho, promoveu, em novembro do ano pas-sado, a segunda reunião do Grupo Inte-grado da Família (Grifa), que teve como pauta “Cirurgia de transgenitalização: Efeitos jurídicos”. . O GRIFA é composto por membros do Ministério Público e da Magistratura de Belo Horizonte e Grande BH com atuação na área de família. Seu objetivo é a troca de idéias e de experi-ências acerca do cotidiano das Varas de Família.

O Grupo de Estudos de Mediação do IBDFAM-MG promove, regularmen-te, grupos de estudos das áreas de Bio-direito e Mediação. Em novembro, foi promovida palestra sobre “As Contribui-ções da Psicanálise à Mediação Conflito Familiares”, sob coordenação de Cleide Rocha de Andrade, presidente da Comis-são de Mediação do IBDFAM.

PARAÍBA – O IBDFAM-PB prestou seu apoio a um evento realizado pela Asso-ciação dos Notários e Registradores da Paraíba sobre a nova Lei 11.441/07, no último dia 3 de fevereiro, em João Pes-soa. Segundo o advogado e professor Rodrigo Toscano de Brito, presidente do IBDFAM da Paraíba, o “Primeiro Curso de Atualização sobre Escrituras Públicas de Separação, Divórcio, Inventário e Par-tilha” contribuiu para a compreensão da nova Lei ao discutir temas como “Escri-

turas Públicas de Separação e Divórcio” e “Inventário e Partilha de Bens por escri-tura pública”.

RIO DE JANEIRO – No dia 15 de de-zembro do ano passado, o IBDFAM-RJ, em parceria com a Fundação Escola Superior da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (Fesudeperj) e com o Centro de Estudos Jurídicos da Defensoria Pública (Cejur) promoveram um Ciclo de Palestras de Direito de Família. O evento, franquea-do ao público, teve como objetivo ampliar as discussões na área de Direito de Famí-lia, “suas implicações e particularidades”, como explicou a coordenadora do Ciclo de Palestras, a juíza e presidente do IBDFAM-RJ, Mônica Poppe de Figueiredo Fabião. Os

temas dabatidos foram: “Regime de Bens – Inovações do Código Civil”, “Exceção de Pré-Executividade no Direito de Família “Alimentos – Aspectos Relevantes”.

RONDÔNIA - No último dia 17 de de-zembro, o presidente do IBDFAM-RO, juiz Raduan Miguel tomou posse como pre-sidente da Associação dos Magistrados do Estado de Rondônia (Ameron) para o biênio 2007/2008. Estão nos planos do novo presidente uma administração com caráter voltado para o social, humanizan-do a atuação da associação com ações destinadas a aproximar a população da Justiça e dos magistrados, objetivando também melhorias na prestação jurisdi-cional.

SÃO PAULO – O presidente do IBDFAM-SP, Euclides Oliveira participou de uma série de eventos sobre aplica-ções da Lei 11.441/07, relativamente ao procedimento cartorário em separação, divórcio e inventário e partilha consen-suais, quando não haja interessados me-nores ou incapazes e nem testamento. Entre eles, um simpósio realizado pelo Colégio Notarial de São Paulo, no dia 13 de janeiro, em São Paulo. O evento con-tou também com a atuação, como deba-tedor, do presidente do IBDFAM no Pará, Zeno Veloso. Os diretores também pres-taram sua contribuição à evento apoiado pelo IBDFAM, na Paraíba.

Diretoria executiva – Presidente: Rodrigo da Cunha Pereira (MG); Vice-Presidente:Maria Berenice Dias (RS); Primeiro-Secretá-rio:Rolf Madaleno (RS); Segunda-Secretária: Adélia Moreira Pessoa (SE); PrimeiroTesoureiro: João Batista de Oliveira Cândido (MG); SegundaTesoureira: Ana Carolina Brochado Teixeira (MG); DiretoriadeRelaçõesInternacionais: Paulo Malta Lins e Silva (RJ).

conselho De aDministração – DiretorRegionalNorte: Zeno Veloso (PA); DiretorRegionalNordeste: Paulo Luiz Neto Lôbo (AL); DiretorRegionalCentroOeste:Sálvio de Figueiredo Teixeira (DF); DiretorRegionalSul: Luiz Edson Fachin (PR); DiretoraRegionalSudeste: Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (SP); DiretordoConselhoConsultivo:Francisco José Cahali (SP).

comissões - ComissãoCientífica:Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (SP); EstudosJurídicosdaFamília: Waldyr Grisard Filho; Mediação: Águida Arruda Barbosa (SP); EstudosConstitucionaisdaFamília: Sérgio Resende de Barros (SP); daInfânciaeJuventude: Tânia da Silva Pereira (RJ); RelaçõesAcadêmicas: Conrado Paulino da Rosa (RS); RelaçõesInterdisciplinares: Giselle Câmara Groeninga (SP).

Diretorias estaDuais – ACRE:Júnior Alberto Ribeiro; ALAGOAS: Carlos Cavalcanti de Albuquerque Filho; AMAPÁ: Nicolau Eládio Bassalo Crispino; AMAZONAS: Anabel Vitória Mendonça de Souza; BAHIA:Cristiano Chaves de Farias; CEARÁ:Marcos Vinicius Matos Duarte; DISTRITOFEDERAL: Eliene Ferreira Bastos; ESPÍRITOSANTO: Júlio César Costa de Oliveira; GOIÁS: Miguel Ângelo Sampaio Cançado; MARANHÃO: Lourival de Jesus Serejo Sousa; MATOGROSSO:Naime Márcio Martins Moraes; MATOGROSSODOSUL: Marco Túlio Murano Garcia; MINASGERAIS:Newton Teixeira Carvalho; PARÁ: Marta Maria Vinagre Bembom; PARAÍBA: Rodrigo Azevedo Toscano de Brito; PARANÁ: Lenice Bodstein; PERNAMBUCO: Jones Figueiredo Alves; PIAUÍ: Oton Mário José Lustosa Torres; RIODEJANEIRO: Mônica Poppe de Figueiredo Fabião; RIOGRAN-DEDONORTE: Érica Verícia de Oliveira Canuto; RIOGRANDEDOSUL: Luiz Felipe Brasil Santos; RONDÔNIA: Raduan Miguel Filho; RORAIMA:Neusa Silva Oliveira; SANTACATARINA: Anita Gomes Vieira; SÃOPAULO: Euclides Benedito de Oliveira; SERGIPE: Adélia Moreira Pessoa; TOCANTINS: Elaine Marciano Pires.

núcleos regionais: Bauru/SP: Maria Isabel Jesus Costa Canellas; Campinas: Daniel Blikstein; CaxiasdoSul/RS: Eliana Giusto; Descalvado/SP: Sérgio Franco de Lima; Londrina/PR: Jussara Suzi Assis Borges Nasser Ferreira; Maringá/PR:Wanderley de Paula Barreto; Paragominas/PA: Cláudia Dalmaso Vale; Pelotas/RS: Magda Raquel Guima-rães Ferreira dos Santos; PousoAlegre/MG:Francisco Jose de Oliveira; RibeirãoPreto/SP: Paulo Fernando de Andrade Giostri; Santos/SP: Mônica Lanigra Ferraz.

sócios honorários – Álvaro Villaça Azevedo; Caio Mário da Silva Pereira (in memoriam); João Baptista Villela; Maria Helena Diniz; Marilza Maynard S. de Carvalho; Miguel Bandeira Pereira; Sálvio de Figueiredo Teixeira; Silvio Rodrigues (in memoriam); Yussef Said Cahali.

Boletim Do iBDFam - ComissãoEditorial: Francisco José Cahali (SP); Giselle Groeninga (SP); Paulo Lins e Silva (RJ); Rodrigo da Cunha Pereira (MG); Rolf Madaleno (RS). EdiçãoeRedação: Andréa Rocha - [email protected]. Editoração: Visiva Editoração.Impressão: Editora Síntese. Tiragem: 4.500 exemplares. Distribuição: gratuita, aos sócios do IBDFAM. Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores - AssessoriadeComunicação:Michelle Manrique - [email protected] - Tel.: (31) 3337.1896

Piero Manzoni: Achrome (1962), pão

Família e Solidariedade – Construir uma sociedade livre, justa e solidária. O In-ciso I, do Artigo 3º da Constituição Federal da República foi um dos princípios funda-mentais que sustentou a escolha do tema central do VI Congresso Brasileiro de Direi-to de Família: Família e Solidariedade.

Membros da Diretoria Nacional e do Conselho de Administração do IBDFAM reuniram-se em Belo Horizonte (MG), no último dia 2 de fevereiro para a es-colha do tema, definição de formato de

apresentação das palestras, entre outras ações visando à realização do evento, entre os dias 14 e 17 de novembro deste ano, na capital mineira. Além de 34 pa-lestrantes de todas as regiões do país, o VI Congresso também dedicará espaço para apresentação de trabalhos científi-cos, eleição da nova Diretoria, lançamen-to de livros. (Para saber mais sobre o assunto, consulte regularmente o portal IBDFAM e veja também a página 10 desta edição).

Anais – Os Anais do V Congresso Brasileiro de Direito de Família serão distribuídos aos associados IBDFAM e aos participantes do evento, durante o mês de fevereiro. Informações adicionais podem ser obtidas no portal IBDFAM ou pelo informativo virtual IBDF@M, envia-do regularmente aos associados. Caso não esteja recebendo o informativo, bas-ta fazer contato com Michelle Manrique, Assessora de Comunicação, pelo e-mail [email protected]

IBDFAM

Boletim IBDFAM Janeiro/Fevereiro • 2007�

ESpEcIAL - Lei 11.441

RodRigo da Cunha PeReiRaA nova lei oriunda do PL 155/04, além de facilitar o

divórcio e o recebimento de herança, inova ao primar pela menor intervenção do Estado na vida privada das pessoas. Representa também o reconhecimento da melancólica incapacidade de o judi-ciário resolver as demandas judiciais. Apesar da boa intenção da nova lei, há aqueles que já dizem que ela afronta a segurança das relações jurídicas. Um inventário ou uma separação, resolvi-dos em Cartório de Notas, pode deixar brechas para fraudes e lesões a direitos. E, mesmo com a exigência da presença de um advogado como determina a lei, através do “jeitinho brasileiro”, poder-se-á, por exemplo, ter um profissional do Direito de plantão em cada cartório apenas para cumprir a exigência da lei. Reservas de mercado à parte, esta lei cumpre uma importante função de facilitar a vida de milhares de brasi-leiros que ficam, inexplicavelmente, meses, às vezes, anos, esperando bu-rocráticas tramitações para resoluções de questões tão simples de sua vida

particular nos processos judiciais de inventário e de separações/divórcios. Esperamos que o espírito desta nova lei se propague pelos três poderes ide-alizados por Montesquieu, para que se faça um Estado menos interventor da vida privada. Afinal já está passando da hora de o Estado respeitar a autonomia privada. (veja o artigo, na íntegra, no Portal IBDFAM.

