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Editorial Idéias em Revista: participativa e aberta a todos Participe da Elaboração de Nossa Revista ando prosseguimento à reestrutura- ção da Imprensa do SISEJUFE-RJ, sur- ge a nossa revista, Idéias, uma publi- cação que pretendemos que seja partici- pativa e aberta, feita não a duas, ou quatro mãos, mas a centenas, milhares de mãos; mãos de todos vocês, leitores que assim tornar-se-ão autores desta revista, aberta à categoria. Envie seu texto para aprecia- ção, se for possível ele será aprovei- tado em um dos próximos números. Basta endereçar uma mensagem para [email protected], colocan- do no assunto, colaboração na Idéias. A Idéias surge com o propósito de tornar a comunicação do sindicato mais ágil, rápida. Agora você terá dois órgãos de comunicação, a Idéias e o jornal “Que fazer?”, o que garantirá que, quinzenal- mente, o servidor do Judiciário tenha em mãos informações preciosas sobre o PCS, os quintos, denúncias contra o as- sédio moral, B17, plano de carreira, en- fim, todos os assuntos relevantes ao dia a dia dos Tribunais, com uma visão críti- ca e de esquerda dos acontecimentos do mundo. A informação agora será dividi- da. O seu jornal, editado no início do mês, voltará a ser, como era antes, um pequeno tablóide, de quatro a oito pági- nas, somente com as informações da ca- tegoria. No fim do mês você receberá sua revista Idéias, com tudo, tudo mes- mo que se pode esperar de uma grande revista: colunas, crônicas, reportagens, poesia, informações pertinentes a cate- goria, denúncias, debates. Junto disto, temos nosso boletim eletrônico de notícias, o Informe SISEJUFE, que aju- dou a dinamizar as informações mais prementes. Para receber o Informe SI- SEJUFE, peça para se cadastrar no en- dereço [email protected]. Para se entender, todavia, como sur- giu, a revista Idéias, temos que contar um pouco a história recente do Jornal Que Fa- zer?. Até uns dois anos atrás, o jornal era um pequeno tablóide, sem nenhuma par- ticipação direta da categoria. Com a rees- truturação da Imprensa do Sindicato (con- tinuada e aprofundada na atual gestão), o jornal passou por uma reformulação, tor- nou-se aberto e participativo e, para que refletisse as opiniões e os anseios da ca- tegoria, criou-se o suplemento Idéias, no qual participaram talentos da categoria, como Glória Horta, Kika Moog, Luciana Villar, Rosane de Oliveira, Márcio de Sou- za Marques, Eduardo Neves do Brasil, Da- vid Cordeiro, Roberto Ponciano, Flavio Prieto e importantes nomes da cultura e da política brasileira, como Gabriela Lei- te, Teotônio dos Santos, Emir Sader, La- erte Braga, Elisa Lucinda, Gito Vianotti. Leia esta revista com o mesmo pra- zer que tivemos em elaborá-la, participe dela, envie seus textos para que publi- quemos. Que estas Idéias sejam as nos- sas, as que temos para construir uma ca- tegoria mais harmônica, justa, solidária. Abraços a todos, Diretoria do SISEJUFE-RJ e Secreta- ria de Imprensa D PARTICIPE da Idéias em Revista! Mande sua colaboração para [email protected] Filiado à FENAJUFE e à CUT SEDE: Avenida Presidente Vargas, 509/11º andar - Centro - Rio de Janeiro-RJ CEP 20071-003 TEL./FAX: (21) 2232-1004 PORTAL: http://sisejuferj.org.br ENDEREÇO: [email protected] DIRETORIA: André Gustavo Souza Silveira da Silva, David Batista Cordeiro da Silva, Dulavim de Oliveira Lima Júnior, Flávio Braga Prieto da Silva, Maria da Glória de Menezes Vasconcelos Horta, João Ronaldo Mac-Cormick da Costa, Leonor da Silva Mendonça, Lucilene Lima Araújo de Jesus, Márcio de Souza Marques, Márcio Hungerbühler, Nilton Alves Pinheiro, Otton Cid da Conceição, Penélope Diniz Bittencourt Nepomuceno, Renato Gonçalves da Silva, Ricardo de Azevedo Soares, Roberto Ponciano Gomes de Souza Júnior e Valter Nogueira Alves. IDÉIAS EM REVISTA JORNALISTA RESPONSÁVEL: Mário Augusto Jakobskind (Mtb 15.150) REDAÇÃO: Max Leone (Mtb 18.091) PROJETO GRÁFICO e DIAGRAMAÇÃO: Claudio Camillo - (Mtb 20.478) REVISÃO: João Mac-Cormick ILUSTRAÇÃO: Latuf IMPRESSÃO: Ediouro Gráfica e Editora Ltda (7.000 exemplares) As matérias assinadas são de responsabilidade exclusiva dos autores. Editorial 1 Cartas da Categoria 2 Plano de Cargos e Salários 3 Jornada de 6 horas 5 Os que fazem greve 6 Gravador, vaca, faca e estrela cadente 7 Sistema Digital 8 Máximas do Barão 9 Abril de 1968: a greve de Contagem 10 Cem anos de Mario Quintana 11 Crianças do MST 12 Ações afirmativas: o direito às diferenças 14 As lágrimas da Aracruz e a coragem das mulheres camponesas 15 Biodiversidade e novo paradigma 16 Entrevista com Frei Betto 17 Congresso da CUT 19 Um caso passional 20 De repente, nas ruas dos EUA... 21 França, vandalismo ou luta de classes? 22 EUA desrespeitam a lei sob o silêncio da mídia 23 Historinhas de ninar monstros 24

Editorial Idéias em Revista: participativa e aberta a ...sisejufe.org.br/wprs/wp-content/uploads/2012/08/ideias-em-revista... · Historinhas de ninar monstros 24. 2 Ano I – número

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Editorial Idéias em Revista: participativa e aberta a todos

Participe da Elaboração de Nossa Revista

ando prosseguimento à reestrutura-ção da Imprensa do SISEJUFE-RJ, sur-ge a nossa revista, Idéias, uma publi-

cação que pretendemos que seja partici-pativa e aberta, feita não a duas, ou quatromãos, mas a centenas, milhares de mãos;mãos de todos vocês, leitores que assimtornar-se-ão autores desta revista, abertaà categoria. Envie seu texto para aprecia-ção, se for possível ele será aprovei-tado em um dos próximos números.Basta endereçar uma mensagem [email protected], colocan-do no assunto, colaboração na Idéias.

A Idéias surge com o propósito detornar a comunicação do sindicato maiságil, rápida. Agora você terá dois órgãosde comunicação, a Idéias e o jornal “Quefazer?”, o que garantirá que, quinzenal-mente, o servidor do Judiciário tenha emmãos informações preciosas sobre oPCS, os quintos, denúncias contra o as-sédio moral, B17, plano de carreira, en-fim, todos os assuntos relevantes ao diaa dia dos Tribunais, com uma visão críti-ca e de esquerda dos acontecimentos domundo. A informação agora será dividi-da. O seu jornal, editado no início domês, voltará a ser, como era antes, umpequeno tablóide, de quatro a oito pági-nas, somente com as informações da ca-tegoria. No fim do mês você receberásua revista Idéias, com tudo, tudo mes-mo que se pode esperar de uma granderevista: colunas, crônicas, reportagens,poesia, informações pertinentes a cate-goria, denúncias, debates. Junto disto,

temos nosso boletim eletrônico denotícias, o Informe SISEJUFE, que aju-dou a dinamizar as informações maisprementes. Para receber o Informe SI-SEJUFE, peça para se cadastrar no en-dereço [email protected].

Para se entender, todavia, como sur-giu, a revista Idéias, temos que contar umpouco a história recente do Jornal Que Fa-zer?. Até uns dois anos atrás, o jornal eraum pequeno tablóide, sem nenhuma par-ticipação direta da categoria. Com a rees-truturação da Imprensa do Sindicato (con-tinuada e aprofundada na atual gestão), ojornal passou por uma reformulação, tor-nou-se aberto e participativo e, para querefletisse as opiniões e os anseios da ca-tegoria, criou-se o suplemento Idéias, noqual participaram talentos da categoria,como Glória Horta, Kika Moog, LucianaVillar, Rosane de Oliveira, Márcio de Sou-za Marques, Eduardo Neves do Brasil, Da-vid Cordeiro, Roberto Ponciano, FlavioPrieto e importantes nomes da cultura eda política brasileira, como Gabriela Lei-te, Teotônio dos Santos, Emir Sader, La-erte Braga, Elisa Lucinda, Gito Vianotti.

Leia esta revista com o mesmo pra-zer que tivemos em elaborá-la, participedela, envie seus textos para que publi-quemos. Que estas Idéias sejam as nos-sas, as que temos para construir uma ca-tegoria mais harmônica, justa, solidária.

Abraços a todos,Diretoria do SISEJUFE-RJ e Secreta-

ria de Imprensa

D

PARTICIPE da Idéias em Revista! Mande sua colaboração para [email protected]

Filiado à FENAJUFE e à CUT

SEDE: Avenida Presidente Vargas, 509/11ºandar - Centro - Rio de Janeiro-RJCEP 20071-003

TEL./FAX: (21) 2232-1004PORTAL: http://sisejuferj.org.brENDEREÇO: [email protected]

DIRETORIA: André Gustavo Souza Silveira daSilva, David Batista Cordeiro da Silva, Dulavimde Oliveira Lima Júnior, Flávio Braga Prieto daSilva, Maria da Glória de Menezes VasconcelosHorta, João Ronaldo Mac-Cormick da Costa,Leonor da Silva Mendonça, Lucilene Lima Araújode Jesus, Márcio de Souza Marques, MárcioHungerbühler, Nilton Alves Pinheiro, Otton Cid daConceição, Penélope Diniz BittencourtNepomuceno, Renato Gonçalves da Silva, Ricardode Azevedo Soares, Roberto Ponciano Gomes deSouza Júnior e Valter Nogueira Alves.

IDÉIAS EM REVISTA

JORNALISTA RESPONSÁVEL:Mário Augusto Jakobskind (Mtb 15.150)

REDAÇÃO:Max Leone (Mtb 18.091)

PROJETO GRÁFICO e DIAGRAMAÇÃO:Claudio Camillo - (Mtb 20.478)

REVISÃO:João Mac-Cormick

ILUSTRAÇÃO:Latuf

IMPRESSÃO:Ediouro Gráfica e Editora Ltda

(7.000 exemplares)

As matérias assinadas são de

responsabilidade exclusiva dos autores.

