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Queridos associados da SBNp, O ano de 2012 foi caracterizado por um intenso investi- mento na área interdisciplinar da Neuropsicologia. O au- mento na quantidade de representações e eventos regio- nais, a participação ativa no debate sobre políticas públi- cas, a aproximação de outras entidades relacionadas à área são apenas alguns dos exemplos. O ano de 2013 promete! O calendário oficial da SBNp estará repleto de atividades científicas e em nossa agenda não faltará espa- ço para continuarmos o debate saudável sobre nossa prá- tica profissional e suas repercussões para a sociedade. Agradecemos a todos que estiveram conosco e dese- jamo- lhes um feliz natal e um ano de 2013 repleto de reali- zações. São os votos da equipe editorial da SBNp! Editorial BOLETIM SBNp Gestão 2011- 2013 - Edição Dezembro 2012 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br Nesta edição: Texto Inicial O preço da Pobreza Entrevista do mês Profº Dr Benito Pereira Damasceno Relato de pesquisa Estudo sobre depressão reati- va e depressão secundária em pacientes após acidente vas- cular encefálico Laboratório do Mês Laboratório de Pesquisa em Dificuldades, Distúrbios de Aprendizagem e Transtornos da Atenção (DISAPRE/ UNICAMP) Notícia I Simpósio de Neurociências Aplicadas a Saúde e Educação

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Queridos associados da SBNp,

O ano de 2012 foi caracterizado por um intenso investi-

mento na área interdisciplinar da Neuropsicologia. O au-

mento na quantidade de representações e eventos regio-

nais, a participação ativa no debate sobre políticas públi-

cas, a aproximação de outras entidades relacionadas à

área são apenas alguns dos exemplos. O ano de 2013

promete! O calendário oficial da SBNp estará repleto de

atividades científicas e em nossa agenda não faltará espa-

ço para continuarmos o debate saudável sobre nossa prá-

tica profissional e suas repercussões para a sociedade.

Agradecemos a todos que estiveram conosco e dese-

jamo- lhes um feliz natal e um ano de 2013 repleto de reali-

zações.

São os votos da equipe editorial da SBNp!

Editorial

BOLETIM SBNp

Gestão 2011- 2013 - Edição Dezembro 2012

Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br

Nesta edição:

Texto Inicial

O preço da Pobreza

Entrevista do mês

Profº Dr Benito Pereira Damasceno

Relato de pesquisa

Estudo sobre depressão reati-va e depressão secundária em pacientes após acidente vas-

cular encefálico

Laboratório do Mês

Laboratório de Pesquisa em Dificuldades, Distúrbios de

Aprendizagem e Transtornos da Atenção (DISAPRE/ UNICAMP)

Notícia

I Simpósio de Neurociências Aplicadas a Saúde e Educação

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O preço da pobreza

Por: Isabela Sallum Guimarães

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Discutir a desigualdade

social é lugar comum no cotidia-no dos brasileiros. Arguições so-bre a estrutura de classes sociais e seu mantenimento passam por argumentos sociológicos, políti-cos e econômicos e a busca por soluções muitas vezes se prende a pontos de vista ideológicos.

Para além de discussões ide-alistas, as neurociências e ciên-cias cognitivas buscam compre-ender como se dá a interação entre nível socioeconômico e o desenvolvimento neurocognitivo. O estudo de como essa interação ocorre pode nos ajudar a pensar em soluções complementares e mais tangíveis para a questão da desigualdade social.

Nível socioeconômico, saúde e cognição

Em termos teóricos, o nível socioeconômico (NSE) pode ser definido como uma medida geral de capital financeiro (bens mate-riais, renda), humano (bens não materiais, como nível educacio-nal) e social (bens alcançados através da rede de contatos soci-ais) de um indivíduo (Bradley & Corwyn, 2002). Na prática, este construto se associa com diferen-tes aspectos como tipo de dinâ-mica familiar, tipo de cuidado parental, qualidade de estimula-ção ambiental, localidade da mo-radia e nível de exposição à vio-lência e toxinas, tornando-se uma medida muito mais comple-xa de ser estudada (Hackman, Farah & Meaney, 2010).

O nível socioeconômico tem sido fortemente relacionado com habilidades de cognição geral e

desempenho acadêmico (Bradley & Corwyn, 2002), além de influenciar desde aspectos da saúde geral (Adler et al., 1994), à aspectos da saúde mental, sendo que indiví-duos com nível social mais baixo tendem a apresentar maiores taxas de transtornos psiquiátricos (Shanahan, Copeland, Costello & Angold, 2008).

Para além da associação com construtos mais gerais, os estudos sobre nível socioeconômico têm buscado compreender sua influên-cia sobre diferentes sistemas neu-rocognitivos. Os diferentes circuitos cerebrais que subjazem cada habi-lidade cognitiva apresentam dife-

renças estruturais e períodos de desenvolvimento diferenciados. Argumenta-se, deste modo, que as áreas cerebrais que apresentam períodos mais tardios e prolonga-dos de desenvolvimento sofrem maior impacto ambiental. Neste sentido, estudos avaliando diferen-tes habilidades cognitivas têm en-contrado maiores efeitos do NSE sobre o processamento linguístico, cuja estrutura subjacente é a regi-ão perisilviana esquerda, e efeitos moderados sobre as funções exe-cutivas, que tem o lobo pré-frontal como substrato neural (Noble, Nor-

man & Farah, 2005; Noble, Farah & McCandliss, 2006; Noble, McCandliss & Farah, 2007; Sar-sour et al., 2011). Da mesma for-ma, diferentes fatores mediam e moderam a interação do nível soci-oeconômico com diferentes habili-dades cognitivas. Por exemplo, Noble et al.(2007) encontraram um efeito mediador da linguagem so-bre a relação do NSE com a habili-dade de controle cognitivo, mas não com a habilidade de memória de trabalho. A partir da compreen-são de como o nível sócio econô-mico influencia diferentes estrutu-ras, é possível se pensar em quais habilidades cognitivas deve-se buscar acessar e incrementar em projetos de intervenção e em como fazê-lo.

Tendo em vista os achados so-bre as diferenças relatadas acima, a compreensão de suas causas e consequências é imperativa. A transmissão intergeracional do ní-vel socioeconômico tem sido abor-dada por uma larga literatura. Nes-te sentido, tem sido documentado que uma criança nascida em uma família com determinado nível soci-oeconômico tem mais chances de permanecer no mesmo nível socio-econômico quando adulta (Carvalho, 2012).