*Advogado, professor e Presidente do IBDFAM

MaRia BeReniCe diasA exclusão das ações de separação e divórcio do âmbito do Judiciário, ainda

que tenha visado aliviar a atividade jurisdicional e diminuir o volume de demandas em juízo, tem importância de outra ordem, talvez mais significa-tiva. A desjudicialização de questões envolvendo interesses de ordem ex-clusivamente econômica quando não existe conflito entre os seus titulares, redimensiona a presença do Estado na vida do cidadão. A dispensa da in-tervenção estatal, mesmo no âmbito do Direito de Família, empresta mais

Além do JudiciárioLogo que entrou em vigor, no

último dia 4 de janeiro de 2007, a Lei 11.441 mobilizou cartórios e profissionais de direito de Famí-lia e motivou a realização de di-versos encontros e palestras em todo o país. a movimentação é justificada.

Para oferecer à sociedade bra-sileira maior agilidade, rapidez e eficiência a procedimentos como inventários, partilhas, separações e divórcios consensuais, a Lei confere aos interessados o po-

importância à vontade das pessoas. A possibilidade de os cônjuges solverem o vínculo matrimonial e decidirem to-das as questões a ele inerente fora do âmbito do Poder Judiciário evidencia que não tem mais o Estado interesse na mantença do vínculo conjugal. Ago-ra é dos cônjuges a responsabilidade de decidir suas vidas, sem que tenham que se submeter à injustificável resis-tência da lei que, até agora, insistia em preservar a família. A alteração do próprio conceito de entidade familiar, que não mais se identifica apenas com o casamento, foi que permitiu tão sig-nificativa mudança, merecendo a lei ser interpretada com olhos nesta nova realidade. Assim, é de ser admitida, por exemplo, tanto a conversão da separação em divórcio por pública es-critura como a separação e o divórcio mesmo que existam filhos menores ou incapazes. Basta que as questões com relação a eles já tenham sido alvo de apreciação judicial. Nada justifica submeter à chancela judicial temas que agora estão fora da jurisdição.

*Desembargadora TJRS, Vice-Presidente Nacional do IBDFAM

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1965

)

LeiNº11.441,de4dejaneirode2007

Altera dispositivos da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Có-digo de Processo Civil, possibilitando a realização de inventário, partilha, separação consensual e divórcio con-sensual por via administrativa.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Os arts. 982 e 983 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Códi-go de Processo Civil, passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 982. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial; se todos forem capazes e concordes, poderá fazer-se o inventário e a partilha por escritura pública, a qual constituirá título hábil para o registro imobiliário.

Parágrafo único. O tabelião so-

Luiz edson FaChinDe um modo geral, tenho opinado favoravelmen-te à lei sancionada com

avanço, ainda que singelo, no senti-do da celeridade, da informalização (ou deformalização, como preferem alguns) dos procedimentos, do reco-nhecimento das pessoas nas relações familiares como sujeitos de seu pró-prio destino que conjuga liberdade e responsabilidade, e assim por diante. Há, sim, problemas e limites. Dentre os problemas, a intervenção do MP (considerando-se tratar a lei do esta-do de pessoa), a avaliação dos bens e a relevante questão da atuação imprescindível dos advogados,a ser garantida não apenas formalmente e sim substancialmente, na prática. Dentre os limites: não se muda a rea-lidade apenas com texto formal da lei; a lei não nasce norma, ela se torna, com efeito, se o exercício concreto lhe revestir tal caráter por meio da hermenêutica e da aplicação. Todavia, sem maniqueísmos, há um interação dialética entre regra e fato, e daí ser positiva, em termos gerais. Quanto à

mente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado comum ou ad-vogados de cada uma delas, cuja qua-lificação e assinatura constarão do ato notarial.” (NR)

“Art. 983. O processo de inventário e partilha deve ser aberto dentro de 60 (sessenta) dias a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses subseqüentes, podendo o juiz prorrogar tais prazos, de ofício ou a re-querimento de parte.

Parágrafo único. (Revogado).” (NR)Art. 2º O art. 1.031 da Lei no 5.869,

de 1973 – Código de Processo Civil, pas-sa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1.031. A partilha amigável, celebrada entre partes capazes, nos ter-mos do art. 2.015 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, será homologada de plano pelo juiz, me-diante a prova da quitação dos tributos

relativos aos bens do espólio e às suas rendas, com observância dos arts. 1.032 a 1.035 desta Lei.

.........................................................................” (NR)

Art. 3º A Lei no 5.869, de 1973 – Có-digo de Processo Civil, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 1.124-A:

“Art. 1.124-A. A separação consen-sual e o divórcio consensual, não haven-do filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quan-to aos prazos, poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome ado-tado quando se deu o casamento.

§ 1º A escritura não depende de ho-mologação judicial e constitui título hábil para o registro civil e o registro de imóveis.

§ 2º O tabelião somente lavrará a escritura se os contratantes estive-rem assistidos por advogado comum ou advogados de cada um deles, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

§ 3º A escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que se declararem pobres sob as penas da lei.”

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 5º Revoga-se o parágrafo único do art. 983 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Pro-cesso Civil.

Brasília, 4 de janeiro de 2007; 186º da Independência e 119º da Re-pública.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVAMárcio Thomaz Bastos

(fonte: www.planalto.gov.br)

Em Debate

der de solucionar, em cartórios, pendências familiares, de ordem administrativa, que antes esta-vam restritas ao Judiciário. há quem considere a diminuição da interferência do estado/Juiz uma grande conquista da sociedade. Mas, para outros, há lacunas que podem gerar injustiças.

enquanto não se afinam as interpretações e possibilidades da nova Lei, esta edição do Bo-letim do iBdFaM apresenta al-gumas opiniões de estudiosos

e profissionais, além de notícias com indicativos de procedimen-tos. o objetivo é difundir infor-mações, esclarecer dúvidas e en-riquecer o debate sobre a Lei.

Por uma limitação de espa-ço, não foi possível publicar to-dos os artigos nesta edição do Boletim do iBdFaM. assim, para não esvaziar o debate, a opção foi apresentar alguns resumos de abordagens. algumas delas podem ser conhecidas, na ínte-gra, no portal iBdFaM.

a seguir, a íntegra da Lei, as primeiras opiniões, ponderações e questionamentos.

Boletim IBDFAM Janeiro/Fevereiro • 20074

ESpEcIAL - Lei 11.441

recepção pela população, creio que haverá óbices quanto aos custos, o que limitará, por si só, o acesso, se forem elevados.

Trata-se de uma faculdade e não imposição, o que veda, aliás, que ju-ízes decretem a extinção dos feitos sem julgamento de mérito quando preencherem as condições da nova lei; é uma opção das partes recorrer à nova lei e não uma imposição. Não creio, em princípio, que trará desva-lorização a atuação jurisdicional das Varas de Família; ao contrário, refina e engrandece na medida em que a lei tem alcance limitado (filhos maiores e capazes, ausência de controvérsia, separações e divórcios somente con-sensuais etc), e deixa para o Estado-juiz as questões de fundo: guarda, partilha litigiosa e assim por diante.A presença do Estado-juiz parece-me imprescindível como regra geral. Não podemos nem devemos dela abrir mão. Há, contudo, exceções, como v.g. na arbitragem. Por isso, como os atos do juiz são atos de poder (e um dos poderes fundamentais da Repúbli-ca), não precisa se fazer presente em toda e qualquer relação jurídica, e sim naquelas cujo desate reclama um ato jurisdicional de poder, s.m.j. Todavia, sem dúvida, é preciso ter cautela para evitar a excessiva burocratização dos consensos familiares, pois nem sem-pre o Estado ou sua “longa manus” re-flexa deve estar presente nas relações de família, como bem o sabemos.

* Advogado, professor, Diretor IBDFAM Região Sul

WaLdyR gRisaRd FiLhoJá existem, entre alguns advogados de notários, in-terpretações flexibilizantes

da nova lei. Por isto, é preciso debater alguns temas que a Lei suscita. Apre-sento três, que já me foram propostos. O primeiro deles: Haverá possibilidade de a escritura ser lavrada somente pelos procuradores, com poderes especiais e munidos de instrumento público? Argumentam que, se o casa-mento pode ser realizado por procura-ção (que a doutrina admite por um só dos cônjuges), a separação também poderia sê-lo, apesar da legitimação ser exclusiva do cônjuge, disposição legal não revogada pela nova lei?

A segunda questão: Haverá pos-sibilidade de, nesta escritura de sepa-ração, os já separados outorgarem-se mutuamente procuração para a futura escritura de conversão em divórcio? E, por fim, uma última questão: havendo óbito de um dos separados e procura-dores, no interregno entre a escritura de separação e a de conversão, poderá o separado e procurador sobrevivente utilizar a procuração contida na escri-tura de separação para, depois do óbi-to do separado outorgante, manejar o pedido de conversão? Com a morte ex-tingue-se o mandato. Porém, poderia este estender seus efeitos para depois da morte do outorgante, tendo em vis-

ta que a, manifestação de vontade já se externara na escritura de separação, que não seria atual, portanto?