Editorial 1

Cartas da Categoria 2

Plano de Cargos e Salários 3

Jornada de 6 horas 5

Os que fazem greve 6

Gravador, vaca, faca e estrela cadente 7

Sistema Digital 8

Máximas do Barão 9

Abril de 1968: a greve de Contagem 10

Cem anos de Mario Quintana 11

Crianças do MST 12

Ações afirmativas: o direito às diferenças 14

As lágrimas da Aracruz e a coragem

das mulheres camponesas 15

Biodiversidade e novo paradigma 16

Entrevista com Frei Betto 17

Congresso da CUT 19

Um caso passional 20

De repente, nas ruas dos EUA... 21

França, vandalismo ou luta de classes? 22

EUA desrespeitam a lei sob o silêncio da mídia 23

Historinhas de ninar monstros 24

2 Ano I – número 1 – Março/2006

Cartas da Categoria Uma página para que todos se manifestem

DIREITO AO TRÂNSITO

Companheiros,

Venho denunciar uma prática lamen-tável que a Diretoria do Foro da Se-ção Judiciária do Rio de Janeiro ado-tou: inviabilizar o direito ao trânsitodos servidores, previsto no art. 18 daLei 8.112/90.Valendo-se da inexperiência oumedo dos novos funcionários, a Di-retoria tem removido servidoresque estavam há semanas lotadosprovisoriamente na SRH do Rio deJaneiro para outros municípios, semlhes conceder o mínimo de dez diasde trânsito, previsto na legislação.A intenção é deliberada, pois osexemplos que se seguem demons-tram o mecanismo que impede o di-reito de ser exercido: na última sex-ta-feira, dia 17 de março de 2006,dois servidores novos, lotados naSRH, receberam, ao final da tarde,memorando comunicando sua re-moção para o município de Angrados Reis, a partir da segunda-feira,20 de março do presente ano. Ori-entados por colegas a requereremo direito ao trânsito (que deveria serconcedido automaticamente, poisse trata de ato vinculado e não dis-cricionário), só conseguirampeticionar via fax e até por volta de19h não tinham obtido resposta.Ora, a publicação do ato de remo-ção só será feita no boletim inter-no de terça-feira, mas a remoção épara segunda, não havendo tempohábil para os novos servidores plei-tearem um direito líquido e certo.Sabemos que para tudo no Direitohá prazo, mas no caso, simplesmen-te foi ignorado.Por que o Senhor Diretor do Foro

lança mão de um expediente des-te quilate? Enviar um memorandono final de uma sexta-feira, paraque servidores que estão no Rio seapresentem na segunda-feira ime-diata, em outra cidade, sem pode-rem cuidar de suas mudanças, rou-pas, eventual finalização de contra-tos de locação etc? Acho graveessa medida, que afeta toda a ca-tegoria, pois todos estamos sujei-tos a uma remoção. Por favor,queiram interpelar, na forma dalei, o Senhor Diretor do Foro aapresentar uma resposta plausívela tudo que aqui foi relatado. Valelembrar, por último, que consul-tando os últimos 10 boletins inter-nos, a maioria esmagadora dosnovos servidores tem sido remo-vida sem direito a trânsito, mas vezpor outra há portarias que o con-cedem a pessoas específicas. Porque, se é uma questão deisonomia?

Muito obrigado,

Luiz Gustavo Barbosa, analista judi-ciário, TRF – Tel. 2276-8509

SISEJUFE-RJ: Elisa Lucinda

Gostaria de parabenizar aoSISEJUFE-RJ pela iniciativa e esco-lha do espetáculo que tivemos aoportunidade de apreciar na noi-te de 30/03. A apresentação daatriz poetisa Elisa Lucinda – Paremde Falar Mal da Rotina, foi exce-lente, um verdadeiro presente.

Muito obrigada,

Sandra Martinez (TRE-RJ)

ELISA LUCINDA

Oi Glória,

Foi demais. Adorei o espetáculo.A observação do cotidiano conti-nua sendo o palco dos processoscriativos...Você está de parabéns por ajudara organizar e trazer pra gente esseshow maravilhoso.

Um grande abraço.

Rosana Lopes (SJRJ)

SOBRE ELISA

Querida Glória!!!

O show foi UM SUCESSO, a Elisa éa própria alma da mulher brasilei-ra, mestiça, linda, viva e cheia debrilho!! Assim como você, que foiuma das primeiras que avaliaram oquilate da musa divina e cuidou delançá-la, não foi????

MUITO OBRIGADA PELOS MO-MENTOS MARAVILHOSOS DE CUL-TURA E LAZER!

PARABÉNS PRA VOCÊ, PARABÉNSPARA O NOSSO SINDICATO, PARA-BÉNS PARA A ELISA LUCINDA!!!

Beijinhos carinhosos!

Valeria (SJRJ)

Ano I – número 1 – Março/2006 3

PCS Rio participou massivamente das moblizações no mês demarço em favor da aprovação do PCS

PCS na reta finalProjeto de Lei 5.845, que criao novo Plano de Cargos e Salá-rios dos Servidores da JustiçaFederal, está na Comissão de

cussões sobre o PCS tem sido degrande importância. No Rio de Ja-neiro, por exemplo, os servidoresfizeram várias paralisações – nosdias 22 e 29 de março e nos dias 5 e6 de abril – demonstrando disposi-ção para ir à luta em busca do obje-tivo, que é a aprovação do novo PCS.Não está descartada a possibilidadede uma greve por tempoindeterminado, caso o projeto nãoseja aprovado pelo governo.

Esclarecimentossobre o PCS3

Como foi o processo de discussão?O novo PCS foi discutido durante um anoantes de ser enviado ao Congresso. Onosso Sindicato organizou vários gruposde trabalho (entre eles os de agentes desegurança, oficiais de justiça, aposenta-dos, servidores dos núcleos de saúde),

distribuiu o material do plano, organizoutrês seminários, nos quais representantesda oposição ao plano foram chamadospara participar e só compareceram navotação final da plenária do Rio (na quala proposta de envio foi aprovada com70% de votos, com a oposição sendo con-tra o envio do projeto). A FENAJUFE, porsua vez, organizou três plenárias nacio-nais para o envio do projeto.Nelas, 80% da categoria de todo o Brasilmostrou-se favorável ao envio.

Quando começou a mobilizaçãopelo PCS?Mobilizamos a base desde a elaboraçãoe o início da tramitação do projeto. Láse vão 20 meses. Foram jornais,cartilhas, boletins, assembléias, semi-nários, paralisações, greves. O projetosó chegou a onde está por conta dadisposição da FENAJUFE, do SISEJUFE-RJ e da categoria de lutarem por ele.

Foto

OFinanças da Câmara dos Deputadosaguardando para ser votado. Tantoa FENAJUFE quanto o SISEJUFE-RJ eo Comando Nacional deMobilização têm atuado, principal-mente em Brasília, no sentido degarantir a previsão orçamentáriapara a implementação total da pro-posta. As entidades representativasdos servidores não poupam esforçospara conseguir apoio dos deputadosna votação do projeto.A Fenajufe já solicitou uma audiên-cia com a nova presidente do STF,ministra Ellen Gracie, para pedirmaior agilidade nas negociaçõescom o Executivo.

Além da pressão das entidades, aparticipação da categoria nas dis-

4 Ano I – número 1 – Março/2006

Mobilização crescente do PCS:O Sindicato mobilizou a categoria e o que se viu, nos dias 22 e 29

de março e 5 e 6 de abril, foi um crescimento na luta pelo nosso proje-to. Com exceção do TRT, no qual ainda temos dificuldades, todos osoutros tribunais tiveram participação crescente. As Justiças Federaisda Rio Branco e da Venezuela pararam por 24 horas no dia 29, comalguns cartórios fechados e grande participação da categoria. TRF eTRE fizeram paralisações de 2 horas, com cerca de 60 funcionários nopiquete, o que demonstra o crescimento da luta. Na primeira semanade abril foram feitas paralisações parciais em todos os fóruns e apon-tando um calendário de greve para a Reunião Ampliada na Federação.

Todos juntos do SISEJUFE-RJ e da FENAJUFE até a vitória final, com a aprovação do projeto

O PCS foi feito para beneficiaras FCs e CJs?O PCS aumenta a remuneração emcerca de 60%, isto sem contar as van-tagens pessoais, os adicionais de qua-lificação e as gratificações de carrei-ra de oficiais e agentes (que extin-guem centenas de FCs). O impactoorçamentário do projeto é de 4,9bilhões de reais (o do PCS2, o anteri-or, era de 3 bilhões de reais), impac-to este sem contar o adicional dequalificação e a questão do B17 (queeleva o custo do projeto para cercade 6 bilhões de reais, o dobro do an-terior, que foi parcelado em 3 vezes).As FCs não aumentam um centavo,só a opção. As CJssim, aumentam.Todavia, esta erauma exigência doSTF para enviar oprojeto e a base dostrabalhadores detodo o Brasil, resol-veu, por unanimida-de na Plenária Naci-onal de Vitória, enviá-lo mesmo como aumento das CJs. Um pequeno de-feito não pode pôr a perder um pro-jeto de tal monta. Em tempo, oSISEJUFE-RJ e a FENAJUFE propuse-ram emenda que congela as CJs e aopção das FCs (rejeitadas pelo STF).

Este PCS é um projeto do STF?Quem são os autores, afinal,do PCS?A greve da GAJ foi o que abriu espaçopara discutir nosso PCS. Também ébom ter conhecimento de como é atramitação um projeto no CongressoNacional. Ao STF compete privativa-mente enviar qualquer projeto de au-mento de salário do Judiciário para oCongresso. Com quem o SISEJUFE-RJ ea FENAJUFE tinham de negociar? Como STF. Nem tudo que está no projeto éperfeito, pois é fruto de negociação,mas o PCS é um projeto nosso, da cate-goria, fruto de uma greve e que foi envi-ado a Brasília depois muita pressão. E

foi devido a nossa presença que a pari-dade entre ativos e aposentados e ocargo de auxiliar se mantiveram.

A FENAJUFE e o SISEJUFE-RJ estãoem comum acordo com o STF paraprivilegiar as FCs e as CJs em detri-mento da remuneração?Em todas as plenárias do SISEJUFE-RJ eda FENAJUFE houve uma unanimidade:não negociaremos corte na remunera-ção, se algo tiver que ser cortado queseja as FCs ou as CJs. Esta, inclusive,será nossa proposta para aliviar o im-pacto orçamentário do projeto.

Se este PCS vier parcelado será umaderrota da cate-goria?Um plano com umimpacto de cercade 6 bilhões dereais, o dobro doanterior, que foiparcelado em trêsvezes, se for apro-vado (o que é nos-

sa luta) em parcelas será uma derrota?Que categoria de funcionários públicosconseguiu 60% de aumento? Que cate-goria teve projeto com impacto orça-mentário de 6 bilhões aprovado? EstePCS é fundamental, em que pesem pe-quenos defeitos, devemos defendê-lopor ser um grande avanço

Aumento médio de 60%; Equiparação ao TCU; Carreira Única (começa adiscussão da carreira,normatizando váriosaspectos dela); Carreira Típica de Estado; Quadro Único (vantagensúnicas, como auxílio ali-mentação e facilidade parapermutas); GAJ de 50%; Adicional de Qualificação; Prazo de 180 dias para aregulamentação do PCS; Participação dos sindica-tos na regulamentação doprojeto (o que abre espaçopara lutarmos pela jorna-da de 6 horas); Trocas das FCs de oficiais eagentes por remuneração(extinção de centenasde FCs); Impede o desconto do B17e o incorpora ao salário dequem não recebeu.

Vejam as conquistasdo novo PCS:

“Em todas as plenáriasdo SISEJUFE-RJ e daFENAJUFE houve umaunanimidade: nãonegociaremos corte naremuneração”

Ano I – número 1 – Março/2006 5

BRASÍLIA – No julgamento dosProcedimentos de Controle Admi-nistrativo 74, 77, 78, 79, 80, 81, 82e 83, o Conselho Nacional de Justi-ça (CNJ) considerou legal a fixaçãoda jornada de trabalho dos servi-dores do Poder Judiciário daUnião, entre o mínimo de 6 e omáximo de 8 horas diárias.

A discussão foi levantada no CNJpor várias representações movidaspelo Ministério Público Federal,contra os atos do STM, CJF, TJDFT,STJ, STF, CJF, TRF1 e TST, que fixa-vam jornada inferior a 8 horas diári-as. As representações do MPF pedi-am que a jornada de 6 ou 7 horasdiárias fosse consideradainconstitucional ou que se desse aredução proporcional de remune-ração dos servidores.

