Eduardo Fortuna - O Sistema de Pagamentos Brasileiro_25pg

Embed Size (px)

Citation preview

  • Eduardo Fortuna O Sistema de Pagamentos Brasileiro I 18/04/2006

    O Sistema de Pagamentos Brasileiro I

    Nas matrias anteriores analisamos alguns dos aspectos do papel desempenhado pelos bancos na prestao de servios no dia a dia das pessoas e das instituies. Mencionamos, tambm, alguns aspectos do sistema de pagamentos que garante a agilidade e a segurana na prestao desses servios. Nesta matria vamos iniciar o aprofundamento do tema sobre o atual sistema de pagamentos brasileiro, mais conhecido em mercado como o novo SPB.

    At a implantao do SPB o sistema de pagamentos era estruturado, essencialmente, atravs de quatro cmaras de compensao.

    Na primeira delas, o Sistema Especial de Liquidao e Custdia Selic eram compensadas as operaes de mercado primrio e secundrio com ttulos pblicos federais e com os depsitos interfinanceiros em reserva DI Reserva, exclusivo de bancos comerciais e mltiplos com carteira comercial com liquidao financeira na conta de reservas bancrias, s 23 horas do mesmo dia da negociao, ou seja, na nomenclatura de mercado, em Dzero.

    Para evitar o risco de perda por parte do comprador, a transferncia da custdia do ttulo do vendedor para o comprador estava vinculada correspondente liquidao financeira do valor em reais do comprador para o vendedor, ou seja, atravs da utilizao do mecanismo de entrega contra pagamento (Delivery Versus Payment DVP).

    Caso houvesse problemas de liquidao, a operao podia ser desfeita, evitando-se, o risco de perda do comprador, mas, certamente, transferindo-o para o Banco Central BC , que agiria como o emprestador de ltima instncia que objetiva evitar a possibilidade do risco sistmico que poderia surgir pela quebra da cadeia de negociao em seus pagamentos e recebimentos.Evitava-se, assim, o risco sistmico, mas estimulava-se o risco moral (moral hazard), ou seja, o risco de incentivar os bancos a serem mais agressivos em seus negcios e, portanto, menos criteriosos em suas operaes, relaxando seus controles de crdito e operacional, por saber que sempre poderiam contar com o apoio do onipresente e salvador BC.

    Na segunda delas, a inicialmente chamada Central de Liquidao e Custdia de Ttulos Privados e atualmente denominada Cmara de Custdia e Liquidao Cetip eram registrados e liquidados as operaes de mercado secundrio com ttulos privados e alguns ttulos pblicos federais, alm das operaes de mercados primrio e secundrio de ttulos pblicos estaduais e municipais, sempre com liquidao financeira via reservas bancrias, at as 16 horas do dia seguinte ao da negociao, ou seja, na nomenclatura de mercado, em D + 1. Alm disso, era feita a ponte para a liquidao financeira via reservas bancrias, das operaes realizadas na Bovespa, em D + 5, e na BM&F, em D + 1.

  • Da mesma forma que no Selic, a Cetip tambm utilizava o mecanismo de entrega contra pagamento, sendo que neste caso no havia a garantia do BC para o risco de perda do comprador.

    Na terceira delas, o Servio de Compensao de Cheques e Outros Papis Compe , era realizada a compensao de todos os cheques, documentos de crdito e ttulos para pagamento que transitam por todo o sistema bancrio, independente do fato de seu valor ser alto ou baixo. Cheques de valor igual ou superior a R$ 300,00 eram liquidados financeiramente via reservas bancrias em D + 1, e os de valor inferior, em D + 2.

    Finalmente, na quarta delas, no sistema de Cmbio, eram realizadas todas as operaes interbancrias com moeda estrangeira, sempre com liquidao financeira em reais via reservas bancrias em D + 2, sendo que a liquidao financeira em moeda estrangeira era feita em Nova York.

    Em nenhuma dessas duas ltimas havia a garantia do BC para a possibilidade de perdas das partes envolvidas.

    No conjunto de suas operaes, tradicionalmente, essas cmaras executavam a liquidao das operaes que nelas transitavam, atravs do Sistema de Liquidao de Valores Defasados Lquidos LDL (Deferred Net Settlement DNS) , no qual as operaes de pagamento e recebimento de documentos e/ou a compra e venda de ttulos pblicos e privados so registradas ao longo do dia e compensadas por diferena ao final do dia, para, ento, sensibilizar, no confronto de crditos e dbitos as contas de reservas bancrias dos bancos junto ao BC. Entretanto, em nenhuma dessas cmaras coexistiam mecanismos de gerncia de riscos que permitissem solucionar os problemas de falta de liquidez ou, mais grave ainda, da insolvncia de seus participantes.

    Ou seja, como as mensagens de liquidao financeira, enviadas por todas essas cmaras ao BC, no recebiam crticas quanto disponibilidade de saldo positivo em conta de reservas bancrias, o sistema de pagamentos anterior ao novo SPB podia, portanto, permitir a manuteno de saldo negativo de um banco ao longo de todo um dia de operao, na expectativa, e no na certeza, de um lanamento a crdito, salvador, que revertesse o saldo de negativo para zero ou para positivo, ao final do dia. Dessa forma, era o BC que assumia todo o risco de insolvncia do sistema, ao conceder, aos seus participantes, crdito sem limite e sem garantia, via saque a descoberto nas contas de reservas bancrias. Estima-se que em 12/2001, ltimo ms do ano que antecedeu a implantao do novo SPB a concesso desse crdito circunstancial e indesejvel pelo BC tenha atingido um valor entre 6 bilhes e 7 bilhes de reais.

    Por tudo o acima exposto, os dois pilares bsicos que nortearam o novo SPB foram:

    todos os riscos anteriores incorridos pelo BC devem ser, irreversivelmente, transferidos para todos os participantes do mercado; e

    as novas cmaras de compensao,custdia e liquidao clearings , adaptadas ou criadas para atender o SPB, devem ter agilidade e flexibilidade necessrias e suficientes para gerir as garantias exigidas aos participantes, de forma a assegurar a liquidao das operaes, mesmo na ocorrncia da inadimplncia de uma contraparte. Alm disso, as novas clearings, alm de operar a transferncia

  • eletrnica de recursos dentro do conceito de Liquidao Defasada Lquida LDL , devero estar aptas a faz-la em sistema de compensao contnua, seja de forma individual (um pagamento de um participante para outro), bilateral (dois ou mais pagamentos compensados por diferena entre dois participantes), ou multilateral (trs ou mais pagamentos compensados por diferena entre trs ou mais participantes), sempre pelo valor lquido apurado netting.