*Advogado, professor, presidente da Comissão de Ensino

Jurídico da Família IBDFAM.

LouRivaL seReJoA propósito da nova Lei, há ainda uma série de ques-tões a serem discutidas.

Uma delas diz respeito a um aspecto processual: se na lavratura de escritu-ra não se exige a presença do Minis-tério Público, também, nas varas de família, em separações/divórcios do mesmo gênero, não há mais necessi-dade do MP?

* Professor, Juiz Corregedor, presidente IBDFAM-MA

euCLides de oLiveiRaInventário e Partilha Extra-judicial - O art. 2º Lei 11.441, ao modificar o art. 1.031 do

CPC diz que a partilha amigável será “homologada de plano pelo juiz”...Então, nesses termos, seria sempre exigível o procedimento judicial? Não. O art. 1.031 foi modificado apenas para constar referência ao art. 2.015 do atual CC, em lugar do art. 1.773 do CC revogado. O procedimento judicial do arrolamento fica reservado aos ca-sos de partes que não queiram a via administrativa ou em que haja testa-mento.

Nos demais casos, de partes maio-res e capazes, bastará a escritura públi-ca de partilha, valendo como título há-bil para o registro imobiliário, conforme dispõe o artigo 1º da mesma lei.

Sobre a conversão da separação em divórcio: A Lei 11.441 fala em di-vórcio extrajudicial, sem mencionar a hipótese de conversão da separação em divórcio. Mas nem por isso res-tringe a escritura pública aos casos de divórcio direto. Conversão em di-vórcio nada mais é do que um espécie do gênero divórcio. Por isso mesmo é também chamada de “divórcio por conversão” ou “divórcio indireto”.Veja-se que a própria Constituição Fe-deral, no art. 226, para. 6., ao permitir dissolução do casamento pela “divór-cio”, menciona as duas espécies, com os requisitos de 1 ano de separação judicial ou de 2 anos de separação de fato. Por isso mesmo, a Lei 11.441, ao mencionar a via administrativa para o divórcio consensual de partes maiores e capazes abrange, naturalmente, uma e outra das mencionadas situações.

*Advogado, Presidente do IBDFAM/SP

neWton teixeiRa de CaRvaLhoA nova Lei é importante, eis que afasta a ingerência

do Estado na vida das pessoas. É mais um opção. Entendo, também, que não há participação do Ministério Público nestes requerimentos administrativos. E, até mesmo no divórcio direto, extra-

judicialmente, não há que se falar em oitivas de testemunhas. Basta a afir-mação dos divorciando de que estão separados há mais de dois anos. Com relação à assistência judiciária, pela própria lei, em se tratando de divórcio e separação, basta simples declaração dos interessados de que são pobres no sentido legal. A aludida lei reper-cute, na minha opinião, no Judiciário. Assim, pensamos que também não há mais participação do Ministério Públi-co na separação e divórcio consensu-ais, eis que, se extrajudicialmente não há participação do Ministério Público, com maior razão nos requerimentos judiciais, em razão da participação do Juiz no feito. Há também de se pensar, doravante, na desnecessidade de tes-temunhas no divórcio direto judicial. Acreditamos também que os advoga-dos, em razão da burocracia cartorária, optarão pelo divórcio e separação consensuais em juizo.

* Juiz, professor e presidente IBDFAM-MG

RoMuaLdo BaPtista dos santosEm vez de separação ju-dicial, separação jurídica.

Até agora uma pessoa poderia ser solteira, casada, separada judicial-mente, divorciada ou viúva. Mas com a nova lei a separação pode ser judicial ou extrajudicial, de modo que uma pessoa pode também ser separa-da extrajudicialmente. Consideramos que a melhor denominação para esse estado civil é separado juridicamente, para distinguir da mera separação de fato. A separação jurídica, portanto, seria um gênero, do qual são espécies a separação judicial e a extrajudicial, no que se refere ao procedimento; e a consensual e a litigiosa, quanto à convergência das vontades dos côn-juges. (Veja artigo, na íntegra, no por-tal IBDFAM)

*Advogado, Procurador do Estado de São Paulo,

mestrando em direito pela USP

FLávio taRtuCe A única unanimidade que surge quanto à Lei n. 11.441/2007 é que constitui

uma norma vantajosa para a socieda-de, pois diminuiu a burocracia para os procedimentos de separação, divórcio e inventário, facilitando e agilizando a tutela dos interesses dos envolvidos. Aliás, quanto ao inventário, é notó-rio que trata-se de um dos processos mais burocratizados do nosso Direito, um verdadeiro “labirinto jurídico”. Nessa terceira onda de reforma do CPC a prioridade é a agilização dos processos e a diminuição do que nos últimos tempos tem-se denominado inflação judiciária. Obviamente todas as reformas que priorizam a agilidade suscitam uma série de debates de or-dem teórica e prática. Cite-se a recen-te previsão da Lei n. 11.280, de 2006, que passou a prever que o juiz deve

conhecer de ofício a prescrição. Já há autores que entendem que a previsão é inconstitucional, pois afasta o direito do devedor de pagar a dívida, renun-ciando à prescrição. Pois bem, aqui não será diferente, eis que surgirão inúmeras visões, novas teses e apenas o tempo demonstrará a efetividade prática das alterações legislativas.

* Advogado e Professor em São Paulo.

CLáudia stein vieiRa...É cediço que a figura do advogado familiarista, que, com responsabilidade, as-

sessora as partes em procedimentos como os referidos, é fundamental, inclusive na composição dos conflitos que, com freqüência, surgem durante as respectivas negociações. A legis-lação em questão não se constitui, ao contrário do que alguns podem pensar, numa “solução mágica” para que os acordos sejam celebrados de maneira simples.

(...)O advogado familiarista con-tinuará a desempenhar papel funda-mental em tratativas tendo por escopo a celebração de acordo em separações, divórcios e /ou inventários, aconse-lhando as partes, a elas esclarecendo direitos e deveres, trabalho esse que jamais será substituído e/ou suprimi-do, tanto que sua presença e assinatu-ra é exigida na lavratura das escrituras de que trata a Lei n. 11.441/07. (Veja artigo, na íntegra, no portal IBDFAM)

*Advogada, professora de Direito Civil, membro da Diretoria do IBDFAM-SP

ChRistiano CassettaRiNão há dúvida que a Lei 11.441/07 foi um avanço.

Porém também não se duvida da ne-cessidade da mesma ser complemen-tada, para resolver alguns problemas práticos que estão causando dúvidas. Poderia a referida Lei ter permitido, por exemplo, a um dos cônjuges ser representado por mandatário que pos-sua poderes especiais para tanto – faci-litando assim a separação e o divórcio de pessoas que estejam domiciliadas no exterior – além de ter deixado claro se a reconciliação de um casal sepa-rado judicialmente pode ser feita por escritura ou se, necessariamente, deve ser feita judicialmente pelo mesmo juiz que proferiu a sentença. Além des-tas, infelizmente, outras lacunas serão descobertas ao se colocar a norma em prática no dia-a-dia.

*Mestrando em Direito Civil e Diretor Cultural do IBDFAM-SP

FeRnanda taRtuCe(...) Além de o dispositivo afirmar, textual-mente, que os interessados podem

optar pela via extrajudicial, deve-se considerar que nossa Lei Maior prevê ampla acessibilidade ao Poder Judi-ciário. Especialmente considerando

Boletim IBDFAM Janeiro/Fevereiro • 2007�

cOMENTÁRIO - Paulo Luiz Neto Lôbo

Atendendo ao reclamo da comu-nidade jurídica brasileira, e da própria sociedade, para desjudicialização das separações conjugais quando não hou-vesse litígio, a Lei 11.441/2007 introdu-ziu a possibilidade de o divórcio ou a separação consensuais serem feitos pela via administrativa, mediante escri-tura pública.

Os requisitos para o exercício da faculdade legal, além do consenso so-bre todas as questões emergentes da separação, são: a) a inexistência de fi-lhos menores ou incapazes do casal; b) a escritura pública lavrada por tabelião de notas; c) a observância do prazo de um ano da celebração do casamento para a separação, ou do prazo de dois anos de separação de fato para o divór-cio; e) assistência de advogado.

Da mesma forma que na separa-ção judicial e no divórcio judicial con-sensuais, e considerando a inexistência de filhos menores, a escritura deve ex-pressar a livre decisão do casal acerca do valor e do modo de pagamento dos alimentos que um dos cônjuges pagará ao outro, ou sua dispensa, a descrição e a partilha dos bens comuns e se o cônjuge que tiver adotado o sobreno-me do outro mantê-lo-á ou retomará o de solteiro. Se houver qualquer dis-cordância sobre algum desses pontos, o tabelião não poderá lavrar a escritu-

ra. Não há necessidade de alusão aos bens particulares de cada cônjuge, de acordo com o regime de bens adotado, mas sua explicitação não prejudicará a escritura. Se, na partilha, houver trans-missão de bens de um cônjuge para ou-tro, ou seja, quando não for igualitária a divisão dos bens comuns, incidirá o tributo respectivo sobre os correspon-dentes bens imóveis (ITBI), pago e con-signado na escritura.

Os interessados devem fazer prova com a certidão de casamento e certidões de nascimentos dos filhos, para demonstrar que são maiores ou emancipados. No caso do divórcio ex-trajudicial, tendo em vista a exigência da separação de fato por mais de dois anos, deve o tabelião consignar na es-critura o depoimento de ao menos uma testemunha para a prova do fato.

Diferentemente do divórcio e da separação judiciais, a partilha dos bens comuns não poderá ser feita posterior-mente. A lei determina expressamente sua inclusão na escritura pública, tendo em vista que a via administrativa pres-supõe acordo do casal sobre todas as questões decorrentes da separação, não podendo haver pendências reme-tidas à decisão judicial. Todavia se, por alguma razão justificável, não tiver havido descrição de algum bem, po-der-se-á lavrar escritura complementar para a sobrepartilha.