Jornada de 6 horas FENAJUFE consegue grande vitória

CNJ considera legal redução de jornadade trabalho dos servidores do Judiciário

Comentário do SISEJUFE-RJ

Esta vitória abre espaço para que iniciemos uma verdadeira guerra de pro-cedimentos administrativos pedindo a extensão da jornada de 6 horas paratodo o Judiciário. Nos lugares onde foi aplicada – como, por exemplo, no STJ,com turno duplo de atendimento – a jornada de 30 horas semanais provouser mais eficiente, com um rendimento maior do trabalhador, com um au-mento do grau de satisfação e, conseqüentemente com um número menor defuncionários com licença médica, tanto por problemas físicos (LER/DORT),como por problemas psicológicos (depressão, estafa etc).

A vitória da FENAJUFE é ainda mais significativa se pensarmos que,com o quadro único projetado no PCS, poderemos incluir na regulamen-tação do projeto pelos Tribunais, a jornada de trabalho de 6 horas paratodo o Judiciário. A luta pela redução da jornada de trabalho deu umpasso significativo, e agora está mais viva do que antes!

A FENAJUFE e o SINDJUS/DFtiveram importante participaçãonessa vitória. O coordenador ge-ral das duas entidades, Roberto

Policarpo, se reuniu no dia 28/03com vários conselheiros, dentreeles o ministro Pádua Ribeiro, doSTJ. Entregou memoriais com osargumentos que justificavam amanutenção do horário e no iní-cio fez a sustentação oral.

As entidades argumentaram que“os critérios de conveniência eoportunidade, para o caso, vincu-lam-se a uma série de fatores, quevão desde a valorização e melhorada qualidade de vida do servidor,premido por um desenvolvimentotecnológico que permite a realiza-ção de mais atividades em menostempo, porém propicia desgastefísico e mental acentuado, até amelhoria de produtividade e daeficiência que as jornadas fixadaspermitem alcançar, beneficiando ousuário do serviço público”

* Jornalista da FENAJUFE

Leonor Costa (*)

6 Ano I – número 1 – Março/2006

Os Que Fazem a GreveOs Que Fazem a GreveOs Que Fazem a GreveOs Que Fazem a GreveOs Que Fazem a Greve

Nestes dias de apostasia total, de descrença e indiferen-ça, os que fazem a greve incendeiam os outros com a cha-ma da esperança; os que furam a greve propagam a covar-dia e o conformismo.

Os que fazem a greve mostram que é necessário seindignar e que o sagrado direito de discordar e lutar porseus direitos é tão fundamental como o pão nosso decada dia; os fura-greves se alinham com aqueles que que-rem transformam o ser humano numa máquina capazapenas de trabalhar e se reproduzir.

Os que fazem a greve lutam por um futuro melhor,mais digno, onde todos possam viver e não apenas sobre-viver; os fura-greves constroem um futuro de violência ecaos, onde haja menos direitos e mais violência, onde osilêncio seja imperativo e obedecer, uma missão para so-breviver.

Os que fazem a greve não lutam só por aumento desalário. Os grevistas lutam por um país mais justo, maishumano, por uma humanidade mais solidária, onde o pão,a educação e a diversão sejam para todos; os que furam agreve não ligam se o pão for para poucos, e se contentamcom migalhas. Justiça é uma palavra para qual não ligam eo próximo é um competidor, jamais um irmão.

Os que fazem a greve querem que o futuro de seus fi-lhos seja límpido, com um povo bem nutrido, um país de-

senvolvido, com país e moradia. Ensinam a seus filhos dig-nidade e honestidade, levantam alto a bandeira do amor asua terra e da luta por um futuro melhor; os que furam agreve não vêem que legam para os seus descendentes umpaís dividido e violento, sem paz e igualdade. Um lugaronde só há grades, nas prisões e nas casas, e que nem oventre das mães é seguro. Um país de poucos para o chorode muitos.

Os que fazem a greve edificam relações mais límpidasdentro do seu local de trabalho, mais transparentes, fra-ternas e baseadas na competência e no esforço; os quefuram a greve apostam no puxa-saquismo, nocumpadrismo e na submissão. Tem mais apego a seuscargos que as suas convicções e preferem se submeter aordens injustas que se unir e lutar por relações de traba-lho claras e justas.

Os que fazem a greve estão em paz com a própriaconsciência e fazem a sua parte para que este país saiadeste imenso atoleiro em que se encontra; os fura-grevespreferem atolar no charco de indiferença a injustiça soci-al, são indiferentes a toda esta imensa crise moral e espi-ritual que assola a nação e apenas reclamam da falênciamoral, como se não fossem cúmplices de tudo ao agüen-tar calados o desmonte do país.

Os que fazem a greve são o sal da terra!

Roberto Ponciano

Arte Os que fazem a greve estão em paz com a própria consciência

Ano I – número 1 – Março/2006 7

Arte O mundo está ficando doido e quer nos levar com ele

Glória Horta (*)

im, comprei um gravador digi-tal porque queria gravar canti-gas e inserir no computador,abandonei minhas fitas e adqui-

ri o acessório do tamanho de um is-queiro. Eu queria um gravador quegravasse a voz da gente e que depoiseu pudesse ouvir, apagar, regravar,passar adiantado pra frente apertan-do o botão das setinhas pra direita evoltar correndo pra trás apertando obotão das setinhas pra esquerda e darstop pra desligar, só isso. Mas o da-nado do pequeno tem um manual re-pleto de ícones indecifráveis e ilegí-veis. Como um mero gravador queuma criança poderia engolir de tãopequeno tem a pretensão de exibirum monitor para formigas?

Visito uma cidade tão pequena quetem o mesmo número de habitantes domeu prédio. Aos poucos as crianças e atéos cães me reconhecem. Nem celularpega em volta dessa praça onde a comu-nidade constrói com as próprias mãoscasas para os desabrigados, e quandovolto de lá, depois de tirar meu violão

Gravador, vaca, faca e estrela cadente

do sótão imaginário e aprender músi-cas de luar do sertão e de serestas comacordeom e fogueira, sou mais frágil.

Sem querer sou ríspida com minhaamiga porque um homem cheirandocola pára na frente do carro ondeestamos, as duas sozinhas de noite, ediz coisas pedindo dinheiro e levanta acamisa e mostra uma ferida de faca comsangue na barriga. Minha amiga vira o

* Diretora Cultural do SISEJUFE-RJhttp://www.gloriahorta.nethttp://finitacomoflores.zip.net

“Em vez deretornar energizadapara o enfrentamentoda cidade maravilhosa,volto mais sensível àscenas de rua, maisdeslocada, e procuro emvão um sentido para omeu dia-a-dia. Umsentido para uma vidasem cachoeiras”

rosto com um grito e cobre o rosto comas mãos e eu brigo com ela porque que-ria que ela fingisse que estava tudo nor-mal. Ora, não devemos demonstrarmedo, pode ser um assaltante, vai cres-cer pra cima de nós, fique impassível,brigo, disfarça, ora, como se nada esti-vesse acontecendo. Que amiga descon-trolada! Depois me arrependo e peçodesculpas a ela. O mundo está ficandodoido e quer nos levar com ele.

Em vez de retornar energizada parao enfrentamento da cidade maravilho-sa, volto mais sensível às cenas de rua,mais deslocada, e procuro em vão umsentido para o meu dia-a-dia. Um sen-tido para uma vida sem cachoeiras.

Queria acordar amanhã com baru-lho de vaca e bezerro, de galo e pássa-ros, e rever as oito estrelas cadentesque me emocionaram deitada sozinhana grama úmida, vendo um céu tãocheio de estrelas que parecia cenáriode seriado da Globo. O mundo real émuito, muito mais bonito

S

8 Ano I – número 1 – Março/2006

Sistema Digital As falsas alegações das grandes redes de televisão

Gustavo Gindre (*)

o caso do padrão europeu (DVB),por exemplo, a transmissão pararecepção móvel teria que usar abanda reservada para a telefonia

celular, o que incluiria as empresas detelefonia no núcleo-central da opera-ção de TV. Receosas desta concorrên-cia, as emissoras, então, preferem amodulação japonesa.

O padrão de modulação brasileiro,desenvolvido pela PUC-RS, conhecidocomo SORCER, também permite atransmissão para recepção móvel. Por-tanto, mesmo aceitando o argumentoda Globo e das demais emissoras, po-deríamos adotar uma modulação comtecnologia brasileira.

Todos os padrões de modulação (ja-ponês, europeu, norte-americano e bra-sileiro, além do chinês que está em de-senvolvimento) permitem transmitir emSDTV, EDTV e HDTV. Ou seja, para esta

As emissoras de TV (Globoà frente) defendem a

escolha do padrão japonêsde modulação da TV digital

(ISDB) porque este seria oúnico modelo que lhes

permitiria fazertransmissão para recepção

móvel usando a banda doespectro eletromagnético

reservada para o UHF.questão específica, a escolha da modula-ção é indiferente.

Igualmente, todos os padrões permi-tem que se desenvolva uma série de servi-ços interativos, como governo eletrôni-co, e-learning, e-bank, tele-medicina etc.Novamente, nesta questão específica, aescolha da modulação é indiferente.

Desde março de 2005, a Finlândiapossui uma operação-piloto de transmis-são da TV digital para recepção móvel uti-lizando o padrão de modulação europeuconhecido como DVB-H e transmitidojustamente pela banda de UHF, que a Glo-bo dizia ser uma exclusividade do padrãojaponês. Estão envolvidos na experiênciao operador de rede de broadcast da Fin-lândia (Digita), a maior emissora de TVdaquele país (MTVB), a maior rede de TVnórdica (Sanoma WSOY), a TV pública daFinlândia (YLE), as duas maiores teles dopaís (Elisa e Telia Sonera) e a Nokia.

O modelo de negócios escolhido en-volve as teles e é pago. Mas, poderiaperfeitamente ser gratuito, já que utili-za a banda de UHF e se trata de serviço

de radiodifusão. Neste caso, não há ne-nhuma necessidade tecnológica de en-volver as teles ou de cobrar do usuário.Trata-se de uma opção do modelo denegócios finlandês e não de uma de-manda tecnológica.

Cabe perguntar: se definitivamentenão é verdade o que as emissoras disse-ram que somente o ISDB permitiria atransmissão para recepção móvel atravésda banda do espectro eletromagnético re-servada para a radiodifusão, se é verdadeque o DVB e o brasileiro SORCER igual-mente permitem este mesmo tipo detransmissão, se também é verdade quequalquer padrão garante a alta definição(defendida pelas emissoras) e a introdu-ção de serviços interativos, então PORQUE, AFINAL DE CONTAS, AS EMISSORASDE TV ESTÃO DEFENDENDO A ADOÇÃODO ISDB JAPONÊS? Qual o segredo?

* Jornalista, mestre em comunicação (UFRJ),membro eleito do Comitê Gestor da Internet emembro do Coletivo Intervozes e do GrupoComunicAtivistas

As falsas alegações dasgrandes redes de

N

As falsas alegações dasgrandes redes de televisãoAs falsas alegações dasgrandes redes de televisão

As grandes redes de TV escondem o jogo sobre o conteúdoda programação dos novos canais digitais.

