Text of EDUARDA MARTINS MENDES AURICULOTERAPIA: LAÇOS DE
FACULDADE DE ODONTOLOGIA EDUARDA MARTINS MENDES Porto Alegre ao curso de Residência Integrada em Saúde Bucal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Saúde da Família e Comunidade, como requisito parcial para obtenção do título de Cirurgião-Dentista Residente. 2 3 AGRADECIMENTOS À minha família, em especial meus pais, Herton e Sandra, e minha irmã, Fernanda pelo apoio incondicional em todas as fases dessa trajetória, permitindo que eu desse o melhor de mim e batalhasse por essa conquista com dedicação e empenho. Aos professores tutores, Aline Blaya Martins e Renato de Marchi, pela condução das atividades da Residência em Saúde da Família na Faculdade de Odontologia. À minha orientadora, professora Fabiana Schneider Pires, pela oportunidade de conhecer a pesquisa qualitativa e seus encantos peculiaridades. Obrigada por confiar e permitir minha autonomia neste trabalho e pela orientação e participação no desenvolvimento de todas as etapas da pesquisa. Mais importante do que isso, agradeço pela sua sensibilidade ao longo da Residência e pelas reflexões sobre a vida, oportunizando espaços de conversa e devir. À cirurgiã-dentista, Priscila H. Miranda Soares, por propiciar a inserção da Residência na Odontologia do CS Modelo, sob sua preceptoria, e por estimular a prática de Auriculoterapia e ser minha primeira paciente, permitindo a troca de saberes. À cirurgiã-dentista, Merope Nunes de Castro, por ter acolhido a preceptoria com empenho e por me incentivar a continuar praticando a Auriculoterapia dentro CS Modelo e, principalmente, pelos seus ensinamentos que permitiram minha evolução profissional e desenvolvimento pessoal. Além de tudo, sua perspectiva sobre a vida no cotidiano integra e motiva a todos em seu redor. A todos da Equipe de Saúde Bucal e da ESF I e II do CS Modelo, os quais tiveram uma participação importantíssima na construção deste trabalho. Agradeço pela paciência, atenção e colaboração durante todo o período da Residência e, também, pela amizade e carinho. Agradeço em especial as profissionais, Bárbara Ehlers Soares e Ana Claudia C. R. de Freitas, pelo amparo nos momentos adversos e inúmeros diálogos acolhedores que me encorajaram ao longo desse percurso. A todos os demais Funcionários e Profissionais de Saúde pelo acolhimento, receptividade e experiências vivenciadas dentro dos Serviços de Saúde do município de Porto Alegre. 4 RESUMO MENDES, Eduarda Martins. Auriculoterapia: laços de cuidado em saúde. 2018. 41f. Trabalho Conclusão de Residência Integrada em Saúde Bucal - Saúde da Família e Comunidade – Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018. A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares - PNPIC (BRASIL, 2006) não só legitimou as práticas da Medicina Tradicional Chinesa, mas também significou um impulso ao reconhecimento e crescimento das Práticas Integrativas e Complementares (PIC) no Sistema Único de Saúde, como uma política horizontal em suas ações, presente em todos os níveis de atenção, prioritariamente na Atenção Básica e com grande potencial de atuação em rede. As PIC envolvem abordagens que estimulam a prevenção de agravos e recuperação da saúde, atuando de forma multiprofissional, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração das pessoas com o meio ambiente e a sociedade (BRASIL, 2015). Dentre as práticas da PNPIC (BRASIL, 2015), a Auriculoterapia é um método terapêutico não invasivo que utiliza estímulos no pavilhão auricular para manutenção de saúde, tratamento ou prevenção de doenças de forma semelhante à acupuntura. Este estudo busca compreender, em uma abordagem qualitativa e por meio de um estudo etnográfico, como as sessões de Auriculoterapia realizadas pela residente em Saúde Bucal na área de Saúde da Família e Comunidade no Centro de Saúde Modelo da Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Porto Alegre constituíram o cuidado em saúde. A produção de dados incluiu a observação participante, seguida pela sistematização em formato de texto da experiência - o diário de campo. Para análise das experiências, foram realizadas 15 entrevistas individuais, transcritas e analisadas, e o resultado possibilitou a construção de uma grade analítica do material empírico que ia sendo constantemente confrontado, o tempo todo, com o referencial