O divórcio ou a separação pro-duzem seus efeitos imediatamente na data da lavratura da escritura pública, porque esta não depende de homolo-gação judicial. O traslado extraído da escritura pública é o instrumento hábil para averbação da separação ou do di-vórcio junto ao registro público do ca-samento e para o registro de imóveis, se houver.

A lei impõe a assistência do advo-gado ao ato. Assistência não é simples presença formal ao ato para sua auten-ticação, porque esta não é atribuição do advogado, mas de efetiva participação no assessoramento e na orientação do casal (art. 1º da Lei 8.906/1994), esclare-cendo as dúvidas de caráter jurídico e elaborando a minuta do acordo ou dos elementos essenciais para a lavratura da escritura pública. Considerando que o advogado é escolha calcada na con-fiança e que sua atividade não é mera-mente formal, não pode o tabelião indi-cá-lo, se os cônjuges o procurarem sem acompanhamento daquele. Na escritura constarão a qualificação do advogado e sua assinatura, sendo imprescindível o número de inscrição na OAB. Se cada cônjuge tiver contratado advogado, este, além do assessoramento, tem o dever de conciliar os interesses do seu cliente com os do outro – sem prejuízo do dever de defesa -, de modo a viabi-lizar o acordo desejado pelo casal. Se os cônjuges necessitarem de assistên-cia jurídica gratuita, por não poderem pagar advogado particular, poderão ser assistidos por defensor público, em vir-tude da garantia constitucional (art. 134 da Constituição).

Além da gratuidade da assistên-cia jurídica, a lei prevê que os pobres que assim se declararem, perante o tabelião, não pagarão os emolumentos que a este seriam devidos. A atividade notarial é serviço público delegado pelo Poder Judiciário, ainda que exer-cida em caráter privado, cuja prestação pode ser gratuita se assim dispuser a lei. A determinação legal de gratuidade democratiza a via administrativa aos casais que desejam a separação ou o divórcio, mas não podem arcar com as despesas correspondentes.

Luigi Veronesi: Fotografia do filme n. 5

ESpEcIAL - Lei 11.441

eventuais percalços para a obtenção da gratuidade aos pobres, a via ju-dicial remanesce como importante garantia a ser disponibilizada aos cidadãos.

*Advogada orientadora do Depto Juridico da USP

FRanCisCo das C. LiMa FiLho (...) Parece que a nova Lei não teve a necessária e

indispensável preocupação em evitar fraudes contra eventuais credores daqueles que pretendem se separar

ou divorciar, bem como dos herdeiros ou sucessores em caso de inventário, além de não ter mostrado maior zelo com manutenção da instituição família advinda do matrimônio. A dissolução vínculo matrimonial mediante o divór-cio e mesmo a mera separação, atra-

vés de simples escritura pública, sem nenhuma fiscalização do Ministério Público, perante o Cartório extrajudi-cial, parece atentar contra o que esta-belecido nos arts. 226 e 227 do Texto Constitucional. (...)

* Juiz do Trabalho e Professor

Uniformização de procedimen-tos - No dia 19 de janeiro último, o IBDFAM, através de seu presidente, Rodrigo da Cunha Pereira, participou de uma reunião, realizada na sede da OAB/MG, para discutir e uniformizar procedimentos notariais para a apli-cação uniforme em todo o Estado de Minas Gerais, pelos Tabelionatos de Notas, da recente Lei Federal n. 11.441, de 04 de janeiro de 2007. A Associação dos Serventuários da Jus-

Qualquer dos cônjuges pode ser representado por procurador, com poderes específicos e bastantes, por instrumento público ou particular de procuração, porque não há vedação legal e é simétrico ao ato solene do ca-samento, que permite a representação convencional do nubente. Por outro lado, há a indispensável assistência e presença de seu advogado na lavratura da escritura, como garantia da defesa de seus interesses.

Transcorrido o prazo de um ano, contado da data da escritura pública de separação administrativa, os separados poderão realizar nova escritura pública para a conversão daquela em divórcio. Tendo em conta os fins sociais da lei e do princípio da desjudicialização que a anima, não há vedação legal para que o divórcio por conversão seja consensual e mediante escritura pública, mantidas as condições acordadas na escritura de se-paração. A exigência de processo judicial para o divórcio por conversão não é ra-zoável, pois o divórcio direto consensual, que não é antecedido de qualquer ato ou providência, pode ser feito inteiramente pela via administrativa. Tampouco há impedimento legal para a escritura de divórcio por conversão da separação consensual judicial. Não há aderência da mesma natureza que impeça a con-versão da separação judicial em divórcio extrajudicial, pois não há possibilidade de alteração das condições anteriores e a facilitação para a separação e o divórcio de pessoas capazes e sem filhos meno-res ou incapazes é a finalidade da lei.

A reconciliação dos separados extra-judicialmente também pode ser formali-zada, pelas mesmas razões de facilitação, mediante escritura pública que será leva-da a averbação no registro do casamento.

* Diretor regional IBDFAM Nordeste

NOTAS

Divórcio e Separação Consensuais

tiça do Estado de Minas Gerais (SER-JUS), também presente ao encontro, disponibilizou as deliberações da reunião e um roteiro com sugestões para lavratura das escrituras. Estas informações podem ser encontradas no portal IBDFAM / Artigos.

AplicaçãodaLei- O Colégio No-tarial do Brasil – Conselho Federal – promoveu no dia 3 de fevereiro, também em Belo Horizonte/MG, um

encontro para tabeliães, registra-dores, advogados e servidores da Justiça. O objetivo do evento foi o estudo da Lei 11.441/2007, visando a uniformizar a atuação dos tabeliães de todo o Brasil para a aplicação da lei. Entre os palestrantes, o advoga-do Francisco José Cahali, diretor do IBDFAM.

Entrevista - A “nova Lei do Divórcio” vai facilitar a vida dos

interessados? O Tribunal de Justi-ça do Distrito Federal e Territórios divulgou entrevista com o desem-bargador do TJDFT, Angelo Passa-relli, que está disponível no portal IBDFAM.

Opinião – Qual a sua opinião sobre a Lei 11.441? Se quiser parti-cipar do debate, envie mensagem para o Portal IBDFAM através do e-mail: [email protected]

Boletim IBDFAM Janeiro/Fevereiro • 2007�

RELAçõES INTERDIScIpLINARES - Giselle Groeninga

Rituais de passagemações éticas de ser PaRa aÇÃo

- Humana são a capacidade em simbolizar os marcos das mu-danças como nascimento, morte, uniões e desuniões – ganhos e perdas inerentes à nossa condi-ção. Alguns desses eventos são desejados, outros, como as per-das, não. Mas fazem todos parte da vida social, submetida aos cos-tumes e leis de cada Cultura.

A continuidade do tempo cro-nológico é marcada pelo descom-passo desses eventos, em geral, acompanhados de rituais de pas-sagem – uma forma de elaboração que marca tempos de um alto va-lor simbólico. O que seria uma es-colha em simbolizar com rituais, refletiria, atualmente, a autonomia em como participar da vida social. Com relação ao casamento, o ri-tual e o ato legal seriam opções – mesmo porque o efeito jurídico existe independentemente destes. Mas, não será que os rituais relati-vos às uniões não teriam diminuí-do pela antevisão dos dramas das separações que se desenrolam no Judiciário?

Ao longo dos anos de um ca-samento, o par constrói identida-des conjuntas que requerem, com o final da relação regida pelos interesses comuns, ações para a separação. Da mesma forma que a união, a separação é um proces-so psico-sócio-econômico-judicial que evolui no tempo. Mas, no úl-timo caso, as áreas nomeadas po-dem se tornar arenas de conflitos e embates, no campo minado da reorganização de fronteiras que devem ser, novamente, e não sem alguma dor, demarcadas – árduo trabalho do casal e da família.

Um casamento implica em tratos e contratos, subjetivos e ob-jetivos, alguns conscientes, outros nem tanto, alguns conseqüentes, outros nem tanto. E, no tempo de uma separação, estes tratos e con-tratos passam a ser examinados nas entrelinhas; “cláusulas” não lidas e esquecidas são retomadas com olhares prenhes de senti-mentos, muitas vezes de ressen-timentos, para, ao longo do pro-cessamento de tantas emoções, tomarem o lugar de cortina de um palco cujos atores principais pas-sam a ser, um para o outro, coad-juvantes do cenário de um futuro incerto. Sai a cena do “enfim sós” para que ocupem espaço de um novo enredo, estranhos de uma relação outrora íntima. E a esco-lha do ritual jurídico, que preten-dia dar garantias, se não de amor, de respeito “eterno”, pode assim “pregar uma nova peça” para a qual são chamados profissionais com expertise em desmontar par-te da estrutura. Nas separações, direitos e deveres compartilhados no cotidiano clamam um redimen-

sionamento que pode, indevida-mente, transformar-se em drama, ampliando sentimentos difíceis de conter. Não raro, abdicar dos rituais do casamento é escolha forçada pela dramática antevisão de histórias de tribunais.

No processo de uma separa-ção há um desbalanceamento da economia psíquica e social, uma subjetivização das relações sociais e jurídicas, e uma jurisdicialização mental.... E, não raro, o pano de fundo do regime escolhido, mas, muitas vezes desconhecido, ga-nha, indevidamente, o lugar de protagonista principal. E, quase sem perceber, o Judiciário passou a ser “sócio oculto” de diversos outros conflitos, psíquicos, econô-micos, sociais, que transcendem a esfera própria de sua atuação.

O que se afigura como o mais difícil nas separações, é que, em tempos de crise aguda, aquilo que, até então, estava no inconsciente aflora com mais facilidade e “pega carona” no que, em meio a tantas questões subjetivas, se mostra co-mo sendo o mais objetivo – a lei. A par da herança da intervenção do Estado nas relações particu-lares e a crença, religiosa, na in-dissolubilidade do casamento, o tratamento recebido pelos pares era indiretamente o da punição e o olhar, não sem tom de desprezo, da hiposuficiência – “eles não sa-bem o que fazem”.