    Para tanto, na implementao do novo SPB, muito foi, est sendo atualmente e ainda ser investido no futuro em infra-estrutura tecnolgica para interligar bancos, clearings e BC.

    Na prxima matria vamos dar continuidade ao tema.

  • Eduardo Fortuna O Sistema de Pagamentos Brasileiro II 25/04/2006

    O Sistema de Pagamentos Brasileiro II

    Na matria anterior iniciamos o aprofundamento do tema sobre o atual sistema de pagamentos brasileiro, mais conhecido em mercado como o novo SPB, aprendendo como ele era estruturado anteriormente a sua implantao. Nessa matria vamos dar continuidade ao tema.

    As premissas e objetivos pblicos que nortearam a estruturao do novo SPB podem ser estabelecidos da seguinte forma:

    os sistemas de pagamentos so um mecanismo essencial para garantir a efetividade do mercado financeiro, dessa forma eles devem amortecer os choques financeiros e garantir a estabilidade dos mercados monetrio nacional e internacional;

    as foras de mercado sozinhas, no necessariamente atingem os objetivos de segurana e de eficincia desejados, j que os operadores e participantes no necessariamente tm condies de suportar os riscos e custos envolvidos;

    para garantir o objetivo de segurana de um sistema de pagamentos necessrio, em primeiro lugar, identificar e entender como os vrios tipos de riscos surgem ou so transmitidos dentro do sistema;

    os sistemas de pagamentos consomem uma parcela significativa de recursos que compensada pelos seus resultados prticos;

    a segurana e a eficincia do sistema de pagamentos no devem ser os seus nicos objetivos pblicos; e

    os diferentes aspectos dos objetivos de segurana e eficincia devem ser perseguidos pelas diferentes agncias e participantes do setor pblico envolvidos no sistema de pagamentos, entretanto, o BC tem um papel central em funo de seu interesse primordial na estabilizao financeira.

    A partir dessas premissas e objetivos vejamos a forma como foi organizado o novo SPB para permitir a transferncia consentida de riscos do BC aos participantes do mercado, e como as clearings foram estruturadas para garantir uma operacionalizao gil e flexvel do novo modelo, com o mximo de segurana nas liquidaes e na minimizao dos riscos de inadimplncia das contrapartes.

    O projeto de constituio do novo SPB foi aprovado em reunio do BC de 30/06/99, fundamentado no estabelecimento de diretrizes que permitissem o melhor gerenciamento do risco sistmico e tendo como pilar bsico centralizador das operaes a implantao de um sistema de transferncia de grandes valores com liquidao bruta operao por operao, em tempo real, internacionalmente conhecido como Real Time

  • Gross System RTGS, e aqui denominado de Sistema de Transferncia de Reservas STR , criado e regulamentado pela Circular BC 3.100, de 28/03/02, e seu regulamento anexo.

    A viabilizao do STR teve como base de suporte conceitual e operacional a alterao do regime de monitoramento pelo BC, para o tempo real, ou seja, no momento de sua ocorrncia, da conta de reservas bancrias das instituies financeiras autorizadas a possui-las. Para tanto, as diretrizes aprovadas, e sobre as quais se fundamentaram o relacionamento e a operacionalizao entre o BC e as instituies financeiras monetrias os bancos , as clearings e todos os demais participantes do mercado no novo SPB foram as seguintes:

    a definio do papel do BC, incluindo: (i) a regulamentao da liquidao financeira da conta de reservas bancrias; (ii) as exigncias operacionais aos seus titulares; (iii) as exigncias operacionais s clearings autorizadas a operar; e (iv) o estabelecimento das regras de controle de riscos a serem seguidas no SPB.

    a reduo do risco de crdito do BC, incluindo: (i) o monitoramento em tempo real do saldo da conta de reservas bancrias de cada instituio; (ii) o estabelecimento dos horrios a serem seguidos no lanamento dos resultados financeiros obtidos nas diferentes clearings; e (iii) o estabelecimento de contratos com deveres e responsabilidades entre o BC, as instituies titulares de conta de reservas bancrias e as clearings autorizadas.

    a irrevogabilidade e incondicionalidade dos pagamentos finality , ou seja: (i) quando executadas atravs do STR e depois de lanadas na conta de reservas bancrias, as ordens de pagamento no podero ser canceladas, ou seja, sero irrevogveis e incondicionais; e (ii) quando as ordens forem compensadas por valores multilaterais lquidos, na liquidao financeira ao final do dia no BC, via clearings, ter a garantia de liquidao certainty of settlement e tambm no podero ser canceladas, ou seja, sero irrevogveis e incondicionais.

    o conhecimento pleno dos participantes do SPB em relao aos riscos associados aos sistemas em que operam, incluindo: (i) a definio dos riscos em operar no SPB; (ii) a explicitao de suas responsabilidades individuais e conjuntas perante eles; e (iii) os mecanismos de repartio de perdas, em caso de inadimplncia de um dos participantes.

    a reduo da defasagem entre a contratao das operaes e a sua liquidao financeira, incluindo: (i) a introduo do STR, apoiado no monitoramento do saldo da conta de reservas bancrias em tempo real e nos princpios de finality e de certainty of settlement; e (ii) a prpria ao conjunta do mercado na busca de sua eficincia operacional para a minimizao dos riscos que lhe foram transferidos com o novo SPB.

    a estruturao de clearings com novos mecanismos de reduo dos riscos e de contingncia adequados, incluindo: (i) a sistemtica de entrega contra pagamento delivery versus payment DVP; (ii) o estabelecimento de limites bilaterais pelos participantes e o estabelecimento de limites multilaterais pelas clearings, ambos monitorados em tempo real; (iii) as garantias fornecidas pelos

  • participantes s clearings; (iv) as regras de repartio de perdas nos casos de inadimplncia; e (v) as condies para a execuo das garantias.

    a adoo de base legal adequada consolidada pela Lei 10.214, de 27/03/01, e que entrou em vigor de forma inicial em 22/04/02.

    Na prxima matria vamos dar continuidade ao tema.

  • Eduardo Fortuna O Sistema de Pagamentos Brasileiro III 03/05/2006

    O Sistema de Pagamentos Brasileiro III

    Na matria anterior demos continuidade ao aprofundamento do tema sobre o atual sistema de pagamentos brasileiro, mais conhecido em mercado como o novo SPB. Nessa matria vamos dar continuidade ao tema.