teórico (BARDIN, 2011). Os resultados apontam a prática da Auriculoterapia como um suporte ao cuidado, como produto e como produtor de uma prática clínica de sujeitos e ao mesmo tempo aponta para a possibilidade de se reconfigurar outra racionalidade das práticas em saúde, firmando-se em uma contradição ao modelo praticado pela economia do contemporâneo e como uma possibilidade terapêutica não farmacológica, que se descortina como uma perspectiva transversal para o cuidado em saúde. A prática da Auriculoterapia traz intrinsecamente a relação intersubjetiva, o encontro. Ao ampliar seu olhar para o sujeito, ultrapassando fragmentações da prática biomédica e caminhando a passos largos para a formação de vínculo, a Auriculoterapia mostrou-se potente para criar laços de cuidado. Não se trata de validar o potencial terapêutico enquanto técnica na perspectiva da prevenção de agravos e da promoção e recuperação da saúde, mas sim de lançar nosso olhar para esta prática em saúde como espaço vital de um cuidado continuado e humanizado. A Auriculoterapia tem sido estudada como complementar ao alívio de sintomas físicos, como dores em geral e também psicológicos (depressão e ansiedade principalmente), mas o que este estudo traz de inovador é a compreensão de uma prática em saúde que é clínica e que se constitui na direção do sujeito, e não mais da doença. Esta análise oportuniza uma reflexão sobre as práticas de cuidado e potencialmente pode produzir alguns efeitos para uma desnaturalização do cotidiano dos serviços de saúde no SUS. Palavras-chave: Práticas Integrativas e Complementares. Saúde da Família e Comunidade. Auriculoterapia. Cuidado em Saúde. Etnografia. 5 ABSTRACT MENDES, Eduarda Martins. Auriculotherapy: bonds of health care. 2018. 41f. Final of Integrated Residency in Oral Health with emphasis on Family and Community Health – School of Dentistry, Federal University of Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018. The National Policy on Integrated and Complementary Practices - PNPIC (BRASIL, 2006) is not only a practice of Traditional Chinese Medicine, but also a boost to growth and a growth of Integrative Practices and Complementary Practices (PIC) in SUS its actions, present in all the levels of attention, primarily in Primary Care and with great potential for networking. As the PIC involves approaches that stimulate the prevention of diseases and recovery of health, acting in a multiprofessional way, with the intention of approaching the comprehensiveness, development and integration of people with the environment and society (BRAZIL, 2015). Among the practices of the PNPIC (BRAZIL, 2015), Auriculotherapy is a non-invasive therapeutic method that can be used as an atrial pavilion for health care, or to combat diseases in a manner similar to acupuncture. This study journeyed, in a qualitative approach and middle of an ethnographic study, ased by Auriculotherapy extended by resident in Oral Health, in Health Family and Community, in the CS Modelo in Porto Alegre, constituted the health care. Data production included a participant observation, followed by the text formatting of the experiment - the field diary. For the analysis of the experiences, 15 individual interviews were carried out, transcribed and analyzed, and the result allowed the construction of an analytical series of the empirical material that was confronted all the time with the theoretical reference (BARDIN, 2011). Of Auriculotherapy as a as a product and as a producer of a clinical practice of individuals and women at the same time, points to the possibility of reconfiguring the other rationality of health practices, establishing itself in a contradiction to the model practiced by the economy of the contemporary and as a non-pharmacological therapeutic choice, which is seen as a transversal perspective for health care. The practice of Auriculotherapy as a support for care and as a rationality is possible to practice in health intrinsically brings an intersubjective relationship, the encounter. To perform the biomedicine and walk with great strides for a bond formation, auriculotherapy proved to be potent to create the bonds of care. The attempt to validate therapeutic potential as a practice in the prevention of diseases and recovery and recovery of health, such as the practice of continued and humanized care. Auriculotherapy was as studied as depression to physical fear, as non-general as well as psychological, but what this study brings of innovator is an understanding of a health practice that is clinical and that is in the direction of the subject and not more of the disease. This analysis, which opens the cause of estrangement, allows a reflection on the practices of care and production of health that can be exercised on SUS. Auricular terapy. Health Care. Ethnography. 