É certo que o juiz tem um alto valor simbólico e, no ritual da se-paração, teria um importante pa-pel. Mas será que esse não ficou deslocado em tempos de uma sociedade menos hierarquizada, patriarcal e paternalista, e a fina-lidade dessa função, deveria ser repensada? Quiçá com a diminui-ção de um trabalho que, acabou por ganhar, em muitos aspectos, um caráter burocrático, possa ha-ver o tempo para a resignificação dessa função.

Assiste-se a uma dificuldade, morosidade e hipervalorização dos processos judiciais, como herança de uma época de controle estatal das relações, em que o Judiciário passou a “sócio” dos conflitos (e mesmo, um a mais a ser contabili-zado nas sucessões), infelizmente contribuindo para sua cronificação e quebra no tempo de um proces-so que é o de elaboração da sepa-ração. Tarefa que o Judiciário não pode mais encarregar-se, seja por-que mudaram os determinantes, seja porque se ampliou a consci-ência, a par da inegável realidade, da impossibilidade em responder a algumas demandas da ordem da subjetividade, que pavimentam os tratos e contratos de encontros e desencontros.

Colaborar no sentido de de-safogar a impossibilidade de

simbolização das separações, enrijecida com o engessamento dos processos judiciais, permitir a discriminação do que pode ser cri-se passageira do que é o final da sociedade conjugal, reconhecer o sofrimento e colaborar no sentido de diminuí-lo, efetivamente res-peitar a vontade e autonomia das pessoas, e zelar pelo interesse da-queles que sim, são juridicamen-te hiposuficientes, ao que tudo indica, deve passar, nestes novos tempos, a integrar em primeiro plano a função do Judiciário. A lei 11.441/2007 é exemplo dessa re-tomada em assumir, mesmo que com aparente passividade, a ativa e simbólica função de não inter-ferência e confiança no poder de discernimento das pessoas – que mesmo que em crise aguda, e a decorrente vulnerabilidade, são não menos de boa-fé.

Decorrem da nova lei, diversas questões, dentre as quais apon-tem-se apenas três. 1) A apreensão em não transformar as separações em divórcio-express ou fast-food de um zapear pós-moderno das relações. Quiçá, pelo contrário, o reordenamento em pauta permita o resgate dos necessários rituais de união, e a dignidade dos rituais de desunião. 2) A necessidade do acompanhamento por advogados. É uma necessidade absolutamen-te legítima. Nas separações, várias são as frentes que demandam re-organização. Assim como se faz necessário um psicanalista para desvendar aspectos inconscien-tes, também se faz necessário um advogado para “nos proteger de aspectos destrutivos dele”. Reco-nhecido o valor dos profissionais, resta, ainda, a questão quanto à obrigatoriedade contemplada na lei. Não seria essa ainda um res-quício da interferência do Estado e da desconsideração da capaci-dade de pessoas que, é verdade,

Robert Sebastian Matta: Escutem viver (1941)

estão mais frágeis, mas, nem por isso, incapacitadas? Se na união os valiosos conselhos e presença de advogados, não foi obrigatória, embora necessários os esclareci-mentos que só esses profissionais podem prestar, e mesmo prevenir impasses, porque o seria na sepa-ração? 3) Cabe, também, adian-tar a preocupação com relação à maioridade dos filhos, requerida para a elegibilidade dos casais em realizar separações em cartório.

Diversas decisões contem-plam a continuidade do sustento daqueles que, em continuidade à educação, ainda estudam sem que tenham atingido ainda a indepen-dência financeira - o que, deve-se convir, é raro aos 18 anos, nos dias de hoje. Certamente a situação des-ses é diversa dos menores que re-querem maiores cuidados e atitude mais vigilante do Estado, mas é cer-to que a situação desses jovens me-rece um olhar diferenciado da lei. Cessa, com a maioridade, o dever da letra fria da lei, mas certamente não o moral e ético pelos quais ela deve, de alguma forma, colaborar com os pais em zelar.

Finalmente, aponte-se ainda a importância do concurso dos profissionais dos cartórios que passam a ocupar a cena. Um novo ritual e novas funções que implicam no assumir devidamen-te a mudança de paradigma que demanda uma postura mediadora para o quê devem ser formados os novos atores, cartorários e ad-vogados, da reorganização fami-liar. O mediador interdisciplinar é aquele letrado em uma visão mais ampla dos conflitos, para que possa , dessa forma, exercer a necessária função mediadora das relações que se modificam com as separações. Os tempos são de um novo espírito - o da mediação -, de uma nova ética das uniões e separações.

Boletim IBDFAM Janeiro/Fevereiro • 20077

cOLuNA MEDIAçãO - Águida Arruda Barbosa

Em 04 de janeiro de 2007 foi pro-mulgada a Lei 11.441, inovando sobre procedimentos de inventário, partilha, separação e divórcio, desde que na forma consensual e preenchidos os requisitos de capacidade das partes. Antes, a competência exclusiva era do Judiciário, passando, agora, a incluir a competência notarial, autorizando o cidadão a escolher uma das formas descritas em lei, para a obtenção dos atos jurídicos arrolados.

Trata-se de uma abertura elogiável, por dois motivos: oferecer escolha de procedimento ao cidadão e a redução da intervenção do Estado da vida da família. Registre-se, ademais, que há reunião de Direito de Família e Direito das Sucessões numa só norma, e isto se deve, seguramente, à tendência do reconhecimento de que os sujeitos de direito destes ramos do Direito são quase sempre os mesmos, vin-culados por relações afetivas.

O que merece destaque na nova lei é a exigência de as-sistência de advogado, a estes atos notariais, o que, à primeira vista, parece apenas o cumpri-mento de princípio regulador da advocacia. No entanto, esta questão merece maior aprofun-damento.

O papel do advogado, des-crito nesta lei, tem maiores atribuições, em comparação à outra hipótese de procedimen-to, pela via judicial. A função do advogado nestes atos notariais tem a responsabilidade profis-sional ampliada, posto que, an-tes, era dividida com o juiz que, no ambiente desconhecido das partes, exerce um papel sim-bólico importante, investido da função do Estado, no momen-to de concretizar a proteção constitucional prevista no art. 226 do CF. Ademais, cabe ao juiz, a seu critério, embora em desuso, ouvir as partes, separa-damente, e depois juntas, para que possam ter a oportunidade e manifestar alguma dúvida so-bre o ato jurídico a ser consa-grado.

O advogado tem o dever de agregar, à sua formação,

o conhecimento da mediação fami-liar interdisciplinar, capacitando-se a exercer esta responsabilidade que se acrescenta à sua função. Como bem se conhece, a sepa-ração só é consen-sual no nome, pois, qualquer ruptura do casal conjugal é acompanhada, necessariamente, de frustração e so-frimento. A diferença da separação li-tigiosa é que as partes estão mais frá-geis e impotentes para decidir sobre a transformação da família, buscando o Judiciário para decidir por eles.

O advogado, com a função me-diadora, terá ferramentas adequadas, para promover a escuta do cliente, ou das partes, se advogado único, ofere-cendo a oportunidade de restabele-cimento de uma comunicação apro-

priada, capacitando os separandos para assumirem a responsabilidade pelas escolhas passadas, em lugar de

atribuir culpa pela separação conju-gal. Assim, ao che-garem ao Tabelião, estarão fortaleci-dos e aptos para

um ato jurídico com reduzida inter-venção do Estado.

Em relação aos inventários e par-tilhas amigáveis aplicam-se os mes-mos fundamentos, pois tratam-se de sujeitos de direito vinculados por relação de afeto. Muitas vezes, nesta passagem em que a morte de um fa-miliar acarreta mudança de papéis e funções de todo o sistema, é a oportu-nidade de se estabelecer uma comu-nicação mais profunda entre os her-deiros, principalmente entre irmãos,

que trazem para a partilha as mágoas dos vínculos afetivos pouco cuidados. Eis, portanto, a necessidade do conhecimen-to da mediação na construção dos acordos, que podem ser veículos do resgate de uma boa relação familiar.

Ressalte-se, ainda, que a função mediadora deverá ser obrigatória também para os no-tários. Afinal estes servidores da justiça recebem uma atribui-ção do Estado e, seguramente, os notários não têm formação especializada para lidar com conflitos de família. Impõe-se, assim, a exigência de uma for-mação complementar, pela me-diação familiar interdisciplinar, para que tenham noções so-bre a importância do ato e das conseqüências de uma atuação apequenada pelo desconheci-mento do conflito humano e do sofrimento dos cidadãos que comparecem para a escritura pública.

O aprimoramento da nova lei deve percorrer este caminho. A especialização do advogado e do notário, com a atribuição de ferramentas adequadas à nobreza da função, garantirão à norma um verdadeiro instru-mento de cidadania.

Cidadania e qualificação

Marc Chagall: O violinista verde (1923)

“a função do advogado nestes atos notariais tem a responsabilidade

profissional ampliada”

Boletim IBDFAM Janeiro/Fevereiro • 2007�

vIOLêNcIA DOMéSTIcA

Lourival serejo *

O artigo 226, § 8º, da Cons-tituição Federal erige como dever do Estado a criação de mecanismos para coibir a vio-lência no âmbito das famílias e garantir a integridade dos seus membros.

A violência doméstica é uma prática que se encontra em todas as classes sociais e atinge os integrantes mais frá-geis das famílias: as crianças e as mulheres.

Nas varas de família che-gam notícias desses desman-dos quando lidamos com se-parações litigiosas, guardas de filhos e cautelares de separa-ção de corpos, em seu sentido amplo.

Com as petições iniciais e em audiências tomamos conhe-cimento de casos de violências domésticas, que se expressam, com mais freqüência, em lesões corporais leves e graves. Mas a violência silenciosa, a violência psicológica, é mais freqüente e se prolonga por mais tempo.

A Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, batizada como Lei Maria da Penha foi promul-gada com o objetivo de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. O art. 4º da referida lei traça a linha her-menêutica para sua aplicação ao recomendar: “Na interpre-tação desta Lei, serão conside-rados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mu-lheres em situação de violência doméstica e familiar.”