REPRODUÇÃO

Ano I – número 1 – Março/2006 9

Apparício Fernando deBrankerhoff Torelly, o Barão deItararé, título nobre de umabatalha que não houve, é umafigura histórica do jornalismobrasileiro, sendo considerado oprecursor da imprensa de hu-mor, como, por exemplo, OPasquim. Gaúcho do porto deRio Grande, o Barão veio aomundo, não a passeio, comodizem os seus biógrafos, aindano fim do século XIX, mais pre-cisamente em janeiro de 1895 efoi inovador da imprensa brasi-leira. Com uma vastíssima bio-grafia, que começa ainda emterras gaúchas, o grande marcodo Barão foi, sem dúvida, o seu“A Manha”, um tablóide decirculação nacional que bateurecordes de venda. Para se teruma idéia de sua irreverência,vale mencionar os dizeres deuma placa afixada na porta deentrada de “A Manha”, o “En-tre sem bater”. Depois de várias pri-sões políticas, nos anos 30, por de-sagradar as autoridades do GovernoGetúlio Vargas, e até de um seqües-tro, o Barão de Itararé retornou aoseu posto e não pensou duas vezesmandando afixar a placa. Figuramuito popular no Rio de Janeiro seelegeu vereador pelo Partido Comu-nista Brasileiro nos anos 40, masdois anos depois, em 1948, acaboucassado depois que o seu partidoteve o registro cancelado. Em 27 denovembro de 1971 deixou estemundo, mas continua mais atual doque nunca, com seus escritos imor-tais.

O verdadeiro culpadoO homem estava sendo acusado de

haver roubado um relógio. Mas se de-fendeu acusando o dono da joalheria:

– Eu estava lá quando ele, depoisde arrumar a vitrine, colocou umcartaz assim – “Aproveitem a oca-sião” – e foi embora... (Almanaquepara 1949, p.126)

Máximas do Barão Barão de Itararé, figura histórica do jornalismo brasileiro

TTTTToma lá, dá cáoma lá, dá cáoma lá, dá cáoma lá, dá cáoma lá, dá cáQuando Rui Barbosa inciava sua

profissão na Bahia, apareceu-lhe emcasa, certa vez, um açougueiro, per-guntando-lhe:– Se o cachorro de um vizinho lhefurta um pedaço de carne, pesando 5quilos, o dono do cachorro é obriga-do a pagar?– Tem testemunha?– Tenho.– Pois, então, o doutor me deve7$500. Foi seu cachorro que rouboua carne.O futuro jurisconsulto fez o paga-mento, sem bufar, e, quando oaçcougueiro ia saindo, chamou-o:– Vem cá! E a consulta?– Tenho que pagar?– Naturalmente. São 50$000.(Almanaque para 1949, p.126)

Cortinas de madeiraCerta vez, estava o governador Bene-

dito Valadares em seu gabinete no Palá-

cio da Liberdade, despachan-do uns papéis de importân-cia. Mas estava inquieto, sematinar com o motivo de seunervosismo. De repente, veri-ficou que era o sol, que, en-trando pela janela, refletiaseus raios sobre o papel. Ime-diatamente chamou o contí-nuo e ordenou-lhe:

– Baixa essa Venezuela!Os circunstantes riram do

neologismo discretamente.E riram, naturalmente, porignorantes, pois não perce-beram o profundo sentidoamericanista daquele vocá-bulo. Realmente essas corti-nas de madeira ou de metal,na Pérsia, chamam-se venezia-nas; em Veneza, chamam-sepersianas, Por que, então, nãopodem ser chamas deVenezuelas no Brasil?(Almanaque para 1949, p.127)

Vontade paternaO homem estava sendo julgado. E

o juiz perguntou-lhe:– Então, o senhor confessa mes-

mo que abriu com uma gazua loja defazendas, onde foi encontrado?

– É verdade, sim, senhor. Masassim procedi para cumprir a últimavontade de meu pai.

– Quer dizer que seu pai lhe pediuque se tornasse um assaltante?

Não foi isso propriamente.Mas, ao expirar, ele disse que mor-reria descansado, se eu lhe prome-tesse que abriria uma casa de fa-zendas. E eu abri... (Almanaque1949, p. 140)

Força de hábitoUm freguês chegou ao restaurante deluxo e amarrou o guardanapo no pes-coço. O garçom, que tinha sido barbei-ro, perguntou-lhe automaticamente:– Barba e cabelo? (Almanhaque para1949, p.142)

REPRODUÇÃO

Ernesto Germano

movimento sindical sofreu coma violenta repressão no períodoseguinte ao golpe de 64. Os inú-meros Inquéritos Militares per-

seguiam lideranças e militantes comuma violência jamais usada. Nos pri-meiros meses, os militares acabaramcom o Comando Geral dos Trabalha-dores, fizeram intervenções em 452sindicatos, 45 federações e 4 confede-rações. Usando a legislação existente,e outras leis criadas, destroçaram o mo-vimento e cassaram toda a liderançamais combativa. Em um primeiro mo-mento, 50.000 pessoas foram presas nopaís. Depois, entre 1965 e 1970, forammais de 100 intervenções nos sindica-tos restantes e mais 4 federações. Anova Lei de Greve (conhecida como Anti-Greve) impunha uma barreira. Os mili-tares mostraram ao que vinham: des-mantelar o movimento operário e ga-rantir tranqüilidade ao capital.

O arrocho salarial imposto pelos mi-litares esmagava os trabalhadores. A lei4.330 proibia greves, o FGTS substituiu

Nossa História O arrocho salarial imposto pelos militares esmagava os trabalhadores

Abril de 1968: a Greve de Contagem

a estabilidade no emprego e os índicessalariais dependiam de cálculos do Mi-nistério do Trabalho. A Lei 4.725 eraconhecida como “Decreto do Arrocho”.Em fevereiro de 67, o reajuste foi de 25%para o salário mínimo, enquanto o cus-to de vida subia 30,4%.

Em Minas Gerais, quatro anos de-pois do golpe, os trabalhadores fazema primeira grande luta de resistência.O movimento teve início na seção detrefilaria da Belgo-Mineira, no dia 16de abril. A empresa foi ocupada pelostrabalhadores que, imediatamente,elegeram uma Comissão para negoci-ar com a direção da fábrica. Com umaeficiência nunca vista, no dia seguintea Delegacia Regional do Trabalho jul-ga e declarava a greve ilegal e ameaçaos metalúrgicos, forçando-os a deso-cupar a fábrica, que foi imediatamen-te tomada por tropas da PM. Os gre-vistas seguem para a sede do Sindica-to e ficam sabendo que os 500 operá-rios da Sociedade Brasileira de Eletri-ficação haviam parado também.

As negociações não andavam e omovimento crescia. A Mannesman,

com 4.500 operários, entrou na greve.No dia 22 de abril o movimento jácontabilizava 13 empresas paradas emais de 15.000 trabalhadores com osbraços cruzados. Para permitir maiorrepresentatividade, a Comissão de Gre-ve foi ampliada com delegados eleitosem todas as empresas paradas e, comonão podia deixar de ser, o governo re-solve negociar ao seu modo: a PM doestado de Minas Gerais ocupou toda aCidade Industrial, reprimiu, proibiu as-sembléias e reuniões, prendeu quemdistribuía boletins e isolou as comuni-cações. A estação de rádio local foi fe-chada e linhas telefônicas cortadas. Atática era não deixar o restante do paíssaber o que se passava em Contagem!

Com a repressão e o total isolamen-to dos trabalhadores mineiros, nãohavia muito mais a fazer. No dia 25,uma Assembléia aceitou os 10% ofere-cidos pelo Ministério (a reivindicaçãoera 25%) e a greve foi encerrada. Foi oprimeiro grande movimento depois doGolpe de 64 e as lideranças foram pre-sas, com grande número de demitidosentre os grevistas

O

A Arte de LerO leitor que mais admiro é aquele que nãochegou até a presente linha. Neste mo-mento já interrompeu a leitura e está conti-nuando a viagem por conta própria.

Cartaz para uma feira do livroOs verdadeiros analfabetos são os queaprenderam a ler e não lêem.

CitaçãoDe um autor inglês do saudoso século XIX:“O verdadeiro gentleman compra sempretrês exemplares de cada livro: um para ler,outro para guardar na estante e o últimopara dar de presente.”

Citação 2E melhor se poderia dizer dos poetas o quedisse dos ventos Machado de Assis: “A dis-persão não lhes tira a unidade, nem ainquietude a constância.”

Contradições... mas o que eles não sabem levar emconta é que o poeta é uma criatura essen-cialmente dramática, isto é, contraditória,isto é, verdadeira.E por isso, é que o bom de escrever teatro éque se pode dizer, como toda a sincerida-de, as coisas mais opostas.Sim, um autor que nunca se contradiz deveestar mentindo.

CuidadoA poesia não se entrega a quem a define.

Das EscolasPertencer a uma escola poética é o mes-mo que ser condenado à prisão perpétua.

Destino AtrozUm poeta sofre três vezes: primeiro quandoele os sente, depois quando ele os escrevee, por último, quando declamam os seusversos.

Do EstiloO estilo é uma dificuldade de expressão.

Pensamentos extraídos do livro “Do Caderno H”,

Editora Globo - Porto Alegre, 1973, pp. diversas.

A CartaQuando completei quinze anos, meu com-penetrado padrinho me escreveu umacarta muito, muito séria: tinha até ponto-e-vírgula! Nunca fiquei tão impressionado naminha vida.

A CoisaA gente pensa uma coisa, acaba escreven-do outra e o leitor entende uma terceiracoisa... e, enquanto se passa tudo isso, acoisa propriamente dita começa a descon-fiar que não foi propriamente dita.

As IndagaçõesA resposta certa, não importa nada: o es-sencial é que as perguntas estejam certas.

A VozSer poeta não é dizer grandes coisas, master uma voz reconhecível dentre todas asoutras.

Arte LongaUm poema só termina por acidente depublicação ou de morte do autor.

Arte PoéticaEsquece todos os poemas que fizeste. Quecada poema seja o número um.

BiografiaEra um grande nome — ora que dúvida!Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu,morreu, virou rua... E continuaram a pisarem cima dele.

Cem anos deMario Quintana

Um poeta eterno

Se estivesse entre nós, o gaúchoMario Quintana estaria fazendo 100anos no próximo dia 30 de julho.Natural de Alegrete, aos 7 anos deidade, auxiliado pelos pais, aprendeua ler, tendo como cartilha o jornal,editado em Porto Alegre, Correio doPovo, onde mais tarde viria a sercolaborador. Autor de 25 livros e umainfinidade de belos poemas, MarioQuintana dedicou-se também aojornalismo, colaborando em jornais doRio Grande do Sul e do Brasil.Trabalhou na Editora Globo de PortoAlegre nos anos 30, junto com ÉricoVeríssimo, escritor gaúcho quedispensa apresentação. Figurapopular, o poeta Mario Quintana todasas tardes podia ser encontrado emalgum banco da Praça da Alfândega,no centro da capital gaúcha, não sefurtando em papear com quem lheprocurasse. Hoje, num dessesbancos, Mario Quintana foi perpetuadoem bronze. Em 5 de maio de 1994,Mario Quintana nos deixou, mas a suaobra literária continua e é eterna.

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Senhora, eu vos amo tantoQue até por vosso maridoMe dá um certo quebranto...

Senhora, eu vos amo tantoQue até por vosso maridoMe dá um certo quebranto...

12 Ano I – número 1 – Março/2006

Quando Dividirem a Terra(Cuando Tengan la Tierra)

Composição: D. TComposição: D. TComposição: D. TComposição: D. TComposição: D. Toro / oro / oro / oro / oro / A. Petrocelli – VA. Petrocelli – VA. Petrocelli – VA. Petrocelli – VA. Petrocelli – VPoncianoPoncianoPoncianoPoncianoPoncianoQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamOs mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.

Quando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraTTTTTe juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidaSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasNosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.