6 AT Auriculoterapia CIPLAN Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CS Centro de Saúde GDC Gerência Distrital Centro MTC Medicina Tradicional Chinesa OMS Organização Mundial da Saúde PIC Práticas Integrativas e Complementares PMAQ/AB Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica PNPIC Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares RISB Residência Integrada em Saúde Bucal SIA Sistema de Informações Ambulatoriais SIGTAP Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais do SUS SMSPA Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Porto Alegre SUS Sistema Único de Saúde UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 08 1. 1. 2 Auriculoterapia............................................................................................................... 10 1. 2 Cuidado em Saúde e Práticas Integrativas e Complementares na Atenção Básica...12 1. 3 Práticas Integrativas e Complementares na perspectiva da Residência Integrada em Saúde...................................................................................................................................13 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 38 As Práticas Integrativas e Complementares (PIC), segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), contemplam os sistemas médicos complexos e recursos terapêuticos denominados de Medicina Tradicional e Complementar/Alternativa (WHO, 2002). Além disso, formam um grupo de serviços, saberes e técnicas agrupados pela característica comum de não pertencerem aos saberes da medicina convencional, mas se apoiarem mais nos conceitos da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) (NCCIH, 2017). O documento "Estratégia da OMS sobre Medicina Tradicional 2002-2005" reafirma os princípios da Alma Ata de 1978 e, no Brasil, a legitimação, institucionalização e inclusão das PIC iniciaram-se a partir da década de 1980, principalmente, após a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Com a descentralização e a participação popular, os estados e municípios ganharam maior autonomia na definição de suas políticas e ações em saúde, implementando experiências pioneiras. Essa estratégia teve como objetivo de não só prestar apoio aos Estados Membros para que aproveitassem a possível contribuição da MTC à saúde, ao bem-estar e à atenção às pessoas, mas também promover a sua utilização segura e eficaz mediante a regulamentação de produtos, práticas e profissionais (WHO, 2002). Ao longo dos anos, tais experiências continuaram a crescer e a se diversificar e, na década de 1990, o Grupo de Pesquisa Racionalidades Médicas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), liderado pela professora Madel Luz, destacou a multiplicidade de saberes e a diversidade cultural e epistemológica das PIC, despertando o crescente interesse acadêmico pelo tema (LEVIN; JONAS, 2001; BRASIL, 2006). As experiências nos serviços do SUS intensificaram-se, particularmente, após a publicação da primeira edição da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), aprovada pelo Ministério da Saúde em maio de 2006 por meio da Portaria nº971. Em suma, essa política surge para atender à demanda da população brasileira e à necessidade de normatização dessas práticas na rede pública de saúde, seguindo a orientação da OMS. A PNPIC (BRASIL, 2006) não só legitimou as práticas da MTC/Acupuntura, da Homeopatia, das Plantas Medicinais e Fitoterapia, do Termalismo Social/Crenoterapia e da Medicina Antroposófica, mas também significou um impulso ao reconhecimento e crescimento de todas as demais PIC no SUS. Presente em todos os níveis de atenção, como uma política de 9 caráter horizontal em suas ações, possui grande potencial de atuação em rede. Segundo Andrade (2006), é uma política que surgiu em conformidade com outras políticas públicas de saúde brasileiras, sendo