Para evitar a continuidade da violência doméstica, o meio processual de que dispomos é o afastamento temporário de um dos cônjuges da morada do casal (art.888, VI, do CPC). Trata-se de uma medida de forte repercussão e, por isso,

requer a devida cautela, antes de ser deferida. Algumas mu-lheres vitimiza-das costumam, também, pedir alvarás para se afastarem da residência do casal a fim de não se configu-rar abandono do lar, o que eventualmen-te poderia ser alegado pelo agressor.

Para refor-çar o preceito do art. 888,VI, do CPC, veio, agora, a Lei nº 11.340/2006 que dispõe:

Art. 22. Constatada a prática de vio-lência domés-tica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou sepa-radamente, as seguintes me-didas protetivas de urgência, entre outras:

[...]II – afastamento do lar, do-

micílio ou local de convivência com a ofendida;

[...]V – prestação de alimentos

provisionais ou provisórios.Logo, em seguida, ainda

nesse mesmo viés:Art. 23. Poderá o juiz, quan-

do necessário, sem prejuízo de outras medidas:

[...]II – determinar a recondu-

ção da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo do-micílio, após afastamento do agressor.

Temos, por-tanto, novo pon-to de apoio, em nosso ordena-mento jurídico, para reprimir a violência do-méstica. A me-dida de afasta-mento do agres-sor torna-se, a partir de agora, mais efetiva e com maior am-paro legal, pois o espírito da nova lei não só reforça a medida cautelar do CPC, destinada à pro-teção da mulher ofendida, como protege “qual-quer relação de afeto,” indepen-dentemente da orientação se-xual das partes (art. 5º, III, e §

único, da Lei 11.340/2006). Evi-dentemente que nesse conceito do afeto estão albergadas as uniões estáveis e as homoafe-tivas.

Outra inovação digna de elogios é a possibilidade que a presente lei confere ao juiz de fixação de alimentos provisio-nais, diante do caso concreto. É uma conseqüência imediata do decreto de afastamento do cônjuge agressor, constituin-do outra possibilidade legal de arbitramento de alimentos ex officio, a exemplo da Lei nº 8.560/92.

Com mais seriedade ainda, a Lei Maria da Penha considera a violência doméstica e fami-liar contra a mulher como uma forma de violação dos direitos humanos. Passou-se, assim, do âmbito meramente ordinário para a dimensão constitucional

do problema, o que, decerto, contribuirá para a mais pronta eficácia das medidas judiciais tomadas contra a prática igno-miniosa de violência contra a mulher.

Quanto ao aspecto proces-sual, destaca-se a questão da competência.

A lei em análise criou um juizado especializado com atri-buições para conhecer e julgar as causas envolvendo violência contra a mulher. Enquanto não for instalado tal juizado, essa competência deve ser atribuída a uma vara criminal, que poderá, também, decidir sobre questões cíveis, como a fixação de alimen-tos provisionais. E a execução desses alimentos? Não seria melhor manter a distinção das competências, deslocando para o juízo especializado apenas os casos de violência consumada?

Seguindo-se a nova pre-visão legal, o juízo de família, ao receber um pedido cautelar de afastamento temporário da morada do casal, por motivo de violência, deverá encaminhá-lo à vara especializada. Entre-tanto, por uma interpretação sistemática, entendo que nada impede ao juízo de família uti-lizar-se das prescrições da Lei Maria da Penha para reforçar suas medidas em prol da inte-gridade da mulher, em pedidos de separação de corpos, em que haja ameaça ou consuma-ção de violência. Com o tempo, a jurisprudência deve fixar es-ses limites.

O que importa, afinal, é constatar que o ordenamento jurídico brasileiro lucrou com a promulgação desse novo diplo-ma legal.

* Juiz da 3ª Vara da Família da Comarca de São Luis (MA) e au-tor do livro Direito Constitucional da Família.

A Lei Maria da Penha

e suas repercussões nas varas de família

A Lei Maria da Penha, que entrou em vigor no dia 7 de agosto do ano passado, prevê o atendimento diferenciado para as vítimas de violência domés-tica e a coibição dos crimes des-ta natureza. O Estado do Paraná já se articulou para que a nova Lei cumpra suas funções. No último dia 22 de janeiro, foi as-

NOTA

sinado o ato público efetivando a criação do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Crianças e adolescentes vítimas de violência familiar tam-bém terão um juizado à parte, de Ações Criminais contra Crianças e Adolescentes, em cumprimen-to aos dispositivos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Segundo a desembarga-dorado TJPR Rosana Fachin, o objetivo não é apenas o de pu-nição, mas, principalmente, de prevenção. “Vamos disponibili-zar uma equipe multidisciplinar, reforçada especialmente por psicólogos, fundamentais nesse período delicado em que a pes-soa se recupera da violência so-

frida”, completa a desembarga-dora. Para tanto, o Tribunal de Justiça já firmou um convênio com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), para auxílio no tratamento psicológico. Com a criação dos juizados, a 13.ª Vara Criminal vai julgar crimes liga-dos a conflitos familiares. Fonte: Paraná On-line, em 20/01/2007.

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Boletim IBDFAM Janeiro/Fevereiro • 2007�

ARTIgO

José Carlos teixeira giorgis *

A literatura jurídica costuma afirmar a existência de três espécies de paternida-de: a biológica que se origina de congres-so sexual entre os pais e que redunda na filiação consangüínea, baseada no matri-mônio, na união estável, ou nas relações entretidas por pessoas impedidas de ca-sar; a jurídica, que decorre da presunção resultante da convivência com a mãe; e socioafetiva, que se constitui em ato de opção fundado no afeto, e que teve ori-gem jurisprudencial na denominada ado-ção à brasileira.

Na paternidade sociológica releva-se a posse do estado de filho, concebida como a exteriorização da condição de descendente reconhecida pela socieda-de; e que a doutrina romana entendia sedimentar-se no nome, no tratamento público e na fama, todos apontando que a pessoa pertence a um núcleo familiar; e que não representa menoscabo à bio-logização, mas travessia para novos pa-radigmas derivados da instituição das entidades familiares.

Prevalece nela a visibilidade das re-lações, mostrando vínculo psicológico e social entre o filho e o suposto pai, um momento permanente de comportamen-to afetuoso recíproco, com tal densidade

que torna indiscutível a filiação e a pater-nidade.

Costuma-se até sublinhar que a pos-se do estado de filho observa o princípio da aparência, oriunda do exercício das faculdades inerentes à linhagem, susten-tada pela convicção de publicidade.

O fato é bastante comum, bastando referir os filhos de criação, onde, mesmo ausente algum elo biológico ou jurídico, os pais abrigam, criam, sustentam e edu-cam criança ou adolescente, destinando-lhes carinho e amor, mesmo sem buscar a adoção.

Sabe-se que a paternidade biológica e jurídica é alcançada através da ação de investigação, em que, além de outra prova, a pretensão é pavimentada por exame genético entre os interessados, suficientes para alicerçar a declaração de filiação; enquanto isso, o reconhecimen-to da paternidade socioafetiva ainda não logrou obter uma demanda específica para atestá-la, embora precedente (TJRS, APC 70008795775).

Contudo, é absolutamente razoável e sustentável o ajuizamento de ação decla-ratória de paternidade socioafetiva, com amplitude contraditória, que mesmo des-provida de prova técnica, seja apta em obter veredicto que afirme a filiação com todas suas conseqüências, como registro civil, direito a alimentos, sucessão e ou-tras garantias.

O que se fará em respeito aos prin-cípios constitucionais da dignidade da pessoa, solidariedade humana e maior interesse da criança e do adolescente.

Admitir-se a impossibilidade jurídica do pedido seria rejeitar o acesso à justiça e desprezar a igualdade que os tribunais reconhecem aos diversos tipos de pater-nidade.

(*) Desembargador [email protected]

A investigação da paternidade socioafetiva

Giacomo Balla: Compenetração iridescente (1914)

Projeto de Lei que dispõe sobre a igualdade de direitos sucessó-rios entre cônjuges e companheiros tramita no Congresso Nacional com acompanhamento do IBDFAM.

O PL em questão, de N. 4.944, de 2005, foi sugerido pelo IBDFAM e apresentado em março daquele ano pelo deputado federal Antônio Carlos Biscaia. Em junho de 2006, foi apensado o PL 5.538/2005, que dá nova redação ao art. 1.831 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para assegurar ao companheiro sobrevivente o direito real de habitação sobre o imóvel destinado à residência da família. No último dia 20 de dezembro de 2006, o deputado Guilherme Menezes (PT/BA), relator da Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) ofereceu parecer favorável ao PL 4.944, de 2005, (Apenso o PL 5.538, de 2005).

A fim de oferecer subsídios ao legislador e de imprimir correções necessárias ao Projeto de Lei, em novembro de 2006, o IBDFAM, atra-vés de sua Comissão Legislativa, coordenada pelo desembargador do TJRS, Luiz Felipe Brasil Santos (também presidente do IBDFAM-RS), apresentou sugestões de mudanças ao relator do Projeto de Lei 4.944, DE 2005. Em linhas gerais, as alterações propostas pelo IBDFAM e acolhidas pelo relator, deputado federal Guilherme de Menezes, es-tabelecem:

1 - O art. 1.790 será revogado; 2 - o tratamento sucessório dos côn-juges e dos companheiros será idêntico; 3 - fica restabelecido o direito real de habitação para os companheiros; 4 - é estendido esse mesmo direito aos descendentes incapazes; 5 - herdeiros necessários perma-necem apenas os ascendentes e descendentes; 6 - o direito sucessório dos colaterais fica restrito ao terceiro grau; 7 - simplifica-se o sistema de

NOTA

Avanços no Congresso Nacionalconcorrência dos cônjuges ou companheiros com descendentes, que expressamente se dará apenas sobre os bens nos quais não haja direito à meação, afastando-se a confusa redação atual do Inc. I do art. 1.829; 8 - respeita-se a autonomia de vontade de quem, desejando casar pelo regime da separação convencional de bens, não quer ter o côn-juge como concorrente de seus descendentes; 9 - mantém-se do direi-to sucessório apenas se o casal ainda convive ao tempo da abertura da sucessão, afastando a atual redação do art. 1.830 e a “culpa mor-tuária” que ali é consagrada; 10 - elimina-se o insolúvel problema da concorrência híbrida (art. 1.832).