Embora atualmente a mobili-dade social seja mais tangível, a origem social ainda tem uma influ-encia no mantenimento de indiví-duos em uma determinada classe social. Ainda que alguns estudio-sos sugiram que tal transmissão intergeracional é resultado de her-dabilidade genética de diferentes traços que definirão desfechos so-cioeconômicos, tal transmissão parece ser muito mais complexa e fatores epigenéticos podem ter um papel importante.

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Carvalho (2012), propõe que a qualidade da nutrição e a saúde na infância, bem como o nível de estimulação oferecido pelos pais e a inserção precoce da criança no sistema educacional são fatores importantes na explicação da transmissão de NSE. De forma similar e complementar, Hackman et al. (2010) sugerem que fatores pré-natais, o tipo de cuidado pa-rental e a estimulação cognitiva são os principais fatores que medi-am a influência do nível socioeco-nômico sobre a cognição e perpe-tuam as diferenças sociais. As in-tervenções devem ser, portanto, focadas nestes três fatores.

Nível socioeconômico: como e porque intervir.

Há cada vez mais estudos sobre o nível socioeconômico e as influên-cias ambientais sobre a cognição. O interesse por esse tópico não se trata apenas de um interesse soci-al, mas também econômico e pre-ventivo. Estudar possíveis inter-venções que amenizem o impacto da pobreza sobre a cognição pode auxiliar na prevenção de proble-mas de saúde, além de garantir um bom capital humano para o futuro.

O que fazer, então? No Brasil, ainda temos que caminhar muito para entender as características da nossa população, de que modo o NSE influencia os diferentes as-pectos cognitivos e o que media esta interação. A partir de estudos será possível traçar as interven-ções a serem tomadas.

Tomando os estudos internaci-onais como base, um investimento conjunto tanto na área da educa-ção quanto na saúde parecem essenciais. A questão do treina-mento cognitivo passa por uma perspectiva diferente da que temos tomado até então: é preciso ensi-nar a pescar, e não simplesmente

dar o peixe. Já identificamos que as diferenças de renda têm influência sobre habilidades cognitivas. No en-tanto, dificilmente fornecer dinheiro a uma família será suficiente para mu-dar toda a estrutura familiar em prol do melhor desenvolvimento das cri-anças. Da mesma forma, dar benefí-cios tardios a crianças que nasceram em um ambiente mais pobre, como acontece no caso das cotas, apesar de poder ajudá-las ao inseri-las em um ambiente cognitivamente enri-quecido, não será suficiente para suprir todos os desfalques que esta teve durante a infância.

A questão de investigar a influên-cia ambiental sobre a cognição pas-sa pela tentativa de garantir o melhor ambiente possível para o desenvolvi-mento de cada criança. Projetos pre-ventivos de saúde, como treinamento de habilidades parentais e de formas estimulação cognitiva desde o perío-do pré-natal podem ajudar desde cedo o estabelecimento de um ambi-ente positivo para o desenvolvimento da criança. Da mesma forma, se é impossível aumentar a escolaridade dos pais da criança ou suas habilida-des como cuidadores, os ambientes substitutivos, como a escola, devem buscar ser cognitivamente enriquece-dores para suprir esta diferença. Fu-turas políticas públicas acessando estes fatores poderão nos ajudar a proteger nosso capital humano e ru-mar para a verdadeira meritocracia.

Referências

Bradley, R. H., & Corwyn, R.F. (2002). Socioeconomic status and child deve-lopment. Annu Rev Psychol. 53, 371-399.

Adler, N.E., Boyce, T., Chesney, M.A., Cohen, S., Folkman S, Kahn, R.L. & Syme S.L. (1994). Socioeconomic status and health. The challenge of the gradient. Am Psychol. 49, 15-24

Carvalho, L. (2012). Childhood cir-cumstances and the intergenerational transmission of socioeconomic status. De-mography. 49, 913-938.

Farah, M. J., Shera, D. M., Savage, J. H., Betancourt, L., Giannetta, J. M., Brodsyc, N.L, Hurt, H. (2006). Chil-dhood poverty: specific associations with neurocognitive development. Brain Res. 1110, 166-174.

Hackman, D. A., Farah, M. J., & Meaney, M. J. (2010). Socioeconomic status and the brain: mechanistic in-sights from human and animal research. Nat Rev Neurosci. 11, 651-659.

Noble, K. G., McCandliss, B. D., & Farah, M. J. (2007). Socioeconomic gradients predict individual differences in neurocognitive abilities. Dev Sci. 10, 464-480.

Noble, K. G., Norman, M. F., & Fa-rah, M. J. (2005). Neurocognitive corre-lates of socioeconomic status in kinder-garten children. Dev Sci. 8, 74-87.

Sarsour, K., Sheridan, M., Jutte, D., Nuru-Jeter, A., Hinsh, S., & Boyce, W. T. (2011). Family socioeconomic status and child executive functions: The roles of language, home environment, and single parenthood. J Int Neuropsychol Society, 17, 120-132.

Shanahan, L., Copeland, W., Costel-lo, E. J. & Angold, A. (2008) Specificity of putative psychosocial risk factors for psychiatric disorders in children and adolescents. J. Child Psychol. Psychia-try 49, 34–42.

Isabela Sallum Guimarães

Estudante de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente faz

parte do Laboratório de Investigações Neuropsicológicas—INCT—Medicina Mo-

lecular UFMG. Atualmente é bolsista do programa Ciências Sem Fronteiras e traba-

lha no Neurobehavioral Research Labora-tory and Clinic – University of Texas Health

Science Center.