    As efetivas aes do BC para a viabilizao das diretrizes que nortearam a criao do SPB, seja sob o enfoque especfico das contas de reservas bancrias, ou sob o enfoque especfico da constituio e estruturao dos sistemas de processamento e das cmaras de compensao clearings , foram e esto em funcionamento:

    No tocante s contas de reservas bancrias

    Para evitar que o BC tenha que assumir o risco de falta de liquidez dos bancos comerciais ou mltiplos com carteira comercial (as instituies financeiras monetrias, ou seja, as que tm conta de reserva bancria junto ao BC), eles no podem, em hiptese alguma, e em nenhum momento do dia, ter saldo negativo em sua conta de reserva bancria.

    Como conseqncia, as instituies no podem mais sacar a descoberto de suas contas de reservas bancrias, pois a maior parte de suas movimentaes passa a ser feita atravs de operaes em tempo real, mediante a disponibilidade de recursos em reais ou em ttulos pblicos federais.

    As instituies detentoras da conta de reservas bancrias passaram a possuir a atividade do "Piloto de Reservas", representada pela ao de um profissional especializado, para garantir a permanente disponibilidade de recursos na conta de reservas bancrias e que, a cada momento, fosse capaz de honrar os compromissos do banco e de seus clientes.

    Todas as contas de reservas bancrias passaram a ser monitoradas pelo BC atravs do Sistema de Transferncia de Reservas STR , seja em tempo real a cada operao, na modalidade conhecida como Liquidao Bruta em Tempo Real LBTR , ou seja pela compensao lquida de saldos, na modalidade conhecida como Liquidao Defasada Lquida LDL.

    Foi estabelecido um sistema de prioridade de lanamento das movimentaes nas contas de reservas bancrias, de forma a garantir velocidade, consistncia e segurana do conjunto de operaes.

    As instituies que necessitem garantir sua liquidez ao longo de um dia de operaes, para fazer face ao seu fluxo de pagamentos, podem obter recursos em reais junto ao BC pela operao de redesconto intradia a custo zero, com o registro em tempo real do resultado financeiro na conta de reservas bancrias. Essa operao viabilizada atravs da venda de ttulos pblicos federais de sua

  • carteira, desde que o faam com o compromisso de recompra ao final desse mesmo dia Repurchase Agreement Repo. o BC quem determina diariamente quais os ttulos que devem ser aceitos como garantia nas operaes de Repo.

    As operaes de movimentao nas contas de reservas bancrias no podem ser canceladas, pois os lanamentos so finais, ou seja, irrevogveis e irreversveis. A correo de um valor lanado em uma operao errada exige uma operao inversa anterior, para a restituio do valor erradamente lanado, pois apenas a instituio detentora de uma conta de reservas bancrias pode executar lanamentos a dbito desta conta e a crdito de uma outra conta.

    Para poderem participar da compensao no SPB e contribuir para retirar a responsabilidade de risco do BC, cada um dos bancos participantes deve disponibilizar recursos em sua conta de reservas bancrias, ao incio de cada dia, no momento da abertura das operaes de movimentao, e que so utilizados ao longo de todo o dia. Os valores destes pr-depsitos pre funding so variveis, pois devem ser compatveis com a mdia histrica diria, para uma determinada janela de operaes, de cada um dos bancos participantes. (Para efeito da avaliao da importncia dessa medida e de sua comparao com os dias atuais, mencione-se que na implantao do SPB houve a necessidade de um pr-depsito global no entorno de R$ 6 bilhes).

    Os grandes bancos, pela sua enorme disponibilidade de caixa, no tiveram grande dificuldade em cumprir estas ou outras quaisquer exigncias, mas para as pequenas instituies, a implantao do SPB tornou-se um momento de reflexo sobre o custo de oportunidade de permanecerem com a sua carteira de banco comercial, pois o controle de liquidez se tornou uma varivel crtica na gesto dos negcios bancrios.

    importante observar, como veremos na continuidade dessa matria, que os impactos diretos do SPB sobre as contas de reservas bancrias das instituies financeiras monetrias desdobraram-se em importantes inovaes nos produtos bancrios e na relao do banco com seus clientes, quer fossem pessoas fsicas ou jurdicas.

    O primeiro destes desdobramentos, tendo como fulcro o aumento das operaes em tempo real, refere-se ao aspecto tecnolgico que teve como base a implantao integrada de um sistema de processamento de ordens de transferncia eletrnica de fundos e a criao, pelo setor privado, de uma rede de telecomunicaes, exclusivamente dedicada ao sistema financeiro, abrangendo as instituies financeiras com conta de reservas bancrias, as instituies clearings e o BC com os seus sistemas STR, Selic e outros. Este conjunto tecnolgico, conhecido como Sistema de Mensageria SM , passou a permitir a movimentao de mensagens entre as instituies envolvidas no SPB, padronizadas e operadas por sistemas criados dentro de rgidos padres de segurana e confiabilidade, definidos pelo BC.

    O segundo destes desdobramentos exigiu a assuno dos riscos pelo setor privado, a partir da definio de regras mais rgidas de gerenciamento de riscos para as clearings privadas que foram constitudas ou reestruturadas, dentro da ordem jurdica definida pela Lei 10.214, que criou o SPB..

  • Todas estas e outras inovaes representaram custos, fossem tangveis como os financeiros, ou intangveis como os gerenciais e, como resultado, a instituio que no tivesse massa crtica, retaguarda financeira e competncia no gerenciamento das mudanas, mais uma vez teria de repensar o seu negcio. No toa que o processo de fuso e aquisio de bancos comerciais se acelerou nos ltimos anos.

    Na prxima matria vamos dar continuidade ao tema, detalhando um pouco mais essas inovaes e sua implementao.

  • Eduardo Fortuna O Sistema de Pagamentos Brasileiro IV 09/05/2006

    O Sistema de Pagamentos Brasileiro IV

    Na matria anterior, demos continuidade ao aprofundamento do tema sobre o SPB. comeando a conhecer as efetivas aes tomadas pelo BC, sob o enfoque especfico da constituio e estruturao dos sistemas e cmaras de compensao que deram suporte e viabilizaram o sucesso do SPB, quais sejam: o Sistema de Mensageria; o Sistema de Transferncia de Reservas STR; os diferentes sistemas de lanamento, em tempo real, do BC; e as vrias cmaras de compensao privadas clearings houses para os lanamentos de valores lquidos defasados netting dos diferentes tipos de ativos liquidados dentro do novo SPB.

    O Sistema de Mensageria

    Toda a dinmica do SPB foi fundamentada nos conceitos de processamento desse sistema.

    A comunicao entre os diferentes sistemas do SPB, seja de dbito ou de crdito de valores, ou de simples confirmao, somente pode ser feita atravs de uma das centenas de mensagens especficas, com protocolo padronizado, especialmente criadas para o atendimento de cada movimentao dentro do SPB.