considerada uma “política de inclusão terapêutica aberta a outros saberes que pode ampliar os cuidados em saúde e contribuir para o aumento da resolubilidade do sistema”. Em 2015, foi divulgada a segunda edição da PNPIC que incluiu algumas mudanças (BRASIL, 2015). As PIC envolvem abordagens que estimulam a prevenção de agravos e recuperação da saúde, atuando de forma multiprofissional, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração das pessoas com o meio ambiente e a sociedade. Assim permite uma visão ampliada do processo saúde-doença e a promoção global do cuidado humano, especialmente do autocuidado (BRASIL, 2015). Tais práticas formam um grupo heterogêneo de saberes e têm sido amplamente estudadas (ZHAO et al., 2015). 1. 1. 1 Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura Segundo a PNPIC (2015), a MTC retrata simbolicamente as leis da natureza, valorizando a inter-relação harmônica entre as partes e visando à integridade da pessoa. Como fundamento, aponta a teoria do Yin-Yang, divisão do mundo em duas forças fundamentais opostas que se relacionam, e a teoria das cinco energias (madeira, fogo, terra, metal e água) como responsáveis por todos os fenômenos que ocorrem na natureza, no corpo humano e no universo. A MTC utiliza como elementos a palpação do pulso e observação da face e da língua para avaliação do fluxo energético. A Acunputura é oriunda da Medicina Oriental e a técnica se dá por meio do estímulo preciso de locais anatômicos na pele a partir da inserção de finas agulhas metálicas, abordando de modo integral e dinâmico o processo saúde-doença no ser humano, isolada ou integrada a outros recursos terapêuticos, com a finalidade da promoção, manutenção e recuperação da saúde e prevenção ou tratamento de doenças e agravos (BRASIL, 2015). No Ocidente, a partir da segunda metade do século XX, a Acunputura foi assimilada pela medicina contemporânea e seus efeitos terapêuticos foram reconhecidos em diversas pesquisas científicas, admitindo-se que a estimulação de pontos provoca a liberação de neurotransmissores e outras substâncias responsáveis pelas respostas de analgesia, restauração de funções orgânicas e modulação imunitária no Sistema Nervoso Central (BRASIL, 2015). No Brasil, a Acunputura teve suas normas fixadas por meio da Resolução nº5/88, da Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação (CIPLAN), para o atendimento no SUS a partir 10 de 1988 e, após 11 anos, foi inserida na tabela de Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA/SUS) como ‘consulta médica em acupuntura’ (código 0701234). A Saúde Bucal também pode usufruir dos benefícios da Acunputura e há dados na literatura que mostram a redução de dor após procedimentos odontológicos, como exodontias, desvitalização pulpar e tratamento de abscessos periapicais agudos e, também, no tratamento de disfunções temporo-mandibulares, podendo ser utilizada como uma tecnologia integrada à prática odontológica, atuando principalmente como efeito analgésico (SUNG et al., 1977; ZHENG et al., 1990; LAO et al., 1995; ROSTED et al., 1998; SUKANDER et al. 1995). O estudo busca compreender a percepção das pessoas sobre o cuidado em saúde a partir das sessões de Auriculoterapia realizados pela residente em Saúde Bucal na área de Saúde da Família e Comunidade no Centro de Saúde Modelo da Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Porto Alegre. 1. 1. 2 Auriculoterapia O médico e autor chinês Huangdi Neijing compilou, há mais de 2.200 anos, o livro médico fundamental e mais representativo da MTC que é traduzido ao português como Clássico Interno (Lingshu em chinês). Nesse livro, o autor menciona que todos os meridianos da MTC convergem no pavilhão auricular, criando um microssistema intimamente relacionado com todas as partes do corpo e órgãos. Assim, os estudos sobre a Terapia Auricular ou Auriculoterapia (AT) ampliaram-se. Historicamente, a AT é utilizada como abordagem terapêutica complementar à acupuntura sistêmica pela Medicina Oriental há milhares de anos. No final da década de 1950, a forma moderna do método foi desenvolvida por Paul Nogier e, a partir de 1980, intensificou- se a realização de estudos experimentais que buscaram correlacionar estímulos do pavilhão auricular com possíveis mecanismos neurobiológicos de controle da dor e inflamação (OLESON, 2005). A literatura