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tia em entender circuitos e eletricidade e construção de rádios. Achei aquilo uma maravilha, como através de uma circuitaria simples, como é o radiore-ceptor de Galena, eu conseguia captar a estação de rádio, a outra pessoa falando em outro lugar; eu me indaga-va admirado como a matéria organiza-da daquela forma podia fazer aquela coisa fantástica. Então, desde esta época eu meu interessei por isto, quando estudei Medicina, principal-mente a neurofisiologia, o funciona-mento do sistema nervoso. E lá na Suécia eu encontrei esta explicação além da Neurologia, da Medicina, que é a Neuropsicologia. Desde então eu tenho interesse, li, reli livros e pude discutir. Antes de entrar na Unicamp eu trabalhei em 1984- 1985 como res-ponsável pela avaliação neuropsicoló-gica pré- operatória da epilepsia no Instituto de Neurologia de Goiânia. Eu fazia o teste de Wada e outros testes em pacientes candidatos à cirurgia e inclusive psicocirurgia, com Dr Luís Fernando que esteve na Alemanha por cinco anos fazendo psicocirurgia. A minha carreira sempre foi com interes-se pela Neuropsicologia. Eu diria que 80- 90% da minha atividade, interesse e leituras são nesta área. Talvez uma razão prévia é que eu tive um irmão adotivo, eu fui filho adotivo, que teve aos seis anos uma encefalite grave que esvaziou todo o cérebro dele da parte humana, cognitiva, deixando- o com comportamento animal. E andou, revirou, inclusive com curandeiro e nada resolveu. Achei aquilo um grande enigma, devido a tragédia e isto sem-pre ficou na minha mente. Daí o meu interesse pela Neurologia, evidente-mente. E depois a questão da forma-ção filosófica, muito antes de fazer Medicina, por razões ideológicas eu tive que me aperfeiçoar para ensinar estas questões filosóficas. Eu lia e estudava bastante estas correntes filosóficas e a questão sempre foi a primazia da matéria e o espírito que é a questão fundamental de toda a filo-

SBNp: Profº Benito. Para iniciar, gostaria que o sr contasse como foi o seu caminho de formação em neuropsicologia?

Damasceno: Eu formei em Medici-na pela Universidade Federal de Goiás em 1973 e um ano depois eu tive que deixar o Brasil como exilado político e fui para a Alemanha, onde trabalhei por um ano como médico e depois para a Suécia, onde morei por nove anos. Foi lá que eu me especia-lizei em Neurologia e subespecialida-de Neuropsicologia no Hospital Sahl-grenska da Universidade de Gotem-burgo. A partir do terceiro ano da residência, que é um total de cinco anos, eu tive um treinamento em Neuropsicologia especialmente por um dos neurologistas que também praticava neuropsicologia e era neu-ropsicologia Luriana. Até então eu não tinha nenhum conhecimento deste ramo da ciência, porque nunca havia sido ensinado no Brasil antes. E como eu comecei a exercer certas funções complexas de responsabili-dade no hospital universitário como substituto dele em interconsultas que exigiam muitas vezes avaliação neu-ropsicológica, pois se tratavam de alterações mentais e cognitivas, ele começou a me ensinar uma série de testes. Eu não entendia exatamente o que aqueles testes significavam e ele foi me explicando e me permitiu ficar a vontade na sala onde ele tra-balhava que tinha uma biblioteca e me mostrou o livro do Luria, um livro grande e falou “vai lendo este livro aqui”, que era “Funções corticais superiores” em inglês. Eu comecei a ler este livro, me interessei muito e comecei a entender melhor o porquê daqueles testes. Achei uma maravi-lha porque era realmente aquilo que eu queria aprender, pois na minha formação, antes de Medicina, eu fiz uma escola técnica industrial. Nesta escola havia várias oficinas e qualifi-cações técnicas. Eu escolhi radiotéc-nica e telecomunicações, que consis-

sofia. A questão mais profunda e últi-ma de qualquer conhecimento, que não o artístico, mas conhecimento filosófico e científico, é a questão do que é primário: a matéria ou espírito. Então, eu tenho debatido esta ques-tão e, finalmente, eu consigo algumas explicações que se encontram em meus trabalhos ou discutidas em mi-nhas aulas. Estas coisas fazem parte de uma unidade funcional e não estão separadas. São explicadas por uma interação. Logo que eu entrei na Uni-camp comecei a trabalhar e interagir com a Maria Irma Coundry e Edwiges Maria Morato que se uniram comigo e criamos o Centro de Convivência de Afásicos, através de um convênio com o Departamento de Neurologia e com o Departamento de Linguística do IEL (Instituto de Estudos da Linguagem). Elas avaliavam pessoas com afasia aqui no HC e eu também avaliava a parte neuropsicológica. E eu comecei a sentir a necessidade de uma nova formação, que é em Linguística, em Psicolinguística, especialmente em Psicolinguística discursiva e pragmáti-ca. E eu tive esta formação assistindo cursos de pós graduação. Pratica-mente todos os professores do IEL davam estes cursos, Linguística textu-al com Ingedore Villaça, Linguística discursiva e pragmática com Sírio Possenti e Eni Orlandi e esta forma-ção em psicolinguística aprofundou muito o meu conhecimento em Neu-ropsicologia. Eu acho que a formação em Linguística, especialmente Psico-linguística, é uma parte necessária para a formação de um bom neuropsi-cólogo, pois a linguagem é uma das funções cognitivas mais importantes. Toda a atividade mental ou comporta-mental e cognição humana é mediada pela linguagem. Aliás, a linguagem e o uso e a invenção de signos para a interação entre as pessoas e para a representação, que é o próprio pensa-mento, foi a chave do sucesso do homem na Terra.

Profº Dr Benito Pereira Damasceno

Por: Ricardo Franco de Lima

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tia em entender circuitos e eletricidade e construção de rádios. Achei aquilo uma maravilha, como através de uma circuitaria simples, como é o radiore-ceptor de Galena, eu conseguia captar a estação de rádio, a outra pessoa falando em outro lugar; eu me indaga-va admirado como a matéria organiza-da daquela forma podia fazer aquela coisa fantástica. Então, desde esta época eu meu interessei por isto, quando estudei Medicina, principal-mente a neurofisiologia, o funciona-mento do sistema nervoso. E lá na Suécia eu encontrei esta explicação além da Neurologia, da Medicina, que é a Neuropsicologia. Desde então eu tenho interesse, li, reli livros e pude discutir. Antes de entrar na Unicamp eu trabalhei em 1984- 1985 como res-ponsável pela avaliação neuropsicoló-gica pré- operatória da epilepsia no Instituto de Neurologia de Goiânia. Eu fazia o teste de Wada e outros testes em pacientes candidatos à cirurgia e inclusive psicocirurgia, com Dr Luís Fernando que esteve na Alemanha por cinco anos fazendo psicocirurgia. A minha carreira sempre foi com interes-se pela Neuropsicologia. Eu diria que 80- 90% da minha atividade, interesse e leituras são nesta área. Talvez uma razão prévia é que eu tive um irmão adotivo, eu fui filho adotivo, que teve aos seis anos uma encefalite grave que esvaziou todo o cérebro dele da parte humana, cognitiva, deixando- o com comportamento animal. E andou, revirou, inclusive com curandeiro e nada resolveu. Achei aquilo um grande enigma, devido a tragédia e isto sem-pre ficou na minha mente. Daí o meu interesse pela Neurologia, evidente-mente. E depois a questão da forma-ção filosófica, muito antes de fazer Medicina, por razões ideológicas eu tive que me aperfeiçoar para ensinar estas questões filosóficas. Eu lia e estudava bastante estas correntes filosóficas e a questão sempre foi a primazia da matéria e o espírito que é a questão fundamental de toda a filo-

SBNp: Profº Benito. Para iniciar, gostaria que o sr contasse como foi o seu caminho de formação em neuropsicologia?