    Na sua essncia, o Sistema de Mensageria demanda e processa todo o relacionamento entre as instituies financeiras e seus clientes, seja com o STR, com os sistemas de lanamento em tempo real do BC ou com as cmaras de compensao privadas. .

    importante que fique claramente entendido que, no SPB, o Sistema de Mensageria, exceo dos lanamentos comandados em tempo real pelos sistemas proprietrios do BC, segue o conceito de "comando de liquidao pelo devedor", no qual todos os pagamentos devem ser feitos a crdito de uma conta de reservas bancrias.

    Dessa forma, as transferncias de recursos das contas de reservas bancrias sempre sero comandadas pela instituio financeira devedora, a dbito de sua conta de reserva bancria que, como j vimos, no poder ficar negativa em nenhum momento, e a favor da conta de reserva bancria da instituio financeira credora do lanamento.

    Tal fato aumenta a responsabilidade das instituies financeiras no tratamento das mensagens e no cumprimento dos horrios para a concretizao dos pagamentos, e, como conseqncia, a necessidade de uma maior competncia no exerccio da atividade bancria, dentro de um conceito de cooperao operacional integrada.

    O Sistema de Transferncia de Reservas STR

    O ncleo do SPB o Sistema de Transferncia de Reservas STR , pois o nico veculo para a movimentao das contas de reservas bancrias das instituies financeiras que esto autorizadas pelo BC a possu-las e moviment-las.

  • Por esta razo, toda e qualquer movimentao de valores a dbito ou crdito dessas contas, demandadas pelo Sistema de Mensageria SM , seja atravs das vrias cmaras de compensao privadas, dos diferentes sistemas de lanamento do BC, ou do prprio STR, obrigatoriamente circula atravs do STR.

    O STR tem como caracterstica principal, quando do recebimento de mensagens de transferncias na conta de reservas bancrias diretamente das instituies financeiras, ou a partir dos diversos sistemas de lanamento do BC, a adoo do sistema de liquidao bruta em tempo real LBTR operao a operao.

    As transferncias efetuadas diretamente pelas instituies financeiras no STR deveriam, obrigatoriamente, atender, no incio da implantao do SPB em 22/04/02, s operaes que envolvessem valores elevados (estipulou-se, por motivos precaucionais da Febraban, um valor inicial de R$ 5 milhes). Esses valores foram decrescendo medida que o SPB se consolidava, estando atualmente em R$ 5 mil.

    No caso especfico das transferncias de recursos originadas das cmaras de compensao privadas, h, ao longo do dia, um intervalo de tempo especfico janela de liquidao do STR para a sensibilizao imediata, pelo valor lquido especificado, das contas de reservas bancrias envolvidas.

    Alm disso, o STR s permite que uma transferncia de recursos seja efetivada, independente da origem da mensagem, caso haja recursos disponveis na conta de reservas bancrias da instituio financeira que estiver sendo debitada instituio pagadora ou devedora.

    Outra das grandes revolues do SPB, via o STR, a possibilidade de transferncia em tempo real de valores entre contas correntes de bancos diferentes, independentes de sua localizao geogrfica, desde, claro, que sejam respeitadas as exigncias de disponibilidades de saldo na conta corrente do cliente debitado e tambm da disponibilidade de recursos na conta de reservas bancrias do banco sacado.

    A utilizao do STR cobrada s instituies financeiras pelo nmero de mensagens processadas enviadas ou recebidas , sendo o encargo cobrado tanto do emissor quanto do recebedor. H um desconto de 50% para as mensagens enviadas no intervalo de tempo entre 6:30 e 8:00 da manh.

    Na prxima matria vamos dar continuidade ao tema.

  • Eduardo Fortuna O Sistema de Pagamentos Brasileiro V 16/05/2006

    O Sistema de Pagamentos Brasileiro V

    Na matria anterior comeamos a conhecer as efetivas aes tomadas pelo BC, sob o enfoque especfico da constituio e estruturao dos sistemas e cmaras de compensao que deram suporte e viabilizaram o sucesso do SPB. Nessa matria vamos dar continuidade ao tema detalhando um pouco mais sobre esses sistemas.

    Sistemas de Lanamentos em Tempo Real do BC

    Neste grupo de sistemas que executam os lanamentos pelo mtodo da liquidao bruta em tempo real LBTR , podemos classificar os seguintes sistemas: o Sistema Especial de Liquidao e Custdia Selic; o Sistema de Depsitos Compulsrios; o Sistema de Redescontos; o Sistema do Tesouro Nacional; o Sistema do Meio Circulante; e o Sistema de Lanamentos Diversos SLB.

    Todos estes sistemas interagem com o SM, visto na matria anterior, so comandados e monitorados pelo BC e sensibilizam as reservas bancrias das instituies financeiras autorizadas, sempre, atravs do STR.

    Sistema Especial de Liquidao e Custdia Selic

    Ele passou a operar em tempo real com o STR e com as instituies financeiras, liquidando suas transaes primrias e secundrias de ttulos pblicos federais e dos depsitos financeiros em reserva DI Reserva , uma a uma, em suas contas de reservas bancrias.

    (Lembramos que, anteriormente, no sistema de pagamento em vigor at a implantao do novo SPB, as operaes de compra e venda de ttulos pblicos federais realizadas no Pas eram registradas ao longo do dia no Selic, a partir das 7 horas da manh, com a compensao de dbitos e crditos ocorrendo ao final do dia, ou seja, os lanamentos utilizavam o mtodo da liquidao financeira defasada lquida LDL , com liquidao final pelo valor lquido multilateral s 23 horas do mesmo dia da transao, fato esse que deixava o sistema financeiro sujeito ao risco sistmico)

    Mantm-se o mecanismo de entrega contra pagamento DVP , em que a transferncia da custdia do ttulo escritural do vendedor para o comprador est associada mensagem de liquidao financeira especfica. Mas no caso do novo SPB, a troca de custdia do ttulo e o crdito de reservas so processados em tempo real.

    Do lado do comprador, no admitida a pendncia financeira da liquidao, pois o Selic no permite que a operao seja concretizada, caso o comprador no disponha dos recursos necessrios em sua conta de reservas bancrias, no momento do registro do negcio.

  • Do lado do vendedor, ser admitida a pendncia da existncia do ttulo para a concretizao da operao, caso o vendedor no disponha do ttulo em custdia no momento do registro do negcio, mas pelo limite mximo de 30 minutos.