Segundo consta do relatório de Guilherme de Menezes, “as re-formulações foram possíveis devido à participação propositiva de membros do Instituto Brasileiro de Direito da Família (IBDFAM), que tiveram a iniciativa da presente proposta de lei junto ao dep. Antô-nio Carlos Biscaia, da consultoria técnica da Câmara dos Deputa-dos e da consultoria técnica do Núcleo de Estudos da Liderança do Partido dos Trabalhadores, contribuições que constam nos autos do processo”.

Em atendimento ao art. 105 do Regimento Interno da Câmara, o PL 4944 foi arquivado em 31.12.2006, podendo ser desarquivado me-diante requerimento do Autor, ou Autores, dentro dos primeiros 180 dias da primeira sessão legislativa ordinária da legislatura subseqüen-te, retomando a tramitação desde o estágio em que se encontrava. O IBDFAM vai trabalhar pelo desarquivamento e pela tramitação do PL.

Para saber mais, consulte o portal da câmara dos Deputados: www.camara.gov.br

Boletim IBDFAM Janeiro/Fevereiro • 200710

AgENDA E NOTAS

Lançamento

RepensandooDireitodeFamília,deRolfMadaleno,EditoradoAdvogado,2007 – É a quarta coletânea que o autor lança, reunindo diferentes artigos escritos ao longo dos anos sobre Direito de Famí-lia e Direito das Sucessões. A obra propõe um rico diálogo entre a experiência profissional e o aprendizado acadêmico.

VI Congresso Brasileiro deDireito de Família – Família eSolidariedade – Será realizado pelo IBDFAM no período de 14 a 17 de novembro de 2007, no Centro de Exposições Mi-nas Centro, em Belo Horizonte (MG). Participarão do evento, na qualidade de palestrantes, 34 profissionais e estudiosos de todas as regiões do país. Ao longo de todo o ano serão divulgadas informações sobre os temas, palestrantes e inscri-ções. Acompanhe o boletim do IBDFAM, o boletim virtual, no portal www.ibdfam.org.br.

Agenda

JusNews – Em 2006 foi lançado o site JusNews, um periódico jurídico voltado para a área civil, que também fun-ciona como ponto de encontro entre profissionais e universi-tários. O site, lançado em 2006, reúne notícias, artigos exclu-sivos, glossário com termos e definições, agenda e notícias dirigidas ao mundo acadêmi-co. Em 2007 o usuário também contará com uma livraria virtu-al própria, através da qual será possível adquirir livros com segurança e comodidade. O JusNews está aberto à publica-ção de artigos, tanto de profis-sionais quanto de acadêmicos, bastando enviar e-mail através do site www.jusnews.com.br

Aprovada união civil entrepessoasdomesmosexonaCi-dadedoMéxico – A Cidade do México aprovou as uniões civis entre homossexuais no último dia 09/11/2006, legalizando par-cerias gays pela primeira vez no segundo maior país católico do mundo. As medidas são ba-seadas no código civil francês e dão direito de propriedade, pensão, herança e direitos fa-

Notas

miliares. No entanto, não per-mitem casamento ou adoção de crianças. As autoridades da igreja católica no México conde-naram a união gay. Quase 90% dos 107 milhões de mexicanos são católicos e grupos evangé-licos conservadores estão ga-nhando peso no país. Apenas o Brasil tem mais católicos que o México. Fonte: Portal IBDFAM (07/12/2006)

Revista Leis&Letras – A última edição apresenta uma reportagem especial sobre a Lei Maria da Penha, com uma entrevista exclusiva com a mu-lher cuja história deu nome à Lei, a íntegra da Lei, além de um artigo da vice-presidente do IBDFAM, Maria Berenice Dias, entrevista com diretor de rela-ções internacionais do IBDFAM, Paulo Lins e Silva e a cobertura fotográfica do I Congresso Inter-nacional do IBDFAM, realizado em Brasília, em novembro de 2006. Para saber mais, ligue (85) 3264.0012.

Informações sobre o de-sempenho escolar de filhosparapaisseparados – A Comis-

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CursodeEspecializaçãoemDireito de Família e Sucessão – O curso, que será realizado às segundas e quartas, das 19h às 22h30, será iniciado no dia 21 de março. No conteúdo, Direito de família; Direito de família e sis-tema; Direito de família e socie-dade; e Direito das sucessões. A coordenação é de Giselda Maria Fernandes Novaes Hiro-naka ( Doutora e Livre-Docente pela USP e Professora Associa-da do Departamento de Direito Civil da Faculdade de Direito da USP) e Flávio Tartuce (Advo-gado e Mestre em Direito Civil Comparado e Especialista em Direito Contratual pela PUC/SP). Será realizado na EPD - Escola Paulista de Direito Informações e Inscrições: (11) 3277-2822 [email protected] - site: www.epdireito.com.br

ODireitodoSéculoXXI – O congresso, que será promovido nos dias 29, 30 e 31 de março,

discutirá os temas: Direito Civil e Penal; e Direito Processual Civil e Penal. A coordenação é de Gustavo Tepedino (RJ); René Ariel Dotti (PR) e Ada Pel-legrini Grinover. Organização: Cenap - Centro de Estudos, Pesquisa e Atualização em Di-reito. Informações e inscrições: (21) 2533-9710 ou [email protected]. Site: www.cepad.com.br

CursodeEspecializaçãoemDireitodeFamília – Começa no dia 13 de abril e será realizado às sextas, das 18h30 às 22h40, e aos sábados, das 8h às 12h10. Tem como abordagem o Cons-titucionalismo Contemporâneo. A coordenação é de Mônica Clarissa Hering Leal e Theobal-do Spengler Neto.Local: UNISC - Secretaria de Pós-Graduação e Extensão- sala110. Av. Inde-pendência, 2293 - CEP 96815-900 - Santa Cruz do Sul (RS).Informações e Inscrições: (51)

3717-7343 - Fax: (51) 3717-7311 ou [email protected]. Site: www.unisc.br

Curso de Pós-Graduaçãolato sensu. Especialização emDireitodeFamília – Promovido pela PUC - RS, é dirigida a ba-charéis em Direito (juízes, advo-gados, membros do Ministério Público e docentes), com aulas às 6as feiras das 14 às 17:30 e das 19 às 22:45 e aos sábados, das 8:30 às 12h. O corpo docen-te é formado por: Emílio Boe-ckel, Mauro Fitermann, Délcia Enricone, Rodrigo Ghiringheli de Azevedo, Maria Alice Costa Hofmeister, Leanri Carrasco, Samantha Dabugras Sá, Maria Regina Fay de Azambuja, Ma-ria Isabel Pereira da Costa, Rolf Madaleno e Ana Luíza Carvalho Ferreira. As inscrições vão até início de março de 2007. In-formações no site da PUC/RS www.pucrrs.br e contatos pelo e-mail: [email protected]

são de Educação (CE) aprovou em 05/12/2006 parecer favo-rável do senador Juvêncio da Fonseca (PSDB-MS) ao projeto que obriga as instituições de ensino a enviarem informações escolares a pais ou responsá-veis que não convivam com os estudantes. As informações di-zem respeito à freqüência e ao rendimento dos alunos e sobre a execução da proposta peda-gógica da escola. O projeto tem por objetivo garantir a pais se-parados o direito de acesso às informações necessárias para continuarem exercendo seu papel como educadores. O pro-jeto altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e foi aprovado por unanimida-de na CE. Mais informações, veja site da Câmara Federal - www.camara.gov.br. Fonte: Se-nado - Data: 07/12/2006

Nova Lei modifica Códigode Processo Civil – O Plenário do Senado aprovou, no dia 28 de novembro de 2006 o Pro-jeto de Lei da Câmara (PLC nº 51/06) e o presidente da Repú-blica Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, em 6 de dezembro de 2006, a Lei 11.382, que al-tera dispositivos do Código de Processo Civil (Lei nº 5.869/73, de 11 de janeiro de 1973) rela-tivos ao processo de execução e outros assuntos. Veja, no portal IBDFAM, a íntegra da LEI No 11.382 - www.ibdfam.org.br

Boletim IBDFAM Janeiro/Fevereiro • 200711

STJ - DIREITO PREVIDEN-CIÁRIO - PENSÃO POR MORTE - RELACIONAMENTO HOMO-AFETIVO - POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO - MINISTÉRIO PÚBLICO - PARTE LEGÍTIMA.