Damasceno: Eu formei em Medici-na pela Universidade Federal de Goiás em 1973 e um ano depois eu tive que deixar o Brasil como exilado político e fui para a Alemanha, onde trabalhei por um ano como médico e depois para a Suécia, onde morei por nove anos. Foi lá que eu me especia-lizei em Neurologia e subespecialida-de Neuropsicologia no Hospital Sahl-grenska da Universidade de Gotem-burgo. A partir do terceiro ano da residência, que é um total de cinco anos, eu tive um treinamento em Neuropsicologia especialmente por um dos neurologistas que também praticava neuropsicologia e era neu-ropsicologia Luriana. Até então eu não tinha nenhum conhecimento deste ramo da ciência, porque nunca havia sido ensinado no Brasil antes. E como eu comecei a exercer certas funções complexas de responsabili-dade no hospital universitário como substituto dele em interconsultas que exigiam muitas vezes avaliação neu-ropsicológica, pois se tratavam de alterações mentais e cognitivas, ele começou a me ensinar uma série de testes. Eu não entendia exatamente o que aqueles testes significavam e ele foi me explicando e me permitiu ficar a vontade na sala onde ele tra-balhava que tinha uma biblioteca e me mostrou o livro do Luria, um livro grande e falou “vai lendo este livro aqui”, que era “Funções corticais superiores” em inglês. Eu comecei a ler este livro, me interessei muito e comecei a entender melhor o porquê daqueles testes. Achei uma maravi-lha porque era realmente aquilo que eu queria aprender, pois na minha formação, antes de Medicina, eu fiz uma escola técnica industrial. Nesta escola havia várias oficinas e qualifi-cações técnicas. Eu escolhi radiotéc-nica e telecomunicações, que consis-

sofia. A questão mais profunda e últi-ma de qualquer conhecimento, que não o artístico, mas conhecimento filosófico e científico, é a questão do que é primário: a matéria ou espírito. Então, eu tenho debatido esta ques-tão e, finalmente, eu consigo algumas explicações que se encontram em meus trabalhos ou discutidas em mi-nhas aulas. Estas coisas fazem parte de uma unidade funcional e não estão separadas. São explicadas por uma interação. Logo que eu entrei na Uni-camp comecei a trabalhar e interagir com a Maria Irma Coundry e Edwiges Maria Morato que se uniram comigo e criamos o Centro de Convivência de Afásicos, através de um convênio com o Departamento de Neurologia e com o Departamento de Linguística do IEL (Instituto de Estudos da Linguagem). Elas avaliavam pessoas com afasia aqui no HC e eu também avaliava a parte neuropsicológica. E eu comecei a sentir a necessidade de uma nova formação, que é em Linguística, em Psicolinguística, especialmente em Psicolinguística discursiva e pragmáti-ca. E eu tive esta formação assistindo cursos de pós graduação. Pratica-mente todos os professores do IEL davam estes cursos, Linguística textu-al com Ingedore Villaça, Linguística discursiva e pragmática com Sírio Possenti e Eni Orlandi e esta forma-ção em psicolinguística aprofundou muito o meu conhecimento em Neu-ropsicologia. Eu acho que a formação em Linguística, especialmente Psico-linguística, é uma parte necessária para a formação de um bom neuropsi-cólogo, pois a linguagem é uma das funções cognitivas mais importantes. Toda a atividade mental ou comporta-mental e cognição humana é mediada pela linguagem. Aliás, a linguagem e o uso e a invenção de signos para a interação entre as pessoas e para a representação, que é o próprio pensa-mento, foi a chave do sucesso do homem na Terra.

Profº Dr Benito Pereira Damasceno

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ca, que é uma doença degenerativa. Quando o quadro é típico, o tratamento costuma dar bom resultado e o trata-mento é cirúrgico. O objetivo da minha pesquisa nesta doença é descobrir fatores preditivos, testes preditivos de uma boa resposta. Eu usei vários tes-tes na primeira fase e os abandonei, pois não prediziam nada, e passei para outros: testes de líquor e neurocogniti-vos que possam me dizer com segu-rança se vai ter algum resultado, que grau de resultado, que porcentagem de melhora, se há risco na operação, risco de efeitos colaterais versus benefícios. Há outra pesquisa relacionada a per-cepção de tempo que foi de meu dou-torado. Tenho aluna que irá iniciar uma pesquisa sobre a percepção do tempo em pacientes com lobectomia tempo-ral. Seria a estimativa de duração, pro-dução de durações e memorização de ordem temporal de eventos. Assim estudamos um grupo bem específico com lesão cirúrgica delimitada, do lado direito ou esquerdo do cérebro.

SBNp: Quais são os instrumentos neuropsicológicos que o Sr costu-ma utilizar?

Damasceno: Em primeiro lugar, as minhas investigações são de dois ti-pos. Existe o diagnóstico clínico de pacientes do ambulatório ou enferma-ria que precisam da avaliação para identificar alguma disfunção regional cerebral além dos resultados de ima-gem ou no exame neurológico. Este tipo de avaliação é mais rara. São ca-sos, por exemplo de encefalite límbica autoimune, alguns casos de demência semântica de corpos de Lewy, doença de Alzheimer. É para avaliação diag-nóstica com múltiplos testes e são tes-tes Lurianos. Mas eu uso também al-guns testes que você pode quantificar, como o teste de nomeação de Boston, de Aprendizagem Verbal de Rey. Estes

SBNp: E quais são suas áreas de atuação e principais linhas de pes-quisa?