    (Lembramos que, desta forma, o BC deixa de ficar exposto ao fato de uma instituio adquirir ttulos de uma outra e no ter volume de reservas bancrias suficientes para honr-los. Por outro lado, as instituies financeiras no ficam mais expostas possibilidade de dormirem com dinheiro em caixa por adquirir ttulos de uma outra que no os tenha para entregar (venda a descoberto).)

    Sistema de Depsitos Compulsrios RCO

    O sistema ento em vigor, aps adaptao, passou a processar as informaes que sensibilizam as contas de reservas de depsitos compulsrios sobre depsitos vista, depsitos a prazo, depsitos judiciais, depsitos especiais de garantias realizadas, depsitos de poupana, fiana bancria e operaes de cmbio , atravs de um conjunto de mensagens especficas RCO, do SM, e no mais do Sisbacen.

    Sistema de Redescontos RDI

    O sistema ento em vigor, aps adaptao, passou a processar o Redesconto Intradia, especificamente criado para o SPB a custo zero, com a venda ao BC dos ttulos pblicos, da carteira prpria ou financiada, da instituio demandante, com compromisso de recompra ao BC ao final do mesmo dia.

    Sistema do Tesouro Nacional STN

    Este sistema cuida, essencialmente, dos repasses das arrecadaes da Secretaria da Receita Federal SRF dos repasses das arrecadaes do Instituto Nacional de Seguridade Social INSS e dos demais pagamentos feitos diretamente ao STN, atravs de DARF e/ou GRPS.

    Sistema do Meio Circulante CIR

    Este sistema substituiu as atuais funes do Sisbacen, como veculo de solicitaes para as movimentaes de saques e depsitos de numerrio, entre as instituies financeiras bancos comerciais, mltiplos com carteira comercial e caixas econmicas e entre estas e o BC, por um conjunto de mensagens padronizadas e de horrios rigorosamente programados do SM. Para habilitar-se a qualquer saque ou depsito de numerrio, a instituio financeira deve ter inicialmente emitido uma mensagem de previso semanal. A efetiva requisio de saque deve ser feita com 48 horas de antecedncia no caso de o sacado ser o BB, e de 24 horas quando o sacado for o BC.

    As mensagens do CIR so as primeiras a serem processadas na abertura do processamento dirio de todo o conjunto de sistemas do SPB, s 6:30 da manh.

    Sistema de Lanamentos Diversos SLB

    Este sistema, alm de executar a liquidao das operaes entre as instituies financeiras com conta de reservas bancrias e as instituies financeiras autorizadas a

  • operar pelo BC, mas que no disponham de conta de reservas bancrias, tambm processa os demais lanamentos diretamente efetuados pelo BC, tais como a cobrana de multas e tarifas.

    Assim, todo o conjunto de sistemas de lanamento do BC, da mesma forma que o STR, j est sintonizado dentro do conceito de "quanto mais rpido for completada a transao, menor o risco financeiro envolvido e menores so os custos de processamento envolvidos para os operadores".

    O objetivo final de todo o SPB foi o de que toda e qualquer transao, fosse de pagamento ou recebimento ou fosse de compra ou venda, ocorresse de forma automtica e em tempo real, com interveno humana somente em casos especiais, dentro do moderno conceito internacional de processamento direto (Straight Trough Processing STP).

    Na prxima matria vamos dar continuidade ao tema, aprendendo sobre as cmaras de compensao.

  • Eduardo Fortuna O Sistema de Pagamentos Brasileiro VI 23/05/2006

    O Sistema de Pagamentos Brasileiro VI

    Nas matrias anteriores demos incio ao conhecimento das efetivas aes tomadas pelo BC sob o enfoque especfico da constituio e estruturao dos sistemas e cmaras de compensao que deram suporte e viabilizaram o atual sucesso do SPB. Nessa matria vamos dar continuidade ao tema iniciando o detalhamento dessas cmaras de compensao clearing houses.

    Todas as cmaras foram estruturadas dentro do conceito de liquidar as operaes que nelas transitam, atravs do Sistema de Liquidao de Valores Lquidos Defasados (Deferred Net Settlement DNS) que, no SPB, passou a ser conhecido como Liquidao Defasada Lquida LDL.

    Operacionalmente, os lanamentos entre as instituies financeiras em cada uma das clearings so comandados pelo Sistema de Mensageria SM -, e vo sendo registrados, ao longo do dia, para serem compensados por diferena ao final do dia em um valor nico netting , para, ento, sempre via Sistema de Transferncia de Reservas STR , sensibilizar no confronto de crditos e dbitos as contas de reservas bancrias das instituies financeiras autorizadas junto ao BC.

    Em resumo, no novo SPB todas as clearings se caracterizam como entidades criadas para viabilizar as liquidaes entre as instituies financeiras, na forma LDL, com acesso direto conta de reservas bancrias das instituies no BC, sempre via STR.

    Alm disso, todas as clearings tm, entre outras funes, a responsabilidade de: liberar as operaes; gerenciar os riscos envolvidos nas operaes realizadas pelos participantes; e garantir as operaes por elas autorizadas.

    Fazem parte deste conjunto de clearings:

    Como Clearing de Pagamentos:

    o Servio de Compensao de Cheques e Outros Papis do BB Compe para a liquidao de cheques e outros papis de valor inferior a R$ 5 mil, ressalvando-se que especificamente, em seu caso, caso ela no garante as operaes nela cursadas;

    a Cmara Interbancria de Pagamentos da Febraban CIP , para a liquidao de cheques e outros papis de valor igual ou superior a R$ 5 mil;

    a Cmara de Compensao da Tecban, para a liquidao dos cartes de dbito e ordens de crdito; e

    as Cmaras de Compensao da Visanet e da Redecard, para a liquidao dos cartes de dbito e dos cartes de crdito.

  • Como Clearing de Ativos (concorrendo, entre elas, para a liquidao das operaes com os ttulos de renda fixa privados e pblicos e os ttulos de renda varivel):

    a Cmara de Liquidao e Custdia Cetip, ressalvando-se que especificamente em seu caso ela no garante as operaes nela cursadas.

    a Clearing de Ativos da BM&F, criada a partir da aquisio dos direitos de clearing CBLC pela BM&F e consolidada com a aquisio do Sisbex BVRJ e que comeou a operar, aps a implantao do SPB, em 05/2004.

    Como Clearing de Cmbio, a Clearing de Cmbio da BM&F e como Clearing de Derivativos a Clearing de Derivativos da BM&F.

    No custa relembrar que a liquidao e a custdia dos ttulos pblicos federais e dos depsitos interfinanceiros feitos atravs de reservas bancrias pelas instituies financeiras autorizadas a operar pelo BC o DI Reserva , continuam sendo feitas pelo Selic, mas, agora, em tempo real, sempre via STR.