1 - A teor do disposto no art. 127 da Constituição Federal, “O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incum-bindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democráti-co de direito e dos interesses sociais e individuais indispo-níveis.” In casu, ocorre reivin-dicação de pessoa, em prol de tratamento igualitário quanto a direitos fundamentais, o que in-duz à legitimidade do Ministério Público, para intervir no proces-so, como o fez. 2 - No tocante à violação ao art. 535 do Código de Processo Civil, uma vez ad-mitida a intervenção ministerial, quadra assinalar que o acórdão embargado não possui vício algum a ser sanado por meio de embargos de declaração; os embargos interpostos, em ver-dade, sutilmente se aprestam a rediscutir questões apreciadas no v. acórdão; não cabendo, todavia, redecidir, nessa trilha, quando é da índole do recur-so apenas reexprimir, no dizer peculiar de Pontes de Miranda, que a jurisprudência consagra, arredando, sistematicamente, embargos declaratórios, com feição, mesmo dissimulada de infringentes. 3 - A pensão por morte é: “o benefício previ-denciário devido ao conjunto dos dependentes do segurado falecido - a chamada família previdenciária - no exercício de sua atividade ou não (neste caso, desde que mantida a qua-lidade de segurado), ou, ainda, quando ele já se encontrava em percepção de aposentadoria. O benefício é uma prestação pre-videnciária continuada, de cará-ter substitutivo, destinado a su-prir, ou pelo menos, a minimizar a falta daqueles que proviam as necessidades econômicas dos dependentes.” (Daniel Macha-do da Rocha. Comentários à lei de benefícios da previdência social, Daniel Machado da Ro-cha, José Paulo Baltazar Júnior, 4ª ed., Porto Alegre, Livraria do Advogado Editora: Esmafe, 2004, p. 251). 4 - Em que pe-sem as alegações do recorrente quanto à violação do art. 226, § 3º, da Constituição Federal, con-vém mencionar que a ofensa a artigo da Constituição Federal não pode ser analisada por este Sodalício, na medida em que tal mister é atribuição exclusiva do Pretório Excelso. Somente por

amor ao debate, porém, de tal preceito não depende, obriga-toriamente, o desate da lide, eis que não diz respeito ao âmbito previdenciário, inserindo-se no Capítulo “Da Família”. Em face dessa visualização, a aplicação do direito à espécie se fará à luz de diversos preceitos constitu-cionais, não apenas do art. 226, § 3º, da Constituição Federal, levando a que, em seguida, se possa aplicar o direito ao caso em análise. 5 - Diante do § 3º, do art. 16, da Lei nº 8.213/1991, verifica-se que o que o legisla-dor pretendeu foi, em verdade, ali gizar o conceito de entidade familiar, a partir do modelo da união estável, com vista ao di-reito previdenci-ário, sem exclu-são, porém, da relação homo-afetiva. 6 - Por ser a pensão por morte um bene-fício previden-ciário, que visa suprir as neces-sidades básicas dos dependentes do segurado, no sentido de lhes assegurar a subsistência, há que interpretar os respectivos preceitos, partin-do da própria Carta Política de 1988 que, assim estabeleceu, em comando específico: “Art. 201. Os planos de previdência social, mediante contribuição, atenderão, nos termos da lei, a: [...] V - pensão por morte de segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, obedecido o dis-posto no § 2º.” 7 - Não houve, pois, de parte do constituinte, exclusão dos relacionamen-tos homoafetivos, com vista à produção de efeitos no campo do direito previdenciário, con-figurando-se mera lacuna, que deverá ser preenchida a partir de outras fontes do direito. 8 - Outrossim, o próprio INSS, tratando da matéria, regulou, através da Instrução Normativa nº 25, de 7/6/2000, os procedi-mentos com vista à concessão de benefício ao companheiro ou companheira homossexual, para atender a determinação judicial expedida pela Juíza Simone Barbasin Fortes, da Terceira Vara Previdenciária de Porto Alegre, ao deferir medida liminar na Ação Civil Pública nº 2000.71.00.009347-0, com eficácia erga omnes. Mais do que razoável, pois, estender-se tal orientação, para alcançar situações idênticas, merecedo-ras do mesmo tratamento. 9 - Recurso Especial não provido.

(STJ - 6ª T.; REsp nº 395.904-RS (2001/0189742-2); Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa; j. 13/12/2005; v.u.)

TJRS - APELAÇÃO CÍVEL. NEGATÓRIA DE PATERNIDADE C/C RETIFICAÇÃO DE REGIS-TRO. VERDADE BIOLÓGICA QUE PREVALECE SOBRE A VERDADE REGISTRAL. INE-XISTÊNCIA DE RELAÇÃO SO-CIOAFETIVA. 1. O estado de filiação é a qualificação jurídica da relação de parentesco entre pai e filho que estabelece um complexo de direitos e deveres reciprocamente considerados.

2. Constitui-se em decorrência da lei (artigos 1.593, 1.596 e 1.597 do Códi-go Civil, e 227 da Constituição Federal), ou em razão da posse do estado de filho advinda da convivência familiar. 3. Se o autor registrou o réu como fi-

lho, sem saber que não era o pai biológico, e não manteve qualquer relação socioafetiva com ele, a ação negatória de paternidade é medida que se impõe, pois, neste caso, a ver-dade biológica deve prevalecer sobre a verdade registral. Ape-lação Cível Nº 70016410912. Acordam os Desembargadores integrantes da Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento ao recurso. J. em 5 de outubro de 2006. Relator Claudir Fidélis Faccenda.

TJRS - INDENIZAÇÃO POR SERVIÇOS PRESTADOS. CON-COMITÂNCIA DE RELACIONA-MENTOS. Já afastada a existên-cia de união estável quando do julgamento da demanda alimen-

tar, em razão do vínculo conju-gal paralelo mantido pelo varão, outra alternativa não há senão a de ressuscitar o instituto da indenização por serviços presta-dos, a fim de evitar a flagrante injustiça de deixar desamparada a mulher que se dedicou exclu-sivamente ao companheiro du-rante 19 anos de sua vida. Por maioria, negado provimento ao apelo de H. F. C. e provido em parte o apelo de E. T. G. APE-LAÇÃO CÍVEL Nº 70016516932. Sétima Câmara Cível. J. em 08 de novembro de 2006. Relatora Maria Berenice Dias.

TJRS - MEDIDA DE PRO-TEÇÃO. CRIANÇA INDÍGENA ABANDONADA. INTERESSE DA FUNAI. COMPETÊNCIA DA JUS-TIÇA ESTADUAL. 1. Tratando-se de uma criança abandonada pela família biológica, é cabível a adoção das providências proteti-vas pretendidas pelo Ministério Público. 2. Mesmo que a criança seja silvícola, deve o processo tramitar perante a Justiça Esta-dual, especializada nas questões da infância e da juventude, ten-do incidência da norma do art. 227 da CFB, com a finalidade de assegurar a proteção inte-gral à criança, prevista no ECA. 3. Precisamente por se tratar de criança indígena, a FUNAI tem legitimidade para figurar no pro-cesso, exercendo uma curatela especial, pois a sua função legal é a de prestar assistência aos silvícolas, a fim de que, tanto quanto possível, possa a criança ser mantida dentro do seu grupo étnico, respeitando-se sua orga-nização social, costumes, cren-ças e tradições. Recurso provido em parte. Fundação Nacional do Índio - FUNAI (Agravante); Ministério Público (Agravado). Agravo de Instrumento. Nº 70 016 832 586. Sétima Câmara Cível. J. em 29 de novembro de 2006. Relator Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves.

JuRISpRuDêNcIA

CorteEspecialdoSTJaprovanovasúmulasobrefiançaO entendimento do Superior Tribunal de Justiça de que a prestação

de fiança pelo marido sem a assinatura da esposa invalida a garantia por inteiro foi sumulada pela Corte Especial em sessão extraordinária, no úl-timo dia 23 de novembro de 2006. A nova súmula, de número 332, tem a seguinte redação: «A anulação de fiança prestada sem outorga uxória implica a ineficácia total da garantia.»A tese é pacificada no sentido de que a fiança sem a outorga uxória (da mulher) do outro cônjuge, em contrato de locação, é nula de pleno direito (Código Civil, art. 235, III), invalidando, inclusive, a penhora efetivada sobre a meação marital.

A edição da súmula consolida jurisprudência adotada em diversos Jul-gamentos no STJ. Entre eles, o Resp 860.795, relatado pela ministra Laurita Vaz. Por unanimidade, a Quinta Turma considerou que um dos cônjuges não pode ser fiador em contrato de locação sem a autorização do outro, sob pena de nulidade da obrigação do casal. Também são precedentes os recursos especiais 525.765, 94.094, 111.877 e outros.

NOTA

Paolo Scheggi: Intersuperfície (1963)

Boletim IBDFAM Janeiro/Fevereiro • 200712

REvISTA BRASILEIRA DE DIREITO DE FAMÍLIA

Sede Nacional do IBDFAM: Rua Tenente Brito Melo, 122� • Loja 0�Barro Preto • Belo Horizonte • MG • CEP �01�0-070 • Tel/fax: (�1) ���7.1���E-mail: [email protected] • Portal: www.ibdfam.org.br I M P R E S S O

A Função Social da FamíliaA Função Social da Famí-

lia é o Assunto Especial da edição 39 da Revista Brasilei-ra de Direito de Família, com duas diferentes e complemen-tares interpretações.

Uma, de Leonardo Barreto Moreira Alves, que apresenta o reconhecimento legal do conceito moderno de família através da Constituição Fede-ral e da Lei Maria da Penha. A outra doutrina sobre a função social da família, de Guilherme Calmon Nogueira da Gama e Leandro dos Santos Guerra, também se fundamenta na Constituição Federal, “cujos

valores sedimentaram a nova face do Direito de Família”.

A edição traz ainda artigo de Maria Berenice Dias sobre “Ali-mentos: salário mínimo versus IGP-M”, em contraponto aos artigos publicados na edição 38 em que propuseram mudança de cálculo de pensão alimentí-cia. A concorrência do cônjuge com os descendentes na suces-são legítima é o tema da dou-trina de Fabrício Castagna. E o reconhecimento das uniões ho-mossexuais enquanto entida-des familiares é abordado por Paula Pinhal de Carlos. Sobre a impossibilidade de descons-

A Revista Brasileira de Di-reito de Família é uma publica-ção bimestral, produzida pelo IBDFAM e IOB Thonsom. Reúne artigos inéditos, doutrina, juris-prudência e comentários.

O IBDFAM oferece, aos seus associados, desconto es-pecialde30% na assinatura da revista. A solicitação deve ser feita através do Portal IBDFAM, bastando clicar no local indi-

cado como Desconto Especial. Informações podem ser obtidas pelo tel (031) 3337-1896 (sede do IBDFAM Nacional).

RenovaçãodasAssinaturas: Sócios e não-sócios do IBDFAM podem renovar a assinatura pelo tel 0800 7838 88.

Doutrinas: Os interessados em participar da revista devem consultar os procedimentos para publicação, no portal IBDFAM.

tituição da filiação socioafetiva, fundamenta Roberto Paulino de Albuquerque Júnior.

E em Jurisprudência Co-mentada, Ana Carla Harma-

tiuk Matos analisa acórdão do TJMG, considerando-se a possibilidade jurídica de pre-tensão de reconhecimento de união estável homoafetiva.