Damasceno: As minhas linhas de pesquisa se encaixam dentro da área de Neurociência Cognitiva e Neuropsi-cologia. Mesmo quando eu faço pes-quisa com a doença de Alzheimer, Esclerose Múltipla e Hidrocefalia de pressão normal, neste modelo de do-ença está incluída a avaliação cogniti-va. Quero dizer, como estas doenças afetam a mental, a cognição, a perso-nalidade da pessoa. Eu tenho várias pesquisas em andamento, principal-mente em combinação com pós gradu-andos. Por exemplo, Dr Baltazar que investiga o contínuo do envelhecimen-to normal, declínio cognitivo leve e doença de Alzheimer; o que acontece na memória episódica, semântica e com as redes neuronais. Buscamos especialmente marcadores neuropsi-cológicos, biomarcadores, precoces da doença de Alzheimer neste contínuo. Tudo indica que devem haver biomar-cadores de alterações em redes neuro-nais que prenunciam a doença em fase inicial, mesmo antes de o indiví-duo preencher os critérios operacio-nais. Dentro destes biomarcadores começaremos a incluir biomarcadores liquóricos. Desse modo, podemos aprofundar este conhecimento na do-ença de Alzheimer, incluindo biomar-cadores de imagem, liquóricos e neu-rocognitivos também, ou seja, neu-ropsicológicos. Uma outra área é da Esclerose Múltipla, que é uma doença desmilienizantes, inflamatória, mas também degenerativa. Então, estamos trabalhando esta área de maneira simi-lar, especialmente a patogênese da doença. Tem o projeto do Dr Alfredo em que, na parte neuropsicológica, um dos estudos é correlacionar a atrofia regional cerebral com o desempenho cognitivo em vários testes que são comumente afetados pela doença. Novamente, a avaliação neuropsicoló-gica correlacionada com a neuroima-gem, embora esta doença não tenha etiologia estabelecida e o diagnóstico seja clínico, laboratorial, liquórico e de neuroimagem. Tenho o projeto de Hi-drocefalia de pressão normal há vários anos, e que foi minha tese de Livre Docência, e o objetivo é o estudo da hidrocefalia de pressão normal idiopáti-

para linguagem e para memória são muito utilizados, inclusive para declínio leve. Para declínio leve também utilizo o mini- teste MoCA - Teste Cognitivo de Montreal que é mais sensível, que o Mini Exame do Estado Mental. Para atenção, o teste de repetição de dígitos, para resolução de conflitos, o Stroop. Os tes-tes podem variar. Na realidade o que eu faço é a montagem de testes específicos para determinada função, supostamente alterada e testes chamados de contra provas, ou seja, testes que vão me dizer se os escores encontrados naquela fun-ção supostamente alterada, vamos su-por memória, são devido a disfunção primária da memória ou devido a disfun-ção da atenção e percepção dos estímu-los. Esta é uma estratégia da neuropsi-cologia Luriana,em que você age como detetive. Inclusive os projetos de pesqui-sa são desta maneira. Quando você tem o objetivo de estudar um assunto, você monta os testes específicos para aquele assunto, vamos supor percepção do tempo, e quais aspectos da percepção do tempo você quer: se é discriminando orações, produzindo durações, estiman-do uma duração, memorizando ordem de eventos no tempo. Mas dependendo do tipo de tarefa e estímulos, você deve utilizar contraprovas para ver se ele vai errar no teste de percepção temporal por um problema auditivo, visual, atenção, etc. Então, tanto na avaliação do indiví-duo doente para um diagnóstico como de grupos existe esta montagem que varia conforme o objetivo do estudo. Quando é para avaliação longitudinal eu costumo introduzir testes quantitativos. Eu também utilizo a Bateria de Anne-Lise Christensen que se baseou na bateria de Luria exposta em seu livro sobre Funções Corticais Superiores. Ela avançou um pouco na bateria inicial dele. Inclusive ela mostrou a ele a bate-ria e questionou se estava ‘ok’ e ele res-pondeu que sim. Esta é a bateria que eu aprendi na Suécia. Quando iniciei o tra-balho de avaliação para cirurgia de epi-lepsia em Goiânia eu já usava esta bate-ria. Minha investigação é “detevivesca”. Eu não uso testes restritos a psicólogos, por exemplo, o WAIS e o Wisconsin. Eu peço ajuda a psicólogos que são meus orientandos, que trabalham comigo, quando preciso determinar esta parte quantitativa, como o QI, principalmente para estudos longitudinais.

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para a formação de um bom neu-ropsicólogo com conhecimento sólido e seguro e que possa ex-pressar sua opinião de maneira tranquila, ele precisa, não só da formação em Psicologia e Neurolo-gia. Se for psicólogo, algum conhe-cimento em Neurologia. Se for neu-rologista, algum conhecimento em Psicologia. Então, ele pode fazer um curso, reciclagem, estudar co-mo autodidata. Também conheci-mento em Filosofia. Existe toda uma história de estudo da mente humana, da consciência, pré psico-lógica, ou seja, antes da Psicologia como ciência. Isto foi muito debati-do, muito estudado, grande pensa-dores debateram e estão aí para todo mundo ler. É muito interessan-te fazer isto para ter esta formação em lógica e a parte filosófica. Tudo relacionado à filosofia da mente. Cada corrente filosófica falou algu-ma coisa a respeito da mente ou consciência. No mínimo aquela questão sobre a relação entre ma-téria e espírito. Para não dizer que também se aprofundar no estudo da mente humana, como ela se formou, etc. Podemos citar Kant, Hegel, Marx, Spinoza. Pelo menos alguns deles deveriam ser lidos. Depois, uma certa formação em Antropologia. Conhecer algum coi-sa, no mínimo ler algum livro sobre Antropologia, sobre evolução hu-mana, como a cultura interage com a parte biológica e psicológica. In-clusive o próprio conceito de doen-ça e certas síndromes podem ser doença em uma cultura e em outras não. O conceito de doença é medi-a d o p e la q u e s t ã o c u l t u r a l . E n t ã o , o profissional deve saber sobre isto. Depois, conhecimento sobre Lin-guística, principalmente Psicolin-guística discursiva e pragmática. É claro, fundamentos de fonologia, morfologia, sintaxe e gramática nós acabamos tendo no curso secundá-rio. Mas a parte da Psicolinguística deve ser feita e é de grande valor na formação do neuropsicólogo. E, finalmente, ter algum conhecimento em teoria computacional, como Inteligência Artificial. Esta área tem dado uma grande contribuição para

SBNp: O Sr. é a favor da restri-ção de testes neuropsicológicos para profissionais da psicolo-gia?