    Todas essas clearings tm de ter um patrimnio segregado, dentro do conceito de patrimnio de afetao, institudo no direito brasileiro pela Lei 10.214, de 27/03/01. Com este instrumento, elas podem operar com segurana jurdica, permitindo que os riscos de quaisquer medidas de carter judicial deixem de afetar os recursos que por elas transitam.

    Assim, os recursos dos clientes que por elas transitam no se "comunicam" juridicamente com os demais bens da clearing. Como exemplo, as clearings de Ativos, de Cmbio e de Derivativos so, todas elas, de responsabilidade da BM&F, mas seus patrimnios so separados entre si.

    Para garantir as transaes e minimizar seu risco, todas as operaes cursadas nas clearings so feitas dentro do conceito de entrega contra pagamento (Delivery Versus Payment DVP), ou seja, elas sempre esto agindo como contraparte garantidora, seja dos ativos seja dos recursos financeiros nelas cursados.

    Nos casos de inadimplncia, elas acionam os mecanismos de salvaguarda criados para garantir o pagamento dos recursos ou a entrega dos ativos aos credores e, posteriormente, assumem a execuo das aes de cobrana sobre os devedores.

    Fica claro que, para assumirem a garantia das operaes nelas cursadas, as clearings so extremamente rgidas quanto aos lanamentos recebidos das instituies financeiras, exigindo-os, dessa forma, como sendo irrevogveis e irreversveis, e transferindo, assim, uma enorme responsabilidade de risco para as instituies financeiras geradoras das transaes.

    A mensagem muito clara: "Faam certo, ou paguem pelos seus erros".

    As instituies financeiras, por sua vez, para no se tornarem a parte penalizada em assumir o risco de todo o processo, naturalmente, tm de ser extremamente cautelosas, criteriosas e seletivas em relao s operaes com seus clientes e, dessa forma, fecham

  • o ciclo para o aumento da segurana operacional contra os riscos de inadimplncia de todo o sistema, objetivo final do SPB.

    Na prxima matria vamos detalhar a atuao dessas clearings.

  • Eduardo Fortuna O Sistema de Pagamentos Brasileiro VII 30/05/2006

    O Sistema de Pagamentos Brasileiro VII

    Na matria anterior demos incio ao detalhamento resumido das cmaras de compensao clearings , que do suporte ao SPB. Nessa matria vamos dar continuidade ao tema.

    O Servio de Compensao de Cheques e Outros Papis do BB Compe

    A Compe sempre foi altamente eficiente no processamento de uma enorme quantidade de operaes mas no tem qualquer instrumento de gerenciamento de riscos para transaes de alto valor, tais como a exigncia de garantias e o estabelecimento de limites operacionais por instituio.

    Uma clearing de varejo deve ter seu foco no custo da transao, enquanto que uma clearing de altos valores deve ter o seu foco no gerenciamento dos riscos. Da a importncia de separar estes dois conceitos de processamento, dentro do novo SPB.

    A liquidao de suas operaes continua sendo feita, dentro do conceito LDL, no dia seguinte ao da compensao D + 1 , para cheques de valor igual ou superior a R$ 300,00, e em D + 2, para os cheques de menor valor.

    Um cheque, eventualmente sem fundos, devolvido dentro do SPB, da mesma forma que o era antes do SPB.

    Na fase inicial do SPB, foram desestimuladas as operaes de valor superior a R$ 5 mil via Compe, de forma que as instituies financeiras, via tarifas mais caras ou outros mecanismos indutores, incentivassem seus clientes a realizarem suas operaes de valores altos com instrumentos eletrnicos mais seguros, fosse atravs da CIP ou, ento, diretamente via STR.

    Para induzir os bancos a promoverem a migrao, evitando operar valores superiores quele, foi utilizado um mecanismo de exigncia crescente de recursos tais como os pr-depsitos dirios das instituies financeiras na Compe, de forma que, a partir de janeiro de 2003, ficou financeiramente invivel operar valores elevados via Compe.

    A Compe no pode ser considerada como uma nova clearing do SPB, pois no incorpora o conceito de uma cmara de compensao sistematicamente importante, por no ter os mecanismos de segurana por ela exigida. A tendncia de longo prazo parece ser a de extino de suas funes.

    Como exemplo, desde 18/02/04, os Documentos de Ordem de Crdito DOC no circulam mais pela Compe, pois passaram a ser compensados pela CIP, sendo que os DOC de valor superior a R$ 5 mil, necessariamente, deixaram de existir, substitudos que foram pela Transferncia Eletrnica Disponvel TED.

  • A Cmara Interbancria de Pagamentos da Febraban CIP

    Esta cmara foi criada para permitir a liquidao pelo sistema LDL, no mesmo dia D zero , das operaes interbancrias e entre clientes, nos casos de cheques e outros papis de valor elevado, inicialmente, igual ou superior a R$ 5 mil.

    Os cheques e os DOC de valor superior a R$ 5 mil representavam, em 01/03/02, apenas 2% dos 216 milhes de documentos compensados a cada ms, mas j representavam quela poca mais de 80% do valor mensalmente movimentado.

    Na CIP tambm existe o conceito de pr-depsito ou pr-funding, mas, nesse caso, sem o carter punitivo e, sim, como uma estratgia para reduzir a necessidade de movimentao da conta de reservas bancrias das instituies financeiras autorizadas, ao longo do dia.

    Diferentemente da Compe, a CIP tem todos os mecanismos de segurana que garantam a liquidao das transaes efetuadas por seu intermdio, tais como limites de movimentao por instituio e depsitos de garantias pelas instituies usurias, podendo, assim, ser considerada como uma cmara de compensao sistematicamente importante, dentro dos critrios exigidos pelo SPB.

    A CIP, da mesma forma que o STR, s aceita pagamentos por meio eletrnico, ou seja, por meio de uma Transferncia Eletrnica Disponvel TED , que nada mais do que um DOC Eletrnico em tempo real.

    A CIP da Febraban operacionalizada pela Cetip.

    A Cmara de Compensao da Tecban

    a cmara de compensao eletrnica utilizada para a liquidao dos cartes de dbito, tambm conhecidos como cheque eletrnico, e que foi includa dentro do processamento do SPB.

    Embora a prioridade inicial do novo SPB fosse a transferncia em tempo real, ou em D zero, dos valores mais altos, a existncia da Tecban, empresa controlada por 11 bancos que j administrava o servio de cheque eletrnico de cerca de 40 instituies financeiras de grande porte, adaptou-se naturalmente como uma cmara de compensao para as operaes de varejo.