que fundamenta o uso da AT é heterogênea e as experiências e pesquisas estão acumuladas em países como França, China, Rússia e Alemanha, gerando a elaboração de diferentes mapas auriculares e distintas visões sobre sua prática (OLESON, 2013; ABBATE, 2016). Segundo dados da literatura brasileira, existem três teorias que dão embasamento à prática de AT (MTC, reflexologia e neurofisiologia) e ambas a descrevem como sendo um ‘método terapêutico não invasivo que utiliza estímulos no pavilhão auricular para manutenção de saúde, tratamento ou prevenção de doenças em nível individual ou coletivo, de forma 11 semelhante à acupuntura’ (BRASIL, 2015). No campo da pesquisa clínica biomédica, os estudos randomizados controlados que demonstram a eficácia da AT no tratamento de diferentes problemas de saúde são crescentes (HOU et al., 2015). Estudos experimentais evidenciaram o efeito neurobiológico do estímulo do pavilhão auricular no controle de diferentes funções fisiológicas (OLESON, 2005). Baseado em diversos ensaios clínicos, a OMS considera a AT como um microssistema capaz de produzir impacto na regulação das funções corporais, mostrando-se benéfica no tratamento de dores em geral, lombalgias e cervicalgias, dor pré ou pós-operatória ou dor relacionada ao câncer (WHO, 2002). A AT não possuía código próprio no SIA/SUS e era incluída no grupo da MTC/Acupuntura como ‘outras atividades’, mas a Portaria nº404, de 15 de abril de 2016, incluiu a ‘Sessão de Auriculoterapia’ no Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais do SUS (SIGTAP). A Portaria nº145, de 11 de janeiro de 2017, altera diversos procedimentos no SIGTAP (2017), entre eles a ‘Sessão de Auriculoterapia’, conforme figura 1. Figura 1 – Características do procedimento ‘Sessão de Auriculoterapia’ no SIGTAP, 2017. Fonte: captura de tela do SIGTAP. Disponível em: < http://sigtap.datasus.gov.br/tabela- unificada/app/sec/procedimento/exibir/0309050049/12/2017>. Acesso em out. 2018. Atualmente, no SIGTAP (2017), a AT pode ser executada por mais de 30 profissões, seguindo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) do SUS, tais como assistente social, cirurgião-dentista, enfermeiro, farmacêutico, fonoaudiólogo, psicólogo, médico, nutricionista, e pode ser realizada em nível individual ou coletivo em atividades de educação, terapêuticas e orientação à população ou ações comunitárias. Essa inclusão permite o melhor acompanhamento da AT por região, estado ou País e a produção de dados adequados. 12 1. 2 Cuidado em Saúde e Práticas Integrativas e Complementares na Atenção Básica A inclusão das PIC no SUS é apropriada aos diversos níveis de atenção à saúde na perspectiva da prevenção de agravos e da promoção e recuperação da saúde, propiciando um cuidado continuado, humanizado e integral. A primeira pesquisa do Ministério da Saúde mostra que 78% das PIC estão na Atenção Básica, 18% na Atenção Especializada e 4% em hospitais. A partir dos dados preliminares do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), foi visto que praticamente 19% das 29.770 equipes visitadas praticavam alguma PIC (BRASIL, 2015). A crescente relação entre as PIC e a Atenção Básica se dá não só pela abordagem de problemas para os quais outro olhar se torna necessário, mas também por serem cada vez mais reconhecidas como cuidado para as pessoas (LEVIN et al., 2001; MCWHINNEY, 2010). Tais práticas podem ser consideradas uma estratégia para o desenvolvimento da equidade e integralidade, pois são práticas terapêuticas com uma compreensão integrada de saúde e doença, que caminham no sentido da humanização das práticas clínicas e da inclusão de outras abordagens de diagnóstico e terapêutica, considerando diferentes modelos, crenças e itinerários de saúde (ANDRADE, 2006; TESSER; BARROS, 2008). Além disso, Astin (1998) e Davis-Floyd e John (2004) consideram as PIC como práticas de abordagem bem aceitas em diferentes culturas não só por estimular o usuário como protagonista, mas também por se apoiar em uma boa relação terapeuta-paciente, permitindo a maior participação das pessoas no seu processo de cuidado. As práticas ampliam as possibilidades diagnósticas e terapêuticas por considerarem questões de dimensões psicossociais, espirituais, emocionais e subjetivas e até mesmo questões de harmonia com os elementos da natureza. As PIC contribuem para a…