Quando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensam

Quando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraTTTTTe juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidaSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantarei

Crianças do MSTCrianças do MSTCrianças do MSTCrianças do MSTCrianças do MSTCrianças do MSTCrianças do MSTCrianças do MSTCrianças do MSTCrianças do MSTOcupação Francisco Julião

Quando Dividirem a Terra(Cuando Tengan la Tierra)

Composição: D. TComposição: D. TComposição: D. TComposição: D. TComposição: D. Toro / oro / oro / oro / oro / A. Petrocelli – VA. Petrocelli – VA. Petrocelli – VA. Petrocelli – VA. Petrocelli – VPoncianoPoncianoPoncianoPoncianoPoncianoQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamOs mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.

Quando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraTTTTTe juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidaSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasNosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.

Quando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensam

Quando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraTTTTTe juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidaSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantarei

Ano I – número 1 – Março/2006 13

Quando Dividirem a Terra(Cuando Tengan la Tierra)

Composição: D. TComposição: D. TComposição: D. TComposição: D. TComposição: D. Toro / oro / oro / oro / oro / A. Petrocelli – VA. Petrocelli – VA. Petrocelli – VA. Petrocelli – VA. Petrocelli – Versão Robertoersão Robertoersão Robertoersão Robertoersão RobertoPoncianoPoncianoPoncianoPoncianoPoncianoQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamOs mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.

Quando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraTTTTTe juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidaSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasNosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.

Quando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensam

Quando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraTTTTTe juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidaSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantarei

Quando Dividirem a Terra(Cuando Tengan la Tierra)

Composição: D. TComposição: D. TComposição: D. TComposição: D. TComposição: D. Toro / oro / oro / oro / oro / A. Petrocelli – VA. Petrocelli – VA. Petrocelli – VA. Petrocelli – VA. Petrocelli – Versão Robertoersão Robertoersão Robertoersão Robertoersão RobertoPoncianoPoncianoPoncianoPoncianoPoncianoQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQuando dividirem a terra, semearei as palavrasQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQue meu pai, Martim Ferro lançou ao ventoQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamRecebê-la-ão os que lutamOs mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.Os mestres, os lenhadores, os trabalhadores.

Quando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraTTTTTe juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidaSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasNosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.Nosso vinho. Cantarei, cantarei.

Quando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasQuando dividirem a terra, dar-te-ei as estrelasAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaAstronautas de trigais, lua novaQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosQuando dividirem as terras, formarei com os grilosUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensamUma orquestra na qual cantem os que pensam

Quando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraQuando dividirem a terraTTTTTe juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidae juro, semente, que a vidaSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasSerá um doce cacho no mar das uvasNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantareiNosso vinho. Cantarei, cantarei

Camponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraSemearei no mundo o coraçãoSemearei no mundo o coraçãoSemearei no mundo o coraçãoSemearei no mundo o coraçãoSemearei no mundo o coraçãodo meu mundodo meu mundodo meu mundodo meu mundodo meu mundoAtrás de todo esquecimento secareiAtrás de todo esquecimento secareiAtrás de todo esquecimento secareiAtrás de todo esquecimento secareiAtrás de todo esquecimento secareicom minhas lágrimascom minhas lágrimascom minhas lágrimascom minhas lágrimascom minhas lágrimasTTTTTodo o horror da lástima e por fim te vereiodo o horror da lástima e por fim te vereiodo o horror da lástima e por fim te vereiodo o horror da lástima e por fim te vereiodo o horror da lástima e por fim te vereiCamponês, camponês, camponês,Camponês, camponês, camponês,Camponês, camponês, camponês,Camponês, camponês, camponês,Camponês, camponês, camponês,camponês.camponês.camponês.camponês.camponês.Senhor de vislumbrar a noiteSenhor de vislumbrar a noiteSenhor de vislumbrar a noiteSenhor de vislumbrar a noiteSenhor de vislumbrar a noiteem que dormimosem que dormimosem que dormimosem que dormimosem que dormimospara fazermos os filhospara fazermos os filhospara fazermos os filhospara fazermos os filhospara fazermos os filhosCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraColocarei a lua no bolso e sairei a passearColocarei a lua no bolso e sairei a passearColocarei a lua no bolso e sairei a passearColocarei a lua no bolso e sairei a passearColocarei a lua no bolso e sairei a passearCom as árvores e o silêncioCom as árvores e o silêncioCom as árvores e o silêncioCom as árvores e o silêncioCom as árvores e o silêncioE os homens e as mulheres comigo.E os homens e as mulheres comigo.E os homens e as mulheres comigo.E os homens e as mulheres comigo.E os homens e as mulheres comigo.Cantarei! Cantarei! Cantarei! Cantarei!Cantarei! Cantarei! Cantarei! Cantarei!Cantarei! Cantarei! Cantarei! Cantarei!Cantarei! Cantarei! Cantarei! Cantarei!Cantarei! Cantarei! Cantarei! Cantarei!

Camponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraSemearei no mundo o coraçãoSemearei no mundo o coraçãoSemearei no mundo o coraçãoSemearei no mundo o coraçãoSemearei no mundo o coraçãodo meu mundodo meu mundodo meu mundodo meu mundodo meu mundoAtrás de todo esquecimento secareiAtrás de todo esquecimento secareiAtrás de todo esquecimento secareiAtrás de todo esquecimento secareiAtrás de todo esquecimento secareicom minhas lágrimascom minhas lágrimascom minhas lágrimascom minhas lágrimascom minhas lágrimasTTTTTodo o horror da lástima e por fim te vereiodo o horror da lástima e por fim te vereiodo o horror da lástima e por fim te vereiodo o horror da lástima e por fim te vereiodo o horror da lástima e por fim te vereiCamponês, camponês, camponês,Camponês, camponês, camponês,Camponês, camponês, camponês,Camponês, camponês, camponês,Camponês, camponês, camponês,camponês.camponês.camponês.camponês.camponês.Senhor de vislumbrar a noiteSenhor de vislumbrar a noiteSenhor de vislumbrar a noiteSenhor de vislumbrar a noiteSenhor de vislumbrar a noiteem que dormimosem que dormimosem que dormimosem que dormimosem que dormimospara fazermos os filhospara fazermos os filhospara fazermos os filhospara fazermos os filhospara fazermos os filhosCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraCamponês, quando dividirem a terraColocarei a lua no bolso e sairei a passearColocarei a lua no bolso e sairei a passearColocarei a lua no bolso e sairei a passearColocarei a lua no bolso e sairei a passearColocarei a lua no bolso e sairei a passearCom as árvores e o silêncioCom as árvores e o silêncioCom as árvores e o silêncioCom as árvores e o silêncioCom as árvores e o silêncioE os homens e as mulheres comigo.E os homens e as mulheres comigo.E os homens e as mulheres comigo.E os homens e as mulheres comigo.E os homens e as mulheres comigo.Cantarei! Cantarei! Cantarei! Cantarei!Cantarei! Cantarei! Cantarei! Cantarei!Cantarei! Cantarei! Cantarei! Cantarei!Cantarei! Cantarei! Cantarei! Cantarei!Cantarei! Cantarei! Cantarei! Cantarei!

14 Ano I – número 1 – Março/2006

Mulheres As desigualdades ainda são muitas, de classe, de gênero e de etnia

Márcia Bauer

feminismo destaca a importância depolíticas públicas de gênero, enten-dendo gênero como uma forma dedistinguir as diferenças biológicas

das desigualdades sócio culturalmenteconstruídas.

Ações afirmativas são aquelas políti-cas públicas que pretendem buscar aigualdade, como, por exemplo, as cotasde mulheres nas eleições. E, por que énecessário garantir através de leis a parti-cipação das mulheres na política? Porquepolítica ou os espaços públicos, até pou-cos anos atrás, eram lugar de homens; asmulheres deveriam se contentar com osafazeres domésticos, o cuidado dos filhos,portanto ocupando os espaços privados,ou melhor, do lar. O feminismo vem paracontestar estes lugares e estes conceitos.Ainda hoje, temos mais homens no con-gresso nacional, nas assembléiaslegislativas e nos governos, porém a par-ticipação das mulheres nos espaços pú-blicos tem modificado paulatinamente,fruto de um movimento contestatório dasmulheres em nível mundial. A presençadas mulheres na cena social e política bra-sileira nas últimas décadas tem crescidoconsideravelmente, mas não basta sermulher, precisater a consciênciade que as desi-gualdades ain-da são muitas,de classe, de gê-nero e de etnia.Como dizia Si-mone de Bevoir“não se nascemulher, torna-se mulher”.

As ações afirmativas vêm para garan-tir: as delegacias especiais, que tratam daviolência contra a mulher; o plano inte-gral de saúde da mulher; e a criação deórgãos governamentais como a Secreta-ria Especial de Políticas para a Mulher nogoverno federal, os quais tratam exclusi-vamente de políticas que busquem aigualdade de gênero.

Ações Afirmativas: o direito às diferenças

Estas políticas não po-dem estar desvinculadas;não são um fim em si. Asações afirmativas só terãovalidade se estivereminseridas no contexto glo-bal das “políticas econômi-cas, sociais, culturais e querepercutam nas esferas ju-rídicas e administrativas,

incidindo em aspectos como remunera-ção, na segurança social, na educação, napartilha de responsabilidades profissio-nais e familiares e a paridade nos proces-sos de decisão” (IV Conferência Mundialdas Mulheres em Beijing – 1995).

As ações políticas de gênero devemvincular-se e relacionar-se com todas asáreas das ações governamentais, a isto se

chama transversalidade de gênero.O governo federal com a criação, da

Secretaria Especial para as Mulheres, em2002 está implementando atransversalidade de gênero nas suas polí-ticas com a implementação e aparelha-mento de 35 Centros de atendimento àsmulheres vítimas de violência, o Progra-ma de crédito para as mulheres do meiorural, a criação de 50 Casas Abrigo, 10Defensorias Públicas, entre outras. Políti-cas estas, integradas com diversos órgãosgovernamentais e não governamentais.

Portanto, as políticas afirmativas de-vem buscar respeitar as diferenças, fazen-do com que estas não se transformem emdesigualdades

REPRODUÇÃO

* Assessora Política do SISEJUFE-RJ

Picasso

“As políticas

afirmativas buscamrespeitar as diferenças,fazendo com que estas nãose transformem em

desigualdades”

O

Ano I – número 1 – Março/2006 15

Cristiano Navarro (*)

“Jamais esperava este tipo de violên-cia”, afirmou de um hotel de luxo em SãoPaulo, o presidente da empresa AracruzCelulose, Carlos Aguiar, ao jornal ZeroHora da última sexta.

No dia 20 de janeiro deste ano, a em-presa Aracruz Celulose S/A mobilizou he-licópteros, bombas, armas e 120 agen-tes da Polícia Federal do Comando deOperações Táticas (COT), vindos deBrasília, para destruir duas aldeias e ex-pulsar 50 pessoas dos povos Tupiniquime Guarani de sua terra tradicional, no mu-nicípio de Aracruz (ES).

Sem sequer receber uma ordem dedespejo, os Tupiniquins e Guaranis fo-ram surpreendidos com o violentoataque. A ação, que resultou na pri-são arbitrária de duas lideranças edeixou outras 12 pessoas feridas, tevetodo o apoio logístico da empresaAracruz Celulose S/A. Os 120 agentesda Polícia Federal receberam hospe-dagem e utilizaram o heliporto e ostelefones da multinacional.

Durante a ação ilegal da Polícia Fe-deral (condenada inclusive pela Comis-são de Direitos Humanos da Câmarados Deputados), tratores damultinacional destruíram totalmenteduas aldeias Tupiniquim e Guarani.Todas as casas foram derrubadas e mui-tos índios não puderam retirar seus per-tences de dentro delas.

No noticiário das grandes empre-sas de mídia, não se viu nenhumamãe Tupiniquim ou Guarani comseus filhos chorando, nenhum minis-tro do governo condenando a açãoou mesmo o dono da empresa lamen-tando a violência.