    Seu funcionamento semelhante ao das novas clearings do SPB, embora sem o conceito de contraparte garantidora, mas incluindo os conceitos de LDL, pr-depsito, limites por instituio e aporte de garantias, mas diferentemente das demais clearings, suas operaes acontecem durante todos os dias do ano e no s nos dias teis como nas demais.

    As transaes com carto de dbito, que hoje so compensadas da mesma forma que os cheques na Compe, com o novo SPB, podem ser liquidadas no mesmo dia, pois as operaes nela cursadas no precisam passar pela CIP e podem ser diretamente enviadas ao STR, agilizando o fluxo de caixa das partes credoras, visto que se trata de pagamento

  • contra saldo efetivamente disponvel. Para tanto, basta que sejam processadas at as 15 horas do mesmo dia, caso contrrio, s sero liquidadas no dia seguinte.

    Na prxima matria vamos encerrar o tema.

  • Eduardo Fortuna O Sistema de Pagamentos Brasileiro VIII 06/06/2006

    O Sistema de Pagamentos Brasileiro VIII

    Na matria anterior continuamos o detalhamento resumido das cmaras de compensao clearings , que do suporte ao SPB. Nessa matria vamos dar continuidade ao tema.

    As Cmaras de Compensao da Visanet e da Redecard

    So as cmaras de compensao eletrnicas utilizadas nas compras que fazemos com os nossos cartes de crdito e de dbito, e que foram aprovadas pelo BC, para serem utilizadas dentro do processamento do SPB.

    Embora a prioridade inicial do novo SPB fosse a transferncia em tempo real, ou em D zero, dos valores mais altos, da mesma forma que no caso da Tecban, as redes da Visanet e da Redecard, consolidadas no processamento dos cartes vinculados s suas respectivas bandeiras, adaptaram-se naturalmente como uma cmara de compensao para as operaes de varejo do SPB. Seu funcionamento semelhante ao das novas clearings do SPB, embora sem o conceito de contraparte garantidora, mas, incluindo os conceitos de LDL, pr-depsito, limites por instituio e aporte de garantias. Da mesma forma que a rede da Tecban, suas operaes acontecem durante todos os dias do ano e no s nos dias teis como nas demais clearings.

    Em resumo, e para uma melhor compreenso de todo esse processo, a implantao do novo SPB permitiu que a liquidao financeira dos pagamentos feitos atravs do sistema financeiro possa ser feita dentro de trs formas, a saber:

    Liquidao pelo valor Bruto em Tempo Real LBTR , operao por operao, em tempo real, diretamente atravs do STR do BC. Esse tipo de liquidao s ser efetivado se houver fundos disponveis para tal;

    Liquidao Defasada pelo valor Lquido LDL , pelo valor lquido compensado entre as partes envolvidas, em horrios predeterminados ao longo do mesmo dia, atravs da CIP ou da Tecban. Este tipo de liquidao permite instruir a transferncia sem a existncia de fundos disponveis para tal, mas que estar disponvel at o final do dia; e

    Liquidao Compe, pelo valor lquido da mesma forma como hoje feita, no dia seguinte ou no segundo dia seguinte, atravs da Compe. Este tipo de liquidao desestimulado para valores iguais ou superiores a R$ 5 mil.

    A escolha da forma de pagamento uma deciso do cliente, em funo das taxas e condies oferecidas pela instituio financeira que a executa e com a qual ele est realizando a transao.

  • O conceito do LDL simplifica o processo operacional e reduz a necessidade do comprometimento prvio de um maior volume de reservas bancrias disponveis para atender s liquidaes, como ocorre no caso de utilizao do conceito LBTR.

    Para exemplificar o conceito LDL, ou netting, baseado no resultado lquido:

    Suponha que uma instituio financeira tenha comprado R$ 1 milho e vendido R$

    1,5 milho em ativos ao longo de um dia. O resultado lquido de suas operaes, ou

    seja, R$ 0,5 milho, que sensibilizar, via STR, a sua conta de reservas bancrias

    junto ao BC.

    O crdito ou o dbito na conta de reservas bancrias ocorre durante a janela de liquidao que cada clearing, que trabalha no conceito LDL, tem no STR, ou seja, o prazo para lanar os resultados lquidos de todas as suas operaes.

    A Central de Custdia e Liquidao Cetip, no SPB

    A Central de Ttulos Pblicos e Privados Cetip , que era a sua denominao antes do SPB, registrava e negociava ttulos pblicos e privados de renda fixa, ttulos de renda varivel, derivativos e outros ativos nela registrados. A liquidao na Cetip sempre foi feita dentro do conceito LDL, atravs dos bancos liquidantes, sem garantia.

    No SPB, passou a funcionar como uma clearing no garantidora, para o registro das operaes no mercado.

    Assim, para o SPB, a Cetip foi adaptada para a liquidao das operaes anteriormente j realizadas com os ativos que, quando registrados na Cetip, a tivessem escolhido como clearing no garantidora de suas transaes em mercado primrio e secundrio. A liquidao na Cetip pode ocorrer em LBTR, operao por operao, no caso dos participantes serem clientes do mesmo banco liquidante, e no conceito LDL, nos demais casos, com liquidao em D zero ou D + 1, de acordo com as partes envolvidas e o tipo da operao que esteja sendo efetuada.

    Com o SPB, o Sistema Financeiro da Bolsa, que anteriormente fazia a liquidao por valores lquidos de negcios da Bovespa e da BM&F, na prpria Cetip (incluindo os negcios entre os fundos de penso, as seguradoras e as pessoas jurdicas no-financeiras e suas corretoras e essas corretoras e os membros de compensao) acabou, e a liquidao de operaes entre os grandes clientes e as corretoras e entre essas e os membros de compensao, no Bovespa e na BM&F, passou a ser feita por meio de TED, pelos seus valores brutos.

    Para se caracterizar como uma verdadeira clearing do SPB, a Cetip teria de operar com depsito prvio e limite de operaes por instituio. Assim, ela disporia de um sistema de salvaguardas, na forma das garantias individuais dos seus membros de compensao e na forma mutualizada de um Fundo Garantidor de Liquidaes, independente da garantia maior dada pela prpria Cetip.

  • Eduardo Fortuna O Sistema de Pagamentos Brasileiro IX 13/06/2006

    O Sistema de Pagamentos Brasileiro IX

    Na matria anterior continuamos o detalhamento resumido das cmaras de compensao clearings , que do suporte ao SPB. Nessa matria vamos encerrar o tema.