Damasceno: A minha opinião é a seguinte. Os testes que, de acordo com a Corporação Psicológica Americana, são de uso restrito do psicólogo e precisam de uma for-mação em Psicologia, um treina-mento em Psicologia. Não é qual-quer pessoa que pode fazer isto. É igual ao treinamento em Neuropsi-cologia. Eu tenho desenvolvido testes em pesquisas, por exemplo, na avaliação pré- operatória para epilepsia de lobo temporal, a mi-nha tarefa é dizer, baseado nos testes, se a disfunção é do lado direito ou esquerdo e em qual regi-ão. Então, sabemos que testes clássicos não resolvem esta ques-tão. Temos novos testes que estão sendo validados neste sentido com número suficiente de pacientes com foco e esclerose mesial exclu-sivamente unilateral sem nenhuma outra lesão, casos mais puros e mais raros. Então, como pesquisa-dor me julgo no direito de inventar estes instrumentos, realizar estu-dos pilotos e validá- los. Por outro lado, há outros que necessitam de formação técnica e esta formação também é teórica. Saber o que há por trás disto tudo e exige vários anos de estudo. Há outros que são muito preditivos de lesão e que eu acho que o neurologista, por exem-plo, poderia fazer para resolver uma questão de diagnóstico. Aí eu considero como instrumento da avaliação neurológica. Eu diria da Neurologia Psicológica. A neurolo-gia pura, médica, é muito pobre. Eu falo aos residentes, quando eu dou aula sobre afasia, agnosia, etc, eu digo que eles devem sair com a capacidade de diagnosticar lesão em áreas associativas, pois o exame neurológico é para áreas primárias e de projeção.

SBNp: Qual conselho o Sr. daria para alguém que está iniciando nesta área?

Damasceno: O conselho seria:

a neuropsicologia. Acho que são ne-cessários estes conhecimentos todos, pois a Neuropsicologia se trata de uma ciência multidisciplinar. O neu-ropsicólogo está lidando com o ser mais complexo do mundo e com o fenômeno mais complexo que é a mente humana. Parece muito comple-xo o homem inventar um robô que é enviado para Marte, tira fotografias, destrói rochas para fazer análises espectrofotômicas e sua composição química e manda para cá. Quer dizer, uma nave terráquea em um planeta distante que parecia uma estrelinha. Mas muito mais complexo que isto é a mente humana e está aqui na Terra. A maior complexidade do universo conhecido está aqui na Terra, o gran-de desafio. E nós não enxergamos isto, pois somos muito antropocêntri-cos. A grande maravilha e complexi-dade para o conhecimento humano e ainda não desvendado, a mente hu-mana. E o neuropsicólogo lida com isto. Eu estou dizendo o seguinte: o neuropsicólogo não pode ser como o neurologista, que vê mais a estrutura anatômica. O neuropsicólogo tem que ver a estrutura mental, o funciona-mento mental que eu chamo de estru-tura da atividade psicológica correlaci-onada com a estrutura cerebral da mesma atividade. Este é o grande desafio do neuropsicólogo. E aí tem um campo vasto para pesquisa e ca-da caso que você recebe é um desa-fio neste sentido.

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Profº Dr. Benito Pereira Damasceno

Graduação em Medicina pela Universidade de Goiás - UFG (1973), Especialização em Neurologia e Neu-ropsicologia no Hospital Sahlgrenska da Universida-de de Gotemburgo, Suécia (1977 a 1983), Mestrado

em Clínica Médica – Universidade Estadual de Cam-pinas – UNICAMP (1988), Doutorado em Ciências

Médicas – UNICAMP (1993), Livre Docência em Ciências Médicas – UNICAMP (2000). Professor

Titular do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas – UNICAMP (2006).

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paciente, causando alterações de hu-mor, tornando-o melancólico e pessi-mista frente a sua condição física.

Após o AVE, o indivíduo passa por um processo de enlutamento e enfren-tamento diante de perdas físicas, psico-lógicas e sociais, diante disto, muitas vezes, sente-se impotente frente às perdas, isso pode desencadear a cha-mada Depressão Reativa (Kaihami, 2001). Entretanto, nas formas de de-pressão secundária a lesão encefálica, o sujeito pode apresentar alterações cognitivas decorrentes da própria de-pressão secundária, como alteração na memória e volição, por exemplo.

A depressão secundária seria uma seqüela do AVE, enquanto que a de-pressão reativa iria decorrer posterior ao AVE, frente ao quadro de incapaci-dades e limitações físicas.

Lesões cerebrais decorrentes do AVE podem desencadear uma Depres-são Secundária, que se trata de uma diminuição no tônus cortical, podendo envolver alterações afetivas como a labilidade de humor, apatia, e altera-ções cognitivas, como lentificação das funções mentais (Carvalho, 2007). De acordo com Schewinsky (2008), a rea-bilitação neuropsicológica visa a melho-ria do sujeito em seu contexto social, bem como ampliação de sua qualidade de vida de acordo com suas limitações e potencialidades. Previne prejuízos secundários cognitivos, a recuperação máxima das funções cognitivas altera-das, busca de novos meios de reorga-nização e manutenção das funções neurais por meio da neuroplasticidade, por exemplo, adaptações as limitações e incapacidades e independência e reintegração do sujeito a seu meio.

A psicoterapia possibilita um espaço de reflexão sobre as mudanças ocorri-das e seu impacto em suas vidas, ex-pandindo a percepção sobre as altera-ções cognitivas e comportamentais. A depressão deve ser tratada de forma diferenciada na intervenção psicotera-pêutica, pois ela será um determinante

A presente pesquisa consistiu em

identificar, na literatura, os sintomas da depressão reativa e secundária em pacientes após Acidente Vascular Encefálico, bem como verificar qual a aplicabilidade da avaliação psicológica diferencial no contexto de reabilitação.

O AVE destaca-se como um dos quadros clínicos com mais alta inci-dência nas patologias que resultam em incapacidades físicas. Os fatores de risco para que uma pessoa possa sofrer o AVE são hipertensão, doen-ças cardíacas, diabetes, tumores, dro-gas, dentre outros.

Segundo Carvalho et al. (2007), a sintomatologia se manifesta de forma abrupta e as incapacidades decorren-tes dependerão da localização e ex-tensão da lesão encefálica adquirida. De acordo com Luria existem diferen-tes partes do cérebro, cada uma tra-balhando de acordo com uma determi-nada função, se interrelacionando umas com as outras (Schewinsky, 2001).

O cérebro trabalha de modo inte-grado, como que em um concerto na qual todos os instrumentos trabalham juntos de forma harmoniosa, se um instrumento desafina prejudica o de-sempenho de todo o espetáculo. Se-gundo Brandstater (2002), estima-se que dentre aqueles pacientes que sofreram AVE, cerca de até 50% apre-sentam quadro de depressão, associ-ado na fase posterior. A depressão envolve aspectos relacionados a esta-bilidade do humor, dinâmica afetivo emocional e aspectos cognitivos.