Mas se por aqui as grandes empre-sas de mídia não repercutiram o crime

Tupiniquins e Guaranis foram surpreendidos com o violento ataqueReforma Agrária

cometido pelo aparelho repressor doEstado e pela empresa Aracruz Celulo-se S/A, a família real da Suécia resolveuvender suas ações da multinacionaldevido às denúncias e fortes pressõescontra a violação de direitos humanoscometidos e o desrespeito ao meioambiente no Brasil.

Mesmo com as denúncias, a gigan-te multinacional ainda conta comvultuosos recursos do BNDES.

O povo vai à frente

Deu aquele medinho namulherada, ao sair do ônibus. Depoisque viram as primeiras indo des-truir... foi muito lindo, declarou a mi-litante camponesa gravada por umacâmera escondida do Jornal Nacionaldo dia 9 de abril. Agora, quem acredi-ta que os movimentos sociais podemutilizar as grandes empresas de mídiapara se comunicar com a sociedade,ou é muito ingênuo, ou tem preten-sões políticas conservadoras não de-claradas. Imagine se os movimentossociais pautassem suas agendas eações, a partir das possíveis repercus-sões nas grandes empresas de mídia?Demarcação de terra indígena e refor-ma agrária, sem retomada e ocupa-ção de terras, não existem

As lágrimas daAracruz e a coragem

das mulherescamponesas

Mais um militante do MSTassassinado em Campos

dos Goytacazes

Companheiros e companheiras,

Mais um acampado em Oziel Alves foiassassinado na noite de 22/03.

Amaro Antonio da Silva saiu do acam-pamento por volta das 18:00h para visi-tar a mãe em Itapera, com uma charrete,sendo encontrado por volta das 2:00h damanhã, dentro da mesma com o tiro nacabeça. A charrete estava na BR 101, emfrente ao Shopping Estrada.

Solicitamos a solidariedade da socie-dade para que exijam a apuração de maiseste crime ocorrido, em razão dos confli-tos pelas terras da Cambahyba, vez quetodas as nossas denúncias até então nãotiveram a solução das autoridades compe-tentes.

Que exijam a prisão dos grupos ar-mados que trabalham como jagunços dosproprietários da Usina Cambahyba, quevêm circulando pelo acampamento, ame-açando a todas as famílias.

E PRINCIPALMENTE, A IMEDIATA DE-SAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIALDAS TERRAS DA CAMPABAHYBA, VEZ QUESÓ O ASSENTAMENTO DAS FAMÍLIAS E APUNIÇÃO DOS ASSASSINATOS DOS TRA-BALHADORES RURAIS, PODERÃO POR FIMAO CONFLITO ESTABELECIDO NO LOCAL.

Francine PinheiroPelo Setor de Direitos Humanos do MST/RJ

FOTO: Roberto Ponciano

Mulheres da Via Campesina preparam-se para mobilização em defesa do meio ambiente.

* Jornalista do Conselho Indigenista Missionário

16 Ano I – número 1 – Março/2006

Leonardo Boff (*)

rês são os inimigos principais dabiodiversidade: o modelo de pro-dução e consumo imperante, amonocultura e a espécie humana.

O modelo imperante, é imperiosorepeti-lo, é devastador dos recursosnaturais e é consumista. A Terra nãoagüenta mais esta sistemática agres-são e dá sinais claros de estresse. Elajá está se vingando, como o tem mos-trado James Lovelock no seu recente ealarmante apelo A vingança de Gaia.Haja vista o aquecimento do Planeta,as perturbações climáticas e a escas-sez de água potável.

A monocultura é contrária à lógicada natureza que sempre consorciatodo tipo de formas de vida, permitin-do que uma espécie ajude a outra asobreviver e, ao mesmo tempo, semantenha o equilíbrio dinâmico detodo o processo natural.

O mundo é dominado pelamonocultura do arroz, do trigo, dasoja, do milho, do eucalipto, dos cítri-cos, do gado, das galinhas e outros.Cada implantação de umamonocultura significa um verdadeiroassassinato de espécies vivas, de inse-tos e microorganismos. Junto com amonocultura vêm os agrotóxicos para

Meio-Ambiente A Terra não agüenta mais esta sistemática agressão e dásinais claros de estresse

Biodiversidade e novo paradigma

garantir e aumentar a produtividade.O terceiro inimigo é a espécie hu-

mana. Ela é uma entre milhares de ou-tras. Mas seu triunfo foi o de dissemi-nar-se sobre todo o Planeta, como umaverdadeira praga, adaptando-se a to-dos os ecossistemas e submetendo aseus interesses todas as demais. Ocu-pou 83% do Planeta, mas de forma des-truidora. Fez do Jardim do Éden ummatadouro, como disse o mestre dabiodiversidade Edward Wilson. As re-ligiões, os tabus, os preceitos éticos ea ciência foram até hoje insuficientespara impedir e limitar a violência hu-mana contra a natureza. O meteororasante hoje se chama ser humano.

“As atividades antrópicas estãomudando fundamentalmente e, emmuitos casos, de forma irreversível,a diversidade da vida no planeta Ter-ra. Tudo indica que esse processo vaicontinuar ou ainda se acelerar no fu-turo.” É o que constata o Relatórioda Avaliação Ecossistêmica do Milê-nio feito sob os auspícios da ONU edivulgado em 2005.

Preocupante é que as centenas demedidas sugeridas pela Convençãosobre a Diversidade Biológica, segura-mente necessárias, são feitas aindadentro do paradigma antrópico de do-minação da natureza. Elas não resol-

vem a questão básica da devastação. Écomo, se ao limarmos os dentes dolobo, lhe tiraríamos a ferocidade. Pre-cisamos de outro paradigmacivilizatório que tenha uma relaçãonão destrutiva com a natureza, queatenda nossas necessidades, portan-to que seja sustentável. Caso contrá-rio, não teremos mais futuro.

É neste contexto que se torna im-portante a Carta da Terra do ano2000. Ela parte desta possível tragé-dia. Mas confia que podemos evitá-la. Para isso, precisamos de outra óti-ca que fundará uma nova ética. A óti-ca é que somos parte do vasto univer-so em evolução, filhos e filhas da Ter-ra que é viva e somos um dos mem-bros da grande comunidade de vida.O sentido de interdependência e deparentesco nos torna os cuidadoresnaturais de todas as formas de vida.Há que satisfazer nossas necessida-des, de forma justa e eqüitativa, comum manejo respeitoso da generosi-dade da Terra, mas sem devastá-la esempre procurando repor o que tira-mos. Isso exige novos valores, dife-rentes instituições e modos de vida.Esse é o “modo sustentável de vida”que nos salvará

* Teólogo e escritor

T

Planeta corre perigo com as perturbaçõesclimáticas e a escassez de água potável

Ano I – número 1 – Março/2006 17

Entrevista Apesar dos pesares, o PT ainda tem condições de dar a voltapor cima e retornar às suas origens

Frade dominicano lança o seu 53º livro,que faz uma reflexão sobre o governo Lula

Mário Augusto Jakobskind

or seu engajamento em favor dastransformações sociais que o Bra-sil necessita, Frei Betto amargouquatro anos de prisão. No final dos

anos 70 aproximou-se do então líder sin-dical Luiz Inácio Lula da Silva, de quemse tornou amigo e compadre. Com a elei-ção de Lula, Frei Betto passou a exercer afunção de assessor especial do Presiden-te da República e a Coordenação deMobilização Social do Programa Fome

P

Zero. Depois de 687 dias decidiu aban-donar o cargo, no final de 2004, pordiscordar da política econômica do atu-al governo, “mais favorável ao grandecapital e pouco sintonizada com a dívi-da social, que, no Brasil, é enorme”.

Jornalista formado e escritor consa-grado, o frade dominicano escreve qua-se diariamente para vários jornais bra-sileiros, tendo acabado de lançar o li-vro “Mosca Azul”, uma reflexão sobre ogoverno Lula e o comportamento polí-tico do núcleo dirigente do Partido dos

Carlos Alberto LibânioChristo, o Frei Betto, é

um participante ativo dapolítica brasileira, pelo

menos nos últimos 40anos. Sempre mobilizado

em favor das lutaspopulares, o frade

dominicano, que acaba delançar o seu 53º livro,

intitulado “Mosca Azul”,militou no movimento

estudantil dos anos 60,em grupos católicos e

lutou contra a ditaduraque se instalou no Brasil a

partir de abril de 64.

Trabalhadores. Frei Betto, basicamen-te, discorda da posição atual do parti-do que ajudou a fundar, porque a cúpu-la deixou em segundo plano os ideaisque fizeram com que o PT se tornasse omaior partido de esquerda na AméricaLatina. Nesta entrevista, Frei Betto mos-tra que, apesar dos pesares, o PT aindatem condições de dar a volta por cima eretornar às suas origens, isto é, conti-nuar sendo “o condutor de transforma-ções sociais e expressão político-parti-dária das aspirações dos mais pobres”.

DIVULGAÇÃO

Frei Beto

18 Ano I – número 1 – Março/2006

IDÉIAS EM REVISTA: Poderia explicarpara os leitores o significado de Mos-ca Azul?FREI BETTO: A Mosca Azul trata do po-der, a maior das tentações humanas. Re-corro aos clássicos: Platão, Aristóteles,Maquiavel, Montaigne, Hanna Arendt,Robert Michels. Procuro diagnosticar oprocesso histórico que levou o PT ao go-verno do Brasil e as causas de seuenvolvimento com procedimentosantiéticos. Analiso a crise da esquerdabrasileira, sua tendência a trocar um pro-jeto de nação por um projeto de eleição,e enfatizo a importância de se governarem sintonia com os movimentos popula-res, condição de uma democracia real.

O senhor passou 687 dias participan-do do governo Lula como assessor es-pecial da Presidência da República edecidiu abandonar o posto. O queaconteceu?FREI BETTO: Deixei o governo para re-tomar minha atividade literária. Amosca azul não me picou. E tambémpor discordar da política econômica,mais favorável ao grande capital e pou-co sintonizada com a dívida social que,no Brasil, é enorme.

Se o governo Lula mudasse de rumo,decidindo cumprir pelo menos partedas promessas de campanha, o se-nhor voltaria ao posto que ocupou?FREI BETTO: O governo Lula faz umapolítica externa soberana e independen-te; políticas sociais avançadas, como o

Fome Zero, o Bolsa Família, omicrocrédito, a valorização da agricul-tura familiar; uma importante reformaeducacional etc. Portanto, cumpre emparte o que prometeu na campanha. Fal-tam as reformas agrária, política, tribu-tária e trabalhista. E a previdenciárianão me agrada, por onerar os pensionis-tas. Ainda que viesse a ser o governo dosmeus sonhos, jamais voltaria. Dois anosno poder público foram suficientes paraconstatar que aquele não é o meu lugar.

O PT acabou de completar 26 anos.Houve uma festa em que Lula, segun-do a imprensa, praticamente perdooua todos que comete-ram deslizes e foramobjetos de denúnciassobre corrupção. Oque acha disso?FREI BETTO: Acho queo PT ainda deve à na-ção uma apuração rigo-rosa de tudo o que acon-teceu. A questão não éexecrar pessoas, é apu-rar responsabilidades.