    A Clearing de Ativos da BM&F

    A CBLC, originalmente a clearing da Bovespa (mercado de aes), do Soma (mercado de balco organizado) e da Sisbex (mercado eletrnico de ttulos pblicos federais e cmbio), deveria adaptar-se a todas as exigncias do SPB para concorrer com a Central da Cetip na liquidao garantida das operaes com ttulos pblicos e privados de renda fixa, ttulos de renda varivel, derivativos e outros ativos.

    A CBLC tambm concorreria com o Selic, atravs do Sisbex, na liquidao dos ttulos pblicos federais, embora diferentemente do Selic, que processa a liquidao no conceito de LBTR, pois no Sisbex a liquidao processada dentro do conceito LDL.

    Por esta razo, funcionaria como uma alternativa interessante para as instituies que fossem operar com ttulos pblico federais, mas no dispusessem de reservas imediatamente disponveis como exigveis pelo Selic.

    No caso especfico da CBLC, como ela j dispunha de uma rede de mensageria prpria, esta rede concorreria com o Sistema de Mensageria criado dentro do SPB, no trfego de suas mensagens. Caracterizar-se-ia, assim, claramente como uma nova clearing do SPB, com depsito prvio e limite de operaes por instituio.

    Entretanto, a CBLC cedeu os direitos de gesto e operacionalizao da cmara de liquidao e de compensao de operaes com ttulos pblicos, ttulos de renda fixa e ativos emitidos por instituies financeiras para a Bolsa de Mercadorias e Futuros BM&F , para a implantao da Clearing de Ativos da BM&F para prestar esses mesmos servios. Com esse objetivo, a BM&F adquiriu o controle da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro BVRJ , adquirindo, tambm, o sistema de registro e de negociao Sisbex e dessa forma completou os requisitos necessrios para a formao de sua clearing de ativos.

    A Clearing de Cmbio da BM&F

    Ela foi criada para atuar como a contraparte exclusiva de todas as operaes interbancrias de cmbio, contratadas por seus participantes e aprovadas pelos seus sistemas, garantindo aos participantes a eliminao do risco de principal no processo de liquidao.

    Para tanto, funciona no princpio de pagamento contra pagamento por valores lquidos compensados, em, no mximo, dois dias teis, contados da data da contratao da operao, dentro do conceito de LDL. A clearing possui uma conta de liquidao em

  • reais junto ao BC e contas em moeda estrangeira em bancos de primeira linha no exterior

    As instituies devedoras e credoras em moeda nacional, respectivamente, pagam e recebem diretamente em suas contas de reservas bancrias, tendo como contrapartida a conta da clearing no BC.

    As instituies devedoras e credoras em moeda estrangeira, respectivamente, pagam e recebem diretamente na conta do banco correspondente no exterior, indicado como contrapartida pela clearing, sob a superviso do BC.

    Todas essas movimentaes financeiras, em moeda nacional e estrangeira, ocorrem dentro da mesma janela de liquidao do STR, definida pelo BC.

    A variao diria da taxa de cmbio, entre o perodo de contratao e de liquidao da operao, garantida pelos bancos participantes, mediante o depsito prvio de garantias, de acordo com os ndices de variao e a taxa mdia de abertura do cmbio, fixados pela clearing, a partir de modelos de estimativa de volatilidade do cmbio (value at risk) e de anlise de cenrios de mercado (stress test).

    Caracteriza-se como uma nova clearing do SPB, exigindo depsito prvio e limite de operaes por instituio.

    A Clearing de Derivativos da BM&F

    Na BM&F, os servios de clearing das suas operaes eram prestados por um departamento interno da Diretoria de Liquidao e Custdia DLC , que se responsabilizava pelo registro das operaes e controle das posies, pela compensao dos ajustes dirios, pela liquidao fsica e financeira dos negcios e pela administrao das garantias e dos riscos das posies em geral.

    Esses servios eram prestados aos usurios ou clientes diretos da BM&F, quais sejam: os Membros de Compensao MC (os garantidores das operaes perante a BM&F) e seus garantidos as corretoras de mercadorias e os operadores especiais. A liquidao das suas operaes era feita pelo conceito de valor multilateral lquido em nvel dos MC, ou seja, dentro do conceito LDL.

    A Clearing de Derivativos foi criada a partir da adaptao da DLC ao conceito do BC, como uma cmara de compensao sistematicamente importante, e da liquidao financeira de suas operaes, via STR, na conta de reservas bancrias dos MC.

    Assim, pelo fato de alguns dos atuais MC autorizados pela BM&F no terem contas de reservas bancrias (caso das corretoras de valores, distribuidoras de valores ou bancos de investimento), estes tero de indicar um banco comercial ou banco mltiplo com carteira comercial que atue como banco liquidante das operaes.

    A liquidao financeira das operaes, salvo quando especificado em contrrio, continua sendo feita em D + 1, via STR, ocorrendo todas dentro de um mesmo intervalo de tempo especfico "janela de liquidao" , definida pelo BC.

  • As garantias nesta clearing so definidas em funo das carteiras dos participantes, pois para cada tipo de ativo, e dependendo das caractersticas do contrato futuro de cmbio, Ibovespa, juros, cupom cambial , existe uma margem de risco estabelecida e atualizada. Um sistema automatizado de movimentao de garantias e um monitoramento constante da cadeia de liquidao financeira so dois mecanismos fundamentais ao sucesso de uma clearing de derivativos. A gesto do risco feita em tempo real, para qualquer tipo de ativo negociado na BM&F, com disponibilidade de dados referentes posio, ao financeiro e alavancagem de cada cliente, ou agregado em nvel de corretora de mercadorias, operador especial ou MC.

    Na prxima matria vamos iniciar um outro tema.

    Eduardo Fortuna - O Sistema de Pagamentos Brasileiro I - 18-04-2006.docEduardo Fortuna - O Sistema de Pagamentos Brasileiro II - 25-04-2006.docEduardo Fortuna - O Sistema de Pagamentos Brasileiro III - 03-05-2006.docEduardo Fortuna - O Sistema de Pagamentos Brasileiro IV - 09-05-2006.docEduardo Fortuna - O Sistema de Pagamentos Brasileiro V - 16-05-2006.docEduardo Fortuna - O Sistema de Pagamentos Brasileiro VI - 23-05-2006.docEduardo Fortuna - O Sistema de Pagamentos Brasileiro VII - 30-05-2006.docEduardo Fortuna - O Sistema de Pagamentos Brasileiro VIII - 06-06-2006.docEduardo Fortuna - O Sistema de Pagamentos Brasileiro IX - 13-06-2006.doc