É importante identificar a depres-são e seu tipo para buscar seu trata-mento concomitante ao processo de reabilitação, para que esta não preju-dique o desempenho e prognóstico do paciente em programa e possa aderir ao tratamento para reabilitar-se e adaptar-se a nova condição de vida. Toda forma de depressão pode ocasi-onar uma baixa no tônus cortical do

de como ocorrerá a adesão do sujeito as terapias durante o processo de rea-bilitação.

Nesse sentido, com o quadro sintoma-tológico da depressão compensado, o paciente tende a ter um prognóstico mais favorável e retomar de forma mais adequada a motivação para se adaptar a sua nova condição física e compensar seus prejuízos cognitivos.

Referências

Brandstater, M. E. (2002). Reabilitação no Derrame. In: Delisa, J. A. Tratado de Medicina de Reabilitação: Princípios e Práti-ca. São Paulo: Manole, p. 1227-1253.

Carvalho, R. C. (2007). Acidente Vascu-lar Cerebral: Atualizações. In: Miotto, E. C, Lucia, M. C. S. e Scaff, M. Neuropsicologia e as interfaces com as Neurociências. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 99-105.

Kaihami, H. N. (2001). A pessoa portado-ra de hemiplegia e sua família em processo de reabilitação: um estudo sistêmico. Disser-tação de Mestrado. Universidade de São Paulo, São Paulo.

Schewinsky, S. R. (2001). O processo de conscientização do déficit de memória na pessoa acometida de lesão cerebral. Disser-tação de Mestrado. Universidade de São Marcos, São Paulo.

Schewinsky, S. R. (2008). Reabilitação Neuropsicológica da memória no traumatis-mo crânio- encefálico. São Paulo: Livraria Médica Paulista.

Estudo sobre depressão reativa e depressão secundária em pacientes após acidente vascular encefálico.

Por: Priscila Aparecida Rodrigues

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Priscila Aparecida Rodrigues

Graduação em Psicologia (UMC), Especiali-zanda em Neuropsicologia (CDN/

UNIFESP), Especialista em Psicologia Clíni-ca Hospitalar em Reabilitação (HC FMUSP – Programa de Aprimoramento Profissio-

nal), Psicóloga do Serviço de Psicologia do Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo –

Rede Lucy Montoro

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(municipais e estaduais) e particulares ou dos serviços da rede pública de saúde da região metropolitana de Campinas (SP) e sul do Estado de Minas Gerais (MG). Em função da de-manda de encaminhamentos, o Ambu-latório passou a se dedicar exclusiva-mente ao processo de avaliação diag-nóstica interdisciplinar e à busca de protocolos que permitissem investigar as funções cognitivas relacionadas com a aprendizagem escolar. Desde então, o grande desafio foi diferenciar os transtornos de aprendizagem, de origem neurobiológica, das dificulda-des escolares, de ordem pedagógica.

Diferentes projetos de pesquisa foram desenvolvidos desde então e em 1998, seguindo os mesmos caminhos, foi estruturado o DISAPRE – Laborató-rio de Pesquisa em Dificuldades, Dis-túrbios da Aprendizagem e Transtor-nos da Atenção vinculado à Faculdade de Ciências Médicas, coordenado pela Profª Dra Sylvia Maria Ciasca. O DISA-PRE está vinculado ao Grupo CNPq “Neurodesenvolvimento, escolaridade e aprendizagem” e possui as seguintes linhas de pesquisa: neuropsicologia do desenvolvilmento, funções corticais superiores, transtornos específicos de aprendizagem e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Na área da “neuropsicologia do desenvolvimento”, destacam-se proje-tos que visam a identificação precoce dos problemas de aprendizagem e de atenção e acompanhamento longitudi-nal de pacientes com estes transtor-nos. As investigações das “funções corticais superiores” visam a elabora-ção e validação de instrumentos para avaliação diagnóstica em diferentes áreas do conhecimento e delineamento de perfis cognitivos de crianças e jo-vens com transtornos de aprendiza-gem e atenção.

Na linha de “transtornos de aprendi-zagem”, o destaque é a investigação da dislexia do desenvolvimento. Nesta linha há projetos que visam caracteri-zar o perfil cognitivo-linguístico, princi-palmente do processamento fonológico e funções como, atenção e funções executivas; avaliar sintomas emocio-

O Ambulatório de Neuro-

Dificuldades de Aprendizagem, locali-zado no Hospital de Clínicas da Uni-versidade Estadual de Campinas (UNICAMP) foi implantado no ano de 1985 com o intuito de atender crianças e jovens com queixas escolares asso-ciadas ou não a patologias neurológi-cas. Desde então, três áreas foram foco de atuação: assistência, pesquisa e ensino. A equipe é formada por pro-fissionais recém formados em Psicolo-gia por diferentes instituições e profis-sionais das áreas da neuropsicologia, fonoaudiologia, psicopedagogia, fisio-terapia, psicomotricidade, neurologia infantil e psiquiatria da infância e ado-lescência.

Grande parte dos profissionais que compõem a equipe foram alunos dos Programas de Aprimoramento Profis-sional (PAP). Especificamente, na psicologia há dois programas coorde-nados pelo DISAPRE, “Psicologia Clínica em Neurologia Infantil” e “Psicopedagogia aplicada à Neurolo-gia Infantil”, sendo estes os primeiros programas implantados pela Unicamp na década de 90 e coordenados, na ocasião, pelas Professoras Dra Maria Valeriana Leme de Moura-Ribeiro e Dra Sylvia Maria Ciasca. Atualmente estes programas são supervisionados pela Profª Dra. Sylvia Ciasca, Dra Sônia Rodrigues, Dra Adriana Simão e Ricardo Lima.

A equipe também é formada por: ex-alunos do PAP que atuam como monitores de Ambulatório, alunos do Programa de Pós Graduação em Ci-ências Médicas que cursam mestrado/doutorado e também pesquisadores colaboradores de pós doutorado; pro-fessores de outras instituções de ensi-no, como Universidade São Paulo (USP-Bauru); residentes em psiquia-tria da infância e adolescência (em parceria com a PUC-Campinas) e profissionais voluntários.