O senhor acha que PTacabou como partidotransformador da realidade brasilei-ra ou ainda tem chances de sereerguer as bandeiras que o tornaramo maior partido de esquerda da Amé-rica Latina?FREI BETTO: Uma tendência do PT, oCampo Majoritário – hoje não maishegemônica na direção partidária – sedeixou picar pela mosca azul. É o queanaliso no livro. Porém, o PT é muitomaior do que ela. Tem 860 mil filiados.Creio sim que o PT tem recuperação, atéporque jamais sobreviverá como um par-tido social-democrata. Se não for o con-dutor de transformações sociais e expres-são político-partidária das aspiraçõesdos mais pobres, o PT não terá futuro,ou restará como o PTB, um partido dealuguel, completamente desfigurado desuas origens políticas e históricas.

Vem aí mais uma eleição presidencial ea campanha, com características selva-gens, ou seja, acusações mútuas entre

PT e PSDB/PFL, em que parte da opiniãopública achando que ambos tem razão.O senhor vai participar da campanha dereeleição de Lula, mesmo ele repetindoas alianças com partidos conservadorese mesmo de direita? Votar, o senhor jádisse em várias ocasiões que votaria.FREI BETTO: Sim, voto em Lula, mas es-pero que sua campanha apresente um pro-jeto consistente de mudanças sociais e,sobretudo, de uma política econômicaatrelada às demandas sociais, e não o in-verso. Em A Mosca Azul analiso como par-tidos que fazem alianças espúrias acabamvítimas de seus adversários históricos quese mostram parceiros ocasionais. Espero

que o PT não repita ofilme, que terminouem tragédia ética.

O senhor acha que astransformações queo Brasil necessitapara melhorar o pa-drão de vida do povopassam apenas pelavia institucional?FREI BETTO: Tam-bém abordo o temano livro. Não há con-dições de mudanças

por vias não-institucionais. Porém, nãohaverá também avanços sem o fortaleci-mento do movimento popular, da socie-dade civil organizada

“Voto em Lula, masespero que suacampanha apresente umprojeto consistente demudanças sociais e,sobretudo, de umapolítica econômicaatrelada às demandassociais”

REPRODUÇÃO

Frei Beto é conselheiro religiosodo Presidente Lula.

Livro de Frei Betto é uma reflexão sobre oatual momento brasileiro.

Ano I – número 1 – Março/2006 19

Nacional Os servidores do Judiciário Federal do Rio de Janeiro já mostrarammaturidade e consciência em relação ao fortalecimento da CUT

les vão discutir os rumos que acentral vai adotar na conduçãodas lutas da classe trabalhado-

ra. E como não poderia ser diferen-te, o SISEJUFE-RJ também participa-rá, como em anos anteriores, dosdebates que serão travados peloscutistas. Nosso sin-dicato será um dosmuitos a enviar de-legados ao 12ºCongresso Estadu-al (Cecut), queacontece de 12 a14 maio, no Rio deJaneiro, e ao 9ºCongresso Nacio-nal (Concut), de 6 a9 de junho, em SãoPaulo. Serão oitocompanheiros escolhidos democra-ticamente em assembléias da cate-goria para o Cecut e outros três, queparticiparão do Concut.

A direção do SISEJUFE-RJ defende

SISEJUFE-RJ participarádas discussões sobreos rumos da CUT

a tese de que a organização do movi-mento sindical só poderá ser concre-tizada com o fortalecimento da cen-tral e união de todas as entidadesfiliadas. O sindicato defenderá noscongressos pontos que consideraprioritários para os trabalhadores bra-

sileiros, como aconstrução de umaCUT classista, quelute pelo socialis-mo e contra o mo-delo neoliberalque há tempos ten-ta acabar com asconquistas dos tra-balhadores.

“Temos que re-afirmar e avançarnesses três pontos

que sempre defendemos dentro daCUT. A luta dos trabalhadores brasi-leiros passa pelo fortalecimento dacentral como uma entidade combativae unida em torno da defesa da classe

trabalhadora”, avalia RobertoPonciano, diretor do SISEJUFE-RJ.

O pluralismo e a diversidade deidéias não podem ser um obstáculona condução do movimento sindicalem busca da igualdade de condiçõesde vida e de salários dignos. Pelocontrário, a divergência de idéias ésalutar no debate democrático e ser-virá de combustível para tornar, cadavez mais, a CUT um instrumento deunidade da classe trabalhadora.

Os servidores do Judiciário Fede-ral do Rio de Janeiro já mostrarammaturidade e consciência em rela-ção ao fortalecimento da CUT. Noano passado, quando houve umatentativa de desfiliar o SISEJUFE-RJda central, a categoria recusou ener-gicamente a saída e manteve o sindi-cato nos quadros dos cutistas.

“Nossa categoria reconhece naCUT o instrumento de unidade naluta dos trabalhadores”, afirmaPonciano

“A luta dostrabalhadores brasileirospassa pelofortalecimento da centralcomo uma entidadecombativa e unida emtorno da defesa daclasse trabalhadora”

SISEJUFE-RJ participarádas discussões sobreos rumos da CUTOs sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores(CUT) espalhados por todo país têm pela frente, nospróximos meses, um grande desafio.

Os sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores(CUT) espalhados por todo país têm pela frente, nospróximos meses, um grande desafio.

E

20 Ano I – número 1 – Março/2006

Nacional Palocci não aprendeu até hoje que um apaixonado é capaz dequalquer desvario pelo “objeto” da paixão

Um caso Um caso Um caso Um caso Um caso passionalpassionalpassionalpassionalpassionalLaerte Braga

m dos mais destacados próceresda corrupção no Brasil, ainda emliberdade pelas artimanhas doSTF (Supremo Tribunal Federal),

Joaquim Roriz, governador de Brasília,ladrão líder na “categoria”, integrantedo PMDB, manifestou apoio ao parcei-ro Geraldo Alckmin. O homem DASLU.

O ex-ministro da Fazenda AntônioPalocci não aprendeu até hoje que umapaixonado é capaz de qualquer des-vario pelo “objeto” da paixão. Foi ocaso de Buratti, o ex-amigo, ex-asses-sor. A república de Lula tomou umatrombada dessas que abalam. No bojode uma disputa por uma dama.

Nesse negócio não existe hierarquia.O governador tucano de São Paulo

vai a São Luís conversar com d.Roseana Sarney, aquela que queria serpresidente e saiu recolhendo dinheiroa torto e a direito. Vítima da própriaesperteza por não ter percebido queera apenas uma peça na engrenagemde um esquema maior.

A senhora em questão, anos atrás,ameaçou o PC do B ao declarar-se sim-pática ao partido. O governador estáfazendo uma espécie de périplo pelosprincipais “ladronatos” do País, na ten-tativa de bons acordos.

Como, no entanto, esse mundo deSarney é um tal de faca voando às cegas,nunca se sabe de fato o que vai acontecer.

Voa para a direita, voa para a es-querda, pega pelas costas, pela fren-te, do jeito que der.

José Serra chegou à conclusão quetem condições de voltar à cena em2010. Isso nos remete a outra conclu-são. Nessa revoada de facas, as tucanas,disparadas com o requinte de senho-res feudais ingleses, uma delas podepegar o próprio candidato do partido.

A grande dificuldade de Lula estáno setor mais podre dentre os muitossetores podres das elites brasileiras. Acampanha sistemática contra o gover-no vai continuar e vai ser inclementeaté o dia das eleições.

A sorte de Lula vai estar defi-nida, mais ou menos, até agos-to, quando se terá uma clarapercepção dos rumos do elei-torado. Se o candidato DASLU/OPUS DEI vai ou não conseguirultrapassar determinado pata-mar e assim representar certe-za para quadrilhas como aFIESP (Federação das Indústri-as de São Paulo), que as coi-sas vão funcionar.

O governador tem contra sio sentimento antipaulistaque, por exemplo, o ex-presidente Itamar Francofaz questão de disseminarem suas falas: “é o Brasilcontra São Paulo”. No casoas elites políticas, econô-micas e financeiras da-quele Estado.

O ex-ministroAntônio Palocci vaiter tempo agora dededicar-se à paixão, se éque ainda existe, oufazer como um ex-go-

vernador e um ex-deputado minei-ros. Apaixonados pela mesma mu-lher saíram no tapa. Em meio à bri-ga viram a senhora em questão saircom outro pela porta dos fundos.Pararam de brigar, assentaram, en-cheram a cara e terminaram choran-do um nos braços do outro.

Não pelo que Lula diz, mas há defato uma escalada pelo retorno dovinho francês ao Planalto. A cacha-ça não foi assimilada nos salões ban-deirantes, que dirá nos londrinos eparisienses

“A sorte de Lula vaiestar definida, mais oumenos, até agosto,quando se terá uma clarapercepção dos rumos doeleitorado”

REPRODUÇÃO

U

Ano I – número 1 – Março/2006 21

De repente, nas ruas dos EUA...Internacional Os organizadores do Fórum Social Fronteiriço estão

convocando militantes de todo o planeta

Elaine Tavares (*)

or longos e longos anos, imi-grantes hispânicos, árabes, asi-áticos e africanos, dirigiram aosEstados Unidos todos os seus

sonhos, iludidos com a terra de “lei-te e mel” que parecia ser aquele lu-gar. Terra das oportunidades,bastião da liberdade e da democra-cia, onde quem quisesse poderia sefazer rico e famoso. Em busca dessapromessa, levas e mais levas de gen-te se aventuram a cruzar desertos,rios caudalosos, muros da morte eoceanos. E o que encontram é sofri-mento, dor, subemprego, cadeia, ex-clusão da vida digna.

Boa parte dessa gente que chegouno país vive como “ilegal”. São nin-guém, pessoas sem documento e semcidadania. Até hoje têm conseguidoviver em empregos subalternos, pas-sando as piores privações. Por serem“ilegais”, os empregadores se achamno direito de explorar ao máximo eeles vão se submetendo, esperando

que um dia possam agarrar a tal da“oportunidade”. No segundo man-dato de George Bush, as coisas têmrecrudescido. Tramitam no Con-gresso estadunidense várias pro-postas de lei antiimigração.

Dentre as pro-postas que pipo-cam no Congres-so está uma queé de uma espeta-cular sordidez:cobrar dos própri-os imigrantesuma taxa e, dosrecursos arreca-dados, fazer um muro ainda mais se-guro do que o que já existe na fron-teira com o México. Ali, desde 1994,mais de quatro mil pessoas (dados ofi-ciais) morreram tentando cruzar omuro. Segundo os mexicanos, o nú-mero de desaparecidos é muito mai-or, e só no último ano a quantidadede mortos chegou a 500.

O terreno da rebeldia já vinha sendosemeado desde há anos, nas catacumbas

dos grandes centros estadunidensesonde a população hispânica é cada vezmaior. Hoje, são mais de 11 milhões depessoas oriundas da imigração viven-do no país – grande parte mexicanos –cansadas de serem tratadas como gen-te de segunda classe. Esses seres são osque estão agora nas ruas. Não aceitammais serem chamados de ilegais. “Ne-nhum ser humano é ilegal. Ilegal é quemgera a pobreza e obriga as pessoas asaírem de seus lugares ancestrais”, di-zem os organizadores do primeiroFórum Social Fronteiriço, que vai se re-alizar em Ciudad Juarez, no México. Aproposta é fazer uma grande caminha-da, com gente de todo o mundo, até omuro que separa o México dos EstadosUnidos, e cruzá-lo.

A caminhada em direção ao murojá começou. De vários lugares do Mé-xico já saíram manifestantes. Eles de-vem entrar na cidade de Chiuaua nodia 22 de abril e dali seguir até CiudadJuarez, onde acontece o Fórum, de 1°a 7 de maio. Segundo denúncias dosorganizadores do evento, há notícias

da desaparição demais de quatro milmulheres. Todaselas, em algum mo-mento, se rebelaramcontra o sistema detrabalho opressor.

Os organizadoresdo Fórum Social Fron-teiriço estão convo-

cando militantes de todo o planeta paraesse feito histórico. E agora, não há me-lhor hora. Do lado mexicano, as pesso-as caminham em direção ao muro. Dolado estadunidense, aqueles que tinhamestado em silêncio começam a dizer suapalavra, tomar as ruas, exigir direitos

* Jornalista no OLA/UFSC (OLA é um projetode observação e análise das lutas popularesna América Latina – www.ola.cse.ufsc.br)

“A caminhada emdireção ao muro jácomeçou. De várioslugares do México jásaíram manifestantes ”

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Estadunidenses se moblizam contra lei antiimigração.

22 Ano I – número 1 – Março/2006

Internacional O capitalismo na atualidade vive sua pior crise

Roberto Ponciano

ara ler o mundo é necessário ter ferra-mentas, instrumentos para a análi-se, senão vemos o mundo com osolhos do amo, do dominador.

Para os norte-americanos brancos a ex-pansão do território rumo a oeste é vistacomo uma epopéia, a marcha dos pionei-ros. Para os povos que habitavam aquelepedaço de terra é uma espécie deholocausto, armagedom, com a tomada deseu território, escalpos (foram os brancosque inventaram esta prática bárbara, sem-pre associada por holywoodaos “peles vermelhas”), es-tupros, saques, assassina-tos, destruição do meio-ambiente, traições (osbrancos jamais cumpriamos tratados que faziam),povos inteiros dizimados,até o último membro.

Com que olhos você vêo mundo?

A mídia tem mostrado a crise políti-ca francesa como uma mistura de van-dalismo, baderna, revolta juvenil e pro-blema migratório. É lógico, afinal, a his-tória acabou, com o fim da União Sovié-tica e do bloco socialista, tivemos a vi-tória definitiva do Capitalismo – o sis-tema social “perfeito”, que reinarácomo sistema universal para sempre eassim, como o Cândido de Voltaire, vi-vemos no “melhor dos mundos”.

Mas como no romance do filósofo

francês, no qual o protagonista, Cândi-do, é surpreendido com o morticíniodo terremoto de Lisboa e tem sua cren-ça de que vivemos no melhor dos mun-dos abalada, os cataclismos sociais avi-sam aos donos do mundo que a histó-ria está longe de ter chegado ao fim,antes a escrevemos nós, os povos, acada dia e a todo o momento.

Ninguém questiona que Zidane (omaior ídolo francês da atualidade),branco e rico, é na verdade um imigran-te africano. O problema é muito maisprofundo que a migração; na verdade o

problema é oretorno, oumelhor, a con-tinuação ex-plosiva emuma crise daboa e velha lutade classes, po-bres (francesesou emigrantes)contra ricos,

proletariado contra burguesia.O capitalismo na atualidade vive sua

pior crise, não consegue se reproduzircomo sistema ao não criar condiçõesde vida decente para a grande maioriada população, criando uma maior quan-tidade de excluídos, cada vez mais po-bres e sem direitos quaisquer, isto emtodos os lugares do mundo (não só nospaíses periféricos como o Brasil, mas jános países do antigo Estado do Bem Es-tar Social), os sem futuro: sem terra,

sem trabalho, sem perspectiva, semmoradia, sem saúde, sem educação, semcultura, sem lazer, sem DIGNIDADE.

Os povos então se levantam, rebelam-se e vão à luta, também agora nos paísescentrais, dominadores do sistema (quese pensavam livres da revolta dos seus po-bres), cada vez mais e com mais radicalis-mo (não aceitam viver a miséria na abun-dância, o absurdo cínico do Capital).

Saudemos a nova primavera de Paris!Ela traz em seu ventre a possibilidade

de superação desta contradição, um paístão rico como a França, com pobres tãopobres (e cada vez mais pobres).

Lá como aqui, a superação destacontradição tem nome: Revolução So-cial, Socialismo (sistema de reparti-ção social da produção de maneira aque todos tenham acesso dos direi-tos fundamentais do ser humano).

Parafraseando o grande revolucioná-rio e socialista, Jesus Cristo, em suahomilia, “O Sermão da Montanha”:

“Bem-aventurados os humildes, poiseles herdarão a terra”.

Socialismo ou Barbárie!

“Mas quem garante que a história é carroça abandonada,Numa beira de estrada, ou numa estação inglória?

A história é um carro alegre, cheia de um povo contenteQue atropela, indiferente, todo aquele que a negue”

(C. Buarque e P. Milanez)

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“Ocapitalismo na

atualidade vive sua pior crise, nãoconsegue se reproduzir comosistema ao não criar condições devida decente para a grande

maioria da população”

FFFFFrança, vandalismorança, vandalismorança, vandalismorança, vandalismorança, vandalismoou luta de classes?ou luta de classes?ou luta de classes?ou luta de classes?ou luta de classes?

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Ano I – número 1 – Março/2006 23

este momento, nos Estados Uni-dos, está sendo cometida uma fla-grante ilegalidade. Cinco presospolíticos cubanos cumprem penasque variam entre prisão perpétua

e mais de 20 anos. Foram julgados porum Tribunal parcial, de Miami, sob a ab-surda acusação de espionagem. Gerar-do Hernández Nordelo, Ramón Labañi-no Salazar, René González Sehwerert,Fernando González Llort e Antonio Guer-rero Rodríguez, na verdade, observavama movimentação de grupos terroristas doexílio cubano de Miami.

Dessa forma, os cinco conseguiramprevenir as autoridades cubanas sobre aprática de ações terroristas. O governoqueria evitar a continuação de atentadosem áreas turísticas da ilha caribenha quetinham, inclusive, provocado vítimas e amorte de um turista italiano. O governocubano chegou a alertar as autoridadesestadunidenses para que essa prática cri-minosa fosse interrompida. A respostaveio imediata: a prisão dos cinco cuba-nos. E tudo isso aconteceuem 1998, bem antes dosatentados em Nova York eem Washington, a 11 desetembro de 2001.

Inúmeros apelos vin-dos de várias partes domundo foram simples-mente ignorados e sobquase total silêncio da mí-dia, não só dos EstadosUnidos, como de todas aspartes do mundo. Um júrivisivelmente influenciado por integran-tes extremistas do exílio cubano prati-camente obrigou a condenação dosréus. Familiares foram impedidos du-rante muito tempo de se encontraremcom os presos e os apelos humanitári-os para que essa prática fosse interrom-pida foram solenemente ignorados. Al-

guns dos presos chegaram até a ser co-locados em celas solitárias.

Para que a opinião pública estadu-nidense fosse ao menos informada so-

bre o queestava acon-tecendo, emalguns paí-ses da Euro-pa foramfeitas cam-panhas dearrecadaçãocom o obje-tivo de pu-blicar maté-rias pagas –

caríssimas, na faixa dos 50 mil dólares– sobre a situação dos presos políticoscubanos. Renomados advogados pas-saram a cuidar do caso e fizeram apelosno sentido de que houvesse um novojulgamento em um Tribunal que não ode Miami. Um desses apelos foi atendi-do, só que a decisão desse julgamento

vem sendo sempre procrastinada. ACorte de Atlanta, em 9 de agosto de2005, determinou, por unanimidade,a revogação das sentenças e a realiza-ção de um novo julgamento. Até ago-ra, a decisão não foi cumprida.

Em várias partes do mundo orga-nizam-se campanhas de arrecadaçãode fundos para que a imprensa esta-dunidense divulgue algo e os cida-dãos sejam informados sobre todaessa movimentação. Aqui no Brasil,os Comitês pela Libertação dos Cin-co, formados em Estados como doRio e São Paulo fazem apelos no sen-tido de que sejam feitas doações.Quem quiser colaborar pode fazê-lodepositando qualquer valor na contacorrente 9809-4, agência 1531-8 doBanco do Brasil. Os colaboradores re-ceberão certificado de sua contribui-ção emitido pelo “Comitê dos 5 Patri-otas”. Para tanto devem mencionar oseu nome ao realizar o depósito e aforma mais fácil de comunicação

“Advogadosfizeram apelos para quehouvesse um novojulgamento em umTribunal que não o deMiami”

Internacional Cinco heróis cubanos

Mário Augusto Jakobskind

EUA desrespeitam a leisob o silêncio da mídiaEUA desrespeitam a leisob o silêncio da mídia

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Símbolo oficial da campanha mundial pela libertação dos presos políticos cubanos nos EUA.

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24 Ano I – número 1 – Março/2006

Fausto Wolff Se Sócrates não existiu, deveria ter existido

ão se sabe nem se Sócrates existiu,mas, se não existiu, deveria ter exis-tido. Caso não tenha existido, Platãotransforma-se no maior pensador da

humanidade – maior que Shakespeare, in-clusive. Para não haver unanimidade, fe-lizmente existem idiotas como ThomasBabbington Macauley (hoje conhecidoapenas por uma casa de chá inglesa comseu nome na Piazza de Espanha), que de-clarou a sério: ‘’Quanto mais o leio menosme admiro de o terem envenenado’’.Woody Allen disse o seguinte: ‘’Sua deci-são foi a de não abandonar seus princípiose dar a vida para provar que estava certo.Não sou tão destemido em relação à mor-te. O barulho do frear de um automóvelfaz com que eu me atire no colo da pessoacom quem estiver conversando’’.

— Dr. Barata, o sr. acha mesmo que aoperação é necessária?— Isso depende do seu grau deconscientização política. A senhora játeve muitos filhos e é melhor não arris-car.— Mas por que é que o senhor não fazvasectomia no meu marido?— Ele é muito machista. Tem medo.— E não é para ter medo? Não vou per-

der o prazer sexual?— É coisa simples. Uma tubagem e não háo menor risco de a senhora perder o prazersexual. Apenas não terá mais filhos.— E qual é o mal de ter mais filhos?— Para a senhora que mora numa boacasa talvez nenhum, mas quantas ou-tras mulheres têm filhos sem condiçõesde alimentar?— O Zequinha diz que a esterilização éum ato de fascismo capitalista.— O Zequinha é um comunista pro-vocador. Quero ver o que fará no diaem que formos tantos que, por faltade comida, acabaremos devorandouns aos outros.— Então faça a tubagem, o senhor meconvenceu.— Congratulações. Nossa raça tem so-brevivido porque temos defensores doplanejamento demográfico, graças aDeus. Um dia ainda voltaremos a domi-nar o mundo.— Nós quem, doutor?— Ora, nós, as baratas. Deus ainda nãohavia nem pensado no homem e já habi-távamos este planeta. Viva nós!— Viva nós!

Yügen é uma palavra que deve ser

pronunciada com trema. Quem a lersem trema terá 100 anos de azar eserá mijado por um corcundinha sem-pre que sair de casa. Aviso isso por-que leitor brasileiro tem mania deachar que trema é como fio dental emtraseiro de mulher: se tirar, não faz amenor diferença. Se o yügen não ti-ver trema, podem parar de ler, poisse continuarem terão 50 anos de azare mais o corcundinha aporrinhando.

Se tiver trema, podem prosse-guir, pois todos os desejos de vocêsserão atendidos. Yügen é um termojaponês indefinível que se refere auma qualidade especial de belezaou de essência estética, cujo signi-ficado é misterioso e profundo comotudo o que aconteceu no Japão de-pois da invasão dos jesuítas, dabomba atômica e dos softwaresque, como todos sabem, quer dizermeia potência. Se quiserem mais in-formações, procurem se familiarizarcom a obra do dramaturgo ZeameMotokiyo. Yügen, quando não émarca de iogurte, é palavra doce quetraduz amargor; Yügen é como sefosse espinho cheirando a flor. Le-ram sem trema? Agora é tarde

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Historinhas de ninar monstrosHistorinhas de ninar monstros