O serviço de assistência é realiza-do pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e atende crianças e jovens en-caminhados de outros ambulatórios do HC/Unicamp, escolas públicas

nais e comorbidades da dislexia; avaliar afetividade e condições de suporte social e familiar; desenvolvimento de progra-mas computadorizados de remediação fonológica e cognitiva; implantação da metodologia de Resposta à Intervenção (RTI); desenvolvimento de instrumento de avaliação de sinais de risco para a dislexia e; estudos de neuroimagem fun-cional na dislexia. Em parcerias estabe-lecidas com outras instituições de ensino superior ou outras faculdades da UNI-CAMP foi possível a realização de estu-dos pioneiros com indivíduos disléxicos permitindo a investigação molecular (Centro de Biologia Molecular e Enge-nharia Genética - UNICAMP) e uso de técnicas de Estimulação Magnética Transcraniana (TMS) (IP-USP).

Na linha de investigação do TDAH, são desenvolvidos projetos para caracte-rização de funções cognitivas, como a memória de trabalho; investigação de dimensões psicológicas como a afetivi-dade e medidas de autoreferência (autoconceito e autoestima) e; desenvol-vimento de programas para treino da atenção e solução de problemas.

Na área de ensino, o DISAPRE é responsável por disciplinas da graduação em Medicina e Fonoaudiologia. Na pós graduação desenvolve dois cursos ofere-cidos pela Escola de Extensão: “Neuropsicologia aplicada à Neurologia Infantil” e “Psicomotricidade”.

Além disso, o DISAPRE mantém parce-ria constante com a Associação Brasilei-ra de Neurologia, Psiquiatria Infantil e profissões afins (ABENEPI) na promoção de cursos, fóruns, seminários e congres-sos nacionais e internacionais.

O contato com o grupo pode ser realiza-do pelo endereço http://disapre.wordpress.com.

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Psicólogo (USF), Neuropsicólogo (CFP), Aprimoramento em Psicolo-

gia Clínica em Neurologia Infantil (FCM/Unicamp), Mestre e douto-

rando em Ciências Médicas (FCM/Unicamp).

Laboratório do Mês: Laboratório de Pesquisa em Dificuldades, Distúrbios de Aprendizagem e

Transtornos da Atenção (DISAPRE/ UNICAMP)

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pectadores, a agenda do congres-so foi elaborada de forma que pu-desse ser interessante para um público diverso, que contou com estudantes graduandos e pós-graduandos, profissionais forma-dos e pesquisadores. Com pales-tras que conseguiram abordar amplamente o desenvolvimento, a

O I Simpósio de Neurociências Aplicadas a Saúde e Educação, que ocorreu dos dias 28 de no-vembro a 1 de dezembro, conse-guiu alcançar as metas que o grupo SINApSE tem como seu fundamento: tornar o conheci-mento acessível sem deixar de ser preciso. Com quase 300 ex-

aprendizagem e a psicopatologia na infância e adolescência, acre-ditamos que fomos capazes de dar mais um passo nos nossos objetivos de levar informações que estão de acordo com a atual literatura científica e que são relevantes para aqueles que lidam com essa faixa etária.

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Notícia:Notícia:Notícia: I Simpósio de Neurociências Aplicadas a Saúde e Educação: I Simpósio de Neurociências Aplicadas a Saúde e Educação: I Simpósio de Neurociências Aplicadas a Saúde e Educação:

tornando o conhecimento acessíveltornando o conhecimento acessíveltornando o conhecimento acessível Por: Isabela SallumPor: Isabela SallumPor: Isabela Sallum

Cosenza, cuja palestra acessou os estudos e as aplicações das neurociências na área educaci-onal; o Professor Doutor Lean-dro Malloy, que falou sobre o transtorno de desafio e oposi-ção; e o doutorando Thiago

Na foto acima, a esquerda para a direita e de cima para baixo: A mestranda Fernanda Mata, que ministrou a palestra sobre o desenvolvimento do cérebro e do comportamento na adolescên-cia; o Professor Doutor Ramon

Rivero, cujo discurso abordou o efeito do video-game sobre a cognição. A variedade de assun-tos no Simpósio garantiu o inte-resse de quem esteve presente.

Foto 2: Espectadores: Além do esforço da comissão de organização e dos palestrantes, o Simpósio só foi possível graças aos expectadores. A busca pelo conhecimento é o que move os eventos acadêmicos e a SINApSE continuará buscando atender às demandas de renovação constante de seu público quanto ao conhecimento neurocientífico .

Foto 1: Organização do evento. O evento só foi possível graças ao trabalho conjunto da equipe do Laboratório de Investigações Neuropsicológicas—INCT—Medicina Molecular UFMG.

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Vitor Geraldi Haase (MG-UFMG)

Conselho Fiscal: Carina Chaubet D’Alcante (SP-USP)

Gabriel C. Coutinho (RJ– Instituto D`OR)

Neander Abreu (BA-UFBA)

Representações Regionais: Alagoas: Katiúscia Karine Martins da Silva

Bahia: Tuti Cabuçu Ceará: Silviane Pinheiro de Andrade

Centro Oeste: Leonardo Caixeta

Minas Gerais: Jonas Jardim de Paula

Paraíba: Bernardino Calvo

Paraná: Amer Cavalheiro Handan Pernambuco: Lara Sá Leitão

Rio de Janeiro: Flávia Miele

Rio Grande do Norte: Katie Almondes

Rio Grande do Sul: Rochele Paz Fonse-ca

Presidente: Leandro Fernandes Malloy-Diniz (MG-UFMG)

Vice-Presidente: Lúcia Iracema Zanotto Mendonça (SP-PUC-SP;USP)

Secretário: Thiago S. Rivero (SP-UNIFESP)

Tesoureira: Deborah Azambuja (SP)

Secretária Geral: Camila Santos Batista (SP)

Tesoureira Geral: Eliane Fazion dos Santos (SP)

Conselho Deliberativo: Daniel Fuentes (SP-USP)

Jerusa Fumagalli de Salles (RS-UFRGS)

Paulo Mattos (RJ-UFRJ)

Santa Catarina: Rachel Schlindwein-Zanini.

São Paulo: Juliana Góis Equipe do Boletim SBNp: Coordenadora: Cristina Yumi N. Sediyama (MG—Coordenadora)

Alexandre Nobre (RS)

Carina Chaubet D’Alcante (SP)

Gabriel Coutinho (RH)

Giuliano Ginani (York-UK)

Jessica Fernanda (RO)

Jonas Jardim de Paula (MG)

Juliana Burges Sbicigo (RS)

Maicon Albuquerque (MG)

Marcus Vinicius Costa Alves (SP)

Ricardo Franco de Lima (SP)

Sabrina Magalhães (PR)

SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOLOGIA (SBNp) GESTÃO 2011- 2013

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Tel: 0xx(11) 3031-8294 Fax: 0xx(11) 3031-8294 Email: [email protected]